Domingo, 27 de Setembro de 2020 ESTE SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DO JORNAL PÚBLICO N.º 11.

DO JORNAL PÚBLICO N.º 11.113 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

Série Primavera Tardia

Tecnodistopias
de Tóquio
p10 a 15

Feminismo em Portugal:
o exemplo das pioneiras
p16/17

Trump
Anatomia de uma família disfuncional
Entrevista com Mary L. Trump
“O Donald é uma pessoa fraca. É profundamente inseguro” P4 a 9
2 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020
4 10
Índice
O Facebook a quem
o trabalha!
O que é meu é teu
Vítor Belanciano
V
icia, induz, manipula,
vende, polariza, falsiÆ#
ca e enfraquece demo-
cracias. É este o retrato
do Facebook, e de ou-
tras redes sociais, e dos
gigantes tecnológicos, do Google à
Amazon, exposto em O Dilema das
Redes Sociais, o documentário da
NetÇix que tem deixado meio mundo
à beira de um ataque de nervos. O
facto de os testemunhos serem de
ex-operadores dessas companhias
intensiÆcou o factor de veracidade,
mas quase nada do que é dito cons-
tituiu novidade.
No início olhávamos para as redes
como espaço privado. Depois, como
semipúblico ou público. Fomos sen-
do embalados pela ideia de que éra-
mos clientes de uma plataforma gra-
tuita. Mas há muito que se percebeu
que agimos no espaço comercial de
empresas cujo modelo de negócio é
olhar para os utilizadores, ou para
os seus dados, como produto. Dito
isto, importa distinguir o que são fer-
ramentas de comunicação de grande
potencial, como as redes sociais, dos
paradigmas económicos providen-
ciados por empresas onde os crité-
rios comerciais não obedecem aos
princípios do bem comum.
A solução não é abandonar as re-
des. É ter consciência do terreno que
se pisa. É responsabilizar governos
nacionais ou organismos internacio-
nais se não forem tomadas medidas
que defendam os cidadãos. E imagi-
nar redes mais democráticas. Ao ní-
vel da União Europeia, Ænalmente,
algumas condutas estão a ser ques-
tionadas, como revela a intenção de
obrigar as companhias que operam
com dados europeus a guardá-los em
servidores localizados em território
da UE, tendo o Facebook reagido
com tiques de monopolista, amea-
çando sair da Europa.
Esta disputa é importante, mas é
apenas o início. O Facebook, como
os restantes gigantes tecnológicos,
tem de estar sujeito a regras demo-
cráticas e à supervisão pública, em
16
Entrevista Série Série Ciências Sociais
Mary L. Trump
“As psicopatologias do Donald e o
Primavera Tardia
Visões do futuro
em Público (XXVI)
Cem anos de lutas femininas
acesso que ele tem ao poder são Tecnodistopias e feministas em Portugal:
uma situação muito perigosa” de Tóquio o exemplo das pioneiras
Desalinho
Cristina Sampaio
especial nestes tempos em que a di-
gitalização da nossa existência pare-
ce irreversível, mas o que está em
causa é mais vasto. Novos tipos de
propriedade e controlo sobre bens
públicos exigem novas leis. O proble-
ma é a incompatibilidade de um sis-
tema em que uma pequena minoria
controla os instrumentos que garan-
tem os direitos fundamentais de 99%
da população.
DesaÆar essa hegemonia é neces-
sário. O regulamento de protecção
de dados nunca teria existido sem o
trabalho de activistas (o que está a
acontecer agora na UE foi possível
pela acção de Max Schrems, que co-
locou o Facebook em tribunal), pla-
taformas da sociedade civil e alguns
políticos. Corrigir práticas é essen-
cial, mas o principal desaÆo é a pró-
pria estrutura de propriedade de
companhias onde a actividade pro-
dutiva consiste na criação de valor
sob a forma de dados. Os utilizadores
não só perdem o controlo sobre o
produto da sua actividade como não
recebem nenhuma forma de com-
pensação pela mesma.
Pode ser difícil imaginar, hoje, o A seguir
Google, Facebook ou WhatsApp a
transÆgurarem-se em domínio públi- 5.ª Cimeira do Turismo Português
co ou em cooperativas transnacio-
nais, com os dados distantes da vigi-
lância corporativa ou estatal, e com O turismo é apontado como a a enxurrada de turistas e os
algoritmos compostos pelos utiliza- “galinha dos ovos de ouro” de negócios que cresceram ou
dores, mas criar espaços assim não Portugal e um dos sectores surgiram com eles provocaram
é impossível. Pode parecer fantasia, responsáveis pela recuperação mudanças significativas no
mas existe cada vez mais gente a ten- pós-crise da troika, quando o quotidiano das principais
tar viabilizar plataformas onde os país procurava soluções para cidades, com prejuízo inegável
utilizadores podem votar por mu- tapar o buraco aberto pelo das características que
danças ou onde os algoritmos dupli- excessivo endividamento mantinham a sua identidade.
cam comentários baseados na pre- externo. Ao mesmo tempo que Como é sabido, com a pandemia
servação dos direitos individuais ou foi endeusada como sendo uma todo esse edifício estremeceu
colectivos. Claro que a ordem domi- das poucas indústrias com (fatalmente?) — a discussão
nante resiste. Foi sempre assim quan- projecção internacional e a sobre o que fazer agora, num
do se ousou conceber novas formas tábua de salvação dos cofres do contexto inédito, não podia ser
de propriedade colectiva. Mas como Estado, ouviram-se críticas mais premente. Para a 5.ª
o documentário mostra, a situação
actual é um terror que apenas con- Turismo, relacionadas com a excessiva
dependência de uma área
Cimeira do Turismo Português,
que termina esta segunda-feira
vém a alguns. Se queremos mudan- demasiado volátil, para além de depois de vários dias de
ças, vamos ter de lutar por elas. manual de ser apontada como uma conversas, foram convocadas as
“monocultura” na política mais altas figuras do Estado. O
Jornalista sobrevivência económica do país. Mas não só: caso não é para menos. S.B.G.

22
Estar bem
Cancro da tiróide:
uma doença
silenciosa
C
hegámos a um cume
nunca antes atingido!
E ainda não vimos
tudo.
Um
primeiro-ministro,
um punhado de ministros,
diversos secretários de Estado,
vários directores-gerais,
numerosos membros de
gabinetes, múltiplos gestores,
muitos banqueiros, directores
bancários sem Æm, juízes,
procuradores, presidentes da
Relação, desembargadores,
advogados, professores de Direito,
deputados, presidentes de
câmara, vereadores, dirigentes de
partidos nacionais e locais, chefes
da polícia e oÆciais das Forças
Armadas: há de tudo entre
notoriamente suspeitos,
investigados, sob inquérito, em
curso de instrução, arguidos, à
espera de julgamento,
condenados, à espera de recurso,
a cumprir pena, presos e em
detenção domiciliária! O elenco
dos suspeitos de corrupção é uma
lista de celebridades.
Não há paralelo na história do
país. E parece haver poucos casos
semelhantes, se é que existe
algum, na história recente da
Europa…
Que pensa quem olha para este
inventário? Ou antes: que pensam
as autoridades competentes? Os
Presidentes da República e da
Assembleia, o primeiro-ministro,
os ministros, os secretários de
Estado, os directores-gerais, os
deputados, os presidentes de
câmara, os dirigentes partidários,
os juízes, os procuradores e os
magistrados dos Tribunais de
Contas, Constitucional, Supremo
de Justiça e Supremo
Administrativo? Que está tudo
bem? Que está tudo mal, mas não
se pode fazer nada? Que é o que
deve ser, que a democracia e a
humanidade não são perfeitas?
Ninguém sabe a resposta exacta.
Só se conhece o silêncio
incomodado. Mas há uma certeza:
os principais responsáveis pela
política e pela justiça querem que
23
Crónica
#CáVamosAndando
Justiça e corrupção
as coisas Æquem como estão, pois
é o que lhes interessa e dá
vantagens. Se assim não fosse, já
teríamos tido notícia de mais
acção, mais julgamentos, mais
medidas práticas, mais
condenações, mais legislação
punitiva e mais legislação eÆcaz
anticorrupção.
Em vez disso, parece termos um
Parlamento que receia a justiça e
se abstém. Deputados que têm
medo dos juízes. Um Governo que
administra e trata das contas. Uns
conselhos superiores que zelam
para que não haja ondas. Uns
poderosos das empresas que
navegam e aproveitam. Uns
vigorosos escritórios de advogados
inÇuentes que estão organizados
para este sistema e preferem o que
conhecem. Uns sindicatos que se
limitam à sua esfera corporativa. E
polícias sem meios nem peritos.
E
xcepção deverá ser
feita para a ministra
da Justiça, que
coordena ou orienta
uma “Estratégia
Nacional de Combate
à Corrupção – 2020-2024”. É
seguramente a mais consequente
acção das autoridades neste
domínio. O seu principal
documento é com certeza o mais
sério trabalho sobre o assunto,
com relevo para as questões
jurídicas e de prevenção. Mas sofre
do facto de não se tratar de
entidade independente, de se Æcar
excessivamente pela abstracção e
de passar obrigatoriamente ao
lado da questão crítica: a ligação
entre a corrupção, por um lado, e
a política, o dinheiro e a justiça,
por outro. Também as principais
“linhas vermelhas” actuais não
estão explicitamente
mencionadas: a ligação entre o
Governo, os partidos, os fundos
europeus, as obras públicas e o
futebol. Finalmente, a questão da
“conÆança política” e das
consequentes nomeações:
disfarçada de legal e legítima, é a
mais traiçoeira arma da corrupção.
Não tenhamos ilusões: só temos
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 3
24
Crónica
O vídeo, a
bastonária e o da
coelhinha Acácia
esta justiça complicada,
Grande angular conÇituosa e ineÆcaz porque a
António Barreto maior parte das pessoas o quer. Se
os processos são eternos, os
prazos loucos, as sentenças
disparatadas e se o sistema
favorece os ricos e os políticos, é
porque a maioria se resigna e
assim querem os que podem. Este
sistema de fugas de informação e
de violação sistemática do segredo
de justiça sobrevive porque há
juízes, procuradores e advogados
que o querem e desejam. Se os
magistrados continuam a mudar
de emprego, a usar a porta
giratória de ida e volta, a passar da
justiça aos negócios ou à política,
é porque se aceita ou cala e
porque muitos querem. É
necessário um acordo
fundamental entre órgãos de
soberania, partidos políticos,
Não se pode
instituições judiciárias,
magistraturas, sindicatos e
dizer que a
associações de proÆssionais para
que este estado de coisas se
corrupção mantenha.
O
tenha chegado que se vê e o que se
passa é
simplesmente
finalmente à desesperante. E não
se pense que “eles”
justiça. Há já não vêem ou não
percebem. Vêem e percebem
muito que por muito bem. Bem de mais.
Na imaginação e na tradição, a
lá andava. Só Justiça sempre foi a última
fronteira, a primeira esperança e o
que não se melhor dissuasor. Agora, a Justiça
é também a primeira culpada, um
sabia muito dos protagonistas e um dos
principais culpados.
bem. Nem se Há juízes honestos, não tenho
dúvidas. Há procuradores
acusava. Nem honrados, não esqueço. Também
há governantes e deputados
se detectava. E inocentes, acredito. Tenho a
certeza de que existem altos
muitos se funcionários sérios e
competentes. Creio que existem
defendiam com banqueiros austeros e bancários
cumpridores. Sei que existem
polícias íntegros e eÆcientes. Mas,
unhas e enquanto não se virem livres dos
prevaricadores, todos estes corpos
ameaças de responsáveis, de autoridades e
Ficha técnica
Director Manuel Carvalho
Directora de Arte Sónia Matos
Editor Sérgio B. Gomes
Designers Marco Ferreira e Sandra
Silva Email sgomes@publico.pt
de proÆssões estão hoje também
do lado dos culpados e dos
adversários da justiça e da
liberdade.
Não se pode dizer que a
corrupção tenha chegado
Ænalmente à justiça. Há já muito
que por lá andava. Só que não se
sabia muito bem. Nem se
acusava. Nem se detectava. E
muitos se defendiam com unhas e
ameaças. Com estes casos
recentes, ao mais alto nível,
Æcámos a saber que os demónios
também residem no céu. Começa
a ganhar sentido a suspeita de
ligações especiais entre
magistrados, procuradores e
políticos. Começa a perceber-se
melhor o signiÆcado do linguajar
judiciário, obra-prima do
hermetismo medieval.
A
maneira de falar e de
escrever de um
jurista, sobretudo de
um juiz e de um
procurador, é fonte
de pessimismo e de
descrença! Quem fala assim, quem
escreve assim, quem assina
sentenças de dezenas ou centenas
de páginas não merece ser ouvido
nem lido, não merece sequer
exercer uma nobre proÆssão para
a qual se exige clareza,
simplicidade, força de carácter e
verticalidade. As sentenças
formais e obscuras são a tradução
exacta de falta de capacidade de
julgar e de liberdade de espírito no
respeito pela lei. Mas também de
indiferença perante os cidadãos,
aqueles a quem as suas sentenças
se deveriam dirigir. Esta justiça
incompreensível é garantia de
opacidade. Ou um estímulo à
injustiça.
Sabemos que, nos melhores
dias, é a gratidão pela justiça feita
que nos inspira. E, nos piores, é o
pedido de socorro à justiça a fazer
que nos move. Era bom que os
nossos representantes o
soubessem. E que os nossos
concidadãos o sentissem.
Sociólogo
4 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020

“As psicopatologias
do Donald e o
acesso que ele
tem ao poder
são uma situação
muito perigosa”
Entrevista Mary L. Trump Num livro em que uma das irmãs de Donald
Trump o deÄne como uma pessoa cruel e sem princípios, a sobrinha do
Presidente dos EUA conta-nos a história de uma família ligada apenas pelo
dinheiro e marcada por um patriarca “sociopata”. Psicóloga clínica de
formação, Mary L. Trump falou com o P2 por Skype antes da publicação de
Demasiado e Nunca Suficiente — Como a minha família criou o homem mais
perigoso do mundo
Por Alexandre Martins

A
história da batalha de
Mary Lea contra os seus
tios, nos tribunais dos
Estados Unidos e fora
deles, começou há mais
de 20 anos. Mas
diÆcilmente os
pormenores dessa
história chegariam a este lado do Atlântico,
não fosse o nome de Mary Lea terminar com
um dos apelidos mais reconhecidos em todo
o planeta: Mary Lea Trump.
A sobrinha do Presidente norte-americano
continua a lutar contra os fantasmas da
morte prematura do pai, aos 42 anos de
idade, consumido pelo álcool e destruído
por uma família em que o dinheiro nunca
deu espaço ao amor, ao carinho e à
compreensão. Do império do avô, Fred
Trump Sr., que não hesita em diagnosticar
como um sociopata narcisista, reclama uma
percentagem correspondente à parte do seu
pai, substancialmente maior do que a que
recebeu há duas décadas num acordo
extrajudicial, quando diz ter sido enganada
pelos seus tios na hora das partilhas.
Psicóloga clínica com doutoramento na
área, o seu olhar privilegiado como visita
frequente da casa onde Donald Trump
cresceu e se impôs como sucessor de Fred
Trump Sr. pode ajudar-nos a perceber
melhor quem é o homem que é visto como o
mais poderoso do mundo.
Entrevistada pelo P2 por
videoconferência, Mary L. Trump insistiu
em tratar o tio apenas por Donald. E é assim,
diz, que o candidato do Partido Democrata
nas eleições presidenciais, Joe Biden, o deve
tratar nos debates televisivos – porque isso o
incomoda e porque “o Donald é uma pessoa
incrivelmente fraca e profundamente
insegura.”
Dois dias depois desta entrevista, Mary
Trump entregou num tribunal de
Manhattan uma queixa contra os tios
Donald, Maryanne e o falecido Robert – o
irmão mais novo do Presidente dos Estados
Unidos. A acusação: fraude e conspiração
para impedirem Mary Trump de receber a
sua parte na herança do avô.
Bem-sucedido?
Donald Trump em 1979, no momento
que marcava o início da construção
do New York Convention Center. A
partir de certa altura, o pai de Mary L.
Trump, Fred Trump Jr., que morreu
em 1981 aos 42 anos, deixou de ser
visto como um potencial gestor dos
negócios da família. “Numa
determinada altura da adolescência
do meu pai, o meu avô começou a
perceber que o seu filho mais velho
não era o seu tipo de pessoa”, revela
Mary. Perante isto, Donald assume
esse papel e lança-se em negócios na
área do imobiliário com um grau de
sucesso no mínimo duvidoso.
“Continuo a ficar pasmada com as
pessoas que acreditam que ele é
inteligente e que é um homem de
negócios bem-sucedido”
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 5
O seu livro é um mergulho nas
dinâmicas do relacionamento entre os
seus avós e os netos deles, em particular
o seu pai, Fred Trump Jr., e o seu tio
Donald Trump. O que a levou a escolher
o título Demasiado e Nunca Suficiente
para resumir essa experiência?
Quando penso nos meus familiares, no
geral, a primeira coisa que me vem à cabeça
é a relação deles com o dinheiro. O dinheiro
preencheu o lugar do amor, do carinho, do
respeito e do reconhecimento, e eles nunca
se fartaram de dinheiro porque nunca
tiveram nenhuma das outras coisas. Só que
o dinheiro não é um bom substituto para o
amor, o carinho, o reconhecimento e o
respeito.
Por outro lado, quando eu estava a
reÇectir sobre a infância deles,
especiÆcamente a do meu pai e a do meu tio
[Donald Trump], percebi que na casa onde
eles cresceram havia um ambiente
permanente de maus tratos.
Quando analisamos o tema dos maus
tratos sobre crianças, encontramos c
6 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020
dois extremos. Ou há muitas coisas em
excesso — demasiadas expectativas,
demasiadas fronteiras, demasiadas
interferências, demasiados maus tratos no
sentido de haver humilhação, que era o que
acontecia no caso do meu pai; ou há muitas
coisas em falta, que foi o que aconteceu com
o Donald. Ele não teve amor suÆciente, nem
carinho suÆciente, nem atenção suÆciente, e
por isso achei que o título do livro
funcionava muito bem em ambos os níveis.
A outra parte do título — Como a minha
família criou o homem mais perigoso do
mundo — é um pouco assustadora. O que
tem a dizer às pessoas que tendem a
olhar para outros líderes mundiais
quando procuram o homem mais
perigoso do mundo? Em que sentido é
Donald Trump mais perigoso do que o
Presidente russo, Vladimir Putin, ou o
líder norte-coreano, Kim Jong-un, por
exemplo?
Como indivíduo, ele não seria perigoso para
mais ninguém a não ser para si próprio e
para as pessoas que o rodeiam. Mas, pelo
menos desde o período do pós-II Guerra
Mundial, a pessoa que está na Sala Oval é
vista como o líder do mundo livre. É o
homem mais poderoso do mundo — e digo
“o homem” porque sempre foram homens.
Se combinarmos as psicopatologias do
Donald e o acesso que ele tem ao poder,
temos uma situação muito perigosa. Ele não
tem qualquer controlo sobre os seus
impulsos e não tem empatia. É mesmo
muito assustador.
A sua tia Maryanne Trump Barry, uma
antiga juíza federal, é citada no livro a
dizer que o irmão dela — o Presidente
Trump — é cruel, não é de confiança e
não tem princípios. Depois da
publicação do livro nos Estados Unidos,
foram divulgadas gravações das suas
conversas com a sua tia. Ela sabia que as
conversas estavam a ser gravadas?
Voltaram a falar-se desde então?
Vou começar pela última parte da pergunta,
porque é a que tem a resposta mais fácil. Já
não falamos há muito tempo, desde o início
de 2018. E, para dizer a verdade, não sei
bem porquê.
Já em relação às minhas fontes, é preciso
dizer que estamos a falar de um livro de
memórias, e não de uma biograÆa nem de
um documento histórico no sentido
académico. Obtive as informações através
de conversas com a minha família, com
amigos do meu pai, com pessoas que
conheceram os meus familiares de uma ou
de outra forma, e através das minhas
próprias recordações, que eu tentei
conÆrmar o mais possível.
As conversas com a minha tia começaram
muito antes de eu ter começado a pensar em
escrever este livro, apesar de eu querer que
ela me contasse histórias sobre o meu pai.
Ela é uma das poucas pessoas ainda vivas
que se lembram bem dele, e é a pessoa que
mais tempo conviveu com ele.
Mas depois de me ter tornado na fonte de
um artigo do The New York Times [sobre os
esquemas Ænanceiros da família Trump,
publicado em 2018], percebi que havia
muitas coisas que não batiam certo. E, para
me proteger, comecei a gravar as conversas,
para o caso de precisar de me defender. Não
tinha absolutamente nenhuma intenção de
as divulgar. E ela não tinha conhecimento de
que as conversas estavam a ser gravadas, o
que, no estado de Nova Iorque, é permitido.
No livro, descreve o seu avô como um
sociopata que destruiu a vida do seu pai
e do seu tio Donald, embora de formas
distintas. Como é que isso foi visível?
Em primeiro lugar, a sociopatia não é rara e
afecta cerca de 3% da população. Mas o meu
avô não era, na minha opinião, um
sociopata comum, no sentido em que ele já
nasceu assim. Não consigo encontrar
nenhum indício de traumas passados na
vida dele, e, com base na forma como ele
tratou o meu pai, vê-se que foi um homem
que nasceu sem qualquer empatia em
relação aos outros seres humanos, mesmo
em relação aos seus próprios Ælhos. Ou
especialmente em relação aos seus Ælhos.
Mas isso afectou o seu pai e o seu tio
Donald de formas distintas...
Exactamente. O meu pai era o Ælho mais
velho e, naquela época, nas décadas de 1940
e 1950, um homem de negócios
bem-sucedido dava o seu nome ao primeiro
Ælho e tinha a expectativa de que ele seria o
seu sucessor. O meu pai foi orientado para
ser o sucessor do meu avô, e tinha toda a
intenção de cumprir essa função. Mas,
numa determinada altura da adolescência
do meu pai, o meu avô começou a perceber
que o Ælho mais velho não era o seu tipo de
pessoa.
O meu pai tinha outros interesses, gostava
de passear de barco, de fazer esqui aquático,
desenvolveu uma paixão por pilotar aviões,
gostava de se divertir com os amigos. E tinha
um grande sentido de humor e era muito
Nenhuma pessoa sensível, qualidades que o meu avô não
apreciava. Ele queria que o seu sucessor
como ele devia fosse um “assassino”, alguém rijo que nunca
recuaria e que nunca admitiria que estava
estava determinado a não ser um perdedor.
É por isso que ouvimos tantas vezes o
poder chegar errado nem pediria desculpa. Alguém que
faria tudo o que fosse possível para ser um
Presidente Trump a usar termos e a
fazer declarações que pretendem
a 100 anos-luz “vencedor”.
O Donald tinha menos sete anos e meio e
transmitir dureza? Talvez porque
relacione bondade com fraqueza e
da Casa Branca beneÆciou de assistir à forma muito dura
como o meu avô tratava o meu pai. Ele
fragilidade?
É precisamente isso. É uma excelente
Mary L. Trump percebeu que, para evitar o mesmo tipo de
tratamento, precisava de ser exactamente o
observação e é exactamente isso que
acontece. E o que é fascinante é que, na
oposto do meu pai. Estava disposto a ser o verdade, o Donald é uma pessoa
tal “assassino”, a pessoa que engana, rouba incrivelmente fraca e profundamente
e mente para ser um “vencedor”, porque o insegura. De uma perspectiva psicológica, e
meu avô tratava a família como se fosse um a um nível muito profundo, ele ainda sente a
jogo de vencedores e vencidos – o que necessidade de provar ao seu pai que é o
signiÆca que só uma pessoa pode vencer e melhor e o maior, e gasta muita energia a
que todas as outras perdem. O Donald tentar esconder das outras pessoas, e dele
PETER SERLING próprio, o quão fraco é.
Houve uma altura em que o seu avô
enviou o seu tio Donald para uma escola
militar por causa do mau
comportamento dele na escola e em
casa. Diz mesmo que ele era fisicamente
agressivo com os colegas e que tratava a
mãe com desdém. E diz que a sua avó
não tentou travar a decisão do seu avô.
De que forma isso terá contribuído para
o posterior relacionamento entre
Donald e a mãe?
Quando o Donald tinha dois anos e meio, a
minha avó Æcou muito doente e esteve
ausente emocionalmente durante quase um
ano. Numa fase crucial para o seu
desenvolvimento, ele perdeu a mãe, a
principal cuidadora. Não percebeu que ela
estava doente, e também não percebeu que
a culpa não era dela; mas Æcou muito só e
com medo. E o meu avô não fez nada para
mitigar essa perda, porque era uma pessoa
horrível e não tinha qualquer interesse em
crianças pequenas.
Infelizmente, quando a minha avó Æcou
melhor, não tentou sarar as feridas que
tinham surgido entre eles, e quando o
Donald foi enviado para a escola militar e a

