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RESUMO: O presente texto possui como objetivo fazer referência a uma das teses
escritas por Walter Benjamim, mais especificamente, a sua IX tese. Nessa tese, o autor
chama a atenção para o progresso da humanidade. O progresso é um dos pontos mais
polêmicos que temos visto e sentido, está intimamente ligado à globalização, e com a
globalização desencadeou uma série de eventos, como o desenvolvimento das
tecnologias de informação, e também da inteligência artificial. No entanto, com as
devidas nuances a serem observadas, nos perguntamos se toda essa gama de tecnologia
nos levará ao progresso ou ao regresso enquanto humanidade? A metodologia utilizada é
bibliográfica. Ao decorrer do trabalho, serão apresentados os argumentos que
desencadeiam em uma conclusão onde se deve mirar com olhar binocular para a ideia
de progresso amparada na tecnologia.
REERENCIAL TEÓRICO
No entanto, essa evolução, esse progresso chamou a atenção de Walter Benjamim, que
ao observar e admirar a obra Angelus Novus, qual seja, um quadro do expressionista
suíço, Paul Klee, pintado no ano de 1920, foi basilar na inspiração para Benjamin
manifestar um encadeamento que, embora bastante lógico, tornou-se emblemático para
descortinar os caminhos da humanidade. Em 1940, Benjamim, escreve suas famosas
teses3 “Sobre o conceito da História”, marco da crítica esquerda à historiografia
burguesa e também à ideologia do progresso, Benjamim chama a atenção para o
progresso, fazendo alusão a ele especificamente em sua IX tese. Vejamos:
1
Advogada, Docente, Mestra e Doutoranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu
em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Santo
Ângelo/RS. Licenciada em Filosofia; Pós-Graduada em Filosofia. Email – joiciantonia@yahoo.com.br
2
HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2007, p. 143.
3
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história in: Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e
política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 222 – 232.
Tradução de Sergio Paulo Rouanet, prefácio de Jeanne Marie Gagnebin.
Há um quadro de Klee4 que se chama Angelus Novus.
Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele
encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca
dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse
aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos
uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que
acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a
nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e
juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e
prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais
fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o
futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de
ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos
progresso (BENJAMIN, 1994, p. 226).
4
KLEE, Paul. Angelus Novus. Museu de Israel. Jerusalén. Ano de criação 1920. Oil transfer and
watercolor on paper 31.8 x 24.2 cm. Public Domain. Disponível em:
<http://www.imj.org.il/node/192356#>. Acesso em 24 set 2021
consequências, supõe um mundo inclinado a garantir o poder de alguns de seus agentes.
Trata-se aqui, portanto, de uma tentativa para desmistificar o ideal de progresso e olhar
para as dores, as vicissitudes e os dilemas que emanam deste processo, que são muitos,
e que por muitas vezes a ideia é fazer com que estes não existam, simplesmente são
colocados para baixo do tapete.
Neste viés, é preciso que seja direcionado um olhar duplo para a contemporaneidade e a
globalização, bem como em tudo que dela advém. É notório que vivemos em um
alargamento da tecnologia. Ela invade nossas vidas em todos os sentidos, na educação,
no entretenimento, na economia, na agricultura, na medicina, etc...
Não há segmento que não esteja envolto de tecnologia, e dela não seja dependente. A
par disto, há um segmento que vai mais além da simples aplicação e imediatez da
tecnologia. Há a chamada Inteligência Artificial. Máquinas criadas por algoritmos que
desenvolvem inúmeros trabalhos, citamos aqui, a Inteligência Artificial utilizada pelo
Poder Judiciário – chamado VICTOR, que apesar do nome humano, VICTOR é um
sistema que usa inteligência artificial para aumentar a eficiência na tramitação dos
processos e a velocidade da avaliação judicial dos processos que chegam ao STF.
O que pode ser afirmado, com base nas ocorrências do século XX, é que as guerras em
vários países ocasionaram destruição e também desenvolvimento. Para Morin (2010, g.
28):
5
HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2005.
6
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
7
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
8
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Edições 70: Lisboa, 1995; SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão
de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1999; LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal:
ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
9
BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Edições 34, 2010.
Esta forma de progresso, está sujeita a uma enormidade de situações degradantes,
conflitos que inevitavelmente podem ao invés de gerar uma evolução positiva, pode
levar a uma degradação regressiva, uma forma de desorganização social, em que o ser
humano na busca da evolução da espécie, acaba colocando em risco e até exterminando
parte da mesma. Nas palavras de Morin (2010, p. 29), “todo progresso corre o risco de
se degradar e comporta um duplo sentido: progressão/regressão”. Neste sentido ainda
conclui “o progresso é, portanto, uma das fisionomias, uma das faces incertas do
futuro”. Dentro desta ótica, podemos analisar o período atual, de inserção tecnológica
altamente avançada, mas não podemos deixar de nos preocupar com uma emergência da
humanidade diante de tanta dominação das máquinas.
Embora diante das crises, temos a compreensão de que tudo pode recomeçar. Mas o que
necessariamente precisa recomeçar? – a humanidade. Morin (2010, p. 37), preleciona
que “a humanidade viveu sua morte potencial antes mesmo de ter sido concebida”.
Diante de uma ameaça evidente de aniquilamento possuidor da virtude da gênese da
humanidade e que transmuta a ideia abstrata em realidade factível.
Neste norte, com base nos autores de referência mundial, aqui citados, denota-se a
preocupação no que tange ao momento tecnológico e tudo o que vier em decorrência de
tamanho avanço em escala mundial.
Conclusão
Pertinente observar que nas últimas décadas, houve um elevado crescimento no que tange às
tecnologias de informação e comunicação, trazendo um ritmo diferente à sociedade. As
relações acontecem de forma rápida, a comunicação é instantânea, imediata e com diversas
pessoas ao mesmo tempo e em diversos lugares. A tecnologia ao mesmo passo que avança
para levar bem estar, inovação, cura, laser, comunicação, também possui o condão de
maximizar os segmentos como ausência de segurança na internet, que ainda é um campo
aberto para os crimes, de várias espécies. Na mesma tonalidade, não esqueçamos que
10
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 11. ed. Traduzido por Roneide Venâncio Majer. São Paulo:
Paz e Terra, 2008. v. 1.
tecnologia também causa guerras e destruição em massa. Une e desune pessoas, comunidades
e países. Progresso e regresso podem andar de mãos dadas.