Você está na página 1de 36

ANO 1 . Nº 3 .

DEZEMBRO/2020

Desafios da
RETOMADA Alerj aprova leis
para proteger o

ECONÔMICA
cidadão e apoiar o
desenvolvimento
do estado
A Alerj trabalha
para combater
a pandemia.
Mais de 200 leis
já foram aprovadas
neste período.

Mande um
zap para o
Alô Alerj.
Boas ideias
podem virar
boas leis.

+perto de vc_
mesmo agora que precisamos manter distância.

(21) 98890 4742 @AssembleiaRJ @instalerj @alerj AlerjTV www.alerj.rj.gov.br


2 DIÁLOGO
DIÁLOGO

Alerj fortalece o estado


na retomada econômica

E
sta terceira edição da revista Diálogo tem como putados federais e estaduais, reitores de universidades
foco central o momento em que a economia do públicas, economistas e toda a sociedade em defesa
estado busca uma retomada, ainda que numa dessa fonte de financiamento essencial para as contas
perspectiva de incertezas por conta da pande- do Rio de Janeiro. A primeira vitória foi conquistada
mia. A Assembleia Legislativa, por meio de suas di- com o adiamento do julgamento da Ação Direta de
versas comissões, vem discutindo e acompanhando Inconstitucionalidade (ADI -4917) no Supremo Tri-
a volta das atividades e o dia a dia da população em bunal Federal (STF). Mas a batalha continuará junto
meio a um ambiente, por ora, distante de voltar ao ao Congresso Nacional com a busca de novas bases
“normal”. Todo esse cenário está retratado no Espe- para o acordo.
cial Economia. Outro tema abordado pela revista é o papel fis-
Diálogo também mostra a atuação do Parlamento - calizador da Alerj. Por meio de uma Comissão Espe-
que ultrapassou a marca de 800 projetos apresentados cial, os deputados avaliaram os gastos emergenciais
e aprovou mais de 200 leis - para dar apoio ao cidadão do Governo durante os meses iniciais da pandemia
e ajudar o Estado nessa reorientação das políticas pú- da covid-19 e constataram que praticamente todos
blicas. Sem paralisar suas atividades na pandemia, apresentaram irregularidades e mau uso do dinheiro
a Alerj realizou mais de 350 sessões extraordinárias público. A partir do relatório, de mais de 600 páginas,
em Plenário virtual desde março, o que é uma marca a comissão recomendou o impeachment do governa-
histórica. dor Wilson Witzel, que já caminhava paralelamente
A revista também traz matérias sobre a mobilização na Casa e está em curso no Tribunal Misto, composto
para assegurar os royalties do petróleo para o estado. por deputados e desembargadores do Tribunal do
O Parlamento fluminense pôs o assunto na pauta de Justiça do Rio.
discussão, reunindo representantes do governo, de- Boa leitura!

EXPEDIENTE

diálogo
REVISTA DIÁLOGO É UMA PUBLICAÇÃO Editor de Fotografia
TRIMESTRAL DA SUBDIRETORIA- Rafael Wallace
GERAL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO Secretária da Redação
ESTADO DO RIO DE JANEIRO Regina Torres, Suellen Lessa e Luciene
Corrêa
Presidente
André Ceciliano Jornalista responsável Estagiários
Cristiane Laranjeira Andressa Sampaio, Gisele Araújo, Manuela
Chaves, Laís Malek, Jéssica Perdigó, Juliana
1o Vice-presidente - Jair Bittencourt Editores Clara Almeida, Juliana Mentzinger, Marco
2o Vice-presidente - Renato Cozzolino Flávia Duarte e Marco Senna Stivanelli, Natasha Mastrangelo e Raisa Lace
3o Vice-presidente - Renato Zaca
Coordenação e revisão
4o Vice-presidente - Filipe Soares Flávia Duarte, Marco Senna e Fernanda Galvão

Equipe Telefones: (21) 2588-1404 / 1383


1o Secretário - Marcos Muller
Buanna Rosa, Fernanda Rodrigues, Gustavo Rua Primeiro de Março s/nº, sala 406
2o Secretário - Samuel Malafaia Natario, Julia Passos, Leon Lucius, Líbia Palácio Tiradentes - Centro
3o Secretário - Marina Rocha Vignoli, Maria José de Queiroz, Natalia Alves, Rio de Janeiro/RJ - CEP 20.010-090
Nivea Souza, Octacilio Barbosa, Suellen
4o Secretário - Chico Machado
Lessa, Tainah Vieira, Tiago Atzevedo, Impressão: Imprensa Oficial
Thiago Lontra e Vanessa Lima Tiragem: 1,4 mil exemplares
1o Vogal - Franciane Motta
Projeto gráfico Site: www.alerj.rj.gov.br
2o Vogal - Dr. Deodalto
Mariana Erthal Email: dcs@alerj.rj.gov.br
3o Vogal - Valdecy da Saúde Twitter: @alerj
4o Vogal - Brazão Diagramação Facebook: @AssembleiaRJ
Mariana Erthal e Daniel Tiriba Instagram: @instalerj

DIÁLOGO 3
SUMÁRIO

Foto: Rafael Wallace


EM DEFESA DO RIO
Mobilização pelos royalties
.....................................................................P.5

ESPECIAL ECONOMIA
Oportunidades no pós-pandemia
.....................................................................P.6

Para superar a crise


.....................................................................P.7

Turismo se reinventa
.....................................................................P.12

Apoio a quem investe no Rio


.....................................................................P.14

NO PLENÁRIO
Produtividade
.....................................................................P.16

ATUAÇÃO PARLAMENTAR
Papel fiscalizador do Legislativo
.....................................................................P.18

SAÚDE
Leis de proteção à vida
.....................................................................P.20

ENTREVISTA
Valcler Rangel: sanitarista da
Fiocruz fala sobre a pandemia NOVA SEDE
.....................................................................P.21 Modernização do Parlamento
.....................................................................P.30
VOLTA ÀS AULAS
O novo normal nos bancos da escola CULTURA
.....................................................................P.24 Por um novo estado da arte
.....................................................................P.32
HISTÓRIA VIVA
Recursos para revitalizar o Museu Nacional TV ALERJ
.....................................................................P.26 Em novo canal
.....................................................................P.33
SOCIEDADE
Fórum da Alerj: inovação FOTOCRÔNICA
e sustentabilidade na agenda Nas ondas da vida
.....................................................................P.28 .....................................................................P.34

4 DIÁLOGO
EM DEFESA DO RIO

NO STF: o procurador-geral
do Estado, Bruno Dubeux, o
governador Cláudio Castro,
o ministro Fux e o presidente
da Alerj, André Ceciliano

Mobilização pelos
ROYALTIES
T EXTO NATALIA ALVES
FOTO ROSINEI COUTINHO/SCO/STF
forem mantidas, a estimativa da Se-
cretaria de Estado de Fazenda é de
que o estado deixe de receber R$ 57
ção do petróleo. O Rio não pode abrir
mão dessa receita”, afirma Ceciliano.
A aplicação da Lei 12.734/12 reduzi-

A
Assembleia Legislativa liderou bilhões, entre 2020 e 2025, caso haja ria as participações especiais dos es-
uma ampla mobilização de for- cobrança retroativa dos contratos. tados produtores de 40% para 20%; e
ças políticas e econômicas para O julgamento da ação estava marcado dos municípios, de 10% para 4%.
assegurar recursos de royalties para o dia 03 de dezembro. Com o es- Os royalties são pagos aos estados
e participações especiais do petróleo forço, a matéria foi retirada de pauta. e municípios produtores como com-
para o Rio de Janeiro. O presidente Futuramente, a questão deverá voltar pensação pelos riscos de possíveis
do Legislativo Fluminense, deputa- a ser discutida pelo Congresso Nacio- danos ambientais. A perda desses re-
do André Ceciliano (PT), e o gover- nal, na busca de um acordo mais favo- cursos terá graves consequências para
nador em exercício, Cláudio Castro, rável na distribuição dos recursos aos as administrações. No estado, 80%
estiveram com o presidente do Su- estados produtores. desses recursos são usados para pagar
perior Tribunal de Justiça (STF), mi- “Sabemos dos gravíssimos impactos aposentados e pensionistas do RioPre-
nistro Luiz Fux, no dia 3 de setembro, dessa situação para o estado. Pela lei, vidência. Também haveria impacto na
para pedir o adiamento da votação o repasse de royalties cai de 26,26% capacidade do estado e de municípios
da Ação Direta de Inconstituciona- para 20% no estado e de 26,25% para manterem serviços públicos da Saúde
lidade ADI- 4917, que questiona as 4% nos municípios. A saída é modificar e Educação.
regras para a redistribuição definidas a lei, que retirou os royalties do estado,
pela Lei 12.734/12. Se as regras atuais onde são prospectados 80% da produ-

DIÁLOGO 5
ESPECIAL ECONOMIA

Oportunidades no
PÓS-PANDEMIA
A
Assembleia Legislativa criou o ra, meio ambiente e economia verde; Estado de Fazenda, Guilherme Mercês, e
Fórum Rio de Desenvolvimen- cultura, turismo, multimídia e esporte; representantes do conselho de acompa-
to para identificar os desafios e sistema logístico e política portuária; nhamento do RRF para analisar as bases
propor iniciativas que permitam regionalização; e questão tributária e de uma repactuação. Ceciliano enviou
ao estado retomar o crescimento eco- federativa. Alguns temas entram na uma carta ao Ministério da Economia e
nômico e vislumbrar oportunidades agenda por força do momento, como ao Tesouro Nacional, em setembro, pe-
além do petróleo. Com a participação a discussão da ADI da distribuição dos dindo uma renovação extraordinária do
de deputados estaduais e federais, royalties, o Regime de Recuperação regime por seis meses.
economistas e reitores de universida- Fiscal (RRF) e o conteúdo local. A diversificação da indústria flumi-
des públicas, o grupo atua como uma “O Rio de Janeiro está passando por nense também está na pauta do Fórum.
frente política e técnica, disposta a ar- uma crise estrutural há bastante tempo. Numa das audiências surgiu a iniciativa
ticular ações para romper com o ciclo Essa agenda precisa ser discutida, para de criação de um grupo executivo para
de degradação do estado, que há déca- que possamos promover uma reflexão planejar um Complexo Econômico e
das enfrenta perda de receitas, entra- regional e ajudar a reerguer a economia Industrial da Saúde no estado (CEIS).
ves de gestão e dependência da União. fluminense. Por isso, o deputado André Segundo dados apresentados pelo
“Estamos pensando o Estado a mé- Ceciliano idealizou esse grupo para de- economista e pesquisador da Funda-
dio e longo prazo. O Rio precisa sair da batermos esses desafios e podermos tirar ção Oswaldo Cruz (Fiocruz), Carlos
dependência dos royalties do petróleo, o Rio desse ciclo vicioso e levarmos para Gadelha, o Brasil tem o maior sistema
diversificar a sua economia. Em 30, 40 um ciclo virtuoso”, afirma o diretor da universal de saúde do mundo em ter-
anos, teremos um declínio na quanti- Assessoria Fiscal da Casa, Mauro Osório. mos de população, o Sistema Único de
dade de petróleo ”, alerta o presiden- Saúde (SUS), que emprega sete milhões
te da Alerj, deputado André Ceciliano FOCO NAS VOCAÇÕES de pessoas e movimenta 9% do Pro-
(PT), que lidera o grupo. A renovação do Regime de Recupera- duto Interno Bruto (PIB). Mas 53% dos
A agenda de debates está dividida em ção Fiscal (RRF) do Estado é um assun- insumos necessários para produção do
temas identificados como motores da tos que deverá voltar à agenda do Esta- setor são importados e 15% do PIB da
economia fluminense: petróleo, gás do e vem sendo discutida pelo Fórum. Saúde vão para fora do Brasil.
e energia; indústria naval e conteúdo O grupo realizou, em agosto, audiência
local; inovação em saúde; agricultu- pública com a presença do secretário de

6 DIÁLOGO
PARA SUPERAR A CRISE
TEXTO BUANNA ROSA E NATASHA MASTRANGELO FOTOS THIAGO LONTRA E JULIA PASSOS

A
busca de soluções para destravar a economia do Rio de Janeiro passa pelo Parlamento fluminense. Neste momento
de cautela na retomada das atividades econômicas, a Alerj tem aprovado leis, apresentado estudos e se comprome-
tido com as lutas em prol do crescimento com segurança sanitária. Houve avanços mesmo na pandemia, como o
novo sistema tributário do Programa de Fomento ao Comércio Atacadista e Centrais de Distribuição (RioLog) que,
segundo a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz), vai injetar R$ 100 milhões na arrecadação do estado.

