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AUTARQUIA EDUCACIONAL DO ARARIPE – AEDA

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DE


ARARIPINA – FACISA
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

KARINNA OLIVEIRA DA COSTA

CONVIVENCIA E DESAFIOS REFERENTE À ESCRAVIDÃO NO SÉCULO XXI

ARARIPINA
2022
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CONVIVENCIA E DESAFIOS REFERENTE À ESCRAVIDÃO NO SÉCULO XXI

Artigo científico apresentado a Faculdade de


Ciências Humanas do Araripe, como parte dos
requisitos para a conclusão do sexto semestre.

Orientador: Prof. Frankarles

ARARIPINA
2022
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SUMÁRIO
1 RESUMO................................................................................................................03
2 INTRODUÇÃO......................................................................................................04
3 HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO...........................................................................06

3.1 O QUE É ESCRAVIDÃO....................................................................................06

3.2 TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL...............................................................07

3.3 FIM DE UMA ERA .............................................................................................08

4 ESCRAVIDÃO DISFARÇADA NO SÉCULO XXI..........................................09

4.1 SERVIDÃO POR DÍVIDA..................................................................................09

4.2 METAS IMBATIVEIS.........................................................................................10

4.3 HORAS EXTRAS DEMASIADAS.....................................................................11

4.4 JORNADA DE TRABALHO EXAUSTIVA.......................................................12

5 DIREITO DO TRABALHO E COMBATE A ESCRAVIDÃO........................13

5.1 TRABALHO ANÁLOGO A ESCRAVIDÃO.....................................................13

5.2 PARTICIPAÇÃO DO ESTADO NO COMBATE...............................................14


5.3 MPT......................................................................................................................15
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................16
7 REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA.....................................................................17
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Karinna Oliveira da Costa

RESUMO: O presente artigo relata a existência da escravidão no século XXI, esta que
agora carrega o nome de trabalho análogo ao escravo. O objetivo deste trabalho é aprender
um pouco sobre a mão de obra escrava, que teve origem nas guerras e conquistas de
territórios, onde os povos vencidos eram forçados a exercer trabalho forçado pelos
conquistadores. Podemos citar como exemplo de povos com esta cultura os assírios,
hebreus, babilônios, egípcios, gregos e romanos. A prática da escravidão chegou ao Brasil
através de Portugal, que tinha uma população pequena, não podendo dispensar parte de
seus habitantes para sua colônia americana. Dessa forma, logo que desembarcaram no
Brasil em 1500, os portugueses subjugaram a população indígena, os submetendo ao
trabalho forçado. Entretanto, a intensa mortalidade em decorrência de epidemias adquiridas
dos brancos e o fato de os indígenas serem difíceis de dominar por conhecerem o território,
levaram os portugueses a substituírem os cativos brasileiros pelos escravos africanos.
Quando a Inglaterra substituiu a escravidão por trabalhadores assalariados, a produção
agrícola passou a ter custo mais elevado e as colônias inglesas não poderiam concorrer
com os baixos preços de Portugal. Assim, era necessário transformar a mão-de-obra
escrava em trabalhadores assalariados para igualar os preços da produção. Assim, a
abolição da escravidão chegou ao Brasil através da Lei Aurea, aprovada pelo Senado e
assinada pela princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888. Porém, esta prática influencia
nosso país até a atualidade. Portanto, através da Pesquisa Bibliográfica abordaremos as
características do trabalho análogo à escravidão e sua influencia negativa na economia,
saúde física e psicológica do trabalhador, além de sua criminalidade, tendo como base o
artigo 149 do Codigo Penal. Veremos as palavras de personalidades de fala pertinente em
nosso tema, como Urmila Bhoola, José Afonso da Silva, Masi e Marx. Em nosso estudo fica
claro que as principais causas do trabalho análogo ao escravo são a pobreza, a falta de
alternativas econômicas e a discriminação em que cidadãos de grupos minoritários se
encontram, pois isto os leva a buscar empréstimos que os colocam em divida com
empregadores que os submetem a escravidão moderna. A escravidão contemporânea pode
ser resumida como uma submissão a trabalhos de modo forçado ou a jornada exaustiva
pretendendo extrair do trabalhador, uma prestação de serviço além do normalmente exigido,
que ultrapassa suas limitações físicas, no intuito exclusivo de beneficiar o empregador. É um
ato criminoso, que como veremos, é combatido por diversas entidades e órgãos e
instrumentos legais, entre os quais podemos citar o Ministério Público do Trabalho (MPT), A
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o Código Penal (CP), e também a atuação de
outros países em sintonia com o Brasil, para erradicar este mal.

