Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Brasil de Fato conversou com três especialistas sobre as condições de trabalho nos
projetos de exploração mineral que operam no país. O quadro desenhado por eles é de
descaso com as vidas humanas que sustentam os lucros bilionários das empresas do
setor.
“A atividade mineral é uma das atividades que mais mata. E o Brasil é o país que mais
mata. O acidente de trabalho de Brumadinho é o maior acidente de trabalho do mundo.
E o pessoal até agora fica nessa firula: se é acidente, se é crime ou se é desastre. É as três
coisas juntas e muito mais”, disse Marta Freitas, uma das entrevistadas.
Cotidiano
“Existe um estudo feito pela CNI [Confederação Nacional da Indústria], que a gente
assistiu. [Ele mostra que] o pior clima organizacional entre as 15 principais atividades da
economia brasileira é o da mineração. Esse clima ajuda a criar o segmento que tem mais
acidentes, mais adoecimentos, mais mortes de todos os setores da economia”, conta.
“Você tem que fazer mais rápido, mais efetivo, trabalhar em muito maior risco, tudo pra
ser bem barato”.
O dia a dia inclui a exposição a uma jornada de trabalho exaustiva e muitas vezes ilegal,
combinada com um ambiente que mistura carregamento de peso, vibração, ruídos,
máquinas pesadas e risco de desabamentos.
Andrade relata o efeito desse ritmo de trabalho na vida ao fim do expediente, nos
hábitos e vícios dos mineiros: “O que acontece quando você sai da mina? A mina tá
ligada diretamente ao boteco, ao bar, ao posto de saúde: É o ansiolítico, o Dorflex, o
relaxante muscular. Ou à boca: especialmente [com o] uso de cocaína”
“A gente fiscaliza a mineração dentro das nossas limitações, porque não temos gente
suficiente. O número de auditores está baixíssimo. Pior que a gente só a Agência
Nacional de Mineração, que não tem quase ninguém. A gente não consegue fiscalizar as
barragens todas, não tem jeito”, conta Parreiras. “O número de auditores que [temos]
agora é o mesmo que a gente tinha em 1994, e a multa máxima é de R$ 6.000 por
infração”
“A Organização Internacional do Trabalho considera a legislação regulamentar brasileira
a melhor do mundo, só que ela não é aplicada pela grande maioria das grandes
mineradoras”, diz Lourival de Freitas. “Nós somos a melhor província mineral do
mundo, mas de legislação mais frouxa, de fiscalização mais frouxa, de preços baratos das
pessoas.”
Futuro
“As perspectivas são muito ruins. O CEO [presidente executivo] da empresa está lá
ganhando dinheiro, não tem envolvimento com as pessoas, não se sente responsável. Ele
tem que atender a [demanda por] produção e remuneração do capital. Pelo que estou
vendo na maioria das minas, na Agência Nacional de Mineração, como está o poder
institucional, eu lastimo e acho que vai piorar. [Os acidentes e as mortes] estão
aumentando”, diz Lourival Andrade.
A colega dele, Marta de Freitas, encerra apontando um futuro de ainda mais tragédias:
“Lamento dizer que não aprendemos a lição com Mariana, com a Hidro, com a
Herculano, e teremos outras Brumadinhos pela história”.
Anúncios
08/02/2019
Notícias
ACIMA ↑