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Nasser
Fotolito
Impressão Imprensa da Fé
Rua do Mar, 20
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Prefácio os
Introdução.................................................................................................................07
Conclusão ............................................................................................. 79
Meu amove grande gratidão ao Pai Celestial porSeu Filho Missionário, que nos envia ao
mundo sob Seu Poder.
Minha gratidão às Igrejas Presbiterianas Independentes de Vila Palmeiras e Marília,
onde meu ministério foi formado debaixo de grandes desafios.
Mas minha mais amiga-amante gratidão: à minha esposa Vera Lígia que com sua amizade
e amor constantes têm sido companheira e cúmplice neste ministério. Sua atitude de zelo e amor
tem trazido para nossos filhos, Daniel e Gabriel, segurança e ternura em épocas de minhas
viagens ministeriais neste país e no exterior.
PREFÁCIO
Ouvi pela primeira vez os desafios deste livro numa consulta da Associação de
Professores de Missões no Brasil em março de 1994. Soube naquele momento,
que aquela exposição teria de tornar livro. E livro se tornou! Pastor Antonio Nasser
fala com convicção às igrejas do Brasil no momento certo.
Temos já trilhado uns bons anos no caminho missionário. As igrejas têm enviado
muitos missionários (não o suficiente, nem de perto) e já estamos vendo os resultados. Há
alguns resultados maravilhosos, graças a Deus. Outros não são tão encorajadores.
Poderíamos dizer: "É natural isso; sempre tem alguns que são melhores do que
outros. Sempre tem aqueles que voltam antes do tempo. Estamos indo bem, apesar de
algumas dificuldades".
Mas o fato é que não estamos indo tão bem como poderíamos ou deveríamos.
Quais as razões? Pastor Nas-ser apresenta o nosso lado da moeda. Não podemos culpar ao
todo o missionário quando há fracasso. O missionário não é como um empregado que
quando'não satisfaz deve ser mandado embora. Somos sócios, nós que estamos nas igrejas
enviadoras e o missionário. Qual é a nossa parte? E qual a nossa falha quando o missionário
falha?
A igreja é de verdade a principal fonte de preparo, envio e sustento. As escolas e
as agências são essenciais, mas a formação básica e a base ampla do sustento pertence as
igrejas locais.
Nossas atitudes básicas em relação a Deus, Bíblia, Evangelho, homem, liderança,
culturas etc, vêm da vida na comunidade da igreja local. Não é em algumas aulas noturnas,
ou com uma orientação rápida de uma agência missionária, que o missionário é realmente
formado em seu comportamento, caráter e capacidade ministerial.
Se a igreja do candidato missionário erra na sua maneira de ser e de ensinar, este
modelo negativo é o que provavelmente será levado para os povos onde novas igrejas
serão fundadas. Se existe na sua igreja de origem uma hierarquia rígida, com um "dono"
além do Senhor Jesus, o missionário vai levar este modelo para o campo transcultural. Se
a pessoa "diferente" que entra na igreja não é aceita com alegria como uma oportunidade
de compartilhar o amor de Deus, o missionário vai ter grandes dificuldades em aceitar as
pessoas "diferentes" de outras culturas, como pessoas dignas de participar igualmente da
comunidade de Deus. Se a pregação se resume em historinhas ou espiritualizações, sem
aprofundar no ensinamento das grandes verdades bíblicas, o missionário ficará sem razão
de estar longe de casa e sem meios de fazer discípulos do Senhor. Se não houver
discipulado no caráter do candidato, ele será prejudicado e prejudicará muitos outros. Se
não há humildade, como Jesus enfatizou muitas e muitas vezes, haverá paternalismo,
lutas de poder, contendas e a construção de reinos pessoais.
Bem, o livro é do Pr. Nasser. Não devo escrever outro aqui no prefácio! Mas a
verdade é que neste momento estamos numa encruzilhada, ao meu ver, crucial. Ou
decidimos pensar, examinar, ouvir, orar e confrontar para melhorar, ou vamos estacionar
num nível medíocre de atuação missionária.
O Pr. Nasser deve ser ouvido. Que tipo de igreja é a minha? Que devemos fazer para
que os nossos membros chamados por Deus para missões transculturais, possam produzir
fruto e serem fieis para a glória do Senhor?
Que Deus abençoe a leitura deste livro! E que nos leve à transformação e ao
crescimento.
Barbara Helen Burns
Missionária Professora de Missões Transculturais e Secretária Executiva da Associação
de Professores
de Missões do Brasil (APMB).
INTRODUÇÃO
Capítulo
1
UM RETRATO DE IGREJAS NO
PROCESSO MISSIONÁRIO
Não é fácil enveredarmos pelo caminho da avaliação da nossa própria prática como
igreja no processo missionário de maneira honesta e sem susceptibilidade' . Espero não ser
tão crítico, que ve nha a empanar a beleza da Noiva de Cristo, no mundo. Na verdade,
desejo apenas retratar dificuldades que nesta área devem ser resolvidas. As qualidades da
Igreja são claras e estão aos nossos olhos. Os problemas devem ser resolvidos e, para que
cheguemos a isto, é necessária uma análise destemida; porém, sob o temor de Deus.
Dei alguns nomes para algumas atitudes de algumas igrejas. É apenas uma maneira
de olhar criticamente para nosso procedimento no mundo. A primeira vez que tratamos
deste assunto foi numa consulta da Associação de Professores de Missões do Brasil -
APMB, num momento de reflexão sobre a Igreja local e o envio de obreiros. Desta
forma, o resultado ali obtido foi posto à disposição do público. Certamente você verá
alguns dos conceitos em outras publicações.
Igrejas Disneylândia
Parece-me que não são poucas as pessoas que estão se enveredando pelo caminho
da busca do prazer, em nossas Igrejas, como sendo a coisa mais importante de suas vidas.
Querem o culto que alegra, a música que balança, a pregação que faz rir, o lugar da
fantasia! A fantasia é um dos recursos infantis. São Igrejas que se posicionam
puerilmente e gostam disto.
A fantasia tira o homem da realidade crua e de difícil interação. A fantasia faz rir,
sonhar, viver num mundo em que sempre se vence! Você já viu uma criança brincar? Ela
entra em seu mundo do faz-de-conta e se transforma nos maiores e melhores super-
homens; ela se veste da vida de seus personagens e vence todos os problemas. Basta que
haja a vontade e pronto!
