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Conheça os esforços

do Parlamento
fluminense para apoiar
o desenvolvimento do
Rio P. 18 a 21

ANO 3 . Nº 7 . JUNHO/2022

CPI NOS TRILHOS


Alerj fiscaliza sistema de trens
metropolitanos e cobra melhorias
no serviço P. 5 a 7
2 DIÁLOGO
DIÁLOGO

Agenda diversificada RAFAEL WALLACE

P
assado o momento crítico da pandemia, o Parlamento fluminen-
se amplia as discussões sobre os desafios diários da população
do estado. O retorno dos trabalhadores ao sistema presencial
evidencou a rotina de precariedade dos trens, principal sistema
de transporte da Região Metropolitana. A matéria de capa desta edição
detalha o trabalho dos parlamentares da CPI dos Trens da Supervia,
que está confrontando concessionária, Governo do Estado, agência de
regulação do setor com as críticas dos usuários sobre a precariedade do
serviço. Diariamente, 340 mil passageiros viajam nas composições dos
ramais que cortam 12 municípios em 270 quilômetros de malha viária
onde sobram queixas de atrasos, desconforto e insegurança.
Em outra reportagem, apresentamos o Alerta Pri, sistema de envio de
mensagens que está ajudando a reduzir o drama das crianças e adoles-
centes desaparecidos no estado. A implementação do sistema é resultado
do trabalho da CPI que se debruça sobre o tema, ouvindo autoridades,
famílias e organizações que atuam para esses registros, que já somam
mais de quatro mil no Rio de Janeiro.
A Diálogo também destaca a trajetória das mulheres empreendedoras
que estão driblando a crise econômica e o preconceito para se estabelece-
rem no mundo dos negócios. Em entrevista, a empresária e investidora Ca-
mila Farani fala da sua própria experiência e do apoio a ideias inovadoras.
As mulheres também colhem os louros na produção das cachaças mais
premiadas do país, como mostra a reportagem sobre o sucesso das “bran-
quinhas” e das “envelhecidas” produzidas no estado. Nesta edição, o leitor
também encontra um panorama das ações da Alerj na elaboração de leis e
políticas públicas para promover o desenvolvimento do estado. Boa leitura!

EXPEDIENTE REVISTA DIÁLOGO É UMA PUBLICAÇÃO


TRIMESTRAL DA SUBDIRETORIA Editor de Audiovisual

diálogo
GERAL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Fabiano Silva
DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO Secretárias da Redação
Luciene Corrêa e Regina Torres
Jornalista responsável
Cristiane Laranjeira Estagiários
Ana Clara da Silva, Ana Luiza Abreu, Daniela
Editores Mendes, João Pedro Lima, Luana Silva,
Presidente Flávia Duarte e Marco Senna Manuel Victor, Maria Eduarda da Costa, Petra
André Ceciliano Sobral e Roberto Malfacini
Coordenação e revisão
1o Vice-presidente - Jair Bittencourt Flávia Duarte e Marco Senna
2o Vice-presidente - Chico Machado
Equipe
3o Vice-presidente - Franciane Motta Ana Paula de Deus, André Ricardo Farias,
4o Vice-presidente - Samuel Malafaia Buanna Rosa, Carol Silva, Eduardo Schmalter,
Graciela Vizzotto, Gustavo Natario, Igor
Soares, Julia Passos, Juliana Mentzingen, Telefone: (21) 2588-1000
1o Secretário - Marcos Muller Leon Lucius, Líbia Vignoli, Manuela Chaves, Rua da Ajuda, 5, sala 2603
2o Secretário - Tia Ju Nivea Souza, Octacilio Barbosa, Renata Edifício Lúcio Costa - Centro
Peres, Renata Peres, Renata Stuart, Rosayne Rio de Janeiro/RJ - CEP 20010-090
3o Secretário - Renato Zaca Macedo, Tainah Vieira, Thiago Lontra,
4o Secretário - Felipe Soares Vanessa Lima e Wagner Luiz da Silva Impressão: Imprensa Oficial
Tiragem: 1,4 mil exemplares

1o Vogal - Pedro Brazão Projeto gráfico e diagramação www.alerj.rj.gov.br


Mariana Erthal comunicacaosocial@alerj.rj.gov.br
2o Vogal - Dr. Deodalto
@alerj
3o Vogal - Valdecy da Saúde Editor de Fotografia @AssembleiaRJ
4o Vogal - Giovani Ratinho Rafael Wallace @instalerj

DIÁLOGO 3
SUMÁRIO
THIAGO LONTRA
TRANSPORTE
Para o Rio entrar nos trilhos............................................ P.5

CPI DOS DESAPARECIDOS


Tecnologia para trazer a pessoa amada ....................... P.8

UNIVERSIDADES
Ciências nas ondas do Mar............................................... P. 10
Apoio à pesquisa científica no estado............................ P. 12
Patrimônio valorizado...................................................... P. 13

DESENVOLVIMENTO
Terreno fértil para o crescimento da agricultura........ P. 14
JULIA PASSOS
INFRAESTRUTURA
Mais força para a energia sustentável........................... P. 16

PRODUTIVIDADE
Foco no desenvolvimento do Rio.................................... P.18

INDÚSTRIA
Pinga de Excelência........................................................... P. 22

EMPREENDEDORISMO
A vez das patroas............................................................... P. 25

ENTREVISTA
Camila Farani...................................................................... P. 27
RAFAEL WALLACE

DIGITAL
Alerj multimídia.................................................................. P. 28

PARTICIPAÇÃO
LegislAqui: voto popular elege as melhores ideias..... P. 30

SUSTENTABILIDADE
Legislando em favor do meio ambiente........................ P. 32

TV ALERJ
Do popular ao clássico...................................................... P. 33

FOTOCRÔNICA
Carnaval do povo............................................................... P. 34

4 DIÁLOGO
TRANSPORTE

CPI criada pela Alerj


busca soluções para
a crise do sistema
de trens da Região
Metrololitana do Rio
TEXTOJULIANA MENTZINGEN E ROBERTO
MALFACINI FOTOS RAFAEL WALLACE

M
oradora de Realengo, na Zona
Oeste do Rio, a estudante Lua-
na Oliveira, de 24 anos, pega o
trem do Ramal Santa Cruz até a
estação Central do Brasil, de segunda a
sexta-feira, para ir ao trabalho na Tiju-
ca. Seu expediente se inicia às 9h, mas,
por causa dos intervalos irregulares das
composições da concessionária Super-
Via, o horário de chegada é sempre in-
certo. A situação piorou ainda mais com
a suspensão dos trens expressos, que
desde o início da pandemia de covid-19
estão operando como paradores.
“Toda semana os trens atrasam, as es-
tações ficam cada vez mais cheias e os
vagões, superlotados. As pessoas sempre
chegam atrasadas no trabalho por causa

Para
da falta de regularidade”, lamenta.
O relato da Luana dá voz à rotina de
sufoco dos 340 mil passageiros que
transitam pelos 270 quilômetros da
malha ferroviária, que corta 12 muni-
cípios da Região Metropolitana do Rio.

o Rio
Para o diretor da Associação Nacional
de Transportes Públicos (ANTP), Wil-
lian de Aquino, uma das razões da de-
cadência socioeconômica do estado é
a má qualidade da mobilidade urbana.
“Existem regiões da capital e do es-

entrar
tado, como a Zona Oeste e a Baixada
Fluminense, totalmente descobertas
de mobilidade de transporte de média
e alta capacidade. As pessoas ‘moram
mal’ porque não têm como se deslo-
car. O transporte é fundamental para

nos
não haver problemas de segurança,
educação e saúde. Não adianta colo-
car hospital, escola e comércio se nin-
guém consegue acessar”, explica.
O especialista compara o sistema de
mobilidade urbana ao funcionamen-

TRILHOS
to do corpo humano. “Se não houver
um sistema integrado de transporte,
a cidade não vive. O sangue da cida-
de é a movimentação das pessoas. Se
as pessoas não circularem, a cidade
não respira, a indústria, o comércio e
o serviço não funcionam”, completa.

DIÁLOGO 5
TRANSPORTE

A precariedade do serviço oferecido


à população e a falta de integração do
sistema estão em discussão na Alerj,
que, em fevereiro deste ano, insta-
lou a CPI dos Trens. A cada audiência
pública, os deputados questionam a DIARIAMENTE, 340 mil
operadora do sistema sobre os motivos passageiros utilizam os
das interrupções e dos atrasos nas via- trens da SuperVia. Eram
gens, a superlotação das composições, 600 mil antes da pandemia
a acessibilidade e o valor da tarifa,
além de outros problemas apontados
pelos usuários.
A presidente da comissão, deputada
Lucinha (PSD), aponta ainda proble-
mas estruturais. “A SuperVia tem que
instalar banheiros nas plataformas,
iluminação nas estações e garantir a
acessibilidade às pessoas com defi-
ciência, idosos e gestantes com esca-
das rolantes”, pontua.
Outra reivindicação discutida pelo
colegiado é a suspensão do reajuste da
tarifa, prevista para passar de R$5 para
R$7, um aumento de 40%. A Super-
Via alega que a majoração é necessá-
ria para compensar a queda de 70% no
número de passageiros na pandemia.
“Tínhamos antes da pandemia 600
mil passageiros por dia, hoje são 340
mil. Precisamos transportar ao menos
450 mil passageiros por dia para que
possamos cobrir os custos operacio-
nais”, declarou o diretor-presidente
da concessionária, Antônio Carlos
Sanches. Lucinha, entretanto, diz
que o argumento não é válido, pois os
problemas já ocorriam antes mesmo
do período de calamidade pública.

O QUE DIZEM OS PASSAGEIROS


Presente nas audiências públicas
realizadas pela CPI, a coordenadora
do Observatório dos Trens, Rafae-
la Albergaria, diz que o serviço dos
trens evidencia a incapacidade de se
garantir o direito à cidade para pes-
soas mais pobres e moradoras de pe-
riferias, repercutindo no crescimento
dessa população.
“A gente entende que o transporte
de mobilidade media a possibilidade
da nossa existência, de ter acesso à
trabalho, saúde, educação e lazer. O
transporte já é o segundo maior gasto
que compromete a renda das pessoas
que vivem nesses territórios”, afirma
a idealizadora do projeto que debate
mobilidade a partir das demandas da
população que utiliza os trens.
Usuários de todos os ramais apon-
tam irregularidade nos horários e falta
de segurança nas estações e platafor-

