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VAQUEJADA
Criadores e vaqueiros
pelejam na arena política
Diante da proibição imposta pelo STF, atividade
que nasceu das pegas de boi obtém vitória no
Senado: PEC dá à vaquejada status de prática
cultural não violenta
Resenha
O conflito em torno Desafios no caminho
da banda larga fixa do acordo do clima
Descomplicamos
Descomplicamos oo
orçamento
orçamento público
público
Você
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Senado Federal | Secom | Criação e Marketing
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Aos leitores
A vaquejada é uma fronteira econômica e cul- nagem dos embates e intersecções entre “novo”
tural peculiar porque compreende a forte tradi- e “antigo”, no momento em que a vaquejada
ção rural do Brasil sob o impacto das mutações busca amparo legal para se manter viva, a apre-
produzidas pelos novos formatos de negócio, sentadora Luisa Mell, uma das ativistas que esti-
em particular aqueles engendrados na seara da veram no Senado criticando os torneios, se pre-
agroindústria, e pelo ambiente da tecnologia da parava para desfilar como embaixadora dos direi-
informação e do entretenimento urbano. O resul- tos dos animais pela escola de samba paulistana
tado é a metamorfose das brejeiras pegas de boi Águia de Ouro, cujo enredo criticou a dominação
na Caatinga, antes protagonizadas por sertanejos de cães e outros bichos pelo homem. No extre-
envergando gibões e chapéus de couro, em even- mo oposto, o “homem do campo” reage. Afinal,
tos de todos os portes, nos quais vaqueiros atle- também precisa sobreviver e se divertir.
tas vestindo camiseta e boné cavalgam em pistas Em Discussão! procurou mapear esse terreno
de areia e quartos de milha são leiloados por até ouvindo senadores, representantes das vaque-
R$ 1 milhão. Concursos de rainhas e shows com jadas, estudiosos e ativistas. A ideia é contribuir
bandas de forró e artistas praieiros são outros in- para jogar luz sobre a controvertida prática cul-
gredientes de um modelo econômico-cultural que tural, esportiva e econômica, em relação à qual o
troca rapidamente austeridade e formas autócto- Parlamento está se pronunciando.
nes de produção e divertimento pelo aumento da A outra frente que aparece neste número é a
receita e do consumo. do conflito entre internautas e operadoras de te-
Essa atualização, que mais recentemente in- lecomunicações em torno dos limites da banda
troduziu procedimentos para amenizar danos aos larga fixa. A contenda se desenrola em um am-
animais, não blindou a nova arena contra a re- biente de forte demanda por conexão em todos
jeição de novíssimas correntes de opinião. Cria- os campos de atividade. As operadoras estão dis-
dores, organizadores e vaqueiros são acusados postas a cortar o envio de dados daqueles clien-
pelos defensores dos animais de maltratar cruel- tes que esgotarem o volume previsto nos con-
mente os bois derrubados pela cauda. A pressão tratos de franquia. A falta de investimentos em
parte até dos indiferentes às dietas vegetarianas, redes de transmissão e um modelo de negócio
contradição típica do processo civilizatório, cuja nada coerente colocaram o assunto na agenda do
pauta de ideias dá passos bem mais largos do Senado, que se manifestou em março, a favor dos
que os indivíduos ou os grupos situados fora do consumidores, e enviou a matéria à Câmara.
ambiente das vanguardas conseguem fazer.
A mostrar a surpreendente e insondável engre- Boa leitura!
NELSON OLIVEIRA
www.senado.leg.br/emdiscussao
3
Mesa do Senado Federal
Presidente: Eunício Oliveira
Primeiro-vice-presidente: Cássio Cunha Lima
Segundo-vice-presidente: João Alberto Souza
Primeiro-secretário: José Pimentel
Segundo-secretário: Gladson Cameli
SUMÁRIO
Terceiro-secretário: Antonio Carlos Valadares
Quarto-secretário: Zeze Perrella
Suplentes de secretário: Eduardo Amorim, Sérgio
Vaquejada M
A
RC
Criadores, vaqueiros e empresários
EL
Petecão, Davi Alcolumbre e Cidinho Santos
O
da vaquejada travam, no Congresso
CA
MA
Nacional e na Justiça, uma luta
RGO/
Secretário-geral da Mesa: Luiz Fernando Bandeira para manter a prática na legalidade,
ABR
Diretora-geral: Ilana Trombka agora com medidas de proteção aos
animais, depois de o Supremo declarar
inconstitucional lei do Ceará que
regulamentava a derrubada do boi
Expediente
Secretariade
Secretaria
Comunicação
de
Social
Comunicação Social
página 8
Brasil em Debate HE
BE
Diretora: Virgínia Malheiros Galvez Firmado no ano passado, o acordo do
RT
clima, ou Acordo de Paris, tem força de
RO
Diretora-adjunta: Edna de Souza Carvalho
ND
tratado internacional para o Brasil e se
ON/
Diretora de Jornalismo: Ester Monteiro incorpora à legislação. Dois consultores
IBAMA
A revista Em Discussão! é editada pela do Senado avaliam as possibilidades
Secretaria Agência e Jornal do Senado de a norma ganhar a forma de ações
concretas para diminuir as
Diretor: Flávio Faria emissões de carbono
24
Diretor-adjunto: Silvio Burle
Editor-chefe: Nelson Luiz de Oliveira
Edição e reportagem: André Falcão, Nelson Luiz
de Oliveira e Thais Böhm página
Resenha: Nelson Luiz de Oliveira
Capa: Diego Jimenez
Diagramação: Bruno Bazílio e Priscilla Paz
Arte: Bruno Bazílio, Cássio Sales Costa, Diego PILL
AR
PE
Jimenez e Priscilla Paz Banda Larga D RE
Revisão: Fernanda Vidigal, Flávio Faria, Joseana
IR
A/
A restrição ao fornecimento de dados
AG
Paganine, Pedro Pincer e Tatiana Beltrão
aos usuários da banda larga fixa é uma
ÊN
Pesquisa de fotos: Braz Félix, Fernando Bizerra,
CIA
questão pendente. Depois de gerar muitos
SENAD
Leonardo Sá e Pillar Pedreira protestos por parte dos assinantes de
Tratamento de imagem: Afonso Celso Oliveira e planos de internet, o assunto migrou para
O
Roberto Suguino a esfera parlamentar. No Senado há três
Circulação e atendimento ao leitor: projetos de lei que procuram resguardar os
(61) 3303-3333 direitos dos internautas
26
Fechamento desta edição: 30 de março de 2017
Tiragem: 8 mil exemplares
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Via N2, Unidade de Apoio 3 do Senado Federal,
70165-920, Brasília, DF
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Editoração e Publicações (Segraf) acompanhada no site do Senado:
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4
abril de 2017
Veja e ouça mais em:
Vaquejada
Agência Senado
Matéria: Senado aprova PEC que regulariza situação das vaquejadas
bit.ly/vaq-agen-sf
Jornal do Senado
Especial Cidadania: Legalização das vaquejadas divide opiniões
bit.ly/vaquerad-sf
Rádio Senado
Especial: “Eu Venho desde Menino” — regulamentação da
profissão de vaqueiro
bit.ly/vaquei-sf
Consultoria legislativa
Texto para discussão: Registro e Salvaguarda do Patrimônio
Cultural Imaterial no Brasil
bit.ly/pat-cult-sf
Banda Larga
Jornal do Senado
Especial Cidadania: Senado entra no debate sobre limitação
da internet fixa
bit.ly/blarga-js
Agência Senado
Especial Cidadania: Senado debate limitação da internet fixa
bit.ly/blarga-agen
Rádio Senado
Entrevista: Pedro Chaves fala sobre projeto que trata de limite
da banda larga fixa
bit.ly/blarga-rsf
Tv Senado
Em Discussão!: “Internet (i)limitada em debate” — edição de
audiência pública conjunta das Comissões de Ciência e Tecnologia,
de Infraestrutura e de Defesa do Consumidor
bit.ly/blarga-tvsf
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EM PAUTA
REFORMAS
A eleição das novas Mesas do Senado e da Câmara
e a consolidação de uma maioria em torno do
governo Temer são fatores positivos na tramitação das
chamadas grandes reformas, como a previdenciária
e a trabalhista. Esse é o entendimento de vários
parlamentares, entre eles Raimundo Lira (PMDB-PB)
Em entrevista à Agência Senado na abertura do
ano legislativo, o então líder do governo no Senado e
MPT
hoje chanceler, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), disse
considerar essas mudanças fundamentais para o Brasil TRABALHO ESCRAVO
superar a crise econômica e financeira. A principal
Concebido como um instrumento na luta contra
reforma, no entender dele, será a da Previdência,
o trabalho escravo, o Projeto de Lei do Senado (PLS)
que deve chegar ao Senado ainda este semestre.