minha avó não fez nada para o impedir, ele
sentiu-se traído por ela mais uma vez. E
acho que a relação entre eles nunca
recuperou disso. Já na idade adulta, ele
tratava-a com desdém, de forma
condescendente e sexista. Era evidente que
não a respeitava, como Æcou patente
quando eu estive na Casa Branca, em Abril
de 2017, num jantar de aniversário das
minhas tias Maryanne e Elizabeth. Ele não
tinha nenhuma fotograÆa dela na Sala Oval,
mas tinha uma fotograÆa do meu avô.
Sugere que o contexto da época em que
Donald Trump cresceu, numa sociedade
abertamente misógina e racista, e a
dureza do seu avô e a ausência
emocional da sua avó, foram factores
importantes para a formação da
personalidade do seu tio. Como
psicóloga clínica, sente algum impulso
KEVIN LAMARQUE/REUTERS
NEW YORK POST ARCHIVES
para ver o seu tio como uma vítima, e
não apenas como um vilão?
Humm... Não.
Imagine que ele é um dos seus
pacientes...
Eu percebo o que quer dizer e é uma
excelente questão. É claro que todos nós
devemos sentir compaixão por aquela
criança. Mas é difícil sentir compaixão por
alguém que tem todo o poder do mundo e
que escolhe usá-lo para fazer sofrer as outras
pessoas.
Mas, com ou sem compaixão, ele tem de
ser escrutinado e responsabilizado. Tem
muitos distúrbios psicológicos, mas não é
uma pessoa demente, sabe o que está a
fazer. Só que faz muitas coisas por egoísmo e
mesquinhez.
Quero deixar claro que a história dele não
o deve desresponsabilizar. O que acontece é
BETTMANN ARCHIVE
Do betão à Casa Branca
À esquerda, Trump durante uma
conferência de imprensa na Casa
Branca sobre o novo coronavírus, em
Agosto. Em cima, Trump em 1980,
aos 33 anos, com um modelo da
Trump Tower, erguida em Nova
Iorque. Em baixo, com o pai, Fred
Trump, ao centro, e o mayor de Nova
Iorque, Ed Koch, em 1982
que, para percebermos aquilo em que ele se
transformou, também temos de perceber
que ele sofreu muito quando era criança.
Não faz praticamente nenhuma
referência ao relacionamento entre o
seu tio Donald e os seus primos Donald
Jr., Ivanka, Eric, Tiffany e Barron. Tem
alguma indicação de que esse
relacionamento é semelhante ao que
existiu entre ele e o seu avô?
Os meus primos são muito mais novos do
que eu. O Donny [Donald Trump Jr.] tem
menos 12 anos do que eu e a Ivanka tem
menos seis anos. Nunca conheci o Barron.
Ele é muito novo e tem de ser protegido,
gostava que as pessoas o deixassem em paz.
E não vejo a Tièany desde que ela tinha
quatro anos. Não cresci com eles.
Mas, do que fui observando, a relação
entre eles é semelhante, em alguns aspectos,
à relação do Donald com o meu avô. Vejo
que o relacionamento entre eles é
transaccional, gira sempre à volta daquilo
que cada um consegue obter dos outros. E
parece-me que os meus primos se tornaram
muito bons a perceber o que têm de fazer
para se manterem nas boas graças do
Donald.
Outra coisa que parece ser semelhante é
que o amor que o Donald tem por eles é
condicional, tal como o amor do meu avô
era condicional em relação aos Ælhos dele.
Ser Ælho do Fred Trump e não fazer o que
ele queria — tal como o meu pai tentou fazer,
sem sucesso, em grande parte graças aos
obstáculos que o meu avô lhe pôs no
caminho — signiÆcava ser-se posto de lado,
ser-se destruído. E os Ælhos do Donald
percebem isso.
Uma grande diferença é que o Donald é
narcisista de uma forma diferente do meu
avô. O meu avô era narcisista, mas estava
disposto a usar o Donald e a promovê-lo
para ter o tipo de fama e atenção que não
conseguia ter sozinho; e eu não estou a ver o
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 7
Donald a ser capaz de pôr qualquer um dos
seus Ælhos à sua frente. Ele não ia aguentar
deixar de ser o centro das atenções.
Um dos aspectos centrais do livro é a sua
tentativa de reabilitar a memória do seu
pai, afastando-o da imagem de homem
de negócios incompetente que não
conseguiu seguir as pisadas do seu avô e
que acabou por morrer muito cedo, aos
42 anos, com problemas de alcoolismo.
Em vez disso, apresenta-o como um ser
humano com inúmeras qualidades,
tanto profissionais como emocionais. De
que forma esse exercício a ajudou
também a si, não como a sobrinha do
Presidente Trump, mas como filha de
Fred Trump Jr.?
Eu queria que as pessoas percebessem que o
meu pai tinha toda a intenção de suceder ao
pai dele nos negócios, mas o meu avô
tornou isso impossível. Quando o meu pai
percebeu que não iria longe no império do
meu avô e que não tinha o respeito dele,
decidiu começar a viver a sua própria vida e
tornou-se piloto na aviação comercial, o que
em 1964 era algo com muito impacto. Era
muito mais difícil ser um piloto de aviões na
TWA do que ser um Ælho rico a ajudar a gerir
os negócios do pai.
Ao longo de décadas, Donald Trump foi
retratado nos media como um
multimilionário quase feito do nada e
que transformava em ouro tudo em que
tocava. Em 2018, o The New York Times
publicou uma investigação, que viria a
receber um Pulitzer, sobre esquemas
financeiros na sua família que mostram
uma realidade muito diferente. Você
admitiu que foi uma das principais
fontes dessa investigação. Na medida em
que isso está relacionado com a morte
do seu avô, em 1999, como viveu esse
período que levou ao seu afastamento —
e do seu irmão — do resto da família?
Fomos totalmente deserdados. Eu não sabia
isto até há dois anos, mas parece que o
império do meu avô valia quase mil milhões
de dólares [em 1999] e nós não recebemos
nada [num acordo extrajudicial, em 2001,
Mary L. Trump e o irmão, Frederick Trump
III, terão recebido uma pequena
percentagem da herança, correspondente a
uma fortuna de Fred Trump avaliada pelos
seus tios em apenas 30 milhões de dólares].
O meu pai morreu quando eu tinha 16
anos e os meus tios e tias não Æzeram
absolutamente nada para nos ajudar. E,
como eu já disse, o dinheiro é a única coisa
que importa nesta família, é a única coisa
que tem valor. Se somos deserdados, a
mensagem é que não contamos para nada e
que ninguém se importa connosco. É muito
difícil permanecer numa família que pensa
dessa forma sobre nós.
Um dos episódios mais impressionantes
que conta no livro é o momento em que
falou pela última vez com a sua avó. Ela
telefonou-lhe quando soube que você e o
seu irmão estavam a pensar em levar a
família a tribunal por causa da partilha
do império do seu avô. Conta que ela lhe
perguntou se sabia quanto é que o seu
pai — o primeiro filho dela — valia
financeiramente quando morreu, e que
a resposta foi “nada de nada”. Era assim
que ela se relacionava com o seu pai e
com os seus tios e tias durante o
crescimento deles?
Tenho de imaginar que era. A minha avó
nunca tinha falado comigo daquela forma, e
nós até éramos muito próximas c
8 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020
naquela altura. Diria que o que ela disse foi
uma bofetada, mas foi muito pior do que
isso. Foi um daqueles momentos nas nossas
vidas que fazem parar o tempo. Lembro-me
desse momento como se tivesse acontecido
há cinco segundos. Ficou marcado no meu
cérebro.
Muito tempo depois, quando Ænalmente
comecei a recordar aquele momento sem
desatar a chorar, percebi que esse
telefonema me deu muita informação sobre
que tipo de pessoa ela era, como teria sido
como mãe e como provavelmente nunca
apoiou o meu pai enquanto o meu avô o
tratava com desprezo e lhe negava a sua
personalidade. Foi um dos piores momentos
da minha vida.
Conta que em 2017, no tal jantar de
aniversário das suas tias na Casa Branca,
o seu tio ficou incomodado quando
alguém recordou uma antiga história de
família, com décadas, segundo a qual o
seu pai lhe despejou uma taça de puré
em cima da cabeça, em público. Em
2011, o seu tio foi alvo, também em
público, das piadas do então Presidente
dos Estados Unidos, Barack Obama, no
jantar anual dos correspondentes na
Casa Branca. Acha que isso teve
influência na decisão dele de se
candidatar à Casa Branca, como
especulam alguns comentadores
políticos?
Isso é o tipo de coisa que o Donald passou a
vida a tentar evitar. Não há nada que o faça
sentir pior do que a humilhação,
principalmente a humilhação em público.
Se isso foi o momento em que ele decidiu
candidatar-se, não sei; mas pode muito bem
ter sido o momento que o levou a decidir
desfazer tudo o que Barack Obama fez,
assim que ganhou as eleições.
Sinceramente, gostava que o Presidente
Obama não tivesse feito o que fez [no jantar
de 2011], porque não deveria ter dado tanta
atenção ao Donald. Isso deu-lhe um palco
que ele não deveria ter. Acho que foi um
erro e nada de bom saiu desse episódio.
Há quem diga que o seu tio é um génio
que toma decisões de forma racional,
ainda que essas decisões possam
desagradar aos críticos dele; e há quem
o descreva como uma pessoa ignorante
em muitos assuntos, incluindo nos
negócios, e incompetente para ser
Presidente. Depois de ler o seu livro,
fica-se com a sensação de que, para si, o
seu tio simplesmente não é capaz de agir
de uma forma diferente daquela com
que sempre se relacionou com o mundo.
Acha que há alguma coisa que o pode
fazer mudar?
O Donald não tem nenhuma estratégia nem
ideologia. Ou melhor, se tem alguma
estratégia, é a de saber que dividir a
população e criar o caos o beneÆcia, porque
muda o foco das atenções sobre outros
assuntos. Funciona como uma distracção. E
também sabe que isso não o incomoda e que
enfraquece toda a gente à volta dele.
A única coisa que pode mudar isso é
tirá-lo da Casa Branca. Ele não vai mudar
nunca. Continuo a Æcar pasmada com as
pessoas que acreditam que ele é inteligente
e que é um homem de negócios
bem-sucedido. Isso já foi desmentido várias
vezes. Quer dizer, ele tem actividade
cerebral, é perfeitamente capaz de perceber
as coisas. Mas é uma das pessoas mais
ignorantes que eu alguma vez conheci e não
tem nenhum interesse em aprender coisas
porque acha que sabe tudo. E isso é perigoso
e não vai mudar nunca. Nada vai mudar
nele, a não ser as circunstâncias em que ele
se encontrar; é por isso que temos de mudar
as circunstâncias.
O que diz isso sobre a política nos
Estados Unidos? Afinal, Donald Trump
derrotou 16 candidatos bem preparados
nas eleições primárias do Partido
Republicano em 2016, incluindo antigos
governadores e senadores; nas eleições
gerais, derrotou Hillary Clinton, de
quem os apoiantes diziam ser a
candidata às presidenciais mais bem
preparada de sempre; e chega a poucas
semanas de uma nova eleição com
hipóteses de ser reeleito...
Nenhuma pessoa como ele deveria poder
chegar a 100 anos-luz da Casa Branca. As
eleições primárias [de 2016] foram um
desastre e o Partido Republicano poderia ter
feito alguma coisa para evitar o que
aconteceu. Havia candidatos a mais e a
maioria deles manteve-se na corrida
demasiado tempo — foram dividindo votos
enquanto o Donald consolidava a ala racista
e supremacista branca do partido.
Tudo o que bastava era que o Partido
Republicano aprovasse uma regra que
obrigasse um candidato a divulgar as suas
declarações de impostos. E é de loucos que a
única pessoa em todo o Governo que não
precisa de ser escrutinada para obter uma
autorização de acesso a informação sensível
é a pessoa que está na Sala Oval. Deveria ser
obrigatório submeter um Presidente a esse
processo, e o Donald nunca passaria no
teste. Isto deveria dizer-nos algo sobre ele.
Afirma que a eventual reeleição de
“Para Donald,
Donald Trump, nas eleições de 3 de
Novembro, significará o fim da
democracia nos Estados Unidos. Se ele
perder, e se insistir em contestar o
resultado sem razões aparentes para
isso, há quem acredite que o Partido
Republicano se afastará dele. Acha que
esse é o último limite para os seus
apoiantes, ou há muito que esses limites
tudo o que era bom
já desapareceram?
Para eles, não existe nenhum limite. O
Partido Republicano, tal como está
actualmente constituído, não tem sentido de
era ainda melhor
em excesso”
decência nem de honra. Se eles sentirem
que é do interesse deles apoiar as queixas do
Donald, vão fazê-lo. Tudo se resume à
manutenção do poder pelo poder.
Se tudo correr bem em Novembro, e se
Joe Biden for eleito, o Partido Republicano
tem de ser desmantelado e reconstruído
porque, tal como está, não é um partido
político funcional que tenha em conta os
melhores interesses do país. Neste
Pré-publicação Nesta passagem de
momento, eles não se importam com a
democracia nos Estados Unidos, o que é
Demasiado e Nunca SuÄciente (Porto
assustador.
Vai apoiar o candidato do Partido
Editora, a partir de 1 de Outubro), a sobrinha
Democrata de forma activa?
Sim, tenho sido bastante transparente em de Donald Trump esmiúça os investimentos
relação a isso. Sou uma democrata liberal e
não votaria em nenhum outro republicano ruinosos do tio na construção de três
que se candidatasse contra Joe Biden, mas
esta eleição não tem que ver com partidos. casinos em Atlantic City e questiona o
Tem que ver com o futuro deste país e com
a sua alma, com aquilo que queremos ser silêncio dos media perante estes negócios.
enquanto povo. Não está relacionada com
nenhum outro aspecto. É por isso que os “Se os media podiam negar a realidade,
eleitores que se identiÆcam como
republicanos também deviam votar em Joe
Biden.
então ele também o podia fazer”
alexandre.martins@publico.pt Por Mary L. Trump

