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5 DE DEZEMBRO DE 2023

ANO XXXIII Nº317 GRATUITO PERIÓDICO


DIRETORA ANA FILIPA PAZ
EDITORES EXECUTIVOS DANIELA FAZENDEIRO E CLARA NETO

Futuro da Bienal ENSINO


- PÁG. 02 -
Presidente da DG/AAC acredita que concre-

em causa por
tizou maioria dos objetivos do seu mandato.
João Caseiro considera que a sua equipa
conseguiu recuperar a situação financeira da
Casa. Papel forte na reivindicação de melhor
Ação Social é ponto positivo destacado.

requalificação do CULTURA
Mosteiro de
- PÁG. 07 -
Quatro décadas a celebrar a “corda como
elemento unificador da cultura portuguesa”
trazem o Grupo de Cordas ao TAGV no
próximo dia 6, com grupos convidados à

Santa Clara-a-Nova
mistura.

DESPORTO
- PÁG. 09 -
No caso de não haver condições para ser SeWcção de Rugby da Associação Académica
de Coimbra reflete futuro da estrutura
perante a visibilidade do Mundial. Treinador-
realizada, “mais vale acabar” com Anozero, adjunto realça “frustração dos atletas por
ausência de incentivos”.
confessa diretor do CAPC, Carlos Antunes.
Presidente da CMC defende requalificação do CIÊNCIA
- PÁG. 13 -
Mosteiro a fim da construção de hotel de luxo Movimento “Fim ao Fóssil, Ocupa!” organiza
ações disruptivas contra uso de energias não-
pelo seu potencial económico para Coimbra. renováveis a fim de alertar para as alterações
climáticas. Apesar de mostrarem preocupação,
cidadãos desconhecem como colocar em
Manifesto de solidariedade para manutenção prática planos de ação.

do evento no património, elaborado na


CIDADE
América Latina, vai ser divulgado em breve. - PÁG. 15 -
Entrevista ao último pintor-cerâmico de
louça “ratinho” em Portugal. Arte representa
deslocações feitas por camponeses para
- pÁG. 10 - trabalhar nas terras alentejanas.

Por Clara Neto


02 ENSINO SUPERIOR 5 de dezembro de 2023

Dois anos de mandato com “respeito,


rigor, responsabilidade e compromisso”
Presidente da DG/AAC admite balanço positivo do seu mandato com maioria dos
objetivos concretizados. João Caseiro destaca fundo de ação social António Luís Gomes
e atribuição do título de associado honorário a Cesário Silva como momentos marcantes
da sua passagem pela AAC.
- P or i van b a r b ei r a & x av ie r m a rques -

A tua Direção-Geral teve o compromis- da Reitoria termos uma forma diferente de edificado da Universidade, é as infraestruturas
so de recuperar a situação financeira financiamento. Nos moldes atuais, o contrato- estarem cada vez mais degradadas, como mos-
da Associação Académica de Coimbra. programa tem as componentes desportiva, trou a queda da pala das Cantinas Azuis. No
Consideras que o concretizaram? cultural e cívica no mesmo bolo. O nosso apoio direto aos estudantes, começámos a de-
Sim. Em termos de apoio diretos às secções e objetivo é ter um documento para cada uma senvolver o Fundo de Ação Social António Luís
aos núcleos, conseguimos recuperar uma ver- destas componentes. Em especial, para o Gomes [o primeiro presidente da DG/AAC]. A
tente perdida, fruto do financiamento das fes- desporto, queremos que haja um valor base nossa intenção com este fundo é ter um conjun-
tas académicas. Em termos de secções, criámos e depois uma parte por objetivos. Quando to de critérios mais abrangentes que a bolsa de
em 2022 o ValorizAACultura que visa, através estamos a competir não sabemos o quão longe estudos da Direção-Geral do Ensino Superior
de candidaturas das secções culturais, finan- vamos e, assim, temos uma aproximação mais (DGES). Procuramos que seja um mecanismo
ciar diretamente as estruturas. Na primeira real dos custos do desporto universitário. de apoio da AAC para os estudantes da UC, pa-
edição, o apoio disponível foi de 15 500 euros, ralelo e complementar ao Fundo da Ação Social
enquanto na segunda aumentámos o montante A Moção Global da Propina proposta no dos SASUC e às bolsas de estudo da DGES. Está
para 18 mil. Continua a haver a necessidade de teu mandato não chegou a ser votada. Foi próxima a abertura do período de candidaturas
mais financiamento para as secções e núcleos, o caminho de remoção gradual de propi- e teremos 38 mil euros para atribuir em bolsas.
até para a própria DG/AAC. O grande entrave na o mais eficaz em comparação com o O financiamento advém da Queima das Fitas,
da Casa nos últimos anos é a dívida interna. da remoção imediata? Se sim, porquê a através das verbas do Dia do Antigo Estudante,
As direções-gerais focam-se muitas vezes, e a falta de êxito na moção? e de iniciativas da AAC. No que toca à habita-
meu ver muito bem, no abate à dívida externa Não considero que a proposta tenha sido um ção, reivindicamos por melhores condições,
enquanto a interna se mantém, porque a dívi- fracasso. Acredito que é a forma mais real e preços mais acessíveis, maior regulação no
da externa é a que traz problemas em termos concretizável que a AAC já teve para chegar- mercado e mais habitação pública. Nas residên-
legais. Nós conseguimos diminuir cerca de mos à propina zero. A falta de êxito deve-se à cias, ainda no mandato anterior, fomos ver as
150 mil euros, o que é significativo. A princi- falta de quórum na Assembleia Magna em que suas condições e falar com os seus delegados.
pal dívida interna que existe é entre a DG/AAC o projeto foi apresentado. É um documento De seguida, fizemos o relatório Porta a Porta e
e o Conselho Desportivo da AAC (CD/AAC). com um diagnóstico e um estudo vasto, que apresentamos à UC, que investiu 500 mil euros
Assumimos há cerca de um ano e meio alguns nenhuma outra associação académica no país na requalificação das residências.
cargos administrativos que eram do CD/AAC fez. Este tem três propostas e estamo-nos a
como compensação para abater a dívida. Nós focar na referente à redução gradual da propi- A AAC saiu do Encontro Nacional de
fizemos algum trabalho na procura de mais fi- na, porque é a que altera a forma como nós lu- Direções Associativas (ENDA) em 2022.
nanciamento, ainda que, muitas das vezes, o que tamos pela propina zero. Como referimos no Contudo, declaraste que “a Académica
conseguimos tenha sido residual. Tínhamos, estudo, as Instituições de Ensino Superior (IES) vai participar, da mesma forma, no mo-
por exemplo, lojas vazias no piso comercial que dependem financeiramente em 42% de si pró- vimento nacional estudantil e na defesa
estão agora em uso, como a barbearia. prias, através das propinas, taxas, candidatu- e proteção dos direitos dos estudantes”.
ras, pelo que as IES não podem ficar descalças Quais são as principais reivindicações
Frisaste que o apoio de 233 mil euros por desse financiamento. Assim, acreditamos que o nacionais que defenderam?
parte da Universidade de Coimbra é in- Estado é responsável por dar este financiamen- Continuamos a estar próximos da realidade
suficiente face ao aumento do custo de to, daí termos outras propostas complementa- do movimento nacional estudantil e associati-
vida. Que medidas tomaste para respon- res a esta, nomeadamente a de devolução das vo, pois não construímos muros nas relações
der a esta questão? propinas, que iria ser inscrita no Orçamento de institucionais e não paramos de participar em
Nós temos, neste momento, um contrato- Estado pelo Partido Socialista, e uma relativa reuniões, fóruns e nas plataformas disponí-
programa de 233 mil euros, que é o maior aos estudantes internacionais. veis. Nesse sentido, a Federação Académica de
apoio que a AAC possui. Fizemos um estudo, Lisboa participou em quase todos os estudos
para apresentar à Reitoria, em que comparámos Em termos de Ação Social, que medidas que realizámos e a AAC também participou nas
contratos-programa das associações académicas, foram implementadas para melhorar as suas iniciativas. Melhorámos também a nossa
para perceber quanto cada uma recebia por condições dos estudantes? relação com a Federação Académica do Porto.
estudante. Nós ficámos abaixo da grande Salientava três grandes questões ao nível da Houve parcerias em matérias de eventos, como
maioria, sendo a que recebe menos por aluno, Ação Social: as cantinas, os apoios diretos aos o Comboio do Caloiro em Coimbra, que já não
apesar de sermos das que recebe mais na estudantes e a habitação. O facto de ainda não acontecia há uma década. Com a Federação
totalidade. Com o contrato, o valor por aluno se ter colocado a hipótese da subida do valor Académica do Desporto Universitário rea-
continua abaixo do que nós queremos. Além do prato social é, essencialmente, fruto do tra- lizámos, este ano, a 1º edição dos Jogos
disso, não assinámos nenhum documento, balho de vigilância e reivindicação da AAC. O Universitários de Portugal, na Figueira da
mas ficou alinhado com a pasta do desporto outro grande problema, transversal a todo o Foz. Também acolhemos na nossa cidade a sua
5 de dezembro de 2023 ENSINO SUPERIOR 03

assembleia geral e a sua gala. Criámos as con- Qual o balanço do teu mandato?
dições institucionais para que a AAC se junte Naturalmente, faço um balanço positivo.
ao Conselho Nacional da Juventude, se assim Nós quando nos propusemos tínhamos cinco
entender. Nós continuamos a ter acesso e pre- grandes pilares e sinto que conseguimos con-
sença, mesmo após a saída do ENDA. cretizar grande parte dos objetivos. Creio que
tivemos a sensibilidade de saber agir nos mo-
A colocação da chapa na antiga Cantina mentos certos. Não tivemos medo de tomar
dos Grelhados gerou muita polémica decisões, mesmo que mais tarde perce-
junto dos associados da AAC. Que bêssemos que podíamos ter feito de
resultados obtiveste das negociações um modo diferente. Estive em duas
com a Reitoria? direções-gerais em que pude confiar
A meu ver, a AAC foi negligenciada proposita- plenamente num conjunto de estudan-
damente durante este processo. Considero que tes com um sentido de compromisso e
este projeto não surgiu neste reitorado e foi o respeito pela Casa. Não é assim tão fácil
ponto menos positivo do atual. A AAC não rece- assumir a responsabilidade das nossas es-
beu informação por parte da UC. Após a nossa truturas e estar cá todos os dias a lutar e a
ação é que os vice-reitores reuniram connosco acreditar nisto. Portanto, respeito, rigor,
e tentámos chegar a um ponto de entendimen- responsabilidade, compromisso, acho que
to sobre o que cada uma das partes pensava. O são as palavras que levo daqui.
acordo verbal entre a AAC e UC foi que a chapa
fosse removida. O que poderá acontecer é que
haja uma divisão móvel. O nosso principal re-
ceio era que o espaço estivesse gradualmente
a ser tomado para o Teatro Académico de Gil
Vicente. Nós sempre defendemos que a Cantina
dos Grelhados deve ser ser um espaço da cul-
tura académica e não de uma cultura da elite.
O caminho está a ser traçado no sentido de ser
um local partilhado pela UC e AAC, no qual
qualquer alteração significativa tem de ser va-
lidada por nós para salvaguardar o seu uso por
parte da academia.

O reitor foi reeleito no início do ano.


Tens algo a apontar sobre a sua postura
neste novo mandato?
Sinto que houve melhorias em relação ao
mandato anterior, do qual apontamos falhas
que foram corrigidas. A mudança foi positiva
e está a trazer uma relação mais próxima entre
a AAC e a Reitoria. A equipa é diferente, passou
a existir menos vice-reitores e mais pró-reito-
res. Isso é positivo porque estamos a falar de
pessoas que são especialistas ou que estão a de-
dicar-se mais às suas áreas de intervenção. O
próprio reitor mudou ao longo do último ano.
Creio que por ser início de um novo manda-
to, está a conseguir delegar mais a sua re-
presentação. Mostrou-se sempre disponí-
vel para falar connosco e para nos ouvir.

