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CDD – 711.4098153
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por ter guiado minhas escolhas e permitido que eu
chegasse até aqui com a interseção de Nossa Senhora Aparecida, a quem também agradeço.
Aos meus pais, Mário e Janei, minha irmã, Juliana, e meu noivo, Bruno, pelo amor,
incentivo e apoio incondicional.
A esta instituição, bem como o corpo docente do curso de Arquitetura, pelo suporte e
conhecimento passado.
A minha orientadora Silvana, pela orientação, apoio e confiança.
As minhas colegas de turma Aliny, Maiany, Mayara, Thatiana, Pollyanna e Raíssa,
que foram sempre companheiras durante esse tempo, tornando os dias difíceis mais alegres e
sendo apoio diário.
E a todos os amigos mais que direta ou indiretamente fizeram parte da minha
formação, muito obrigada!
[...] o rio simboliza sempre a existência humana e o curso da
vida, com a sucessão de desejos, sentimentos e intenções, e a
variedade de seus desvios.
Jean Chevalier e Alain Gheerbrant
RESUMO
O presente trabalho apresenta um projeto de intervenção no trecho urbano das margens do rio
Paraíba do Sul que corta a cidade de Campos dos Goytacazes, especificamente entre as pontes
Alair Ferreira e Saturnino de Brito, buscando um tratamento das áreas lindeiras do rio através
da conformação de orlas, estruturação de equipamentos urbanos e inserção de espaços
públicos que contribuam para renovação da relação rio-cidade, intencionando estreitar os
laços com a população e a reintegração ao tecido urbano existente. Apesar dos rios possuírem
papel fundamental na formação das cidades, os processos de urbanização chegam acrescidos
ao descaso e esquecimento por parte da gestão pública e também da população. O rio Paraíba
do Sul, no contexto urbano da cidade de estudo, não é exceção e encontra-se desvalorizado,
sendo alvo de poluição e de desqualificação urbana em suas orlas. Por essa razão, busca-se
apresentar soluções capazes de reestabelecer o rio como símbolo da identidade local. Como
metodologia, foi utilizada primeiramente uma abordagem teórica, através de pesquisas
bibliográficas. Depois, um embasamento projetual, por meio de referências de projetos, e
também documental, com a análise de legislações relacionadas. Além disso, inclui-se
instrumentos como entrevistas e questionários, aplicados a grupos diversos de pessoas que
convivem nos bairros às margens do rio, para levantamento de questões acerca da atual
relação rio-cidade. Anseia-se que o trabalho estimule a conscientização do uso das águas e das
margens do rio, e ainda, contribua para que o Paraíba do Sul possa voltar a se tornar um
marco da paisagem urbana e cultural da cidade.
Palavras-chave: Intervenção urbana. Rios urbanos. Rio Paraíba do Sul. Relação rio-cidade.
ABSTRACT
The present work introduce an intervention project in the urban stretch of the Paraíba do Sul
river which runs through the city of Campos dos Goytacazes, specifically between the bridges
Alair Ferreira and Saturnino de Brito, seeking a treatment of areas bordering the river,
forming edges, structuring of urban equipments and inserting public spaces that contribute to
the renewal of river-city relationship, intending to strengthen ties with the population and the
reintegration into the existing urban tissue. Despite the rivers have fundamental paper in the
formation of cities, the urbanization processes arrive plus the neglect and oblivion by the
public administration and also to the population. The Paraíba do Sul River, in the context
urban of the city studied, is not exception and is devalued, target of pollution and urban
disqualification on their edges. For this reason, we seek to provide solutions able to restore
the river as a symbol of local identity. The methodology was first used a theoretical approach
through bibliographic researches. Then a projetual basement, through projects references, and
also documentary, with the analysis of related laws. Also, include instruments as interviews,
applied to diverse groups of people living in the neighborhoods along the river, to questions
about the current relationship river-city. It longs that work going to stimulate an awareness of
the use of water and the river borders, and contribute to the Paraíba do Sul can become again
a symbol of urban and cultural landscape of the city.
Keywords: Urban Intervention. Urban Rivers. Paraíba do Sul River. Relationship river-city.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 09. Flagrante de esgoto sendo despejado no rio Paraíba do Sul ......................... 33
FIGURA 12. Vista aérea do trecho urbano do rio Paraíba do Sul em Campos dos
Goytacazes em março de 2012 ............................................................................................ 34
FIGURA 13. Vista aérea do trecho urbano do rio Paraíba do Sul em Campos dos
Goytacazes em março de 2015 ............................................................................................ 35
FIGURA 18. Preservação de trilhos e vegetação típica da época das ferrovias ................. 39
FIGURA 22. Trecho de intervenção que considera barcos atracados para diversificação
de usos ................................................................................................................................. 42
FIGURA 54. Mapa de análise com base em Lynch para bairros e marcos ........................ 60
FIGURA 55. Mapa de análise com base em Lynch para circulações, limites e pontos
nodais .................................................................................................................................. 61
FIGURA 59. Mapa de uso e ocupação da Lei de Uso e Ocupação do Solo ....................... 65
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13
ANEXOS
ANEXO I: Mapa detalhado da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul .............. 105
APÊNDICES
APÊNDICE A: Roteiro de observação ....................................................................... 108
APÊNDICE B: Modelo de entrevista ......................................................................... 110
APÊNDICE C: Modelo de questionário ..................................................................... 112
APÊNDICE D: Imagens do projeto ............................................................................ 116
13
INTRODUÇÃO
alternativas aos problemas de mobilidade urbana que ocorrem nas vias que margeiam o rio, de
forma a articular os dois lados da cidade e promover fácil acesso e circulação na orla.
