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ÁLBUM DE ESTREIA DE TADEO TRIBUNAIS CANTINAS

O trabalho do produtor madrileno é fiel O Direito Internacional Construção de


às suas origens e uma ode depois da criação novo restaurante
cósmica à simplicidade do Tribunal Penal universitário adiada
P 19 P 16 P6

3 de Março de 2009

a cabra
Ano XVIII
N.º 193
Quinzenal gratuito

Director: João Miranda


Editor-executivo: Pedro Crisóstomo Jornal Universitário de Coimbra

Sétima Arte
Empresas de tecnologia projectam A relação do
cinema com Coimbra

nome de Coimbra além-fronteiras


Cineastas e especialistas lamentam a
pouca projecção da cidade no cinema
A segunda melhor incubadora de produtividade são palavras-chave tunidade para se desenvolverem um português e apontam a falta de estru-
empresas e ideias do mundo está em que, aliadas a um forte espírito em- tipo de sociedade “referencial”. São os turas de produção em Coimbra. A
Coimbra e o facto de ter criado, nos preendedor, dão sinais de vitalidade
iParque pretende próprios promotores das empresas pouca diversidade de oferta é comal-
últimos dez anos, mais de mil postos por parte das mais de cem empresas fixar mais massa que destacam esse ambiente propício tada pelos festivais e mostras cine-
de trabalho altamente qualificados sediadas na cidade. à inovação. Mesmo em ano de crise, matográfica.
parece ser um estímulo a quem por cá A estreita ligação que estabelecem
crítica na região pode Coimbra fugir à regra? P 12 e 13
aposta nas tecnologias. Inovação e com a UC faz de Coimbra uma opor- P2e3
Propinas
SÓNIA FERNANDES

Dificuldades
no pagamento
Estudos recentes mostram que há
um crescimento da dificuldade, por
parte dos alunos do ensino superior,
em pagar as propinas. No entanto, a
vice-reitora para a Pedagogia da UC
afirma que “não foi feito nenhum es-
tudo recente, na UC, que possa de-
monstrar maiores dificuldades”.
P5

Julião
Sarmento
O perfil do
Prémio UC
P8

Estádio Universitário à espera


@
Mais informação em
O projecto de requalificação está pronto, mas faltam as verbas para avançar P 11
acabra.net
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2 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

DESTAQUE
ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES
caso da Engifire e da Consulfogo.
Ambas trabalham na área da segu-
rança contra incêndios, o que para o
coordenador do projecto da Consul-
fogo, Sílvio Saldanha, é, mais do que
um constrangimento, “um estí-
mulo”.

Pular a cerca
Muitos dos projectos que estão hoje
incubados no IPN nasceram nos la-
boratórios da universidade. São os
chamados ‘spin-offs’ académicos.
No entanto, nos primeiros anos da
Incubadora, a maioria das empresas
não vinha directamente da acade-
mia ou das instituições de Investi-
gação e Desenvolvimento (I&D).
“Eram criadas por ex-alunos que ti-
nham desenvolvido outros projectos
ou que tinham trabalhado por conta
de outrem”, refere Paulo Santos.
Actualmente, o IPN alberga tam-
bém ‘spin-offs’ de empresas que já
saíram do edifício, mas que se man-
tém ligadas em incubação virtual e
se convertem “quase em padrinhos
das novas empresas”.
É o caso da Tangível, que foi para
o edifício ao abrigo do programa de
incubação virtual ‘Follow up’ da Cri-
tical Software. Paulo Santos conta
como foi: “fomos apresentar a Tan-
gível à Critical, que demonstrou logo
muito interesse; fez-se um ‘case
study’, e a Critical lançou um desafio
à Tangível; ficaram muito satisfeitos
com o resultado e hoje em dia são
parceiros comerciais”.

Coimbra na rota da tecnologia Que cérebros


vieram para ficar?
Um dos critérios para as empresas
de alta tecnologia decidirem onde se
localizam é a disponibilidade de co-
A crise não passa ao lado da cidade, mas por cá são mais de cem as empresas nhecimento. João Gabriel Silva não
tem dúvidas sobre isso e argumenta
que integram a segunda melhor incubadora do mundo. Inovadoras e produti- que, “se a faculdade continuar a ter
vas, são o resultado do empreendedorismo e da massa crítica que sai da UC à saída pessoas muito qualificadas,
as empresas vão-se manter ”.
“De qualquer forma, não há que
A Incubadora tem hoje um uni- à universidade – ao lado do Insti- até que estas ganhem asas para estabelecer isso como um objectivo
Adelaide Batista verso de mais de 100 empresas in- tuto Superior de Engenharia de voar. É unânime a importância do muito grande”, defende o professor
Pedro Crisóstomo
cubadas, 60 por cento das quais Coimbra (ISEC) e perto do Pólo II – apoio do IPN para a viabilidade das da FCTUC, para quem o facto de os
germinadas directamente da acade- e o facto de as empresas se lançarem empresas, como destaca Ana Sofia licenciados partirem da cidade não
2009 começou da pior maneira. A mia, e que facturam cerca de 50 mi- em desafios semelhantes permite Almeida, sócia-fundadora da Tapes- é um indicador de falhanço. “É um
palavra ‘crise’ continua a ecoar pelos lhões de euros por ano. Para o que se cruzem ideias num ambiente try, uma das empresas incubadas motivo de orgulho”, contrapõe. Para
quatro cantos do mundo e a reces- director-executivo, Paulo Santos, as propício à inovação. “Ter ao lado desde 2007: “ajuda a despistar os Gonçalo Quadros, “Coimbra é uma
são económica já atingiu a Europa. empresas do IPN estão “em contra- uma empresa de informática, outra erros antes de os cometermos”. oportunidade para desenvolver um
Apesar do cenário negro, Coimbra ciclo”. Apesar de admitir ser “difícil de biotecnologia, ir ao bar e conver- Normalmente, a incubação acon- tipo de sociedade de conhecimento
parece fugir à regra e tem um nicho prever qual o volume de negócios sar com um bioquímico, um enge- tece durante quatro anos, mas há que seja referencial porque tem uma
de empresas jovens com base tecno- para 2009”, acredita ser possível um nheiro informático ou um físico” é, empresas que devido à sua área de muito boa universidade, laborató-
lógica e forte ligação à Universidade crescimento de “uns 15 a 20 por na opinião de Paulo Santos, “impor- actividade, como acontece com as rios de excelência, pessoas talento-
de Coimbra (UC) que apostam em cento”. tantíssimo para o sucesso destas biotecnologias, podem vir a precisar sas”.
áreas inovadoras e cujo rápido cres- Apesar disso, Paulo Santos é da
cimento fala por si. opinião de que “neste momento, a
O local que é tido como apenas preparação académica está um bo-
mais uma cidade universitária com cadinho desfasada do que é a reali-
cerca de 140 mil habitantes, que dade do mercado”. Todavia, ressalva
muitos julgam ter parado no tempo, que “vários cursos de ciências têm
parece afinal estar na frente da cor- Ao abrirmos a porta que separa o empresas”. Quem o comprova é de um maior tempo de incubação. apostado na formação da área da
rida graças àquela que foi conside- IPNIncubadora do exterior, depa- Gonçalo Quadros, presidente da Cri- Nesse caso, cabe à direcção do IPN gestão e do empreendedorismo, o
rada, em Dezembro de 2008, a ramo-nos, desde logo, com um es- tical Software, que destaca a impor- abrir “pontualmente algumas ex- que é bastante positivo”. O respon-
segunda melhor incubadora de em- paço pensado ao pormenor, que tância da capacidade de discutir cepções”, assegura Paulo Santos. sável pela Incubadora do IPN vai
presas do mundo, a do Instituto mostra como o sucesso também é com outras empresas: “isso traz Engana-se quem pensa que, por mais longe e defende que “os nossos
Pedro Nunes (IPN). resultado da forma como o edifício uma mais-valia muito grande num estarem fechados neste ninho, as jovens devem tomar conhecimento
Em cerca de dez anos, gerou em está organizado. As salas, com dife- contexto muito rico e dinâmico”. empresas não enfrentam as adversi- muito cedo de que é importante que
Coimbra mais de mil postos de tra- rentes tamanhos, estão dispostas dades que qualquer uma, já autó- procurem saber o que é uma em-
balho altamente qualificados, “uma numa lógica que tem em conta as Maturação empresarial noma, enfrenta. Para Paulo Santos, presa e o que é o mercado de traba-
importante parte dos quais oriundos necessidades das empresas, desde a O significado da ‘incubação’ é isso “não devemos proteger as empresas lho – ainda na faculdade ou até
das ‘spin-offs’ da Faculdade de Ciên- exposição solar à água, electricidade mesmo – um processo em que são da concorrência, elas devem estar antes, no secundário”. Isto porque,
cias e Tecnologia da UC (FCTUC)”, ou telecomunicações. Os corredores fornecidos serviços especializados expostas, e as que forem melhores explicita, “não há mais lugar para as
lembra o presidente dos conselhos espelham a pujança científica que que, de forma estruturada e muito ficarão”. pessoas que dizem: ‘de números e fi-
directivo e científico, João Gabriel dentro de portas está em constante interactiva, ajudam na primeira fase Mesmo dentro da Incubadora há nanças não quero saber, quero é
Silva. centrifugação. O ambiente próximo do desenvolvimento das empresas, empresas concorrentes, como é o saber do meu microscópio’”.
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DESTAQUE
PEDRO CRISÓSTOMO

Critical deverá crescer A Tapestry e a


internacionalização
Dúvidas parece não haver sobre a ne-

20 por cento este ano cessidade de Coimbra ter um “tecido


industrial em alta tecnologia” para a
cidade se desenvolver, como persiste
Em dez anos, a Critical Software tornou-se o presidente dos conselhos directivo e
referência das PME’s. Mas em Coimbra há outras científico da FCTUC, João Gabriel
que lhe seguem os passos no que toca ao sucesso Silva.
Apostada em desenvolver tecnolo-
sar por aqui, a Critical Software é o gias para a produção de jogos distri-
Adelaide Batista
exemplo paradigmático de como um buídos na Internet está a Tapestry,
negócio em ascensão pode ser feito incubada no IPN, que há dois anos se
O grupo Critical deverá crescer, fora dos grandes centros – Lisboa e reposicionou para esta área. A ideia
este ano, menos 16 por cento do que Porto. inicial era estar direccionada para a
em 2008, mas, mesmo assim – e em O director da Incubadora do Insti- consultoria na área dos sistemas de
ano de dificuldades à escala global – tuto Pedro Nunes, Paulo Santos, informação, mas hoje o foco “estraté-
o presidente, Gonçalo Quadros, es- acredita que tem havido um efeito gico” – adianta a sócia-gerente Ana
pera que a rota ascendente dos últi- “muito interessante” na “atracção de Sofia Almeida – está na produção de
mos dez anos se traduza num pessoas que tinham ido para Lisboa jogos de entretenimento, educativos
crescimento de 20 por cento. trabalhar e que, a certa altura, viram e no ‘advergaming’ (jogos como veí-
“Continua a haver muitas dúvidas que o que estavam lá a fazer também culos publicitários). A Tapestry es-
sobre o que vai acontecer” e, por isso, conseguiam em Coimbra, pois ti- pera lançar, em breve, um novo
Gonçalo Quadros mantém algumas nham cá apoios e condições”. serviço de “ferramentas para o pú-
reservas sobre as previsões, pois, Terá sido o caso da Eneida que, blico em geral, no extremo, fazer os
como sublinha, é preciso ter “mais embora não seja de Lisboa (tem a seus próprios jogos”.
tempo para perceber quais são os sede em Sines), aqui criou um pólo de Neste momento, a empresa está só
contornos da crise”. investigação e desenvolvimento nas em Coimbra, onde pretende manter
Mas quando falamos de sucessos áreas de electricidade, telecomunica- a sede, mas o próximo passo é “abrir
empresariais na cidade é impossível ções e energia natural. A empresa filiais e pontes noutros países”.
fugirmos ao nome da Critical Soft- “começou por fazer projectos mais na Quando perguntamos se estar na ci-
ware. Só no ano passado, o cresci- área dos serviços”, mas foi no IPN dade é uma oportunidade ou dificul-
mento do volume de negócios era que “cresceu para a criação de pro- dade, Ana Sofia Almeida hesita na
apontado para os 36 por cento, o que dutos”, realça um dos doutorandos resposta e diz que foi uma conse-
significa 19 milhões de euros face aos do Departamento de Física da Facul- quência natural do percurso de cada
14 milhões que havia registado em dade de Ciências e Tecnologia da UC um. “Todos viemos para Coimbra por
2007. (FCTUC), José Oliveira, a trabalhar causa do curso na UC e acabámos fi-
Marca de que o sucesso está a pas- na Eneida. cando”.

Inovação a pensar no futuro


Prestes a ser inaugurado, o iParque pretende ser o símbolo de
uma cidade que deseja estar verdadeiramente no centro
viços às restantes, nas áreas da con- iParque não pretende limitar aqui a
Adelaide Batista
tabilidade, consultoria e apoio jurí- oferta. Para já “identificámos cinco
dico. “Todas estas infraestruturas áreas estratégicas para a região e pre-
A construção do Coimbra Inovação estão colocadas ao dispor das empre- tendemos que as iniciativas estejam
Parque (iParque) está na recta final e sas, que pagam, em números redon- sediadas no mesmo local, pois per-
“de uma só vez vai infraestruturar dos, 30 euros por metro quadrado mite o efeito de ‘cluster’, ou seja, de
100 hectares de espaço industrial: o para se instalar no parque”. conjunto”, revela o responsável. A
sêxtuplo do que se fez em 30 anos” O projecto tem como objectivo col- saúde, a robótica, o multimédia, as
na cidade, realça o presidente do matar falhas que existem na região, telecomunicações e as áreas trans-
Conselho de Administração, Nor- dando um espaço de pós-incubação a versais vão ter cerca de duas empre-
berto Pires. empresas que são viáveis mas que sas cada, com projectos-âncora em
A iniciativa pretende ser muito “ainda não têm capacidade para ter pólos de competitividade nacionais.
mais do que um simples pólo tecno- uma sede e subsistir sem ajuda”, ex- O principal objectivo é “ fazer com
lógico. A pensar nas necessidades da plica Norberto Pires. que apareçam empresas e se desen-
sociedade do século XXI, o iParque A actividade económica que resul- volvam as que já existem, e que são
concilia as infraestruturas industriais tar das empresas deverá “ser rein- capazes de criar actividade econó-
com zonas verdes, desportivas e ha- vestida para os motores que mica com base em conhecimento que
bitacionais, pois, de acordo com Nor- originaram este desenvolvimento, sai da universidade”, sustenta Nor-
berto Pires, “uma pessoa com que são as universidades, os centros berto Pires. A UC é, aliás, uma das ac-
determinada formação escolhe o sítio de investigação e desenvolvimento, e cionistas do projecto, com cinco por
onde trabalha e prefere um local as empresas. Durante o processo, cento das acções, o que comprova
atractivo e onde tenha mais ofertas”. criam emprego a pessoas que assim que “a instituição vai ter uma atitude
Também faz parte do projecto, a não terão que sair de Coimbra e que, pró activa no iParque”. Esta aposta,
construção do ‘business center’ – um por sua vez, criarão mais emprego. É que pretende atrair e fixar na região
edifício com restaurantes, anfitea- uma bola de neve”, sintetiza o res- quadros altamente qualificados que
tros, salas de reuniões e serviço elec- ponsável. saem das se faz a estória de institui-
trónico informático – que vai A curto prazo, o foco está nas em- ções superiores, pode assim provar
NO IPN há lugar para a experiência e para as ideias de jovens investigadores albergar empresas que prestem ser- presas de base tecnológica, mas o que nem só de história Coimbra.
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ENSINO SUPERIOR
Coordenadores destacam potencial
dos estudantes nos centros de investigação
Os investigadores defendem um incentivo por parte das unidades de investigação e afirmam
que “a integração favorece a formação dos alunos e a universidade”
DANIELA CARDOSO

