Sem exageros, as eleições passadas ofereceram a oportunidade de fazer escolhas que
podem decidir o futuro do nosso País, das pessoas que aqui vivem e das gerações futuras, em momentos que o processo de globalização mostra ao mundo em desenvolvimento a parte azeda de seus frutos. Como consequência, nossa sociedade vive período de grande preocupação, mesmo de torpor, pela chuva de más notícias que invadem nossos espaços. A palavra crise é lembrada com muita frequência, o crash está na moda... Frente a essa situação, o que pode fazer o cidadão comum? Votar, dirá a maioria lúcida. Essa foi a oportunidade que se nos apresentou em outubro passado, porque neste País o Poder Executivo – o Presidente da República e os Governadores, no caso – concentra um poder imenso. Suas decisões podem afetar profundamente nossa vida e o futuro da nossa Pátria, mormente nos tempos atuais de célere e experta mudança global. Tomara que nossos votos levem daqui para a frente a escolhas corretas. Há quem lembre que muito suor e lágrimas foram derramadas na História da humanidade para que o povo conquistasse o direito de votar. Mesmo assim, há outros que trabalham arduamente para afastar a população do processo, alguns argumentando inocentemente que o povo não sabe votar, e mais alguns que, cinicamente, por meio de manipulações diversas e pela propagação do descrédito na política, procuram alijar aqueles que podem contrariar seus interesses. O seu trabalho é eficiente e preocupante: o percentual de eleitores que se abstiveram de votar, anularam o voto ou votaram em branco praticamente dobrou entre a eleição presidencial de 1989 e a de 1994. Esse índice saltou, entre um peito e outro, de 17,6% para 33,39%. O concreto é que a decisão do voto, em todas as eleições, é muito importante e deve ser tomado com muita ponderação e responsabilidade. Mesmo porque não é fácil sê-lo, nas atuais circunstâncias, uma vez que todos os homens responsáveis conhecem os problemas do Brasil, identificam suas causas, avaliam suas consequências e sabem quais são as soluções. No entanto, os problemas se avolumam e o paraíso prometido parece cada dia mais distante. Continuamos a ser promessa para o futuro. Para os que acreditam que o desafio é aqui e agora, e que entendem a beleza e a profundidade do pensamento do poeta, que apregoa o fazer agora sem esperar acontecer, fazendo caminho ao andar, dirijo estas humildes e trilhadas ideias. Aqueles que não dependem de favores especiais de alguma instância governamental para fazer a vida, que não dependem de “jeitinhos” nem têm de contribuir para campanhas pressionados por algum tipo de chantagem e que não fazem negócios explorando a miséria e a ignorância do povo. Dirijo-me, em suma, a Homens Livres e de Bons Costumes, que estão dispostos a lutar pela mudança para melhor. Candidatos e compromissos – Durante minha vida e nestes anos de construtiva convivência no Brasil, aprendi que é possível fazer o caminho ao andar, uma vez que esse é o nosso destino na vida. Ele se confunde com a arte de governar, de fazer opções. Estou certo, então, que essa elite de verdade, acima delineada – que não é pequena porém é silenciosa – interessa eleger candidatos comprometidos com determinados valores e prioridades nacionais. Primeiro, com o Ser Humano, especialmente com sua educação, para que ele possa ser livre, igual e fraterno; para ser um tijolo útil na construção da humanidade e um cidadão do seu país. Que corrijam com a maior urgência as aberrações que envergonham a inteligência nacional, como por exemplo o fato de que 71,5% das 22.476 escolas públicas na zona rural no Nordeste do Brasil (16.075 escolas) não possuam abastecimento de água, cisterna ou caixa de água (Ministério da Educação, Censo Escolar de 1997). Os inocentes dirão que isso é consequência de sermos um País pobre. Não é! Como é possível, então, que o ensino básico desperdice R$5,2 bilhões por ano, dados de 1997, causado por altos índices de reprovação e abandono total? O mesmo Censo indica que essa perda corresponde a 16,3% do que a União, Estados e Municípios aplicam em educação e refere-se aos 9,1 milhões de alunos que foram reprovados ou abandonaram a escola em 1996. Ninguém duvide que escola ruim afeta também a produtividade e limita a tão desejada e badalada competitividade do nosso País no contexto das nações. Quando a tal globalização chegar com força total – o que é apenas questão de tempo – tudo leva a crer que só restarão subempregos para a maioria dos brasileiros (Ver quadro a seguir) Segundo, com o desenvolvimento. Que assumam e cumpram o compromisso de produzir a aplicar políticas públicas que permitam o crescimento econômico, com baixa inflação e sem recessão. Que compreendam que vivemos uma grande crise internacional decorrente do desmoronamento da economia virtual imposta ao mundo pelos donos do poder. Em 1956, 74% do comércio internacional era de bens fixos; em 1976, 35%; em 1982, 7%. Hoje, 2% do que os Estados Unidos comercializam com o mundo são bens físicos e 98% são papéis (Carvalho, W.A., 1998) OS NÚMEROS SOMBRIOS DA EDUCAÇÃO Vale lembrar, entre outros, alguns números expressivos que afetam a capacidade de discernimento do eleitor. 