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rg u m muros Director: Manuel Carvalho Domingo, 16
6 de Abril de 2023 • Ano XXXIV • n.º 12.03
12.038
03
38 • Diário • Ed. Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,90€
Pintura que
estava nas
reservas
do museu
pode ser
um Georges
de La Tour
DANIEL ROCHA
possível atribuição a Georges de La neste caso com um santo que não está ou uma carta, em particular São Jeró-
Lucinda Canelas
Tour”, lembra ao PÚBLICO Nicolas representado em nenhuma das outras nimo. Jean-Pierre Cuzin conhece-as
A
pomba que vem da esquer- Milovanovic, deixando claro que telas atribuídas ao pintor. muitíssimo bem.
da, como a luz que ilumina hoje duvida que a obra tenha saído Seja ou não um Georges de La Tour, “O S. Gregório descoberto por Nico-
a Ægura, é representada das mãos deste pintor que trabalhou o director de Arte Antiga, por seu las Milovanovic nas reservas do
em voo, embora quase para reis e cardeais e que esteve 300 lado, acredita que não se trata de uma Museu Nacional de Arte Antiga cor-
tudo no seu corpo indique anos esquecido. réplica: “Um trabalho como este não responde a este tipo de pintura, qua-
que estava em repouso “De facto, a maneira como a Ægura pode ser resultado de uma cópia — o se uma fórmula”, escreve o antigo
quando o pintor nela se Æxou. No está construída, a sua pose, a forma desenho é extremamente bom e a director do departamento de pintura
centro da composição está S. Gre- alongada do crânio, as numerosas pintura de uma liberdade de execu- do Louvre, num texto enviado a Joa-
gório, monge que viria a ser Papa, luzes que se destacam no seu hábito ção à primeira, sem falhas”, defende quim Caetano, já depois de visitar o
cabisbaixo, de lunetas na ponta do e a representação da pomba ao lado Joaquim Caetano, para quem a Ægura, MNAA para ver a pintura. “A coloca-
nariz longo e aÆlado. É um homem do santo pareceram-me evocar o esti- a composição, o trabalho dos tecidos ção da Ægura no espaço, as formas
velho, de barba comprida e cabelo lo deste artista, [mas hoje] o que me e os óculos de lentes grossas do santo deÆnidas por uma luz lateral dura são
já escasso, ambos grisalhos. faz duvidar da atribuição a Georges fazem lembrar de imediato La Tour. a marca de La Tour. E a execução, no
Veste um manto luxuoso e nas de La Tour é principalmente a execu- Já o fundo escuro uniforme e o facto belo empastamento e no graÆsmo
mãos tem aberto, provavelmente, o ção”, acrescenta. “O seu toque é de não haver nela “a densidade de virtuosos do rosto, especialmente os
Livro de Ezequiel, atendendo à bio- amplo, Çuido e luminoso, dando um matéria” que há noutras obras do olhos e as rugas da testa, e na mão
graÆa conhecida do protagonista da aspecto muito pictórico às composi- pintor fazem-no duvidar. que segura o livro, é característica do
obra, que muito o estudou e sobre ele ções. No caso do S. Gregório, o restau- “Georges de La Tour continua a pintor na sua primeira fase, mais
escreveu. O santo ocupa praticamen- ro recente da pintura permite-nos ser um artista muito raro”, adverte hábil do que nos Apóstolos de Albi,
te todo o espaço desta tela estreita julgar melhor o toque: parece-me um Nicolas Milovanovic, chamando a mas menos caligráÆco e livre do que
que pode ter pertencido a um conjun- pouco denso e seco de mais, e sobre- atenção para o facto de serem pou- no S. Jerónimo do Prado.”
to, talvez feito para uma sacristia. tudo demasiado linear, para justiÆcar cas as pinturas que lhe são atribuídas Para este historiador de arte que é
Quem será o autor desta pintura? uma atribuição a La Tour.” sem reservas e quase inexistentes os autor de uma importante monograÆa
Quando terá sido feita? O projecto de vestígios das suas obras nas fontes sobre o pintor francês (La Tour, Cita-
investigação e restauro que agora nela Um enigma do século XVII. “É, portanto, muito delle & Mazenod, 2021), a obra “des-
incide, motivado por uma possível Georges de La Tour continua em mui- raro examinar pinturas não publica- coberta” nas reservas de Arte Antiga
atribuição a um dos maiores e ainda tos aspectos a ser um mistério para os das que possam estar próximas do “levanta mil questões”, mas não a da
pouco conhecidos pintores franceses, historiadores de arte, embora a sua seu estilo. É isto que torna o S. Gre- autoria. “Apesar da minha primeira
Georges de La Tour (1593-1652), vai popularidade, em parte devido a esse gório no Museu [Nacional] de Arte reacção negativa ao vê-la ao vivo,
procurar responder a esta e a outras mesmo mistério, seja hoje indiscutí- Antiga de Lisboa ainda mais interes- como uma surpresa, já que em foto-
questões, mesmo que no Ænal venha vel. Parece que para a merecer, no sante: é um enigma.” graÆa não me tinha suscitado dúvi-
a ser impossível Æxar-lhe a autoria. entanto, não bastou a La Tour ser um Georges de la Tour, insiste este das, é um original de Georges de La
“Este trabalho de estudo é muito pintor de grande qualidade e origina- conservador do Louvre, “distingue- Tour”, disse ao PÚBLICO num breve
demorado e é preciso avançar com lidade; foi preciso que nascesse duas email, detalhando a sua opinião no
cuidado para que se chegue a infor- vezes, a primeira em 1593, na Lorena, texto já citado.
mação segura e comparável com a quando este ducado era um território “A pintura é excepcional. Ao ponto
de outras obras já atribuídas a La assolado pela guerra e pela miséria, de, num primeiro olhar, levantar
Tour”, diz Joaquim Caetano, director e a segunda em 1915, quando um bre- dúvidas quanto à sua atribuição. A
do Museu Nacional de Arte Antiga víssimo artigo do historiador de arte riqueza e a variedade dos materiais
(MNAA), a cuja colecção a obra per- Hermann Voss, historiador de arte retratados, desde logo as sumptuosas
tence. “É claro que a possibilidade
de ter sido feita por um dos maiores
alemão que teve um papel importan-
te na espoliação de arte pelos nazis,
Um trabalho como vestes eclesiásticas, as proporções
estreitas da tela, a tábua inferior
pintores franceses é entusiasmante, lhe atribuiu um pequeno conjunto de este não pode ser [espécie de parapeito que aparece na
mas, seja quem for o seu autor, é
uma pintura muitíssimo boa, sem
obras que até então se julgava terem
vários autores. resultado de uma parte inferior da composição], inexis-
tente noutras pinturas conhecidas de
pontos fracos, e certamente france-
sa. Depois de concluído o restauro,
“Há pouco mais de 100 anos, ele
era um perfeito desconhecido para a
cópia — a pintura [é] La Tour, tudo isto levanta questões.
Como a pomba, de um naturalismo
será um óptimo reforço para uma
área não muito forte da nossa colec-
história de arte. Ainda hoje não
conhecemos muitas das suas obras e
de uma liberdade magníÆco e delicado, estudado a par-
tir da vida, que não pode ser compa-
ção de pintura europeia.” não conhecemos muitos dos seus de execução à rada com qualquer peça de La Tour,
Foi numa visita às reservas do
museu criado em 1884, e onde esta
dados biográÆcos. Tudo isto diÆculta
o entendimento da obra”, reconhece primeira, sem falhas excepto o galo do São Pedro de Cleve-
land (1645), mais sumário e menos
pintura de 102 por 67 centímetros se Andrés Úbeda, especialista em pintu- Joaquim Caetano bem conservado.”
encontrava guardada há pelo menos ra francesa e italiana que em 2016 Director do MNAA Além disso, sublinha Cuzin, há que
85 anos — esteve exposta nas galerias, co-comissariou a importante exposi- ter em conta as características mate-
mas já não aparece no catálogo-guia ção que o Museu do Prado dedicou a -se por uma poesia própria, mas riais da obra, que só um exame direc-
publicado em 1938 —, que Nicolas Georges de La Tour. também por uma qualidade de rea- to permite aferir. É na sequência des-
Milovanovic, conservador-chefe do Sabe-se que foi muito célebre em lismo e por um toque extraordina- te exame que o historiador de arte
departamento de pintura do Museu vida, não pela documentação dispo- riamente magistral”, sendo estes os defende que este S. Gregório é muito
do Louvre, em Paris, alertou para as nível, mas porque há muitíssimas principais elementos que permitem diferente de outras obras conhecidas
semelhanças de composição com cópias de obras suas. “Nalguns casos atribuir uma obra ao artista. “Depois do artista, pintadas sobre uma prepa-
Georges de La Tour. Sugeriu então ao essas cópias são de tão boa qualidade há o estudo cientíÆco da obra, o tipo ração espessa. “Aqui, tanto a prepa-
director do MNAA que chamasse a que nos fazem duvidar se estamos de tela, a natureza das camadas de ração como a tinta são Ænas, e o grão
Lisboa, para a analisar com tempo, o perante um original de La Tour, se preparação, os pigmentos usados... da tela é claramente visível em relevo.
antigo director do departamento de perante uma réplica de um dos seus Finalmente, há que ter uma discus- A condição geral [da pintura] é exce-
pintura deste museu francês e um dos discípulos, incluindo o seu Ælho, que são com especialistas reconhecidos, lente, a camada de tinta manteve o
maiores conhecedores da obra do também pintou com ele”, acrescenta e em particular com Jean-Pierre seu empastamento e os seus relevos
artista, Jean-Pierre Cuzin. este historiador de arte que é hoje o Cuzin, que passou muitos anos a mais Ænos. É de facto uma técnica
“Da primeira vez que vi o S. Gregó- director adjunto para a investigação estudá-lo e que recentemente publi- diferente: uma tela grande, irregular-
rio, a pintura estava em reserva e e a conservação do Museu do Prado. cou uma monograÆa sobre ele.” mente tecida, sem qualquer revesti-
precisava de ser restaurada. No Úbeda, que só em Maio se desloca- mento, uma preparação muito Æna
entanto, Æquei imediatamente rá a Lisboa para ver de perto o S. Gre- Mil questões na qual é aplicada uma tinta igual-
impressionado com a sua beleza, a gório, não quer comentar a possível Do início ao Æm da sua carreira, Geor- mente Æna, mas variada.”
precisão da representação e a quali- autoria da pintura do MNAA, nem ges de La Tour parece ter gostado de Como se podem conciliar, então,
dade das cores. Perguntei ao director sequer levantar a hipótese de se tratar pintar Æguras a meio corpo isoladas, estas características técnicas tão dis-
se podia restaurá-la, sugerindo uma de uma cópia de uma obra perdida, saídas das Escrituras, a ler um livro tintas com a atribuição ao céle-
4 • Público • Domingo, 16 de Abril de 2023
G
eorges de La Tour está lon- rece pela primeira vez num docu- Caravaggio, Jacques Bellange, pode Linz, La Tour viria a ter o seu primei- a um conselheiro de origem italiana,
ge de ter a popularidade de mento em 1616, um ano antes de se justiÆcar os pontos de contacto entre ro grande palco no século XX na Francisco António de Sousa Cam-
outros artistas franceses casar com Diane, a Ælha de Jean Le a obra de ambos. exposição colectiva Les Peintres de la biasso, “um burocrata que ocupava
como Cézanne, Matisse ou Nerf, ourives do então duque da Apesar de ter sido um pintor céle- Réalité, em 1934, no Museu de cargos na Fazenda [o equivalente ao
Monet, nomes que se tor- Lorena. Em 1620 tinha já uma oÆcina bre em vida, com obras disputadas, L’Orangerie, em Paris. Seria, no actual Ministério das Finanças]”, diz
naram familiares para a própria que, pouco depois, reunia o seu nome esteve perdido quase entanto, a monográÆca no Grand Joaquim Caetano.