Cláudia Teixeira

“A Universidade de Coimbra
(UC) deveria pensar no potencial
da colaboração de estudantes em
projectos de investigação”. As pa-
lavras pertencem ao coordenador
científico do Instituto de Psicolo-
gia Cognitiva, Desenvolvimento
Social e Vocacional (IPCDVS) da
Faculdade de Psicologia e Ciências
da Educação da UC, Eduardo Ri-
beiro dos Santos.
O coordenador do Centro de
Pneumologia da Faculdade de Me-
dicina da Universidade de Coim-
bra (UC), Carlos Robalo Cordeiro,
acredita, igualmente, que “a curio-
sidade e a disponibilidade intelec-
tual dos alunos constituem um
potencial de activação, inovação e
desenvolvimento, que as unidades
de investigação deverão incentivar
e acarinhar”. Robalo Cordeiro de-
fende que “a integração em áreas
de investigação favorece não ape-
nas a formação dos alunos mas
também a universidade, numa
área vital para o seu desenvolvi-
mento estratégico”.
Na UC existem 84 centros de in-
vestigação, divididos por diferen-
tes áreas, classificadas em
“Ciências Humanas e Sociais”, O TRABALHO desenvolvido pelos estudantes investigadores “deveria estar sujeito a um contrato de trabalho”, defende um dos bolseiros
“Ciências da Saúde e Ciências do
Desporto”, “Ciências Exactas e que “o peso” dos estudantes inves- científicas”. O professor acrescenta corpos a um ‘curriculum’ que tem quer grau, o que é o pressuposto
Tecnológicas”, “Arquitectura” e tigadores seja “muito reduzido”. A que, no que diz respeito a estu- propiciado a obtenção de bolsas de da bolsa”. Na opinião de Alfredo
“Ciências Naturais e Antropolo- razão, explica, tem a ver com o dantes de doutoramento e pós- doutoramento”. “Tarefas a recibo Campos, o tipo de trabalho desen-
gia”. Com maior predominância facto de eles não terem nenhum doutoramento, e ao IPCDVS, verde ou actos únicos, de apoio à volvido pelos estudantes investi-
nas ciências humanas e sociais e vínculo laboral à instituição onde “coloca-se mesmo a centralidade investigação viabilizam a frequên- gadores “deveria estar sujeito a um
trabalham, pois “recebem uma do instituto para a prossecução cia de mestrados e dos futuros cur- contrato de trabalho, e não a uma
bolsa para cumprir um objectivo dos seus trabalhos”. sos de doutoramento”, acrescenta. bolsa”, isto porque, continua o es-
A Universidade proposto pelo centro e pelo orien- No entanto, o investigador do tudante, “é uma profissão como
tador que o acompanhará”. No en- Acréscimo de estudan- Centro de Estudos Sociais da Fa- qualquer outra, mas não se tem o
de Coimbra tem tanto, e perante todas estas tes na investigação culdade de Economia da UC direito a tudo o que é inerente aos
adversidades, Paulo Martins res- A coordenadora científica do Cen- (FEUC), Alfredo Campos, afirma direitos do trabalho, como subsí-
84 centros de salva que estes alunos, “em termos tro de Estudos Clássicos e Huma- que recebe uma bolsa de investi- dios e acesso à segurança social”.
investigação de investigação, fazem uma grande nísticos da Faculdade de Letras da gação científica da Fundação para No que diz respeito ao número
parte do trabalho científico exis- UC, Maria do Céu Fialho, vê na in- a Ciência e Tecnologia “apenas de estudantes investigadores na
tente hoje em Portugal”. tegração ou colaboração dos estu- para fazer investigação, embora UC, Carlos Robalo Cordeiro refere
nas ciências exactas e tecnológicas, Para o coordenador científico do dantes “um modo possível de lhes seja também estudante de mes- que se tem verificado “um acrés-
os centros de investigação da UC Instituto de Psicologia Cognitiva, oferecer algumas condições para a trado, mas as duas actividades não cimo de procura em relação com a
constituem uma referência nacio- Desenvolvimento Social e Voca- própria frequência de segundos ou têm ligação”. O estudante do se- realização dos mestrados integra-
nal e internacional na produção de cional (IPCDVS) da Faculdade de terceiros ciclos, tendo em conta a gundo ano do mestrado em Rela- dos”. A mesma opinião é parti-
ciência em diversos domínios. Psicologia e Ciências da Educação grave crise económica que atra- ções de Trabalho, Desigualdades lhada por Eduardo Ribeiro dos
O estudante investigador do La- da UC, Eduardo Ribeiro dos San- vessamos”. A coordenadora cien- Sociais e Sindicalismo na FEUC Santos: “quando se faz apelo aos
boratório de Instrumentação e Fí- tos, a participação dos estudantes tífica explica que “o espaço aberto classifica esta situação como “per- estudantes para colaborarem em
sica Experimental de Partículas da constitui “uma forma complemen- para apresentação de comunica- versa”, justificando que faz “ao fim projectos de investigação a res-
Faculdade de Ciências e Tecnolo- tar de aprendizagem e possível de- ções livres em colóquios e a publi- e ao cabo um trabalho por conta de posta é sempre pronta e em grande
gia da UC, Paulo Martins, lamenta senvolvimento de carreiras cação de trabalhos permite dar outrem, uma vez que não dá qual- número”.

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ENSINO SUPERIOR
NEB/AAC
UC desconhece actual situação organiza ciclo
de debates e
económica de estudantes MÁRCIA ROCHA
conferências
A dificuldade no Cláudia Teixeira

pagamento de despesas O Núcleo de Biologia da Associa-


associadas ao ensino ção Académica de Coimbra
(NEB/AAC) promove esta se-
superior requer mana um ciclo de conferências e
alternativas às medidas debates subordinado ao tema “In-
trodução às Ciências Forenses e
tradicionais de Neurociências”. O evento teve iní-
financiamento cio ontem e decorre até sexta-
feira, 6, no Auditório da Reitora
Maria Eduarda Eloy da Universidade de Coimbra
(UC). De acordo com um dos or-
ganizadores da actividade José
Até ao final de 2008, mais de Cruz, o objectivo da iniciativa é
cinco mil estudantes do ensino su- “proporcionar às pessoas o acesso
perior já tinham recorrido a emprés- a uma informação de qualidade e
timos para pagar os seus estudos. dar-lhes oportunidade de conhe-
Este facto traduz a dificuldade cres- cer as instituições sediadas na ci-
cente dos alunos do ensino superior dade de Coimbra”. “Pretendemos
português no pagamento das propi- transmitir aquilo que é produzido
na cidade, fundamentar os dois
nas. No entanto, a situação econó-
vectores da Universidade de
mica dos estudantes da
Coimbra, ou seja, a criação e
Universidade de Coimbra (UC) não transmissão de conhecimentos”,
é conhecida. acrescenta.
A vice-reitora para a Pedagogia da O ciclo de conferências e debates
UC, Cristina Robalo Cordeiro, “Introdução às Ciências Forenses
afirma que “não foi feito nenhum es- e Neurociências” conta com
tudo recente, na Universidade de nomes como o professor da Fa-
VICE-REITORA acredita que o recurso aos empréstimos não é a solução ideal
Coimbra, que possa demonstrar culdade de Medicina da UC e ele-
mento do Instituto Nacional de
maiores dificuldades do que aquelas despesas com educação, renda e des- gogia refere que a Universidade de mentação de outras medidas como o
Medicina Legal, Duarte Nuno
que se têm sentido nos últimos locações”. Jorge Serrote refere que Coimbra “criou algumas soluções al- aumento do plafond do IRS para
Vieira, a professora da Faculdade
anos”. Por outro lado, o presidente este estudo foi apresentado às ban- ternativas [à Acção Social Escolar] gastos com a educação e o aumento de Ciências e Tecnologia da UC e
da Direcção-Geral da Associação cadas parlamentares com as quais a de apoio social aos estudantes que do desconto no valor do passe esco- membro do Centro de Ciências
Académica de Coimbra (DG/AAC), direcção-geral reuniu, com a inten- têm dificuldades económicas”, no- lar para alunos do Ensino Superior. Forenses, Eugénia Cunha, e o pro-
Jorge Serrote, mostra-se preocu- ção de alertar os partidos políticos meadamente o Fundo de Apoio So- O presidente da direcção-geral refere fessor da Faculdade de Direito da
pado com a existência de estudantes para a situação dos estudantes. cial, a atribuição de bolsas de estudo ainda que os representantes da as- UC, Faria Costa.
que “são excluídos do ensino supe- Na opinião de Cristina Robalo não estatais e a possibilidade de alu- sociação académica estão a “pensar José Cruz refere que “muitas pes-
rior por razões económicas”. Nesse Cordeiro, o recurso aos empréstimos nos em situações especiais pagarem noutras formas de alertar [os estu- soas, devido a aulas e trabalhos,
dantes]”, além da campanha que já não podem comparecer ao evento
âmbito, afirma que num estudo rea- para financiar estudos superiores “é um valor de propina mais baixo.
na sua totalidade, como tal, estão
lizado pela DG/AAC sobre o custo de uma solução que já é utilizada em Jorge Serrote considera que seria foi lançada com o outdoor com a
à venda bilhetes pontuais”. “Os
vida dos estudantes deslocados, em muitos países” mas que “apesar de igualmente importante haver uma cara do ministro da Ciência, Tecno- bilhetes gerais estiveram à venda
Coimbra, calculou-se que os alunos atractiva, pode não ser sempre a so- intervenção do Governo no “reforço logia e Ensino Superior, Mariano até à passada sexta-feira, mas
universitários da cidade “gastam em lução ideal”. “Não deixa de ser, con- da Acção Social Escolar do ensino Gago, colocado ao lado das escadas podem ser adquiridos bilhetes
média 5260 euros por ano, um valor tudo, uma solução alternativa” superior, como foi feito com o ensino monumentais. pontuais no próprio dia, no Audi-
que não está ao alcance de todos, em conclui. A vice-reitora para a Peda- básico e secundário” ou a imple- Com Andreia Patrícia Silva tório da Reitoria”, conclui.

SEMANA ECOLÓGICA

Grupo Ecológico defende Garraiada diferente


Secção cultural da voltar à velha tradição em que “os as actividades programadas para explicar os benefícios da comida fornos ecológicos nos jardins da
AAC realiza a Semana doutores toureavam os caloiros esta semana dedicada ao am- vegetariana e a fazer umas peque- AAC e campanhas de sensibiliza-
Ecológica da UC com chocalhos e cornos”. Con- biente estão uma saída de campo nas receitas que as pessoas ção na Queima das Fitas 2009.
tudo, o comissário da Comissão à Serra da Lousã, um workshop podem provar”. A primeira activi- No ínicio do mês de Junho, o
durante os próximos Organizadora da Queima das sobre vegetarianismo, um docu- dade da Semana Ecológica da UC Grupo Ecológico vai organizar
dias. Saídas de Fitas 2009 responsável pela Gar- mentário subordinado ao tema consiste numa saída de campo à uma descida do rio.
campo, workshops e raiada, André Gonçalves, afirma “Uma Verdade Inconveniente” e Serra da Lousã e termina com o
que “este ano tudo se vai manter um passeio com piquenique na passeio na Mata do Choupal.
documentários fazem igual, até porque a Queima das Mata do Choupal. As iniciativas A secção da AAC tem ainda
parte da iniciativa Fitas comemora 110 anos e é da são gratuitas e vão ter lugar na agendado no mês de
tradição”. AAC, com excepção das saídas de Abril uma
O debate dos Direitos dos Ani- campo. subida de
Sónia Fernandes
mais é, de acordo com Margarida Para a presidente da secção cul- campo a
Rosa, “a actividade mais impor- tural da AAC, Margarida Rosa, Buracas
Devolver à Queima das Fitas tante da semana, para a secção” e esta actividade serve para “sensi- do Cas-
uma “garraiada mais ecológica” é vai contar com a participação da bilizar a comunidade académica milo,
um dos objectivos que o Grupo Associação Animal, da Acção Ani- para as questões ambientais”, n o
Ecológico da Associação Acadé- mal e de duas pessoas da Liga mas também para divulgar a sec- mês de
mica de Coimbra (AAC) espera Portuguesa dos Direitos do Ani- ção que está a “ganhar novamente Maio vai
conseguir com um debate que vai mal. folgo”, pretendendo assim cativar promo-
realizar na próxima semana sobre A Semana Ecológica da Univer- mais pessoas para as actividades. ver a co-
os direitos dos animais. A ideia, sidade de Coimbra (UC) vai ter A dirigente associativa explica zinha
como explica a presidente da sec- início no próximo sábado, dia 7, e que “o workshop sobre vegetaria- solar
ção cultural, Margarida Rosa, é termina no dia 14 de Março. Entre nismo vai ter uma formadora a c o m
D.R.
6 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

ENSINO SUPERIOR
Arranque na construção
de nova cantina sem perspectivas VIRGINIE BASTOS

Serrote afirma que


atraso no alargamento
do edifício da AAC às
cantinas centrais é, “de
forma muito indirecta,
uma consequência do
desinvestimento no
ensino superior”

Pedro Nunes

O desinvestimento na Acção Social


Escolar remeteu para o fundo da ga-
veta das prioridades da Universidade
de Coimbra (UC): a construção de
um novo restaurante universitário,
na zona das Escadas Monumentais.
Projectado na década de 80, esta
proposta tem transitado entre reito-
rados, sem nunca ter sido objecto de
uma iniciativa para a concretização.
O administrador dos Serviços de
Acção Social da Universidade de
Coimbra (SASUC), António Luzio LUZIO VAZ assegura que o projecto “não é para ser efectuado a curto prazo”
Vaz, assegura que “este não é um
projecto para ser efectuado a curto Carmo Páscoa ressalva a posição as restantes [cantinas] se mante- vidade da associação e respectivas da associação académica”, afiança o
prazo, pois as prioridades são as fa- da DG/AAC relativamente a este nham abertas, não se justifica esta secções. “É uma prioridade transferir presidente.
culdades”. tema, defendendo que “idealmente iniciativa”. estes espaços para a Associação Aca- “A desresponsabilização mais do
A coordenadora-geral do pelouro deveria ser construída uma nova O administrador dos SASUC alerta démica de Coimbra”, conclui. que descarada dos sucessivos execu-
da Acção Social da Direcção-Geral da cantina, e tantas estruturas de acção para a falta de vocação dos espaços O presidente da DG/AAC, Jorge tivos governamentais”, da qual “a
Associação Académica de Coimbra social quanto as necessárias”, mas das cantinas centrais da universi- Serrote, reconhece que esta transfe- acção social no ensino superior é
(DG/AAC), Carmo Páscoa, identifica considera que neste caso em parti- dade que “não foram construídos rência de espaços para a associação "apenas" mais uma das suas facetas”
“não existirem perspectivas do ar- cular “o esforço financeiro seria de- para serem cantinas”, mas espaços a “pode ser importante”. A conversão tem, na opinião de Carmo Páscoa,
ranque da construção, visto não exis- masiado grande”. A dirigente serem ocupados pela associação aca- das actuais cantinas em “salas de es- impedido que este passo se concre-
tirem condições financeiras para associativa defende igualmente um démica. Na opinião de Luzio Vaz, tudo e de trabalho, bem como em es- tize. A não possibilidade da constru-
tal”. Luzio Vaz crê que “agora talvez incremento de verbas para a manu- este é um aspecto importante para a paços a serem ocupados pelas ção dessas novas cantinas, ainda que
não se justifique a construção do tenção dos espaços existentes, con- concretização do projecto uma vez secções, conjugada com outros pro- “de forma muito indirecta” é, na
novo edifício”, identificando a redu- trariando este “claro sinal do que “a intenção era dar à AAC o es- jectos de requalificação do edifício, perspectiva de Jorge Serrote, “uma
ção verificada, em tempos recentes, desinvestimento governamental face paço onde agora é a cantina dos gre- representará uma oportunidade para consequência do desinvestimento no
no número de frequentadores dos ao ensino superior”. “A UC não está lhados e dos snacks”, uma área a AAC e pode criar uma dinâmica ensino superior por parte do execu-
restaurantes universitários. mal servida de cantinas e, caso todas necessária para a expansão da acti- que faça a cultura brotar dos jardins tivo”.

SOS-Estudante recruta voluntários


ANDRÉ FERREIRA
A secção cultural da da AAC explica que os candidatos os voluntários terem noção do que
Associação Académica passam por um processo de selec- se passa na realidade”, acrescenta.
ção antes de integrarem o grupo A dirigente associativa explica que
de Coimbra promove de trabalho e que o único requisito depois do mês de formação existe
esclarecimentos a é serem estudantes. “Não damos uma segunda entrevista que é de-
partir de hoje, 3, até qualquer tipo de preferência, por finitiva e se a pessoa for aceite,
exemplo, a estudantes de Psicolo- passa a integrar o grupo de volun-
dia 12 gia, apesar de grande parte dos tários. Contudo, “pode acontecer
nossos voluntários serem desse que, ao longo da formação, a pes-
Cláudia Teixeira curso”. soa não tenha a evolução desejada
“Depois da sessão, os interessa- e, portanto, não fica a fazer parte
Decorrem nos dias 3, 4 e 5 e 10, dos marcam uma entrevista onde da Linha SOS”, ressalva.
11 e 12, às 21 horas, sessões de es- se podem dar a conhecer às pes- Filipa Craveiro explica ainda
clarecimento sobre o trabalho de- soas que já integram a linha. De- que o atendimento telefónico não
senvolvido na Linha pois de ser feita essa entrevista é feito na Associação Académica
SOS-Estudante da Associação vemos se a pessoa está apta para a de Coimbra, mas sim num edifício
Académica de Coimbra (AAC). próxima fase que consiste num cedido pela Reitoria da Universi-
As sessões têm lugar no Mini- mês de formação”, afirma a diri- dade de Coimbra que “ninguém
Auditório Salgado Zenha da AAC gente associativa. sabe onde é por uma questão de
e, de acordo com a presidente da Filipa Craveiro refere que nesse segurança e de anonimato para
Linha SOS-Estudante, Filipa Cra- mês de formação são abordadas quem faz o serviço”. A presidente
veiro, o objectivo é “dar a conhe- formas de comunicar no sentido da secção acrescenta que “a sala na
cer às pessoas no que consiste a de “ensinar as pessoas a atender o AAC serve apenas para o esclare-
linha e recrutar voluntários para telefone nas circunstâncias difíceis cimento de questões sobre a parti-
fazer o atendimento telefónico”. que nos contactam”. “Fazemos cipação na Linha SOS-Estudante e
A presidente da secção cultural também algumas simulações para para questões administrativas”.
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 7

CULTURA
XI SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Cultura veloz em movimento


