Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
3 de Março de 2009
a cabra
Ano XVIII
N.º 193
Quinzenal gratuito
Sétima Arte
Empresas de tecnologia projectam A relação do
cinema com Coimbra
Dificuldades
no pagamento
Estudos recentes mostram que há
um crescimento da dificuldade, por
parte dos alunos do ensino superior,
em pagar as propinas. No entanto, a
vice-reitora para a Pedagogia da UC
afirma que “não foi feito nenhum es-
tudo recente, na UC, que possa de-
monstrar maiores dificuldades”.
P5
Julião
Sarmento
O perfil do
Prémio UC
P8
DESTAQUE
ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES
caso da Engifire e da Consulfogo.
Ambas trabalham na área da segu-
rança contra incêndios, o que para o
coordenador do projecto da Consul-
fogo, Sílvio Saldanha, é, mais do que
um constrangimento, “um estí-
mulo”.
Pular a cerca
Muitos dos projectos que estão hoje
incubados no IPN nasceram nos la-
boratórios da universidade. São os
chamados ‘spin-offs’ académicos.
No entanto, nos primeiros anos da
Incubadora, a maioria das empresas
não vinha directamente da acade-
mia ou das instituições de Investi-
gação e Desenvolvimento (I&D).
“Eram criadas por ex-alunos que ti-
nham desenvolvido outros projectos
ou que tinham trabalhado por conta
de outrem”, refere Paulo Santos.
Actualmente, o IPN alberga tam-
bém ‘spin-offs’ de empresas que já
saíram do edifício, mas que se man-
tém ligadas em incubação virtual e
se convertem “quase em padrinhos
das novas empresas”.
É o caso da Tangível, que foi para
o edifício ao abrigo do programa de
incubação virtual ‘Follow up’ da Cri-
tical Software. Paulo Santos conta
como foi: “fomos apresentar a Tan-
gível à Critical, que demonstrou logo
muito interesse; fez-se um ‘case
study’, e a Critical lançou um desafio
à Tangível; ficaram muito satisfeitos
com o resultado e hoje em dia são
parceiros comerciais”.
DESTAQUE
PEDRO CRISÓSTOMO
ENSINO SUPERIOR
Coordenadores destacam potencial
dos estudantes nos centros de investigação
Os investigadores defendem um incentivo por parte das unidades de investigação e afirmam
que “a integração favorece a formação dos alunos e a universidade”
DANIELA CARDOSO
Cláudia Teixeira
“A Universidade de Coimbra
(UC) deveria pensar no potencial
da colaboração de estudantes em
projectos de investigação”. As pa-
lavras pertencem ao coordenador
científico do Instituto de Psicolo-
gia Cognitiva, Desenvolvimento
Social e Vocacional (IPCDVS) da
Faculdade de Psicologia e Ciências
da Educação da UC, Eduardo Ri-
beiro dos Santos.
O coordenador do Centro de
Pneumologia da Faculdade de Me-
dicina da Universidade de Coim-
bra (UC), Carlos Robalo Cordeiro,
acredita, igualmente, que “a curio-
sidade e a disponibilidade intelec-
tual dos alunos constituem um
potencial de activação, inovação e
desenvolvimento, que as unidades
de investigação deverão incentivar
e acarinhar”. Robalo Cordeiro de-
fende que “a integração em áreas
de investigação favorece não ape-
nas a formação dos alunos mas
também a universidade, numa
área vital para o seu desenvolvi-
mento estratégico”.
Na UC existem 84 centros de in-
vestigação, divididos por diferen-
tes áreas, classificadas em
“Ciências Humanas e Sociais”, O TRABALHO desenvolvido pelos estudantes investigadores “deveria estar sujeito a um contrato de trabalho”, defende um dos bolseiros
“Ciências da Saúde e Ciências do
Desporto”, “Ciências Exactas e que “o peso” dos estudantes inves- científicas”. O professor acrescenta corpos a um ‘curriculum’ que tem quer grau, o que é o pressuposto
Tecnológicas”, “Arquitectura” e tigadores seja “muito reduzido”. A que, no que diz respeito a estu- propiciado a obtenção de bolsas de da bolsa”. Na opinião de Alfredo
“Ciências Naturais e Antropolo- razão, explica, tem a ver com o dantes de doutoramento e pós- doutoramento”. “Tarefas a recibo Campos, o tipo de trabalho desen-
gia”. Com maior predominância facto de eles não terem nenhum doutoramento, e ao IPCDVS, verde ou actos únicos, de apoio à volvido pelos estudantes investi-
nas ciências humanas e sociais e vínculo laboral à instituição onde “coloca-se mesmo a centralidade investigação viabilizam a frequên- gadores “deveria estar sujeito a um
trabalham, pois “recebem uma do instituto para a prossecução cia de mestrados e dos futuros cur- contrato de trabalho, e não a uma
bolsa para cumprir um objectivo dos seus trabalhos”. sos de doutoramento”, acrescenta. bolsa”, isto porque, continua o es-
A Universidade proposto pelo centro e pelo orien- No entanto, o investigador do tudante, “é uma profissão como
tador que o acompanhará”. No en- Acréscimo de estudan- Centro de Estudos Sociais da Fa- qualquer outra, mas não se tem o
de Coimbra tem tanto, e perante todas estas tes na investigação culdade de Economia da UC direito a tudo o que é inerente aos
adversidades, Paulo Martins res- A coordenadora científica do Cen- (FEUC), Alfredo Campos, afirma direitos do trabalho, como subsí-
84 centros de salva que estes alunos, “em termos tro de Estudos Clássicos e Huma- que recebe uma bolsa de investi- dios e acesso à segurança social”.
investigação de investigação, fazem uma grande nísticos da Faculdade de Letras da gação científica da Fundação para No que diz respeito ao número
parte do trabalho científico exis- UC, Maria do Céu Fialho, vê na in- a Ciência e Tecnologia “apenas de estudantes investigadores na
tente hoje em Portugal”. tegração ou colaboração dos estu- para fazer investigação, embora UC, Carlos Robalo Cordeiro refere
nas ciências exactas e tecnológicas, Para o coordenador científico do dantes “um modo possível de lhes seja também estudante de mes- que se tem verificado “um acrés-
os centros de investigação da UC Instituto de Psicologia Cognitiva, oferecer algumas condições para a trado, mas as duas actividades não cimo de procura em relação com a
constituem uma referência nacio- Desenvolvimento Social e Voca- própria frequência de segundos ou têm ligação”. O estudante do se- realização dos mestrados integra-
nal e internacional na produção de cional (IPCDVS) da Faculdade de terceiros ciclos, tendo em conta a gundo ano do mestrado em Rela- dos”. A mesma opinião é parti-
ciência em diversos domínios. Psicologia e Ciências da Educação grave crise económica que atra- ções de Trabalho, Desigualdades lhada por Eduardo Ribeiro dos
O estudante investigador do La- da UC, Eduardo Ribeiro dos San- vessamos”. A coordenadora cien- Sociais e Sindicalismo na FEUC Santos: “quando se faz apelo aos
boratório de Instrumentação e Fí- tos, a participação dos estudantes tífica explica que “o espaço aberto classifica esta situação como “per- estudantes para colaborarem em
sica Experimental de Partículas da constitui “uma forma complemen- para apresentação de comunica- versa”, justificando que faz “ao fim projectos de investigação a res-
Faculdade de Ciências e Tecnolo- tar de aprendizagem e possível de- ções livres em colóquios e a publi- e ao cabo um trabalho por conta de posta é sempre pronta e em grande
gia da UC, Paulo Martins, lamenta senvolvimento de carreiras cação de trabalhos permite dar outrem, uma vez que não dá qual- número”.
