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DOS
MUNICÍPIOS BRASILEIROS
PLANEJADA E ORIENTADA
por
COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVA
DE
SUPERVISOR DA EDIÇÃO
28 DE JANEIRO DE 1958
OBRA CONJUNTA DOS CONSELHOS
NACIONAL DE GEOGRAFIA E NACIONAL DE ESTATÍSTICA
Vice-Presidente
l'rof. MoACYR 1\IALIIEIROS 1'. IH SILVA
Secretário-Geral Secretário-Geral
VIRcfLIO CORRÊA FILHO HILDEBRANDO MARTINS
Secretário-Assistente
SYLVIO DE MIRANDA RIBEIRO
J~NCICLOPÉDIA
DOS
~~UNICÍPIOS BRASILEIROS
VI VOLUME
HIO DE JANEIRO
1958
~
PREFACIO
3
se amplia. Assim é aceleradamente que procura ampliar a rêde de usinas hidrelétricas
para impedir a !reagem na marcha crescente da industrialização do País.
Mas enquanto as obras meritórias que se estão realizando não oferecerem os
kw sôfregamente solicitados pelo Distrito Federal, as indústrias que aqui se fundam
têm essa limitação natural ao seu crescimento.
A transformação da cidade do Rio de Janeiro no Estado da Guanabara importa
em certas medidas de ordem política de extmordinária transcendência. É de notar-se,
em primeiro lugar, o problema da divisão do atual Distrito Federal em municípios.
Um estudo para a criação destas células do tecido municipal vem sendo preo-
cupação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de forma a procurar, tanto
quanto possível, a formação da unidade celu!ar, com independência de interêsses relacio-
nados à unidade do novo Estado federado.
Sem dúvida, partes dêste território são fàcilmente convertidas em municípios.
Podemos mesmo notar que o Distrito Federal se compõe de uma zona Sul bem diferenciada,
onde são nitidamente separadas as características do aglomerado humano de que se constitui:
um dêsses é Copacabana, se estendendo por Ipanema e talvez um pouco até o Leblon; o
outro, Glória, Santa Tereza, Botafogo, Laranjeiras e Gávea. A zona Central, propriamente
dita, pode dividir-se em duas partes, destacando-se a parte portuária, que vai até a zona in-
dustrial. A zona Norte da cidade tem caraterísticas diferentes também nas seguintes se-
leções: zona da Tijuca, se estendendo por Vila Isabel, Engenho Velho, Grajaú, para pe-
netrar até certa parte do Engenho Novo. A zona de São Cristóvão, se estende pela Avenida
Brasil, com características especiais de localização industrial. A zona da Leopoldina ofe-
rece características próprias, inclusive pelas suas linhas de escoamento. O subúrbio da
Central, tendo como centro o Méier, já de há muito tempo chamado a capital do subúrbio,
estende-se até Cascadura e desenvolve-se por Inhaúma. A zona pré-rural, que se inicia em
Madureira, segue até Deodoro, estendendo-se por Jacarepaguá. E, finalmente, a zona
rural, composta do chamado {(sertão carioca", é constituída pelo triângulo Campo Gran-
de, Guaratiba e Santa Cruz.
Os estudos realizados por Joel Carvalho de Paiva e Eurico Siqueira são muito
completos e apresentam várias hipóteses, cada uma delas com detalhes os mais con-
vincentes.
Qualquer que seja a solução, o que importa é a reestruturação do Estado da
Guanabara, em condições lógicas da melhoria de sua representação política.
Em verdade, a própria representação política do Distrito Federal sofre, em razão de
sua unificação atual, os defeitos do regionalismo que se sobrepõe ao interêsse geral do Dis-
trito Federal.
Na verdade, não havendo a representação regional e sendo ela uma necessidade
v
5
INTRODUÇÃO
PELO
A concentração da civilização brasileira teve, bastião, Parati, Angra, Mangaratiba, Itacurussá, Rio
exatamente na grande Região Leste, o ponto de con- de Janeiro, Cabo Frio, Vitória, Caravelas, Pôrto Se-
vergência dos principais :lnterêsses conjugados para guro e finalmente, a baía "de Todos os Santos, além
o progresso nacional. do Recôncavo que oferecia esplêndidas condições de
As condições geográficas não eram, contudo, de segurança a uma navegação a vela, tanto pelo abri-
molde a favorecer um surto rápido como que desa- go dos portos como pela constância dos ventos.
fiando o entusiasmo dos primeiros colonizadores. De O clima contudo não é dos mais favoráveis à
um lado a Serra do Mar barrava a penetração para intensidade produtiva da região, mas, sem dúvida, é
a hinterlândia brasileira; por outro, a costa sofria o suavizado pela brisa constante que a afaga. Assim
efeito das incursões dos flibusteiros. Os nativos, que se pode dizer que não nos devemos ufanar da terra
receberam com tanta simplicidade e até mesmo com brasileira que se formou em nação tendo os elemen-
certa simpatia as naus pDrtuguêsas, passaram logo tos adversos da natureza a lhe dificultar os passos
à agressividade em razão da brutalidade dos colo- nas caminhadas firmes do seu progresso, .mas nos
nizadores. devemos ufanar de nossa gente que marcou um grau
Das costas da Bahia até às praias paulistas, uma acentuado de cultura, vencendo os obstáculos que
continuada série de tentativas se fizeram no sentido o relêvo da costa criara aos pioneiros de nossa
da consolidação da nossa nacionalidade. O paredão civilização. E por isso nos devemos ufanar da tena-
da serra era, entretanto, ·uma muralha que deixava cidade heróica com que se criou um Brasil grande
e respeitado à custa do esfôrço ingente para vencer
o colono português entre o embate da pirataria dos
mares e a situação agress]va dos índios que se acas- as fôrças negativas que se antepunham à nossa evo-
telaram nas circunvizinhanças. lução econômica.
A Bahia representou a primeira fase da nossa A grande concentração econômica está real-
formação política, isto em razão principal da aber- mente na Região Leste. Minas Gerais representa o
tura que se apresentava para o interior pela via mag- suporte do Brasil do futuro em razão do enorme ma-
nífica do São Francisco nas investidas romantizadas nancial de jazidas de minérios e dos mais variados.
dos sertanistas baianos. J•or outro lado, o norte da Desde a reserva de hematita do bloco de Ita-
Região Leste encontrava mais facilidades de comu- bira e aquela que se aninha no vale do Paraopeba
nicações com as regiões nordestinas, abrindo um e do rio das Velhas, representando um potencial,
campo de florescimento · para o tipo de civilização estimado por alto, em mais de onze bilhões de to-
nascente. neladas, até os minérios preciosos e principalmente
Acontece que a vinda da capital para "a mui aquêles cujo valor se desenha na perspectiva da era
heróica cidade de São SelJastião do Rio de Janeiro" atômica e que estão localizados especialmente na
marcou uma nova fase na expressão política do li- região de São João dei Rei e de Araxá. Minas tem
toral leste. Ê:sse litoral apresentava condições favo- um potencial de riquezas minerais impressionante.
ráveis em relação à qualidade e abrigo de seus por- Essas reservas deram a Minas uma posição ím-
tos, como que pontilhando, em tôda essa extensão par na vida brasileira e estão transformando o gran-
de costas, ancoradouros ~:eguros. Ubatuba, São Se- de Estado Central, ontem caracterizado por sua eco-
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nomia à base da pecuária, numa vibração dinâmica tir nesta emergência o funcionamento, em plena
de sua instauração industrial. carga, da Ilha dos Pombos.
~ verdade que desde longo tempo Minas foi O problema da energia no Vale do Paraíba se
olhada como campo para o desenvolvimento das in- prendeu durante muito tempo à eletrificação da Es-
dústrias de base, e a obra gigantesca de Monlevade, trada de Ferro Central do Brasil. A princípio foi di-
transportando pelas águas do rio Doce o material ficultada a execução desta obra pelo antagonismo
pesado para a instalação de sua usina siderúrgica que se manifestava entre grupos de engenheiros na-
no ramal de Santa Bárbara, define, sem dúvida, as cionais ante o aproveitamento da energia oferecida
esperanças do Brasil em tôrno do florescimento in- pelas usinas existentes e sua apreensão quanto a
dustrial das Alterosas. construção de usinas novas para o reduzido poten-
cial necessário a alimentar as necessidades da es-
Acontece, todavia, que dificuldades de trans-
trada de ferro, espinha dorsal da economia brasi-
porte em razão exata das condições topográficas
a que nos referimos atrás, Monlevade, apesar de leira.
espMndido surto que representou e está represen- Recentemente o Conselho N acionai de Águas
tando na economia brasileira, ficou como que es- e Energia imaginou, entretanto, uma solução har-
trangulada pela capacidade de escoamento do ra- mônica no sentido do aproveitamento total dêste
mal de Santa Bárbara. ~sse trecho ferroviário, cons- disponível, afastando as divergências que se entre-
truído ao tempo do govêrno do Presidente 'Washing- chocavam, principalmente harmonizadas agora pelo
ton Luís, com a visão larga que o caracterizava, a grande represamento a montante do rio Paraíba, o
ponto de definfr que «governar era abrir estradas", que lhe regularizará a descarga a jusante e aumen-
contudo, em face das condições técnicas resultantes tará o rendimento das usinas já instaladas.
da execução econômica do seu traçado, não pôde su- O govêrno de São Paulo procedeu há tempos
prir as necessidades crescentes do desenvolvimento a estudos preciosos do Vale do Paraíba, e entre êles
siderúrgico que lhe deu a Usina da Belgo-Mineira. o estudo magnífico do engenheiro Caio Batista, que
Por outro lado, a construção da siderurgia de além do aproveitamento hidrelétrico da bacia, pre-
Aços Finos, no Vale do Rio Doce, mais difícil ainda viu a navegação do rio Paraíba, dando inclusive a
tornou o problema de escoamento da produção pe- Volta Redonda um escoamento fluvial do mais im-
sada mineira . Já no govêrno do Senhor Juscelino pressionante valor.
Kubitschek instalou-se, em Minas, a Companhia
Em complementação a êsse estudo, quando a
Manesmann, na cidade industrial planejada e ini-
Companhia Canadense, a Light and Power, solici-
ciada pelo governador Benedito Valadares. E Ma-
tava o endôsso do govêrno brasileiro para um em-
nesmann abriu um panorama novo para o parque
préstimo de oitenta milhões de dólares, houve na
industrial da capital mineira. Ademais, as condições
Câmara emenda ao projeto que o autorizava, exi-
especiais da terra de Tiradentes ofereceram campo
gindo-se que nas obras planejadas para o lança-
para certas tentativas de grande sentido e especial
mento das águas do Paraíba no Vale do Guandu,
interêsse para o desenvolvimento brasileiro.
fôsse previsto que a transposição não fôsse apenas
Para citar apenas uma, referimo-nos à indústria das águas mas que atingisse a navegação do Ribei-
do alumínio, cujos resultados embora não tenham rão das Lajes e vencesse por escadas de eclusas os
atingido a altura do sonho que a criou, contudo j{t desníveis de forma a poder atingir por um canal o
define uma tentativa de real mérito no panorama rio Iguaçu para atingir a Baía da Guanabara. Com
evolutivo da terra brasileira. isto se estabeleceria a navegação fluvial entre o Rio
Por outro lado, a Região Leste tem a maior con- de Janeiro e São Paulo ao lado do aproveitamento
centração energética. de todo o Brasil marcando-lhe do potencial energético para atender às duas ci-
no limite setentrional a obra de Paulo Afonso, esten- dades mais evoluídas na caminhada industrial do
dendo-se pela esplêndida hidrelétrica em execução Brasil.
de Três Marias, e todo o programa da CEMIG, in- Infelizmente não se realizou nem o programa
clusive a usina de Furnas com a capacidade plane- do engenheiro Caio Batista nem tiveram guarida no
jada para novecentos mil quilowatts. O Vale do Pa- Parlamento brasileiro as emendas referentes ao apro-
raíba, oferecendo um potencial energético de alto veitamento da navegabilidade como complementa-
valor, alimenta as indústrias da capital da Repú- ção das obras de Ribeirão das Lajes. Com isto a in-
blica, lançando suas águas no Ribeirão das Lajes dústria basilar do nosso parque siderúrgico, Volta
e acionando as turbinas da Ilha dos Pombos. Redonda, vive à custa de uma elevação dos preços
~ de notar-se que as obras planejadas no Pa- de sua produção mantida pelas barreiras alfande-
raíba complementando as usinas da Light pelo re- gárias que lhe garantem o mercado interno. Sem
presamento a montante no «Paredão" e no "Funil", dúvida, Volta Redonda representou e significa ain-
além de oferecer um potencial energético da or- da o grande passo dado para a transformação do
dem de um milhão de quilowatts, ainda oferece um Brasil num país industrial da envergadura que está
acréscimo na estiagem para descarga de Hibeirão assumindo, principalmente depois do programa obje-
das Lajes de ·30% aproximadamente, além de permi- tivo do atual govêrno.
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Mas Volta Redonda é responsável por uma par- cada pelo destino para ser um dia uma profunda
cela sensível no aumento do custo de vida no país, atração econômica no conjunto brasileiro, e o será
em conseqüência do fatallsmo da lei econômica de pelas suas condições excepcionais, tanto no valor
Ricardo que diz que "o custo final de utilidades magnífico das terras que banha, quanto no sentido
no mercado é definido pelo custo da produção mais de reserva futura para transporte e para energia.
alta". Todo o leito do rio Doce tem condições de na-
Volta Redonda, deslocada da matéria-prima, e vegabilidade com quotas de navegação na estiagem
sem condições de transporte econômico para o seu superiores a dois metros, salvo em dois ou três pon-
atendimento, marca um custo de produção mais ele- tos, como nas escadinhas de Aimorés, em Lageado,
vado, fixando os valores dos mercados. Para se ter em Cachoeira Escura. O mais são águas calmas e
uma pálida idéia do que s::gnifica Volta Redonda no profundas, mantendo pelo menos um canal de na-
acréscimo de custo da produção de base, basta di- vegação contínuo.
zer que a Belga-Mineira deu aos seus acionistas, em A dificuldade maior do aproveitamento do rio
razão da construção de Volta Redonda, três ações Doce, como notável escoamento do transporte pe-
para cada portador de uma delas a fim de reduzir sado de Itabira, reside nas dificuldades do pôrto de
a taxa aparente dos seus dividendos. Regência. É verdade que próximo à foz dêste rio
Assim, a navegação do Paraíba teria sido o re- encontramos um rosário de lagoas, desde a lagoa
médio capaz de reduzir o custo da matéria-prima e de J uparunã, à do Aguiar, a Comprida, a Dourada
o preço do deslocamento dos produtos manufatu- e a Montserrat. Esta última permitindo, pela me-
rados, para formar um parque industrial em con- lhor facilidade de sua barra, desviar-se o rio usando-
dições de menor atrito econômico. -a como bacia de evolução para o pôrto.
Estas referências, entretanto, não desmerecem É verdade que o assoreamento é sempre grande
o benéfico efeito que Volta Redonda tem causado em face de duas razões principais, a descarga sólida
à nação como o grande passo de nossa transforma- do rio Doce que se mantém elevada em razão dane-
ção econômica. nhuma defesa das margens dêsse grande rio e as
Mas se a grande Região Leste caminha na im- correntezas marítimas que fazem decantar essa des-
pressionante ascensão do progresso ela sofreu os carga acrescida do transporte de areias com que as-
mais tremendos embates para atingir a posição de soream a barra. O rio Doce, tem, entretanto, pos-
relêvo que oferece no concêrto da Federação. sibilidade de se encaminhar entre quebra-mares até
Entre os grandes empecilhos para o nosso de- a batimétrica de equilíbrio em obra cujo vulto é des-
senvolvimento vale notar- ;;e as condições sanitárias prezível em razão da extraordinária utilidade que
de nossa Costa que por tanto tempo foi um fator de- representará para a economia mineira.
pressivo na vida nacional. Estudos têm sido feitos neste rio, inclusive um
As endemias que as:;olavam a costa desde o pelo qual se imagina dar um pôrto de mar ao Es-
impaludismo violento que veio até alguns lustros tado de Minas Gerais, em Aimorés, transformando, o
atrás na Baixada Fluminense, a febre amarela, a trecho ·a jusante desta cidade até o mar, num ca-
peste bubônica e tantas outras, representaram foi- nal oceânico com uma quota molhada de 30 pés.
ces do Destino a ceifar 2. vida dos lutadores pelo Mas enquanto não se vence a dificuldade da
consolidar de nossa civilização. barra de Montserrat ou a do próprio rio Doce, é
A bravura dos homens encontrou também na de notar o valor que tem representado para o de-
sêde de cultura de nossos ~~ientistas o amparo neces- senvolvimento siderúrgico nacional a estrada de
sário à eliminação progresHiva até a extinção prática ferro que coleando o curso dêste rio leva os miné-
de tôdas as endemias que assolavam as costas rios de Itabirito ao pôrto de Vitória.
brasileiras. Já isso é motivo e de sobra para nos ufa- Do ponto de vista agrícola o Litoral Leste tem a
nar da gente brasileira, da dedicação de seus sábios cana-de-açúcar, o fumo e o cacau, além do côco, que
e da bravura de seus homens. "tomou o nome de côco-da-baía.
Nesta extensa costa hoje se desenrola uma nova Esplêndida expressão têm os canaviais de Cam-
perspectiva, numa velocidade de ascensão do pro- pos, logo ao sul da foz do Paraíba. Êsse rio vem
gresso nacional que se firma no petróleo do Recôn- sofrendo desfalques na sua descarga com as obras
cavo, na rêde esplêndida de energia elétrica do pa- de Ribeirão das Lajes, de tal forma que tem efeito
triótico programa do Pre:;idente Kubitschek, e na depressivo até na produção de energia elétrica na
siderurgia que hoje comeqa a se assentar nos pon- Ilha dos Pombos e decisivos para reduzir as condi-
tos racionais de sua implantação. É a Usina de Vi- ções de sua navegabilidade.
tória, é a Usina de Santa Catarina, estabelecendo O Paraíba, cujo vale representou em outras
um intercâmbio generoso entre o carvão e o ferro. épocas, isto é, já no período da nobreza brasileira,
É mesmo a nova Usina de Santos, que surge à base o desenvolvimento cafeeiro por excelência, tinha
do mercado de ferro velho, acrescido do minério para escoar as safras, os portos da região leste de
que lhe vem por mar do pôrto de Vitória. Parati, Angra e Ubatuba. Durante êsse período ês-
Sem dúvida, o Vale do Rio Doce, penetração ses portos apresentavam grande vitalidade como
mais racional para o interior do Norte, é a zona mar- centros comerciais para a exportação da lavoura ca-
9.
feeira. É verdade que quando do advento da es- gráficas muito menos indicativas está construindo
trada de ferro que ligou o Rio de Janeiro a São uma impressionante rêde de pistas livres defendidas
Paulo tôda esta rica produção do vale tão flores- por "trevos" para assegurar a continuidade de uma
cente se encaminhou diretamente para aquêles mer- circulação sem obstáculos. Outros grandes proble-
cados e êsses portos caíram na estagnação, como que mas afligem o Rio de Janeiro que vem crescendo
a se transformarem em cidades decadentes pela falta com uma rapidez maior que as melhores previsões
da seiva comercial que os alimentava. que se fizerem.
Enquanto definhava assim a parte sul do lito- Assim vem sofrendo deficiências no abasteci-
ral leste abriam-se novos surtos na parte seten- mento de água e até de energia.
trional do litoral oriental. O cacau da Bahia, em- Apesar de tudo é ainda o Rio o centro de atra-
bora atravessando crises cíclicas, passou a exprimir Ção de todo o País e até do continente sul-americano.
uma riqueza ponderável na economia Nacional. Mas a cidade do Rio de Janeiro sofre exatamen-
Contava-se a anedota de que Deus depois de suprir te o impacto de seu próprio crescimento .
todo o Brasil de suas riquezas naturais salpicou o Na aula inaugural dos cursos de engenharia
que lhe restava em solo baiano. Acontece que essa em 1946 apreciávamos aspectos fundamentais do
anedota perdeu o seu sentido pitoresco com as ocor- problema da qual destacamos os seguintes trechos:
rências do petróleo do Recôncavo. A Bahia emerge
agora para um destaque notável no panorama eco- "De todos os desperdícios das grandes cidades,
nômico da Nação. É verdade que concorre forte- o que maior efeito tem no encarecimento geral da
mente para o impulso progressista dessa terra a lar- vida é, sem dúvida, o do transporte.
ga rêde de distribuição da energia de Paulo Afonso. "No Rio de Janeiro temos 300 milhões de horas-
Assim a parte norte do Litoral Leste tem agora os -homens por ano desperdiçadas pelo excesso de tem-
elementos de base no salto sonhado para o desdo- po gasto nas deficiências de tráfego, afora, evidente-
bramento de sua riqueza. mente, quase outro tanto desperdiçados pela loca-
Mas se é deveras impressionante a vitalidade lização antieconômica das moradias.
que oferece essa região vale destacar na sua parte "Partindo do conceito de que a riqueza é "o tra-
meridional o surto que têm tido as terras banhadas balho humano que se converte em utilidades" vê-se,
pela Baía de Guanabara. com clareza, que se desperdiçam anualmente em es-
A cidade do Rio de Janeiro, conhecida como a fôrço inútil, e em números redondos a soma de
"Cidade Maravilhosa" pela sua beleza natural, debru- Cr$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e meio de cru-
ça-se na Baía de Guanabara onde se reflete a si- zeiros), ou 9 bilhões se computássemos a lamentável
lhueta elegante de sua orografia. Logo a lhe flan- disposição urbanística de nossa cidade com os des-
quear a barra temos o Pão de Açúcar completado locamentos enormes que acarreta.
pelo morro da Urca, definindo a característica pic- "Por outro lado, as condições do tráfego urbano
tórica da cidade . se agravam diàriamente. Se quisermos estimar o des-
Se por um lado a beleza do sítio advém dessa perdício de gasolina, resultante do estrangulamento
topografia, sofre a metrópole a angústia de seu do tráfego, veremos que somente, nesta parcela, e só
crescimento precisamente em razão dos aciden- no Rio, o gasto monta a mais de 1 bilhão de cruzei-
tes altimétricos de seu solo. Já por duas vêzes teve ros anuais.
que ~bdicar, de certos encantos ,de sua paisagem para "Mas é bom meditar que o encarecimento da
amphar as areas planas necessarias ao seu desenvol-
vida das cidades é o encarecimento geral da vida
vimento. Arrasou-se primeiro o Morro do Senado e
depois o histórico Morro do Castelo. no País, ou ainda o empobrecimento do nosso in-
Hoje se está executando a demolição do Morro terior.
de Santo Antônio que embora seja o menor dêles veio "De fato, a produção rural não é realizada por
resistindo há tantos anos. Suas obras estão bem adi- uma varinha de condão. Ela resulta do trabalho hu-
antadas embora seu desmonte venha sendo executa- mano que lavra a terra e que realiza as colheitas.
do num ritmo fraco. Sendo reahnente o menor dêles Mas êsse homem do campo gasta o que troca de sua
sua colocação, tão no centro da cidade dificulta ~ produção· por mercadorias manipuladas nas cidades.
tráfego que se faz contornando-o. ' Assim estas últimas estando encarecidas pelo des-
É de longa data que se trata de urbanizar essa perdício urbano, o lavrador cada vez tro~a por me-
área. Houve projeto de cortar o Morro numa cota nos utilidades o esfôrço do seu trabalho, embora,
p~~co mais elevada que a da planície citadina per- por vêzes, se embale na ilusão falsa de alta nominal
mitindo-se, com a abertura de avenidas no nível da nos preços de seus produtos.
planície e o~tras no do "plateau" conquistado, reali- "Mas se êsses desperdícios empobrecem a Na-
zar-se um trafego com cruzamentos em planos dife- ção, não é fácil eliminá-los pelo custo das desapro-
rentes para desafogar a circulação central que cada priações que acarretam. Em verdade, como resul-
~ia se to~~a mais difícil. S~m dúvida as pistas de tado da "lei da oferta e da procura" os terrenos,
free-way representam a unica solução para as nas grandes cidades, se valorizam extraordinària-
grandes cidades. Los Angeles com condições topo- mente pelas migrações . Como essa valorização se
lO
realiza sem trabalho, ela vai representar uma san- "Mas a concentração se realiza por fatôres eco-
gria no próprio trabalho, pelo encarecimento do nômicos advindos do progresso industrial.
custo da vida, gravando, ainda mais, a produção das "É verdade que concorre para isso a política
grandes metrópoles. Disso resulta outro fator de de crédito adotada em quase todos os países. Re-
valorização imobiliária. sulta de concepções financeiras divorciadas da sua
"Êsses altos valores dificultam profundamente base econômica. O fatalismo contemporâneo é que
as soluções. as grandes massas populares alargaram suas ambi-
"Paris que, há tantos anos, dispõe de magnífi- ções mais que o crescimento efetivo da produtivi-
co "Metrô", vem, agora, imaginando sua rêde sub- dade do trabalho. Assim vivem em permanentes
terrânea de linhas de circulação direta para auto- reivindicações que. obrigam os governos a lhes aten-
móveis. Não conseguiu, entretanto, realizá-la pela der os anseios. Como conseqüência evidente, levam
dificuldade da retirada dos gases expelidos pelos os países aos desequilíbrios orçamentários .
motores de explosão, cujos efeitos são tão nocivos à "Tem-se aí o germem da inflação. Mas a infla-
saúde. Los Angeles resolveu seu problema com a ção se agrava pela política de crédito que está em
construção de linhas elevadas em viadutos conjuga- moda adotar. Restringe-se o crédito para inversões
dos com túneis de forma a eliminar os cruzamentos e e amplia-se o crédito para bens de consumo.
oferecer escoamento direto do tráfego . O sistema "Em outras palavras, aumentam-se os meios de
de "metrô" para a solw(ãO do nosso problema será pagamento para bens de consumo em detrimento
apenas parcial, porque o tráfego de superfície cada daqueles destinados à produção .
vez se congestiona maü:. E Paris, cuja planta é in- "Para se ter bem uma idéia do efeito disso,
finitamente mais favor~~vel que a nossa, com suas basta notar que, em França, para um crescimento
avenidas radiais a facLitar o escoamento, está fi- de população de 3%, aumentou-se o número de co-
cando já asfixiada, servindo de séria advertência. merciantes de 56%.
"O próprio "metrô" que há muito já devería- "É que havendo uma preferência de crédito, ao
mos ter construído tem tido embaraços sérios pelo comércio, pela rapidez de suas operações - com-
custo elevado resultante da natureza de nosso sub- prar para vender mais caro - as atividades para lá
s9lo e pelas desapropria.ções vultosas de seus traça- se encaminham, preferencialmente, e retiram, da
dos. produção, esfôrço de trabalho para introduzir um
"Somos daqueles que vêem na solução de Los suplemento de atrito econômico, no circuito das uti-
Angeles a indicação para o caso do Rio. O Rio de lidades, com o novo intermediário que surge.
Janeiro é composto por uma série de vales estreitos "Mas se agrava ainda o custo da vida pelos gas-
abertos nos rincões de suas montanhas graníticas. tos em propaganda necessários a expansão do con-
A solução racional é vencer os vales por viadutos e sumo. Hoje as emprêsas americanas gastam 40%
varar as montanhas por túneis com linhas diretas de de suas receitas na propaganda dos produtos que
circulação . vendem.
"Para que essa circulação não sofra congestio- "Há pois no fenômeno das concentrações ur-
namento é fundamental que a entrada e saída de banas um complexo de fatôres de encarecimento da
veículos se realize por via de "trevos" em cada vale. vida. Recapitulando, temos:
"Há ainda a considerar a saída e a entrada de
uma cidade. 1. 0 - A mais-valia imobiliária.
2. 0 - Os desperdícios de tempo na locomoção.
"O Rio, por exemplo, tentou a sua saída pela
3. 0 Os desperdícios de energia no engarra-
magnífica Avenida Brm:il. Em pouco ela ficou con-
famento do tráfego.
gestionada e já agora o seu tráfego é moroso.
4. 0 Os atritos econômicos na distribuição
"É de notar que só depois que se penetra na das utilidades.
Estrada Presidente Duira é que a via é fechada e 5. 0 O crescimento do custo dos serviços mu-
defendida por trevos . nicipais.
É evidente que urge, do ponto de vista eco-
. 6.0 A atração econômica das indústrias para
nômico, se planejar um :.t nova saída, a qual poderá os grandes centros, afastando-as das ma-
ser em elevado sôbre a~: linhas da Central. térias-primas ou das fontes de energia.
