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13 DE DEZEMBRO DE 2022

ANO XXXII Nº311 GRATUITO PERIÓDICO


DIRETORA JOANA CARVALHO
EDITORES EXECUTIVOS LUÍSA MACEDO MENDONÇA E FÁBIO TORRES

COIMBRA DOS
AMORES, MUNDIAL
DOS TERRORES
- PÁG. 2-5 - - PÁG. 6-8 -
ENSINO CULTURA
Eleições para o CG: 4 proje- Yamandu Costa: "Música
tos candidatos confluem na está acima de política, de
procura de mais representa- religião, dessa merda toda.
tividade e Ação Social Música é beleza".

- PÁG. 9-10 - - PÁG. 11-14 -


CIÊNCIA DESPORTO
COP27: maior conferência Filipe Rosa à frente do
mundial decide financiar CD/AAC. Falta de requal-
transição verde em países ificações em instalações
mais afetados desportivas

- PÁG. 15 - - PÁG. 16-17 -


CIDADE REPORTAGEM
Apesar da falta de condições Comércio biológico cresce
na frota dos SMTUC, 2023 em Coimbra. Três comerci-
vai ser ano de aumento no antes apostam em valores
preço das viagens mais sustentáveis.

Por Simão Moura


02 ENSINO SUPERIOR 13 de dezembro de 2022

Conselho Geral disputado por quatro


listas estudantis
Candidatos abordam temas como Ação Social, representatividade estudantil e
internacionalização. Endogamia universitária, filas nas cantinas e pegada ecológica
também são referidos como problemas.

- POR HUGO MARQUES E SIMÃO MOURA -

A
s eleições para o Conselho Geral da dado respostas aos problemas dos estudantes”, O representante pretende uma maior
Universidade de Coimbra (CGUC) e que é necessário que os mesmos possam ver aproximação ao Senado da UC e ouvir ainda
realizam-se no próximo dia 13 de as atas realizadas, de modo a aumentar o seu mais propostas, assim como promover uma
dezembro, com postos de votação em todas as envolvimento. Além disso, sugere uma revisão paridade entre professores e estudantes na
faculdades. A votos encontram-se as listas A, do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Academia. Declara ainda que “nenhum ponto
C, F e R, encabeçadas, de forma respetiva, por Superior (RJIES). O estudante de Arqueologia se sobrepõe a outro, pois a UC tem muitos pro-
Hugo Faustino, Catarina Melo, José Gama e na Faculdade de Letras da UC classifica o do- blemas”. Porém, considera fundamental com-
Carlos Magalhães. O CGUC é o órgão máximo cumento como “injusto” e acrescenta que o bater o abandono escolar. Hugo Faustino refe-
de governo da UC, que define o desenvolvimen- mesmo “não corresponde aos interesses dos re, por fim, que este “é um projeto alternativo
to estratégico, a orientação e a supervisão da estudantes”. Hugo Faustino defende que, nos pela questão do contacto com o eleitorado, que
Academia. É composto por 35 membros, cinco dias de hoje, “o RJIES procura uma elitização é fundamental”.
dos quais estudantes, que dividem o espaço com do ensino superior, que devia ser universal e
representantes dos professores, investigado- gratuito para todos”. Lista C – “Capacitar a UC, Construir o
res, trabalhadores não docentes e personalida- No que diz respeito à Ação Social, o cabeça amanhã”
des externas à UC. Entre as suas competências de lista reforça que “os serviços não devem
destaca-se a eleição do reitor, a apreciação do servir para gerar lucro, mas para ajudar os Dirigida por Catarina Melo, a Lista C -
mandato eleitoral e a aprovação de alterações nos estudantes”e diz que o museu “é o único que não “Capacitar a UC, Construir o amanhã” lança-se
estatutos da universidade. pede dinheiro, talvez por interesses económicos na corrida pelo CGUC. Para além da representa-
e pelos turistas contribuirem”. Acredita ainda tividade e da internacionalização da Academia,
Lista A - “Avança pelos teus direitos” que o movimento tem “um papel fulcral para a candidata apoia-se numa diversificação dos
garantir que os jovens possam estudar na UC e métodos de ensino e no investimento no apoio
Hugo Faustino, representante da Lista A - contribuir para Portugal”. psicológico aos estudantes.
“Avança pelos teus direitos”, aponta a falta de Como propostas, Hugo Faustino quer tra- A cabeça de lista comenta que os cinco
conexão e comunicação entre o CGUC e os alu- zer de volta o apoio às repúblicas por parte estudantes efetivados no CGUC não são
nos, bem como a necessidade de um “contacto dos Serviços de Ação Social da UC, e a abertu- suficientes, e que levam a uma presença “muito
com os estudantes que não surge apenas nas ra de unidades alimentares fechadas. O estu- reduzida” nos processos de decisão. Neste senti-
eleições”. A lista pauta-se por três pilares: de- dante mostrou-se ainda contra o pagamento do, procura “reduzir a quota relativa aos mem-
mocracia, firmeza e transparência. através da ‘app’ SASUC go! em diferentes espaços bros externos, muitos dos quais em nada têm a ver
O candidato afirma que o CGUC “não tem geridos pela UC. com a universidade".

Por Hugo Marques Por Simão Moura


13 de dezembro de 2022 ENSINO SUPERIOR 03
Catarina Melo volta a sua atenção além- tal, foram escolhidas pessoas de todas as fa- didato destaca que a sua lista é a única que in-
-fronteiras, e frisa que a UC, uma instituição culdades “interessadas, com uma visão e com tegra um estudante internacional, o que, a seu
que se afirma como “aberta ao mundo”, é a uni- propostas diferentes para o projeto”. ver, a torna uma representação mais fiel da
versidade portuguesa com o valor da propina O estudante prioriza o ensino e pretende a realidade da UC. Quando questionado sobre a
internacional mais alto. “Isso coloca, de facto, criação de um fundo de apoio à investigação quota de presença estudantil no seio do CGUC,
um entrave à vida dos estudantes internacio- “para auxiliar os gastos e as despesas que se Carlos Magalhães relembra a sugestão feita pela
nais e à geração da pluralidade que caracteriza têm nas dissertações ou relatórios de estágio”. Assembleia da República de revisão do RJIES.
a UC”, continua a candidata, que relembra a José Gama quer ainda apostar no meio digital e Nesse sentido, o cabeça de lista adianta que “é
necessidade de tocar neste ponto ”. Para solu- na melhoria das plataformas Inforestudante e uma boa altura para discutir se a constituição do
cionar o problema, sugere a criação de novos UC Student. CGUC tem representação estudantil suficiente”,
mecanismos de apoio e receção ao estudante No âmbito da Ação Social, o representante e que é uma oportunidade para “equacionar as
internacional, para melhorar a qualidade da sua afirma continuar a luta pela solução dos proble- melhores soluções” para que tal aconteça.
estadia, acompanhados da descida da propina. mas em residências e repúblicas, mas também No que diz respeito à propina, o candidato
A concorrente não deixa de notar a posição da privilegia o tema das cantinas. Como solução, quer orientar os trabalhos do órgão, no sentido
UC nos ‘rankings’ internacionais, onde verifica aponta que se pode “alterar os horários, como de evitar que “dispare de um ano para o outro”.
uma descida ao longo dos últimos anos. Catarina experiência, de saída para o almoço das facul- No caso da Faculdade de Economia da UC, por
Melo considera que “há um ponto muito dades de modo a haver um vazamento de filas”. exemplo, “a propina (do segundo ciclo) passou
importante e que tem vindo a ser tocado que é A saúde é também prioridade para José Gama, de 700 para 1500 euros e no técnico para os 1250
a questão da endogamia universitária”. Face a que sugere “o reforço do número de psicólogos euros”, exemplifica. Assim, Carlos Magalhães
esta situação, declara que é preciso “trazer para na universidade e a sua descentralização”, com a define como objetivo manter o valor da propi-
junto do corpo docente elementos que gerem possibilidade de alunos em mestrado exercerem na atual “pelo menos até ao fim do período de
novos métodos de ensino”, de forma a contribuir o estágio da Ordem de Psicólogos na instituição. transição de 2024/2025”.
para a “pluralidade e diferenciação”. A lista propõe ainda a aproximação às secções Quanto aos mestrados integrados, o cabeça
A saúde mental dos estudantes também culturais e desportivas da Académica, pois estas de lista reforça a necessidade da atuação num
não passa ao lado. Para a candidata, são fazem parte dos interesses dos estudantes. tema que, a seu ver, “foi um bocado injusto,
“pouquíssimos” os profissionais que a UC em- José Gama afirma que todos estes pilares con- não deu valor aos estudantes e não teve a sua
prega para prestar o apoio psicológico “crucial” jugados são os problemas mais presentes do opinião”. O candidato prevê ainda um apoio
para o desenvolvimento das capacidades de cada CGUC, nos quais todos os estudantes que “alme- aos discentes da UC que vivem nas residências
aluno. “É preciso investir em mais recursos jam representar têm que se focar”. Termina ao universitárias, com a criação e renovação de
humanos, no que consta a profissionais de saúde, dizer que "se tentou fazer um projeto que con- edifícios., São exemplo a construção de uma
e colocá-los nas várias unidades orgânicas, seguisse responder no imediato a problemas da nova infraestrutura no final de 2023 perto das
para que possa ser prestado esse apoio a toda a comunidade estudantil” e que tem de haver uma Escadas Monumentais, e a renovação de outras
comunidade estudantil”, pontua Catarina Melo. “ponte entre os estudantes e os seus problemas, como a Residência da Alegria e a Residência dos
para serem resolvidos”. Combatentes.Desta forma, o candidato afirma
Lista F - “Um Futuro para a UC” querer, com o seu projeto,melhorar a situação
Lista R - “Representar os Estudantes” do alojamento na cidade.
A lista F - “Um Futuro para a UC", O representante fala ainda numa revisão do
encabeçada por José Gama, aponta a informa- Carlos Magalhães assume a liderança da Lista estatuto de estudante atleta e numa promo-
ção como chave principal para a melhoria do R - “Representar os Estudantes” com um projeto ção do desporto universitário, bem como uma
CGUC. O candidato afirma que a representati- voltado, sobretudo, para a propina internacio- maior comunicação com os órgãos culturais da
vidade dos alunos é reduzida e que é necessário nal e a extensão dos ciclos de estudo dos mestra- Associação Académica de Coimbra, de forma
“diminuir o número e a percentagem de pessoas dos. Apesar do foco nestes assuntos, o estudante a promover a estabilidade. O cabeça de lista
do órgão que não são estudantes”. da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC levanta também a questão do desperdício nas
O projeto baseia-se numa proximidade aos não descura a importância da Ação Social, do cantinas da universidade. A seu ver, é preciso
alunos, com o objetivo de se criar um órgão con- ambiente, da diminuição da propina nacional garantir uma oferta alimentar “adequada” para
sultivo para “recolher os problemas vindos de e do desporto e cultura académica. combater este problema e, assim, diminuir a
baixo e passar a informação para cima”. Para Sob a bandeira da representatividade, o can- pegada ecológica da Academia.
Com Margarida Verdade

Por Hugo Marques Por Simão Moura


04 ENSINO SUPERIOR 13 de dezembro de 2022

Grupo Ecológico sob nova direção


Atividades para próximos meses já estão programadas. Dirigentes apontam
divulgação como um dos maiores entraves à atividade da secção.

- POR MARIA INÊS PINELA -

A
pós a demissão da dirigente da Comissão que, sem o mesmo, “haveria uma dificuldade Por sua vez, Emília Oliveira insiste que um dos
Administrativa, Emília Oliveira, imensa em colmatar uma das maiores crises que entraves ao GE/AAC é a imagem que as pessoas
o Grupo Ecológico da Associação se vive na atualidade”. Jéssica Sá partilha desta exteriores à estrutura do Grupo têm dos seus
Académica de Coimbra (GE/AAC) voltou a opinião ao mencionar a importância histórica integrantes e das suas ações. “Havia a ideia de
eleger uma lista para a sua presidência. A do GE/AAC, e diz que, sem ele, “a Académica que o GE/AAC era muito fechado e que se alguém
candidata da Lista A – “Avançar pelo GE”, Jéssica seria mais pobre”. não fosse, por exemplo, vegan, era maltratado”
Sá, recorda o tempo em que o grupo esteve A atual presidente revela que a sua equipa já exemplifica a antiga dirigente, que mantém a
“parado” e atribui a responsabilidade ao Conselho tem um plano de atividades delineado. Para este propagação de uma “imagem clara” do Grupo
Fiscal da Associação Académica de Coimbra mês de dezembro, a dirigente prevê a realização como essencial ao seu funcionamento.
(CF/AAC) que, a seu ver, “ignorou a situação”. de atividades como, por exemplo, um atelier Tanto Jéssica Sá como a vice-presidente,
Adianta ainda que os “integrantes da Comissão de efeitos de Natal. Em janeiro, vai ser realiza- Maria Mailho, assumem a divulgação das ati-
Administrativa já tinham deixado claro ao da uma exposição de obras cinematográficas vidades desenvolvidas como um dos entraves
CF/AAC que não conseguiam sustentar mais a sobre as temáticas abordadas pelo GE/AAC. Já à exposição do GE/AAC. As dirigentes conside-
presidência do GE/AAC”. em fevereiro, anuncia o regresso de recolhas ram que a solução passa não só pela utilização
Dada esta instabilidade, a extinção da secção de sebentas e outros materiais nas faculdades das redes sociais, mas também pela colocação
chegou a ser debatida ao longo do último ano da Universidade de Coimbra (UC). Acrescenta de cartazes nas várias faculdades. A presidente
letivo. Perante esta sugestão, a ex-presidente ainda o regresso da afixação de “cartazes po- nomeia ainda a utilização dos órgãos da casa
da Comissão Administrativa do órgão declara lémicos” pela Academia, algo que atraiu a sua como forma de aumentar o alcance da secção.
que este “é fundamental”. Continua ao dizer atenção para a atividade da secção.

Estatutos: onde estão e para onde vão


Daniel Tadeu admite possibilidade de prolongamento de trabalhos por mais um ano.
Presidente enaltece trabalho dos membros da ARE.