Essas propostas se justificam no fato de que, apesar do rio Paraíba do Sul ter tido
grande representação no desenvolvimento socioeconômico da cidade de Campos dos
Goytacazes, devido ao seu uso como eixo navegável, abastecimento de água e geração de
energia, atualmente parece estar esquecido pela população e gestores públicos, se restringido
a, segundo Maia (2003, p.10): "um mero divisor de águas entre grupos sociais: os que habitam
a parte central da cidade e os periféricos, que passam a povoar a parte menos nobre da
cidade." Ou ainda, a uma ameaça devido às inundações que sujeita o local em períodos de
cheia (CARNEIRO, 2015).
No Brasil, desde o século XX, a relação harmoniosa de encontro da população com o
rio deixou de existir em meio aos conflitos entre desenvolvimento, sociedade e meio físico
(GORSKI, 2010). Com o Paraíba do Sul em Campos não foi diferente, passando despercebido
e deixando de ser uma paisagem atraente ao olhar das novas gerações:
Além disso, cabe ressaltar que o descaso vindo por parte da gestão pública também
tem grande influência na fraqueza da relação rio-cidade. A falta de políticas que trabalhem a
consciência sobre sua preservação e incentivem a visão do rio como símbolo da cidade,
prejudicam o sentimento de identidade da população com esse elemento tão marcante da
paisagem urbana.
Carneiro (2015) demonstra ao longo de sua pesquisa que as orlas do rio Paraíba do
Sul, hoje desvalorizadas, possuem grande potencial paisagístico, cultural e econômico,
podendo favorecer o lazer e o turismo. Porém, para reverter a atual situação, é preciso que se
questione as maneiras pelas quais o rio pode ser revalorizado no desenho urbano, tomando
como referência casos bem-sucedidos de projetos de recuperação de orlas fluviais que
15
promoveram a reintegração do rio ao tecido e à vida urbana. Considerando que, não basta
despoluir o rio e embelezar sua orla, ele precisa também voltar a se incorporar na vida da
população (GORSKI, 2010).
Mann (1991) já discute o crescente interesse das cidades contemporâneas pelos
projetos de revalorização dos rios urbanos:
Dessa forma, considerando que o Paraíba do Sul não tem mesmo sido identificado
como um elemento de valor simbólico, visto a falta de interação com a população e a situação
de descaso em que se encontra, há uma urgente necessidade de um novo olhar sobre ele,
percebendo a relevância da sua presença na malha da cidade e o pondo como uma paisagem
cultural a ser preservada, como nos lembra Constantino (2014, p.3): “Reconhecer o rio como
paisagem, portanto, é habitar o rio".
Acerca dos métodos e meios para o desenvolvimento do trabalho, primeiramente
caracteriza-se o estudo como de natureza aplicada e exploratória, pois irá reunir
conhecimentos para aplicação prática de soluções aos problemas encontrados na orla do rio
Paraíba do Sul em Campos dos Goytacazes, investigando e buscando compreender as razões
locais pelas quais a relação rio-cidade se modificou ao longo dos anos para propor alternativas
na intervenção. Para tanto, se levará em conta métodos qualitativos que possibilitem uma
análise profunda do contexto.
Inicialmente, foi necessário realizar uma abordagem teórica, onde se elaborou uma
pesquisa bibliográfica por meio de consulta a sites, jornais, revistas e livros, assim como a
trabalhos acadêmicos, visando colher dados e informações sobre rios urbanos, o rio Paraíba
do Sul e sua importância dentro do contexto histórico e urbano da cidade. Depois, a pesquisa
de referências projetuais veio reunir em quatro categorias referenciais: funcional, tipológico,
16
Os rios que um dia foram fator de favorecimento para que surgissem as primeiras
civilizações, às suas margens, hoje são rios urbanos que cortam importantes cidades e
metrópoles do mundo. Apesar de terem tido amplo destaque e importância na formação
dessas morfologias urbanas, contribuindo com funções ligadas ao consumo de água e o
desenvolvimento de culturas agrícolas, são comumente alvo de esquecimento, descaso e
poluição desde que iniciados os processos de urbanização.
Este capítulo vem embasado nos estudos e reflexões de diversos autores especialistas
do tema, tratar da evolução desse contexto entre os rios urbanos e as cidades que cresceram ao
longo de suas margens, apresentando, de modo geral, a relação histórica que determinou esse
papel de agente formador e a problemática atual envolvida nessa questão.
indistintamente, e eram tidos como marcos ou referenciais territoriais" (GORSKI, 2010, p.31).
Ainda segundo essa autora, a lógica norteadora de inúmeras civilizações antigas na seleção de
sítio para estabelecer suas aldeias, foi a proximidade da água, quer seja por razões funcionais,
estratégicas, culturais ou patrimoniais. Entre os rios Tigre e Eufrates, por exemplo,
construíram-se as cidades da Mesopotâmia; na extensão do rio Nilo, as cidades egípcias; as
cidades da civilização grego-romana desenvolveram-se junto à bacia do Mediterrâneo e ao rio
Tibre; as civilizações orientais nos arredores dos rios do Himalaia e as cidades medievais
européias como Londres, Paris, Viena e Praga, ao longo do Tâmisa, do Sena, do Danúbio e o
Vlatva, respectivamente. Até mesmo nos Estados Unidos, desde o período de colonização,
aglomerações urbanas se formavam próximo à costa marítima ou aos rios, tidos como eixos
de deslocamento rumo a outras regiões ribeirinhas a serem conquistadas.
