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ESTRATÉGIAS
DOS GRANDES
GRUPOS
ECONÔMICOS

para GARANTIR A INSTALAÇÃO


DE PROJETOS LOGÍSTICOS NOS TERRITÓRIOS
FICHA TÉCNICA

Texto: Guilherme Carvalho


Ilustração: Brendal Farias
Finalização de ilustração: Hercilon Castro
Diagramação: Emilly Rodrigues
Colaboração: Charles Trocate, Jaqueline dos
Santos, Lourenço Bezerra e Sônia Cristina
Revisão: Janete Borges

organização:
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DA EM 20

apoio:

Ano: 2022 (Dezembro)


Impressão: 2.000 exemplares

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1. ELEGEM GOVERNANTES E PARLAMENTARES
QUE DEFENDAM SEUS INTERESSES

Para as empresas é fundamental garantir apoio nos


poderes executivo e legislativo. Por conta disso, fi-
nanciam campanhas de candidatos(as) de diferentes
partidos para que sejam formadas bancadas parla-
mentares que lhes apóiem, bem como governantes
comprometidos com os interesses empresariais.

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2. INFLUENCIAM PARA QUE OS RECURSOS DO
ORÇAMENTO PÚBLICO SEJAM DIRECIONADOS
PARA A EXECUÇÃO DOS PROJETOS QUE LHES
INTERESSAM

As grandes empresas nacionais e internacionais


jogam pesado para que os recursos do orçamento
público sejam destinados prioritariamente para a
execução das obras que lhe interessam. Portanto,
o dinheiro que deveria ir para as áreas sociais, por
exemplo, é canalizado para os projetos de infraes-
trutura. Além disso, conseguem isenções tributárias
e fiscais, subsídios e outros benefícios que acabam
contribuindo para aumentar ainda mais os lucros das
empresas.

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3. BUSCAM ALTERAR AS LEIS QUE
CONSIDERAM OBSTÁCULOS AOS INTERESSES
DAS EMPRESAS

Garantido o apoio de governantes e formadas as


bancadas parlamentares o próximo passo é aprovar
leis que facilitem a instalação das grandes empresas
nos territórios. Exemplos: i) Os planos diretores mu-
nicipais destinam novas áreas para a instalação de
portos e para a expansão do agronegócio e da mine-
ração; ii) A legislação ambiental é completamente
desfigurada; iii) São aprovadas leis que legitimam a
grilagem de terras.

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4. PRESSIONAM PELA FRAGILIZAÇÃO DOS
ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO E CONTROLE

Um ponto importante aos grandes grupos empre-


sariais é que os órgãos públicos de fiscalização e
controle percam a capacidade de realizar suas fun-
ções. Para tanto os governos realizam cortes nos
orçamentos desses órgãos, não realizam concursos
públicos para a contratação de novos(as) servido-
res(as), perseguem funcionários(as) comprometi-
dos(as) com a defesa dos territórios comunitários e
áreas de preservação, desacreditam os dados le-
vantados pelos órgãos sobre desmatamento etc...

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5. INVESTEM PESADAMENTE EM MARKETING E
PROPAGANDA PARA OBTER O APOIO DA
SOCIEDADE AOS SEUS PROJETOS

As grandes empresas e os seus aliados precisam


vender a ideia de que tais empreendimentos propor-
cionarão o desenvolvimento e o progresso do país,
da região e das próprias comunidades. A propagan-
da e o marketing visam enfraquecer qualquer tipo de
resistência contra os projetos. As redes sociais são
utilizadas para fazer com que as mensagens das
empresas e dos governantes cheguem a cada pes-
soa nos lugares mais distantes. Isso é possível por
conta das alianças entre as grandes corporações
econômicas envolvidas na execução das obras com
as empresas de comunicação de massa, que no
Brasil são controladas por poucas famílias (Globo,
SBT, Record, Band, Veja e outras).

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6. PROPAGAM A IDEIA DE QUE OS
EMPREENDIMENTOS SÃO SUSTENTÁVEIS

Com as crises climática e ambiental afetando o pla-


neta, as empresas não querem ter seus nomes
associados à destruição ambiental ou à violação de
direitos, pois isso é um fator negativo junto aos mer-
cados consumidores. É preciso então “esverdear” as
empresas e seus empreendimentos para que sejam
vistos pela sociedade como sustentáveis, mesmo
que a realidade prove o contrário. É como se nada
mais pudesse existir a não ser os grandes empreen-
dimentos ou o mercado de carbono que, segundo o
bloco de poder que comanda a economia mundial,
são as únicas
possibilidades
de desenvolvi-
mento.
É preciso ter-
mos em mente
que o progres-
so do capital se
dá a partir da
criminalização
de outras for-
mas de eco-
nomia, como a
agricultura fa-
miliar e o agro-
extrativismo.

