Você está na página 1de 24

MONTAGEM POR TATIANA SIMÕES

A Queima
dos 110 P6

28 de Abril de 2009

a cabra
Ano XVIII
N.º 197
Quinzenal gratuito

Director: João Miranda


Editor-executivo: Pedro Crisóstomo Jornal Universitário de Coimbra

Nuno Piloto
Encerramento de cursos não “Gostava de ser
um exemplo
atinge Universidade de Coimbra para os jovens”
Há oito anos no clube, o capitão da
Académica conta como é conciliar
a vida de estudante com o futebol,
dias depois de ter entregue a sua
Depois de Mariano Gago ter anun- os cursos ministrados pela UC se vão çadas pelo Ministério da Ciência, tese de mestrado. Nuno Piloto de-
ciado uma reestruturação da oferta manter em funcionamento. Tecnologia e Ensino Superior vão fende que, dentro de portas, a Aca-
educativa no ensino superior, prevê- A FENPROF teme que esta onda de
Maioria das abarcar também o ensino superior démica está a fazer um
se o encerramento de cerca de 300 encerramento de licenciaturas anun- licenciaturas tem privado, originando o fecho de várias campeonato “ao
cursos. No entanto, a vice-reitora da ciada para o ensino superior possa instituições e criação de outras com nível das melhores
Universidade de Coimbra, Cristina conduzir ao despedimento de docen-
vagas preenchidas maiores qualificações. equipas” e define o
Robalo Cordeiro, confirma que todos tes universitários. As reformas avan- P5 oitavo lugar como o
objectivo para o
ANDRÉ FERREIRA que resta da
época.
P 11

Viagem a Portugal
Palestiniano detido
ao passar fronteira
O activista da União Democrática
da Juventude da Palestina Hashem
Ezeya Albadarin foi detido por mi-
litares israelitas quando atraves-
sava a fronteira com a Jordânia.
Checkpoints de controlo são regi-
dos por alguma arbitrariedade, ad-
mitem personalidades de ambos os
campos do conflito.
P 15

Como as artes
plásticas
guardam
as memórias
de Abril
P 12 e 13
Ensaios à porta aberta

@
Mais informação em
Os três grupos de teatro da Academia ultimam os pormenores para as estreias P9
acabra.net
PUBLICIDADE
2 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

DESTAQUE
COMÉRCIO TRADICIONAL
TIAGO CARVALHO

APESAR DA CRISE, o “Café Santa Cruz” mantém os preços e aposta na dinamização cultural

As duas crises da Baixa de Coimbra


Vive-se a maior recessão económica dos últimos 30 anos. Os pequenos comerciantes da Baixa
de Coimbra garantem que o ano de crise apenas veio acentuar os problemas que já existiam.
O que fazem para (ainda) sobreviver? Reportagem por Alice Alves e Eliana Neves
nas tardes quentes que a as pessoas já não vêm tirar fotos de para reverter a diminuição drástica Mendonça, revela que mesmo sen- compra”. São poucos os fregueses jo-

É Baixa ganha alguma vida.


Os turistas multiplicam-
se, enchem as ruas e os
cafés tradicionais, ignoram os pe-
passe, porque não as aceitam na Loja
do Cidadão. A nossa crise é esta”.
Opinião semelhante é a de Vasco
Henriques, que sustenta o negócio
das vendas. “Não há hipótese de dar
a volta a isto”, lamenta. Até porque,
os problemas da Baixa não se pren-
dem exclusivamente com a crise.
tindo os efeitos da crise ainda não
optou por baixar os preços: “não há
saldos de ouro e optar por isso seria
caminhar para trás”. Enquanto mos-
vens – “Portugal é um país de ve-
lhos” – sublinha, afirmando porém
que ainda há algumas “raparigas que
vêm pôr capas nos sapatos”. Apesar
dintes e atiram pão aos pombos que na mesma rua, mediante a cobertura “Isto é uma cidade fantasma” afirma tra orgulhoso um vinho usado na co- da desmotivação, não consegue dis-
infestam as esplanadas. de casamentos. “Desde esta história o velho comerciante, defendendo memoração do Tratado de Lisboa farçar o sotaque cantante do Rio de
Contudo, os comerciantes das do cartão único que já despedi cinco que a CMC pouco ou nada tem con- (um “Barros Colheita” de 1957, à Janeiro, onde esteve emigrado vá-
lojas típicas da zona não se vêem pessoas. Agora somos só dois”, de- seguido fazer. “A parte histórica da venda por 365 euros) diz que vão rios anos: “sem trabalhar primeiro lá
com muito mais trabalho. Mesmo a sabafa com algum desconforto. cidade foi deixada ao abandono, não contornando a crise com ofertas de fora não dá para ter um negócio
meio da rua Visconde da Luz, é um Do mesmo ramo, Arlindo Santos, há iniciativas”. Faz questão de frisar alguns produtos e outras estratégias. aqui”.
pouco a custo que se vê o letreiro dos laboratórios “Diorama”, na rua que não é sócio da Associação Co- Concordando com a maioria dos co- Embora o engenho seja outro,
identificativo da “Fotos Gaspar”. A dos Esteireiros, na Praça do Comér- mercial e Industrial de Coimbra merciantes vizinhos sobre o negócio Celso Baía, dono de uma pequena
porta é pequena, o edifício antigo. Lá cio, confessa que a hipótese de fe- na Baixa, considera que a crise ape- loja de artigos de pesca aberta desde
dentro cheira a bafio e é preciso char as portas não é descabida: “vou nas veio agravar a desertificação: “as 1974, a “CelFat”, na esquina entre as
subir umas escadas íngremes e es- pedir a reforma e, se for suficiente “A parte histórica da pessoas preferem comprar nas gran- ruas da Sota e do Sargento-Mor,
treitas para chegar ao laboratório. para manter a loja, continuo, senão des superfícies, estão fortemente vi- considera que “as pessoas preferem
Ao som de Zeca Afonso, Carlos Vilela fecho”. Carlos Vilela afirma, por seu
cidade foi deixada ciados no cartão de crédito”, que arranjar aquilo que já têm, porque
recebe-nos com estranheza. Já são turno, que “se isto até ao final do ano ao abandono, não confessa utilizar moderadamente. não se pode gastar dinheiro em cer-
poucos os jovens que procuram os não melhorar só resta a reforma”. São poucos os passos que levam tas coisas”. O entardecer à porta traz
serviços. “Hoje em dia toda a gente Entretanto, dedica-se à recuperação há iniciativa” da mercearia ao sapateiro da rua. De o problema do estacionamento à
tem máquinas digitais. A reporta- de fotos da Queima das Fitas de acordo com Manuel Martins, pro- baila uma vez mais, bem como a
gem de casamentos é o nosso único 1957, um trabalho que “pode não dar (ACIC): “ não concordo com as polí- prietário da “Coimbrasil”, aberta há falta de meios: “a ACIC bem tenta,
pára-quedas”, revela. As novas tec- em nada” mas que – reconhece – ticas. Desde que tiraram daqui o es- 13 anos, não há mais ou menos crise mas não ajuda nada, não tem
nologias há muito que desvirtuaram “tem sido apaixonante”. tacionamento já fecharam mais duas para ninguém, é geral: “temos é que como…”.
a necessidade de recorrer a alguém No Adro de Cima, António Mar- lojas”. Este é, aliás, um problema trabalhar”. Culpa essencialmente as
experiente. Todavia, dado que já não tins, proprietário da “Casa da Es- apontado pela maioria dos comer- lojas chinesas pela diminuição do Porque não se podem
é recente o uso da máquina digital trela”, especializada em produtos ciantes. número de clientes. “As pessoas pre- baixar os braços
em detrimento da analógica, os pro- regionais da Serra da Estrela, é pe- Na rua da Louça, desde 1981 que ferem comprar sapatos baratos a ar- De volta à Visconde da Luz, a “Casa
blemas principais são outros: “o go- remptório: “isto está paupérrimo”. O a “Mercearia Camponesa” está ranjá-los. Os clientes que temos dos Linhos” capta a atenção dos
verno agora decretou o cartão único, comerciante nada consegue apontar aberta ao público. O gerente, José ainda são aqueles com mais poder de transeuntes pela remodelação re-
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 3

DESTAQUE
cente. Cristina Veigo, que gere há 12 Graça Almeida, uma vendedora de PAULO MENDES • PRESIDENTE DA ACIC
anos o negócio de família (com 52), miudezas que admite ter sido derro- JOÃO RIBEIRO

encara as consequências da crise de tada pela crise. “Criou-se a ilusão de


forma prática. A resposta inicial é de que nos grandes centros os produtos
alguém que encara a situação econó- são sempre mais baratos e as pes-
mica actual com alguma leveza: “a soas estão automatizadas.” A vizinha
repercussão tem sido normal, senti- comercial, Sandra Pinho, concorda:
mos um pequeno abatimento, mas “há muito tempo que isto está assim,
nada de muito drástico”. Considera as pessoas simplesmente não vêm à
que a redução de compras aos forne- Baixa. Isto está mesmo no fundi-
cedores não é nem de perto nem de nho”.
longe uma solução: “os nossos clien- As escadas que levam ao Quebra-
tes procuram a variedade. Apostá- Costas situam-se já numa zona de
mos em obras, viajámos muito e passagem. É aqui entre a Baixa e o
frequentámos várias feiras. É neces- núcleo da Cidade Muralhada que se
sário ter uma boa percepção do pro- encontra a livraria “XM”. Isabel San-
duto e vários modelos para tos assume-se como colaboradora,
oferecer”. Enquanto fala, não perde dizendo que tem na loja um papel
mais “burocrático”. Admite que se
sentem os efeitos da crise, mas não
Em alguns casos, o crê que sejam exclusivos da loja. “Os
livros são prescindíveis e esta livraria
dinamismo cultural é para um público-alvo ainda mais
NO ESCRITÓRIO onde gere a loja que há cerca de 80 anos pertence à família

serve para contornar


o baixo consumo
específico”, explica. Apesar do espó-
lio musical que possuem ser alugado
a um amigo, “o que se vende mais,
“Muitos estabelecimentos
o ritmo e sorri distraidamente en-
quanto arruma jogos de toalhas e
ainda são os vinis. E alguns produ-
tos de decoração”. A zona é de pas-
sagem, muitos são os turistas que
irão desaparecer ”
roupões esquecidos no balcão peri- espreitam pelo vidro e depois optam Nos últimos dois anos, a Baixa perdeu 50 estabelecimentos. Paulo
férico. por entrar, constituindo a maioria do
Não muito mais à frente, e fazendo movimento. “A Baixa está morta,
Mendes, à frente da ACIC há um ano e meio, fala do que está mal e da
jus ao nome da praça onde se situa, quase que parece não pertencer à ci- importância da gestão para salvar o pequeno comércio
o “Café Santa Cruz” abriu as portas dade. Tornou-se mais sombria, as
a 8 de Maio de 1923. José Cruz gere lojas que mais chamavam o público chegam. Estes primeiros três meses irão desaparecer.
o investimento do pai há 15 anos e passaram para as grandes superfí- Pedro Crisóstomo foram bastante maus para o comér-
João Ribeiro
não tem qualquer problema em ad- cies. Eu própria deixei de fazer as cio nacional. Tem conhecimento de casos?
mitir que este é um estabelecimento minhas compras na Baixa”, lamenta Sim. Nestes últimos dois anos, tive-
diferente: “temos sofrido um pouco Isabel. A razão prende-se também Quais as dificuldades mais Há uma estratégia de concerta- mos na Baixa cerca de 50 estabeleci-
com a crise, os nossos preços não são com a falta de segurança: “sempre apontadas pelos associados da ção para ultrapassar esta crise? mentos que encerraram e que não
os mesmos das outras casas aqui foi uma zona complicada, mas agora Associação Comercial e Indus- Estão a ser preparadas algumas me- voltaram a abrir. Há 15 anos, se hou-
perto. Mas também temos em vista o meu receio ainda é maior. Não há trial de Coimbra? didas para ser postas em prática já vesse um espaço fechado, na semana
uma outra clientela, apesar de aqui vida, as pessoas a partir do fim da A crise do comércio tradicional não é em Maio. Os sábados são um dia tra- seguinte haveria alguém interessado;
ser complicado”. Os preços mantêm- tarde têm receio de lá passar. Fecha de agora. É um processo que se de- dicionalmente de comércio forte, o hoje, isso não acontece. Não há uma
se, as estratégias para amenizar a di- tudo cedíssimo”. E a fiscalização senrola há cerca de 15 anos, quando que não tem vindo a acontecer nes- substituição natural.
minuição do consumo passam pelo “apertada” da Câmara, critica por começou a concorrência das grandes tes últimos meses. A nossa ideia é
dinamismo cultural. Em parceria sua vez o proprietário da “Fotos Gas- unidades e do comércio organizado. pedir à câmara que deixe de cobrar Aí também entra a confiança…
com a associação académica, esta par”, não permite grande flexibili- O pêndulo da balança está completa- estacionamentos ao sábado de Exactamente. Há um grave problema
casa promove ao longo do ano noi- dade nas horas de fecho. mente posto para um dos lados. O manhã e vamos pedir aos comer- social nisto tudo. Hoje, um gerente
tes de fado, bem como variadas ex- Ao anoitecer as ruas tornam-se comércio organizado em grandes su- ciantes que abram aos sábados à comercial se for à falência não tem
posições. calmas, silenciosas, abandonadas. A perfícies domina cerca de 90 por tarde. nenhum apoio social. E depois vem
Logo ao virar da esquina, encon- crise económica sente-se agora mais cento do mercado. Depois, há pro- o facto de ser extremamente difícil,
tra-se uma estreita rua. O pouco mo- do que nunca. Mas há outra mais blemas de acessibilidades, estaciona- em termos fiscais, encerrar um esta-
vimento é testemunhado pelas duas profunda. Mesmo que a primeira mento, de facilidade de circulação e belecimento definitivamente. A fis-
senhoras que, embora desanimadas, acabe, os comerciantes da Baixa con- também os hábitos de consumo. Os TEM DE EXISTIR calidade é tão intrincada que, às
não se cansam de esperar à porta tinuam sem ver o fim da sua própria portugueses tinham um hábito de UMA MUDANÇA vezes, há processos de encerramento
pelos clientes. “Se não estivesse aqui crise. consumo num determinado local e, de empresas que levavam dez anos.
para onde é que ia?”, questiona-se Com João Ribeiro hoje, os hábitos de consumo são nou- DE HÁBITOS DOS E chega-se a um ponto de não re-
tros locais. EMPRESÁRIOS torno: nem se consegue crescer por-
que não há capacidade financeira
O QUE SE FAZ PELA BAIXA Tem-se acentuado neste ano? Acredita que a própria crise para se investir e continua-se assim
O estacionamento gratuito é uma valia para o pequeno comércio. Agora, há um problema de consumo, traz a vantagem de incentivar até a saúde não o permitir mais…
das reivindicações mais presentes Mas Armindo Gaspar, também pro- não tanto porque as pessoas não te- as lojas a mudarem de atitude?
dos comerciantes da Baixa como prietário da “Perfumaria Pétala”, nham dinheiro para consumir, mas Sim. O comerciante é um indivíduo A iniciativa individual pode ser
forma de atrair mais clientes. Ao aponta uma medida mais imediata: porque têm medo de consumir. E algo individualista e vê sempre o vi- suficiente para sobreviver?
apelo, o presidente da Câmara Mu- que todas as lojas da Baixa abram esse consumo é muito restrito em zinho do lado como um concorrente: A iniciativa passa sempre pelo indi-
nicipal de Coimbra (CMC), Carlos ao sábado. De momento, apenas todo o tipo de coisas. nada de fazer grandes confidencias vidual. Dificilmente uma associação
Encarnação, que está directamente alguns comércios o fazem, tor- ou de partilhar os segredos do negó- ou uma organização – como a ACIC
responsável pelo Gabinete de De- nando a medida ineficaz, afirma. Como é que é possível restituir cio. Tem havido alguma capacidade – consegue alterar o trâmite das coi-
senvolvimento Económico e “Se não houver uma percentagem a confiança nos consumidores? de reunião das pessoas e vamos ver sas. O empresário tem de ter uma ca-
Política Empresarial, responde que significativa de lojas abertas, nunca Enquanto houver problemas de esta- o que conseguimos tirar daí. pacidade de gestão, hoje, acima do
“os parques de maior dimensão são podemos fazer uma campanha bilidade de emprego e enquanto as que acontecia há alguns anos. Tem
gratuitos, por exemplo, na zona da muito agressiva, porque estamos pessoas tiverem medo de ficar de- É possível fazer algum tipo de de estar atento a todos os pormeno-
Casa do Sal”, mas afasta a possibil- de certa forma a enganar o con- sempregadas, é extremamente difícil estudo de mercado sobre a res da sua gestão. Tem de existir al-
idade de alargar esta medida aos sumidor”, explica o lojista. haver aumentos de consumo. Agora Baixa? guma mudança de hábitos por parte
da Baixa, por terem menos lotação. Nascida de uma iniciativa con- não sei bem o que é que começa pri- Esses estudos já foram feitos. Desta do empresário.
O presidente da Agência de Pro- junta entre a CMC e os comer- meiro: se é aumento de consumo crise haverá empresas que fecham e
moção da Baixa de Coimbra, Ar- ciantes, a agência, neste momento, para haver aumento de emprego, se o outras que abrem. As crises, tal como Nota uma certa inércia?
mindo Gaspar, reconhece o reúne apenas 89 lojas, cerca de um contrário. as guerras, tornam o futuro diferente Há alguma. Mas nestes momentos de
problema do estacionamento, mas quinto de todas as existentes na daquilo que era o passado e, normal- maior aflição, as coisas vão-se alte-
ressalva que uma melhor organiza- Baixa. “A trabalhar cada um para si Essa baixa de consumo é notó- mente, nos períodos imediatamente rando aos poucos e poucos. Há, ao
ção dos transportes seria uma é mais complicado”, lamenta Ar- ria na Baixa, este ano? a seguir há um grande desenvolvi- mesmo tempo, um pormenor que
solução e refere a passagem do mindo Gaspar. É notória. Os indicadores que temos mento económico. Quem ficar, ficará tem a ver com o tipo de actividades
Metro Mondego como uma mais- PC e JR – que não são fiáveis – baseiam-se melhor. Mas também reconheço que que dificilmente terão capacidade de
em conversas e contactos que nos haverá muitos estabelecimentos que continuar.
4 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

