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Revista de audiências públicas do Senado Federal

Ano 4 – Nº 17 – setembro de 2013

Terras-raras

Estratégia
para o futuro
Senado tem propostas para o país
aproveitar minerais, inovar e produzir
equipamentos de alta tecnologia
Aos leitores

M ajoritariamente expor tador


de matéria-prima desde os
tempos coloniais, o Brasil não quer
toneladas de terras-raras e de que
pelo menos três empresas mobilizam
recursos para explorá-las — e indus-
deixar passar mais uma ­oportunidade trializá-las aqui mesmo.
de entrar na nova era industrial. De Porém, o país poderia estar mais
olho nas múltiplas aplicações, em bem posicionado no mercado inter-
produtos de tecnologia de ponta, de nacional se não houvesse deixado
17 minerais conhecidos como terras- passar oportunidades. O Brasil já
-raras, o país está se organizando foi o maior fornecedor mundial de
não apenas para retirar esse tesou- terras-raras, mas pouco fez para
ro do subsolo, mas também para processá-las no território nacio-
transformá-lo, aqui mesmo, em equi- nal, interrompendo a produção.
pamentos de alto valor a­ gregado. Enquanto isso, a China começou a
Essa é a intenção do Senado, que produzi-las na década de 80 e, em
criou, na Comissão de Ciência, Tec- pouco tempo, dominou a quase
nologia, Inovação, Comunicação e totalidade do mercado, causando,
Informática (CCT), uma subcomis- inclusive, uma situação de insegu-
são especial para tratar do estímulo rança na oferta e nos preços.
à produção e industrialização das Agora, o Brasil espera não ficar
terras-raras. Com o senador Ani- para trás. E, para isso, o Senado
bal Diniz (PT-AC) na presidência e participa, com sugestões para o
o senador Luiz Henrique (PMDB-​ financiamento da pesquisa e da
SC) na relatoria, o grupo reuniu 21 produção, além de incentivos para
especialistas do governo, das uni- a iniciativa privada, com redução da
versidades e da iniciativa privada, burocracia para quem processar as
entre maio e julho de 2013, para estratégicas terras-raras.
elaborar propostas que incentivem Nas próximas páginas, c­ onheça
investimentos em toda a cadeia o que são as terras-raras, suas prin-
produtiva que envolva os elementos cipais aplicações, a realidade do
de terras-raras. mercado brasileiro e mundial e as
Apesar de encontrar uma situ- propostas preparadas pelo Senado
ação desfavorável, as perspectivas para que o Brasil entre nesse jogo.
não são ruins. Já há notícias de que o
Brasil possui reservas de milhões de Boa leitura!
SUMÁRIO

Mesa do Senado Federal

London Commodity Markets


Presidente: Renan Calheiros
Primeiro-vice-presidente: Jorge Viana
Contexto Mundo
Segundo-vice-presidente: Romero Jucá
Primeiro-secretário: Flexa Ribeiro
Segunda-secretária: Ângela Portela
Terceiro-secretário: Ciro Nogueira
Terras-raras Nações procuram
Quarto-secretário: João Vicente Claudino
Suplentes de secretário: Magno Malta, Jayme
são cruciais saída para monopólio
Campos, João Durval e Casildo Maldaner para a alta dos chineses 36
Diretora-geral: Doris Peixoto tecnologia 6
Secretária-geral da Mesa: Claudia Lyra Potencial de reserva está
Associação com a longe de ser conhecido
40
radioatividade é
Expediente Preços tiveram salto em 2011,
um empecilho
16
Secretaria de
Comunicação Social
subindo até 600%
42
Decisão da OMC pode
Realidade Brasileira 50
mudar cenário internacional

Otero Mesa
Diretor: Davi Emerich
Diretor de Jornalismo: Eduardo Leão

A revista Em Discussão! é editada pela


Coordenação Jornal do Senado Propostas
Coordenador: Flávio Faria
Editor-chefe: João Carlos Teixeira
Editores: Joseana Paganine, Sylvio Guedes e
Estratégia é mudar
Thâmara Brasil
Reportagem: João Carlos Teixeira, Joseana Paganine,
novo Código de
Sylvio Guedes e Thâmara Brasil Mineração 54
Capa: Priscilla Paz

London Commodity Markets


Reprodução

Diagramação: Bruno Bazílio e Priscilla Paz


Arte: Bruno Bazílio, Cássio Sales Costa, Diego Jimenez e Financiar pesquisa e criar uma
Priscilla Paz
Revisão: Fernanda Vidigal, Pedro Pincer e Tatiana
cadeia produtiva são metas
56
Beltrão
Senadores se antecipam com
Pesquisa de fotos: Braz Félix e Leonardo Sá
Tratamento de imagem: Roberto Suguino
País consome pouco e não projetos sobre tributação e
Circulação e atendimento ao leitor: produz, mas quer mudança 18 regulação do setor
58
Shirley Velloso (61) 3303-3333

Tiragem: 2.500 exemplares Mapeamento das reservas Governo quer incentivar

Site: www.senado.leg.br/emdiscussao
nacionais é prioridade
22 exploração e arrecadar mais
59
E-mail: emdiscussao@senado.leg.br
Twitter:@jornaldosenado
É preciso garantir recursos
www.facebook.com/jornaldosenado
Tel.: 0800 612211
para investir em inovação
26 Saiba mais 62 A tramitação dos projetos Veja e ouça mais em:
Fax: (61) 3303-3137 “Primo” das terras-raras, nióbio pode ser acompanhada
Praça dos Três Poderes, Anexo 1 do
Senado Federal, 20º andar —
70165-920 — Brasília, DF
tem aplicações importantes
29 no site do Senado:
www.senado.leg.br
Meta é produzir ímãs, mercado
Impresso pela Secretaria de
Editoração e Publicações — Seep
pequeno, mas estratégico
31
contexto

O minério da vez
Estratégicos, com nome enigmático e nas mãos dos chineses. Os elementos de
terras-raras estão na tecnologia de ponta. Senado quer Brasil nesse mercado

N
em terras, nem raras. Cientes disso, a partir do final Desenvolvimento Tecnoló-
Gary W. Meek/Georgia Tech

E concentradas em dos anos 80, os chineses, com gico e Inovação do Minis-


um só país. Essas são reservas fartas, mão de obra ba- tério da Ciência, Tecnologia
algumas característi- rata e baixos preços, passaram e Inovação (MCTI), Alvaro
cas das terras-raras, nome dado a a controlar o mercado (leia mais Prata.
17 elementos químicos da tabela na pág. 36). Com isso, empre- Apesar de ter praticamen-
periódica que ganham cada vez endimentos pelo mundo afora, te abandonado a produção, o
mais destaque nas evoluções tec- mesmo em países que têm os mi- Brasil, que já foi o maior pro-
nológicas da atualidade. Isso por- nerais, perderam competitividade dutor mundial (leia mais no his-
que, pelas características eletrôni- e fecharam. Com quase 100% tórico na pág. 11), conta com boas
cas, magnéticas, ópticas e catalí- das vendas internacionais, a Chi- reservas de elementos de terras-
ticas, melhoram o desempenho na regulou a produção, o que fez -raras (ETRs). Para conhecer
de materiais que integram lâm- com que os preços saltassem em melhor as terras-raras de que o
padas, telas de celulares ou moto- 2011, causando uma nova corrida Brasil dispõe, o Serviço Geológi-
res e baterias (veja no infográfico mundial para a produção desses co do Brasil (CPRM) está condu-
nas págs. 8 e 9 o que são e quais as elementos. zindo um levantamento que deve
aplicações das terras-raras). “Há 100 anos, o Brasil era um ficar pronto em 2014, financiado
Mesmo chamados de raros, os dos maiores produtores de terras- por R$ 18,5 milhões do Progra-
elementos estão mais presentes -raras, mas, em função de a Chi- ma de Aceleração do Crescimen-
no subsolo do planeta que me- na possuir as maiores reservas e to — PAC (leia mais na pág. 22).
tais como prata, ouro e platina. se tornar um grande produtor, os “O Brasil não tem proble-
Ainda assim, são considerados es- outros países negligenciaram ma de matéria-prima de terras-
tratégicos, o “ouro do século 21” Terras-raras, depois de separadas em óxidos de cada um de seus elementos, têm cada esse aspecto estratégico”, -raras. Se, hoje, todos os depósi-
vez mais aplicações relacionadas inclusive à chamada economia verde
(leia mais na pág. 15). informa o secretário de tos que já são conhecidos, como

Arte: priscilla paz


6 setembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao 
7
Contexto

Mil e uma utilidades na alta tecnologia


Os elementos de terras-raras têm características eletrônicas, ópticas, magnéticas e catalíticas, associadas a leveza,
resistência e eficiência energética. Veja onde estão as terras-raras e em que produtos elas são aproveitadas
Eu Te Eu
Ce Y
Nome do elemento
Símbolo na tabela periódica Xoxoxoxo Escândio Ítrio Lantânio Cério Praseodímio Neodímio Promécio Samário
Crítico: $; ou Não crítico:$
Pesado: ; ou Leve: X
X X - Sc $
Y $
La $
Ce $
Pr $
Nd -Pm $Sm Y

Európio Gadolínio Térbio Disprósio Hólmio Érbio Túlio Itérbio Lutécio Yb

$
Eu $Gd $Tb $Dy $Ho -
Er -
Tm $Yb -
Lu Diodo emissor de luz (LED)
Er
Monitor de vídeo

Aspecto de terra, com valor da inovação La


Eu O nome terras-raras vem do século 19, quando os elementos foram descobertos. Hoje, já se sabe que eles não são tão
raros assim, mais abundantes no planeta que metais como prata, ouro e platina. Diferentemente de outros minerais, como La
ouro e ferro, aparecem em baixa concentração, espalhados ou misturados com outros elementos, com aparência de terra. Liga de aço
A dificuldade está em separá-los — apenas uma
Y
pequena porção de cada um pode ser obtida em grande Automóvel híbrido
quantidade de minério.
Reator nuclear Computador

La Ce Câmera fotográfica

Ligas metálicas Nd

Nd
Gerador eólico 1
La Disco rígido
Lu La
Dy
Nd Sm Yb
Ce Gd
Tb

Sc Ce
Motor híbrido
Nd
Refino de petróleo Nd

La Pr Ímãs
Catalisador (1) Usa motor elétrico com ímãs de terras-raras (2) Usa alto-falantes com ímãs (3) Usa Dy
Bateria atômica motor elétrico, ligas metálicas, petróleo refinado e outras aplicações de terras-raras Motor elétrico

Outras aplicações
Sm Tb Eu
Ho Sm
La Nd La
Tm Y
Y Yb

Eu
Equipamento de raios X Lente Telefone celular 2 Laser Cerâmica supercondutora Alto-falante Tecnologia aeroespacial 3 Lâmpada fluorescente
Contexto

Geraldo Magela/Agência Senado maio e julho deste ano, foram


ouvidas 21 autoridades no as-
Brasil já foi maior produtor mundial
sunto, entre empresários, pes-
quisadores e representantes de Apesar de o Brasil não ser mais um A partir da monazita obtida na pág. 32) coincidiu com o início da
prefeituras e órgãos do governo. protagonista no mercado de terras- Usina de Praia, em São Francisco de exploração de terras-raras em bas-
“A subcomissão quer que o -raras, o início da exploração mundial Itabapoana (RJ), a empresa Orqui- tnasita, nas minas de Mountain
Brasil, independentemente de dos elementos começou aqui, nas ma começou a fabricar compostos Pass, na Califórnia (Estados Unidos),
oscilação de preço de mercado, praias de Cumuruxatiba, no sul da de terras-raras na década de 40 na que abocanhariam mais da meta-
domine o processo científico Bahia. Em 1886, descobriu-se que a Usina Santo Amaro, em São Paulo. A de da produção mundial até meados
e tecnológico das terras-raras. areia do local era rica em terras-ra- produção foi usada inclusive na cons- da década de 80, quando a China
Com o domínio do conheci- ras, cujas propriedades começavam a trução do primeiro submarino nuclear entrou no mercado. Em duas déca-
mento, não vamos sucumbir ser exploradas. Na época, elas eram dos Estados Unidos. das, os chineses, praticando preços
às flutuações, às ciclotimias do usadas nas mantas de lampiões a muito baixos, decretariam o fim de
mercado”, explica o relator do gás (também chamadas de camisas), Fim em duas décadas praticamente todas as operações em
Ao lado do ministro Marco Antonio Raupp, o presidente da CCT, senador Zeze grupo da CCT, Luiz Henrique para que não se queimassem quando “Em 1946, o Brasil foi pionei- outros países (leia mais na pág. 36),
Perrella (D), na reunião de instalação do grupo criado para estudar as terras-raras (PMDB-SC). incandescentes. ro, com a Orquima, a separar as suprindo a crescente demanda por
O relatório traz sugestões de Até 1915, graças às areias do li- primeiras terras-raras no mundo e terras-raras e as novas aplicações
os ­c omplexos carbonatitos de está na casa dos trilhões de dóla- emendas ao projeto do novo toral do norte do Rio de Janeiro até a produzi-las industrialmente. Em tecnológicas (veja infográfico nas
Araxá (MG), Catalão (GO), res. Com um mercado pequeno, Código de Mineração (PL o sul da Bahia, o Brasil foi o maior 1956, o enfoque passou a ser urânio págs. 8 e 9).
Minaçu (GO) e os litorâneos, qualquer regulação ou acrésci- 5.807/2013), enviado em ju- fornecedor mundial de monazita, mi- e tório. Perdeu-se o foco em terras- Após o choque de preços imposto
estivessem produzindo, terí- mo na produção de terras-raras nho ao Congresso pela presi- neral que contém as terras-raras, e -raras. A empresa não conseguiu se pela China em 2011, o cenário é de
amos matéria-prima para su- é capaz de causar desequilíbrios dente Dilma Rousseff. até 1945 alternou a posição de maior desenvolver nessa área”, narra Alair retomada da produção no Brasil (leia
prir o Brasil — e até o mundo. nos preços. Luiz Henrique quer que a produtor mundial com a Índia. Nessa Veras, engenheiro químico das Indús- mais na pág. 18) e em todo o mundo
Estamos bem na fita”, avalia Por conta da multiplicidade produção de terras-raras não época, multiplicavam-se as aplica- trias Nucleares do Brasil (INB). (leia mais na pág. 38). A Molycorp,
Francisco Valdir Silveira, chefe de aplicações e para evitar as seja submetida a regras estati- ções, como em pedras de isqueiro, A operação da Orquima (leia por exemplo, está retomando as ati-
do Departamento de Recursos grandes variações de demanda zantes, facilitando a livre inicia- baterias recarregáveis, polimento de mais sobre a experiência de pro- vidades na Califórnia, nos EUA, que
Minerais do CPRM. e oferta, o governo, o Congres- tiva e diminuindo a burocracia vidros e metalurgia. dução de terras-raras no Brasil na estavam interrompidas desde 2002.
No enta nto, o secretá- so Nacional e as indústrias que- (leia mais na pág. 54).
rio de Geologia, Mineração rem que o país volte a ocupar “A proposta deve ser eficaz,
e Transformação Mineral do um espaço de destaque desde para permitir a pesquisa cientí-
Ministério de Minas e Ener- a mineração das terras-raras fica e tecnológica e dizer aos in-

Victor-NY
Hoje museu, o primeiro submarino com
gia (MME), Carlos Nogueira, até a fabricação de produtos de vestimentos nacionais e estran- propulsão nuclear, o Nautilus, foi ao mar
destaca que ainda não foram ­tecnologia de ponta. geiros que são bem-vindos para em 1954: uso de terras-raras brasileiras
identificadas no Brasil grandes Para isso, a Comissão de Ci- colocar o Brasil como player
reservas de terras-raras pesa- ência, Tecnologia, Inovação, mundial e garantir que não
das, que têm valor de mercado Comunicação e Informática vamos perder a oportunidade
maior. Alguns elementos pesa- (CCT) do Senado, presidida de participar dessa nova era in-
dos são considerados críticos, por Zeze Perrella (PDT-MG), dustrial”, afirma o senador, que
já que são menos abundantes e criou uma subcomissão espe- estima que o mercado de ter-
têm mais aplicações tecnológi- cial para discutir o assunto. Em ras-raras pode movimentar até
cas, o que pode levar a escassez cinco audiências públicas, entre US$ 30 bilhões em 30 anos.
no mercado (veja os elementos
pesados, leves, críticos e não críti-
Geraldo Magela/Agência Senado

cos nas págs. 8 e 9).

Valor pequeno e promissor


Apesar de ser uma promessa
para o futuro, o mercado mun-
dial de terras-raras movimen-
tou pouco, entre US$ 2 bilhões
e US$ 3 bilhões em 2011, com
o Brasil responsável por algo
como US$ 40 milhões. Mas a
estimativa é que esses valores
dobrem em apenas dois anos.
Ainda assim, não chegam per-
to do mercado de minério de
ferro, por exemplo, que movi-
menta centenas de bilhões de Escolhido presidente da subcomissão, o senador Anibal Diniz (E) presidiu
dólares, ou o de petróleo, que cinco debates que ofereceram dados ao relator, senador Luiz Henrique

10 
setembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao 11
Contexto

Congresso, governo e e­ studo para implantação de um


laboratório para produção de
financiamento para construir
uma fábrica de ímãs de terras-
Nogueira, do Ministério de Mi-
nas e Energia.
ímãs de alta potência à Funda- -raras no Brasil (leia mais na “A indústria para a produ-
indústria se mobilizam ção Certi, com a participação
do Instituto Fraunhofer, do Ins-
pág. 31). ção de terras-raras até chegar ao
óxido é de capital intensivo. O
tituto de Pesquisas Tecnológicas Mundo reage projeto da Lynas [Corporation]
O governo tenta articular Estudos e Debates Estratégicos à retomada do tema”, confir- (IPT), do Cetem e da Universi- E não é só o Brasil que acor- tem US$ 700 milhões de inves-
pesquisadores e empresas para da Câmara dos Deputados e a ma Fernando Lins, diretor do dade Federal de Santa Catarina dou diante do poderio da Chi- timento para produzir 22 mil
voltar a produzir terras-raras. Estratégia Nacional de Ciência, ­Cetem. (UFSC). na. Projetos de exploração de toneladas de terras-raras por
Em dezembro de 2010, um Tecnologia e Inovação já mobi- Segundo Paulo César Ribei- terras-raras, muitos deles casa- ano, sendo que 5% são terras-
grupo com especialistas dos lizaram técnicos para encontrar Projetos em andamento ro Lima, consultor legislativo dos com a venda para as indús- -raras pesadas, que têm maior
Ministérios de Minas e Energia a melhor forma de organizar o Os empresários, realmente, da Câmara, as Indústrias Me- trias, já estão em andamento demanda, e 95% são terras-ra-
(MME) e de Ciência, Tecnolo- setor no país. já estão dando respostas às de- talúrgicas Pescarmona (Impsa), pelo mundo. ras leves, que devem ter excesso
gia e Inovação (MCTI) apre- “É necessário envolvimento mandas do mercado. Projetos empresa argentina produtora “Quem sair primeiro, depois de oferta”, afirma Edson Ri-
sentou propostas de ações para do Congresso para viabilizar o de exploração de terras-raras, de geradores eólicos, está ne- da redução das exportações chi- beiro, da Vale, citando um dos
que o Brasil possa voltar a pro- uso das terras-raras, uma ação com investimentos de centenas gociando junto ao Programa nesas e do aumento do valor projetos mais adiantados, em
duzir terras-raras e, também, os de governo integrada e forte, na de milhões de reais, estão sendo Inova Energia, da Agência Bra- pela China, terá vantagens com- andamento na Austrália (conhe-
produtos de alta tecnologia em qual a academia se envolva. E desenvolvidos pela Mineração sileira de Inovação (Finep), um petitivas maiores”, avalia Carlos ça outros na pág. 43).
que são aplicadas. posso garantir: as empresas es- Serra Verde (que pertence ao
Esse foi apenas o primeiro de tão querendo implementar isso grupo Mining Ventures Brasil),
uma série de esforços para reati-
var a exploração e o uso das ter-
ras-raras no Brasil. O Tribunal
no Brasil. É uma grande chance
que o país tem”, avalia Carlos
Alberto Schneider, superinten-
em Minaçu (GO), pela multi-
nacional MbAC Fertilizantes
e pela Companhia Brasileira
Sem mercado interno,
de Contas da União (TCU), o
Centro de Gestão e Estudos Es-
dente-geral da Fundação Cen-
tros de Referência em Tecnolo-
de Metalurgia e Mineração
(CBMM), ambas em Araxá
mineração corre riscos
tratégicos (CGEE), do MCTI, gias Inovadoras (Certi). (MG) (leia mais nas págs. 34 e
o Centro de Tecnologia Mi- “O Parlamento está cons- 35). A construção de uma cadeia ­ ecessidade de uma política
n incentivo para o desenvolvi-
neral (Cetem, que organizou ciente da importância do tema Paralelamente, a Agência produtiva de terras-raras, da la- industrial para implantar uma mento tecnológico. O que se
o 1º Seminário Brasileiro de e está tomando iniciativas para Brasileira de Desenvolvimento vra até a produção industrial de cadeia produtiva de terras-raras deve levar em consideração é a
Terras-Raras em 2011 e prevê sugerir melhorias. A iniciativa Industrial (ABDI) e a Confe- alto valor agregado, é o que se completa no Brasil, com o re- medida adequada entre as reco-
a realização do segundo em no- privada também vai mostrar os deração Nacional da Indús- deseja no Brasil. Mas os espe- fino, a produção de metais e nhecidas prerrogativas estatais
vembro deste ano), o Centro de projetos. Há um clima propício tria (CNI) encomendaram um cialistas ouvidos pelo Senado ligas e as aplicações de uso fi- e previsibilidade para aqueles
foram unânimes em admitir nal, como ímãs permanentes, que desejem correr o risco ine-
que existe um pré-requisito im- células solares ou supercon- rente a essa atividade e iniciar a

