Não é competência do CC contar votos, mas sim validar ou recomendar anulação ou repetição

Conselho Constitucional “fez muita confusão”

na interpretação das suas competências
Dra. Lúcia Ribeiro esqueceu da lição básica “in dubio pro réu” PAGS: 04 E 05
“Há claramente situações que justificam a anulação das eleições” – Baltazar Fael
80 Meticais

Registo: 011/GABINFO-DEP/2020
DIRECTOR: Nelson Mucandze | EDITOR: Reginaldo Tchambule | Terça-Feira, 28 de Novembro de 2023 | Edição nº: 137 | Ano: 03

Estrangeiros recebem 10 vezes mais e tem direito a regalias e despesas pagas

Eni suga nosso gás, paga migalhas a

nacionais e dá balúrdios a expatriados
Há tratamento desigual e discriminatório na Eni. Governo investigou e mandou passear as vítimas
Salário dos moçambicanos é entre USD 1000 e 1500. Estrangeiros recebem entre USD 8000 e 20 mil
Depois de perder um caso no tribunal, Eni passou a dar contratos precários com prazo incerto
Para não ter nenhuma responsabilidade, os contratos são assinados via agência de recrutamento

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 2 DESTAQUE Malfeitores tentaram raptar dono da Casa Paris
Salim Laher, filho do dono do Hotel Zambeze, em Tete, e pro-
prietário da Casa París, na cidade de Maputo, encontra-se hospitalizado
depois de contrair ferimentos durante uma tentativa de rapto no final
da noite desta segunda-feira em Maputo, na esquina entre as Avenidas
28 DE NOVEMBRO DE 2023 Filipe Samuel Magaia e Guerra Popular. Testemunhas relataram que
frustrada a sua intentona, atropelaram a vítima.

Estrangeiros recebem 10 vezes mais e tem direito a regalias e despesas pagas

Trabalhadores moçambicanos acusam Eni de tratamento
desigual e discriminatório
Depois de perder caso no tribunal, Eni passou a dar contratos precários com prazo incerto
Para não ter nenhuma responsabilidade, os contratos são assinados via agência de recrutamento
Com contratos incertos, a Eni pode despedir o trabalhador a qualquer momento sem indemnizá-lo
Salários dos moçambicanos entre USD 1000 e 1500, os estrangeiros auferem entre USD 8000 e 20 mil

O
arranque da exploração do gás natural na Ba-
cia do Rovuma no ano passado foi visto como
uma bênção para o país. Mas, para os cerca de
200 trabalhadores moçambicanos do projecto
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Coral Sul da área 4 liderada pela Eni Rovuma

Basin, Mozambique, nem tudo é a mil maravilhas. Relatam
um cenário de descontentamento generalizado devido ao
tratamento desigual e discriminatório entre nacionais e es-
trangeiros, denunciando ainda uma série de irregularidades.
Casos concretos: de há alguns anos a esta parte, a Eni está
a contratar mão-de-obra local utilizando empresas de recru-
tamento, dando contratos precários de prazo incerto. En-
tretanto, os estrangeiros auferem entre 8 e 20 vezes melhor
do que os moçambicanos com as mesmas qualificações e a
fazerem o mesmo tipo de trabalho. A Eni reconhece que ter-
ceirizou contratos e que existem alguns a prazo incerto, mas
nega estar a dar tratamento desigual, ainda que reconheça
que os estrangeiros têm direito a “condições de subsistên-
cia”. Quanto a discrepância salarial alega confidencialidade
para não comentar.
os trabalhadores. rial feita no mês de Agosto. “A Eni tem o hábito de
Reginaldo Tchambule
Para além de não oferece- despedir as pessoas de qual-
No presente ano de 2023, formal. rem nenhuma garantia laboral Há trabalhadores que estão quer maneira. No princípio,
a Plataforma Flutuante Co- O Evidências teve acesso aos trabalhadores moçambi- a seis anos com tínhamos contratos, mas por-
ral Sul, do consórcio lidera- a um contrato de um traba- canos, os contratos incertos contratos incertos que numa dessas vezes a Eni
do pela Eni, contribuiu até o lhador moçambicano na Eni. não oferecem nenhuma ga- expulsou um funcionário que
momento com cerca de 100 O mesmo não faz nenhuma rantia social ou bancária, ou O Evidências apurou que depois foi submeter uma quei-
milhões de dólares para o te- relação entre a Eni e o cola- seja, devido ao regime con- há trabalhadores que traba- xa ao tribunal e a Eni foi con-
souro e se espera que, no pró- borador. É assinado entre a tratual precário um funcioná- lham na Eni há mais de quatro denada a pagar indeminização,
ximo ano, haja um incremen- empresa de recrutamento, rio nacional da Eni não pode ou seis anos com contratos a empresa preferiu passar a
to significativo das receitas, denominada Heading Moz e ter crédito bancário, financiar precários. Quando entraram, dar contratos incertos, em que
o que demonstra claramente o trabalhador e já deixa claro uma residência, viatura e etc. a empresa recrutadora cha- a qualquer momento pode
que a empresa está a facturar que a Eni é seu cliente e que o “O actual director da Eni mava-se Aldalia e nessa altura mandar embora qualquer pes-
milhões com a exploração contrato é precário. Rovuma Basin, Giorgio Vici- os contratos eram por perío- soa e não ter nenhuma res-
do gás. Contudo, os obreiros É que, não obstante a ter- ni, deixou claro que não pre- do certo. Sucede, porém, que ponsabilidade”, sublinhou um
desta proeza, no caso a mão- ceirização dos contratos, os tende recrutar directamente a após despedir trabalhadores trabalhador revoltado.
-de-obra local, relatam um trabalhadores nacionais estão mão-de-obra local, a menos sem justa causa e perder os A mudança dos regimes
ambiente laboral tenebroso e ligados à Eni através de con- que haja uma imposição por casos no tribunal, a Eni foi contratuais coincidiu com a
desafiante. tratos com prazo incerto, o parte do Governo moçambi- condenada a indemnizar o mudança da empresa recruta-
Através de uma exposição que permite que a empresa cano”, revelam os queixosos. trabalhador e ainda pagar pelo dora e, segundo apurou o Evi-
que o Evidências teve aces- possa a qualquer momento Com o início da produção período de contrato que falta- dências, há casos de trabalha-
so, os trabalhadores moçam- despedir os trabalhadores sem do gás natural liquefeito em va. dores que sequer conhecem o
bicanos na Eni denunciam direito a nenhuma indemni- Moçambique no terceiro se- Vendo-se ameaçada de pa- escritório da agência Heading
tratamento desigual e discri- zação e muito menos algum mestre de 2022, as empresas rar na barra do tribunal mais Moz que assegura os seus
minatório por parte daquela benefício social e económico, do CORAL FLNG SA e a vezes, como resposta, a em- contratos.
multinacional italiana. Para se como são os casos de bónus Eni decidiram dar bónus de presa Eni em Moçambique
eximir de suas responsabili- que muitas vezes são distribuí- produção aos seus funcioná- decidiu instruir a empresa Al- Funcionários italianos e de
dades perante os contratados, dos pelos estrangeiros, maiori- rios pela sua contribuição no delia, empresa recrutamento outras nacionalidades tem
a empresa tem estado a usar tariamente italianos, enquanto alcance da grande meta na- que na altura prestava servi- tratamento diferente
empresas de recrutamento os nacionais engolem a saliva. cional e mundial, que colo- ços, a passar recrutar a mão-
para rubricar contratos com a Os trabalhadores nacio- ca Moçambique entre os 10 -de-obra moçambicana com Diferente dos trabalhado-
sua mão-de-obra local. nais relatam casos de des- maiores produtores de gás. contratos incertos. No ano res moçambicanos, informa-
Sendo assim, apesar de pedimentos sem justa causa Infelizmente, os trabalhadores de 2020, a empresa Heading ções em poder do Evidências
prestarem trabalhos directa- e intimidação constante em com contratos incertos foram Moz ganhou o contrato de indicam que os trabalhadores
mente à Eni e contarem como aproveitamento ao facto de os excluídos do bónus de produ- providenciamento de mão-de- italianos e de outros países
colaboradores da empresa, os contratos serem precários ou ção e os mesmos não tiveram -obra local, mas por instrução estrangeiros têm contratos a
trabalhadores nacionais não incertos, revelando tratar-se direito a retroactivos no ano da Eni manteve os contratos
têm nenhuma relação jurídica de um acto de má-fé, segundo 2023, depois da revisão sala- incertos. Continua na pag 03
 3
Sandura Ambrósio defende união dos membros para
salvação do “legado de Dhlakama”
Sandura Ambrósio diz que a Renamo precisa de um líder
DESTAQUE
com o carisma de Afonso Dhlakama ou com 80% dele, o que,
no seu entender, Ossufo Momade não tem, e acusou Momade
de ter sido comprado pela Frelimo. Em sua defesa, o Presidente
da Renamo diz que tudo que tem feito é em defesa dos membros
28 DE NOVEMBRO DE 2023
do Partido e dos moçambicanos em geral.

Continuação da pag 02

prazo certo ou indetermina-
do, assinados directamente
com a Eni e com remunera-
ção que chega a ser 8 vezes
ou mais do que dos moçam-
bicanos com mesmas qualifi-
cações e a fazerem a mesma
actividade.
Segundo revelam os fun-
cionários, a média de salários
até mesmo em África.
Enquanto isso, os traba-
lhadores italianos e outros
estrangeiros recebem entre
8000 e 20 mil dólares por
mês, correspondente a cerca
de 504.000,00 e 1.260.000,00
meticais e com direito a uma
série de regalias pagas pela
empresa. Os estrangeiros em
ral liquefeito traz muitos gan-
hos ao país e não só, através
dos impostos e emprego da
mão-de-obra local. Contudo,
desde que começou a produ-
ção do gás natural através do
projecto CORAL SUL, a rea-
lidade tem sido completamen-
te diferente. Os trabalhadores
moçambicanos na empresa
Eni, pouco ou nada se tem
beneficiado dos ganhos, Pri-
meiro, os moçambicanos tra-
balhadores, na empresa Eni,
são altamente qualificados,
com diplomas, certificados e
treinamentos de gabarito in-
ternacional. Mas apesar disto
tudo desde o começo da pro-
dução do gás natural, os salá-
rios continuam muito abaixo
em relação aos seus colegas
expatriados, a média do sector
no país e aos seus colegas tra-
balhadores da Eni em todas
as partes do mundo, especial-
mente em África”, protestam.
tual. Contudo, estamos cien-
tes de que grande parte dos
colaboradores afectos à Eni
estão em regime de contrato
por tempo indeterminado”,
refere a empresa, escusando-
-se de usar o termo “período
incerto” que vem nos contra-
tos.
Em Moçambique, a Eni
conjuntamente com os seus
parceiros da Área 4 emprega
directamente mais de 200 co-
laboradores moçambicanos e
investe de forma continua na
formação e capacitação dos
seus colaboradores locais
Sobre relatos de casos de
despedimentos sem justa cau-
sa e intimidação aos moçam-
bicanos, aproveitando-se do
facto de terem contratos pre-
contudo diz que dá condições
de subsistência aos estrangei-
ros.
“Por outro lado, no âmbito
do desenvolvimento das suas
actividades, a empresa tem
como um dos seus principais
objectivos o desenvolvimen-
to do capital humano e das
suas competências profissio-
nais com vista a contribuir
para o crescimento de todos
os seus colaboradores. Nes-
te âmbito, a ERB tem neste
momento 11 colaboradores
nacionais no estrangeiro, dos
quais quatro estão em missões
profissionais internacionais e
sete a fazer mestrado especia-
lizados em Universidades na
Itália. Além disso, a empresa
está num processo gradual de

Eni Rovuma Basin

reconhece que há
trabalhadores com
contratos precários

dos moçambicanos é de 1000
a 1500 dólares (cerca de 64
mil a 144 mil meticais) e estão
há quatro anos sem nenhuma
revisão, o que os coloca abai-
xo da média salarial da indús-
tria de oil & gas no mundo e
Moçambique têm, entre ou-
tros, o direito a casa, carro
com motorista particular, acti-
vidades sociais pagas (ginásio,
viagens dentro e fora do país)
e escola para os seus filhos.
“A produção do gás natu-
Respondendo a partir da
Itália a um questionário do
Jornal Evidências, a Eni Ro-
vuma Basin reconheceu que
utiliza trabalhadores contra-
tados que podem ter períodos
contratuais diferentes, depen-
dendo da necessidade do ne-
gócio e da tipologia do traba-
lho, sempre em linha com a
legislação local.
“A entidade empregadora
destes colaboradores é um
provedor externo e é respon-
sável pela sua gestão contra-

Aviso cários/incertos, a Eni diz que

“a Empresa não tem nenhu-
ma informação de situações
A empresa LCL-Lúrio Comunicação, Lda., proprietária do similares”.
Jornal Evidências avisa a todos clientes que tenham facturas em Sobre as informações de
atraso, relativas a subscrição do ano 2023 para procederem com à que os trabalhadores italianos
e de outros países estrangei-
regularização no prazo máximo de trinta dias. A não regularização ros têm contratos diferentes
dentro do prazo estabelecido, poderá afectar o fornecimento do dos moçambicanos e com re-
jornal para o ano 2024, cujo processo de renovação já iniciou. muneração que chega a ser 8
vezes que dos moçambicanos
a fazerem a mesma activida-
Departamento Comercial: Cidade de Maputo, Av. 24 de Julho nº 4318, 1º andar esquerdo de, a empresa alega questões
de confidencialidade para
Contactos: E-mail: comercial@evidências.co.mz |
reservar-se ao direito de não
admin@evidências.co.mz | 861738891 | 840401038 partilhar certas informações
devido a sua sensibilidade,
nacionalização de certas posi-
ções ocupadas por expatria-
dos. Os trabalhadores expa-
triados são relocados nos seus
países de origem para traba-
lhar no estrangeiro e como re-
sultado a empresa tem a obri-
gatoriedade de proporcionar
determinadas condições de
subsistência. Gostaríamos de
vincar que os trabalhadores
moçambicanos que estão nes-
te momento no estrangeiro
beneficiam-se também das
mesmas condições nos países
Continua na pag 23
 4 DESTAQUE Renamo submete queixa-crime contra
Bernardino Rafael
A Renamo, através de Venâncio Mondlane, cabeça-de-lista, e
outros membros do partido, dirigiu-se a Procuradoria-Geral da
República para submeter uma queixa-crime contra o Comandante
28 DE NOVEMBRO DE 2023 Geral da PRM, Bernardino Rafael, e acusam-no de uso excessivo
da força e violação dos direitos humanos durante o processo elei-
toral, e exige responsabilização.