290/2013 propõe o cancelamento do Cadastro Nacional
A PEC 287/2016 já foi aprovada pela Comissão de
da Pessoa Jurídica (CNPJ) dos estabelecimentos que
Constituição e Justiça da Câmara, mas ainda tramita em
venderem produtos em cuja fabricação tenha sido
comissão especial antes da deliberação do Plenário.
detectada a submissão de trabalhador à situação análoga
Para Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), unificar as
à de escravidão. A matéria está na Comissão de Assuntos
regras de aposentadoria é uma necessidade porque o
Sociais (CAS) e se baseia em lei estadual de São Paulo.
deficit da Previdência está crescendo e a população,
Segundo a proposta, o cancelamento se dará caso
envelhecendo. “Não dá pra negociar a idade mínima de
forem verificadas condutas que configurem submissão a
65 anos, algo que não deixa de ser polêmico, mas que
trabalho escravo em qualquer das etapas da industrialização
eu já defendia quando ministro”, afirmou o senador.
ou da produção das matérias-primas para a elaboração
Embora aponte a reforma da Previdência como
do produto. O projeto é do ex-senador Vital do Rêgo.
“basilar” para a volta por cima da economia, Dário
“Tal iniciativa, além de visar à proteção social dos
Berger (PMDB-SC) reconhece que será difícil aprovar a
trabalhadores e à própria dignidade da pessoa humana,
proposta tal qual foi enviada pelo governo ao Congresso.
busca frear práticas desonestas empreendidas por empresas
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), vice-presidente
inescrupulosas que terceirizam serviços para oficinas e
da Casa, vê chances de a reforma previdenciária
fábricas que exploram esses trabalhadores e, com isso,
ser votada ainda no primeiro semestre: “Há tempo
concorrem deslealmente com as demais empresas que
suficiente para que nós possamos fazer debate
observam a legislação vigente”, argumenta Vital do Rêgo
amplo. O principal desafio do Congresso é votar
na justificação da matéria. As supostas condutas de
uma agenda de recuperação da economia”.
escravidão serão apuradas conforme regulamento a ser
estabelecido, por meio de um processo administrativo.
Quando encerrado, o Executivo divulgará, no Diário
IDOSOS Oficial da União, a relação dos estabelecimentos
Está pronto penalizados e seus respectivos CNPJs cancelados.
para ser votado
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
na Comissão de
Direitos Humanos Está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania
e Legislação (CCJ) o PLC 4/2016, do deputado Alceu Moreira
Participativa (CDH) (PMDB-RS), que torna crime o descumprimento
o PLS 126/2016, das medidas protetivas previstas na Lei Maria da
do senador Penha. O projeto prevê que, por desobediência à
Waldemir Moka decisão judicial, o infrator pode ser punido com
(PMDB-MS), que proíbe o uso de símbolos com pena de detenção de três meses a dois anos. Hoje, o
características depreciativas para a identificação descumprimento do limite mínimo de distância entre o
preferencial de idosos, inclusive ao nivelar todos agressor e a vítima, por exemplo, não configura crime
os maiores de 60 anos como cidadãos frágeis. de desobediência à ordem judicial, o que impede a
Moka sugere que a identificação de idosos em prisão do autor da agressão em flagrante. No voto
assentos no transporte coletivo, por exemplo, favorável que deu à proposta, a relatora, senadora
seja baseada objetivamente na idade mínima Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), disse que situações
de 60 anos, e não mais na figura de alguém de violência doméstica contra a mulher devem ser
arqueado e usando uma bengala. Movimento “repreendidas com celeridade e veemência, sob
na internet levou à elaboração de um novo pena de a demora ensejar violência ainda maior”.
desenho, que apresenta uma figura mais altiva. Depois de passar pela CCJ, o projeto vai a Plenário.
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Marcos Oliveira/Agência Senado
PIB VERDE
CONTRATOS NO FUTEBOL Além de divulgar anualmente o produto interno bruto (PIB),
Mudança nas regras trabalhistas somatório de todos os bens e serviços produzidos no país, o IBGE
para jovens jogadores está em poderá passar a divulgar o PIB Verde, que contabilizará o patrimônio
análise na Comissão de Assuntos ecológico nacional. A medida consta do Projeto de Lei da Câmara
Sociais (CAS). Já aprovado na (PLC) 38/2015, aprovado na Comissão de Meio Ambiente (CMA) e
Câmara, o PLC 16/2017 prevê a que segue agora para a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
redução, de cinco para três anos, Conforme o senador João Capiberibe (PSB-AP), relator do projeto, será
do tempo máximo de contrato possível avaliar a qualidade do desenvolvimento brasileiro a partir do cálculo
entre um jogador com menos de dos aspectos positivos e negativos da biodiversidade, da fauna e da flora.“Com
18 anos e o clube. De acordo com a disponibilização de ambos os índices, será possível identificar se estamos
o senador Alvaro Dias (PV-PR), a produzindo riqueza ou apenas consumindo o patrimônio ecológico nacional e
medida pode prejudicar os clubes constituindo passivo ambiental a ser entregue às gerações futuras”, afirmou
que formam o atleta e depois Capiberibe, em voto favorável. O projeto estabelece ainda a possibilidade de
o perdem para o exterior. Além adoção do Índice de
de reduzir o teto dos contratos Riqueza Inclusiva (IRI),
dos jovens atletas, a proposta elaborado pela ONU,
determina que os períodos que avalia aspectos
de treino e competições não ambientais e sociais do
prejudiquem os estudos do jogador. desenvolvimento. Dessa
forma, será possível
estabelecer comparações
internacionais. Como
Wellington Pedro/Imprensa MG
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7
VAQUEJADA
Senado discute
natureza cultural
da vaquejada
Projetos de lei e PEC compõem solução para
impasse diante da proibição das competições
pelo Supremo. Mudança constitucional já foi
aprovada pelos senadores e enviada à Câmara
E
m 25 de outubro do ano pas- que é uma das marcas do Nordeste, em-
sado, o modernismo da Espla- bora também seja realizado em outras
nada dos Ministérios foi palco regiões.
de manifestação com a fisiono- Parte dos manifestantes rodou até 2
mia de um Brasil mais tradicional, mas mil quilômetros em 410 caminhões, al-
nem por isso imune a pressões de novas guns carregados de bois; outros, de apa-
correntes de opinião. relhagens de som e tendas. Nada menos
Cerca de 3 mil pessoas, entre vaquei- de 1,2 mil cavalos puderam circular pe-
ros e criadores, protestaram contra a los gramados da capital, montados por
decisão do Supremo Tribunal Federal homens treinados na derrubada de reses
(STF) de considerar inconstitucional a pela cauda, em arenas que substituem o
regulamentação da vaquejada, torneio cenário onde a vaquejada nasceu como
Na marcha a Brasília,
criadores e vaqueiros
buscaram mostrar a tradição
e medidas protetivas para
conseguir apoio aos torneios
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abril de 2017
prática de manejo habitual do gado de Lei da Câmara 24/2016, do depu-
— a Caatinga. tado Capitão Augusto (PR-SP), com
Nos últimos anos, diante da oposi- relatório favorável do senador Otto
ção cada vez mais forte de defensores Alencar (PSD-BA), elevou o rodeio e
dos animais, outros substitutivos aos a vaquejada, assim como suas respec-
procedimentos da vaquejada foram tivas expressões artístico-culturais, à
adotados para livrar a competição categoria de “manifestações da cul-
do estigma da crueldade. E foi com- tura nacional” e de “patrimônio cul-
binando o orgulho da tradição com tural imaterial”. Aprovado no Senado
um arsenal de novas medidas prote- em 31 de outubro e sancionado em
tivas que o universo da vaquejada se 30 de novembro, o PLC 24 foi con-
apresentou ao Poder Legislativo. vertido na Lei 13.364/2016.
Vestidos em seus trajes típicos de Ainda estão em tramitação a Pro-
couro ou trajando camisetas alusivas posta de Emenda Constitucional
à causa, os manifestantes foram rece- 50/2016, de Otto Alencar, e os Pro-
bidos no Congresso Nacional por se- jetos de Lei do Senado 377/2016, do
nadores e deputados favoráveis à va- senador Raimundo Lira (PMDB-PB),
quejada. Muitos dos vaqueiros e cria- e 378/2016, do senador Eunício Oli-
dores puderam acompanhar de perto veira (PMDB-CE). A PEC 50/2016
a tramitação das propostas legislati- foi aprovada em dois turnos em 14 de
vas que procuram garantir a conti- fevereiro pelo Plenário e seguiu para
nuidade da prática no país. O Projeto a Câmara dos Deputados.
