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IX SIMPÓSIO DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO NORDESTE

10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB

SEGURANÇA E SAÚDE NA PRODUÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS

Nuria Fernandez Castro1, Leonardo Cattabriga Freire 2,


1
Enga. de Minas, MSc., Tecnologista Pleno, Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCTI
2
Eng. Petróleo e Gás, Técnico em Tratamento de Minérios, Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCTI
lfreire@cetem.gov.br

RESUMO

A falta de preocupação com a segurança dos trabalhadores em alguns ambientes de trabalho no


Brasil gera um custo muito alto para o país. Cerca de 700 mil casos de acidentes de trabalho são
registrados em média no Brasil todos os anos, sem contar os casos não notificados oficialmente e,
de acordo com o Ministério da Previdência, o país gasta cerca de R$ 70 bilhões com esse tipo de
acidentes anualmente. De todos os setores industriais, a mineração é um dos mais perigosos; a
indústria extrativa mineral é ainda responsável pelas maiores taxas de mortalidade dentre toda a
indústria brasileira. No setor de rochas ornamentais também são frequentes os acidentes, sendo
os mais graves, muitas vezes fatais, os acontecidos na movimentação de cargas e, infelizmente, o
forte ritmo de desenvolvimento tecnológico do setor nos últimos anos não tem sido acompanhado
pelo desenvolvimento da conscientização da necessidade da proteção à saúde e segurança entre
seus trabalhadores. São muitos os locais de trabalho perigosos ou insalubres na produção das
rochas ornamentais e muitos os incidentes e acidentes, normalmente não comunicados, que
poderiam ser evitados com um trabalho intensivo de educação. Da mesma forma, a proteção da
saúde dos trabalhadores frente à exposição contínua a agentes nocivos, continua sendo relegada a
um segundo plano, observando-se, frequentemente a utilização de equipamentos e dispositivos
de proteção inadequados e, salvo raras exceções, a falta de sistemas de proteção coletiva e
capacitação continuada. Este trabalho aborda essas questões de forma específica para as diversas
atividades laborais da extração e beneficiamento de rochas ornamentais, detalhando tanto os
riscos, quanto as normas do Ministério do Trabalho e os equipamentos e dispositivos que visam
diminuir aqueles riscos para uma maior proteção da saúde dos trabalhadores.

PALAVRAS-CHAVE: rochas ornamentais, segurança, saúde, acidentes, prevenção.

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ABSTRACT

The lack of concern for the safety of workers in some working environments in Brazil generates a
very high cost for the country. About 700,000 cases of work accidents are recorded on average in
Brazil every year, not including unreported cases officially, and according to the Ministry of
Welfare, the country spends about US $ 70 billion with this type of accident each year. Mining is,
among all of the industrial activities, one of the most dangerous, still responsible for the highest
mortality rates. Within the natural stones sector, accidents are also frequent, being the most
dangerous, fatal in many occasions, those occurred during the stones handling. Unhappily, a
raising on workers awareness on health and safety issues, the last years, has not followed the
great pace of this sector’s technological development. Many workplaces and activities are
dangerous or unhealthy amongst natural stones mining and processing and many accidents and
incidents, usually not informed to the authorities, could be avoided with educational health and
safety programs. Similarly, the workers’ health protection against continuous exposure to harmful
agents, has been relegated to a background, as it can be frequently observed, within this sector,
the use of inadequate protective equipment and, with rare exceptions, the lack of collective
protection systems and continuous training. This paper addresses these issues specifically for the
various work activities of extraction and processing of natural stones, detailing the risks involved,
the rules of the Ministry of Labor and the equipment and devices aimed at reducing those risks for
a greater health protection of the stone workers.

KEYWORDS: natural stones, health and safety, accidents, prevention.