Foto: Thiago Lontra

DIÁLOGO 7
ESPECIAL ECONOMIA
Foto: Rafael Wallace
Todo o esforço para ampliar a arre-
cadação é bem-vindo. Dados compi-
lados pela Assessoria Fiscal da Alerj
revelam que, de janeiro a outubro
deste ano, o estado do Rio de Janeiro
perdeu 166.108 empregos com cartei-
ra assinada. No total do Brasil, 171.139.
Ou seja, a perda de empregos no esta-
do do Rio de Janeiro foi quase igual a
do país. Os dados do Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (CA-
GED) no mês de outubro apresentaram
melhora, com a criação de 16.271 va-
gas. Mas a insegurança volta a rondar
a economia, com o crescimento dos
índices de contaminação pelo coro-
navírus e possível desaquecimemento.
É fato que a pandemia impactou os
índices, mas o Rio enfrenta uma crise
estrutural que vem de antes. Segundo
o economista e diretor da Assessoria
Fiscal, Mauro Osório, entre dezembro
de 2015 e outubro de 2020, a perda no CENTRO COMERCIAL: reforço nas entregas e lojas fechadas no lento retorno
estado foi de 19,3% do total de em-
pregos com carteira assinada, contra o benefício atendeu, em Magé, Nova
4,7% no país. Em termos absolutos, Iguaçu e Seropédica, 38,86%; 38,72%;
foram 741.479 postos a menos no Rio e 38,52% da população. No município
de Janeiro, enquanto em São Paulo fo- de Itaboraí, onde a promessa do eldo-
ram 629.413. Para Osório, a crise traz rado do Comperj ruiu, 35,59% pedi-
oportunidade de reavaliar caminhos. O Rio chegou a essa ram o benefício federal.
“Precisamos desenhar estratégias O socorro financeiro de R$ 600 cria-
de adensamento da estrutura produ- situação devido a uma do pelo governo federal é uma solução
tiva do estado para aumentar a base mistura da crise política emergencial e temporária para apoiar
de arrecadação. Além disso, é funda- com a prolongada a população mais afetada pela pande-
mental ter a garantia do recebimento mia, como trabalhadores informais
dos royalties e melhorar a negociação decadência econômica. e famílias de baixa renda. Portanto,
do Regime de Recuperação Fiscal”, Não há respostas é necessário que o estado tenha um
resume o economista. simples, muito menos plano estratégico de desenvolvimento
O pagamento do auxílio emergen- econômico e social para se reinventar.
cial pelo governo federal ajudou re- soluções fáceis para O Rio reúne as condições: é a ter-
duzir os impactos da pandemia sobre superar a crise” ceira maior população do país (8%
os índices do consumo. Outro estudo do total nacional) e a segunda maior
recém-concluído pela Assessoria Fis- Mauro Osório economia, com destaque para o siste-
cal, com base em dados do governo Economista ma produtivo do petróleo e gás. Além
federal, mostra o mapa da vulnera- disso, é porta de entrada do turismo,
bilidade: na pandemia, 5,6 milhões tem universidades de ponta, centros
de fluminenses receberam o auxílio de pesquisa e mão de obra qualificada.
emergencial de R$ 600 e R$ 1.200,00, Integrante do Fórum de Desenvol-
num estado em que 972 mil pessoas já vimento Rio, o professor e econo-
estavam cadastradas no Bolsa Família mista do Programa de Pós-graduação
e outras 357 mil no Benefício de Pres- em Economia Regional e Desenvolvi-
tação Continuada. mento da Universidade Federal Rural
Chamam a atenção cidades do inte- do Rio de Janeiro (PPGER/UFRRJ),
rior com pouca atividade econômica Joilson Cabral, afirma que a alterna-
ou muita informalidade. Nos mu- tiva para o estado do Rio retomar seu
nicípios de Armação de Búzios, São crescimento e garantir emprego e ren-
Francisco de Itabapoana e Macuco, da para a população fluminense passa
até julho de 2020, o percentual de mo- por diálogo e a colaboração entre as
radores que recorreu ao programa de diversas esferas políticas.
auxílio emergencial atingiu, respecti- “No curto prazo, o Estado não tem
vamente, 56,89%; 50,60%; e 46,58%. condições de implementar iniciati-
Na Baixada Fluminense, onde há sé- vas econômicas, como choque de de-
rias deficiências de infraestrutura, manda e proteção de micro e peque-

8 DIÁLOGO
nas empresas, para frear a crise. Ações ção. Devemos também endogeneizar
como o auxílio emergencial ficaram a - desenvolver internamente- setores
cargo do governo federal. A alternativa que são capazes de se aproveitar dos
é pensar no longo prazo. Entre outras elos produtivos e tecnológicos já exis-
medidas necessárias para recuperar a tentes no estado, como é o caso do
economia fluminense, o governo es- O problema fiscal complexo de saúde, da economia do
tadual, juntamente com sua bancada mar e da cadeia de entretenimento e
federal no Congresso, deveria desen- do Rio é gigantesco audiovisual”, afirma o economista.
volver um diálogo no bojo do Legisla- e, para resolver essa
tivo Federal, como forma de aumentar questão, precisamos RIO TEM 27% DA INDÚSTRIA
as receitas estaduais e possibilitar que FARMACÊUTICA DO PAÍS
a capacidade de investimento do es- entrar no debate dos Uma das medidas que o governo
tado seja recuperada”, explica Cabral. pactos federativos” pode adotar para sair da crise finan-
Para o deputado Luiz Paulo (Cidada- ceira é impulsionar a indústria da
nia) a solução para o Rio terá que vir Os setores de saúde saúde. Na contramão da maioria dos
também de uma reforma tributária setores no Brasil, o setor farmacêuti-
que corrija injustiças do sistema fe- e óleo e gás precisam co vem crescendo ao longo dos anos.
derativo. O Rio de Janeiro ocupa a 11ª da nossa atenção e De acordo com dados do Guia 2019 da
posição entre os estados, em termos incentivo. É preciso Associação da Indústria Farmacêutica
de receita pública. O governo federal de Pesquisa (Interfarma), a tendência
arrecada no estado cerca de R$ 170 bi- criar uma agenda de é de que o Brasil assuma a quinta po-
lhões e devolve para o governo do Rio e emprego qualificado sição do ranking mundial da indústria
para as prefeituras fluminenses apenas e associá-la a uma farmacêutica, liderado atualmente
R$ 33 bilhões. pelos Estados Unidos.
política de inovação” Com projeções otimistas para os pró-
ARRECADAÇÃO DE ICMS ximos anos, Osório lembra que o Rio de
CRESCE MENOS NO ESTADO Bruno Sobral Janeiro é o estado mais bem preparado
O Rio de Janeiro foi a unidade da fe- Economista para atuar neste setor. Segundo dados
deração que menos cresceu em arre- da Fiocruz, o Rio conta com 27% da
cadação de Imposto sobre Circulação indústria médica do país e 11% da in-
de Mercadorias e Serviços (ICMS) en- dústria farmacêutica nacional, com um
tre os anos de 2012 e 2018, segundo o parque industrial que tem faturamento
economista da UERJ Bruno Sobral. Em de quase R$ 8 bilhões por ano.
média, os estados ampliaram cerca de No entanto, é necessário melhorar o
4,6%, mas o Rio ficou em 2% entre os ambiente de negócios. De acordo com
anos analisados. o presidente do Sindicato da Indústria
“O problema fiscal do Rio é gi- de Produtos Farmacêuticos do Estado
gantesco e para resolver essa ques- do Rio de Janeiro (Sinfar-RJ), Carlos
tão precisamos entrar no debate do Gross, o setor sofre com a falta de inte-
pacto federativo e buscar uma nova resse das empresas em manter fábricas
equação de partilha tributária junto no estado por falta de incentivo.
ao Congresso Nacional. Não dá para “Quando eu assumi a presidência
mantermos um estado federal que se do Sinfar-RJ, em 2016, tínhamos 115
comporta como um credor e que não empresas associadas. Hoje, são apenas
assume responsabilidades, quando 49. Elas fecharam, foram compradas
somos o principal arrecadador na- umas pelas outras ou mudaram para
cional e principal fonte tributária”, estados como São Paulo e Goiás, que
explica Sobral, ressaltando que o de- União, para permitir reestruturar as têm incentivos fiscais importantes”,
safio é que a arrecadação vá além dos finanças do estado. A manutenção do aponta Gross.
royalties do petróleo. RRF é prioridade para o Rio, uma vez O economista Bruno Sobral ainda
A permanência do Estado no Regime que a saída dele levaria ao colapso dos lembra que 53,12% dos insumos ne-
de Recuperação Fiscal (RRF), que teve serviços prestados à população. cessários para produção de saúde no
o período de encerramento posterga- Segundo Joilson Cabral, o principal país são importados e 15% do PIB da
do, também preocupa economistas e desafio, em meio à discussão de re- saúde vai para fora do território na-
parlamentares ouvidos pela Diálogo. novação do RRF, é aumentar receitas cional: “Os setores de saúde e de óleo
No início de setembro, o governador para garantir a capacidade de inves- e gás precisam da nossa atenção e in-
em exercício, Cláudio Castro, entregou timento. centivo. Mas para pensar nisso a lon-
o pedido de prorrogação do RRF ao “A solução é adensar a estrutura go prazo é preciso criar uma agenda
ministro da Economia, Paulo Guedes, produtiva fluminense, que ainda é frá- de emprego qualificado e associá-la
que estendeu o prazo em seis meses. gil e incompleta. Devemos internali- a uma política de inovação. O Rio de
Assinado em 2017, o RRF é uma espé- zar os elos dos sistemas produtivos que Janeiro precisa de um plano de Ciên-
cie de contrato pelo qual se suspende já existem no estado, como óleo e gás; cia e Tecnologia que vá além de uma
o pagamento da dívida do Rio com a turismo e a indústria de transforma- secretaria”.

DIÁLOGO 9
ESPECIAL ECONOMIA
Foto: Julia Passos

INCENTIVOS
A aprovação de leis que ajustam a
tributação para setores produtivos,
dentro dos limites estabelecidos pelo
RRF, é uma das estratégias para dar
mais competitividade à economia do
estado. Recentemente, foram criadas
normas que alteraram alíquotas para
beneficiar os setores atacadista, de
joalheria, ourivesaria e bijuteria e a
indústria metalmecânica.
A Lei 9.025/20 alterou o Programa
de Fomento ao Comércio Atacadista e
Centrais de Distribuição do Estado do
Rio de Janeiro - RioLog, determinan-
do que mercadorias incluídas na cesta
básica sejam taxadas em 7% e os de-
mais itens do setor em 12%. O estado
vinha perdendo empresas atacadistas
desde 2014, principalmente, por conta
da concorrência com o estado do Es-
pírito Santo. De acordo com o ranking
da Associação Brasileira de Atacados
e Distribuidores (ABAD/RJ), o Rio de
Janeiro arrecadou R$ 4 bilhões com o
setor no ano passado. A atividade ata-
cadista movimenta 53% do mercado
nacional, atingindo um faturamen-
to,em 2019, de R$ 273,5 bilhões.
Segundo a Secretaria de Estado de
Fazenda, a norma não fere o Regime de
Recuperação Fiscal, já que a Lei Com-
plementar Federal 160/17 e o Convênio
ICMS 190/17 determinam que os es- LOTÉRICAS realizam pagamento do benefício federal que segurou a economia
tados que aderirem ao RRF podem se
equiparar aos regimes tributários de
seus estados vizinhos, evitando assim
a guerra fiscal. O Espírito Santo já ado- DADOS
ta essa prática e, por isso, o Rio pôde
aderir à mudança.
O presidente da Federação do Co-
mércio de Bens, Serviços e Turismo
do Estado do Rio de Janeiro (Fecomér-
R$ 170 bi 166 mil
cio-RJ), Antonio Queiroz, agradeceu Valor repassado à União pelo Vagas de empregos perdidas
o empenho dos parlamentares na estado do Rio por ano pelo estado até outubro
aprovação da lei.“Temos uma Assem-
bleia Legislativa forte, participativa e
democrática, que consegue transfor-
mar em legislação os anseios de todos
nós”, afirmou.
R$ 33 bi 5,6 mi
Para o setor de joalheria, a Lei Valor devolvido ao Estado do É o número de pedidos de auxílio
8.484/19 determina uma alíquota de Rio por ano, em média emergencial concedidos no estado
ICMS de 5% para operações realiza-
das por estabelecimentos industriais
e 12% para operações comerciais. An-
tes, a alíquota para qualquer operação
era de 20%. O projeto, de autoria do
300 mil 50,6%
governo, estabelece o mesmo regime Número de empregos perdidos Percentual da população de São
tributário do estado vizinho de Minas entre 2016 a 2020 no Rio. Só Francisco de Itabapoana a receber o
Gerais. O mercado emprega cerca de na Capital foram mais de 200 mil auxílio emergencial
15 mil funcionários.