6 DIÁLOGO
XXXXXXXX
mas. O professor Pedro Nery, passa-
geiro do Ramal Japeri, já foi roubado
dentro da composição quatro vezes
quando voltava à noite do município,
onde estudava. “Todos os assaltos fo-
ram coletivos e aconteceram em trens
mais antigos, em circulação desde
1960. Infelizmente não temos opção.
Chegar e sair de Japeri por outro meio
que não seja o trem é ainda mais difícil
e caro”, conta.
Segundo a vendedora Fernan-
da Santos, usuária do Ramal Belford
Roxo, o maior problema é a irregula-
ridade nos horários dos trens. “Estão
sempre atrasados e a circulação sem-
pre fica suspensa. Além disso, as pes-
soas precisam descer em Madureira e
trocar de composição para chegar até
a Central. Nos fins de semana, o inter-
valo é de uma hora e meia”, reclama.
Já para a estudante Thamyres Lopes, DEPUTADOS realizaram vistorias em quatro ramais do sistema da SuperVia
usuária do Ramal Saracuruna, o que
mais chama atenção é a falta de segu-
rança nas estações, principalmente PLANO EMERGENCIAL “Os trens são os organizadores do
à noite. “A estação de Triagem, por Falta de investimento em manu- sistema de transporte metropolita-
exemplo, quando começa a escurecer tenção e de segurança resumem os no. Se eles pararem, o sistema entra
fica deserta e mais perigosa”, disse. De problemas do sistema dos trens ur- em colapso. A tarifa não pode ter
acordo com a coordenadora do Obser- bano. Durante a CPI, o presidente da mais aumento nenhum porque, se
vatório, o entorno de toda a extensão SuperVia, Antonio Carlos Sanches, fizer isso, perde passageiro. A con-
da linha férrea é um local muito mais informou que somente em 2022 cessionária nos disse que fez um
violento para as mulheres, devido à ocorreram 347 furtos de equipa- acordo com os credores para alon-
falta de iluminação. mentos, como cabos e parafusos, gar um pouco o perfil do pagamento
“A estação Vila Rosali, no Ramal de quase quatro vezes mais do que a para ter um fluxo de caixa. Tem que
Belford Roxo, tem saída para um ce- empresa registrou em 2021. Em 12 aparecer o dinheiro para investir,
mitério. Várias mulheres nos relatam das 104 estações de trem não há sis- principalmente, na manutenção,
que não soltam ali depois que escure- tema de câmeras de segurança, e há para fazer funcionar direito aquilo
ce. Elas descem na estação seguinte e relatos da ação de traficantes. que está funcionando muito mal.
andam cinco quilômetros para voltar Para o deputado Luiz Paulo (PSD), Para isso, será preciso uma nego-
para casa a pé, porque não têm como a SuperVia precisa de um plano de ciação entre a SuperVia, o Governo
pagar outra passagem”, exemplifica. investimento emergencial, que con- do Estado, a Agência Reguladora e a
sidere o processo de recuperação ju- Defensoria Pública, representando
QUAL É O CAMINHO A SEGUIR? dicial da concessionária. os usuários”, analisa o deputado.
Segundo o diretor da ANTP, enquan-
to permanecer o modelo tarifário de
cobrir custos pagos apenas pelos pas- e melhoria dos pontos de integração
sageiros, o destino vai ser sempre o de um modal para o outro.
mesmo: os sistemas não vão suportar. “As pessoas não podem sair de um
“Todos os países que têm transpor- ônibus, subir e descer metros de esca-
te de mobilidade com o mínimo de da para acessar a plataforma de trem.
qualidade, usam parte da tarifa paga Tem que ter cobertura nos pontos de
pelos empregadores e parte paga pela O transporte já é o ônibus e estações para as pessoas não
sociedade, através dos impostos. Não ficarem ao relento. O Bilhete Único In-
adianta achar que a tarifa vai cobrir
segundo maior gasto termunicipal precisa de uma integra-
todos os custos. Esse modelo é ultra- que compromete a ção tarifária mais barata para incenti-
passado e falido”, destaca Aquino. renda das pessoas var a integração, em vez das viagens
Para ele, uma das soluções seria a diretas. É preciso planejar transporte
criação de um fundo de transporte
que vivem nesses humano, e não transporte urbano,
público com despesas bem definidas territórios” para se ter uma cidade com qualidade
de todos os agentes que geram custo. de vida”, acrescenta.
Além disso, é preciso um plano de in- Rafaela Albergaria
tegração física para a questão tarifária Coordenadora do Observatório dos Trens

DIÁLOGO 7
CPI DOS DESAPARECIDOS

Tecnologia
para trazer
a pessoa
amada

Knoploch com
Isaak e Clemilda:
primeiro envio
DIVULGAÇÃO de SMS

Alerta Pri envia dados de crianças e


adolescentes a três milhões de celulares
TEXTO MANUELA CHAVES do deputado Alexandre Knoploch
FOTO THIAGO LONTRA (PSC), obriga operadoras de telefo-
nia a enviarem SMS com dados que

P
or nove dias, a vendedora autô- ajudem a descobrir o paradeiro desses
noma Clemilda do Carmo viveu jovens. São em média três milhões de
uma angústia que parecia sem números de celulares.
fim: o filho Isaak do Carmo Fé- “O nome e a foto dele foram divul-
lix, de 11 anos, sumiu quando brincava gados pelo Alerta Pri. Foi através de
no portão de casa, em Santa Cruz, na uma foto em rede social que soube-
Zona Oeste da capital. Com o coração mos que ele estava no Centro do Rio.
apertado, a mãe procurou auxílio na O Alerta Pri e a FIA me ajudaram mui-
Fundação para a Infância e Adolescên- to, me deram apoio na busca pelo meu O nome e a foto dele
cia (FIA-RJ), órgão da Secretaria de filho”, conta Clemilda.
Estado de Desenvolvimento Social e A criação do mecanismo foi um dos
foram divulgados pelo
Direitos Humanos (SEDSODH). A no- principais resultados da CPI da Alerj Alerta Pri. Foi através
tícia do desaparecimento, com foto e que investigou casos de crianças e de uma foto em rede
informações sobre o menino, foi rapi- adolescentes desaparecidos no estado.
damente enviada por mensagem para O nome do sistema é uma homenagem
social que soubemos
milhares de celulares no estado. à Priscila Belfort, desaparecida há 18 que ele estava no
Isaac foi a primeira criança a ser anos. O SMS contém um link que di- Centro do Rio.”
encontrada após a implementação do reciona para o Portal de Desaparecidos
Alerta Pri. O sistema eletrônico criado da Polícia Civil, criado especialmente Clemilda do Carmo
pela Lei 9.182/21, de autoria original para atender à norma, que tem ima- Vendedora autônoma

8 DIÁLOGO
JULIA PASSOS
gens dos menores cadastrados. As in-
formações são disparadas nas primei-
ras 24 horas de sumiço, obedecendo
à Lei 3.614/01, que determina a busca
imediata de menores de 16 anos.
“Estatísticas provam que as primei-
ras horas são fundamentais.Quanto
mais rápida for a difusão do alerta,
mais chances temos de recuperar nos-
sas crianças com vida. A cada criança
localizada tenho a certeza de que todo
o nosso esforço na CPI valeu muito a
pena”, justifica Knoploch, que presi-
diu os trabalhos da CPI.
Mãe de Priscila, Jovita Belfort está
à frente da Superintendência de De-
saparecidos da SEDSODH. Para ela,
o sistema traz uma importante con-
tribuição para minimizar o proble-
ma. “O Alerta Pri já foi um avanço e
representa uma vitória de todos, es-
pecialmente para as mães dos desapa- PARLAMENTARES com Jovita Belfort (Centro) e o grupo de mães na Alerj
recidos. Só quem conhece a nossa dor
somos nós, mais ninguém. Peço que as as principais vítimas dessa tragédia.
pessoas, ao receberem o alerta, não o No ano passado, a FIA cadastrou 172 DRAMA SEM FIM
ignorem. Qualquer informação sobre casos. A maioria, 156, foi localizada. “Por mais que eu busque, não
essas crianças pode salvar vidas”, diz. A fuga do lar relacionada a conflitos chego a lugar nenhum. É mui-
familiares representa 77% dos regis- to difícil. Perdi minha família,
DIVULGAÇÃO É FUNDAMENTAL tros, de acordo com levantamento da minha credibilidade”, lamenta
A Delegacia de Descoberta de Para- FIA. Este é um fenômeno que aumen- a cuidadora de idosos Rogéria
deiros (DDPA) passa as informações tou de forma exponencial durante a da Cruz, que há 13 anos vive a
às operadoras de telefonia, que fazem pandemia, como conta o coordenador angústia da ausência da filha
os disparos para números de telefone do SOS Crianças Desaparecidas, Luiz Vitória Claudiana Nogueira, que
selecionados de forma aleatória. Mas Henrique Oliveira. Segundo ele, a vio- tinha 11 anos quando sumiu.
é possível ingressar no cadastro, en- lência física e psicológica aumentaram A menina foi vista pela última
viando MSM com o CEP residencial em decorrência do confinamento. vez no dia 5 de junho de 2009,
para o número 55190. A emissão do documento de iden- quando ia da escola para a casa
O Rio de Janeiro é pioneiro na im- tidade logo na infância aliada à ampla de uma amiga, em Irajá, Zona
plantação do sistema, que teve seu divulgação do desaparecimento são Norte do Rio.
primeiro alerta enviado no dia 24 de medidas que contribuem para uma A mãe refez por diversas vezes
março deste ano. A delegada titular da solução rápida dos casos. o trajeto e percorreu comunida-
DDPA, Elen Souto, aponta que, desde “É necessário encontrar um nicho des na esperança de encontrar
o início do funcionamento até o início de prevenção junto às escolas com pa- a filha. A passagem do tempo
de junho, foram disparados 40 alertas. lestras que abordem a questão da vio- desafia a esperança, mas Rogé-
A partir desses disparos, 31 crianças lência intrafamiliar. Precisamos bus- ria encontrou na solidariedade
foram encontradas. car um caminho de interlocução com uma forma de preencher o va-
“É de suma importância para as in- a sociedade num todo, evitando esses zio. Fundou a ONG Mães Braços
vestigações que o alerta seja dado o conflitos, que levam aos desapareci- Fortes, que acolhe famílias que
quanto antes. Atualmente, as redes mentos temporários”, afirma Oliveira. enfrentam o mesmo problema e
sociais são um grande instrumento de Outra medida relevante é a Lei pessoas em situação de vulnera-
investigação, e agora podemos contar 9.506/21, de autoria do relator da bilidade social na região de Nova
também com essas mensagens. A efi- CPI,o deputado Danniel Librelon Iguaçu, na Baixada Fluminense
cácia do Alerta Pri é real, as informa- (REP), que criou o “Cartão Pronti- do estado. “Buscamos ajuda
ções efetivamente chegam às delega- dão”. Ele estabelece o pagamento de no Ceasa para distribuir frutas,
cias e às famílias dos desaparecidos”, um salário mínimo, por até três me- peixes e outros alimentos para as
esclarece a delegada. ses, para apoiar as famílias: pessoas mais carentes no nosso
Somente em 2021, o Estado do Rio “Esse cartão vai ajudar mães que bairro. O Governo do Estado
registrou 4.039 casos de pessoas que não possuem condição de pagar pas- precisa olhar mais para os po-
saíram às ruas e nunca mais foram sagem na busca por informações sobre bres, precisa implantar mesmo
vistas por suas famílias e amigos, se- o filho. É um grande avanço”. a investigação dos casos de de-
gundo o Instituto de Segurança Públi- saparecimento”, desabafa.
ca (ISP). Jovens entre 12 e 17 anos são

DIÁLOGO 9
UNIVERSIDADES

Ciências nas
ondas do Mar O navio é a realização de um projeto
de anos e custou R$ 7 milhões, sendo
R$ 1,6 milhão doado pela Alerj. An-
tes, o instituto tinha que contar com o
apoio de barcos da Marinha. O moder-
Construído com apoio da Alerj, navio no equipamento deu maior autonomia
aos pesquisadores e serve também ao
oceanográfico da Uerj inicia projetos trabalho de outros cursos.
As viagens exploratórias começa-
de pesquisa no litoral do estado ram em maio, e duas pesquisas já es-
tão no radar: uma sobre os plânctons
- pequenos organismos que vivem na
TEXTO JOÃO PEDRO LIMA E PETRA SOBRAL tentável, o ecossitema marinho do li- superfície da água, na Baía de Gua-
FOTOS OCTACILIO BARBOSA toral do Rio. nabara; e um levantamento sobre o
Com 30,5 metros de comprimento modo de agir das colônias tradicionais

A
vista da Baía de Guanabara para e 7,8 metros de largura, a embarcação de pesca fluminenses.
o mar foi ampliada para um gru- ultrapassa 250 toneladas e tem capa- Os primeiros estudos sobre os
po de pesquisadores da Univer- cidade para navegar com 30 pessoas. plânctons já revelam o efeito da de-
sidade Estado do Rio de Janeiro Equipado com um dessalinizador, que gradação ambiental do entorno da
(Uerj). Eles fazem parte da equipe do reaproveita a água do mar e transforma Baía de Guanabara. O que cai nas re-
Navio Oceanográfico Professor Luiz em água potável, ele tem autonomia de des de coleta é levado para análise na
Carlos, que zarpa da Marina da Glória até 15 dias para pernoite. É uma sala de sede do instituto, que tem encontrado
rumo à costa do estado, em busca de aula em alto mar que vai aproximar os microplásticos presos a esses orga-
informações que ajudem a conhecer estudantes de Oceanografia e Biologia nismos. No laboratório, esse material
melhor e a explorar, de maneira sus- Marinha de seus objetos de estudo. é separado e os pesquisadores fazem

10 DIÁLOGO
um rastreamento das regiões que mais
contribuem para a contaminação das
águas. A ideia é que essas informa-
ções permitam aos governos elaborar
políticas públicas para a preservação
daqueles ecossistemas.

