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A Igreja Apaixonada por Missões Antonio C.

Nasser

0 Abba Press Editora e

Divulgadora Cultural Ltda

Categoria: Missões Cód.: 01.11.100.0495.2

19 Edição no Brasil Abril de 1995

22 Edição no Brasil Novembro de 1997

Revisão de Texto por ProfQ Tavares de Castro Cida Paião

Computação Gráfica Beth Fernandes


Foto da Capa Photo Rent

Coordenação Editorial Oswaldo Paião Jr.

Fotolito

REFRAN Stúdio Gráfico

Impressão Imprensa da Fé

É permitido a reprodução de partes desse livro, desde que citada a fonte

e com a autorização escrita dos editores.

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Prefácio os

Introdução.................................................................................................................07

Capítulo 1 ................................................................................................................................................................................................................ 11 UM RETRATO DE


IGREJAS NO PROCESSO MISSIONÁRIO Igrejas Disneylândia; Igrejas Megalomaníacas;
Igrejas Sociais; Igre-
jas Tecnocratas; Igrejas Observadoras; Igrejas Desafiadas; Igrejas Desafiadas, Porém, Independentes;
Igrejas Cooperadoras.

Capítulo 2 ...............................................................................................................................................27 A IGREJA LOCAL E


O ENVIO DE MISSIONÁRIOS
O Recrutamento; Treinamento de Missionários; Sustento; Pastoreando os Candidatos e os
Missionários; Supervisão; Regresso do Campo.

Capítulo 3.....................................................................................................................................................................61 A IGREJA LOCAL E


SUA ORGANIZAÇÃO MISSIONÁRIA Conselho de Missões; Estratégia.

Capítulo 4............................................................................................................................................................69 MISSÕES TIPO DE


FÉ VERSOS
MISSÕES COM TUDO ASSEGURADO

Conclusão ............................................................................................. 79
Meu amove grande gratidão ao Pai Celestial porSeu Filho Missionário, que nos envia ao
mundo sob Seu Poder.
Minha gratidão às Igrejas Presbiterianas Independentes de Vila Palmeiras e Marília,
onde meu ministério foi formado debaixo de grandes desafios.
Mas minha mais amiga-amante gratidão: à minha esposa Vera Lígia que com sua amizade
e amor constantes têm sido companheira e cúmplice neste ministério. Sua atitude de zelo e amor
tem trazido para nossos filhos, Daniel e Gabriel, segurança e ternura em épocas de minhas
viagens ministeriais neste país e no exterior.
PREFÁCIO
Ouvi pela primeira vez os desafios deste livro numa consulta da Associação de
Professores de Missões no Brasil em março de 1994. Soube naquele momento,
que aquela exposição teria de tornar livro. E livro se tornou! Pastor Antonio Nasser
fala com convicção às igrejas do Brasil no momento certo.
Temos já trilhado uns bons anos no caminho missionário. As igrejas têm enviado
muitos missionários (não o suficiente, nem de perto) e já estamos vendo os resultados. Há
alguns resultados maravilhosos, graças a Deus. Outros não são tão encorajadores.
Poderíamos dizer: "É natural isso; sempre tem alguns que são melhores do que
outros. Sempre tem aqueles que voltam antes do tempo. Estamos indo bem, apesar de
algumas dificuldades".
Mas o fato é que não estamos indo tão bem como poderíamos ou deveríamos.
Quais as razões? Pastor Nas-ser apresenta o nosso lado da moeda. Não podemos culpar ao
todo o missionário quando há fracasso. O missionário não é como um empregado que
quando'não satisfaz deve ser mandado embora. Somos sócios, nós que estamos nas igrejas
enviadoras e o missionário. Qual é a nossa parte? E qual a nossa falha quando o missionário
falha?
A igreja é de verdade a principal fonte de preparo, envio e sustento. As escolas e
as agências são essenciais, mas a formação básica e a base ampla do sustento pertence as
igrejas locais.
Nossas atitudes básicas em relação a Deus, Bíblia, Evangelho, homem, liderança,
culturas etc, vêm da vida na comunidade da igreja local. Não é em algumas aulas noturnas,
ou com uma orientação rápida de uma agência missionária, que o missionário é realmente
formado em seu comportamento, caráter e capacidade ministerial.
Se a igreja do candidato missionário erra na sua maneira de ser e de ensinar, este
modelo negativo é o que provavelmente será levado para os povos onde novas igrejas
serão fundadas. Se existe na sua igreja de origem uma hierarquia rígida, com um "dono"
além do Senhor Jesus, o missionário vai levar este modelo para o campo transcultural. Se
a pessoa "diferente" que entra na igreja não é aceita com alegria como uma oportunidade
de compartilhar o amor de Deus, o missionário vai ter grandes dificuldades em aceitar as
pessoas "diferentes" de outras culturas, como pessoas dignas de participar igualmente da
comunidade de Deus. Se a pregação se resume em historinhas ou espiritualizações, sem
aprofundar no ensinamento das grandes verdades bíblicas, o missionário ficará sem razão
de estar longe de casa e sem meios de fazer discípulos do Senhor. Se não houver
discipulado no caráter do candidato, ele será prejudicado e prejudicará muitos outros. Se
não há humildade, como Jesus enfatizou muitas e muitas vezes, haverá paternalismo,
lutas de poder, contendas e a construção de reinos pessoais.
Bem, o livro é do Pr. Nasser. Não devo escrever outro aqui no prefácio! Mas a
verdade é que neste momento estamos numa encruzilhada, ao meu ver, crucial. Ou
decidimos pensar, examinar, ouvir, orar e confrontar para melhorar, ou vamos estacionar
num nível medíocre de atuação missionária.
O Pr. Nasser deve ser ouvido. Que tipo de igreja é a minha? Que devemos fazer para
que os nossos membros chamados por Deus para missões transculturais, possam produzir
fruto e serem fieis para a glória do Senhor?
Que Deus abençoe a leitura deste livro! E que nos leve à transformação e ao
crescimento.
Barbara Helen Burns
Missionária Professora de Missões Transculturais e Secretária Executiva da Associação
de Professores
de Missões do Brasil (APMB).

INTRODUÇÃO

RETORNO À PALAVRA DE DEUS


As alterações em nosso mundo são grandes e rápidas. A época em que vivemos
aproxima as nações, através de uma globalização impressionante, jamais vista em toda a
História. As exigências que se impõem, para que haja uma correspondência efetiva dos
processos mercantilistas, têm gerado reflexões sobre "como" as empresas e governos
podem-se apresentar mais modernos e competitivos. Tais reflexões criaram termos como
"Qualidade Total", "Reengenharia", ISO 9000" (código de qualidade de aceitação
mundial de algum produto) etc, apresentando ao mundo esses processos como aspectos
da mais alta modernidade. No entanto, o que se apresenta como "novo" nada mais é do
que o óbvio, ou seja, o que J a deveria estar sendo feito há muito tempo!
Os pesquisadores estão descobrindo e ensinando que é preciso retornar ao básico, aos
aspectos da simplicidade. Tem se dado o nome de "Teoria do Óbvio" a esta prática: pensar
nas atitudes que irão melhorar não apenas o produto mas todo um sistema.
Quero crer que nada há de modernidade nessas propostas; ou seja, estamos vendo um
retorno a práticas que nunca deveríamos ter abandonado. Por exemplo: há diversidade de
cursos sobre como satisfazer o cliente, sobre o atendimento das necessidades do
consumidor, quanto à educação do vendedor etc. Tudo isto deveria estar sendo feito há
muito tempo. Ensinar que um vendedor deve ser educado na hora da venda é algo mais
do que óbvio! Dizer à indústria que sua produção deve ter qualidade total, desde a
compra da matéria prima até a comercialização, é óbvio, também! Faz parte do bom senso e
da honestidade. Estes princípios, infelizmente, têm sido esquecidos por grande parte das
pessoas, principalmente das que detêm o poder político e financeiro. Triste, ainda, é
constatarmos igual procedimento em ambientes religiosos, onde a Palavra de Deus
deveria imperar.
Fazendo um paralelo com as Igrejas instituídas, podemos dizer que tem havido uma
necessidade de um retorno ao óbvio. Temos ouvido "coisas novas" que, na realidade,
são antigas e deveriam integrar nossa prática de vida e ministério há muito tempo.
Enfrentamos situações que poderiam ter sido resolvidas muito bem se tivéssemos olhado
para a Bíblia, nosso único manual de fé e prática.
Creio que temos que agir, daqui para frente, lembrando da "Teoria do
Óbvio". Ensinar ao nosso povo o que é básico. O básico não é, necessariamente, o sim-
ples. A Igreja precisa compreender que aspectos serão o fundamento deste edifício.
Falando a verdade, não tem sido esta a nossa prática. As Igrejas - por exemplo - que
estão promovendo Conferências Missionárias extasiam-se com alguns ensinamentos,
acreditando que se tornarão igrejas mais modernas. Que ensinamentos fluem dali?
Basicamente, o que a Bíblia diz em termos de alcançar pessoas com o Evangelho de
Cristo! Em outras palavras, se a Igreja estivesse firme nas Escrituras, com respeito à sua
função como Corpo Missionário, já teríamos alcançado este mundo há muito tempo (em
termos de proclamação do Evangelho). É interessante que devamos ensinar à Igreja,
através de eventos como este, que ela deve obedecer à Bíblia! Não é óbvio?

Damos cursos sobre as necessidades do missionário. Ora, excetuando-se o que é técnico


(culturas, costumes...) o missionário e sua família são pessoas! Como devemos tratar as
pessoas? Tudo começa, quando olhamos no espelho! Não temos certas
necessidades a serem supridas? Por que o missionário deve ser diferente? São
aspectos da "Teoria do Óbvio"!
Não iremos desprezar o que está acontecendo! Na verdade, damos glória a Deus, por
estarmos vendo Igrejas em Conferências Missionárias, em treinamento para alcançar este
mundo para Cristo. Faço colocações no sentido de que temos de compreender que não
estamos fazendo nada de novo e sim, graças a Deus por isto, retornando aos
ensinamentos do Senhor Jesus à sua Igreja. Estou advogando que não devemos orgulhar
nos de empreender a obra missionária; pelo contrário, devemos alegrar nos por estarmos
voltando aos princípios básicos da fé cristã.
Espero que você não tenha "pré-conceitos" para continuar lendo estas páginas. Não
pretendo passar por soberbo. Quero apenas chamar sua atenção a certos aspectos básicos
(para não dizer óbvios) que não podemos esquecer. De certa maneira faço o mesmo que
todos: Vamos retornar ao que é simples, básico e, é claro, óbvio!

Capítulo
1
UM RETRATO DE IGREJAS NO
PROCESSO MISSIONÁRIO
Não é fácil enveredarmos pelo caminho da avaliação da nossa própria prática como
igreja no processo missionário de maneira honesta e sem susceptibilidade' . Espero não ser
tão crítico, que ve nha a empanar a beleza da Noiva de Cristo, no mundo. Na verdade,
desejo apenas retratar dificuldades que nesta área devem ser resolvidas. As qualidades da
Igreja são claras e estão aos nossos olhos. Os problemas devem ser resolvidos e, para que
cheguemos a isto, é necessária uma análise destemida; porém, sob o temor de Deus.
Dei alguns nomes para algumas atitudes de algumas igrejas. É apenas uma maneira
de olhar criticamente para nosso procedimento no mundo. A primeira vez que tratamos
deste assunto foi numa consulta da Associação de Professores de Missões do Brasil -
APMB, num momento de reflexão sobre a Igreja local e o envio de obreiros. Desta
forma, o resultado ali obtido foi posto à disposição do público. Certamente você verá
alguns dos conceitos em outras publicações.

Igrejas Disneylândia
Parece-me que não são poucas as pessoas que estão se enveredando pelo caminho
da busca do prazer, em nossas Igrejas, como sendo a coisa mais importante de suas vidas.
Querem o culto que alegra, a música que balança, a pregação que faz rir, o lugar da
fantasia! A fantasia é um dos recursos infantis. São Igrejas que se posicionam
puerilmente e gostam disto.
A fantasia tira o homem da realidade crua e de difícil interação. A fantasia faz rir,
sonhar, viver num mundo em que sempre se vence! Você já viu uma criança brincar? Ela
entra em seu mundo do faz-de-conta e se transforma nos maiores e melhores super-
homens; ela se veste da vida de seus personagens e vence todos os problemas. Basta que
haja a vontade e pronto!
Sonhar, criar mocinhos e bandidos, naves espaciais e monstros com quem lutar é
melhor do que enfrentar o que se tem por aí! A linguagem da fantasia tira-nos da razão e
leva-nos para a simples emoção. Sentir passa a ser o objetivo maior.
Você conhece Igrejas que se expressam assim? Podemos pensar sobre a validade de
tais práticas e perguntar: - "O que há de errado em se desejar uma grande alegria?" Nada,
desde que isto não seja o centro de nossa vida e ministério. A Igreja não é um parque de
diversões esperando por seus clientes! Somos uma comunidade de amor, a qual se alegra
e chora; que trabalha e descansa; que crê em milagres e vive-os, sem pender para o
"milagrismo"; que estuda a Palavra integral, sem pretender ficar só com as promessas!
Os problemas de uma "Igreja do Prazer", na obra missionária, são imensos.
Algumas perguntas:
"Como levar este povo a uma responsabilidade que nasce do compromisso com
Cristo e com Seu Corpo?"
"De que maneira irão arregaçar as mangas e partir para campos missionários de
difícil acesso?
"Como poderão compreender que a obra missionária exige coragem,
perseverança e muito sacrifício?"
"Como poderão ver os campos difíceis e problemáticos?"
Os filhos da Igreja é que serão os missionários, não é mesmo? Que modelos terão
para seguir? Que tipo de Igrejas plantarão (se conseguirem) no Campo Missionário? Que
exemplos darão para o discipulado?
A fantasia é um instrumento normal na criança, mas de alienação, no adulto! A
Igreja adulta realiza a obra de Deus, mediante projetos bem definidos e sérios, e não
perde tempo pensando em satisfações emocionais. Deus nos ensina em Sua Palavra que o
trabalho é árduo e precisa de concentração. Veja, por exemplo, Mateus capítulo 10.
Várias vezes o Senhor apresenta aos seus discípulos a realidade que contrasta com a
"vontade" humana. Em determinado momento, o Senhor Jesus diz:
"Eis que vos envio como ovelhas, para o meio dos lobos; sede, portanto,
prudentes como as serpentes e símplices como as pombas".
E ainda:
"Não temais os que matam o corpo, e não podem matara alma; temei antes
aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo. ( .. ) Não penseis
que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão
entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim os
inimigos do homem serão os da sua própria casa". (Mt 10:16,28,34-36).
Onde estão, neste texto, a prática constante e permanente do prazer? Não existem
tensões, lutas, dificuldades, temores? Não são momentos de vigilãncia e atividade
perigosa? O Senhor Jesus nunca enganou a seus discípulos, apresentando-lhes um parque
de diversões. A vida é muito mais do que só brincar. Há tempo para tudo!
Igrejas Megalomaníacas

