Você está na página 1de 36

Balanço da legislatura

destaca leis e ações


de incentivo ao
desenvolvimento
P. 8 a 11

ANO 3 . Nº 8 . DEZEMBRO/2022

A CASA DA
DEMOCRACIA
Palácio Tiradentes é revitalizado para abrigar centro
cultural dedicado à memória política do país P.18 a 21
Com o
trabalho
da ALERJ,
a vida está
melhorando
no RJ e a
alegria está
voltando.

Há alguns anos, o Rio de Janeiro estava mergulhado numa grande crise.


Perdemos muito. Até mesmo a nossa alegria. Era preciso agir rápido, com
responsabilidade e planejamento. E foi isso que a ALERJ fez.

Aprovou auxílios como o Supera RJ e o Vale-Gás.


Criou o Fundo Soberano, poupança pública para o futuro do estado.
Reduziu impostos. www.alerj.rj.gov.br
2 DIÁLOGO
DIÁLOGO

Uma legislatura com muitos avanços

A
12a Legislatura (2019-2022) está se encerran- Com uma economia de R$ 2 bilhões realizada pela
do com saldo de intenso trabalho. Um novo atual gestão, nos últimos quatro anos, a Alerj de-
mandato se inicia,em fevereiro de 2023, e virá volveu recursos ao Governo do Estado e pôde apoiar
com uma considerável renovação no Plenário projetos fundamentais para o cidadão, como mos-
do Parlamento fluminense. É a hora de pôr em pers- tram duas reportagens sobre o combate à fome e o
pectiva os últimos quatro anos e fazer um balanço dos enfrentamento dos casos de tuberculose.
desafios e avanços. Numa entrevista às vésperas de sua
despedida do Legislativo, o presidente André Cecilia- A revista Diálogo também apresenta a Nota Técnica
no (PT) avaliou o legado de sua gestão, definida pelos sobre o Complexo Econômico e Industrial (CEIS) da
colegas deputados como assertiva e conciliadora. Saúde e a Matriz de Insumo e Produto (MIP), dois
trabalhos coordenados pela Assessoria Fiscal da Casa
A conversa é complementada com destaques das que dão importantes contribuições para o desenvol-
leis aprovadas e as ações promovidas pela Alerj em vimento econômico e social do estado. Outra inicia-
apoio ao cidadão e ao estado ao longo desse período. tiva de sucesso foi a implementação do aplicativo
O momento mais crítico foi a crise sanitária provocada LegislAqui, que permitiu à Alerj aprovar a primeira
pela pandemia da covid-19, que causou a morte de lei de iniciativa popular entre as assembleias esta-
quase 700 mil pessoas no país. duais do país.

A Alerj foi a primeira casa legislativa a adotar o mo- Nossa reportagem traz ainda o perfil dos novos de-
delo virtual das sessões plenárias e bateu recorde de putados eleitos e a futura composição das bancadas,
aprovação de leis para dar sustentação legal às medi- que altera o desenho das forças políticas na Casa. A
das de mitigação da crise sanitária, principalmente, renovação foi de quase 46% das 70 cadeiras, aumen-
referentes à saúde, educação, assistência social, eco- tando a representatividade dos grupos sociais. Dese-
nomia e relações de consumo. jamos sucesso aos novos parlamentares. Boa leitura!

EXPEDIENTE REVISTA DIÁLOGO É UMA PUBLICAÇÃO Editor de Fotografia


TRIMESTRAL DA SUBDIRETORIA Rafael Wallace

diálogo
GERAL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO Editor de Audiovisual
ESTADO DO RIO DE JANEIRO Fabiano Silva

Jornalista responsável Secretárias da Redação


Cristiane Laranjeira (RP 22262 JP) Luciene Corrêa e Regina Torres

Editores Estagiários
Presidente Flávia Duarte e Marco Senna Daniela Mendes, Gabriele Diniz, João Pedro
André Ceciliano Lima, Luana Silva, Manuel Victor, Maria Eduarda
Coordenação e revisão da Costa, Rafael Bahia e Roberto Malfacini
1o Vice-presidente - Jair Bittencourt Flávia Duarte e Marco Senna
2o Vice-presidente - Chico Machado
Equipe
3o Vice-presidente - Franciane Motta Ana Luiza Abreu, Ana Paula de Deus, André
4o Vice-presidente - Samuel Malafaia Ricardo Farias, Buanna Rosa, Carol Silva,
Daniel Tiriba, Eduardo Schmalter, Fernanda
Rodrigues, Graciela Vizzotto, Gustavo Telefone: (21) 2588-1000
1o Secretário - Marcos Muller Natario, Igor Soares, Julia Passos, Juliana Rua da Ajuda, 5, sala 2603
2o Secretário - Tia Ju Mentzingen, Leon Lucius, Líbia Vignoli, Edifício Lúcio Costa - Centro
Manuela Chaves, Nathalia Alves, Nivea Rio de Janeiro/RJ - CEP 20010-090
3o Secretário - Renato Zaca Souza, Octacilio Barbosa, Petra Sobral,
4o Secretário - Felipe Soares Renata Peres, Renata Stuart, Rosayne Impressão: Imprensa Oficial
Macedo, Tainah Vieira, Thiago Atzevedo, Tiragem: 1,4 mil exemplares
Thiago Lontra e Wagner Luiz da Silva
1o Vogal - Pedro Brazão www.alerj.rj.gov.br
comunicacaosocial@alerj.rj.gov.br
2o Vogal - Dr. Deodalto Projeto gráfico e diagramação @alerj
3o Vogal - Valdecy da Saúde Mariana Erthal @AssembleiaRJ
4o Vogal - Giovani Ratinho @instalerj

DIÁLOGO 3
SUMÁRIO
BERNARDO PORTELLA
NOVA LEGISLATURA
Diversidade no Plenário ...................... P.5

BALANÇO
União pelo Estado do Rio..............P.8 a 11

ENTREVISTA
Presidente André Ceciliano .....P.12 a 14

DESENVOLVIMENTO
Rio pode ser referência no
Complexo da Saúde....................P.15 e 16

Matriz de uma economia ativa..........P.17

RAFAEL WALLACE
MEMÓRIA VIVA
Democracia de portas
abertas .........................................P.18 a 21

TURISMO
Aventura para os fortes.......... P.22 a 25

SOCIEDADE
Prioridade no combate
à fome..........................................P.26 e 27

SAÚDE
Tuberculose é desafio para
o estado...................................... P.28 e 29

EDUCAÇÃO
Saúde mental nas escolas........P.30 e 31

PARTICIPAÇÃO POPULAR
Leis feitas pelo povo...........................P.32

CULTURA
No tabuleiro, resistência.........P.33 e 34

4 DIÁLOGO
NOVA LEGISLATURA

Diversidade no
PLENÁRIO
Parlamento fluminense terá mais mulheres e negros no mandato
que começa em 2023, com renovação de 46% das cadeiras da Casa
T EXTO GUSTAVO NATARIO Parlamento fluminense terá uma trans- UFRJ, Paulo Baía, explica que o fenô-
FOTO OCTACÍLIO BARBOSA sexual exercendo o mandato de depu- meno social de busca e afirmação de
tada estadual. Dani Balbi (PCdoB), de uma identidade se reflete na represen-

M
aior renovação e mais represen- 33 anos, é doutora em literatura pela tatividade do Parlamento. “Essa ques-
tatividade é o retrato da Assem- Universidade Federal do Rio de Janeiro tão, mesmo com uma postura mais
bleia Legislativa do Estado do (UFRJ) e professora da Escola de Comu- distanciada, se tornou uma marca da
Rio de Janeiro (Alerj) que saiu nicação Social. A nova bancada femini- sociedade brasileira, que está se au-
das urnas após o resultado das Eleições na tem ainda Índia Armelau (PL), auto- toidentificando com algumas carac-
2022. Dos 70 deputados, 32 são novos e declarada indígena, e Elika Takimoto terísticas, seja de raça, gênero, sexo.
outros 38 se reelegeram para mais um (PT), de origem asiática. As pessoas estão assumindo essas po-
mandato - mudança de cerca de 46% Em comparação com a eleição de sições independentemente de serem
na Casa. Os eleitos foram diplomados 2018, mais parlamentares se auto- conservadores ou não”, explica.
pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), declaram pardos, pretos, indígenas A lista dos mais votados é liderada
em dezembro, e empossados na As- e asiáticos. A Alerj terá 24 deputados pelo deputado Márcio Canella (União),
sembleia, em fevereiro de 2023. que não se consideram brancos, ou com 181.274 votos. O parlamentar che-
O crescimento da bancada feminina seja, 34,2%. Destes, oito se declaram ga ao seu terceiro mandato na Alerj e,
é um dos destaques da 13ª Legislatura pretos e 24 pardos. Na última legisla- atualmente, preside a Comissão de Or-
(2023 a 2026), que terá 15 mulheres, re- tura, não foram eleitos asiáticos e in- çamento, além de ocupar a liderança
presentando 21,4% do total. Em 2018, dígenas, os pardos eram 14 e cinco se União Brasil. O deputado tem sua base
elas foram eleitas para ocupar 12 cadei- afirmavam pretos. na cidade de Belford Roxo, na Baixada
ras. Pela primeira vez em sua história, o O cientista político e sociólogo da Fluminense. Ele está entre os sete que

DIÁLOGO 5
NOVA LEGISLATURA

CONHEÇA OS ELEITOS E
A COMPOSIÇÃO DA CASA:

Dr. Serginho
Dr. Deodalto
Douglas Ruas
Delaroli
Célia Jordão
Anderson Moraes
Alan Lopes

Filipe Soares
Fábio Silva
Bruno Dauaire
Brazão
Valdecy da Saúde
Thiago Gagliasso
Samuel Malafaia

Guilherme Schleder
Eduardo Cavaliere
Cláudio Caiado
Renata Souza
Professor Josemar
Flávio Serafini
Dani Monteiro

Carlos Macedo
Gustavo Tutuca
Dionísio Lins
Carlinhos BNH
André Correa
Yuri

PL: 17 MDB: 2
Tande Vieira
União: 8 Pode: 2
Dr. Pedro Ricardo
PT: 7 PDT: 2 Jari
Carlos Minc
PSD: 6 PROS: 2 Jorge Felippe Neto
PSol: 5 PSB: 2 Agir: 1
PP: 4 Avante: 1 PSC: 1
Rep: 3 PMN: 1 PTB: 1 Júlio Rocha
Val Ceasa
SDD: 3 Patriota: 1 PCdoB: 1 Fred Pacheco

tiveram expressiva votação, alcançando A maior bancada será do PL, com 17 de Canella, que já esteve na gestão do
mais de 100 mil votos. São eles: Douglas deputados. Em sequência, vem a ban- município de Belford Roxo, Rosenverg
Ruas (PL), com 175.977; Renata Souza cada do União Brasil, com oito parla- Reis tem sua base eleitoral em Duque de
(PSol), com 174.132; Rosenverg Reis mentares. Chama a atenção também Caxias; Douglas Ruas, em São Gonçalo;
(MDB), com 131.308; Dr. Serginho (PL), o crescimento da bancada do PT, que e Delaroli, em Itaboraí. Já Doutor Ser-
com 123.739; Delaroli (PL), com 114.155 passou de três para sete deputados. ginho é advogado e construiu carreira
e Thiago Gagliasso, com 102.038. Tam- Ainda no campo da esquerda, o PSol pública na Região dos Lagos. Deste ran-
bém integram a lista dos dez mais vota- manteve as cinco cadeiras. king, somente Renata Souza e Thiago
dos Rodrigo Bacellar (PL), Elika Taki- Dos sete deputados mais votados no Gagliasso não têm votos regionalizados.
moto (PT) e Giselle Monteiro (PL). estado, cinco são líderes locais. Além Natural do conjunto de favelas da Maré,

6 DIÁLOGO
ARTE MARIANA ERTHAL

Filippe Poubel
Giselle Monteiro
Índia Armelau
Jair Bittencourt
Márcio Gualberto
Renato Miranda
Rodrigo Bacellar

Franciane Motta
Márcio Canella
Rafael Nobre
Vinicius Cozzolino
Andrézinho Ceciliano
Carla Machado
Zeidan

Lucinha
Luiz Paulo
Munir Neto
Elika Takimoto
Marina do MST
Renato Machado
Verônica Lima

