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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

- SOLDADO PM -
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
- LEI 5.810/94

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POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o


exerce por meio de representantes eleitos ou
NOÇÕES DE DIREITO diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e
ADMINISTRATIVO harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República


PROGRAMA: Federativa do Brasil:
4 - NOÇÕES DE DIREITO: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
4.2. ADMINISTRATIVO - O Estado, Poderes e funções, II - garantir o desenvolvimento nacional;
Funções administrativas, Princípios da Administração
Pública, Uso e abuso do poder: Poder de Polícia; Polícia III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
administrativa e judiciária. desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO O ESTADO

O Estado, instituição política, foi criado para cuidar dos


DIREITO ADMINISTRATIVO - O Estado, Poderes e interesses coletivos. Por isso, devemos considerá-lo
funções, Funções administrativas, Princípios da como sendo o 1º setor, visto ser uma das primeiras
Administração Pública, Uso e abuso do poder: Poder instituições criada pelo homem.
de Polícia; Polícia administrativa e judiciária.
No Estado, 1º setor, como regra, tem-se a submissão ao
regime de direito público (regime especial), a
prevalência do interesse público (supremacia do
interesse público sobre o privado), bem como a
LEGISLAÇÃO PERTINENTE indisponibilidade desse interesse. Por tudo isso,
dizemos que se trata de setor público, de modo que as
pessoas que são criadas neste setor são pessoas
TÍTULO I jurídicas de direito público.
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Com efeito, o Estado (1º setor) é compreendido como
um ente ou uma entidade. Isto é, trata-se de uma
pessoa jurídica, politicamente organizada, de modo a
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela contemplar três elementos essenciais, sendo povo,
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do território e soberania ou governo. Há quem ainda inclua
Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de a finalidade.
direito e tem como fundamentos:
Essa definição parte dos estudos formulados por
I - a soberania; Montesquieu, para quem o Estado, organização política,
II - a cidadania; é concebido para bem promover os interesses coletivos
(finalidade) e, portanto, ser democrático.
III - a dignidade da pessoa humana;
Com base nesse entendimento, para considerarmos o
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; Estado como democrático deve-se contemplar a
V - o pluralismo político. existência da separação de poderes, ou seja, não pode
haver a concentração de funções (Poder) ou atividades
em um único órgão ou pessoa, sob pena desse Estado
se tornar absolutista.

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Por isso, formulou Montesquieu a chamada separação típica (finalística), exerce outras funções, de forma
de poderes estatais, que fora adotada por nossa atípica ou anômala.
Constituição (tripartição de poderes), ao prevê a
Por exemplo, ao Poder Executivo cabe o exercício da
existência de funções distintas a ser conferida a órgãos
função típica administrativa, que é de gerir a máquina
distintos do Estado, ou seja, ao Executivo, Legislativo e
estatal, realizar os serviços públicos e concretizar as
Judiciário.
políticas públicas, dentre outras atividades, mas cabe,
Esse processo, de separar poderes, criando órgãos de forma atípica, o exercício das funções legislativas (tal
distintos para realizar cada uma de suas funções como a edição de Medidas Provisórias, regulamentos
políticas é denominado de desconcentração política. internos) e de julgar (condução de processos
administrativos etc.).
Por outro lado, aos demais Poderes, isto é, ao
IMPORTANTE
Legislativo e ao Judiciário caberá o exercício de forma
O Estado é uma organização política, dotada de atípica ou anômala das funções que seriam funções
personalidade jurídica de direito público, que, típicas de outro poder.
modernamente, congrega três funções ou poderes:
Assim, além de legislar e fiscalizar os gastos públicos, ao
 Legislativo, Legislativo cabe realizar a organização e funcionamento
 Judiciário e de suas atividades (função administrativa), bem como
julgar os parlamentares por falta de decoro ou, no
 Executivo.
âmbito do Senado, por exemplo, julgar o Presidente por
crime de responsabilidade (função judiciária).
Perceba que a função executiva também é denominada De igual forma, ao Poder Judiciário, além de dizer o
administrativa e, por isso, muitas vezes se confunde o direito no caso concreto, promovendo a pacificação
Poder Executivo com a Administração Pública. Todavia social, resolvendo os conflitos de interesse (função
essa simplificação não é de todo correta na medida em judiciária), também terá que gerir seus serviços, seus
que a Administração Pública se encontra inserida nos servidores, realizando concursos, licitações etc. (função
três poderes, conforme se constata do art. 37, caput, da administrativa) e elaborar seu regimento interno e
Constituição Federal: expedir resoluções administrativas (função legislativa).
Art. 37. A administração pública direta e indireta de Por isso, ante essa complexidade de atuações e as
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito inúmeras atividades que devem desempenhar o Estado,
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de além de suas funções primordiais (poderes), é
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e necessária uma organizada estrutura administrativa a
eficiência e, também, ao seguinte: fim de promover seus objetivos, qual seja, de atender
os interesses coletivos.
Nesse sentido, e como já ressaltamos, foi estabelecida
Muito embora haja essa divisão de funções (legislativa,
essa divisão de funções entre os três órgãos ou poderes
executiva e judiciária), sendo cada função exercida de
(desconcentração política).
forma primordial ou principal por um órgão
independente (além de seus órgãos auxiliares), ou seja, Porém, no nosso caso, é possível percebermos que
como função típica, é possível verificar que há funções esses órgãos estão na estrutura de um Ente Político
atípicas ou anômalas que também serão exercidas que, conforme a Constituição Federal, se chama
concomitantemente por tais órgãos de Poder. República Federativa do Brasil. Observe então que
nosso Estado (República Federativa do Brasil), antes
Observe que cada função é exercida por órgãos
constituído como um Império deixou de ser um Estado
especiais definidos como Poder Executivo, Poder
Central, ou seja, aquele que não tem divisão política
Judiciário e Poder Legislativo, significando dizer que um
interna de competências, para ser uma Federação.
não está subordinado aos outros (independentes),
Significa dizer que promoveu uma distribuição de
tendo suas limitações e prerrogativas conferidas
competências entre outros
constitucionalmente, muito embora um controle o
outro Então, vale ressaltar que cada Poder (órgão que Entes Políticos internos. (Forma de Estado: Federativa)
exerce a função política do Estado) além de sua função
Perceba que temos dois momentos distintos. Um
quando se repartiu o Poder, criando funções distintas e

