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Julieta Romeiro

Maria Raquel Apolinário

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Ricardo Melani

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Silas Martins Junqueira

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DIÁLOGO
CIÊNCIAS HUMANAS
E SOCIAIS APLICADAS

SER HUMANO,
CULTURA
E SOCIEDADE

Área do conhecimento:
Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas
(BNCC) Competências As transformações no espaço geográfico
específicas: 1, 2 e 4;
Para compreendermos como se deu a revolução técnico-científico-informacional,
Habilidades: EM13CHS106
EM13CHS202 EM13CHS404
vamos estudar as transformações no espaço geográfico sob a perspectiva do geógrafo
brasileiro Milton Santos (1926-2001), que desenvolveu o conceito de meio técnico-
Questão -científico-informacional. Esse intelectual fez uma análise das transformações que
antecederam a Terceira Revolução Industrial pelo viés das relações entre sociedade-
Registre em seu caderno
-natureza e das transformações no espaço geográfico ao longo da história.
• Trocar e-mails, efetuar
Para Milton Santos, a construção do espaço geográfico passa pela difusão e pela
pagamentos on-line,
acessibilidade das técnicas e da tecnologia, e isso se dá de maneira desigual entre as
realizar pesquisas na
pessoas e os países. Assim, a produção e a distribuição de mercadorias, as formas de
internet e se comuni-
comunicação e de obtenção de informações, serviços e cultura que atualmente utilizam
car das mais variadas
formas em redes so-
os meios tecnológicos, por exemplo, acontecem em um espaço marcado por desigual-
ciais são práticas que dades sociais, construídas historicamente. Ao mesmo tempo, as diferenças de acesso
foram incorporadas ao aos novos recursos tecnológicos, como a tecnologia 5G utilizada em dispositivos móveis,
cotidiano de milhões agem para construir novas desigualdades no espaço geográfico.
de pessoas. Segundo o autor, o desenvolvimento das relações entre sociedade e natureza ao
a) Cite as vantagens longo do tempo passou por três etapas distintas relacionadas ao espaço geográfico: o
e as desvantagens meio natural, o meio técnico e o meio técnico-científico-informacional. Em seus estudos,
desse processo. Milton Santos demonstrou como o ser humano, ao promover uma crescente artificia-

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


b) Após a situação de lização do seu entorno, construiu o meio técnico-científico-informacional e como esse
isolamento social processo define a produção dos espaços locais e mundiais da atualidade.
em consequência
da pandemia do O meio natural
novo coronavírus,
essa situação se
O meio natural seria a etapa da vida humana em que técnicas mais simples come-
tornou muito mais çaram a ser utilizadas para retirar da natureza os recursos necessários à sobrevivência
presente na vida das comunidades, visando ampliar a produção de alimentos, impulsionar o comércio ou
das pessoas. Re- construir sistemas de defesa contra povos invasores. Nessa fase, os seres humanos rea-
flita sobre isso e lizavam transformações na natureza, mas não de maneira radical, pois o conhecimento
comente sobre as técnico era limitado e a dependência das comunidades em relação à natureza era muito
facilidades e as di- grande. As interferências antrópicas sobre o meio natural tinham consequências em
ficuldades em re- escala local, sem grandes danos para o meio ambiente. Essa foi uma fase em que o uso
lação aos estudos da terra, por exemplo, era intermediado por técnicas agrícolas rudimentares, visando à
feitos a distância produção de alimentos para a subsistência ou para o comércio regional, como ocorreu
nesse período. com os povos do Mediterrâneo antigo.
Nesse período, as técnicas de plantio se limitavam às práticas de rotação de culturas
ou da agricultura itinerante. Nessas condições, a preservação do meio natural é maior,
pois pressupõe a necessidade de reutilização do solo para o plantio com os recursos
Antrópico: relativo à ação do ser disponíveis, ou seja, é preciso um equilíbrio entre o uso e o repouso da terra para per-
humano. mitir o plantio subsequente, em um processo cíclico.
NATHANIEL NOIR/ALAMY/FOTOARENA

A técnica do terraceamento foi


desenvolvida em sociedades
pré-capitalistas e ainda persiste em
várias sociedades atuais. Na foto,
podemos observar terraços agrícolas
incas no sítio arqueológico de Moray,
nas proximidades de Cuzco, no Peru.
Foto de 2018.