Danniel Librelon
Tia Ju
Chico Machado
Felipinho Ravis
Giovani Ratinho
Otoni de Paula Pai

Martha Rocha
Vitor Júnior 54,2% 45,7%
Arthur Monteiro
Thiago Rangel
Rosenverg Reis
Porcentagem novatos/reeleitos:
PORCENTAGEM
32 novatos - 45,7%
NOVATOS/REELEITOS:
38 reeleitos - 54,2%

Léo Vieira
Rodrigo Amorim 32 NOVATOS - 45,7%
Dani Balbi 38 REELEITOS - 54,2%

Renata Souza é do movimento negro e grande na configuração da Alerj. Os no- cargos de secretário de Estado de Meio
atua na defesa dos direitos humanos, há vos terão um período de adaptação, mas Ambiente e ministro do Meio Ambien-
12 anos. Já Thiago Gagliasso se destacou logo vão se enturmar e passam a enten- te. Já o mais novo será Andrezinho Ce-
por defender pautas conservadoras. der o jogo político”, diz Paulo Baía. ciliano (PT), de 24 anos. Filho do atual
“A Eleição 2022 reafirmou uma ten- A partir de 2023, o deputado Carlos presidente da Casa, o deputado André
dência no Parlamento estadual, que é a Minc (PSB), 71 anos, iniciará seu dé- Ceciliano (PT), é estudante de direito
eleição de lideranças locais já conheci- cimo mandato consecutivo, tornan- e nasceu na cidade de Paracambi, na
das em seus municípios. A renovação de do-se o parlamentar mais antigo na Baixada Fluminense.
32 é muito importante para a vida polí- Casa. Ele foi eleito pela primeira vez
tica. Proporcionalmente, é um impacto em 1985. No Executivo, ocupou os

DIÁLOGO 7
BALANÇO

União pelo
Estado do Rio

TRABALHADORES da indústria
naval. Estudos da Assessoria Fiscal
da Alerj apontam estratégias para a
geração de mais emprego e renda

Pandemia, desastres ambientais, retomada econômica e Regime


de Recuperação Fiscal foram alguns dos desafios que o estado
enfrentou, entre 2019-2022, com forte apoio do Legislativo

T EXTO GUSTAVO NATARIO pública, da educação e do desenvol- produtiva e gerem mais emprego e
FOTO THIAGO LONTRA vimento econômico. renda. O Parlamento fluminense tam-
A criação do Auxílio Emergencial bém fortaleceu a sua atuação de fisca-

A
legislatura de 2019-2022 foi Supera RJ, o socorro financeiro aos lizador. Foram instauradas Comissões
marcada pelo protagonismo municípios atingidos pelas enchentes Parlamentares de Inquérito (CPIs) que
e forte empenho da Alerj em do começo de 2022 e as normas que investigaram a queda no repasse dos
aprovar medidas de apoio ao permitiram o ingresso do estado no royalties e participação do petróleo, a
Governo do Estado no enfrenta- Regime de Recuperação Fiscal (RRF) dívida pública estadual, os gastos do
mento de situações desafiadoras. A foram algumas das ações fundamen- governo com a pandemia e a precarie-
produtividade se manteve alta, mes- tais que deram suporte ao estado. dade dos serviços do sistema de trens
mo diante da pandemia da covid-19, O Fundo Soberano foi outra inicia- metropolitanos, entre outras.
que impactou a vida dos cidadãos, tiva que partiu da Alerj para fomentar Os temas mais relevantes para o
principalmente, nas áreas da saúde investimentos que ampliem a cadeia estado foram amplamente debatidos

8 DIÁLOGO
nas audiências públicas e no Plenário.
A sociedade civil, órgãos públicos e de
controle participaram das discussões
REPASSES
sobre a privatização da Cedae, a mo-

200 milhões 20 milhões


delagem de concessão dos aeroportos,
a economia do mar e a crise das uni-
versidades públicas federais, outros
assuntos. Veja alguns dos destaques para contratar policiais civis para o combate à covid-19 nas
da última legislatura. e militares comunidades por meio da Fiocruz

125 milhões 20 milhões


ATUAÇÃO NO ENFRENTAMENTO
DA PANDEMIA
Durante a crise sanitária da co-
vid-19, a Alerj adotou sessões vir- para os municípios afetados pelas para a assistência social da
tuais e bateu recorde de produtivida- tempestades de verão de 2022 Prefeitura do Rio
de. Somente em 2020, foram mais de
350 sessões extraordinárias, 872% a

26 milhões 18 milhões
mais que em 2019, com a aprovação
de 472 leis estaduais. Dentre elas,
destacam-se a obrigatoriedade do
uso de máscaras em todo o estado, a para nova sede do CAp-UERJ para pesquisas científicas da UFF
proibição do corte de luz, água e gás
durante a pandemia e a redução das

20 milhões 10 milhões
mensalidades das escolas particula-
res durante o ensino remoto.

para o restauro do Arquivo para a instalação de um novo campus


APOIO FINANCEIRO AO ESTADO Público de Campos dos da Universidade Estadual do Norte
Nos últimos quatro anos, o Legislativo Goytacazes Fluminense (Uenf), em Cabo Frio
fluminense economizou R$ 2 bilhões
do orçamento. Os recursos foram de-
volvidos ao estado, repassados para THIAGO LONTRA
apoiar projetos em setores como Edu-
cação, Segurança Pública e Saúde. No
quadro ao lado estão alguns repasses.

SUPORTE AOS MAIS POBRES


Criado pela Alerj, o programa de
auxílio emergencial Supera RJ foi
implementado pelo Governo do
Estado e já atendeu mais de 430 mil
pessoas. O pagamento do benefí-
cio é de até R$ 300, acrescido do
valor do vale-gás. Microempreen-
dedores, autônomos e pequenas
empresas tiveram acesso a R$ 440
milhões em crédito.

RETOMADA DA ECONOMIA
Petróleo e gás - A criação do Fun-
do Soberano estadual, por meio da
Emenda Constitucional 86/21 , desti-
na parte dos recursos dos royalties e
participações especiais a investimen-
tos estruturantes. A Alerj estima que
fundo deverá ter aporte de mais de
R$ 5 bilhões até o fim de 2022. SUPERA RJ: Auxílio emergencial foi ampliado e beneficiou mais de 400 mil

DIÁLOGO 9
BALANÇO

ICMS - Mais de 40 setores produtivos REGIME DE


foram beneficiados com a equiparação RECUPERAÇÃO FISCAL ECONOMIA do mar foi um dos
de alíquotas do ICMS com as de esta- A aprovação do Plano de Recuperação temas debatidos nas audiências
dos vizinhos, para dar competitivi- Fiscal (RRF) foi amplamente discu- promovida pelas comissões
dade ao Rio. Foram dados incentivos tida na Alerj com a participação dos
fiscais às indústrias de vidro, papel, servidores públicos. A Casa assegurou
plástico e química; além dos setores direitos, como o triênio para os atuais
atacadista e de bares e restaurantes. servidores e uma transição mais sua-
ve do que a proposta pelo Governo
CPI dos Royalties - A atuação da CPI Federal para a previdência do fun-
dos Royalties e Participações Espe- cionalismo.
ciais do Petróleo, que investigou a
queda nos repasses das petrolíferas ao
estado, melhorou a fiscalização dos DEFESA DO SERVIDOR
repasses pela Secretaria de Estado de Sem aumento desde 2014, o funcio-
Fazenda. Em comparação com 2018, a nalismo teve assegurada a recompo-
arrecadação aumentou em R$ 2,7 bi- sição salarial de todos os servidores
lhões, em 2021. estaduais, por meio da Lei 9.436/21.
A Casa negociou com o governo ajus-
te que permitiu a implementação do
ASSESSORIA FISCAL Plano de Cargos, Carreiras e Salá-
Nesta legislatura, foi criada a As- rios (PCCS) dos servidores da saúde;
sessoria Fiscal, que tem realizado Também foram aprovados o plano de
estudos para apoiar as discussões cargos dos funcionários da Defensoria
do Parlamento sobre o desenvolvi- Pública e a atualização do sistema de
mento do estado. Foram produzidas proteção aos militares.
Notas Técnicas do setor do Petróleo BANCO DE IMAGEM
e Gás; do Complexo da Saúde e ainda
elaborada uma Matriz de Insumo e
Produto para o Rio de Janeiro.

DEFESA DO RIO
A Alerj mobilizou forças políticas
e entidades empresariais na de-
fesa do Aeroporto Internacional
Tom Jobim. O resultado foi a alte-
ração do edital de privatização do
Governo Federal, que estabelecia
concorrência predatória entre o
terminal da Ilha do Governador e
o Santos Dumont, no Centro.
Uma ação conjunta do Parla-
mento, com o Ministério Público
Federal, a Câmara do Rio e repre-
sentações da sociedade também
evitou a venda, pelo Governo Fe-
deral, do Palácio Capanema, edi-
fício tombado pelo Patrimônio
Histórico Nacional.
Em agosto de 2022, o Legislativo
recorreu ao Supremo Tribunal Fe-
deral (STF) para que o estado fosse
compensado pela perda de R$ 9
bilhões em receitas decorrentes
da redução de alíquotas do ICMS,
principalmente, de combustíveis
e energia elétrica.

ALERJ atuou para garantir o equilíbrio dos voos entre os aeroportos do Rio

10 DIÁLOGO
THIAGO LONTRA RAFAEL WALLACE
NOVA SEDE da Alerj foi inaugurada
em agosto de 2021

MUDANÇA DE SEDE
E MODERNIZAÇÃO
As atividades do Legislativo flumi-
nense foram transferidas do histó-
rico Palácio Tiradentes para o Edi-
fício Lúcio Costa, na Rua da Ajuda.
Isso permitiu a modernização dos
processos e melhor qualidade no
atendimento ao público.
A Casa também investiu na co-
municação digital, com o lança-
mento do LegislAqui, aplicativo
que permite ao cidadão sugerir
leis de iniciativa popular e con-
sultar as normas que garantem
seus direitos.
A divulgação das audiências pú-
blicas e reuniões foi ampliada com
a implantação das transmissões
por streaming, dando mais trans-
parência às ações do Parlamento.
BANCO DE IMAGEM

IMPEACHMENT
A Alerj integrou o Tribunal Misto, for-
mado por parlamentares e juízes do
Tribunal de Justiça do Rio, que atuou
no processo de impeachment do ex-
-governador Wilson Witzel. A decisão
foi pela cassação e perda de direitos
políticos em função do crime de res-
ponsabilidade.

THIAGO LONTRA

COMBATE AO RACISMO
E PRECONCEITOS
A CPI da Intolerância Religiosa foi
uma das ações da Casa na promo-
ção do livre direito ao culto e no
combate ao racismo religioso. A
Comissão de Defesa dos Direitos
Humanos atuou com apoio às víti-
mas da violência social no estado,
em casos como a chacina do Ja-
carezinho, em maio de 2021; e do
imigrante congolês Moïse Kaba-
gambe, no início de 2022. A Alerj
também criou e concedeu o Prêmio
Marielle Franco.

DIÁLOGO 11
ENTREVISTA
ANDRÉ CECILIANO DEPUTADO ESTADUAL E PRESIDENTE DA ALERJ

“ O RIO VIVE
novo momento graças
ao esforço da Alerj”
TEXTO CAROL SILVA FOTO OCTACÍLIO BARBOSA

PRESIDENTE DA ALERJ POR DUAS VEZES consecutivas, André Ceciliano (PT) encerra seu quarto
mandato de deputado estadual, deixando como legado uma gestão participativa, transparente
e de austeridade com os gastos públicos. Nesta entrevista, ele faz um balanço do período em que
esteve à frente da Assembleia, fala sobre as dificuldades enfrentadas, a liderança em meio à po-
larização política e conta, ainda, como conseguiu atravessar uma pandemia mundial e avançar
nas pautas importantes para a população do Estado do Rio de Janeiro. A conversa foi gravada pelo
podcast PodAlerj e pode ser assistida pelo canal Alerj Digital no Youtube, acessando o QRCode.