Palavras-chave: Escravidão; Pobreza; Trabalho análogo ao escravo; Trabalhador;


Empregador.
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2 INTRODUÇÃO

A escravidão está presente em nossa história desde a antiguidade, sendo


possível encontrar indícios de sua existência na história de povos diversos e em
variadas épocas. A mão de obra escrava foi peça fundamental para alavancar a
economia das antigas civilizações, sendo adquirida muitas vezes por meio de
guerras entre povos, que saqueavam cidades inimigas e forçavam os sobreviventes
a exercerem mão de obra escrava. Dessa forma era possível adquirir suprimentos,
riqueza e mão de obra barata.

Porém com o passar dos séculos, a prática da escravidão passou a ser uma
forma de mostrar seu Status social. Por meio de sua quantidade de escravos, os
homens demonstravam seu poder e dinheiro.

Muitos mercenários também enriqueciam com a mão de obra escrava. Era


possível ganhar muito com a captura, transporte e venda de negros, que eram vistos
como uma raça boa e barata para trabalhar.

Com o crescimento da discussão mundial a respeito dos direitos humanos, a


escravidão foi proibida e os escravos libertos. Mas será que a escravidão foi
realmente extinta junto com a carta abolicionista?

Apesar de já haverem se passado 130 anos desde a promulgação da Lei


Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, de acordo com a organização não
governamental Walk Free Foundation, ainda há cerca de 155 mil pessoas em
situação de trabalho escravo em nosso país. E também, a Organização Internacional
do Trabalho (OIT), informa em uma pesquisa de 19 de setembro de 2017, que cerca
de 40 milhões de pessoas do mundo estão submetidas à escravidão, sendo que
70% (setenta por cento) refere-se apenas às mulheres, incluindo crianças do sexo
feminino.

Atualmente os escravos estão escondidos da vista da sociedade. Sua


condição de trabalho é humilhante e opressora, e muitas vezes contra a vontade do
indivíduo, e sem sequer um salário mínimo. Mas, e as leis trabalhistas?
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Este artigo tem como objetivo analisar a escravidão do ponto de vista


jurídico, apresentando como ela ocorreu no Brasil, e como o trabalho escravo atinge
o trabalhador brasileiro até o atual momento. Falaremos também sobre as leis
trabalhistas vigentes que tem por objetivo coibir o trabalho análogo à escravidão,
trazendo átona não apenas a interpretação da lei, mas mostrando também sua
efetividade e como ela deve ser aplicada.

No capítulo 3 iremos estudar o que é a escravidão, analisando sua origem, e


a razão de seu surgimento. Veremos também a história da mão de obra escrava no
Brasil, discorrendo sobre seus efeitos em nossa cultura, e como a era da escravidão
chegou ao fim.

No capítulo 4 iremos analisar como o trabalho escravo coexiste conosco


ainda no século XXI. Veremos a servidão por divida, as horas extras excessivas e a
elevação do patamar das metas de trabalho, que se tornam mais altas e exigentes
a cada dia. E para finalizar este capítulo, iremos discorrer a jornada de trabalho
exaustiva, que é imposta ao funcionário ultrapassando o limite legal estabelecido na
legislação, causando prejuízos à saúde física e mental do trabalhador, devido estar
em situação estressante e forçada.

No capitulo 5 iremos verificar o que o código penal diz a respeito do trabalho


análogo a escravidão, e também a intervenção do estado na luta contra este mal.
Apresentaremos também as ações do Ministério Publico do Trabalho para deter este
crime, e comentaremos a respeito CLT, suas normas e efetividade. Por fim, com
base em tudo que será abordado, iremos examinar formas de inibir o trabalho
escravo e proteger o trabalhador brasileiro.
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3 HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO

3.1 O que é a escravidão

A escravidão trata-se de um regime de trabalho onde homens e mulheres


são forçados a executar tarefas sem receber qualquer tipo de remuneração.
Indivíduos escravizados têm também sua liberdade e direitos subtraídos, como se
fossem propriedades de seus senhores.