10 DIÁLOGO
As cidades de Búzios, Araruama Varre-Sai
e Cabo Frio foram as que mais
Porciúncula
receberam auxílios emergenciais do Natividade
governo federal e que mais sofreram Bom Jesus de
Itabapoana
NOROESTE ESPÍRITO
perdas econômicas com a crise. SANTO
Laje de Itaperuna
Muriaé
Os municípios que menos sentiram
São José
a recessão foram os da Região do Miracema de Ubá Italva
Médio Paraíba, além de Nova Friburgo, S. Francisco
de Itabapoana
Cambuci Cardoso
Niterói e a Capital, que têm estruturas Sto. Antônio Moreira
de Pádua
industriais mais fortes São Fidélis
Aperibé

MINAS Itaocara NORTE


GERAIS Cantagalo
Campos dos
Goytacazes
S. João
Carmo da Barra
S. Sebastião
do Alto
Comendador Sta. Maria Madalena
Levy Gasparian Sapucaia Macuco
Duas Cordeiro
Barras
Trajano de Moraes Conceição
Rio das Flores Paraíba Três Rios Sumidouro SERRANA de Macabu Quissamã
do Sul S. José do Vale
Valença Areal do Rio Preto Bom Jardim Carapebus
CENTRO-SUL Macaé
Teresópolis N. Friburgo
Quatis Paty
Resende Vassouras dos Alferes
Barra Petrópolis
Porto do Piraí
Itatiaia Real V. Redonda
Miguel Pereira Casimiro Rio das Ostras
de Abreu
Pinheiral Cachoeiras
Barra Mansa Guapimirim
METROPOLITANA de Macacu
Paracambi Magé Silva Jardim
MÉDIO Piraí D. de Caxias Cabo
Japeri N. Iguaçu
SÃO PARAÍBA
Queimados B. Roxo Itaboraí
LAGOS
Frio
Armação
dos Búzios
PAULO Rio Claro Seropédica
Itaguaí
Mesquita
Nilópolis
S. J. de Meriti São
Gonçalo
Tanguá Rio Bonito Araruama
Iguaba
S. Pedro
da Aldeia
Saquarema Grande
Angra dos Reis Mangaratiba Rio de Janeiro Niterói Maricá
Arraial
do Cabo

COSTA VERDE

Paraty Ilha Grande

DE OLHO NOS NÚMEROS


Desde que foi instaurada, em
maio deste ano, a Assessoria Fiscal
As indústrias do setor metalmecâni- da Alerj se encarrega de ajudar o
co localizadas no estado também fo- Parlamento a pensar em alternativas
ram contempladas com mudanças no para a recuperação econômica do
regime de tributação. A Lei 8.960/20, Rio. Além de analisar o orçamento
aprovada em julho, determina que as do estado, que recebe emendas e é
empresas terão tributação efetiva fi- Temos uma Assembleia votado pelo Legislativo; o grupo de
xada em 3% e que esse modelo será economistas realiza diagnósticos da
aplicado até o fim de 2032. Legislativa forte, economia que podem orientar os
Também tramita na Casa, o projeto participativa e deputados em proposições e deba-
de lei 2.626/20, que prevê a retirada democrática” tes de assuntos importantes, como o
da cachaça e de produtos derivados do RRF, royalties e a reforma tributária.
leite do regime da substituição tribu- Antônio Queiroz A Comissão de Economia, In-
tária. Caso seja sancionada, a norma Presidente da Fecomércio-RJ dústria e Comércio também ela-
vai alavancar a produção desses pro- borou, no período da pandemia,
dutos. A medida também valerá para relatório consolidando sugestões
outras bebidas destiladas ou fermen- surgidas de audiências públicas
tadas produzidas por cachaçarias ou que discutiram caminhos para o
alambiques localizados no estado. A crescimento do Rio. São elas: ela-
medida é uma antiga reivindicação da borar plano de desenvolvimento
Associação de Produtores de Cacha- das potencialidades regionais; re-
ças do Estado do Rio (Apacerj) para ver políticas de crédito a empreen-
aumentar a competitividade dos pro- dedores; investir recursos públicos
dutos do estado. para aquecer a economia; e mo-
dernizar a administração estatal.

DIÁLOGO 11
ESPECIAL ECONOMIA

ATRAÇÕES se adaptam e
voltam a receber o público,
sob rígido protocolo sanitário.
Na página ao lado, funcionária
higieniza trem do Corcovado

Turismo se
REINVENTA

12 DIÁLOGO
TEXTO ANA PAULA DE DEUS Frio - que têm o turismo como impor- diz que os empresários do setor ten-
FOTO THIAGO LONTRA tante fonte de renda, estão entre as que tam se reinventar: “O mercado passa
mais solicitaram o auxílios emergen- por um verdadeiro encolhimento.Os

A
os pés do Cristo Redentor, o retra- ciais do governo federal, segundo estu- hostels estão se preparando e criando
to mudou: os sorrisos estão cober- do da Assessoria Fiscal da Alerj. protocolos de atendimento e higieni-
tos pelas máscaras. A reabertura Durante a audiência pública, em zação que garantam que equipe e hós-
das atrações e da cadeia produtiva agosto, ficou claro que a única saída pedes possam viver essa experiência
do setor de turismo ocorreu em agosto, para a recuperação seria a reabertu- de forma segura”, afirmou.
em todo o estado, mas a incerteza voltou ra. Na análise feita pela Comissão de A situação é ainda mais difícil para os
ao horizonte. Manter as atividades ge- Turismo, a aposta no consumidor do- guias de turismo, boa parte deles au-
radoras de riquezas tem exigido plane- méstico e a interiorização seriam os tônomos. Cerca de 34% dos 15 mil que
jamento, estratégia e monitoramento. caminhos a seguir nessa retomada. atuam no país estão no Rio de Janeiro.
As decisões têm sido acompanhadas, Entre as iniciativas de apoio ao setor Eles foram incluídos entre as categorias
discutidas e contam com o suporte da está a Lei 9.005/20, que autoriza a com direito ao auxílio emergencial a ser
Assembleia Legislativa. A Comissão Agência Estadual de Fomento (Age- pago pelo estado em função da pan-
de Turismo da Casa realizou audiência Rio) a aderir ao Programa Nacional de demia, de acordo com a Lei 8858/20,
pública para conhecer os protocolos Apoio às Microempresas e Empresas aprovada pela Alerj. Os recursos viriam
elaborados pela Secretaria de Estado de Pequeno Porte (Pronampe), criado do Fundo de Combate à Pobreza e Desi-
de Turismo, que foram debatidos com para socorrer micro e pequenas em- gualdades Sociais e do Fundo Estadual
representantes do setor. Ao longo da presas impactadas pela pandemia do de Trabalho. Para amparar o consumi-
pandemia, o Parlamento fluminense coronavírus. O auxílio federal foi des- dor, a Alerj aprovou a Lei 8767/2020,
criou leis para amparar trabalhadores e tinado a microempresas com receita que disciplinou o cancelamento e a re-
empresas e proteger os consumidores. bruta anual de até R$ 360 mil e peque- marcação das passagens aéreas e paco-
Um dos mais visitados cartões-pos- nas empresas com receita bruta anual tes de viagens das agências.
tais do Rio, o Corcovado reflete o turis- entre R$ 360 mil e R$ 4,8 milhões. A aposta do setor de turismo tem
mo nos novos tempos. O público mé- sido as viagens dentro da própria capi-
dio diário é três vezes menor: caiu de HOTELARIA SE REINVENTA tal e nas cidades próximas do interior
2.100, em 2019, para 700 pessoas, em PARA ATRAIR CLIENTES do estado, com automóvel próprio ou
média, depois da reabertura, segundo A dificuldade de acesso ao crédito modal rodoviário. Segundo a Secreta-
dados da administração do Trem do durante a pandemia tem sido um en- ria Estadual de Turismo (Setur), pas-
Corcovado. Com a necessidade de dis- trave ao setor. As pequenas empresas, seios que envolvam a biosegurança e o
tanciamento social e normas de higie- que caracterizam o perfil da maio- ecoturismo devem se tornar o princi-
ne, empresas que administram pontos ria das agências de turismo do Rio, pal atrativo. A secretaria criou o Selo
turísticos tiveram que fazer adaptações afirmam que têm dificuldades para de Turismo Consciente, que permite
em seus espaços e ainda enfrentam a conseguir financiamento. “Se não há que o consumidor possa identificar os
redução do público, que tem se limita- uma lei que nos assegure, os bancos prestadores de serviços turísticos que
do ao turista do estado. não vão flexibilizar as condições a estão cumprido as regras. Para obter o
"Sentimos que as pessoas, quase to- nosso favor. Por isso, o turismo pede selo é só se cadastrar no site www.tu-
das cariocas, estão com muita vonta- o socorro do estado. Por mais que os rismoconscienterj.com.br  e ter aces-
de de passear pela sua cidade, mas em pontos turísticos tenham sido abertos so ao manual “10 Mandamentos para
locais seguros. Elaboramos um rígido na primeira semana de agosto, não há o Turismo Consciente”. Também foi
protocolo de operações absorvendo e público”, afirmou Luiza Evangelista, lançada uma campanha de incentivo
implementando todas as práticas re- dona de uma agência de turismo. à visitação de pontos do estado, com
comendadas pelos especialistas até A presidente da Associação de Hos- oferta de descontos.
de outras partes do mundo. Somente tels e Cama e Café do Estado do Rio de
com a chegada da vacina as pessoas Janeiro – RioHost, Fernanda Ferrão,
vão curtir programas turísticos na sua
totalidade. Até dezembro, teremos
quase 40% de desconto no bilhete”,
afirmou o presidente da concessioná-
ria Trem do Corcovado, Sávio Neves.
O turismo é um dos principais mo-
tores da economia do Rio: movimenta
5% do Produto Interno (PIB) do estado.
Estudos da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) estimam que o setor fechará o
ano com perdas em torno de R$ 65 mi-
lhões. Segundo dados da Firjan, houve
uma queda de 83% no faturamento das
empresas ligadas ao turismo no mês de
março quando começou a quarentena.
Cidades da Região dos Lagos - espe-
cialmente Búzios, Araruama e Cabo

DIÁLOGO 13
ESPECIAL ECONOMIA
Foto: Octacilio Barbosa

LUIZ VIEIRA,
dono do Alentejano,
resiste, apesar
da queda do
movimento no
Centro do Rio

Apoio a quem
INVESTE NO RIO
TEXTO NÍVEA SOUZA R$ 5 milhões às empresas fluminen- mês anterior. Mas o volume de venda
FOTOS OCTACÍLIO BARBOSA E JULIA PASSOS ses. A norma tem o objetivo de socor- em agosto ainda era 11,4% abaixo do
rer as micro, pequenas e médias em- registrado em fevereiro, mês anterior

A
reabertura das portas dos co- presas impactadas financeiramente à crise provocada pela pandemia.
mércios e serviços no estado pela pandemia e agilizar o processo Levantamento do Instituto Feco-
também teve o amparo da As- de concessão de crédito. mércio de Pesquisas e Análises (IFec
sembleia Legislativa, que apro- Os números mostram arrefecimento RJ) realizado em novembro, com a
vou medidas para assegurar proteção dos impactos da crise provocada pelo participação de 407 empresários do
da saúde aos clientes, empregados e coronavírus sobre os setores de co- estado, revelou que, para 51% deles,
empresários. Ao mesmo tempo, o Par- mércio e serviço no estado. Mas, nas a situação do negócio piorou no tri-
lamento fluminense esteve ao lado de ruas, ainda se vê portas fechadas dos mestre de setembro a novembro. Já a
quem investe no Rio. A Lei 8796/2020, negócios que não conseguiram resis- expectativa para os três meses seguin-
autorizou a Agência de Fomento do tir. O IBGE divulgou que, em agosto, tes era de melhora para 75,4%, con-
Estado do Rio (AgeRio) a conceder, houve crescimento de 1,9% no setor tra 13% que esperavam por dias mais
diretamente, financiamentos de até de serviços, em comparação com o difíceis. O levantamento também