O Brasil apresenta uma situação similar, pois, é detentor de uma das mais
extensas e ricas redes de rios perenes no mundo, por suas condições
geológicas e climáticas dominantes, com grande extensão territorial,
localizada geograficamente na faixa mais úmida da Terra, entre o Trópico de
Capricórnio e o Equador (REBOUÇAS, 2006 apud GORSKI, 2010, p. 33).
Diante desses acontecimentos, Porath (2004, p.10) revela ainda "[...] preocupação em
relação à urbanização junto às margens dos rios, a impermeabilização do solo, a canalização
de rios, interferência no leito do rio e degradação da mata ciliar", fatores que acabam por
prejudicar a dinâmica natural do rio e fazer com que cidade o perceba cada vez mais como um
problema. Essa visão, por sua vez, resulta em "[...] paisagens de rios esquecidos, que se
tornam cada vez mais sujos, poluídos e desvalorizados onde quanto menos ele é visto, melhor
é para a imagem da cidade" (PORATH, 2004, p. 2). O trecho a seguir reforça a interferência
dos processos de urbanização nos rios urbanos:
Sendo assim, é possível destacar que o rio, como parte integrante e fundamental da
paisagem urbana, é também uma referência de lugar e de espaço que integra a identidade de
um povo (GORSKI, 2010), e compreendê-lo como paisagem, significa também dar a ele um
22
valor ambiental e cultural, não só uma peça de saneamento e drenagem. É preciso, como
destaca Costa (2006, apud GORSKI, 2010, p.41): “[...] reconhecer que o rio urbano e cidade
são paisagens mutantes com destinos entrelaçados”.
É possível mencionar, ainda, o potencial econômico que os planos de urbanização das orlas
dos rios trazem quando acabam envolvendo novos critérios de uso de solo, desenvolvimento
turístico e criação de empregos.
Para Costa et. al. (2002 apud PORATH, 2004, p. 22), “[...] para serem apropriados de
outras formas, não simplesmente como depositários de lixo e esgoto, os rios urbanos e todas
as suas possibilidades de fruição devem estar visíveis para a população". Sendo assim, afirma
o autor, novos valores podem ser atribuídos, antigas atitudes podem ser mudadas e a situação
em que hoje eles se encontram talvez possa ser revertida. É um processo longo,
ambiental e estética do rio e das áreas adjacentes, tendo como meta futura a recuperação da
totalidade da bacia hidrográfica" (GORSKI, 2010, p. 127).
No Brasil, a cidade de Piracicaba, em São Paulo, foi pioneira nos projetos de
recuperação de rio urbano com o projeto Beira-rio, que foi iniciado no ano de 2001 tendo
como foco a orla urbana do rio Piracicaba e sua articulação com o tecido urbano. O projeto foi
voltado para a recuperação da qualidade da água, preservação do cinturão meândrico,
reestruturação do tecido urbano, incentivo do rio como caminho, conservação da paisagem e
conexão entre o cidadão e o rio.
A legitimação dos rios urbanos como protagonistas do espaço público, através do
aproveitamento de suas orlas como paisagens e percursos, pode contribuir para a mudança da
atual condição de abandono e depreciação, considerando o cuidado em articular essas novas
áreas com a composição daquelas já existentes ou mesmo previstas no Plano Diretor local. Os
espaços públicos propiciam a participação das pessoas na criação de uma sociedade mais
coesa e consciente, estreitando a relação da população com o rio e incentivando a
preservação, o coletivo.
O elemento capaz de exercer a conexão entre os espaços públicos e a contemplação da
paisagem é a orla. É, portanto, fundamental pensar nesse espaço através da implantação de
atividades que confiram urbanidade e diversificação de usos, com vistas a potencializar as
características do lugar e gerar novas oportunidades, fortalecendo naturalmente a identidade
local. Dessa maneira, segundo o Estúdio Leonardo Noguez Arquitectos (2014, on line),
aumentam-se as possibilidades de que os espaços se convertam em patrimônio de memória
coletiva do lugar e criem uma conexão emocional com o usuário que sente o espaço como
seu, vivendo, desfrutando e respeitando.
25
O capítulo anterior tratou dos rios urbanos de maneira geral, através de uma revisão
teórica, mas também provocou a reflexão sobre o caso do rio Paraíba do Sul em Campos dos
Goytacazes, fazendo-se agora necessário um aprofundamento da sua relação particular com a
história do desenvolvimento da cidade.
Sendo assim, o presente capítulo vem estreitar o tema identificando aspectos
importantes envolvidos nesse contexto, buscando compreender a figura simbólica do rio
naquela época, os elementos marcantes da sua paisagem, a sua relação com a população e a
vida urbana, os usos que existiam nas suas águas e margens, e as mudanças sofridas nessa
área ao longo do tempo e do processo de urbanização.