"Se, em verdade, as obras necessárias a corri-
gir as doenças de nosso crescimento urbano podem . "Mas não cabe ficar, diante dêsse espetáculo
ir a somas avultadas, su.periores até ao que estamos fatal, como Mário a chorar ante as ruínas de Car-
habituados a imaginar, elas serão ràpidamente com- tago.
pensadas pelo aumente' da capacidade produtiva "Se não é de fato possível eliminar êsses fatô-
que adquire com elas L metrópole. res, podem êles ser reduzidos ao mínimo.
"Como já nos referimos, urbanistas modernos, "A mais-valia imobiliária foi examinada na
principalmente europeus, vêm se batendo pela des- constituição de 46 com a limitação de direito de
centralização urbana, ;onhando com a volta dos propriedade pelo interêsse social e a contribuição de
aldeamentos disseminados. melhoria. Os desperdícios de tempo na locomoção
li
podem-se minorar com a criação dos "Urbistérios" são fôrças atrativas para chamar as indústrias a se
que, pela sua feição de hotel popular, permitem as instalarem nas zonas racionais de produção. Belo
variações de moradia de forma a tê-la sempre o mais Horizonte, por exemplo, chamou e reteve um parque
próximo possível dos lugares de trabalho. industrial de valor, oferecendo, na sua cidade indus-
"Os desperdícios de energia, pelos engarrafa- trial, os elementos necessários a essa implantação.
mentos de tráfego, podem ser superados com as vias "Mas de tudo o que apreciamos o que é fun-
de circulação direta e sem cruzamentos. damental frisar é que as cidades têm um papel emi-
"Os atritos econômicos na distribuição das uti- nente na vida econômica dos povos.
lidades podem ser minorados com a seletividade do "Não nos quedemos ao apreciá-las no empol-
crédito, encaminhando-o, preferencialmente, para a gamento estético de sua contemplação, mas reconhe-
produção, de forma a não incentivar tanto a con- çamos sua preponderância no circuito da riqueza
corrência comercial que se desdobra na batalha da nacional.
propaganda. "O entrelaçamento dos interêsses citadinos e
"O custo dos serviços municipais podem ser re- rurais, compondo-se na harmonia da produção e do
duzidos quando se diminua a extensão atendida, consumo, orquestram a sinfonia dos povos mo-
com centralizações parciais, na forma das "aldeias- dernos.
-células". É verdade que já isso tentamos realizar "É o trabalho a fonte universal da riqueza e o
como, por exemplo, em Padre Miguel, embora não rendimento do esfôrço humano o ideal hedonista da
sirva de modêlo, pelo seu lamentável deslocamento, felicidade .
em relação à atividade de seus habitantes. "Sonho genético que embala os homens na do-
"Uma atração econômica de indústrias se com- çura farta do paraíso terrestre ou drama trágico da
põe com outras fôrças de atração . As construções história na escravização humana.
de usinas hidrelétricas no interior, próximo às re- "E, da realidade ao sonho, é o ideal da liberdade
servas de matéria-prima, instalações que melhorem que impele a civilização para alforria econômica
o "habitat'', e co;ndições econômicas de transporte dos povos."
1.2
Índice Geral
Pág.
Prefácio 3
Introdução ......... o o o o o o o o o o. o o o o. o o o o o o o. o o o o o o o o o o 7
Características Gerais o o • o o o o o o o o o o o o o • o o o • o o o o o o o o o o o o o 15
O Litoral e a Baixada o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o 34
24 602
,
Indice dos Mapas
ESTADO DA BAHIA
SÃO PAULO
Organizado por:
MARIA RITA DA SILVA GuiMARÃEs
Chefe interina da Seção Regional Leste do Conselho
Nacional de Geografia
Autores dos textos:
15
desta Região, nos moldes em que é conceituada subsídio para estudos de interpretação no campo e
atualmente, ainda suscita muitas dúvidas e debates. no gabinete. Se isto é válido para estudos mais ou
Em sã consciência, nenhum geógrafo pode afirmar menos gerais, o que dizer quando se deseja inter-
com segurança qual seria o mais acertado: Região pretar fatos que requerem representação de detalhe!
Leste ou Região Sudeste. Sôbre isso voltaremos a Pesquisas sôbre formas de povoamento, habitat
falar neste trabalho. rural, uso da terra, etc. não ultrapassam a fase das
A situação atual das pesquisas geográficas na especulações subjetivas já que se torna impossível a
Região Leste tem sua explicação . Primeiro, é -re- sistematização de tais estudos sem a base cartográ-
cente a idéia de estudos regionais no Brasil e fica própria: mapas bem pormenorizados em escalas
somente de dez anos para cá êles vêm sendo reali- de 1:5.000 a 1:20.000.
zados sistemàticamente no Conselho N acionai de Em outros campos são consideráveis também
Geografia, no Departamento de Geografia da Uni- as deficiências. Os estudos de clima, por exemplo,
versidade do Brasil e de São Paulo, na Associação se ressentem de uma densa e bem distribuída rêde
dos Geógrafos Brasileiros e isoladamente por alguns de postos de observações meteorológicas. Os pos-
outros geógrafos e professôres de Geografia em Belo tos estão em geral localizados nas cidades o que
Horizonte, Recife, Salvador, Curitiba, Florianó- obviamente nem sempre é o lugar acertado, além de
polis, etc. não permitir o conhecimento exato de certos pontos
Um segundo óbice diz respeito à dificuldade essenciais, tais como os altos dos chapadões, as super-
de se estudar áreas relativamente extensas, por falta fícies mais elevadas do Espinhaço, etc . Além de
de vias de comunicação. Na.maioria das vêzes, a pouco numerosas, as estações em aprêço acham-se
existência de uma única estrada permite apenas um em grande parte nas áreas relativas ao Rio de Ja-
corte através de vasta região, o que redunda obvia- neiro, sul de Minas Gerais . Em certas regiões da
mente em generalizações, erros e omissões. Muitas Bahia e no Espírito Santo, onde, além da falta de
dessas estradas são absolutamente intransitáveis, du- estações meteorológicas, são extremamente defi-
rante grande parte do ano, tornando quase impossível cientes as cartas topográficas, as interpretações se
ao geógrafo a observação sistemática no tempo e no tornam difíceis, já que a possibilidade de contrôle
espaço das várias facêtas que caracterizam tais baseada nas formas de relêvo são impossíveis .
paisagens geográficas. Nestas regiões os limites climáticos são assim pràti-
O mais sério dos obstáculos é porém a inexis- camente hipotéticos.
tência de cartas geográficas de apreciável exatidão. Para concluir tais observações é desnecessário
Excetuando as fôlhas da Carta de Minas Gerais em acrescentar as deficiências relativas ao conhecimento
1: 100. 000 e que abrangem área relativamente pe- dos fatos de geografia humana e econômica. Neste
quena da Grande Região, tudo o mais que existe, particular são muitas as generalizações e infor-
seja pela escala, demasiadamente pequena, seja pela mações antiquadas que vêm se perpetuando de tra-
pouca exatidão cartográfica, não representa valoroso balho a trabalho.
II - CONCEITUAÇÃO E CARACTERtSTICAS
Como resultado da pouca precisão do conheci- onde estariam incluídos o estado de São Paulo e o
mento do território brasileiro em profundidade e norte do Paraná?
detalhe, se nos depara ainda um problema. Na con- O assunto requer estudos já que é controver-
ceituação das grandes regiões geográficas do país, o tido. O próprio critério que serviu de base à divisão
que seria: mais verdadeiro face aos princípios para atual teria que ser revisto, relegando-se a plano
determinação das regiões naturais? Uma região inferior certos fatos como os fundamentos geológicos,
Leste como é concebida agora ou uma região Sudeste por exemplo. Aqui vamos nos limitar a conceituar
16
e delimitar a Grande Regiiio Leste como é enten- o geógrafo a considerar que se trata de outra região,
dida e aceita oficialmente. diferente das paisagens que se apresentam ao sul.
Para fins utilitários, a Grande Região Leste A delimitação com o Centro-Oeste não é menos
compreende os estados da Bahia, Minas Gerais, Es- problemática. Diferenças climáticas não podem ser
pírito Santo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal. determinadas já que logo após o Espinhaço domina
Se considerarmos, porém, o~; fatos geográficos que a o tipo de clima quente com duas estações bem mar-
definem, ela não atinge -o Recôncavo Baiano ao cadas (inverno sêco e verão chuvoso) . Os aspectos
norte, o vale do São Francisco é o seu limite a oeste mais característicos da Região Centro-Oeste são da-
enquanto o rio Paraíba do Sul marca os limites dos pelo relêvo plano e medianamente elevado -
meridionais. Acha-se, as:;im, enquadrada pelos os chapadões - e a vegetação de cerrados e campos,
meridianos de 39° e 47° Vv. Gr. e os paralelos de êstes nas superfícies mais altas . Os cerrados do-
13° e 23° S. minam no próprio Espinhaço e para oeste e norte
Os limites geográficos acima mencionados não de Belo Horizonte vão constituir formações vegetais
são precisos . A dificuldade de delimitação exata cada vez mais típicas. Da mesma forma, extensas
resulta do fato de ser a Região Leste uma região de áreas de chapadões se situam entre as encostas
transição. Via de regra, êlE s têm sido determinados do Espinhaço e o São Francisco, constituindo
pela exclusão das áreas qu3 apresentem afinidades grandes testemunhos do arenito cretáceo que vai
com as Regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste. A dominar inteiramente na margem esquerda do vale.
passagem entre uma e outr~. paisagem é muito lenta Abstraindo certos detalhes, a grande superfície de
na maioria das vêzes já que a Região Leste é o resul- Moravânia está identificada com a paisagem do
tado de uma diversidade em relação às demais Centro-Oeste já que a horizontalidade da topografia
regiões, sendo raros os casos onde se verificam con- e a vegetação de cerrados são aí dominantes.
trastes bem definidos. Toma-se então evidente a Os exemplos apreciados refletem os dois fatos
imprecisão dos limites da Grande Região . já especificados:
Em relação ao Nordeste o fenômeno é bem 1.0 ) que os limites não podem ser preci-
expressivo. O contacto com o Sertão semi-árido não sados e
é difícil de determinar. Considerando como caracte- 2.0) que a delimitação entre a Região Leste
rísticos daquela região o reg:lme irregular das chuvas, e as outras Regiões se faz pela caracterização das
a vegetação xerófita (caatinga), os rios periódicos, demais. Pode-se dizer, então, que a Grande Região
a intensa desagregação da~: rochas e perfis de en- Leste se constitui de terras que não são Nordeste,
costa, típicos de climas semi-áridos, além de certos nem Centro-Oeste, tampouco Região Sul. A conclu-
aspectos da ocupação humana, a generalização na são óbvia seria a ausência de fatos geográficos co-
criação de muares e caprinJs, certas associações de muns, a não ser a sua posição, colocando-a na área
culturas, as formas abertas das cidades e vilas em de transição entre as três regiões já aludidas.
quadrado, os tipos de feiras, é possível marcar onde Se tais considerações valem para a análise de
começam a ser mais ou m:mos generalizados cada conjunto da chamada Grande Região Leste, isto é,
um dêsses fatos e assim tei um limite embora nem a falta de características próprias que a definam, o
sempre preciso. Tomando por base tais ocorrências, mesmo não acontece quando a observamos como a
o limite mais meridional do Nordeste com o Leste soma de regiões bem definidas. Chega-se então a
tem como pontos de referência o norte do município uma segunda conclusão: a Grande Região Leste
de Urandi e o rio São Francisco, nas proximidades não existe como uma unidade integral pois que ela
de Carinhanha . Os limites na direção da Zona lito- resulta de um conjunto de regiões naturais distintas
rânea já se acham bem ao norte, provàvelmente cujo único traço comum é a contigüidade, com tôdas
entre Ilhéus e Camamu, po:rém, é difícil estabelecer as suas conseqüências lógicas. O desenvolvimento
critérios para determiná-los. Trata-se, antes de dêste capítulo vai objetivar a apreciação de tais
tudo, de feições e fenômenos subjetivos que levam fatos já que analisada a Grande Região, sob qualquer
17
dos fatôres geográficos, fatalmente se chega à deter- áreas mais acidentadas desta grande região geo-
minação dessas regiões naturais. gráfica.
"Muitos geógrafos nacionais procuram definir Formações sedimentares recentes dão a nota
o Leste como a região das montanhas . Trata-se característica à quase totalidade da região lito-
naturalmente de uma generalização que, entretanto, rânea. Baixadas quaternárias de sedimentos flúvio-
permite uma primeira idéia do tipo de paisagem -marinhos se estendem na desembocadura dos gran-
dominante. Realmente, nesta região, encontram-se, des rios, com vários níveis de terraços . Na parte
ao lado das formas de relêvo mais movimentado do sul da região, elas são pouco desenvolvidas pelas
território brasileiro, as maiores altitudes médias e razões que mostraremos depois. Fazem exceção a
absolutas. Estas altitudes podem sofrer grandes Baixada dos Campos dos Goitacazes formada pelo
variações em poucos quilômetros tão freqüentemente rio Paraíba do Sul e a Baixada Fluminense de ori-
quanto são comuns os grandes desnivelamentos no gem mais complexa. O terciário constitui a for-
sentido leste-oeste. Do ponto de vista morfológico, mação de tabuleiros (série Barreiras) que, de ma-
tais desnivelamentos já teriam bastantes particulari- neira geral, acompanha a direção da costa, desde o
dades, para formarem unidades geográficas diferen- Maranhão até o norte do estado do Rio de Janeiro.
ciadas. As conseqüências que êles acarretam, De baixa altitude, raramente atingindo 100 metros,
quanto às modificações nos tipos de clima, na vege- os tabuleiros são interrompidos apenas pelos rios que
tação, solos, regime e perfil dos rios, formas de descem do planalto. Em alguns trechos, êles
ocupação humana, etc. aumentam-lhe a expressão, formam muralhas muito regulares isolando baixadas
permitindo mesmo a identificação de regiões dis- interiores e forman,do falésias no litoral. Para o sul
tintas, formando faixas de sentido norte-sul. Nem de Guarapari, os tabuleiros estão bastante disse-
tôdas estas faixas são realmente montanhosas, fato cados e descontínuos, formando baixos níveis ondu-
que, entretanto, não diminui a expressão do fator lados, pouco acima da zona de praia. Para o norte
"relêvo" na caracterização desta mais que complexa daquela cidade e principalmente depois de Vitória,
Grande Região Leste". ':t apresentam notável regularidade, formando relêvo
Com o objetivo de apresentar a influência de muito plano o que de certa forma orientou ou favo-
cada um dos fatôres geográficos e sua contribuição receu a construção da estrada de rodagem para o
na paisagem da Região Leste vamos analisá-los des- norte do estado do Espírito Santo. Para o interior,
tacando sempre a importância de cada um na deter- em contacto com os tabuleiros, aparecem as rochas
minação das regiões naturais já mencionadas . arqueanas, formando talvez a menos nítida das
Os aspectos do relêvo brasileiro apresentam na faixas morfológicas. Neste particular, deve-se
Grande Região Leste o máximo de sua complexi- acentuar que, em certos trechos do litoral, a passa-
dade. As interpretações de suas diferentes formas gem dos tabuleiros para a área do cristalino é
têm levado os especialistas a Ia.nçarem mão das mais insensível.
diversas hipóteses de trabalho dai por que não é ta- Algun1as vêzes o embasamento cristalino aflora
refa muito fácil analisar tais aspectos. nas áreas litorâneas, ora formando maciços isolados,
A constituição geológica é ai das mais diversifi- ora constituindo grandes áreas contínuas do escudo.
cadas, mas as diferentes formações se sucedem em Neste último caso, elas representam verdadeiras
faixas paralelas no sentido norte-sul, fato que vai cunhas nas zonas sedimentares, podendo mesmo
ter grande influência na disposição do relêvo, com isolar baixadas e tabuleiros. Isto acontece no sul
escarpas de planalto orientadas geralmente na di-
da Bahia, onde o cristalino emergiu das formações
reção N.E.-S.W. As rochas do complexo brasileiro,
terciárias, pela intensa erosão da rêde hidrográfica
isto é, dos períodos arqueano e algonquiano, do-
local. O mesmo fato é observado no norte do Es-
minam em extensão, além de se constituírem nas
pírito Santo, entre Vitória e Linhares, e sempre tais
• Ney Strauch - Guia de Excursão à zona metalúrgica de ocorrências de rochas do embasamento cristalino na
Minas Gerais e Vale do ·Rio Doce, União Geográfica Internacional,
Comitê Nacional do Brasil, 1956. faLx:a dos tabuleiros dão origem a ilhas de maior
I li
densidade de população e maior grau de intensidade cessão de degraus pràticamente desaparece, e, em
das atividades agrícolas. Por sua vez, o tectonismo contraste com o trecho meridional da faixa arqueana,
explica, pelo menos parcialmente, a existência dos a encosta perde o caráter de escarpa. Um relêvo
maciços litorâneos isolados e até mesmo os ramos bastante dissecado, de formas pesadas, sem uma
serranos que do interior atingem o litoral, como no orientação nítida - uma topografia de morros -
sul do Espírito Santo, a chamada Cadeia Frontal. passa a dominar entre as superfícies mais altas do
O arqueano tem sua maior expressão a oeste planalto e as baixadas .
da região do Litoral e Baixada. Rochas do com- As escarpas da Serra do Mar, Mantiqueira, Es-
plexo cristalino, principalmente granitos e gnaisses, pinhaço e Chapada Diamantina fazem parte da
formam degraus sucessivos com altitudes conside- unidade tectônica que Ruy Ozório de Freitas chama
ráveis, de maior ou menor nitidez, conforme a inten- de Planalto Atlântico. Neste particular deve-se
sidade da ação dos agentes de erosão. Ruy Ozório frisar que as Serras do Espinhaço e a Chapada Dia-
de Freitas, em artigo intitulado "Ensaio sôbre o mantina vão ser tratadas na região do planalto
relêvo tectônico do Brasil" ( Revista Brasileira de Algonquiano, que se estende pelos estados de Minas
Geografia, Ano XIII, n. 0 2; fornece uma visão ge-
1
, Gerais e Bahia. Estas formações proterozóicas
nérica para a compreensão dos arqueamentos crus- assentam sôbre parte do embasamento cristalino,
tais que condicionam o aparecimento de planaltos dispostos em camadas sucessivas e acham-se, em
tectônicos e de bacias. Além dessas duas grandes geral, fortemente perturbadas pelo tectonismo e
unidades geotectônicas do escudo brasileiro, dis- pela intensa erosão diferencial, uma vez que as séries
tingue o referido autor deformações de fundo Minas, ltacolomi e Lavras apresentam rochas de
epirogênico, menores e modernas, as quais são re- durezas diferentes . Desta maneira, a grande faixa
presentadas pelas muralhas •. fossas e vales de afun- de algonquiano se apresenta com as mais variadas
dimento. formas de relêvo e o Espinhaço, denominação geral
Na porção sul da Região Leste, as rochas ar- destas formações, mostra relevos ondulados ou quase
queanas constituem uma escarpa abrupta, sendo planos, ao lado de cristas monoclinais e alinhamentos
mais suavemente inclinada a encosta voltada para denteados.
o interior. Esta unidade morfológica que corres- Para oeste, ultrapassadas as altas superfícies do
ponde ao primeiro degrau do Planalto, denominada Planalto, surge a depressão do vale do São Francisco,
Serra do Mar, representa uma espetacular frente de cuja rêde hidrográfica expôs as camadas do sinclinal
falha em alguns trechos já bastante dissecada, en- siluriano, em virtude do desgaste do capeamento
quanto em outros mostra pouca influência dos cretáceo. Ruy Ozório de Freitas considera o vale
agentes da erosão. Ainda nesta porção sul da Re- do São Francisco como sendo de afundimento,
gião Leste, é bastante nítido um segundo degrau, a dentro do planalto tectônico do Atlântico.
Serra da Mantiqueira, que, no seu trecho setentrional Nas considerações tectônicas a propósito da
foi profundamente dissecada por alguns afluentes do Grande Região Leste, distingue ainda aquêle autor
Paraíba. os vales de afundimento do Paraíba, Campo Grande
À proporção que se caminha para o norte, o
- Guanabara Rio Bonito, Campos - Abrolhos -
rebôrdo do planalto vai perdendo o caráter de ver- Recôncavo; as fossas de São Sebastião, Itaboraí,
dadeiro paredão; apresenta-se mais rebaixado e até Campos; as bacias do Fonseca e da Gandarela, além
mesmo a uniformidade do relêvo desaparece. Ser- de várias muralhas.
ras isoladas e pontões são as formas topográficas Sintetizando os traços gerais. da geologia e re-
que realçam na paisagem. Por tôda parte nota-se lêvo da Grande Região Leste, pode-se falar na exis-
a importância de uma rêde hidrográfica mais pode- tência de verdadeiras faixas paralelas orientadas na
rosa que, descendo do planalto, vem dissecando direção norte-sul, formando unidades distintas:
profundamente o rebôrdo Clriental, a partir do vale Litoral e Baixada, Encosta do Planalto, Planalto e
do rio Doce para o norte. Em conseqüência a su- finalmente a Depressão Sanfranciscana. Estas uni-
19
dades morfológicas sofrem pequena variação no sen- dos planaltos e chapadões interiores, neste trecho
tido dos meridianos, no entanto, num corte leste- leste do território brasileiro .
-oeste, demonstram diferentes e contrastantes formas O principal aspecto que diferencia os dois
de relêvo e estruturas geológicas . regimes, de um lado, os climas quentes que do-
Considerando a influência dos desnivelamentos minam na baixada litorânea e que penetram nos
que ocorrem no sentido leste-oeste, para outros fa- vales principais até uma cota que oscila entre 200
tôres geográficos, deve-se destacar os tipos de clima a 500-600 metros, em média, e de outro, o clima
que êles condicionam. Realmente, o relêvo atua tropical de altitude, são as temperaturas mais baixas
não apenas localmente, na distribuição das chuvas e registradas nessas regiões mais altas. Essa diferen-
.variações das médias de temperatura, mas ainda ciação é sobretudo mais nítida nos meses de inverno,
como um fator geral, influindo diretamente na pois no clima mesotérmico (neste caso, tropical de
maior ou menor exposição dessa parte do território altitude), as temperaturas médias são inferiores a
brasileiro aos ventos úmidos de leste . Assim, as 18°C no mês mais frio. Nas regiões situadas mais
variações de nível, do litoral para o interior, explicam para o sul, a passagem do clima quente para o
a acentuação da estação sêca para o interior, em mesotérmico se faz, segundo um gradiente mais
baixo, algumas vêzes mesmo, inferior à cota de 300
razão das sucessivas descompressões a que é subme-
metros. À medida que se avança para o norte e
tido o ar vindo de leste, através das serras que for-
que as temperaturas médias anuais já são mais ele-
mam barragens de considerável altitude.
vadas, em razão dêsse mesmo deslocamento, no sen-
Esquemàticamente, então, podemos divisar,
tido das latitudes, a isoterma de l8°C, no mês mais
num mapa climático, a existência de faixas com tipos frio, pode acompanhar a cota de 500 ou mesmo 600
de climas definidos, justapondo-se às principais metros . É o que se pode notar em certos trechos
unidades morfológicas: tipos Af e Am dominando no vale do São Francisco (vide no mapa anexo,
nas regiões do Litoral e Encosta, tipos Aw e Cw no limite do clima A e C ) .
planalto . Para :J:!l:elhor entendimento dos tipos de
Se é grande a influência do relêvo na variação
clima em dominância nesta Região e suas caracterís- das temperaturas, não é menor a que êle exerce
ticas, traremos a contribuição de uma síntese elabo- sôbre a distribuição dos totais pluviométricos. E,
rada por Ruth M. Almeida Simões para êste neste particular, deverá ser levado em conta, pri-
trabalho. meiro, o papel das serras, como fatôres de conden-
"A Região Leste apresenta, quanto ao clima, sação de umidade e contribuindo, desta forma, para
uma grande variedade de aspectos, os quais levam a a formação de chuvas, mais abundantes e freqüentes
uma caracterização de tipos e regimes, por vêzes bem ( çhuvas de relêvo) . Em segundo lugar está a dis-
diferenciados, quando se considera a região no seu posição dos alinhamentos de serras próximas do
conjunto. litoral, barrando os ventos úmidos que vêm do mar,
e, portanto, haverá sempre uma faixa de maiores
Estando a região integrada, na sua quase tota-
chuvas acompanhando a encosta da serra, quer no
lidade, na zona tropical, nela se registra, no entanto,
a transição dos climas quentes para o clima mesotér- estado do Rio de Janeiro, quer no Espírito Santo.
mico, ocasionada pela ocorrência de condições É nesses trechos em que ocorrem as chuvas de
climáticas diferentes nas regiões de maior altitude. relêvo, tanto no planalto, como na encosta da serra,
Êste clima mesotérmico, em. função da altitude, que se registram os maiores totais anuais de chuvas
constitui o que se convencionou chamar, numa ex- - ( 2 000 a 2 500 mm anuais) . Entre as zonas mais
pressão mtúto apropriada, o clima tropical de alti- chuvosas, inclui-se, todavia, o litoral baiano (trecho
tude. Êle evidencia a importância que assume o compreendido na Grande Região Leste), onde, inde-
relêvo, representado em suas linhas gerais pelos pendente da presença da serra, próximo ao mar, as
grandes alinhamentos de serras (serras do Mar, da chuvas atingem em determinados trechos mais de
Mantiqueira e do Espinhaço) e os mais altos níveis 2 000 mm anuais.
3.0
As zonas menos chuvosas são assinaladas na Para o litoral, e, sobretudo, à medida que se
transição para a Grande Região Nordeste, quando avança para o sul, a estação sêca referida é ate-
começam a se esboçar os primeiros indícios da ten- nuada. As "frentes", que se formam com os avanços
dência para a semi-aridez. São elas o vale médio de massas frias vindas do sul, produzem chuvas
do São Francisco e trechos do planalto, no norte de também no outono e inverno. É contudo bastante
Minas e sul da Bahia. sensível ainda a predominância das chuvas na pri-
A pluviosidade varia, então, entre 1 200 -~ mavera e verão. As temperaturas médias anuais
800 mm anuais. mostram-se, por sua vez, ligeiramente mais baixas,
devido à ação moderadora que exerce o oceano
Além dessas regiões, t1mbém o baixo vale do
sôbre o regime térmico das regiões litorâneas ou
rio Doce registra precipitaçéJes entre 800 e 1 250 mm
próximas do mar.
anuais.
Embora haja condições atenuadas, corno se
Decorrente ainda da sua situação tropical, pre-
procurou explicar, também essas regiões são incluí-
ponderam na Região Leste as chuvas de regime tro-
das no clima Aw, pois a pluviosidade é sempre
pical no qual se nota uma estação sêca regularmente
inferior a 60 mrn no mês mais sêco . Êste foi o limite
marcada. Há um período chuvoso, de outubro a
estabelecido por Koppen para diferençar o clima
março, e outro, de precipita,;ões bem mais reduzidas,
Aw dos outros climas quentes, porém mais úmidos
no semestre de outono-inverno.
(Af), pràticamente sem estação sêca.