O trabalho escravo tem como origem as guerras e conquistas de territórios,


onde os povos vencidos eram forçados a exercer trabalho forçado pelos
conquistadores. Tal atividade fez parte de civilizações como os assírios, hebreus,
babilônios, egípcios, gregos e romanos, variando as suas características
dependendo da cultura e contexto de cada local.

As civilizações grega e romana são consideradas os pilares fundamentais


para as sociedades ocidentais contemporâneas. Assim, para entender como a
escravidão se desenvolveu, é necessário analisar como esse regime ocorria nessas
duas civilizações.

A Grécia surgiu em torno de 2 mil anos a.C. tendo sido construída por povos
nômades, e por volta de 500 a 700 anos a.C., os gregos vieram a desenvolver as
chamadas cidades-estado, ou polis gregas, sendo a mais significativas Atenas.

Em Atenas, os trabalhadores eram prisioneiros de guerras que foram


transformados em escravos. Também poderiam ser escravos aqueles que
desejavam saldar dívidas. Essa pessoa trabalharia por um determinado período sem
remuneração até que fosse dado como pago o seu débito. Algo importante a se
observar é que escravos, estrangeiros e mulheres não eram considerados cidadãos.

A sociedade romana por sua vez, era dividida entre patrícios, plebeus e
escravos. Os patrícios eram detentores de poder e propriedades. Os plebeus eram
trabalhadores da terra, pequenos comerciantes e artesãos. Já os escravos eram
pessoas adquiridas através de conquistas ou mesmo do comércio humano. Suas
funções estavam relacionadas ao trabalho agrário, mas havia também escravos
treinados como gladiadores, músicos, malabaristas, escribas.
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3.2 Trabalho escravo no Brasil

Uma das causas para a escravidão no Brasil seria o fato de que Portugal
tinha uma população pequena, não tendo como de dispensar parte de seus
habitantes para sua colônia americana. Para suprir os braços que faltavam, os
colonizadores usaram a escravidão, que já era praticada na África.

Dessa forma, logo que os portugueses desembarcaram no Brasil em 1500, a


população indígena foi subjugada e escravizada, sendo utilizada na extração do
pau-brasil, no trabalho agrícola e em demais tarefas. Entretanto, diversos fatores
contribuíram a substituição dessa mão de obra. Dentre eles a intensa mortalidade
em decorrência de epidemias adquiridas dos brancos e o fato dessas populações
serem difíceis de dominar por conhecerem o território e as florestas.

A escravidão da população africana foi uma maneira lucrativa que Portugal


encontrou de solucionar esta questão. O transporte de pessoas escravizadas
intensificou a produção de mais embarcações, alimentos, vestuário, armas, e outros
produtos que estavam ligados ao comércio. Por isso, o tráfico negreiro se tornou um
ótimo negócio para a Europa e movimentava fortemente a economia europeia.

Desse modo, indivíduos de diversas etnias foram trazidos ao Brasil através do


tráfico negreiro, em navios abarrotados de pessoas em condições desumanas.
Chegando aqui, eram vendidas para trabalharem nas mais variadas funções.

As condições a que esses indivíduos foram submetidos eram tão precárias


que, dependendo do tipo de serviço realizado, a vida média de um escravizado era
em torno de 10 anos. Além disso, os castigos eram frequentes e faziam parte da
estrutura de dominação.

Houve, portanto, resistência da população escravizada. Aqueles que


conseguiam fugir do cativeiro organizavam-se em quilombos, que eram
comunidades constituídas de africanos fugitivos, além de outras pessoas
marginalizadas. Lá era possível exercer suas crenças e viverem em harmonia. No
Brasil, o agrupamento mais conhecido foi o Quilombo dos Palmares que tinha na
liderança Zumbi dos Palmares.
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3.3 Fim de uma era

Após décadas utilizando mão de obra escrava, o governo português foi


pressionado pela Inglaterra para abolir a escravidão de suas colônias, Tendo em
vista que a sociedade europeia estava adotando as ideias do liberalismo e
Iluminismo, e a escravidão passou a ser questionada, visto que a privação de
liberdade não se encaixava na nova etapa do capitalismo industrial.

Outra motivação para a abolição da escravatura foi a economia. Quando a


Inglaterra aboliu a escravidão nas suas colônias, ela foi substituída por
trabalhadores assalariados. Com isso, a produção agrícola passou a ter custo mais
elevado e as colônias inglesas não poderiam concorrer com os baixos preços de
Portugal. Assim, era necessário transformar a mão-de-obra escrava em
trabalhadores assalariados para igualar os preços da produção.