Estudantes, professores e conimbricenses unem-se pela cultura. Sob a égide da “Velocidade e
Movimento”, as diversas iniciativas da Semana Cultural da Universidade de Coimbra (UC) já
estão a decorrer
TIAGO CARVALHO

nador da peça, Luís Varela. A peça


Tiago Carvalho não está propriamente relacionada
Sara Galamba
com o tema da Semana Cultural,
porém, Varela afirma que esta “faz
A décima primeira edição da Se- parte de uma estratégia cultural da
mana Cultural da UC começou no universidade para a sua nobre bi-
passado sábado e estende-se até ao blioteca”. Segundo o encenador,
dia 7 deste mês. Com mais de cem esta representação tem uma “di-
iniciativas, o consultor da progra- mensão mágica e só pode ser apre-
mação deste evento, Giacomo Sca- sentada dentro de um sítio e
lisi, salienta que “o programa é espaço próprio, ou seja, neste caso
muito extenso, e vai desde confe- numa biblioteca”.
rências e exposições até festas e Circolando, companhia teatral
galas”. do Porto, também vai marcar a sua
Na tentativa de construir um presença na cidade de Coimbra.
novo rumo para a Semana Cultu- “Cavaterra” é o espectáculo apre-
ral, a organização pretende “criar sentado. A exaltação dos materiais
um evento mais «espectacular», e das sensações, “puxa para hoje
com artistas e companhias nacio- um tempo sem máquinas”, en-
nais e europeias, e gerar mais diá- tende o director artístico do pro-
logo entre as diversas faculdades e jecto e actor, André Braga. Com
os grupos de estudantes que pro- vista a homenagear os mineiros, a
puseram actividades”, adianta terra, a pedra e o carvão “fazer coi-
Giocomo Scalisi. sas dinâmicas com coisas passa-
“VLCD! Do lugar onde estou já das” tornou-se objectivo da peça,
me fui embora”, estreou ontem na considera o director da compa-
Semana Cultural, e hoje, 3, a peça nhia. A velocidade presente na
repete, no mesmo espaço – o Tea- peça é “reduzida, porque são os
tro Académico de Gil Vicente. En- movimentos do corpo humano que
cenada pela primeira vez em dominam na acção”, esclarece o di-
Novembro de 2008, pelo Teatro rector artístico. Com actuações
Meridional de Lisboa, o espectá- desde 2004, predominantemente
culo visa “perceber de que maneira no estrangeiro, também é a pri-
a velocidade, em que vivemos hoje meira vez que a peça e a compa-
em dia, afecta as relações entre as nhia vêm a Coimbra.
pessoas”, revela o director da com-
panhia, Miguel Seabra. Festas e Segredos
Numa peça em que “a palavra As novidades são mais que muitas,
não é a principal forma de comu- mas a que tem ganho mais desta-
nicação cénica, é privilegiada a téc- que é “Na rua Futurista”. Ideali-
nica de ‘clown teatral’, o gesto e a zada pela companhia lisboeta
criação colectiva”, explica Miguel Útero, Miguel Moreira é o seu en-
Seabra. O nome da peça remete cenador. O projecto já existe há
para a escrita de mensagens em te- algum tempo, com o nome “Na
lemóveis, onde a rapidez de comu- Rua”, e foi convidado para integrar
nicar ganha destaque e a palavra a Semana Cultural com adaptação
velocidade sobressai. do tema ao futurismo. O espectá-
No quinto dia da Semana Cultu- culo consiste numa “bola, em
ral, 4 deste mês, “Homem – Le- forma de iglô onde as pessoas co-
genda”, uma criação de Pedro Gil locam a cabeça e dão de caras com
e Pedro Carmo, põe no palco o um espaço vazio, mas com muitas
Homem e uma Legenda que inte- coisas boas. Segredos”, adianta o
ragem com o espectador. Este es- programador. Estas estórias são
pectáculo, que vai estar em cena contadas por actores que vão habi-
no palco do Anfiteatro do Gabinete tar as ruas e a Universidade de
de Física, “aborda temas e ques- Coimbra.
tões que tocam os jovens, mas O Grupo de Etnografia e Fol-
adultos, estudantes na UC”, des- clore da Academia de Coimbra
taca Pedro Gil. (GEFAC) também está presente na A XI SEMANA CULTARAL DA UC conta com 98 realizações
A sala de São Pedro da Biblio- Semana Cultural. “Reviravolta é
teca Geral da Universidade de um workshop de danças tradicio- tuada, a trabalhar numa área a exibição dos projectos a concurso pantes, a direcção apostou “num
Coimbra (BGUC) acolhe, no dia 5, nais, durante toda a semana, que pouco usual – a dança tradicio- no Auditório da Reitoria é algo desenho e num corte mais limpos e
quinta-feira, uma produção do visa criar um espectáculo a ser nal”. que, segundo a responsável, “é em nomes em extensão no pano-
Teatro da Rainha. “Uma noite na apresentado no último dia da Se- “Até Breves”, concurso de cur- muito positivo em termos de assis- rama artístico e literário portu-
biblioteca” é o convite especial- mana Cultural”, esclarece Adérito tas-metragens da tvAAC, volta a tência”. guês”, remata.
mente adequado aos frequentado- Araújo, um dos elementos do marcar presença, pela terceira vez. A celebrar 120 anos, a revista A secção de Fotografia da AAC
res assíduos da BGUC, mas que grupo. O espectáculo conta com a Nesta edição com menos partici- “Via Latina” toma este ano o nome inaugurou, no passado dia 1, sob o
não deixam de interessar ao pú- colaboração do departamento de pantes do que no ano anterior, se- da Semana Cultural como nome da lema “Velocidade e Movimento”. A
blico em geral pois “é um texto de Engenharia Informática, e com gundo a responsável pelo projecto edição. O director da publicação, exposição conta com aproximada-
grande dimensão poética que le- Clara Andermatt, que segundo o Ana Mesquita, o principal pro- João Picanço, afirma que o ba- mente vinte fotografias, de seis fo-
vanta questões pertinentes ao elemento do grupo etnográfico, “é blema foi “o extravio de trabalhos, lanço final da revista “é positivo”. tógrafos, e vai estar patente ao
mundo de hoje”, esclarece o ence- uma coreógrafa muito concei- que não chegaram à secção”, mas Apesar de haver menos partici- público até dia 7 de Março.
8 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

CULTURA
PERFIL • JULIÃO SARMENTO
cultura
por cá O construtor do desejo
3MAR
JOSÉ MANUEL COSTA ALVES

“VLCD! - DO LUGAR ONDE


ESTOU JÁ ME FUI EMBORA”
TAGV • 21H30
NORMAL 10¤
ESTUDANTE 8¤

3
MAR
AFTER BOCCIONI
Exposição de Fotografia
Pedro Medeiros
10H • TAGV • ENTRADA LIVRE

4
MAR

POETAS EM RESIDÊNCIA
Miro Villar e Márcio André
CAFÉ-TEATRO TAGV • ENTRADA LIVRE

5
MAR

MU
Música Folk
OFICINA MUNICIPAL DO TEATRO
22H • 2¤ COM DIREITO A UMA BEBIDA

6MAR
NA RUA FUTURISTA É JÁ DIA 9 que Sarmento recebe o Prémio UC, na inauguração da Casa das Caldeiras

17H ÀS 19H
PRAÇA DA REPÚBLICA Por detrás de palavras simples, sem ornamentos, e com obras que
7 deixaram um rasto pelo mundo, está Julião Sarmento. É o primeiro
MAR

SENTIR TUDO DE TODAS AS MANEIRAS


artista plástico a receber o Prémio Universidade de Coimbra e imprime
Teatro
FACULDADE DE PSICOLOGIA DA UC
na arte a sua personalidade. Por Sara Oliveira e Andreia Silva
21H30
ala de si e da sua obra sem rentes. Há países mais agradáveis Delfim Sardo, teórico e crítico de facto da instituição universitária e

7 8 e
MAR
F rodeios. Mas não lhe
peçam para se auto-carac-
terizar. Aliás, acha isso
uma “estupidez”. Por essa razão,
do que outros e há aqueles onde o
trabalho é recebido de uma maneira
completamente diferente”, sinte-
tiza. As obras do português estão
arte, fala de um carácter cinemato-
gráfico muito marcante na sua
obra, e aponta a existência de “uma
utilização da imagem como estraté-
centenária atribuir este prémio a
um artista contemporâneo”.
Num tom assertivo e directo, Ju-
lião Sarmento responde ao que lhe
AS BACANTES perde muito pouco tempo a pensar plantadas por todo o mundo, em gia de sedução através de mecanis- perguntam. Não gosta de florear
TEATRO DA CERCA DE S.BERNARDO em si. Os amigos vêm nele um sen- museus como Guggenheim em mos de erotização”, como escreveu nem de se alongar. Não é um “ar-
21H30 tido de humor aguçado e uma es- Nova Iorque, Museu de Arte Con- uma vez. É a partir da fotografia e tista representativo, mas sim repre-
NORMAL 10¤ • ESTUDANTE 5¤ pontaneidade juvenil. Não gosta da temporânea de Los Angeles ou no do vídeo que Sarmento começa a sentacional”, repara. Há quem diga
palavra inspiração, porque significa Hara, Museu de Arte Contemporâ- sugerir a personificação do desejo, que as suas obras falam, e admite:

9 muito pouca coisa. Prefere encon-


trar estímulos na literatura e no ci-
nea de Tóquio.
Pensa sempre duas vezes antes de
através da figura feminina. “O de-
sejo é a única coisa que merece ser
“no fundo sou um contador de es-
tórias”. O primeiro alvo do trabalho
MAR
nema. A sua vida não se pauta pelas abandonar Portugal e quando chega explorada”, garante o pintor. Julião de Julião Sarmento é ele próprio.
CENAS DO CES: NOITE E NEVOEIRO afirmações. Interrogações, mais a uma conclusão apercebe-se que já Sarmento sempre gostou de ci- Para além de ser reconhecido in-
Ciclo de Cinema e Conversas que muitas. Tem 60 anos e um es- é tarde de mais. Apesar do forte da nema, e desde cedo se fez rodear dividualmente, o pintor expõe com
SALA DE SEMINÁRIOS DO CES/UC pólio invejável. As suas obras já an- sua internacionalização serem as pela sua linguagem. “Não sei se che- outros artistas. Contudo, é caute-
17H30 • ENTRADA LIVRE daram pelos quatro continentes, e exposições, Julião Sarmento tam- guei ao cinema através da arte, se loso quanto ao confronto de ideias:
não parecem querer estagnar na Pe- bém deixou uma marca do ensino. cheguei à arte através do cinema. É “só exponho com algumas pessoas

12 MAR
nínsula Ibérica.
O site oficial do artista está total-
mente em inglês. É um indício claro
Leccionou em países como o Japão
ou a Alemanha.
Foi na Escola Superior de Belas-
impossível separá-lo de todo o
resto”.
Apesar de ser natural do Estoril,
e em algumas circunstâncias”.
O pulsar da arte em Portugal carece
de crítica. É o vencedor do Prémio
da sua internacionalização. Julião Artes de Lisboa que iniciou o seu este ano Coimbra surge-lhe no cur- Universidade de Coimbra que par-
CENAS DE ESPERA II Manuel Tavares Sena Sarmento percurso quando corria o ano de rículo. “Uma surpresa”, revela o ar- tilha a opinião. “Existe algum jor-
OFICINA MUNICIPAL DO TEATRO nasceu a 4 de Novembro de 1948 e 1967. Depois de oito anos, expôs tista plástico. O Prémio nalismo de arte, mas crítica de arte
22H • 2¤ COM DIREITO A UMA BEBIDA admite que é “um homem do pela primeira vez no estrangeiro em Universidade de Coimbra (UC) está não. Seria agradável que essa ver-
mundo, não apenas de Portugal e 1979, na Suíça, cinco anos depois de aberto a todos e abrange as várias tente fosse explorada”.
13 de Lisboa”. O reconhecimento in-
ternacional já não o surpreende.
Portugal ter saído da ditadura.
A sua obra é grande e vasta.
áreas da cultura e da ciência, mas é
a primeira vez que premeia alguém
A entrega do prémio, no valor de
25 mil euros, vai ter lugar no pró-
MAR
“Sempre trabalhei para isso”. Os Toma na escultura, na pintura, fo- das artes plásticas. Julião Sarmento ximo dia 9 de Março, segunda-feira.
A CASINHA DE CHOCOLATE tografia e cinema as suas formas. personifica esse reconhecimento. A inauguração da Casa das Caldei-
países visitados pelo artista portu-
Espectáculo de Patinagem guês deram-lhes muitas estórias Quem fala da obra de Sarmento, re- Carlos Robalo, médico e professor ras, que vai acolher pós-gradua-
TAGV para contar. Mas Julião Sarmento fere uma “enorme coerência nos na Faculdade de Medicina da UC, ções, mestrados e doutoramentos
10H30 • 15H • 21H30 não se rende aos encantos da curio- temas, uma imensa flexibilidade e foi o intermediário. Propôs à UC o do curso de Estudos Artísticos da
NORMAL 8¤ • ESTUDANTE 6¤ sidade de uma pergunta e não apro- talento no uso das técnicas”, como nome do artista plástico. O médico UC, irá coincidir com a cerimónia
funda a resposta, nem se alonga nas nota Alexandre Melo, um dos ami- mostra-se satisfeito e revela que é da entrega do prémio. Um acaso
Por Virginie Bastos histórias. “As recordações são dife- gos mais próximos do autor. “um grande sinal de modernidade o feliz.
3 de Março de 2009| Terça-feira | a cabra | 9

CULTURA
Rituais futricas de antigamente
A par da cultura estudantil, existe na cidade uma outra cultura com raízes nas
tradições da população de Coimbra. Romarias, fogueiras, serenatas e feiras fazem
parte história dos rituais futricas. Por João Miranda

A
relação de Coimbra com grande rivalidade que existia era realizadas nas noites de S. António Agosto e na qual participavam não facto, as pessoas acabaram por se
a universidade ultra- sobretudo evidente nas fogueiras e S. Pedro. “Havia vários tipos de só habitantes do distrito como aconchegar a outros modos de
passa qualquer lógica Fogueiras de S. João espalhadas pessoas de todo o país. “Havia vida”.
que conheçamos em al- “Dava-se o nome pelos vários largos da cidade, na gente que vinha a pé da zona do António Nunes aponta também
guma outra cidade portuguesa que Alta, no Largo do Romal, no Pátio mar, de Aveiro”, refere António que, contrariamente ao “cantar os
albergue um pólo de ensino supe- de futrica ao homem da Inquisição”, elenca António Nunes. reis” que era uma tradição dos “ar-
rior. Aliás, a própria denominação Nunes. “Existiam ainda palanques A Romaria do Espírito Santo ou rabaldes”, em Coimbra existia a
de Coimbra como a “cidade dos es- de Coimbra que enfeitados com verduras, nomea- romaria das campainhas, devido Visita aos Presépios. Esta tradição
tudantes” é demonstrativo dessa damente murta e alecrim, que aos produtos de barro que lá eram estendia-se entre o dia de Natal e o
mesma singularidade. Não é, por-
não estudava na eram colocados nos centros dos comercializados, tinha como dia 6 de Janeiro, todos os anos, e
tanto, estranha a forma como a universidade” largos. Nesses palanques havia os ponto de afluência a Igreja de consistia numa jornada até aos
cultura estudantil e académica se cantadores e as cantadeiras”. A Santo António dos Olivais. Aí or- presépios da cidade, para aí se en-
embrenhou no meio da cidade. de S. João. Por vezes aconteciam música era também conduzida por ganizavam-se bailes e grandes re- toarem cânticos de louvor. As tra-
Contudo, existe em Coimbra algumas guerras por causa das tri- um conjunto. As Fogueiras de S. feições. dições de cariz religioso
uma outra cultura que encontra as canas e havia rixas fortes ao ponto João só conheciam o seu fim, nor- Também a Procissão da Rainha espelhavam-se também nas várias
suas raízes e tradições na popula- de chegar a polícia e interromper malmente, quando o sol raiava. Aí, Santa trazia pessoas das mais di- feiras da cidade, das quais se des-
ção local, nos futricas e nas trica- os festejos”, acrescenta. era tradição ir beber água às fontes versas zonas do país, assumindo- tacam a Feira dos Lázaros, em
nas, nos “não-estudantes”. Para António Nunes, as Foguei- da Sereia ou da Arregaça. se como uma das maiores festas de honra à ressurreição de Lázaro, e a
“Dava-se o nome de fu- ras de S. João eram a grande ma- raiz religiosa da cidade, mas tam- Feira de S. Bartolomeu, em honra
trica ao homem de nifestação cultural da população A tradição e a Igreja bém com um carácter profano pa- ao santo milagroso.
Coimbra que não estu- de Coimbra. Com incertezas em Outra tradição subjacente à cul- tentes na dualidade festiva, em Menos estanques no tempo, as
dava na universi- relação à data de origem, sabe- tura futrica eram as romarias, em que, ao mesmo tempo que a pro- serenatas futricas não tinham uma
dade”, explica o se que as fogueiras assumiram especial a do Espírito Santo e a do cissão atravessava Coimbra, ti- data determinada para a sua rea-
responsável téc- o seu auge no início do século Senhor da Serra, que é uma aldeia nham lugar actuações de ranchos lização. Devidamente ensaiadas,
nico do Grupo Et- XX, e contrariamente ao na zona de Miranda do Corvo que e bailes. as músicas recaiam essencial-
nográfico da que o nome pode sugerir, as possuía uma pequena capela e um “As romarias eram importantes mente sobre “a tradição da Rainha
Região de Coim- festas eram também cruzeiro que servia de ponto de porque havia troca de conheci- Santa, da vida do campo e dos
bra, António afluência de uma romaria mentos, a nível das músicas, das amores das tricanas”, como ex-
Nunes, que des- que decorria no danças; as pessoas evidenciavam- plica António Nunes. “Muitas
creve que era mês de se pela maneira de cantar e de tra- delas eram feitas dentro de barcas
nas serenatas fu- jar”, defende o responsável técnico serranas, por altura das festas da
tricas que melhor do Grupo Etnográ- Rainha Santa, no rio”, acrescenta.
se fazia a distinção fico da Região de
entre os estudan- Coimbra, que As tradições de
tes e os “não-estu- acredita que carácter profano
dantes”. “A “as romarias Se a tradição e a cultura ligada à
foram os religião assumiam uma grande ex-
pontos em pressão em Coimbra, existiam
que, de também diversas iniciativas de ca-
rácter profano. Como a tradição

“As romarias foram os


pontos em que as
pessoas acabaram por
se aconchegar a out-
ros modos de vida”
das pulhas, realizada nos arredo-
res de Coimbra, por altura do Car-
naval, “onde as pessoas se
juntavam e acabavam por fazer
uma crítica social às individuali-
dades, aos seus costumes e às fal-
tas que tinham tido durante o
ano”, refere o responsável do
grupo etnográfico.
No entender de António Nunes,
todas estas tradições e costumes
resultam da mistura populacional
e da situação geográfica da cidade:
“Coimbra é uma zona de con-
fluência e de passagem entre o
Norte e o Sul e a cidade sempre
teve, de alguma forma, influências
das pessoas que para ela iam estu-
dar”. “Portanto eu acho que houve
uma mistura de várias culturas do
país. Não sei dizer se existe uma
cultura genuinamente coimbrã”,
ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES conclui.
10 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

DESPORTO
A G E N D A D E S P O R T I V A

DESPORTOS NÁUTICOS 7 BASQUETEBOL HÓQUEI EM PATINS 8 FUTEBOL


Campeonato Nacional de Juniores MAR MAR
Académica vs Vitória de Guimarães Académica vs Roller Lagos CP Académica vs GD Arouce
7e8 e Seniores
18H • PAVILHÃO MULTIDESPORTOS
7 18H • ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO N.º 1 ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA
MAR MONTEMOR-O-VELHO MAR