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conferindo-as a órgãos distintos. Outro quando o AUTONOMIAS:


Estado, antes central, reparte-se em Unidades Políticas
internas, com competências próprias.
Com efeito, essa distribuição de competências entre As autonomias são as competências outorgadas pela
unidades políticas distintas do Ente Central (R. F. Brasil), Constituição a cada ente federativo (União, estados,
ou seja, a criação da Federação decorre da necessidade municípios e Distrito Federal ). São as seguintes:
de aproximar a realização das atividades Estatais ao
povo.
Autogoverno: capacidade de os entes escolherem seus
É que o Estado centralizado, na dimensão do nosso, governantes (executivo e legislativo) sem interferência
torna-se mais lento, com dificuldades de atender aos de outros entes;
reclamos populares e a necessidade de se promover
determinados serviços públicos.
Auto-organização: capacidade de instituírem suas
Por isso, empreendeu-se uma repartição (territorial) de
próprias constituições (no caso dos estados) ou leis
atribuições – competências políticas -, criando-se outros
orgânicas (no caso dos municípios e do DF);
entes políticos, o que se denomina de descentralização
política.
Importante compreender que essa descentralização é Autolegislação: capacidade de elaborarem suas
realizada por força da Constituição, conforme a criação próprias leis através de um processo legislativo próprio,
dos Entes Federados, nos moldes do art. 18 da CF/88, embora devam seguir as diretrizes do processo em
sendo: a União, os Estados-membros, o Distrito Federal âmbito federal;
e os Municípios. Vejamos:

Autoadministração: capacidade de se administrarem de


Art. 18. A organização político-administrativa da forma independente, tomando suas próprias decisões
República Federativa do Brasil compreende a União, os executivas e legislativas.
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos desta Constituição.
TRIPARTIÇÃO FUNCIONAL DO PODER:

Então, vamos relembrar: O Estado (República


Federativa do Brasil) exerce três funções primordiais São Poderes da União, independentes e harmônicos
por órgãos criados para isso (desconcentração política). entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Funções que integrarão as competências distribuídas
aos entes políticos internos que foram criados para
exercer tais competências que decorrem do Ente 1- Esta é uma cláusula pétrea, não pode ser abolida (ou
central (descentralização política). reduzida) de nossa Constituição.

Logo se percebe que o exercício da função Art. 60, § 4º Não será objeto de deliberação a proposta
administrativa é concebido para ser realizado pelo de emenda tendente a abolir:
Estado ou seus entes políticos. Desse modo, quando o
I - a forma federativa de Estado;
Estado ou os entes políticos estão exercendo a função
administração serão chamados de Administração II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
Pública. III - a separação dos Poderes;
Ocorre que o Estado Central (República Federativa do IV - os direitos e garantias individuais.
Brasil) passa a atuar no campo externo (internacional),
deixando que no campo interno atuem seus entes
políticos (Estado descentralizado). Assim, quando os
entes políticos atuam internamente é o próprio Estado
quem estará realizando diretamente a função
administrativa.