Por isso, a Inglaterra, que liderava a nova expansão capitalista-industrial,


aprovou a "Lei Bill Aberdeen", que tornou a Marinha Real Britânica uma peça
fundamental na busca pelo fim do tráfico de escravos. A nova lei permitiu que os
navios ingleses abordassem navios negreiros de qualquer nacionalidade, causando
uma elevação considerável nos custos de Importação de escravos.

No Brasil, o tráfico foi abolido em 1850, com a "Lei Eusébio de Queirós", e em


1871, a "Lei do Ventre Livre" garantiu a liberdade aos filhos de escravos, Em 1879,
se iniciou a campanha abolicionista, liderada por intelectuais e políticos e
posteriormente, a "Lei dos Sexagenários" (1885) garantia a liberdade aos escravos
maiores de 60 anos. A abolição da escravidão veio por fim através da Lei Aurea,
aprovada pelo Senado e assinada pela princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888.

Porém, mesmo libertos, os trabalhadores negros permaneceram em


condições precárias e sem oportunidades de emprego. Agora livres, mas sem
qualquer plano, os ex-cativos se viram entregues à própria sorte e passaram a
formar um enorme contingente de pessoas sem qualificação. No fim, os escravos
foram substituídos pela mão de obra imigrante. Servidão por divida
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4 ESCRAVIDÃO DISFARÇADA NO SÉCULO XXI

4.1 Servidão por divida

De acordo com a relatora especial das Nações Unidas sobre formas


contemporâneas de escravidão, Urmila Bhoola, A servidão por dívida é considerada
uma das formas mais comuns de escravidão moderna. Nas palavras dela, “Mesmo
ocorrendo em todo o mundo, em diversos setores da economia, e sendo uma forma
de escravidão, com raízes históricas profundas, a servidão por dívida não é
universalmente compreendida”.

Atualmente, não há uma estimativa exata do numero de indivíduos na


condição de escravidão por dívida em todo o mundo, mas a especialista apontou
para uma estimativa de 21 milhões de pessoas sofrendo com o trabalho forçado, de
acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), apesar de ser proibida
esta pratica pelo direito internacional e pela maioria das jurisdições nacionais.

A Pobreza, a falta de alternativas econômicas, o analfabetismo e a


discriminação em que cidadãos de grupos minoritários se encontram podem resultar
na busca por um empréstimo ou adiantamento de empregadores ou recrutadores,
para assim suprirem suas necessidades básicas. Em troca, essas pessoas oferecem
seus serviços. Trabalhadores forçados são frequentemente submetidos a abuso de
diversas naturezas, como violência física e psicológica ou longas horas de trabalho.

“Os pobres e marginalizados, os migrantes, traficados ou discriminados –


incluindo mulheres, crianças, povos indígenas e pessoas de castas afetadas em
suas comunidades – são os mais impactados, e acabam entrando nessa forma de
escravidão por não terem como pagar as suas dívidas”, observou a especialista em
direitos humanos.

Alguns fatores forçam as pessoas a se submeterem a essa escravidão.


Alguns desses fatores são a desigualdade estrutural e sistêmica, a pobreza, e a
discriminação. Há também fatores que impedem a liberação do trabalho forçado e a
reabilitação de famílias e indivíduos presos a ele. Podemos citar como exemplo
marcos regulatórios financeiros fracos ou inexistentes, a falta de acesso à justiça, a
falta de aplicação da lei e governança, bem como a corrupção.
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4.2 Metas imbatíveis

As metas têm como finalidade garantir o maior rendimento possível dos


funcionários, sabendo que existe um limite mínimo de produtividade que todo
empregado tem que alcançar, ou seu rendimento é considerado insatisfatório e seu
emprego fica ameaçado. Porém, as metas por vezes se tornam exageradamente
elevadas e exigentes, pressionando excessivamente os empregados para
alcançarem níveis absurdos.

Há casos onde para alcançar as metas exigidas, é gerado distúrbio no


ambiente de trabalho, elevando a tensão e o estresse dos trabalhadores. Não se
trata de um simples pedido do empregador para que o empregado trabalhe mais,
mas de uma cobrança desmedida para que se cumpra uma meta quase
inalcançável, gerando no empregado uma insegurança constante com relação à
continuidade da relação de emprego.