Reprodução/ZJ Mineração
portante para isso: um mercado dutores de alta temperatura, o produção de recursos minerais”,
interno, com demanda constan- que exige pesquisa científica e af irma o advogado Adriano
Mina de nióbio em Araxá (MG): empresa
investe para produzir terras-raras te, que garanta ao minerador ­tecnológica. Drummond Cançado Trinda-
reaproveitando o mesmo material que a produção seja vendida a “Não é uma questão de não de, do escritório Pinheiro Neto,
preços sustentáveis. ter o bem mineral. Temos que apoiado pelo senador Aloysio
“O gargalo para a produção melhorar a tecnologia para in- Nunes Ferreira (PSDB-SP),
de terras-raras no Brasil não centivar uma indústria setorial
está na mineração. O maior es- no Brasil”, concorda Carlos

Márcia Kalume/Agência Senado


tímulo que pode ser dado para Nogueira, do MME, lembran-
o desenvolvimento da cadeia do que o Grupo de Trabalho
de produção de terras-raras no Interministerial sobre Minerais
Brasil é a criação de um mer- Estratégicos elaborou propostas
cado. É a demanda”, afirma de diretrizes para esses mine-
Edson Ribeiro, da mineradora rais, conduzidas pelo MME e
Vale. pelo MCTI.
Isso, porém, requer tempo. “Não basta privilegiarem-
Afinal, o Brasil tem um con- -se levantamentos geológicos e
sumo mínimo de terras-raras, a produção mineral, mas tam-
de cerca de 1.200 toneladas por bém mecanismos de incentivo
ano. “E praticamente tudo vai para instalação de indústrias
para a Petrobras, através da fá- que realizem a transformação
brica carioca que produz o ca- desses bens e mecanismos de
talisador de craqueamento de
petróleo, para gás e gasolina”, Para Aloysio Nunes, vice-presidente
revela Ribeiro. da subcomissão, nova lei deve garantir
O c ená r io e v idencia a segurança jurídica a investidores

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setembro de 2013 www.senado.leg.br/emdiscussao 
13
Contexto

Alexandre Vieira e Jonhatas Kennedy/BRCenários


Do subsolo à tecnologia de ponta, um longo caminho até as terras-raras serem utilizadas
A obtenção desses elementos para aplicação industrial é um processo complexo desde a mineração. Vários tipos de
minérios têm concentrações diferentes de cada elemento e incluem outros minerais valiosos, como nióbio, estanho e fosfato

Principais minérios 3. Separação química 4. Redução em óxidos 5. Combinação com metais


de terras-raras:
• Monazita
• Xenotima
• Bastnasita
Concentração média
de terras-raras: 5%
Fe PO43- Nb

$$
Ferro Fosfato Nióbio

Sn Th U

1. Extração do minério Estanho Tório Urânio


2. Separação física
Subprodutos Ligas leves de terras-raras
Fonte: apresentações de especialistas na Subcomissão das Terras-Raras do Senado

Tratamento estratégico
As terras-raras foram incluídas pelo a lançar material barato, todo mun- O Plano Nacional de Mineração
Vista aérea de Minaçu (GO), cidade-sede de uma grande
mineradora: objetivo é que riqueza fique onde é produzida Plano Nacional de Mineração 2030 no do deixou as terras-raras de lado. E o 2030 traz três critérios para que o mi-
seleto grupo de minerais estratégicos. projeto perdeu interesse para o Cetem neral seja considerado estratégico:
Figuram ao lado de potássio e fósforo, e para os pesquisadores. Foi um erro
para quem a nova legislação não a cobrança de participação es- Para isso, afirmou no Senado, amplamente usados como fertilizan- estratégico. Que sirva de experiência, 1) Dependência de importação
pode trazer incerteza regulató- pecial sobre grandes jazidas, de há linhas de investimento so- tes na agricultura e dos quais o Brasil que não se repita no futuro próximo”. Minerais para os
ria e afastar o investidor. alta rentabilidade, como as de cial para apoiar o treinamento é dependente de produção externa, e quais falta acesso
Com efeito, as ações mais minério de ferro. Essa taxa já é da comunidade para trabalhar nióbio e minério de ferro, importantes Exemplos externos adequado ao mer-
recentes de grupos mineradores cobrada na exploração de petró- na mineração, aumentando a para a balança comercial brasileira. Já Alair Veras, da INB, acredita que cado internacional
em todo o mundo estão associa- leo e ajuda a financiar as pes- empregabilidade, e para dotar a Isso se justifica pelo fato de as terras- o Brasil deve mirar no que está acon- ou concentração
das à construção da cadeia pro- quisas do setor de energia (leia região de hospitais e outras ins- -raras serem “portadoras de futuro”, tecendo no exterior para pautar a de ofer ta, que pode
dutiva, mas também ao incenti- mais na pág. 56). talações urbanas. junto com lítio, titânio e cobalto. Daí o sua atuação. “Se [a retomada da ex- acarretar transtornos ao funciona-
vo à inovação tecnológica. A ne- “Precisamos agregar valor aos tratamento dado pelo governo. ploração de terras-raras] está dando mento da economia. É o caso do
cessidade de manter atividades Agregar valor produtos no Brasil e não sim- “Com relação às terras-raras, o certo nos EUA, é porque tem que ter potássio e do fosfato.
de pesquisa e desenvolvimento No fim das contas, o que plesmente oferecer minerais em Brasil não pode cometer o erro das interesse do Estado na produção, para
está ligada à própria expansão interessa ao Congresso é que a commodities. Para isso, preci- décadas de 30 a 50, quando virou ex- não ficar na mão da China, que tem 2) Aplicação no futuro
do mercado de terras-raras. riqueza seja revertida ao país, samos desenvolver as regiões. portador de minérios radioativos e se o poder de subir e descer o preço na Além de desenvolver
Preocupado com isso, o con- proporcionando maior desen- Não devemos simplesmente negou a dominar a tecnologia nucle- hora que quer. Os EUA já decidiram a mineração no Brasil,
sultor legislativo da Câmara dos volvimento principalmente para nos apropriar desses recursos, ar. Não pode ter uma política sujeita que não querem isso e não querem no caso de “mine-
Deputados Paulo César Ribeiro as regiões onde houver a mine- transportá-los para outros luga- à ciclotimia do mercado. Temos que ser obrigados a transferir suas empre- rais portadores de
Lima apresentou propostas para ração e a industrialização dos res, sem deixar desenvolvimen- ter uma política de conhecimento, de sas de alta tecnologia para a China.” futuro”, entre eles
que o setor tenha recursos pró- materiais. Para saber mais sobre to, sem nos preocupar com o domínio de capacitação tecnológica. É Francisco Silveira, do CPRM, ad- a s ter ra s-ra ra s,
prios para financiar a pesquisa a situação de municípios que futuro dessas regiões”, declarou isso que queremos para o setor”, afir- verte que a definição de mineral há necessidade de desenvolvimento
e a inovação. Diante do projeto sediam grandes mineradoras, a Carlos Nogueira. ma Luiz Henrique. estratégico varia de país para país das cadeias produtivas de alto valor
do novo Código de Mineração, subcomissão do Senado ouviu “O objetivo é estabelecer o fo- Segundo ele, o Brasil já esteve pró- e muda de acordo com as políticas agregado.
em tramitação na Câmara, ele prefeitos de cidades como Mi- mento de toda a cadeia produti- ximo de ter autonomia na produção de governo, produção, períodos de
sugeriu que a Compensação naçu (GO), Araxá (MG) e São va dos elementos de terras-raras, de terras-raras, mas se deixou guiar guerra etc. Para evitar esse tipo de si- 3) Geração de divisas
Financeira pela Exploração de Francisco de Itabapoana (RJ) desde a lavra e beneficiamento pelo mercado. “A gente perdeu al- tuação, o advogado Adriano Trindade Pela grande pro­d ução,
Recursos Minerais (Cfem), cha- (leia mais na pág. 32). até uma indústria de produtos gumas décadas quando desmontou sugeriu que a nova legislação defina o ess es minera is têm
mada de royalty da mineração, José Guilherme da Rocha com alto valor agregado. O fi- uma área de conhecimento, que virou que as torna estratégicas e merecedo- grande importância
não seja cobrada sobre a explo- Cardoso, do Banco Nacional nal da cadeia, com a reciclagem de terras-raras para urânio. Descon- ras de um tratamento diferenciado. nas exportações e
ração de elementos estratégicos, de Desenvolvimento Econômi- dos produtos e a minimização tinuamos a pesquisa e a aplicação de O senador Luiz Henrique con- grande potencial
como são as terras-raras, para co e Social (BNDES), sustenta de impactos ambientais, é essen- terras-raras no Brasil”, lamenta Edson centra suas propostas justamente na para o desenvolvimento
que o produtor possa investir que o foco é justamente a “ge- cial”, resume o senador Anibal Ribeiro, diretor da Vale. parte do novo Código de Mineração regional e da indústria a partir
em novas tecnologias. ração de riqueza para as comu- Diniz (PT-AC), presidente da Fernando Lins, do Cetem, conta a sobre minerais estratégicos, as terras- da transformação mineral. Na lista,
O consultor sugere também nidades do entorno das minas”. subcomissão do Senado. história: “Quando a China começou -raras (leia mais na pág. 59). estão minério de ferro e nióbio.

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Contexto

Misturadas, inclusive

Jane de Araújo/Agência Senado


discute o setor de terras-raras, l­itoral brasileiro demonstrou
questionou sobre a possibili- ser uma operação de alto cus-
dade de quebra do monopólio to. Por conta da radioativida-

com radioatividade estatal sobre minerais com ele-


mentos radioativos, definido
na década de 50, no início da
de, até hoje há ações na Justiça
de antigos trabalhadores da
extinta Nuclemon (leia mais
corrida nuclear, como parte de na pág. 33), bem como ações
A baixa concentração dos explorada no Brasil até re- privado. Para obter uma licen- uma política nacional de segu- para a recuperação ambiental
elementos de terras-raras nos centemente. De acordo com ça de lavra, o minerador deve rança nacional. das antigas fábricas e lavras,
diversos minerais em que es- Tadeu Carneiro, diretor-geral recorrer ao órgão estadual de “Quebrar monopólio é uma onde ainda há problemas
tão disponíveis dificulta a da CBMM, o mineral retira- meio ambiente; com radioa- decisão política. Há interesses como radiação e degradação
mineração. A separação dos do das areias monazíticas das tividade, porém, ela deve ser envolvidos, inclusive militares, química do terreno e dos re-
elementos por processos quí- praias do Norte Fluminense dada pelo Ibama. E ainda é o que pode dificultar. Talvez cursos hídricos.
micos complexos pode causar tem 8.000 ppm (partículas preciso passar por fiscaliza- isso tenha que ser discutido Segundo Jorge Luiz Brito
graves danos ao meio ambien- por milhão) de tório, elemen- ção da Comissão Nacional para que a gente possa dar Cunha Reis, coordenador-
te. O pequeno mercado mun- to radioativo, de índice muito de Energia Nuclear (Cnen). condições ao empresário pri- -geral substituto de Transpor-
dial e doméstico desestimula alto, que dificulta a operação. Além da lavra, o tratamento vado de competir no mercado. te, Mineração e Obras Civis
investimentos de empresários, “Se não houver cuidado químico ao qual a monazita é Não vejo a quebra do mono- do Ibama, a exploração de
incomodados ainda pela buro- e boas técnicas, os resíduos submetida para separação das Fernando Lins advertiu que resíduos químicos pólio como algo ruim”, afirma monazita em Poços de Caldas
e radioativos da produção de terras-raras são
cracia estatal. são altamente contaminantes terras-raras também exige li- altamente contaminantes e poluentes Alair Veras, citando que, em (MG) na década de 80 deixou
Mas um dos maiores pro- e poluentes, tanto na parte cença da Cnen. outros países, como os Estados um passivo ambiental altíssi-
blemas que envolvem as química como na radioativa”, Com tanto material radioa- Unidos, o setor público e o mo. Segundo ele, a INB tem
terras-raras é a sua constante afirma Fernando Lins, do tivo, que passou a ser conside- ­ rodução de urânio, a em-
p privado atuam conjuntamen- um pré-projeto de R$ 500
associação a elementos radio- Cetem. Alguns países, como rado estratégico na década de presa, que chegou a produzir te na exploração de elementos milhões para recuperar áreas
ativos, como tório e urânio, os Estados Unidos, inclusive 60, a exploração da monazita terras-raras, não as tem como ­radioativos. na cidade mineira. O projeto
que, além de competirem pela abandonaram a exploração da brasileira é feita, desde então, prioridade e suspendeu a pro- completo deve ficar em R$ 1
atenção do minerador, ainda monazita por conta dos ele- exclusivamente pela empresa dução em 2006. Passivo ambiental bilhão.
trazem encargos adicionais mentos radioativos. estatal Indústrias Nucleares Segundo Alair Veras, en- Em um novo cenário, José Reis revelou aos senadores
e regras especiais de manu- No Brasil, se houver ra- Brasileiras (INB), com super- genheiro da INB, o empresá- Farias de Oliveira, professor que o Ibama aprovou o pré-
seio, depósito e licenciamento dioatividade na mineração, a visão, fiscalização e pesquisa rio brasileiro privado não está do Departamento de Enge- -projeto. Porém, o orçamento
­ambiental. burocracia é outro problema, científica da Cnen. Como acostumado ao licenciamen- nharia Metalúrgica e de Ma- da INB em 2012, de R$ 850
Esse é o caso da monazita principalmente para o setor o principal foco da INB é a to pela Cnen. “É preciso, por teriais da Coppe-UFRJ, sugere milhões, teve 65% do valor
exemplo, um plano de trans- que haja participação da INB contingenciado. “Ou seja, não
porte do material. Aí, apare- no aproveitamento dos ele- vai dar para a INB fazer. Ain-
cem dificuldades e a Cnen mentos radioativos presentes da assim, quando executado,
não é ágil. O tório não tem em minerais de terras-raras será R$ 1 bilhão, sem retorno,
aplicação e a estocagem é um como parte do esforço de evi- para recuperar a área, que tem

Camila Forlin/INB
problema por ser altamente tar a contaminação do meio água ácida”, disse.
radioativo, principalmente ­ambiente. Na Austrália, a radioati-
quando separado. O custo de Com efeito, a manipula- vidade também foi um fator
manter esse produto estocado ção das areias monazíticas do que incomodou o projeto de
ad eternum é muito alto. A exploração de terras-raras pela
Cnen é responsável por definir Lynas Corporation. O miné-

Reprodução
um local para depósitos radio- rio encontrado naquele país
ativos. Mas tem muita dificul- também tem radionuclídeos
dade. É algo muito político”, — urânio e tório — acima
comentou. do que é permitido para trata-
Mais preocupante, afirma mento pelas leis locais.
Veras, é que hoje, ciente das “Então, optaram por ir para
dificuldades, o empresário a Malásia, onde a legislação é
muitas vezes esconde que há mais flexível. Tanto a classe
material radioativo em sua mi- política quanto a sociedade
neração, “porque, se falar, vai malaias foram contrárias à
ter um problemão e não vai planta. Mas conseguiram o li-
conseguir trabalhar”, aumen- cenciamento, com a condição
tando os riscos ambientais da de que, caso ocorra qualquer
exploração. acidente, todos os rejeitos de-
José Farias de Oliveira sugere
Embalagem de rejeitos radioativos da
Por conta disso, o sena- que a INB aproveite material
vem ser levados para a Aus-
INB: foco da estatal passou das terras- dor Luiz Henrique, relator da radioativo da futura produção trália”, narrou Edson Ribeiro,
-raras para a fonte de energia nuclear subcomissão do Senado que de terras-raras no país diretor da Vale.

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Realidade Brasileira

Potencial ainda E
m 2011, com o Plano Nacional de Mi- estudo Usos e Aplicações de Terras-Raras no ­Brasil:
neração 2030 (PNM), o governo fede- 2012–2030, do Centro de Gestão e Estudos
ral deu às terras-raras o caráter de mi- ­Estratégicos (CGEE), ao qual a revista Em Dis-
nerais estratégicos pela crescente utili- cussão! teve acesso em primeira mão.
zação em novas tecnologias, ao lado de minerais Apesar de o quadro atual ser pouco animador,

não utilizado
importantes para a manutenção da agricultura o estudo defende que o país, pela variedade de
nacional, como o potássio e o fósforo, e para a depósitos minerais, apresenta boas perspectivas
balança comercial brasileira, como o minério de para extração de terras-raras. E existe deman-
ferro (veja infográfico na pág. 21), grande fonte da exterior para que se comece a produzir e ex-
de divisas para o Brasil. portar o minério. Em 2011, diante do aumento
Mas, se o país quiser dar às terras-raras o tra- dos preços do produto chinês, Japão, Alemanha
tamento estratégico previsto, terá de trabalhar e França, por exemplo, acionaram o Brasil para
muito. O Brasil, hoje, não lavra nem produz uma futura exploração e produção de mineral de
compostos de terras-raras. O pouco que o país terras-raras.
O Brasil não produz e consome pouco minerais de terras- utiliza desse tipo de minério é importado, já que A falta de informação sobre o tamanho das
a cadeia produtiva de terras-raras no Brasil é in- reservas brasileiras de terras-raras é a primei-
raras, considerados estratégicos pelo Plano Nacional de cipiente. Esse é o retrato do setor, delineado pelo ra dificuldade. Os números existentes hoje são
Mineração pela utilização crescente em tecnologia de ponta.
A ideia é incentivar a cadeia produtiva, da lavra à indústria

Marcelo Araújo/Agência Vale


Produção de minério de ferro
em MG: a Vale possui também
lavra com 9,7 mil toneladas de
terras-raras já medidas

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Realidade Brasileira

Marcos Oliveira/Agência Senado


conflitantes. Segundo o Departa- ­ equena, pesquisadores acre-
p duas décadas, o que significa ­ ineração. O maior estímulo que
m

Pedro França/Agência Senado


mento Nacional de Produção Mi- ditam que o país tem grande que haverá mais pressão para o pode ser dado para o desenvolvi-
neral (DNPM), do Ministério de potencial. Estudo realiza- ­aumento da produção mineral. mento da cadeia de produção é a
Minas e Energia (MME), o país do em 1994 pelo Centro de criação de um mercado”, avaliou.
possui cerca de 40 mil toneladas Tecnologia Mineral (Cetem) Aplicações Ele sugere que o Brasil invista
em reservas medidas, conforme identifica 35 pontos de ocor- Para o diretor da Vale, o desen- em novas aplicações para o lan-
dados de 2011, o que representa rência de terras-raras em dife- volvimento de cadeia produtiva tânio, abundante em rejeitos de
cerca de 0,3% do total mundial. rentes locais, como Minas Ge- para o setor de terras-raras no país outros tipos de mineração. “As
Essas reservas encontram-se, prin- rais, ­Goiás e Amazônia (veja não depende só da implementa- terras-raras leves são hidrofóbicas,
cipalmente, nos estados de Minas infográfico na pág. 24). ção de uma indústria de extração. afastam a água naturalmente. Pes-
Gerais e Rio de Janeiro. Estão sob “O gargalo para a produção de quisas mostram que ligas metáli-
regime de exploração pela Mi- Demanda terras-raras no Brasil não está na cas com terras-raras não precisam
neração Terras Raras, pela Vale Além da falta de informa- de impermeabilização”, comple-
e pela estatal Indústrias Nuclea- ção precisa, outro problema é tou, sugerindo o uso dessa técnica Paulo César Lima prevê aumento de demanda
res do Brasil (INB), vinculada ao a demanda quase inexistente. Posição do Brasil em na indústria automobilística. por produtos minerais tanto no Brasil como no
­Ministério da Ciência, Tecnologia O Brasil não fabrica os produ- O diretor de Assuntos Minerá- mundo, o que incentiva a produção
e ­Inovação (MCTI). tos de tecnologia de ponta que Alair Veras, da INB, estatal que tem parte das
relação à produção e rios do Instituto Brasileiro de Mi-
Segundo o engenheiro quími- utilizam elementos de terras- reservas conhecidas de terras-raras, mas que ao consumo minerais neração (Ibram), Marcelo Tunes, Soberania
do Alair Veras, a INB abandonou -raras, como imãs, aparelhos deixou de explorá-las na década passada acredita que as mais importantes O secretário de Desenvolvi-
a exploração de terras-raras. Atua de raios X e reatores nucleares. O Brasil é líder mundial em nióbio e aplicações para terras-raras estão mento Tecnológico e Inovação do
somente na cadeia produtiva do Para o chefe do Departa- ordem de apenas 1.200 toneladas. minério de ferro. Em compensação, é no refino de petróleo e na pro- MCTI, Alvaro Prata, disse que o
urânio — da mineração à fabrica- mento de Recursos Minerais do A demanda mundial hoje é da or- o quarto maior consumidor mundial dução de superímãs. “A estratégia Brasil não pode abrir mão de ex-
ção do combustível para as usinas Serviço Geológico do Brasil, Fran- dem de 160 mil toneladas”. de fertilizantes, mas responde por é o domínio da cadeia produtiva. plorar cada aspecto dos minerais
nucleares de Angra dos Reis (RJ). cisco Valdir Silveira, o país não Entretanto, o consultor legis- apenas 2% da produção mundial O Brasil tem o potencial, mas nos estratégicos se quiser se tornar
No entanto, a empresa ainda tem tem problema de matéria-prima lativo da Câmara dos Deputados falta dominar essa cadeia como uma potência plena.
monazita estocada nas instalações de terras-raras. Temos problema Paulo César Ribeiro Lima acredita um todo”, declarou. Para o senador Luiz Henrique
nas cidades de Caldas (MG) e de de indústria. O diretor de Tecno- que a demanda por bens minerais Já Paulo César Lima lembrou (PMDB-SC), a questão vai além
São Francisco de Itabapoana (RJ) logia e Projetos Minerais da Vale, e produtos de base mineral, no Importador/produtor que não é só a indústria que pre- da economia. Embora o país não
(leia mais na pág. 32). Edson Ribeiro, confirma que o Brasil e no mundo, especialmente • Fosfato cisa se desenvolver. Também o possua demanda interna, não
Embora a quantidade medida mercado local é pequeno: “O Bra- nos países emergentes, deverá cres- • Diatomito setor público responsável tem pode ficar à mercê do mercado.
de reservas até o momento seja sil possui uma demanda atual da cer substancialmente nas p ­ róximas • Zinco que avançar para, por exemplo, “Se o Brasil ficar sujeito ao mer-
financiar a pesquisa e a inovação, cado, haverá paralisação. Já houve
Dependência externa como acontece nos setores de pe- retrocesso na pesquisa e no envol-