- POR SAM MARTINS -

A
Assembleia de Revisão de Estatutos pois têm "dado o seu melhor”, algo que Daniel intuito do órgão é de “procurar esse
(ARE) da Associação Académica de Tadeu espera que continue com o decorrer dos ‘feedback’”, de forma a que não haja um entra-
Coimbra (AAC) está a decorrer desde trabalhos da Assembleia. ve para quem não consegue estar presente nos
junho e tem dinamizado fóruns, a par de O também antigo presidente da Mesa da plenários, pois “pode ingressar online
discussões públicas, para preparar as Assembleia Magna da AAC adiciona que, após o consoante a aprovação dos membros
diretrizes que vão gerir a Académica nos próxi- plenário de segunda-feira, dia 12 de dezembro, do plenário”.
mos anos. Com a duração mínima de um ano, a começa a época de “férias de Natal, para ir visi- A ARE entrou em funções em junho do pas-
ARE pretende apresentar resultados em junho tar as famílias”, pelo que vai ser durante o mês sado ano letivo e é composta por 35 membros,
de 2023. No entanto, o presidente do órgão, de janeiro que “todas as comissões especializa- selecionados a partir das quatro listas que con-
Daniel Tadeu, admite a possibilidade de adiar das vão apresentar o seu relatório final”. Daniel correram ao órgão. Para quem tem interesse
esta apresentação por mais um ano. Tadeu salienta a vontade de “ouvir a comuni- em acompanhar todo o processo, existe um
De acordo com o dirigente, está a decorrer dade académica”, pois há sempre algo a men- ‘website’, com atualizações constantes, que
a apreciação das propostas apresentadas, cionar “que pode ser proposto na Aassembleia pode ser consultado a qualquer altura. Nesse
tanto no Fórum da ARE, ocorrido no passado e debatido na mesma”. Nesse sentido, vai ser ‘site’ são publicadas tanto as deliberações
dia 22 de outubro, como ao longo do período realizado um novo fórum no dia 18 de feverei- como as atas de cada plenário. Aqui, a comu-
de auscultação pública. De seguida, vai ser ro, aberto a todos os estudantes. nidade académica pode encontrar informações
feita uma análise às entrevistas, às propos- O presidente salienta o sucesso do primeiro relativas aos “membros que saíram e aos que
tas apresentadas e aos documentos mencio- fórum ARE, de onde “saíram boas propostas, ainda estão no ativo”, ou até “por quais mem-
nados para que se possa, por fim, “debater os com bastante potencial”, e termina com a ideia bros é composta cada comissão”. O responsável
estatutos”. O responsável refere ainda que de existir já “bastante matéria reunida” a ser ressalta que este ‘site’ “tem tudo”, e apela a que
todos os elementos presentes no órgão merecem analisada, ao detalhe, pelos integrantes das os interessados o consultem.
destaque pelo "bom trabalho feito até agora", comissões especializadas. Frisa ainda que o
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Prolongamento dos exames da FDUC


afetam entrada no segundo ciclo
Assunto discutido com direção da faculdade e Conselho Pedagógico. Rafael Assunção
destaca autonomia dos docentes ao definir metodologia do ensino e modelo
de avaliação.
- LUCÍLIA ANJOS E MARIJÚ TAVARES -

A
Faculdade de Direito da Universidade de fora”, adianta. O presidente do núcleo sadas umas semanas é que os estudantes se
de Coimbra (FDUC) contou, dia 20 menciona que este cenário se deve “às longas conseguiram inscrever”.
de outubro, com uma manifestação épocas de exames” existentes na FDUC. Joana Catarina Araújo, também estudante
realizada na porta férrea. Os estudantes O prolongamento destas épocas faz com de direito, considera que, de forma indire-
de direito juntaram-se com o objetivo de que, no segundo semestre, os exames come- ta, foi afetada por esta calendarização, uma
mostrarem o seu descontentamento perante a cem em junho e terminem em setembro, ou vez que o atraso no lançamento de notas fez
impossibilidade de ingressarem no mestrado, até mesmo outubro, como aconteceu este com que não se pudesse inscrever na época
em consequência do atraso na lacragem das ano com a época especial. O representante extraordinária, que se realiza nos fins de
notas de exames da época especial. do NED remata que "os alunos mais preju- outubro. A aluna reconhece que esta situação
O presidente do Núcleo de Estudantes de dicados acabam por ser os do último ano de levou a que alguns dos seus colegas “optas-
Direito da Associação Académica de Coimbra licenciatura, pois mesmo que queiram ingres- sem por não ir ao exame de época especial e
(NED/AAC), Rafael Assunção, explicou que sar noutras faculdades ou universidades do fazer o mestrado só por disciplinas em avul-
este atraso foi da responsabilidade dos país veem-se condicionados porque ainda não so”, para eliminar a possibilidade de ficarem
Serviços de Gestão Académica da UC e não terminaram a licenciatura”. parados um ano.
da própria faculdade, já que esta “cumpriu Francisco Dinis, membro do Conselho Segundo Francisco Dinis, o Conselho
com tudo aquilo com que se comprometeu”. Pedagógico, reforçou que estes prolonga- Pedagógico esteve em reuniões com a dire-
Neste sentido, a questão foi levada à reitoria mentos no calendário universitário causam ção da FDUC e com o NED/AAC no sentido de
da UC e ao provedor do estudante, com vista situações “incompatíveis”. A título de exem- “conseguir estancar as épocas nos momentos
aos alunos candidatos a mestrado “consegui- plo, referiu que “a época de recurso, que deve- para as quais estão destinadas”. Além disso,
rem ver a sua situação regularizada”. Ainda ria ter o seu término em julho”, nunca acaba frisa que, apesar do órgão pedagógico ser de
assim, depois da ação reivindicativa, nem nesse mês “por causa das remarcações e das caráter consultivo, o objetivo é fazer com que
todos os estudantes afetados ingressaram nos avaliações orais”. os estudantes “tenham cada vez mais aces-
respetivos mestrados. Beatriz Olaio, uma das estudantes que se so a épocas de avaliação repartida ou contí-
Rafael Assunção explica que, no decorrer do encontrava impedida de ingressar no 2º ciclo nua, para que haja uma verdadeira época de
processo de candidatura, é necessário estipu- de estudos na Faculdade de Direito, mencio- exames normal”.
lar uma data para conclusão da licenciatura. na que “passado uns dias desde a manifes- O NED/AAC, avança Rafael Assunção, já
Os estudantes que se tinham comprometido tação de 20 de outubro, saiu o despacho”. De discutiu e reuniu várias vezes com a direção
com a universidade que “se licenciavam em acordo com a discente, o provedor do estu- da FDUC com o objetivo de apresentar várias
setembro e, a dia 18 de outubro, ainda não ti- dante exprimiu que a situação ficaria resol- propostas, congruentes com as do Conselho
nham as notas lacradas, acabaram por ficar vida no dia da manifestação, mas “só pas- Pedagógico. Estas orientações passam por,
de novo, “aumentar os momentos de avalia-
ção repartida ao longo do semestre, alterar
os métodos de avaliação em algumas unida-
des curriculares, ao introduzir, por exemplo,
apresentações de trabalhos e uma vertente
mais prática ao curso” para que os alunos não
tenham tantas avaliações.
Rafael Assunção salienta que “a direção da
faculdade recebe de forma bastante positi-
va as sugestões e recomendações”. No entan-
to, aponta que há também uma dependên-
cia da UC e dos próprios docentes que “têm
uma grande autonomia na sua escolha para
os momentos de avaliação curricular e para
a própria metodologia de ensino nas suas
cadeiras”. Lamenta ainda que, apesar de al-
guns pretenderem evoluir, há outros que pre-
ferem “métodos mais arcaicos, com exames
e aulas muito teóricas”.

Por Marijú Tavares


06 CULTURA 13 de dezembro de 2022

Uma vida entre sete cordas


Yamandu Costa trouxe violão de sete cordas ao Teatro Académico de Gil Vicente.
“É um privilégio poder viver disso e para isso”, refere artista.

- POR GUSTAVO ELER E SOFIA MOREIRA -

Por Gustavo Eler

É conhecido por tocar o violão de sete cor- bordados e caminhos de frases interessantes e violonistas de sete cordas, o que espera da
das. Como surgiu o seu contacto com o criativos. Acho que também tem herança da próxima geração?
instrumento? viola do fado, essa coisa de ter a corda de aço A gente vai aprendendo a não ter muita expec-
Conheci o violão de sete cordas através do que até hoje o fado tem, para fazer o ‘blend’ com tativa, né? Mas notamos que é muito promis-
Rafael Rabelo, um músico brasileiro que a guitarra portuguesa. Esse mundo das cordas sora essa nova geração de jovens que tocam de
mudou a história recente do violão no Brasil. é uma magia, um encanto, a vida inteira dando forma maravilhosa. O instrumento não tem
É uma referência fundamental para mim. Aí volta nessa roda gigante que não tem fim. fim, eu acredito que vá ter uma história muito
a minha geração seguiu esse barco e eu, falsa bonita. O importante é esses músicos entende-
modéstia, sou um divulgador desse instrumen- Consegue imaginar a sua carreira sem o vio- rem que a sua música tem que dizer algo, na sua
to e uma das suas principais referências – não lão de sete cordas? própria maneira.
só no Brasil, mas em toda a América Latina. Muito difícil. Foi uma escolha feita de paixão,
É um instrumento que comecei a tocar muito mesmo. Como quando a gente só faz caga- De onde surgiu a paixão e a vontade pelo
jovem e que vem se desenvolvendo muito bem da quando tá apaixonado... mas não foi uma choro brasileiro?
em diferentes caminhos: há uma linha solista, cagada não, porque eu adoro esse instrumento. A gente se encontra pelo choro. A linguagem
que eu toco, e uma linha de acompanhamen- Agora, é um instrumento que limita, apesar de universal do músico brasileiro é o choro,
to, que é mais tradicional. Para um solista, diferente e único, porque não é comercial. porque existe no Amazonas e no Rio Grande
um flautista, um bandolinista, o sete cordas é do Sul, em Pernambuco e no Mato Grosso,
como se fosse um tipo de baixo que fica fazendo Como representante da geração atual de simples assim. É uma música que representa
13 de dezembro de 2022 CULTURA 07
o povo brasileiro, a mistura que nós temos: o uma richazinha entre a Canção de Coimbra e o
caboclo, o negro, o europeu e o índio. O choro fado de Lisboa, tudo bobagem isso aí. Os esti- Considera que a música popular brasileira,
saiu da senzala, quando colocavam os negros los são diferentes, mas são lindos. Então é uma como o samba, é ofuscada pela industriali-
para estudar piano clássico, música europeia, cultura fantástica, maravilhosa, adoro. zação da música?
eles, com aquele ‘swing’, mudaram toda a Isso faz parte do entretenimento. A música tem
linguagem. O choro é a fotografia da gente como Chegou a participar nos Centros de Tradição muitas facetas que vão mudando. Não tem que
cultura, né? Essa mistura da nossa raça é a Gaúcha típicos do Rio Grande do Sul, onde levar muito a sério isso. Música é música, é um
cara do choro. nasceu? troço que está acima de política, de religião,
Totalmente! O meu pai tocava nesses ambien- dessa merda toda. Música é beleza.
Como foi o seu contacto com o fado tes também, onde eu me criei desde muito
português? pequenininho. É um clube gaúcho que tem pelo O que acha do futuro da música brasileira?
Eu sempre fui apaixonado pelo fado. A gente mundo inteiro. A comunidade gaúcha é muito Ah! O Brasil é um poço sem fim de talento. E
sente que nesses países mais quentes a música aguerrida, tem muito orgulho da sua tradição. a gente vê que é um país que prova que de um
popular ainda existe. Tenho amigos que são Aquelas prendas, aqueles vestidos enormes… pântano nasce uma rosa. Tem muita gente
fadistas, então às vezes saio à noite em Lisboa, Aquilo para namorar é que é uma merda, atra- sempre fazendo coisas. Não são muito fáceis de
me sento ao lado dos caras e o negócio come- palha muito! (risos) encontrar, mas que têm qualidade, têm.
ça a acontecer às três horas da manhã, é uma
cultura boémia. Quando você vê o fado, é Com as suas viagens pelo mundo, é notável Para os seus próximos projetos, o que acha
como o tango, é um personagem da noite, ele a influência do choro noutros estilos? que falta para se sentir realizado?
está dentro da música, inserido na cultura. Nos últimos anos isso mudou muito. O choro Primeiro tenho que ficar vivo (risos) e preci-
Eu amo isso. Moro em Portugal muito por isso tem muito mais protagonismo e gosto de fazer so de saúde! Já não é fácil. Sempre tive uma
também. Em Alfama, por exemplo, eu consi- parte dessa história. Eu e uma cambada de carreira muito real, nunca fiz parte do ‘show
go ouvir uma coisa que não seja McDonald 's gente! Não só jovens, mas gente da velha guar- business’. Minha música não toca na rádio. Não
ou Dolce & Gabbana. Quando o cara começa a da, também. O choro é uma linguagem que tenho muita pretensão, sou um cara proativo
cantar fado e, naquele momento da profundi- cada vez mais ocupa espaço e merece todas as num par de coisas, então minha carreira acon-
dade da cultura, o público começa a falar baixi- portas que estão se abrindo. É uma música de tece do que eu invento. Eu saio para pescar com
nho: “vai fadista, vai fadista”. Tomar um bom extrema qualidade, de difícil execução e que dez caniços, como se diz no Brasil, que significa
vinho e ouvir um fado é um privilégio. demanda muito carinho. estar pronto para qualquer coisa. Por exemplo,
vou gravar um disco agora com o Armandinho
Acredita que o fado português tem influên- O Yamandu possui um estilo próprio de Macedo. Eu lanço… sei lá, quatro álbuns por
cia no choro brasileiro? tocar o violão e também já viajou o mundo ano, uma quantidade absurda de ‘singles’,
Tem gente que fala que o fado veio da músi- inteiro. Acha que as outras culturas influen- participações. Não paro de trabalhar! Eu tenho
ca brasileira, nós somos pátrias irmãs. Brasil ciaram a maneira como toca? mais de 50 discos gravados, mais discos do que
e Portugal se alimentam há muito tempo, Demais. Eu sou um músico em total crescimen- anos! Não que sejam bons, mas tem bastante!
de muitas formas, mais do que a gente se dá to, sabe? Não tem fim, mas isso demanda uma Eu adoro estar em movimento, e a graça é essa.
conta. Lá no fundo, existe esse fio condutor que concentração no momento, que é sempre meio A carreira começa como um sonho, depois você
chegou no Brasil e chegou na América Latina, tensa. Você conseguir fazer a conexão de certas se apaixona por ela, você fica louco e tal e depois
né? Quando a gente pensa na América Latina, coisas é um ofício muito interessante. Porque vira uma necessidade, nem de sucesso, nem
a gente enxerga um continente que deu uma sempre depende do teu bem estar e condição, de público. É um negócio próprio de realizar
segunda chance ao mundo de fazer a música não só física, mas mental. Estar pleno para coisas, de se acreditar, de se empurrar para a
acontecer. As culturas, não só musical, mas fazer com que a música seja a protagonista em frente. Quero cuidar da saúde para poder tocar
de gente humana... Puta que pariu! Você vê a tudo isso. para as pessoas. As etapas da vida vão mudan-
música, o ‘blues’, o ‘jazz’, o samba, o choro, o do. Quando você é jovem, você toma todas e tal,
tango, a música caribenha... Existe todo um fio Qual a sua opinião sobre a industrialização depois começa a acalmar um pouco. A grande
ibérico, principalmente na América do Sul. A da música? paixão está aqui, na hora de fazer a música, de
gente chama a isso tudo um caldeirão, com um Essa coisa da indústria tem que existir. Mas a fazer acontecer o troço, então é um privilégio
pouco de África junto. Pouco não, muito, gra- gente sente a influência das grandes corpora- poder viver disso e para isso.
ças a Deus, ou ao que quer que seja. Essa mistu- ções na manipulação da música digital e isso
ra é a nossa única saída. Cada músico vai ali e é uma sacanagem com os envolvidos que não Por fim, como conheceu Armandinho
coloca um tijolinho e a coisa vai se construin- aparecem nos créditos, sabe? Então eles inven- Macedo, colaboração do seu próximo disco?
do, vai começando a se criar um vocabulário taram uma pseudoliberdade que torna a mão
sobre tudo isso. de obra escrava, imposta por uma estratégia O Armandinho é uma espécie de padrinho da
de marketing das grandes corporações. E o que minha carreira. Eu conheci-o como a princi-
Como foi a sua experiência a tocar guitarra acontece? O mundo fica cada vez mais desigual. pal referência do bandolim. Quando comecei
portuguesa? A gente vem de um país que, se eu não fosse um a ouvir música instrumental, ouvia muito um
É uma brincadeira. Um instrumento que tem músico, o que eu poderia ser? Não tive acesso à disco dele com o Rafael Rabelo. Eu me criei ou-
uma afinação completamente esquizofrénica, escola direito. Eu ia ter que trabalhar na roça, vindo Armandinho. Aos 17 tive a oportunida-
nem me atrevo. Tem toda uma ciência. Você ia ser um caminhoneiro ou qualquer coisa. Tive de de o conhecer através de um amigo comum
estica uma corda num pau e quer de alguma a sorte de ter um talento, de ter uma família em São Paulo, que me colocou no mesmo hotel
maneira passar um tempo com aquilo, chegar musical que me deu uma formação e consegui que o Armandinho, no quarto ao lado do
num lugar bonito. fazer minha vida dessa forma. Agora, como dele. Nessa altura eu já sabia acompanhar o
é a verdade de quem está na periferia? É um repertório dele. Aí foi uma coisa explosiva,
Tem um tipo de guitarra portuguesa negócio acachapante. Isso se reflete no ‘funk’ quando a gente se encontrou e saiu tocando,
favorita? das favelas do Brasil, que é só falta de estudo. como até hoje acontece. Finalmente, por iro-
Não, até porque eu não tenho conhecimen- Não é música, é um grito de protesto. É a reali- nia do destino, vamos gravar um disco aqui em
to profundo. Eu sei que a daqui de Coimbra é dade do nosso país e isso eu estou vendo agora Portugal, né? Coisa mais louca isso.Vamos regis-
afinada um tom abaixo, é mais grave. Mas acho morando em Portugal com os meus filhos, o que trar o álbum para ter motivo para tomar vinho
todas elas lindas. Eu sei que aqui tem meio que é um privilégio. no Natal.
08 CULTURA 13 de dezembro de 2022