A política exagerada de metas não se configura apenas como assédio moral


praticado contra um empregado específico, mas como assédio moral organizacional.
Não se trata de pressionar, exigir demasiadamente, gerar o sentimento de
menosprezo, incapacidade ou inferioridade em um único empregado, mas de fazê-lo
como forma de gestão de pessoal do banco ou empresa.

Para José Afonso da Silva, a importância do meio ambiente do trabalho parte


da compreensão de que se trata do “local em que se desenrola boa parte da vida do
trabalhador, cuja qualidade de vida esta, por isso, em íntima dependência da
qualidade daquele ambiente”. As relações de trabalho estão permeadas por diversos
distúrbios ao meio ambiente de trabalho que não afetam, de imediato, à saúde física
do trabalhador. Com isso, surge a preocupação com a sua higidez mental.

Ganham maior destaque as pesquisas que apontam a relação direta entre a


fadiga mental e o desenvolvimento de doenças psíquicas e psicossomáticas, o
aumento de acidentes no trabalho e a queda de produtividade. Portanto, o
empregador que submeta os empregados a metas exageradas é obrigado a
ressarci-los de forma geral pelo assédio moral organizacional.
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4.3 Horas extras demasiadas

A realização de horas extras vem se tornando parte da rotina de muitos


trabalhadores, sendo quase uma parte da jornada normal de trabalho.
Empregadores muitas vezes exigem um esforço descomunal de seus funcionários
para o alcance de metas, muitas vezes sem remunerar o esforço extra, contrariando
a legislação.

Como diz o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos


Socioeconômicos (DIEESE): Apesar do que está definido em lei, há o problema de
que em alguns países, como no Brasil, há muito tempo a utilização das horas extras
perdeu o sentido de trabalho extraordinário, ganhando um significado de trabalho
cotidiano a mais. Isto é, no dia-a-dia trabalha-se além da jornada normal de trabalho
(DIEESE, 2007, p. 21).

Esse problema tem reflexo em vários locais da vida do empregado, que não
possui tempo para o lazer, família, crescimento pessoal e saúde. Isso é uma
herança dos tempos industriais, onde o empregado era submetido à um esquema de
exploração, como afirma Masi:

Foi à indústria que transformou radicalmente o conceito de trabalho,


caracterizando-o como atividade de múltipla programação e direcionamento que se
presta a um estranho em troca de ‘consumo’ e ‘urbanismo’, inspirou outros como
‘alienação’, ‘autonomia’, ‘exploração’ e ‘estresse’. (Masi, 1999, p.59)

Assim, as horas extras, remuneradas ou não, passa a ser um comportamento


naturalizado e até esperado pelo empregador. Em muitos casos, promessas de
melhores remunerações por bom comportamento e esforço para a obtenção de lucro
são os mecanismos de manipulação psicológica que os chefes utilizam para
submeter o empregado.

Esses fatores contribuem também para que a segurança do empregado seja


deficitária por não ter o horário de descanso devido, visto que as obrigações da vida
comum continuam existindo mesmo com a sobrecarga de trabalho. A fadiga pode
acarretar em acidentes ou um desempenho não ideal das funções laborais.
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4.4 Jornada de trabalho exaustiva

A exposição do empregado a jornada extenuante de trabalho, em desacordo


com os limites previstos na legislação é uma das características do trabalho
escravo. A jornada exaustiva deteriora as condições de trabalho, além de repercutir
negativamente na vida pessoal e particular do trabalhador, privando-o do convívio
familiar e social, e do lazer, indispensáveis para a qualidade de vida do indivíduo.

A jornada exaustiva não se trata do cansaço resultante de uma jornada


comum, mas sim de um abuso na submissão do tempo do funcionário às
necessidades impostas pelo empregador. Portanto, esse crime contra os direitos do
trabalhador extrapola as questões de sobrecarga pessoal do funcionário. Os seus
próprios direitos humanos acabam mitigados a despeito da busca pelo lucro
exacerbado.

A escravidão contemporânea pode ser resumida como uma submissão a


trabalhos de modo forçado ou a jornada exaustiva pretendendo extrair do
trabalhador, uma prestação de serviço além do normalmente exigido, que ultrapassa
suas limitações físicas, no intuito exclusivo de beneficiar o empregador. Esse
comportamento é o que Marx chama de impulso imanente da produção capitalista.