1. INTRODUÇÃO

A Organização Internacional do Trabalho – OIT, instituiu a data de 28 de abril de 1969, como


o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, como triste lembrança de um terrível acidente
acontecido em uma mina norte-americana no estado da Virginia, onde houve uma explosão e 78
mineiros faleceram, e de forma extensiva como lembrança de todas as vítimas de acidentes e
doenças relacionadas ao trabalho. Segundo dados da OIT de 2013, a cada 15 segundos morre um
trabalhador por razões de doença ou acidente de trabalho e 151 trabalhadores sofrem algum tipo

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de acidente relacionado ao trabalho. A OIT aponta ainda 5.500 mortes por dia, ou seja, mais de
dois milhões de mortes por ano devido a enfermidades relacionadas com o trabalho, mais de
trezentas mil pessoas morrem a cada ano como consequência de acidentes no trabalho, mais de
cem milhões de pessoas sofrem de doenças não letais relacionadas com o trabalho e mais de
trezentos milhões de acidentes laborais não mortais ocorrem a cada ano. Mesmo que as
condições de saúde e segurança no trabalho sejam diferentes entre os países o que se sabe é que
em todo o mundo os mais pobres e os menos desprotegidos (mulheres, crianças e os migrantes)
são os mais afetados.
No Brasil, de todos os setores industriais, a mineração é um dos mais perigosos. A indústria
extrativa mineral é ainda responsável pelas maiores taxas de mortalidade dentre toda a indústria
brasileira, na ordem de 30% seguida pelo setor da construção civil 17%. (PELLEGRINELLI, 2013).
Dentro da mineração, o setor de rochas ornamentais, que se estima tenha gerado, pelo menos,
50.000 empregos diretos nos últimos 12 anos (ABIROCHAS, 2013), apresenta altos índices de
acidentes de trabalho, e os acidentes mais graves, quase sempre fatais, que acontecem na
produção de rochas ornamentais, ocorrem durante a movimentação de cargas, tanto de chapas
nas empresas quanto de blocos nas estradas. Por esse motivo, existem normas específicas para
essas atividades (a NR11 – movimentação de chapas e a Resol. Contran 354 para o transporte de
blocos).
No Espírito Santo, principal polo produtor e exportador de rochas ornamentais do país, 10
pessoas perderam a vida em acidentes considerados de trabalho em 2012, sendo quatro mortes
em pedreiras, três no trajeto, dois no beneficiamento e uma durante o transporte do material em
que o motorista foi a vítima. Infelizmente, de janeiro a junho de 2013 foi alcançado esse mesmo
número de 2012, de 10 acidentes fatais no setor de rochas ornamentais, com cinco mortes no
Estado do Espírito Santo, duas no Estado da Bahia, duas no Estado de Manaus e uma em Recife.
Em 2014 mais 10 pessoas também acabaram perdendo a vida sendo vítimas fatais do setor de
rochas ornamentais e em 2016 já foram contabilizadas três mortes até o momento
(SINDIMARMORE, 2016).
De acordo com as informações do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho de 2013 do
Ministério da Previdência Social, foram registrados, no Brasil, 717.911 acidentes do trabalho,
sendo 13.271 no estado do Espírito Santo. Esses acidentes são decorrentes das atividades típicas
da função dos trabalhadores, sofridos no trajeto e doenças do trabalho (ANUARIO BRASILEIRO DE
PROTEÇÃO, 2015). Provavelmente esses números são maiores já que em muitas empresas a

