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GRAN TORINO DESEMPREGO CÉREBRO

O último trabalho do realizador veterano, Portugueses na rua e A vida dos estudantes


Clint Eastwood, é uma reflexão sobre a preocupados com pode ter uma má
solidão e a velhice o futuro influência?
P 18 P 15 P2e3

17 de Março de 2009

a cabra
Ano XVIII
N.º 194
Quinzenal gratuito

Director: João Miranda


Editor-executivo: Pedro Crisóstomo Jornal Universitário de Coimbra

Norberto Alves
“Vamos tentar jogar
e ganhar jogos”
Estudantes da CPLP acusam
direcção-geral de distanciamento
No fim-de-semana em que a Acadé- Os dirigentes das associações que re- permitam a integração dos estudantes actual direcção de “manipulação”, ao
mica saiu derrotada na visita ao presentam os estudantes não portu- da CPLP”. O presidente da direcção- Associações de ter apresentado, na última Assembleia
Benfica e acabou com um ciclo de gueses da CPLP denunciam a geral, Jorge Serrote, no entanto, diz que estudantes dizem ser Magna, uma moção em alternativa à
seis vitórias consecutivas, o treina- “ausência” das direcções-gerais da AAC “é a direcção-geral que está empenhada proposta que previa a ida à manifesta-
dor da equipa sénior de basquetebol nas actividades que desenvolvem. Um em estreitar laços”. Já o presidente da contactadas apenas ção a Lisboa pela defesa dos direitos dos
da Académica fala da participação dos estudantes afirma que “a DG/AAC Organização dos Estudantes Guineen- para as eleições imigrantes.
do clube na liga portuguesa, do novo não tem sabido criar mecanismos que ses em Coimbra acusa directamente a P5
modelo da prova, na carreira e no
futuro. Norberto Alves elogia a coe- ANDRÉ FERREIRA

são de grupo, apesar das limitações


financeiras e desportivas
P9

João
Mesquita
Um homem
de causas,
de lutas e de
jornalismo
P7

Dois dias de luta


Estudantes
mobilizam-se
Um grupo de estudantes da Facul-
dade de Letras vai mobilizar-se,
amanhã, em frente à faculdade para
expressar o descontentamento com
a implementação do regime jurídico
do superior e do Processo de Bolo-
nha. A direcção-geral promove no
dia seguinte, 19, um protesto silen-
cioso no Largo D. Dinis.
P5
Pela madrugada agitada de Coimbra
@
Mais informação em
As profissões que conhecem a cor da noite P 14
acabra.net
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2 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

DESTAQUE
SEMANA INTERNACIONAL DO CÉREBRO

Bem-vindo ao cérebro de um estudante


Até ao próximo domingo, 22, comemora-se a Semana Internacional do Cérebro e A
CABRA aproveitou para fazer um “retrato” ao cérebro do estudante universitário. Por
Diana Craveiro e João Ribeiro
Os hábitos diários de qualquer também um homem das ciências, aos movimentos de pernas e bra- nas muito próprias. Horas de aulas que experimentam têm origem nes-
pessoa influenciam o seu cérebro. dizia que “o sonho comanda a ços, passando pelos sonhos e o ra- e de estudo, leitura, noitadas, ex- tas rotinas. É de esperar que o cé-
Disto já ninguém tem dúvidas, por- vida”, mas o que de facto se passa é ciocínio, o cérebro é que dirige as cessos de álcool e drogas, pressão rebro reaja de maneiras diferentes
que há vários estudos que o pro- que o cérebro comanda o sonho. operações. Com tudo isto, prevê-se dos exames e o recurso a comple- consoante a maior ou menor expo-
vam. A alimentação, as horas de Embora continue a ser um segredo que os efeitos sobre o cérebro se re- mentos cerebrais são alguns dos sição a elas.
trabalho, o tempo de descanso e até para muitos investigadores, é unâ- flictam em vários campos da vida hábitos que caracterizam a vida Coloca-se então a questão: o cé-
os 'hobbies' são factores decisivos nime qual o papel do cérebro em prática. universitária e que deixam marcas rebro dos estudantes universitários
para as respostas que o cérebro dá. todas as actividades do corpo hu- A vida do estudante universitá- incontornáveis no cérebro humano. anda cansado desta (má) vida? Os
O poeta António Gedeão, que era mano. Desde as funções vitais até rio, como qualquer outra, tem roti- Muitas das doenças e desconfortos especialistas pronunciam-se.

A leitura é uma actividade que ela se desenvolve”. No entanto,


preenche grande parte da rotina sabe-se que “o exercício de mem-
de qualquer estudante univer- orizar textos é importante”, mas Is-
sitário, basta reparar nas filas nos abel Alçada adverte: “a leitura tem
serviços de reprografia para o de estar associada à vontade de
comprovar. Mesmo quem não fixar”.
morre de amores por livros sente A autora compara a leitura a
que é impossível fugir-lhes. Toda “uma escalada que exige esforço e
esta exigência traduz-se numa dá prazer” e, continuando a metá-
tendência dominante: os estu- fora, afirma que “o estudante uni-
dantes universitários muitas vezes versitário tem muito mais hipóteses
cingem-se àquilo que são obriga- de chegar ao Everest da leitura”,
dos a ler. do que quem não percorre todo o
De que forma pode estar isto sistema educativo.
relacionado com o cérebro? A Actualmente, assiste-se a uma
leitura tem uma grande influência progressiva substituição da leitura
no desenvolvimento cerebral, na tradicional pelos meios tecnológi-
medida em que “altera até a cos, para o qual os estudantes
própria estrutura física do cérebro também contribuem. Isabel Alçada
e do sistema nervoso”, segundo a não considera esta situação
coordenadora do Plano Nacional ameaçadora para a leitura em
de Leitura, Isabel Alçada. “Há mais papel: “a comunicação através da
conexões sinápticas nas pessoas leitura de livros é uma invenção
que desde cedo lêem, do que extraordinária, que marca a Hu-
naquelas que não lêem”, explica. manidade de uma forma tão pro-
A concentração e a memória são funda que se pode dizer que é
dois dos campos em que os efeitos inabalável”. A autora admite que
da leitura mais se manifestam. De “as pessoas recorrem muito mais
acordo com Isabel Alçada, “o depressa à informação na Internet
hábito de ler exige que as pessoas do que, por exemplo, às enci-
estejam quietas, com os olhos fix- clopédias”. No entanto, adverte
ados num determinado ponto”, o que é preciso “distinguir o trigo do
que traz benefícios para a concen- joio” e que “as pessoas vão sendo O álcool acompanha a vida uni- centração, portanto um jovem es- dade física e intelectual", especí-
tração. Já em relação à memória, a cada vez mais alertadas para versitária, mas quando ingerido em tudante vai apresentar redução no fica.
escritora mostra-se mais incerta, aquilo que é credível ou não”. excesso pode ter efeitos negativos. desempenho escolar". Embora "o Segundo um estudo orientado
visto “não haver certezas em como J.R. Ana Rita Álvaro, do Centro de consumo crónico de qualquer sub- por um membro do Instituto Supe-
Neurociências e Biologia Celular stância nociva seja prejudicial à rior de Psicologia Aplicada, o hax-
de Coimbra e da Sociedade Por- saúde", como defende Ana Rita Ál- ixe, junto das camadas mais jovens,
tuguesa de Neurociências (SPN), varo, "tudo depende da quanti- é a substância ilícita mais consum-
explica que, "dependendo da dade". Tomando como exemplo a ida. Considerada por muitos como
quantidade de álcool ingerido, ingestão de quatro cervejas diaria- sendo uma droga leve, Ana Rita Ál-
diferentes áreas cerebrais são afec- mente, o membro da SPN não con- varo lembra que “há estudos que
tadas". Inicialmente, é o equilíbrio sidera que este seja um número mostram uma relação no consumo
que sofre alterações, mas o álcool grave. Contudo, "esse acto de haxixe e o desenvolvimento de
pode também vir a alcançar "áreas repetido diariamente por longos esquizofrenia".
responsáveis por funções vitais que períodos não é desejável, sobre- Outro dos problemas do con-
levam à perda de consciência, ao tudo em idades precoces". sumo de drogas é o desenvolvi-
coma e mesmo à morte", acres- ”O consumo crónico de todas as mento de comportamentos
centa. drogas, tal como o álcool, causa a depressivos. "O consumo crónico
Quanto mais jovens forem os morte dos neurónios”, esclarece de ecstasy pode provocar situ-
consumidores de álcool, mais prej- Ana Rita Álvaro. A sua regeneração, ações depressivas, porque esta
udicial é a sua ingestão. Em idade embora já se saiba que ocorre, não droga afecta o sistema serotoninér-
precoce, o cérebro ainda está em é feita à mesma velocidade a que gico, isto é, a libertação de sero-
desenvolvimento, pelo que o con- morrem os neurónios. Em situações tonina, um neurotransmissor
sumo de álcool o pode afectar. mais graves, "um consumidor responsável pela boa disposição",
Ana Rita Álvaro diz que "o álcool crónico de drogas tem alterações esclarece Ana Rita Álvaro.
também perturba os níveis de con- de comportamento e de capaci- D.C.
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DESTAQUE
Semana
assinalada
A utilização de computadores
e a navegação na Internet são
voltadas para onde haja infor-
mação. Uma simples mosca que
quecer-se do que se anda a fazer
na vida; perder a cabeça por dá
no Museu
autênticos rituais sagrados para a
maioria dos estudantes. Msn,
passe ao seu alcance é automati-
camente detectada, registada e
cá aquela palha ou entrar em
ebulição à mínima frustração ou
da Ciência
Google, Hi5, Facebook e transformada numa imagem men- à mínima contrariedade”, enu-
Wikipedia, são termos familiares tal”, explica. mera Nélson Silva. Patrícia Neves
para o estudante comum, que As consequências deste autên- Um estudo recente realizado
quase já não passa sem aceder tico bombardeamento de sons e por uma investigadora britânica “Cérebro e arte” é o tema deste
diariamente à web. Além das imagens estão relacionadas com revela que as redes sociais online ano da Semana Internacional do
horas em frente ao computador, a maior ou menor exposição a in- (Hi5, Facebook e Twitter, são al- Cérebro. Por isso, o Museu da
há um sem número de outros es- formação. No limite, o ser hu- guns exemplos) provocam, a Ciência da Universidade de Coim-
tímulos tecnológicos a que o mano desenvolve uma longo prazo, nos seus uti- bra agendou um conjunto de acti-
cérebro humano não é indifer- “dependência de ecrãs” e passa lizadores uma “infantilização” do vidades para esta semana.
ente, desde o telemóvel à tele- por aquilo que o presidente do cérebro. No espaço vão estar expostas
visão, passando mesmo pela Instituto da Inteligência apelida As principais consequências montagens que visam dar a co-
simples máquina de calcular. de “transe hipnótico-tec- são egoísmo, défices de concen- nhecer alguns aspectos da neuro-
Para o presidente do Instituto nológico”. tração e dificuldades em rela- ciência. A exposição é dirigida em
da Inteligência, Nélson Silva, Este estado é provocado “por cionamentos. Nélson Silva não particular ao público mais jovem.
fugir a todo este fluxo de infor- uma elevada concentração nos acredita que “o cérebro faça uma Hoje, 17, quinta-feira e sexta-
mação “é como tentarmos fugir conteúdos de ecrãs, nomeada- viagem de regresso ao passado”. feira vão decorrer palestras onde
da nossa própria sombra”. “O mente nos computadores” e cul- Contudo, o presidente do insti- se vai relacionar o cérebro com a
cérebro está sempre mina numa “’atenção fascinada’, tuto admite que, “a nível mental arte. Foram convidados cientistas
de antenas próxima da que se obtém em e, por conseguinte, a nível psi- do cérebro e mesmo pessoas que
transe hipnótico”, conta o inves- cológico, possa haver uma se dedicam à poesia, como Luís
tigador. aquisição de atitudes e lingua- Quintais, para expor a sua pers-
A um nível mais prático tudo gens mais infantis”. pectiva quanto à investigação do
isto se traduz de várias formas: J.R. cérebro e a importância que tem
“andar sempre a bocejar; no trabalho. Neurocientistas, in-
adormecer nas aulas; es- vestigadores em neurociência,
neurobiologia geral e biologia
geral, tais como Paulo Pereira e
Marta Menezes, também vão
expôr as suas ideias. Estas pales-
tras acontecem sempre às 16
horas.O Centro de Neurociências
vai também visitar escolas.
Em homenagem aos 60 anos do
Nobel de Egas Moniz, amanhã de-

A maioria dos estudantes univer- tomados sem vigilância médica e


sitários recorre à automedicação de forma não controlada, podem
para ter um bom rendimento face ter efeitos negativos. Segundo Ana
ao esforço intelectual. A con- Rita Álvaro, estes medicamentos
clusão parte de um estudo feito "provocam alterações na liber-
pela Escola Superior de Saúde de tação de neurotransmissores no
Viseu que foi divulgado em No- cérebro e, por isso, não podem ser
vembro do ano passado. A deixados de tomar de qualquer
pesquisa foi feita em 1004 estu- maneira, caso contrário o cérebro
dantes universitários, com idade ressente-se podendo ocorrer al-
média de 19 anos, e englobou terações de comportamento con-
alunos da área das ciências da trários ao efeito inicialmente
saúde, gestão, administração e lín- desejado".
guas. Outra situação que os estu-
Ana Rita Álvaro, do Centro de dantes costumam repetir em fase
Neurociência e Biologia Celular, de exames são as directas. A do-
explica que "existem suplementos cente da Faculdade de Psicologia
vitamínicos que não são prejudici- e Ciências da Educação da Univer-
ais para o cérebro, uma vez que sidade de Coimbra (FPCEUC),
normalmente servem para aumen- Maria Salomé Pinho, explica que
tar a concentração e combater a "quando as pessoas estão numa
fadiga e quando utilizados de situação de maior stress ou an- corre um colóquio para o qual
forma regrada são benéficos e pro- siedade, torna-se mais difícil recor- foram convidados neurocientis-
duzem geralmente o efeito pre- dar informação que aprenderam, tas, neurocirurgiões e historiado-
tendido". mas o sono deve ser feito de forma res para debaterem qual a
No entanto, além de comple- distribuída". "Há dados que importância que hoje se dá às in-
mentos para o cérebro, há estu- chamam a atenção para o facto de vestigações que Egas Moniz reali-
dantes que recorrem a o sono ajudar à consolidação da zou. “Achámos que esta era uma
anti-depressivos na época de ex- informação na memória", afirma. A homenagem que fazia sentido, já
ames, algo que Ana Rita Álvaro docente da FPCEUC adverte ainda que seria interessante fazer uma
desaconselha, porque "para além que "as pessoas que fazem direc- reflexão sobre a importância e as
de deverem ser tomados apenas tas na altura em que a memória vai implicações daquele que a dada
com indicação médica, não devem ser processada podem vir a preju- altura foi considerado um Nobel
ser tomados em situações pontu- dicar o seu desempenho". controverso devido às consequên-
ais, como em situações de stress Maria Salomé Pinho defende cias da utilização da técnica da lo-
agudo como se verifica em épocas que o estudo é a melhor forma botomia”, explica o director do
de exame". Se o objectivo for con- para exercitar a memória e diz que Museu da Ciência, Paulo Gama
trolar a ansiedade e o nervosismo as directas são "um esforço muito Mota. Catarina Resende de Oli-
destas alturas, "há outros fármacos concentrado e intenso que provo- veira, Alexandre Castro Caldas,
mais indicados", defende. cam desgaste no organismo". Miguel Castelo Branco, Fernando
Os anti-depressivos, quando D.C. Gomes e Manuel Correia são os
especialistas convidados.
4 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

ENSINO SUPERIOR
Rumo político da AAC divide
a Academia novamente SÓNIA FERNANDES tada, pela DG/AAC, às associações
rumo e a forma de lutar contra o
RJIES”. de estudantes presentes no ENDA
Para a estudante da FCTUC, o e a proponente da moção espera
facto de a DG/AAC ter votado con- que “a direcção-geral faça tudo
tra o primeiro ponto e ter-se abs- para que a proposta seja apro-
tido no segundo “parece ter sido vada”. Jorge Serrote explica que
por terem sido chamados à atenção “caso a moção não seja aprovada
aquando a reprovação da tomada em ENDA, tem que se equacionar,
pública de posição contra o porque se aquilo é para ser uma
RJIES”. Jorge Serrote, assegura manifestação nacional torna-se
que “não foi certamente por aquilo complicado não termos o apoio das
que a proponente disse que se alte- outras académicas”. O dirigente as-
rou o voto”. “Pedimos para ser vo- sociativo afirma que “antes do
tado ponto por ponto precisamente ENDA vai-se discutir essa questão
porque as votações iam ter sentidos com a proponente e talvez, até,
de voto diferentes”, justifica. levar a discussão a magna”. No que
Sílvia Marques refere que diz respeito às questões discutidas
quando apresentou a moção, “pen- em AM, Ana Beatriz Rodrigues as-
sava que a DG/AAC iria votar a segura que “não temos uma acade-
favor do primeiro ponto e chumbar mia unida e acho que há uma
o segundo, porque o abaixo-assi- tentativa da DG/AAC em não agru-
nado é uma proposta concreta de par tudo”. A estudante da FLUC
acção e não me parece que esta di- ressalva que “a direcção-geral es-
recção-geral tenha vontade de teve bem em relação a certas pro-
apresentar propostas concretas de postas como é o caso da iniciativa
A ASSEMBLEIA MAGNA votou a favor de todas as moções apresentadas pela DG/AAC acção e de as concretizar”. Serrote ‘UC a pente fino’ e do caderno rei-
afirma que “o abaixo-assinado é vindicativo”.
Moções que previam discordância entre os estudantes (DG/AAC). Era uma medida con- algo que verdadeiramente não es- Além das moções referidas, na
que se encontravam reunidos. A es- sensual, que correspondia a uma tava vocacionado como algo que última AM foi aprovada a elabora-
uma manifestação
tudante da Faculdade de Ciências e deliberação de magna”. Sílvia Mar- fosse, naquele momento, o melhor ção de um caderno reivindicativo e
nacional em Lisboa e Tecnologia da Universidade de ques afirma que foi uma “incoe- caminho, mas consideramos tam- a apresentação de uma queixa ao
um abaixo-assinado Coimbra (FCTUC) Sílvia Marques rência política brutal” e que houve bém que não seria algo mau fazer. Provedor de Justiça a requerer a
apresentou uma moção que, no “desonestidade para com os estu- Daí a abstenção”. fiscalização sucessiva do RJIES e
contra o RJIES foram primeiro ponto, previa o repúdio dantes que estavam na magna e Também a moção apresentada da Lei de Financiamento do Ensino
aprovados em do modelo de gestão das faculda- para com todos os estudantes que pela estudante da Faculdade de Le- Superior, tendo em vista a declara-
ambiente de discórdia des, imposto pelo Regime Jurídico a associação académica repre- tras da UC (FLUC) Ana Beatriz Ro- ção de inconstitucionalidade dos
das Instituições de Ensino Superior senta”. A estudante acrescenta que drigues gerou discussão entre os diplomas. Um “Jogo das Cadeiras”,
(RJIES) e no segundo um abaixo- “foi uma tentativa de tomada de estudantes presentes na Assem- um minuto de silêncio pelos direi-
Cláudia Teixeira
assinado. A moção foi votada ponto posição que revela alguma inexpe- bleia Magna, tendo os votos sido tos dos imigrantes, uma concen-
por ponto e o primeiro ponto foi re- riência por parte desta DG/AAC”. contados três vezes. A moção pre- tração silenciosa e um
Na Assembleia Magna (AM) da provado, ao passo que o segundo O presidente da DG/AAC, Jorge via uma manifestação nacional em levantamento dos actuais proble-
passada quarta-feira, 11, foi discu- foi aprovado. Serrote, explica que “não se trata Lisboa a efectuar depois do Encon- mas das faculdades, obtiveram
tida a linha de acção política da As- De acordo com a proponente, “a aqui de incoerência, é uma questão tro Nacional de Direcções Associa- também o voto a favor dos estu-
sociação Académica de Coimbra moção em nada compromete a po- de não voltar a fazer algo que já foi tivas (ENDA) que se vai realizar em dantes reunidos em Assembleia
(AAC), num plenário que gerou sição da Direcção-Geral da AAC feito depois de já estar traçado o Maio. A proposta vai ser apresen- Magna.