Sonhar, criar mocinhos e bandidos, naves espaciais e monstros com quem lutar é
melhor do que enfrentar o que se tem por aí! A linguagem da fantasia tira-nos da razão e
leva-nos para a simples emoção. Sentir passa a ser o objetivo maior.
Você conhece Igrejas que se expressam assim? Podemos pensar sobre a validade de
tais práticas e perguntar: - "O que há de errado em se desejar uma grande alegria?" Nada,
desde que isto não seja o centro de nossa vida e ministério. A Igreja não é um parque de
diversões esperando por seus clientes! Somos uma comunidade de amor, a qual se alegra
e chora; que trabalha e descansa; que crê em milagres e vive-os, sem pender para o
"milagrismo"; que estuda a Palavra integral, sem pretender ficar só com as promessas!
Os problemas de uma "Igreja do Prazer", na obra missionária, são imensos.
Algumas perguntas:
"Como levar este povo a uma responsabilidade que nasce do compromisso com
Cristo e com Seu Corpo?"
"De que maneira irão arregaçar as mangas e partir para campos missionários de
difícil acesso?
"Como poderão compreender que a obra missionária exige coragem,
perseverança e muito sacrifício?"
"Como poderão ver os campos difíceis e problemáticos?"
Os filhos da Igreja é que serão os missionários, não é mesmo? Que modelos terão
para seguir? Que tipo de Igrejas plantarão (se conseguirem) no Campo Missionário? Que
exemplos darão para o discipulado?
A fantasia é um instrumento normal na criança, mas de alienação, no adulto! A
Igreja adulta realiza a obra de Deus, mediante projetos bem definidos e sérios, e não
perde tempo pensando em satisfações emocionais. Deus nos ensina em Sua Palavra que o
trabalho é árduo e precisa de concentração. Veja, por exemplo, Mateus capítulo 10.
Várias vezes o Senhor apresenta aos seus discípulos a realidade que contrasta com a
"vontade" humana. Em determinado momento, o Senhor Jesus diz:
"Eis que vos envio como ovelhas, para o meio dos lobos; sede, portanto,
prudentes como as serpentes e símplices como as pombas".
E ainda:
"Não temais os que matam o corpo, e não podem matara alma; temei antes
aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo. ( .. ) Não penseis
que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão
entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim os
inimigos do homem serão os da sua própria casa". (Mt 10:16,28,34-36).
Onde estão, neste texto, a prática constante e permanente do prazer? Não existem
tensões, lutas, dificuldades, temores? Não são momentos de vigilãncia e atividade
perigosa? O Senhor Jesus nunca enganou a seus discípulos, apresentando-lhes um parque
de diversões. A vida é muito mais do que só brincar. Há tempo para tudo!
Igrejas Megalomaníacas
Igrejas Sociais
Igrejas Tecnocratas
Este é o grupo que fica firme nos modelos pré-fabricados e técnicas previamente
estabelecidas! Tais igrejas supervalorizam os métodos em detrimento do conteúdo.
Alguns passos para crescer, outros tantos para ser santo, como ser feliz em 10 lições etc.
Novamente, minha palavra objetiva, os extremismos. Há métodos eficazes, mas eles não
são estanques! Deve haver um mover do Espírito de Deus na Igreja, de forma a ensiná-la
a agir. Há comunidades evangélicas que nada sabem sobre os "pacotes" que estão à
"venda", mas crescem assustadoramente, fazendo a obra do Senhor com alegria e
destemor, e são corajosas para se posicionar frente às necessidades do mundo.
As Igrejas que buscam pacotes que resolvem tudo, podem ficar inertes, imóveis.
Procuram saber o que fazer nesta ou naquela situação, olhando para a lição "x". Parece um
manual de fé; como se esta pudesse ser manipulada. Será que estou exagerando?
Em Missões, a Igreja precisa ouvir o Espírito de Deus, precisa estar alerta e aberta
à Sua voz e direção. A Igreja em Antioquia, treinada pelo Senhor, através de Paulo e
Barnabé, soube reconhecer e atender à ordem do Espírito Santo, e enviar aqueles servos
às viagens missionárias (At 13.1-3). Havia ali uma disponibilidade para alterar planos
previamente estabelecidos. Paulo e Barnabé agiram ali por cerca de um ano, e logo o
Senhor os direcionou a deixar a Igreja. Se fosse eu e você, talvez disséssemos: "Fiquem
conosco, somos inexperientes ainda, por que deixar uma Igreja crescente, para se dedicar
aos perdidos que nem sabemos onde estão?"
Que pecado! Nossa mente não é muito afeita a mudanças drásticas. Parece que
precisamos de tempo para digerir o que o Senhor está fazendo! Mas graças a Deus que
aqueles irmãos da Igreja em Antioquia ouviram o Espírito Santo e prontamente
atenderam. Não ficaram parados, esperando uma nova estruturação administrativa, ou
uma alteração crescente na liderança. Ao ouvirem o chamado de Deus (e este foi para
toda a Igreja!) logo atenderam!
Igrejas que estão se despertando para a Obra Missionária precisam aprender a ouvir o
Espírito de Deus e atendê-lo imediatamente! Não basta "fazer" conferências, é preciso
também saber que Deus se move como quer, para o que quer, de acordo com Sua
Vontade Soberana. A Igreja ouve e obedece!
Igrejas Observadoras
Estas já passaram por algum tipo de contato com Missões, já receberam em seu
seio algum missionário e já tiveram, infelizmente, traumas a respeito. Foram vítimas de
pessoas inconseqüentes que macularam a Noiva do Senhor, com atitudes incoerentes para
um missionário. Alguns deles viram a Igreja como um grande Banco Financeiro, capaz
de resolver seus problemas. Outros agiram com irresponsabilidade, quanto ao que lhes
foi designado e mentiram, quanto ao seu trabalho (quantos, ainda, forjam relatórios para
não serem confrontados, relativamente ao que deveriam ter feito!).
Estes traumas trazem à Igreja uma atitude de desconfiança generalizada. Aqui
reside a dor e o problema: a generalização promove a paralisação! A partir daí a Igreja
passa apenas a "observar" o que ocorre, sem expressar qualquer desejo de participar. É
como o menino que se machucou no jogo de futebol e, depois, com medo, apenas observa!