ENSINO SUPERIOR
ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA MOTORA NA UC

Faculdades contornam acessibilidades JOÃO MIRANDA


A UC oferece pouca
acessibilidade para
deficientes motores.
Porém, o gabinete de
apoio da universidade
procura criar soluções

João Miranda

O exercício parecia até bastante


simples. Conhecer alguns dos edifí-
cios da Alta Universitária de Coimbra
pela perspectiva de um estudante
com deficiência motora, sem grandes
conceitos definidos sobre a adaptação
das estruturas aos meios de desloca-
ção necessários.
Comecemos pelo edifício das Ma-
temáticas, logo a seguir às já irreali-
záveis Escadas Monumentais. Com
alguma mestria, uma cadeira de
rodas ultrapassa o pequeno lance de
escadas da entrada principal. Surge
ESCADAS são o maior entrave aos estudantes com dificuldades motoras
então um novo problema: os degraus
que antecedem a porta difícil de dade um pouco diferente da facul- tudantes com deficiência motora não sempre impossível devido à falta de Também no edifício da Associação
abrir, no átrio do departamento. Con- dade de Direito, em que a dificuldade é alheia à UC e foi com esta preocu- verbas disponíveis. A solução passa Académica de Coimbra (AAC), as di-
tudo, existe uma solução. Torneando de aceder aos claustros do edifício di- pação que foi criado em 1989, com então por criar condições: mediante ficuldades de acesso a pessoas com
o edifício existe um acesso ao eleva- ficilmente é superada pelo elevador uma reestruturação em 2003, o Ga- a dificuldade de um determinado deficiência motora são manifestas: as
dor que cumpre todos os pisos. De existente. binete de Apoio Técnico-Pedagógico aluno, a turma em que ele está inse- rampas de acesso apenas permitem o
mais fácil trânsito são, logo ao lado, As duas rampas que antecedem a a Estudantes com Deficiência. Se- rido é colocada numa sala onde as acesso aos primeiro e segundo pisos.
os edifícios das Químicas e Físicas, entrada da Faculdade de Letras da gundo um dos membros do gabinete, barreiras possam ser ultrapassadas. Segundo a coordenadora do Gabinete
que contam com um declive no de- Universidade de Coimbra (FLUC) e Maria José Correia, o objectivo do de- “Na FLUC, um aluno com deficiência de Apoio ao Estudante da Direcção-
grau de acesso ao piso das portas da os elevadores são uma mais-valia que partamento é desenvolver todas as motora será sempre colocado num Geral da AAC, Adriana Pimentel, esta
entrada, elevadores em ambas as es- contrasta, dentro do edifício, com a iniciativas possíveis para eliminar as anfiteatro ímpar, sem escadas de é uma questão que a direcção “queria
truturas e rampas dentro dos pró- obrigatoriedade do uso de escadas no barreiras físicas. A metodologia passa acesso”, exemplifica Correia. resolver”. Contudo, as dificuldades
prios edifícios. acesso a alguns anfiteatros. Lá, exis- essencialmente por auferir a defi- Ainda com a perspectiva de criar impostas na remodelação da estru-
Com o objectivo de superar as bar- tem lugares dedicados a estudantes ciência do estudante e o curso que condições a estudantes com dificul- tura original não o permitem. Sobre
reiras colocadas pela idade da estru- com dificuldades motoras, que se tor- frequenta. “Depois, tentamos sensi- dades motoras, foi criado um livro a restante estrutura da universidade,
tura, o edifício da Biblioteca Geral da nam impraticáveis quando tentamos bilizar os serviços das faculdades e com o levantamento de todas as bar- a dirigente estudantil garante que
Universidade de Coimbra dispõe de incluir uma cadeira de rodas. viabilizar uma solução”, explica. reiras da universidade. Contudo, o re- nunca receberam queixas, embora
rampas de acesso, portas automáti- “A recepção por parte das faculda- centemente inaugurado edifício da adiante que a direcção-geral vai, em
cas e ainda de uma escada-elevador “Tentamos des é sempre boa”, conta Maria José Casa das Caldeiras não consta no Setembro, desenvolver uma série de
que liga o átrio da entrada ao piso viabilizar uma solução” Correia, que adianta que a reestrutu- livro devido à obra ter sido concluída iniciativas de apoio a estudantes com
principal da biblioteca. Uma reali- A realidade das dificuldades dos es- ração dos edifícios se torna quase após a conclusão do documento. deficiência motora.

Estudantes europeus reafirmam posição contra ‘rankings’


Ministros do ensino peus. O representante das Asso- Bolonha em Portugal. Segundo o ensino superior”. Depois, “há sócio-económico mais elevado te-
superior europeus ciações de Estudantes do Ensino ministério, 98 por cento dos cur- ainda a aprendizagem centrada no nham números de mobilidade
Superior Universitário ao Conse- sos estão adaptados aos “critérios aluno”, o “fomento da mobili- mais elevados do que estudantes
definem prioridades lho Nacional de Educação e estu- e objectivos” de Bolonha. dade” e a “empregabilidade”. com um nível sócio-económico in-
de Bolonha para os dante de Engenharia Civil na “Além disso, pretende-se que Quando uma das exigências da ferior”.
Faculdade de Ciências e Tecnolo- sejam consolidados os pontos que Associação de Estudantes Euro- Já no que toca à formação, “é
próximos dez anos em
gias da Universidade de Coimbra, não estão terminados dentro do peus é que a mobilidade na Eu- preciso reconhecer que, cientifica-
conferência na Bélgica João Pita – que integra a comitiva Processo de Bolonha” e que, na ropa cresça 20 por cento até 2020, mente, os professores do ensino
portuguesa – esteve durante dois opinião de João Pita, têm de ser meta que João Pita considera superior em Portugal são muito
Pedro Crisóstomo dias em reuniões preparatórias “fiscalizados” para os próximos “muito ambiciosa”, “mais dramá- bons, mas que para darem o salto
com os restantes estudantes. dez anos: a dimensão social e a tico é o facto de estudantes de fa- ao encontro desta nova forma de
Uma década depois da declara- O objectivo foi fazer o ponto de mobilidade. mílias com um nível ensino, precisam de formação”.
ção que veio reestruturar a rede de situação sobre o que se passa em “As reformas estruturais ou le- ANDRÉ FERREIRA
ensino superior europeia, os 46 cada país e encontrar uma voz gislativas estão feitas, falta a re-
países incluídos no Processo de comum sobre os temas que vão forma funcional, no dia-a-dia das
Bolonha reúnem hoje, 28, e ama- ser debatidos até amanhã, em Lo- instituições”, defende o estudante.
nhã numa conferência ministerial, vaina, pelos ministros do ensino “Há algum caminho a fazer na
na Bélgica, para definir priorida- superior europeus. aplicação no quotidiano, como
des para os próximos dez anos. Hoje, na conferência ministerial por exemplo em ECTS, no reco-
No encontro, vão participar os em Lovaina, o ministro da Ciên- nhecimento de cadeiras no es-
representantes dos estudantes de cia, Tecnologia e Ensino Superior, trangeiro e em equivalências”.
cada país, que deverão apresentar Mariano Gago, vai apresentar as Um das preocupações mais pre-
“uma tomada de posição contra a conclusões de um relatório que mentes a debater, concretiza João
existência de classificações com sintetiza em 24 páginas os níveis Pita, é a forma como “os grupos
‘rankings’”, um apelo antigo da de qualificações, os graus e os di- mais desfavorecidos – e em equi-
Associação de Estudantes Euro- plomas nacionais da adopção de dade – podem ter maior acesso ao
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 5

ENSINO SUPERIOR
UC não corre o risco de fechar cursos LEANDRO ROLIM

Reestruturação no
ensino superior leva ao
encerramento de vários
cursos. A vice-reitora
da UC, Cristina Robalo
Cordeiro, assegura que
Coimbra não será
afectada
Vasco Batista

Em declarações ao “Expresso”, o
ministro da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior, Mariano Gago,
adiantou que as instituições univer-
sitárias vão sofrer “transformações
muito significativas”. “Não é razoá-
vel haver na mesma região quatro
cursos, cada um com poucos alunos
e dificuldades em ter professores
qualificados”, justifica.
A decisão de Gago teve receptivi-
dade junto das estruturas sindicais.
O responsável da Federação Nacio-
nal dos Professores (FENPROF) A VICE-REITORA DA UC, Cristina Robalo Cordeiro, afirma que “a UC tem todos os cursos preenchidos”
para o ensino superior, João Cunha
Serra, afirmou, ao “Correio da tou. assegurado que vão continuar aber- ponde às necessidades”. Há uma gestão equilibrada com con-
Manhã” (CM), “estar disponível para A reestruturação no ensino supe- tos, como seja Estudos Clássi- O Conselho de Reitores das Uni- tenção de despesas” expressa Robalo
estudar o caso com o governo e en- rior não é inédita. Recentemente, cos”.Esta reorganização vai afectar versidades Portuguesas (CRUP) re- Cordeiro. A carta enviada pelo CRUP
contrar a melhor solução para o foram encerrados cerca de 200 cur- também universidades privadas: “o meteu uma carta ao Ministério da refere também a demora na atribui-
país”. Porém, alerta para o facto de a sos. As universidades do Algarve, ensino privado tem de dar uma volta Ciência, Tecnologia e Ensino Supe- ção do Fundo para o Desenvolvi-
decisão poder levar a despedimen- Évora e Trás-os-Montes e Alto enorme”, referiu Gago ao semanário. rior, alertando para a situação de mento do Ensino Superior estimado
tos. Como solução defende que “o Douro receberam, desde o último O ministro admitiu que “vão sobrar ruptura das universidades públicas. em 24 milhões de euros.
pessoal [docente] libertado poderia ano, sugestões para encerrar ou fun- poucas instituições privadas”. “Serão Presidido pelo reitor da UC, Seabra Paralelamente, Gago admitiu que
ser aproveitado para áreas onde haja dir alguns cursos. O maior exemplo criadas instituições maiores e mais Santos, o CRUP acredita que a solu- os problemas financeiros do ensino
carência”. foi a Universidade de Évora que sus- qualificadas”, avançou. ção passaria, num primeiro mo- superior residem na má gestão das
Também em declarações ao CM, o pendeu três licenciaturas e criou três mento, por recorrer à reserva para universidades. Neste âmbito, Robalo
ex-presidente do Conselho Coorde- cursos a funcionar em parceria com Universidades sem recuperação institucional, uma ru- Cordeiro, diz que “ fazer uma decla-
nador dos Institutos Politécnicos Su- empresas. dinheiro brica inscrita no Orçamento de Es- ração dessa natureza significa um
periores, Luciano Almeida, destacou Não obstante, o encerramento de O problema não é novo. As universi- tado e avaliada em 20 milhões de grande desconhecimento da reali-
a premência do assunto: “a raciona- cursos não acontecerá na Universi- dades portuguesas têm alegado sé- euros. dade universitária”. “As universida-
lidade da oferta em função das ne- dade de Coimbra (UC). A vice-rei- rias dificuldades financeiras. Sem quaisquer adendas orçamen- des fazem um esforço muito grande
cessidades de formação das regiões tora, Cristina Robalo Cordeiro, Todavia, Mariano Gago assegura que tais, as universidades não consegui- de contenção de despesas, de gestão
sucumbiu perante a necessidade de afirma que “a UC tem todos os cur- “não há nenhuma situação crítica rão cumprir os seus compromissos equilibrada e angariação de recursos
atrair alunos”. “Há cursos que nin- sos preenchidos”. “Aqueles em que com os níveis de financiamento ac- salariais. Na UC, “essa questão não ”, ressalva.
guém sabe para que servem”, aler- isso não acontece está mais do que tuais” e que o “orçamento corres- se coloca em termos tão dramáticos. Com Matheus Fierro

Regulamento interno da queima ainda não foi revisto


SÓNIA FERNANDES

Dux culpa as sucessivas salvaguarda que “é uma crítica à di- ploma”. da Comissão Fiscalizadora (CF)”. “A
recção-geral independentemente do O ex-presidente da DG/AAC de- CF está transformada num órgão
direcções-gerais pelo executivo e o regulamento nem se-
seu mandato” e que “a única excep- fende “alterações ao nível das distri-
atraso e defende uma ção foi no mandato do André Oli- buições de verbas, dos poderes do quer lhe reconhece esse poder”, cri-
“redistribuição de veira, que quis rever o regulamento secretário-geral e da Comissão Fis- tica o Dux Veteranorum.
à pressa”. André Oliveira, presidente calizadora [órgão da Queima das André Oliveira considera que “é
poderes” dentro da da DG/AAC em 2008, diz não en- Fitas] e até dos próprios comissá- um facto que em determinados
estrutura da queima tender as críticas de João Luís Jesus rios”. casos a CF tem demasiados pode-
e afirma que “uma das preocupações Também o actual presidente da res”. Já Jorge Serrote discorda e
Cláudia Teixeira no início do mandato foi precisa- DG/AAC, Jorge Serrote, afirma não afirma que “a CF desempenha um
mente rever o regulamento e não compreender as críticas que lhe são papel extremamente importante na
O Regulamento Interno da fazia sentido estar a pedir uma revi- tecidas e assegura que “por parte da estrutura da Queima das Fitas, no
Queima das Fitas, de acordo com o são à pressa”. direcção-geral existe toda a disponi- acompanhamento e na fiscalização
artigo 76, “será revisto ordinaria- Desde 2007 que o Conselho de bilidade para rever o regulamento da mesma”.
mente de cinco em cinco anos”, no Veteranos, explica o Dux Veterano- interno da queima”. “Há uma pro- O secretário-geral da Queima das
entanto a última revisão foi feita há rum, tem elaborada uma proposta posta do Conselho de Veteranos Fitas de 2008 e 2009, Filipe Pedro,
sete havendo um incumprimento do de revisão para o Regulamento In- mas, por exemplo, este ano ainda diz que “a questão é controversa
diploma. terno da Queima das Fitas. O então não foi marcada nenhuma reunião dentro da queima” e esclarece que “a
Segundo o presidente do Conse- presidente da DG/AAC, Paulo Fer- do conselho para esse efeito”, critica. CF deve existir mas mais regulada e
lho de Veteranos, João Luís Jesus, nandes, salienta que “no final da No que diz respeito ao documento não tão vasta no que diz respeito às
“desde que o regulamento precisou queima de 2007, pôs-se em cima da elaborado pelo Conselho de Vetera- decisões que lhe compete”. Em rela-
de começar a ser revisto, nenhuma mesa a alteração ao regulamento, no nos, João Luís Jesus adianta que “a ção à revisão do Regulamento In-
Direcção-Geral da Associação Aca- entanto, não foi possível proceder à proposta vem redistribuir poderes” terno da Queima das Fitas assegura
démica de Coimbra (DG/AAC) mos- revisão por indisponibilidade dos e justifica: “neste momento há pes- que “ainda não foi revisto por falta
trou disponibilidade para levar essa elementos que viriam a compor o soas com demasiado poder dentro de disponibilidade das pessoas para
revisão a sério”. O Dux Veteranorum colégio para a alteração do di- da Queima das Fitas, como é o caso o efeito”.
6 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