Nesta última década convivemos com a realidade de um crescimento numérico


bastante grande, fruto de um avivamento que invade nossa terra. Tenho visto famílias
inteiras chegando a Cristo e tendo nova vida nele. São milhares de novos convertidos
semanalmente, em nosso país o que tem forçado as Igrejas a se adaptarem em termos de
estrutura física, liderança e ensino. Nesta jornada maravilhosa, onde as Igrejas crescem
constantemente (o que é uma bênção tremenda) temos visto o desprezo de alguns, em
relação às coisas simples e básicas da fé cristã.
Algo que me preocupa, por exemplo, é o fato de que muitas Igrejas acabaram com
as Escolas Dominicais, em nome da impossibilidade de manterem-na, por causa da
expansão numérica, ou por causa de uma visão de que a Escola Dominical pode ser
substituída pelo ensino em família. A Igreja, então, está se reduzindo a 4. cultões" de
celebração. Este deve ocupar o seu espaço, ao invés de tomar "todo o lugar" da vida
comunitária.
As pessoas já não se conhecem nas Igrejas e nem mesmo compreendem o que
acontece nos bastidores da administração. Parece que estamos vivendo a era do
"arrastão", só que de ondas de "modismos" que podem fazer perecer a continuidade do
trabalho sério. Não estou pensando em termos negativos ou contra o crescimento das
Igrejas. Acho tudo isto maravilhoso e participo ativamente de tudo, com a vontade de ver
a Igreja de Cristo mover-se em direção a uma proclamação, consistente e permanente do
Reino de Deus.
O que temos que avaliar com sabedoria (e que Deus no-la dê) é o fato de que o "espírito
megalomaníaco" tem sido mais importante do que as pequenas e singelas coisas a serem
trabalhadas. Grandes Igrejas são importantes; mas, atender suas necessidades é igualmente
importante. Uma das áreas esquecidas é a de missões. Gran des Igrejas oferecem grande
soma de dinheiro e...? O que mais elas poderão oferecer, além de preocuparem-se com
grandes eventos, nas grandes cidades, em grandes concentrações de pessoas, com
grandes bandas e grandes pregadores?
Só Deus é grande e Todo Poderoso; a Igreja, não! Devemos, então, fugir da
realidade que nos cerca, evitando que as Igrejas cresçam? Absolutamente não! O que
temos a fazer é procurar manter a vida pastoral de forma íntegra com os padrões do
Reino de Deus e a necessidade básica do povo. Se só pensarmos em mega-Igrejas,
poderemos transformá-las em empresas que não se preocupam com a vida do simples
funcionário. A questão é complexa; pois, enquanto escrevo estas linhas, lembro-me de que
nossa Igreja Local está crescendo e exigindo, ao mesmo tempo, atenção aos aspectos de
comunhão dos membros, integração de novos crentes, mais espaço e maior estrutura. No
entanto, os povos sem Cristo, as nações sem possibilidade de ouvir, as línguas que não
receberam, ainda, uma porção sequer dos Evangelhos, continuam clamando nossa
atenção!
Se a Igreja só se preocupar com seu mega-crescimento, poderá esquecer-se de
que, enquanto cresce, desobedece ao Senhor a Quem procuram servir. A preocupação
exagerada com o local, pode nos fazer esquecer da pregação a todas as nações. O
Evangelho do Reino de Deus, deve ser pregado a todas as "etnias", em testemunho a
todos os povos. Que assim seja!

Igrejas Sociais

Vivemos numa época em que a informação é extremamente rápida. Do sofá de


casa podemos assistir ao que se passa no mundo: suas guerras, sofrimentos, fomes,
pestes. Ficamos propensos a desenvolver atitudes de compaixão, em relação ao estado
social deste povo; esquecendo, no entanto, sua realidade espiritual.
Antes de mais nada, quero dizer que não sou contra a atitude social da Igreja. É
bíblica e faz parte do retorno à dignidade humana. No entanto, reduzir a ação do Corpo de
Cristo ao trabalho puramente social faz do povo um grupo de trabalho em prol da vida,
mas, apenas, da vida terrena.
Faço uma colocação contra os extremismos. Olhar uma criança pobre, maltrapilha
e com fome, contorce nosso coração, é verdade; mas pensar em sua realidade espiritual
deveria produzir muito mais compaixão. Se realmente pudéssemos enxergar o mundo com
os olhos de Deus, levaríamos a Palavra Viva, que salva e santifica com toda a urgência.
É absolutamente claro que devemos dar o pão ao que têm fome, sem esquecermos da
necessidade que têm de ouvir e crer na Palavra de Deus. Não devemos, entretanto, reduzir
o trabalho missionário ao aspecto puramente social.
Muitas Igrejas, graças a Deus, estão firmes quanto à ação a favor da vida, mas não
podem esquecer-se do Evangelho integral. Esta é a questão mais crucial. O homem
precisa ser alcançado integralmente pelo Evangelho de Cristo que é pleno, completo em
sua ação. Missões levam-nos a olhar o mundo, como Cristo o olhou; a amá-lo, como Ele
o amou; a agir em relação aos problemas, sejam sociais ou espirituais, como Ele o fez. Ao
multiplicar pães, Jesus mostrou que não está alheio às necessidades do ser humano; mas, ao
morrer na cruz, resgatou este ser na sua totalidade. Como servos de Cristo, temos a
função de conduzir vidas ao conhecimento do Senhor!

Igrejas Tecnocratas
Este é o grupo que fica firme nos modelos pré-fabricados e técnicas previamente
estabelecidas! Tais igrejas supervalorizam os métodos em detrimento do conteúdo.
Alguns passos para crescer, outros tantos para ser santo, como ser feliz em 10 lições etc.
Novamente, minha palavra objetiva, os extremismos. Há métodos eficazes, mas eles não
são estanques! Deve haver um mover do Espírito de Deus na Igreja, de forma a ensiná-la
a agir. Há comunidades evangélicas que nada sabem sobre os "pacotes" que estão à
"venda", mas crescem assustadoramente, fazendo a obra do Senhor com alegria e
destemor, e são corajosas para se posicionar frente às necessidades do mundo.
As Igrejas que buscam pacotes que resolvem tudo, podem ficar inertes, imóveis.
Procuram saber o que fazer nesta ou naquela situação, olhando para a lição "x". Parece um
manual de fé; como se esta pudesse ser manipulada. Será que estou exagerando?
Em Missões, a Igreja precisa ouvir o Espírito de Deus, precisa estar alerta e aberta
à Sua voz e direção. A Igreja em Antioquia, treinada pelo Senhor, através de Paulo e
Barnabé, soube reconhecer e atender à ordem do Espírito Santo, e enviar aqueles servos
às viagens missionárias (At 13.1-3). Havia ali uma disponibilidade para alterar planos
previamente estabelecidos. Paulo e Barnabé agiram ali por cerca de um ano, e logo o
Senhor os direcionou a deixar a Igreja. Se fosse eu e você, talvez disséssemos: "Fiquem
conosco, somos inexperientes ainda, por que deixar uma Igreja crescente, para se dedicar
aos perdidos que nem sabemos onde estão?"
Que pecado! Nossa mente não é muito afeita a mudanças drásticas. Parece que
precisamos de tempo para digerir o que o Senhor está fazendo! Mas graças a Deus que
aqueles irmãos da Igreja em Antioquia ouviram o Espírito Santo e prontamente
atenderam. Não ficaram parados, esperando uma nova estruturação administrativa, ou
uma alteração crescente na liderança. Ao ouvirem o chamado de Deus (e este foi para
toda a Igreja!) logo atenderam!
Igrejas que estão se despertando para a Obra Missionária precisam aprender a ouvir o
Espírito de Deus e atendê-lo imediatamente! Não basta "fazer" conferências, é preciso
também saber que Deus se move como quer, para o que quer, de acordo com Sua
Vontade Soberana. A Igreja ouve e obedece!

Igrejas Observadoras
Estas já passaram por algum tipo de contato com Missões, já receberam em seu
seio algum missionário e já tiveram, infelizmente, traumas a respeito. Foram vítimas de
pessoas inconseqüentes que macularam a Noiva do Senhor, com atitudes incoerentes para
um missionário. Alguns deles viram a Igreja como um grande Banco Financeiro, capaz
de resolver seus problemas. Outros agiram com irresponsabilidade, quanto ao que lhes
foi designado e mentiram, quanto ao seu trabalho (quantos, ainda, forjam relatórios para
não serem confrontados, relativamente ao que deveriam ter feito!).
Estes traumas trazem à Igreja uma atitude de desconfiança generalizada. Aqui
reside a dor e o problema: a generalização promove a paralisação! A partir daí a Igreja
passa apenas a "observar" o que ocorre, sem expressar qualquer desejo de participar. É
como o menino que se machucou no jogo de futebol e, depois, com medo, apenas observa!
O que este procedimento promove? Certamente uma estagnação na Obra Missionária. A
cura se faz necessária e precisa ser realizada com rapidez, sob pena de isolamento e
desdém! Já ouvi pastores dizerem que "a obra missionária dá muito trabalho; não vale a
pena".
O que será que encontramos por detrás destas palavras? Encontramos, talvez, a dor de
terem visto "aquele" seminarista causando escândalo no Corpo; "aquele" pastor
desviando-se do trabalho que lhe foi proposto; o
missionário que saiu para o campo, deixando para trás relacionamentos desfeitos etc.
Mas aqui vai uma boa notícia: estas comunidades têm cura! Precisam olhar para o Senhor
da Obra e não para os obreiros. O perdão ainda é bíblico e precisa ser transmitido! A
Palavra de Deus e Sua Vontade em relação ao mundo continuam valendo!

Igrejas Desafiadas
Graças a Deus que há muitas Igrejas já desafiadas pela Palavra de Deus e estão se
envolvendo na Sua Obra. O trabalho missionário passou de uma visão local e nacional
para algo de amplitude mundial. Estas comunidades já estão estabelecendo conferências
(anuais, semestrais etc.) e projetos de apoio. No entanto, desejo salientar um perigo que
correm, se desviarem dos objetivos da Palavra: podem tornar-se "Igrejas-Evento", nas
quais a campanha é mais importante que a continuidade. Isto já tem acontecido em nosso
país com freqüência. A conseqüência desastrosa é que podem tornar-se Igrejas Ob-
servadoras.
Quando falo de evento, ou campanha, estou me referindo às atividades que
expressam "mostrar serviço" e não levam em consideração aspectos importantes da
Missiologia e Eclesiologia. Levam a Igreja a um ativismo exacerbado, mas, com
características inconseqüentes. Infelizmente, geram apenas o barulho; o trabalho fica
muito a desejar!
Uma Igreja Missionária precisa ser perseverante em todo o processo. Não apenas
em uma ou outra ação de vulto, mas também precisa saber que a Obra Missionária só
terminará, quando o Senhor Jesus voltar. E se isto vai demorar ou não, está fora de nosso
alcance. O que devemos fazer, como Igreja envolvida na Obra de Deus, é prepararmo-
nos para uma ação contínua, perseverante, séria, que tenha em mente um trabalho cons-
tante!
É comum sabermos de missionários que saíram de suas Igrejas e países (muitas vezes)
sob festas e toques de trombeta; após um ano, ficaram sem sustento e sem notícias da
Igreja. Que trabalho é este? Seria mais fácil contratar uma agência de turismo! Isto é um
horror! A Igreja, ao enviar um obreiro para o campo, precisa saber que estará se
responsabilizando durante todo o tempo em que estiver na Obra! Sustento, cartas de apoio,
atendimento pastoral, notícias da Igreja e do país (se estiver fora) etc. Precisam estar na
pauta de ação de uma Igreja Missionária.
Deveríamos olhar mais de perto a experiência dos irmãos Morávios.
Uma bela análise deste movimento foi feita por Colin Grant, missionário em Sri
Lanka, por doze anos, falecido em 19762. Creio que será de grande bênção para todos
nós que, nestes últimos dias da Igreja Cristã, desejemos visitar todo o mundo com o
Evangelho de Cristo Jesus.
A obediência missionária dos Irmãos Morávios era essencialmente alegre e
espontânea, antes de tudo.
Falando sobre Herrnhut (A comunidade formada pelos Morávios, em terras do
Conde Nicolau Von Zinzendorfl, um dos morávios escreveu: "O lugar todo parecia um
verdadeiro tabernáculo de Deus entre os homens. Não se via nem se ouvia nada, além
de gozo e alegria".
A convicção missionária era tão latente, que o Dr. A. C. Thompson, historiador do
início das missões morá-vias, escreveu: "O dever de evangelizar os pagãos está tão
profundamente alojado no pensamento atual, que o fato de alguém entrar pessoalmente
nessa obra não cria qualquer surpresa ... não é considerada como uma coisa que exija
ampla proclamação, como se estivesse acontecendo algo prodigioso ou mesmo fora do
comum".
Pessoalmente, creio que temos estado um pouco fora da real motivação missionária, em
nossos dias. Queremos que, através de grande e intensa propaganda, homens e mulheres
envolvam-se na expansão missionária, em todo o mundo. Para que isto ocorra, o que fa-
zer? Criamos agências enviadoras que se especializam no "envio missionário" - nada
tenho contra a existência delas, eu mesmo coopero com a Missão Internacional para o
Interior da África.
As comunidades locais, por sua vez, muitas vezes desprovidas de vida intensa na
prática cristã, são levadas a acreditar que a Obra Missionária é realizada por "alguns"
sacrificiais missionários, envolvidos com organizações e movimentos. Daí o perigo do
evento pelo evento! Herrnhut era diferente: sua característica era a naturalidade com que
a Obra Missionária iniciou-se e se expandiu. Não havia "heróis" missionários, mas uma
Igreja voltada para sua função no mundo!
Grant cita o Rev. Ignatius Latrobe, ex-secretário das missões morávias, no Reino
Unido, durante o século passado, quando ele escreveu:
"Achamos que é um grande erro apresentar os missionários, depois de sua
nomeação, à notoriedade e admiração públicas e elogiar bastante a sua devoção ao
Senhor, apresentando-os às Igrejas como mártires e perseguidos, antes de eles partirem
para seu trabalho. Nós preferimos aconselhá-los a partir silenciosamente, recomendando-
os às fervorosas orações da Igreja..."
Quão distantes temos estado deste ardor e seriedade missionários. Nossas
comunidades locais não têm-se sentido responsáveis pelo trabalho missionário; "jo-
gando", por assim dizer, a responsabilidade em organizações missionárias ou juntas
denominacionais. Estas, com um esforço imenso, tentam atingir as Igrejas Locais com um
despertamento, procurando de lã retirar seu material humano e financeiro. Parece-me
que há algo errado, não é mesmo? Enquanto ficamos neste vai-e-vem interminável, os
pagãos morrem em sua ignorância espiritual, e nós continuamos discutindo sobre o ônus
da culpa!
Lembro-me de quando cooperava com minha esposa, numa empresa de
cosméticos. Ganhávamos diamantes em nosso broche, créditos por nossa produção e
muito dinheiro. O Senhor nos tirou daquilo tudo, graças a Deus, e abriu nossos olhos, para
percebermos que muitas de nossas Igrejas agem assim. Parece que estamos numa corrida em
busca de muitos prêmios.
"Vamos ser melhores que aquela Igreja, vamos mandar mais missionários!"
(mesmo sem nos importar com a qualidade).
"Vamos levantar muito dinheiro, (mesmo que seja gasto em outras coisas) e dizer
a todos que estamos na "onda" também!"
Amados irmãos, que o Senhor nos direcione, novamente, à real motivação cristã!
Na Obra missionária dos morávios, é claro, aconteceram problemas e defeitos.
Foram mais evangelistas do que edificadores de Igrejas fortes, mas, nas palavras de J.R.
Winlick:
"A Igreja morávia foi a primeira, entre as Igrejas protestantes, a tratar esta obra como
uma responsabilidade da Igreja como um todo, em lugar de deixá-la para as agên- cias,
missionárias ou pessoas especialmente interessadas".3