Divulgação Volkswagen
tróleo e energia elétrica. “As agên- vimento do setor privado simples-
• Terras-raras cias reguladoras, Aneel [de ener- mente porque os chineses baixa-
• Carvão metalúrgico gia elétrica] e ANP [do petróleo], ram o preço. O Brasil não pode
• Potássio contribuem para o desenvolvi- se sujeitar à ­ciclotimia do merca-
• Enxofre mento do Brasil. O DNPM ainda do. Temos que ter uma política
Autossuficiente está um pouco atrás. A gente pre- de conhecimento, de capacitação
cisa fazer um esforço legislativo tecnológica. É isso que queremos
• Calcário grande para transformar o setor na proposta de marco regulatório
• Diamante industrial m­ineral”, disse. para o setor”, afirmou.
• Titânio
• Cobre

Pedro França/Agência Senado

JANE ARAÚJO/agência senado


• Tungstênio

Exportador global

1o •• Nióbio
Minério de ferro
2o • Manganês
• Tantalita
• Bauxita
3o • Grafita

4o • Rochas ornamentais
Exportador
• Níquel
• Magnésio
• Caulim
• Estanho Marcelo Tunes, do Ibram, aposta no refino de Para Alvaro Prata, do Ministério da Ciência
petróleo e na produção de superímãs como e Tecnologia, Brasil não pode deixar de lado
Linha de montagem da Volkswagen: a indústria automobilística pode utilizar terras-raras para impermeabilizar carros Fonte: Ibram principais aplicações de terras-raras qualquer aspecto do mercado de terras-raras

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Realidade Brasileira

Pedro França/Agência Senado


S­ ilveira, chefe do Departa- Estados Unidos (leia mais na
mento de Recursos Minerais pág. 40).
da CPRM. Há também terras-raras
Três depósitos já estão presentes em rejeitos de ou-
identif icados e medidos : tros minérios. Em Catalão,
Catalão (GO), Araxá (MG) por exemplo, a Anglo Ame-
e Poços de Caldas (MG). rican Brasil, multinacio-
Somente Catalão I possui nal da área de mineração, é
provavéis 119,7 milhões de proprietária de um depósito
toneladas de minerais de ter- com 1,1 milhão de toneladas
ras-raras, com teor de 2%, de fosfato, que contém tam-
de acordo com a publicação bém 7,6% de cério e lantâ-
O Brasil e a Reglobaliza- nio e baixos teores de urânio
O general José Fernando Iasbech ção da Indústria das Terras- e tório, elementos radioati-
defende que território e subsolo sejam -Raras, lançada em agosto vos que complicam a mani-
cartografados detalhadamente pelo Centro de Tecnologia pulação mineral (leia mais
­Mineral (Cetem). na pág. 16).
o desenvolvimento do Bra- Nos rejeitos da mineração
sil. “O Plano Nacional de Estimativas de nióbio da Companhia
Mineração 2030 classifica As reservas de Araxá e Brasileira de Metalurgia e
como minerais estratégicos Poços de Caldas também Mineração (CBMM), em
para o país os de grande de- podem ser maiores do que Araxá, estão concentradas
pendência, como fosfato e o inicia lmente previsto. quantidades importantes
potássio, os minerais abun- Análises preliminares per- de terras-raras com poten-
dantes, que são importantes mitem estimar que exista cial de aproveitamento. De

Blog Minas Gerais Brasil


para a balança comercial, 1,3 milhão de toneladas na acordo com a empresa, essa
como ferro e nióbio, e os primeira cidade e 6 milhões reserva proporcionaria uma
minerais considerados por- de toneladas na segunda. Se produção anual inicial de
tadores de futuro, como confirmados, esses números 3 mil toneladas de concen-
terras-raras, paládio, lítio, colocariam o Brasil à frente trado. A CBMM já investiu
Araxá (MG), que tem a maior parte da graf ita, titânio e berílio”, de Austrália e Índia, atrás cerca de R$ 60 milhões em
economia ligada à mineração, é um dos locais explica Francisco Va ldir somente da China, Rússia e uma planta com capacidade
com maior potencial para lavrar terras-raras

Minerais usados na agricultura, como fosfato e potássio, também são estratégicos, mas produção brasileira é baixa

Antes de explorar,
é preciso mapear
O diagnóstico do setor do Bra sil (CPR M) está um mapeamento das jazidas
mineral brasileiro, base do d esenvolvendo o Projeto
­ de terras-raras no país, o que
Plano Nacional de Mine- Avaliação do Potencial de deve mostrar que as reser-
ração 2030, mostrou que o Terras-Raras no Brasil, que vas conhecidas superam em
primeiro grande desafio é integra da rubrica Geologia muito as 40 mil toneladas
fazer o mapeamento geoló- e Mineração do Programa medidas hoje.
gico do território nacional. de Aceleração do Crescimen- Possuir o mapa dos recur-
De acordo com o general to 2 (PAC 2). A rubrica está sos minerais é essencial para
José Fernando Iasbech, que dividida em duas frentes: a atrair investimentos para a
falou aos senadores em audi- avaliação dos recursos mine- exploração de terras-raras
ência pública, o Brasil preci- rais de modo geral, na qual não somente na etapa de
sa também terminar a carto- devem ser gastos R$ 44,4 mineração, mas também na
grafia básica, necessária para milhões, e a cartografia ge- de beneficiamento e de apli-
Claudio Fachel/Palácio Piratini

o mapeamento geológico. ológica, que vai consumir cação desses materiais, agre-
O problema já começou a cerca de R$ 69 milhões. gando valor ao bem mineral
ser atacado pelo governo fe- ­E specificamente no projeto explorado.
deral. Para tentar conhecer de terras-raras serão investi- O projeto faz parte de um
de forma mais precisa o po- dos R$ 18,5 milhões. trabalho de reconhecimento
tencial brasileiro em terras- A partir disso, a CPRM dos produtos minerais es-
-raras, o Serviço ­G eológico pretende apresentar em 2014 senciais para a ­e conomia e

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Realidade Brasileira

Onde estão as terras-raras no Brasil


Depósitos foram identificados em todo o país. Serviço Geológico Norte-Americano
calcula as reservas brasileiras em 3,5 bilhões de toneladas

Pedidos de exploração
junto ao DNPM por estado
3 AM
1 SP
6 RO
6 RJ
5 PA 23 TO
1.173
11 MG
93 BA 834 Produção brasileira de
monazita (toneladas)
48 GO

42 ES 303 249 290 205

2007 2008 2009 2010 2011 2012

J.Freitas/ABr
Serra do
Repartimento
Fábrica da Copebrás, do grupo Anglo American, em Catalão (GO), que armazena rejeitos de fosfato com terras-raras
Morro dos Salinópolis
Seis Lagos
Tutoia Luís Correia para produzir mil toneladas de de ­m inério de terras-raras, nacionais, e prevê regras para
Paracuru refinados de terras-raras (leia contendo 52,6 milhões de to- a pesquisa e lavra nas unida-
Pitinga
Beberibe mais na pág. 29). neladas de óxidos desses ele- des de uso sustentável. As uni-
Majorlândia O país possui ainda ou- mentos químicos. dades de conservação de uso
Itataia tras reservas sendo estuda- sustentável têm como objetivo
das pelo DNPM, como a de Prioridades compatibilizar a conservação
Seis Lagos e Pitinga, ambas No entanto, Francisco Val- da natureza com o uso susten-
no Amazonas, e a da Serra do dir Silveira, do CPR M, ad- tável de parcela dos recursos
Repartimento, em Roraima. verte que nessas áreas a logís- naturais. Mas há propostas
Seis Lagos, que possui nióbio, tica é complicada, pois exige para mudar a situação.
Oriente Novo Belmonte
tem ainda 2% de terras-raras envolvimento de órgãos como Silveira explicou que, na
Juacema e manganês, enquanto a Serra Funai, Ibama e Forças Arma- região amazônica, uma fer-
Peixe Cumuruxatiba do Repartimento tem predo- das. “Em Seis Lagos, há um ramenta importante são os
Alcobaça mínio de fosfato, com 3,2% problema específico: a área se estudos com levantamentos
Catalão I de cério e 2,5% de lantânio. transformou em reserva bioló- aerogeofísicos, que revelam in-
Catalão II Linhares A previsão é que a reserva gica e indígena. Por isso, não dícios de terras-raras. Essa car-
Guarapari de Pitinga, por exemplo, tenha temos mais acesso a ela. Todos tografia geológica é feita pelo
Boa Vista
cerca de 2 milhões de tonela- os trabalhos estão sendo feitos Exército.
Araxá Rio Sahy
Tapira das de xenotímio, contendo com o acervo que a gente tem Ele revelou ainda que outras
Bambuí Norte de Buena 1% de terras-raras, principal- guardado. Em Repartimen- áreas estão sendo investigadas,
Sul de Buena mente ítrio. Além disso, ao to, não estamos trabalhando como Costa Marques (RO),
Companhias com reservas Barra do Rio Itapirapuã Delta do Paraíba longo da costa, do Rio de Ja- exatamente na área, que tem cujas reservas contêm esta-
conhecidas de terras-raras São Francisco São Gonçalo do Sapucaí neiro à Bahia, há grandes re- reservas indígenas, mas no en- nho, mineral que sempre vem
Mineração Terras Raras Ltda. Mato Preto São João del-Rei servas de areias monazíticas, torno. Tomara que não passe a acompanhado por terras-raras,
(30 mil toneladas) Morro do Ferro das quais é possível extrair ser reserva, porque a área tem e Maicuru (PA), pesquisada
Indústrias Nucleares do Brasil terras-raras. potencial”, ponderou. pela Vale. “É uma área de ex-
Lages
(627 toneladas) Levando em conta todos es- A Lei 9.985/2000, que criou tremo potencial, com cerca
Vale (9,7 mil toneladas) ses dados, o Serviço Geológico o Sistema Nacional de Unida- de 20% de terras-raras. Esse
Arte bruno bazílio

CBMM (rejeitos) Norte-Americano (USGS, na des de Conservação, proíbe a é um dos alvos que devem
Anglo American Brasil (rejeitos) sigla em inglês) calcula que as atividade mineral em unidades ser pesquisados nos próximos
reservas do Brasil podem che- de conservação de proteção in- anos. Muito parecido com Seis
gar a 3,5 b­ ilhões de toneladas tegral, como reservas e parques ­L agos”, avaliou.

Fontes: DNPM e estudo Terras-Raras: elementos estratégicos para o Brasil, de Paulo César Ribeiro Lima, consultor da Câmara dos Deputados www.senado.leg.br/emdiscussao 
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Realidade Brasileira

Investir em inovação é a saída “A Austrália tem imposto sobre ­quando ouvi a notícia”, ­lamentou.

Lia de Paula/Agência Senado


o carvão e o minério de ferro. As A Cfem é arrecadada das
grandes empresas pagam mais de ­empresas de mineração e distribu-

para elevar valor do minério 10% da r­eceita líquida. No Ca-


nadá, existe o imposto mineral.
Infelizmente, tivemos a notícia de
ída a União, estados, Distrito Fe-
deral e municípios, pela utilização
econômica dos recursos minerais
que não virá a participação espe- de seus territórios. As alíquotas
Agregar valor aos bens mine- ­ rasileira da Inovação (Finep), vin-
B cial, pois o ministério vai apenas variam de 0,2% a 3% conforme

JANE ARAÚJO/agência senado


rais extraídos em território na- culada ao Ministério da Ciência, dobrar a Compensação Financei- o mineral explorado e incide so-
cional é o outro grande desafio a Tecnologia e Inovação (MCTI). O ra pela Exploração de Recursos bre o faturamento líquido. Pelo
ser enfrentado na área, conforme Fundo Setorial Mineral tem orça- Minerais, a Cfem. A Vale, que projeto do novo Código de Mine-
destacou o Plano Nacional de mento anual médio de R$ 15 mi- tem receita e renda altíssimas, da ração, em análise na Câmara (PL
Mineração (PNM) 2030. Agre- lhões. Já o Fundo Setorial Petro, mesma ordem de valor que a Pe- 5.807/2013), a alíquota máxima
gar valor significa transformar destinado à área petrolífera, recebe trobras, estaria submetida a um passará a ser de 4%, incidindo
a matéria-prima bruta que pode em torno de R$ 800 milhões. percentual de contribuição igual sobre a renda bruta das empresas Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão
ser comercializada a preços bai- ao do pequeno minerador. Acho e não mais sobre o faturamento defendeu a aprovação do novo Código de
xos em produtos mais elaborados, Articulação gravíssimo, fiquei muito triste ­líquido (leia mais na pág. 59). Mineração em audiência no Senado
que exigem tecnologia e mão de O consultor da Câmara Paulo
obra qualificada e têm alto valor César Ribeiro Lima cita o Centro

Falta integração entre


no mercado. Com isso, é possível de Pesquisas e Desenvolvimen-
ampliar o conhecimento em to- to Leopoldo Américo Miguez Carlos Nogueira, do Ministério de Minas e
das as etapas da atividade mineral de Mello (Cenpes), da Univer- Energia, cita o nióbio como exemplo a ser
e multiplicar as oportunidades de
geração de emprego e renda.
sidade Federal do Rio de Janei-
ro (UFRJ), que faz pesquisa para
seguido pela cadeia de terras-raras
universidades e empresas
Um bom exemplo de mineral atender as demandas da Petrobras. e da Agência Nacional de Energia
exportado com valor agregado é o “O Cenpes recebe hoje de R$ 2 Elétrica (Aneel). Entre os objetivos Apesar da falta de recursos para (Unesp), com sete grupos. Uni- — a falta de integração entre a
nióbio (leia mais na pág. 29). “O bilhões a R$ 3 bilhões por ano. É do Inova Energia, está o apoio a o setor, levantamento do Centro versidade Federal de Pernambuco pesquisa feita nas instituições
Brasil não exporta commodities o grande articulador da política de empresas que desenvolvem equi- de Gestão e Estudos Estratégicos (UFPE) e Universidade do Estado científicas públicas e a prática da
de nióbio. Exporta ferro-nióbio, pesquisa e desenvolvimento. Faz pamentos para captação de energia (CGEE) mostrou que há institui- do Rio de Janeiro (Uerj) ficam na iniciativa privada — se repete na
uma liga metálica de alta com- a articulação com empresas e uni- solar e eólica e para veículos elétri- ções que desenvolvem pesquisa so- terceira posição, com seis grupos área de mineração. O diretor de
plexidade. Temos duas minas em versidades e, com isso, está criando cos, que utilizam ímãs de terras- bre terras-raras no Brasil. A prin- cada uma. As Universidades Fe- Tecnologia e Projetos Minerais
operação, uma em Araxá (MG) uma rede tecnológica no Brasil. No -raras. Serão destinados, no total, cipal delas é a Comissão Nacional derais de Minas Gerais (UFMG) da Vale, Edson Ribeiro, critica o
e outra em Catalão (GO), que setor elétrico, os investimentos em R$ 3 bilhões ao Inova Energia. “A de Energia Nuclear (Cnen), vin- e de São Carlos (Ufscar) possuem tipo de pesquisa feita nas institui-
respondem por esse mercado de pesquisa também são altíssimos. Impsa [Indústrias Metalúrgicas culada ao MCTI, com 11 grupos cinco grupos cada uma. ções públicas. Segundo ele, o setor
ferro-nióbio, que é uma liga espe- Existe uma legislação porque, an- Pescarmona], fabricante de gera- de pesquisa. Em seguida, vem a Ao que parece, um dos ­males sente falta de universidades e cen-
cial com nuances em sua mistura”, tes, houve uma decisão política de dores eólicos, apresentou plano de Universidade Estadual Paulista brasileiros na área de inovação tros de pesquisa com p ­ rofissionais
afirmou Carlos Nogueira, secre- investir no setor elétrico e no pe- negócios, aprovado em primeira
tário de Geologia, Mineração e trolífero”, disse Lima, que traba- fase, que envolve empresas par-
Transformação Mineral do Minis- lhou no Cenpes por 16 anos. ceiras, centros de pesquisa, insti- Em busca de terras-raras no Brasil
tério de Minas e Energia (MME). Segundo ele, o Plano de Ação tuições científicas e tecnológicas,
Assim, para agregar valor, é Conjunta Inova Energia, da Fi- para viabilizar a produção de ímãs Universidades fazem a maior parte das pesquisas científicas. Já o trabalho de campo fica com a iniciativa privada
preciso investir em pesquisa e nep, destinado a fomentar o de- de terras-raras no Brasil”, contou.
inovação. E, quando se trata de senvolvimento de tecnologias para O consultor, no entanto, fez Científica
pesquisa na área mineral, o Brasil o setor de energia, vai beneficiar uma ressalva: “Estamos puxando Grupos de pesquisa em terras-raras, 56
• 112 grupos de pesquisa
vai especialmente mal. O PNM também o setor de minerais es- o setor mineral via setor energia. São as instituições por região
• 49 instituições
reconhece a dificuldade de finan- tratégicos, com aporte de recursos Acho que o setor mineral precisa- públicas universitárias as • 221 linhas de pesquisa Sudeste Centro-Oeste %
ciamento: “O desafio é aumentar do Banco Nacional va ser puxado por ele próprio”. responsáveis pela grande • 491 especialistas Sul Norte 9
substancialmente os recursos dis- de Desenvol- Proposta apresentada na Câ- maioria das pesquisas sobre 1
Nordeste 5
poníveis em pesquisa, desenvol- vimento mara com base nos estudos dos terras-raras no país
vimento e inovação para o setor Econômico consultores da Casa prevê a 29
mineral, públicos e privados, em e Social cobrança de participação es-
volume compatível com sua im- (BNDES) pecial das jazidas de alta De campo Norte Nordeste Sudeste Centro-Oeste
portância ­econômica”. rentabilidade, como
UF Quant. UF Quant. UF Quant. UF Quant.
Segundo o plano, são raras de minério de Número de processos
as empresas do setor mine- ­ferro. AM 2 BA 40 ES 41 GO 80 Total
apresentados ao DNPM para
ral contempladas nos editais JT C
ommodities identificação de depósitos RO 10 PB 2 MG 20 MT 3 249
de subvenção à pesquisa a de terras-raras em 2013. TO 40 Total 42 RJ 10 Total 83
fundo perdido pela ­A gência A maior parte deles (203)
Total 52 SP 1
se refere a autorização de
pesquisa de campo Total 72
Minério de nióbio: indústria não se limita
à lavra e agrega valor, no país, na produção
de uma liga metálica de alta complexidade Fontes: DNPM, apresentação de Alvaro Prata, CGEE

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Realidade Brasileira

Nióbio brasileiro

fotos: Agência Vale

José Cruz/Agência Senado


domina mercado
Investir em pesquisa, tecnolo- ser moldada. Usado em pontes,
gia e inovação foi a estratégia da tubulações, carros ou qualquer
Companhia Brasileira de Meta- outra máquina, especialmente
lurgia e Mineração (CBMM), aeronaves, esse aço resiste a al-
que explora nióbio em Araxá tas pressões e temperatura. “Essa
(MG). O minério não está entre liga feita por nióbio é tecnolo-
os elementos de terras-raras, mas gicamente brasileira”, explicou
possui características de explora- o secretário de Geologia, Mine-
ção e de emprego semelhantes. A ração e Transformação Mineral
empresa é responsável por 85% do MME, Carlos Nogueira. O
Segundo Tadeu Carneiro, da CBMM,
do nióbio utilizado no mundo. nióbio tem como concorrentes o empresa investiu em inovação e, em
“O programa de nióbio da ­vanádio e o titânio. meio século, se tornou líder mundial
CBMM, em Araxá, tem 50 anos. De acordo com Carneiro, à
Começou do zero, tanto em ter- época em que a empresa começou falta em relação a terras-raras é
Vale mantém centros de pesquisa mineral: mos de inovação tecnológica as atividades, o nióbio era só uma tecnologia. A CBMM se destacou
diretor da empresa avalia que instituições quanto em termos de mercado. O possibilidade teórica, uma inova- pelo desenvolvimento de proces-
públicas não criam aplicações que possam
programa foi pensado para longo ção de laboratório. “Então, o de- sos e produtos para aplicação no
ser reproduzidas em escala industrial
prazo e conseguimos construir o safio era criar um mercado que mercado. Para conseguir isso, foi
que é conhecido hoje: uma lide- não existia para o nióbio e desen- preciso conquistar autoridade tec-
rança mundial nas aplicações de volver um processo de aproveita- nológica para sentar à mesa com
terras-raras”, explicou o presiden- mento do mineral”. os membros de toda a cadeia pro-
te da empresa, Tadeu Carneiro. A CBMM pretende produzir dutiva até o usuário final, o que
O nióbio diminui o peso do terras-raras a partir dos rejeitos de conseguimos ao longo dessas dé-
c­ apacitados para analisar os ele- grandes pesquisadores que fica- mão de obra realizada pela Con- aço quando alguns gramas são nióbio. A intenção é investir na cadas todas, investindo num pro-
mentos químicos e desenvolver téc- ram com esse know-how. Nossos federação Nacional da Indús- adicionados a toneladas. Para pesquisa de tecnologias associadas grama de longo prazo”, avaliou.
nicas de separação que possam ser centros de pesquisa e universida- tria (CNI) em 2007 classifica a uma tonelada de minério de fer- aos elementos. “Se você não tiver
reproduzidas em escala industrial. des tiveram sua capacidade tecno- indústria mineral entre as mais ro, são necessários apenas 200 tecnologia e não investir conti- Mercado
“O Brasil dominou a tecnolo- lógica desmontada”, avaliou. carentes de pessoal qualificado. gramas de nióbio, resultando em nuamente para ser cada vez mais Carneiro ressalta que os fun-
gia de terras-raras já na década de Porém, nem só de pesquisa Existe demanda por profissionais uma liga mais flexível, que pode eficiente, pouco adianta. O que cionários da mineradora detêm
50, mas descontinuou o proces- pública deve viver a mineração. de nível técnico e superior em áre-
so de desenvolvimento. Quando Segundo o Plano Nacional de as como mapeamento geológico,