Qual o momento
mais marcante do teu
mandato?
O Fundo de Ação Social
António Luís Gomes é a grande
marca que fica do mandato
em termos concretos. Em
institucionais, foi a Assembleia
Magna do dia 24 de Março,
Dia do Estudante, na qual
condecorámos o Cesário
Silva com a atribuição do
título de associado honorário.
Por Daniela Fazendeiro
04 ENSINO SUPERIOR 5 de dezembro de 2023

Infiltrações e falta de internet


persistem na AAC
Plano de requalificação visa melhoria das infraestruturas da Casa.
UC mostra-se disponível para prestar auxílio na resolução dos problemas.
- Por Sofia Cardoso & Leonor Viegas -

O
atual edifício da Associação Académica
de Coimbra (AAC) conta com mais de
60 anos de história. Face à existência de
problemas na infraestrutura e na rede, o admi-
nistrador da Direção-Geral da AAC (DG/AAC),
Diogo Tomázio, reconhece que estas consti-
tuem um impasse no trabalho das secções.
Numa tentativa de resolução, em parceria com
a Universidade de Coimbra (UC), a DG/AAC ela-
borou um plano de requalificação do edifício
que contempla duas fases. Apesar de a etapa ini-
cial estar concluída, as adversidades persistem.
Na primeira intervenção, procuraram-se re-
solver os problemas de infiltrações que afeta-
vam, principalmente, o quinto piso e os terra- Por Ana Raquel Cardoso
ços da Rádio Universidade de Coimbra e da DG/
AAC. Esta situação “estava a estragar as paredes sabilizada”. Acrescenta que “a firma encarre- Altice Portugal, empresa privada que fornece
e a impedir o aquecimento da Casa”, esclarece gue já resolveu algumas falhas, mas o processo a internet utilizada pela DG/AAC. Porém, esta
Diogo Tomázio. A segunda etapa, que necessi- não está completo”. hipótese foi descartada, uma vez que “a UC se
ta de um licenciamento próprio devido ao edifí- Diogo Tomázio refere que para a segunda mostrou disponível para fornecer a sua rede
cio ser património mundial da UNESCO, inclui fase, já em etapa de planeamento, a UC contra- com os novos equipamentos instalados”, ex-
a infraestrutura elétrica e as casas de banho. tou uma nova entidade. Segundo o estudante, plicita o responsável.
Além disso, o administrador da DG/AAC decla- este processo vai ser “muito mais complexo”, O dirigente destaca a dispersão de informa-
ra que, neste momento, já está a ocorrer uma re- uma vez que afeta a infraestrutura elétrica de ção como um impasse na comunicação com a
forma da estrutura da internet do edifício. todos os andares. Nesse sentido, aponta que vai UC. No entanto, sublinha que a instituição tem
As obras relativas à resolução das infiltrações ser necessário encerrar todos os pisos por al- efetuado esforços ao nomear uma pessoa es-
já ocorreram, mas continua a chover dentro do guns dias, o que, por consequência, vai levar pecializada para o contacto com a Académica.
edifício-sede e a verificar-se a existência de hu- à utilização de outros espaços por algumas es- “É essencial que a AAC tenha uma boa relação
midade. Desta forma, o dirigente revela que a truturas. Contudo, explica que a questão ainda com a UC para que a Casa evolua”, assevera.
DG/AAC ativou o seguro para “resolver os pro- não está resolvida pela Universidade. Em declarações ao Jornal A CABRA, a reito-
blemas e garantir que a empresa fosse respon- Os problemas de rede que têm afetado o tra- ria assinala que “tem procurado garantir as
balho dos associados devem-se aos equipamen- melhores condições de funcionamento para
tos “antigos e em mau estado”, explica o admi- as infraestruturas”. Mostra-se também dispo-
nistrador. Com vista à sua resolução, revela nível para colaborar com a AAC na resolução
que a AAC está em conversações com a UC para de qualquer problema. Contudo, não adianta
a rede ‘eduroam’ ser implementada no edifício. mais informação.
Contudo, até haver uma solução definitiva, a De modo a garantir a qualidade dos espaços
DG/AAC concordou pagar os gastos de inter- da Casa, Diogo Tomázio acredita que é necessá-
net, de modo a permitir o funcionamento das rio haver requalificação e manutenção. Assim,
estruturas. Diogo Tomázio salienta, ainda, que considera que esta revisão deve ser mensal ou
foram instalados ‘routers’ novos para fornecer bianual e supervisionada, tanto pela DG/AAC,
rede a todos os andares. como pela reitoria da UC.
A parceria entre a UC e a Câmara Municipal Apesar da mudança de equipa da DG/AAC,
de Coimbra, que permite à população da cidade motivada pela tomada de posse com lugar em
usufruir de rede Wi-Fi em vários pontos da ci- dezembro, o administrador garante, com cer-
dade, não cobre a AAC. Diogo Tomázio informa teza, que “a segunda fase vai continuar”. Em
que “está prevista que esta rede pública possa relação ao plano da internet, apesar de o con-
ser utilizada por todos os estudantes” que ace- siderar benéfico para as secções, não assegura
dam ao edifício e espaços adjacentes. Segundo que tenha continuidade.
o dirigente, “é importante que haja uma rede Mesmo após as intervenções com vista a res-
privada para fins de trabalho das estruturas”, taurar a estrutura do edifício, Diogo Tomázio
que vai ser gratuita e, em caso de haver custos, acredita que os problemas de humidade vão
vão ser cobertos pela DG/AAC. persistir. Esta questão deve-se ao facto de o edi-
Em declarações à Televisão da Associação fício da associação ser antigo e não ter a devida
Académica de Coimbra, Diogo Tomázio admi- manutenção, pelo que a infraestrutura elétrica
Por Ana Raquel Cardoso te ter ponderado a possibilidade de recorrer à pode voltar a ficar afetada no futuro.
5 de dezembro de 2023 ENSINO SUPERIOR 05
Transição digital na AAC
continua a gerar discórdia
Contrato de confidencialidade é um dos motivos da saída do CIAAC.
DG/AAC prioriza “estruturas profissionalizadas”.
- POR Iris Jesus & Luísa Malva -

A
transição digital da Associação bre os próximos passos. O resultado desta eta- sição digital e, desde logo, quis integrar o proje-
Académica de Coimbra (AAC) suscita pa vai refletir-se na fase um, que corresponde to, as circunstâncias é que não o permitiram”.
curiosidade nos corredores da academ- à apresentação de um documento de transição O seccionista considera que a transição digi-
ia. O Plano de DigitalizAACao, um processo digital, no qual vão constar os processos alvo tal é imperativa, contudo, “deve ser feita com
de passagem do analógico para o tecnológi- desta mudança. As fases seguintes vão incluir respeito ao tempo que demora”. Acredita que
co, foi anunciado pela Direção-Geral da AAC “a execução do projeto, bem como a aquisição e a automatização é necessária, pois acelera os
(DG/AAC) a 21 de julho de 2023. O projeto sur- angariação de fundos”, revela Diogo Tomázio. processos que “afastam as pessoas da AAC”. Di-
giu da “necessidade de fazer uma passagem A proteção de dados dos associados é, ainda, ogo Tomázio partilha esta opinião, ao sublin-
sustentável dos procedimentos devolutos da um ponto visado e, segundo o administrador, har que “a associação está parada no tempo no
AAC”, explica o administrador da DG/AAC, deve abranger “todos os seus âmbitos” e ser in- que toca à informatização”. Segundo o admin-
Diogo Tomázio. De momento, a iniciativa está cluída nos Estatutos da Casa. istrador, o material tecnológico utilizado é um
prevista decorrer ao longo de três anos e pre- No que diz respeito ao funcionamento do sintoma da “transição digital que não foi feita
tende-se que passe entre mandatos. Apesar dis- plano, o CIAAC apresenta outras propostas. ao longo dos anos”.
to, desde a discórdia no centro da academia em “Numa fase inicial, seria necessário perceber
agosto que o projeto não apresenta desenvolvi- quais são as áreas que mais problemas trazem
mentos públicos. às estruturas organizacionais”, declara Paulo
Ramos. Acrescenta que a segunda fase “devia
O envolvimento do CIAAC incluir grupos de foco e rodas de discussão
“No início, o Centro de Informática da AAC sobre as falhas da Académica, com profissio-
(CIAAC) contestou não estar envolvido na nais que possam sugerir soluções possíveis
análise e discussão da estratégia”, declara Pau- de aplicar”. As fases seguintes deveriam con-
lo Ramos, presidente do órgão. Nesse senti- centrar-se na investigação para “perceber
do, a secção cultural apresentou uma ação de se essas soluções funcionam” e, a partir daí,
conflito de competências vertical contra a DG/ “iniciar-se-ia a execução, com uma grande
AAC ao Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC). O gestão de risco”, finaliza. Em oposição, Dio-
despacho emitido pela entidade de fiscalização go Tomázio considera que o envolvimento do
favoreceu o CIAAC e determinou que as duas CIAAC “levaria apenas à destruição do plano
estruturas deveriam colaborar na elaboração de transição digital”.
do projeto.
No passado mês de setembro foi convocada “Uma associação parada no tempo”
uma reunião entre as duas partes integrantes A iniciativa pode contar com o envolvimen-
do conflito e o CF/AAC. Nesta reunião, os par- to de órgãos externos à Casa, o que, se-
ticipantes foram levados a assinar um contrato gundo o representante da DG/AAC, “é o
de confidencialidade proposto pela DG/AAC. ideal, pois é sempre preferível ter uma
A secção discordou da decisão unilateral de estrutura profissionalizada a liderar um
sigilo, da reunião e do plano. Assim, a 25 de se- processo novo em detrimento de uma es-
tembro de 2023, apresentou a sua saída do pro- trutura de lazer”. A empresa que vai en-
jeto, alegando “sentir que o CIAAC não teria cabeçar a execução não foi divulgada por
qualquer influência”, informa Paulo Ramos. Diogo Tomázio. Contudo, revelou que
João Bento, membro da Assem-
As etapas do plano bleia de Revisão de Estatutos e
Durante o verão, a DG/AAC enviou for- da Critical Software, faz parte
mulários para todas as estruturas da Casa, de da equipa.
modo a identificar “os processos que as estru- Quando questionado sobre as
turas utilizam no seu quotidiano”, explica Di- possíveis acusações de conflito
ogo Tomázio. Esta recognição teve em vista de interesses no envolvimento
a “criação de métodos para a automatização de João Bento, Diogo Tomázio
destes procedimentos”. Na visão do presidente afirmou que “não há qualquer
do CIAAC, o modelo escolhido apresenta fal- conflito”. O responsável acredita
has estruturais, que começam na falta de “boas que tal acusação “é degradante”,
normas” na sua elaboração, visto que os ques- visto que “esta pessoa está en-
tionários possuem “perguntas que inclinam volvida em dois processos em
para o positivo ou negativo”. que mais ninguém quer es-
Sobre os avanços do DigitalizAACão, o ad- tar”. Em relação a este assun-
ministrador da DG/AAC revela que a sua real- to, Paulo Ramos, afirma
ização tem seis fases. De momento, está na fase que “o CIAAC sempre
zero, que envolve o planeamento e a decisão so- teve interesse na tran- Por Gustavo Eler
06 ENSINO SUPERIOR 5 de dezembro de 2023

Por Matilde Paz

ARE não vê prorrogação do mandato


como atraso dos trabalhos
Membros da Assembleia confiam que vão cumprir calendário estipulado.
Demissões, Comissão Organizadora da Queima das Fitas, Organismos Autónomos
e distribuição de verbas entre temas destacados.
- POR Matilde Paz -