PUBLICIDADE
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 5
ENSINO SUPERIOR
NEB/AAC
UC desconhece actual situação organiza ciclo
de debates e
económica de estudantes MÁRCIA ROCHA
conferências
A dificuldade no Cláudia Teixeira
SEMANA ECOLÓGICA
ENSINO SUPERIOR
Arranque na construção
de nova cantina sem perspectivas VIRGINIE BASTOS
Pedro Nunes
CULTURA
XI SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
CULTURA
PERFIL • JULIÃO SARMENTO
cultura
por cá O construtor do desejo
3MAR
JOSÉ MANUEL COSTA ALVES
3
MAR
AFTER BOCCIONI
Exposição de Fotografia
Pedro Medeiros
10H • TAGV • ENTRADA LIVRE
4
MAR
POETAS EM RESIDÊNCIA
Miro Villar e Márcio André
CAFÉ-TEATRO TAGV • ENTRADA LIVRE
5
MAR
MU
Música Folk
OFICINA MUNICIPAL DO TEATRO
22H • 2¤ COM DIREITO A UMA BEBIDA
6MAR
NA RUA FUTURISTA É JÁ DIA 9 que Sarmento recebe o Prémio UC, na inauguração da Casa das Caldeiras
17H ÀS 19H
PRAÇA DA REPÚBLICA Por detrás de palavras simples, sem ornamentos, e com obras que
7 deixaram um rasto pelo mundo, está Julião Sarmento. É o primeiro
MAR
7 8 e
MAR
F rodeios. Mas não lhe
peçam para se auto-carac-
terizar. Aliás, acha isso
uma “estupidez”. Por essa razão,
do que outros e há aqueles onde o
trabalho é recebido de uma maneira
completamente diferente”, sinte-
tiza. As obras do português estão
arte, fala de um carácter cinemato-
gráfico muito marcante na sua
obra, e aponta a existência de “uma
utilização da imagem como estraté-
centenária atribuir este prémio a
um artista contemporâneo”.
Num tom assertivo e directo, Ju-
lião Sarmento responde ao que lhe
AS BACANTES perde muito pouco tempo a pensar plantadas por todo o mundo, em gia de sedução através de mecanis- perguntam. Não gosta de florear
TEATRO DA CERCA DE S.BERNARDO em si. Os amigos vêm nele um sen- museus como Guggenheim em mos de erotização”, como escreveu nem de se alongar. Não é um “ar-
21H30 tido de humor aguçado e uma es- Nova Iorque, Museu de Arte Con- uma vez. É a partir da fotografia e tista representativo, mas sim repre-
NORMAL 10¤ • ESTUDANTE 5¤ pontaneidade juvenil. Não gosta da temporânea de Los Angeles ou no do vídeo que Sarmento começa a sentacional”, repara. Há quem diga
palavra inspiração, porque significa Hara, Museu de Arte Contemporâ- sugerir a personificação do desejo, que as suas obras falam, e admite:
12 MAR
nínsula Ibérica.
O site oficial do artista está total-
mente em inglês. É um indício claro
Leccionou em países como o Japão
ou a Alemanha.
Foi na Escola Superior de Belas-
impossível separá-lo de todo o
resto”.
Apesar de ser natural do Estoril,
e em algumas circunstâncias”.
O pulsar da arte em Portugal carece
de crítica. É o vencedor do Prémio
da sua internacionalização. Julião Artes de Lisboa que iniciou o seu este ano Coimbra surge-lhe no cur- Universidade de Coimbra que par-
CENAS DE ESPERA II Manuel Tavares Sena Sarmento percurso quando corria o ano de rículo. “Uma surpresa”, revela o ar- tilha a opinião. “Existe algum jor-
OFICINA MUNICIPAL DO TEATRO nasceu a 4 de Novembro de 1948 e 1967. Depois de oito anos, expôs tista plástico. O Prémio nalismo de arte, mas crítica de arte
22H • 2¤ COM DIREITO A UMA BEBIDA admite que é “um homem do pela primeira vez no estrangeiro em Universidade de Coimbra (UC) está não. Seria agradável que essa ver-
mundo, não apenas de Portugal e 1979, na Suíça, cinco anos depois de aberto a todos e abrange as várias tente fosse explorada”.
13 de Lisboa”. O reconhecimento in-
ternacional já não o surpreende.
Portugal ter saído da ditadura.
A sua obra é grande e vasta.
áreas da cultura e da ciência, mas é
a primeira vez que premeia alguém
A entrega do prémio, no valor de
25 mil euros, vai ter lugar no pró-
MAR
“Sempre trabalhei para isso”. Os Toma na escultura, na pintura, fo- das artes plásticas. Julião Sarmento ximo dia 9 de Março, segunda-feira.
A CASINHA DE CHOCOLATE tografia e cinema as suas formas. personifica esse reconhecimento. A inauguração da Casa das Caldei-
países visitados pelo artista portu-
Espectáculo de Patinagem guês deram-lhes muitas estórias Quem fala da obra de Sarmento, re- Carlos Robalo, médico e professor ras, que vai acolher pós-gradua-
TAGV para contar. Mas Julião Sarmento fere uma “enorme coerência nos na Faculdade de Medicina da UC, ções, mestrados e doutoramentos
10H30 • 15H • 21H30 não se rende aos encantos da curio- temas, uma imensa flexibilidade e foi o intermediário. Propôs à UC o do curso de Estudos Artísticos da
NORMAL 8¤ • ESTUDANTE 6¤ sidade de uma pergunta e não apro- talento no uso das técnicas”, como nome do artista plástico. O médico UC, irá coincidir com a cerimónia
funda a resposta, nem se alonga nas nota Alexandre Melo, um dos ami- mostra-se satisfeito e revela que é da entrega do prémio. Um acaso
Por Virginie Bastos histórias. “As recordações são dife- gos mais próximos do autor. “um grande sinal de modernidade o feliz.
3 de Março de 2009| Terça-feira | a cabra | 9
CULTURA
Rituais futricas de antigamente
A par da cultura estudantil, existe na cidade uma outra cultura com raízes nas
tradições da população de Coimbra. Romarias, fogueiras, serenatas e feiras fazem
parte história dos rituais futricas. Por João Miranda
A
relação de Coimbra com grande rivalidade que existia era realizadas nas noites de S. António Agosto e na qual participavam não facto, as pessoas acabaram por se
a universidade ultra- sobretudo evidente nas fogueiras e S. Pedro. “Havia vários tipos de só habitantes do distrito como aconchegar a outros modos de
passa qualquer lógica Fogueiras de S. João espalhadas pessoas de todo o país. “Havia vida”.