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ocorrência de acidentes de trabalho é omitida ou diminuída, às vezes pelos próprios trabalhadores


com medo de serem responsabilizados. No entanto, por menor que possa ser o grau do acidente
ocorrido e por mais que o trabalhador tente esconder sua ocorrência, a empresa é obrigada por lei
a zelar pela saúde e segurança de seus trabalhadores, assim como a fiscalizar as condições do
ambiente de trabalho para reduzir o risco dos acidentes acontecerem ou diminuir suas
consequências quando acontecem. Ainda deve se destacar que as estatísticas de acidentes não
incluem os trabalhadores autônomos (contribuintes individuais). Isto é importante no caso do
setor de rochas ornamentais, que é constituído, em sua maioria, por pequenas e micro empresas e
que conta com grande quantidade de trabalhadores autônomos (consultores, fornecedores de
insumos e serviços, clientes) que circulam habitualmente pelas pedreiras e unidades de
beneficiamento.
Os tipos de acidentes de trabalho e doenças mais frequentes na cadeia produtiva das rochas
ornamentais, assim como as medidas para sua prevenção, são tratados neste artigo.

2. ACIDENTES DE TRABALHO

Acidente de trabalho é todo dano sofrido por alguém, devido ao trabalho, que tenha requerido
tratamento médico ou resulte em perda de consciência ou morte. Pode causar lesões corporais ou
perturbações funcionais, pode resultar em morte, perda e redução, permanente ou temporária,
das capacidades físicas ou mentais do trabalhador, etc. Além dos acidentes que acontecem nos
locais do trabalho também são tratados como tais:
 Doenças provocadas pelo trabalho. Ex: problemas de audição, visão, etc.;
 Acidentes que ocorrem fora do local de trabalho, mas durante o trabalho;
 Doenças causadas pelas condições de trabalho. Ex.: inalação de poeira;
 Acidentes que ocorrem no trajeto do trabalho para casa;
 Acidentes que ocorrem em viagens a serviço da empresa.

Um acidente é algo que acontece quando convergem diversas condições fora do comum em
um determinado ambiente. Raramente um acidente terá uma única causa, sendo o mais
frequente que se deva à combinação de diversos fatores. Os fatores que podem contribuir com a
ocorrência de acidentes podem estar relacionados com as pessoas (empregadores, empregados,
terceirizados, visitantes) ou com o ambiente de trabalho.

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3. PRINCIPAIS RISCOS SOFRIDOS PELOS TRABALHADORES DO SETOR


PRODUTIVO DE ROCHAS ORNAMENTAIS

3.1 Exposição a Poeira de Sílica

A sílica livre cristalina, encontrada na poeira mineral, é a principal causadora da doença


denominada silicose, causada por inalação dessa poeira e fixação das partículas de sílica nos
pulmões (pneucomoniose).
Pode aparecer em diversas operações de mineração como, por exemplo, nas operações de
lavra por explosivos e na mineração continua, nas operações de perfuração, corte e retirada de
rochas da frente de lavra e nas operações de transporte, britagem, moagem, peneiramento,
dentre outros.

3.2 Exposição ao Ruído

O Ruído é um dos principais agentes físicos que afetam à saúde dos trabalhadores,
principalmente por ocorrer em quase todos os ambientes de trabalho e ter um caráter, muitas
vezes, continuo. Profissionais de segurança e saúde do trabalho consideram o ruído como um dos
maiores problemas relacionados à saúde do trabalhador.
A exposição de um trabalhador a ruído contínuo ou intermitente leva a alterações
estruturais no ouvido interno, que determinam a ocorrência da Perda Auditiva Induzida por Ruído
(Pair). A Pair é a reclamação mais frequente quanto à saúde dos trabalhadores de todos os
setores (GABAS, 2004).
O trabalhador portador de Pair pode desenvolver intolerância a sons intensos, queixar-se
de zumbido e de diminuição de inteligibilidade da fala, com prejuízo da comunicação oral. O ruído
pode ocasionar também outros problemas de saúde como: zumbido no ouvido, alterações
digestivas e cardíacas, fadiga, dor de cabeça e redução na concentração (BRASIL, 2014).
Considerando que a perda auditiva é irreversível e progressiva, é fundamental que os
efeitos do ruído sejam evitados com a eliminação ou redução da exposição, utilizando-se do
equipamento de proteção individual para proteção auditiva.