maioria, mas tem merecido cada uma clientela de prestígio, da corte 300 anos, sem que os investigadores Palais, de 1997, vista por mais de Faz parte de uma lista de 22 obras
vez mais atenção. ducal e, mais tarde, do círculo do rei tenham conseguido até hoje perce- meio milhão de pessoas, a torná-lo saídas da colecção Cambiasso e inte-
Nascido em 1593 em Vic-sur-Seille, de França, Luís XIII, incluindo o pró- ber porquê. mais conhecido do grande público. gradas na do antepassado do MNAA
uma cidade no ducado da Lorena, prio monarca. Redescoberto em plena Primeira Autor de pinturas em que o sagrado em 1872, graças à verba que o rei D.
território que muito lutou pela sua Nada nas fontes do século XVII per- Guerra Mundial por Hermann Voss, e o profano se misturam para compor Fernando II lhe atribuía anualmente
independência, La Tour era neto e mite aÆrmar que tenha feito viagens o homem que Hitler quis ver como cenas de grande intensidade espiri- para aquisições. “São Gregório
Ælho de padeiros. Pouco se sabe sobre pela Europa, embora os historiadores tual, capazes de criar uma sensação Papa”, assim vem referenciada, foi
a sua formação como pintor, estiman- de arte discutam a possibilidade de Georges de La de familiaridade e de proximidade comprada por 144 reis, em moeda da
do-se que tenha começado por volta ter estado em Roma, já que o trata- Tour está hoje em quem as vê, Georges de La Tour época, e viria a receber o n.º 475 no
de 1605, muito perto de casa, com um mento soÆsticado que faz da luz e da representado está hoje representado nalguns dos inventário, sendo identiÆcada numa
escritor e gravador amador, Alphon- sombra parece devedor de Cara- nalguns dos melhores acervos de pintura do mun- primeira fase como uma pintura
melhores acervos
se de Rambervilliers, um homem que vaggio (1571-1610), artista italiano cuja de pintura
do, do madrileno Museu do Prado ao espanhola do século XVII.
era próximo do bispo de Metz. inÇuência se espalhou pela Europa. do mundo Metropolitan de Nova Iorque, passan- Em 1872, o mundo ainda não tinha
Segundo a nota biográÆca que lhe Há, porém, quem defenda que o do pela colecção real britânica. redescoberto Georges de La Tour.
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6 • Público • Domingo, 16 de Abril de 2023
Espaço público
F
ala-se de “endogamia Universidade de Coimbra era a mais de recrutamento que temos, os
Editorial académia” quando os endogâmica: 78%. Seguia-se a constrangimentos Ænanceiros das
professores e investigadores Universidade de Lisboa: 75%. universidades, tudo isto contribuiu
desenvolvem o essencial da Nalgumas faculdades era mais radical decerto para a situação que temos. Mas
sua carreira na mesma ainda: nas de Direito de Coimbra e que a endogamia é um problema grave
instituição onde Æzeram a sua Lisboa, a taxa era, respectivamente, de ninguém duvida, e não têm faltado
formação inicial, sem ter passado um 100% e 99%. “Isto signiÆca que, nos alertas.
Andreia Sanches período signiÆcativo, algures na sua concursos abertos para posições Nos últimos dias, muito do que se
vida, noutras universidades, académicas nestas faculdades, tem ouvido na sequência das
organizações ou empresas. Formam-se praticamente nunca foi seleccionado denúncias de assédio que envolvem
ali, Æcam ali. E, se não afrontarem os um candidato doutorado fora da Boaventura de Sousa Santos alerta-nos
poderes instalados, progridem. instituição”, nas palavras da DGEEC. para outra camada deste problema,
Nos países do Sul da Europa — Os riscos da endogamia estão independente dos resultados das
Portugal, Espanha e Itália —, há mais reportados em todo o mundo: promove averiguações em curso. Se, ao longo de
“endogamia”. Nos Estados Unidos, ela o pensamento homogéneo e prejudica anos de rumores e de queixas à boca
parece tão mal que várias instituições a capacidade de inovar; reforça as pequena, uma instituição como o
têm regras para evitar a contratação relações hierárquicas e o poder dos Centro de Estudos Sociais, ao qual
dos seus diplomados. “professores de topo”; é inimiga da estão ligadas centenas de
Nos Estados Unidos, De há uns anos a esta parte, a igualdade de oportunidades e prejudica investigadores, foi incapaz de agir, é
a endogamia parece Direcção-Geral de Estatísticas da a produtividade; onde ela reina pode legítimo pensar que será muito pior
tão mal que várias Educação e Ciência (DGEEC) passou a não ser o mérito que determina as noutros locais. O poder das relações
instituições têm regras publicar relatórios sobre o tema. O contratações, mas as amizades e tóxicas em instituições fechadas é
último revelava que 68% dos docentes lealdades construídas durante a tremendo. É preciso abri-las, combater
para evitar de carreira doutorados tinham feito o formação (Estado da Educação, a endogamia. E criar estruturas onde
a contratação dos seus seu doutoramento na mesma Conselho Nacional de Educação). seja mais fácil às eventuais vítimas
diplomados universidade onde leccionavam. A O pequeno país que somos, as regras queixarem-se.
CARTAS AO DIRECTOR
Rodoviárias dita de bandeira, já há muito perdeu verbas do PRR. Vejamos a falta de que são precisas medidas rápidas Construção privada nas maiores
em “férias escolares” o porta-estandarte. qualidade da maioria dos para combater, hoje mesmo, a freguesias da cidade, sem haver
Maria Conceição Mendes, Canidelo deputados. O mesmo podemos situação actual em que muitas uns tão necessários espaços
Aqui na Área Metropolitana do dizer do Governo ou dos putativos famílias se encontram, mas Costa verdes. Ramalde, Paranhos...
Porto, e duma forma concertada Ao que nós chegámos candidatos ao poder. Estará Portugal tem obrigação de pensar, além E, assim, sistematicamente diz
(cartelizada), as rodoviárias privadas novamente destinado ao fracasso? disso, que é, infelizmente, o que mal do Governo, do primeiro-
que integram a Rede Andante Nas vésperas dos 50 anos do 25 de António Barbosa, Porto não tem feito. Tentar tapar o buraco -ministro, dos ministros, é tudo
decidem de per si (e tutti) suprimir Abril, encontramos o país no seu de hoje sem pensar no dia de péssimo. Agora junta o Presidente,
carreiras durante todo o período pior. A classe política está de rastos, Preocupações amanhã nunca deu bom resultado. que, pelos vistos, deveria dissolver a
das férias escolares, cavalgando o seja no Governo ou nas oposições. Manuel M. Gomes, Senhora da Hora Assembleia da República, atirando
argumento de que… estão com Realmente, o Presidente da Quando vejo o Governo do meu o Governo abaixo para formar um
horários de férias escolares. República está num beco sem saída país a anunciar subsídios a Rui Moreira é o brilhante hipotético governo, que, azar dos
É assim aqui no distrito: quem e só pode optar por um mal menor. empresas que paguem 1330 euros azares, poderia ser o mesmo. Por
manda pode e as rodoviárias A TAP veio reforçar o que todos nós mensais a doutorados e licenciados O presidente da Câmara do Porto vezes, não falar não é má ideia...
privadas parecem poder negar o já sabíamos: não temos quem nos que venham a contratar, Æco muito é o brilhante, tem todas as Augusto K. Magalhães, Porto
transporte a milhares de valha. As trapalhadas com a preocupado, triste e envergonhado. capacidades para vir a acumular a
trabalhadores. É alta a desprotecção habitação, os tribunais em situações Que país nos estão a propor? Que Presidência da República com a
dos que pagam o Passe Andante, a
bilhética avulsa diária e têm de
caóticas, a guerra dos professores
com o caos instalado no ensino, os
país quer António Costa que
Portugal seja? Um país medíocre?
cheÆa do Governo. O Presidente
da República, Marcelo Rebelo de
PÚBLICO ERROU
desembolsar, em último recurso, o baixos salários dos trabalhadores Será que é desta forma que Costa Sousa, é mau, o primeiro-ministro, Ao contrário do que escrevemos
dinheiro para chamar um carro de do SNS, que os faz abandonar a quer manter os mais qualiÆcados António Costa, é incapaz, logo, só ontem, na notícia “Nova presidente
aluguer para não terem falta ao carreira pública ou emigrar, a em Portugal? Será que não tem o presidente da Câmara do Porto da comissão da Igreja quer
trabalho. E nem um pio de quem vergonha que o país passou com o noção de que, com tal medida, só tem capacidade para ocupar os prevenção dos abusos sexuais no
devia gerir a rede de transportes no navio da Armada são a ponta do vai fazer prolongar os salários dois lugares. Até pelos exemplos currículo do pré-escolar”, o
distrito e para isso andou a pedir icebergue. A corrupção, o tráÆco de baixos existentes em Portugal para de como é o trânsito no Porto, é Governo já anunciou que vai
votos e acabou sendo eleito. inÇuências e a incompetência são pessoas qualiÆcadas? Será que exemplar para os países mais promover um estudo sobre abusos
O distrito do Porto e a sua Área premiados. O caso de Hugo Mendes desistiu da criação de medidas que desenvolvidos da Europa. Todos sexuais de crianças alargado aos
Metropolitana é toda uma TAP à infelizmente não é caso único do façam Portugal desenvolver-se cumprem, todos respeitam os seus principais espaços de
escala do seu raio geográÆco, mas que é a incompetência da grande economicamente e garantir um lugares de estacionamento sem ser socialização, e que será coordenado
seguramente igual ao desnorte com parte dos políticos. Podemos ver futuro menos sombrio? É evidente, à balda, ninguém passa semáforos por Rosário Farmhouse. Aos leitores
que a “nossa” empresa de aviação, quanta incapacidade de aplicar as e sem qualquer margem de dúvida, vermelhos. Exemplos, exemplares. e aos visados, as nossas desculpas.
As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt
Público • Domingo, 16 de Abril de 2023 • 7
U
polícias mais novos do que eu, a tratar-me por
(1882-1963), Miguel Esteves Cardoso
“senhor” e a preparar-me, diplomaticamente, Directora de arte
Sónia Matos
pintor e ma das coisas mais engraçadas
do envelhecimento é a maneira
para o que estava para vir.
Agora, acho graça aos putos com 40 anos
Directora de design de produto digital
Inês Oliveira
escultor como também envelhecem as
nossas deÆnições de quem é
que acham que estão muito doentes porque
Æcam maldispostos quando comem ou
Editoras executivas
Helena Pereira, Sónia Sapage
francês novo e de quem é velho. De bebem, ou dormem pouco.