que conheçamos em al- “Dava-se o nome pelos vários largos da cidade, na gente que vinha a pé da zona do António Nunes aponta também
guma outra cidade portuguesa que Alta, no Largo do Romal, no Pátio mar, de Aveiro”, refere António que, contrariamente ao “cantar os
albergue um pólo de ensino supe- de futrica ao homem da Inquisição”, elenca António Nunes. reis” que era uma tradição dos “ar-
rior. Aliás, a própria denominação Nunes. “Existiam ainda palanques A Romaria do Espírito Santo ou rabaldes”, em Coimbra existia a
de Coimbra como a “cidade dos es- de Coimbra que enfeitados com verduras, nomea- romaria das campainhas, devido Visita aos Presépios. Esta tradição
tudantes” é demonstrativo dessa damente murta e alecrim, que aos produtos de barro que lá eram estendia-se entre o dia de Natal e o
mesma singularidade. Não é, por-
não estudava na eram colocados nos centros dos comercializados, tinha como dia 6 de Janeiro, todos os anos, e
tanto, estranha a forma como a universidade” largos. Nesses palanques havia os ponto de afluência a Igreja de consistia numa jornada até aos
cultura estudantil e académica se cantadores e as cantadeiras”. A Santo António dos Olivais. Aí or- presépios da cidade, para aí se en-
embrenhou no meio da cidade. de S. João. Por vezes aconteciam música era também conduzida por ganizavam-se bailes e grandes re- toarem cânticos de louvor. As tra-
Contudo, existe em Coimbra algumas guerras por causa das tri- um conjunto. As Fogueiras de S. feições. dições de cariz religioso
uma outra cultura que encontra as canas e havia rixas fortes ao ponto João só conheciam o seu fim, nor- Também a Procissão da Rainha espelhavam-se também nas várias
suas raízes e tradições na popula- de chegar a polícia e interromper malmente, quando o sol raiava. Aí, Santa trazia pessoas das mais di- feiras da cidade, das quais se des-
ção local, nos futricas e nas trica- os festejos”, acrescenta. era tradição ir beber água às fontes versas zonas do país, assumindo- tacam a Feira dos Lázaros, em
nas, nos “não-estudantes”. Para António Nunes, as Foguei- da Sereia ou da Arregaça. se como uma das maiores festas de honra à ressurreição de Lázaro, e a
“Dava-se o nome de fu- ras de S. João eram a grande ma- raiz religiosa da cidade, mas tam- Feira de S. Bartolomeu, em honra
trica ao homem de nifestação cultural da população A tradição e a Igreja bém com um carácter profano pa- ao santo milagroso.
Coimbra que não estu- de Coimbra. Com incertezas em Outra tradição subjacente à cul- tentes na dualidade festiva, em Menos estanques no tempo, as
dava na universi- relação à data de origem, sabe- tura futrica eram as romarias, em que, ao mesmo tempo que a pro- serenatas futricas não tinham uma
dade”, explica o se que as fogueiras assumiram especial a do Espírito Santo e a do cissão atravessava Coimbra, ti- data determinada para a sua rea-
responsável téc- o seu auge no início do século Senhor da Serra, que é uma aldeia nham lugar actuações de ranchos lização. Devidamente ensaiadas,
nico do Grupo Et- XX, e contrariamente ao na zona de Miranda do Corvo que e bailes. as músicas recaiam essencial-
nográfico da que o nome pode sugerir, as possuía uma pequena capela e um “As romarias eram importantes mente sobre “a tradição da Rainha
Região de Coim- festas eram também cruzeiro que servia de ponto de porque havia troca de conheci- Santa, da vida do campo e dos
bra, António afluência de uma romaria mentos, a nível das músicas, das amores das tricanas”, como ex-
Nunes, que des- que decorria no danças; as pessoas evidenciavam- plica António Nunes. “Muitas
creve que era mês de se pela maneira de cantar e de tra- delas eram feitas dentro de barcas
nas serenatas fu- jar”, defende o responsável técnico serranas, por altura das festas da
tricas que melhor do Grupo Etnográ- Rainha Santa, no rio”, acrescenta.
se fazia a distinção fico da Região de
entre os estudan- Coimbra, que As tradições de
tes e os “não-estu- acredita que carácter profano
dantes”. “A “as romarias Se a tradição e a cultura ligada à
foram os religião assumiam uma grande ex-
pontos em pressão em Coimbra, existiam
que, de também diversas iniciativas de ca-
rácter profano. Como a tradição
DESPORTO
A G E N D A D E S P O R T I V A
VOLEIBOL
Académica A remar pela defesa do título
na série dos Falta menos de uma
SÓNIA FERNANDES
DESPORTO
REMODELAÇÃO DO ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA
P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O
PUBLICIDADE
12 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira
TEMA
O
em
35
mm
Realizadores e cinéfilos
apontam parca projecção de
Coimbra no cinema na-
cional. Festivais e mostras
assumem papel de di-
namização de diversidade
de oferta cinematográfica na
cidade. Por Diana Craveiro
e João Miranda
astava ver a pequena se- como cenário da produção cine- Baixa tem garantido de alguma cordam numa ideia: “Coimbra zador, esta questão não deve ser
B quência da panorâmica
sobre a avenida margi-
nal do Mondego, com a
Alta a escalar pela universidade,
matográfica nacional.
Uma explicação pode estar na
inexistência, na cidade, de uma
vertente pedagógica mais prática
forma essa originalidade que nos
transporta à altura do Bocage, por
exemplo”. “Coimbra sem dúvida
que ainda é um pano de fundo por
tem, do ponto de vista do cenário
natural e do cenário construído,
espaços notáveis para funcionar
como cenário de um filme de fic-
entendida como uma limitação à
produção cinematográfica: “basta
que os autores queiram usar
Coimbra como o pano de fundo
para qualquer um depreender direccionada para o cinema. “O excelência para se realizar traba- ção”, como defende o docente da nas suas histórias e tudo o resto
onde foi filmada a curta-metragem Porto, apesar de não ser um cen- lhos”, defende. Fajardo explica Licenciatura de Estudos Artísticos acaba por se ir influenciar”.
“Respirar (Debaixo D’Água)”, de tro cinematográfico, tem escolas da Faculdade de Letras da Univer- A relação da cidade com o ci-
António Ferreira. de cinema com bastante actividade sidade de Coimbra (FLUC), Abílio nema está também patente na
Aliás, quando questionados e isso reflecte-se”, acredita o reali- “Coimbra não tem Hernandez. falta de espaços e de diversidade
sobre metragens filmadas em zador. E aponta uma solução: “se na projecção de metragens.
Coimbra, “Respirar (Debaixo houvesse em Coimbra uma escola,
estruturas de Número de salas não “Coimbra tem muitas salas de ci-
D’Água)” foi o filme que mais de- com uma vertente prática forte, produção que significa variedade nema, mas é como se não tivesse,
pressa os cineastas e estudiosos do em que as pessoas saíssem de lá a Também a falta de meios impossi- porque essas salas, dos centros co-
cinema mencionaram. De resto, saber fazer filmes, e não só a saber chamem pessoas bilita o crescimento da produção merciais, pertencem à mesma em-
“temos o ‘Rasganço’, da Raquel falar sobre eles, isso iria implicar cinematográfica na cidade. “Coim- presa, a Lusomundo. E essas salas,
Freire; o ‘Verdes Anos’, do Ar- um aumento de produção na ci- para cá” bra não tem estruturas de produ- de um modo geral, são programa-
mando de Miranda e… Ah! ‘Há o dade”. Outra razão apontada pelo ção que chamem pessoas para cá”, das em Lisboa na sede da em-
Capas Negras’... Não me lembro de também fundador da produtora ainda que existem muitos realiza- explica Abílio Hernandez, que presa”, argumenta o docente da
mais nenhum…”. conimbricense Zed Filmes prende- dores naturais de Coimbra que aponta a Zed Filmes como exem- FLUC.