SASUC esperam concluir atribuição de bolsas até final de Março


Alteração do dantes com documentos por entre- dora da Acção Social da Direcção- tende que o “problema da acção so- ligar para os SASUC para obtermos
regulamento de gar. A coordenadora dos serviços Geral da Associação Académica de cial é um problema estrutural de de imediato a informação sumária”,
atribuição das bolsas explica que “de uma maneira recor- Coimbra, Carmo Páscoa, “o novo sub-financiamento, por parte do concretiza. “Caso a bolsa não tenha
rente, os documentos não vêm regulamento conseguiu tornar a governo”. sido ainda atribuída, por algum
a meio do ano levou completos” e que isso se vai “reflec- atribuição de bolsas incomparavel- O exemplo do estudante não é motivo, aconselhamos que os estu-
serviços a rever tindo nalgum atraso”. mente mais injusta”. Na prática, faz único. “Já tivemos vários casos” de dantes requeiram um adianta-
processos que já Ainda assim, justifica a coorde- com que “bolseiros baixem de esca- estudantes que se dirigiram ao pe- mento”, explica.
nadora, este “não é o único motivo” lão” e que, “no extremo”, sejam ex- louro da Acção Social por dificulda- Até ao momento, da parte dos
estavam concluídos para haver bolsas por atribuir. “A cluídos “mesmo bolseiros do último des financeiras, pelo facto de ainda SASUC, foram dados “mais de 850
mudança de regras na atribuição de escalão”, critica. estarem a aguardar a atribuição da adiantamentos de contas de bolsa”,
Pedro Crisóstomo bolsas de estudo no decorrer deste Tiago Silva, estudante do terceiro bolsa. “E acredito que continuarão o correspondente a cerca de 250
ano lectivo afectou não só os pri- ano em Arqueologia e História, a surgir”, revela Carmo Páscoa. mil euros, adianta Elisa Decq
Os Serviços de Acção Social da meiros anos como também os ou- alega que, embora tenha recebido Nesse caso, “o primeiro passo é Motta.
Universidade de Coimbra (SASUC) tros, quando já estávamos com “quatro meses de bolsa em finais de LEANDRO ROLIM

esperam que a atribuição de bolsas processos [concluídos]”, explica. Fevereiro”, ainda tem “dois meses
de estudo “à maior parte” dos pro- A partir de Junho passado, o em atraso”. Como entregou um do-
cessos que estão pendentes neste novo regime deixou de considerar cumento apenas em Janeiro, diz,
momento esteja concluída no final os rendimentos familiares dos 12 não chegou a pedir o adiantamento
de Março, adianta a coordenadora meses do ano para passar a incluir da bolsa. “No meu caso, recebo
dos serviços de bolsas, Elisa Decq mais dois (o de Natal e o de férias). bolsa mínima, por isso o agravante
Motta. “A partir do momento em que foi é o facto de apenas receber a bolsa
Até à sexta-feira passada, havia alterado o procedimento, os servi- após já ter pago duas prestações de
6161 concorrentes a bolsas, mais ços também tiveram de alterar. Isso propinas”, conta. Ainda assim, “não
329 do que em 2007-2008. Mas, implicou que revíssemos várias penso que a administração dos
desses processos, ainda estavam vezes muitos processos”, justifica SASUC seja o problema fulcral
pendentes 622 atribuições a estu- Elisa Decq Motta. Para a coordena- aqui”, ressalva o estudante, que en-
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ENSINO SUPERIOR
Estudantes
Estudantes da CPLP denunciam organizam
iniciativa
distanciamento da direcção-geral de luta
Representantes dos estudantes da CPLP não portugueses em Coimbra fazem críticas às sucessivas Filipa Faria
direcções-gerais da AAC. Todavia, Jorge Serrote afirma “não perceber” as acusações
LEANDRO ROLIM Os estudantes da Faculdade de
Cláudia Teixeira Letras da Universidade de Coim-
bra (FLUC) vão realizar amanhã,
Os estudantes da Comunidade dos 18, uma concentração de alunos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) em frente ao edifício. O objectivo,
não portugueses acusam as sucessi- segundo o estudante de História e
vas direcções-gerais da Associação organizador da iniciativa, Carlos
Académica de Coimbra (AAC) de Machado, é “enterrar simbolica-
“distanciamento” em relação às asso- mente o ensino superior devido às
ciações de estudantes que represen- actuais políticas”.
tam. O presidente da Associação de A acção de luta está ao encargo
Estudantes Cabo-Verdianos, Samir de “um grupo de estudantes da fa-
Silva, esclarece que “as críticas não culdade de letras que está descon-
têm a ver com a actual Direcção- tente com o actual estado do
Geral da AAC (DG/AAC), mas sim ensino superior”. Os alunos pre-
com as sucessivas” e que se dirigiu à tendem “sensibilizar a comunidade
última Assembleia Magna (AM), dia estudantil para os problemas que
11, para “manifestar a ausência da existem e passar a mensagem de
AAC e para falar especificamente na que é preciso fazer alguma coisa”.
Festa dos Sons, Saberes e Sabores em Carlos Machado defende que os es-
que a DG/AAC recebeu um convite e tudantes sabem o que se passa no
não compareceu”. ensino superior: “todos nós paga-
Por seu lado, o presidente da mos propinas e todos nós temos
DG/AAC, Jorge Serrote, afirma que problemas com a implementação
“é mentira”. “Tivemos convite para de Bolonha”. No entanto, lamenta:
visitar e foi o que fizemos”, justifica. “há vontade de fazer mas não há
O dirigente associativo acrescenta: uma direcção para canalizar essa
“desde que sou presidente da vontade”.
DG/AAC nunca tive um convite deles O estudante de História refere
para nada”. que a iniciativa vem no seguimento
Samir Silva explica ainda que “a dos “cortes orçamentais e do Re-
crítica vai no sentido de que qualquer gime Jurídico das Instituições de
tipo de relação que possa existir tem Ensino Superior (RJIES)”. Carlos
de passar sempre pela boa vontade Machado acha que “há alunos que
de quem estiver na direcção-geral”. não sabem o que é e isso é grave”.
“Não queremos depender da boa “Este é um papel que cabe à Direc-
vontade da direcção-geral”, assegura. DIRIGENTES das associações de estudantes da CPLP pretendem “não depender da boa vontade da direcção-geral” ção-Geral da Associação Acadé-
No entanto, o dirigente cabo-ver- mica de Coimbra (DG/AAC), mas
diano ressalva: “tenho consciência de Já em 2005, no mandato de Fer- apresenta os lucros que tem apresen- os elementos da direcção-geral que se há pessoas que acham que esse
que por parte dos estudantes que nando Gonçalves, as associações de tado”. votam, portanto não percebo porque papel não está a ser cumprido,
vêm dos países que representamos estudantes dos Países Africanos de Yannick d’Alva acredita que houve é que dizem que foi a DG/AAC que vamos fazê-lo nós”, esclarece.
não há um grande esforço de inte- Língua Oficial Portuguesa (PALOP) “manipulação” por parte da DG/AAC manipulou, quando houve estudan-
gração. Faço aqui a ‘mea culpa’”. afirmaram a A CABRA sentir-se “ne- ao apresentar uma moção em alter- tes que estavam presentes na magna
Jorge Serrote diz não perceber as gligenciadas” pela DG/AAC. nativa à moção apresentada por Jen- e votaram neste sentido”. “Achámos
acusações, “até porque se passa o nifer Jesus. A moção da DG/AAC foi que era mais oportuno fazer o minuto
contrário” e, continua, “somos nós Dirigentes aprovada e previa um minuto de si- de silêncio e, portanto, apresentámos
que estamos empenhados em estrei- sentem-se “chocados” lêncio, a realizar-se em Coimbra, no a moção”, acrescenta.
tar laços”. Yannick d’Alva explica que o princi- dia da manifestação. O representante Yannick d’Alva espera que “o pre-
Samir Silva denuncia que “a pal motivo que o levou à AM foi “criar dos estudantes guineenses em Coim- sidente da DG/AAC diga alguma
DG/AAC não tem sabido criar meca- um ponto de partida para estabelecer bra considera que “houve uma tenta- coisa aos estudantes” que representa,
nismos que permitam a integração uma relação de proximidade e de re- tiva de não assumir a “porque a maior parte deles há-de
dos estudantes da CPLP não portu- presentatividade”. Contudo, o estu- responsabilidade de chumbar a sentir-se indignado com o que acon-
gueses”. Também o presidente da Or- dante de Medicina Dentária explica moção”. Samir Silva diz que “tendo teceu. Quero que ele diga porque é
ganização dos Estudantes que, além da distância entre associa- que a direcção-geral tem essa posição
Guineenses em Coimbra, Yannick ções, o que o levou a falar foi o voto explícita face à luta pela igualdade de Também a DG/AAC vai levar a
Baptista d’Alva, refere que “a atitude contra da DG/AAC à moção apresen- Estudantes da CPLP direitos”. Jorge Serrote afirma que “a cabo uma actividade com o objec-
de indisponibilidade da DG/AAC tem tada por Jennifer Jesus, relativa à di- DG/AAC solidariza-se completa- tivo de denunciar o sub-financia-
sido constante”. vulgação e disponibilização, pela
não portugueses mente com os imigrantes” mas que mento do ensino superior. O
Ambos os dirigentes afirmam ser direcção-geral, de autocarros para a lamentam ser con- “foram os votos dos estudantes que protesto foi aprovado na última
contactados apenas em altura de elei- manifestação pelos direitos dos imi- estavam na magna que ditaram que Assembleia Magna e vai-se realizar
ções para os corpos gerentes da AAC: grantes que se realizou no passado tactados apenas em assim fosse”. “Não percebo esse tipo quinta-feira, 19, no Largo D. Dinis,
“queremos dizer um basta a esta domingo, 15. “Chocou-me que a di- de críticas”, remata Jorge Serrote. às 12h30. A moção aprovada em
forma de nos verem simplesmente recção-geral tenha votado contra essa
altura de eleições O estudante guineense denuncia, magna refere que os estudantes
como votantes na altura das elei- moção”, afirma. ainda, que “a magna é plural mas não vão estar unidos num protesto si-
ções”, explica Samir Silva. O presi- O dirigente guineense conta que em conta a vertente social da AAC, é democrática, visto que só passaram lencioso onde “envergarão másca-
dente da DG/AAC diz não saber “o após a AM conversou com elementos completamente contraditório terem moções que a DG/AAC queria que ras que lhes cobrirão totalmente a
que eles querem dizer com isso” e as- da DG/AAC e foi-lhe dito que “não ti- votado contra esta moção e a forma passassem”. Mais uma vez, Jorge cara, representando assim a vergo-
segura representar todos os estudan- nham informação acerca da iniciativa como tentaram contornar a questão Serrote, afirma não perceber as críti- nha de todos os estudantes que se
tes, “quer tenham votado em mim ou e que, neste momento de crise, não é grave”. cas que são dirigidas à DG/AAC: vêem obrigados a abandonar o en-
não e o tratamento é igual para seria adequado patrocinar uma ma- No que diz respeito a esta questão, “acho que mais democrático do que sino superior por não disporem de
todos”. E acrescenta,“obviamente nifestação a Lisboa”. Yannick d’Alva Jorge Serrote afirma não entender as pessoas estarem ali e votarem não recursos económicos”. A acção de
que a magna é um local para discutir denuncia a situação justificando que quando falam em “manipulação” e pode ser, portanto não percebo por- luta tem também como intuito de-
estas questões, mas nunca vieram “é irónico a DG/AAC não querer pa- justifica: “apesar de ter sido uma que é que não é democrático. Sim- nunciar o orçamento dos serviços
falar comigo sobre isto”. trocinar uma manifestação quando magna pouco participada, não são só plesmente não percebo”. de acção social.
6 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

ENSINO SUPERIOR

Dia do Estudante tem menos


impacto na comunidade
No próximo 24 de Março assinala-se mais um Dia do Estudante. O que foi na história e o que
está planeado para assinalar a data em Coimbra. Por Vasco Batista e Pedro Pinto
académico. Mais tarde, em 1962, tes universitários" que, só em

P
ara se compreender o sig-
nificado do Dia do Estu- "ignorando a proibição que o Go- 1987, viram a sua batalha recom- AS INICIATIVAS DO DIA
dante, 24 de Março, verno tinha decretado", realizou- pensada, com a ratificação, em As-
temos que recuar até aos se, em Coimbra, o primeiro sembleia da República, do Dia do
primeiros movimentos de contes- Encontro Nacional de Estudantes, Estudante para 24 de Março. Para o próximo dia 24 de Março, actual. “Para credibilizar a contes-
tação estudantil do início do sé- que valeu aos membros da AAC Até ao final do Estado Novo, a estão agendadas duas iniciativas para tação será ainda entregue um
culo XX. processos disciplinares e suspen- data foi aproveitada "para subli- assinalar o Dia do Estudante. O Pro- abaixo-assinado ao Governo Civil”
O professor de História da Fa- sões. "Os estudantes de Coimbra nhar a importância da luta pelos jecto U, candidato às últimas afirma o elemento do projecto,
culdade de Letras da Universidade responderam então com o luto direitos associativos estudantis e eleições para a Direcção-Geral da Paulo Costa.
de Coimbra (FLUC), Rui Bebiano, académico e a greve às aulas", ex- pela democratização das institui- Associação Académica de Coimbra O estudante de Direito destaca o
afirma que "até 1961 a comuni- plica Rui Bebiano. ções universitárias e do ensino", (DG/AAC), vai realizar uma concen- “simbolismo e a história” que a data
dade estudantil comemorou outra Entretanto, em Lisboa, as asso- relembra o professor da FLUC. tração de estudantes em frente ao acarreta para o meio estudantil,
data, o 25 de Novembro". Neste ciações de estudantes, "mesmo Contudo, depois do 25 de Abril de Governo Civil de Coimbra. aproveitando-a para expor os prob-
dia, em 1921, os estudantes ocu- sem a autorização do Ministério 1974, apesar do devido reconheci- Também a DG/AAC e o Conselho lemas mais gerais da Universidade
param o Clube dos Lentes, "mar- da Educação Nacional, comemo- mento da data, "as comemorações Inter-Núcleos (CIN) vão levar a cabo de Coimbra (UC), como “a falta de
cando o seu protesto pela raram o Dia do Estudante a 24 de deixaram de ter o impacto pú- um “Jogo das Cadeiras”. A iniciativa condições humanas, materiais e
afirmação dos direitos associati- Março de 1962", destaca o do- blico, ou mesmo na comunidade vem no seguimento da aprovação de pedagógicas, o valor elevado das
vos", sublinha. Esse episódio ficou cente. O regime respondeu com a estudantil, que durante a década uma moção apresentada pela di- propinas, a insuficiência de resposta
conhecido como a "Tomada da sua "violência habitual, invadindo de 60 tinha permanecido". recção-geral e pelo CIN. dos serviços de acção social e os
Bastilha". a Cidade Universitária e muitos Confrontado com a forma como O presidente do Núcleo de En- problemas pedagógicos resultantes
Em 1961, a Direcção-Geral da estudantes foram espancados e é, actualmente, comemorado o genharia Electrotécnica da AAC, do Processo de Bolonha”. Com a
Associação Académica de Coim- presos". A reacção de repúdio não Dia do Estudante em Coimbra, José Martins, explica que o objectivo acção de luta, o projecto pretende
bra (DG/AAC), "conotada como se fez esperar e os estudantes de- Rui Bebiano confessa que "co- da actividade é “alertar a comu- “lutar contra o fim da gestão
oposição ao regime e incentiva- cretaram o luto académico se- nhece pouco do que tem sido feito nidade estudantil para os estudantes democrática e paritária”, manifes-
dora de uma vida associativa di- guindo a mesma linha nos últimos anos", mas, ainda que ficam de fora do ensino superior tando-se contra o novo Regime Ju-
nâmica e independente", revolucionária que ocorrera em assim, admite que tenta "estar por condições económicas e dos rídico das Instituições do Ensino
mobilizou as academias de Lisboa Coimbra. Estávamos perante a atento ao que se vai passando". O órgãos de gestão por imposição do Superior, que “pode levar à privati-
e do Porto para virem a Coimbra. crise académica de 1962. facto de não sentir que, nesta al- Regime Jurídico das Instituições de zação das instituições de ensino”,
Depois de várias reuniões, foi pro- Toda esta atitude autoritária do tura, "algo de especial esteja a Ensino Superior”. O jogo vai ter lugar afirma Paulo Costa.
posta a criação de uma União Na- governo fomentou a união dos es- acontecer" pode significar que as na Praça da República, às 12h30 e é O abaixo-assinado já circula em
cional de Estudantes "livre, tudantes na luta pela "preservação comemorações "não têm tido aberto a todos os estudantes. todas em faculdades da UC e pre-
autónoma e isenta", bem como a das suas associações como espa- grande impacto". "A maioria dos A concentração organizada pelo tende chegar não só aos estudantes
abolição da praxe pelo Dux Vete- ços democráticos" e pelo "repúdio alunos universitários não está mo- Projecto U inclui a distribuição de da Alta universitária, como também
ranorum, Joaquim Garcia. Desta da política educativa do Estado tivada para comemorações de folhetos informativos acerca do pas- aos dos institutos politécnicos.
acção resultou a prisão de vários Novo". Todo este processo ficou datas e seria uma boa altura para sado histórico do 24 de Março e dos Com Tiago Carvalho e
alunos pela PIDE, instaurando- na memória como a "primeira discutir os problemas estudantis", principais objectivos do movimento Ana Rita Santos
se um clima de tensão no meio grande mobilização dos estudan- alerta.