Segundo a Agência Nacional de Águas (2014, on line), o rio Paraíba do Sul pertence a
uma das três maiores bacias hidrográficas do país, com uma área aproximada de 62.074km² e
de mesmo nome. É possível observá-la de modo geral na Figura 01 a seguir e também mais
detalhadamente no Anexo I deste trabalho.
chuvoso, provocando grandes cheias no rio Paraíba do Sul, já o período de junho a agosto é o
mais seco. Ou seja, chuvas no verão e seca no inverno.
De acordo com o Censo do IBGE de 2010, a cidade possui uma população de 463.545
habitantes. Se consolidou em uma planície fluvial, junto à margem direita do rio Paraíba do
Sul (Figura 03), e se caracterizou inicialmente pela economia canavieira, no entanto hoje, é
grande produtora de petróleo na região.
28
O rio teve grande influência na constituição de seu tecido urbano. Na margem direita
se formou o núcleo central da cidade, consolidando freguesias, se construindo as casas dos
barões, igrejas, e também a praça central (Praça São Salvador), onde ocorriam as relações
sociais que movimentavam a cidade. A aristocracia, muito influente na política e no poder
local, construiu sobrados e solares às margens do rio Paraíba, que passou a ser “[...] o centro
da cidade, da juventude e mocidade, além de palco para as competições de natação e remo”
(RODRIGUES, 1988, p. 271).
A população costumava frequentemente se reunir às margens do rio. Quando
aconteciam as disputas de regatas, a Beira-Rio se enchia de gente, por todos os lados,
destacando-se as belas jovens campistas. Bandas de música faziam o fundo musical, colorindo
de alegria a paisagem urbana (RODRIGUES, 1988, p. 273). A prática da pesca também era
constante nas orlas, sendo o robalo o maior interesse dos pescadores.
Enquanto isso, Faria (2004 apud SOUZA, 2008) relata que, na margem esquerda, a
área hoje conhecida como Guarus, sempre foi uma parte da cidade mais segregada, com
maiores problemas, sendo considerada como perímetro urbano da cidade de Campos dos
Goytacazes somente após o Plano Urbanístico de 1902, do engenheiro Saturnino de Brito, e
sofrendo uma ocupação mais intensa a partir de 1920.
Além disso, o Paraíba do Sul sempre foi também um importante meio de
abastecimento e transporte de pessoas e mercadorias que chegavam até ela. Pinto reafirma:
29
Em 1906 se deu a construção da ponte ferroviária sobre o rio (Figura 05), que
possibilitou a extensão da linha que já conectava Campos a Macaé e a Niterói, até Vitória,
capital do estado do Espírito Santo. A facilidade de circulação alcançada com esse processo
30
céu aberto no rio Paraíba do Sul. A água poluída caia próximo a Ponte João Barcelos Martins
e vinha de residências da margem esquerda do rio (Guarus).
Figura 12 - Vista aérea do trecho urbano do rio Paraíba do Sul em Campos dos Goytacazes
em março de 2012
Figura 13 - Vista aérea do trecho urbano do rio Paraíba do Sul em Campos dos Goytacazes
em março de 2015
3 REFERENCIAIS PROJETUAIS
3.1 Funcional
O primeiro referencial funcional escolhido para este trabalho, foi o High Line Park
(Figura 14) que fica localizado em Nova Iorque, nos Estados Unidos. O projeto trata de um
parque urbano linear que foi implantado sobre uma linha férrea elevada. Ele se tornou "[...]
referência mundial pela qualidade do desenho urbano e pelo sucesso como estratégia de
renovação de áreas centrais degradadas" (EDITORIA CONCURSOS DE PROJETO, 2012, on
line).
37
Como contribuição para a proposta projetual a ser apresentada, destaca-se neste parque
a funcionalidade dos variados espaços públicos de convivência, lazer e contemplação
associados a jardins, galerias de arte, cafés e lojas comerciais. Os espaços não costumam ditar
ou limitar as atividades possíveis de serem realizadas neles, sendo repletos de passeios e
mobiliários de design inovador que convidam as pessoas a vivenciarem o local de maneiras
diferenciadas (Figuras 15 e 16).
Além disso, em vários trechos, o parque incorpora elementos de street art aos espaços
(Figura 17), aspecto que se verá mais adiante, presente também no contexto da área da
proposta. Nesse sentido, a organização estadunidense Project for Public Spaces (PPS),
destaca que “mais do que nunca, as obras de arte pública são estimulantes e convidam a um
diálogo ativo ao invés da observação passiva, fomentando, assim, a interação social que pode
inclusive conduzir a um sentido de coesão social entre os próprios espectadores”. Ações desse
tipo permitem que os cidadãos mudem sua percepção de um lugar, podendo identificar-se
com este, considerando-o divertido e dinâmico.
Vale ressaltar que o projeto também possui acessibilidade para cadeirantes, e todo
paisagismo é inspirado na natureza que se desenvolveu nos trilhos dos trens (Figura 18),
englobando aspectos relativos a história do local.
3.2 Tipológico
Como referencial tipológico, está o projeto de recuperação das margens do rio Rhône
que fica em Lyon, na França (Figura 19). No trecho de 5km (cinco quilômetros) ao longo da
margem esquerda do rio foram implantadas novas áreas de estar, circulação e lazer "[...]
conforme demandas e qualidades inerentes aos diversos intervalos de atuação." (SIQUEIRA,
2013, p. 51). O primeiro trecho foi inaugurado em 2007, e já se encontra enraizado na vida da
população da região metropolitana de Lyon. Serviu inclusive, segundo Siqueira (2013, p.52)
"[...] de inspiração para que outras cidades francesas encarassem o desafio de transformar
estacionamentos, antigas áreas industriais e vias expressas ao longo de cursos d'água em
parques e áreas verdes."