PARCERIA COM PESCADORES


A economia do mar também será be-
neficiada pela troca de experiências
entre os pesquisadores e a comunida-
de tradicional que vive da pesca no es-
tado. A pedido da Secretaria de Esta-
do de Ciência, Tecnologia e Inovação,
essas colônias estão sendo mapeadas
para a implementação de técnicas de
inovação na pesca. O objetivo é con-
tribuir para o desenvolvimento socio-
COMISSÁRIA ROBERTA Fontes é responsável pela hotelaria e pelo convés econômico das colônias, cuja cultura
vem se perdendo com o passar das
gerações. “O navio, nesse projeto,
auxilia na orientação para tecnologia
de pesca em alto mar. Vamos criar um
portal para auxiliar as colônias com
informações úteis às suas necessida-
des e acompanhar o trabalho”, afirma
o vice-diretor do curso de Oceanogra-
fia, Alessandro Mendonça.
Além de permitir estudos com mo-
nitoramento do ambiente marinho, o
navio vai aperfeiçoar a formação de
profissionais que atuam na preserva-
ção da biodiversidade nos oceanos.
Os alunos também vão acumular as
horas de embarque necessárias para
a formação no curso. A Uerj é a pri-
meira instituição de Ensino Superior
no estado a contar com esse tipo de
embarcação, que ainda está em fase
VICE-DIRETOR do curso de Oceanografia, Alessandro Mendonça, na cabine de testes e terá funcionamento pleno
até o fim deste ano.
“A embarcação é um sonho de quase
40 anos, desde a criação do curso, em
1982, e que foi viabilizado por conta
das parcerias, entre elas a da Alerj, que
nos honra bastante”, afirma o diretor
da Faculdade de Oceanografia da Uerj,
Marcos Bastos.
A intenção é de que diversos seto-
res a Uerj possam ter acesso ao barco.
Projetos que necessitem da sua utili-
zação serão avaliados pela comissão
científica do navio. “Alunos de odon-
tologia que quiserem atender a popu-
lações de pescadores, passarão por
treinamento para embarcar. Estamos
produzindo também um guia de em-
barque com procedimentos e normas
de segurança a serem seguidas”, ex-
plicou Mendonça.

GELADEIRA É USADA para a conservação do material coletado para estudo

DIÁLOGO 11
UNIVERSIDADES

APOIO À PESQUISA
CIENTÍFICA NO
ESTADO
ESTUDANTE
manipula
animais no
laboratório da
universidade,
que realiza
pesquisas para
diversas áreas
da Saúde
THIAGO LONTRA

Projeto do Biotério Central da UFF recebe R$ 18 milhões da Alerj

I
nstituições de pesquisa de todo o se não há produção de conhecimento na criação dos animais, com refrigera-
estado vão contar, em breve, com o fundamental. Nesse sentido, o biotério ção que protege contra a liberação de
Biotério Central para o desenvolvi- vem dar a base necessária para a estru- substâncias químicas no ar e sem in-
mento de medicamentos e vacinas. turação da saída dessa dependência da terrupção do fornecimento de energia
O laboratório de estudos, que envolve ciência e tecnologia”, comenta. à experimentação. A universidade já
animais em seus modelos de experi- O laboratório vai garantir qualidade conta com o terreno para a construção
mentação, será coordenado pela Uni- do centro, inovador e ambientalmen-
versidade Federal Fluminense (UFF) te sustentável, que deverá ter parceria
e sua construção vai ser viabilizada com a Universidade Federal do Rio de
pelo repasse de R$ 18 milhões feito Janeiro (UFRJ), a Universidade do Es-
pela Alerj, por meio da Lei 9.432/21. tado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Fun-
O reitor da universidade, Antonio dação de Amparo à Pesquisa do Estado
Claudio da Nóbrega, destaca que o do Rio de Janeiro (Faperj).
Biotério Central contribuirá com a “Com esse projeto, a UFF promete
redução da dependência que o país grande contribuição à ciência flumi-
tem hoje da importação de produtos O Complexo da Saúde nense, em uma área sensível e estra-
estrangeiros no setor da saúde, atra- também vai ser funda- tégica. O Complexo da Saúde vai ser
vés do investimento em pesquisa e fundamental para o desenvolvimento
inovação, especialmente nas áreas de
mental para o desen- do estado, gerando empregos e opor-
virologia, imunologia e farmacologia. volvimento do estado, tunidades, graças ao apoio da Assem-
“A doação faz parte da proposta de gerando empregos e bleia Legislativa”, ressalta o presiden-
fomento ao Complexo Industrial da te da Comissão de Ciência e Tecnologia
Saúde, que tem o objetivo de tornar
oportunidades na área, da Casa, deputado Waldeck Carneiro
o estado autônomo em produção de contando com o apoio da (PSB), coautor da medida com o presi-
bioprodutos. Isso começa com uma es- Assembleia Legislativa” dente André Ceciliano (PT) e de outros
trutura de pesquisa básica, já que não é 31 parlamentares.
possível realizar pesquisa aplicada, ino- Dep. Waldeck Carneiro
vação, criar medicamentos e vacinas Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia

12 DIÁLOGO
U
DIVULGAÇÃO ANTÔNIO FILHO
m Livro de Notas, da-
tado de 1649, está
entre as preciosi-
dades do Arquivo
Público Municipal Wal-
dir Pinto de Carvalho.
Ele preserva os regis-
tros da rotina da antiga
comarca de Campos dos
Goytacazes - conflitos
de terra, discussões po-
líticas, documentos de es-
cravizados e a contabilidade
das produções agropecuárias
da época. A conservação desta e de
outras peças seculares do acervo, que
ocupa o histórico Solar do Colégio, de
1803, será realizada por meio de um
convênio de cooperação firmado en-
tre a Alerj, a Universidade Estadual
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(Uenf) e a prefeitura do município, na
Região Norte do estado.
O Parlamento fluminense destinou FAZENDA QUE ABRIGA o Arquivo Municipal de Campos vai ser restaurada
R$ 30 milhões de seu Fundo Especial

PATRIMÔNIO
para projetos desenvolvidos pela Uenf.
Desses recursos, R$ 20 milhões vão fi-
nanciar a restauração total do Solar do
Colégio, antiga fortaleza dos jesuítas
do século XVII e o prédio mais antigo

VALORIZADO
da cidade. As obras vão melhorar as
condições de conservação do acervo,
que está em processo de digitalização,
e também vão contribuir para a valo-
rização do patrimônio histórico e o
incentivo ao turismo no estado.
Ainda mais antiga, a sede da Fazen- Alerj doa R$ 30 milhões para restauro
da Campos Novos, fundada em 1648
em Cabo Frio, na Região dos Lagos, do Solar do Colégio e da Fazenda Campos
também foi contemplada com R$ 10
milhões dos recursos da Alerj. A pro- Novos, construções que preservam a
priedade rural construída pelos jesuí-
tas preserva casa grande, senzala, ofi- memória do estado
cinas, capela e cemitério. Restaurada,
vai abrigar o novo campus da Uenf.
“Pela Campos Novos, passaram no- ciam a comunidade acadêmica e a O empenho da Alerj também foi
mes como Charles Darwin e Dom Pe- sociedade. A partir de 2019, a Alerj fundamental para a aprovação e im-
dro. Esse é um patrimônio que agora economizou R$2 bilhões com revisão plementação da Emenda Constitucio-
será recuperado para ser não apenas de contratos e corte de gastos. nal 71/17, que garantiu a autonomia fi-
um ponto turístico, mas um impor- Outra ação que contou com repas- nanceira, com repasse de duodécimo,
tante centro de conhecimento cien- se da Casa foi a nova sede do Instituto às universidades estaduais. Mais re-
tífico que vai beneficiar toda a socie- de Aplicação Fernando Rodrigues da centemente, foi discutida e aprovada
dade”, explica o presidente da Alerj, Silveira (CAp-Uerj), que fica na Rua no Parlamento a incorporação da Fun-
deputado André Ceciliano. Barão de Itapagipe, no Rio Comprido, dação Centro Universitário Estadual
Zona Norte do Rio. A obra, inaugura- da Zona Oeste (Uezo) à Uerj. A me-
PARCERIAS COM AS da em maio, recebeu R$ 26 milhões dida equiparou docentes e discentes
UNIVERSIDADES da Alerj. A escola ocupa 7.000 metros das instituições, incluindo o regime de
O Parlamento fluminense tem apoia- quadrados, praticamente o dobro do trabalho e a concessão de benefícios;
do projetos das universidades do es- tamanho da anterior, contando audi- com a preservação do número de va-
tado com a doação de recursos do tórios e quadras de esporte e mais salas gas e serviços oferecidos ao público.
Fundo da Assembleia Legislativa de aula, o que permitirá o aumento da
para financiar projetos que benefi- oferta de vagas.