“Eu diria que a projecção de se com os meios que a sétima arte abandonam a cidade para desen- plo de coragem e de contrariedade Com o encerramento das salas
Coimbra no cinema português é acarreta, que, no entender de An- volver projectos, mas que acabam à situação. A solução encontrada de cinema do Centro Comercial
quase nula”, lamenta António Fer- tónio Ferreira, estão centralizados por voltar, “como é o caso da Ra- por Paulo César Fajardo passa pela Avenida e do Teatro Sousa Bastos,
reira, porque a cidade “é um boca- em Lisboa. quel Freire, do João Lopes, ou do criação de meios de realização ci- a projecção cinematografia ficou
dinho vazia do filme português ou Opinião contrária tem o realiza- falecido José Álvaro Morais, que nematográfica. “Era necessário confinada às salas dos grandes
como palco no cinema português”. dor de “Peixe Fora D’Água”, Paulo são grandes autores que, por que existissem várias plataformas centros comerciais. Segundo Abí-
A opinião é partilhada por todos os César Fajardo, que explica que terem a sua origem aqui na região a nível de produção alojadas aqui lio Hernandez “as salas de cinema
cinéfilos. Quando comparada com “Coimbra tem sido palco de vários Centro, acabam por regressar e na região Centro”. que existiam em Coimbra progra-
outros centros urbanos, como Lis- trabalhos, sobretudo de época, evidenciar a região”. Contudo, se-
boa ou Porto, Coimbra assume um tanto em cinema como em televi- Independentemente das opi- gundo o
papel menos que secundário, são, e principalmente a zona da niões que defendam, todos con- reali-
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 13
TEMA
D.R.
Falta de apoios
ao cinema documental
Também Abílio Hernandez cri-
João Miranda tica a forma como o cinema docu-
mental é encarado e elenca algumas
“No cinema documental, em con- soluções: “é preciso é que o docu-
traste com o cinema do resto do mentário seja tratado com a mesma
mercado, em vez de ser a produtora dignidade do filme de ficção. E que
a propor aos realizadores realizar não seja apenas reduzido ao cha-
determinada obra, parte dos pró- mado filme turístico, que no fundo
prios realizadores apresentar às é uma colecção de bilhetes-postais”.
produtoras propostas”, explica o “O documental como género cine-
realizador do documentário “Fute- matográfico maior pode ter em
bol de Causas”, Ricardo Martins, Coimbra um espaço de desenvolvi-
que lembra as dificuldades que lhe mento. Coimbra é uma cidade, em-
surgiram no período de produção: bora muito estragada, que tem
“tive que pedinchar à câmara e fazer muitos sítios belíssimos para poder
muita força para que me cedesse ser transformada em imagens de
imagens e ainda assim não cedeu filme”, acrescenta.
gratuitamente, e recebi apenas uma Para o realizador de “Ainda Há
pequena percentagem das imagens. Pastores, Jorge Pelicano, “é possí-
Deparei-me com uma falta gritante vel fazer documentários em todo o
de apoios”. lado. A cidade de Coimbra também
Ricardo Martins lamenta a falta é um desses sítios”. Segundo o rea-
de apoios ao cinema documental e lizador “é preciso é haver histórias
aponta o dedo à perspectiva que as e alguém se interessar em fazer his-
instituições “de ver o cinema docu- tórias sobre a cidade de Coimbra ou
mental como uma subcultura ou que englobem a cidade de Coim-
uma produção para uma minoria e bra”.
não ver como uma marca de pre- Com Maria Eduarda Eloy
A METRAGEM “Respirar (Debaixo D’Água)” é dos puocos filmes a ter como pano de fundo a cidade de Coimbra
tender relevar dados históricos”. e Andreia Silva
mavam-se. Não estavam tão depen- gundo o membro do Centro de Es- evento: “em primeiro, uma organi-
dentes do planeamento das distri-
buidoras e exibidores”. Para o
tudos Cinematográficos da Associa-
ção Académica de Coimbra (CEC) e
zação mais cuidada e possivelmente
um trabalho mais aprofundado na Cinema na Academia
docente, a única sala em Coimbra director do festival Caminhos do Ci- sua produção e, em segundo lugar,
que recupera os filmes mais desli- nema Português, Vítor Ferreira, um apoio maior da própria cidade, bra (AAC) tem todos os anos o festi-
gados da vertente comercial é o pela edificação de um espaço poli- uma vez que do ministério vai tendo Diana Craveiro val Caminhos do Cinema Português,
Teatro Académico de Gil Vicente, valente e acessível a toda a popula- algum apoio menor ou maior, mas uma iniciativa que Abílio Hernan-
ção de Coimbra, em que pudessem lá vai tendo algum apoio”. São vários os nomes de cineastas dez, docente da Faculdade de Letras
ser projectados filmes fora da lógica Outra iniciativa que dá os primei- que passaram por Coimbra. Raquel da UC, pensa ser acompanhada
“Há muitos filmes de do mercado. ros passos é o Mostralíngua, que se- Freire, autora de "Rasganço", estu- pelos universitários, mas que não
gundo Abílio Hernandez destaca a dou Direito na Faculdade de Direito pode ter a ambição de um grande
qualidade que ou o A importância apresentação de produções mais da Universidade de Coimbra (UC). público, porque "os grandes públi-
conimbricense vai ver dos festivais pequenas e independentes. João Botelho, que realizou filmes cos são para os grandes êxitos co-
Num plano de falta de diversidade Contudo, Vítor Ferreira refere como "Quem és tu?" e "A mulher merciais e esses nem sempre têm
a Lisboa ou fica à na oferta de cinema em Coimbra, as que a cidade carece de mais inicia- que acreditava ser Presidente dos qualidade artística". Vítor Ferreira
iniciativas de mostra cinematográ- tivas e critica “a inércia de algumas Estados Unidos da América", fre- defende que o festival Caminhos do
espera do DVD” fica assumem um papel determi- associações e cineclubes e a falta de quentou o curso de Engenharia Me- Cinema Português tem um determi-
nante na divulgação de metragens apoios”. Por seu lado, António Fer- cânica na Faculdade de Ciências e nado público, que "consome regu-
embora, sempre com um atraso em nacionais. reira considera que “Coimbra não Tecnologia da UC, tendo sido tam- larmente ano após ano" e lamenta
relação à apresentação, porque “se “O festival já tem bastante rele- está mal servida a esse nível” e bém director do CITAC. A Academia que não haja mais iniciativas do gé-
estreasse ficava sujeito à programa- vância a nível nacional e é uma ini- acusa a população conimbricense de Coimbra e o cinema português nero na cidade. Com mais ou menos
ção das distribuidoras”. “Há muitos ciativa de referência. Por cá, têm de se lamentar pela falta de iniciati- têm uma relação que Vítor Ferreira festivais, Coimbra vai estando ligada
filmes de qualidade que ou o co- passado grandes cineastas e gran- vas e não participar nas que já exis- considera "privilegiada". "A associa- a alguns filmes e, se a cidade pode
nimbricense vai ver a Lisboa des filmes a que de outra forma não tem: “as pessoas em vez de se ção académica, antes de ser uma es- influenciar os filmes de um realiza-
ou fica à espera de com- teríamos acesso”, acredita Paulo queixarem mais, deviam queixar- cola de cinema, é uma escola de dor, Vítor Ferreira pensa que estes
prar o DVD”, conclui. César Fajardo. Também Abílio se menos e comparecer mais”. vida", defende, "e essa escola de vida seriam ainda melhores "se em
A solução passa, se- Hernandez destaca a impor- Com Tiago Carvalho, Maria pode-se repercutir, ou não, nas Coimbra existisse um curso muito
tância do festival e aponta Eduarda Eloy e Andreia Patrí- obras que esses realizadores depois mais técnico".
duas necessidades para o cia Silva fazem ao longo das suas carreiras". Com Maria Eduarda Elloy
A Associação Académica de Coim- e João Miranda
14 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira
CIDADE
CASA DOS POBRES DE COIMBRA
NAS VISITAS GUIADAS AO BOTÂNICO são muitas as árvores que cativam a atenção de quem o visita
ARTES FEITAS
CINEMA
“ O Wrestler ” R
andy “The Ram” Robin- papel de uma estrela dos anos 80 dada altura. “Then that Cobain
son é uma antiga estrela decadente e cheia de vícios pouco pussy had to come around and ruin
de wrestling que vai so- recomendáveis. Seria como se Aro- it all”, responde-lhe Randy.