Com amplo placar favorável, o
texto acrescenta um parágrafo ao ar-
tigo 225 da Constituição para que
não se classifiquem como cruéis as
práticas esportivas com animais re-
conhecidas na categoria de manifes-
tações culturais, registradas como
bens imateriais do patrimônio cul-
tural brasileiro e regulamentadas por
lei que assegure o bem-estar dos ani-
mais utilizados. Essa regulamentação
é justamente o objeto dos PLS 377 e
378, que estão na Comissão de Edu-
cação, Cultura e Esporte (CE). Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Otto Alencar (E) defende a tradição e a importância econômica da vaquejada. Antonio Anastasia olha para os direitos dos animais
Economia e cultura,
armas pró-vaquejada
O PLC 24 foi apresentado pelo uma proposta legislativa sobre patri- tas em projetos de regulamentação
deputado Capitão Augusto em junho mônio cultural imaterial; e os efeitos da vaquejada para que os animais
de 2015 e originalmente tratava do da proposta para reverter a decisão não sofram maus-tratos. “O animal
rodeio e das manifestações esportivas judicial e preservar a prática. tem que ser adulto, tem que estar em
e culturais relativas à festa do peão Na Comissão de Educação, o se- ótima condição física; só corre duas
de boiadeiro de Barretos (SP), que nador Otto Alencar, relator do pro- vezes na vida; a cauda é artificial; a
completava 60 anos (veja infográfico jeto, classificou como “inegável” a camada de areia é de 40 centímetros;
na pág. 14). Substitutivo aprovado tradição cultural da vaquejada no não se usa a taca nos animais como
na Câmara acrescentou a vaquejada à Nordeste. A análise do PLC 24 o se usa no hipismo e nas corridas de
proposição. inspirou a apresentar a PEC 50. longa distância dos puro-sangue in-
Os debates sobre o PLC 24 no Segundo o senador, aqueles que gleses. Se fosse falar em maus-tratos
Senado transcorreram já sob a in- não a conhecem veem na vaquejada em animais, teriam que parar várias
fluência da decisão do Supremo, que mais maus-tratos do que, por exem- práticas no Brasil”, ponderou.
apontou a “crueldade intrínseca” da plo, nas corridas de cavalo realizadas Otto Alencar — que foi vaqueiro
derrubada de bois, e da mobilização no Rio e em São Paulo. “Um puro- até os 30 anos (hoje tem 70) — tam-
de vaqueiros e criadores. Os argu- sangue inglês corre 2,2 mil metros, bém se queixou da forma como o
mentos dos senadores seguiram três apanhando da partida à chegada. STF decidiu a Ação Direta de In-
linhas principais: o valor cultural e No hipismo, no polo, há essa prá- constitucionalidade (ADI) 4.983. “O
econômico atribuído à vaquejada e tica”, comparou. O senador obser- Supremo não teve o menor respeito
às tradições rurais; a inadequação de vou que medidas estão sendo propos- pelos vaqueiros, pela vaquejada. Nem
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abril de 2017
jada é, sobretudo hoje — e eu sei que
não se está discutindo isso aqui —,
uma questão de sobrevivência eco-
nômica para grande parte daqueles
que habitam ainda na zona rural.
Isso porque há um despovoamento
da zona rural. E uma prática como a
da vaquejada ainda mantém essa ati-
vidade rural, apesar de se saber que
ela também, claro, invadiu as nossas
cidades”.
O senador José Agripino (DEM-
RN) chamou a atenção para o in-
teresse que o debate despertou. A
prova seria o elevado quorum da
CE numa tarde às vésperas de fe-
José Agripino chamou a atenção para o
riado. “A manifestação a que a Es- quorum apertado da decisão do Supremo.
planada dos Ministérios assistiu se- Proibição ganhou por apenas um voto
mana passada, trazendo milhares
de vaqueiros, demonstra claramente tradição cultural e manter emprego
que a decisão do Supremo Tribunal decente neste país, a começar pela
Federal precisa, no mínimo, ser região mais pobre, que é a Região
FOTOS: Marcos Oliveira/Agência Senado
www.senado.leg.br/emdiscussao
11
Senado vota a PEC que legaliza
vaquejadas e rodeios. Qual a
sua opinião sobre a PEC?
Danilo Galvão
Falta de vergonha na cara.
Rodrigo Nicolas Aham! Claro
que nosso país é um país agrário!
Parece que as pessoas esquecem A derrubada é o ápice de um enredo no qual o boi é fechado em
disso, querem que isso acabe, deem curral, passa pelo brete e entra na arena. Defensores dos animais
denunciam arrancamento de rabos e outros danos
soluções para empregarem as famílias
que dependem do negócio.
Arnaldo De Zorzi: Isso tem que ser cionais evoluem. Observou que gulamentada de forma a garantir
proibido! Isso é uma barbárie e não a questão da crueldade contra os a integridade física e mental dos
um esporte! Não tem cabimento que animais na vaquejada estava de- animais, sem descaracterizar a
um evento desses ainda ocorra, em monstrada em vários pareceres própria prática, a vaquejada aten-
pleno ano 2017! técnicos de veterinários, especia- deria a decisão do STF.
Junior Sousa Uma coisa é certa: que listas e do Ministério Público. O senador José Maranhão
tanto nas vaquejadas como nos (PMDB-PB), relator da PEC 50,
rodeios, os animais são torturados de Bem-estar julga que qualquer análise sobre
alguma forma. Por outro lado, se can- A PEC 50/2016 estabelece aceitação ou não do rodeio e da
celarem os dois eventos, várias pesso- que não podem ser consideradas vaquejada deveria ser feita sob a
as ficam desempregadas. Por isso que cruéis práticas desportivas que perspectiva dos que habitam as
isso tem que ser bem analisado!!! utilizem animais, “desde que se- zonas rurais. “Trata-se de uma
Elaine Mendes Fizeram consulta jam manifestações culturais re- realidade completamente dife-
pública na internet e a maioria da gistradas como bem de natureza rente daquela dos grandes cen-
população se disse contra esse imaterial integrante do patrimô- tros urbanos, onde temos um
absurdo. E o que adiantou saber nio cultural brasileiro, devendo ambiente fértil de produção e
a opinião do povo??? NADA!! A ser regulamentadas por lei especí- oferta de cultura. Caso seja proi-
bancada do boi no Congresso está fica que assegure o bem-estar dos bida a vaquejada, retiraremos das
pouco se importando com a opinião animais envolvidos”. Na justifi- populações rurais, especialmente
da sociedade!! cativa da proposta, o autor, Otto as das Regiões Norte e Nordeste,
Ilka Afonso Reis O Senado não Alencar, presume que, caso re- uma das poucas opções de acesso
ouve a voz dos brasileiros!!!! Várias à cultura e ao lazer que lhes está
matérias que eram contrárias ao disponível”, explicou.
povo tiveram milhares de votos Em debate na Comissão de
contrários por essas enquetes, e Constituição e Justiça (CCJ), o
foram aprovadas pelos senadores. senador Humberto Costa (PT-
Pietro Lopes: Agora que o bem- PE) disse que se absteve anterior-
estar estará garantido podemos mente de votar o PLC 24 por-
substituir os bichos por humanos! É que, ao contrário dos ministros
só adicionar a categoria de trabalho, do Supremo, e conhecendo a va-
fazer um sindicato e pronto. Imagina quejada, nunca tinha ouvido fa-
só a quantidade de emprego que lar em maus-tratos aos animais.
Geraldo Magela/Agência Senado
isso não vai gerar. Se ainda assim Humberto então buscou infor-
for um pouco puxado, basta pagar mações. Depois de contatos com
insalubridade. Esse é o Brasil que eu pessoas ligadas diretamente à
gosto de ver. :) atividade, ficou convencido de
Mísia Alves Quem mais fatura com que não há, em absoluto, maus-
esses rodeios e vaquejadas são os tratos. Na verdade, o tratamento
fazendeiros, e não os peões. dado aos animais teria evoluído.