A
Assembleia de Revisão de Estatutos ano. “Muita gente apresenta propostas só para César Sousa, membro da Lista E. Apesar disso,
(ARE) encontra-se no segundo ano de mostrar trabalho e falta imposição de ordem Beatriz Bernardo explica que, posteriormente às
mandato, após ter sido aprovada a sua por parte do presidente”, critica. eleições, o Regimento Interno foi alterado para
prorrogação até julho de 2024. Em sondagens Outro argumento apresentado para a demora beneficiar as listas com maior número de desis-
realizadas pelo Jornal A Cabra e pela tvAAC, é a coexistência de quatro listas. Contudo, os tências. “O que me preocupa é que esta alteração
os estudantes mostraram um grande desco- membros concordam que este é um fator muito se deve a interesses individuais”, reitera.
nhecimento e algum descontentamento quan- positivo pela diversidade de ideias. “Haver Segundo os integrantes, os temas mais deba-
to ao seu desempenho. Porém, os membros várias listas, de gerações diferentes, faz com tidos foram a remuneração do coordenador-ge-
acreditam que os trabalhos vão ser concluídos que não se assuma a realidade de um órgão, ral da Comissão Organizadora da Queima das
a tempo da realização de uma nova ausculta- num determinado ano, como plena”, elabora Fitas, a distribuição de verbas e os Organismos
ção pública, antes da votação do documento em João Bento, membro da Lista C. No entanto, Autónomos. No entanto, Daniel Tadeu prefere
Assembleia Magna (AM). Além disso, defendem Daniel Aragão, membro da Lista A, considera não adiantar muita informação sobre os assun-
que o resultado vai ter um impacto positivo na que esta pluralidade também dificulta a tos discutidos, uma vez que todas as decisões
Associação Académica de Coimbra (AAC). chegada a um consenso. “Como há opiniões tomadas são passíveis de ser alteradas antes da
O presidente da ARE, Daniel Tadeu, alega que diversas, há mais discussão para chegar a uma aprovação final. “Não gosto de falar das delibe-
a prolongação do mandato não deve ser vista resolução”, esclarece. rações porque ainda muito pode mudar e não
como um atraso, mas como consequência da Quanto ao desconhecimento e descontenta- quero induzir ninguém em erro”, assevera.
exigência e rigor com que os estatutos têm sido mento dos estudantes sobre a ARE, os membros Contudo, as atas dos plenários podem ser con-
discutidos. “Garantir que é dada a atenção de- não se mostram surpreendidos. “É natural que sultadas no site da ARE, que é atualizado à me-
vida a todos os temas é algo demorado”, ex- haja este afastamento da comunidade académi- dida que vão sendo redigidas pelos secretários
plica. Os restantes membros concordam que ca, visto que não é um órgão muito apelativo”, e aprovadas pela assembleia.
o volume e complexidade dos trabalhos levou constata o presidente. Não obstante, os inte- De forma geral, os intervenientes da ARE
a uma calendarização para dois anos, pouco grantes reconhecem o trabalho da Comissão de mostram-se satisfeitos com o trabalho desen-
tempo depois do início do mandato. Tal deveu- Comunicação e reiteram a importância da aus- volvido e permanecem otimistas quanto ao
se a terem despendido mais de um mês para a cultação pública, com a realização de fóruns, e cumprimento de prazos e à aprovação do docu-
elaboração do Regimento Interno, e cerca de a criação do site e redes sociais como tentativa mento. Referem, ainda, que existe o objetivo
três para a auscultação pública. de aproximação aos estudantes. Daniel Aragão comum de simplificar os estatutos, de forma a
Contudo, a única representante eleita da atribui a insatisfação da comunidade estudan- aproximá-los dos estudantes e a desconstruir a
Lista R, Beatriz Bernardo, afirma que a ges- til à ignorância sobre a complexidade e a dura- conceção burocrática que os acompanha. Numa
tão do tempo poderia ter sido mais eficiente. ção dos trabalhos. revisão que se pauta “pelo reforço da opinião
Explica que, com a aproximação do fim do man- Todos os membros entrevistados relacionam pública e da transparência” para com os asso-
dato, não há tempo para tirar proveito dos re- a maioria das demissões e exonerações com mu- ciados da AAC, os membros da ARE fazem um
sultados da audição pública e do trabalho das danças na disponibilidade dos antigos mem- balanço positivo e prometem que a priorida-
Comissões Especializadas. Aponta, também, bros, por motivos académicos e profissionais. de é apresentar o melhor documento possível.
um exagero nas propostas apresentadas por “Houve duas desistências por considerarem “Espero que os estudantes valorizem o trabalho
outras listas e crê que, com uma melhor orga- que a ARE funcionava mal, mas, no geral, deve- que a ARE fez”, realça Beatriz Bernardo.
nização, seria possível concluir o trabalho num ram-se a mudanças na vida pessoal”, completa
5 de dezembro de 2023 CULTURA 07

40 anos, um concerto:
Grupo de Cordas da AAC
Grupo sobe a palco com três coletivos convidados. Espetáculo visa celebrar
“corda como elemento unificador da cultura portuguesa”,
declara membro anfitrião.
- POR Liliana Martins & Bárbara Monteiro -

O
Grupo de Cordas da Secção de Fado “bem estabelecido”, como a Brigada Vítor Jara, às atividades da secção se deve a uma “con-
da Associação Académica de Coim- e um grupo “mais recente”, como o Colmeia. ceção errada da música tradicional portugue-
bra (SF/AAC) celebra, este ano, o seu Apesar de a música tradicional portuguesa ser sa como um género que já não evolui”. Por esse
40º aniversário. Para comemorar, o conjun- o denominador comum entre todos os conjuntos, motivo, o objetivo é demonstrar, através do
to vai realizar o espetáculo “Cordas Soltas”, os integrantes do Grupo de Cordas prometem espetáculo, que ainda “há margem para a in-
inserido no ciclo de música Orphika, projeto “enriquecer o espetáculo com a vivência de cada ovação” no seio do Fado e da música popular.
dinamizado pela Universidade de Coimbra. um”. Assim, elementos como a dança e a etnogra- “O Grupo de Cordas está a viver um período
O concerto vai ter lugar no Teatro Académico fia, trabalhados, nomeadamente, pela Orquestra de renascimento”, acrescenta o presidente.
de Gil Vicente, pelas 21h30, a 6 de dezembro. Típica e Rancho, vão ser incluídos no concerto. António Martins acredita que este género mu-
A atuação vai reunir em palco três conjuntos A preparação para o concerto teve início em ja- sical “deve ser levado com uma certa leveza”,
musicais, além do anfitrião. São eles a Orquestra neiro, com alguns desafios. Apesar do trabalho apesar de abordar temas “pesados” sobre a reali-
Típica e Rancho da SF/AAC, a Brigada Vítor "intensivo" descrito pelos elementos, para Guil- dade popular outrora vivida em Portugal. Nesse
Jara e o grupo Colmeia. Segundo Guilherme herme Ala "a vontade de fazer algo diferente" e sentido, o objetivo do grupo é proporcionar
Ala, membro do Grupo de Cordas, a ideia de o empenho prevaleceram. O presidente da SF/ “um concerto que celebre a corda como elemen-
unir todos os músicos surgiu de forma natural: AAC, Diogo Ferreira, também reconhece o es- to unificador da cultura portuguesa”, remata.
“pensámos em coletivos próximos da Casa e, fe- forço coletivo dos músicos para continuar a ativ-
lizmente, não houve dificuldades na escolha”, idade desenvolvida ao longo dos últimos 40 anos.
revela. O músico destaca ainda a importância Em conferência de imprensa, Diogo Ferreira
da intergeracionalidade entre os grupos partic- e António Martins, elemento do coletivo an-
ipantes, valorizando a junção entre um coletivo fitrião, referiram que a diminuição de adesão

Louça tradicional de Coimbra vai ser


vendida na AAC
Parceria com Associação Académica de Coimbra em processo de finalização.
Proprietário destaca durabilidade e qualidade das peças que dão continuidade
ao seu negócio de família.
- POR Catarina Duarte & Solange Francisco -

A
brantes Atelier, marca dedicada à Como membro da Estudantina Universitária No que toca à durabilidade das peças, Hugo
criação de louça, foi fundada por Hugo de Coimbra, Hugo Abrantes criou “os prémios Abrantes destaca com convicção a qualidade
Abrantes em 2021, a fim de dar continui- de participação para várias edições do FESTU- do artesanato produzido na Abrantes Atelier:
dade ao ofício trabalhado pelo seu bisavô. As NA”, Festival Internacional de Tunas de Coim- “estas lembranças perduram por múltiplas
peças que produz são típicas de Coimbra e pin- bra organizado pelo grupo. Produziu, ainda, gerações”. Aponta ainda para a preservação
tadas à mão, perpetuando “uma arte com mais em conjunto com os artistas dos seus ateliers, das memórias estudantis que acompanham as
de 500 anos de história, passada de geração em “o azulejo da raposa, no qual os estudantes obras desde o momento de compra. Por este
geração”, segundo o fundador. O objetivo de costumam dar o pontapé”, situado na sala dos motivo, para o administrador, presentear um
Hugo Abrantes é vender as peças na papelaria veteranos e inspirado na peça da Faculdade de recém-licenciado com uma peça produzida
do edifício-sede da Associação Académica de Direito da UC. pela marca é uma “ótima opção”.
Coimbra (AAC) aos estudantes, ideia que “vem Além das louças típicas, a empresa vende pe- Outra vertente desta parceria passa pela
de um historial” que tem com a Casa. quenas maquetes que reproduzem o Paço das criação de “prendas institucionais, em forma
Para o efeito, o proprietário entrou em con- Escolas e a Torre da Universidade, peças que de azulejo, para dar a figuras de Estado que vis-
tacto com a Direção-Geral da AAC (DG/AAC), também podem vir a ser vendidas no espaço item a AAC”. De acordo com o administrador,
mas “a parceria não está totalmente opera- da AAC. De acordo com Tomás Domingues, a esta é uma inovação em relação aos prémios
cional”, tendo em conta que as negociações opção de adicionar o símbolo da Académica a que se ofereciam no passado. Contudo, Tomás
para a venda das suas peças na papelaria ain- qualquer obra também está disponível. Apesar Domingues realça que a ideia ainda está em
da estão a decorrer. Porém, tanto o empresário de os exemplares terem um valor que “foge um suspenso e vai ser discutida pela próxima DG/
como Tomás Domingues, membro da admin- pouco ao bolso dos estudantes”, o administra- AAC, liderada por Renato Daniel.
istração da Casa, confirmaram que o processo dor da DG/AAC acredita que a adesão ao proje-
está “praticamente finalizado”. to vai ser forte.
08 CULTURA 5 de dezembro de 2023

13 anos de cultura ao abrigo


da Casa das Artes
Sede da Fundação Bissaya Barreto abre portas para semana de celebrações.
Dirigente aponta vantagens associadas à mudança para novo espaço.
- por Francisca Costa & Matilde Mendes -

A
Casa das Artes Bissaya Barreto cele- Nesta semana de comemorações, Maria um evento anual que “tem sido um sucesso na
brou o seu décimo terceiro aniversário Marques descreveu a matinée como “uma área da música experimental”.
no passado dia 17 de novembro. No sessão especial”, pois “desafiou os colabora- A diretora considera que a mudança de
âmbito da programação comemorativa foi dores e o público a compartilhar todo o tipo de recinto para o novo espaço da Casa das Ar-
planeada uma semana de atividades, compos- gostos musicais”. A exposição “O que faz uma tes, perto das Escadas Monumentais, é vista
ta por vários concertos, uma matinée e uma casa?”, aberta ao público de 16 de novembro a como uma possibilidade de aproximação do
exposição. O espaço, que começou como um 3 de fevereiro, desafiou os artistas a “ilustra- corpo estudantil, a fim de “criar uma maior
“projeto de incubadora de associações cul- rem o que entendem pela palavra «casa» por relação entre o artista e a plateia”. Constata
turais”, tenciona “promover as diversas di- meio de expressões plásticas”, esclarece. O es- que esta alteração vem com “outras valên-
mensões artísticas” que a Casa valoriza, ref- paço contou, ainda, com um concerto de Nor- cias”, como a possibilidade de “dar alojamen-
ere a diretora, Maria Marques. berto Lobo, no âmbito do ciclo “As guitarras to e apoio técnico aos artistas”, assim como
De acordo com a dirigente, desde 2010 que o não têm Saudade”, dinamizado ao longo de “apostar mais na arte expositiva”, devido às
local que abrigava a Fundação Bissaya Barreto três sábados do mês. dimensões do novo local.
se tornou na “Casa das Artes da cidade”. No in- Em relação às atividades regulares, a dirigente Por fim, Maria Marques realça a contínua
ício, coexistia com associações independentes sublinha as sessões de jogos de tabuleiro “não evolução da Casa e, nesse sentido, menciona
que também ocupavam o local, como a “Mar- tradicionais”, com lugar às quintas-feiras. Men- a programação, que “se tem tornado cada vez
ionet” e a “Camaleão”. Entretanto, estas migr- ciona também as matinées, referindo-as como mais diversa”. Apela ainda ao envolvimento da
aram e a Fundação fez da Casa a sua sede. Entre “um ponto de encontro” para a população da ci- comunidade, relembrando que o espaço “está
2017 e 2018, a organização passou a assumir de dade, que “termina a semana a ouvir um pouco sempre aberto a sugestões”, pelo que “o impor-
forma gradual a programação do espaço. de música e a tomar um copo”. Quanto aos festi- tante é que o público se sinta confortável no local”.
vais, Maria Marques realça “Les Siestes” como

Coimbra em Blues desafia novas


abordagens ao estilo músical
Cartaz conta com “oferta diversificada dentro dos vários géneros do blues”, aponta produtor.
Aproximação à comunidade local e internacionalização do evento são objetivos.