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3.3 Exposição a outros fatores de risco

3.3.1 Vibrações em mãos e braços

Os trabalhadores do setor da rochas ornamentais estão muitas vezes expostos a vibrações


localizadas e vibrações de corpo inteiro, durante o desempenho das suas atividades. Além de
reduzir seu desempenho, essas vibrações também prejudicam sua saúde. Conforme o modo de
contato entre o objeto vibrante e o corpo, a exposição às vibrações se divide em dois grandes
grupos: vibrações de mãos-braços e vibrações de corpo inteiro (VENDRAME, 2011). As Vibrações
de mãos-braços resultam do contato dos dedos ou das mãos com algum elemento vibrante
(principalmente do uso de ferramentas manuais, portáteis ou não). Já as Vibrações de Corpo
Inteiro são características em plataformas industriais (veículos pesados, tratores, retro
escavadeiras, embarcações marítimas e trens, entre outras), e as transmissões das vibrações ao
corpo são dependentes da postura e do indivíduo, pois nem todos apresentam a mesma
sensibilidade. Não há cura para a síndrome da vibração, mas na maioria dos casos, a exposição à
vibração pode ser evitada ou muito reduzida (FUNDACIÓN PARA LA PREVENCIÓN DE RESGOS
LABORALES, 2009), logo prevenção é a palavra chave e o empregador deve mapear os locais onde
os trabalhadores podem estar expostos à vibração, programar o uso de ferramentas com design
ergonômico ou com controle da vibração e tomar medidas para reduzir as vibrações. É indicada a
realização anual de exames médicos específicos para se conhecer o estado de saúde dos
trabalhadores expostos às vibrações. Assim mesmo, deve-se informar aos trabalhadores sobre os
níveis de vibrações aos quais estão expostos, bem como as medidas de proteção disponíveis.
Também é interessante mostrar aos trabalhadores como se pode aperfeiçoar seu esforço
muscular e postura para realizar seu trabalho (REGAZZI, 2013).

3.3.2 Riscos Ergonômicos (LER / DORT)

A Lesão por Esforço Repetitivo – LER - e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao


Trabalho – DORT - têm sua origem ocupacional, sendo doenças caracterizadas pelo desgaste de
estruturas do sistema musculoesquelético que atingem várias categorias profissionais. Decorrem
do uso repetido ou forçado de grupos musculares e da manutenção de postura inadequada,

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atingindo principalmente os membros superiores como a região escapular e a região cervical. Esta
patologia é reconhecida pela legislação brasileira, e já é considerada uma epidemia (SUS, 2013).

3.3.3 Riscos de Acidentes em Geral

Os principais tipos de acidentes no setor de rochas ornamentais são:


 Quedas e choques por movimentação de máquinas, elementos móveis (correias), uso de
ferramentas, pisos escorregadios ou irregulares, áreas de trabalho obstruídas;
 choques elétricos na operação e manutenção de equipamentos e por instalações elétricas
inadequadas;
 queimaduras pelo manuseio de materiais inflamáveis e o contato com produtos químicos;
 cortes e mutilações pela utilização de máquinas e equipamentos;
 cortes, mutilações e esmagamentos na movimentação, armazenagem, e transporte de
blocos e chapas de rochas;
 lesões por desabamento de taludes e por projeção de fragmentos de rocha durante as
explosões nas pedreiras; e
 lesões pela projeção de pequenos fragmentos durante operações de perfuração e corte de
rochas ou movimentação de carga no pátio de beneficiamento das rochas.