Editor de fecho
José J. Mateus
repente, toda a gente é nova. Vão fazer análises e descobrem que estão Editor de Opinião Álvaro Vieira Editor P2 Sérgio B. Gomes Online Ana Maria
Isso ainda vá que não vá. O pior são os velhos: Ænos. Na verdade, o que aconteceu é que já Henriques, Mariana Adam, Patrícia Jesus, Ivo Neto, Pedro Esteves, Pedro
os velhos tornam-se muito, muito velhos. não podem fazer as asneiras que faziam Guerreiro (editores), Carolina Amado, Filipa Almeida Mendes, José Volta e
Pinto, Miguel Dantas, Sofia Neves (última hora); Ruben Martins (áudio); Joana
O NÚMERO A razão é muito simples: porque têm de ser quando eram novos. Ou seja, podem, mas Bougard (editora Multimédia), Carlos Alberto Lopes, Carolina Pescada, Joana
57.000
mais velhos do que nós e, sejamos francos, as agora pagam. A única diferença é que o Gonçalves, Teresa Miranda (multimédia); Amanda Ribeiro (editora de redes
sociais), Patrícia Campos, Lucas Freitas; Rui Barros (jornalista de dados) Política
pessoas mais velhas do que nós são cada vez organismo deixou de dar borlas. Leonete Botelho (editora), David Santiago (subeditor), Ana Sá Lopes, São José
mais difíceis de encontrar. Até porque a Para se sentirem bem, não precisam de Almeida (redactoras principais), Ana Bacelar Begonha, Henrique Pinto de
grande maioria está escondida no cemitério e tomar remédios: basta terem juízo. Mesquita, Liliana Borges, Margarida Gomes, Maria Lopes, Marta Moitinho
Oliveira, Nuno Ribeiro, Sofia Rodrigues Mundo António Rodrigues (editor),
não aparece nem por mais uma. Oh afortunada juventude! Paulo Narigão Reis (editor adjunto), Bárbara Reis, Jorge Almeida Fernandes,
Já aqueles que hoje achamos jovens vão-se É também com essa idade que se começam Teresa de Sousa (redactores principais), Rita Siza (correspondente em
Bruxelas), Alexandre Martins, António Saraiva Lima, João Pedro Pincha, João
multiplicando a um ritmo aterrador. Os meus a irritar com as palavras que inevitavelmente Ruela Ribeiro, Maria João Guimarães, Sofia Lorena Sociedade Rita Ferreira,
pais gozavam comigo porque, quando eu ouvem da boca dos médicos: “Isso é normal Pedro Sales Dias (editores), Clara Viana (grande repórter), Alexandra Campos,
tinha 11 anos, pintei um cartaz com as para a sua idade.” Ana Cristina Pereira, Ana Dias Cordeiro, Ana Henriques, Ana Maia, Cristiana
Faria Moreira, Daniela Carmo, Joana Gorjão Henriques, Mariana Oliveira, Natália
descendentes de judeus sefarditas palavras “Nunca conÆes em quem tem mais “Para a minha idade?”, respondem Faria, Patrícia Carvalho, Samuel Silva, Sónia Trigueirão Local Ana Fernandes
obtiveram nacionalidade de 25 anos”. abespinhadamente, “mas eu não sou velho!” (editora), Luciano Alvarez (grande repórter), André Borges Vieira, Camilo
Soldado, Mariana Correia Pinto, Samuel Alemão Economia Pedro Ferreira
portuguesa até ao final de 2021 Obrigavam-me a explicar, noite após noite, Ah não? Só os velhos é que falam assim. Esteves, Isabel Aveiro (editores), Cristina Ferreira, Sérgio Aníbal (grandes
repórteres), Ana Brito, Luís Villalobos, Pedro Crisóstomo, Rafaela Burd Relvas,
Raquel Martins, Rosa Soares, Victor Ferreira Ciência Teresa Firmino (editora),
Teresa Sofia Serafim, Tiago Ramalho Azul Andrea Cunha Freitas (editora),
Claudia Carvalho Silva (subeditora), Aline Flor, Andréia Azevedo Soares, Clara
ZOOM NEPAL Barata, Gabriela Gómez (infografia), Nicolau Ferreira, , Tiago Bernardo Lopes
(multimédia), Rodrigo Julião (webdesign) Tecnologia Karla Pequenino Cultura/
Ípsilon Paula Barreiros, Inês Nadais (editoras), Pedro Rios (editor Ípsilon), Isabel
NAVESH CHITRAKAR/REUTERS Coutinho (subeditora), Nuno Pacheco, Vasco Câmara (redactores principais),
Isabel Salema, Sérgio C. Andrade (grandes repórteres), Daniel Dias, Joana
Amaral Cardoso, Lucinda Canelas, Luís Miguel Queirós, Mariana Duarte, Mário
Lopes Desporto Jorge Miguel Matias, Nuno Sousa (editores), Augusto
Bernardino, David Andrade, Diogo Cardoso Oliveira, Marco Vaza, Paulo Curado
Fugas Sandra Silva Costa, Luís J. Santos (editores), Alexandra Prado Coelho
(grande repórter), Luís Octávio Costa, Mara Gonçalves Guia do Lazer Sílvia
Pereira (coordenadora), Cláudia Alpendre, Sílvia Gap de Sousa Ímpar Bárbara
Wong (editora), Carla B. Ribeiro, Inês Duarte de Freitas P3 Inês Chaíça, Renata
Monteiro (subeditoras), Mariana Durães Terroir Ana Isabel Pereira Newsletters
e Projectos digitais João Pedro Pereira Projectos editoriais João Mestre
Fotografia Miguel Manso, Manuel Roberto (editores), Adriano Miranda, Daniel
Rocha, Nelson Garrido, Nuno Ferreira Santos, Paulo Pimenta, Rui Gaudêncio,
Alexandra Domingos (digitalização), Isabel Amorim Ferreira (documentalista)
Paginação José Souto (editor de fecho), Marco Ferreira (subeditor), Ana
Carvalho, Ana Fidalgo, Joana Lima, José Soares, Nuno Costa, Sandra Silva;
Paulo Lopes, Valter Oliveira (produção) Copy-desks Aurélio Moreira, Florbela
Barreto, Joana Quaresma Gonçalves, João Miranda, Manuela Barreto, Rita
Pimenta Design Digital Alex Santos, Ana Xavier, Daniela Oliveira, Nuno Moura,
Infografia Célia Rodrigues (coordenadora), Cátia Mendonça, Francisco Lopes,
Gabriela Pedro, José Alves Comunicação Editorial Inês Bernardo
(coordenadora), João Mota, Ruben Matos Secretariado Isabel Anselmo,
Lucinda Vasconcelos Documentação Leonor Sousa
Publicado por PÚBLICO, Comunicação Social, SA.
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Vogais Cláudia Azevedo, Ana Cristina Soares e João Günther Amaral
Área Financeira e Circulação Nuno Garcia RH Maria José Palmeirim
Direcção Comercial João Pereira Direcção de Assinaturas e Apoio ao
Cliente Leonor Soczka Análise de Dados Bruno Valinhas Marketing de
Produto Alexandrina Carvalho Área de Novos Negócios Mário Jorge Maia
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boas-vindas à chegada da Primavera e do Ano Novo nepalês em Thimi, Bhaktapur, no Nepal, ontem
8 • Público • Domingo, 16 de Abril de 2023
Espaço público
A grande mentira
BORJA SUAREZ/REUTERS
Como é possível que certas pessoas que se
declaram católicas manifestem, por palavras
e obras, o ódio e desprezo por quem tem de
abandonar o próprio país e procurar, de todas
as maneiras, um porto de refúgio? As
situações de imigrantes pobres ou
perseguidos nos seus países de origem
obrigam-nos a recorrer a todos os meios para
Frei Bento Domingues O.P. encontrar um país de acolhimento. Os
traÆcantes de seres humanos fomentam
caminhos de vida ou morte para um destino
Os temas litúrgicos de exploração. Para alguém que se diz
não podem esquecer católico, participar nessas atitudes é uma
declarada mentira.
as condições pessoais A denúncia dessa mentira criminosa
e sociais da sua verdade obriga-nos a nós, portugueses, a não
perdermos a memória da emigração forçada,
ou da sua grande mentira
1.
e em condições horríveis, para fugir à guerra e
à miséria.
Não sou historiador do processo da Conheci muitas dessas situações e
reforma litúrgica desencadeada por lembro-me de os dominicanos, em Marselha,
Pio XII, em 1946, de forma mais ou pedirem aos dominicanos portugueses para
menos clandestina para não ter de enviarem alguém que pudesse ajudar os
enfrentar aqueles que, perante emigrantes até conseguirem defender-se da
qualquer reforma, levantam o muro exploração a que estavam sujeitos e
da repetição do passado: sempre assim foi, encontrarem uma inserção estável e digna.
sempre assim será. Essa tendência ainda não Portugal, e não só, tem obrigação de não
foi completamente vencida, mas é legítimo perder a memória de que muitos portugueses
dizer que, a partir de 1955, tornou-se tiveram de abandonar o país a salto — muitas
irreversível a chamada Reforma da Semana vezes por várias tentativas e de serem,
Santa de Pio XII e continuada por João XXIII frequentemente, abandonados e explorados
(1962). Não foi por acaso que o primeiro pelos próprios passadores — para encontrar
documento aprovado, no Vaticano II, foi o um destino de liberdade.
Sacrosanctum concilium, sobre a Liturgia Li, por essa razão e com muita alegria, a
(4/12/1963). Não sou historiador, mas fui entrevista que a ministra adjunta e dos
testemunha entusiasta desta reforma. sem esquecer as polémicas em torno dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina
Neste momento, a celebração da Vigília Padres operários. Tudo isto era acompanhado Mendes, deu ao PÚBLICO na segunda-feira
Pascal está assumida nas paróquias e nas pelos grandes debates da chamada, (dia 10/04). Vai tutelar a Agência Portuguesa
grandes comunidades cristãs, tornando-se impropriamente, Theologie Nouvelle (a para as Minorias, Migrações e Asilo (APMMA).
habitual o baptismo de adultos convertidos e verdade da teologia é o debate) que Esta criação é o último passo para o Æm do
a renovação das promessas baptismais de
quem foi baptizado em criança. A Quaresma
Os movimentos de encontrou uma grande expressão de
liberdade e criatividade no Concílio Vaticano
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e
recolherá os seus funcionários
não é um fim, ajuda a perceber a verdade da resistência às mudanças II (1962-1965). Esse clima de liberdade passou administrativos. A ministra assume que esta
fé cristã, um contínuo processo de
ressurreição. Mesmo sob o ponto de vista
das propostas do por grandes diÆculdades, depois desse
Concílio, até ao advento do admirável Papa
solução representa o «novo paradigma de
olhar as migrações».
litúrgico, o tempo pascal é um tempo largo. Se Vaticano II ajudam Francisco. Hoje não temos apenas pessoas a chegar a
a Igreja deve estar sempre em processo de
reforma (semper reformanda), implica que
a perceber o que era 2. Dir-se-á que alguns desses movimentos
foram obra de minorias e, por isso, não
saber falar ou a perceber alguma coisa de
português. Nós temos outras culturas, outras
também devia ser esse o estilo de vida dos a situação pré-conciliar tiveram impacto popular. Parece que não há mentalidades. E, para mim, uma boa política
seus membros: «Exorto-vos, irmãos, pela
misericórdia de Deus, a que ofereçais os
das celebrações: movimento que comece por ser de grandes
maiorias, mas sem a ousadia de pessoas e
de migração, numa sociedade democrática e
numa sociedade decente, faz-se com a
vossos corpos como sacrifício vivo, santo, padre de costas para grupos minoritários Æcava-se sempre na compreensão de quem cá chega e com a
agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro
culto, o espiritual. Não vos acomodeis a este
o povo, recitando um mesma. O grande horizonte da arquitectura
religiosa, assim como do movimento litúrgico,
certeza de que o nosso quadro constitucional
diz que todos são iguais em direitos e deveres.
mundo. Pelo contrário, deixai-vos livro em latim era formar comunidades vivas e não E todos são os que aqui nascem, os que aqui
transformar, adquirindo uma nova puramente estéticas. decidem viver e fazer a sua vida. Penso que o
mentalidade, para poderdes discernir qual é a vencendo o clericalismo, mas isso não basta. Os movimentos de resistência às mudanças papel de Portugal, do ponto de vista da visão
vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é As reformas litúrgicas só têm sentido por das propostas do Vaticano II ajudam a mais integradora, no fundo é: nós somos uma
agradável, o que é perfeito» [1]. criarem um clima, um ambiente de mudança perceber o que era a situação pré-conciliar nação de várias identidades e temos de nos
Este domingo foi também chamado o de vida porque a tentação permanente dos das celebrações: padre de costas para o povo, saber entender, tendo sempre por base o
Domingo da Pascoela, da Páscoa pequenina. cristãos é de se acomodarem. recitando um livro em latim. A forma mais respeito pelos direitos humanos.
