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Legislativo doa

R$ 30 milhões para
reerguer Petrópolis
P. 35

ANO 3 . Nº 6 . MARÇO/2022

LegislAqui é o
aplicativo criado
para receber leis de
iniciativa popular e
ampliar o acesso do
cidadão do estado do
Rio aos seus direitos
P.18

BOAS IDEIAS
NOVAS LEIS
2 DIÁLOGO
DIÁLOGO

Alerj mais perto de você

A
Assembleia Legislativa do Esta- Soberano, para mapear projetos vol-
do do Rio de Janeiro (Alerj) tem tados ao desenvolvimento do estado
buscado reforçar cada vez mais e pensar o Rio além do petróleo, que é
as ações de comunicação que uma matriz energética finita. O obje-
aproximam o Parlamento fluminense tivo é buscar outras fontes de recursos
da população. Nesta sexta edição da e reduzir a grande dependência, hoje,
Revista Diálogo, a reportagem de capa do chamado ´ouro negro´.
aborda a criação, pela Casa, do aplica- A revista perpassa por outros rele-
tivo LegislAqui. vantes assuntos como a mobilização,
Recém-lançada, essa nova ferra- liderada pela Casa, para impedir o es-
menta estimula e possibilita maior vaziamento do Aeroporto Tom Jobim
participação popular nas atividades – diante do impacto negativo da priva-
legislativas: os usuários do app têm a tização do Santos Dumont -; a impor-
oportunidade de enviar e apoiar boas tância do ingresso do estado no novo
ideias que poderão virar leis. O sistema Regime de Recuperação Fiscal (RRF); as
também permite ao cidadão consultar doações de recursos da Alerj em apoio a
medidas aprovadas pela Assembleia e ações sociais nas comunidades do Rio e
fazer valer seus direitos. para atendimento à população de rua;
A publicação detalha, ainda, o amplo a restauração do histórico Palácio Tira-
debate que a Alerj tem promovido em dentes, entre outros temas.
diversas regiões, por meio do Fundo Boa leitura!

EXPEDIENTE

diálogo
REVISTA DIÁLOGO É UMA PUBLICAÇÃO
TRIMESTRAL DA SUBDIRETORIA Editor de Fotografia
GERAL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Rafael Wallace
DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO Editor de Audiovisual
Fabiano Silva
Jornalista responsável
Cristiane Laranjeira Secretárias da Redação
Luciene Corrêa e Regina Torres
Editores
Presidente
Flávia Duarte e Marco Senna Estagiários
André Ceciliano
Ana Luiza Abreu, João Pedro Lima, Manuel
Coordenação e revisão Victor, Maria Eduarda da Costa, Petra Sobral
1o Vice-presidente - Jair Bittencourt Flávia Duarte e Marco Senna e Roberto Malfacini
2o Vice-presidente - Chico Machado
Equipe
3o Vice-presidente - Franciane Motta
Ana Paula de Deus, Buanna Rosa, Carol Silva,
4o Vice-presidente - Samuel Malafaia Eduardo Schmalter, GracielaVizzotto, Gustavo
Natario, Julia Passos, Juliana Mentzingen,
Leon Lucius, Líbia Vignoli, Manuela Chaves, Telefone: (21) 2588-1000
1o Secretário - Marcos Muller
Marco Stivanelli, Nivea Souza, Octacilio Rua da Ajuda, 5, sala 2603
2o Secretário - Tia Ju Barbosa, Renata Stuart, Tainah Vieira, Tiago Edifício Lúcio Costa - Centro
3o Secretário - Renato Zaca Atzevedo, Thiago Lontra e Vanessa Lima Rio de Janeiro/RJ - CEP
4o Secretário - Felipe Soares Impressão: Imprensa Oficial
Projeto gráfico Tiragem: 1,4 mil exemplares
Mariana Erthal
1o Vogal - Pedro Brazão www.alerj.rj.gov.br
2o Vogal - Dr. Deodalto Diagramação comunicacaosocial@alerj.rj.gov.br
Mariana Erthal @alerj
3o Vogal - Valdecy da Saúde
Daniel Tiriba @AssembleiaRJ
4o Vogal - Giovani Ratinho @instalerj

DIÁLOGO 3
SUMÁRIO
JULIA PASSOS
FUNDO SOBERANO
O Rio além do petróleo............................P.5

GALEÃO
Para o estado voar alto ..........................P.8

DESENVOLVIMENTO
Hora de planejar o futuro .......................P.11

LEGISLAQUI
Acesso às leis na palma da mão............P.15

COMBATE À COVID
A força da comunidade
na pandemia..............................................P.18

SEM TETO
Olhar sobre o desalento..........................P.20
DIVULGAÇÃO GIRL UP

MOBILIZAÇÃO SOCIAL
Dignidade menstrual:
direito de todas.........................................P.22

ATIVISMO
Poder negro contra o racismo..............P.24

PRÊMIOS ALERJ
Aplausos para quem faz o bem.............P.27

MEMÓRIA VIVA
Casa da Democracia revitalizada.........P.28
JULIA PASSOS

PATRIMÔNIO
Cultura em foco........................................P.30

NOVA GERAÇÃO
Vem aí a 13ª edição do Parlamento
Juvenil .......................................................P.33

SOLIDARIEDADE
Ao lado de Petrópolis..............................P.34

FOTOCRÔNICA
Rua do Lavradio.......................................P.35

4 DIÁLOGO
FUNDO SOBERANO

O Rio além do
PETRÓLEO

Alerj percorre interior mapeando Proposto inicialmente pelo presiden-


te da Alerj, deputado André Ceciliano
projetos para desenvolvimento do estado (PT), e aprovado por unanimidade na
Casa - o fundo vai dispor de parte dos
recursos excedentes da exploração do
T EXTO GUSTAVO NATARIO dente do “ouro negro”. Mais de 80% petróleo para investir em projetos de
FOTO BANCO DE IMAGEM das reservas provadas de petróleo do ampliação da base industrial e de in-
País - estimadas em 9,64 bilhões de centivo a outras atividades econômi-

O
mundo caminha para a mudança barris de óleo - estão em território cas, atraindo novos empreendimentos
rápida da matriz energética, na fluminense. O complexo do petróleo e diversificando a base produtiva.
qual o petróleo - uma das bases e do gás é responsável por 67,4% da “Eu chamo o Fundo Soberano de
principais da arrecadação do Rio produção industrial do estado. Mas passaporte para o futuro. É uma re-
de Janeiro - tende a se tornar inviável, quase toda a receita compensatória serva pública para financiar investi-
seja por imposição de medidas de con- - royalties e participações especiais mentos de infraestrutura, ciência e
trole ambiental ou pelo esgotamento - é usada para financiar a previdência tecnologia, novos produtos, projetos
das reservas. Atenta ao cenário futuro, dos servidores públicos. Dos 19,1 bi- que gerem emprego e riqueza. Para
a Alerj aprovou a Emenda Constitucio- lhões de receitas líquidas do petróleo que a nossa economia tenha fôlego
nal 86/21, que criou o Fundo Sobera- previstas no orçamento de 2022, 17,7 para ir além dos royalties. Temos que
no e a Lei Complementar 200/22 que o bilhões (92%) serão gastos no paga- diversificar a nossa base produtiva
regulamenta- reserva financeira para mento de aposentadorias e pensões. O para aumentar a receita, que é o nosso
investir no desenvolvimento econô- Fundo Soberano é uma iniciativa para grande problema”, afirma Ceciliano.
mico e social do estado. transformar essa realidade e pensar o A Alerj promoveu encontros em todas
Hoje, o Rio é extremamente depen- estado para além do petróleo. as regiões do estado, mediados pelo pre-

DIÁLOGO 5
FUNDO SOBERANO

sidente Ceciliano, com prefeitos e secre- Demanda semelhante foi apresen- O diretor administrativo da Itaguaí
tários municipais, empresários e enti- tada pelos empresários de Campos Construções Navais (ICM), Francisco
dades sociais para divulgar e esclarecer dos Goytacazes, onde a oferta do gás Matos Lima, apresentou o projeto do
sobre a aplicação do fundo. Sobretudo, poderá viabilizar a instalação de uma cluster da “Economia do Mar”, que já
as audiências têm servido para acolher fábrica de fertilizantes. Presente à tem interesse de 87 novas empresas e
propostas e aprofundar as discussões audiência pública, o pesquisador da 57 ações planejadas. “Criamos o polo do
sobre os entraves e as soluções para di- Empresa Brasileira de Pesquisa Agro- mar da Baía de Sepetiba, que conta com
namizar as economias regionais. pecuária (Embrapa) Solos, José Carlos universidades, governo e empresas. O
Polidoro, ressaltou que o Brasil é um objetivo é gerar sinergia e atrair negó-
PROJETOS ESTRUTURANTES dos maiores produtores do agronegó- cios. Um dos nossos objetivos é realizar o
Cinquenta dos 92 municípios do esta- cio no mundo, mas 80% dos fertili- submarino nuclear e criar cada vez mais
do participaram das discussões, rea- zantes utilizados são importados. navios de superfície. Temos potencial e
lizadas em Itaguaí, na Baixada Flu- "No último ano gastamos, R$ 10 bi- precisamos de investimentos”, afirma.
minense; Campos dos Goytacazes, na lhões com a compra de fertilizantes. A necessidade de integração do
Região Norte; Volta Redonda, no Mé- Recursos que poderiam ser injetados território ficou evidente quando as
dio Paraíba; Itaperuna, no Noroeste na nossa economia, caso produzissem audiências avançaram para o interior
e Cabo Frio, na Região dos Lagos. As esse material. Para o Rio sair na frente, do estado. Há necessidade de constru-
audiências têm o mérito de criar uma precisa de um plano para atração de in- ção de estradas para facilitar o trânsi-
agenda de discussões sobre a estraté- vestimentos para essa área e o Fundo vai to de turistas ou abrir caminho para
gia de desenvolvimento do estado. ajudar muito nisso", explica Polidoro. o trânsito de insumos, mercadorias e
Em Itaguaí, Ceciliano ouviu pleitos Atividades com grande capacidade de produtos agrícolas. No Médio Paraíba
como o da construção de uma nova atrair novos negócios, consideradas in- e no Noroeste, pavimentar rodovias e
rota de gasoduto, a 4b, para escoar o dutoras do crescimento econômico, de- estradas vicinais é consolidar o cami-
gás produzido no Campo de Bacalhau, vem ser o foco dos investimentos desses nho para o progresso. Na Região dos
na Bacia de Santos, passando por Ita- recursos. O primeiro aporte à poupança Lagos, a Estrada do Nelore, ligação
guaí, na Baixada Fluminense. pública de investimentos foi formaliza- entre Arraial do Cabo e Búzios, pode-
“Com a criação desse gasoduto é do, no fim de março, com valor de R$ rá favorecer também quem chega pelo
possível pensar na atração de indús- 2,1 bilhões previstos no Orçamento de Aeroporto Internacional de Cabo Frio
trias, inclusive de siderúrgicas e ter- 2022. A cerimônia contou com a pre- - que tem planos de expansão.
melétricas. Esse deve ser um com- sença do governador Cláudio Castro; do Na visita de Volta Redonda, empre-
promisso da Petrobras e dos governos. presidente da Alerj, André Ceciliano; de sários apresentaram a Ceciliano um
Cerca de 55% do gás produzido é secretários, deputados e representantes estudo de logística que, entre outras
reinjetado nos poços. A Baixada Flu- de entidades envolvidas. Entre os seto- obras, inclui a construção de uma li-
minense precisa de desenvolvimento res que podem ser beneficiados por uma gação de 80 quilômetros entre Barra
e emprego, sendo necessário investir política pública de geração de emprego Mansa e Itatiaia - o que desafogaria o
na periferia metropolitana”, destaca. e renda está a indústria naval. trânsito na Rodovia Presidente Dutra.
OCTACILIO BARBOSA

MÉDIO PARAÍBA: cidades apresentaram projetos viários para melhorar integração com a Região Metropolitana