12 DIÁLOGO
OS
SS
PA
LIA
JU
Fui apenas um
instrumento
facilitador
dos mandatos,
com diálogo,
ouvido atento
e firmeza nas
decisões, quando
necessário ”
Diálogo: Que avaliação o senhor faz CECILIANO
dos quatro anos à frente do Parlamento no Plenário
fluminense? do Palácio
Tiradentes:
André Ceciliano: Para analisar os últi- em busca do
mos quatro anos é preciso voltar no tem- consenso
po, a 2016 e 2017. Foi um período muito
duro para o Estado do Rio de Janeiro,
de crise financeira e também política. datos, agilizamos a
Os salários dos servidores chegaram a inserção dos projetos
atrasar três, quatro meses. Tínhamos em pauta. Também
manifestações diárias na porta da Alerj. concluímos a obra da
Votamos pautas difíceis para que o esta- nova sede, em meio à
do pudesse aderir ao Regime de Recupe- pandemia da covid, e nos
ração Fiscal (RRF), conseguir o socorro adaptamos às novas tec- A
TR
financeiro da União e colocar as contas nologias para manter a Alerj LON
GO
em dia. Aprovamos uma série de mu- funcionando e dando suporte TH
IA
danças nas alíquotas de ICMS de diversos ao estado. Encaramos o impeach-
setores da nossa economia para que o ment de um governador. E mesmo nos
estado pudesse recuperar sua capaci- debates ideológicos e mais calorosos encontrar o consenso, onde tem dis-
dade de arrecadação e de investimentos. em plenário, agimos com firmeza na senso. Chegar ao bom termo, ceden-
Hoje, vivemos um novo momento, de condução dos trabalhos para fazer as do aqui ou ali, senão as pautas travam.
retomada do desenvolvimento econô- pautas avançarem. É importante saber ouvir e respeitar
mico, graças a esse trabalho da Alerj e ao diferentes posicionamentos ideológi-
esforço de todos os deputados. cos e partidários. Acho que foi isso que
Diálogo: Como foi a construção des- me garantiu a eleição de presidente da
se ambiente de entendimento numa Alerj, em 2019, e, novamente, em 2021,
Diálogo: E como foi o caminho até conjuntura de polarização? por unanimidade. Tratamos da crise
chegar a esse momento? financeira, da crise política, garanti-
André Ceciliano: Sempre fui conci- mos empenho, orçamento, liquidação.
André Ceciliano: Os desafios foram liador, de diálogo. Esse perfil vem do E aprovamos leis importantes para os
muitos. Fizemos uma transição na meu crescimento pessoal, ao longo mais pobres, para os trabalhadores, e
Casa, mudamos muitos procedimentos da vida. Fui comerciante, jornaleiro, para os setores da indústria e comércio,
internos, buscamos dar transparência atuei no mercado financeiro, sempre pela garantia dos empregos.
a todo esse processo, economizamos trabalhando com pessoas. Tenho uma
recursos do orçamento e devolvemos virtude que é a de conversar, de buscar
ao Estado, demos autonomia aos de- o entendimento, apesar de não fugir Diálogo: A Alerj economizou recur-
putados para exercerem seus man- das lutas. No Parlamento, temos que sos, devolveu ao Estado, e ainda repas-

DIÁLOGO 13
ENTREVISTA

sou para universidades para investi- Sudeste para setores importantes como dução, 30% dessa sobra, vai para este
mentos em áreas importantes. Como o dos atacadistas, de bares e restauran- fundo. Este ano, de acordo com o que
isso foi possível ? tes e índústrias produtoras de vidro, foi produzido, devemos chegar a R$ 5
papel, plástico e química. Baixamos bilhões reservados ao fundo. Sobre os
André Ceciliano: Só este ano já eco- impostos da conta de luz dos agriculto- investimentos, a definição caberá ao
nomizamos mais de R$ 500 milhões res familiares e também dos moradores Estado e ao Conselho Fiscalizador, que
do orçamento da Alerj, e, assim como das comunidades. E aprovamos o Fun- é formado por representantes do setor
fizemos em anos anteriores, vamos de- do Soberano, uma poupança pública público, a Alerj e instituições. A ideia
volver aos cofres do Tesouro estadual. para garantir investimentos futuros, é aplicar os recursos em investimentos
Com isso, serão mais de R$ 2,5 bilhões de longo prazo, para todas as regiões. que gerem novos empreendimentos,
economizados em cinco anos e repas- Esse foi um esforço conjunto, de todos e, consequentemente, empregos para
sados ao Estado e a universidades para os deputados. a população.
projetos, como o desenvolvimento de
novas vacinas, por exemplo. Em 2018,
devolvemos R$ 300 milhões para que o Diálogo: Sobre o Fundo Soberano, Diálogo: O senhor está saindo da
então governador Francisco Dornelles de onde vêm os recursos? Como ele Alerj, certamente, para um novo de-
pudesse pagar o salário de dezembro será aplicado? E quando começam os safio. Qual o recado deixa para os de-
dos servidores porque o estado estava investimentos? putados na próxima legislatura?
em dificuldades. A partir daí, resol-
vemos repetir os repasses da econo- André Ceciliano: Os recursos, con- André Ceciliano: Tudo o que vivemos
mia orçamentária nos anos seguintes, forme a lei determina, vêm dos exce- nesses últimos anos deve ser encarado
sempre buscando auxiliar em áreas dentes do petróleo, das participações como aprendizado. E que venham me-
importantes. Repassamos R$20 mi- especiais as quais o estado e os municí- lhorias, avanços. Eu deixo o mandato
lhões para a Fiocruz implementar pro- pios têm direito. Quando há superpro- de deputado estadual com a certeza do
gramas de enfrentamento à covid-19 dever cumprido, com a consciência
nas favelas. E vamos destinar recursos tranquila de que ofereci oportunidade
para a construção de um centro cultu- a todos os deputados de exercerem seus
ral na Baixada Fluminense. mandatos de forma plena, tanto nas
comissões quanto em plenário. A ban-
cada feminina teve protagonismo. Fui
Diálogo: Quais foram os destaques apenas um instrumento facilitador dos
do trabalho legislativo nestes últimos mandatos, com diálogo, ouvido atento
anos? Quais leis considera mais im- e firmeza nas decisões, quando neces-
portantes? As pessoas sário. Também ouvimos todos os seto-
res da nossa sociedade, universidades,
André Ceciliano: Tivemos muitas
propostas importantes aprovadas e
precisam ter o sindicatos, trabalhadores e servidores.
Permitimos que todos participassem
implementadas no estado para dar suporte da Alerj dos debates na Casa, contribuindo,
suporte à população e aos setores da apresentando demandas e sugestões.
nossa sociedade. O Supera RJ é uma para que tenham Ampliamos a participação popular no
delas. O auxílio de até R$ 300 ajudou processo legislativo.
mais de 430 mil famílias em todo o um futuro de
estado. A partir dele, criamos o vale-
-gás, um complemento para ajudar na oportunidades, Diálogo: Que futuro o senhor espera
compra do gás de cozinha. E também
abrimos um microcrédito para so- com a garantia para o Rio de Janeiro e para o Brasil?

correr empresas em dificuldade. Isso


contribuiu para manterem funcioná- de direitos como André Ceciliano: Primeiro, ver o Bra-
sil e o Rio, logicamente, sem fome, sem
rios e empregos. Também facilitamos
a vida dos taxistas, garantindo uma
educação pública pessoas morando debaixo de marqui-
ses. As pessoas precisam ter o suporte
forma deles renovarem a frota a juros
baixíssimos. E equiparamos alíquotas
de qualidade e da Alerj para que tenham um futuro de
oportunidades com a garantia de di-
de ICMS com as de outros estados do emprego” reitos como educação pública de qua-
lidade e emprego. Uma vida digna é o
que o político deve perseguir para ofe-
recer ao seu povo. O Rio de Janeiro está
vivendo um novo momento. Com as
contas em dia, recursos em caixa para
planejar o futuro e investir em políticas
públicas para quem mais precisa.

14 DIÁLOGO
DESENVOLVIMENTO

DIVULGAÇÃO FIOCRUZ
Rio pode ser referência
no Complexo da Saúde
Estudo da Assessoria Fiscal aponta importância do CEIS
para a diversificação da cadeia produtiva do estado
T EXTO ANA PAULA DE DEUS E EDUARDO retor-presidente da Assessoria Fiscal, vimento, inovação e, sobretudo, bem
SCHMALTER FOTO DIVULGAÇÃO FIOCRUZ economista Mauro Osorio. estar às pessoas", aponta Gadelha.
O conceito do CEIS, desenvolvido A Nota Técnica mostra que o Rio de

O
Estado do Rio tem forte poten- pioneiramente pelos pesquisadores Janeiro tem perdido investimentos
cial para se tornar uma referên- da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculados ao CEIS para outros esta-
cia do Complexo Econômico- Carlos Gadelha e José Gomes Tempo- dos. Entre 1970 e 2020, o PIB flumi-
-Industrial da Saúde (CEIS) no rão, pretende integrar saúde, desen- nense apresentou uma perda de par-
país. A constatação está na Nota Téc- volvimento e inovação, tanto do ponto ticipação no PIB brasileiro de 40%,
nica lançada pela Assessoria Fiscal da de vista da pesquisa científica quanto sendo a unidade da federação com
Alerj, que identifica a situação atual e da implementação das políticas públi- menor dinamismo econômico no
as oportunidades de desenvolvimento cas. O estudo propõe uma visão sistê- período. Metade das indústrias far-
das empresas do setor, principalmen- mica dos investimentos, para fortale- macêuticas instaladas aqui, até 2006,
te, para as indústrias farmacêutica e cer a economia e melhorar a prestação saíram do estado. Ter uma estratégia
hospitalar. Um dos pontos fortes é a dos serviços de saúde. de atratividade de empresas que con-
capacidade de gerar inovação, graças à “Cerca de 53% dos insumos para sidere o CEIS é uma oportunidade para
quantidade de instituições de pesquisa produção do setor no país são impor- reverter esse processo.
reunidas em solo fluminense. tados e 15% do PIB da saúde vão para Um dado que revela a potenciali-
“O estudo, disponibilizados pela fora do Brasil. Um dado fundamental dade do setor é o balanço entre im-
Alerj à sociedade, traz um diagnósti- do é empregabilidade. O setor oferece portações e exportações na área da
co para embasar estratégias de desen- melhores salários e trabalhadores mais saúde, cuja diferença anual passou de
volvimento para o futuro”, diz o di- qualificados. A saúde traz desenvol- cerca de US$ 1,2 bilhão, em 2006, para