Igrejas Desafiadas, porém Independentes

Este é um ponto que, no processo histórico de missões, no Brasil, tem se mostrado


como um verdadeiro perigo. É o caso de Igrejas que estão desafiadas, j à conhecem o ardor
missionário, oram por obreiros (Mt 9.38) e estão se envolvendo cada dia mais. Mas até
aqui, o que há de errado? Nada! Na verdade, é a partir disto que pode existir um perigo
iminente: a "Declaração de Independência!"

Chamo de Declaração de Independência a atitude de algumas comunidades que se


isolam e resolvem trabalhar sozinhas, sem a cooperação de Escolas e/ou Agências
Missionárias. Imagine, por exemplo, a Missão Internacional para o Interior da África
(AIM International - MIAF, no Brasil). Foi fundada em 1895, por Peter Cameron Scott
que, após muito orar e suplicar a Deus por saúde, partiu em direção ao Continente
Africano, com o objetivo de penetrar em seu interior. Ora, tudo isto em 1895! De lá para
cá, nasceu a Igreja do Interior da África com mais de 2.000.000 membros!
Será que poderemos dispor de uma experiência tão rica como esta, para
simplesmente entrarmos em outra cultura através da Igreja Local? Tenho certeza de que
não! Agora, é importante que se diga que não estou dizendo que as Agências sabem de
tudo e que são os únicos legítimos caminhos para se chegar ao campo.
O que tenho visto, no entanto - e me preocupa bastante - é que várias Igrejas querem
chegar primeiro, querem marcar seu gol, querem apresentar seu relatório!
Há muitos lugares que já estão rejeitando missionários brasileiros! Por quê?
Porque temos agido sem estrutura, sem entendimento, sem considerar a outra cultura,
enfim, sem capacitação suficiente. Há casos em que alguns se posicionam, dizendo-se
cheios de fé e partem para o campo. Acabam vivendo pela fé..., fé dos outros
missionários que têm que socorrê-los!
Isto é terrível e parte nosso coração. Falta o entendimento de que a Obra
Missionária é um conjunto de esforços, com propósito bem definido: fazer o nome de
Deus conhecido em todas as nações! Há diversidade de instrutores, professores, mestres
em nosso meio, e devemos considerã-los. Por exemplo: Lingüistas, Antropólogos,
Teólogos, Missiólogos, Administradores etc. Não podemos dispensar sua ajuda e
importante cooperação.

Harambee
Em 1987 estive participando de jantares promocionais da MIAF, nos EUA. O tema
foi: "Harambee!". Achei interessante e desejei saber o que isto significava. A palavra
pertence à língua suahili (África) e seu significado é parecido com este esforço comum:
"Vamos puxar juntos". A idéia é, exatamente, não dispensar qualquer ajuda no
desenvolvimento missionário.
Precisamos das Escolas Teológicas e Missiológicas, das Igrejas, das Agências.
Precisamos de todos, para podermos ganhar alguns. Isto é cooperação. Igrejas que
passam por cima de tudo, muitas vezes, reclamando para si a propriedade da direção
divina, podem estragar, e muito, os campos e o relacionamento missionário.
Vamos puxar juntos, vamos, num esforço comum, trabalhar para que a glória de
Deus alcance o maior número de povos e pessoas. Como diz o Movimento A.D. 2000; -
"Uma Igreja para cada povo e o Evangelho para cada pessoa, até o ano 2000".

Igrejas Cooperadoras

Chega de problemas: Vamos ao ideal! Na verdade, aqui, vê-se a necessidade de sermos


simples, e andarmos com base no que é óbvio! As Igrejas precisam cooperar, juntar forças
na Obra do Senhor. É necessário coragem para isto; pois exige que, todos nós, com
humildade, nos assentemos e conversemos longamente sobre os
propósitos que temos. Será que nossas Juntas Denominacionais têm coragem de se
agrupar, num esforço conjunto, às Agências Interdenominacionais, e vice-versa? É hora
de cooperação real, constante e plena. Há campos que têm vários missionários de várias
entidades, as quais jamais conversaram a respeito de seus
objetivos e meios de alcançar o povo. Parece que cada uma deseja plantar sua bandeira, a
qualquer preço, não importando se irão aglutinar pessoas em um só ponto, e deixar povos
sem Cristo. A mim me parece (posso estar enganado), que estamos numa corrida
maluca, como subir o Monte Everest! Queremos chegar primeiro, e, se for impossível,
precisamos colocar, ao menos, a nossa flãmula para que tremule ali para sempre!
Isto mais se assemelha a uma brincadeira de crianças do que a uma guerra ferrenha
contra o diabo e seus anjos, para conquista de povos que estão sem a Luz de Jesus!
Perdoe-me se estou criticando demais, mas é muito importante que olhemos para dentro de
nós e de nossas organizações e sondemos as nossas reais motivações.
Por outro lado, é preciso cooperação no treinamento. Escolas precisam conversar
com Agências e com o Campo Missionário' para saberem qual é o perfil de obreiro a ser
recrutado. Ao contrário, temos nos fechado em nossos currículos herméticos, e
treinamos os candidatos, de acordo com nossa consciência. Não que esteja errado, mas
parece ser impróprio, se desejamos alcançar outras culturas. O diálogo amoroso e
destemido fará com que nos acheguemos mais e mais e construamos pontes
permanentes.
Por que as Igrejas reclamam das Escolas e estas das Igrejas? É simples, não há
diálogo; não há aproximação. Os que estão nas escolas reclamam para si o direito de
conhecerem mais, de terem mais cultura; já, os da Igreja julgam-se os espirituais, que
nada têm a ver com o "corrompido estudo" que os cerca. Novamente parecemos
crianças, reclamando o brinquedo preferido. Chega de tal atitude! Vamos dar as mãos,
vamos puxar juntos! Harambee!
Capítulo
2
A IGREJA LOCAL E O ENVIO
DE MISSIONÁRIOS
AIgreja Local é a mãe que dá seus filhos para a Obra, mas que deve, sob pena de perder
muito, cuidar deles com sabedoria. Este é um ponto de grande importância em nossos
dias. Parece que, quando temos um candidato, enviamo-lo para uma Escola, com a
bênção e o conselho: "Volte um Missionário!" É claro que não deve ser assim.
Novamente a Teoria do Óbvio: Missionários nascem nas Igrejas, pois são vidas que
foram alcançadas pelo Evangelho de Cristo, ali cresceram e foram chamadas pelo Senhor.
Este é o primeiro entendimento.
Se queremos ver nosso mundo sendo alcançado, as Igrejas Locais precisam
compreender esta dinãmica. Os obreiros estão no seio da Igreja e por ela deverão ser
enviados. A Igreja é o berço dos missionários!

O RE CR UTAMENTO
Por recrutamento entendemos a ação da Igreja em receber os que Deus já direcionou para
o trabalho missionário. Podemos dizer que o recrutamento exige um cuidado muito grande
por parte da Igreja local. Quando temos unia pessoa, ou casal, membros da Igreja, que querem
dedicar tempo completo para o Senhor, que devemos fazer?

Missionário Local

Este é o que cresceu na Igreja e se apresenta como candidato à Obra. Que cuidados a
Igreja deve ter? Quais os deveres solicitados? Que tipo de ministério deverá ser
desenvolvido? Estas e outras perguntas deverão estar na mente da Igreja, ao deparar com
um candidato a Missões. Vamos às qualificações necessárias:

1. O Candidato Deverá ser um Crente com Vivência Apreciável na Vida Cristã

Por apreciável quero dizer de uma vivência em que a Igreja já reconheceu


maturidade cristã, para o desempenho do ministério. Aqui temos duas outras questões a
responder:

a. Candidato Sem Preparo Formal

Este está se candidatando a um tempo de treinamento numa Escola Teológica. Muito


bem, mas que maturidade tem ele para enfrentar as adversidades comuns desta época?
Sabe-se de casos em que jovens candidatos (vocacionados) entram para o Seminário,
com todo o "fogo" pela Obra e deparam com um enorme "Iceberg" de desânimo e
descrença. Sem maturidade, estes jovens sofrem e, muitas vezes, abandonam todo o
treinamento.
A Igreja precisa definir um preparo "não formal" antes de enviá-lo a uma Escola Teológica.
Este preparo deve ser aplicado pelo Conselho de Missões e supervisionado pelo Pastor ou
por um líder capacitado para tal, havendo um processo de avaliação sério, quanto ao
chamado recebido. Muitos se candidatam por um estímulo emocional! Isto é um perigo.
Vamos checar as informações da das pelo candidato, sem medo de estar pecando. Pecado
é crer em tudo, sem sabedoria e discernimento, pois poderemos estar cooperando com a
destruição de um ministério futuro.

b. Candidato Com Preparo Formal

Estes já passaram por uma Escola e se apresentam à Igreja, para o trabalho


propriamente dito. Bem, a Igreja precisa procurar saber seu empenho durante o tempo de
treinamento; seu testemunho na Escola; seu envolvimento com a prática ministerial etc.
Um candidato j à preparado formalmente precisa ser avaliado, também, quanto ao seu
preparo espiritual, seu caráter, sua seriedade no trabalho etc. Não devemos presumir que
um preparo formal já concedeu o suficiente para o futuro missionário.

2. O Candidato Deverá ter Suficiente Ministério na Igreja Local

Quero dizer com isto que quem verdadeiramente envia o obreiro é a Igreja e não a
Agência. Quem avalia a vida e o trabalho do missionário é a Igreja Local. Em Atos dos
Apóstolos, capítulo 13, vemos Saulo (Paulo) e Barnabé sendo enviados pela Igreja de
Antioquia. Eles eram os mais capacitados dentre a equipe pastoral, e a Igreja,
reconhecendo o ministério de ambos, enviou-os sem medo! Havia confiança para tal
procedimento.

3. O Candidato Deverá estar Submisso às Decisões da Junta ou Conselho de Missões


A Igreja precisa entender que não é uma Agência de Turismo, pronta para satisfazer os
desejos das pessoas. É necessário que a Junta tenha estratégias bem claras, como, por
exemplo: nações não alcançadas, definição dos povos e países a serem alcançados, dentro
de certas áreas (Janela 10/40 p. ex.), e priorizá-las. Se um candidato não se encaixa nas
estratégias da Igreja, poderá haver um consenso sobre o assunto, até se entender uma
mudança de planos. Digo estratégias bem definidas, porém sem rigidez! Devemos
compreender a estratégia de Deus em todo o processo. Minha ênfase se dá em termos de
uma atitude coerente, sem medo do diálogo que visa a uma melhor tomada de decisão.

4. O Candidato Deverá Apresentar-se à Igreja Antes de Fazê-lo à Agência


Missionária

Isto se deve à necessidade de haver um acompanhamento da Igreja, quanto aos


planos traçados pelo missionário. É muito comum um obreiro iniciar o processo de
recrutamento em uma Agência Missionária e, depois de tudo acertado, apresentar-se à
Igreja e solicitar o sustento! Por que esta inversão? As Igrejas deveriam acompanhar seus
obreiros no processo de recrutamento, mesmo porque há uma necessidade de o povo de
Deus reconhecer que aquele obreiro realmente foi chamado e está nas orações de todos.

5. O Candidato Deve ser Alguém que não Tenha Medo de se Preparar


Adequadamente
Já encontrei pessoas que desejam ir para o campo o mais rápido possível e se
rebelam contra qualquer um que aconselhe um treinamento mais prolongado. Por que sair
correndo? Poderemos, com um bom preparo, ganhar alguns anos no campo; mas, sem ele,
certamente iremos perder muito mais. Quantos casos de missionários frustrados,
despreparados cultural e lingüísticamente e que acabam por "queimar" todo trabalho
outrora iniciado?
6. O Candidato Precisa Ser Alguém que Saiba Ouvir e Esteja Sempre Pronto a
Aprender

Vamos falar a verdade! Temos alguns missionários que pretendem ser os Careys, os
Livingstones, os Taylors, porém demonstram tanta falta de tato, de sensibilidade, por
sentirem-se "sabedores de tudo"! Isto é terrível. O candidato precisa ser avaliado, quanto
à facilidade com que aprende, sua humildade diante dos que o estão ensinando. Os que
demonstram soberba e egocentrismo precisam ficar de fora! Não há lugar para os que se
posicionam independentes de liderança e ensino adequado! Como fará no campo, diante de
uma liderança local?
Se, por um lado, temos o "Missionário Local" por outro temos o "Missionário
Associado", ou seja, aquele que foi adotado pela Igreja Local, mas que não pertence a
ela. Muitas vezes - talvez na maioria delas - ele aparece para solicitar cooperação no seu
sustento. De qualquer forma, a Igreja depara com um missionário e toda uma gama de
necessidades. O que fazer? Como deve ser encarado este fato? Vamos aos pontos que,
creio, são muito importantes.