6 DIÁLOGO
THIAGO LONTRA
“Todas as vezes que há acidente
na Dutra, a conexão entre as cidades
para. Congestionando as cidades",
descreve o presidente do Sindicato das
Empresas de Transportes de Cargas e
Logística do Sul Fluminense (SulCarj),
José Marciano de Oliveira.
O Noroeste carece de infraestrutura
básica, como estabilidade no forne-
cimento de energia elétrica, proble-
ma que poderá ser solucionado com a
construção de subestações e amplia-
ção da rede de transmissão. O inves-
timento emergencial para destravar a
capacidade produtiva das empresas
locais é estimado em R$ 40 milhões.
“Fiquei muito impactado com a
questão da energia, que pode ser re-
solvida com poucos recursos. O estado
abre mão de R$ 9 bilhões por ano em
incentivos fiscais e precisa resolver um MARICÁ: cidade usa recursos do fundo para financiar políticas públicas
problema de R$ 40 milhões comum a
cinco dos 13 municípios da Região No- MODELO DE SUCESSO municípios de Ilhabela, Maricá, Ni-
roeste. Estamos reunindo empresá- EM OUTROS PAÍSES terói e no Estado do Espírito Santo.
rios, o governo e a Enel para buscar- O Fundo Soberano contará com re- Maricá, na Região Metropolita-
mos uma solução ”, diz Ceciliano. cursos provenientes de 30% do au- na do Rio, foi o primeiro a criar a
mento de arrecadação dos royalties aplicação, em 2018, e dispôs de um
DIVERSIFICAÇÃO PRODUTIVA de petróleo, além de 50% das recei- saldo de R$ 633 milhões em 2021.
Presente aos encontros, a Assessoria tas recuperadas de Termos de Ajus- Segundo o secretário municipal de
Fiscal da Alerj elaborou levantamentos tamento de Conduta (TAC), decisões Planejamento, Orçamento e Ges-
que mostram as potencialidades e as ca- administrativas, judiciais ou indi- tão, Leonardo Alves, os recursos
rências de cada região, baseados nos da- ciamentos legislativos referentes à são utilizados, sobretudo, para a
dos oficiais disponíveis. O diagnóstico exploração de petróleo e gás. A pre- manutenção de programas sociais
geral é de que o estado precisa se indus- visão é de que ele seja usado como do município.
trializar e diversificar a base produtiva. um fundo de investimento e tam- “O objetivo é pensar a longo prazo
“O Estado do Rio de Janeiro perdeu, bém como reserva para momentos e, assim, resguardar o futuro da eco-
de 2015 para cá, 800 mil empregos com de crise, como a que o Rio viveu em nomia de Maricá, garantindo que as
carteira assinada. A queda de empre- 2016; quando o estado quebrou com atuais políticas públicas mantidas
gos com carteira assinada foi de 10%, a crise do petróleo. pelo governo municipal – ônibus
enquanto o Brasil cresceu. Somos o ter- O modelo já é adotado em paí- tarifa zero, bicicletas vermelhinhas
ceiro PIB per capita nacional, mas esta- ses que são grandes produtores de e a Moeda Mumbuca, entre outros
mos na 18ª posição com relação à receita petróleo, como Noruega, Canadá e – não sejam interrompidas caso o
estadual.Temos uma estrutura produti- Emirados Árabes. Mesmo no Brasil, município deixe de contar com esses
va oca e isso precisa mudar ”, analisa o há quatro fundos regionais - nos recursos”, explica.
diretor-presidente da Assessoria Fiscal,
o economista Mauro Osorio.
Apesar da forte dependência que o atividade - emprego, tecnologia, “A produção de petróleo diária atin-
estado tem do petróleo e do gás, boa ampliação de negócios e tributos - giu seu ponto máximo de dois milhões
parte da riqueza gerada por essa in- não são absorvidas como deveriam de barris por dia em 2010, declinando
dústria não se reflete em ganhos para o internamente, sobrando problemas gradativamente até 2014, com uma
Rio de Janeiro. O estado é responsável como os atuais - desindustrialização, queda mais acentuada a partir daí, em
por 85% da produção de petróleo, mas desemprego e aniquilamento das re- função da crise internacional que der-
apenas 20% dos fornecedores dessa ceitas orçamentárias”. rubou o preço do barril pela metade. O
cadeia produtiva estão localizados O economista do Nuperj, que acom- problema é que as despesas de custeio
aqui, conforme explica o diretor do panha os gastos com royalties e parti- dos municípios beneficiários de royal-
Núcleo de Pesquisa Econômica do Rio cipações especiais de petróleo no esta- ties e participações especiais não tive-
de Janeiro (Nuperj), vinculado à Uni- do, ressalta a dificuldade do governo e ram um comportamento semelhante
versidade Estadual do Norte Flumi- das prefeituras em lidar com a grande e a falta de planejamento gerou forte
nense (Uenf) Darcy Ribeiro, Alcimar volatilidade de receitas, devido à cri- crise fiscal nesses beneficiários e no
das Chagas Ribeiro: se no cenário internacional, além da estado”, afirma.
“É uma lógica perversa para o es- falta de planejamento na aplicação do
tado. As externalidades positivas da dinheiro das compensações.

DIÁLOGO 7
GALEÃO
DIVULGAÇÃO RIOGALEÃO
Parlamento lidera
mobilização para
impedir esvaziamento
do Aeroporto Tom
Jobim (Galeão)

TEXTO ROSAYNE MACEDO

O
movimento em defesa do Aero-
porto Internacional Tom Jobim,
o Galeão (GIG), liderado pela
Alerj, mobilizou, nos últimos
meses, autoridades, políticos de di-
versas correntes, entidades empresa- AEROPORTO INTERNACIONAL Tom Jobim recebeu, em 2012, mais de 17 mil
riais e ambientalistas. A preocupação é passageiros e, em 2021, esse fluxo caiu para pouco mais de três mil pessoas
garantir que a concessão, prevista para
2023, e que deverá incluir o Aeropor-

Para o estado
to Santos Dumont (SDU), estabeleça
uma operação complementar entre os
dois terminais. A concorrência entre

VOAR
eles é avaliada pelo grupo como extre-
mamente danosa ao desenvolvimento
econômico do Estado do Rio de Janeiro.
Para o presidente da Alerj, deputado
André Ceciliano (PT), a proposta ini-
cialmente elaborada pelo Ministério
da Infraestrutura (Minfra), por meio
da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac), põe em risco não apenas a com-

ALTO
petitividade logística do Galeão, princi-
pal porta de entrada dos voos interna-
cionais, mas a sobrevivência de toda a
cadeia produtiva industrial do estado.
“Estão quebrando o Galeão, que che-
gou a gerar mais de 20 mil empregos, e
hoje não passa de sete mil. É um crime
transferir os voos do Galeão para au-
mentar a outorga no leilão do Santos
Dumont. Quando a gente defende o
Galeão, a gente defende todo o Estado
do Rio de Janeiro, porque é o hub aé-
reo (centro de distribuição de voos)
que vai fazer as interligações de outros
aeroportos do Brasil inteiro. É impres- trato que, segundo a Changi, já somam mesmo depois de aderir ao benefício
cindível a união de forças para salvar o R$ 7,5 bilhões de perdas com a redução da redução do ICMS do querosene de
terminal”, afirma Ceciliano. do tráfego aéreo durante a pandemia. aviação aprovado pela Alerj, contribui
Aperda de relevância do Tom Jobim, A notícia não poderia ser pior para a fortemente para inviabilizar o Galeão.
que já ocorria antes da pandemia, levou economia do Estado do Rio de Janeiro e Principalmente, após o anúncio do
a empresa de Singapura Changi, que para a imagem do Brasil. Na esteira des- grupo Changi de sair da operação, no-
controla a concessionária RioGaleão, a sa decisão, a empresa aérea Gol decidiu tícia péssima para quem quer investir
informar à Anac que anunciou desistên- transferir parte dos seus voos do Galeão no Brasil. Não há como abrir mão do
cia do negócio. O órgão negou pedido da para o Santos Dumont. terminal que tem a melhor infraestru-
empresa para rever o equilíbrio do con- “A decisão da companhia aérea, tura para transporte de carga e passa-

8 DIÁLOGO
RAFAEL WALLACE
Galeão, sendo boa parte dela levada na
“barriga” de aviões comerciais.
A concessionária RioGaleão ressal-
tou que, quando assumiu o aeroporto,
30% da carga chegava por São Pau-
lo, contribuindo para a arrecadação
de ICMS de lá, e vinha de caminhão
para o Rio. A redução do movimento
ameaça a permanência de empre-
sas que atuam no terminal. O Tom
Jobim abriga, por exemplo, a GE
Aviation Brasil (GE Celma), uma das
mais conceituadas oficinas de avia-
ção mecânica do mundo e uma das
principais empregadoras do setor.

MODELO DE CONCESSÃO FOI


CRITICADO
DEPUTADOS e técnicos realizaram visita técnica ao Aeroporto do Galeão. A proposta inicial da 7ª Rodada de
Assessoria Fiscal da Alerj enviou estudo sobre o edital à Agência de Aviação Licitações de Aeroportos incluía o
Santos Dumont num pacote com os
terminais de Jacarepaguá, no Rio de
geiros. Isso é fruto de má vontade com nador hoje tem menos passageiros que Janeiro, Montes Claros, Uberlândia
o Rio. Uma perversidade da Anac, que os aeroportos de Guarulhos, Brasília, e Uberaba, em Minas Gerais. Com
está omissa na coordenação dos aero- Campinas, Congonhas, Recife, Confins, a pressão contra o edital, a Anac re-
portos”, lamenta Ceciliano. Salvador e Porto Alegre. Conta com ape- solveu leiloar o aeroporto do Centro
Diante da saida da Changi, o Minis- nas 23 conexões domésticas, contra 62 em separado. O valor de lance ini-
tério da Infraestrutura decidiu adiar em Campinas, 61 em Guarulhos, 42 em cial previsto era de, no mínimo, R$
para 2023 a licitação que ocorreria Confins, 42 em Brasília, 40 em Congo- 355 milhões, e o contrato de 30 anos.
este ano. A proposta agora é de que nhas, 39 em Porto Alegre, 36 em Recife, Uma nova proposta deve ser elabora-
Galeão e Santos Dumont sejam lei- e 31 em Salvador. Estudo realizado pela da juntando Santos Dumont e Galeão.
loados em conjunto. O edital anterior Prefeitura do Rio demonstra que a falta Pela proposta original do Minfra,
vinha sofrendo críticas de políticos e de coordenação entre os aeroportos fez que passou por consulta pública en-
representantes de setores empresa- com que a cidade tivesse desempenho tre setembro e novembro, o SDU
riais, que chegaram a formar um gru- pior que a média nacional na retomada poderia ampliar seus voos domés-
po de trabalho - com a participação dos voos pós-pandemia. Em novembro ticos - dos 10,1 milhões projetados
da Alerj, do Governo do Estado, da de 2020, enquanto o país recuperou 60% para 2023 para 14,6 milhões previs-
Prefeitura do Rio e representantes das da oferta de assentos existentes antes da tos para 2052, prazo final da conces-
empresas aéreas - para discutir a mo- chegada da covid-19, o Rio recuperou só são. O ministério argumenta maior
delagem da concessão. O argumento 50%. No Santos Dumont, a retomada foi interesse dos passageiros em voar a
contrário à proposta do Governo fe- de 62%, enquanto no Galeão, de 33%. partir do Santos Dumont. Mas oposi-
deral era de que o fluxo de passageiros A redução do fluxo de passageiros afeta tores do modelo de concessão dizem
do Rio não comporta dois aeroportos diretamente o transporte de cargas e a que os números apresentados pela
concorrendo por voos internacionais. receita do aeroporto, pasta não são tecnicamente factíveis
com reflexo também e não dimensionam os impactos ne-
IMPACTO DA PANDEMIA na arrecadação de gativos da mudança sobre a econo-
NO SETOR impostos pelo estado. mia do estado. Para o presidente da
O Galeão, que em 2012 chegou a ter um Atualmente, 86% da Alerj, o Governo Federal tem que ou-
movimento de 17.294.761 passagei- carga aérea domésti- vir não só passageiros e companhias
ros/ano, em 2021, viu o fluxo cair para ca movimentada são aéreas, mas o estado, municí-
3.094.280, contra 5.911.081 do Santos transportadas pelo pios e as forças produtivas.
Dumont. O terminal da Ilha do Gover- Aeroporto do Para ele, é fundamental que

DIÁLOGO 9
GALEÃO

DIVULGAÇÃO
os dois aeroportos atuem de forma
complementar: "Se o Santos Dumont
puder operar voos regionais e interna-
cionais, haverá uma concorrência que
vai prejudicar o hub, a nossa conexão
com os outros estados e com o resto do
mundo, quebrando o Galeão.
A Assessoria Fiscal da Alerj elaborou
nota técnica sobre a questão, propondo
que os voos do SDU sejam limitados a
um raio máximo de 500 km, fazendo
conexão com demais capitais do Su-
deste e mantendo a conexão direta com
Brasília. Desta forma, evita-se a con-
corrência predatória. Para o deputado
Luiz Paulo (PSD), o modelo proposto PROJETO PREVÊ ampliação das pistas do Aeroporto Santos Dumont
para o leilão do SDU é frágil e reflete
uma “política arrecadatória da outorga” ALERJ SUGERE QUE ESTADO quências negativas da decisão da
praticada nas concessões de aeroportos. ASSUMA A LICITAÇÃO empresa Changi de deixar a ope-
“Representantes do Governo Federal A Alerj enviou à Agência Nacional de ração no Galeão. Primeiramente,
desconhecem que o Rio está no Regime Aviação Civil (Anac) e ao Tribunal de o desestímulo para captação de
de Recuperação Fiscal e para cumpri-lo Contas da União (TCU) documento novos investidores internacionais.
precisa de um Plano Estratégico de De- solicitando que a concessão do San- Ele acredita que o grupo atual ficará
senvolvimento. A proposta do Governo tos Dumont seja realizada pelo Go- até a realização da nova licitação,
Federal é arrecadatória, não pensa no verno do Estado, como ocorreu com mas, provavelmente, não fará in-
estado, na capital e nos outros 91 muni- o terminal de Pampulha, em Minas vestimentos ou reduzirá gastos em
cípios fluminenses. Agride o pacto fede- Gerais. Uma comitiva do Parlamen- manutenção.
rativo, desrespeita prefeitos municipais to fluminense - representada pelo “Há obrigação de devolver os in-
e governo do estado”, critica Luiz Paulo. presidente Ceciliano, o deputado vestimentos já feitos. Como, pos-
Luiz Paulo (PSD), o diretor-geral, sivelmente, terá que ser abatida da
ENTIDADES TEMEM PREJUÍZO engenheiro Wagner Victer, e o dire- futura outorga parte do que foi in-
AO TRANSPORTE DE CARGA tor-presidente da Assessoria Fiscal, vestido pelo grupo de Singapura, os
O senador Carlos Portinho (PL), que economista Mauro Osório - realizou valores a serem obtidos pelo Gover-
participou ativamente do debate, res- visita técnica ao GIG, em novembro. no na nova concessão serão mui-
salta a importância do Galeão para o “O Santos Dumont concentra, to menores do que os do contrato
desenvolvimento estratégico do esta- atualmente, mais que o triplo do de concessão atual”, avalia Victer. 