- por Raquel Lucas & Jéssica Soares -

N
os dias 1 e 2 de dezembro, o Teatro surge como uma forma de “homenagear o povo da música”, conta. O produtor comenta ainda o
Académico de Gil Vicente (TAGV) da Ucrânia e os seus agentes culturais”, a fim de envolvimento da guitarra de Coimbra no festi-
foi, uma vez mais, palco do festival alertar para o conflito no país. Desta forma, a val, fundindo a música tradicional portuguesa
Coimbra em Blues. O evento é produzido pela finalidade do projeto passa pela exaltação “da com o blues. “Estes pequenos acontecimentos
empresa Trovas Soltas e, até 2017, oscilou entre esperança e do caminho para a paz”, constata. tornam-se grandes e fazem com que o evento
interrupções e arranques. Desde então, a sua Na visão do produtor, o género que pauta o esteja cada vez mais presente” na memória dos
recuperação tem vindo “a dar frutos”, declara evento é “frequentemente confundido com cidadãos, considera.
Adalberto Ribeiro, produtor do projeto. o que é, para os portugueses, o fado”, visto Quanto ao futuro do festival, além de uma
O festival volta para “apresentar uma oferta que ambos têm “raízes na alma do povo” e maior aproximação à comunidade local, a fi-
diversificada dentro dos vários géneros do se concentram nas emoções associadas às nalidade é a sua internacionalização. Para tal,
blues”, avança. Deste modo, integra, além vivências do quotidiano. Assim, o produtor Adalberto Ribeiro apela por mais apoios e por
de bandas portuguesas, “novas abordagens”, exalta a importância do blues e do evento para um maior financiamento ao projeto, assim
com a performance de grupos estrangeiros e a comunidade: “a população valoriza a música como às demais organizações culturais. Desta
de músicos que não estão associados ao estilo que vem do coração do povo, sem qualquer forma, vai ser possível promover-se “não só o
musical. São os casos de Sugar Queen, cantora- tipo de artifícios”. festival, mas também a cidade”, conclui.
compositora americana, Mário Laginha, Em relação aos momentos memoráveis de
músico de jazz, e Wax & Boogie, banda edições anteriores, Adalberto Ribeiro salienta
espanhola com ritmos mais próximos do swing o tema “Whole Lotta Love”, tocado por Vítor
dos anos 30. Bacalhau e pelo grupo Budda Power Blues, em
No programa também se encontra Alexander conjunto com a artista Maria João, em 2021.
Dolgov, guitarrista ucraniano. Segundo Adal- “Foi inédita a presença de dois bateristas, dois
berto Ribeiro, a inclusão do artista no evento guitarristas e dois baixistas para a apresentação
5 de dezembro de 2023 DESPORTO 09
Mais do que um torneio:
a visibilidade do Rugby a partir do Mundial
Resultado histórico de Portugal potencia a modalidade. Treinador-adjunto da equipa
da AAC realça “frustração dos atletas por ausência de incentivos”
- Por Pedro Cruz & Afonso de Vasconcelos -

P
ortugal teve a sua primeira partici- O que pensam os atletas de Portugal no mundial. “Houveram mais
pação no Mundial de Rugby em 2007, Carolina Francisco, atleta na posição de ‘full- adeptos tanto nas modalidades femininas
mas falhou em conseguir vagas para as back’ da AACRugby, salienta as dificuldades quanto nas masculinas”, constata a atleta.
três edições seguintes . Contudo, este ano, a enfrentadas pelas equipas femininas. Expli- “Portugal consegue fazer mais e melhor que só
seleção nacional regressou à competição e al- ca ainda que as atletas tentam fazer com que futebol”, remata Carolina Oliveira.
cançou um marco histórico ao conseguir a sua a modalidade tenha uma maior projeção. Já
primeira vitória num mundial, numa partida Carolina Oliveira, jogadora na posição de pi- Um novo começo para a Académica
contra a seleção de Fiji. Rui Loureiro, dirigente lar direito da equipa, comenta que o Rugby é A equipa masculina Sénior da AACRugby fi-
da Secção de Rugby da Associação Académica considerado um desporto “só para homens”, cou em último na época passada, e José Miguel
de Coimbra (AACRugby), explica que a atenção pelo que há uma “maior atenção” nas catego- explica que apenas não desceram de divisão
dada à modalidade nestas competições “é sem- rias masculinas do que nas femininas. Nesse pois a equipa que iria subir não se interessou
pre importante”, uma vez que o desporto tem sentido, admite haver ainda algum estigma na promoção. Para Ricardo Gonçalves, é de se
“pouca visibilidade”. Realça que ter o Rugby a para com a modalidade, devido às característi- esperar uma reviravolta no processo e nos obje-
ser falado é algo “positivo” e afirma que, “mes- cas diferentes dos jogos. No entanto defende tivos que a equipa tinha, pois, atualmente, ocu-
mo tendo passado alguns meses,, ainda há pes- que “menos contacto” não significa um jogo pam o oitavo lugar, mas, segundo José Miguel,
soas a comentar sobre a competição”. “menos dinâmico”, pois “a bola acaba por “estão a construir um plantel para disputar os
Referido como “um jogo animalesco pratica- circular muito mais rápido”. A pilar direito seis primeiros lugares”. Apesar da ambição, ad-
do por cavalheiros” por Henry Blaha, jornal- destaca a falta de apoio às equipas femininas mite que este é “um objetivo quase irrealista”,
ista norte-americano, também José Miguel, e comenta que o público que assiste aos jogos visto que no ano passado ficaram em último. O
treinador-adjunto da equipa de Rugby da do plantel masculino é diferente. “Jogar sem treinador-adjunto salienta ainda que a equipa
AAC, destaca o desporto pela “camaradagem, plateia não é a mesma coisa do que jogar com tem sido, no último ano, “mais competitiva,
a interajuda e união dos jogadores”. O despor- ela, e isso interfere”, conclui. com menos derrotas e jogos mais equilibrados”.
to cria “laços que não se encontram noutras Nuno Fernandes, atleta da equipa Sénior Com a chegada de um treinador e jogadores
modalidades” e os valores transmitidos “são os Masculina AACRugby, apoia a visibilidade estrangeiros, o clube começou um processo
mais puros e verdadeiros que existem”, acres- do Rugby em Portugal, que passou a ser um de adaptação com novas formas de trabalhar.
centa. Loureiro exalta o desportivismo da assunto de interesse após o mundial com a Assim, com a “qualidade e massa humana”
modalidade como “um contributo ao desporto boa participação dos “Lobos”. Da mesma necessária, Ricardo Gonçalves acredita que há
português, em relação ao ‘fair play’, e compara forma, João Cunha, também atleta da uma margem de progresso na Académica para
a prática com a do futebol, onde diz haver “sit- Académica, prevê um crescimento na adesão que os resultados sejam alcançados.
uações pouco desportivas” dentro de campo. e no interesse no desporto para os próximos
Ricardo Gonçalves, também treinador-ad- anos. Defende, no entanto, que para se
junto da AACRugby, adiciona que, com a falta cultivar mais conhecimento sobre o Rugby,
de apoio financeiro, os jogadores sentem-se “tem de haver um trabalho feito pela própria
frustrados por treinarem sem receber um re- Federação Portuguesa de Rugby e pelos clubes”.
torno, que para muitos não tem de ser neces- Já Carolina Francisco ressalta sentir uma
sariamente financeiro. "Esta é a realidade vivi- grande diferença desde a entrada da seleção
da pelos atletas, no entanto, com o mundial, as
pessoas talvez percebam que somos uma esco-
la de valores”, espera José Miguel.

Por Larissa Britto


010 CENTRAL 5 de dezembro de 2023

A privatização do Mosteiro de Santa


Clara-a-Nova e a sobrevivência da Bienal
No caso de não haver condições para ser realizada, “mais vale acabar” com Anozero,
confessa diretor do CAPC, Carlos Antunes. Presidente da CMC defende requalificação
do Mosteiro a fim da construção de hotel de luxo pelo seu potencial económico para
Coimbra. Manifesto de solidariedade para manutenção do evento no património,
elaborado na América Latina, vai ser divulgado em breve.
- Por Joana Almeida & Maria Silvia Lima & Francisco Monteiro -

O
concurso para a requalificação do cos. Desta forma, tem como objetivo restau- das Clarissas. Assim, surgiu, no século XVII,
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova foi rar o edifício e torná-lo num hotel de luxo, o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, qualifica-
lançado no âmbito do REVIVE, pro- o que pode colocar em causa a realização da do como Monumento Nacional em 1910. Mais
grama do Turismo de Portugal. O projeto visa Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra - tarde, serviu também como quartel militar
a reabilitação do património do Estado que se Anozero, dinamizada pelo Círculo de Artes para o exército português e, em 2017, tornou-
encontra abandonado e em degradação, atra- Plásticas de Coimbra (CAPC). se palco da Bienal. De acordo com a página ofi-
vés do investimento privado para fins turísti- Devido às constantes inundações e con- cial do evento, este surge como um “confronto
dições do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, entre arte contemporânea e património” sob a
foi decidida a edificação apresentação de diferentes mostras artísticas.
de um novo espaço, José António Bandeirinha, arquiteto e pro-
a fim de aco- fessor catedrático da Universidade de Coimbra
lher a Ordem (UC), realça a importância arquitetónica e his-
tórica do Mosteiro. O facto de o túmulo da
Rainha Santa Isabel, padroeira da cidade, se
encontrar no monumento acrescenta-lhe
um "enorme simbolismo", salienta.