Geraldo Magela/Agência Senado


a Vale pesquisa alguma coisa em Mineração, as grandes empresas pesquisa mineral, lavra, beneficia-
relação à extração e separação de devem ser incentivadas a investir mento e transformação mineral.
terras-raras, recorre a especialis- em pesquisa, desenvolvimento e Há carência por geólogo, geofísi-
tas da área nuclear, porque são os inovação, “por conta própria e em co, engenheiros de minas, de ma-
consórcio com outras empresas”, teriais e de metalurgia, químico,
Pedro França/Agência Senado

valorizando a função do pesquisa- topógrafo, técnico de geologia e


dor dentro dos próprios quadros. mineração e metalúrgicos.
O prefeito de Araxá, Jeová Mo- Para o senador Luiz Henrique,
reira da Costa, anunciou em audi- o investimento em pesquisa cien-
ência no Senado que a prefeitura tífica e tecnológica será tratado
está idealizando uma cidade tec- na proposta de marco regulatório
nológica para a região. No muni- para o setor a ser analisada no Se-
cípio mineiro, estão instaladas vá- nado. “As transformações cientí-
rias empresas de mineração, como ficas, tecnológicas e econômicas
a Vale e CBMM. “A ideia é fazer são tão estonteantes que temos
parceria com as empresas e a Uni- de ter uma visão diferente da que
versidade Federal do Triângulo tínhamos décadas atrás. Temos
Mineiro para estimular o desen- que prospectar o futuro, como
volvimento e qualificar a mão de faziam os lakotas, que punham
obra da cidade”, revelou. o ouvido no chão para escutar o
tropel do búfalo. Temos de pro-
Recursos humanos curar escutar o tropel das ino-
Prefeito de Araxá, Jeová Costa, anunciou a criação de Além de poucas fontes de vações que estão vindo por aí”,
cidade tecnológica, unindo universidades e empresas ­f inanciamento, pesquisa ­s obre ­reforçou. Ponte sobre o Lago Paranoá, cartão-postal de Brasília, é feita com liga ferro-nióbio

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Realidade Brasileira

Rogério Reis/Tyba

Gabinete do Senador
o conhecimento tecnoló-
gico utilizado pela empre-
sa. “Não existe um quilo
de minério de nióbio que
saia de Araxá como maté-
ria bruta. Só produtos de
valor agregado, graças a
essa estratégia. A etapa de
mineração em Araxá é só
uma das mais de 15 etapas
tecnológicas para transfor-
mação do minério em pro-
duto acabado, que é o que
se procura nesse debate no
Senado”, ensinou.
Ele destaca que um pro-
grama de terras-raras que
tenha sucesso é uma cor-
rida tecnológica, na qual Aparelho de ressonância magnética em hospital do
são necessários parceiros Rio de Janeiro: peças contêm terras-raras e nióbio
estratégicos. “Não posso
dizer quais são os parcei- Segundo ele, a empresa já ­Pesquisas Tecnológicas de São
ros estratégicos de fora do país domina a separação dos dife- Paulo. O engenheiro Fernando
que estão trabalhando conosco rentes óxidos. O investimento Landgraf, presidente do insti-
por problema de sigilo, mas não agora é no desenvolvimento das tuto, é um dos maiores especia-
são chineses. E estão interessa- outras etapas da cadeia produ- listas em magnetismo, em ímãs Para elaborar relatório, senador Luiz Henrique (de gravata vermelha)
dos em que se desenvolvam fon- tiva para deter o conhecimen- permanentes que temos”. visitou instituto na Alemanha interessado nas terras-raras do Brasil
tes alternativas aos produtos de to de fabricação de produtos Para Edson Ribeiro, da Vale,
terras-raras de mais alto valor de terras-raras de maior valor a CBMM faz um marketing

Brasil planeja produzir


agregado. Existem mais de 400 agregado. de grande sucesso, pelo qual
projetos de terras-raras no mun- “A cadeia de ímãs perma- consegue controlar o mercado
do e é preciso investir na cadeia nentes tem a ver com neodímio a partir do domínio de custo e

ímãs de terras-raras
de valor, como fizemos com o e praseodímio. Já temos, em preço. “Não há incentivo para
nióbio ao longo do tempo”. bancada de laboratório, como outra empresa produtora de ni-
separar os diversos óxidos. A óbio entrar no mercado porque
Futuro peça do quebra-cabeça que ain- o Brasil pode baixar o preço,
Na CBMM, o potencial má- da está faltando é a redução, como a China fez nas terras- A Fundação Centros de Re- derivados dos elementos de ter- investimentos da ordem de
ximo de produção de terras-ra- por eletrólise de sal fundido, -raras. Como nosso custo de ferência em Tecnologias Ino- ras-raras”, disse Carlos Alberto R$ 30 milhões para impulsio-
ras com o rejeito da produção para obter o metal. Uma produção é muito baixo, a gen- vadoras (Certi), que ajuda em- Schneider, superintendente-ge- nar a pesquisa tecnológica. Já
de nióbio é de cerca de 90 mil vez alcançado esse objeti- te pode baixar o preço e fazer presas brasileiras na inovação ral da Fundação Certi. para implantar unidades-piloto
toneladas por ano. “Como o vo, passaremos à produ- um novo projeto ficar inviável, de produtos e processos, apre- De acordo com ele, o con- e desenvolver soluções, deve-
mercado mundial está em cerca ção das ligas metálicas por causa da intensidade de ca- sentou, em 2011, uma proposta sumo de ímãs no mundo, em -se empregar mais R$ 100 mi-
de 160 mil toneladas, não acre- e dos ímãs permanentes pital. É um mineral estratégi- à Agência Brasileira de Desen- 2010, foi de cerca de 70 mil to- lhões. Fabricar mil toneladas
dito que ninguém tenha a am- de terras-raras. E já te- co? Acredito que sim, mas não volvimento Industrial (ABDI), neladas. Em 20 anos, por conta de ímãs por ano consumirá em
bição de ter 60% ou 70% do mos uma parceria com há falta de nióbio no mercado”, ligada ao MCTI, para que o do carro elétrico e híbrido e da torno de R$ 270 milhões. Mas
mercado imediatamente. Mas u m a i n s t it u iç ão afirmou. Brasil se torne um produtor de energia eólica, a expectativa é a ideia é que a receita supere
Blog Mega Engenharia

o potencial de 90 mil tonela- que fez isso no pas- ímãs de terras-raras. O estudo de que se consuma aproximada- em muito todo esse valor.
das nessas condições é muito sado: o Instituto de Viaduto de Millau, na França, é o mais alto foi feito em parceria com ou- mente 500 mil toneladas. “São recursos que o BNDES
do mundo. Peso foi reduzido em 60% graças
importante”, avisou. à adição de 0,025% de nióbio ao aço
tras instituições, entre elas o Apesar dessa previsão pro- pode financiar. Mas ninguém
Centro de Tecnologia Mineral missora, o Brasil nada avan- pode implementar isso sozinho.
(Cetem), a Universidade Fede- çou entre 2011 e 2013, alerta É necessário envolvimento do
ral de Santa Catarina (UFSC), ­Schneider. “Temos potencial de Congresso Nacional para via-
o Instituto de Pesquisas Tec- crescimento bastante significa- bilizar o uso das terras-raras. É
nológicas (IPT) e o Instituto tivo, porém é preciso agilizar o necessária uma ação de gover-
Fraunhofer, organização alemã processo. O valor do mercado no bastante integrada e forte.
de pesquisa aplicada. mundial para ímãs de terras-ra- É necessário que a academia se
“A nossa proposta é de que o ras é de US$ 2 bilhões, peque- envolva e as empresas comecem
Brasil possa se tornar um for- no, mas altamente estratégico”, a fazer de imediato. Posso ga-
necedor mundial de ímãs de considerou. rantir: essas empresas existem
terras-raras. Se fizermos isso, Segundo ele, na proposta e estão querendo implementar
vamos poder fazer uma série apresentada à agência, a avalia- isso no Brasil. É uma grande
de outros produtos estratégicos ção é de que serão ­necessários chance para o país”, concluiu.

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Realidade Brasileira

Pioneirismo e descaso Radioatividade deixou


O Brasil foi pioneiro na fabri- Em 1989, a Usina de Interla- passivo ambiental em SP

Pedro França/Agência Senado


cação de terras-raras, na segunda gos, na capital paulista, começou
metade da década de 1940, com a separar com solventes os ele-
a Usina Santo Amaro, na capital mentos terras-raras em duas fases Um problema que afeta a pro-

Blog do Goulart
paulista, mantida pela empresa (leve e pesada). Já na Usina Santo dução de terras-raras de fontes
Indústrias Químicas Reunidas Amaro, uma unidade passou a monazíticas alterou os rumos da
S.A., a Orquima. A matéria-pri- obter hidróxidos e óxidos de cé- produção brasileira: a radioativi-
ma era a monazita, extraída das rio, bem como solução de clore- dade decorrente da presença de
areias da Praia de Buena, no mu- to de lantânio, etapas necessárias urânio e tório na monazita. Mui-
nicípio de São Francisco de Itaba- para chegar aos elementos puros, tos países até mesmo abandona-
poana (RJ), e produzida na Usina prontos para utilização industrial. ram o uso da monazita para pro-
de Praia pela Sociedade Comer- dução de terras-raras.
cial de Minérios Ltda. (Sulba). Cério e lantânio A Usina Santo Amaro, que pro-
Em 1962, o governo federal es- Em 1992, a Indústrias Nucle- Prefeito de São Francisco de Itabapoana duzia terras-raras, fica no bairro
tatizou a Sulba e a parte da Or- ares do Brasil (INB), em con- (RJ), Pedro Cherene, teme fim das paulistano do Brooklin. Em 1986,
quima dedicada ao tratamento junto com o Instituto de Enge- operações da INB no municipio a Nuclemon — sucessora da Or-
químico da monazita. Isso por- nharia Nuclear (IEN), começou quima e depois incorporada pe-
que esse minério possui também a produzir óxidos individuais de na mina de Buena Sul, uma mé- las Indústrias Nucleares do Brasil
urânio e tório, elementos radioa- terras-raras com graus de pureza dia de 280 toneladas de monazi- (INB) — instalou uma unidade
tivos cuja exploração passou a ser superiores a 99%, em Buena, no ta, que são incorporadas ao esto- de separação das terras-raras na
monopólio da União. A produção município de São Francisco de que da empresa e comercializadas Usina Interlagos, também na capi-
ficou a cargo, então, da Comis- Itabapoana, já que as demais ati- para a China, com base em con- tal paulista. Grandes quantidades
são Nacional de Energia Nuclear vidades em São Paulo, inclusive a trato firmado em 2009. Com aval de rejeito radioativo do Brooklin
(Cnen). Em 1966, as demais uni- exploração do mineral, foram en- da Comissão Nacional de Energia foram transferidas para Interla-
dades da Orquima também fo- cerradas na mesma época. Nuclear, em 2011, a INB expor- gos. Mesmo com a desativação das
ram estatizadas. Após essa experiência, uma tou 1,5 mil toneladas de monazita duas unidades, em 1992, o rejeito
Para o engenheiro químico Si- unidade industrial de processa- para a China. Em 2012, porém, radioativo continua armazenado
mon Rosental, no estudo Terras- mento de monazita, produção de a usina suspendeu a extração de nos galpões da Usina Interlagos.
-Raras, publicado pelo Centro de hidróxido de cério e cloreto de monazita. Em 1987, o acidente radioa- Técnicos da CPI dos Danos Ambientais inspecionam
Tecnologia Mineral (Cetem), do lantânio foi montada em 1997, Sem outras áreas, a indústria tivo com césio-137 em Goiânia depósito de lixo radioativo no bairro de Interlagos, em SP
MCTI, a implantação e a ope- na unidade da INB de Caldas ainda pode operar por mais oito chamou a atenção dos funcioná-
ração do tratamento químico da (MG). A licença para operação anos na cidade, pois há 7 mil to- rios das usinas sobre os riscos da pela exposição à radiação sofrida níveis toleráveis de radiação. Des-
monazita “se deram dentro dos experimental, porém, só foi obti- neladas de monazita estocadas. radiação. Durante décadas, tra- pela população e, sobretudo, pe- de 2010, o local da Usina Inter-
melhores padrões tecnológicos, da em 2004. Mas, após uma ava- As atividades, porém, não envol- balharam sem qualquer proteção, los trabalhadores das duas usinas. lagos, hoje área nobre da capital
em nível mundial, com a fabri- liação econômica, a INB decidiu vem a exploração de terras-raras até que perceberam que muitos Em 2009, a câmara instalou outra paulista, vem sofrendo um proces-
cação de produtos de alta qua- encerrar as atividades de produ- na monazita do local, mas ilme- problemas de saúde e mortes ocor- CPI para avaliar diversos tipos de so de descontaminação para que
lidade e grande ênfase na área ção dos compostos, obtidos na nita, zirconita e rutilo, que são ridos nos quadros poderiam estar danos ambientais à cidade de São receba outra destinação.
de pesquisa e desenvolvimento, China por preços muito baixos. comercializados e completam o relacionados à radiação. Paulo, entre eles os ocasionados Em 2006, relatório produzi-
apresentando resultados práticos No entanto, a produção de conjunto dos quatro minerais pe- pelas usinas. do por grupo de trabalho encar-
importantes, com a colocação no monazita não foi interrompida. sados da areia da jazida. “Níveis toleráveis“ De acordo com a INB, as ins- regado de analisar a segurança
mercado de novos produtos”. De 2009 a 2011, a INB produziu, O possível fechamento da uni- Em 1991, a Câmara Munici- talações de Interlagos são moni- nuclear no Brasil, formado pela
dade da INB em Buena preocu- pal de São Paulo instaurou uma toradas pela Cnen e pela Compa- Câmara dos Deputados, propôs a
pa o prefeito de São Francisco de ­comissão parlamentar de inquéri- nhia Ambiental do Estado de São indenização dos trabalhadores da
Cris Isidoro/Mapa de Cultura do RJ

Itabapoana, Pedro Jorge Cherene to para apurar responsabilidades Paulo (Cetesb) e estão dentro dos ­Nuclemon. Em 2007, os antigos
Júnior, por tratar-se da única in- funcionários da estatal ganha-
dústria da cidade. O encerramen- ONG Espaço de Formação Assessoria e Documentação
ram na Justiça do Trabalho o
to da operação vai desempregar direito de receber plano de saúde
muita gente e diminuir a renda vitalício. Mas eles pedem ainda
local. “Pedi que técnicos da INB a regulamentação da Convenção
façam o levantamento de áreas 115 da Organização Internacio-
com monazita a serem exploradas nal do Trabalho (OIT), da déca-
no município. O trabalho come- da de 60, pela qual pessoas ocu-
çou em junho e os relatórios serão padas com serviços radioativos
conhecidos em breve”, afirmou. devem passar por exame médico
periódico vitalício.
Praia de Buena (RJ) foi, Funcionários da Nuclemon se
durante anos, fonte das areias manifestam desde os anos 90
de onde se extraiu monazita para garantir direito a tratamento
para produção de terras-raras médico e indenizações

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Realidade Brasileira

Empresa vai minerar MbAC pretende fabricar ímãs


terras-raras em Goiás Outra empresa que está

Seditas poreperibus restrum


começando a investir na ex-
O governo de Goiás e a e­s tratégicos. O projeto ploração de terras-raras no

Pedro França/Agência Senado


Mineradora Serra Verde assi- colocará o Brasil na linha Brasil é a canadense MbAC
naram protocolo de intenções, de frente da tecnologia Fer tilizantes, que já produz
em abril, para a construção de mundial”, afirmou o diretor- fosfato e potássio no país. A
planta destinada à exploração -geral da Serra Verde, Paulo empresa anunciou, em 2012,
em larga escala de terras-raras de Tarso Serpa Fagundes. que pretende explorar ó ­ xido
na cidade de Minaçu, no norte de terra s-rara s a par tir de
goiano. A previsão é de que seja Processo inédito 2016 em Araxá (MG). Mas a
investido R$ 1,2 bilhão em dez O protocolo prevê ain- MbAC não está interessada só
anos. da que a empresa fará em minerar. A ideia é produzir
De acordo com o prefeito de investimentos entre R$ 300 também ímãs permanentes, de
Minaçu, Maurides Rodrigues milhões e R$ 600 milhões alto valor agregado.
Nascimento, a planta-piloto para instalar uma unidade “Estamos associados a uma
deverá começar ser estabeleci- de extração e beneficia- companhia chinesa que produz
da ainda este ano. O início das mento de terras-raras, com magnetos. Queremos trazer a
operações está previsto para teor de pureza mínimo de Maurides Nascimento, prefeito de tecnologia dos magnetos para
2016. ”Queremos que o Se- 99,99%. De acordo com Minaçu (GO), espera início das o projeto de Araxá”, informou
nado nos ajude a acelerar o Fagundes, a meta faz com operações em 2016 e promete o diretor-executivo da empre-
monitorar meio ambiente
processo de implantação das que a iniciativa seja bastan- sa, Antenor Silva.
atividades da mineradora, que te ambiciosa. Segundo ele, Ele disse que a tecnologia Instalações da MbAC Fertilizantes, em Araxá, onde a empresa,
trarão benefícios significativos a Serra Verde irá desenvol- ponta”, avaliou o engenheiro. mais avançada para utilização além de fosfato, pretende produzir óxidos de terras-raras
para o município, o estado e o ver o processo, inédito no país, Fagundes conta que a fase industrial de terras-raras hoje
país”, afirmou o prefeito, que se de separação em terras-raras de pesquisa já foi concluída. pertence aos japoneses, que de óxido de lantânio. A saída A decisão política vem antes”.
comprometeu a fiscalizar o im- individuais para a utilização na “Estamos planejando a esca- não a exportam nem instalam seria exportar esses óxidos. E Na avaliação dele, as decisões
pacto ambiental da exploração produção de materiais estra- vação da mina. A gente vai ter plantas em outros países. “Na exportar óxidos para a Chi- foram feitas nas áreas de pe-
de terras-raras. tégicos presentes em diversos uma resposta mais clara sobre produção de magnetos, temos na é suicídio. Inclusive porque tróleo e energia elétrica, mas
A Mineração ­ S erra Verde tipos de produtos. a presença de terras-raras nos uma barreira: uma patente da eles têm barreiras para a en- ainda falta a de mineração. “A
é uma empresa do Grupo Mi- “É uma proposta que vai próximos meses. O que posso Hitachi que vence em 2014. É trada desses elementos. Então, MbAC tem dificuldade para
ning Ventures Brasil (MVB), além da extração mineral para dizer agora é que vamos priori- com essa patente que se con- seria necessário que se fizes- viabilizar recursos. Não é fácil
financiada por capital pri- exportação in natura para trans- zar áreas onde se concentram segue fazer os magnetos mais se a i­ndustrialização no Brasil o BNDES liberar financiamen-
vado nor te -a mer ic a no. “A formação lá fora. O projeto terras-raras pesadas, ligadas às usados na indústria”, contou. desses óxidos. É isto que que- to para uma atividade de risco.
iniciativa é de grande relevân- prevê que a transformação será aplicações com maior compo- remos fomentar: uma cadeia A China joga muito duro. Essa
cia para o ­desenvolvimento da feita no Brasil, que estará na nente tecnológico”, afirmou o Investimentos que produza os magnetos no empresa, em Araxá, pode co-
indústria brasileira de minerais vanguarda dessa tecnologia de diretor-geral da Serra Verde . A expectativa da empresa é Brasil”, revelou. meçar a produzir os óxidos,
produzir 8,75 mil toneladas de O consultor Paulo César mas, se a China baixar o valor,
óxidos de terras-raras por ano, Ribeiro Lima comemorou a pode tirá-la do mercado. O
dobrando a capacidade após iniciativa. “Como era uma em- jogo é pesado”, concluiu.
cinco anos. O investimento ini- presa mineradora,
cial é de US$ 406 milhões, com não f iquei muito