DIÁLOGO 13
DESENVOLVIMENTO

TEXTO BUANNA ROSA


FOTO BANCO DE IMAGEM

O
Estado do Rio terá um Centro de
Excelência em Fertilizantes, um
projeto que vai contribuir para
a redução da dependência desse
insumo pelo setor agrícola nacional.
Ele deverá ser implementado no an-
tigo prédio do Parque Tecnológico da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), sob a coordenação da Empre-
sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) e com o apoio da Alerj, que
já anunciou a doação de R$ 30 milhões
para o empreendimento.
“É uma janela de oportunidade para
o Rio investir em tecnologia e produ-
ção nesse setor. Temos renomadas
universidades, além da matéria-pri-
ma e da vontade de fazer acontecer BRASIL IMPORTA mais de 41 milhões de toneladas de adubo químico por ano
projetos importantes para o desen-

Terreno fértil para


volvimento do estado”, justifica o
presidente da Alerj, deputado André
Ceciliano (PT).
Fértil por natureza, o Brasil é o quar-

o crescimento da
to produtor mundial de grãos (arroz,
cevada, soja, milho e trigo) e o se-
gundo maior exportador, segundo

AGRICULTURA
a Embrapa. O país lidera a colheita e
a comercialização de soja, com 50%
do comércio mundial. No ano passa-
do, foram 126 milhões de toneladas
produzidas.Apesar dessa relevância
no setor agrícola, o país não é autos-
suficiente na fabricação de insumos Parlamento fluminense destina R$ 30
fundamentais para a fertilidade do
campo. A dependência ficou evidente milhões para criação de um Centro de
com a guerra entre Rússia e Ucrânia,
quando foram suspensas as exporta-
Excelência em Fertilizantes no estado
ções do insumo.
Para o pesquisador da Embrapa, José te mais exportado mundialmente é
OPORTUNIDADE PARA O RIO Carlos Polidoro, que tem participado o NPK — fertilizantes nitrogenados
De acordo com a Associação Nacional das discussões na Alerj, o Rio possui o (N), fosfatados (P) e os de potássio
para Difusão de Adubos (Anda), cer- maior ecossistema de inovação favo- (K) - com facilidade de ser produzido
ca de 85% dos fertilizantes usados na rável para a aplicação dessa tecnolo- no Brasil, por meio da extração do gás
agricultura brasileira vêm do exterior. gia. “Temos universidades, a Faperj e natural, matéria-prima abundante no
Mais de 26%, da Rússia e de Belarus. o parque tecnológico da UFRJ. No país, Estado do Rio.
Em 2021, o Brasil importou 41,6 mi- teremos hubs que vão nos conectar Quem entende bem desse cenário é
lhões de toneladas de adubos ou fer- com todas as regiões. Essa é uma gran- a engenheira química, Magda Cham-
tilizantes químicos, um investimento de oportunidade para o Rio”, afirma. briard, que integra a Assessoria Fiscal
de US$ 15,1 bilhões. Ele ainda destaca que o fertilizan- da Alerj e já foi ex-diretora da Agên-

14 DIÁLOGO
nossas rotas de escoamento, colocan-
do em funcionamento a Rota 3 e in-
vestindo na criação de uma Rota 4b”,
diz a engenheira.
Segundo Magda, a Petrobras preten-
de por em operação a Rota 3 - que vai
escoar gás natural da Bacia de Santos
até o Complexo Petroquímico do Es-
tado do Rio de Janeiro (Comperj), em
Itaboraí, até o fim de 2022. O proje-
to do gasoduto prevê escoamento e
processamento diário de 21 milhões
de metros cúbicos de gás. Já a Rota 4b
levará o insumo ao Porto de Itaguaí,
com investimento estimado em R$5
bilhões, e poderá contribuir com a in-
dustrialização do Leste Metropolitano
e da Baixada Fluminense.
O Rio de Janeiro também poderá se
beneficiar do Plano Nacional de Ferti-
INDÚSTRIA UTILIZA o gás natural na produção de compostos nitrogenados lizantes (PNF), divulgado pelo Gover-
no Federal no início deste ano. O dire-
tor de Projetos Estratégicos da União,
Bruno Caligari, ressalta que os inves-
timentos para esse setor são altos e a
maturação leva entre dois a três anos.
“O plano traz uma série de medidas
visando ao aumento da produção até
2050 e o estado fluminense tem muito
para crescer com esses investimentos.
Usar a UFRJ para que essa dependên-
cia diminua é uma proposta muito in-
teligente”, diz Caligari.

COMO O GÁS VIRA


FERTILIZANTE
A fabricação de fertilizantes nitroge-
nados faz parte do ciclo de atividades
produtivas ligadas ao gás natural.
DEPENDÊNCIA DE ADUBO importado chega a 85% nas lavouras do Brasil A partir de transformação química
deste insumo são obtidos a amônia e
cia Nacional do Petróleo, Gás Natural como insumo para fertilizantes e pro- seus derivados, como ureia, sulfato
e Biocombustíveis (ANP). Chambriard dutos químicos. E é nisso que precisa- de amônio e nitrato de amônio. Es-
explica que o gás natural, utilizado na mos investir”, frisa Magda. tes compostos são largamente usa-
fabricação de fertilizantes, já é hoje No entanto, ela explica que ainda dos na agropecuária e na indústria. O
8% da matriz energética brasileira. falta infraestrutura para alavancar aumento no consumo de alimentos,
“Isso significa que o gás está sen- essa produção e adianta que será ne- principalmente de proteína animal,
do cada vez mais consumido. Ele é o cessária a implantação de mais rotas requer maior produção de grãos e,
viabilizador contínuo de uma matriz de escoamento do gás natural dos po- por consequência, maior utilização
cada vez mais limpa no mundo e é um ços para a costa. “Hoje a nossa prin- dos fertilizantes.
insumo muito usado para a indústria, cipal produção de gás vem do pré-sal
na geração de energia, mas também e por isso a importância de aumentar

DIÁLOGO 15
INFRAESTRUTURA

Mais força
TEXTO EDUARDO SCHMALTER
E ANA PAULA DE DEUS
FOTO BANCO DE IMAGEM

O
s constantes reajustes da energia
elétrica são um peso considerá-

para a energia
vel no bolso do consumidor. A
inflação do fornecimento resi-
dencial no Rio chegou a 23,21% em
abril, no acumulado de um ano. Quase
o dobro do IPCA, que atingiu 11,95%.
A bandeira vermelha na conta de luz

SUSTENTÁVEL
acendeu o interesse pela energia solar
- alternativa ecológica, que pode ser
também economicamente vantajosa
a longo prazo.
O percentual dessa modalidade na
matriz energética no país ainda é pe-
queno, 1,7%. Porém, o número de sis- Leis aprovadas pelo Parlamento fluminense
temas fotovoltaicos instalados está em
expansão, principalmente, no Sul e no
incentivam o uso da placas fotovoltaicas,
Sudeste do país. O Parlamento flumi-
nense tem aprovado leis de incentivo
de menor impacto para o meio ambiente
e o Rio de Janeiro já conta com mais de
41 mil painéis, principalmente em re-
sidências, além de indústrias, comér-
Absolar revelam que, na última déca- cas fotovoltaicas é um bom negócio,
cios e propriedades rurais, segundo a
da, a geração de eletricidade a partir embora o custo ainda seja alto: “Um
Associação Brasileira de Energia
da luz e do calor do sol proporcionou estado que oferece formas mais ba-
Solar Fotovoltaica (Absolar).
ao estado a atração de aproximada- ratas de geração de energia, como é o
Além de reduzir gastos,
mente R$ 1,9 bilhão em investimen- caso da solar, faz com que empresas
a energia solar im-
tos, criando mais de dez mil em- possam produzir de forma mais eco-
pulsiona o desen-
pregos, com arrecadação de R$ 451 nômica seus produtos, sendo mais
vo l v i m e n t o .
milhões aos cofres públicos. competitiva no mercado, atraindo
Dados da
O arquiteto Cassiano Alcântara, que assim outras empresas”.
desenvolve projetos sustentáveis, ex- Alcântara conta que tem notado um
plica por que o investimento nas pla- aumento no interesse pela instalação

16 DIÁLOGO
desse sistema nos últimos dois anos. BENEFÍCIOS PARA O SETOR
O principal atrativo tem sido a redução
na conta de luz, que pode chegar a até
NÚMEROS Além do benefício da redução da con-
ta de luz, a Lei 8.922/20 permite a
90%. “Com investimentos do gover- isenção do Imposto sobre Circulação

R$ 1,9 bi
no, percebo que as instalações ficaram de Mercadorias e Serviços (ICMS) aos
mais acessíveis economicamente, contribuintes que injetarem na rede
viabilizando a execução do sistema de elétrica a produção das placas solares
energia solar”, afirma. Valor dos investimentos atraídos que excederem o consumo. A norma é
O professor José Roberto Aguiar, para o estado pela energia solar de autoria original dos deputados An-
morador de Olaria, na Zona Norte da dré Ceciliano (PT) e Luiz Paulo (PSD).
capital, encontrou na energia solar o Outra lei, a 9.594/22, de autoria do

R$ 451 mi
caminho para escapar da instabilida- deputado Max Lemos (PROS), auto-
de do fornecimento da rede elétrica. riza os chefes dos Poderes a concede-
Também pesou na decisão a adoção de rem incentivos aos servidores públicos
uma matriz ambientalmente limpa. Em impostos arrecadados efetivos estaduais para o financiamen-
Ele começou a captar em janeiro des- to da instalação de sistemas de energia
te ano e diz que enfrentou burocracia solar fotovoltaica nas residências, com

+ 10 mil
por parte da concessionária de serviço o pagamento mensal por meio de con-
público. “Além de a questão ambiental signação em folha.
ser importantíssima, pesou a possibi- O Governo do Estado anunciou, em
lidade de ter oferta de energia mais Número de empregos criados junho, que promete disponibilizar R$
barata e alternativa. Presenciamos 80 milhões para apoiar projetos de
uma falta de investimentos no setor de energia solar e alavancar investimen-
energia, e os bairros de subúrbio estão tos no setor, com o objetivo de gerar
cada vez mais abandonados. Sempre mais empregos e criar oportunidades
ocorre falta de energia em residências Apesar do interesse crescente, em- de negócio. Os recursos virão de um
da nossa região”, conta. presas que atuam no setor ainda sen- fundo, que está sendo estruturado
Apesar da sensível redução no valor tem falta de políticas públicas para dar pela Agência Estadual de Fomento
da conta de luz, é necessário um in- ainda mais atratividade, como explica (AgeRio). Além de beneficiar produ-
vestimento inicial para a instalação do o arquiteto: “É preciso mais divulga- tores rurais, escolas, hospitais e ca-
sistema, que está longe de ser barato. ção e incentivos. Sempre explico as sas populares, o montante poderá ser
Aguiar fez as contas e achou o custo vá- vantagens econômicas e ecológicas da utilizado no programa de revitalização
lido: estimado em R$ 20 mil, com o fi- energia solar para meus clientes. Com dos condomínios industriais que será
nanciamento em 72 parcelas, deverá pa- os incentivos políticos,a sociedade lançado pelo estado.
gar R$ 48,6 mil. Ele espera que, ao longo tem mais conhecimentos e facilidades
de três anos, a nova fonte compense. para aderir a esse sistema”.

DIÁLOGO 17
PRODUTIVIDADE

Foco no
desenvolvimento
do
TEXTO LEON LUCIUS
FOTO FOTOALERJ
Rio programa emergencial Supera RJ; e
também para incentivar a economia,
com a Emenda Constitucional que

S
uperado o momento crítico da estabeleceu o Fundo Soberano.
pandemia da covid-19, o Par- A mudança do Palácio Tiradentes
lamento fluminense amplia a para a nova sede no Edifício Lucio
pauta das discussões e aprova Costa - na Rua da Ajuda, 5, Centro da
leis para apoiar o Estado do Rio de capital - permitiu a modernização das
Janeiro na retomada do desenvol- atividades do Parlamento e amplicou
vimento econômico e social. Mes- a conectividade do Legislativo com os
mo durante a emergência sanitária, cidadãos de todo o estado. Exemplo
a Casa manteve alta produtividade, disso foram os lançamentos do apli-
com atividades virtuais ou semipre- cativo LegislAqui e das transmissões
senciais. Nesse período, foram apro- de audiência públicas via streaming. A
vadas leis importantes para apoiar revista Diálogo destaca algumas ações
a população, como as que criou o relevantes da atual legislatura:

18 DIÁLOGO
ECONOMIA EM
PROL DO ESTADO
Desde 2019, mais de R$ 2 bilhões do
orçamento do Legislativo foi econo-
mizado. Com este dinheiro, o Parla-
mento tem apoiado o estado e muni-
cípios nas crises enfrentadas ao longo
deste período - além de incentivar
projetos sociais, de Educação, Segu-
rança Pública e Saúde para a popula-
ção. Veja algumas doações:

200 milhões
para contratar policiais
civis e militares

DEPUTADOS NO NOVO Plenário: mais de 300 leis foram aprovadas em 2020


125 milhões
para os municípios afetados pelas
ALTA PRODUTIVIDADE tempestades de verão de 2022
Durante a crise sanitária da covid-19, a Alerj adotou sessões virtuais e bateu
recorde de produtividade. Em 2020, foram mais de 350 sessões extraordiná-
rias, 872% a mais que em 2019, além de 1.600 projetos de lei apresentados.
Destes, 435 viraram leis estaduais. Em 2021, foram sancionadas ou promul- 26 milhões
gadas 335 leis ordinárias. Os deputados apresentaram cerca de 1.700 projetos
para nova sede do CAp-UERJ
de lei e a Casa realizou 224 sessões extraordinárias e 108 sessões plenárias.

