Você está na página 1de 40

Os principais debates do Senado Federal Ano 8 – Nº 31 – Abril de 2017

VAQUEJADA

Criadores e vaqueiros
pelejam na arena política
Diante da proibição imposta pelo STF, atividade
que nasceu das pegas de boi obtém vitória no
Senado: PEC dá à vaquejada status de prática
cultural não violenta

Resenha
O conflito em torno Desafios no caminho
da banda larga fixa do acordo do clima
Descomplicamos
Descomplicamos oo
orçamento
orçamento público
público
Você
Vocêsabe
sabequanto
quantoo ogoverno
governofederal
federalinvestiu
investiuem
em
banda
bandalarga
larganonoano
anopassado?
passado?EEquanto
quantodinheiro
dinheiro
teremos
teremosdisponível
disponívelpara
paracultura
culturaneste
nesteano?
ano?

Agora,
Agora,nonoPainel
PainelCidadão
CidadãododoSigaSigaBrasil
Brasilvocê
vocêpode
pode
consultar
consultarusando
usandopalavras-chave
palavras-chavee eexpressões
expressõessimples.
simples.
OOresultado
resultadoé érápido
rápidoe edireto,
direto,apresentado
apresentadodedeforma
forma
visual,
visual,por
pormeio
meiodedegráficos
gráficose etabelas.
tabelas.

Acesse
Acessewww.senado.leg.br/painelcidadao
www.senado.leg.br/painelcidadao

SIGA
SIGA
BRASIL
BRASIL
Orçamento
Orçamentopúblico
públicofederal
federaldescomplicado
descomplicado
Senado Federal | Secom | Criação e Marketing
Senado Federal | Secom | Criação e Marketing
Aos leitores
A vaquejada é uma fronteira econômica e cul- nagem dos embates e intersecções entre “novo”
tural peculiar porque compreende a forte tradi- e “antigo”, no momento em que a vaquejada
ção rural do Brasil sob o impacto das mutações busca amparo legal para se manter viva, a apre-
produzidas pelos novos formatos de negócio, sentadora Luisa Mell, uma das ativistas que esti-
em particular aqueles engendrados na seara da veram no Senado criticando os torneios, se pre-
agroindústria, e pelo ambiente da tecnologia da parava para desfilar como embaixadora dos direi-
informação e do entretenimento urbano. O resul- tos dos animais pela escola de samba paulistana
tado é a metamorfose das brejeiras pegas de boi Águia de Ouro, cujo enredo criticou a dominação
na Caatinga, antes protagonizadas por sertanejos de cães e outros bichos pelo homem. No extre-
envergando gibões e chapéus de couro, em even- mo oposto, o “homem do campo” reage. Afinal,
tos de todos os portes, nos quais vaqueiros atle- também precisa sobreviver e se divertir.
tas vestindo camiseta e boné cavalgam em pistas Em Discussão! procurou mapear esse terreno
de areia e quartos de milha são leiloados por até ouvindo senadores, representantes das vaque-
R$ 1 milhão. Concursos de rainhas e shows com jadas, estudiosos e ativistas. A ideia é contribuir
bandas de forró e artistas praieiros são outros in- para jogar luz sobre a controvertida prática cul-
gredientes de um modelo econômico-cultural que tural, esportiva e econômica, em relação à qual o
troca rapidamente austeridade e formas autócto- Parlamento está se pronunciando.
nes de produção e divertimento pelo aumento da A outra frente que aparece neste número é a
receita e do consumo. do conflito entre internautas e operadoras de te-
Essa atualização, que mais recentemente in- lecomunicações em torno dos limites da banda
troduziu procedimentos para amenizar danos aos larga fixa. A contenda se desenrola em um am-
animais, não blindou a nova arena contra a re- biente de forte demanda por conexão em todos
jeição de novíssimas correntes de opinião. Cria- os campos de atividade. As operadoras estão dis-
dores, organizadores e vaqueiros são acusados postas a cortar o envio de dados daqueles clien-
pelos defensores dos animais de maltratar cruel- tes que esgotarem o volume previsto nos con-
mente os bois derrubados pela cauda. A pressão tratos de franquia. A falta de investimentos em
parte até dos indiferentes às dietas vegetarianas, redes de transmissão e um modelo de negócio
contradição típica do processo civilizatório, cuja nada coerente colocaram o assunto na agenda do
pauta de ideias dá passos bem mais largos do Senado, que se manifestou em março, a favor dos
que os indivíduos ou os grupos situados fora do ­consumidores, e enviou a matéria à Câmara.
­ambiente das vanguardas conseguem fazer.
A mostrar a surpreendente e insondável engre- Boa leitura!
NELSON OLIVEIRA

www.senado.leg.br/emdiscussao 
3
Mesa do Senado Federal
Presidente: Eunício Oliveira
Primeiro-vice-presidente: Cássio Cunha Lima
Segundo-vice-presidente: João Alberto Souza
Primeiro-secretário: José Pimentel
Segundo-secretário: Gladson Cameli
SUMÁRIO
Terceiro-secretário: Antonio Carlos Valadares
Quarto-secretário: Zeze Perrella
Suplentes de secretário: Eduardo Amorim, Sérgio
Vaquejada M
A

RC
Criadores, vaqueiros e empresários

EL
Petecão, Davi Alcolumbre e Cidinho Santos

O
da vaquejada travam, no Congresso

CA
MA
Nacional e na Justiça, uma luta

RGO/
Secretário-geral da Mesa: Luiz Fernando Bandeira para manter a prática na legalidade,

ABR
Diretora-geral: Ilana Trombka agora com medidas de proteção aos
animais, depois de o Supremo declarar
inconstitucional lei do Ceará que
regulamentava a derrubada do boi

Expediente
Secretariade
Secretaria
Comunicação
de
Social
Comunicação Social
página 8
Brasil em Debate HE

BE
Diretora: Virgínia Malheiros Galvez Firmado no ano passado, o acordo do

RT
clima, ou Acordo de Paris, tem força de

RO
Diretora-adjunta: Edna de Souza Carvalho

ND
tratado internacional para o Brasil e se

ON/
Diretora de Jornalismo: Ester Monteiro incorpora à legislação. Dois consultores

IBAMA
A revista Em Discussão! é editada pela do Senado avaliam as possibilidades
Secretaria Agência e Jornal do Senado de a norma ganhar a forma de ações
concretas para diminuir as
Diretor: Flávio Faria emissões de carbono

24
Diretor-adjunto: Silvio Burle
Editor-chefe: Nelson Luiz de Oliveira
Edição e reportagem: André Falcão, Nelson Luiz
de Oliveira e Thais Böhm página
Resenha: Nelson Luiz de Oliveira
Capa: Diego Jimenez
Diagramação: Bruno Bazílio e Priscilla Paz
Arte: Bruno Bazílio, Cássio Sales Costa, Diego PILL
AR
PE
Jimenez e Priscilla Paz Banda Larga D RE
Revisão: Fernanda Vidigal, Flávio Faria, Joseana

IR
A/
A restrição ao fornecimento de dados

AG
Paganine, Pedro Pincer e Tatiana Beltrão
aos usuários da banda larga fixa é uma

ÊN
Pesquisa de fotos: Braz Félix, Fernando Bizerra,

CIA
questão pendente. Depois de gerar muitos

SENAD
Leonardo Sá e Pillar Pedreira protestos por parte dos assinantes de
Tratamento de imagem: Afonso Celso Oliveira e planos de internet, o assunto migrou para

O
Roberto Suguino a esfera parlamentar. No Senado há três
Circulação e atendimento ao leitor: projetos de lei que procuram resguardar os
(61) 3303-3333 direitos dos internautas

26
Fechamento desta edição: 30 de março de 2017
Tiragem: 8 mil exemplares
Site: www.senado.leg.br/emdiscussao página
E-mail: emdiscussao@senado.leg.br
Twitter: @Agencia_Senado
www.facebook.com/SenadoFederal Veja e ouça mais em:
Tel.: 0800 612211
Via N2, Unidade de Apoio 3 do Senado Federal,
70165-920, Brasília, DF
A reprodução do conteúdo é permitida,
desde que citada a fonte.
Siga a tramitação dos projetos:
www.senado.leg.br
Impresso pela Secretaria de
A tramitação dos projetos pode ser
Editoração e Publicações (Segraf) acompanhada no site do Senado:
www.senado.leg.br

4 
abril de 2017
Veja e ouça mais em:

Vaquejada
Agência Senado
Matéria: Senado aprova PEC que regulariza situação das vaquejadas
bit.ly/vaq-agen-sf

Vídeo: Vaquejada — a polêmica entre a tradição e a defesa


dos animais
bit.ly/vaquevideo-sf

Jornal do Senado
Especial Cidadania: Legalização das vaquejadas divide opiniões
bit.ly/vaquerad-sf

Rádio Senado
Especial: “Eu Venho desde Menino” — regulamentação da
profissão de vaqueiro
bit.ly/vaquei-sf

Consultoria legislativa
Texto para discussão: Registro e Salvaguarda do Patrimônio
Cultural Imaterial no Brasil
bit.ly/pat-cult-sf

Banda Larga
Jornal do Senado
Especial Cidadania: Senado entra no debate sobre limitação
da internet fixa
bit.ly/blarga-js

Especial Cidadania: Banda larga maior depende de recursos


e gestão articulada
bit.ly/blarga2-js

Agência Senado
Especial Cidadania: Senado debate limitação da internet fixa
bit.ly/blarga-agen

Rádio Senado
Entrevista: Pedro Chaves fala sobre projeto que trata de limite
da banda larga fixa
bit.ly/blarga-rsf

Tv Senado
Em Discussão!: “Internet (i)limitada em debate” — edição de
audiência pública conjunta das Comissões de Ciência e Tecnologia,
de Infraestrutura e de Defesa do Consumidor
bit.ly/blarga-tvsf

www.senado.leg.br/emdiscussao 
5
EM PAUTA
REFORMAS
A eleição das novas Mesas do Senado e da Câmara
e a consolidação de uma maioria em torno do
governo Temer são fatores positivos na tramitação das
chamadas grandes reformas, como a previdenciária
e a trabalhista. Esse é o entendimento de vários
parlamentares, entre eles Raimundo Lira (PMDB-PB)
Em entrevista à Agência Senado na abertura do
ano legislativo, o então líder do governo no Senado e

MPT
hoje chanceler, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), disse
considerar essas mudanças fundamentais para o Brasil TRABALHO ESCRAVO
superar a crise econômica e financeira. A principal
Concebido como um instrumento na luta contra
reforma, no entender dele, será a da Previdência,
o trabalho escravo, o Projeto de Lei do Senado (PLS)
que deve chegar ao Senado ainda este semestre.
290/2013 propõe o cancelamento do Cadastro Nacional
A PEC 287/2016 já foi aprovada pela Comissão de
da Pessoa Jurídica (CNPJ) dos estabelecimentos que
Constituição e Justiça da Câmara, mas ainda tramita em
venderem produtos em cuja fabricação tenha sido
comissão especial antes da deliberação do Plenário.
detectada a submissão de trabalhador à situação análoga
Para Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), unificar as
à de escravidão. A matéria está na Comissão de Assuntos
regras de aposentadoria é uma necessidade porque o
Sociais (CAS) e se baseia em lei estadual de São Paulo.
deficit da Previdência está crescendo e a população,
Segundo a proposta, o cancelamento se dará caso
envelhecendo. “Não dá pra negociar a idade mínima de
forem verificadas condutas que configurem submissão a
65 anos, algo que não deixa de ser polêmico, mas que
trabalho escravo em qualquer das etapas da industrialização
eu já defendia quando ministro”, afirmou o senador.
ou da produção das matérias-primas para a elaboração
Embora aponte a reforma da Previdência como
do produto. O projeto é do ex-senador Vital do Rêgo.
“basilar” para a volta por cima da economia, Dário
“Tal iniciativa, além de visar à proteção social dos
Berger (PMDB-SC) reconhece que será difícil aprovar a
trabalhadores e à própria dignidade da pessoa humana,
proposta tal qual foi enviada pelo governo ao Congresso.
busca frear práticas desonestas empreendidas por empresas
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), vice-presidente
inescrupulosas que terceirizam serviços para oficinas e
da Casa, vê chances de a reforma previdenciária
fábricas que exploram esses trabalhadores e, com isso,
ser votada ainda no primeiro semestre: “Há tempo
concorrem deslealmente com as demais empresas que
suficiente para que nós possamos fazer debate
observam a legislação vigente”, argumenta Vital do Rêgo
amplo. O principal desafio do Congresso é votar
na justificação da matéria. As supostas condutas de
uma agenda de recuperação da economia”.
escravidão serão apuradas conforme regulamento a ser
estabelecido, por meio de um processo administrativo.
Quando encerrado, o Executivo divulgará, no Diário
IDOSOS Oficial da União, a relação dos estabelecimentos
Está pronto penalizados e seus respectivos CNPJs cancelados.
para ser votado
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
na Comissão de
Direitos Humanos Está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania
e Legislação (CCJ) o PLC 4/2016, do deputado Alceu Moreira
Participativa (CDH) (PMDB-RS), que torna crime o descumprimento
o PLS 126/2016, das medidas protetivas previstas na Lei Maria da
do senador Penha. O projeto prevê que, por desobediência à
Waldemir Moka decisão judicial, o infrator pode ser punido com
(PMDB-MS), que proíbe o uso de símbolos com pena de detenção de três meses a dois anos. Hoje, o
características depreciativas para a identificação descumprimento do limite mínimo de distância entre o
preferencial de idosos, inclusive ao nivelar todos agressor e a vítima, por exemplo, não configura crime
os maiores de 60 anos como cidadãos frágeis. de desobediência à ordem judicial, o que impede a
Moka sugere que a identificação de idosos em prisão do autor da agressão em flagrante. No voto
assentos no transporte coletivo, por exemplo, favorável que deu à proposta, a relatora, senadora
seja baseada objetivamente na idade mínima Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), disse que situações
de 60 anos, e não mais na figura de alguém de violência doméstica contra a mulher devem ser
arqueado e usando uma bengala. Movimento “repreendidas com celeridade e veemência, sob
na internet levou à elaboração de um novo pena de a demora ensejar violência ainda maior”.
desenho, que apresenta uma figura mais altiva. Depois de passar pela CCJ, o projeto vai a Plenário.