A guitarra de Coimbra também chora


lágrimas azuis
Festival Coimbra em Blues regressa ao palco do TAGV com “alinhamento de luxo”,
relata produtor. Cruzamento de guitarras de B.B. King e de Carlos Paredes explora
“melancolia disfarçada de romantismo”.
- POR FREDERICO CARDOSO -


E se Carlos Paredes e B.B. King fizes- referência à frase de Willie Dixon, que “’blues’ is mento “nascido para tocar o folclore e a canção
sem uma ‘jam session’?” Assente nesta the root, the rest is the fruit”. O músico revela da cidade”, tem, segundo o músico, “um poten-
pergunta, nasceu a ideia de organizar um uma “gigante admiração por Carlos Paredes”, cial incrível, que transcende muito para além
concerto com base no “cruzamento da obra des- que considera ser “o Beethoven ou o Mozart” do fado”.
ses dois génios da guitarra”, explica Adalberto português contemporâneo. Para o autor mu- Guilherme Catela acredita que “o ‘blues’ pode
Ribeiro, produtor da empresa Trovas Soltas. sical, “cruzar o fado de Coimbra com o ‘blues’ ser feito com qualquer instrumento, e a guitar-
Como forma de levar o ‘blues’ a toda a gente, sempre foi um sonho”, por querer explorar ra de Coimbra não é exceção”. Os dois géneros
realizou-se, nos dias 9 e 10 de dezembro, mais “algo inovador, mas com a alma e essência da musicais têm “as mesmas origens melódicas
uma edição do Coimbra em Blues, no Teatro cultura portuguesa”. e emocionais e é por isso que os dois géneros
Académico Gil Vicente (TAGV). O guitarrista, que já tocou diversas vezes encaixam um no outro”, clarifica. O músico
Esta novidade foi interpretada, na sexta- em palco com Shirley King, sobrinha de B.B. acredita que, “por vezes, quando se explora um
feira, por Budda Guedes, ‘Peixe’, dos Ornatos King, explica que os dois géneros transportam pouco além do que é considerado o padrão, sur-
Violeta, e Guilherme Catela. A aliança destes “a mesma melancolia disfarçada de romantis- gem coisas de uma magnitude surreal”.
artistas pretendeu “explorar o papel da guitarra mo”. Budda Guedes realça que “a música nunca é Dado o elenco do evento de “elevadíssima
elétrica na obra de Carlos Paredes e da guitarra triste, mas sim um lamento disfarçado de exor- qualidade” e artistas “com a cabeça aberta a
de Coimbra na obra de B.B. King”, esclarece o cização verbal”. O elo entre os dois géneros acaba este novo desafio”, Adalberto Ribeiro realça “a
produtor. “Para os restantes concertos, contou- por ser “o choro da guitarra de Coimbra e da capacidade de cumprir com as altas expectati-
se com um alinhamento de luxo, com Archie Lee guitarra de ‘blues’”, conclui o artista. vas”. Budda Guedes afirma que a música ‘blues’
Hooker, Peter Storm e The Animals”, explica Discípulo da guitarra de Coimbra desde 2015, alcança e une pessoas, em torno e devido a ela”.
Adalberto Ribeiro. Guilherme Catela atenta que “não se deve Já para Guilherme Catela, “há ainda muito
Budda Guedes, guitarrista profissional de conotar um instrumento a um estilo musical”. terreno por explorar”.
‘blues’ há mais de duas décadas, indica, em A guitarra de Coimbra, apesar de ser um instru-

Estereótipos barrados à entrada do


Festival Género ao Centro
Segunda edição proporciona reflexão do público jovem sobre questões sociais.
Organizadora ambiciona “momento em que se vai alcançar igualdade de género”.
- POR BRUNA SANTA -

O
Festival Género ao Centro, destinado a ideal feminino. Da mesma forma, realizou- tolerância, ambas concluem que se verificou
jovens dos 3 aos 18 anos, realizou este se uma encenação de um conto de fadas que uma melhoria. Apesar disso, Liliana Carona
ano a sua segunda edição. Proporcionou apresenta uma princesa que foge desse este- sublinha que “ainda há um longo caminho a
a consciencialização para temas como género reótipo. Já Liliana Carona realça a necessidade percorrer, para transformar o estigma perpe-
e igualdade de género em Coimbra, Condeixa- de “existir representatividade e substituição tuado nas gerações anteriores”.
a-Nova e Góis. Com a participação de 3 mil da abordagem clichê em relação à mulher na Quanto a uma próxima edição, pretende-se
pessoas, entre os dias 24 e 26 de novembro, a comunicação social”. levar os espetáculos, debates e ‘workshops’
Catrapum Catrapeia, associação organizadora, A organizadora menciona que “as reações com convidados a todos os municípios da
reuniu miúdos e graúdos para discutir assun- dos participantes nesta iniciativa são distin- região centro. Visa-se continuar a recorrer à
tos sobre o “Poder da Palavra”. tas entre si”. Assinala que as crianças foram um cultura como intervenção cívica e propósito
Liliana Carona, jornalista e convidada do fes- “espírito aberto”, os jovens focaram-se na iden- de formação, ao manter o apoio de institui-
tival, salienta a relevância da iniciativa para tidade e os adultos permaneceram céticos. Em ções como o Centro Regional de Informação
as gerações atuais e vindouras. Neste sentido, relação às instituições, acredita que “há vonta- das Nações Unidas.
destaca o término do uso do “binómio femini- de, mas receio em debater”. As entrevistadas Assim, Liliana Carona defende “a continua-
no/masculino”. Refere ainda que é necessária identificam maior proatividade e sensibilidade ção deste tipo de iniciativas na comunidade
“coragem para levar estas temáticas às es- na juventude atual, que tem uma “inclinação escolar e para outras faixas etárias''. Já Vânia
colas”, pois requerem sensibilidade e podem para o ativismo e o envolvimento com institui- Couto ambiciona o “momento em que não vai
causar sofrimento a quem as vivencia. ções”, reforça Vânia Couto. ser preciso continuar com o festival e se vai
Os debates contribuíram para “desmistifi- Conscientes de que ainda é necessário alcançar a igualdade de género”.
car” preconceitos, sobretudo no que toca ao implementar medidas no sentido de uma maior
13 de dezembro de 2022 CIÊNCIA E TECNOLOGIA 09

COP27: mais decisões do que ações


Segundo dados da ONU, emissões de carbono aumentam entre um a dois por cento a
cada ano. Para Helena Freitas, agravamento das alterações climáticas “justifica um
maior compromisso”.

- POR LUÍS GONÇALVES -

A
27ª edição da ‘Conference of the se juntam e olham para o ambiente”. O ati- como a China e os Estados Unidos da América
Parties’ (COP27) decorreu de 6 a 18 vista, também estudante de Antropologia deviam estar mais comprometidos com as
de novembro em Sharm El Sheikh, no na Faculdade de Ciências e Tecnologia da metas, pois continuam com uma série de
Egito. Este define-se como um evento mundial Universidade de Coimbra (FCTUC), refere práticas bastante penalizadoras, sobretudo
entre vários países dos diferentes continen- que a conferência deste ano foi assinalada no financiamento de combustíveis fósseis”.
tes, onde se discutem os temas da atualidade. pela decisão de dar dinheiro a um país que A investigadora relembra também a neces-
A conferência realiza-se todos os anos desde precise de fundos para recuperar de um sidade de “acelerar a descarbonização das
1995, quando houve a primeira edição em desastre natural. economias do mundo”, aspeto que afirma
Berlim, na Alemanha. É um acontecimento No entanto, como referido por Helena ser “muito relevante para a luta contra as
mundial promovido pela Organização das Freitas, docente no Departamento de Ciências alterações climáticas”.
Nações Unidas (ONU) onde estão presentes da Vida (DCV) e investigadora da UC, “este José Xavier declara que “cada país tem a
países de todo o globo. financiamento ainda não está bem definido”. sua agenda e tem questões prioritárias, mas
Segundo Ivan Barbeira, membro do Coletivo Esta opinião é partilhada por José Xavier, as alterações climáticas são algo que devia
Climáximo, “as COP são um momento único, professor de biologia na Universidade de estar em todas”. A coordenadora do CEF, rela-
onde os governos, a sociedade e os média Coimbra, já que “não se definiram mecanis- ta que, apesar da agenda estar já construída,
mos para distribuição e captação dos fundos”. não se “debruça muito sobre as alterações cli-
Além disso, a COP27 também ficou máticas, algo que deveria mudar”. De acordo
marcada pelo aumento da presença de com o último relatório da ONU, as emissões
lóbis de petróleo em 25 por cento, como de carbono por ano deviam estar a reduzir
afirma Ivan Barbeira. O ativista acredita entre cinco a sete por cento, no entanto estas
que “se fossem uma delegação, teriam estão a aumentar entre um a dois por cento.
cerca de 600 elementos, que seria um O professor julga ainda haver tempo para
número maior do que uma delegação de reverter as consequências, mas “quanto mais
dez países vulneráveis juntos”. Já Helena se demora, maiores se tornam os efeitos”,
Freitas reforça que os lobistas “impedem tanto a nível económico, como a nível de
um caminho de transformação devido desastres naturais. O investigador indica
aos seus interesses financeiros”. ainda os relatórios do ‘Intergovernmental
Para a investigadora do DCV, “a urgên- Panel On Climate Change’ (IPCC) como um
cia destes problemas justifica um maior bom meio para ajudar os governos a tomarem
compromisso”, e realça que os planos decisões. “As deliberações da COP27 também
nacionais deviam ter mais ênfase nes- afetam Coimbra”, salienta José Xavier. São
tas temáticas, visto que “é uma forma casos as cheias do Mondego e a existência de
de ter os países mais vinculados com tempestades tropicais a passar pelo país, que
as metas de descarbonização”. Cerca antes não existiam.
de 80 por cento das emissões resultam A UC foi considerada a mais sustentável no
de cinco países. Para Helena Freitas, “é país. Da mesma forma, Ivan Bandeiras, enfa-
desejável que estes países tenham uma tiza a importância dos estudantes de Coimbra
atitude mais proativa e mais determina- seguirem com atenção o que é falado nas
da em relação às políticas ambientais”. COP. Após a COP27, as temáticas ambientais
A docente acrescenta que “a sociedade continuam a ser debatidas na ‘Biodiversity
já se apercebeu que a luta contra as al- Conference’, também promovida pela ONU,
terações climáticas é importante para o a acontecer em Montreal. Segundo Helena
futuro”. Reforça que “o problema é não Freitas, “não se resolve a crise climática sem
haver instrumentos de monitorização, se solucionar a crise da biodiversidade, pois
nem financeiros, que ajudem a fazer de estão ambas interligadas”. José Xavier acres-
forma coletiva a transição”. centa ainda que “a biodiversidade é um bom
Helena Freitas é também coordenadora indicador da qualidade do ambiente, pelo que
do Centro de Ecologia Funcional (CEF). é preciso protegê-la”.
Nessa qualidade, afirma que “países
Com Iara Sotto Mayor