O fato relaciona-se com a grande circulação
As chuvas "frontais" também ocorrem na en-
atmosférica do continente sul-americano. A partir
costa das serras ou mesmo nas regiões que se seguem
de outubro, a Massa Equatorial-Continental, avan- imediatamente ao rebôrdo das mesmas, quer da serra
~----çando progressivamente para o sul, provoca um in-
do Mar, quer da Mantiqueira. Todavia, o regime
tenso aquecimento na parte central do continente, das chuvas de verão estende-se de maneira mais ou
daí resultando condições de instabilidade atmosfé- menos generalizada, a quase tôda a área subtropical
rica, formação de chuvas :;.bundantes e freqüentes, da região leste, salvo os trechos mais altos das regiões
muitas vêzes acompanhadas de trovoadas, nesse serranas - Serra do Mar em Petrópolis, Teresópolis,
período de outubro a março. Daí em diante passa etc., alto da Bocaina (no limite com a Grande Re-
a predominar na região o ar sêco e estável das gião Sul), região de Campos do Jor dão, do Itatiaia,
massas Equatorial Atlântica ao norte e Tropical do Caparaó, e o trecho de maior altitude da Cha-
Atlântica ao sul. As chuvas tornam-se gradativa- pada Diamantina no Estado da Bahia.
mente mais escassas, atingindo o mínimo nos meses Nos climas mesotérmicos (subtropicais), as
de inverno, sendo agôsto, geralmente, o mês mais variações que a classificação de Koppen sugere são
sêco. A nebulosidade é mínima e a umidade as seguintes:
relativa muito fraca, de forma que o que caracte- -Climas Cwa e Cwb- rnesoténnicos, comes-
riza os dias nesses meses de inverno é a extrema tação sêca de outono-inverno, distinguindo-se
limpidez do céu. as duas variedades, pela temperatura média
As chuvas tipicamente tropicais, no entanto, e do mês mais quente inferior a 22°, no clima
as temperaturas médias anuais elevadas, sem grande Cwb.
variação anual, caracterizam no leste brasileiro, - Climas Cfa e Cfb - rnesotérmicos com chuvas
principalmente as regiões central e nordeste de distribuídas por todo o ano, portanto sem es-
Minas Gerais e sudoeste da Bahia . Nestas regiões, tação sêca. Corno no caso precedente, na
80 a 90% das chuvas são registradas de outubro a variedade Cfb, a média do mês mais quente
março. Correspondem tais características ao verda- é inferior a 22° .
deiro clima quente e úmido, com estação sêca de
outono-inverno ( Aw), segundo a classificação de Além dessas zonas citadas, a encosta da serra,
Koppen. no estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo, e o
:u
litoral baiano (trecho compreendido na Região Região Leste. Estas ocorrem nas regiões mais afas-
Leste), são regiões constantemente úmidas, onde as tadas do litoral, na baixa encosta do planalto (nas
precipitações ocorrem em qualquer época do ano. regiões dissecadas pelos principais rios), na De-
Correspondem às faixas de clima Af (quente e pressão Sanfranciscana, no planalto baiano, isto
úmido, sem estação sêca) e Am (quente e úmido porque, no litoral, são relativamente mais baixas as
com estação sêca compensada pelos totais elevados) . temperaturas médias registradas quer no verão, pela
No caso especial do litoral baiano, não é a pre- influência moderadora do oceano, quer no inverno,
sença da serra que explica a ocorrência de chuvas pois, sobretudo na porção sul, êle recebe os efeitos
bem distribuídas. Trata-se de uma zona onde se mais diretos da penetração de massas frias vindas
combinam regimes pluviométricos diferentes, con- do sul.
tribuindo para a constante umidade da faixa Na base da escarpa do planalto, nos trechos em
costeira. que ela se apresenta mais elevada, o regime térmico
Considerando particularmente cada uma das já demonstra transição bastante acentuada para o
regiões que constituem a Grande Região Leste, isto clima tropical de altitude. Êste fato se repete na
é, o Litoral, a Encosta e o Planalto e a Depressão base e nas encostas dos maciços montanhosos do
Sanfranciscana, ter-se-á oportunidade de analisar Distrito Federal.
com maior detalhe êstes aspectos até então apresen- O clima quente e úmido, da Baixada Litorânea,
tados sob um prisma de conjunto. penetra na Encosta através dos vales que a disse-
A faixa quente e úmida do Litoral, beneficiada caram profundamente ( Mucuri, Doce, Itapemirim,
pela umidade trazida pelos ventos de E. e S.E., é es- Paraíba do Sul) . Acentua-se, todavia, a estação
tudada em duas porções - o Litoral e a Baixada Li- sêca de outono - inverno, característica do regime
torânea do Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo das chuvas tropicais. Também o regime térmico se
e a faixa mais estreita entre a encosta das serras e o modifica, dando margem a que sejam mais nítidas as
mar, de Vitória e São Paulo (até a ilha de São diferenças entre as temperaturas médias dos meses
Sebastião). mais quentes e os de inverno, pois a amplitude tér-
As zonas mais úmidas e de maior pluviosidade mica anual se eleva.
localizam-se nos dois extremos: o litoral da Bahia O que caracteriza as encostas e as escarpas
e a zona entre Angra dos Reis e Ubatuba. Ambas propriamente ditas são as modificações climáticas
assinalam pluviosidade superior a 2 000 mm anuais, que se operam em função das altitudes. Surgem as
conquanto as causas que acarretam maior concen- características dos climas do tipo C de Kõppen
tração de umidade não sejam estritamente as mes- (tropical de altitude) com média do mês mais frio
mas, num e noutro. No primeiro importam fenô- abaixo de l8°C. Outro aspecto diz respeito às chuvas
menos ligados sobretudo ao regime das precipitações e seu regime. Nas escarpas superúmidas de sudeste,
e no segundo a influência mais direta do relêvo, expostas aos ventos úmidos vindos do mar, a pluvio-
pois é nesse trecho do litoral leste que as serras sidade é forte, as chuvas são abundantes durante
mais se aproximam do oceano. Também, à base da todo o ano, e à medida que se avança para o interior,
serra do Mar, ao norte da baía de Guanabara, corres- uma vez transposto o rebôrdo das serras, reaparece
ponde uma faixa de clima superúmido. gradativamente a estação sêca de outono - inverno.
Contrastando com essas zonas mais úmidas, Na região do Planalto generaliza-se a estação
1\
onde as chuvas são abundantes em qualquer época seca.
do ano, registram-se índices de fraca pluviosidade No setor sul, os níveis mais altos, do Espinhaço,
(abaixo de 900 mm anuais), na foz do Rio Doce e do Planalto da Mantiqueira e sul de Minas caracte-
na zona de Cabo Frio. rizam-se pelos verões brandos (a média do mês mais
Quanto às temperaturas, elas se mantêm, de quente é inferior a 22°C) . No setor norte, as tem-
modo geral, elevadas, todavia não é no litoral que peraturas médias se elevam e as chuvas, gradativa-
se registram as temperaturas médias mais altas da mente mais escassas, mostram a tendência para o
.2..2.
regime irregular. Êste sobrevém nas áreas semi- Com relação aos rios da encosta do Planalto,
-áridas do planalto baiano. deve-se lembrar que êles constituem várias bacias
Convém destacar, no nível mais alto da Cha- hidrográficas, embora, pela semelhança entre si e
pada Diamantina, a "ilha" mais úmida e de clima pela necessidade de simplificação, se apresentem
mais ameno correspondent·e à região de Morro do nas classificações com a denominação de bacias de
Chapéu. leste.
A Depressão Sanfranciscana, abrangendo o Os rios da Grande Região em estudo estão clas-
médio curso do São Fran:::isco (trecho correspon- sificados como rios de planalto, pois nascem e desen-
dente à Grande Região Leste), é uma região bas- volvem a maior parte de seus cursos no chamado
tante quente, com chuvas de verão e estação sêca . Planalto Brasileiro; somente próximo à foz podem
de outono-inverno bem marcada. A pluviosidade ser considerados como rios de planície. Sob êste
nessa região diminui para nordeste. À medida que aspecto êles apresentam vantagens e desvantagens.
se desce o vale do São Francisco acentua-se a ten- No primeiro caso, a passagem do planalto para as
dência para a semi-aridez". baixadas ocasiona, conforme seja mais ou menos
Considerando a ação particular dos fatôres geo- pronunciada, as quedas dágua, cachoeiras e corre-
logia, relêvo e clima podemos então esboçar a deiras passíveis de aproveitamento para a produção
caracterização da hidrog:rafia da Região Leste, de energia elétrica. Das 407 quedas estudadas na
considerando os sistemas, as grandes bacias fluviais bacia do rio Doce calcula-se um potencial de
e finalmente algumas exemplificações mais porme- 753 000 c. v. (referente às descargas mínimas) com
norizadas. Tôdas as info1mações e análises perti- obras simples. Não se sabe das possibilidades ba-
nentes ao assunto são de autoria da geógrafa Maria seadas em projetos hidráulicos mais complexos como
Francisca Thereza Cavalcanti Cardoso que as ela- os do vale do Paraíba . Aliás êste último rio, com
borou para êsse fim . os seus afluentes, representa um dos melhores exem-
plos na aquilatação do potencial hidrelétrico
Os rios que interessam à Grande Região Leste
contido em sistemas fluviais que descem do planalto
pertencem a três vertente5: a da encosta do Pla-
para o litoral.
nalto, a do São Francisco e a do rio Grande (um
Com respeito às desvantagens, deve-se consi-
dos afluentes do Paraná) . Serve de divisor entre
derar que, independente dos problemas de regime
as do São Francisco e a da encosta do Planalto, as
(grande variação entre as descargas máximas e mí-
terras altas constituídas pelo ramo setentrional da
nimas), a existência das mesmas quedas e corre-
Mantiqueira, pelo Espinhac;o e chapada Diamantina.
deiras nas rupturas de declive limitam de maneira
Quanto ao divisor entre a5 bacias do rio Grande e
geral a secção navegável ao trecho do baixo curso;
a do São Francisco, é menos pronunciado, pois é isto é, quando o rio atinge as baixadas e faixa lito-
constituído por superfície~: de erosão bem aplaina- rânea. Êsses trechos, relativamente curtos para a
das para as quais a pas!;agem é às vêzes pouco navegação, apresentam quase sempre obstáculos
sensível. relativos à pequena profundidade do canal e à quase
Dos tributários da ercosta do Planalto alguns permanente obstrução na foz pela intensa depo-
são pouco extensos, com pouco mais de 500 quilô- sição de sedimentos que são transportados do alto
metros, entre êles o Paraguaçu, o de Contas, o Pardo, e médio curso. O rio Paraguaçu, por exemplo, é
o Mucuri e o São Mateus, enquanto outros já ultra- navegável apenas 46 km a partir da foz, o rio de
passam os 1 000 quilômetros como o Jequitinhonha Contas 23 km, o Jequitinhonha e o Doce menos do
e o Paraíba. Também os afluentes da margem di- que isso, e todos por embarcações de pequeno
reita do São Francisco nascem nessas terras altas calado. Para mna região onde as diversidades nos
como o Paraopeba, Velhas e Verde. Já os da margem tipos de economia se registram, particularmente em
esquerda provêm de Planalto Ocidental, como é o faixas transversais à direção dos trechos médio e
caso do Paracatu, do Carinhanha e outros. baixo curso dos rios, as melhores vias de acesso para
.23
as trocas entre as diferentes zonas geoconômicas longo de um mesmo rio. O caso do São Francisco
deveriam ser os rios. :Ê:ste fato assume particular é típico.
importância na Grande Região Leste, onde o relêvo Influencia ainda no regime dos rios de Leste o
tem sido um obstáculo ao desenvolvimento das es- relêvo da região. Assim, concorrendo ainda mais
tradas de ferro e de rodagem para o interior. para a grande diferença entre as cheias e as vazantes,
Excetuando o São Francisco e grande parte do está o aspecto acidentado da topografia que, de ma-
curso do Paraíba do Sul que se desenvolvem em di- neira geral, domina na maior parte da citada Região.
reção paralela ao litoral, todos os outros apresentam- Em vista disso e da conseqüente acentuação das
-se normais â costa, pelo menos na maior parte de declividades, os débitos máximos são agravados, a
seus cursos . A direção paralela à costa está relacio- não ser quando o poder de absorção dos solos con-
nada à estrutura. Assim, o paralelismo geral do São segue anular êste fato.
Francisco à linha da costa (no trecho pertencente A maioria dos rios da encosta oriental do Pla-
nalto tais como o Paraguaçu, o de Contas, o Pardo,
à Região Leste) está condicionado à direção do Es-
o Jequitinhonha, o Doce, o Paraíba (salvo em pe-
pinhaço e como admite Ruy Ozório de Freitas,
quenos trechos) desenvolvem-se em terrenos cris-
trata-se provàvelmente de um "rift-valley". Quanto
talinos. Apesar disto não encontramos uma dife-
ao Paraíba, o paralelismo é duplo: o rio descreve
rença muito grande entre os máximos e os mínimos
uma curva em U na sua secção superior, devido à
como seria de esperar, levando-se em conta que o
serra Quebra-Cangalha (ramo destacado da Serra do
escoamento superficial nos terrenos cristalinos é
Mar) que, intercalada entre a mesma Serra do Mar
maior que nos terrenos sedimentares, uma vez que
e a Mantiqueira, impele o rio na direção sul, até que nestes as rochas permeáveis favorecem a infiltração
vencendo esta barreira vai se deparar com a serra da água na formação de um lençol dágua subter-
da Mantiqueira que o faz voltar em sentido con- râneo, com posterior alimentação dos rios .
trário, passando a desenvolver o seu curso entre os Nesta região, devido ao clima tropical, forma-se
dois grandes degraus do planalto, a Mantiqueira e nos terrenos cristalinos um espêsso manto de decom-
a Serra do Mar. posição que, juntamente com as inúmeras diaclases,
Conforme já foi dito, entre os fatôres que in- facilitam a penetração da água.
fluenciam no regime fluvial da região deve-se des- Embora em menor escala a vegetação exerce
tacar o clima, o relêvo, a natureza do solo e o reves- também certa influência no regime de seus rios.
timento vegetal. Em todo o território brasileiro o As crônicas antigas fazem referências aos rios
elemento climático realmente importante é a chuva. da encosta como possuidores de grande volume de
Tão importante êle é que serve para caracterizar o água. Mesmo nos tempos modernos, onde é pos-
regime da maioria dos nossos cursos dágua. sível comparar dados e observações metódicas,
Na Região Leste, todos os rios são de regime pode-se assinalar não a redução, porém maior am-
pluvial. :Ê:le é caracterizado por uma grande am- plitude das descargas em vista de estiagens mais
plitude entre o período das cheias (outubro-abril) prolongadas, durante as quais o nível das águas
e o das vazantes (maio-setembro), em virtude das desce cada vez mais. Chega-se a pontos críticos,
duas estações bem distintas. Os máximos de preci- em virtude da falta de proteção exercida outrora
pitação verificam-se no verão e assim sendo janeiro pela exuberante cobertura vegetal. A floresta era
e fevereiro são os meses de maiores enchentes. um instrumento precioso na economia da água
Caminhando-se do litoral para o interior, dá-se absorvendo parte dela e estabelecendo certo equi-
um aumento na quantidade de chuvas caídas no líbrio na ação de infiltração e formação dos lençóis
verão, atingindo mais de 80% em grande área da freáticos. Era principalmente um obstáculo impor-
região e variando de 90% para mais no vale do alto tante para o escoamento superficial que, sem a vege-
médio São Francisco. A época dos máxim®s e mí- tação, tornou-se tão desenvolvido que chegou a criar
nimos pode variar numa mesma bacia ou mesmo ao regimes torrenciais.
A retirada da cobertura vegetal traz ainda considerar ainda que em muitas áreas do algon-
outros prejuízos. A vegetação diminui a carga quiano, solos pouco desenvolvidos, resultantes dos
sólida transportada pelo rio; sem ela o material quartzitos e dos itabiritos e itacolomitos, mesmo em
transportado é sempre maior e ao ser depositado, em áreas mais úmidas, impedem o desenvolvimento de
geral no baixo curso, eleva o seu talvegue obrigando florestas . É o caso de grande parte da encosta
o rio a se espraiar . oriental do Espinhaço .
A distribuição dos diversos tipos de vegetação Na região do Planalto, no norte de Minas
acha-se relacionada de perto com as condições de Gerais, a passagem lenta para o clima semi-árido é
clima e ainda influenciada pelos tipos de solo e as sentida na mudança paulatina das matas das man-
formas do relêvo. Ao se reverem os traços gerais que chas calcárias para as matas acatingadas e matas
caracterizam êsses fatôres geográficos na Grande de cipó que caracterizam a passagem para a
Região Leste, deve-se lembrar que na maior parte caatinga, já existente no centro-sul da Bahia e na
da zona litorânea e da Encosta, expostas às chuvas vertente do São Francisco .
e ventos úmidos, foi possível a intensa decompo- De tudo o que foi dito ficam evidenciadas as
sição das rochas do compJ:exo cristalino, originando razões das regiões naturais que se dispõem em
solos profundos e relativamente férteis. Aí domi- faixas alongadas no sentido norte-sul. É fácil de
nava a floresta tropical, exuberante, rica na diversi- concluir da influência do relêvo comandando ou
dade de espécies e de estrutura. Em certas áreas, agindo diretamente sôbre os demais fatôres geográ-
onde se reduz a umidade e as chuvas caem numa ficos. Compreende-se então que estas regiões na-
única estação do ano, ·ao invés de se distri'buir por turais estejam subordinadas às principais unidades
todo o ano, a floresta persiste, mas já então com do relêvo, considerando-se então a existência das
outro aspecto; seu porte é menos desenvolvido, regiões do Litoral e Baixada, da Encosta, do Pla-
grande número de espécie!: perde as fôlhas na época nalto e, finalmente, da Depressão Sanfranciscana.
de estio e conforme seja êle mais ou menos acen- As considerações já feitas a respeito da in-
tuado podem surgir espécies características tais fluência do relêvo e do clima na determinação das
como a barriguda e até nesmo espécies xerófitas . regiões naturais voltam a ser objeto de apreciação,
A floresta do vale do rio Doce, particularmente no agora sob um outro ângulo. A posição da Grande
seu trecho médio, é semidecídua, em razão do tipo Região Leste dá-lhe um caráter essencialmente tro-
de clima Aw que aí domina. Já na zona litorânea, pical, mas, como foi realçado, certos aspectos do
mesmo sôbre os tabuleiros, ela apresenta-se bem relêvo, particularmente a altitude do Planalto e de
mais pujante. A floresta tropical típica domina, en- partes da Encosta, agem na atenuação de certos
tretanto, a maior parte da Baixada e Encosta rigores climáticos, embora o regime tropical não
particularmente nos dois extremos: na Serra do desapareça. Dessa forma, em graRde parte das duas
Mar, nas proximidades da cidade do Rio de Janeiro, regiões aludidas, as médias anuais de temperatura
onde ela forma realmente uma barreira à penetração são inferiores às das Baixadas, apesar de perma-
das massas úmidas oceânic:ts e no sul da Bahia, onde necer a pequena amplitude anual que reafirma o
se dá o encontro dos dois regimes de chuvas típicas caráter tropical de tais regiões.
da região litorânea . Os tipos de povoamento, os padrões atuais da
Nas encostas interiores da Mantiqueira, do Es- ocupação da terra, as formas de economia domi-
pinhaço e da Chapada Diamantina onde já é efetiva nantes têm relações enfáticas com tais caracterís-
a presença de ar sêco, a decomposição não é tão in- ticas climáticas, juntando-se ainda os tipos de solos
tensa; em algumas áreas a desagregação domina e que são uma resultante, em parte da estrutura geo-
a floresta cede lugar a tipos de vegetação, condicio- lógica, mas de maneira também essencial das con-
nadas pelas característica;i climáticas e dominam, dições de clima e formas topográficas. É fato no-
então, os campos e os cerrados; os primeiros muito tório que apesar do desenvolvimento das atividades
relacionados ao problem1 de altitude. Deve-se industriais e do tradicionalismo da economia extra-
tivista, seja mineral, seja vegetal, é a atividade agro- cana-de-açúcar evoluiu lentamente e determinou
pecuária que caracteriza as maiores áreas da Grande um tipo de povoamento em núcleos, isolados entre
Região Leste e ocupa a maior parte de sua si, apegados ao mar ou nas margens dos rios, não
população. No entanto, é, talvez, a região onde os muito distante das suas embocaduras.
problemas relacionados ao uso agrícola da terra são No litoral da Região Leste houve ainda um
mais agudos; mais profundos os sinais da agricul- obstáculo a limitar o desenvolvimento dêste ciclo
tura depredatória, que tem deixado como herança povoador. A cana-de-açúcar como produto comer-
não só as cccidades mortas" mas terras desertas onde cial por excelência, e de exportação para a metró-
outrora floresceram fazendas, campos e encostas pole no período colonial, encontrou sua melhor
rasgados pela erosão acelerada e estéreis pela lava- posição em relação às rotas marítimas no N ardeste,
gem contínua a que foram submetidos. em virtude da maior proximidade daquele conti-
Na evolução do povoamento da Grande Região nente. o fato é que somente quando as cidades,
Leste não houve um processo de ocupação regular particularmente o Rio de Janeiro, passam a repre-
do território, do litoral para o interior. A ocupação sentar centros de consumo de certa importância é
foi determinada por ciclos econômicos que, por que se dá a diversificação da economia agrícola nas
serem de características diversas, atuaram desigual- baixadas ao lado de certo desenvolvimento das fa-
mente na região. O primeiro dêles foi o do pau- zendas de gado que formam, assim, a vanguarda de
-brasil e foi de duração tão efêmera, de resultados um débil movimento de interiorização. Para tanto
tão reduzidos, que muitos autores relutam em consi- foram gastos mais de dois séculos. O povoamento
derá-lo como ciclo econômico. Daí resultam as do litoral guarda, ainda assim, as características de
primeiras feitorias, núcleos isolados situados nos tre- áreas ocupadas isoladamente e separadas pelos ex-
chos mais abrigados da costa. tensos vazios dos tabuleiros, das florestas e terras
"No seu primeiro contacto com a terra o desco- alagadas, onde imperavam indígenas hostis e febres
bridor, surpreendendo a feracidade do seu solo, des- tropicais. Se atentarmos para a situação atual,
tinou-o à agricultura. A sugestão de Pero Vaz veremos que grande parte dos tabuleiros do norte
Caminha não foi, porém, norma em imediato se- do Espírito Santo e extremo sul da Bahia pouco di-
guida. Os primeiros povoadores, todos êles aciden- ferem da antiga situação e não é exagêro afinnar
tais, vítimas de naufrágios rente à costa, ou degre- que grandes áreas do litoral Leste estão ainda pràti-
dados, nenhum dêsses se inclinou a organizar pro- camente despovoadas.
dução. Êstes, para sobrevivência, continuaram no Sem que houvesse uma penetração de caráter
exercício da economia de coleta do indígena: os fixador nas terras montanhosas da Encosta, inicia-se
mais atingidos pela nostalgia, grudados na praia, nos fins do século XVII a conquista do Planalto . A
olhos no mar à espera de naus desgarradas que os mola propulsora dêsse movimento foi a procura do
levassem de retôrno" Esta descrição reflete com
(> • ouro levada a têrmo pelos Bandeirantes por mais de
clareza qual era o ânimo dos primeiros portuguêses 100 anos . Por esta razão o povoamento do ciclo
aqui apartados. E é fato que a introdução da cana- do ouro é considerado de influência essencialmente
-de-açúcar no litoral brasileiro, se bem que tivesse paulista. Analisando-se os grandes caminhos de
encontrado condições geográficas excepcionais para acesso para as zonas de mineração de Minas Gerais
uma grande expansão, lutou com a pouca inclinação e Bahia, nota-se a importância muito maior das
agrícola dos colonizadores e a falta de capitais para linhas de penetração que partiam de São Paulo,
a montagem de engenhos. Sob êste último aspecto, atravessando o rio Grande e seguindo o vale do rio
foi importante a contribuição dos judeus que bus- das Mortes, através do vale do Paraíba, atraves-
cavam ambiente fora da Europa para o dinheiro sando em seguida a garganta de Cruzeiro, e vários
que tinham acumulado. Daí por que o ciclo da outros.
0
As primeiras expedições à cata de metais e
Heitor Marçal - "Marinha e Sertão, Fundamentos da eco-
nomia colonial", 1950 . pedras preciosas não eram paulistas. Datam ainda
.26
do século XVI e penetraram no interior a partir dos rinha, proporciona, por outro lado, uma intensa pene-
litorais baiano e espírito-santense através dos vales do tração no sertão, surgindo dessa maneira o ouro
Jequitinhonha, Doce e São Mateus. Nenhuma delas como elemento colonizador. Resulta dessa formação
atingiu os objetivos visado~ e em nada contribuíram de novos grupos populacionais, em detrimento dos
para fixação de colonos nas regiões da Encosta ou núcleos antigos, o predomínio da pecuária sôbre a
do Planalto. São realmente as Bandeiras paulistas agricultura. Rareando o elemento humano, a in-
que vão determinar o ciclo do ouro e conseqüente- dústria pastoril apresentou-se como solução, visto
mente o povoamento do planalto e até de certos não necessitar da assistência contínua do homem,
trechos da região da Encm:ta, não só pela ocorrência nem da quantidade de braços que exigia a faina
de ouro nos aluviões dos rios, como também pela agrícola. Foi, assim, o pastoreio o recurso natural
instalação das primeiras fazendas e postos perma- utilizado pelos que, melhor identificados com o meio
nentes para o repouso e reabastecimento dos bandei- ou mais radicados à terra, não se deixaram seduzir
rantes. Cada um dêsses postos tornou-se um pe- pelas promessas de ganho copioso e fácil nos domí-
queno núcleo, muitos dos quais são hoje cidades im · nios da mineração.
portantes. Essa interdependência do ouro e da pecuária
Antonil (Cultura e Opulência do Brasil) dá-nos possibilita o domínio do sertão" (Heitor Marçal, obra
os diversos caminhos para as Minas Gerais . De São citada).
Paulo descia-se o vale do Paraíba, passando-se os É certo que o ciclo da mineração trouxe con-
postos de Mogi, Larangeiras, Jacareí, Taubaté, Pin- sigo, no caso da Grande Região Leste, o desenvolvi-
damonhangaba e Guaratinguetá. Daí transpunha-se mento da pecuária. O povoamento do Planalto se fa-
a Serra da Mantiqueira, iniciando-se, então, a tra- zia de forma peculiar às zonas mineiras: populações
vessia de numerosos ribeiros, alguns atravessados flutuantes no afã de estarem onde estivessem o ouro
inúmeras vêzes, o que deu origem a topônimos suges- e as pedras preciosas. Era, na sua estrutura, uma ab-
tivos, tais como Passa Vinte ("porque vinte vêzes soluta concentração em t&rno dos terrenos auríferos.
se passa"), Passa Trinta, etc. Depois de ultrapas- O povoamento do Planalto não poderia deixar de
sado Pinheiros, prosseguia o caminho, via Rio Verde, determinar um enorme desequilíbrio entre o urbano
Boa Vista, Ubaí, Rio Grande, Rio das Mortes e final- e o rural, com grande vantagem para o primeiro.
mente a serra de Itatiaia, onde se bifurcavam as Em terrenos altamente mineralizados, sem possibi-
rotas: uma para as Min:ls Gerais de Ribeiro do lidades portanto para utilização agrícola, não se
Carmo, outra para as minas do Rio das Velhas. poderia esperar ocupação regular. Formaram-se
Do Rio de Janeiro alcançava-se Minas com as ilhas populacionais, inúmeras delas isoladas entre
seguintes etapas: Irajá, Pôrto Nóbrega no Iguaçu, si, por grandes extensões desabitadas. Mesmo após
sítio de Manuel Couto; em seguida passava-se a o declínio da mineração do ouro estas terras perma-
Serra-Frios, Pau Grande, morro do Cabaru e atra- neceram disponíveis, instalando-se então uma das
vessado o rio Paraíba seguia-se o Paraibuna. mais extensivas formas de pecuária que se conhecem
O ciclo da mineração é assim de inegável valor no país. Os antigos mineradores que transferiram
no estabelecimento de caminhos para o Planalto, suas atividades para a agropecuária, e devem ter
possibilitando uma primEira ocupação, ainda que sido poucos, se deslocaram para a periferia do pla-
muito restrita de partes d:t Encosta. nalto algonquiano. Neste movimento teriam sido
"O "rush" estimulado pelo ouro origina o desi- povoadas algumas zonas do Alto São Francisco e
quilíbrio demográfico: adensa a população nas para leste o extremo ocidental da tradicional Zona
zonas auríferas, com evidente prejuízo dos outros da Mata. Algumas áreas agrícolas, como a de Ponte
núcleos de povoamento. Êsse deslocamento do Nova, teriam aí a sua origem.
material humano é respomável por novos rumos eco- A criação de gado, que se desenvolveu paralela-
nômicos. É verdade que se essa fase atrofia os mente ao ciclo do ouro, não interessou diretamente
movimentos agrícolas que se processavam na ma- o planalto algonquiano. Ela ocorreu ao longo do~
.27
caminhos de penetração para o planalto, em zonas dentro em breve, as encostas voltadas para J acare-
que o faro do bandeirante reconheceu condições paguá, como pormenorizadamente expôs Geremário
ideais para a instalação de fazendas e currais . Ela Dantas, em seu excelente estudo sôbre o café no Dis-
ocorreu ainda nas bifurcações dos caminhos e nos trito Federal. Largas áreas hoje totalmente cons-
postos já mencionados. Não admira pois que fa- truídas da capital brasileira foram cafêzais, como a
zendas de gado, nesta época, tivessem ficado adstri- da chácara do Portão Vermelho, no Andaraí, onde
tas ao Sul de Minas, Vale do Paraíba e algumas houve lavoura de suas trinta ou quarenta mil árvores,
áreas do Paraibuna. O desenvolvimento da pecuária produzindo 1 200 arrôbas".
foi, entretanto, resultado direto do ciclo minerador. "Espraiou-se a onda cafeeira para os distritos de
As grandes concentrações populacionais em áreas Jacarepaguá, Campo Grande, Santa Cruz e Gua-
improdutivas teriam que ser abastecidas de áreas ratiba".
distantes . E o gado, mercadoria que andava por si "Dois rumos notáveis e principais tomou a in-
mesma, foi a solução . vasão cafeeira em terras fluminenses, nos primeiros
Ao fim do período da mineração, estavam assim anos da disseminação da rubiácea: o do noroeste,
semipovoadas a faixa litorânea e partes do Planalto com os núcleos importantíssimos de São João Mar-
e, entre elas, uma região virtualmente desconhecida, cos e Resende, e do norte, de que decorreriam as
a não ser em áreas reduzidas - a Encosta. Esta só grandes lavouras de Vassouras, Valença e Paraíba
passa a ter interêsse quando se intensifica no do Sul. A zona oriental da capitania, a de Canta-
século XIX a lavoura cafeeira - um ciclo que tem galo, só mais tarde viria a ser aproveitada pelos
ainda certa importância nos dias atuais . cafêzais, já muito depois dos anos da Indepen-
Seria exagêro afirmar que foram os plantadores denCia .