VOLEIBOL
Académica A remar pela defesa do título
na série dos Falta menos de uma
SÓNIA FERNANDES

semana para a equipa


primeiros de remo da Académica
André Ferreira entrar na água e
defender o título de
Foi preciso quase uma hora para
a equipa sénior masculina de vo-
clubes de 2008
leibol da Associação Académica de
Coimbra (AAC) saber por telefone Tiago Canoso
que vai disputar a série dos pri- Catarina Domingos
meiros da segunda fase da Divisão
A2. Depois de terem vencido o Dentro de um barco a motor, o
Clube Nacional Ginástica por 3-0, treinador dá as indicações para os
os estudantes esperaram pelo re- atletas que remam desde a ponte do
sultado entre o Sporting Clube das Açude à ponte Rainha Santa Isabel.
Caldas e o Centro Voleibol de Es- “Devagar também conta”, “força no
pinho (3-0 para a equipa das Cal- ataque” ou “descontrai os ombros”
das da Rainha), para saber se são algumas das ordens que se
iriam para a próxima fase, que era ouvem durante o treino. O Campeo-
o “objectivo da Académica no nato Nacional de Juniores e Senio-
principio da época”, relata o trei- res, a primeira prova pontuável para
nador, Carlos Marques. o Ranking Nacional de Clubes, está à
Assim, a Académica acaba esta porta. NA ÉPOCA PASSADA, a Académica sagrou-se campeã com 1379 pontos
primeira fase em oitavo lugar com A equipa de remo da Associação
32 pontos. Académica de Coimbra (AAC) parte, darem lugar a colegas em terra. Não Após a surpresa da vitória da tensa, mas quero manter sempre a
Agora, com a manutenção ga- no próximo fim-de-semana, para a foi o caso desta sessão, pelas ausên- época transacta, que pôs termo ao mesma mentalidade de tentar ga-
rantida, a AAC vai jogar frente ao defesa do título conquistado em Se- cias de alguns seniores que estavam domínio do Clube Fluvial Portuense, nhar”, sublinha. Relativamente à an-
líder Sporting das Caldas que, tembro do ano passado. Foi a pri- doentes. o técnico antevê uma AAC “mais tevisão do Nacional Clubes, o jovem
para o treinador dos estudantes, meira vez na história que a Pouco mais de uma hora depois, é forte”. A vinda de novos atletas e a defende que “a Académica tem gran-
“é a melhor equipa da primeira Académica se sagrou campeã nacio- hora de regressar a terra, lavar e re- aposta na prova rainha dos campeo- des capacidades de vencer a Acadé-
fase, porque perdeu um em 22 nal de clubes, com 1379 pontos. colher as embarcações. natos nacionais, com um novo tipo mica do ano passado”. “Temos
jogos”. Carlos Marques considera São os próprios atletas que trans- de barco, o Shell 8, justificam o opti- oportunidades para isso, bons atle-
que “o favoritismo está do lado do portam as embarcações e os remos “Estamos mais fortes” mismo. No entanto, Júlio Amândio tas e instalações”, realça.
Caldas”, mas a Académica vai ten- para a margem do Mondego, o que A poucas semanas da Primavera, acredita que “há clubes que não esti- No mesmo sentido, Júlio Amân-
tar fazer o melhor possível “para explica o atraso do início do treino. esta é a primeira prova do Campeo- veram na luta o ano passado e que dio, que vai cumprir a segunda época
contrariar esse favoritismo”, re- Os vários escalões vão juntos para a nato Nacional de Inverno. O mau vão estar este ano, como o Futebol em Coimbra, destaca o trabalho feito
vela. água e começam o vai e vem pelo rio. tempo e a greve dos árbitros têm Clube do Porto”. pela secção de desportos náuticos,
Nos confrontos com a equipa Noutros dias, a preparação faz-se adiado o arranque das provas pon- O atleta sénior Pedro Gonçalves, que “aumentou o número de atletas e
das Caldas da Rainha, a turma de também no ginásio ou nos simulado- tuáveis. “Às vezes a motivação torna- de 19 anos, vive o seu primeiro ano melhorou o aspecto desportivo, o que
Coimbra perdeu ambos os encon- res de remo indoor. Devido ao ele- se difícil de gerir”, considera o neste escalão. “Não vou ter a mesma faz com que os outros clubes olhem
tros, mas, em casa, esteve a vencer vado número de atletas, muitas treinador da Académica, Júlio notabilidade que tive no ano pas- para a equipa com outros olhos”.
por 2-0. O capitão de equipa, Gon- vezes, é necessário os remadores Amândio. sado, porque a competição é mais in- “Aqui vê-se dinâmica”, afirma.
çalo Forte, assegura que “passa
pela cabeça de todos surpreen-
der”.
Para esta primeira fase da Quatro atletas no pódio
época, o técnico academista fala
numa gestão difícil do plantel. A A Académica levou facto de a equipa academista con- da Lusofonia [em Lisboa, entre 11 aposta é no Campeonato Nacional
Académica já mudou de passador cinco atletas ao correr apenas com dois atletas se- e 19 de Julho deste ano]” é o seu de Combates de sub-21”. Para esta
e libero várias vezes ao longo da niores, sendo os restantes grande objectivo. A prova teste prova o técnico mostra-se opti-
competição. “Somos uma equipa
Campeonato juniores. José Martins realça para estes jogos é a Taça de Portu- mista e confia mesmo que a equipa
que tem de jogar com condiciona- Nacional de Seniores ainda as provas de Cláudia Ribeiro gal, a disputar em 23 de Maio. Em pode “fazer um brilharete”. A com-
lismos das pessoas estarem ou não de Taekwondo e e Filipe Ribeiro. O treinador relação ao futuro, o treinador José petição realiza-se a 9 de Maio, em
disponíveis”, afirma o técnico. chama a atenção para a participa- Martins assume que “a grande Salvaterra de Magos.
A mesma sorte não teve a arrecadou quatro ção destes desportistas que “tira-
D.R.
equipa sénior feminina, que ter- medalhas ram o lugar a atletas que já
minou a fase regular da Divisão estavam no pódio há algum
A2 no sexto lugar com 25 pontos, João Ribeiro tempo”.
ficando assim fora da série dos Filipe Ribeiro venceu quatro,
primeiros, que está reservada ape- Na prova disputada no Seixal, dos cinco combates que disputou,
nas aos quatro primeiros lugares. no passado sábado, dia 28, dos perdendo apenas na final da sua
A disputar a série dos últimos, o cinco atletas participantes, apenas categoria. O medalhado aponta “o
treinador Rui Freitas define como Nélson Relvão, da categoria -80 cansaço e as lesões” como os gran-
objectivo a manutenção. Na se- kg, não conseguiu ficar entre os des impedimentos para a obtenção
gunda fase, as equipas partem três primeiros. Sílvia Costa, -46 kg, do ouro. Para o futuro, o atleta
com metade dos pontos somados e Filipe Ribeiro, -80 kg, consegui- quer “continuar a treinar para ten-
na primeira metade da época, o ram medalhas de prata. Hugo Ma- tar ganhar sempre”.
que faz com que o técnico acredite galhães, -58 kg, e Cláudia Ribeiro, Hugo Magalhães, medalha de
que “a tarefa está praticamente -67 kg, ficaram em terceiro lugar. bronze na categoria de -58 kg, con-
concretizada, sem exageros”. O Na apreciação do treinador, sidera a sua participação positiva.
primeiro jogo está marcado para o José Martins, “o torneio correu “Estive parado bastante tempo e
próximo domingo, dia 8, com o muito bem”. Para o técnico, os re- só voltei agora à competição”, ex-
Senhora da Hora. sultados não foram melhores pelo plica o atleta. “Concorrer aos jogos
3 de Março de 2009| Terça-feira | a cabra | 11

DESPORTO
REMODELAÇÃO DO ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA
P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

Projecto à espera de verbas BASQUETEBOL


A equipa
SÓNIA FERNANDES
sénior de
Com plano já desenhado, o estádio aguarda uma basquetebol
intervenção sucessivamente adiada. Campeonato da Associa-
ção Acadé-
europeu de ténis exige reestruturação imediata
mica de
Coimbra (AAC) venceu em casa
obstáculo. Como o Quadro Referên- o Illiabum por 76-75. O triunfo só
Catarina Domingos
cia de Estratégia Nacional (QREN) foi conseguido nos últimos qua-
Sónia Fernandes
“não teve nenhuma linha para o des- tro segundos, com um triplo de
porto universitário”, o EUC está a Fernando Sousa. Com esta vitó-
Dentro de um ano e quatro meses, tentar uma candidatura individual à ria, a equipa de Norberto Alves
o Estádio Universitário de Coimbra entidade. A Fundação Cultural da encontra-se no quarto lugar, com
(EUC) vai acolher o Campeonato Eu- Universidade de Coimbra, da qual o 39 pontos. Na próxima jornada,
ropeu de Ténis Universitário, que vai estádio faz parte, também é uma es- recebe o Vitória de Guimarães,
trazer à cidade cerca de 300 atletas perança, segundo o responsável, “de no Pavilhão Multidesportos.
de 12 a 14 países. A prova vai obrigar poder tentar arranjar financiamento
à intervenção nos courts de ténis, de uma maneira própria”. De acordo
mas a requalificação total do EUC já com Joaquim Vieira, as fontes de ver- HÓQUEI EM PATINS
se coloca há vários anos. bas, datas de arranque e conclusão A equipa
Na margem esquerda do Mondego, das obras são pontos indefinidos. feminina de
o complexo desportivo, inaugurado hóquei em
em 1963, apresenta condições precá- Contagem decrescente patins da
rias nos balneários, coberturas, pisos para 2010 Académica
dos pavilhões e espaços exteriores. O A pouco mais de um ano do início da foi até Porti-
Pavilhão 1, inaugurado em 1967, su- prova europeia universitária, os nove mão vencer o Hóquei Clube local,
portou concertos, eventos e edições courts de ténis vão sofrer uma remo- por 1-3. A equipa de Sérgio Gama
da Festa das Latas durante largos delação. “Os seis pisos que estão em soma assim 16 pontos, permane-
anos. O campo pelado, ao lado es- piso sintético vão ter bancadas e os cendo no oitavo lugar do Cam-
querdo do Pavilhão 1, recebeu a edi- campos desactivados de pó de tijolo peonato Nacional Feminino
ção 2006 da Latada, que danificou o vão dar lugar a dois campos cober- Zona Sul. A AAC joga a próxima
sistema de escoamento do terreno. O tos”, explica Joaquim Vieira. Para a ronda em casa, defrontando o
campo principal, onde actua a equipa execução do plano, a Câmara Muni- Roller Lagos CP, uma partida
sénior de futebol da Associação Aca- cipal de Coimbra (CMC) vai dar um que encerra a fase regular da
démica de Coimbra (AAC), é envol- apoio financeiro de 50 mil euros. prova.
vido por uma pista de atletismo em O vereador do desporto, Luís Pro-
elevado estado de degradação, desni- vidência, justifica o suporte com a
velada, já só feita em terra. A velha vontade de “dar as melhores condi- RÂGUEBI
tribuna deste campo, que serve de ções a quem visita Coimbra”. Ainda A AAC per-
balneário, está despida e também ela assim, o vereador recusa para já a deu por 22-
espera uma remodelação. Mais à ideia da autarquia ajudar na requali- 14 com o
frente, três courts de ténis, envolvi- ficação total do EUC, avançando que Vitória de
dos por cedros, estão desactivados, esta é uma tarefa que compete ao go- Setúbal, em
cobertos de vegetação rasteira que já verno. “Não queremos, nem pode- jogo em
não deixa ver o piso. Às restantes ins- mos substituir o governo nesta atraso da 14ª jornada do Cam-
talações faltam novas valências que tarefa”, afirma. peonato Nacional de I Divisão. A
as tornariam mais modernas. Para o coordenador-geral do des- equipa de Sérgio Franco conti-
Em 2004, a requalificação do com- porto da Direcção-Geral da AAC, Ra- nua assim na liderança do cam-
plexo desportivo parecia ganhar fael Ferreira, apesar de no estádio peonato, com 48 pontos. O
forma com a constituição de uma Co- “ser tudo prioritário”, o objectivo é próximo embate é dia 21 de
missão para o Desenvolvimento do ter “tudo pronto para o europeu de Março frente à Escola Agrária de
Estádio Universitário, que terminou ténis, três a quatro meses antes”. Coimbra.
o seu trabalho em 2006, com a ela- Para a prova de 2010, o responsá-
boração de um projecto para remo- vel pela ligação entre a faculdade de
delar todas as instalações. Desporto e o EUC, Miguel Fachada, FUTEBOL
Inicialmente avaliado em 20 mi- acredita numa “requalificação estra- A Acadé-
lhões de euros, o projecto contempla tégica para além do período do cam- mica SF em-
a demolição do edifício dos serviços peonato europeu”. No mesmo patou a zero
administrativos, do Pavilhão 2, do sentido, Joaquim Vieira defende que frente ao S.
mini-pavilhão e da antiga piscina. se deve “tentar fazer algo que não Pedro Alva.
Quanto a construções de raiz, nasce seja só para o campeonato”. Com o empate
o Centro Desportivo, na qual as sec- Há cinco anos como director do sofrido a Académica soma 41
ções desportivas da AAC ficam aloja- EUC, Joaquim Vieira aponta como pontos no Campeonato Distrital
das; e o Centro Aquático, para a razões do adiamento das obras, a 1ª Divisão Série A, com 41 pon-
natação, squash e sala de muscula- falta de financiamento directo e a tos. Na próxima jornada, a AAC
ção. prática desportiva pouco incremen- recebe no Estádio Universitário
O director do EUC, Joaquim tada. No entanto, salienta a impor- o Grupo Desportivo Arouce, en-
Vieira, estima que de 2006 até agora tância de ter um plano elaborado. “A contro que põe termo à primeira
o projecto esteja avaliado em 27 mi- dificuldade de ter projectos está ul- fase da competição.
lhões de euros. No entanto, a obten- trapassada. Agora falta o financia-
ção de financiamento tem sido um mento, porque a requalificação urge”. NOS COURTS DESACTIVADOS vão nascer dois courts de ténis com cobertura Sara Galamba

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12 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

TEMA
O

em
35
mm
Realizadores e cinéfilos
apontam parca projecção de
Coimbra no cinema na-
cional. Festivais e mostras
assumem papel de di-
namização de diversidade
de oferta cinematográfica na
cidade. Por Diana Craveiro
e João Miranda

astava ver a pequena se- como cenário da produção cine- Baixa tem garantido de alguma cordam numa ideia: “Coimbra zador, esta questão não deve ser

B quência da panorâmica
sobre a avenida margi-
nal do Mondego, com a
Alta a escalar pela universidade,
matográfica nacional.
Uma explicação pode estar na
inexistência, na cidade, de uma
vertente pedagógica mais prática
forma essa originalidade que nos
transporta à altura do Bocage, por
exemplo”. “Coimbra sem dúvida
que ainda é um pano de fundo por
tem, do ponto de vista do cenário
natural e do cenário construído,
espaços notáveis para funcionar
como cenário de um filme de fic-
entendida como uma limitação à
produção cinematográfica: “basta
que os autores queiram usar
Coimbra como o pano de fundo
para qualquer um depreender direccionada para o cinema. “O excelência para se realizar traba- ção”, como defende o docente da nas suas histórias e tudo o resto
onde foi filmada a curta-metragem Porto, apesar de não ser um cen- lhos”, defende. Fajardo explica Licenciatura de Estudos Artísticos acaba por se ir influenciar”.
“Respirar (Debaixo D’Água)”, de tro cinematográfico, tem escolas da Faculdade de Letras da Univer- A relação da cidade com o ci-
António Ferreira. de cinema com bastante actividade sidade de Coimbra (FLUC), Abílio nema está também patente na
Aliás, quando questionados e isso reflecte-se”, acredita o reali- “Coimbra não tem Hernandez. falta de espaços e de diversidade
sobre metragens filmadas em zador. E aponta uma solução: “se na projecção de metragens.
Coimbra, “Respirar (Debaixo houvesse em Coimbra uma escola,
estruturas de Número de salas não “Coimbra tem muitas salas de ci-
D’Água)” foi o filme que mais de- com uma vertente prática forte, produção que significa variedade nema, mas é como se não tivesse,
pressa os cineastas e estudiosos do em que as pessoas saíssem de lá a Também a falta de meios impossi- porque essas salas, dos centros co-
cinema mencionaram. De resto, saber fazer filmes, e não só a saber chamem pessoas bilita o crescimento da produção merciais, pertencem à mesma em-
“temos o ‘Rasganço’, da Raquel falar sobre eles, isso iria implicar cinematográfica na cidade. “Coim- presa, a Lusomundo. E essas salas,
Freire; o ‘Verdes Anos’, do Ar- um aumento de produção na ci- para cá” bra não tem estruturas de produ- de um modo geral, são programa-
mando de Miranda e… Ah! ‘Há o dade”. Outra razão apontada pelo ção que chamem pessoas para cá”, das em Lisboa na sede da em-
Capas Negras’... Não me lembro de também fundador da produtora ainda que existem muitos realiza- explica Abílio Hernandez, que presa”, argumenta o docente da
mais nenhum…”. conimbricense Zed Filmes prende- dores naturais de Coimbra que aponta a Zed Filmes como exem- FLUC.
“Eu diria que a projecção de se com os meios que a sétima arte abandonam a cidade para desen- plo de coragem e de contrariedade Com o encerramento das salas
Coimbra no cinema português é acarreta, que, no entender de An- volver projectos, mas que acabam à situação. A solução encontrada de cinema do Centro Comercial
quase nula”, lamenta António Fer- tónio Ferreira, estão centralizados por voltar, “como é o caso da Ra- por Paulo César Fajardo passa pela Avenida e do Teatro Sousa Bastos,
reira, porque a cidade “é um boca- em Lisboa. quel Freire, do João Lopes, ou do criação de meios de realização ci- a projecção cinematografia ficou
dinho vazia do filme português ou Opinião contrária tem o realiza- falecido José Álvaro Morais, que nematográfica. “Era necessário confinada às salas dos grandes
como palco no cinema português”. dor de “Peixe Fora D’Água”, Paulo são grandes autores que, por que existissem várias plataformas centros comerciais. Segundo Abí-
A opinião é partilhada por todos os César Fajardo, que explica que terem a sua origem aqui na região a nível de produção alojadas aqui lio Hernandez “as salas de cinema
cinéfilos. Quando comparada com “Coimbra tem sido palco de vários Centro, acabam por regressar e na região Centro”. que existiam em Coimbra progra-
outros centros urbanos, como Lis- trabalhos, sobretudo de época, evidenciar a região”. Contudo, se-
boa ou Porto, Coimbra assume um tanto em cinema como em televi- Independentemente das opi- gundo o
papel menos que secundário, são, e principalmente a zona da niões que defendam, todos con- reali-
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 13

TEMA
D.R.