José Maranhão: fim da vaquejada vai
“No passado, alguns excessos
Veja o debate completo em aconteciam, como a forma com
retirar uma das poucas opções de
bit.ly/vaque-sf cultura e lazer do interior nordestino que o cavalo era tangido ou a
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forma como o boi era imprensado e creveu. Segundo Caiado, a vaquejada
alguns equipamentos utilizados pelo é o único esporte no mundo originá-
vaqueiro. Mas, ao longo do tempo, rio do trabalho.
até por essa consciência que se foi Autora do requerimento para a
criando na sociedade, há uma preo- audiência pública, a senadora Gleisi
cupação de que o esporte possa ser Hoffmann (PT-PR) chamou a aten-
praticado sem qualquer tipo de pre- ção para o “absurdo legislativo” de
juízo ao cavalo ou ao boi”, argumen- tentar corrigir uma decisão do Su-
tou. Na opinião do senador, apesar premo. “Nós não podemos fazer isso.
de ser importante, a questão econô- Toda vez que nós acharmos que o
www.senado.leg.br/emdiscussao
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Atividades elevadas a patrimônio cultural pela Lei 13.364/2016
Além de provas com animais, incluiu-se a Queima do Alho, concurso de berrante, folclore e música de raiz
Bareback
Vaquejada
Prova de montaria a cavalo “em pelo”,
Correndo numa pista de areia com 160 m, dois
sem sela ou estribos. O competidor
competidores montados a cavalo, o puxador e
deve permanecer 8 segundos
o esteira têm que derrubar o boi em uma área
montado, tocando suas
delimitada, desequilibrando o animal com um
esporas na região do
forte puxão pela cauda. Há pontuação se o boi tem
pescoço do animal. O
as quatro patas no ar na queda e se levanta
cavaleiro segura em uma
logo em seguida, ainda na área
alça de couro ficando totalmente
delimitada.
solto sobre o cavalo, o que
o faz praticamente deitar
sobre o lombo do animal. Os
animais usados na modalidade são selecionados entre
os que conseguem pular para frente, sem rodar.
Três tambores
Prova de habilidade e velocidade praticada por mulheres. As
Bulldogging
competidoras têm que realizar um percurso contornando três tambores
O bulldogging é praticado por dois competidores que têm como objetivo
sem derrubá-los, numa sequência estabelecida, e voltar o mais rápido
virar e derrubar ao chão um garrote, de aproximadamente 300 kg, no
possível para o local de partida.
menor espaço de tempo. Um dos competidores salta do cavalo
em movimento sobre o garrote, usando as mãos para agarrar
os chifres do animal e derrubá-lo ao chão com um movimento
de torção em seu pescoço. Como na vaquejada, um segundo
cavaleiro faz o papel de esteira, não permitindo que o garrote
se distancie.
Rodeio
No rodeio ou montaria de touro,
Apartação o competidor ou peão tem
Na prova de apartação, o cavaleiro que permanecer montado
separa uma rês de um rebanho e deve sobre um touro ou cavalo
mantê-la separada no centro da durante 8 segundos.
arena com ajuda de seu Uma tira de lã ou
cavalo. O juiz atribui algodão chamada
nota ao cavalo pela sua sedém é amarrada
habilidade de impedir ao abdômen próximo
a rês de retornar ao à virilha do animal e
rebanho, capacidade de apertada antes da prova,
manobrar sozinho um boi fazendo com que o animal
(senso de gado), coragem salte de forma repetida e
e atenção. abrupta.
14
abril de 2017
Paleteada
Esporte praticado entre os criadores de cavalos da raça crioula. Uma dupla
de cavaleiros tem que passar por dentro de “porteiras”, simbolizadas por
fardos de feno, enquanto põem as paletas (região onde a pata encontra
o dorso) dos cavalos em contato
com o boi a fim de dominá-lo.
É avaliado o domínio sobre
o boi, a velocidade e a
submissão dos cavalos
aos cavaleiros.
Prova do laço
Na prova do laço, um bezerro é laçado, enquanto corre, pelo peão
montado a cavalo em velocidade. O bezerro cai abruptamente no
solo e é então erguido pelo peão e atirado de novo ao solo virado
de lado e tem três de suas patas amarradas juntas.
Team Penning
Nesta prova, uma reprodução do trabalho cotidiano
nas fazendas, uma equipe de três cavaleiros tem um
tempo de dois minutos para separar três reses
numerados de um rebanho de 30. Um dos três
bovinos que foi apartado do rebanho deve ser
conduzido para um pequeno curral (pen) do
lado oposto da arena.
Prova de rédeas
Modalidade de hipismo em que é avaliado o
adestramento do cavalo em um alto nível técnico. O
cavaleiro controla e guia o animal, realizando uma
série de manobras predeterminadas, como giros,
recuos e círculos. O animal deve mostrar pouca ou
nenhuma resistência ao controle.
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15
Supremo decidiu sobre
conflito entre direitos
O debate sobre a constituciona-
Rosinei Coutinho/SCO/STF
lidade da Lei 15.299/2013 do es-
tado do Ceará, que regulamenta a
atividade de vaquejada, dividiu o
Supremo Tribunal Federal. Esta-
vam em conflito dois dispositivos
da Constituição sobre direitos fun-
damentais. O primeiro diz respeito
à proteção da fauna e da flora que
assegure o direito ao meio ambiente
sadio e equilibrado (art. 225). O ou-
tro trata da garantia ao pleno exercí-
cio dos direitos culturais (art. 215).
Por 6 a 5, um placar apertado, por-
tanto, o Plenário do STF decidiu
que o dever de proteção ao meio
ambiente se sobrepõe à proteção aos Ministros Marco Aurélio e Carmén Lúcia, durante julgamento no
valores culturais representados pela STF: debate na Corte constitucional teve a ética como foco
vaquejada.
A Ação Direta de inconstitucio- mos e deslocamento da articulação tacando o sentido de manifestação
nalidade (ADI) 4.983 foi apresen- do rabo e até o arrancamento dessa cultural da vaquejada, Fachin disse
tada pela Procuradoria-Geral da parte do corpo e outros danos cau- não haver motivo para se proibir a
República em maio de 2013, com sadores de dores físicas e sofrimento competição, que reproduziria e ava-
a argumentação principal de que a mental. Para o magistrado, a tortura liaria tecnicamente a tarefa da cap-
crueldade com os animais envolvi- e outros tipos de maus-tratos im- tura própria do trabalho de vaquei-
dos é intrínseca à prática da vaque- postos aos bois na vaquejada são in- ros e peões na zona rural do país.
jada e que não seria possível uma re- discutíveis e se enquadram no con- O ministro Gilmar Mendes alertou
gulamentação que eliminasse a vio- ceito de crueldade com animais, seus pares para o fato de que a de-
lência sem descaracterizar por com- tal como expresso no artigo 225 da claração de inconstitucionalidade
pleto a modalidade. Constituição. levaria o costume à clandestinidade.
O ministro Marco Aurélio, re- Entre os que divergiram do rela- Para ele, a lei cearense precisaria ser
lator da ADI, considerou que os tor, o ministro Edson Fachin ressal- aperfeiçoada com medidas que pu-
laudos constantes no processo de- tou que era preciso considerar a rea- dessem reduzir as possibilidades
monstraram consequências nocivas lidade do meio rural e evitar uma de lesão aos animais. No entanto,
à saúde dos animais como fraturas, visão unilateral de uma sociedade considerou que o propósito da va-
ruptura de ligamentos, traumatis- predominantemente urbana. Des- quejada seria desportivo, diferente-
Em votação apertada (6 a 5), o Supremo decidiu que derrubar o boi puxando-o pelo rabo é um ato cruel
Tatiana Azeviche/Gov BA
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abril de 2017
mente da “farra do boi”, cujo obje- Entre os favoráveis ao pedido, o biental definido na Lei 9.605/1998.
tivo seria matar o animal. ministro Roberto Barroso argumen- Para a presidente do STF, minis-
tou que a proteção aos animais deve tra Cármen Lúcia, a cultura, ainda
Entretenimento ser considerada norma autônoma, que enraizada, também se trans-
Também entre os contrários à que não se justifica apenas do ponto forma quando há outro modo de
proibição da vaquejada, o então mi- de vista ecológico ou preservacio- ver a vida, em uma perspectiva mais
nistro Teori Zavascki alegou que nista. Para ele, a proteção possui va- global, e não apenas relativa ao ser
a ADI não dizia respeito à prática, lor moral, ou seja, o sofrimento ani- humano.
e sim à lei regulamentadora cea- mal importa por si só, independen- A vaquejada já havia sido ques-
rense. Para ele, a vaquejada pode- temente do equilíbrio ambiental. tionada em ações civis públicas
ria ser cruel ou não dependendo da Acrescentou ainda que a vaquejada propostas pelo Ministério Público
forma como fosse praticada. E, se usa os animais apenas para fins de em diversos lugares do país, princi-
não fosse cruel, não poderia ser proi- entretenimento, e não é uma ques- palmente na Região Nordeste. Na
bida. Além disso, a lei em questio- tão complexa de direito dos ani- maior parte dessas ações, liminares
namento, ponderou Zavascki, pro- mais, como o uso para alimentação concedidas para suspender a realiza-
curava evitar as formas cruéis da ou em práticas religiosas. ção de eventos foram rapidamente
atividade. Na falta de uma lei re- A ministra Rosa Weber frisou cassadas pelos tribunais de Justiça.
guladora, a vaquejada recairia ine- que, apesar de o Estado garantir A ADI 4.983 foi a primeira ação
vitavelmente em crueldade com os e incentivar manifestações cultu- apreciada pelo STF sobre a questão.
animais. Raciocínio semelhante foi rais, não tolera do mesmo modo a Ao estabelecer, de forma definitiva,
apresentado pelo ministro Luiz Fux. crueldade contra animais. O minis- que a derrubada dos bois não é uma
Ele acrescentou que a carne verme- tro Celso de Mello enfatizou que a prática esportiva com amparo cons-
lha é produzida de forma cruel no crueldade é inerente à vaquejada. titucional, o Supremo dá condições
Brasil e que a Constituição, mesmo Não se pode qualificá-la como ativi- para encerrar os questionamentos
assim, garante o direito à alimenta- dade desportiva, prática cultural ou judiciais locais ainda sem resolução
ção, um direito social. expressão folclórica. Seria crime am- final em todo o país.
