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BrazilianJournal of Development
RESUMO
O mercado de piscicultura cresce no Brasil e nos últimos anos a atividade pesqueira tem gerado
trabalho, renda e lazer em diversas regiões. No Vale do Arinos-MT há potencial territorial e
hidrográfico para o desenvolvimento dessa atividade. Nesse cenário o objetivo foi identificar
os limites e possibilidades na implantação e funcionamento de uma cooperativa de
processamento de peixes. A pesquisa na forma de estudo de caso envolveu a Cooperativa
Agropecuária Mista e Aquícola do Rio Arinos (COOPERARINOS) na cidade de Juara-MT. A
coleta de dados qualitativos abrangeu agentes ligados à cooperativa e consumo. Constatou que
o mercado e as condições hídricas são possibilidades favoráveis a piscicultura local e as
limitações foram a dificuldade de organização coletiva, acesso a recursos financeiros e
políticas públicas. Ainda observou-se que o frigorífico, embora contribuísse para o
processamento do peixe, não resultou no aumento da venda pela falta do Sistema de Inspeção
Federal (SIF).
ABSTRACT
The fish farming market has grown in Brazil and in the last years the fishing activity has
generated work, income and leisure in several regions. In Vale do Arinos-MT there is
territorial and hydrographic potential for the development of this activity. In this scenario the
objective was to identify the limits and possibilities in the implantation and operation of a fish
processing cooperative. The research in the form of a case study involved the Cooperativa
Agropecuária Mista e Aquícola of Rio Arinos (COOPERARINOS) in the city of Juara-MT.
The collection of qualitative data included agents linked to the cooperative and consumption.
He observed that the market and water conditions are favorable possibilities for local fish
farming and the limitations were the difficulty of collective organization, access to financial
resources and public policies. It was also observed that the refrigerator, although it contributed
to the processing of the fish, did not result in the increase in sales due to the lack of the Federal
Inspection System (SIF).
1. INTRODUÇÃO
O mercado de piscicultura é vasto e com potencial de desenvolvimento. Entre os anos
de 2005 a 2010 a produção nacional de pescados em cativeiro teve um aumento 86,3%,
totalizando 479 mil toneladas. De acordo com a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil tem condições de produzir, de maneira sustentável,
20 milhões de toneladas por ano de pescado.
De acordo com Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE,
2017), no Brasil mais de 3.000 espécies de peixes já foram catalogadas. Entre os alevinos
nativos, muitos demonstraram ser vantajosos para na exploração da piscicultura, a saber, o
Dourado, Piau, Pintado, Jaú, Pirarucu, Bijupirá, dentre outros.
A produção total brasileira no ano de 2015 foi de 483.241 toneladas, com alta de 1,88%
em relação ao ano anterior. Quanto à exportação, o Brasil está em 22º lugar no mundo: com
cerca de 40 mil toneladas por ano (SEBRAE, 2017).
O Brasil reúne condições favoráveis à piscicultura. Além do potencial de mercado,
conta com clima favorável, disponibilidade de áreas, abundantes safras de grãos (soja, milho,
trigo, entre outros que geram matéria prima para ração animal) e ainda bom potencial hídrico
(BOZANO, 2002; KUBITZA et. al, 2012).
Mato Grosso se destaca na produção pecuária e agrícola (soja, bovinocultura de corte,
milho e algodão) e a piscicultura surge como uma das alternativas para os produtores rurais
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O COOPERATIVISMO
A origem de organizações chamadas de cooperativas ocorreu em dezembro de 1844,
quando "27 tecelões e uma tecelã do bairro de Rochdale, em Manchester, na Inglaterra,
fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale" (IRION, 1997, p. 25),
Com objetivos claros, esses trabalhadores economizaram vinte e oito libras para criarem
uma sociedade que atuaria no mercado, tendo o homem como principal finalidade na
associação e não o lucro. Pertinente destacar que, ao iniciarem seu negócio, foram motivo de
deboche por parte dos demais comerciantes. Contudo, logo no primeiro ano de funcionamento
o capital da cooperativa aumentou para cento e oitenta libras e cerca de dez anos mais tarde o
“Armazém de Rochdale” já contava com 1.400 cooperantes, prosperou economicamente,
funcionando de forma democrática e exercendo sua função social (IRION, 1997).
A cooperação se faz presente na história do homem. Vem do primitivismo quando
contribuía para que o homem alcançasse seus objetivos. No entanto, houve por algum tempo,
certa incompreensão do termo cooperativismo. Tal incompreensão gerava falta de clareza ou
coerência quando da comparação com outros modelos de sociedades. Neste sentido,
(BULGARELLI, 1967, p. 30 apud FRANZ 2006) menciona que:
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa ocorreu na forma de estudo de caso utilizando-se de análise em
profundidade (YIN, 2001) de dados na perspectiva qualitativa por meio da análise de discurso.