Ao sujeitar o trabalhador a jornada superior à normalmente exigida,


ultrapassando suas limitações físicas com vistas a auferir lucro sobre sua
capacidade produtiva e baixo valor unitário da mão de obra. Entendemos essa
apropriação como parte do “impulso imanente da produção capitalista”, de modo a
absorver cada gota de trabalho e de mais-trabalho (MARX, 1996, p. 371).

A limitação da jornada de trabalho possui o intuito de proteger o trabalhador


em seus direitos, visto que a sua obrigação com o empregador não é sua única
responsabilidade. Assim, a limitação da jornada não é mera liberalidade do
empregador nem do empregado, os quais devem reconhecer que as horas extras
são de fato extraordinárias, devendo ser utilizadas em casos específicos, e não se
tornarem parte da rotina diária do trabalhador.
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5 DIREITO DO TRABALHO E COMBATE A ESCRAVIDÃO

5.1 trabalho análogo a escravidão

Expor qualquer pessoa a condições análogas ao escravo é crime previsto no


Código Penal. O Artigo 149 do Código Penal define este crime como a submissão
de indivíduos a trabalho forçado, jornadas intensas que provocam danos físicos,
condições degradantes e restrição de locomoção em razão de dívida contraída. A
pena se agrava se o crime é cometido contra menor de idade ou por motivo de
preconceito de raça, etnia ou religião.

Antes da lei 10.803/03, o artigo 149 do Código Penal previa que o crime de
trabalho análogo a escravo era de execução livre, com o juiz devendo analisar o
caso concreto, e decidir se o trabalhador foi ou não reduzido à condição análoga a
de escravo. Com a alteração legislativa de dezembro de 2003, o crime passou a ser
de ação vinculada, com o sujeito devendo praticar uma das cinco condutas
previstas em lei, e mencionadas anteriormente neste artigo.

O artigo 149 é formulado e interpretado pelos tribunais e fiscais do trabalho


com base no conjunto da legislação brasileira e dos tratados e convenções
internacionais dos quais o Brasil é signatário. Isso dá maior segurança aos termos
da lei e traz mais confiança jurídica para todos os envolvidos.

Calcula-se que mais de 54 mil pessoas já foram resgatadas de situações


análogas à escravidão desde que o Brasil passou a tomar medidas para combatê-
lo. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, em 2016 mais de
quarenta milhões de pessoas foram resgatadas em condições de trabalho análogas
a escravidão, sendo 70% mulheres ou meninas. Também de acordo com a OIT,
uma em cada quatro pessoas nessas condições são crianças.

Sabemos que o trabalho análogo ao escravo é motivado por três doenças das
quais o Brasil padece, sendo elas a pobreza, a impunidade e a ganancia. Mas tendo
este conhecimento, já iniciamos e progredimos no combate a esta mazela. Já existe
o combate contra a miséria do brasil, e, a CLT, MPT, e o Código Penal demonstram
a determinação do estado em não deixar impune aqueles que tentam tornar o
trabalhador brasileiro em objeto.
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5.2 Participação do estado no combate

É importante debater sobre o papel do Estado, já que ele permeia todo o


problema do trabalho análogo ao de escravo no Brasil, desde as fragilidades que
permitem sua existência às ferramentas de combate. As ferramentas, especialmente
as de repressão, têm apreciado certo avanço desde que o problema tomou
notoriedade e, cada vez mais, órgãos do Estado se envolvem e se comprometem
com o combate a esta prática

Também existe a cooperação de outros países neste combate. Durante


palestra em Londres a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, reconheceu
que há tráfico de trabalhadores no território nacional, principalmente para serem
escravizados em empreendimentos rurais remotos. Segundo ela, a escravidão rural
atinge predominantemente os brasileiros, enquanto a escravidão urbana atinge mais
os estrangeiros.

“O enfrentamento à escravidão moderna é uma tarefa que precisa ser


exercida em cada país e deve contar com a cooperação internacional para
sedimentar princípios, combinar estratégias, compartilhar boas práticas. A
escravidão moderna é uma atividade muito lucrativa, com alto poder corrosivo das
instituições democráticas e a maior nódoa sobre a condição humana”, acrescentou.

O mercado internacional se preocupa com padrões elevados de respeito ao


trabalhador e ao meio ambiente. A OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento), por exemplo, diz que as empresas devem garantir a não
violações de direitos humanos em sua cadeia de produção. A União Europeia
também possui normas rigorosas sobre o assunto, e as preocupações
socioambientais estão no centro do debate sobre o acordo com o Mercosul.