Missionário Associado

Além, é claro, de entrevistas e formulários preenchidos, a Igreja deve estar agindo


como quem cuida do que não é seu: com muito temor de errar. Missionários que vêm de
fora precisam trazer consigo todas as características já explicitadas acima (Missionário
Local), e algo mais. Seus pastores devem ser contatados, para que se posicionem,
confidencialmente, sobre o obreiro, relativamente ao caráter, vida espiritual, ministérios
desenvolvidos, relacionamentos interpessoais etc. Além disso:
O Missionário Deve Ser Alguém que se Deixe Conhecer Pela Igreja
Nada de desespero! A Igreja local precisa saber quem é o obreiro e sua família, precisa
ter um tempo de convivência com eles e presenciar, não apenas sua pregação, mas seu
dia-a-dia. A Igreja deve abrir espaço para isto, nas residências dos membros, deve
promover momentos de convivência, conversas e situações em que o missionário possa
se abrir, falar de seus sonhos, de suas aspirações. Tenho visto, algumas vezes, obreiros que
desejam sustento da Igreja Local e enviam, sem qualquer consideração a este
procedimento importante, apenas um currículo de atividades e uma carta de solicitação de
verba. A Igreja não é um banco financeiro ou uma fundação de ajuda a missionários. Se
não houver conhecimento mútuo, dificilmente haverá continuidade de qualquer coo-
peração. A palavra-chave aqui é Personalização! O missionário é uma pessoa e deve ser
tratado como tal.
Por outro lado, a Igreja é formada de pessoas que precisam ser consideradas.

2. O Missionário Deve Trazer Planos Bem Definidos, Quanto ao seu Envolvimento


com Missões, bem como sua Atuação na Agência Missionária (se houver)
A Igreja tem ficado à margem do processo missionário, no que diz respeito ao
conhecimento das atividades a serem desenvolvidas pelo obreiro no campo missionário.
Eu sei que nem sempre é possível saber exatamente o que será feito; mas, pelo menos,
um traçado fundamental de ministério. Não é importante apenas conhecermos o obreiro
e o país destinatário. Precisamos envolver-nos no trabalho missionário como um todo.
Vejamos por quê:

a. O sustento não envolve apenas salário

Um trabalho sério leva em consideração todo um projeto de atuação no campo.


Pode haver a necessidade
de veículo, material de trabalho, ajuda de nacionais, viagens, seguro médico etc. A Igreja
precisa acompanhar tudo isto e o missionário precisa falar, sem medo, de suas necessidades! O
que tenho presenciado é a insegurança com que um obreiro apresenta seus planos, já
iniciando a conversa como um perdedor, como alguém que não vai conseguir ajuda! Por que
esta síndrome de miséria?

b. Um trabalho missionário não envolve apenas plantar Igrejas

Podemos enviar missionários que irão ficar em posição de apoio? É certo


mandarmos para o campo uma pessoa que irá cooperar na área financeira de uma Mis-
são? Estas perguntas têm sido levantadas e mostram quanto sabemos a respeito de
Missões. Plantar Igrejas, é claro, é a área mais determinante de um trabalho missionário;
mas não é só isto. Há lugares em que precisamos de pilotos de avião, mecânicos,
construtores, médicos, enfermeiros etc.

c. As necessidades para se estabelecer um trabalho missionário são inúmeras e


bastante diversificadas.

Como atingir um grupo, numa determinada cultura, sem o conhecimento da língua?


De que maneira teremos um trabalho eficaz, se as distancias entre as aldeias são muito
grandes e o missionário tem um veículo (quando tem) inadequado? Como atingir, de forma
efetiva, um povo que está em guerra (como é o caso de Angola e Bósnia)? As exigências
do campo precisam ser conhecidas pela Igreja Local. A ignorância nesta área pode
trazer pressões inadequadas ao missionário, por parte da Comunidade que o enviou.
Podemos cobrar convertidos, de um obreiro que acabou de chegar a um campo e nem
aprendeu a língua, ainda?

TREINAMENTO DE MISSIONÁRIOS
Lançando, novamente, a pedra sobre o óbvio, continuemos na construção da
cooperação da Igreja Local em relação à Agência. Veja que tudo o que falamos irá ajudar
uma Missão em seu procedimento com o obreiro. Não podemos mais "jogar" os
missionários nas mãos de outros, sem que a Igreja se posicione. Quero, aqui, enfatizara
necessidade de a Igreja promover, para o obreiro, um bom treinamento, antes de enviá-lo
para a Escola ou Agência. É na Igreja que ele irá desenvolver-se. Que áreas a Igreja
deverá atender?
Caráter Cristão
Isto é mais sério do que podemos pensar. Há alguns obreiros que estão agindo sem
honestidade, sem obediência e senso de equilíbrio nos campos. Podemos ver isto acontecer
em relação à Agência. Por exemplo: suponhamos que uma Missão resolva enviar um
obreiro para o "país das maravilhas". Acontece que, em nossa história, já existem
obreiros ali e este novato recebe instruções para ser submisso ao líder no campo. Sai
com esta ordem e, com o rosto de anjo, embarca para seu novo ministério. Mas, "algo
acontece" no avião e ele, ao chegar lá, esquece-se totalmente de todas as orientações e
passa a enfrentar o líder do campo, fazendo criticas, alterando planos, desrespeitando e
agindo por conta própria. Isto é, nada mais, nada menos, do que falta de caráter cristão.
Os princípios de respeito à autoridade, onde estão? E o que prometeu?
Você pensa que estou inventado? Isto tem ocorrido muitas vezes! Lembro-me de que
perguntei a um grupo de missionários de vários países, sobre problemas que enfrentam
com novatos, e uma das questões levantadas foi essa: eles chegam criticando os obreiros
mais antigos e acham que farão tudo muito melhor. São, via de regra, imediatistas e
passam a confrontar as autoridades e os planos estabelecidos.
Nesta questão de caráter, lembro-me também de falar sobre o desrespeito aos
costumes do povo com quem se vai trabalhar. Ora, é óbvio que precisamos tratar as
pessoas com maior amor e entendimento. Se num país, por exemplo, é vergonhoso uma
mulher falar em público, por que a missionária irá sair pregando sem considerar o fato?
E se noutro lugar o vestido deve ser mais longo, por que não atender? Aí, você me dirá:
- "Mas isto é falta de treinamento transcultural!" De quem? Do povo local ou do
missionário, está obscuro, ambíguo! Também, mas a Bíblia me diz que devo respeitar
os mais velhos. Também diz que devo evitar ser pedra de tropeço. O que é isto, senão a
falta de formação em caráter cristão e amor? Também é falta de humildade para aprender,
para perguntar. Podemos lembrar que o amor é o que motivava os morávios. Eles
mantinham:
Um amor e uma paixão profundos e constantes por Cristo.
Na própria vida de Zinzendorf vê-se este amor constante. Através dos mais de
2000 hinos que escreveu, transmitiu a tõnica de sua vida: "Uma paixão: Ele, apenas
Ele".
William Wilberforce, o grande reformador social evangélico, inglês, escreveu o
seguinte sobre os morávios: "eles constituem um corpo que talvez tenha ultrapassado
toda a humanidade em provas sólidas e inequívocas de amor a Cristo e em um zelo
ardente e ativo no Seu serviço. É um zelo temperado de prudência, suavizado pela
mansidão e sustentado por uma coragem que nenhum perigo pode intimidar e por uma
certeza tranqüila que nenhuma dificuldade pode exaurir".1

Este amor demonstrado, vivido, sentido pelos morávios levou-os a muitas partes
do mundo, para pregarem a Palavra de Deus. Amor vivenciado! Parece que não é isto
que vemos em muitas de nossas Comunidades locais. Aparentemente (sem querer
estabelecer um julgamento) muitos de nós temos preferido as polpudas estatísticas e
preterido a missão amorosa e sacrificial que Cristo nos deixou. Precisamos urgentemente
de um retorno à real motivação cristã.
Nós dizemos que amamos a Cristo! Há realidade neste sentimento. Temo, no
entanto que ficamos presos aos sentimentos e esvaziamos nossas atitudes.
Quantas comunidades locais têm sido, literalmente, divididas pelo desamor e
desrespeito! Quantos têm praticado a crítica destrutiva, a avaliação invejosa, a maledicência
enganosa! É um quadro muito triste! Por isso é que creio ser necessário um avivamento
que purifique nossas Igrejas, a partir de cada lar, de cada indivíduo. Precisamos ver uma
nova onda de amor rompendo as trevas que nos têm separado!
Uma Igreja Una, Santa, Sem ruga. Creio que esta é a vontade de Deus para nós!
Que a oração constante proferida por nós seja: "Dobra-nos, Senhor!"
O amor vivenciado é o único método viável, para alcançarmos este mundo, a partir
da Igreja Local.
Mentiras, enganos, dissimulações e até roubos têm acontecido no mundo
missionário. O que dizer dos que tiram fotos mentirosas de lugares onde não trabalham e
enviam para a Igreja com finalidade de "arrancar" sustento? Não tem ocorrido este triste
fato?

Perseverança
Este é outro aspecto importante e óbvio para quem quer servir ao Senhor. Estranha-me o
fato de termos missionários que vão para algum lugar, com o objetivo de passar alguns
meses, para, então, retornarem como "pro fessil de Missões. Para mim é um ultraje
a inconstãncia de alguns que se propõem ao trabalho, mas não cumprem. A Obra não
é nossa, amados; iremos prestar contas dela ao Senhor! Devemos treinar nossos jovens
desde já, e na Igreja, no que diz respeito à perseverança. Voltando à Igreja Morávia,
Grant diz que eles:
Demonstraram uma tenacidade de propósito de categoria superior.
Um dos mais famosos missionários morávios, conhecido como "o Eliot do
Ocidente", foi David Zeisberger. Desde 1735, ele trabalhou 62 anos entre as tribos Huron e
outras, na América. Numa determinada ocasião, depois de ter pregado sobre Isalas,
64.8; que diz:
"Mas agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai, nós somos o barro, e tu és o nosso oleiro; e
todos nós obra das tuas mãos".
Numa manhã de domingo, em Agosto de 1781, a Igreja e suas dependências foram
invadidas por bandos de salteadores indígenas e, nos incêndios que se seguiram,
Zeisberger perdeu todos os seus manuscritos das traduções das Escrituras, hinos e
anotações extensas sobre as línguas dos índios. Mas, tal como Carey, que iria passar
por uma perda semelhante, na índia, anos mais tarde, Zeisberger abaixou a cabeça em
mansa submissão diante da providência soberana de Deus e reiniciou seu
trabalho.
Ao ler uma matéria como esta, meu coração se enche de vergonha. Temos sido tão
perseverantes assim? Na época da rapidez tecnológica, temo-nos tornado muito
impacientes! No momento em que escrevo este livro, utilizo um computador com um
"software" bastante avançado, que corrige até meus erros de datilografia. Será que nos
temos acostumado tanto com o comodismo que nos esquecemos do que é sofrer?

Uma Igreja Missionária é uma Igreja Perseverante. Temos visto, em


muitos lugares de nosso país, uma onda de conferências missionárias. Isto é
maravilhoso.
No entanto, juntamente com este mover de Deus, nosso inimigo tem feito das suas:
divisões entre o Conselho Missionário e a liderança da Igreja. Há missionários enviados
que provocam escândalos, seminaristas que causam problemas nas escolas, partidos que se
formam nas Igrejas e causam divisões, pastores que escandalizam o rebanho etc.
É muito desagradável notarmos tudo isto, mas, é uma realidade e não podemos
fechar nossos olhos. Temos que estar preparados para as lutas que advêm a uma Igreja
missionária. Em muitos momentos, teremos que começar de novo. Lembro-me das vezes
em que tive problemas, por decidir não tornar a Igreja uma agência de turismo (quando
o vocacionado parece escolher seu país de piquenique missionário). Não estamos
brincando e nem correndo em direção a estatísticas. Não estamos vendendo o Evangelho de
porta em porta e nem mesmo computando créditos numa disputa entre vendedores.
Interessante notarmos que o que produz a perseverança é a tribulação (Rm 5.3), e
como temos medo dela! Até criamos uma teologia para fugirmos das dificuldades,
"analgesiando" nossos pensamentos e emoções. Amados, dói crescer!
A perseverança precisa ser forjada no ambiente do Corpo de Cristo, enquanto o
obreiro está aqui. Quando for para o campo, tudo será mais difícil. O que fazer para que
isto ocorra agora? Creio que devemos servir (como pastores e líderes) de
impulsionadores, mas nunca de ama seca! Nossos obreiros precisam sentir que estamos
perto, mas devem agir em trabalhos cansativos, intermináveis, que tendem ao desânimo,
objetivando um preparo consistente na área de perseverança. O treinamento prático pode
incluir: alcançar um povo de difícil acesso em nossa Cidade; ser inserido num trabalho
burocrático rotineiro; desenvolver ministérios junto a novos convertidos etc. Cada Igreja
deverá conhecer as necessidades de seu obreiro, em relação a isto.
E se ele não for treinado aqui, o que fará no campo se deparar com um povo hostil,
onde seu trabalho não anda, por anos, e a sua compreensão da língua e dos costumes é
lenta?