Falta de apoios
ao cinema documental
Também Abílio Hernandez cri-
João Miranda tica a forma como o cinema docu-
mental é encarado e elenca algumas
“No cinema documental, em con- soluções: “é preciso é que o docu-
traste com o cinema do resto do mentário seja tratado com a mesma
mercado, em vez de ser a produtora dignidade do filme de ficção. E que
a propor aos realizadores realizar não seja apenas reduzido ao cha-
determinada obra, parte dos pró- mado filme turístico, que no fundo
prios realizadores apresentar às é uma colecção de bilhetes-postais”.
produtoras propostas”, explica o “O documental como género cine-
realizador do documentário “Fute- matográfico maior pode ter em
bol de Causas”, Ricardo Martins, Coimbra um espaço de desenvolvi-
que lembra as dificuldades que lhe mento. Coimbra é uma cidade, em-
surgiram no período de produção: bora muito estragada, que tem
“tive que pedinchar à câmara e fazer muitos sítios belíssimos para poder
muita força para que me cedesse ser transformada em imagens de
imagens e ainda assim não cedeu filme”, acrescenta.
gratuitamente, e recebi apenas uma Para o realizador de “Ainda Há
pequena percentagem das imagens. Pastores, Jorge Pelicano, “é possí-
Deparei-me com uma falta gritante vel fazer documentários em todo o
de apoios”. lado. A cidade de Coimbra também
Ricardo Martins lamenta a falta é um desses sítios”. Segundo o rea-
de apoios ao cinema documental e lizador “é preciso é haver histórias
aponta o dedo à perspectiva que as e alguém se interessar em fazer his-
instituições “de ver o cinema docu- tórias sobre a cidade de Coimbra ou
mental como uma subcultura ou que englobem a cidade de Coim-
uma produção para uma minoria e bra”.
não ver como uma marca de pre- Com Maria Eduarda Eloy
A METRAGEM “Respirar (Debaixo D’Água)” é dos puocos filmes a ter como pano de fundo a cidade de Coimbra
tender relevar dados históricos”. e Andreia Silva

mavam-se. Não estavam tão depen- gundo o membro do Centro de Es- evento: “em primeiro, uma organi-
dentes do planeamento das distri-
buidoras e exibidores”. Para o
tudos Cinematográficos da Associa-
ção Académica de Coimbra (CEC) e
zação mais cuidada e possivelmente
um trabalho mais aprofundado na Cinema na Academia
docente, a única sala em Coimbra director do festival Caminhos do Ci- sua produção e, em segundo lugar,
que recupera os filmes mais desli- nema Português, Vítor Ferreira, um apoio maior da própria cidade, bra (AAC) tem todos os anos o festi-
gados da vertente comercial é o pela edificação de um espaço poli- uma vez que do ministério vai tendo Diana Craveiro val Caminhos do Cinema Português,
Teatro Académico de Gil Vicente, valente e acessível a toda a popula- algum apoio menor ou maior, mas uma iniciativa que Abílio Hernan-
ção de Coimbra, em que pudessem lá vai tendo algum apoio”. São vários os nomes de cineastas dez, docente da Faculdade de Letras
ser projectados filmes fora da lógica Outra iniciativa que dá os primei- que passaram por Coimbra. Raquel da UC, pensa ser acompanhada
“Há muitos filmes de do mercado. ros passos é o Mostralíngua, que se- Freire, autora de "Rasganço", estu- pelos universitários, mas que não
gundo Abílio Hernandez destaca a dou Direito na Faculdade de Direito pode ter a ambição de um grande
qualidade que ou o A importância apresentação de produções mais da Universidade de Coimbra (UC). público, porque "os grandes públi-
conimbricense vai ver dos festivais pequenas e independentes. João Botelho, que realizou filmes cos são para os grandes êxitos co-
Num plano de falta de diversidade Contudo, Vítor Ferreira refere como "Quem és tu?" e "A mulher merciais e esses nem sempre têm
a Lisboa ou fica à na oferta de cinema em Coimbra, as que a cidade carece de mais inicia- que acreditava ser Presidente dos qualidade artística". Vítor Ferreira
iniciativas de mostra cinematográ- tivas e critica “a inércia de algumas Estados Unidos da América", fre- defende que o festival Caminhos do
espera do DVD” fica assumem um papel determi- associações e cineclubes e a falta de quentou o curso de Engenharia Me- Cinema Português tem um determi-
nante na divulgação de metragens apoios”. Por seu lado, António Fer- cânica na Faculdade de Ciências e nado público, que "consome regu-
embora, sempre com um atraso em nacionais. reira considera que “Coimbra não Tecnologia da UC, tendo sido tam- larmente ano após ano" e lamenta
relação à apresentação, porque “se “O festival já tem bastante rele- está mal servida a esse nível” e bém director do CITAC. A Academia que não haja mais iniciativas do gé-
estreasse ficava sujeito à programa- vância a nível nacional e é uma ini- acusa a população conimbricense de Coimbra e o cinema português nero na cidade. Com mais ou menos
ção das distribuidoras”. “Há muitos ciativa de referência. Por cá, têm de se lamentar pela falta de iniciati- têm uma relação que Vítor Ferreira festivais, Coimbra vai estando ligada
filmes de qualidade que ou o co- passado grandes cineastas e gran- vas e não participar nas que já exis- considera "privilegiada". "A associa- a alguns filmes e, se a cidade pode
nimbricense vai ver a Lisboa des filmes a que de outra forma não tem: “as pessoas em vez de se ção académica, antes de ser uma es- influenciar os filmes de um realiza-
ou fica à espera de com- teríamos acesso”, acredita Paulo queixarem mais, deviam queixar- cola de cinema, é uma escola de dor, Vítor Ferreira pensa que estes
prar o DVD”, conclui. César Fajardo. Também Abílio se menos e comparecer mais”. vida", defende, "e essa escola de vida seriam ainda melhores "se em
A solução passa, se- Hernandez destaca a impor- Com Tiago Carvalho, Maria pode-se repercutir, ou não, nas Coimbra existisse um curso muito
tância do festival e aponta Eduarda Eloy e Andreia Patrí- obras que esses realizadores depois mais técnico".
duas necessidades para o cia Silva fazem ao longo das suas carreiras". Com Maria Eduarda Elloy
A Associação Académica de Coim- e João Miranda
14 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

CIDADE
CASA DOS POBRES DE COIMBRA

Um espaço sem espaço


SARA GALAMBA

As novas instalações À direita, na velha mas acolhedora


sala de jantar, estão duas mesas que
para a Casa dos Pobres
se alongam para dar lugar a uma sala
deixam para trás um de estar com sofás e uma televisão
velho edifício antiga. Nas paredes, imponentes
quadros de ‘Grandes Amigos da Casa
desgastado que há dos Pobres’ contrastam com os tra-
muitos anos acolhe balhos coloridos: as flores e as car-
vários idosos tolinas educativas que tentam dar cor
a uma sala com pouca luz.
Virgínie Bastos Ao lado, três cozinheiros limpam
Sara Cruz afincadamente a cozinha."É pequena
Cristiana Domingues mas é o que há", comentam. Os in-
Marta Pedro
úmeros utensílios espalhados pare-
cem encolhê-la ainda mais. Tachos,
Da Praça do Comércio vê-se uma talheres e pratos sobrepõem-se sobre
janela onde uma idosa descansa e vai uma pequena mesa que ocupa quase
observando quem passa. Num corre- toda a cozinha.
dor frio e escuro vê-se luz de uma Escondida, uma porta da cozinha,
porta verde que nos convida a entrar. parecendo que não ia dar a lado nen-
As poucas mas largas escadas trazem hum, leva-nos para os quartos do
A CASA DOS POBRES acolhe 49 idosos com poucas possibilidades
consigo a ansiedade de quem não primeiro andar. Alguns decorados
sabe o que vai encontrar. Para além com figuras religiosas, outros com fo- dezenas de medicamentos que in- panhia parece indiferente. O silêncio No pátio do primeiro andar, onde
de uma antiga pensão, este espaço é tografias de familiares contrastam vadiram a sala. É jovem e é uma visita torna o espaço frio. Uma manta que o sol aquece os corpos quietos, ouve-
hoje a Casa dos Pobres. com alguns posters pornográficos. constante do lar. Ao virar a esquina cobria os pés é agitada, a reacção não se uma gargalhada, fala-se do pas-
As escadas abrem espaço para um Outros estão vazios e sem vida. Os da parede enrugada pela tinta, uma é nenhuma, o olhar continua vago. sado e do que se deixou para trás.
corredor apertado ao ar livre, onde os medicamentos espalhados pelas senhora desce vagarosamente pelas Minutos depois, um jovem entra Num minuto, o silêncio volta.
utentes se juntam. Os raios de sol mesas de cabeceiras predominam, escadas. As suas pernas estão em na sala. Sorri. Vai direito a uma das Olham-se e voltam a entreter-se con-
batem sobre a cara dos cerca de dez são quase personagens secundárias. ferida e apoia-se por uma frágil ben- idosas e carinhosamente cumpri- sigo mesmos. Um idoso entra e
idosos que ali estão, sem os agitar de- Um outro corredor estreito que gala."A velhice traz-me tudo", menta-a. procura que alguém lhe ceda o lugar.
masiado."O tempo vai-se passando", não permite que mais de duas pes- lamenta-se enquanto as escadas Espalhadas pelos quatro andares "Ficas em pé", ouve-se.
deixa escapar uma idosa, recostada soas o atravessem, leva-nos às es- parecem complicar-lhe a vida. No do edifício existem cinco casas de Em breve a falta de espaço que
num pequeno sofá. As pernas cober- cadas do segundo andar. Os quartos corredor cadeiras de rodas e mesas banho. A tinta vai caindo aos poucos, coabita com os 29 idosos da Casa dos
tas por uma manta esfarrapada não são bastante semelhantes, mas com de servir amontoam-se, dificultando a humidade parece morar por ali e os Pobres, deixará de ser uma preocu-
cobrem as mãos enrugadas que mais uma cama do que no andar an- a passagem. equipamentos são "os que se vão ar- pação. As novas instalações em S.
pegam num espelho e o olhar inqui- terior. A degradação parece não ter Na sala de convívio sente-se o am- ranjando", confessa uma das respon- Martinho do Bispo estão prontas.
eto de quem anseia ver o tempo pas- medo de subir as escadas. Num dos biente diferente da sala de estar do sáveis pela instituição. Acostumados ao que têm e à azáfama
sar. quartos, uma senhora cose uma andar de baixo. Sentados em pe- A paisagem da janela do terceiro deste lado do rio, a maioria prefere
14h45m. O grande relógio, colo- blusa. A vista treme-lhe a cada quenos sofás, oito idosos com ex- andar é coberta por inúmeros lençóis. ficar por aqui. Aqui num velho edifí-
cado à vista de todos os visitantes, dedada, mas ela resiste e continua. pressões semelhantes, olham-se e Ao lado, na lavandaria, umas mãos cio onde os passos das pessoas, os
passa despercebido aos que ali vivem. No gabinete médico, o sorriso do não dizem nada, quietos vêem o seu irrequietas tentam conter os montes sons estranhos que passeiam pela rua
O som dos ponteiros incomoda o enfermeiro debate-se com dificul- corpo ser agitado por uma das 23 de roupa que parecem ter vida e que conseguem vencer a frágil madeira e
silêncio. dade em arranjar espaço para as funcionárias da instituição, cuja com- ameaçam cair a cada segundo. vão fazendo companhia à solidão.

A voz de Coimbra sem eco nacional


A importância de para além dos seus limites geográfi- na rádio”. meios de comunicação nunca foram A projecção de Coimbra na RTP é
Coimbra para os media cos naturais”, como afirma Mário Notícia em vários jornais e rádios capazes de apostar numa verdadeira defendida pelo provedor do telespec-
nacionais está longe de Bettencourt Resendes. O provedor do foi o despedimento de 14 funcioná- política que dê voz ao resto do país, tador, Paquete de Oliveira, que ape-
leitor do Diário de Notícias acredita rios da região Centro, pela delegação incluindo Coimbra” explica Adelino sar de concordar com a pouca
encher manchetes. que as “responsabilidades são repar- da TVI-Coimbra, em Dezembro de Gomes, concluindo que “o papel das visibilidade da cidade nos noticiários
O pacifismo dos tidas entre os habitantes e as autori- 2008. Este facto estendeu-se também delegações regionais é cada vez mais de prime-time do canal, certifica que
habitantes é apontado dades eleitas”, justificando assim a a várias comissões de Coimbra. “Os reduzido”. o programa Portugal em Directo “lhe
falta de mediatização que se verifica. dedica bastante atenção”.
como uma das causas Quando se fala de delegações re-
ANDRÉ FERREIRA
Um presente sem visibilidade na-
gionais dos vários meios de comuni- cional assombra Coimbra. “Uma ci-
Sónia Fernandes cação de difusão nacional, denota-se dade de referência a nível cultural,
Marta Pedro uma fraca presença na cidade. Os nú- com um vector forte que é a saúde,
meros comprovam-no. Apenas dois devia garantir mais mediatização”
“Mas onde é que estão as coisas in- jornais de grande tiragem têm repar- defende o provedor do telespectador
teressantes que se deviam estar a tições localizadas em território co- da RTP. “Os telespectadores dizem-
passar em Coimbra?” questiona o nimbricense, o Jornal de Notícias e o me que Coimbra devia ser mais di-
provedor do ouvinte da Rádio Difu- Correio da Manhã. Contudo, como fundida, porque para eles existem
são Portugal (RDP), Adelino Gomes. esclarece Mário Bettencourt Resen- sempre coisas a acontecer”, acres-
Se há cerca de 20 anos atrás as notí- des, “o destaque de Coimbra resume- centa.
cias diárias de Coimbra eram comuns se aos casos do dia”. A falta de acontecimentos de rele-
nos media nacionais, hoje em dia isto Antena 1, Cidade FM, Mega FM e a vância que destaquem a cidade con-
não é uma realidade. Rádio Clube Português assumem-se tribui para a situação actual. “A culpa
A difusão da cidade dos estudantes como as rádios de maior difusão com é certamente dos jornalistas que não
é cada vez menos notória e “já nem a presença regional em Coimbra. A di- estão a cumprir bem a sua função,
Queima das Fitas tem importância” minuta presença da cidade no pano- mas pode ser também de Coimbra”,
argumenta Adelino Gomes. Com ape- rama radiofónico é injustificável para sustenta Adelino Gomes. Para que se
nas dois jornais locais diários, “As o provedor do ouvinte da RDP que volte ao destaque do passado, “é pre-
Beiras” e o “Diário de Coimbra”, “os quer “acreditar que Coimbra seja ciso que Coimbra tenha algo para
acontecimentos da cidade não vão muito mais do que aquilo que se ouve NOS VÁRIOS JORNAIS diários nacionais denota-se a fraca presença de Coimbra dizer”, conclui o provedor da RDP.
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 15

PAÍS & MUNDO


SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO
D.R.

EM OUTUBRO DO ANO PASSADO os militares deram voz ao seu descontentamento

“Ténue linha entre servir e mercenarismo”


O fim do Serviço militares. O coronel da Força para o país, com a agravante de se Ainda em Outubro do ano pas- uma instituição com a função de
Aérea, Luís Fraga, alerta para o apresentarem a concurso para sado o General Loureiro dos San- assegurar a soberania. Lima Coe-
Militar Obrigatório facto de não existirem "reservas "profissionais militares, indiví- tos veio a público denunciar o lho mostra-se preocupado com o
transformou as Forças em número suficiente para en- duos com um nível de formação mal-estar vivido nas fileiras das materialismo de jovens que se-
Armadas Portuguesas. frentar uma situação de conflito escolar muito mais baixo". FAP, resultado da política finan- guem a carreira militar e afirma
com larga duração temporal", Tanto Lima Coelho como Luís ceira adoptada pelo governo. que a interrogação, na hora de in-
Responsáveis afirmam ainda que o número actual per- Fraga apontam como único ponto Lima Coelho revê-se em parte gressar, não deve ser “o que é que
que o país tem hoje mita às FAP cumprir as missões a positivo, no fim do SMO, o facto nestas declarações e afirma que eu vou ganhar com isso?”. Para o
menos militares, mas que estão adstritas. No mesmo de a profissionalização contribuir muitos militares se vêem forçados presidente da ANS existe uma
sentido, um dos responsáveis pela para uma melhor preparação téc- a ter outra ocupação nas horas de "ténue linha entre servir e merce-
mais bem preparados revista militar Operacional, Mi- nica dos militares. descanso para responder às ne- narismo". O coronel da Força
nas suas fileiras guel Machado, afirma que "sem Aérea, Luís Fraga, crê que "o in-
SMO, a capacidade de mobiliza- O descontentamento dos gresso nas Forças Armadas por
Rui Miguel Pereira ção em grande escala, seja para militares portugueses O fim do Serviço razões meramente económicas é
Luis Simões responder a um conflito ou seja O Orçamento de Estado (OE) Militar Obrigatório a pior de todas as razões para se
para responder a situações de para 2009 contempla um au- escolher servir o país",
Passaram quase cinco anos emergência grave, como catástro- mento de 3,9 pontos percentuais, ditou a redução dos acrescentando
desde o fim do Serviço Militar Ob- fes naturais, é claramente em relação a 2008, para o Minis- com ironia
rigatório (SMO). Por esta altura, menor". tério da Defesa, sendo que um dos Quadros nas Forças que "umas
saber marchar ou ir à inspecção maiores aumentos se destinou às Forças Ar-
deixou de ser um requisito para A fragilidade forças destacadas no estrangeiro,
Armadas madas onde
qualquer jovem português. Ac- na hora da recruta 20,7 por cento. Um diploma im- a única mo-
tualmente tudo se resume a uma Na opinião do presidente da As- portante é a Lei de Programação cessidades do agregado familiar e tivação é o
visita de um dia a uma unidade. sociação Nacional de Sargentos Militar de 2006, neste momento que "pontualmente, dos mais dinheiro que
Foi em 2004 e com o apoio do PS, (ANS), António Lima Coelho, a ser revisto, que contempla a mo- velhos aos mais novos, se recebe no
CDS/PP, PSD e BE que o Minis- existe uma "degradação da exi- dernização das FAP. Segundo o podem surgir atitudes final do mês
tro da Defesa, Paulo Portas, pôs gência" para o ingresso nas FAP, ministério, estes investimentos de desespero". O assemelha-se a
fim ao SMO. Ao contrário do que pois "quando existem determina- são "equilibrados" e vão ocorrer Coronel Luís Fraga um bando de
aconteceu em países como a Ale- dos tipos de exigências físicas, de forma "faseada". O presidente concorda e acres- pardais que
manha, Portugal não referendou muitos jovens têm dificuldades da ANS tece duras críticas aos centa que "isso foge ao
esta alteração. em cumpri-las na totalidade". cortes de encargos com a saúde deve ser feito se- m e n o r
A primeira contrariedade sen- Ainda assim, apesar desta degra- dos militares, incluindo o agre- gundo regras e ruído".
tida, com o fim do SMO, foi a des- dação, é cada vez mais evidente a gado familiar, presentes no OE, normas que estão
cida do número de militares no dificuldade em recrutar jovens menos 35 por cento: "um militar consignadas na
activo. Em 2004 existiam 18 383 para suprimir esta tendência, se- não pode estar preocupado se, na Lei".
militares nos quadros permanen- gundo o presidente da ANS, sua retaguarda, a sua mulher Um dos proble-
tes das Forças Armadas Portu- "hoje, muitas das vagas que estão tenha ou não assistência na mas levantados na
guesas (FAP), já em 2008 esse em aberto não são preenchidas". doença. Isso causa uma desmoti- discussão sobre o
número baixou para 17 580. Tam- O também professor da Universi- vação, insatisfação e uma perda SMO foi a possível
bém os militares em regime de dade Aberta, Luís Fraga, mostra cada vez maior do sentido desta mercenarização das
voluntariado e contrato baixaram que, com o fim do SMO, a forma- necessidade permanente de dis- FAP e o que isso po-
de 20 436 militares para 19 137 ção de um militar ficou mais cara ponibilidade". deria significar para
16 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