O que este procedimento promove? Certamente uma estagnação na Obra Missionária. A
cura se faz necessária e precisa ser realizada com rapidez, sob pena de isolamento e
desdém! Já ouvi pastores dizerem que "a obra missionária dá muito trabalho; não vale a
pena".
O que será que encontramos por detrás destas palavras? Encontramos, talvez, a dor de
terem visto "aquele" seminarista causando escândalo no Corpo; "aquele" pastor
desviando-se do trabalho que lhe foi proposto; o
missionário que saiu para o campo, deixando para trás relacionamentos desfeitos etc.
Mas aqui vai uma boa notícia: estas comunidades têm cura! Precisam olhar para o Senhor
da Obra e não para os obreiros. O perdão ainda é bíblico e precisa ser transmitido! A
Palavra de Deus e Sua Vontade em relação ao mundo continuam valendo!
Igrejas Desafiadas
Graças a Deus que há muitas Igrejas já desafiadas pela Palavra de Deus e estão se
envolvendo na Sua Obra. O trabalho missionário passou de uma visão local e nacional
para algo de amplitude mundial. Estas comunidades já estão estabelecendo conferências
(anuais, semestrais etc.) e projetos de apoio. No entanto, desejo salientar um perigo que
correm, se desviarem dos objetivos da Palavra: podem tornar-se "Igrejas-Evento", nas
quais a campanha é mais importante que a continuidade. Isto já tem acontecido em nosso
país com freqüência. A conseqüência desastrosa é que podem tornar-se Igrejas Ob-
servadoras.
Quando falo de evento, ou campanha, estou me referindo às atividades que
expressam "mostrar serviço" e não levam em consideração aspectos importantes da
Missiologia e Eclesiologia. Levam a Igreja a um ativismo exacerbado, mas, com
características inconseqüentes. Infelizmente, geram apenas o barulho; o trabalho fica
muito a desejar!
Uma Igreja Missionária precisa ser perseverante em todo o processo. Não apenas
em uma ou outra ação de vulto, mas também precisa saber que a Obra Missionária só
terminará, quando o Senhor Jesus voltar. E se isto vai demorar ou não, está fora de nosso
alcance. O que devemos fazer, como Igreja envolvida na Obra de Deus, é prepararmo-
nos para uma ação contínua, perseverante, séria, que tenha em mente um trabalho cons-
tante!
É comum sabermos de missionários que saíram de suas Igrejas e países (muitas vezes)
sob festas e toques de trombeta; após um ano, ficaram sem sustento e sem notícias da
Igreja. Que trabalho é este? Seria mais fácil contratar uma agência de turismo! Isto é um
horror! A Igreja, ao enviar um obreiro para o campo, precisa saber que estará se
responsabilizando durante todo o tempo em que estiver na Obra! Sustento, cartas de apoio,
atendimento pastoral, notícias da Igreja e do país (se estiver fora) etc. Precisam estar na
pauta de ação de uma Igreja Missionária.
Deveríamos olhar mais de perto a experiência dos irmãos Morávios.
Uma bela análise deste movimento foi feita por Colin Grant, missionário em Sri
Lanka, por doze anos, falecido em 19762. Creio que será de grande bênção para todos
nós que, nestes últimos dias da Igreja Cristã, desejemos visitar todo o mundo com o
Evangelho de Cristo Jesus.
A obediência missionária dos Irmãos Morávios era essencialmente alegre e
espontânea, antes de tudo.
Falando sobre Herrnhut (A comunidade formada pelos Morávios, em terras do
Conde Nicolau Von Zinzendorfl, um dos morávios escreveu: "O lugar todo parecia um
verdadeiro tabernáculo de Deus entre os homens. Não se via nem se ouvia nada, além
de gozo e alegria".
A convicção missionária era tão latente, que o Dr. A. C. Thompson, historiador do
início das missões morá-vias, escreveu: "O dever de evangelizar os pagãos está tão
profundamente alojado no pensamento atual, que o fato de alguém entrar pessoalmente
nessa obra não cria qualquer surpresa ... não é considerada como uma coisa que exija
ampla proclamação, como se estivesse acontecendo algo prodigioso ou mesmo fora do
comum".
Pessoalmente, creio que temos estado um pouco fora da real motivação missionária, em
nossos dias. Queremos que, através de grande e intensa propaganda, homens e mulheres
envolvam-se na expansão missionária, em todo o mundo. Para que isto ocorra, o que fa-
zer? Criamos agências enviadoras que se especializam no "envio missionário" - nada
tenho contra a existência delas, eu mesmo coopero com a Missão Internacional para o
Interior da África.
As comunidades locais, por sua vez, muitas vezes desprovidas de vida intensa na
prática cristã, são levadas a acreditar que a Obra Missionária é realizada por "alguns"
sacrificiais missionários, envolvidos com organizações e movimentos. Daí o perigo do
evento pelo evento! Herrnhut era diferente: sua característica era a naturalidade com que
a Obra Missionária iniciou-se e se expandiu. Não havia "heróis" missionários, mas uma
Igreja voltada para sua função no mundo!
Grant cita o Rev. Ignatius Latrobe, ex-secretário das missões morávias, no Reino
Unido, durante o século passado, quando ele escreveu:
"Achamos que é um grande erro apresentar os missionários, depois de sua
nomeação, à notoriedade e admiração públicas e elogiar bastante a sua devoção ao
Senhor, apresentando-os às Igrejas como mártires e perseguidos, antes de eles partirem
para seu trabalho. Nós preferimos aconselhá-los a partir silenciosamente, recomendando-
os às fervorosas orações da Igreja..."
Quão distantes temos estado deste ardor e seriedade missionários. Nossas
comunidades locais não têm-se sentido responsáveis pelo trabalho missionário; "jo-
gando", por assim dizer, a responsabilidade em organizações missionárias ou juntas
denominacionais. Estas, com um esforço imenso, tentam atingir as Igrejas Locais com um
despertamento, procurando de lã retirar seu material humano e financeiro. Parece-me
que há algo errado, não é mesmo? Enquanto ficamos neste vai-e-vem interminável, os
pagãos morrem em sua ignorância espiritual, e nós continuamos discutindo sobre o ônus
da culpa!