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17 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 7

CULTURA
JOÃO MESQUITA Cartaz cultural
da Queima
O homem certo na profissão certa celebra 110
Jornalista, lutador de causas, adepto fervoroso da Académica, João anos de festa
Mesquita é, incontestavelmente, um homem de carácter e de princípios. Patricia Gonçalves
Por João Miranda Filipa Magalhães

ra um homem de causas. prego, que viria a conhecer mais mocrática possível, através de um re- mica. Dono de uma devoção extrema Na próxima segunda-feira, 23,

E De princípios. De afectos.
E de muitos amigos. De
um pensamento crítico e
incapaz de se vergar. Não admitia fre-
tarde mais do que uma vez. Até que
vários meses depois integrou a dele-
gação de Lisboa do “Notícias da
Tarde” como repórter parlamentar.
ferendo em que os jornalistas foram
chamados a pronunciar-se sobre a
melhor forma de organização”, re-
corda Castanheira. Contudo, o amigo
ao futebol, é lembrado por todos os
amigos por quase nunca ter perdido
um jogo da Briosa. Paixão que lhe
valeu uma homenagem singular,
vai realizar-se o espectáculo “Fado,
Sonho e Tradição” nos jardins da
Associação Académica de Coimbra
(AAC). O espectáculo integra o car-
tes. A única coisa que tinha de faná- De resto, foi o início do que definiu e camarada destaca como a grande quando o cortejo fúnebre atravessou taz das actividades preparadas
tico era a devoção à Académica, de uma vez numa entrevista como uma luta de Mesquita o combate que levou o Estádio Cidade de Coimbra a cami- para a Queima das Fitas.
quem era adepto incondicional. Que- “hiperespecialização”. Extinto o pe- a cabo contra politização da Alta Au- nho da Lousã, onde foi sepultado. Segundo o vice-presidente da
ria saber sempre mais e ligar os fac- riódico, passou depois pelo “Jornal toridade para a Comunicação Social. Aliás, em Janeiro de 2008 lançou em Secção de Fado da AAC, Francisco
tos, acompanhar as tendências. de Notícias”, pelo “Semanário”e cerca parceria com João Santana o livro Requicha, o concerto tem como
Convivia com gente de todas as gera- de um ano depois, encetou uma nova A ligação a Coimbra “Académica – História do Futebol”, objectivo aproximar a comunidade
ções e sensibilidades sociais, políticas mudança quando integrou a editoria Desiludido com todas as alterações uma obra sobre o percurso da acadé- estudantil da cultura da cidade: “a
e culturais. Um homem da cidade. de um novo diário, o “Público”. no sector jornalístico, abandonou mica, que bateu o recorde de vendas Canção de Coimbra é indissociável
Em Coimbra nasceu quase por aci- Lisboa para entrar para a redacção do no lançamento da editora Almedina, da festa da Queima das Fitas.
dente e em Coimbra teve o seu último Os anos do sindicato “Jornal As Beiras”. Estreitou então os com mais de 400 exemplares vendi- Assim, o espectáculo percorrerá as
trabalho como jornalista. “Gostei muito da pinta dele, laços que o uniam a Coimbra. No dos. “Ele a escrever tinha um talento várias etapas do fado académico -
João Mesquita, pá!”, lembra José Pedro plano da intervenção cívica, foi um inigualável. Foi o grande responsável da sua génese até à actualidade -
o “homem Castanheira do dos grandes motores da criação do pela redacção, conseguia explanar as em paralelo com o evoluir da
certo na encontro que Conselho da Cidade, empenhou-se na ideias muito bem e eu não podia ter Queima das Fitas”. A música que
profis- teve com João aprovação da Carta Constitucional da arranjado um parceiro melhor”, re- vai compreender temas de Artur
s ã o Mesquita cidade e colocou uma das pedras ba- corda João Santana. Paredes, José Afonso, Luís Gomes
aquando do silares da ‘Pró-Urbe’. Era “um cida- Porém, “não cedia a tendências de e baladas mais recentes vai ser
convite dão dos movimentos dos cidadãos”, encostar o futebol a realidades menos acompanhada pela projecção de
para in- como recorda José Manuel Pureza. dignas de articulação com alguns po- fotografias das festas de queimas
tegrar Contudo, nunca deixou que esta sua deres da nossa sociedade. E isso anteriores.
a vertente cívica e interventiva cho- valeu-lhe como académico alguns O espectáculo manifesta o carác-
casse de alguma forma com a sua dissabores na relação com algumas ter comemorativo desta queima,
vida profissional. “O João sem- das figuras da direcção”, aponta José
pre evidenciou a sua Manuel Pureza.
orientação política e Quando vivia em Coimbra, “porque
quando lhe foi pedido o João era um conimbricense de
que desempenhasse gema”, lembra a amiga Natércia
ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

trabalhos jornalísti- Coimbra, repetia os mesmos rituais.


cos, por exemplo, de Pela manhã lia a imprensa sempre
cobertura de campa- acompanhado de um café e de uma
nhas eleitorais, soube água das pedras. O almoço prolon-
sempre traçar de uma gava-se por largas horas, sempre
maneira muito ri- acompanhado e geralmente no Can-
gorosa a tinho dos Reis, como lembra a amiga
sua mili- Natércia Coimbra, que com ele parti-
tância e lhava longas horas de conversa. E de- que celebra 110 anos e que tem
aquilo que pois trabalhava pela noite dentro, até como lema “110 anos de tradição”.
é o traba- de madrugada. Às vezes fazia uma Nesse sentido, a Comissão Central
lho de pausa para ir ao bar do Botânico, por- da Queima das Fitas apresenta um
jorna- que o Noites Longas já não era o cartaz com 110 dias de actividades
lista”, mesmo do seu tempo. culturais, desportivas, solidárias e
defende João Mesquita foi até ao fim um tradicionais. O comissário respon-
Pureza. defensor acérrimo de um ideal do jor- sável pelas actividades culturais,
certa”, actualmente editor da revista lista concorrente ao Sindicato dos D’ “As Beiras” nunca esqueceu o nalismo que não se vende ao sensa- André Malho, afirma que estão
Rua Larga, morreu aos 51 anos na Jornalistas (SJ), como secretário. facto de ter visto um texto seu censu- cionalismo e às lógicas de mercado. E “calculadas duas a três actividades
madrugada da quinta-feira passada, “Achei-o muito firme, muito deter- rado, motivo que o levou a abando- achava também que existia a necessi- por semana, que se iniciaram no
12. minado, muito combativo e percebi nar o jornal e a voltar ao desemprego dade de transmitir esses mesmos va- passado dia 10 de Março e que vão
Os amigos recordam-no como um que poderia ser um bom elemento durante quatro meses, até integrar a lores. E essa postura assume-se terminar a 27 de Junho”.
homem alegre, conversador, sempre para a minha equipa”, acrescenta delegação de Coimbra do “Indepen- também um pouco no que é hoje A A destacar também a exposição
disponível para se dar aos outros. Castanheira. dente”, da qual foi despedido com o CABRA. Quando, no final de 2002, o itinerante que começou no pas-
Cedo despertou para a política e da João Mesquita veio a recandidatar- encerramento das delegações do jor- jornal passou a quinzenal, foi João sado dia 10 e que vai estar dois dias
política para o jornalismo foi um se à direcção do sindicato, desta vez nal. Passou então dois anos sem em- Mesquita que tomou as rédeas de em cada faculdade da Universi-
salto. Embora fosse uma paixão de- como presidente, nos biénios de prego, realizando alguns trabalhos de todo o processo. dade de Coimbra encerrando-se no
clarada desde criança, conhecia 1989/90 e de 1991/92. freelance. “A cidade nunca soube re- Eduardo Brito, antigo presidente dia 17 de Abril no edifício da AAC.
muito pouco do meio jornalístico e da Durante os seus mandatos bateu- conhecer a dedicação do João Mes- da Secção de Jornalismo, recorda a A exposição é composta por dez
profissão. Corria o rumor de que es- se com algumas das mais profundas quita. A tal ponto que teve que ir para circunstância: “ele chegou-nos com painéis ilustrativos de cartazes,
crevia com “desembaraço” e isso, alterações no jornalismo. Foi nesta Lisboa porque em Coimbra lhe recu- aquela voz à Mesquita e disse-nos programas e fotos de queimas das
aliado à experiência que trazia do altura que começou o processo de re- saram trabalho e o afastaram”, lem- que o jornal tinha que fazer isto e isto. fitas. Há ainda outras novidades
Movimento Associativo do Ensino privatização dos órgãos que haviam bra José Manuel Pureza. Duas semanas depois apareceu-nos no cartaz deste ano como a mostra
Secundário de Lisboa, de que foi fun- sido nacionalizados durante o Pro- Contudo, o elo a Coimbra não es- com o jornal todo rasurado e parti- de “fado alternativo”, dia 2 de
dador, fê-lo entrar n’“A Voz do Povo” cesso Revolucionário em Curso moreceu e João Mesquita acabou por mos de um novo modelo”. “Um tra- Junho, que apresenta bandas cujo
(órgão oficioso da União Democrática (PREC) e que surgiram as primeiras voltar a trabalhar para a cidade, a balho que ele prezava tanto, porque cenário musical é a canção de
Popular) aos 22 anos. rádios privadas, então com o estatuto convite da reitoria da Universidade achava que era nessa fase que se de- Coimbra.
Aí, começou a compreender os me- de pirata. Foi também neste período de Coimbra, para editar a revista Rua viam passar as mensagens do que era Outra das novidades no cartaz
canismos e as práticas inerentes à que um grupo de jornalistas levantou Larga, mesmo continuando a viver o jornalismo”, reconhece Natércia deste ano é as olimpíadas univer-
profissão, experiência que durou até a possibilidade da criação de uma em Lisboa. Coimbra. “O João marcou-nos mais sitárias, o “Jantar do Bigode” e
1981, quando o jornal acabou. En- Ordem profissional. “O João soube De pé, manteve-se sempre a paixão do que ele pensaria ou desejaria”, de- ainda a iniciativa “110 anos, 110 ár-
frentou então a realidade do desem- colocar a questão da forma mais de- da qual nunca se desligou, a Acadé- fende Eduardo Brito. vores”.
8 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

CULTURA
BIBLIOTECA GERAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

cultura
por cá “Coimbra é a cidade dos livros”
17 MAR
SARA GALAMBA

ARRAIAL SOCIAL
LARGO D. DINIS
19H • ENTRADA LIVRE

19
MAR
SOULS OF FIRE
TAGV • 21h30
NORMAL 6¤ • ESTUDANTE 4¤

19MAR

DUO BIM BOM


O TEATRÃO
22H • 2¤

5
MAR

ENA PÁ 2000
SALÃO BRAZIL
22H • 8¤

21
MAR
a 12 ABR
A BGUC comporta oito pisos de depósito e possui a maior colecção de mapas desenhados à mão que existe em Portugal

UM POR CEM – OLHAR AS


COIMBRA
REPÚBLICAS DE
Já foi colégio, teatro académico e faculdade de Letras. Hoje é a Biblioteca
FOTOGRAFIA DE MARGARIDA MADEIRA Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), o maior espaço de leitura
DAS 10H00 ÀS 01H00 • TAGV
ENTRADA LIVRE universitário do país. Actualmente depara-se com algumas dificuldades
Por Maria João Fernandes, Sara Oliveira e Ana Rita Santos
23
MAR o coração da Universi- falta de espaço, algumas publicações dernações de luxo protegidas por avança Fiolhais.
ATELIÊ DE ACTIVIDADES PLÁSTICAS
Café com Arte
DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA
ENTRADA LIVRE
N dade de Coimbra (UC),
está a Biblioteca Geral.
Com cerca de 50 anos, o
edifício alberga oito pisos, milhões
têm mesmo de ficar amontoadas no
chão, principalmente jornais e revis-
tas. Também as prateleiras se en-
contram sobrecarregadas, formando
grades. Estas salas estão repletas de
livros mas também servem de es-
paço de reuniões.
O desinvestimento por parte da
Para além do papel
Um milhão é o número aproximado
de livros que estão nas prateleiras da
de publicações, tem linhas que re- labirintos apertados. Mas o espaço reitoria da UC é uma realidade. “A biblioteca da universidade. Este nú-

24 montam ao Estado Novo e hoje aco- não é o único problema. A sala de universidade não tem, neste mo- mero continua a crescer, e a tecno-
lhe o passado de quem explorou o leitura tem infiltrações que, segundo mento, meios suficientes para acu- logia é uma prioridade. A BGUC é
conhecimento, e concretiza o futuro Carlos Fiolhais, são de difícil resolu- dir a necessidades que são pioneira no projecto Google Books
MAR
de quem entra com perguntas e sai ção porque “quando se tapa num urgentes”, refere o director da que actualmente disponibiliza cerca
ACTUAÇÃO DA QUANTUNNA com respostas. lado, aparece noutro”, nota, e o BGUC. de 600 obras digitalizadas integral-
A PARTIR DAS 13H00 Com um espólio vasto em termos aquecimento também é uma carên- Para além das insuficiências do mente, mas que tem a particulari-
CAMPO DE SANTA CRUZ históricos e culturais, na BGUC cia. Segundo funcionário da BGUC, edifício, a falta de recursos humanos dade de serem edições da própria
ENTRADA GRATUITA pode-se encontrar um pouco de António Parreiral, “o ideal seria criar é também uma condicionante. UC.
25 tudo. Em Portugal, em média, de
meia em meia hora, é editado um
uma oficina para a restauração de al-
guns livros que se encontram muito
“Existem muitos livros por catalo-
gar”, refere Fiolhais, e esta é em
Segundo Carlos Fiolhais, “o digi-
tal é a salvação dos livros e da im-
MAR
BURAKA SOM SISTEMA livro. Ora, isto perfaz um total de 48 degradados”. parte, uma consequência da falta de prensa”. A Biblioteca Geral Digital,
livros por dia, num universo de 17 A Biblioteca Geral possui exem- pessoal para as diferentes tarefas. o Estudo Geral – Repositório de pro-
PAVILHÃO MULTIDESPORTOS
520 livros por ano. Coimbra tem o plares únicos no mundo. A primeira Apesar da BGUC não admitir tra- dução científica da UC e os diversos
ARENA 12,5¤ • BANCADA 16¤
21H
privilégio de possuir uma das duas edição dos Lusíadas, de Luís de Ca- balhadores-estudantes, Carlos Fio- catálogos estão todos informatiza-
bibliotecas portuguesas com depó- mões; uma das primeiras edições da lhais entende que essa é uma das dos. Para Carlos Fiolhais a disponi-
sito legal, onde soma todos os livros Bíblia; mapas com mais de 500 anos prioridades para colmatar alguns bilização destes conteúdos online

26 MAR
publicados em Portugal assim como
todos os periódicos. Para além disso,
livros estrangeiros e portugueses,
e manuscritos musicais com mais de
um metro de altura e vários quilos,
são raridades que não são deixadas
problemas, e o processo já está em
curso. “É uma maneira de os estu-
dantes se envolverem mais numa
permite aos leitores uma maior co-
modidade e poupança de tempo.
Apesar da Biblioteca Geral estar a
velhos e novos coabitam num ao acaso. A Casa Forte da BGUC é coisa que é deles, sendo pagos por passar por algumas dificuldades,
THE RUBY SONGS
mesmo lugar. O depósito legal da uma sala climatizada, uma espécie isso e ficando a conhecer os bastido- Carlos Fiolhais coloca os estudantes
INDIE SONGS DON´T LIE BGUC está disposto, ao longo de oito de cofre gigante, com alta segurança res”, defende o director. numa posição fulcral. O director en-
Salão Brazil Carlos Fiolhais ambiciona um
pisos, em torno da sala principal que garante a protecção destes tende que “Coimbra é a cidade dos

onde se exercita o conhecimento: a exemplares. São raras as pessoas novo espaço. E vê como possível a livros, os estudantes devem contri-
27
MAR
sala de leitura. Quem a escolhe para
estudar, dia após dia, não tem a real
que a ela têm acesso.
Do espólio da BGUC não foram
requalificação e reutilização do es-
paço da penitenciária de Coimbra.
buir para encontrar uma solução’’.
Entretanto, a entrada e a saída de li-
TERESA GABRIEL noção do que está para além das pa- esquecidas as bibliotecas pessoais de “Se houver ambição, a universidade vros e pessoas vai continuar. O co-
redes que envolvem a sala. Apesar alguns ilustres ligados à cidade de e a câmara [municipal] têm de se nhecimento vai persistir naquele
Acústico da amplitude do depósito da BGUC Coimbra, como Oliveira Martins e juntar, para conseguir um espaço espaço. O estudante de Direito, Vítor
SALÃO BRAZIL • 3¤
“os livros estão a gritar desesperados Visconde da Trindade. Quem entra moderno que poderá ser privile- Figueiredo, garante mesmo que “a
por ajuda”, personifica o director da na sala Visconde da Trindade logo se giado no país, equiparando-nos às Biblioteca Geral é a melhor que os
Por Maria João Fernandes Biblioteca Geral, Carlos Fiolhais. Por apercebe do seu valor, pelas enca- grandes bibliotecas mundiais”, estudantes têm no país”.
17 de Março de 2009| Terça-feira | a cabra | 9

A G E N D A D E S P O R T I V A
DESPORTO
BASQUETEBOL 21 VOLEIBOL HÓQUEI EM PATINS 22 DESPORTOS NÁUTICOS
MAR MAR Campeonato Nacional de Junvenis
Maia Basquet vs. Académica Académica vs Sporting das Caldas Académica vs APDG Penafiel
21 16H30 • MUNICIPAL FORMIGUEIRO 17H • ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO 3
21 18H • ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO 1
e Veteranos
MAR MAR MONTEMOR-O-VELHO

NORBERTO ALVES • TREINADOR DA EQUIPA SÉNIOR DE BASQUETEBOL DA ACADÉMICA

“Podemos ser um grande clube português”


Mesmo com a derrota frente ao Benfica, a Académica não penhorou a ida aos play-off
da liga de basquetebol. O técnico faz o balanço da participação da equipa na prova
SÓNIA FERNANDES
equipa a ser melhor.
Catarina Domingos
Sónia Fernandes E como avalia o trabalho dos
seus jogadores nacionais?
Que balanço faz da participa- A AAC é o único clube que veio
ção da Académica na liga? para esta liga sem uma referência
Muito positivo. Ninguém esperava nacional. Apostámos nos jogadores
isto, porque teoricamente éramos que conhecem os valores inerentes
um dos candidatos a descer de di- ao clube e à secção de basquetebol.
visão. Jogo a jogo fomos traba- Eles evoluíram muito, tiveram um
lhando, mantendo-nos coesos. impacto muito forte, porque nunca
Nesta altura, estamos numa posi- tinham jogado a este nível.
ção que nos permite ambicionar ir
aos play-off. É, em primeiro lugar, Como é a relação de Coimbra
um esforço colectivo. Nestes últi- com a equipa de basquetebol?
mos anos, a secção de basquetebol Coimbra é uma cidade que sempre
mudou para muito melhor e penso gostou de basquetebol, mas andou
que a equipa dentro de campo é o muitos anos arredada da primeira
reflexo disso. divisão. Quem vem ver os jogos
tem de admitir que a equipa dá
Como analisa a evolução da tudo o que tem. Neste momento,
equipa ao longo da tempo- há uma grande identificação das
rada? pessoas que vêem, e todos os joga-
Temos as nossas limitações: o dores portugueses e estrangeiros
plantel mais curto, o orçamento têm contribuído. É importantís-
mais pequeno, somos a equipa simo perceber que é uma tarefa que
mais baixa, mas, em termos de coe- nunca está completa e é funda-
são de grupo e de trabalho diário, mental continuarmos a captar pes-
somos do melhor que existe nesta soas e jovens para vir jogar. Este é
liga. Quando assim é, melhoramos um jogo do século XXI, emotivo,
e é isso que tem acontecido. que se resolve no último segundo.