1. O déficit educacional é de uns 12 milhões de alunos: cerca de 3 milhões no primeiro grau, 6 milhões no segundo grau e 3 milhões nas universidades (Azevedo, J.C., 1998). 2. O último censo do Tribunal Superior Eleitoral identificou 106.076.087 eleitores inscritos, dos quais 85,5% tem menos de 8 anos de escolaridade; 3,6% tem curso superior, e 31,4% sabem apenas ler e escrever ou são analfabetos. Estes números explicam em parte a sensação de que uma grande parcela da população acompanha os processos eleitorais com uma certa indiferença, como no último pleito, talvez inédita desde a volta da democracia. Só a educação permite compreender também que o voto, mais que dever, é um direito, uma maneira de aprimorar a cidadania. Terceiro, que priorizem a produção, não a especulação. Que tenham consciência da inconveniência de estimular a esperteza, o ganho fácil sem trabalhar. Ao contrário, que valorizem a seriedade no comportamento e os valores básicos da civilidade. Que compreendam que os estímulos à competitividade, iniciados em 1990 – como alíquota zero para importar máquinas e equipamentos sem similar nacional, devem ser revistos, já que se tornaram um pesadelo para a sociedade. Existem outros meios, mais sutis e efetivos para incentivá-la. Aos poucos, principalmente nos últimos anos, a seleção de produtos isentos do imposto de importação foi crescendo, por pressões diversas, até superar 4 mil itens. Segundo a ABIMAQ – SINDIMAQ, para cada US$ 1 bilhão em máquinas e equipamentos que entrou no país nos últimos anos, o correspondente a US$ 300 milhões tinha similar nacional. Por essa e outras razões, 1.300 empresas do setor encerraram atividades ou mudaram de ramo e, em vez de fabricar e empregar no Brasil, passaram a vender máquinas importadas. No Brasil, a produção de máquinas e equipamentos chegou a US$ 30 bilhões em 1980 e recuou para US$ 16 bilhões em 1997. Caminho inverso seguiram as importações, que saíram de US$ 1 bilhão em 1980 para cerca de US$ 9,4 bilhões no ano passado. Quarto, com os valores nacionais, culturais e ecológicos. Que saibam defender os interesses nacionais, seus trabalhadores, o mercado nacional e seu parque produtivo, tão bem quanto o fazem governos de países desenvolvidos, que protegem seu mercado interno contra importações predatórias e desnecessárias, estimulam as exportações e oferecem condições de competir internacionalmente. Que compreendam que o processo de globalização é um jogo esperto que ganham os mais preparados e/ou os que ditam suas regras. Em suma, elegermos estadistas que compreendam que os seres vivos – e o Homem não escapa a esse destino – são um feliz resultado da conjunção de fatores genéticos com fatores ambientais. Que não é conveniente continuar a copiarmos “modelos” econômicos-sociais desenvolvidos, testados e aplicados com relativo sucesso noutros ecossistemas, para outras sociedades. Temos que reconhecer, valorizar e preservar nossos recursos, porque eles são nosso patrimônio e da humanidade. Eles são reconhecidamente muito valiosos por todos os homens cultos e de boa vontade do mundo todo. São riquezas que a natureza levou a vida toda para produzir e, mais recentemente, muito suor e trabalho humano para acrescentar, e não papéis espertamente negociados em mercados sofisticados. Elas despertam a cobiça de outros homens porque são fonte de vida, de saúde, de trabalho, de renda, e substrato de sonhos que temos a obrigação de cultivar e de ensinar a sonhar às nossas gerações futuras. Os Filhos da Viúva sabem disso, uma vez que conhecem a natureza do habitante dos trópicos e tudo o mais que existe de bom na nossa sociedade. O presente e o futuro, então, estão a nos cobrar resultados. Esperamos que o voto da última eleição tenha sido acertado. Tomara que ele não tenha sido mais um dos muitos tiros no pé, nem uma miragem de perspectiva de mudança no espelho retrovisor.