Por Pedro Mendes


10 CIÊNCIA E TECNOLOGIA 13 de dezembro de 2022

Exposição internacional alerta para a


importância da água
Nova mostra definitiva no Exploratório. Diretor do espaço salienta que “nunca houve
na cidade uma exposição com esta dimensão e qualidade”.
- POR MARIANA NEVES -


Água: uma exposição sem filtro” está, vos. Paulo Trincão afirma que a água é “um dos Em conjunto com as Águas de Coimbra, foi
desde dia 27 de novembro, em exibição temas centrais para todo o mundo”. O diretor assinado um protocolo com a finalidade de fazer
no Exploratório - Centro Ciência Viva elabora que a mostra é “atrativa para as crian- chegar esta exposição à maioria da população.
de Coimbra. Foi produzida pelo Pavilhão do ças” e, ao mesmo tempo, permite que os adultos O diretor refere que um dos objetivos da exibi-
Conhecimento e vai estarem exposição duran- “tenham a capacidade de refletir” . ção é o de“as pessoas perceberem, de um ponto
te um ano. Paulo Trincão, diretor do espaço, Paulo Trincão explica que a mostra está orga- de vista científico, o que se passa, de forma a
refere que o tema da água, bem como o alerta nizada em dois grupos: “o futuro com água e o tomarem a sua posição”.
para a sua importância, surge motivado pelo futuro sem água”. Assim, segundo o diretor, o Paulo Trincão lamenta que os universitários
contexto atual. visitante pode compreender que a água não é não frequentem o Exploratório, pois gostaria
Segundo a Organização Mundial da Saúde, igual em toda a parte do mundo e perceber que que esta exposição tivesse os estudantes como
mais de dois mil milhões de pessoas carecem “para algumas pessoas são precisas, no mínimo, seus embaixadores. “A água é um problema para
de acesso a água potável. Esta problemática duas horas para ir buscar um garrafão de água”. o presente e para o futuro, e a comunidade es-
está inserida no ponto seis dos Objetivos de Coimbra continua a afirmar-se como área me- tudantil tem um papel importante nesta cons-
Desenvolvimento Sustentável da Organização tropolitana da cultura, uma vez que “nunca ciencialização”, refere o diretor.
das Nações Unidas, que pretendealcançar o houve na cidade uma exposição com esta di- “Água: uma exposição sem filtro” pode ser visi-
acesso universal e equitativo a água potável, mensão e qualidade”, salienta o diretor. No tada todos os dias das 10h às 18h no Exploratório
segura para todos, até 2030. entanto, Paulo Trincão reforça que é preciso - Centro Ciência Viva de Coimbra. A mostra vai
Esta exposição, transversal a todas as ida- fomentar a cultura científica, já que “ainda há seguir depois para outras cidades europeias.
des, alerta para a importância da água e para muito pouca consciência ambiental sobre a
a sua escassez através de 30 módulos interati- importância da água”.

Crise energética justifica um Natal


menos iluminado
Município de Coimbra procura reduzir consumo e custos energéticos. Plano
apresentado prevê poupança acima de 781 mil euros em 2023.

- POR ANDREÍNA DE FREITAS -

F
ace à crise energética que afeta a Europa Bastos, “a autarquia está também a analisar e a redução de 631 toneladas de CO2. O plano é
Europa desde 2021, a Câmara Municipal a forma mais rápida e eficiente de conseguir composto por doze medidas que, separadas,
de Coimbra (CMC), aprovou, no passado maiores poupanças energéticas e redução de correspondem a um total de 35 ações. As solu-
mês de outubro, o Plano de Poupança de Energia custos em relação à iluminação pública”. ções foram divididas em oito categorias: ilu-
(PPE). Esta medida, já em vigor, contempla a Em consequência da Resolução de Conselhos minação, climatização, fontes de energia re-
redução da iluminação decorativa e das luzes de Ministros nº 82, as luzes de Natal vão so- novável, infraestruturas desportivas, recursos
de Natal em 41 por cento. frer cortes em comparação com 2021. O tempo humanos e outros âmbitos.
O PPE, que se divide em duas fases, antecipa na de iluminação diário vai vigorar das 18 às 23 No que diz respeito à iluminação, de acordo
primeira uma poupança de 68 mil euros anuais horas, em zonas comerciais. Com estes horá- com as medidas apresentadas pela vereadora
e uma redução de 66,5 por cento dos consumos rios, o tempo global será de 189 horas, valor Ana Bastos, o PEE pretende reduzir o consu-
atuais. Isto vai ser cumprido através de medi- inferior ao máximo de 192 horas indicado pelo mo energético da iluminação pública através
das como “o corte da iluminação ornamental governo e também inferior ao do ano passa- de medidas como a substituição das luminá-
da ponte Rainha Santa, das rotundas e ainda do, de 320 horas, o que significa uma redução rias por outras com tecnologia LED. Este tam-
de estátuas e monumentos aos fins de semana”, de 41 por cento. bém contempla as fontes de energia renovável,
informou a vereadora Ana Bastos. Quanto a 2023, e na sequência da fragilidade mediante uma produção local de eletricida-
Na segunda fase, o plano prevê uma poupan- energética na Europa motivada pelo conflito de. Segundo o município de Coimbra, vão-se
ça de cerca de 90 mil euros e um corte de 87 por bélico na Ucrânia, a CMC apresentou no dia 7 desenvolver estudos sobre “comunidades de
cento dos consumos energéticos, alcançado ao de dezembro o Plano de Eficiência Energética energia renovável” em bairros sociais e em edi-
desativar a iluminação decorativa das igre- (PEE). Esta diretriz vai permitir, em estimati- fícios municipais, bem como a dinamização do
jas, capelas, edifícios e estátuas. Segundo Ana va, uma poupança anual acima de 781 mil euros projeto “Coimbra Cidade Sustentável”.
13 de dezembro de 2022 DESPORTO 11

Filipe Rosa é nova figura à frente do


Conselho Desportivo da AAC
Antigo vogal assume responsabilidade do órgão intermédio em lista de continuidade.
Interação com CMC e sinergia entre diversas secções de desporto é uma das principais
bandeiras do novo conselho. Por Mateus Araújo e Patrick Pais
- POR MATEUS ARAÚJO E PATRICK PAIS -

A nova lista é constituída, na sua maioria, casa, porque não nos podemos esquecer do dicos, como na parte da nutrição. É importan-
por pessoas da lista anterior. O seu mandato passado, como os jovens, para perceber qual te que as próprias secções possam conversar e
é de continuidade? vai ser o caminho que o desporto da Briosa vai perceber que há aqui mais aspetos que as unem
Eu fazia parte da lista anterior. Devido à relação ter que realizar e aproveitar essas ideias. A boa do que aquelas que as diferenciam.
criada nestes anos com outras seções, e acima gestão dos espaços desportivos, como o Campo
de tudo pela honestidade, dignidade e lealdade Santa Cruz, é fundamental para as diversas sec- Quais são as propostas de financiamento que
para com o símbolo da Associação Académica ções, além de tentar, através da CMC, arranjar tem em mente para o mandato?
de Coimbra (AAC), estas pessoas mereceram a mais espaços. Pretendemos ainda reativar os O conselho desportivo tem como obrigação ten-
minha confiança para fazer parte desta nova prémios Salgado Zenha, pois é uma maneira tar arranjar apoios financeiros para as secções.
lista. Só assim é que fazia sentido ter pessoas de homenagearmos as pessoas que foram fun- Não podemos descurar que as próprias secções
que conhecem a história da Briosa, pela expe- damentais na história da AAC. fazem esse trabalho, e muito bem feito. No
riência adquirida ao longo destes anos, o que entanto, continuaremos empenhados e preten-
permite tomar decisões mais céleres e imedia- Mencionou que tinha um objetivo de criar demos abordar entidades públicas e privadas,
tas em prol das secções desportivas da AAC. sinergias com todas as secções. De que forma para que possam conseguir poupar dinheiro.
isso seria feito? Podemos tentar perceber, com a AAC, quais são
Tem alguma informação sobre os mo- Fui presidente da Secção de Judo da AAC e as candidaturas que existem junto do Instituto
tivos que levaram à demissão do antigo posso dizer que o nosso treinador é convidado Português do Desporto e Juventude. Temos
secretário-geral? para participar em formações de outras mo- alguma limitação em relação a esta situação,
A apresentação da demissão foi por motivos dalidades, pelo judo ser um desporto que re- mas o dinheiro que tivermos, vamos procurar
pessoais e profissionais, o que é justo e legíti- quer muita estabilidade e estrutura. Os atletas gerir e rentabilizar bem, em prol das secções.
mo, e foi aceito por nós e pelo Conselho Fiscal. poderiam praticar atividades em modalida- O dinheiro não é do conselho desportivo, é para
des desportivas diferentes, o que seria muito o desporto da AAC.
Quais são as bandeiras defendidas por esta importante na sua preparação em termos de
nova direção? coordenação motora e cognitiva. Isto permite Como pretendem promover o desporto
Dar continuidade ao trabalho com um espírito inclusive fazer transferência para outras mo- universitário para os alunos nacionais e
de grupo entre todas as secções e criar condi- dalidades, até mesmo em termos competitivos. internacionais?
ções para que possa haver o acesso a uma marca Pode-se fazer um trabalho em que um atleta de É muito importante haver na própria base de
desportiva prestigiada que esteja ao nível da alta competição, que esteja numa fase de fadiga, dados da UC uma ferramenta que diga qual foi
instituição. Temos ainda que fazer um traba- experimente outra coisa. Há aqui também um a modalidade desportiva que praticou, e se é
lho maior com a Câmara Municipal de Coimbra trabalho sobre criar condições em termos mé- federado ou não. Vai ser uma fonte de infor-
(CMC), as juntas de freguesia, o mundo empre- mação muito importante para a própria AAC e
sarial e a Universidade de Coimbra (UC). Não para as secções desportivas. Isso pode vir a refle
podemos desassociar o desporto federado do tir-se nos campeonatos nacionais universitá-
universitário, porque se a Académica for uma rios, uma vez que é possível contactá-los e con-
referência, acaba por motivar novos alunos a vidá-los a fazer uma preparação competitiva
nível nacional e internacional que queiram vir nacional e internacional. Em termos nacionais,
para a UC. Depois, criar uma sinergia entre os os resultados obtidos pela universidade são
órgãos intermédios da AAC, do desporto com uma referência perante outras instituições, o
o centro cultural e os núcleos de estudantes, que é um fator atrativo para novos atletas in-
ao construir uma maior coesão com os alunos tegrarem o corpo de atletas da Briosa.
universitários. Temos de ouvir tanto os da

Por Larissa Britto


12 CENTRAL 13 de dezembro de 2022

Mundial no Qatar em Coimbra: Um espetácu


ou um negócio acima dos Direitos Humanos?
Várias mortes e violações de Direitos Humanos mancham maior prova da história do
futebol. Evento gera opiniões negativas dentro e fora de campo.

- POR MATILDE DIAS, ALICE RODRIGUES E CAROLINA SILVA -

A
22ª cerimónia do Campeonato Mundial não se representa “assim”. A opinião de Matilde
de Futebol da Federação Internacional Marques vai ao encontro de 61,2 por cento dos
de Futebol (FIFA) iniciou-se no passado inquiridos, que concordam que os comentários
dia 20 de novembro, em Doha, Qatar. O Mundial não são dignos de um Presidente da República.
é um evento que procura a promoção do diálo- Apesar do objetivo da FIFA ser a promoção
go entre os países ocidentais e orientais atra- de um diálogo entre os países participantes, a
vés da criação de um comité de representantes tesoureira da SDDH/AAC confessa que não tem
dos países participantes. O país anfitrião da muitas esperanças numa grande mudança face
competição tem sido associado a polémicas e ao nível de intolerância verificado no país an-
constatações sobre o desrespeito pelos Direitos fitrião do Mundial. Quanto à posição de perso-
Humanos. Face a este cenário, o relvado qatari nalidades, como jogadores de futebol, Matilde
tem sido palco de várias intervenções, mesmo Marques afirma estar “muito feliz que eles sin-
contra a vontade da organização e do próprio tam que é uma coisa que devem fazer”, mesmo
país. Com tudo isto, O Jornal A CABRA decidiu que a defesa dos direitos humanos “possa não
sair à rua e ouvir a opinião dos conimbricen- ser o seu principal interesse”. Nove em cada dez
ses sobre o mundial no Qatar. No total, foram inquiridos partilham da opinião da estudante.
sondadas 129 opiniões em relação ao tema. Flávia Lopes, estudante de Direito na FDUC e
Durante os últimos 12 anos, o Qatar promo- membro da SDDH/AAC, também acredita que
veu mudanças estruturais e preparou-se para o facto de o Qatar ser palco de uma competição
receber o campeonato mundial. Os principais com esta visibilidade descredibiliza os episó-
investimentos foram a construção de autoes- dios de violação de Direitos Humanos que lá
tradas, oito estádios, dos quais sete são novos, e ocorrem. “Este Mundial vai ser visto como uma
hotéis para receber os milhares de adeptos que reflexão e até acabar espera-se que alguma coisa
a competição visa atrair. seja feita ”, sublinha a estudante em relação a
toda esta polémica.
Violações de Direitos Humanos A seccionista questiona também “o que levou
Desde o momento de escolha do Qatar para a que o Mundial se realizasse no Qatar, sobretu-
palco do mundial, a FIFA enfrentou uma série do ao se saber que não é um país democrático”.
de críticas, devido à violação dos Direitos Realça ainda que este país “tem uma monarquia
Humanos que já se verificava no país. No entan- bastante complicada, e até há pouco tempo tra-
to, este facto não levou a organização a alterar a balhavam sobre o sistema de ´kafala´, no qual
sua escolha, o que provocou protestos de vários os trabalhadores estavam sob o controlo de um
países e a ausência intencional dos principais patrono”. Adiciona que neste tipo de registo não
dirigentes da União Europeia no evento. há qualquer proteção, e o que se verificava era
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de uma completa exploração laboral.
Sousa, que manifestou a sua vontade de acom- Segundo várias organizações de defe-
panhar os jogos, afirmou que o Qatar “não res- sa dos Direitos Humanos, como a Amnistia
peita os direitos humanos” e destacou ainda as Internacional (AI), o desrespeito inten
condições em que “toda a construção dos es- sificou-se nos últimos anos. As condições dos
tádios” foi feita. No entanto, após estas consta- trabalhadores migrantes, a negação dos di-
tações, o representante máximo do Estado por- reitos das mulheres, a prisão de várias pes-
tuguês fez um apelo para que se “esqueça isso”. soas da comunidade Lésbica, Gay, Bissexual,
Matilde Marques, estudante de Direito Transgénero, ´Queer´, Intersexual, Assexual,
na Faculdade de Direito da Universidade de + (LGBTQIA+), bem como de jornalistas in-
Coimbra (FDUC) e tesoureira da Secção de ternacionais por criticarem o governo, são
Direitos Humanos da Associação Académica algumas das temáticas abordadas. Em simul-
de Coimbra (SDDH/AAC), lamenta a indiferença tâneo, foi criado um movimento que apela a
com que o assunto tem sido abordado. "As pes- que a FIFA se comprometa com um fundo de
soas que têm mais poder para mudar alguma apoio às vítimas de cerca de 433 milhões de
coisa não estão a falar, e assim estão a compac- euros, apurado com base em estimativas dos
tuar com o que está a acontecer", considera a acidentes que ocorreram.
estudante. A jovem salienta que não se identi- De acordo com a Organização Não-
fica com as declarações de Marcelo Rebelo de Governamental (ONG) Human Rights Watch
Sousa, porque acredita que o povo português (HRW), mais de 6500 trabalhadores perderam
13 de dezembro de 2022 CENTRAL 13

ulo desportivo a vida na construção dos estádios. Entre as ra-


zões apontadas estão o calor extremo, traba-
lho forçado, falta de folgas, salários reduzidos
insultos à bandeira, à difamação da religião e
instigação ao derrube da monarquia. A pena
vai até três anos de prisão ou multas de cerca

