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Joaquim Escola
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
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Natália Lopes
Joaquim Escola
Universidade de Trás - os - Montes e Alto Douro
Resumo
A obra de Paul Virilio, locus do estudo, rasga um conjunto significativo de vias
fecundas para uma leitura pertinente e sugestiva da comunicação e tecnologia no século
XXI. Apesar de ser pensado muitas vezes como um céptico em relação ao rumo da
técnica, o seu pensamento constitui um marco incontornável na reflexão sobre a
comunicação virtual. A consciência de que a tecnologia alterou decisivamente o devir
da história da humanidade e do modo como o Homem é pensado e a estreita relação
entre o homem e a máquina são a pedra de toque para uma antropologia no ciberespaço.
A crescente importância da comunicação virtual abre novos caminhos em direcção à
construção de uma nova humanidade e de novas subjectividades, sem descartar a
possibilidade da massificação e homogeneização do Homem, rasurando as marcas de
uma individualidade.
O triunfo da tecnologia, invadindo paulatinamente o quotidiano do ser humano, quer
pelo aumento exponencial da velocidade, e pela aceleração do tempo, a dromologia,
quer pelo aniquilamento do espaço inauguram uma época em que o Homem, velho
viajante, se apaga silenciosamente num gélido imobilismo, num sedentarismo
domiciliário.
O desencanto perante o excesso (hubris) disponibilizado pelas tecnologias têm
conformado a modernidade, de que se oferecem como exemplo a experiência da guerra
e os desastres ecológicos e tecnológicos descritos por Virilio, parece não ter alterado a
nossa forma de encarar o projecto da modernidade. A decepção não foi suficientemente
forte para obnubilar o deslumbramento. Nesta comunicação pretendemos pensar de
forma crítica e lúcida os contributos do pensamento de Paul Virilio na compreensão da
relação entre a comunicação e a tecnologia.
Introdução
Segundo o urbanista (Virilio, 1997), o lugar da técnica e das máquinas pode ser
observado em três momentos complementares. O primeiro está associado ao
desenvolvimento dos meios de transportes; o segundo, ao aumento dos meios de
comunicação, e o terceiro, à integração das máquinas que invadem e aceleram o corpo.
Cada uma destas etapas envolveu operações que resultaram no alcance de velocidades
cada vez maiores.
Para Virilio, (1997: 20) a técnica é o melhor e o pior. Neste sentido todas as
revoluções são um drama, mas a revolução técnica que se anuncia é, sem dúvida, mais
que um drama, uma tragédia de conhecimentos, uma confusão de saberes individuais e
colectivos.
Numa das suas obras mais polémicas ‘A bomba informática’, o autor alerta para
os riscos de um acidente total, provocado pelas novas tecnologias. Virilio (2000: 71)
considera que:
Foi com surpresa que verificou que os homens atingidos na sua mobilidade, os
deficientes motores, manifestavam indignação pela uso que os poliválidos
sobreequipados das teletecnologias utilizados na domótica faziam. Reforçando esse
desagrado, dizendo que observou
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“A domótica, a imótica – imóvel domotizado – levam, não só ao desaparecimento da cidade,
mas ao desaparecimento da arquitectura como elemento estruturante da relação com o outro” (Virilio,
CAPP, 2000:72).
Com os últimos progressos nas telecomunicações, na informática e na electrónica nasceu uma
nova disciplina: a domótica, ou a informática aplicada à casa. A domótica é a disciplina que pretende
aplicar à casa as novas tecnologias digitais, com o objectivo de reduzir o consumo de energia, aumentar a
segurança e obter uma casa mais confortável e com melhores comunicações com o exterior. O centro de
controlo das chamadas casas inteligentes é o computador doméstico. Ligam-se a ele os aparelhos
terminais: aparelhagens de alta-fidelidade, televisões, equipamentos de vídeo, electrodomésticos,
radiadores, luzes, aspersores de rega, telefone, fax, modem, purificadores de ar e outros. Todos estes
dispositivos estão ligados entre si através de um complexo conjunto de cabos, chamado rede domótica.