brevivendo a trabalhar nosfy quisesse fazer um filme sobre Ao nível fílmico, Darren Aronosky
num supermercado enquanto com- uma vedeta caduca de um reality segue a velha máxima do “less is
pete na “liga dos últimos” da moda- show e fosse buscar o Zé Maria (al- more”. A grande parte do tempo li-
lidade. Mal tem dinheiro para pagar guém ainda se lembra?). É um da- mita-se a recorrer a planos frios e
a roulotte onde vive e a sua única queles casos em que a linha que académicos, mas, quando a situação
voz amiga é uma stripper. separa o actor principal do respec- assim o exige, não tem medo de
Um dia, após um violento combate, tivo personagem se dissipa e o con- pegar na câmara para reproduzir o
DE
DARREN ARONOSKY sofre um ataque cardíaco que o ob- ceito de representação é ambiente claustrofóbico e inquie-
riga a ser operado de urgência. Os inevitavelmente subvertido. Será tante dos meandros das divisões re-
COM médicos exigem um ponto final na Rourke a fazer Randy “The Raw”, ou gionais do wrestling profissional.
MICKEY ROURKE
sua carreira profissional, mas Hol- pelo contrário, Randy “The Raw” é Não deslumbra, é certo, mas o re-
MARISA TOMEI
EVAN RACHEL WOOD lywood já nos ensinou que nem tudo Rourke? sultado final é claramente satisfató-
é assim tão fácil. Acima de tudo, “The Wrester” é uma rio.
2008 Começando pelo inevitável: sim, é flagrante submissão a um passado Menos satisfatória, porém, é a pre-
verdade que a performance de Mic- glorioso. Randy “The Raw” Robin- visível linha narrativa, vista e revista
key Rourke em “The Wrestler” é ar- son vive nos anos 80. Uma época dezenas de vezes – sem ir mais
rasadora em todos os sentidos. Não em que a Nintendo NES era rainha longe, temos, por exemplo, “Rocky
Quando um actor há volta a dar nem retórica que o e os Guns N’ Roses queimavam Balboa”, um outro campeão a quem
possa negar. É daquelas certezas walkmans. É um homem encurra- lhe é dada a oportunidade de re-
deixa de o ser universais. Provavelmente mais in- lado numa época que não lhe per- gressar. Se não fossem as grandes
contestável que qualquer lei da fí- tence e que tudo vai fazer para voltar interpretações de Rourke e de Ma-
sica ou da química. No entanto, não a sentir a velha glória - mesmo que risa Tomei, o sentimento de déjà vu
CRÍTICA DE FRANÇOIS FERNANDES é menos verdade que é algo injusto isso lhe possa custar a vida. “Fuckin' poderia tornar-se sufocante.
– especialmente para a concorrên- 80's man, best shit ever!”, diz a per- Felizmente salvou-se antes de a con-
cia - colocar Mickey Rourke no sonagem de Marisa Tomei a uma tagem chegar aos três.
C
oraline é a adaptação sados em tratar a sua filha
do conto homónimo como uma rainha. Mas nem que Coraline, ao contrário do
de Neil Gaiman, fa- tudo é que parece, e aquele que é habitual nestas andanças
moso autor de ro- mundo cheio de cor e alegria, (e já agora, no imaginário de
DE
mances e novelas gráficas de esconde uma realidade muito Gaiman), não tenha o sentido
HENRY SELLICK
fantasia, plenos em bizarrias e negra. de humor muito apurado
humor negro muito “brit”. O conto é traduzido para o (facto a que a dobragem em COM
Trata a história de uma me- grande ecrã adoptando a téc- português não é indiferente). ANA BOLA
MARIA RUEFF
nina que vive desagradada com nica de “stop-motion”, pela Ainda assim, a riqueza narra-
NUNO LOPES
a maneira como os pais a tra- mão de Henry Selick, realiza- tiva de Coraline é enorme,
tam. Obcecados com o traba- dor do seminal “Estranho dada a pletora de subtextos 2009
lho, não dão a atenção devida Mundo de Jack”. Entre ecos do que se podem extrair do conto
à sua filha. Enfadada, diverte- imaginário gótico de Burton e – qualidade comum aos me-
se a explorar os cantos da casa, o tom surreal dos contos de lhores contos infantis. E só por
até que, como “Alice no País Gaiman, Selick entrega um tra- esse facto, já vale a pena entrar
das Maravilhas”, descobre uma balho de animação estetica- na toca do coelho. No País das
porta para um mundo alterna- mente apurado, tecnicamente
tivo. É similar ao mundo real, impressionante e, que por ser Maravilhas
excepto que ali tudo é divertido sustentado por técnicas artesa-
e mágico… incluindo os pais de nais, fica muito longe da plas-
Coraline, subitamente interes- ticidade do “CG” das obras da RUI CRAVEIRINHA
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 19
ARTES FEITAS
OUVIR LER
Contacto” Budapeste ”
adeo é Miguel Sar, um omecemos pelo princípio: a riqueza das letras de Chico Buarque,
Para o Cosmos
e mais além
T produtor madrileno,
desde cedo intimamente
ligado ao crescimento do
movimento clubbing na capital es-
Livro não
é CD
C história. Temos José Costa,
nome comum para persona-
gem que começa comum,
apagada quase, como manda a profissão
quis saber até que ponto não seria tam-
bém um compositor feliz de narrativas
mais longas que uma pauta de três mi-
nutos. E com efeito, Chico Buarque, o
panhola. Começou a dar os primei- que escolheu, ser escritor por conta de compositor está lá. Está lá quando a
ros passos na cena electrónica por outrem. Ele cria, para outros assinarem. frase soa a rima, quando o parágrafo soa
volta de 1997, impulsionado por E vive feliz desse vampirismo literário a canção para se ouvir mas não para ler.
nomes como Basic Channel, Kenny que lhe rouba a autoria das suas obras. Mas é verdade também que pouco mais
Larkin, Jeff Mills ou Plastikman. As Casado, com uma daquelas relações a dessa magia se encontra no livro.
referências de então mantêm-se e resvalar para o desencanto da classe Quanto à narrativa em si, por vezes, fi-
estão bem patentes naquele que era média; explorado por um patrão que se camos com a sensação que algo se per-
um dos discos mais aguardados dos diz amigo e sócio. deu pelo caminho, ou que o autor queria
últimos tempos. Um dia, depois de um encontro inter- escrever duas histórias, a do escritor que
Contacto é um álbum fiel às suas nacional de escritores anónimos, José escreve para que outro assine, e a de um
origens. Um trabalho onde se per- Costa é obrigado a pernoitar em Buda- escritor apaixonado por uma língua que
cebe o mundo onde Tadeo vive, peste. E prende-se-lhe o ouvido e o co- lhe motiva uma vida nova. Assim, tudo
uma ode cósmica à simplicidade. O ração à língua húngara. Começa aqui a junto, numa só, soa a solução fácil que
cosmos é, aliás, uma das paixões de jornada da personagem principal, que não resulta nem para o tema da identi-
Tadeo. Ao que parece uma paixão por amor à língua, e mais tarde a uma dade e ficção, nem para o amor por um
que o acompanha desde criança, mulher, decide partir para Budapeste, um dialecto diferente daquele com que
DE
TADEO mutando-se ao ritmo dos bleeps e para descobrir que segredos encerram crescemos a desconstruir o mundo.