Por Maria Silva Lima


5 de dezembro de 2023 CENTRAL 011
A casa patrimonial da arte na que Manuel Machado, o anterior autar- Para José António Bandeirinha, a Anozero
contemporânea ca, tinha rejeitado as respostas do programa tem o "poder de revitalizar" o Mosteiro. No seu
Inscrito no projeto governamental desde REVIVE que restringiam o espaço disponível entender, a transição entre o apogeu e a degra-
2016, só em fevereiro deste ano abriu o concurso para a iniciativa. O edifício, situado no topo da dação do monumento não define apenas a es-
público para a concessão da unidade hoteleira. colina da margem ocidental do Rio Mondego, sência do projeto, mas também a identidade do
contrapõe-se à localização da universidade. espaço. O professor acredita que o evento “pro-
"[Este procedimento] não vai prejudicar a Para o arquiteto, este posicionamento confere jeta a atividade cultural da cidade além-fron-
continuidade da Anozero, um dos eventos ao Mosteiro um importante ponto de referên- teiras e transcende os limites não só munici-
culturais mais emblemáticos de Coimbra”, cia no cenário urbano. Considera que, com a pais, como nacionais”.
Bienal, "o rio deixa de ser um limite e passa a
garante o presidente da Câmara Municipal de ser um centro da cidade”, pois passa a valori- “Coimbra não pode mais ter este vai-e-
Coimbra (CMC), José Manuel Silva. No seu en- zar-se a colina onde se encontra a arte contem- vem de coisas que ganham notoriedade
tender, esta iniciativa atrai muito público e tem porânea, e não só a outra margem, onde está o e, passado duas ou três iniciativas,
vindo a crescer e a diferenciar-se, “trazendo saber universitário. desaparecem",
uma riqueza única à vida cultural da cidade”.
Segundo Carlos Antunes, arquiteto e diretor Um hotel de luxo como potencializador indica José António Bandeirinha. Para o tam-
do CAPC, uma das entidades responsáveis pelo do turismo urbano bém presidente do Conselho Municipal de
projeto cultural, o encontro entre o Mosteiro e Segundo o presidente da CMC, dado o mau Cultura de Coimbra, a realização do evento é
a Bienal, desde a sua segunda edição, “transfor- estado do património, é fundamental a exis- compatível com a existência do hotel. Contudo,
mou o edifício, as vidas dos cidadãos e a cida- tência de um “fortíssimo investimento” na ressalva que o concurso deve ter um candidato
de". A utilização dos espaços do monumento é, sua requalificação, “não sendo aceitável a sua que assuma “a responsabilidade cultural do in-
de acordo com o dirigente, indispensável, não contínua degradação”. Face à insuficiência de vestimento hoteleiro, pois só tem a ganhar se
sendo possível a separação entre o evento e o quartos de hotel no concelho, José Manuel integrar a Bienal”.
património. "É absurdo pensar que os dois se Silva avança que as empresas turísticas reagi-
podem dissociar", reforça. O também docen- ram com entusiasmo à possibilidade de haver Assinatura de um manifesto pela per-
te da UC destaca a importância da Anozero, mais uma unidade de luxo. “Atrair e fixar um manência da mostra no Mosteiro e últi-
que tem vindo a trazer visibilidade ao edifício, turismo de maior qualidade e poder de compra mas esperanças
tendo sido concebida como “um programa de em Coimbra é importante para a economia da Carlos Antunes destaca a influência do pro-
ação para a cidade”. A iniciativa manifesta-se cidade”, defende. jeto que, além do potencial artístico e cultu-
como um “movimento de resistência, encontro O autarca não apresenta dúvidas quanto às ral, apresenta um bom desempenho a nível
e inquietação”, sublinha. vantagens associadas à realização da Bienal turístico e económico. A importância do even-
no Mosteiro, mesmo após a sua requalificação. to para Coimbra estende-se a uma relevância
Promessas para a manutenção da Bienal “Um hotel ser reconhecido como um espaço internacional, ao ponto de haver a manifesta-
O projeto de requalificação engloba parte do onde se desenvolve um evento cultural único ção de interesse para colaborar por parte de ou-
imóvel, à exceção da igreja e do museu. Conta vai ser bom para a Anozero e para a futura tras bienais, como é exemplo a Bienal de Lyon.
com uma área total de 33 mil metros quadrados unidade hoteleira”, considera. José Manuel Existe, ainda, um movimento de apoio ao pro-
e estima que o hotel tenha capacidade para 90 Silva acrescenta que, “para crescer, a inicia- jeto cultural, iniciado no México e expandido
quartos. Em relação ao espaço previsto para a tiva precisa de mais investimento e, como tal, para a Argentina e o Brasil. Assim, foi elabora-
continuidade da Bienal, o caderno de encargos um hotel de cinco estrelas pode ser um mece- do um manifesto para expressar solidariedade
prevê 600 metros quadrados para o seu usufru- nas da organização”. Já para Carlos Antunes, para com a causa. O texto vai ser divulgado em
to, ou para outro evento cultural igualmente esta transformação traz consigo uma poten- breve, revela o diretor.
identificado pela CMC. Além disso, o documen- cial exclusão da comunidade e, por conse- De momento, José Manuel Silva assegura que
to indica a possibilidade de o espaço ser uma quência, do projeto cultural. Nesse sentido, não existe um projeto escolhido para a constru-
localização flexível, pelo que “a área coberta, relembra as funções passadas do monumento ção efetiva da unidade hoteleira, uma vez que o
se disponibilizada para o evento, deve ser su- e conclui que este “sempre esteve condenado a concurso do programa REVIVE ainda não ter-
jeita a obras durante o período mínimo de dois ser um espaço fechado”, pelo que encara como minou. É desconhecido, por esse motivo, se os
e máximo de três meses, de dois em dois anos”. imprescindível a sua manutenção enquanto candidatos preenchem os requisitos. Contudo,
Na última edição, a Anozero ocupou a área local aberto ao público. o projeto vencedor vai ter de ser apresentado e
global do Mosteiro. Carlos Antunes mencio- aprovado pelas entidades camarárias respon-
O que vai, então, acontecer à Anozero? sáveis, como garante o autarca.
O diretor do CAPC considera que, caso não Embora as normas do programa possam vir
haja condições dignas para a realização a reduzir o tamanho e o tempo de exposição da
da Bienal: Bienal, o diretor do CAPC mostra-se esperan-
çoso perante a situação. “Acredito absoluta-
“Mais vale acabar com o projeto, mente que se vai arranjar uma solução e, por
em vez de o arrastar por mais dois isso, continuo a lutar”, assegura. Sobre a edi-
ou três anos, perdendo toda a sua ção de 2024, e numa altura em que faltam qua-
relevância cultural” tro meses para a inauguração, Carlos Antunes
garante que as programações continuam, em-
bora não exista uma garantia de que se vá dis-
por do Mosteiro para a sua realização.
012 CIÊNCIA E TECNOLOGIA 5 de dezembro de 2023

Neurodivergência: do diagnóstico à
mudança social
Investigadores relembram importância de inclusão de pessoas que sofrem
com perturbações do neurodesenvolvimento. Psiquiatra considera médicos
mais atentos a estes aos diagnósticos.
- Por Débora Borges & Guilherme Borges -

“A
neurodivergência é um conceito re- uma vez que se focam em aspetos mais restri- informada, “reduzindo os estigmas”, finaliza.
lativamente recente”, explica Ana tos de determinadas áreas. Salienta ainda que, Em contrapartida, o humor e a difusão de
Araújo, interna de psiquiatria no como apresentam performance mais elevada informação tendem a levar à “excessiva nor-
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra nos temas de interesse, acabam por “ser melho- malização do sofrimento” das pessoas que
(CHUC). A médica refere-se ao modo como o res” em certos aspetos, mas possuem os mes- possuem este tipo de perturbações, realça a
processamento cognitivo, emocional e senso- mos problemas como comportamentos repeti- psiquiatra. Admite ainda que o tempo exces-
rial pode divergir, ou seja, “ser diferente do tivos e défices nas interações sociais. sivo à frente de ecrãs “está associado a piores
definido no espetro típico”. Contudo, esse con- Outra condição do neurodesenvolvimento níveis de saúde mental” e “limita as pessoas no
ceito não é considerado uma doença, mas um é a Perturbação de Hiperatividade e Défice de espetro do autismo”. Estas possuem diferentes
termo “guarda-chuva” que abrange condições Atenção (PHDA)Ana Araújo explica que consis- padrões de socialização e, sendo uma das difi-
distintas, explica. te numa tendência na qual uma pessoa atinge culdades que enfrentam, prejudica a sua inte-
De acordo com João Peça, docente do estados de hiperfoco, em situações que consi- gração na sociedade.
Departamento de Ciências da Vida da UC (DCV/ dera altamente motivadoras, elucida a psiquia- As pessoas neurodivergentes passam por
UC) e investigador do Centro de Neurociências tra. Por outro lado, em circunstâncias menos várias dificuldades que afetam as suas roti-
e Biologia Celular da UC (CNC UC), as perturba- estimulantes, há uma “predisposição para di- nas e acolhimento na sociedade. Por isso, João
ções do neurodesenvolvimento podem ter ori- vergir e perder a atenção”, acrescenta. Ainda Peça salienta que é preciso criar um ambien-
gem em “insultos ambientais”. Dá como exem- assim, “não há qualquer impedimento no que te em que estes indivíduos se sintam “confor-
plo um possível trauma durante a formação do toca à integração do indivíduo com PHDA na táveis para procurar ajuda”. Alerta ainda pa-
feto que “prejudica o desenvolvimento do cé- sociedade”, uma vez que “não necessita de ra a importância de perceber estas questões e
rebro”, o que, mais tarde, pode resultar num acompanhamento médico ou medicação, a não “não tentar escondê-las nem confundi-las com
diagnóstico de foro neurológico. Por outro ser que possua um caso mais severo”, explica a normalidade”.
lado, pode haver uma mutação genética, que João Peça. Além disso, a redução do estigma “não se
resulta numa perturbação do neurodesenvol- Em relação ao efeito das redes sociais em prende apenas com uma questão de simpatia, é
vimento. Uma alteração do gene SHANK3 pode pessoas neurodivergentes, a disseminação importante criar um ambiente onde se sintam
englobar, por exemplo, o autismo. de informação ajuda pessoas que chegaram confortáveis”, conclui o investigador. Destaca
Ana Araújo explica que as pessoas que se en- à vida adulta sem o seu diagnóstico, segundo a importância de usufruir das ferramentas
contram nesse espectro podem ser afetadas Ana Araújo. Esta divulgação leva aos disponibilizadas ao serviço das famílias, não
por uma elevada sensibilidade a certos padrões indivíduos a “procurar ajuda clínica” e faz apenas através de fármacos, mas também da
sensoriais e, para se protegerem, chegam a evi- os próprios médicos estar mais atentos aos intervenção, questões educacionais e terapia.
tar sítios com muito barulho ou com mul- diagnósticos, que “têm vindo a Conclui que, sem um “apoio positivo que per-
tidões. A necessidade de “ambientes aumentar”. Desta forma, a mita o ganho de competências, uma maior au-
previsíveis” e a procura por padrões sociedade permanece mais tonomia e capacidade de interação”, o trajeto
nas suas rotinas reflete-se na “rigi- da condição pode agravar-se. É este tema que
dez da maneira como pensam”, es- “os membros da sociedade têm que discutir
clarece a psiquiatra. um pouco mais”, a fim de decidir o cami-
Declara que pessoas portadoras nho a seguir”, apela João Peça.
dessa condição têm um desem-
penho cognitivo “normal ou até
melhorado”,

Por Simão Moura


5 de dezembro de 2023 CIÊNCIA E TECNOLOGIA 013
nas alterações precisas”, uma vez que os di-
reitos sociais não podem ser distinguidos dos
ambientais. Além disso, explica que são “essen-
ciais em ideias de mudanças justas: “não são os
mais fracos que têm de pagar o preço resultan-
te destas mudanças necessárias”.
Maria Lourenço partilha a opinião de que
este tipo de ações, que desencadeiam um efei-
to de rutura, são necessárias. O movimento de
ativismo climático “surgiu de uma necessidade
de um plano mais direto e disruptivo”, explica.
A ativista salienta ainda que “todos os protes-
tos e ações recentes pretendem causar essa de-
sestabilização no sistema”. Para isso, considera
necessário “acreditar que podem ter resultados
visíveis”, o que se traduz numa mudança siste-
mática. Por outro lado, atribui o dever de re-
forma ao Governo, acreditando que empresas
não devem ser exclusivamente responsáveis
Por Rafael Saraiva pela mudança necessária para uma transição
energética justa.