ENSINO SUPERIOR
110 ANOS DE HISTÓRIA Organização
da queima
O outro lado da queima promete noite
A história da festa académica é preenchida de momentos marcantes como “diferente”
a interrupção da festa e uma Assembleia Magna de Voto para decidir a Cláudia Teixeira

sua realização ou não A Queima das Fitas conta, este ano,


ARQUIVO com mais uma noite do que o habi-
Ana Rita Santos Realização da queima tual. De acordo com o secretário-
Cláudia Teixeira vai a plebiscito geral da Queima das Fitas, Filipe
A Queima das Fitas leva o seu rumo Pedro, a comissão organizadora da
O início oficial da Queima das natural até 2003, ano em que é pro- festa académica “vai tentar que a
Fitas de Coimbra remonta à década posta uma moção, na Assembleia noite de 9 de Maio, a chamada Noite
de 1930, mas a sua génese remete Magna de 16 de Dezembro, no sen- 110 Anos, seja diferente, que seja uma
para uma festa académica já exis- tido de encerrar a festa académica noite comemorativa e não apenas
tente nos finais do século XIX. como forma de protesto contra a mais uma noite de folia no Parque da
Como conta o Dux Veteranorum, política do governo para o ensino Canção”.
João Luís Jesus, “o que começou superior. O então presidente da Filipe Pedro explica que “o que esta
por ser uma comemoração satírica DG/AAC, Vítor Hugo Salgado, de- noite tem de diferente das outras é a
do Centenário da Sebenta em 1899, fendeu uma Assembleia Magna de própria programação cultural já que
rapidamente se transformou numa Voto – órgão máximo da AAC –, ou há cinco artistas de renome nacional
festa académica com sarau cultu- seja, um referendo sobre a realiza- a actuar ao mesmo tempo em palco:
ral, um cortejo e fogo-de- ção ou não da Queima das Fitas. 4 Sérgio Godinho, Jorge Palma, Boss
artifício”. 452 estudantes, de um total de 5 AC, Lúcia Moniz e Cool Hipnoise”.
Segundo João Luís Jesus, “esta é 661 votantes, pronunciaram-se pelo “Vamos também passar um vídeo
a primeira coisa que faz lembrar “Sim” à festa académica, enquanto com momentos marcantes da
uma Queima das Fitas, e a essa pri- 1129 votaram pela suspensão da Queima das Fitas que vai abrir a
meira comemoração estudantil iniciativa. Num clima de discussão Noite 110 Anos, com o objectivo de
foram acrescentadas mais coisas e acesa, a queima acabou por ter chamar a atenção das pessoas para
a festa foi crescendo”. “Nos anos 30 lugar. outras actividades que a queima tem
juntou-se a Venda da Pasta, o Chá A festa da Academia de Coimbra e que não são muito conhecidas,
Dançante, o Baile de Gala e a Gar- constitui, desde sempre, uma im- como a Venda da Pasta e o Chá das
raiada, daí resultando a Queima portante fonte de receitas para as Cinco”, acrescenta.
das Fitas nos módulos que conhe- estruturas da AAC. Em 2006, o Re- A Queima das Fitas inicia-se esta
cemos actualmente”, explica. latório e Contas da Queima das quinta-feira, 30, com a habitual Sere-
32 anos depois, a festa acadé- Fitas de 2005 revelou um resultado nata Monumental e prolonga-se até 9
mica de Coimbra sofre a primeira líquido negativo. Na altura, em de- de Maio com as Noites do Parque. O
interrupção, naquilo que foi uma clarações à A CABRA, a comissão cartaz conta com bandas como Can-
pequena amostra do que acontece- organizadora justificou o mau re- sei de Ser Sexy, Deolinda, Buraka
ria na Crise Académica de 1969. sultado alegando a existência de Som Sistema, Morcheeba e Brandi
Corria o ano de 1962 quando a uma fraude nas entradas, o que foi Carlile.
Queima das Fitas, pela primeira investigado pelo Ministério Pú-
vez, não se realiza “devido a um blico.
confronto entre os estudantes, o re- O Conselho Fiscal da AAC
gime e as autoridades universitá- (CF/AAC), presidido então por José UC debate
rias”, conta o historiador Miguel Malta, decidiu instaurar um inqué-
Cardina. “A interrupção da queima rito para apurar a existência de ir- qualidade no
de 62 foi também devida a um pro- regularidades na actuação da
cesso de luto académico de contes- Comissão Organizadora da Queima ensino
tação estudantil, utilizando a das Fitas 2005. O parecer do
tradição como forma de reivindica- CF/AAC referiu que a gestão do or- Cláudia Teixeira
ção da autonomia associativa que çamento da festa académica de
resultou, tanto em Lisboa, como 2005 “não foi rigorosa, culminando O Auditório da Reitoria recebe
em Coimbra, na prisão de vários numa derrapagem orçamental, na quinta-feira, 30, às 9 horas, o Semi-
estudantes e no decreto de luto aca- qual se destaca o Pelouro da Pro- nário sobre Garantia da Qualidade e
démico”, acrescenta o historiador. dução”. De acordo com o órgão, a Acreditação. O encontro é organizado
Em 1969, vive-se a Crise Acadé- Comissão Fiscalizadora da queima pela UC, pelo Conselho de Reitores
mica e com ela a Queima das Fitas não havia tomado “as diligências das Universidades Portuguesas
é de novo interrompida, sendo re- necessárias para evitar o resultado (CRUP) e pela Conferência de Reito-
tomada em 1980 com o então pre- final”. res das Universidades Espanholas
sidente da Direcção-Geral da Após o parecer negativo do (CRUE), e surge no âmbito do pro-
Associação Académica de Coimbra CF/AAC, os membros da Comissão jecto “Peritos de Bolonha 2008/2009
(DG/AAC), Maló de Abreu. Central da Queima das Fitas 2005 e – Furthering Bologna Reforms”. O
Miguel Cardina afirma que “o in- EVENTOS como a queima do grelo surgiram na década de 1930 o secretário-geral foram demitidos evento conta com a participação do
terregno de 11 anos é muito impor- pela Comissão Fiscalizadora da ministro do ensino superior, Mariano
tante porque reflecte uma crítica à brão foi sendo posto em causa”. “A ram a ser vistas como algo negativo queima. Gago, do reitor da UC e presidente do
forma como os estudantes estavam grande distinção que havia entre no contexto social, houve portanto Quatro anos depois, a Comissão CRUP, Seabra Santos, e do director
posicionados em relação à própria caloiro e doutor foi diminuindo, a uma erosão das práticas mais hie- Central anuncia ter sido atingido o do Centro de Investigação de Políti-
sociedade e toda a estruturação as- capa e batina começava-se a vestir rárquicas e mais punitivas das pra- maior saldo positivo de sempre. cas do Ensino Superior, Alberto Ama-
sociada ao meio tradicional coim- cada vez menos, as praxes começa- xes”, desenvolve. Com Alice Alves ral, entre outros.

PUBLICIDADE
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 7

CULTURA
A arte escondida na AAC LEANDRO ROLIM

O MURAL dos jardins da AAC, de Abel Manta, carece de reparação e iluminação, reconhece o administrador do edifício

Embora diariamente centenas de pessoas passem por ele, poucos conhecem o vasto espólio
artístico da AAC. Nas paredes da sede e nas salas dos organismos e secções, as obras repartem-se
por murais, esculturas e até uns cornos de marfim. Por Maria João Fernandes e Sara Oliveira
associção académica rente. Já esteve completa, e do seu ambas em tons de preto e branco. tas por quem se dirigir aos dois ceiro piso da associação. Embora

A tem uma série de obras


de arte espalhadas por
todo edifício da Padre
António Vieira.
todo fazia parte uma mão, repre-
sentativa do governo, que segurava
a figura do reitor, Seabra Santos. A
estátua surgiu após o aumento das
À Rádio Universidade de Coim-
bra (RUC) chega também a arte,
não pela música, mas pela tinta.
No corredor central existem três
museus existentes na AAC. O da
secção de Fado encontra-se na sala
Tó Nogueira, por baixo da sala de
estudo. O museu do Orfeon encon-
os dois possuam centenas de
peças, o 25 de Abril fez desapare-
cer muitas que nunca mais regres-
saram às colecções a que sempre
Contudo, apesar do seu valor ar- propinas por parte da reitoria da painéis que em nada passam des- tra-se mesmo na sua sede, no ter- pertenceram.
tístico e patrimonial, algumas en- Universidade de Coimbra. Con- percebidos. O mais antigo tem sen-
contram-se degradadas e tudo, hoje a estrutura está incom- sivelmente 23 anos e comemora a PUBLICIDADE
esquecidas, outras preservadas em pleta, presa em ferros provisórios. passagem da emissão da rádio a
museus, ou dentro dos próprios O autor da escultura, Hélder Al- frequência FM. “No rules, great
organismos e secções da academia. meida, explica que “a estrutura po- radio” numa garrafa de whisky e
A história do traje, de João Abel deria ter durado muitos anos se, na “sempre no ar” são os slogans pre-
Manta, é um conjunto de sete pai- altura da instalação, tivesse sido sentes nas duas outras pinturas
néis de azulejo de 1960 que se situa bem feita no seu todo”. A figura do que assinalam diferentes épocas da
na parede lateral da sede da AAC, reitor, fora dada como desapare- rádio universitária.
dirigida para a Avenida Sá da Ban- cida, mas Hélder Almeida encon- No terceiro piso, uma espécie de
deira. Até há cerca de três sema- trou-a em pedaços nos jardins da janela abre-se nas paredes do Coro
nas, o último painel esteve AAC. “Tenho-a comigo, mas nunca Misto da UC. Mesmo sem assina-
temporariamente escondido dos mais consegui chegar a acordo tura, sítios típicos de Coimbra
olhos de quem passava, por estar com as várias direcções-gerais se- como a Torre Cabra ou a Sé Velha
sobreposto por uma lona de publi- guintes para a reinstalação”, revela estão registados numa das salas.
cidade à Linha SOS-Estudante. o autor da obra. Já Miguel Chaves da cidade oriundas de
Entretanto, foi substituída por Franco,garante que as obras do urbes de vários países, um corno
outra que publicita a Queima das jardim vão ficar concluídas até ao de marfim vindo de África, uma
Fitas. Apesar da nova lona não final deste ano, e que estão “a es- batuta cuja loja data de 1790, uma
ocultar a obra de arte, o adminis- tudar a possibilidade de reabilitar arma do século XIX, porcelanas,
trador da associação académica, a mão”. salvas ou medalhas compõem o es-
Miguel Franco, quando questio- pólio de mais de mil peças que
nado sobre o assunto, refere que a Arte “privada” estão no museu do Orfeon da UC.
nova faixa só vai estar naquele sítio Grande parte do espólio artístico Também na Secção de Fado se
durante 15 dias e que depois disso da AAC não está à vista de quem pode encontrar mais um dos espó-
“não vai ser colocada mais publici- apenas passe pelos corredores do lios da academia de Coimbra. Bra-
dade ali”. edifício. Mora entre as paredes que sões, documentos em latim,
As obras espalhadas pelos jar- montam a sede, em várias secções, quadros, um documento do rei D.
dins da AAC não se encontram em e apenas alguns as conhecem. A Carlos I de Espanha ou prémios
muito bom estado. Pinturas degra- secção de Fado da AAC tem duas que ganham as formas mais diver-
dadas e cobertas de ervas dani- pinturas de Tó Nogueira, antigo sas compõem a enorme vitrina
nhas, sem iluminação, ou uma seccionista e presidente daquela onde está parte da colecção de tro-
mão perdida da sua marionete, são secção, que datam de 1992, que em féus, obras de arte e antiguidades
alguns dos obstáculos à plena con- vez da tradicional parede, escolhe- que os vários grupos da secção de
templação das obras. ram o tecto. Numa das salas está Fado recolheram em vários países
A estátua que ainda existe nos pintado o símbolo da AAC e na do mundo.
jardins da AAC, foi outrora dife- outra está o símbolo da secção, Todas estas peças podem ser vis-
8 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

CULTURA
Livros sobre rodas
Com mais de 12 mil exemplares e 18 percursos definidos, a bibliomóvel de Coimbra percorre aldeias de toda a região,
disponibilizando a leitura a quem está longe da urbe e não conhece as paredes uma biblioteca. Por Sara Oliveira
SARA OLIVEIRA
ão 14h20 e é tempo de sair

S da Casa da Cultura de
Coimbra para a ronda da
tarde. A cor não deixa mar-
gens para confusões, pois o amarelo
inebriante ofusca qualquer dúvida.
Aparentemente simples, traz o
mundo lá dentro. Deixa-se condu-
zir pela vontade de chegar ao inte-
rior no meio do nada para assim
levar o conhecimento a quem chega
a esperar um mês por ele.
Por entre as curvas a que os ca-
minhos longos e tortuosos obrigam,
os livros são movidos por quatro
rodas, e não se deixam intimidar
pela força da oscilação. Circulam
pela região de Coimbra, e encon-
tram hoje, em 6800 pessoas, uma
porta aberta. A biblioteca itinerante
– bibliomóvel - leva aquilo a que
muitos não têm acesso, caso a “car-
rinha amarela” não passasse por ali.
A primeira paragem da tarde fica
a 25 minutos da cidade. No meio da
montanha, onde pouco mais existe
do que um café, a bibliomóvel esta-
ciona e o trânsito resume-se a um
tractor e dois carros. Engarrafa-
mento é coisa de cidade, e segundo
quem lá vive, “não faz falta ne-
nhuma”. A BIBLIOMÓVEL é visitada diariamente por dezenas de pessoas de todas as idades e de vários sítios da região de Coimbra
Lídia Inácio trabalha no café da-
quela zona. Sempre que sente a bi- muito falador, e entre um livro que “Quando nos pedem o que não veram de “deixar de fazer uma ins- vindo, e faria toda a diferença”. A
bliomóvel estacionar à frente do está na prateleira e o preenchi- temos, tentamos sempre arranjar o tituição porque os livros ficavam informatização dos empréstimos
café, vai a casa buscar o livro que mento da requisição do leitor, trata livro na biblioteca municipal e levar em muito mau estado e muitos fi- assegurava uma maior rapidez no
tem, e, expectante, volta para esco- logo de quebrar o gelo dando azo a dali a um mês à pessoa que nos caram perdidos para sempre”. O atendimento dos muitos pedidos
lher outro. Lídia pode demorar três dois dedos de conversa. Para Luís, pediu”, garante Patrícia Santos, extravio de publicações não é muito que têm, por vezes ao mesmo
meses a lê-lo que não lhe cobram “isto funciona quase como uma fa- funcionária da bibliomóvel. frequente, segundo quem lida com tempo, “num espaço de tempo tão
nada por isso, mas garante que mília”, e garante que “as pessoas Fazendo as contas, os livros pas- eles de perto, mas ainda assim curto”, garantem.
volta à carrinha “sempre que eles continuam a ter um contacto regu- sam mais tempo a circular nas dife- acontecem. “Alguns já nãos apare- Entretanto, já se passaram três
passam pela terra”. lar”. A familiaridade é a alma de rentes localidades de Coimbra que cem cá há seis anos”, lembra Luís horas, e mais um dia chega ao fim.
A biblioteca itinerante já existe muitos negócios, e na bibliomóvel a não avistam a velha universidade, Neves. Às 17h30 já ninguém espera pela
há oito anos. Luís Neves é funcio- regra não tem excepção. Da res- do que dentro da própria biblioteca O analógico ainda impera dentro bibliomóvel, e o caminho é precisa-
nário há sete, e muitos foram os ponsabilidade da Casa Municipal itinerante, pois a carrinha não leva dos poucos metros da bibliomóvel, mente o inverso. Para trás ficam li-
sorrisos que já descobriu por causa da Cultura, a biblioteca itinerante mais do que quatro mil livros. Exis- e a tecnologia ainda é terreno por vros que daqui a um mês vão
de um livro. “Há meninos que não dispõe de um cômputo bibliotecá- tem 18 percursos definidos e por desbravar. Patrícia e Luís não es- conhecer outro destino, ou a espera
conhecem a biblioteca municipal, e rio de mais de 12 mil exemplares. circularem tanto, “alguns livros condem que “um veículo maior, paciente nas prateleiras sobre
essa é a única maneira que têm de Apesar da oferta generosa, por chegam muito mal tratados”, con- com computador, internet, leitor de rodas, de que alguém os decida co-
aceder aos livros”, sublinha. É vezes surgem pedidos “invulgares”. fessa Patrícia, que explica que já ti- DVDs ou CDs seria muito bem- nhecer novamente.