A • "
de café os primeiros ocupantes das matas da En- ..Assumiu a zona de Vassouras importantíssimo
costa. Sabe-se que o avanço do ciclo cafeeiro no papel nos fatos primeiros do café. Já antes da fun-
Vale do Paraíba já encontrou ali um sistema de dação da atual cidade dêste nome, por volta de 1780,
pecuária que surgira, à semelhança da zona sul de cultivou-se um pouco da rubiácea em Pati do Alferes.
Minas Gerais, em função da crescente população de Entre as principais propriedades da região, cita-se
mineiros no Planalto. É inegável, porém, a impor- a grande fazenda de Pau Grande, que pertenceu ao
tância do café no povoamento desta região, mesmo Barão de Capivari e ao filho dêste, Visconde de Ubá,
porque as fazendas de gado não deveriam ser tão e onde os cafêzais começaram a aparecer entre 1800
numerosas. Os documentos da época falam com fre- e 1810, segundo consta de documentos do arquivo
qüência em pessoas que se tomaram conhecidas pelo do grande latifúndio".
afã "de abrir fazendas" no oeste fluminense e vale ..No oeste fluminense, notabilíssimos centros
do Paraíba. Mesmo nas terras onde os criadores de cafeeiros antigos foram São João Marcos e Piraí,
gado tinham precedido à lavoura do café, foi somente onde as lavouras da rubiácea tomaram incrível incre-
graças a êstes que se deu o desenvolvimento de mento, sobretudo a partir de 1810. Nesta época, era
centros urbanos e até o aparecimento de uma rela- o café sobretudo plantado no litoral e na baixada.
tiva rêde de comunicações, apesar das dificuldades Assim o distrito de Angra dos Reis, em 1811, produ-
inerentes às próprias características da região onde zira 10 000 arrôbas. Em 1822, verificou Saint Hi-
o relêvo bastante acidentado seria por si só um laire o enorme progresso dos cafêzais marquenses e
obstáculo respeitável. resendenses, lavouras novas que Spix e Martius não
Sôbre o desenvolvimento da lavoura cafeeira na haviam avistado ao passarem por aquelas mesmas
região Leste assim se manifesta Affonso de E. paragens, em 1817. Perto de Resende havia fazen-
Taunay em diversas páginas da sua "Pequena His- deiros de sessenta, oitenta e até cerri mil cafeeiros"
o
Corvocado e da Serra da Tijuca, invadiu o cafêzal, Apesar das inúmeras menções à presença de cafeei-
.28
ros em Santos ( 1787), no Planalto Paulista ( 1797), pulação da Província era de cêrca de 42 000 almas
em Campinas ( 1807), "caberia às terras do chamado em grande parte distribuída pelo litoral sul onde
"Norte Paulista" empreender a mais importante o ciclo da cana-de-açúcar mantinha sua hegemonia.
disseminação do cafeeiro, em terras de São Paulo, Parece que o grande impulso cafeeiro coincidiu com
por ordem de antigüidade . E a razão é fácil de se a colonização estrangeira no sul do Estado e zona
compreender: a contigüidade das terras fluminenses, serrana, próxima de Vitória e que se deu a partir
onde a diretriz cafeeira nrrnara de Mendanha para de 1850. A zona de ltapemirim e Cachoeira a
São João Marcos e Resende, penetrando em terri- partir de 1860 vai se colocar entre as grandes áreas
tório paulista por São José do Barreiro, Areias e cafeeiras do país, dando ao Estado certa importância
Bananal". econômica. As fazendas de café ao norte e oeste de
"Daí se foi espraiando no sentido da contracor- Vitória só muito mais tarde vão se mostrar em ex-
rente do Paraíba, pelo vale do grande rio acima, pansão e ao norte do rio Doce o povoamento à base
chegando a galgar o divo~~ium aquarum da serra de do café é dos nossos dias .
Itapebi e ocupar os arredores de Mogi das Cruzes, O ciclo cafeeiro não pode ser tratado como um
já no vale do Tietê". ciclo unicamente povoador. Teve êle o seu lado
O ciclo povoador do eafé penetrou também em negativo, o de despovoamento; algumas vêzes de
Minas Gerais. O docum~nto mais remoto de que forma indireta como foi o deslocamento de po-
temos noticias sôbre a exportação de café mineiro pulações rurais e escravarias das áreas da cana-de-
é o de Eschwege que declara haver, em 1809, a capi- -açúcar para as serras e zonas da Encosta onde o
tania de Minas exportado 9 707 arrôbas de café, das café era a grande riqueza, outras vêzes pela própria
quais 9 256 oriundas das cercanias de Matias decadência das zonas cafeeiras com o conseqüente
Barbosa. êxodo da população. Tais fatos caracterizaram não
A zona de maior expansão da lavoura cafeeira só o vale do Paraíba, mas grandes áreas da zona da
em Minas Gerais viria a 1:er a da Mata, pela conti- Mata de Minas Gerais e do sul do estado do Espírito
güidade com o vale do Paraíba e proximidade com Santo, ainda ao fim do século XIX, continuando pela
o Rio de Janeiro. Assim, Mar de Espanha, Juiz de primeira década do século atual. ·
Fora, Leopoldina, CatagmJ.ses e Ubá foram os centros Uma vez analisados os ciclos econômicos e sua
cafeeiros de maior importância. Outro grande influência no povoamento das diversas regiões que
núcleo foi ainda o vale do Rio Prêto. compõem o Leste brasileiro, vamos tentar uma sín-
A expansão das fazendas de café na Zona da tese da situação nos dias atuais.
Mata de Minas Gerais foi bastante regular. A expor- É fora de dúvida que a economia, mesmo se
tação daquele produto que fôra de 9 739 arrôbas em considerada cada região de per si, perdeu muito do
1818 passou a 163 000 em 1835 e a mais de 1 300 000 seu caráter anterior, aquêle regime e estrutura colo-
arrôbas em 1861, ano da inauguração da União-In- nialistas que se baseavam unicamente na produção
dústria. de matérias-primas e produtos tropicais de exporta-
No Espírito Santo dá o café a sua contribuição ção. Houve mesmo diversificação das atividades eco-
para o povoamento, aper:as bastante retardada a nômicas, desenvolveram-se as atividades ind11striais,
penetração da rubiácea em relação às províncias em parte concentradas na cidade do Rio de Janeiro e
vizinhas. Assim é que Saint-Hilaire assinalava em arredores, mas importante também no médio vale do
1818 não ter visto cafezais em parte alguma e em rio Paraíba do Sul, na Zona da Mata de Minas Gerais
1842 a exportação de ca:cé naquele Estado atingia e de maneira menos expressiva no Planalto Mineiro.
o total irrisório de 368 arrô bas . A partir daí crescem O curto ciclo do ouro foi substituído pela mineração
as plantações de café ganhando as serras até então de ferro e uma atividade siderúrgica com caracterís-
pràticamente despovoada!:. O problema maior para ticas regionais se espraiou pela antiga zona aurífera;
o desenvolvimento do eafé no Espírito Santo foi o vale do Paraíba após o declínio do café vê agora
sempre a falta de mão-de-obra. Em 1844 a po- o seu reerguimento baseado nas inúmeras indústrias
:1.9
que estão aí se localizando, antigas áreas de mono- norte de São Paulo ao pôrto de Parati, as variantes
cultura tendem cada vez mais para a diversificação no Caminho Novo, a de Pati do Alferes, a da Serra
da produção agrícola, como na Zona da Mata e Sul dos Orgãos e a da Estrêla, outra de Iguaçu para Vas-
de Minas. Visto, porém, em seus aspectos gerais, souras e Comércio, à margem do Paraíba e chegando
o Planalto não perdeu as características originais de a Paraibuna em Minas Gerais; tôdas, estradas de
área de mineração decadente, com superposição da tropas que desempenhavam importante papel na
pecuária extensiva. A Encosta permanece como interiorização da lavoura cafeeira. Elas só perdem
zona agrícola aos poucos substituída pela pecuária, a sua grande função com o advento das estradas de
e a faixa do Litoral e Baixada, salvo algumas exce- ferro, na segunda metade do século XIX. A pri-
ções, viu se deslocarem algumas das antigas áreas meira, em 1854, de Mauá a Raiz da Serra da Es-
de monocultura, como a da cana, que se transferiu trêla, à qual veio ligar-se a magnífica União-In-
da Baixada Fluminense para a de Campos, ao mesmo dústria, estrada carroçável atravessando a Serra do
tempo em que surgia o "plantation'' típico de flo- Mar na cota de 800 metros, passando por Petrópolis,
restas tropicais: o cacau, no sul da Bahia e norte do Três Rio, no Vale do Paraíba, indo findar em Juiz
Espírito Santo. de Fora. Surgem em seguida a Estrada de Ferro
Poder-se-ia perguntar. O que mudou então? Pôrto das Caixas a Cantagalo, iniciativa do barão
Mudou a atitude. Hoje, com exceção do cacau de Nova Friburgo, a Ferrovia de Magé a Sapucaia
e do café, produzimos para nós mesmos. A diversi- e Mar de Espanha, obra do Barão de Aiuruoca, mas
ficação da nossa economia é uma . conseqüência o grande empreendimento seria sem dúvida a Es-
dêsse fato. Essa atitude surgiu em função do formi- trada de Ferro D. Pedro II que ligou o Vale do
dável crescimento da população, mas ela só foi pos- Paraíba ao Rio de Janeiro ( 1864), avançando em
sível pelo desenvolvimento das vias de comunicação seguida para montante e juzante do rio em demanda
e da modernização dos meios de transportes. Para- de São Paulo e da rica Zona da Mata de Minas
doxalmente, os meios de circulação surgiram como Gerais. Seria fastidiosa a enumeração das linhas
conseqüência dos ciclos do ouro e do café. ferroviárias que surgiram como resultante do ciclo
Os caminhos de penetração do ciclo da mine- de café nesta Região Leste . A superposição de
ração já foram aqui mencionados. Pouco se avançou mapas onde aparecessem as áreas da lavoura ca-
feeira, particularmente as anteriores a 1930, e a rêde
depois dêles até se chegar ao ciclo do café. As pri-
das estradas de ferro permitiriam uma visão geral da
meiras estradas de café por onde trafegavam tropas
importância do ciclo do café no desenvolvimento da
e tropeiros foram as dos Bandeirantes e entre elas
rêde ferroviária da Grande Região Leste.
cumpre citar o "Caminho Novo", de Garcia Rodri-
gues Pais "que seria depois a diretriz aproximada da Não é pois de espantar que as estradas de ferro
atual linha do centro da Central do Brasil, a partir tivessem avançado na direção onde os obstáculos
da margem esquerda do Paraíba, em frente a geográficos (escarpas de serra e relêvo muito movi-
Paraíba do Sul. E o seu trajeto no território à direita mentado, florestas densas, etc. ) se apresentavam
do grande rio era também, aproximadamente, o da mais antagônicas à técnica ferroviária. Era que não
linha de bitola estreita e o da rêde auxiliar da se objetivava furar para o interior, mas sim penetrar
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Central" (Affonso de E. Taunay - Pequena His- pelas zonas de café que iriam garantir a prosperi-
tória do Café no Brasil, pág. 99) . dade do empreendimento. O exemplo da antiga
O Caminho Novo ligava os altos do Espinhaço Leopoldina Railway é dos mais interessantes e o da
à Baixada, na altura de Iguaçu. Durante a fase ~~linha tronco da D. Pedro II, hoje Central do Brasil,
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mineradora o trecho da Encosta era um mundo de nao e menos expressivo.
floresta virgem e densa, habitada por índios, até As considerações feitas até agora mostram que
princípios do século XIX. Caberia ao café desa- não houve transformações básicas ( senão de pro-
lojá-los. Com êle surgiram os ramais e as variantes, cessos) na economia da Região Leste, exceção do
tais como o Caminho Velho das Minas, ligando o surto industrial e desenvolvimento de regular rêde
30
de comunicação, na zona de influência do café. só das condições precárias do solo mas ainda do
Apesar disso a população cresceu e se expandiu, desequilíbrio econômico da área esgotada. Daí para
talvez que em razão mesmo do caráter extensivo e o êxodo rural era um passo. Fortes contingentes
predatório no uso da terra. Generalizados os pro- saídos das zonas rurais dirigindo-se para as cidades
cessos de agricultura itinerante e rotação de terras, favoreceram, ao lado do desenvolvimento urbano,
o ciclo termina sempre no abandono das terras de um surto industrial considerável.
lavoura transformadas em pastagens pobres e defi- Foi, pois, através de experiências passadas, mas
cientes . Aí, a pecuária representa, senão uma deca- com profundos reflexos na situação presente, que a
dência, pelo menos o desaparecimento de condições Grande Região Leste, êste agrupamento de quatro
favoráveis às atividades agr1 colas, nos moldes em que regiões distintas, compreendendo menos de 10% da
ela é feita nesta região . área total do país, pôde concentrar cêrca de 35% da
A atual distribuição da população, inclusive a população brasileira. Não somente pelos 19 milhões
sua expansão, está em parte relacionada a êste de habitantes que representa, mas pela situação real
sistema de utilização da terra. A cada avanço da e potencial nas atividades econômicas do país, a
zona de agricultura correspondiam áreas abandona- Grande Região Leste ocupa lugar de destaque no
das na retaguarda, sendo a pecuária um reflexo não quadro geográfico do Brasil.
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O LI1rORAL E A BAIXADA
3 - 24 602
N A Grande Região Leste, o lito-
ral e a baixada compreendem, de. ma-
neira geral, uma faixa de terras baixas,
situada entre a orla marítima e a en-
costa do planalto brasileiro; de clima
quente e úmido e recoberta, em gran-
des áreas, por uma vegetação florestal
bastante desbastada.
O fato geográfico mais caracte-
rístico nessa faixa é o de se dar aí a·
transição entre o litoral nordestino,
em geral baixo e com tabuleiros, e o
litoral sul, escarpado, dada a proximi-
·dade da escarpa do Planalto Brasileiro
que por vêzes mergulha nas águas
oceânicas . Sendo uma faixa de tran-
sição é natural que não apresente uni-
formidade na paisagem geográfica.
35
No que se refere à estrutura geológica dêsse ga, ora mais estreita, pela maior parte do litoral
litoral, há uma interpenetração do complexo crista- brasileiro, entre Espírito Santo e o Pará" .
lino representado pelos granitos e gnaisses nas for- Ao norte do rio Doce os tabuleiros (séries
mações sedimentares do Terciário e Quaternário. Barreiras) passam a ter presença mais efetiva na
O litoral do norte do Estado de São Paulo, do Es- paisagem . As partes mais altas dêsses tabuleiros
tado do Rio de Janeiro, do Distrito Federal e gran- chegam a atingir uma centena de metros de altitu-
de parte do Espírito Santo é relativamente estrei-
de, especialmente ao norte do Espírito Santo, en-
to em virtude da proximidade da Encosta do Pla-
quanto no sul da Bahia, variam entre 30 e 40
nalto, representado, em geral, pela Serra do Mar até
metros.
as proximidades da cidade de Campos, ao norte do
Ao sul de Vitória, ou mais precisamente, a par-
Estado do Rio e pelo sistema serrano do Sul do Es-
pírito Santo (Cadeia Frontal) . Existem baixadas tir de Guarapari, as Barreiras se prolongam em di-
isoladas pelos maciços litorâneos, fato mais ou me- reção ao litoral norte do estado do Rio de Janeiro,
nos freqüente até mesmo ao norte da baía de Vi- formando extensas áreas de tabuleiros. Neste tre-
tória. É evidente que nesse trecho da região lito- cho do litoral, as Barreiras dão aparecimento a fa-
rânea o intenso tectonismo, mais ou menos recente, lésias . A -continuidade da superfície topográfica
é o traço dominante na geomorfologia regional . Os dos tabuleiros é interrompida pelos rios que as atra-
esforços tectônicos do fim do Cretáceo ou início do vessam formando largos vales em forma de U .
Cenozóico, segundo A . R . Lamego, produziram O estudo dessas formações sedimentares anti-
um sistema de falhas longitudinais paralelas, que, gas tem grande valor para a confirmação das varia-
talhando abruptamente -.. costa, fizeram desabar, ções do nível do mar na costa brasileira . A hipó-
em blocos escalonados, a parte oriental do conti- tese do eustatismo defendida por alguns autores é
nente no Atlântico . fortalecida pela existência de vales afogados como
É sensível o contraste entre êsse trecho do li- nas baías de Todos os Santos, Vitória e Guanabara.
toral do Leste, ao sul da baía de Vitória, com o si- As diferenças de natureza geológica deram
tuado ao norte, onde os rios que descem do Planal- origem a solos tão diversos que há, realmente, dis-
to são bem mais importantes, promovendo um re- tinção entre os tipos de ocupação humana das zo-
baixamento da Encosta,· além de afastá-la bastante nas cristalinas e de aluviões de um lado, e dos ta-
do oceano. Em conseqüência, é a partir do rio Doce buleiros de outro. De modo geral, dentre os solos
que vão predominar as formas de relêvo pouco mo- existentes nesta região destacam-se: - solos das
vimentado, sendo mesmo comuns nas áreas de ocor- praias, essencialmente silicosos, com algumas palhê-
rência de terrenos do complexo cristalino as formas tas de mica; o lençol d'água neste tipo de solo é
topográficas suavizadas que podem, inclusive, con- pouco profundo, sendo geralmente salgado em vir-
tude da grande proximidade do mar. No litoral do
fundir-se com os terrenos dos tabuleiros quando os
Espírito Santo, nestes solos, surgem importantes
primeiros já estão em processo de decomposição.
depósitos de areias monazíticas; solos de pântanos,
Relacionados ainda à morfologia regional, te- bastante argilosos e por vêzes mesmo, turfosos; êste.
rnos os Tabuleiros e as Barreiras. Deve-se aqui tipo de solo ocorre freqüentemente nos mangues
destacar que muitos geólogos diferenciam os Ta- ou nas áreas deprimidas atrás das restingas, sendo
buleiros das Barreiras . Segundo alguns autores, os muito salgados; e solos dÓs tabuleiros, isto é,. do
primeiros são constituídos de formações cretáceas baixo platô, que também aparecem neste litoral
e não têm a importância espacial das Barreiras. constituídos de argilas e areias . Alfredo José Pôrto
Estas são constituídas de areias e argilas e datadas Domingues diz serem êstes solos, em geral, pouco
como do Terciário Superior ( Plioceno) e esten- férteis, com grande quantidade de areia o que os
dem-se, com regularidade extraordinária, da costa torna bastante permeáveis.
maranhense até o norte do Estado do Rio . Para Nas áreas onde as rochas do complexo for-
Fróes Abreu, por exemplo, o tabuleiro é uma forma mam o pedestal, estas, ao se decomporem, dão apa-
de relêvo em terreno da série Barreiras. Estudan- recimento a uma argila de côr vermelha - latosso-
do o litoral do Espírito Santo diz êste autor: "O los. Deve-se ainda citar o fato de que Luís Bramão,
terreno das Barreiras, erodido pelas águas, forma os pedólogo português, ao estudar os solos da Baixada
tabuleiros e morros recortados de pequenos vales, Fluminense, descobriu, em algumas colinas e mor-
que se estendem longamente em faixa ora mais lar- ros, a existência de solos podzólicos.
36
Sob o ponto de vista do relêvo êste litoral não litorânea a não ser a partir de Guarapari, ao sul de·
se apresenta homogêneo; uma rápida descrição nos Vitória, quando passam a fazer jus à denominação
permite dar uma idéia mais precisa das duas regiões regional de Barreiras, isolando constantemente bai-
em que o dividimos em nosso estudo . xadas interiores e formando falésias na direção do
O litoral do Estado do Rio de Janeiro, no mar. Os tabuleiros são interrompidos pelos rios que
trecho de Angra das Reis e Parati e sua continua- descem da encosta e que formam, via de regra, pe-
ção pelo litoral norte do Estado de São Paulo, é quenas baixadas, exceção feita à grande baixada
caracterizado pela presença da Serra do Mar em dos Goitacazes construída pelo rio Paraíba do Sul.
contacto direto com d oceano. Dominam aí as en- Ao norte da baía de Vitória, de origem seme-
costas abruptas e as montanhas; as baixadas só lhante à da Guanabara, atinge-se finalmente a
existem no interior das enseadas, isoladas entre si grande planície quaternária dos rios Doce, São Ma-
pelo relêvo do tipo apalachiano . Êste, em parte teus, Mucuri e Itanhém . Ela corresponde à mais
submerso, originou então os alinhamentos de ilhas, extensa área da baixada do litoral oriental do Bra-
os vales afogados, fazendo crer sejam as ilhas, como sil. A partir do rio ltanhém voltam a predominar
a Grande, a mais importante de tôdas, resultantes os Tabuleiros que estavam mais para o interior .
do afogamento do maciço litorâneo que repete, em A regularidade dos Tabuleiros na direção da costa
menor escala, o grande blo:o falhado e dissecado Nordeste só é interrompida pelo avanço do com-
que é a Serra do Mar. Até mesmo a direção S. v~l: plexo cristalino entre o rio de Contas e o Una, ou
-N. E. é copiada pelo mad;o litorâneo que, entre-
então, por consideráveis áreas de sedimentação re-
tanto, perdeu sua continuidade sendo rompido por
cente dos rios principais. Cumpre assinalar a im-
brechas e perturbado por falhas iongitudinais. Den-
portância dêsses rios que são responsáveis pelo
tre as brechas que seccionaram o maciço litorâneo
afastamento e rebaixamento da encosta do planal-
destacam-se a da Guanabara. e duas outras que se-·
to, dando assim, a êste trecho do Litoral e Baixada,
param a ilha. Grande do litoral de Parati a oeste e
um caráter totalmente diverso do Litoral e Baixada
a antiga ilha de Marambaia a leste, agora ligada ao
ao Sul de Vitória .
continente por uma extensa. língua arenosa - a
restinga de Marambaia . Dá-se então a passagem Em relação ao clima existe certa variedade
· para o tipo de costa retificada, formações arenosas baseada principalmente no regime das chuvas en-
e sedimentos trazidos da serra que formam lagoas quanto as temperaturas mantêm-se, de modo ge-
e baixadas pantanosas _ Os cordões arenosos se ral, elevadas . Todavia devido à influência modera-
apóiam em pontas·rochosas originando típicos tôm- . dora que exerce o oceano sôbre o regime térmico
bolos . Logo atrás dessas baixadas e praias está a das regiões litorâneas, não é na faixa marítima que
Serra do Mar que vai se afastando do lit<;>ral de tal se registram as temperaturas mais elevadas daRe-
maneira que ao se atingir a baíà da Guanabara, ela gião Leste . Estas ocorrem nas regiões mais afasta-
já está interiorizada e as serras que compõem a mol- das do litoral, no planalto baiano e na Depressão
dura do Rio de Janeiro e Niterói fazem parte do Sanfranciscana.
fragmentado maciço litorâneo . Surge então a pri- As temperaturas médias decrescem ligeira-
meira planície costeira de grande extensão - a mente em função da latitude . No litoral da Bahia
Baixada Fluminense . Encravada a leste da Baixa- variam de 23 a 24,5°C, de Vitória para o Sul, en-
da está a baía de Guanabara., exemplo de costa afo- tre 23 e 21 °C. O mês mais quente é janeiro ou feve-
gada, já que a "ria" atual reBulta de um antigo vale reiro, e o mais frio é sempre julho.
que submergiu no seu trecho inferior em virtude de
Quanto às chuvas é mister distinguir as faixas
movimentos eustáticos, o último dos quais, positivo,
superúmidas (AI e Am) da base da Serra do Mar
data provàvelmente do último período glaciário -
e das serras espírito-santenses, bem como o litoral
Os fenômenos da retificação da faixa costeira baiano, nos quais as chuvas são abundantes em
ganham expressão a leste da Guanabara _ Cordões qualquer época do ano, das. zonas mais sêcas, de
litorâneos e formações de dunas que represam gran- clima Aw. Nestas últimas, à medida que se avan-
des massas de água do mar originam uma caracte- ça para o sul, tende a desaparecer, todavia, a esta-
rística zona lacustre onde se destacam as lagoas de ção sêca de outono-inverno que caracteriza as re-
Maricá, Araruama, Saquarema e Feia. giões de clima Aw ( quente-úp1ido com chuvas de
As formações terciárias. dos Tabuleiros apare- primavera-verão e quente-sêco de outono-inverno),
cem em Macaé, sem grande influênCia na paisagem na encosta e no planalto . As "frentes" que se for-
87
mam com os avanços de massas frias provenientes grau de umidade que predomina na região em vir-
do sul produzem chuvas também no outono e in- tude da ação dos ventos que, "soprando do Atlân-
verno. tico, são retidos pela barreira montanhosa, a qual
Os maiores totais de chuvas são assinalados funciona então como gigantesco condensador em
nos dois extremos da região: no litoral da Bahia e virtude de conhecido fenômeno: as massas de ar
na zona entre Angra dos Reis e Ubatuba, e na base úmido, obrigadas a se elevarem ao longo da encosta,
da Serra do Mar, ao norte da baía de Guanabara. expandem-se pela diminuição de pressão e resfriam-
O litoral da Bahia e a zona de Angra dos Reis -se, con~ensando o vapor d'água, que se resolve em
e Ubatuba registram mais de 2 000 mm de chuvas chuvas ou permanece sob a forma de névoa"*. É
anualmente, porém as causas, que acarretam esta verdade que, hem sempre é observada a existência,
. forte pluviosidade não são as mesmas nas duas nas proximidades do litoral, de uma "encosta pro-
regiões. Na primeira, importam fenômenos ligados nunciada e eriçada em barreira" * *; tal fato, entre-
sobretudo ao regime das precipitações, na segunda, tanto, não implica de modo geral na modificação do
a influência direta do relêvo sôbre a· forte umidade tipo de cobertura vegetal que cont~nua a ser a flo-
e abundância de precipitações, pois é, nesse trecho, resta. O que se vê, porém, é o aparecimento de um
que a Serra do Mar mais se aproxima do oceano. outro tipo de mata, cuja composição florística já di-
Na base das Serras da Estrêla e dos Órgãos, ao fere um pouco do da chamada "floresta atlântica do
norte da baía de Guanabara, as precipitações são es- Brasil" ou "mata costeira'~ e que ocorre em certos
pecialmente abundantes, ultrapassando 2 500 mm trechos do litoral do Espírito Santo e do norte ~o
anuais. A serra paralela à direção geral da , costa estado do Rio de Janeiro, onde as condições climá-
nesse trecho eleva-se consideràvelmente intercep- ticas se modificam com o aparecimento de um pe-
tando os ventos úmidos que sopram do mar. ríodo de menor pluviosidade que ocorre no inverno.