C
omo mais um indício da
inÇuência decrescente de
Fred, Donald comprou, em
1985, às cegas e por mais de
300 milhões de dólares, o
casino que viria a tornar-se o
Trump’s Castle, apenas um
ano depois de ter adquirido
o Harrah’s, que se transformou no Trump
Plaza.
Para Donald, tudo o que era bom era ainda
melhor em excesso. Como acreditava que
Atlantic City tinha um potencial ilimitado,
então dois casinos eram melhores do que
um.
Naquela altura, os empreendimentos de
Donald já acarretavam uma dívida de biliões
de dólares (em 1990, os seus encargos
pessoais disparariam para os 975 milhões de
dólares). Não obstante, nesse mesmo ano
comprou o Mar-a-Lago por oito milhões. Em
1988, adquiriu um iate por 29 milhões e, em
1989, a Eastern Air Lines Shuttle por 365
milhões. Em 1990, teve de emitir obrigações
de alto risco no valor de 700 milhões de
dólares, com uma taxa de juros de 14%, para
poder concluir a construção do seu terceiro
casino, o Taj Mahal.
Era como se o enorme volume de
compras, o valor das aquisições e a audácia
das transações Æzessem com que ninguém,
incluindo os bancos, prestasse atenção à
dívida que se estava a acumular a um ritmo
acelerado e à sua duvidosa visão de negócio.
Naquele tempo, o esquema de cores
preferido de Donald era vermelho, preto e
dourado, por isso sentia-se tão atraído pela
ostentação barata de Atlantic City como por
dinheiro fácil. AÆnal, a casa ganha sempre, e
quem tivesse dinheiro para investir tinha
boas probabilidades de se dar bem lá.
Atlantic City encontrava-se completamente
Um, dois, três
Donald Trump durante a
inauguração do seu terceiro
casino em Atlantic City, o Taj
Mahal, em 1989
fora da esfera de inÇuência de Fred, o que
também era apelativo para Donald. À
exceção dos avultados investimentos
Ænanceiros de Fred e de outros, gerir um
casino seria um negócio contínuo, ao
contrário do Grand Hyatt e da Trump Tower,
projetos de construção que acabavam por
ser geridos por outras entidades. Neste
sentido, teria sido a primeira oportunidade
de Donald ser bem-sucedido de forma
independente do pai.
Ter o seu próprio casino dava a Donald
uma tela de grandes proporções; podia
adaptar todo aquele mundo às suas
condições. E se ter um casino era bom, ter
dois seria melhor, e três melhor ainda. É
claro que os seus casinos competiam entre si
e acabariam por canibalizar o lucro uns dos
outros.
Por muito absurdo que fosse, o facto de ele
querer mais tinha uma certa lógica – aÆnal,
isto resultara para o pai. Mas Donald não
compreendia, e recusava-se a aprender, que
ser proprietário de casinos e geri-los era
consideravelmente diferente de possuir e
gerir propriedades em Brooklyn, do modelo
de negócio e do mercado à base de clientes e
às contas envolvidas.
Como não era capaz de ver esta distinção
Çagrante, para ele era fácil acreditar que, em
Atlantic City, mais era melhor, tal como o
fora para o meu avô nos bairros marginais de
Nova Iorque. Se um casino era uma galinha
dos ovos de ouro, três seriam todo um
galinheiro. Ele faria com os casinos o que
Fred Æzera com os edifícios de apartamentos.
A única parte deste cenário que desaÆa
qualquer explicação é o facto de os bancos e
investidores que Ænanciaram os primeiros
dois casinos não se terem oposto mais
veementemente à abertura de um terceiro, o
que reduziria os seus próprios lucros. Fazia
ainda menos sentido que conseguisse
encontrar alguém interessado em investir
nele. Uma simples vista de olhos aos
números – nomeadamente, aos juros do
empréstimo – deveria ter afugentado até os
credores mais imprudentes. Nos Ænais da
década de 80, ninguém dizia não a Donald,
legitimando assim mais um projeto
disparatado que tinha a vantagem
suplementar de incentivar o ego de um
homem que não tinha como levá-lo a bom
porto.
Em agosto desse ano [1990], foi publicado
o livro Surviving at the Top e, algumas
semanas mais tarde, tornou-se evidente que
o tema do livro e o momento da publicação
eram maus o suÆciente para serem
considerados uma paródia.
Em junho de 1990, Donald não conseguiu
fazer um pagamento de 43 milhões de
dólares pelo Trump’s Castle. Seis meses
depois, o meu avô mandou ao Castle um
motorista com mais de três milhões de
dólares em dinheiro para comprar Æchas.
Por outras palavras, comprou as Æchas sem
ter qualquer intenção de as usar. O motorista
limitou-se a guardá-las numa mala e a sair do
casino. Nem isso foi suÆciente. No dia
seguinte, o meu avô transferiu mais 150 mil
dólares para o Castle, supostamente para
mais Æchas.
Embora estas manobras tenham ajudado
temporariamente, o resultado foi que o meu
avô teve de pagar uma multa de 30 mil
dólares por ter infringido uma regra da
comissão de jogos que proibia fontes
Ænanceiras não autorizadas de emprestar
dinheiro a casinos. Se quisesse continuar a
emprestar dinheiro a Donald para impedir os
casinos de se afundarem (e fê-lo), teria
também de obter uma licença de jogo em
Nova Jérsia.
Mas era demasiado tarde. Donald até
podia deter 30% da quota de mercado de
Atlantic City, mas o Taj estava a impedir que
os outros dois casinos Æzessem dinheiro (o
Plaza e o Castle perderam, em conjunto, um
total de 58 milhões de dólares no ano em que
o Taj foi inaugurado), as três propriedades
acarretavam uma dívida anual de 58 milhões
de dólares, e só o Taj precisava de arrecadar
mais de um milhão de dólares por dia para
cobrir as despesas.
Os bancos estavam a sangrar dinheiro. Ao
mesmo tempo que o Taj abria as suas portas,
Donald reunia-se com os seus credores para
tentarem encontrar uma forma de refrear e
gerir os gastos que ele fazia. A possibilidade
de incumprimento dos pagamentos e de
mais falências continuava iminente, pelo que
era necessário encontrar uma solução que
protegesse a imagem de Donald, o que, por
sua vez, protegeria o dinheiro dos bancos.
Sem a fachada de êxito e conÆança que ele
projetava (e que outros projetavam por ele),
os banqueiros temiam que as propriedades
de Donald, que já se encontravam em maus
lençóis, perdessem ainda mais valor. O
atrativo era o seu apelido: sem ele não
haveria novos jogadores, inquilinos ou
pessoas dispostas a comprar obrigações, e,
portanto, não haveria novas receitas.
Além de lhe terem adiantado o dinheiro
para cobrir as despesas operacionais dos
seus negócios, em maio de 1990 os bancos
chegaram a um acordo com ele,
disponibilizando-lhe apenas 450 mil dólares
por mês – ou seja, 5,5 milhões por ano por
ter falhado miseravelmente. Esta quantia
destinava-se somente às despesas pessoais: o
apartamento triplex na Trump Tower, o jato
privado, a hipoteca de Mar-a-Lago. Para
poder vender a sua imagem, Donald
precisava de continuar a ter o estilo de vida
que a alimentava.
Para que os bancos pudessem controlá-lo,
Donald tinha de se reunir com eles todas as
sextas-feiras para os informar dos seus
gastos, bem como do progresso da venda de
bens, tais como o iate. Em 1990, não havia
como negar o quão grave era a situação. Por
muito que Donald se queixasse a Robert de
A elite de Nova
Iorque nunca o
aceitaria como
outra coisa senão o
bobo da corte de
Queens
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 9
que os bancos o estavam a “matar”, a
verdade é que estava em dívida para com
eles como nunca estivera para com o pai:
nunca tinha estado preso a ninguém, muito
menos com rédea curta, e isto irritava-o. Era
legalmente obrigado a pagar o que devia aos
bancos e haveria consequências, se não o
Æzesse. Pelo menos, deveria ter havido.
Apesar das restrições, Donald continuou a
gastar dinheiro que não tinha, incluindo os
250 mil dólares do anel de noivado de Marla
e os 10 milhões para Ivana que faziam parte
das condições do acordo de divórcio. Não
creio que alguma vez lhe tenha ocorrido que
não podia gastar o que quisesse,
independentemente das circunstâncias. Os
bancos repreenderam-no por ter violado o
acordo, mas nunca tomaram nenhuma
medida contra ele, o que só reforçou a sua
crença de que podia fazer o que quisesse,
como sempre tinha feito.
De certo modo, não podemos na verdade
culpar Donald. Em Atlantic City, ele
libertara-se da necessidade de aprovação ou
permissão do pai. Já não precisava de se
gabar: a avaliação exagerada que fazia de si
mesmo era, simultaneamente, alimentada e
validada pelos bancos que lhe estavam a
atirar centenas de milhões de dólares e pelos
meios de comunicação que lhe
prodigalizavam atenção e elogios
injustiÆcados. Os dois combinados
tornaram-no cego à gravidade da situação.
Os mitos do meu avô sobre Donald estavam
agora a ser reforçados pelo mundo em geral.
Independentemente de quem os estava a
difundir, não deixavam de ser mitos. Donald
continuava a ser, essencialmente, uma
construção de Fred. Agora pertencia aos
bancos e aos meios de comunicação. Era, ao
mesmo tempo, capacitado por eles e
dependente deles, tal como fora dependente
de Fred. Ele tinha um certo charme
superÆcial, para não dizer carisma, que
atraía determinadas pessoas. Quando a sua
habilidade para seduzir encontrava uma
barreira, ele recorria a outra “estratégia de
negócios”: fazia birras em que ameaçava
levar à falência ou arruinar quem não o
deixasse ter o que ele queria. Em qualquer
dos casos, ele ganhava.
Donald era bem-sucedido porque era um
êxito. Esta era uma premissa que ignorava
uma realidade fundamental: ele não tinha
alcançado nem era capaz de alcançar aquilo
por que lhe davam crédito.
Não obstante, o seu ego, agora à solta,
tinha de ser continuamente alimentado, não
apenas pela família, mas por todos os que se
deparassem com ele.
A elite de Nova Iorque nunca o aceitaria
como outra coisa senão o bobo da corte de
Queens, mas também validava as pretensões
dele e a imagem grandiosa que tinha de si
mesmo ao convidá-lo para as suas festas e
permitir-lhe que frequentasse os seus locais
favoritos (como o Le Club).
Quanto mais espetáculo os nova-iorquinos
queriam, mais os meios de comunicação
estavam dispostos a dar-lho — ainda que em
detrimento de histórias mais importantes e
substanciais. Para quê aborrecê-los com
artigos difíceis de seguir sobre as suas
complicadas transações bancárias? As
distrações e truques beneÆciaram
enormemente Donald, dando-lhe
exatamente aquilo que ele queria: a adulação
dos meios de comunicação, que se focavam
no seu divórcio devasso e na sua alegada
proeza sexual. Se os media podiam negar a
realidade, então ele também o podia fazer.
10 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020

Esta é a primeira de cinco partes de uma série sobre uma viagem pelo arquipélago
e pela história cultural do Japão. Cada ensaio explora diferentes paisagens e
intervalos históricos marcados por obras e autores cruciais para definir a memória
cultural desse território. Cada ensaio tem uma componente fotográfica, cujas
imagens expandem a constelação de associações apresentadas no texto.
Decidimos utilizar o título Primavera Tardia em homenagem à obra de Yasujiro
Ozu, e por termos viajado em Junho — o incrível mês da chuva — na transição
entre a Primavera e o início do Verão de 2019, num mundo pré-apocalíptico em
que a pandemia ainda era uma ameaça distante.

Visões
do futuro
Tecno-
distopias
de Tóquio S
Utopias metabolistas
aímos da linha de metro Hibiya
em Higashi Ginza e
caminhamos para oeste ao
longo das ruas de traçado
regular de shitamachi — a zona
baixa de Tóquio. Gradualmente
o topo ferrugento e o perÆl
irregular da Nakagin Capsule
Tower (1972), desenhada por Kisho
Primavera Tardia Ensaio Uma viagem Kurokawa, começa a separar-se do resto do
contexto urbano. À medida que nos
de um modo orgânico ao longo do tempo,
consoante novas necessidades funcionais,
tecnológicas e sociais. Em Nakagin o
princípio metabolista consistia na
possibilidade de cada cápsula poder ser
substituída regularmente — como se fosse
uma peça de um enorme Lego —, algo que,
apesar de planeado, nunca chegou a
acontecer.
Da rua notamos que muitas das cápsulas
mostram através dos seus óculos os detritos
acumulados ao longo de décadas de
abandono, ao mesmo tempo que outras

pelas ruas e ilhas de Tóquio, onde aproximamos, notamos que a torre está
envolvida por uma rede, como se tivesse
sido arrastada do fundo da baía de Tóquio ao
arquitectos, cineastas e escritores Æm de anos debaixo de água. Vêem-se tubos
Çexíveis que descem ao longo da torre a
encenaram as suas visões de um futuro partir de várias dezenas de cápsulas ligadas a
um núcleo central de 11 andares. Cada uma
entre o sonho e a catástrofe. Tange, das 140 cápsulas é um paralelepípedo (2,5 x
2,5 x 4 metros) pré-fabricado em aço, com
Murakami, Oshima, Otomo e Shinohara. um enorme óculo num dos lados, que
originalmente servia de habitação
Lugares que revelam a metrópole como temporária para os salaryman nos dias em
que não podiam regressar à sua casa nos
um laboratório de utopias e distopias subúrbios de Tóquio.
Nakagin é talvez a mais icónica obra dos
metabolistas, um grupo de jovens
arquitectos japoneses que, nas décadas de
Por Eliana Sousa Santos texto 1960 e 70, apresentaram propostas radicais
para edifícios e espaços urbanos, cuja ideia
Tiago Silva Nunes texto e fotografia central era a possibilidade de se adaptarem
foram renovadas e são utilizadas como
pequenos escritórios ou apartamentos de
Æm-de-semana. Apesar de ser um ícone da
arquitectura japonesa do pós-guerra,
existem planos para a sua demolição e um
grupo de activistas está a organizar uma
campanha para salvar Nakagin, Ænanciada
através da organização de visitas guiadas e
publicações.
No interior de uma das cápsulas vemos o
mobiliário e o equipamento Sony originais,
assim como a engenhosa mesa desdobrável,
em dez metros quadrados onde só cabem
uma cama e uma casa de banho, uma janela
circular e uma televisão, tudo ultrafuncional
e confortável — a versão arquitectónica do
walkman. Seria admirável que a campanha
para salvar Nakagin tivesse sucesso. No
entanto, é irónico que, para isso, se tenha de
transformar um edifício metabolista — logo

em constante transformação — num
monumento, rígido e cristalizado no tempo.
Voltamos para a linha Hibiya e emergimos
em Roppongi, sob uma das muitas
auto-estradas elevadas que atravessam
Tóquio e que aqui ensombra uma avenida de
edifícios altos cobertos por anúncios
publicitários. Viramos numa perpendicular e
subitamente — numa transição urbana e
espacial abrupta que é comum em Tóquio —
estamos numa pequena rua calma, onde por
cima dos muros se adivinham escolas
privadas, embaixadas e museus, ocupando
lotes urbanos cuja escala só resiste em áreas
onde, no período Edo, havia residências de
samurai. Paramos em frente de um muro no
qual está inscrito The International House of
Japan (I-House), um edifício modernista
escondido num grande jardim, que foi
Ænanciado pela Rockefeller Foundation em
1955, três anos após o Æm da ocupação
americana, e desenhado por um grupo de
arquitectos que tinham trabalhado com Le
Corbusier em Paris — Kunio Maekawa, Junzo
Sakakura e Junzo Yoshimura.
Passamos as portas de vidro e
sentamo-nos nas cadeiras confortáveis ao
lado da biblioteca — a olhar para o jardim e
para as árvores impecavelmente podadas —
onde os metabolistas se reuniram em 1960
para preparar o seu livro-manifesto,
Metabolism: The Proposals for a New
Urbanism, apresentado na World Design
Conference (WoDeCo) de Tóquio, em Maio
desse ano.
A maioria dos metabolistas tinha estudado
no Tange Lab da Universidade de Tóquio
com Kenzo Tange — o mais importante
arquitecto japonês do pós-guerra. Nos meses
que precederam a WoDeCo, Tange leccionou
um semestre nos EUA, tendo desenvolvido o
Boston Harbor Plan com alunos do MIT — um
exercício que foi um laboratório
experimental para o Plan for Tokyo 1960, um
plano urbano radical e utópico que se
estendia pela baía de Tóquio, que Tange
apresentou durante uma emissão televisiva
de uma hora na NHK, a 1 de Janeiro de 1961 —
num momento em que os protestos
estudantis, de Maio e Junho de 1960, contra
a ratiÆcação do Tratado de Cooperação e
Segurança (Anpo Joyaku) entre o Japão e os
Estados Unidos, dividiam a sociedade
japonesa.
Deixamos o jardim da I-House com
relutância e voltamos à linha Hibiya. Saímos
na estação de Ebisu em yamanote — a zona
alta de Tóquio — onde, ao contrário de
shitamachi, não existem quarteirões com
traçados rectos, mas ruas orgânicas que
seguem a topograÆa e os limites das antigas
propriedades dos senhores feudais do
período Edo. Caminhamos por pequenas
ruas secundárias até Daikanyama (yama,
como em yamanote, signiÆca “montanha”)
onde vemos o perÆl discreto da primeira fase
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 11
Radicalismo e austeridade
À esquerda, pormenor da Nakagin Capsule
Tower (1972), de Kisho Kurokawa. Nakagin
é talvez a mais icónica obra dos
metabolistas, um grupo de jovens
arquitectos japoneses que, nas décadas de
1960 e 70, apresentaram propostas
radicais para edifícios e espaços urbanos.
Em baixo, campus de Toyama da
Universidade de Waseda, onde fica a
Faculdade de Letras. Aqui sucedem-se os
edifícios austeros do pós-guerra
de Hillside Terrace, o projecto que Fumihiko
Maki — outro jovem metabolista — começou
nesta rua em 1969, a convite dos
proprietários desta área, a família Asakura.
Atrás de Hillside ainda se vê o perÆl curvo do
telhado da antiga residência de Torajiro
Asakura que sobreviveu ao terramoto de
À medida que nos 1923, aos bombardeamentos de 1945 e ao
crescimento urbano dos anos 1980.
aproximamos, Ao caminhar por Hillside, vemos um
conjunto de edifícios cinzentos claros dentro
notamos que do cânone formal modernista, todos
diferentes mas semelhantes, adaptados ao
Nakagin está contexto topográÆco e à escala humana,
como numa pequena vila no Mediterrâneo.
envolvida por Depois do Tange Lab, Maki continuou os
seus estudos e carreira nos EUA, e a partir de
uma rede, como se 1958 passou vários anos a investigar cidades
por todo o mundo. A versão do metabolismo
proposta por Maki em Investigations in
tivesse sido Collective Form (1964) — group form — é mais
subtil, discreta e Çexível do que a de Tange e
arrastada do Kurokawa — megastructure — e, apesar de
não ter a intensidade formal, nem a clareza
fundo da baía icónica de Nakagin, a soÆsticação e subtileza
compositiva de Hillside fazem com que seja
de Tóquio ao fim de ainda hoje um dos lugares mais elegantes,
confortáveis e comunais de Tóquio.
anos debaixo
Norwegian Wood
de água Na manhã seguinte, subimos a alameda de
cedros do campus de Toyama da
Universidade de Waseda, onde Æca a
Faculdade de Letras, e vagueamos pelos
edifícios austeros do pós-guerra até
descobrir um jardim elegante com um
pequeno lago rodeado pelos lírios da
Primavera tardia — hanashobu (Iris ensata). O
campus está deserto, até que pelas nove
horas os primeiros estudantes chegam
sozinhos com o olhar introspectivo e c
12 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020
ausente de Toru Watanabe, o estudante de
letras de Norwegian Wood (1987) — a obra de
Haruki Murakami cujo título evoca a canção
homónima dos Beatles que começa com os
versos “I once had a girl / Or should I say, she
once had me.” Toru é um jovem assombrado
pelo passado, dividido entre a ausência
espectral de Naoko, uma amiga do liceu em
Osaka, e a energia alegre de Midori, uma
nova colega de Waseda.
Deixamos Toyama e seguimos uma longa
Æla de estudantes que saem do metro até ao
campus central da universidade, onde
passamos rapidamente sob as árvores
monumentais que enquadram os edifícios
imponentes das faculdades de Direito e
Economia. Quando chegamos ao rio Kanda,
reconhecemos a sua curva em Sekiguchi —
representada numa das One Hundred Famous
Views of Edo (1857) de Utagawa Hiroshige — e
a escada longa e íngreme que permite subir a
colina de Tsubakiyama. No topo
encontramos os edifícios tristes e sombrios
de Wakeijuku, o dormitório universitário
onde Toru lia “John Updike [e] Scott
Fitzgerald” — o que “não era algo que se
pudesse fazer em 1968,” devido ao
sentimento antiamericano dos protestos
estudantis —, enquanto no jardim todos os
dias ao nascer do sol alguém içava a bandeira
japonesa ao som do hino nacional que
ecoava de um rádio Sony. Entre as folhas da
zelkova, vemos a cobertura e recordamos a
noite em que Toru libertou um pirilampo na
“escuridão pálida, que desenhou um arco
veloz […] como se tentasse trazer de volta
um intervalo perdido no tempo,” enquanto
o seu olhar vagueava sobre “as luzes de
Shinjuku [que] brilhavam à direita e de
Ikebukuro à esquerda”.
Seguimos o curso do rio Kanda em
direcção a sul para acompanhar uma das
deambulações errantes de Toru e Naoko em Shinjuku como palco jardim do clã Maeda — o lago, construído em
Norwegian Wood. Viramos “à direita em Em cima, rampas que fazem a 1638, no início do período Edo, foi mais
Iidabashi,” passamos pelas livrarias do ligação à praça da saída oeste da tarde renomeado Sanshiro, em homenagem
“cruzamento em Jinbocho,” com os seus Estação de Shinjuku, um dos palcos à obra de Soseki. Olhamos em volta para as
livros protegidos da chuva por plásticos dos protestos de 1969. Em baixo, paredes altas de vegetação no coração da
transparentes, “subimos as colinas em dupla página do livro Shinjuku, de universidade e parece-nos um lugar
Ochanomizu” e paramos em frente da Hitomi Watanabe separado do mundo e separado do tempo, e,
Akamon (1827) — a porta vermelha — do
campus de Hongo da Universidade de
Tóquio, que se estende por toda a área do
que, até 1877, era a propriedade do clã
Maeda na capital — os detentores do maior
domínio feudal do período Edo.
Ao passarmos pela Seimon (1912) — a porta
principal —, lembramo-nos de que
Norwegian Wood tem como modelo e
antecedente literário Sanshiro (1910) de
Natsume Soseki. São duas obras
semiautobiográÆcas, que documentam a
solidão de um jovem que vem do Sul do
Japão para estudar em Tóquio, em que se
lança um olhar crítico sobre a inÇexibilidade
da estrutura social japonesa, assim como se
revela uma profunda admiração pelas
culturas europeia e americana.
Caminhamos sob a “dupla Æla de gingkos,”
que coroavam Sanshiro de amarelo no
Outono, mas em Junho nos envolvem de
verde e nos protegem da chuva que cai sobre
o pavimento reluzente. Abrigamo-nos sob os
“arcos em ogiva” dos edifícios neogóticos do
Departamento de Letras, que evocam os
campus universitários ingleses, onde Soseki
estudou depois de deixar a Universidade de
Tóquio. Descemos um caminho até
encontrar uma passagem escondida por
árvores centenárias, e, ao percorrer os
degraus de uma escada estreita, vemos
gradualmente a superfície de um lago
perfurada pela chuva intensa, onde tudo é
verde e brilhante, as folhas, a água, as
pedras, como se tivéssemos regressado ao