Veterinários se dividem
quanto à crueldade
Pontos de vista opostos sobre a mento da importância cultural da o valor da própria vida. A ativista
crueldade com os animais na va- vaquejada sugerindo que as tradi- ainda pôs em dúvida o alcance
quejada foram confrontados em ções mudam e a humanidade evo- dos benefícios da vaquejada: “Não
audiência pública promovida pela lui. Citou trecho do voto da mi- é o povo sofrido que realmente
Comissão de Constituição e Jus- nistra Cármen Lúcia no qual a ganha dinheiro. São empresários
tiça em 29 de novembro, presi- magistrada fala do risco de a in- milionários que exploram esses
dida pelo senador José Pimentel, sensibilidade para com o sofri- animais e acabam explorando as
defensor da vaquejada. mento de um animal converter- pessoas. Eles falam em milhares
A apresentadora de TV e ati- se em insensibilidade em relação de empregos. Na verdade, a maio-
vista da defesa dos animais Luisa a outro ser humano até redundar ria desses empregos é temporária.
Mell lembrou que a decisão do em uma sociedade que despreza Alguns poucos peões são contra-
Supremo de classificar a prática
Roque de Sá/Agência Senado
da vaquejada de intrinsecamente
cruel foi endossada pelo Conse-
lho Nacional de Medicina Veteri-
nária (CNMV). Para a entidade,
o termo “sofrimento” se refere a
ferimentos, contusões ou fraturas
e a questões psicológicas, como
medo, angústia ou pavor, entre
outros sentimentos negativos.
Luisa Mell contestou o argu-
Vânia Nunes (E) e Luisa Mell
consideram impossível a ausência de
sofrimento físico e mental pelos bois
que são tangidos e derrubados
www.senado.leg.br/emdiscussao 17
Roque de Sá/Agência Senado
utilizam indicadores fisiológicos, a questionam se realmente ocorre o
exemplo da medição da proteína CK que elas têm visto em determinados
em cavalos, capaz de identificar le- laudos que têm seguido e orientado
são muscular. “Nesses trabalhos, a o julgamento, seja de órgãos oficiais,
gente observa que a proteína CK se como Justiça, Ministério Público,
eleva, mas volta para o normal em seja de parlamentares, seja da socie-
menos de 20 ou 30 minutos de exer- dade civil de modo geral”, garantiu
cício do cavalo”. O professor reco- o advogado.
mendou mais estudos com o obje- Para Vânia Nunes, veterinária e
tivo de entender a dor nas diferentes diretora do Fórum Nacional de De-
espécies, já que essa sensação seria fesa e Proteção Animal, crueldade
“muito subjetiva”. “No caso da va- quer dizer causar um dano, sofri-
quejada, nós trabalhamos com ani- mento, lesão em outro ser delibera-
mais adultos. São animais calejados damente. Ela afirma que o compor-
com a vida no campo, acostumados tamento de bois e cavalos na vaque-
a correr, pular, saltar”, alegou. jada não é o natural. Eles seriam in-
O advogado Henrique Carvalho, duzidos a agir na direção de desejos
representante da Associação Brasi- que alguns seres humanos querem
Pimentel, que presidiu os debates na leira de Vaquejada (Abvaq), ressal- alcançar.
Comissão de Educação, vê importância vou que muitos dos fatos apresenta- No caso dos bois da vaquejada,
cultural e econômica na vaquejada dos para caracterizar maus-tratos aos a veterinária frisa que, para a prova
animais na vaquejada são coisa do se realizar, o animal, ao ser solto,
tados por pecuaristas milionários”. passado. Ele enumera medidas ado- deve ser perseguido e ter sua cauda
O veterinário Hélio Cordeiro tadas pela associação para evitar que puxada e torcida para que caia exa-
Manso Filho, professor da Univer- os animais se machuquem, como o tamente em uma área marcada no
sidade Federal Rural de Pernam- colchão de areia de 40 centímetros chão. Na queda, o bovino deve fi-
buco, no entanto, denominou o po- onde os bois caem, o protetor de car com as quatro patas para cima.
sicionamento do CNMV de “mo- cauda e a presença de juízes de bem- Vânia aponta que isso causa, além
nocrático”. De acordo com ele, estar animal nas provas. “Isso faz de desconforto físico, ferimentos,
17 dos 24 conselhos regionais da parte da essência de quem compete. danos e dor, um sofrimento men-
profissão já emitiram opinião fa- Ele quer manter a prática da vaque- tal e angústia pela perseguição. Ela
vorável à legalização e à organiza- jada. Se ele não a praticar de acordo explica que a cauda dos animais é
ção de eventos com animais. Cor- com as regras do bem-estar animal, a continuação da coluna vertebral
deiro apresentou estudos com bois, se ele não a praticar utilizando o e apresenta estrutura semelhante à
por meio dos quais se verificou que protetor de cauda, há o risco, sim, da espinha. “Dizer que é intrinseca-
ao fim da corrida eles retornam à de a atividade ser extinta. E nin- mente cruel, portanto, é isso: sabe-
normalidade. “Voltar a se alimen- guém quer isso!”, justificou Carva- se que os animais passam por expe-
tar é um grande indicativo de que lho, que também é competidor. riências que lesam tecidos, causam
o animal está relaxado, está bem. danos, dor, sofrimento, angústia e
Ele torna a conviver com seus pa- Laudos mesmo assim os interessados huma-
res”, assegurou. Conforme o vete- “Todas as pessoas que verificam nos continuam com essas práticas”,
rinário, há também pesquisas que a prática da vaquejada, no mínimo observou.
Por essas razões, na opinião da
Roque de Sá/Agência Senado
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abril de 2017
dutivos, do nascimento ao abate,
deixam claro que arrastar animais
conscientes, conter, segurar, der-
rubá-los por suas partes sensíveis
são práticas proibidas por serem
consideradas maus-tratos e abso-
lutamente desnecessárias”, apre-
goam os auditores.
“É um equivoco dizer que, pelo
fato de que ‘os animais vão mor-
rer mesmo’, como frequentemente
ouvimos, está tudo bem empre-
gá-los para uma ou outra prática,
VANIA
e que até dessa forma eles podem
viver mais um pouco”, refutou Ativistas protestam contra a vaquejada em São Paulo. Para eles, a falta de sensibilidade com
Vânia. Ela considera a decisão do o sofrimento dos animais leva a uma sociedade que despreza o valor da própria vida humana
STF muito importante por trazer
à luz da vida cotidiana o debate cimento sobre os animais e suas fissionais competentes e éticos
sobre as relações entre bem-es- necessidades e comportamentos não se rendem a argumentos ten-
tar animal, sofrimento, cultura e despertam atitudes de pessoas éti- denciosos e equivocados. A deci-
crueldade. Cada vez mais, nota a cas, responsáveis e compromissa- são é de cada um, mas precisa ser
veterinária, os avanços no conhe- das de fato com esses seres. “Pro- consciente”, pregou.