30 milhões
para a Universidade Estadual
do Norte Fluminense (UENF)
investir em projetos de extensão
e conservação do patrimônio
histórico

20 milhões
para o combate à covid-19 nas
comunidades por meio da Fiocruz

20 milhões
para abrigos de assistência
social da Prefeitura do Rio

18 milhões
ENTREGA SIMBÓLICA do cheque de R$ 20 milhões repassados à Fiocruz para pesquisas científicas da UFF

DIÁLOGO 19
PRODUTIVIDADE

FUNDO SOBERANO
Usar parte dos recursos dos royalties
SUPERA RJ É AMPLIADO
Proposto e aprovado pela Alerj, o programa Supera RJ já aten-
e participações especiais para investir
deu mais de 268 mil pessoas com auxílio emergencial de até
em projetos que diversifiquem a cadeia
R$ 300, acrescido do valor do vale-gás. Para socorrer micro-
produtiva do estado, tornando a eco-
empreendedores, autônomos e pequenas empresas, já foram
nomia menos dependente do petróleo.
liberados mais de R$ 440 milhões em recursos para crédito.
Esta é a finalidade do Fundo Soberano,
criado pela Alerj. O fundo começou a
ser capitalizado no início deste ano e
tem aporte previsto de mais de R$ 2,1
bilhões, em 2022.

CPIS FORTALECEM
CAIXA DO ESTADO
A CPI dos Royalties e Participações in-
vestigou a queda nos repasses das pe-
trolíferas ao estado pela exploração do
óleo e do gás. O resultado foi a melhoria
da fiscalização pela Fazenda estadu-
al e pela Agência Nacional do Petróleo
(ANP) sobre as deduções. Em compara-
ção com 2018, a arrecadação aumentou
em R$ 2,7 bilhões, em 2021.

LEGISLAQUI
BENEFICIÁRIA
O aplicativo veio para aproximar o
do Supera RJ:
Parlamento do cidadão. A plataforma
programa já
on-line recebe ideias da população que
atendeu mais
podem ser adotadas pelos deputados e
de 268 mil
transformadas em leis efetivas do nos-
pessoas
so estado. Os cidadãos também podem
consultar as principais leis que garan-
tem os seus direitos.

FERTILIZANTES
A Casa aprovou o Projeto de Lei
5.686/22, que institui o Pla-
no Estadual de Fertilizantes e
uma política especial tributária
destinada a fomentar a cadeia
produtiva, para reduzir a de-
pendência desse insumo no país.
Os deputados também aprovaram
doação de R$ 30 milhões para a
criação de um Centro de Excelên-
cia de Fertilizantes.

20 DIÁLOGO
EM DEFESA DO GALEÃO ALERJ CONTRA A COVID-19 DIVERSIDADE NAS PAUTAS
O Parlamento fluminense liderou uma Na pandemia, a Alerj foi a primeira casa A Alerj se colocou à frente dos debates
frente em defesa do Aeroporto Interna- legislativa do país a estabelecer um sobre igualdade, respeito e inclusão.
cional Tom Jobim. A intenção foi evitar protocolo de trabalho remoto, afas- Através de CPIs, investigou o tema da
que a privatização do terminal Santos tando imediatamente os funcionários intolerância religiosa e do feminicídio.
Dumont gerasse concorrência predató- em grupos de risco. Parlamentares Conheça algumas dessas leis:
ria sobre o Galeão. Graças à mobilização passaram a se reunir de forma on-li- Lei 8.121/18 - Prorrogação do siste-
que envolveu as forças políticas e entida- ne, realizando audiências públicas ma de cotas das universidades públi-
des empresariais do estado, o Governo para acompanhar o combate à pan- cas por mais dez anos.
Federal reviu a concessão dos terminais. demia de covid-19 pelo Governo do Lei 8.113/18 - Estatuto da Liberdade
Estado, e aprovando leis para garantir Religiosa, que obriga escolas das re-
a segurança sanitária da população e a des pública e privada do estado a pro-
recuperação econômica dos negócios moverem ações extracurriculares que
impactados pelas medidas de restrição. abordem o respeito à liberdade indivi-
Veja algumas medidas aprovadas: dual de crença e de culto, além de dis-
OBRIGATORIEDADE DO USO cutir a diversidade cultural e religiosa.
DE MÁSCARAS Lei 8.428/19 - proíbe a desigualdade
salarial motivada por questões de gê-
NORMAS DE SEGURANÇA PARA nero ou raciais.
TRABALHADORES DE DELIVERY E Lei 8.258/19 - Determina o funcio-
DE APPS DE TRANSPORTE namento 24 horas das delegacias de
ORÇAMENTO EXTRA DE Atendimento à Mulher (DEAM), inclu-
MAIS DE R$ 1 MILHÃO PARA sive aos sábados, domingos e feriados.
TRABALHADORES DA CULTURA Lei 9.201/21 - Programa de coope-
ração para a implantação do sistema
PROIBIÇÃO DO CORTE DE LUZ, de alerta conta a violência doméstica
ÁGUA E GÁS “Código Sinal Vermelho”.
REDUÇÃO DAS MENSALIDADES Lei 8.743/19 - Estádios de futebol
ESCOLARES DURANTE O deverão ter campanha permanente
ENSINO REMOTO contra o assédio e a violência sexual.

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
A Assembleia vem aprovando leis para incentivar a retomada das atividades e a estruturação
de diversos setores econômicos do estado. A concessão de benefícios fiscais equipara alíquotas
às praticadas em outros estados, respeitando o Regime de Recuperação Fiscal:

LEI 9.244/21 - INCENTIVO AO COMPLEXO INDUSTRIAL DA SAÚDE, COM


MARGEM DE PERCENTUAL DEDICADO ÀS EMPRESAS INSTALADAS NO
RIO NOS PROCESSOS DE LICITAÇÃO DO ESTADO.

LEI 9.025/2020 - REDUÇÃO DAS ALÍQUOTAS DE ICMS PARA O COMÉRCIO


ATACADISTA NOS PRODUTOS DA CESTA BÁSICA, 7%, E NOS DEMAIS PRODUTOS, 12%.

LEI 9.451/21 - ISENTA OS PEQUENOS E MÉDIOS PRODUTORES RURAIS


DO PAGAMENTO DE ICMS SOBRE A CONTA DE LUZ.

LEI 9.355/21 - INCENTIVO AO SETOR DE BARES E RESTAURANTES, COM REDUÇÃO


EM 25% NA ALÍQUOTA DO ICMS, PASSANDO DE 4% PARA 3% ATÉ 2032.

LEI 9.281/21 - REDUÇÃO DA ALÍQUOTA DE ICMS PARA 7% SOBRE A VENDA


DE QUEROSENE DE AVIAÇÃO (QAV) ATÉ O FIM DE 2035 PARA AS
EMPRESAS QUE OPERAM NOS AEROPORTOS DO ESTADO.

DIÁLOGO 21
INDÚSTRIA

Pinga de
EXCELÊNCIA
Alambiques fluminenses estão no
topo do ranking nacional dos destilados

MARIZA COSTA
comanda, com a
mãe, Maria Izabel,
a produção do sítio
Santo Antônio,
em Paraty

22 DIÁLOGO
TEXTO GUSTAVO NATARIO
FOTOS JULIA PASSOS

P
roduto brasileiro por excelência,
a cachaça produzida no Rio de Ja-
neiro está entre os melhores des-
tilados do mundo e vem colecio-
nando prêmios. Em março deste ano,
a branquinha “Da Quinta Prata”, que
sai de barris de aço inox no alambique
da cidade de Carmo, na Região Serrana
do estado, alcançou o topo do ranking
nacional Cúpula da Cachaça, entre 50
finalistas. O bom desempenho é fruto
da persistência de mais de um século
de trabalho das destilarias, e também
de medidas recentes que agregaram
tecnologia e incentivos à produção.
À frente da Associação dos Produ-
tores e Amigos da Cachaça do Estado NO ENGENHO D'OURO, Norival e o gerente Adriano recepcionam os turistas
do Rio (Apacerj), Kátia Espírito Santo
é quem produz a premiada Cachaça da
Quinta Prata, em Carmo. A entidade
reúne 15 alambiques e estima que mais
de 60 mil pessoas estão empregadas
na elaboração da bebida destilada em
território fluminense. “As cachaças
do Rio de Janeiro são produtos dife-
renciados por seu elevado padrão e
valor agregado. Um dos interessantes
aspectos no universo da cachaça do
Rio é a predominância de pequenas e
médias indústrias que se distribuem
por todas as regiões rurais do estado,
contribuindo para a fixação do traba-
lhador no campo e para a manutenção
da cultura canavieira”, afirma Kátia.

INCENTIVO AO PRODUTOR
Até 2019, antes da pandemia da co-
vid-19, o estado era responsável por SETOR DE BEBIDAS foi beneficiado por lei que revogou antecipação do ICMS
11,63% das exportações nacionais do
produto, atrás apenas de São Paulo. ça a obrigação de recolher antecipada-
Em 2021, o Rio ficou em terceiro lu- mente o ICMS do lojista. Esse era um
gar, com 9,91%, tendo sido superado mecanismo perverso para as pequenas
por Pernambuco. Mas o estado tem se empresas, além de enfrentarem a bu-
empenhado em ampliar seu espaço no rocracia e de arcarem com multas que
mercado. A Alerj aprovou, em setem- caberiam a terceiros, caso atrasassem o
bro do ano passado, a Lei 9.428/21, recolhimento. A legislação é um avan-
que suspendeu o regime de subs- ço. Esperamos que, futuramente, pos-
tituição tributária do destilado nas sa haver a suspensão plena, estendida
operações internas. A medida reduz As cachaças do Rio de à negociação com outros estados”, diz
o peso da cobrança do Imposto sobre Kátia Espírito Santo.
Circulação de Mercadorias e Servi-
Janeiro são produtos O Estado do Rio foi o primeiro do
ços (ICMS) em cima dos empresários diferenciados por país a ter uma localidade reconhecida
do setor, que antes tinham que pagar seu elevado padrão com o selo de procedência de cachaça,
antecipadamente o tributo referente o município de Paraty. A regulamen-
ao comprador. Regulamentada pelo
e valor agregado” tação foi feita, em 2007, pelo Instituto
Executivo, a norma entra em vigor em Kátia Espírito Santo Nacional da Propriedade Industrial
julho deste ano. Presidente da Associação dos Produtores e (INPI). O selo, similar ao concedido
“A revogação da substituição tributá- Amigos da Cachaça do Estado do Rio (Apacerj) aos espumantes da região de Champa-
ria tira da empresa produtora de cacha- e produtora da Cachaça da Quinta Prata nhe, na França, garante que a cachaça