loops tão intensos na música do es- as palavras e as sílabas que lhe desper- “Budapeste”, de 2003, não é a primeira
EDITORA panhol... tam a atenção. Assim, começa a viver obra de Chico Buarque, mas confesso
NET28
As expectativas de Tadeo para por temporadas, umas vezes no Brasil, que é a primeira que li e não me aguça
2009 Contacto são baixas. Muito por com Vanda, a esposa legítima, a profis- os sentidos para as próximas. O titulo
culpa da distribuidora, o álbum foi DE são legítima, a vida legítima. Depois, em deste texto é roubado de uma frase en-
editado com cerca de meio ano de CHICO BUARQUE Budapeste, com Kriska, a professora contrada numa crítica que versa sobre a
atraso, o que no entender do produtor desvirtua o conceito do seu que lhe ensina a descodificar da “única mesma obra, e onde o autor versa sobre
EDITORA
trabalho. “Contacto tinha um tempo e esse tempo passou”, mas para DOM QUIXOTE lingua que o Diabo respeita”, segundo a diferença entre música e literatura.
nós, Contacto cabe num espaço temporal bem mais amplo. rezam as más línguas. Não podia estar mais de acordo, pelo
Os loops não cansam. Revitalizam-se. Uma e outra vez... E mais 2004 Admito, quando o tirei da prateleira, a que espero que isso me desculpe a ou-
outra... Fechar os olhos e embarcar na jornada hipnótica pode ser única coisa que me motivou o gesto foi sadia de cometer, também eu, o pecado
algo extremamente viciante. É-o, de facto. mesmo o nome do autor. Por conhecer a das personagens de Chico Buarque.
Estamos perante techno abstracto para pessoas abstractas. Não é
algo que se dance apenas por dançar. A dança aqui é apenas um dos SOFIA PIÇARRA
muitos estímulos condicionados a que o nosso corpo se sujeita invo-
luntariamente.
VER
O álbum de estreia de Tadeo é, sem dúvida, um dos mais interes-
santes trabalhos deste ainda curto 2009, um álbum carregado de
temas muito bem produzidos, que nos fazem vaguear entre Detroit Metropolis”
e as coordenadas dub, tão naturalmente ligadas ao techno...
Aqui ao lado mora a Net28, colectivo-mãe de muitas editoras ma-
drilenas, tais como a Cyclical Tracks (editora de Tadeo), a Mupa, a o filme ‘Metrópolis’ só foi nos”, entre a massa operária e as máqui-
D
“
Cmyk Musik ou a Apnea e através delas Espanha deu-nos a conhe- preservado um original in- nas de trabalho. Nada parece fazer alte-
cer nomes tão ilustres como Alex Under, Imek ou Damián Schwartz. “Moloch!” completo e cópias incomple- rar essa ordem lógica, até que um dia o
Depois de uma primeira compilação editada em meados de 2008, tas de versões mais curtas e filho de Fredersen, Freder (Gustav Fröh-
onde se mostravam trabalhos dos já referidos Alex Under e Damián, alteradas. Considera-se que mais de um lich), conhece Maria (Brigitte Helm) e
mas também do francês From Karaoke To Stardom, do britânico quarto de filme possa estar perdido. Com entra no mundo dos operários.
Kevin Gorman ou do alter ego de Tadeo, Circunbalation, surge no esta versão que aqui vêem procurou-se Não fossem alguns extras estarem ape-
início deste 2009, Contacto, uma pérola raríssima e indispensável montar todas as partes do filme que nas veiculados em castelhano e podería-
no panorama discográfico musical actual. ainda resistem, de acordo com a versão mos dizer que esta edição DVD, com dois
de estreia”. A mensagem que inicia o discos, era perfeita. O primeiro é exclu-
ANDRÉ TEJO filme deixa transparecer as constantes sivamente dedicado ao filme. O que pode
mutações que a metragem original, de parecer muito injusto dito assim, uma
Janeiro de 1927, foi sofrendo. Sobre a tu- vez que a banda sonora foi remasterizada
tela da Friederich Wilhelm Murnau Stif- para Dolby Digital 5.1 e temos ainda a
GUERRA DAS CABRAS tung, esta edição pretende recriar a opção de assistir ao filme com os comen-
A evitar versão projectada na estreia, em Berlim, tários do historiador do cinema, Enno
e adopta a banda sonora original de Gott- Patalas. No segundo disco, encontramos
Fraco fried Huppertz. dois documentários, um sobre toda a
Em conjunto com os desenhos de Otto produção do filme e outro sobre o res-
Podia ser pior
FILME Hunte, Erich Kettelhut e Karl Vollbrecht tauro da película. Este disco possui ainda
Vale a pena e os efeitos criados por Eugen Schüfftan, quatro galerias fotográficas sobre cenas
Fritz Lang concebeu toda uma cidade er- desaparecidas, design de vestuário, es-
A Cabra aconselha EXTRAS guida em altura e enterrada na profun- boços arquitectónicos e cartazes publici-
A Cabra d’Ouro didade do subsolo, numa linha que tários; biografias de realizador e actores,
divide dois grupos muitos distintos. Os ficha técnica e créditos, todos em caste-
que habitam os fantásticos arranha-céus, lhano.
DE
FRITZ LANG que planeiam e dominam toda a cidade, Se mais argumentos faltarem para ver
Artigos disponíveis na: que vivem entre os mais faustosos cená- “Metrópolis”, saiba-se que foi o primeiro
EDITORA rios, como é o caso de Johann Fredersen filme incluído no Registo de Memórias
DIVISA
(Alfred Abel). No pólo oposto, debaixo do do Mundo, as obras seleccionadas pela
2008 solo, vive-se num clima de laboração fre- UNESCO.
nética que faz lembrar “Tempos Moder- JOÃO MIRANDA
20 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira
SOLTAS
CRÓNICA DE VIAGENS BÓSNIA-HERZEGOVINA • SARAJEVO
ANDREIA SILVA
UMA CIDADE
QUE A GUERRA
TORNOU MAIS
TRISTE
U
ma linha de comboio A CIDADE DE SARAJEVO é pouco cosmopolita
surge timidamente com
a manhã acabada de olhar baixo; enquanto que as mu- é algo universal, mas ali observa- nald's. Sentei-me num dos poucos jar-
surgir. Com o começo lheres católicas e ortodoxas, des- mos as casas, as marcas dos aten- A Bósnia-Herzegovina era a re- dins que a cidade tem e pensei que
do dia, surge-me Sarajevo, real, tapadas, sem nada a esconder de tados, as coisas por construir e pública mais pobre da Jugoslávia. ainda é possivel ao país voltar ao
desprovida de eufemismos, tal forma obrigatória, frequentam as- pensamos que tudo poderia ter Com a queda do muro de Berlim, o que foi. Em Sarajevo a paz ainda
como a guerra a fez. A cidade onde siduamente as lojas e os cafés. sido diferente. fim da União Soviética e a inde- não é completamente estável, mas
o arquiduque Francisco Fernando, Tudo parece pequeno e, sobre- Os elementos da cidade confun- pendência do país, os problemas o que importa é a sua existência.
do Império Austro-Hungaro, foi tudo, pobre. Para lá das lojas de dem-se e criam um ambiente caó- sócio-económicos agravaram-se. E Para além das diferenças culturais
assassinado, esforça-se por ultra- roupa no centro da cidade (onde tico. Autocarros antigos cheios de depois vieram os ataques sérvios, e do passado, as pessoas estão a
passar os conflitos políticos do se denota o pouco cosmopolitismo pessoas, a universidade, as reli- entre 1992 e 1995, que dispersa- fazer um esforço para regressar,
passado. que existe em Sarajevo) há a pe- giões, as casas pequenas, os pré- ram os habitantes (a população construindo uma nova sociedade.