Fim ao fóssil Quanto aos mais recentes protestos realiza-


dos por estudantes, Jonas Van Vossole conside-

“não é negociável”
ra que a reação de várias universidades é “ainda
mais problemática” do que a das entidades go-
vernamentais, que “tentam pacificar o impac-
to e, depois, desconversam”. Acrescenta que “é
Ativistas e investigador apoiam “plano mais direto e dis- uma vergonha e um atentado aos direitos de-
ruptivo”. Doutorado em Ciências Políticas relaciona crise mocráticos os reitores pedirem a intervenção
climática com sistemas económicos e políticos. direta da polícia dentro das faculdades”.
Para as ativistas, Portugal continua sem

A
- Por Ana Raquel Cardoso & Marta Tavares - “saber reconhecer a energia como um bem eco-
organização internacional “Fim ao pauta-se por assegurar que fazem o que está ao nómico essencial”, dificultando a “caminhada
Fóssil, Ocupa!” move-se pelo fim do seu alcance para “exigir o futuro sustentável para uma transição energética justa”. Segundo
combustível fóssil e conta com inú- que merecem”. O número de ações onde se Inês Morais, o impacto do sistema fóssil é evi-
meras manifestações. Estas ações não ocor- expõe e debate a problemática tem vindo dente, porque são observados “lucros recorde
rem apenas em Coimbra, mas também nou- a aumentar, principalmente nas camadas das empresas de energia fósseis enquanto o
tros pontos do país, onde se ouve o mote mais jovens. Segundo Jonas Van Vossole, “os planeta passa por uma crise energética”. Jonas
“Não há paz até ao último inverno de gás”. mais novos têm um papel importante” na Van Vossole lembra que o problema das altera-
Maria Lourenço, ativista e estudante da construção de uma consciência na sociedade, ções climáticas está interligado com questões
Universidade de Coimbra (UC), afirma que os até porque os mais velhos “já têm a sua vida sociais como os “sistemas económicos e polí-
principais objetivos do grupo, que surgiram estruturada e, nesse sentido, são um pouco mais ticos". A transição energética “necessita de ser
com base “no que a ciência dita”, são a eletri- conservadores nas coisas que fazem”. Dentro do democratizada”, uma vez que “as alterações
cidade 100% renovável e acessível a todas as panorama universitário, relembra o papel que vão criar problemas de desemprego”. O inves-
pessoas até 2025 e o fim do uso de combustíveis os estudantes da UC tiveram em lutas sociais tigador reforça que a participação pública é
fósseis até 2030. “Nós precisamos mesmo da no passado. Apesar de o movimento estudantil “absolutamente necessária”, pois acredita que
utilização destes recursos, isto não é negociá- ser flutuante e ter períodos mais parados, o “se o mercado for controlado pelas empresas,
vel”, sublinha a jovem. “importante é tentar construir” momentos emergem problemas de corrupção”.
O Jornal A CABRA ouviu os conimbricenses de maior adesão. O investigador considera que
com o intuito de compreender a sua opinião o cenário provocado pelo aquecimento global
quanto a este tema. Os entrevistados demons- pode “criar a base da mudança, inclusive no
traram uma preocupação generalizada com movimento estudantil”.
as alterações climáticas e o seu efeito no pla- Jonas Van Vossole alerta para “não espera-
neta, assim como receio pelo futuro das pró- rem que as universidades ou as câmaras mu-
ximas gerações. Segundo Jonas Van Vossole, nicipais sejam agentes de consciencialização”.
investigador doutorado em Ciência Política, os Considera também que “a mudança individual
problemas psicológicos que advêm da preocu- não altera praticamente nada”, encaixa-se num
pação com o cenário atual são cada vez mais comportamento de “ter a consciência limpa”.
falados. As pessoas “estão com medo de que o Em vez disso, o investigador acredita que são
mundo acabe e têm consciência da necessida- as ações disruptivas por parte dos cidadãos a
de de mudança, no entanto, não sabem como base da alteração democrática. Este movimen-
a colocar em prática”. Isto reflete-se numa to coletivo de desobediência civil “é essencial,
“depressão ligada à ideia de o planeta ir para uma vez que os agentes políticos têm medo de
o abismo”, ilustra o investigador. fazer alterações necessárias porque isso afeta-
Para Inês Morais, também estudante da ria o seu interesse eleitoral”. Vê ainda os sindi-
UC e membro do “Fim ao Fóssil, Ocupa!”, o catos (que se integram na sua área de pesquisa)
Por Rafael Saraiva
propósito deste tipo de ativismo disruptivo não só como aliados, mas como a “vanguarda
014 CIÊNCIA E TECNOLOGIA 5 de dezembro de 2023

Um lembrete do valor do agricultores o papel fundamental, por terem


acesso a pedaços de terra para trabalhar”. São

solo na vida humana


responsáveis por “tentar alimentar a popula-
ção, mas também por tentar manter os solos
saudáveis”, acrescenta. O aumento da matéria
Filipa Reis alerta para efeito das alterações climáticas no orgânica nos solos para a proteção da erosão da
chuva e do vento é um dos exemplos de cuida-
solo. Investigadores em Coimbra promovem iniciativas dos a ter para garantir a sua saúde. Filipa Reis
para demonstrar a relevância deste recurso. revela que, enquanto cientista, comunica com
os ‘stakeholders' e os agricultores, para a pro-
- Por Bruna Fontaine & Andrielly Santos - moção destas dinâmicas.

O
Luís Cunha salienta a necessidade do inves-
Dia Mundial do Solo, celebrado a 5 de seres vivos e matéria orgânica, cruciais para timento em mais projetos de investigação na
dezembro, conta com a décima come- a vida humana”, sublinha a investigadora. área, “para perceber melhor a biologia e a eco-
moração desde a sua designação pela Este ecossistema tem “a capacidade de absor- logia dos organismos que vivem no solo”. Apela
Assembleia da Organização das Nações Unidas ver carbono e, por isso, sequestra dióxido de também pela aposta em iniciativas a nível ins-
em 2013. Foi na mesma data que a organização carbono, impedindo-o de ir para a atmosfera”, titucional e pedagógico, pois é essencial ”tentar
declarou 2015 como o Ano Internacional do acrescenta o ecologista. aproximar a comunidade do caráter essencial
Solo. Este dia marca a vontade de “despertar Com as alterações climáticas os solos podem da biodiversidade”
as pessoas para um melhor entendimento e sair prejudicados, explica Filipa Reis, que A celebração desta data, quer por investiga-
valorização do solo”, explica Luís Cunha, in- estas alterações se evidenciam, por exemplo, dores, organizações ou pela população, vem
vestigador do Centro de Ecologia Funcional da na “mudança no regime de chuvas”. Junto com alertar para como “a sobrevivência humana
Universidade de Coimbra (UC). as secas, que a investigadora afirma ser um no planeta Terra está muito ligada a solos sau-
Os especialistas na área apontam diversas problema sério na Península Ibérica, os solos dáveis”, desvenda a investigadora. “A conexão
preocupações, relacionadas tanto com a saúde ficam prejudicados. Desta forma, as condições entre o solo e o ser humano, vai além dos pro-
deste ecossistema, como com a consciencializa- meteorológicas podem causar danos ao solo, dutos alimentares”, acrescenta o ecologista,
ção da população sobre o assunto. Filipa Reis, comprometendo as atividades dependentes do ilustrando como a preservação do solo está
investigadora na área de ecologia e ecotoxico- mesmo, assim como as redes biológicas . fundida com o bem-estar humano. Incentivar
logia na UC, revela que “é difícil para as pessoas O investigador adiciona que a diversidade melhores práticas agrícolas como a redução
olhar para o solo como mais do que sujidade”. biológica que caracteriza este ecossistema per- dos químicos usados e a proteção dos solos por
Por este motivo, Luís Cunha destaca a perti- mite o seu funcionamento saudável, que, por parte do indivíduo são as ferramentas que o in-
nência desta data para “elevar uma consciência sua vez, nos proporciona uma boa alimenta- vestigador apresenta.
geral ou a literacia do solo”. O investigador vai ção. Assim, frisa a necessidade de “preservar As comemorações do dia na UC englobam pro-
mais além e realça a importância de um solo esta biodiversidade”, sendo que “qualquer im- jetos de consciencialização que se expandem ao
saudável: este “funciona a nível biológico, quí- pacto, como práticas mal geridas na agricultu- longo do ano. “Procuramos fazer todos os anos
mico e físico e tem a capacidade de providen- ra ou na floresta, pode levar à erosão, à perda uma mostra da diversidade de organismos do
ciar serviços do ecossistema”. de nutrientes e a uma menor capacidade de fun- solo e, depois, a partir de pequenas experiên-
Além de “muitas das infraestruturas serem cionamento”. Sobre o caso português, Filipa cias, demonstrar a relevância deste recurso”,
construídas no solo”, este é a base do sistema Reis reafirma a problemática das secas, que se esclarece a investigadora. “Vamos ter uma de-
de produção agrícola e pecuária, um reservató- mostram um entrave à agricultura nacional. monstração aberta à comunidade para respon-
rio de água e acolhe ”pelo menos um quarto da A dependência humana do solo verifica-se na der a perguntas e saciar um pouco da curiosida-
biodiversidade do planeta”, como explica Filipa “conexão microbiológica que o leva até à boca de de todos”, finaliza Luís Cunha.
Reis. Este recurso “não tem apenas uma com- do homem” e ainda na economia, afirma o in-
ponente mineral, mas possui também água, ar, vestigador. Já Filipa Reis pontua que “é dos

Por Bruna Fontaine


5 de dezembro de 2023 CIDADE 015
Por Camila Luís

A experiência aliada ao saber: Carlos Tomás


mantém viva a arte “ratinho”
Expandir valor da cerâmica “troca-trapos” é objetivo do artesão.
Pintura e representação do legado beirão distinguem-se da louça tradicional.
- POR Camila Luís & Inês Reis -

C
arlos Tomás é o último pintor-cerâm- Carlos Tomás começou a interessar-se por em 2006. Este local não se destina só à venda de
ico a produzir louça “ratinho” em este ofício com 11 anos, quando o experimen- artigos, também é possível observar de perto
Portugal, uma arte relacionada com tou pela primeira vez, após observar os amigos o processo de pintura das peças. Possui ainda
as deslocações feitas pelos camponeses, todos a trabalhar nas fábricas de cerâmica. “Gos- um atelier, em São Martinho do Bispo, onde
os verões, para trabalhar nas terras alente- taram daquilo que eu fazia e fiquei até hoje se encontram todos os equipamentos essenci-
janas. Nos seus 59 anos de carreira no mundo nesta área”, recorda. Para o ex-membro do ais para a produção da louça. O artesão clarifi-
da cerâmica, passou por diversas fábricas, nas ‘World Crafts Council’, uma organização sem ca que, com o passar dos anos, deixou de faz-
quais foi responsável, até se estabelecer por fins lucrativos que promove o desenvolvimen- er entregas a clientes, dedicando-se apenas à
conta própria em lojas de artesanato. Durante to económico através do artesanato, o aspeto venda em loja. Ressalta que os visitantes atuais
o seu percurso, conquistou vários prémios e primordial de um bom pintor-cerâmico é o são, sobretudo, turistas que se dirigem com o
menções honrosas das quais se orgulha e que o conhecimento: “tem de se estudar muito, não propósito de apreciar as suas obras.
motivam a continuar, todos os dias, a confecio- é só pintar”. Acrescenta que “é preciso ver, ex- Quanto à parte técnica, Carlos Tomás sub-
nar novas peças. linha o papel essencial do calor produzido
A designação “ratinho” diz respeito ao nome pelo forno na transformação das cores que
pelo qual ficaram conhecidas as famílias mais compõem a pintura. Aponta que, no início
pobres das Beiras, que levavam as própri- da sua carreira, fabricava as próprias tintas,
as louças para as terras onde iam trabalhar. através do aproveitamento de metais pre-
Como forma de enfrentar os invernos rigor- sentes nos fios elétricos. Ao queimar estes
osos, os trabalhadores trocavam as suas peças componentesWW, obtinha um pó que, “quan-
por agasalhos com os “senhores do campo”, o do triturado e colocado em vidro, criava várias
que deu origem ao título “troca-trapos”, expli- cores”. Hoje em dia, ao invés de confecionar as
ca Carlos Tomás. Apesar de já terem passado tintas, opta por adquiri-las e misturá-las para
dois séculos, o artesão insiste em manter este obter as tonalidades desejadas. Além destes
saber vivo, o que se reflete pelo facto de con- materiais, recorre também a vidro liquefeito
tinuar a produzir o que considera ser “a arte de (material de consistência viscosa), para asse-
Coimbra, pura e dura”. gurar que o trabalho final apresenta um aca-
Esta prática artesanal é feita de raiz pelo artí- bamento brilhante.
fice, que acompanha as diferentes etapas de Carlos Tomás tem também a função de
transformação de barro em prato, taça, alguidar Por Inês Reis fornecer artefactos de cerâmica na região
ou tigela. Peixes, figuras do campo, músicos e de Coimbra, ao vender “placas toponímicas
vendedores são as principais temáticas das obras. perimentar e «laboratoriar» para alcançar a a muitas Câmaras Municipais, Juntas de
O artista esclarece ainda que as características perfeição”. Apesar da experiência que possui, Freguesia e até à própria Universidade”. O
de realce das “troca-trapos” são a pintura, a dec- o artista refere que aparece “sempre uma coi- único produtor de louça “ratinho” do país
oração, a necessidade de vidrar e o maior tempo sa nova que vale a pena aprender” e salienta a finaliza que esta é “uma das cerâmicas mais
de execução. “Dependendo dos desenhos, demo- quantidade de “livros de cerâmica, azulejaria e bonitas do mundo, mas ainda não tem a
ra entre quatro a e seis dias a pintar uma peça faianças” que guarda na loja. procura que devia”. Apesar de nunca parar de
deste tipo”, descreve. As peças distinguem-se, Natural de Coimbra, o cerâmico estabele- aprimorar os seus conhecimentos através do
não só pela assinatura do artesão, como também ceu-se de forma independente há 40 anos, e estudo diário, sublinha: “o que tira as teimas
por terem ambos os lados pintados. abriu a sua loja sediada no largo da Sé Velha, são as minhas experiências, só assim consigo
chegar onde quero”.
016 CIDADE 5 de dezembro de 2023