DIÁLOGO 23
INDÚSTRIA

de Paraty tem um diferencial pela sua


tradição, forma de produção, e um ter-
roir só existente naquele microclima.
O turista que caminha pelas ruas de
pedra da cidade histórica logo percebe
a relevância da bebida para a economia
local: são várias lojas com uma boa
variedade de produtos e sabores com
cachaça e restaurantes com cartas do
destilado. Os principais alambiques do
município também estão no roteiro de
atrativos aberto aos visitantes. A As-
sociação dos Produtores e Amigos da
Cachaça de Paraty (Apacap), conta, CACHAÇAS DE PARATY: selo de
atualmente, com seis produtores. procedência atesta terroir único
“Acabamos de lançar um livro so-
bre a cachaça de Paraty, chamado
Mucungo. Na associação, o que um
precisa, outro ajuda. Emprestamos
barril, tanque e lacre uns aos outros”,
conta Norival Carneiro, que comanda
o Alambique Engenho D´Ouro, no sí-
tio da família, que fica na Estrada Pa-
raty-Cunha, entre cachoeiras e mon-
tanhas cobertas pela Mata Atlântica.
Mulheres estão à frente dos mais
premiados alambiques. Maria Izabel RODA D'ÁGUA: produção artesanal
comanda a refinada produção artesa-
nal da aguardente que leva seu nome, gustar os produtos da região é o Fes- anos. Herança do imigrante português,
localizado no sítio Santo Antônio, em tival da Pinga, realizado em agosto. Francisco Lourenço Alves, que chegou
Paraty. Filha da fundadora, Mariza “Mesmo com todos esses anos de ao município do Carmo no fim do sé-
Costa conta que existe uma estreita re- pandemia, que inclusive deixou o culo XIX. O refinamento e o equilíbrio
lação entre a preservação do equilíbrio alambique fechado por quatro meses, vieram com o trabalho de Kátia.
ambiental e a excelência do destilado já estamos nos recuperando e em uma “Em 2013, esta foi a primeira cacha-
que leva o rótulo da casa. crescente em relação ao turismo. Já ça a receber o prêmio máximo na pro-
“A cana utilizada é praticamente começamos a receber alguns turistas va internacional de destilados Con-
toda extraída do próprio Sítio Santo estrangeiros, que é o nosso grande ne- cours Mondial de Bruxelles, Spirits
Antônio, eventualmente comple- gócio e o que impulsiona a cachaça na Selection, concorrendo com whiskies,
mentada com a de outras plantações região”, comemora Norival. vodkas e conhaques”, conta.
próximas. Isso permite que a moagem A receita para o estado ir além, segun-
seja feita no mesmo dia, evitando a RÓTULOS NOBRES do a presidente da associação, é o estado
contaminação do mosto e reduzindo EM TODO O ESTADO ter políticas de incentivo, como linha de
o teor de acidez do produto final. Já o A Apacerj reúne destilarias de todas as crédito, melhoria das estradas vicinais,
fermento é preparado pela minha mãe regiões fluminenses. No catálogo estão acesso à telefonia e à internet no campo.
com base em uma receita de família e a Magnífica, de Vassouras; a Reserva Os Alambique Maria Izabel só teve aces-
o processo de destilação é todo feito do Nosco, em Resende; a Bousquet so à energia elétrica em 2009. Já o Alam-
usando a gravidade, sem bombea- e a Três Praias, de Bom Jesus do Ita- bique Engenho D´Ouro ainda enfrenta
mento e energia elétrica, que só che- bapoana; a Tellura, em Campos dos problemas de conexão com a internet.
gou ao sítio em 2009”, explica Mariza. Goytacazes e a da Fazenda Soledade, “Aqui não temos torre de telefonia, e por
Maria Izabel Costa acompanha to- em Nova Friburgo. O município do Rio estarmos entre montanhas, não temos
das as fases da produção e tem cui- marca presença com a boa pinga pro- sinal”, reclama Norival.
dado especial no “corte” da cachaça, duzida pelo Petisco da Vila. “É impor- Neste ponto, a Alerj também tem
que oferece somente a parte nobre e tante tirarmos a ideia preconceituosa feito sua parte para apoiar os produ-
central do produto, chamado de co- de que a cachaça é um produto infe- tores. A CPI da Energia tem reunido
ração. “Muitos alambiques não fazem rior. O nosso estado prova que exis- empresários, gestores públicos, em-
essa separação adequada, o que leva tem cachaças merecedoras de títulos presários e agências reguladoras para
a produtos de não tão boa qualidade, internacionais e de que não perdemos cobrar melhoria do fornecimento nos
já que as partes chamadas de cabeça em qualidade para nenhum destilado municípios atendidos pela concessio-
e rabo da cachaça têm odor amargo e produzido no mundo”, atesta Kátia. nária Enel. Também tem discutido a
são ricas em metanol, um álcool tóxico Essa grandeza vem sendo amadure- entrada do sistema 5G no estado.
ao corpo humano”, ressalta Mariza. cida por gerações. No próximo ano, a
O ponto alto para quem quiser de- Cachaça da Quinta vai completar cem

24 DIÁLOGO
EMPREENDEDORISMO

Mulheres comandam
38% dos negócios e
contam com políticas
públicas de incentivo

A vez das A
TEXTO CAROL SILVA E LÍBIA VIGNOLI
FOTOS JULIA PASSOS

PATROAS
empresária Ingrid Gomes, de 28
anos, deu uma guinada na vida
quando assumiu o papel de em-
preendedora. Única mulher no
ramo do varejo de móveis no estado
do Rio de Janeiro, e também a mais
jovem, a “Patroa dos Móveis”, como
é conhecida no segmento, enfrentou
o desafio de ser bem-sucedida num
ambiente dominado por homens.
Uma realidade que vem sendo ex-
perimentada por um número cada vez
maior de mulheres. Segundo dados do
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae-RJ), elas
já são 38% dos empreendedores no
estado, sendo que 92% trabalham por
conta própria e 8% são empregadoras.
A estimativa é de que o Rio tenha dois
milhões empreendedoras, das 28 mi-
lhões em todo o país.
Mãe, esposa e apaixonada por ar-
tes e artigos de decoração, Ingrid já
usava os canais on-line para realizar
suas vendas. “Nunca fiz outra coi-
sa na minha vida a não ser trabalhar
com móveis. Iniciei, há 12 anos, como
vendedora em lojas. Fiz alguns cursos
de marketing de influência e criei uma
equipe de vendas on-line, com divul-
gação por redes sociais e plataformas

Eu sou mulher, jovem e o


setor é muito machista.
O maior desafio foi fazer
com que as pessoas
aceitassem e confiassem
A EMPRESÁRIA INGRID
em uma mulher dentro
Gomes começou no do ramo”
ambiente virtual e hoje tem
loja de móveis em Madureira Ingrid Gomes
Empresária conhecida como "Patroa dos Móveis"

DIÁLOGO 25
EMPREENDEDORISMO

de comércio eletrônico”, lembra a recebem orientação e encontram o


empresária, que, em meio à pande- ambiente adequado para compartilhar
mia de covid-19, saiu do anonimato e anseios e dúvidas.
decidiu ter seu próprio CNPJ. “Quando entrei no mercado de tra-
Empreender, de maneira geral, já balho, eu me esforçava para mostrar
é desafiador. Mas os obstáculos são Queremos estar que era boa. Por isso, hoje, eu faço de
ainda maiores para as mulheres, que tudo para acolher as pessoas que es-
ainda enfrentam o acúmulo da roti-
perto, apoiando as tão chegando na empresa e tirar to-
na doméstica, da criação dos filhos empreendedoras e das as dúvidas. É um grande prazer
e a falta de confiança do mundo dos também nos unindo ensinar quem está chegando. Sempre
negócios. Reconhecendo esse pano de que posso, apresento mulheres que
fundo, a Assembleia Legislativa do Es-
a outros hubs para, começaram como microempreende-
tado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou, juntas, ganharmos força doras para que contribuam com suas
em 2020, a criação de uma Política Es- a partir das conexões experiências. E falo para as que estão
tadual de Empoderamento da Mulher, começando: “quando estiverem no
para fomentar mecanismos de apoio
criadas, e impactarmos topo, façam o mesmo, apoiem umas às
institucional ao empreendedorismo mais mulheres” outras”, conta analista do Sebrae-RJ e
feminino e estabelecer uma lideran- gestora do Sebrae Delas, Renata Roqui.
ça corporativa sensível à igualdade de Camila Farani As mulheres representam 70% do
sexo (Lei 8.780/20). Presidente da G2 Capital público que busca o Sebrae-RJ para
“Eu sou mulher, jovem e o setor é implementar os seus negócios. Em
muito machista. O maior desafio foi comum, elas têm a busca de melhores
fazer com que as pessoas aceitassem condições para a família, sobretudo
e confiassem em uma mulher dentro do empreendedorismo nas escolas e para os filhos, e se diferenciam pela
do ramo. Houve preconceito e, sobre- universidades, além de acesso facili- preocupação com o bom ambiente de
tudo, muita dúvida da minha capaci- tado e prioritário para as mulheres em trabalho para os funcionários.
dade. Tive que me ausentar um pouco cursos de capacitação. “Assim, vai girando a economia do
mais de casa e estar menos com o meu Instituído em 2019, o Sebrae Delas seu bairro como um todo. Se investir-
filho para dar conta das demandas da oferece formação, além de estimular mos mais em mulheres empreenden-
loja”, conta Ingrid. a sensibilização e articulação de atores do, a tendência de melhora no nosso
estratégicos relacionados ao empre- país é bem significativa”, diz Renata.
APOIO MÚTUO endedorismo feminino. O programa
Bem no espírito do “quem sobe, puxa já atendeu 2,2 mil empresárias, que
outra”, empreendedoras de suces-
so têm divulgado suas experiências
como forma de inspirar e dar con-
fiança às que estão começando. Esta
é a motivação da empresária Camila
Farani, presidente da G2 Capital, e
fundadora da “Ela Vence”, parceria
de conteúdo para o desenvolvimento
de lideranças femininas.
“Queremos estar perto, apoiando as
empreendedoras e também nos unin-
do a outros hubs para, juntas, ganhar-
mos força a partir das conexões cria-
das, e impactarmos mais mulheres”,
conta Camila.
Homenageada pela bancada femi-
nina da Alerj, em março, a empresária
Luiza Trajano, fundadora do Magazine
Luiza, é uma das 40 criadoras do gru-
po Mulheres do Brasil, que conta com
mais de 22 comitês e 110 núcleos de
trabalho no país e no exterior. A insti-
tuição atua na capacitação de empre-
endedoras e na projeção de mulheres
candidatas a cargos políticos.
Políticas públicas também vêm
sendo estabelecidas para estimular as
que se lançam no mundo dos negó-
cios. A Lei 9.303/21 propõe o ensino DEPUTADAS JANDIRA e Enfermeira Rejane homenageiam Luiza Trajano

26 DIÁLOGO
ENTREVISTA

DIVULGAÇÃO
CAMILA FARANI EMPRESÁRIA virar investidora, eu não via outras
mulheres na área. Hoje, represen-
tamos cerca de 7% a 12% do total. A
representatividade é importante, pois
ter um exemplo de sucesso faz toda a
diferença para mostrar que, sim, o seu
sonho é possível. Até hoje, vivo cada
dia com o mesmo lema: desistir não
é opção. Se não abrem espaço para a
gente, precisamos ter a coragem de
ocupá-lo mesmo assim.

