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Demografia 41018_23

Critérios de correção do e-fólio A


O trabalho está cotado no máximo de 4 valores, obedecendo aos seguintes
critérios:
I
(0,5 valor)
1.No âmbito da regulação do crescimento da população do Antigo Regime, em que
aspeto é que a perspetiva de Malthus se aproxima da perspetiva de J. Dupâquier ou dos
teóricos da demografia histórica? (0,5)

Segundo Thomas Malthus, o controlo do crescimento da população passava pelo que ele
denominou de “moral restraint “ ou de “obrigação moral” que consistia, basicamente, numa
recusa ou adiamento voluntário, por parte dos indivíduos, face ao casamento, até possuírem as
condições que garantissem o sustento dos filhos potencialmente resultantes, permanecendo,
paralelamente, sexualmente castos fora do casamento (Bäckström, Sousa, Dias & Baptista,
2023). Malthus introduziu, assim, a perspetiva de que “o equilíbrio entre crescimento
demográfico e recursos alimentares depende principalmente de comportamentos individuais,
que assegurem o autocontrole da descendência, através da castidade e do casamento tardio”
(Bandeira, 2004, p. 57).Trata-se de algo que não era novo, dado que o adiamento do
casamento ou o casamento tardio, era uma prática que já estava enraizada nas sociedades do
seu tempo (Bandeira, 1996). Contudo, a perspetiva de Malthus identifica e consubstancia a
ideia do papel central desempenhado pelo casamento na engrenagem do mecanismo
regulador das populações humanas. Perspetiva que será desenvolvida e aprofundada mais
tarde, no século XX, no âmbito da demografia histórica, por autores como J. Dupâquier
quando, no confronto com a Teoria da Transição Demográfica, colocam em causa o facto de a
mortalidade ser o fator decisivo da regulação das populações tradicionais ou do Antigo Regime
(Bandeira, 2004; Nazareth, 2004).

Com efeito, na perspetiva de J. Dupâquier (citado em Bandeira, 2004), o crescimento


demográfico do antigo regime era controlado por um sistema homeostático de autorregulação
assente no controle da nupcialidade por via das restrições no acesso ao casamento. Neste
sentido, este autor identifica 3 aspetos reguladores fundamentais (Nazareth, 2004): inexistência
de relações sexuais fora do casamento, inexistência de coabitação de casais (não casados) e
inexistência de casamento sem casa (estamos perante o denominado casamento
estabelecimento). Estas regras articulam-se com a institucionalização, nas sociedades
europeias do Antigo Regime, de um padrão de casamento tardio paralelamente à existência de
um elevado número de solteiros e celibato definitivo. Era este o “exército de reserva” de

1
celibatários que avançava, a seguir a uma crise de mortalidade, para a frente matrimonial por
forma a acentuar o dinamismo demográfico (Bandeira, 2004).

Caso fosse necessário, com a baixa da idade ao casamento e o levantamento das restrições
no acesso ao casamento, reduzindo a quase nada o celibato definitivo, as sociedades
europeias do antigo regime podiam assim duplicar a sua fecundidade. Possibilidade que atribui
uma função aceleradora à recuperação da nupcialidade (Bandeira, 2004). Sendo que esta, em
situações normais, desempenhava o papel de travão no crescimento excessivo da população.
Em suma, o crescimento demográfico das sociedades do antigo regime surge assim regulado
através de um sistema de autorregulação com base no controlo da nupcialidade tal como
Malthus já havia preconizado.

II
(1,5 valor)
1. Análise da qualidade dos dados dos sistemas de informação demográfica

a) Indique os 4 índices para testar a qualidade dos dados dos sistemas de informação
demográfica que aprendeu e distinga-os em torno da forma como se aplicam e do tipo
de dados que avaliam; (0,5)

Os quatro métodos que aprendemos para testar a qualidade dos dados de observação
fornecidos pelos sistemas de informação demográfica foram a Relação de Masculinidade dos
nascimentos, o Índice de Whipple (IW), o Índice de Irregularidade (I) e o Índice Combinado das
Nações Unidas (ICNU). O primeiro serve para testar a qualidade dos dados dos registos dos
nascimentos e os restantes três servem todos para testar os dados dos recenseamentos
(Bäckström et al, 2023).