Tempo houve que a celebração da Eucaristia, Esquece-se que os movimentos de acessível, para as pessoas ocuparem esse Um cristão não pode evitar a interrogação:
deste dia, era a chamada Missa in Albis (Missa renovação da arte religiosa [2] ou arte sacra tempo de escuridão, era rezar o terço. O como posso amar Deus que não vejo e odiar o
de Branco). As pessoas baptizadas na Vigília não estavam desligados dos grandes padre encarregava-se da celebração dos irmão que vejo? [3].
Pascal, para signiÆcar que iniciavam uma vida movimentos de renovação do catolicismo no sacramentos, os Æéis diziam, sem entender, o [1] Rm 12, 1-2.
nova, vestiam-se de branco que mantinham século XX em vários países: Movimento credo mais belo, o Ámen, que signiÆca o [2] Não posso deixar de referir a grande
durante toda a semana. Maria Velho da Costa bíblico, Movimento Patrístico, Movimento empenhamento pessoal com o que acabava obra de João Alves da Cunha, MRAR.
(1938-2020) publicou, em 1988, um dos seus litúrgico servido pelas redescobertas de ser celebrado. Mas, se não entendiam a Movimento de Renovação da Arte Religiosa. Os
grandes livros, Missa in Albis. históricas e pela renovação musical, celebração em latim, o Ámen só podia ser anos de ouro da arquitetura religiosa em
Nunca podemos esquecer que a alteração diferentes Movimentos culturais que uma Æcção convencional. Portugal no século XX, UCP 2015.
das formas litúrgicas não se destina a acompanharam a criação literária, todos os 3. Os temas litúrgicos não podem esquecer [3] 1Jo 4, 20.
construir um belo espectáculo. Tem de Movimentos e tribulações da Acção Católica, as condições pessoais e sociais da sua verdade
procurar envolver os cristãos todos, Movimento social, nas suas várias expressões, ou da sua grande mentira, título desta crónica. Escreve ao domingo
Público • Domingo, 16 de Abril de 2023 • 9
1.
coloque a defesa europeia na “casa das porque os seus comentários no regresso da intervenção que o futuro das relações da
máquinas” e que sirva uma política industrial China deixavam pensar que era indiferente ao União Europeia com a China iriam depender
Emmanuel Macron acredita, capaz de garantir à Europa maior destino da ilha.” As palavras são de Nils do seu comportamento face a Moscovo.
realmente, que uma guerra independência economia. Ninguém discorda, Schmid, porta-voz parlamentar do SPD para Macron partiu para Pequim com o intuito de
desencadeada pela invasão de no essencial, desta visão do futuro europeu. as questões de política externa. Metin convencer o seu homólogo chinês a levar
Taiwan pela China passará ao lado Mas, justamente, para se tentar erguer até ao Hakverdi, outro deputado social-democrata, Putin até à mesa das negociações e a fazer o
da França e da Europa? Passa-lhe nível dos outros dois grandes pólos de poder foi mais directo: “Macron está a fazê-lo outra prometido telefonema ao Presidente
pela cabeça que a China pode, pura — EUA e China — precisa de maior integração vez. Falou de mais em Pequim sem qualquer Zelensky. Recebeu palavras vagas, ou seja,
e simplesmente, anexar Taiwan, causando em torno de uma visão global do seu papel no autorização da União Europeia. É um grave praticamente nada.
um banho de sangue, sem que os Estados mundo, que seja aceite por todos os seus erro para o Ocidente permitir-se qualquer Macron é um voluntarista. Vimo-lo tentar
Unidos reajam? Não entende a real dimensão membros. Ora, a visita de Estado do divisão e, em primeiro lugar, nas suas relações até ao último instante convencer Putin a
do que isso signiÆcaria para a ordem mundial Presidente francês à China não contribuiu com Pequim.” Norbert Röttgen, uma das desistir de invadir a Ucrânia, sentado num
liberal? Não compreende que Pequim para isso. Pelo contrário. Como tantas vezes Æguras cimeiras da CDU, na oposição, foi dos extremos da célebre mesa gigantesca
considera que há hoje uma oportunidade acontece, a França quis falar em nome da ainda mais directo: “É quase irónico que seja com que o Presidente russo recebia os
única para impor a sua ambição mundial, que Europa. Uma grande parte da Europa, precisamente Macron, que faz ainda menos dignitários estrangeiros. Terá acreditado que
resulta da convergência da ascensão incluindo a Alemanha, não se sentiu do que Olaf Sholz pela Ucrânia, a alienar os convencia o seu homólogo chinês a
espectacular da China e daquilo que vê como representada. Macron dividiu, em vez de unir. EUA com as suas declarações na China.” interceder junto de Putin para abreviar a
o inevitável declínio americano e ocidental? OÆcial ou oÆciosamente, muitas capitais Aliás, do ponto de vista de várias capitais guerra. Não é crível que não compreenda que
Xi Jinping já o disse com todas as letras. É essa tiveram o cuidado de se demarcar europeias, a questão mais preocupante Xi Jinping tem dois pesadelos. O menor é uma
ambição comum que está na base da sua dessas declarações está no risco de quebra da derrota da Rússia. O maior é uma Rússia mais
“amizade sem limites” com Vladimir Putin. união transatlântica em torno da Ucrânia, democrática e pró-ocidental.
É difícil acreditar que um dos líderes vital para a Europa. 4. A pergunta seguinte é o que levou Macron
europeus mais experientes e mais preparados Washington veio imediatamente deitar a seguir por este caminho nesta altura. A
não tenha a exacta percepção do que se joga água na fervura, lembrando que a França é explicação pode estar nas diÆculdades que
hoje à escala global. um aliado inestimável dos Estados Unidos e enfrenta em casa, sobretudo com a reforma
O Presidente francês escolheu o pior Não é crível que Macron que os dois países cooperam estreitamente das pensões, que tem levado milhões de
momento possível para dizer, no essencial, não compreenda que em muitas partes do mundo. A preocupação franceses à rua. Desempenhar o papel de De
duas coisas: que a Europa não tem nada que da Administração Biden é outra. Numa altura Gaulle, batendo o pé aos americanos, agrada
ver com o confronto entre a China e os Xi Jinping tem dois em que os republicanos se preparam para sempre aos franceses. O Global Times chinês
Estados Unidos e que os europeus não se pesadelos. O maior é uma fazer do apoio à Ucrânia um tema central da também elogiou o Presidente francês como
devem envolver na questão de Taiwan; que a campanha eleitoral, acusando o Presidente de um digno sucessor do general.
Europa não deve ser “seguidista” ou “vassala” Rússia mais democrática estar a gastar demasiados recursos na Europa A outra explicação pode estar na economia
dos Estados Unidos. e pró-ocidental em vez de os concentrar na contenção da — levou consigo mais de 60 representantes da
Sobre Taiwan, a sua “realpolitik” não lhe GONZALO FUENTES/REUTERS
grande indústria, que assinaram excelentes
serviria de nada. As ondas de choque políticas contratos. Precisa de mais crescimento
e económicas de um conÇito no estreito de económico, para enfrentar a onda de
Taiwan seriam ainda mais devastadoras do mobilização popular contra o custo de vida,
que foram as que a invasão russa da Ucrânia que as duas forças políticas dos extremos — a
provocou. Taiwan é o maior produtor França Insubmissa de Mélenchon e a União
mundial de semicondutores. A China é a Nacional de Le Pen — têm sabido aproveitar.
segunda maior potência mundial. A região da Nada disto justiÆca a sua “deriva” chinesa.
Ásia-PacíÆco é hoje o centro de gravidade da Têm uma preocupação legítima: travar a
economia global. Se Pequim tivesse “luz constituição de um novo “duopólio”
verde” para anexar a pequena ilha Formosa, mundial em que não sobra espaço para mais
como lhe chamaram os portugueses, os ninguém. Ou, dito de outra maneira, em
pequenos e médios países que a rodeiam que os outros se vêem obrigados a tomar
Æcariam numa situação ainda mais partido. Só há uma forma de evitar que isso
insustentável, sujeitos ao diktat de Pequim. aconteça e não é, certamente, estender a
Uma democracia vibrante seria eliminada do mão a Pequim. É transformar a Europa num
mapa, tal como aconteceu, numa muito pólo de poder suÆcientemente forte para se
menor proporção, com Hong Kong. A União tornar imprescindível. O que não quer dizer
Europeia é uma grande economia “equidistante”. A Ucrânia provou que a
exportadora. As perturbações brutais que tentação gaullista da “terceira força” era
esses países da Ásia do Sueste sofreriam uma miragem.
teriam, necessariamente, una enorme
repercussão na Europa. Jornalista. Escreve ao domingo
10 • Público • Domingo, 16 de Abril de 2023
Oposição em
Aveiro
anuncia sem o saber
fim da ditadura
Foram 4000 participantes, quase 150 comunicações e teses de críticas
ao regime. O país já não acreditava nas promessas de abertura
de Marcello Caetano. Eram mera cosmética
de honra do congresso, enviado do mavera Marcelista” de 1969 tinham-se bique. Também não se estancara a Cunhal com Mário Soares. “Um foi no
Nuno Ribeiro
exílio no Brasil. Foi um momento sim- esfumado, e a abertura do regime sangria da emigração e o desenvolvi- início de 1973, o outro em Setembro,
H
á 50 anos, entre 4 e 8 de bólico: perante a maioria da oposi- Æcou-se numa operação cosmética. mento económico continuava débil. já depois do congresso de Aveiro”,
Abril de 1973, no Cineteatro ção, as palavras de um exilado foram A repressão continuava e a alteração No lado da oposição, depois de em recorda.
Avenida, em Aveiro, teve lidas pelo advogado aveirense Álvaro da designação da polícia política de 1969 comunistas e militantes de “Foi o aproximar de muitas corren-
lugar o III Congresso da Seiças Neves, da comissão nacional PIDE para DGS [Polícia Internacional outras correntes, socialistas e repu- tes políticas, o Æm da separação entre
Oposição Democrática. De organizadora, perante uma plateia e Defesa do Estado para Direcção-Ge- blicanos terem divergido, apresen- CDE e CEUD, que levou à lista única
republicanos a monárqui- plural de oposicionistas. ral de Segurança], ou a mudança de tando listas próprias às legislativas — da oposição às eleições de 1973”, cor-
cos, com socialistas e esquerdistas, “O Congresso da Oposição Demo- censura para exame prévio, não alte- CDE [Comissão Democrática Eleito- robora Alberto Arons de Carvalho,
de sociais-democratas a comunis- crática de 1973 espelha uma maior raram a estratégia policial e a prática ral] e CEUD [Comissão Eleitoral de que, dez dias depois de participar nos
tas, com católicos e ateus, quase diversiÆcação [do que os anteriores censória do regime. O fundamental Unidade Democrática] —, era tempo trabalhos de Aveiro, rumou aos seus
todos os ramos e personalidades de 1957 e 1969], muitas vezes em ten- permanecia imutável. de concertação. 23 anos para a Alemanha, onde par-
das oposições estiveram presentes. são, da oposição ao Estado Novo, com Também a possibilidade de altera- “O congresso de Aveiro foi uma ticipou na fundação do PS, a 19 de
E sem o saber, anunciaram o Æm da os católicos progressistas e o apareci- ção do regime por dentro, que levou grande jornada de luta antifascista, Abril. “A oposição acabou por não ir
ditadura, que chegaria quase um mento da esquerda radical, o PCP e à “ala liberal” de, entre outros, Fran- estabeleceu a relação entre o PCP e o às urnas porque, [nas sessões de
ano depois, a 25 de Abril de 1974. os socialistas”, sintetiza, ao PÚBLICO, cisco Sá Carneiro, Miller Guerra e PS”, salienta Vítor Dias. Aos 27 anos, esclarecimento] quando se falava de
“Profundamente sensibilizado o politólogo António Costa Pinto. “Há Francisco Pinto Balsemão, se revelou era dirigente da CDE de Lisboa, mem- Guerra Colonial, os microfones eram
convite presidir Congresso saúdo uma grande desafectação popular um logro. As alterações pretendidas bro da comissão nacional do congres- desligados e a polícia interrompia o
companheiros consciente da impor- face ao regime”, anota. “O congresso à Lei de Imprensa, por exemplo, so e coordenador da oitava secção acto, e por não haver condições de
tância deste Congresso para objec- de Aveiro demonstra também, com soçobraram perante os “ultras” do sobre situação e perspectiva política Æscalização das urnas”, lembra.
