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O desafio da santidade na vida do jovem cristão


Em quatro conceitos
Texto: Gn. 39:1-23 (NVI)
“O exercício da cidadania responsável é uma forma de
exercício de santidade. Temos superar o conceito de
santidade passiva, eu me torno santo por deixar de fazer
as coisas errada, pelo conceito de santidade ativa, eu
me torno santo por fazer as coisas certas”

Robinson Cavalcante

Introdução:

Dificilmente haverá uma palavra na linguagem religiosa, seja ela de que tradição for – seja ela
erudita ou popular – que tenha sido mais incompreendida, distorcida e mal definida do que a
palavra “santidade”. Trata-se de uma palavra profundamente desgastada e, por isso,
prejudicada no vocabulário cristão.

De modo que santidade é uma dessas palavras que precisam ser purificadas, limpas. É
preciso que tiremos o cascalho, as impurezas conceituais para, então, conseguirmos
enxergar sua beleza.

O que entendemos por santidade?

O que queremos dizer quando pronunciamos- “santidade”?

O que é viver em santidade?

O que significa ser santo, santa?

Como a santidade é percebida e compreendida para maioria das pessoas? Há pelo menos
quatro percepções populares distorcidas do conceito de santidade.

A noção religiosa de santidade:

1. Santidade como perfeição moral. Ou seja, santo é aquele que não comete pecados.
Impecabilidade é a palavra. Santidade seria, portanto, uma vida sem deslizes morais, éticos,
espirituais. Perfeição. Gente assim vive uma espiritualidade neurotica, obcecada por uma
santidade inalcançável.

Essa percepção é terrivelmente perigosa porque contribui para uma consciência geradora de
culpa – culpa porque o individuo neurótizado pela idéia de santidade idealizada sempre vai
falhar

“Não há um justo sequer, disse Paulo, “todos pecaram” (Rm.3.23)

“Aos santos que estão em Corinto” (1Co.1.2)

O apostolo João escreve que “se dissermos que não temos pecados, enganamo-nos a nós
mesmos, e não há verdade em nós” (1Jo.1.8)

Hebreus 4.15: “mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém,
sem pecado”, a referencia é a Jesus
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Esse tipo de santo vive atormentado pelo medo de errar

2. Santidade como obediência às regas de condutas e comportamentos. Legalismo


religioso é a expressão. O legalismo caracterizava-se pela obediência à infindáveis regras de
conduta e comportamentos determinados pela lei. O legalismo confunde santidade com mera
observação de regras e mandamentos. Santo para o legalismo religioso é aquele cumpriu à
risca o que está prescrito na lei, no dogma, no catecismo, no código doutrinário, nas
clausuras estatuárias. Santidade seria o equivalente a obedecer à risca ao que diz a lei.

3. Santidade como usos e costumes. Durante muito tempo associou-se santidade a usos e
costumes. Aferia-se o grau de santidade de um cristão pela maneira como ele ou ela se
vestia. A santidade era medida pelo comprimento da saia e do cabelo e pela ausência de
adornos femininos.

A jovem que ateou fogo no corpo porque cortou as pontas do cabelo

É a santidade da fita métrica

Quer ver de longe o argueiro do olho do outro

É a santidade que côa mosquito, mas engole camelo

Rigorosa no que é irrelevante, mas que faz vista grossa no que é essencial

4. Santidade como fuga da vida, alienada. É a santidade dos mosteiros, dos retiros
espirituais, dos montes. É a noção de que pra ser santo o individuo precisa fugir da vida e
enclausurar-se dentro de um reduto fortificado, uma espécie de bunker espiritual.

Gente que demoniza tudo que é cultural chamando-o de “mundo”. Gente que desenvolveu
uma Santidade alienígena, extraterrestre. Gente que se isola na vida e da vida.

O período patristico – 100-451 a.C. (Perído monástico) criaram monasteiros, onde vivia
reclusos para não se contaminaram com o mundo.

Jesus disse que o problema não é o mundo do lado de fora, mas o mundo do lado de dentro:

João 17:15:

“Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”

Transição:

José foi um jovem santo, integro. José é um paradigma, um modelo, um exemplo de


santidade. Uma vida que nos inspira a viver em santidade. E o que é belo na vida de
santidade de José, é que ele foi tudo isso num contexto nada favorável.

José não viveu em santidade protegido numa estrutura eclesiástica ou religiosa. José viveu
em santidade em contextos absolutamente hostis: traição, abandono, prisão, ameaças,
ciladas, amarguras, distancias.