tal como Sanshiro aqui, não pensamos mais
“sobre eléctricos, ou Tóquio, ou o Japão,
[pois] a impressão de algo distante e remoto
tinha tomado o seu lugar”.
Ao sairmos do espaço contido do lago,
subimos um trilho até ver o perÆl do
Auditório Yasuda (1925) e lembramo-nos das
imagens de Hitomi Watanabe em Tokyo
University 1968-69 (2015), que documentam
os vários meses da ocupação estudantil de
1968 até à intervenção brutal da polícia para
desmantelar as barricadas, em Janeiro de
1969. Em Norwegian Wood, Toru não
participa nestes eventos, mantendo uma
posição de distanciamento, porque olha com
desconforto para os líderes dos protestos,
pois estes, quando são “Ænalistas, cortam o
cabelo e marcham obedientemente para a
Mitsubishi”.
Deixamos a Universidade de Tóquio, e,
sob os chapéus de chuva transparentes,
“caminhamos em frente, como se andar
fosse um ritual religioso para recuperar o
nosso ânimo,” até ao lugar onde termina o
passeio de Toru com Naoko. “Quando
chegámos a Komagome, o sol afundava-se e
o dia tinha-se transformado numa suave
noite de Primavera.” Por cima do muro,
vemos o contorno das árvores do Rikugi-en
(1695), um dos mais célebres jardins do
período Edo, restaurado em 1878 pelo
fundador da Mitsubishi.
Entramos na linha circular Yamanote,
vemos os bairros de Otsuka e Ikebukuro a
passar numa névoa luminosa através das
janelas do comboio, até que emergimos
dentro do labirinto urbano da estação de
Shinjuku. Caminhamos pelas ruas do lado
este da estação entre centenas de pessoas
com chapéus de chuva que se movem como
um grupo de animais marinhos
Çuorescentes e onde as luzes que brilham na
superfície dos edifícios lembram as imagens
de Blade Runner (1982) de Ridley Scott.
Lembramo-nos de que Toru trabalhava
numa loja de discos em Shinjuku e
decidimos ir de Disk Union em Disk Union —
um conjunto de espaços espalhados por
estas ruas com uma vasta colecção de LP de
vinil — até chegar à Kinokuniya Books (1964),
uma livraria que ocupa todos os nove pisos
de um majestoso edifício desenhado por
Kunio Maekawa — um dos arquitectos da
I-House.
Ao percorrer esta livraria saída de um
Ælme — com uma sucessão interminável de
estantes cobertas de capas salpicadas com
caracteres kanji —, imaginamos Midori, a
nova amiga de Toru, a percorrer os seus
corredores intermináveis, enquanto pensava
no que os colegas de liceu lhe tinham dito,
que “poderia ler todos os livros que
quisesse,” pois quando viram “proprietário
de livraria” como “proÆssão do pai” nos
formulários da escola, só conseguiram
imaginar que fosse o dono de “uma livraria
enorme como a Kinokuniya,” em vez da
pequena loja de revistas de “Kita-Otsuka em
Toshima, onde vivia”.
Diários de Shinjuku
Descemos os nove andares de escadas da
Kinokuniya Books à procura dos degraus
onde Torio e Umeko se encontravam em
Diary of a Shinjuku Thief (1968) de Nagisa
Oshima, um Ælme que acompanha dois
jovens — que podiam ser colegas de Toru e
Midori de Norwegian Wood — mergulhados
no caos cultural e político do Ænal da década
de 1960 em Tóquio, ao mesmo tempo que
regista a contracultura de Shinjuku,
documenta os protestos estudantis desse
ano e revela a inÇuência dos Beatles nessa
Fortaleza impenetrável
À esquerda, Tokyo Metropolitan
Government (1988), de Kenzo Tange,
uma fortaleza impenetrável revestida
por uma superfície semelhante a um
microprocessador, com um
panóptico metropolitano no topo,
que nos lembra o laboratório militar
liderado pelo coronel Shikishima da
BD Akira (em baixo), de Katsuhiro
Otomo
A revista Provoke
revelou as visões de
uma geração
abandonada entre
os detritos deixados
pela ocupação
americana, numa
cidade
fragmentada entre
o comercialismo
e a tradição
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 13
geração. Ao entrar e sair em cada piso, ao
vaguear entre as estantes desertas numa
procura sonâmbula povoada de imagens e
de memórias do Ælme, o espaço começa a
adquirir uma dimensão fantasmática que
gradualmente se substitui à realidade.
Quando chegamos ao piso térreo, saímos
para a noite brilhante de Shinjuku, mas não
encontramos consolo na Çuorescência
sedutora e ameaçadora que nos invade de
todas as direcções.
Percorremos as ura-dori (ruas
secundárias) de Shinjuku, salpicadas de
bares e clubes de jazz, e, como Torio e
Umeko, vagueamos sem destino na solidão
da paisagem urbana, até que paramos em
frente de uma torii (entrada para o recinto
de um santuário shinto) esquecida num
intervalo estreito entre dois edifícios altos.
Passamos sob a torii com circunspecção e
seguimos o caminho sombrio sob as árvores
cujas copas tentam escalar os edifícios que
as conÆnam. Quando paramos em frente do
honden (altar principal), vemos o céu
cristalino, e, sob as árvores distantes, um
clarão vermelho. À medida que nos
aproximamos, reconhecemos a estrutura
improvisada da tenda vermelha do grupo de
teatro experimental de Juro Kara no
santuário de Hanazono, onde termina a
acção de Diary of a Shinjuku Thief. Hoje
lembramos com surpresa este encontro —
tão improvável como impossível de ignorar
— como um vestígio de uma outra era,
quando Shinjuku era o centro da cultura
experimental de Tóquio, em vez de uma
vasta área comercial iluminada por néones.
Na manhã seguinte, passamos em frente
do Isetan — o mais antigo depato (armazém
comercial) de Shinjuku — e lembramo-nos do
lugar onde Hitomi Watanabe fotografava os
tumultos de Shinjuku de Outubro de 1968,
quando “um homem que estava ao [seu]
lado se virou e disse: ‘A polícia avançou
primeiro, não?’ E, olhando melhor, [ela se
apercebeu] que era Nagisa Oshima”.
Seguimos o percurso desse protesto pelas
ruas desertas até à estação de Shinjuku, e
atravessamos do lado este para oeste da
estação numa maratona de vários níveis,
passagens subterrâneas, centros comerciais
e linhas de comboio. Apesar de ser
Æm-de-semana, a maior parte das pessoas
vai pelo túnel que está ligado directamente
às torres de escritórios das keiretsu japonesas
— como a Mitsui e a Sumitomo — num Hades
interminável povoado de orfeus de fato e
gravata, enquanto nós saímos na Shinjuku
Nishiguchi Hiroba (praça da saída oeste da
Estação de Shinjuku) de Junzo Sakakura —
um dos arquitectos da I-House —, um vasto
espaço subterrâneo aberto para o céu, ligado
por duas elegantes e monumentais rampas
curvas, inaugurado pouco antes dos
protestos de 1968.
Hoje, estas rampas são utilizadas por
carros, mas nessa altura foram
transformadas num espaço público de
discussão e permanência — um tipo de lugar
quase inexistente em Tóquio — que foi o
palco de ocupações e performances das folk
guerrillas, durante todos os sábados entre
Fevereiro e Julho de 1969. As imagens do
último destes encontros, em 12 de Julho,
mostram mais de sete mil pessoas a ocupar a
praça e as rampas, numa assembleia popular
raramente vista, o que levou as autoridades a
alterar o nome deste espaço de hiroba
(praça) para tsuro (passagem), criando assim
um enquadramento legal para a polícia
poder dispersar a multidão pacíÆca c
14 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020
passados poucos dias. À superfície,
descobrimos o lugar onde Watanabe
fotografou uma rapariga de cabelo rapado
em frente das duas rampas, com uma
expressão de desaÆo e independência, onde
foi “empurrada com a multidão, [e] a guerra
no Vietname e as suas consequências se
tornaram uma realidade tangível que sofreu
com o [seu] corpo,” como escreve no
posfácio de 1968 Shinjuku (2014).
Permanecemos algum tempo a olhar para
esta praça subterrânea a ver as pessoas a
passar num movimento contínuo e
lembramo-nos de uma fotograÆa de Yutaka
Takanashi — publicada em Towards the City &
Notebook People of Tokyo (1974) — onde, no
meio de uma multidão, uma mulher de
kimono, uma rapariga de casaco e uma
criança de uniforme escolar descem uma das
rampas que vemos. Takanashi fazia parte de
um grupo de jovens fotógrafos — com
Takuma Nakahira e Koji Taki, aos quais se
juntaria mais tarde Daido Moriyama — que
lançaram uma provocação estética e política
através de uma revista-manifesto, a Provoke:
Provocative Materials for Thought (1968-69),
porque vivendo “num mundo em que as
palavras perderam as suas fundações
materiais e se desligaram da realidade,”
aquilo que eles “podiam fazer, tinham de
fazer, era captar com os seus próprios olhos
aqueles fragmentos da realidade que eram
totalmente impossíveis de captar através de
palavras”.
O grupo da Provoke revelou as visões de
uma geração abandonada entre os detritos
deixados pela ocupação americana, numa
cidade fragmentada entre o comercialismo
grotesco e uma tradição que tinha perdido
toda a autoridade. Nakahira interroga-se no
posfácio do primeiro número da revista
sobre “como a Provoke irá mudar dentro do
processo histórico e o que lhe irá acontecer
quando os anos 1970 passarem”. A revista
acabou ao Æm de três números, mas
revolucionou a fotograÆa no Japão e foi o
motor que conduziu à publicação de um
conjunto de livros que se tornariam muito
inÇuentes — For a Language to Come (1970),
de Nakahira, e Bye Bye Photography (1972) de
Moriyama — nas décadas seguintes.
Panópticos metropolitanos
Deixamos a hiroba e caminhamos por um
labirinto de pequenas ruas comerciais sob a
chuva leve, até que entre os sinais luminosos
se revela o perÆl majestoso e bizantino do
Tokyo Metropolitan Government (1988) de
Kenzo Tange, o arquitecto que já tinha
desenhado os principais projectos
simbólicos do novo Estado japonês do
pós-guerra — o Peace Memorial Park (1955)
em Hiroxima e o Yoyogi National
Gymnasium (1964) para os Jogos Olímpicos
de Tóquio. Visto da Citizen’s Plaza parece
uma fortaleza impenetrável revestida por
uma superfície semelhante a um
microprocessador, com um panóptico
metropolitano no topo — dois observatórios
que quase tocam as nuvens — que nos
lembra o laboratório militar liderado pelo
coronel Shikishima da manga (banda
desenhada) Akira (1982-89), de Katsuhiro
Otomo.
Os seis volumes de Akira mostram Tóquio
num futuro pós-apocalíptico no ano de 2019
— tal como no mundo Æccional de Blade
Runner, outra obra de 1982 —, três décadas
depois de a cidade ter sido destruída por
uma explosão nuclear de origem
desconhecida. Durante esse tempo, a cidade
foi gradualmente reconstruída em ilhas
artiÆciais sobre a baía de Tóquio como
Neo-Tokyo — uma Æcção que tem como
modelo o Plan for Tokyo 1960, que Tange
apresentara na televisão em 1961 —,
enquanto Old Tokyo permaneceu em ruínas
com acesso restrito por causa da
radioactividade. No primeiro volume de
Akira, Neo-Tokyo prepara-se para receber os
XXXII Jogos Olímpicos em 2020 — uma
coincidência surpreendente que foi alterada
pelo adiamento dos Jogos Olímpicos devido
à actual pandemia —, apesar do
descontentamento com o governo, a crise
económica e as ameaças de ataques
terroristas.
Subimos mais de 50 andares até ao
observatório sul do Tokyo Metropolitan
Government e vemos a cidade estender-se
sem limite em todas as direcções, até que os
edifícios mais distantes se dissolvem na
neblina. Das janelas do lado este, vemos a
área de construção do novo Estádio
Olímpico (2020) de Kengo Kuma — que na
história esconde a câmara criogénica de
Akira — e as torres distantes de Marunouchi,
atrás das quais se estende a vasta área plana
de shitamachi e o rio Sumida. Do lado sul
identiÆcamos o perÆl escultórico do Yoyogi
National Gymnasium — que na manga foi
transformado no templo de Lady Miyako — e
as torres de Shibuya, atrás das quais se
estendem as colinas de yamanote e as ilhas
artiÆciais que salpicam a baía de Tóquio. Tal
como numa das vistas aéreas sobre
Neo-Tokyo de Akira, não só reconhecemos o
imaginário metabolista na cidade, mas
parece que as páginas da manga se abrem à um ou dois edifícios, só o curso do rio esfera suspensa no vigésimo andar, vemos a
nossa frente. Sumida até à baía de Tóquio é reconhecível. norte a foz do Sumida e a vasta área que foi
Deixamos o Tokyo Metropolitan Se uma destruição tão absoluta, tão total, destruída em Março de 1945, de Koto a Taito,
Government e atravessamos a cidade de permanece incompreensível, conseguimos e lembramo-nos com estupefacção e horror
comboio em direcção a este até começar a perceber a ansiedade e a obsessão de que a origem do Plan for Tokyo 1960 de
atravessarmos o rio Sumida, e, ao sairmos na de Otomo com a representação da catástrofe Tange foi o plano Yamato (1958), de Hisaakira
plataforma em Ryogoku, vemos o perÆl urbana de Tóquio ao longo dos seis volumes Kano, o director da Japan Housing
pixelizado do Museu Edo-Tokyo (1993) de de Akira, em que Old Tokyo e Neo-Tokyo são Corporation, que propunha um vasto aterro
Kiyonori Kikutake — um dos metabolistas — repetidamente destruídas, naquelas que são “utilizando uma bomba atómica para
como se um space invader do jogo Supesu talvez as páginas mais assustadoras e destruir uma montanha,” e assim gerar “a
Inbeda (1978) tivesse saído do computador fascinantes da série. terra necessária para encher [a baía de
Atari e aterrado sobre a paisagem plana de Apanhamos a linha de metro Oedo para Tóquio].” Como escreve Rem Koolhaas em
Sumida. Mesmo no centro de shitamachi, sul até Shiodome e mudamos para o Project Japan: Metabolist Talks (2009), pouco
esta era a área onde, até à II Guerra Mundial, Yurikamome — um comboio cujas linhas mais de uma década depois de Hiroxima,
se concentravam as nagaya (becos) com as elevadas ligam as ilhas artiÆciais da baía de “Kano imagina a bomba atómica como uma
lojas e as casas dos artesãos e mercadores, Tóquio. Através da janela vemos o jardim ferramenta para criar uma cidade, em vez de
numa vasta zona de pântanos que, tendo Hama-rikyu, onde era o início do Hibiya Irie, a destruir”. Tóquio, em Akira e na realidade,
sido reclamada à baía de Tóquio durante o um canal natural que se estendia desde a revela-se a cidade do excesso e da ansiedade
período Edo, era frequentemente inundada baía até às portas do castelo de Edo, que existencial, um sonho tecnológico marcado
pelo rio. Ieyasu Tokugawa — o primeiro shogun — fez pelo trauma das catástrofes que pontuaram
Caminhamos pela sombra do Museu desaparecer em 1592 sob um aterro que a sua história.
Edo-Tokyo até ao parque de Yokoamicho, arrasou a colina de Kanda, inaugurando um
onde vemos o exterior tradicional do Tokyo longo processo de criação de aterros e ilhas
Superfícies brilhantes
Memorial Hall (1930) de Chuta Ito — o mais artiÆciais que continua até hoje.
inÇuente arquitecto do Japão imperial —, um Ao atravessar a Rainbow Bridge, Na manhã seguinte emergimos do metro em
enorme mausoléu que marca o lugar onde lembramo-nos das páginas iniciais do Aoyama-dori — a avenida que atravessa um
dezenas de milhares de pessoas morreram primeiro volume de Akira — em que Tetsuo, dos bairros mais aÇuentes de Tóquio,
na noite de 1 de Setembro de 1923, durante o Kaneda e o seu gang atravessam de mota a Aoyama — no centro de yamanote. Deixamos
incêndio causado pelo Grande Terramoto de ponte que dá acesso à área restrita de Old uma multidão que se dirige ao Meiji Jingu
Kanto. Também foi neste parque que foram Tokyo —, enquanto vemos Odaiba, a versão Stadium — onde vai haver um jogo de
enterradas as cinzas das vítimas dos raids real, e banal, da Neo-Tokyo de Otomo, um basebol, o desporto mais popular no Japão —
aéreos da Operação Meetinghouse da Força eco do Plan for Tokyo 1960 de Tange, a e caminhamos sozinhos numa área de
Aérea Americana, durante a qual morreram aproximar-se no outro lado da baía. pequenas casas, sob o habitual emaranhado
cerca de cem mil pessoas — mais do que em Ao sair na plataforma elevada em Daiba, de Æos que balouçam dos postes de
Hiroxima — na noite de 9 de Março de 1945, vemos imediatamente o edifício da Fuji TV electricidade. Entramos num beco luminoso
sob as vagas de bombas de fragmentação (1996) de Tange, um projecto monumental e vemos ao fundo a Small House (2000) de
incendiárias que caíram sobre shitamachi e concluído depois de a bolha do imobiliário Kazuyo Sejima, com uma fachada angular e
geraram uma conÇagração que se espalhou do Ænal da década de 1980 rebentar e de a anónima revestida de metal e vidro
de Sumida até Taito e Koto. crise económica se ter instalado. Passamos translúcido, cuja única abertura é uma porta
Olhando hoje para as fotograÆas aéreas por uma vasta escadaria deserta sob uma elevada acessível por uma pequena escada.
que foram tiradas sobre as ruínas em 1945, estrutura espacial que parece construída Esta casa é um dos primeiros e mais
vemos uma paisagem apocalíptica de livro com peças de Lego Technic e subimos ao celebrados exemplos do novo paradigma da
de Æcção cientíÆca, em que, para além de observatório. Das janelas desta enorme arquitectura residencial em Tóquio —