(Enciclopédia de consulta activa & multimédia, 1997: 29).
Tal como Virilio, consideramos que devemos ter uma atitude crítica em relação
à tecnologia. Não é ser-se contra nem a favor. É verificarmos o que de bom e de mau
elas nos podem trazer. Por cada vantagem trazida por uma nova tecnologia, há sempre
uma desvantagem que lhe corresponde ou segundo Virilio, um acidente.
Porém, o intenso uso que o Homem faz das tecnologias não nos causará tanta
impressão se, tal como este autor, tivermos em conta que:
“Elogiar os méritos das novas tecnologias, é certamente útil à publicidade dos novos
produtos, penso que não seja útil à política das novas tecnologias. É necessário,
doravante referenciar o que é negativo naquilo que parece positivo. Nós sabemo-lo, não
progredimos através de uma tecnologia senão reconhecendo o seu acidente específico, a
sua negatividade específica…” (Virilio, 2000: 12).
Efectivamente o Homem está cada vez mais dependente das novas tecnologias e
sente-se perdido quando, por algum motivo, se vê privado das mesmas. Porém, a intensa
utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação não lhe garante uma melhor
comunicação, põe em destaque a problemática da passagem da comunicação
interpessoal, comunicação humana por excelência, para uma comunicação mediatizada,
técnica. Por mais progressos técnicos que tenham havido e que continue haver, eles não
são suficientes para garantir por si só um progresso do ponto de vista da comunicação,
uma vez que o que é essencial na comunicação não reside na performance técnica.
Partilhamos com Virilio a opinião de que no mundo sem fronteiras das redes de
comunicação se inscreve um modo nómada de existir. Esse facto caracteriza e define o
Homem actual. O nomadismo conserva ainda o vínculo à antiga concepção de
deslocamento, aquele em que o indivíduo atravessa um determinado território. Para este
urbanista
Conclusão
Muitos factores contribuem para esta ‘adesão’ incondicional ao uso das TIC,
grandemente elogiadas pela sua função facilitadora nas nossas rotinas pessoais e
profissionais ou mesmo o carácter lúdico que algumas ostentam. Não se pode ignorar,
nesse processo, a força apelativa das campanhas de marketing e a necessidade social de
ocupar posições de vanguarda na posse e utilização das novas tecnologias sem que se
pondere a “conta, peso e medida” com que esta deveria ser feita.
Bibliografia
CASTELLS, Manuel (1996). The rise of the network society. Blackwell. Oxford.
UNGARO, Santiago Rial (2003). Virilio Y los límites de la velocidad. Madrid. Campo
de Ideas, SL.
VIRILIO, Paul. (1989). América: depoimentos. (Pauta da entrevista: João Moreira
Salles e Nelson Brissac Peixoto. Tradução de Savas Karydakis. São Paulo. Companhia
das Letras e Rio de Janeiro, Vídeo filmes.
—, (1995). La vitesse de libération. Paris. Éditions Galilée. Tradução portuguesa: A
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a tradução portuguesa).
—, (1996). Cybermonde: la politique du pire. Paris : Textuel. Tradução portuguesa:
Cibermundo: A Política do Pior. Francisco Marques. Lisboa. Relógio d’Água, 2000.
(Usamos a tradução portuguesa).
—, (1997). Voyage d’Hiver: entretiens. Paris. Éditions Parenthèses : Collections
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—, (1998). La Bombe informatique. Paris. Éditions Galilée. Tradução brasileira: A
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(Usamos a tradução brasileira).
—, (1990). L’inertie polaire. Paris. Éditions Christian Bourgois. Tradução portuguesa:
A Inércia Polar. Ana Luísa Faria. Lisboa. Publicações D. Quixote. 1993. (Usamos a
tradução portuguesa).