DIÁLOGO 15
do Brasil tem saúde pública universal.
Temos o maior sistema de compras COMPLEXO DA FIOCRUZ
públicas do mundo e precisamos usá- Um projeto que tem potencial
-lo para atrair indústrias e serviços”, de gerar atratividade para o
defende Osorio. CEIS é o Complexo Industrial de
Temos o maior DIFICULDADE É OPORTUNIDADE
Biotecnologia em Saúde (CIBS),
da Bio-Manguinhos/Fiocruz. A
sistema de O estudo ressalta ainda que a própria
necessidade de melhoria da qualida-
unidade está em construção em
Santa Cruz, Zona Oeste da ca-
compras públicas de dos indicadores e do atendimento
prestado ao cidadão é oportunida-
pital fluminense. Será o maior
centro de fabricação de produ-
do mundo e de de fomento, mostrando o quanto
ainda há espaço para investimento.
tos biológicos da América Lati-
na e um dos mais modernos do
precisamos Na mortalidade materna, de cada 100
mil nascidos, o índice de mortes é
mundo. Ele vai ampliar a oferta
de vacinas e biofármacos, para
usá-lo para de 74,52; contra a média nacional de atender, prioritariamente, ao
55,31. O Rio de Janeiro tem também Sistema Único de Saúde (SUS).
atrair indústrias a maior taxa de mortalidade infantil O CIBS poderá produzir cerca
da região Sudeste. O Censo Hospita- de 120 milhões de frascos de
e serviços” lar Público de 2021, mostra que 38% vacina e biofármacos por ano,
dos leitos federais estavam inativos, gerando cinco mil empregos di-
Mauro Osorio por falta de profissionais de saúde. retos durante a construção, e de
diretor-presidente da Assessoria Fiscal O adensamento da cadeia produtiva, 1.500 postos de trabalho para a
aliado à boa gestão dos recursos, pode sua operação.
contribuir para o sucesso das políticas
públicas e até para zerar a fila do Sis-
tema de Regulação de leitos (Sisreg).
Um ponto forte do estado é a concen- pendentes de tecnologia de ponta e
US$ 22 bilhões, em 2021. Os números tração de instituições de pesquisa de investimento maciço em pesquisa e
dão a dimensão da dependência do reputação reconhecida. Estão aqui as desenvolvimento. Temos um poten-
país nessa área e do quanto poderia ser sedes da Fiocruz, do Instituto Vital Bra- cial enorme nessa área por possuir-
produzido aqui, com a implementa- zil e uma gama de universidades fede- mos universidades, centros de pes-
ção de políticas públicas de incentivo. rais e estaduais. O Rio está em segundo quisas e startups. É importante ter
A pandemia de covid-19 evidenciou a lugar no ranking nacional de titulações cada vez mais investimento e apoio
necessidade de se buscar uma maior de mestres e doutores, segundo dados das agências de fomento para criar-
autonomia, diante dos altos custos nas da Coordenação de Aperfeiçoamento mos um ambiente inovador, além
importações de insumos, como vaci- de Pessoal de Nível Superior (Capes), de pensar mecanismos para atrair
nas e respiradores. do Ministério da Educação. empresas de produção de insumos
“As áreas de produção de produtos que fazem parte da cadeia produtiva
A FORÇA DO RIO NO SUS biológicos e farmoquímicos são de- farmoquímica e que, muitas vezes,
A geração de empregos é outro argu- não têm produção local”, afirma o
mento favorável para o incentivo. A JULIA PASSOS vice-diretor de Gestão e Mercado da
estimativa é de que cada R$ 1 milhão Bio-Manguinhos/Fiocruz, Artur Ro-
a mais de produção no CEIS aumente, berto Couto.
em média, 27,7 postos de trabalho no A ação do Estado como indutor é
mercado nacional. E para cada R$ 1 de fundamental no processo de atração
demanda final na saúde, acrescenta- de empresas. Osorio ressalta que a
-se R$ 2,86 na economia brasileira em oferta de infraestrutura de qualida-
geral, por efeitos diretos e indiretos. O de é um dos requisitos na decisão de
CEIS fluminense gera quase meio mi- investimento. “Só conseguiremos
lhão de empregos formais diretos no desenvolver o CEIS se tivermos uma
estado, segundo a Nota Técnica. política de estruturação do setor pú-
O gigantismo do Sistema Único de blico fluminense, com a realização de
Saúde (SUS) é outro forte argumento concursos e uma política de investi-
para atração de empresas. O estado mentos integrados à infraestrutura.
concentra 193 das 2.720 unidades hos- Muitas vezes, falta o fornecimento de
pitalares públicas do Brasil, sendo 31 água, energia elétrica ou uma rede de
federais - algumas ligadas às universi- telecomunicações, além de segurança
dades -, 34 estaduais e 128 municipais. pública. Temos hoje um ambiente ins-
O estado é um forte mercado consu- titucional hostil”, diz.
midor de insumos e serviços de saúde. CECILIANO e Osorio no lançamento
“Nenhum outro país com o tamanho da Nota Técnica do CEIS na Alerj

16 DIÁLOGO
DESENVOLVIMENTO

professor do Instituto de Economia


da UFRJ, Fábio Freitas, também autor
do programa.
A MIP-RJ poderá gerar relatórios
quantitativos a respeito do impacto de
políticas públicas sobre a produção,
medir valor adicionado, consumo das
famílias, importações de outros estados
e do resto do mundo e a arrecadação tri-
butária de impostos, com um detalha-
mento para diferentes tipos de produ-
tos e atividades econômicas. Também
poderá ser usada pelo Legislativo para
avaliar possível resultado de projetos de
leis que propõem medidas econômicas,
como incentivos fiscais, por exemplo.
“Será possível analisar a quantidade
de empregos gerados pelos setores que
receberem investimentos, a quantida-

Matriz de uma
de de renda, de produto e de impos-
tos”, exemplifica Cabral.

PARCERIA COM AS
UNIVERSIDADES

economia ativa
Recentemente, a Alerj promulgou a
Emenda Constitucional 92/22, que
incluiu o Plano Estratégico de De-
senvolvimento Econômico e Social
(Pedes) na Constituição estadual. A
norma determina que a MIP deverá

O
Estado do Rio terá uma nova xiliar gestores na tomada de decisão servir de base para o planejamento
Matriz Insumo e Produto (MIP) e também será um rico material para dessas ações.
- sistema computadorizado que pesquisadores, profissionais da inicia- “A PEC introduziu a obrigação de
analisa características de estru- tiva privada e do terceiro setor. que o estado construa, em 2024, o
turas de produção, oferta e demanda Pedes, respaldado na Matriz Insumo
presentes na economia fluminense. O RAIO X DO SETOR PRODUTIVO Produto. É um esforço para pensar no
programa foi encomendado pela Alerj O banco de dados foi abastecido com futuro, e esse futuro passa pelo plano
às universidades federais do Rio de informações referentes ao ano de 2019 estratégico”, afirma o deputado Luiz
Janeiro (UFRJ) e Rural do Rio de Ja- e vai possibilitar o cruzamento de es- Paulo (PSD).
neiro (UFRRJ), sob a coordenação da tatísticas socioeconômicas e registros Para Cabral, a parceria entre Poder
Assessoria Fiscal. É um instrumento administrativos. Dentre eles, estru- Público e universidades é fundamen-
importante para identificar potenciais tura de produção das empresas clas- tal para que esta consiga atuar para
e obstáculos ao desenvolvimento do sificadas por atividades econômicas, “além dos muros” e os gestores públi-
estado, permitindo o planejamento e fluxos de importações, valores de im- cos possam absorver da melhor forma
a avaliação dos resultados dos inves- postos, margens comerciais, demanda esse conhecimento.
timentos feitos nos setores produtivos. de produtos, entre outros índices. “As instituições de ensino detém
“A MIP é um diagnóstico da cadeia “Para a construção de uma Matriz tecnologias, ferramentas e conheci-
produtiva do Estado Rio ou da região em Insumo-Produto foi necessária a ela- mentos teóricos que o Poder Público
análise. Uma constatação daquela estru- boração de uma base de dados que não possui. Trata-se de uma relação
tura produtiva disponível. Também per- envolve o cruzamento de um grande de complementação. Foi uma parce-
mite identificar os setoreschave, aqueles volume de informações, entre esta- ria pioneira de 12 meses, que reforçou
que possuem encadeamentos produti- tísticas socioeconômicas e registros a importância de se ter universidades
vos acima da média da economia”, es- administrativos. Esta base de dados é próximas aos Poderes Legislativo e
clarece o economista da UFRRJ, Joilson compatível e complementa as infor- Executivo, proporcionando desen-
Cabral, um dos autores da matriz. mações disponibilizadas pelo IBGE. volvimento econômico, tecnológico e
Desde 1996, o Rio não contava com É uma contribuição para o entendi- científico ao Rio de Janeiro”, finaliza.
essa ferramenta na elaboração das mento das características estruturais
suas políticas públicas. A MIP vai au- da economia fluminense”, explica o

DIÁLOGO 17
MEMÓRIA VIVA

T EXTO MADU COSTA


FOTO RAFAEL WALLACE

C
em anos após o lançamento da
sua pedra fundamental, o Palá-

Democ
cio Tiradentes passa por uma re-
vitalização para abrigar a Casa da
Democracia. O novo espaço cultural
vai apresentar ao público momentos e
personagens que construíram a traje-
tória da República e seu ideal de sobe-
rania popular. Recursos de realidade
virtual e tecnologias interativas vão
se integrar à arquitetura monumen-

de po
tal, com seus símbolos e referências
de época, para compor a narrativa das
exposições permanente e temporá-
rias. A abertura está prevista para o
primeiro trimestre de 2023.
“Nosso compromisso é promover
o acesso da população às principais
fontes de conhecimento guardadas

aber
na memória nacional e que fazem
parte dos ideais de construção da
nossa democracia. Nesse contexto, o
Palácio Tiradentes desempenhou um
papel relevante na construção de um
Brasil politicamente independente e
sustentável”, afirma o presidente da
Alerj, deputado André Ceciliano (PT).

POVO COMO PROTAGONISTA


Patrimônio tombado, o Palácio Tira-
dentes foi testemunha de fatos mar-
cantes, como a aprovação da Lei Áu-
rea, a promulgação de Constituição
de 1934, a ditadura do Estado Novo e
a fusão do Estado do Rio com a Gua-
nabara. A Casa da Democracia surge
com a missão de promover o acesso do
cidadão a essa memória institucional,
cultural e política. Mas a narrativa não
se prende à cronologia. O fio condutor
é a visão crítica que põe o povo como
protagonista dos acontecimentos.
A ideia é ir buscar esse ideal de li-
berdade e igualdade desde os tempos
do Brasil Colônia, lembrando a prisão
de Tiradentes no antigo prédio que
abrigava a Câmara e a Cadeia Velha. E
situar o palácio na construção da era
republicana, recriando com realidade
aumentada as transformações do sítio
histórico em que o edifício se insere,
dando vida aos personagens e seus
discursos proferidos no Plenário. A
Democracia terá um espaço dedicado
no terceiro pavimento, partindo da
Inconfidência Mineira, atravessando o
Estado Novo, o Golpe de 64, a Anistia,

18 DIÁLOGO
passando pela a reabertura política e o
movimento “Diretas Já”.
O projeto prevê ainda exposições
temáticas, relacionadas a datas co-
memorativas, como a Semana de Arte

cracia
Moderna e a primeira transmissão de
rádio. A proposta é de que haja sempre
oferta de novos atrativos ao público.
O conteúdo está em desenvolvimen-
to, com o apoio da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), da Universidade Federal
Fluminense (UFF), do Instituto Morei-
ra Salles (IMS Rio), da Ordem dos Ad-
vogados do Brasil (OAB) e do Instituto

ortas
de Pesquisa e Memória Pretos Novos. A
estimativa de custo de implementação
do projeto é de R$ 6,5 milhões, com
recursos próprios da Alerj.
“São dois circuitos temáticos: um
sobre a história da República e outro
sobre a história da democracia. Cada
sala da instalação tem um eixo: da Lei

rtas
Áurea e o olhar da população negra
sobre ela até a retomada do pacto de-
mocrático depois da ditadura militar.
Queremos contar essa história através
de variadas experiências, com instala-
ções pensadas para permitir o acesso
a imagens e sons, falando também da
arquitetura do prédio e do ambiente
do entorno”, explica o coordenador
do projeto, Franklin Coelho.

OFICINA DE RESTAURO
O resgate da memória também trará
de volta o brilho do passado. Antes
da inauguração do centro cultural, a
Curadoria do Palácio está realizando
a revitalização dos ambientes. Retira-
SALÃO NOBRE ganhou das as divisórias e a fiação excessiva,
o edifício ficou limpo para a entrada
novas cortinas e teve em ação das equipes da Oficina-Escola
de Conservação e Restauro, que capa-
mobiliário restaurado, citou os próprios servidores e funcio-
voltando a exibir o brilho nários terceirizados da Casa para o
trabalho de manutenção.
e as cores originais “Estamos arrumando a casa com
muito carinho e já é possível observar
os resultados, mesmo em tão pouco
tempo. Houve sensibilidade do nosso
presidente, que entendeu a necessida-
de de um prédio tão precioso e impor-
tante como o Palácio Tiradentes capa-
citar e oportunizar o conhecimento
para os servidores, inclusive estagiá-
rios, em ofícios de restauro e conser-
vação”, conta a superintendente de
Curadoria, Maria Lúcia Horta Jardim.
As oficinas, realizadas em parceria
com a Escola do Legislativo, tiveram a