Juristas dizem que juízes do CC podem ter metido os pés pelas mãos
Conselho Constitucional “fez muita confusão” na interpretação
das suas competências
Não é competência do CC contar votos, mas sim validar ou recomendar anulação ou repetição
“Há, claramente, situações justificam a anulação de eleições” – Baltazar Fael

O
Conselho Constitucional (CC) validou e
proclamou os resultados das VI Eleições
Autárquicas ocorridas a 11 de Outubro do
ano em curso depois de realizar operações
matemáticas que levaram à alteração dos
dados de centralização feita pela Comissão Nacional de
Eleições (CNE). Em meio a divergência de opiniões, al-
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guns juristas entendem que o CC não entendeu correc-

tamente as suas atribuições ao reconhecer a existência
de irregularidades que levaram à alteração do que devia
ser o resultado do escrutínio e ainda assim não anular as
eleições em autarquias como Matola, Cidade de Maputo,
Quelimane, Vilanculos, entre outros, tal como decidiu no
caso de Marromeu. E mais, questionam a base legal que o
Conselho Constitucional usou para chamar para si a com-
petência de contar votos, em vez de recomendar que os
órgãos eleitorais o fizessem, como de resto havia decidido
alguns tribunais.
Abanês Ndanda a ocorrência de irregularida- diz no seu acórdão, mas no fluenciar o resultado das elei-
O Conselho Constitucional Marracuene, Xai-Xai, Praia de des que realmente alteraram mesmo validou eleições na ções, o que em caso positivo
recebeu e julgou praticamente Bilene, Chokwe, Manjacaze, o que poderia ser os resultado Cidade de Maputo, Matola, leva à anulação das eleições”,
como primeira e última ins- Vilankulo, Beira, Marromeu, das eleições, no que refere a Vilanculos, Nampula, Queli- considera Baltazar Fael.
tância – já que anulou e des- Moatize, Quelimane, Maganja qual cabeça-de-lista ficaria o mane, entre outros, mesmo Nisto, a divergência tem
edil e ao número de mandatos tendo ocorrido situações que que ver com o facto de, no
nas assembleias municipais influíram no resultado e que caso concreto, o Conselho
pelos concorrentes. foi sendo alterado de fase no Constitucional, mesmo reco-
O Conselho Constitucional Entretanto, noutros pro- apuramento”, defende Fael. nhecendo a existência de tais
só valida a eleição, quando cedeu a alteração dos núme- situações, não ter decidido
ro de mandatos, com recurso O Conselho Constitucional pela anulação do escrutínio.
as irregularidades verificadas à “reverificação dos dados” contrariou-se no acórdão Na explanação de Baltazar
na mesma não possam influir (linguagem usada pelo CC, Fael, para quem a validação e
mas que não está alicerçada O questionamento em re- proclamação dos resultados é
no resultado eleitoral, ou em nenhuma base jurídica), lação à apreciação feita pelo uma decisão residual (ocor-
seja, quando foi garantida a noutros mandou repetir a CC tem a ver com o que efec- rendo somente quando não há
liberdade de voto, a liberdade votação em algumas Assem-
bleias de Votos (como os ca-
tivamente devia aquele órgão
fazer, conforme o estabeleci-
irregularidades aptas a influir
no resultado geral), “houve
e vontade eleitoral e a verdade sos de Nacala-Porto, Milange do legalmente sobre as suas situações em que se falava de
eleitoral. Isto é o que o CC diz e Guruè) e num concretamen-
te – Marromeu – decidiu pela
competências.
Só para citar um dos vários
reverificação de votos, e o re-
sultado foi a mexida nos nú-
no seu acórdão, mas no mesmo anulação de toda eleição de 11 exemplos, pode se ler no acór- meros de mandatos, havendo
validou eleições na Cidade de de Outubro.
Em contacto com o Evi-
dão do CC que “no que diz
respeito a Cidade de Quelima-
caso até em que os que tinham
sido declarados vencedores
Maputo, Matola, Vilanculos, dências, o jurista Baltazar ne, os resultados decorreram (listas que garantiam a edili-
Nampula, Quelimane, entre Fael entende que o Conselho da reverificação dos dados, dade) acabaram perdedores,
Constitucional fez muita con- de acordo com a prova pro- com base na redistribuição do
outros, mesmo tendo ocorrido fusão na interpretação daqui- duzida, tendo resultado que número de votos, havendo ca-
situações que influíram no lo que são as suas competên- a Renamo passou de 36.399, sos de dezenas de milhares de
cias e mesmo dos tribunais de 22 mandatos, a 39.021 votos, votos, e esta é uma situação
resultado e que foi sendo distrito como primeiras ins- 23 mandatos, e a Frelimo de que devia justificar a anulação
alterado de fase no apuramento. tâncias no contexto do con- 38.595votos e 23 mandatos a de eleições”.
tencioso eleitoral. 35.973 votos e 22 mandatos”, Este é um entendimento
qualificou os tribunais de dis- da Costa, Morrumbala, Alto- “O Conselho Constitucio- podendo se notar terem havi- não corroborado pelo espe-
trito – 40 recursos, de 32 dos -Molócue, Milange, Gurué, nal só valida a eleição, quando do situações que influíram no cialista em direito eleitoral,
65 municipios onde se reali- Nampula, Angoche, Nacala- as irregularidades verificadas resultado, que de acordo com Guilherme Mbilana, em con-
zaram as eleições autárquicas, -Porto, Monapo, Ilha de Mo- na mesma não possam influir a grande premissa a eleição tacto com o Evidências.
nomeadamente nas autar- çambique, Chiure, Cuamba, no resultado eleitoral, ou seja, deveria ter sido anulada. “Não é a primeira vez que
quias da Cidade de Maputo Mandimba e Insaca. quando foi garantida a liber- “As competências do CC o Conselho Constitucional
(Kampfumo, Kamubukwana, O resultado é que as de- dade de voto, a liberdade e em relação ao contencioso assim procedeu em acórdão.
Kamavota e Nlhamankulu), cisões, mesmo nos casos em vontade eleitoral e a verdade é verificar se terão ocorrido
Matola, Matola-Rio, Manhiça, que o próprio CC reconheceu eleitoral. Isto é o que o CC situações que pudessem in- Continua na pag 05
 5
Venâncio Mondlane acusa juízes do Constitucional de
faltarem com a verdade
Facebook foi o local escolhido por Venâncio Mondlane, Cabeça-de-Lis-
ta do Partido Renamo na Cidade de Maputo, para atacar os juízes conselhei-
DESTAQUE
ros do Conselho Constitucional, acusando-os de terem burlado os eleitores
e faltado com a verdade que consta nas actas e editais verdadeiros das elei-
ções. Mondlane diz que o melhor lugar do Acórdão do CC é na latrina, por
conta das inverdades que nele constam, o cabeça-de-lista acrescentou ainda
28 DE NOVEMBRO DE 2023
que continuará lutando pela justiça porque o povo votou.

CNE propôs 10 de Dezembro para novas eleições

Repetição das eleições confiada aos mesmos directores que
comandaram a pior fraude da história

A
repetição das eleições em algumas assem- 080581-04, com 800 eleitores,
bleias de voto nas autarquias de Nacala- Escola Primária Completa de
-Porto, Milange e Goruè, e na totalidade em 07 de Abril, 080581-06, com
Marromeu poderá ocorrer a 10 de Dezembro 797 eleitores.
que se avizinha. Esta é a proposta feita pela Em Gurué, Província da
Comissão Nacional de Eleições ao Conselho de Ministros, Zambézia, serão repetidas as
que poderá homologar a mesma ainda hoje. Entretanto, eleições em um total de 9 me-
ao que tudo indica, o processo poderá ser dirigido pelos sas abrangendo um universo de
mesmos directores que lideraram um amplo esquema de 4977 eleitores.
manipulação de resultados, no que já é conhecido como a Trata-se da Escola Primá-
pior fraude da história do país. ria Completa Montes Namú-
Evidências li, mesa n.º 080952-01, com
800 eleitores, Escola Primária
A proposta, aprovada no A legislação eleitoral autár- Completa - Nacuecue, mesa n.º
último domingo (26.11) pelo quica em Moçambique esta- 080938 -01, com 800 eleitores
STAE, já foi enviada à Co- belece que quando é declarada na mesa n.º 080938-02 com 800
missão Nacional de Eleições nula a eleição de uma ou mais cala-Porto, Milange e Gurué, 090898-02A - 400 eleitores e) eleitores; 080938-03 com 800
(CNE) e prevê um gasto de mesas de assembleia de voto, mandando, portanto, repetir o 090898-02B/090898-03 - 521 eleitores e 080938-04 A - com
pelo menos 21 milhões de me- "os actos eleitorais correspon- processo de votação em algu- eleitores, e na Escola Primária 400 eleitores; mesa n.º 080938-
ticais para a operação eleitoral dentes são repetidos até ao mas assembleias de voto. Nis- Completa Murrupelane, mesas 05/080938-04B com 436 elei-
nos quatro municípios onde o segundo domingo posterior à to junta-se Marromeu como n.º: a) 090854-01 - 800 eleitores; tores, Escola Secundária Geral
Conselho Constitucional não decisão do Conselho Consti- autarquia, que viu o escrutínio b) 090854-02 - 800 eleitores; de Gurué, mesa n.º 080941-02,
validou as eleições de 11 de tucional, em data a fixar pelo de 11 de Outubro anulado na c) 090854 - 03 - 800 eleitores; com 800 eleitores e na Escola
Outubro. Conselho de Ministros, sob totalidade, devendo igualmente d) 090854-04 - 800 eleitores; Primária Completa Moneia,
Segundo apurou o Evidên- proposta da CNE". se repetir. e) 090854-05 - 800 eleitores; mesa n.º 080933 -07, com 41
cias, os mais de 21 milhões de “Em obediência ao dispo- Em Nacala-Porto, na Pro- f) 090854 - 06A - 400 eleito- eleitores; mesa n.º 080933-06
meticais destinam-se a despesas sitivo legal acima citado, sobre víncia de Nampula, serão repe- res; g) 090854-06B/090854- A, com 500 eleitores.
como ajudas de custo, transpor- a nulidade das eleições, propo- tidas as eleições em um total de 07/090861-03 - 449 eleitores; “Não valida, por nulidade da
te e toda logística necessária, e a mos a V. Excia, que a repetição 18 mesas, abrangendo um uni- h) 090861-01 - 800 eleitores; i) eleição, toda votação realizada
Comissão Nacional de Eleições da eleição nas mesas referen- verso de 12893 cidadãos eleito- 090861-02 - 800 eleitores. no Município da Vila de Marro-
não esclarece na nota se tem ou ciadas seja realizada no dia 10 res. Trata-se da Escola Primária Em Milange, na Província meu, nos termos do número 1
não este valor. Igualmente, não de dezembro de 2023", lê-se Completa Cristo é Vida, mesas da Zambézia, serão repetidas do artigo 144 da Lei 7/2018, de
deixa claro se haverá ou não na proposta do STAE à CNE n.º: a) 090896-01 - 800 eleitores; as eleições em um total de 3 3 de Agosto, dada a influência
mexida nos órgãos eleitorais, o e que vai estar em análise esta b) 090896-02 - 800 eleitores; mesas, abrangendo um univer- que os ilícitos eleitorais tiveram
que deixa depreender que mui- terça-feira, no Conselho de c) 090896-03 - 800 eleitores; so de 20397 eleitores. Trata-se na expressão da vontade eleito-
to provavelmente os directores Ministros. d) 090896-01 - 800 eleitores; da Escola Primária Completa ral e no exercício de direitos pe-
“arquitectos” da maior fraude O Conselho Constitucional e) 090896-05-800 eleitores; f) Milange - Sede - 080585 - 10, los delegados de candidatura”,
da história poderão voltar a co- decidiu pela não validação das 090896-06 - 723 eleitores; g) com 800 eleitores, Escola Pri- pode ler-se no acórdão do CC
mandar a operação. eleições das autarquias de Na- 090896-01 - 800 eleitores; h) mária Completa 07 De Abril, que determina a repetição.

Continuação da pag 06
Talvez não se tenha nota-
do tanto quanto nestas elei-
ções”, disse Mbilana à nossa
reportagem sobre a alteração
de resultados fornecidos pela
Comissão Nacional de Elei-
ções. Mbilana se manifestou
em sentido de não ver pro-
blema algum ao assim proce-
der o CC.
Conselho Constitucional
presumiu competências e
incompetências
Para Baltazar Fael, o CC
fez uma ‘salada’ no que se
refere às competências, tan-
to suas quanto dos tribunais
de distrito.
“E de notar que a atri-
buição de competências aos
tribunais judiciais de distrito,
como tribunais eleitorais de
primeira instância, não foi
precedida de uma harmo-
nização e sistematização da
legislação vigente que previa
recursos graciosos eleitorais
desde a mesa da assembleia
de voto até à Comissão Na-
cional de Eleições, de onde
se podia recorrer ao Con-
selho Constitucional. Esta
previsão legal fez desenca-
dear um fenómeno estranho
na administração da justiça
eleitoral, na medida em que
o Conselho Constitucional
decidia os recursos das de-
cisões dos tribunais judiciais
de distrito sobre as decisões
das comissões distritais ou
de cidade de eleições”, lé-se
no acórdão do CC.
Para o colectivo de juí-
zes do Conselho Constitu-
cional (já que o acórdão foi
consensual entre eles), o
entendimento é de que “se
a competência de validação
está concentrada no Conse-
lho Constitucional, a com-
petência de prática de acto
contrário está, por maioria
de razão, reservada ao mes-
mo órgão”.
Na verdade, este posicio-
namento tem como ideia
geral a incompetência dos
tribunais de distrito para de-
clarar nula alguma eleição,
referindo-se a uma “regra
da competência implícita e
do princípio do paralelismo,
segundo o qual, quando a
lei atribui uma competência
a um órgão, será este órgão
também competente para
a prática do acto contrário,
usando a mesma forma”.
É aqui onde Baltazar Fael
considera que o Conselho
Constitucional meteu os
pés pelas mãos, ao conside-
rar competência implícita, o
que viola um dos princípios
sacrossantos de direito ad-
ministrativo em matéria de
competência, no sentido de
que ‘a competência não se
presume’.
“O Conselho Constitucio-
nal entendeu que o tribunal
inferior não pode anular as
eleições. Isto foi uma mera
presunção, sendo verdade
que a competência não se
presume”, Baltazar Fael.
 6 SOCIEDADE Ministra diz que horas extras estão a ser pagas, mas
ninguém confirma
A ministra da Educação e Desenvolvimento Humano, Car-
melita Namashulua, voltou a dizer que o sector já iniciou o paga-
mento de horas extras, numa altura em que os professores amea-
28 DE NOVEMBRO DE 2023 çavam boicotar o processo de exames em curso. Entretanto, até
aqui nenhum professor com horas extraordinárias confirma ter
recebido o pagamento.

Descobriram que tinha recursos, distribuíram-se DUATs e ficaram a espera para facturar
Tubarões “caça indemnizações” travam exploração de
grafite em Ancuabe
Donos dos DUATs são pessoas bem posicionadas com informações privilegiadas e/ou testas de ferro
As terras estão ociosas
Procurador de Inhambane entre os donos das terras

A
Grafex Limitada, subsidiária da Triton Mine-
rals Ltd., está desde 2015 a enfrentar dificulda-
des para o arranque da exploração de grafite
numa das maiores reservas do país, no distrito
de Ancuabe, devido a uma disputa de terra com
um grupo de sete cidadãos que, aparentemente, depois de
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ

terem informação privilegiada de ocorrência daquele recurso

natural, obtiveram DUATs a velocidade da luz e hoje exigem
uma choruda indemnização por uma terra que desde que fo-
ram atribuídos está ociosa. Entre os supostos proprietários
da terra que, curiosamente, obtiveram os referidos espaços
cinco meses depois do Governo ter aprovado a concessão da
Grafex, constam procuradores, membros da Frelimo, diri-
gentes políticos e simples testas de ferro.
Redacção/Adolfo Manuel - Pemba
Um importante empreen- da no Distrito de Ancuabe,
dimento económico, com cujo processo de DUAT em
potencial para galvanizar a tramitação está registado sob
economia da província de nr. 1680.
Cabo Delgado e do país em A Grafex Limitada só fi- sentando DUATs. as autoridades comunitárias nunca se pronunciaram para
geral, está paralisado, tudo cou a saber da existência dos Os referidos sete DUATs, locais, nas parcelas em refe- a implementação de projetos
porque um grupo de sete ci- supostos titulares do espaço segundo documentos que o rência nunca foram desenvol- de rendimento.
dadãos reclama a titularida- da sua concessão quando já Evidências teve acesso, com vidas actividades pelos deten- “As tais pessoas, que não
de do mesmo espaço onde estava a mobilizar equipa- dimensões que variam entre tores de DUAT, continuando conheço, ocuparam as terras
o Governo concessionou à mentos e maquinarias para 200 e 350 hectares, foram, assim a mata natural”, lê-se desde 2015, enquanto a Gra-
empresa Grafex Limitada em o local da exploração, pois estranhamente, emitidos no no relatório. fex já estava a fazer prospec-
2015. apareceram os cidadãos bem mesmo dia, ou seja, a 31 de Face a situação das parce- ção da área, daí que não es-
A empresa GRAFEX, Lda posicionados e outros que Dezembro de 2015, destina- las registadas sob processos tou a entender o critério que
dos à actividade agro-pecuá- cadastrais de DUAT núme- se usou para a área pertencer
ria. ros 1406, 1407, 1408, 1409, a mais pessoas”, declarou.
Face a situação das Entretanto, segundo um 1410, 1419 e 1420, a comis- O secretário permanente

parcelas registadas sob

relatório de fiscalização são de fiscalização propõe de Ancuabe diz que a ocio-
das parcelas com registo de Extinção dos Direitos de Uso sidade do espaço está a atrair

processos cadastrais de DUAT na área de concessão

mineira 9132C, constatou
e Aproveitamento da Terra
(DUATs) por incumprimen-
malfeitores e animais ferozes,
e lembra que num passado

DUAT números 1406, que os seus detentores não

cumprem com os planos de
to dos planos de exploração.
No entanto, para garantir
não muito distante os insur-
gentes acamparam ali antes

1407, 1408, 1409, 1410, exploração/projectos para os

quais foram atribuídos, o que
que os 07 (sete) detentores
de DUAT possam exercer as
de se lançarem à comunida-
de.