José Cruz/Agência Senado


outros US$ 214 milhões para a motivado no início.
expansão depois de cinco anos. Ma s parece que
Funcionário da As reservas da MbAC vão per- ela está realmen-
Mineração Serra
Verde manuseia mitir operações por 40 anos. te determinada a
material de mina Segundo ele, já há uma planta- produzir ímã s de
de onde serão -piloto em operação no Rio terras-raras. Aí, sim,
retirados minerais de Janeiro para a produção de a gente começa a
de terras-raras
óxidos de terras-raras. p ens a r num pa ís
Silva insistiu na importân- que, realmente, tem
cia de criar uma cadeia para a uma visão estratégi-
utilização das terras-raras no ca”, avaliou.
Brasil. “No nosso caso par- Lima adverte, no
ticular, se produzirmos só os entanto, que cons-
ar

es
t

ob
re
f óxidos, teremos um merca- truir essa indústria
do pequeno, a indústria de es t ratég ic a exige
ot
od

petróleo. A Petrobras, maior recursos. “É preci-


e: M

Antenor Silva anunciou que empresa fará


consumidor brasileiro, conso- so decisão política mineração, mas também participará da
L&
A

o
C

m
un
ica me cerca de mil toneladas/ano para gerar recursos. transformação industrial das terras-raras
çõ
es

34 
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35
Mundo

Alerta contra o O
Brasil já foi o maior
produtor mundial. A
Índia também. Por
alegando problemas ambientais.
Pegos de surpresa, diante das in-
certezas a respeito da estabilidade
de mercados, como o de célu-
las solares, superímãs, super-
condutores de alta temperatura,

monopólio chinês
duas décadas, de 1965 do preço e da garantia de supri- utilizados em geradores eóli-
a 1985, os Estados Unidos sedia- mento pela China, os países con- cos, carros elétricos e híbridos,
ram a maior mina de terras-raras sumidores iniciaram rapidamente iluminação eficiente etc. (leia
do mundo — Mountain Pass, na uma retomada do mapeamento mais na pág. 8). Estimativas
Califórnia. Tudo isso é passado. e da exploração desses elemen- apontam que a produção de al-
Um a um, a partir da década de tos, cuja demanda aumenta rapi- guns elementos, as terras-raras
90, todos os produtores capitula- damente, por serem estratégicos pesadas, não conseguirá atender
País produz 97% das terras-raras ram diante da expansão da produ- para o ­crescimento e a inovação da toda a demanda nas próximas
e, por isso, dita as regras de preço ção chinesa. ­indústria do século 21. décadas.
e abastecimento. Compradores já Hoje, o país produz cerca de O consumo de elementos de Em resposta, muitos países es-
97% das terras-raras consumidas terras-raras (ETRs) praticamente tão voltando a investir e iniciam
buscam opções a esse controle no mundo. Chegou a essa condi- triplicou nos últimos 15 anos e a projetos de exploração, principal-
ção por ter as maiores reservas, em tendência é que aumente ainda mente nos Estados Unidos, Ca-
boas condições de exploração, com mais. As atividades de pesquisa e nadá, Austrália e Groenlândia,
mão de obra barata, derrubando desenvolvimento território da Dinamarca. Mas os
os preços e inviabilizando os polos têm contribu- desafios são imensos: como a mi-
de mineração então existentes. O ído para essa neração de terras-raras é uma ope-
mundo acreditou na confiabilida- expansão e ração difícil e cara, para garantir o
de do suprimento chinês, cancelou aberto um retorno do investimento é preciso
projetos e abandonou pesquisas nú m e r o agregar à atividade a cadeia pro-
(veja infográfico na pág. 39). m a ior dutiva, sob pena de não ter para
Porém, em 2011, a China quem vender. Leia, nas próximas
deu um choque no mercado páginas, onde estão reservas, jazi-
mundial. Restringiu as vendas das, compradores e vendedores, e
de forma inesperada e drás- como o mundo trata esse merca-
tica, com cotas de produção do ao mesmo tempo estratégico e
para empresas, inclusive ­arriscado.

Niklaus Berger
Chinês em mina de terras-
-raras: condições ambientais e
trabalhistas foram usadas como
motivo para restrições à produção
anunciadas em 2011

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37
Mundo

Cenário mundial aponta para desabastecimento de alguns elementos


Mercado pequeno, O domínio chinês do mercado ocorre tanto na produção quanto no consumo, que deve continuar crescendo

mas altamente estratégico A produção de terras-raras vem crescendo de forma exponencial nos últimos anos...
140

Aplicações das terras-raras1 Evolução da produção


As terras-raras formam um muito delicada”, avalia o especia- de terras-raras2 120
10% Bateria de níquel

Pedro França/agência senado


mercado pequeno e relativamente lista, que participou do debate
recente. Além disso, a brutal con- com os senadores. 27% Ímãs 100
centração da produção na China

volume em milhares de toneladas


faz com que dados definitivos so- Demanda
bre produção, consumo e comer- De acordo com o Ser viço 7% Fósforos 80
cialização desses minerais sejam Geológico dos Estados Unidos 2% Protetores solares
revisados a todo momento, com (USGS, na sigla em inglês), a de- 16% Craqueamento de petróleo 60
informações por vezes imprecisas manda por terras-raras deve cres-
ou incompletas. cer em razão do contínuo aumen- 3% Óculos de grau China
Segundo estudo da Câmara to das aplicações. A demanda de 40
13% Metalurgia e ferrossilício
dos Deputados, em 2011 foram ímãs permanentes, por exemplo,
4% Outros
comercializadas 158,2 mil tone- poderá aumentar à razão de 10% 7% Autocatalisadores
ladas de óxidos de terras-raras a 16% por ano, e a de catalisado- 11% Polidores Estados Unidos 20
no mundo, o equivalente a uma res de automóveis e refino de pe-
quantia entre US$ 2 bilhões e tróleo deve crescer de 6% a 8% ao Outros países
US$ 3 bilhões. Apesar do cres- ano. O USGS prevê ainda aumen- 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
cimento nas últimas décadas, o tos de demanda de terras-raras
mercado ainda é muito pequeno para telas planas, motores de veí-
se comparado ao de petróleo, de culos e aplicações nas áreas médi- ...mas talvez não haja produção suficiente de alguns elementos para suprir a demanda no futuro
cerca de US$ 3 trilhões, ou ao de ca e de defesa (veja o infográfico da
Para Adriano Trindade, depender das
minério de ferro, que movimen- página ao lado). importações não é, em si, um mal, desde
Disponibilidade por elemento3 Evolução da demanda4
ta aproximadamente US$ 200 José Farias de Oliveira, profes- que o suprimento esteja assegurado
­bilhões por ano. sor do Departamento de Enge- 120
A dependência mundial em re- nharia Metalúrgica e de Materiais déficit superávit
lação à produção chinesa preocupa da Coppe, da Universidade Fe- trem que liga o centro de Xangai 100
principalmente os países com pla- deral do Rio de Janeiro (UFRJ), (China) ao aeroporto usa ímãs de Lantânio

volume em milhares de toneladas


taformas industriais avançadas, exemplif ica que as inovações terras-raras para levitar sobre os 80 Demanda da China
intensivas no uso de alta tecnolo- com terras-raras estão, inclusi- trilhos e, ­literalmente, voar a 430 Cério
gia — especialmente o Japão, que ve, reinventando o trem. O novo quilômetros por hora. 60
importa 82% de suas terras-raras Praseodímio Demanda mundial
da China, o que equivale a cerca Domínio chinês ameaça países desenvolvidos 40
de 40% das exportações chine- Neodímio déficit
sas. Já os Estados Unidos impor- Indústrias de alta tecnologia de Japão, EUA, Alemanha e França sofrem mais
20
tam outros 18% do que os chine- Samário Cota de exportação chinesa
Exportações Importações
ses produzem, de acordo com o
estudo da consultoria da Câma- 44 China 4 Európio
2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
ra. Outros países se destacam na 6 Japão 18,4
importação: Alemanha, França, Gadolínio 2015
volume em 5,5 EUA 16,5
Áustria, Estônia, China, Coreia milhares de 2020 Estimativa de evolução do mercado de automóveis5
do Sul, Brasil e Rússia (veja o toneladas 0,7 Alemanha 8,3 Térbio
­infográfico à direita). 1,4 França 7,3 200
Para o advogado Adriano Áustria Disprósio
Drummond Cançado Trindade, 10,7 4,7

vendas em milhões de unidades


160
“o fato de o país depender da im- 2,7 Estônia 4,2 Carros elétricos
Érbio
portação por si só não representa Compostos Coreia do Sul 2,7 120 Carros a combustão
necessariamente um grande pro- Metais Brasil 1,6 Ítrio
blema, desde que tenha seguran- 80
ça de fornecimento. O problema 4,8 Rússia 1,2
é que dependemos de uma úni- 0,9 Sri Lanka Lutécio, itérbio, túlio, hólmio
40
ca fonte, que tem estabelecido 1,1 Cazaquistão Carros híbridos
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25
­medidas que afetam a segurança
Fonte: Terras-raras: elementos estratégicos para o Brasil, de Paulo César Ribeiro Lima, 2012 volume em milhares de toneladas 2000 2010 2020 2030 2040 2050
do fornecimento, uma situação
Fontes: 1: Lynas Corporation, 2: USGS, 3 e 4: Industrial Minerals Company of Australia, 5: International Energy Agency, Energy Technology Perspectives

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39
Mundo

Reservas pouco exploradas

Jacob Kepler
O potencial mundial de pro- c­ oncentram grande parte das re- Unidos, e as argilas, que não têm
dução de terras-raras ainda está servas conhecidas de terras-raras. minerais radioativos associados e
longe de ser amplamente conhe- A monazita, que aparece prin- só aparecem na China, são outras
cido. Ele muda a cada anúncio de cipalmente na Austrália, África importantes fontes de ­terras-raras
descoberta, a cada novo projeto de do Sul, China, Brasil, Malásia, pesadas.
exploração que entra em operação Índia, Sri Lanka, Tailândia e Es- De acordo com o Serviço Ge-
pelo mundo afora. Presentes em tados Unidos, forma a segunda ológico Norte-Americano, em
diversos tipos de mineral, em bai- maior concentração. Mas a pos- 2010 cerca de 50% das reservas
xa concentração (entre 2% e 5% sibilidade de dano ambiental as- mundiais de terras-raras identi-
do material), misturados a outros sociada à extração de terras-raras ficadas estavam na China, e os
(como nióbio e urânio), fica ainda das monazitas e o alto custo de Estados Unidos detinham aproxi-
mais difícil precisar a quantidade armazenamento dos subprodutos madamente 13%. África do Sul e
de cada um dos elementos presen- radioativos levaram alguns países, Canadá teriam alto potencial de
te em cada reserva. como Estados Unidos, a não con- produção, enquanto Austrália, Bra-
Segundo os consultores da Câ- siderá-las como fonte de ETRs. A sil, Índia, Rússia, Malásia e Mala-
mara, os depósitos de bastnasita xenotima, ­encontrada na Norue- wi também teriam depósitos signi-
dos Estados Unidos e da China ga, ­Madagascar, Brasil e Estados ficativos (veja infográfico ­abaixo).

Vários países afirmam ter terras-raras, mas mercado é mais cuidadoso


Como a extração é difícil e cara, poucos depósitos são viáveis

Para o mercado, os depósitos Instalações da mina de Mountain Pass, nos Estados


economicamente viáveis Unidos, que tem expressivos depósitos de bastnasita

descobertos até agora 7%


Vietnã
se concentram 10% Existem depósitos de alto teor de concentração de produção, e não ­ rovável desabastecimento, além
p
em seis países... Canadá terras-raras na Mongólia Interior, de ocorrência”, afirmou Ribeiro. do mapeamento de informações
10%
grande região produtora, e de bai- sobre reservas e mercados. Por sua
19% Estados Unidos
xo teor no sul da China. São as Reação vez, Japão e Coreia do Sul vêm fi-
27% Austrália
29% Dinamarca
argilas, que têm principalmente O fato é que os países — frente nanciando a exploração mineral,
China (Groenlândia) ETRs pesados, mas que são de fá- ao poder que a China demonstrou buscando acordos de suprimento
cil exploração. Outras áreas com ter sobre o mercado e à necessidade com países produtores e investin-
Fonte: Vale grande potencial são o Lago Thor, crescente de terras-raras — vêm se do em reciclagem e substituição
no Canadá; Karonga, no Burun- posicionando para enfrentar o pro- de terras-raras por outros elemen-
Projetos de mineração di; e Wigu Hill, no sudoeste da blema. De acordo com estudo ain- tos, entre outras políticas para ga-
16,7% Rússia 48,4% em estágio avançado Tanzânia. da inédito do Centro de Gestão de rantir o suprimento desses mine-
...já para o mundo China
Se em produção e mercado a Estudos Estratégicos (CGEE), do rais cada vez mais e­ stratégicos.
especulativo, há depósitos 11,4% Capacidade China é dominante, em termos de Ministério da Ciência, Tecnologia Como resultado, disse Edson
Empresas Local Projeto
Estados Unidos em toneladas
em diversas regiões do globo Arafura Resources Austrália Nolans 20.000
reservas ou depósitos o país pode e Inovação, países com reservas co- Ribeiro, mais depósitos foram des-
e uma concentração muito 2,7% Índia ser contestado. O diretor da Vale nhecidas, como a Austrália, man- cobertos e a reciclagem passou a
Akane Resources Austrália Dubbo Ziconia 1.400
maior na China 1,4% Austrália Edson Ribeiro afirmou aos sena- têm o investimento em mineração ser levada a sério. “Um dos temas
Avalon Rare Earth Canadá Nechalacho (Thor Lake) 4.000
dores que há muita especulação e buscam acordos de fornecimento que serão discutidos nesta sub-
19,4% Outros Great Western Mineral Canadá Hoidas Lake 3.000
e controvérsia quanto às reais di- de longo prazo com países impor- comissão [das Terras-Raras] no
Greenland Minerals Groenlândia Kvanefjeld 35.000 mensões dos depósitos e à efetiva tadores, ao mesmo tempo em que futuro é a reciclagem. Mitsubishi
Lynas Austrália Mount Weld 10.000 capacidade produtiva de vários perseguem metas de proteção am- e Mitsui, as grandes tradings do
Molycorp EUA Mountain Pass 10.000 projetos anunciados pela indús- biental, uma ênfase também anun- mercado japonês, por exemplo, co-
NMT/Mitsubishi Brasil Pitinga (AM) 400 tria e pelos países mundo afora. ciada por China e Canadá. meçaram, elas mesmas, a comprar
Rare Earth Resources EUA Bear Lodge - Para o executivo, não está prova- Já os Estados Unidos, além da sucata e a incentivar a reciclagem”,
Eramet Gabão Mabounié - do que a China detém metade das estocagem, vêm trabalhando na disse o diretor da Vale. A informa-
Toyota & GOV Vietnã Dong Pao 5.000 reservas mundiais. “Não há, em cadeia produtiva doméstica para ção foi confirmada aos senadores
Rareco/Great Western Mining África do Sul Steenkamps kraal 2.700 termos de geologia, em termos maximização do consumo da pro- por Tetsuichi Takagi, do grupo de
Sumitomo/Kazatomprom Cazaquistão Diversos 10.000 natura is, uma ­ c oncentração dução e em políticas de ­reciclagem pesquisa em recursos minerais do
Fonte: Roland Berger na China. O que há é uma e redução do impacto de um governo japonês.

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Mundo

Explosão de preços em 2011


Minas de Steenkampskraal, na África do Sul,
do conglomerado canadense GWMG: países
ricos buscam saída para o monopólio chinês

Adam Currie
Em meados da década passada, da indústria para procurar subs- caso as chamadas economias
consolidado o domínio chinês do tituição ou redução. No catalisa- emergentes, entre elas a China, si-
mercado de terras-raras — quan- dor de petróleo, pode-se trabalhar gam (ou voltem) a crescer em rit-
do o país passou a figurar, ao com cloreto de lantânio na faixa mo acelerado. O crescimento des-
mesmo tempo, como maior pro- de 3,5% a 5% de concentração. sas economias, afirma o ­e studo
dutor, maior consumidor e maior Mas se trabalha muito bem com da Câmara, em geral é mais in-
exportador —, teve início uma 3,5%. Então, as empresas produ- tensivo em materiais que o dos
escalada de preços. Em 2008, toras de catalisadores começaram países desenvolvidos, em razão da
houve um primeiro pico, mas em a produzir com 3,5%, reduzindo implantação de muitos e grandes
2011 os preços de alguns elemen- a compra”, afirmou. projetos de infraestrutura. “Se os
tos saltaram até 600% (veja info- O estudo da Câmara alerta produtores de terras-raras tiverem
gráfico nesta página). para o fato de que o crescimen- dificuldade em acompanhar o
Mesmo elementos de menor to da demanda e as restrições crescimento da demanda, os pre-
valor nominal, como as terras- às exportações feitas pela Chi- ços poderão permanecer altos por
-raras leves praseodímio e neodí- na devem manter os preços altos mais tempo, principalmente para
mio, tiveram o preço elevado seis no curto prazo. No longo prazo, os elementos pesados”, avaliam os
vezes. Já os óxidos dos elementos com o aumento da oferta previsto consultores.
pesados, como disprósio e térbio, com as novas operações de em- Outro fator na formação dos
subiram 500% e 300%, respec- presas como Molycorp e Lynas preços que preocupa são os custos
tivamente. Para ter uma ideia, os (leia quadros nas págs. 47 e 49), os da extração mineral, em função
Estados Unidos, que em 2005 preços tendem a cair para pata- da baixa concentração dos metais
importaram 24 mil toneladas de mares compatíveis com os custos (leia mais a partir da pág. 15) e do
terras-raras da China por US$ efetivos de produção e transporte. aumento dos custos de capital.
42 milhões, em 2010 pagaram Na China, a produção pode ficar
US$ 129 milhões por apenas 14 Riscos e custos mais cara também em razão do
mil toneladas, ou seja, compra- Esse otimismo esbarra, no en- aumento dos custos de mão de
ram 42% a menos por um preço tanto, na possibilidade de um obra e de questões ambientais e
200% maior. Embora os preços ­aumento bem maior da d
­ emanda, sociais.
tenham recuado desde 2011, ain-
da permanecem em patamares
Cenário é de desabastecimento
muito mais altos que os de 2002. Depois do pico, há dois anos, preços recuaram
Os preços dos metais de terras- Em termos de produção e China pode eliminar as operações ao mercado, para garantir o aten-
Em geral, terras-raras leves custam bem menos que as pesadas
-raras são tradicionalmente um e­ xportação, o mercado mundial ilegais e restringir as exportações dimento da demanda interna por
pouco maiores que os dos respec- 3.000 de terras-raras pode ser dividido ainda mais. Segundo a Industrial vários anos.
tivos óxidos e, em geral, os pesa- em três eras: Minerals Company of Australia Isso também vem ocorrendo
dos — menos abundantes e de • pré-1965, em que vários pro- (Imcoa), em 2015 a demanda fora no Brasil. Segundo Edson Ribei-
extração mais cara — são mais Európio dutores, entre eles o Brasil, su- da China poderá chegar a 185 mil ro, com a alta dos preços e a re-
caros que os leves. A diferença 2.500 Térbio priam uma demanda pequena, toneladas, enquanto a produção dução das exportações chinesas, o
Disprósio
de preços dos diversos elementos de menos de 10 mil toneladas, para exportação deverá atingir mercado começou, rapidamente, a
Neodímio
costuma ser gigantesca. O quilo Praseodímio basicamente restrita à indústria apenas 140 mil toneladas. Ou- criar estoques e isso incluiu o Bra-
do óxido de cério, por exemplo, 2.000 Samário do petróleo e nuclear; tros especialistas apostam numa sil, com a Petrobras. “Começamos
foi comercializado em agosto de Cério • o período entre 1965 e 1985, ­demanda de 210 mil toneladas em a comprar mais para poder garan-
2011 por US$ 150, enquanto a Lantânio que já apresenta uma demanda 2015, o que obrigaria a China a tir que haja estoque, uma vez que
mesma quantidade de óxido de bem maior, chegando a 40 mil ofertar 70 mil toneladas a mais. os volumes são pequenos.”
1.500
valores em US$

európio custava US$ 5.880. toneladas, em grande parte su- Já no que se refere à produção,
prida pelos EUA e sua mina de Estoques o domínio chinês é incontestável.
Substituição Mountain Pass; Outro indicador preocupante Além de serem os maiores consu-
Segundo afirmou aos senado- 1.000 • e, finalmente, a era atual, de em termos de suprimento da cres- midores, ainda sobram terras-raras
res o secretário de Geologia, Mi- completo domínio chinês do cente demanda mundial é a esto- para suprir toda a demanda mun-
neração e Transformação Mineral mercado, fornecendo quase to- cagem, em especial dos elementos dial. Mas a política restritiva de
do Ministério de Minas e Ener- das as quase 140 mil toneladas de terras-raras pesadas — mais exportações forçou os compradores
500
gia, Carlos Nogueira, além dos usadas pelo mundo. raros e de extração mais difícil, a se mexerem. Estudos de diversas
parâmetros de abundância ou ra- No que diz respeito à relação por geralmente estarem em baixa consultorias apontam que EUA,
ridade na natureza e da flutuação entre oferta e demanda, o risco de concentração. O estudo da Câ- Austrália e Canadá devem au-
do consumo, o mercado reagiu à 0 ter um desabastecimento no cur- mara aponta que China, Coreia mentar a produção dentro de dois
alta dos preços com a substitui- 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013* to prazo é grande, afirma o estu- do Sul e Japão estão estocando a cinco anos. Os chineses tam-
ção. “Houve um grande esforço *Valores até março. Fonte: Vale do da Câmara dos ­Deputados. A terras-raras, em vez de oferecê-las bém estão procurando ampliar a