6 
abril de 2017
Marcos Oliveira/Agência Senado

Ao pé da rampa do Congresso, o presidente do Senado, Eunício Oliveira, passa em revista às tropas


postadas em sua homenagem durante a abertura do ano legislativo, em 2 de fevereiro

PIB VERDE
CONTRATOS NO FUTEBOL Além de divulgar anualmente o produto interno bruto (PIB),
Mudança nas regras trabalhistas somatório de todos os bens e serviços produzidos no país, o IBGE
para jovens jogadores está em poderá passar a divulgar o PIB Verde, que contabilizará o patrimônio
análise na Comissão de Assuntos ecológico nacional. A medida consta do Projeto de Lei da Câmara
Sociais (CAS). Já aprovado na (PLC) 38/2015, aprovado na Comissão de Meio Ambiente (CMA) e
Câmara, o PLC 16/2017 prevê a que segue agora para a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
redução, de cinco para três anos, Conforme o senador João Capiberibe (PSB-AP), relator do projeto, será
do tempo máximo de contrato possível avaliar a qualidade do desenvolvimento brasileiro a partir do cálculo
entre um jogador com menos de dos aspectos positivos e negativos da biodiversidade, da fauna e da flora.“Com
18 anos e o clube. De acordo com a disponibilização de ambos os índices, será possível identificar se estamos
o senador Alvaro Dias (PV-PR), a produzindo riqueza ou apenas consumindo o patrimônio ecológico nacional e
medida pode prejudicar os clubes constituindo passivo ambiental a ser entregue às gerações futuras”, afirmou
que formam o atleta e depois Capiberibe, em voto favorável. O projeto estabelece ainda a possibilidade de
o perdem para o exterior. Além adoção do Índice de
de reduzir o teto dos contratos Riqueza Inclusiva (IRI),
dos jovens atletas, a proposta elaborado pela ONU,
determina que os períodos que avalia aspectos
de treino e competições não ambientais e sociais do
prejudiquem os estudos do jogador. desenvolvimento. Dessa
forma, será possível
estabelecer comparações
internacionais. Como
Wellington Pedro/Imprensa MG

exemplo, ele cita o


crescimento do PIB do
Brasil, entre 1990 e
2008, de 31%. Quando
se toma por referência
Marcela Assis

o IRI, contudo, o país


cresceu apenas 18%.

www.senado.leg.br/emdiscussao 
7
VAQUEJADA

Senado discute
natureza cultural
da vaquejada
Projetos de lei e PEC compõem solução para
impasse diante da proibição das competições
pelo Supremo. Mudança constitucional já foi
aprovada pelos senadores e enviada à Câmara

E
m 25 de outubro do ano pas- que é uma das marcas do Nordeste, em-
sado, o modernismo da Espla- bora também seja realizado em outras
nada dos Ministérios foi palco regiões.
de manifestação com a fisiono- Parte dos manifestantes rodou até 2
mia de um Brasil mais tradicional, mas mil quilômetros em 410 caminhões, al-
nem por isso imune a pressões de novas guns carregados de bois; outros, de apa-
correntes de opinião. relhagens de som e tendas. Nada menos
Cerca de 3 mil pessoas, entre vaquei- de 1,2 mil cavalos puderam circular pe-
ros e criadores, protestaram contra a los gramados da capital, montados por
decisão do Supremo Tribunal Federal homens treinados na derrubada de reses
(STF) de considerar inconstitucional a pela cauda, em arenas que substituem o
regulamentação da vaquejada, torneio cenário onde a vaquejada nasceu como

Na marcha a Brasília,
criadores e vaqueiros
buscaram mostrar a tradição
e medidas protetivas para
conseguir apoio aos torneios

8 
abril de 2017
prática de manejo habitual do gado de Lei da Câmara 24/2016, do depu-
— a Caatinga. tado Capitão Augusto (PR-SP), com
Nos últimos anos, diante da oposi- relatório favorável do senador Otto
ção cada vez mais forte de defensores Alencar (PSD-​BA), elevou o rodeio e
dos animais, outros substitutivos aos a vaquejada, assim como suas respec-
procedimentos da vaquejada foram tivas expressões artístico-culturais, à
adotados para livrar a competição categoria de “manifestações da cul-
do estigma da crueldade. E foi com- tura nacional” e de “patrimônio cul-
binando o orgulho da tradição com tural imaterial”. Aprovado no Senado
um arsenal de novas medidas prote- em 31 de outubro e sancionado em
tivas que o universo da vaquejada se 30 de novembro, o PLC 24 foi con-
apresentou ao Poder Legislativo. vertido na Lei 13.364/2016.
Vestidos em seus trajes típicos de Ainda estão em tramitação a Pro-
couro ou trajando camisetas alusivas posta de Emenda Constitucional
à causa, os manifestantes foram rece- 50/2016, de Otto Alencar, e os Pro-
bidos no Congresso Nacional por se- jetos de Lei do Senado 377/2016, do
nadores e deputados favoráveis à va- senador Raimundo Lira (PMDB-PB),
quejada. Muitos dos vaqueiros e cria- e 378/2016, do senador Eunício Oli-
dores puderam acompanhar de perto veira (PMDB-CE). A PEC 50/2016
a tramitação das propostas legislati- foi aprovada em dois turnos em 14 de
vas que procuram garantir a conti- fevereiro pelo Plenário e seguiu para
nuidade da prática no país. O Projeto a Câmara dos Deputados.
Com amplo placar favorável, o
texto acrescenta um parágrafo ao ar-
tigo 225 da Constituição para que
não se classifiquem como cruéis as
práticas esportivas com animais re-
conhecidas na categoria de manifes-
tações culturais, registradas como
bens imateriais do patrimônio cul-
tural brasileiro e regulamentadas por
lei que assegure o bem-estar dos ani-
mais utilizados. Essa regulamentação
é justamente o objeto dos PLS 377 e
378, que estão na Comissão de Edu-
cação, Cultura e Esporte (CE). Marcelo Camargo/Agência Brasil

www.senado.leg.br/emdiscussao 
9
Otto Alencar (E) defende a tradição e a importância econômica da vaquejada. Antonio Anastasia olha para os direitos dos animais

Economia e cultura,
armas pró-vaquejada
O PLC 24 foi apresentado pelo uma proposta legislativa sobre patri- tas em projetos de regulamentação
deputado Capitão Augusto em junho mônio cultural imaterial; e os efeitos da vaquejada para que os animais
de 2015 e originalmente tratava do da proposta para reverter a decisão não sofram maus-tratos. “O animal
rodeio e das manifestações esportivas judicial e preservar a prática. tem que ser adulto, tem que estar em
e culturais relativas à festa do peão Na Comissão de Educação, o se- ótima condição física; só corre duas
de boiadeiro de Barretos (SP), que nador Otto Alencar, relator do pro- vezes na vida; a cauda é artificial; a
completava 60 anos (veja infográfico jeto, classificou como “inegável” a camada de areia é de 40 centímetros;
na pág. 14). Substitutivo aprovado tradição cultural da vaquejada no não se usa a taca nos animais como
na Câmara acrescentou a vaquejada à Nordeste. A análise do PLC 24 o se usa no hipismo e nas corridas de
proposição. inspirou a apresentar a PEC 50. longa distância dos puro-sangue in-
Os debates sobre o PLC 24 no Segundo o senador, aqueles que gleses. Se fosse falar em maus-tratos
Senado transcorreram já sob a in- não a conhecem veem na vaquejada em animais, teriam que parar várias
fluência da decisão do Supremo, que mais maus-tratos do que, por exem- práticas no Brasil”, ponderou.
apontou a “crueldade intrínseca” da plo, nas corridas de cavalo realizadas Otto Alencar — que foi vaqueiro
derrubada de bois, e da mobilização no Rio e em São Paulo. “Um puro- até os 30 anos (hoje tem 70) — tam-
de vaqueiros e criadores. Os argu- sangue inglês corre 2,2 mil metros, bém se queixou da forma como o
mentos dos senadores seguiram três apanhando da partida à chegada. STF decidiu a Ação Direta de In-
linhas principais: o valor cultural e No hipismo, no polo, há essa prá- constitucionalidade (ADI) 4.983. “O
econômico atribuído à vaquejada e tica”, comparou. O senador obser- Supremo não teve o menor respeito
às tradições rurais; a inadequação de vou que medidas estão sendo propos- pelos vaqueiros, pela vaquejada. Nem

10 
abril de 2017
jada é, sobretudo hoje — e eu sei que
não se está discutindo isso aqui —,
uma questão de sobrevivência eco-
nômica para grande parte daqueles
que habitam ainda na zona rural.
Isso porque há um despovoamento
da zona rural. E uma prática como a
da vaquejada ainda mantém essa ati-
vidade rural, apesar de se saber que
ela também, claro, invadiu as nossas
cidades”.
O senador José Agripino (DEM-​
RN) chamou a atenção para o in-
teresse que o debate despertou. A
prova seria o elevado quorum da
CE numa tarde às vésperas de fe-
José Agripino chamou a atenção para o
riado. “A manifestação a que a Es- quorum apertado da decisão do Supremo.
planada dos Ministérios assistiu se- Proibição ganhou por apenas um voto
mana passada, trazendo milhares
de vaqueiros, demonstra claramente tradição cultural e manter emprego
que a decisão do Supremo Tribunal decente neste país, a começar pela
Federal precisa, no mínimo, ser região mais pobre, que é a Região
FOTOS: Marcos Oliveira/Agência Senado

observada ou mais bem observada. Nordeste”.


Daí a minha preocupação. A decisão Ao apresentar voto em separado
foi por 6 a 5, foi por um voto, o voto quando o PLC 24 passou na Co-
de desempate”, refletiu. missão de Educação, o senador An-
Agripino disse acreditar que o tonio Anatasia (PSDB-MG) pre-
PLC 24 oferecerá um contraponto veniu seus colegas de que o projeto
ao STF, ao elevar a vaquejada a pa- não tratava de autorizar ou proibir a
trimônio cultural imaterial. Ele acre- vaquejada, e sim de considerá-la pa-
dita na reversão da sentença: “Nós trimônio cultural. Na opinião dele,
estamos aqui agora garantindo um o melhor caminho para esse tipo de
argumento que poderá ser forte num iniciativa seria atender as exigências
sequer fez uma audiência pública. E julgamento ou no Supremo, numa das normas editadas pelo Instituto
se faz audiência pública no Supremo revisão que nós venhamos a pedir, ou do Patrimônio Histórico e Artístico
para absolutamente tudo”, alfinetou. no projeto que está em tramitação, Nacional (Iphan). “Na realidade, o
O senador Roberto Muniz (PP-​ do senador Eunício Oliveira [PLS projeto veio em razão do julgamento
BA) alegou que, diferentemente da 378/2016], que precisará ser apro- que aconteceu no Supremo Tribunal
tourada, em que há luta do ser hu- vado para garantir justiça a quem só Federal. Lá, sim, se discute a crimi-
mano contra o seu animal, a vaque- quer a oportunidade de manter uma nalização ou a vedação da prática,
jada, como esporte, nasceu de uma que não é nosso objeto aqui. Ali,
necessidade de trabalho e do apreço discutimos a questão da crueldade,
que o vaqueiro tem pelo animal, ao dos pareceres técnicos, opiniões de
protegê-lo de se desgarrar do reba- especialistas.”
nho. “O que nós estamos colocando Anastasia disse não crer que o
é a destreza do vaqueiro, a capaci- PLC 24 terá sucesso para “barrar a
dade de trazer para a boiada o seu interpretação do STF”. No seu en-
boi para que ele não sofra com um tender, muitos pontos de vista favo-
abate por meio de uma arma de fogo. ráveis estavam tirando o foco da dis-
Ele derruba e traz o animal com cussão. “Aqui, não se discute uma
muito carinho. E é por isso que é questão entre cidade versus campo,
muito importante que a vaquejada e não se discute a atividade do agro-
todas as outras manifestações cultu- negócio. Nós estamos discutindo
rais tenham esse status de patrimô- um projeto de lei que trata especifi-
nio imaterial do Brasil.” camente da transformação ao status
de patrimônio imaterial de uma ati-
Despovoamento vidade que é tradicional.” O senador
O senador Garibaldi Alves Filho Garibaldi Alves: a vaquejada é hoje
acrescentou ser contrário por ques-
(PMDB-RN) ressaltou os aspectos uma questão de sobrevivência para os tões de convicção pessoal e por con-
econômicos da atividade: “A vaque- nordestinos que vivem na zona rural siderar que práticas culturais tradi-

www.senado.leg.br/emdiscussao 
11
Senado vota a PEC que legaliza
vaquejadas e rodeios. Qual a
sua opinião sobre a PEC?

Diego Klafke Que absurdo, depois


de tantas manobras, parece certo
que vai ser aprovado. O dinheiro
passando por cima de qualquer coisa.

Danilo Galvão
Falta de vergonha na cara.
Rodrigo Nicolas Aham! Claro
que nosso país é um país agrário!
Parece que as pessoas esquecem A derrubada é o ápice de um enredo no qual o boi é fechado em
disso, querem que isso acabe, deem curral, passa pelo brete e entra na arena. Defensores dos animais
denunciam arrancamento de rabos e outros danos
soluções para empregarem as famílias
que dependem do negócio.
Arnaldo De Zorzi: Isso tem que ser cionais evoluem. Observou que gulamentada de forma a garantir
proibido! Isso é uma barbárie e não a questão da crueldade contra os a integridade física e mental dos
um esporte! Não tem cabimento que animais na vaquejada estava de- animais, sem descaracterizar a
um evento desses ainda ocorra, em monstrada em vários pareceres própria prática, a vaquejada aten-
pleno ano 2017! técnicos de veterinários, especia- deria a decisão do STF.
Junior Sousa Uma coisa é certa: que listas e do Ministério Público. O senador José Maranhão
tanto nas vaquejadas como nos (PMDB-PB), relator da PEC 50,
rodeios, os animais são torturados de Bem-estar julga que qualquer análise sobre
alguma forma. Por outro lado, se can- A PEC 50/2016 estabelece aceitação ou não do rodeio e da
celarem os dois eventos, várias pesso- que não podem ser consideradas vaquejada deveria ser feita sob a
as ficam desempregadas. Por isso que cruéis práticas desportivas que perspectiva dos que habitam as
isso tem que ser bem analisado!!! utilizem animais, “desde que se- zonas rurais. “Trata-se de uma
Elaine Mendes Fizeram consulta jam manifestações culturais re- realidade completamente dife-
pública na internet e a maioria da gistradas como bem de natureza rente daquela dos grandes cen-
população se disse contra esse imaterial integrante do patrimô- tros urbanos, onde temos um
absurdo. E o que adiantou saber nio cultural brasileiro, devendo ambiente fértil de produção e
a opinião do povo??? NADA!! A ser regulamentadas por lei especí- oferta de cultura. Caso seja proi-
bancada do boi no Congresso está fica que assegure o bem-estar dos bida a vaquejada, retiraremos das
pouco se importando com a opinião animais envolvidos”. Na justifi- populações rurais, especialmente
da sociedade!! cativa da proposta, o autor, Otto as das Regiões Norte e Nordeste,
Ilka Afonso Reis O Senado não Alencar, presume que, caso re- uma das poucas opções de acesso
ouve a voz dos brasileiros!!!! Várias à cultura e ao lazer que lhes está
matérias que eram contrárias ao disponível”, explicou.
povo tiveram milhares de votos Em debate na Comissão de
contrários por essas enquetes, e Constituição e Justiça (CCJ), o
foram aprovadas pelos senadores. senador Humberto Costa (PT-​
Pietro Lopes: Agora que o bem- PE) disse que se absteve anterior-
estar estará garantido podemos mente de votar o PLC 24 por-
substituir os bichos por humanos! É que, ao contrário dos ministros
só adicionar a categoria de trabalho, do Supremo, e conhecendo a va-
fazer um sindicato e pronto. Imagina quejada, nunca tinha ouvido fa-
só a quantidade de emprego que lar em maus-tratos aos animais.
Geraldo Magela/Agência Senado

isso não vai gerar. Se ainda assim Humberto então buscou infor-
for um pouco puxado, basta pagar mações. Depois de contatos com
insalubridade. Esse é o Brasil que eu pessoas ligadas diretamente à
gosto de ver. :) atividade, ficou convencido de
Mísia Alves Quem mais fatura com que não há, em absoluto, maus-
esses rodeios e vaquejadas são os tratos. Na verdade, o tratamento
fazendeiros, e não os peões. dado aos animais teria evoluído.
José Maranhão: fim da vaquejada vai
“No passado, alguns excessos
Veja o debate completo em aconteciam, como a forma com
retirar uma das poucas opções de
bit.ly/vaque-sf cultura e lazer do interior nordestino que o cavalo era tangido ou a