tivos centrais nossa luta liberdades excepção de José Medeiros Ferreira, regime. A demissão da maioria daque- no plano nacional e internacional. “Em 1973, o PS virou à esquerda,
democráticas povo português inde- a escassa ligação da oposição às cliva- les deputados tornou-se inevitável. “Na altura, ainda não era do PCP, mas com a reunião em Paris de Álvaro
pendência povos colónias declara gens existentes no seio das Forças No centro deste imobilismo estava era como se fosse”, relata o antigo Cunhal e Mário Soares”, analisaJosé
aberta a sessão”. Foram estas as pri- Armadas”, conclui. a questão colonial, a política ultrama- membro do comité central. Pacheco Pereira. “Já se tinham perdi-
meiras palavras da sessão inaugural, Um ano antes da Revolução dos rina defendida por Marcello Caetano, Decisivos para a nova relação entre do as ilusões com a ‘Primavera Mar-
num telegrama de saudação do pro- Cravos, a situação era de descalabro. e a continuidade de uma guerra em socialistas e comunistas foram os celista’ e, então, há a aproximação
fessor Rui Luís Gomes, presidente As promessas da denominada “Pri- três frentes: Guiné, Angola e Moçam- encontros, em Paris, de Álvaro com os socialistas cuja liderança esta-
Público • Domingo, 16 de Abril de 2023 • 11
FOTOILUSTRAÇÃO
Medeiros Ferreira, exilado na Suíça
e proibido de entrar em Portugal.
Da Necessidade de Um Plano para
Nação era uma reÇexão que o autor
deÆniu ao PÚBLICO, em 2014,
meses antes de morrer, da seguinte
forma: “Era de 80% a percentagem
dedutivo-intelectual, a que se junta-
va a experiência empírica da minha
passagem pela tropa em 1967/68”.
A conclusão era só uma: Medeiros
Ferreira, um ano antes de Abril, pre-
via a revolta militar pela incapacida-
de e imobilismo do regime. “O Jorge
Sampaio foi o único que disse que
ele tinha razão em relação aos mili-
tares, mas que era prematuro falar”,
ressalva Maria Emília.
“O PC esteve contra porque esta-
va em contradição com a tese do
levantamento nacional armado de
Álvaro Cunhal descrita no Rumo à
Vitória e considerava como reminis-
cência do putschismo do republica-
nismo histórico”, analisa Pacheco
Pereira.
Falta aquilatar a inÇuência, do
ponto de vista programático, sobre
o futuro Movimento dos Capitães
em gestação e que, cinco meses
depois, se reunia pela primeira vez.
“No congresso de Aveiro estiveram
presentes dez militares da Marinha,
oito oÆciais e dois aspirantes, entre
os quais o almirante Martins Guer-
reiro e o comandante Simões Teles,
fala-se de que Duran Clemente tam-
bém lá esteve, a título individual”,
avança Vítor Dias, segundo relatos
de uma recente evocação realizada
em Aveiro.
Outro exilado, António Barreto,
enviou uma tese cujo título é escla-
recedor e eloquente: Do Capitalismo
Atrasado ao Desenvolvimento Subal-
terno.
Foram 150 teses/comunicações as
que foram ouvidas pelos cerca de
4000 participantes. O Grupo de
Presos Políticos Actualmente em
Caxias enviou A Repressão Fascista
va no estrangeiro, onde participava cadeira, eram cenas que duravam vius a organizar a minha presença, e a Situação dos Presos Políticos em
em reuniões anticoloniais, como uma pouquíssimo, era muito curto o pugi- vinda de Genebra”, aÆrma. “Fui rece- Caxias. Houve contributos do Grupo
celebrada em Roma”, explica. Este é lato”, relata. “No Parlamento, quando bida com simpatia, atribuíram-me de Camponeses de Alpiarça, dos
um dos temas do próximo volume de encontrei Lino de Carvalho, recordá- uma acompanhante, uma jovem cha- Jovens Operários da Construção
Álvaro Cunhal, Uma Biografia Política, mos tudo aquilo”, diz. Lino de Carva- mada Clara que era Ælha do Mário Civil da Baixa da Banheira, de um
do historiador. lho era deputado do PCP, Pacheco Sacramento”, destaca. Grupo de ProÆssionais de Seguros
O congresso Militares presentes
Pereira do PSD. Para os comunistas,
o ocorrido foi uma provocação.
Maria Emília foi a Aveiro para apre-
sentar a tese do seu marido, José
do Porto e o jornal O Salto defendia
a democracia popular.
de Aveiro foi uma O aparecimento da “esquerda radi- Se os “esquerdistas”, como então Entre os monárquicos, Gonçalo
A TECNOLOGIA NO COMBATE
À DESINFORMAÇÃO
A tecnologia multiplicou as probabilidades de disseminação de notícias falsas,
mas oferece igualmente ferramentas para a travar. Neste aparente paradoxo,
o que podem e devem fazer as plataformas, os jornalistas e os cidadãos?
Como está a tecnologia a responder à desinformação?
Política
S
desde que sejam referentes a proces- egundo números comunidade judaica a partir do rei- sidera que se justiÆca “verter na Lei
sos com requerimentos entrados até avançados pelo executivo, nado de D. Manuel I”, contextualiza da Nacionalidade a exigência de os
ao último dia de 2023. “até ao final de 2021, foram a proposta. descendentes de judeus sefarditas
Na proposta, o Governo faz uma apresentados cerca de 140 O Governo reconhece que tem possuírem uma ligação efectiva e
avaliação do que aconteceu durante mil pedidos de naturalização, havido um aumento do número de actual a Portugal, demonstrando, no
a vigência deste regime, concluindo tendo sido concedida a pedidos de naturalização de familia- momento do pedido, a existência
que “nenhum regime de reparação nacionalidade portuguesa a res dos cidadãos que obtiveram a dessa ligação com o país e com a
histórica deve ser eterno”, o execu- cerca de 57 mil descendentes”. nacionalidade portuguesa ao abrigo comunidade nacional”. Isto enquan-
tivo defende que a lei que criou esta Mas a adesão a este regime daquele regime, com a “quase tota- to a lei estiver em vigor, ou seja, até
excepção na atribuição de naciona- não foi sempre uniforme ao lidade” dos naturalizados a não viver ao Ænal deste ano.
lidade já cumpriu os propósitos para longo do tempo. “A partir de para mais de 50 mil em 2021”, nem a ter ligações a Portugal. Este regime de excepção gerou
que foi criada. 2017, verificou-se um aumento lê-se na exposição de motivos Além disso, o executivo assume polémica depois de conhecido, atra-
O regime que alterou a lei da nacio- exponencial dos pedidos de da proposta de lei. O aumento que “este regime potenciou a proli- vés do PÚBLICO, que a Comunidade
nalidade “veio permitir a aquisição naturalização — tendência do recurso a este regime foi de feração de empresas que recorrem Israelita do Porto obteve vantagens
da nacionalidade portuguesa, por agravada pela revogação, em tal forma que, “no ano de 2021, a publicidade agressiva para aliciar Ænanceiras com processos de atri-
naturalização, aos descendentes de 2019, do regime aprovado em estes pedidos representaram potenciais interessados na naturali- buição da nacionalidade. Soube-se
judeus sefarditas de origem portu- Espanha com idêntico propósito 72% do total de pedidos de zação, anunciando as vantagens ainda que o multimilionário russo
guesa expulsos de Portugal no Ænal —, passando de sensivelmente aquisição da nacionalidade associadas à obtenção de um passa- Roman Abramovich se naturalizou
do século XV, dispensando o cum- sete mil pedidos anuais em 2017, portuguesa por naturalização”. porte de um Estado-membro da português em Abril de 2021 ao abrigo
primento dos requisitos de residên- União Europeia que permite viajar deste regime de excepção.
Público • Domingo, 16 de Abril de 2023 • 15
Sociedade
Daniela Carmo
Autoras do manifesto de
apoio a denunciantes de
assédio sublinham que
situações são “transversais
a todos os sectores” És estudante de
O artigo que pôs no centro de um
debate sobre assédio moral e sexual
proÆssionais e práticas no Centro de
Estudos Sociais (CES), situado em
doutoramento
Coimbra, foi “a agulha que rebentou
um balão que tem andado a encher
há muito tempo”. É assim que Patrícia
Martins Marcos, uma das autoras do
da ULisboa?
manifesto Todas Sabemos — um docu-
mento de “total solidariedade” com
as autoras da investigação referida —, Manifesto Todas Sabemos conta já com 530 assinaturas
explica os acontecimentos que vie-
ram a público esta semana. E recorda:
“O CES não é a excepção, é a norma.
tempo, motivar a acção, não só ao
nível da denúncia. “Queremos tam-
os casos relativos a alegado assédio
moral e sexual, e descartou criar já
A tua tese pode
Toda a gente sabe disso, quem passa
pelas universidades já viveu ou pre-
senciou” situações dessa natureza.
bém convidar as pessoas a juntar-se
a nós para dar apoio” às denuncian-
tes, reitera a Maria do Carmo Piçarra,
uma estrutura nacional, apesar de a
ver como “benéÆca”.
Perante a declaração, a historiado-
dar-te 5 mil euros.
Em conversa com o PÚBLICO, investigadora de cinema e professora ra de Arte Inês Beleza Barreiros diz
ontem, algumas das redactoras do universitária. Chamam-lhe, aliás, “cír- não estar “segura que assim seja” e
manifesto defendem que, não sendo culo de protecção às autoras”, como pede uma reacção também a Ana
as situações de assédio moral ou refere Inês Beleza Barreiros, historia- Catarina Mendes, “que tem a tutela
sexual exclusivas da academia, mas, dora de Arte. da Igualdade”. “Pedimos que se criem
antes, transversais a todos os secto- De acordo com o grupo, chegaram comissões independentes porque, se
res, deviam existir comissões inde- à morada de email sabemosto- assim não for, passa-se o que se pas-
pendentes para acompanhar casos de
assédio moral ou sexual. E escrevem
das@gmail.com inúmeros testemu-
nhos. O manifesto, divulgado na sex-
sou no CES ou até na Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa,
Inscreve-te já no
no documento: “Os casos denuncia- ta-feira, conta, até ao momento, com que das 50 queixas validadas de 31
dos são apenas a ponta do icebergue.” 530 assinaturas. Entre os relatos rece- docentes umas foram arquivadas e
É por isso que consideram que “há bidos, há “casos de pessoas que outras prescreveram.”