40
Figura 21 - Trecho de intervenção que considera áreas para fauna e flora ribeirinhas
Figura 22 - Trecho de intervenção que considera barcos atracados para diversificação de usos
rio Rhône, que em conjunto configuram um cenário especial para eventos, como concertos,
projeções e comemorações. Por fim, destaca-se a construção de decks de madeira, que
permitem atividades relacionadas a água, como a pesca, nos dois extremos do rio.
3.3 Plástico-formal
Nesse caso os espaços se definem através de traçados variados, hora mais geométricos,
hora sinuosos, com texturas diferentes, jardins gramados ou decks em madeira, que apesar
dessas alternâncias conseguem conversar entre si e quebrar a monotonia que a linearidade dos
cursos d’água podem acabar causando, como é possível notar na Figura 26.
44
3.4 Tecnológico
É um espaço elevado sobre o rio Branco que oferece quadras esportivas, lanchonetes,
restaurantes, áreas para descanso, trechos de passeio e contemplação. O local é muito
frequentado e bem aceito pela população da cidade, inclusive à noite, sendo, portanto, bem
iluminado (Figura 29). Mas sua relevância está no fato do projeto ter sido executado em uma
grande plataforma sobre estacas, considerando o período de cheia do rio e favorecendo a
visibilidade da paisagem. Pretende-se adaptar essa técnica construtiva em trechos do Paraíba
em que a paisagem possa ser valorizada e os usos variados.
Figura 30 – Mini-ETE
Por ser modular e ajustável ao número de usuários, a Mini-ETE pode variar seu porte
em função do dimensionamento, podendo ser ampliada desde que haja área disponível, que
em geral não necessitam ser muito grandes (Figura 32).
De acordo com o fabricante Organum ([200-], on line), o sistema também não utiliza
eletricidade para o funcionamento. Ela tem ação de caráter biológico: as águas servidas são
tratadas por meio de microrganismos eficientes e benéficos, que se multiplicam em função de
encontrarem ambiente adequado e removem a carga orgânica do efluente, eliminando
bactérias, coliformes totais e fecais.
Em resumo, a ideia é que com a inserção de novos espaços e equipamentos ao longo
das orlas, não haja extrema necessidade de grandes modificações ou sobrecargas na rede de
esgoto existente, muito menos que se cogite um despejo inadequado. Com a instalação de
mini-ETEs onde houver proposta de novos equipamentos urbanos em trechos das margens, é
possível que o esgoto gerado seja tratado de forma facilitada e ambientalmente correta para
que a água possa ser reutilizada na manutenção dos espaços da própria orla.
48
Seguindo esta mesma linha, o telhado verde se enquadra também como referencial
tecnológico. De acordo com a Ecocasa Tecnologias Ambientais (2011, on line), se trata de
uma solução construtiva que consiste na aplicação e uso de um tipo de solo especial –
substrato – e vegetação sobre uma superfície impermeável, sobre edificações em geral (Figura
33). É uma alternativa sustentável frente aos telhados e lajes convencionais pois atua como
gerenciador de volumes de chuvas, retardando sua drenagem para as galerias pluviais,
contribuindo de forma importante para a mitigação de inundações e enchentes.
Dessa forma, busca-se garantir que os equipamentos a serem inseridos nas orlas, como
sanitários e quiosques, contarão com soluções técnicas sustentáveis que justifiquem sua
presença e garantam seu funcionamento sem que se afete o meio ambiente.
Vale ainda destacar, que esses telhados acabam também exercendo certa função
estética, a partir do momento que minimiza os efeitos visuais dessas construções amenizando
as superfícies sólidas de concreto com mais verde (Figura 34). Esse efeito, quando se intervê
em um local repleto de elementos naturais como a orla de um rio, é ponto positivo.
O presente capítulo trará uma extensa análise dos aspectos e condicionantes relativos
às margens do rio Paraíba do Sul e seu entorno imediato, dentro da delimitação definida. Essa
etapa vem associada à pesquisa de campo e levantamento, incluindo a elaboração e a
aplicação do roteiro de observação, das entrevistas e dos questionários, mencionados nos
apêndices.
Além disso, são apresentados registros fotográficos, feitos durante as visitas técnicas
ao local, e mapas de caracterização dos aspectos julgados relevantes, como morfologia
urbana, legislação vigente e vazios urbanos.
O objetivo é que essas análises contribuam para um melhor domínio e compreensão da
área de estudo, de forma que possam ser considerados no projeto os diversos elementos
existentes que conformam o trecho de intervenção e se relacionam nesse contexto.
O trecho de estudo do rio Paraíba do Sul em que se pretende intervir, está inserido na
área urbana da cidade de Campos dos Goytacazes, mencionada no capítulo anterior. Essa área
se encontra demarcada na Figura 35 a seguir:
50
Na próxima imagem (Figura 36), é feita uma localização mais exata do trecho, que se
estende da ponte Alair Ferreira à ponte Saturnino de Brito, abrangendo ambas as margens do
rio que possuem uma extensão de cerca de 3km (três quilômetros) cada e são delimitadas
pelas Avenida 15 de Novembro (na margem do Centro) e pela Avenida Francisco Lamego (na
margem de Guarus).