12 
abril de 2017
forma como o boi era imprensado e creveu. Segundo Caiado, a vaquejada
alguns equipamentos utilizados pelo é o único esporte no mundo originá-
vaqueiro. Mas, ao longo do tempo, rio do trabalho.
até por essa consciência que se foi Autora do requerimento para a
criando na sociedade, há uma preo- audiência pública, a senadora Gleisi
cupação de que o esporte possa ser Hoffmann (PT-PR) chamou a aten-
praticado sem qualquer tipo de pre- ção para o “absurdo legislativo” de
juízo ao cavalo ou ao boi”, argumen- tentar corrigir uma decisão do Su-
tou. Na opinião do senador, apesar premo. “Nós não podemos fazer isso.
de ser importante, a questão econô- Toda vez que nós acharmos que o

Roque de Sá/Agência Senado


mica não é a principal. “Se houvesse, Supremo decidiu de forma errada,
de fato, a comprovação de maus-tra- nós vamos fazer uma PEC e mudar a
tos, se justificaria que não houvesse Constituição?”, protestou.
essa atividade, mas não é o caso.” Ela também pôs em xeque a legi-
Para Humberto, a aprovação da timidade do legislador para definir
PEC 50 vai abrir caminho a um o que é crueldade ou não. E aler-
projeto de lei com regras para coi- Ronaldo Caiado: a vaquejada não foi tou: não há consenso nem mesmo
bir quaisquer tipos de estresse ou fe- criada como esporte, mas como uma no meio técnico-científico. “Por que
rimentos aos animais discutidas por necessidade para o manejo do gado nós vamos colocar na Constituição
todos. federal que uma prática que utiliza
Em contraponto, o senador Anas- pública em 29 de novembro, quando animais e que é elevada à categoria
tasia argumentou que maus-tratos ou foram convidados especialistas para de patrimônio cultural não é cruel?
mesmo o bem-estar dos animais são debater o tema, com especial foco na Eu acho que nós estamos sendo
expressões do chamado conceito ju- questão da crueldade contra os ani- cruéis com a nossa Constituição”,
rídico indeterminado. “Jamais o le- mais. Sob a presidência de José Pi- questionou.
gislador, por mais criativo que seja, mentel (PT-CE), a audiência teve A senadora reprovou também a
vai conseguir, de maneira clara e apenas três senadores presentes. Na- defesa da vaquejada com base no as-
insofismável, determinar o que se- quele dia, estava também em discus- pecto econômico. “O que nos dá o
jam maus-tratos ou o que não se- são no Congresso a PEC 55/2016, direito de colocar um animal numa
jam maus-tratos.” No entender do que limitava os gastos públicos por arena, de puxá-lo pelo rabo, de der-
senador, o conflito de interpreta- 20 anos. rubá-lo e de dizer que isso é fun-
ção só vai ser resolvido pelo Judiciá- damental para a economia? A pro-
rio. “Estaremos aqui simplesmente Manejo fissão de vaqueiro foi regulamen-
criando uma norma que será inócua, O senador Ronaldo Caiado tada aqui, mas não a de vaqueiro de
não terá nenhuma validade e, se vier (DEM-GO) indicou os que tra- arena. Foi regulamentada a de va-
a ser aprovada, será uma vitória de balham com a criação no dia a dia queiro que faz o manejo do gado,
Pirro, sem nenhuma consequência”, como os que melhor podem falar que transporta gado de um lugar
concluiu. sobre o tratamento dado aos bois e para o outro, que faz vacinação, que
A CCJ promoveu uma audiência cavalos. Ressaltou que o Brasil tem cuida”, objetou.
o maior rebanho do mundo e é ca-
paz de exportar para todos os lugares
justamente em razão das boas prá-
tica de manuseio. “Nossos vaqueiros
têm de estar cada vez mais habilita-
dos para o bom manejo e para a boa
prática. Isso evoluiu na técnica das
pessoas que têm o dom de saber la-
çar com agilidade. Daí o porquê de
puxar a cauda do animal. Isso foi
Marcos Oliveira/ Agência Senado

criado porque o cidadão queria fazer


um esporte? Não. É porque o ani-
Roque de Sá/Agência Senado

mal está contaminado no campo,


tem bicheira, precisa ser tratado. E
o cidadão nordestino, como nós do
Centro-Oeste, era obrigado a correr
o boi e não havia espaço para laço.
Nós tínhamos de encostar o animal
Humberto Costa verificou in loco as ao lado do boi, para que pudéssemos Gleisi Hoffmann: o que nos dá o direito
condições da vaquejada e afirma que não derrubá-lo e, naquela hora, curá-lo de colocar e derrubar animais em arenas e
há crueldade na derrubada dos bois daquela infecção que ele tinha”, des- escrever na Constituição que é cultura?

www.senado.leg.br/emdiscussao 
13
Atividades elevadas a patrimônio cultural pela Lei 13.364/2016
Além de provas com animais, incluiu-se a Queima do Alho, concurso de berrante, folclore e música de raiz

Bareback
Vaquejada
Prova de montaria a cavalo “em pelo”,
Correndo numa pista de areia com 160 m, dois
sem sela ou estribos. O competidor
competidores montados a cavalo, o puxador e
deve permanecer 8 segundos
o esteira têm que derrubar o boi em uma área
montado, tocando suas
delimitada, desequilibrando o animal com um
esporas na região do
forte puxão pela cauda. Há pontuação se o boi tem
pescoço do animal. O
as quatro patas no ar na queda e se levanta
cavaleiro segura em uma
logo em seguida, ainda na área
alça de couro ficando totalmente
delimitada.
solto sobre o cavalo, o que
o faz praticamente deitar
sobre o lombo do animal. Os
animais usados na modalidade são selecionados entre
os que conseguem pular para frente, sem rodar. 

Três tambores
Prova de habilidade e velocidade praticada por mulheres. As
Bulldogging
competidoras têm que realizar um percurso contornando três tambores
O bulldogging é praticado por dois competidores que têm como objetivo
sem derrubá-los, numa sequência estabelecida, e voltar o mais rápido
virar e derrubar ao chão um garrote, de aproximadamente 300 kg, no
possível para o local de partida.
menor espaço de tempo. Um dos competidores salta do cavalo
em movimento sobre o garrote, usando as mãos para agarrar
os chifres do animal e derrubá-lo ao chão com um movimento
de torção em seu pescoço. Como na vaquejada, um segundo
cavaleiro faz o papel de esteira, não permitindo que o garrote
se distancie.

Rodeio
No rodeio ou montaria de touro,
Apartação o competidor ou peão tem
Na prova de apartação, o cavaleiro que permanecer montado
separa uma rês de um rebanho e deve sobre um touro ou cavalo
mantê-la separada no centro da durante 8 segundos.
arena com ajuda de seu Uma tira de lã ou
cavalo. O juiz atribui algodão chamada
nota ao cavalo pela sua sedém é amarrada
habilidade de impedir ao abdômen próximo
a rês de retornar ao à virilha do animal e
rebanho, capacidade de apertada antes da prova,
manobrar sozinho um boi fazendo com que o animal
(senso de gado), coragem salte de forma repetida e
e atenção. abrupta.

14 
abril de 2017
Paleteada
Esporte praticado entre os criadores de cavalos da raça crioula. Uma dupla
de cavaleiros tem que passar por dentro de “porteiras”, simbolizadas por
fardos de feno, enquanto põem as paletas (região onde a pata encontra
o dorso) dos cavalos em contato
com o boi a fim de dominá-lo.
É avaliado o domínio sobre
o boi, a velocidade e a
submissão dos cavalos
aos cavaleiros.
Prova do laço
Na prova do laço, um bezerro é laçado, enquanto corre, pelo peão
montado a cavalo em velocidade. O bezerro cai abruptamente no
solo e é então erguido pelo peão e atirado de novo ao solo virado
de lado e tem três de suas patas amarradas juntas.

Team Penning
Nesta prova, uma reprodução do trabalho cotidiano
nas fazendas, uma equipe de três cavaleiros tem um
tempo de dois minutos para separar três reses
numerados de um rebanho de 30. Um dos três
bovinos que foi apartado do rebanho deve ser
conduzido para um pequeno curral (pen) do
lado oposto da arena.

Prova de rédeas
Modalidade de hipismo em que é avaliado o
adestramento do cavalo em um alto nível técnico. O
cavaleiro controla e guia o animal, realizando uma
série de manobras predeterminadas, como giros,
recuos e círculos. O animal deve mostrar pouca ou
nenhuma resistência ao controle.

www.senado.leg.br/emdiscussao 
15
Supremo decidiu sobre
conflito entre direitos
O debate sobre a constituciona-

Rosinei Coutinho/SCO/STF
lidade da Lei 15.299/2013 do es-
tado do Ceará, que regulamenta a
atividade de vaquejada, dividiu o
Supremo Tribunal Federal. Esta-
vam em conflito dois dispositivos
da Constituição sobre direitos fun-
damentais. O primeiro diz respeito
à proteção da fauna e da flora que
assegure o direito ao meio ambiente
sadio e equilibrado (art. 225). O ou-
tro trata da garantia ao pleno exercí-
cio dos direitos culturais (art. 215).
Por 6 a 5, um placar apertado, por-
tanto, o Plenário do STF decidiu
que o dever de proteção ao meio
ambiente se sobrepõe à proteção aos Ministros Marco Aurélio e Carmén Lúcia, durante julgamento no
valores culturais representados pela STF: debate na Corte constitucional teve a ética como foco
vaquejada.
A Ação Direta de inconstitucio- mos e deslocamento da articulação tacando o sentido de manifestação
nalidade (ADI) 4.983 foi apresen- do rabo e até o arrancamento dessa cultural da vaquejada, Fachin disse
tada pela Procuradoria-Geral da parte do corpo e outros danos cau- não haver motivo para se proibir a
República em maio de 2013, com sadores de dores físicas e sofrimento competição, que reproduziria e ava-
a argumentação principal de que a mental. Para o magistrado, a tortura liaria tecnicamente a tarefa da cap-
crueldade com os animais envolvi- e outros tipos de maus-tratos im- tura própria do trabalho de vaquei-
dos é intrínseca à prática da vaque- postos aos bois na vaquejada são in- ros e peões na zona rural do país.
jada e que não seria possível uma re- discutíveis e se enquadram no con- O ministro Gilmar Mendes alertou
gulamentação que eliminasse a vio- ceito de crueldade com animais, seus pares para o fato de que a de-
lência sem descaracterizar por com- tal como expresso no artigo 225 da claração de inconstitucionalidade
pleto a modalidade. Constituição. levaria o costume à clandestinidade.
O ministro Marco Aurélio, re- Entre os que divergiram do rela- Para ele, a lei cearense precisaria ser
lator da ADI, considerou que os tor, o ministro Edson Fachin ressal- aperfeiçoada com medidas que pu-
laudos constantes no processo de- tou que era preciso considerar a rea- dessem reduzir as possibilidades
monstraram consequências nocivas lidade do meio rural e evitar uma de lesão aos animais. No entanto,
à saúde dos animais como fraturas, visão unilateral de uma sociedade considerou que o propósito da va-
ruptura de ligamentos, traumatis- predominantemente urbana. Des- quejada seria desportivo, diferente-

Em votação apertada (6 a 5), o Supremo decidiu que derrubar o boi puxando-o pelo rabo é um ato cruel
Tatiana Azeviche/Gov BA

16 
abril de 2017
mente da “farra do boi”, cujo obje- Entre os favoráveis ao pedido, o biental definido na Lei 9.605/1998.
tivo seria matar o animal. ministro Roberto Barroso argumen- Para a presidente do STF, minis-
tou que a proteção aos animais deve tra Cármen Lúcia, a cultura, ainda
Entretenimento ser considerada norma autônoma, que enraizada, também se trans-
Também entre os contrários à que não se justifica apenas do ponto forma quando há outro modo de
proibição da vaquejada, o então mi- de vista ecológico ou preservacio- ver a vida, em uma perspectiva mais
nistro Teori Zavascki alegou que nista. Para ele, a proteção possui va- global, e não apenas relativa ao ser
a ADI não dizia respeito à prática, lor moral, ou seja, o sofrimento ani- humano.
e sim à lei regulamentadora cea- mal importa por si só, independen- A vaquejada já havia sido ques-
rense. Para ele, a vaquejada pode- temente do equilíbrio ambiental. tionada em ações civis públicas
ria ser cruel ou não dependendo da Acrescentou ainda que a vaquejada propostas pelo Ministério Público
forma como fosse praticada. E, se usa os animais apenas para fins de em diversos lugares do país, princi-
não fosse cruel, não poderia ser proi- entretenimento, e não é uma ques- palmente na Região Nordeste. Na
bida. Além disso, a lei em questio- tão complexa de direito dos ani- maior parte dessas ações, liminares
namento, ponderou Zavascki, pro- mais, como o uso para alimentação concedidas para suspender a realiza-
curava evitar as formas cruéis da ou em práticas religiosas. ção de eventos foram rapidamente
atividade. Na falta de uma lei re- A ministra Rosa Weber frisou cassadas pelos tribunais de Justiça.
guladora, a vaquejada recairia ine- que, apesar de o Estado garantir A ADI 4.983 foi a primeira ação
vitavelmente em crueldade com os e incentivar manifestações cultu- apreciada pelo STF sobre a questão.
animais. Raciocínio semelhante foi rais, não tolera do mesmo modo a Ao estabelecer, de forma definitiva,
apresentado pelo ministro Luiz Fux. crueldade contra animais. O minis- que a derrubada dos bois não é uma
Ele acrescentou que a carne verme- tro Celso de Mello enfatizou que a prática esportiva com amparo cons-
lha é produzida de forma cruel no crueldade é inerente à vaquejada. titucional, o Supremo dá condições
Brasil e que a Constituição, mesmo Não se pode qualificá-la como ativi- para encerrar os questionamentos
assim, garante o direito à alimenta- dade desportiva, prática cultural ou judiciais locais ainda sem resolução
ção, um direito social. expressão folclórica. Seria crime am- final em todo o país.