do e da cidade do Rio. “A possibilidade, número de voos do Galeão e as con- Recentemente, a Alerj aprovou me-
a se confirmar a saída do operador, de sequências têm sido nefastas para a dida para reduzir o impacto da crise
unir num mesmo bloco de concessão economia fluminense. Não só com o econômica sobre o setor da aviação
GIG e Santos Dumont (SDU) milita a fechamento de terminais do Galeão no estado. A Lei 9.281/21 reduziu de
favor do bom funcionamento do siste- como pelo fim do sistema de hub, 13% para 7% a alíquota do ICMS na
ma multiaeroportos no Rio de Janeiro. prejudicando atividades voltadas venda do querosene de aviação, até
Isso facilitará a discussão e a operação à própria geração de empregos 2035, para empresas que operam
dos equipamentos de forma harmô- no tradicional conceito de “Aero- nos terminais do Rio de Janeiro. O
nica e complementar, geridos por porto Indústria”, destaca Victer. combustível pode chegar a 40% dos
um mesmo concessionário”, disse. O diretor da Alerj aponta conse- custos de voo.
Um estudo da Federação das Indús-
trias do Estado do Rio de Janeiro (Fir-
jan) aponta que a coordenação opera- das para a economia fluminense, em apresentou denúncia no Tribunal de
cional entre os dois aeroportos elevaria especial para o transporte de cargas. Contas da União (TCU) com pedido
em 0,6% o PIB estadual, o equivalente “Essa competição entre os dois ae- de medida cautelar para suspender
a R$ 4,5 bilhões. Segundo a entidade, roportos se torna insustentável e traz a licitação, alegando irregularidades
SDU e GIG constituem um sistema um prejuízo enorme para viajantes, no edital, coordenado pela Agência
multiaeroportos, atendendo a uma que têm opções reduzidas, e para o Nacional de Aviação Civil (Anac). A
mesma região - a Região Metropoli- transporte de cargas, que está ligado justificativa apresentada na ação do
tana do Rio de Janeiro. Atualmente, a esses voos”, avalia o vice-presidente Parlamento foi de que a instalação de
uma série de destinos já são servidos a da Firjan, Luiz Césio Caetano. estacas nas pontas das pistas sobre a
partir do SDU e do GIG, prejudicando A Alerj aprovou decreto legislativo Baía de Guanabara é ilegal, vedada
a conectividade do aeroporto inter- que cassou a licença prévia emitida pela Constituição Federal e pela Lei
nacional. Ainda de acordo com o es- pelo Instituto Estadual do Ambiente Estadual 1.700/90.
tudo, a competição desenfreada entre (Inea) para as obras de ampliação das
os aeroportos ocasiona perdas profun- pistas do Santos Dumont. Também

10 DIÁLOGO
DESENVOLVIMENTO

HORA DE PLANEJAR O

FUTURO
Ingresso no Novo Regime de Recuperação Fiscal é fundamental para
que o estado volte a investir em projetos que gerem emprego e renda
T EXTO LEON LUCIUS do Estado com o Ministério da Eco- pelo Governo do Estado conseguiram
FOTO JULIA PASSOS nomia. A proposta foi amplamente assegurar direitos já adquiridos pelos
discutida no Parlamento fluminense atuais servidores.

O
plano elaborado para que o Rio com representantes dos Três Poderes, Se o plano traz amarras do ponto de
de Janeiro volte a ingressar no em dez audiências públicas e reuniões vista da gestão administrativa, com
Regime de Recuperação Fis- realizadas com a participação de di- a exigência de contrapartidas que li-
cal (RRF) chegou a Brasília, em versas categorias do funcionalismo. mitam o teto de gastos, também as-
dezembro, e ainda depende de nego- Ao fim, mudanças realizadas pela segura alívio temporário aos cofres do
ciações de alguns pontos do Governo Alerj no texto original, enviado à Casa estado, com renegociação da dívida

DIÁLOGO 11
DESENVOLVIMENTO

com a União. Parlamentares, econo-


mistas e técnicos do governo concor-
dam que o ingresso é imprescindível
e traz a oportunidade para que o Rio
de Janeiro retome a capacidade de fa-
zer investimentos que promovam o
desenvolvimento socioeconômico a
longo prazo.
Com o plano, a atual dívida de R$ 172
bilhões com a União será parcelada.
Entre 2022 e 2023, o pagamento será
de R$ 6,9 bilhões. O prazo se esten-
derá por 30 anos, até 2051. O Governo
do Estado apresentou um conjunto de
13 medidas que, ao serem implemen-
tadas, têm previsão de geração de R$
103,9 bilhões de receita até 2030.
No cálculo entram recursos que o
estado espera recuperar a partir do
trabalho realizado pela CPI dos Ro-
yalties e Participações Especiais,
criada pela Alerj para aumentar a fis-
calização sobre deduções de receitas
pelas petrolíferas. Os ganhos previs-
tos com essa revisão chegam a R$ 25
bilhões, segundo o relatório final da
CPI. A arrecadação mensal vem me-
lhorando, desde que foram fortaleci-
dos os instrumentos de controle sobre AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
essas contas. de discussão do
“Foram nove meses de investiga- Plano contaram
ção sobre os abatimentos absurdos com participação
das participações especiais. O Esta- de repesentantes
do do Rio de Janeiro, os municípios de todos os Poderes
produtores e a própria União vinham
sendo espoliados e precisam ser trata-
dos com respeito que merecem", co-
menta o deputado Luiz Paulo (PSD),
presidente da CPI e da Comissão de
Tributação.
A possibilidade de recuperação de JULIA PASSOS
parte dessas deduções terá forte im- nos próximos dez anos, com geração
pacto na melhoria das finanças. Já de 800 mil empregos diretos e indire-
a securitização da dívida ativa pode tos no estado.
render aos cofres públicos R$ 44,85 “O objetivo do Plano de Recupe-
bilhões. “Com esses recursos, vamos ração Fiscal é qualificar esses gastos,
criar um fundo no mercado financei- sem desapegar do controle que é ne-
ro. A partir dele, entregar cotas desses cessário. O compromisso com o ajuste
ativos para o Governo Federal. Espera- fiscal é indispensável e a recuperação
mos que, nos próximos anos, a dívida econômica está no emprego e na ge-
do estado seja paga dessa forma, não ração de renda. Isso se faz com gasto
com a arrecadação, que deve ser des- público”, defende Sobral.
tinada para investimentos públicos”,
explica o subsecretário de Política Fis- JANELA DE OPORTUNIDADE
cal do Estado do Rio, Bruno Sobral. Do ponto de vista financeiro, o esta-
A rigidez do Regime de Recuperação do está num momento favorável, uma
Fiscal não impede que o governo pla- janela de oportunidade, para o plane-
neje ampliar os gastos públicos com jamento de ações de desenvolvimento
foco em projetos de efeito multiplica- com vistas ao futuro. Pela primeira vez
dor, que gerem aumento de arrecada- em cinco anos, o orçamento não prevê
ção. No total, a Secretaria de Fazenda déficit. Contribuíram para esse cená-
prevê R$ 44 bilhões de investimentos rio também a concessão da Cedae, que

12 DIÁLOGO
JULIA PASSOS
garantiu ao Governo do Estado e aos de Janeiro precisa de uma estratégia
municípios que aderiram ao edital um integrada de desenvolvimento regio-
valor total de outorga de R$ 24 bilhões nal. O estado tem uma estrutura eco-
para investimentos. nômica desarticulada e uma indústria
Diferentemente do Plano de Recu- rarefeita. Enquanto Santa Catarina
peração Fiscal firmado em 2017, cuja tem hoje quase 30% dos postos de
diretriz principal foi o corte de despe- trabalho formal na indústria, no Rio,
sas, a nova versão corrige o foco para esse percentual é de apenas 9%. Os
o aumento de receitas. “O problema catarinenses enfrentam uma taxa de
do Rio não é de despesa. Tem sim que desemprego de 5,8%. Para os flumi-
melhorar os gastos, mas o problema nenses, ela já ultrapassa 18%, acima
é principalmente de receita. Somos inclusive da média nacional, de 14%.
o terceiro PIB per capita do país, mas Desde 2017, a taxa de desemprego no
ficamos em 18º na receita corrente Rio é maior que a média nacional.
líquida e em 13º na arrecadação de “Mesmo nesse cenário de crise,
ICMS”, comenta o diretor da Asses- Santa Catarina tem se sustentado.
soria Fiscal, Mauro Osorio. Grandes empresas estão no estado
O economista destaca como bons com competitividade internacional.
investimentos estruturantes, para Elas não são enclaves para a economia,
alavancar o setor produtivo e atrair são amplas, com uma cadeia de forne-
novos negócios: obras de infraes- cedores articulada”, comenta Osorio.
trutura; incentivos à expansão do A indústria da Saúde, que hoje gera
Complexo Industrial da Saúde; o se- 400 mil empregos diretos no estado,
tor de petróleo e gás; e a distribuição é um exemplo de setor que precisa ser
da cobertura do 5G para o interior do incentivado. Atualmente, o país im-
estado, além de ações que favoreçam porta cerca de R$ 20 bilhões por ano
o ambiente de negócio nos setores de em equipamentos e material de con-
serviços, cultura, entretenimento, sumo, o que se evidenciou na pande-
turismo e esporte. mia. “Podemos atrair empresas para o
Apesar das limitações impostas pelo Rio de Janeiro, com compromisso de
RRF, o Parlamento fluminense tem compra por 20 anos e a possibilidade
conseguido contribuir com a aprova- de transferência de tecnologia, como
ção de medidas para dar dinamismo a fez a Fiocruz”, sugere.
diversos setores econômicos. Entre as
ações estão a redução das alíquotas de SERVIDORES NA MESA
ICMS para bares e restaurantes, a isen- DE NEGOCIAÇÃO
ção de imposto na conta de luz de pro- Diferentemente de 2016, quando a
dutores rurais e a criação de margem Alerj discutiu e votou a adesão ao pri-
de preferência para fármacos produ- meiro RRF ao som de bombas de efei-
zidos no estado. A estratégia para não to moral e com a sede do Parlamento
ferir as regras do regime é replicar aqui fluminense cercada por grades, o cli-
as alíquotas que já são praticadas pe- ma em 2021 foi de diálogo aberto com
los vizinhos do Sudeste e, por vezes, representantes dos três Poderes e de
condicionar os benefícios à análise do diversas categorias de servidores.
impacto econômico. “A Alerj realmente se debruçou so-
"O Rio precisa dar a volta por cima e bre esse tema. Quando você aprova
nós, deputados, independentemente leis que são frutos de discussão, você
de partidos e ideologias, trabalha- entra para negociar em um outro pa-
A negociação não mos e continuamos neste esforço tamar, mostrando qual é o limite do
é para o Rio se conjunto para garantir a competiti- Estado. A negociação não é para o Rio
curvar. Isso não vidade necessária na guerra fiscal que se curvar, isso não é federalismo. Com
enfrentamos contra outros estados essas leis, o estado tem argumento
é federalismo. do Sudeste", destaca Ceciliano, que para ser um negociador melhor, mais
Com essas leis, percorrido todas as regiões do esta- qualificado, e aí a gente consegue
o estado tem do para divulgar o Fundo Soberano e condições melhores para a entrada no
identificar demandas e potencialida- regime. Sem as leis, seriam as condi-
argumento para des de crescimento que precisam do ções que a União impusesse”, analisa
ser um negociador apoio do estado. a defensora pública Maria Carmen de
melhor” Sá, que representou os servidores do
FORTALECIMENTO órgão nas audiências.
Maria Carmem de Sá DA INDÚSTRIA Uma das principais conquistas dos
Defensora pública Para o economista Mauro Osorio, o Rio servidores e do Parlamento foi a apro-

DIÁLOGO 13
DESENVOLVIMENTO
THIAGO LONTRA
vação da Lei 9.436/21, que permitiu a
recomposição salarial desde 2017, com
previsão de reajuste de 26%, com rea-
juste inflacionário anual. O abono de
permanência para servidores aposen-
tados e a execução dos Planos de Car-
gos, Carreiras e Salários da Defensoria
Pública e da Saúde (PCCS).
O Plano também garantiu a manu-
tenção do triênio para os servidores
atuais, manteve as licenças (que pode-
riam ser extintas), as regras de pensão
por morte (que corriam risco de serem
alteradas) e suavizou as regras de tran-
sição para a nova aposentadoria.
A manutenção do triênio - adicio-
nal por tempo de serviço concedido a
cada três anos aos servidores estaduais
- e o teto de gastos ainda são um ponto DEPUTADOS DEBATERAM pontos críticos da proposta enviada pelo Governo
em discussão entre o Governo do Esta-
do e a equipe econômica do Ministério mas também vamos ter de gastar mais
da Economia. com pessoal para criar de fato um ciclo
A Alerj trabalhou pelo que entendeu virtuoso e não ficar enxugando gelo",
ser o melhor cenário possível. Pelo finaliza Osorio.
texto aprovado, o teto de gastos para O documento enviado pela Secreta-
2022, que aumentou para R$ 71,6 bi- ria de Estado de Fazenda prevê, como O objetivo do Plano
lhões, será aferido globalmente e não exceção do regime, 38 concursos
de forma individual, por cada Poder. para diversas áreas do Poder Público
de Recuperação Fiscal
“Se o teto fosse apurado por insti- - além das contratações temporárias é qualificar esses
tuição, e não globalmente, a Defenso- e de reposição dos cargos que sejam gastos, sem desapegar
ria Pública teria que fechar comarcas. essenciais aos serviços públicos. Os
Porque o orçamento de 2018, mesmo deputados definiram em lei que se-
do controle que é
com a correção inflacionária, foi me- rão reconhecidas todas as vacâncias a necessário”
nor que o de 2021. Se uma instituição partir de 06 de setembro de 2017, data
passar do teto, ela pode se compensar de adesão ao primeiro regime. Bruno Sobral
com alguma outra área que não execu- Subsecretário de Política Fiscal do Estado
tou o orçamento todo. Isso é possível”,
explica Maria Carmen.