Diálogo: Quais os maiores desafios


do início e como eles te fortaleceram?
Camila: Pessoalmente, nunca fui
uma pessoa de me deixar abater nos
momentos de dificuldade. Já duvi-
dei da minha capacidade (algo que
acontece com muita gente), mas, me
motivo por desafios. Já encontrei em-
preendedores que nem cogitam tirar a
ideia do papel simplesmente por medo
de fracassar. Esquecemos que o erro é
natural do ser humano. A cada erro,
vem um novo conhecimento. É nesse
sentido que costumo dizer às lideran-
ças do meu ecossistema que é funda-
mental pensar na gestão com um olhar
de crescimento, aprendizagem e re-
siliência, sempre atento à inclusão. É
um aprendizado constante.

Diálogo: Sobre a plataforma “Ela


Vence”, como surgiu a ideia e como se
dá a atuação da ferramenta?
“O CAMINHO MAIS RÁPIDO EN- a Diálogo os desafios que venceu Camila: A representatividade fe-
TRE A IDEIA E OS RESULTADOS nesse caminho para o sucesso. minina no empreendedorismo vem
evoluindo bastante nos últimos anos.
SE CHAMA EXECUÇÃO”. A frase Um estudo do Sebrae diz que, hoje, as
do livro de Camila Farani diz muito Diálogo: Como foi o início da sua mulheres representam 24 milhões de
trajetória?
sobre a empreendedora, que tem Camila Farani: Comecei minha
empreendedoras no país, um pouco
seu nome associado a 40 investi- menos do que os homens — eles somam
jornada por necessidade. Minha mãe 25,4 milhões. Porém, só porque elas se
mentos , que movimentam R$ 3,7 decidiu usar quase todo o dinheiro que fizeram presentes não quer dizer que
bilhões por ano. Presidente da G2 tinha para abrir um negócio e sustentar os diferentes gêneros percorrem cami-
Capital, ela integra conselhos de a nossa família. Nem ela, nem eu, sa- nhos igualitários. Mulheres ainda en-
bíamos direito o que de fato era neces- frentam muitas dores ao empreender.
empresas como PicPay, Tem Saú- sário para administrar uma empresa. Sofrem principalmente com falta de
de e NuvemShop. Ainda encontra Mas, ainda assim, nasceu o Tabaco Café referências femininas, redes de apoio,
tempo para fazer palestra e ser in- — e precisávamos fazer com que ele vi- capacitação e fortalecimento dos ar-
vestidora-anjo do ecossistema de gorasse. Foi daí que tirei um dos mais gumentos para negociação. Tudo isso
importantes aprendizados da minha leva a um ecossistema onde há menos
inovação startup-awards. vida, que é não ter medo de errar. Nesse
Empreender, educar e inves- oportunidades. Foi por isso que criei o
meio, é preciso olhar para os nossos es- Ela Vence, um hub de conteúdo para o
tir são os trinômios de sua vida forços com gentileza, aprendendo com desenvolvimento de lideranças femini-
atual. E a experiência é dividida os erros e celebrando toda e qualquer nas. Queremos estar perto, apoiando as
vitória, por menor que ela seja. empreendedoras e também nos unindo
com outras mulheres na plata-
forma para o desenvolvimento de a outros hubs para, juntas, ganharmos
Diálogo: Como foi adentrar em um força a partir das conexões criadas, e
lideranças "Ela Vence". Recente- mercado que é dominado por homens? impactarmos mais mulheres.
mente, Camila recebeu da Alerj a Camila: Não tem como negar que
é, sim, desafiador. Quando eu decidi
Medalha Tiradentes e contou para

DIÁLOGO 27
DIGITAL

GRAVAÇÃO DO PODCAST
é transmitida ao vivo pelo
Youtube @alerjdigital

Alerj multimídia
Audiências públicas, lives e podcast são transmitidos via
streaming, aproximando ainda mais o Legislativo do cidadão
TEXTO GRAZIELA VIZZOTTO As transmissões ao vivo, que até vas iniciais. Foram mais de mil horas
FOTOS JULIA PASSOS então eram feitas somente pela TV de exibição entre comissões, ao vivo,
legislativa, passaram a ser realizadas e conteúdo diverso.

A
Era digital chegou para ficar e, também pelo canal Alerj Digital no O canal do Youtube Alerj Digital
nesse contexto, tudo muda e Youtube, e com um diferencial a mais: conta hoje com quase dois mil ins-
evolui muito rapidamente - é podem ser replicadas nas demais redes critos, número que vem aumentan-
preciso se adaptar às novas for- sociais; Instagram, Facebook e Twit- do a cada mês. No início de junho, o
mas de interagir com a população. ter. Isso tem aumentado de forma ex- conteúdo do canal superou as 10 mil
Atenta à essa realidade dos tempos ponencial a participação do público, visualizações. O mesmo crescimen-
modernos e tecnológicos, a Alerj tem especialmente nas lives. to tem acontecido em relação às lives
intensificado sua presença nas redes Desde a implementação do serviço transmitidas pelo Instagram e o Face-
sociais, adotando ferramentas que de streaming, há cerca de seis meses, book, que abordam temas inovadores
ampliam a comunicação e aproxi- foram transmitidas 155 reuniões e au- e de interesse da população num bate-
mam o Parlamento cada vez mais do diências de comissões, lives, podcast -papo descontraído com convidados.
cidadão. Recentemente, a Casa imple- e também de debates promovidos pelo Não por acaso, as transmissões de
mentou a transmissão via plataforma Fórum da Alerj de Desenvolvimento vídeo passaram a fazer parte da roti-
de streaming de lives, do podcast Pod Estratégico do Rio, que tiveram alcan- na dos usuários, movimentando um
Alerj, e de audiências públicas das ce superior a 2,2 milhões de pessoas. grande fluxo de pessoas interessadas
Comissões Permanentes, Especiais e Uma performance extremamente sig- no conteúdo veiculado pela Alerj. Nas
Parlamentares de Inquérito (CPIs). nificativa e que superou as expectati- lives, por exemplo, o cidadão pode

28 DIÁLOGO
multiplicar automaticamente o sinal relevante interação da população foi
da transmissão nas suas próprias redes a que discutiu o Projeto de Lei Com-
sociais através de um cadastro prévio plementar que altera a gestão da Área
enviado ao participante, por meio da de Proteção Ambiental de Tamoios, na
plataforma de streaming. Costa Verde, em audiência promovi-
da pela Comissão de Defesa do Meio
INTERAÇÃO DIRETA Ambiente. Na ocasião, o Alerj Digital
PELAS REDES SOCIAIS registrou 1.676 visualizações e diver-
Diretora do Departamento de Comu- sos comentários.  
nicação da Alerj, Cristiane Laranjei- Para o presidente da Comissão do
ra dá a dimensão do que representa a Meio Ambiente, deputado Gusta-
adoção do streaming na divulgação vo Schmidt (Avante), a plataforma
das ações da Assembleia. ”A transmis- de streaming representa um grande
são vai além de virar a chave da Alerj avanço para a transparência e a pro-
para o digital. Ela amplia ainda mais a moção do trabalho do Legislativo.
participação popular no processo le- “Um exemplo disso foi a grande inte- STREAMING VIROU UM
gislativo. Permite a quem vive nas re- ração gerada a partir da transmissão HÁBITO DO BRASILEIRO
giões mais distantes da capital assistir das audiências públicas. Esse sucesso Um estudo divulgado pela Roku
e comentar as audiências públicas, ao nos estimula ainda mais a continuar em parceria com o Instituto FSB
vivo, pelo YouTube Alerj Digital. Esse trabalhando e promovendo esse tipo Pesquisa revela os hábitos de uso
era um compromisso do presidente da de ação. Além disso, o celular virou do streaming pelos brasileiros.
Casa, deputado André Ceciliano (PT), uma ferramenta de cidadania, permi- Os dados mostram que cerca de
de dar voz à toda a população do Rio tindo que as pessoas acompanhem ao 75% consomem conteúdo pela
de Janeiro, permitindo que as pessoas vivo ou em qualquer outro horário do plataforma todos os dias. A pes-
opinem e participem das decisões do dia. Isso contribui para a consolidação quisa foi realizada entre os dias
Parlamento que interferem direta- da democracia. Parabéns a toda equipe 29 de dezembro de 2021 e 5 de
mente na vida delas”, explica. da Alerj”, comenta. janeiro de 2022, em abordagem
A live que teve maior alcance pelo Também mobilizou o público a live on-line, com dois mil consumi-
streaming foi a CPI da Intolerância sobre os 90 anos da conquista do voto dores, de 18 anos ou mais.
Religiosa realizada em dezembro de feminino, com a participação da de- O streaming é uma tecnologia
2021, que gerou um engajamento de putada Mônica Francisco (PSol). “As que permite assistir a filmes, sé-
150 mil pessoas. Quanto às comissões, redes sociais são fundamentais para ries, músicas, vídeos pela inter-
uma das reuniões de mais interesse popularizar a Casa Legislativa, am- net em qualquer lugar de forma
foi a que debateu a atenção integral às pliar o conhecimento a respeito das le- acessível pelo celular, smart TV,
pessoas com doenças raras, realizada gislações e dar visibilidade ao trabalho smartphone, tablet e computa-
pela Comissão de Saúde, que atraiu no Parlamento”, define a deputada. dor em até 4k ou HD, sem a ne-
quase mil pessoas no Youtube. cessidade de baixar o conteúdo
Outra transmissão que alcançou do arquivo acessado. Um dos
principais benefícios desse tipo
de ferramenta é a comodidade:
através de uma conta gratuita
ou paga o cidadão tem acesso ao
conteúdo on-line.
A maior vantagem é que, se
a pessoa perdeu a exibição ao
vivo, não tem problema porque
ela fica gravada na plataforma e
é possível assistir quando quiser,
até pelo celular.
O serviço de streaming no
YouTube existe há muito tem-
po, mas foi com a transmissão
do casamento real britânico - do
príncipe William com Catherine
Middleton, em 2011 - que houve
o “boom” dessa funcionalidade.
Na ocasião, milhões de pessoas
ao redor do mundo pararam
para assistir, durante cerca de
três horas e meia, à cerimônia
de matrimônio.
EQUIPE DO POD ALERJ e convidados discutem temas de interesse público

DIÁLOGO 29
PARTICIPAÇÃO

TEXTO ANA LUIZA ABREU O MONTANHISTA


FOTO DIVULGAÇÃO Julian Kronenberger
sugere acesso livre

T
rês boas ideias enviadas por ci- aos atrativos
dadãos pelo aplicativo LegislAqui naturais do
poderão ser as primeiras leis de estado
iniciativa popular aprovadas na
Alerj. Uma propõe garantia do aces-
so público a sítios naturais, como
cachoeiras, encostas, montanhas e
cavernas. A outra determina a dispo-

LegislAqui:
nibilização on-line da declaração de
matrícula para estudantes da rede pú-
blica de ensino do estado. E uma ter-
ceira autoriza o Poder Executivo a usar

voto popular
o CadÚnico como critério da tarifa so-
cial de saneamento. Todas obtiveram
mais de 1.700 apoiamentos, o mínimo
exigido para que as sugestões sejam
apreciadas pelo Parlamento.