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FUNÇÃO FUNÇÃO PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
TÍPICA OU ATÍPICA OU
PODER
EXCLUSIVA HARMÔNICA
LEGISLAÇÃO PERTINENTE
LEGISLAR E
JULGAR
EXECUTIVO ADMINISTRAR
CAPÍTULO VII
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ADMINISTRAR
E JULGAR Seção I
LEGISLATIVO LEGISLAR
Disposições Gerais

LEGISLAR E
ADMINISTRAR Art. 37. A administração pública direta e indireta de
JUDICIÁRIO JULGAR qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
Conquanto a Constituição tenha elencado 3 Poderes do LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
Estado, seguindo a famosa teoria da "separação dos sem o devido processo legal;
poderes" de Montesquieu, atualmente o uso do termo
"separação dos poderes" ou "divisão dos poderes" é LV - aos litigantes, em processo judicial ou
alvo de críticas. O Poder do Estado para a doutrina administrativo, e aos acusados em geral são
majoritária é apenas um (unicidade do poder político), e assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os
assim como a sua soberania, é indelegável (o interesse meios e recursos a ela inerentes;
do povo não pode ser usurpado) e imprescritível (não se
acaba com o tempo). Desta forma, o que se separa ou
se divide não é o Poder do Estado (Poder Político) e sim Ao iniciarmos o estudo do Direito Administrativo nos
as funções deste Poder, daí termos a aplicação da deparamos com a organização da Administração
expressão "tripartição funcional do Poder" (ou Pública. Assim, tais entes e entidades, órgãos e agentes,
"distinção das funções do poder"). O Poder continua estão submetidos ao conjunto de normas que vai
uno, porém, exercido através das funções executiva, orientar toda a sua atuação.
legislativa e judiciária. Lembrando que o titular deste Como bem destaca a doutrina, as normas podem ser
Poder é o povo, e os agentes ao exercerem cada uma divididas em regras e princípios. Os princípios são
destas funções devem agir em nome do povo. comandos mais abstratos, gerais, quando em conflito
(só aparente) se resolve pela ponderação de valores, já
as regras ou se aplicam ou não se aplicam (os conflitos
são resolvidos por critérios de intertemporalidade, tal
como lei posterior revoga a anterior, lei especial afasta
a geral etc.), são menos abstratas e, em geral, tratam de
situação específica.
Com efeito, é importante sabermos que é a
Constituição Federal que estabelece de forma expressa
ou implícita os princípios fundamentais que orientam a
Administração Pública.

Os princípios administrativos, segundo o Prof. Carvalho


“são os postulados fundamentais que inspiram todo o
modo de agir da Administração Pública”.

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Para Diógenes Gasparini, os princípios constituem “um É necessário distinguir o princípio da legalidade do
conjunto de proposições que alicerçam ou embasam princípio da reserva legal, sendo importante
um sistema e lhe garantem validade”. verificarmos qual o alcance da expressão lei no âmbito
do princípio da legalidade administrativa (alcance da
legalidade).
Como bem apontam Vicente Paulo e Marcelo
Quanto ao seu alcance, o princípio da legalidade deve
Alexandrino, “os princípios são as ideias centrais de um
ser visto como respeito, submissão, à lei. No entanto,
sistema, estabelecendo suas diretrizes e conferindo a devemos entender aqui lei em sentido amplo, ou seja,
ele um sentido lógico, harmonioso e racional, o que qualquer ato normativo, desde a Constituição,
possibilita uma adequada compreensão de sua passando pelos atos infraconstitucionais (espécies
estrutura”. normativas do art. 59, CF/88), até os atos infralegais
(decretos, regulamentos, instruções normativas).