4. UTILIZAÇÃO DE EPI

Equipamento de Proteção Individual – EPI - é: “todo dispositivo ou produto, de uso


individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a
segurança e a saúde no trabalho” (BRASIL, 2014, p. 79). Sua utilização se restringe a condições em
que a proteção completa do trabalhador está comprometida contra um ou mais riscos que possam
ocorrer no trabalho e a escolha do EPI adequado deve atender à legislação. Porém, o correto uso
do EPI não se limita apenas a proteger o trabalhador. Sua importância vai muito além, haja vista
que a utilização irregular do EPI poderá comprometer a segurança, o conforto, a comunicação e o
desempenho dos trabalhadores. Vale ressaltar que a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
- Cipa, junto com os integrantes do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina
do Trabalho –SESMT - são responsáveis pela escolha dos EPIs e sua frequente revisão, em virtude
de mudanças internas ou externas que possam ocorrer (BRASIL, 2014).

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5. PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS TRABALHADORES NA EXTRAÇÃO

A primeira etapa do processo produtivo de rochas ornamentais é a extração de mármores e


granitos das jazidas. As rochas ornamentais são lavradas a céu aberto, no Brasil, em pedreiras.
Estas são constituídas de frentes de lavra, rampas de acesso e áreas de servidão e apoio. Nas
frentes são desmembrados do maciço grandes volumes de rocha que são divididos, a seguir, em
blocos comerciais em praças de trabalho. As pedreiras dispõem também de praças secundárias
que tem a função de dar apoio ao desmonte, assim como pistas e rampas que realizam as ligações
entre praças, áreas de depósito e carregamento dos blocos. Muitos trabalhadores estão
envolvidos nesta etapa de extração como, operador de perfuratriz manual (marteleteiro), cabo de
fogo (blaster), operador de fio diamantado (fiolista), manobrista, encarregados e supervisores.

6. PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS TRABALHADORES NO BENEFICIAMENTO

A segunda etapa do ciclo produtivo das rochas ornamentais é o beneficiamento, fase na qual
os blocos extraídos nas pedreiras passam pelo processo de desdobramento em chapas
denominado serragem, em teares multilâmina ou multifio. As chapas são submetidas a polimento
ou outros acabamentos superficiais, mediante diversos processos abrasivos e utilização de resinas
e outros produtos químicos. As funções mais importantes desempenhadas pelos trabalhadores
nesses processos são de serrador, polidor, resinador, operador de ponte, cortador e acabador. Os
acidentes mais graves acontecem na movimentação das chapas, pois devido ao seu peso, a queda
de uma chapa sobre um trabalhador, quase sempre resulta em morte. Esses acidentes acontecem
na área de serragem, na hora de se retirar as chapas do tear, na área de polimento onde há maior
movimentação das chapas e, com maior frequência, no carregamento nos caminhões ou
containers. No entanto, todas as funções do trabalhador das rochas ornamentais envolvem riscos
que devem ser mapeados para se tomarem as medidas de proteção adequadas.

7. EPI PARA INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS

As Normas de Segurança e Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2014), devem ser seguidas


fazendo parte da política geral das empresas. Um dos requisitos fundamentais dessa legislação é o
uso de EPIs - Equipamentos de Proteção Individual (NR6). As empresas, há muito tempo, tem

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ciência de que a utilização do EPI é de fundamental importância para a segurança dos


funcionários. As grandes empresas compreendem que sua utilização ou não, influencia a
produtividade, e por isso, são rígidas quanto a essa utilização. Porém pequenas empresas
costumam ter menor preocupação com a questão que envolve o funcionário e os acidentes de
trabalho e permitem que se crie uma cultura viciada, na qual os trabalhadores, por considerarem
desconfortável o uso do EPI, não os utilizam. Nas tabelas 1 e 2, apresentam-se, a modo de resumo,
os riscos à saúde e segurança dos trabalhadores do setor de rochas ornamentais de acordo à
função por eles desempenhada, bem como os EPIs recomendados para sua proteção. Foram
incluídas apenas funções específicas da produção de rochas ornamentais, mas todos
trabalhadores estão expostos a riscos no ambiente de trabalho, como pode ser o risco de
ferimentos pelo uso de ferramentas entre o pessoal de manutenção de equipamentos e
maquinário ou riscos ergonômicos entre o pessoal administrativo, por exemplo.