14 DIÁLOGO
mostrou que a demanda pelos bens e veram recuo de 46% no período.
serviços no mesmo período diminuiu “A categoria precisa de crédito para
para 54% para os empresários consul- sobreviver. O SindRio tem falado so-
tados, ficou estável para 22% e cresceu bre isso em todas as oportunidades e
para 23%. Além disso, 33% dos con- dialogado com o poder público para
sultados disseram que a empresa está Os dados mostram o evitar que mais demissões sejam rea-
inadimplente ou muito inadimplente. lizadas, mais portas sejam fechadas e
Dono do Restaurante Alentejano, quão dramática é a que a cidade perca seu grande motor
no Centro da cidade, Luiz Vieira Vaz situação do setor e o econômico e cultural”, afirmou o pre-
foi um dos que conseguiram reabrir quanto é importante sidente do SindRio, Fernando Blower.
o estabelecimento no final de agosto, A revista Diálogo conversou com o
mas para ele, a situação ainda é crítica. frisar que a categoria economista Rafael Zanderer, do Insti-
“Devo voltar a ter lucro e me re- precisa de crédito tuto Fecomércio de Pesquisas e Análi-
cuperar do grande prejuízo somente para sobreviver” ses (Ifec). Ele acredita que a economia
no fim do ano que vem. São muitas do Estado do Rio de Janeiro não deve
despesas acumuladas, mercadoria Fernando Blower voltar na mesma velocidade com que
estragada, contas a pagar. Meu pre- Presidente do SindRio caiu porque vão faltar elementos im-
juízo gira em torno de R$ 60 a 80 mil. portantes de crescimento, como de-
No começo da pandemia, perdi 80% manda agregada - total de bens e ser-
de estoque de comida e bebida. A re- viços para um determinado momento
tomada está sendo muito difícil para e nível de preços.
mim”, disse Luiz. “Parte dos que estão sem emprego
O rearranjo nas contas também se vem recebendo auxílio, e as pessoas
reflete no salão - garçons de máscara, recebem e gastam esse dinheiro. Isso
frascos de álcool em gel, mesas com de certa forma mantém a atividade
dois metros de afastamento obedecem aquecida, o que poderia facilitar a re-
às regras de ouro da vigilância sanitá- cuperação. O problema é que eles vão
ria. “Trabalhamos com uma ocupação deixar de receber o auxílio ou ganha-
de só 50%. Higienizamos o restauran- rão uma quantia menor. Se esse be-
te com água sanitária três vezes ao dia. nefício é tirado ou diminuído, a eco-
Fazemos a desinfecção com uma em- nomia acaba desacelerando. Essa área
presa especializada, mensalmente”, depende da renda dos trabalhadores.
contou Luiz. Ninguém pega dinheiro emprestado
O setor de serviços, que inclui sa- para jantar fora, ir ao cinema, alugar
lões de beleza, também foi muito um carro”, explicou.
prejudicado pela pandemia. Dono do
Studio Fabbiano D’ Estrela, Fabiano
Silva Mesquita precisou de ajuda de Foto: Julia Passos
familiares após ter prejuízo de R$ 11
mil com a perda de materiais de tra-
balho. “Aqui no meu salão, em Co-
pacabana, Zona Sul do Rio, estamos
atendendo ao mesmo tempo só duas
clientes e bem separadas uma da ou-
tra. Estamos nos reinventando neste
momento e sinto que agora as coisas
estão começando a voltar ao normal.
Estamos adotando todos os protocolos
como uso de máscara e álcool em gel.
Fazemos, regularmente, a sanitização
do salão com uma empresa especiali-
zada”, concluiu.
Dados divulgados pelo Sindica-
to de Bares e Restaurantes do Rio de
Janeiro (SindRio) revelam que o setor
ainda não conseguiu se recuperar. En-
tre março e agosto, o sindicato con-
tabilizou perda de 29.320 empregos
relativos a estas atividades no estado.
O recolhimento de ICMS do total das
atividades do estado registrou cresci-
mento de 4,8%, em agosto, em relação
a julho. Porém, bares e restaurantes ti- PESQUISA Fecomércio aponta expectativa de melhora nos negócios

DIÁLOGO 15
NO PLENÁRIO

Produtividade

TEXTO JÉSSICA PERDIGÓ ARTE MARIANA ERTHAL

D
urante os meses da pandemia, a Alerj adotou votações virtuais e manteve uma intensa produção. O Parlamento
fluminense superou a marca de 350 sessões extraordinárias realizadas apenas este ano. Nesse período, os parla-
mentares apresentaram 821 projetos de lei, aprovaram 247 propostas e 214 novas leis foram publicadas, até o fecha-
mento desta edição, somente sobre o enfrentamento à covid-19. Uma delas é a Lei Nº 8.916/2020, que determina
a desinfecção de locais públicos, como restaurantes, bares, hotéis e cinemas antes da reabertura. Além disso, o uso de
máscara continua sendo obrigatório a todos.
Os números revelam que o Legislativo fluminense esteve atento às necessidades da população, neste período cru-
cial de crise sanitária. No primeiro momento, a preocupação foi preparar o estado para enfrentar as questões de saú-
de geradas pela pandemia. Com a reabertura progressiva, os esforços dos deputados se voltam também para mitigar
impactos econômicos. Dentre os destaques da produção legislativa está a Lei 8.784/20, que reconheceu a situação de
calamidade pública estadual - prorrogada até dezembro de 2020. Ela permite que ações sejam agilizadas, como a con-
tratação de prestadores de serviço. Para saber mais sobre estas leis e projetos, basta acessar o relatório no site da Alerj:
www.alerj.rj.gov.br.

16 DIÁLOGO
Foto: Thiago Lontra
HIGIENE E SAÚDE bre canais de denúncia que estão fun- tural. A norma prevê que os editais
Entre as normas criadas para a pro- cionando durante a pandemia. Eles emergenciais serão custeados com
teção à saúde está a Lei 8.916/2020, devem ser afixados em condomínios; recursos do Fundo Estadual de Cul-
que determina a realização de proce- edifícios residenciais e comerciais; tura (FEC). No setor de turismo, a Lei
dimento de desinfecção geral de locais associações de moradores; e outras 8.909/2020 autoriza o Poder Execu-
públicos, antes e após a reabertura ao organizações. Já a Lei 8.951/2020 tivo a criar campanhas de incentivo
público. A medida inclui instituições estabelece como serviços essenciais imediatamente após a revogação do
de ensino; espaços de lazer e cultu- ações de solidariedade, a distribuição plano de contingência do coronaví-
ra; setores de gastronomia e serviço de donativos e a sanitização das ruas rus. Esta também propõe a realização
e afins. Uma reclamação constante durante a pandemia. de parcerias com o setor privado; a
da população, a falta de informação desburocratização de concessões de
a respeito de parente internado nesse CONSUMIDOR licenças, alvarás e afins; e a concessão
período, deu origem à Lei 8.955/20. Em defesa do consumidor, fo- de incentivos fiscais para os setores
Ela obriga hospitais públicos e pri- ram criadas medidas como a Lei de turismo, cultura, esporte, lazer e
vados a terem um cadastro que pos- 8.961/2020, que obriga academias negócios.
sibilite o envio virtual dos boletins de ginástica e estabelecimentos se-
sobre o estado de saúde do paciente à melhantes a suspenderem a cobrança TRANSPARÊNCIA
família. Destaque também para a Lei de mensalidades e pacotes contra- Um conjunto de leis foi aprovado
8.964/2020, que cria atendimento tados, após solicitação dos usuários. para garantir transparência em con-
preferencial ao atendimento de ur- A medida também proíbe estes es- tratos e ações de governo do estado
gência e emergência aos pacientes tabelecimentos de aplicar multa, no durante o período de calamidade pú-
com imunodeficiências e hemoglobi- período de pandemia, por quebra de blica devido à emergência sanitária.
nopatias, e também a pessoas com au- fidelidade. Foi aprovada também a Lei A Lei 8.989/2020 determina que con-
tismo e/ou transtorno mental. Já a Lei 8.952/2020, que autoriza a Agência tratos firmados pela administração
8.954/2020 criou o programa “testa- Reguladora de Energia e Saneamen- pública para compra de bens e servi-
gem domiciliar para todos”, com ob- to Básico do Estado do Rio de Janeiro ços para enfrentamento da pandemia
jetivo de oferecer testes gratuitos para (Agenersa) a firmar convênio com a sejam submetidos a parecer jurídico
pessoas com sintomas da covid-19 Agência Nacional de Energia Elétrica prévio da Procuradoria Geral do Es-
no estado do Rio de Janeiro enquanto (Aneel) para proibir a interrupção do tado (PGE). Já a Lei 8.995/2020 esta-
permanecer o estado de emergência. fornecimento de energia em situações belece que a administração pública dê
de calamidade ou emergência. publicidade - em até dois dias úteis,
AUXÍLIO À POPULAÇÃO no site eletrônico da transparência
O isolamento social teve como con- CULTURA estadual - a contratos emergenciais
sequência o aumento dos casos de Duas leis autorizativas estão entre ou empenhos de despesa deste perío-
agressão à mulher no estado. Várias as que sugerem proteção para setores do. Ela complementa outras regras de
leis foram aprovadas pela Alerj para da economia afetados pela pandemia. transparência para ampliar a fiscaliza-
enfrentar o problema. Uma delas é a A Lei 8.993/20 autoriza o Governo do ção imposta pela Lei 8.832/20.
Lei 8.967/2020, que dispõe sobre a Estado a promover editais emergen-
fixação de cartazes, informando so- ciais para estimular a produção cul-

DIÁLOGO 17
ATUAÇÃO PARLAMENTAR
TEXTO GUSTAVO NATARIO

D
urante a pandemia de coronaví-
rus, a atuação do Legislativo Flu-
minense foi focada não só na ela-
boração de normas para conter a
crise na saúde e na economia, como
também na fiscalização do Poder Exe-

li z a d o r d o
cutivo e na criação de leis de transpa-

Pa p e l fi s c a rência. A Alerj derrubou o veto parcial

LEGI S L AT I VO do governo do estado à proposta que


reconheceu a situação de calamidade
pública estadual. Com isso, dois novos
artigos foram incluídos na lei. Entre
eles, o que criou uma comissão com o
objetivo de acompanhar a situação fis-
cal e orçamentária do estado na atua-
ção de combate e prevenção à covid.
A comissão apresentou seu relatório
final no dia 14 de outubro e realizou
diversas oitivas com responsáveis pela
administração das organizações so-
ciais da saúde (OSs), o que foi crucial
para o prosseguimento do processo de
impeachment do governador afastado
Wilson Witzel.
Os deputados da comissão se dedi-
caram à apuração de fatos sobre irre-
gularidades nos contratos da Secreta-
ria de Estado de Saúde (SES) durante a
pandemia. Foram realizadas mais de
20 reuniões, ouvindo representantes
da SES, como o ex-secretário Fer-
nando Ferry, além de representantes
legais das OSs supostamente envolvi-
das em irregularidades, como a Iabas,
a OZZ Saúde e a Unir Saúde.
Apesar de não ter os poderes inves-
tigatórios que a Constituição Federal e
o regimento interno da Alerj atribuem
à Comissão Especial de Inquérito (CPI)
- que pode solicitar quebras de sigilo
e até decretar prisão de depoentes e
suspeitos -, a comissão especial ob-
teve documentos e depoimentos que
representaram avanços nas apurações
das denúncias e, inclusive, apoiaram
os relatórios do processo de impeach-
ment de Witzel.
O relatório da Comissão Especial,
Foto: Rafael Wallace

elaborado pelo deputado Renan Fer-


reirinha (PSB) somou 690 páginas de
argumentação e documentos, e refor-
çou o pedido de impeachment contra