1419 e 1420, a comissão reforça a ideia de que pode

de fiscalização
propõe Extinção dos
Direitos de Uso e
Aproveitamento da
Terra (DUATs) por
incumprimento dos
planos de exploração.
é titular da concessão mi-
neira 9132C, com cerca de
10.274,70 hectares, localiza-
se supõe que sejam testas
de ferro de pessoas ligadas à
nomenclatura política apre-
se tratar de “caça indemni-
zações” que podem ter tido
informação privilegiada e
correram para se posicionar
numa área em que sabiam
que podiam tirar dividendo.
Como tal, conclui a equipa
multissectorial de fiscaliza-
ção, desde que foram conces-
sionadas em 2015, as áreas
não foram desbravadas para
dar lugar a implementação
das actividades;
“Desde a autorização
dos DUATs (Dezembro de
2015), não foram desenvolvi-
das quaisquer actividades do
plano de exploração/projec-
to Agro-Pecuária. Segundo
actividades em outros luga-
res, também propõe-se que
“Além de retardar o de-
senvolvimento daquelas co-
concordem com a proposta
máxima de negociação/com-
munidades, os líderes rela-
tam que a população teme
pensação avançada pela em-
presa.
circular naquela área porque
há animais ferozes. O local
Governo distrital diz não
tem sido também esconderi-
jo para malfeitores, tal como
saber que critério
foi usado
fizeram os insurgentes num
passado recente, que usaram
Contactado pelo Evidên-
as matas do acampamen-
to para depois aterrorizar
cias, o secretário permanen-
te do Governo do Distrito
as comunidades de Nandu-
li, entre outras, forçando o
de Ancuabe, Saide Amade,
disse desconhecer os referi-
abandono das famílias para
outras regiões consideradas
dos titulares e considera que seguras”, declarou o secretá-
a retenção das terras está a rio permanente.
impedir o desenvolvimento
local, visto que os ocupantes Continua na pag 08
 FICHA TECNICA
Registro: 011/GABINFO-DEP/2020
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JORNALISTAS: Duarte Sitoe,
Renato Cau e Aldo Matsinhe |
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CORRESPONDENTES: Beira - Jossias
Sixpence | Nampula – Francisco Máquina,
Pemba - Adolfo Manuel
COLUNISTAS EFECTIVOS: Luca Bussotti,
Estevão Chavisso, Felisberto Botão,
Alexandre Chiúre, Teodósio Camilo
Propriedade de:
Numero de Registro de Entidade
Legais: 101353478
EDITORIAL
28 DE NOVEMBRO DE 2023
Os arranjos do CC para abrandar
os ânimos
O Conselho Constitucional
(CC) já deu o seu veredito que
confirma a fraude generalizada
nas sextas eleições autárquicas,
realizadas no dia 11 de Outubro
último. No seu acórdão n° 48/
CC/23, o CC altera os resul-
tados, dando vantagem à opo-
sição, nos municípios da Ma-
tola Rio, Matola, Marracuene,
Maputo, Xai-Xai, Quelimane,
Chiúre, Alto-Molócuè, Vilanku-
lo. Enquanto nos primeiros à
vantagem a oposição foi na re-
distribuição de assentos, nos úl-
timos quatro a mexida signifi-
cou recuperação das autarquias
à favor da Renamo.
Pode-se dizer que estamos
perante a um documento que,
sem contextualizar, comprime
o espectáculo pós-eleitoral, mas
naturaliza a fraude e compensa
o seu autor, quando devia trazer
ao público para ser responsabili-
zado de forma exemplar.
Um dos grandes méritos do
acórdão do CC não é a reposi-
ção da justiça eleitoral, uma vez
que faltam detalhes de como
o CC procedeu nas suas equa-
ções para atribuir vitória dos
quatro municípios a Renamo
quando existem casos de muni-
cípios com queixas similares ou
piores, onde este órgão decidiu
manter tudo como está devido
a sua posição estratégica, mas
está no facto de confirmar que
de facto as últimas eleições au-
tárquicas foram fraudulentas e
não conferem legitimidade que
se procura aos supostos eleitos.
Restando aos tribunais a tarefa
de expor os criminosos que de-
fraudaram os resultados e, por
consequência, responsabilizar
de forma exemplar não apenas
os executores, mas também os
7
representantes das instituições
dos que manipularam a vontade
do povo, referimo-nos ao PRM,
na pessoa do seu comandante, e
a CNE, na pessoa do seu Presi-
dente.
Dos resultados do CC, ficou
cristalina a ideia de que este
órgão foi usado para gestão de
ânimos, no lugar de conferir se-
riedade ao processo eleitoral e
devolver a justiça, transparên-
cia e credibilidade que devem
acompanhar rigorosamente as
eleições, pela sensibilidade do
próprio processo que mexe com
as escolhas do povo, o berço do
Estado.
A influência que a Frelimo
(Governo) demonstrou sobre o
CC coloca-nos novamente a ne-
cessidade de voltar à discussão
sobre a separação de poderes,
além de que neste caso estamos
perante uma relação promís-
cua, que não envolve apenas a
influência do Governo/Frelimo
sobre o CC, mas a relação dos
presidentes da República e do
CC, Filipe Nyusi e Lúcia Ribei-
ro, respectivamente, que têm re-
lação de compadre e comadre.
Logo, a independência, mesmo
que estejamos perante a um ór-
gão cujas decisões são colegiais,
está beliscada.
São estas as nuanças que po-
dem ser extraídas do longo do-
cumento do CC, que não con-
seguem explicar como Frelimo
ganhou Maputo e Matola, como
a ND perdeu em Guruè, e o que
significou a fraude eleitoral ge-
neralizada assumida por este
órgão para a credibilidade deste
processo eleitoral. Mas, pode-se
especular a razão de manter as
equações dos arranjos em ocul-
to e o modo de ser exposto.
 8 SOCIEDADE Interrompida a cobrança no parque de estacionamento do
Aeroporto de Mavalane
Segundo um comunicado de imprensa a que tivemos acesso, a me-
dida visa permitir a requalificação do parque e instalação de um novo
sistema que possa conferir aos utentes comodidade no seu uso. Esta
medida imposta pelos Aeroportos de Moçambique chega numa altura
28 DE NOVEMBRO DE 2023 em que muitos usuários e passageiros vinham reclamando da qualidade
dos serviços prestados pela empresa pública e entra em vigor a partir do
dia 29 de Novembro corrente.

Trabalhadores da Unitrans encantados com plataforma

M-Contribuição do INSS

A
plataforma electrónica usada no sistema de se-
gurança social obrigatória, gerido pelo INSS, de-
nominado M-Contribuição (Minha Contribuição,
Meu Benefício), é apontado, por muitos trabalha-
dores, como sendo uma das inovadoras facilidades
introduzidas por esta instituição, no âmbito da sua informatiza-
ção e modernização geral do sistema.

Esta constatação foi fei- ga, a Unitrans Moçambique,

ta, há dias, durante uma pa- mostraram-se satisfeitos pela
lestra ministrada pelo INSS introdução da plataforma M-
em Xinavane, no distrito de -Contribuição, segundo afir-
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ

Manhiça, província de Mapu- maram, a mesma permite-lhes

to, onde os trabalhadores da controlar, pessoalmente, a sua
situação contributiva no siste-
ma, sem precisar de se deslo-
Os 500 car aos balcões do INSS.
trabalhadores Lançado em 2017, pelo
que foram alvo Presidente da República, Fi-
da palestra na lipe Jacinto Nyusi, a platafor-
Unitrans, em ma tem sido vista como um
mecanismo que veio contri-
Xinavane, foram
buir na redução da falta de
sensibilizados sobre canalização de contribuições
diversas matérias por parte de alguns contri-
da legislação, com buintes (empresas ou entida-
destaque para o des patronais), dado que os
Regulamento da beneficiários (trabalhadores)
Segurança Social têm feito o controlo directo
e permanente da sua situa-
Obrigatória, ção contributiva para o siste-
aprovado pelo ma, mais concretamente se o
Decreto nº 51/2017, seu empregador ou entidade
de 9 de Outubro, patronal, que por lei é quem
através da brigada deve descontar nos salários e
enviada para o canalizar ao INSS, está a cum-
efeito, chefiada prir com o estipulado ou não.
Os 500 trabalhadores que
pelo delegado foram alvo da palestra na
distrital do INSS da Unitrans, em Xinavane, foram
Manhiça... sensibilizados sobre diversas
matérias da legislação, com
empresa de prestação de ser- destaque para o Regulamento
viços, em transporte de car- da Segurança Social Obriga-
tória, aprovado pelo Decreto
nº 51/2017, de 9 de Outubro,
através da brigada enviada
para o efeito, chefiada pelo
delegado distrital do INSS da
Manhiça, Camal Ragú, sobre a
importância de contribuírem
para a segurança social, como
garantia do seu futuro e dos
seus familiares, não apenas
em situação de incapacidade
para o trabalho, como tam-
bém para ter acesso aos de-
mais benefícios previstos.
Durante a palestra, os tra-
balhadores foram esclareci-
dos, detalhadamente, sobre
a possibilidade de poderem
recorrer à plataforma M-
-Contribuição para aceder à
informação relacionada com
a sua situação contributiva no
sistema, a partir de qualquer
lugar e através de meios elec-
trónicos de comunicação, tais
como o computador, tablet,
Ipad e o telefone, assim como
sobre a possibilidade de poder
interagir com o INSS. Para o
efeito, tiveram a possibilidade
de aprender como aceder à pá-
gina de internet do INSS, ou
seja, o endereço electrónico
www.inss.gov.mz, que contém
todos os serviços prestados
por esta instituição, os bene-
fícios que o sistema oferece a
quem estiver inscrito no siste-
ma e paga regularmente, entre
outras informações.
Para alguns presentes, ain-
da houve a oportunidade para
emitir os seus cartões de be-
neficiário, tendo a brigada
frisado, igualmente, a perti-
nência de os trabalhadores
que deixam de trabalhar para
a empresa continuarem a ca-
nalizar as contribuições para
a segurança social, de modo
a não perder o seu direito a
prestações pagas pelo INSS.
Até ao mês de Setembro
passado, a delegação provin-
cial do INSS em Maputo con-
tava, inscritos no sistema, com
18.966 contribuintes, 498.116
beneficiários (trabalhado-
res por conta de outrem),
5.630 trabalhadores por con-
ta própria (TCP), para além
de 5.545 beneficiários que se
encontram em manutenção
voluntária no sistema (MVS),
ou seja, trabalhadores que,
apesar de não estarem a tra-
balhar para outrem, como é o
caso de quem tenha perdido o
anterior emprego, ou por ou-
tras razões, decidiu continuar
a contribuir para o sistema,
através do seu próprio bolso,
de forma a salvaguardar os di-
reitos conferidos pelo regula-
mento acima referenciado.

Continuação da pag 06

Grafex diz que os ocupantes exigiram valores exorbitantes

Em conversa com Evidên-
cias, o representante da Grafex,
Adrian Costello, fez saber que
a empresa já tentou conversar
com os supostos titulares, mas
os mesmos garantem que só
vão abandonar as áreas me-
diante o pagamento de valores
considerados exorbitantes e
fora das expectativas.
“Só para ver que o assun-
to está mal parado, fomos a
Inhambane para conversar
com o ‘chefe’ dos possuidores
das áreas e este pediu um valor
muito alto”, disse Costello, sem
avançar os valores estipulados
pelos ocupantes que obtiveram
os DUATs em situações obscu-
ras para barrar a operacionali-
zação da mineradora. A pessoa
contactada em Inhambane é
um procurador que é um dos
detentores da terra.
Por sua vez, o Director do
sector da Terra Ambiente em
Cabo Delgado, Leonidio Vari-
melo, mostrou-se indisponível
para se pronunciar em volta do
assunto, alegando sobreposi-
ção de agenda, tendo colocado
o nosso repórter em espera por
mais de três semanas, até ao fe-
cho desta edição.
Contudo, uma fonte do
sector da Terra e Ambiente
revelou que os ocupantes da-
quela área mineira não estão
para implementar nenhum
projecto rentável, mas sim
ganhar dinheiro através das
indemnizações.
 POLÍTICA
9
Governo volta a responder perguntas a um Parlamento monopartidário
O Governo vai ao Parlamento esta semana, numa altura em que não se
sabe ao certo se a Renamo continuará a boicotar ou não a sua participação na
Assembleia da República em reivindicação contra os resultados das eleições
de 11 de Outubro. A Frelimo, que voltou a quase os momentos do mono-
partidarismo, reuniu-se com o Executivo esta segunda-feira para consertar 28 DE NOVEMBRO DE 2023
a agenda. A Frelimo quer, dentre vários assuntos, explicações do Executivo
sobre o estágio da reabilitação da EN1.

Descobertos votos e editais escondidos nos armazéns do STAE em Guruè

Líder da Nova Democracia diz que acórdão do CC é um embuste e
embrulho jurídico

A
descoberta de votos válidos e editais origi- buste, uma mentira, um em-
nais não contabilizados e que estavam es- brulho jurídico que merece
condidos nos armazéns do STAE no muni- nosso desprezo total. O mais
cípio de Guruè, na província da Zambézia, sensato em Guruè seria repe-
mostram que a Nova Democracia ganhou de tir a eleição em todo municí-
forma folgada as eleições naquele ponto do país, contudo, pio. Neste momento, estamos
a CNE atribuiu vitória à Frelimo. Reagindo, o presiden- a fazer uma avaliação para
te da Nova Democracia diz que a descoberta de votos e fazermos a devida confron-
editais escondidos só provam que o acórdão do Conselho tação com este acórdão. Nós
Constitucional “é um embuste, uma mentira e um embru- combateremos até a última
lho jurídico que merece nosso desprezo total”. gota do nosso sangue. Esta-
remos num combate severo
Evidências
para que a justiça e a verdade
Segundo escreve o portal apercebeu da tendência de eleitoral sejam repostos”, su-
Integrity News Magazine, voto para a Nova Democra- blinhou.
trata-se de votos válidos en- cia, a polícia começou a dis- Segundo Muchanga, por
contrados em sacos invio- parar e as urnas foram des- causa daquilo que chamou de
láveis que dão vantagem ao viadas e os resultados foram de voto durante às eleições metidas em cumprimento da “tramoia”, “os bandidos es-
partido Nova Democracia em apurados em parte incerta, autárquicas de 11 de outubro decisão do Conselho Cons- tão nas montras e estão a ser
Guruè, resultado das eleições nalguns casos sem a presença último naquele município. titucional por violação dos vistos a olho nu”, numa clara
autárquicas de outubro findo. dos delegados. O facto foi despoletado procedimentos eleitorais”. referência ao partido Frelimo.
Assim, aquela quantidade Para além de votos, no ar- por técnicos do STAE em Reagindo, Salomão Mu- “Devia ser uma votação
de votos, cujo número não mazém do Secretariado Téc- Guruè, que a mando do Di- changa, líder da Nova De- em todas mesas porque a
nos foi revelado, não foram nico de Administração Elei- rector Distrital daquele órgão mocracia, entende que a fraude foi em todas as mesas.
contabilizados durante a con- toral (STAE) em Guruè estão eleitoral naquele ponto da descoberta de votos e editais Os disparos, os enchimentos
tagem dos resultados e não igualmente escondidas cópias província fizeram-se ao arma- escondidos no armazém do e toda a brincadeira da Fre-
foram entregues à Comissão triplicadas de editais e folhas zém “para verificar nos kits STAE é a “prova inequívoca limo foi em todas as mesas.
Nacional de Eleições (CNE) de reclamação de delegados se restou tinta, que deve ser da fraude tosca da Frelimo, Nós temos responsabilida-
ao nível do Distrito nortenho de candidatura dos partidos utilizada no processo de repe- em coligação com o STAE, des políticas perante este
da Zambézia. Curiosamente, políticos da oposição que tição das eleições em algumas CNE e a polícia”. país e estamos a dizer que es-
naquele ponto do país, quan- denunciam ilícitos eleitorais mesas no município de Gu- “Este acórdão do Conse- tamos preparados para irmos
do decorria a contagem e se registados nalgumas mesas ruè e Milange, que serão sub- lho Constitucional é um em- ao combate”.

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Porquê
licenciar?
Deveres do Operador
Postal em relação ao
consumidor.

Qual é o papel do
INCM na Regulação
dos Serviços Postais?

Autoridade Reguladora das Comunicações

 10 POLÍTICA Manuel de Araújo critica Mirko Manzoni pelo silêncio
O presidente reeleito no município de Quelimane, Manuel
de Araújo, lançou, este sábado, críticas contra Mirko Manzoni,
chefe do Grupo de contacto e enviado especial do secretário-
-geral da ONU no processo de DDR, pelo silêncio perante as
28 DE NOVEMBRO DE 2023 irregularidades eleitorais e após o uso excessivo de armas pela
PRM durante o processo eleitoral. Manzoni já havia sido acu-
sado por Vitano Singano.