ACOMPANHAMENTO DO REGIME MATRIZ PARA GUIAR O (PSD) ressaltou que a nova matriz é
Enquanto os técnicos do Conselho de DESENVOLVIMENTO 'revolucionária' ao permitir o plane-
Supervisão do Regime de Recuperação O Estado do Rio vai ganhar um ins- jamento estratégico do estado, aju-
Fiscal acompanham o cumprimento trumento fundamental para plane- dando a produzir, propor e avaliar
das medidas, ao estado cabe a adap- jar o desenvolvimento econômico. A políticas públicas. O estudo conta
tação da estrutura pública às novas Alerj assinou convênio, em fevereiro, com o apoio da Assessoria Fiscal da
regras. A defensora Maria Carmen de com economistas da Universidade Casa. Além de analisar, por exemplo,
Sá cita como exemplo a proibição da Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da a receita tributária e os empregos
conversão de licenças em pecúnia. Universidade Federal Rural do Rio gerados em determinado segmento
“Agora, Poderes vão ter que se orga- de Janeiro (UFRRJ) para a elabora- econômico que recebe incentivos
nizar para que aquele servidor possa ção de uma Matriz de Insumo-Pro- fiscais do estado, a MIP vai ajudar na
gozar dessas licenças, já que ele não duto (MIP). O estudo vai fornecer elaboração de projetos de lei e outras
poderá ser indenizado pelos períodos visão detalhada das relações entre legislações, como o Plano Pluria-
aos quais ele tinha direito, mas não os setores da economia ao registrar nual, a Lei de Diretrizes Orçamen-
pode usufruir”, comenta. os fluxos de bens e serviços. É mais tárias (LDO) e a Lei Orçamentária
O plano prevê revisão das exigên- uma contribuição do Legislativo para Anual (LOA).
cias a cada dois anos. A depender do melhorar o estado adensar a sua ca- O Rio é hoje o estado que menos
desempenho econômico do estado, deia produtiva e aumentar a receita. cresce em todo o país. Entre 1985 e
algumas dessas amarras poderão ser A última vez que o estado contou 2020, a cidade do Rio teve um cres-
flexibilizadas futuramente. Para Mau- com uma MIP foi em 1996. cimento no número de empregos de
ro Osorio, um dos pontos de atenção é Presidente da Comissão de Tribu- apenas 6%, enquanto o país aumen-
a estrutura do serviço público. tação da Alerj, o deputado Luiz Paulo tou a oferta em 125%.
“Vamos precisar de mais receita,

14 DIÁLOGO
LEGISLAQUI

ACESSO ÀS LEIS NA
PALMA DA MÃO
T EXTO BUANNA ROSA E
GUSTAVO NATARIO
ARTE MARIANA ERTHAL

O aplicativo

U
m novo canal de
relacionamento di- LegislAqui recebe
reto com o Legis-
lativo permite que
propostas dos
o cidadão proponha leis,
consulte normas que as-
cidadãos para
seguram seus direitos e tire melhoria do estado
dúvidas sobre a atuação da
Alerj. O portal LegislAqui
reúne aplicativo dos siste-
mas Android, IOS e site, e já
pode ser baixado e acessa-
do. A abertura da Alerj para
as Leis de Iniciativa Popular
era uma das metas da Casa
para aproximar ainda mais o
público do trabalho do Par-
lamento fluminense, e foi
aprovado pela Resolução Le-
gislativa 09/19.
O Parlamento é a represen-
tação do povo e é impor-
tante que se tenha um
canal eletrônico para
que o cidadão apre-
sente propostas de
interesse público.
Todas as sugestões
apresentadas no Le-
gislAqui são avaliadas e
compõem um banco de
dados. As boas ideias
poderão ser adota-
das pelos parlamenta-
res como projetos de lei.
O sistema recebeu, até
março, 457 proposições de cida-
dãos, até fevereiro, e tem 23 em pro-
cesso de votação popular. São levadas
ao apoiamento aquelas ideias que têm
consistência jurídica para virarem leis.
Apesar de a maioria vir de cidadãos
da Capital, a oportunidade de sugerir
propostas está aberta a moradores de
todo o estado. Transporte, educação

DIÁLOGO 15
LEGISLAQUI

e segurança pública são os temas que


mais têm mobilizado as pessoas a en-
viar contribuições.
As propostas que atingem os 1.700
apoiamentos necessários são encami-
nhadas à Comissão de Normas Inter-
nas e Proposições Externas da Alerj,
que realizará audiências públicas so-
bre as sugestões e, caso preencha os
requisitos técnicos e jurídicos, trami-
tará como um projeto de lei na Casa,
sendo votado pelos deputados.
Subdiretora do Departamento de
Apoio às Comissões, Alyne Pimentel
explicou como é o trâmite das propo-
sições feitas pelos cidadãos: “A popu-
lação sempre teve boa participação na
Alerj, por meio dos debates das audi-
ências públicas, do acompanhamen-
to das sessões e até no contato direto
com os gabinetes dos parlamentares.
Agora, os cidadãos também podem ser
coautores das leis. As propostas apre-
sentadas são analisadas inicialmente
por um corpo técnico, para ver se são
constitucionais ou se tratam de tema
de competência de outro ente federa-
tivo. Isso é normal no Legislativo. De-
pois dessa etapa, o projeto passa pelas
comissões, para receber melhorias,
ser debatido e seguir todo o processo
legislativo normal”, esclarece Alyne.
A equipe do Legislaqui é qualifica-
da, conta com profissionais de comu-
nicação, tecnologia da informação,
comissões e da assessoria jurídica. O
sistema será aprimorado conforme fo-
rem as necessidades, para que ele seja
cada vez mais acessível e fácil de ser
utilizado pela população.

CURTA E COMPARTILHE
O APLICATIVO CAMPANHA INCENTIVA participação popular nos trabalhos do Legislativo
Ao se cadastrar no sistema, o cidadão
envia sugestões de projetos de lei,
além de criticar, curtir, descurtir e mais constante e profunda”, explica do categorizadas por assunto, nome
apoiar as propostas enviadas por ou- o especialista. da pessoa e CPF. Com isso, é possível
tros usuários. As sugestões também Santoro ainda lembrou que, desde fazer um levantamento das pergun-
poderão ser compartilhadas nas redes a década de 90, uma série de países tas e enviar as respostas com ainda
sociais. Os números de acessos, curti- adotaram a tecnologia de informação mais celeridade. Além de viabilizar
das e os comentários registrados serão para aproximar eleitores. “O caso mais o melhor contato da sociedade com o
um termômetro de avaliação das pro- abrangente é o da Estônia, um peque- Legislativo, o LegislAqui permite que
postas encaminhadas. no país da Europa, onde os cidadãos os deputados tenham acesso às mani-
Para o cientista político e professor podem acompanhar todos os projetos festações sobre os temas em debate na
da Universidade do Estado do Rio de de lei”, contextualiza. Casa e conheçam o perfil da sociedade
Janeiro (UERJ), Maurício Santoro, o engajada nos processos políticos.
portal aproxima o cidadão e a Alerj. NOVA FERRAMENTA Na área de consulta de leis, o usu-
“Com frequência, o vínculo dos elei- DE COMUNICAÇÃO ário pode pesquisar por assunto os
tores com os parlamentares se limi- O novo sistema também vai moderni- principais direitos estabelecidos em
ta à campanha eleitoral. Com uma zar o WhatsApp da Alerj. Mensagens leis pela Alerj. O app e site possibili-
ferramenta como essa, melhoram as enviadas ao Parlamento pelo aplica- tam favoritar e disponibilizar o con-
oportunidades para uma conversa tivo, através do Alô Alerj, estão sen- teúdo das normas de interesse, como

16 DIÁLOGO
A população sempre
teve boa participação
na Alerj, por meio
dos debates das
audiências públicas, do
acompanhamento das
sessões e até no contato
direto com os gabinetes
dos parlamentares.
Agora, os cidadãos
também podem ser Pazos, procurou a deputada Martha
BOAS PROPOSTAS JÁ
coautores das leis” DISPONÍVEIS PARA APOIO Rocha (PDT) para propor a ideia da
Uma das iniciativas com o maior tipificação de roubo ou furtos no bo-
Alyne Pimentel letim de ocorrência.
número de apontamentos é a que
Subdiretora do Departamento pretende assegurar o livre acesso a “Também ajudei na redação final
de Apoio às Comissões montanhas, rios, cachoeiras, caver- da proposta apresentada em plená-
nas e outros sítios naturais públicos. rio, que virou lei em 2015. A norma
O ambientalista de Petrópolis, Julian facilita o conhecimento e a apuração
a Lei 2.051/92, que garantiu entrada Kronenberg, argumenta que, nos específica desses crimes, que antes
gratuita para pessoas com deficiên- últimos anos, tem crescido o fecha- eram contabilizados como roubo e
cia em estádios esportivos, ou a Lei mento desses locais por construções furto a transeunte ou outros”, de-
8.269/18, que possibilitou o licencia- ou urbanizações projetadas para clara Pazos.
mento anual de veículos pela internet. restringir o acesso apenas aos seus O Instituto Lusófono de Inclusão
Esta parte foi dividida em cinco ca- moradores. Ele elogiou a adoção do Social (Ilis) apresentou à Alerj um
tegorias: serviços, transporte, lazer, aplicativo pela Alerj. projeto para reconhecer, em ter-
compras e saúde. Inicialmente, como "O LegislAqui é uma ótima inicia- ritório fluminense, a condição da
o mundo ainda atravessa a pandemia tiva.Dá até orgulho de ser um cida- visão monocular como uma defici-
do coronavírus, o aplicativo também dão fluminense", afirma. ência, e assim estabelecer priorida-
tem uma aba específica sobre o tema, A implantação de composteiras des no atendimento ambulatorial.
com leis relevantes aprovadas espe- orgânicas em escolas da rede públi- A proposição foi discutida pelos
cificamente para este período. O app ca estadual também é outra propos- deputados, seguindo os trâmites do
está abastecido com mais de 340 leis ta popular.O autor argumenta que Legislativo, e se transformou na Lei
para consulta da população e é atua- a iniciativa reforça a educação am- 8.406/19.
lizado periodicamente. biental como parte da formação do “Em uma prova de emprego, fa-
A área de consulta de leis e de mo- cidadão, o que deve ser incentivado lavam que você é deficiente e não
dernização das mensagens está a car- no ambiente escolar. pode trabalhar. Já nos órgãos de as-
go da Subdiretoria de Comunicação A participação dos cidadãos flu- sistência, negavam a sua deficiên-
Social da Casa. “O nosso principal ob- minenses na criação de projetos cia. Essa pessoa ficava sendo jogada
jetivo é usar a tecnologia para aproxi- legislativos já acontecia. Mas, em de um lado para o outro como uma
mar a Assembleia das pessoas. Acredi- geral, eram proposições levadas peteca a vida toda e não conseguia
to que esta ferramenta é fundamental diretamente aos deputados. O for- sustentar sua família”, afirma o pre-
para todos, especificamente para os mato do Projeto de Iniciativa Po- sidente da Ilis, Cezar Lipper.
que moram longe do Parlamento ou pular amplia o acesso da população Integrante da equipe do LegislA-
em momentos de excepcionalidade, ao Legislativo. A Lei 7.026/15, que qui, o sociólogo João Felipe Salomão
como a pandemia do coronavírus. A determinou a criação de um Siste- diz que o aplicativo é um instrumen-
medida também garante mais trans- ma Estadual de Prevenção ao roubo to de fortalecimento da democracia:
parência ao processo legislativo, já ou furto e ao comércio ilegal de bi- "É gratificante participar de uma
que a população tem acesso a todas as cicletas no Estado do Rio, foi trazi- iniciativa que certamente contribui
informações importantes da Casa”, da por um grupo de ciclistas numa para a ampliação do exercício da ci-
destacou Cristiane Laranjeira, subdi- audiência pública da Comissão de dadania e para a democratização da
retora de Comunicação Social da Alerj. Segurança que discutiu o assunto. atividade legislativa no Estado do
O representante da equipe, Raphael Rio de Janeiro".