DIÁLOGO 19
MEMÓRIA VIVA
RAFAEL WALLACE
participação de mais de 50 funcioná- “A oficina mobilizou toda a casa para
rios e colaboradores, que aprenderam contar a história do edifício como pilar
e aplicaram as técnicas de restauro e da democracia e do Legislativo brasi-
conservação em móveis, lustres e me- leiro”, conta a arquiteta e coordena-
tais decorativos do edifício histórico. dora da oficina, Simone Algebaile.
“Tenho muito orgulho de fazer esse
trabalho. Sempre que o Palácio for vi- CAPRICHO DOS SERVIDORES
sitado, vai ter um pedacinho do meu A proposta é de que a qualificação dos
esforço ali sendo admirado. E o mais funcionários contribua para a correta
interessante é que a beleza sempre es- manutenção do patrimônio. Foram
teve lá, só que estava escondida pela promovidos também workshops de
poeira do tempo”, diz o estudante de técnica de marmorino e acabamento
engenharia civil Marcelo Pereira, que em madeira. O modelo da Oficina-Es-
trabalhou na limpeza do portão de cola uniu uma formação técnica de
SERVIDORA recupera poltronas ferro fundido, latão e cobre da entrada qualidade com uma reforma menos
JULIA PASSOS principal do Palácio. custosa aos cofres públicos.
Móveis de madeira de lei, estátuas e “Na simbiose de ensino e produção
lustres de época já foram recuperados, tivemos um ganho geral inestimável,
assim como a cor original das paredes para alunos, professores e para a res-
internas e o sinteco dos pisos de ma- tauração. A gente nunca sabe como
deira dos salões. A oficina utilizou téc- um metal vai reagir a nossa inter-
nicas artesanais, valorizando o modo venção, então temos um resultado
de fazer dos mestres de ofício. Os alu- dinâmico. O processo de aprendizado
nos foram orientados por profissionais é uma metamorfose”, detalha o pro-
de restauro com especialização na Itá- fessor da turma de metais, Antônio
lia, através do Programa Monumenta, Carlos Leite.
do Instituto do Patrimônio Histórico e Além dos ganhos para o restauro,
Artístico Nacional (Iphan), e com mais o professor João Batista Teixeira, há
de 30 anos de atuação em projetos im- mais de 30 anos na área, ressaltou
PEREIRA renova portão principal plementados no estado e no país. que o mais importante é passar o co-

LINHA DO TEMPO DO PALÁCIO TIRADENTES


BANCO DE IMAGEM

Joaquim José Após a O prefeito Promulga-


da Silva Xavier, Independência, o Pereira da a Cons-
o Tiradentes, é prédio da Cadeia Passos tituição
enforcado depois de Velha abrigou inicia a que durou
cinco dias preso na a Assembleia moderni- apenas
Lançamento da
Cadeia Velha Constituinte zação da três anos
pedra fundamental
cidade
do Palácio Tiradentes

1631 1808 1888 1914 1926

1792 1822 1902 1922 1934


Construção da Casa Chegada da corte Legislativo aprova A Câmara é
de Câmara, que portuguesa ao a Lei Áurea transferida para o Inaugurado o
também abrigou a Brasil. A família real Palácio Monroe Palácio Tiradentes,
Cadeia Velha se estabeleceu no projetado pelos
Paço Real e seus arquitetos
empregados, na Archimedes Memória
Cadeia Velha e Francisco Couchet

20 DIÁLOGO
RAFAEL WALLACE
nhecimento para novos profissionais. época. As esculturas, construídas com
"Entendo que o Brasil tem carência a técnica de marmo stucco, represen-
em mestres de ofício capacitados na tam Paz e Trabalho, Lei e Autoridade.
restauração de prédios históricos, por Foram restaurados mais de 400 itens
isso, essa oficina é uma importante de metal e quase 50 peças da mobília
contribuição para o futuro da profis- do palácio.
são", afirma Teixeira.
PALCO DE ESPETÁCULOS
INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO Mesmo nesse período de transição, o
Ao longo de 2021, a curadoria tam- Palácio tem sido palco de espetáculos
bém catalogou 705 peças de escul- culturais gratuitos e de alto nível. Em
turas, pinturas, mobiliários, lustres 2022, o Plenário recebeu artistas como
e mosaicos dos pisos, entre objetos Ivan Lins, Buchecha, Wagner Tiso e
antigos e contemporâneos que deco- Fundo de Quintal, no projeto Viva o
ram o prédio. Entre elas, estão as 226 Compositor Brasileiro. O Musical Sons
cadeiras do Plenário e as poltronas da Independência, em comemoração
em imbuia e estofamento em couro aos 200 anos da Independência do
de tom noyer-ciré (noz encerado), Brasil, trouxe Mart’nália e Toni Gar-
do Salão Nobre. rido. Os projetos são desenvolvidos
As ações de reparo incluíram a Sala pela Subdiretoria-Geral de Cultura,
de Apoio às Comissões e o Salão Nobre, em parceria com a Fundação de Artes
ambientes que concentram boa parte do Estado do Rio de Janeiro (Funarj).
do mobiliário original do edifício. Foi “O Tiradentes está se transformando
feita a prospecção da cor original da num novo equipamento cultural e de
pintura das paredes, com a retirada e a memória da cidade aberto à popu-
análise de várias camadas de tinta. Ta- lação. Vivenciar essas experiências
cos de madeira faltantes foram recu- histórica e artísticas é enriquecedor”,
perados e o verniz devolveu a majes- afirma o subdiretor Nelson Freitas.
tade aos ambientes. No Salão Nobre,
duas estátuas voltaram ao padrão de PLENÁRIO teve mobiliário catalogado

Primeira grande res- Alerj é


tauração do Palácio trans-
Tiradentes e inau- ferida
gurada a exposição para o
Fim do governo Manifestantes da permanente “Palácio Edifício
Vargas. O Palácio Passeata dos Cem Tiradentes, lugar de Lúcio
Tiradentes volta a Mil concentram-se memória do parla- Costa
abrigar a Assembleia nas proximidades mento Brasileiro”
Constituinte do Palácio

1937 1960 1975 2016 2022

1945 1968 2000 2021


O presidente Getúlio Com a fusão dos es- Segunda reforma
Vargas fecha o Con- Transferência tados da Guanabara externa do prédio
gresso e tem início a da capital para e do Rio de Janeiro, Palácio é
ditadura do Estado Brasília e o Palácio o Palácio passa a revitalizado
Novo. Palácio abriga Tiradentes passa a abrigar a Assembleia para abrigar
o Departamento de abrigar a Assembleia Legislativa do Esta- a Casa da
Imprensa e Propa- Legislativa do Estado do do Rio de Janeiro Democracia
ganda (DIP) da Guanabara (Alerj)

DIÁLOGO 21
TURISMO

T EXTO JULIANA MENTZINGEN E JOÃO PEDRO BICAMPEÃO mundial de slackline


LIMA FOTOS RAFAEL WALLACE Pedro Rafael participa das

N
competições em Niterói
a terra, na água e no ar, o Rio de
Janeiro é um convite à aventura.
Com duas Unidades de Conser-
vação no top dez das mais
visitadas do Brasil, é natural
que o estado seja o primeiro
do país na busca dos destinos
nacionais, em especial, para
os que curtem esportes radicais.
Da capital ao interior, o roteiro
de atrações envolve cidades de
várias regiões do estado, que, re-
centemente, ganhou uma Política
de Incentivo e Desenvolvimento
do Turismo (Lei 9.811/22), apro-
vada, este ano, na Alerj.
“Temos o rafting - descida de cor-
redeiras com botes infláveis- nos
municípios de Três Rios e Sapucaia.
Aqui na cidade do Rio, muitas pes-
soas vêm em busca da Trilha Trans-
carioca, a primeira de longo curso
do Brasil. A travessia Petrópolis-Te-
resópolis, considerada a mais bonita
do país, também é muito procurada.
Além disso, a Urca (bairro do Rio) é o
maior centro de escalada urbana do
mundo”, elenca o presidente da Asso-
ciação Carioca de Turismo de Aventura
(Acta), Fabio Nascimento.
Com paisagens diversificadas, o
estado foi escolhido pela terceira vez
consecutiva como melhor destino da
América do Sul em turismo de espor-
tes, tendo conquistado, em setembro,
o “World Travel Awards” - iniciativa
global que reconhece a excelência
em atrativos para viagens. O desta-
que contribui para o que o Rio sedie
os principais eventos esportivos in-
ternacionais.

22 DIÁLOGO
Região Metropolitana, Costa Verde, mente, para o ecoturismo e turismo jam descumpridas, pois um dos maio-
Costa do Sol e Região Serrana são os de aventura. O estado possui uma di- res desafios da área é o exercício ilegal
roteiros mais procurados por quem versidade muito grande de ambientes, da profissão de guia, descumprindo
busca contato com a natureza para que favorecem práticas variadas, que uma série de normas técnicas de se-
relaxar ou vivenciar fortes emoções. vão desde observação de fauna até o gurança, conduta e sustentabilidade.
Da observação da vida silvestre às es- astroturismo. Temos regiões de serra, O que poderia melhorar é a fiscaliza-
caladas e mergulhos, as opções fazem de praia, lagoas, rios, florestas, praias ção, tendo um canal eficiente para de-
bonito sem deixar por menos na com- e manguezais”, elogia. núncias daqueles que atuam de forma
paração com sítios do exterior. Como contribuição à melhoria da irregular”, sugere.
Biólogo que há 15 anos se dedica ao legislação, ele sugere que haja maior Pioneiro do parapente do país, o bi-
turismo especializado em atrativos controle da atividade para que as nor- campeão brasileiro de voo livre Ruy
naturais, Felipe Menezes espera que mas de sustentabilidade sejam cum- Marra, é um defensor da descentra-
a nova política fortaleça a divulgação pridas e os ambientes preservados. lização, com melhoria na divulgação
desta modalidade no estado. “A lei poderia ter um campo mos- dos atrativos nas demais regiões. Os
“O potencial é enorme, principal- trando as sanções, caso as regras se- esportes aéreos, por exemplo, a ram-

N T U R A
E
AV RA OS
PA
RT E S
FO e s r a d
c r e m e
icais in e atraem
Esport io de eventos estado
ntam

ár o
calend tas para todo
turis

DIÁLOGO 23
TURISMO

pa da Pedra Bonita, em São Conrado, facilitando a chegada de visitantes e


bairro da capital, é referência para a as ações feitas pela Guarda Ambiental
prática, mas ele cita outros endereços na Serra do Vulcão. Mesmo sem voos
para quem quiser ir além e diversificar duplos, a rampa gera grande fluxo de
a vista da paisagem. visitantes, subindo por trilha ou em
“O Rio é um estado com um grande gaiolas - carros adaptados para a serra.
número de rampas de asa delta e para- Dentre as 12 regiões turísticas do Es-
pente. Além da Pedra Bonita, é possível tado do Rio, Nova Iguaçu está inseri-
praticar essas atividades em Visconde da na Baixada Verde, com outros nove
de Mauá, Nova Friburgo e Petrópolis, municípios da Baixada Fluminense
no interior do estado. A descentrali- (Belford Roxo, Duque de Caxias, Jape-
zação do turismo trará mais agilidade ri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Quei-
dentro nas ações, tornando o trade mados, São João de Meriti, Seropé-
mais democrático e fazendo com que dica). A cidade possui categoria C no
outras regiões sejam também mais Mapa do Turismo Brasileiro.
beneficiadas, não apenas a capital”, “O atrativo pode promover o tu-
sugere o desportista, que recebe, em rismo de aventura e o ecoturismo da
média, 90 pessoas em busca de um voo cidade e da região turística Baixada
de aventura e de instrução. Verde, podendo compor inclusive um
roteiro integrado entre municípios”,
VOO RADICAL DO VULCÃO afirmou a coordenadora de Turismo da
Na Baixada Fluminense, a rampa de Prefeitura de Nova Iguaçu, Ana Cristi-
voo livre de Nova Iguaçu foi recons- na Venâncio.
truída e vem atraindo visitantes de
diversas regiões ávidos pelo visual MARCADO NO CALENDÁRIO
deslumbrante da Serra do Vulcão. Lo- Na Região Metropolitana, Niterói é o
calizada a 850m de altura, a pista, reduto da prática de slackline no Es-
construída nos anos tado do Rio. Foi lá que o bicampeão
1980, é considerada mundial Pedro Rafael Marques, de 26
uma das mais de- anos, se estabeleceu e virou referência
safiadoras do esta- na modalidade. O cearense veio para o
do pelos pratican- Rio, em 2015, para participar de cam-
tes de asa delta e peonatos, apaixonou-se pela cidade
parapente. No e resolveu morar. Nas areias da Praia
sopé do vulcão, a de Icaraí também é realizado o cam-
Mata Atlântica co- peonato nacional de slackline, o Slack
bre 1.100 hectares Pro Icaraí, que atrai atletas e pessoas
de área protegida de todo o país para praticar e assistir
no Parque Natu- às competições, que entraram para o
ral Municipal de calendário da cidade, em setembro.
Nova Iguaçu. “Niterói é o precursor da modali-
“Quinze RAPEL, na cachoeira ou no costão, dade e o melhor lugar para a prática
anos depois tem pontos na capital e no interior do esporte. O slackline nasceu aqui,
se propagou para o Rio de Janeiro e
da última reforma, a antiga rampa depois para outras grandes capitais.
recebeu nova estrutura e foi reinau- Hoje em dia, também dou aulas para
gurada. O local tem um potencial tu- moldar novos campeões mundiais.
rístico e importância ambiental muito São essas pessoas que vão difundir o
grande. O movimento deve aumentar, esporte”, conta o atleta.
pois a estrutura é boa e o acesso está Chegando à Região das Baixadas
melhor, além de ser um local lindo Litorâneas, Saquarema é considera-
por natureza”, destacou o secretário da “Capital Estadual do Surfe” (Lei
de Meio Ambiente de Nova Iguaçu, 7.527/17) e desponta como Meca dos
Fernando Cid. esportes aquáticos. Este ano, sediou
Lá do alto, pode-se admirar a primeira etapa do campeonato
a Baía de Guanabara, a Baía mundial World Surf League (WSL). O
de Sepetiba e a Mata evento despejou R$ 73 milhões na eco-
Atlântica. O acesso nomia da cidade, segundo dados da
feito pela Estrada da consultoria Ernest Young, garantindo
Rampa, de 7km, 100% de ocupação da rede hoteleira,
também passou em junho. O município tem categoria
por melhorias, B do mapa do turismo.

