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COLUNISTASEDIÇÕES
“Privada ou estatal, Vale sempre esteve a serviço da acumulação
capitalista e é isso que precisa mudar”
Colunistas
Ambiente e
Gabriel Brito, da Redação
01/02/2019 !"#$+
Cidadania
Amyra El Khalili

Cassiano Terra

Rodrigues

Consciência

Negra

Dicionário da

Cidadania

Eduardo

Gudynas

Frei Betto
Sete dias após o rom​pi​mento da bar​ragem de mi​nério de ferro da Mina do Cór​rego do Feijão, Bru​‐
ma​dinho (MG), são 110 mortos (71 já en​con​trados) e 231 de​sa​pa​re​cidos. Tal como em Ma​riana, em
2015, todos os atos desta peça dan​tesca se re​petem, desde go​vernos a em​presas, pas​sando por Fernando Silva
uma mídia re​gu​lar​mente ali​men​tada pela pu​bli​ci​dade da Vale, a maior mi​ne​ra​dora do mundo. Sobre
o que muitos fazem questão de in​ter​pretar como crime am​bi​ental, en​tre​vis​tamos o so​ció​logo e
Gabriel Brito
agrô​nomo Rai​mundo Gomes da Cruz, que há dé​cadas acom​panha os em​pre​en​di​mentos da em​‐
presa e seu his​tó​rico de de​pre​dação hu​mana e am​bi​ental.
Gabriel Perissé
“En​ten​demos que este mo​delo, nos moldes do sis​tema ca​pi​ta​lista, não in​te​ressa à so​ci​e​dade bra​si​‐
leira, apenas aos exe​cu​tivos das em​presas que re​cebem vul​tosos sa​lá​rios e aci​o​nistas, que na sua
mai​oria estão fora do país. Aqui na re​gião de Ca​rajás nós (dos mo​vi​mentos so​ciais em lutas) ques​ti​‐ Guilherme
o​namos a ex​plo​ração mi​neral, ainda pela Com​pa​nhia Vale do Rio Doce, desde a dé​cada de 1980”,
ex​plicou. Delgado

Também mi​li​tante das Bri​gadas Po​pu​lares no es​tado do Pará, onde vive e co​nhece me​lhor a atu​‐ Joana Salém
ação da em​presa, Rai​mundo chama o acon​te​ci​mento de “Tra​gédia Mo​ni​to​rada”, pois há anos os
crí​ticos da em​presa de​nun​ciam bombas-re​lógio da mi​ne​ração de larga es​cala e abusos só​ci​o​am​bi​‐ Vasconcelos
en​tais.
“Na re​gião de Ca​rajás cha​mamos atenção, prin​ci​pal​mente para a bar​ragem do pro​jeto Sos​sêgo e
Léo Lince
do pro​jeto Sa​lobo, no mu​ni​cípio de Ma​rabá, que vai para sua ter​ceira etapa de ex​pansão”.

Luiz Eça
Dessa forma, Rai​mundo Cruz es​pera que fi​nal​mente o de​bate sobre o mo​delo de ex​plo​ração mi​‐
neral bra​si​leiro seja en​ca​rado com pro​fun​di​dade pela so​ci​e​dade e deixe de ser um as​sunto res​trito
a in​te​res​sados e afe​tados. Marcelo

“Outra si​tu​ação, um pouco mais di​fícil, é a atu​ação junto aos tra​ba​lha​dores e tra​ba​lha​doras da Vale, Castañeda
para que com​pre​endam que seus tra​ba​lhos estão vol​tados para o saque de seu país e de seu povo.
E neste mo​mento, em es​pe​cial, pre​ci​samos ir à rua para de​nun​ciar a si​tu​ação e mos​trar que uma
outra re​a​li​dade é pos​sível e se faz ne​ces​sária. En​quanto ainda há tempo”. Paulo Metri

A en​tre​vista com​pleta pode ser lida a se​guir.


Paulo
Cor​reio da Ci​da​dania: O que co​mentar do rom​pi​mento da bar​ragem de Bru​ma​dinho, mais um
Passarinho
grande de​sastre am​bi​ental da mi​ne​ração em solo bra​si​leiro, cujo nú​mero de mortos e de​sa​‐
pa​re​cidos já é al​tís​simo?
Ramez Philippe
Rai​mundo Gomes da Cruz: O rom​pi​mento da bar​ragem de Bru​ma​dinho é mais um ato de ir​res​‐
Maalouf
pon​sa​bi​li​dade da em​presa Vale para com os ver​da​deiros e ne​ces​sá​rios cui​dados que tem de ter
com suas bar​ra​gens de re​jeitos país afora. Telma Monteiro

Nós das Bri​gadas Po​pu​lares es​tamos cha​mando de Tra​gédia Mo​ni​to​rada. Por quê? Porque os téc​‐
nicos sabem como se en​con​tram as pre​cá​rias si​tu​a​ções das bar​ra​gens, as po​pu​la​ções de​nun​ciam, Virgílio Arraes
mas a voz au​to​ri​tária da em​presa com o poder que tem sobre os go​vernos e po​lí​ticos ca​na​lhas
deste país faz calar todos os cla​mores.
Wladimir Pomar
No caso de Bru​ma​dinho fica muito claro o que afir​mamos. Mo​ra​dores re​latam que re​pre​sen​tantes
da em​presa “pas​saram avi​sando para fi​carem atentos ao alerta”, só que não houve o alerta. Eles Ex colunistas
sa​biam o pe​rigo que as bar​ra​gens ofe​re​ciam às po​pu​la​ções e aos tra​ba​lha​dores.
Fábio Luís

Cor​reio da Ci​da​dania: Como avalia as pri​meiras re​a​ções do go​verno?