especialmente depois do colapso do
mercado imobiliário e do índice Nikkei no
Ænal de 1989 — que consiste em construir
casas em lotes residuais com áreas abaixo
dos cem metros quadrados.
Por causa dos preços inÇacionados e da
constante subdivisão das propriedades em
lotes cada vez mais pequenos, há uma
necessidade de aproveitar todos os espaços
disponíveis, o que, segundo Momoyo
Kaijima e Yoshiharu Tsukamoto do Atelier
Bow-Wow, gerou “uma ‘fobia ao vazio’ em
Tóquio” e conduziu ao desenvolvimento de
um vernacular urbano fascinante,
documentado nos seus livros Made in Tokyo
(2001) e Pet Architecture Guide Book (2002).
Os edifícios e espaços representados nesses
inquéritos à arquitectura comercial e
residencial de Tóquio são “anónimos” —
“arquitectura da-me (no good)” — em que “a
prioridade é a resposta ao contexto e aos
requisitos do programa, sem insistir na
imagem e na forma”. Também a Small House
partilha as condições que conduziram ao
aparecimento da Pet Architecture, apesar de
não ser Pet Architecture.
Voltamos para Aoyama-dori e
atravessamos a avenida em direcção a sul,
entrando no labirinto de ruas secundárias de
Minami-Aoyama, formado por uma longa
sucessão de casas minúsculas mas
sumptuosas. Atrás de uma teia de Æos
eléctricos e outras infra-estruturas urbanas,
avistamos o topo do perÆl triangular da
Prada Aoyama (2003) de Herzog & de
Meuron. Foi esta loja, de cinco pisos, coberta
de losangos de vidro côncavos e convexos,
que transformou Omotesando — a pacata
avenida que era o acesso principal do Meiji
Jingu, o santuário shinto dedicado ao
imperador Meiji — num ícone do excesso da
arquitectura global da primeira década do
século XXI, em que a cidade e a arquitectura
Placidez e catástrofe
À esquerda, House in Uehara (1976) de
Kazuo Shinohara. Através de uma das
janelas, vemos uma sala coberta de livros,
uma luz quente e confortável sob o céu
pálido de fim de tarde reflectido na rua
brilhante. As suas formas exuberantes e
austeras registam a passagem do tempo,
mas mantêm a clareza das suas ideias e a
ironia das suas intenções. Em baixo, dupla
página de um dos seis livros Akira, onde
Katsuhiro Otomo representa a catástrofe
urbana de Tóquio, onde Old Tokyo e
Neo-Tokyo são repetidamente destruídas
Tóquio, em Akira
e na realidade,
revela-se a cidade
do excesso e da
ansiedade
existencial, um
sonho tecnológico
marcado pelo
trauma das
catástrofes
que pontuaram
a sua história
se transformaram numa superfície habitada
por símbolos comerciais, a antítese do
vernacular urbano de Made in Tokyo e da Pet
Architecture.
Subimos Omotesando na sombra das suas
keyaki (Zelkova serrata) imemoriais, entre as
multidões de domingo à tarde carregadas de
sacos de compras. Passamos por
Omotesando Hills (2005), o centro comercial
de Tadao Ando, construído pela Mori
Building, que marcou o Ænal simbólico da
transformação de Omotesando ao demolir e
tomar o lugar dos Dojunkai Aoyama
Apartments (1926), um dos primeiros
edifícios modernistas de Tóquio. A Dojunkai
— uma organização do Ministério do Interior
Japonês — tinha sido estabelecida nos anos
que se seguiram ao Grande Terramoto de
Kanto de 1923 para construir habitação
colectiva de betão armado mais resistente a
sismos e incêndios, e, se todos os seus
edifícios sobreviveram aos
bombardeamentos da II Guerra Mundial,
nenhum sobreviveu à Mori Building.
Andamos até Harajuku para entrar na
linha Chuo-Sobu, e, à medida que a linha
elevada do comboio atravessa Nakano — no
limite oeste do centro de Tóquio —, é como
se passássemos sobre um vasto mar urbano
de pequenos edifícios, de dois ou três pisos,
pois as coberturas das casas adjacentes
passam tão próximas que quase se podem
tocar.
Saímos em Koenji, e caminhamos à chuva
por uma área de pequenas ruas sem passeio,
até que vemos, entrincheirada no meio de
dezenas de outras casas, a estrutura delicada
e geométrica da House NA (2010) de Sou
Fujimoto — um ícone da arquitectura
japonesa mais recente —, uma pequena casa
composta por 21 plataformas distribuídas
por vários níveis, cobertas por paredes de
vidro. Na realidade, a transparência
metafórica e literal que propõe está
totalmente escondida por cortinas, a
estrutura branca e elegante está salpicada de
ferrugem, o Citroën dois-cavalos azul que
serve de arrecadação está coberto de poeira
— como um adereço esquecido desde a
sessão fotográÆca — e os seus habitantes
parecem os sobreviventes de um cerco, os
prisioneiros involuntários de uma imagem de
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 15
arquitectura. Deixamo-la, frágil e triste, sob a
chuva leve.
Ao Æm da tarde, atravessamos Suginami
em direcção a sudeste, para regressar ao
centro da cidade, num comboio da linha
Keio-Inokashira. Ao passar pela estação de
Kugayama, olhamos pela janela e pensamos
que Kazuo Shinohara construiu a sua
primeira casa aqui perto, em 1954. Quando
saímos em Yoyogi-Uehara, continua a chover
levemente, caminhamos pelas ruas
pequenas e brilhantes que, apesar de não o
serem, parecem pedonais, como as de uma
pequena vila onde raramente passam carros.
Numa rua inclinada, encontramos a House
in Uehara (1976) de Shinohara, uma casa
robusta e fechada, com uma abóbada com
dois óculos pousada sobre uma caixa de
betão com quatro janelas triangulares — a
antítese da House NA. Através de uma das
janelas, vemos uma sala coberta de livros,
uma luz quente e confortável sob o céu
pálido de Æm de tarde reÇectido na rua
brilhante, e, de repente, a casa fechada
torna-se transparente. As suas formas
exuberantes e austeras registam a passagem
do tempo, mas mantêm a clareza das suas
ideias e a ironia das suas intenções.
Do topo da colina onde estamos, vemos a
paisagem urbana de Tóquio e temos a
sensação de que esta metrópole de 15
milhões de habitantes, que ainda parece
uma colecção de aldeias interligadas por
uma vasta rede de comboios e auto-estradas,
é um sistema complexo de forças e variáveis
impossível de compreender na sua
totalidade, e lembramo-nos das palavras de
Shinohara: “Eu posso projectar edifícios
individuais, mas não posso desenhar uma
cidade. Na minha opinião são duas coisas
completamente separadas. As pessoas, a
cultura e o clima geram as cidades, não um
indivíduo. Esse foi o maior erro do
modernismo.”
Saímos na estação de Shibuya e
atravessamos o celebrado cruzamento
diagonal — uma conÇuência de
infra-estruturas de transporte, densidade de
pessoas e painéis publicitários animados —
que se tornou a epítome, o centro simbólico
e a imagem da complexidade urbana de
Tóquio. Shinohara achava que esta área
apresentava uma negociação entre forças
urbanas independentes dentro de um
sistema aberto de enorme complexidade,
em oposição à cidade modernista, em que se
procura a unidade formal de um sistema
fechado. Para Shinohara, “depois da II
Guerra Mundial, Tóquio tinha-se tornado um
monte de cinzas, e muitos arquitectos
japoneses progressistas pensavam que
podiam transformar completamente a
cidade usando o Plan Voisin de Le
Corbusier”. E conclui: “Sonhavam.”
No próximo texto — a publicar no último
domingo de Outubro — seguiremos o
arco da baía de Sagami, reflectindo sobre
as representações do Japão ao longo da
Tokaido, desde Kita-Kamakura, uma
paisagem povoada pelo imaginário de
Yasujiro Ozu, até à península de Izu.
A série Primavera Tardia recebeu o apoio
de uma bolsa de curta duração da
Fundação Oriente
Eliana Sousa Santos é investigadora no
Centro de Estudos Sociais da Univ.
Coimbra e professora auxiliar convidada
no DAU ISCTE
16 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020

O Instituto de Ciências Sociais (ICS) é uma escola da Universidade de Lisboa e um laboratório associado do
Sistema Científico Nacional dedicado à investigação, aos estudos pós-graduados e à divulgação de ciência
nas áreas de Antropologia, Ciência Política, Economia, Geografia, História, Psicologia Social e Sociologia
(www.ics.ulisboa.pt). Durante um ano, todos os domingos, investigadoras e investigadores com diferentes
formações, idades e percursos académicos partilham o seu trabalho com os leitores do P2

Cem anos de lutas

femininas e feministas
em Portugal:
o exemplo das pioneiras
Ciências Sociais em Público (XXVI) Análise Da implementação da
República à Revolução dos Cravos, várias associações femininas e
feministas lutaram pelos direitos das mulheres. Durante o Estado
Novo, este ativismo foi silenciado, mas as suas protagonistas
continuaram a associar-se em prol da democracia. O vanguardismo
e o mérito das ações de algumas destas mulheres do século XX
vêm sendo reconhecidos. Mas são ainda muitos os percursos
esquecidos, em arquivos dispersos e por abrir

Por Anne Cova, Isabel Freire e Vanda Gorjão

L
isboa, 25 de maio de 1925.
Um navio transatlântico
parte para Nova Iorque.
Entre os passageiros está a
médica ginecologista
Adelaide Cabete (1867-1935),
fundadora, na capital, do
Conselho Nacional das
Mulheres Portuguesas (CNMP), a
organização feminista mais duradoura no
século XX (1914-1947), em Portugal. Ao
terceiro dia de navegação conhece uma
viscondessa a quem as ideias feministas
causam “irritação” e “enjoo”. Habituada a
comentários depreciativos, Adelaide Cabete
esclarece que se bate por “igualdades justas
e humanas”, mas o argumento não
convence. Em Nova Iorque, no bulício das
despedidas entre tripulantes, a viscondessa
vem ter com ela, aÇita. Não tem permissão
para sair do navio. No passaporte português
não consta a licença do marido para se
ausentar do país, conforme exigido pela
legislação. Assim, só tem duas alternativas:
regressar no mesmo navio para Lisboa ou
deixar-se levar para “uma espécie de
prisão” onde eram alojados os “duvidosos”
que chegavam a Nova Iorque, aí esperando
que o marido a viesse resgatar. “Um
verdadeiro horror”, descreve Adelaide
Cabete num artigo publicado alguns anos
depois (em 1928) na Alma Feminina, órgão
de propaganda da associação que dirige.
Por que razão a passageira era tratada como
“mala à espera que o dono viesse
requisitá-la”? A circunstância leva a
viscondessa a reconhecer que o feminismo
tinha aÆnal “carradas de razão”.
Nas primeiras décadas do século XX, as
ativistas do CNMP lamentam-se dos
discursos antifeministas que escutam
recorrentemente. Queixam-se de perder
mais tempo a explicar o que o feminismo
não é do que a enunciar o que defendem.
Adelaide Cabete, viúva, e com passaporte
diplomático, desembarcou tranquila na
baía de Nova Iorque e seguiu para
Washington, onde participou em
representação do Governo português no
congresso do Conselho Internacional das
Mulheres, organização criada em 1888
naquela cidade, e a que pertencia o CNMP,
bem como dezenas de outros conselhos do
mundo inteiro.
As teses defendidas no encontro inspiram
Adelaide Cabete para a luta pelos direitos
políticos, cívicos, económicos, educacionais
e laborais das mulheres em Portugal.
Regressadas aos seus países, as ativistas
prosseguem trocando correspondência, Fora da Europa, o conselho presidido por
partilhando livros e órgãos de propaganda. Adelaide Cabete mantinha múltiplos
Ou seja, a “marcha” pela emancipação das contactos, nomeadamente com Bertha Lutz
portuguesas inscrevia-se na “marcha” pela (1894-1976), presidente da Federação
emancipação das mulheres no mundo. A Brasileira pelo Progresso Feminino, e com
organização feminista dirigida por Cabete Paulina Luisi (1875-1950), fundadora do
mantinha uma relação dialogante com Conselho Nacional das Mulheres do Uruguai
organizações congéneres. O Conselho (criado em 1916).
Nacional das Mulheres Francesas (fundado
em Paris, em 1901) teve uma inÇuência na
Trinta e três anos de ação feminista
criação do CNMP, pelos laços de amizade
que existiam entre várias ativistas. A Na primeira metade do século XX, as
francesa Ghénia Avril de Sainte-Croix dirigentes e militantes do Conselho
(1855-1939), presidente deste conselho entre Nacional das Mulheres Portuguesas (bem
1922 e 1932, era considerada “sincera amiga como de outras associações femininas)
de Portugal, de cujo ‘conselho’ é madrinha”. pertenciam quase todas a uma elite. Eram

Arquivo pessoal de Vanda Gorjão
médicas, enfermeiras, farmacêuticas,
advogadas, professoras, jornalistas,
escritoras, artistas, muitas também
domésticas. Havia entre as feministas quem
se batesse pelo reconhecimento dos direitos
dos animais (opondo-se à realização de
touradas), quem promovesse o estudo e
divulgação do espiritismo, quem
publicitasse a aprendizagem do esperanto.
Apesar de o conselho se deÆnir sem Æliação
religiosa ou política, muitas eram
republicanas e maçónicas.
Inspirada na lógica de trabalho em rede
do Conselho Internacional das Mulheres, a
organização feminista dirigida pela médica
Adelaide Cabete constitui-se uma federação
Arquivo de História Social do ICS-ULisboa
regulamentada, entre muitas outras
intervenções.
Em 1924, em Lisboa, o conselho realiza o
primeiro de dois Congressos Feministas e
de Educação. O encontro não passa
despercebido da imprensa: “Nem todas as
mulheres portuguesas aceitam resignadas
[...] o espírito medievo, reaccionário,
anti-cientíÆco [sic] e anti-natural [sic] que
predomina na legislação e nos costumes
deste país. […] Algumas, poucas, mas não
das menos cultas, vêm dizer que se
revoltam contra a [sua] condição de
animais domésticos, de máquinas
reprodutoras da espécie, de escravas
naquela acepção integral que a escravidão
tinha.” O artigo é do suplemento semanal
ilustrado d’A Batalha. Outros jornais
reportam positivamente o encontro, que
conta com a presença do Presidente da
República Manuel Teixeira Gomes.
Segundo a Alma Feminina, o chefe de
Estado mostrou-se um verdadeiro
feminista, admirando-se como em Portugal
as mulheres não gozavam ainda do direito
de voto.
A década de 1920 é um momento
importante na longa “marcha” do CNMP,
termo recorrentemente usado pelas
feministas em artigos que avaliam a
evolução da sua persistente luta contra as
desigualdades dos direitos entre homens e
mulheres. Resistindo a muitas diÆculdades,
o conselho atravessa a I República, o
sidonismo, a ditadura militar e parte do
Estado Novo, batendo-se pelo sufrágio
Associações universal, pelos direitos civis das mulheres
e campanhas no casamento, por direitos laborais (salários
Em cima, direção do iguais entre homens e mulheres ou
Conselho Nacional das condições especiais para trabalhadoras
Mulheres Portuguesas grávidas ou que amamentam, por
no 2.º Congresso exemplo), pela alfabetização e formação
Feminista e de Educação proÆssional das raparigas, e por direitos
(Lisboa, em 1928). sexuais (o Estado aceitava o registo na
Adelaide Cabete, no prostituição de jovens com apenas 16 anos,
segundo plano de mão mas o conselho esforça-se para que a idade
no queixo, mantinha mínima fosse alterada para 21).
múltiplos contactos com Em 1947, o conselho é extinto pelo Estado
dirigentes e associações Novo, desconÆado de uma orientação
congéneres de vários politizada que então se tinha aÆrmado com
pontos do globo. Ao a chegada de Maria Lamas (1893-1983) à sua
lado, Helena Neves a presidência. O feminismo está nos
discursar na campanha antípodas da ideologia do Estado Novo em
eleitoral do MDP/CDE, na relação às mulheres que continuam a
Sociedade Nacional de associar-se em lutas pela democracia.
Belas Artes, Lisboa, em
1973. A partir da
Lutas pela democracia e igualdade
esquerda: Luísa Amorim
(atrás); na mesa, Lindley Vários grupos de mulheres foram criados
Cintra, Helena Neves, nos movimentos unitários de oposição ao
Caiano Pereira e José regime autoritário do Estado Novo e no seio
Tengarrinha das campanhas de candidaturas
oposicionistas a eleições. Estes coletivos
estiveram vinculados aos movimentos de
oposição, associados pela proposta comum
de associações portuguesas, com missões de derrubar o regime e instituir a
de beneÆcência e Ælantropia, recreio e democracia parlamentar. Tal confere-lhes
defesa dos direitos proÆssionais. uma dimensão organizacional e identitária
Ao longo de três décadas, 24 associações singular. A abarcar mais de 20 anos de
Æliadas no CNMP atuaram em áreas muito ativismo feminino, referimos a Comissão
diversas: apoio à maternidade, assistência Feminina do Movimento de Unidade
ao parto, criação de cantinas escolares, Democrática (MUD) (1945); a Comissão
organização de colónias balneares, treino Feminina Eleitoral da Candidatura de
proÆssional para raparigas de contextos Norton de Matos (1948-1949); o Movimento
desfavorecidos (bordados ou estenograÆa, Nacional Democrático Feminino do
por exemplo), empréstimo de livros a Movimento Nacional Democrático
estudantes pobres, atribuição de bolsas, (1949-1957); a Comissão Feminina Eleitoral
fornecimento de vestuário e calçado, defesa da Candidatura de Arlindo Vicente (1958); a
dos direitos da docência, incentivo à Comissão Feminina Eleitoral da
participação dos pais na vida escolar, luta Candidatura de Humberto Delgado (1958); o
contra o alcoolismo ou a prostituição Núcleo Feminino da Comissão Democrática
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 17
Eleitoral-CDE (1969), e o Núcleo Feminino
da Comissão Eleitoral de Unidade
Democrática-CEUD (1969).
Sendo difícil precisar as circunstâncias
exatas da sua génese, quer tenham
decorrido de proposta das mulheres ou
sido fruto de propostas das comissões
centrais dos movimentos, tais grupos
responderam a uma estratégia de
“especialização” da atividade política.
Muitas mulheres pertenceram a vários
grupos em simultâneo ou transitaram de
uns que se diluíam para outros que iam
sendo criados — grande parte delas
pertenceu ao CNMP e à Associação
Feminina Portuguesa para a Paz.
Estas comissões constituíram também
espaços alargados de reivindicações
particulares. As mulheres exprimiram-se e
atuaram enquanto mulheres, emolduradas
em contextos em que as distinções e as
desigualdades entre os géneros impunham
uma situação discriminatória, bem como
obstáculos aos seus quotidianos. As
comissões foram plataformas fulcrais de
contestação dos modelos femininos do
regime salazarista e de denúncia das
diÆculdades de vida das mulheres, na
esfera privada e familiar, e no âmbito
público (trabalho, assistência social e
participação política). Isso está patente,
por exemplo, nos objetivos do Movimento
Nacional Democrático Feminino na sua
primeira circular (em 1949) para a
composição da comissão central:
“Prosseguir o movimento reivindicativo
iniciado em 1945 para a conquista das
liberdades fundamentais; Ampliar esse
movimento dedicando particular atenção
aos aspectos económicos, social e moral da
vida da mulher, tendo em vista a resolução
dos seus problemas, para os quais mais do
que ninguém, elas têm o dever de dar a sua
colaboração; Fomentar e auxiliar todas as
iniciativas de carácter progressivo levadas
a cabo por mulheres quaisquer que sejam
os seus credos políticos ou religiosos,
quaisquer que sejam as suas condições
sociais.”
Existiram mulheres nas comissões
centrais em dois desses movimentos —
Maria Isabel Aboim Inglez, no Movimento
de Unidade Democrática em 1945, e Maria
Lamas e Virgínia Moura, no Movimento
Nacional Democrático em 1949. No entanto,
a ação das mulheres concentrou-se nas
comissões especíÆcas, como
“representantes” do sexo feminino, o que
espelha, no limite, uma circunstância em
que assumiram menores responsabilidades
políticas do que os homens e foram
investidas de menor poder também no seio
da oposição.
Apesar da persistência das desigualdades
e discriminações, a sua ação permitiu-lhes,
ainda assim, aceder a novas experiências no
espaço público que anteciparam e
ajudaram a consolidar aspirações e
expectativas mais igualitárias, e deram
expressão a novas representações das
mulheres enquanto atores políticos.
Vemo-lo nas dinâmicas de participação das
comissões eleitorais femininas nas listas
oposicionistas da CDE (1969) e da CEUD
(1969). Um momento de antecâmara
daquilo que após o 25 de Abril seria,
nomeadamente, a forte presença das
mulheres na Assembleia Constituinte (1975).
Historiadora; socióloga; socióloga/
ICS-ULisboa
18 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020

Semana de lazer
Por Sílvia Pereira
lazer@publico.pt

Teatro PORTO Teatro Nacional São João

De 1 a 11 de Outubro. Quinta e
Arrivismo à ceia sexta, às 21h; quarta e sábado, às
Nuno Carinhas regressa ao Teatro Nacional São João, onde já foi director artístico, para a 19h; domingo, às 16h.
estreia de uma peça escrita em 1972 pelo dramaturgo inglês Alan Ayckbourn. Juntamente Bilhetes de 7,50€ a 16€
com João Cardoso, co-encena a Comédia de Bastidores (Absurd Person Singular no título
original). Este “retrato impiedoso do arrivismo social”, avisa a sinopse, desenvolve-se em
três actos — cada um a expor o vórtice emocional de um casal diferente, de classe média,
na sua pouco festiva ceia de Natal. Benedita Pereira, Catarina Gomes, Paulo Freixinho,
Pedro Frias, Pedro Galiza e Sara Carinhas dão vida às personagens.