MDM diz que irregularidades beneficiaram partido

no poder

O
presidente do Movimento Democrático com competência para validar
de Moçambique (MDM), terceira força as eleições em Moçambique.
parlamentar, disse, esta segunda-feira, No sábado, o presidente da
que "todas as irregularidades" registadas Renamo, principal partido de
durante as sextas eleições autárquicas be- oposição, também disse que
neficiaram a Frelimo (no poder), reiterando que o seu o partido não reconhece os
partido foi prejudicado. resultados das eleições autár-
quicas proclamados pelo CC,
Texto: LUSA convocando a população para
"As irregularidades verifi- 64 anunciados pela Comissão manifestações.
cadas no processo do recen- Nacional de Eleições (CNE), "Em face desta vergonha
seamento eleitoral e ao longo com a Resistência Nacio- para a democracia e a negação
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ

da campanha eleitoral, assim nal Moçambicana (Renamo, da vontade dos moçambica-

como no dia da votação, in-
fluenciaram os resultados a
favor do partido dominante.
O partido Frelimo beneficiou
de todas irregularidades, pois
houve manipulações", disse
Lutero Simango, durante uma
conferência de imprensa, em
Maputo.
O Conselho Constitucional
(CC) moçambicano procla-
mou, na sexta-feira, a Frente
de Libertação de Moçambi-
que (Frelimo) como vence-
dora das eleições autárquicas
de 11 de outubro em 56 mu-
nicípios, contra os anteriores
maior partido da oposição)
a vencer quatro, o MDM em
um município e mandou repe-
tir eleições em outros quatro.
Segundo Lutero Simango,
os resultados anunciados pelo
CC prejudicaram o seu parti-
do em algumas autarquias do
centro e norte do país, reite-
rando que houve irregularida-
des e violação da lei eleitoral
em todo o processo.
"O MDM ficou prejudica-
do, com maior incidência nas
províncias de Niassa e Tete.
Nessas duas províncias ficá-
mos totalmente prejudicados,
porque os nossos delegados
de candidatura foram impe-
didos de estar nas mesas até
ao fim do processo", referiu
Lutero Simango.
A terceira força política
moçambicana reclama ter
sido injustiçada na cidade da
Beira, a única autarquia onde
foi vencedora, em Dondo,
Gorongosa e Homoine, além
da cidade da Matola, recla-
mando a redução do número
de membros daquele partido
nas assembleias provinciais
destas autarquias.
Segundo o acórdão apro-
vado por unanimidade, lido
pela presidente do Conselho
Constitucional, a juíza conse-
lheira Lúcia Ribeiro, a Freli-
mo manteve a vitória nas duas
principais cidades do país,
Maputo e Matola, em que a
Renamo reivindicava ser ven-
cedora, apesar de cortar em
cerca de 60 mil votos o total
atribuído ao partido no poder.
O CC é o órgão de última
instância da justiça eleitoral
nos, o partido Renamo reitera
que não reconhece os resulta-
dos divulgados", afirmou Os-
sufo Momade, em conferência
de imprensa.
As ruas de algumas cida-
des moçambicanas, incluindo
Maputo, têm sido tomadas
por consecutivas manifesta-
ções da oposição contra o
que consideram ter sido uma
"megafraude" no processo das
eleições autárquicas e os resul-
tados anunciados pela CNE,
fortemente criticados também
pela sociedade civil e organi-
zações não-governamentais.

Baltazar Fael sugere limitação de mandatos de edis para evitar

“redes clientelares”

O
investigador do Centro de Integridade grupos de cidadãos.
Pública (CIP), Baltazar Fael, propõe a No newsletter “Anticor-
limitação dos mandatos para os presi- rupção” da semana passada
dentes de autarquias para um máximo de por si assinado, Baltazar Fael
dois anos, ou seja, uma eleição e uma ree- entende que o parlamento
leição. De acordo com Fael, dentre as várias razões que deve legislar especialmente
fundamentam tal necessidade está coibir actos de má sobre a limitação da renova-
gestão autárquica, para além do entendimento de que se ção de mandatos dos autar-
a manutenção no poder por muitos mandatos não cria as cas/edis porque a sua perpe-
redes “clientelares”, estas redes ocasionam a manuten- tuação no poder propicia o
ção dos edis no cargo. surgimento de redes cliente-
listas.
Abanês Ndanda
“Não há dúvidas de que concursos públicos de valores acaba por conferir vantagem
No quadro da legislação eleitos, mesmo que o sejam a manutenção dos edis por avultados e obtendo os me- a quem está no poder, o que
vigente em Moçambique, os por meio de lista (incluindo vários mandatos, mesmo lhores lotes de terra, dentre faz com que este acabe ten-
edis podem ser eleitos de for- os edis). A partir do momen- com problemas de má ges- outros. Num prisma oposto, do possibilidade de renovar
ma ilimitada, uma vez que a to em que os mesmos atinjam tão, deve, nalguns casos, estar existem as razões positivas. sucessivamente o respectivo
Constituição da República o número de mandatos con- relacionada com a criação de Estas alicerçam-se no fac- mandato.
(CR) e a lei ordinária não fi- secutivos permitidos por lei, redes clientelares que para to de que a democracia local Tal como coloca Fael, a
xam limites, ao contrário do seja vedada a possibilidade de sobreviverem necessitam de não precisa de autarcas pro- limitação de mandatos nem
que acontece para o cargo concorrerem ao mesmo car- manter determinado edil/au- fissionais”, explica Fael para de longe seria algo de todo
de Presidente da República go na eleição imediatamente tarca no cargo. Isto faz com quem “a notoriedade adqui- impensável, uma vez que há
(PR), em que existe limitação a seguir”, recomenda Fael, que os membros destas redes rida por alguém que cumpriu registos de democracias mui-
temporal. sublinhando, em acréscimo, clientelares sejam continua- três mandatos, coloca-o em to próximas à moçambicana,
“Esta limitação de man- que assim seja mesmo que a mente os destinatários dos situação privilegiada”, sendo que já trilham o mesmo ca-
datos deve ser extensiva a eleição tenha sido por parti- principais e mais rentáveis ne- nisto que o exercício de vá- minho, como são os casos de
todos os órgãos executivos dos políticos diferentes ou gócios municipais, ganhando rios mandatos consecutivos Portugal, Brasil e Cabo Verde.
PUBLICIDADE
28 DE NOVEMBRO DE 2023 11
 12 13
Ajuda humanitária de moçambicanos já chegou Nyusi reinaugura Linha de Machipanda
CENTRAIS a Palestina
Um vídeo posto a circular nas redes sociais mostra o
momento em que dois camiões com bandeiras de Moçam-
O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, inau-
gurou, semana passada, a linha férrea de Machipanda, re-
CENTRAIS
bique e Palestina entrelaçadas atravessava a fronteira da centemente reabilitada e requalificada, abrindo uma nova
Faixa de Gaza na Palestina com milhares de toneladas de era na mobilidade de pessoas e bens no Corredor da
28 DE NOVEMBRO DE 2023 produtos diversos no âmbito da campanha de ajuda huma- Beira, maioritariamente dominado pela carga rodoviária 28 DE NOVEMBRO DE 2023
nitária às vítimas da guerra entre o Israel e o Grupo Hamas. numa proporção de cerca de 90 por cento.

Acadêmicos concluem que o país continua a comer o que não produz

São já quase 50 anos de uma agricultura que “não alimenta”
“Comparado a 1070, a área trabalhada pelos pequenos, médios e grandes produtores baixou” – João Mosca
“Existem vários problemas na direcção pública do sector agrário em Moçambique” – Castigo Langa
Instituições e políticas públicas incoerentes e mercados distorcidos prejudicam o sector

Q
uando a expectativa desde a independência em Moçambique era a trans- Tal como explicou João ram uma taxa média de cres- destacam-se o arroz, trigo e o
formação da agricultura moçambicana no motor do Desenvolvimento, Mosca, o efeito directo de cimento anual de 16% e 11%, óleo alimentar, uma conjun-
depois de quase 50 anos, o que aconteceu foi exatamente o oposto. O Moçambique não produzir o respectivamente. tura que resulta em as balan-
cenário actual mostra que a agricultura está longe da transformação es- que consome e consumir o Uma ilustração de o sector ças comercial, agrícola e ali-
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trutural e do desenvolvimento com crescimento estável de longo prazo que não produz é que as ex- agrário produzir o que não mentar apresentaram valores
que vem sendo projectado desde 1975. Esta é uma constatação dos investigadores es- portações totais, agrícolas e se consome é que dos cinco negativos (deficitárias), o que
pecialistas em economia agrária, João Mosca e Yara Nova, e corroborada por Castigo alimentares apresentam uma principais produtos agrícolas revela uma baixa produção
Langa, que já foi ministro dos Recursos Minerais e Energia no Governo de Joaquim tendência crescente, embora e alimentares exportados des- interna e uma economia de-
Chissano. O estudo conclui haver um paradoxo entre a retórica e a realidade, a tal ponto se verifique uma redução nos tacam-se o tabaco e o açúcar. pendente de importações.
do país continuar ainda fortemente dependente de importações. últimos três anos. Por outro A par disto, as importações “A longo prazo, esta rea-
lado, ao mesmo tempo que totais, agrícolas e alimentares lidade poderá provocar mu-
Abanês Ndanda as exportações agrícolas (da- também apresentaram ten- danças na estrutura de pro-
O Estudo que deu lugar ao longo prazo, crescentemente cas e sociais do Estado, bai- quilo que a nossa economia dências crescentes, registan- dução interna causadas pelo
livro “A contra transforma- mais competitivo no contex- xa modernização do tecido produz e não consome) cres- do taxas de crescimento mé- aumento das importações
ção agrária em Moçambique” to da economia globalizada, produtivo, secundarização do ceram a um ritmo acelerado, dia anual entre 15% e 14%, (inflação importada, aumen-
é baseado na comparação de equitativo social e espacial- sector agrário e dos pequenos com taxas de crescimento respectivamente. to do custo de vida, redução
vários indicadores, tendo se mente e ambientalmente sus- produtores que produzem médio anual de 18%, enquan- Por outro lado, dos cinco da poupança e das reservas
constatado que desde 1975 o tentável. a quase totalidade dos bens to as exportações alimentares principais produtos agríco- nacionais, entre outros)”, re-
sector agrário vem sofrendo Por exemplo, “fazendo alimentares, exploração pre- e exportações totais regista- las e alimentares importados, fere Mosca.
uma contra-transformação, uma comparação de 1970 dadora de recursos naturais,
com os principais indicado- com o ano de 2015, podemos agravamento da incidência e
res-chave a declinar. notar que a área trabalhada dos efeitos dos choques cli-
De acordo com os auto- pelos pequenos produtores máticos, desindustrialização “Todas culturas podem ser de rendimento” – Castigo Langa
res, ao longo de décadas, a baixou, a área trabalhada pe- e crescente incapacidade de
evolução do sector agrário los médios produtores bai- satisfação das necessidades
não sofreu um processo de xou e a área trabalhada pelos básicas dos cidadãos. Rebatendo o discurso de Ribeiro, no sentido de “falta “Há que estimular o sector
transformação estrutural, não grandes produtores também O livro em referência se crítica à primazia dada às um comprometimento com empresarial privado crian-
contribuindo igualmente para baixou”, referiu João Mosca. baseia essencialmente num chamadas culturas de rendi- o desenvolvimento da agricul- do políticas que incentivem
a reestruturação da economia De acordo com o investi- diagnóstico dos principais mento, Castigo Langa, que já tura”. o surgimento de um sector
e da sociedade. gador, a contra transforma- ‘calcanhares de Aquiles’ do papel social da agricultura – a ali- as suas raízes na época colonial, um rápido crescimento das ex- rias, o que se justifica por um con- ocupou importantes cargos De acordo com Arnaldo agrário forte”, disse Ribeiro
Atesta esta conclusão, o ção constatada neste traba- sector agrário moçambicano, mentação em primeiro lugar. no âmbito das funções de Mo- portações, impulsionado por um junto de razões, nomeadamente: governamentais, incluindo Ribeiro, “é preciso haver um se referindo inclusive para o
facto da maioria dos indica- lho resulta de instituições e entretanto a pesquisadora e “Comemos o que não produ- çambique como colónia, que era elevado volume de Investimento crescimento demográfico (com ta- ligados ao sector agrário, en- compromisso da sociedade desenvolvimento de culturas
dores do sector agrário e da políticas públicas incoerentes especialista na matéria, Yara zimos e produzimos o que não de produzir matérias-primas para Directo Estrangeiro (IDE) e de xas médias anuais de perto de 3%) tende que todas culturas po- moçambicana em todos sec- alimentares, reclamando no
Nova, mais do que apontar os comemos”, diz Mosca, criticando abastecer indústrias fabris em matérias-primas, e, por outro lado, e a crescente migração da popula- dem ser de rendimento. tores, incluindo partidos po- mesmo diapasão que “o papel
problemas, sugere o que fazer. o facto de o pouco investimento Portugal. Esta afirmação encontra importação de bens de consumo. ção para as cidades, com implica- Para Langa, existem vários líticos, sem distinção de cores do sector privado tem sido
“Já estamos a preparar um es- feito na agricultura geralmente ser fundamento, quando analisados “Isto é, produz-se o que não ções na demanda por bens de con- problemas na direcção públi- (partidárias)”. negligenciado”.
tudo exatamente para dizer o dirigido às culturas de exportação, alguns indicadores económicos se consome e importa-se o que se sumo e de produtos alimentares, e ca do sector agrário em Mo-
que fazer”, referiu Yara Nova. como a castanha de caju, algodão, (PIB, estrutura das exportações consome, o que contribui para a alterações das dietas alimentares; çambique, “mas a verdade é
e outras, o que nos leva a comer o e importações, e investimentos), persistência de elevados índices aumento do rendimento médio que todas culturas podem ser
“Comemos o que não que não produzimos. em que o crescimento é maiorita- de dependência externa alimentar por habitante, com efeitos sobre de rendimento”.
produzimos e produzimos Na explanação de João Mosca riamente sustentado pelos mega em paralelo com falta de procura as quantidades procuradas; depre- “Posso perguntar quem vai
o que não comemos” – existe toda “uma necessidade de projectos, extracção de recursos de bens alimentares produzidos ciação da taxa de câmbio a médio aos conselhos técnicos? Os
João Mosca garantir a segurança alimentar”, mineral-energético (alumínio, gás, no país, e insatisfação das neces- prazo; abertura de fronteiras, no dirigentes ao nível do topo
sem se depender da rentabilidade energia eléctrica e carvão mineral) sidades alimentares, componente âmbito da SADC, e crescente im- não participam. Eu, nos meus
Já há muito que se diz que ou alguma viabilidade que justi- e no sector agrícola onde predo- principal da prevalência dos eleva- portação de bens (principalmen- tempos, ia pessoalmente para
um dos problemas da agricul- ficasse um investimento, seja do mina a exploração de recursos flo- dos níveis de pobreza, inseguran- te alimentares); variabilidade dos os conselhos técnicos e con-
tura é a falta de investimento, sector privado ou de quem quer restais e as culturas de rendimen- ça alimentar e subnutrição”, João preços internacionais com efeitos vidava até especialistas mes-
tendo em conta, por exem- que seja. to, como o tabaco, algodão, açúcar Mosca. sobre os valores gerados pelos mo de fora do governo para
plo, a percentagem do Orça- Tal como frisam os investigado- e o caju, cujo o destino final são principais produtos exportados; partilharem conhecimento e
mento do Estado dedicada à res, desde 1987, especificamente as exportação”, referem os espe- Não produzir o que se baixa produção e produtividade experiências, e toda a equipa
agricultura que nunca chegou após a liberalização da economia, cialistas. come provoca importação nacional com consequências so- aprendia”, considera Langa,
nem perto de 5%. Entretanto, Moçambique tem-se configurado Explicando a expressão de que insustentável bre a competitividade no merca- criticando alguma falta de li-
João Mosca critica ainda mais uma economia assente no extrac- se come o que não se produz ao do externo, medida pelos preços, derança no sector.
economia apresentarem evo- e instáveis, mercados distor- o facto de mesmo o parco in- tivismo de recursos naturais, cres- mesmo tempo que se produz o O contexto geral, de acordo qualidade e regularidade da oferta; A colocação de Langa foi
luções contrárias às que ca- cidos, escassez e utilização vestimento feito ser para cul- centemente circunscrita ao sector que não se come, considera Mosca com João Mosca e Yara Nova, du- e, estrutura produtiva orientada em parte corroborada pelo
racterizam a transformação ineficiente de recursos para o turas que não vão de encon- primário. que quando analisadas as variáveis rante o período de 2001 a 2020, a para a exportação, principalmente empresário e consultor em
estrutural e o desenvolvimen- investimento privado e reali- tro com as necessidades locais “Na verdade, esta tendência do comércio externo de Moçam- balança comercial geral e a agrícola de recursos naturais e de culturas produção agrária, Arnaldo
to com crescimento estável de zação das funções económi- de consumo para cumprir o centrada no sector primário tem bique, verifica-se, por um lado, e alimentar foram sempre deficitá- de rendimento.
 14
Cooperação União Europeia-Moçambique deve
NEGÓCIOS priorizar criação de emprego
O economista António Soto, representante da Gapi-Socie-
dade de Investimentos, num painel do Fórum de Investimentos
Moçambique-União Europeia realizado dia 24 de Novembro
último, em Maputo, defendeu a necessidade da formalização da
28 DE NOVEMBRO DE 2023 economia, tendo por isso sugerido aos empresários da União
Europeia e moçambicanos a priorizarem a criação de emprego
e empoderamento das PME.