Henrique Júdice
Rai​mundo Gomes da Cruz: As re​a​ções dos go​vernos são as mesmas. Muitas fa​la​ções que de​‐
mons​tram di​versos des​pre​paros para se po​si​ci​o​narem di​ante da tra​gédia e to​marem po​si​ções enér​‐
gicas di​ante das em​presas. Pro​curam trans​ferir a res​pon​sa​bi​li​dade de so​lução dos pro​blemas para Jorge Almeida
as fa​mí​lias, como fica claro com a li​be​ração para saque do FGTS. A po​pu​lação não tem de re​correr
a suas re​servas para so​lu​ci​onar o pro​blema, o re​curso tem de sair das em​presas e do Es​tado, que é
co​ni​vente com o des​mando das em​presas. Luiz Antonio Magalhães

É di​fícil falar das re​a​ções pa​té​ticas deste go​verno, que um dia fa​lava em re​baixar as exi​gên​cias
para li​cen​ci​a​mento e agora fala em ri​gidez. Além do res​gate dos corpos não há uma agenda po​si​‐ Mateus Alves

tiva no sen​tido de res​pon​sa​bi​lizar du​ra​mente as em​presas.

Osiris Lopes Filho


Cor​reio da Ci​da​dania: Como fica o dis​curso do novo go​verno, no sen​tido de fle​xi​bi​lizar le​gis​‐
la​ções am​bi​en​tais e li​berar terras in​dí​genas para mi​ne​ração?

Waldemar Rossi
Rai​mundo Gomes da Cruz: O dis​curso pode até de​sa​pa​recer por algum tempo, mas na prá​tica o
dis​curso es​tará pre​sente, porque esta cha​mada fle​xi​bi​li​zação (não cum​pri​mento da lei) faz parte das
or​dens im​pe​ri​a​listas para am​pliar o saque do pe​tróleo, do gás, das águas e das ma​deiras. Este é Achille Lollo
um go​verno a ser​viço dos im​pe​ri​a​listas, prin​ci​pal​mente a ver​tente norte-ame​ri​cana, não te​nhamos
dú​vidas. Por​tanto, podem até mudar o dis​curso, mas a in​ter​venção nos ter​ri​tó​rios, con​ces​sões para
ex​plo​ração mi​neral e plantio de soja vai con​ti​nuar ace​le​rada.

Cor​reio da Ci​da​dania: Em sua visão, quais as res​pon​sa​bi​li​dades a serem dis​tri​buídas pelo


ocor​rido?

Rai​mundo Gomes da Cruz: As res​pon​sa​bi​li​dades pelo ocor​rido devem re​cair ao Es​tado e à Vale. O
Es​tado por não fis​ca​lizar os pro​jetos, per​mi​tindo todo tipo de ab​surdos que as em​presas de​se​jarem
fazer. No es​tado do Pará já vimos de​nun​ci​ando todos os pro​jetos de mi​ne​ração pelos des​casos,
mas nada é feito pelo Es​tado.

Na ver​dade este apo​dre​cido Es​tado há muito tempo não faz gestão dos ter​ri​tó​rios, quem faz é a
Vale. A Vale tem de ser res​pon​sa​bi​li​zada por esta tra​gédia, a de Ma​riana e as tra​gé​dias anun​ci​adas
em todos os es​tados que ela atua.

Cor​reio da Ci​da​dania: Não es​tamos per​dendo tempo com o de​bate entre pri​va​tismo e es​ta​‐
tismo na gestão de uma em​presa/setor de ta​manho porte e dei​xando de lado o que seria
mais im​por​tante, isto é, o mo​delo de ex​tração de ma​té​rias primas em vigor?

Rai​mundo Gomes da Cruz: Em 2011 de​sen​ca​de​amos a Cam​panha Contra o Saque dos Nossos
Mi​né​rios, que tem como prin​cipal ob​je​tivo ques​ti​onar o mo​delo mi​neral no país. En​ten​demos que
este mo​delo, nos moldes do sis​tema ca​pi​ta​lista, não in​te​ressa à so​ci​e​dade bra​si​leira, apenas aos
exe​cu​tivos das em​presas que re​cebem vul​tosos sa​lá​rios e aci​o​nistas, que na sua mai​oria estão fora
do país.