Tabela 1. Resumo de riscos e EPIs na extração de rochas ornamentais, por função


Processo
produtivo de Principais
Principais Riscos EPIs Utilizados
Rochas Funções
Ornamentais
Exposição a poeira, ruído, trepidação Capacete tipo aba frontal, óculos de lente
Operador de emitida pelo equipamento de trabalho e com tonalidade escura, protetor auditivo
martelete umidade tipo concha, EPI para proteção do tronco,
luva anti-vibração, calçado e filtro solar
Riscos de acidentes graves e fatais não Capacete tipo aba frontal, óculos de lente
só pelo fato de lidar diariamente com com tonalidade escura, protetor auditivo
Cabo de explosivos, mas também pelo fato de tipo concha, calçado e filtro solar
fogo ficar exposto ao desmoronamento e
(blaster) arremessamento de pedras. Exposição a
poeira e ruídos.

Profissionais muito próximos à máquina Capacete tipo aba frontal, óculos de lente
Operador de e por isso correm o risco de serem com tonalidade escura, protetor auditivo
Extração fio atingidos pelo fio quando esse se rompe. tipo concha, EPI para proteção do tronco,
diamantado Além disso, ficam expostos à poeira, ao calçado e filtro solar
ruído intenso e a umidade.
Rompimento dos cabos de aço que içam Capacete tipo aba frontal, óculos de lente
Manobreiro o bloco para transporte. Podem atingir com tonalidade escura, protetor auditivo
(manobrista) tanto o manobrista como os outros. tipo plug, calçado e filtro solar
Expostos também a poeira e ruídos.
Exposição a poeira, ruídos, Capacete tipo aba frontal, óculos de lente
Encarregado desmoronamento, arremessamento. com tonalidade escura, protetor auditivo
tipo concha, calçado e filtro solar
Exposição a poeira, ruídos, Capacete tipo aba frontal, óculos de lente
Supervisor desmoronamento, arremessamento. com tonalidade escura, protetor auditivo
tipo plug, calçado e filtro solar

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Tabela 2. Resumo de riscos e EPIs no beneficiamento de rochas ornamentais, por função


Processo Função Principais Riscos EPIs Utilizados
Expostos a ruído intenso e Capacete tipo aba frontal, óculos de
umidade. Contato com a lama lente incolor, protetor auditivo
abrasiva gerada no concha, EPI para tronco, luva contra
desdobramento dos blocos umidade e calçado
Serrador e seu em chapas pelos teares
ajudante convencionais. Riscos de
cortes pela quebra de fios de
teares diamantados. Risco de
queda de chapas na retirada
no final da serrada.
Além da exposição contínua a Capacete tipo aba frontal, óculos de
produtos químicos, esses lente incolor, protetor auditivo tipo
profissionais estão expostos concha, EPI para proteção do tronco,
ao risco de acidentes com a luva contra umidade e calçado.
Polidor e queda de chapas, que são
assistente transportadas por eles no
momento de entrada e saída
da máquina e no
carregamento dos caminhões.
Expostos a ruídos e umidade.
Exposição a poeira, ruídos, Capacete tipo aba frontal, óculos de
umidade, calor, além da lente incolor, protetor auditivo tipo
exposição continuada a plug, EPI para proteção do tronco,
Beneficia- Resinador agentes químicos luva contra químicos, calçado,
mento provenientes das resinas e máscara facial de proteção das
produtos de estucado. vias respiratórias contra gases e
vapores
Operador de Exposição a poeira, ruídos, Capacete tipo aba frontal, óculos de
Ponte e quedas de chapas, lente com tonalidade escura, protetor
Ventosas arremessamento auditivo tipo plug, calçado.
Expõe o profissional ao risco Capacete tipo aba frontal, óculos de
de acidentes mutilantes e lente incolor, protetor auditivo tipo
também a um grande contato concha, EPI para proteção do tronco,
com a poeira, ruído e luva contra agentes abrasivos e
Cortador umidade. Exige muito esforço escoriantes, calçado, máscara
físico para operar semifacial filtrante
equipamentos