Barbeiro de rua melhora o dia-a-dia


dos sem-abrigo
União de paixões por arte de cortar cabelo e por voluntariado leva cidadão a colaborar
com Associação Integrar. Rui Mendes acredita que preconceito nasce de “sentimento
de autopreservação e autodefesa”.
- POR Raquel Chaves -

F
ace às adversidades enfrentadas pelas pes- a levar a arte da barbearia para as ruas. Salienta vado por um “sentimento de autopreservação e
soas em situação de sem-abrigo, abordadas ainda a sua ligação com a Integrar, que diz con- autodefesa”. Pode partir da crença e receio de que
na última edição do Jornal Universitário de hecer bem desde jovem e com a qual se identifica. os afetados “estão mais propícios a apanhar cer-
Coimbra - A CABRA, procurou-se ouvir uma das O voluntário considera que o seu trabalho com tas doenças, como resultado da vida na rua”, ad-
vozes que apoia estes cidadãos. Para trazer um os sem-abrigo é “gratificante”, o que o deixa “de mite. Apesar de compreender essa visão, para Rui
pouco mais de conforto e alento a estes indivíduos, coração cheio”. Admite que o mais importante Mendes, “é igual abraçar um cidadão desabrigado
há quem dedique parte do seu tempo ao voluntar- nas suas funções não é mudar a imagem destas ou outra pessoa que não esteja nessa situação”.
iado. Um deles é Rui Mendes, barbeiro de profissão pessoas, mas dar-lhes a oportunidade de “con- O voluntário assegura que tem inúmeras
que, há cerca de um ano, corta o cabelo a quem ne- versar e partilhar as suas experiências”. No que histórias que o marcaram e “lhe tocaram o
cessita, no âmbito do projeto Mais Cuidados Mais toca a uma possível solução para a problemáti- coração”, mas que a principal é relacionada aos
Integrados, uma iniciativa da Associação Integrar. ca dos desabrigados, Rui Mendes acredita que vícios, tantas vezes associados a pessoas mais
Rui Mendes decidiu aliar a sua paixão pela bar- “vai sempre haver pessoas nas ruas, devido às vulneráveis. Partilha a história de um senhor
bearia, que surgiu do “vício em aparar o cabelo”, contrariedades da vida”. Por outro lado, de- que tinha uma dependência em tabaco e que,
ao gosto que sempre teve em ajudar os outros. O fende que cada um pode “melhorar a vida dos “num corte de apenas cinco minutos, ou menos,
barbeiro refere que sempre participou em ações cidadãos que vivem na rua e tentar facilitá-la”. não conseguia estar sem fumar”. Termina ao
de caridade com os seus amigos e que, incentivado Acerca do preconceito que os sem-abrigo sof- enfatizar que o mais importante é saber que “to-
pelo presidente da referida associação, começou rem, o barbeiro reflete que este pode ser moti- dos podemos ajudar e dar o nosso contributo”.

Universidade do Tempo Livre da ANAI


alertada com ordem de despejo
Luta para encontrar novo espaço e angariar fundos continua.
Situação causa insegurança nos cidadãos séniores.
- POR MAFALDA ADÃO -

D
esde a sua fundação, há 30 anos, a As- pensam adquirir através de um empréstimo A promoção de “um envelhecimento ativo”,
sociação Nacional de Apoio ao Idoso bancário e de donativos feitos pelo mecenato a fomentação de conhecimento e a trans-
(ANAI) nunca conseguiu fixar-se num social. O desenvolvimento de atividades não missão de saberes são as principais metas da
local, revela a presidente da direção, Sónia gera receitas, mas “permite visibilidade, ao dar Universidade do Tempo Livre (UTL). Sónia
Vinagre. Passou por inúmeros espaços, como a conhecer a instituição de forma a alcançar Vinagre sublinha que, após a idade da refor-
o Palacete da Cerca de São Bento, e está agora um maior número de pessoas”, explica Sónia ma, muitas pessoas mantêm um interesse pela
situada num edifício na rua Pedro Monteiro, Vinagre. Alguns exemplos são o “Especial 30 aprendizagem. Em resposta a esta necessidade,
nº 68, arrendado pelo município de Coimbra. anos da ANAI”, que teve a sua abertura dia 11 a instituição oferece um leque diversificado
Contudo, a entidade proprietária denunciou o de outubro e vai realizar 30 eventos até julho de com cerca de 30 disciplinas, entre as quais: hi-
contrato e a instituição não possui uma insta- 2024. Além disso, a associação alberga o Banco droginástica, línguas, informática, pintura e
lação alternativa. Por este motivo, a dirigente de Ajudas Técnicas e o Serviço de Apoio Domi- as “conversas filosofantes”.
descreve que se encontram numa “situação de ciliar, que providenciam aos cidadãos seniores A UTL foi classificada como uma universi-
extrema fragilidade”. À data da entrevista ao ajudas sociais e médicas. dade de excelência pela Associação Rede de
Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA, a Sónia Vinagre refere que a prioridade é Universidades da Terceira Idade. Assim, a
presidente explica que estão a tentar usufruir procurar “um espaço em que as acessibilidades ANAI “deu provas de que é uma instituição de
do local até às férias do Carnaval. A associação sejam boas e onde haja meios de transporte”, referência na cidade de Coimbra nas suas di-
já visitou “mais de 30 imóveis por toda a ci- para que todos consigam deslocar-se de for- versas valências e respostas sociais”, declara a
dade”, no entanto, admite que os preços altos ma confortável. A presidente destaca ainda a presidente. Conclui que os alunos não querem
dificultam a tarefa de encontrar um novo local. intenção de encontrar um edifício que possa o encerramento da UTL, mas que estas notícias
O objetivo da ANAI passa agora por adquirir sofrer alterações de licença habitacional para provocam “uma insegurança nas pessoas”, que
um espaço que se torne património da asso- serviços alternativos. já estavam acostumadas com o recinto e a rotina.
ciação. Para isso, necessitam de fundos que
5 de dezembro de 2023 OPINIÃO 017

CARTAS À DIRETORA
sexta-feira, 1 de dezembro de 2023.


Xora diretora, Perante a proposta “Opcionalidade calças/saia não se usava em dias de calor para conforto. E as
nos dois trajes académicos”, em 2021, o Conselho mulheres? A 1ª entrou na UC em 1891, mas estas,
de Veteranos (CV) decidiu com 26 votos a favor, afastadas da vida académica, só usaram pela 1ª vez
27 contra e 5 abstenções. Era frequente surgir a a CB em 1948 com batina/saia e, depois, em 1954
questão sobre o uso de calças com a capa e batina com casaco/saia. Nesse ano, saiu um decretus a im-
(CB) feminina e como tornar isto mais fácil para por a obrigatoriedade desse fato com as insígnias,
alguém não binário. Os veteranos queriam, inicial- incluindo collants pretas que não se vestiam tipi-
mente, votar pela inclusão na CB feminina, pois, camente. As alunas não votaram nem discutiram o
uma discussão aprofundada poderia encontrar seu próprio traje - não tinham voto no CV. Várias
resistência de um público mais conservador, hav- transgrediram a regra das collants. Nos anos 90, ao
endo o risco de nada ser aprovado. O Código da reavivar o CP de 57 que nunca tinha sido segui-
Praxe (CP) de 2017 estipula que a Comissão Per- do, o colete passa a ser totalmente obrigatório e a
manente (equipa permanente do CV) só compila questão saia/calças ressurge, enfrentando um tem-
as propostas recebidas num texto final para ir a CV. po de mimetismo, ultraconservadorismo e dogma-
Mas a Comissão Permanente recusou, mantendo tismo. Em 2022, o novo CP (discutido e aprovado
a proposta acima, alegando que só esta as podia em cima do joelho) retira o género, dando um pas-
propor, cabendo aos veteranos discutir e votar o so em frente, mas mantendo a antiquada divisão
apresentado. Seguiu-se a discussão: “Elas querem calças/saia.
usar calças porquê? Um homem quando olha para Em 2021, ganhou o “Sempre foi assim!” que, af-
um rabo gosta é de um rabo de saias.” Ouviu-se: “A inal, nunca foi. A CB merece uma discussão apro-
capa e batina (CB) não é suposto ser confortável! Se fundada. Mas fica a reflexão: quantos entraves colo-
for assim, os homens deviam poder usar calções!” camos na evolução das tradições porque “sempre
O caos! “Isto é uma imposição de uma minoria à foi assim”? Até que ponto estes entraves não serão
maioria!” O horror! “A tradição sempre foi assim!” representativos de um nicho do que realmente da
Será que foi? Até fins do século 19, o traje tinha Academia? Porque buscamos um passado cristal-
inspiração clerical: batina abotoada até ao pescoço, izado que nunca existiu, sem ambicionar deixar
calções, sem colete e gravata. Com o aumento das a nossa marca enquanto geração? Acredito que a
ideias republicanas e anticlericais, os estudantes Academia de Coimbra mantém a capacidade de
optaram por seguir a moda das três peças da bur- criar e reinventar que construiu a História que car-
guesia masculina: casaco, colete e calça comprida, regamos com orgulho. Mas ter orgulho não chega:
desejando vestir-se como homens liberais. O colete temos de lhe fazer jus.
-Disa Palma
Referência: NUNES, António. Identidades(s) e
moda: percursos contemporâneos da capa e ba-
tina e insígnias dos conimbricenses

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023.