24 DIÁLOGO
do emprego e renda para a população
fluminense. Ela serve de base para o
melhor planejamento dos programas
voltados para o turismo de todos os
municípios, pois também trata da
descentralização das ações no estado,
já que cada região tem suas peculiari-
dades”, comenta a presidente da Co-
missão de Turismo da Alerj, deputada
Alana Passos (PTB).
A formação das IGRs é fundamental
para a promoção do setor, inclusive,
na obtenção de recursos para o finan-
ciamento de projetos, como explica o
presidente do Conselho Regional de
Turismo da Costa do Sol (Condetur),
Marco Navega. “Minas, São Paulo,
Paraná e Santa Catarina já fizeram leis
estaduais e agora o Rio foi colocado
definitivamente nesse circuito. Cada
município deverá elaborar sua própria
legislação, que oriente a atividade tu-
rística. Assim, a gente teria um tripé
para nortear os investimentos e a pro-
teção devida em relação às cidades e
PARAPENTE é um dos esportes mais populares do litoral do Estado do Rio ao meio ambiente”, esclarece.
Durante audiência na Alerj, o diri-
gente empresarial destacou que Minas
Gerais tem 222 IGRs e, até o momento,
apenas os municípios da Costa do Sol
e a Serra Verde Imperial conseguiram
estruturar suas instâncias. A Costa do
Sol concentra três dos 57 municípios
brasileiros classificados como cate-
goria A do turismo - Armação de Bú-
zios, Cabo Frio e Macaé. Apesar de o
estado ter recebido 40% dos turistas
internacionais do país, em 2019, ainda
conta com poucas IGRs, o que revela o
tamanho do desafio a ser enfrentado.
“A formalização das IGRs garante
também acesso das empresas do se-
tor a mais recursos para investimento.
Somente R$ 27 milhões do Fungetur
(linha de crédito de capital de giro
destinada às empresas do setor) vieram
para o Estado do Rio, enquanto Minas
recebeu mais de R$ 600 milhões. Nosso
estado recebe menos recursos porque
ainda não temos 100% das IGRS for-
RAFTING: descida de bote nas corredeiras é atrativo de Três Rios e Sapucaia malizadas, como o Ministério do Tu-
rismo preconiza”, explica Navega.
INTEGRAÇÃO REGIONAL 9.811/22), com a responsabilidade de A criação de um Fundo Estadual de
O Rio de Janeiro tem 86 dos seus 92 coordenar as ações regionais. A legis- Desenvolvimento do Turismo para
municípios no Mapa Turístico do esta- lação, de autoria do Governo Estado, financiar projetos na área - medida
do, mas conta com apenas 12 Instân- foi amplamente discutida em audiên- aprovada pelos parlamentares em 17
cias de Governança Regional (IGRs). cias públicas promovidas pela Comis- emendas - foi vetada no texto da Lei
Os colegiados reúnem representantes são de Turismo da Alerj. 9.811/22.O Governo argumentou que
do poder público e da iniciativa pri- “Se implementada, a Lei da Política a vinculação de receita fere o Regime
vada, como prefeituras e associações Estadual de Turismo será um marco de Recuperação Fiscal.
comerciais, e estão na essência da no crescimento econômico do setor,
nova política pública do setor (Lei aumentando o fluxo turístico e geran-

DIÁLOGO 25
SOCIEDADE

Prioridade no
combate à

QUENTINHAS peparadas por voluntários do MTST são distribuídas, diariamente, à população em ação social na Lapa

Alerj destina recurso a marmita servida pelos voluntários


da Cozinha Solidária.
(Muca) para dar assistência a que vive
em situação de rua, além de trabalha-
à Fiocruz para apoiar A ação é promovida pelo Movimento dores da economia informal.
dos Trabalhadores Sem Teto do Rio de Morador de Ramos, na Zona Norte
ações assistenciais Janeiro (MTST-RJ), organização que do Rio, o camelô Gilberto Alves Júnior
nasceu em 2021 e integra a rede de en- vende quentinha de mini-refeições no
aos mais pobres tidades empenhadas em minimizar a Centro do Rio, há cerca de um ano e
fome, que atinge mais de dois milhões meio. Mesmo vendendo alimentos, ele
de fluminenses incluídos na linha da está entre os que disputam uma mar-
T EXTO MANUELA CHAVES E PETRA SOBRAL pobreza ou da miséria extrema, se- mita em meio ao Mercado Popular da
FOTOS JULIA PASSOS gundo levantamento do CadÚnico. Rua Uruguaiana.
A iniciativa está entre os projetos “É uma salvação essa quentinha. Al-

Q
uando o dia amanhece no agi- financiados pelo Plano de Enfren- guns dias, tanto eu como também os
tado bairro da Lapa, o som no tamento à Covid nas Favelas, elabo- outros colegas, sofremos com vendas
casarão de 1937 tem um ritmo rado pela Fundação Oswaldo Cruz complicadas. Não posso comer o que
intenso: ecos de panelas, facas (Fiocruz), que recebeu repasse de R$ eu faço, porque preciso levar o dinhei-
picando cebolas e batatas e o frigir 20 milhões do Fundo da Alerj (Lei ro que ganho para casa, para minha
dos temperos. Localizado no epi- 8.972/20). família”, explica.
centro da boemia carioca, o prédio já As ONGs chegam a distribuir até 250
abrigou o Cabaré Casanova, palco do INSEGURANÇA ALIMENTAR por dia para entregadores de aplicativo
lendário Madame Satã. Hoje a fila na São duas mil pessoas atendidas por na região central da capital do estado.
porta não é mais de jovens em bus- mês pela ação solidária que tem par- “Ganhamos pouco e, se tirarmos um
ca de diversão. A atração principal é ceria do Movimento Unidos do Camelô pouco do nosso próprio dinheiro para

26 DIÁLOGO
comprar comida, a gente sofre. Fora a
passagem também. Sai um gasto mui-
to alto. Uma comida no Centro custa
entre R$ 15 e R$ 20”, conta o entre-
gador Júnior Santos, que sobrevive na
informalidade há três anos.
“Os trabalhadores de aplicativo, que
carregam comida nas costas, muitas
vezes não têm o que comer. Precisamos
buscar condições para alimentar essas
pessoas. Todos os dias vemos a fila au-
mentando, então, quando aumentamos
a quantidade de comida, também preci-
samos pensar em como vamos ordenar
as refeições”, explica a coordenadora do VOLUNTÁRIO do Muca entrega marmita a trabalhador informal no Centro
Muca e voluntária da Cozinha Solidária,
Maria de Lurdes do Carmo.
Os alimentos utilizados no prepa- sentamento Hydras Terra Prometida,
ro das quentinhas são comprados do nas margens do Arco Metropolitano,
Movimento dos Pequenos Agricultores na Baixada Fluminense.
(MPA), mas o projeto também conta A ONG também identificou a neces-
com outras doações, como explica o sidade de oferecer qualificação, para
coordenador do projeto do MTST, Vi-
nícius Silva.
Queremos reinserir as pessoas no mercado de
trabalho. “Muitas famílias perderam
“Queremos demonstrar, através de
ações, que a fome é inaceitável. Ago-
demonstrar, seus provedores durante a pandemia,
e seus órfãos ficaram sem acesso ao
ra, a gente também quer incidir sobre
o debate nacional. É preciso ter um
através de ações, sustento. Construímos horta comu-
nitária, fizemos palestras e oficinas,
modelo de política pública que tenha
seriedade no combate à fome e tenha
que a fome é além da distribuição dos alimentos
orgânicos”, conta a assistente social
ação nos dois lados: com os trabalha-
dores da cidade e desempregados,
inaceitável” do instituto, Leila Vieira.
Num dos bairros mais populosos do
e garantir que o pequeno produtor Vinícius Silva Rio, a Frente de Mobilização do Com-
também tenha dignidade e comida no Coordenador da Cozinha Solidária do plexo da Maré recebeu R$ 50 mil do
prato”, afirma Vinícius. MTST, Rio de Janeiro Plano de Enfrentamento para a mon-
tagem de uma cozinha comunitária.
DA COVID À COMIDA NO PRATO “O edital possibilitou que a gente
O combate à fome mobiliza a maioria cessidades”, diz o coordenador-execu- comprasse os equipamentos básicos
das entidades selecionadas por edi- tivo do Plano Fiocruz, Richarlls Martins. para a Cozinha da Frente e reformasse
tal público. Hoje é a ação principal O acolhimento de famílias que per- o espaço. O valor foi fundamental para
de 90% das 54 ONGs que alcançam deram o principal provedor durante a o desenvolvimento do projeto, e hoje
75 comunidades, onde a fragilidade crise sanitária é o objetivo da atuação conseguimos, semanalmente, atender
econômica aumentou, consideravel- do Instituto Braços Abertos. A insti- de 150 a 200 pessoas”, afirma a coor-
mente, durante a pandemia. São 195 tuição já se dedicava, desde 2017, ao denadora da ONG, Vanusa Borba.
toneladas de alimentos arrecadados e enfrentamento das desigualdades com O programa da Fiocruz já investiu
mais de 25 mil refeições distribuídas a distribuição de quentinhas, cestas R$ 5,5 milhões do total de R$ 20 mi-
para famílias em situação de pobreza, básicas e café da manhã, mas viu os lhões repassado pela Alerj. Pela pres-
desde a implementação do plano, em pedidos de ajuda crescerem muito tação de contas, 54 projetos foram
junho de 2021. com a pandemia. O projeto recebeu beneficiados, com 120 mil pessoas as-
“São diferentes linhas programáticas R$ 149 mil do edital da Fiocruz. sistidas no estado. Uma nova chamada
que atuam para mitigar o impacto da O recurso possibilitou o atendimen- pública de projetos está prevista para
pandemia na redução das desigualda- to de 180 famílias das comunidades do ser realizada no próximo ano.
des. Quem atua nos territórios consegue Preventório e do Morro do Sossego,
identificar com maior precisão as ne- em Niterói; além de moradores do as-

DIÁLOGO 27
SAÚDE

Legislativo vai
repassar mais de
R$ 240 milhões à
SES, em cinco anos,
para auxiliar no
combate à doença,
que teve aumento
no número de casos
registrados

TUBERCULOSE
é desafio para
o estado PESQUISADOR analisa amostra
no laboratório do Centro de
Referência Hélio Fraga

T EXTO RENATA STUART E MADU COSTA que a tuberculose avançasse silen-


FOTOS THIAGO LONTRA ciosamente. Em 2021, foram 16.099
registros, sendo 12.986 de novos ca-