Contrastando com essas faixas mais úmidas, Apesar da impossibilidade atual de cartogra-
índices de fraca pluviosidade, inferiores a 900 mm far o limite entre êsses dois tipos de mata em certas
anuais, são registrados nas zonas Aw, da foz do rio áreas da região, que se estendem ao norte da foz do
Doce e da zona de Cabo Frio . Rio Paraíba, não quisemos deixar de assinalar essa
Sob o ponto de vista da cobertura vegetal, po- diferenciação, que implica numa ,mudança da paisa-
demos diferenciar dois aspectos dominantes: o da gem local, principalmente quàndo observada du-
vegetação florestal e o da chamada "vegetação lito- rante os meses mais secos, ocasião em que algumas.
rânea", que engloba a "vegetação da praia", a das das espécies arbóreas que aí ocorrem se despem
restingas, a das dunas e os manguezais. de sua folhagem .
Os fatôres principais que condicionam a exis-
O tipo de floresta dominante, entretanto, é o
tência dêstes tipos de vegetação na área em estudo
da "mata costeira" ou "mata atlântica" de caráter
são, para as formações florestais, a umidade e a
higrófilo, sujeito a um "clima marítimo com alta
temperatura e para a "vegetação litorânea", o solo
pluviosidade" * * *, inconfundível por sua exube-
e o grau de salinidade dêsses solos .
rância, pela abundância de espécies, pela altu:-
As matas encontradas aqui fazem parte do
ra e grossura dos seus indivíduos e pela imensa
grande conjunto florestal que recobria quase tôda
variedade de epífitas (Bromeliáceas, Orquidáceas,
a borda oriental do litoral brasileiro desde o Cabo
Aráceas, etc.), e lianas que, ao lado. de fetos arbo-
de São Roque até o Rio Grande do Sul e cuja lar-
rescentes e palmeiras, completam êsse quadro de
gura média, segundo Gonzaga de Campos, variava
pujança tropical. ·
em tôrno de 200 km. Nos dias atuais a ocupação
humana reduziu de muito esta faixa; restos ainda A composição florística dessas matas está lon-
consideráveis desta· vegetação podem ser, no en- ge de ser conhecida; podem, entretanto, ser enume-
tanto, encontrados em certos trechos do litoral nor- radas as espécies mais comuns, entre as quais se
te do Espírito Santo e sul da Bahia. No restante do contam as perobas ( Aspidosperma sp.), a tabe-
litoral dificilmente poderão ser encontradas áreas buia (Tabebuia sp.), as canelas (Nectandra sp.),
onde a mão do homem não tenha modificado a fi- o vinhático (Plathymenia sp.), o cedro (Cedre!a
sionomia e a constituição dessas formações pela sp.), e à typica palmeira das terras de baixada
prática de uma agricultura primitiva . ( Arecastrum romanzoffianum) .
A existência aqui desta: pujante vegetação é
•:• Lindalvo Bezerra dos Santos.
devida principalmente à abundância de precipita- •:•* Lindalvo Bezerra dos Santo~.
ções· e também resulta do elevado coeficiente do *'~':' Edgar Kuhlmann.
38
"As várias associações incluídas na vegetação. priamente dita e a mata que ocorre na baixada, sen-
litorânea estão mais relaciona.das com o solo do que do essa representada por espécies que tiveram de
com o clima propriamente dito" *; solos quase sem- adaptar-se a condições ecológicas menos favoráveis.
pre silicosos e cujo grau de salinidade varia de acôr- Essa é a paisagem das extensas restingas da foz
do com a maior ou menor proximidade da linha de do rio Paraíba, do norte do Estado do Rio e da re-
costa são os fatôres que vão impor a variação assi- gião da embocadura do rio Doce.
nalada entre a vegetação da praia, a vegetação das Distribuindo-se nos fundos de baías, reentrân-
dunas e a das restingas . cias da costa e principalmente nos estuários, onde
Ao contrário dessas ass.ociações psamófilas, os houver a deposição de material argiloso de textu-
manguezais, que comportam espécies.· halófitas, ra bastante fina e onde se fizer sentir a ação alter-
ocorrem em terrenos argilosos . nada das marés e das águas doces, vão surgir os
Além dos fatôres ecológicos acima assinalados, manguezais, associações halofíticas de reduzido nú-
a morfologia do litoral vai também condicionar o mero de espécies como sejam o mangue verdadei-
aparecimento dêsses tipos dE! vegetação. Assim nas ro ( Rhizophora mangle), o mangue-branco (La-
extensas linhas de praia quE~ ocorrem no litoral do guncularia racemosa) e o mangue-siriúba (Avice-
Leste vamos encontrar um número relativamente nia sp.).
pequeno de espécies vegetais, espécies estas dota- É aí, na foz da grande maioria dos rios que
das de um alto grau de vita.lidade e fixação, capa- chegam ao Oceano neste trecho do Litoral e, princi-
zes, portanto, de resistir a condições tais como a palmente, nas baías de Guanabara, Sepetiba, Vitó-
grande salinidade e o embate das ondas nas marés ria, Canavieiras, Caravelas, Belmonte e Ilhéus que
vão ocorrer os mais compactos manguezais do Leste
altas e que constituem os Ellementos pioneiros da
Brasileiro .
psamosere. Contam-se· entre· êsses o "pinheirinho-
"Não só com referência à paisagem natural,
-da-praia" (I resine portula.coides), a "salsa-da-
distinguem-se duas regiões ou sub-regiões no Lito-
-praia" (lpomoea sp.) e algumas Gramíneas e Ci-
ral·e Baixada do Leste. Também os quadros huma-
peráceas.
nos e econômicos são diversos . O litoral e a Bai-
. As dunas, morfologia particular de vários tre-
xada do Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo
chos dêsse Litoral, apresentam uma vegetação tí-
formam no seu conjunto uma grande área de flo-
pica e perfeitamente adaptada a certas condições
restas densas em fase de ocupação pelo homem .
ecológicas, como sejam, a maior profundidade do
Apenas os seus extremos acham-se realmente con-
nível superior do lençol freático, a ação enérgica
quistados: a zona cacaueira da Bahia, ao norte e
do vento e outras que vão impor a essa vegetação
a zona cacaueira do baixo rio Doce, ao sul, além
uma composição particular e um facies caracte-
da recente área de ocupação pioneira do norte do
rístico.
Espírito Santo. No mais, é ainda a floresta onde
Nas restingas predomina uma vegetação ar- os primeiros madeireiros estão penetrando for-
bustiva mais ou menos densa e acusando, por vêzes,
mando as. vanguardas de novas correntes po-
acentuado xeromorfismo. No conjunto da. restinga
voadoras.
podemos diferenciar uma part~ que corresponde
A chamada zona cacaueira do sul da Bahia é
ao cordão litorâneo propriamente dito e outra, à sem dúvida a área mais importante dêste trecho
porção deprimida que se situa entre dois cordões do Litoral e Baixada . Deixando de parte as dife-
sucessivos . Essa diferença topográfica vai ocasio- renças de técnicas agrícolas ou a maior freqüên-
nar uma diferenciação florís1tica, pois, nas partes ele- cia de outras culturas associadas ao cacau deve-se
vadas, vão predominar as Cactáceas, Bromeliáceas, considerar que é a economia cacaueira a respon-
Mirtáceas, etc., enquanto nas depressões se espa- sável pelo povoamento da região, pelo apareci-
lham as Gramíneas, Poligaláceas, Eriocauláceas, mento de cidade e de tipos de habitat rural bem
Umbelíferas e outras. ·definidos. A própria evolução das comunicações
Mais para o interior, onde a feição morfológica está intimamente relacionada à expansão da cul-
acima citada não é tão nítida, na zona de cordões tura do cacau.
litorâneos mais antigos, já vão surgir elementos de O centro desta zona é irtdubitàvelmente a
porte arbóreo das Leguminosas, Lauráceas, Mirsi- cidade de Itabuna, mais populosa que Ilhé~s e
náceas, Mirtáceas, etc., que parecem representar exercendo a função de principal centro de concen-
uma transição entre a vegetação de restinga pró- tração e comércio do cacau . Para isso contribui
* Edgar Kuhlmann. de forma preponderante o sistema rodoviário que
99
Bahia (Foto C.N.G. 480- T.S.)
Da Cachoeira do Funil até as proximidades da foz, o rio de Contas encaixa-se num vale profundo e apertado. As margens
talhadas em rochas cristalinas desenham recortes ponteagudos indicadores da resistência ao intemperbmo e à dinâmica fluvial. ·Correndo na di-
reção geral normal à orientação dos gnaisses (N.N.E.-S.S.O.) mas aqui e ali àparecendo bruscas inflexões, o rio de Contas tem o seu curso
subordinado a uma rêde fraturas.
O trecho incluso na fotografia está logo a montante da cachoeira. (Com. C. C. B.)
Estado da BAHIA Municipio de VALENÇA
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Município de ltuberá - Bahia (Foto C.N.G. 481 - T.S.)
No norte da zona cacaueira a encosta do planalto acompanha muito de perto o litoral. No município de ltuberá ela está a poucos
quilômetros da linha da costa, restringindo-se, assim, a faixa do litoral a uma exígua nesga.
A encosta termina por um talude enérgico com um desnível da ordem de 80 metros. Por essa razão o rio Serinhaém a menos
de 10 km da foz cai repentinamente 63 metros de altura formando uma cachoeira, a da Pancada Grande.
Com um potencial avaliado em 5 000 c. v., está sendo aproveitada para. o fornecimento de energia elétrica a grande serraria da
cidade de Ituberá, construída pela Sociedade Anônima Ituberá Comércio e Indústria. (Com. C.C.B.)
A região conhecida como dos tabuleiros pos- nas . Êste fato deve se ligar, entre outras causas,
sui uma certa uniformidade morfológica . Do rio à pequena largura da faixa de areias e à não predo-
Una para o sul predomina a topografia tabular tí- minância de um regime de ventos constantes .
pica dos tabuleiros; estamos em presença da série Colados .à faixa arenosa, recifes de arenito
Barreiras. Do Una para o norte, entretanto, ela alongam-se com freqüência. São entremeados e
é interrompida por um relêvo dissecado em forma continuados pelas formações coralígenas que che-
de outeiros de base arredondada ou alongada; nes- gam a tomar grande extensão da plataforma conti.:.
te caso é o q1aterial cristalino que sofre a modela- nental, notadamente na área· do parcel dos Abro-
gem das fôrças continentais·. lhos.
Separando as barreiras do mar estende-se uma Uma verificação da linha de sondagem mos-
alongada faixa arenosa pontilhada por lagoas e sec- tra-nos um acentuado festonamento da plataforma
cionada pelos rios que cortam os tabuleiros. Cursos no trecho considerado. Com efeito, a largura que
d'água correndo ao "carão" da praia indicam, como se mantinha aproximadamente uniforme até perto
as lagoas, o crescimento dos cordões arenosos . de Canavieiras - cêrca de 2 5 a 3 O km - sofre
Apesar da abundância da areia não aparecem du- brusca mudança ao longo do paralelo de 16°s. atin-
Estado da BAHIA Município de CAIRU
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Em seguimento ao modelado em "outeiros", tão típico do relêvo da Zona Cacaueira das proximidades da cidade de Una para
o norte, dominam a paisagem litorânea os tabuleiros, cortados por vales em V ou de vertentes separadas pelo intenso aluvionamento recente.
Suavemente inclinados para o mar os tabuleiros terminam bruscamente em éscarpas, de altura variada, ou na linha de .costa ou dela
afastados.
Na fotografia a superfície dos tabuleiros está magistralmente representada, dando a· impressão de uma antiga planície hoje sobre-
levada a dezenas de metros, e limitada por uma escarpa ligada à ação marinha.
A análise da falésia conduz a uma apreciação sôbre a evolução da vertente em função do revestimento vegetal como fator de
proteção. Para tanto observemos o trecho da falésia abrangido pela fotografia. Quase na borda direita a mata foi derrubada mais recen-
lemente que em todo o segmento ao sul da vila de Mojiquiçaba. Lá como aqui o perfil da encosta apresenta forma particular. Ao sul de
Mojiquiçaba a derrubada do revestimento florístico, por ser mais antiga, apresenta sinais bem marcantes de descolamento de máterial na me-
tade superior da falésia fóssil, resultando daí um estreito patamar à meia encosta e um depósito colovial de fraco declive no sopé.
No trecho próximo da borda direita não se verifica quebra perceptível na declividade da barreira, 'porque a mata deixou de protegê-la bem
mais recentemente.
Colados à falésia ou separados por ·uma estreita baixada alinham-se cordões litorâneos que obrigam os rios, de pequena des-
carga, a tomarem uma direção paralela à linha da costa. Tal acontece com o rio Mojiquiçaba. (Com. C. C. B.)
gindo 11 O km. Mas sua amplitude máxima será · mostram uma estratificação cruzada, indicando
na área do parcel dos Abrolhos ( 18° S.), onde chega uma deposição subaérea. Estão quase sempre dis-
a 250 km de largura. Estas mudanças são mar- postos horizontalmente ou levemente inclinados, de
cadas por notáveis rendilhamentos, que formam modo que condicionam uma topografia regular.
pontos e reentrâncias nestes bancos submersos . Ao Esta observação de Fróes Abreu, quanto à disposi-
sul do rio Doce novamente ela se estreita, se bem ção geométrica do material, não deve ser generali-
que não tanto como de Canavieiras para o norte, zada para tôda a faixa sedimentar, presumidamente
pois atinge perto de 100 km ao largo do Cabo de terciária.
São Tomé. Os tabuleiros, de acôrdo com Lamego, teriam
Segundo Sílvio Fróes Abreu, a série Bar- sido elevados no pleistocênio . Por ocasião das gla-
reiras é de idade pliocênica e representada por ar- ciações o nível das marés seria mais baixo devido
gilas, arenitos grosseiros e cangas . Êstes arenitos à maior extensão das calotas glaciárias quando num
Estado da BAHIA Município de TAPEROÁ
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O rio Jequitinhonha, antes de se lançar no Atlântico, corre mansamente, descrevendo caprichosos meandros, através de uma pla-
_nície em grande parte resultante da adiposição de cordões litorâneos. Ainda nessa planície ladeando o rio, em certos trechos, aparecem
diques naturais, as "pestanas", formados pela dinâmica fluvial.
Ambos os aspectos morfológicos estão representados na vista aérea, o primeiro destaca-se na metade superior e as "pestanas" no
canto direito superior. Dos dois é mais realçante o feixe de restingas, amarrado na falésia fóssil em que está cortado o tabuleiro, não visível
na fotografia . . · .
Na planície de restingas e na disposição do curso do -rio estão marcados ·fatos que assinalam a posição anterior dll embocadura
e a dificuldade encontrada pela .corrente fluvial de desembocar perpendicularmente à linha da costa. Na parte central da fotografia há
pequenas lagoas alongadas e cordões curvilíneos que formam com as restingas da metade superior. um ângulo obtuso, e se não fôsse a falta
de nitidez da foto perceber-se-ia a continuidade que há entre aquêles cordões e os que dão a nota característica da planície. A virgação
assinalada dá uma das antigas posições de embocadura, a qual, por sinal, se repete na foz atual.
·Antes de margear a cidade de Belmonte (metade direita) o rio inflete-se bruscamente para o norte evidenciando o poder da ação
marinha que foi tal que obrigou-o a mudar de direção pela construção de sucessivas cristas de praia.
Quase no centro do canal formou-se uma ilha, afunilada para jusante, refletindo a existência de uma faixa morta entre dois tur7
bilhões de eixo paràlelo ao rio e a influência da maré, principalmente na sua forma. (Com .. C. C· B.)
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Estado da BAHIA Município de NILO PEÇANHA
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Na região litorânea do Espírito Santo, principalmente ao norte de Vitória, os tabuleiros compõem uma unidade bem caracte-
rística na paisagem geográfica. Chegando a atingir, entre os rios Doce e São Ma teus, quase uma centena de metros de altitude, formam êles
uma faixa distinta entre a costa e a zona cristalina, mais para o interior.
A formação dos tabuleiros, também conhecida como "BARREIRAS", é constituída de argilas e areias depositadas durante o ter-
ciário e se estendem por grande parte da região litorânea do Brasil, desde o Golfão Maranhense até o norte do Estado do Rio de
Janeiro.
Os solos que resultam das argilas e areias terciárias são pobres em sais· minerais e outros elementos químicos em consequência da in-
tensa lavagem a que são submetidos. Resulta daí uma saturação muito baixa e reação ácida com índices de pH 5,0 a 5,5. Evidentemente
não são solos favoráveis à agricultura. nos moldes em que ela vem sendo feita na maior parte do país e sobretudo na Região Leste.
Apesar disso. as matas. dos tabuleiros no Espírito Santo vêem sendo paulatinamente destruídas e em seu lugar se instala um tipo
dP agricultura itinerante. de caráter transitório com base na lavoura de café.
Considerando as técnicas atrasadas do "colono" e a pouca duração do húmus existente em função da própria floresta compre-
ende-se per que ao fim de oito ou dez anos a roça seja abandonada enquanto o lavrador vai iniciar em outro trecho da floresta "a sua
obra pioneira". (Com. N.S.)
fluvial e a amplitude dos vales, os mesmos foram entramos no domínio do cristalino . O relêvo torna-
modelados quando de uma fase erosiva dos tabulei- se movimentado e os outeiros, se bem que de pe-
ros, a da regressão; em seguida sofreram a submer- quena altitude, apresentam vertentes geralmente
são pleistocênica que os afogou. Mas, em vez de íngremes . Êste relêvo domina a paisagem da zona
têrmos uma costa em que o mar penetra profun- cacaueira pôsto que os tabuleiros só reaparecem na
damente, isto é, de "rias", teremos uma costa retilí- altura do Recôncavo.
nea pois a intensa colmatagem nos baixos cursos Separando do oceano a faixa até agora _consi-
mascarou os indícios da submersão. derada, estendem-se planícies arenosas alongadas
A topografia típica dos tabuleiros não se re- no sentido dos meridianos . São de largura· irregu-
pete por tôda a extensão do litoral analisado . De lar, apresentando-se ora mais largas- quando as
Una para o norte é substituída por uma paisagem barreiras estão mais para o interior - ora mais es-
de outeiros, de feições morfológicas próprias . Ela treitas e ora interrompem-se bruscamente. quando
indica que abandonamos a série Barreiras e que pontos rochosos atingem o mar .
5.2
Estado da . BAHIA Municipio de ITUBERA
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Solo pedregoso, apresentando blocos esfoliados, muito comum na zona cacaueira. Nos solos "empedrados" o teor de umidade é
maior, o que é de grande importância para o cacaueiro. (Com. C; C. B.)
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Estêldo da BAHIA Município de CAMAMU
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5km Okm 5 10km
(Foto C.N.G. 4'16 - T~S.)
No estuário do Serinhaém, vez ou outra, aparecem ilhas de. terrenos enxutos, livres, portanto, do recobrimento diurno da maré.
Elas abrigam uma pequena população de pescadores que também trabalha na colheita de côcos da praia.
Tais ilhas, como a das Flôres que aparece na fotografia, não são muito comuns no litoral do município de ltuberá. É aí que ocor-
re a maior extensão de mangues da Zona Cacaueira. (Com. C. C. B.)
Doce e .a do São Mateus são exemplos, especial- A faixa arenosa mergulha, em princípios, sua-
mente o Mariricus. Muitos outros podem também vemente nas águas oceânicas . Não muito distante
ser observados. da linha da costa ela é sucedida por longas filas de
Levando-se em conta a direção da corrente recifes de arenito, em intervalos irregulares . Em
fluvial na praia, podemos perceber qual o ponto de franja ou barreiras êles indicam trechos de antigos
amarração do cordão litorâneo . Duas são as dire- cômoros de praia que foram· isolados pela submer.;.
ções de crescimento: norte-sul e sul-norte. A pro- são. Recebendo com maior freqüência o ataque das
gressão das areias em sentidos antagônicos está es- ondas protegem o litoral contribuindo para que, em
treitamente ligada à topografia da pll:}taforma con- águas mais tranqüilas a aeposição seja maior e a
tinental e mais especificamente à zona que, para o · retificação da costa, mais rápida.
alto mar, se segue ao estiranço. De fato, o relêvo À região dos Tabuleiros, segue-se a região de
submerso, em profundidade nunca superi_or à me-· colinas arredondadas. Para Alfredo José Pôrto Do-
tade do comprimento de onda, impõe modificações mingues a parte superior dessas colinas e os pata-
à direção de propagação da onda . As cartas da Ma- mares estão em altitude mais ou menos igual à dos
rinha do Brasil, em escala da ordem de 1:250.000 terraços. A freqüência dêsses níveis ao longo do li-
permitem assim explicar aquêles creséimentos em toral e sua altitude concordante com a dos terraços,
sentidos opostos . levou-o a pensar na existência de formas aplaina-
58
Estado da BAHIA Município de IPIAÚ
39" 45' W. Gr.
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Fazenda, Lugarejo ou Estação de E. F. o
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interestadual
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interdistrital
E. F. bit. larga
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O desenvolvimento do cultivo da seringueira, no sul da Bahia, vem recebendo o estímulo do Min~stério da Agric':'!tura que, para
tanto mantém no Município de Una um campo de experimentação e outro de demonstração, onde os agncultores da reg1ao recebem no-
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ções técnicas acêrca dos tratos culturais dispensados à esta espécie. Observamos, acima, uma fase da enxertla pelo processo a a ·
(Com. L.G. de A.) .
60
Estc1do da BAHIA Município de UBATÃ
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As crises sucessivas que vem atravessando a cultura do cacau, seja pela queda da produção, dificuldade de colocação do produto
no mercado externo, incidência de pragas ou aumento progressivo do custo da produção, levou o agricultor do sul da Bahia, com estímulo
do Ministério da Agricultura, a buscar no cultivo da seringueira (que aí enccntrou condições ecológicas semelhantes às do seu habitat) uma
outra fonte de renda das mais promissoras, para a economia regional. (Com. L. G. de A.)
Tanto assim, que Alberto Ribeiro Lamego ao ca- em época relativamente recente, sena de prever a
racterizar· o aspecto morfológico dessa área diz : presença de calotas gnáissicas emergindo nas pla-
"O relêvo desta faixa litorânea está dêsse modo con- nícies, como ocorre no sul do Estado do Espírito
dicionado intimamente à formação tectônica da Santo . Considerando êste fato, acha Fróes Abreu
Mantiqueira, originada por um fraturamento para- que tudo leva a admitir a hipótese da existência de
lelo ao bordo continental, e constituída de serras uma grande bacia sedimentar ao norte do Espírito
produzidas por linhas de falhas sucessivas". Êstes Santo e sul da Bahia, correspondente à grande pla-
aspectos são, em parte, semelhantes aos observados nície litorânea que se estende para oeste, até as
no norte do Estado do Rio, onde a serra do Mar sur- elevações dos pontões de Aimorés .
ge no interior, a oeste da baixada . A baixada litorânea ao norte de Vitória pare-
O cristalino da região do litoral, ao norte de ce ser constituída de espêssas camadas sedimenta-
Vitória, foi bastante atingido por fraturas e falhas res acumuladas desde o mezozóico, no dizer de
com direções· gerais N. E . -S . W, isto é, paralelas à Fróes AbrEm . Esta bacia sedimentar é possivelmen-
costa e, também, algumas perpendiculares. te uma bacia de subsidência .
Tomando como base o fato de que o cristali- O estudo da morfologia litorânea do Estado do
no da costa apresenta indícios de movimentação Espírito Santo oferece importantes elementos para
6.2
Estado da BAHIA Município de MARAÚ
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CONVENÇÕES
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Ituberá, antiga Santarém, tem seus quarteirões sôbre os baixos níveis que seccionam a escarpa cristalina não muito distante do
mar. Casarões velhos e um espaço urbano exíguo bem refletem a decadência que a vem dominando por muitas décadas.
Em frente à cidade, numa colina, erguem-se as instalações industriais (serraria e fábrica de compensados) da Sociedade Anônima
Ituberá Comércio e Indústria. A cidade, que há muito vinha se arrastando num marasmo que parecia não ter fim, recebeu novo alento com
a inauguração, em 1951, das realizações da S.A.I.C.J. (Com. C.C.B.)
64
Estado da BAHIA Município de UBAITABA
39'45' W. Gr. 39° 30' 39" 15'
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Município de Ilhéus - Bahia (Foto C.N.G. 412- T.S.)
A expansão da cidade de Ilhéus tem se processado geralmente em direção às praias do norte da cidade, onde se estão formando bair-
ros novos e aristocráticos como o de Copacabana - que futuramente com suas residências modernas constituirá uma nova cidade, diferente
do velho centro de Ilhéus. A fotografia mostra-nos bem um trecho da Cidade Nova já completamente urbanizado com ruas retilíneas, bem
arborizadas e belas residências. · ·
O fator atração pela praia bem como os capitais provenientes do cacau· são os principais motivos da expansão e embelezamento da
cidade de Ilhéus . (Com . A . A . N . )
sul. Isto faz com que êstes rios sofram próximo à queno . Também aparecem nessas lagoas vários
foz uma inflexão orientada na direção de sudeste. braços, os quais se relacionam com os afluentes.
O rio Itaúnas, por exemplo, a uns dez quilômetros Diz Alfredo José Pôrto Domingues que: "Estas la-
do litoral faz um ângulo de 90 graus, percorrendo goas são testemunhos de uma fase de afogamento
cêrca de 15 quilômetros paralelo à costa. da costa, após um trabalho de erosão fluvial que se
Referindo-se à formação dêsses cordões lito- fêz muito abaixo do nível atual . Em virtude de os·
râneos na foz do rio Doce, assim se expressou o geó- rios que vêm ter às mesmas não transportarem
grafo Alfredo José Pôrto Domingues: "A formação muitas aluviões, elas não foram colmatadas, restan-
das restingas é relativamente recente, sendo de ida- do esta estranha paisagem lacustre" .
de holocênica . Os cordões litorâneos são formados, Na planície litorânea do Espírito Santo devem-
. em condições anormais do tempo, pelas vagas, que -se, portanto, distinguir a faixa de restingas e planu-
constituem o processo dominante de regularização ras baixas onde surgem várias lagoas, e os tabuleiros
do litoral. O movimento das areias se faz de norte ou baixos platôs mais para oeste .
para sul, o que determina sério obstáculo para a O geógrafo Alfredo José Pôrto Domingues,
navegação de maior calado, na foz do rio Doce e de num mapa geomorfológico da foz do rio Doce, car-
outros rios, nesta parte do litoral" . tografou estas duas feições do relêvo da área da pla-
Na planície litorânea atravessada pelo rio nície sedimentar, descrevendo com minúcias seus
·Doce existem várias lagoas, tendo formas singula- vários aspectos . Diz êste autor, ao tecer considera-
res, na maioria alongadas, cujo eixo maior é perpen- ções pertinentes ao limite oeste dos tabuleiros, que:
dicular ao atual, correspondendo, por vêzes, a um "Os sedimentos perdem espessura até que fic~m re-
rio importante, mas, em geral, relativamente pe- duzidos a lâminas esparsas sôbre a superfície do
66
Estado da BAHIA Município de ITACARÉ
39"45' W. Gr. 39° 30' 39 '15' 39"
CONVENÇÕES
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Na Zona Cacaueira não é comum encontrarem-se fazendas que ostentem uma aparência cuidada e reflitam no material e disposição
dos edifícios uma administração eficiente e bem orientada. O comum são as "barcaças" e cochos toscos e inadequados e galpões que mal
aqrigam o cacau ensacado. . . .. ,
Na fotografia, a fazenda Bela Vista apresenta-se exatamente com aquêle aspect~ que a ~a_z. sobressair do conJ~;~~to · As barca~as
bem construídas, independentes da casa para os trabalhadores, os cochos para fermentaçao em edlfJclo separado, ~s. depos•tos de .alven~na e
entelhados, que oferecem segurança ao cacau ensacado, todos dispostos co11forme a ordem dós processos de benef1c1amento: fermentaçao -
secagem - ensacamento. (Com. C c C. B. )
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Estado da B. _ Município de URUÇUCA
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39° 15' 39° Des. L. M.
em parte emerge nas baixas marés. Os edifícios pois ela possui projeções bruscas para o Oriente, e
mais altos, até agora os únicos conhecidos, são limi- inflexões para o continente. Referimo-nos também
tados por paredes que caem verticalmente, daí a a uma identação dirigida para S . W. , com cêrca de
denominação de "párias" . Apresenta a protuberân- 100 quilômetros de comprimento, a qual, com as
cia dos Abrolhos uma projeção irregular com inú- protuberâncias, é bordada por profundidades supe-
meras identações entre as quais se destaca uma riores a 1 . 000 metros .
voltada para sudoeste (S. W.) com mais de 100 Baseados nessas informações extraídas das
quilômetros de extensão. cartas de navegação podemos admitir que a fossa
O aspecto dêstes bancos leva à hipótese da de Todos os Santos se prolonga para o sul, até pelo
evolução desta margem continental. Ao norte a menos a altura da foz do Paraíba: é a fossa Cam-
Baía de Todos os Santos é uma fossa tectônica pos -·- Abrolhos - Recôncavo,· de Rui Ozório de
geologicamente comprovada . Os traços de falha- Freitas. A largura variável das projeções coralíge-
mento desaparecem sob as águas, logo após a barra. nas pode sugerir que a fossa se alarga do norte para
Transposta a entrada da baía a plataforma se es- o sul ou que as extremidades orientais dos bancos
treita mais, a partir de Cana'vieiras, como já vimos, apóiam-se no bloco que se manteve em relativa es-
70
Estado da BAHIA Municipio de COARACI
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No vale do rio Doce é muito interessante 0 problema dos di versos níveis de terraços, que podem. ser identificados. Na foto acima
vemos os aspectos da barranca dêsse rio na cidade de Linhares. (Com . A · T. G · )
Estado da BAHIA Município de ITAJUÍPE
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Habitação de caráter transitório, de colono, na zona pioneira do norte do Espírito Santo. Note-se a cobertura da casa com placas de
madeira, comum na região. (Com. N. S.)
se formam nesse período, com os avanços de massas O mês mais chuvoso é dezembro tanto na foz
frias vindas do sul, acarretam a formação de chuvas do rio Doce como em Conceição da Barra, porq"ue
embota menos abundantes nesse período, sobretudo mesmo nesta última estação, as chuvas predomi-
nos meses de outono. Na classificação de Koppen nam no período de outubro a março . Corresponde
a região se enquadra no tipo Aw (quente e úmido ao cliina Am, transição para o clima Ai do litoral sul
com chuvas de verão e estação sêca de outono-in- da Bahia, êste sem estação sêca.
verno), embora não apresente as características tí- A baixada litorânea do sul da Bahia mostra-
picas do clima aludido, a que Koppen denominou -se constantemente úmida. Não há estação sêca,
de clima de savanas . Estas são encontradas no pla- pois as chuvas são abundantes em qualquer época
nalto, nas regiões onde a estação sêca de outono- do ano.