18 DIÁLOGO
Foto: Divulgação TJRJ
Witzel, além de solicitar a instauração
de CPI para investigar mais irregula-
ridades na gestão da Saúde e também
propôs alteração na Constituição do
Estado do Rio para aumentar a trans-
parência da Execução Orçamentária
para o setor.
"É extremamente necessário o forta-
lecimento da transparência das contas
públicas no Estado do Rio que, há anos,
sofre com a má gestão e a corrupção.
Não existe dinheiro do Estado, exis-
te dinheiro da sociedade entregue ao
Estado, e este tem obrigação consti-
tucional de prestar contas e agir com
transparência. Quanto maior for o con-
trole da sociedade, melhor os recursos
públicos serão utilizados”, declarou
Ferreirinha. A deputada Martha Rocha
(PDT) presidiu os trabalhos do grupo.
Com relação ao impeachment de DEPUTADOS e desembargadores
Witzel, cujo processo foi respaldado integram Tribunal Misto no processo
nas investigações da comissão espe- de impeachment
cial, a Alerj aprovou o prosseguimen-
to das investigações, por unanimi-
dade (69 votos favoráveis), no dia 23 de equipamentos e medicamentos. Se
de setembro. Agora, o rito segue no hoje estamos vivendo um quadro de
Tribunal Especial Misto de julgamen- corrupção na saúde durante uma pan- Eu duvido que haja
to - composto por cinco deputados demia, se deve a uma única questão: um parlamento que
a existência da lei das Organizações
e cinco desembargadores. O grupo
Sociais”, afirmou Luiz Paulo, que é
tenha produzido
decidiu pelo afastamento, a redução mais legislação para
salarial e a saída de Witzel do Palácio presidente da Comissão de Tributação
Laranjeiras, após aprovação de relató- da Casa. proteger a população
rio elaborado pelo deputado Waldeck
TRANSPARÊNCIA
da pandemia do que
Carneiro (PT). A previsão é de que o o Parlamento
julgamento seja finalizado ainda em Além de toda a fiscalização com re-
janeiro de 2021. lação ao Executivo, a Alerj criou me- fluminense”
didas para melhorar a transparência,
EXTINÇÃO DAS inclusive, do próprio Poder Legislati- Luiz Paulo
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS vo. Na contratação de bens e serviços, Deputado Estadual
A atuação da Alerj ao fiscalizar o Exe- um decreto parlamentar aprovado
cutivo também resultou em produções pela Casa proíbe que seja aplicada a
legislativas importantes. Uma das me- dispensa de licitação durante a pan-
didas levantadas pela comissão espe- demia do coronavírus, autorizada pela
cial foi o fim das Organizações Sociais Lei Federal 13.979/2020. A medida é o nome e CNPJ/CPF das partes con-
da Saúde, medida que a Casa aprovou de autoria do deputado André Ceci- tratadas, a motivação e justificativa
em agosto, com a aprovação da Lei liano (PT), presidente da Alerj. “O do contrato emergencial, o valor e o
8.986/20. A extinção das OSs ocorrerá Parlamento Fluminense não é uma tempo de duração do contrato.
a partir de 31 de julho de 2024. instituição que demande contratações Ainda foi aprovada a Lei 8.926/20,
A medida foi incorporada ao texto emergenciais na área de saúde para obrigando que a concessão de bene-
original de uma proposta enviada pelo combate à covid. Por este motivo, a fícios fiscais ou a determinação de
Executivo à Alerj através de emendas Assembleia está se isentando de uti- quais mercadorias possam ser in-
dos deputados Luiz Paulo (Cidadania) lizar os benefícios da nova lei federal, cluídas no Regime de Substituição
e Lucinha (PSDB). “O foco central da a fim de garantir a lisura de seus con- Tributária passe pela aprovação da
corrupção da saúde é a lei das Orga- tratos”, declarou Ceciliano. Alerj. O objetivo é que o Parlamento
nizações Sociais, tanto neste governo Os deputados a aprovarem a Lei analise todas as questões tributárias
como em administrações passadas. 8.832/2020 que estabelece que a ad- e as contrapartidas financeiras aos
Não há como fiscalizar organizações ministração pública estadual publique cofres estaduais. Com esta norma,
sem fins lucrativos porque o nome em no Portal da Transparência a relação fica proibido que o governo estadual
si já é um blefe. As OSs ganham rios detalhada de todos os contratos que tome decisões monocráticas por meio
de dinheiro nas terceirizações e nos forem firmados em caráter emergen- de decretos sobre o tema.
superfaturamentos, tanto na contra- cial para conter o avanço da pandemia
tação de pessoal, como na aquisição da covid. A publicação deverá conter

DIÁLOGO 19
SAÚDE

LEIS DE PROTEÇÃO À VIDA


Foto: Divulgação Fiocruz
TEXTO LÍBIA VIGNOLI E MARCO STIVANELLI

Q
uando as portas dos comércios,
escolas, empresas se fecharam
para impedir a expansão do co-
ronavírus no estado, a Assem-
bleia Legislativa rapidamente adotou o
sistema virtual de trabalho para apro-
var leis que assegurassem a preserva-
ção da saúde da população. Estão entre
elas medidas básicas e fundamentais
para a segurança sanitária, como a
obrigatoriedade do uso de másca-
ra no estado (Lei 8.859/2020) e a Lei
8.916/2020, que obriga à desinfecção
geral de locais públicos, como esco-
las; teatros; bares e afins, antes e após
a reabertura das atividades ao público.
A resposta rápida da Casa criou base
legal para decisões das autoridades de
Saúde do estado, na tentativa de mini-
mizar as consequências da covid-19. A
atuação da Assembleia também trans-
formou em norma os hábitos de higiene
que tiveram que ser incorporados pela
população, como o uso do álcool em gel.
A Lei 8.800/2020 obrigou as concessio-
nárias de barcas, trens e metrô a dispo-
nibilizar o produto em suas estações.
Algumas normas aprovadas surgiram
de demandas da população, como a Lei
8.955/2020, que tornou obrigatório a
hospitais públicos e privados enviarem
informações sobre a situação de saúde
a famílias de pacientes internados, en-
quanto o estado estiver em situações de
calamidade ou emergência. A falta de
informação foi uma reclamação cons-
tante de parentes de pessoas afetadas
pelo novo coronavírus. REPASSE À FIOCRUZ
Até para atender a mudança na A Alerj aprovou a Lei 8.972/2020,
relação médico-paciente houve ne- que destina R$ 20 milhões para a
cessidade de atuação do Parlamento. Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Quando clínicas e consultórios médi- A verba provém de recursos econo-
cos fecharam para evitar a propagação mizados do Fundo Especial da Casa,
do vírus, a Alerj aprovou, em junho, a possibilitando criação – pela Fiocruz
Lei 8.893/2020, que garantiu a práti- - de um Plano de Enfrentamento ao
ca da telemedicina em todo o estado, Coronavírus no estado. A Fundação
com a ressalva de que a regulamen- Oswaldo Cruz é referência nacional
tação vale apenas durante o período no combate à doença. A instituição
de emergência da pandemia. A nor- apresentou o projeto "Conexão Saú-
ma segue parâmetros definidos pelo de: de olho na Covid"para viabilizar
Conselho Federal de Medicina e pelo o atendimento de saúde na favela
Ministério da Saúde. de Manguinhos e no Complexo da
Maré, na Zona Norte da Capital.

20 DIÁLOGO
ENTREVISTA
u VALCLER RANGEL u MÉDICO SANITARISTA DA FIOCRUZ

‘FIOCRUZ E
BUTANTAN
PODEM
PRODUZIR
GRANDES
QUANTIDADES
DE VACINA’

MEDICAMENTOS antivirais estão em estudos


TEXTO LÍBIA VIGNOLI E MARCO STIVANELLI FOTOS DIVULGAÇÃO FIOCRUZ

MÁSCARAS, QUARENTENA E A ESPERANÇA DE UMA VACINA QUE GARANTA A VOLTA AO “NOR-


MAL”. Diálogo ouviu o médico sanitarista Valcler Rangel, chefe de gabinete da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), sobre como a pandemia de coronavírus mudou nossa forma de ver a vida e cuidar da saúde.
Apesar da experiência da febre espanhola de 1918 - que também obrigou ao isolamento social - ficou evi-
dente que não estávamos preparados para lidar com a ameaça causada por um novo vírus. Em meio a uma
segunda onda de contaminação no país, a humanidade aguarda com expectativa a chegada de vacinas
ou medicamentos que possam conter a letalidade da covid-19. Confira a entrevista:

DIÁLOGO 21
ENTREVISTA
Diálogo: Mais de um sé-
culo depois da gripe espa-
nhola, voltamos a lidar
com uma pandemia. O
que mudou?

n Valcler Rangel: Os
desequilíbrios am-
bientais que a gente
tem no mundo su-
peram a condição
de embarreira-
mento da exis-
tência de epide-
mias desse tipo.
Esta pandemia, na
verdade, já vinha
sendo anunciada
pelos virologistas,
pela saúde públi-
ca, há algum tempo.
Houve alguns ensaios.
O próprio H1N1, mers,
sars, ebola, no caso do
Brasil a zika; já havia uma
série de situações que con-
figuravam um quadro onde a
possibilidade da existência de Em uma
uma pandemia estava colocada. doença gra-
Hoje, a circulação de pessoas é muito ve, para você
mais intensa do que naquele momen- ter essa imuniza-
to e os desequilíbrios ecossistêmicos ção significa que muita
também são muito mais intensos. Isso gente vai morrer. Para que
configura bem o quadro de que já ha- alcancemos essa imunização, es-
via essa expectativa. tima-se que, pelo menos, 70% da po-
pulação tenha sido exposta e contami-
Diálogo: A retomada das atividades nada com o vírus. Hoje, o cenário que
ocorre, mas a pandemia ainda está aí. temos é de, aproximadamente, 28%
Que cuidados continuarão a ser ne- de pessoas contaminadas. Dada essa
cessários a longo prazo? informação, concluímos que estamos
longe dessa imunização coletiva e ain-
n Quando a gente reduz o número de da não temos uma quebra na cadeia de
mortes, a gente dá uma impressão de transmissão.
redução de gravidade e isso afeta a
forma como a sociedade compreen- Diálogo: A pandemia ressalta a ne-
de o que está acontecendo. A covid é cessidade de se fortalecer o SUS?
uma doença muito grave para algumas A retomada introduz
pessoas, para outras nem tanto. E isso n Sim, com certeza. A melhor atenção
faz com que muitos acreditem que não um novo cenário de à saúde primária, que foi uma coisa não
há mais riscos, pelo fato de um núme- risco. Não podemos preparada e nem feita com antecedên-
ro reduzido de pessoas sofrerem sin- relaxar com os cia, é uma dessas lições. Em uma pes-
tomas mais graves. Essa situação de quisa realizada pela Fiocruz, foi mos-
termos a retomada das ruas, da praias, cuidados de higiene trado que, em muitas localidades, os
das viagens, certamente estamos nos agentes comunitários de saúde estavam
introduzindo a um novo cenário de utilizando seus próprios materiais para
risco. Mas o que podemos fazer agora é Diálogo: Fala-se de uma "segunda trabalhar, como sua linha pessoal de
não relaxar com os cuidados de higie- onda". Pelo visto, não alcançamos a telefone, e não dispunham de EPIs.Eles
ne. Lembrar da importância de lavar dita “imunização de rebanho” no Rio. são fundamentais para monitorar não só
bem as mãos, usar máscara e manter a covid-19, mas também outras doen-
o distanciamento são as medidas que n Temos uma segunda onda possível, ças. Esse trabalhador deve ter suporte
estamos cansados de ouvir, porém as sim. Até porque esse termo “imuni- tanto de equipamentos, quanto psico-
que não podemos deixar de lado em zação de rebanho” foi colocado para lógico para continuar a exercer bem seu
momento algum. nós de forma bastante descuidada. trabalho. A vigilância popular da saú-

22 DIÁLOGO
de, que é a associação entre o sistema de te e precise dividir o banheiro com os der as necessidades mundiais. Mas
saúde e organização da sociedade civil, demais moradores a gente esbarra em no caso do Brasil, hoje nós temos dois
mostrou bons resultados para o levanta- uma contaminação familiar. Isso nada produtores públicos que são a Fiocruz
mento dos impactos numéricos e sociais mais é que falta de infraestrutura. e o Instituto Butantan, que possuem
dessa pandemia. capacidade de produzir grandes
Diálogo: Qual é a perspectiva de quantidades das vacinas. E, ao mes-
Diálogo: O que ficará de lição, do acesso à vacina? mo tempo que temos essa condição
ponto de vista da saúde? n As condições hoje são muito boas de produção, essas instituições se as-
no Brasil, e não é assim no mundo in- sociam com instituições de pesquisa,
n A primeira lição é a confiança que teiro. Não vai se conseguir produzir como a AstraZeneca e Oxford, para
a gente precisa ter no campo da todo o volume necessário para aten- garantir que nós vamos receber aqui
ciência. É uma lição que a gente vai os insumos que vão nos possibilitar
precisar levar pro resto da vida. A fazer a vacina. Caso aprovada, ela se-
importância de se ter uma coorde- ria destinada, num primeiro momen-
nação global também. No caso bra- to, aos profissionais da saúde; de se-
sileiro, é a lição da importância de se gurança; pessoas com comorbidades;
ter o Sistema Único de Saúde (SUS). idosos; e eu diria também populações
E essa importância consiste em se ter vulnerabilizadas e indígenas.
um sistema de saúde que passe des-
de a prevenção, à atenção primária Diálogo: Com uma vacina aprovada,
e à atenção hospitalar. Do ponto de A segunda onda teríamos previsão de retorno das ati-
vista mais geral, acho que tem uma vidades como eram antes?
questão central: a necessidade de jus- é possível sim. O
tiça social. Outro fator importante é termo 'imunização n Primeiro, elas necessitam passar em
a informação segura e de qualidade. de rebanho tem todos os testes, para só depois traçar-
A gente vê o quanto o fenômeno das mos um plano mais preciso. Acredi-
fake news, que sempre existiu, agora sido usado de forma to que, para voltarmos às atividades
ganha muito mais relevância e in- descuidada rotineiras, é preciso pensar numa
tensificou. Mas também a gente leva reordenação do funcionamento da
essa lição, da informação segura para sociedade para que possamos voltar
a saúde pública e para a existência. com segurança. Por não haver previ-
são para a imunização geral, é preciso
Diálogo: Qual é a relação entre a co- pensar num retorno gradual e com li-
vid e a falta de acesso ao saneamento e à mitações.
infraestrutura nas cidades?
Diálogo: Há também estudos sobre
n Os índices apontam não só uma medicamentos. Qual é a perspectiva?
associação aos problemas de sanea-
mento, também estão ligadas dire- n Exato, está todo mundo preocupado
tamente à distribuição de recursos com o estudo clínico da vacina,
do Estado. A circulação viral mas os estudos dos medica-
em situação de precarieda- mentos têm sua importân-
de habitacional sempre cia também. Os medi-
agrava qualquer questão camentos antivirais,
pandêmica. Isso revela que impedem certas
a grave desigualdade ações do coronaví-
social que enfrenta- rus no corpo, estão
mos, não só no es- em estudo no So-
tado, mas em todo lidarity (estudo
país. Há lugar que coordenado da
as pessoas não FioCruz com a
têm sequer como OM S ) . E nt ão
lavar as mãos. essa é uma boa
Como se vai exi- perspectiva. Só
gir que elas lavem não podemos
máscara e esteri- esquecer que
lizem todo o res- essa não será a
to? A realidade da última pande-
família fluminen- mia, então de-
se é de 4 a 6 pessoas vemos aprender
em uma casa. Se com esta.
considerarmos que
uma delas fique doen-