Com efeito, como disse, a Constituição prevê os Nesse aspecto, devemos considerar inclusive os
princípios que orientam toda a Administração Pública, princípios expressos e implícitos contidos na
seja ela direta ou indireta, dos três poderes, da União, Constituição Federal, ou seja, não se exige apenas a
dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios, ao prevê observância da lei em sentido estrito.
os denominados princípios (expressos) básicos da Deve-se observar o que se denomina bloco de
Administração Pública, sendo: Legalidade, legalidade, ou seja, não só a lei em sentido estrito, mas
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, todo o ordenamento jurídico.
conforme preconiza o art. 37, caput, assim expresso:
Quanto à diferença entre legalidade e o princípio da
reserva legal, devemos observar que este denota a ideia
de necessidade de lei, no sentido formal, para dispor,
regulamentar, certas matérias, conforme exigência
Art. 37. A administração pública direta e indireta de constitucional.
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos Por exemplo, ao servidor público é assegurado o direito
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, à greve, nos termos e limites da lei. Assim, exige-se lei,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: em sentido estrito, a regular tal atividade. Quer dizer,
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de que não poderá a matéria ser regulada por outro ato do
1998) poder público, senão por lei.
Quer dizer que determinados temas devem
necessariamente ser regulamentos por meio de lei em
O princípio da Legalidade, também chamado de sentido estrito.
legalidade administrativa, restrita ou estrita, expressa
que a administração somente pode fazer o que a lei Ademais, vale lembrar que o princípio da legalidade
autoriza ou permite. tem representação para além do âmbito geral ou
administrativo, há ainda o princípio da legalidade penal,
É, consoante magistral lição de José Afonso da Silva, da legalidade tributária etc.
“princípio basilar do Estado Democrático de Direito”,
“porquanto é da essência do seu conceito subordinar-se A propósito, em sintonia com o princípio da legalidade é
à Constituição e fundar-se na legalidade democrática. possível destacar o princípio da finalidade, segundo o
Sujeitar-se ao império das Leis”. qual o administrador público deve observar em todos
os seus atos o fim estabelecido pela lei, que é o
Cuidado, pois, há a legalidade geral (ou princípio da atendimento ao interesse público.
autonomia da vontade) que permite aos particulares
que se faça tudo que a lei não proíba, conforme prevê o
art. 5º, inc. II, da CF/88, segundo o qual “ninguém será Com efeito, acaso o administrador pratique o ato não
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão cuidando da finalidade pública incidirá em vício,
em virtude de lei”. denominado de desvio de finalidade, modalidade de
Todavia, ao administrador público somente cabe abuso de poder, o que causa a nulidade do ato.
realizar o que a lei permita (atuação vinculada) ou Para alguns autores, o princípio da finalidade tem
autorize (atuação discricionária). estreita sintonia com o princípio da impessoalidade.

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O princípio da impessoalidade é visto sob duas O princípio da moralidade está assentado na ética,
vertentes. A primeira, no sentido de atuar visando o moral, lealdade, ou seja, no sentido de promover a
interesse público (finalidade), impedindo assim que a probidade administrativa, a honestidade.
Administração atue de forma discriminatória ou
É princípio que permite a verificação de validade dos
beneficie alguém por critérios subjetivos, ou seja, que
atos administrativos, sob o prisma da legitimidade.
favoreça ou prejudique alguém por critérios pessoais.
É certo que se trata de um conceito jurídico
Nesse sentido, conforme bem destaca o Prof. Bandeira
indeterminado, carecendo de norma para concretizá-lo,
de Mello, o princípio da impessoalidade assumiria a
ante sua natureza abrangente, mas, como bem destaca
faceta de princípio da isonomia, na medida em que a
Alexandrino, “o princípio da moralidade complementa,
Administração deve proporcionar igualdade de
ou torna mais efetivo, materialmente, o princípio da
condições e tratamento a todos os administrados.
legalidade”.
Noutra acepção, estabelece a vedação da promoção
Todavia, não se pode dizer, jamais, que se trata de
pessoal de agentes públicos ou autoridades
primado inútil, visto servir de parâmetro para coibir
administrativas, conforme preconiza o §1º do art. 37,
condutas ilegítimas, devendo ser tonalizado sob o
CF/88, assim expresso:
aspecto jurídico, de modo a caracterizar o conjunto de
§ 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços preceitos advindos da disciplina administrativa no
e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter tocante à condução da coisa pública.
educativo, informativo ou de orientação social, dela não
Como bem ensina Hely Lopes Meirelles à moralidade
podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
administrativa é a atuação dentro dos padrões da ética,
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
moral, honestidade, probidade.
servidores públicos.
Nesse sentido, a Constituição, no seu art. 37, §4º,
Nesse aspecto, é bom esclarecer que os atos realizados
estabelece que os atos de improbidade administrativa
pelos agentes públicos não são imputados a si mesmos,
importarão em suspensão dos direitos políticos, perda
mas às pessoas jurídicas a que pertencem, ou seja, à
da função pública, indisponibilidade dos bens e
Administração Pública (princípio da imputação volitiva).
ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação penal
Assim, quando o agente usa a máquina administrativa cabível.
visando promoção pessoal deverá sofrer as sanções
Percebe-se, portanto, que a Constituição deu especial
legais na medida em que não deve atuar em seu nome,
atenção à probidade, já que, nos dizeres de José Afonso
mas em nome da coletividade, isto é, em nome da
da Silva, a improbidade administrativa é uma
Administração Pública, que representa o interesse
imoralidade qualificada. Com efeito, a Constituição
coletivo.
permitiu ao particular (cidadão) exercer o controle dos
Para Hely Lopes Meirelles, o princípio da atos da Administração a fim de verificar não só o
impessoalidade está relacionado ao princípio da cumprimento dos aspectos da legalidade, mas também
finalidade, pois a finalidade se traduz na busca da da moralidade, conforme prevê o art. 5º, inc. LXXIII, ao
satisfação do interesse público. dispor sobre a ação popular.
A propósito, vale lembrar que o interesse público se O princípio da publicidade consiste na obrigação que
subdivide em primário (interesse coletivo) e secundário tem a Administração Pública, como atividade e ente
(entendido como interesse da Administração enquanto público, de dar transparências aos seus atos, como
pessoa jurídica). meio de assegurar a todos o conhecimento de suas
realizações, a fim de fiscalizá-la e exercer o controle
Como destacado, noutro sentido é a lição de Celso
sobre esses atos, bem como para fins de o ato produzir
Antonio Bandeira de Mello, que liga a impessoalidade
seus efeitos.
ao princípio da isonomia, que determina tratamento
igual a todos perante a lei. É certo que a conduta da Administração deve ser
pública, transparente. Todavia, a Constituição ressalva
E afirma que o princípio da finalidade é inerente ao
alguns atos que são protegidos pelo sigilo, eis que
princípio da legalidade, ou seja, está contido nele, na
necessários aos imperativos de segurança nacional ou
medida em que estabelece o dever de a lei cumprir seu
que digam respeito à intimidade ou vida privada.
objetivo.
A publicidade pode ser feita pelos mais diversos meios,
tal como a utilização de jornal oficial ou em local onde