Aqui na re​gião de Ca​rajás nós (dos mo​vi​mentos so​ciais em lutas) ques​ti​o​namos a ex​plo​ração mi​‐
neral, ainda pela Com​pa​nhia Vale do Rio Doce, desde a dé​cada de 1980. Con​si​de​ramos que o Es​‐
tado a ser​viço da acu​mu​lação ca​pi​ta​lista e dos im​pe​ri​a​listas não tem ca​pa​ci​dade para ge​ren​ciar
qual​quer bem pú​blico. Tudo se torna pro​pri​e​dade pri​vada dos ca​pi​ta​listas.

Cor​reio da Ci​da​dania: Ainda assim, o que fazer em re​lação à Vale?

Rai​mundo Gomes da Cruz: Eu acho que não é só com a Vale. Este país pre​cisa de uma pro​funda
re​vo​lução para co​locar suas ri​quezas em be​ne​ficio da so​ci​e​dade e não para um pe​queno grupo de
san​gues​sugas. Porque a Vale re​pre​senta in​te​resses im​pe​ri​a​listas, no sen​tido de re​a​lizar o saque dos
nossos mi​né​rios, sempre com custos de ex​tração e trans​porte bai​xís​simos, sendo ela pri​vada ou
es​tatal.

Países como a Bo​lívia, con​si​de​rada um dos países da Amé​rica La​tina que mais avançou na es​ta​ti​‐
zação de suas ri​quezas na​tu​rais, con​ti​nuam sub​missos às or​dens do mer​cado in​ter​na​ci​onal. Por​‐
tanto, não se avançou o ne​ces​sário para su​perar o mo​delo de do​mi​nação. Não vamos mudar o mo​‐
delo so​mente im​pondo à Vale mais san​ções, au​mento de im​postos e alí​quotas da CFEM (Com​pen​‐
sação Fi​nan​ceira para Ex​plo​ração Mi​neral). Temos que trans​formar este mo​delo pro​fun​da​mente.

Cor​reio da Ci​da​dania: São muitas bombas re​ló​gios que a mi​ne​ração bra​si​leira tem pelo ter​ri​‐
tório? Como lidar com a grande quan​ti​dade de bar​ra​gens es​pa​lhadas pelo país?

Rai​mundo Gomes da Cruz: Em um ar​tigo que es​crevi há dois anos com o com​pa​nheiro Thiago
Mar​tins, de​no​mi​nado Alerta para uma Tra​gédia em Curso, nós cha​mamos atenção para o caso da
bar​ragem de re​jeitos do pro​jeto Sos​sêgo, da Vale, no mu​ni​cípio de Canaã dos Ca​rajás, es​tado do
Pará. Porque estas bar​ra​gens de re​jeitos da ex​plo​ração de cobre acu​mulam muito mais subs​tân​‐
cias tó​xicas do que as de ex​plo​ração de ferro.

Na re​gião de Ca​rajás cha​mamos atenção, prin​ci​pal​mente para a bar​ragem do pro​jeto Sos​sêgo e do


pro​jeto Sa​lobo, no mu​ni​cípio de Ma​rabá, que vai para sua ter​ceira etapa de ex​pansão. Para lidar
com esta questão temos de mo​bi​lizar as po​pu​la​ções de todos os es​tados ame​a​çados, para a for​‐
mação de Bri​gadas que deem conta de aden​trar em tais pro​jetos para ave​ri​guação da si​tu​ação, e
se ne​ces​sário pa​ra​li​sação de ime​diato. Para tanto, vamos ter que en​frentar as mi​lí​cias ar​madas da
Vale e seu sis​tema de es​pi​o​nagem.

Cor​reio da Ci​da​dania: São di​versos os mo​vi​mentos so​ciais de atin​gidos por bar​ra​gens e pro​‐
jetos mi​ne​ra​dores, em es​pe​cial da pró​pria Vale. O que fazer para tornar essas lutas mais vi​sí​‐
veis e en​cam​padas pela so​ci​e​dade bra​si​leira?

Rai​mundo Gomes da Cruz: Es​tamos apos​tando na Cam​panha Contra o Saque dos Nossos Mi​né​‐
rios. Tornar vi​sível as con​tra​di​ções ge​radas pela ex​plo​ração mi​neral, tanto no que se re​fere à de​gra​‐
dação am​bi​ental em re​lação a ou​tras ati​vi​dades, como ge​ração de po​breza, mi​séria, vi​o​lência e
acu​mu​lação de ri​queza por poucos.
Outra si​tu​ação, um pouco mais di​fícil, é a atu​ação junto aos tra​ba​lha​dores e tra​ba​lha​doras da Vale,
para que com​pre​endam que seus tra​ba​lhos estão vol​tados para o saque de seu país e de seu povo.
E neste mo​mento, em es​pe​cial, pre​ci​samos ir à rua para de​nun​ciar a si​tu​ação e mos​trar que uma
outra re​a​li​dade é pos​sível e se faz ne​ces​sária. En​quanto ainda há tempo.

Ga​briel Brito é jor​na​lista e editor do Cor​reio da Ci​da​dania.


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