(GODOI; COELHO, 2011). O objeto de análise foi a Cooperativa Agropecuária Mista e
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 A INDÚSTRIA COOPERATIVA
Importante esclarecer que a seda da COOPERARINOS está localizada na cidade de Porto
dos Gaúchos-MT, município vizinho de Juara-MT, na ocasião de formação da cooperativa
(ano 2013) a prefeitura de Porto dos Gaúchos cedeu um espaço para a cooperativa, contudo,
vários sócios moram e tem propriedades em Juara-MT.
Com passar dos anos o processo de formação do frigorífico de peixes da cooperativa em
Juara-MT ocorreu a partir de diversas mobilizações da comunidade local. Foram necessárias
trinta e uma reuniões, algumas com o SEBRAE para treinamentos sobre cooperativismo, bem
como reuniões com a Organização de Cooperativas Brasileira (OCB-MT). Ainda aconteceram
visitas por parte de um grupo de cooperados até a Indústria Brasileira de Pescados Amazônicos
Fora do estado
Cooperativa
Dentro do Estado e Associação de
da região do Vale Piscicultores
do Arinos Pescadores
Informais
Fonte: Pesquisa de Campo (2018)
De acordo com o quadro 6, verifica-se que, tanto para os mercados quanto para os
restaurantes abordados, 75% adquirem mensalmente até 100 kg de carne de peixe pra
comercialização. Somente o M3 (mercado) adquire mais de 501 kg, sendo 1500 kg de peixe
ao mês para comercialização, e apenas 01 (um) restaurante, aqui chamado de R3, adquire entre
101 e 200 kg de peixe para venda.
Segundo estimativas, "o consumo de peixe no Brasil foi de 9,0 kg per capita registrados
em 1961 e 20,2 kg per capita em 2015, em uma taxa média de expansão de 1,5% por ano. As
estimativas preliminares para 2016 e 2017 apontavam crescimento futuro de 20,3 kg per capita
e 20,5 kg per capita, respectivamente" (SOFIA, 2018).
Quanto a produção de peixes em quilogramas produzidos pela Associação de pescadores
artesanais em Juara-MT no período de um mês pode ser estimada no quadro 7.
Quadro 8- Preço médio mensal de carne de peixe adquirido para venda em Juara-MT
Mercados Restaurantes
Média de Preço
M1 M2 M3 M4 R1 R2 R3 R4
Dourado - R$ 8 - - - - - -
Piau - - - - - - - -
R$ 18,
Pintado - - R$ 14 - R$ 32 R$ 40 R$ 15
90
Jaú - - - - - - - -
Pirarucu - - - - - - - -
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que a piscicultura na agricultura familiar organizada na forma cooperativa
tem potencial para promover o desenvolvimento local somado ao mercado e as condições
hídricas favoráveis para a atividade de piscicultura na região analisada. Isso posto, acredita-se
nas possibilidades de atuação da cooperativa de processamento de peixes no município de
Juara-MT. No entanto, essas possibilidades devem ser valorizadas e providas de suporte
estrutural e financeiro por parte dos órgãos públicos, o que consequentemente fortalece o
desenvolvimento local.
Diante do caso analisado, percebeu-se como possibilidades o mercado local que se
apresenta como potencial consumidor, e como tal, permite a expansão das atividades
produtivas da cooperativa e a retomada do trabalho coletivo dos piscicultores. Contudo, será
preciso desenvolver lideranças ativas capazes de reiniciar a mobilização e a reorganização dos
produtores rurais em torno do movimento cooperativista. Essas ações podem impactar
positivamente o desenvolvimento regional do Vale do Arinos.
Quanto às limitações de ordem interna, percebeu-se a morosidade nos procedimentos
burocráticos, limitações estruturais da cooperativa, escassez de mão-de-obra para o processo
produtivo, desarticulação entre os sócios, falta de recursos financeiros, variáveis essas que, no
percurso da cooperativa levaram ao enfraquecimento do empreendimento.
De caráter externo, observou-se como limitadores as operações produtivas da
cooperativa a cessão do apoio da prefeitura ao mini frigorífico após a implantação e também
a dificuldade de acesso a recursos financeiros para melhorar a estrutura da indústria, o que
impossibilita a obtenção do SIF.
As evidências trazidas pelo contexto analisado são pertinentes para refletir sobre o
papel dos agentes públicos, no caso os fiscalizadores, que a priori poderiam ser de orientação,
de consultoria e posteriormente fiscalizatórios. Isso se justifica pela característica do público
REFERÊNCIAS
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Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5764.htm>. Acesso em 14 Maio 2017.
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KUBITZA, F.; CAMPOS, J. L.; ONO, E. A.; ISTCHUK, P. I. Panorama da Piscicultura no Brasil:
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