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se possa dar ampla divulgação dos atos administrativos. Diz-se, em regra, tendo em vista que a Constituição
Por vezes será necessário que a publicidade seja estabeleceu uma série de direitos e garantias
realizada diretamente ao interessado (notificação) ou individuais que, mesmo em confronto com o interesse
somente em boletim interno. público, devem ser respeitados, resguardados.
Assim, o princípio da publicidade pode, como meio de Com efeito, é em razão do princípio da supremacia do
transparência, ser um requisito de validade do ato, ou, interesse público que se fundam as prerrogativas ou
poderá, como instrumento para deflagrar os efeitos do poderes especiais conferidos à Administração Pública.
ato (publicação do ato), ser requisito de eficácia.
É por força da supremacia que a Administração Pública
Uma das decorrências do princípio da publicidade é o atua com superioridade em relação ao particular, por
princípio da motivação dos atos administrativos, ou exemplo, impondo-lhe obrigações de forma unilateral,
seja, segundo o qual na pratica de um ato deve a com a inserção de cláusulas exorbitantes em contratos
Administração apresentar, torna explícitos, os motivos administrativos, conferindo presunção de legitimidade
de sua realizada, ou seja, os fatos e fundamentos de aos atos da Administração etc.
direito que o justificam.
De outro lado, o princípio da indisponibilidade do
O principio da eficiência, erigido a princípio expresso a interesse público orienta à Administração Pública
partir da EC 19/98, traduz a ideia de resultado, busca impondo-lhe restrições, limitações, ou seja, não lhe é
pela excelência no exercício das atividades dado dispor desse interesse, eis que ela não é sua
administrativas. proprietária, detentora do interesse público, apenas o
tutela, o protege, ou seja, apenas representa a
Para tanto, criou-se diversos mecanismos tal como as
coletividade, de modo que não pode dispor do que não
escolas de governos, avaliações periódicas e políticas de
lhe pertence.
desenvolvimento da administração, tal como o contrato
de gestão (art. 37, §8º, CF/88). Significa dizer que, de um modo geral, não há
possibilidade de a Administração Pública abdicar,
Como bem destaca José Afonso da Silva, o princípio da
dispor, abrir mão, daquilo que se refere ao interesse
eficiência “orienta a atividade administrativa no sentido
público. Por isso, a sujeição da administração pública a
de conseguir os melhores resultados com os meios
restrições especiais ou diferenciadas, tal como dever de
escassos de que dispõe e a menor custo”, “consiste na
prestar contas, concurso público, licitações etc.
organização racional dos meios e recursos humanos,
materiais e institucionais para a prestação de serviços Esses dois princípios, é importante dizer, são
públicos de qualidade com razoável rapidez”. (art. 5º, considerados por parte da doutrina como super-
LXXVIII) princípios, ou pedras angulares do Direito
Administrativo, na feliz expressão de Celso Antônio
Trata-se da tentativa de mudar o foco da Administração,
Bandeira de Mello, na medida em que dão origem aos
ou seja, passar-se a uma Administração gerencial, que
demais princípios administrativos e ao próprio regime
busca o resultado, em detrimento da Administração
jurídico administrativo.
burocrática, que prima pelo controle, bem como da
Administração Patrimonialista, que confundia o Portanto, pode-se afirmar que o sistema administrativo
interesse do dirigente com o interesse da está fundado nesses postulados centrais, isto é nestes
Administração. dois princípios primordiais (na supremacia e na
indisponibilidade do interesse público).
A par desses princípios expressos existem outros
princípios implícitos na CF/88, também chamados de Decorrência lógica desses dois princípios, e aplicação do
reconhecidos, sendo importante destacar os princípios princípio da legalidade, surge o princípio da autotutela,
da supremacia do interesse público sobre o privado, o segundo o qual a administração pública pode controlar
da indisponibilidade do interesse público, da autotutela, seus próprios atos, ou seja, pode anular os atos que
da proporcionalidade e razoabilidade, da continuidade contenham vício de legalidade e revogar os
dos serviços públicos, dentre outros. inconvenientes e inoportunos, respeitados os direitos
de terceiros de boa-fé.
O princípio da supremacia do interesse público traduz-
se na ideia de que o interesse público deve prevalecer Podemos ainda citar os princípios da proporcionalidade
sobre o interesse particular, de modo que, em regra, e da razoabilidade, da continuidade, da motivação,
quando houver um confronto entre o interesse público dentre outros que orientarão a atividade
e o particular, deve-se dar primazia ao interesse administrativa.
público.