DIÁLOGO 17
COMBATE À COVID

A força da
comunidade
na pandemia
Recursos doados pelo
Parlamento apoiam
ações sociais nas áreas
mais carentes do estado

T EXTO JULIANA MENTZINGEN


FOTO BANCO DE IMAGEM

L
evar comida a quem tem fome. A
resposta da Cozinha da Frente não
poderia ser mais objetiva, diante
da gravidade dos desafios impos-
tos pela pandemia aos moradores do
Complexo da Maré, na Zona Norte da
Capital fluminense. O projeto foi cria-
do em 2020 por Vanusa Maria Borba,
com a meta de oferecer 600 refeições
semanais para famílias em situação
de vulnerabilidade. Ele está entre as
ações patrocinadas pelo Plano Fio-
cruz de Enfrentamento à Covid-19 nas
Favelas, que recebeu doação de R$ 20
milhões da Alerj, em janeiro de 2021.
“A situação de vulnerabilidade de
muitas famílias é grave. Falta água,
higiene e renda para suprir as neces-
sidades de uma família numerosa”,
conta Vanusa, que usou os recursos
para reformar e equipar o espaço de
uma cozinha comunitária, além de
implantar a logística de distribuição
das quentinhas e cestas básicas.
A pandemia do coronavírus atingiu
de forma mais expressiva as áreas mais
carentes do Rio de Janeiro, devido à
dificuldade da prática de distancia-
mento social e de acesso a políticas
públicas, segundo dados do monito-

18 DIÁLOGO
ramento da Fundação Oswaldo Cruz desde 2014 promovendo ações huma- anos de 2020 e 2021. A gente sabe que,
(Fiocruz). Essa precariedade foi ra- nitárias para a população da Zona Sul. futuramente, elas terão muita dificul-
pidamente reconhecida pelo Legis- Numa comunidade em que mulheres dade de ter sucesso no âmbito escolar.
lativo, que destinou parte dos recur- solteiras, desempregadas e com filhos O aporte financeiro da Alerj também
sos do Fundo Especial do Parlamento são maioria entre os chefes de família, nos permitiu fazer a contratação de
fluminense para apoiar ações sociais o grupo desenvolve iniciativas de se- uma assistente social e de uma psicó-
selecionadas pela Fundação por meio gurança alimentar e ampliou a atuação loga, para olhar mais de perto as de-
de edital público, em março de 2021. com a oferta de apoio à educação de mandas das famílias, orientando para
“Fizemos uma lei para produzir crianças e adolescentes. Jovens uni- possíveis programas e benefícios”,
resultados imediatos de impacto no versitários ministram aulas de refor- conta a coordenadora sociocultural
combate à fome, mas com um cará- ço escolar na instituição, que também do Instituto, Gisele Castro de Oliveira.
ter de solução mais permanente na disponibiliza acesso à internet e mate- Com atuação consolidada em Ni-
produção de alimentos e na geração riais didáticos de apoio. terói, há quase 30 anos, a BemTV
de emprego e renda. É preciso dirigir “Decidimos por um projeto que Educação e Comunicação apostou na
recursos prioritariamente para salvar desenvolvesse atividades e materiais relevância do projeto Jovens Comu-
vidas e garantir a dignidade huma- didáticos para mitigar a defasagem es- nicadores. A proposta foi qualificar
na”, explica a deputada Renata Souza colar das crianças causada pela pan- 70 alunos moradores de comunidades
(PSol), autora original da Lei 8.972/20, demia. O projeto está em andamento vulneráveis de Niterói e São Gonçalo
que permitiu a doação. e só pôde ser iniciado e executado gra- para utilizar as tecnologias da infor-
Ao todo, 270 projetos foram ins- ças à doação da Alerj”, disse o presi- mação como ferramentas de inter-
critos na chamada pública, dos quais dente da organização, Denis Neves. venção social. Os jovens produzem
120 foram aprovados para receber o Manter o vínculo de crianças e jo- conteúdos, e as ações são comparti-
aporte financeiro. Destes, 41 foram vens com os estudos durante a pande- lhadas por redes sociais, pretendendo
selecionados para atuar na vigilância mia exigiu mobilização das lideranças alcançar mais de 17 mil pessoas simul-
sanitária da população em situação de nas comunidades. O Instituto Golfi- taneamente.
vulnerabilidade socioeconômica. nhos da Baixada, que há dez anos ofe- “O objetivo é combater notícias fal-
Segundo o coordenador-executivo rece aulas de natação à população ca- sas em relação à covid-19, promover
do Plano Fiocruz de Enfrentamento à rente de Queimados, passou também a saúde a partir da boa informação e
Covid-19 nas Favelas, Richarlls Mar- a disponibilizar reforço escolar para garantir formação de qualidade aos jo-
tins, a seleção foi realizada por um ajudar na conclusão do ciclo de alfa- vens no período de isolamento social,
comitê misto, composto por pesqui- betização. A organização social aten- ampliando a capacidade de linguagem
sadores da Fiocruz, da Universidade de a 100 crianças moradoras de áreas e de expressão de jovens da periferia”,
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da vulneráveis no município da Baixada explicou a coordenadora executiva da
Universidade do Estado do Rio de Ja- Fluminense. BemTV, Daniela Araújo.
neiro (UERJ), da PUC Rio, da Socie- “As crianças do município ficaram
dade Brasileira para o Progresso da praticamente sem aulas durante os
Ciência (SBPC) e da Associação Bra- DIVULGAÇÃO
sileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
“Aproximadamente 60% dos projetos
selecionados estão na Capital. Os de-
mais estão distribuídos entre outros
43 municípios do estado, com uma
abrangência territorial muito signifi-
cativa”, conta Richarlls.
Outro dado relevante é que 70%
dos projetos selecionados são ba-
seados em ações de enfrentamento
à insegurança alimentar. Para a de-
putada Renata Souza, este número
se justifica pela situação de miséria e
fome, agravadas pelos altos índices de
desemprego. “Temos pesquisas que
apontam índices de insegurança ali-
mentar acima de 50% nas favelas do
Rio. É gente que acorda e não sabe se
vai almoçar, gente que tem se torna-
do dependente de solidariedade para
se alimentar”, ressalta.

COMIDA E EDUCAÇÃO
Do lado oposto da cidade do Rio de JOVENS DE PROJETOS Sociais participam de iniciativas coordenadas pela
Janeiro, o Coletivo TMJ Rocinha atua Fiocruz, com foco no combate à fome, vigilância sanitária e escolarização

DIÁLOGO 19
SEM TETO

Alerj doa R$ 20 milhões

OLHAR
para atendimento
à população de rua

SOBRE O
T EXTO TIAGO ATZEVEDO
FOTO RAFAEL WALLACE

L
eonardo de Jesus Maciel, 41 anos,
pôs na mochila algumas roupas e
documentos e saiu, sem destino,

DESAL
da casa em que morava em Itabo-
raí, Região Metropolitana do Rio. Car-
regava consigo depressão, alcoolismo
e desemprego e, consequentemente,
problemas familiares. A primeira pa-
rada foi em um lugar que, para muitos,
é sinônimo de beleza, mas para ele foi
o início de uma dura trajetória, que se
arrastaria por quatro longos anos.
“Fui para Marina da Glória e, sem
saber o que era dormir na rua, acabei
ficando nas pedras, onde achei um
lugar mais vazio e seguro. Cheguei a
comer marisco cru para me alimen-
tar”, conta Maciel, que hoje trabalha
na construção civil.
Relatos semelhantes ao de Maciel se
repetem entre as 7.272 mil pessoas que
vivem em situação de rua na cidade do
Rio de Janeiro. O dado é do Censo de
População em Situação de Rua, reali-
zado pela Secretaria Municipal de As-
sistência Social da Capital do estado,
em 2020. Atento ao visível aumento da
crise social, a Alerj atendeu ao pedido
da secretária Laura Carneiro por apoio
financeiro às ações do órgão.
A Casa propôs a Lei 9.433/21, au-
torizando a doação de R$ 20 milhões
do Fundo Especial da Assembleia Le-
gislativa para o Fundo de Assistência auxiliando a população carente. “A pessoa em situação de rua não
Social do município do Rio. O recurso Durante a cerimônia, a secretária pode ser atendida no hospital, porque
deve ser usado para melhorar a rede Laura Carneiro declarou que a pasta já não tem documento. Quando a gente
de atendimento e acolhimento da está realizando licitações para a uti- chega à unidade e fala que está mo-
prefeitura. No dia 16 de novembro, lização dos recursos. "A Alerj sempre rando na rua, eles já atendem de forma
foi realizada no plenário da Alerj uma se mostrou muito solícita vendo nossa diferente. Se a gente fala que não tem
cerimônia simbólica para entrega do angústia com o orçamento da secre- documento eles não atendem”, relata
cheque no valor da doação que já foi taria. Já estamos licitando mais vagas Maciel, que teve os documentos rou-
repassado. para acolhimentos, bem como reali- bados na rua.
O Fundo Municipal de Assistência zando um trabalho específico para a A Alerj criou a Comissão Especial em
Social é um instrumento de captação e segurança alimentar dessa popula- Defesa da População em Situação de
aplicação de recursos para financiar as ção", afirmou. Rua para acompanhar a implemen-
ações destinadas ao desenvolvimento Políticas públicas são fundamentais tação das políticas públicas para esse
das políticas públicas na área de assis- para reverter o quadro de vulnera- público. O presidente do colegiado,
tência social. Diante do aumento da bilidade social da população em si- deputado Danniel Librelon (Republi-
miséria em decorrência da pandemia tuação de rua. Maciel, que vivenciou canos), conta que um dos objetivos foi
do coronavírus, essa lei tem por ob- o problema, vê a necessidade de que realizar um diagnóstico do problema,
jetivo incrementar as medidas de as- as discussões sobre falta de moradia, com o mapeamento dos locais onde as
sistência social no combate à miséria, emprego e renda sejam integradas. pessoas se concentram. Trabalho que

20 DIÁLOGO
foi dificultado por causa da pandemia.
Librelon explica que o coronavírus au-
mentou o número dos que vivem em
vulnerabilidade, empurrando muitos
para a extrema pobreza.
“De acordo com informações apre-
sentadas pela Secretaria de Estado de
Assistência Social, o número estimado
era de 15 mil pessoas em situação de
rua, mas o censo feito pela município
do Rio identificou mais de sete mil
pessoas somente na Capital”, explica
o deputado.

ENTO
AÇÃO VOLUNTÁRIA
O relatório final da atuação da co-
missão, que deu origem a uma Frente
parlamentar, relacionou doze proje-
tos de lei propondo ações de suporte a
essa população, que estão em tramita-
ção na Alerj. Um deles é o PL 2.538/20,
que prevê a abertura de restaurantes
populares no estado, tendo em vista
o reconhecimento de emergência na
saúde pública.
Maciel, que conheceu e passou
a integrar o projeto Anjos da Ma-
drugada, mantido por uma igreja
evangélica. O programa assistencial
teve início na década de 1980, com a
distribuição de alimentos, roupas e
cobertores às pessoas em situação de
rua, além de oferta de atendimentos
jurídicos e de saúde.
“Foram quatro anos de sofrimento
nas ruas, graças a Deus, hoje minha
vida foi transformada. Tenho famí-
lia, uma esposa, condições de pagar
minhas contas e ajudar o próximo,
principalmente aqueles que estão na
situação em que eu já estive”, afirma.
Na Cruz Vermelha Brasileira, são
JUILIA PASSOS frequentes os projetos de atendi-
mento à população em situação de
rua com a participação de voluntá-
rios, um deles é A Noite do Bem, que,
semanalmente, distribui sopa, pro-
dutos de higiene pessoal e coberto-
res no centro do Rio de Janeiro. “Eles
são invisíveis para a maior parte das
pessoas. Para nós não, eles são seres
humanos que precisam do mínimo
de dignidade. Além da comida dos
produtos de higiene, a gente tam-
bém dá atenção, ouve, conversa.
Parece pouco, mas isso pode salvar
uma vida”, conta a cozinheira Léa
Gouveia, voluntária do A Noite do
Bem, que atende a 370 pessoas em
uma única noite.