Xora diretora, Num reino não muito distante existia a Casa-Mãe, como "deixar andar". Os membros eram convida-
esta era governada por dirigentes com habilidades dos a apostar nas suas opções favoritas, enquanto
de liderança. Da mesma florescia uma estrutura, os dirigentes lançavam uma moeda ao ar, determi-
onde a liderança era forte como as ondas do mar, nando assim o destino da estrutura. Um sistema
no entanto esta, recentemente, foi-se esvaindo democrático inovador e sustentável, se me per-
como o velho Mondego durante o verão. Os seus mitem dizer.
dirigentes, tinham habilidades gerenciais tão afia- Esta estrutura, cheia de burgueses, incapazes de
das quanto uma colher de plástico que conduziam liderar um batalhão de formigas, transformaram
a estrutura como se estivessem a organizar uma o que poderia ter sido uma comunidade unida e
viagem ao Choupal, onde a falta de planeamento e verdejante numa comédia rasca e suja, que nem os
a confusão, eram os principais combustíveis. seus espectadores atrai, tornando-a na vergonha
O plenário tornou-se uma espécie de espetácu- da Casa.
lo de comédia involuntária onde quem o lidera- Eu sonho num lugar onde se possa aprender que
va tinha um discurso mais confuso do que as in- liderar vai além de mandar moedas ao ar, de deix-
struções de montagem de móveis suecos do IKEA. ar andar e rezar para que ninguém note que não
A falta de transparência atingia resultados se faz nada. A mim, resta-me apenas torcer para
olímpicos, nunca antes vistos nesta Academia e as que alguém algures na Associação Académica de
decisões eram tomadas por meio de um método Coimbra volte a ter uma liderança sustentável que
científico comprovado pela sua eficácia, conhecido honre esta estrutura.
-um ASSOCIADO INDIGNADO
018 SOLTAS 5 de dezembro de 2023

CABRA DA PESTE

- POR duarte nunes -

SECÇÃO FILATÉLICA
- Por josé cura -

S
ituada na Alta da cidade, a Sé Velha de Co-
imbra é o mais importante monumento
português do período românico e aque-
le onde os traços originais ainda se mantêm.
O seu projeto é atribuído ao mestre Rober-
to, de origem francesa, que a projetou na 2ª
metade do século XII, e que também esteve
envolvido na construção da Igreja de San-
ta Cruz. O culto foi iniciado em 1184, tendo
servido de Sé episcopal até 1772. Na Sé está
sepultado D. Sesnando, Conde de Coimbra.
O exterior tem a forma paralelepipédica, o
que lhe confere um aspeto robusto. Como é
normal, o seu interior tem vestígios de várias
épocas, espelhando as múltiplas influências
da sua longa vida, como seja ornatos manue-
linos num altar, claustros góticos, retábulo de
influência da renascença, etc.. O monumento
possui tanto no seu interior como no Claustro
várias capelas com características próprias.
São várias as peças filatélica que retratam
a Sé Velha, mas a mais conhecida é o selo de
1$75, lançado a 20 de novembro de 1935. O São diversos os inteiros postais que retratam
desenho e gravura deste selo foi feito em tanto o exterior como vários pormenores
França, no Institut de Gravure et d'Imprés- do seu interior, p. ex. Zimbrório e Cruzeiro,
sion de Papiers-Valeurs de Paris. Impresso na Nave colateral, Claustro, ou Túmulo Epis-
Casa da Moeda, em papel liso e em folhas de copal. Existe ainda um carimbo comemo-
100 selos, circulou até 30 de setembro de 1945. rativo e várias vinhetas sem valor postal.
5 de dezembro de 2023 SOLTAS 019

Celebrar 134 anos de história


da Via Latina
- Por Cássia Fonseca – Arquivo da Secção de Jornalismo da AAC -

A
"Via Latina" nasce a 28 de novembro de José Afonso foi um dos nomes assinados. A década cou indiferente. Na ressaca da revolução de abril, a
1889 sob o título "Folha Semanal”. O fu- de 1960 enfrentou mudanças tanto no âmbito da revista assumiu então, um carácter de intervenção
turo não se avizinhou famoso para a revis- direção quanto na temática e a censura continuava política bem característico da época.
ta, que esteve suspensa durante 35 anos. “Revista a deixar a sua pesada marca na revista. Em abril Após mais interrupções, a "Via Latina" reapare-
de Estudantes de Coimbra” foi, em 1924, o sub- de 1961, após a publicação da “Carta a uma jovem ceu, em 1981, como "Revista Cultural da AAC".
título atribuído numa tentativa de revitalização do portuguesa”, a controvérsia instala-se. A carta ini- Em 1991, a última edição é lançada, agora intitula-
projeto, contudo o número seguinte só viu a luz do ciou, de certa forma, a discussão sobre o papel da da "Fórum de Confrontação de Ideias". Foi a edição
dia uma década depois. Aquando da celebração do mulher no quotidiano estudantil, questionando mais extensa da revista pois, para além de um vol-
IV centenário da Universidade de Coimbra (1937) também as formas de validação do feminino e a ume principal, com cerca de 360 páginas, publi-
surge uma oportunidade para revigorar a revista. posição que esta deveria ocupar na sociedade. A cou-se também um suplemento dedicado a Macau.
Apesar de contar com o nome de colaboradores contenda causou, inevitavelmente, um confronto A Via Latina retoma em 2004 e é suspensa em
notáveis, o sucesso não foi momentâneo. Em 1941, marcado por uma grande intransigência de ati- 2015. Esta suspensão representa um capítulo sig-
o projeto assume-se como "Órgão da Associação tudes e de pontos de vista. A discussão tomou tal nificativo na história da imprensa académica de
Académica de Coimbra”, contando com a colab- proporção que a “Via Latina” viu – se obrigada a Coimbra. Mais do que uma revista, foi a voz in-
oração de Salgado Zenha (presidente da AAC). publicar uma edição somente dedicada a opiniões terventiva de estudantes com ideais a defender, em
Começou-se a escrever sobre cultura, como músi- em relação à carta. períodos revoltosos, que se adaptaram e resistiram
ca e literatura. A liberdade interventiva e política, reprimida por às mudanças sociais e políticas contemporâneas.
Nos anos 50, a poesia preenche um lugar na re- tantos anos de censura, tomou lugar após a “Rev-
vista, com o surgimento do “Suplemento de Poesia”. olução dos Cravos” (1974) e a revista não lhe fi-

ObiTuário
- Por cabra coveira -

Eco-incompetência 101 Coimbra 2034


Já acabou, Jéssica? O fim do ecológi- Passaram-se 10 anos desde que vi uma
co está mais próximo que o fim do fós- estudante de colete pela última vez. A pro-
sil. Em dois anos, o GE provou uma teo- fecia foi cumprida! Esta tu não previas, oh
ria: quanto pior o órgão, mais manos da Maya… De magnífico Amílcar a ImperaDOR
JCP vão para lá. É o NOSSO grupo. Desde Falcão. Pelo menos é como lhe chamam na
que tenhamos cartão de estudante. imprensa do regime. Os edifícios do politéc-
O “Grupo Ecológico: Civil War” não nico são agora masmorras para os estudan-
chegou a tempo do Caminhos, mas vai tes que se recusam a tirar fotos de capa e ba-
encaminhado para os três Rs: rotos, tina com os turistas. Até ouvi dizer que um
rançosos e rumo ao abismo. A única caloiro de direito se recusou e foi mandado
coisa que conseguem reciclar é as mes- para o Serviço de Catering da Corte Real.
mas frases nas magnas. E disse! Até o Zé Manel virou bobo. Desde 2023 que
O GE ganhou o prémio de secção do os duques vêm prestar vassalagem anual-
ano no ano letivo em que vai morrer. mente. Já o dux nunca mais cá meteu os pés.
Outra vez. It’s the circle of life. A vossa Foi obrigado a rapar o bigode... A serenata
estrutura está cheia de Gretas: só apa- da Queima das Fitas é o hino do regime em
rece volta e meia para aquela polémi- loop tocado por hologramas de estudantes.
ca gostosa. Chupem que é verde!
Mais informação disponível em

Editorial ERRATA
Na capa da edição 317 do Jornal
Universitário de Coimbra - A CABRA, na
Não é possível ser jornalista por baixo dos escombros chamada de página da editoria de Ciência e
Tecnologia, deve-se ler “queda do Governo”
- POR ANA FILIPA PAZ -
e corrigida a gralha para “raiz”. A partir da
página 10 a data está incorreta, devendo-se
É com um nó na garganta que vos escrevo isto. volta. Chamar-lhe ‘jornalismo de cidadão’ não ler 14 de novembro de 2023.
Nos últimos dois meses temos presenciado um faz juz ao desespero com que abdicam da sua Na página 3, as fotografias das candidatas
dos maiores massacres da história e, em espe- segurança para informar o resto do mundo, na à MAM/AAC estão trocadas.
cial, um constante atentado terrorista à liber- esperança de ver um fim ao seu sofrimento. Nos créditos das fotografias de Renato
dade de imprensa e à dignidade profissional. Num contexto de total opressão e tragédia, a Daniel deve-se ler “por Alexandra
Até sexta-feira, dia 1 de dezembro, foram regis- exigência por informação verdadeira e funda- Guimarães”.
tados 61 jornalistas mortos no conflito na faixa mentada é completamente indispensável. Sem No artigo da página 10 onde se lê “mem-
de Gaza. Segundo o Comité para a Proteção o trabalho dos jornalistas de guerra, estaríamos bro do grupo há dez anos” deve-se ler “há
dos Jornalistas, desde 1992 (ano de fundação), condenados a um mar de desinformação e in- cinco”.
nunca um conflito resultou em tantas mortes. formação propositadamente manipulada que Na crónica de cinema, na página 22, o
Neste preciso momento, jornalistas prevêem a serve apenas de alimento ao discurso binário nome correto da autora da obra é Agustina
sua morte nas redes sociais, enquanto veem a e populista que se tem apoderado do espaço Bessa- Luís.
própria família desaparecer do seu colo. Têm mediático. Na página 24 da edição 317 do Jornal
medo de usar os equipamentos de identificação, Assusta-me pensar no futuro destes colegas. Universitário de Coimbra - A CABRA, deve
são perseguidos e raptados. Mães, pais, filhos, Entristece-me lembrar os que partiram em ser- acrescentar-se “Simão Moura” na colabora-
netos… Profissionais mortos. A luta pela sobre- viço. Revolta-me que deixemos que todos os di- ção de fotografia e ilustração. Na mesma pá-
vivência é ainda mais dificultada pelos cortes reitos dos jornalistas sejam postos em causa e gina deve-se ler “Leonor Viegas” e “Bruna
de luz, água e combustível, que eliminam qual- o respeito pela vida humana pisado com tanto Fontaine” nos créditos dos colaboradores
quer possibilidade de estabelecer ligação com desamor. nesta edição.
o resto do mundo e denunciar o genocídio que Aos visados, as nossas desculpas
ali se vive. Cidadãos de Gaza vêm-se obrigados
a desempenhar também o papel de jornalista
e documentar os crimes humanitários à sua

FICHA TÉCNICA Diretora Ana Filipa Paz Conselho de Redação Luís Almeida, Francisco Barata,
Tomás Barros, Joana Carvalho, Carina Costa, Inês Duarte,
Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Equipa Editorial Daniela Fazendeiro & Alexandra Filipe Furtado, Leonor Garrido, Hugo Guímaro, Luísa
Depósito Legal nº478319/20 Guimarães (Ensino Superior), Raquel Lucas & Sofia Mendonça, Margarida Mota, Bruno Oliveira, João Diogo
Registo ICS nº116759 Moreira (Cultura), Larissa Britto e Fábio Torres (Desporto), Pimentel, Paulo Sérgio Santos, Pedro Emauz Silva
Propriedade Associação Académica de Coimbra Ana Cardoso & Eduardo Neves & Sofia Ramos (Ciência &
Tecnologia), Clara Neto & Luísa Rodrigues (Cidade), Sofia Fotografia e Ilustração Daniela Fazendeiro, Joana
Morada Secção de Jornalismo Ramos (Fotografia) Carvalho, Alexandra Guimarães, Clara Neto, Catarina
Rua Padre António Vieira, 1 Duarte, Débora Borges, Miguel Pombo, Gustavo Eler,
3000-315 Coimbra Colaborou nesta edição Mafalda Adão, Joana Almeida, Matilde Paz, Duarte Nunes, Maria Sílvia, Simão Moura
Ivan Barbeira, Débora Borges, Guilherme Borges, Ana
Raquel Cardoso, Sofia Cardoso, Raquel Chaves, Francisca Paginação Lucas Yamamoto e Lunna Santana
Costa, Pedro Cruz, Catarina Duarte, Bruna Fontaine,
Solange Francisco, Iris Jesus, Raquel Lucas, Camila Luís, Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.
Luísa Malva, Liliana Martins, Xavier Marques, Matilde Telf.239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt
Mendes, Bárbara Monteiro, Francisco Monteiro, Matilde Produção Secção de Jornalismo da Associação
Paz, Inês Reis, Andrielly Santos, Jéssica Soares, Maria Académica de Coimbra
Sílvia, Marta Tavares, Afonso de Vasconcelos, Leonor Tiragem 2000
Viegas

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