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Os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, Administração deve tomar medidas (prevenção) para
como já observamos, são princípios implícitos na evitar que tais ações/eventos lhe geram danos.
Constituição Federal e decorrem diretamente do
Por exemplo, se um empresário que desenvolver um
princípio da legalidade, bem como do postulado do
novo projeto empresarial (exploração de determinado
devido processo legal substantivo.
componente) ao solicitar o alvará para funcionamento
Vale lembrar, ademais, que a Lei nº 9.784/99 positivou dessa atividade, a Administração deverá lhe cobrar os
esses princípios, ao prescrever a observância da estudos necessários para saber qual o impacto que essa
adequação entre meios e fins (razoabilidade), vedada a exploração possa vir a causar na coletividade
imposição de obrigações, restrições e sanções em (precaução).
medida superior àquelas estritamente necessárias ao
atendimento do interesse público (proporcionalidade).
PODER DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA E JUDICIÁRIA

De todo modo, necessário ainda dizer que a Lei nº LEGISLAÇÃO PERTINENTE


9.784/99, lei que regula o processo administrativo no CONSTITUIÇÃO FEDERAL
âmbito federal, positivou diversos princípios que
estavam implícitos no bojo da Constituição,
estabelecendo o seguinte: CAPÍTULO III
DA SEGURANÇA PÚBLICA
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
outros, aos princípios da legalidade, finalidade, responsabilidade de todos, é exercida para a
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, preservação da ordem pública e da incolumidade das
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
jurídica, interesse público e eficiência.
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
O princípio da continuidade, princípio específico da
prestação dos serviços públicos, estabelece que em III - polícia ferroviária federal;
razão do atendimento das necessidades e anseios da IV - polícias civis;
coletividade, os serviços públicos não podem ser
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
interrompidos, não podem sofrer lapso (intervalo) de
continuidade.
O princípio da segurança jurídica, também chamado de CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL
proteção da confiança, estabelece a necessidade de
estabilidade das relações jurídicas em virtude do
transcurso de tempo e da boa-fé do administrado. Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da
administração pública que, limitando ou disciplinando
É decorrência desse princípio a decadência, a direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato
prescrição, bem como os postulados constitucionais do ou abstenção de fato, em razão de interesse público
direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
julgada. costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
Esse princípio é visto sob duas vertentes, a perspectiva exercício de atividades econômicas dependentes de
de certeza, ou seja, no sentido de que as normas e concessão ou autorização do Poder Público, à
regras são de conhecimento comum, e a perspectiva de tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e
estabilidade, isto é, de que as relações constituídas se aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada
consolidam com o tempo. pelo Ato Complementar nº 31, de 1966)

O prof. Carvalho Filho ainda indica o princípio da Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do
precaução, retirado do âmbito do Direito Ambiental, poder de polícia quando desempenhado pelo órgão
mas que também já vem sendo adotado no âmbito do competente nos limites da lei aplicável, com
Direito Administrativo, no sentido de que se observância do processo legal e, tratando-se de
determinadas condutas traz riscos para a coletividade a atividade que a lei tenha como discricionária, sem
abuso ou desvio de poder.