Mais um caminho percorrido


A falta de divulgação foi o terceiro festival de cinema conquistou o público na noite de quer coisa que acontece palavra “português” por “indie”,
a nível nacional mais importante de Portugal. Neste 21 de Abril. “Gostei muito em Lisboa tem mais ironiza Vítor Ferreira.
momento luta para entrar nos dez da noite em que esteve cá divulgação que Outra das queixas do director
continua a ser um dos primeiros. À hora de fazer o ba- o Nicolau Breyner. qualquer outro prende-se com a equipa de projec-
principais problemas do lanço da edição 2009 do “Cami- Quando um público evento cionistas que estiveram na origem
Caminhos do nhos”, o director do festival, Vítor está 60 minutos à con- das falhas técnicas verificadas ao
Ferreira, mostra-se satisfeito mas versa com um realiza- longo das projecções. “Curiosa-
Cinema Português admite que ainda há muito traba- dor é porque se sentiu mente, apesar de termos uma
lho pela frente. “Foi uma edição identificado. Isso é equipa de voluntários, as maiores
François Fernandes bem montada. Tivemos mais pú- muito importante para falhas vieram dos prestadores de
blico que no ano passado e de- nós”, comenta Vítor Ferreira. serviços profissionais, como os
As câmaras desligaram-se, as monstrámos que o festival tem No entanto, o “Caminhos” conti- projeccionistas que trabalharam
luzes apagaram-se e soou o derra- pernas para andar”, refere o direc- nua a enfrentar um desafio que tem connosco e que demonstraram
deiro “corta!”. Terminou, no pas- tor. “No entanto, ainda continua a vindo a ser recorrente ao longo das uma clara falta de atenção e profis-
sado domingo, 26, a XVI Edição do ser muito difícil organizar um fes- últimas edições. A organiza- sionalismo”, comenta.
Festival Caminhos do Cinema Por- tival desta dimensão com uma ção acusa a imprensa na- “O meu querido mês de Agosto”
tuguês. Entre longas e curtas-me- equipa de voluntários”, continua. cional de centralizar a foi o grande vencedor da da XVI
tragens, ensaios visuais e Este ano passaram pelo festival cultura e de continuar a noutro edição do Caminhos do Cinema
animações, foram mais de 38 horas conimbricense alguns dos grandes não dar o merecido ponto do Português. O realizador Miguel
dedicadas ao cinema português. O nomes do actual cinema português. destaque ao evento. país”, comenta o director Gomes marcou presença na gala de
evento organizado pelo Centro de Estiveram presentes Alexandre Ce- “Apesar de tudo ainda do festival. “Talvez a solu- encerramento no Teatro Acadé-
Estudos Cinematográficos da As- brián Valente, João Botelho e, so- não conseguimos a aten- ção passe por alterar o tí- mico de Gil Vicente para receber o
sociação Académica de Coimbra já bretudo, Nicolau Breyner que ção que desejávamos. Qual- tulo e substituir a Grande Prémio do Festival.
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 9

CULTURA
TEATRO NA AAC
cultura
Inquilinos da casa dos sonhos por cá
Dá-se vida a textos. É-se quem não se seria lá fora. GEFAC, TEUC e CITAC
garantem a vanguarda de Coimbra no panorama das artes performativas.
28 ABR

Por Ana França, Filipa Magalhães e Eliana Neves EXPOSIÇÃO TRUFFAUT


Uma Viagem Pela Filmografia,
Personagens e Vida do Cineasta Francês

O
Grupo de Etnografia e aquecer as vozes e relaxar os mús- D.R.
FNAC • ENTRADA LIVRE
Folclore da Academia de culos faciais, enquanto caminham,
Coimbra (GEFAC) tem a ora murmurando ora gritando. O
porta escancarada. É ba-
rulhento. São mais de trinta pes-
eco propaga-se pelo espaço. No iní-
cio do ensaio, despem-se ali
28
ABR
soas - dançarinos, actores e mesmo e vestem a indumentária
músicos. Transportam-se caixas de branca das personagens. VI RALLY-PAPER NOCTURNO
roupa e instrumentos de sopro. O palco subleva-se num jogo de Queima das Fitas • 19H
Traz-se comida e cerveja. luzes. “A realidade… a realidade é ENCONTRO NOS JARDINS DA AAC
O espaço é pequeno para tanta que sei muito pouco sobre reali-
gente. À esquerda amontoam-se dade”, declama um dos actores.
cadeiras em fila, escondidas por ca-
sacos, guarda-chuvas e malas. A or-
ganização é contra-natura.
Depois da breve actuação, for-
mam um círculo e dispensam 20
minutos para ouvir as correcções
29 31
ABR
a

MAI
Ao pé da porta, um cinzeiro do encenador, embora também se
enorme. No canto oposto, uma ouçam sugestões amistosas por UMA CARTA GEOGRÁFICA
mesa de aspecto frágil sustenta parte do elenco. “O que há de ori- Exposição
uma aparelhagem de aspecto an- ginal no CITAC é o seu espírito co- TAGV • ENTRADA LIVRE
tigo. Do lado direito, um espelho munitário, cada um faz uma coisa”,
acompanha toda a parede. Isto realça Ziemilski, pois, apesar de ter
também é uma academia de dança. chegado com uma ideia clara sobre 29
Ao fundo da sala, pequenos rectân- o projecto que queria por em prá- ABR
gulos entreabertos passam por ja- tica “há muito espaço no início COLDFINGER
nelas. onde todos dão sugestões e enfo-
Música na FNAC
Fazem-se alongamentos e exer- ques diferentes”. É este o tipo de 22h30 • Entrada livre
cícios vocais. Quem passasse lá relação que preza com os seus ac-
ANDRÉ FERREIRA
fora… Mandíbulas estalam entre o tores, que acabam por beneficiar
que parecem uivos ou gritos. progressivamente com a aprendi-
O GEFAC tem mais de quatro dé- zagem de novas componentes téc- até
cadas. É um grupo diferente. Res-
salvam a simbiose entre a
contemporaneidade e os traços
nicas.
Neste ensaio em particular, a
equipa do CITAC tinha descoberto
30 ABR
mais antigos das nossas tradições. um hipnótico efeito de filmagens.
SONHAR PORTUGAL
Dos textos que trabalham, sempre Vê-se uma das actrizes “projec-
antologias de contos e testemunhas tada” na parede, como num limbo Exposição de José Julio Barros
de oralidade antiga, extraem trejei- de sombras de si própria, desdo- GALERIA ALMEDINA • ENTRADA LIVRE
tos rurais que depois reconhecem bradas e cintilantes, que se afastam
nos gestos da cidade. Adério e logo retornam: “Conseguimos”, até
Araújo, um dos encenadores, pede
ao elenco que represente trivialida-
exclama-se, e todos batem palmas.
30
ABR
des de uma rotina. A ideia do con- O aroma da personagem
tágio urbano é transmitida através emana do actor CICLO 25 DE ABRIL
de gestos limpos que variam entre 20 horas, primeiro piso do edifício Cinema Documental
o simples verificar de horas até ao da Associação Académica de Coim- TAGV • 3 ¤
correr para apanhar o autocarro ao bra (AAC). Abre-se a porta pesada
mesmo tempo que se transporta da sala de ensaios do Teatro de Es-
uma mala pesadíssima.
Nesta peça, com nome provisó-
rio de “Você está aqui”, a ideia é
tudantes da Universidade de Coim-
bra (TEUC) e de imediato se ouve
alguém que fabrica um choro. Os
30 ABR
despojarem-se dos adornos etno- nove actores que integram a nova
DAKOTA SUITE
gráficos que normalmente marcam peça, “Popo”, a estrear no dia 7 de
Música na FNAC
as suas actuações. Querem ser mais Maio, já se encontram devida- OS ENSAIOS prolongam-se pela noite dentro, em vésperas de estreia 22h30 • Entrada livre
“hoje”, explorar o isolacionismo mente caracterizados. Uma actriz
próprio da vida citadina, a interac- de pé remenda um chapéu à dos, colchões de espuma, latas de garante a liberdade dos seus acto-
ção que é sempre mais do que um pressa. As camisas ajustam-se aos cerveja, cabides despidos, pincéis. res, não fosse o TEUC um “óptimo 30
ABR
encontro fortuito, mas ainda assim corpos com alfinetes de fralda. De- Um carrinho de compras. laboratório de experimentação”.
alienado pelo frenesim quotidiano. senrasques que o espectador não Pedro fala de um TEUC que res- Diz-se orgulhoso do seu jovem A CINDERELA
No Círculo de Iniciação Teatral vê. pira sob o estigma da tradição. Fala elenco, desprendido e ousado, sem Bailado Clássico
da Academia de Coimbra (CITAC) A azáfama é grande. Aspira-se o de 70 anos de história que pesam o os vícios dos actores profissionais. TAGV • 10¤
desenvolve-se um conceito dife- longo tapete azul que simula o tanto que a responsabilidade pesa. O texto é de Georg Büchner, um
rente. A peça “Reality Show”, cuja palco. Fuma-se muito, e o cigarro Este ano, na décima edição do Fes- jovem alemão frustrado com a de-

7 13
encenação é levada a cabo por Woj- na mesma mão agita-se para dar as tival Anual de Teatro Académico de cadência dos ideais da Revolução
tek Ziemilski, estreou ontem, 27, indicações de última hora. Pedro Lisboa (FATAL), o TEUC terá hon- Francesa. Uma biografia à altura
a
aqui mesmo, neste quarto escuro Malacas, o encenador, acomoda- ras de abertura. O evento vai ho- da ironia com que disseca o ultra-
MAI
do segundo piso da AAC. se nas bancadas que formam um menagear Paulo Quintela, director romantismo da época. A certa al-
A porta aberta deixa antever um mini-anfiteatro. Apenas um holo- artístico do núcleo ao longo de 30 tura, depois de muito se questionar IX FEIRA DE ARTESANATO
espaço que se caracteriza em torno fote. No fundo da sala, pousada na anos. Privilegia a minimização do sobre o nó que tinha dado no lenço,
Praça da República
de uma única palavra - opaco. Pa- mesa, essa luz quente desenha um cenário. “Arranjar fogo-de- eis que o Rei se lembra – “O povo!
Entrada Livre
redes negras tal como o chão e o círculo restrito de intimismo. O artifício”, nas palavras do encena- Era do povo que me queria lem-
tecto. Junto a uns improvisados fumo mistura-se com o pó e mate- dor, corresponde a proteger os brar!”.
bastidores destacam-se dois cadei- rializa o feixe de luz que se entra- actores da pior maneira, “escon- Pedro apaga o cigarro e gesticula
rões em tons grená. nha nos materiais dispostos dendo-os”. Para Pedro, este des- para a régie. Entra o som. “Um mi-
Os oito actores começam por aleatoriamente. Há escadotes, teci- prezo da componente cénica nuto de silêncio e começamos”. Por Sara Oliveira
10 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

DESPORTO
A G E N D A D E S P O R T I V A

HÓQUEI EM PATINS 3 FUTEBOL DISTRITAIS XADREZ 13 ANDEBOL


MAI MAI
APDG Penafiel vs. Académica C.O.J.A vs Académica Open Queima das Fitas Académica vs AD Sanjoanense
2 21H • PENAFIEL PARQUE DE JOGOS DA C.O.J.A
10 10H30 • CENTRO COMERCIAL DOLCE VITA 21H PAVILHÃO 3 DO ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO
MAI MAI

CAMPEONATOS NACIONAIS UNIVERSITÁRIOS 2009

AAC consegue título em futsal D.R.


A Académica esteve
representada na prova
universitária em seis
modalidades e
regressou com o título
nacional de futsal
Catarina Domingos

O último dia da participação aca-


demista nos Campeonatos Nacionais
Universitários (CNU) deste ano ter-
minou com a conquista da Associa-
ção Académica de Coimbra (AAC) do
título de campeão nacional de futsal.
Com o triunfo, a equipa de Coim-
bra vai representar Portugal nos
Campeonatos Europeus Universitá-
rios em Podgorica, Montenegro,
entre os dias 20 e 26 de Julho. É a se-
gunda vez que a Académica é a re-
presentante nacional nos europeus
da modalidade, tendo conseguido
como melhor resultado um quinto
lugar, em 2007, na Eslovénia. ACADÉMICA venceu os estudantes do Minho por 0-4
A AAC venceu a Associação Acadé-
mica da Universidade do Minho passado, a turma coimbrã tinha con- dores federados que jogam ao mais Sem o tetracampeão Nuno Santos, Já no andebol feminino, a AAC al-
(AAUM) por 0-4, com dois golos da seguido apenas o quinto lugar. alto nível no futsal em Portugal, com que deixou de ser estudante univer- cançou o quarto lugar, depois de per-
autoria de João Cunha. Picasso e Mi- Este é o primeiro ano de João Oli- grandes capacidades físicas e tácti- sitário, este ano o badminton da Aca- der com o Instituto Politécnico de
guel Silva foram os outros marcado- veira no comando técnico da equipa cas”, defende. Na fase de grupos, a démica esteve representada por Leiria por 42-29. Miguel Catarino,
res de serviço. de futsal da Académica, o que deixa o AAC venceu dois jogos e perdeu um. outros três atletas. Em singulares que orienta a equipa, sublinha que foi
“Foi uma vitória suada, um jogo di- treinador “muito orgulhoso”. “Ainda Nas meias-finais, a AAC eliminou a masculinos, José Silva conquistou uma classificação “honrosa” e que
fícil de concretizar, com um adversá- mais sendo o meu primeiro ano na AAUBI nas grandes penalidades (4- um segundo lugar. Em pares mascu- “serviu para descobrir novas atletas”.
rio aguerrido e lutador que nos impôs Académica, acho que melhor era im- 6), após um empate a dois golos. linos, a AAC também alcançou o se- No basquetebol feminino, a Acadé-
algumas dificuldades”, classifica o possível”, confessa. gundo posto pela dupla Nuno mica ficou-se pela fase de grupos e
técnico da equipa da Académica, Nas palavras do técnico, “o grande Outros resultados Baía/José Silva. “Dignificámos a Aca- não conseguiu revalidar o título con-
João Oliveira. objectivo” a concretizar é “uma clas- Nos Campeonatos Nacionais Univer- démica e demos o nosso melhor”, quistado em 2008. Pela fase de gru-
A AAC sucede à Associação Acadé- sificação melhor que esse quinto sitários, realizados pelo Instituto Po- considera Nuno Baía. Pela fase de pos também ficou a equipa de
mica da Universidade da Beira Inte- lugar”. Na hora da vitória, João Oli- litécnico do Porto, entre 20 e 25 de grupos ficaram Sara Sintra em singu- voleibol masculino, assim como o
rior (AAUBI), que tinha conquistado veira destaca a qualidade da equipa Abril, a AAC fez-se representar em lares femininos e a dupla José ténis, com a representação de Pedro
o troféu na época transacta. No ano como o factor de sucesso. “São joga- seis modalidades. Silva/Sara Sintra em pares mistos. Cristóvão.

Olivais a caminho da revalidação


SÓNIA FERNANDES
A equipa feminina Ana Fonseca quem mais se destacou final, onde vai encontrar o Vagos, que
com três triplos marcados. eliminou o CAB Madeira.
garantiu a presença No segundo período, o Olivais foi
na final do campeonato mais dominador. Durante os primei- Em busca de
nacional. Novo triunfo ros minutos, a equipa conseguiu des- mais um êxito
colar-se no marcador, com Ambrosia No fim do encontro, o técnico José
está mais perto Anderson a evidenciar-se com sete Miguel Araújo considerou o resultado
pontos. O Olivais saiu para o inter- justo e destacou a importância de não
Catarina Domingos
André Ferreira valo com uma vantagem de dez pon- recorrer ao terceiro jogo para alcan-
tos que dava conforto para gerir o çar a final. “Estivemos melhor no ata-
Na segunda jornada das meias-fi- resultado até ao fim. Apesar disso, a que e foi isso que nos deu o controlo
nais da Liga Feminina, a equipa do segunda metade do jogo voltou a ser do jogo e obrigou a equipa do Algés a
Olivais Coimbra venceu o Algés por mais equilibrada, com reflexo nos jogar de forma diferente”, acrescen-
73-64 no passado sábado. A equipa parciais (14-16 no terceiro período e tou.
de José Miguel Araújo já tinha ven- 21-20 no quarto período). Depois da conquista da Supertaça
cido o primeiro encontro, pelo que No terceiro período, o Algés ainda feminina, da Taça de Portugal e da
não foi necessário recorrer ao terceiro se aproximou da equipa adversária, participação nas competições euro-
jogo. mas, com o desempenho defensivo de peias da Eurocup Women, o Olivais
Para esta partida, o técnico do Oli- Ambrosia Anderson e com a expulsão tenta alcançar mais um êxito esta
vais apostou no mesmo “cinco” inicial de Amanda Jackson do lado da temporada. José Miguel Araújo lem-
da primeira jornada do play-off. O equipa lisboeta, o jogo não mudou de bra que a equipa tem muitos minutos
primeiro período do jogo foi equili- rumo. jogados, devido à participação euro-
brado e tal reflectiu-se no empate 17- Até ao final, o Olivais geriu a van- peia. “Para acabar em beleza, quere-
17. Nestes primeiros dez minutos foi tagem e assegurou a presença na mos o título”, sublinha.
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 11