?
e passaportes confiscados. de 140 mil euros. A gravação de reportagens
O desprezo pela comunidade LGBTQIA+ tam- em determinados locais é também condenável,
bém foi sentido através de maus-tratos, como pelo que os jornalistas detidos foram forçados
espancamentos e assédio sexual. A HRW entre- a fazer “confissões”.
vistou seis pessoas que integram a comunida-
de e foram alvo destes abusos. A ONG relatou A opinião de Coimbra
que “agentes de segurança também infligiram As sondagens realizadas em Coimbra demons-
abusos verbais e negaram aos detidos o acesso tram que a maioria mostra-se descontente com
a aconselhamento jurídico, família e cuidados a situação. De acordo com os inquéritos feitos,
médicos”. Além disso, os entrevistados con- 63,6 por cento acreditam que o Mundial não
fessaram que a polícia os forçou a assinar pro- devia estar a ser realizado no Qatar, 80,6 acham
messas, com a obrigação de que iriam “cessar que a violação dos Direitos Humanos justifica-
a atividade imoral". ria a remoção ao atual anfitrião Mais de meta-
A negação dos direitos às mulheres, que se de concordam que o regime qatari pratica atos
encontram sob a tutela masculina durante condenáveis, tanto no contexto do Campeonato
toda a sua vida, que controlam decisões como Mundial de Futebol como fora deste. No entan-
casar, viajar para fora do país e desempenhar to, duas em cada três pessoas dos inquiridos
funções governamentais são regras que, se- consideram que todo este cenário não influen-
gundo a HRW, são discriminatórias e impostas cia a sua vontade de assistir aos jogos. Apesar
pelo regime. Um dos casos mais recentes que do contacto entre os países e culturas presentes
tomou grande atenção mediática foi o de Paola neste campeonato, 72,9 por cento dos entrevis-
Schietekat, uma mexicana de 27 anos que, após tados discordam que o Qatar se torne um país
ter sido vítima de abuso sexual, foi acusada de melhor e mais livre depois do evento.
sexo extraconjugal e condenada a sete anos de Além dos inquéritos aos apoiantes, trabalha-
prisão e cem chibatadas. A única alternativa dores de diversos estabelecimentos em Coimbra
apresentada para que não tivesse de cumprir foram questionados não só sobre as suas pers-
pena seria a de casar com o seu agressor. Na sua petivas, mas também sobre os efeitos que o
página de Facebook partilhou que, “apesar de Mundial tem feito sentir nos seus locais de tra-
ter diplomas académicos, preparação profissio- balho. Foi relatado que, na maioria, houve uma
nal, independência financeira e de trabalhar diferença nos lucros e que a faturação melhorou
para o Governo do Qatar”, é “vulnerável a vio- com os jogos. Um trabalhador do estabeleci-
lações dos Direitos Humanos por instituições mento Repúblika À La Carte com a transmis-
arcaicas e abusivas”. são dos jogos, notou o seguinte: “Conseguimos
A violação destes Direitos Humanos levou a fazer números astronómicos e depois fazer a
várias manifestações por parte dos países e continuação com os jantares da noite, por
até personalidades famosas. Durante o jogo isso acaba por apresentar uma boa dinâmica
Inglaterra-Irão foi possível assistir à interven- e bons resultados”.
ção do capitão da equipa inglesa, Harry Kane, Depois da seleção portuguesa, os jogos das se-
que entrou em campo com uma braçadeira com leções brasileira, espanhola, francesa e inglesa
as cores da bandeira LGBTQIA+. Já no decorrer foram as que tiveram maior adesão de espec-
do jogo entre Portugal e Uruguai, um homem tadores, uma vez que representam a maior ca-
entrou em campo com uma bandeira arco-íris. mada da população não portuguesa residente
O interveniente também vestia uma camiso- em Portugal. Quando questionados se sentiam
la com duas mensagens: na frente, “Salvem a que os seus estabelecimentos estavam prontos
Ucrânia", e atrás, “Respeito pelas mulheres ira- para a receção do Mundial, a maioria mostrou-
nianas”. A exibição durou cerca de 30 segundos, se preparada. “Estes jogos têm segurança, têm
até ter sido travada pelos seguranças. uma equipa de limpeza que permanece durante
Houve ainda um outro caso, no passado dia 20 os jogos e têm o ´staff´ dos cinco bares dispo-
de setembro, em que um adepto confrontou em níveis, que trabalham durante o dia e noite”,
público o embaixador do Qatar na Alemanha du- afirmou um dos funcionários da discoteca Lit.
rante uma conferência sobre Direitos Humanos A FIFA e o Qatar admitem apenas três mortes
no desporto, organizada pela Federação Alemã nas obras e 36 devido a causas naturais quando,
de Futebol. O interviente em questão declarou na realidade, se verificou uma perda de cerca de
o seguinte: "Têm de abolir a pena de morte e um quarto dos 30 mil operários. Para evitar o
todas as penalizações a questões do foro sexual escalar dos protestos, a organização do evento
ou de identidade de género. A regra de que o fu- endereçou uma carta a todas as seleções a solici-
tebol é para todos é muito importante. Não se tar que “não deixem que o futebol seja arrastado
pode permitir que a quebrem, por muito ricos para batalhas políticas e ideológicas”. Ressaltou
que sejam”. também que respeitam “todas as opiniões e
A perseguição a jornalistas também é uma das crenças, sem pretender dar lições de moral ao
grandes problemáticas neste país. A Amnistia resto do mundo”. É de notar que o Qatar espe-
Internacional documentou diversos casos de ra que um Mundial realizado num país árabe
profissionais detidos. O Qatar considera crime acabe com os diversos estereótipos sobre as po-
Por Pedro Mendes qualquer tipo de críticas feitas ao regime, desde pulações qatari, árabes e muçulmanas.
14 DESPORTO 13 de dezembro de 2022

Talento desportivo é afetado por


condições infraestruturais
Vários espaços desportivos utilizados pelas secções da Académica não são renovados
desde 2019. Diogo Tomázio afirma que DG/AAC tem “plena consciência das condições”.

- POR ANA VIDAL -

O
Estádio Universitário de Coimbra (EUC)
alberga os estudantes da Faculdade de
Ciências do Desporto e Educação Física
da Universidade de Coimbra (FCDEFUC), além
das demais secções desportivas da Associação
Académica de Coimbra (AAC). Intervencionados
para os Jogos Europeus Universitários de 2018,
o Pavilhão Jorge Anjinho e o EUC não sofreram,
após 2019, qualquer tipo de reabilitação.
Em 2017 foi realizado um investimento por
parte da UC para a reforma do EUC. A inter-
venção contou com obras nos pisos dos três
pavilhões, a substituição das luminárias do
Pavilhão 1 e a reorganização de alguns espaços,
em particular no Pavilhão 2. Um dos focos foi a
criação de um campo sintético que, até à altura,
era de terra batida, além da pavimentação dos Por Larissa Britto

espaços circulantes dentro do estádio. De acordo com o vice-reitor, no passado, a que não recebeu nenhum tipo de reforma com
O vice-reitor para a Qualidade, Desporto Câmara Municipal de Coimbra (CMC) contri- os Jogos Europeus Universitários de 2018, nem
e Serviços da Ação Social da UC, António buiu com o parque de estacionamento exte- foi concedido nenhum financiamento por parte
Figueiredo, comunica que o EUC necessita de rior ao EUC. No entanto, todo o investimen- da CMC ou da Universidade de Coimbra. Diogo
intervenções na quadra de rugby, no que diz to realizado no interior foi financiado pela Tomázio acrescenta que o Campo ”precisa de
respeito à relva natural. Além disso, o campo de Universidade de Coimbra. António Figueiredo uma mudança a nível financeiro e estrutural”.
futebol precisa de intervenção ao nível de pista afirma que existe interesse por parte da CMC e O vice-presidente sublinha que a DG/AAC tem
e tribuna. No futuro prevê-se a substituição das da UC de conseguirem “encontrar algum tipo “plena consciência das condições” em que estão
luminárias convencionais dos pavilhões 2 e 3 de entendimento que tenha duplo benefício, o EUC e o Pavilhão Jorge Anjinho, contudo, a
por tecnologia LED, mais económica e susten- para a cidade e a universidade”. dificuldade de atuação no Estádio Universitário
táveis como um sistema de entradas no EUC de O pavilhão Jorge Anjinho é da responsabili- é maior, pois não está sob a alçada da Académica.
viaturas através de controlo por cancelas. dade da Académica - Organismo Autónomo de Diogo Tomázio frisa que um dos objetivos do
A AAC e a UC possuem um vínculo através de Futebol, contudo a gestão do espaço está nas próximo mandato é trabalhar no pavilhão,
um contrato de arrendamento do estádio uni- mãos do Conselho Desportivo da AAC (CD/ sobretudo “nas salas existentes que ainda não
versitário para o uso das secções desportivas, AAC), assim como o Campo Santa Cruz. Diogo estão sobre a posse da AAC”.
no qual a responsabilidade de manutenção do Tomázio, vice-presidente da Direção-Geral da A última intervenção realizada no Pavilhão
espaço recai à gestora, neste caso, a universida- Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Jorge Anjinho aconteceu no mandato de 2019-
de. Contudo, António Figueiredo reforça a ideia refere que a estrutura tem o mesmo relvado 2020, pelo antigo presidente da DG/AAC, Daniel
de que as secções desportivas utilizem o espaço sintético desde 2008, pelo que “é um dos sinté- Azenha. A reabilitação foi consequência dos
de forma permanente e, assim, que as manu- ticos mais antigos da zona centro”. estragos que ocorreram com o furacão Leslie,
tenções possam ser realizadas pelas próprias. O Campo Santa Cruz foi uma das estruturas em setembro de 2018. O objetivo da requalifica-
ção foi reparar o telhado e, depois, o pavimento
do edifício para as secções desportivas volta-
ram a utilizar o espaço.
O secretário geral do CD/AAC, Filipe Rosa,
afirma que após essas intervenções, houve
uma terceira, que consistiu na alteração da
iluminação do pavilhão. Após 2019, o mesmo
só foi sujeito a outras pequenas intervenções.
Contudo, reforça que há trabalho a ser realiza-
do, sobretudo no exterior, como, por exemplo,
a requalificação da fachada do edifício. Filipe
Rosa aponta para a falta de capacidade financei-
ra para melhorar as condições dos dois espaços
desportivos, e acrescenta que “tem a ver com
regulamentos das próprias entidades despor-
Por Narci Rodrigues tivas e cada modalidade”.
13 de dezembro de 2022 CIDADE 15

Tarifas dos SMTUC aumentam em


tempos precários
Chuva no interior dos autocarros e atrasos nos horários são principais críticas.
Aumento dos preços é de 6,1 por cento.
- POR LUÍSA RODRIGUES -

N
a reunião camarária do município de queixa-se dos atrasos nos horários dos SMTUC sentido, a cidadã considera que o aumento dos
Coimbra do dia 14 de novembro foi apro- e do estado atual no interior dos veículos. preços “não se justifica, porque os autocarros
vado pelo executivo um aumento para Mariana Mateus, estudante de Comunicação não têm condições quase nenhumas”.
2023 da tarifa dos Serviços Municipalizados de Social na Escola Superior de Educação de Apesar do estado e do aumento das tarifas,
Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC). Coimbra, refere que os autocarros “nunca uma grande parte dos utentes dos SMTUC
Esta subida vai ser de dez cêntimos para os bi- vêm quando é indicado nos televisores ou na abordados consideram que esta medida não vai
lhetes comprados a bordo e de cerca de três cên- aplicação”. O incumprimento dos horários já fazer com que deixem de utilizar os autocarros
timos para os títulos pré-comprados. O valor fez com que chegasse atrasada ao comboio ou da cidade. Álvaro Monteiro, de 20 anos, e Maria
dos passes mensais vai manter-se. à escola, reforça. Clara explicam que a subida não os influencia
Segundo uma intervenção da vereadora Ana Maria Clara, de 74 anos, e Beatriz Gomes, porque compram o passe mensal. Mariana
Bastos na página oficial da Câmara Municipal aluna de Estudos Artísticos na Faculdade de Mateus justifica que pretende continuar a usu-
de Coimbra (CMC), um dos motivos do aumen- Letras da Universidade de Coimbra, mencio- fruir dos transportes urbanos da cidade por
to é incentivar “a compra dos passes em detri- nam também passar por situações semelhan- ser “a forma mais barata” de viajar dentro de
mento dos títulos individuais”. Reforça que a tes. A estudante afirma que os autocarros “fa- Coimbra. Ainda assim, alguns clientes, com o
medida também se deve ao atual valor dos bi- lham em muitos horários”. Por sua vez, Paula acréscimo do preço, revelam que podem procu-
lhetes pré-comprados, que é “muito baixo em Cruz, de 42 anos, critica as condições atuais no rar alternativas aos SMTUC. Raissa Rodrigues,
comparação ao custo do passe”. interior dos SMTUC. Como relatou, “quando de 28 anos, afirma que tenciona “começar a
O aumento surge numa época de críticas da chove, tem que se levar os chapéus de chuva andar mais a pé”, uma vez que é uma opção mais
população conimbricense às condições atuais abertos”. Ainda na mesma linha, refere que esta “económica e viável”.
dos autocarros da cidade. A maioria dos utentes situação já acontece “há muitos anos”. Neste