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Mundo

China quer autossuficiência

Jane de Araújo/agência senado


c­ apacidade de produzir em outras Considerando apenas esses dois
regiões do mundo, particularmen- grandes projetos e a possibilidade
te na África e na Austrália. de a China tornar-se autossufi-
No Brasil, há os projetos da
Mineradora Serra Verde, em Mi-
naçu (GO), e da MbAC e da
ciente — um cenário muito pro-
vável, segundo Ribeiro —, pode-
ria haver, inclusive, sobreoferta.
e restringe exportações
CBMM, em Araxá (MG), que Mas ele advertiu os senadores
não estarão maduros antes de três de que esse e outros cenários são O domínio chinês do ­mercado Há 50 anos, a China pesquisa De acordo com Edson Ribei-
anos (leia mais nas págs. 34 e 35). apenas um exercício, frente a um de terras-raras — inclusive na e desenvolve o setor de terras-ra- ro, “eles começaram a incentivar
Edson Ribeiro apresentou aos mercado tão afetado pelo avanço produção de ímãs — não foi fru- ras e, além da mineração, investiu o fechamento de operações pe-
senadores os projetos relacionados tecnológico. to do acaso. Além da conjuntura fortemente na cadeia produtiva. quenas com grande impacto am-
pela Vale e pelo mercado como em favorável, das reservas e da mão De acordo com Lima, a produ- biental e uma consolidação inter-
estágio suficientemente avançado Cadeia produtiva de obra barata, há sinais de que ção de energia eólica do país, na, que ainda não foi concluída”,
para serem considerados, ainda A capacidade de mineração é foi feito um planejamento de lon- por exemplo, de 12 ­g igawatts para concentrar a produção e a
que dois deles não tenham estima- apenas parte da solução. Alguns go prazo. Intencional ou não, o em 2009, deve saltar para 100 comercialização doméstica, que
tiva de capacidade produtiva (veja projetos podem suprir a demanda fato é que os demais produtores ­gigawatts em 2020, ancorada na ainda é pulverizada e em grande
infográfico na pág. 40). no curto prazo, mas o desafio no de terras-raras deixaram a China autossuficiência em ímãs perma- parte suprida por garimpos, mui-
No curto prazo, as iniciativas longo prazo para todos os países operar ­soberana. nentes, usados nos geradores. tos deles ilegais. Existem empre-
mais importantes são o projeto é construir uma cadeia produtiva “Um plano estratégico parece sas que fornecem pela internet,
Mount Weld, da empresa aus- própria, que minimizaria os riscos ter sido concebido e executado Amplo domínio onde se pode comprar lantânio,
traliana Lynas Corporation, com de a mineração ser inviabilizada ao longo das últimas décadas. As O consultor analisa que o ob- cério, neodímio, praseodímio.
capacidade para produzir 20 mil por preços e demanda baixos. atividades de pesquisa e desenvol- jetivo da China é expandir e in- Antenor Silva, da MbAC Fer-
José Guilherme Cardoso, do BNDES, alerta
toneladas anuais (o estudo da Câ- S e g u ndo José Gu i l her me para a importância de ter a cadeia de valor vimento e a política de proteção tegrar totalmente a indústria de tilizantes, esclareceu aos sena-
mara, de 2012, fala em 40 mil), e da Rocha Cardoso, chefe do na produção dos elementos de terras-raras e agregação de valor parecem ser terras-raras, para exportar apenas dores que, na Mongólia Interior,
a operação da Mountain Pass, da ­D epartamento de Indústria de pontos importantes desse plano”, materiais e produtos com alto va- ao norte da China, são obtidas
norte-americana Molycorp, com Base do Banco Nacional do De- afirma o consultor Paulo César lor agregado. Hoje, o país já é res- terras-raras de menor valor co-
10 mil toneladas por ano (20 mil, senvolvimento Econômico e Social Parceria Ribeiro Lima, da Câmara dos ponsável por 75% dos ímas per- mercial, como subprodutos da
segundo o estudo). Edson Ribeiro ­(BNDES), “nesse setor, especifi- A iniciativa privada já perce- Deputados. manentes consumidos no mundo. produção de ferro, por meio de
ressaltou o grande predomínio das camente, talvez não seja uma boa beu o problema e vem reagindo
terras-raras leves nesses projetos, atitude, nem mesmo empresarial, por meio de parcerias e fusões.

Niklaus Berger
de 90%, em média, enquanto a que uma companhia se atenha à Segundo apurou o estudo da Câ-
demanda mundial pelas pesadas é exportação de concentrado ou de mara, a Frontier Rare Earths, de
Na Mongólia Interior, minas de carvão também
maior e vem aumentando. óxido. Pode ser que, por uma vo- Luxemburgo, proprietária da mina começam a explorar neodímio e outros elementos:
A inda a ssim, a Va le não latilidade de preço, aquele projeto Zandkopsdrift, na África do Sul, China traçou estratégia para terras-raras há 50 anos
­acredita em desabastecimento. não seja mais viável economica- formou uma joint venture com a
mente. Daí a importância de se Korea Resources Corp. para cons-
ter a cadeia de valor da produção truir uma unidade de separação
Marcos Oliveira/agência senado

mineral”. no país africano, por exemplo. A


Nesse quesito, a China, mais Lynas e a Siemens também cons-
uma vez, saiu na frente. Segundo tituíram uma joint venture, dessa
relatório de 2010 do órgão central vez para construir ímãs para gera-
de estatísticas dos EUA (GAO, dores de turbinas eólicas. A Lynas
na sigla em inglês), o país produz fornecerá a matéria-prima extraída
cerca de 95% das matérias-primas de sua mina em Mount Weld, na
de onde são extraídos os elemen- Austrália.
tos de terras-raras e cerca de 97% Empresas japonesas e o pró-
dos óxidos de terras-raras. Além prio governo do Japão também
disso, aproximadamente 90% das estão buscando associações. A
ligas metálicas, 75% dos ímãs de Sumitomo Corp. e a ­K azakhstan
neodímio (NdFeB) e 60% dos ­National Mining firmaram um
ímãs samário cobalto (SmCo) acordo para produzir terras-raras
são produzidos na China. Apenas leves, mesmo objetivo de par-
para ter uma ideia, nos Estados ceria entre a Toyota e a Sojitz no
Unidos, por exemplo, somente ­V ietnã. A Japan Oil, Gas and
uma empresa produz ímãs SmCo Metals National Corporation
e nenhuma os do tipo NdFeB. ­(Jogmec) está se associando à
Na produção dos ímãs são usados Índia para explorar terras-raras e,
Edson Ribeiro, da Vale, disse que 90% dos
elementos como gadolínio, dispró- para instalar sua unidade de pro-
projetos mundiais são para produzir sio e itérbio, todos importados da cessamento, está buscando investi-
terras-raras leves, mas a demanda pelas China. mento com a ­Lynas.
pesadas vem aumentando

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45
Mundo

minas regularizadas. É também


na Mongólia Interior, em Bayan
ventures, que exportam sob regime
de licença, segundo aponta estudo
passivo ambiental gerado pela
mineração ilegal (leia mais a par-
Gigante americana reabre as portas
Obo, que estão os maiores labo- do consultor Paulo César Lima. tir da pág. 48). Diga-se em favor
ratórios de pesquisa e desenvolvi- As cotas de exportação têm ca- desse argumento que cerca de Os Estados Unidos lideraram US$ 2,77, custo bem abaixo dos Pass e porque a propriedade in-
mento (veja infográfico nesta pá- ído continuamente desde 2005, 20% das terras-raras produzidas as exportações de terras-raras por US$ 5,58 obtidos pelas empresas telectual de vários dos processos
gina). Já ao sul do país, onde há quando eram de 65 mil toneladas. em 2011 vieram de garimpos ile- 20 anos, no que ficou conhecido que mineram na China. envolvidos já não é controlada
terras-raras de alto valor, a mine- Agora estão em quase metade dis- gais, enquanto em 2006 essa pro- como a era Mountain Pass, nome A Molycorp espera voltar a pela empresa. Para contornar es-
ração é ilegal e altamente prejudi- so, por conta de mais restrições porção foi de 37,5%. da principal mina do país, na produzir 20 mil toneladas anuais ses problemas, a empresa vem se
cial ao meio ambiente. “Existem incluídas (veja também o infográ- Em 2007, o país ainda retirou ­C alifórnia. Na década de 80, os a partir deste ano e atingir 40 mil associando a outras, como as ja-
até algumas operações em que fico). Desde 2012, por exemplo, os 16% de abatimento no impos- Estados Unidos chegaram a pro- toneladas quando estiver em ple- ponesas Daido Steel e Mitsubishi
o ácido é jogado diretamente no empresas que ainda não se ade- to de valor agregado das expor- duzir 20 mil toneladas por ano. na capacidade. Com 26 operações Corporation.
solo e as terras-raras entram em quaram a normas ambientais te- tações de terras-raras não proces- Nos anos 90, porém, com o do- em 11 países e mais de 2.700 A Molycorp também detém
solução e são recolhidas depois rão cotas significativamente mais sadas, mantendo-o apenas para mínio da China, a mineração de funcionários, a empresa ven- o controle da Molycorp Silmet
para tratamento”, afirma o execu- baixas, e as joint ventures poderão a exportação de produtos mais terras-raras foi abandonada pelos de produtos feitos a partir de 13 AS, sediada na Estônia, uma das
tivo da MbAC. exportar ainda menos. complexos, como ímãs e fósforos. Estados Unidos e apenas a empre- ­diferentes terras-raras, com níveis maiores produtoras de metais de
Para José Guilherme da Rocha A Organização para a Coope- sa Molycorp seguia produzindo de pureza de até 6N (do inglês terras-raras da Europa. Além dis-
Restrições Cardoso, do BNDES, embora a ração e Desenvolvimento Econô- óxidos de neodímio, praseodímio six nines, ou 99,9999%), e de so, é dona da Molycorp Metals
Como parte da estratégia, os China argumente que as restri- mico (OCDE) estima que essa e lantânio, a partir dos estoques nióbio, tântalo, gálio, índio, rênio and Alloys, com sede no Arizona,
chineses começaram a restrin- ções devem-se às questões am- decisão, combinada com as ta- de Mountain Pass, para processa- e zircônio com pureza de até 8N uma das principais produtoras de
gir a produção e a exportação de bientais, há ainda motivações po- rifas de exportação, resultou em mento por outras empresas fora (99,999999%). ligas e metais de terras-raras de
­terras-raras. Mais que isso, foi líticas, que, evidentemente, o país um acréscimo de 31% no preço do território norte-americano. A ideia é acabar com o mono- alta pureza fora da China.
proibida a mineração por investi- não admite — como conf litos das terras-raras adquiridas por Mas o drástico aumento de pólio na mineração e o domínio Segundo afirmou Alair Veras,
dores estrangeiros, que só podem diplomáticos e comerciais com o fabricantes de ímãs de fora da preços e as severas restrições chi- em toda a cadeia produtiva das das Indústrias Nucleares do Brasil,
participar das etapas de separação vizinho Japão. ­China. nesas às exportações acordaram terras-raras pela China. Espe- “se está dando certo lá, é porque
e fundição se associados a empre- “Existe esse componente polí- Tetsuichi Takagi, do Instituto os EUA para as cerca de 30 mi- cialistas do setor, no entanto, tem interesse do Estado na pro-
sas chinesas e se promoverem o tico e ainda o plano da China de Nacional de Ciência Industrial lhões de toneladas de terras-raras avaliam que, para a Molycorp dução, para não ficar na mão da
desenvolvimento de novos mate- atrair a cadeia de valor para den- Avançada e Tecnologia do Japão depositadas em Mountain Pass. A passar da produção do minério China. Os EUA já decidiram que
riais e aplicações das terras-raras. tro do seu território. Portanto, as (Aist, na sigla original), afirmou Molycorp retomou as atividades bruto à oferta de metais puros não querem isso e não querem
Mas a principal restrição foi a questões ambientais podem ser até aos senadores que, graças a essa e planeja produzir um quilogra- e ligas, serão necessários vários ser obrigados a transferir suas
adoção de um sistema de cotas, secundárias”, esclarece Cardoso. grande diferença, muitas empre- ma dos diversos elementos de anos, por requerer infraestrutura empresas de alta tecnologia para
limitando a produção e a exporta- sas japonesas resolveram transfe- terras-raras a um preço médio de­ que já não existe em Mountain a China”.
ção. As cotas são específicas para Passivo ambiental rir as fábricas para a China, aca-
cada empresa e diferentes para O argumento da China é que bando por passar várias tecnolo-
as empresas domésticas e as joint o país precisa eliminar o ­grande gias para os chineses.
Líder mundial de produção nos anos

Kyle Wiens
80, a mina de Mountain Pass está sendo
Cotas chinesas para produção e exportação são anuais e individualizadas por empresa revitalizada e ampliada pela Molycorp

A produção tem sido maior que o definido pelo governo em razão da mineração ilegal, que ocorre principalmente no sul do país

Produção total Províncias com maior produção


Cotas de produção de terras-raras na China
Cotas de exportação

2006 Bayan Obo

2007 Mongólia Interior

Shandong
2008

Shichuan
2009 Jiangxi
Hunan
Fujian
2010 Yunnan Guangxi Guangdong

2011 Elementos leves


Elementos pesados
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
Fonte: Terras-raras: elementos estratégicos para o Brasil, Paulo César Ribeiro Lima,
volume em mil toneladas e MbAC Fertilizantes

46 
setembro de 2013 47
Mundo

Linha de montagem da Nissan: uma das


estratégias do Japão é investir fortemente procura uma fonte própria de
na reciclagem de materiais terras-raras. Em março deste ano,
anunciou a descoberta de um
grande depósito dos elementos no
fundo do Oceano Pacífico, que,
copiado. O ímã permanente de se for confirmada, pode até levar
neodímio, um dos mais pode- a uma revisão de suas estratégias.
rosos, usado principalmente em
motores (veja infográfico nas págs.
8 e 9), também foi desenvolvido Japão foi o mais prejudicado
no Japão. De acordo com An-
tenor Silva, diretor da MbAC Restrições chinesas assustaram maior importador
Fertilizantes, historicamente a
tecnologia dos magnetos mais Fornecedores
avançados pertence a empresas ja- 13,5%
ponesas, mas a China já tem de- Outros
zenas de produtores licenciados e 67%
centenas de piratas. China 13,7%
Reciclagem França
Já a reciclagem de terras-ra- 5,8%
ras não tem se mostrado tão fá- Estados Unidos
cil. Os ímãs de carros híbridos,
por exemplo, ainda não estão

Nissan
­acessíveis, já que poucos desses au- Importações (em milhares de toneladas)
tomóveis foram aposentados. Re-
35 33
tirar os ímãs do motor do Toyota
30
Japão investe pesado em opções
diversificar os fornecedores de Prius, principal carro híbrido do 28
terras-raras, num total de quase Japão, só parece possível se for fei- 25 23
U$ 1,1 bilhão, afirma Takagi. ta uma modificação no projeto. 22 21 21 22
18
Takagi citou os catalisadores Quanto aos ímãs dos discos
Principal consumidor e maior Tetsuichi Takagi, líder do gru- O Japão investiu, desde 2010, de três vias para o escapamen- rígidos dos computadores, 100%
detentor de tecnologias de trans- po de pesquisa de recursos mi- US$ 208 milhões no desenvolvi- to de automóveis, as lentes e vi- já são reciclados, mas a Aist tenta
formação de terras-raras, o Japão nerais do Instituto de Ciência e mento de materiais substitutos, dros de alta tecnologia e os ímãs uma forma de retirá-los facilmen-
tem visto empresas migrarem Tecnologia Industrial Avançada US$ 420 milhões para incentivar permanentes como exemplos de te e obter informação sobre a pro-
para a China na busca por preços (Aist) do Japão, veio ao Brasil as indústrias a usarem esses novos produtos de tecnologia japonesa cedência do material. 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
menores e garantia de suprimen- para falar aos senadores da Sub- insumos e US$ 460 milhões para em terras-raras que a China tem O Japão, entretanto, também Fonte: MbAC Fertilizantes
to. Além de especialistas, empre- comissão Temporária das Terras-
gos e renda, o país vem perdendo -Raras, dentro de uma segunda

José Cruz/agência senado


para os vizinhos um ativo ainda vertente do esforço japonês no
maior: a exclusividade de suas setor: a busca por parcerias com
tecnologias. Percebendo o enorme fornecedores e outros importa- Lynas enfrenta empecilhos ambientais
prejuízo, os japoneses adotaram dores, para reduzir a dependência
medidas estratégicas para man- em relação à China. Gigante da mineração, a austra- construção da maior refinaria mundial da Malásia, operada pela japonesa
ter as indústrias, com inovações e A terceira estratégia consiste liana Lynas Corporation também de terras-raras — a primeira fora da ­Mitsubishi, hoje um dos maiores depó-
matéria-prima suficientes. em conservar ao máximo os re- prepara um grande projeto de ter- China em quase 30 anos —, ao custo sitos de lixo radioativo da Ásia. A Lynas
A primeira medida prevê o uso cursos de terras-raras, basicamen- ras-raras. De acordo com José Farias de US$ 230 milhões. rebate a comparação, afirmando que
de materiais substitutos das ter- te pela redução do uso desses ele- de Oliveira, professor da Coppe, a A Lynas argumenta que a constru- o minério importado da Austrália terá
ras-raras, principalmente para ele- mentos. Em alguns casos, o Japão empresa já investiu US$ 800 milhões ção e a operação da usina na Austrália apenas entre 3% e 5% da concentra-
trodomésticos e aparelhos de ar- já conseguiu uma economia de no projeto da mina Mount Weld, na custariam quatro vezes mais e, ainda ção de tório encontrada nas minas da
-condicionado. Em 2013, o Japão 50%. Já para atender a penúlti- Austrália Ocidental, que tem poten- assim, poderiam estar fora dos pa- Mitsubishi.
pretende investir no desenvolvi- ma medida, a diversificação dos cial para atender todo o consumo drões ambientais do país. Por sua vez, Após dois anos de batalhas judiciais,
mento de novos motores elétri- fornecedores, a primeira iniciati- mundial de terras-raras, desconside- o governo malaio ofereceu facilidades, o contrato com a Malásia garante à
cos que não utilizem terras-raras va foi voltar a comprar dos EUA, rada a demanda chinesa. inclusive isenção fiscal de 12 anos. Lynas dois anos de operações e, en-
e no aumento de rendimento das da usina de Mountain Pass. Atu- Como a mina australiana é de Isso porque, a preços atuais, a refina- quanto isso, seguem as discussões
máquinas, responsáveis pelo con- almente, o país negocia também monazita, que contém radiação (leia ria pode gerar US$ 1,7 bilhão por ano sobre o destino dos rejeitos. A empre-
sumo de 50% da energia elétri- com Vietnã e Índia para garantir mais na pág. 16), o processamento do em exportações a partir de 2013, ou sa declarou que pretende usá-los na
ca do país. As pesquisas, mesmo as quase 35 mil toneladas anuais Tetsuichi Takagi: para reduzir dependência
minério não será feito na Austrália, e quase 1% do PIB da Malásia. fabricação de outros produtos para
em estágio inicial, já indicam um que consome (veja infográfico na em relação à China, Japão já investiu sim no porto industrial de Kuatan, na Especialistas lembram a histó- consumo na própria Malásia e para
­aumento de rendimento de 25%. página ao lado). mais de US$ 1 bilhão no segmento Malásia, onde está sendo finalizada a ria da última refinaria de terras-raras ­exportação.