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POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

PODERES ADMINISTRATIVOS atribuída. Já o desvio de poder ocorre quando o agente,


muito embora seja competente, atua em descompasso
com a finalidade estabelecida em lei para a prática de
O Prof. José dos Santos Carvalho Filho conceitua certo ato.
poderes administrativos como “o conjunto de O desvio de poder também é conhecido como desvio
prerrogativas de direito público que a ordem jurídica de finalidade, que corresponde à conduta do agente
confere aos agentes administrativos para o fim de público que dá ao ato finalidade diversa daquele
permitir que o Estado alcance seus fins”. prevista na lei.
Devemos compreender que o ordenamento jurídico Cito como exemplo, a remoção de um subordinado pelo
confere aos agentes públicos, para o exercício de suas superior hierárquico, para comarca distinta, sob a
funções e a consecução dos fins públicos, um conjunto alegação de necessidade do serviço, mas com o fim
de prerrogativas, poderes. E, por força disso, também único de persegui-lo, puni-lo.
estabelece uma série de restrições, de deveres.
Tanto quando há excesso ou desvio de poder diz-se que
Percebe-se, portanto, que esses poderes são ocorreu abuso de poder, o que configura ilícito
outorgados aos agentes públicos no sentido de que administrativo, além de ilícito penal tipificado na Lei nº
cumpram suas atribuições voltadas ao atendimento do 4.898/65 (abuso de autoridade), além de ser ato de
interesse coletivo. improbidade administrativa, conforme art. 11, inc. I, da
Então, é até por isso, pode-se enumerar duas Lei nº 8.429/92, que assim dispõe:
características que lhe são peculiares, ou seja, tais Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa
poderes são irrenunciáveis e devem ser que atenta contra os princípios da administração
obrigatoriamente exercidos. pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres
Em razão desse duplo aspecto, os poderes de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade
administrativos impõem ao administrador o exercício às instituições, e notadamente:
das prerrogativas e vedam a inércia, eis que o exercício I - praticar ato visando fim proibido em lei ou
dessas prerrogativas é obrigatório tendo em vista o regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de
atendimento dos anseios coletivos. competência;
Significa dizer que ao ser conferido certo poder, o é em Ademais, como ressaltado, se é dever atuar, também
razão do exercício da atribuição, de modo que o agente haverá abuso de poder quando o agente deixar de
público não poderá ficar inerte, não poderá se omitir, praticar o ato, ou seja, ficar inerte, omisso.
deverá realizar suas funções.
Com efeito, o abuso de poder é conduta, omissiva ou
É que, enquanto o particular quando titular de uma comissiva, que afronta os princípios da legalidade,
prerrogativa tem a faculdade de exercê-la, o finalidade, moralidade, dentre outros, sujeitando-se,
administrador tem o poder-dever de agir. pois, ao controle administrativo (autotutela) ou judicial
Isto é, conforme destaca Bandeira de Mello, “tais (mandado de segurança, por exemplo).
poderes são instrumentais: servientes do dever de bem
cumprir a finalidade a que estão indissoluvelmente
atrelados. Logo, aquele que desempenha função, tem, AUTOTUTELA
na realidade, deveres-poderes”.
Quando se utiliza desses poderes de forma normal diz-
Súmula 346
se que há o uso do poder. Porém, o uso indevido,
anormal, ilegítimo, configura o abuso de poder. A administração pública pode declarar a nulidade dos
seus próprios atos.
Assim, abuso de poder é, conforme lição de Carvalho
Filho “a conduta ilegítima do administrador, quando
atua fora dos objetivos expressa e implicitamente SÚMULA 473
traçados na lei”.
A administração pode anular seus próprios atos,
O abuso de poder pode se constatado sob duas quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque
vertentes ou espécies, sendo: o excesso de poder e o deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
desvio de poder. O excesso de poder ocorre quando o motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
agente atua fora dos limites da competência que lhe foi

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POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
- LEI 5.810/94
os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, exercício de atividade econômicas dependentes de
a apreciação judicial. concessão ou autorização do Poder Público, à
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e
aos direitos individuais e coletivos.
CONTROLE JUDICIAL
O poder de polícia pode ser visto numa acepção ampla
ou numa acepção restrita.
Art. 5°, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Em sentido amplo compreende toda a atividade estatal
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; de condicionar, restringir, direitos individuais em prol
do interesse coletivo. Assim, compreenderia, por
Outrossim, ao mesmo tempo que são conferidos
exemplo, a atividade legislativa, isto é, a criação de leis
poderes, também são fixados deveres, restrições, aos
restritiva de direitos.
agentes públicos, tal com o dever de probidade, o dever
de prestar contas, o dever de eficiência, dentre outros. Em sentido estrito corresponde à atividade
administrativa que impõe restrições à atividade,
De modo geral, a doutrina destaca a existência de
liberdade e à propriedade, por meio de intervenções
diversos poderes administrativos, de modo que é
abstratas ou concretas da Administração Pública, sendo
possível enquadrá-los nas seguintes modalidades ou
denominado de polícia administrativa.
espécies:
Com efeito, o poder de polícia pode ser preventivo ou
a) poder discricionário/vinculado;
repressivo. É preventivo quando destina a evitar
b) poder regulamentar; condutas que violem o interesse da coletividade. É
repressivo quando destinado a combater ilícitos que
c) poder hierárquico;
redundem em afronta ao interesse público. Significa
d) poder disciplinar; dizer que no exercício da polícia administrativa
e) poder de polícia. preventiva a Administração expedirá os atos normativos
(regulamentos, portarias etc.), ou seja, atos gerais e
abstratos, que delimitarão a atividade e o interesse dos
particulares em razão do interesse público.