Sofrimento

Quero salientar, também, a necessidade de um treino em sofrimento. Creio que estas


coisas estão interligadas. Sofrimento faz parte do trabalho missionário; não adianta
agirmos, ignorando sua existência. Em sua fala, Grant diz que os morávios:
Enfrentaram as mais incríveis dificuldades e perigos com notável coragem.
A maioria dos missionários partiam como "fazedores de tendas": trabalhando em sua
profissão (a maioria deles era composta de artesãos e lavradores, como Dober e
Nitschmann), de modo que as principais despesas envolvidas eram as de enviá-los. Nas
áreas de domínio do branco, eles causaram grande admiração, oferecendo-se para o
trabalho braçal.2
Sujeitavam a Cristo sua dedicação. Seu trabalho era uma ferramenta para a
evangelização. Conforme Colin Grant, "a ida a lugares tais como Suriname e as Antilhas
significava enfrentar enfermidades e possível morte; os primeiros anos foram de
inevitáveis baixas. Na Guiana, por exemplo, 75 dos 160 primeiros missionários morre-
ram de febres tropicais, envenenamento e coisas parecidas".
Um hino, escrito por um dos missionários na Groenlândia, expressa: "Vamos, através
do gelo e da neve, uma pobre alma perdida para Cristo ganhar".
Alegres, enfrentamos a necessidade e a aflição para o Cordeiro que foi morto
apresentar". Eles dominavam as línguas sem muitos recursos que temos hoje, mas
plantavam suas vidas em solo estrangeiro. Suas vidas não eram tão preciosas como a pre-
gação do Evangelho. Certamente temos muito que aprender, muito de que nos arrepender!
Nosso trabalho nem sempre tem sido motivado por amor que se sacrifica, que está
disposto a morrer, em nome do Senhor. A coragem dos morávios, em épocas realmente
difíceis, cala profundamente em nossos corações.
No dizer de certo teólogo, temos criado em nossas Igrejas "soldados de chocolate":
diante do mínimo calor de tribulação, derretem! A fragilidade de muitos missionários,
hoje, revela o estilo "festivo" de nossas comunidades locais. O exército de Cristo tem
sido fraco, diante das adversidades, porque aprendeu a reclamar diante das situações de
crise. Neste sentido recebem a corroboração dos que vivem para discutir e criticar. A
obra missionária não deve ser tratada como um "piquenique" despretensioso que, ao
menor sinal de formigas no alimento, é logo desfeito.
Parece-me que nossos cultos nos levam a este enfraquecimento de ideais e de
coragem. Queremos a bênção de Deus a todo custo, queremos melhores templos, melhores
bancos, não gostamos de mensagens longas. Reclamamos, quando a música não é de
nosso agrado, reclamamos diante do mínimo esforço. Acostumamo-nos a pagar pelos
serviços, e o trabalho voluntário tem ficado para trás.
Estamos, sem querer, contribuindo para a criação de um exército de chocolate. Não
é o que queremos, não é o que desejamos, mas é o que fazemos!
Precisamos de sabedoria de Deus para levarmos nossas comunidades locais à uma
visão e prática missionárias. Constantemente precisamos avaliar nosso andar, nossa
caminhada de fé! Para onde estamos levando nosso povo? A que nível de sacrifício estão
sendo instruídos?
Convivência em Equipe

Que área difícil! Parece que não, mas conviver com outro obreiro não é fácil. A
questão toda é que a convivência gera a necessidade de transparência, e nem sempre
estamos dispostos a isto. Abrir nossa vida a uma outra pessoa chega a ser um
sofrimento. No entanto, ninguém trabalha sozinho! A participação amorosa se faz
necessária, principalmente porque não temos os mesmos dons espirituais. Somos um
Corpo que deve viver harmoniosamente, reconhecendo que é formado de diversos dons
que precisam uns dos outros. O apóstolo Paulo, descrevendo a dinâmica dos dons
espirituais em 1 Coríntios 12.12, ensina que "assim como o corpo é um, e tem muitos
membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também
com respeito a Cristo". Esta é a Igreja do Senhor aqui na terra. Somos muitos e diversos.
Agimos de formas diferentes, porque Deus mesmo nos colocou assim no Corpo de Cristo
(1 Co 12.18). Outro aspecto interessante é que devemos reconhecer quem somos neste
Corpo: "Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa, de ser
do corpo" (v. 15). Fica claro que cada um precisa reconhecer-se como parte importante,
sem desanimar. Se um é o pé, que trabalhe como tal! Um obreiro não pode ficar
"chateado" porque gostaria de ter sido escolhido para fazer outra coisa. Foi Deus quem nos
colocou no corpo e todos os membros são importantíssimos. Alguém, aí, gostaria de
perder um pé; ou quem sabe um dedo?
Mas também é necessário reconhecer que temos limites! Paulo assim explica: "Se todo o
corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde o olfato?" (v.17).
Num trabalho em equipe isto deve funcionar direitinho. Cada um deve fazer a sua parte,
reconhecendo que sua liberdade termina quando inicia a do outro. Para treinarmos um
elemento para a obra missionária, é importante que tenhamos em mente que Deus não cha
mou "estrelas", mas discípulos! As estrelas brilham sozinhas, sem necessidade de outras,
mas o discípulo precisa de todos os outros, numa interdependência real e necessária. Há
muitos que pensam que podem resolver o problema do mundo sozinhos. Dizem que
agem sob a "direção do Espírito" sem reconhecer que o Espírito Santo que tanto
professam foi o que inspirou Paulo e a tantos outros, a explicar sobre a dinãmica do
trabalho em equipe. Os missionários "individualistas" precisam desaparecer! É hora de
uma nova linguagem, mais bíblica e séria; é hora de cooperação!
Podemos também ver neste texto paulino uma verdade muito esquecida: cada
membro é importante! "Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais
fracos, são necessários; e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos
muito maior honra; também os que em nós não são decorosos, revestimos de especial
honra" (v.22,23). A pergunta que temos que fazer aos nossos candidatos é esta: - "Que
ministério é mais importante na Obra missionária?" Talvez alguns digam que é o da
pregação, afinal, sem ele não haveria conversões! Mas, perguntamos novamente: - "O que
seria dos pregadores, sem os mestres, que ensinam nas escolas? O que seria dos mestres,
sem os que militam na administração? O que seria dos missionários sem os aviadores que
levam muitos a lugares tão inóspitos? E o que dizer daqueles que se especializam na
Lingüística, na Sociologia, na Informática, na Pedagogia ou Medicina?"
Não podemos esquecer-nos de que a equipe não só trabalha junto, mas também
convive! E aqui está um grande desafio. Conviver implica ceder, abrir o coração,
reconhecer o outro como superior, admitir culpas, elogiar, permitir ocupação de espaços
em nosso trabalho, desenvolver amizade familiar etc. Isto tudo pode e deve ser ministrado
dentro da Igreja Local, antes de o missionário sair para o campo. No ambiente da
Comunidade onde está inserido, o candidato a Missões poderá iniciar seu
treinamento, andando mais próximo do seu pastor, reconhecendo os outros irmãos como
importantes para seu crescimento, procurando fazer trabalhos com outros, sem almejar ser o
primeiro etc.
Quando o irmão José, que tinha o apelido de Barnabé (filho da consolação), foi
enviado para a Cidade de Antioquia, com o objetivo de amparar a Igreja que estava
nascendo, logo reconheceu que precisava de um companheiro. Foi a Tarso à procura de
Saulo, e assim que o encontrou levou-o a Antioquia e, por todo um ano, reuniram-se ali
e ensinaram numerosa multidão (Atos 11.25,26). Teria Barnabé conseguido resultado,
sem a ajuda de Saulo?
É interessante notarmos que uma liderança que trabalha em equipe, sugere a criação
de outros ministérios em equipe. Em Atos 13.1 lemos que "havia na Igreja em Antioquia
profetas e mestres: Barnabé, Simeão por sobrenome Niger, Lúcio de Círene, Manaém,
colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo". Os primeiros dois deram à luz outros três. Há
um crescimento saudável, sem estrelismos, nem "caciques" dominadores. Há um respeito,
uma convivência harmoniosa que irá gerar mais equilíbrio. Um trabalho em equipe não
é facilmente abalado, se um líder for retirado. Já no sistema mais tradicional de mi-
nistério, em que colocamos sobre as costas do pastor toda nossa frustração de ministério,
cobrando sua ação completa e exigindo que demonstre todos os dons do Espírito, isto
não acontece. Se o pastor for retirado, por qualquer motivo, muito do trabalho irá
perecer, por estar embasado em uma só pessoa!

Como foi que Jesus treinou seus discípulos? Por que escolheu doze homens para O
seguirem? Por que os enviou de dois a dois, a pregarem às ovelhas perdidas da casa de
Israel? É absolutamente claro que o Senhor os estava ensinando que a convivência em
equipe tem várias conseqüências benéficas:
1. Proteção

A cooperação no trabalho ajuda a equipe, protegendo-a de ataques tão comuns. Um


ao outro ajuda, um ao outro apoia, um ao outro protege. Foi o Senhor quem nos ensinou
que:
"É melhor serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque
se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não
haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas, um
só, como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão;
o cordão de três dobras não se arrebenta com facilidade " Eclesiastes 4.9-12.

2. Estímulo ao Diálogo

Quem não precisa conversar sobre seus problemas, carências, dificuldades de


realizações, frustrações? Na equipe há grande possibilidade de aumento de confiança
entre os seus membros e o diálogo aparece, necessariamente. Imagine como deve-se
sentir um missionário em terra estranha, língua difícil e costumes tão distantes dos seus.
O que fazer? Como agir? Quais os exemplos que podemos ver na história? São
perguntas que podem ser estimuladas e respondidas em equipe.

3. Promoção de Ajuda Mútua

É mais do que óbvio que uma equipe tem muito mais possibilidade de realização do
que um indivíduo. A divisão de trabalhos, as perguntas que exigem respostas rápidas, as
definições quanto à problemática do campo (por exemplo, um lugar sem água encanada
e com proliferação de doenças) serão melhor atendidas numa equipe que entende seu
papel.
4. Quebra de Barreiras Culturais

Vemos em Atos 13.1 que as nacionalidades da equipe eram distintas. Barnabé era de
Chipre, judeu, levita; Saulo era judeu de herança farisaica; Simão era negro, talvez
proveniente da África; Manaém havia sido criado com Herodes o tetrarca (o assassino
de João Batista, herdeiro das porções da Galiléia e Peréia); e Lúcio era de Cirene, cidade
do Norte da África. A convivência numa equipe como esta, certamente nos faz pensar
em nossos costumes e culturas. Imagine um norte americano convivendo com um
Africano. Aquele é "tempo-orientado" enquanto este é "evento-orientado". Enquanto um
anda baseado em seu relógio, o africano vive a vida de acordo com as necessidades do
momento. Para ele, se ainda o leite não foi tirado da vaca, não é problema atrasar o
início do culto!

5. Incentivo à Persistência

Mesmo uma equipe bem formada terá que adequar-se aos momentos, aos seus
membros. A paciência, fatalmente será estimulada, tendo em vista a necessidade de
convivência. Lembro-me da história de uma missionária brasileira que teve que viver,
alguns meses, com uma missionária da Alemanha, por falta de moradia naquela cidade.
Quando lavava a louça, deparava com a seguinte ordem: - "Não enxagüe após lavar com
sabão! Não tire a limpeza do prato!" Imagine a situação. Nós, brasileiros, temos por
costume lavar os utensílios de cozinha, enxaguando-os para tirar todo o sabão! É preciso
paciência, não é mesmo?

Treinamento na Palavra
Não é possível que tenhamos missionários que não conheçam a Bíblia. É totalmente
inaceitável. Mas, infe lizmente, a verdade declara que há alguns que não foram treinados
intensamente na Palavra de Deus, por terem sido deixados à mercê das escolas. Estas
dizem que a responsabilidade, nesta área, é da Igreja, mas a Igreja espera que as escolas é
que ensinem a Bíblia toda. Neste vaivém de declarações, sobram os missionários mal pre-
parados, que não estarão prontos para uma análise crítica do pensamento cristão da
atualidade.
Agora, o que há de mais óbvio do que a necessidade de um missionário conhecer a
Bíblia em toda sua pujança? Que problemas poderão enfrentar os mais despreparados?

1. Perda de Referenciais

Será que tudo é relativo? Numa cultura onde o marido pode deixar sua mulher, se
esta não lhe der um filho, e unir-se a outra, como o missionário devera posicionar-se? E
se a cultura privilegia o marido em detrimento da mulher? O missionário precisa ter
seus referenciais bastante claros, sob pena de perder-se diante da força dos costumes.

2. Falta de Visão do Reino de Deus

É interessante este tópico. Quanto mais se conhece a Palavra de Deus, tanto mais se
compreende que a Unidade do Corpo de Cristo deve ser real e praticada! O de-
nominacionalismo exacerbado é antibíblico! O que temos visto é uma exportação
denominacional para outras culturas, extrapolando os limites do bom senso! Que trabalho
missionário pode subsistir, mantendo divisões denominacionais que mais trazem rixas do
que promovem um ministério calcado na amizade e no companheirismo?
3. Pobreza no Ensino

Podemos dizer: Isto é óbvio! Mas não é o que se prega por aí. Há pessoas achando
que não é necessário estudar muito para ser missionário. Encontrei, certa vez, uma
jovem que dizia: "Quero ser missionária, mas não pretendo estudar mais do que um
ano". Por que esta pressa? O investimento no estudo nunca é perdido! Um missionário
precisa saber mais do que um pastor. Sua área de atuação é bastante diversificada e
freqüentemente será exigido na área de ensino, em Igrejas ou Escolas. Mesmo que
alguém diga que o povo com quem irá trabalhar é extremamente simples, quero deixar
claro que ninguém fala ao mais humilde, se não dominar completamente o assunto.

4. Inadequação Diante de Situações que Exigem Total Conhecimento Bíblico

Uma criança muçulmana, de cerca de 7 anos de idade, já sabe de cor os 6.666


versos do Corão. Decorados os textos, ela aprenderá sobre o Islamismo durante toda sua
vida! A vida, para ela, fará parte de sua religião, e não o contrário. Muito bem, enviamos a
estas pessoas nossos missionários com um treinamento de 4 ou 5 anos de Escola Bíblica!
E agora, como esperar grandes resultados? Não é a toa que temos visto muitos cristãos
se converterem ao Islamismo. O Senhor Jesus Cristo já havia avisado: "Errais, não
conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus" Mateus 22.29.
Agora, como é que a Igreja local irá fazer para cooperar com a Educação Bíblica
do candidato ao trabalho missionário? Creio que tudo deve iniciar, a partir de uma visão
coerente da Igreja em relação a Missões.
Em primeiro lugar, é preciso que as Igrejas tenham seu propósito bem definido. Por que a
Igreja existe? Para que ela serve? Por incrível que pareça, creio que a maio ria de nossas
comunidades não sabem definir seu propósito! Daí os excessos de ministérios, sem um
encaixe correto entre eles. Em nossa Igreja (lá Igreja Presbiteriana Independente de
Marília) temos o seguinte propósito:
"Glorificara Deus, alcançando novas pessoas com o Evangelho de Cristo em
nossa cidade, país e mundo, fazendo discípulos fazedores de discípulos, ensinando-os a
guardar toda a Palavra de Deus".
Deste modo fica mais fácil trabalhar, pois seja qual for nossa ação ela deve passar
pelo propósito da Igreja. Em segundo lugar um Conselho Missionário que entenda sua
função é imprescindível. Quero dizer com "entender sua função" o fato de que um
Conselho Missionário não faz o trabalho missionário, mas coopera para um
despertamento da Igreja nesta área. Isto faz diferença, pois um candidato irá beneficiar-se
da visão missionária de todo um povo e não de apenas alguns.
Mas o que tudo isto tem a ver com o treinamento que um obreiro necessita na
Palavra de Deus? É simples: Uma Igreja com um propósito bem definido e com um
conselho missionário sério, irá receber os candidatos ao ministério com toda a seriedade
e compromisso cristãos. Uma Igreja com visão missionáriairá aprimorar sua Escola
Dominical; poderá ter cursos bíblicos à disposição; irá implantar um programa de
discipulado sério; terá compreensão da importância de seu candidato ser enviado a uma
escola, com uma base bíblica consistente; manterá um programa de treinamento de voca-
cionados, com estudos bíblicos, missionários, biográficos etc. Creio que teríamos menos
problemas, se tudo isto fosse seguido!