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49
Mundo

Matthew Field
Fazenda eólica de San Gorgonio Pass,
quarta maior dos EUA: sem ímãs de
terras-raras, produção seria muito menor

Países questionam na OMC China por restrições às expor-


tações das matérias-primas, pro-
vocando escassez e aumento de
No caso da demanda em tor-
no das terras-raras, a consultora
acredita que a China irá embasar
o mundo tenta voltar a produzir
com terras-raras, um novo dum-
ping (baixa de preços para afastar

as restrições dos chineses preços no mercado global e con-


ferindo vantagens à indústria
chinesa. “Em ambos os casos,
sua defesa, à semelhança do que
fez na demanda anterior, citando
exceções previstas para proteger
a concorrência) chinês poderia
desincentivar os investimentos. A
concentração do mercado aumen-
a questão que se debate diz res- o meio ambiente e a conservação taria e deixaria a China em con-
Diante do endurecimento aplicar essas restrições de uma Luciana Teixeira, na expectati- peito à soberania sobre recursos de recursos naturais esgotáveis, dições de provocar novos choques
da China com relação à venda maneira não “uniforme, razoável va de atrair mais investimentos naturais vis-à-vis as regras mul- desde que sejam acompanhadas de preços, deixando importadores
de terras-raras e de um possível ou transparente”. Afirmam, ain- ­estrangeiros e, consequentemen- tilaterais do comércio exterior”, de restrições da produção do- cada vez mais dependentes.
desabastecimento global, em da, que o país se vale de restri- te, novas tecnologias. “Os chi- esclarece a consultora. méstica ou do ­consumo.
março de 2012 os Estados Uni- ções não divulgadas. neses consideravam que, como Naquele caso, as partes não

Lia de Paula/Agência Senado


dos solicitaram à Organização Em linhas gerais, reclamam membros, aplacariam as críticas chegaram a um acordo e, em Jogo de preços
Mundial do Comércio (OMC) que as políticas chinesas visam de práticas comerciais desleais 2012, a OMC decidiu em favor A consultora avalia que não
que fizesse consulta ao governo privilegiar as empresas do país e (...) e, em contrapartida, as res- dos demandantes. Saiu forta- foi por outra razão que a China
chinês a respeito de “restrições infringem dispositivos do Acor- trições às importações chinesas lecida a tese de que as medidas decidiu separar as cotas de ex-
que este país impõe à expor- do Geral de Tarifas e Comércio teriam que ser gradualmente ex- chinesas seriam protecionistas, portação entre terras-raras leves
tação de diversas formas de (Gatt), de 1994, do Protocolo tintas”, avalia a consultora. causando volatilidade dos pre- e pesadas: assim o país poderia
terras-raras, tungstênio e mo- de Adesão à OMC, e de vá- Para tentar prever o resultado ços das matérias-primas, preju- apresentar argumentos mais só-
libdênio”. Dias depois, União rios compromissos assumidos da ação na OMC, Luciana Tei- dicando a indústria e agricultu- lidos para as restrições às expor-
Europeia, Japão e Canadá se as- quando da entrada da China xeira relembra outra demanda ra dos países importadores. tações, em especial das terras-ra-
sociaram à consulta americana. na organização, que incluem o dos EUA contra a China, ini- Luciana adverte, no entanto, ras pesadas, bem mais escassas.
Na queixa à OMC, segundo a respeito às regras internacionais ciada em 2009, questionando as que há quem alegue que os de- Para Luciana Teixeira, o mais
consultora Luciana Teixeira, da de comércio e o uso do sistema limitações impostas pelos chi- mandantes estariam usando a provável, no entanto, é que o
Câmara dos Deputados, os EUA multilateral para a solução de neses à exportação de bauxita, OMC para forçar a China a mi- resultado seja favorável aos de-
alegam que as restrições impos- disputas. coque, espatoflúor, magnésio, nerar matérias-primas que, em mandantes, o que pode mudar
tas pela China são incompatíveis metal de silicone e zinco. Desse razão de problemas ambientais, por completo o mercado de
com as regras do comércio mun- Adesão à OMC caso, participaram Comunida- não estão dispostos a retirar do terras-raras, afetando, inclusive,
dial. O país questiona tanto as Ao aderir à OMC, a China de Europeia, Canadá e México. solo. Segundo esses especialis- a política brasileira para o setor
restrições quantitativas quanto obrigou-se a eliminar tarifas de Argentina, Brasil, Chile, Co- tas, em vez de protocolar dis- (leia mais na pág. 52).
as tarifas de exportação, as res- exportação e cotas de exporta- lômbia, Coreia, Equador, Ín- putas na OMC, os países im- O diretor do Centro de Tec-
trições ao direito de exportar e ção de todos os seus produtos, dia, Japão, Noruega, Turquia e portadores deveriam encorajar o nologia Mineral do Ministério
o sistema de preços mínimos de à exceção daqueles que constam Taipei entraram na ação como setor de terras-raras em seus ter- da Ciência e Tecnologia, Fer- Consultora Luciana Teixeira prevê que
exportação. Além disso, os Esta- do acordo e que não incluem as terceiros. ritórios, de forma a se tornarem nando Lins, destaca o poder de chineses vão alegar questões ambientais para
dos Unidos acusam a China de terras-raras. Tudo isso, segundo Os países denunciaram a ­independentes da China. barganha da China. Agora, que justificar redução da produção de terras-raras

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51
Mundo
Sede da OMC, em Genebra:
especialistas trabalham com quatro de ­terras-raras a preços mais e­scassez, especialmente de
possíveis cenários após decisão ­competitivos. ­terras-raras pesadas, elevando o
sobre denúncia contra a China preço dos produtos e causando
2. Apenas as restrições
chinesas às terras-
raras são consideradas
possível desabastecimento. O
diferencial entre preços domés-
ticos e externos de terras-raras
incompatíveis com o aumentaria, atraindo mais in-
livre comércio. dústrias de terras-raras para a
A manutenção apenas das China.
restrições a exportações de Mais projetos em outros paí-
terras-raras pesadas elevaria os ses estimulariam a mineração e
preços desses elementos. A di- o desenvolvimento da cadeia de
ferença entre preços internos suprimento de terras-raras fora
chineses e preços internacionais da China, o que poderia benefi-
aumentaria. Empresas que têm ciar o Brasil. Além de captar in-
os elementos pesados como ma- vestimentos para seus projetos,
téria-prima continuariam a ser o país teria amplas oportunida-
atraídas para a China. des de mercado ­consumidor.
Por outro lado, esse tam-
bém seria um estímulo para
os projetos de mineração de 4. Restrições são ilegais,
mas China não se
submete à decisão.

Jay Louvion/Studio Casagrande


elementos pesados fora da Chi-
na, com oportunidades para Pelas regras da Organiza-
países com reservas de terras- ção Mundial do Comércio, os
-raras pesadas, como o Brasil. países demandantes poderão
Considerando o forte aumento aplicar retaliações à atitude da
da demanda por esses metais, China, tais como sanções fi-
inclusive da China, no futuro, nanceiras, elevação de tarifas
se o Brasil estiver preparado de importação para produtos
para explorar as minas de ter- chineses, entre outras.

Futuro do mercado depende de


a­ gregar valor a esses produ- ras-raras pesadas, terá grandes Independentemente do ins-
tos no país, produzindo, por mercados consumidores a bons trumento que venha a ser usa-
exemplo, ímãs com matéria- preços — ou seja, lucro certo. do, os preços das terras-raras

decisão sobre queixa dos EUA


-prima chinesa. No entan- devem subir, repetindo-se o ce-
to, nesse cenário, seria difícil
enfrentar a concorrência das 3. As restrições
chinesas são
consideradas legais.
nário anterior em que os outros
países, entre eles o Brasil, de-
empresas chinesas, já adian- vem se preparar para produzir
As decisões do governo e no Brasil”, avalia a consultora. às exportações levaria a um tadas e com acesso a óxidos Ne s se c ená r io, h aver ia os minerais.
das empresas com relação à Luciana Teixeira alerta aumento da oferta e à con-
produção e à aplicação das ainda que, embora a regra sequente redução dos preços

ML&A Comunicações
terras-raras no Brasil, no en- em demandas desse tipo seja das terras-raras e também
tanto, dependem do desfe- o atendimento às recomenda- a um incremento da de-
cho da disputa envolvendo ções da OMC, uma decisão manda. A abertura de mi-
a China junto à Organiza- raramente sai antes de cin- nas fora da China teria que
ção Mundial do Comércio co anos. No caso da disputa ser repensada porque, com
(OMC). sobre outros minérios (leia baixos preços e suprimento
A consultora legislativa mais na pág. 50), por exem- abundante, seria mais difícil
Luciana Teixeira traçou qua- plo, o país pediu uma exten- competir com os chineses,
tro cenários para o merca- são do prazo para cumprir as retornando-se ao cenário an-
do de terras-raras, a partir recomendações, mas, até este terior à elevação dos preços
dos possíveis resultados da ano, nenhuma medida foi das terras-raras em 2011. A
demanda apresentada pelos adotada. atratividade da China para
Estados Unidos à OMC e Veja os cenários imagina- as indústrias também se
apoiada por outros países im- dos, a partir das quatro pos- ­reduziria.
portadores de terras-raras. síveis decisões da OMC: Para o Brasil, esse cená-
“A análise e o acompanha- rio reduz a oportunidade de
mento dessa disputa certa-
mente será importante para 1. As restrições
chinesas são julgadas
incompatíveis com as regras
abertura de minas. Por ou-
tro lado, garantido o supri-
posicionar as pretensões bra- mento de óxidos de terras-
sileiras de produzir terras-ra- multilaterais de comércio. -raras a preços mais baixos,
ras e produtos delas derivados A extinção das restrições seria uma oportunidade para
Minérios sob uma lupa em Minaçu (GO), onde um projeto da Mineração Serra Verde pretende gerar até 3 mil empregos

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53
propostas

Caminho para O
relatório final do se- Constituição, em dois artigos (22 “O objetivo [da subcomissão]

Marcos Oliveira/Agência Senado


nador Luiz Henrique e 61), dá competência privativa à é propiciar a melhor estruturação
(PMDB -SC ) apre- União para legislar sobre jazidas, da mineração no Brasil, trazendo
senta as principais minas, outros recursos minerais agilidade nos procedimentos de

mudança é o
propostas elaboradas com base e metalurgia, bem como propor licenciamentos, de pesquisas, de
nas informações colhidas com 21 políticas para o setor. Caberia ao lavra e do domínio de tecnologia
especialistas nas cinco audiências Legislativo, no caso, fixar os prin- de mineração, garantindo nossa
públicas, entre maio e julho, da cípios gerais dessa política. autonomia científica e tecnologia

novo código
Subcomissão Temporária das Ter- Na visão do relator, o artigo para o setor dos metais estratégi-
ras-Raras. O relator sugere que as 1º do PL 5.807 já contempla as cos”, escreveu Luiz Henrique.
propostas legislativas para o setor principais recomendações feitas “O importante é que a legisla-
devem se transformar em emen- nos debates, como o incentivo à ção reconheça o que torna essas
das ao projeto do novo Código de produção nacional e ao desenvol- substâncias estratégicas, merece-
Mineração (PL 5.807/2013), en- vimento da indústria mineral, o doras de um tratamento diferen-
Avaliação do relator, Luiz Henrique, é de que viado ao Congresso pelo governo estímulo à concorrência e à par- ciado, e quais serão justamente Para Valdir Raupp, é importante
melhor caminho para incentivar cadeia produtiva no primeiro semestre (leia mais na ticipação do setor privado, o fo- os mecanismos de incentivo para incentivar a produção e também
pág. 59) e aguardando análise na mento à pesquisa, à inovação e à que haja um desenvolvimento do melhorar a ação fiscalizadora do Estado
de terras-raras é apresentar emendas ao novo marco Câmara dos Deputados. agregação de valor na atividade conhecimento e da produção de
regulatório da mineração, que está sendo discutido A decisão de Luiz Henrique de mineração, bem como a coo- terras-raras. Uma das formas se-
pelo Congresso Nacional desde junho leva em conta o fato de que a peração entre os entes federados. ria estabelecer programas de fi- revogar o Brasil do papelório, da
nanciamento próprios”, propôs o idiossincrasia do setor público em
especialista em Direito Minerário relação ao setor privado, e criar
Adriano Drummond Cançado uma capacidade nova para domi-
Trindade, da Pinheiro Neto Ad- nar essa tecnologia. Se o mercado
vogados, que pede que as novas vai oferecer vantagens ou não ao
regras ofereçam segurança jurí- Brasil, para nós, isso não é impor-
dica e previsibilidade às partes tante. Importante é que tenha-
­envolvidas. mos domínio da tecnologia para
esses produtos que são reclamados
Menos amarras pela nova era industrial.”
A decisão do relator coinci- Além da busca pela autonomia
de com a opinião dos debatedo- científica e tecnológica e da in-
res de que não é necessário um tegração dos esforços públicos e
marco legal específico para o privados — inclusive em minerais
setor de terras-raras. Alguns su- radioativos, hoje objeto de mono-
geriram até que isso pudesse ser pólio estatal (leia mais na pág. 61)
­contraprodutivo. —, o relatório de Luiz Henrique
“A gente não vê necessidade de quer que o marco regulatório do
separar as terras-raras. O incenti- setor permita a mudança do perfil
vo da cadeia produtiva virá para o do Brasil, de exportador de mine-
domínio da tecnologia, necessário rais in natura para exportador de
e estratégico. Devemos regula- produtos de valor agregado.
mentar a indústria de terras-raras “É preciso entender que [a
incentivando a pesquisa, aplica- questão das terras-raras] é uma
ções e atraindo a indústria. Com corrida tecnológica e que são ne-
isso, o mercado é natural. Se hou- cessários parceiros estratégicos.
Fazenda de energia eólica no ver demanda, vai haver produção. Estamos empenhados com as
Texas (EUA): senadores vão Não deveria ser uma regulamen- duas coisas. Não basta você des-
propor mudanças para incentivar tação restritiva da produção, do cobrir o recurso, o que falta é
produção de minerais estratégicos
e terras-raras, essenciais na
controle ou da exportação”, su- toda a equação e, nela, você tem
indústria de alta tecnologia geriu Edson Ribeiro, diretor da inúmeros desafios, começando
Vale, em maio passado. pela infraestrutura, que preci-
“Temos a visão de que, se o Es- sa ser desenvolvida, mas, prin-
tado não puder ajudar a atividade cipalmente, com investimento
econômica, que não atrapalhe. em tecnologia”, explicou Tadeu
Não queremos uma lei manie- Carneiro, diretor-geral da Com-
tadora da atividade”, confirmou panhia Brasileira de Metalurgia e
Dori Luiz Henrique. “Nosso objetivo é ­Mineração (CBMM).

55
Propostas

alíquotas não respeita nenhum Ciência e Tecnologia (CCT)

Pedro França/Agência Senado


critério técnico ou econômico. e promoveu o primeiro debate
“A participação do superfici- sobre terras-raras no colegiado,
ário [hoje, de 50%] deveria ser em abril do ano passado, ob-
reduzida, de modo a possibili- servou que o Brasil é hoje um
tar novas e diferenciadas alí- grande importador de terras-
quotas de compensação finan- -raras. Em sua opinião, porém,
ceira. As microempresas e as o país tem condições de rever-
empresas de pequeno porte de- ter essa situação, uma vez que
veriam receber um tratamento conta com amplas reservas em
diferenciado.” estados como Minas Gerais e
“Se a opção for envolver Amazonas.
também o setor privado, há Anibal Diniz (PT-AC), se-

Luis Macedo/CD
mecanismos de incentivo eco- nador que preside a subco-
Francisco Silveira, do
nômico para o desenvolvimen- missão, disse que a intenção é
CPRM, defende estudos em to em determinadas regiões garantir segurança jurídica a
Debate sobre terras-raras na Câmara: estudos sugerem mecanismos para coibir venda de minério bruto ao exterior todo o território nacional: ou indústrias. Esses incentivos quem decidir investir em pes-
“O que importa é o Brasil passam não só por benefícios quisa, extração e industrializa-
conhecer”
fiscais, mas também por con- ção dos minérios estratégicos.
Financiamento da pesquisa é prioridade dições diferenciadas de finan- O Brasil, lembrou, é rico em
­deputado ­Jaime Martins (PR-​ ciamento para determinados terras-raras, possui conheci-
MG), ta mbém defendia a tipos de empreendimento”, ment o tecnológico para co-
O relatório de Luiz Henrique na ­f iscalização das atividades de ­ esenvolvimento das atividades
d conversão do DNPM em uma reforçou o advogado Adriano meçar a extração e a produção,
também propõe que haja meca- extração de terras-raras. O TCU de pesquisa mineral: estabeleci- moderna agência reguladora e Trindade. mas precisa aprimorar a tec-
nismos de compensações finan- determinou que o Ministério mento de uma política pública a criação do Conselho Nacio- nologia e capacitar o setor em-
ceiras (royalties da mineração) de Minas e Energia e o DNPM objetiva, disponibilização de re- nal de Política Mineral, am- Apoio às mudanças presarial. “O que ficou claro é
“que sejam justos na retribuição adotem medidas para contor- cursos para investimentos públi- bas as propostas contempladas O Grupo de Trabalho In- a importância de agregar valor
à sociedade da redução de um nar a fragilidade dos controles cos, fortalecimento do Serviço no projeto do novo Código da terministerial de Minerais aos produtos do Brasil, e não
patrimônio público, melhoran- da fiscalização exercida sobre os Geológico do Brasil (CPRM), Mineração, que chegou em ju- ­E stratégicos, organizado pelos apenas exportar os produtos
do o desenvolvimento humano empreendimentos minerários vol- melhoria da disponibilidade de lho ao C
­ ongresso. Ministérios de Minas e Ener- como commodities”, resumiu
da região afetada com a explora- tados para a extração desses ele- informação geológica básica e Outra conclusão do traba- gia e da Ciência, Tecnologia e Anibal, sobre o resultado das
ção”. Por fim, o texto destaca a mentos químicos”. melhoria do sistema de gestão lho, realizado por quatro con- Inovação, também fez, em de- audiências.
necessidade de a futura Agência dos processos minerários. sultores legislativos da Câmara, zembro de 2010, uma série de “Sendo a exploração de ter-
Nacional de Mineração, que de- Ações urgentes Carlos Nogueira, secretário de foi a de que, embora o modelo recomendações para que o país ras-raras uma questão de sobe-
verá substituir o Departamento Luiz Henrique sugere, no rela- Geologia, Mineração e Transfor- tributário brasileiro possa ser possa garantir a autossufici- rania nacional, pela multiplici-
Nacional de Produção Mine- tório preliminar, usar o Imposto mação Mineral do Ministério de aperfeiçoado, ele não traz des- ência em terras-raras, atrair o dade de seus usos, inclusive na
ral (DNPM), como prevê o PL sobre Exportação — regulamen- Minas e Energia, informou que, vantagem competitiva para o investimento de mineradoras e área de defesa e na indústria
5.807/2013, ter presença em todo tado pela Lei 9.716, de 26 de no- hoje, conhecemos apenas cerca setor mineral. indústrias de alta tecnologia e petrolífera, precisamos de uma
o país e descentralizar funções, vembro de 1998 — para coibir a de 30% do território nacional. “As grandes empresas, que acelerar os processos de absor- política de fomento à produção
para agilizar os processos de pes- venda ao exterior de minério em Projeto do CPRM para mapear exploram jazidas e obtêm ele- ção de tecnologia. Entre elas, e arrojo empresarial para pro-
quisa, lavra, beneficiamento, tec- estado bruto. Estudo da Câma- a presença de terras-raras foi in- vadas receitas, deveriam ser estimular as indústrias que de- mover o aproveitamento das ja-
nologia mineral, exploração e co- ra concorda com o diagnóstico cluído até mesmo no Programa submetidas ao pagamento de têm os direitos de exploração zidas”, endossou Vital do Rêgo
mercialização dos bens minerais, como forma de estimular o pro- de Aceleração do Crescimen- um royalty especial, como no de bens minerais associados (PMDB-PB).
inclusive para os metais estratégi- cessamento interno do minério e to (PAC), pois os mapeamen- setor petrolífero, com a par- às terras-raras a ampliar
cos (categoria em que se o domínio da cadeia produtiva. tos geológicos são considerados ticipação especial. Caso fosse esforços para a recupera-

Pedro França/Agência Senado


A Lei inserem as terras-raras “Não há incentivos para agre- ­infraestrutura básica. adotada uma alíquota de 10% ção, tornando-os copro-
Kandir (Lei — leia mais na pág. 15). gação de valor aos bens minerais. para essa participação, o setor dutos e (ou) subprodu-
Complementar Va l d i r Raupp A própria Lei Kandir e a falta de Desconhecimento mineral poderia gerar uma ar- tos; investir na formação
87/1996, ( PM DB -RO ) re for- cobrança de imposto de expor- “O serviço geológico precisa ter recadação anual de cerca de de parcerias público-
alterada por
çou a importância de tação favorecem a exportação de acesso a todas as áreas do mesmo R$ 6,4 bilhões, que poderia -privadas e em acordos
diversas outras
nos últimos
aperfeiçoar processos, produtos da indústria extrativa jeito que o Comando do Exército. ser destinada para os estados bilaterais comerciais e
anos) extinguiu tanto para incentivar a mineral. Propomos que essa lei Hoje, infelizmente, sabemos que e municípios afetados pela ati- científico-tecnológicos; e
a cobrança do produção quanto para seja alterada no sentido de estabe- tem potencial, mas não conhece- vidade minerária. Esse valor é estimular a formação de
ICMS sobre a aumentar a ef iciência lecer a incidência de ICMS sobre mos áreas indígenas, de reservas muito maior que a arrecada- estudantes e pesquisado-
exportação de da ação do Estado fis- operações de exportação de pro- biológicas, de parques nacionais. ção da Cfem [Compensação res, bem como especia-
mercadorias, calizador. “Auditoria dutos primários”, indicou o texto. Para o Serviço Geológico, não im- Financeira pela Exploração de listas do setor público no
bem como sobre recente do Tribunal de No estudo Setor Mineral — porta se aquilo vai ser tirado ou Recursos Minerais], que, em aproveitamento integral
os serviços Contas da União reali- rumo a um novo marco legal, ela- não. O que importa é o Brasil co- 2010, foi de cerca de R$ 1,2 dos recursos minerais es-
prestados a
zada junto ao DNPM borado pelo Conselho de Altos nhecer”, destacou Francisco Val- ­bilhão”, diz o estudo. tratégicos de terras-raras.
contratantes
localizados no
c on st atou de f iciên- Estudos e Avaliação Tecnológica dir Silveira, do CPRM. Segundo Paulo César Ribei- O senador Eduardo Para Eduardo Braga, Brasil
tem condições de reverter
exterior. cia nos instrumentos da Câmara, são propostas al- O estudo da Câmara, elabo- ro Lima, um dos autores do es- Braga (PMDB-AM), que a posição de grande
­empregados pelo órgão gumas “ações urgentes” para o rado em 2011 e relatado pelo tudo, a atual diferenciação das presidiu a Comissão de importador de terras-raras