Lembro-me de quando cooperava com minha esposa, numa empresa de
cosméticos. Ganhávamos diamantes em nosso broche, créditos por nossa produção e
muito dinheiro. O Senhor nos tirou daquilo tudo, graças a Deus, e abriu nossos olhos, para
percebermos que muitas de nossas Igrejas agem assim. Parece que estamos numa corrida em
busca de muitos prêmios.
"Vamos ser melhores que aquela Igreja, vamos mandar mais missionários!"
(mesmo sem nos importar com a qualidade).
"Vamos levantar muito dinheiro, (mesmo que seja gasto em outras coisas) e dizer
a todos que estamos na "onda" também!"
Amados irmãos, que o Senhor nos direcione, novamente, à real motivação cristã!
Na Obra missionária dos morávios, é claro, aconteceram problemas e defeitos.
Foram mais evangelistas do que edificadores de Igrejas fortes, mas, nas palavras de J.R.
Winlick:
"A Igreja morávia foi a primeira, entre as Igrejas protestantes, a tratar esta obra como
uma responsabilidade da Igreja como um todo, em lugar de deixá-la para as agên- cias,
missionárias ou pessoas especialmente interessadas".3
Harambee
Em 1987 estive participando de jantares promocionais da MIAF, nos EUA. O tema
foi: "Harambee!". Achei interessante e desejei saber o que isto significava. A palavra
pertence à língua suahili (África) e seu significado é parecido com este esforço comum:
"Vamos puxar juntos". A idéia é, exatamente, não dispensar qualquer ajuda no
desenvolvimento missionário.
Precisamos das Escolas Teológicas e Missiológicas, das Igrejas, das Agências.
Precisamos de todos, para podermos ganhar alguns. Isto é cooperação. Igrejas que
passam por cima de tudo, muitas vezes, reclamando para si a propriedade da direção
divina, podem estragar, e muito, os campos e o relacionamento missionário.
Vamos puxar juntos, vamos, num esforço comum, trabalhar para que a glória de
Deus alcance o maior número de povos e pessoas. Como diz o Movimento A.D. 2000; -
"Uma Igreja para cada povo e o Evangelho para cada pessoa, até o ano 2000".
Igrejas Cooperadoras
O RE CR UTAMENTO
Por recrutamento entendemos a ação da Igreja em receber os que Deus já direcionou para
o trabalho missionário. Podemos dizer que o recrutamento exige um cuidado muito grande
por parte da Igreja local. Quando temos unia pessoa, ou casal, membros da Igreja, que querem
dedicar tempo completo para o Senhor, que devemos fazer?
Missionário Local
Este é o que cresceu na Igreja e se apresenta como candidato à Obra. Que cuidados a
Igreja deve ter? Quais os deveres solicitados? Que tipo de ministério deverá ser
desenvolvido? Estas e outras perguntas deverão estar na mente da Igreja, ao deparar com
um candidato a Missões. Vamos às qualificações necessárias:
Quero dizer com isto que quem verdadeiramente envia o obreiro é a Igreja e não a
Agência. Quem avalia a vida e o trabalho do missionário é a Igreja Local. Em Atos dos
Apóstolos, capítulo 13, vemos Saulo (Paulo) e Barnabé sendo enviados pela Igreja de
Antioquia. Eles eram os mais capacitados dentre a equipe pastoral, e a Igreja,
reconhecendo o ministério de ambos, enviou-os sem medo! Havia confiança para tal
procedimento.
Vamos falar a verdade! Temos alguns missionários que pretendem ser os Careys, os
Livingstones, os Taylors, porém demonstram tanta falta de tato, de sensibilidade, por
sentirem-se "sabedores de tudo"! Isto é terrível. O candidato precisa ser avaliado, quanto
à facilidade com que aprende, sua humildade diante dos que o estão ensinando. Os que
demonstram soberba e egocentrismo precisam ficar de fora! Não há lugar para os que se
posicionam independentes de liderança e ensino adequado! Como fará no campo, diante de
uma liderança local?
Se, por um lado, temos o "Missionário Local" por outro temos o "Missionário
Associado", ou seja, aquele que foi adotado pela Igreja Local, mas que não pertence a
ela. Muitas vezes - talvez na maioria delas - ele aparece para solicitar cooperação no seu
sustento. De qualquer forma, a Igreja depara com um missionário e toda uma gama de
necessidades. O que fazer? Como deve ser encarado este fato? Vamos aos pontos que,
creio, são muito importantes.
Missionário Associado
TREINAMENTO DE MISSIONÁRIOS
Lançando, novamente, a pedra sobre o óbvio, continuemos na construção da
cooperação da Igreja Local em relação à Agência. Veja que tudo o que falamos irá ajudar
uma Missão em seu procedimento com o obreiro. Não podemos mais "jogar" os
missionários nas mãos de outros, sem que a Igreja se posicione. Quero, aqui, enfatizara
necessidade de a Igreja promover, para o obreiro, um bom treinamento, antes de enviá-lo
para a Escola ou Agência. É na Igreja que ele irá desenvolver-se. Que áreas a Igreja
deverá atender?
Caráter Cristão
Isto é mais sério do que podemos pensar. Há alguns obreiros que estão agindo sem
honestidade, sem obediência e senso de equilíbrio nos campos. Podemos ver isto acontecer
em relação à Agência. Por exemplo: suponhamos que uma Missão resolva enviar um
obreiro para o "país das maravilhas". Acontece que, em nossa história, já existem
obreiros ali e este novato recebe instruções para ser submisso ao líder no campo. Sai
com esta ordem e, com o rosto de anjo, embarca para seu novo ministério. Mas, "algo
acontece" no avião e ele, ao chegar lá, esquece-se totalmente de todas as orientações e
passa a enfrentar o líder do campo, fazendo criticas, alterando planos, desrespeitando e
agindo por conta própria. Isto é, nada mais, nada menos, do que falta de caráter cristão.
Os princípios de respeito à autoridade, onde estão? E o que prometeu?
Você pensa que estou inventado? Isto tem ocorrido muitas vezes! Lembro-me de que
perguntei a um grupo de missionários de vários países, sobre problemas que enfrentam
com novatos, e uma das questões levantadas foi essa: eles chegam criticando os obreiros
mais antigos e acham que farão tudo muito melhor. São, via de regra, imediatistas e
passam a confrontar as autoridades e os planos estabelecidos.