Na província de Manica: Dombe conta com novo sistema de

abastecimento de água

O
Posto Administrativo de Dombe, na provín- neamento seguro para os lo-
cia de Manica, conta com um novo sistema cais onde as populações ainda
de abastecimento de água, inaugurado na não se beneficiam, aumentan-
quarta-feira, 22 de Novembro, pelo Presi- do desta forma a cobertura”,
dente da República, Filipe Nyusi. concluiu o governante.
De referir que o novo sis-
tema de captação de água é
Com a entrada em funcio- onerosa, razão pela qual se baseado num campo de 6 fu-
namento do novo sistema, a recorreu a fontes de captação ros, com uma capacidade de
taxa de cobertura do distrito subterrâneas. 20 m3/h, uma adutora com
de Sussundenga passa dos Com o sistema paralisado, cerca de 1,9 Km, uma rede
actuais 69.3%, para 71.23%, o abastecimento de água foi de distribuição de 16 Km, 1
servindo a 146.171 pessoas, assegurado através de fontes depósito apoiado em betão
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contra as 140.171, inicialmen- alternativas de água (fontes e elevado metálico 150m3,

te cobertas.
Intervindo durante o acto
inaugural, o estadista lem-
brou que o sistema de abas-
tecimento de água de Dom-
be foi construído em 2015 e
compreendia uma estação de
captação de água superficial
dispersas, água do rio com o
fornecimento de purificado-
res), que eram suficientes para
minimizar a necessidade.
“O novo sistema represen-
ta um esforço conjunto do
nosso Governo e dos parcei-
ros de cooperação, através do
abastecer até mais de 8.500 e investir em infra-estruturas, 150 ligações domiciliárias e 4
pessoas e foi financiado, no visando melhorar e expandir fontanários públicos e custou
quadro do PRONASAR, pe- o abastecimento de água e sa- cerca de 34.500.000 Mt. FDS
los governos dos Estados
Unidos da América e do Rei-
no Unido, parceiros estraté-
gicos do Governo na busca Moza Banco oferece meios de compensação
incansável de soluções para a
a grupos vulneráveis em Nampula

no Rio Mussapa, que devido
aos efeitos das cheias acabou
por ser fortemente arras-
tada, o que resultou na sua
paralisação.
Para além do Rio Mussapa,
conforme acrescentou Filipe
Nyusi, Dombe é atravessa-
do pelo Rio Lucite, mas que
devido à qualidade de água
deste, impactada pela activi-
dade de garimpo à montante
do mesmo, estudos realiza-
dos por técnicos do sector
indicam que a sua captação
e tratamento seria bastante
Programa Nacional de Abas-
tecimento de Água e Sanea-
mento Rural (PRONASAR),
cujo foco é a provisão dos
serviços de abastecimento
de água e saneamento segu-
ro, com particular destaque
para as zonas rurais onde vive
a maior parte da população
moçambicana”, indicou Filipe
Nyusi.
Importa referir que o siste-
ma de abastecimento de água
de Dombe, que abastece ac-
tualmente cerca de 6.000 pes-
soas, tem um horizonte para
N
melhoria da qualidade de vida
e bem-estar da população das
o âmbito das acções de responsabilidade
zonas rurais.
social, colaboradores do Moza Banco vi-
Presente, igualmente na sitaram esta quarta-feira, em Nampula, o
cerimónia, Carlos Mesquita, Centro Religioso de Acolhimento de Betel,
ministro das Obras Públicas, onde vários grupos sociais vulneráveis, in-
Habitação e Recursos Hídri- cluindo crianças e idosos, recebem ajuda diversa para suprir
cos, disse não haver dúvidas as suas mais básicas necessidades de sobrevivência.
que o sistema ora inaugurado
terá impacto directo na me-
lhoria da qualidade de vida
da população da província de
Manica e do Distrito da Sus-
sundenga de forma directa:
“É por essa razão que o nosso
Governo continua a planificar

Pelo segundo ano consecutivo

LAM eleita presidente do Comité Executivo da
Associação das Companhias Aéreas Africanas

A
Trata-se de pessoas com dis- papel social do Moza, reforçan-
ção em África. tintas histórias de vida que por do o empenho e a vontade de
LAM – Linhas Aéreas de Moçambique foi elei-
As companhias e outros in- vários motivos, incluindo a re- continuar a contribuir para me-
ta, pelo segundo ano consecutivo, para presidir jeição e o abandono, acabaram lhorar a vida dos moçambicanos.
tervenientes da aviação foram
o Comité Executivo da AFRAA – Associação por recorrer a caridade para que “Como Banco, somos apo-
instados a encontrar formas de
das Companhias Aéreas Africanas. A reeleição tornar possível o valor trans- pudessem manter acesa a chama logistas da inclusão social e em-
aconteceu no decurso da 55ª Assembleia Geral formacional do mercado único da esperança por um amanhã penhamo-nos para dar o nosso
Anual da AFRAA, realizada de 19 a 21 de Novembro corren- africano de transporte aéreo melhor, onde as mazelas do pas- contributo nos esforços conjun-
te, em Kampala, capital da República de Uganda. para as companhias africanas; o sado se mantivessem no esque- tos para a construção de uma so-
alcance colaborativo e eficaz do cimento. ciedade cada vez mais equitativa,
Nesta assembleia, a LAM este- País”, sublinhou. roteiro Net Zero da aviação e as Na ocasião, em nome do onde a igualdade de oportuni-
ve representada pelo seu director- Na sequência da presidência, Iniciativas de inovação em Áfri- Moza Banco, os colaboradores dades é uma realidade presente,
-geral, João Carlos Pó Jorge, que a LAM irá orientar, durante um ca para a aviação sustentável no doaram camisetes, lanches e ca- independentemente da raça, gé-
destacou a relevância do estatuto ano, os encontros relevantes da continente. deiras de rodas para crianças e nero, religião ou qualquer outra
alcançado pela companhia, em AFRAA onde serão debatidos e As sinergias para o desen- idosos com dificuldades de lo- condição social das pessoas. Este
representação de Moçambique. decididos aspectos estratégicos volvimento do turismo intra- comoção, com o objectivo de gesto representa a nossa crença
“Este é um reconhecimento da aviação comercial africana. -africano e das viagens aéreas minimizar as dificuldades que de que as instituições financeiras
de uma longa e valiosa contri- A 55ª Assembleia Geral da e as diversidade de género bem enfrentam em consequência da têm um papel fundamental não
buição da LAM para o cresci- AFRAA realizou-se sob lema como as acções de inclusão condição física imposta pela de- apenas na promoção do cresci-
mento e consolidação da in- “avanços na transformação da para moldar o futuro da aviação ficiência. mento económico, mas também
dústria da aviação comercial no aviação para o desenvolvimen- em África constituíram, igual- Falando em nome do Banco, na construção de sociedades
continente africano, o que pres- to” e produziu recomendações mente, recomendações daquele o director comercial e de retalho, mais justas e solidárias”, asseve-
tigia a companhia e sobretudo o tendo em vista o futuro da avia- evento internacional. Ayaz Muhammed, destacou o rou Ayaz Muhammed.
 15
Receitas de gás: Governo prevê encaixar quatro mil
Milhões de Meticais em 2024 ECONOMIA
Depois de encaixar 100 milhões de dólares este ano, o
País prevê arrecadar mais de 4,2 mil milhões de meticais em
receitas da exploração de gás natural liquefeito do projec-
to Coral-Sul na Bacia do Rovuma. Os dados são avançados 28 DE NOVEMBRO DE 2023
pelo Plano Económico e Social e Orçamento do Estado
(PSOE) para 2024.

CFM vai investir 376 milhões de dólares na compra de 10

novas locomotivas à Índia

M
oçambique, através da empresa públi-
ca Caminhos de Ferro de Moçambique,
está prestes a comprar um total de 10
locomotivas da empresa estatal indiana
Rail India Technical and Economic Ser-
vice (RITES). Trata-se de uma adjudicação recente (este
Novembro), num negócio de 37,6 milhões de dólares nor-
te-americanos, segundo noticia a Lusa.

Numa nota à bolsa de valo- em 2022, um crescimento de

res indiana, a que a Lusa cita,
a empresa refere que todos os
concorrentes foram informa-
dos pela CFM que o contrato
para o fornecimento de 10 lo-
comotivas diesel-elétricas “foi
atribuído” à RITES, que apre-
sentou a “proposta mais baixa”.
A mesma nota refere que a
RITES também concorria ao
fornecimento de 300 vagões à
CFM, tendo a empresa estatal
moçambicana informado que
o negócio foi atribuído a outro
concorrente, sem revelar mais
detalhes.
Mais de 5,5 milhões de pes-
soas utilizaram o transporte
ferroviário em Moçambique
81% face ao ano anterior devi-
do ao alívio de medidas de pre-
venção de covid-19, segundo
dados da CFM.
De acordo com o relatório e
contas de 2022 da CFM, o mo-
vimento no transporte ferro-
viário ascendeu em todo o ano
passado a quase 5,6 milhões
de passageiros, o que corres-
ponde a 98% do previsto pela
administração.
Trata-se, ainda assim, de um
aumento de 81% face ao mo-
vimento em 2021, algo que
a CFM justifica no relatório
também com investimentos
realizados que reforçaram a ca-
pacidade de transporte no sul e
centro do país.
De acordo com o relatório e
contas da CFM, a rede ferroviá-
ria de Moçambique transpor-
tou em 2022 um total de 24,6
milhões de toneladas brutas de
carga, um aumento homólogo
de 30% face a 2021.
Já os terminais portuários
sob gestão da CFM movimen-
taram 13,21 milhões de tonela-
das durante o exercício de 2022,
um crescimento de cerca de 6%
face a 2021, “fruto dos novos
investimentos que têm vindo a
ser realizados pela empresa”.
Apesar dos “factores negati-
vos que caracterizaram os pri-
meiros meses” de 2022, como
ciclones, incidentes de descar-
rilamentos ferroviários, oferta
moderada de carga ferroviária
e o conflito entre a Rússia e a
Ucrânia, a administração da
empresa afirma ter investido
7.925,1 milhões de meticais em
projetos ferroviários e portuá-
rios “para revitalizar e renovar
os ativos”.
A administração refere ain-
da que a CFM apresentou um
resultado positivo, antes de im-
postos, na ordem dos quatro
mil milhões de meticais (57,5
milhões de euros) em 2022.
A RITES Ltd, anterior-
mente conhecida como Rail
India Technical and Econo-
mic Service Limited a Nava-
ratna, é uma empresa estatal
subordinada ao Ministério
das Ferrovias, constituída em
26 de abril de 1974, é uma
organização multidisciplinar
de engenharia e consultoria,
fornecendo uma gama abran-
gente de serviços, desde o
conceito até o comissiona-
mento. em todas as facetas da
infra-estrutura de transportes
e tecnologias relacionadas.

Com olhos postos na Indústria extrativa

Players nacionais do mercado de seguros discutem sua participação
nos Mega-Projectos
Actualmente, as apólices de Petróleo e Gás são colocadas directamente no estrangeiro