uma naturalização do desculpar des- deram conta de situações [de assédio] Boaventura de Sousa Santos, que
te tipo de comportamentos”, como que viveram e que agora estão a ser nos últimos dias foi acusado de assé-
refere Patrícia Martins Marcos, tam- alvo de julgamento”, elucida Maria do dio e agressão sexual, disse em comu-
bém historiadora. Carmo Piçarra. “As vítimas é que ocu- nicado que vai processar as autoras
“Partimos de uma situação concre- pam o banco dos réus”, sublinha, por do artigo por difamação. O manifesto
ta [motivada pela publicação do arti- sua vez, Inês Beleza Barreiros. Todas Sabemos reage a isso dizendo
go académico The walls spoke when no Os subscritores do documento que tal “não é difamação”, mas “uma
one else would (As paredes falaram interpelam a ministra da Ciência, Tec- crítica a dinâmicas institucionais sis-
quando mais ninguém o fez), em que nologia e Ensino Superior, Elvira For- témicas, comuns dentro e fora da
o seu actual director emérito, Boaven- tunato, a ministra adjunta e dos academia”. Estrutural é também, fri-
tura de Sousa Santos, e o antropólogo
Bruno Sena Martins se consideraram
Assuntos Parlamentares, Ana Catari-
na Mendes, e a Fundação para a Ciên-
sam, o “extractivismo intelectual (a
prática de plagiar ou reproduzir o
Até 17 de Abril
visados] para reÇectir sobre a nossa cia e a Tecnologia (FCT) e pedem que trabalho de outrem sem citar, apre-
realidade. O manifesto pretende dar “se pronunciem e agilizem recursos” sentando-o como seu)” num sistema
continuidade a esse primeiro acto de para “aprofundar o enquadramento académico hierarquizado. Situação
coragem [de Lieselotte Viaene, Cata- legal para este tipo de casos nos esta- essa que justiÆcam com a precarieda-
rina Laranjeiro e Miye Nadya] de belecimentos de ensino e investiga- de laboral em que muitos investiga-
reÇectir sobre um tema difícil”, diz ção superior e que contemplem a dores/as se encontram. “A questão da ULISBOA.PT/INFO/THREE-MINUTE-
THESIS-ULISBOA-3MTR
Ana Cristina Pereira (Kitty Furtado). necessária obrigatoriedade de códi- precariedade é uma situação vivida
Quanto aos organismos indepen- gos e regulações semelhantes”. por muitas de nós. Muitas de nós esta-
dentes a criar, defendem que devem Ontem, a ministra Elvira Fortunato mos há anos precárias na academia e
ser “verdadeiramente independentes disse, em Esposende, que as institui- isso deixa homens e mulheres em
das instituições” em que operam e ções podem autonomamente resolver situação particularmente vulnerável.
capazes de garantir o anonimato de E diÆculta um avanço para quebrar o
possíveis denúncias e subsequentes silenciamento”, remata Ana Balona
processos. “Há aqui qualquer coisa
A ministra Elvira de Oliveira, historiadora de Arte e
que se quebra e, daqui para a frente, Fortunato disse curadora. “O conhecimento é muitas
não vamos voltar atrás nesse silencia- vezes aproveitado em prol de profes- Apoio
Sociedade
Multiplicam-se os esquemas
para tirar proveito de imigrantes
RUI GAUDÊNCIO
em imigração.
Ana Cristina Pereira
Já denunciou à Ordem dos Advoga-
Aproveitamento pode dos diversas pessoas. “Tem muita
gente na Internet que não é advogada
começar no país de origem e Æca falando de lei de imigração. Não
ou em Portugal. tem conhecimento e Æca na Internet
Evelin pagou 180 euros dando informação desencontrada.
para ter o NIF Conheço pessoas que vendem e-books
sobre como imigrar para Portugal,
Evelin Santos não vai desistir da mani- como tirar o NIF, o NISS, o número de
festação de interesse que apresentou utente do SNS. Essas pessoas vendem
no Serviço de Estrangeiros e Frontei- esses serviços. Estão a praticar pro-
ras (SEF) e pedir um certiÆcado de curadoria ilícita. Isso é crime.”
autorização de residência Comunida- Alguns têm protagonizado autênti-
de de Países de Língua Portuguesa cas burlas. Pela Internet já circula até
(CPLP), como milhares Æzeram no um falso email sobre as novas autori-
último mês. “Vou esperar. Dizem que zações de residência CPLP. O Serviço
isso é só para facturar, que nem todos de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) até
os países estão cientes.” publicou um alerta na sua página na
O receio da jovem de 29 anos vem- rede social Facebook: “Alertamos
lhe da experiência. Já se sentiu alvo para a circulação de falsos emails,
de burlas várias vezes desde que ater- alegadamente gerados pelo Portal
rou no aeroporto internacional de CPLP para efeitos de registo e emissão
Lisboa com a irmã, três anos mais de autorização de residência.”
nova, no Ænal de 2021. Enquanto bra- Evelin e a Brenda estão até hoje
sileiras, bastava-lhes o carimbo no sem saber exactamente qual a verda-
passaporte para permanecerem 90 deira qualiÆcação da mulher que
dias como turistas em Portugal. Para RUI GAUDÊNCIO
cobrou 180 euros a cada uma para
Æcar a viver e a trabalhar, porém, mento no SEF”, torna Larissa Nicolo- requerer o NIF e queria cobrar outros
teriam de se inscrever nas Finanças e si. “A forma como o SEF comunica é 100 para tratar da manifestação de
na Segurança Social, de abrir activi- através de posts no Facebook: diz interesse. “Nem sei se ela é advoga-
dade como trabalhadoras indepen- quantas vagas abriu e para que tipo da”, diz Evelin. “Primeiro, ela aten-
dentes ou de arranjar contrato de de autorização de residência.” Há gru- deu a gente numa sala de um prédio.
trabalho e de ir ao SEF manifestar pos organizados que estão atentos e No outro dia que a gente foi lá, ela
interesse em obter autorização de apanham boa parte delas para vender. estava num salão de beleza. Então
residência. Na sua opinião, “o facto de no site do não sei o que ela é.”
Começando pelas Finanças, preci- SEF nem haver informação de que Todo o dinheiro lhes fazia falta. As
savam de um representante Æscal, que não há vagas é falta de transparência”. suas irmãs vieram de Santos, litoral
podia ser um cidadão português ou E “a falta de transparência põe os imi- de São Paulo, à procura de uma vida
estrangeiro com autorização de resi- grantes numa situação de maior vul- melhor. “Está Æcando muito perigo-
dência. “A gente não conhecia nin- nerabilidade, de maior dependência so.” Venderam as suas coisas e mete-
guém”, recorda. Indicaram-lhe uma de outras pessoas.” “Quando a infor- ram-se num avião. “A gente não veio
pessoa que “ajudava quem estava nes- mação não chega de forma eÆciente, com muito dinheiro. A gente queria
sa situação”. “Ela disse que era advo- há pessoas que se aproveitam.” trabalhar logo.”
gada. Cada uma pagou 180 euros.” Os pedidos de novas autorizações Uma tormenta o primeiro trabalho,
A irmã, Brenda, corrobora a histó- de residência CPLP não escapam a numa lavandaria. “A gente não tinha
ria: “No começo, pensei que estava Os vistos especiais para a chave de acesso às Finanças. Tem estes esquemas. “Muitas pessoas não o número da Segurança Social. A gen-
super em conta, porque não tínha- cidadãos de países da CPLP são acesso a dados pessoais. Se depois têm computador, não têm literacia te não tinha contrato.” “Fiquei três
mos noção dos valores [praticados]; muito recentes, mas já há burlas não fornecer esses dados, a pessoa digital, algumas nem sabem ler”, meses”, conta Evelin. “O dono chegou
depois, vimos que tínhamos sido qua- não sabe onde estão. E tem diÆculda- observa Ana Mansoa, directora exe- a me pagar. O terceiro mês é que não
se assaltadas.” de em pedir nova senha.” cutiva do Centro Padre Alves Correia, pagou. A minha irmã Æcou 45 dias e
Kauan Santana, de 27 anos, e o Também é frequente haver quem entidade responsável por um Centro ele não pagou. Ele pagou-me e eu per-
companheiro, de 37, chegados a Avei- faça negócio com a necessidade de Local de Apoio à Integração de guntei. ‘E a minha irmã?’ E ele falou:
ro com um visto de procura de traba- Várias associações apresentar um atestado de residência Migrantes Lisboa-Estrela. ‘Ai não, já paguei você, é na mesma
casa.’ Eu não podia Æcar num lugar
lho, pagaram 30 euros cada a um
homem que desempenhou o papel
que trabalham ao SEF. “As coisas estão feitas de for-
ma inadequada”, considera Timóteo
Às vezes, o aproveitamento come-
ça ainda no país de origem, sublinha onde ele escolhia quem pagava.”
de representante Æscal. Diz o rapaz com imigrantes Macedo, da Associação Solidariedade Ana Mansoa. Conhece imigrantes que Agora, têm NIF, NISS, número de
que o homem estava perto do balcão
do SEF e que lhe foi indicado pela
relatam esquemas Imigrante. “Não devia ser preciso um
atestado de residência da junta de
pagaram avultadas quantias a outros
já residentes para lhes tratarem dos
utente do SNS e contrato de trabalho.
Brenda trabalha numa cantina e Eve-
própria funcionária. de pessoas freguesia para fazer uma manifesta- documentos e da habitação ainda lin numa sexshop. “Agora, tudo está
É um esquema comum. Ao traba-
lhar para a associação Renovar a Mou-
que pedem ção de interesse [de autorização de
residência]. A pessoa acaba de che-
antes de embarcar. E imigrantes que
Æcaram a pagar uma percentagem do
óptimo”, diz Brenda. “A gente gosta
bastante do país”, torna Evelin. “A
raria, que dirige o Centro Local de quantias avultadas gar, não tem duas testemunhas. As seu salário. segurança é uma das coisas que a gen-
Apoio à Integração de Migrantes Lis-
boa-Mouraria, a jurista brasileira
a imigrantes máÆas aproveitam-se. Vêem as pes-
soas desesperadas e cobram dinheiro Salário por pagar
te mais gosta. A gente veio com o intui-
to de trabalhar e ir para outro país,
Larissa Nicolosi tem conhecido mui- para lhes tratar para assinar um papel.” “Às vezes, as pessoas não sabem mas a gente gostou e Æcou, apesar de
tos imigrantes que pagaram para
obter o NIF. E o problema não é só o
dos documentos O funcionamento do SEF não ajuda.
“As pessoas ligam 400, 500, 600
onde procurar informação correc-
ta”, comenta Bruno Gutman, advo-
o aluguer ser bem caro.” Muitos não
Æcam, voltam a fazer as malas e par-
valor. “O representante Æscal recebe no SEF vezes e não conseguem fazer agenda- gado luso-brasileiro especializado tem para outros países.
Público • Domingo, 16 de Abril de 2023 • 17
Sociedade
Sónia Trigueirão
um amigo procurador que, segundo “padrinho” não era procurador, mas cina.
contava, já o teria livrado da prisão. sim funcionário judicial, e decide Entende o MP que os quatro argui- OBRIGADO AOS PARCEIROS QUE NOS APOIAM
Segundo o MP, o empresário levou avançar com uma denúncia na Polí- dos devem pagar solidariamente um
o sócio ao encontro do dono da oÆ# cia Judiciária. total de 100 mil euros ao Estado. O
cina que lhe transmitiu que o amigo No Ænal, o MP acusou o dono da início da instrução está marcado
procurador a quem chamava “padri- oÆcina e o empresário de corrupção para o próximo dia 27 de Abril.