PAÍS & MUNDO


TRIBUNAIS INTERNACIONAIS

Uma justiça de colaboração


O tabuleiro político mundial dita a imperfeição da justiça internacional. Ainda assim, o
Tribunal Penal Internacional assume-se, cada vez mais, como um caso de sucesso
D.R.
Apesar da importância incontor-
Vasco Batista nável dos órgãos judiciais, o risco
Rui Miguel Pereira
de politização inerente a essas ins-
tâncias mostra-se inegável. "A di-
A justiça internacional conheceu mensão política nunca está
nos últimos 50 anos um impor- totalmente ausente das Relações
tante desenvolvimento. Foi com o Internacionais e não podemos ter a
conhecimento das atrocidades co- pretensão de que as coisas se colo-
metidas na Segunda Guerra Mun- quem num domínio estritamente
dial que se abriram os olhos do jurídico", relembra o docente da
Mundo para a necessidade de uma FDUC. De facto, é "uma imperfei-
justiça de cariz internacional. Ac- ção própria da justiça internacio-
tualmente, o Tribunal Penal Inter- nal", pelo que "temos de aceitar
nacional (TPI) e o Tribunal isso naturalmente", acrescenta.
Internacional de Justiça (ver Neste sentido, o TPI é visto com al-
caixa), ambos com sede em Haia, guma desconfiança, face ao limi-
assumem-se como órgãos funda- tado alcance jurisdicional que
mentais no direito internacional.
O TPI absolveu, na semana pas-
sada, o antigo presidente sérvio Enquanto existirem
Milan Milutinovic. Esta absolvição
ocorreu no mesmo dia em que mi- Estados a patrocinar
litares da ex-Jugoslávia, considera-
dos aliados de Slobodan Milosevic,
actos criminosos, tem
foram condenados a cumprir pena de haver tribunais
de prisão por levarem a cabo uma
campanha de violência contra a po- penais internacionais
pulação civil albanesa kosovar.
Este tribunal, assim como outros
internacionais, está dependente da revela. "Nunca vemos nacionais
colaboração dos estados que ratifi- dos EUA ou da China a serem jul-
caram os respectivos estatutos. gados, mas é preferível que alguns
Como explica o docente da Facul- vão sendo julgados, pois justiça
dade de Direito da Universidade de igual para todos dificilmente ha-
Coimbra (FDUC), Francisco Fer- verá, pelo menos, nos tempos mais
reira de Almeida, o funcionamento próximos" alerta o docente.
da justiça internacional penal ne-
cessita da colaboração dos Estados. Tribunais com futuro
"Normalmente os arguidos estão Paralelamente, os indíviduos são
no interior desse Estado, há polí- sujeitos de direito internacional,
cias que conseguem fazer as deten- pelo que, nessa qualidade, têm di-
ções e cumprir os mandatos de reitos e obrigações. Uma vez que há
captura. No plano internacional, é crimes "patrocinados pelos esta-
tudo mais complicado", mostra dos", tem de haver instituições in-
Ferreira de Almeida. É o jogo do ternacionais que julguem essas
"mundo das soberanias", conclui o pessoas. "Não são crimes que pos-
investigador do Centro de Estudos sam ser julgados internamente",
Sociais, José Manuel Pureza. destaca Ferreira de Almeida. José
Pureza realça que "o caminho é
O problema das muito incipiente", mas que "os pró-
soberanias ximos anos trarão solidez a esses
Portugal ratificou o Estatuto de tribunais" e que "a viabilidade ao O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL tem sede permanente em Haia, na Holanda
Roma do TPI em 2001, obrigando TPI irá influenciar a viabilidade
desde logo a alterações nas leis na- dos outros tribunais internacio-
cionais. Mas muitos países, in- nais". Por sua vez, Ferreira de Al-
cluindo os Estado Unidos da meida refere que "há uma TRIBUNAL EUROPEU DOS TRIBUNAL INTERNACIONAL TRIBUNAL DE JUSTIÇA DAS
América (EUA), China e Israel re- conjuntura mais favorável para que DIREITOS DO HOMEM DE JUSTIÇA COMUNIDADES EUROPEIAS
cusaram este tribunal. Para Pureza, esses tribunais possam funcionar
a grande resistência destes países no futuro". Cabe a este tribunal vigiar o Este tribunal, órgão da ONU, A missão essencial desta institu-
em aceitar este tribunal internacio- O TPI, afirma José Pureza, é o cumprimento da Convenção Eu- não permite a participação di- ição consiste em apreciar a legali-
nal assenta no receio de ver "os "caminho certo para a afirmação de ropeia dos Direitos do Homem recta dos particulares, estando dade dos actos comunitários e
seus nacionais ou crimes pratica- uma justiça permanente e aberta". (CEDH), assinada por países eu- reservado aos litígios entre Esta- assegurar a interpretação e apli-
dos no seu território serem julga- A este respeito, o docente da FDUC ropeus. Na opinião do docente da dos. Os Estados só se submetem cação do direito comunitário.
dos por tribunais não nacionais". refere que se "pensarmos no que se Faculdade de Direito da Universi- à jurisdição deste tribunal se o Apesar de algumas limitações no
Ainda assim, com o assinalável su- passou no pós-Segunda Guerra dade de Coimbra, Afonso Patrão, consentirem, sem este consenti- que concerne à legitimidade dos
cesso dos Tribunais Penais Inter- Mundial, foram alcançados marcos este tribunal representa "o mais mento não podem ser julgados. particulares e ao poder san-
nacionais para o Ruanda e muitos importantes" até aos dias perfeito mecanismo internacional Para o professor da Faculdade de cionatório sobre os Estados, o do-
ex-Jugoslávia, os estados têm de hoje. É certo que ainda "subsis- de protecção dos direitos funda- Direito da Universidade de Coim- cente da Faculdade de Direito da
vindo a reconhecer a importância tem imperfeições", mas foram pre- mentais". Um particular pode a ele bra, Afonso Patrão, apesar deste Universidade de Coimbra, Afonso
do Direito Internacional, pelo que cisas muitas décadas para os recorrer quando um Estado, vincu- determinante requisito "não Patrão, considera que o Tribunal de
já não se "aceita que o conceito de avanços registados e "é essa a men- lado à CEDH, viole os direitos nela parece haver alternativa a esta Justiça é um tribunal “especial-
soberania seja um conceito abso- sagem que devemos passar", fina- consagrados. solução". mente eficaz”.
luto", explica Ferreira de Almeida. liza Ferreira de Almeida. R.M.P. R.M.P. R.M.P.
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 17

CIÊNCIA & TECNOLOGIA


TIAGO CARVALHO

NAS VISITAS GUIADAS AO BOTÂNICO são muitas as árvores que cativam a atenção de quem o visita

Uma parte do Botânico encontra- tura e envergadura. As raízes aéreas


ESPAÇOS RESERVADOS DO BOTÂNICO história sobre o jardim. O público,
crianças do primeiro ciclo do ensino se em obras de remodelação, redu- crescem dos ramos da figueira e for-
básico, demora algum tempo a con- zindo a visita. Mesmo assim, a mam estacas naturais para os segu-

Plantas por centrar-se devido à novidade da ac-


tividade.
Depois das boas vindas, a pri-
meira paragem são as estufas quen-
monitora explica que é lá que se en-
contra a Árvore do Chile, actual-
mente em vias de extinção. Ao lado
desta está a maior árvore do mundo,
rar, já que estes ficam muito
pesados ao longo dos anos. As raí-
zes subterrâneas crescem à volta das
outras plantas, “estrangulando-as”.

descobrir... tes que reproduzem o clima


tropical, quente e húmido. A pri-
meira, é a estufa mais pequena do
jardim, onde cresce o maior nenú-
Sequóia, que, embora tenha apenas
120 anos, pode chegar aos dois mil e
atingir cerca de 120 metros de al-
tura.
Das plantas estranguladoras pas-
samos para o Bambu. Oriundo da
Ásia, esta espécie fora do seu meio
natural cresce 30 centímetros em
A paz que envolve o Jardim Botânico far do mundo – a Victoria. O seu Atravessamos o jardim até a outra menos de uma semana, enquanto
ponto auge de crescimento é em ponta, curiosos devido ao desafio da que no continente de origem cresce
da UC convida os conimbricenses, e Agosto, quando a planta consegue guia: “Acreditam em fantasmas? um metro no mesmo período de
suportar o peso de uma criança de Vou mostrar-vos um!”. Não conse- tempo.
não só, a visitá-lo. Contudo, nem 30 quilos. guindo assustar as crianças, a mo- O último espaço visitado é a es-
Da estufa pequena seguimos para nitora guia o seu público até à tufa-fria, onde é explicada a origem
todas as zonas estão abertas ao uma maior. Aqui podemos ver uma Eucalyptus citriodora, uma grande das plantas. Com recurso a um pe-
público. Fomos acompanhar uma grande variedade de plantas, desde
a Mimosa Sensitive, que se encolhe
árvore que deve o seu nome ao
aroma a citrinos. “Cheira a limão!”,
queno charco, a monitora explica
que esta evolução se divide em cinco
visita e partimos à descoberta das quando lhe mexem, até à Cola, a exclama um dos pequenos, ao que grupos: algas, musgo, fetos, plantas
planta que dá origem à Coca-cola. outro acusa: “Você andou aqui a es- com pinha e plantas com flor e
partes mais reservadas. Por Diana Ao lado da Mimosa Sensitive, está fregar limão!”. Esta espécie, oriunda fruto.

Craveiro e Patrícia Neves


uma cana-de-açúcar. Para explicar dos desertos da Austrália, brilha à O Jardim Botânico da Universi-
a origem deste alimento, a monitora luz da lua, sendo por isso chamada dade de Coimbra promove activida-
pergunta de onde vem o açúcar, ao de “fantasma do deserto”. des culturais todas as semanas para
O Jardim Botânico da Univeri- cies em vias de extinção. Em tem- que uma das crianças responde “Do A visita segue para a mata, outro sensibilizar as pessoas para ques-
dade de Coimbra (JBUC) é um dos pos, o Botânico servia apenas para açucareiro!”. Na mesma estufa po- dos locais vedado ao público por um tões ambientais.
mais importantes a nível nacional e os estudantes da Universidade de demos ver vários exemplares de grande portão, que está recheada de Para este mês, o JBUC oferece
alberga plantas de todo o mundo. Coimbra estudarem possíveis medi- plantas carnívoras que, na reali- plantas bastante distintas. A Fi- workshops, visitas-ateliês, peddy-
Mandado construir pelo Marquês camentos. Hoje em dia, possibilita dade, são todas pequenas. “Só nos gueira Estranguladora, que tem dois papers e mesmo meditações guiadas
de Pombal, o jardim tem um papel um agradável passeio. filmes é que são grandes” revela a tipos de raízes, atraiu logo a aten- para relaxar no meio envolvente na-
relevante na preservação de espé- A visita começa com uma breve guia. ção dos mais pequenos pela sua al- tural.

RHODODENDRON PONTICUM NEPENTHES VICTORIA


O rododendro é um arbusto da Vulgarmente conhecida como É a rainha dos nenúfares. Sendo
família das ericáceas que tem mais ‘papa-moscas’, esta planta tem uma planta aquática, é muito apre-
de 1000 espécies, entre elas as um líquido dentro do tubo que ciada não só pela dimensão e mor-
azálias. Cresce bem em solos áci- faz com que os insectos fiquem fologia das folhas como pela
dos e pode ser admirada com flor presos e sejam digeridos. Esta é a beleza e pela peculariedade das
no JBUC nos meses de Abril ou maneira que as plantas insectívo- flores. Diz-se que as ‘mães-índias’,
Maio. Na reserva do Carimbo, no ras têm para compensar a falta na Amazónia, colocavam os bebés
caramulo, há uma mata densa só de nutrientes do "habitat" pobre nas folhas, como se estivessem
com estes arbustos. em que vivem. num berço.
18 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

ARTES FEITAS
CINEMA

“ O Wrestler ” R
andy “The Ram” Robin- papel de uma estrela dos anos 80 dada altura. “Then that Cobain
son é uma antiga estrela decadente e cheia de vícios pouco pussy had to come around and ruin
de wrestling que vai so- recomendáveis. Seria como se Aro- it all”, responde-lhe Randy.
brevivendo a trabalhar nosfy quisesse fazer um filme sobre Ao nível fílmico, Darren Aronosky
num supermercado enquanto com- uma vedeta caduca de um reality segue a velha máxima do “less is
pete na “liga dos últimos” da moda- show e fosse buscar o Zé Maria (al- more”. A grande parte do tempo li-
lidade. Mal tem dinheiro para pagar guém ainda se lembra?). É um da- mita-se a recorrer a planos frios e
a roulotte onde vive e a sua única queles casos em que a linha que académicos, mas, quando a situação
voz amiga é uma stripper. separa o actor principal do respec- assim o exige, não tem medo de
Um dia, após um violento combate, tivo personagem se dissipa e o con- pegar na câmara para reproduzir o
DE
DARREN ARONOSKY sofre um ataque cardíaco que o ob- ceito de representação é ambiente claustrofóbico e inquie-
riga a ser operado de urgência. Os inevitavelmente subvertido. Será tante dos meandros das divisões re-
COM médicos exigem um ponto final na Rourke a fazer Randy “The Raw”, ou gionais do wrestling profissional.
MICKEY ROURKE
sua carreira profissional, mas Hol- pelo contrário, Randy “The Raw” é Não deslumbra, é certo, mas o re-
MARISA TOMEI
EVAN RACHEL WOOD lywood já nos ensinou que nem tudo Rourke? sultado final é claramente satisfató-
é assim tão fácil. Acima de tudo, “The Wrester” é uma rio.
2008 Começando pelo inevitável: sim, é flagrante submissão a um passado Menos satisfatória, porém, é a pre-
verdade que a performance de Mic- glorioso. Randy “The Raw” Robin- visível linha narrativa, vista e revista
key Rourke em “The Wrestler” é ar- son vive nos anos 80. Uma época dezenas de vezes – sem ir mais
rasadora em todos os sentidos. Não em que a Nintendo NES era rainha longe, temos, por exemplo, “Rocky
Quando um actor há volta a dar nem retórica que o e os Guns N’ Roses queimavam Balboa”, um outro campeão a quem
possa negar. É daquelas certezas walkmans. É um homem encurra- lhe é dada a oportunidade de re-
deixa de o ser universais. Provavelmente mais in- lado numa época que não lhe per- gressar. Se não fossem as grandes
contestável que qualquer lei da fí- tence e que tudo vai fazer para voltar interpretações de Rourke e de Ma-
sica ou da química. No entanto, não a sentir a velha glória - mesmo que risa Tomei, o sentimento de déjà vu
CRÍTICA DE FRANÇOIS FERNANDES é menos verdade que é algo injusto isso lhe possa custar a vida. “Fuckin' poderia tornar-se sufocante.
– especialmente para a concorrên- 80's man, best shit ever!”, diz a per- Felizmente salvou-se antes de a con-
cia - colocar Mickey Rourke no sonagem de Marisa Tomei a uma tagem chegar aos três.