O
Estado do Rio tem a maior taxa sos contra 11.623 notificados em 2020
de mortes por tuberculose do - crescimento de 11,8%. As mortes
país e ocupa o segundo lugar passaram de 765 para 876, em 2021
em incidência de contamina- (14,5% mais óbitos), no período. É uma doença da
ção. Diante da gravidade da situação e O secretário de Estado de Saúde,
dos números que não param de cres- Alexandre Chieppe, explica que a es-
população invisível.
cer, a Alerj entrou no enfrentamento tratégia de enfrentamento foi imple- São os moradores de
à doença, e está repassando mais de mentada nos 30 municípios mais afe- rua, pessoas privadas de
R$ 246 milhões à Secretaria de Esta- tados pela doença: “Estruturamos os
do de Saúde (SES). Os recursos serão serviços para poder melhorar o diag-
liberdade, os que estão
usados na prevenção e no tratamento nóstico, a comunicação com a popu- nas comunidades do Rio
da doença, nos próximos cinco anos. lação e também a nutrição dos pacien- de Janeiro e vivem em
Do total, já foram disponibilizados R$ tes, garantindo uma recuperação mais
105 milhões, em agosto, para o Fundo rápida. A verba repassada pela Alerj
espaços pequenos e com
Estadual de Saúde destinar verba aos está sendo usada em um processo am- muita gente”
municípios. plo , em andamento desde o início de
Nos últimos dois anos, a estrutura 2022”, conta o secretário, informan- Telma Goldenberg
da Saúde esteve comprometida com do que o programa envolve também Pneumologista do Centro de Referência
o combate à covid-19, o que fez com ações das secretarias de Assistência Professor Hélio Fraga ENSP/Fiocruz

28 DIÁLOGO
Social, Habitação e Transporte. repassados pela Alerj na distribuição
Moradora da Rocinha, Rita de Cássia de cestas básicas ou auxílio alimenta-
conhece bem de perto essa realidade. ção, no valor de R$ 250, aos pacientes.
O primeiro contato com a tuberculo- A verba também é usada na contra-
se ocorreu há 40 anos, com a infecção tação e capacitação de profissionais
de sua mãe. Mais tarde, ela e os filhos de saúde básica que atuam na linha de
também foram contaminados, e a mãe frente do combate à doença, além da
não resistiu. Rita atuou como agente compra de equipamentos laboratoriais
comunitária e viu, no cotidiano, que que identificam com mais precisão e
a antiga “doença dos poetas”, narrada agilidade a contaminação e o tipo de
nos livros clássicos, está bem ativa nos bacilo, tornando o tratamento mais
dias de hoje. É a patologia infecciosa assertivo e eficaz.
que mais mata no mundo. A estratégia da parceria da SES e da
“A gente tem que se unir e cobrar in- Alerj é fortalecer a atenção primária
vestimento na educação, na preven- de saúde, realizada pelas prefeituras,
ção e na ciência. A população precisa instância do poder público mais pró-
saber dos sintomas, saber que não é xima da população. A medida permi-
uma doença simples. Na primeira te melhor identificação do paciente e
vez que tive tuberculose, em 1983, acompanhamento das terapias.
abandonei o tratamento para voltar a Presidente da Comissão de Saúde
trabalhar. Tive que escolher entre me da Alerj, a deputada Martha Rocha, é
cuidar ou dar comida para o meu fi- autora da Lei 8.746/20, que “Institui
lho”, conta Rita. a Política Estadual de Controle e Eli-
minação da Tuberculose”, e defende
DOENÇA DA MISÉRIA que as ações sejam transdisciplinares.
A patologia atravessou séculos, desa- “O tratamento da tuberculose é
fiando a evolução científica do trata- demorado, então as pessoas abando-
mento. Sua erradicação é difícil porque nam por falta de apoio no transporte
não é uma questão apenas biológica. A e na alimentação. Além da Secretaria
tuberculose também está associada à de Saúde, é preciso a participação de
miséria econômica e social, como ex- outras pastas para o combate à doen-
plica a pneumologista do Centro de ça. A articulação entre o trabalho de
Referência Professor Hélio Fraga ENSP/ médicos, enfermeiros, nutricionistas,
Fiocruz,Telma Goldenberg. assistentes sociais e agentes comuni-
“É uma doença da população invisí- tários é a estratégia que pode garantir
vel. São os moradores de rua, pessoas o sucesso da busca ativa e a continui-
privadas de liberdade, os que estão nas dade dos cuidados terapêuticos”, afir-
comunidades do Rio de Janeiro e vi- ma a deputada.
vem em espaços pequenos e com mui-
ta gente. Essas pessoas passam fome, APOIO AOS MUNICÍPIOS
não têm emprego, vivem na economia Um dos municípios beneficiados pelo
informal, são pobres, desnutridas e, repasse foi Itaboraí, na Região Metro-
consequentemente, adoecem. A tu- politana. Em setembro, a cidade lan-
berculose é uma doença de transmis- çou o programa “Fortalecimento das
são aérea. A sorte é que ela não é uma Ações de Controle e Eliminação da
doença extremamente transmissível, Tuberculose’’, com a contratação de
porque, se não, a catástrofe seria ainda profissionais da enfermagem, médi-
maior”, descreve a pesquisadora, que cos e assistentes sociais. Também está
ressalta a educação como uma aliada planejado o mapeamento dos casos e
fundamental na luta contra a doença. o apoio aos pacientes em tratamento,
com a concessão de auxílio alimenta-
REFORÇO NA ATENÇÃO BÁSICA ção. A Secretaria de Saúde informou
O combate à tuberculose tem dois ter recebido R$ 199 mil do governo.
desafios principais: a recuperação da “A visão da Alerj foi primordial para
saúde física e a manutenção do tra- a consolidação da ideia de que a tu-
tamento do paciente. Dados da SES berculose é, sobretudo, um problema
apontam que a taxa de abandono do social. Itaboraí tem alinhado as ações
tratamento no estado é de 16%, mais de combate à doença no mesmo sen-
de três vezes superior à média nacio- tido”, afirmou o secretário da pasta,
nal de 5%, segundo dados do Minis- Sandro Ronquetti.
tério da Saúde. Para apoiar a terapia,
RITA de Cássia luta contra a doença a SES está usando parte dos recursos

DIÁLOGO 29
EDUCAÇÃO

T EXTO ROSAYNE MACEDO E LUANA MAYANA grêmio debate muito a necessidade de


ARTE MARIANA ERTHAL ter um psicólogo na escola, ainda mais
depois da pandemia”, conta a aluna,

A
pandemia da covid-19 mudou a que informou ainda que a unidade tem
rotina e as relações nas comu- uma orientadora educacional disponí-
nidades escolares no retorno vel para atender os 240 alunos.
ao presencial às salas de aula. A preocupação com a saúde mental
Questões relativas à saúde mental dos estudantes na rede pública de en-
têm impactado de diversas formas a sino foi discutida em audiência públi-
retomada do ciclo de aprendizado e a ca da Comissão de Educação da Alerj,
socialização. Levantamento da Secre- realizada em agosto, na qual foi cons-
taria de Estado de Educação (Seeduc), tatado o baixo número de profissionais
no segundo bimestre de 2022, consta- capacitados para lidar com o proble-
tou 323 notificações de situações sus- ma. De acordo com dados
peitas ou confirmadas de violências informados à comissão, as
e violações de direitos de crianças e escolas estaduais não dis-
adolescentes. Dessas, 99 são casos de põem de psicólogos e há
violência autoprovocada e 40 relacio- 1.140 assistentes sociais
nados a transtornos psicológicos ou para atender aos mais
que envolvem uso abusivo de álcool de 600 mil alunos. Na
e outras drogas. Em 29% do total dos Fundação de Apoio
casos relatados, a situação ocorre de à Escola Técnica
forma reiterada. (Faetec), liga-
Os números fazem parte do Fluxo de da à Secreta-
Comunicação Intrainstitucional de si- ria de Estado
tuações de violências/violação de direi- de Ciência,
tos e de Bullying/Cyberbullying. Desde Tecnologia
julho, as ocorrências passaram a ser e I nova-
relatadas nos Conselhos de Classe ao ção, havia
fim de cada bimestre. somente
Crises de ansiedade, pânico e de- três assis-
pressão fazem parte da rotina viven- tentes so-
ciada pela presidente do Grêmio Estu- ciais e uma
dantil do Colégio Estadual Matemático psicóloga para
Joaquim Gomes de Sousa Intercultu- toda a rede. Na
ral Brasil-China, em Niterói, Samara ocasião, 13 alunos des-
Franco, de 17 anos. ta rede estavam em
“Tem aluno que vai para a escola acompanhamento de
para se alimentar porque não tem co- saúde mental.
mida em casa. São pessoas sem con- A comissão pe-
dição de pagar terapia e, às vezes, o diu informações
atendimento no SUS não é tão asser- à Seeduc sobre
tivo por causa das filas de espera. O o cumprimen-
to da Lei federal
13.935/2019, que
prevê atendimen-
to de psicologia e
serviço social na
Educação Básica.
Também cobrou o
As escolas precisam preenchimento dos
cargos de coordena-
preparar o corpo ção pedagógica e de
docente para acolher orientação educacio-
esses estudantes, nal para minimizar os
impactos socioemo-
promovendo uma escuta cionais da pandemia e
ativa, um olhar mais oferecer melhor assis-
atento e individualizado” tência aos alunos.
“ E s t a mo s tent a ndo
Andrea Ladislau pactuar com o Governo do
Psicanalista Estado. A Seeduc assumiu o

30 DIÁLOGO
SAÚDE MENTAL
NAS ESCOLAS
compromisso de contratar os psicó-
logos, no máximo até o início do ano
modelo presencial tem exigido muito
empenho pessoal e da comunidade
agentes da rede de saúde e proteção
social”, ressalta a coordenadora de
letivo que vem. Senão, veremos a ne- acadêmica. Dados referentes ao segun- Gestão Intersetorial e Frequência Es-
cessidade de novas leis ou de acionar do bimestre apontam que dos 657.835 colar da Seeduc, Bruna Gomes.
o Ministério Público para que o gover- estudantes matriculados este ano na
no cumpra uma lei que responde a rede estadual de ensino, 536.977 alunos PROJETOS NA ALERJ
uma demanda da população que têm frequência igual ou superior a 75%. Duas leis foram aprovadas, recen-
é evidente. Queremos forçar Ou seja, cerca de 18% não cumprem a temente, para apoiar as instituições
imediatamente um debate carga horária exigida. de ensino nesse enfrentamento: a
com o estado e os muni- “O estudo, que antes demandava Lei 9.456/21, de autoria do deputado
cípios para fortalecer o todo o tempo do estudante no modelo Luiz Paulo (PSD), que cria o Programa
atendimento psicosso- presencial, deixou de receber prio- Psico Socioemocional nas escolas; e a
cial na infância e ado- ridade quando migrou para o virtual Lei 9.669/22, de autoria da deputada
lescência”, afirma o na pandemia. Estudantes com pais Martha Rocha (PDT), que determina
presidente da comis- que perderam o emprego tiveram de que as escolas realizem a Campanha
são, deputado Flávio trabalhar para contribuir na renda Estadual de Prevenção e Combate à
Serafini (PSol), que familiar. O serviço de atendimento Automutilação. A estimativa, basea-
também defende que aos alunos é bem divulgado e acessí- da em dados internacionais, é de que
a Superintendência de vel, mas com uma única psicóloga na o comportamento de automutilação
Saúde Mental do esta- unidade junto às orientadoras não é afete 20% dos jovens.
do e os municípios se possível atender à demanda”, conta
comprometam com a Gabriel Ibrahim, de 19 anos, represen- PSICANALISTA RECOMENDA
ampliação da capacida- tante do Grêmio Estudantil da Faetec ACOLHIMENTO NAS ESCOLAS
de de atenção dos Cen- de Bacaxá, em Saquarema. Em sua prática clínica, a psicanalista
tros de Atenção Psicos- Andrea Ladislau percebe uma eleva-
social (CAPS). SEEDUC PLANEJA ção nos casos de crianças e adolescen-
CONTRATAR PSICÓLOGOS tes em busca de terapia. Na avaliação
QUEDA NA Em 2021, a Seeduc contratou mais de da especialista, os transtornos mentais
FREQUÊNCIA mil assistentes sociais para atuação di- mais comuns têm sido de ansiedade,
O que chega em sala reta nas unidades escolares. A secreta- TDAH (transtorno do déficit de aten-
de aula é apenas ria afirma que planeja parceria com o ção e hiperatividade), pânico e de per-
parte do turbilhão Instituto de Psicologia da Universida- sonalidade antissocial.
de emoções que os de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) “As escolas precisam preparar o
estudantes trazem para o próximo ano letivo. corpo docente para acolher esses es-
da vida do “O atendimento psicoterápico tudantes, promovendo uma escuta
lado de dentro do ambiente escolar é vedado, ativa, um olhar mais atento e indivi-
fora. A sendo de competência da Política de dualizado a qualquer sinal de desajus-
reinser- Saúde. O trabalho desses profissionais te. Tanto responsáveis quanto escolas
ção no nas escolas estará voltado para poten- precisam estar unidos para acolher e
cializar o processo pedagógico em si, orientar os professores, oferecendo a
articulando as diferentes políticas ne- ajuda de profissionais capacitados em
cessárias para a proteção, promoção e saúde mental”, ressalta a especialista.
desenvolvimento integral do educan-
do, atuando conjuntamente a outros