Qual o segredo para ter uma “Tempo, talento e dinheiro”


equipa coesa e tranquila que para ter sucesso é talvez a sua
depois consegue surpreender frase mais repetida. A Acadé-
na liga? mica tem isso?
O segredo tem a ver com liderança. A Académica não tem dinheiro.
As pessoas responsáveis, técnicos e Temos de entender a nossa reali-
directivos, têm essa capacidade… dade: possuímos o pior orçamento
De dominar aquilo que são os co- da liga, mas é um orçamento cum- O TREINADOR orienta a equipa sénior de basquetebol da Académica há três épocas .
nhecimentos, o “estado de arte” do pridor. Temos o talento que pode-
momento, o treino em basquete- mos ter, mas há uma coisa que parte dos clubes que o quiseram gadores ao basquetebol português. que a época não foi positiva e eu
bol, os processos de comunicação temos que é muito importante e adoptar estão arrependidos. Se O regresso do Élvis Évora, do Sér- sou treinador há 20 anos.
com os jogadores e o controle emo- que os outros clubes não têm: antes do modelo ser aprovado gio Ramos, do João Santos, que jo-
cional. Ganhámos dois jogos tempo para as coisas se trabalha- emiti posições públicas, agora faço garam na liga espanhola, a melhor Como é a sua relação com a
mesmo nos últimos segundos. Os rem. uma coisa simples: ponham-me o do mundo a seguir à NBA. É im- Académica?
jogos têm sido muito equilibrados e modelo que quiserem que vamos portante, porque são referências É uma relação curiosa. Quando
é preciso emocionalmente, nos mo- tentar jogar e ganhar jogos. Era para os jovens. vim para a Académica, vim do Oli-
mentos mais críticos do jogo, con- “Apostamos nos melhor ter um campeonato com vais, o grande rival. Neste mo-
tra adversários teoricamente mais doze ou catorze equipas. O que é que recorda como jo- mento não é o grande rival, é um
fortes, estarmos constantemente jogadores que gador de basquetebol? grande projecto. Podemos ser de
concentrados. Que análise faz da prestação Se há alguma coisa que me vem à forma sustentada um grande clube
conhecem os dos outros clubes da liga? memória do tempo em que jogava português. O primeiro passo a dar
A escolha dos estrangeiros valores inerentes Há clubes que estão claramente é que me divertia imenso. é ter um pavilhão para o basquete-
também foi um ponto de sus- aquém do que se estava à espera bol treinar. As pessoas devem pedir
tentação ao longo deste ano? à Académica” face aquilo que foi o seu investi- Que balanço faz da carreira, o que merecem e nós temos feito
Sem dúvida. Evidentemente, sabe- mento. O FC Porto e o Vitória de tendo por base os clubes por tudo por merecer.
mos as posições que queremos que Guimarães são, se calhar, os casos onde passou?
eles venham colmatar, mas o pri- Que primeiras conclusões tira mais visíveis. Já estive num grande Estive um ano no Benfica. Cheguei Como técnico, tem recebido
meiro critério é o carácter deles, é do novo modelo da liga? clube e isto depende muito das cir- a meio de uma época em que esta- alguma proposta para ir para
perceber se são jogadores que vêm Fui uma pessoa crítica em relação a cunstâncias. O treinador é ele e as vam em último. Fiz um ano com outro clube?
ajudar os outros a ser melhores e este modelo de competição, de jor- suas circunstâncias. Eu não sei as uma opção que se calhar não foi a Ser convidado faz parte da vida
que não sejam jogadores indivi- nadas cruzadas, de competição circunstâncias dos outros, o dia-a- melhor, que foi participar nas eu- normal de treinador. E recusar
dualistas, com egos que não permi- com muitos jogos. Foi o modelo -dia, a oportunidade que estes trei- ropeias no lugar do Real Madrid, também. Seria um péssimo exem-
tam ser treinados e modificados que alguns dos responsáveis da fe- nadores têm ou não de liderança. que nos desgastou. Chegámos ao plo da minha parte, para os meus
para melhor. Não são aqueles joga- deração e alguns clubes entende- play-off e falhámos. No ano a se- jogadores, que dentro do campo
dores de estatísticas como melho- ram por bem adoptar. Agora, há E em relação a jogadores? guir, comecei a época e vim-me transpiram para ganhar, estar a
res marcadores, mas ajudam a uma coisa que eu sei – a maior Houve um regresso de grandes jo- embora. Foi o único ano que senti pensar noutras coisas.
10 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

DESPORTO
TRIATLO

Projecto de Divisão de Honra à vista


secção avança Com o primeiro lugar
SARA SÃO MIGUEL

em Setembro na fase regular,


a Académica sonha
Filipa Faria com a subida.
Eliminados da taça, a
Num futuro próximo, uma sec-
ção de triatlo pode juntar-se às 26
equipa concentra-se
modalidades que já existem na no campeonato
Associação Académica de Coim-
bra (AAC). Rafael Gomes, ex-
Sara São Miguel
aluno da Universidade de
Coimbra e impulsionador do pro-
jecto para uma futura secção de A Secção de Futebol da Associa-
triatlo, defende que “Coimbra é ção Académica de Coimbra (AAC)
uma cidade que tem todas as con- terminou a primeira fase do Cam-
dições para fazer grandes eventos peonato Distrital Série A da Asso-
desportivos a nível do triatlo”. ciação de Futebol de Coimbra
O antigo estudante, lembrando (AFC) em primeiro lugar e pre-
que antigamente existia um clube para-se para disputar a fase final
de triatlo na cidade, refere que o que permite a subida à Divisão de
principal objectivo é “fazer renas- Honra.
cer a modalidade na região”. Para A segunda fase começa no pró-
isso, contactou a secção de nata- ximo domingo, dia 22, frente ao
A ACADÉMICA SF terminou a primeira fase com 44 pontos.
ção, “porque é uma das secções Góis. A disputa pela Divisão de
mais importantes para poder Honra é feita entre os seis primei- AFC, como realça o presidente. dio universitário e a utilização tar- interessante. “Esta equipa, com
abrir um projecto”, já que esta é a ros classificados da série e só o Em relação ao campeonato, a dia do Campo de Santa Cruz para mais dois ou três jogadores, está
vertente mais treinada no triatlo. primeiro lugar sobe directamente equipa acumulou cinco empates e os treinos foram também factores preparada para dignificar a cami-
Quanto ao recrutamento de de escalão. O presidente que é duas derrotas em 20 jogos. O trei- que condicionaram o percurso do sola”, afirma o técnico que está
atletas, “já existe um grande também um dos capitães de nador Bruno Fonseca admite que grupo. Bruno Fonseca critica a po- confiante na qualidade do plantel
grupo de nadadores que fazem equipa, Rui Pita, considera que o grupo “nunca assumiu nada no sição da Direcção-Geral da AAC para esta competição. Contudo,
parte da secção de natação e que “os jogos vão ser difíceis”, uma vez início da época, pelas dificuldades pela sua falta de apoio. “Penso que consideram “ser cedo para se falar
estão interessados no triatlo”. Ou- que são retirados metade dos pon- a nível de apoio logístico e pelo podia ter sido dado mais apoio em Divisão de Honra”.
tros não fazem parte da Acadé- tos aos participantes, o que vai di- facto dos jogadores nem sempre pela posição que a equipa ocupa Relativamente à taça, a equipa
mica, mas “praticam em clubes a minuir a vantagem da formação. poderem estar presentes nos trei- no campeonato e por ser uma mo- falhou no passado domingo o apu-
nível nacional ou na região de Na época transacta, os estudan- nos”. A secção de futebol dispõe dalidade popular”. ramento para as meias-finais,
Coimbra e vão-se juntar ao pro- tes finalizaram o campeonato em de apoios financeiros limitados, o Quanto ao apoio dos adeptos, o frente ao Febres, perdendo nos
jecto”. oitavo lugar, devido a “falhas de que influencia a qualidade da treinador revela não haver afluên- penáltis após o empate a um golo.
O local e horário de treinos organização e a uma menor quali- equipa. “Não pagamos a ninguém, cia aos jogos pelo facto das “pes- Bruno Fonseca relata que o
ainda não estão estipulados. Só dade do plantel”, esclarece Rui mas mostramos outras mais-va- soas estarem desligadas”. grupo “veio para essa competição
em Setembro, quando os atletas Pita. No entanto, após “três anos lias como seja representar a nossa A subida de divisão é uma am- sem qualquer tipo de objectivo” e
se filiarem no clube, é que vai de grandes remodelações no academia”, sublinha Rui Pita. bição dos estudantes e dos técni- encarou cada jogo “sem pressão”,
haver “um horário bem definido”. grupo”, chegaram os bons resulta- Além das dificuldades financei- cos, que anseiam por um mas que a presença nos quartos
Neste momento só estão a treinar dos no campeonato e na Taça da ras, a falta de condições do está- campeonato mais competitivo e de final já os deixa orgulhosos.
os elementos da secção de nata-
ção e “até Setembro os treinos vão
ser feitos na piscina do complexo
olímpico”.
Como o projecto nasceu há pou-
Empate com sabor a vitória
cas semanas, os apoios ainda são ANA COELHO
poucos e provêem sobretudo da Num jogo que se com Lito, Sougou e Carlos Saleiro. ambas as balizas, até que aos 33 mi-
secção de natação. Rafael Gomes previa complicado, Os estudantes levaram para nutos Carlos Saleiro inaugura o
explica que “como a natação Braga a lição bem estudada, defen- marcador. Na sequência de uma jo-
ainda está em desenvolvimento os estudantes dendo bem, com o meio campo e a gada de envolvimento do ataque
em Coimbra, os alunos demons- responderam da defesa muito compactos, lançando dos estudantes, Sougou descobre
tram grandes interesses em expe- melhor maneira, depois rápidos contra ataques. Carlos Saleiro no coração da área e
rimentar a modalidade do triatlo”. O Braga começou melhor, encos- o avançado de primeira faz o seu
As expectativas são positivas: com um empate a tando a equipa da Académica à ba- primeiro golo com a camisola da
“como é uma modalidade que está uma bola frente liza. Logo aos dois minutos, Académica. O Braga dominava o
na moda, temos boas perspectivas Mossoró fugiu a Pedrinho e já den- jogo, mas a Briosa não deixava a
a SC Braga
para a angariação de atletas”. tro da área tentou desmarcar um equipa da casa criar lances de pe-
Num futuro próximo, é esperada companheiro, mas a defesa da rigo.
a “realização de provas nacionais André Ferreira Briosa conseguiu afastar a bola para Na segunda parte, os minhotos
e a nível do circuito jovem”. A longe da grande área. A equipa de apareceram novamente mais fortes,
data das provas ainda não está A Briosa deslocou-se este fim-de- Jorge Jesus continuava a pressionar criando logo inúmeras oportunida-
marcada, mas vai ser entre os semana a Braga para defrontar a a defesa dos estudantes. Paulo des de golo. Os estudantes tenta-
meses de Setembro e Outubro equipa local. Os arsenalistas que vi- César teve a primeira grande opor- vam segurar o ímpeto atacante do
para aproveitar a entrada dos es- nham para este jogo moralizados, tunidade da partida aos onze minu- adversário, mas com a entrada de
tudantes na universidade. A prova depois de terem empatado a zero a tos. O avançado arsenalista entra na Luís Aguiar e de Renteria, tudo se
vai ter a duração de um fim-de- primeira mão dos oitavos de final área e frente a Peskovic, propor- tornou mais complicado. Dois mi-
semana e vai estar aberta a atletas da Taça UEFA frente ao Paris Saint- ciona uma excelente defesa ao nutos depois de entrar, Renteria,
federados e não federados. Germain. guarda-redes dos estudantes. A com um passe a rasgar a defesa dos
A criação da nova secção vai ser Jorge Jesus apresentou algumas Académica respondia em contra- estudantes, desmarca Paulo César
apresentada no próximo plenário surpresas na equipa titular. O trei- ataque e Tiero tem uma excelente que, isolado, não falhou, estabele-
do Conselho Desportivo da AAC. nador do Braga deixou no banco jo- oportunidade dois minutos depois. cendo, assim, o resultado final.
O membro da direcção do orga- gadores como Renteria e Luís O médio da Briosa aparece comple- Com este empate, a Académica
nismo, Jaime Carvalho, apenas Aguiar. Também Domingos Paciên- tamente sozinho no lado direito do soma 25 pontos, mantendo o dé-
adianta que “o projecto só pode cia apresentou surpresas. A Briosa ataque, rematando para uma defesa cimo lugar. Na próxima jornada, dia
ser avaliado depois de apresen- entrou em campo a jogar em 4x3x3, apertada de Eduardo. 5 de Abril, a Briosa recebe o Bele-
tado”. com um trio atacante muito rápido, O jogo animava com perigo para nenses.
17 de Março de 2009| Terça-feira | a cabra | 11

DESPORTO
Lenine Cunha e Vítor Pleno P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

BASQUETEBOL

destacam-se em França SARA SÃO MIGUEL


A equipa
de basquete-
bol da Aca-
d é m i c a
Paraatletas da AAC p e r d e u
regressam a Portugal frente ao
com dez medalhas e Benfica por 89-60 e pôs termo a
um ciclo de seis vitórias conse-
falam da sua cutivas na Liga Portuguesa de
prestação, dos Basquetebol. A turma de Nor-
objectivos futuros berto Alves está no quinto lugar,
com 42 pontos. Na próxima jor-
e do dia-a-dia nada, a AAC joga com o Maia
Basket, em mais uma jornada
Catarina Domingos cruzada.
Sara São Miguel

Depois da participação no Cam- VOLEIBOL


peonato da Europa em Pista Co- Na pri-
berta INAS-FID, os atletas da meira jor-
Secção de Atletismo da Associa- nada do
ção Académica de Coimbra play-off da
(AAC), Lenine Cunha e Vítor Série dos
Pleno, regressam de França com Primeiros da
medalhas e novos recordes. Divisão A2, a Académica perdeu
A representar a selecção nacio- com o Sporting Clube das Caldas
nal de atletismo de deficiência in- por 0-3. Nesta fase, as equipas
telectual, Lenine Cunha defrontam-se no sistema à me-
conquistou seis medalhas de ouro lhor de três jogos. O próximo en-
(no pentatlo, triplo salto, 60 me- contro está marcado para
tros, salto em comprimento, salto sábado, dia 21, no Pavilhão 3 do
em altura e corrida de estafeta Estádio Universitário.
4x400 metros) e duas de prata
(60 metros e corrida de estafeta
4x200). A boa prestação em HÓQUEI EM PATINS
Reims valeu-lhe o prémio “Me- Com a ma-
lhor Performance”. nutenção já
“Faço um balanço muito posi- assegurada,
tivo, pois foi a minha melhor a Académica
competição de sempre”, avalia o começou da
atleta. Para além das medalhas, o melhor ma-
desportista de 26 anos conseguiu neira a luta para o título de cam-
estabelecer um novo recorde peão da 3ªDivisão. A equipa de
mundial no pentatlo, com 3157 Miguel Vieira venceu o Clube de
pontos. Patinagem de Beja por 1-4, na
Na partida para França, Lenine primeira jornada de apura-
Cunha lembra que “não estava mento do campeão do terceiro
muito confiante”. A nova marca DEPOIS DAS MEDALHAS, os atletas da Académica já só pensam nos Global Games. escalão. Na próxima ronda, a
mundial trouxe-lhe “ânimo para AAC joga com o APDG Penafiel.
os dias seguintes”. “Houve provas porto não estivesse ninguém”. sola da Académica há duas épo- cançar. Lenine Cunha e Vítor
em que me superei e fiquei sur- O atleta de Vila Nova de Gaia cas. O desportista da Figueira da Pleno não falam em medalhas,
preendido com marcas que nunca pratica atletismo há vinte anos e Foz divide-se diariamente entre o mas prometem “honrar o país e XADREZ
imaginava fazer”, destaca. elege como o momento mais im- trabalho numa padaria e os trei- dar o melhor”. “Vai ser uma com- A segunda equipa de xadrez
O academista Vítor Pleno, mais portante da carreira a participa- nos ao final da tarde. O Campeo- petição muito superior e de alto da Acadé-
contido nas respostas, também ção nos Jogos Paraolímpicos de nato do Mundo de Pista ao Ar nível”, adverte o atleta de Gaia. mica perdeu
avalia a sua prestação como posi- Sidney em 2000, que o fizeram “o Livre no Brasil em 2007 é o mo- Após os resultados da partici- por 1-3
tiva. Depois de partir para terras atleta que é hoje” e o ajudaram a mento que escolhe como mais pação no europeu de pista co- frente ao S.
gaulesas como vice-campeão da dar “um grande salto”. A sua vida marcante do seu percurso des- berta, Lenine Cunha acredita que João da Ma-
Europa de Corta-Mato INAS-FID, é exclusivamente dedicada ao portivo. tem as “portas abertas para o que deira, em
o atleta arrecadou uma medalha atletismo: à parte das duas horas vai acontecer em Londres 2012”. jogo da terceira jornada da Série
de ouro na corrida de estafeta e meia de treino por dia, ocupa-se Global Games no A presença nas Paraolímpiadas é B do Campeonato Nacional de
4x400 metros e uma medalha de com música, televisão e internet. pensamento quase obrigatória. “Quero lá estar 2ª Divisão. Na próxima jornada,
bronze nos 3000 metros. “Estava Lenine Cunha representa a Aca- O técnico da secção de atletismo, porque já ganhei tudo o que havia a AAC II encontra o Mari-
à espera de fazer melhor, mas fiz démica desde o início desta tem- António Oliveira, faz parte da para ganhar, mas ainda não ga- nhense. No Campeonato Nacio-
o que foi possível”, afirma. porada. “Não gostei da proposta Académica desde 1989 e ajuda a nhei uma medalha paraolímpica nal de 3ª Divisão, a Académica
Com estes resultados, que que o meu anterior clube [FC preparar os dois desportistas para e vai ter de ser nessa competição III perdeu frente ao Vale de
deram a Portugal o segundo lugar Porto] me fez, e depois porque o as competições de clubes, apelida- porque a idade depois pesa”, am- Cambra por 0-4. No próximo
do quadro de medalhas (no total meu amigo António Oliveira me os de “belíssimos atletas”. A par- biciona. fim-de-semana, a AAC joga com
28), Lenine Cunha sente que está convidou”, conta. ticipação nos Global Games na À parte das representações na- o S. João da Madeira II.
a causar impacto. No entanto, la- Já Vítor Pleno conta com dez República Checa, entre 5 e 15 de cionais, ambos querem “ajudar a
menta que “na chegada ao aero- anos de carreira e veste a cami- Julho, é o próximo objectivo a al- Académica a subir de divisão”. Catarina Domingos

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10 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

TEMA
CONFLITOS MUNDIAIS
Quando se assinalam seis anos do início da invasão do Iraque, A CABRA elenca os confrontos
militares da actualidade mais mediatizados. Textos por Vasco Batista e João Miranda e ilus-
tração por Tatiana Simões D.R.

pós vários incidentes e IRAQUE


Nouri al-Maliki, respondeu ocupação do Iraque, este país está

A trocas de ameaças entre


os diferentes executivos
norte-americanos e o go-
verno iraquiano, no dia 20 de
po-
pulação
sunita. Con-
respondeu demonstrando
confiança nas forças militares lo-
num caos e a sua população vive
num inferno”.
Março de 2003, uma força de co- tudo, o governo mi- cais para assegurar a paz no país. Também a docente do Departa-
ligação composta pelos Estados permanente só as- lhões de des- Porém, a estabilidade no país mento de Relações Internacionais
Unidos da América (EUA) e pelo sume o poder em meados locados, a taxa não é algo que analistas apontem da Faculdade de Economia da
Reino Unido, entre outros, inicia do ano seguinte, ano em que os de desemprego para um futuro próximo. Segundo Universidade de Coimbra
a operação “Iraqi Freedom” com a confrontos entre as tribos xiitas e superior a 50 por cento, para cima Vítor Silva “este [cenário] só será (FEUC), Daniela Nascimento, faz
justificação de pôr fim a um ale- sunitas assumem proporções ca- de um milhão de viúvas e os cinco possível quando os invasores se um “balanço francamente nega-
gado projecto iraquiano de produ- tastróficas. 2006 é também indis- milhões de órfãos”. “As redes sa- retirarem (de facto e totalmente) tivo do ponto de vista daquilo que
ção e armazenamento de armas de sociável da execução de Saddam nitárias e fornecedoras de água e e quando houver condições do são os objectivos de longo prazo
destruição maciça. Hussein e da denúncia do trata- electricidade que cobriam cerca povo iraquiano escolher livre- da coligação que liderou a inter-
Cerca de um mês depois, as tro- mento dos prisioneiros iraquianos de 70 por cento do país há 12 anos mente o seu destino”. O membro venção. O cenário que nós temos
pas de coligação tomam a capital na prisão de Abu Ghraib. atrás estão destruídas, com a con- do CPPC lembra também as in- no Iraque é um cenário ainda de
iraquiana e no final de 2003 cap- A instabilidade política man- comitante explosão de doenças, a tenções proclamadas pelas forças pós-guerra bastante belicizado”.
turam o então presidente do país, tém-se e, no ano seguinte, o se- que a rede de hospitais e centros invasoras e o trajecto que o con- A solução poderá passar, se-
Saddam Hussein. Entretanto, em nado norte-americano aprova o de saúde não dão resposta, porque flito levou para explicar as tensões gundo Daniela Nascimento, por
várias zonas do país, diversos gru- envio de novos contingentes de foram destruídas pelos ocupan- que se vivem actualmente no Ira- “procurar um entendimento entre
pos, como guerrilhas xiitas e suni- soldados para o Iraque. tes”, acrescenta. que: “ao contrário da propalada li- as partes relativamente àquilo que
tas, iniciam uma ofensiva contra Consequências de todo o con- Após a recente vitória eleitoral, berdade, segurança e democracia será o futuro político, económico
as forças ocupantes. As eleições flito no Iraque são, como aponta o o novo presidente dos EUA, Ba- que queriam exportar, além de e social do Iraque”. “Não creio,
legislativas, no início de 2005, membro da direcção do Conselho rack Obama, anunciou a retirada outros falsos pretextos, com que contudo, que isso seja uma tarefa
ficam marcadas por vários episó- Português para a Paz e Coopera- norte-americana do país, a que o os EUA e a Inglaterra tentaram fácil e alcançável no curto prazo”,
dios de violência e pelo boicote da ção (CPPC), Vítor Silva, os “4,5 primeiro-ministro iraquiano justificar o bombardeamento e acrescenta.
17 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 11