Coraline e a Porta Secreta”

Dreamworks ou Pixar. Pena é

C
oraline é a adaptação sados em tratar a sua filha
do conto homónimo como uma rainha. Mas nem que Coraline, ao contrário do
de Neil Gaiman, fa- tudo é que parece, e aquele que é habitual nestas andanças
moso autor de ro- mundo cheio de cor e alegria, (e já agora, no imaginário de
DE
mances e novelas gráficas de esconde uma realidade muito Gaiman), não tenha o sentido
HENRY SELLICK
fantasia, plenos em bizarrias e negra. de humor muito apurado
humor negro muito “brit”. O conto é traduzido para o (facto a que a dobragem em COM

Trata a história de uma me- grande ecrã adoptando a téc- português não é indiferente). ANA BOLA
MARIA RUEFF
nina que vive desagradada com nica de “stop-motion”, pela Ainda assim, a riqueza narra-
NUNO LOPES
a maneira como os pais a tra- mão de Henry Selick, realiza- tiva de Coraline é enorme,
tam. Obcecados com o traba- dor do seminal “Estranho dada a pletora de subtextos 2009
lho, não dão a atenção devida Mundo de Jack”. Entre ecos do que se podem extrair do conto
à sua filha. Enfadada, diverte- imaginário gótico de Burton e – qualidade comum aos me-
se a explorar os cantos da casa, o tom surreal dos contos de lhores contos infantis. E só por
até que, como “Alice no País Gaiman, Selick entrega um tra- esse facto, já vale a pena entrar
das Maravilhas”, descobre uma balho de animação estetica- na toca do coelho. No País das
porta para um mundo alterna- mente apurado, tecnicamente
tivo. É similar ao mundo real, impressionante e, que por ser Maravilhas
excepto que ali tudo é divertido sustentado por técnicas artesa-
e mágico… incluindo os pais de nais, fica muito longe da plas-
Coraline, subitamente interes- ticidade do “CG” das obras da RUI CRAVEIRINHA
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 19

ARTES FEITAS
OUVIR LER

Contacto” Budapeste ”

adeo é Miguel Sar, um omecemos pelo princípio: a riqueza das letras de Chico Buarque,

Para o Cosmos
e mais além
T produtor madrileno,
desde cedo intimamente
ligado ao crescimento do
movimento clubbing na capital es-
Livro não
é CD
C história. Temos José Costa,
nome comum para persona-
gem que começa comum,
apagada quase, como manda a profissão
quis saber até que ponto não seria tam-
bém um compositor feliz de narrativas
mais longas que uma pauta de três mi-
nutos. E com efeito, Chico Buarque, o
panhola. Começou a dar os primei- que escolheu, ser escritor por conta de compositor está lá. Está lá quando a
ros passos na cena electrónica por outrem. Ele cria, para outros assinarem. frase soa a rima, quando o parágrafo soa
volta de 1997, impulsionado por E vive feliz desse vampirismo literário a canção para se ouvir mas não para ler.
nomes como Basic Channel, Kenny que lhe rouba a autoria das suas obras. Mas é verdade também que pouco mais
Larkin, Jeff Mills ou Plastikman. As Casado, com uma daquelas relações a dessa magia se encontra no livro.
referências de então mantêm-se e resvalar para o desencanto da classe Quanto à narrativa em si, por vezes, fi-
estão bem patentes naquele que era média; explorado por um patrão que se camos com a sensação que algo se per-
um dos discos mais aguardados dos diz amigo e sócio. deu pelo caminho, ou que o autor queria
últimos tempos. Um dia, depois de um encontro inter- escrever duas histórias, a do escritor que
Contacto é um álbum fiel às suas nacional de escritores anónimos, José escreve para que outro assine, e a de um
origens. Um trabalho onde se per- Costa é obrigado a pernoitar em Buda- escritor apaixonado por uma língua que
cebe o mundo onde Tadeo vive, peste. E prende-se-lhe o ouvido e o co- lhe motiva uma vida nova. Assim, tudo
uma ode cósmica à simplicidade. O ração à língua húngara. Começa aqui a junto, numa só, soa a solução fácil que
cosmos é, aliás, uma das paixões de jornada da personagem principal, que não resulta nem para o tema da identi-
Tadeo. Ao que parece uma paixão por amor à língua, e mais tarde a uma dade e ficção, nem para o amor por um
que o acompanha desde criança, mulher, decide partir para Budapeste, um dialecto diferente daquele com que
DE
TADEO mutando-se ao ritmo dos bleeps e para descobrir que segredos encerram crescemos a desconstruir o mundo.
loops tão intensos na música do es- as palavras e as sílabas que lhe desper- “Budapeste”, de 2003, não é a primeira
EDITORA panhol... tam a atenção. Assim, começa a viver obra de Chico Buarque, mas confesso
NET28
As expectativas de Tadeo para por temporadas, umas vezes no Brasil, que é a primeira que li e não me aguça
2009 Contacto são baixas. Muito por com Vanda, a esposa legítima, a profis- os sentidos para as próximas. O titulo
culpa da distribuidora, o álbum foi DE são legítima, a vida legítima. Depois, em deste texto é roubado de uma frase en-
editado com cerca de meio ano de CHICO BUARQUE Budapeste, com Kriska, a professora contrada numa crítica que versa sobre a
atraso, o que no entender do produtor desvirtua o conceito do seu que lhe ensina a descodificar da “única mesma obra, e onde o autor versa sobre
EDITORA
trabalho. “Contacto tinha um tempo e esse tempo passou”, mas para DOM QUIXOTE lingua que o Diabo respeita”, segundo a diferença entre música e literatura.
nós, Contacto cabe num espaço temporal bem mais amplo. rezam as más línguas. Não podia estar mais de acordo, pelo
Os loops não cansam. Revitalizam-se. Uma e outra vez... E mais 2004 Admito, quando o tirei da prateleira, a que espero que isso me desculpe a ou-
outra... Fechar os olhos e embarcar na jornada hipnótica pode ser única coisa que me motivou o gesto foi sadia de cometer, também eu, o pecado
algo extremamente viciante. É-o, de facto. mesmo o nome do autor. Por conhecer a das personagens de Chico Buarque.
Estamos perante techno abstracto para pessoas abstractas. Não é
algo que se dance apenas por dançar. A dança aqui é apenas um dos SOFIA PIÇARRA
muitos estímulos condicionados a que o nosso corpo se sujeita invo-
luntariamente.
VER
O álbum de estreia de Tadeo é, sem dúvida, um dos mais interes-
santes trabalhos deste ainda curto 2009, um álbum carregado de
temas muito bem produzidos, que nos fazem vaguear entre Detroit Metropolis”
e as coordenadas dub, tão naturalmente ligadas ao techno...
Aqui ao lado mora a Net28, colectivo-mãe de muitas editoras ma-
drilenas, tais como a Cyclical Tracks (editora de Tadeo), a Mupa, a o filme ‘Metrópolis’ só foi nos”, entre a massa operária e as máqui-

D

Cmyk Musik ou a Apnea e através delas Espanha deu-nos a conhe- preservado um original in- nas de trabalho. Nada parece fazer alte-
cer nomes tão ilustres como Alex Under, Imek ou Damián Schwartz. “Moloch!” completo e cópias incomple- rar essa ordem lógica, até que um dia o
Depois de uma primeira compilação editada em meados de 2008, tas de versões mais curtas e filho de Fredersen, Freder (Gustav Fröh-
onde se mostravam trabalhos dos já referidos Alex Under e Damián, alteradas. Considera-se que mais de um lich), conhece Maria (Brigitte Helm) e
mas também do francês From Karaoke To Stardom, do britânico quarto de filme possa estar perdido. Com entra no mundo dos operários.
Kevin Gorman ou do alter ego de Tadeo, Circunbalation, surge no esta versão que aqui vêem procurou-se Não fossem alguns extras estarem ape-
início deste 2009, Contacto, uma pérola raríssima e indispensável montar todas as partes do filme que nas veiculados em castelhano e podería-
no panorama discográfico musical actual. ainda resistem, de acordo com a versão mos dizer que esta edição DVD, com dois
de estreia”. A mensagem que inicia o discos, era perfeita. O primeiro é exclu-
ANDRÉ TEJO filme deixa transparecer as constantes sivamente dedicado ao filme. O que pode
mutações que a metragem original, de parecer muito injusto dito assim, uma
Janeiro de 1927, foi sofrendo. Sobre a tu- vez que a banda sonora foi remasterizada
tela da Friederich Wilhelm Murnau Stif- para Dolby Digital 5.1 e temos ainda a
GUERRA DAS CABRAS tung, esta edição pretende recriar a opção de assistir ao filme com os comen-
A evitar versão projectada na estreia, em Berlim, tários do historiador do cinema, Enno
e adopta a banda sonora original de Gott- Patalas. No segundo disco, encontramos
Fraco fried Huppertz. dois documentários, um sobre toda a
Em conjunto com os desenhos de Otto produção do filme e outro sobre o res-
Podia ser pior
FILME Hunte, Erich Kettelhut e Karl Vollbrecht tauro da película. Este disco possui ainda
Vale a pena e os efeitos criados por Eugen Schüfftan, quatro galerias fotográficas sobre cenas
Fritz Lang concebeu toda uma cidade er- desaparecidas, design de vestuário, es-
A Cabra aconselha EXTRAS guida em altura e enterrada na profun- boços arquitectónicos e cartazes publici-
A Cabra d’Ouro didade do subsolo, numa linha que tários; biografias de realizador e actores,
divide dois grupos muitos distintos. Os ficha técnica e créditos, todos em caste-
que habitam os fantásticos arranha-céus, lhano.
DE
FRITZ LANG que planeiam e dominam toda a cidade, Se mais argumentos faltarem para ver
Artigos disponíveis na: que vivem entre os mais faustosos cená- “Metrópolis”, saiba-se que foi o primeiro
EDITORA rios, como é o caso de Johann Fredersen filme incluído no Registo de Memórias
DIVISA
(Alfred Abel). No pólo oposto, debaixo do do Mundo, as obras seleccionadas pela
2008 solo, vive-se num clima de laboração fre- UNESCO.
nética que faz lembrar “Tempos Moder- JOÃO MIRANDA
20 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

SOLTAS
CRÓNICA DE VIAGENS BÓSNIA-HERZEGOVINA • SARAJEVO
ANDREIA SILVA

UMA CIDADE
QUE A GUERRA
TORNOU MAIS
TRISTE

U
ma linha de comboio A CIDADE DE SARAJEVO é pouco cosmopolita
surge timidamente com
a manhã acabada de olhar baixo; enquanto que as mu- é algo universal, mas ali observa- nald's. Sentei-me num dos poucos jar-
surgir. Com o começo lheres católicas e ortodoxas, des- mos as casas, as marcas dos aten- A Bósnia-Herzegovina era a re- dins que a cidade tem e pensei que
do dia, surge-me Sarajevo, real, tapadas, sem nada a esconder de tados, as coisas por construir e pública mais pobre da Jugoslávia. ainda é possivel ao país voltar ao
desprovida de eufemismos, tal forma obrigatória, frequentam as- pensamos que tudo poderia ter Com a queda do muro de Berlim, o que foi. Em Sarajevo a paz ainda
como a guerra a fez. A cidade onde siduamente as lojas e os cafés. sido diferente. fim da União Soviética e a inde- não é completamente estável, mas
o arquiduque Francisco Fernando, Tudo parece pequeno e, sobre- Os elementos da cidade confun- pendência do país, os problemas o que importa é a sua existência.
do Império Austro-Hungaro, foi tudo, pobre. Para lá das lojas de dem-se e criam um ambiente caó- sócio-económicos agravaram-se. E Para além das diferenças culturais
assassinado, esforça-se por ultra- roupa no centro da cidade (onde tico. Autocarros antigos cheios de depois vieram os ataques sérvios, e do passado, as pessoas estão a
passar os conflitos políticos do se denota o pouco cosmopolitismo pessoas, a universidade, as reli- entre 1992 e 1995, que dispersa- fazer um esforço para regressar,
passado. que existe em Sarajevo) há a pe- giões, as casas pequenas, os pré- ram os habitantes (a população construindo uma nova sociedade.
As ruas são simples, tal como as quena mulher suja, de pés descal- dios destruidos e esburacados, os desceu para metade, em relação a E é assim a capital da Bósnia-Her-
suas pessoas. Encontram-se peda- ços sob a neve, fingindo não sentir cafés, a policia sempre descon- anos anteriores ao conflito). Ac- zegovina, com um passado dema-
ços de culturas muito diferentes as temperaturas negativas. Os fiada, os pedintes. Abundam ainda tualmente o país é governado sob siado presente, mas com um
que a história obrigou a misturar. cafés estão cheios de iguarias e os mercados e lojas ligadas ao co- um regime tripartido e rotativo, futuro que trará, decerto, a alegria
As mulheres muçulmanas, cober- montras convidativas, mas não mércio tradicional. Os supermer- onde Croatas, Sérvios e Bósnios que nunca deveria ter sido reti-
tas com lenços vão rezar à mes- pudemos deixar de reparar no ra- cados são poucos e nem sequer tentam unir esforços numa paz rada.
quita, com o seu passo rápido e pazinho a pedir esmola. A pobreza existe um restaurante McDo- conjunta. Por Andreia Silva

MARÇO 2001 • EDIÇÃO N.º 66 • QUINZENAL GRATUITO 18ºANIVERSÁRIO


A CABRA sai do arquivo...

2001, a pró-reitora previa “um cluía desde encontros gastronómi- as pessoas não têm de
substancial aumento do número cos regionais, a ciclos de cinema, outro modo”. O presi-
de participantes”. Comparada com passando por concertos e aulas de dente afirmava a sua
as duas anteriores mostras cultu- danças e cantares tradicionais dos aposta na formação e
3ª MOSTRA rais, a edição de 2001 “tem uma PALOP. na continuação da
CULTURAL DA quantidade e uma variedade de
iniciativas que suplanta as ante-
Outro assunto de grande des-
taque nesta edição d’ A CABRA foi
RUC como escola de
rádio e concluía que
UNIVERSIDADE riores”, notava Maria de Fátima. a comemoração dos 15 anos da “a RUC é um desafio
DE COIMBRA ” No que diz respeito ao próprio car- Rádio Universidade de Coimbra constante”. O último
taz, a responsável destacava “uma (RUC), a 1 de Março, que ocupou artigo sobre o aniver-
exposição de fotografia sobre a cinco páginas. Para não deixar sário da RUC debru-
Universidade que patente no Tea- passar em branco esta data, A çou-se sobre o
tro Académico Gil Vicente” e “co- CABRA deu a conhecer a RUC encontro de rádios
lóquios sobre o Pátio da através de uma reportagem de am- universitárias promo-
o início de Março de Universidade, sobre o papel cultu- biente no seu estúdio. “Uma rádio vido pela de Coimbra

N 2001, A CABRA dava


destaque à 3ª Mostra
Cultural da Universi-
dade de Coimbra (UC), que decor-
ral da UC e ainda sessões destina-
das à reflexão sobre saídas
profissionais”. A terminar, a pró-
reitora para a cultura deixava o
com cor”, era assim que a própria
estação se definia. O jornal incluía
também espaço para uma entre-
vista com o presidente da RUC na
no foyer do TAGV.
Estiveram presentes,
além da RUC, a Rádio
Universidade do
reu entre 1 e 9 desse mês. Em apelo: “é um privilégio ser estu- altura, José Carlos Santos, que Minho (RUM) e a
entrevista, a pró-reitora para a cul- dante da UC e faz parte desse pri- sintetizava o objectivo da estação: Rádio Universidade
tura, Maria de Fátima Sousa e vilégio auferir de todas as “a RUC procura oferecer a quem a do Marão (RUMa-
Silva, falava deste evento e da sua vantagens por ela oferecidas”. sintoniza um acrescento cultural, rão).
importância. Para a edição de A 3ª Mostra Cultural da UC in- musical e de entretenimento que João Ribeiro
3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 21

O MUNDO AO CONTRÁRIO SOLTAS


ITÁLIA Um homem de
45 anos imbuído pelo TEM DIAS...
seu espírito religioso, de-
cidiu mudar de sexo. Isto
Por Licenciado Arsénio Coelho
porque o italiano quer
ser freira. O homosse-
xual assumido, afirma No entanto, há uma coisa que faz que o governo quis que o povo pen-
não se contentar com a com que estas nobres criaturas fi- sasse. A realidade é bem mais cruel.
condição de padre. Em
Maio irá realizar uma ci-
A MALDIÇÃO DO FINAL DE SEMANA quem com tremores e suores frios
– entre outras maleitas. Nunca se
Salazar quis matá-las a todas. Quis
acabar de vez com as terríveis cria-
rurgia de mudança de perguntaram o que é que leva, turas que neste momento estão a
sexo e posteriormente, e todos os fins-de-semana, os valen- tentar arrombar a porta da minha
apesar de não ter o apoio
da igreja, irá entrar para
um convento.
O Sol está-se quase a pôr. Es-
crevo estas linhas a uma
sexta-feira, portanto não
falta muito para começar tudo
sas. Se algo me acontecer saibam
que me chamei Arsénio e que não
tive medo de enfrentar a escuridão.

tes estudantes a trocar a vida de re-
beldia e alcoolismo (já lá diz o
cântico) pela sopinha da mãezinha?
Certamente que, numa situação
casa. Infelizmente não conseguiu.
Elas voltam sempre.
Todas as sextas-feiras, quando a
noite cai, Coimbra enche-se de
EUA Um jovem de 18 outra vez. Mais um fim-de- Como sabem, Coimbra é a cidade normal, nunca passaria pela cabeça mortos-vivos em busca de cérebros
anos, foi detido na Flo- semana que se aproxima. Podem dos estudantes. Criaturas vigorosas destes rebeldes voltar à aldeia para humanos. Ninguém sabe de onde
rida por ter roubado não acreditar em mim, podem cha- e rebeldes que têm orgulho em de- dormir na caminha com lençóis do eles vêm, ninguém sabe como os
uma maçã decorativa da mar-me louco, mas há algo de ma- clamar aos quatro ventos a sua in- pequeno pónei. Nunca! Numa si- deter.
mesa da professora. De- cabro a acontecer em Coimbra do dependência. São os reis das saídas tuação normal, claro. A realidade Há textos antigos que afirmam
pois da docente lhe ter confiscado qual ninguém quer falar. As forças nocturnas e dos shots de qualquer exige medidas extraordinárias. Ora que só um DUX ou um dirigente
a mola com a qual ele se ia entre- do oculto são demasiado podero- coisa alcoólica. peçam a um estudante de Coimbra associativo poderá vencer as cria-
tendo, o aluno pegou na maçã e para passar um fim-de-semana cá, turas. No entanto, os mesmos tex-
disse que só devolveria o objecto e vejam como ele começava a trans- tos não adiantam qualquer
decorativo caso recebesse a sua pirar. explicação sobre aquilo que torna
mola de volta. A educadora cha- Quando começarem a ouvir o ir- esses dois altos representantes da
mou a polícia mas apesar disso o ritante som das malas com rodas a Associação Académica de Coimbra
jovem continuou intransigente. descer pela vossa rua, saiam de desinteressantes perante criaturas
Acabou preso e teve que pagar casa e metam-se no primeiro com- que só se interessam por cérebros
uma fiança de US$ 500. boio que encontrarem. Sigam o humanos.
meu conselho. É o melhor que …
INGLATERRA Um casal britâ- vocês fazem. Sinto a porta a ceder. Não vai
nico tem como animal de estima- Neste momento já caiu a noite e aguentar muito mais tempo. Vou
ção uma raposa. O animal começo a ouvir algo a arrastar-se lá ter que terminar por aqui. Antes
partilha a casa com os seus donos fora. Sim, infelizmente tenho que que a ligação à internet se corte vou
e tem um quarto próprio com te- ficar em Coimbra ao fim-de- enviar este texto para o bom e velho
levisão e tudo. O casal tem, ainda, semana. Será que as tábuas de ma- pessoal do jornal ACABRA. Eles
mais três animais de estimação. deira com que forrei as minhas vão saber o que fazer.
Adoptada quando tinha ainda dez janelas vão aguentar? Deus nos ajude a todos.
dias de vida, a raposa tem resis- Pelo sim pelo não vou procurar o
tido a todas as tentativas para crucifixo. Todas as crónicas em
reintroduzi-la no seu habitat na- Sabem porque é que o Estado
tural. Novo resolveu destruir toda a alta arseniocoelho.
Marta Pedro de Coimbra? Não foi para construir blogs.sapo.pt
a zona universitária. Não. Isso foi o
CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