DESPORTO
NUNO PILOTO • CAPITÃO DA AAC/OAF
P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O
Um mestre a meio campo BASQUETEBOL
Com 27 anos, Nuno Piloto entregou a sua tese de mestrado. O capitão fala Na última
jornada da
como é ser jogador-estudante, antevê as hipóteses da Académica para o fase regular
da Liga Por-
que resta do campeonato e conta que a renovação ainda está indefinida tuguesa de
Basquete-
SÓNIA FERNANDES
bol, a equipa sénior da Acadé-
Catarina Domingos mica venceu o Vagos por
André Ferreira 74-76. A turma de Norberto
Alves termina a primeira fase
Vieste treinar para a Acadé- no quinto lugar com 50 pon-
mica porque sabias que vi- tos, os mesmos que a equipa
nhas estudar para Coimbra. de Aveiro, que tem vantagem
Como é que tudo se passou? no número de pontos marca-
Fiz a candidatura em função da dos e assim consegue o quarto
minha média e daquilo que pre- lugar. No alinhamento para os
tendia. A proximidade com Viseu play-off, a AAC vai voltar a en-
fazia de Coimbra uma boa hipó- contrar o Vagos.
tese. Como também queria conti-
nuar a jogar futebol, vim treinar
aos juniores da Académica. Na al-
tura vim acompanhado do treina- VOLEIBOL
dor do meu clube, Os Repesenses. A equipa
Ele conseguiu que eu viesse cá trei- sénior femi-
nar e depois tudo se passou com nina de vo-
normalidade. Acabei por ficar. leibol da
Académica
Estás na Académica desde de perdeu com
2002, como é ser capitão da o líder Ginásio Clube de Santo
Briosa? Tirso por 1-3, em jogo da se-
Acaba por ser invulgar para um gunda fase da Série dos Últi-
clube como a Académica. É um mos da Divisão A2. A AAC
clube diferente e ser um clube di- soma agora 23 pontos e está
NUNO PILOTO chegou à Académica em 2001
ferente passa por ter jogadores da no terceiro lugar da série. A
casa que simbolizem o binómio jo- sempre como jogador profis- tes áreas. Os parâmetros que O que é que podes adiantar? equipa de Santo Tirso lidera
gador-estudante. Anteriormente, sional. Entregaste há pouco foram estudados foram o risco car- Não está mesmo nada definido e com 27 pontos. Na próxima
havia o Miguel Rocha, o Pedro tempo a tese de mestrado. diovascular e o risco tromboembó- não há muito mais a dizer. jornada, a formação de Rui
Roma ou o Paulo Adriano, que Como é conciliar as duas coi- lico. A EPO beneficia a oxigenação Freitas recebe o Clube Des-
foram pessoas que souberam o que sas? muscular e leva ao aumento da O facto de seres “o menino da portivo da Póvoa.
é ser da Académica e os valores O primeiro ano foi o ano de junio- performance. Mas há os perigos de casa” da Académica pode in-
que se têm de defender, e que me res. Treinávamos ao final da tarde aumentar a viscosidade sanguínea fluenciar?
passaram a mística deste clube. e acabou por se tornar mais fácil. e as paragens cardíacas. Sinto-me acarinhado e isso é um HÓQUEI EM PATINS
Nos anos seguintes, na equipa B, argumento de peso para que eu A Acadé-
Quando o Pavlovic saiu, foste já tínhamos treinos bidiários, mas Consideras-te um exemplo fique. mica venceu
deslocado para médio defen- dava para conciliar, mesmo com por conseguires conciliar os o Clube de
sivo, uma posição que não te é aulas laboratoriais. Com a vinda estudos com o desporto? Para quando uma Académica Patinagem
estranha, mas tu eras mais para equipa A também consegui Gosto mais de me ver como um europeia? de Beja por
um médio de transição. É a conciliar. No ano de estágio curri- exemplo para os mais novos, no São passos graduais. A Académica 2-1 em en-
posição ideal para ti? cular não me criaram entraves. Foi sentido que entendam a necessi- está num bom caminho. Temos contro da quarta jornada do
No ano passado, quando o Milos com naturalidade que tenho este dade de continuar, conciliando os mais jogadores portugueses, com apuramento do campeão do
[Pavlovic] se tinha lesionado, aca- percurso académico. Também co- estudos, sobretudo naquela transi- mais qualidade. Temos condições Campeonato Nacional da 3ª
bei o campeonato nessa posição. mecei a jogar futebol com a condi- ção para o futebol sénior. É nesse em termos de infraestruturas. Divisão. A turma de Miguel
Não é a minha posição de origem, ção de ter sempre boas notas. É passo que muitos jogadores se per- Passa agora por haver uma estru- Vieira subiu ao segundo lugar
mas também não é uma posição claro que é com sacrifícios e muita dem, por deslumbramento. Por le- tura mais forte e que possibilite, da tabela classificativa com
que me desagrade. Com o Domin- força de vontade. sões ou pela brevidade da carreira, com o recrutamento de jogadores, sete pontos. Na quinta jor-
gos, comecei como defesa direito há sempre a necessidade de ter- esse acrescento de qualidade. nada, a AAC desloca-se ao
depois passei a número oito, uma mos algo a que nos agarrar. norte para jogar com o
posição em que o médio tem mais APDG/Penafiel, que perdeu 7-
AS ESCOLHAS
liberdade para atacar, mas tam- TEMOS TIDO UM A Académica está a fazer o 4 com o Valado de Frades.
DO CAPITÃO
bém defender. Jogar a médio de- melhor campeonato dos últi-
fensivo é uma posição a que me CAMPEONATO EM mos anos. Como é que o bal- Melhor jogador da liga
estou a adaptar, porque obriga a CASA AO NÍVEL DAS neário está a sentir isso? Liedson ANDEBOL
um outro tipo de posicionamento Sentimos que temos um grupo Melhor jogador do mundo Na quarta
e uma restrição de movimentos.
MELHORES EQUIPAS unido e coeso e isso é o ponto fun- Cristiano Ronaldo jornada da
Mas estou a gostar. damental para que tudo corra bem Melhor Clube do Mundo fase comple-
Fala-nos um pouco da tua dentro do campo. Temos tido um Barcelona mentar do
Descreve o que sentiste no tese de mestrado. campeonato em casa ao nível das Cidade para visitar Campeo-
golo que marcaste ao Bele- O título é “A utilização da rhEPO melhores equipas. É natural que, Miami nato Nacio-
nenses, não sabias para onde no doping — Estudo dos efeitos estando a manutenção conseguida, Coimbra nal de 2ª Divisão, a Académica
ir depois de marcares… cardiovasculares e metabólicos em ficar no oitavo lugar é o objectivo Tradição e vida universitária venceu o Batalha AC por 20-
Era para ir para o lado da Mancha ratos submetidos a exercício fí- mais aliciante. É algo tangível e Académica 26. A equipa de Ricardo Sousa
Negra, mas lembrei-me da injus- sico”. Falei com o Instituto Farma- que nós procuramos obter. Passado, história, simpatia e soma agora 36 pontos. Na pró-
tiça que foram as faixas que puse- cologia Terapêutica Experimental, carinho xima ronda, a AAC recebe a
ram depois do jogo com o Vitória onde tinha feito a tese de estágio. Quando fica definida a pasta Domingos Paciência AD Sanjoanense, segunda
de Setúbal. As faixas foram ofensi- Na altura eles estavam a utilizar a da renovação do contrato? Importante, porque apostou em classificada com menos três
vas e nós não merecíamos. Ia para EPO (Eritropoietina) num estudo Quero ver a minha vida resolvida mim e tive maior projecção pontos. A equipa sénior femi-
lá, mas hesitei e fiquei com os animal e aproveitamos essa EPO no final da época. O prazo que graças a ele, motivador, rigoroso nina perdeu com a AD Sanjoa-
meus colegas. para submeter ratos a exercício fí- tenho estabelecido será até ao final Sonho nense por 16-32.
sico. Fomos vendo as alterações de Maio, que coincide com o final Jogar pela Selecção Nacional
Terminaste a licenciatura que foram produzidas em diferen- do campeonato e a ida para férias. Catarina Domingos
12 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

TEMA
D.R.

Q
uando à meia noite e reuniram em Lisboa para pintar um
vinte da madrugada de painel (de 4,5 por 25 metros) livre-
25 de Abril se ouviu mente e sem esquema prévio. Um
“Grândola Vila Morena” dos artistas a participar na iniciativa
na Rádio Renascença, es- foi Eduardo Nery (ver caixa).
tava dado sinal. Quando as tropas O crítico de arte e professor cate-
comandadas por Salgueiro Maia cer- drático da Universidade de Lisboa,
caram o quartel do Carmo, em Lis- Rui Mário Gonçalves, refere a pro-
boa, era o presságio de que a pósito deste painel que “a ideia era
sociedade portuguesa estaria prestes ver como o público ia reagir, criar
a sofrer uma mudança. A Revolução uma colaboração popular”. Os artis-
de Abril de 1974 trouxe profundas al- tas consideravam “que fazer uma
terações, sendo uma delas a liberta- pintura mural numa tarde era um
ção da arte. Murais, cartoons, grande feito”, mas com a intervenção
cartazes, esculturas e pinturas mos- da população o painel acabou por
tram-nos hoje a revolução que se ficar concluído muito rapidamente.
viveu há 35 anos, mas que ficou re- A obra acabou por ser, algum tempo
gistada das mais diversas formas. depois, destruída num incêndio.
“O 25 de Abril libertou consciên-
cias, libertou vontades e libertou a Cartoon - “despoletador
arte”. É assim que o arquivista do de consciências”
Centro de Documentação 25 de Abril Mesmo durante o regime, o cartoon
da Universidade de Coimbra, José foi usado para chamar a atenção da
Patrício, define a importância da re- sociedade, provocar um despertar
volução dos cravos para a conquista para a realidade do país e para a ne-
da liberdade de expressão artística. cessidade de mudança, apesar das li-
Durante o Estado Novo, os artis- mitações impostas pela censura.
tas não pararam de criar, mas com a “Sempre foi um despoletador de
democracia conquistada e a abolição consciências, ”, afirma o crítico e es-
da censura, os movimentos artísticos pecialista em cartoon, Osvaldo
adquiriram uma nova expressão es- Sousa.
tética. Nas palavras de José Patrício, A partir de 1969, houve uma certa
a revolução “entrou sem pudor pelas abertura nesta área e no jornal “O
diferentes artes no dia a seguir ao Século” artistas como Baltasar e João
seu eclodir”. Martins, que integravam as oficinas
Os jornais foram os primeiros a re- gráficas do jornal, voltam a publicar
ceber os sinais de mudança. Os trabalhos, delineando uma nova ten-
ideais, os sentimentos e as opiniões dência política. “Muitas vezes, pen-
anteriormente oprimidas ganharam savam que estavam a ser demasiado
expressão pública, surgindo novas ousados ou irrevrentes. Depois, veio-
formas de fazer títulos, novas cores se a descobrir que o próprio Marcello
e grafismos. Isto porque, segundo [Caetano] usou os cartoonistas para
José Patrício, “as pessoas sentiram mostrar ou para fingir que tinha uma
que podiam escrever o que queriam, certa abertura. Foram um pouco uti-
porque a vida era nova e a existência lizados, mas tiveram um papel im-
apaixonante”, considera. portantíssimo”, salienta o crítico.
Também “A Mosca”, suplemento
União pelos ideais do Diário de Lisboa, teve um papel
de Abril importante ao publicar trabalhos do “CELEBRAÇÃO DOS 30 ANOS DO 25 DE ABRIL” é uma das obras presentes na exposiçâo de António Colaço
A 7 de Maio de 1974, constitui-se um artista João Abel Manta, que tenta
agrupamento que se designou de recriar o humor gráfico dando uma mostrar que “o nacionalismo” portu- 70, o entusiasmo abrandou e conti- anúncios a iniciativas, cartazes de
Movimento Democrático de Artistas grande importância à componente guês deveria ir além da mentalidade nuaram em actividade apenas os ar- propaganda e de contra-propaganda
Plásticos (MDAP). Num artigo da re- plástica dos trabalhos, sem se limi- dos três F, Fátima-Fado-Futebol, tistas que realmente faziam do partidária, que “procuravam valori-
vista Flama - “Movimento Democrá- tar a mostrar o desenho de humor que predominou durante o regime cartoon a sua profissão. zar determinados objectivos e con-
tico dos Artistas Plásticos: a como uma simples anedota ou crí- salazarista. ceitos como a liberdade, a
intervenção necessária”, de 2 de tica. Com a revolução, o cartoon popu- democracia e a unidade”.
Agosto de 1974 - podia ler-se sobre o Manta é um dos artistas mais re- larizou-se e muitos artistas que antes O cartoon foi um Rui Mário Gonçalves recorda que
MDAP: “é um agrupamento de ar- conhecidos no que toca ao cartoon , se dedicavam exclusivamente às “os partidos mais pequenos tinham
tistas antifascistas que se unem em embora se tenha retirado ainda na artes plásticas passaram também a
“despoletador de os cartazes mais elaborados, pois ti-
moldes de classe profissional, resul- época de 70 e rejeite a designação de trabalhar no desenho consciências” antes e nham a necessidade de um lugar de
tante de uma tomada de consciência cartoonista. Se- humorístico. Passa destaque no panorama político”. Já
para uma intervenção politizada, na gundo Osvaldo de a existir “uma pa- depois do 25 de Abril nos grandes partidos, lembra, “não
nova realidade portuguesa, após o Sousa, foi “um pin- leta incrível de havia tanto essa preocupação, pois
golpe de Estado do 25 de Abril”. O tor que teve uma diferentes opi- tinham os seus líderes como figuras
autor do artigo, Eurico Gonçalves, necessidade cívica niões políticas, Cartaz - o papel político principais”. Segundo o crítico de
acrescentava ainda que, “não se defi- de intervenção. É uma grande pa- Outra das manifestações artísticas arte, o Partido Comunista dos Tra-
nindo como partido político, o quase como um nóplia de estilos com maior visibilidade durante a re- balhadores Portugueses / Movi-
MDAP denunciará os processos fas- pedagogo que estéticos e formas volução foi o cartaz. Usado como mento Reorganizativo do Partido do
cistas e reaccionários atentatórios tenta ensinar e de expressão”, forma de propaganda pelo Movi- Proletariado (PCTP/MRPP) era um
das liberdades, deveres e direitos dos abrir os olhos à refere Os- mento das Forças Armadas e pelos exemplo de partido com pouca ex-
artistas”. sociedade”. valdo Sousa. partidos, deu cor e expressão aos pressão que se valia dos cartazes.
A respeito deste movimento, é de Para o crítico Mas, ainda ideais políticos. Segundo Manuel Au- “Usava cores como o amarelo e o ver-
destacar uma festa realizada em de arte, Abel durante a gusto Araújo [profissão], surgiram melho porque achavam que consti-
Junho de 1974, em que 48 artistas se Manta tenta década de cartazes de diferente natureza, como tuia um sinal maoísta”. “Mas penso

TRAÇOS DA REVOLUÇÃO
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 13

TEMA
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO 25 DE ABRIL

QUANDO OS ARTISTAS
PLÁSTICOS SE UNIRAM

“A primeira reunião aconteceu


no interior da Galeria 111. Sobre
ela já passou tempo de mais para
me lembrar quantos artistas es-
tiveram na formação do Movi-
mento Democratico de Artistas
Plásticos (MDAP), mas seriam
pelo menos 50 ou 60, alguns
com um passado de anti-fas-
cismo conhecido, outros filiados
na clandestinidade em partidos
de oposição ao regime, outros in-
telectuais de esquerda. Aliás,
todos o eram, independente-
mente do seu ideário político
próprio.” É desta maneira que o
artista plástico Eduardo Nery
recorda os primeiros passos de
um movimento do qual fez parte
juntamente com artistas como
Júlio Pomar e João Abel Manta.
O artista, que em 1969 foi um
dos fundadores da Comissão Na-
cional de Apoio aos Presos
Políticos, explica que a 7 de Maio
de 1974, data em que se auto
constituiu o MDAP, poucos
sabiam ao certo o que se pre-
tendia fazer. “Antes de mais, que-
riam manifestar o seu repúdio
pelo regime fascista e colocar-
se claramente ao lado das forças
revolucionárias.”, esclarece.
Uma das iniciativas levadas a
cabo pelo movimento realizou-
se a 10 de Junho de 1974,
quando 48 artistas, tantos quan-
tos os anos de duração do
regime fascista, se reuniram num
pavilhão à beira Tejo para fazer
uma pintura colectiva a fim de
demonstrarem o apoio à rev-
olução.
Na opinião de Eduardo Nery,
MURAL organizado pelo Movimento Demorático dos Artistas Plásticos em 1974 contou com a colaboraçâo de populares “esta festa foi espantosa. Havia
imensa gente que passou pelo
que as pessoas não perceberam isso”, tiva partiu da União de Resistentes um movimento contra a minha pes- o arquitecto e militante do PCP, Ma- pavilhão sob um calor tórrido e
considera. Anti-Fascistas Portugueses (URAP). soa, afirmando que a igreja não é um nuel Augusto Araújo, partilha da intensíssimo. Muitos pintores
O artista relembra o facto de o mo- local de teatro”. No entanto, e apesar mesma opinião, afirmando a existên- conseguiram esbater as fronteiras
A arte pública numento estar construído entre um da polémica, Hélder Batista consi- cia de uma arte não de Abril, mas entre o quadrado de tela a si
Para além das artes gráficas, ocorre- dera que, pela presença das pessoas com maior vitalidade nessa época. destinado, uma proeza difícil,
ram também transformações no que na inauguração, a obra foi com- “Os criadores que interviram nesse visto cada um ter o seu estilo
toca à construção de esculturas de preendida. período utilizaram, como muitos próprio. Um dos aspectos mais
rua. Elementos como a liberdade, o deles já utilizavam antes, os mais va- interessantes foi o facto de os
asssociativismo e a paz foram am- “Não acredito riados recursos - da caricatura à lí- artistas plásticos se terem organi-
plamente retratados, bem como a fi- na arte da revolução” rica, da sátira à subversão zado tão bem e em tão poucos
gura do trabalhador nas várias Apesar de existirem várias obras e iconográfica”, refere. Actualmente, dias”.
profissões, além do papel da mulher manifestações artísticas relacionadas há ainda artistas interessados em re- O MDAP durou pouco tempo,
enquanto mãe, esposa e trabalha- com a revolução, algumas opiniões tratar o espírito de Abril. Segundo foi perdendo força quando al-
dora. A própria concepção de muni- convergem para a ideia de que não Hélder Batista, “continuam a surgir guns artistas começaram a movi-
cipalismo mudou. Com a “Os partidos mais houve uma arte do 25 de Abril pro- encomendas de obras ou concursos mentar-se de formas diferentes
legitimidade democrática conquis- pequenos tinham priamente dita. “Não acredito na arte sobre o tema”. Prova disso é a recente na conjuntura política da altura.
tada, surgem novas competências e da revolução; não creio que tenha tra- exposição “Abril, Ânimos Mil” do ar- “Começaram a aparecer as
um maior suporte financeiro, o que os cartazes mais zido alguma coisa de importante ao tista António Colaço, que está patente primeiras fracturas e algum mal-
permite o surgimento dos primeiros nível do desenvolvimento da arte até dia 9 de Maio, na Associação 25 estar pela dificuldade de se en-
monumentos comemorativos du- elaborados” contemporânea”. Esta é a opinião do de Abril, em Lisboa. Segundo Colaço, tenderem as razões subjacentes
rante as décadas de 80 e 90. artista plástico Julião Sarmento, para “Abril foi e deve continuar a ser um no pensamento de alguns artistas
A 1 de Junho de 1996, foi inaugu- Cine-Teatro e uma igreja, situação quem a revolução permitiu, isso sim, mês de actos. O passado e o futuro pretendendo ter maior protago-
rada, em Montemor-o-Novo, uma que, na altura, gerou polémica. “O “uma maior circulação de ideias e estão fundidos num presente que nismo”, revela Eduardo Nery.
escultura de Hélder Batista. A inicia- padre da terra fez, num jornal local, uma prática artística livre”. Também queremos sempre vivo”.