As ruas são simples, tal como as quena mulher suja, de pés descal- dios destruidos e esburacados, os desceu para metade, em relação a E é assim a capital da Bósnia-Her-
suas pessoas. Encontram-se peda- ços sob a neve, fingindo não sentir cafés, a policia sempre descon- anos anteriores ao conflito). Ac- zegovina, com um passado dema-
ços de culturas muito diferentes as temperaturas negativas. Os fiada, os pedintes. Abundam ainda tualmente o país é governado sob siado presente, mas com um
que a história obrigou a misturar. cafés estão cheios de iguarias e os mercados e lojas ligadas ao co- um regime tripartido e rotativo, futuro que trará, decerto, a alegria
As mulheres muçulmanas, cober- montras convidativas, mas não mércio tradicional. Os supermer- onde Croatas, Sérvios e Bósnios que nunca deveria ter sido reti-
tas com lenços vão rezar à mes- pudemos deixar de reparar no ra- cados são poucos e nem sequer tentam unir esforços numa paz rada.
quita, com o seu passo rápido e pazinho a pedir esmola. A pobreza existe um restaurante McDo- conjunta. Por Andreia Silva
2001, a pró-reitora previa “um cluía desde encontros gastronómi- as pessoas não têm de
substancial aumento do número cos regionais, a ciclos de cinema, outro modo”. O presi-
de participantes”. Comparada com passando por concertos e aulas de dente afirmava a sua
as duas anteriores mostras cultu- danças e cantares tradicionais dos aposta na formação e
3ª MOSTRA rais, a edição de 2001 “tem uma PALOP. na continuação da
CULTURAL DA quantidade e uma variedade de
iniciativas que suplanta as ante-
Outro assunto de grande des-
taque nesta edição d’ A CABRA foi
RUC como escola de
rádio e concluía que
UNIVERSIDADE riores”, notava Maria de Fátima. a comemoração dos 15 anos da “a RUC é um desafio
DE COIMBRA ” No que diz respeito ao próprio car- Rádio Universidade de Coimbra constante”. O último
taz, a responsável destacava “uma (RUC), a 1 de Março, que ocupou artigo sobre o aniver-
exposição de fotografia sobre a cinco páginas. Para não deixar sário da RUC debru-
Universidade que patente no Tea- passar em branco esta data, A çou-se sobre o
tro Académico Gil Vicente” e “co- CABRA deu a conhecer a RUC encontro de rádios
lóquios sobre o Pátio da através de uma reportagem de am- universitárias promo-
o início de Março de Universidade, sobre o papel cultu- biente no seu estúdio. “Uma rádio vido pela de Coimbra
COM PERSONALIDADE
ANDRÉ FERREIRA
OPINIÃO
“É URGENTE!”
Jorge Serrote *
ANDRÉ FERREIRA
PUBLICIDADE
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 23
OPINIÃO
“A QUEIMA ASSUMIU-SE EM EDITORIAL
2008 COMO UMA DAS FORÇAS
A ACÇÃO SOCIAL ESCOLAR
VIVAS DA CIDADE”
E OS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS
Filipe Pedro *
Na semana passada, foi anun- nas arrasta por si essas mesmas
ciado pelo gabinete de imprensa lógicas para a Universidade de
No passado dia 19 de Janeiro de à Queima das Fitas. Por mais de três do Ministério da Ciência, Tecno- Coimbra e a criação de um mo-
2009 a Queima das Fitas de Coimbra meses houve actividades, o que con- logia e Ensino Superior que, até delo fundacional de instituições
apresentou o seu relatório e contas. tabiliza cerca de seis edições do Jor- Dezembro de 2008, 5500 estu- em que o governo limpa as mãos
Mais que a história dos números, nal “universitário” “A Cabra”. dantes recorreram a empréstimos quanto ao investimento nessas
que mais uma vez significa um Mais ainda não me lembro de ver ao abrigo do Sistema de Emprés- instituições. Estas medidas do
enorme encaixe financeiro na AAC, e ninguém da Comissão Organizadora timos a Estudantes do Ensino Su- executivo governamental eviden-
nas suas secções, núcleos, organis- da Queima das Fitas entrevistado perior com Garantia Mútua. ciam, a um prazo muito mais
mos etc.… Importa lembrar o sucesso como tal, excepto no suplemento No ano do arranque da medida, curto do que poderemos pensar, a
que foi a Queima das Fitas 2008 em sobre a Queima das Fitas, pago pela tal número não deve ser encarado morte da Acção Social Escolar.
todas as suas actividades e em toda a mesma. como uma gota no oceano ou Também a lógica da reforma de
sua amplitude. Não é por a Queima das Fitas ser como uma imagem afastada da Bolonha e as consequências que
Não entendo como o jornal “A um dos principais financiadores do realidade dimensional do ensino já se sentem não parecem muito
Cabra” não considera a apresentação Jornal “A Cabra” e da secção de Jor- superior. Deve, sim, ser encarado abonatórias ao crescimento da
do Relatório e Contas da Queima da nalismo que existe a obrigação desta e interpretado à luz das sucessi- acção social no ensino superior.
Fitas 2008 como uma ocorrência publicar as matérias alusivas à vas medidas do executivo gover- Contudo, é imperativo com-
digna de registo na versão impressa Queima das Fitas, não devemos en- namental para com a Acção Social preendermos que isto não é “uma
do jornal “A Cabra”, tendo lançado trar em clientelismos. Escolar. Medidas como os suces- realidade à qual já não podemos
um jornal impresso no dia 26 de Ja- Mas a linha editorial do Jornal “A sivos cortes orçamentais, a cres- fugir e à qual nos temos que adap-
neiro. Cabra” deve reflectir sobre se a cente desresponsabilização tar”. Não. Não é por qualquer
Mais: A Queima das Fitas assumiu- Queima das Fitas é ou não um evento estatal para com os apoios sociais gesto de simpatia ou caridade que
se em 2008 como uma das forças que se digne a estar presente na sua aos estudantes e a crónica tenta- o governo vai por si pôr um travão
vivas da cidade de Coimbra não só, na versão impressa. Relembro que esta- tiva de privatização empurram os a esta lógica. Não é por si que as
Semana das Noites do Parque, mas mos a falar de um dos ícones da ci- estudantes para uma situação de empresas, que encontram nestas
num horizonte temporal e de activi- dade de Coimbra. É o ponto alto da estrangulamento financeiro, que medidas uma perspectiva de
dades muito mais vasto. grande maioria dos estudantes da não tendo outra hipótese, encon- lucro, vão abrandar na tentativa
Realizámos mais de 60 actividades, nossa universidade. Para um jornal tram nos empréstimos a única de intromissão nas universidades.
começámos com “A Queima do Co- universitário parece-me importante
lete”, pelo meio tivemos encontros de publicar o balanço da festa que a
coros, recitais de Guitarra clássica, todos nos marca. Cabe-nos a nós, estudantes da UC,
“
Recital de Harpa, a regata Interna- Bem sei que “acabra.net” publicou
cional da Queima das Fitas, o torneio um artigo sobre o balanço da Queima pôr um travão, porque estas
de rugby, meeting de natação, jogos 2008, mas parece-me importante
tradicionais, surf trip, entre tantas que esteja também na versão im-
medidas não vão prejudicar ninguém
outras que foram um enorme sucesso pressa. tão directamente como a nós
a todos os níveis. Não queria uma capa de jornal,
Durante meses, a Queima das Fitas nem um artigo de uma página, ape-
dinamizou a cidade de Coimbra, nas algo que assinalasse o facto. tábua de salvação. Cabe-nos a nós parar estas medi-
aliando-se as organizações da cidade Por último, só dizer que este facto Uma análise a estes números das, cabe-nos a nós, estudantes da
e do país, como a Universidade de não é novidade, o mesmo já sucedeu também nunca poderá ser desli- Universidade de Coimbra, pôr um
Coimbra, a Câmara Municipal de em 2006 e 2007. gada da realidade das recentes re- travão, porque estas medidas não
Coimbra, a ACIC, o Governo Civil, a Resta-me desejar que a secção de formas estruturais do ensino vão prejudicar ninguém tão direc-
Assembleia da República, a AAC e as Jornalismo reflicta sobre a sua ati- superior. Se a possibilidade da tamente como a nós.
