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Gustavo, Zuila e Carlos Nascimento: em meio a casas em ruína, família ainda vive no bairro do Pinheiro
Imagem: Carlos Madeiro/UOL
Carlos Madeiro
Colunista do UOL
16/07/2022 04h00
Carlos da Silva Nascimento, 77, lembra bem que, há menos de dois
anos, ia andando comprar frutas e verduras na feira do bairro do
Bebedouro, em Maceió, todos os sábados. "Hoje, um pão que precise
comprar, tenho de ir de carro."
A família Nascimento é uma das 72 que mantêm moradia nos bairros hoje
fantasmas da capital alagoana. Por conta de um problema causado pela
mineração da Braskem, o solo cedeu e 14,5 mil imóveis foram afetados. Cerca
de 60 mil pessoas tiveram de deixar os bairros de Bebedouro, Bom Parto,
Mutange, Pinheiro e Farol.
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Segundo ele, a Braskem fez uma proposta de pouco mais de R$ 300 mil pela
casa de 197 m². "Com esse valor, não compramos uma casa assim", critica.
Mas o principal empecilho é que, ao lado da casa, mora sua tia Ione Gomes
da Silva, 82, que é cuidada por eles, de quem depende para vários serviços.
Nós só sairemos para um local com duas casas juntas. Não posso
deixar minha tia longe, a gente precisa vê-la sempre."
Gustavo Nascimento, que mora na ladeira do Calmon
Com valores baixos de indenização, advogadas ficam
A advogada Andrea Karla Cardoso Amaral, 53, decidiu ficar na casa onde
mora há 12 anos no bairro Pinheiro, o primeiro a ser desocupado após um
tremor de terra em março de 2018.
Cercada por um muro alto e cerca serpentinada, ela vive no local com os dois
filhos, de 14 e 17 anos, e não tem mais vizinhos de lado nem de frente.
Amaral diz que não se opõe a sair do local, mas diz que Braskem faz
"propostas horríveis". "Como advogada, fui acompanhando casos dos clientes.
É um esquema furado", diz.
Ela conta que, no caso dela, a empresa ofereceu R$ 685 mil de indenização
moral e material —bem abaixo do que pleiteia.
"Ela pega o valor devido da casa, baixa e coloca mais 10% para dizer que dá
como dano moral. Isso é fruto desse acordo que fizeram com a empresa, que
matou o proprietário, que não tem voz", afirma.
O que ela cita é o Termo de Acordo para Apoio na Desocupação das Áreas de
Risco, celebrado em janeiro de 2020, entre Braskem e autoridades locais. O
documento prevê o pagamento de compensação financeira pela empresa
para todos os imóveis de área de risco até o fim deste ano.
Quero um valor maior, porque eu não estou interessada em vender
minha casa. Eles que querem comprar, têm de chegar ao menos em R$
1 milhão de indenização; ou não entrego. O dano moral é um valor que
eu defino, não eles. A minha mãe que morreu aqui no meio desse
imbróglio."
Andrea Karla Cardoso Amaral, moradora do Pinheiro
Ela conta que, mesmo a sua rua estando deserta à noite, se acostumou com a
situação. "Tomo cuidado, não sou muito fã de rua. Chego 17h30, 18h em casa
e me fecho. Não tenho medo", diz.
Sobre a permanência, porém, diz que pesou o fato de ajudar animais de rua
que foram abandonados.
Isso me prendeu. Pensei: 'Só tem casa longe, como iria alimentá-los
todos os dias?'. Eles iriam morrer de fome. Hoje tenho 31 gatos aqui."
Sandra Catão, moradora do Bebedouro
A advogada Sandra Catão, 49, decidiu ficar e cuidar de animais abandonados por moradores dos bairros
afundados
Imagem: Arquivo pessoal
Ele diz ainda que a igreja ainda promove cultos, mas perdeu fiéis, porque eles
se mudaram.
Não temos o que negociar por hora. Temos muitos direitos, como os
danos causados a nossos membros, que foram espalhados em outras
igrejas. Estamos e seguimos aqui, de cabeça erguida."
Wellington Santos, pastor da Igreja Batista do Pinheiro
"O acordo estabelece, portanto, que a desocupação deverá ser feita no menor
tempo possível e que os custos de realocação dos moradores e as respectivas
compensações/indenizações serão pagos pela Braskem", diz.
"As propostas têm como referência as normas técnicas brasileiras que fixam
diretrizes e procedimentos para avaliação de imóveis, além de estudos
elaborados pelo Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia
(Ibape)", completa.
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