DIÁLOGO 23
VOLTA ÀS AULAS

O novo no rm al
nos ba nc os
da escola
TEXTO MANUELA CHAVES fluminenses - compareceram na pri- nal dos deputados André Ceciliano e
meira semana. As demais turmas não Waldeck Carneiro, ambos do PT - vale

Q
uando e como o retorno dos alu- retornaram para as escolas este ano. para instituições de ensino públicas
nos às salas de aula será efetiva- Os encontros virtuais promove- ou privadas, mesmo no período de
mente seguro? A discussão que ram amplo debate aberto ao públi- retomada do ensino presencial. A lei
ainda mobiliza a sociedade ocor- co, através dos canais digitais, com também determina que o governo do
re com intensa participação da Assem- a participação de gestores públicos; estado ofereça as condições necessá-
bleia Legislativa. Ao longo do período profissionais de saúde e educação; rias às atividades remotas para os es-
mais agudo de pandemia, as comissões representantes de pais e alunos; sin- tudantes da rede pública de ensino que
de Educação e Ciência e Tecnologia da dicatos e dirigentes de instituições de comprovadamente não tiverem recur-
Alerj realizaram 15 audiências públicas ensino, além da Defensoria Pública e sos tecnológicos para acompanhá-las.
para esclarecer dúvidas, avaliar as im- do Ministério Público. Em um primei- A Comissão de Educação da Casa en-
plicações e colaborar com a elaboração ro momento, o objetivo foi cobrar da tende que o Poder Público deve garan-
de protocolos. As comissões iniciaram, Secretaria de Estado de Educação que tir acesso às atividades tanto aos alunos
em dezembro, uma nova rodada de au- os estudantes afastados das aulas pre- que têm internet, quanto aos que não
diências sobre como será o ano letivo de senciais, por questão de segurança sa- têm. O desafio será lutar pela garantia
2021 em todo o estado. nitária, tivessem acesso garantido ao de que todos os alunos, especialmente
O secretário de Estado de Educa- conteúdo acadêmico. As videoaulas aqueles que não conseguiram acessar
ção, Comte Bittencourt, participou passaram a ser transmitidas no canal as atividades on-line, possam ter con-
de audiência na Alerj e apresentou o do Youtube da Seeduc e pela TV Alerj, dições de se equiparar, para garantir
planejamento da retomada das au- em meados de maio. a conclusão do ano letivo a todos. Na
las - que ocorreu em 17 de outubro, Com a possibilidade de retorno gra- audiência de outubro, o secretário
apenas para alunos do terceiro ano do dual, a Alerj aprovou a Lei 8.991/2020, afirmou que aproximadamente 418
Ensino Médio. Mas, apenas 5,4% dos que assegura o direito a aulas remotas mil alunos (cerca de 70% do total) não
estudantes autorizados a voltar para até que haja vacina ou medicamen- realizaram qualquer atividade escolar
a sala de aula - 59 mil alunos de 408 to comprovadamente eficaz contra a desde a suspensão das aulas presenciais
escolas estaduais de nove municípios covid-19. A norma - de autoria origi- imposta pela pandemia.

24 DIÁLOGO
À frente da Comissão circulação de milhões de pessoas nas Guerreiro, confessa que a adaptação
de Ciência e Tecnologia nas cidades, entre alunos, profissio- para o novo sistema foi difícil. Ele
da Alerj, o deputado nais de educação e pais, que podem se conta que desenvolver uma rotina no
Waldeck Carneiro tornar potenciais vetores de transmis- magistério em casa é completamen-
(PT) destacou que são do vírus.” te diferente de estar na frente de um
o debate sobre a Os autores da lei ainda comentaram quadro nas salas de aula. “O conteúdo
retomada das ati- sobre o planejamento do ano letivo de foi mantido, mas a abordagem pre-
vidades escolares 2021. Segundo eles, os estudantes do cisou passar por algumas mudanças.
está diretamen- 3º ano do Ensino Médio deverão ter Nas aulas gravadas não podemos apro-
te vinculado ao prioridade, por conta do Exame Na- fundar muito no conteúdo para evi-
controle da curva epi- cional do Ensino Médio (Enem). Além tarmos as lacunas de aprendizagem,
demiológica do coronavírus. disso, explicaram a possibilidade de tampouco podemos ser superficiais,
De acordo com o parlamentar, ainda utilizar o primeiro semestre do ano uma vez que conceitos precisam ser
é necessário conter a flexibilização que vem como forma de amenizar os abordados de maneira eficiente. Nas
do distanciamento social, sobretudo prejuízos causados pela pandemia.  A aulas ao vivo, há um contato mais di-
em lugares onde as aglomerações são Comissão de Educação já vislumbra reto com os alunos, então podemos ser
inevitáveis, como é o caso das institui- medidas necessárias para o ano letivo mais flexíveis, ainda assim, precisa-
ções de ensino. de 2021. Uma proposta seria utilizar mos ter cuidado com a velocidade da
“A escola é ambiente de sociali- os primeiros meses para recapitular o explicação do conteúdo. É preciso en-
zação. Não é apenas um lugar para conteúdo do ano letivo de 2020. contrar um equilíbrio. Não é uma ta-
aprender os elementos da cultura or- refa fácil justamente pela forma como
ganizados em diferentes disciplinas, A DIFÍCIL ADAPTAÇÃO fomos inseridos nesse processo”, disse
é também para aprender a conviver, À SALA VIRTUAL o professor.
assimilar valores ligados à convivência Mudanças na abordagem ao conteú- João Gabriel também frisou a neces-
humana, à socialização. A vida escolar do; manuseio de plataformas digitais e sidade de motivar os alunos a conti-
cotidiana é feita de pequenas aglome- esfriamento da relação com os alunos nuarem participando das atividades
rações em salas de aula, nos laborató- são alguns dos desafios que estão sen- escolares: “Uma questão fundamen-
rios, nas quadras, no recreio, nas salas do enfrentados por alunos e profes- tal neste período é que, em todos os
de reuniões. Por isso, é preciso manter sores. A estudante Maísa Roberta dos encontros realizados, foi preciso
ainda as medidas de isolamento social Santos, presidente do Parlamento Ju- incentivar os alunos a não
para as comunidades escolares”, de- venil de 2019, pretende fazer o Enem, perderem a vontade de es-
clarou o deputado. mas teve que começar a trabalhar e tudar. No caso da 3ª série,
O parlamentar salientou que o pare- ficou ainda mais difícil acompanhar esse incentivo era somado
cer sobre o retorno das aulas deve ser as aulas on-line. ao trabalho de amenizar a
discutido de forma conjunta ao corpo “A pandemia tirou muito de nós. pressão e a ansiedade dos jo-
estudantil e às autoridades sanitárias Meu ritmo de estudos foi prejudicado vens. A indefinição e, depois, o
e científicas: “Não é uma decisão que por causa do ensino remoto. Por mais adiamento das provas fizeram
deva ser tomada pelo governador ou agitada que seja minha rotina de nor- com que os vestibulandos
pelo prefeito individualmente, mas malista, era muito mais organizado ficassem muito nervosos e
sim com as autoridades sanitárias e quando tinha minha rotina. A plata- nós, professores, tive-
científicas que atestem que já é o mo- forma é bem falha”, contou. mos que agir, ten-
mento de retornar. A volta acarreta O professor de História, João Gabriel tando canalizar a
energia da an-
siedade de ou-
tras formas.”

DIÁLOGO 25
HISTÓRIA VIVA

Recursos para revitalizar o


Museu Nacional
CERIMÔNIA reuniu deputados
e diretores da instituição na
Quinta da Boa Vista

P
ara o diretor da entidade, Alexan-
der Kellner, a doação demonstra
o interesse da Alerj em produzir
agendas positivas para o estado
do Rio de Janeiro. “Um Museu Nacio-
nal forte e reconstruído, não apenas
vai propiciar ações educativas à socie-
dade, mas transformará aquela região
num ponto turístico fundamental para
TEXTO JULIANA MENTZINGEN FOTO JULIA PASSOS a nossa cidade, trazendo ganhos eco-
nômicos também”, ressalta.
A RECONSTRUÇÃO DO MUSEU NACIONAL/UFRJ - UM DOS O presidente da Assembleia, André
MAIORES TESOUROS HISTÓRICOS E CIENTÍFICOS DO PAÍS - Ceciliano (PT), lembra que apenas
cinco instituições destinaram recursos
CONTA COM A PARCERIA DA ALERJ, que aprovou repasse de R$ 20 para a reconstrução do prédio. “Hoje
milhões do Fundo Especial do Parlamento Fluminense à Universida- só temos a Vale, a Unesco, o BNDES e a
de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), à qual a instituição é vinculada. AGU (Advocacia Geral da União), além
A doação vai permitir que sejam iniciadas as obras de restauração da da Alerj, contribuindo com repasses
para essa obra. Por isso, precisamos
fachada e dos telhados do antigo palácio. O museu teve seu acervo e chamar a atenção de outros parceiros,
parte do edifício destruído por um incêndio em setembro de 2018, públicos ou privados. Isso é primor-
quando se preparava para celebrar seus 200 anos. dial. Ainda falta metade da verba para

26 DIÁLOGO
PEÇAS RESGATADAS
O trabalho de resgate das peças do
Museu Nacional está paralisado devi-
do à pandemia do coronavírus. Após
a retirada do acervo dos escombros,
será feito o inventário das peças, em
que possibilitará saber o número total
de itens recuperados e em quais con-
dições se encontram.
Para a vice-coordenadora do Nú-
cleo de Resgate do Museu Nacional,
Luciana Carvalho, as peças recu-
peradas com maior destaque até o
momento são: o crânio de Luzia, que
representa o esqueleto humano mais
antigo do Brasil; os artefatos egípcios,
que voltam a compor a maior coleção
que a instituição chegue aos R$ 370 do Kellner, está na casa de milhares. egípcia da América Latina; os minerais
milhões necessários para a conclusão Além disso, a recomposição apenas da Coleção Werner, um acervo muito
do restauro”, conta Ceciliano. será possível por meio de doações fei- disputado no Século XIX, na Europa,
Com previsão de início das obras tas por instituições do exterior. “Por e que acabou vindo para o Brasil com
ainda este ano, a direção trabalha na isso, é tão importante que a gente faça a Família Real; o meteorito Angra dos
elaboração de diversos projetos para o nosso dever de casa. A gente só vai Reis, descoberto no Século XIX e que
o Museu Nacional. Recentemente, foi merecer se conseguirmos provar para deu nome a um novo grupo de meteo-
apresentada à instituição a oportuni- o mundo que o Brasil é capaz de re- ritos; os fósseis de plantas e animais
dade de ser um museu de referência construir um prédio com a máxima que contam o passado do nosso plane-
em acessibilidade não só para o Brasil, segurança, não só para as pessoas, mas ta; e artefatos indígenas que, ao serem
mas para a América do Sul. “Quere- também para as coleções, para evitar resgatados, preservam a história dos
mos um museu acessível para pessoas uma tragédia como a de 2 de setembro povos tradicionais.
com deficiência e também pela forma de 2018”, explica. “Estamos trabalhando para que es-
de se relacionar com o público. O Mu- Ainda de acordo com Kellner, mu- sas peças possam retornar aos seus
seu Nacional e suas exposições têm seus nacionais e internacionais já ofe- curadores e compor as novas exposi-
que ser entendidas tanto por um pes- receram doações de peças, contudo, ções do Museu Nacional, estando no-
quisador com PhD, quanto por uma foi solicitado que o material ainda vamente disponível para as pesquisas
criança”, pontua Kellner. não seja entregue pela dificuldade de científicas”, diz Luciana.
Outra novidade que o visitante terá acomodá-lo nas atuais condições. A Algumas situações surpreenderam
a chance de conhecer é o Jardim das doação com maior destaque é a de 196 a equipe de resgate após o incêndio.
Princesas. O local, que era usado como peças de material indígena, originária Segundo Luciana, a equipe esperava
espaço de contemplação e recreação do Amazonas, feita pelo Universalmu- encontrar a coleção de Etnologia, que
da Princesa Isabel e que já recebeu a seum Joanneum de Graz, da Áustria. ficava no terceiro andar do palácio,
visita do cientista Albert Einstein, A administração planeja realizar uma destruída e caída no térreo, devido
está fechado ao público desde 1941. campanha, no ano que vem, para in- ao desabamento de todos os andares.
Segundo a historiadora do Museu, Re- centivar que se façam novas doações, Contudo, armários que guardavam a
gina Dantas, o jardim não foi atingido sobretudo de acervos originais. coleção, composta principalmente de
pelo incêndio e será possível restaurá- A expectativa é que parte das insta- cerâmicas indígenas, ficaram presos
-lo com as marcas de uso dos antigos lações seja aberta para visitação públi- no emaranhado de vigas, protegendo
moradores do palácio. ca em 2022, quando a Independência o acervo da queda. “São alguns dos
Dono do maior acervo de História do Brasil completa 200 anos. “Como milagres que presenciamos durante
Natural e de Antropologia da América a gente vai deixar o local onde tudo o salvamento do acervo científico do
Latina, ainda não é possível estimar aconteceu fechado?”, provoca Kel- Museu Nacional”, reflete.
o número de peças que irá compor o lner. A previsão é ter o museu total-
novo acervo da entidade, mas, segun- mente aberto em 2025.