TEMA

AFEGANISTÃO SOMÁLIA
conhecera. O conflito afe- povo somali, um fantoche da Etió-
gão “tem a vantagem de pia. A guerra pelo controlo das ri-
ter tido o apoio internacio- quezas do país tem degradado a
nal aquando da intervenção, que o situação humanitária do país.
Iraque não teve”, relembra a do- O conflito remonta E m
cente da FEUC. Justificando a ne- aos movimentos de 2006, a
cessidade de responsabilizar os colonização do século XX, União de
terroristas, os EUA controlaram os quando o sul do país se tornou Tribu-
pontos estratégicos do Afeganistão, numa colónia italiana. No pós- nais Islâ-
mantendo aberta a possibilidade de guerra, o deserto de Ogaden, que m i c o s
avançar noutros sentidos. fazia parte da Somália, foi entregue (UTI) toma
Ainda Pelas enormes reservas de gás e pe- à Etiópia, indignando os somalis. o controlo da
antes da in- tróleo, o Afeganistão suscita interes- A independência do país ocor- capital e inicia
tervenção soviética em 1979, o Afega- ses geoestratégicos, tornando-se num reu em 1960, tornando-se uma campanha
nistão já era dos países mais pobres território bastante cobiçado. Na pos- numa república. contra as facções es-
do mundo. Hoje, o país da Ásia Cen- sibilidade de se assegurar a estabili- Em 1969, um golpe de palhadas pelo país.
tral tenta encontrar o seu rumo, num dade no Afeganistão, será possível estado colocou no poder o As forças etíopes, com o
cenário de reconstrução após o con- torná-lo na principal forma de en- general Barre, que ataca a apoio dos EUA, entram em
flito com os EUA , iniciado em Outu- trada na Ásia Central, não sendo es- Etiópia com o intuito de território somali para proteger
bro de 2001. Com a iminente retirada tranho que surjam meios financeiros anexar Ogaden, cujos ha- o governo de transição da UTI,
das tropas americanas em solo afe- com a finalidade de melhorar as co- bitantes falam somali, acusada de querer impor um Es-
gão, “o Afeganistão está longe de ser municações e explorar os recursos mas sem sucesso. tado islâmico na Somália. Os EUA,
um caso resolvido”. “O país não al- existentes. Uma retirada do país sem Em 1991, Mohammad Ali Mahdi convencidos que a UTI dava gua-
cançou a paz que se pretende num garantir a estabilidade pretendida substitui Barre quando já se vivia rida a terroristas, enviam para a So-
quadro amplo e não pela simples para transformar o uma guerra entre clãs que dividia o mália agentes da CIA e FBI, mas
[ideia de] ausência de conflito ar- país num acesso país. Em virtude do golpe de estado não se provou qualquer ligação. A
mado”, entende Daniela Nascimento. privilegiado à de Mahdi, a capital da Somália, Mo- capital foi conquistada em Dezem-
Os atentados de 11 de Setembro de Ásia Central po- gadishu, fica sob o comando de Mo- bro de 2006 pelas forças do go-
2001 submeteram o país a um dos deria rever a sua hammad Farah Aidid. verno de transição. Contudo, a UTI
conflitos mais violentos e polémicos política nesta Foi então criado um governo de parece não ter desistido da sua pre-
que a comunidade internacional já matéria. transição no país, o qual é, para o tensão.

SUDÃO SRI LANKA


jaweed parecem não ter fim. A vio-
lência e a instabilidade constantes tensões étnicas.
forçam milhões de pessoas a refugia- Em 1972, foi ratificada
rem-se no interior do país, na tenta- uma nova constituição,
tiva de encontrar segurança e O antigo mas os tamil ainda eram
condições mínimas de sobrevivência. Ceilão, inde- alvos de discrimina-
A 4 de Março, o Tribunal Penal In- pendente da Grã- ções pelo domínio
ternacional (TPI) emitiu um man- Bretanha desde 1948, cingalês. A etnia per-
dado de captura ao presidente enfrenta uma guerra civil cebeu que a não-
sudanês, Omar al-Bashir, por crimes que já perdura há 16 anos. violência não seria
de guerra no Darfur. O governo su- O conflito no Sri Lanka, que a melhor opção e
danês expulsou 13 organizações in- opõe os Tigres de Libertação decidiram criar o
ternacionais do país por alegada Eelam Tâmil (LTTE) às for- Estado Tamil inde-
colaboração com o TPI, “fazendo ças governamentais, iniciou- pendente. Foi neste
com que a sua população, que já se em 1983 e já provocou mais contexto que surgiu a
está a sofrer na pele o conflito, de 70 mil mortos. Os analistas carac- LTTE.
ainda sofra mais”. “A tentativa de terizam esta guerra como conflito de Se é ou não um dos principais con-
O conflito levar o presidente sudanês a tri- baixa intensidade, onde predominam flitos mundiais da contemporanei-
no Darfur arrasta- bunal pode e deve ser uma solução atentados e acções de guerrilha, a que dade, Daniela Nascimento acredita
se desde 2003 e constitui-se como para o conflito” declara o director- se sucedem picos de acção militar. que “é perigoso e contra-producente
uma das piores crises humanitárias executivo da Amnistia Internacional, A situação na “Pérola do Oriente” catalogar alguns conflitos como mais
da história que já vitimou mais de Pedro Krupenski. Para Daniela Nasci constitui um legado do imperialismo. importantes do que outros, porque
300 mil pessoas, segundo dados das essa tentativa, ainda que seja “um Depois de confirmada a independên- isso ajuda e legitima a desresponsa-
Nações Unidas. A situação interna do passo importante na responsabiliza- cia da ilha, o então primeiro-minis- bilização internacional re-
maior país africano é catastrófica e os ção de crimes e um avanço da luta tro Stephn Senanayake, criou uma lativamente aos
confrontos entre grupos rebeldes, contra a impunidade não é, só por si, legislação que negava a cidadania aos outros”.
forças de segurança e as milícias jan- suficiente”. tamil, oriundos da Índia, com o in-
tuito de preservar a hegemonia cin-
galesa. Vivia-se uma situação de

ISRAEL-PALESTINA
Após o fim da Segunda Guerra de Israel, originando um conflito braico vai ocupando territórios des- Nove anos depois, o governo israelita rael e este
Mundial, o Reino Unido abandona as entre o novo estado e os países ára- ses mesmos países. No meio desta si- inicia a construção de um muro com responde
colónias que detém na região do bes vizinhos, como a Síria, o Egipto tuação, os árabes palestinianos o intuito de separar os países. Muro com uma in-
Médio Oriente. Assim a ONU propõe, (que anexa a Faixa de Gaza) ou a Jor- colocam-se do lado dos Estados da que o Tribunal Internacional de Jus- vestida mili-
em 1947, uma divisão do território dânia (que anexa a Cisjordânia). Con- Liga Árabe, lutando pela sua inde- tiça declara como ilegal devido ao tar, que
palestiniano entre árabes e judeus, tudo, os árabes palestinianos acabam pendência.No ano de 1982, tem iní- facto de atravessar territórios de ad- causou, segundo
numa proporção de 45 para 55 por sem um Estado próprio. cio a Primeira Intifada, em que a ministração palestiniana. fontes médicas,
cento, que não é aceite pelos estados A partir daí desenrolam-se uma população palestiniana se rebela con- Têm início novos confrontos, cujo mais de mil mortos
árabes.Com a saída dos britânicos a série de confrontos entre Israel e os tra a ocupação israelita, arremes- mais recente conflito se dá quando o entre a população
população judaica proclama o Estado países vizinhos, em que o Estado he- sando pedras aos militares hebraicos. Hamas lança vários rockets sobre Is- palestiniana.
14 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

CIDADE
TRABALHADORES NOCTURNOS DE COIMBRA

Começar o dia quando outros acabam


Pela madrugada de uma cidade agitada, são muitos os que garantem o bom funcionamento
da noite e a normalidade do dia seguinte. Com tarefas diferentes, são indispensáveis à cidade
ANDRÉ FERREIRA
tuações de perigo nocturno foram
Daniel Almeida poucas sendo apenas de salientar o
Tiago Carvalho episódio em que “um indivíduo em-
Sara Coimbra
briagado entrou e mandou-me com
Marta Pedro
uma garrafa de vidro, exigindo bolos
gratuitos”. O perigo torna-se menor
São trabalhadores da noite. Come- com a passagem frequente da Polícia
çam o dia quando a maior parte o de Segurança Pública (PSP).
acaba e enquanto muitos dormem
são eles que agitam a cidade. A segu- Os funcionários
rança, a limpeza, o transporte e a ali- públicos da noite
mentação da noite dependem deles. Vários são os sítios de Coimbra pa-
A noite está amena. Na Alta é dia trulhados todas as noites pelos agen-
de festa e a Praça da República tem tes da PSP. Sair da esquadra,
uma fila de táxis pronta a levar os es- percorrer o Pátio da Inquisição, a
tudantes de volta a casa. Alternativa zona da Conchada, Celas, Santo An-
para os autocarros que já não circu- tónio dos Olivais, Hospitais da Uni-
lam, os taxistas passam horas a fio à versidade de Coimbra e Ingote é um
espera que a porta se abra. Taxista dos percursos habituais de um dos
há 15 anos, Rui (nome fictício) vê o carros de patrulha.
que faz como a única alternativa A observação é a palavra-chave
dada pela idade. “O negócio está li- para os três agentes que fazem a
mitado, é o mais fraco que pode ronda num ritmo lento, vão comen-
haver, mas tenho que continuar por- tando os que passam e revelando
TIAGO CARVALHO
que já não sou novo”, afirma. Traba- pormenores invisíveis às pessoas co-
lhar de noite não é para ele uma muns. “Coimbra não tem muita cri-
opção. Fá-lo porque a entidade pa- minalidade violenta”, relatam os
tronal assim o exige, e apesar de não agentes, que preferiram não se iden-
ser “compensatório”, Rui prefere tra- tificar. Porém, o trabalho aumenta às
balhar de noite “porque é mais terças e quintas-feiras em que o ba-
calmo”, explica. rulho dos bares da Praça da Repú-
Na outra margem do rio, os carros blica incomoda os moradores. “A
vão parando em frente à rulote “O Padre António Vieira é uma das mais
Estudante”. O movimento vai au- ruidosas da cidade, e os assaltos e a
mentando enquanto as horas pas- droga estão mais presentes no Bairro
sam. O frio faz-se sentir, mas o Norton de Matos”, esclarecem.
cheiro dos cachorros parece vencê- Os turnos de trabalho são rotati-
lo. “Trabalho à noite por opção e é vos. Três dias de dia e outros três de
tudo muito mais calmo é isso dá-me noite. “Não compensa trabalhar de
gosto” diz a proprietária, Paula Ro- noite. A vida social degrada-se e as
drigues. Entre um cliente e outro, remunerações não são as melhores”,
que “passa, compra e vai embora”, a expõem. Apesar de vigiarem e tenta-
maioria são clientes habituais. “Não rem tornar mais seguras as zonas
há muita clientela, só é chato nas mais problemáticas da cidade, “nos
horas mortas”, acrescenta. O traba- turnos nocturnos, agentes e meios
lho só acaba ao amanhecer e no escasseiam”, lamentam.
único dia em que não trabalha acaba Esta carência é também apontada
por não descansar para estar com a pelos trabalhadores que recolhem o
família. lixo da cidade. Divididos por grupos, VIRGINIE BASTOS
Numa das muitas ruas estreitas da percorrem rotas definidas de 70 a 80
Baixa conimbricense, à medida que quilómetros. “Gostamos daquilo que
a noite passa, vai-se retirando o pão fazemos, e ser o homem do lixo não
do forno. A padaria “Mimosa” é co- nos incomoda, apesar das pessoas
nhecida pela maior parte dos estu- não valorizarem o nosso trabalho”,
dantes, mas cada vez são menos os refere António Pereira, um dos fun-
que a procuram depois do sol se pôr. cionários. Pendurados nos camiões
Sem rádio, nem televisão, só os clien- de recolha, vão aperfeiçoando a téc-
tes que vão chegando e as conversas nica de inserir o contentor no ca-
do dia-a-dia quebram a monotonia mião. Assim andam até às cinco da
do trabalho dos quatro padeiros ali manhã, e só “de Inverno é mais com-
presentes. “Esta foi a profissão que plicado por causa do frio”, diz Luís
escolhi, já experimentei outras mas Fonseca um dos mais antigos fun-
gosto disto. Faço da noite o meu dia”, cionários. Os estudantes que vão
é assim que o proprietário, Adérito passando entram nas suas brinca-
Jordão, retrata o seu gosto pela pro- deiras, todavia são eles que lhes dão
fissão. Trabalhar à noite já se tornou mais trabalho. “A rua Padre António
um hábito, tanto que já só sabe dor- Vieira é uma vergonha, as pessoas
mir de dia, “quando faço os turnos ao têm os caixotes do lixo e metem os
contrário é complicado”, remata. sacos no chão”, conclui António.
Quanto à rua em que se situa a Menos experiente na noite, Ramiro
“Mimosa”, o proprietário do estabe- Meco diz que após cinco dias já se
lecimento não a considera a sua lo- habituou e, ao contrário dos outros,
calização perigosa. “Conhecemos a tem medo do que a noite lhe possa
malta quase toda”, esclarece. As si- tirar. O SOSSEGO é uma das vantagens em trabalhar à noite, apontam os trabalhadores
17 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 15

PAÍS & MUNDO


O desemprego... outra vez ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

A manifestação da última sexta-feira é o espelho mais evidente do descontentamento dos


portugueses. A situação do desemprego em Portugal assume contornos preocupantes. Por
Filipa Magalhães, Rui Miguel Pereira e Joana Tadeu

O
“ s jovens licenciados não que em 2007 a taxa de desemprego ros a sofrer consequências", afirma embrionária e, portanto, o reflexo no destaca, contudo, que "a medida
podem construir uma se situava nos 8 pontos percentuais, o membro da Comissão Executiva emprego será, sobretudo, sentido no fundamental nesta altura é a pro-
vida, não podem arrendar a tendência tem sido para o seu au- da Confederação Geral dos Traba- futuro". moção do aumento dos salários e
casa, não podem pensar mento gradual. Esta tendência veri- lhadores Portugueses (CGTP), Ar- das pensões". Numa análise recente
em ter filhos, nem sair de casa! E o ficou-se a partir do segundo ménio Carlos. São os jovens As várias faces o economista Eugénio Rosa compa-
Governo não está a fazer nada”, la- trimestre de 2008, altura em que a recém-licenciados, faixa etária entre do desemprego rou a percentagem desempregados
menta, Flor Neves, licenciada em taxa ainda se fixava em 7,3 por os 15-24 anos, quem mais sofre com As medidas encetadas pelo Governo com e sem subsídio, mostrando que
História e desempregada. A aversão cento. Segundo os últimos dados do o desemprego, representando cerca para o combate à crise laboral, di- dos 437 mil desempregados apenas
ao poder não podia ser mais óbvia Instituto do Emprego e Formação de 32 por cento dos desempregados rectamente relacionada com a crise 59,9 por cento beneficiava de subsí-
quando milhares de pessoas, num Profissional (IEFP), o número de portugueses, segundo dados do INE. económica mundial, centram-se no dio.
movimento colectivo sincronizado, inscritos em Centros de Emprego si- Contudo a formação superior, ainda, reforço do investimento público, in- Esta complicada realidade é a jus-
saltaram ao ritmo dos gritos “E tuou-se, em Janeiro de 2009, nos garante uma maior taxa de empre- cluindo a recuperação de escolas, e tificação da grande adesão à mani-
quem não salta, é do governo!” A au- 447 966 desempregados. Mais 44,7 gabilidade nas faixas etárias poste- à actividade económica, incluindo as festação convocada pela CGTP, na
xiliar da acção educativa e delegada por cento de inscritos em relação ao riores (baixando para 8,3 por cento Pequenas e Médias Empresas última sexta-feira. Jorge Machado
sindical em Coimbra, Conceição mês de Dezembro. entre os 25-34 anos). (PMEs). O deputado social-demo- acredita que a resolução destes pro-
Carvalho, afirma marcar sempre Estes números não são apenas Uma das apostas levada a cabo crata, Arménio Santos, acusa o Go- blemas passa pela "mobilização e na
presença nas manifestações, “estou preocupantes para Portugal, a taxa pelo governo socialista foi o pro- verno de se ter preocupado luta dos trabalhadores" e explica:
aqui para denunciar este governo de desemprego na zona Euro, que grama Novas Oportunidades. Este tardiamente com as PMEs, acres- "temos a profunda convicção que o
responsável por prejudicar os traba- engloba os países que aderiram à programa formou mais de 100 mil centando o facto de este ser um ano país não esta condenado à miséria,
lhadores. Precisávamos de outro 25 moeda única, subiu 0,1 por cento adultos desde Janeiro de 2007 até de eleições: "até aí ignorou, despre- ao desemprego, à precariedade e aos
de Abril”, afirma, ao som da Grân- desde Dezembro do ano passado si- Dezembro de 2008. Apesar disso, zou sistematicamente as micro, pe- baixos salários". Da mesma forma, o
dola de Zeca Afonso. António Mar- tuando-se assim nos 8,2 por cento, mais do que números interessam, quenas e médias empresas". Em vez deputado do Partido Social Demo-
ques, trabalhador nas minas do o valor mais alto desde 2006. A pró- segundo a oposição social-demo- disso, explica o deputado social de- crata evidência que "as pessoas estão
concelho de Nelas, reitera a posição: pria Espanha que conheceu um forte crata, "os resultados concretos des- mocrata, "o Governo esteve mais na rua porque estão insatisfeitas
“a crise e o desemprego são só para período de prosperidade, com cres- sas políticas e dessas acções preocupado com a apresentação de com os resultados das políticas do
os trabalhadores e os pobres, que os cimento médio anual de 3,7 por inseridas no programa das Novas grandes projectos e de grandes ope- Governo". Uma possível solução pa-
ricos ficam cada vez mais ricos e nós cento, tem actualmente a maior taxa Oportunidades", isto é, se corres- rações mediáticas". O deputado do rece reservada para depois das elei-
pagamos-lhes a factura”. de desemprego da União Europeia ponde "à propaganda que o Governo Partido Popular, Pedro Mota Soares, ções, como acrescenta, Arménio
(UE). Relativamente à taxa de de- tem feito desses programas". O diri- acredita que o problema é que o tipo Santos, "apesar da maioria absoluta"
O desemprego semprego juvenil, no contexto euro- gente da CGTP acusa este programa de emprego que as grandes obras e da "postura aberta" das confedera-
não vai parar peu, Portugal conta com a 12ª mais de ser ineficaz no "combate aos pro- geram é um emprego pouco qualifi- ções sindicais o governo socialista
O ano de 2009 não se avizinha fácil baixa, sendo que a média europeia é blemas estruturais que o país en- cado, que traz pouca mais-valia". O não conseguiu, até agora, solucionar
para os portugueses. O Instituto Na- de 16,6 e a portuguesa 16,1 por frenta". O secretário-geral da União deputado sublinha ainda que este os problemas. Até ao fim do fecho da
cional de Estatística (INE) apresen- cento. Geral dos Trabalhadores, João emprego nem sempre é atribuído a edição e após solicitarmos as suas
tou recentemente uma taxa de Proença, é mais brando e explica: o portugueses. declarações não obtivemos resposta
desemprego, de 7,8 por cento, refe- Quem tem mais "programa Novas Oportunidades só O deputado do Partido Comunista dos deputados do Partido Socialista,
rente ao último trimestre de 2008. oportunidades começará a produzir agora im- Português, Jorge Machado, ciente Osvaldo de Castro e Odete João.
Apesar deste valor animador, dado Os jovens "são por norma os primei- pacto", afinal, ainda "está numa fase da importância do apoio às PMEs Com Frederico Fernandes
16 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

PAÍS & MUNDO


África é o continente com mais
líderes políticos assassinados D.R.