DEPUTADO LIBRELON presidiu a Comissão da População em Situação de Rua

DIÁLOGO 21
MOBILIZAÇÃO SOCIAL
INTEGRANTES DO COLETIVO
Girl Up distribuem absorventes
para meninas numa comunidade

Dignidade Menstrual:
DIREITO DE TODAS!
T EXTO CAROL BARRETO não têm banheiro em condição de uso “Historicamente, tratavam a mulher
FOTO DIVULGAÇÃO GIRL UP nas unidades de ensino. menstruada como vulnerável e pe-
Diante desse cenário, meninas do rigosa ao mesmo tempo. O medo do

U
ma em cada quatro meninas já Girl Up Elza Soares, coletivo que atua sangue menstrual explicaria os rituais
deixaram de ir às aulas por não na Zona Norte do Rio de Janeiro que e tabus que estão associados à mens-
terem absorventes higiênicos, inspira e empodera garotas a lutar pela truação e à fecundidade humana,
segundo dados da Always Bra- igualdade de gênero, decidiram se unir relacionando a mulher às forças in-
sil. Pelo menos 43 mil alunas cariocas e começar uma campanha para arreca- compreensíveis da natureza. Assim, a
deixaram de frequentar a escola em dar absorventes. Logo perceberam que mulher menstruada, em várias cultu-
algum momento pela falta de dinhei- era preciso também chamar a atenção ras, é proibida de participar dos ritu-
ro para comprar o item de higiene. A do poder público para o problema. ais religiosos, comer certos alimentos,
situação de extrema pobreza, agra- “Fizemos uma campanha de arreca- prepará-los, ficando em isolamento”.
vada pela pandemia do novo corona- dação de absorventes, mas percebemos explica a psicóloga Wanessa Berba.
vírus, tornou ainda pior o cenário da que seria muito difícil mantê-la todos os O tempo passou, mas ainda hoje é
pobreza menstrual no Rio de Janeiro. meses. Foi então que decidimos procu- difícil quebrar esse paradigma e fa-
O termo refere-se à dificuldade em rar os parlamentares. Escrevemos o pro- lar abertamente sobre menstruação.
ter acesso a produtos menstruais, jeto de lei para garantir o absorvente nas “Cada mulher, ainda que exposta às
mas também a informação sobre cestas básicas. Levamos aos parlamen- mesmas normas sociais, vivencia a
menstruação e a infraestrutura ade- tares e o deputado Renan Ferreirinha, à menstruação a partir de duas percep-
quada para o manejo da higiene du- época, se interessou em apoiá-lo”, disse ções distintas: em sua experiência real
rante o ciclo. No ambiente escolar do Gab Falci, integrante do grupo. (definida pela quantidade, frequência e
Brasil, há cerca de 7,5 milhões de me- Falar de menstruação ainda é um duração do fluxo), e como membro da
ninas que menstruam e 213 mil que tabu enraizado na nossa cultura. sociedade a quem a menstruação atri-

22 DIÁLOGO
bui certos significados próprios e tabus. tadoramente alto. No Rio de Janeiro, Ainda que seja uma lei autorizativa, é
Daí a dificuldade em falar sobre o tema a situação não é diferente. Convive- uma vitória ter o reconhecimento do
ainda nos dias de hoje”, complementa. mos com a falta sistemática de hi- absorvente higiênico como de neces-
A desinformação, aliada à falta de giene adequada durante o período da sidade básica para a saúde feminina. O
recursos, leva meninas e mulheres a menstruação, ou seja, além do ab- que buscamos é, sobretudo, diminuir
utilizarem objetos como miolo de pão, sorvente, faltam banheiro, chuveiro, a desigualdade de gênero e garantir
papelão e plástico para conter o fluxo água tratada, orientação sobre o que é dignidade para meninas, adolescentes
menstrual. Lançar mão desses itens é a menstruação, um processo natural e jovens mulheres estudantes da rede
extremamente perigoso à saúde. que precisa ser reconhecido como tal. pública de ensino”, disse a deputada.
“O sangue menstrual é um meio de Outras normas criadas pela Alerj as-
cultura para fungos e bactérias. O uso seguram a distribuição do item. A Lei
de materiais como jornais, por exem- 8.924/20, de autoria do deputado Ro-
plo, pode causar infecções bacterianas senverg Reis (MDB), incluiu absorven-
graves que, em situações extremas, tes na composição da cesta básica; e o
acarretam até no óbito dessa mulher. Projeto de Lei 2.890/20, do deputado
A falta de higiene adequada, sobretu-
do em mulheres em situação de rua e
•••• Danniel Librelon (Rep), prevê a entre-
ga gratuita para a população de rua.
privadas de liberdade também são fa- “Uma em Atual secretário de Educação do
tores agravantes para a pobreza mens- cada quatro município do Rio, Renan Ferreiri-
trual. A garantia de um absorvente, meninas já nha, coautor da Lei 8.924/20, pôde
que deveria ser um direito de todas, observar mais de perto, no cotidiano
ainda é vista como um artigo de luxo. deixou de da pasta, o impacto da pobreza mens-
Além da informação, a gente precisa ir às aulas trual no ambiente escolar do municí-
dar assistência para que ela retome a por não ter pio. Em outubro passado, foi lançado
sua dignidade”, ressaltou a ginecolo- o “Livre para Estudar”, programa
gista, obstetra Ana Sodré. absorventes de combate à pobreza menstrual e
O cenário preocupante chamou a higiênicos” à evasão escolar. A expectativa é de
atenção do poder público e, hoje, já que a ação atenda a cerca de 100 mil
há leis em vigor para mitigar os im- estudantes, distribuindo mais de oito
pactos da pobreza menstrual na vida milhões de absorventes por ano, e in-
de diversas meninas. vestimento de R$ 14 milhões.
De autoria da deputada Dani Mon- “A ideia desse projeto é que nenhu-
teiro (PSol), a Lei 9.404/21 autoriza o ma menina possa faltar aula porque
poder executivo a distribuir absorven- Julia Santos, não tem o mínimo, que é o absorven-
tes gratuitamente nas escolas públicas integrante te para ir à escola. A gente precisa vi-
do Estado do Rio de Janeiro, como item do coletivo rar essa página e focar em uma edu-
de necessidade básica para a saúde e Girl Up cação de qualidade em que todas as
higiene feminina, que deverá ser rea- nossas alunas possam estar es-
lizada na secretaria tudando sem nenhuma dificul-
ou coordenadoria dade. Além da distribuição dos
das escolas e, pre- absorventes, levar também in-
ferencialmente, formação e conscientização”,
por uma funcio- finaliza Ferreirinha.
nária mulher. E a luta está só começando
“Sabemos que o para as meninas do Girl Up Elza
número de pessoas que Soares. “Nosso objetivo é levar o
menstruam em desamparo movimento Livre para Menstruar
e sem acesso a um item de para outras meninas do Brasil, para
higiene tão básico como que procurem outras casas legisla-
o absorvente é assus- tivas no país, como nós fizemos aqui
no Rio. Queremos alcançar também
áreas onde ainda não conseguimos
chegar, como os presídios femini-
nos. Além disso, seguir levando au-
las de educação menstrual para as
comunidades, porque não adianta
doarmos o absorvente se não le-
varmos informação e conscienti-
zação para as meninas”, conclui
Beatriz Diniz.

DIVULGAÇÃO
DIÁLOGO 23
ATIVISMO

T EXTO EDUARDO SCHMALTER


FOTO JULIA PASSOS

O
s casos de racismo tiveram ex- DEPUTADAS DO PSOL criam programa de
pressivo aumento no estado no combate ao preconceito no Parlamento
primeiro semestre de 2021. Os
registros passaram de 43 para 82
vítimas, se compararmos com o mes-
mo período de 2019, segundo dados
mais recentes do Instituto de Seguran-
ça Pública (ISP). O levantamento in-
clui os crime de discriminação contra
etnia, religião e procedência nacional.
Especialistas do ISP avaliam que o au-
mento pode ser fruto não somente do
crescimento desse tipo de violência,
mas de uma mudança de postura da
sociedade, que deixou de naturalizar
o preconceito.
O Estado do Rio é um dos poucos no
país que possui uma delegacia espe-
cializada. Implantada na Capital, em
2018, a Delegacia de Combate a Crimes
Raciais e Delitos de Intolerância (De-
cradi) foi criada a partir da aprovação
pela Alerj da Lei 5.931/11, de autoria
do deputado Átila Nunes (MDB). A
luta agora é para fazer com que outras
unidades possam ser abertas, princi-
palmente no interior do estado, como
prevê a Lei 9.271/21, proposta pelos
deputados Dani Monteiro e Mônica
Francisco, ambas do PSol, Martha Ro-
cha (PDT), Carlos Minc (PSB) e Átila
Nunes (MDB).
A Constituição Federal assegura, há
mais de 30 anos, a punição para qual-
quer discriminação contra direitos e
liberdades fundamentais, mas a luta
contra o preconceito tem sido fortale-
cida com a criação, pelos legisladores,
de mecanismos de combate dentro da
estrutura do estado. Ter acesso a uma
delegacia especializada contribui para
que as denúncias possam ser acolhidas
e resultem em punição. Com a amplia-
ção dos registros, a sociedade pode ter
uma noção mais fidedigna do proble-
ma, possibilitando a melhoria de polí-
ticas públicas para enfrentar o racismo.
Por vezes, medidas propostas pelo
Parlamento antecipam as discussões
que ocorrerão de forma mais ampla na
sociedade. Em 2001, a Alerj foi pionei-
ra no país ao aprovar a Lei 3.708, que
instituiu o sistema de cotas para ne-
gros ou pardos, destinando a estes o
percentual mínimo de 40% das vagas
das universidades estaduais. A nor-
ma passou a vigorar no vestibular de
2002 da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ) e da Universidade

24 DIÁLOGO
PODER NEGRO
contra o racismo
Estadual do
Norte Flumi-
nense Darcy Ri-
beiro (UENF). Foi
um marco histórico.
O sistema de cotas come- çou a ser
implantado em outros estados, até ser
obrigatório em todo o país e contem-
plar os concursos públicos. Em 2018,
a Casa aprovou a prorrogação do sis-
tema por mais dez anos.
O reconhecimento da importância
de personalidades negras é outra for-
ma de mudar a cultura que naturaliza
a discriminação, o chamado racismo
estrutural. A mudança precisa vir por
meio de uma educação inclusiva, que
valorize a diversidade. Nesse sentido,
a Lei 9.349/21 determina que escolas
públicas e privadas do estado deverão
desenvolver atividades regulares que
promovam a memória de João Cândi-
do Felisberto, o Almirante Negro, João
foi líder da Revolta da Chibata - mo-
tim naval que, em 1910, libertou mari-
nheiros negros e mulatos das punições
físicas praticadas por oficiais brancos.
Ele foi declarado herói do Estado do
Rio de Janeiro, em 2019. A medida
prevê que sua história seja relembrada
e contextualizada em atividades reali-
zadas em sala de aula, dentro do pro-
jeto político-pedagógico das escolas.
“A trajetória e o legado de João
Cândido Felisberto não são suficien-
temente conhecidos pelas gerações
atuais. Sua memória precisa ser pre-
servada como patrimônio inaliená-
vel da história do povo brasileiro e,
por isso, a contribuição das escolas
de educação básica é absolutamente
fundamental”, justificou o deputado
Waldeck Carneiro (PSB), um dos au-
tores do projeto.

DIÁLOGO 25
ATIVISMO
RAFAEL WALLACE
COMBATE AO RACISMO de e o respeito virão com investimento
INSTITUCIONAL em educação e com a maior ocupação
Ocupar os espaços na sociedade com dos espaços de decisão por negros.
ações afirmativas, em defesa da igual- “É claro que nada muda da noite para
dade de tratamento e direitos para to- o dia. Os olhares de estranhamento
dos, exige enfrentamento até mesmo ainda ocorrem, mas as abordagens
dentro do poder público. Na Alerj, as são outras. O tempo também ajuda as
deputadas Dani Monteiro, Mônica pessoas a se habituarem com os nossos
Francisco e Renata Souza, todas do corpos, ainda que o preconceito esteja
PSol, criaram, por meio do Projeto de enraizado. Mudar essa realidade é pos-
Resolução 51/19, o Programa de Ca- sível, com boa vontade, esclarecimen-
pacitação Permanente de Prevenção e to e educação. Por isso, precisamos de
Enfrentamento ao Racismo Institucio- formação e capacitação. Fazer barulho
nal, dirigido aos servidores e terceiri- na rua, somente, não era suficiente.
zados da Casa. Precisávamos ocupar também a ins-
“Quando eu cheguei ao Palácio titucionalidade, para ampliar nosso
Tiradentes, a primeira imagem foi alcance. Uma sociedade mais justa e
a presença de pessoas como eu em mais igualitária só pode se concretizar
lugares de subalternidade. É a tia do caso se fortaleça, a partir das diferen-
café, a moça da limpeza... Pouquíssi- ças devidamente respeitadas. O fator
mas deputadas autodeclaradas negras. multirracial que nos forma tem de ser
Essa reivindicação de lugar de mulher considerado”, declara Dani.
negra, até a minha chegada, não era
feita tão abertamente. Hoje as deputa-
das negras falam como foi importante
a nossa chegada, nossa briga para que SERVIDOR NAYT Junior defende
elas tivessem a possibilidade de se au- maior pluralidade no Parlamento NEGROS EM DESTAQUE
todeclararem tranquilamente mulhe- O mês de novembro é dedicado
res negras”, conta Mônica Francisco, ao combate ao racismo e à valo-
que chegou a ser barrada pela segu- rização da cultura negra. Nada
rança da Casa, no início do mandato, mais justo que homenagear os
quando se dirigia a uma reunião do servidores públicos negros que,
Colégio de Líderes. com dedicação, fazem o Poder
O episódio, que ela caracteriza como As funcionárias Legislativo estadual funcionar.
“simbólico”, levou à elaboração do As redes sociais da Alerj desta-
curso de formação, que se iniciou em
comentam se estou caram o trabalho de gente como
2019, com funcionários da Seguran- de black, se estou de Nayt Junior, há 12 anos, na Se-
ça, no Plenário do Palácio Tiradentes. tranças. ‘É deputada, cretaria da Mesa Diretora. Nas-
Mas a ideia é que ele seja levado para cido no Quilombo Campinho da
toda a administração pública do esta-
mas tem cabelo igual ao Independência, em Paraty, seu
do. Nesse sentido, o trio de deputadas meu!’, já escutei. Elas se nome significa "o que virá", em
apresentou também o Projeto de Lei sentem representadas Bakongo. Ele lembra que ainda
299/19, que propõe a adoção de me- é preciso avançar na equidade:
canismos efetivos de prevenção, mo-
quando falamos, se "Nós, negros e negras, ainda
nitoramento, avaliação e superação sentem cúmplices. não ocupamos espaços de po-
do racismo institucional em órgãos da Sentimos a mesma der no Parlamento. Mesmo em
administração direta e indireta. cargos eletivos, somos menos
“Precisamos aprofundar a discussão,
dor quando somos que 15% do total. Mas a plura-
mas há mudanças ocorrendo. Vejo na discriminadas, xingadas, lidade e a democracia têm per-
relação com as servidoras e funcioná- sofremos violência ou mitido que a gente cresça em
rias negras da Casa, que se identificam, todos os espaços."
que há representatividade. As funcio-
somos silenciadas”
nárias comentam se estou de black, se Mônica Francisco
estou de tranças. ‘É deputada, mas tem Deputada estadual pelo PSol
cabelo igual ao meu!’, já escutei. Elas se
sentem representadas quando falamos,
se sentem cúmplices. Sentimos a mes-
ma dor quando somos discriminadas,
xingadas, sofremos violência ou somos
silenciadas”, analisa Mônica.
Dani Monteiro também enxerga
mudanças, mas ressalta que a igualda-