Mostraram-se avançados os esforços do estado no combate ao trabalho


escravo contemporâneo, pois eles respondem às pressões da sociedade civil. Ainda
assim, revela-se necessário que haja cada vez maior número de ações, em
pequenas e grandes comunidades rurais.
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5.3 MPT

Um dos objetivos do Ministério do Trabalho e da Previdência é erradicar o


trabalho escravo e degradante por meio de ações fiscais coordenadas pela
Secretaria de Inspeção do Trabalho. A Inspeção do Trabalho visa regularizar os
vínculos empregatícios dos trabalhadores encontrados e demais consectários e
libertá-los da condição de escravidão.  

Em janeiro de 2021, o MPT uniu esforços com outras instituições para formar
a maior força-tarefa de combate ao trabalho análogo à escravidão já realizada no
Brasil. Intitulada Operação Resgate, a série de fiscalizações contou com a
participação da Polícia Federal, da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho do
Ministério da Economia, do Ministério Público Federal e da Defensoria Pública da
União.

Além do resgate aos trabalhadores, a ação teve objetivo de verificar o


cumprimento das regras de proteção ao trabalho, a coleta de provas e a garantia da
responsabilização criminal daqueles que lucram com a exploração e a reparação
dos danos individuais e coletivos causados aos resgatados. Ao todo, foram
resgatados 137 trabalhadores, que receberam verbas rescisórias e três parcelas do
seguro-desemprego.

A Operação Resgate foi divulgada em entrevista coletiva em Brasília em 28


de janeiro, Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. Na ocasião, as
instituições destacaram o perfil variado das vítimas. Entre elas, estão trabalhadores
do meio urbano e rural, bem como indígenas, adolescentes, trabalhadoras
domésticas, migrantes estrangeiros, pessoas com deficiência e idosos.

Debatendo sobre o papel do Ministério Público no combate ao trabalho


escravo, o deputado Vilson da Fetaemg (PSB-MG) declarou “Neste momento se faz
mais importância a atuação de órgãos e entidades que trabalham na defesa dos
direitos desses trabalhadores e na erradicação do trabalho análogo ao de escravo,
sendo um dos principais, senão o principal, o Ministério Público do Trabalho (MPT),
haja vista a sua atribuição constitucional na defesa de direitos e interesses
coletivos”.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo demonstrou a permanência de relações análogas a de escravo,


como resquício de relações arcaicas, mas também como relação compatível com a
lógica capitalista de produção, que explora o trabalhador para reprodução ampliada.
A escravidão atual vem através do aprisionamento por dívidas, podendo ser
acompanhada de agressões físicas e psicológicas. Mas também é preciso se atentar
a metas imbatíveis e jornadas exaustivas, igualmente criminosas.

É visível neste estudo os esforços para combater essa doença, e que


precisam ser respeitados. Também é explícito que, em locais onde a sociedade civil
mostra-se mais ativa, apresentam-se maiores avanços nas conquistas sociais.
Alguns exemplos de progresso são: o detalhamento da tipificação do crime, com a
Lei 116 10.803, de 2003; a cooperação de outros países no combate; a união do
MPT a outras instituições para combater o trabalho análogo à escravidão.

Porém, além do resgate, é preciso criar reinserir estes trabalhadores de


forma digna na sociedade. São necessárias principalmente ações que toquem nas
estruturas, Nesse sentido também tivemos algum avanço, visto as ações do MTP
para responsabilizar ações criminosas dos empregadores, e oferecer as verbas
rescisórias e as parcelas do seguro-desemprego aos trabalhadores resgatados.

Para ações mais claras de repressão é preciso que os processos se efetivem


na esfera judicial, criminal. Isso é visto no artigo 149, que é interpretado pelos
tribunais e fiscais do trabalho com base na legislação brasileira e nos tratados e
convenções internacionais que o Brasil faz parte, dando maior segurança aos
termos da lei e mais confiança jurídica para todos os envolvidos.

Por fim, pode-se afirmar que temos avanços no combate ao trabalho escravo
contemporâneo. Mas ainda é necessário um maior número de ações da sociedade
civil e do próprio Estado, como: atividades de conscientização; esclarecimentos dos
direitos ao povo; listas de empregadores infratores; além de punições econômicas
como multas e indenizações maiores. O combate, mesmo que por pequenas ações,
é relevante para alcançamos a justiça e respeito que o trabalhador brasileiro
merece.

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