Um pacote de arroz ou um pacote de


pensos higiénicos?
Privação de produtos de higiene íntima pode levar a problemas de saúde. Inquérito feito
por estudantes mostra que 98,5 por cento das pessoas são a favor da gratuitidade destes
produtos.
- POR BRUNA PASSAS -

O
s custos e disponibilidade de produ- A coordenadora do Coletivo Feminista 98,5 por cento dos inquiridos responderam a
tos de higiene menstrual, como pen- Independente, Inês Simões, salienta a impor- favor destes bens serem gratuitos e 1,5 por cento
sos e tampões, são uma dificuldade tância das doações por ajudarem comunida- votaram contra, de forma anónima. Várias pes-
enfrentada pela população com baixos rendi- des que não conseguem adquirir estes bens. soas apresentaram os seus argumentos, ao ser
mentos. Esta questão, assim como a essenciali- Acrescenta que se verifica, de igual modo, o mais predominante, o facto de os produtos
dade destes produtos, são objeto de debate por uma maior consciencialização sobre a pobreza de higiene menstrual serem essenciais à saúde.
parte da sociedade. menstrual e a desmistificação do período como Inês Simões adianta que a pobreza menstrual
Ao longo da última década têm-se verificado tabu a partir destas campanhas. Apesar des- tem repercussões a nível da saúde mental e fí-
esforços por parte de associações e coletivos tes esforços, a coordenadora confessa que as sica. A coordenadora do Coletivo Feminista
para trazer visibilidade à questão e alcançar doações não são tão frequentes como desejava. Independente refere a escolha frequente que
recursos. Em novembro, o Núcleo da Faculdade Refere ainda que os produtos de higiene íntima as pessoas em situação de pobreza têm de fazer:
de Letras da Universidade de Coimbra da não são vistos como bens necessários e a pobre- comida ou bens higiénicos. A privação des-
Associação Académica de Coimbra (NEFLUC/ za menstrual “não é tomada como um problema tes artigos pode levar a problemas de saúde,
AAC) e o Coletivo Feminista Independente de primeira instância”. como infeções urinárias. A par disto, estes
organizaram a semana STOP, com ativida- No contexto académico da UC, 200 pes- produtos são muitas vezes usados mais do
des no âmbito da sensibilização da violência soas foram inquiridas por Joana Monteiro que o recomendado, com o intuito de poupar,
contra a mulher. Uma das várias atividades e Vitória Melo da Silva, duas estudantes da o que pode contribuir, também, para causar
que decorreram nesta semana foi a recolha de FLUC, sobre a possibilidade dos produtos mens- problemas de saúde.
produtos menstruais. truais se tornarem gratuitos. Nesta sondagem,
16 REPORTAGEM 13 de dezembro de 2022

O comércio biológico por um futuro mais


sustentável
Vendedores apontam preços acessíveis e preocupação com sustentabilidade como
principais objetivos do negócio. Divulgação dos benefícios dos produtos biológicos é
vista como necessária para valorização deste tipo de mercado.
- POR RAQUEL LUCAS -

O
comércio biológico, aliado à preocu-
pação pela sustentabilidade, está em
crescimento na cidade dos estudantes.
Próximos a esta realidade, três vendedores em-
penham-se para manter e promover os negócios
que acreditam estar a ajudar o planeta.
Não muito longe do centro comercial Coimbra
Shopping, Ana Patrícia Pinto trabalha para
gerir o pequeno negócio que a “faz levantar da
cama todos os dias”. Além de nutricionista, é
gerente da mercearia sustentável Nutrição a
Granel, aberta em 2021. A ideia para a criação da
loja surgiu durante a sua gravidez, no início de
2020, e foi levada avante quando se apercebeu
do estado do planeta em que ia criar a sua filha. Por Raquel Lucas

Nas palavras da gerente, o negócio visa reduzir biental. Para isso, a aposta tem de ser cada vez Produção Biológico. De acordo com a platafor-
o desperdício com a venda a granel, centrada na maior e mais diversificada, centrada no apoio ma Google, o espaço conta com uma avaliação
comercialização de produtos sem embalagem, o aos “negócios mais pequenos”, acrescenta. crítica de quase cinco estrelas, pelo que o aten-
que os torna “mais ecológicos”. A grande meta dimento “amigável”, a variedade e a qualidade
é “promover um estilo de vida o mais sustentá- Por uma Escolha mais (Bio)lógica dos seus produtos são aspetos que tornam a loja
vel possível”, refere. Para Ana Patrícia Pinto, À semelhança da gerente da Nutrição a “recomendável”, na sua maioria, por turistas.
a escolha de quem ali “enche o cesto” deve-se Granel, “tornar o biológico acessível a todos” No entanto, a sua localização é, para alguns, um
ao facto de encontrarem na Nutrição a Granel também é uma prioridade para Vítor Marques, aspeto desfavorável, ao contrário dos preços,
um tipo de produto biológico “não oferecido administrador de distribuição da BioEscolha, traçados como “justos”.
noutros locais”. supermercado 100 por cento biológico. Assim A “pequena dimensão do mercado biológi-
Além da venda de artigos e alimentos, a como aconteceu com Ana Patrícia Pinto, a preo- co em Portugal” é um dos fatores que expli-
mercearia também oferece serviços relaciona- cupação pelos seus padrões alimentares levou ca o facto de a maioria dos clientes de Vítor
dos à saúde e ao bem-estar, pois, de acordo com o gerente a abrir portas em 2011, em Celas, Marques serem estrangeiros. Ainda assim,
Ana Patrícia Pinto, "todo o tratamento deve quando era ainda engenheiro civil. “Comecei o gerente “não cruza os braços” e mantém a
começar de dentro”. Assim, a gerente decidiu a trazer alimentos biológicos para o trabalho e crença de que é possível desenvolver este tipo
reformular o primeiro piso da loja e dedicar o os meus colegas demonstraram interesse nos de comércio através da promoção de uma ali-
espaço ao desenvolvimento de atividades que produtos. Foi aí que senti a necessidade de criar mentação biológica e sustentável, livre de pes-
unem a saúde interior à exterior: “basta subir uma loja”, confessa. ticidas ou aditivos. “Há cada vez mais afluência
uns degraus”. São exemplo as sessões de terapia A “BioEscolha” é o único estabelecimento em para a compra e venda deste tipo de produ-
em grupo, ioga, meditação e ‘reiki’. Coimbra com o certificado europeu em Modo de tos, o objetivo é levar o biológico onde ele não
O foco da nutricionista, por acreditar que a
oferta difere da restante, centra-se no atendi-
mento personalizado e no serviço on-line de
encomendas para “poder chegar mais longe”. A
avaliação crítica dos seus consumidores passa
por incluir estes aspetos que, aliados à quali-
dade dos seus produtos, conferem à Nutrição a
Granel uma avaliação de quase cinco estrelas na
plataforma Google.
Quando questionada sobre a importância
deste tipo de comércio em Coimbra, a dona do
estabelecimento explicou, com insatisfação,
que a cidade não tem tantos espaços dedicados
à venda a granel “como poderia ter”. Reforça
também a necessidade de as pessoas “se abri-
rem mais para a oferta sustentável” e “terem
consciência do impacto daquilo que consomem Por Raquel Lucas

para o planeta”, de forma a apoiar a causa am-


13 de dezembro de 2022 REPORTAGEM 17
mercados e não nas grandes superfícies”. Deste
modo, “o dinheiro vai para quem precisa”, em
vez de beneficiar as empresas, “onde o produto
que os clientes recebem é processado por uma
cadeia que não tem em vista a melhor qualidade
possível, mas sim o lucro”, refere.
Apesar de o seu método ser biológico na sua
totalidade, o que o jovem produz não é certifi-
cado, ao contrário do negócio de Vítor Marques,
devido ao “enorme ramo de burocracias que
existe em Portugal”, expõe. De acordo com o
estudante, o título só é atribuído a quem vende
produtos sem qualquer tipo de transformação.
Explica: “eu corto, peso e embalo os meus mi-
crovegetais. Para ter certificação biológica, não
Por Raquel Lucas poderia vender o produto final cortado, pois é
como se estivesse a transformá-lo”.
existe”, comenta. A maioria das vendas do Verdes do Mondego Comercializar os vegetais vivos também
O administrador não deixa de frisar a ne- é dirigida a alguns restaurantes em Coimbra é uma opção, mas “nem sempre é viável ou
cessidade de maior interesse “por parte de e o restante é comercializado de forma direta prático para o negócio”, dado que vende, na sua
quem governa” no combate à desinformação e no Mercado Municipal D. Pedro V ou através maioria, para restaurantes. Para além disso, o
aos custos elevados para produtos biológicos. das redes sociais. Para quem compra fora da seu objetivo é ter preços acessíveis e, na visão do
Vítor Marques está ciente de que, de uma forma restauração, o custo dos microvegetais é de 15 estudante, "a certificação biológica faz com que
geral, quem consome este tipo de produtos cêntimos por grama e varia de acordo com o os custos sejam mais elevados”. Neste sentido,
“também se interessa pelo meio ambiente”, pelo peso e a embalagem do produto, que pode vir e assim como o gerente da BioEscolha, o jovem
que ao se apoiar uma causa, também se está a misturado com outras variedades ou vendido também apela ao combate à desinformação, que
apoiar a outra. em vasos de um microvegetal específico. acredita que vai fazer com que as pessoas valo-
Para o gerente, a aposta na acessibilidade de André Aleixo não possui um estabelecimen- rizem o comércio biológico e “entendam que é
preços é o que vai levar o comércio biológico to de venda próprio e produz os microvegetais uma boa aposta”.
avante. Foi por esse motivo que criou, em 2015, num local adequado em sua casa. Apesar de Em comum, todos estes negócios partilham a
uma zona de restauração vegana na loja, loca- contar com poucos consumidores e de não ter preocupação pela sustentabilidade e a luta por
lizada em frente ao Instituto Superior Miguel avaliações ‘online’, descreve os seus clientes um mercado acessível, na tentativa de ultra-
Torga. O objetivo era captar a atenção de estu- como “pessoas interessadas, que valorizam o passar os obstáculos de um sistema que, alia-
dantes e manter os preços acessíveis, tal como produto por ser algo diferente do mercado do à falta de conhecimento, é visto como um
no retalho. No entanto, surgiram algumas di- habitual”. Sente que “o sabor dos microvege- obstáculo à viabilidade do comércio biológico.
ficuldades de gestão e, com a chegada da pan- tais é apreciado” e os seus consumidores “não Para isso, os comerciantes apoiam toda uma
demia da COVID-19, o negócio foi alvo de um se importam de pagar mais por isso”. De uma consciencialização do público sobre este tipo
brusco fechar de portas. Apesar dos obstácu- forma geral, e dado o custo deste tipo de mer- de produtos e os seus benefícios, tanto para as
los, Vítor Marques mantém-se satisfeito com cado, “são pessoas com alguma estabilidade pessoas, como para a causa ambiental.
o desempenho do negócio que gere. “No final económica”, adiciona. A diversidade de oferta, a qualidade e a
do dia, o mais importante é fazer a nossa parte Para o estudante, “é de extrema importância” eficiência do mercado biológico são apenas alguns
pelo planeta”, confessa. existirem alternativas para o comércio biológi- dos valores prezados para o compromisso com
co em Coimbra e no resto do país. À semelhança um futuro mais sustentável e consciente. Com o
Um (micro) passo para André Aleixo, um de Ana Patrícia Pinto, o jovem também consi- devido auxílio e sensibilização, abrir portas ao
grande passo para o planeta dera que “a oferta tem de ser maior e é neces- comércio e “levar o biológico onde ele não exis-
Assim como a geração adulta, também os sário sensibilizar as pessoas para a compra nos te” vai tornar-se mais do que uma possibilidade.
jovens se preocupam com a criação e oferta
de produtos mais sustentáveis. Aliado a essa
causa, e com apenas 24 anos, André Aleixo man-
tém o projeto que criou em junção com Gonçalo
Martins, seu colega de curso. Enquanto estudan-
tes da Licenciatura em Biologia na Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra, deram origem ao Verdes do Mondego,
iniciativa centrada na produção de microvege-
tais com foco na sustentabilidade.
O jovem conta que o objetivo do projeto, que
agora gere sozinho, é fornecer produtos bioló-
gicos de forma eficiente, sem deixar de lado os
valores de qualidade e sustentabilidade “valio-
sos para o processo”. Mas porquê microvege-
tais em vez de produtos de tamanho regular?
Segundo André Aleixo, “não há nada que o fas-
cine” no processo normativo da agricultura.
Além disso, “existe uma maior concentração
de antioxidantes e vitaminas” nos vegetais de
menor tamanho. Neste momento, produz ervi- Tabela: Comparação entre produtos biológicos e não biológi-
lhas, brócolos, mostarda, rúcula e outros. cos em diferentes tipos de mercados (setembro de 2022)
18 CABRA DA PESTE 13 de dezembro de 2022

CABRA DA PESTE
- POR PEDRO MENDES -

A SEBENTA DE NATAL
- PELO CONSELHO DE VETERANOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA - MAGNUM CONSILIUM VETERANORUM -