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O meio técnico
Para Milton Santos, a relação entre o ser humano e a natureza tem sido sempre mediada pela
técnica. Porém, a humanidade só entrou na etapa do meio técnico com a invenção das máquinas,
no final do século XVIII, visando aumentar exponencialmente a produtividade e, consequente-
mente, a taxa de lucro dos empresários industriais. Com a industrialização, o trabalhador das
fábricas transformou-se em um operador de máquinas. A mecanização, iniciada nas indústrias
têxteis britânicas, foi levada depois para a agricultura, e a terra começou a ser intensamente ex-
plorada como meio de produção e fonte de grandes lucros. Essa etapa corresponde, portanto, à
fase inicial do sistema capitalista de produção.
COLEÇÃO PARTICULAR

Máquinas empregadas
em plantação de trigo na
Califórnia, nos Estados
Unidos, c. 1900.
A mecanização
resultou no aumento
extraordinário da
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

produtividade agrícola,
transformando o setor
em um grande negócio
da economia capitalista.

As máquinas, empregadas nas fábricas, nas locomotivas, na navegação a vapor e na agricultura,


deram uma nova configuração geográfica ao mundo. Não é difícil imaginar que, a partir de então,
houve uma alteração radical na relação sociedade-natureza, pois a preservação e os cuidados com
o meio natural diminuíram drasticamente. Os solos passaram a ser desgastados com o cultivo
contínuo e repetitivo de alguns poucos produtos; também se ampliou a devastação de áreas
florestais ou de paisagens naturais para dar lugar a ferrovias, a novas plantações e à pecuária.
Contínuos inventos, estudos e descobertas culminaram na Segunda Revolução Industrial.
Iniciada em meados do século XIX, essa nova fase da industrialização foi marcada pelo desenvolvi-
mento das indústrias química, elétrica, petrolífera, siderúrgica, naval, automobilística e de aviões.
A industrialização também se expandiu por alguns países da Europa e atingiu os Estados Unidos
e o Japão, o que permitiu ampliar as fronteiras de distribuição de mercadorias para mercados
consumidores de várias partes do mundo.
Nessa fase iniciou-se uma progressiva aplicação da ciência ao meio técnico em um processo
contínuo de artificialização do espaço geográfico, caracterizado pelo poder das ações humanas e
pelas profundas transformações no meio natural. Ela terminou após a Segunda Guerra Mundial (1939-
-1945), em transição para uma nova fase, definida por Milton Santos como meio técnico-científico.

O meio técnico-científico-informacional
A fase do meio técnico-científico teve início com a instauração da chamada Guerra Fria. As
realizações dos Estados Unidos e da União Soviética, impulsionadas pela disputa entre as duas
superpotências na corrida espacial, por exemplo, exigiram grandes investimentos financeiros e
científicos por parte desses dois polos de poder: capitalista e socialista. Muito da tecnologia de- Meio de produção:
senvolvida com fins estratégicos e militares nesse período foi aperfeiçoada posteriormente para refere-se ao conjunto
de elementos que inter-
uso da população em geral, alavancando o comércio mundial. Exemplos disso são as tecnologias
medeiam a relação entre
empregadas na fabricação do GPS e do aparelho de micro-ondas. o trabalho humano e a
A constante incorporação do conhecimento científico ao sistema produtivo culminou no natureza. Incluem, por
exemplo, instalações
desenvolvimento da tecnologia, que é o resultado da fusão da ciência com a técnica. Inovações fabris, fontes de gera-
no ramo da informática, da biotecnologia, da química fina, da engenharia genética, da eletrô- ção de energia, meios
nica, da robótica e indústrias de telecomunicação e aeroespacial são exemplos de tecnologias de transporte e comu-
nicação, terras, estradas,
desenvolvidas a partir da incorporação da ciência ao processo produtivo e da interdependência matérias-primas, ferra-
criada entre conhecimento científico e desenvolvimento técnico. mentas e máquinas.

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A etapa do meio técnico-científico-informacional, por-
tanto, representa a fase mais recente de expansão da eco-
nomia capitalista e é conhecida como Terceira Revolução
Industrial ou revolução técnico-científico-informacional.
O espaço geográfico, nessa etapa, caracteriza-se pelo
crescimento das redes geográficas, ou seja, um conjunto
de objetos fixos em vários locais da superfície terrestre
e no espaço sideral que formam um sistema interligado,
possibilitando conexões reais e virtuais entre os mais
distantes locais do planeta. Rodovias, portos, aeropor-
tos, satélites artificiais, antenas parabólicas, cabos de
fibra óptica etc. conectam lugares distintos para além
do território nacional dos países e alimentam o fluxo
de pessoas, mercadorias, conhecimentos, informações
e valores culturais pelo mundo. Assim, o meio técnico-
-científico-informacional está intimamente relacionado
ao processo de globalização.

“ a instantaneidade da informação globalizada apro-


xima os lugares, torna possível uma tomada de conhe-

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


cimento imediata de acontecimentos simultâneos e cria
entre lugares e acontecimentos uma relação unitária à
escala do mundo. Hoje, cada momento compreende,
em todos os lugares, eventos que são interdependentes,
incluídos em um mesmo sistema global de relações. ”
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e
tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2002. p. 203.
ELWYNN/SHUTTERSTOCK

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