Nesta questão de caráter, lembro-me também de falar sobre o desrespeito aos
costumes do povo com quem se vai trabalhar. Ora, é óbvio que precisamos tratar as
pessoas com maior amor e entendimento. Se num país, por exemplo, é vergonhoso uma
mulher falar em público, por que a missionária irá sair pregando sem considerar o fato?
E se noutro lugar o vestido deve ser mais longo, por que não atender? Aí, você me dirá:
- "Mas isto é falta de treinamento transcultural!" De quem? Do povo local ou do
missionário, está obscuro, ambíguo! Também, mas a Bíblia me diz que devo respeitar
os mais velhos. Também diz que devo evitar ser pedra de tropeço. O que é isto, senão a
falta de formação em caráter cristão e amor? Também é falta de humildade para aprender,
para perguntar. Podemos lembrar que o amor é o que motivava os morávios. Eles
mantinham:
Um amor e uma paixão profundos e constantes por Cristo.
Na própria vida de Zinzendorf vê-se este amor constante. Através dos mais de
2000 hinos que escreveu, transmitiu a tõnica de sua vida: "Uma paixão: Ele, apenas
Ele".
William Wilberforce, o grande reformador social evangélico, inglês, escreveu o
seguinte sobre os morávios: "eles constituem um corpo que talvez tenha ultrapassado
toda a humanidade em provas sólidas e inequívocas de amor a Cristo e em um zelo
ardente e ativo no Seu serviço. É um zelo temperado de prudência, suavizado pela
mansidão e sustentado por uma coragem que nenhum perigo pode intimidar e por uma
certeza tranqüila que nenhuma dificuldade pode exaurir".1
Este amor demonstrado, vivido, sentido pelos morávios levou-os a muitas partes
do mundo, para pregarem a Palavra de Deus. Amor vivenciado! Parece que não é isto
que vemos em muitas de nossas Comunidades locais. Aparentemente (sem querer
estabelecer um julgamento) muitos de nós temos preferido as polpudas estatísticas e
preterido a missão amorosa e sacrificial que Cristo nos deixou. Precisamos urgentemente
de um retorno à real motivação cristã.
Nós dizemos que amamos a Cristo! Há realidade neste sentimento. Temo, no
entanto que ficamos presos aos sentimentos e esvaziamos nossas atitudes.
Quantas comunidades locais têm sido, literalmente, divididas pelo desamor e
desrespeito! Quantos têm praticado a crítica destrutiva, a avaliação invejosa, a maledicência
enganosa! É um quadro muito triste! Por isso é que creio ser necessário um avivamento
que purifique nossas Igrejas, a partir de cada lar, de cada indivíduo. Precisamos ver uma
nova onda de amor rompendo as trevas que nos têm separado!
Uma Igreja Una, Santa, Sem ruga. Creio que esta é a vontade de Deus para nós!
Que a oração constante proferida por nós seja: "Dobra-nos, Senhor!"
O amor vivenciado é o único método viável, para alcançarmos este mundo, a partir
da Igreja Local.
Mentiras, enganos, dissimulações e até roubos têm acontecido no mundo
missionário. O que dizer dos que tiram fotos mentirosas de lugares onde não trabalham e
enviam para a Igreja com finalidade de "arrancar" sustento? Não tem ocorrido este triste
fato?
Perseverança
Este é outro aspecto importante e óbvio para quem quer servir ao Senhor. Estranha-me o
fato de termos missionários que vão para algum lugar, com o objetivo de passar alguns
meses, para, então, retornarem como "pro fessil de Missões. Para mim é um ultraje
a inconstãncia de alguns que se propõem ao trabalho, mas não cumprem. A Obra não
é nossa, amados; iremos prestar contas dela ao Senhor! Devemos treinar nossos jovens
desde já, e na Igreja, no que diz respeito à perseverança. Voltando à Igreja Morávia,
Grant diz que eles:
Demonstraram uma tenacidade de propósito de categoria superior.
Um dos mais famosos missionários morávios, conhecido como "o Eliot do
Ocidente", foi David Zeisberger. Desde 1735, ele trabalhou 62 anos entre as tribos Huron e
outras, na América. Numa determinada ocasião, depois de ter pregado sobre Isalas,
64.8; que diz:
"Mas agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai, nós somos o barro, e tu és o nosso oleiro; e
todos nós obra das tuas mãos".
Numa manhã de domingo, em Agosto de 1781, a Igreja e suas dependências foram
invadidas por bandos de salteadores indígenas e, nos incêndios que se seguiram,
Zeisberger perdeu todos os seus manuscritos das traduções das Escrituras, hinos e
anotações extensas sobre as línguas dos índios. Mas, tal como Carey, que iria passar
por uma perda semelhante, na índia, anos mais tarde, Zeisberger abaixou a cabeça em
mansa submissão diante da providência soberana de Deus e reiniciou seu
trabalho.
Ao ler uma matéria como esta, meu coração se enche de vergonha. Temos sido tão
perseverantes assim? Na época da rapidez tecnológica, temo-nos tornado muito
impacientes! No momento em que escrevo este livro, utilizo um computador com um
"software" bastante avançado, que corrige até meus erros de datilografia. Será que nos
temos acostumado tanto com o comodismo que nos esquecemos do que é sofrer?
Sofrimento
Que área difícil! Parece que não, mas conviver com outro obreiro não é fácil. A
questão toda é que a convivência gera a necessidade de transparência, e nem sempre
estamos dispostos a isto. Abrir nossa vida a uma outra pessoa chega a ser um
sofrimento. No entanto, ninguém trabalha sozinho! A participação amorosa se faz
necessária, principalmente porque não temos os mesmos dons espirituais. Somos um
Corpo que deve viver harmoniosamente, reconhecendo que é formado de diversos dons
que precisam uns dos outros. O apóstolo Paulo, descrevendo a dinâmica dos dons
espirituais em 1 Coríntios 12.12, ensina que "assim como o corpo é um, e tem muitos
membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também
com respeito a Cristo". Esta é a Igreja do Senhor aqui na terra. Somos muitos e diversos.