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19
Vaquejada S/A
Defensores da derrubada de bois argumentam que a proibição dos torneios
vai prejudicar uma vasta gama de trabalhadores e atividades empresariais
sonorização,
A competição tratorista, filmagem e Produção artística
Parque de vaquejada, porteiros, transmissão, Cantores, grupos
socorrista, musicais, empresas Criação de cavalos
competidores, aluguel de bois
veterinários, de som, gráficas, Produção e venda de
juízes de prova, rações, acessórios,
locutores, equipes de curral, empresas de
limpeza, geradores de suplementos e vacinas,
juiz do bem-estar tratores e outros
animal, energia elétrica
veículos
calzeiro,
Comércio no entorno
Roupas e artigos de
couro, selas, hotéis
Negócios simultâneos
e restaurantes,
Leilões de equinos, comércio
caçambas para
de sêmen, embriões e óvulos
caminhões
circunstância que demanda provi- quejada há no Brasil, mas os núme-
dências distintas por parte deste Su- e a adesão de patrocinadores, o que ros são altos. Em Alagoas, cada mu-
premo Tribunal Federal”. despertou o interesse da mídia. nicípio tem em média cinco pistas ou
A vaquejada tem sua origem entre Contam atualmente com estrutura parques de vaquejada somados.
os séculos 17 e 18 com o trabalho própria dos grandes eventos despor- Os cavalos são criados e treinados
nas fazendas para reunir o rebanho tivos, registram receitas milionárias para competir. Os bois são levados
bovino, então criado solto na mata. e pagam altos valores em prêmios diretamente do pasto para as provas.
Por volta de 1940, vaqueiros nordes- aos competidores. Em geral, utilizam-se 150 reses em
tinos passaram a se reunir para tor- Dados da Abvaq apresentados no uma vaquejada de pequeno porte,
nar públicas suas habilidades nessa relatório da PEC 50/2016 informam podendo chegar a 1,5 mil em um
atividade, e os fazendeiros da região que a atividade movimenta R$ 600 evento grande. As provas duram en-
começaram a organizar torneios. milhões por ano, gera 120 mil em- tre três e quatro dias e o cavalo corre
Esse tipo de competição logo foi in- pregos diretos e 600 mil empregos de nove a dez vezes, incluída a dis-
corporado a festividades de muitas indiretos. Cada prova de vaquejada puta final. Há acompanhamento de
cidades. mobiliza cerca de 270 profissionais, inspetor veterinário para verificar a
Inicialmente ama- entre eles, veterinários, juízes, inspe- ocorrência de fadiga. “Segundo rela-
doras, essa s compe- tores, locutores, organizadores, se- tos de médicos veterinários, um ca-
tições passaram por guranças, pessoal de apoio ao gado valo de turfe serve como atleta até
aperfeiçoamentos na e de limpeza de instalações. Um va- os oito anos, assim como o cavalo
organização, com queiro profissional, por exemplo, re- de tambor. O cavalo de vaquejada
CAUDA ARTIFIC/MALU MARQUES
calendários espe- cebe em média R$ 2 mil fixos e um compete até os 17 anos”, garante
cíficos, regras valor variável que pode elevar os Carvalho.
bem definidas rendimentos à faixa dos R$ 5 mil.
Segundo Henrique Carvalho, é
difícil precisar quantas pistas de va-
Competidores
no Parque J.
Galdino, em
Surubim (PE),
utilizam um
rabo artificial
para derrubar
o boi sem
causar danos
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Projetos de Eunício e Lira buscam
Vaquejada se tornou
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Rodrigo Viana/Senado Federal
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abril de 2017
JOSÉ ANTONIO DA COSTA
las comunidades e grupos em fun- tombados ou registrados não deve ser
Primórdios da vaquejada na
ção de seu ambiente, de sua interação permeada pelas disputas políticas”, cidade de Lagarto (SE): proezas
com a natureza e de sua história, ge- defende. no manejo do gado despertaram
rando um sentimento de identidade e Vieira também observa que a no- interesse empresarial
continuidade, contribuindo para pro- ção de patrimônio cultural imaterial
mover o respeito à diversidade cultu- não se confunde com os conceitos
ral e à criatividade humana. de cultura popular e de folclore, por
O consultor legislativo do Senado ter caráter dinâmico e mutável. “Por
Luiz Renato Vieira, no estudo Re- isso, as políticas de salvaguarda rela-
gistro e Salvaguarda do Patrimônio cionadas ao patrimônio cultural ima-
Cultural Imaterial no Brasil, explica terial não são ações de preservação no
que, embora a proteção ao patrimô- sentido tradicional, mas um conjunto
nio imaterial esteja na Constituição de iniciativas que deve compreen-
Federal desde 1988, seus efeitos prá- der os diversos aspectos de formação
ticos só se fizeram sentir a partir do da identidade do grupo social consi-
Decreto 3.551/2000. “Parece-nos derado. Dessa forma, ações de salva-
que o modelo brasileiro é mais efi- guarda são, necessariamente, multi-
ciente e adequado do ponto de vista facetadas e envolvem vários setores”,
técnico. A decisão sobre bens a serem diz o consultor.
Livro de Registro
Ivo Gonçalves/PMPA
de Lugares:
• Cachoeira de Iauaretê — lugar
sagrado dos povos indígenas
dos Rios Uaupés e Papuri;
• Feira de Caruaru;
• Tava — lugar de referência
para o povo guarani
Patrimônio imaterial, a
capoeira já foi considerada
crime. Atualmente a
prática também promove
inclusão social
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O BRASIL EM DEBATE
24
abril de 2017
i mplementação
das metas para a
agropecuária reunidas
no chamado Plano ABC
(Agricultura de Baixo Car-
bono), que precisa ter “ganho
de escala” em programas como
o de recuperação de pastagens de-
gradadas; integração lavoura-pecu-
ária-floresta e sistemas agroflorestais
e plantio direto; fixação biológica de
nitrogênio; florestas plantadas; trata-
mento de dejetos animais; e adapta-
ção às mudanças climáticas. Os auto-
res recomendam “apoio aos produtores
rurais por meio de assistência técnica” “carona”, da parte de quem prefira dei- cam em seu trabalho é que, se o esta-
e “uma estrutura de financiamentos xar o dever de casa para o vizinho. belecimento de metas próprias para
adequada e atrativa”. Assinalam os consultores: “Apesar cada r ealidade nacional pode facilitar
As melhores intenções e leis, en- de se apresentar como um acordo de o ingresso no acordo, exige um esforço
tretanto, podem esbarrar na comple- alcance universal, vinculante e gera- maior, do ponto de vista científico e
xidade e nas incertezas de um acordo dor de obrigações a todos os Estados, político, para que, no plano global, es-
cuja novidade é a apresentação de me- muitas de suas disposições são de natu- ses esforços se somem de maneira mi-
tas voluntárias (e desiguais nos pra- reza pragmática ou indicativa e as me- nimamente coerente e produzam resul-
zos para concretização), o que abre a tas, agora vinculantes e constituindo as tados concretos de redução das emis-
chance do comportamento do tipo contribuições nacionalmente determi- sões. Tanto o equacionamento das me-
nadas (NDC, na sigla em inglês), são tas quanto o controle da sua aplicação
autopropostas, díspares entre si, mas e dos resultados dependem ainda do
que representam metas concretas e au- estabelecimento de regras, parâmetros
tônomas, em consonância ao princípio de medidas e detalhamento técnico
das responsabilidades comuns, porém para que os responsáveis por acompa-
diferenciadas à luz das diferentes cir- nhar o acordo tenham o mínimo de
cunstâncias nacionais”. segurança sobre onde estão pisando.
O que Karin e Fraxe Neto expli- Questões como a das bases do comér-
cio de carbono e do pagamento por
serviços ambientais, o chamado Reed,
Habib Jorge Fraxe Neto é bacharel em estão entre os aspectos a serem mais
ciências biológicas e mestre em zoolo-
precisamente definidos.
gia pela Universidade de Brasília (UnB).
Especialista em direito ambiental, atual-
mente trabalha como consultor legislati- Leia o estudo completo:
vo do Senado na área de meio ambiente. bit.ly/2paris-sf
E-mail: hfraxe@senado.leg.br Saiba mais: bit.ly/2acor-paris-sf
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25
BANDA LARGA
A batalha
em torno da
internet ilimitada
Controle do volume de tráfego por parte das
operadoras de banda larga fixa é rejeitado pela
sociedade. Em cenário jurídico e comercial confuso,
projeto que garante o fluxo contínuo de dados foi
aprovado pelo Senado e segue para análise na Câmara
E
m janeiro deste ano, o ministro da não ingressar na era da internet banda larga
Ciência, Tecnologia, Inovações e Co- fixa limitada. Além dos setores diretamente li-
municações, Gilberto Kassab, reacen- gados, o assunto também repercute no Legis-
deu a polêmica em torno da limitação lativo há um ano. No Senado passaram a tra-
do tráfego de dados na internet banda larga mitar em conjunto três propostas para proibir
fixa ao declarar que as operadoras de teleco- a franquia de dados. O PLS 174/2016 foi apro-
municações poderiam oferecer planos com res- vado em Plenário no dia 15 de março e a ma-
trições partir de julho. O assunto vem sendo téria seguiu para análise na Câmara dos De-
debatido entre empresas, clientes e a Agência putados. Os outros dois foram arquivados por
Nacional de Telecomunicações (Anatel), insti- tratarem do mesmo tema. O presidente do Se-
tuição que regula o setor, desde 2016, quando nado, Eunício Oliveira, autor de um dos proje-
as teles anunciaram que iriam desligar o sinal tos, justificou o apoio à causa:
dos usuários que utilizassem todo o volume de “A limitação certamente prejudicará os con-
dados previstos no contrato da franquia. sumidores, que terão que pagar valores ainda
Após a declaração do ministro, a polêmica mais elevados para poderem usufruir de acesso
foi tanta que, em menos de 24 horas, Kassab ininterrupto à internet”, afirmou Eunício.
mostrou-se arrependido e voltou atrás: “Não Pressionada, a Anatel marcou para maio
haverá mudanças no modelo atual de planos a apresentação de uma análise de impacto re-
de banda larga fixa”. gulatório de possíveis mudanças nas regras da
A declaração enfática foi feita antes mesmo banda larga, considerando a perspectiva dos
de concluir o debate sobre se o país deve ou consumidores.