Perante os dados dos nascimentos ou nados-vivos, calcula-se a relação de masculinidade cujo


resultado deverá ser em torno de 105 (proporção que está de acordo com o facto de nascerem
aproximadamente 105 bebés do sexo masculino por cada 100 nascimentos de bebés do sexo
feminino). Caso contrário, calcula-se o intervalo de confiança dentro do qual o valor da relação
de masculinidade pode variar sem colocar em causa a qualidade dos dados (Bäckström et al,
2023).

O Índice de Whipple não permite a análise global da qualidade de um recenseamento, permite


apenas demonstrar se existe ou não concentração simultânea nas idades terminadas em 0 e 5
(Bäckström et al, 2023).

2
O Índice de Irregularidade das idades serve, tal como o IW, para testar se existe ou não
concentração em determinadas idades, no entanto, em vez de medir, de forma global, a
atração pelos números terminados em 0 e 5, permite medir todo o tipo de atrações (pelos
números pares, pelos números ímpares, pelos números 0 e 5 - em separado -, pelo número 7
ou outros números) (Bäckström et al, 2023).

O Índice Combinado das Nações Unidas permite medir a qualidade global de um


recenseamento através dos dados da população desagregados por sexo e grupos de idades
quinquenais (não convém ultrapassar os 80 anos de idade) (Bäckström et al, 2023).

b) Aplique o índice que ache mais indicado para avaliar a qualidade dos dados dos
Censos 2001, referentes ao sexo masculino, que são apresentados no Quadro 1,
nomeadamente, em torno da atração pelos números terminados em 0 e 5. (1)

Quadro 1 - População residente por sexo e idades ano a ano, Portugal, 2001

Idade HM H
Menos de 1 ano 110 914 56 866
1 Ano 113 091 57 754
2 Anos 106 179 54 478
3 Anos 104 432 53 246
4 Anos 104 875 53 625
5 Anos 105 235 54 108
6 Anos 103 481 53 210
7 Anos 106 787 54 611
8 Anos 109 266 55 623
9 Anos 112 752 57 647
10 Anos 113 725 58 122
11 Anos 113 682 58 109
12 Anos 115 198 58 912
13 Anos 116 207 59 622
14 Anos 120 778 61 620
15 Anos 124 453 63 715
16 Anos 133 501 68 351
17 Anos 138 313 70 832

3
18 Anos 144 806 73 594
19 Anos 147 613 74 930
20 Anos 152 163 76 945
21 Anos 152 247 77 336
22 Anos 154 552 78 069
23 Anos 163 137 82 414
24 Anos 168 802 85 323
25 Anos 169 997 86 018
26 Anos 166 091 83 638
27 Anos 159 391 79 872
28 Anos 160 432 80 170
29 Anos 158 750 79 545
30 Anos 155 975 78 275
31 Anos 151 600 75 942
32 Anos 150 484 75 173
33 Anos 150 865 74 631
34 Anos 152 533 75 342
35 Anos 154 779 76 392
36 Anos 157 184 77 218
37 Anos 153 415 75 323
38 Anos 152 239 74 735
39 Anos 153 164 75 115
40 Anos 153 112 75 458
41 Anos 146 065 71 675
42 Anos 145 112 71 191
43 Anos 145 633 71 335
44 Anos 138 596 67 869
45 Anos 141 743 69 101
46 Anos 138 241 67 465
47 Anos 133 821 64 836
48 Anos 137 029 66 142
49 Anos 135 300 65 838

4
50 Anos 134 739 65 564
51 Anos 131 484 64 117
52 Anos 134 472 64 760
53 Anos 123 285 58 858
54 Anos 118 536 56 185
55 Anos 124 961 58 819
56 Anos 118 380 55 491
57 Anos 114 963 54 343
58 Anos 109 431 51 549
59 Anos 103 717 48 697
60 Anos 106 971 50 060
61 Anos 110 633 51 798
62 Anos 111 966 52 166
63 Anos 109 472 50 617
64 Anos 111 874 51 538
65 Anos 113 751 52 056
66 Anos 107 034 48 707
67 Anos 106 887 48 365
68 Anos 106 596 48 144
69 Anos 103 897 46 958
70 e + Anos 1 155 328 463 988
Total 10 356 117 5 000 141
Fonte: INE, Censos 2001.