Agimos de formas diferentes, porque Deus mesmo nos colocou assim no Corpo de Cristo
(1 Co 12.18). Outro aspecto interessante é que devemos reconhecer quem somos neste
Corpo: "Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa, de ser
do corpo" (v. 15). Fica claro que cada um precisa reconhecer-se como parte importante,
sem desanimar. Se um é o pé, que trabalhe como tal! Um obreiro não pode ficar
"chateado" porque gostaria de ter sido escolhido para fazer outra coisa. Foi Deus quem nos
colocou no corpo e todos os membros são importantíssimos. Alguém, aí, gostaria de
perder um pé; ou quem sabe um dedo?
Mas também é necessário reconhecer que temos limites! Paulo assim explica: "Se todo o
corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde o olfato?" (v.17).
Num trabalho em equipe isto deve funcionar direitinho. Cada um deve fazer a sua parte,
reconhecendo que sua liberdade termina quando inicia a do outro. Para treinarmos um
elemento para a obra missionária, é importante que tenhamos em mente que Deus não cha
mou "estrelas", mas discípulos! As estrelas brilham sozinhas, sem necessidade de outras,
mas o discípulo precisa de todos os outros, numa interdependência real e necessária. Há
muitos que pensam que podem resolver o problema do mundo sozinhos. Dizem que
agem sob a "direção do Espírito" sem reconhecer que o Espírito Santo que tanto
professam foi o que inspirou Paulo e a tantos outros, a explicar sobre a dinãmica do
trabalho em equipe. Os missionários "individualistas" precisam desaparecer! É hora de
uma nova linguagem, mais bíblica e séria; é hora de cooperação!
Podemos também ver neste texto paulino uma verdade muito esquecida: cada
membro é importante! "Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais
fracos, são necessários; e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos
muito maior honra; também os que em nós não são decorosos, revestimos de especial
honra" (v.22,23). A pergunta que temos que fazer aos nossos candidatos é esta: - "Que
ministério é mais importante na Obra missionária?" Talvez alguns digam que é o da
pregação, afinal, sem ele não haveria conversões! Mas, perguntamos novamente: - "O que
seria dos pregadores, sem os mestres, que ensinam nas escolas? O que seria dos mestres,
sem os que militam na administração? O que seria dos missionários sem os aviadores que
levam muitos a lugares tão inóspitos? E o que dizer daqueles que se especializam na
Lingüística, na Sociologia, na Informática, na Pedagogia ou Medicina?"
Não podemos esquecer-nos de que a equipe não só trabalha junto, mas também
convive! E aqui está um grande desafio. Conviver implica ceder, abrir o coração,
reconhecer o outro como superior, admitir culpas, elogiar, permitir ocupação de espaços
em nosso trabalho, desenvolver amizade familiar etc. Isto tudo pode e deve ser ministrado
dentro da Igreja Local, antes de o missionário sair para o campo. No ambiente da
Comunidade onde está inserido, o candidato a Missões poderá iniciar seu
treinamento, andando mais próximo do seu pastor, reconhecendo os outros irmãos como
importantes para seu crescimento, procurando fazer trabalhos com outros, sem almejar ser o
primeiro etc.
Quando o irmão José, que tinha o apelido de Barnabé (filho da consolação), foi
enviado para a Cidade de Antioquia, com o objetivo de amparar a Igreja que estava
nascendo, logo reconheceu que precisava de um companheiro. Foi a Tarso à procura de
Saulo, e assim que o encontrou levou-o a Antioquia e, por todo um ano, reuniram-se ali
e ensinaram numerosa multidão (Atos 11.25,26). Teria Barnabé conseguido resultado,
sem a ajuda de Saulo?
É interessante notarmos que uma liderança que trabalha em equipe, sugere a criação
de outros ministérios em equipe. Em Atos 13.1 lemos que "havia na Igreja em Antioquia
profetas e mestres: Barnabé, Simeão por sobrenome Niger, Lúcio de Círene, Manaém,
colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo". Os primeiros dois deram à luz outros três. Há
um crescimento saudável, sem estrelismos, nem "caciques" dominadores. Há um respeito,
uma convivência harmoniosa que irá gerar mais equilíbrio. Um trabalho em equipe não
é facilmente abalado, se um líder for retirado. Já no sistema mais tradicional de mi-
nistério, em que colocamos sobre as costas do pastor toda nossa frustração de ministério,
cobrando sua ação completa e exigindo que demonstre todos os dons do Espírito, isto
não acontece. Se o pastor for retirado, por qualquer motivo, muito do trabalho irá
perecer, por estar embasado em uma só pessoa!
Como foi que Jesus treinou seus discípulos? Por que escolheu doze homens para O
seguirem? Por que os enviou de dois a dois, a pregarem às ovelhas perdidas da casa de
Israel? É absolutamente claro que o Senhor os estava ensinando que a convivência em
equipe tem várias conseqüências benéficas:
1. Proteção
2. Estímulo ao Diálogo
É mais do que óbvio que uma equipe tem muito mais possibilidade de realização do
que um indivíduo. A divisão de trabalhos, as perguntas que exigem respostas rápidas, as
definições quanto à problemática do campo (por exemplo, um lugar sem água encanada
e com proliferação de doenças) serão melhor atendidas numa equipe que entende seu
papel.
4. Quebra de Barreiras Culturais
Vemos em Atos 13.1 que as nacionalidades da equipe eram distintas. Barnabé era de
Chipre, judeu, levita; Saulo era judeu de herança farisaica; Simão era negro, talvez
proveniente da África; Manaém havia sido criado com Herodes o tetrarca (o assassino
de João Batista, herdeiro das porções da Galiléia e Peréia); e Lúcio era de Cirene, cidade
do Norte da África. A convivência numa equipe como esta, certamente nos faz pensar
em nossos costumes e culturas. Imagine um norte americano convivendo com um
Africano. Aquele é "tempo-orientado" enquanto este é "evento-orientado". Enquanto um
anda baseado em seu relógio, o africano vive a vida de acordo com as necessidades do
momento. Para ele, se ainda o leite não foi tirado da vaca, não é problema atrasar o
início do culto!
5. Incentivo à Persistência
Mesmo uma equipe bem formada terá que adequar-se aos momentos, aos seus
membros. A paciência, fatalmente será estimulada, tendo em vista a necessidade de
convivência. Lembro-me da história de uma missionária brasileira que teve que viver,
alguns meses, com uma missionária da Alemanha, por falta de moradia naquela cidade.