Veterinários se dividem
quanto à crueldade
Pontos de vista opostos sobre a mento da importância cultural da o valor da própria vida. A ativista
crueldade com os animais na va- vaquejada sugerindo que as tradi- ainda pôs em dúvida o alcance
quejada foram confrontados em ções mudam e a humanidade evo- dos benefícios da vaquejada: “Não
audiência pública promovida pela lui. Citou trecho do voto da mi- é o povo sofrido que realmente
Comissão de Constituição e Jus- nistra Cármen Lúcia no qual a ganha dinheiro. São empresários
tiça em 29 de novembro, presi- magistrada fala do risco de a in- milionários que exploram esses
dida pelo senador José Pimentel, sensibilidade para com o sofri- animais e acabam explorando as
defensor da vaquejada. mento de um animal converter- pessoas. Eles falam em milhares
A apresentadora de TV e ati- se em insensibilidade em relação de empregos. Na verdade, a maio-
vista da defesa dos animais Luisa a outro ser humano até redundar ria desses empregos é temporária.
Mell lembrou que a decisão do em uma sociedade que despreza Alguns poucos peões são contra-
Supremo de classificar a prática
Roque de Sá/Agência Senado

da vaquejada de intrinsecamente
cruel foi endossada pelo Conse-
lho Nacional de Medicina Veteri-
nária (CNMV). Para a entidade,
o termo “sofrimento” se refere a
ferimentos, contusões ou fraturas
e a questões psicológicas, como
medo, angústia ou pavor, entre
outros sentimentos negativos.
Luisa Mell contestou o argu-
Vânia Nunes (E) e Luisa Mell
consideram impossível a ausência de
sofrimento físico e mental pelos bois
que são tangidos e derrubados

www.senado.leg.br/emdiscussao 17
Roque de Sá/Agência Senado
utilizam indicadores fisiológicos, a questionam se realmente ocorre o
exemplo da medição da proteína CK que elas têm visto em determinados
em cavalos, capaz de identificar le- laudos que têm seguido e orientado
são muscular. “Nesses trabalhos, a o julgamento, seja de órgãos oficiais,
gente observa que a proteína CK se como Justiça, Ministério Público,
eleva, mas volta para o normal em seja de parlamentares, seja da socie-
menos de 20 ou 30 minutos de exer- dade civil de modo geral”, garantiu
cício do cavalo”. O professor reco- o advogado.
mendou mais estudos com o obje- Para Vânia Nunes, veterinária e
tivo de entender a dor nas diferentes diretora do Fórum Nacional de De-
espécies, já que essa sensação seria fesa e Proteção Animal, crueldade
“muito subjetiva”. “No caso da va- quer dizer causar um dano, sofri-
quejada, nós trabalhamos com ani- mento, lesão em outro ser delibera-
mais adultos. São animais calejados damente. Ela afirma que o compor-
com a vida no campo, acostumados tamento de bois e cavalos na vaque-
a correr, pular, saltar”, alegou. jada não é o natural. Eles seriam in-
O advogado Henrique Carvalho, duzidos a agir na direção de desejos
representante da Associação Brasi- que alguns seres humanos querem
Pimentel, que presidiu os debates na leira de Vaquejada (Abvaq), ressal- alcançar.
Comissão de Educação, vê importância vou que muitos dos fatos apresenta- No caso dos bois da vaquejada,
cultural e econômica na vaquejada dos para caracterizar maus-tratos aos a veterinária frisa que, para a prova
animais na vaquejada são coisa do se realizar, o animal, ao ser solto,
tados por pecuaristas milionários”. passado. Ele enumera medidas ado- deve ser perseguido e ter sua cauda
O veterinário Hélio Cordeiro tadas pela associação para evitar que puxada e torcida para que caia exa-
Manso Filho, professor da Univer- os animais se machuquem, como o tamente em uma área marcada no
sidade Federal Rural de Pernam- colchão de areia de 40 centímetros chão. Na queda, o bovino deve fi-
buco, no entanto, denominou o po- onde os bois caem, o protetor de car com as quatro patas para cima.
sicionamento do CNMV de “mo- cauda e a presença de juízes de bem-​ Vânia aponta que isso causa, além
nocrático”. De acordo com ele, estar animal nas provas. “Isso faz de desconforto físico, ferimentos,
17 dos 24 conselhos regionais da parte da essência de quem compete. danos e dor, um sofrimento men-
profissão já emitiram opinião fa- Ele quer manter a prática da vaque- tal e angústia pela perseguição. Ela
vorável à legalização e à organiza- jada. Se ele não a praticar de acordo explica que a cauda dos animais é
ção de eventos com animais. Cor- com as regras do bem-estar animal, a continuação da coluna vertebral
deiro apresentou estudos com bois, se ele não a praticar utilizando o e apresenta estrutura semelhante à
por meio dos quais se verificou que protetor de cauda, há o risco, sim, da espinha. “Dizer que é intrinseca-
ao fim da corrida eles retornam à de a atividade ser extinta. E nin- mente cruel, portanto, é isso: sabe-
normalidade. “Voltar a se alimen- guém quer isso!”, justificou Carva- se que os animais passam por expe-
tar é um grande indicativo de que lho, que também é competidor. riências que lesam tecidos, causam
o animal está relaxado, está bem. danos, dor, sofrimento, angústia e
Ele torna a conviver com seus pa- Laudos mesmo assim os interessados huma-
res”, assegurou. Conforme o vete- “Todas as pessoas que verificam nos continuam com essas práticas”,
rinário, há também pesquisas que a prática da vaquejada, no mínimo observou.
Por essas razões, na opinião da
Roque de Sá/Agência Senado

veterinária, não há como fazer prova


de vaquejada sem que os animais se-
jam agredidos física e mentalmente.
Ela citou um artigo independente
assinado por veterinários integrantes
da Comissão de Bem-estar Animal
do Ministério da Agricultura e pu-
blicado pelo Sindicato dos Auditores
Fiscais Federais Agropecuários. Eles
asseveram não haver forma de prote-
ger os animais com a adoção de boas
práticas, simplesmente porque os
fundamentos da vaquejada são, em
si, contrários a boas práticas. “Nor-
mativas e recomendações nacionais
Henrique Carvalho (D), com Hélio Cordeiro, mostra em debate no Senado uma cauda e internacionais que orientam o ma-
artificial, item incorporado às competições para impedir danos aos bois na derrubada nejo dos bovinos nos sistemas pro-

18 
abril de 2017
dutivos, do nascimento ao abate,
deixam claro que arrastar animais
conscientes, conter, segurar, der-
rubá-los por suas partes sensíveis
são práticas proibidas por serem
consideradas maus-tratos e abso-
lutamente desnecessárias”, apre-
goam os auditores.
“É um equivoco dizer que, pelo
fato de que ‘os animais vão mor-
rer mesmo’, como frequentemente
ouvimos, está tudo bem empre-
gá-los para uma ou outra prática,

VANIA
e que até dessa forma eles podem
viver mais um pouco”, refutou Ativistas protestam contra a vaquejada em São Paulo. Para eles, a falta de sensibilidade com
Vânia. Ela considera a decisão do o sofrimento dos animais leva a uma sociedade que despreza o valor da própria vida humana
STF muito importante por trazer
à luz da vida cotidiana o debate cimento sobre os animais e suas fissionais competentes e éticos
sobre as relações entre bem-es- necessidades e comportamentos não se rendem a argumentos ten-
tar animal, sofrimento, cultura e despertam atitudes de pessoas éti- denciosos e equivocados. A deci-
crueldade. Cada vez mais, nota a cas, responsáveis e compromissa- são é de cada um, mas precisa ser
veterinária, os avanços no conhe- das de fato com esses seres. “Pro- consciente”, pregou.

Associação acredita poder


mudar decisão do STF
Henrique Carvalho, advogado e sem maus-tratos e lesões. “Uma ins- da edição de leis e emendas consti-
representante da Associação Brasi- peção realizada pelo Ministério Pú- tucionais. Carvalho apoia a ideia
leira de Vaquejada (Abvaq), conta blico do Estado de Pernambuco, no relatório do ministro Luiz Fux
que, após a decisão do STF em ou- com a participação de técnicos da na ADI 5.105, para quem “a rever-
tubro, foram suspensas todas as va- própria promotoria, atestou a au- são legislativa da jurisprudência da
quejadas do Ceará, onde se realizam sência de maus-tratos na vaquejada Corte se revela legítima em linha de
aproximadamente 700 eventos por que segue o regulamento da Abvaq/ princípio, seja pela atuação do cons-
ano. “Em Alagoas, duas vaqueja- ABQM”, relatou. tituinte reformador [por meio da
das foram proibidas. Na Bahia, por promulgação de emendas constitu-
volta de dez eventos foram suspen- Jurisprudência cionais], seja por inovação do legis-
sos, mas o Poder Judiciário tem au- A associação acredita ser possível lador infraconstitucional [a edição
torizado a prática. Em Pernambuco reverter a decisão do STF por meio de leis ordinárias e complementares],
e no Rio Grande do Norte, não há
registros de interrupção de eventos.
Maranhão e Piauí tiveram alguns A vaquejada em números
eventos proibidos, mas não recebe- A Associação Alagoana de Criadores de Cavalo Quarto de Milha fez levantamento com
mos os dados. No Pará, não houve 119 criadores sobre o emprego e a renda gerados com as atividades da vaquejada
proibição relatada. No Amazonas,
todos os eventos foram suspensos. Entre os pesquisados, foram identificados O total em salários pagos a esses funcionários é de
Na Paraíba também houve suspen- 548 funcionários distribuídos em sete R$ 517 mil por mês ou R$ 6,2 milhões por ano
são”, enumera Carvalho. Ele in- funções diferentes:
forma também que há leis que au- A associação estima que haja só no estado cerca
torizam a vaquejada em Alagoas, Vaqueiro de 1.200 criadores, o que pode ampliar em
Bahia, Piauí e Paraíba e, mais re-
centemente, no Maranhão. Domador
Veterinário muito os números de emprego e renda
A vaquejada também movimenta o mercado de
$
Para o advogado, a vaquejada le- Bate-esteira
leilões de animais criados para o esporte. Em 2014 o faturamen-
gal, ou seja, aquela que recebe a Calzeiro to total em leilões em Alagoas foi de R$ 7,47 milhões,
chancela da Abvaq e da ABQM Cozinheiro com valor médio de R$ 43,7 mil por animal
(Associação dos Criadores de Ca- Tratador
valos Quarto de Milha), é praticada Fonte: Associação Alagoana de Criadores de Cavalo Quarto de Milha

www.senado.leg.br/emdiscussao 
19
Vaquejada S/A
Defensores da derrubada de bois argumentam que a proibição dos torneios
vai prejudicar uma vasta gama de trabalhadores e atividades empresariais

sonorização,
A competição tratorista, filmagem e Produção artística
Parque de vaquejada, porteiros, transmissão, Cantores, grupos
socorrista, musicais, empresas Criação de cavalos
competidores, aluguel de bois
veterinários, de som, gráficas, Produção e venda de
juízes de prova, rações, acessórios,
locutores, equipes de curral, empresas de
limpeza, geradores de suplementos e vacinas,
juiz do bem-estar tratores e outros
animal, energia elétrica
veículos
calzeiro,
Comércio no entorno
Roupas e artigos de
couro, selas, hotéis
Negócios simultâneos
e restaurantes,
Leilões de equinos, comércio
caçambas para
de sêmen, embriões e óvulos
caminhões
circunstância que demanda provi- quejada há no Brasil, mas os núme-
dências distintas por parte deste Su- e a adesão de patrocinadores, o que ros são altos. Em Alagoas, cada mu-
premo Tribunal Federal”. despertou o interesse da mídia. nicípio tem em média cinco pistas ou
A vaquejada tem sua origem entre Contam atualmente com estrutura parques de vaquejada somados.
os séculos 17 e 18 com o trabalho própria dos grandes eventos despor- Os cavalos são criados e treinados
nas fazendas para reunir o rebanho tivos, registram receitas milionárias para competir. Os bois são levados
bovino, então criado solto na mata. e pagam altos valores em prêmios diretamente do pasto para as provas.
Por volta de 1940, vaqueiros nordes- aos competidores. Em geral, utilizam-se 150 reses em
tinos passaram a se reunir para tor- Dados da Abvaq apresentados no uma vaquejada de pequeno porte,
nar públicas suas habilidades nessa relatório da PEC 50/2016 informam podendo chegar a 1,5 mil em um
atividade, e os fazendeiros da região que a atividade movimenta R$ 600 evento grande. As provas duram en-
começaram a organizar torneios. milhões por ano, gera 120 mil em- tre três e quatro dias e o cavalo corre
Esse tipo de competição logo foi in- pregos diretos e 600 mil empregos de nove a dez vezes, incluída a dis-
corporado a festividades de muitas indiretos. Cada prova de vaquejada puta final. Há acompanhamento de
cidades. mobiliza cerca de 270 profissionais, inspetor veterinário para verificar a
Inicialmente ama- entre eles, veterinários, juízes, inspe- ocorrência de fadiga. “Segundo rela-
doras, essa s compe- tores, locutores, organizadores, se- tos de médicos veterinários, um ca-
tições passaram por guranças, pessoal de apoio ao gado valo de turfe serve como atleta até
aperfeiçoamentos na e de limpeza de instalações. Um va- os oito anos, assim como o cavalo
organização, com queiro profissional, por exemplo, re- de tambor. O cavalo de vaquejada
CAUDA ARTIFIC/MALU MARQUES

calendários espe- cebe em média R$ 2 mil fixos e um compete até os 17 anos”, garante
cíficos, regras valor variável que pode elevar os Carvalho.
bem ­definidas rendimentos à faixa dos R$ 5 mil.
Segundo Henrique Carvalho, é
difícil precisar quantas pistas de va-
Competidores
no Parque J.
Galdino, em
Surubim (PE),
utilizam um
rabo artificial
para derrubar
o boi sem
causar danos

20 
abril de 2017
Projetos de Eunício e Lira buscam

Waldemir Barreto/Agência Senado


regulamentar atividade
O projeto que regulamenta a va- essa prática, de forma a preservar o bem-
quejada como prática espor tiva (PLS -estar animal e proteger essa importante
378/2016), do senador Eunício Oliveira manifestação cultural”, defende Eunício.
(PMDB-CE), recebeu parecer favorável O PLS 377/2016, de Raimundo Lira
com três emendas do relator, senador Wil- (PMDB-PB), também recebeu parecer fa-
der Morais (PP-GO), na Comissão de Edu- vorável na CE, com quatro emendas do
cação, Cultura e Esporte (CE). O PLS cate- relator, senador Otto Alencar (PSD-BA).
goriza a vaquejada como manifestação da Lira propôs o reconhecimento da vaque-
cultura popular protegida pela Constitui- jada como manifestação da cultura nacio-
ção e a define como atividade recreativa nal, afirmando que a atividade encontra
ou competitiva, submetida a medidas de no passado a legitimidade para se reafir-
proteção à saúde e integridade física do mar como prática cultural no presente,
público, dos vaqueiros e dos animais. adaptdando-se às transformações da so- Lira: a vaquejada encontra no passado a
Estabelece que cada evento deverá ciedade. “Reconhecer a vaquejada como legitimidade para se reafirmar como prática
contar com atendimento médico, presen- manifestação da cultura nacional permitirá cultural se adapta a transformações sociais
ça de veterinário atuando como “árbitro ao Poder Público implementar ações de
de bem-estar”, transporte, acomodação e compatibilização dessa prática à lei am- Imaterial. Também definiram as atividades
alimentação adequados para os animais, biental”, justifica. equestres que serão consideradas modali-
além de seguro de vida e de acidentes para As emendas do relator incluíram no dades esportivas e tradicionais e exigiram
os competidores. “Devido às peculiarida- projeto o rodeio e o laço como manifesta- a regulamentação das práticas com a de-
des inerentes às provas, é importante que ções culturais nacionais e o conjunto delas terminação de regras para garantir o bem-
a lei discipline em todo o território nacional como integrantes do Patrimônio Cultural -estar dos animais.