O recente assassinato
do presidente da
Guiné-Bissau encheu
os jornais e despoletou
a questão - golpes de
Estado ou assassinatos
de líderes políticos são
ou não pontos finais na
história?
Bruno Monterroso

Abraham Lincoln, Ghandi, John


F. Kennedy, Martin Luther King ou
Benazir Bhutto são alguns dos
exemplos mais conhecidos de per-
sonalidades assassinadas ao longo
da época contemporânea.
De todos os assassinatos de líde-
res políticos conhecidos, qual o mais
importante? O professor de história
contemporânea na Faculdade de Le-
tras da Universidade de Coimbra
(FLUC), Vítor Neto, não tem dúvi-
das em eleger “o atentado de Sara-
jevo cometido contra Francisco
Fernando, arquiduque da Áustria- MILITARES GUINEENSES assassinaram o presidente Nino Vieira, em sua casa
Hungria” como “um dos mais signi-
ficativos” e de “consequências Europa”, levando à Primeira Grande Nino Vieira e cracia política” levou à “governação como forma de manterem controla-
tremendas na zona balcânica e em Guerra. o continente africano da Guiné-Bissau em termos autori- das as populações”. Com isto, acre-
todo o mundo. Foi o ponto princi- Mas outros assassinatos são, no Recentemente, Nino Vieira tornou- tários”. Esse autoritarismo de Nino dita o docente, “não contribuíram
pal, que está na raiz e na origem da entender dos docentes, importantes, se no 17.º chefe de estado africano Vieira “criou as condições para a re- em nada para a sua evolução política
Primeira Guerra Mundial”. no desenvolvimento do curso da his- (47 em todo o planeta) assassinado volta dos militares” contra o próprio e social, para que se criasse uma
O também professor de história tória. Avelãs Nunes refere o assassi- nos últimos 60 anos. Porque são os que, na altura do atentado, “era já nação em vez de um somatório de
contemporânea da mesma facul- nato de Robert Kennedy, irmão do africanos as maiores vítimas de um homem só e isolado”. tribos”. Também pelo facto de se
dade, João Paulo Avelãs Nunes, ex- também assassinado ex-presidente atentados políticos? Sobre Nino Contudo, estes não são problemas tratarem de “países mais frágeis”,
plica que as “mudanças de curto dos Estados Unidos, John F. Ken- Vieira e a Guiné-Bissau, Vítor Neto específicos do povo guineense, mas estes são “mais facilmente alvo da
prazo de natureza factual podem al- nedy, que “provavelmente teria tido afirma: “a Guiné-Bissau é um país de todo um continente. Avelãs intervenção de outras potências”, no
terar ligeiramente o modo como as uma presidência ainda mais liberal” pobre, com grandes dificuldades de Nunes sublinha a decisiva influên- plano político-económico. Vítor
coisas vão decorrer, mas no essen- do que o seu irmão. desenvolvimento, com um atraso cia que a colonização teve nos conti- Neto deixa uma advertência: “a
cial elas decorrerão da mesma ma- Vítor Neto destaca o assassínio do económico enorme”. A ausência de nente ao afirmar que esta “foi questão dos atentados em África é
neira”, partilhando, ainda assim, da “campeão da luta pela paz” Jean “desenvolvimento económico”, de bastante limitadora para a evolução uma questão de desenvolvimento: o
opinião dos que consideram o aten- Jaurès, um líder socialista assassi- “uma democracia consolidada”, da [africana]”, pois “durante muito Mundo tem de ser mais solidário
tado de Sarajevo “um pretexto ra- nado em 1914 cuja morte como que “corrupção bem patente” e o facto tempo [os colonizadores] apostaram com África”.
zoável para resolver uma série de simbolizou o fim da oposição à de “os guineenses não terem ainda na escravatura, trabalho forçado ou Com Sara Coimbra e
tensões que estavam a ocorrer na guerra de 1914-18. conseguido constituir uma demo- na ausência de acesso à escolaridade Rui Miguel Pereira

Uma história construída de assassinatos


A história mundial República, é um dos exemplo em que sinado em Dallas, a 22 de Novembro chefes dos movimentos revolucioná- sínio da primeira mulher a ocupar
está marcada por se pôde verificar um verdadeiro virar de 1963. rios do PAIGC (Partido Africano para um cargo de chefia de governo de um
diversos assassinatos de página na história do país. Retomando ao panorama portu- a Independência da Guiné e Cabo estado islâmico. Referimos-nos, pois,
Seis anos depois, em 1914, o guês, somos confrontados com a Verde) e UNITA (União Nacional à ex-primeira-ministra do Paquistão,
políticos. Figuras que mundo assistiu ao assassinato que morte do General “Sem Medo”, para a Independência Total de An- Benazir Bhutto.
continuamos a recordar despoletou a Primeira Guerra Mun- Humberto Delgado, em 1965, por gola), respectivamente, inserem-se João Bernardo Vieira, mais conhe-
dial: a morte do arquiduque Fran- parte da polícia política portuguesa, também neste contexto dos célebres cido por Nino Vieira foi derrubado
pelo que ainda hoje
cisco Fernando da Áustria, por parte PIDE, na fronteira luso-espanhola. assassinatos políticos. Amílcar Ca- do poder, dia 2 de Março deste ano,
representam do extremista Gavrilo Princip. Quem não se lembra do ilustre bral foi assassinado em 1973, em Co- após um golpe de Estado. Baleado
Em 1948, um ano sobre a inde- pastor protestante e um dos mais im- nacri por dois membros guineenses por militares, torna-se assim a se-
Por Sara Coimbra pendência da Índia, Mahatma portantes dirigentes do activismo do seu próprio partido. Por sua vez, gunda vítima depois de, no dia ante-
e Rui Miguel Pereira Gandhi, célebre líder espiritual e pa- pelos direitos humanos? Martin Lut- Jonas Savimbi foi morto a 22 de Fe- rior, militares guineenses terem
cifista indiano, foi baleado em Nova her King foi assassinado em Memp- vereiro de 2002 pelas forças arma- morto o seu chefe de Estado Maior
O recurso aos atentados como Deli, por um extremista hindu. Em his, em 1968. O seu discurso “I have das angolanas (FAA). Muitos dos das Forças Armadas, Batista Tagme
forma de fazer política é uma ten- sua defesa argumentou que Gandhi a dream”, proferido em 1963, que assassinatos ocorrem envoltos em Na Wai.
dência que acompanha a história fora o responsável pelo enfraqueci- ainda hoje marca o pensamento pa- mistério surgem teorias sobre “quem Mudando ou não o curso da histó-
mundial desde sempre. Em Portugal, mento do governo indiano ao insis- cifísta, foi o ponto de partida para se ajudou quem”, quais as motivações ria, a morte de líderes políticos que
o regicídio ocorrido em 1908, no qual tir no pagamento de certas dívidas ao tornar a mais jovem personalidade a ou se teria sido possível o assassinato pelo carisma ou estatuto deixaram a
o rei D. Carlos I e o príncipe herdeiro Paquistão. ganhar o Prémio Nobel da Paz, em sem traição. sua marca na história, inspiram
foram assassinados, daí resultando John Kennedy, presidente dos Es- 1964. Mais recentemente, em 27 de De- ainda hoje, muitos deles, movimen-
dois anos depois a implantação da tados Unidos da América, fora assas- Amílcar Cabral e Jonas Savimbi, zembro de 2007, aconteceu o assas- tos em prol das suas causas e ideias.
17 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 17

CIÊNCIA & TECNOLOGIA


Com os olhos nas estrelas
D.R.

Com quase 20 anos de Em Alcobaça, a secção vai dar a Também Ana Rocha presidiu a
conhecer “a importância da as- secção, mas em 2006/2007. “Foi
existência, a secção de tronomia”, adianta Filipa Ventura, um veículo ao qual aderi para
astronomia pretende “explicar o que é que se faz com ela chegar ao público em geral, de
ganhar nova dinâmica no dia-a-dia e para que é que serve”. modo a conseguir fazer com que
“Não é só estar a olhar para as es- este tomasse gosto pela astronomia,
com iniciativas que trelas, porque há muita actividade pela ciência e pelo conhecimento”,
começam hoje por detrás da astronomia que nos conta. Na sua altura “havia muita
dá a conhecer o nosso passado e, adesão, tanto da parte dos estu-
quem sabe, o nosso futuro”, de- dantes como das pessoas em geral,
Diana Craveiro fende. A iniciativa partiu da câmara às várias actividades”. No entanto,
local e da UC, e destina-se não só a Ana Rocha explica que esta situação
A Secção de Astronomia, As- alunos dos vários níveis de ensino, se foi alterando, porque “as pessoas,
trofísica e Astronáutica da Associ- mas também a qualquer pessoa que a nível social, mudaram um pouco a
ação Académica de Coimbra tenha gosto por astronomia. sua mentalidade e perdemos muita
(SAC/AAC) vai representar hoje, 17, A SAC/AAC foi fundada a 9 de da participação”. “Comparo esta
a Universidade de Coimbra (UC) na Maio de 1989 com o objectivo de di- situação quase que a uma crise cul-
I Feira de Ciência e Tecnologia de vulgar a astronomia. Duas décadas tural que se instalou em Portugal, a
Alcobaça. Num ano em que a secção depois, o balanço que Filipa Ven- par desta crise económica que en-
está com falta de colaboradores, a tura faz é positivo. “A secção já teve tretanto apareceu também”, adi-
astronomia vai sair da cidade dos anos muito bons e já teve anos em anta.
estudantes para dar mini-sessões de que esteve para fechar. Agora está A opinião é partilhada por Filipa
planetário. numa fase de recuperação outra Ventura que defende que além de
A actual presidente da SAC/AAC, vez”, conta a presidente. Filipa Ven- “os estudantes normalmente não
Filipa Ventura, explica que neste tura lembra os anos em que a estarem interessados por secções
momento a secção “está mais virada SAC/AAC “foi a Paris ver um eclipse culturais”, “a cultura sempre foi um
só para a parte de astronomia, solar e outras viagens desse género”. pouco desprezada e o Processo de
porque há falta de elementos”. A Embora actualmente a secção esteja Bolonha veio dar mais uma ajud-
secção costuma promover obser- num momento menos bom, “o saldo inha à desmotivação”.
vações nocturnas, algumas obser- acaba sempre por ser positivo Já Joana Marques pensa que a as-
vações do Sol e ainda pequenos porque as poucas pessoas que par- tronomia é um tema que interessa
ateliês com crianças. Nos últimos ticipam gostam sempre do que às pessoas. “Da experiência que tive
tempos, a actividade mais solicitada fazem e pedem sempre mais activi- enquanto estive na SAC/AAC, e do
tem sido sessões de planetário, dades a nível da astronomia”, ex- trabalho que faço agora [no Museu
“onde se mostra às crianças como se plica Filipa Ventura. da Ciência], que está também de al-
deve ver o céu se não houvesse luz Outra pessoa que também passou guma maneira relacionado com as-
na cidade”, conta Filipa Ventura, pela SAC foi Joana Marques, que tronomia, sei que há um núcleo
acrescentando que “principalmente actualmente está a trabalhar no duro de pessoas que gostam”. “De- “HÁ MUITA actividade por detrás da astronomia”, diz Filipa Ventura
as crianças da cidade vêm poucas Museu da Ciência da UC. Presidente pois há pessoas curiosas que apare-
estrelas e ensina-se a começar a da SAC no ano lectivo de cem de vez em quando. Em geral, em quando, as pessoas ouviam falar para o queimódromo, “até cerca da
identificar o norte, através da es- 2002/2003, Joana Marques fala do acho que as pessoas têm curiosi- de nós e se as coisas forem muito es- uma da manhã, porque até mais
trela polar e da ursa maior e menor tempo em que esteve na secção e diz dade”, acrescenta. Na sua altura, paçadas as pessoas dispersam um tarde é impossível, depois começa a
e algumas constelações que se vêm que “foram anos em que aprendi Joana Marques diz que a adesão das bocado”. chegar muita gente”. Os telescópios
melhor”. “No final, fazemos uma pe- muito em relação à astronomia, foi pessoas era maior, porque “o grupo Mesmo com falta de elementos, a vão estar acessíveis a qualquer pes-
quena sessão a mostrar as conste- óptimo para a minha formação em de trabalho era muito bom e nós secção de astronomia vai estar pre- soa, mas quem não quiser olhar as
lações dos signos, que é o que termos de contactos que estabeleci”, éramos muito dinâmicos e fazíamos sente no recinto da Queima das estrelas pode sempre participar no
normalmente todos preferem”, ref- realçando a aprendizagem do tra- várias coisas”. “Acho que isso tam- Fitas 2009. Filipa Ventura revela sorteio que a SAC/AAC vai fazer e
ere a presidente. balho em grupo. bém foi importante, porque, de vez que a secção vai levar telescópios ganhar um brinde.

Exploratório reabre no Parque Verde para os mais pequenos


O exploratório vai público estão previstas para Abril, D.R. de exposição existente no Parque
mas ainda não há uma data certa, Verde. No entanto, é um projecto que
mudar para o Parque porque, até que isso aconteça, faltam vai ser candidato ao Quadro de Refe-
Verde, mas só as alguns detalhes finais. rência Estratégico Nacional (QREN)
escolas o podem visitar Entre as actividades presentes no este ano, e, dando-se a sua aprova-
exploratório destaca-se o novo pla- ção, será lançado a concurso público
netário e a exposição dos cinco senti- e iniciada a obra em 2010.
Patricia Gonçalves dos que esteve em digressão por As antigas instalações do Explora-
várias cidades do centro do país e em tório na Casa da Cultura puderam ser
O novo Exploratório do Centro de Porto Moniz (Madeira), e que agora visitadas até Dezembro. Neste mo-
Ciência Viva reabre hoje, 17, para vi- se fixa na margem esquerda do Mon- mento, o edifício do antigo Explora-
sitas escolares numa fase experimen- dego. tório está a ser desactivado. A parte
tal. Espera-se que cerca de uma Há três roteiros alternativos no exterior vai continuar em funciona-
centena de alunos visite este espaço novo espaço. Um que consiste na vi- mento este ano com as actividades
por dia. Apesar de não estar ainda sita do planetário e dos módulos in- das hortas pedagógicas para as esco-
completa, “a exposição já tem mate- teractivos dentro do edifício, e outros las do primeiro ciclo, uma vez que a
rial suficiente e com bastante coerên- dois que se centram na exploração do área destinada a esta actividade nas
cia para justificar as visitas das espaço exterior, um de exploração novas instalações ainda não está
escolas”, refere o director do Explo- livre e outro orientado por um moni- apta. Vítor Gil esclarece ainda que o
ratório, Vítor Gil. tor. Há ainda novos conteúdos rela- Exploratório tem “um acordo com a
As novas instalações do Explorató- cionados com o tema “Materiais, Câmara Municipal de Coimbra para
rio, situadas na margem esquerda do Nanopartículas e Saúde” que inte- continuar a dar alguma colaboração
Parque Verde, vão estar abertas nesta gram módulos novos e outros que já na manutenção do espaço exterior”
primeira fase apenas para as escolas, existiam no antigo exploratório. do antigo exploratório e também para
uma vez que já havia marcações para Está projectada uma segunda fase “continuar a exercer a experiência
este mês desde Outubro de 2008. A do projecto do Exploratório que vai que adquirimos naquele espaço
inauguração oficial e a abertura ao consistir no alargamento do espaço O NOVO EXPLORATÓRIO tem um espaço de experimentário para ateliês desde o início do projecto”.
18 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

ARTES FEITAS
CINEMA

P
ara se ter uma pequena guerra fria, que só não rebenta por isso estraga o filme ou destro-

“ Watchmen noção do que estamos a pelo facto dos EUA terem um úl- çará os fãs. Pelo contrário, cria
falar, convém dizer que timo trunfo: Dr. Manhattan, uma algum suspense para quem já co-
Watchmen, o livro da au- bomba nuclear viva – ‘The super- nhece a obra. Tal como o recente

– Os guardiões ” toria de Alan Moore e Dave Gib-


bons, data de 1986, e foi
considerado pela TIME como um
man exists and he’s american’. Dr.
Manhattan tem poderes pratica-
mente ilimitados, e foi o grande
“The Dark Knight” (TDK), Watch-
men está a ser vendido como um
blockbuster, quando é algo mais.
dos 100 melhores romances de responsável pela vitória dos EUA E quem espera acção aos ponta-
sempre em língua inglesa, sendo o no Vietname. Manhattan é o se- pés, explosões e afins, vai sair um
único livro “aos quadradinhos” a guro de vida da América. Mas pouco desiludido. Depois de TDK
figurar em tal lista. Posto isto, con- quando o Comediante (outro vigi- os filmes de super-heróis são olha-
vém acrescentar ainda que a ideia lante) é assassinado, os vigilantes dos com outros olhos, e isso talvez
DE
ZACK SNYDER de trazer este ‘graphic novel´ para reúnem-se para descobrir o que seja uma vantagem para Watch-
o para o cinema é quase tão antiga está a acontecer. men, pois trata-se de uma história
COM quanto o próprio livro, mas foi Transpor uma obra desta dimen- complexa e com personagens pro-
MALIN AKERMAN sendo sucessivamente adiada. são para um filme exige alguma gi- fundas: heróis velhos e decaden-
BILLY CRUDUP
JACKIE EARLE HALEY Depois de uma lei aprovada por nástica, e isso é logo evidente no tes, com passados mais ou menos
Richard Nixon que proíbe a activi- genérico onde levamos com um obscuros, com dilemas morais e
2009 dade de vigilante nos EUA, aque- “banho” de história de “guardiões” discussões quase filosóficas, num
les que outrora se encarregaram para nos dar algum background filme que se estende durante
de combater o crime estão agora relativamente às personagens. De 2h40, e que no fim ainda nos deixa
reformados, velhos, à procura do resto, tal como em 300, Zack Sny- a pensar. Talvez seja esse o maior
Who Watches the seu lugar numa sociedade mo- der procurou ser fiel o máximo defeito do filme, a informação é
derna, numa vida solitária apenas possível ao livro. E, de facto, a muita e com qualidade, mas passa
Watchmen? acompanhada pelos seus proble- única coisa que foi alterada subs- a uma velocidade que nos exige al-
mas e fantasmas antigos. Por tancialmente foi o final, que foi um guma concentração para conse-
outro lado, estamos no pico da pouco actualizado, mas que nem guir digerir o que está a acontecer.