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7. INVISIBILIZAM A EXISTÊNCIA DAS
COMUNIDADES

Há um dito que afirma: ‘‘Quem não é visto, não


existe!’’ Daí o porquê muitas empresas simples-
mente ignoram a existência de povos indígenas e
comunidades tradicionais nos territórios, posto que o
reconhecimento das mesmas poderia inviabilizar ou
atrasar a instalação dos projetos empresariais, bem
como encarecer as obras por conta de indenizações,
compensações etc... Esse reconhecimento também
poderia forçar os governos a realizar consultas públi-
cas prévias, livres e informadas com base nos proto-
colos comunitários. Portanto, passar a ideia que tais
comunidades não existem é fundamental para os
grandes grupos econômicos nacionais e internacio-
nais e seus aliados.

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8. MONTAM CONSÓRCIOS PARA A EXECUÇÃO
DAS OBRAS

Os projetos logísticos como portos, estradas, mi-


nerodutos, expansão da rede de energia, hidrovias
e outros necessitam de grande soma de dinheiro
para serem executados. Normalmente as empresas
se juntam em consórcios para disputar os leilões e
competir com outras empresas. Por outro lado, os
consórcios são resultados de acordos políticos en-
volvendo governantes e parlamentares, bancos na-
cionais e estrangeiros, mídia, organizações empre-
sariais e outros segmentos políticos e econômicos
que representam na realidade uma parcela do bloco
de poder que comanda o comércio e as finanças
nacionais e internacionais, entre outros.

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9. DIVIDEM A COMUNIDADE PARA PODER
ACESSAR OS TERRITÓRIOS COLETIVOS

Uma comunidade unida na defesa de seus interes-


ses é a pior coisa que pode acontecer às empresas.
Portanto, encontrar formas de dividir as comunida-
des é fundamental para que os projetos logísticos
sejam instalados. A divisão pode ocorrer de diferen-
tes maneiras, tais como: i) Estimular o conflito inter-
no jogando os comunitários uns contra os outros; ii)
Apoiar a criação de novas organizações mais alinha-
das com as empresas; iii) Promover visitas assisti-
das de comunitários às instalações das empresas;
iv) Prometer aos/às moradores(as) que seus filhos
trabalharão nas obras e receberão bons salários.

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10. COOPTAM LIDERANÇAS E CONQUISTAM
ALIADOS

Outra forma de dividir as comunidades é cooptando


suas lideranças. Para tanto realizam intenso trabalho
de identificação dessas lideranças, se aproximam
das mesmas e oferecem vantagens a elas e a seus
aliados, tais como indicar pessoas para trabalharem
nas obras ou receber regularmente salários e outros
recursos. Estas deixam de defender os interesses
das comunidades e começam a apoiar todos os ob-
jetivos das empresas.

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11. REALIZAM OU APOIAM AÇÕES
ASSISTENCIALISTAS NOS TERRITÓRIOS

Também acontece de as comunidades que se tor-


nam aliadas das empresas receberem algumas van-
tagens como instrumentos musicais para as bandas
escolares, uniformes e materiais para os estudantes
ou ainda pequenas reformas nas escolas, enquanto
as que se mantém firmes na defesa dos seus territó-
rios nada recebem.

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12. CRIMINALIZAM LIDERANÇAS E
ORGANIZAÇÕES QUE SE OPÕEM AOS
PROJETOS DAS EMPRESAS

As lideranças e comunidades que resistem à destrui-


ção de seus territórios são monitoradas e persegui-
das. Uma forma de tentar impedir que denunciem as
violações cometidas contra elas é criminalizá-las, ou
seja, é comum que as empresas acionem a Justiça,
buscando com isso calar as vozes de quem se opõe
a elas e seus empreendimentos. O objetivo é impor
o medo, fazer com que lideranças e comunidades
cansem de lutar por seus direitos.

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13. SÃO CONIVENTES OU ESTIMULAM A AÇÃO
DE GRUPOS CRIMINOSOS PARA AMEDRONTAR
AS COMUNIDADES

Muitas lideranças comunitárias e pastorais, integran-


tes de ONGs, defensores(as) de direitos humanos e
servidores(as) públicos(as) comprometidos(as) com
a defesa da Amazônia e de seus povos foram assas-
sinados(as) ao longo dos anos. Da mesma forma,
comunidades inteiras sofrem a pressão de grileiros
de terras, narcotraficantes, madeireiros ilegais, ga-
rimpos clandestinos, contrabandistas e pistoleiros,
entre outros, que são apoiados e/ou financiados por
grupos empresariais interessados nas terras de po-
vos indígenas e comunidades tradicionais, contando
em diversas situações com o apoio de membros das
forças de segurança do Estado.

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14. MONITORAM A VIDA DA COMUNIDADE E
MILITARIZAM AS ÁREAS DAS EMPRESAS

É comum as empresas utilizarem drones para moni-


torar a movimentação das comunidades. Ao mesmo
tempo contratam empresas de consultoria para
realizar levantamentos de informações nos territó-
rios de seu interesse, bem como serviços de segu-
rança privada para proteger áreas e equipamentos.
Ao mesmo tempo, a dita segurança entra nos terri-
tórios comunitários sem a permissão dos(as) mora-
dores(as) para fazer perguntas e, em alguns casos,
chegam a bloquear os caminhos por onde passa a
população.