DIÁLOGO 27
SOCIEDADE

Fórum da Alerj:
inovação e sustentabilidade
na agenda
TEXTO FERNANDA RODRIGUES
FOTO RAFAEL WALLACE

U
m dos mais importantes ór-
gãos vinculados à Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de áreas, para a formatação de propostas relevância do trabalho que vem sendo
Janeiro (Alerj), responsável por em prol da população do estado, mui- desenvolvido e que tem dado funda-
ajudar a pensar e alavancar políticas tas das quais foram aprovadas pelos mental subsídio aos parlamentares.
públicas voltadas ao crescimento do deputados em Plenário e se tornaram “É muito importante a participação da
estado, o Fórum Permanente de De- leis. Com grande capilaridade de ação, sociedade na discussão do desenvolvi-
senvolvimento Estratégico do Estado o órgão conta, hoje, com a participa- mento e na busca por uma saída para
do Rio de Janeiro está completando ção de 58 entidades dos mais variados o Estado do Rio. Mais do que nunca,
17 anos desde a sua criação, por meio setores da economia, bem como reú- precisamos de união e unidade. Para-
da Resolução Nº 225/2003. O Fórum ne cerca de 320 membros e Câmaras béns ao Fórum e a todas as entidades
da Alerj tem como principal missão Setoriais que reúnem representates que participam dele”, disse. Ceciliano
aproximar o Legislativo dos demais dos ramos do agronegócio, cultura, é autor de uma das leis que nasceram
setores da sociedade também engaja- turismo, esporte, energia, formação nos debates realizados pelo Fórum,
dos na promoção do desenvolvimento profissional, educação tecnológica, que é a Criação da Política Estadual de
econômico e social do Rio. infraestrutura logística, entre outras. Investimentos e Negócios de Impacto
Ao longo dos anos, o Fórum tem Presidente da Alerj e também do Social e Ambiental. Também assinam
contribuído de forma efetiva, por Fórum de Desenvolvimento, o depu- a lei os deputados Renan Ferreirinha e
meio de debates com as mais diversas tado André Ceciliano (PT) destaca a Mônica Francisco.

28 DIÁLOGO
Secretária-geral do Fórum e res-
ponsável pela coordenação dos tra-
balhos, Geiza Rocha explica que a
atuação do órgão se dá através de uma
construção coletiva, sendo um espa-
ço de diálogo criado dentro do Poder
Legislativo para que instituições pos-
sam apresentar estudos, propostas e
posicionamentos sobre leis: “O Fórum
atua como uma base para o trabalho
parlamentar, em parceria com os ga-
binetes e comissões, trazendo conhe-
cimento e interagindo com parlamen-
tares. Com isso, eles podem criar e
aprimorar leis e políticas públicas para
impulsionar o crescimento do estado.
Completar 17 anos é uma marca muito
significativa e mostra que estamos no
caminho certo”.
Além dos debates sobre relevantes
temas, o Fórum possui outros projetos
como o “Fórum Capacita”, que vem
contribuindo na qualificação tanto DIVERSIDADE de temas amplia a aproximaçãp da sociedade com o Legislativo
dos funcionários da Alerj quanto dos
servidores públicos em geral, trazen- com reuniões regulares nas áreas da o papel do Legislativo na implantação
do especialistas parceiros em diversas saúde, de ciência e tecnologia e edu- da tecnologia 5G, construção de cida-
áreas para capacitações on-line. Neste cação, por exemplo. Tudo isso mostra des inteligentes, impactos da reforma
período de pandemia, o órgão migrou a força do Parlamento fluminense, tributária no estado, discussão so-
suas atividades para o ambiente vir- ainda mais neste momento de recu- bre o Regime de Recuperação Fiscal
tual, mobiliando a sociedade a parti- peração fiscal do estado”, destacou. (RRF), capacitação e acessibilidade
cipar das discussões propostas, várias Para o presidente do Conselho Re- na administração pública, o impacto
delas voltadas ao enfretamento da gional de Contabilidade do Rio de Ja- do coronavírus nas oportunidades do
pandemia da covid-19. neiro (CRCRJ), Samir Nehme, o Fórum emprego, entre outros assuntos.
é uma importante arena de debates
PARCERIA COM AS públicos. “Somos 53 mil profissionais VISIBILIDADE EM ALTA
COMISSÕES DA ALERJ em todo estado e para a categoria é Em tempos de isolamento social, a
Presidente da Comissão de Econo- motivo de orgulho integrar um projeto visibilidade do canal do YouTube do
mia, Indústria e Comércio da Alerj, o tão relevante. Já participamos de dis- Fórum da Alerj cresceu 119%. Ou-
deputado Renan Ferreirinha (PSB) en- cussões agregadoras, como políticas tro destaque foi a criação do podcast
fatizou a parceria do grupo com o Fó- de incentivos fiscais e a capacitação Quero discutir o meu estado”, lançado
rum na busca pela construção de um sobre declaração de Imposto de Renda em fevereiro, e que já disponibilizou 57
planejamento estratégico econômico e de pessoa física. Que possamos conti- episódios sobre temas ligados ao de-
social para estado. “O Fórum tem um nuar trabalhando por um estado mais senvolvimento do Rio nas principais
papel muito importante na promoção forte e desenvolvido”, disse Nehme. plataformas de streaming.
de debates e reflexões continuadas so- O Fórum tem debatido temas fun- O Fórum se adaptou rapidamente ao
bre o Rio. Conecta diversos atores im- damentais como política de proteção “novo normal” e os encontros on-li-
portantes da sociedade civil, academia de dados para aumentar a atratividade ne deram continuidade aos debates e à
e setor produtivo com o Legislativo. do estado, o descomissionamento de construção de propostas de retomada
Juntos, discutimos temas relevantes e, plataformas no Rio que pode gerar R$ do desenvolvimento fluminense du-
por meio de melhorias na legislação, 50 bilhões em investimentos até 2040, rante a pandemia. Foram realizados 37
construímos soluções para o estado”, potencialidades do turismo de saúde, eventos de forma virtual, veiculados
comentou o deputado. perda de competitividade do estado nas redes sociais do Fórum, e dois en-
O deputado Waldeck Carneiro, pre- por ter a energia mais cara do país, contros voltados à capacitação dos ser-
sidente da Comissão de Ciência e Tec- retomada de políticas de trabalho e vidores, dentro do projeto “Fórum Ca-
nologia da Casa, também ressalta os renda no pós-pandemia, implantação pacita”. Os vídeos no YouTube foram
avanços obtidos pelo Fórum durante do Selo Arte, Rede Cooperativa de Mu- vistos mais de 35.360 vezes em todas as
a sua trajetória. “É um marco impor- lheres, logística e conectividade como regiões do estado, principalmente pela
tante, tendo em vista a relevância na principais gargalos do agronegócio na população economicamente ativa. Já o
contribuição que este Fórum vem ofe- pandemia. O órgão coordena, ainda, o portal do órgão, que reúne a produção
recendo aos debates sobre os rumos do Movimento Rio de Impacto sobre ne- de conteúdo, foi visualizado 63.072 ve-
desenvolvimento do nosso estado. A gócios voltados às áreas social e am- zes desde o início deste ano.
Alerj tem assumido um papel de pro- biental, e tem ações voltadas a desbu-
tagonismo nos debates estratégicos, rocratização no ambiente de negócios,

DIÁLOGO 29
NOVA SEDE

MODERNIZAÇÃO
do Parlamento
Ícone do modernismo dos anos 1960, edifício Lúcio
Costa se prepara para abrigar a nova sede da Alerj
TEXTO LEON LUCIUS os 70 gabinetes parlamentares, cinco tivos contratuais. Victer ainda pontua
FOTO OCTACÍLIO BARBOSA salas de comissões, auditórios, além que, além de moderna e econômica, a
do plenário e dos setores administrati- nova sede se adequa a normas referen-

A
transferência da Alerj para o vos - que hoje ocupam três endereços tes à construção civil, como critérios
Edifício Lúcio Costa, marco da diferentes: o Palácio Tiradentes, a sede de acessibilidade e segurança contra
arquitetura modernista brasilei- administrativa na Rua da Alfândega e incêndios, por exemplo. “Muitos dos
ra, é uma repaginada na história o Palácio 28 de Julho (prédio anexo na prédios públicos que funcionam hoje
do Legislativo fluminense. O prédio Rua Dom Manuel). “Vai haver mais não foram feitos pensando nesses pa-
ficou conhecido na rotina do Centro espaço para as ações parlamentares. drões, como o próprio Palácio Tira-
carioca como o “Banerjão”, por ter A dispersão das atividades da Alerj dentes”, afirma, citando a implanta-
sido, ao longo de uma década, sede dificulta a integração e, no momento ção de sistema de coleta seletiva e de
do antigo Banco do Estado do Rio de que você as integra, melhora a quali- aproveitamento de luz solar.
Janeiro (Banerj), e já foi rebatizado de dade, reduz os custos e torna o serviço A reutilização de materiais foi um
“Alerjão”. A restauração do edifício ainda mais eficiente e transparente”, dos principais pontos para a economia
de 55 anos seguiu premissas valoriza- comentou o diretor-geral da Casa, o financeira e para o “retrofit”, procedi-
das pela atual gestão: uso consciente, engenheiro Wagner Victer. mento de modernização de estrutura
equilibrado e econômico dos recur- A reforma de um prédio existente, em que se mantém as características
sos da Casa. O Palácio Tiradente, que em vez da construção de um novo, originais do prédio - as janelas ale-
guarda a memória do Parlamento flu- permitiu à Alerj economizar cerca de mães com giro em 360 graus, os pai-
miense, será um Centro Cultural. dois terços do orçamento previsto para néis de jacarandá e o piso de mármore
Os 34 andares do prédio vão receber a nova sede, com baixo índice em adi- são exemplos do aproveitamento de