Com José aprendemos alguns conceitos importantes sobre santidade. Quatro conceitos que
são próprios de uma vida de santidade:
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1. Santidade como distinção

A palavra que traduzimos hoje por santidade na Bíblia tem a sua raiz ligada ao termo
separação, ou separado – qodesh no A.T., e hagios no N.T. A idéia é a de alguma coisa que
foi separada para um respectivo fim, uma determinada finalidade.

O santo, portanto, é o separado, o que anda em distinção.

Ilustração: separar maçãs do cesto para torta

No A.T., todas as vezes que Deus queria usar algo ou alguém, antes, ele santificava: o
tabernaculo, os utensílios, o sacerdote, o sábado, Isael.

Santificar é separar, por á parte. É distinguir.

Deuteronômio 7:6:| “Pois vocês são um povo santo para o Senhor, o seu Deus. O Senhor, o seu Deus,
os escolheu dentre todos os povos da face da terra para ser o seu povo, o seu tesouro pessoal”

José foi um jovem santo porque foi distinto. Deus o escolheu e o distinguiu entre seus onze
irmãos: Zebulom, Issacar, Rúben, Naftali, Benjamim, Dã, Simeão, Levi, Judá, Gade e Aser.

José era distinto e não excepcional.

Há quem pense que santidade é qualidade de gente excepcional, especial, iluminadas, isto é,
santas são aquelas pessoas extraordinárias, e por isso mesmo, raras.

Distinção e não excepcionalidade:

Na praia do mar da Galileia, entre os muitos pescadores do vilarejo, Jesus escolhe quatro:
Pedro, Tiago, André e João – Mc. 1.14-20

O que havia de especiais nesse grupo? Absolutamente nada. Gente comum, sem pedigree,
sem cacife, sem talentos, mas Deus os escolhe.

Repito: distinção não é excepcionalidade. Não é ser especial, extraordinário. É ser comum,
mas diferente. É ser igual a todos ao mesmo tempo diferente de todos.

É o paradoxo da santidade - ser diferente mesmo sendo igual.

José foi estava preso entre demais presos, mas José é distinto – ele interpreta sonhos

Eliseu era esse individuo igual e diferente – 2 Rs. 4.10

José era um jovem santo não porque era uma criatura medonha ou ser extraordinário, mas
porque deus o separou, o distinguiu

José foi escolhido a partir dos critérios e de Deus.

2. Santidade como fidelidade


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José é tentado pela mulher de faraó inúmeras vezes. O ambiente da tentação se instala. A
armadilha está posta. A voz da sedução é doce e suave. A mulher de Potifar é o predador;
José, a presa.

A tentação é continua, insistente – “dia a pós dia ela insistia com José para que se deitasse
com ele” – v. 10

“Não há pecado na isca, mas na mordida” (Charles Swindow).

Versículo 8 diz que José simplesmente recusou “recusou”, não apenas recusou a proposta,
mas insistiu em recusar. À cada investida José dizia “não! Não quero, não vou, não insista”

A isca estava lançada. E ela não aceitava não como resposta: “venha pra cama comigo”

José estava determinado a não ceder às proposta. José não iria jogar fora o projeto lindo de
Deus pra sua vida por um instante de prazer.

Ilustração : Por que alguém rejeitaria um pedaço de pudim? Ou porque não gosta, ou porque
o pudim ta feio, ou porque está cheio de pudim. Não era o caso de José.

Como pode José rejeitar esse pudim tentador? As razões são duas:

Versículo 8

1. Primeiro, sua lealdade ao seu senhor – o faraó: “Meu senhor não se preocupa com coisa
alguma de sua casa, e tudo o que tem deixou aos meus cuidados. Ninguém desta casa está
acima de mim. Ele nada me negou, a não ser a senhora, porque é a mulher dele”

Fidelidade horizontal: “sou fiel ao meu patrão”

2. Segunda, sua fidelidade ao seu Deus: “Como poderia eu, então, cometer algo tão perverso
e pecar contra Deus"

Fidelidade vertical: “sou fiel ao meu Deus”

Está aqui um bom conceito de santidade: Fidelidade horizontal e vertical. Sou santo não
porque tenho cara de santo, não porque vivo nos montes, mas porque sou fiel
horizontalmente – aos meus líderes, ao meu patrão, às minhas amizades, à minha esposa,
aos meus filhos e filhas.

Sou santo porque honro a aliança um dia firmada no altar

Mas sobretudo, porque sou fiel ao meu Deus!! Existem votos, alianças, compromissos
assumidos.

No versículo 12 está dito que José ao ser assediado, ele “fugiu”

“Verás que um filho teu não foge a luta”, diz o hino nacional.

Eu tenho minha versão: “Verá que Jovem santo, filho de Deus foge!

Foge pra não pecar

Foge não perder


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Foge pra não ferir

Foge pra não cair

Foge porque ama a Deus

Sansão não fugiu e perdeu: perdeu a força, perdeu a aliança de nazireu, perdeu a visão,
perdeu a liberdade e, por fim, perdeu a vida!