Do vermelho e amarelo dos cartazes políticos ao preto e branco dos cartoons, o 25 de Abril
trouxe consigo a explosão de uma corrente artística aprisionada até então pelo cizentismo do
regime. Ainda hoje, a Revolução de Abril está presente na cultura artística portuguesa. Por
Catarina Fonseca e Andreia Silva
14 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

CIDADE
ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

Coimbra é uma cidade


“relativamente” segura

A natureza é instável e precisa de pouco tempo para instaurar o caos numa cidade.
Embora sem grande historial de catástrofes naturais, Coimbra não deixa de ser um alvo.
Fomos perceber se estamos bem protegidos
dante dos Bombeiros Sapadores de damenta. O factor humano bate a na- tema de segurança contra sismos e ças de segurança deve-se somar a
Marta Pedro Coimbra, José Almeida. “Temos tam- tureza quando se apuram os respon- incêndios”, acrescenta. No entanto, acção de cada cidadão. Os procedi-
João Ribeiro
bém os incêndios que podem ter con- sáveis pelos fogos. “Queimadas, Coimbra ainda abunda em prédios mentos que cada pessoa deve tomar
sequências catastróficas se forem em fogueiras mal apagadas, queima de antigos construídos quando não exis- individualmente são vários e depen-
As imagens do sismo ocorrido em zonas históricas”, concretiza. lixos, lançamento de foguetes ou fogo tia qualquer tipo de regulamento. dem do perigo em causa. José Al-
Itália, a 6 de Abril, chocaram o O território urbano conimbricense posto”, são as principais causas ori- “Neste momento, as coisas estão meida chama a atenção para a
mundo e lembraram a muitos que as experimentou recentemente as con- ginárias de incêndios, como aponta muito melhores”, conclui José Al- limpeza das sarjetas, que facilita a in-
catástrofes naturais não avisam antes sequências da sua posição geográfica António Martins. “A origem humana meida. tervenção em caso de cheias. Tam-
de chegar e os seus efeitos são devas- neste Inverno, com a inundação da dos fogos representa 99 por cento dos bém, de forma a evitar e reduzir a
tadores. Também Coimbra está su- Baixa. José Almeida admite a impo- casos”, reforça. De todos os perigos “A Protecção Civil dimensão dos incêndios, os cuidados
jeita a vários tipos de ameaças, mas tência dos meios humanos perante a que ameaçam Coimbra, os incêndios somos todos nós” nas matas são essenciais. “Legal-
será que está preparada para as en- natureza. “Controlaram-se os caudais são os que reúnem mais preocupação Se um incêndio, inundação, sismo ou mente, já se remete para o cidadão
frentar? do rio, fizeram-se as obras hidráuli- e atenção das autoridades. Este ano, outro tipo de catástrofe se abater uma quota de responsabilidade” para
Para o responsável pelo Comando cas, tentou-se orientar as obras de os Bombeiros Sapadores vão adqui- sobre Coimbra, é de imediato accio- estas situações. António Martins
Distrital de Operações de Socorro forma a controlar o caudal, mas, rir quatro viaturas, de acordo com o nado todo um mecanismo que vai evoca mesmo o slogan: “a Protecção
(CDOS) de Coimbra, António Mar- mesmo assim, existem situações que comandante da corporação. desde os Bombeiros, à Protecção Civil somos todos nós”.
tins, “nunca se está totalmente pre- ficam longe do nosso alcance”. No Civil, passando pelo INEM (Instituto Quando a terra treme, cabe ao ci-
parado”. No entanto, assegura que a entanto, Fernando Rebelo acredita Alta e Baixa da cidade Nacional de Emergência Médica) e dadão, num primeiro momento, a de-
corporação está “munida de instru- que é pouco provável que este tipo de com fragilidades pela Cruz Vermelha. “Pelo menos 90 fesa pessoal. “O sismo actua
mentos de planeamento, gestão e inundações “assumam a dimensão de Ruas estreitas, prédios antigos e es- por cento das ocorrências são resol- imediatamente e não nos dá a possi-
meios que podem minimizar efeitos catástrofe com numerosas mortes”. tacionamento caótico são algumas vidas pelas três corporações de bom- bilidade de ajudar no momento” e,
devastadores”. O presidente da Asso- “O grande risco de inundação para das características que tornam a zona beiros [Voluntários, Sapadores e de por isso, “a defesa imediata” cabe às
ciação Riscos e professor da Facul- Coimbra estaria em função de um histórica de Coimbra mais frágil, caso Brasfemes]”, esclarece José Almeida. pessoas, “procurando locais que os
dade de Letras da Universidade de eventual colapso da Barragem da a cidade seja atingida por alguma ca- Só em casos de gravidade extrema possam proteger”, explica José Al-
Coimbra, Fernando Rebelo, consi- Aguieira”, situação que lhe parece, lamidade. Por exemplo, “em caso de é activado o Plano de Emergência, al- meida. Em regra, a maioria “não tem
dera que “Coimbra é uma cidade re- ainda assim, improvável. um sismo de grandes proporções ha- tura em que entram em cena os agen- consciência dos riscos quando, ao
lativamente segura” e afirma mesmo Verão após Verão, Portugal é asso- veria grandes dificuldades na Alta e tes da Protecção Civil e até as Forças longo da vida, não assistiu a qualquer
que “há um ‘know how’ extraordina- lado por incêndios em todo o territó- na Baixa”, afirma Fernando Rebelo. Armadas. Segundo António Martins, das suas manifestações”, adverte Fer-
riamente superior ao de outras cida- rio. Rodeada por uma extensa Em caso de incêndios, José Almeida “podemos considerar os Planos de nando Rebelo. Para contrariar este
des no respeitante a inundações e mancha florestal, paira sobre a zona adverte que “as consequências Emergência como uma forma de pla- desconhecimento, a Associação Ris-
incêndios”. urbana de Coimbra o pesadelo das podem ser catastróficas em zonas near o antes, o durante e o depois do cos vai promover uma conferência no
Se as probabilidades de ocorrência chamas. Desde 2005 que José Al- históricas”, devido à própria natureza acontecimento”. No que respeita à final do mês de Maio no Auditório da
de sismos em Coimbra são reduzidas, meida é bombeiro na cidade e foi destes locais. O ordenamento do ter- formação dos profissionais da Pro- Reitoria.
como refere Fernando Rebelo, já as nesse ano que presenciou a situação ritório tem um papel fundamental na tecção Civil, o comandante do CDOS Apesar das condicionantes aponta-
cheias e os fogos parecem ser fonte de mais grave. “Qualquer incêndio de minimização dos danos, materiais e é peremptório em afirmar que estes das, Coimbra tem vindo a apostar na
maiores preocupações. “Devido ao grande dimensão pode ter grandes humanos e, para o comandante dos são “abnegados e treinados para ope- segurança dos habitantes e, nas pala-
Mondego, existe o maior risco de proporções como teve em 2005 e tor- sapadores, “cada vez se tem isso mais rarem nas mais diversas situações de vras de António Martins, “compara-
inundações urbanas e de desliza- nar-se uma grande ameaça para as em consideração”. “Quando se faz um perigo”. tivamente a outras cidades médias,
mentos de terras”, explica o coman- pessoas que moram na cidade”, fun- prédio, é necessário haver um sis- Ao papel a desempenhar pelas for- não é insegura”.
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 15

PAÍS & MUNDO


D.R.

OS CHECKPOINTS são uma umas das formas que o governo israelita encontrou para contrariar os ataques bombistas no seu território

Activista palestiniano
impedido de viajar para Portugal
INFOGRAIFA POR JOÃO MIRANDA
Detenção antes guisse apanhar o voo” que o traria dos de espera, também as deten-
a Portugal, sublinha o presidente ções e mortes são uma realidade
do voo não permite
da FMJD. nestes pontos de controlo. “Dois
a participação de estudantes universitários de deza-
dirigente da Os check-points nove anos morreram após passa-
Juventude da na fronteira rem o dia detidos, algemados ao
Este tipo de detenções arbitrárias sol, num check-point”, critíca.
Palestina em colóquios constitui uma prática diária por No que diz respeito à circulação
parte das forças militares israelitas. entre os dois territórios, a vice-pre-
Vasco Batista “O exército de Israel tem uma polí- sidente da Comunidade Israelita
Pedro Nunes tica diária de prender e deter [pa- de Lisboa, Esther Mucznick, afirma
lestinianos], muitas vezes de forma que “é preciso ter uma autorização
O dirigente da União Democrá- aleatória”, afirma. Relatando a ex- e por uma razão muito simples:
tica da Juventude da Palestina periência da sua recente passagem tem a ver com os atentados terro-
(UDJP), Hashem Ezeya Albadarin, pela Palestina, Tiago Vieira revela ristas e com a segurança”. Con-
detido por militares israelitas, que “o ambiente em Israel é muito tudo, reconhece que “por vezes, na
falha viagem a Portugal dinami- tenso a todos níveis, criado por atribuição dessas licenças possa
zada pela Federação Mundial Ju- uma cultura muito violenta, do haver alguma arbitrariedade”. E
ventude Democrática (FMJD). A ponto de vista de imagem e de cho- ainda que seja de “lamentar”,
detenção de Albadarin aconteceu que”. Uma realidade que espelha Mucznick, acredita que “é necessá-
dias antes do primeiro de uma este ambiente é a proporcionada rio esse tipo de segurança”.
série de colóquios, em Coimbra, pelos “check-points”, pontos de A situação de Hashem justificou
Lisboa e Porto, organizados pela fronteira israelita que controlam o o protesto formal da federação, que
Juventude Comunista Portuguesa. fluxo de pessoas dentro do territó- abordou, em carta aberta, a Em-
Uma entrevista ao jornal A CABRA rio palestiniano. O dirigente da baixada de Israel em Lisboa, es-
estava agendada para a tarde da FMJD relembra a última visita da tando a aguardar uma resposta. “É
passada quinta-feira, 23. organização à Palestina, onde, uma espera relativa porque, geral-
A FEDERAÇÃO MUNDIAL DE JUVENTUDE DEMOCRÁTICA
Segundo o presidente da FMJD, “dentro de uma cidade, os palesti- mente, a postura que nós conhece-
Tiago Vieira, “Albadarin foi preso nianos que acompanhavam a dele- mos das autoridades de Israel é de
por forças do exército israelita, ao gação foram impedidos de passar. A FMJD é uma organização ju- ticipantes, associações e juven- um desprezo e de uma falta de res-
tentar passar a fronteira entre o Os soldados israelitas disseram: venil mundial sedeada em Bu- tudes partidárias oriundas das peito profunda”, adverte o presi-
território palestiniano e a Jordâ- «os europeus podem passar. Vocês dapeste. Foi fundada em mais diversas partes do mundo. dente da FMJD.
nia, portanto, sem tocar em ne- esperam 20 minutos e depois a Londres, no rescaldo da Segunda A federação, actualmente pre- O Jornal A CABRA entrou em
nhum momento em Israel”. A gente já volta a conversar»”. Guerra Mundial, a 10 de Novem- sidida pela juventude por- contacto com a representação di-
viagem de Albadarin foi interrom- Segundo Tiago Vieira, esta arbi- bro de 1945, sendo reconhecida tuguesa, tem como princípios plomática de Israel em Portugal e
pida na fronteira da Cisjordânia, trariedade do sistema dos check- pelas Nações Unidas como orga- basilares, a união e a soli- foi informado de que as instâncias
território palestiniano da margem points afecta, diariamente, nização juvenil não-governamen- dariedade com vista a conscien- teriam apenas conhecimento da si-
Ocidental do rio Jordão, com a Jor- milhares de palestinianos, dificul- tal. Organiza o Festival Mundial cializar os jovens para ideais da tuação através do comunicado di-
dânia. Albadarin ficou detido du- tando o seu quotidiano, o seu tra- da Juventude e Estudantes, no liberdade e da cooperação para fundido pela FMJD, sem adiantar
rante cerca de oito horas, “o balho e o acesso à saúde e à qual se reúnem milhares de par- a paz. pormenores adicionais.
suficiente para impedir que conse- educação. Além dos longos perío- Com Rui Miguel Perreira
16 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

PAÍS & MUNDO


Consumo de vinho baixa, mas
exportações aumentam na Europa LEANDRO ROLIM

Pela primeira vez em Os dados mostram que a tendên- sando de 4.769 milhares para Vinha e do Vinho, o nosso país ex- durante a floração das vinhas fize-
vários anos o consumo cia é a diminuição no consumo em 4.912 milhares e na África do Sul o portou em 2008 cerca de 3,1 mi- ram com que a vinha perdesse
praticamente toda a Europa, man- acréscimo foi ainda menor. O con- lhões de hectolitros de vinho, qualidade e que a sua maioria fosse
de vinho baixou. tendo ainda assim a grande fatia sumo aumentou neste país de representando assim, 3% do mer- mesmo devastada. Ainda assim,
2009 será um ano do mercado. 3.557 milhares para 3.576 milha- cado mundial. muitos são os especialistas e enó-
complicado para este Só países como os Estados Uni- res de hectolitros. Segundo o relatório para logos que se mostram confiantes
dos da América, a Austrália e a Embora com o consumo em 2008/2009 da ViniPortugal, Asso- em relação à qualidade de vinhos.
mercado. África do Sul tiveram um aumento baixa, as exportações na Europa ciação Interprofissional para a Segundo as previsões do mesmo
no consumo de vinho, embora estão a aumentar. O país que mais Promoção de Vinhos Portugueses, relatório prevê-se um decréscimo
André Ferreira pouco significativo. Nos EUA, o exporta (volume) é a Itália, com a produção de vinho apresenta de produção entre os 12 a 30 por
aumento foi dos 26.500 milhares 17,2 milhões de hectolitros, o que uma tendência para baixar ainda cento em relação ao ano de 2007,
Com o aparecimento da crise de hectolitros, em 2007, para equivale a 19% do mercado mun- mais do que em 2008 devido às variando de região para região.
mundial, também o mercado do 27.250 milhares, em 2008. Os dial. Segue-se a Espanha, a França, condições climatéricas. As tempe- Supõe-se que o Alentejo, Terras de
vinho enfrenta dificuldades. Como consumos também tiveram um li- a Alemanha e Portugal. Segundo a raturas mais baixas do que é habi- Sado e Bairrada são as regiões que
alerta a Organização Internacional geiro aumento na Austrália pas- Organização Internacional da tual e a existência de chuva mais vão baixar a produção.
da Vinha e do Vinho (OIV), depois
LEANDRO ROLIM
de um crescimento sucessivo do
consumo de vinho no mundo, o
ano de 2008 marca o ponto de vi-
ragem. Em praticamente todo o
mundo, o consumo de vinho dimi-
nuiu. Em contraste, a exportação
aumentou nos países onde a pro-
dução é maior.
Também em Portugal o aumento
da exportação de vinho não foi
acompanhado pelo consumo. No
ano de 2008, segundo o OIV es-
tima-se o consumo de vinho tenha
atingido os 4.800 milhares de hec-
tolitros, representando uma redu-
ção de 5 hectolitros em relação ao
ano transacto. A França mantém-
se como o país que mais consome
com 31.750 milhares de hectoli-
tros.
As exportações vinícolas deste
país são também as mais valiosas.
Segue-se a Itália com 26.000 mi-
lhares, menos 700 hectolitros se-
guindo-se a Alemanha com
20.000 milhares, com uma dimi-
nuição no consumo de 152 hectoli-
tros. O Reino Unido também
baixou o consumo para menos de
13.483 milhares, menos 219 hecto-
litros e a Espanha com 12.790 mi-
PORTUGAL assim como a generalidade dos países Europeus viu o seu consumo interno baixar
lhares de hectolitros, menos 481.

BREVES
D.R.