30 DIÁLOGO
material já existente. A nova sede da torcida, composta por funcionários da
Alerj terá cadeiras e banheiros adap- obra e transeuntes curiosos.
tados, e seguirá também parâmetros
de sustentabilidade, como o reúso de PALÁCIO VAI ABRIGAR UM
águas pluviais e de torneiras no siste- CENTRO CULTURAL
ma de refrigeração. Com a mudança dos trabalhos le-
O subdiretor-geral de Engenharia gislativos para o Alerjão, o Palácio
da Alerj, Antônio Pádua, conta que os Tiradentes se tornará um museu da
elevadores tiveram seus motores man- história política fluminense e nacio-
tidos. “Na época do banco, eles eram nal, com o seu plenário podendo ser
os mais rápidos e mais modernos de usado para importantes solenidades.
toda a América do Sul. Eles conse- “Iremos desenvolver um projeto em
guem subir ou descer mais de 30 an- parceria com universidades para exe-
dares em poucos segundos, ainda hoje cutar essa ideia”, adiantou o diretor-
são fantásticos”, explica. -geral da Alerj.
O futuro plenário já demonstra a O prédio foi construído na década
modernidade que a sede trará. Acima de 1920, onde antes ficava a Cadeia
da parede de jacarandá que contorna Velha - local em que Tiradentes, um
a mesa da presidência, já dá para ver dos principais nomes da Conjuração
a marcação para o painel de votações, Mineira, passou seus últimos dias an-
que serão feitos com placas de LED, tes de sua condenação à forca. Con-
muito semelhantes aos do Senado Fe- cebido como a Câmara dos Deputados
deral. Maior que o plenário do Palácio do Brasil, cuja capital ainda era o Rio
Tiradentes, o espaço contará com áreas de Janeiro, o Palácio também foi sede
reservadas para deputados e assesso- do Departamento de Imprensa e Pro-
res, além de uma galeria que poderá ser paganda (DIP), durante o Estado Novo
acessada diretamente da rua, trazendo e, posteriormente, se tornou a sede do
a população para mais perto de seus re- gadores, que disputavam, durante os parlamento estadual.
presentantes. horários de almoço da semana, uma Segundo o historiador Douglas Li-
“Teremos um sistema de votações vaga na final, às sextas. As disputas borio, vinculado à Subdiretoria-Geral
mais bem elaborado, com mais pontos transformavam o Buraco do Lume de Cultura da Casa, a iniciativa é um
de votação do que temos hoje no Palácio praça em frente à nova sede e lugar de retorno às ideias originais da concep-
Tiradentes”, diz Pádua. passagem no agitado Centro do Rio, - ção do palácio.
Funcionário do Banerj por mais de num “estádio” de arquibancada lota- “Desde lá, já havia o intuito de se
20 anos, o advogado Jorge Santana da e enfeitado por bandeiras. edificar um lugar de memória do
visitou o prédio e quis saber o que foi Mais do que isso, essas partidas parlamento e da história nacional. A
feito dos antigos cofres. Os grandes transformaram a vida de quem parti- transformação em museu ressalta o
e pesados compartimentos de ferro cipou. “Fazer parte dessa obra, desse principal elemento que o parlamento
também foram reaproveitados, em campeonato, vai ficar marcado na mi- fluminense cultiva: um lugar de diálo-
uma nova função: armazenar equipa- nha memória”, emociona-se Thiago go, compartilhamento e de um mundo
mentos necessários ao funcionamento Barbosa. O time dele ganhou a segunda comum para a população”, opina.
de computadores e outras máquinas, edição do campeonato, o operário foi o
de cada pavimento. artilheiro e eleito o melhor jogador pela
“É interessante pensar que a sede do
banco do povo do Estado do Rio irá se
tornar a nova casa do povo do Rio de
Janeiro. Os trabalhos de reaproveita-
mento e a modernização do edifício
foram primorosos”, elogia Germínio
Ribeiro, presidente da Associação de
Funcionários do Antigo Banerj (Aba-
nerj), que também foi convidado para
realizar a visita.
Há 36 meses subindo e descendo os
34 andares do Alerjão, o ascensoris-
ta Pedro Carvalho organizou o “Bola
na Praça”, um campeonato de futebol
com várias edições e disputado pelos
operários. “Começou como uma brin-
cadeira e deu no que deu”, ele conta.
Antes da pandemia, que trouxe res-
trições de contato entre os operários,
eles se dividiam em times de três jo- AUDITÓRIO da nova sede poderá ser usado para audiências e seminários

DIÁLOGO 31
CULTURA
TEXTO TIAGO ATZEVEDO
FOTO BANCO DE IMAGEM

O
isolamento social fez a socieda-
de descobrir uma nova forma de
consumir arte: as lives de shows
se tornaram rotina.Um estudo
elaborado pela Conviva, uma platafor-
ma de monitoramento de streaming,
indica que o acesso a séries e filmes
on-line cresceu 20% desde o início da
pandemia. Por outro lado, o mercado
de trabalho para milhares de profis-
sionais do entretenimento ficou estag-
nado. Com o fechamento de teatros,
casas de shows e centros culturais,
cerca de 450 mil pessoas que traba-
lham no setor cultural no Estado do
Rio de Janeiro ficaram desemprega-
das, segundo dados do Apresenta Rio,
associação formada por empresas da
indústria do entretenimento.
Atenta à crise, a Assembleia Le-
gislativa do Estado do Rio de Janeiro
(Alerj) aprovou uma série de projetos
de lei que atendem aos profissionais do
setor cultural. Dois desses projetos são

PARA NÃO PERDER


de autoria do presidente da Casa, de-
putado André Ceciliano (PT). Segun-
do ele, o estado precisa garantir que
os produtores possam manter os fun-

O ESTADO DA ARTE
cionários até que os trabalhos voltem.
“Aprovamos um projeto para garan-
tir uma renda mínima a esses profis-
sionais. O estado vai receber R$ 104
milhões do governo federal para isso,
mas não tinha previsão orçamentá- Sem poder trabalhar desde o início Já o ator e produtor Marcos Moura,
ria no Fundo Estadual de Cultura que da pandemia, em março, a atriz e pro- fundador do Coletivo Ponte Cultural,
autorizasse esse pagamento aos artis- dutora Cristiane Sanctos faz parte da vê o retorno das atividades culturais
tas, por isso criamos a lei”, explicou o estatística do desemprego no setor. A um pouco mais distante. Marcos ex-
presidente da Alerj, se referindo à Lei atriz produz e dirige musicais infantis plica que os artistas estão se reinven-
8998/2020, sancionada em setembro. há quase 15 anos. Desde então, nun- tando para manter as produções, mas,
Outro projeto prevê a utilização de um ca ficou sem trabalhar e se preparava segundo ele, existem produções que
terço do Fundo Estadual de Cultura para duas novas temporadas em dife- não podem ser adaptadas. “De fato,
para a compra de ingressos antecipa- rentes teatros na capital fluminense. vamos precisar esperar uma vacina
dos de cinemas, teatros, shows. Segundo ela, o público de suas apre- para dar continuidade aos projetos,
Segundo o presidente da Comissão sentações chegava a 3.500 pessoas por principalmente, às peças de teatro,
de Cultura, deputado Eliomar Coelho mês. Hoje, Cristiane espera pelo retor- que exigem muito contato, aproxi-
(PSol), a Casa está levantando o im- no aos palcos. “Acredito que podemos mação. Não dá para colocar os artistas
pacto negativo da pandemia para os voltar antes da vacina, desde que se em risco. Ainda é muito grave, ainda
locais e trabalhadores da cultura. “Te- tome todos os cuidados necessários. não tem vacina”, afirma o produtor.
mos participado de inúmeros fóruns Aprendemos a viver na pandemia. Se O Coletivo Ponte Cultural, fundado
e conferências virtuais. Assim como já podemos andar nas ruas, ir ao mer- por Marcos, fica no bairro Apolo, na
estamos acompanhando a estrutu- cado e agora até bares e praias, por que divisa entre os municípios de Itaboraí
ração do Estado para a aplicação dos não podemos ir ao teatro? ”, questiona e São Gonçalo, e possui cerca de 200
recursos federais da Lei Aldir Blanc Cristiane. “A própria população já vive alunos, que aprendem gratuitamente
e cobrado os editais com recursos do um “novo normal”. O teatro também diferentes atividades artísticas. Du-
Fundo Estadual de Cultura”, afirmou pode voltar, com cautela e respeito à rante a pandemia o coletivo arrecada
o deputado. De acordo com Eliomar, vida”, destaca a atriz, afirmando que cestas básicas e material de limpeza e
a comissão tem conversado com a Se- sua produtora já estuda meios para higiene pessoal, que são distribuídos
cretaria de Estado de Cultura e Eco- proteger os profissionais e o público, para alunos e para a comunidade local.
nomia Criativa, para que os projetos já em caso de um possível retorno antes
sancionados possam ser executados. da vacina.

32 DIÁLOGO
TV ALERJ
TEXTO RAISA LACE
FOTO RAFAEL WALLACE

A
TV Alerj agora integra a Rede Le-
gislativa de TV e tem um novo ca-
nal: 10.2 da TV aberta. A mudan-
ça concretiza um projeto de mais
de uma década, que dará maior alcance
e visibilidade ao trabalho do Parlamen-
to fluminense. A alteração na sintonia
possibilita que a emissora esteja mais
bem posicionada, em área estratégica,
entre os canais que transmitem outras
de maior audiência. Para acessar a pro-
gramação local, o telespectador preci-
sará apenas clicar as teclas 10 – (traço)
2, no controle remoto.
A Rede Legislativa de TV é forma-
da por 66 emissoras, de 59 cidades do
país. Entre as vantagens está o acordo
de cooperação técnica entre as TVs das
câmaras e das assembleias legislativas,
permitindo, inclusive, o comparti-
lhamento da programação. A TV Alerj
transmite ao vivo as sessões plenárias,
audiências públicas, e também conta
com entrevistas, debates e programas
culturais produzidos por profissionais
da emissora.
“Ter um canal legislativo sen-
do transmitido em TV aberta era um
projeto que há 12 anos a Casa tentava
colocar em prática, e, na gestão do

EM NOVO
presidente da Alerj, André Ceciliano

canal
(PT), esse objetivo foi alcançado. Com
a transmissão em canal aberto, estare-
mos mais próximos da população, am-
pliando a divulgação e a transparência
do trabalho do Legislativo”, afirma Lu-
ciano Silva, diretor da TV Alerj.
As sessões e audiências da Alerj vêm
sendo realizadas através de videocon-
ferência, uma nova forma de interação
com a sociedade, permitindo a univer-
salização do acesso às programações.
Novas atrações estão sendo elaboradas,
ampliando a oferta de conteúdo. Entre
elas, “Na Estrada”, um programa que
vai falar das belezas e da cultura das período. Outra amostragem feita pelo dualmente de forma direta. Há que se
cidades para fomentar o turismo in- Datafolha recentemente para aferir o aproveitar a credibilidade inata da TV
terno. Também estão sendo fechadas grau de credibilidade dos vários meios para estabelecer vínculos efetivos e
parcerias com as Câmaras Municipais, noticiosos diante da pandemia da co- até afetivos com o telespectador, vi-
para levar o sinal aos 92 municípios do vid-19 apresentou ampla vantagem da sando não só a informar o que o ór-
estado. A programação também pode televisão sobre todos os outros meios de gão político faz em seu nome e para
ser assistida pelo canal do YouTube. comunicação. Essa pesquisa só reforça ele, como também alargar a presença
Durante o período de pandemia, a tese de que a TV ainda goza de ampla desse órgão na sociedade e incentivar
o isolamento social e o interesse em e consolidada credibilidade em nosso a necessária discussão política entre
notícias sobre o combate à covid-19 país. Nesse contexto, a divulgação das os cidadãos”, esclarece o pesquisador
fizeram crescer a audiência da TV sessões do Legislativo contribui para o Jaime Baron, doutor em Sociologia
Alerj. Pesquisa realizada pela Kantar fortalecimento da democracia. Política e professor da Universidade
Ibope Media revelou que a televisão “É dever de qualquer ente político Federal Fluminense (UFF).
se fortaleceu como fonte mais con- se comunicar com a sociedade como
fiável para consumir notícias nesse um todo e com os cidadãos indivi-

DIÁLOGO 33
FOTOCRÔNICA NAS ONDAS DA VIDA
OCTACILIO BARBOSA

A
s águas de Jurujuba, em Niterói,
carregam muitas história. Gente
que vive ali por gerações, famílias
inteiras construídas através da
pesca. Nas primeiras imagens captadas,
o intuito era retratar a labuta, o sustento
desses homens. Ao embarcar nesse uni-
verso, entendi como se dão as relações,
os costumes, a filosofia. É sobre pais
que ensinam aos filhos os valores do
mar, a disciplina do barco, o zelo pela
costura das redes, a prática do arrastão.
O documentário “Hereditário” - em
fase de produção - tem o intuito de
apresentar a beleza que vive nos ho-
mens, nos olhares desconfiados, nas
mãos surradas e pés descalços que ti-
ram do mar o aprendizado da vida.

34 DIÁLOGO
Mesmo em tempos de isolamento,
estamos bem perto de você:
na palma da sua mão.

+perto de vc_
mesmo agora que precisamos manter distância.
DIÁLOGO 35
Alerj. Conectando
o Rio de Janeiro
com o desenvolvimento.

Há 17 anos a Alerj promove o Fórum de Desenvolvimento do Estado do


Rio de Janeiro. Por conta da pandemia, o Fórum passou a realizar encontros
virtuais. Em pouco tempo, já foram realizados 59 encontros pela Internet,
com um total de 14.770 participantes conectados. A diversidade de ideias
e visões tem sido usada pela Alerj para ampliar a discussão e a busca
permanente pelo desenvolvimento econômico, social e ambiental do estado.
Compartilhe suas ideias com a gente. Boas ideias podem virar boas leis.
Saiba mais em querodiscutiromeuestado.rj.gov.br +perto de vc_
36
www.bit.ly/ForumAlerj
DIÁLOGO
| @forumdedesenvolvimentodorio | @forumdesenv | @forumdesenv | querodiscutiromeuestado.rj.gov.br

Você também pode gostar