O índice mais indicado é o de Whipple (IW), na medida em que permite analisar a qualidade
dos dados de um recenseamento através da deteção da existência ou não de distorções
referidas à atração global pelas idades terminadas em 0 e 5.

O cálculo em causa processa-se do seguinte modo:


- Total de efetivos do sexo masculino dos 23 aos 62 anos: 2758443 (Quadro 2).
- Total de efetivos do sexo masculino no intervalo dos 23 aos 62 anos com idades terminadas
em 0 e 5: 559687 (Quadro 2).
- A partir dos dois totais, anteriormente calculados, aplica-se a fórmula:
IW (H) = (559687/(2758443/5))*100 ou ((559687*5/2758443)*100

5
IW (H) = (559687/551688,6)*100 ou (2798435/2758443)*100
IW (H) = 1,0145*100
IW (H) = 101,45

Como o valor do IW é aqui menor que 105, os dados podem-se considerar muito exatos ou de
boa qualidade.

Quadro 2 – População residente, sexo masculino, idades ano a ano (dos 23 aos 62 anos),
Portugal, 2001
H
(idades
Idades H
terminadas
0 e 5)
23 Anos 82 414
24 Anos 85 323

25 Anos 86 018 86 018

26 Anos 83 638
27 Anos 79 872

28 Anos 80 170

29 Anos 79 545

30 Anos 78 275 78 275

31 Anos 75 942

32 Anos 75 173

33 Anos 74 631

34 Anos 75 342

35 Anos 76 392 76 392

36 Anos 77 218

37 Anos 75 323

38 Anos 74 735
39 Anos 75 115

40 Anos 75 458 75 458

41 Anos 71 675
42 Anos 71 191

43 Anos 71 335

44 Anos 67 869

45 Anos 69 101 69 101

46 Anos 67 465

47 Anos 64 836
48 Anos 66 142

49 Anos 65 838

50 Anos 65 564 65 564

51 Anos 64 117

52 Anos 64 760

53 Anos 58 858
54 Anos 56 185

55 Anos 58 819 58 819

56 Anos 55 491

57 Anos 54 343

58 Anos 51 549

59 Anos 48 697

60 Anos 50 060 50 060

61 Anos 51 798

62 Anos 52 166

Total 2 758 443 559 687

III
(2 valores)

6
1. O Diagrama de Lexis é um instrumento de observação e análise em demografia que permite
representar graficamente acontecimentos e efetivos populacionais, considerando a variável
temporal numa dupla perspetiva: individual e coletiva. Através deste diagrama, podem-se,
assim, acompanhar as histórias de vida de populações ou grupos populacionais, de forma
longitudinal ou transversal (Bäckström et al, 2023).

No diagrama de Lexis, aqui em análise (Figura 1), observa-se, numa dada população (sem
interferência de migrações), o comportamento da mortalidade nas primeiras cinco idades,
envolvendo como anos de observação, 2000 a 2005. Deste modo, encontram-se
representados óbitos e efetivos populacionais dos 0 aos 4 anos completos. Perante este
diagrama pedimos que:

a) Identifique a perspetiva de análise longitudinal e a perspetiva de análise transversal


apontando as suas principais diferenças; (0,25)

A perspetiva de análise longitudinal envolve a análise do percurso da mortalidade na geração


de 2001, dos 0 aos 4 anos completos. É uma abordagem biográfica que acompanha o
comportamento da mortalidade numa geração ao longo das idades que ela vai atingindo à
medida que os anos de observação se vão sucedendo (de 2001 a 2005).