suas secções, incluindo a secção de tude perante a Queima das Fitas. substituição dos reais sistemas de Porque se hoje são 5500 estu-
Jornalismo, entre outros. apoio social por empréstimos veio dantes a recorrer aos emprésti-
Durante todo este tempo, contam- * Secretário-Geral da Queima das ser dinamizada pelo Regime Jurí- mos, com a progressão das
se pelos dedos das mãos as vezes que Fitas dico das Instituições do Ensino medidas do executivo, para o ano
“A Cabra” publicou artigos relativos Superior (RJIES), a verdade é que serão muitos mais, e no outro
todas as políticas envolventes mais ainda. E consecutivamente o
também não combatem essa pos- governo vai dando cada vez mais
A CABRA ERROU
sibilidade, aliás, agudizam-na. A machadadas num direito que
Na última edição d'A CABRA foi adiantado no artigo “Novas ameaças co- lógica mercantilista que o RJIES deve ser de todos.
locam a NATO em encruzilhada” que a aliança transantlântica celebrava veio trazer para o ensino superior
50 anos,quando na verdade o tratado celebra 60 anos. não agoura o incremento das me- João Miranda
Também na infografia do artigo “Porque faz sentido falar em Darwin” didas sociais para o futuro. A ins-
era apontada a morte de Darwin no ano de 1859, quando, na verdade, mor- talação de um Conselho Geral
reu em 1882. A todos os leitores, as nossas desculpas pelos lapsos cometi- com a participação de membros
dos. externos à universidade e com li-
A direcção gação às lógicas empresariais ape-
Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759
Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fo-
tografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira
(País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fer-
Secção de Jornalismo, nandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Hugo Anes, João
Associação Académica de Coimbra, Picanço, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vanessa Quitério, Vanessa Soares Fotografia Ana Coelho, Márcia
Rua Padre António Vieira, Rocha, Pedro Monteiro, Sara Galamba, Sónia Fernandes, Tiago Carvalho, Virginie Bastos Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colab-
3000 - Coimbra oradoram nesta edição Andreia Patrícia Silva, Cristiana Domingues, Filipe Sousa, Luís Nunes, Maria Eduarda Eloy, Nuno Agostinho, Sara
Tel. 239821554 Fax. 239821554 Cruz, Sara Galamba, Vasco Batista, Virginie Bastos Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia
e-mail: acabra@gmail.com Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, Mi-
lene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Im-
pressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000
exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradec-
imentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra
Mais informação disponível em
Redacção: Fax: 239 82 15 54
acabra.net
Secção de Jornalismo e-mail: acabra@gmail.com
Associação Académica de Coimbra
Rua Padre António Vieira Concepção e Produção:
3000 Coimbra Secção de Jornalismo da Associ-
Telf: 239 82 15 54 ação Académica de Coimbra
Faculdade de
Notas
Coreia do
Basquetebol AAC
Farmácia Norte/ONU sobre
arte...
Sofrer a bom sofrer. Tem sido O estudo sobre a administração O reatar de conversações entre a
assim nos jogos de basquetebol da oral de insulina foi esta semana dis- Coreia do Norte e a ONU é um novo
Académica. Os adeptos têm de espe- tinguido com o prémio Bluep- passo para o desanuviar da tensão
rar pelo último segundo para grita- harma/Universidade de Coimbra. A entre as duas Coreias. Este pedido
rem vitória... Nos últimos dois jogos, investigadora da faculdade de Far- norte-coreano acontece depois de
a Académica conseguiu alcançar a vi- mácia Ana Catarina Reis é assim dis- anunciar que está a preparar um teste
tória nos derradeiros segundos e, tinguida por um trabalho que com um míssil, alegadamente, para o
contra o Illiabum, Fernando Sousa promete dar que falar. Nos seis anos desenvolvimento de um programa es- Where's the life? (…) • Ilídio Salteiro
marcou o cesto da vitória a quatro se- de existência do prémio, só por duas pacial pacífico. Pyongyang tem rece-
gundos do final do jogo. A equipa não vezes ficou em Coimbra. A aposta da bido apelos do Japão e Coreia do Sul Óleo s/ tela • 2007
perde há cinco jogos e está agora no faculdade de Farmácia na investiga- para renunciar a qualquer pretensa
quarto lugar da liga principal. ção está a dar frutos. nuclear. No início tudo é denso e obs- resposta está próxima de ser en-
S.F. M.P. R.M.P. curo, mas à medida que o tempo contrada. É a busca não só do pró-
passa vai-se tornando mais claro e prio museu, mas também do
PUBLICIDADE fácil de entender. É esta a mensa- próprio sentido da arte contempo-
gem que Ilídio Salteiro tenta trans- rânea, sentido esse que subita-
mitir nesta obra. mente começa a tornar-se mais
O conjunto de quatro quadros evidente no terceiro quadro,
conta um percurso que vai desde a “Where's the museum of contem-
procura de um sentido de vida até porary art?” (Onde está o museu
ao encontro da obra de arte. Mas de arte contemporânea?). A flo-
também pode ter outro signifi- resta é menos densa, o automóvel
cado: qual o caminho que a arte mais visível, os tons da tela mais
contemporânea ainda tem de per- claros. O caminho para encontrar,
correr? Que futuro se espera para a não só o quadro, como o sentido
relação entre a obra e o seu consu- da arte, está próximo…
midor? E eis que, subitamente, o con-
O primeiro quadro, “Where's the ceito é encontrado. Em “Where's
life?” (Onde está a vida?), repre- the paiting?” (Onde está o qua-
senta o início da busca. Os tons em dro?), a última tela, a floresta de-
castanho escuro e claro, com algu- saparece, as árvores estão
mas pinceladas de azul, denotam a desfolhadas e o céu é um imenso
dificuldade do caminho. O auto- azul. O encontro com o quadro é o
móvel quase nem se vê, muito próximo passo. Será também o re-
menos os seus ocupantes. É um conhecimento dos cidadãos face à
trajecto que se percorre quase sem arte contemporânea? Na tela, tudo
saber, um fim ainda muito dis- se tornou subitamente claro, mas
tante. A vegetação densa da flo- não sabemos se as respostas foram
resta mostra as dificuldades não só encontradas. O último quadro re-
da vida, como da própria arte con- presenta o mistério, deixando mui-
temporânea. Qual a sua represen- tas perguntas no ar.
tação na sociedade? Como é que Esta é uma das obras que se
ela é encarada pelos cidadãos? podem encontrar na exposição “O
Olhando para a tela, parece que mistério do Narciso” até 26 de
ainda há muita coisa para desco- Março, nas Galerias Santa Clara,
brir na arte dos dias de hoje. em Coimbra. São artistas portu-
O segundo quadro, “Where was gueses contemporâneos que cru-
the museum of contemporary zam escultura, pintura, desenho,
art?” (Onde estava o museu de arte artes plásticas e vídeo, onde a geo-
contemporânea?), permanece metria e a simplicidade dos mate-
ainda obscuro, com os mesmos riais ganham lugar de destaque.
tons na tela, mas mostra já que a Por Andreia Silva
PUBLICIDADE