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Atingidos e Atingidas pela Vale

‘Eu não desejo a minha casa para


ninguém’, diz morador de Itabira que vive a
50 metros de barragens da Vale

João Batista Carlos, de 64 anos, trabalhou na Vale entre 1973 e 1997. Após se aposentar,
ele comprou um terreno no bairro Bela Vista, em Itabira, na Região Central de Minas
Gerais, onde construiu sua casa. São 720 m² de área, com quintal e muita fruta no pé. “Eu
me sinto desconfortável morando aqui. Não desejo essa casa para ninguém”, disse João.

Cinquenta metros de distância separam a cerca do imóvel da base de contenção da


Barragem Dique Cordão Nova Vista. Bem ao lado fica a Barragem Dique Minervino. Elas
fazem parte do Sistema Pontal da Mina do Cauê, da Vale, que se exauriu na década de
1990. Ambas foram proibidas na última sexta-feira (15) pela Justiça de receberem rejeitos.
Segundo a decisão, a empresa alemã TÜV SÜD informou que as barragens foram
sinalizadas preliminarmente “como fonte particular de preocupação”. O Ministério
Público de Minas Gerais ainda argumentou que a notificação “recomendou que qualquer
atividade de construção nessas barragens e qualquer vibração devem ser evitadas, pois
podem gerar falhas.”

João Batista vem sofrendo com os alteamentos da barragem há anos. Ele mora no bairro
Bela Vista há 21 anos. “Quando eu comprei, não se via a barragem da minha casa.
Depois do último alteamento, em 2010, ela está aqui. Bem em frente”, disse ele.

O aposentado, que vive com a mulher e o filho, quer sair da casa. A tensão provocada
pela proximidade tem lhe tirado o sono.

De acordo com a Associação de Moradores do Bairro Bela Vista, a apreensão é constante.


“A Vale e a Defesa Civil dizem para a gente que não há risco. Mas as pessoas ficam
tensas, né? E todo mundo está perdendo com a desvalorização dos imóveis. Tem a
questão do emprego também. Muita gente aqui trabalha na Vale. Até quando?”, disse a
presidente da entidade, Maria Aparecida Oliveira.

“Eu não sou contra o progresso. Só acho que a Vale ‘atropelou’ a gente quando expandiu
a barragem. Podia ter sido feito de outra forma”, disse João.

Hoje, a exploração das minas de Itabira representa pouco mais de 9% da produção total
da Vale. São cerca de 43 milhões de toneladas por ano. A Vale tem hoje duas minas e três
usinas de beneficiamento de minério de ferro na cidade.

O Complexo do Pontal também é vizinho dos bairros Nova Vista e Rio de Peixe. De
acordo com a prefeitura, 2.345 visitas domiciliares foram realizadas nestes locais pela
Vale e Defesa Civil desde o dia 27 de fevereiro, pouco mais de um mês depois da
tragédia em Brumadinho. A medida faz parte do Plano de Ação de Emergência de
Barragens de Mineração.

De acordo com a mineradora, 93 placas de sinalização de rotas de fuga e de pontos de


encontro estão sendo instaladas, A previsão é que o plano seja concluído até abril. Testes
de sirene e simulados de emergência com a população devem ser feito ainda este ano.

Foto: Lucas Henrique de Morais


Fonte: Thais Pimentel | G1 Minas

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21/03/2019
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barragem, Itabira, Minas


Publicado por Gerais

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