Vaquejada se tornou

Marcos Oliveira/Agência Senado


patrimônio por lei
A elevação da vaquejada e do ro- minho mais adequado um projeto de
deio à categoria de patrimônio cul- lei que não atenda aos requisitos que
tural imaterial, aprovada no PLC o próprio Iphan estabelece de proce-
24/2015, gerou reação do Instituto dimentos, etapas, oitivas e audiências
do Patrimônio Histórico e Artístico necessárias para essa declaração”, ar-
Nacional (Iphan). O órgão endere- gumentou Anastasia.
çou ofício ao Senado em que, ressal- A senadora Marta Suplicy (PT-​
vando seu apoio e valorização a todas SP), ex-ministra da Cultura, esclare-
as formas e manifestações culturais ceu que o processo para se chegar a
nas comunidades brasileiras, afirma declarar algo bem imaterial é muito
não reconhecer a constitucionalidade trabalhoso e isso nunca foi feito antes
do projeto. O senador Antonio Anas- por meio de lei. “Essa lei vai ser mo- Marta Suplicy: declaração de patrimônio
tasia (PSDB-MG) alertou à época na dificada com enorme dificuldade, se imaterial é complexa e não pode ser
formalizada em lei, para facilitar revisão
Comissão de Educação sobre a vi- algum dia o for. Quando é feito um
gência do Decreto 3.551/2000, que tombamento, tanto material quanto
instituiu o Registro de Bens de Na- imaterial, ele é revisto a cada dez Senado Francisco Saraiva, o que jus-
tureza Imaterial e criou o Programa anos para saber se procede, se aquele tifica a elevação de algo a patrimônio
Nacional do Patrimônio Imaterial. monumento ainda deve ser preser- cultural imaterial é a necessidade de
“Esse decreto antecipou, em alguns vado, se aquele bem imaterial ainda medidas de acautelamento e prote-
anos, a aprovação pelo Brasil da faz algum sentido”, alertou. Marta ção, que passam a ser tomadas pelo
Convenção Internacional da Unesco, Suplicy argumentou ainda que isso Estado para preservar o bem. No
que prevê quais são as etapas e os não era atribuição constitucional do caso do PLC 24, não houve estudo
passos necessários para que uma de- Congresso. prévio, não se questionou se aquele
terminada atividade seja elevada a patrimônio estava ameaçado. “A ini-
essa condição. Portanto, sob o ponto Sobrecarga ciativa abre a porteira para uma so-
de vista formal, não me parece o ca- Segundo o consultor legislativo do brecarga injustificada no processo le-

www.senado.leg.br/emdiscussao 
21
Rodrigo Viana/Senado Federal

Marcos Oliveira/Agência Senado


gislativo, semelhante à enormidade
de projetos de datas comemorativas
e de denominações de heróis da pá-
tria”, adverte Saraiva. Para o con-
sultor, o Decreto 3.551 montou um
sistema coerente e bem estruturado
para o registro de bens imateriais. O
reconhecimento por meio de lei cria
uma realidade paralela com conse-
quências pouco efetivas, avalia. Ele
mencionou, no entanto, que a vaque-
jada já é reconhecida na Bahia como
patrimônio.
Segundo o senador Roberto Mu-
niz, a resistência à vaquejada tem
como pano de fundo o desprezo da Francisco Saraiva: há discriminação contra Roberto Muniz: resistência à vaquejada
população urbana pelas práticas cul- a cultura rural, mas a cultura como um tem como pano de fundo o deprezo das
turais da população rural. “É patri- todo evolui e os questionamentos aparecem populações urbanas pela cultura rural
mônio imaterial do nosso Brasil, por
exemplo, o modo artesanal de se fa- evolução, as coisas mudam. E, agora, práticas de manejo no campo. “Se
zer queijo de Minas Gerais. Quantos esse olhar para o mundo animal, não repercutir na criação, a proibição
queijos são produzidos sem o SIF, esse olhar para os seres vivos que não demonstra um ponto de vista envie-
sem o SIE [certificações sanitárias somos nós, os seres humanos, mudou sado, torna-se incoerente com o ob-
oficiais], sem a fiscalização? E esta completamente. Daqui a 30 anos, jetivo de evitar maus-tratos aos ani-
Casa não teve que barrar o projeto talvez menos, nós vamos olhar para mais”, assinala.
do queijo artesanal de Minas Ge- esta discussão e achá-la patética”, re-
rais porque há algumas pessoas que fletiu Marta Suplicy. Tradição e cultura
estão burlando a boa prática de pro- Tais argumentos foram reforçados O consultor reconhece que na va-
duzir o bom alimento”, comparou o por Francisco Saraiva, para quem a quejada houve transformações pro-
senador. cultura evolui e os questionamentos vocadas pela indústria cultural sem
O argumento do preconceito foi obrigatoriamente aparecem. Ele cita perda de linha com a tradição. O
rebatido por vários senadores e a outros exemplos de práticas culturais torneio faz parte, portanto, das refe-
maioria reconheceu o valor cultural que foram proibidas: a farra do boi, rências aglutinadoras de certos gru-
da vaquejada. Os contrários, no en- a rinha de galos, a caça à raposa, as pos culturais, no caso, o do vaqueiro.
tanto, além de darem maior impor- touradas. “Na vaquejada e no rodeio, “A discussão é válida e permite ques-
tância à questão da crueldade, como a violência é menor e por isso a polê- tionamentos. O limite é o conceito
na decisão do STF, também ressalta- mica torna-se maior.” de crueldade e esses conceitos estão
ram o caráter dinâmico da cultura. Ele concorda que há certa discri- mudando. Nem tudo o que é cultu-
“Alguns anos atrás, era comum ma- minação contra a cultura rural e con- ral é legítimo”, conclui.
tar passarinho. Essa era uma prática tra a cultura nordestina e considera Dados do Iphan indicam que
considerada corriqueira, lamenta- que “é muito mais fácil ver a cruel- há atualmente 24 mil sítios arqueo­
velmente. Hoje, felizmente, é crime dade do outro”. Lembra que lei mu- lógicos cadastrados, 1.262 bens
também”, assinalou Anastasia. nicipal de São Paulo proíbe o rodeio materiais tombados, 40 bens ima­
“É uma tradição, milhares de há tempos. E reconhece que a cria- teriais registrados e 380 bens ferro-
pessoas dependem dela. São festas ção do gado às vezes tem práticas viários valorados. Desses, o Iphan
importantes, é um símbolo muito muito mais cruéis. Assim, uma proi- preserva 87 núcleos urbanos, o que
forte para o nordestino. Tudo isso bição como a da vaquejada teria mais implica em cerca de 80 mil bens em
procede. Mas a sociedade vive uma efeitos se levasse a uma revisão das áreas tombadas e 531 mil imóveis em
áreas de entorno já delimitadas.
Parque Maria do Carmo

Os bens registrados como de na-


Em cidades como Serrinha (BA), a tureza imaterial dizem respeito a sa-
vaquejada é um negócio milionário e
entrou na era dos eventos de massa
beres, ofícios e modos de fazer; cele-
brações; formas de expressão cênicas,
plásticas, musicais ou lúdicas; e luga-
res como mercados, feiras e santuários
que abrigam práticas culturais coleti-
vas (veja quadro na pág. 23).
Segundo o Iphan, o patrimônio
imaterial é transmitido de geração a
geração, constantemente recriado pe-

22 
abril de 2017
JOSÉ ANTONIO DA COSTA
las comunidades e grupos em fun- tombados ou registrados não deve ser
Primórdios da vaquejada na
ção de seu ambiente, de sua interação permeada pelas disputas políticas”, cidade de Lagarto (SE): proezas
com a natureza e de sua história, ge- defende. no manejo do gado despertaram
rando um sentimento de identidade e Vieira também observa que a no- interesse empresarial
continuidade, contribuindo para pro- ção de patrimônio cultural imaterial
mover o respeito à diversidade cultu- não se confunde com os conceitos
ral e à criatividade humana. de cultura popular e de folclore, por
O consultor legislativo do Senado ter caráter dinâmico e mutável. “Por
Luiz Renato Vieira, no estudo Re- isso, as políticas de salvaguarda rela-
gistro e Salvaguarda do Patrimônio cionadas ao patrimônio cultural ima-
Cultural Imaterial no Brasil, explica terial não são ações de preservação no
que, embora a proteção ao patrimô- sentido tradicional, mas um conjunto
nio imaterial esteja na Constituição de iniciativas que deve compreen-
Federal desde 1988, seus efeitos prá- der os diversos aspectos de formação
ticos só se fizeram sentir a partir do da identidade do grupo social consi-
Decreto 3.551/2000. “Parece-nos derado. Dessa forma, ações de salva-
que o modelo brasileiro é mais efi- guarda são, necessariamente, multi-
ciente e adequado do ponto de vista facetadas e envolvem vários setores”,
técnico. A decisão sobre bens a serem diz o consultor.

O patrimônio cultural imaterial do Brasil


De acordo com informações do Iphan, são os seguintes os bens culturais imateriais atualmente registrados no Brasil:

Livro de Registro Livro de Registro • Arte Kusiwa — pintura corporal


de Saberes: de Celebrações: e arte gráfica wajãpi
 • Modo artesanal de fazer queijo de  • Círio de Nossa Senhora de Nazaré; • Cavalo-marinho;
Minas, nas regiões do Serro e das • Complexo Cultural do Bumba- • Fandango caiçara;
Serras da Canastra e do Salitre; Meu-Boi do Maranhão; • Frevo;
• Modo de fazer cuias do • Festa do Divino Espírito • Jongo no Sudeste;
Baixo Amazonas; Santo de Paraty; • Maracatu-Nação;
• Modo de fazer viola de cocho; • Festa do Divino Espírito • Maracatu de baque solto;
• Modo de fazer renda Santo de Pirenópolis; • Matrizes do samba no Rio de
irlandesa — Sergipe; • Festa de Sant’Ana de Caicó; Janeiro: partido alto, samba
• Ofício das baianas de acarajé; • Festa do Senhor Bom de terreiro e samba-enredo;
• Ofício dos mestres de capoeira; Jesus do Bonfim; • O toque dos sinos em Minas Gerais;
• Ofício de sineiro; • Festividades do Glorioso São • Roda de capoeira;
• Produção tradicional e práticas Sebastião na região do Marajó; • Rtixòkò: expressão artística e
socioculturais associadas • Ritual yaokwa do povo cosmológica do povo carajá;
à cajuína no Piauí; indígena enawenê-nawê. • Samba de roda do
• Saberes e práticas associados aos Recôncavo Baiano;
modos de fazer bonecas carajá; Livro de Registro de • Tambor de crioula do Maranhão;
• Sistema agrícola tradicional Formas de Expressão: • Teatro de bonecos
do Rio Negro.  • Carimbó; popular do Nordeste.

Livro de Registro
Ivo Gonçalves/PMPA

de Lugares:
 • Cachoeira de Iauaretê — lugar
sagrado dos povos indígenas
dos Rios Uaupés e Papuri;
• Feira de Caruaru;
• Tava — lugar de referência
para o povo guarani

Patrimônio imaterial, a
capoeira já foi considerada
crime. Atualmente a
prática também promove
inclusão social

www.senado.leg.br/emdiscussao 
23
O BRASIL EM DEBATE

Desafios para o cumprimento


do Acordo de Paris
Como um dos países mais sensí- de tratado internacional. Segundo Ka- aprimore e atualize os compromissos
veis às mudanças climáticas, o Brasil rin Kässmayer, doutora em meio am- assumidos”, afirmam os autores do
tem grande interesse no acordo mul- biente, e Habib Jorge Fraxe Neto, es- texto.
tilateral que entrou em vigor no dia 4 pecialista em direito ambiental, a in- O maior desafio, portanto, não é ju-
de novembro do ano passado. Mas, a corporação às leis brasileiras dos pa- rídico-legal, mas de materialização das
exemplo de muitos outros, enfrenta o râmetros acertados em várias confe- metas apresentadas ao concerto das na-
dilema usual entre diminuir as emis- rências do clima, e sacramentados nas ções em programas e iniciativas em-
sões de gases de efeito estufa e manter reuniões de Marrakech (7 a 18 de no- presariais. Observam os dois estudio-
um nível satisfatório de crescimento vembro de 2016), abre caminho para sos: “Sua implementação [do acordo]
econômico. que ações efetivas sejam adotadas. envolve desafios no fortalecimento
A maior parte dos dilemas, como Os dois são consultores do Senado de uma matriz energética que reverta
se sabe, nasce de uma visão por de- e assinam o Texto para Discussão A a tendência dos últimos anos de au-
mais parcial da situação. Não é possí- Entrada em Vigor do Acordo de Paris: mento no uso de combustíveis fósseis
vel pensar nem que a economia do país o que muda para o Brasil?. O estudo nos transportes e na geração termelé-
e suas demais atividades chegarão por apresenta um painel sobre os aspec- trica, bem como na consolidação de
milagre a um nível banal de emissões tos legais do novo protocolo do clima medidas para eficiência energética. No
nem que poderemos manter o patamar e as possibilidades de o Brasil apresen- caso dos transportes, as soluções para
atual, quando há um enorme potencial tar progressos nos setores nos quais mitigação dependem, sobretudo, da
de mudanças à disposição das empre- se comprometeu a atuar para redu- otimização da mobilidade urbana por
sas, dos cidadãos e do setor público. zir o volume de carbono ou substân- meio do transporte de massa e do au-
Um dado a favor da perspectiva de cias equivalentes: energia, mudança mento do uso de biocombustíveis”.
redução das emissões, a ponto de frear no uso da terra e florestas, agricultura, Os consultores observam que o au-
o aquecimento global e manter a tem- ­indústria e transportes. mento da taxa de desmatamento, em
peratura média do planeta de 1,5 °C a “(…) quanto à necessidade ou não quase um quarto, entre 2014 e 2015,
2 °C acima dos níveis pré-industriais, de alteração da PNMC [Política Na- apesar da recessão econômica, “acende
é que a assinatura do Acordo de Paris cional de Mudanças Climáticas], im- uma luz amarela”. E apontam para “a
pelo Brasil dá a esse diploma o status portante ressaltar que o Brasil ratifi- necessidade de robustos aportes orça-
cou o Acordo de Paris em setembro de mentários às políticas de comando e
2016, internalizando-o em seu ordena- controle”. Tanto o sucesso no controle
mento jurídico. Entendemos que, ao do desmatamento quanto das políticas
se tornar o acordo norma jurídica in- de pagamento por resultados na con-
terna, a PNMC merece apenas ajustes servação florestal dependerão, adver-
pontuais, a fim de que o novo regime tem os autores, de “maior participação
de atores locais e regionais na sua ela-
Karin Kässmayer é bacharel em direi- boração e execução”. Um complica-
to e doutora em meio ambiente e de-
dor é que, tradicionalmente, a União
senvolvimento pela Universidade Federal
centraliza “a maior parte das tarefas e
do Paraná (UFPR) e mestre em direito
dos recursos a elas associados”. Outro
econômico e social pela Pontifícia Uni-
front no qual é imprescindível inves-
versidade Católica do Paraná (PUC-PR).
tir: a participação dos setores agrícola e
Trabalha como consultora legislativa
­f lorestal nesse esforço.
do Senado na área de meio ambiente.
Com a frase “Um longo cami-
E-mail: karink@senado.leg.br
nho a percorrer”, Karin e Fraxe
Neto resumem as perspectivas de