SUSTENTO
Quanto as Igrejas locais aplicam em missões? Ficaremos assustados, se ouvirmos os
relatórios financeiros, pois se gasta mais no local onde a Igreja está do que na expansão
sistemática do Reino de Deus. Por quê? Muitos são os fatores, mas o principal, em minha
maneira de ver, é a falta de visão correta nesta área.
"Por que enviar missionários a campos tão distantes?"
"Temos gente morrendo de fome no Brasil, também!"
"Temos que construir nosso Templo! Enviar missionários, além de dar trabalho, é perda de
tempo e dinheiro!"
Infelizmente, estas têm sido algumas considerações que, ainda que não verbalizadas,
existem na mente de muitas pessoas.
Quando uma Igreja entende seu papel no mundo e que deve "pregar o Evangelho a
toda criatura", ela passa a ver a realidade de seus missionários. Quanto ao sustento,
propriamente dito, devemos levar em consideração alguns aspectos importantes:

1. Cada Campo Missionário tem o seu Custo de Vida

As Agências Missionárias têm o controle sobre isto. Devemos submeter-nos


inteligentemente aos números, ao invés de fazermos comparações banais como: salário
do missionário versus salário do pastor; custo de vida no país de origem versus custo de
vida no campo etc.

2. Agências Denominacionais Trabalham Diferentemente das Agências de Envio


Independentes
Isto tem a ver com a maneira como arrecadam dinheiro. Uma Agência Denominacional
é centralizadora, ou seja, recebe ofertas de suas Igrejas locais e repassa aos
missionários, segundo critérios internos. Já as Agências Independentes desafiam seus
candidatos a 1evantarem" seu sustento, de acordo com os valores de cada campo. A
primeira atitude, em minha opinião, é mais estagnante, pois impede um aumento
substancial no número de obreiros. O orçamento está sempre apertado. Já no levantamento
do sustento pelo próprio missioná rio há uma flexibilidade muito maior. As Agências têm que
apenas administrar os recursos, ao invés de buscarem-nos para toda uma equipe.

3. A Igreja Local Deve Compreender que é Melhor Manter um Missionário


Dignamente do que Vários em Condições Precárias

Neste ritmo alucinado em que vivemos, têm-se preferido os números à qualidade. Há


Igrejas que proclamam em alta voz que "mantêm" dezenas de missionários, quando, na
realidade, enviam uma quantia mínima para cada um e nem sabem, ao certo, o que eles
fazem no campo.

4. A Igreja Local Deve Considerar o Missionário, Quando Está no Campo e Quando


de Regresso

Enviar sustento para o obreiro quando está no ministério lá, e desprezá-lo quando
volta para casa, é pecado! O obreiro é missionário aqui e lá! Ele terá necessidades tanto
aqui quanto lá! É comum vermos esta atitude acontecer em Igrejas que se dizem
missionárias. É claro que critérios deverão ser estabelecidos, mas o bom senso e a
caridade cristã não podem ser esquecidos, jamais.

5. A Perseverança no Envio do Sustento é de Vital Importância Para o


Missionário
O obreiro não tem conhecimento real da situação de seu país de origem: problemas com
inflação, recessão etc. E por isso não consegue avaliar o problema de uma Igreja na
questão financeira. Isto posto, quando cortam o seu sustento (o que é muito comum,
avisando hoje que não enviarão amanhã), o obreiro entrará em crise! A Igreja local precisa
ser verdadeira em suas propostas. Se houve um compromisso com o missionário e sua
família, que este ato seja efetivamente cumprido à risca. A falta de perseverança no
envio de sustento tem causado grandes problemas para as Agências e missionários.

6. O Sustento Precisa ser Digno

Dignidade é uma palavra que não tem estado no vocabulário de muitas pessoas.
Quando uma Agência Missionária não define o valor do sustento, é comum a Igreja
fazê-lo, sem o mínimo de respeito às necessidades do campo ou às do missionário. Já vi
muitos obreiros passarem necessidade, porque não há dignidade em seu sustento.
Podemos ver isto na própria vida dos pastores. São poucas as Igrejas que atendem com
amor e desprendimento às necessidades financeiras de seu pastor. O que dizer dos
missionários?

Pastoreando os Candidatos e os Missionários

Os pastores devem ver seus missionários como pessoas e famílias carentes de


aconselhamento pastoral. O trato do pastor irá curar feridas, amenizar crises, incentivar
os cansados e abençoar a todos. Esta dinãmica de ministério não deve ser descartada em
hipótese alguma.
O que alguns pensam é que o obreiro irá, de alguma forma, ser totalmente É
cuidado pela Agência que o enviou. Isto é uma falácia. E claro que haverá tentativas, mas
nada parecido ao atendimento pastoral, daquele que conhece a ovelha e se empenha por
ela.
Vamos analisar juntos: Imaginemos uma Agência Missionária Internacional (isto é
real, não é mesmo?).
Muito bem, nosso missionário brasileiro aprendeu inglês (língua geralmente
desenvolvida nestas Agências) e se embrenhou pelo campo. Ali inicia seu processo de
choque cultural (digo processo porque é extenso!) e ele irá tentar sobreviver a esta
empreitada. Os colegas de sua Agência (de outros países) que estão no mesmo campo,
tentarão ajudar e falam com ele. Aqui, mais outro choque: o nosso brasileiro descobre
que seu inglês é insuficiente para uma boa comunicação. Ele tenta, mas não consegue,
entrega-se a uma comunicação, mas descobre que lhe falta conhecimento da cultura
que está por detrás da língua. E agora? Como é que ele irá ser atendido em suas
necessidades?
Esta é apenas uma pequeníssima parte de um relacionamento internacional. O que
fazer? Vamos descartar as Agências e trabalhar sozinhos, impondo, então, nossa sacra
língua portuguesa (ou será brasileira?) como a língua oficial de nossa Missão? Esta é uma
questão que precisa de equilíbrio. No entanto, para efeito de nosso estudo, o pastor do
obreiro necessita entrar na jogada e ministrar ao cansado e sõfrego obreiro, sem demora.
Alguns talvez digam: - "Mas como? Nossa Igreja é pobre! Como iremos para o
campo?" Espero poder ajudar com algumas sugestões. Em primeiro lugar, deve haver
uma correspondência que vá além do "como vai". É preciso oferecer apoio, ao invés de
exigir só relatórios! O pastor que ganhar a confiança do obreiro aqui, em sua própria
pátria, terá uma ovelha em qualquer lugar do mundo. Uma conversa franca, através de
uma correspondência consistente poderá confortar e abençoar o missionário, onde quer que
esteja. Outro aspecto interessante é o envio de mensagens pastorais (fitas cassete ou
vídeo) para uma ajuda na alimentação espiritual do obreiro. Isto tudo, porém, não
descartará a necessidade de o pastor visitar o campo. A visita é imprescindível, para uma
visão mais real e para que haja condições de ele se inteirar da vida do obreiro. Como é o
povo, onde mora o missionário, onde trabalha, como é recebido pelas pessoas, seu
conhecimento e suas reações diante da cultura etc, irão cooperar muito, para que o
pastor possa montar o quadro real de necessidades.
Lembro-me de uma visita em que encontrei o casal missionário desanimado, com
dificuldades de relacionamento e sozinho! Pude participar como conselheiro, no campo
missionário, atendendo a uma grande necessidade e experimentando o livramento do
Senhor. Em outro país, vi as lágrimas da esposa do obreiro, assim que pisei em sua casa.
Foi a primeira vez que recebiam este tipo de visita. Um outro missionário estava
bastante desanimado, com saudades, sozinho e muito cansado. Pude conversar, ministrar
sobre seus relacionamentos com os outros missionários e orar. Que alegria, quando ele
me disse estar livre e muito mais tranqüilo!
Vale a pena a Igreja investir na vida de seu pastor, olhando para aqueles que não
são heróis, mas obreiros, com cara de gente, cheiro de gente, atitudes de gente!

SUPERVISÃO
Deste ponto em diante, as Igrejas, via de regra, esquecem-se do missionário e deixam
tudo para a Agência Missionária. A supervisão do trabalho no campo não é trabalho
somente da Agência enviadora, mas, principalmente, da Igreja enviadora. Cito algumas
razões para isto:
1. O Missionário Precisa Prestar Relatório Confiável à Igreja

Isto é bíblico. Paulo e Barnabé ao retornarem da primeira viagem missionária,


reuniram a Igreja e contaram quantas coisas Deus fez por seu intermédio! (Atos 14) Em
nossa época, de grandes possibilidades de informação rápida (telefone, fax, computador
etc.) temos a facilidade de obter as informações necessárias para oração e cuidado
pastoral eficientes. A Igreja é que irá ocupar-se destes encargos e não a Agência.

2. A Boa Supervisão Trará Melhores Possibilidades de Cuidado Pastoral


Um obreiro "abandonado" no campo (o que não é muito difícil), terá poucas chances de
resolver seus problemas pessoais, quanto ao cuidado pastoral.

3. A Igreja Ficará mais bem Informada e, Conseqüentemente, Interessada

Você já percebeu como nossas Igrejas são desenformadas? A começar pela


"ignorãncia" das pessoas em relação ao mundo, sua Geografia e História, até o fato de que
muitos nem sabem em que lugar o missionário está e nem o que faz. Como orientar a
oração eficaz?

4. A Boa Supervisão Evita um Falso Trabalho Missionário

Não é porque o missionário passou por todas as fases de recrutamento, seleção e


treinamento, que não há possibilidade de erro! Muitos, chegando ao campo, frustram-se,
não suportam pressões, perseguições, e distúrbios, e, ao sentirem-se envergonhados, não
retornam ao país de origem, nem se abrem sobre a questão. Isto gera um 'falso trabalho
missionário" e, conseqüentemente, frustrações de ambas as partes - Igreja e obreiro. Se
há supervisão, haverá acompanhamento.

5. A Boa Supervisão Atenderá o Missionário em Questões mais Detalhadas e


Escondidas
Muitos missionários sentem-se um "peso" para a Igreja e sustentadores. Há casos de
problemas familiares não resolvidos, porque não foram compartilhados pelo obreiro.
Lembro-me de um missionário que teve problemas com seu filho adolescente. Quando
este precisava de certas peças de vestuário, não havia dinheiro. Mal recebiam para
comer, quanto mais para roupas! No entanto, o jovem estudava normalmente com outros
jovens daquela cultura, e as exigências eram normais. E daí? Como resolver esta
questão, visto que o missionário já estava com uma defasagem grande em seu sustento?
Uma supervisão amorosa, através de uma visita ao campo, poderia facilmente levantar este
problema e solucioná-lo.

6. Uma Boa Supervisão Promove o Treinamento da Igreja em Missões

Ao se defrontar com as exigências do campo missionário, a Igreja será desafiada a


estudar mais e se preparar para enfrentar novos momentos.

REGRESSO DO CAMPO
Algumas Agências Missionárias chamam este período de Recesso, ou "Furlough"
ou ainda "Honre Assignment". De qualquer maneira, trata-se do tempo em que o
missionário volta para sua terra natal, após um periodo de trabalho no campo. Quando se
trata de um período em todo o seu ministério, ou seja, não voltou para ficar, o regresso é
necessário e acontece para:

1. Descanso

O missionário precisa descansar junto ao seu povo, sua cultura, sua língua. Se bem
que terá, evidentemente, o que se chama de "choque cultural reverso", ou seja, ele já não
conhece seu país, sua economia, e história recente. Sua família mudou, ele mudou, seus
filhos não têm amiguinhos aqui etc. No entanto, o descanso é merecido e importante, pois
prioriza o servo de Deus.

2. Reciclagem

O obreiro poderá fazer um curso complementar, estudar algum assunto em que


sentiu necessidade, ou mesmo iniciar um curso de pós-graduação. De qualquer forma, a
reciclagem é necessária.
3. Divulgação

Também é este tempo no país uma excelente opor-


tunidade para o missionário compartilhar necessidades
do campo; novos obreiros, projetos especiais (veículo, a-
parelhos etc.), e da própria Missão para a qual trabalha.
Aqui se estabelece um momento muito importante para
todo o trabalho, quando as pessoas respondem aos de-
safios porque é um missionário que está compartilhando.

4. Tratamento de Saúde

Será que não temos, por alguns instantes, a impressão de que os missionários são
"sobre-humanos"? Na verdade esta "impressão" tem gerado sérios problemas na obra de
Deus. Estes obreiros são nada mais, nada menos, que pessoas! Precisam de tratamento
médico-dentário e, muitas vezes, com urgência.
No entanto, se o regresso é definitivo, tudo isto acontecerá, ou não, dependendo do
envolvimento futuro do obreiro com a obra Missionária.
Para que tudo isto ocorra com diligência e tenha o melhor aproveitamento, tanto
para o obreiro e família, como para o trabalho que realiza, a Igreja local deverá cooperar
eficazmente, lançando-se no dever de assumir um trabalho consistente e sério.

A Igreja Local Cooperando no Regresso do Missionário 1. Providenciando

Moradia e Condução

O missionário, ao retornar, não tem casa em seu país de origem. Deixou tudo para
ir e se tornar um cidadão naquela nova cultura. E agora? Quando retorna com sua família,
irá morar onde? Alguns têm família para ajudá-los, mas não é a realidade da grande
maioria. A Igreja precisa ser sensível e atender a este período, com
sabedoria. A condução também é importante. Há sempre alguém que pode ajudar
emprestando um carro, por certo tempo.

2. Providenciando Atendimento Médico-odontológico

A partir do momento em que há necessidades nesta área, cumpre à Igreja a


amabilidade de providenciar tudo. Muitas Igrejas têm em seu seio, médicos e dentistas. Estes
profissionais podem ser desafiados a participarem de tal empreendimento.

3. Providenciando Descanso

Aqui quero fazer uma crítica construtiva importante. A condição humana do


missionário tem sido esquecida! Ele e sua família precisam de momentos de lazer,
momentos de recuperação fisica e emocional. Imagine que um missionário tenha vindo
de um país onde há guerra civil. Na melhor das hipóteses as Agências enviadoras e as
Igrejas, irão querer ouvir todas as experiências que teve ali. No entanto, a pessoa do
missionário precisa de restauração. Não podemos permitir que haja esta lacuna em sua
vida. Se perguntarmos a este batalhão de obreiros sobre como desejariam ser recebidos,
após um período de trabalho no campo, creio que muitos diriam: Como gente! O grande
grito têm sido: "Quero ser gente"!