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abril de 2017
USP Imagens
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Entenda por que
Operadoras estão proibidas, por
há conflito sobre a enquanto, de cortar a internet,
http://bit.ly/internetdados
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abril de 2017
Legitimidade da ação não tem
consenso entre especialistas
Durante os debates sobre a nia fixa, e privado, para todos do Direito Brasileiro, o texto
limitação do tráfego de dados os outros serviços. Neste úl- legal mais novo — no caso, o
na internet, a principal questão timo, não há controle de pre- marco civil — revoga tacita-
levantada, ainda sem consenso ços e modelos de negócios, ao mente o mais antigo no que lhe
entre os especialistas, é a da le- contrário do primeiro. A regu- for incompatível.
galidade da ação. Para Rafael lamentação de 2013, segundo Outra questão, levantada
Zanatta, do Instituto Brasi- Zerbone, teve como objetivo pelo consultor do Senado Ale-
leiro de Defesa do Consumidor estabelecer condições e defi- xandre Guimarães, diz respeito
(Idec), esse tema será “a grande nir os planos de serviços que à interpretação do marco civil.
discussão de 2017”. poderiam ser ofertados pelas Na opinião dele, essa lei não
A polêmica começou quando operadoras dentro dessa regra. especifica claramente que tipo
o Idec exigiu que a Anatel re- Conforme o representante de conexão à internet pode ou
vogasse a resolução de 2013 da A natel, a resolução bus- não ser suspensa. No Brasil, o
que permitia a aplicação das cou “limitar a liberdade que as corte da internet móvel, por
franquias de dados. No enten- prestadoras já tinham de de- exemplo, é uma prática usual.
der do representante da agência finir o plano de serviço da sua “Se a determinação de não
reguladora, Rodrigo Zerbone, prestação ao garantir ao con- suspender a conexão à inter-
essa é uma interpretação equi- sumidor, de alguma forma, a net, salvo por débito, for apli-
vocada, já que “não foi a reso- continuidade da prestação do cada, deve ser aplicada a ambos
lução da Anatel de 2013 que serviço”. os serviços. Entendemos que há
permitiu às empresas terem os necessidade de uma alteração
modelos de negócios que elas Choque legal ou de questionamento ao
desejam, mas a Lei Geral de Ainda que a lei geral permita Judiciário para que se esclareça
Telecomunicações, ao estipu- a liberdade de prestação de ser- a situação dos serviços de inter-
lar a liberdade de prestação de viços por parte das operado- net móvel e fixa”, aconselha o
serviços”. ras, o Marco Civil da Internet consultor.
A lei prevê dois regimes ju- proíbe o corte do sinal, salvo
rídicos: público, para a telefo- em caso de inadimplência. Pela Contratos
Lei de Introdução às Normas Para o consumidor, a ques-
tão é especialmente complexa
por causa do cipoal n
ormativo.
EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO
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29
Geraldo Magela/Agência Senado
IDEC
Apesar de estarem proibidas, as net”, diz o documento. cessionárias de internet móvel pas-
franquias de consumo têm am- O Idec sugere que a limitação saram a oferecer acesso grátis e ili-
paro no Regulamento Geral dos seja permitida a pequenos prove- mitado a determinados aplicativos
Direitos do Consumidor de Servi- dores, de modo a ampliar a oferta, e redes sociais como forma de com-
ços de Telecomunicações, baixado mas proibida a grandes operadoras pensar o corte do sinal.
por meio de resolução da Anatel em caráter definitivo. Visto como benefício ao cliente,
em 2014. “Muitas empresas querem im- a prática, chamada zero-rating, é
Os contratos realizados entre plementar as franquias sem neces- prejudicial ao mercado e vetada
operadoras e clientes para internet sidade técnica, e isso é apenas de- pelo marco civil, uma vez que viola
de banda larga fixa, inclusive, têm sejo de lucro”, esclarece o represen- a neutralidade da rede, explica Za-
de deixar claro o limite de volume tante do Idec, Rafael Zanatta. natta. “Além de prejudicar a ino-
de dados, assim como as condi- vação e a livre utilização da rede,
ções de uso. “O consumidor tem Limitação por conteúdo fortalece o poder de grandes gru-
de ter direito a recurso que pos- A s estratégias de marketing pos econômicos e causa problemas
sibilite o acompanhamento ade- mantêm os usuários à mercê das competitivos, que prejudicarão os
quado do uso de serviço na inter- operadoras. No último ano, as con- consumidores no futuro”, diz.
Audiência pública promovida em conjunto por três comissões permanentes do Senado discute o problema em torno da franquia de dados
30
abril de 2017
Parlamentares defendem Glossário
Gigabyte (giga): É uma unidade de
Senadores Ricardo Ferraço, Humberto Costa e Pedro Chaves trabalham para proibir a limitação do tráfego de dados
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Expansão da rede não acompanha
a demanda dos usuários
O número de consumidores de O volume de dados em trânsito consumir, em média, 37 Gb.
internet fixa no Brasil aumentou: também. Segundo a Cisco — uma A expansão da rede, entretanto,
em 2007 eram pouco mais de 8 das principais fabricantes de rote- não acompanhou a demanda e, por
milhões; em 2016, mais de 26 mi- adores de internet —, os usuários, isso, enfrenta constantes problemas
lhões. Um crescimento de mais que antes demandavam 0.001 gi- de sobrecarga em grandes cidades.
de 300% em menos de dez anos. gabyte (Gb) por mês, passaram a Ao mesmo tempo, em 246 muni-
cípios, o serviço de internet só é
Investimento
Sobre a necessidade de expansão
e melhoria da banda larga, não há
divergências. Todos os envolvidos
— operadoras, consumidores e go-
verno — concordam. A questão é
definir quem vai pagar essa conta.
De um lado, as operadoras alegam
que, sem liberdade para contratar,
suas receitas serão insuficientes.
Do outro, os usuários reclamam
que o preço do serviço já é alto
demais e aumentá-lo seria inviável.
“Nós não vamos limitar aquilo
com o que a gente ganha dinheiro.
Manutenção dos cabos de fibra
óptica para telefonia e banda
larga em câmaras subterrâneas,
em Brasília
32
abril de 2017
Pillar Pedreiras/Agência Senado
Precisamos entender é quanto al-
guém deve pagar para poder ter
o uso ilimitado”, reage o diretor
de Relações Institucionais da Oi,
Marcos Augusto Mesquita.
De qualquer forma, é um con-
senso que o valor praticado atu-
almente nem de longe pode ser
considerado barato.
Os altos preços cobrados pela
internet banda larga fixa no Bra-
sil ultrapassam o valor determi-
nado pela Organização das Na-
ções Unidas (ONU) de 2% da
renda média domiciliar. Por esse
cálculo, o serviço deveria custar
entre R$ 37 e R$ 40, uma vez
que a renda média no país é de
R$ 1.853.
Entreta nto, o preço ma is
baixo encontrado num levanta-
mento feito por Em Discussão!
foi de R$ 59,90 — entre as em- De acordo com a Fundação Getulio Vargas, há em média
presas que detêm mais de 85% 1,52 dispositivo móvel para cada habitante no país
das conexões: Net, Vivo e Oi.