18 • Público • Domingo, 16 de Abril de 2023
No meio da cidade
participar. Nadja ganhou interesse
Reportagem pela prática durante a pandemia,
uma fase em que sentiu muita
“desconexão” e um forte impacto
há quem faça um
Renata Mendes Texto
na saúde mental. “Então fugi, fui
Tiago Bernardo Lopes Fotografia
até uma Çoresta”, conta, entre
O Instituto de Ciências Biomédicas risos. “O efeito foi imediato e
Abel Salazar (ICBAS), da percebi o quanto a natureza
90
“para o que está em movimento”. e segurar a terra em torno natureza à nossa volta”. fundo, estamos na natureza, mas
Antes de começar a missão dos seus pés. A parceria com o ICBAS surge não estamos com a natureza...”
seguinte, os participantes Faz isto. numa “linha de investigação que se
partilharam algumas palavras — “no É algo que aprendi. centra nos efeitos decorrentes da
silêncio, há tantos barulhos que Como elas se curvarão por ti natureza, incluindo os animais,
Durante 90 minutos não podemos ouvir”. O desaÆo, agora, é de forma tão suave. sobre a saúde e sobretudo a saúde
existiram telefonemas, nem recolher cinco “tesouros” do chão. Vão curvar-se por ti mental”, explica Karine Silva, uma
e-mails, nem mensagens. O último desaÆo foi um apelo à E ouvir.” bióloga que investiga estas práticas
Apenas foram ligados os criança interior e, como em O banho terminou. Trocam-se no ICBAS. Karine sublinha que Saiba mais sobre ambiente em
sentidos à natureza criança, os participantes algumas impressões e procura promover “práticas que publico.pt/azul
20 • Público • Domingo, 16 de Abril de 2023
Mundo
Mundo
Economia
“Esperamos conquistar
Portugal apenas
sendo nós próprios”
Luca Napolitano O relançamento da Lancia foi anunciado em
cinco mercados. O CEO da marca explica que a justiÄcação
para acrescentar Portugal é a ligação do país ao emblema
prioridades do nosso plano completar a renovação da rede
Entrevista estratégico para dez anos (...), italiana. Há uma ligeira redução
mas se tivermos dinheiro para da cobertura, por isso vamos
isso e se pensamos que é a seleccionar um número de
Carla B. Ribeiro
ferramenta certa para alavancar concessionários em Itália e vamos
Portugal vai ser um dos mercados a marca, porque não?”. trabalhar com eles. Hoje,
onde a Lancia vai renascer, depois A nova aventura europeia foi ocupamos um canto [nos
de uma ausência de seis anos. anunciada com cinco mercados, concessionários] da Fiat, no
Numa entrevista exclusiva ao Alemanha, Bélgica, Espanha, futuro, não queremos ser um
PÚBLICO, o presidente da marca França e Países Baixos. Agora, canto de ninguém. Assim,
centenária italiana, com um forte um país-surpresa: Portugal. desenvolvemos o nosso showroom
legado no desporto motorizado, Porquê estes mercados? com o nosso próprio vendedor. E
nomeadamente com sete vitórias Escolhemos os mercados de é o que vamos fazer fora de Itália.
no Rali de Portugal, explica que o acordo com três indicadores: Acreditamos Ærmemente no valor
mercado nacional se aÆgurou primeiro, haver apaixonados pela da rede.
atractivo para o arranque por abordagem italiana; depois, a Por outro lado, temos de
duas razões: a ligação apaixonada relevância do mundo digital, compreender que existe um novo
dos portugueses à marca e o porque acreditamos Ærmemente canal cada vez mais importante,
crescimento da electriÆcação que este será um canal de vendas que é o digital. Há muitas pessoas
( Janeiro deste ano foi o melhor importante no futuro próximo; e, que querem ir aos concessionários
mês de sempre para os BEV, com por Æm, tinham de ser mercados apenas uma vez, não duas ou três.
2258 ligeiros de passageiros e 165 onde o segmento B premium tem Assim, pode-se iniciar o processo tempo. Precisamente o oposto. A Não sei. Dentro do nosso plano
ligeiros de mercadorias expressão. Quando combinámos de compra a partir do sofá, no Lancia tem de fazer as coisas estratégico de dez anos,
matriculados). estes três elementos, decidimos café com os amigos, enquanto bem-feitas, com um passo de cada estabelecemos prioridades.
Mas a Lancia que aí vem não lançar na Alemanha, Bélgica, toma uma bebida, e terminar no vez. Somos muito ambiciosos, mas Assim, a prioridade número um
será a mesma que partiu em 2014 Espanha, França e Países Baixos. concessionário, porque talvez ao mesmo tempo humildes. Essa é é a Itália; a prioridade número
e que, desde então, manteve E, agora, Portugal. Quisemos tenha de entregar o carro usado. a razão por termos uma cadência dois é a Alemanha, França,
actividade apenas em Itália com juntar Portugal por duas razões: Os números mostram que o online muito clara de lançamentos: um Espanha, Países Baixos, Bélgica e
um só modelo. O futuro da marca, primeiro, porque o país está muito está a crescer: fechámos 2022 com produto a cada dois anos para nos Portugal; a prioridade número
explica Luca Napolitano, passa orientado para a electriÆcação — é 10% das nossas vendas por esse dar tempo para fazer as coisas três é percorrer os restantes
por se aÆrmar no segmento um mercado onde a electriÆcação canal. Isto é algo que já está a bem-feitas. O mesmo se passa com mercados europeus, o que
premium europeu, através da está a crescer substancialmente, o acontecer, comprei ontem uns os mercados em que queremos poderá acontecer com o segundo
elegância e da credibilidade — que se conÆgura uma sapatos online. E não seria entrar. modelo, em 2026, que é um
desaÆos que não menospreza, oportunidade. E também olhámos inteligente não olhar para isto A ideia é crescer na Europa. E grande SUV, que nos vai fazer
mas que avalia serem realizáveis. para a ligação do país à Lancia, como uma oportunidade, fora da Europa julga haver entrar no segmento com o mais
Para tal, aponta que o trabalho sobretudo através do desporto sobretudo quando a Lancia, fora espaço para uma marca como a rápido crescimento da Europa.
começou já há dois anos e avança motorizado. de Itália, não terá assim tantos Lancia? Em 2028, completamos a gama.
que a aÆrmação da Lancia será Quais são as expectativas no espaços físicos. Ou seja, nos próximos anos, não
feita aos poucos, com ambição, mercado português? Estava a falar do investimento há qualquer referência a
mas humildade: “A Lancia tem de Esperamos conquistar clientes em que tem de ser feito neste mercados fora da Europa.
fazer as coisas bem-feitas.” Portugal apenas sendo nós renascimento. Do que estamos a Qual o papel da Lancia dentro
Nos planos, está ainda a aposta próprios: queremos ser a marca falar? do grupo Stellantis?
nos canais digitais, não dos belos automóveis italianos que Em termos de concessionários, Indo ao ponto em que tudo
considerando que isso retirará alavancam a electriÆcação. Ao estabeleceremos uma rede de 180 começou, quando nasceu a
importância aos espaços físicos mesmo tempo, não precisamos de pontos. É claro que a cobertura Stellantis e conheci pela primeira
dos concessionários. Mas estar presentes em muitos em Itália é de extrema Existe um novo vez Carlos Tavares, foi-me
sublinha: “Os números mostram
que o online está a crescer (...),
concessionários; o que precisamos
é de concessionários apaixonados:
importância, dado o ponto de
partida e a ambição. Fora,
canal cada vez pedido que liderasse o emblema
com uma missão muito clara:
isto é algo que já está a acontecer. vai haver um em Lisboa e outro no seleccionámos, nos cinco outros mais importante tornar a Lancia uma marca
E não seria inteligente não olhar
para isto como uma
Porto.
As vendas online vão acabar por
mercados, 70 cidades para
estarmos presentes.
que é o digital. Há premium, credível e respeitada,
começando por Itália e depois
oportunidade.” substituir os concessionários? E quanto ao resto da Europa? muitas pessoas levando-a para o resto da
Numa conversa em que
descreve os planos da Lancia,
Não, o concessionário não vai
perder importância. Na verdade,
Não é suposto a Lancia fazer tudo
ao mesmo tempo. Não é suposto
que querem ir aos Europa. Essa é a razão pela qual
a Lancia foi incluída no grupo
Napolitano deixa ainda uma será o contrário. Estamos penetrarmos todos os segmentos, concessionários premium. E é esse o nosso papel,
ideia de esperança para quem
anseia ver a marca de volta ao
exactamente no início desta
semana [primeira de Abril] a
satisfazer todos os clientes alvo
nem entrar nos mais de 20
apenas uma vez, melhorar a oferta deste
segmento na Europa,
desporto. “Não está nas iniciar o investimento para mercados europeus ao mesmo não duas ou três trabalhando com a Alfa Romeo e
Público • Domingo, 16 de Abril de 2023 • 25
DR
Na A29, de 20 a 30 de abril, no Nó de Esmoriz, Nó do
combinação de “puro” e “radical”. Freixo (A20) e Nó do Hospital, das 21h às 07h, realizaremos
Queríamos olhar para o passado trabalhos de beneficiação do pavimento, que implicarão alguns
como uma inspiração, mas condicionamentos de tráfego nas seguintes vias de acesso:
interpretá-lo de forma
progressiva. Em resumo, Datas: Vias Afetadas:
queremos combinar a elegância, a
pureza, as linhas suaves do Nó de Esmoriz
Flaminia, destes belos carros dos - Saída da A29 para Esmoriz, no sentido de Aveiro
anos 60 que representavam la - Entrada na A29 para Aveiro
dolce vita italiana, à radicalidade, a
ousadia dos músculos do 037
Nó do Freixo (A20)
Stratos Delta.
- Acesso da A20 para A29, Sentido Canelas /
Durante muitos anos, a Lancia De 20 a 30 de abril Espinho
foi uma marca de um só modelo
num único mercado. Mas as
vendas eram expressivas, o que Nó do Hospital
não era alheio ao preço. Agora, - Acesso da A29 para Hospital, sentido Freixo/
que entra num mercado Arcozelo
- Acesso Hospital para A29, sentido Freixo/
premium, há o risco de perder
Arcozelo
mercado em Itália?
O Ypsilon, não obstante o facto de
ter tido um ciclo de vida longo, é Os condicionamentos e desvios estarão
ainda hoje o líder do segmento B devidamente sinalizados nos locais.
em Itália e o carro mais vendido
no país a seguir ao Fiat Panda. O Para mais informações consulte regularmente o
sucesso de vendas pode ser site Ascendi utilizando o código QR ao lado, aceda
apontado ao preço, o que é a www.ascendi.pt ou ligue 229 767 767 (24H).
parcialmente verdade. Mas não Ascendi Costa Prata, Auto Estradas da Costa Prata, S.A.
acredito que vá perder quota de
mercado; quero, aliás, ganhar —
até porque passamos de um carro
para uma gama de três modelos;
passamos de uma motorização
mild-hybrid para grupos
propulsores mais relevantes, quer Universidade Nova de Lisboa
full-hybrid, quer 100% eléctricos.
Ou seja, aumentamos a oferta de Instituto de Tecnologia Química e Biológica
modelos, de mecânicas, ao
mesmo tempo que iremos apoiar
António Xavier (ITQB NOVA)
uma profunda transformação em
termos de redes, de pontos de Aviso (extrato)
a DS e tirar o melhor partido das Por causa da bela história e do venda, de percurso do cliente, de
sinergias do grupo, em termos de belo património, estamos modelo de distribuição, de atitude Ref.ª 005/TRC-TS/GI/2023
plataformas, electriÆcação, e ao profundamente ligados ao nosso e de apoio das vendas digitais. O Instituto de Tecnologia Química e Biológica António
mesmo tempo focarmo-nos no passado, mas também estamos a Portanto, o ecossistema completo Xavier da Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA)
nosso cliente alvo. olhar para o futuro com ambição. que estamos a desenvolver neste
Fala na importância de ser uma Ou seja, acreditamos que a Lancia
pretende recrutar, em regime de contrato de trabalho
novo ambiente premium vai
marca premium credível. é uma das poucas marcas no permitir-nos crescer. a termo resolutivo certo, um Técnico Superior,
É um enorme desaÆo. Não temos, mercado que pode atrair, de facto, O início de vida da Lancia não Ref.ª 005/TRC-TS/GI/2023, para desempenhar funções de
naturalmente, a credibilidade no um cliente muito peculiar: pessoas será, então, apenas eléctrico Gestor de Inovação na InnOValley - Unidade de Inovação
mercado premium italiano, nem que vivem nas grandes cidades da como chegou a ser falado após a partilhada entre o Instituto de Tecnologia Química e
fora de Itália, de onde temos Europa, nas grandes áreas revelação do Ypsilon? Biológica António Xavier da Universidade Nova de Lisboa
estado ausentes. Hoje, a Lancia é metropolitanas, que querem dar O nosso cliente-alvo é a pessoa (ITQB NOVA) e a Fundação Calouste Gulbenkian/Instituto
uma marca de um só modelo, um passo em frente, estar na que quer viver com um grande Gulbenkian de Ciência (IGC), no âmbito do Eixo Inovação
presente num único mercado. E dianteira da mudança, pessoas sentido de responsabilidade, por
da Estratégia de Oeiras para Ciência e Tecnologia.
tornarmo-nos credíveis no que vivem com um grande sentido isso não temos receio de arriscar
mercado premium europeu de responsabilidade. Queremos numa arrojada e agressiva Local de trabalho: Instituto de Tecnologia Química e
encerra mais do que um desaÆo. ser a marca de eleição da próxima estratégia de electriÆcação. Biológica António Xavier, Oeiras.