3. Santidade como identidade afirmada

José sabe quem é. José tem uma identidade afirmada, definida. Sabe de onde veio e para
onde vai.

Santidade é saber quem você é, de onde veio e para onde vai.

Dois momentos importantes e significativos na vida de José:

1. Momento em que José perde sua identidade. Genesis 41. 45: “O faraó deu a José o nome
de Zafenate-Panéia e lhe deu por mulher Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om. Depois
José foi inspecionar toda a terra do Egito”

José até então sabia quem era. Mas agora faraó começa tirar-lhe a identidade: dar-lhe um
nome de um deus egípcio: Zafenate-Paneia. Este nome tem significado: “o deus fala e vive”.
José era o nome hebreu. Zefenate-Paneia era nome egípcio, pagão.

O nome era e é a identidade do individuo. José começou a perder sua identidade.

Casou com uma Egipcia, Azenate, filha de Portífera, um sacerdote de OM,

Desse casamento nasceram dois filhos – Genesis 41.50-52

“Antes dos anos de fome, Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om, deu a José dois
filhos. Ao primeiro, José deu o nome de Manassés, dizendo: "Deus me fez esquecer
todo o meu sofrimento e toda a casa de meu pai".
Ao segundo filho chamou Efraim, dizendo: "Deus me fez prosperar na terra onde
tenho sofrido".

Manassés é nome Egípcio, que significa: “deus me fez esquecer todo o sofrimento e toda a
casa de meu pai”

Roupas egípcias, pinturas egípcias, esposa egípcia, filho com nome egípcio. José vive como
um egípcio.

2. Segundo momento, José recupera a consciência de sua identidade. Mas acontece alguma
coisa entre o nascimento do primeiro e segundo filho. Pois ao nascer o segundo, José não
põe mais nome egípcio no filho, mas Hebreu: Efraim que significa: “Deus dos meus
antepassados me fez prosperar na terra onde tenho sofrido”

José recupera sua identidade. José estava dizendo: “Eu sei quem eu sou. Eu sou Hebreu.
José estava voltando a ser quem era.
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Os jovens Hananias, Misael e Azarias três jovens que estavam entre os hebreus que foram
levados cativos para a Babilônia pelo rei Nabucodonosor em 586 a.C. Na Babilônia seus
nomes foram mudados para Mesaque, Sadraque e Abednego, nomes de divindades
babilônica.

Com isso Nabucodonosor pretendia subtrair a identidade daqueles jovens.

Identidade afirmada é saber quem eu sou

Sabe quem é não vive a partir da opinião dos outros, daquilo que os outros pensam ou
acham

Quem tem identidade afirmada é livre da obsseção de agradar os outros o tempo todo e todo
o tempo

Quem tem identidade afirmada em Deus não desanima com críticas de quem não construiu
nada

Jesus tinha identidade afrimada:

Eu sou o pão da vida – Jo. 6.35

Eu sou a luz do mundo – Jo. 8.12

Eu sou a porta das ovelhas – Jo.10.7-9

Eu sou o bom pastor - Jo. 10.11-15

Eu sou a ressurreição e a vida – Jo.11.25

Eu sou o caminho, a verdade e a vida – Jo.14.6

Eu sou a videira verdadeira – Jo.15.1-5

Santidade como identidade afirmada.

Não somos o que o Diabo diz quem somo. Nem o que o que os outros dizem quem somos.
Somos o que Deus diz quem somos: somos filhos amados e queridos

4. Santidade como companhia divina

Por cinco vezes no capítulo 39, aparece a expressão “O Senhor estava com José”:

Versículo 2: “O Senhor estava com José, de modo que ele prosperou”

Versículo 3: “Quando ele percebeu que o Senhor estava com ele e que o fazia prosperar em
tudo o que realizava”

Versículo 21: “José ficou na prisão, mas o Senhor estava com ele”

Versículo 23: “O carcereiro não se preocupava com nada do que estava a cargo de José,
porque o Senhor estava com José e lhe concedia bom êxito em tudo o que realizava”
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José é um jovem santo não porque é um jovem belo, inteligente, capaz, habilidoso, mas por
Deus era com ele

Qual o segredo da vida desse moço? Deus era com ele

Está aqui o mais belo e lindo conceito de Santidade: a companhia de Deus

Santidade é companhia de Deus conosco. Santidade se faz na caminhada entre eu e Deus


no caminho. Na medida em que eu ando com Deus e Deus anda comigo, mas santo eu fico.

Santidade não é alguma coisa que acontece fora de Deus, mas em Deus porque é Deus
quem nos santifica

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