26 DIÁLOGO
PRÊMIOS ALERJ

PROFISSIONAIS DA CULTURA
foram homenageados com o
Diploma Heloneida Studart

APLAUSOS PARA QUEM


FAZ O BEM
T EXTO JULIANA MENTZINGEN
FOTO OCTACÍLIO BARBOSA
da para jovens e adultos. Um senhor
de mais de 70 anos escreveu em letra
primeiro profissional a ser vítima da
doença no estado.
bastão: ‘Eu amo o meu professor”, A Comissão de Combate às Discri-

P
rofessores, enfermeiros e agentes contou Patrício, na cerimônia reali- minações e Preconceitos de Raça,
culturais estão entre os profissio- zada no plenário da Alerj. Etnia, Cor, Religião e Procedência
nais que tiveram o trabalho reco- Agentes e entidades culturais do es- Nacional promoveu a 16ª edição do
nhecido em suas áreas de atuação tado também tiveram seus esforços ce- Prêmio Zumbi dos Palmares, entre-
pela Alerj ao longo de 2021. Promovi- lebrados. A Comissão de Cultura entre- gue a 15 personalidades negras por
das pelas comissões parlamentares gou o Diploma Heloneida Studart a 44 seus relevantes serviços na defesa dos
da Casa, algumas cerimônias de pre- profissionais do setor. O empreendedor direitos, da história e da cultura do
miação não ocorriam desde 2019, por Thiago Mathias foi um dos destaques povo negro.
conta da pandemia do coronavírus. desta edição como um dos criadores do Instalada neste ano na Alerj, a Co-
O Prêmio Paulo Freire, realizado Festival de Cultura de Rua de Bangu, na missão Especial de Enfrentamento
pela Comissão de Educação, home- Zona Oeste da cidade do Rio. à Miséria destacou os esforços de 37
nageou 23 profissionais que desenvol- “O prêmio serve como combustível movimentos sociais engajados na luta
veram ações inovadoras no ambiente para a retomada das ocupações cul- solidária pela alimentação da popula-
escolar mesmo diante dos desafios turais. Quando eu falo do Festival, eu ção em situação de extrema pobreza.
impostos pela pandemia. Agraciado falo de ocupação gratuita, democráti- Quinze trabalhadores e empresas
na modalidade “Educação de Jovens e ca e principalmente afetiva dos espa- também foram agraciados com o Di-
Adultos”, com o projeto “Memórias li- ços públicos", destaca. ploma Paul Singer, promovido pela
terárias: estreitando laços e resgatan- Em maio, em comemoração ao Mês Frente Parlamentar de Economia Po-
do histórias”, o professor Carlos Hen- da Enfermagem, o Parlamento flumi- pular Solidária (Ecosol). Nas falas dos
rique Patrício se diz recompensado nense realizou, em solenidade virtual, participantes, foi unânime o apelo
pelos resultados obtidos no exercício o Prêmio Anna Nery para reverenciar para a implementação de Centros de
da profissão. o trabalho de profissionais que estive- Referência de Economia Solidária,
“Passamos 2020 no apagão e en- ram na linha de frente do combate à assim como o repasse de recursos de
cerramos um 2021 iluminado. Esta covid-19. Um dos homenageados, in incentivo ao setor.
é a maior experiência da minha vida memoriam, foi o técnico de enferma-
profissional: levar a leitura dinamiza- gem Jorge Luiz de Lima, de 49 anos,

DIÁLOGO 27
MEMÓRIA VIVA

Palácio Tiradentes será tom noyer-ciré (noz encerado) são


forradas com veludo Boticelli, em es-
restaurado com mão de tilo Francisco I, do período neorrenas-
centista francês. Frequentemente, o
obra dos servidores Palácio é cenário de séries e filmes e os
recursos da contrapartida da cessão da
locação são destinados para as obras
T EXTO ROSAYNE MACEDO de restauro. A minissérie ‘A Eleita’, da
FOTO JULIA PASSOS produtora Conspiração Filmes, usou
as instalações do edifício. Também foi

O
Palácio Tiradentes, sede da Alerj gravado no local a série "Arcanjo Re-
até agosto do ano passado, está negado", da Globoplay.
em restauração para abrigar a Das 226 cadeiras à estátua de 4,5
"Casa da Democracia Brasileira". metros de altura do mártir da Inconfi-
A transformação do edifício histórico dência, instalada em frente ao Palácio
em espaço cultural e de preservação da histórico da Rua Primeiro de Março,
memória política do estado e do país já todo o acervo será fotografado. A obra
foi iniciada com um minucioso levan- também envolve recuperação do piso
tamento das peças de arte e mobiliário. em madeira e pintura. Nesta primei-
Boa parte da revitalização será realizada ra etapa serão revisadas e removidas
pelos próprios servidores, na Oficina- instalações elétricas e divisórias, ade-
-Escola de Restauro, curso que será ofe- quando o prédio às atuais normas de
recido pela Escola do Legislativo (Elerj). segurança. A cor original das paredes,
Funcionários da Casa serão treina- em cinza claro, deverá ser resgatada.
dos na técnicas de limpeza e recupe- “As dependências do Palácio fo-
ração por profissionais capacitados ram adaptadas ao longo dos anos para
na Itália, no Programa Monumenta, atender ao uso como casa legislativa.
do Instituto do Patrimônio Histórico Agora, como Casa da Democracia, o
e Artístico Nacional (Iphan). Quem prédio vira o grande protagonista.
está à frente do projeto é Maria Lúcia Cada detalhe é importante para contar
Horta, que já usou essa estratégia na essa história. Os novos espaços para
recuperação estética do Palácio La- exposição deverão conjugar a riqueza
ranjeiras, residência oficial do Gover- arquitetônica original com tecnologias
no do Estado. O primeiro passo foi a modernas e interativas para o públi-
catalogação de 705 móveis e objetos co”, diz a arquiteta Simone Algebai-
históricos que decoram os cinco an- le, que atua na Superintendência da
dares do edifício. Curadoria do Palácio e é responsável
“O levantamento do acervo do Palá- pela Oficina-Escola de Restauro.
cio Tiradentes é de suma importância A Escola de Restauro vai selecionar
para o trabalho a ser desenvolvido. Só 60 colaboradores que vão aprender a
conhecendo o que temos, podemos recuperar parte das poltronas e os me-
desenvolver um serviço com quali- tais aplicados às paredes, jarros e lus-
dade, estabelecendo as prioridades, tres do salão e da escadaria do Palácio.
tendo em vista a preciosidade do Pa- “Muitas peças estão oxidadas e preci-
lácio”, afirma Maria Lúcia. sam ser devidamente limpas. A ação
As duas estátuas principais que de- do tempo e o uso de produtos químicos
coram o Salão Nobre do Palácio, cons-
truído em 1926 para abrigar a sede da
Câmara Federal, são as primeiras a
passar pelas técnicas de restauro. Com
três metros de altura e acabamento em
finíssimo marmorino, as figuras re-
presentam alegorias da paz e do traba-
lho, e da lei e da autoridade. As peças
estão cobertas por várias camadas de É emocionante ver o
tinta aplicadas ao longo dos anos, que palácio ser restaurado
deram um ar pesado. Elas vão voltar
a exibir as cores e beleza originais, de
e dar lugar à Casa da
quando concebidas pelo escultor. Democracia”
O Salão Nobre é um dos ambientes
que mais chamam a atenção dos visi- Patrícia Almeida
tantes. Suas poltronas de imbuia em Bibliotecária do Palácio Tiradentes

28 DIÁLOGO
RAFAEL WALLACE

Casa da
Democracia
revitalizada

RESTAURADORA RETIRA pintura


antiga das estátuas do Salão Nobre
deterioram o bem. Os colaboradores
da área de manutenção vão aprender a
maneira correta de cuidar do edifício.
A proposta valoriza os mestres de ofí-
cio, que não têm formação acadêmica,
mas acumulam vasto conhecimento
adquirido ao longo de anos”, explica
a arquiteta, especialista em gestão de
restauro, memória e acervo. Em 2020,
a Casa restaurou 17 postes históricos
do entorno do Palácio.
A bibliotecária Patrícia Almeida,
que completa 30 anos no Tiradentes,
acompanha a revitalização do espaço
como testemunha de parte da história
do Rio. “É emocionante ver o palácio
ser restaurado e dar lugar à Casa da
Democracia”, conta a servidora.
Com a redução dos casos de covid,
o Palácio voltou a receber o público. A
reabertura foi marcada pela exposição
‘Dante Vale’, promovida pelo Consu-
lado-Geral da Itália no Brasil em ho-
menagem aos 700 anos da morte do
poeta italiano Dante Alighieri, autor
de “A Divina Comédia”. Em março,
o Tiradentes ganhou a mostra "Tere-
sa Cristina em Construção", também
produzida em parceria com o consu-
lado. A exposição faz parte das come-
morações do bicentenário de nasci-
mento da imperatriz.

DIÁLOGO 29
PATRIMÔNIO

Cultura
T EXTO BUANNA ROSA E MARCO STIVANELLI
FOTO JULIA PASSOS

U
m dos endereços mais boêmios

FOCO
do Centro Histórico do Rio, a Rua
da Lavradio foi reconhecida pela
Alerj como Patrimônio Cultural
do Estado. Seus casarões, que abrigam

em
bares e antiquários, estão retomando
a vitalidade com a volta gradual das
atividades em função da pandemia.
Esse movimento conta com o apoio do
Parlamento fluminense, na aprovação
de políticas públicas para incentivar
os empreendimentos. Recentemente,
foi regulamentada a Lei 8.266/18, que
garante incentivos fiscais a empresas
que investem em cultura e esportes no
estado do Rio.
"Ter programas que viabilizem pro-
jetos culturais é de suma importância,
principalmente em momentos como
este, em que enfrentamos a pandemia.
Posso dizer que, em 21 anos, essa foi
a maior crise do Grupo Scenarium.
Durante quase dois anos o nosso nú-
mero de clientes foi zero. Para se ter
uma noção, em maio nós tivemos que
pedir recuperação judicial do grupo,
e agora estamos trabalhando para re-
verter essa situação. Ações como essa
só vêm para somar à cultura carioca",
diz o sócio do Rio Scenarium, Plínio
Fróes, uma das mais tradicionais casas
de show da Lavradio.
Lazer e cultura são serviços que
agregam valor à cadeia produtiva do
turismo, um importante motor da
economia do estado. A Lei 8.266/18
garante isenção de 100% do valor
investido em projetos culturais e es-
portivos, enquanto a norma anterior
previa apenas 80%. O benefício será
calculado a partir do valor total do
patrocínio, e terá diferentes acrésci-
mos para projetos culturais e esporti-
vos. A lei foi proposta pelo presidente
da Casa, deputado André Ceciliano
(PT), pelo deputado licenciado Thiago
Pampolha (PDT) e pelos ex-deputa-
dos André Lazaroni e Zaqueu Teixeira.

ABERTURA DE CRÉDITO E
INVESTIMENTO NO SETOR
A cultura foi a primeira a parar e a úl-
tima a retornar às atividades diante da
emergência sanitária. Para socorrer
artistas e produtores, foi aprovada, em
agosto, a Lei 9.394/21, que permitiu a
abertura de crédito adicional de R$ 1,38
milhão no orçamento para investimen-
tos no setor. O benefício, proposto pelo

30 DIÁLOGO
Poder Executivo, foi retirado do supe- pios do estado não usavam 100% dos
rávit da Lei Aldir Blanc, ocorrido em recursos recebidos pela Lei Aldir Blanc
2020. “Os recursos entraram no Fundo e devolviam o superávit ao FEC.
Estadual da Cultura (FEC), como cré- “Não se trata de nenhum programa
dito adicional e foram enviados nova- novo, mas sim a conquista do retorno
mente para os municípios, para que eles aos estados e municípios das verbas de
elaborem editais próprios para patroci- 2020, através de muita mobilização. A
nar as produções. Sem essa lei, não seria execução geral dos recursos da Cultura
possível a execução desse valor, por não segue muito baixa, mostrando que há
haver uma previsão legal da aplicabili- falta de coordenação para a execução
dade do fundo”, conta a secretária esta- do orçamento aprovado. Seguiremos
dual de Cultura, Danielle Barros. acompanhando e cobrando que o fo-
A aplicação da verba é específica mento chegue aos trabalhadores do
para ações emergenciais, como é o setor", comenta o presidente da Co-
caso da pandemia. Alguns municí- missão de Cultura da Alerj, deputado
Eliomar Coelho (PSB).