Dança todos será interpretada pelo

menos uma canção da diva do

Évora em movimento fado. E um terá a forma de

homenagem total, prestada por
Jorge Fernando, Rui Veloso, Katia
Guerreiro, Diogog Piçarra,
ç Marco
Rodrigues, Sara Cor
Correia e André
O formato pode estar mais reduzido e intimista, mas o Fidanc — Festival Amaro. Também haverá
hav Amália
Internacional de Dança Contemporânea continua a mover-se — em Évora e com em video mapping e em
extensão ao espaço virtual. Ao vivo, a 21.ª edição abre com um excerto de A exposição. Custódio Castelo,
Universal Weakness, de Carla Jordão, e termina com o novo Vasto (na imagem) de Mariza (na imagem), Helder
Moutinho, Gisela Joã
João, Fábia
Amélia Bentes, que também participa com Um Fio de Ar. Ao palco vai também o Rebordão e Fafá de B Belém são
Ensaio sobre a Cegueira que Nélia Pinheiro concebeu sob inspiração do romance de outros dos artistas que
q se juntam
Saramago. Na dança presencial entram ainda três workshops, bem como conversas. à festa do fado.
Estas também decorrem online, onde há lugar para curtas de jovens criadores LISBOA Vários lolocais
portugueses e para a estreia de Algo Novo, de Gonçalo Almeida Andrade, dirigido ao Dias 2 e 3 de Ou
Outubro, às 17h.
Programa comp
completo:
público infantil. A organização é da Companhia de Dança Contemporânea de Évora. santacasaalfam
santacasaalfama.com.
Bilhetes a 25€ (dia) e 35€ (passe)
ÉVORA Jardim da Palmeira, Igreja de S. Vicente e Black Box
De 27 de Setembro a 10 de Outubro. Programa completo: www.cdce.pt. Bilhetes
a 5€ (espectáculo)

exteriores Arte Cinemática e

Teatro
Rir para desconÄnar
desconÄ
n nar
Circo com rock, funambulismo,
mapping, malabarismo
video mapping malabarismo,
filosofia hipster, costura, poesia,
profetas, palhaços que se
interrogam, marionetas,
homens-pipa, conversas à
esquina, um Hamlet moderno,
utopias e absurdo. Tudo isto cabe
no Festival Internacional de Teatro
Cómico da Maia, que na sua 25.ª
edição decreta que O riso
desconfina a inteligência, em dez
dias com 30 espectáculos — oito
deles em estreia em Portugal
(caso de Sagapò, na imagem) —,
ora em sala ora ao ar livre.
MAIA Fórum da Maia e espaços
De 2 a 11 de Outubro.
Programa completo:
www.teatroartimagem.org.
Grátis a 5€ (espectáculo); 50€
(passe)
Cinema
Curtas estendidas
Um foco na obra do espanhol
Isaki Lacuesta, outros nas
realizadoras Elena López Riera,
Ana Elena Tejera e Ana Maria
Gomes, e a estreia de Guanche,
filme-concerto de Paulo Furtado
(The Legendary Tigerman) e
Pedro Maia são alguns dos
destaques do Curtas Vila do
Conde. É preenchido por um total
de 261 filmes, 48 deles em estreia
nacional, a começar com a Casa
de Antiguidades (na imagem), do
brasileiro João Paulo Miranda
Maria. Esta 28.ª edição, que
decorre fora de época (teria sido
em Julho, não fosse a pandemia),
traz outras novidades: a
projecção simultânea das 17 obras
da competição nacional no Porto,
em Lisboa e em Faro, bem como
exibições numa plataforma
online.
VILA DO CONDE Teatro
Municipal, Solar — Galeria de
Auditório Municipal
LISBOA Cinema Ideal
PORTO Cinema Trindade
FARO Instituto Português
dos Desportos e Juventude
De 3 a 11 Outubro. Programa
completo: festival.curtas.pt.
Bilhetes a 4€ (sessão) e 35€
(passe)
Música
Santa Casa de Amália
O centenário do nascimento de
Amália atravessa todo o cartaz
deste ano do festival Santa Casa
Alfama. O bairro lisboeta
enche-se (com as devidas
distâncias e precauções) de 40
concertos em vários palcos. Em
Desenho
Simanca,
Loba e Tom
Obrigada a redesenhar-se
redesenh na
agenda (passou de JunhoJ para
Outubro) e a ajustar-
ajustar-se às
directivas do mome
momento, a Festa da
Ilustração de Setúba
Setúbal regressa
com o tema-desafio de sempre: É
preciso fazer um des
desenho? Os
convidados desta sextase edição
são o cartoonista cubano
cu Osmani
Simanca e o ilustrador português
André da Loba. O homenageado
é o artista brasileiro Thomaz de
Mello, mais conhecido como Tom.
Além de uma dezena de
exposições, o festival oferece
oficinas, leituras ilustradas,
conversas, uma feira e concertos
de Primeira Dama, Manel Cruz e
JP Simões, entre outros.
SETÚBAL Vários locais
De 3 de Outubro a 28 de
Novembro. Programa completo:
www.festailustracaosetubal.pt.
Grátis

CRUZADAS 11.113
Horizontais: 1. José (...), fundador
da Farfetch, doou dois terços da
fortuna e aderiu ao movimento de
Bill Gates. (...) Neves, autor do
livro Pontuação em Português. 2.
Elemento de formação de
palavras que exprime a ideia de
ombro. Bico metálico que se
adapta à caneta. 3. Indivíduo com
um progenitor indígena e outro
branco (Brasil). 4. Antes de Cristo
(abrev.). Porção. Hólmio (s.q.). 5.
Colesterol bom. Escândio (s.q.).
«Mais faz o (...) que o campo bem
lavrado». 6. Criador (fig.).
Desordem. Senhor (abrev.). 7. Irra!
(interj.). Nome feminino. 8.
Células imunitárias do sistema
central nervoso. 9. Aleijara.
António Lobo Antunes. 10.
Anexava. Maquinismos para
tecer. 11. Quezília.
Verticais: 1. Esposa do filho.
Símbolo do Pascal. Mula. 2.
Preposição que indica lugar. Mark
(...), assassinou John Lennon, há
40 anos, e pediu agora desculpa
a Yoko Ono. 3. Opinião (fig.).
Governava. 4. Decilitro (abrev.).
Fazer eco. 5. Pequena mala. Rádio
(s.q.). 6. Programa que apresenta
actores portugueses a directores
de casting estrangeiros. 7. Cão
bravio de Angola. Idioma da Alta
Escócia. 8. Argola. Cloreto de
sódio. Suspiro. 9. Matéria mineral
dura e compacta que faz parte da
crosta terrestre. Ligara. 10.
Michael (...), teve quase sempre
papéis secundários, mas deixou
uma carreira de várias centenas
de personagens, entre o teatro, o
cinema e a televisão, que
marcaram o cinema francês e
mundial (1931-2020). 11. Princípio
(fig.). Interjeição que designa
dúvida ou menosprezo. Pega.
SUDOKU
Problema 10.000
Dificuldade: Fácil
Solução do problema 9998
© Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 19
Jogos
FARMÁCIAS TEMPO PARA HOJE
Porto - Serviço Permanente
Valdrez - R. de Luís Cruz, 230 - Tel. 226170801 Correia
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Dias (Avintes) - Largo da Gãndara,747 - Tel. 227820218 Castelo
10º 22º
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13º 22º
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Matosinhos - Serviço Permanente
Faria Sucr. - R. de Roberto Ivens, 126 - Tel. 229380285 10º 24º Vila Real
Coimbra - Serviço Permanente
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Estádio - R. D. João III, 11 (ao Estádio Municipal) - Tel. 17º Porto
239792470 Conchada - Rua de Saragoça,82 - Largo 12º 21º
da Conchada - Tel. 23982271
Braga - Serviço Permanente Viseu
Henriquina (São Vítor) - R. de São Vítor, 94/6 - Tel. 2m 10º 21º Guarda
253263461 Aveiro
Outras Localidades - Serviço Permanente 10º 19º
Aguiar da Beira - Dornelas , Portugal
15º 21º Penhas
Albergaria-a-Velha - Nova (Laginhas/Albergaria A Douradas
Velha) , Oliveira (Ribeira de Fráguas) Alfandega da Fé - Coimbra 8º 15º
Graça Alijó - José Rodrigues , de Favaios (Favaios),
Nova Vilar de Maçada (Vilar de Maçada) Almeida - 13º 23º
Cunha , Moderna (Vilar Formoso) Amarante - Cristal Castelo
Branco
Center Anadia - Júlio Maia Arcos de Valdevez - Santa
Bárbara Arganil - Galvão Armamar - Batista Ramalho Leiria 13º 25º
Arouca - Gomes de Pinho Aveiro - Avenida (Vera
Cruz) Baião - Barbosa (Campelo) , Rocha Barros (Eiriz)
13º 22º
Barcelos - A Minha Farmácia Boticas - Galaico, Lda.
Bragança - Mariano Cabeceiras de Basto - Barros
Santarém
Caminha - Torres , Moderna (Vila Praia de Âncora) Portalegre
Cantanhede - Central Carrazeda de Ansiães - Veiga 14º 26º
Carregal do Sal - Rodrigues Castelo de Paiva - 12º 23º
Central , Pinho Lopes (Oliveira do Arda), Marques Lisboa
Lopes (Santa Maria de Sardoura) Castro Daire -
Moderna Celorico da Beira - Duarte Dias Celorico de 17º 24º
Basto - Neves Ferreira Chaves - Barroso Cinfães -
Correia Condeixa-a-Nova - Ferreira Espinho - Santos Setúbal
Esposende - Monteiro Estarreja - Sousa Fafe -
16º 24º Évora
Albarelos Felgueiras - Central (Margaride) Figueira
da Foz - Da Tamargueira Figueira de Castelo Rodrigo 14º 25º
- Moderna Fornos de Algodres - Castanheira Freixo AMANHÃ
de Espada à Cinta - Guerra Góis - Coroa , Santiago,
Frota Carvalho (Vila Nova do Ceira) Gondomar -
Oliveiras (Rio Tinto) Gouveia - Feliz , Central (Melo - 18º Beja
Gouveia), Albuquerque (Moimenta da Serra), Martins Sines
14º 25º
(Vila Nova de Tazem) Guarda - Rego Guimarães - 16º 24º
Solução do problema anterior:
Lobo (Creixomil) Ílhavo - Moderna Lamego - Avenida
Horizontais: 1. Autoeuropa. 2. Urro. Ser. RP. 3. Salitre. 4. Tuba. Da. Rir. 5. Ria. Ta. Joel. 6. Law. Lousã - Serrano Lousada - Fonseca Macedo de
Dupla. 7. LP. Sirene. 8. Estocolmo. 9. AP. Etno. 10. Atied. Fama. 11. Que. Recibos. Cavaleiros - Central Maia - Agra (Milheirós) 1,5-2m
Verticais: 1. Austrália. 2. Ur. Ui. Pau. 3. Tribal. Te. 4. Oo. Assei. 5. Twitter. 6. Usada. Ronde. 7. Rela. Mangualde - Beirão (Chãs de Tavares) , Nogueira
DECO. 8. Ori. Juno. Fi. 9. Tropel. Ab. 10. Arriel. Mimo. 11. Perlado. As. (Santiago de Cassurrães) Manteigas - Ascensão
Marco de Canavezes - Nova Mealhada - Brandão Sagres
Meda - Pereira Melgaço - Vale do Mouro Mesão Frio - Faro
17º 24º
Nova de Mesão Frio Mira - Roldão Miranda do Corvo - 18º 28º
Antunes , Borges (Semide - Miranda do Corvo)
Miranda do Douro - Miranda (Mirando do Douro) 20º
Mirandela - Central Mogadouro - Magalhães 0,5-1m
Moimenta da Beira - Moderna , César (Leomil)
Solução do problema 9999 Monção - Pereira e Barreto, Sucrs. Mondim de Basto -
Nova Mondim Montalegre - Martins
Açores
Montemor-o-Velho - Nuno Álvares Mortágua - Corvo
Gonçalves Murça - Nossa Senhora de Fátima Graciosa
Murtosa - Santos Leite Nelas - Faure Oliveira de Terceira
Flores
Azemeis - Gomes da Costa Oliveira de Frades - S. Jorge 20º 24º
Martinho (Pinheiro de Lafões) Oliveira do Bairro - 19º 24º
Sanal Oliveira do Hospital - Figueira Dinis Ovar -
22º 23º
Central Paços de Ferreira - Da Mata Real Pampilhosa Pico
da Serra - do Zêzere (Dornelas do Zêzere) , Central
1m
Paredes - Central de Rebordosa (Rebordosa) Paredes Faial
de Coura - Ribeiro Penacova - Penacova Penafiel -
Confiança Penalva do Castelo - Claro Penedono - 18º 25º
1,5m S. Miguel
Rua Penela - Penela Peso da Régua - Moderna Pinhel
- Santos , Da Misericórdia (Alverca da Beira), Moderna 20º 24º
(Pínzio) Ponte da Barca - Popular Ponte de Lima - Da Ponta
Misericórdia Póvoa de Lanhoso - Da Misericórdia 22º Delgada
Póvoa de Varzim - Cardoso Resende - Nova de
Resende (Lugar do Paço) Ribeira de Pena - De Cerva 1,5m
0,5-1m
(Cerva) , Borges de Figueiredo Sabrosa - Macedo Madeira Sta Maria
Problema 10.001 Morais , Vieira Barata Sabugal - Lucinda Moreira ,
Aldeia Velha (Aldeia Velha), Higiene (Souto) Santa
Dificuldade: Muito difícil Comba Dão - Monteiro , Sales Mano (S.João de Areias) Porto Santo
Santa Maria da Feira - Sousa Santa Marta de
Penaguião - Santa Eulália (Cumieira) , Douro (Santa 20º 24º
Marta Penaguião) Santo Tirso - Fernandes Machado 24º
São João da Madeira - Da Praça São João da
Pesqueira - Ferronha e Silva (Ervedosa) São Pedro do
Sul - Elvira Coelho Sátão - Carvalho (Avelal) , Santo Funchal 0,5-1m
André (Lamas) Seia - Gandarez , Popular (Loriga), 2m 21º 26º
Paranhense (Paranhos da Beira), Neves Rodrigues 24º
(Pinhanços), do Alva (Sandomil), De São Romão (São
Romão) Sernancelhe - Confiança , Mota (Vila da
Ponte) Sever do Vouga - Martins Soure - Jacob Tábua Sol Lua Cheia
- Carvalho Tabuaço - Confiança Tarouca - Augusta
(Salzedas) , Moderna Terras de Bouro - Alvim Barroso Nascente 7h29
(Covas) Tondela - Horta Torre de Moncorvo - Leite Poente 19h25 1 Out. 22h05
Trancoso - Paixão , Pereira (Vila Franca das Naves)
Trofa - Nova Vagos - Tavares Valença - Jardim
Valongo - Ascensão (Gandra - Ermesinde) Valpaços -
Pimentel Viana do Castelo - Manso Vieira do Minho -
Martins Vila do Conde - Ramos (Azurara) Vila Flor -
Marés
Vaz Vila Nova de Cerveira - Cerqueira, Suc. , Nova de
Cerveira Vila Nova de Famalicão - Nogueira Vila Nova
Leixões Cascais Faro
de Foz Côa - Barreira Vila Nova de Paiva - Galénica
Vila Nova de Poiares - Martins Pedro (S.Miguel de
Preia-mar 13h08 3,0 12h45 3,0 12h44 2,9
Poiares) , Santo André Vila Pouca de Aguiar - Central
Vila Real - Lordelo (Lordelo) Vila Verde - Da 01h47* 2,8 01h22* 2,9 01h19* 2,8
Misericórdia Vimioso - Liberal , Ferreira (Argozelo)
Vinhais - Afonso , de Rebordelo (Rebordelo) Viseu - Baixa-mar 06h56 1,3 06h33 1,4 06h25 1,3
Mouro Vizela - Alves (Caldas de Vizela) Vouzela - da
Torre (Alcofra) , Ana Rodrigues Castro (Campia), 19h34 1,0 19h12 1,2 19h02 1,1
Teixeira Amares - Mercado (Ferreiros) Vagos - Viva
Vale de Cambra - Ferreira de Pinho Vouzela - Vieira
Fonte: www.AccuWeather.com *de amanhã
20 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020
Dia de Äcar
CINEMA
Black Mass — Jogo Sujo
Hollywood, 22h
Dirigido por Scott Cooper e
escrito por Mark Mallouk e Jez
Butterworth, o Ælme baseia-se no
livro biográÆco da autoria de Dick
Lehr e Gerard O’Neill para contar
a história de Whitey Bulger
( Johnny Depp), um dos mais
perigosos e implacáveis
criminosos a actuar nos EUA
durante as décadas de 1970 e 80.
Ligado à máÆa irlandesa, o seu
grupo tornou-se exímio em
narcotráÆco, extorsão e
chantagem. Bulger Æcou também
conhecido por se ter tornado
informador do FBI para impedir
que a máÆa italiana invadisse o
seu território, acabando por ser
traído pela agência.
Planeta dos Macacos
AXN, 00h47
Remake do clássico dos anos 1960,
com realização de Tim Burton. Ao
contrário da Terra, onde o Homo
sapiens evoluiu, existe um planeta
onde foram os macacos a
desenvolver-se, escravizando os
seres humanos. Um lugar
violento, onde os símios reinam e
os homens são os verdadeiros
animais — primitivos, caçados,
dominados, implorando pela sua
vida. Um dia, de repente, cai um
estranho do céu. Mark Whalberg
interpreta o piloto que vai parar
ao planeta após uma aterragem
forçada e que se vai transformar
no líder da luta dos humanos
contra a opressão.
Uma Guerra Pessoal
RTP1, 00h45
Com Rosamund Pike, Tom
Hollander, Jamie Dornan, Jérémie
Laheurte e Stanley Tucci nos
papéis principais, um drama
biográÆco, com realização de
Matthew Heineman, sobre Marie
Colvin, a jornalista de guerra
norte-americana que morreu em
Fevereiro de 2012, a serviço do
jornal britânico The Sunday Times,
na sequência de um
bombardeamento do exército
sírio contra um edifício usado
pela imprensa na cidade de Homs.
DESPORTO
Volta a Portugal em Bicicleta
— Edição Especial
RTP1, 15h15
Directo. A prova-rainha do
ciclismo nacional faz-se hoje à
estrada para a 82.ª edição,
empurrada pela pandemia para
uma zona do calendário que não
lhe é habitual (originalmente,
Televisão
lazer@publico.pt
RTP 1
6.04 Todas as Palavras 6.30 Espaço
Zig Zag 8.00 Bom Dia Portugal Fim de
Semana 10.30 Eucaristia Dominical
11.31 Há Volta: Fafe 13.00 Jornal da
Tarde 14.25 Há Volta: Fafe 15.15 Volta a
Portugal em Bicicleta - Edição Especial
18.00 O Pátio das Cantigas 19.59
Telejornal 21.24 The Voice Portugal
23.46 Desliga a Televisão - Compactos
0.45 Uma Guerra Pessoal 2.43 A Magia
da Islândia
RTP 2
7.00 Euronews 8.00 Espaço Zig Zag
14.54 Folha de Sala 15.00 39.º Circo do
Futuro 16.28 Eco-Lógica: Terra 16.57
Voz do Cidadão 17.11 Caminhos 17.39
70x7 18.04 Folha de Sala 18.12
Encontra-me em Paris 19.00 Degrassi:
A Turma Seguinte 19.47 Vamos à
Descoberta 20.15 Cuidado com a
Língua! 20.33 Nina 21.30 Jornal 2 21.51
Folha de Sala 21.58 Sanditon 22.47
Brigitte Bardot: O Pacto com os
Animais 23.43 In Music: Flauta (Nuno
Inácio) 0.07 Beautiful Madeira 1.07
Jujol e Gaudí: Dois Génios da
Arquitectura 2.04 Euronews
SIC
6.00 Malucos do Riso 6.40 Marvels
Spider Man 7.45 Marvel´s Avengers:
Black Panthers Quest 8.15 Uma
Aventura 9.00 Olhó Baião 12.00 Vida
Selvagem 13.00 Primeiro Jornal 14.15
Fama Show 14.45 Domingão Especial
de Verão 19.57 Jornal da Noite 21.15
Isto É Gozar Com Quem Trabalha 21.45
O Noivo É Que Sabe 0.00 Não Há
Crise! 1.30 Sem Compromissos
TVI
6.15 Todos Iguais 6.45 Inspector Max
7.45 Diário da Manhã 10.00 O Bando
dos Quatro 11.00 Missa: Lisboa 12.30
Mesa Nacional 13.00 Jornal da Uma
14.00 Somos Portugal 19.57 Jornal das
8 21.45 Big Brother - A Revolução: Gala
1.00 Big Brother - A Revolução: Ligação
à casa 2.30 A Outra 4.15 TV Shop 5.45
Os Batanetes
TVCINE TOP
11.05 Vice 13.15 Aladdin (VP) 15.20
Godzilla II: Rei dos Monstros 17.30
X-Men: Fénix Negra 19.20 John Wick 3 -
Implacável 21.30 The Rhythm Section
Os mais vistos da TV
Sexta-feira, 25
Nazaré
% Aud. Share
SIC 14,1 27,1
Golpe de Sorte IV SIC 11,8 23,6
Jornal da Noite SIC 11,7 23,3
Amar Demais TVI 11,4 23,0
Quer o Destino TVI 11,2 26,5
FONTE: CAEM
1.05 Imagens Proibidas 2.40 As
Primeiras Férias 4.20 Operação
Hummingbird
FOX MOVIES
10.42 O Duelo 12.20 A Lei do Ódio
13.54 O Rebelde do Kansas 16.10 A
Crista do Diabo 17.41 O Pistoleiro do
Diabo 19.29 Ulzana, O Perseguido
21.15 Valdez 22.49 O Homem da Lei
0.30 A Honra de Um Herói 2.12 Duelo
no Missouri 4.13 A Volta de Jessie
James 5.41 Balada do Deserto
CANAL HOLLYWOOD
10.40 Cães e Gatos: A Vingança de
Kitty Galore 12.00 O Livro da Selva
(2016) (VO) 13.40 Chefes Intragáveis 2
15.30 Correio de Risco 17.05 Correio
de Risco 2 18.30 Ascensão de Júpiter
20.35 Underworld: O Despertar 22.00
Black Mass - Jogo Sujo 0.00 Max Payne
1.45 Dredd 3.20 28 Dias 5.15 Chappie
AXN MOVIES
14.00 Presumível Inocente 16.08 Alex
Rider 17.10 RocknRolla: A Quadrilha
19.16 Amor e Mentiras 21.10 Jantar de
Mamãs 22.35 Tin Cup 0.51 Seven - 7
Pecados Mortais 2.54 O Professor 5.11
Magnolia
AXN
14.21 The Equalizer - Sem Misericórdia
16.37 Vida Inteligente 18.36 O
Fundamentalista Relutante 21.00 L.A.’s
Finest: Polícias de Los Angeles 21.55
Interstellar 0.47 Planeta dos Macacos
2.50 Soldados da Fortuna 4.40
Circuito Fechado
AXN WHITE
13.30 Natalee Holloway 15.05 Páscoa
Infiltrada 16.37 A Loira Virtual 18.14 A
Miúda de Compton 19.49 Crime
Sangrento 21.25 Warren Jeffs: Profeta
Fora da Lei 22.59 Experiência de uma
Vida 0.31 Os Tudors 2.19 Darrow
&Darrow: no Tom do Assassinato 3.40
O Grande C 4.36 A História de Linda
McCartney
FOX
10.33 Batman - O Início 12.53 O
Cavaleiro das Trevas 15.46 O Cavaleiro
das Trevas Renasce 18.56 Mundo
RTP1 12,2%
%
RTP2 0,8
SIC 20,0
TVI
18,3
Cabo
34,7
Jurássico 21.20 No Limite do Amanhã
23.31 Millennium 1: Os Homens Que
Odeiam as Mulheres 2.21 Decisão de
Risco 4.33 Seal Team
FOX LIFE
9.32 9-1-1 10.17 9-1-1 11.02 9-1-1 11.50
9-1-1 12.41 A Daughter’s Revenge 14.17
FaNatic 16.15 Girls’ Night Out 18.08 O
Que Se Espera Enquanto Se Está à
Espera 20.17 Uma Sogra de Fugir
22.20 Não Há Duas sem Três 0.20 Uma
Boa Dose de Sexo 2.16 Lei & Ordem:
Unidade Especial 5.38 Anatomia de
Grey
DISNEY
15.20 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug 17.40 Os Green na Cidade
Grande 18.29 Anfibilândia 19.15 Gravity
Falls 20.05 Lab Rats 20.52 Gabby
Duran Alien Total 21.40 Clube Houdini
22.30 Lab Rats 23.17 Miraculous - As
Aventuras de Ladybug 0.02 Clube
Houdini 0.13 Miraculous - As Aventuras
de Ladybug 0.37 Sadie Sparks
DISCOVERY
17.10 Mistérios por Explorar 19.05 O
Segredo das Coisas 21.00 À Pesca de
Ouro 22.55 A Febre do Ouro: Águas
Bravas 0.40 À Pesca de Ouro 2.15 A
Febre do Ouro:Águas Bravas 3.00 A
HIstória do Universo 4.30 Guerra de
Propriedades 5.00 Negócio Fechado
5.25 Lost Secrets
HISTÓRIA
17.04 A Construção de Um Império
18.39 Roma e o Vício 20.11 A Maldição
de Oak Island 22.56 O Ouro Perdido da
II Guerra Mundial 0.20 Forjado no
Fogo: Faca ou Morte 3.11 Mestres das
Armas 4.43 Território Templário
ODISSEIA
17.49 Os Andes Selvagens 18.40
Madagáscar: os Génios da Floresta
19.31 Wild Tube 19.55 Aviões de
Combate 20.38 Guerreiros do Ar 22.21
Porta-Aviões Charles de Gaulle:
Revisão 23.13 Porta-Aviões em Guerra
0.05 Futuro Espacial 0.59 Tattoo Age
2.31 Egipto Desde o Ar 3.19
Porta-Aviões Charles de Gaulle:Revisão
4.11 Resgate na Praia 4.35 Porta-Aviões
em Guerra 5.27 Zâmbia Selvagem
estava marcada para 29 de Julho a
9 de Agosto) e ajustada à “defesa
da qualidade sanitária do evento”,
como garantiu Delmino Pereira,
presidente da Federação
Portuguesa de Ciclismo. É em Fafe
que arranca a jornada de 1183,9
quilómetros que terminará em
Lisboa, a 5 de Outubro, com a
coroação do vencedor.
DOCUMENTÁRIO
Serial Killer Sundays
ID - Investigation Discovery, 22h
A história de Jeèrey Lionel
Dahmer, conhecido como o
“Canibal de Milwaukee”, abre o
especial Serial Killer Sundays,
preenchido por relatos das vidas e
mortes de quatro assassinos em
série norte-americanos.
Depoimentos de investigadores,
reconstituições e imagens de
interrogatórios cruzam-se com
testemunhos de familiares das
vítimas, de pessoas que os
conheceram ou dos próprios
criminosos. A série de true crime
prossegue com Gary Ridgway (dia
4 de Outubro), Aileen Wuornos
(18) e Robert Hansen (25).
MÚSICA
The Voice Portugal
RTP1, 21h24
Estreia. Aurea, Diogo Piçarra,
António Zambujo e Marisa Liz
tornam a sentar-se nas cadeiras de
mentores para recrutarem
cantores para as suas equipas. As
“provas cegas”, em que escolhem
os pupilos-concorrentes sem os
verem, são o início de uma série
de etapas competitivas que irão
estreitando o crivo, até só restar
uma voz vencedora. Catarina
Furtado e Vasco Palmeirim, os
anÆtriões habituais, acolhem um
novo apresentador nesta edição:
Fábio “Conguito” Lopes.
INFANTIL
Aladdin (V. Port.)
TVCine Top, 13h15
Aladdin faz os possíveis por
conquistar o amor da princesa
Jasmine. A grande oportunidade
surge quando encontra uma
lâmpada mágica de onde sai um
génio que concede três desejos.
Mas o malvado Jafar, conselheiro
do sultão, não vai olhar a meios
para obter esse poder. Realizada
por Guy Ritchie, uma história de
aventura em imagem real, com
Will Smith, Mena Massoud, Naomi
Scott, Marwan Kenzari, Navid
Negahban, Nasim Pedrad, Billy
Magnussen e Numan Acar.