24 
abril de 2017
i­ mplementação
das metas para a
agropecuária reunidas
no chamado Plano ABC
(Agricultura de Baixo Car-
bono), que precisa ter “ganho
de escala” em programas como
o de recuperação de pastagens de-
gradadas; integração lavoura-pecu-
ária-floresta e sistemas agroflorestais
e plantio direto; fixação biológica de
nitrogênio; florestas plantadas; trata-
mento de dejetos animais; e adapta-
ção às mudanças climáticas. Os auto-
res recomendam “apoio aos produtores
rurais por meio de assistência técnica” “carona”, da parte de quem prefira dei- cam em seu trabalho é que, se o esta-
e “uma estrutura de financiamentos xar o dever de casa para o vizinho. belecimento de metas próprias para
­adequada e atrativa”. Assinalam os consultores: “Apesar cada r­ ealidade nacional pode facilitar
As melhores intenções e leis, en- de se apresentar como um acordo de o ingresso no acordo, exige um esforço
tretanto, podem esbarrar na comple- alcance universal, vinculante e gera- maior, do ponto de vista científico e
xidade e nas incertezas de um acordo dor de obrigações a todos os Estados, político, para que, no plano global, es-
cuja novidade é a apresentação de me- muitas de suas disposições são de natu- ses esforços se somem de maneira mi-
tas voluntárias (e desiguais nos pra- reza pragmática ou indicativa e as me- nimamente coerente e produzam resul-
zos para concretização), o que abre a tas, agora vinculantes e constituindo as tados concretos de redução das emis-
chance do comportamento do tipo contribuições nacionalmente determi- sões. Tanto o equacionamento das me-
nadas (NDC, na sigla em inglês), são tas quanto o controle da sua aplicação
autopropostas, díspares entre si, mas e dos resultados dependem ainda do
que representam metas concretas e au- estabelecimento de regras, parâmetros
tônomas, em consonância ao princípio de medidas e detalhamento técnico
das responsabilidades comuns, porém para que os responsáveis por acompa-
diferenciadas à luz das diferentes cir- nhar o acordo tenham o mínimo de
cunstâncias nacionais”. segurança sobre onde estão pisando.
O que Karin e Fraxe Neto expli- Questões como a das bases do comér-
cio de carbono e do pagamento por
serviços ambientais, o chamado Reed,
Habib Jorge Fraxe Neto é bacharel em estão entre os aspectos a serem mais
ciências biológicas e mestre em zoolo-
precisamente definidos.
gia pela Universidade de Brasília (UnB).
Especialista em direito ambiental, atual-
mente trabalha como consultor legislati- Leia o estudo completo:
vo do Senado na área de meio ambiente. bit.ly/2paris-sf
E-mail: hfraxe@senado.leg.br Saiba mais: bit.ly/2acor-paris-sf

www.senado.leg.br/emdiscussao 
25
BANDA LARGA

A batalha
em torno da
internet ilimitada
Controle do volume de tráfego por parte das
operadoras de banda larga fixa é rejeitado pela
sociedade. Em cenário jurídico e comercial confuso,
projeto que garante o fluxo contínuo de dados foi
aprovado pelo Senado e segue para análise na Câmara

E
m janeiro deste ano, o ministro da não ingressar na era da internet banda larga
Ciência, Tecnologia, Inovações e Co- fixa limitada. Além dos setores diretamente li-
municações, Gilberto Kassab, reacen- gados, o assunto também repercute no Legis-
deu a polêmica em torno da limitação lativo há um ano. No Senado passaram a tra-
do tráfego de dados na internet banda larga mitar em conjunto três propostas para proibir
fixa ao declarar que as operadoras de teleco- a franquia de dados. O PLS 174/2016 foi apro-
municações poderiam oferecer planos com res- vado em Plenário no dia 15 de março e a ma-
trições partir de julho. O assunto vem sendo téria seguiu para análise na Câmara dos De-
debatido entre empresas, clientes e a Agência putados. Os outros dois foram arquivados por
Nacional de Telecomunicações (Anatel), insti- tratarem do mesmo tema. O presidente do Se-
tuição que regula o setor, desde 2016, quando nado, Eunício Oliveira, autor de um dos proje-
as teles anunciaram que iriam desligar o sinal tos, justificou o apoio à causa:
dos usuários que utilizassem todo o volume de “A limitação certamente prejudicará os con-
dados previstos no contrato da franquia. sumidores, que terão que pagar valores ainda
Após a declaração do ministro, a polêmica mais elevados para poderem usufruir de acesso
foi tanta que, em menos de 24 horas, Kassab ininterrupto à internet”, afirmou Eunício.
mostrou-se arrependido e voltou atrás: “Não Pressionada, a Anatel marcou para maio
haverá mudanças no modelo atual de planos a apresentação de uma análise de impacto re-
de banda larga fixa”. gulatório de possíveis mudanças nas regras da
A declaração enfática foi feita antes mesmo banda larga, considerando a perspectiva dos
de concluir o debate sobre se o país deve ou consumidores.

Uso intensivo de internet desafia


as teles e o governo. Faltam
investimentos e transparência
nas relações de consumo

26 
abril de 2017
USP Imagens

www.senado.leg.br/emdiscussao 
27
Entenda por que
Operadoras estão proibidas, por
há conflito sobre a enquanto, de cortar a internet,

franquia de consumo cobrar a mais ou reduzir a velocidade


de quem ultrapassa o limite.
A Anatel prevê a contratação Senado constatou, em junho de
de franquias de consumo na in- 2016, que 99% dos mais de 608 Denilson V. Kassner   Só pra
ternet fixa desde 2013, conforme mil entrevistados eram contrários lembrar que não faz sentido
a Resolução 614, do mesmo ano. ao novo modelo. algum isso. Internet não é água,
No entanto, somente em 2016 as Inicialmente a proposta foi até não funciona por volume e sim
operadoras resolveram se valer apoiada pela Anatel. Na época, o por velocidade. Não existe isso de
dessa autorização e anunciaram o presidente João Rezende decla- que a infraestrutura não suporta.
desligamento do sinal daqueles que rou: “A era da internet ilimitada O mesmo serve para a internet
excedessem os dados previstos no acabou”. A frase teve grande re- móvel, mas as pessoas leigas
contrato. As empresas argumen- percussão e foi o estopim para a aceitaram isso, agora querem pôr
tam que essa ação não prejudica- mobilização dos internautas contra na fixa. O povo é muito ignorante e
ria os clientes com perfil modera- o controle do tráfego de dados. A desinformado mesmo.
do de uso. Assim, seria possível, agência foi acusada até de tomar Silvia Carvalho Já somos
inclusive, oferecer internet por um partido das empresas, ao invés de obrigados a contratar uma internet
preço mais acessível, uma vez que fiscalizar. ineficiente e caríssima. Só faltava
os internautas “moderados” dei- “É Anatel ou Amatel? Amatel é mesmo terem a ousadia de
xariam de subsidiar os 2% dos que a agência que ama as teles e que permitir que eles nos cobrem ainda
­utilizam 22% do total do tráfego. não trabalha a favor do consumi- mais pelos dados e continuem a
A sociedade, porém, julgou a dor”, provocou a representante da entregar menos. Se aprovarem
prática desonesta e inconstitucio- Proteste, Maria Inês Dolci, durante essa cobrança, é o Senado
nal. Entendeu a limitação como audiência pública na Comissão de trabalhando contra o povo! Deviam
um “jeitinho” das operadoras para Ciência, Tecnologia, Inovação, Co- estar obrigando as empresas a
aumentar lucros sem investir em municação e Informática (CCT) do fornecerem um serviço de qualidade
infraestrutura. Pesquisa do Data- Senado. pelo que já cobram!
Em consequência, a agência Giuliana Fiszbeyn Queremos pagar
voltou atrás e vedou a prática até pelo que, efetivamente, usamos.
segunda ordem. Atualmente as Nem mais, nem menos. A telefonia
operadoras continuam proibidas é o único serviço no país que você
de reduzir a velocidade, suspen- paga independentemente de usar.
der o serviço ou cobrar pelo trá- Esses “planos” não atendem as
fego excedente nos casos em que necessidades e acabamos pagando
os consumidores utilizarem toda a pelo que não é usado. Paga-se pelo
­franquia contratada. que usa e pronto!
Moreira Mariz/Agência Senado

Diva Leonor Monteiro Precisamos


Eunício Oliveira é contra a franquia de é ter serviço de qualidade! Aqui no
dados na internet fixa. Para ele, a medida
Guarujá (SP), o sinal é péssimo! Às
prejudicará os consumidores, que serão
onerados nas tarifas desse serviço vezes não conseguimos entrar e
ficamos horas sem poder entrar nas
redes! Sabemos que a banda larga e os
serviços prestados são os piores e os
mais caros do mundo. Como mudar?
Marcelo Pigozzo O dia em que
a internet tiver qualidade e um
preço justo, pode ser viável a
implementação de uma cobrança
por consumo, mas essa qualidade
de serviço oferecida e o preço por
ela cobrado não é aceitável e ainda
querer cobrar além é desonesto (no
mínimo).

http://bit.ly/internetdados

28 
abril de 2017
Legitimidade da ação não tem
consenso entre especialistas
Durante os debates sobre a nia fixa, e privado, para todos do Direito Brasileiro, o texto
limitação do tráfego de dados os outros serviços. Neste úl- legal mais novo — no caso, o
na internet, a principal questão timo, não há controle de pre- marco civil — revoga tacita-
levantada, ainda sem consenso ços e modelos de negócios, ao mente o mais antigo no que lhe
entre os especialistas, é a da le- contrário do primeiro. A regu- for incompatível.
galidade da ação. Para Rafael lamentação de 2013, segundo Outra questão, levantada
Zanatta, do Instituto Brasi- Zerbone, teve como objetivo pelo consultor do Senado Ale-
leiro de Defesa do Consumidor estabelecer condições e defi- xandre Guimarães, diz respeito
(Idec), esse tema será “a grande nir os planos de serviços que à interpretação do marco civil.
discussão de 2017”. poderiam ser ofertados pelas Na opinião dele, essa lei não
A polêmica começou quando ­operadoras dentro dessa regra. especifica claramente que tipo
o Idec exigiu que a Anatel re- Conforme o representante de conexão à internet pode ou
vogasse a resolução de 2013 da A natel, a resolução bus- não ser suspensa. No Brasil, o
que permitia a aplicação das cou “limitar a liberdade que as corte da internet móvel, por
franquias de dados. No enten- prestadoras já tinham de de- exemplo, é uma prática usual.
der do representante da agência finir o plano de serviço da sua “Se a determinação de não
reguladora, Rodrigo Zerbone, prestação ao garantir ao con- suspender a conexão à inter-
essa é uma interpretação equi- sumidor, de alguma forma, a net, salvo por débito, for apli-
vocada, já que “não foi a reso- continuidade da prestação do cada, deve ser aplicada a ambos
lução da Anatel de 2013 que serviço”. os serviços. Entendemos que há
permitiu às empresas terem os necessidade de uma alteração
modelos de negócios que elas Choque legal ou de questionamento ao
desejam, mas a Lei Geral de Ainda que a lei geral permita Judiciário para que se esclareça
Telecomunicações, ao estipu- a liberdade de prestação de ser- a situação dos serviços de inter-
lar a liberdade de prestação de viços por parte das operado- net móvel e fixa”, aconselha o
serviços”. ras, o Marco Civil da Internet consultor.
A lei prevê dois regimes ju- proíbe o corte do sinal, salvo
rídicos: público, para a telefo- em caso de inadimplência. Pela Contratos
Lei de Introdução às Normas Para o consumidor, a ques-
tão é especialmente complexa
por causa do cipoal n
­ ormativo.
EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO

www.senado.leg.br/emdiscussao 
29
Geraldo Magela/Agência Senado

IDEC

Ana Volpe/Agência Senado


Rodrigo Zerbone, da Anatel, Rafael Zanatta, do Idec, e o consultor do Senado Alexandre Guimarães debatem a restrição do volume de dados

Apesar de estarem proibidas, as net”, diz o documento. cessionárias de internet móvel pas-
franquias de consumo têm am- O Idec sugere que a limitação saram a oferecer acesso grátis e ili-
paro no Regulamento Geral dos seja permitida a pequenos prove- mitado a determinados aplicativos
Direitos do Consumidor de Servi- dores, de modo a ampliar a oferta, e redes sociais como forma de com-
ços de Telecomunicações, baixado mas proibida a grandes operadoras pensar o corte do sinal.
por meio de resolução da Anatel em caráter definitivo. Visto como benefício ao cliente,
em 2014. “Muitas empresas querem im- a prática, chamada zero-rating, é
Os contratos realizados entre plementar as franquias sem neces- prejudicial ao mercado e vetada
operadoras e clientes para internet sidade técnica, e isso é apenas de- pelo marco civil, uma vez que viola
de banda larga fixa, inclusive, têm sejo de lucro”, esclarece o represen- a neutralidade da rede, explica Za-
de deixar claro o limite de volume tante do Idec, Rafael Zanatta. natta. “Além de prejudicar a ino-
de dados, assim como as condi- vação e a livre utilização da rede,
ções de uso. “O consumidor tem Limitação por conteúdo fortalece o poder de grandes gru-
de ter direito a recurso que pos- A s estratégias de marketing pos econômicos e causa problemas
sibilite o acompanhamento ade- mantêm os usuários à mercê das competitivos, que prejudicarão os
quado do uso de serviço na inter- operadoras. No último ano, as con- consumidores no futuro”, diz.

Audiência pública promovida em conjunto por três comissões permanentes do Senado discute o problema em torno da franquia de dados

Roque de Sá/Agência Senado

30 
abril de 2017
Parlamentares defendem Glossário
Gigabyte (giga): É uma unidade de

a internet ilimitada GB medida, que equivale a 1024 megabytes.