O trabalhador além de ficar Capacete tipo aba frontal, óculos de


exposto a problemas como lente incolor, protetor auditivo tipo
poeira, vibração, ruído, plug, EPI para proteção do tronco, luva
ergonômicos e riscos de contra químicos, calçado, máscara
Acabador acidentes ele ainda pode facial de proteção das
estar exposto a agentes vias respiratórias contra gases e
químicos presentes nas colas, vapores
massas plásticas, ceras,
dentre outros.

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8. SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA

Uma questão importante para garantir a segurança tanto de funcionários e terceirizados


quanto de visitantes em pedreiras, serrarias e marmorarias é a sinalização de segurança que deve
seguir tanto a NR 26 – Sinalização de Segurança, do MTE, quanto a NRM 12 do DNPM - Sinalização
de Áreas de Trabalho e de Circulação. A sinalização de segurança deve as indicações do Plano de
Prevenção de Riscos e Acidentes – PPRA e deve ser realizado o devido treinamento dos
funcionários.

9. CONCLUSÃO

Apesar da grande evolução tecnológica do setor de rochas ornamentais no país que tem
permitido melhorias pela diminuição dos riscos aos quais os trabalhadores estão expostos, bem
pelo uso de equipamentos em substituição de ferramentas manuais, bem pela automatização de
atividades reduzindo o número de trabalhadores expostos, observa-se que falta conscientização
entre trabalhadores e empresários da importância da utilização de sistemas, equipamentos
individuais e coletivos e, sobretudo, capacitação, para reduzir os riscos à saúde dos trabalhadores
e diminuir os acidentes e suas consequências.
Nos trabalhos de campo realizados pela equipe do Núcleo Regional do Espírito Santo – NRES,
unidade do Centro de Tecnologia Mineral – CETEM/MCTI localizada em Cachoeiro de Itapemirim,
tem se observado, com frequência, a falta ou inadequação dos sistemas de proteção à saúde e
segurança dos trabalhadores. Mesmo quando esses são disponibilizados pelas empresas, são
negligenciados pelos próprios trabalhadores, devido à falta de capacitação continuada. Em um
estado como o Espírito Santo, principal polo da produção e exportação de rochas do país e no qual
quase todos, se não todos, de seus 78 municípios contam com algum tipo de atividade relacionada
à produção e comércio de rochas ornamentais, a importância de se investir em ações de
capacitação adquire maiores proporções.
Com o objetivo de contribuir com o setor nesse sentido, o NRES/CETEM está elaborando
uma Cartilha de Segurança do Trabalho para o Setor de Rochas Ornamentais, nos moldes da já
publicada para pequenas pedreiras, mas visando orientar trabalhadores de médias e grandes
pedreiras e do setor de beneficiamento.

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10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS. O setor de rochas


ornamentais frente ao novo marco regulatório da mineração brasileira. São Paulo: ABIROCHAS.
Disponível em http://www.abirochas.com.br/noticia.php?eve_id=1234. 2013. Acessado em:
01/03/2016.

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2015.

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Segurança Ambiental; Brasil, 2004.

PELLEGRINELLI, Cláudia Mara B.F. Programa Especial de Segurança e Saúde Ocupacional na


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REGAZZI, Rogério Dias. Análise da vibração e referências normativas. (on line). Disponível em:
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SINDIMÁRMORE - Sindicato dos Trabalhadores do Mármore e Granito do Espírito Santo. Tragédias


no setor de rochas: já são três os acidentes fatais este ano. 02/02/2016.
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http://www.vendrame.com.br/novo/artigos/vibracoes_ocupacionais.pdf. Acesso em 26 de junho
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