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15. IMPEDEM A LIVRE CIRCULAÇÃO DOS
COMUNITÁRIOS PELOS TERRITÓRIOS

As empresas também impedem a circulação dos co-


munitários nas antigas áreas de uso comuns como
várzeas, áreas de pesca, praias ou florestas. Com
isso, acabam inviabilizando os modos de vida das
comunidades posto que impedem a caça, a pesca, a
coleta de frutos e o manejo comunitário.

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16. BUSCAM DESCONSTRUIR OS TERRITÓRIOS
COMUNITÁRIOS

As empresas querem a todo custo que a maior ex-


tensão de terras possível entre no mercado, a fim de
que sejam adquiridas ou vendidas livremente. Con-
tudo, isto é dificultado pela existência de Projetos de
Assentamentos Agroextrativistas (PAE), terras qui-
lombolas ou Reservas Extrativistas (RESEX), entre
outras. Então, é preciso fazer com que essas áreas
deixem de ser coletivas. É aí que os aliados das
empresas nos governos e parlamentos entram em
campo para desconstruir os territórios comunitários a
partir de diferentes iniciativas, tais como: i) Transfor-
mar os territórios comunitários próximos aos centros
urbanos em bairros e com isso emitir títulos indivi-
duais; ii) Não legalizam terras coletivas ou levantam
mais obstáculos para que isso aconteça; iii) Não
emitem o Contrato de Concessão de Direito Real de
Uso (CCDRU); iv) Não implementam as políticas pú-
blicas destinadas a povos indígenas e comunidades
tradicionais.

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17.PRESSIONAM PARA A REALIZAÇÃO DE
ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL QUE
VIABILIZEM OS EMPREENDIMENTOS

Os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) se tornam


mera formalidade, pois de antemão já está definido
que os projetos logísticos serão implantados nos ter-
ritórios. A preocupação tão somente das empresas
e aliados é definir quem deverá ser ou não compen-
sado financeiramente pelos danos socioambientais
decorrentes dos empreendimentos. Daí porque dos
estudos buscarem a todo custo demonstrar que uma
parcela pequena do território e de suas populações
será afetada. Isso diminui bastante os recursos des-
tinados às indenizações e às políticas compensató-
rias, por exemplo. A invisibilização das comunidades
é um elemento importante nesse processo.

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18. SONEGAM INFORMAÇÕES

Todo o processo de elaboração, negociação e apro-


vação dos projetos logísticos é comumente cercado
de segredo. As comunidades e suas organizações
dificilmente têm acesso antecipado às informações
sobre os projetos. É comum que tomem conheci-
mento dos mesmos somente quando as obras estão
para serem iniciadas. Muitas vezes as consultas
sequer são realizadas e quando são tudo já está
previamente decidido.

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19. FECHAM CONTRATOS DE LONGO PRAZO
COM AS COMUNIDADES

Uma forma de as empresas controlarem as comuni-


dades e entrarem nos seus territórios se dá através
da assinatura de contratos de longo prazo, por 25
anos ou mais. Seja para explorar madeira, plantar
dendê ou contratos de crédito de carbono. Em todos
eles as comunidades perdem a autonomia sobre os
seus territórios, já que deixam de atuar livremente
neles de acordo com suas tradições e costumes,
além de terem sua segurança alimentar e nutricional
comprometidas.

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20. A DEPENDÊNCIA GERADA PELOS
EMPREENDIMENTOS
As empresas utilizam os grandes projetos para
impor seus interesses sobre territórios e suas po-
pulações. É comum que o valor dos investimentos
seja muito maior que o orçamento do município, por
exemplo. Isso é utilizado para chantagear o poder-
público e seus/suas moradores(as) com ameaças
de retirada, caso as demandas das empresas não
sejam atendidas. O resultado disso são mais e mais
vantagens às empresas como isenções fiscais e
tributárias, além de facilidades para adquirir terras
e continuar a explorar exaustivamente os/as seus/
suas funcionários(as).

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FINALIZANDO...

Esta cartilha é para ser lida em grupos,


coletivamente. Ela é uma ferramenta para
estimular o debate nas comunidades so-
bre algumas formas que empresas, gover-
nos e seus aliados utilizam para garantir
a apropriação dos territórios comunitários/
coletivos.
Ela pode ser utilizada em atividades de
capacitação, lida debaixo de uma árvore,
no barco ou em sala de aula, entre tantas
outras possibilidades.
O conteúdo da cartilha vai ser enriquecido
quando articulado com os relatos das co-
munidades sobre a realidade vivenciada
por elas.
Então, boa leitura e ótimas reflexões!

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ORGANIZAÇÃO

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