É usada pelas operadoras para calcular o
consumo de dados na internet
Megabit (mega): Também é uma
Os parlamentares Ricardo Fer- micos (CAE) e de Ciência e Tec- unidade de medida. É usada pelas
raço (PSDB-ES), Eunício Oliveira nologia (CCT). Os senadores apro- Mb operadoras para se referirem à velocidade
(PMDB-CE) e Humberto Costa varam a matéria, que segue agora máxima por segundo a que as conexões
podem chegar. 8 bits equivalem a 1 byte
(PT-PE) propuseram, ainda em para ­apreciação na Câmara dos
2016, os Projetos de Lei do Senado Deputados. Streaming: é a tecnologia utilizada para
(PLSs) 174, 176 e 249, respectiva- Em justificativa, o relator julgou acessar informações multimídia, como
Netflix e YouTube
mente. Os senadores querem acres- inadmissível que haja esse tipo de li-
centar à Lei 12.965/2014 — conhe- mitação na internet fixa, o que po- Sistema operacional: organiza e
administra os recursos do computador ou
cida como o Marco Civil da Inter- deria prejudicar consumidores, em- smartphone para que seja possível usá-lo
net — um artigo que proíba a limi- presas e ações governamentais. Para
Download: O termo corresponde à ação
tação do tráfego de dados. O acrés- o relator, a sociedade é caracteri- de transferir dados de um computador
cimo reforçaria o que já está pre- zada pelo uso intensivo de tecnolo- remoto para um computador local. Ou
visto no artigo 7 dessa mesma lei: o gias da informação e comunicação. seja, baixar conteúdo da internet
corte do sinal da internet é vedado, Por isso, a limitação da internet fixa Upload: o caminho inverso do download,
salvo inadimplência de cliente com representa um freio ao avanço da quando a máquina do usuário envia
algum conteúdo para o servidor na
operadoras. inovação e do desenvolvimento das internet. Anexar uma foto em uma
“É dever do poder público im- ­empresas da nova economia. mensagem no seu e-mail, por exemplo
pedir abusos e evitar que o setor no “No Brasil, nós temos mais de Servidor: o computador que está
país tome contornos como os que 1 milhão de alunos na educação à disponibilizando as informações para
permeiam as diversas autocracias, distância no ensino superior. En- serem acessadas. Os computadores que
destoando do mundo democrático”, tão, nós não podemos permitir que requisitam e acessam as páginas são
chamados de clientes
argumenta Ferraço. a Anatel ou as concessionárias co-
Após o acordo entre os líderes de- loquem limites na banda larga fixa Tráfego de dados: quantidade de
informações trocadas entre o servidor e
cidir que a matéria deveria tramitar e prejudiquem esses estudantes”, os clientes
em regime de urgência, o relator, acrescenta o senador.
Hardware: é a parte física de um
Pedro Chaves (PSC-MS), apresen- Humberto Costa também de- computador. O conjunto de circuitos de
tou parecer favorável à aprovação fende “proteção” para a internet, fios e luz, placas, utensílios, correntes e
do PLS 174/2016 e pediu o arquiva- uma vez que é o principal meio de qualquer outro material em estado físico
que seja necessário para fazer com o que
mento dos outros dois, por tratarem comunicação ao alcance da popula- computador funcione
do mesmo assunto. Dessa forma, o ção. “O serviço de internet é muito
projeto foi a Plenário sem percor- relevante para o dia a dia dos brasi- Software: os programas que comandam
o funcionamento de um computador.
rer as Comissões de Constituição e leiros, que a utilizam para trabalho, A parte lógica cuja função é fornecer
Justiça (CCJ), de Assuntos Econô- estudo e lazer”, assinala. instruções para o hardware
Geraldo Magela/Agência Senado

Marcos Oliveira/Agência Senado

Edilson Rodrigues/Agência Senado

Senadores Ricardo Ferraço, Humberto Costa e Pedro Chaves trabalham para proibir a limitação do tráfego de dados

www.senado.leg.br/emdiscussao 
31
Expansão da rede não acompanha
a demanda dos usuários
O número de consumidores de O volume de dados em trânsito consumir, em média, 37 Gb.
internet fixa no Brasil aumentou: também. Segundo a Cisco — uma A expansão da rede, entretanto,
em 2007 eram pouco mais de 8 das principais fabricantes de rote- não acompanhou a demanda e, por
milhões; em 2016, mais de 26 mi- adores de internet —, os usuários, isso, enfrenta constantes problemas
lhões. Um crescimento de mais que antes demandavam 0.001 gi- de sobrecarga em grandes cidades.
de 300% em menos de dez anos. gabyte (Gb) por mês, passaram a Ao mesmo tempo, em 246 muni-
cípios, o serviço de internet só é

Pillar Pedreira/Agência Senado


acessado por uma parcela mínima
de moradores. Nessas cidades, a
média de usuários é menor que 25
pessoas. “Para limitar internet, pri-
meiro você tem que ter uma inter-
net”, protesta o senador Gladson
Cameli (PP-AC), fazendo referên-
cia à baixa qualidade do serviço na
Região Norte, onde está sua base
eleitoral.
Em 2015, a Proteste, em par-
ceria com o site Minha Conexão,
constatou que a velocidade média
ou instantânea da banda larga fi-
cou abaixo do contratado em 73%
dos casos. O fato é atribuído a
uma possível manobra das opera-
doras, que ofereceriam o serviço a
um número de clientes superior à
­capacidade física da banda.
Não por outro motivo, as ope-
radoras de telecomunicações são
campeãs de reclamações nos Pro-
cons do país. “Pagamos caro por
uma banda larga que é lenta”,
afirma a coordenadora institucio-
nal da Proteste, Maria Inês Dolci.

Investimento
Sobre a necessidade de expansão
e melhoria da banda larga, não há
divergências. Todos os envolvidos
— operadoras, consumidores e go-
verno — concordam. A questão é
definir quem vai pagar essa conta.
De um lado, as operadoras alegam
que, sem liberdade para contratar,
suas receitas serão insuficientes.
Do outro, os usuários reclamam
que o preço do serviço já é alto
­demais e aumentá-lo seria inviável.
“Nós não vamos limitar aquilo
com o que a gente ganha dinheiro.
Manutenção dos cabos de fibra
óptica para telefonia e banda
larga em câmaras subterrâneas,
em Brasília

32 
abril de 2017
Pillar Pedreiras/Agência Senado
Precisamos entender é quanto al-
guém deve pagar para poder ter
o uso ilimitado”, reage o diretor
de Relações Institucionais da Oi,
Marcos Augusto Mesquita.
De qualquer forma, é um con-
senso que o valor praticado atu-
almente nem de longe pode ser
considerado barato.
Os altos preços cobrados pela
internet banda larga fixa no Bra-
sil ultrapassam o valor determi-
nado pela Organização das Na-
ções Unidas (ONU) de 2% da
renda média domiciliar. Por esse
cálculo, o serviço deveria custar
entre R$ 37 e R$ 40, uma vez
que a renda média no país é de
R$ 1.853.
Entreta nto, o preço ma is
baixo encontrado num levanta-
mento feito por Em Discussão!
foi de R$ 59,90 — entre as em- De acordo com a Fundação Getulio Vargas, há em média
presas que detêm mais de 85% 1,52 dispositivo móvel para cada habitante no país
das conexões: Net, Vivo e Oi.
No modelo de tráfego limi- “Nesse modelo apresentado cro por essas empresas, um crime
tado, anunciado pelas opera- [de 10 GB], 10 aulas on-line em contra a ordem econômica”.
doras em fevereiro de 2016, os alta resolução praticamente já es-
preços eram mais agradáveis ao gotam a franquia, havendo assim Tributo
bolso. Porém, o tráfego de da- uma limitação na informação”, A carga tributária sobre os pre-
dos oferecido era irrisório, de 10 aponta Kleber de Miranda Bar- ços praticados também é muito
a 30 GB por mês, quantidade reto, da Comissão do Direito do alta. De uma conta de R$ 89,90,
de dados bem inferior ao con- Consumidor do Conselho Sec- por exemplo, R$ 22,48 corres-
sumo médio de um ponto de cional da Ordem dos Advogados pondem ao ICMS; R$ 0,58 ao
banda larga fixa, que é de 240 do Brasil no Distrito Federal. PIS; e R$ 2,70 ao Cofins. Ou
GB por mês, segundo a Proteste. Para dar continuidade ao seja, 28,65% do valor da conta.
Os planos de excelência ofere- acesso, as operadoras venderiam “A Anatel deveria atacar esse
ciam uma franquia de 270 GB, pacotes adicionais, o que sig- problema, não o bolso dos con-
ou seja, pouco mais que a média nifica, para Rafael Zanatta, do sumidores”, reclama Maria Inês
utilizada. Idec, “a elevação arbitrária de lu- Dolci, da Proteste.

Concessões
Durante a audiência pública
na CCT, o diretor da Oi decla-
rou que a necessidade de inves-
timento é extraordinária. Po-
rém, “não é algo que a rentabi-
lidade do negócio possa garan-
tir”, segundo Marcos Augusto
Mesquita.
Ainda assim, no relatório
Geraldo Magela/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado

apresentado pela Anatel no iní-


cio do ano, a internet de banda
larga fixa foi o único serviço
de telecomunicações que re-
gistrou crescimento  no Bra-
sil. Houve mais de 1 milhão
de novos contratos, um cresci-
Gladson Cameli protesta pelo sinal de internet nos pequenos mento de 4,33% no serviço de
municípios. Inês Dolci quer menos tributos aos consumidores ­transmissão de dados.

www.senado.leg.br/emdiscussao 
33
Internet ilimitada em Segundo a Telefônica Bra-
sil, grupo que opera sob a
nal líquida do serviço de banda
larga fixa da empresa contabi-
130 países do mundo marca Vivo, a receita operacio- lizou R$ 2.901 bilhões no pe-
ríodo de janeiro a setembro

Jefferson Rudy/Agência Senado


De acordo com o relatório Medição da So- de 2016. Um crescimento de
ciedade da Informação, publicado em 2015 10,7% se comparado ao mesmo
pela União Internacional de Telecomunicações período do ano anterior.
(UIT), agência da Organização das Nações Para o senador Wilder Mo-
Unidas (ONU), dos 190 países-membros, 130 ra is (PP-GO), a s operado-
oferecem prioritariamente planos de banda ras têm recursos, mas não in-
larga fixa com internet ilimitada. vestem por medo de perder os
Nos Estados Unidos (foto abaixo), as ope- bens para a União após o fim
radoras podem oferecer os dois tipos de pla- da concessão, como prevê a Lei
nos, podendo ser limitados e ilimitados. Ainda 9.472/1997 — a Lei Geral de
assim, o bloqueio, o estrangulamento e o fa- Telecomunicações. Esse cená-
vorecimento de tráfego são proibidos. Lá, o rio traria insegurança e insta-
serviço é regulado pela Federal Communica- bilidade às empresas privadas.
tions Commission, que define, inclusive, a ve- “O regime jurídico da infraes-
locidade mínima de download a partir de 25 trutura de TI no Brasil boicota
Mb e de upload a partir de 3 Mb. “Há fran- sistematicamente os investimen-
quia, mas é real de uso, não é uma franquia tos privados de longo prazo”,
limitada”, explica Kleber Barreto Gomes, da afirma o senador, que defende
Comissão do Direito do Consumidor da OAB. Wilder Morais defende a garantia à a garantia à propriedade dos
propriedade dos ativos pelas empresas ­ativos pelas empresas.

Evolução de assinantes de banda larga


Crescimento vertiginoso do número de assinantes gerou demanda gigantesca

30
25,5 26,5
23,9
25 22,2
19,8
17,0
milhões de assinantes

20
14,9
15 12,5
223%
10,6
10 8,2

0
ALDA SILVA

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Não tão rápida


Velocidade média de conexão (em megabits/segundo)
20,5
17,4 16,4 16,2 Média mundial
15,8
12,6 11,9 5,1
10,2
5,9 5,7 5,5 4,4 4,2 4,2 4,1 3,7 3,7 3,6 3,5 3,2 2,5
1,8 1,5 1,5
Suíça

BRASIL
Uruguai

Venezuela
China
Coreia do Sul

Rússia

Peru
Argentina
Colômbia

Bolívia
Chile

Panamá

Índia
Hong Kong

Costa Rica
Suécia
Noruega

África do Sul
México
EUA

Equador
Canadá

Paraguai

34
Operadoras de telecomunicações são atravessadoras de informações
Por isso, cobrar pelo volume é tão polêmico. Entenda como funciona o tráfego de dados:

Qualquer arquivo, seja foto, vídeo ou texto, Quanto maior o arquivo, A rede pode ser sem fio (wi-fi),
deve ser convertido em dados para ser maior a quantidade de dados. cabo LAN ou pela rede celular.
transmitido pela rede.

O caminho de transmissão
Saindo do aparelho (celular, computador ou tablet), dos dados é determinado
os dados seguem para a operadora, que fornece o pelo IP (internet protocol),
serviço de conexão. Essa empresa também cuida da que registra em cada pacote
manutenção da estrutura física da rede: antenas, o remetente e o destinatário
cabos e centrais de transmissão. do arquivo.

Os dados seguem para a rede mundial e são recebidos


por vários datacenters, conforme o serviço utilizado. Por
exemplo: quando um usuário posta uma foto no Facebook,
esse arquivo é gravado nos datacenters da própria empresa.

Graças ao IP, os dados de um mesmo arquivo A nuvem de dados nada mais é do que esse conjunto
podem percorrer caminhos diferentes, mas de datacenters (espalhados pelo mundo) contratados
sempre chegarão no destino certo. por uma empresa para guardar arquivos de usuários.
Isso melhora o processamento e torna a alocação
de memória mais fluida e barata. A organização em
nuvem também otimiza o download. O usuário final
pode acessar dados de datacenters que estejam mais
próximos ou que tenham a melhor eficiência.

O dispositivo do usuário final (computador, celular


ou tablet) recebe os dados do seu provedor de
Na reta final do destino, os dados passam internet e os recompõe em foto, vídeo ou texto
novamente por uma operadora, que pode ser novamente, pronto para ser visualizado.
a mesma do remetente ou não.

www.senado.leg.br/emdiscussao 
35
Investimentos no setor
são insuficientes
“Por que o governo não usa os da Net, Fábio Andrade. cional. Os recursos do fundo não
bilhões que ele arrecada com o Fust O Fust — tributo pago pelas são destinados a financiar projetos
[Fundo de Universalização dos Ser- operadoras de telecomunicações na de expansão da telefonia móvel e da
viços de Telecomunicações] para base de 1% sobre a receita opera- banda larga.
aumentar a banda larga no país? cional bruta — é destinado, desde A União investiu no setor, por
Por que a gente paga tanto Fust e 2007, ao Programa de Atendimento meio da Telebras, R$ 2,1 bilhões
não recebe em troca esse investi- às Pessoas com Deficiência, que ins- entre 2010 e 2016. Esse dinheiro
mento?”, questiona o diretor de Re- tala e mantém terminais telefônicos subsidiou o Plano Nacional de
lações Institucionais da Claro S.A e para surdos em todo o território na- Banda Larga, o projeto do Satélite
Geoestacionário de Defesa e Comu-
nicações Estratégicas (SGDC), cujo

Pillar Pedreira/Agência Senado


lançamento estava previsto para
ocorrer em abril, e a instalação de
cabos submarinos entre o Brasil, a
Europa e os Estados Unidos. Esses
projetos ainda contaram com os re-
cursos próprios da Telebras.
O Ministério da Ciência, Tecno-
logia, Inovações e Comunicações
também investiu R$ 122 milhões,
no mesmo período, para a operação
do sistema de banda larga e a melho-
ria do backbone estatal — rede prin-
cipal pela qual os dados da internet
passam (veja mais no Siga Brasil:
bit.ly/banda-siga).
Ao mesmo tempo, o governo be-
neficiou as operadoras de telecomu-
nicações com o Regime Especial de
Tributação para o Programa Na-
cional de Banda Larga.Até 2015, as
empresas que melhorassem a estru-
tura com equipamentos e materiais
de construção nacionais eram isen-
tas de pagar PIS, Cofins e IPI. Esse
estímulo custou aos cofres públicos
aproximadamente R$ 3,8 bilhões.
Na esfera privada, o investimento
anual feito pelas operadoras chega
a R$ 30 bilhões, garantiu o dire-
tor executivo do Sindicato Nacio-
nal das Empresas de Telefonia e de
Serviços Móvel Celular e Pessoal
(SindiTelebrasil), Carlos Duprat, no
Senado. Ainda assim, a estrutura é
insuficiente. De todo modo, nem o
ministério consegue apontar o in-
vestimento necessário para uma es-
trutura física que atenda de modo
satisfatório todos os m
­ unicípios do
Brasil.