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Propostas

Senadores se

Pedro França/Agência Senado

Geraldo Magela/Agência Senado

Agência Vale
anteciparam
ao governo
Boa parte das medidas suge-
ridas pelo governo federal com o
PL 5.807/2013, de junho passa-
do, já havia sido apresentada na Senador Gim propõe a criação da Clésio Andrade é favorável a elevar a
Agência Nacional de Mineração Cfem sobre minério de ferro para 4%
forma de projetos de lei por se-
nadores e deputados federais. As
proposições tratam da criação de preferindo exportá-los para a Chi- sob leis brasileiras por outras que
novos órgãos federais para regular na, pelo menos que se aumente a visem ao desenvolvimento susten-
o setor até a ampliação da arreca- receita da União e a indenização tável da mineração naquelas áre-
dação de recursos com a atividade aos estados e municípios pelos as. A proposta também amplia os
minerária. enormes impactos socioambientais tipos de minerais que poderão ser
O PLS 1/2013, de Flexa Ribei- dessa atividade”, explica Clésio. objeto de pesquisa, lavra, explora-
ro (PSDB-PA), quer dar aos esta- Tramita junto com essa pro- ção e aproveitamento em faixa de
dos o direito de receber a “partici- posta o PLS 1/2011, de Flexa fronteira.
Mudança nos órgãos de política mineral, alterações na tributação e simplificação para as concessões estão entre as medidas propostas
pação nos resultados da lavra” pre- Ribeiro, defendendo que a base
vista na Constituição (artigo 176), de cálculo da Cfem considere o Nióbio

Governo anuncia novo marco


no caso da mineração ocorrer em faturamento bruto resultante da Uma das propostas em discus-
terra pública estadual ou federali- venda do produto mineral. Hoje, são na Câmara dá às minerado-
zada situada dentro de seu territó- a contribuição é calculada sobre ras com capital 100% nacional

regulatório para a mineração


rio. O objetivo é assegurar recur- o valor do faturamento líquido, a exclusividade da extração e a
sos para atenuar os danos ambien- deduzindo-se os tributos e as des- exploração comercial do nióbio,
tais causados. O projeto ainda terá pesas com transporte e seguro. elemento químico que não está
um relator escolhido na Comissão Os dois projetos têm o senador no rol de terras-raras, mas é consi-
de Constituição e Justiça (CCJ). Aécio Neves (PSDB-MG) como derado um metal estratégico (leia Após mais de cinco anos de de- estados e 12% para a União. O No Canadá, existe o imposto mi-
Gim (PTB-DF) propôs, com relator na Comissão de Serviços mais na pág. 29). Desde a Emenda bates, o governo federal enviou ao governo tampouco incluiu no tex- neral”, explicou o ­consultor.
o PLS 306/2012, a criação da de ­Infraestrutura (CI). De lá, se Constitucional 6/1995, minerado- Congresso Nacional, em junho, o to a anunciada cobrança da cha-
Agência Nacional de Mineração aprovado, o texto vai à análise ter- ras estrangeiras podem operar por Projeto de Lei 5.807/2013, novo mada participação especial (que já Alíquotas em dobro
(ANM), como um organismo re- minativa da Comissão de Assun- meio de filiais, com exceção de marco regulatório para o setor de ocorre, por exemplo, na explora- As novas alíquotas do Cfem
gulador do setor, como foi sugeri- tos ­Econômicos (CAE). áreas em faixas de fronteira, onde mineração. A meta é facilitar os ção de petróleo) e que poderia as- para cada tipo de minério serão
do pelo governo federal com a re- Para viabilizar a pesquisa e a la- o estrangeiro pode deter até 49% ­investimentos voltados à explora- segurar recursos extras ao governo definidas, por decreto presiden-
cente proposta de novo marco do vra das riquezas minerais na faixa do controle acionário da empresa. ção de recursos minerais no país. em áreas extremamente lucrativas. cial, após sanção da lei. Ministro
setor mineral. “O setor ressente-se de fronteira, o senador Delcídio O PL 4.978/2013, do deputado Senadores e entidades da socieda- Nos debates do Senado, Pau- de Minas e Energia, o senador li-
da falta de uma política clara e do Amaral (PT-MS) apresentou Giovani Cherini (PDT-RS), será de civil fizeram críticas ao texto e lo César Ribeiro Lima, consultor cenciado Edison Lobão (PMDB-
coordenada, que aponte os rumos o PLS 403/2008, que substitui analisado pelas Comissões de Mi- temem que, além de não garantir legislativo da Câmara, defendeu MA) admitiu que a tendência é
para os empresários e reduza o a exigência de maioria de capital nas e Energia e de Constituição e uma justa arrecadação aos muni- a criação da participação especial que dobrem as atuais alíquotas de
clima de incerteza que inibe os in- nacional às empresas constituídas Justiça e de Cidadania. cípios e estados, ele sirva apenas como essencial para promover alguns minérios, como ferro (2%
vestimentos na expansão da mine- para ampliar as áreas exploradas, uma transformação no setor mine- para 4%) e ouro (1% para 2%). A
ração”, justifica Gim, cujo projeto sem trazer vantagens econômicas ral, que estaria sendo alavancado, decisão foi criticada pelo senador
Geraldo Magela/Agência Senado

Marcos Oliveira/Agência Senado

também espera por indicação de reais para o país e os trabalhadores ainda hoje, por recursos do setor Flexa Ribeiro, do Pará, estado que
relator na CCJ. ­envolvidos. da energia (via produção de pe- é o maior produtor de minério de
Além de prometer modernizar tróleo, principalmente). “A grande ferro do país.
Minério de ferro as regras para o setor, o novo mar- proposta que fizemos na Câma- “Vou propor emenda para de-
Ao apresentar o PLS 283/2011, co anuncia mudanças na cobrança ra [PL 463/2011, assinado pelos finir as alíquotas já no projeto,
o sen a dor C lé sio A nd r a de da Compensação Financeira pela membros do Conselho de Altos exatamente para que possamos, os
(PMDB-MG) também se anteci- Exploração dos Recursos Minerais Estudos] era que se cobrasse par- estados e municípios mineradores,
pou a uma das medidas previstas (Cfem), que devem dobrar a arre- ticipação especial das grandes jazi- ter a garantia do que será efetiva-
pelo projeto do governo. Ele de- cadação do governo com o tribu- das, das jazidas de alta rentabilida- mente cobrado da Cfem. Afinal,
fende elevar dos atuais 2% para to — de R$ 1,8 bilhão, em 2012. de, de minério de ferro, por exem- mesmo se a alíquota do ferro,
4% a alíquota da Cfem do miné- O projeto não altera a distribuição plo. As grandes empresas austra- carro-chefe do nosso setor mine-
rio de ferro. “Se a indústria da mi- dos valores arrecadados — conti- lianas, por exemplo, pagam o im- ral, atingir o máximo proposto, ou
neração não tem interesse em criar Delcídio do Amaral quer facilitar a Aécio Neves vai relatar propostas que nua 65% para os municípios onde posto no carvão e no ferro, que é seja, de 4%, ainda seria significa-
novos empregos e renda no Brasil, pesquisa nas faixas de fronteira modificam cálculo de cobrança da Cfem a exploração é feita, 23% para os superior a 10% da receita líquida. tivamente inferior à cobrada por

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Propostas

Novo código quer


Normas da Cnen
Geraldo Magela/Agência Senado
como a argila, a licitação não vai atingidas, do meio ambiente e dos
ser necessária. trabalhadores”.
O projeto estabelece, porém, a Elas indicaram sete pontos que simplificar regras
obrigatoriedade de o detentor da
concessão fazer investimentos mí-
nimos na área, sob risco de ter ve-
consideram essenciais no marco da
mineração, entre eles garantir o di-
reito de consulta, consentimento e
Proposta do governo cria novos
órgãos, facilita obtenção dos
devem ser revistas
tada pelo governo a renovação do veto das comunidades locais afeta- direitos minerários e muda normas Em sua maioria, os elementos das principais empresas do setor,
direito de minerar. das pelas atividades mineradoras e para a compensação financeira de terras-raras já identificados no como a Vale e a CBMM. A porta-
As rodadas de licitação vão respeitar taxas e ritmos de extração. Regulação e políticas do setor
país estão associados, na natureza, ria de criação da comissão, porém,
ser definidas pelo futuro Conse- Já o senador Ivo Cassol (PP-​ aos minerais radioativos. Por isso, não fixa prazo para a apresentação
lho Nacional de Política Mine- RO) alertou para o fato de poucas • Cria o Conselho Nacional de Po- no relatório preliminar, o senador de uma proposta de revisão da
ral (CNPM). Outro organismo mineradoras serem responsáveis lítica Mineral, para assessorar a Luiz Henrique diz que o país não ­norma.
criado pela proposta é a Agência pela exploração da maior parte das Presidência da República na formu- pode mais deixar o setor privado Para o início de uma atividade
Nacional de Mineração (ANM), riquezas brasileiras. lação de políticas para o setor. fora de participação do manuseio mineradora, são necessários três ti-
responsável pela regulação, fisca- “Meia dúzia de mineradoras, • Cria a Agência Nacional de Mine- e da elaboração de elementos mi- pos de licença: prévia (para a fase
lização e formulação das regras com o aval da burocracia e do sis- ração, responsável pela regulação e nerais radioativos por causa de um de projeto), de implantação e de
do setor. Com isso, o DNPM será tema, sentam em cima das jazidas fiscalização do setor mineral, para “monopólio paralisante”, ditado operação. Nos processos de mine-
­extinto. e, muitas vezes, não exploram nem garantir o equilíbrio do mercado e pela Comissão Nacional de Ener- ração, caso haja radiação, o licen-
Flexa Ribeiro quer definir alíquotas da Para Carlos Nogueira, secre- deixam outros explorarem. Temos coibir práticas que possam compro- gia Nuclear (Cnen). ciamento é feito pelo Ibama. Nos
Cfem em lei, não por decreto presidencial meter o funcionamento do setor.
tário de Geologia, Mineração e que acabar com essa farra. Não te- Ao Conselho de Altos Estu- debates no Senado, o represen-
Transformação Mineral do MME, nho nada contra os grandes, mas • Extingue o Departamento Nacio- dos da Câmara, em dezembro de tante desse órgão revelou que não
nossos concorrentes”, argumentou o novo marco é uma mudança de eles não são os donos do Brasil”, nal de Produção Mineral (DNPM). 2012, o presidente da Cnen, Paulo havia processo de licenciamento
Flexa, referindo-se a outros países cultura no setor mineral, em es- afirmou. Direitos minerários Cruz, disse que o órgão fiscaliza de terras-raras em curso no órgão.
produtores. pecial no que diz respeito aos ritos Julianna Malerba, coordenado- • Contrato de concessão para pes- mais de 50 empresas do setor, mas Por isso, o resultado do trabalho
Paulo César Lima também con- de acesso às áreas para pesquisa. ra do Núcleo de Justiça Ambiental quisa e lavra, mediante licitação ou ressaltou que, dos resíduos de mi- da comissão terá impacto direto
siderou a elevação da Cfem um “Traz incentivos necessários para e Direitos da Fase, ONG voltada chamada pública, com prazo de 40 neração, apenas 10% são perigo- nessa atividade.
erro do governo. “No caso de mi- induzir um aumento da compe- para a promoção dos direitos hu- anos renováveis por períodos de 20 sos. A fiscalização é disciplinada “Essa revisão vai definir quais
nerais estratégicos, talvez seja me- titividade, da concorrência e da manos, da gestão democrática e anos, sucessivamente. pela Norma 4.01 (Requisitos de minerais vão servir de elementos
lhor nem cobrar a Cfem, a gente realização de investimentos no se- da economia solidária, lamentou • Título único para pesquisa e lavra. segurança e proteção radiológica para a comissão dar o seu licencia-
quer é produzi-los. Já a Vale, com tor privado, em um ambiente com que o novo código não leve em • Previsão de uma fase de pesquisa para instalações mínero-indus- mento, e aí esses minerais também
receita e renda altíssimas, da mes- segurança jurídica e respeito aos consideração as perdas sociais e com prazo definido. triais), de 2005, que em grande serão licenciados pelo Ibama, para
ma ordem de valor que a Petro- acordos anteriormente firmados, econômicas produzidas pela ativi- • Rodadas de licitação em áreas de- medida, como explicou, seguiu as a questão da radioatividade”, ex-
bras, fica submetida a um percen- confirmando a tradição, no Brasil, dade mineral, aceitando a tese da finidas pelo conselho nacional, com práticas adotadas em países como plicou Cunha Reis, do Ibama.
tual de Cfem igual ao do pequeno em relação à manutenção dos con- “necessidade estratégica” que fun- critérios tais como bônus de assina- a Austrália e a África do Sul. “O grande problema é que, até
minerador.” tratos”, garantiu o debatedor. damenta os atuais investimentos tura ou de descoberta, participação Cruz admitiu que a norma é hoje, não há uma boa definição de
Paulo de Tarso Serpa Fagundes, públicos e privados no setor. no resultado da lavra e programa “muito exigente com as minerado- depósitos de rejeitos radioativos.
Mudança estrutural diretor-geral da Mineração Serra “Ao nos manter dependentes ras”, pois as trata como instalações É difícil tomar uma posição. A
exploratório mínimo.
“Não basta apenas uma reforma Verde, lembrou que o setor está da exportação, essa estratégia re- • Chamadas públicas, em processo nucleares, quando o mais correto Cnen é responsável por isso, mas
da legislação, mas uma reforma ansioso por uma definição que duz as possibilidades de vincular simplificado, para identificar even- seria tratá-las como “instalações tem muita dificuldade de definir
institucional e a capacitação dos leve em conta os interesses nacio- a extração de minérios a cadeias tuais interessados na obtenção de radioativas”, quando for o caso. um local. A definição de locais de
entes relacionados ao setor. Essa nais e promova a livre iniciativa. econômicas nacionais e regionais uma concessão em áreas não clas- Para fazer a revisão, a Cnen criou depósitos radioativos é algo muito
legislação deve trazer mecanismos “Preocupava-nos que uma medi- e garantir, assim, processos de de- sificadas pelo conselho nacional uma comissão, em janeiro des- político”, completou Alair Veras,
claros para que haja um mínimo da provisória pudesse atropelar senvolvimento mais endógenos e como de licitação obrigatória. te ano, encabeçada pelo próprio engenheiro da INB.
de previsibilidade e estabilidade o debate de temas importantes e comprometidos com a manuten- • Dispensa de licitação para explo- Paulo Cruz e integrada ainda por

Reprodução
nas relações jurídicas, sem ignorar ­regulamentações que seriam inte- ção de dinâmicas socioprodutivas ração, por dez anos (renováveis), de 21 membros, representantes de ór-
as prerrogativas do Estado, no que ressantes para o setor, o governo e locais”, avaliou Julianna. minérios para construção civil, tais gãos públicos — DNPM, Ibama e
diz respeito ao acesso aos direitos”, a sociedade”, lembrou. como: argilas para tijolos, telhas, INB — e ­privados (Ibram), além
José Cruz/Agência Senado

defendeu o advogado Adriano rochas ornamentais, água mineral e


Drummond Cançado Trindade. Reações contrárias

José Cruz/Agência Senado


minérios para correção de solo.
Entre as novidades do projeto Um grupo de 48 organizações e
oficial (veja o quadro na página ao movimentos sociais, que integram Compensação financeira (Cfem)
lado), está a instituição de licita- o Comitê Nacional em Defesa dos • Nova base de cálculo será a
ções para a concessão de direitos Territórios frente à Mineração, re- receita bruta da venda, deduzi-
minerários. “O objetivo da medi- pudiou, em nota oficial, a “forma dos os tributos incidentes sobre a
da é permitir mais concorrência”, sigilosa” como teria ocorrido a ela- ­comercialização do bem mineral.
disse Lobão, lembrando que as boração do projeto e se mostrou • Valores mínimos e máximos das
concessões valerão por um perío- receoso quanto ao texto. Segun- alíquotas definidos em lei (até 4%),
do de 40 anos, tanto para pesquisa do as entidades, é fundamental a específicas para cada bem mineral.
quanto para a exploração. Ainda regulação do setor mineral para • Critério de distribuição segue o
segundo o ministro, para a explo- que a atividade seja desenvolvida mesmo: 65% para os municípios,
ração de água mineral e de mi- “em benefício da sociedade e res- Ivo Cassol: “Temos que acabar com a 23% para os estados e 12% para Cunha Reis, do Ibama: não há pedido, Normas usadas pela Cnen serão
nérios ligados à construção civil, peitando direitos das populações farra das grandes mineradoras no país” a União. no órgão, para exploração de terras-raras revisadas por comissão criada em janeiro

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Saiba mais
Esta edição foi baseada, primordialmente, nas audiências • Tetsuichi Takagi, líder do grupo de pesquisa de recursos
­públicas realizadas pela Subcomissão Temporária das Terras- ­minerais do Instituto Nacional de Ciência Industrial Avançada
-Raras. Os links para as apresentações dos participantes são os e Tecnologia (Aist) do Japão
­seguintes: http://bit.ly/14K5jJK
• Embaixada da Austrália (enviou apenas apresentação escrita)
14/5/2013 http://bit.ly/14K5kNE
• Carlos Nogueira, secretário de Geologia, Mineração e Trans-
formação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME) 11/7/2013
http://bit.ly/14K4Mr6 • José Fernando Iasbech, general de brigada do Exército
• Alvaro Prata, secretário de Desenvolvimento Tecnológico e http://bit.ly/14K5nt5
Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação • Jeová Moreira da Costa, prefeito de Araxá (MG)
(MCTI) http://bit.ly/14K5owR
http://bit.ly/14K4Nvj
• Fernando Lins, diretor do Centro de Tecnologia Mineral Outros estudos e trabalhos pesquisados:
­(Cetem/MCTI) • Potencial para Terras-Raras dos Carbonatitos Brasileiros, de
http://bit.ly/14K4OPN José Affonso Brod (UFG)
• Carlos Alberto Schneider, superintendente-geral da Fundação http://bit.ly/14K5tAH
Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi) • Plano Nacional de Mineração 2030 — geologia, mineração e
http://bit.ly/14K4Ve5 transformação mineral, do Ministério de Minas e Energia
• José Guilherme da Rocha Cardoso, chefe do Departamento de http://bit.ly/14K5uVw
Indústria de Base do BNDES • Relatório do Grupo de Trabalho MME-MCT de Minerais
http://bit.ly/14K4VLm ­Estratégicos
http://bit.ly/14K5ynW
23/5/2013 • The Role of Mining in National Economies, do International
• Alair Veras, engenheiro químico das Indústrias Nucleares do Council on Mining and Metals (ICMM)
Brasil (INB) http://bit.ly/TuLbif
http://bit.ly/14K4WPa • Terras-Raras: situação atual e perspectivas, em BNDES
• Paulo de Tarso Serpa Fagundes, diretor-geral da Mineração ­Setorial (2011)
Serra Verde http://bit.ly/14K5zs9
http://bit.ly/14K4Xmu • Alterações no direito minerário brasileiro, de Paulo César
• Edson Ribeiro, diretor de Tecnologia e Projetos Minerais da Ribeiro Lima (Câmara dos Deputados)
Vale http://bit.ly/14K5zZ3
http://bit.ly/14K50OY • A compensação financeira pela exploração de petróleo e de
recursos minerais, de Paulo César Ribeiro Lima (Câmara dos
6/6/2013 Deputados)
• Paulo César Ribeiro Lima, consultor legislativo da Câmara dos http://bit.ly/14K5EvW
Deputados • Setor Mineral — rumo a um novo marco legal, em Cadernos
http://bit.ly/14K4ZdO de Altos Estudos da Câmara dos Deputados
• José Farias de Oliveira, professor do Departamento de Enge- http://bit.ly/14K5Fjn
nharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe-UFRJ • Informações e Análises da Economia Mineral Brasileira, do
http://bit.ly/14K52X5 Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)
• Francisco Valdir Silveira, chefe do Departamento de Recursos http://bit.ly/14K5IvC
Minerais do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) • A Força da Mineração Brasileira, do Ibram
http://bit.ly/14K53ul http://bit.ly/14K5LYs
• Marcelo Tunes, diretor de Assuntos Minerários do Instituto • Apresentação de Marcelo Tunes (Ibram) no seminário Mine-
Brasileiro de Mineração (Ibram) rais Estratégicos e Elementos Terras-Raras, da Câmara dos
http://bit.ly/14K54hS Deputados
• Adriano Drummond Cançado Trindade, especialista em Direito http://bit.ly/1cLmAEo
Tributário do escritório Pinheiro Neto Advogados • Apresentação de José Eduardo Alves Martinez, do Departa-
http://bit.ly/14K57KB mento Nacional de Produção Mineral (DNPM), no mesmo
seminário
27/6/2013 http://bit.ly/16J88Xt
• Jorge Luiz Brito Cunha Reis, coordenador-geral substituto de • O Brasil e a Reglobalização da Indústria das Terras-Raras, de
Transporte, Mineração e Obras Civis do Ibama Francisco Eduardo Lapido Loureiro (Cetem), 2013
http://bit.ly/14K5hl0 http://bit.ly/17M0HOa
• Antenor Silva, diretor-presidente da MbAC Fertilizantes
http://bit.ly/14K5ip5 • O Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) realizou em 2011
• Tadeu Carneiro, diretor-geral da Companhia Brasileira de um seminário sobre terras-raras. O conteúdo e as palestras
­Metalurgia e Mineração (CBMM) podem ser acessados em:
http://bit.ly/14K5iW8 http://bit.ly/1233jIE

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setembro de 2013
TERRAS RARAS

Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 4 – Nº 17 – setembro de 2013

TERRAS-RARAS
Grandes temas nacionais
Estratégia
para o futuro
Senado tem propostas para o país
aproveitar minerais, inovar e produzir
equipamentos de alta tecnologia

A cada edição, a cobertura completa de um


assunto debatido no Senado Federal que afeta a
vida de milhões de brasileiros.

DÍVIDA PÚBLICA ADOÇÃO EDUCAÇÃO PÚBLICA TRÂNSITO DE MOTOS

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA RIO+20 DEFESA NACIONAL NOVO CÓDIGO FLORESTAL

DEPENDÊNCIA QUÍMICA TRABALHO ESCRAVO BANDA LARGA AVIAÇÃO CIVIL

Secretaria de
Comunicação Social

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