Você está na página 1de 5

g1 ge gshow

valor econômico Brasil

BrasilRI
Empresas
Finanças
Opinião
Mundo
Legislação
Carreira
Valor
Anuários
Conteúdo
Datade Marca
Empresas 360 PUBLICIDADE

Macroeconomia
Infraestrutura
Mercados
Blogs
Blog
Tributário
Divã
Home
Valor
CiberExecutivo
do
1000
Segurança
e colunas
FMI

BolsasInovação
Infraestrutura
Tecnologia
Instituições
COP27
Trabalhista
Rumo
Central
Valor
Cidadão Certo
de
Global
Resultados
Financeiras

Moedas
Políticas
Energia
Política
Blog
Fatos
Melhores
Dino Fio
Relevantes
Monetária
da
públicas
naMeada
gestão de p…
Commodities
Glocal
Alimentos
Crédito
Executivo
Atas
Valor
Espaço
eGrandes
Jurídico
Comunicados
BVdee Bebidas
Valor
Grupos
Por Daniela Chiaretti
Índices
Vacina
Automóveis
Blog
Estúdio
Consultório
éMacroeconômicos
G.Lab
saúde Financei…
É repórter especial de Ambiente desde 2005. Foi editora-chef... ver mais

O Pantanal pede socorro, de novo


Aplicações
Reforma
Aviação
Futuro doTributária
Trabalho
Taxas referenciais
Construção
Gestão & Resultados
e Engenharia
Destruído pelo fogo há dois anos, o Pantanal agora está ameaçado pela
água de Valor
Tributos
Educação
Imóveis
Finanças
Saúde
Impacting públicas
the·Future
20/04/2023 05h00 Atualizado há 15 horas

Crédito que Transforma


Eletroeletrônicos
Inovação
Títulos privados
Farmacêutica
Intel

Juros
Higiene
Inteligência
Externos
Pessoal
Financeira
e Beleza
A imagem é dilacerante - um corpo carbonizado, de joelhos, no meio das
Carteira
Máquinas
Investe
cinzas. Safra
Valor
e Equipamentos
Parece um homem, não fosse a longa cauda. Até onde a vista alcança
está tudo morto. O fotógrafo Lalo de Almeida, autor de uma série de
Empresas
Mídia
Investimento
e Marketing
360Alternativo
imagens impressionantes durante e depois dos incêndios de 2020-2021 que
Fundos
Mineração
Itaú
queimaram mais de 20% do Pantanal, lembra bem desse dia. O parceiro das
reportagens da “Folha de S.Paulo”, jornalista Fabiano Maisonnave, ficara
Juntos
Guia
Papelde
eno
Celulose
Fundos
Próximo Nível
escrevendo na sede da fazenda na Serra do Amolar, Mato Grosso do Sul.
Química
Mastercard
Lalo saiuecom
Petroquímica
Rafael Galvão, gerente da fazenda Santa Tereza, “um
pantaneiro
Mercado
Saneamento que só de olhar o aspecto da vegetação sabia onde o fogo tinha
Bitcoin
passado com mais intensidade”. Foi então que viram a família de bugios.
Siderurgia Sustentável
Mobilidade
Telecom em Transform…
Negócios

Transportes e Logística
Netzero

Varejo
Transformando o amanhã

XP Corporate
XP Empresas

O fotojornalista retratou aves carbonizadas presas a galhos destruídos,


antas mortas pelo fogo, sucuris queimadas, filhotes perdidos sem os pais,
pontes pegando fogo, jacarés fugindo, brigadistas extenuados. As imagens
do que ele chama de “floresta de pesadelo” fizeram história e venceram a
categoria Meio Ambiente do World Press Photo, a mais prestigiosa
premiação mundial do fotojornalismo. Estão na memória de quem se
lembra das cenas daquele inferno que destruiu mais de 25% do bioma.
Hoje, passados dois anos, o Pantanal volta a pedir socorro.

Produção de soja e falha na legislação ameaçam o


bioma

Agora, contudo, a ameaça à maior planície alagável do mundo está na água.


O MapBiomas indicou uma redução de 68% na superfície da água do
Pantanal de 1985 a 2021.

A maior parte do bioma está no Brasil (72%), mas há 24% na Bolívia e 4% no


Paraguai. É Mato Grosso do Sul que concentra a grande porção do Pantanal
brasileiro: 65%. Os outros 35% estão em Mato Grosso. O artigo 225 da
Constituição Federal considera o Pantanal um patrimônio nacional e não à
toa: ali existem mais de 1.800 espécies de plantas, 650 de aves, 98 de
répteis, 212 de mamíferos e 269 de peixes. É Patrimônio Natural da
Humanidade e Reserva da Biosfera pela Unesco, mas os títulos
internacionais e nacionais não o protegem.