No modelo de tráfego limi- “Nesse modelo apresentado cro por essas empresas, um crime
tado, anunciado pelas opera- [de 10 GB], 10 aulas on-line em contra a ordem econômica”.
doras em fevereiro de 2016, os alta resolução praticamente já es-
preços eram mais agradáveis ao gotam a franquia, havendo assim Tributo
bolso. Porém, o tráfego de da- uma limitação na informação”, A carga tributária sobre os pre-
dos oferecido era irrisório, de 10 aponta Kleber de Miranda Bar- ços praticados também é muito
a 30 GB por mês, quantidade reto, da Comissão do Direito do alta. De uma conta de R$ 89,90,
de dados bem inferior ao con- Consumidor do Conselho Sec- por exemplo, R$ 22,48 corres-
sumo médio de um ponto de cional da Ordem dos Advogados pondem ao ICMS; R$ 0,58 ao
banda larga fixa, que é de 240 do Brasil no Distrito Federal. PIS; e R$ 2,70 ao Cofins. Ou
GB por mês, segundo a Proteste. Para dar continuidade ao seja, 28,65% do valor da conta.
Os planos de excelência ofere- acesso, as operadoras venderiam “A Anatel deveria atacar esse
ciam uma franquia de 270 GB, pacotes adicionais, o que sig- problema, não o bolso dos con-
ou seja, pouco mais que a média nifica, para Rafael Zanatta, do sumidores”, reclama Maria Inês
utilizada. Idec, “a elevação arbitrária de lu- Dolci, da Proteste.
Concessões
Durante a audiência pública
na CCT, o diretor da Oi decla-
rou que a necessidade de inves-
timento é extraordinária. Po-
rém, “não é algo que a rentabi-
lidade do negócio possa garan-
tir”, segundo Marcos Augusto
Mesquita.
Ainda assim, no relatório
Geraldo Magela/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado
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Internet ilimitada em Segundo a Telefônica Bra-
sil, grupo que opera sob a
nal líquida do serviço de banda
larga fixa da empresa contabi-
130 países do mundo marca Vivo, a receita operacio- lizou R$ 2.901 bilhões no pe-
ríodo de janeiro a setembro
30
25,5 26,5
23,9
25 22,2
19,8
17,0
milhões de assinantes
20
14,9
15 12,5
223%
10,6
10 8,2
0
ALDA SILVA
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
BRASIL
Uruguai
Venezuela
China
Coreia do Sul
Rússia
Peru
Argentina
Colômbia
Bolívia
Chile
Panamá
Índia
Hong Kong
Costa Rica
Suécia
Noruega
África do Sul
México
EUA
Equador
Canadá
Paraguai
34
Operadoras de telecomunicações são atravessadoras de informações
Por isso, cobrar pelo volume é tão polêmico. Entenda como funciona o tráfego de dados:
Qualquer arquivo, seja foto, vídeo ou texto, Quanto maior o arquivo, A rede pode ser sem fio (wi-fi),
deve ser convertido em dados para ser maior a quantidade de dados. cabo LAN ou pela rede celular.
transmitido pela rede.
O caminho de transmissão
Saindo do aparelho (celular, computador ou tablet), dos dados é determinado
os dados seguem para a operadora, que fornece o pelo IP (internet protocol),
serviço de conexão. Essa empresa também cuida da que registra em cada pacote
manutenção da estrutura física da rede: antenas, o remetente e o destinatário
cabos e centrais de transmissão. do arquivo.
Graças ao IP, os dados de um mesmo arquivo A nuvem de dados nada mais é do que esse conjunto
podem percorrer caminhos diferentes, mas de datacenters (espalhados pelo mundo) contratados
sempre chegarão no destino certo. por uma empresa para guardar arquivos de usuários.
Isso melhora o processamento e torna a alocação
de memória mais fluida e barata. A organização em
nuvem também otimiza o download. O usuário final
pode acessar dados de datacenters que estejam mais
próximos ou que tenham a melhor eficiência.
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Investimentos no setor
são insuficientes
“Por que o governo não usa os da Net, Fábio Andrade. cional. Os recursos do fundo não
bilhões que ele arrecada com o Fust O Fust — tributo pago pelas são destinados a financiar projetos
[Fundo de Universalização dos Ser- operadoras de telecomunicações na de expansão da telefonia móvel e da
viços de Telecomunicações] para base de 1% sobre a receita opera- banda larga.
aumentar a banda larga no país? cional bruta — é destinado, desde A União investiu no setor, por
Por que a gente paga tanto Fust e 2007, ao Programa de Atendimento meio da Telebras, R$ 2,1 bilhões
não recebe em troca esse investi- às Pessoas com Deficiência, que ins- entre 2010 e 2016. Esse dinheiro
mento?”, questiona o diretor de Re- tala e mantém terminais telefônicos subsidiou o Plano Nacional de
lações Institucionais da Claro S.A e para surdos em todo o território na- Banda Larga, o projeto do Satélite
Geoestacionário de Defesa e Comu-
nicações Estratégicas (SGDC), cujo
36
abril de 2017
Banda larga tem estrutura
física e tecnológica finita
Quando as operadoras de teleco- congestionamento. O problema conselheiro, caso aprovada, essa me-
municações argumentam que não — em torno da limitação do vo- dida levará ao caos social e dividirá
podem vender “como infinito o que lume do tráfego de dados — é que ainda mais o país. “Vão criar classes
é finito”, a exemplo do que disse o as empresas têm vendido mais espa- de cidadania. Quem tem dinheiro
diretor de Relações Institucionais ços do que suportam, explica Pedro vai continuar fazendo tudo e quem
da Claro S.A. e da Net, Fábio An- Ekman, conselheiro do Intervozes. não tem não vai conseguir fazer
drade, estão corretas do ponto de Dessa forma, entende-se essa prá- nada. Os mais pobres ficarão com-
vista técnico. As empresas têm uma tica da limitação do volume de da- pletamente desconectados porque
estrutura física e tecnológica limi- dos na internet banda larga fixa eles acessam via wi-fi da padaria, do
tada. A questão, no entanto, é que como uma forma de aumentar os escritório. E essas empresas vão blo-
o limite é de ocupação por segundo, lucros sem que se aumente o inves- quear o acesso se tiverem que pagar
não de quantidade de informações timento em infraestrutura. Para o a mais por ele”, acredita Ekman.
transmitidas.
“A internet nunca foi ilimitada. Gasto com tráfego de dados (estimativa)
Ela sempre foi limitada pela velo-
cidade, de modo que, ao se aces- É muito difícil medir o tráfego de dados, uma vez que cada acesso depende
sar hoje um plano, vamos dizer as- do conteúdo da página, do tamanho do vídeo assistido ou baixado
sim, médio de 10 megabits por se- O tráfego de dados na
gundo, há uma limitação de tempo internet é medido em bytes
GB
MB
da quantidade de dados que vão ser (B). No entanto, as operadoras KB
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Economia pode ser alterada
com a limitação do tráfego
“A internet hoje não é apenas mente sendo cortada. O que acon-
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abril de 2017
VAQUEJADA ???
Criadores e vaqueiros
Diante da proibição imposta pelo STF, atividade
que nasceu das pegas de boi obtém vitória no
Senado: PEC dá à vaquejada status de prática
cultural não violenta
Senado amplia Os principais debates do Senado Federal Ano 7 – Nº 30 – Dezembro de 2016 Os principais debates do Senado Federal Ano 7 - Nº 28 - julho de 2016 Os principais debates do Senado Federal
papel da sociedade
nas agências federais REGULAÇÃO ECONÔMICA
Senado amplia
Integrante da Agenda Brasil, projeto aprovado em
comissão especial também procura coibir a influência papel da sociedade
nas agências federais SANEAMENTO
de ministérios e empresas reguladas nessas autarquias
A linha divisória
da saúde pública
CÓDIGO AERONáUTICO
Desperdício de Resenha
Os destinos da Epidemias provocadas pelo Aedes egypti
Violência contra
aviação no Brasil
Resenha Resenha
Lei do Impeachment
Tarifas de põe em xeque infraestrutura para águas,
alimentos transportes públicos Impacto regulatório a mulher Aposentadoria esgoto e resíduos sólidos
Senado examina anteprojeto que racionaliza
operações e capitaliza companhias aéreas
Desperdício de Resenha
Resenha Violência contra Resenha
Lei do Impeachment
Tarifas de
alimentos transportes públicos Impacto regulatório a mulher Apos
PACTO FEDERATIVO O DESAFIO DA ENERGIA REFORMA POLÍTICA ESCASSEZ DE ÁGUA
RESÍDUOS SÓLIDOS
Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 21 - julho de 2014
ESPIONAGEM CIBERNÉTICA COPA DO MUNDO
Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 5 - Nº 19 - fevereiro de 2014
FINANCIAMENTO D
RESÍDUOS SÓLIDOS ESPIONAGEM CIBERNÉTICA
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Peças de motos terão
padrão de qualidade
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