4. Providenciando a Agenda de Divulgação do Trabalho


Lembremo-nos de que o missionário esteve fora por um bom tempo. Muitos laços foram
desfeitos, contatos foram esquecidos, sem contar que muitos mudaram ou mesmo
deixaram a fé. A Igreja enviadora tem por obrigação providenciar uma agenda para o
missionário, de maneira a fazer um trabalho sério e estratégico. Onde falar, com quem
conversar, que tipo de ministério deverá ser priorizado? Isto a Igreja enviadora deve
responder.

5. Providenciado Reciclagem Emocional e Espiritual

Talvez um psicólogo cristão poderá ser acionado, para atender ao missionário, o


atendimento pastoral deverá ser sistemático, e reuniões de amigos verdadeiros poderão
acontecer (nestas reuniões os corações são abertos, as necessidades são explicitadas e as
feridas saradas).
Costumo dizer que pastores e missionários são, via de regra, pessoas solitárias. Não
conseguem se abrir, porque não confiam ou não querem expor-se a pessoas que podem
entender mal. Amizade verdadeira, desinteressada, amorosa precisa ser desenvolvida.

6. Providenciando a Personalização Diante da Igreja

Com isto quero dizer, fazer o missionário conhecido, não só através do púlpito e de
suas histórias contadas na Escola Dominical, mas no dia-a-dia. Membros da Igreja
poderão receber o missionário e sua família para um lanche, outros para almoços, outros
para jantares. A Igreja viverá um pouco a vida do obreiro, e sentir-se-á mais perto dele.
Lembro-me de momentos em nossa Igreja que, ao ler a carta do missionário no culto, muitos
choravam de saudade e amor. O missionário não é uma mercadoria! O missionário é uma
pessoa com todas as suas características.

7. Providenciando que o Missionário Tenha Oportunidade de Falar à Igreja, em


Conferências Missionárias ou não
A Igreja tem muito o que aprender dos missionários. Paulo, o apóstolo, escreveu a
epístola aos Filipenses sob o impacto de missões. Ele explicou o efeito de uma oferta,
sua atitude em relação à mesma, e sua visão de cooperação (veja Fp 4). A Igreja deve
ouvir não apenas as tristezas ou casos engraçados, mas também estudos e pregações. O
missionário tem muito a dizer de suas experiências com Deus e de uma teologia
experimentada.
Não raras vezes vemos missionários que ficaram 3 a 4 anos num campo
missionário e recebem, num determinado evento, 5 a 10 minutos, para falar. Onde está
nosso entendimento da importância de missões? O missionário pode falar com pessoas
de outra cultura, mas não tem cultura para falar às nossas Igrejas?
Lembro-me de uma Conferência Missionária que realizamos em nossa Igreja. O
Conselho de Missões resolveu trazer, como preletores, apenas missionários. Foi um
sucesso! Deus nos falou poderosamente, através de cada um deles. A Igreja sentiu-se
alimentada e desafiada. Houve demonstrações de amor da Igreja para com eles, dádivas
amorosas, maior entrosamento.

S. Providenciando Para que Haja Respeito Para com o Missionário e sua Família

Ouvi um missionário, que trabalhara 4 anos em uma cultura muito diferente da nossa,
contar que, ao chegar à sua Igreja de origem, o pastor dirigiu-se ao povo dizendo: -
"Temos aqui, irmãos, os nossos obreiros e vejam como estão magrinhos!" Ora, é preciso
respeito! Se o missionário sofreu ou não, não é fato para ser narrado, como se fosse um
animal numa jaula. A Igreja deve respeitar o obreiro e amá-lo como Cristo nos amou!

9. Providenciando Para que Haja um Ambiente Familiar

Certo pastor, usando de muita sabedoria, dirigiu-se a uma missionária e disse: -


"Sabemos que a irmã jã tem seu sustento, no entanto queremos adotá-la como nossa filha.
Saiba que aqui você tem pais e mães". Não é lindo?

O missionário sente-se, muitas vezes, como um objeto de exposição. Onde está sua
família com quem poderá rir, chorar, discutir seus assuntos do coração?

10. Providenciando Apoio Logístico

Quem passou muito tempo fora do seu país, não tem idéia das mudanças que nele
ocorreram. Se for um país inflacionário, como é nossa realidade na América Latina, os
preços mudaram, a moeda pode ter sofrido alteração. Quando os missionários chegam,
não têm condições de adaptação rápida. Aqui entra a Igreja com seu preparo logístico
importante. Não basta dizer bem-vindos, é preciso ajudá-los na dura tarefa de
readaptação.
Capítulo
3
A IGREJA LOCAL E SUA
ORGANIZAÇAO MISSIONARIA
Muito se tem falado em como organizar um trabalho missionário na Igreja local. Não
será esta a minha tarefa aqui. Pretendo analisar a atividade das Igrejas que já operam, de
alguma maneira, nesta área. Podemos fazer uma incursão ao tema de várias formas, mas
pretendo ser bastante práticos como tenho sido até aqui.

CONSELHO DE MISSÕES

Segundo o Pr. Edison Queirós, " o Conselho Missio¬nário é um grupo de irmãos


separados pela Igreja para tratarem e cuidarem dos assuntos referentes a missões".1 Tal
Conselho tem real importância numa Igreja local e deve ser composto de pessoas
qualificadas que desejam, ardentemente, que povos venham conhecer a Cristo. Quero
analisar alguns momentos que temos presenciado nas Igrejas Locais:
A Igreja Sem um Conselho de Missões

Muitas Comunidades já experimentaram um retorno à Palavra de Deus, em termos


da visão missionária. No entanto, têm, administrativamente, uma atitude centralizadora.
Se têm uma Diretoria ou um Conselho de Presbíteros, gerenciam tudo, inclusive o
trabalho missionário. Há muitos problemas nesta atitude:

a. A centralização gera uma impossibilidade logística.

Como atender a toda a Igreja e ainda aos missionános? A atenção recairá,


certamente, no trabalho local, em detrimento ao trabalho missionário.

b. Se a Igreja não tem um programa de levantamento de ofertas missionárias, o


orçamento relativo aos ministérios locais será priorizado.

c. Haverá uma falta de reciclagem missiológica.

Como um grupo definido irá cuidar de toda a vida da Igreja e ainda estudar sobre o
movimento missionário mundial, realizar Conferências Missionárias Anuais e momentos
missionários nos cultos, cuidado com o obreiro etc?

2. A Igreja com um Conselho de Missões constituído de membros da Diretoria da


Igreja
O que isto pode trazer de dificuldades? Em primeiro lugar as mesmas que o item anterior.
Em segundo lugar pode haver uma perda sistemática dos objetivos missionários. Aos
poucos a visão vai-se desfazendo. Por quê? Porque as exigências locais sempre falarão
mais alto. Por que enviar tanto dinheiro para "fora" se nossa Igreja precisa de novos
bancos, mais um pastor, outro órgão etc? Aqui não existe uma crítica aos líderes. É ape-
nas uma constatação da visão localizada e, diga-se de passagem, necessária, que os
mesmos têm.

3. A Igreja Com Um Conselho de Missões Sem Autonomia Financeira

Neste momento esta Igreja estará se desenvolvendo em Missões, reciclando os


membros com Conselho Missionário, no entanto, na hora de aplicar os fundos
reservados para tal, encontrará dificuldades. Não creio que as finanças devem ser
centralizadas, neste caso. Já experimentei esta maneira de agir, e percebi as grandes
dificuldades que esta atitude provoca. Em primeiro lugar, há uma dificuldade de ação
deste Conselho Missionário. Ele ficará de mãos atadas, pois todo o investimento a ser
feito deverá, necessariamente, ser decidido por outros que, via de regra, e por força de
sua atuação ministerial, não conseguem enxergar a demanda na área.
Um outro aspecto é que o Conselho Missionário poderá perder, aos poucos, sua
dinâmica missionária. Se este Conselho tem por objetivo principal espalhar a visão
missionária na Igreja, mas sem condições de decidir, de agir, quanto aos investimentos
financeiros, poderá haver uma interrupção em todo processo. Por exemplo: É necessário
realizar conferências missionárias anuais, mas de grande importância é a manutenção da
chama de missões no coração da Igreja. Então, o Conselho Missionário entende que
deve trazer preletores bimestralmente à Igreja. Ao decidir este importante ato, depara
com a dificuldade financeira. Não há verba disponível! Os que decidem sobre as finanças
da Igreja entendem que é muito gasto para a Igreja e que uma Conferência já basta. E
agora? Como é que a visão missionária se espalhará na Comunidade? Certamente, após
alguns empecilhos, o grupo do Conselho Missionário irá esfriar.
Agora, por favor, entenda! Não quero parecer pessoa de uma só visão. Entendo
perfeitamente o que significa.
Estratégia

Todo Conselho Missionário deve ter sua administração específica, de acordo com
a estratégia missionária para a Igreja local. Uma questão a ser levantada é: "Qual é a
proporção que se deve guardar entre o investimento financeiro para as necessidades
locais e as necessidades missionárias?" Bem, depende da maneira como a Igreja
trabalha:
 Se há somente uma receita: então, creio que deveremos destinar de 30 a 40%
para a Obra Missionária.
 Se há uma Oferta Missionária de Fé: O Conselho de Missões deve trabalhar para
que seja também na proporção de 30 a 40% da receita dos Dízimos. Ou seja, se uma
Igreja recolhe, por exemplo, U$ 5.000,00 por mês, não será difícil recolher mais U$ 1.500,
00 a U$ 2.000, 00, por mês, só para Missões. Veja que eu disse "recolher a mais". Não é
retirar dos Dízimos. É uma oferta alçada4 de acordo com MI 3.10.
Minha experiência como pastor, nestes anos de envolvimento missionário, dá-me
a segurança de dizer que a Igreja que passa a desafiar seus membros, para investir em
Missões, dando um "passo a mais", cresce em todos os sentidos. Deus se agrada do
povo que dá com alegria (2 Co 9.7), e, conseqüentemente, o abençoa.
 Da Receita de Missões: Agora, quanto à proporção que se deve usar, da Receita
Missionária, tenho a convicção de que devemos, no mínimo, aplicar cerca de 60% em projetos
transculturais e 40% em outros projetos.

 Por exemplo: Se entendermos At 1.8 como sendo geográfico, teremos:


Jerusalém = Cidade; Judéia = Estado; Samaria = País; e Confins da Terra =
Transculturais. Porém, se enxergarmos uma designação mais ligada a povos (etnias),
então poderemos ter5: Jerusalém e Judéia=Ministério Local ME~ 1;
Samaria=Ministério Local com outra cultura ME-2; Confins da Terra=Ministério
Transcultural ME-3.
 Assim, 60% da arrecadação missionária deveria ser aplicada em ME-3 e os
outros 40% em ME-1 e 2. A explicação para isto é a urgente necessidade de recursos nos
ministérios transculturais, onde não há opção para os povos terem acesso ao Evangelho.
Em nossa terra, poderemos evangelizar os chineses que moram em determinado bairro,
falam uma língua própria, têm costumes próprios, e vivem entre nós. É muito mais fácil
terem um acesso ao Evangelho de Cristo, do que os muçulmanos que vivem em aldeias
na Arábia Saudita. É uma questão de lógica e de envolvimento missionário.
 Todo o envolvimento missionário de uma Igreja local deve levar em
consideração a ordem do Senhor Jesus. Ele nos disse: "...fazei discípulos de todas as na-
ções... " Mt 28.18-20, o que nos desafia a olharmos para as etnias que estão perto ou
longe. Isaías, o profeta, revela-nos em seu livro no capítulo 66.18-21:
"Eu virei, afim de reunir todas as nações e línguas; elas virão e verão a minha glória.
Porei um sinal no meio deles e enviarei sobreviventes dentre eles às nações: a Társis, a
Fut, a Lud, a Mosoc, a Tuba[ e a Javã,6 às ilhas distantes que nunca ouviram falara
meu respeito, nem viram a minha glória. Estes proclamarão a minha glória entre as
nações, e de todas as nações trarão todos os vossos irmãos como uma oferenda a
Iahweh, montados em cavalos, em quadrígas,7 em liteíras,8 em mulos e em camelos,
conduzindo-os ao meu santo monte, a Jerusalém, diz Iahweh, exatamente como os filhos
de Israel costumam trazer a oblação à casa de Iahweh em vasos puros. Dentre eles
tomarei alguns para sacerdotes e levitas, diz Iahweh."
Impressionante este escrito cerca de 700 anos antes de Cristo. Interessante notar que
os primeiros missionários aqui descritos são pagãos convertidos, e não judeus. A Igreja
do Senhor Jesus é uma Igreja transcultural em sua essência, que deve levar a efeito a
mensagem do Senhor a todas as nações, "até as ilhas mais remotas". Este esforço não é
de uma só Igreja local ou de uma Denominação ou Agência Missionária, mas de todo o
Corpo de Cristo.
Se formos tentar compreender este nosso trabalho com nossos argumentos humanos,
certamente teríamos que concordar com ser uma loucura. Mas, por outro lado, se somos
realmente cristãos e desejamos obedecer ao Senhor Jesus, não temos escolha: Vamos a
todo o mundo pregar o Evangelho a toda a criatura. Esta é a ordem, e a Igreja deve
cumpri-la. Nossos argumentos pouco, ou nada valem, diante da Vontade Soberana do
Senhor.
Capítulo 4
MISSÕES TIPO DE FÉ VERSOS
MISSÕES COM TUDO
ASSEGURADO

19 á uma certa discussão, nestes termos, entre as Agências Missionárias


existentes. Qual é a melhor maneira de se trabalhar em termos de sustento
missionário? Neste sentido, temos visto todos os tipos de atitudes, e, sem que
tenhamos a melhor de todas as respostas, vamos tentar analisar quais são as
conseqüências das duas formas mais comuns:

1. Sustento vindo da Denominação

Esta é a atitude mais comum, quanto ao levantamento de recursos. As


denominações históricas recebem das Igrejas locais o dinheiro para aplicarem nos
missionários e/ou em campos a serem atingidos. Longe de dizer que isto é errado, creio que
há certas questões sérias que precisam ser levantadas nesta maneira de trabalhar. Em
primeiro lugar, a receita das Igrejas Locais é limitada, ou seja, há um tempo em que o
número de missionários excede a receita. É comum vermos missionários que têm seu
sustento insatisfatório, pois a Junta Missionária da Denominação não consegue suprir todas
as necessidades.
Um outro aspecto é a distância que se cria entre o missionário e a Igreja local. Para
mim, este é um dos problemas mais sérios. Quando o missionário precisar de ajuda, que
não financeira, onde irá buscá-la? A falta de personalização1 promove uma dificuldade
séria, não somente em termos logísticos como, e principalmente, espirituais.
Também há o perigo do missionário "descansar" na Denominação, tratando-a como
a grande-mãe que amamenta seus filhos. Digo perigo, porque a relação entre o
missionário e a Agência Missionária pode se tornar critica. Já vi uma Junta
Denominacional ser obrigada a diminuir o salário dos obreiros, por não ter condições de
mantê-los dignamente. A questão torna-se difícil e, em alguns momentos, insustentável.
O missionário depende daquele órgão e, certamente, o culpará por todos os danos que
tiver.
Fazer uma análise não é fácil, pois facilmente poderemos ser injustos. Não quero
que isto aconteça conosco, aqui neste estudo. Há pontos positivos nesta prática, no
entanto, entendo que devemos salientar as dificuldades, para encontrar soluções. Não
existe uma só maneira de se fazer missões; as atitudes que tomamos devem ser as mais
próximas do ideal, levando em conta os princípios bíblicos.
Neste sentido, não devemos desprezar o envolvimento da Denominação. O que devemos
fazer é manter um equilíbrio, tão em falta nos dias de hoje. As Juntas Denominacionais,
em minha opinião, devem manter seu programa de sustento, em regime de parceria.
Uma parte deve vir da Denominação, e a outra parte do sustento deve ser levantada entre
Igrejas e indivíduos. Este sistema proporcionará maior mobilidade da Junta, para man ter-
se e partir para ministérios novos. Se ela só se preocupa em manter os seus obreiros,
dificilmente poderá sonhar com outros campos.
A parceria, ou cooperação deve ser desejada por todos nós. Este trabalho não
pertence a uma só Igreja, ou Denominação, ou Agência. Todos devemos dar as mãos, sem
preconceitos, e agirmos em prol do mundo a ser alcançado.
Posso citar um caso de um missionário que recebeu ajuda financeira de seu
Presbitério, sendo que a Missão que o enviou é do tipo Interdenominacional. No tempo
em que esteve levantando seu próprio sustento, o obreiro contatou aquele órgão e dele
recebeu apoio. Isto é cooperação. Não devemos agir com mesquinhez, trabalhando só
para nossa Denominação ou Agência. A Igreja de Cristo é interdenominacional e
internacional.

2. Sustento vindo de mantenedores

Tal prática é bastante comum em nossos dias. São inúmeras as Agências


Missionárias, que se especializaram em algum tipo de trabalho ou campo. Dentre elas,
algumas trabalham com uma meta a ser alcançada, em termos de sustento, outras
estabelecem um alvo; mas podem não respeitá-lo, se a necessidade exigir. Algumas agem
em regime de trabalho em equipe; outras, em equipe, porém priorizando o indivíduo. São
vários os métodos e as maneiras como alcançam seus objetivos. O que precisamos
compreender é que há, neste tópico, o que chamamos de missões "tipo" de fé, e aquelas
que têm definido o sustento e acreditam que, sem o valor a ser levantado, não podem
prosseguir no trabalho.

a. Missões "Tipo" de Fé.


É claro que todo o trabalho do Senhor é pela fé, mas este tipo de Agência entende que o
serviço que executam deve ser pela fé, mesmo que o sustento necessário não chegue. O
perigo disto é que deparamos com missionários sérios, que realmente entendem que este é
o caminho e agem com todo o temor ao Senhor, e outros que partem para o campo,
vivendo com a fé alheia.2 Não estou dizendo que é impossível viver assim, ou que isto está
errado. Apenas apresento problemas que encontramos no dia-adia, e que devem receber
atenção de nossa parte.
Outro perigo está no avanço missionário "pela fé", sem que Deus tenha dito o Sim.
Cremos ou não que o trabalho do Senhor é por Ele controlado? Se cremos, então Deus
tem seus planos que devem ser seguidos por nós. Paulo, o apóstolo, quis seguir para uma
direção que o Espírito do Senhor não o dirigira. Acabou recebendo a visão do lugar em
que o Senhor o queria (At 16.6-10). Penso que a questão financeira, muitas vezes, é
determinante no Sim do Senhor. Sair para o campo, sem condições de sobrevivência, é
danoso e terrível.
Devo, no entanto, salientar, que muitos obreiros, ao longo da história, saíram sem
um sustento definido e realizaram importantes ministérios. O próprio apóstolo Paulo e
os demais, serviram sem uma estrutura organizacional que os apoiasse. Como saímos
disto? Em primeiro lugar, creio que as mudanças do mundo moderno levam-nos a ser
mais prudentes na proclamação do Evangelho. Nosso mundo exige do missionário mais do
que a passagem de avião. É preciso que a moradia, a alimentação, os recursos para
desenvolver um ministério mais efetivo, sejam levados em consideração. Também as
exigências de hoje são maiores. Dependendo do campo onde estiver, o missionário terá
muitos gastos, como por exemplo, telefone, papéis, roupas, combustíveis etc.

Existem aqueles que advogam o método da "oração", sem qualquer ação no


sentido da cooperação financeira. Pensando nisto, lembro-me de que a Bíblia nos ensina
que Paulo levantou ofertas para os irmãos pobres da Judéia. De que maneira isto foi feito?
Paulo só orou e descansou? Não é o que vejo nos relatos do N.T. Por exemplo, em 2
Coríntios, 8 e 9, Paulo afirma o método de levantamento das ofertas para a Igreja irmã
que necessitava de ajuda. Ele enviou três irmãos, com um alvo e método definidos. Eles
deveriam seguir para Corinto, para preparar a oferta a ser levantada, para que, quando Paulo
chegasse, tudo estivesse pronto. Pergunto: houve ou não fé nesta prática?
Em outro texto bíblico lemos: "...alegrando-vos na esperança, perseverando na
tribulação, assíduos na ora-
ção, tomando parte nas necessidades dos santos..."
Rm 12.12,13a (Bíblia de Jerusalém - grifos meus). Pergunto: -"Como é que vamos
tomar parte nas necessidades dos santos (aplicando isto aos missionários), se estes não
abrirem suas necessidades, não compartilharem suas aflições?" Seria falta de fé dizer o
que se sente ou o de que se precisa? Será que Deus é contrário a dizermos o que nos falta?
Não quero desanimar os que crêem assim. Deus os conhece e deles tem cuidado,
certamente. Como diz a Palavra do Senhor: " ... tudo o que não provém de fé, é pecado"
Rm 14.23. Seja Deus exaltado em nossas vidas. Ele é soberano para nos sustentar e nos
dirigir. Estamos analisando apenas os métodos, e não a provisão de Deus.

b. Missões "Tipo" Tudo Assegurado.


Queremos dizer com isto que há Agências Missionárias que definem quanto o
missionário deve levantar para ser enviado ao campo. Tudo parte da necessidade do
campo, o tipo de ministério a ser desenvolvido e os desafios que se colocam pela frente.
A crítica que muitos fazem a este tipo de método é que os obreiros são enviados com
"muito dinheiro", vivendo de forma diferente da maioria da população. Bem, isto tem
que ser entendido melhor. Creio que há casos em que os missionários são "ricos" em
meio ao povo com o qual trabalham, o que causa uma barreira imensa entre eles. Mas,
não necessariamente, este tipo de método "enriquecerá" o obreiro.
De forma alguma. O que ocorre é que a Agência leva em conta vários tópicos, por
entender que são importantes, e os acrescenta ao valor a ser levantado. Por exemplo,
temos: Salário, propriamente dito, moradia, fundo de trabalho (a ser aplicado no
ministério), administração do campo (suprimento dos gastos com a administração da
vida dos obreiros no campo), administração do escritório de envio (são muitas as
despesas que envolvem um envio de missionários), seguro médico, aposentadoria,
regresso etc.
Creio que, apesar dos pontos negativos, este tipo de an
trabalho dá mais segurança ao obreiro e à sua família. Lembro-me de casos em que a
falta de recursos gerou problemas sérios nos filhos. Há tantas tensões as quais um
obreiro é apresentado, que também ter que pensar em suprimento de recursos
financeiros pode se tornar um fardo dificil de carregar. É claro que nenhum método é
perfeito, mas deveremos pensar com maior carinho na vida do obreiro.
Um problema de saúde no campo é fato, muitas vezes, difícil de ser enfrentado. A falta
de recursos financeiros para se locomover de um país a outro, quando necessário, para
um tratamento, pode ser fatal. Uma organização que administra de forma competente os
recursos, as necessidades do obreiro, é de suma importãncia. Lembremo-nos de que, por
mais que tenhamos um missionário de carreira (aqueles que se entregam ao trabalho por
longo tempo no campo), ele voltará um dia para seu país. Seus filhos precisam de apoio e
de atendimento. Tenho visto muitos filhos de missionários (inclu sive pastores)
desejarem ficar muito longe da obra missionária por causa de traumas que sofreram pela
falta de recursos. No entanto, também tenho visto gerações de missionários que
promovem a continuidade do trabalho, porque tiveram, sempre, suas necessidades su-
pridas.
Será que temos que ver os missionários como pessoas de situação financeira
deplorável? Será que os que se entregam a missões têm que fazer voto de pobreza? Do
que estamos falando? Será que estamos falando em fé que abandona o bom senso?
Os recursos a serem levantados têm, ao meu ver, que levar em consideração as
necessidades do trabalho, o campo, o tipo de ministério, o período etc. Há missões que
enviam equipes, por tempo definido, e que exigem muito menos, em termos financeiros,
do que aquelas cujos missionários viverão longo tempo no campo, edificando seu lar
naquele ministério. Não importa quanto devem levantar, o que realmente importa é que
devem ser levadas em consideração as necessidades a serem enfrentadas.
Temos missionários que estão na Europa, por exemplo, trabalhando com muita
dificuldade, porque o custo de vida é muito alto, ali. O que fazer? Vamos continuar com
a "síndrome da miséria" que tem envolvido nossas Igrejas, e mandar os obreiros de
qualquer jeito?
Nossos missionários da Missão Internacional para o Interior da África, levantam um valor
que inclui muitos tópicos, como os citados acima. Muitas vezes ouço perguntas como:
"Como é que é mais 'caro' enviar um missionário para a África do que para a Europa
(com o método de outras missões)?" Respondo: É por causa das necessidades que o
campo apresenta e da maneira como agimos para alcançar nossos objetivos. Ou seja, um
missionário na África precisa de muitas coisas que não se encontram disponíveis no
país, exigindo que o mesmo viaje para outro país, para fazer compras. Se a situação é de
guerra, não adianta ter dinheiro, pois não há o que comprar! Isto implica viagens longas,
que exigem muitos recursos. Outro fato é o da falta de certas estruturas básicas, como
por exemplo: água, luz, esgoto etc. Como vivere ministrar naquele lugar? Como fazer
com que a família do missionário tenha o básico para ali viver e ministrar com amor?
Um casal de missionários da MIAF foi enviado para um campo muito carente, com
milhares de refugiados de guerra. A região é a mais quente daquele país e de difícil
convivência. Como se não bastassem os próblemas comuns, não há casa para ser
alugada. Quando existem são de altíssimo preço, tendo em vista ser a oferta muito menor do
que a procura (não pense que em clima de guerra não há exploração. Existem muitos que
vivem da miséria do próximo). Como fazer? A criança esteve dormindo sobre a
cómoda, por falta de espaço para o casal. A esposa escreveu-nos dizendo ter, quase,
desistido de tudo, pois, além de todos os problemas, seu sustento caiu bastante. Amados,
estamos numa luta espiritual enquanto ministramos. Nossos missionários são pessoas, e
um dia voltarão para seu lar. Como queremos que eles voltem? Quebrados e
desanimados? Frios na fé e cheios de mágoas? Decepcionados com suas Igrejas? Cabe-
nos descobrir a verdade e a realidade do processo missionário. Chega de ilusões!
É claro que, como eu é que estou fazendo a análise, estou, em todo o tempo, emitindo
minha opinião. Longe de querer fazê-la a única correta, expresso minha experiência
como pastor e líder de Agência Missionária. Creio que devemos agir com sabedoria em
todo momento de nosso trabalho. Há momentos em que a Denominação deve entrar com
toda sua força. Há outros momentos em que a situação exigirá de nós uma total entrega à
oração, sem que tenhamos condições de compartilhar nossas necessidades e/ou pedir
ajuda. No entanto, sempre devemos ser prudentes e agir de acordo com as neces sidades
e exigências do campo. Hoje, um missionário ter um computador pessoal não é luxo, mas
necessidade. Ter um automóvel é uma exigência, em muitos locais. Morar bem, alivia a
tensão de um ministério cheio de perigos.
A Obra missionária não é brincadeira. As Igrejas locais e as Agências Missionárias
devem dar as mãos e agir em conjunto, para que haja melhor aproveitamento.

CONCLUSÃO
A Igreja local tem todas as condições de recrutar, selecionar, treinar (sem dispensar
a ajuda de Escolas Bíblico - Teológicas) e enviar seus mission á r i o s . O q u e
n ã o p o d e e n e m d e v e f a z e r é esquecer-se de pastoreá-los adequadamente.
Deixá-los à própria sorte (não dispenso a ação de Deus) e sozinhos nos campos, apenas
exigindo relatórios, e enviando o sustento fmanceiro, é, no mínimo cruel e antibíblico. As
Igrejas locais devem compreender que não são uma pequena parte neste processo, mas
integrante e responsável pela saúde de seus obreiros.
No momento em que descobrirmos, juntos, que nossas comunidades locais não são
apenas celeiros (de onde se tiram coisas e pessoas), mas um organismo vivo que sente,
pensa, age e determina, certamente a Obra Missionária Mundial sofrerá um tremendo
impacto para melhor. Nossos obreiros serão mais equilibrados e poderão, sem sombra
de dúvida, realizar mais efetivo e proficuo ministério.
Sonho com a administração menos burocrática e mais díaconal. da Igreja, em
relação às missões. Mais bíblica do que costumeira; mais plena de reações de amor e
carinho; mais construtiva e mais familiar. Sei que Deus deseja ver sua Igreja agindo na
força do Espírito Santo, rompendo barreiras e costumes que são obstáculos à edificação
da Igreja como um todo e à Obra Missionária.
Se somos a Comunidade de amor, que pregamos, sejamos mais sérios no
cumprimento desta nossa fé. Deus será glorificado e vidas serão refeitas pelo Seu Poder!
A Ele toda honra e glória, todo o louvor e exaltação. Ele é a nossa vida! Ele é a
razão de fazermos missões.
Temos uma só paixão: Ele, só Ele!

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