CINEMA
Porto
Cinemas Nos Alameda Shop e Spot
R. dos Campeões Europeus, 28-198. T. 16996
Os Conselhos da Noite M14. 16h; A Vida
Extraordinária de David Copperfield M12.
15h20, 21h10; Tenet M14. 14h20, 17h50,
21h20; A Fábrica dos Sonhos M6. 15h30, 18h
(V.Port./2D); After - Depois da
Verdade 13h20, 15h50, 18h50, 21h40; Em
Fúria M16. 19h20, 22h; Ordem Moral M14.
20h30; Minha Querida Nora M12. 18h30;
Summerland M12. 13h10, 15h40, 18h20, 21h;
A Galeria dos Corações Partidos M14.
13h40, 16h20, 19h05, 21h50
Medeia Teatro Municipal Campo Alegre
R. das Estrelas. T. 226063000
Os Sete Samurais M16. 14h30; Yojimbo - O
Invencível M12. 19h, 22h
Trindade
R. Dr. Ricardo Jorge. T. 223162425
Os Sete Samurais M16. 15h; Este Obscuro
Objecto de Desejo M12. 19h30; Chantal
Akerman, de cá M12. 20h30; Ordem
Moral M14. 14h30, 16h30, 21h30; Verão de
85 M14. 18h35, 21h45;
Braga
Cinemas Nos Braga Parque
R. dos Congregados, S. Victor. T. 16996
Os Conselhos da Noite M14. 14h30, 17h40,
20h45; A Vida Extraordinária de David
Copperfield M12. 21h; Greenland - O Último
Refúgio M14. 14h20, 17h50, 21h15; Tenet M14.
13h15, 16h50, 20h30; O Segredo do
Refúgio M16. 14h10, 17h, 19h30, 22h20; Os
Novos Mutantes M14. 13h50, 16h30, 19h10,
22h10; A Fábrica dos Sonhos M6. 11h, 13h20,
15h40 (V.Port./2D); After - Depois da
Verdade 13h, 15h50, 18h40, 21h30; Em
Fúria M16. 14h, 16h40, 19h20, 22h; O Fim do
Mundo M16. 18h10; A Galeria dos Corações
Partidos M14. 13h10, 16h, 18h50, 21h45
Cineplace - Braga
C. C. Nova Arcada, Av. De Lamas nº 100.
O Segredo das Bolachas M6. 16h10, 18h30
(V.Port./2D); My Hero Academia: Ascensão
dos Heróis M12. 16h20 (V.Port./2D); A Vida
Extraordinária de David Copperfield M12.
15h40, 18h30, 21h10; Greenland - O Último
Refúgio M14. 15h50, 16h, 18h30, 18h40, 21h,
21h30; Tenet M14. 15h10, 18h20, 21h20; Os
Novos Mutantes M14. 19h10;
Radioactivo M12. 21h40; A Fábrica dos
Sonhos M6. 15h30, 18h10 (V.Port./2D); After -
Depois da Verdade 16h30, 19h, 21h30; Em
Fúria M16. 16h50, 19h30, 21h50; O 3.º Andar:
Terror na Rua Malasana M16. 21h; Regresso a
Itália M12. 21h10; Minha Querida Nora M12.
21h; Summerland M12. 16h40, 19h20, 21h40;
Um Príncipe em Apuros M6. 15h40, 18h40
(V.Port./2D); A Galeria dos Corações
Partidos M14. 16h, 18h50, 21h20
Castelo Branco
Cinemas Cinebox
CC. Alegro Castelo Branco. Av. General
Humberto Delgado. T. 760789789
O Segredo das Bolachas M6. 13h45, 16h (V.
Port./2D); A Vida Extraordinária de David
Copperfield M12. 19h, 21h35; Greenland - O
Último Refúgio M14. 14h, 16h30, 19h, 21h30;
Tenet M14. 18h20, 21h20; After - Depois da
Verdade 14h, 16h35
Coimbra
Cinemas Nos Alma Shopping Coimbra
C. C. Dolce Vita, R. General Humberto
Delgado, 207. T. 16996
O Segredo das Bolachas M6. 14h10, 16h45
(V.Port./2D); My Hero Academia: Ascensão
dos Heróis M12. 15h10 (V.Port./2D), 18h10 (V.
Orig./2D); Os Conselhos da Noite M14.
18h20; A Vida Extraordinária de David
Copperfield M12. 14h30, 18h30, 21h20;
Tenet M14. 14h20, 17h40, 21h;
Radioactivo M12. 19h25; A Fábrica dos
Sonhos M6. 13h40, 15h50 (V.Port./2D); After
- Depois da Verdade 13h20, 16h10, 18h55,
21h40; Ordem Moral M14. 14h40, 17h50,
20h30; Regresso a Itália M12. 22h05; O Fim
do Mundo M16. 21h10; Minha Querida
Nora M12. 20h50; Summerland M12. 14h,
16h40, 19h15, 22h; Verão de 85 M14. 13h30,
16h, 18h40, 21h30; A Galeria dos Corações
Partidos M14. 13h50, 16h30, 19h10, 21h50
Cinemas Nos Fórum Coimbra
Fórum Coimbra. T. 16996
Greenland - O Último Refúgio M14. 13h20,
16h10, 18h55, 21h40; Tenet M14. 13h40,
17h10, 20h50, 21h; Os Novos Mutantes M14.
20h40; After - Depois da Verdade 13h30,
16h20, 19h05, 21h50; Em Fúria M16. 14h,
16h40, 19h25, 22h; O 3.º Andar: Terror na
Rua Malasana M16. 14h50, 17h40, 21h20; Um
Príncipe em Apuros M6. 14h30, 17h20 (V.
Port./2D)
Covilhã
Cineplace - Serra Shopping
Avenida Europa, Lt 7 - Loja A102.
My Hero Academia: Ascensão dos
Heróis M12. 16h20 (V.Port./2D); A Vida
Extraordinária de David Copperfield M12.
21h20; Greenland - O Último Refúgio M14.
16h10, 18h50, 21h30; Tenet M14. 18h10,
21h10; A Fábrica dos Sonhos M6. 16h (V.
Port./2D); After - Depois da Verdade 16h30,
19h, 21h40; O 3.º Andar: Terror na Rua
Malasana M16. 18h40
Figueira da Foz
Cinemas Nos Foz Plaza
C. C. Foz Plaza, R. Condados. T. 16996
O Segredo das Bolachas M6. 15h, 17h45 (V.
Port./2D); A Vida Extraordinária de David
Copperfield M12. 12h45, 15h30, 18h30,
21h45; Greenland - O Último Refúgio M14.
15h15, 18h15, 21h15; Tenet M14. 14h45, 18h,
21h30; After - Depois da Verdade 13h, 15h45,
18h45, 22h; Em Fúria M16. 21h
Gondomar
Cinemas Nos Parque Nascente
Praceta Parque Nascente, nº 35. T. 16996
My Hero Academia: Ascensão dos
Heróis M12. 20h40; Scooby! M6. 11h30,
14h30, 16h50 (V.Port./2D); A Vida
Extraordinária de David Copperfield M12.
20h30; Greenland - O Último Refúgio M14.
13h10, 16h, 18h50, 22h10; Tenet M14. 14h,
17h30, 21h; Bem-Vindos a África M12. 18h; O
Segredo do Refúgio M16. 16h40, 19h, 21h30;
Os Novos Mutantes M14. 16h10, 18h40,
21h20; A Fábrica dos Sonhos M6. 10h50,
15h30, 17h40 (V.Port./2D); After - Depois da
Verdade 13h50, 16h30, 19h10, 21h50; Em
Fúria M16. 14h40, 17h10, 19h30, 22h; O 3.º
Andar: Terror na Rua Malasana M16. 19h50,
22h30; O Fim do Mundo M16. 18h10; Minha
Querida Nora M12. 15h, 20h50;
Summerland M12. 13h20, 15h50, 18h30,
21h10; Um Príncipe em Apuros M6. 11h10,
15h10 (V.Port./2D); A Galeria dos Corações
Partidos M14. 13h40, 16h20, 19h20, 22h20
Guarda
Cineplace - Guarda
C.C. Vivaci, Av. dos Bombeiros Voluntários
Egitanienses, nº 5. T. 271212140
My Hero Academia: Ascensão dos
Heróis M12. 16h (V.Port./2D); A Vida
Extraordinária de David Copperfield M12.
21h20; Greenland - O Último Refúgio M14.
16h10, 18h50, 21h30; Tenet M14. 18h, 21h10;
A Fábrica dos Sonhos M6. 15h50 (V.
Port./2D); After - Depois da Verdade 16h30,
19h, 21h40; O 3.º Andar: Terror na Rua
Malasana M16. 18h30
Guimarães
Castello Lopes - Espaço Guimarães
Espaço Guimarães - Loja 154, R. 25 de Abril, 1
- Silvares. T. 253539390
O Segredo das Bolachas M6. 11h, 13h25,
15h15 (V.Port./2D); Spycies: Agentes
Especiais 11h (V.Port./2D); Bora Lá M6. 11h (V.
Port./2D); Scooby! M6. 11h (V.Port./2D);
Greenland - O Último Refúgio M14. 14h35,
16h15, 18h45, 21h15; Tenet M14. 18h30, 21h; O
Segredo do Refúgio M16. 13h, 19h; Os Novos
Mutantes M14. 15h; A Fábrica dos
Sonhos M6. 11h, 15h50, 17h10 (V.Port./2D); O
Segredo: Atreve-te a Sonhar M12. 21h30;
After - Depois da Verdade 14h10, 16h30,
18h50, 21h10; A Galeria dos Corações
Partidos M14. 14h20, 16h40, 19h, 21h20
Castello Lopes - Guimarães Shopping
Lugar das Lameiras - GuimarãesShopping. T.
253520170
O Segredo das Bolachas M6. 11h, 16h40 (V.
Port./2D); Bora Lá M6. 11h (V.Port./2D); My
Hero Academia: Ascensão dos Heróis M12.
11h, 14h10 (V.Port./2D); Scooby! M6. 11h (V.
Port./2D); Greenland - O Último Refúgio M14.
13h45, 16h15, 18h45, 21h20; Tenet M14. 13h,
15h, 18h, 21h; Os Novos Mutantes M14. 19h10,
21h; A Fábrica dos Sonhos M6. 11h, 13h, 15h,
17h, 19h, 21h (V.Port./2D); After - Depois da
Verdade 14h10, 16h30, 18h50, 21h10; Em
Fúria M16. 13h, 15h55, 17h50, 19h45, 21h40;
Away - A Viagem M6. 11h (V.Port./2D)
Maia
Cinemas Nos MaiaShopping
MaiaShopping, Lugar de Ardegaes. T. 16996
O Segredo das Bolachas M6. 13h15, 16h10,
18h40 (V.Port./2D); Greenland - O Último
Refúgio M14. 13h10, 16h, 18h50, 21h40;
Tenet M14. 13h30, 17h, 21h; O Segredo:
Atreve-te a Sonhar M12. 21h20; After -
Depois da Verdade 13h40, 16h20, 19h,
21h50; Em Fúria M16. 21h30; Um Príncipe em
Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 21
Apuros M6. 13h20, 15h50, 18h30 (V.
Port./2D)
Orient Cineplace - Mira Maia Shopping
Mira Maia Shopping, Estrada Real nº 95 -
Lugar das Guardeiras. T. 229419241
My Hero Academia: Ascensão dos
Heróis M12. 16h20 (V.Port./2D); A Vida
Extraordinária de David Copperfield M12.
21h20; Greenland - O Último Refúgio M14.
16h10, 18h50, 21h30; Tenet M14. 21h10; A
Fábrica dos Sonhos M6. 16h30 (V.
Port./2D); After - Depois da Verdade 19h,
21h40; Um Príncipe em Apuros M6. 16h (V.
Port./2D)
Matosinhos
Cinemas Nos Marshopping
IKEA Matosinhos, Av. Óscar Lopes. T. 16996
A Vida Extraordinária de David
Copperfield M12. 14h50, 18h, 21h15;
Greenland - O Último Refúgio M14. 13h45,
16h25, 19h25, 22h15; Tenet M14. 13h30,
17h15, 20h45; O Segredo do Refúgio M16.
22h; After - Depois da Verdade 13h15,
16h10, 19h15, 22h30; Em Fúria M16. 14h,
16h40, 19h, 21h30; Um Príncipe em
Apuros M6. 10h45, 14h15, 16h55, 19h40 (V.
Port./2D); A Galeria dos Corações
Partidos M14. 13h05, 15h45, 18h30, 21h; O
Rei Leão M6. Sala IMAX - 11h, 14h30, 17h30;
Tenet M14. Sala IMAX - 21h45
Cinemas Nos NorteShopping
NorteShopping, R. Sara Afonso. T. 16996
A Vida Extraordinária de David
Copperfield M12. 12h50, 15h40, 21h40;
Greenland - O Último Refúgio M14. Sala
NOSXVision - 13h30, 16h10, 18h50, 21h30;
Tenet M14. 13h10, 17h, 21h; O Segredo do
Refúgio M16. 13h, 15h30, 18h20, 21h10; Os
Novos Mutantes M14. 19h, 22h10; A
Fábrica dos Sonhos M6. 10h50, 13h40, 16h
(V.Port./2D); After - Depois da
Verdade 13h20, 15h50, 18h30, 21h20; Em
Fúria M16. 14h, 16h30, 19h20, 22h; O 3.º
Andar: Terror na Rua Malasana M16.
19h30, 22h20; Minha Querida Nora M12.
18h40; Um Príncipe em Apuros M6. 11h,
13h50, 16h40 (V.Port./2D); A Galeria dos
Corações Partidos M14. 12h40, 15h20,
18h10, 21h50
Paços de Ferreira
Cinemas Nos Ferrara Plaza
Ferrara Plaza. T. 16996
Scooby! M6. 13h30, 16h, 18h30 (V.
Port./2D); A Vida Extraordinária de David
Copperfield M12. 15h30, 18h20;
Greenland - O Último Refúgio M14. 15h20,
18h10, 21h20; Tenet M14. 16h10, 21h10; Os
Novos Mutantes M14. 21h; After - Depois
da Verdade 13h20, 15h50, 18h40, 21h40;
Em Fúria M16. 21h50
Penafiel
Cinemax - Penafiel
Ed. Parque do Sameiro. T. 255214900
O Segredo das Bolachas M6. 11h, 13h, 17h
(V.Port./2D); My Hero Academia:
Ascensão dos Heróis M12. 19h10;
Scooby! M6. 13h (V.Port./2D); A Vida
Extraordinária de David Copperfield M12.
19h30; Greenland - O Último Refúgio M14.
14h40, 17h10, 21h40; Tenet M14. 21h30; A
Fábrica dos Sonhos M6. 11h, 15h, 19h (V.
Port./2D); After - Depois da Verdade 15h,
21h40; Em Fúria M16. 17h20; Um Príncipe
em Apuros M6. 11h, 13h (V.Port./2D)
São João da Madeira
Cineplace - São João da Madeira
São João da Madeira.
O Segredo das Bolachas M6. 16h20 (V.
Port./2D); My Hero Academia: Ascensão
dos Heróis M12. 18h30 (V.Port./2D); A Vida
Extraordinária de David Copperfield M12.
21h20; Greenland - O Último Refúgio M14.
16h10, 18h50, 21h30; Tenet M14. 21h10; A
Fábrica dos Sonhos M6. 16h (V.Port./2D);
Dia de sair
After - Depois da Verdade 16h30, 19h10,
21h40; Em Fúria M16. 18h40
Viana do Castelo
Cineplace - Viana do Castelo
Avª General Humberto Delgado, Orient
Cineplace . T. 258100260 My Hero Academia:
Ascensão dos Heróis M12. 16h (V.Port./2D); A
Vida Extraordinária de David
Copperfield M12. 18h30; Greenland - O Último
Refúgio M14. 16h10, 18h50, 21h30; Tenet M14.
21h10; A Fábrica dos Sonhos M6. 16h30 (V.
Port./2D); After - Depois da Verdade 18h40,
21h20; Minha Querida Nora M12. 19h;
Summerland M12. 16h20, 21h40
Vila Nova de Gaia
Cinemas Nos GaiaShopping
Av. Descobrimentos, 549. T. 16996 O Segredo
das Bolachas M6. 13h40, 16h10 (V.Port./2D); My
Hero Academia: Ascensão dos Heróis M12.
14h30, 17h (V.Port./2D); A Vida Extraordinária
de David Copperfield M12. 19h30, 22h20;
Greenland - O Último Refúgio M14. 13h10,
13h30, 15h50, 16h20, 18h40, 19h10, 21h30, 22h;
Tenet M14. 14h20, 17h40, 21h; Os Novos
Mutantes M14. 14h, 16h30, 18h50, 21h20;
Radioactivo M12. 21h40 ; After - Depois da
Verdade 14h10, 16h40, 19h20, 21h50; Em
Fúria M16. 14h40, 17h10, 19h50, 22h30; O 3.º
Andar: Terror na Rua Malasana M16. 19h40,
22h10; O Fim do Mundo M16. 19h; Um Príncipe
em Apuros M6. 13h20, 16h (V.Port./2D)
UCI Arrábida
Arrábida Shopping. #AnneFrank - Vidas
Paralelas M12. 17h50; A Vida Extraordinária
de David Copperfield M12. 14h40, 20h40;
Greenland - O Último Refúgio M14. 14h10,
15h50, 19h, 22h; Tenet M14. 14h20, 17h10, 18h,
20h50, 21h40; O Segredo do Refúgio M16.
20h30; After - Depois da Verdade 15h20,
18h10, 21h; Em Fúria M16. 13h50, 16h20,
18h50, 21h20; Ordem Moral M14. 17h40;
Regresso a Itália M12. 20h10; O Fim do
Mundo M16. 14h30; Minha Querida Nora M12.
17h30; Summerland M12. 14h, 16h30, 19h10,
21h50; Um Príncipe em Apuros M6. 15h (V.
Port./2D); Verão de 85 M14. 13h30, 16h10,
18h40, 21h30; A Galeria dos Corações
Partidos M14. 13h20, 16h, 18h30, 21h10
Vila Real
Cinemas Nos Nosso Shopping
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Grasse. T. 16996 O Segredo das Bolachas M6.
14h, 16h40, 19h20 (V.Port./2D); A Vida
Extraordinária de David Copperfield M12.
14h30, 17h30, 20h45; Greenland - O Último
Refúgio M14. 13h05, 16h05, 19h, 22h;
Tenet M14. 13h45, 17h10, 20h30, 21h20; After
- Depois da Verdade 13h15, 15h50, 18h30,
21h35; Em Fúria M16. 13h30, 16h20, 18h45,
21h05; O 3.º Andar: Terror na Rua
Malasana M16. 22h10; Um Príncipe em
Apuros M6. 14h45, 17h50 (V.Port./2D)
Viseu
Cinemas Nos Fórum Viseu
Fórum Viseu. T. 16996
O Segredo das Bolachas M6. 15h30, 18h30
(V.Port./2D); A Vida Extraordinária de David
Copperfield M12. 15h15, 18h10, 21h20;
Greenland - O Último Refúgio M14. 15h45,
18h40, 21h30; Tenet M14. 17h, 21h10; After -
Depois da Verdade 16h15, 18h50, 21h40 ;
Ordem Moral M14. 16h45, 20h45; O Fim do
Mundo M16. 21h50
Cinemas Nos Palácio do Gelo
Palácio do Gelo, Est. Nelas, Qt. Alagoa. T.
16996
Tenet M14. 16h, 20h40; Os Novos
Mutantes M14. 21h45; A Fábrica dos
Sonhos M6. 15h10, 17h15 (V.Port./2D); After -
Depois da Verdade 15h30, 18h15, 21h; Em
Fúria M16. 15h40, 18h25, 21h30; Minha
Querida Nora M12. 19h20; Summerland M12.
15h50, 18h40, 21h20; Um Príncipe em
Apuros M6. 16h10, 18h55
22 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020