DIÁLOGO 31
PARTICIPAÇÃO POPULAR

T EXTO NATÁLIA ALVES


FOTO DIVULGAÇÃO

H
á cinco meses, alunos e professo-
res do Colégio Barão de Teffé, em
Seropédica, mantêm uma horta
no quintal da instituição. Toda a
produção de orgânicos complementa a
merenda servida aos 434 estudantes de
horário integral e nada é desperdiçado.
Cascas de legumes, verduras e carnes e
até as folhas das árvores vão direto para
a composteira, montada há três meses, e
viram adubo que alimenta os canteiros.
“O ciclo da compostagem é abor-
dado em aulas práticas. Quando ini-
ciamos o processo de montagem da
composteira, eles perceberam que o
material que estávamos reaprovei-
tando, iria diretamente para o lixo.
Agora é usado diretamente na horta de
consumo próprio do colégio”, conta a
diretora da unidade, Márcia Paiva. ALUNA aduba horta usando composto orgânico no Colégio Barão de Teffé
O sucesso da iniciativa poderá ser re-
plicado em todo o estado com a sanção

Leis feitas pelo povo


da Lei 9.897/22 - a primeira de iniciati-
va popular aprovada pela Alerj. A norma
estabelece a implantação de compostei-
ras orgânicas nas escolas da rede pública
estadual. A ideia foi enviada ao Parla-
mento fluminense pelos estudantes de
engenharia da Universidade Federal do
Aprovada a primeira proposta de iniciativa
Rio de Janeiro (UFRJ), Francisco Victer, popular enviada pelo aplicativo LegislAqui
Severino Virgínio e Yan Monteiro, por
meio do aplicativo LegislAqui.
“Um ponto muito interessante é levar a Proposta de Emenda à Constituição serviços, transporte e lazer.
para as escolas públicas a prática da ex- (PEC) que prevê livre acesso às mon- O cidadão envia sua sugestão, que
perimentação científica, já que apenas tanhas, paredes rochosas, rios, ca- é analisada por técnicos legislativos
16% delas têm laboratório de ciências. choeiras, cavernas e outros sítios na- que avaliam se a proposta já está con-
E as composteiras podem ser inclusive turais públicos do Estado do Rio. Por templada por outra norma, se é de
feitas em casa e ampliam a consciência se tratar de alteração da Constituição, competência estadual e sua consti-
e a educação ambiental da população, o andamento é mais longo e exige vo- tucionalidade. Todos os participantes
reduzindo o envio de lixo orgânico aos tação em dois turnos e aprovação por recebem retorno sobre as ideias suge-
aterros sanitários”, diz Francisco Victer. três quintos do deputados. Autor da ridas. Passanda nessa filtragem ini-
Severino Virgínio ressalta a impor- medida, o montanhista Julian Kro- cial, a proposta vai para o aplicativo.
tância da participação popular para o nenberger destacou a praticidade do Quando alcança 1.700 apoiamentos na
regime democrático. “O LegislAqui é uso do aplicativo LegislAqui: plataforma, é encaminhada à Comis-
uma plataforma em que a gente con- “Já fiz outras sugestões de projetos são de Normas Internas e Proposições
segue ter voz. Vimos uma oportuni- de lei, mas precisava bater na porta Externas para formatação e início da
dade de levantar uma demanda para dos parlamentares. Agora com o apli- tramitação no processo legislativo.
impactar positivamente a população cativo da Alerj ficou mais fácil”. Com o aval positivo da comissão, o
fluminense e os estudantes”, destaca. texto é protocolado na Mesa Diretora
Yan Monteiro conta o empenho dos CIDADANIA NA PALMA DA MÃO e pode entrar na pauta de votação.
autores na busca por apoiamentos: O aplicativo para celular e o portal Le- “A Alerj é pioneira com a implan-
“Participamos de uma feira de ciên- gislAqui foram criados para ampliar a tação do LegislAqui, ferramenta que
cias estudantil em que apresentamos participação popular nas ações do Le- consolida a democracia participativa
a proposta e a ideia foi bem aceita. A gislativo fluminense, permitindo que prevista na Constituição de 1988 e que
satisfação é enorme em entrarmos boas ideias virem leis. Também é um não tinha sido aplicada por outra casa
para a história com o primeiro projeto importante instrumento de cidadania, legislativa do país”, diz o coordenador
aprovado de iniciativa popular de uma que permite consultar on-line, leis do LegislAqui, Audir Pires.
assembleia estadual”. que asseguram direitos sobre saúde,
Também está em tramitação na Casa consumo, acessibilidade, economia,

32 DIÁLOGO
CULTURA

No tabuleiro,
RESISTÊNCIA
Baianas do Acarajé ganham programa de defesa e incentivo à
atividade ancestral de quituteiras em todo o estado
T EXTO CAROL SILVA E LÍBIA VIGNOLI assim que muitas compraram a pró-
FOTO OCTACÍLIO BARBOSA pria alforria e, até hoje, o bolinho é
meio de sustento para mulheres chefes

O
ofício das baianas de acarajé, de família. Expostas ao preconceito e
tradição que tem no Rio de Ja- até à intolerância racial e religiosa, elas
neiro a sua segunda casa, é car- contam com mais um instrumento de
regado de ancestralidade. Lega- garantia de liberdade para a atuação
do familiar que atravessa gerações, ele em todo o estado, com a aprovação,
está se profissionalizando e conta com pela Alerj, da Lei 9.867/22 - que insti-
o apoio de políticas públicas voltadas à tuiu o Programa de Defesa e Incentivo
preservação deste Patrimônio Cultural à Atividade das Baianas de Acarajé, de
do país. O estado tem 150 baianas que O que a gente ganha autoria da deputada Tia Ju (REP).
exercem a atividade com seus tabulei- Uma das mais antigas baianas do
ros de bolinho de aroma irresistível, aqui sustenta cinco Rio de Janeiro, Ana Conceição, de 65
feito de massa de feijão fradinho frito
no azeite de dendê e recheado com va-
famílias, inclusive a anos, chegou ao estado, há 30 anos,
e trabalhou em casas de famílias até
tapá, caruru, camarão e salada. da minha irmã, que encontrar um ponto para montar sua
Nas ruas e praças do Rio desde o Bra-
sil colônia, as quituteiras são herdeiras
ajuda no tabuleiro” barraca. Ela conta que criou oito filhos
e os netos com as vendas dos bolinhos,
da receita das “escravas de ganho” - Rosângela da Silva, que significam “fogo (acará) + comer
que vendiam seus produtos e repar- a Tati do Acarajé tem tabuleiro na Praça (ajeum) ” em iorubá. Ana se recor-
tiam os lucros com os “senhores”. Foi Nossa Senhora da Paz, em Ipanema da da burocracia que enfrentou para

DIÁLOGO 33
CULTURA

bém do empoderamento feminino. Sa-


bemos do “dna religioso” do Acarajé,
mas ele ultrapassa esta questão. Tanto
que hoje diversas Baianas do Acarajé
professam outros credos religiosos. De-
pois da aprovação dessa importante lei a
questão é a clássica: você vai querer seu
acarajé quente ou frio? Pra te ajudar, vou
deixar a dica, É ‘quente’, na pimenta. Ou
‘frio’, se não gostar de tanta picância ou
o corpo não aguentar”, resume Tia Ju.
Embora já estejam incorporadas à
paisagem carioca, as baianas precisam
lidar, vez ou outra, com episódios de
BARRACA da Tati vende quitutes na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema racismo religioso e xenofobia contra
nordestinos.
“Quando cheguei pra montar meu
regularizar o ponto comercial, o que tabuleiro em Ipanema, fui muito bem
ficou mais fácil após a criação da As- recebida por quase todos do bairro.
sociação das Baianas de Acarajé do Rio Mas, infelizmente, tive um problema
de Janeiro (Abam). A quituteira espe- com a integrante de uma associação de
ra que o programa aprovado pela Alerj moradores, que chegou a dizer que eu
consolide seus direitos. “Para nós, o
reconhecimento é um ato muito im-
O nosso sangue tem tinha que pegar minhas panelas e vol-
tar para a Bahia, que aqui não era meu
portante, porque vai gerar mais opor- esse dom de empreen- lugar. Fui à Delegacia de Crimes Ra-
tunidades de trabalho, não só aqui no
município do Rio, mas em todo o esta-
dedorismo das nossas ciais e Delitos de Intolerância (Decra-
di) e prestei queixa. Foi graças ao apoio
do. Fora da capital, as dificuldades de ancestrais, que foram da Associação das Baianas do Acarajé,
conseguir um ponto são ainda maio-
res”, explica.
escravizadas” consegui voltar à ativa”, conta Tati.
Em contraposição a tanto precon-
A entidade congrega cem associadas Rosa Perdigão ceito, a prefeitura do Rio instituiu o
e apoia outras não vinculadas direta- Coordenadora da Associação das programa “Baianas do Rio de Janeiro”
mente. Rosângela da Silva fincou seu Baianas de Acarajé (Abam) e a cidade também conta com o “Dia da
tabuleiro colorido por fitas do Senhor Baiana do Acarajé”. A coordenadora da
do Bonfim em plena Praça Nossa Se- Abam, Rosa Perdigão destaca o empe-
nhora da Paz, em Ipanema, bairro da nho da entidade em promover cursos
Zona Sul do Rio. Conhecida como Tati de formação para qualificar e promover
do Acarajé, ela nasceu em Catu, na a preservação desse saber tradicional.
Bahia, e atua, há cinco anos, num dos BOLINHOS TEMPERADOS COM “Qualquer pessoa está apta a capaci-
36 pontos legalizados pela prefeitura. TOLERÂNCIA tar-se. Algumas descendentes dessas
Sua barraca é de dar orgulho a Dorival O direito à diversidade cultural e re- baianas acabam optando por seguir
Caymmi: tem também vatapá, coca- ligiosa também é assegurado pela lei, outros passos, como cursar uma uni-
da, abará, bolos e outras gostosuras. pois está no fundamento da venda da versidade, mas é importante ressaltar
“O que a gente ganha aqui sustenta iguaria de origem africana. Nos ter- que esse caminho só é possível pelo
cinco famílias, inclusive a da minha reiros de candomblé, o bolinho puro é trabalho que as mães e avós construí-
irmã, que ajuda no tabuleiro. Mas, oferenda para os orixás Iansã e Xangô. ram com os tabuleiros de acarajé. O
para que a gente hoje possa viver des- A deputada Tia Ju, autora da norma, nosso sangue tem esse dom de em-
te ofício, outras precisaram abrir ca- reconhece sua importância como re- preendedorismo das nossas ancestrais,
minho e conquistar seu lugar ao sol, sistência cultural, mas argumenta que que foram escravizadas, botavam um
como Tia Ciata, referência histórica; é preciso garantir, primeiramente, a tabuleiro na cabeça, vendiam e con-
e tia Cotinha, uma das baianas mais subsistência de quem tem nesse pro- seguiam comprar as suas alforrias e de
velhas, cujo legado ficou para a filha duto o seu meio de sustento. seus familiares”, lembra Rosa.
Tânia, que mantém tabuleiro no bairro “As baianas de acarajé são um grande
de São Conrado”, conta. exemplo de resistência cultural e tam-

34 DIÁLOGO
DIÁLOGO 35
A ALERJ
não parou nem
um segundo.
Trabalhou
em todo o
estado pra
todo mundo.

Há alguns anos, o Rio de Janeiro estava


mergulhado numa grande crise. Perdemos muito.
Até mesmo a nossa alegria. Era preciso agir
rápido, com responsabilidade e planejamento.
E foi isso que a ALERJ fez.

Renegociou dívidas.
Economizou R$ 2 bilhões do orçamento,
devolvendo ao caixa do Estado.
perto de vc_
Incentivou setores importantes da economia. www.alerj.rj.gov.br
36 DIÁLOGO

Você também pode gostar