A perspetiva de análise transversal envolve a análise da mortalidade nos anos de 2000 e 2005.
Trata-se de uma abordagem conjuntural envolvendo a observação do comportamento da
mortalidade nos momentos em causa e onde estão implicadas as diversas gerações que, em
2000 e 2005, atingem as idades dos 0 aos 4 anos.

b) Identifique os dados (óbitos) com dupla classificação e sem dupla classificação,


justificando; (0,5)

Os óbitos com dupla classificação são os observados na geração de 2001 e no ano de 2005.
São óbitos recolhidos por idade e data de nascimento (ou ano de nascimento), o que permite
que sejam registados nas superfícies dos triângulos visto que podem ser referidos à geração a
que pertencem.

Os óbitos sem dupla classificação são os observados no ano de 2000. São óbitos recolhidos
apenas por idade, não permitindo que sejam referidos às gerações de pertença, logo surgem
registados nas superfícies dos quadrados, visto que podem pertencer a qualquer das duas
gerações envolvidas em cada idade completa.

7
c) Que gerações estão envolvidas nos óbitos observados no ano 2000 dos 0 aos 4 anos
completos? (0,5)

As gerações implicadas na mortalidade no ano 2000, dos 0 aos 4 anos completos são as
seguintes:
Geração nascida no ano de 2000: 2000-0= 2000;
Geração que atinge o 1 ano de idade no ano de 2000: 2000-1=1999;
Geração que atinge os 2 anos de idade no ano de 2000: 2000-2=1998;
Geração que atinge os 3 anos de idade no ano de 2000: 2000-3= 1997;
Geração que atinge 4 anos de idade no ano de 2000:2000-4=1996;
Geração que atinge os 5 anos de idade no ano de 2000: 2000-5=1995.
(a geração de 1995, em 1 de janeiro de 2000, tem 4 anos completos).

d) Indique o número de óbitos de crianças, nascidas em 2001, com a idade completa de 1


ano. (0,25)

Óbitos da geração 2001 com a idade completa de 1 ano: 30+24=54.


(Óbitos da geração 2001 com a idade completa de 1 ano:112211-112157=54)…outras
hipóteses de cálculo sempre em diagonal.

e) Na geração 2001, calcule os efetivos (sobreviventes) na idade exata 3 anos e na idade


completa 4 anos; (0,25)

Efetivos (sobreviventes) na geração 2001:


- idade exata 3 anos:112139-18 = 112121;
(- idade exata 3 anos:112 111+10 = 112121)
(-idade exata 3 anos: 112157 – (18+18)=112121
(-idade exata 3 anos: 112774 – (282+281+30+24+18+18)=112121)…
- idade completa 4 anos:112103-6 = 112097.
(- idade completa 4 anos:112111-(8+6) = 112097)
(- idade completa 4 anos: 112774 – (282+281+30+24+18+18+10+8+6)=112097)… outras
hipóteses de cálculo sempre em diagonal.

f) Calcule os efetivos (sobreviventes) nas idades completas de 1,2,3 anos observados no


dia 1 de janeiro de 2006. (0,25)

Efetivos (sobreviventes) nas idades completas (dia 1 de janeiro de 2006):


- 1 ano completo: 108894 – 20 = 108874;

8
(- 1 ano completo: 109088 – (20+194) = 108874)
- 2 anos completos: 112011 – 11 = 112000;
(- 2 anos completos: 112035 –(24+11) = 112000)
- 3 anos completos: 113773 – 6 = 113767.
(-3 anos completos: 113785 – (12+6) = 113767)… outras hipóteses de cálculo sempre em
diagonal.

Figura 1 – Diagrama de Lexis


Y
Idades
completas
00
20
ão
r aç
5 Ge

119253

01
20
o
7 çã
4 ra

119260
27 Ge
6
112103

8
112111

3 41

10 6
113773
112139

18 12
2
113785

54

18 11
112157 112011

1
112181

112035

24
24
62

30 20
112211 108894
112492

109088

109209

281
194
0 662
282 190
120008 112774 114383 112515 109298 109399 X
O Anos de
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 observação
1/1 1/1 1/1 1/1 1/1

FIM

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