N
a sua segunda edição, a plataforma de
debates Conferências Índico vai juntar
players do mercado de seguros no país
para uma reflexão em torno do tema:
“Mercado de Seguros em Moçambique:
Acertar o passo dos Mega-Projectos”. O evento terá lu-
gar no dia 06 de Dezembro na capital do país.
O evento, que conta com ca e Associação Industrial de
abertura do secretário-perma- Moçambique, num debate que
nente do Ministério dos Trans- vai ser antecedido pela inter-
portes e Comunicações, Am- venção de Ragendra de Sousa,
brósio Adolfo Sitoe, tem no antigo ministro da Indústria e
leque oradores de instituições Comércio.
que se movem entre os players A premissa da transforma-
do mercado e pesquisadores da ção económica que pode ser
indústria. ocasionada pelos projectos da
Contam-se instituições Indústria Extractiva e que faz
como a EMOSE, Sanlam, pensar na aposta no conteúdo
Instituto de Supervisão de Se- local, o Mercado de Seguros in-
guros de Moçambique, BCI, cluído, é o leitmotiv do debate.
Centro de Integridade Públi- O boom da Indústria Ex-
tractiva, que se afigura como a
principal porta de entrada do
investimento estrangeiro e de
uma nova Moçambique, co-
locou diante das seguradoras
que actuam em Moçambique
e de empresas afins este gran-
de desafio de acertar o passo.
Nisto, mostram-se necessá-
rias, a acompanhar este boom,
perspectivas das políticas de
conteúdo local e a integração
das indústrias extractivas para a possibilidade de controlo, e É preciso pensar, indica a
promover uma produção mais sem rendimento para o merca- organização do evento, nas
inteligente. do local. estratégias do Governo para a
No actual cenário, segundo “Todo o processo de resse- integração de seguradoras que
faz notar um estudo da Asso- guro é controlado pelas empre- actuam em Moçambique no
ciação Moçambicana de Segu- sas operadoras nas suas segu- “boom” da indústria extracti-
radoras, as apólices de Petróleo radoras cativas, sem qualquer va, mas também perceber as
e Gás são colocadas directa- participação ou benefício para exigências das multinacionais
mente no estrangeiro, ou em Moçambique”, pode se ler no para a integração destas mes-
regime de fronting, eliminando documento da AMS. mas seguradoras.
 16 OPINIÃO
28 DE NOVEMBRO DE 2023
O FURACÃO
Alexandre Chiure
Q
uando criança, passei por mo-
mentos de muita tristeza e
medo ao saber de alguém adul-
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to que um dia o mundo iria aca-
bar. Isso significava, para mim, que todos
desapareceriamos de uma vez, incluindo
edifícios, públicos e privados, hospitais, es-
colas, bens de equipamento e outros meios.
Já crescido e com capacidade de interpre-
tar ou analisar alguns fenómenos, entendi
que cada pessoa tem o seu fim de mundo.
Quando alguém morre. Não interessam as
causas. Se foi por acidente de viação. Se foi
assassinado. Se foi morte natural ou en-
controu a morte numa guerra ou se foi por
doença, é o seu fim do mundo.
Hoje, sou testemunho do fim de mun-
do do meu país, Moçambique. Quando um
magistrado do Ministério Público solicita e
recebe dinheiro para facilitar a soltura de
um condenado em cumprimento de pena
de prisão efectiva, em Manica, é o fim do
mundo para o país.
Quando um magistrado do Ministério
Público afecto à Procuradoria Provincial
de Maputo solicita e recebe dinheiro para
facilitar a entrega ilegal de uma viatura
apreendida a um cidadão por irregularida-
des, é, sem dúvida, o fim do mundo.
Quando o governo do distrito de Don-
do, em Sofala, é multado no valor de 400
mil meticais por roubo de energia para
abastecer o seu edifício-sede e outros per-
tencentes ao mesmo, no lugar de este ser
parte activa no combate a casos de género,
é o fim do mundo.
Quando cinco funcionários dos serviços
de migração na Beira são presos por sus-
peitas de facilitação do tráfico de drogas,
associado ao terrorismo e a apreensão de
uma viatura com equipamentos de comu-
nicação de origem duvidosa, em troca de
alguns cifrões, é o fim do mundo do meu
país, Moçambique.
Quando num acto desses estão envolvi-
dos alguns agentes do SISE a nível da pro-
víncia de Sofala, indivíduos que tem a fun-
ção de defender o Estado moçambicano, é
fim do mundo.
O fim do mundo que
eu temia
Quando agentes do topo dos Serviços de
Informação e Segurança de Estado (SISE)
engendram um mecanismo para defraudar
o Estado moçambicano, em colaboração
com bancos e empresas estrangeiros, en-
volvendo 2,2 mil milhões de dólares ameri-
canos, é o fim do mundo.
Quando agentes da PRM são detidos in-
diciados de liderar quadrilhas responsáveis
por vários crimes que apoquentam centros
urbanos, em particular a cidade de Maputo
e arredores, alguns dos quais a comanda-
rem a partir de dentro da corporação, es-
tamos perante o fim do mundo. O mesmo
em relação a agentes de segurança privada
implicados em alguns crimes praticados
nos seus locais de trabalho.
Quando jovens moçambicanos, sob capa
de pobreza, aceitam ser recrutados, em
Nampula e noutras províncias do país, para
abraçarem uma causa duvidosa e destrui-
rem o seu próprio país em nome de jihadis-
tas, é o fim do mundo.
Quando alguém, movido por ganância
e outros interesses individuais, faculta in-
formação estratégica aos terroristas sobre
a localização de bases militares das Forças
Armadas de Defesa dde Moçambique, é si-
nónimo do fim do mundo para o país.
Tudo isto é, sim, o fim do mundo por-
que num mundo em que não se vislumbra
o seu fim, não é possível uma pessoa nor-
mal facilitar a entrada de terroristas para
desestabilizarem o seu próprio país a troco
do pagamento de algum dinheiro. Não há
dinheiro nenhum deste mundo capaz de
comprar a pátria.
Significam, sim senhor, o fim do mundo
porque não passa pela cabeça de ninguém
que um procurador, o guardião da legali-
dade, do nada vire colaborador de crimi-
nosos, aceitando receber algumas ninharias
para fazer coisas ilegais.
É fim do mundo para Moçambique
quando alguns agentes do SISE, no lugar
de garantirem a segurança do Estado, pro-
curam defraudar esse mesmo Estado, o que
é, no mínimo, muito grave.
É fim do mundo quando agentes de se-
gurança privada, pagos para protegerem
bens públicos e privados são os primeiros
a montarem esquemas para roubar esses
mesmos bens. Muitos deles já foram presos
em conexão com roubos ou assaltos.
Com este fim do mundo, diferente da-
quele que eu achava que seria, que era o
fim colectivo da vida das pessoas da minha
aldeia, do país e do mundo inteiro, não se
sabe quem é quem no país. Os níveis de
confiança são bastante baixos. Hoje não se
sabe a quem confiar.
Podemos, a qualquer momento, estar a
jantar, conviver ou conversar com um cri-
minoso sem sabermos. Podemos estar a
passar informação importante a alguém
que está feito com bandidos sem sabermos.
Podemos ser amigos, vizinhos ou colegas
de quem está ao serviço de criminosos sem
saber.
Podemos confiar em pessoas que não de-
viam, nunca, merecer a nossa confiança e
amizade porque são facas de dois gumes,
sem saber. Podemos promover alguém
para exercer algum cargo de responsabili-
dade quando é um dos que estão a vender a
nossa pátria ao inimigo.
Na minha congregação, o responsável
pelas finanças parecia um homem exem-
plar. Aos domingos, na missa, apresentava-
-se decentemente vestido, de fato e gravata,
e com sapatos bem polidos, aparência que
escondia a sua verdadeira face criminosa.
Um dia, ele surpreendeu à comunidade
a que pertencia ao participar num assalto a
um depósito de bebibas, no bairro de Ben-
fica, na capital, onde ele e os seus compar-
sas roubaram dois milhões de meticais. O
fulano, até hoje, está foragido.
É fim do mundo para o meu país quando
é cada vez reduzido o número de pessoas
que levam uma vida honesta e que, por elas,
podemos pôr mão no fogo com a certeza
de que são incorruptíveis.
Chegou o fim do mundo em Moçam-
bique. É diferente daquele que eu temia
quando criança, mas é, mesmo assim, o
fim do mundo. Quem é que nos salvará
desta situação?
 A esquina do sociólogo
Luca Bussotti
A
s decisões do Conselho Constitucio-
nal já foram amplamente comenta-
das, criticadas e refletidas por vários
observadores e analistas. Diante da
magnitude da evidência de fraudes e ilícitos que
o próprio CC não pôde se eximir de registar,
com milhares de votos que passaram da Frelimo
às oposições em diversos municípios – e a con-
sequente ativação de processos-crimes junto ao
Ministério Público –, dois casos passaram quase
que despercebidos. Dois casos provavelmente
marginais, mas significativos do ponto de vista
da qualidade da democracia em Moçambique.
Trata-se de quanto o CC determinou no pon-
to 47 do seu Acórdão, nomeadamente em 47.1
e 47.2. Os municípios em questão são dois:
Chókwè, na província de Gaza, e Cuamba, na
província do Niassa. Nada a dizer sobre a inter-
pretação jurídica que o CC deu a estas duas situa-
ções em que os respectivos Tribunais Judiciais do
distrito tinham anulado os processos eleitorais
por falta de algumas condições julgadas impres-
cindíveis para validar o voto naquelas duas cida-
des. Algo a dizer, porém, preventivamente, em
mérito a confusão na atribuição de competências
dos diferentes organismos jurídicos, restituindo
o sistema de justiça uma imagem péssima quanto
ao harmonioso funcionamento dos seus vários
órgãos. Ficou muito feio ver decisões de tribu-
nais locais anuladas pelo órgão de justiça supre-
mo, dando a ideia de uma confusão absoluta no
interior de quem gere esta esfera fundamental da
vida do país.
O ponto principal, porém, não é esse. O ele-
mento essencial, sob o prisma da qualidade de-
mocrática do país, tem a ver com as motivações
que induziram o CC a contrariar quanto delibe-
rado pelos Tribunais de Justiça a nível distrital.
No caso de Chókwè (ponto 47.1 do Acórdão),
tudo gira à volta do recurso do partido Nova De-
mocracia. Como reconheceu o CC, este partido
tinha o direito de ver credenciados os seus re-
presentantes, de forma a participar na contagem
e no apuramento dos votos naquele município,
em todas as mesas. Entretanto, este direito foi
negado, uma vez que a Comissão Distrital das
Eleições não credenciou os delegados da Nova
Democracia. Salvo a curiosidade em conhecer
como é que esta circunstância tão absurda se
deu, o que é de comum acordo entre o CC e o
Tribunal Distrital é que tratou-se de uma falha
muito grave, que impediu a Nova Democracia
de fiscalizar a contagem dos votos em Chókwè.
Todavia, o CC julgou que esta violação estabele-
cida pela actual lei eleitoral não foi suficiente em
prejudicar “completamente” a transparência do
28 DE NOVEMBRO DE 2023
Pequenas questões
pós-eleitorais
processo eleitoral, uma vez que outros partidos
políticos conseguiram fiscalizar todo o processo
eleitoral local.
Esta decisão revela uma concepção do direi-
to, e sobretudo da democracia muito opinável.
Com efeito, consta que os direitos são inaliená-
veis e indivisíveis, entretanto, nesta circunstância,
o CC procedeu como se não o fossem. O direito
à credenciação e fiscalização da Nova Demo-
cracia não pode ser alienado em prol de outros
partidos que viram este direito reconhecido, pois
dessa forma tal direito foi dividido com outros
sujeitos políticos. E trata-se de sujeitos com que
a Nova Democracia não tinha estabelecido ne-
nhuma forma de aliança eleitoral, portanto eram
sujeitos concorrentes que teriam podido alterar,
Esta decisão revela uma
concepção do direito, e
sobretudo da democracia
muito opinável. Com
efeito, consta que os
direitos são inalienáveis
e indivisíveis, entretanto,
nesta circunstância,
o CC procedeu como
se não o fossem. O
direito à credenciação
e fiscalização da Nova
Democracia não pode
ser alienado em prol
de outros partidos
que viram este direito
reconhecido, pois dessa
forma tal direito foi
dividido com outros
sujeitos políticos.
de comum acordo, os resultados eleitorais, em
detrimento da Nova Democracia. Além disso,
seria interessante considerar a hipótese segundo
a qual a Frelimo não fosse credenciada. Hipótese
absurda, mas em princípio possível. Como é que
o CC teria deliberado? Será que este órgão teria
justificado a sua decisão com a mesma motiva-
ção, ou seja, que MDM, Renamo e Nova Demo-
cracia iam garantir a Frelimo quanto à transpa-
OPINIÃO
17
rência daquele processo eleitoral? As dúvidas são
pelo menos lícitas...
Outra circunstância em que o CC deliberou
com a mesma lógica tem a ver com o município
de Cuamba. Aqui, a situação foi até mais grave.
Segundo reportado pelo Acórdão, 741 cidadãos
daquela urbe foram impedidos de exercer seu di-
reito de voto. Uma vez que o número de votos
para eleger um deputado municipal em Cuamba
é de 798, isso significa que esta falha não influiu
“substancialmente” – como reza a lei eleitoral –
no resultado das eleições.
Ora, existem pelo menos dois elementos que
revelam quão pobre e desrespeitosa da vontade e
dos direitos dos eleitores seja a lei eleitoral que o
CC aplicou literalmente, mas que o Tribunal Dis-
trital interpretou de forma diferente. Primeiro: o
Acórdão fala de “cerca de 741” eleitores, deixan-
do entender, como é muito provável, que o nú-
mero seja maior. Em caso de dúvida, convinha ir
pelo princípio da cautela, considerando a possi-
bilidade de que os 741 eleitores representassem
apenas uma parte de quem não pôde exercer seu
direito de voto, aconselhando, portanto, a anular
as eleições, e mandar repeti-las. Segundo: inde-
pendente dos números, a conclusão do CC aplica
o princípio quantitativo a um direito inalienável e
individual (o do voto), que deve puder ser exer-
cido por todos os cidadãos que assim o queiram.
Desta forma, tais cidadãos ficaram numa situa-
ção de desvantagem jurídica com relação a quem
conseguiu votar, infringindo um dos princípios
sagrados da Constituição, o da isonomia.
Os dois casos acima relatados representam pe-
quenas gotas de água no oceano das fraudes e dos
ilícitos eleitorais, em parte detectados pelo mes-
mo CC. Entretanto, eles são o exemplo de como
o conjunto de leis (neste caso a eleitoral) e inter-
pretações literais das mesmas possam produzir
monstros não apenas jurídicos, mas sobretudo
políticos e éticos. Dizer que os resultados não fo-
ram alterados “significativamente”, por exemplo,
significa pressupor a aceitação de resultados elei-
torais “mais ou menos” certos e justos… Mas em
democracia não é possível ficar com o “mais ou
menos”, pois está-se lidando com a vontade dos
eleitores. Evitar este imbróglio é simples: mandar
repetir as eleições, de forma a que todo o país
(ou os municípios envolvidos) possam ter seus
direitos garantidos, e a credibilidade do processo
eleitoral possa também ser restabelecida.
Repensar nas duas vertentes – uma reforma
séria da lei eleitoral, assim como as modalidades
da sua aplicação por parte dos órgãos de justiça
– representa uma das prioridades do país, prin-
cipalmente em vista das eleições gerais de 2024.
 18 OPINIÃO
28 DE NOVEMBRO DE 2023
Yara da Guerra General
M
oçambique, terra de riquezas
culturais e desafios intrincados,
emerge como um microcosmo
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ
de um dilema global: a participa-
ção efectiva das mulheres na sociedade civil e
nos processos democráticos. Este ensaio pro-
põe uma incursão mais profunda nas comple-
xidades que permeiam esse cenário, desvelando
os desafios que obstaculizam a plena inclusão
das mulheres e destacando a importância crucial
de sua contribuição multifacetada para o avanço
social, político e económico do país.
Apesar de avanços visíveis, Moçambique
continua a enfrentar grandes desafios. Normas
culturais enraizadas operam como um peso,
enquanto a falta persistente de acesso à educa-
ção e recursos económicos limitam a ascensão
das mulheres moçambicanas em sua busca por
igualdade e participação activa. O impacto des-
sas barreiras transcende o simples impedimento
da representação feminina em cargos de lide-
rança, é um reflexo da necessidade urgente de
desconstruir estruturas profundamente enraiza-
das que perpetuam a desigualdade de género.
A sub-representação das mulheres em esferas
de poder não é apenas uma distorção estatística,
mas uma sombra que compromete a legitimi-
dade dos processos democráticos. O défice da
diversidade de perspectivas na tomada de deci-
sões cria um vácuo que mina a eficácia das po-
líticas implementadas. Um olhar mais atento re-
vela que as mulheres, muitas vezes excluídas das
mesas de decisão, têm uma visão única e valiosa
que poderia transformar o cenário sociopolítico
de Moçambique.
A participação activa das mulheres, longe de
ser uma concessão de justiça social, é um ca-
talisador para a construção de uma sociedade
mais resiliente e dinâmica. Estudos indicam que
a presença e influência feminina na política e
na sociedade civil são factores estabilizadores,
correlacionando-se positivamente com o desen-
volvimento sustentável. Países com equidade de
género tendem a ser menos propensos à corrup-
ção e mais propensos a investir em pilares fun-
damentais, como educação e saúde.
Para impulsionar efectivamente a participação
feminina, é essencial alterar as complexidades
económicas subjacentes. Garantir o acesso equi-
tativo à oportunidades de emprego, educação e
empreendedorismo é uma pedra angular para
Mulheres na Sociedade Civil e o seu papel nos
Processos Democráticos em Moçambique:
Uma Análise das Complexidades e Desafios
não apenas melhorar a qualidade de vida das mu-
lheres, mas também para catalisar o crescimento
económico de Moçambique como um todo.
A educação e conscientização emergem como
ferramentas cruciais neste contexto. Investir em
programas educacionais, campanhas de cons-
cientização e workshops não é apenas uma es-
tratégia; é uma necessidade preemente para al-
terar mentalidades enraizadas e promover uma
compreensão mais profunda da importância da
participação activa das mulheres.
O empoderamento económico das mulheres,
através de programas de capacitação, acesso a
crédito e oportunidades de negócios, não é ape-
A promoção da
representação política
feminina não pode
ser tratada como uma
mera formalidade.
Incentivar e apoiar a
participação activa
das mulheres na
política, por meio de
políticas de cotas,
capacitação política e
apoio financeiro, é uma
estratégia proactiva
para romper com o
status quo.
nas uma medida de justiça, é uma alavanca para
a autonomia e influência das mulheres na socie-
dade. A garantia da existência e implementação
de leis e políticas que fomentem a igualdade de
género em todos os estratos sociais é um passo
crucial para instigar mudanças sistêmicas.
A promoção da representação política femini-
na não pode ser tratada como uma mera forma-
lidade. Incentivar e apoiar a participação activa
das mulheres na política, por meio de políticas
de cotas, capacitação política e apoio financeiro,
é uma estratégia proactiva para romper com o
status quo.
Acesso igualitário a recursos e oportunidades,
como educação, saúde e emprego, emerge como
uma necessidade incontestável para promover
a igualdade de género. Incentivar a participação
das mulheres em organizações da sociedade ci-
vil, movimentos de base e iniciativas locais não
é apenas uma opção; é uma estratégia essencial
para fortalecer suas vozes e influências.
O combate à violência de género transcende a
esfera retórica e implementar medidas eficazes
para prevenir e combater a violência contra as
mulheres é um imperativo moral e prático para
criar um ambiente seguro e inclusivo para a par-
ticipação feminina na sociedade civil e nos pro-
cessos democráticos.
Estabelecer redes de apoio e parcerias entre
organizações da sociedade civil, agências gover-
namentais e outros actores não é apenas uma es-
tratégia, é uma necessidade urgente. O monito-
ramento e avaliação constante são fundamentais
para identificar áreas que exigem intervenção,
moldando uma abordagem mais ágil e eficaz
para superar os obstáculos persistentes.
Garantir uma representação adequada das mu-
lheres na mídia não é uma questão superficial,
é um componente essencial para desafiar este-
reótipos enraizados e inspirar outras mulheres a
se envolverem na sociedade civil e na política.
A mídia inclusiva desempenha um papel vital na
construção de uma narrativa autêntica e diver-
sificada das mulheres em todos os estratos da
sociedade.
Em síntese, a participação das mulheres na
sociedade civil e nos processos democráticos
em Moçambique transcende a esfera da justiça
social, é um imperativo intrínseco ao progresso
e à prosperidade do país. Superar os desafios
exige um esforço conjunto de governos, orga-
nizações da sociedade civil e a sociedade como
um todo. Ao promover a igualdade de género,
investir no empoderamento económico das
mulheres e garantir sua representação efectiva
em todos os níveis de tomada de decisões, Mo-
çambique poderá trilhar o caminho para uma
sociedade mais inclusiva, estável e próspera. É
chegada a hora de reconhecer e valorizar inte-
gralmente o papel vital das mulheres na cons-
trução do futuro de Moçambique.
 19
Presidente sul-africano acusa Israel de crimes de
guerra e genocídio
O Presidente sul-africano voltou a acusar Israel de crimes de
guerra e “genocídio” em Gaza, ao abrir uma cimeira virtual extraor-
ÁFRICA
dinária do denominado grupo BRICS, integrado por Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul. “A punição coletiva de civis palesti-
nianos através do uso ilegal da força por parte de Israel é um cri-
me de guerra. A negação deliberada de medicamentos, combustível,
28 DE NOVEMBRO DE 2023
alimentos e água aos residentes de Gaza equivale a um genocídio”.

Candidato da oposição pede anulação das presidenciais

em Madagáscar

U
m candidato da oposição nas eleições
presidenciais em Madagáscar recorreu
para o Supremo Tribunal Constitucional
do país para exigir a anulação do acto
eleitoral que deu a vitória ao Presidente
cessante, Andry Rajoelina.