Quando lavava a louça, deparava com a seguinte ordem: - "Não enxagüe após lavar com
sabão! Não tire a limpeza do prato!" Imagine a situação. Nós, brasileiros, temos por
costume lavar os utensílios de cozinha, enxaguando-os para tirar todo o sabão! É preciso
paciência, não é mesmo?
Treinamento na Palavra
Não é possível que tenhamos missionários que não conheçam a Bíblia. É totalmente
inaceitável. Mas, infe lizmente, a verdade declara que há alguns que não foram treinados
intensamente na Palavra de Deus, por terem sido deixados à mercê das escolas. Estas
dizem que a responsabilidade, nesta área, é da Igreja, mas a Igreja espera que as escolas é
que ensinem a Bíblia toda. Neste vaivém de declarações, sobram os missionários mal pre-
parados, que não estarão prontos para uma análise crítica do pensamento cristão da
atualidade.
Agora, o que há de mais óbvio do que a necessidade de um missionário conhecer a
Bíblia em toda sua pujança? Que problemas poderão enfrentar os mais despreparados?
1. Perda de Referenciais
Será que tudo é relativo? Numa cultura onde o marido pode deixar sua mulher, se
esta não lhe der um filho, e unir-se a outra, como o missionário devera posicionar-se? E
se a cultura privilegia o marido em detrimento da mulher? O missionário precisa ter
seus referenciais bastante claros, sob pena de perder-se diante da força dos costumes.
É interessante este tópico. Quanto mais se conhece a Palavra de Deus, tanto mais se
compreende que a Unidade do Corpo de Cristo deve ser real e praticada! O de-
nominacionalismo exacerbado é antibíblico! O que temos visto é uma exportação
denominacional para outras culturas, extrapolando os limites do bom senso! Que trabalho
missionário pode subsistir, mantendo divisões denominacionais que mais trazem rixas do
que promovem um ministério calcado na amizade e no companheirismo?
3. Pobreza no Ensino
Podemos dizer: Isto é óbvio! Mas não é o que se prega por aí. Há pessoas achando
que não é necessário estudar muito para ser missionário. Encontrei, certa vez, uma
jovem que dizia: "Quero ser missionária, mas não pretendo estudar mais do que um
ano". Por que esta pressa? O investimento no estudo nunca é perdido! Um missionário
precisa saber mais do que um pastor. Sua área de atuação é bastante diversificada e
freqüentemente será exigido na área de ensino, em Igrejas ou Escolas. Mesmo que
alguém diga que o povo com quem irá trabalhar é extremamente simples, quero deixar
claro que ninguém fala ao mais humilde, se não dominar completamente o assunto.
SUSTENTO
Quanto as Igrejas locais aplicam em missões? Ficaremos assustados, se ouvirmos os
relatórios financeiros, pois se gasta mais no local onde a Igreja está do que na expansão
sistemática do Reino de Deus. Por quê? Muitos são os fatores, mas o principal, em minha
maneira de ver, é a falta de visão correta nesta área.
"Por que enviar missionários a campos tão distantes?"
"Temos gente morrendo de fome no Brasil, também!"
"Temos que construir nosso Templo! Enviar missionários, além de dar trabalho, é perda de
tempo e dinheiro!"
Infelizmente, estas têm sido algumas considerações que, ainda que não verbalizadas,
existem na mente de muitas pessoas.
Quando uma Igreja entende seu papel no mundo e que deve "pregar o Evangelho a
toda criatura", ela passa a ver a realidade de seus missionários. Quanto ao sustento,
propriamente dito, devemos levar em consideração alguns aspectos importantes:
Enviar sustento para o obreiro quando está no ministério lá, e desprezá-lo quando
volta para casa, é pecado! O obreiro é missionário aqui e lá! Ele terá necessidades tanto
aqui quanto lá! É comum vermos esta atitude acontecer em Igrejas que se dizem
missionárias. É claro que critérios deverão ser estabelecidos, mas o bom senso e a
caridade cristã não podem ser esquecidos, jamais.
Dignidade é uma palavra que não tem estado no vocabulário de muitas pessoas.
Quando uma Agência Missionária não define o valor do sustento, é comum a Igreja
fazê-lo, sem o mínimo de respeito às necessidades do campo ou às do missionário. Já vi
muitos obreiros passarem necessidade, porque não há dignidade em seu sustento.
Podemos ver isto na própria vida dos pastores. São poucas as Igrejas que atendem com
amor e desprendimento às necessidades financeiras de seu pastor. O que dizer dos
missionários?
SUPERVISÃO
Deste ponto em diante, as Igrejas, via de regra, esquecem-se do missionário e deixam
tudo para a Agência Missionária. A supervisão do trabalho no campo não é trabalho
somente da Agência enviadora, mas, principalmente, da Igreja enviadora. Cito algumas
razões para isto:
1. O Missionário Precisa Prestar Relatório Confiável à Igreja
REGRESSO DO CAMPO
Algumas Agências Missionárias chamam este período de Recesso, ou "Furlough"
ou ainda "Honre Assignment". De qualquer maneira, trata-se do tempo em que o
missionário volta para sua terra natal, após um periodo de trabalho no campo. Quando se
trata de um período em todo o seu ministério, ou seja, não voltou para ficar, o regresso é
necessário e acontece para:
1. Descanso
O missionário precisa descansar junto ao seu povo, sua cultura, sua língua. Se bem
que terá, evidentemente, o que se chama de "choque cultural reverso", ou seja, ele já não
conhece seu país, sua economia, e história recente. Sua família mudou, ele mudou, seus
filhos não têm amiguinhos aqui etc. No entanto, o descanso é merecido e importante, pois
prioriza o servo de Deus.
2. Reciclagem
4. Tratamento de Saúde
Será que não temos, por alguns instantes, a impressão de que os missionários são
"sobre-humanos"? Na verdade esta "impressão" tem gerado sérios problemas na obra de
Deus. Estes obreiros são nada mais, nada menos, que pessoas! Precisam de tratamento
médico-dentário e, muitas vezes, com urgência.
No entanto, se o regresso é definitivo, tudo isto acontecerá, ou não, dependendo do
envolvimento futuro do obreiro com a obra Missionária.
Para que tudo isto ocorra com diligência e tenha o melhor aproveitamento, tanto
para o obreiro e família, como para o trabalho que realiza, a Igreja local deverá cooperar
eficazmente, lançando-se no dever de assumir um trabalho consistente e sério.