CRÍTICA DE RAFAEL FERNANDES

Gran Torino”

do realizador não é alheia –

N
inguém duvida que tinha deixado antever que algo
Clint Eastwood é se estava a passar. Infeliz- onde os valores da sociedade e
uma figura incon- mente a confirmação chega da família são questionados de
tornável no pano- com “Gran Torino”. uma forma que tem tanto de
DE
rama cinematográfico “Gran Torino” não é um mau engenhoso como de caricato.
CLINT EASTWOOD
norte-americano. O actor de filme. O problema é que tam- No entanto, as constantes mu-
“Dirty Harry” parece actuar bém não passa disso. Apesar danças de tom – entre o in- COM

como o único elo de ligação ao de ser uma obra perfeitamente trospectivo e a auto-paródia – CLINT EASTWOOD
BEE VANG
cinema de outros tempos. Uma aceitável não há ali nada de levam a uma certa inquietação.
AHNEY HER
homenagem activa ao que de verdadeiramente transcen- Como se não conseguíssemos
melhor se fez no outro lado do dente. A realização mantém a perceber aquilo que devíamos 2008
oceano durante os anos doura- classe a que Eastwood já nos estar a sentir.
dos de Hollywood. habituou mas começa a não ser No final ficamos com a sensa-
O seu estilo é inconfundível: suficiente. Depois de “Million ção de que o ciclo se fechou. A
enquadramentos simples, con- Dollar Baby”, “A Troca” ou Eastwood dificilmente o volta- Entre o modelo
templativos. Uma figura per- “Mystic River”, a fórmula pa- remos a ver à frente das câma- clássico e o
feccionista que não descura rece estar a ganhar umas irri- ras. Resta-nos esperar que
nenhum pormenor. tantes teias de aranha. canalize todas as suas forças simplesmente
Não obstante, há algo de inva- Em linhas gerais temos uma para a cadeira do realizador. velho
riavelmente datado nas suas reflexão sobre a velhice – esco-
últimas obras. “A Troca” já lha a que a própria realidade FRANÇOIS FERNANDES
17 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 19

ARTES FEITAS
OUVIR LER

Microcastle” O Mundo é Tudo o que Acontece ”

ão se pode dizer do se- Mundo é Tudo o que Acon- “nos sabemos estrangeiros, nem daqui,
O Segredo mais
mal guardado
do mundo
N gundo álbum oficial dos
Deerhunter que tenha
sido uma surpresa parti-
cularmente bem guardada. O nome
Acto vivido
em cena
O tece", de Pedro Paixão, à se-
melhança das obras
anteriores, embora não pa-
reça é um romance: como Herberto Hel-
nem dali”.
Neste ponto, podemos recordar a per-
gunta inicial do "Fedro" de Platão: “Para
onde vais e donde vens?”. Todos com
do disco era conhecido já desde o der lho confirma num sonho, à porta de uma origem, a partir – na verdade,
final de 2007, e a primeira data de uma livraria de verdade. somos muito diferentes e muito pareci-
edição avançada foi o mês de Ja- O livro, composto por 95 narrativas fic- dos. O denominador comum da natureza
neiro do ano transacto. Mas as coi- cionais curtas, permite a emergência do humana torna-nos mais próximos da lei-
sas não aconteceram exactamente real, como uma presença que toma de as- tura, enquanto os “temperos” que nos
dessa forma... salto a acção. Por isso, o romance, género distinguem sujeitam-nos à reflexão, pro-
Depois da estreia oficial em Cryp- atribuído à obra, é-o enquanto “técnica vando que – “as palavras unem-nos defi-
tograms, a banda viu-se sob os po- de simplificação, de engano”, e não palco nitivamente para nos separar”.
tentes focos do mediatismo. A esta de histórias simplesmente inventadas. É através das palavras, construídas em
ascensão juntaram-se logo acusa- As personagens são quase sempre o “eu” fracções quase imagéticas, que o ro-
ções de sobrevalorização, como se entre outros. São alvos, sem acaso, do mance abre espaço, encerrando em si a
tivessem sido eles mais uns felizes encadeamento sucessivo da narrativa fic- magia da descoberta, que confere à prosa
contemplados na eterna lotaria dos cional com a realidade, que se mistura – ficcional uma força poética. Isto porque
hypes da imprensa. Em abono da sob disfarce – na encenação. E nisto, “ao cria outras possibilidades de sentido – o
verdade, importa dizer que sim, julgar ler a vida imaginada dos outros es- nosso.
sem dúvida que o foram. Mas mais tamos a tentar escapar à nossa”. Cada história assenta numa melodia cor-
DE
DEERHUNTER importante do que isso é dizer que A arrebatar os textos curtos: a paixão tada ao cabo de frases curtas – uma es-
mereceram por inteiro o destaque. (significante de sofrimento); o prazer crita simples – perto do tom oralizante, a
EDITORA A sobre-exposição tem muitas des- (sem regras); as cidades (lugares de pai- contar a história.
KRANKY/4AD
vantagens. Convém lembrar que os xão) intemporais; a relação do homem Pedro Paixão, é como os seus heróis “na
2008 Deerhunter não tinham à altura com deus e o universo; a filosofia e os literatura não escreveram literatura, mas
muita rodagem ao vivo. A ascensão DE poetas - (referências culturais e erudi- a vida vivida até ao limite – quando per-
foi demasiado meteórica, e a banda PEDRO PAIXÃO tas). Há sentimentos escondidos do clã guntaram a Flaubert [escritor francês]
passou da garagem para os palcos dos mais importantes festivais do Humano, aqui apresentados a nu. quem era Madame Bovary respondeu
EDITORA
mundo, com performances que muitas vezes ficavam aquém das ex- QUETZAL Nas histórias, o passado irrecuperável, sou eu”. Assim, na narrativa, enredo de
pectativas, e com as naturais tensões internas que levaram à saída denso de memórias por salvar. As pala- narrativas, encerram-se ciclos infinitos
do guitarrista Colin Mee (com a progressiva radicalização do discurso 2008 vras são a forma, feita matéria, para re- (“alma, abismo, segredo de tudo”) de
homossexual de Bradford Cox a ajudar à festa). A notícia da pausa in- cuperar o que se viveu – a ilusão – para personagem que somos nós, que são ele
definida anunciada no final de 2007 fez temer o pior, mas felizmente se procurar um lugar no mundo onde – acto vivido em cena.
não teve muito mais consequências negativas do que o atraso de 10
meses na edição do disco. E a experiência adquirida na estrada aju- FATIMA ALMEIDA
dou em tudo ao processo criativo.
Os Deerhunter aparecem aqui quase transfigurados. Aprenderam
VER
a trabalhar a inocência natural da sua música, que evoluiu clara-
mente em termos técnicos, o que permitiu abordar a construção dos
temas de forma mais polida e natural. Por isso, temos aqui canções O Sétimo Selo”
com estrutura mais convencional - algumas absolutamente geniais,
como Nothing Ever Happened ou Agoraphobia, esta última na voz do
guitarrista Lockett Pundt - sem que isso seja um limitação sonora. E stamos no século XIV. An- man prendem-se, nesta obra, com a fé

E

com tal transfiguração operada, é interessante verificar como a iden- Hoje encontrei a tonius Block (Max Von religiosa. O porquê de Deus ser tão si-
tidade da banda não se perde, apenas se transforma. morte. Estamos Sydow), um cavaleiro das lencioso e apático enquanto que a
O segredo estava mal guardado, convém explicar, porque o disco cruzadas, e Jöns (Gunnar morte é uma certeza e faz questão de
“pingou” para a Internet no dia 1 de Junho de 2008. Talvez conse- a jogar Xadrez Björnstrand), o seu escudeiro, voltam ser brutalmente visível.
quência da loucura vivida nessa noite no backstage do palco All To- à terra natal, na Suécia, depois de dez Quanto à edição em DVD, a editora
morrow’s Parties, no festival Primavera Sound em Barcelona. Ou anos de luta contra os infiéis. A desola- Castello Lopes traz-nos uma nova ver-
talvez não, isto sou só eu a atirar para o ar... ção da paisagem é óbvia e não se en- são remasterizada, com o bom velho
contra ninguém à vista, apenas uma preto e branco a aparecer aqui em toda
figura, um velho, vestido de preto dos a sua glória. Não nos podemos esque-
EMANUEL BOTELHO pés à cabeça, que se apresenta como a cer que se trata de um flme de 1957 e,
Morte. Recusando o seu destino, Block pelo que me parece, dificilmente se
propõe um acordo: um jogo de xadrez. consegue uma transferência tão fiel do
Se ele ganhar pode continuar a viver, master original. Até mesmo a faixa
GUERRA DAS CABRAS mas se a morte conseguir o xeque- áudio, que é em mono, não dá ares de
A evitar mate, é com ela que deve seguir. ter perdido nada com o tempo. Em ma-
É desta maneira que começa “O Sé- téria de extras temos apenas a habitual
Fraco timo Selo”, um dos filmes mais reco- biografia e filmografia do realizador, e
nhecidos de Ingmar Bergman. É difícil o documentário “De Filmstaden a Faro
Podia ser pior
contornar a estética minimalista, mas – Três cenas com Ingmar Bergman”,
FILME ao mesmo tempo tão memorável, que que não é mais do que uma conversa de
Vale a pena
o filme nos apresenta, como se Berg- 30 minutos com o realizador acerca do
A Cabra aconselha man quisesse contrastar a simplicidade seu percurso profissional. Seria inte-
A Cabra d’Ouro do mundo físico com a complexidade ressante saber mais acerca do filme em
DE
INGMAR BERGMAN que é a alma, ou, se preferirem, a mente si ou até mesmo da importância que
humana. teve na cultura popular. As referências
EDITORA O jogo com a morte não se faz du- à obra aparecem em sítios tão díspares
CASTELO LOPES
Artigos disponíveis na: rante uma única sessão, faz-se sim ao como o filme “O Último Grande Herói”,
2002 longo do percurso que o cavaleiro vai com Arnold Schwarzenegger, ou o vi-
percorrendo por uma terra que é a dele, deoclip do tema “Re-Tratamento” da
mas que agora lhe parece irreconhecí- banda de hip-hop, Da Weasel.
vel. As questões levantadas por Berg- JOSÉ SANTIAGO
20 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

SOLTAS
ALMOÇO SOCIAL JOÃO LUÍS • TREINADOR DOS SUB-20 DA AAC/RUGBY

Canja Frango Assado Maçã

RUGBY A SECÇÃO
OS SUB-20
EM PORTUGAL DE RUGBY
Foi um desenvolvimento pla- Neste momento não temos jogado- Foi um ano em que as escolas ou
neado, conseguido com algum mé- res que possam fazer parte da selec- não trabalharam bem ou houve
rito mas foi única e exclusivamente ção. Estamos a formar um jogador menos captação de atletas e houve
em Lisboa, fora da região de Lisboa para a selecção nacional, o João Ma- dificuldades em manter e fazer
é um bocado mais complicado o de- teus, e vamos ver se conseguimos na crescer o número de atletas para
senvolvimento do rugby. Lisboa, ao próxima época levar o Eduardo Sal- continuarmos a crescer como
contrário do resto do país, já conse- gado. Se nós estivéssemos em Lisboa equipa. A realidade é que a forma-
guiu desenvolver uma academia de eles facilmente iam à selecção. Não ção não esteve bem , os treinadores
rugby a nível sénior e tem outra que estando, implica muito sacrifício. Os falharam e não conseguiram trans-
vai ser iniciada para as camadas jo- horários de treino em Lisboa são mitir uma ideia de continuidade aos
vens. Os objectivos são grandes e as completamente marados, já de pro- jogadores. Chegou a um ponto onde
ambições são muitas, vamos ver se pósito para não ir ninguém fora de já não estávamos a formar, antes
conseguimos fazer com que o de- Lisboa à selecção. Só quem é de Lis- pelo contrário estávamos a defor-
senvolvimento alargue ao resto do boa consegue encaixar no horário. mar os atletas, e a tentar habituá-
país, mas vai ser um bocado compli- Isto só pode ser contrariado quando a los a uma ideia com a qual não
cado. Este desenvolvimento decor- Académica voltar à Divisão de Honra pactuo que era habituá-los a perder.
reu dessa forma mais como uma e começar a ganhar o campeonato da Não posso pactuar com esse lema
obrigação. O rugby ainda é um des- Divisão de Honra, obrigando a que o de vida nem com essa filosofia. De
porto de elite em Portugal e a maior leque de escolha de horário seja mais maneira que cheguei à direcção e
parte do elitismo que temos está em aberto. Neste momento a Académica disse: se vocês querem continuar
Lisboa, onde está a maior concen- tem condições para estar na Divisão tem de haver jogadores ou se conti-
tração populacional. As academias de Honra, estamos a ficar com um nuamos com os doze que estão não
surgem devido à era da profissiona- número bom de jogadores no plantel, vale a pena, vamos acabar isto por-
lização do rugby, mas também mais alguns com muita experiência e ou- que assim não dá. Estamos num
como uma obrigação da IRB (Inter- tros mais novos, como os sub-20 que processo de formação: há uns anos
nacional Rugby Board). A diferença subiram este ano e os que vão subir atrás a Académica não ganhou nada
é tão grande entre o rugby profissio- para o ano, que vão dar algum ritmo, e como tal não entravam atletas
nal e amador que a IRB se assustou velocidade e ambição à equipa. para o rugby, por sua vez, tivemos
quando Portugal se conseguiu quali- Temos um plantel que vai conseguir dificuldade em ter treinadores de
ficar para o Mundial. Foram Envia- manter a Académica na Divisão de qualidade nos escalões de forma-
dos para Portugal três Honra. O maior problema que nós ção. Enquanto não conseguirmos
representantes para coordenarem temos é a falta de ambição. Mas não isso não conseguimos ter atletas.
um projecto de desenvolvimento de há ninguém para os repreender, não Vamos ver se agora com treinado-
academias obrigando assim o rugby há castigos, se ganharem está tudo res, já com alguma qualidade,
português a desenvolver-se. Facil- bem se perderem está tudo bem na vamos conseguir meter mais atle-
mente Portugal pode ultrapassar a mesma. Os atletas de Lisboa tem tas. Pelos menos para já parece que
Geórgia e a Rússia, dentro de dois, mais ambição de ganhar, trabalham há muita gente nos sub-14, nos sub-
três anos o objectivo será esse. mais. Nós aqui se tentarmos prolon- 16, no sub-18. Este não é um pro-
Penso que Portugal neste momento gar os treinos para lá das nove da blema da Académica é um
tem hipóteses de chegar o 10º lugar noite temos uma série de problemas, problema a nível nacional.
a nível mundial, já o conseguimos isto quando um atleta em Lisboa
em sevens. chega a casa à uma da noite. Rui Miguel Pereira
RUI MIGUEL PEREIRA

MARÇO 2002 • EDIÇÃO N.º 76 • QUINZENAL GRATUITO 18ºANIVERSÁRIO


A CABRA sai do arquivo...

farmácias sociais, a reforma fiscal e a considerado como uma "necessidade propinas não são usa-
realização (ou não) do Euro 2004". absoluta", defendia-se a criação de das para melhorar as
O Partido Socialista pretendia um uma disciplina específica que seria condições, mas para
incentivo às novas tecnologias que um passo em frente para "quebrar pagar despesas corren-
A MÃO QUE deveriam ser aplicadas na Educação.
Este aspecto seria vital para a me-
tabus na sociedade portuguesa".
Já a vontade de "fazer melhor" da
tes". Focando a questão
do aborto, o então can-
EMBALA O lhoria do sistema educativo como CDU prendia-se, em matéria educa- didato afirmava que o
BERÇO” ficou provado aquando da imple- tiva, em abolir os aspectos redutores partido era contra a
mentação de internet nas escolas do do acesso à educação, como sejam as despenalização. "Esta
país, o que se revelou ser "um propinas e o elevado preço dos ma- questão deve ser tra-
avanço fundamental para a educa- nuais escolares. Na questão do em- tada segundo a persec-
m Março de 2002, A ção dos jovens" relembrou o candi- prego, o então candidato à tiva de

E CABRA deu destaque às


eleições legislativas de
17 de Março, apresen-
tando as políticas dos diferentes par-
dato a deputado pelo círculo
eleitoral conimbricense Pedro Coim-
bra.
Por sua vez, o Partido Social De-
Assembleia da República pelo PCP,
João Oliveira, entendia que "o Es-
tado permite que os alunos se for-
mem, mas não lhes garante depois,
responsabilização dos
homens" justificou.
Para o Bloco de Es-
querda, a "legalização
tidos, em matérias direccionadas aos mocrata pretendia uma reestrutura- como principal empregador, um tra- das drogas e a distribui-
jovens, nomeadamente educação, ção do Ministério da Educação. De balho". ção de heroína, sob
emprego, sexualidade e toxicode- acordo com Miguel Coleta, este mi- Os candidatos pelo CDS/PP apre- controlo médico", se-
pêndencia. Segundo A CABRA, estes nistério "tem a missão de gerir um sentavam como proposta para o en- riam formas de comba-
assuntos estavam a ser relegados e negócio bastante complexo que en- sino superior um modelo de gestão ter a
os "principais temas da confrontação globa todo o ensino, desde a pré-pri- das universidades. João Almeida, toxicodependência. Na educação, turma" e mostrava-se contra a revi-
política têm sido as questões rela- mária até à pós-graduação". Presidente da Direcção Nacional da Miguel Reis, dirigente do partido, são curricular do ensino secundário.
cionadas com a implementação das Relativamente à sexualidade, tema Juventude Popular afirmava: "as apelava à "redução de alunos por Vasco Batista
17 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 21

O MUNDO AO CONTRÁRIO SOLTAS


ITÁLIA Durante a
missa de domingo, um TEM DIAS...
casal italiano foi apa-
nhado a fazer sexo no
Por Licenciado Arsénio Coelho
confessionário de uma
igreja. De acordo com o Corpo. Era mesmo isso que me fal- não sejam alemães).
advogado de defesa, o tava. Neste momento vocês devem estar
casal exagerou na bebida Mas o pior nem é isso. O pior é que a pensar: “Bah… 2100 está tão
e reconheceu que passou
dos limites. Os apaixo-
QUANDO O CALOR APERTA quando o calor e o sol chegam de
forma tão repentina, as pessoas são
longe… eu nunca vou lá chegar”.
Bem… talvez só o Sr. Pintos. Já o
nados fizeram as pazes obrigadas a atacar o guarda-roupa estou a imaginar a montar um negó-
com o bispo da igreja, em busca de peças de roupa com cio de traçadinho na Atlântida. Só
que rezou uma “missa de e certeza que os meus carís- conspiração ao mais alto nível. menor quantidade de tecido possível. com gasosa porque as uvas tinham
reparação” para “purifi-
car” a igreja onde foi co-
metido o “pecado
D simos leitores já se deram
conta do calor que por aí
anda (ou pelos menos andava na al-
Quanto mais próximos estamos do
Verão, mais quentes ficam os dias. E
o que tem a Natureza a dizer sobre
Apesar de ainda não estarmos prepa-
rados, somos obrigados a mostrar as
partes do corpo que não vêem a luz
secado todas. Ou seja, no fundo não
mudaria muito.
É por estas e por outras que nin-
original”. tura em que escrevi estas linhas). E o isso? Dias maiores que te lixas. Se do sol há meses. Como os pés, por guém quer saber da natureza nem do
problema nem é tanto o calor. O que pelo menos houvesse uma reacção sa- exemplo. Estão tão brancos que Aquecimento Global nem do que
ÍNDIA Os moradores realmente me chateia é a forma como tisfatória do corpo humano. Mas o quando calças umas sandálias pela quer que seja. A culpa é dos cientis-
solteiros de uma aldeia a natureza se aliou ao corpo humano que é que ele para resolver a situa- primeira vez parece que te enxerta- tas. Eles não sabem falar ao coração
no Oeste da Índia estão a para nos fazer a vida negra. É uma ção? Suar. Ora muito obrigado sr. ram as patas de um urso polar. De- da população. Para mim a solução
trabalhar sem parar para cons- pois de seis meses, a melanina deve passaria por revelar as verdadeiras
truir uma estrada de seis quiló- estar de ressaca. A sacana para se vin- ameaças. Aquelas que vão realmente
metros que acreditam que vai gar de a teres acordado põe-te ver- influenciar a vida dos cidadãos. Por
aumentar as probabilidades de se melho. exemplo, “em 2100 vai fazer tanto
casarem. A aldeia de Barwaan é No entanto admito que até sou um calor que a relva vai desaparecer toda
conhecida na região como a “al- afortunado. Para as mulheres a coisa e não se vão poder fazer jogos de fu-
deia das pessoas solteiras”. A é bem mais complexa. Algumas não tebol”. Ou então, “o calor vai ser tanto
razão da construção deve-se ao se depilam durante todo o inverno e que a cevada vai deixar de existir e a
facto de o local ser muito remoto quando sentem os dias mais quentes cerveja vai acabar”. Assim sim, já
e de difícil acesso. vão logo correr para a esteticista: estou a imaginar a AAC a aderir em
peso, com o presidente lavado em lá-
EUA Uma mulher de 27 anos te- “Então, como vai ser? Com cera?” grimas.
lefonou três vezes para o número “Não, com moto-serra”. Resumindo e concluindo: daqui a
de emergência, o 911, a queixar- uns anos as temperaturas vão ser tão
se que a McDonald's não lhe en- Brincadeiras à parte, o Aqueci- altas que metade da população vai
tregou os McNuggets que pediu. mento Global é uma coisa grave. Os morrer sufocada, os pólos vão derre-
A polícia chegou ao local e confir- estudiosos dizem que durante o sé- ter e toda a humanidade sucumbirá
mou que os McNuggets estavam culo XXI o nível médio das águas do debaixo de um oceano de morte e
esgotados. Como resultado, a mu- mar vai subir muito. Não tanto como destruição. Que tenham uma boa se-
lher teve de comparecer em tri- a taxa de desemprego, mas quase. Se mana.
bunal para lhe ser aplicada uma isto continuar assim, no século XXX Todas as crónicas em
coima, dado que o uso abusivo do Badajoz vai ter uma praia do caraças,
911 é considerado crime. e nós andaremos a disputar a Liga arseniocoelho.
dos Campeões de futebol aquático blogs.sapo.pt
Daniel Almeida com os Atlantes. (Bem… Desde que
CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