"Apresentei dois pedidos os resultados, agradecendo aos

para solicitar a anulação da
votação e a desqualificação de
Andry Rajoelina", disse Siteny
Randrianasoloniaiko à agência
noticiosa francesa AFP, denun-
ciando uma "fraude eleitoral".
Andry Rajoelina foi reeleito
Presidente de Madagáscar, uma
República semipresidencialis-
ta, logo na primeira volta de
uma corrida eleitoral com dez
candidatos da oposição que
apelaram ao boicote e cujos
resultados eleitorais hoje apre-
sentados pela comissão eleito-
ral não reconhecem.
eleitores pela "sabedoria" que
"expressaram livremente".
Eleito em 2018, Andry Ra-
joelina chegou ao poder pela
primeira vez em 2009, graças a
um motim que expulsou o Pre-
sidente Marc Ravalomanana.
Onze milhões de malgaxes
inscritos nos cadernos elei-
torais foram convocados às
urnas, em 16 de novembro
passado, para escolher entre grantes não reconheceriam os resultados destas eleições ilegí- ponsabilidade pela instabilidade
Rajoelina e outros 12 candida- resultados. timas, repletas de irregularida- política e social que delas possa
tos oficiais. "Não reconheceremos os des, e declinamos qualquer res- resultar", alertaram. ANGOP
Contudo, 10 candidatos da
oposição reunidos num coleti- PUBLICIDADE

Não
reconheceremos
os resultados
destas eleições
ilegítimas, repletas
de irregularidades, e
declinamos qualquer
responsabilidade pela
instabilidade política
e social que delas
possa resultar.
Rajoelina, de 49 anos, que
concorreu a um segundo man-
dato à frente da grande ilha do
Oceano Índico, obteve 58,95%
dos votos expressos, segundo
resultados anunciados numa
conferência de imprensa reali-
zada na capital, Antananarivo,
e que ainda devem ser valida-
dos pelo o Supremo Tribunal
Constitucional, a mais alta ins-
tância judicial do país.
"O povo malgaxe escolheu
o caminho da continuidade, da
serenidade e da estabilidade",
disse Rajoelina à imprensa pou-
co depois de serem conhecidos
vo, incluindo dois antigos Pre-
sidentes, apelaram aos eleitores
para "considerarem que estas
eleições não existem", recusan-
do-se a fazer campanha.
A taxa de participação na
votação foi de pouco mais de
46%, uma queda em relação à
eleição presidencial anterior,
em 2018.
"Que resultados? Que elei-
ções?", respondeu um repre-
sentante do coletivo da oposi-
ção à AFP quando questionado
sobre a vitória de Rajeolina.
O grupo já tinha anunciado
na sexta-feira que os seus inte-
 20 OPINIÃO
28 DE NOVEMBRO DE 2023
SER ESPIRITUAL
Felisberto Botão
N
ão é natural o africano ser
oferecido por DEUS tanta ri-
queza e tanta beleza natural,
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ
e estar virado a destruir-se a
si próprio e espalhar pobreza no seu seio,
no lugar de usufruir das bênçãos.
Este pode ser o maior dos segredos que
ainda temos por desvendar, que pode trazer a
explicação que leva o africano a assumir uma
postura contra si próprio, subalternizando-se
na sua própria terra, e, entretanto, outras raças
a substituírem-se na vida do africano, e usu-
fruírem da riqueza, da vida e da terra maravi-
lhosa que Deus deu a África e seus filhos.
O desenvolvimento da capacidade local
deve ser consequência da implementação do
conteúdo local, que é, de forma incondicio-
nal, disponibilizar oportunidades às empresas
locais, na oferta de produtos e serviços, com
quotas mínimas estabelecidas, no âmbito do
desenvolvimento de projectos de investimento
externo e interno.
As empresas privadas locais são a única fer-
ramenta que nós temos, que de forma efecti-
va podem capturar capital significativo neste
processo de projectos da indústria extractiva,
infra-estructuras públicas e outros, multiplica-
-lo, construir novas capacidades, gerar e con-
servar riqueza para o país.
A afirmação “dar preferência a fornecedores locais
“se” o custo, qualidade e pontualidade na entrega de
seus bens e/ou serviços forem iguais em qualidade, ao
concorrente internacional”, são das tais ferramen-
tas prontas que são entregues aos nossos pen-
sadores, incluindo reguladores, como se fosse
uma narrativa estabelecida e aceite internacio-
nalmente, para capturar, infiltrar-se e manipu-
lar o nosso processo de pensamento, assegu-
rando que não vamos chegar a lugar nenhum.
O exercício intelectual de assimilar centena
de páginas de leis e princípios internacionais, e
o esforço de querer mostrar que também en-
tendemos, e actuamos em conformidade, tem
desviado o nosso regulador e o resto da massa
crítica, de proteger os interesses nacionais.
Como questionou a minha filha, que já co-
meça a dar indicações de percepção do que
está a acontecer a sua volta, “o que é do bran-
co é bom, até que prove o contrário. O que é
do preto é mau, até que prove o contrário. Será
isso, pai?” Eu respondi “não necessariamen-
A Saga do conteúdo
local_2
te”, mas dei comigo com alguma amargura,
que recentemente, num processo de selecção
de fornecedor, tive um acesso espontâneo de con-
fiança, quando no meio da lista apareceu um
português.
A questão é muito mais profunda do que
pode parecer, e tem contornos complexos a
nível mental e espiritual.
O conteúdo local deve começar pela cons-
ciência colectiva do que é bom para nós colec-
tivamente: o nosso recurso é o nosso activo,
e deve beneficiar primariamente a nós, antes
de qualquer outo. Daí entender que o inves-
tidor está à procura de oportunidade para o
seu dinheiro, e nós é que estamos a dar esta
oportunidade. O investidor não é o dono do
negócio, e muito menos do recurso. Ele é o
parceiro privado, com a prerrogativa de operar
o negócio pelo know-how que traz consigo.
Para o investidor ganhar a oportunidade, e
exercer a prerrogativa de operar o negócio por
10, 20 ou 30 anos, deve necessariamente ob-
servar uma condição essencial e primária:
colocar as oportunidades de negócio na mesa, não menos
do que 40% do investimento, que devem ser alocadas
às empresas locais, de moçambicanos, junto a um
processo claro de transferência de know-how, durante o
período de vigência da exploração do recurso. Tudo o
resto deve vir a seguir.
O foco deve mudar da construção de capa-
cidade, para a selecção e disponibilização de
oportunidades. A capacidade deve ser cons-
truída durante a execução dos contratos, com
o acompanhamento do investidor, que deve
necessariamente construir uma estrutura de
assistência as PMEs, na observância de nor-
mas de qualidade, segurança e ambiente.
Assim que escrevo, muitas empresas até já
esqueceram os treinamentos que receberam
das multinacionais ou financiados por estas, e
outras até já não estão com a mesma equipa
que participou no treinamento, e mesmo as-
sim, ainda não viram nenhuma oportunidade
para negociar.
Não podemos permitir esse entretenimento ao nosso
próprio povo, a nossa própria economia.
A autoexclusão e o sentimento permanente
de desmerecimento e despreparo, resultado
dos processos que me referi no início do ar-
tigo, estão a perturbar as cabeças dos nossos
pensadores, incluindo os reguladores, o que
pode estar na origem de acreditarmos que o
conteúdo local não é viável, e engajamo-nos
sofridamente a buscar formas alternativas ao
óbvio.
O facto é que não existem alternativas ao
óbvio, portanto, não poderemos chegar a lu-
gar algum pelo caminho que estamos a seguir
hoje…
As multinacionais e as embaixadas oci-
dentais estão a lutar para o seu próprio
conteúdo local, que como não têm recursos
naturais, o seu recurso é o capital, e é dele
que devem alavancar as suas PMEs. Portanto,
onde for o seu capital, eles vão levar as suas
PMEs, e em Moçambique eles conseguiram
que a nossa legislação abrisse direitos para as
“Empresas Registadas em Moçambique”, em
sobreposição as “Empresas Moçambicanas”.
Eles estão a fazer muito bem o seu trabalho,
pois não tem dúvidas sobre a sua identida-
de, mas o nosso regulador local, infelizmen-
te continua com problemas de identidade, e
confuso com volumes de legislação e prin-
cípios internacionais, que na dificuldade de
digerir toda informação, prefere aceitar a su-
gestão do branco, que em princípio só pode
estar certa. Infelizmente, esta é a desgraça do
nosso regulador, nosso legislador, que arras-
tam toda a nossa economia para um atraso
imensurável.
Senhores reguladores e legisladores mo-
çambicanos, “as empresas moçambicanas
é que devem subcontratar as empresas
registadas em Moçambique, e não o con-
trário”. Esta deve ser a base de desenvolvi-
mento da estratégia e política do Conteúdo
Local, e não estes princípios complexos e in-
termináveis que as embaixadas e ONGs oci-
dentais estão a prestar-lhes ajuda com eles.
Meus pares, apesar das teorias internacio-
nais encontrarem, na base dos princípios de
mercado livre, argumentos para mostrarem o
contrário, não há nada de errado em proteger
o que é seu. A nossa prosperidade depende
da lucidez com que lidamos com a protecção
dos nossos activos, e no nosso discernimento
sobre o papel do investidor estrangeiro…
O seu comentário e contribuição serão
bem-vindos. Obrigado pelo seu suporte ao
movimento SER ESPIRITUAL https://
web.facebook.com/serespiritual.mz/
 SAÚDE E GÉNERO

21
Estudo testa utilidade da Mulala no combate à
resistência antimicrobiana
Um estudo apresentado sábado, no contexto das III Jornadas de
Saúde da Região Norte, pelo pesquisador Cifo Viegas, fez uma análise
fitoquímica da actividade antimicrobiana in vitro (fora do organismo)
de Euclea natalensis (Mulala) contra a Candida albicans e Streptococ-
cus pneumoniae, com o objectivo de avaliar a utilidade da planta no
28 DE NOVEMBRO DE 2023
combate à resistência antimicrobiana.

Apoio às vítimas de violência ainda é deficitário

Falta de psicólogos nalguns centros de saúde condena vítimas a
viverem traumatizadas

A
falta de psicólogos em grande parte dos hospi-
tais e centros de saúde dificulta a recuperação
das vítimas da violência doméstica, fazendo
com que muitas continuem a conviver com os
traumas causados pelos agressores. Para além
da falta de psicólogos, há casos em que as próprias vítimas
preferem abraçar o silêncio, o que, para activistas sociais,
muitas vezes acontece porque há uma ideia de que os psicó-
logos tratam de malucos.

Esneta Marrove
Engana-se quem pensa que
a dor causada a uma vítima
de violência termina quan-
do a agressão cessa. Muitas
vezes, o ciclo de violência
deixa traumas na vítima, que
duram anos e as vezes acom-
panham-na por toda a vida,
fazendo-se, por isso, neces-
sário um acompanhamento
psicológico.
No entanto, nem todas as
unidades sanitárias do país
dispõem de psicólogos para
garantirem um acompanha-
mento das vítimas da vio-
lência, uma situação que faz
com que as vítimas convivam
ma, que tinha 19 anos quan-
do foi violada, lembra como
se fosse hoje o momento de
agonia que passou nas mãos
dos violadores.
“Eram meus colegas da es-
cola. Sempre voltávamos jun-
tos e nunca cheguei a suspei-
tar de nada. O que aconteceu
naquele dia foi difícil de acei-
tar, aliás, continua difícil”, re-
latou Joana, com uma lágrima
a espreitar no canto do olho.
Segundo relata, tudo co-
meçou quando os seus cole-
gas, com quem frequentava
o ensino noturno, a propuse-
ram sexo em troca de com-
de umas machambas. Eles
rasgaram meu uniforme, tira-
ram tudo e violentaram-me,
foi difícil acreditar que eles
estavam a fazer aquilo comi-
go. Nunca pensei que pudes-
se acontecer”, conta Joana,
para depois acrescentar que
o episódio mudou completa-
mente a sua vida.
Médicos e enfermeiros
para o distrito de Chokwe, na
província de Gaza.
Quem também conhece a
crueldade humana é Anto-
nieta, que saiu da província
de Inhambane para Maputo
em 2000, onde conheceu o
seu ex-marido, que durante o
namoro prometeu-lhe amor
e protecção, mas era tudo
mentira. E as juras de amor
aos poucos se transformaram
tava mentalmente transtorna-
da devido ao ‘pesadelo’ que
viveu com o antigo parceiro,
daí optamos por clínicas pri-
vadas”, contou Lucia Macha-
va, vizinha que a ajudou no
momento mais difícil da vida.
Há fraco entendimento
sobre a importância
dos psicólogos

No princípio disseram a vítima para ir

ao hospital psiquiátrico
num sentimento amargo, pas-
sando a conviver diariamente
Para a psicóloga clínica,
Amélia Muchanga, a violên-

eram só insultos, Os agressores foram de-

com violência física, patrimo-
nial, psicológica, moral e até
cia deixa sequelas na vida de
quem sofreu, daí que defende

eu achava normal, tidos dias depois, mas o que

a jovem precisava era assis-
sexual.
“No princípio eram só
que todas as vítimas precisam
sempre do apoio psicológico

principalmente tência psicológica que não

chegou a receber por parte
insultos, eu achava normal,
principalmente quando eu
para evitar traumas maiores
no futuro.

quando eu errava, dos profissionais de saúde.

Segundo a vítima, após regis-
errava, mas depois foi se
agravando, até o dia que ele
Uma ideia defendida tam-
bém pela Associação Socio-

mas depois foi se tar a ocorrência, os homens

da lei e ordem indicaram-
me bateu e fui parar no hos-
pital, não podia meter queixa
cultural Horizonte Azul (AS-
CHA), uma organização que

agravando, até o dia -na um centro de saúde mais

próximo da sua residência,
por causa dos nossos filhos,
então decidi calar”, contou a
trabalha em assuntos ligados
ao género. Segundo a activis-

que ele me bateu e entretanto, não chegou a ter

nenhuma assistência, pois
vítima.
Acto contínuo, o seu ma-
ta social Denise Fazenda, já
há muito que as vítimas de

fui parar no hospital, aquela unidade sanitária não

dispõe de nenhum psicólogo.
rido passou a agredi-la fre-
quentemente, até que uma
violência reclamam sobre a
falta de apoio psicológico nos

não podia meter “Eu precisava conversar

com um psicólogo, para es-
vizinha a convenceu a denun-
ciar o parceiro, uma decisão
hospitais e aponta a banaliza-
ção do psicólogo.

queixa por causa dos quecer tudo que aconteceu

comigo naquele dia. Os médi-
que foi difícil, mas necessária.
Os anos de violência haviam
“Olhamos para o psicó-
logo como uma pessoa que

nossos filhos, então cos e enfermeiros diziam que

psicólogo cuida de doentes
deixado marcas indeléveis na
mulher de 37 anos.
cuida de doentes mentais,
mais do que nós como socie-

decidi calar. mentais e se eu quisesse um,

com os traumas.
Joana, nome fictício, vivia
com seus tios no bairro Tre-
vo, na cidade da Matola, pro-
víncia de Maputo, quando foi
violada sexualmente por qua-
tro colegas da escola. A víti-
panhia, visto que já era tarde
para voltar sozinha a casa, o
que para Joana não se passa-
va de brincadeira, pois nunca
acreditou que pudessem fazer
aquilo. Mas, estava enganada.
“Isso aconteceu no meio
devia ir ao hospital psiquiátri-
co. Foi aí que tomei a decisão
de nunca mais voltar ao hos-
pital”, lembra Joana e acres-
centa que no princípio foi
difícil lidar com o que viveu,
e até das pessoas próximas
distanciou-se e só foi possí-
vel esquecer alguns episódios
graças a sua tia que a tirou
Com ajuda da mesma vizi-
nha procuraram ajuda psico-
lógica, mas assim como a Joa-
na, Antonieta não teve ajuda
psicológica, pelo menos não
de profissionais de um hospi-
tal público porque não havia
psicólogos disponíveis.
“Diziam que todos esta-
vam ocupados, o que para
Antonieta foi difícil, pois es-
dade ou vítimas, eles também
como profissionais de saúde
banalizam a sua função, daí
que esta falta de apoio psico-
lógico aumenta o trauma de
várias vítimas”, sustenta.
Daí que a ASCHA apela
que os profissionais olhem
a vítima de violência como
uma pessoa que precisa de
ajuda urgente.
 22 DESPORTO Geny Catamo regressa a titular na goleada do Sporting
O Internacional moçambicano Geny Catamo foi titular na
goleada do Sporting sobre o Dumiense, por 8-0, em jogo da
Taça de Portugal, da quarta ronda. Depois de pouco mais de
três semanas lesionado, em que perdeu até os dois jogos dos
28 DE NOVEMBRO DE 2023 Mambas de apuramento ao Mundial-2026, o extremo moçam-
bicano regressou e jogou a titular pelos leões.