-inverno é bem acentuada, e nas quais cêrca de 80 Interferem, nesse trecho da baixada litorânea
a 90% das chuvas são registradas no semestre de do Leste. regimes pluviométricos diferentes. As
verão (outubro a março) . chuvas de primavera e verão chegam ate a costa,
Em Conceição da Barra, o total elevado com- e por outro lado, elas são também abundantes no
pensa a ocorrência de um período mais sêco entre outono e inverno, porque nesse trecho se faz a tran-
maio e setembro . O mês mais sêco ( agôsto), re- sição para o regime das chuvas de inverno que pre-
gistra uma pluviosidade superior a 50 mm, o que dominam na região do Recôncavo .
não ocorre nas regiões em que as chuvas diminuem Êste aspecto foi muito bem explicado por Ly-
sensivelmente de abril a setembro, comq na foz sia Maria Cavalcanti Bernardes, no texto que se
do rio Doce, onde o mês mais sêco (setembro) assi- transcreve: "às chuvas de primavera-verão que ca-
nala um índice (normal) de apenas 3 7,1 mm . racterizam o planalto interior, vêm-se somar nesta
76
Estado da BAHIA MunicíDio de ILHÉUS
40"W. Gr. 39° 30' 39"
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O município de Ibicaraí localiza-se dentro da zona de economia mista, isto é, de cacau e pecuana. Embora não estejam associa-
das, são essas economias complementares, pois que o gado abastece em carne e leite ·as populações dos municípios cacauicultores. Com o de-
senvolvimento da pecuária têm-se mesmo constituído xarqueadas ·e desenvolvido a indústria de laticínios.
· Os pastos geralmente· cercados, portanto isolados das áreas de lavoura, são plantados com capim colonião ou angola e ocupam as pla-
nícies dos pequenos rios e as baixas encostas dos morros. O cacau ocupa as partes mais elevadas e é cultivado em mata "cabrocada".
Nesta zona as fazendas localizam-se umas próximas às outras; algumas são bem aparelhadas, com barcaças para seca:mento do cacau
e outras rústicas, como a que observamos no primeiro plano da fotografia. A barcaça desta é construída de madeira, coberta de telha, junto
à habitação pobre. (Com. A.A.N.)
78
Estado da BAHIA MuniciDio de ITABUNA-
40° W. Gr. 39"45' 39°30' 39°15'
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40° 39°45' 39-30' 39"15' Oes A. A. F.
I. B. G. E. - Conselho Nacional de Geagroflo - D.G. Projeção de Mercator Divisão Territorial em 31-XII-1956
ESCALA 1:400 000
( 1cm-4 km)
ekm Okm 5 10 15km
Temp. média Temp. média Temp. média Total anual Total mês Total mês
ESTAÇÕES anual mês mais mês mais de chuvas mais chuvoso mais sêco
quente frio (mm) (mm) (mm)
A existência, nesse trecho do litoral da Região modo geral, o aparecimento de uma vegetação de
Leste, de um clima quente e úmido com chuvas tipo predominantemente florestal.
abundantes regularmente distribuídas durante todo Se, entretanto, falta aqui o anteparo monta-
o ano, conseqüência, ao mesmo tempo, de sua lati- nhoso capaz de reter a umidade trazida pelos ventos
tude e da combinação de vários regimes pluviomé- que sopram do Oceano, pois a escarpa do Planalto
tricos, principalmente o de chuvas de outono-in- foi recuada pela ação erosiva dos grandes rios que
verno e o de chuvas de verão, condiciona, de descem, a existência dêsse regime pluviométrico de
A Estação Experimental de Uruçuca do Instituto de Cacau da Bahia recomenda que as "barcaças" para secagem ao sol, das amêndoas
de cacau, não tenham outra função que esta. A recomendação da Estação é prudente porque é muito encontradiça a "barcaça" que !ambém
s~rve de teto para a habitação do homem rural. Tal segundo fim traz prejuízos à qualidade do cacau pois o expõe à fumaça do fogao e do
lampião. '
Na fotografia a "barcaça" se apóia sôbre fundações de alvenaria, à pequena altura do solo, livrando-se, também, da umidade que êle
contém.
O trabalhador que se vê na foto utiliza-se de um rôdo com o qual "mexe o cacau" para que a secagem se faça por igual. (Com.
C.C.B.)
80
Estado da BAHIA MunicíDio de IBICARAÍ
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ntermunicipal
1nterdistrital
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Estr. de rodagem
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40" 39"45' 39' 30' Des. L. M.
1. 8. G. E. - Conselho Nacional de Geografia - D. G. ProJeção àe Mercator Divisão Territorial em Jl.XII-1956.
ESCALA 1:300 000
\ 1cm-3 km)
5km Okm 5 10km
Município de Canavieiras - Bahia (Foto C.N.G. 421- T.S.)
No aparelhamento necessário para o preparo do cacau tem primasia a "barcaça".· Ela é utilizada para a secagem ao sol das bagas
de cacau que aí são depositadas dep-:>is de passarem pelo côcho de fermentação situado sob o telhado, no caso que a fotografia ilustra.
De todos os tipos de barcaça o mais primitivo é o apresentado na fotografia. Ela se compõe de um tabuleiro de madeira de forma re-
tangular no qual é espalhado o cacau para secagem. Recobre-a um telhado de zinco, corrediço sôbre trilhos, que durante os dias chuvosos
e à noite protege as amêndoas .
É comum a "barcaça" servir de teto para a moradia do trabalhador rural. A êsse respeito, a Estação Experimental de Uruçuca
recomenda que não se dê essa função à "barcaça" para que as amêndoas do cacau não sejam afetadas pela fumaça dos lampeões de quero-
sene, do fogão, etc. para o produto final não sair prejudicado. (Com. C. C. B. )
caráter tipicamente marítimo, é suficiente para sus- pécies decíduas. Na verdade, êsse tipo florestal
tentar essa luxuriante floresta perene e tropical sernidecíduo tem urna importância muito maior na
úmida. Zona da Encosta do Planalto, pois o seu apareci-
À medida, porém, que avançamos para o inte- mento vai modificar a economia dessas duaszonas:
rior essas condições climáticas vão sendo atenuadas, enquanto o cacau encontra o seu ótimo de cultura
pois se as chuvas de verão ainda são copiosas, ob- nas florestas úmidas, é nas matas mais sêcas que
serva-se também a tendência para urna estação sê- são estabelecidas as pastagens para o desenvolvi-
ca, se bem que pouco acentuada. Essa diferencia- mento de urna economia que se baseia fundamen-
ção climática, além de ser verificada no interior, é talmente na pecuária .
encontrada mais ao sul do litoral baiano e prinCi- A par do clima, o fator solo é, aqui, o único que
palmente no. norte do Espírito Santo . A tal mu- se mostra capaz de contribuir para impor modifica-
dança no regime de chuvas, corresponde urna outra ções essenciais na cobertura vegetal. Os solos que
na fitofisionornia: as matas aí encontradas compor- provêm da decomposição das rochas cristalinas ri-
tam urna percentagem relativamente grande de es- cas em feldspatos, que ocorrem em largas áreas do
8.2
Estado da BAHIA Município de UNA
39°30' W. Gr. 39°15' 39°
CONVENÇÕES
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Depois de colhido, o cacau é acumulado, formando as "bandeiras" ou "rumas", junto às árvores. Mais tarde são os frutos rea-
grupados junto às estradas ou clareiras que cortam o cacaual. Realiza -se então a "quebra do cacau", retirando-se as sementes do fruto, para
em seguida transportá-lo para os secadores das fazendas, em lombo de animais.
Na foto, um detalhe da "quebra do cacau". (Com. A. A. N.)
Estado da BAHIA MuniciDio de CANAVIEIRAS
o40"W. Gr. 39"30' 39"
CONVENÇÕES
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Esboça-se um movimento de reação do domínio absoluto da monocultura cacaueira. Alguns fazendeiros, que perfazem ainda uma re-
duzida minoria, e os próprios governos, federal e estadual, de alguns anos para cá, vêm trilhando um caminho diverso do tradicional. ·
RespondenClo a esta política recente já se encontram agindo na Zona Cacaueira o Instituto de Cacau da Bahia, preocupado em in-
cutir na mente do fazendeiro o interêsse pela cultura de árvores frutíferas diversas, do café e de outras; o Ministério da Agricultura através
de campos de experimentação e demonstração do cultivo da seringueira.
A fotografia dá uma idéia parcial do que é o Campo de Experimentação do Ministério da Agricultura, próximo de Una. O aspecto das
seringueiras, obtidas de "clones" selecionados, demonstra que a Zona 'Cacaueira, pelas suas condições ecológicas, é um ambiente favorável à
ambientação dessa cultura. O obstáculo mais sério, no entanto, será o de convencer que grandes serão os benefícios da variedade de cultu-
ras. (Com. C.C.B.)
litoral, são da mesma maneira que aquêles prove- Excetuando-se nas pontas rochosas do Crista-
nientes dos depósitos presumivelmente terciários lino e nas falésias· vivas e tocadas diretamente pelas
dos "tabuleiros" e que dominam na região, cober- vagas, a existência de uma linha de praia é sempre
tos pela floresta. Entretanto, os depósitos atuais de obrigatória, seja ela estreita como as que aparecem
natureza silicosa das praias e os argilosos dos fun- ao sopé das "barreiras" ou largas e quase sempre
dos das baías e outras reentrâncias da costa, por sua continuadas para o interior sob a forma de dunas
composição, estrutura e grau de salinidade, apre- e restingas, como é freqüente nesse trecho da costa
sentam a vegetação característica da orla litorâ- brasileira . As condições de estrutura dos solos, pro-
nea: naqueles, vamos encontrar a vegetação psamó- fundidade do lençol freático e salinidade dessas
fita das praias, das dunas e das restingas, e nestes a praias condicionam (após a zona constantemente
halófita dos manguezais. lavada pelas vagas e onde se torna impossível a
Passemos a examinar, do norte para o sul e da fixação da vida vegetal) o aparecimento de uma
linha da costa para o interior, como se distribui a vegetação psamófila onde as espécies mais comuns
vegetação nessa parte do Litoral da Região Leste . são: a popular salsa-de-praia (lpornoea pes ca-
86
Estado da BAHIA MuniciDio de BELMONTE
40"W. Gr. 39"30' 39"
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da a hinterlândia os portos da Zona
Apesar acaueua,
da sua· proJeçao • .
economLCa, a t-'e mesmo no âmbito nacional, êle se defronta com inúmeros obstáculos
como os ligados às condições naturais do ancorado;.ro:. d t . t b ixada apertada entre os morros do Pimentão e de São Sebastião.
Situado numa inflexão do rio Cachoeira, tspoe e uma es r~t a S. . d b ixada homem contornou tais obstáculos construindo
Contando com dimensões reduzidas e pr?fundidade i~suficiente na or a m~_tt~ma ou~rasa há ~orno 0
o assoreamento permanente da barra.
pontes perpendiculares à pista onde esta o o~ armaze~,s ·. Afora essas c~~ :ç~~:nerciais de' exporta cão. A proximidade da estação e do pôr to
Próximo ao pôrto situa~-se. a estaçao ~errovtan~ ':. a~ compan. a ·es do interior cacauei;o com o centro de exportação. a cidade de
põe em destaque a antiga importancta da ferrovia em re açao as comuntcaço
Ilhéus. (Com. C. C. B. )
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Estado da BAHIA Município de SANTA CRUZ CABRÁLIA
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A abordagem do pôrto de Ilhéus oferece uma primeira dificuldade, qual seja a transpostçao da .bàrra do rio Cachoeira. O intenso
assoreamento da foz forma bancos arenosos, que não se descobrem nas baixas marés mas impedem a passagem de navtos cargueiros de grande
calado, exatamente os que levam as sacas de cacau para os grandes mercados importadores, situados no Atlãntico Norte. Em decorrência
dêsse óbice os cargueiros aguardam a carga ancorados ao longo, portanto em pleno oceano. Do pôrto até aos navios o cacau segue em
embarcações de calado muito pequeno, denominadas "alvarengas", como a que ilustra a fotografia. Ora, é óbvio que mais esta operação reflita
no preço do cacau, onerando-o. (Com. C. C. B. )
uma vegetação de fisionomia muito particular, cujo ventos dominantes. Pouco a pouco a combinação
aspecto, segundo Loefgren; lembra "um cerradão de espécies vai-se complicando com o aparecimento
(?) com suas árvores baixas, contorcidas e espaça- dos gravatás ( Bromelia sp.), das palmeiras-da-
das e grande porcentagem de vegetação arbustiva -praia como o guri ri ( Diplothemium maritimum),
e herbácea. Mas o que difere especialmente é a da cabeça-de-frade (Melocactus sp.), do cardeiro
grande quantidade de epifitas que faltam quase to- ( Opuntia sp.) e várias espécies de gêriero Cereus,
talmente nos cerrados campestres. A composição ao lado do araçá (Psidium sp.), do murici-da-praia
geral também difere, havendo apenas poucas ana- ( Byrsonima sp.), para em certos trechos se combi-
logias". narem em pequenos bosques onde vamos encontrar
Se êsse aspecto arbóreo é comum, por outro Clusia sp., Leucothoe sp., Andira frondosa e outras
lado, não deixa de haver o aspecto arbustivo e her- que, em geral, apresentam um habitus xeromórfico,
báceo, pois com o adensamento da vegetação da conseqüência das condições edáficas aí existentes.
praia, surgem aqui e ali moitas de pitangueiras Quebrando essa monotonia, surgem nas de-
(Eugenia sp.), aroeiras (Schinus sp.), quase sem- pressões uma flora higrófila dominada por uma si-
pre mostrando sinais de influência do vento: ligei- nusia graminóide onde juntamente com as Gramí-
ramente inclinadas, desfolhadas no lado exposto aos neas (Paspalum sp.) aparecem Ciperáceas higró-
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Município de 1/héus - Bahia (Foto C N.G. 41.5 T.S.)
O embarque do cacau para os navios que ficam ao largo do pôrto de Ilhéus é feito em alvarengas que cobram cêrca de 12 cruzei-
ros por saca de 60 quilos. A alvarengagem, transportando anualmeote mais de 2 milhões e 700 mil sacas, constitui uma verdadeira indústria
que contribui para onerar os preços do cacau, com prejuízos para nossa economia de exportação. (Com. A.A.N.)
Estado da BAHIA Município de Prado
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dade e que surgem depois dos sedimentos dos "ta- (Simaruba amara), o acaaçu (Mimusops longifo-
buleiros" ou mesmo nas proximidades da costa lia), a maçaranduba (Lucuma littoralis), o jequi-
como em Ilhéus e outros pontos, sustentam uma tibá ( Cariniana legalis) e muitas outras .
floresta úmida luxuriante onde o número de espé- Em seu trabalho "A Vegetação do Município
cies encontradas sobe a milhares; com árvores de de Ilhéus, Estado da Bahia", realizado há cêrca de
grande altura (algumas ultrapassam mesmo 30 me- dez anos, Henrique P. Veloso assinala que numa
tros) muito próximas umas das outras, onde as co- "cadeia de montanhas situadas a poucos quilôme-
pas se entrelaçam ao subir em busca dos raios so- tros da costa marítima e próximo da Fazenda Pou-
lares e cujos troncos e galhos sustentam uma infini- so Alegre" as matas quE! continham "pequenos tre-
dade de lianas das mais variadas grossuras e epí- chos primários intactos" apresentavam principal-
fitas (Piperáceas, Begônias, Orquidáceas, Aráceas, mente duas espécies arbóreas de famílias distintas
Pteridófitas, musgos, etc.) . Sua composição florís- que dominavam sôbre as outras da comunidade "es-
tica, entretanto, e-stá muito longe de ser conhecida, tudada e que eram a Lecythidaceae Lecythis ovata
mas aí ocorrem essências das mais preciosas como e a Rubiaceae Sickingia tinctoria ( araribá), junta-
o jacarandá (Dalbergia nigra), o cedro (Cedrela, mente com a Euphorbiaceae Adenaphaedra mega-
várias espécies), o pau-brasil ( Cesalpinia echina- lophylla, o jacarandá branco (Machaerium aculea-
ta), várias Eugenias, a embira branca, a paparaíba tum), o pequiá (Psychotria rígida), o caissaaca
Ao abrigo de uma enseada na foz do rio Cachoeira, o pôrto de Ilhéus teve no passado uma pos~ção privi~egia~a com:o ponto de passa-
gem dos navios que da Baía de Todos os Santos demandavam os centros de povoamento do sul do ~ats. Tal sttuaçao, mats tarde, assegurou
0 desenvolvimento da cidade de Ilhéus como principal centro do comércio do cacau no· sul da Bahta · . . .
Pequeno para conter 0 movimento do comércio de exportação do cacau ao qual se junt~u o dos pr?dutos regtonats como a ptaçava,
0 café, as madeiras além dos derivados do cacau, e também o de importação de produtos, o porto de Ilheus ressente-se da falta de apa-
relhamento, condições técnicas que permitam dragagens periódicas da entrada da sua barra que tende a desaparecer sob os enormes bancos
de areia aí depositados. _ .
Na foto, vêem-se em primeiro plano algumas instalações do pôrto e ao fundo o rio Cachoeira, que, prem.ido por um cordao arenoso, m-
flete-se para o norte, antes de encontrar o oceano. (Com. A. A. N.)
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(Psychotria sprucei), o buriamem (Sorocea uria- Se nos dirigirmos mais para o interior, à me-
mem), o pau-roxo (Pellogyne densillora), o cedro dida que o relêvo se acentua e que a phiviosidade
( Cedrela lissilis) e outras menos freqüentes" . decresce, a floresta perde a sua exuberância e seu
Estudando a flora dos. rios, charcos e outras caráter pluvial para ganhar uma fisionomia mais
áreas alagáveis, Veloso encontrou -duas espécies aberta onde aos poucos ocorrem com maior fre-
típicas: uma Arácea arbustiva- aninga (Montri- qüência espécies decíduas como a bàrriguda ( Chori-
chardia arborescens) que atinge até a altura de três sia crispilolia) e surge também um maior número
metros e muito sensível à falta d'água e uma Gut- de representantes da família das Leguminosas. Tal
tilerae arbórea que surge às vêzes com altura supe- aspecto além de ser comum, de um modo geral em
rior a 20 metros, ocupando grandes áreas na região todo o limite ocidental da Zona do Litoral Baiano,
próxima a Ilhéus onde constitui "uma forma de iga- se acentua no Médio Mucuri e alto Itanhém e ocor-
rapé amazônico, dando à zona um facies florístico re também ao norte do Espírito Santo onde no alto
de Hylaea Amazônica", pois além de ser encontrada rio Pancas o caráter decíduo incide sôbre 30% a
em outros biótopos, está sempre presente em "ter- 50% das espécies arbóreas. Sem i~dicar a compo-
renos permanentemente alagados ou encharcados, sição florística destas matas, Egler assinala que "aci.
em pequena ou grande área". Se nos lembrarmos ma do paralelo 20°, ocorrem, como partes integran-
que no sul da Bahia o cacau (Theobroma cacao) tes da chamada "mata costeira" ou "mata atlânti-
encontrou condições ecológicas tais ·que possibilita- ca", extensas e contínuas áreas de matas de caráter
ram a sua cultura com ótimos resultados e que pre- indiscutivelmente semidecíduo e que não foram de-
sentemente vem sendo introduzida, com sucesso, na vidamente assinaladas, delimitadas e estudadas" *.
região a seringueira (Hevea brasiliensis), (ambas,
espécies de origem· amazônica), a observação feita O povoamento dêste trecho do litoral leste,
por Veloso, sugere a realização de pesquisas com- caracterizou-se desde os primórdios da colonização
parativas entre a vegetação da Amazônia e a do até as últimas décadas do século passado, pela con:-
sul da Bahia. centração na orla marítima.
Ao encararmos a vegetação florestal do Leste Caio Prado Júnior em seu livro "Formação
Brasileiro, não podemos deixar de referir-nos espe- do Brasil ContempOrâneo" descrevendo o povoa-
cialmente às florestas do Rio Doce, q1:1e se hoje mento do litoral no período colonial, assim se refe-
quase nada representam na paisagem regional, pois re· a êste trecho da costa brasileira: "Caracteriza-se
as derrubadas impiedosas deixaram aqui e ali um êste povoamento pela sua concentração exclusiva
pálido testemunho de sua exuberância primitiva, na orla marítima; não penetra aí além de poucas
foi outrora considerada por Hartt como a floresta léguas, em regra até menos, e. se aglomera exclu-
mais exuberante vista por êsse autor no Brasil, ul- . sivamente ria foz dos rios e na sua redondeza ime-
trapassando mesmo as florestas paraenses. Descre- diata".
vendo-as, Hartt admira-se da altura das árvores Vários fatôres contribuíram para êste isola-
que a compõem e, do grande número de lianas e mento: "a mata densa que acompanha o litoral a
palme~ras além da riqueza da sinusia arbustiva que
pouca distância formando uma faixa ·ininterrupta
e de passagem difícil", o "relêvo acidentado. sobre-
aí aparece, principalmente às margens dos rios da
tudo a partir de Pôrto Seguro" e o gentio, cuja hos-
região, pois "a floresta forma uma densa muralha
tilidade punha em perigo a existência dos povoa-
ao longo do rio - tão densa que o olhar não pene-
dores brancos aí estabelecidos .
tra em sua sombra".
Formaram-se, assim, nos trechos mais abriga-
Das espécies mais comuns aí presentes, Hartt
dos da costa, pequenos núcleos de povoamento, iso-
nos dá uma pequena relação que inclui "o jacaran-
lados uns dos outros pela dificuldade de circulação
dá ou pau-rosa, a cupiúba, o pau-brasil (Cesalpinia
terrestre com ~ída unicamente para o mar. No
echinata), a sapucaia ( Lecyti:Üs sp.), o cedro ( Ce-
litoral baiano Camamu, Barra do Rio de Contas,
drela, várias espécies), ipê (Tecoma sp.), pau-d'ar-
São Jorge dos Ilhéus, Canavieiras, Belmonte, Pôrto
co ( Bisnonia sp.), peroba ( A.spidosperma sp.), o
Seguro, eram os principais. As populações de den-
putumuju, o vinhático e espécies de Genipa, Ma-
sidade fraca limitavam suas atividades às necessi-
chaerium, lnga, Bowditchtria, etc.". Completando
dades de consumo. Em Pôrto Seguro e Ilhéus, for-
essa paisagem tropical, surge uma grande varieda- ·
de de palmeiras, das quais sobressaem o palmito * Egler, W. A. - "A Zona. pioneira ao norte do Rio Doce"
(Euterpe edulis) e a airi (Astrocaryum airi). .;..._ R.B.G. -Ano XIII - 2.
100
Estado da BAHIA MunicfDio de MUCURI
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40" 30' 40• 39° 30' Des. H. S. N.
I. B. G. E. - Conselho Noclonol de Geografia - D. G. Projeçllo de Meroator Dlvlsllo Territorial em 31-XII-1956.
ESCALA 1:1100 000
( 1cm•ll km)
.llkm Okm 11 10 111 20km
maram-se pequenos núcleos açucareiros que não funda, junto à cachoeira do Cravo, uma fazenda
chegaram a um progresso apreciável, devido não só onde instalou mais tarde um engenho . Esta tenta-
às hostilidades do gentio, mas também pelas con- tiva não logrou êxito, pois os índios que trabalha-
d~ções pouco favoráveis do solo. vam na fazenda revoltaram-se, ateando fogo às
No trecho espírito-santense, do rio Mucuri plantações de cana e fugindo em seguida. Outras
para o sul, onde "predominam as terras alagadiças tentativas foram feitas, por outros aventureiros e
e uma linha costeira pejada de extensos depósitos assim ficou desbravado longo trecho do rio São Ma-
arenosos" *, o povoamento desaparecia por comple- teus . Nas fazendas que aí se instalaram o grande
to, com exceção de São Mateus, pequeno núcleo problema era a falta de braços para a lavoura, uma
cuja fundação é dada como sendo 1554 e do po- vez que o elemento indígena era muito inconstan-
voado de Coutins, fundado em 1593 (êste povoado te. Para substituí-lo introduziu-se o escravo afri-
posteriormente chamou-se Pancas; em 1800 pàssou cano, que solucionou temporàriamente o problema,
a denominar-se Linhares, que de 1792 a 1815 foi pois ·com a proibição do tráfico e posteriormente
presídio militar) . com a abolição da escravatura, o problema retor-
Várias foram as expedições exploradoras que nou. Tentou-se, então, a colonização européia e
desde cedo subiram os rios Jequitinhonha, Mucuri em 1888 recebeu esta região os primeiros colonos
e Pardo, à procura de metais preciosos ou para a italianos que, a 24 quilômetros de São Mateus, fun-
preia do índio para trabalhos agrícolas . Não deixa- daram a Colônia Santa Leocádia . Mal instalados,
ram, porém, na paisagem, nenhum indício de po- em área de solos pobres, sofreram, sob a inclemên-
voamento. Cia do clima,· as maiores privações, chegando a um
.Mais tarde foram feitas outras penetrações, levante contra São Mateus. A nova colônia, a de
mas já com a finalidade de ligar o litoral à zona pas- Nova Venécia, fundada dois anos depois ( 1890)
toril do planalto. Assim em princípios do século teve mais êxito, pois localizava-se em área de me-
XIX foi aberta uma estrada ligando Ilhéus ao pla- lhores solos. Em 1924 foi construída uma pequena
nalto de Conquista, para trazer ao litoral o gado estrada de ferro ligando esta colônia à cidade de
criado no alto rio Pardo . Êste empreendimento São Mateus.
não teve sucesso e, em 1816, o príncipe Maximilia- Mais ao sul, nos platôs baixos entre Linhares
no Wied-Neuvied ao percorrê-la, encontrou-a em e Santa Cruz, cederam-se também alguns lotes à
completo abandono. imigrantes italianos, mas o insucesso foi quase total.