Vale ressaltar que esse trecho corta diversos bairros da cidade (Figura 37). São eles, na
margem esquerda: Parque Vera Cruz, Parque Santo Antônio, Parque Jardim Carioca e Parque
51
Tal delimitação foi feita com objetivo de se elaborar um Plano geral de intervenções,
que a contemple por inteiro e demonstre uma ideia integrada de projeto mesmo depois que
definidas as áreas de interesse para intervenções pontuais. Essa metodologia de concepção
projetual, partindo da escala macro para a micro, faz considerar parcelas variadas da
população que habitam os diferentes bairros cortados pelo trecho, o que torna possível um
projeto mais acessível e próximo da realidade da população como um todo.
Além disso, o fato de se estender da ponte Alair Ferreira à ponte Saturnino de Brito
não se fez em vão. Busca-se inserir no projeto todas as pontes que de alguma forma, e em
tempos variados, acabaram por interferir na paisagem do rio e no traçado da cidade, se
tornando pontos importantes na conformação do trecho urbano cortado pelas orlas.
Observando-se a Figura 35, existem ao todo seis pontes: a ponte Alair Ferreira e a ponte
General Dutra, que são marcos da entrada e saída da cidade, cortada por uma rodovia federal,
a BR-101; a ponte Ferroviária Senador Viana e a ponte João Barcelos Martins, que fizeram
parte de momentos importantes da história de Campos; bem como a ponte Leonel de Souza
Brizola e a ponte Saturnino de Brito, que são parte do cotidiano da cidade, sendo os principais
eixos de deslocamento entre uma margem e outra.
52
Como resultados mais precisos, constatou-se que uma grande maioria não está
satisfeito com o existente hoje (Figura 38), aceitando a proposta de que sejam oferecidos usos
mais variados nesse espaço (Figura 39).
No entanto também foi possível identificar pontos positivos ao longo do trecho. Como
por exemplo o pôr-do-sol visto da curva do Cais da Lapa (Figura 46), prática da pesca em um
domingo, também no Cais da Lapa, quando livre do estacionamento (Figura 47), prática de
esportes urbanos na Praça São Salvador (Figura 48), vista do Centro Histórico na orla de
Guarus (Figura 49) e grafites urbanos sob a ponte Leonel Brizola (Figura 50).
Feita a visita e o levantamento, foram elaborados dois mapas (Figuras 51 e 52) para
sintetizar os principais pontos de interesse do trecho de intervenção. Destacando-se por
exemplo, os prédios e elementos históricos, de valor patrimonial, como a Igreja N. S. da Lapa
e o prédio do Corpo de Bombeiros, bem como as pontes Ferroviária Senador Viana e João
Barcelos Martins. Além de áreas de apropriação irregular do espaço, equipamentos como
escolas, hospitais e demais instituições. Seguem apresentados nas duas páginas seguintes:
57
Através da Figura 54, é possível constatar que as margens do rio assumem distintas
características perceptivas ao longo de seu percurso. Por essas diferenças se limitam os
chamados “bairros”. Os bairros marcados com a letra A são regiões mais depreciadas do
trecho, ermas e sem muita manutenção. Nas que marcadas com a letra B percebe-se que ainda
que mais desertas, possuem alguns estabelecimentos comerciais e mais manutenção das
calçadas, até mesmo uma maior fiscalização das diretrizes de construção de edificações. Com
a letra C a área mais movimentada e ativa da margem de Guarus, na letra D se identifica a
ambiência única do Centro Histórico da cidade e na letra E foi percebido um ambiente com
potencial visual, por se localizar em uma curva e ter uma paisagem privilegiada de
praticamente todo trecho.
O mapa também destaca os “marcos” do trecho, que são elementos de relevância na
paisagem, como as pontes, o próprio rio, prédios de importância histórica como a Igreja N. S.
da Lapa e de São Salvador, bem como a torre da antiga Fábrica de Tecidos.
descidas de pontes, a praça São Salvador, na área central da cidade, e o terminal rodoviário
Luís Carlos Prestes.
Figura 55 - Mapa de análise com base em Lynch para circulações, limites e pontos nodais
O mapa a seguir, apresentado na Figura 56, mostra os vazios urbanos mais relevantes
do trecho. Esse levantamento possibilitou a análise de áreas que possam receber novos usos
integrados e complementares às atividades propostas nas orlas, e remanejamentos dos
moradores ou comerciantes que foram localizados em áreas de apropriação irregular do solo,
ou na necessidade de desapropriação em benefício do coletivo.
62
Por fim, a Figura 57 traz o mapa de estudos de insolação e ventilação da área. Essa
análise, mesmo que breve, é de extrema importância para implantação da proposta. Baseado
nela é possível, dentre outros aspectos, identificar as áreas privilegiadas pelo nascer ou pôr-
do-sol, definir o posicionamento de espaços como quadras esportivas, e ter noção sobre o
conforto térmico das edificações inseridas no trecho.
Observando ainda que “[...] no Brasil não existem águas particulares ou privadas, com
domínio ligado à propriedade da terra. Não existem, também, recursos hídricos de domínio
dos Municípios” (JÚNIOR, 2004, p. 13).
Segundo Gorski (2010, p. 178), o Código Florestal, instituído pela Lei nº 4.771 de 15
de setembro de 1965, denomina como Áreas de Preservação Permanente (APPs) as nascentes,
corpos d’águas e sistemas frágeis, tais como manguezais e reestingas, determinando a faixa de
preservação da cobertura vegetal ao longo das faixas marginais aos corpos d’águas.