Nove meses depois, Reinildo está de volta ao Brera FC, Textáfrica e Desportivo de Nacala carimbaram passaporte na ultima jornada
Dois regressados e um estreante no
Atlético de Madrid

O
Moçambola 2024

jogador que se lesionou em Fevereiro pas-
sado já está disponível ao lado do resto de
seus companheiros e poderá voltar a entrar
nas escolhas de Diego Simeone, treinador
do Atlético de Madrid.
Evidências
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ
O
na defesa do Atlético de Ma-
drid. Na temporada passa-
da, jogou 22 jogos, mas não
pôde estar em quase toda a
segunda volta. Durante o pe-
ríodo que esteve disponível,
Reinildo tornou-se peça-cha-
ve da defesa de Semione e
foi constantemente manche-
te nos principais jornais com
melhor pontuação semanal-
mente.
Quanto a pontos, no Diá-
Moçambola 2024 terá um extreante absoluto.
Trata-se da formação do Brera FC de Tchume-
ne, equipa com menos de três anos de existência
que qualificou-se este sábado, pela primeira vez,
para o Moçambola, ao vencer o Desportivo da
Matola por uma bola sem resposta, em jogo da segunda mão da
finalíssima da “poule” de apuramento, numa zona em que deixa
históricos como Maxaquene, Desportivo e Liga Desportiva.
O Brera confirmou a sua pre- O primeiro campeão de Mo-
sença na maior prova futebolísti- çambique pós-independência,
ca nacional com um agregado de agora treinado por Abdul Omar,
4-1, depois de ter vencido por 3-1 regressa assim à maior festa do fu-
no jogo da primeira mão. tebol nacional depois de ter esta-

Reinildo Mandava foi con-
vocado e foi suplente não
utilizado no jogo de sábado
passado contra o Mayorca.
Quando entrou no estádio
foi possível ver o público
vibrar ao ver aquele que já
é um dos maiores ídolos da
equipa de Madrid.
Vítima de uma ruptura do
ligamento cruzado no início
de 2023, o ex-jogador do
LOSC, Reinildo, demorou
273 dias para voltar aos rel-
vados na capacidade de se
candidatar a um lugar titular.
Entretanto, não saiu do
banco, mas teve a felicidade
de ver os seus companheiros
de equipa vencerem por 1-0,
com golo do seu amigo An-
toine Griezmann.
Reinildo Mandava é um
jogador muito importante
rio As obteve 92 pontos, em Com um ano de existência, o do arredado da prova por um ano.
Estatísticas chegou a 118 representante da província de Ma- Já pela zona norte do país, o
pontos, e no Sofascore ob- puto, vai fazer parte do convívio Desportivo de Nacala garantiu a
teve 106 pontos. Não foi ex- dos grandes, tendo tido um per- presença no Moçambola, derro-
pulso nenhuma vez e só viu curso imaculado na fase regular tando o seu homónimo de Pem-
quatro cartões amarelos. de apuramento e na finalíssima, ba por uma bola sem resposta,
visto que venceu todas as partidas. o mesmo resultado registado no
Neste momento, a grande
O Textáfrica, pela zona centro jogo da primeira mão na cidade
preocupação dos espanhóis do país, carimbou o seu regresso portuária de Nacala.
é a possibilidade de Reinildo ao Moçambola, ao receber e der- O Desportivo volta a colocar
desfalcar a equipa em Janei- rotar à tangente (1-0) a Liga Des- o distrito de Nacala no radar do
ro quando for chamado a portiva de Sofala, depois de no Moçambola, que viu o Ferroviário
representar a selecção nacio- jogo da primeira mão ter arran- local descer de divisão na presente
nal, os Mambas, no Campeo- cado um empate a uma bola fora. temporada. O País/Evidências
nato Africano das Nações
(CAN). Em Espanha, a ideia
que existe é de que a decisão
final caberá ao próprio Rei-
nildo, ou seja, se se junta ao
país e perde mais dois meses
no clube nesta época ou per-
manecer no clube para con-
tinuar o seu entrosamento
com a equipa.

Black Bulls vence sua primeira Taça de Moçambique num jogo

em que a arbitragem voltou a ser protagonista

A
Associação Black Bulls sagrou-se vencedora
da Taça de Moçambique de futebol ao der-
rotar, este Domingo, a União Desportiva do
Songo por 2-1, na final da competição que teve
lugar na tarde deste domingo, 26 de Novem-
bro, no Caldeirão do Chiveve, na cidade da Beira. Entretan-
to, a arbitragem acabou sendo protagonista, o que resultou
na contestação da União Desportiva do Songo.
Numa final disputadís- mene.
sima e que foi marcada por Os “hidroeléctricos” de
uma arbitragem de Artur tudo fizeram para chegar ao
Alfinar auxiliado por Olinda golo de empate, com Do-
Augusto e Roda Mondlane minguez a puxar pelos seus
que sofreu contestação por colegas, porém a primeira
parte da União Desportiva parte acabou por terminar
do Songo, a Black Bulls foi com essa magra vantagem
a primeira a marcar quando para a Black Bulls.
estavam jogados 20 minutos Na segunda parte, a União
por intermédio de Kadre, Desportiva do Songo este-
o capitão dos “touros” que ve por cima do jogo e fru-
galvanizou a equipa de Tchu- to disso chegou ao golo de
empate aos 63 minutos, com
o tento a ser apontado por
Dayo António, para alegria
dos adeptos que estavam em
bom número no Caldeirão
do Chiveve.
Porém, acabou por ser
a Associação Black Bulls
a chegar ao segundo golo
quando estavam decorridos
86 minutos com Melque a le-
var a bola para o fundo das
redes de Guirrugo que foi
incapaz de travar a bola que
anichou-se nova fundo das
redes “hidroeléctricas”.
Daí para frente a Black
Bulls controlou o rumo dos
acontecimentos até ao apito
final contenda, garantindo
deste modo a conquista da
sua primeira Taça de Mo-
çambique que junta-se ao
título de Campeão Nacional
conquistado em 2021, no seu
primeiro ano na alta roda do
futebol nacional.
A Black Bulls recebeu das
mãos do Secretário de Es-
tado do Desporto, Gilberto
Mendes, o troféu de vence-
dor da Taça de Moçambique
que foi acompanhado por
um cheque de 500 mil Me-
ticais de prémio atribuídos
pelo patrocinador da com-
petição. Refira-se que os jo-
gadores da União Desporti-
va do Songo em protesto à
arbitragem decidiu oferecer
ao público as medalhas pela
segunda posição nesta prova
que marca o encerramen-
to da época futebolística do
país. LANCEMZ
 CULTURA
23
Paulina Chiziane de malas prontas para Angola
A conceituada escritora moçambicana, Paulina Chiziane, tornou
a informação pública de que está a caminho do país dos Kwanzas,
através do seu Facebook. O objectivo da viagem é a sua partici-
pação numa conferência organizada pela Ordem dos engenheiros.
Consigo vão também alguns membros da sua equipa: o jurista e his- 28 DE NOVEMBRO DE 2023
toriador Vieira Mário, músico e produtor Grande Homem e poeta
Eduardo Salmo.

Artista moçambicana Fauziya Fliege homenageia avó em

exposição individual na Costa Rica

A
artista moçambicana Fauziya Fliege expõe “Em
homenagem a minha avó”, uma mostra de artes
plásticas patente na Galeria Nacional, na cidade
de São José, na Costa Rica. Trata-se de uma ex-
posição que encerra este domingo (3), depois de
um mês aberta ao público, entre terça-feira e domingo.
Através desta mostra, Flie- Ao longo da vida, a avó
ge partilha a história de uma de Fliege enfrentou inúme-
mulher excepcional, cuja his- ros sacrifícios e dificuldades,
tória é comovente e merece mas permaneceu determina-
ser conhecida por muitos. É da. Tornando-se mãe aos 15
anos, os seus dias foram mar-
cados pela saudade da vida
que nunca pôde desfrutar,
pelas aventuras e experiên-
cias que lhe foram negadas.
“Esta mostra é uma vitrine
que reflecte a força e o lega-
do da minha avó, uma mu-
lher excepcional”, partilha a
artista, acrescentando que,
através de suas histórias, “mi-
nha avó transmitiu valiosas
lições de vida e nos ensinou
a nunca desistir, não importa
os desafios que enfrentamos.
uma narrativa de bravura e Sua história de resiliência e
auto-aperfeiçoamento que superação das adversidades
começa com sua infância em é um testemunho inspirador
uma aldeia como filha do da capacidade humana de en-
chefe local. frentar obstáculos e encontrar
Aos 13 anos, a sua vida o sucesso.”
mudou drasticamente, foi Nesta exposição, conta a
dada de presente a um co- artista, “tentei captar essas his-
lonizador branco português tórias em imagens, particular-
num casamento que lhe rou- mente as de mulheres – as mu-
bou a juventude e a inocên- lheres que dançam com graça
cia. Apesar de viver num pa- e liberdade, as rainhas que go-
lácio, o seu espírito sempre vernam com sabedoria e força,
ansiava pela liberdade e ale- e as mães que dão vida e amor
gria que lhe foram negadas incondicional.”
na juventude. Cada obra, entre as 13 pre-
sentes, representa uma ima-
gem dos contos da sua avó,
uma janela para o seu mundo
e o poder e a beleza das mu-
lheres.
A mostra “Em homenagem
aos contos da minha avó” en-
cerra este domingo, mas abre
uma série de projectos para
2024. Por exemplo, a artista
prepara-se para uma exposição
colectiva no Museu Diocesano
de Milão e Capitólio de Terni,
na Itália, para além de duas ex-
posições individuais em outros
museus da Costa Rica.
Fauziya Fliege: artista
coloca mulher no centro
das suas criações
Fauziya Fliege (38 anos) é
artista e activista moçambica-
na. Natural de Chimoio, Mani-
ca, está radicada na Costa Rica
desde 2019. É uma mulher do
mundo, com passagens por
Malawi, Angola, Alemanha e
Tanzânia, graças aos trabalhos
de diplomacia do seu marido.
Nestes lugares, Fliege conhe-
ceu vários artistas e frequen-
tou várias exposições, onde
tenciona levar à sua arte bre-
vemente.
É fluente em português, in-
glês, alemão e espanhol. Para
além de artista, é membro
da Associação Diplomática
de Ajuda à Costa Rica e, nos
tempos livres, é praticante de
boxe.
Dedica-se às artes plásticas
desde 2021, mas desde crian-
ça, inspirada pelo pai, treina a
pintura e o desenho.
Em 2022, doou duas telas
à Associação Diplomática de
Ajuda à Costa Rica, durante
um evento beneficente, onde
conseguiu vendê-las, e tem
uma pintura intitulada “A paz”,
que está fixa junto à bandeira
de Colômbia, na residência do
embaixador, na Costa Rica.
Fliege já participou de
várias exposições colectivas
em vários lugares da Costa
Rica. Tal como nesta expo-
sição, tem maior paixão por
pintar mulheres, sobretudo
as corajosas, fortes, lindas,
trabalhadoras e sensuais,
mas também mulheres tris-
tes e sofridas. Ainda que
invista em arte figurativa, a
artista também se aventu-
ra pelo abstracto através da
técnica acrílica, a óleo e mis-
ta. Entre Aspas

Continuação da pag 03

onde estão alocados”, subli-
nhou.
Em relação à discrepância
em termos de salários entre
nacionais e estrangeiros, a
Eni alegou novamente ques-
tões de confidencialidade
para não responder a ques-
tão.
Inspecção Geral do
Trabalho promete
pronunciar-se
As irregularidades contra-
tuais já são do conhecimento
do Ministério do Trabalho
e Segurança Social, através
da Inspecção Geral do Tra-
balho, órgão ao qual os tra-
balhadores nacionais na Eni
recorreram, em Agosto pas-
sado, em busca de uma so-
lução dos seus problemas e
proteção do Estado para os
seus direitos.
Segundo os queixosos, a
Inspecção do Trabalho des-
locou-se ao terreno para in-
vestigar e até conversou com
os trabalhadores moçambi-
canos, o que permitiu desco-
brir diversas irregularidades.
Contudo, estranhamente, os
resultados da referida sindi-
cância nunca foram tornados
públicos, o que leva os traba-
lhadores a desconfiarem da
possibilidade de ter havido
uma negociata entre os ins-
pectores do Ministério do
Trabalho e a direcção da Eni
para ocultar-se os resultados
da investigação, enquanto
os trabalhadores nacionais
continuam votados à própria
sorte.
“A equipa dos Recursos
Humanos, na pessoa da sua
directora Mara Milani e o seu
adjunto Elias Chau, tudo fez
para impedirem com que os
inspectores do Ministério do
Trabalho estivessem em con-
tacto com os funcionários
moçambicanos, mas todo
o esforço foi em vão. Nes-
te momento, a empresa Eni
em Moçambique se encontra
sob investigação, das diversas
irregularidades encontradas
no terreno, desde os tipos
de contratos usados aos tra-
balhadores moçambicanos, a
larga diferença em termos de
remuneração entre um local
e expatriado, especialmente
os italianos, benefícios so-
ciais e etc”, relatam os traba-
lhadores.
O Evidências já subme-
teu um pedido de entrevista
e esclarecimentos à Inspec-
ção geral do trabalho, com
vista a obter a reação desta
entidade a respeito das irre-
gularidades relatadas e dos
resultados da investigação,
contudo, até ao fecho desta
edição, a instituição ainda
não estava disponível para
a entrevista. Contudo, con-
tinuaremos aguardando pela
resposta para o seguimento
deste assunto.
E IDÊNCIAS
60 Meticais

Revisão da Lei de Florestas e Fauna Bravia

Proposta extingue licenças simples e cria entidade autónoma
para a gestão e administração do património florestal
O instrumento estabelece a obrigatoriedade de produção de lenha e carvão vegetal a
partir de espécies exóticas

A
Assembleia da República (AR) aprovou recen- os produtos florestais madeireiros
temente, por consenso, a proposta de revisão passiveis de exportação; simplifi-
da Lei n º 10/99, de 7 de Julho, Lei de Flores- ca-se e incentiva-se a exportação
tas e Fauna Bravia, para harmonizá-la com de produtos florestais provenien-
os quadros político-legais sobre a governação tes das plantações florestais, com
descentralizada e desconcentrada, terra, ambiente, orde- excepção de lenha e carvão e;
namento territorial e conservação da biodiversidade. Entre incentiva-se a exportação de pro-
inovações, consta, no domínio da exploração florestal, a ex- dutos florestais não madeireiros
tinção do regime de exploração por licença simples, já há (mel, frutos silvestres, sementes,
muito considerado insustentável e fonte de proliferação de cumulemos, etc).
licenças e autorizações ilícitas, sobreposição e conflitos en- No domínio das taxas, prevê-
tre os operadores. -se o estabelecimento de meca-
nismos eficazes de fixação, actua-
Evidências lização e ajustamento das taxas de
Em comunicado emitida se- A mesma é reconhecida como exploração florestal transparentes
mana passada, o Ministério de uma das mais inovadoras do qua- e auditáveis baseados nas regras
Terra e Ambiente, reitera que a dro legal do sector, com aspectos insustentável e fonte de prolife- produção de lenha e carvão ve- do Mercado; consignação dos
revisão da Lei de Florestas e Fau- relevantes em cada um dos se- ração de licenças e autorizações getal a partir de espécies exóticas valores das taxas, tendo em con-
na Bravia permitirá uma correcta guintes domínios, a começar por ilícitas, sobreposição e conflitos (eucalipto, pinheiro, etc), inversão ta a desconcentração e o reforço
gestão, uso sustentável e valori- domínio institucional, onde pre- entre os operadores. do actual cenário em que a pro- da capacidade técnica do sector
zação dos recursos florestais em vê-se a criação de uma entidade “Estabelece-se a concessão dução de lenha e carvão vege- público a nível local; fixação de
prol do bem-estar das actuais e autónoma para a gestão e admi- florestal como uma área de do- tal constitui uma das principais mecanismos céleres, transparen-
futuras gerações e responder, de nistração do património florestal, mínio público do Estado, sob fontes de devastação da floresta tes e monitoráveis de organiza-
forma adequada, aos desafios fu- o que vai reduzir a actual disper- duas (2) categorias de conces- nativa. Criam-se assim incentivos ção, representação, canalização
turos, em conformidade com a são de atribuições e competências são florestal, nomeadamente, de para o sector privado interessado e utilização dos valores anterior-
Política Florestal e Estratégia de nos níveis central, provincial e em grande dimensão e de pequena em desenvolver plantações flores- mente referidos, tendo em conta
sua Implementação. alguns casos o distrital. dimensão, impondo-se que o seu tais para fins energéticos. a existência de comités ou conse-
Composta por 11 capítulos No domínio da protecção e acesso seja nos termos a Lei que As mudanças se estendem no lhos locais como legítimos repre-
e 81 artigos, a Lei de Florestas conservação, lê-se que as reser- regula o património público e a domínio da exportação de pro- sentantes das comunidades locais
aplica-se às pessoas singulares e vas florestais, as florestas e ecos- obrigatoriedade de concursos dutos florestais, onde é expressa residentes na área de exploração.
colectivas, bem como às comu- sistemas sensíveis (mangais), as público para a atribuição de qual- a proibição da exportação de ma- Mas é na criminalização da
nidades locais no exercício de árvores de valor histórico e social quer direito em bens públicos do deira em toros e carvão vegetal de exploração, comercialização e
quaisquer actividades relativas a passam a ter o tratamento de pa- Estado, no quadro do princípio qualquer espécie em todo o terri- exportação ilegal onde se estabe-
criação, protecção, conservação, trimónio protegido, ao abrigo da da transparência e igualdade de tório nacional. lece a criminalização da explora-
valorização, acesso, exploração, Lei de Conservação. oportunidade entre os cidadãos”, Eliminam-se as excepções ção e comercialização ilegal dos
transporte, processamento, co- Enquanto no domínio da ex- lê-se no documento. outrora existentes na legislação recursos florestais e exportação
mercialização e fiscalização do ploração florestal, é extinto o re- No domínio da exploração de vigente. Criminaliza-se a exporta- ilegal dos produtos florestais
património florestal existente em gime de exploração por licença lenha e carvão vegetal, a nova lei ção ilícita de produtos florestais; com pena de prisão de 1 a 5 anos
todo o território nacional. simples, já há muito considerado estabelece a obrigatoriedade de especificam-se de forma taxativa e multa correspondente.

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