Islândia Sri Lanka Portugal


A social-democrata Johanna Si- ral que perdeu os quatro deputa- A Organização das Nações Uni- O ministro da Cultura, José
gurdardottir venceu as eleições le- dos que tinha. das acusou a guerrilha da minoria Pinto Ribeiro, admitiu a entrada
gislativas na Islândia. A sua Esta ilha do Atlântico atravessa tâmil de usar crianças para comba- em vigor “ainda este ano” do
coligação com o Partido dos Ver- uma grave crise económica, até ter contra o exército cingalês. Em Acordo Ortográfico. Estas decla-
des reuniu 49,7 por cento das in- agora sem paralelo no mundo. declarações à agência noticiosa rações deram-se, no passado do-
tenções de voto. Com esta vitória, Com uma inflação de 15 pontos Efe, o porta-voz das Nações Unidas mingo, 26, na inauguração do
Sigurdardottir consegue a pri- percentuais e uma taxa de desem- no Sri Lanka, Gordon Weiss, afir- museu,alusivo à descoberta do
meira maioria absoluta para a es- prego de 9 por cento a Islândia mou que a guerrilha recrutou, in- Brasil, “Descoberta do Novo
querda, com 34 das 63 cadeiras está longe da prosperidade eco- clusive, “a filha de 16 anos de um Mundo", em Belmonte. Perante
do parlamento islandês. O Partido nómica que a colocava antes entre dos funcionários da ONU”. Jorna- uma comitiva brasileira, o minis-
da Independência, pela primeira os países mais ricos do mundo. listas da agência relatam situações tro adiantou ainda que tudo es-
vez na curta história da república Para piorar, o valor das suas prin- em que mães chegam a manter os tava a ser feito de maneira a que a
islandesa, ficou afastado do cipais exportações, como o alumí- seus filhos em buracos cavados na transição ocorra “sem rupturas” e
poder, conseguindo apenas 22,9 nio, caiu em flecha. Com todo o terra para escapar a estes recruta- “integrando toda a gente”. No
por cento dos votos. O Movi- seu sector bancário arruinado, o mentos por parte dos guerrilhei- Brasil o Acordo ortográfico entrou
mento do Cidadão, recentemente custo das hipotecas dobrou e os ros. Nos últimos meses o exército em vigor em Janeiro de 2009 e
criado, conseguiu uma votação de investidores jogam agora pelo se- tem intensificado os ataques con- encontra-se em fase de transição.
sete por cento, quatro lugares no guro. Estas eleições antecipadas tra s tigres-tâmil. A guerra civil Em Portugal apenas o jornal des-
parlamento. Sem representação foram marcadas após a demissão neste país já dura à mais de 25 portivo Record introduziu estas
parlamentar ficou o Partido Libe- do governo em Janeiro. R.M.P. anos. R.M.P. alterações. R.M.P.
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 17

CIÊNCIA & TECNOLOGIA


Medicina à distância une hospitais
DANIELA CARDOSO
A tecnologia ao serviço
da saúde é o princípio
básico da
telemedicina, um
conceito desenvolvido
em Portugal na última
década
Patrícia Neves
Luís Simões

A telemedicina utiliza as tecnolo-


gias de informação e telecomunica-
ções na prestação de cuidados e
serviços médicos. A ideia chegou a
Portugal em 1998 pela mão do actual
director do Serviço de Cardiologia do
Hospital Pediátrico de Coimbra,
Eduardo Castela. Desde então, a tele-
medicina tem vindo a expandir-se e é
hoje usada em vários centros hospi-
talares nacionais. De simples consul-
tas de rotina a cirurgias mais
complexas, a telemedicina permite a
transmissão em tempo real de áudio, A TELEMEDICINA proporciona uma melhoria significativa na qualidade dos cuidados de saúde
vídeo e dados através de uma ligação
de banda larga. lação médico-paciente corre o risco sas”, acrescenta.
Segundo os sítios da internet da de se tornar menos humana e, caso o A recepção da telemedicina por A FCTUC E A TELEMEDICINA
Associação para o Desenvolvimento doente não seja totalmente honesto, parte dos utentes é muito boa devido
da Telemedicina e da Faculdade de o diagnóstico pode ficar comprome- ao conforto oferecido. Prova disso são A Faculdade de Ciências e tripulantes da ambulância.
Medicina da Universidade do Porto, tido. as 1900 consultas efectuadas no ano Tecnologia da Universidade de Outro projecto em que a
esta inovação tecnológica proporcio- passado no Hospital Pediátrico. Coimbra (FCTUC) tem vários FCTUC está envolvida é o
nou uma melhoria significativa na O exemplo do Esta tecnologia é utilizada também projectos de investigação nesta WEIRD. Os princípios são semel-
qualidade dos cuidados de saúde. As Hospital Pediátrico em consultas de cardiologia pediá- área. Um deles é o LifeStream. hantes aos do LifeStream, com a
vantagens passam pela redução de O também presidente da Associação trica em toda a Comunidade de Paí- Apoiado num projecto anterior transmissão de dados, mas as
custos, o rápido atendimento, maior Portuguesa de Telemedicina, ses de Língua Portuguesa. “Estamos da PT Inovação, o LifeStream foi suas aplicações estendem-se a
conforto dos utentes, acesso mais Eduardo Castela, destaca a grande há dois anos a colaborar com Angola idealizado para o transporte se- outras áreas, como a prevenção
fácil ao diagnóstico do especialista e a importância deste método no Hospi- e vamos começar a colaborar com guro de crianças e recém-nasci- de incêndios florestais e
quebra de isolamento geográfico. tal Pediátrico: “os utentes escusam de Cabo verde”, refere Eduardo Castela. dos de unidades de saúde erupções vulcânicas.
Também para os profissionais de se deslocar a outros hospitais para Ao longo dos últimos dez anos, a primárias para os hospitais cen- No que respeita à telemedic-
saúde houve benefícios, entre os serem consultados”. telemedicina tem evoluído e chegado trais. ina, o projecto WEIRD refere-se
quais a sua formação contínua a par- O hospital dispõe de uma rede de a cada vez mais pessoas. Apesar dos A tecnologia instalada nos a um conjunto de aplicações
tir de qualquer local e a possibilidade urgências 24 horas por dia, o que inconvenientes, é, segundo os espe- veículos permite o acompan- destinadas a apoiar operações
de consultar colegas fisicamente dis- Eduardo Castela considera “fabu- cialistas, uma tecnologia que traz hamento em tempo real dos de emergência, assistência re-
tantes. loso”. “As crianças e as grávidas são vantagens para médicos e pacientes e sinais vitais do utente e a comu- mota dos doentes e vigilância
Existem no entanto alguns proble- vistas em tempo real, evitando deslo- que está a criar ligações internacio- nicação permanente entre a através de imagens médicas de
mas associados à telemedicina. A re- cações desnecessárias e dispendio- nais entre diferentes hospitais. equipa médica do hospital e os diagnóstico.

49 “Somos a primeira unidade


capaz de produzir radionuclídeos”
1. Qual vai ser o uso do Ins- mes de tomografia de emissão de de PET utilizando o nosso fa- não evasiva com excelentes resul-
tituto de Ciências Nucleares positrões. A particularidade [do brico. Vamos fazer uso do que tados, nomeadamente no diag-
Adriano Rodrigues Aplicadas à Saúde (ICNAS)? instituto] é ter o ciclotrão e reu- produzimos em investigação e do nóstico precoce, no seguimento
Pelos estatutos da Universidade nir no edifício o conjunto das va- que produzimos na realização de dos doentes durante o tratamento
Director do ICNAS de Coimbra, o Instituto de Ciên- lências todas, uma unidade de exames de medicina nuclear. das diferentes patologias. É uma
cias Nucleares Aplicadas à Saúde produção, uma unidade PET e técnica fácil, relativamente aces-
é uma unidade de investigação uma unidade de medicina nu- 3.Que tipo de investigações sível, mas que precisa de material
que congrega prestação de cuida- clear. vão desenvolver? caro para a realização de exames.
dos de saúde aplicando radiações. Teremos um campo vasto de in- A cobertura da medicina nuclear
A partir daqui, podemos fazer um 2. Qual a importância do vestigação na orientação diagnós- convencional faz-se nas grandes
conjunto de exames, dado que instituto para Portugal? tica, na terapêutica do tratamento cidades como em Lisboa e Porto
nesta unidade existe uma medi- É grande. Somos a primeira uni- do cancro. Teremos uma parte e em Coimbra tem uma cobertura
cina nuclear convencional e existe dade que é capaz de produzir ra- muito nobre no fabrico de car- aceitável. Em relação ao número
um tomógrafo PET (Tomografia dionuclídeos. Vamos fazer vários bono-11 para poder estudar pato- de PET a cobertura já não é tão
por Emissão de Positrões). Esta radiofármacos, vários radionuclí- logia degenerativa cerebral, grande. Em Portugal temos neste
unidade tem como característica deos, que permitem fazer um nomeadamente as doença de Par- momento sete PETs, a nossa co-
possuir uma máquina, que é o conjunto de exames que se apli- kinson, Alzheimer, e outras doen- bertura ideal seria o dobro. Em
acelerador de partículas e que vai cam quer à patologia degenera- ças degenerativas cerebrais. relação à produção dos materiais
conseguir fabricar iões radioacti- tiva cerebral, quer à patologia radioactivos, é evidente que até
vos. Estes iões podem ser ligados tumoral ou cardíaca. Vamos fazer 4. Qual é o estado da medi- agora todo o material que vem
a moléculas que vão permitir a investigação e prestar cuidados cina nuclear em Portugal? para o PET é importado de Espa-
realização de um conjunto de exa- de saúde na realização de exames A medicina nuclear é uma técnica nha.
18 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

ARTES FEITAS
CINEMA

uma altura em que o ci- dela. A interpretar os jovens ator- difícil de ver. O realizador de ser-

“ As Ruínas ” N nema de horror é domi-


nado pelo “Torture
Porn”, filmes que colo-
cam as personagens em situações
mentados encontramos um elenco
que, dada a faixa etária, não podia
ser melhor, com actores que já
deram provas das capacidades e
viço é o novato Carter Smith que
até agora só tinha duas curtas no
currículo, mas a grande mais valia
é de facto o argumentista Scott B.
de tortura, e nos quais podemos que não contam só com a boa apa- Smith, que adapta aqui o seu pró-
inserir “Saw” ou “Hostel”, eis que rência para conseguir um papel. prio livro ao grande ecrã. Smith é a
nos deparamos com uma reinven- Entre eles encontramos Jonathan mente por detrás da história do
ção do género. Tucker, da série “Os irmãos Don- filme “O Plano” de Sam Raimi, e
“As Ruínas” pega em toda a vio- nely” e do filme “As Virgens Suici- que lhe valeu uma nomeação para
DE lência característica dos filmes das”, Jena Malone, de “Orgulho e o Óscar de melhor argumento ori-
CARTER SMITH Perconceito” assim como “Donnie ginal no ano de 1999. “As Ruínas”
acima mencionados e adiciona o
COM elemento sobrenatural para tornar Darko”, e também Shawn As- é uma agradável surpresa dentro
JONATHAN TUCKER as coisas mais interessantes, o que hmore, de “3 Needles” e “The de um género gasto no que toca a
JENA MALONE até certo ponto consegue. A histó- Quiet”. possibilidades de exploração.
SHAWN ASHMORE São interpertações convincentes, Peca pela óbvia escolha na idade
ria gira em torno de um grupo de
2009 jovens que decide fazer uma expe- bastante acima da média e que das personagens principais mas
dição a uma pirâmide inca. O pior conferem um equilíbrio estranho a não nos distrai para esse facto com
acontece quando, por força das cir- este tipo de obra, onde toda a vio- as piadas cliché a que já nos habi-
cunstâncias, se vêm presos no lência gerada é contrabalançada tuámos, aliás, todo o humor, que é
Ainda cimo da ruína que, como se não pelo sentimento de desespero e pa- escasso, é também bastante con-
bastasse, é dominada por plantas ranóia que transpira a cada mi- tido. Ideal para quem procura
é possível! carnívoras. nuto do filme. É dado tempo emoções fortes e que não se im-
Uma ideia rebuscada, sim, mas suficiente para o espectador co- porte de dar um passo fora da área
que não deixa de ser intrigante nhecer as personagens e ganhar al- de conforto que são as sequelas de
para quem procura originalidade guma simpatia para com elas, o acção disponíveis por esta altura
CRÍTICA DE JOSÉ SANTIAGO
num meio que sofre com a falta que torna cada morte ainda mais do ano.

A Organização”

Corre” e “O Perfume”) é um dos dar.

O
International Bank
of Bussiness and Cre- realizadores europeus mais esti- Apesar das bem conseguidas
dit é uma das maio- mulantes da actualidade e, como cenas de acção, em particular o
res instituições parece ser o destino de qualquer tiroteio no Guggenheim, Tykwer
DE
bancárias do mundo. O aspecto realizador europeu estimulante, não consegue ainda atingir ni-
TOM TYKWER
respeitável, no entanto, esconde mais tarde ou mais cedo vai tra- veís Hitchcockianos. O aspecto
negócios moralmente questio- balhar nos EUA. Ainda não é o visual dominador da sede do COM

náveis e a busca do lucro sem caso deste filme, maioritaria- Banco é interessante mas o CLIVE OWEN
NAOMI WATTS
respeito pela vida humana. mente filmado na Alemanha, McGuffin escolhido não é assu-
ARMIN MUELLER-STAUL
Provavelmente uma das conse- mas a influência de outro ci- mido como tal. Fica a meio ca-
quências menos aguardadas da neasta europeu transformado minho entre o puro pretexto 2009
recente crise financeira interna- em ícone de Hollywood é cada para a acção e o motor efectivo
cional é a ausência de credibili- vez mais sentida em Tykwer. O da narrativa.
dade da estória que sustenta “A pastiche de um plano de “Ver- A Clive Owen não se pedia uma
Organização”. Para acreditar tigo” acontece mais uma vez e a interpretação digna de prémios,
que um banco, no actual con- própria evolução narrativa não mas é capaz de mostrar porque
Jovem
texto mundial, é capaz de con- está alheia do conceito de tantos o consideravam uma forte Aprendiz de
trolar seja o que for de forma McGuffin tão caro a Hitchcock. alternativa a Daniel Craig no Hitchcock
eficaz é preciso um grande es- A gestão da tensão é outro dos papel de 007.
forço. Mas deixemos isso de pontos altos, com a utilização de
parte. Tom Tykwer (“Corre, Lola uma subtil banda sonora a aju- FERNANDO OLIVEIRA
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 19

ARTES
A FEITAS
RTES F EITAS

OUVIR LER

Beware!” As Esquinas do Tempo”

ill Oldham nasceu omeço por uma declaração de preensão dos que a rodeiam. Pelo meio