No entanto, a resolução n° 369 do Conama, de 2006, permite a implantação de área
verde de domínio público em Áreas de Preservação Permanente urbanas, desde que se cumpra
requisitos como a proteção das margens dos corpos d’água e a manutenção de altas taxas de
permeabilidade, definindo essas áreas como: “[..] espaço de domínio público que desempenhe
função ecológica, paisagística e recreativa, propiciando a melhoria da qualidade estética,
funcional e ambiental da cidade, sendo dotado de vegetação e espaços livres de
impermeabilização” (Art. 8°, §2°, Resolução Conama n° 369).
64
rio Paraíba do Sul, assim como uma faixa de 30,00m (trinta metros) na orla de todas as lagoas
existentes no município, sendo apenas permitida a execução, pelo poder público, de obras
consideradas de utilidade pública ou de interesse social, excluídas quaisquer obras de
edificação.
De acordo com os usos permitidos nas áreas destinadas a edificações, expostos na
Figura 59, são abrangidas nessa área a Zona Centro Histórico, Zonas de Comércio Principal e
Zonas Residenciais em ambos os lados do rio, e áreas destinadas ao Setor Especial
Recreativo, às margens do rio, principal foco de intervenção deste trabalho para projetos de
utilidade pública.
5 PROPOSTA PROJETUAL
Com intuito de que a elaboração e a tomada de decisões sobre o projeto não ficassem
restritas apenas às percepções da autora, visto que a intenção é proporcionar um espaço que
atenda democraticamente a todos que demandam de área livre pública de qualidade,
satisfazendo suas reais necessidades e incentivando as sensações de pertencimento e de
identidade local, o programa de necessidades foi elaborado a partir dos resultados obtidos nas
entrevistas e questionários aplicados e já mencionados neste trabalho.
Essa foi a forma encontrada de incluir a população no processo de desenvolvimento
do projeto, garantindo que sejam propostos usos e equipamentos coerentes com a demanda da
cidade. Sendo assim, no período de aplicação dos instrumentos de pesquisa, desde moradores,
comerciantes, trabalhadores, idosos, e até mesmo jovens e crianças, puderam opinar sobre as
condições atuais das orlas e do rio Paraíba do Sul, bem como refletir sobre sua relação com
esse espaço e possíveis mudanças que contribuíram para melhorias.
As visitas técnicas feitas às orlas e as análises elaboradas na etapa de diagnóstico da
área também colaboraram para construção deste programa a partir do momento que
demonstraram apropriações irregulares, usos inadequados, vazios urbanos, marcos e pontos
nodais.
Dessa maneira, o programa de necessidades, irá reunir os seguintes usos e atividades
apresentados no quadro a seguir:
69
70
Para os decks, é indicado o uso de réguas maciças de madeira ipê (Figura 64), secas
em estufa, para melhor resistir às variações climáticas, tratadas e estruturadas com vigamento
de mesmo padrão.
Figura 64 - Deck de madeira ipê
Visando propor uma unidade também no que diz respeito à arborização do trecho,
propõe-se ao longo dele o Ipê-amarelo (Tabebuia chrysotricha) já característico da cidade de
Campos, com média de 6 à 8 metros de altura; e a palmeira Jerivá (Syagrus romanzoffiana)
que atinge de 6 à 9 metros de altura (Figuras 71 e 72).
Figura 75 - Quiosque
trabalho, como solução de tratamento de esgoto, e ainda que, tanto o posto policial quanto o
quiosque terão fornecimento de água através bombeamento de água de cisternas, já os
sanitários, por meio de reservatório superior ao prédio.
O principal referencial projetual utilizado para esta área foi o projeto de recuperação
das margens do rio Rhône, na França, apresentado no capítulo 3 deste trabalho. Baseou-se na
proposta de cotas distintas, considerando trechos alagáveis em determinados períodos do ano
e trechos secos, nos espaços de contemplação com grandes arquibancadas e na recuperação de
trechos de mata ciliar, mesmo que não obrigatórias pela lei nesse trecho urbano, mas ciente de
sua importância para o meio ambiente e para a paisagem.
79
¹ Circula na cidade a lenda de que um Ururau, jacaré de papo amarelo, vivia em frente à Igreja da Lapa espantando
canoeiros e pescadores. Conta-se que o animal ainda habita o local, escondido em um sino naufragado que seria levado para a
igreja vindo de Portugal. Ainda segundo a lenda, o jacaré seria um jovem travestido no bicho, jogado no rio a mando do pai
descontente com o romance entre sua filha e o jovem.
81
Alguns mobiliários são referenciados em especial para os espaços desse trecho, além
dos padrões já anteriormente apresentados. São eles: o banco linear de madeira com
iluminação (Figura 79) nas áreas livres em geral como na Praça Duque de Caxias; bancos com
formatos mais lúdicos, como se fossem poltronas de descanso para as áreas de gramado livre
(Figura 80) e bancos integrados à esculturas, também em formas lúdicas, para a praça Nilo
Peçanha, onde predominarão jovens estudantes (Figura 81). Eles também buscam quebrar a
monotonia e contribuir para a identidade dos espaços.