A Constituição de 1988 diz que o bioma tem que ter uma legislação federal
que o resguarde e defina sua utilização. Foi assim com a Mata Atlântica. Mas
o Pantanal, até agora, não teve o mesmo destino. “Deveríamos ter uma lei
federal, mas ela não existe”, diz Alexandre Bossi, presidente do instituto SOS
Pantanal, que há 14 anos luta pela sua preservação. A lacuna da lei federal
foi preenchida pelas legislações dos dois Estados e a assimetria é flagrante.
“A lei de Mato Grosso, a nosso ver, não é perfeita, mas é satisfatória”,
continua Bossi. Em Mato Grosso é proibido plantar soja na planície
pantaneira; em Mato Grosso do Sul, é permitido.

“A lei federal não existe. E as legislações dos Estados não garantem proteção
adequada”, diz Ana Luiza Peterlini, promotora de Justiça da área ambiental
de Mato Grosso. Em congresso ontem da Abrampa, entidade que reúne
promotores e procuradores de Justiça, ela apresentou uma comparação
entre as normas dos dois estados. As do Mato Grosso do Sul são bem mais
frágeis que as de Mato Grosso. Em Mato Grosso, usinas de álcool e açúcar,
carvoarias e mineração são proibidas no Pantanal, mas Mato Grosso do Sul
só faz restrições para as destilarias. Pecuária e agricultura intensivas e
assentamentos são proibidos em Mato Grosso, mas não é assim em Mato
Grosso do Sul. O transporte fluvial de produtos perigosos é proibido em
Mato Grosso e liberado em Mato Grosso do Sul. Proprietários rurais só
podem fazer supressão vegetal em 40% dos imóveis em Mato Grosso e a
obrigatoriedade de Reserva Legal é de 35% para áreas de Cerrado e 80% de
florestas; em Mato Grosso do Sul é possível suprimir 50% da vegetação
arbórea, 60% da restante e a Reserva Legal é de 20% do imóvel. As 4 mil
nascentes que alimentam o Pantanal estão fora da planície. O bioma recebe
água dos rios do Planalto e da chuva. Bossi, no mesmo evento da Abrampa,
deixou claro que a legislação não unificada e diferente para o mesmo bioma
é o grande problema da região. “Hoje é uma bagunça”, resume.

“A legislação de Mato Grosso do Sul é muito permissiva”, segue. A entrada


da soja na planície, em Mato Grosso do Sul, é uma angústia. Fertilizantes e
pesticidas, com as cheias, vão direto para os rios. “Ainda são poucos os
produtores de soja. Mas tem que parar com isso. A hora de agir é agora”, diz
Bossi. Mais de 92% do desmatamento no Pantanal acontece em Mato
Grosso do Sul

Muita gente, por sorte, é apaixonada pelo bioma mais preservado do Brasil,
com 81% de vegetação nativa e, ao mesmo tempo, tão frágil. “Tem que ser
mesmo muito preservado, porque é um bioma com dinâmica hidrológica
própria. Não é qualquer atividade que dá para ser desenvolvida ali, a não ser
que se drene, o que é proibido. Deve-se respeitar o pulso de inundação,
como se fala por aqui”, registra Ana Luiza Peterlini.

Almir Sater
O encantamento com o Pantanal produziu histórias dramáticas. Em
novembro de 2005, o ambientalista Francisco Anselmo Gomes de Barros
estendeu dois colchonetes em forma de cruz na calçada, no centro de
Campo Grande. Usou dois galões de gasolina para encharcá-los, e ateou
fogo. As 150 pessoas reunidas no protesto contra a instalação de usinas de
álcool e açúcar na bacia do rio Paraguai, foram surpreendidas pelas chamas.
Franselmo, como era conhecido o homem de 65 anos, teve 100% do corpo
queimado e morreu no dia seguinte. Deixou 17 cartas a amigos e familiares.
“Foi difícil tomar essa decisão de sã consciência”, disse em uma delas. “A
minha vida sempre foi um sacerdócio em defesa da natureza.” Era
presidente da Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do
Sul, primeira ONG ambiental do Estado.

Ontem, o compositor Almir Sater, que é de Campo Grande e também é


produtor rural, divulgou um vídeo onde revela a apreensão com a
fragilidade do bioma. “Estamos vendo que grandes lavouras, como a de soja,
estão entrando no Pantanal, o que é muito preocupante. Não sou contra
soja nem grandes lavouras, mas não aqui no Pantanal.” Seguiu dizendo que
técnicos que analisaram as águas na região de Miranda (MS) constataram a
presença de veneno. “Se tem veneno na água, tem no peixe. E se tem no
peixe, tem na gente”. O violeiro, idolatrado na região e famoso em todo o
país, fez um apelo às autoridades e à população: “Nos ajudem a defender
esse patrimônio da humanidade”.

Daniela Chiaretti é repórter especial


E-mail: daniela.chiaretti@valor.com.br

Você também pode gostar