P
elo Natal de 1903 decorreu o caricato epi- na continuidade dos seus estudos, o voto seria mais 'declarações de voto'. Senhores da con-
sódio da Sebenta de Natal feito através do envio de uma coroa (moeda). No fiança do país, num inaudito gesto contra os
Viviam-se tempos duros no nº 8 dia seguinte, voaram centenas de cartas para os princípios da casa, passou a almoçar-se, e até
dos Palácios Confusos. Tinha-se dado o sa- mais altos dignatários e magistrados da nação! ao fim das férias os dois comparsas passeavam
zonal êxodo e Coimbra estava esvazia- Os dois primeiros dias foram de atroz expecta- alegremente de charuto na boca.
da dos seus Estudantes. Isto tornava difícil tiva. O correio passava à porta e nada. Na esperança que haja em cada casa uma
conduzir a "lebre e o prego" - os Veteranos que O País Medita. Sebenta de Natal, o Conselho de Veteranos da
se apoderavam das remessas familiares de Evidentemente. Não o perturbemos, deixemo-lo Universidade de Coimbra vem desejar a todos
Caloiros para lhes matar a fome e dar susten- deliberar serenamente. os nossos Colegas e familiares os votos de um
to em troca de proteção. Desguarnecidos dos Mas eis que, ao terceiro dia, 'conforme as Feliz Natal!
seus víveres, Alberto Costa (Pad'Zé) e Carlos escrituras' chegam os primeiros votos favorá- Sem mais de momento,
Mendonça exasperavam. veis e o Pad'Zé ineditamente madruga da sua P´lo Magnum Consilium Veteranorum - Conselho
Pad´Zé, inspirado pela fome e pelo espírito cama antes das 10 da manhã. de Veteranos da Universidade de Coimbra
Natalício, decide atuar e engendrou um plano. Mendonça, o país pronuncia-se?
A trama consistia em enviar uma carta às altas Quantos?
individualidades do país, a desejar as boas-fes- Quatro!
tas e a referendar sobre se eles deviam conti- Naquela manhã ouviram-se berros de eufo-
nuar empenhados no caminho dos estudos da ria, pedaços de ópera entoados a plenos pul-
ciência, ou "recolherem-se para a obscuridade mões e uma trombeta triunfal a ressoar pelas
da província, sem préstimo para nós, nem para ruas vazias. Era Natal nos Palácios Confusos.
a Pátria amada!". Caso o compatriota assentisse Todos os dias doravante chegariam cada vez ESPAÇO PATROCINADO PELO MCV
13 de dezembro de 2022 CARTAS À DIRETORA 19

CARTAS À DIRETORA
quarta-feira, 30 de novembro de 2022


Xora Diretora,
Começo por lhe dizer que, caso não saiba, existe! No nosso país vizinho, Espanha, isso é acessível, porque não tem entrada livre, uma
existem pessoas com mobilidade reduzida, visível em todos os lugares públicos. Acho que vez que necessitamos de chave para a utilizar).
que até se deslocam em cadeira de rodas, na podiam começar a retirar o que há de melhor No entanto, se nos quisermos deslocar à cafe-
Universidade de Coimbra, que, infelizmente, nos outros países e não apenas criticar aquilo taria, é-nos barrado o acesso pois têm apenas
são consideradas a minoria neste mundo. E que fazem de mal. escadas, sem qualquer outro tipo de meio.
porque lhe digo isto? Digo-lhe isto porque, neste E mais… as cantinas da Universidade de Como reflexão final, pergunto: e se fosse
momento, o edifício principal da Associação Coimbra não são inclusivas, e também lhe consigo? Pois, eu acho que o mundo só iria mudar
Académica de Coimbra (AAC) não tem condi- digo o porquê, caso ainda não tenha reparado: as mentalidades se todos fossemos iguais e
ções de acessibilidade para estas pessoas. Sim, a cantina azul e a cantina das químicas, ape- tivéssemos todos esta dificuldade.
pode dizer-me que existe acesso ao piso da sala sar de terem prato social, não têm condições Para finalizar lançoo repto para que todos
de estudo (no entanto, tenho de ir pelos Jardins de acesso para estas pessoas; a cantina amare- trabalhemos em conjunto para um mundo
da AAC, caminho esse que também está degra- la tem acesso, porém não tem prato social e a melhor, em particular à Câmara Municipal
dado para estas pessoas). E eu pergunto-lhe: cantina rosa tem acesso por uma rampa muito de Coimbra, à Universidade de Coimbra e à
mas será que isso é suficiente? Mas também lhe íngreme que uma pessoa em cadeira de rodas Associação Académica de Coimbra.
respondo: Obviamente que não! Mas sabe por- não consegue subir sozinha. E agora pergunto-
quê? Então, e se quisermos aceder à Secretaria, lhe: acha normal? E eu respondo-lhe: claro que Assinado,
como fazemos? Acho sinceramente que a solu- não é normal. Uma pessoa que se desloca em cadeira de rodas,
ção não seria pôr uma grua que nos transpor- Já agora… o Teatro Académico de Gil Vicente super revoltada com esta falta de civismo
tasse escada acima, até porque isso seria impos- (supostamente académico) também não é pro-
sível, mas colocar uma plataforma elevatória priamente o sítio mais acessível: sim, a sala
eletrónica nas escadas que desse acesso a todos de espetáculos tem acessos e também existe
os pisos talvez desse melhor resultado. Sim, isso uma casa de banho (embora não 100 por cento

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022


Xora Diretora,
Escrevo-lhe esta carta com o coração aper- nos, numa época em que vigorava um regime funcionamento da casa, mas também do país.
tado, infelizmente, não por paixão ou felici- monárquico, foi sempre capaz de ter dentro Precisamos urgentemente de deixar posições
dade, mas, pelo contrário, com angústia, preo- de si diversas formas de pensar e agir. Apesar ou partidarismos radicais e reativar a união
cupação e muita incerteza pelo estado atual da dessa diversidade, desde cedo perceberam que dos estudantes em prol dos bens comuns, quer
Academia, do país e do mundo… Teria muito o mais importante seria o bem comum dos aca- sejam a nível social, económico, educativo e/
para dizer sobre estas três coisas, mas irei demistas, colocando de parte os seus interesses ou ambiental.
focar-me essencialmente na Academia, na sua pessoais. A união dos estudantes de Coimbra Para a Associação Académica de Coimbra?
história e na reativação do seu legado. definiu o rumo desta casa e defendeu sempre a Tudo!
Irei evitar posições e/ou partidarismos, defen- democratização do país.
dendo veemente aquilo que são os valores em A Academia unida foi fundamental para Cordialmente,
que acredito. determinar vários ciclos universitários e do Rafael J. Xavier-Paulo
A história da Associação Académica de Coimbra país como, por exemplo, na crise académica
é já secular, acompanhando sempre de perto o de 1907, que antecipava uma necessidade de Post scriptum: Penso que não sejam necessárias
desenvolvimento do país, e muitas vezes, pau- mudança, nas sucessivas greves dos estudan- muitas palavras para transmitir este tipo de
tando o rumo que este tomou. tes, que entre 1928 e 1930 alertavam o país para sentimentos. Saudações académicas!
Desde a sua fundação, a Associação Académica um período negro da nossa história, e também
de Coimbra rapidamente se afirmou como na crise académica de 1969, que impulsionou a
uma instituição distinta, ímpar e exemplar, queda do regime ditatorial.
quer ao nível do associativismo, quer no Fica assim claro que a união da Academia de
panorama nacional. Fundada por republica- Coimbra não é só fundamental para o bom
20 SOLTAS 13 de dezembro de 2022

Em Prol da Digitalização
- POR DISA PALMA - CENTRO DE INFORMÁTICA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

Um dia decides que te queres inscrever numa Depois de repetires quase todo o abecedário, sociado é validada por uma assinatura que não
secção cultural. Vês a lista de secções culturais fazes finalmente parte de uma nova secção! é confirmada, dado que o cartão de cidadão não
e escolhes uma. Não há sítio que diga como te Participas em atividades interessantes e co- é pedido. O formulário, passando a ser online,
podes inscrever para te tornares associado nheces novas pessoas. Passados alguns meses, pediria as mesmas informações pessoais que
seccionista, então envias uma mensagem para a convidam-te a entrar na lista candidata à só o próprio saberia, este assinalaria com uma
secção. Respondem-te a propor encontrarem-se secção. Contudo, já estás em casa e recebes uma cruz que tem conhecimento dos termos e con-
para falar e te inscreveres. Acontece que estás chamada: “Já não podes entrar na lista. A secre- dições de uso que sendo disponibilizados onli-
de férias e vives longe de Coimbra. Assim, per- taria não tem a tua ficha!”. Não têm a tua ficha?! ne seriam diretamente acessíveis. Confirmaria
guntas se não seria possível teres uma conversa Mas tens toda a certeza de que a foste entregar! também a sua identidade recebendo, por exem-
online e num momento mais oportuno, encon- Voltas a Coimbra novamente, vais à secreta- plo, um código por SMS. Algo que acontece
travam-se. “Mas assim despachavas a tua ficha ria e no meio de toda a papelada e uma funcio- quando usamos apps de bancos ou subscreve-
de associado que tem de ser preenchida e entre- nária irritada, porque tem muito trabalho por mos petições válidas online.
gue presencialmente na secretaria.”. Ficas na despachar, encontram-na. Que sorte! Todavia, A digitalização protegeria os direitos dos
incerteza se te apetece assim tanto afinal. Tens descobres que há membros da tua lista que associados que não ficariam tão dependen-
de gastar dinheiro no bilhete para Coimbra, foram substituídos porque na altura da sua tes do erro humano; facilitaria a entrada de
gastar tempo… Insistem contigo e então deslo- inscrição não conseguiam ir à secretaria e aca- pessoas nas secções; tornaria o processo mais
cas-te a Coimbra, tens uma conversa agradá- baram por se esquecer de entregar a sua ficha. sustentável; permitiria cruzar os dados entre os
vel e dão-te uma ficha de associado. Começas a Este é o processo de inscrição de um associa- serviços da AAC e retirar o trabalho extra
escrever, enganas-te no teu próprio nome, ris- do seccionista. A AAC gaba-se por ser a casa da que os funcionários têm a passar informação
cas, fica uma confusão. juventude, mas não existe um processo de ins- manuscrita para o computador e a corrigir erros.
Acompanhas a pessoa até à secretaria e crição em secções moderno e eficiente. É impe- Existem mecanismos de prevenção que mitiga-
entregam a ficha. Vais para casa feliz. Passado rativo a AAC dar um passo nesse sentido. Mas riam estes problemas. A Académica só teria de
um pouco, recebes uma chamada da secreta- este processo não potenciaria a inscrição de se valer deles.
ria: estão a pedir para que soletres o nome e a pessoas sem o seu consentimento? Estes riscos
tua morada porque não percebem a tua letra. podem acontecer atualmente, pois a ficha de as-

ÉXTÉGUES DA ISABEL

U ma excursão de
asiáticos, bem jun-
tinhos a que não faltou
N uma paragem de au-
tocarro um jovem
dorme um sono profun-
C om o cãozinho ins-
talado num carrinho
de bebé entra no pantu-
um pau de selfie passeia- do sentado num dos ban- finhas, diz bom dia e
se nas ruas da Baixa. cos. As senhoras vindas todos seguem felizes.
da missa das oito velam
#hávidanestacidade para que não caia. #hávidanestacidade

#hávidanestacidade

cabreando por aí...


13 de dezembro de 2022 SOLTAS 21

Catástrofes naturais: produto


do Homem ou inevitabilidade?
- POR JESSICA SÁ - GRUPO ECOLÓGICO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

N
os últimos anos, assistimos a cada recursos hídricos que não pode ser ilibada dução, empobrecendo a fauna local e retirando
vez mais notícias de catástrofes com de responsabilidades, pelo álibi das “causas importantes sustentos económicos às popula-
consequências graves para as popula- naturais imprevisíveis”. Para a resolução destes ções desta região.
ções, o território, a economia e o ambiente. As problemas é necessário uma gestão mais ativa É preciso uma política ambiental que dê
alterações climáticas, se no passado eram mar- por parte do Estado Central, que tem vindo a respostas integradas e estruturais que não
cadas pelo ceticismo, hoje são um dos inegáveis desresponsabilizar-se das suas tarefas e obriga- passem por medidas e respostas de resolução
problemas com que a humanidade se confronta. ções ao colocar o ónus sobre o poder local, que superficial dos problemas. Olhando para o
A atualidade nacional é neste momento não tem os meios necessários para a resolução nosso País, o Grupo Ecológico da Associação
marcada pelas cheias na Área Metropolitana destas questões. Académica de Coimbra afirma que Portugal
de Lisboa. No entanto, no concelho de Coimbra As obras de desassoreamento, como a Câmara precisa de uma viragem na política ambiental.
é de destacar as cheias e inundações do túnel Municipal de Coimbra dizia no comunicado da Uma política ambiental que deve passar pela
de Bencanta, de ruas e de estradas, motiva- obra, tinham dois objetivos fundamentais: o preservação da natureza e dos seus sistemas
das pela falta do procedimento de limpeza de desassoreamento do açude-ponte e a estabiliza- ecológicos, que respeite o princípio da precau-
sarjetas e sumidouros ligados às redes públi- ção da margem direita, entre a ponte de Santa ção face a novas ameaças, contribuindo para
cas de drenagem de águas fluviais. Situação Clara e o açude-ponte. Porém, estas obras não prevenir e combater os efeitos das alterações
que suscita, também, interesse de referir são foram as que eram necessárias, nem foram climáticas, combatendo a mercantilização do
as quase anuais inundações do Parque Verde feitas de modo a melhorar o percurso do rio ambiente e a sua instrumentalização política pelo
do Mondego. Mondego e a salvaguardar os interesses das grande capital.
É na região do Baixo Mondego onde se situam populações do Baixo Mondego. Estas obras tive- A sociedade não é proprietária da Terra, é
os maiores problemas relativos às cheias que ram um forte impacto sobre a fauna fluvial com apenas sua detentora, devendo olhar para ela
têm impacto na vida das populações. Ao longo especial incidência sobre os peixes migratórios como um bem finito e imprescindível para o
dos anos, na bacia hidrográfica do Mondego, que continuam sem conseguir o açude-ponte futuro, sendo urgente procurar o equilíbrio que
tem sido recorrente uma incorreta gestão dos para poderem completar o seu ciclo de repro- proteja física e temporalmente o seu uso.