Ainda em fins do século XVIII e início do sé- Foi devido aos acontecimentos verificados nestas
culo XIX a fundação, através do vale do J equiti- colônias que o govêrno italiano emitiu a lei de 20
nhonha, dos quartéis de Cachoeira e do Salto, per- de julho de 1895, onde proibia a emigração italia-
mitiu o estabelecimento de um pequeno comércio na para o Estado do Espírito Santo.
entre os núcleos litorâneos baianos e os do sertão Permaneceu assim o trecho litorâneo do sul
mineiro . "De Belmonte enviava-se para o planalto da Bahia e norte do Espírito Santo pràticamente
o sal necessário ao desenvolvimento da sua econo- despovoado até o início do século atual. Somente
mia, a pecuária . Em troca recebia milho, toucinho,. quando a cultura cacaueira se firmasse como explo-
carne sêca, pólvora, algodão, etc."**. ração econômica é que iria se verificar a sua ocupa-
As tentativas de estabelecimento de um co- ção efetiva. Mesmo assim, só os seus extremos
mércio regular entre Minas e o litoral espírlto-san- acham-se realmente conquistados: o norte - zona
tense, através do rio Doce não tiveram sucesso, pe- cacaueira do sul da Bahia - e o sul - zona ca-
.las dificuldades que o rio apresentava à navegabili- caueira do baixo rio Doce e a chamada zona pio-
dade e pelos ferozes ataques dos botucudos . Quan- neira do Espírito Santo . - cujo avanço já transpôs
do Saint-Hilaire visitou Linhares, em 1818, o co- o rio São Mateus . Entre elas temos a floresta que
mércio com Minas Gerais se resumia numa viagem vai sendo invadida pelos madeireiros .
anual por iniciativa dos mineiros . Foi, portanto, "o cacau, o responsável pelo po-·
V árias foram as tentativas de colonização da voamento da região, pelo aparecimento das cidades
região ao norte do rio Doce, a partir de São Mateus. e tipOs de habitação rural bem definidos" .
Em 1870, Antônio Rodrigues da Cunha, o barão de A chamada "zona cacaueira" do Sul da Bahia
Aimorés, inicia a exploração do rio São Mateus e é sem dúvida a que apresenta maior volume de po-
pulação. Os fatôres que mais influíram para êsse
* Caio Prado Junior.
crescimento populacional, foram, desde o início do
*>:< Carlos de Castro Botelho.
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Estado do ESPÍRITO SANTO Município de CONCEIÇÃO DA BARRA
40• 30' 40• W. Gr.
CONVENÇÕES
CIDADE ® IILA @ PDIOJDO o
Fazenda, Lurarejo ou Estação de E. F. o
LIMITES:
Internacional
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intermunicipal
interdlstrltal
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Munlcfplo da Zona Litigiosa Minas Gerais - Espírito Santo
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Na faixa litorânea do Espírito Santo, no trecho compreendido entre Linh~es e São Mateus, a rodovia foi construída sôbre terrenos
sedimentares arena-argilosos, denominados de tabuleiros.
A topografia é de modo geral plana, devendo destacar-se os entalhamentos provocados pelos talvegues de pequenos cursos d'água·
(Com. A.T.G.)
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Estado do ESPÍRITO SANTO Municipio de SÃO MATEUS
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Município de Ilhéus - Bahia (Foto C.N.G. 413- T.S.)
Vista parcial do cais do pôrto de Ilhéus com seus armazéns, depositários do maior produto regional, o cacau. Observam-se ainda as
pontes perpendiculares ao cais, construídas a fim de permitir que navios de pequeno calado ali aportem para receber o produto. É essa a solu-
ção atual, até que o canal que dá entrada ao cais seja desobstruído. (Com. M . M. V. P. )
O desenvolvimento de Itabuna está intima- A ferrovia não foi a única via de comunica-
mente ligado ao fator comunicação. Esta cidade di- ção a conferir-lhe uma privilegiada posição na zona
fere em muitos aspectos do centro portuário da cacaueira . A política rodoviária do Instituto de Ca-
Zona Cacaueira que é Ilhéus . Muito mais jovem cau da Bahia elegeu-a centro rodoviário e, partindo
que esta não se arrastou por séculos sob o pêso da daí, abriu estradas de rodagem que colocaram as fa-
estagnação urbana e econômica. Surgiu quase no zendas afastadas mais próximas de Itabuna. Nú-
alvorecer do surto cacaueiro em volta de um pôsto cleos agrícolas situados ao sul, que mantinham li-
comercial, fundado em 1873, e em pouco mais de gações demoradas com ltabuna como Buerarema,
três décadas, em 1906, Itabuna, anteriormente co- São José, Pratas, Ferradas, ltapé, foram beneficia-
nhecida como Tabocas, foi elevada à categoria de dos pela chegada da rodovia . LOgicamente a posi-
cidade. ção de ltabuna sobrelevou-se e ela passou a ser o
O sítio onde surgiu, não criou os mesmos pro- centro coletor do cacau. Leve-se em conta também
blemas que o de Ilhéus ao seu crescimento espacial. que pela sua posição lhe foi possível drenar a pro-
Não foi obrigada a executar obras custosas ou mes- dução dos detentores das melhores terras cacauei-
mo vencer ladeiras íngremes. Itabuna estendeu-se ras . Eram quase todos êles, até a bem pouco tempo,
ràpidamente pelas colinas mais acessíveis que lá. distritos de Ilhéus: Uruçuca, ltajuípe, Barro Cen-
A chegada da estrada de ferro a Ilhéus, em tral, Pimenteira, Coarari, União, Queimada, Barro
1913, convertendo-a na primeira ponta de trilhos, Prêto e Itapitanga .
transformou-a, também, no centro coletor da pro- Antes de emancipados êles constituíam nada
dução de uma zona agrícola que ainda . não atin- menos que 2/3 do município de Ilhéus. A captura
gira o seu limite climático e também onde a ocupa- econômica por Itabuna foi possível porque ela, an-
ção da terra não atingira o seu clímax. tes da mais recente divisão territorial do Estado da
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Estado do ESPÍRITO SANTO Município de IBIRAÇU
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Fazenda, Lurarajo ou Estação de E. F. o
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interestadual
intermunicipal
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Estado do ESPÍRITO SANTO de ARACRUZ
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Estado do ESPÍRITO SANTO Municipio de SERRA
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O progresso dos transportes e a ocupação in- cauais por cafezais e seringais . O que se está pas-
tensiva da zona cacaueira reduziram o papel do tro- sando em Una demonstra que os cacauicultores
peiro e do contratista . No passado o contratista procuram dar novo rumo à agricultura. Neste mu-
era a figura de pioneiro qUE! a expensas e às ordens nicípio fundou-se uma sociedade anônima denomi-
do "coronel" embrenhava-se no interior, derrubava nada Emprêsa Policultora, nome que por si só fun-
a mata e formava o cacauàl. Na sua esteira, cami- damenta a tendência que nos parece esboçar-se.
nhando pela trilha que abrira na mata, seguia o Milhares de pés de seringueiras já foram plantados
condutor da tropa para recolher o fruto do seu tra- e muitos em terra onde o cacaual foi propositada-
balho e entregá-lo no pôrto de exportação. Era, en- mente derrubado para tal fim . Mais ao norte, no
tão, a roça· do contratista o pôsto avançado da município de Ilhéus, a industrialização do látex já
ocupação e o tropeiro o el.o que a ligava à civi- é uma realidade . Aí, em U ruçuca, processa-se a
lização. confecção de artefatos de borracha ao lado da
O último tipo~ o emprE!iteiro, é encontrado nas cultura da seringueira .
fazendas no período das safras . Ajudado pela famí- As vias de comunicação podem não ser ainda
lia ou assalariando "camaradas" encarrega-se de to- suficientes para garantir o equilíbrio necessário en-
dos os serviços desde a colheita até a "limpa" . A tre a produção e o escoamento, mas é indubitável
colheita dos frutos, a "quebra do cacau", os traba- que é grande a sua capacidade, principalmente no
lhos nos cochos de fermentação, na estufa ou· na que diz respeito às rodovias. No entanto se a pro-
· "barcaça" e o ensacamento são as atribuições espe- dução atinge o litoral, isto é, o pôrto de Ilhéus, en-
cíficas que desempenha na fazenda . Como o con- contra de imediato um óbice . Desaparelhado e de-
tratista, o empreiteiro, salt~tndo de fazenda em fa- samparado, necessitando de dragagens constantes,
zenda, constitui um elemento a mais da mão-de- o pôrto de Ilhéus não pode corresponder satisfato-
-obra instável da zona cacaueira. Terminadas as riamente ao escoamento da produção cacaueira e
safras e a "limpa" procura trabalho nas vilas e cida- também ao abastecimento da mesma . O canal de
des ou vai em busca de outras ocupações nas zonas acesso não permite a entrada de navios cargueiros
vizinhas, para voltar no anCt seguinte . de exportação, de calado superior à profundidade
O avanço da cultura cacaueira, relativamente da foz do Cachoeira. Os cargueiros são obrigados
rápido, se considerarmos como ponto de partida o a aguardar em pleno oceano as "alyarengas" que
seu início comercial (mais ou menos situado na dé- lhes entregam os sacos de cacau. Lutando com tô-
cada dos 90 do século XIX), determinou a amplia- das essas dificuldades, o pôrto de Ilhéus ainda atrai
ção sempre crescente do si~:tema circulatório, prin- grande parte da produção cacaueira exportável.
. cipalmente o rodoviário .
No baixo rio Doce, encontramos a segunda
O estudo da zona cac;aueira feito através dos
área de monocultura do cacau dêste trecho lito-
tipos de uso da terra e do homem a êles ligado, e o râneo.
aparelhamento necessário ;ao abastecimento e es-
A diferença entre esta e a zona cacaueira do
éoamento (veja-se trecho sôbre transporte desta
sul da Bahia, que produz 94% do total do Brasil,
área) leva-nos a concluir que, no momento atual,
só pode existir um desequilíbrio flagrante entre é bem sensível. No caso do baixo rio Doce, a cul-
o fundamento econômico da região e as neces- tura do cacau se restringe a aluviões e terraços
sidades da sua população . Tudo ainda gira em mais baixos do próprio rio, pois além dêle dominam
tôrno da cacauicultura . Se ao lado do cacau encon- os tabuleiros . Os solos cristalinos só aparecem mui-
tramos a mandioca, o milho,, a bananeira, o cafeeiro, to para o interior onde as condições climáticas não
e, mais restritamente, a se:ringueira, é porque de mais favorecem o crescimento do cacaueiro. Apro-
tôdas precisa o cacau para garantir a sombra que veitando as aluviões do rio, a área da lavoura do
lhe é necessária nos primeiros anos de vida. cacau tem a forma alongada, de um lado e do outro
Apesar de ser ainda dominante a monocultu- daquele curso d'água. Além disso o rio Doce é a
ra há certos indícios, tênuen, não resta dúvida, que única via de comunicação entre as propriedades e
funcionam como um indicador valioso da situação o centro de embarque- Linhares, o que explica a
angustiosa em que se debate a cultura cacaueira. localização das sedes e instalações das fazendas de
As pragas, as sêcas, o alto custo da produção, a di- cacau próximo do rio. De Linhares o produto é en-
ficuldade de colocação do produto nos mercados viado a Vitória, pôrto exportador, através de uma
externos são fatôres que levam alguns fazendeiros, boa estrada de rodagem que liga aquelas duas ci-
uma minoria ainda inexpressiva, a substituir ca- dades.
119
Município de ltacaré - Bahia (Foto C.N.G. 4'1'1- T.S.)
1:/.:J.
porte de uma região é medido na razão do desen- çou Poiri ( 1913 ) , às margens do rio de Contas,
volvimento econômico de uma área. indo finalmente atingir, em 1934, Itaguaípe, último
Ontem como hoje per~1iste nesse trecho o pro- trecho construído pela companhia concessionária
blema da deficiência das vias de comunicação. de construção e exploração das linhas férreas na re-
Na época colonial havia necessidade de trans- gião cacaueira .
portar para o interior o sal, alimento básico para o Se bem que o traçado primitivo da estrada
gado. Sabemos que predominava no interior uma previsse a ligação do pôrto de Ilhéus à cidade de
criação de gado extensiva, enquanto o litoral era Conquista, no planalto, a ferrovia ficou limitada a
ocupado por fazendas de cultura e plantações. Os servir à faixa central da zona cacaueira numa ex-
colonizadores, a fim de atender a essa exigência, es- tensão de 130 quilômetros,· entre Ilhéus e Itabuna.
tabeleciam "caminhos" que partiam do litoral em A inauguração do ramal ferroviário de Ubai-
demanda as fazendas de gado, caminhos êstes deno- taba veio expandir a ferrovia para o Norte, atrain-
minados na época "estradas saleiras" e "estradas do o comércio dos municípios de Ybaitaba, de parte
boiadeiras" . de Itacaré e atingindo os de Maraú, Camamu e
Com o aparecimento d.e novos ciclos econômi- Ipiaú.
cos houve com êles novas tentativas de melhoria de Embora tenha desempenhado importante pa-
transporte . O desenvolvimento da exploração e pel nas comunicações regionais, a Estrada de Ferro
cultura do cacau no sul da Bahia permitiu que ou- Ilhéus- Itabuna já perdeu parte dessa importân-
tra modalidade de comunicações fôsse utilizada em cia com a construção das rodovias que tendem cada
grande es~ala: os rios, verdadeiras estradas móveis vez mais a resolver o problema de transporte da
que correspondiam à necessi.dade de fácil escoamen- zona cacaueira.
to do produto. Duas outras ferrovias ligadas à economia do
Êstes rios, dentre os quais se salientam o Ca- cacau existem nesta área, a Estrada de Ferro Na-
choeira, o Pardo, o Almada, o de Contas e o Jequiti- zaré, cujos trilhos ligam, hoje, o pôrto de São Ro-
nhonha, chamados "os rios de cacau", tiveram sem- que, logo abaixo do de Todos os Santos, à cidade de
pre uma grande importância regional, e continuam Jequié, e a Estrada de Ferro Ilhéus- Conquista.
a servir de escoamento à produção cacaueira . Aliás, Além desta e de grande importância na re-
uma das razões do bom êxito da cultura do cacau gião, surge mais ao sul, no litoral espírito-santense,
no vale do Jequitinhonha teria sido, além da ferti- uma outra estrada de ferro - a Vitória - Minas,
lidade das terras marginais, o baixo custo do trans- ligada à economia do minério de ferro no planalto.
porte fluvial. De fato pelo Pardo e pelo Jequiti- Em 18 7 5 foram feitos os primeiros estudos
nhonha, que servem aos portos de Canavieiras e para a construção de uma ferrovia que ligasse o pôr-
Belmonte, ainda descem canoas "tesadas" de sacos to de Vitória ao de Natividade no rio Doce. Após
de cacau que são depositados em armazéns de fir- sucessivas remodelações e inúmeros estudos a Vi-
mas exportadoras nos portos citados. tória - Minas alcançou finalmente em 1904 um
Ao lado daqueles, os rios Cachoeira e Almada. traçado simples que realizou a contento a ligação
contribuíram para fazer de Ilhéus o principal pôrto do "hinterland" com o litoral, favorecendo a mobili-
exportador de cacau, posição essa logo depois re- dade e a circulação de populações e o desenvolvi-
forçada pela construção da estrada de ferro e da mento da produção regional, renovando a economia
rodovia, que dão acesso ao mesmo pôrto. local e expandindo o comércio dessa região .
O aparecimento da estrada de ferro na. parte Tratando-se de uma ferrovia cujo objetivo
central da região cacaueira e posteriormente o das principal é transportar para Vitória o minério de
rodovias, reduziu um poucCI o papel dos rios no es- ferro de Itabira, é êste produto o que mais pesa no
coamento do produto, sem •:ontudo suprimi-lo, pois movimento da estrada. Apesar disso, a Vitória -
que ainda hoje se transporta cacau em embarca- Minas procura satisfazer às necessidades de escoa-
ções fluviais até as estações ferroviárias . mento da produção no Vale, realizando também, c
O primeiro trecho ferroviário construído na transporte de passageiros .
região foi entre Ilhéus a ltabuna e deslocou os pri- "No que concerne às rodovias dêste trecho li-
mitivos centros receptores de cacau, localizados nos torâneo, foi decisiva a atuação do Instituto do Ca-
baixos cursos dos rios Cachoeira e Almada. Ainda cau da Bahia .
nessa época foi concluído um ramal para Uruçuca A fundação da autarquia econômica, em 1931,
( 1911) partindo daí a ponta de trilhos que alcan- acarretou uma profunda transformação na rêde de
1:1.3
comunicações que até então tinha como bases dar nascimento à antiga BA-2. Desenvolvendo-se
fundamentais os baixos cursos dos rios, as tri- paralelamente ao traçado da estrada de ferro, ofe-
lhas abertas na mata e mais tarde, a partir recendo transporte mais rápido, a preferência dos
de 191 O, a Estrada de Ferro Ilhéus - Conquis- plantadores e compradores não se demorou a se ma-
ta (atualmente Estrada de Ferro Ilhéus) . Co- nifestar favoràvelmente pelo caminhão. O confli-
mo conseqüência da atuação do Instituto, pau- to entre o caminhão e o trem torna-se realçante
latinamente, as primeiras vias encaminharam-se. confrontando-se a tonelagem transportada pelo
para a decadência em detrimento da rêde rodoviá- trem e o movimento de exportação pelo pôrto de
ria. Hoje a sua posição no conjunto viatório é in- Ilhéus.
contestável. Senão vejamos: Atravessando a zona
DADOS DEMONSTRATIVOS DO TRANSPORTE DE MERCA-
cacaueira, cortando-a de norte a sul, desenvolve-se DORIAS PELA E.F.I.•:• E DA EXPORTAÇÃO DE CACAU
a linha mestra do sistema, a BR-5, antiga BA-2. PELO PORTO DE ILH~US **
V árias; são as razões que colocam esta estrada em
tal categoria, como: 1.0 ) disposta no sentido dos Mercadorias Exportação de
meridianos subordina-se à disposição das faixas eco- transportadas cacau pelo
ANO pela E.F.I. Pôrto de Ilhéus
nômicas, portanto, as não beneficiadas diretamente (toneladas) (toneladas)
o são por ramais de pequena extensão; 2.0 ) a pou-
ca distância do litoral ela repercute na economia 1947 .......•....... 15 033 59 756
costeira; 3.0 ) a BR-5 funciona como condensado- 1948 ••.....•.•.•... 15 585 49 017
ra de população. 1949 •....•......... 27 148 100 000
1950 ••.•..• ; ..•.•.. 33 703 98 622
Nesta linha-tronco confluem estradas com-
plementares do litoral e do sertão que esboçam um
futuro rendilhado de estradas capaz de garantir um No quadro acima nota-se que a tonelagem
rápido escoamento da produção e, em sentido in- transpo~ada pelo E. F. I . engloba o movimento
verso, uma distribuição eficiente das necessidades geral de mercadorias, por conseguinte, tanto no sen-
da zona. Das linhas complementares destaca-se a tido da exportação quanto no da importação e, tam-
Ilhéus - Itabuna, a artéria vital do movimento ca- bém, não se especifica somente o movimento ca-
caueiro do pôrto de Ilhéus. Esta é a estrada que caueiro e sim o de mercadorias em várias espécies.
articula todo o sistema viatório da região ao único .~pesar da ausência de dados podemos concluir que
pôrto organizado do sul da Bahia . Tanto a expor- cêrca de 80% do cacau embarcado em Ilhéus são
tação de grande parte da produção agrícola como a ·entregues pelo caminhão. Os 20% restantes distri-
importação têm que se servir desta estrada. De buem-se entre o trem e os barcos de pequena ca-
Itabuna corta a zona cacaueira até Floresta Azul botagem, que vindos de outros portos se destinam
e daí para oeste penetra pelo sertão pastoril e se ter- a Ilhéus carregados de cacau .
mina em Conquista . Os dados estatísticos e os fatos mencionados
Outras estradas, de importância secundária caracterizam bem o estado atual da ferrovia em
são as que se dirigem para Valença, Ituberá, Ubai- relação às rodovias e deixam a entrever o futuro
taba, Una, Canavieiras, Jequié e Jussari. · do trem no transporte do cacau .
Levando as suas estradas a núcleos produtores A disposição dos traçados da ferrovia e das
rodovias, estas estendendo-se paralelamente à linha
mais interiorizados, o I . C. B . livra o cacau das lon-
férrea ou unindo as pontas dos trilhos, contribuiu
gas caminhadas no dorso dos animais até alcançar a
para a decadência dos transportes ferroviários . Não
linha férrea . Era esta a situação dos centros de Bue-
houve, de maneira alguma, a preocupaçãÔ de pro-
rarema, Ferradas, Itapé, Barro Prêto, União Quei-
mover a cooperação entre os meios de transporte .
mada, Pimenteira, Itapitanga, etc. . . . O cacau des-
Sem poder oferecer tráfego rápido, sem poder ofere-
sas localidades buscava Itabuna, onde o trem o le-
cer segurança, imperou a concorrência, de efeitos
vava ao pôrto de Ilhéus. Mas com a rodovia Ilhéus
desastrosos para o trem * * * .
- Itabuna, construída pelo Instituto, apareceu o
Hoje a principal via de comunicação da zona
primeiro sinal da concorrência que se avizinhava
cacaueira é a rodovia Bahia - Espírito Santo iden-
entre o caminhão e o trem.
De Itabuna e do Norte abriram-se estradas * Dados fornecidos pelo escritório da estrada de Ilhéus.
que, através também da atuação do Departamento ** Dados fornecidos pelo Serviço de Documentação e In-
formação do I.B.G.E.
de Estradas de Rodagem da Bahia, uniram-se para *** Carlos de Castro Botelho.
tificada no plano estadual por BA-2 e incorporada as restingas, as lagoas e terraços do litoral da Bai-
ao Plano Rodoviário Nacional BR-5. xada Fluminense, os maciços litorâneos, as ilhas
Na realidade a BA-2 não é mais que a exten- que representam o bordo externo de uma crista da
são para o norte e para o sul da rodovia Gandu- serra do Mar e a grande planície das aluviões da foz
Pedra Branca do plano IBC. Essa estrada liga do Paraíba, cuja saída para o litoral parece ter obe-
Ilhéus à Capital do Estado, busca o extremo Sul decido a uma direção ditada pelo arqueamento
baiano onde se articulará com a rêde rodoviária es- cristalino W. N. W. -E. S. E. que deu origem a
pírito-santense . grande falha hoje ocupada pelo vale.
Das linhas complementares que partem em No Estado do Espírito Sant<? tem-se, ao Sul de
direção a essa rodovia além da estrada Linhares - Vitória, um litoral onde os acidentes do relêvo são
Vitória, destaca-se a rodovia Ilhéus-ltabuna, cuja formados por um prolongamento da serra da Man-
importância é devida ao -pôrto de Ilhéus e ao es- tiqueira (Cadeia Frontal), enquanto as baixadas
coamento da produção cacaueira . são inexpressivas, especialmente, entre o limites
A rodovia Linhares - Vitória parte de Vitória
norte do Estado do Rio e a baía de Vitória, onde
em direção ao norte, cruza o. rio Doce em Linhares
formam uma estreita nesga de terras, imprensada
e atravessa o município de Bão Mateus em direção
entre o mar e os elevados maciços cristalinos .
ao sul do estado da Bahia ,onde se ligará à BA-2.
Ela atravessa zonas de intenso movimento de ocu- a) - A Ria de Vitória- o mapa geológico
pação de terras onqe se fa.z com êxito a cultura
da faixa litorânea do Espírito Santo mostra que
do café e cacau.
na zona de Vitória as rochas do complexo granito-
Complementando o sistema de transporte e
-gnáissico afloram em grande extensão, enquanto
comunicação dessa região, dtam-se os portos ma-
de modo geral se observa uma faixa costeira longi-
rítimos que escoam, para o exterior, o cacau, prin-
cipal produto da economia regional e ainda, o mi- tudinal de larguras variáveis, constituída de mate-
nério de ferro vindo do interior. riais recentes. Ao norte da ria de Vitória a largura
Dos portos cacaueiros, o mais importante é o máxima observada na foz do rio Doce, é de 80 qui-
de Ilhéus, cuja área de influência comercial esten- lômetros aproximadamente, enquanto em Itapemi-
de-se desde Gandu até Itapebi, às margens do Je- rim é de apenas 3 quilômetros.
quitinhonha. A êle se segue o de Belmonte (que Na região de Vitória o granito aflora em vá-
também sofre influência de Ilhéus), o de ltacaré e rios morros. No do Atalaia, por exemplo, onde foi
o de Ituberá, êstes por sua localização, sofrem maior construído o cais de minério e o silo, aflora um
influência de Salvador. gnaisse granítico, bastante resistente à meteoriza-
A inacessibilidade do pôrto de Ilhéus em ra- ção e rico em cristais de hornblenda. Os gnaisses não
zão da colmatagem que está se processando no ca- afloram com tanta freqüência como os granitos na
nal de acesso ao cais situado no rio Cachoeira, pou- área de Vitória .
co antes de chegar ao oceano, tem concorrido ulti- Neste trecho do litoral espirito-santense, veri-
mamente para que o mesmo ceda, eni parte, sua ficam-se várias oscilações, entre o nível das terras
importância ao pôrto de Salvador, onde a facili- e dos mares. José Veríssimo da Costa Pereira cha-
dade de acesso e a existência de uma alfândega mou a atenção dos geomorfólogos para êste fato
própria facultam um maio!' movimento de expor- dizendo: "em primeiro lugar, houve erosão fluvial
tação do cacau. num nível de 50 a 65 metros; depois, outro movi-
Ao sul da região em eBtudo os principais por- mento positivo até o nível de 25-35 metros e de 15
tos são: Barra e São Ma teus exportadores da pro- a 20 metros acima do mar, formando prováveis fa-
dução madeireira do Norte do Espírito Santo. lésias e pequenas plataformas litorâneas, atual-
mente ocupadas pelo homem; em seguida um mo-
O LITORAL DE VITÓRIA A ILHA vimento negativo do mar, produzindo aprofunda-
DE SÃO SEBASTIÃO mento gradativo e considerável dos rios; e final-
mente, outro movimento negativo até um metro
Os traços físicos mah característicos e que acima do nível atual do mar ( canelura do morro do
merecem maior destaque no litoral leste são: as Penedo)".·
rias de Vitória e da Guanabara, as escarpas da serra Na paisagem da região de Vitória aparece
do Mar chegando em pared~io abrupto até o oceano, uma série de penedos, sendo que a mais notável de
tôdas as elevações do antigo arquipélago é a pró- sais ao bordo continental, fàcilmente compreende-
pria ilha de Vitória, no dizer de A. R. Lamego. remos como esta zona fragmentada por dois tecto-
Em Vitória, à semelhança da Guanabara, exis- nismos consecutivos, um com fraturas normais à
tem várias ilhas, destacando-se entre tôdas a do costa e outro com rompimentos paralelos, deve ter
Príncipe, que serve de pegão às duas pontes ligando, complexa estrutura interna com mergulhos de gran-
por estrada de ferro e de rodagem, a capital do des massas de rochas e uma conseqüente estrutura
Espírito Santo ao continente . externa topográfica acidentada de relevos descone-
Na baía de Vitória as ilhas mais importantes xos" . O aspecto da cadeia Frontal no litoral do
são: Cabras, Fumaça, Urubu e Pombas, sendo que Espírito Santo se faz sentir até ao rio Benevente,
logo à sua entrada destacam-se várias ilhas: Boi, quando começa o seu esfacelamento. É preciso sa-
Frade, Bode, entre as maiores, e Rosa Calhetas, lientar o fato de ser êste ramo do sistema da Manti-
Rainha, Cinzenta, Catoré e Forca, entre as menores. queira considerado por alguns autores como o co-
Na paisagem física da .região da capital capi- mêço da Serra do Mar. Silvio Fróes Abreu, por
xaba destacam-se portanto morros e colinas de for- exemplo, ao considerar a morfologia dessa área aci-
ma arredondada e várias ilhas, lembrando dêsse dentada, do litoral ao sul da baía de Vitória, diz:
modo a Guanabara. Diz o Professor José Veríssimo "Ao sul do Espírito Santo a baixada litorânea limi-
da Costa Pereira: "Êste contraforte (da Chibata e ta-se a uma faixa estreita entre o oceano e as ele-
não Aimorés) montanhoso é responsável pelos mor- vações da serra do Mar, sendo constituída pelas
ros e colinas que dão um aspecto pitoresco à pai- barreiras terciárias e as areias e argilas do quater-
sagem de Vitória que lembra um pouco a Guana- nário e atual".
bara, onde, entretanto, não há rios da envergadura O estudo geomorfológico da zona costeira do
do Jacu e do Sant,a Maria, nem a cidade edificada sul do Espírito Santo revela a existência de unia
em ilha, a altitude do cadeão baixa progressivamen- superfície de erosão de rochas antigas pertencentes
te a partir de 900 metros, na direção E.-W. , insi- ao complexo cristalino, que desce para o leste, isto é,
nuando-se entre os vales do Jacu e do Santa Maria. para o Atlântico. Na beira-mar vêem-se de quando
O exame de ilhas constitui os últimos remanes- em vez afloramentos de calotas dessas rochas arcai-
centes do referido cadeão" . cas à superfície. A sedimentação cenozóica, especial-
A forma arredondada dos pontões em Vitória mente os terrenos da série Barreiras fossilizaram
é uma decorrência do trabalho da meteorização tro- em grandes extensões aquela superfície de erosão.
pical, especialmente da decomposição das rochas.