Isso representou um trabalho geração de clientes premium. Acreditamos que a Lancia é uma
intenso nos últimos anos, antes do O design é uma faceta muito marca que fará a transição sem As candidaturas deverão ser formalizadas através de
lançamento do primeiro modelo, importante para a Lancia. Quais problemas. Mas queríamos correio eletrónico para concursos@itqb.unl.pt, contendo
que acontecerá no início de 2024, os aspectos que podem fazer a começar com um novo Ypsilon toda a documentação exigida, num único ficheiro pdf,
para desenvolver o nosso novo diferença? electriÆcado, o que signiÆca um indicando a respetiva referência.
posicionamento. Mas acredito que O design foi muito importante no híbrido e um eléctrico a bateria.
a Lancia, dentro do portefólio nosso passado e será muito Isto porque encaramos a nossa Mais informações disponíveis na página do ITQB NOVA
Stellantis, é aquela que tem o importante no nosso futuro, e esta abordagem com ambição, mas em: http://www.itqb.unl.pt/jobs.
maior desaÆo ao ter de se é a razão pela qual decidimos também com pragmatismo, o que
reposicionar como marca. saltar de cabeça. Jean-Pierre carecia de uma versão híbrida.
Oeiras, 14 de abril de 2023
Que valores quer associar à Ploué, que é chefe de design na Mas, a partir de 2026, apenas O Diretor do ITQB NOVA
marca? Stelantis, propôs tomar conta lançaremos modelos novos Professor Doutor Cláudio M. Soares
Esta é a marca da elegância pessoalmente da Lancia. O que eléctricos, o que signiÆca que o
italiana, com mais de um século aceitámos, com uma condição: segundo modelo já não terá
de uma bonita história, em que que fosse viver para Itália. E ele, mecânica híbrida, e, a partir de
sempre houve inovação um apaixonado pelos automóveis 2028, dependendo do EDIFÍCIO DIOGO CÃO CENTRO COMERCIAL COLOMBO
DOCA DE ALCÂNTARA NORTE, LISBOA AVENIDA DAS ÍNDIAS
embrulhada num design italianos, aceitou. DeÆnimos a comportamento do mercado, (JUNTO AO MUSEU DO ORIENTE) (PISO 0, JUNTO À PRAÇA CENTRAL)
intemporal. A Lancia é a marca nossa visão sobre design com o poderemos abandonar o Ypsilon HORÁRIO: 2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H HORÁRIO: 2.ª FEIRA – DOMINGO: 10H – 24H
SÁBADO: 11H – 17H
dos carros italianos bonitos. conceito Pu+Ra, que é uma bela híbrido e sermos, então, uma
E que clientes quer conquistar? palavra, mas também a marca 100% eléctrica. MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010 MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
26 • Público • Domingo, 16 de Abril de 2023
Cultura Artista pop acusado de se apropriar de trabalhos alheios nas suas obras
DR
Cultura
Desporto Líder da I Liga perdeu seis pontos nos dois últimos jogos
Reacções
Tivemos três
oportunidades parar
marcar. Sabemos que
quando vencemos um
grande temos de ter sorte
e saber sofrer
Vítor Campelos Desp. Chaves
Desporto
Fc Porto 2 I Liga
Uribe 34’ (g.p.), Namaso 80’
Jornada 28
Famalicão-Vitória SC 2-1
Estoril-Portimonense 0-1
Santa Clara 1 Marítimo-P. Ferreira 3-1
Tagawa 90’+2’ Desp. Chaves-Benfica 1-0
FC Porto-Santa Clara 2-1
Rio Ave-Casa Pia 15h30, SPTV
Sp. Braga-Gil Vicente 18h, SPTV
Jogo no Estádio do Dragão, no Porto. Sporting-Arouca 20h30, SPTV
Vizela-Boavista seg, 20h15, SPTV
Assistência 40.708 espectadores
J V E D M-S P
Equipa Diogo Costa; Manafá (André 1. Benfica 28 23 2 3 68-17 71
Franco, 67’ a89’), Pepe, Marcano a51’,
2. FC Porto 28 21 4 3 60-19 67
Wendell; Uribe e Eustáquio (Evanilson,
57’); Pepê, Otávio (Bernanrdo Folha, 3. Sp. Braga 27 20 2 5 60-24 62
89’) e Galeno (Gonçalo Borges, 89’); 4. Sporting 27 18 3 6 56-26 57
Toni Martínez (Namaso, 67’). Treinador 5. FC Arouca 27 12 8 7 31-32 44
Sérgio Conceição.
6. Vitória SC 28 12 5 11 27-33 41
Santa Clara Gabriel Batista; Sagna 7. Famalicão 28 12 3 13 30-35 39
a41’ (Diogo Calila, 77’), Ygor Nogueira 8. Vizela 27 11 5 11 31-28 38
a33’, Boateng e MT; Costinha a17’ 9. Casa Pia 27 11 5 11 26-31 38
(Gabriel Silva, 88’), Bruno Jordão a20’ 10. Desp. Chaves 28 9 9 10 28-33 36
e Adriano; Ricardinho (Stevanovic,
77’), Matheus Babi (Tagawa, 88’) e 11. Rio Ave 27 9 7 11 27-31 34
Allano a33’ (Andrezinho, 63’). 12. Boavista 27 9 6 12 32-45 33
Treinador Accioly. 13. Gil Vicente 27 8 7 12 26-32 31
14. Portimonense 28 9 3 16 21-35 30
Árbitro Cláudio Pereira (AF Aveiro)
15. Estori 28 7 4 17 23-44 25
VAR Vasco Santos (AF Porto)
16. Marítimo 28 6 4 18 24-51 22
O FC Porto marcou por duas vezes contra o Santa Clara e derrotou o emblema açoriano 17. P. Ferreira 28 4 5 19 21-49 17
18. Santa Clara 28 3 6 19 18-44 15
Desporto
Desporto
Um teenager
ERIC HARTLINE/USA TODAY SPORTS VIA REUTERS
Breves
entre Andrey Basquetebol
Rublev e o título FC Porto vence
em Monte Carlo Sporting em Alvalade
após prolongamento
Foi suada a vitória do FC Porto
sobre o Sporting, ontem, no
Pedro Keul
Pavilhão João Rocha, por
Andrey Rublev vai ter uma segunda 106-110 (98-98) após
oportunidade de triunfar no Rolex prolongamento e na qual
Monte-Carlo Masters, depois de, há Michael Finke (33 pontos, 11
dois anos, perder o derradeiro encon- ressaltos) foi a grande figura
tro com Stefanos Tsitsipas. Ontem, o dos “dragões” em jogo da 8.ª
actual número seis do ranking mun- jornada do Grupo A. O FC
dial venceu o norte-americano Taylor Porto, que somou o sétimo
Fritz e tornou-se o quinto jogador a triunfo consecutivo na prova,
ganhar uma meia-Ænal no Monte-Car- deu assim um importante
lo Country Club depois de ceder o set passo para assegurar a
inicial, imitando Dominik Hrbaty, primeira posição no play-off da
Rafael Nadal, Novak Djokovic e Kei Liga quando restam duas
Nishikori. Mas pela frente vai ter Hol- jornadas para terminar a 2.ª
ger Rune, o primeiro teenager a che- fase. Já o Benfica venceu com
gar à Ænal monegasca desde Rafael facilidade a Oliveirense por
Nadal, em 2006. James Harden é uma das grandes figuras dos Philadelphia no arranque dos play-off da NBA 98-81, com o resultado ao
O dinamarquês de 19 anos realizou intervalo a registar já um 54-32
O
profundamente fragilizada. no apartamento dele. Colocou a ano do curso, perdeu a bolsa de Ansari — com justiÆcações
Ana Sá Lopes
Já muita gente escreveu sobre mão na minha perna. Falou que estudos, o cabelo começou-lhe a académicas e tentativa de
movimento as razões por que o MeToo nunca as pessoas próximas dele tinham cair e teve de trabalhar para se violação. O facto de Moira
MeToo tem vários chegou a Portugal, com vantagem e sugeriu que a gente sustentar. Millán ter falado com
problemas, mas é excepções como a Faculdade de aprofundasse a relação.” A Em Portugal, o suposto académicas portuguesas “que
como as Direito de Lisboa e pouco mais. abusador tem sempre uma data lhe terão contado
revoluções: Num país minúsculo, que vive de amigos na academia e fora comportamentos semelhantes
atingem muita em sistema de castas, o risco de dela prontos a rasgar as vestes do sociólogo” é perturbador,
coisa, às vezes os seus melhores, denunciar é inÆnitamente maior sobre a sua inocência, seja no mas conÆrma o padrão de
como aconteceu com o do que nos Estados Unidos da assédio, seja na violência sempre. Não denunciou porque
humorista Aziz Ansari, quando América ou no Reino Unido. doméstica. Estando ou tendo os mapuches são objecto de
depois de um encontro que não
foi grande coisa (e que as
Não é à toa que as pessoas que
deram a cara para testemunhar
A reacção de estado numa posição de poder,
os pergaminhos de uma alegada
“muito racismo”: “Nunca há
justiça para mulheres
mulheres do meu tempo sobre o assédio de que foram Boaventura a inocência disparam. racializadas”, desabafa. Neste
deÆniriam simplesmente por
“eu devia estar doida” para “ir
alvo não são portuguesas. Uma
portuguesa que denuncie assédio
culpar o Se o caso não fosse com
Boaventura, mas com Ventura
caso, nem para as racializadas
nem para as outras, sem
beber uns copos com aquele sexual ou violência doméstica “neoliberalismo” (André), era bastante mais diminuir o cancro do racismo
gajo”) a suposta vítima conclui,
após chegar a casa, que aÆnal
Æca com a carreira destruída — o
caso de Bárbara Guimarães, que
por estragar certos simples para muitos de nós. O
“julgamento” a favor das vítimas
em Portugal e no mundo.
A reacção de Boaventura a
houve qualquer espécie de acusou o ex-marido Manuel modos de vida é seria imediato, e nesse assunto culpar o “neoliberalismo” por
abuso.
O caso foi tão caricato que ia
Maria Carrilho (que foi
condenado), é um exemplo de
das coisas mais não está a ser. Estamos a assistir
a pessoas que passaram uma
estragar certos modos de vida é
das coisas mais penosas que foi
desacreditando completamente como parte da justiça e da penosas que foi vida a defender as mulheres que possível ler na semana que
a luta. Não havia na história de
Ansari dependência hierárquica
academia se juntaram ao
ex-ministro, desvalorizando
possível ler na sofreram assédio e da diÆculdade
que estas sentem em falar, a
passou.
— eram um homem e uma totalmente o crime. Portugal é às semana que passou virem prontamente “absolver” Jornalista
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