Estar bem
GETTY IMAGES
Nos últimos anos, tem vindo a au- cirurgia de remoção completa da
mentar o número de casos de can- glândula tiroide, o doente terá de
cro da tiroide. Desde 1975, a inci- tomar uma medicação oral (apenas
dência (aparecimento de novos um comprimido por dia) para o res-
casos) deste tipo de cancro em Por- to da vida. Irá ser vigiado regular-
tugal aumentou dez vezes: de cerca mente pelo seu médico assistente,
de 50 casos por ano para perto de e as análises de sangue permitirão
500, de acordo com o Registo On- aferir a dose adequada de medica-
cológico Nacional. ção para cada caso, de modo a que
Esta é uma doença muitas vezes não venha a acontecer nenhuma
silenciosa, pelo que a informação alteração no peso nem na atividade
e vigilância são fundamentais. Hoje, física ou intelectual.
Dia da Sensibilização para o Cancro Não é conhecida a causa da maior
da Tiroide, importa alertar para a parte dos tumores malignos da ti-
importância do diagnóstico preco- roide. As pessoas que vivem num
ce desta doença e saber reconhecer raio de 20 quilómetros de instala-
os sinais. ções nucleares devem contactar as
A tiroide é uma glândula com vá- autoridades de saúde ou de Prote-
rias funções no nosso organismo: ção Civil da área. E deverão ter con-
regula o ritmo cardíaco, a tensão sigo uma medicação (iodeto de po-
arterial, a temperatura corporal, o tássio) que bloqueia em parte os
peso, o humor. São vários os pro- efeitos da radiação sobre as células
blemas que podem afetar o seu da tiroide, para tomarem na impro-
bom funcionamento, entre os quais vável eventualidade de uma fuga
os de origem cancerígena. nuclear.
O cancro da tiroide pode não cau-
sar qualquer sintoma de início,
mas, ao crescer, pode provocar dor
ou uma saliência no pescoço. Pode
ainda ser causa de alterações na
Em
voz, rouquidão ou engasgamento
fácil. A maior parte dos nódulos
comparação
que podem surgir na tiroide são
benignos, e são cerca de quatro ve-
com outros
zes mais frequentes no sexo femi-
nino.
tipos de
Se notar algum destes sintomas
ou sinais deve consultar o seu mé-
cancro, o
dico. Ele deverá fazer todos os anos
uma palpação local e do pescoço, cancro da
e poderá neste caso requisitar exa-
mes como análises de sangue ou tiróide tem
ecograÆa. Só com a avaliação mé-
dica saberemos se os nódulos da uma das
tiroide em cada caso são benignos
ou malignos. melhores
O cancro da tiroide tem trata-
mento. Exige um diagnóstico pre-
coce e orientação por equipas hos-
taxas de
pitalares diferenciadas, com Endo-
crinologia, Cirurgia Endócrina,
sobrevivência
Radiologia, Anatomia Patológica,
Patologia Clínica e Medicina Nu-
clear. O tratamento consiste, em
regra, numa cirurgia para remover O que todos devemos fazer é cui-

Cancro da tiróide:
a glândula tiroide, que na maior
parte das vezes será curativa sem
necessidade de tratamentos adju-
vantes. Pode, contudo, ser neces-
sária uma cirurgia mais extensa
dar sempre da nossa saúde e da dos
nossos familiares, estar atentos aos
sintomas e sinais, e procurar acon-
selhamento médico. Mesmo em
tempos de pandemia, as outras

uma doença para remover também gânglios do

pescoço, ou um tratamento médico
com Iodo 131, nos casos em que cé-
lulas malignas se tenham dissemi-
doenças não esperam. A falta de
avaliação ou de tratamento fará que
o cancro nos apareça de forma mais
grave ou mais disseminada mais tar-

silenciosa nado para além da tiroide.

Os resultados são, em geral, mui-
to bons. Comparativamente a ou-
tros tipos de cancro, o cancro da
tiroide tem uma das melhores taxas
O cancro da tiróide pode não causar qualquer sintoma de início, mas, ao crescer, de sobrevivência. A taxa de morta-
lidade é de cerca de 1% aos 25 anos
pode provocar dor ou uma saliência no pescoço. Pode ainda ser causa de alterações após diagnóstico. Provavelmente já
na voz, rouquidão ou engasgamento fácil se questionou: “E depois da cirur-
gia? Ouvi dizer que vou engordar
Filipe Sá Santos se retirar a tiroide.” Depois de uma
de, com risco de maiores danos para
a saúde. Não adie! Os hospitais são
locais seguros, pelo que não deve
ter receio de procurar o seu médico.
Olhe-se ao espelho. Palpe o seu pes-
coço. Cuide da sua tiroide.
Cirurgião endócrino
do Hospital CUF Porto -
Unidade de Tumores
da Tiroide
 Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020 • 23

Crónica

#CáVamosAndando

A
pandemia trouxe
novas e espantosas
coisas ao mundo,
mas entre os seus
efeitos nefastos
conta-se um que não
creio ter visto ainda abordado: a
aceleração do processo de
hashtaggização de tudo o que é
frase. Em que consiste?
Simplesmente em pôr um # antes
de toda e qualquer expressão, por
mais banal que seja.
Os hashtags usam-se nas redes
sociais, sobretudo no Twitter e
Instagram, para que todas as
publicações sobre um mesmo
assunto sejam agrupadas e tenham
visibilidade. Quando se diz na
imprensa que o acontecimento X
ou fulano tal se “tornou viral”, isso
deve-se muitas vezes aos hashtags
ou estão na origem deles. Na vida
fora das redes, se ela ainda existe,
não têm utilidade nenhuma. Ainda
assim, por todo o lado se
encontram frases com o # atrás e
diÆculdades por maiores que sejam
os obstáculos.
Faz sentido que
#VaiFicarTudoBem seja um
hashtag, porque assim se cria um
elo antes invisível entre pessoas
que não se conhecem, sujeitas às
mesmas circunstâncias, que
encontram na expressão algo a que
se agarrar. Caso bem diferente é a
utilização de hashtags por
operadores de transportes
públicos ou organismos oÆciais do
Estado, que dessa forma apenas
parecem empenhados em
mostrar-se “jovens”, “dinâmicos” e
“modernos”, que é outra praga
exacerbada (mas não criada) pelas
redes sociais.
Para além da adopção
generalizada de expressões como
“novo normal” ou “em tempos de
covid-19”, de que se tem abusado
sobretudo nos jornais (eu próprio
já as escrevi), a hashtaggização de
frases junta-se a outro pesadelo, o
da linguagem complicada.
“conÆnamento proÆláctico”
João Pedro Pincha quando se pretendia dizer “Æquem
em casa” ou “etiqueta respiratória”
como código para “não espirrem
para cima dos outros”.
Um dos problemas do
#VaiFicarTudoBem talvez tenha
sido criar a ilusão de que a
pandemia seria coisa passageira e
que por esta altura já estivéssemos
de volta à vida normal. Os
primeiros a entrar em teletrabalho
julgaram que daí a quinze dias
voltariam ao escritório, mas os
Por estes dias já meses passaram, o tempo
se destruiu a distendeu-se e já ninguém se atreve
a previsões.
narrativa de que O pânico trouxe o
#VaiFicarTudoBem, o cansaço
a pandemia ia matou-o. A expressão caiu em
desuso e tornou-se irritante, tal
trazer mudanças como os arco-íris que chegaram a
ver-se em muitas varandas.
significativas ao Passaram apenas seis meses, mas a
comunicação sobre a pandemia
mundo, como se teve de reinventar-se.
Novos hashtags procuram-se.
serem replicáveis e, acima de
tudo, fazerem algum sentido. Se
trazem esperança ou não, pouco
importa. Por estes dias já se
destruiu a narrativa de que a
pandemia ia trazer mudanças
signiÆcativas ao mundo, como se
jurou a princípio, e de que um
novo Homem iluminado, sensível
e humilde estava na forja.
#CáVamosAndando. Se querem
um hashtag para os dias que
correm, está aqui. Expressão
muito portuguesa que quer dizer
tudo e nada, exactamente como
na situação em que nos
encontramos: já pássamos por
coisas, estamos a passar por
coisas, ainda havemos de passar
por mais coisas. O mundo
continua a rodar sobre si próprio
e a girar em torno do Sol.
Arrastamo-nos por aqui tentando
organizar a vida em função do
“novo normal” “em tempos de
covid-19”.

sem espaços entre as palavras,

como mandam as regras nas redes
Passámos meses a ouvir jurou a princípio Requisitos: Æcarem no ouvido, joao.pincha@publico.pt
ADRIANO MIRANDA
sociais digitais.
O fenómeno não é novo e foi
adoptado por marcas e entidades
de todo o tipo talvez para dar um
certo ar cool a coisas que nem por
muito boa vontade o são. Só a
propósito da pandemia
encontram-se vários exemplos:
#SejaUmAgenteDeSaúdePública,
#AjudenosANãoParar,
#UmConselhoDaDGS ou o
inevitável #VaiFicarTudoBem, que
no caso é o mais desculpável
porque não provém de uma
entidade pública de quem se
espera uma mensagem clara e
concisa.
Esta pequena frase que correu
mundo e tornou-se numa espécie
de lema oÆcial da Humanidade nos
primeiros tempos de pandemia — é
esperança vertida em palavras,
ansiedade tornada mentira
piedosa, reÇexo pleno do
nervosismo que então sentíamos.
“Vai Æcar tudo bem” é o conforto
de sabermos que estamos todos a
passar pelo mesmo, é a crença, ou
o Ængimento dela, de que o ser
humano ultrapassará todas as
24 • Público • Domingo, 27 de Setembro de 2020
Crónica
O vídeo, a bastonária e o da coelhinha Acácia
J
oseph Kessel é um daqueles
comuns franceses
extraordinários que
começaram por não ser
franceses. Nasceu na
pequena cidade argentina de
Villa Clara, de pais judeus russos, e
emigrou para França pela mesma
razão que levou Fievel (o ratinho
judeu e russo do Ælme de animação
Fievel – Um Conto Americano) a
acabar em Nova Iorque. Eu sei que
em tão poucas linhas já falei de
lugares a mais, mas o leitor fará um
esforço igual ao da minha Ælha.
Quando ela tinha 4 anos e chorou
por Fievel logo entendeu que faz
parte de nós, ratinhos ou franceses
extraordinários, termos fortes
probabilidades de partir para
algures.
Kessel foi um grande jornalista,
autor de Le Chant des Partisans, o
hino dos resistentes contra a
ocupação do seu país pelos nazis, e
publicou romances populares. Um
deles, Os Amantes do Tejo, foi-lhe
inspirado quando passou por
Lisboa para se juntar ao general De
Gaulle em Londres, durante a II
Guerra Mundial. O realizador
Henri Verneuil, em 1954, Ælmou o
romance Os Amantes do Tejo.
EnÆm, chego ao que quero:
Amália. O romance de Kessel não
era grande espingarda e o Ælme
também não foi, mas em Os
Amantes do Tejo Amália cantou
Barco Negro. Em 1939, a minha
mãe, acabado o curso comercial no
Instituto de Odivelas, escreveu à
irmã, no Porto: “Lininha, ontem fui
a uma casa de fados, guarda este
nome: Amália Rodrigues.” No
Ælme, uma jovem aparece no
momento sagrado de Os Amantes
do Tejo, está por trás de Amália e,
ela, a jovem, ouvindo: “Dizem as
velhas da praia que não voltas, são
loucas, são loucas, eu sei, meu
amor, que nem chegaste a partir…”
Ela, consigo própria. Na mesa da
casa de fados com uma vela acesa,
o braço apoiado nas costas da
cadeira, os dedos a passear-se nos
cabelos curtos, baixando os olhos
quando a sacerdotisa a encarava.
Mas ela cravava os olhos em Amália
quando esta partia para o seu amor
que não voltava do mar. Outra vez,
partir, mas na estranha forma de
vida das mulheres, Æcando. Um
miúdo de Alfama perguntava ao
ator (o francês Daniel Gélin) se
gostava de viajar, e este respondia:
“Gosto é de partir”. As mulheres
são mais telúricas, mais agarradas
à terra, enraizadas.
Por isso são mais facilmente
apanhadas quando a cidade anda à
procura delas. Em 1979, no último
julgamento antes da lei sobre o
aborto eu estava na Boa Hora.
Conceição escrevera no seu diário
que tinha abortado, alguém lhe
roubara a página e por isso ela era
julgada. No claustro do tribunal
uma multidão de jovens mulheres
irritara os polícias com o grito “As
mulheres dos polícias também
abortam!”, e os pobres guardas da
esquadra das Mercês puseram-se a
abanar os cassetetes. Na fuga pela
escadaria de belos azulejos, uma
rapariga caiu, foi agredida, fui
ajudá-la. Um cassetete, virado ao
contrário, com metal,
anestesiou-me e acordei no Santa
Maria com as costas marcadas. O
Diário de Lisboa relatou no dia
seguinte que o jornalista, antes da
agressão, se identiÆcara
devidamente.
D
e facto, não foi uma
questão de carteira
proÆssional, mas
uma conÆssão
completa: tenho
uma admiração
assolapada pelas mulheres. Em
1985, Amália fazia 65 anos, a
jornalista do Diário de Notícias
Maria Augusta Silva perguntou-lhe
sobre o aborto. Pouco antes fora
aprovada a lei pela interrupção
voluntária da gravidez. Amália
Rodrigues respondeu à jornalista
que não podia julgar: “Só quem
vive esse problema em toda sua
dimensão o poderá avaliar.”
Viver, ela tinha vivido muita
coisa. Ser pobre e mulher;
impor-se enorme e universal num
país tornado mesquinho, no
salazarismo; ter sido injustiçada no
25 de Abril, quando o país se
iluminava… Este último episódio
devastara-a: foi “como cortar as
Um ponto é tudo pernas a alguém, mesmo que seja
Ferreira Fernandes sem querer”, disse. Rematou: “É
esse frio que me gela.” Mentiu.
Linhas antes ela tinha, mais do que
dito, demonstrado como guardara
o coração quente para as mulheres.
“Só quem vive…” E, por arrasto,
quero crer, para os homens
decentes.
E por falar nestes, por contraste
deitemos um olhar a Évora, onde
no Æm de semana passado se
reuniu, numa tenda, um grupo de
homens e mulheres indecentes, o
congresso do Chega. Durante a
sessão, toda ela pornográÆca, eles
divulgaram um vídeo onde
mostraram uma cena chocante.
Por avisada prudência (a deixá-los
bolsar sem interromper, sei lá onde
isto vai parar!), acho que temos de
lhes lembrar os limites. Um fulano
apresentou uma moção, que foi
discutida. Queria ele que, às
mulheres que “abortem no Serviço
Nacional de Saúde”, lhes sejam
“retirados os ovários”.
Isto é, uma pessoa vai ao
hospital, pede o que é do seu
direito e sai mutilado. O fulano da
moção, Rui Roque, é presidente da
Associação Cultural Remechido,
Em Évora, foi uma homenagem ao miguelista
José Joaquim Remexido, que
cometida uma
saqueou e matou meia Albufeira,
na década de 1830. Por educação,
insídia. Mais não vou à associação dizer que o
estupor do guerrilheiro não foi Çor
uma tocaia, que se cheirasse. Mas gostaria de
dizer quanto lamento o castigo
toque e foge, a público que os meus, os liberais,
inÇigiram à mulher do Remexido –
ver até que foi chicoteada. Uma brutalidade,
não só aos olhos de hoje, mas já
ponto aos de então. A Carta
Constitucional de 1826, dos meus,
aceitamos a já tinha proibido “os açoites, a
tortura, a marca de ferro quente.”
provocação Há dois séculos!
A
dos indecentes. gora, é fazer as
contas, 194 anos
Temos de lhes depois, quem
homenageia os que
praticaram e
lembrar os sofreram aquelas
punições cruéis propõe que elas
limites sejam retomadas. E mais,
discutem-nas com gente que tem
condições de aplicar a
bestialidade. Discutiram a
possibilidade de quem for fazer
uma interrupção voluntária de
gravidez e nos termos que a lei
prevê correr o risco de Æcar sem
ovários. A moção não foi
aprovada, mas foi considerada
digna de ser discutida. E foi
discutida. Num congresso em
que esteve, é certo que só para
dar um beijinho a amigos, mas
com toda a sua autoridade, a
bastonária da Ordem dos
Enfermeiros. E foi discutida num
congresso que elegeu para a
direção do partido Tiago Sousa
Dias, um indivíduo que fora
escolhido por essa Ordem para
ser assessor e criar o “Gabinete
do Enfermeiro”. Enfermeiros,
lembro, que costumam estar
presentes no ato médico referido
na famigerada moção. Que
notório abuso cometido contra
toda uma classe.
Contra nós, todos, foi
cometida uma insídia.
Mais uma tocaia, toque e foge, a
ver até que ponto aceitamos a
provocação dos indecentes.
Entretanto, porque isto é tão
português, o da coelhinha Acácia
deixou a moção ser discutida e
deixou-a perder. Ele é da ala dos
moderados que na Idade Média
aceitava que as mutilações
pudessem ser compradas por
dinheiro. Traduzido para hoje,
ele é dos que fala contra a
corrupção e ganha vida a
ensinar os ricos a contornar os
impostos. Mas, mais
oportunista que ideólogo,
o da coelhinha vai endurecer a
converseta. Se o arrancar dos
ovários já foi discutido, o
próximo atarraxar pode ser sem
anestesia. Na Idade Média, a
punição era servida no teatro do
terror e do horror — a mutilação
mais eÆcaz era a que tinha
público e patíbulo. Hoje, há falta
de vergonha para aquela, há
público e o patíbulo volta a ter
adeptos.
Jornalista