COM PERSONALIDADE
LEANDRO ROLIM

ZÉ PERDIGÃO • 28 ANOS • MÚSICO


O FADO NOUTRA PELE
Ser músico da voz. Essa fusão seria necessária para uma tradição a que chamamos Fado. Eu não sei o que é isto que canto. É fado-canção. O delinear de vários temas que
iriam compor esse álbum. Isso ficou decidido entre quatro pessoas: eu, José Cid, Francisco Ribeiro, dos Madredeus, e a Ana Sofia Cid. Fomos nós que elegemos os 11 temas que
estão neste primeiro álbum chamado “ Os Fados do Rock”. Gostámos imenso de o fazer.
Este álbum é gravado em analógico. Podem-se ouvir todos os barulhinhos. É gravado ainda em fita. Os mais importantes do mundo começam a procurar novamente esta forma
de gravação. Há um laço de amizade que nos une.
E por isso, um espectáculo ao vivo tem outra força que um álbum não passa. Eu não sou músico de estúdio. Entrego-me quando estou ao vivo. Em estúdio
sou uma merda. Espero estar na vida com a música. Não cheguei aqui caído do céu. Comecei no campo lírico, passei pelo étnico, pelo pop, rock, e foi aqui, neste projecto,
que me encontrei, entre o lírico e o étnico, numa roupagem acústica. Transmitimos todas essas emoções para o público de uma forma simples e agradável.
Espero mais da música portuguesa. Temos grandes poetas, grandes homens e mulheres que escrevem muito bem, dos melhores que o mundo tem. Temos grandes mú-
sicos que conseguem fazer grandes arranjos para esses mesmos poemas.
A música para mim é o ar que eu respiro. É tudo. José Cid foi um homem que eu encontrei, um grande produtor, um grande músico e intérprete. Não podemos des-
corar que José Cid não é o macaco que gosta de bananas. Estamos a falar de um homem que todo ele é musical. Esta capacidade de transpor para o panorama musi-
cal todos estes temas que estão imortalizados em todo o Portugal. São temas que vão cantar-se sempre.
Este meu primeiro álbum, vou escutá-lo e não vou arrepender-me.
A música é uma adrenalina que todos sentem. É a minha droga, o palco. Confesso que me sinto muito melhor na intimidade do que em grandes palcos, porque sinto
o afecto muito mais próximo. É assim que eu gosto de estar, sem artefactos, sem nada que amplifique o som. Assim sinto-me bem. Se os portugueses assim o en-
tenderem, sim. Eu tenho a música como a minha vida. Não quero ser politicamente nada. Estou na música pela música. Quero ser simplesmente o Zé Perdigão.

Entrevista por Sara Oliveira


22 | a cabra | 17 de Março de 2009 | Terça-feira

OPINIÃO
A CRISE, O ENSINO SUPERIOR
E OS ESTUDANTES

João Pita *

PEDRO CRISOSTOMO

1. As mudanças sociais no mentos apenas uma vez sendo a


ensino superior: os mecanismos bolsa renovada automaticamente
de acção social são o mais impor- caso nada tivesse sido alterado no
tante garante da equidade na fre- agregado familiar. Conseguir-se-ia
quência no ensino superior. O um aumento de eficácia dos servi-
apoio do Estado via bolsas, resi- ços de acção social e um início do
dências, cantinas ou serviços médi- pagamento das bolsas mais rápido.
cos tem alvos e objectivos
diferentes mas sempre com a igual- 3. Qualificação como desafio
dade de oportunidades como pri- de futuro: o apoio social e as suas
meira aposta. Os números e mudanças são importantes pilares
estatísticas sobre a condição so- na valorização do ensino superior e
cioeconómica dos estudantes do na equidade no seu acesso e fre-
ensino superior são esmagadores: é quência. Contudo, é preciso mais
três vezes mais provável um filho de para que o desenvolvimento nacio-
licenciados estar no ensino superior nal seja de facto assente no au-
do que alguém sem pais licencia- mento da qualificação profissional.
dos. Esta reprodução social é ina- Diversificação das formações no
ceitável e está mitigada com a ensino superior que vão ao encon-
presença do sistema de bolsas a es- tro das ambições e necessidades
tudantes (mais de 20 por cento dos dos estudantes em idade escolar e
estudantes recebem bolsa). A crise para os regressos ao ensino; mais
económica mundial com reflexos flexibilidade curricular e a verda-
claros em Portugal vem potenciar o deira reforma funcional do Pro-
O apoio social e as aumento das desigualdades. Para cesso de Bolonha; mais ensino
situações extremas exigem-se me- nocturno e pós-laboral que vá ao
suas mudanças são encontro dos trabalhadores-estu-
didas à altura. Assim, tem vindo a
importantes pilares ser proposta pelas associações aca- dantes em especial no segundo ciclo
démicas e de estudantes medidas de estudos; aposta determinante no
na valorização do que podem ajudar em momentos ensino com recurso às novas tecno-
de crise: a extensão do Passe Esco- logias. Mais e melhor qualificação é
ensino superior e na lar 4_18 ao ensino superior; a cria- o futuro de Portugal e a aposta certa
equidade no seu ção de um período suplementar de no debelar de longo prazo do nosso
candidatura a bolsas de estudo, atraso estrutural. Isso só se conse-
acesso e frequência com efeitos retroactivos, para todos gue fornecendo aos estudantes e às
aqueles que tenham visto a sua con- instituições os meios financeiros e
dição económica alterada, nomea- funcionais que lhes permitam am-
damente pelo desemprego dentro bicionar a excelência. À sociedade
do agregado familiar; a manuten- exige-se que avalie de forma séria,
ção do preço das cantinas ou autónoma e independente o sis-
mesmo a sua redução para os valo- tema de ensino superior como ga-
res de 2008; o aumento das contri- rante que a formação ministrada é
buições com a educação na de qualidade e que todos os que se
declaração anual de IRS. As asso- inscrevem num curso estão a efec-
ciações tem sido activas nas pro- tuar uma escolha acreditada a nível
postas, exige-se do Estado acções nacional.
claras e coerentes com a afirmação Em resumo a crise que atravessa-
sempre repetida de mais e melhor mos exige de todos medidas fortes e
formação e qualificação nacional destemidas: dos governos acções
como motor de desenvolvimento. concretas que avaliem o sofrimento
das famílias; aos estudantes o inte-
2. A crise como oportuni- riorizar de que a sociedade precisa
dade de mudança: as épocas de deles como motores do desenvolvi-
crise servem como oportunidades mento económico e social de Por-
para mudanças estruturais que sir- tugal. Estes momentos de crise
vam para melhorar as condições de podem ainda potenciar reformas
partida. No caso do apoio social há duradouras que permitam ir mais
a necessidade de alterar o regime longe no que era feito até então.
de atribuição de bolsas, abolindo os Também no Ensino Superior tal
escalões e passando a ter uma fór- pode e deve acontecer, haja opções
Cartas ao director mula de atribuição mais justa e efi- políticas condizentes com a eterna
podem ser caz. No mesmo sentido, é paixão pela educação.
enviadas para fundamental que seja implemen-
acabra@gmail.com tada a contratualização de bolsas, *Estudante da UC e membro do
ou seja, o aluno entregaria os docu- Conselho Nacional da Educação

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17 de Março de 2009 | Terça-feira | a cabra | 23

OPINIÃO
DIREITO AO PURGATÓRIO… EDITORIAL
A MINHA QUEIMA É MELHOR
QUE A TUA
Rui Lopes *

Em 1969, os estudantes da Acade- bilidade de ingressar no referido re- Referia o estudante Filipe Pedro CABRA, aceitará trabalhos por enco-
mia de Coimbra reivindicaram “exa- gime? numa carta ao director da edição menda. E mais: o Jornal Universitá-
mes para todos…ou exames para Se não há condições logísticas, físi- passada do jornal A CABRA que a rio de Coimbra, A CABRA, não tem
ninguém”… ao tempo, a igualdade cas e intelectuais, para que na Facul- linha editorial do órgão deveria “re- de se justificar pelo conteúdo das
era apenas um sonho só possível com dade de Direito se possa implementar flectir sobre se a Queima das Fitas é suas edições. A única fidelidade é
a democracia…essa por quem tantos um verdadeiro regime de avaliação ou não um evento que se digne a para com o leitor, e estamos certos de
lutaram e por quem tantos sofre- contínua, que chegue a todos, que nos estar presente na sua versão im- que o serviço público de informação
ram… trate de igual forma a todos, então pressa”. Acrescentava o estudante a que nos propusemos é cumprido.
Estes, esperavam no mínimo, que que não haja avaliação contínua para que não se lembrava “de ver ninguém Mais há a dizer sobre a referida
40 anos depois, esse conceito de de- ninguém. O argumento de que “um da Comissão Organizadora da importância atribuída pelo jornal à
mocracia, melhor, de Estado de di- pouco mais de bem é sempre melhor” Queima das Fitas entrevistado como Queima das Fitas. Afinal de contas,
reito democrático, consagrasse uma é, neste específico caso, uma violação tal, excepto no suplemento sobre a acabra.net é o único órgão a possuir
sociedade tendencialmente igualita- do princípio da igualdade, pois para Queima das Fitas, pago pela mesma”. um site exclusivo dedicado às Noites
ria, “tratando como igual o que é iguais condições há um tratamento E mencionava ainda que contava do Parque, com uma cobertura diá-
igual e como diferente o que é dife- diferente e não há uma razão coe- “pelos dedos das mãos as vezes que ria de todo o evento e com pelo
rente” corolário do princípio da igual- rente para que seja assim…Porque é A CABRA publicou artigos relativos menos oito pessoas por noite a tra-
dade que tanto e repetidas vezes que o Sr. A, que para além de pagar o à Queima das Fitas”. balhar para este mesmo projecto.
estudamos ao longo do curso de Di- mesmo valor de propinas, que tem E a questão que se coloca aqui não O trabalho de cobertura da
reito na Faculdade de Direito de U.C. um aproveitamento académico seme- passa, como o estudante bem referiu, Queima das Fitas não se fica pelo tra-
O regime da avaliação contínua, lhante ao do Sr. B, não consegue ter por aludir a uma obrigação editorial balho realizado nas Noites do Parque
que entre outros, o Processo de Bolo- acesso ao regime de avaliação contí- do jornal de publicar matérias alusi- e no site informativo acabra.net.
nha trouxe para a Universidade de nua? Porque é que o Sr. B, em virtude vas à Queima das Fitas unicamente Toda a iniciativa é acompanhada ao
Coimbra e particularmente para a Fa- de um simples sorteio, pode optar devido ao contributo financeiro que longo do ano com informações ac-
culdade de Direito, vinha carregado entre o regime de avaliação contínua o lucro da queima representa para as tualizadas.
com a esperança de que a carga e e o regime de avaliação final e o Sr. A secções. Não deverão, portanto, as críticas
densidade curricular que o curso de só pode aceder a um dos regimes? A questão passa pela desvirtuação ser feitas de forma tão redutora
Direito exigia possibilitasse mais su- Está na altura dos alunos da Facul-
cesso aos alunos da FDUC. Um re- dade de Direito também começarem
A questão passa pela desvirtuação


gime onde se avaliasse a assiduidade, a resolver estes casos práticos…
a participação, a capacidade de de- E os critérios de Avaliação? Têm de alguns factos, que uma rápida
senvolver trabalhos de investigação, existência? São simulados? Dissimu-
mini-avaliações, repartição da densi- lados? Objectivos? Subjectivos? (e frequente) leitura do jornal
dade doutrinal etc., etc. Tudo meras Porque é que dois alunos da
expectativas. mesma Faculdade, ao fazerem o poderia solucionar
A realidade mostrou-nos que em mesmo exame, tem surpreendente-
nada o regime de avaliação contínua mente resultados tão distintos? E de alguns factos, que uma rápida (e quando é o trabalho de dezenas de
nos veio beneficiar…A sua essência porque é que em cada 25 alunos só frequente) leitura do jornal poderia sócios e colaboradores da Secção de
está correcta, é certo… é com avalia- três conseguem ter aproveitamento? solucionar. Jornalismo da Associação Académica
ção contínua que devemos ser postos E não falemos apenas dos factores Apesar de todas estas críticas de Coimbra que é posto em causa.
à prova… mas cada estudante e não subjectivos que a cada um diz res- nunca o Jornal Universitário de Poderíamos então questionar muitas
apenas alguns que por mera sorte peito… isso não é uma responsabili- Coimbra, A CABRA, irá contra a das decisões tomadas pela Comissão
foram sorteados ou que tiveram mais dade da Faculdade de Direito… mas linha editorial que pauta o seu traba- Organizadora da Queima das Fitas,
uma décima ou duas de média na uma mesma resposta pode ser para lho e nunca se subjugará a atitudes como o tratamento diferenciado
candidatura ao ensino superior. O um avaliador, totalmente correcta prepotentes por parte de qualquer dado a um qualquer diário regional e
que se passa actualmente na FDUC é mas para outro parcialmente correcta comissão organizadora de uma qual- a um órgão de comunicação da casa.
discriminatório, pois é inconcebível ou até mesmo incorrecta… Será só quer festa académica ou de qualquer Não o faremos, porém.
que não se trate de modo diferente o culpa dos alunos? outra estrutura da casa. Nunca o Jor- João Miranda e
que é manifestamente igual…Como O que se passa na Faculdade de Di- nal Universitário de Coimbra, A Cláudia Teixeira
se concebe que na melhor Faculdade reito da Universidade de Coimbra?
de Direito do país se pratique publi- Porque é que ninguém quer saber? A CABRA ERROU
cidade enganosa? Sabia algum dos úl- Porque é que já ninguém canta “…há
timos candidatos ao ingresso na sempre alguém que resiste, …há sem- Na última edição d'A CABRA, no artigo “A remar pela defesa do título”
nossa faculdade que para além de pre alguém que diz não”? podia ler-se nas palavras do técnico Júlio Amândio que o Futebol Clube do
uma média de entrada esta ainda São muitas as perguntas…mas há Porto era um dos candidatos para esta época, quando o treinador se refe-
seria comparada com a dos restantes uma só resposta… É HORA DE ria ao Sport Clube do Porto.
colocados para efeitos de ingresso no MUDAR! Na mesma edição, encontram-se algumas caixas em branco que, na im-
regime de avaliação contínua? E os pressão, e por motivos alheios à direcção do jornal, omitiram parte dos tex-
que já cá estão? Faz sentido entrarem * Estudante da Faculdade tos dos artigos em causa.
num concurso para obterem a possi- de Direito da UC A direcção

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759
Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fo-
tografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira
(País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fer-
Secção de Jornalismo, nandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Hugo Anes, João
Associação Académica de Coimbra, Picanço, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vanessa Quitério, Vanessa Soares Fotografia Ana Coelho, Leandro
Rua Padre António Vieira, Rolim, Sara Galamba, Sara São Miguel, Sónia Fernandes, Tiago Carvalho, Virginie Bastos Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colab-
3000 - Coimbra oraram nesta edição Bruno Monterroso, Daniel Almeida, Frederico Fernandes, Filipa Magalhães, Joana Tadeu, Maria João Fernandes,
Tel. 239821554 Fax. 239821554 Pedro Pinto, Rita Santos, Sara Coimbra, Sara São Miguel, Vasco Batista Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo
e-mail: acabra@gmail.com Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso
Biscaia, José Santiago, Milene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes - 239821554;
914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem
4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra
Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra
Mais informação disponível em
Redacção: Fax: 239 82 15 54

acabra.net
Secção de Jornalismo e-mail: acabra@gmail.com
Associação Académica de Coimbra
Rua Padre António Vieira Concepção e Produção:
3000 Coimbra Secção de Jornalismo da Associ-
Telf: 239 82 15 54 ação Académica de Coimbra

Notas
Manifestação Minuto
da CGTP
Hugo Chávez
de Silêncio sobre
arte...

“Injustiças sociais/Arre porra que O presidente venezuelano ordenou O minuto de silêncio em defesa dos
é demais!” foi a frase que mais se que as Forças Armadas usem a força direitos dos imigrantes teve uma par-
ouviu entre os mais de 200 mil tra- contra os governadores locais que se ticipação bastante fraca, contando-
balhadores em Lisboa, segundo a opõem à lei de transferência do poder se pelos dedos os presentes. A
CGTP. O desemprego, a precariedade de administração dos portos e aero- DG/AAC falhou na sua missão de
e as politicas económicas e sociais do portos para o governo central. Esta sensibilizar a sociedade civil para os
governo assumiram-se como as bases semana proibiu ainda a permanência problemas que afectam as comunida-
do protesto que paralisou a capital. da exposição “Bodies Revealed”, que des imigrantes. Questiona-se se era
Em época de crise e no ano de todas revela o interior do corpo humano. mesmo necessária esta alternativa
as eleições é bom que os portugueses Mais exemplos de intolerância pe- aprovada na Assembleia Magna ou se
se façam ouvir, e em uníssono soa rante os adversários políticos e ideias a participação na manifestação de
sempre melhor. que não sejam do seu agrado. Lisboa não seria mais eficaz.
M.P. J.R. J.R.

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Neste quadro, Hans Georg sol, nessa rua a subir que é pre-
Schüssler mostra-nos uma paisa- cedida de uma subida ainda
gem banal; árvores e casas como maior, nesse amontoado apenas
fundo, um, dois cavalos encosta- aparentemente ordeiro de pe-
dos à berma da estrada. Para este dras, cimento e monóxido de car-
alemão, estudioso das artes grá- bono onde se move o sujeito
ficas e decorativas e actualmente fotográfico, o autor apercebe-se
a residir em Portugal, uma boa de que, ao avistar o carro, nin-
maneira de observar uma ima- guém daria conta que o mesmo
gem pode ser estilhaçá-la e pos- seria composto por fragmentos.
teriormente recolocá-la noutro A nossa vista passaria por ele de
local. A ordem dos estilhaços relance, o nosso cérebro esterio-
passa aí a depender da vontade tipá-lo-ia como mais uma das in-
do autor, sendo claro que concei- finitas coisas normais que
tos como correcto, suposto ou or- compõem a nossa normalidade,
deiro podem não fazer parte do a nossa memória, passado uns
imaginário do mesmo. instantes eliminá-lo-ia, muito
Afinal, o que é cada um destes provavelmente para sempre. E
três palavrões? Qanduo aguélm com isto, tinhamo-nos acabado
iamgnia, aglo é sputoso? Uma de cruzar com um carro que, ima-
cirãçao dvee ter odrem? Um gine-se, não obedece às leis da Fí-
crrao itenrio é mias pcretpviel sica.
que um fgmarantedo, aissm As pinturas de Hans George
cmoo uma farse dvee etasr Schüssler estão patentes na Gale-
gmatclraianetme crroteca praa ria Minerva, em Coimbra, até 3
se cmpedorenedr? de Abril.
Naquele monocromático dia de Por Bruno Monterroso

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