Moradia e Condução
O missionário, ao retornar, não tem casa em seu país de origem. Deixou tudo para
ir e se tornar um cidadão naquela nova cultura. E agora? Quando retorna com sua família,
irá morar onde? Alguns têm família para ajudá-los, mas não é a realidade da grande
maioria. A Igreja precisa ser sensível e atender a este período, com
sabedoria. A condução também é importante. Há sempre alguém que pode ajudar
emprestando um carro, por certo tempo.
3. Providenciando Descanso
Com isto quero dizer, fazer o missionário conhecido, não só através do púlpito e de
suas histórias contadas na Escola Dominical, mas no dia-a-dia. Membros da Igreja
poderão receber o missionário e sua família para um lanche, outros para almoços, outros
para jantares. A Igreja viverá um pouco a vida do obreiro, e sentir-se-á mais perto dele.
Lembro-me de momentos em nossa Igreja que, ao ler a carta do missionário no culto, muitos
choravam de saudade e amor. O missionário não é uma mercadoria! O missionário é uma
pessoa com todas as suas características.
S. Providenciando Para que Haja Respeito Para com o Missionário e sua Família
Ouvi um missionário, que trabalhara 4 anos em uma cultura muito diferente da nossa,
contar que, ao chegar à sua Igreja de origem, o pastor dirigiu-se ao povo dizendo: -
"Temos aqui, irmãos, os nossos obreiros e vejam como estão magrinhos!" Ora, é preciso
respeito! Se o missionário sofreu ou não, não é fato para ser narrado, como se fosse um
animal numa jaula. A Igreja deve respeitar o obreiro e amá-lo como Cristo nos amou!
O missionário sente-se, muitas vezes, como um objeto de exposição. Onde está sua
família com quem poderá rir, chorar, discutir seus assuntos do coração?
Quem passou muito tempo fora do seu país, não tem idéia das mudanças que nele
ocorreram. Se for um país inflacionário, como é nossa realidade na América Latina, os
preços mudaram, a moeda pode ter sofrido alteração. Quando os missionários chegam,
não têm condições de adaptação rápida. Aqui entra a Igreja com seu preparo logístico
importante. Não basta dizer bem-vindos, é preciso ajudá-los na dura tarefa de
readaptação.
Capítulo
3
A IGREJA LOCAL E SUA
ORGANIZAÇAO MISSIONARIA
Muito se tem falado em como organizar um trabalho missionário na Igreja local. Não
será esta a minha tarefa aqui. Pretendo analisar a atividade das Igrejas que já operam, de
alguma maneira, nesta área. Podemos fazer uma incursão ao tema de várias formas, mas
pretendo ser bastante práticos como tenho sido até aqui.
CONSELHO DE MISSÕES
Como um grupo definido irá cuidar de toda a vida da Igreja e ainda estudar sobre o
movimento missionário mundial, realizar Conferências Missionárias Anuais e momentos
missionários nos cultos, cuidado com o obreiro etc?
Todo Conselho Missionário deve ter sua administração específica, de acordo com
a estratégia missionária para a Igreja local. Uma questão a ser levantada é: "Qual é a
proporção que se deve guardar entre o investimento financeiro para as necessidades
locais e as necessidades missionárias?" Bem, depende da maneira como a Igreja
trabalha:
Se há somente uma receita: então, creio que deveremos destinar de 30 a 40%
para a Obra Missionária.
Se há uma Oferta Missionária de Fé: O Conselho de Missões deve trabalhar para
que seja também na proporção de 30 a 40% da receita dos Dízimos. Ou seja, se uma
Igreja recolhe, por exemplo, U$ 5.000,00 por mês, não será difícil recolher mais U$ 1.500,
00 a U$ 2.000, 00, por mês, só para Missões. Veja que eu disse "recolher a mais". Não é
retirar dos Dízimos. É uma oferta alçada4 de acordo com MI 3.10.
Minha experiência como pastor, nestes anos de envolvimento missionário, dá-me
a segurança de dizer que a Igreja que passa a desafiar seus membros, para investir em
Missões, dando um "passo a mais", cresce em todos os sentidos. Deus se agrada do
povo que dá com alegria (2 Co 9.7), e, conseqüentemente, o abençoa.
Da Receita de Missões: Agora, quanto à proporção que se deve usar, da Receita
Missionária, tenho a convicção de que devemos, no mínimo, aplicar cerca de 60% em projetos
transculturais e 40% em outros projetos.
CONCLUSÃO
A Igreja local tem todas as condições de recrutar, selecionar, treinar (sem dispensar
a ajuda de Escolas Bíblico - Teológicas) e enviar seus mission á r i o s . O q u e
n ã o p o d e e n e m d e v e f a z e r é esquecer-se de pastoreá-los adequadamente.
Deixá-los à própria sorte (não dispenso a ação de Deus) e sozinhos nos campos, apenas
exigindo relatórios, e enviando o sustento fmanceiro, é, no mínimo cruel e antibíblico. As
Igrejas locais devem compreender que não são uma pequena parte neste processo, mas
integrante e responsável pela saúde de seus obreiros.
No momento em que descobrirmos, juntos, que nossas comunidades locais não são
apenas celeiros (de onde se tiram coisas e pessoas), mas um organismo vivo que sente,
pensa, age e determina, certamente a Obra Missionária Mundial sofrerá um tremendo
impacto para melhor. Nossos obreiros serão mais equilibrados e poderão, sem sombra
de dúvida, realizar mais efetivo e proficuo ministério.
Sonho com a administração menos burocrática e mais díaconal. da Igreja, em
relação às missões. Mais bíblica do que costumeira; mais plena de reações de amor e
carinho; mais construtiva e mais familiar. Sei que Deus deseja ver sua Igreja agindo na
força do Espírito Santo, rompendo barreiras e costumes que são obstáculos à edificação
da Igreja como um todo e à Obra Missionária.
Se somos a Comunidade de amor, que pregamos, sejamos mais sérios no
cumprimento desta nossa fé. Deus será glorificado e vidas serão refeitas pelo Seu Poder!
A Ele toda honra e glória, todo o louvor e exaltação. Ele é a nossa vida! Ele é a
razão de fazermos missões.
Temos uma só paixão: Ele, só Ele!