OBITUÁRIO
- POR CABRA COVEIRA -

É Geraaaaaal!
Chora, que logo bebes.
C á estamos, meus caros.
Há dois campos no que toca ao Conselho
Geral da UC: os que lhe chamam de tacho, e os A qui jaz Fernando Santos, o ídolo dos
tAAChistas da casa. Fado, Fátima e
que praticam 'paddle' com o tio Amílcar. Futebol. O nosso 'mister' trabalha um mês, se
Sabiam que, afinal, o reitor não faz só o que tanto, e há anos que pouco ou nada mostra.
lhe vem à cabeça? Aahhhhh, pois. Talvez aí com Mas enfim, cada um carrega a sua Cruz. Para
a ajuda do Indiana Fausto consigam escavar e a malta de Coimbra é o arroz de pato.
encontrar a dignidade da UC. Protegido pela Igreja (FPF), a fuga aos
Mas, então, querem representatividade? Além impostos chega a ser mais entusiasmante que
de uma estudante internacional, reza a lenda qualquer filme do Velocidade Furiosa. Mas
que um candidato até tem um amigo preto. basta umas dez Avé Marias e uns quantos
Mas vejam lá a categoria, a própria modera- joelhos no chão. Mas ó Nandinho, conheces o
dora esqueceu-se que o estatuto do estudante ditado: ajoelhou...
integrado em atividades culturalis existe e ´Quiçá davas grande vaqueiro, já que
vocês TODOS simplesmente alinharam. mandas 11 bois correr 90 minutos sem A nem B.
Andamos aqui a brincar com a brincadeira. Deixamos-te uma sugestão: antes de te demiti-
Ponham-se finos! res, compra uns lencinhos aí para o teu 'amigo'.
22 ARTES FEITAS 13 de dezembro de 2022

CINEMA
A Beleza da Fome
- POR PEDRO EMAUZ -

A
ma i s r ecente d ád iv a de Luc a consegue incorporar num só olhar, numa só

BONES AND Guadagnino, “Bones and All”, é um


projeto íntimo, belo e surpreendente.
A surpresa não está no facto de ser íntimo ou
hesitação na fala. Todos os debates morais tão
presentes e que articulam tão bem com um
sempre carismático mas frágil Timothée

ALL (2022)
belo (muito bem nos tem habituado o realiza- Chalamet, de cabelo avermelhado e cicatrizes
dor italiano) mas sim na permanência destes no corpo, que cria com Taylor uma química
tons tendo em conta o tema base: o caniba- impenetrável a dúvidas.
lismo. Os Estados Unidos da América na era Céus roxos e prados amarelos, estradas
Reagan são palco para uma verdadeira histó- extensas e feiras de diversões, livros antigos e
por Luca Guadagnino, ria de amor jovem, com muito som para além cigarros, elementos que, acompanhados
do mastigar de carne crua, muita cor para por uma cinematografia crua de Arseni
além de sangue vermelho, muita riqueza para Khachaturan, quase nos fazem esquecer por
além do choque. momentos de que estes dois jovens apaixona-
com Taylor Russell O filme acompanha Maren (Taylor Russell), dos no verão batalham uma fome por carne
uma rapariga acabada de fazer 18 anos, na sua humana. A subtil rasteira que Guadagnino
viagem por entre o centro oeste estaduniden- nos prega, fazendo-nos cair, sem darmos por
e Timothée Chamalet se, após ter sido abandonada pelo pai. Entre isso, numa aceitação de algo tão perturbador
viagens de autocarros, encontra-se numa como o canibalismo é um feito impressionante
busca incessante, e de início solitária, de auto- e desconcertante.
compreensão sobre o que implica ser canibal. A obra tem falhas. A edição por vezes preci-
A solidão física chega a um fim quando encon- pitada, um Timothée algo tranquilo e escon-
tra em Lee (Timothée Chalamet) um primei- dido (tendo em conta o que sabemos que pode
ro amor e, mais importante, uma companhia. dar), a pujança do ritmo a perder-se no tercei-
Lee é também um ‘eater’, termo utilizado para ro terço da história. No entanto, é inegável a
os canibais se identificarem, com um passado ambição e a coragem deste filme, baseado no livro
perturbado do qual tenta fugir. homónimo de Camille DeAngelis, na tentati-
Estes dois criam uma dinâmica de fazer va, e até sucesso, de nos relacionarmos com as
lembrar “Bonnie and Clyde”, com Maren a personagens na tela, nesta busca individual
balançar no dilema entre saciar a sua fome e de encaixarmos algures e das dificuldades em
controlá-la. Taylor Russell agiganta-se sem cedermos às nossas fomes. Guadagnino é um
se extroverter. É arrepiante o quanto a atriz diamante do cinema.
13 de dezembro de 2022 ARTES FEITAS 23

MÚSICA
Um adeus que convida
- POR PEDRO DINIS SILVA -

D
epois das belíssimas viagens que nos pante para o território árido de “devolução da volta da escuridão que experienciámos coleti-
proporcionaram com “Fetus In Fetu”, essência do ser”, uma canção de proporções vamente durante os últimos dois anos”. Entre o
“Odyssea” e “Ophelia”, e quatro anos épicas que enfurece e que arrefece e que, pelo barulho caótico do quotidiano, em que a misé-
depois do sombrio “umbra”, os indignu estão caminho, deixa uma vénia à particular manei- ria e a tristeza que ganham força todos os dias,
de volta e trazem, com eles, uma nova aven- ra portuguesa de se tocar guitarra. O piano de é assim que os indignu oferecem um “adeus”,
tura pelos trilhos do post-rock português. O “em qualquer entranha” simboliza o intervalo mesmo que efémero, a todo este rebuliço.
novo trabalho chama-se “adeus” e é o quinto deste trajeto, que continua na estação seguinte, Haverá convite mais bonito do que este?
álbum de estúdio do coletivo de Barcelos, que onde se lê: “urge decifrar o céu”. A chave para
ressurge em 2022 com uma nova formação e tão difícil tarefa de descodificação é apresen-
com uma vontade fresca de explorar novas tada através do diálogo entre os acordes dis-
paisagens sonoras. torcidos de guitarras elétricas, a gentileza de
O disco vem, desta vez, juntar os talentos um violino, e a imponência da bateria, que
de Ivo Correia e Pedro Sousa às presenças já pulsa o sangue desta faixa em contrastes pre-
familiares de Afonso Dorido e Graça Carvalho. cisos de euforia e delicadeza. A última paragem
Editado em novembro, “adeus” leva selo da chama-se “sempre que a partida vier” e é a que
editora belga Dunk!Records e conta com as melhor representa o sentimento do álbum.
mãos de Ruca Lacerda (Mão Morta, Pluto) na Aqui, a banda demonstra em pleno a virtude
mistura e de Birgir Jón Birgisson (Björk, Sigur do espírito que, mesmo deambulando entre
Rós, Spiritualized) na masterização, que con- o trauma e as más memórias, deixa sempre
tribuem para o particular desenho desta via- prevalecer a esperança.
gem, repleta de planos pintados a claro-escuro Estas cinco canções, que se prolongam por
e de imagens panorâmicas em que o sol e a luz pouco mais de 40 minutos sem uma única
espreitam pela neblina. palavra enunciada, trazem em si embutido um
A jornada começa com “a noturna”, uma convite especial para todos os ouvintes: “usar
introdução imponente que nos atira de rom- a música como um farol capaz de nos trazer de

LITERATURA
UMA CASA MORTA RECHEADA DE VIDAS
- POR TOMÁS BARROS -

O autor dispensa apresentações. O livro, esse, frio e dilacerante. suade e assusta, mas que também fere e mata.
merece todo o reconhecimento. Esta realidade era familiar ao autor. O próprio Em Cadernos da Casa Morta temos uma
Recordações da Casa dos Mortos, ou Cadernos tinha sido preso e obrigado a cumprir pena análise arrepiante do que é viver emprisio-
da Casa Morta nesta re-edição da Editorial numa prisão de características semelhantes. nado, em conflito, mas, acima de tudo, do que
Presença, que conta já com quase todos os A história engrandece com esse facto, porque é ser humano, errante, racional, temeroso,
livros e contos de Dostoievski, é um livro feno- ganha uma outra dimensão: apercebemo-nos esperançoso, sem nunca descurar a crítica
menal que pode passar despercebido entre os que temos todo este conjunto de histórias, social presente de forma declarada e incisiva.
mais aclamados do famosíssimo escritor russo. aventuras e desventuras na primeira pessoa,
Neste livro, Dostoievski deixa patente a sua a do autor.
capacidade surreal de analisar aquela que é a Terrivelmente caloroso e carinhosamente
natureza do ser humano. Através dos olhos, devastante. Ao ler sentimos o avançar progres-
dos ouvidos e de todos os sentidos do perso- sivo do tempo, apesar deste saltar por entre
nagem Aleksandr Petróvich, temos o teste- anos, eventos e memórias soltas. A realidade
munho de um prisioneiro de uma prisão no cruel do inverno, a esperança da primavera, os
coração da Sibéria. trabalhos forçados e os efémeros momentos de
Reforço todos os sentidos, até porque todos eles verdadeira alegria.
são despertados aquando da leitura. A maneira Tudo é coberto, a sensação que prevalece é
soberba de Dostoievski nos transportar até às que toda uma vasta vivência foi eximiamente
situações mais estranhas e, ao mesmo tempo, condensada e o livro vale por isso, pela sua
tão familiares, no que concernem as intera- capacidade de em cada frase residir um núcleo
ções entre os mais variados seres enclausura- de informação e de sentimento sempre rechea-
dos e obrigados a partilhar o mesmo espaço da de propósito. Cada frase é uma bala, que dis-
Mais informação disponível em

Editorial
ERRATA
Na capa da edição 310 do Jornal Universitário
de Coimbra – A CABRA, na fotografia de João
Caseiro deve ler-se “Por Hugo Marques”. Na
fotografia de Gonçalo Lopes deve ler-se “Por
Joana Carvalho”. Na fotografia de Wilson
Domingues deve ler-se “Por Sofia Ramos.
S.O.S Jornalista Na página 3 da edição 310 do Jornal
Universitário de Coimbra – A CABRA, onde
- POR JOANA CARVALHO - se lê “reacionária” deve ler-se “ativa”. Ainda

L
na página 3, na fotografia de João Maduro
embro-me da primeira vez que me Por reconhecer isto como verdade, enquan- deve ler-se “Por Inês Pinela” e na fotografia de
perguntaram o que eu queria ser quan- to pessoa que ainda não desistiu do sonho Gonçalo Pardal deve ler-se “Por Simão Moura”.
do crescesse. A resposta era sempre di- de exercer jornalismo, pesa-me o coração Na página 12 da edição 310 do Jornal
ferente: médica, cantora, trapezista… demo- por ver que eu, e muitos outros, teremos de Universitário de Coimbra – A CABRA, onde
rou muito tempo até encontrar o meu lugar, ponderar duas vezes (e mais umas quantas) se lê “ultrapassa os 50 por cento”, deve ler-se
o sítio em que me iria sentir completamente entre ter sustento ou fazer algo que nos apaixo- “ultrapassa os 40 por cento”, e onde se lê “40,5
realizada, enquanto profissional. Desta forma, na. É triste ver que o que nos espera, no início por cento da FMUC”, deve ler-se “40,5 por
o mundo do jornalismo abriu-se para mim de da nossa carreira, são estágios não remunera- cento da FFUC”.
porta em porta. Mal sabia eu, e muitos outros, dos ou mal pagos, trabalhos a recibos verdes ou Na página 14 da edição 310 do Jornal
o quão hostil este se tinha tornado. contratos precários. Universitário de Coimbra – A CABRA, nas
Desde precariedade a nível laboral, está- Para que a democracia vingue, é preciso que o fotografias onde se lê “Por Andreina Neves”,
gios abusivos, insegurança e falta de indepen- jornalismo também se rejuvenesça. É necessá- deve ler-se “Por Andreina de Freitas”. Na foto-
dência, muitas são as razões que afastam os rio que os quadros se renovem e que haja mais grafia onde se lê “Cedida por Francisco Neves”,
formados, em jornalismo ou ciências da co- imprensa independente e jovem. Os nossos deve ler-se “Cedida por Francisco Mendes”.
municação, deste meio. Numa sociedade cada jovens jornalistas merecem dar o seu contri- Na página 21 da edição 310 do Jornal
vez mais mediatizada, em que a informação buto e ajudar a construir a sociedade, através Universitário de Coimbra – A CABRA, onde se
adquire um papel central na manutenção do seu olhar, que está sempre atento a tudo o lê “Obtiuário”, deve ler-se “Obituário”.
da democracia e do Estado de Direito, seria que por aí se passa. Uma nova visão sobre a Na página 24 da edição 310 do Jornal
lógico haver cada vez mais uma valorização da profissão e a forma como ela é encarada pela Universitário de Coimbra – A CABRA, deve
profissão do jornalista. sociedade é justa, necessária e urgente. acrescentar-se “Sofia Ramos” na colaboração
de fotografia.
Aos visados, as nossas desculpas.

FALTAM 12 DIAS PARA O NATAL FALTAM 19 DIAS PARA 2023 FALTAM 156 DIAS PARA A QUEIMA DAS FITAS
(O VERDADEIRO NATAL)

FICHA TÉCNICA Diretora Joana Carvalho Conselho de Redação Luís Almeida, Tomás Barros, Inês
Duarte, Filipe Furtado, Leonor Garrido, Hugo Guímaro,
Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Equipa Editorial Luísa Macedo Mendonça & Simão Moura Margarida Mota, Bruno Oliveira, João Diogo Pimentel,
Depósito Legal nº478319/20 (Ensino Superior), Raquel Lucas & Ana Filipa Paz (Cultura), Paulo Sérgio Santos, Pedro Emauz Silva
Registo ICS nº116759 Larissa Britto & Fábio Torres (Desporto), Eduardo Neves &
Propriedade Associação Académica de Coimbra Sofia Ramos (Ciência & Tecnologia), Clara Neto & Daniel Fotografia Larissa Britto, Gustavo Eler, Raquel Lucas, Hugo
Oliveira & Sofia Variz Pereira (Cidade), Gabriela Moore & Marques, Simão Moura, Narci Rodrigues, Marijú Tavares
Morada Secção de Jornalismo Sofia Ramos (Fotografia)
Rua Padre António Vieira, 1 Colaborou nesta edição Mateus Araújo, Lucília Anjos, Ana Paginação Joana Carvalho, Fábio Torres
300-315 Coimbra Cardoso, Frederico Cardoso, Matilde Dias, Gustavo Eler,
Andreína de Freitas, Luís Gonçalves, Raquel Lucas, Hugo Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.
Marques, Sam Martins, Sofia Moreira, Simão Moura, Telf.239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt
Mariana Neves, Patrick Pais, Bruna Passas, Maria Inês
Pinela, Alice Rodrigues, Luísa Rodrigues, Marujú Tavares, Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de
Bruna Santa, Carolina Silva, Ana Vidal Coimbra

Tiragem 2000

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