COM PERSONALIDADE
ANDRÉ FERREIRA

ADOLFO LUXÚRIA CANIBAL • 49 ANOS • VOCALISTA DOS MÃO MORTA


UM JURISTA DILETANTE
O nome “Adolfo Luxúria Canibal” surgiu há muitos anos. Na altura havia a mania de criar nomes. Tinha a ver com o punk. Todo o nosso grupo, em Braga, tinha
os seus nomes. Eu criei este para mim e acabou por ficar.
Não me considero um “homem dos sete ofícios”. Eu tenho apenas um ofício: sou jurista. Faço música por paixão, por diletância. Os outros mil e um ofícios que
aparecem nas minhas biografias circunscrevem-se a meia dúzia de anos e a uma situação muito particular, que foi a minha estadia em França. Lá, ia fazendo várias
coisas, “biscates”. Em França esses biscates são bem pagos e surgiram em diversas áreas. No entanto, não tiveram muita importância, não eram profissões. E não dei a
mesma importância a todas as áreas que explorei.
A minha área preferida é a música. Mas é evidente que gosto muito da minha profissão. Ser Jurista é ter uma profissão muito vasta. Há coisas que gosto mais,
outras que gosto menos, mas na generalidade gosto bastante dela. Não a trocava por nenhuma outra.
Quanto à música e à atitude dos Mão Morta, o objectivo primeiro é interno. É extravasarmos para além das nossas profissões o nosso gosto pela música. Esse objectivo interno
torna-se ainda num objectivo segundo, também interno. É através do nosso gosto pela música que criamos os nossos laços de camarada-
gem, de brincadeira, de “bando excursionista”.
Em termos criativos o que nos interessa é partilhar ideias, partilhar gostos, internamente, mas também com o exterior. Com outras bandas e com o público. Gostos por livros,
gostos por ideias, gostos por músicas. É na busca da partilha e da exteriorização de gostos que o percurso dos Mão Morta é balizado.
A melhor recompensa de todos os anos que passei em contacto com a música é o facto de, ao fim de vinte e cinco anos, poder continuar a fazer música e continuar a ter um es-
paço de manobra, de liberdade para isso. Continuar com as portas abertas e o futuro aberto para a música.
No futuro, para mim e para os Mão Morta, acho que a música vai estar sempre presente. É o meu desejo

Entrevista por Susana Rocha


22 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

OPINIÃO
“É URGENTE!”

Jorge Serrote *

ANDRÉ FERREIRA

O ensino superior português questão é da maior importância,


continua a enfrentar desafios que pois não nos podemos esquecer
necessitam de respostas céleres e que são os Serviços de Acção So-
concretas rumo ao seu desenvol- cial quem garante que muitos dos
vimento estudantes da nossa universidade
O primeiro destes desafios possam continuar a adquirir a sua
prende-se com o actual estado de formação e a perseguir o seu de-
sub-financiamento em que vivem sejo de uma vida melhor. São
as instituições de ensino superior. também os SAS uma das melho-
Em 2009, apesar do Governo ter res concretizações do princípio
reforçado o Orçamento para o Mi- constitucionalmente consagrado
nistério da Ciência, Tecnologia e da Igualdade de Oportunidades.
Ensino Superior em 7,8%, esse Mais, um Estado que abdica de
aumento pautou-se por um incre- apoiar aqueles que nascem com
mento meramente nominal. menos condições é um estado que
Tendo em conta o facto de as uni- não dignifica todos os seus cida-
versidades serem responsáveis dãos. São gritantes, nos dias que
pelo pagamento dos 11% de con- correm, as situações de injustiça
tribuição para a Caixa Geral de social no ensino superior: desde
Aposentações e também a infla- estudantes na U.B.I. que recor-
ção e os aumentos salariais esta- rem ao Banco Alimentar Contra a
belecidos para a função pública Fome para se poderem alimentar,
facilmente concluímos que esse passando por estudantes que não
É premente lutar acréscimo não se verifica. têm recursos financeiros suficien-
Se em anos anteriores as uni- tes para pagar as suas propinas.
por aquilo que versidades viviam uma situação Está claro aos olhos de todos que
acreditamos ser de profunda carência de meios fi- o sistema de acção social em Por-
nanceiros para se poderem adap- tugal está claramente a falhar.
o melhor para tar às exigências dos novos Não é apenas pelo facto de o país
tempos, com mais este encargo a estar neste momento a atravessar
o ensino superior recair sobre as mesmas só se pode um período de crise que estas si-
concluir que agora enfrentarão tuações se verificam, apenas veio
ainda mais dificuldades para se agudizar a situação.
tornarem universidades de exce- Na realidade, parece consen-
lência com reconhecimento a sual que todas estas situações
nível internacional. Nunca aceita- devem ser invertidas, para que
remos a passagem para um re- possamos rumar ao ensino supe-
gime fundacional como resposta, rior que todos idealizamos. Não
para alterar a actual situação de podemos ficar alheios a injustiças
sub-financiamento. Questio- como estas, urge sensibilizar toda
namo-nos o porquê de não per- a sociedade, a exemplo de inicia-
mitir às universidades que não tivas como o “outdoor” e a cam-
tenham aderido ao modelo fun- panha (Des)Governos levadas a
dacional a possibilidade de elabo- cabo pela Direcção-Geral da AAC,
rar contratos-programa com a mas ao mesmo tempo preparar
tutela, para que as mesmas pos- estratégias de resolução dos pro-
sam fazer uma gestão a blemas enunciados.
médio/longo prazo. É premente lutar por aquilo que
O ensino superior é um factor acreditamos ser o melhor para o
essencial e um índice de aferição ensino superior, não podendo
do desenvolvimento económico- este ser apenas um dever dos di-
social do país, sendo por esta rigentes associativos, deve sim ser
razão que é sobre o Estado que, uma desígnio de todos os estu-
em primeira instância recai o dantes rumo ao desenvolvimento
dever de proporcionar todas as do ensino superior e consequen-
condições para que o país dispo- temente rumo ao desenvolvi-
nha do melhor ensino superior mento do país!
possível.
Outra das questões a que urge * Presidente da Direcção-Geral
Cartas ao director dar resposta versa sobre o, infe- da Associação Académica de
podem ser lizmente, galopante constrangi- Coimbra
enviadas para mento financeiro que vem
acabra@gmail.com sucessivamente afectando os Ser-
viços de Acção Social (SAS). Esta

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3 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 23

OPINIÃO
“A QUEIMA ASSUMIU-SE EM EDITORIAL
2008 COMO UMA DAS FORÇAS
A ACÇÃO SOCIAL ESCOLAR
VIVAS DA CIDADE”
E OS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS
Filipe Pedro *
Na semana passada, foi anun- nas arrasta por si essas mesmas
ciado pelo gabinete de imprensa lógicas para a Universidade de
No passado dia 19 de Janeiro de à Queima das Fitas. Por mais de três do Ministério da Ciência, Tecno- Coimbra e a criação de um mo-
2009 a Queima das Fitas de Coimbra meses houve actividades, o que con- logia e Ensino Superior que, até delo fundacional de instituições
apresentou o seu relatório e contas. tabiliza cerca de seis edições do Jor- Dezembro de 2008, 5500 estu- em que o governo limpa as mãos
Mais que a história dos números, nal “universitário” “A Cabra”. dantes recorreram a empréstimos quanto ao investimento nessas
que mais uma vez significa um Mais ainda não me lembro de ver ao abrigo do Sistema de Emprés- instituições. Estas medidas do
enorme encaixe financeiro na AAC, e ninguém da Comissão Organizadora timos a Estudantes do Ensino Su- executivo governamental eviden-
nas suas secções, núcleos, organis- da Queima das Fitas entrevistado perior com Garantia Mútua. ciam, a um prazo muito mais
mos etc.… Importa lembrar o sucesso como tal, excepto no suplemento No ano do arranque da medida, curto do que poderemos pensar, a
que foi a Queima das Fitas 2008 em sobre a Queima das Fitas, pago pela tal número não deve ser encarado morte da Acção Social Escolar.
todas as suas actividades e em toda a mesma. como uma gota no oceano ou Também a lógica da reforma de
sua amplitude. Não é por a Queima das Fitas ser como uma imagem afastada da Bolonha e as consequências que
Não entendo como o jornal “A um dos principais financiadores do realidade dimensional do ensino já se sentem não parecem muito
Cabra” não considera a apresentação Jornal “A Cabra” e da secção de Jor- superior. Deve, sim, ser encarado abonatórias ao crescimento da
do Relatório e Contas da Queima da nalismo que existe a obrigação desta e interpretado à luz das sucessi- acção social no ensino superior.
Fitas 2008 como uma ocorrência publicar as matérias alusivas à vas medidas do executivo gover- Contudo, é imperativo com-
digna de registo na versão impressa Queima das Fitas, não devemos en- namental para com a Acção Social preendermos que isto não é “uma
do jornal “A Cabra”, tendo lançado trar em clientelismos. Escolar. Medidas como os suces- realidade à qual já não podemos
um jornal impresso no dia 26 de Ja- Mas a linha editorial do Jornal “A sivos cortes orçamentais, a cres- fugir e à qual nos temos que adap-
neiro. Cabra” deve reflectir sobre se a cente desresponsabilização tar”. Não. Não é por qualquer
Mais: A Queima das Fitas assumiu- Queima das Fitas é ou não um evento estatal para com os apoios sociais gesto de simpatia ou caridade que
se em 2008 como uma das forças que se digne a estar presente na sua aos estudantes e a crónica tenta- o governo vai por si pôr um travão
vivas da cidade de Coimbra não só, na versão impressa. Relembro que esta- tiva de privatização empurram os a esta lógica. Não é por si que as
Semana das Noites do Parque, mas mos a falar de um dos ícones da ci- estudantes para uma situação de empresas, que encontram nestas
num horizonte temporal e de activi- dade de Coimbra. É o ponto alto da estrangulamento financeiro, que medidas uma perspectiva de
dades muito mais vasto. grande maioria dos estudantes da não tendo outra hipótese, encon- lucro, vão abrandar na tentativa
Realizámos mais de 60 actividades, nossa universidade. Para um jornal tram nos empréstimos a única de intromissão nas universidades.
começámos com “A Queima do Co- universitário parece-me importante
lete”, pelo meio tivemos encontros de publicar o balanço da festa que a
coros, recitais de Guitarra clássica, todos nos marca. Cabe-nos a nós, estudantes da UC,


Recital de Harpa, a regata Interna- Bem sei que “acabra.net” publicou
cional da Queima das Fitas, o torneio um artigo sobre o balanço da Queima pôr um travão, porque estas
de rugby, meeting de natação, jogos 2008, mas parece-me importante
tradicionais, surf trip, entre tantas que esteja também na versão im-
medidas não vão prejudicar ninguém
outras que foram um enorme sucesso pressa. tão directamente como a nós
a todos os níveis. Não queria uma capa de jornal,
Durante meses, a Queima das Fitas nem um artigo de uma página, ape-
dinamizou a cidade de Coimbra, nas algo que assinalasse o facto. tábua de salvação. Cabe-nos a nós parar estas medi-
aliando-se as organizações da cidade Por último, só dizer que este facto Uma análise a estes números das, cabe-nos a nós, estudantes da
e do país, como a Universidade de não é novidade, o mesmo já sucedeu também nunca poderá ser desli- Universidade de Coimbra, pôr um
Coimbra, a Câmara Municipal de em 2006 e 2007. gada da realidade das recentes re- travão, porque estas medidas não
Coimbra, a ACIC, o Governo Civil, a Resta-me desejar que a secção de formas estruturais do ensino vão prejudicar ninguém tão direc-
Assembleia da República, a AAC e as Jornalismo reflicta sobre a sua ati- superior. Se a possibilidade da tamente como a nós.
suas secções, incluindo a secção de tude perante a Queima das Fitas. substituição dos reais sistemas de Porque se hoje são 5500 estu-
Jornalismo, entre outros. apoio social por empréstimos veio dantes a recorrer aos emprésti-
Durante todo este tempo, contam- * Secretário-Geral da Queima das ser dinamizada pelo Regime Jurí- mos, com a progressão das
se pelos dedos das mãos as vezes que Fitas dico das Instituições do Ensino medidas do executivo, para o ano
“A Cabra” publicou artigos relativos Superior (RJIES), a verdade é que serão muitos mais, e no outro
todas as políticas envolventes mais ainda. E consecutivamente o
também não combatem essa pos- governo vai dando cada vez mais
A CABRA ERROU
sibilidade, aliás, agudizam-na. A machadadas num direito que
Na última edição d'A CABRA foi adiantado no artigo “Novas ameaças co- lógica mercantilista que o RJIES deve ser de todos.
locam a NATO em encruzilhada” que a aliança transantlântica celebrava veio trazer para o ensino superior
50 anos,quando na verdade o tratado celebra 60 anos. não agoura o incremento das me- João Miranda
Também na infografia do artigo “Porque faz sentido falar em Darwin” didas sociais para o futuro. A ins-
era apontada a morte de Darwin no ano de 1859, quando, na verdade, mor- talação de um Conselho Geral
reu em 1882. A todos os leitores, as nossas desculpas pelos lapsos cometi- com a participação de membros
dos. externos à universidade e com li-
A direcção gação às lógicas empresariais ape-

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759
Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fo-
tografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira
(País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fer-
Secção de Jornalismo, nandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Hugo Anes, João
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Rua Padre António Vieira, Rocha, Pedro Monteiro, Sara Galamba, Sónia Fernandes, Tiago Carvalho, Virginie Bastos Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colab-
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Telf: 239 82 15 54 ação Académica de Coimbra

Faculdade de
Notas
Coreia do
Basquetebol AAC
Farmácia Norte/ONU sobre
arte...

Sofrer a bom sofrer. Tem sido O estudo sobre a administração O reatar de conversações entre a
assim nos jogos de basquetebol da oral de insulina foi esta semana dis- Coreia do Norte e a ONU é um novo
Académica. Os adeptos têm de espe- tinguido com o prémio Bluep- passo para o desanuviar da tensão
rar pelo último segundo para grita- harma/Universidade de Coimbra. A entre as duas Coreias. Este pedido
rem vitória... Nos últimos dois jogos, investigadora da faculdade de Far- norte-coreano acontece depois de
a Académica conseguiu alcançar a vi- mácia Ana Catarina Reis é assim dis- anunciar que está a preparar um teste
tória nos derradeiros segundos e, tinguida por um trabalho que com um míssil, alegadamente, para o
contra o Illiabum, Fernando Sousa promete dar que falar. Nos seis anos desenvolvimento de um programa es- Where's the life? (…) • Ilídio Salteiro
marcou o cesto da vitória a quatro se- de existência do prémio, só por duas pacial pacífico. Pyongyang tem rece-
gundos do final do jogo. A equipa não vezes ficou em Coimbra. A aposta da bido apelos do Japão e Coreia do Sul Óleo s/ tela • 2007
perde há cinco jogos e está agora no faculdade de Farmácia na investiga- para renunciar a qualquer pretensa
quarto lugar da liga principal. ção está a dar frutos. nuclear. No início tudo é denso e obs- resposta está próxima de ser en-
S.F. M.P. R.M.P. curo, mas à medida que o tempo contrada. É a busca não só do pró-
passa vai-se tornando mais claro e prio museu, mas também do
PUBLICIDADE fácil de entender. É esta a mensa- próprio sentido da arte contempo-
gem que Ilídio Salteiro tenta trans- rânea, sentido esse que subita-
mitir nesta obra. mente começa a tornar-se mais
O conjunto de quatro quadros evidente no terceiro quadro,
conta um percurso que vai desde a “Where's the museum of contem-
procura de um sentido de vida até porary art?” (Onde está o museu
ao encontro da obra de arte. Mas de arte contemporânea?). A flo-
também pode ter outro signifi- resta é menos densa, o automóvel
cado: qual o caminho que a arte mais visível, os tons da tela mais
contemporânea ainda tem de per- claros. O caminho para encontrar,
correr? Que futuro se espera para a não só o quadro, como o sentido
relação entre a obra e o seu consu- da arte, está próximo…
midor? E eis que, subitamente, o con-
O primeiro quadro, “Where's the ceito é encontrado. Em “Where's
life?” (Onde está a vida?), repre- the paiting?” (Onde está o qua-
senta o início da busca. Os tons em dro?), a última tela, a floresta de-
castanho escuro e claro, com algu- saparece, as árvores estão
mas pinceladas de azul, denotam a desfolhadas e o céu é um imenso
dificuldade do caminho. O auto- azul. O encontro com o quadro é o
móvel quase nem se vê, muito próximo passo. Será também o re-
menos os seus ocupantes. É um conhecimento dos cidadãos face à
trajecto que se percorre quase sem arte contemporânea? Na tela, tudo
saber, um fim ainda muito dis- se tornou subitamente claro, mas
tante. A vegetação densa da flo- não sabemos se as respostas foram
resta mostra as dificuldades não só encontradas. O último quadro re-
da vida, como da própria arte con- presenta o mistério, deixando mui-
temporânea. Qual a sua represen- tas perguntas no ar.
tação na sociedade? Como é que Esta é uma das obras que se
ela é encarada pelos cidadãos? podem encontrar na exposição “O
Olhando para a tela, parece que mistério do Narciso” até 26 de
ainda há muita coisa para desco- Março, nas Galerias Santa Clara,
brir na arte dos dias de hoje. em Coimbra. São artistas portu-
O segundo quadro, “Where was gueses contemporâneos que cru-
the museum of contemporary zam escultura, pintura, desenho,
art?” (Onde estava o museu de arte artes plásticas e vídeo, onde a geo-
contemporânea?), permanece metria e a simplicidade dos mate-
ainda obscuro, com os mesmos riais ganham lugar de destaque.
tons na tela, mas mostra já que a Por Andreia Silva

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