PATRIMÔNIO IMATERIAL DO RIO


Da Rua do Lavradio ao Sítio Burle Marx,
passando pelo palco do Teatro Tablado,
a Alerj aprovou, no ano passado, 20 no-
Ter programas que vas leis que elevam à categoria de Pa-
trimônio Cultural e Imaterial do Estado
viabilizem projetos uma lista de prédios históricos, belezas
culturais é de suma naturais e arquitetônicas e até o “modo
importância, de fazer” tradicional. O título chancela
ações futuras de tombamento oficial,
principalmente num contribuindo para a preservação da
momento como este, memória do estado, e reconhece o va-
em que enfrentamos lor que eles têm na vida da população.
A Lavradio foi a primeira rua resi-
a pandemia” dencial do Rio de Janeiro, em 1771, ten-
do abrigado mais de seis teatros. A Lei
Plínio Fróes 9.411/21 contempla todo o complexo de
sócio do Rio Scenarium imóveis e eventos culturais históricos

JULIA PASSOS

ANTIQUÁRIO JOÃO Carvalho diz que o reconhecimento da Alerj contribui


para que mais pessoas visitem os atrativos do entorno da Rua do Lavradio

DIÁLOGO 31
PATRIMÔNIO

RAFAEL WALLACE
realizados no local, inclusive a Feira Cultural do Estado por meio da Lei teatrais, festivais de música e de ci-
do Rio Antigo, que ocorre aos sábados. 9.417/21. A norma prevê que o Poder nema, exposições artísticas e outras
Também prevê que a Câmara Munici- Executivo poderá realizar ações e con- atividades culturais.
pal poderá realizar, em conjunto com vênios para financiamento de obras e A lista contempla ainda a Tradicio-
a prefeitura da capital, estudo de im- ações de manutenção da propriedade, nal Feijoada da Tia Surica, integrante da
pacto para a adoção de iniciativas de que é gerido pelo Instituto do Patri- Velha Guarda da Portela. A Lei 9.459/
investimento e manutenção dos imó- mônio Histórico e Artístico Nacional 21 é de autoria do deputado Dionísio
veis da região - incluindo abatimento (Iphan) e, recentemente, recebeu o tí- Lins (PP) e foi sancionada pelo gover-
ou isenção de tributos municipais, que tulo de Patrimônio Mundial da Huma- nador Cláudio Castro no dia em que a
incentivem a preservação das caracte- nidade pelas Organizações das Nações sambista completou 81 anos, 18 de no-
rísticas históricas dos imóveis. Unidas para a Educação, a Ciência e a vembro. Na justificativa, o autor desta-
“Trabalho há 20 anos nessa loja, Cultura (Unesco). ca que a matriarca e sua feijoada, que já
e percebo que o movimento triplica O Armazém da Utopia, localizado tem 17 anos, preservam a música e toda
quando temos, por exemplo, a Feira na zona portuária da capital, também a cultura do Rio de Janeiro.
do Lavradio. Iniciativas de reconheci- teve seu trabalho destacado pela Alerj Surica conta que herdou a tradição
mento como essa estimulam mais tu- como Patrimônio Imaterial e Cultural de quituteira de Tia Vicentina, outra
ristas a visitar a região. É um belo local do Estado (Lei 9.441/21), um meio de baluarte da azul e branca de Madurei-
para quem aprecia a história”, pontua fortalecer politicamente os artistas da ra. “Não poderia receber um presente
João Carvalho, proprietário do Anti- Companhia Ensaio Aberto. melhor do que ter minha feijoada con-
guidades, antiquário da Rua do Senado. O centro cultural ocupa uma cons- siderada um patrimônio do Estado do
Com mais de 3.500 espécies de trução centenária no Armazém 6 Rio. Fiquei muito lisonjeada de rece-
plantas tropicais, o Sítio Roberto Bur- da Cais do Porto e já recebeu, desde ber essa homenagem”, comemora.
le Marx, em Guaratiba, Zona Oeste 2010, mais de um milhão de visitan-
da Capital, foi declarado Patrimônio tes em seus espetáculos, como peças

O CAPANEMA É DO RIO! no Ministério Público Federal (MPF). também por Edifício Gustavo Ca-
A defesa da preservação do Palácio Com a repercussão na sociedade, a panema, foi inaugurado em 1947 e
Gustavo Capanema, no Centro do Rio, proposta foi retirada. O presidente da é considerado um marco no estabe-
como bem público, mobilizou a Alerj. Alerj e o deputado Luiz Paulo (PSD) lecimento da Arquitetura Moderna
O prédio histórico, que já abrigou o também apresentaram o projeto de Brasileira. Em 1943 o Palácio foi es-
Ministério da Educação e Saúde Pú- lei 4.640/21, que determina o tom- colhido como edifício mais avançado
blica, no governo Vargas, e depois da bamento do Capanema por interesse do mundo, em construção, pelo Mu-
Cultura, foi incluído na lista de imó- histórico e cultural do estado do Rio. seu de Arte Moderna de Nova York.
veis a serem leiloados pelo Ministério O prédio já é tombado pelo Instituto A fachada é revestida com azulejos
da Economia. A Casa apresentou uma do Patrimônio Histórico e Artístico de Cândido Portinari, e o jardim foi
moção de repúdio à venda do prédio, Nacional (IPHAN). projetado pelo paisagista Roberto
e uma representação contra a venda O Palácio Capanema, conhecido Burle Marx.

32 DIÁLOGO
NOVA GERAÇÃO

Vem aí a
13 edição do
a

Parlamento
Juvenil
T EXTO COMUNICAÇÃO SOCIAL Para a madrinha da edição deste uma jornada que dura o ano todo, mas
FOTO JULIA PASSOS ano, deputada Dani Monteiro (PSol), o que vale para a vida inteira", afirma.
PJ da Alerj deu provas de extrema força Na edição passada, para manter os

A
13ª edição do Parlamento Juvenil em 2021. “Foi um ano em que segui- jovens engajados durante o período
(PJ), iniciativa promovida pela mos devastados pela pandemia.Todo de pandemia, foi criada a Mentoria
Alerj e a Secretaria de Estado nosso esforço é para que cada vez mais On-line do PJ. O programa ofereceu
de Educação (Seeduc) para in- jovens ocupem lugares de represen- aulas que aprofundaram conheci-
centivar estudantes da rede estadual tação, seus lugares de direito”, disse a mentos sobre gestão pública, funcio-
de ensino a experimentar a atividade parlamentar mais jovem da Casa. namento do Legislativo, democracia
política, foi muito bem recebida nas As eleições juvenis, que ocorreram e direitos humanos.
escolas públicas, totalizando 200 ins- em primeiro e segundo turnos, mobi- “A mentoria foi boa porque nos es-
crições realizadas em 42 municípios lizaram a rede pública estadual e fo- timulou, fez com que a gente quises-
fluminenses. Foram escolhidos 92 jo- ram realizadas de forma online por um se divulgar o PJ e nos reconectou ao
vens que vão participar das sessões na sistema desenvolvido pelo Parlamen- Parlamento. Minha experiência foi
sede do Legislativo, entre os dias 22 e to fluminense. Os estudantes eleitos inesquecível e me proporcionou ma-
28 de maio. Até mesmo quem já parti- passarão ainda por capacitações para turidade acima de tudo. Mesmo com
cipou de edições passadas quis repetir elaborarem seus projetos de lei antes as dificuldades do cenário pandêmi-
a experiência: 30% dos inscritos são de virem ao Rio de Janeiro para as si- co, o PJ, a Seeduc e a Alerj sempre nos
ex-parlamentares juvenis. mulações das sessões parlamentares. deram toda a assistência necessária”,
Com a queda dos casos de covid no O programa também oferece passeios contou a presidente da 12º edição do
Rio, a nova edição voltou a ser presen- históricos e culturais. programa, Maísa Santos.
cial. O conteúdo foi atualizado para Desde a implementação do PJ, em
valorizar a importância da ciência e DESAFIO SUPERADO 2003, já foram realizadas 12 edições
da pesquisa, tendo em vista a mobi- Segundo o gestor do PJ, Wanderson com a participação de 1.250 escolas e
lização e o impacto nas vivências dos Nogueira, a volta ao presencial dá novo dos 92 municípios fluminenses. Atual-
estudantes nas escolas durante o pe- impulso ao programa. “Esse primei- mente, existem cinco leis de autoria de
ríodo de isolamento. Alguns dos de- ro encontro pessoal é para todos nós parlamentares juvenis em vigor. Uma
bates em pauta também irão abordar muito especial. Depois do isolamento delas é da estudante Larissa Westfal,
a forma como a política e o exercício exigido pela pandemia, ele ganha sig- de Itaguaí, que deu origem ao aplica-
da cidadania impactam a vida da po- nificado ainda maior.Nosso objetivo é tivo LegislAqui, projeto já implemen-
pulação, além de temas ligados à saúde reforçar a cultura participativa na po- tado pela Alerj.
psicológica na retomada das ativida- lítica e mostrar que o PJ é muito mais
des cotidianas. do que a semana legislativa na Alerj. É

DIÁLOGO 33
SOLIDARIEDADE

AO LADO DE
TEXTO COMUNICAÇÃO SOCIAL
FOTO ANTÔNIO PINHEIRO

A
tragédia, que deixou mais de 200
mortos e um rastro de destruição
em 100 pontos na cidade Serrana

PETRÓPOLIS
de Petrópolis, teve resposta ime-
diata do Parlamento desde o primeiro
momento. No dia seguinte às chuvas de
15/02, foi votada a doação de R$ 30 mi-
lhões à prefeitura da cidade para apoiar
as ações de resgate e atendimento à po-
pulação, por meio da Lei 9.562/22, as-
sinada por todos os deputados da Casa.
"Estava com o governador e alguns
secretários de estado quando começa-
ram a circular as primeiras imagens da
tragédia. Imediatamente nos deslo-
camos para a cidade. No dia seguinte,
realizamos reunião do Colégio de Lí-
deres na Alerj para aprovar as medidas
de apoio, em caráter emergencial. Já
na quinta-feira, a lei estava sanciona-
da e pudemos transferir logo o dinhei-
ro para ajudar o município", lembra o
presidente da Alerj André Ceciliano.

CRÉDITO PARA AS EMPRESAS


O programa Supera RJ foi alterado
para permitir que os moradores da
cidade possam acumular outros be-
nefícios e auxílios concedidos pela
prefeitura ou pelo Governo Federal. O
acúmulo será permitido sempre que
qualquer prefeitura decretar esta-
do de calamidade pública, conforme
estabelece a Lei 9.566/22. No texto
original da lei do Supera RJ, não era DIVULGAÇÃO
permitida esta acumulação. com placa de Petrópolis foi prorrogado
A abertura de linhas de crédito e a para agosto e setembro, de acordo com
postergação do pagamento de impostos a Lei 9.563/22. A medida beneficia os
foi outra importante ação para garantir donos de cerca de 60 mil veículos. O pa-
a sobrevivência dos negócios e a manu- gamento do ICMS foi prorrogado para o
tenção do emprego e da renda. Outra segundo semestre do ano em exercício.
mudança no Supera RJ garantiu que A Casa também foi ponto de arreca-
recursos do programa possam ser uti- dação para as famílias atingidas pela
lizados para a concessão de crédito para enchente. Caixas com roupas, itens
micro, pequenas e médias empresas de higiene pessoal, incluindo fraldas
situadas nas áreas em estado de emer- e absorventes e cestas básicas foram
gência ou de calamidade pública, por destinados à Escola Doméstica de Nos-
meio da Lei 9.565/22. Os beneficiários sa Senhora do Amparo, no município. MARCUS VINICIUS na região atingida
terão mais 12 meses de carência antes O pagamento das do IPVA de veículos
de começar a pagar o empréstimo. com placa de Petrópolis foi prorrogado, 2011. Impossível não andar pela cidade
Mais uma linha de crédito especial, de acordo com a Lei 9.563/22. e sentir a dor pela morte das 233 ví-
com recursos do Fundo de Recupera- Morador da cidade, o deputado timas, de tantas famílias atingidas. O
ção Econômica dos Municípios Flu- Marcus Vinicius (PTB) é um dos au- que nos deu força foi a grande corrente
minenses (FREMF), foi criada para tores do requerimento apresentado de solidariedade formada por tantos
atender especificamente aos empre- na Alerj para que seja criada uma Co- voluntários, prefeituras vizinhas, go-
sários de Petrópolis, por meio da Lei missão Especial de acompanhamento vernos estadual e federal e, claro, o
9.564/22, de autoria do Poder Execu- da aplicação dos recursos destinados nosso Parlamento."
tivo, aprovada pela Alerj. a Petrópolis: "É uma tragédia que eu
O pagamento do IPVA de veículos nunca vi igual, nem em 1988, nem em

34 DIÁLOGO
FOTOCRÔNICA

RAFAEL WALLACE

C
ores, sabores, aromas, música e
artes visuais são parte da expe-
riência sensorial dos milhares
de visitantes que passeiam pela
Feira do Rio Antigo. Aos sábados, ela
reúne mais de 300 expositores que
vendem suas peças de artesanatos
e suas antiqualhas. Um verdadeiro
tesouro para quem gosta de garim-
par. O programa lúdico agrada quem
busca comida variada, arte popular,
livros, música, roupas, decoração
e apresentações culturais. A Rua
do Lavradio, declarada Patrimônio
Imaterial do Estado pela Alerj, é uma
viagem no tempo em seus 250 anos.
Antiquários e casarões de época exi-
bem arquitetura única e revitalizada,
com a cara e diversidade do Rio.

DIÁLOGO 35
36 DIÁLOGO

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