Sílvio Fróes Abreu ao tratar de tais elementos
Diz ainda José Veríssimo, referindo-se a Vitória, ba-
morfológicos da costa, ao sul de Vitória, disse: "A
seado em conclusões de Francis Ruellan: "trata-se
observação mostra que há somente um delgado
de uma região de vales submersos no mínimo, ou
manto de argilas e areias cobrindo um peneplano
de uma costa de ria, que nada mais é, segundo a
estrutura geológica e a evolução do relêvo conti- arqueano pois aqui e acolá surgem testemunhos do
nental, do que um vale ainda não amadurecido ca- complexo cristalino, quer emergindo da planície
vado no maciço continental e invadido pelo mar". arenosa, quer formando as corredeiras no fundo de
A baía de Vitória é a reentrância mais importante pequenos vales, quer surgindo da superfície do mar,
de todo o litoral do Espírito Santo . como as ilhas Rasa, Escaloada e do Francês. Na\-
No sul do· Espírito Santo a Cadeia Frontal guns trechos a planície penetra mais para o interior,
forma o primeiro degrau do sistema da Mantiqueira, como em ltapemirim e Itabapoana seguindo o vale
cuja paisagem contrasta brutalmente com os aspec- dos rios e enchendo as depressões do terreno crista-
tos que existem ao norte de Vitória. Quem viajar lino, porém, à medida que se avança para oeste elas
de Itapemirim até a baía de Vitória terá sempre se reduzem muito, apertadas entre as calotas do
o seu horizonte barrado na direção de oeste pelas cristalino erodido" .
elevações que formam a Mantiqueira. A. R. Lamego Quem percorrer a área do litoral sul do Espí-
diz a êsse respeito: "Parece ter ali havido um fra- rito Santo terá naturalmente que observar a cons-
turamento geral do galho da Cadeia Frontal da tância dos abruptos das Barreiras a pouca distância
Mantiqueira que pràticamente se esfacelou. Se do oceano. Elas formam como que uma linha de
conjugarmos o dinamismo do sistema de falhas do falésias fósseis. As baixadas e os largos vales, de
qual resultou esta cadeia, com o que sugerimos ter fundos atulhados de material recente, são outros
existido anteriormente originando fossos transver- tantos aspectos geomórficos que servem como argu-
f:Z6
Estado do ESPÍRITO SANTO Município de CARIACICA
40" 30' W. Gr.
CONVENÇÕES
CIDADE @ VILA @ rDVDADD o
Fazenda, lugarejo ou Estação de E. F. o
LIMITES:
internacional
interestadual
Internacional
lnterdistrital
E. F. bit. larga
E. F. bit. normal
E. F. bit. estreita
Estr. de rodagem
Estr. carroçával
linha telegráfica
Rio intermitente
Alagado
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40'' 30'
Projeção de· Mercator Transversa
I. 8. G. E. - Conselho Nacional de Geografia - D. G. ESCALA 1: 200 000 Divisão Territorial em 31-XII-1956.
( 1cm-2 km)
2,5km Okm 2,5 5 7 ,5km
mentos compreensíveis, no que diz respeito aos mo- exemplo em Guarapari onde surgem as areias mo-
vimentos transgressivos e regressivos do mar . nazíticas.
Na paisagem morfológica do sudeste do Espí- A oeste dos terrenos da planície sedimentar
rito Santo devemos acentuar que os sedimentos ce- surge o relêvo acidentado, morros oriundos de ro-
nozóicos da série Barreiras formam um pequeno chas do complexo cristalino, que se antepõem em
escarpamento ao longo de tôda a costa, à semelhan- linhas gerais ao escarpamento do sistema da Manti-
ça de um abrupto de falésia fóssil. queira, com seus belos e sugestivos pontões, por
No litoral do Espírito Santo, diz Laster C. King vêzes em forma de caninos .
.que: "as barreiras não só cobrem a planície costeira
Quem viajar por esta área não poderá deixar
produzida pela ação do ciclo Vilhas, mas penetram
de assinalar a existência de grande número de blo-
também pelos vales por entre as grandes massas
cos de desmoronamentos, bem como o fenômeno
graníticas residuais que se elevam a centenas de
de caneluras verticais que nêles aparece.
metros até atingirem o aplainamento superior da
superfície sul-americana". A baixada do sul do Espírito Santo é até certo
Os vales que atravessam a planície são de fun- ponto uma continuação da baixada de Campos que
do bastante largo e desproporcionais à largura dos se destaca no litoral oriental do Estado do Rio de
rios que aí correm. A transgressão marinha recente Janeiro. Tanto assim que Lamego tratando da mor-
lançou dentro dêsses vales largos materiais mais fologia dessa área diz: "a diferença principal na
recentes que o das barreiras. De modo que em cer- estrutura fisiográfica do sul do Espírito Santo em
tos fundos de vales vêem-se grandes bancos de areia, confronto com a do Rio é a inexistência de um
que atestam a recente invasão marinha. grande rio de curso paralelo à costa, como o Paraíba,
Na costa, destaque deve ser dado às praias orientado numa calha derivada de fenômenos tec-
onde se encontram minerais pesados, como por tônicos e estratie:ráficos" .
1:2.8
Estado do ESPÍRITO SANTO Municipio de VITÓRIA
W. Gr.
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CONVENÇ61tS
CIIWJI •® VILA @ POIOAOO o
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Fazenda, Lucarejo ou Eataçio de E. F. o
LIMITES:
Internacional
interestadual
intermunicipal
lnttrdlstrltal
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E. F. bit. larra
E. F. bit. normal
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·,PONTA DO TUBARÃO
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2001
30
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Ilha ~o Sul~
ILHA DA I TRINDADE
32 1 17' 32'
29°21 20 19 18
15'
Aspecto do relêvo da faixa costeira ao norte de Guarapari, vendo-se as terras da planície e o abrupto montanhoso dos pontões
de Cadeia Frontal. (Com. A. T. G.)
A área onde se formou o extenso delta do Pa- interior e a mais importante destas depressões é a
raíba, uma planície de cêrca de 50 km de largura, lagoa Feia, que está sendo colmatada.
não resulta apenas da grande descarga sólida do rio A origem dos lagos da planície dos Goitacazes
tão volumoso. Sua origem parece estar condicio- se prende ao aluvionamento, provocando, os cor-
nada a fatôres tectônicos, como mostram as dire- dões litorâneos, o aparecimento de tais porções de
ções do próprio rio Paraíba. Esta fossa ( ? ) , em águas. Neste particular, deve-se acentuar, como fi-
Campos, está colmatada de sedimentos pleistocêni- zeram os geógrafos Pedro Geiger e M. G. Coelho
cos com calotas terciárias aflorantes. Diz Ruy Ozó- Mesquita, o fato do desaparecimento de várias la-
rio de Freitas que a fossa de Campo~ exibe uma goas por colmatagem humana, como: Floresta, Sa-
nítida subsidência separável do afogamento eustá- quarema (município de Campos), Taí Pequeno,
tico generalizado modernamente na costa do Brasil. Abobreiro, Coqueiros, Guiaba e outras, situadas en-
A rutura da Serra do· Mar segundo a direção tre a lagoa Feia e a foz do Paraíba. Estas lagoas
W .N. W .-E. S.E. por pnde o rio Paraíba ganha citadas achavam-se assinaladas no mapa do Estado
o oceano sugere fortemente que essa linha se pro- do Rio de Janeiro, de 1950, na escala de 1:400.000.
longa até a sua foz; por outro lado a extensa sedi- No Estado do Rio, a baixada de Campos apre-
mentação parece ocultar grande espessura, comum senta também, em sua morfologia, uma sucessão de
às fossas tectônicas. antigas restingas que mostram, segundo A. R. La-
A morfologia desta área é marcada pela exis- mego, uma retificação do litoral e não uma variação
tência de grande número de lagos, até bem para o no nível das terras ·e mares.
130
Estado do ESPÍRITO SANTO Municipio de ESPIRITO SANTO
40° 30' W. Gr. 40° 15'
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Aeroporto
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40°15' Das. A.G.
40° 30'
Projeção de Mercator Transversa
I. B. G. E. - Conselho Nacional de Geografia - O. b O:SCALA 1:200 000 Divisão Territorial em 31-XII-~956
( lcm-2 km)
2,11km Okm 2,15 5 7 ,5km
,--------~------~--------,--------.
O litoral oriental do Estado do Rio de Janeiro, abrupto escarpada da Serra do Mar. Neste trecho
ao norte de Cabo Frio, apresenta aspectos comple- do litoral há dois compartimentos submersos - a
tamente diferentes dos das restingas. baía da ilha Grande e a baía de Guanabara.
No trecho atravessado pela rodovia entre Ruellan denomina de depressão de ângulo de
Campos e Macaé, passa-se da área dos tabuleiros falha; à faixa deprimida das baixadas que ocorrem
para a de morros de formas muito regulares. A su- no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, entre o
perfície de erosão que cortou estas rochas cristali- abrupto da Serra do Mar e os Maciços Costeiros.
nas bastante decompostas faz com que em certos Deve-se salientar que o relêvo atual dêste trecho
casos não seja possível distinguir a superfície dos do litoral da Região Leste sofreu no seu modelado
tabuleiros das que resultam da decomposição de grande influência oriunda da variação entre o nível
rochas ~cristalinas. Ambas foram cortadas por um geral das terras e águas.
mesmo ~iclo erosivo, já que a natureza das rochas No litoral do Estado do Rio há também certos
é diferente: tabuleiros - sedimentar e morros de traços morfológicos, que lhe dão individualidade.
formas regulares - cristalino. Neste caso estão as lagoas costeiras e as restingas .
Na fachadasul do litoral do Estado do Rio de
Janeiro, no trecho que medeia entre Parati e Cabo b) A Baixada Fluminense e a Baía de Gua-
Frio, há no dizer de Ruy Ozório de Freitas uma nabara - É definida, de uma maneira geral, como
espetacular linha de alundimento, sendo a muralha Baixada Fluminense, a. área do Estado do Rio de
de leste descontínua e interrompida várias vêzes, Janeiro situada entre o oceano e as encostas da
enquanto a de oeste é contínua e representada pelo Serra do Mar. Dessa forma, sob tal designação são
Aspecto do nível de 30 metros da ponta dos Castelhanos, no litoral espírito-santense. Vista tirada da margem direita dó rio Bene-
ventes, em frente à cidade de Anchieta. (Com. A.T.G.)
132
Estado do ESPÍRITO SANTO Municipio de VIANA
40" 45' 40° ;o· W. Gr. 40° 15'
CONVENÇ6ES s
CIDADE ® IUJ © POYOAOO o
Fazenda, Lugarejo ou Estação da E. f, o
LI M I T E·S:
Internacional
Interestadual
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lnterdistrital o
15' E. F. bit. larga
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No trecho litorâneo entre Anchieta e Guarapari existe uma superfície de erosão que se acha no nível de 50 metros. Percor-
rendo-se esta superfície observa-se que ora estamos em cima de tabuleiros, ora em cima do cristalino. Ambos os terrenos se encon-
tram na mesma altitude.
O topo da superfície dos tabuleiros e do cristalino é bem regular, tendo havido um entalhamento produzido por um ciclo de
erosão mais recente que dá aparecimento a talvegues secos com 15 a 20 metros ·de profundidade. (Com. A. T. G.)
incluídas formas diversas de relêvo: as planícies em seguida percorrer-se extenso areal de antigas
aluviais, os morros arredondados em diferentes ní- restingas. Ao norte de Barra de São João a topo-
veis de erosão, os tabuleiros bastante dissecados, e grafia é assinalada por vários pântanos .
até os maciços litorâneos, em geral bastante escar- Os maciços litorâneos apresentam uma varie-
pados para o lado do mar, atingindo altitudes supe- dade grande de rochas do complexo cristalino pre-
riores a 1.000 metros como, por exemplo, o maciço dominando, no entanto, os gnaisses e os granitos .
da Tijuca. Do ponto de vista geológico a diversidade Na baixada, propriamente dita, as diferenças de ro-
é também enorme: sedimentos quaternários domi- chas pouco podem influenciar nos tipos de solos já
nam ao norte da baixada, na planície do rio Paraíba, que muitos outros fatôres atuam na formação dos
embora existam as restingas de origem marinha; mesmos.
da mesma forma, são extensas as formações quater- Na Baixada Fluminense verifica-se a passa-
nárias ao longo dos rios que desembocam na baía gem para o tipo de costa retificada, com formações
de Guanabara. Os tabuleiros que aparecem nas arenosas e sedimentos trazidos da serra formando
proximidades de Macaé são possivelmente de idade lagoas e baixadas pantanosas. Os cordões arenosos
terciária, enquanto as meias-laranjas e os patamares se apoiam em pontas rochosas originando típicos
são constituídos de gnaisse já bastante decomposto. tômbolos. Logo atrás dessas baixadas e praias está
No trecho da rodovia que liga São Pedro da Aldeia a Serra do Mar que vai se afastando do litoral de
a Macaé atravessa-se a baixada do rio Una, para tal maneira que ao se atingir a baía da Guanabara
Estado do ESPÍRITO SANTO Município de GUARAPARI
40" 30' W. Gr.
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CONVENÇÕES
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A fotografia mostra uma fenda resultante do alargamento pela dissolução da rocha ao longo de uma linha de fraqueza . O aflo-
ramento rochoso, que se vê na foto acfma, é de um gnaisse biotita, cuja direção das camadas é de N.E. 70° S.W., enquanto a diáclase é
de N.W.-S.E. 30°. A presente foto foi tirada em frente à cidade de Anchieta. (A. T. G.)
138
Estado do ESPÍRITO SANTO Municipio de ANCHIETA
40" 45' W. Gr. 40" 30'
CONVENÇÕES
CIDADt ® YILA @ fOIOIDD o
Fazenda, Lurarajo ou Estação da E. F. o
LIMITES:
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Na praia de Iriri, aspecto de um afloramento de gnaisse biotita de granulação grosseira com a direção das camadas N.E.-S.W.
isto é, a mesma da linha da costa. O afloramento tem o aspecto caótico em virtude do trabalho da água do mar, alargando a separação
entre os estratos e também ao longo das diáclases. (Com. A. T. G.)
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Estado do ESPÍRITO SANTO Município de ICONHA
41" W. Gr. 40"45'
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Intermunicipal
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Projeção de Mercator Transversa
I. B. G. f. - Conselho Nacional de Geografia - O. G. ESCALA I: 200 000 Divisão Territorial em 31-XII-1956
( lcm-2 km)
2,6km Okm 2,6 5 7 ,5km
mando, no dizer de Ruellan, uma espécie de terra- reira e a serra da Pedra Branca, isto é, Campo Gran-
ços tabulares ou pouco ondulados . de; e a segunda, entre a serra de Madureira e a
No litoral, a leste da brecha da baía da ilha Serra do Mar.
Grande, aparece a restinga da Marambaia que cons- O terceiro compartimento submerso é o da
titui um dos mais belos exemplos de tômbolo, sendo baía de Guanabara, existindo uma chanfradura per-
o seu comprimento de aproximadamente 40 quilô- pendicular aos escarpamentos do maciço litorâneo.
metros e sua máxima distância à margem interna A área da baía de Guanabara é uma fossa de afun-
da baía de Sepetiba, de 18 quilômetros. dimento - tendo grande importância o nível do
Ruy Ozório de Freitas considera que o segun- piso do embasamento em relação ao nível do mar
do compartimento, emerso, da área de afundimento atual.
Campo Grande-Guanabara-Rio Bonito, está com- No estudo da evolução geomorfológica da baía
preendido entre a baía de Itacurussá e a Guanabara. de Guanabara, interessantes são os trabalhos de
Nesta área, como em outras da Baixada, a massa F. Ruellan, A. R. Lamego e Ruy Ozório de Freitas.
gnáissico-granítica que sofreu afundamento em re- Ao primeiro dêstes se deve um minucioso estudo
lação à Serra do Mar, isto é, às altas superfícies de onde ficou provado que a baía de Guanabara tem
outrora, está mesmo abaixo do nível do mar. Em sua origem na tectônica. A brecha entre os maciços
outras áreas há um pequeno ·capeamento, ou mes- litorâneos, que dá acesso ao interior da grande baía
mo em certas fossas locais há o entulhamento de de aspecto elítico, é de direção N. N. W. -S . S . E.
aluviões. Nesta segunda secção existem, segundo perpendicular à direção geral dos desabamentos.
Ruy Ozório de Freitas, duas fossas, ambas de fundo As escarpas de falhas do relêvo do Rio de Janeiro
chato, com sedimentos quaternários. A primeira apresentam por vêzes cicatrizes recentes, devidas
compreende a área que fica entre a serra de Madu- ao mecanismo da esfoliação.
A. barra do rio Novo Iconha é apertada entre elevações de rochas do complexo. O vale é muito largo sendo possivelmente uma
prova de afundamento da costa. O rio ocupa uma pequena calha, desproporcional à grande calha atual. A foto foi tomada na altitude
de 30 metros. (Com. A.T.G.)
14:2.
Estado do ESPÍRITO SANTO Município de RIO NOVO DO SUL
41° W. Gr.
CONVENÇ0ES
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Faztnda, lurartjo ou Eataçio de E. F. o
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A foz do rio triri está sendo barrada progressivamente por flechas de areia. No leito do rio há grande aluvionamento, existindo
também afloramento de rochas do complexo cristalino.
A vegetação que aparece é de um pequeno manguezal.
A presente foto foi tirada da altitude de 30 metros. (Com. A. T. G.)
Na morfologia da área da cidade do Rio de naturalmente e outras graças aos trabalhos do ho-
Janeiro, impressionantes são as grandes escarpas mem. Diz ainda Ruellan que: "A subida da mf}ré
dos penedos nus. A explicação de tais abruptos tem na parte baixa dos rios, a existência de portos co-
sido buscada nas falhas ou mesmo na esfoliação nhecidos na história e hoje abandonados, lembram
térmica, como já dissemos. O Prof. A. Ribeiro La- que esta evolução é de um passado recente. Pouco
mego chegou porém à conclusão que tais paredões a pouco, a sedimentação flúvio-marinha está pro-
são devidos a um trabalho antecipado da tectônica gredindo à costa da baía".
- clivagem tectônica e em certos casos falhas - A depressão tectônica da Guanabara "entre o
orientando a formação das faces a serem trabalha- rebôrdo meridional falhado da serra dos Órgãos e
das pela esfoliação e completadas por fenômenos os maciços litorâneos, faz com que logo se pense
bioq uímicos. num bloco falhado abaixo ou numa depressão de
Na paisagem morfológica da Guanabara, des- ângulo de falha". Todavia "a existência de fósseis ·
taca Ruellan ó fato de que na época das grandes de água doce mostra que o movimento de blocos
glaciações, as águas penetraram no continente falhados não foi suficiente para acarretar uma in-
ocupando as depressões preparadas pela retomada vasão marinha. Certas falhas têm aparecido poste-
de erosão. E diversas ilhas da Guanabara, isoladas riormente aos depósitos" .
pela invasão recente do mar, chegam a ser, pouco A estreita brecha da Guanabara antes da
a pouco, em dias atuais, ligadas ao continente umas transgressão marinha foi ocupada por um rio que
Estado do ESPÍRITO SANTO Município de ITAPEMIRIM
41° 15' 41° Gr.W. 40° 45'
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Fazenda, Lurarajo ou Estação da E. F. o
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Município de Rio Novo do Sul ~ Espírito Santo (Foto C.N.G. 4173- T.J.,
Aspecto de um trecho do relêvo acidentado da Mantiqueira vendo-se os pontões do Frade e da Freira, cuja altitude aproximada
é de 3 70 metros.
Esta região foi bastante devastada para o plantio de café. Na encosta dos pontões acima focalizados, pode-se ver que a la-
voura do café está presente. Nos topos das elevações os fazendeiros ainda procuram manter alguns restos de mata. (Com. A.T.G.)
11/.6
Estado do RIO DE JANEIRO Município de SÃO JOÃO DA BARRA
41°30'w. Gr. 41°
CONVENÇÕES
CIDADE ® VILA @ POVOADO o
Fazenda, lugarejo ou Estação de E. F. o
LIMITES:
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interdistrital
E. F. bit. larga
E. F. bit. normal
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No sudeste do Espírito Santo é freqüente o aparecimento na paisagem de encostas de blocos por vêzes enormes, crivados de sulcos
ou caneluras verticais como os que focalizamos acima, na cidade de .Rio Novo do Sul. (Com.. A. T. G.)
1.118
Estado do RIO DE JANEIRO Municí io de CAMPOS
41°30' W. Gr. 41"
CONVENÇÕES
CIDADE @ IILA @ POVOADO o
Fazenda, lugarejo ou Estaçlo de E. F. o
LIMITES:
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interdistrital
E. F. bit. larga
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Aspecto da Cadeia Frontal da Mantiqueira, vendo-se os pontões do Frade e da Freira e o pico do Itabira. A foto foi tirada na
direção de N.W. entre a Barra do ltapemirim e a cidade de Itapemirim. Altitude do ponto da tomada da foto, 3 metros. No primeiro plano a
baixada inundada pelo rio Itapemirim. (Com. A. T. G.)
150
Estado do RIO DE JANEIRO Município de CONCEIÇÃO DE MACABU
41°45'W. Gr.
CONVENÇÕES
CIOADl ® VILA @ 10YOADO o
Fazenda, lugarejo ou Estação da E. F. o
LIMITES:
internacional
interestadual
intermunicipal
interdistrital
E. F. bit. larga-
E. F. bit. normal
E. F. bit. estreita
Estr. de rodagem
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I. 8. G. E. - Conselho Nacional de Geografia - D.G. Projeção de Mercator Transversa Divisão Territorial em 3l-XU-1956
ESCALA 1: 200 000
( 1cm = 2 km )
2,5km Okm 2,5 5 7 ,5km
afundamento, que é a fossa de ltaboraí, onde ocor- ricá, passando-se pela serra do Lagarto. Francis
rem espêssas camadas de calcário com fósseis do Ruellan assinal·a êste fato dizendo, em seu artigo
euceno, ora em explotação. No fim ·do terciário as intitulado: "Aspectos geomorfológicos do litoral
camadas que atulharam esta depressão tectônica brasileiro, no trecho compreendido entre Santos e
foram perturbadas estruturalmente por deslocações, o rio Doce", que os pequenos maciços litorâneos e
com mergulhos até 30°S . o de Niterói reproduzem em miniatura a estrutura
Neste trecho do litoral do Estado do Rio de da Serra da Mantiqueira e da Serra do Mar. A hi-
Janeiro destacam-se ainda as elevações da Serra da drografia é dirigida para o interior, somente peque-
Boa Esperança e ó maciço alcalino de Cabo Frio . nos rios vertem diretamente para o oceano . "Os
Êste último se acha cortado em duas pártes pela riozinhos que correm para o oceano desgastam a
abrasão de um dique melanocrático . escarpa formando um verdadeiro "front" dissecado
Quem estudar os maciços litorâneos terá opor- de bloco falhado. É, em suma, um outro nível na
tunidade de observar que existe uma dissimetria série de patamares que se estendem desde a Man-
em tais elevações. O abrupto acha-se voltado para o tiqueira" .
lado sul, enquanto para o norte a descida é mais No litoral do Estado do Rio, no trecho entre
suave. Como exemplo podemos citar o corte sul- Niterói e Cabo Frio, a paisagem de restingas e lagoas
-nort~, realizado entre as cidades de ltaboraí e Ma- constitui o traço morfológico mais característico.
15:1.
A forma dessas lagoas, como as de Maricá, Sa- longas barragens ou pontais que isolam braços de
quarema e Araruama, mostra que as mesmas são mar das águas oceânicas" .
porções do antigo oceano isoladas, ou .rias, distintas Na formação das restingas ou de um pontal,
das lagoas formadas pelo represamento de águas Lamego considera necessário três fatôres funda-
correntes nos vales largos. No caso da Lagoa de mentais: mares rasos, corrente litorânea no bordo
Maricá, por exemplo, observa-se que embora seja continental e abundância de areias sôltas movimen-
o seu eixo maior, paralelo à linha de costa, existem, táveis pela água que circula. Ruellan faz restrição
na sua margeJ!l norte, recortes em ângulos retos for- ao trabalho das correntes marinhas transportando
mando longas rias . os grãos de areia, dizendo tratar-se do trabalho
Alberto Ribeiro Lamego considerando as fei- realizado pelas vagas oblíquas: "As restingas, .Po-
ções morfológicas do trecho do litoral Leste, entre rém, são produzidas por vagas, oblíquas ao li-
o Pico da Marambaia e Cabo Frio, diz: "os mesmos toral, em virtude da direção dos ventos mais cons-
processos de formação de restingas sempre revela- tantes, isto é, N.E. e S.W., que trazem as tempesta-
ram o poder construtivo do mar, modalidades ou- des. Êsses ventos marcam a direção dos detritos que
tras se apresentam, na morfologia regional. Com formam as restingas . As correntes de maré têm
raras exceções então, a importância da planície velocidade muito limitada; o trabalho essencial é
como base física desapare<:e, suplantada pela das feito pelas vagas" .
153
Mumclp1o de Jtapemirim . - Espírito Santo (Foto C.N.G. 4203- T.].)
Barranco onde se vê um corte de material sedimentar da série Barreiras. Na parte inferior, numa camada de 2,5 metros de
espessura, observam-se leitos de seixos rolados de tamanhos variados, sendo o diâmetro máximo 5 em, predominando os seixos miúdos.
Na parte superior tem-se uma camada de 2,5 metros de argila amarelada. A foto foi tirada no trecho entre Barra do I tape-
mirim e a cidade de Itapemirim. (Com. A. T.G.)
1511-
Estado do RIO DE JANEIRO Município de. MACAÉ
1
42° 41° 30
CONVENÇÕES
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Fazenda, Lugarejo ou Estação da E.. F. o
LIMITES:
internacional
interestadual
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Intermunicipal
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E. F. b1t. larga
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I. B G. E.- Conselho Nacional de Geografia- O. G. Projeção de Mercator Transversa Divisão Territorial em 31-XII-1956
ESCALA 1:400 000
( 1cm-4 km)
~km Okm 5 10 15km
É preciso acentuar que o material das restin- tor, que embora sabedor da existência de grandes
gas e das baixadas é oriundo de tôdas as massas de dunas neste litoral, ainda não as encontrou em tal
relêvo que formam ressaltas ou elevações na Bai- região.
xada, forneçendo material para colmatarem os va- "Processou-se dêste modo uma singular retifi-
les e as depressões da grande planície e das praias. cação do litoral entre aquêle cabo e o pico da Ma-
Êste material aluvial varia conforme as rochas que rambaia, embelezando a costa fluminense de uma
lhe deram origem, bem como os processos de erosão série de lagunas estupendas, finalizadas pela baía
que sofreu. Os quadros geomorfológicos do trecho de Sepetiba, a qual solitàriamente exemplifica uma
do litoral do Leste "resultantes do recuo pelo meca- inconclusa formação lacustre" .
nismo das restingas", 'segundo Lamego, são: Ensea- Ruellan explica êste tipo de costa fazendo jus-
da, Laguna, Pantanal e Planície . tamente intervir o movimento da variaç'ão do nível
No litoral das restingas, ou mais especialmente da costa, dizendo: "Dêsse modo, uma costa com rias
em Cabo Frio, teve João Dias da Silveira oportuni- se transformou ràpidamente em costa com lidos,
dade de observar que os ventos, lançando uma co- como pode ser observado, de Cabo Frio ao pico de
bertura de areia sôbre pequenas colinas cristalinas, Marambaia. A abundância dos materiais prepara-
podem dar idéia ao observador de se tratar de gran- dos pela erosão elementar de um clima tropical
des dunas. Diante dêste fato particular. diz êsse au- úmido não é menos importante para explicar essas
Afloramento de gnaisse biotita, crivado de buracos, produzidos por litófagos. Êste afloramento rochoso é coberto pelas marés altas, de
modo que não pode servir como prova da variação do nível da costa. (Com. A. T. G.) ·
156
Estado do RIO DE JANEIRO Municipio de CASIMIRO DE ABREU
42"U' 42" W. Gr.
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