PODER DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA No tocante ao poder de polícia repressivo a


Administração irá atuar no sentido de fiscalizar
atividades e bens, verificando a existência de infrações
O poder de polícia é a prerrogativa de que dispõe a às disposições preventivas e punindo as condutas ilícitas
Administração Pública para condicionar e restringir o administrativas.
uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em No primeiro caso, ou seja, do exercício do poder de
benefício da coletividade ou do próprio Estado. polícia preventivo podemos citar a necessidade, por
Esse poder tem por fundamento, conforme lição da exemplo, de se requerer o alvará de funcionamento
Professora Di Pietro, no princípio da predominância do para abertura de bares ou restaurantes. No segundo
interesse público sobre o particular, que dá a caso, polícia repressiva, temos a fiscalização estatal a
Administração posição de supremacia sobre os fim de verificar se os bares e restaurantes têm os
administrados, na medida em que a Administração referidos alvarás e se cumprem as regras inerentes à
dispõe de prerrogativas especiais para a consecução de segurança, saúde etc.
seus fins. Nesse sentido, distingue-se a polícia administrativa,
Com efeito, a definição de poder de polícia fora que incide sobre bens, atividades ou direitos, da polícia
judiciária que atua sobre pessoas, voltada ao combate
positivada no Código Tributário Nacional, em seu artigo de ilícitos criminais.
78, ao expressar que:
A Polícia Judiciária atua no sentido de manter a ordem e
Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da a segurança da sociedade, combatendo a criminalidade,
Administração Pública que, limitando ou disciplinando atuando por meio de órgãos de defesa, ou seja, por
direito, interesse ou liberdade, regula prática de ato ou corporações (Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia
abstenção de fato, em razão de interesse público Federal).
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao

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POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Então, podemos dizer que a polícia judiciária tem decisões, por seus próprios meios, sem intervenção do
atuação predominantemente voltada para as pessoas, Poder Judiciário.
no combate à criminalidade, à repressão penal, à
Veja que a Administração para praticar seus atos
segurança pública.
condizentes com o poder de polícia não necessita de
A polícia administrativa, por outro lado, não incide autorização judicial, de modo que por si mesma pode
sobre pessoas, incide sobre bens, atividades, e executá-los.
liberdades individuais, tanto preventiva quanto
A COERCIBILIDADE é o atributo que confere à
repressivamente, ou seja, atua no combate a ilícitos
Administração poder de impor obrigações ou condutas
administrativos, antissociais, na fiscalização dos diversos
aos particulares, de forma a exigir seu cumprimento,
setores sociais (comércio, sanitário, meio ambiente
sob pena de a Administração fazer-se cumprir pelo uso
etc.).
da força.
Portanto, enquanto a polícia administrativa é regida
pelo Direito Administrativo, a polícia judiciária deve
observar as normas de direito criminal (processuais e
penais).
Assim, como o poder de polícia, a polícia administrativa,
é atividade conferida ao Estado para impor restrições a
esfera particular, devemos entender que se trata de
prerrogativa especial, e como tal, goza de atributos
diferenciados.
Assim, o poder de polícia goza dos seguintes atributos
específicos: a discricionariedade, a autoexecutoriedade
e a coercibilidade (DAC).
A DISCRICIONARIEDADE deve ser entendida no sentido
de que cabe à Administração definir quando e onde
exercitar seu poder de fiscalização e controle, ou seja, a
oportunidade e conveniência de exercer o poder de
polícia, aplicando as sanções e os meios necessários à
proteção do interesse público.
Contudo, deve-se ressaltar que o poder de polícia é em
regra vinculado, isso porque a lei pode estabelecer o
modo e a forma de sua realização quando, então, não
haverá margem de escolha da Administração, sendo,
pois, vinculado, tal como a concessão de licença para
dirigir (habilitação).
Com efeito, a licença é ato de polícia vinculado, ou seja,
ocorre quando o indivíduo, preenchidos os requisitos,
tem o direito de praticar o ato, por isso são atos
vinculados (licença para construir, para dirigir etc.).
A autorização, por outro lado, é ato decorrente do
poder de polícia discricionária, ou seja, dependerá da
conveniência e oportunidade da administração em
permitir ou conceder o ato (ex. porte arma), podendo,
portanto, ser revogada.
Assim, podemos concluir que nem todo ato do poder
de polícia é discricionário.
A AUTOEXECUTORIDADE é a prerrogativa conferida à
Administração para decidir e executar diretamente suas

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