Técnico instalando conjunto de emenda


óptica em bairro de Brasília

36 
abril de 2017
Banda larga tem estrutura
física e tecnológica finita
Quando as operadoras de teleco- congestionamento. O problema conselheiro, caso aprovada, essa me-
municações argumentam que não — em torno da limitação do vo- dida levará ao caos social e dividirá
podem vender “como infinito o que lume do tráfego de dados — é que ainda mais o país. “Vão criar classes
é finito”, a exemplo do que disse o as empresas têm vendido mais espa- de cidadania. Quem tem dinheiro
diretor de Relações Institucionais ços do que suportam, explica Pedro vai continuar fazendo tudo e quem
da Claro S.A. e da Net, Fábio An- Ekman, conselheiro do Intervozes. não tem não vai conseguir fazer
drade, estão corretas do ponto de Dessa forma, entende-se essa prá- nada. Os mais pobres ficarão com-
vista técnico. As empresas têm uma tica da limitação do volume de da- pletamente desconectados porque
estrutura física e tecnológica limi- dos na internet banda larga fixa eles acessam via wi-fi da padaria, do
tada. A questão, no entanto, é que como uma forma de aumentar os escritório. E essas empresas vão blo-
o limite é de ocupação por segundo, lucros sem que se aumente o inves- quear o acesso se tiverem que pagar
não de quantidade de informações timento em infraestrutura. Para o a mais por ele”, acredita Ekman.
transmitidas.
“A internet nunca foi ilimitada. Gasto com tráfego de dados (estimativa)
Ela sempre foi limitada pela velo-
cidade, de modo que, ao se aces- É muito difícil medir o tráfego de dados, uma vez que cada acesso depende
sar hoje um plano, vamos dizer as- do conteúdo da página, do tamanho do vídeo assistido ou baixado
sim, médio de 10 megabits por se- O tráfego de dados na
gundo, há uma limitação de tempo internet é medido em bytes
GB
MB
da quantidade de dados que vão ser (B). No entanto, as operadoras KB

oferecem o serviço pela unidade de


acessados durante um mês”, explica medida chamada giga.
Kleber Barreto Gomes, da Comis- Assistir a um
são do Direito do Consumidor do episódio de uma de 1 a 3 GB 1 giga equivale a aproximadamente 1 mil
megas, que é igual a 1 milhão de bytes
Conselho Seccional da Ordem dos série em HD (de 50 (a depender da qualidade de definição)
Advogados do Brasil no Distrito minutos), no Netflix Já a velocidade é medida em bits (b).
Ou seja, quando uma operadora
Federal. oferece um plano de 2 mega,
Uma operadora com capacidade está oferecendo uma velocidade
de 10 mil gigabytes por segundo, Assistir a um vídeo de três de 2 milhões de bits por segundo
por exemplo, pode entregar uma minutos no YouTube 90 MB
velocidade de 20 megabits por se-
gundo para cerca de 512 mil clien- Jogar partida de Fifa on-line 20 MB
tes — e esse número pode ainda
Navegar por 10 minutos
ser maior porque as prestadoras são no Facebook
17 MB
obrigadas a entregar apenas 80%
da velocidade contratada, conforme Escutar uma música de
três minutos no Spotify 8 MB
a regulamentação da Anatel. Ainda
assim, se todos utilizarem a inter- Anexar uma foto para
50 KB a 6 MB
net ao mesmo tempo, não h ­ averá encaminhar por e-mail

De acordo com a FGV, em


2016 eram 166 milhões de
computadores em uso no Brasil
GEORGE CAMPOS/USP IMAGENS

www.senado.leg.br/emdiscussao 
37
Economia pode ser alterada
com a limitação do tráfego
“A internet hoje não é apenas mente sendo cortada. O que acon-

Jefferson Rudy/Agência Senado


uma ferramenta de lazer, mas um tecerá com o prazo, com o direito,
instrumento de acesso a bens cul- com a liberdade, com o patrimônio
turais, de educação, de geração de dessa pessoa que está sendo repre-
trabalho e renda e também um po- sentada por um advogado?”, ques-
deroso instrumento de viabilização tiona o presidente do Conselho Fe-
da liberdade de expressão e de par- deral da Ordem dos Advogados do
ticipação social.” A frase, de Mi- Brasil, Claudio Lamachia.
riam Wimmer, representante do “A restrição ao acesso à internet
Ministério da Ciência, Tecnologia, deve ser sistematicamente evitada,
Inovações e Comunicações, pro- ou fora de cogitação. Se isso acon-
cura redimensionar a importância tecer, a sociedade brasileira estará
do acesso à internet no dia a dia isolada do mercado de forma abso-
dos cidadãos. lutamente prejudicial à produção e
De acordo com pesquisa da Fun- ao comércio”, afirma a economista
dação Getulio Vargas, em 2016 o Celina Ramalho. Ela lembra que o
total de computadores em uso no comércio eletrônico tem facilitado
Brasil somava 166 milhões, para a vida do consumidor ao baixar os
uma população de 207 milhões. preços dos produtos, já que os em- Lasier Martins faz alerta sobre a
automatização eletrônica no país.
São quatro computadores para cada presários não precisam arcar com os “Tudo depende da internet”, acredita
cinco habitantes. A mesma pesquisa custos de uma loja física.
mostrou que há 1,2 dispositivo mó- Até mesmo os serviços financei-
vel para cada habitante. ros têm investido no atendimento clientes e, consequentemente, re-
Dessa forma, o acesso aos meios por website ou aplicativo. O Banco ceita. Com a popularização do uso
eletrônicos já está incorporado ao do Brasil anunciou que, para eco- de streaming, os serviços de telefonia
comportamento da sociedade. Por nomizar, 402 agências serão fecha- e de TV por assinatura estão sendo
isso, interromper o tráfego de dados das em 2017 e a instituição passará substituídos por aplicativos gratui-
ou cobrar um valor mais alto para a oferecer contas exclusivamente on- tos, como WhatsApp, ou de baixo
o serviço ilimitado em um país que line, assim como o Nubank, uma custo, como Netflix.
caminha para a automatização ele- agência financeira eletrônica. De acordo com a Anatel, em
trônica seria prejudicial a inúmeras “Tudo depende do tráfego de 2016 foram canceladas mais de 1,8
atividades e serviços. dados na banda larga: bancos, cor- milhão de linhas telefônicas fixas
Na área jurídica, por exemplo, reios, comunicações, saúde, segu- no Brasil. Mesmo que tímida, a de-
os processos estão ligados à rede. rança pública, educação”, adverte o sistência do serviço de canais tam-
“Imaginem um advogado peti- senador Lasier Martins (PSD-RS). bém apresenta queda. Foram 311
cionando, num determinado mo- Por outro lado, as operadoras de mil assinantes a menos no último
mento, e a sua internet simples- telecomunicações estão perdendo ano.
“Hoje os grandes aplicativos dei-
Luiz Alves/Agência Senado

tam nas costas das operadoras, por-


que simplesmente, com banda larga
ilimitada, fazem o que querem”,
afirmou Carlos Duprat.
O Sind ic ato Naciona l d a s
­Empresas de Telefonia e de Servi-
ços Móvel Celular e Pessoal (Sindi-
Telebrasil), por sua vez, afirmou que
não vai se manifestar sobre o tema
e aguardará a conclusão da trami-
tação dos ­projetos para comentar o
assunto.

Comércio eletrônico pode ser


prejudicado com a franquia
limitada de dados

38 
abril de 2017
VAQUEJADA ???

Os principais debates do Senado Federal


VAQUEJADA ???
Ano 8 – Nº 31– Abril de 2017 Grandes temas nacionais
VAQUEJADA
Os principais debates do Senado Federal Ano 8 – Nº 31– Abril de 2017 Grandes temas nacionais
Criadores e vaqueiros
pelejam na arena política
VAQUEJADA

Criadores e vaqueiros
Diante da proibição imposta pelo STF, atividade
que nasceu das pegas de boi obtém vitória no
Senado: PEC dá à vaquejada status de prática
cultural não violenta

pelejam na arena política


Diante da proibição imposta pelo STF, atividade
que nasceu das pegas de boi obtém vitória no
Senado: PEC dá à vaquejada status de prática
cultural não violenta

A cada edição, a cobertura


aprofundada de assuntos debatidos no
Senado Federal e que afetam A cada
a vidaedição, a cobertura
aprofundada
de milhões de brasileiros. Leia esta e de assuntos debatidos no
Senado Federal e que afetam a vida
Resenha
O conflito em torno Desafios no caminho as demais edições também em
da banda larga fixa do acordo do clima
www.senado.leg.br/emdiscussaode milhões de brasileiros. Leia esta e
Resenha
O conflito em torno Desafios no caminho as demais edições também em
da banda larga fixa do acordo do clima
www.senado.leg.br/emdiscussao
REGULAÇÃO ECONÔMICA PRIVATIZAÇÃO DE PRESÍDIOS CÓDIGO AERONÁUTICO SANEAMENTO

Os principais debates do Senado Federal Ano 7 – Nº 30 – Dezembro de 2016


REGULAÇÃO ECONÔMICA PRIVATIZAÇÃO DE PRESÍDIOS
Os principais debates do Senado Federal Ano 7 - Nº 28 - julho de 2016
CÓDIGO AERONÁUTICO
Os principais debates do Senado Federal Ano 7 - Nº 27 - junho de 2016
SANEAMENTO
REGULAÇÃO ECONÔMICA

Senado amplia Os principais debates do Senado Federal Ano 7 – Nº 30 – Dezembro de 2016 Os principais debates do Senado Federal Ano 7 - Nº 28 - julho de 2016 Os principais debates do Senado Federal

papel da sociedade
nas agências federais REGULAÇÃO ECONÔMICA

Senado amplia
Integrante da Agenda Brasil, projeto aprovado em
comissão especial também procura coibir a influência papel da sociedade
nas agências federais SANEAMENTO
de ministérios e empresas reguladas nessas autarquias

A linha divisória
da saúde pública
CÓDIGO AERONáUTICO

Integrante da Agenda Brasil, projeto aprovado em


comissão especial também procura coibir a influência
de ministérios e empresas reguladas nessas autarquias
Os destinos da Epidemias provocadas pelo Aedes egypti SANEAMENTO

aviação no Brasil põe em xeque infraestrutura para águas,


esgoto e resíduos sólidos A linha divis
da saúde pú
Senado examina anteprojeto que racionaliza CÓDIGO AERONáUTICO
operações e capitaliza companhias aéreas

Desperdício de Resenha
Os destinos da Epidemias provocadas pelo Aedes egypti
Violência contra
aviação no Brasil
Resenha Resenha
Lei do Impeachment
Tarifas de põe em xeque infraestrutura para águas,
alimentos transportes públicos Impacto regulatório a mulher Aposentadoria esgoto e resíduos sólidos
Senado examina anteprojeto que racionaliza
operações e capitaliza companhias aéreas

Desperdício de Resenha
Resenha Violência contra Resenha
Lei do Impeachment
Tarifas de
alimentos transportes públicos Impacto regulatório a mulher Apos
PACTO FEDERATIVO O DESAFIO DA ENERGIA REFORMA POLÍTICA ESCASSEZ DE ÁGUA

PACTO FEDERATIVO O DESAFIO DA ENERGIA REFORMA POLÍTICA ESCASSEZ DE ÁGUA


Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 23 - dezembro de 2014
Os principais debates do Senado Federal Ano 6 - Nº 25 - junho de 2015

Os principais debates do Senado Federal


Os principais debates do Senado Federal Ano 6 - Nº 25 - junho de 2015

O DESAFIO DA ENERGIA EscassEz dE água

Saídas para cada gota


a geração de é preciosa
eletricidade O DESAFIO DA ENERGIA Falta de chuva evidencia insegurança Escass
Diante da crise hídrica, o Brasil debate
como diversificar a matriz e reduzir a Saídas para hídrica no país. Senado analisa soluções
ca
utilização de usinas térmicas
a geração de LEia também
ép
eletricidade
LEIA TAMBÉM Expansão da banda larga espera mais recursos
Reforma política avança no Senado Reforma política é prioridade na pauta de 2015 Falta de chu
Diante da crise hídrica, o Brasil debate hídrica no país.
como diversificar a matriz e reduzir a
utilização de usinas térmicas

LEIA TAMBÉM Expansão da banda


Reforma política avança no Senado Reforma política é p

RESÍDUOS SÓLIDOS ESPIONAGEM CIBERNÉTICA COPA DO MUNDO FINANCIAMENTO DA SAÚDE

Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 22 - outubro de 2014

RESÍDUOS SÓLIDOS
Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 21 - julho de 2014
ESPIONAGEM CIBERNÉTICA COPA DO MUNDO
Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 5 - Nº 19 - fevereiro de 2014
FINANCIAMENTO D
RESÍDUOS SÓLIDOS ESPIONAGEM CIBERNÉTICA

Lixões persistem Rede vulnerável


financiamento da saúde

Maioria das cidades ignora lei e agride


meio ambiente. Senado busca saída
Os principais debates do Senado Federal
Para CPI, é preciso aparelhar inteligência
nacional e melhorar gestão da internet
Ano 5 - Nº 22 - outubro de 2014 Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 21 - julho de 2014
À espera de resgate Revista de audiências públicas do Senado Federal

Com missão de oferecer serviços a todos, Sistema Único de Saúde tem


RESÍDUOS SÓLIDOS ESPIONAGEM CIBERNÉTICA menos dinheiro que a rede privada. Senado quer investimentos da União
Em Brasília, mais de 2,7 mil toneladas

Lixões persistem Rede vulnerável


de lixo são depositadas todos os dias,
a 16 km da Praça dos Três Poderes financiamento da saúde

Maioria das cidades ignora lei e agride


meio ambiente. Senado busca saída
Para CPI, é preciso aparelhar inteligência
nacional e melhorar gestão da internet
À espera de res
Com missão de oferecer serviços a todos, Sistema Ú
menos dinheiro que a rede privada. Senado quer in
Em Brasília, mais de 2,7 mil toneladas
de lixo são depositadas todos os dias,
a 16 km da Praça dos Três Poderes

REDISCUSSÃO
Peças de motos terão
padrão de qualidade
Veja também
Cadastro ambiental tira Código Florestal do papel PRÓXIMA EDIÇÃO

Na próxima edição, a escassez de água no país O futuro do lixo


REDISCUSSÃO
Peças de motos terão
padrão de qualidade
Veja também
Cadastro ambiental tira Código Florestal do papel PRÓXIMA EDIÇÃO

Na próxima edição, a escassez de água no país O futuro do lixo


EXISTEM
DOIS TIPOS
DE LEITORES
A Livraria do Senado é para todos

A Livraria do Senado disponibiliza livros digitais gratuitamente, além de títulos impressos


sobre legislação, história, entre outros temas, com preços acessíveis e frete grátis.
Acesse livraria.senado.leg.br.

Você também pode gostar