elege as
Montanhista há mais de 30 anos em
Petrópolis, na Região Serrana, Julian
Kronenberger promoveu intensa
campanha em suas redes sociais para

melhores
divulgar a proposta do acesso livre
aos pontos de interesse para a prática
do esporte. “Achei o LegislAqui uma
ideia excelente. Principalmente por

ideias
dar esse poder ao povo de contribuir
com ideias. Eu me preocupo com o
nosso esporte, com nosso acesso,
com as montanhas. A expansão imo-
biliária, em alguns casos, atrapalha
a prática do esporte porque fecha as
trilhas. Entendo a preocupação dos
proprietários das terras com a segu-
rança deles. Mas acho que seria legal
ter uma servidão ou uma limitação
para que a gente tenha um acesso
para o que interessa, que são as mon-
tanhas. A Constituição já diz que todo
mundo tem direito ao meio ambiente,
à natureza”, defende.
Mobilizado também pela busca de
soluções para as questões que afetam
o cotidiano da população, o estudante
Welington Pedrozo, de 22 anos, pro-
pôs uma maneira de desburocratizar
o acesso ao comprovante de matrícula
escolar. Em duas semanas, conquistou
1.903 votos favoráveis. A iniciativa de
disponibilizar o comprovante de ma-
trícula on-line poderá facilitar a vida
de pais e alunos, pois esse documento
é necessário para ter acesso a benefí-
cios, como o auxílio educação.
“Estudei minha vida toda em escola
pública. Sei o quanto é difícil o aluno
ou responsável conseguir uma decla-
ração escolar. A alta demanda nas se-
cretarias é grande, isso diminuiria os
serviços e até mesmo custos por fora,

30 DIÁLOGO
já que muitos não tem condição finan- vo baseia-se em critérios técnico e
ceira”, defende Pedrozo. jurídicos do processo legislativo. Na
A proposta da atualização do Decre- seleção, é feita pesquisa para checar
to 25.438/99 pretende permitir que se a proposta não é semelhante a leis
famílias em vulnerabilidade social, ou projetos de leis que tramitam na
inscritas no Cadastro Único Nacional Casa. Também é analisado se o tema é
(CadÚnico), possam ser incluídas na de competência do Poder Legislativo
tarifa social de água e esgoto. Wander- estadual ou de outras instâncias.
son Vieira de Souza, que trouxe a su- Sendo considerada apta, a ideia
gestão, explica que o cadastro foi cria- sugerida vai à votação popular pelo
do em 2001, após o decreto que está aplicativo e no site do LegislAqui por
em vigor até hoje. “Muitas famílias quatro meses. Se alcançar 1.700 votos,
que não estão nesses espaços físicos passa a tramitar como um projeto de
de interesse social citadas no decre-
to, mas que fazem parte do CadÚnico,
LEGISLAQUI lei na Alerj, como sendo de iniciati-
va da Comissão de Normas Internas e
acabam não se beneficiando da tarifa Proposições Externas, a quem caberá

718
social. O decreto não acompanhou os realizar reuniões e audiências públicas
avanços sociais do país”, justifica. para efetuar as adequações necessá-
Conquistados os apoios, as pro- rias. As propostas que entraram em
postas seguiram para a Comissão de Propostas de lei recebidas votação popular, mas não obtiveram
Normas Internas e Proposições Ex- o número mínimo de votos ficam no
ternas para serem formatadas como banco de ideias, disponíveis para que

166
projetos de leis. Poderá haver audi- possam, futuramentem, ser reavalia-
ência pública antes do PL ser incluído das pelos deputados.
na pauta de votação do plenário como O aplicativo e o site do LegislAqui
proposição do colegiado. Até maio, o Tiveram consistência para (legislaqui.com.br) ainda permitem
LegislAqui recebeu 718 propostas, 166 ir a análise ao cidadão consultar leis estaduais em
tiveram consistência para ir à análi- vigor. Isso é importante porque mui-
se e 39 foram publicadas no site para tas pessoas desconhecem a legislação

39
avaliação pública. As principais áre- atual. O app está disponível para os
as de interesse são transportes, com sistemas iOS e Android, no App Store
13% das ideias recebidas; seguida pe- da Apple e no Google Play Store.
las áreas da educação (7%), seguran- Foram publicadas no site para
ça pública (5,7%) e trabalho (4,7%). avaliação pública
A maior parte das sugestões veio de
moradores da Região Metropolitana.

13%
Mas o aplicativo está aberto a cida-
dãos de todo o estado.

INICIATIVA VEIO DO Das ideias são relacionadas


PARLAMENTO JUVENIL aos transportes
Em 2018, a estudante Larissa Westfal
participou da 11ª edição do Parlamento

7%
Juvenil e apresentou um dos projetos
que foi inspiração para o LegislAqui.
Para a jovem, o aplicativo traz a popu-
lação para participar da política, con- Das sugestões são
tribuindo com ideias de leis que vão relativas à educação
auxiliar na melhoria futura do estado.
“Queria fazer algo que pudesse

5,7%
impactar de verdade. Sabemos que o
projeto não é inovador e que já temos
semelhantes em outros estados, mas
essa chave foi virada quando percebi Das propostas são
que gostaria que outras pessoas tives- ligadas à segurança pública
sem a mesma oportunidade que eu
no Parlamento. O banco de ideias foi

4,7%
o que mais se encaixou dentro desse
desejo”, conta.

COMO FUNCIONA O APLICATIVO Das ideias são


A equipe responsável pelo aplicati- relacionadas ao trabalho

DIÁLOGO 31
SUSTENTABILIDADE

Legislando em favor do
MEIO AMBIENTE
TEXTO ROSAYNE MACEDO “Começamos a fazer a reciclagem tas assembleias legislativas do país que
FOTO FOTOALERJ do lixo desde o período de obras. Além participam da Rede Legislativo Sus-
das lixeiras para coleta seletiva, agora tentável. Com base na implementação

À
s vésperas de completar um ano estamos instalando depositários ade- do Programa de Logística Sustentável
da mudança do Palácio Tiraden- quados para recolhimento de pilhas (PLS), o objetivo dessa rede é definir
tes para o Edifício Lúcio Costa, e baterias”, conta o diretor-geral da metas, ações e prazos para que esses
no Centro, a Assembleia Legis- Alerj, Wagner Victer. órgãos públicos se tornem mais sus-
lativa avança na implementação de Mais moderna e funcional, a nova tentáveis e econômicos.
ações de sustentabilidade ambiental sede foi equipada com sistema de “Possivelmente, hoje seja o órgão
na nova sede. Recentemente, foram reaproveitamento de água residuais dos Legislativos no país com o maior
instaladas 600 lixeiras para coleta se- pelas obras de modernização do edi- conjunto de atividades voltadas à sus-
letiva, estimulando a separação dos fício da década de 60. Uma estação tentabilidade. Elas são permanentes,
dejetos orgânicos e inorgânicos. de tratamento permite que essa água identificadas, recebemos sugestões
Por meio de um convênio fechado seja usada na descarga dos vasos sa- nos diversos locais”, afirma Victer.
com a Light, em 2020, já foram re- nitários. As amplas janelas da fachada O uso de copos recicláveis e de filtros
movidas cerca de 11.500 toneladas de também favorecem o aproveitamento de água também são medidas que co-
material reciclável, entre plástico, pa- da luz natural, reduzindo o consumo laboram para a prática sustentável no
pelão e papel. O programa Light Reci- de energia elétrica. cotidiano do servidor. Outra ação em
cla recolhe e faz a separação. Com isso, “Fazemos ainda o controle perma- curso é a digitalização dos acervos que
cerca de 53,5 kw de energia foram nente da temperatura e o uso mais guardam a memória do Legislativo. A
economizados em emissões de gás adequado da iluminação natural, com meta é converter para o sitema on-line
carbônico (CO2). O total recolhido se aproveitamento das janelas históricas 2,1 milhões de documentos este ano;
reverte em bônus na conta de energia que existiam aqui, que antes eram entre eles, os da Biblioteca e os do De-
elétrica da Alerj. Mais do que isso, a blindadas termicamente”, comenta. partamento de Pesquisa da Alerj.
iniciativa retira do ambiente resíduos As ações desenvolvidas na Alerj
que poderiam poluir o meio ambiente. hoje já servem de exemplo para mui-

32 DIÁLOGO
TV ALERJ

DO POPULAR
AO CLÁSSICO
Emissora do
Legislativo
diversifica
programação
para ampliar
seu público

TEXTO ROSAYNE MACEDO


FOTO RAFAEL WALLACE

D
epois da inédita transmissão do
Carnaval da Intendente Maga-
lhães, no subúrbio do Rio, a TV
Alerj foca na popularidade dos jo-
gos de futebol da Série A2 do Campeo-
nato Carioca. A ideia é abrir as câmeras
da emissora do Legislativo fluminense
para nichos de cultura, esporte e tu-
rismo pouco explorados, trazendo um
novo olhar sobre o estado. A meta é
diversificar a grade da programação e
levar ao público as ações do Parlamento.
“Com a transmissão do Carnaval EQUIPE DA TVALERJ durante cobertura inédita dos desfiles da Intendente
da Intendente, o Youtube da TV Alerj
passou de 39 mil para mais de 42 mil com a Federação de Futebol do Estado ca de Ouro, João Bosco, Velha Guarda
inscritos. A grande massa gosta de do Rio de Janeiro (Ferj), que começou da Mangueira acompanhada de Leci
acompanhar o desfile e pôde fazer isso ano passado com grande sucesso, ao Brandão; e Zeca Baleiro. Ainda este
no conforto de casa. Tivemos a opor- transmitirmos os jogos das séries B e ano, a emissora planeja o lançamen-
tunidade de levar ainda mais cultura C”, explica Silva. to do ‘Funarj em Casa’, com shows de
para todos”, conta o diretor da TV Os espetáculos das salas de concer- grandes nomes da MPB - os primeiros
Alerj, Luciano Silva. to também chegam ao telespectador são Claudio Nucci e Joyce.
A cobertura dos jogos do campeo- pela TV Alerj e pelo Youtube da Casa. As belas paisagens do Rio são ex-
nato da Série A2 contará com times Sextas-feiras, às 19h, a conexão é com ploradas no programa‘Rolê Carioca’,
de expressão, que já estiveram na sé- a Sala Cecília Meireles. A programação sempre aos domingos, às 10h, que traz
rie principal, como América, Olaria e musical também inclui o programa histórias dos pontos turísticos e per-
Volta Redonda, que têm torcidas fiéis. ‘Fim de Tarde’, aos sábados, às 17h, sonagens icônicos, em parceria com
As partidas são realizadas aos sábados, com shows gravados no Teatro João a equipe do site de mesmo nome. Para
às 15 horas. A grande final está prevista Caetano, na Praça Tiradentes. Até de- junho, já estão na grade da TV as atra-
para agosto, após as taças Santos Du- zembro, estão previstas apresentações ções ‘Onde mora o Samba’ e ‘Teatros’.
mont e Corcovado. da Velha Guarda do Salgueiro, Bossa
“Esta é mais uma parceria da Alerj Nova In Concert, Sandra de Sá, Épo-

DIÁLOGO 33
FOTOCRÔNICA

34 DIÁLOGO
RAFAEL WALLACE

A
bram alas para o Carnaval raiz
do povo! Nem chuva embaça o
brilho dos foliões que desfilam
alegria pela Estrada Intendente
Magalhães, em Campinho, Zona Norte
do Rio. Pela primeira vez, esse genuíno
espetáculo do subúrbio carioca pôde
ser assistido pela população de todo
o estado, ao vivo, pela TV Alerj. Ali, o
luxo é a poesia, a criatividade, o amor
à bandeira. Na simplicidade, o desta-
que é a verdadeira paixão do sambista.
O público fiel não arreda pé, vê o dia
raiar, cantando nas arquibancadas de
madeira, que disputam espaço com as
bancas de churrasquinho. Algumas das
25 agremiações já tiveram dias de gló-
ria, entre as Especiais. Na Série Prata,
as coirmãs dão tudo de si para galgar o
ranking e chegar à Sapucaí. Para o ano
sai melhor. O que importa é sambar.

DIÁLOGO 35
36 DIÁLOGO

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