Para ideia total do trecho como um todo, é apresentada a seguir uma perspectiva geral
(Figura 82). Mas, para complementar, imagens ilustrativas da proposta final para o trecho
junto a imagens do mesmo atualmente, esclarecem melhor o projeto a nível de comparação
com a realidade, sendo demonstrado nas Figuras 83, 84 e 85 abaixo, na ordem: antes versus
depois.
88
A área de intervenção pontual 2 (Figura 86) trata da oferta de um espaço livre público
aproveitando-se da proposta de remanejamento da população removida das áreas de
apropriação irregular para conformação do Loteamento Madureira, onde já existe uma
comunidade também irregular. Vale destacar, que o Plano Diretor vigente já define está área
como Área de Especial Interesse Social 1, destinada a loteamentos de interesse social.
O principal referencial projetual utilizado para esta área foi o projeto da orla
Taumanan em Boa Vista, apresentado no capítulo 3 deste trabalho. Tira-se proveito da ideia
de plataforma elevada em prol de espaços de variados, que atendam a demanda do bairro, e
valorização da paisagem.
No quadro a seguir, estão listados os usos e atividades do programa de necessidades
desse espaço:
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A praça São Cristóvão e a Vila Olímpica, serão mantidas, visto que estão em bom
estado. A Peixaria Municipal ganhará nova estrutura e tanto os clientes quanto os
trabalhadores poderão praticar a pesca no Deck do Pescador. Na área do loteamento
92
Em relação aos mobiliários que contribuem com a dinâmica e identidade dessa área,
são referenciados os mobiliários que se sobressaem dos decks de madeira, como o exemplo do
Kic Park, na China (Figura 91).
96
Para ideia total do trecho como um todo, é apresentada a seguir uma perspectiva geral
(Figura 92). Mas por fim, imagens ilustrativas da proposta final para o trecho junto a imagens
do mesmo atualmente, esclarecem melhor o projeto a nível de comparação com a realidade,
sendo demonstrado nas Figuras 93 e 94 abaixo, na ordem: antes versus depois.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho evidenciou a importância dos rios urbanos para as cidades que se
desenvolveram ao longo deles, e inclusive o modo como costumam ser afetados em relação ao
crescimento urbano. Seja com poluição, degradação e esquecimento, como também com
exemplos de preservação, valorização e espaço de uso coletivo quando há reconhecimento da
sua relevância no ambiente em que se insere.
A utilização das margens do rio Paraíba do Sul, em Campos, como espaços de lazer e
convivência, consolidando orlas dotadas de infraestrutura convidativa ao uso, seria não só
uma forma de estreitar sua relação com a população como também de promover sua
preservação. No entanto, embora projetos que visem esse resultado sejam indicados pelas leis
municipais já citadas e analisadas nesse estudo, as orlas se encontram monótonas, degradadas
e ocupadas irregularmente.
Por essa razão, o projeto apresentado demonstra a possibilidade de reverter a situação
atual. Além de estimular a conscientização do uso das águas e das margens do rio Paraíba do
Sul na cidade, ainda contribui para que ele retorne a ser um marco da paisagem urbana e
cultural, como um espaço que convida a população a vivenciá-lo oferecendo diferentes
atividades e paisagens. Os usuários passam a ser motivados a sentirem o espaço como seu
para que o desfrutem e o respeitem.
Acredita-se que os objetivos propostos foram alcançados com esse projeto,
principalmente no que diz respeito de estreitar o relacionamento com a população, visto que
os espaços foram pensados de acordo com a demanda de cada trecho; e de mobilidade, através
da melhoria de acesso às orlas, não só possível por carros, mas que inclui também o pedestre e
o ciclista, da promoção da bicicleta com o circuito de interligação das orlas, e por fim, da
reestruturação do terminal de ônibus existente.
A metodologia, cuidadosamente pensada, também se fez importante, pois possibilitou
uma grande revisão teórica do tema, já que existem muitos autores relevantes, estudos e
projetos relacionados. Além da aplicação das entrevistas e questionários, que puderam incluir
a população nas decisões acerca do projeto.
As entrevistas, no entanto, se mostraram como uma primeira barreira a ser superada. A
suposta indiferença da população em relação ao rio foi comprovada, quando questionadas
nem mesmo conseguiam imaginar melhorias para as orlas. Além disso, o tamanho do trecho
99
urbano que margeia o rio, também foi um desafio, pois compreende um conjunto de áreas
distintas mesmo em uma única cidade. Cada bairro, ou trecho, possui suas demandas e
particularidades, que deviam, e foram consideradas na proposta.
Mesmo assim, o tamanho real deste projeto, não coube no tempo e no nível de um
trabalho final de graduação, ainda que caiba na motivação e vontade da autora. Embora confie
na força da proposta aqui apresentada, é preciso ter consciência que ela é parte de um todo
maior que deve continuar sendo acatado. Faz-se necessário se atentar ainda, por exemplo, a
recuperação e manutenção das águas, bem como da mata ciliar nas áreas rurais, onde também
existem ocupações irregulares, despejo de resíduos e esgoto.
Vale destacar também, que na cidade de Campos dos Goytacazes existem outros
cursos d’água relevantes, como o Canal Campos-Macaé, que merecem não só ter suas águas
devidamente recuperadas, como também ter sua história preservada e valorizada.
100
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ANEXOS
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APÊNDICES
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Intervenção Pontual 1
Anfiteatro
Intervenção Pontual 2
Perspectiva Geral