Nas Barbas
do Diabo
W em 1970 em Louis-
ville, Kentucky. Cedo
revelou dotes artísti-
cos na arte da representação, fo-
Virei a esquina
e perdi-me
C interesses: Rosa Lobato Faria
é um dos nomes de que mais
gosto na literatura portuguesa
actual. Preconceitos de actriz, dondoca,
da história, Margarida ainda há-de acor-
dar, depois de mais umas noites no
mesmo quarto, na época pombalina, só
que no papel de uma jovem presa numa
tografia e música. Aos 17 anos escritora de letras de música, à parte, cela de um convento. Nos “nossos tem-
mudou-se para Hollywood, e par- acima de tudo, porque me surpreendeu. pos”, a personagem principal desapare-
ticipou em vários filmes, mas saiu No primeiro, no segundo, no terceiro li- ceu sem deixar rasto e a família e
desiludido com as voltas do car- vros, e por aí adiante. A diferença é que namorados procuram-na, ante duas
rossel cinematográfico. Em 1993, nos primeiros comecei pela supresa po- irmãs que nada dizem, mas (quase) tudo
surge o primeiro registo de uma sitiva. Nos que se seguiram, lá para o pressentem. Nos séculos velhos, vai des-
voz frágil e taciturna no corpo de sexto, a pergunta que me incomodava a cobrindo o que aproxima e afasta o papel
um jovem de pouca barba. A cada página era: onde é que ela está? da mulher nos diferentes anos.
barba cresceu. Os diferentes E foi esse mesmo sentimento que me E assim reza a história, a alternar entre
rumos que a sua música foi to- perseguiu enquanto li “As Esquinas do três séculos, durante uma semana dos
mando e a inconstância de músi- Tempo”. Aliás, quase me forçava a ler, na nossos dias, deixando o leitor por vezes
cos com quem tocava, fizeram esperança de na página seguinte me tão ou mais confesso que a personagem.
com que entre 93 e 97, Will Old- reencontrar com uma das minhas escri- Andamos, nós e ela, sem saber muito
ham vestisse as suas produções tora preferidas. Só que terminei o livro bem onde vamos estar na página se-
sob vários nomes e experiências: da mesma forma que terminei os últimos guinte. Os amantes e a família, invaria-
“Palace Brothers”, “Palace Songs”, três que li da mesma autora: a pensar se velmente são muito semelhantes, fisica e
DE
BONNIE ‘PRINCE’ BILLY “Palace Music”, ou simplesmente não teria que repensar essa ideia. psicologicamente, à rebeldia da época
“Palace”. É só a partir de 1998 que “As Esquinas do Tempo” começa com em que habitem. O quarto, percebe-se, é
EDITORA surge o seu principal e actual Margarida, uma professora que vai pas- um portal, onde o tempo, que não é li-
DRAG CITY
alter-ego: Bonnie ‘Prince’ Billy, sar umas noites numa antiga casa se- near, se cruza. Esquina com esquina.
2009 um nome enigmático que engole nhorial,a Casa da Azenha. Independente, Uma escrita light, a fingir profundi-
diversas referências caras a Old- DE com um amante novo e um eterno amigo dade. É pena. E até admito que a pressa
ham como Bonnie Prince Charlie ROSA LOBATO DE FARIA com aspirações a namorado, Margarida de encontrar a Rosa me tenha impedido
ou Billy The Kid. Bonnie ‘Prince’ Billy, é um homem solitário que transpira século XXI. Só que, depois de de perceber a história na sua plenitude.
EDITORA
vive bem perto das margens da escuridão, a sua música pertence PORTO EDITORA adormecer no quarto que lhe coube, des- Termino como comecei: por uma de-
às raízes melódicas norte-americanas do country ou nu-folk, em- cobre-se na manhã seguinte muitos anos claração de interesses. Apesar da desilu-
balada pela escrita cuidada de letras que rondam os temas da 2008 antes, cem, para ser exacta, em 1908. são, não desisto, e no próximo título
morte, sexo, e solidão iluminadas por um mordaz sentido de Aí, a jovem, que não perde nunca a assinado por RBL, lá estarei, página a pá-
humor. “Beware!” é o oitavo disco de Bonnie, num sentido global consciência de quem é, tem pais novos, gina, à procura da escritora de “O Pre-
mantém-se fiel à sonoridade dos restantes, mas existem diferen- irmãs novas, um prometido novo. Mas núncio das Águas” ou “Os Pássaros de
ças assinaláveis, quando na faixa de abertura “Beware Your Only hábitos velhos, que lhe valem a incom- Seda”. Mas fechei a porta deste quarto.
Friend”, se anunciam coros femininos, que não deixam cair a voz
de Bonnie no silêncio. Os temas ganham densidade com a pre- SOFIA PIÇARA
sença constante de violinos, trompetes em delírio, uma secção VER
rítmica notável ou pelos pormenores de palmas e inesperadas so-
luções de composição jazzisticas. Na voz de Bonnie nota-se um
novo ânimo, como se pela primeira vez cantasse de cabeça er-
guida “You don’t love me, that’s alright”! Ao longo de “Beware!”, Aelita”
Bonnie vai puxando um invisível fio de celebração pessoal, “You
Can’t Hurt Me Now” e “I Don’t Belong To Anyone “são disso
exemplo. Este é um disco que irá marcar a obra de Bonnie ‘Prince’
Billy, sem que por isso toque no génio de “I See A Darkness”
(1998), talvez porque Bonnie queira experimental a luz, ou ape-
nas tornar a sua música comercialmente mais apelativa. Mas se
Viagem de
Protazanov
É fantástico como em menos
de dois minutos consegui-
mos partir com um sorriso
de satisfação, ser invadidos por aquela
sua vontade. O destino dos dois está ob-
viamente interligado numa relação que,
no cômputo da história, assume menos
importância do que esperaríamos à par-
Bonnie ‘Prince’ Billy está diferente… cuidado! Os ventos podem sensação que nos assalta sempre no tida.
mesmo mudar… pleno momento da catarse da narrativa Pela mão da Divisa, o filme chega-nos
e culminar tudo num redondo “Hã?!, na sua versão integral e restaurada em
mas o que é que se passou ali?”. É esse o que a banda sonora é brilhantemente
CARLO PATRÃO poder de “Aelita”. adaptada das obras de Stravinsky, Gla-
A obra-prima de Protazanov é tudo zunov e Scriabini. Também o som está
menos um filme fácil. A complexidade remasterizado e adaptado a sistemas 5.1!
metafórica do romance de Alexei Tolstoi Mas onde o som marca pontos, falha
GUERRA DAS CABRAS acompanha a própria complexidade vi- tudo o resto. Os dois únicos vídeos dos
A evitar sual gerada pelos cenários e figurinos de extras (um pequeno vídeo com os co-
Aleksandra Eskter, em que a inspiração mentários do historiador P. Shepotinnik
Fraco construtivista e as marcas futuristas não e uma apresentação de fotos e desenhos)
escondem o conflito artístico próprio de não fazem jus à obra. Os quatro textos
Podia ser pior
um momento histórico. que acompanham o filme (Futurismo e
Vale a pena O guião remete-nos para da década 20. Cinema, Yakov Protazanov, Fimlografias
FILME
Los, o engenheiro responsável da Esta- e Fichas), embora bastante interessantes,
A Cabra aconselha ção de Rádio de Moscovo, consegue de- pecam pelo facto de serem unicamente
A Cabra d’Ouro Extras cifrar um radiograma emitido de Marte. veiculados em espanhol.
A mensagem acaba por ocupar o pensa- De resto, merece-se acrescentar que
mento do jovem engenheiro, que numa “Aelita” foi fundador do cinema de “fic-
obsessão quase insana, vive ofuscado ção-científica social” e foi a primeira
DE
Artigos disponíveis na: pela frase “Anta, Odeli, Uta” e pela ideia longa-metragem dedicada à ideia da via-
YAKOV PROTAZANOV
da construção de um engenho que o per- gem pelo espaço, tónica que esteve em
EDITORA mita viajar até ao planeta vermelho. Ao voga em todo o século que lhe seguiu.
DIVISA mesmo tempo, Aelita, a rainha de Marte,
debate-se com o objectivo de tomar o
2009
poder ao seu pai e subjugar o planeta à JOÃO MIRANDA
20 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

SOLTAS
ALMOÇO SOCIAL MATEUS BARREIRINHAS • PRESIDENTE DA ARCÁDIA - ORGANIZAÇÃO DA FEIRA
DO LIVRO

Sopa de Legumes Carapau Frito Arroz Doce

FEIRA DO LIVRO O LIVRO E A O FUTURO


LEITURA
Como vê a evolução da feira? Vivemos uma “crise” do livro O livro terá que se adequar
Tem evoluído no sentido do tama- e da leitura? aos tempos?
nho, começou por ser feita em stands Gradualmente, as pessoas estão a Acho que não. O livro não precisa
individualizados; depois passou para ler mais. Agora, com a internet, lêem- de se adaptar em nada, é a conse-
uma fase de tenda e, de há dois anos se biliões de palavras por dia! No ca- quência da vivência de cada um que
a esta parte tem tido a ocupação má- pítulo da compra, talvez haja um fala apenas pela escrita. Haverá
xima da praça, que são dois mil me- bocado de crise porque a oferta tam- sempre escritores e haverá sempre
tros quadrados. O máximo que bém é muita. Um livro, ao fim de leitores. Mesmo com a internet.
aquele espaço contempla são 53 ex- quinze dias, está “velho” no estabele- Mas uma coisa é fazer o “copy
positores, mas nos últimos anos tem cimento onde se encontra porque o li- paste” do livro, outra coisa, que é
vindo a decrescer. Este ano só se con- vreiro tem dificuldade em acomodar necessária, é que nós somos muito
seguiu 32. tanto livro. Portanto, muitos livros necessitados dos formatos, das
não chegam sequer a ser mostrados cores, dos tipos de letra.
Tem alguma explicação para ao público. É necessário uma feira
essa diminuição? como esta para o leitor ter contacto Mesmo com a concorrência
Tem a ver com o momento menos com obras que nunca viu. da tecnologia?
bom. Daí que as pessoas se sintam, de Talvez houvesse a necessidade de Vai manter as suas propriedades
alguma forma, impotentes para alte- se ser mais cauteloso quanto ao nú- forçosamente. Desde os pergami-
rar o curso deste fenómeno que é a in- mero de títulos a editar. nhos que necessitamos de mexer,
segurança de cada um de nós, do seu Era importante que os livros, em de tocar, de cheirar. Felizmente
dia-a-dia. português, chegassem a todos os PA- tenho uma boa biblioteca, e quando
LOP’s gratuitamente. Falta uma visão toco num livro as emoções vêm lá
É possível chegar aos 70 mil universal da lusofonia. Isto traz al- do fundo. Quando levei aquele livro
visitantes na Feira, como pre- guns custos, mas através da diploma- para casa foi porque algo me des-
tendia? cia há condições para que se faça. pertou tal efeito. A escrita também
Devo dizer que quando adiantei funciona através da lombada e dos
esse número foi com alguma utopia. Acha que há uma educação títulos. A capa tem um peso
No entanto, as pessoas têm vindo para a leitura? enorme, o tipo de caracter que se
com muita intensidade à feira. O Há. O Plano Nacional de Leitura aplica, a descompactação do texto é
tema deste ano foi “A Arte vem à não desobrigou em nada dessa fun- algo que retrai imediatamente. O
Feira” e, de facto, o livro hoje não é só ção e todos os dias está atento a isso. segundo elemento é quando abri-
saber, traz consigo um conjunto de A meu ver, a questão está no excesso mos o livro e olhamos para a for-
atitudes e actividades que faz com de carga horária. Temos que dividir o matação do texto, a disposição dos
que tudo aquilo seja um espaço de dia em três tempos: um para dormir, caracteres, o tamanho, sente-se em-
arte e de saber. Convidámos a Arte à um para trabalhar e outro para fazer patia pelo texto e, depois há o con-
Vista, que tem uma mostra perma- o que melhor interessa à pessoa. Se teúdo, obviamente. Penso que isto
nente de peças de artistas plásticos de não utilizarmos estes três tempos no nunca desaparecerá. Como disse
cerâmica e escultura. Temos uma tempo correcto, algum deles fica ina- Rousseau, “desde o contrato social
parceria com a secção de fotografia da cabado. É importante ter esta gestão que os livros estão sempre nas re-
Associação Académica de Coimbra. do tempo. voluções”.

RUI MIGUEL PEREIRA


João Ribeiro

18 ABRIL DE 1997 • EDIÇÃO N.º 29 • MENSAL 100$ 18ºANIVERSÁRIO


A CABRA sai do arquivo...

tante desfasado do solicitado pelas ria de intransigência e arrogância, tes da Academia de


secções e avaliado em 21 mil con- não permitindo o diálogo entre as Coimbra e a própria
tos. “É a velha guerra pelos tostões partes envolvidas. “A impossibili- Academia”. A tensão
a que nos habituámos”, referia A dade de chegar a um consenso” agudizava-se e a
CABRA. conduziu a um “comunicado por “maior festa da Acade-
VOLTA Face ao orçamento definido pela carta à CCQF assinado pelas 15 mia caminhava a pas-
comissão para os projectos des- secções insatisfeitas”. Para além da sos largos para a
QUEIMA” portivos apresentados pelas 16 sec- questão orçamental, “outros facto- descredibilização”.
ções, a polémica instalou-se. res contribuíram para esta tomada Urgia “discutir qual
Excepto a secção de halterofilismo, de posição”. O projecto apresen- o estatuto que a Aca-
“cujo presidente integra a Comis- tado pela pró-secção dos desportos demia deseja para a
m Abril de 1997, A são Fiscalizadora da Queima”, radicais “fora preterido em benefí- Queima”. Assim, An-

E CABRA noticiava que


“foi por pouco que as
secções desportivas
não se desligaram da Queima das
todas se revoltaram.
Segundo a comissária do des-
porto, Ana Santos, “o dinheiro
afectado era suficiente para a rea-
cio de uma empresa privada que
entregara um projecto semelhante,
mas com custos inferiores”. Ana
Santos declarou que “se fosse [uma
tónio Silva, presidente
da direcção-geral da
AAC, demonstrou
numa reunião “situa-
Fitas 1997”. As secções desportivas lização dos projectos entregues”. secção], seria diferente”. ções que podiam des-
estiveram na iminência de boico- Em anos anteriores, o montante O presidente da secção de rugby, credibilizar a
tar o programa da queima. Na base atribuído às secções desportivas António Rochete, lamentava “que Queima”. “Com uma
da polémica, esteve o orçamento “variou entre os 7 e os 10 mil con- a CCQF se tenha esquecido da postura diferente da
inicial “de 2900 contos que a Co- tos”. Ainda assim, no entender da ajuda prestada pelas secções des- assumida em anterio-
missão Central da Queima das comissária, “as secções desportivas portivas, em alguns momentos”. res reuniões”, a comissão central e Estava devolvida a “Queima à
Fitas (CCQF) 1997 [afectou] às sec- estão mal habituadas”. Ameaçava-se o “grande divórcio” as secções desportivas “chegaram Academia”.
ções desportivas”. O valor era bas- As secções acusaram a comissá- entre a “festa de todos os estudan- finalmente a um consenso”. Vasco Batista
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 21

O MUNDO AO CONTRÁRIO SOLTAS


REINO UNIDO A
agente polícial Pam Fle- TEM DIAS...
ming declarou ter usado
truques Jedi para inter-
Por Licenciado Arsénio Coelho
rogar suspeitos. Segundo
Fleming, a sua fé ajuda-a mesmo, decidi falar sobre sexo. ção assinada pela sua mulher e
a combater o crime e a Na minha modesta opinião, o autenticada pelo notário. Só nesse
desordem nas ruas de sexo é das coisas mais sobrevalo- caso é que poderia acreditar nele.
Glasgow. “Ser uma Jedi
é um estilo de vida, não
O SEXO É PARA AS MULHERES rizadas algumas vez concebidas
pela raça humana. Ora pensem
E que mania é essa de dizerem
que o sexo se faz com imagina-
uma brincadeira”, disse. bem: para chegar àquilo que os ção? Antigamente só existiam
Fleming é uma das oito americanos chamam de terceira duas posições: ou tenho vontade
polícias do seu distrito dmito: nunca gostei de por partir os dentes no duro chão base é necessário um esforço ou não tenho. Agora há Kamasu-
que seguem esta crença.
Estima-se que existam
400 mil seguidores no
A ficar pelo óbvio. Ao longo
da minha existência sem-
pre evitei sair na estação mais
da realidade. Mesmo assim cos-
tuma valer a pena. Infelizmente,
desta vez, não fui capaz de resis-
sobre-humano… a menos que es-
tejas disposto a pagar, o que torna
as coisas substancialmente mais
tras e sei lá mais o quê. Não tenho
tempo para essas coisas. Tenho
que trabalhar.
Reino Unido. concorrida. Não há nada que me tir. Na próxima sexta-feira co- fáceis. Mas supondo que se segue Outra coisa que os sexólogos
dê mais prazer do que forçar a meça o evento para o qual o caminho mais ortodoxo. É ne- defendem é que o “sexo só se
ÍNDIA Cientistas inspi- porta da carruagem e atirar-me Coimbra foi criada: a QUEIMA. cessário pagar cafés, mostrar-se pode fazer se os dois tiverem de
raram-se no coração da ao sabor do vento sobre os carris São seis letrinhas a tresandar a interessado, conquistar, gastar di- acordo”. E se forem três? Faz-se
barata para desenvolver do imprevisto. Muitas vezes acabo vinho, tradição e emoção. Por isso nheiro a disfarçar o cheiro do ta- uma votação para apurar a maio-
um novo projecto. Segundo Sujoy baco dos estofos do carro… para ria?
Guha, professor chefe da pes- quê? Quanto dura o orgasmo Todas estas inovações só con-
quisa, o coração do insecto é masculino? Basicamente o duzem a situações constrangedo-
menos susceptível a interrupções mesmo tempo que se leva a beber ras. Outro dia a minha mais-que
cardiorrespiratórias pois tem 13 um shot. tudo disse-me que os insultos a
compartimentos para bombear Em segundo lugar, já repara- excitavam. E eu como sou um
sangue – nove a mais do que o ram o sexista que é o sexo? Todos gajo que gosta de fazer as pessoas
humano. O coração artificial, de sabemos o quanto é mal vista a felizes acedi ao seu pedido. Então
metal e plástico, custará cerca de ejaculação precoce, mas se uma ali estávamos nós:
1,5 mil euros, 30 vezes menos do mulher chega ao orgasmo em
que os disponíveis no mercado. cinco minutos é a mais concorrida Ela: - Seu porco, animal, idiota.
do sítio. Se isto não é sexismo, Eu: - E tu que nem sabes entrar
RÚSSIA O palhaço Valerik Kas- não sei o que pode ser. É como se numa rotunda?
hkin foi proibido de usar os tradi- uma mulher ganhasse uma cor-
cionais sapatos gigantes nas rida de Fórmula Um à quinta Resumindo e concluindo: o
apresentações do Circo Estatal de volta e o homem tivesse que per- sexo é um aborrecimento. Por-
Moscovo. A regra foi criada por correr 50 voltas para subir ao úl- que, vamos admitir, se fosse
motivos de segurança depois de timo lugar do pódio. E se calhar assim tão bom como dizem o es-
ter caído de um arame, a três me- ainda o mandavam ao sexólogo. tado já o tinha privatizado.
tros do chão. “Os calçados são E como me irritam esses indiví-
uma peça importante da minha duos. Um sexólogo, basicamente, Todas as crónicas em
fantasia. Sem eles, o impacto deve é um sujeito que tem um diploma
ser menor”, lamentou. que o atesta como especialista em arseniocoelho.
sexo. Isto tem alguma lógica? O blogs.sapo.pt
Matheus Fierro que ele devia ter era uma declara-
CARICATURA POR GISELA FRANCISCO

COM PERSONALIDADE
RUI PEREIRA

RUSS LOSSING • MÚSICO


UMA VIDA PARA O IMPROVISO
Sou um compositor, um improvisador e um músico de jazz. Vivo em Nova Iorque mas cresci no Ohio. Para mim chegou a uma altura em que não podia crescer mais no Ohio,
apesar de haver bons músicos. Tenho uma base de música clássica e aplico isso nas minhas improvisações. Improvisar num trio é como se fosse uma con-
versa entre três pessoas. Pode haver uma altura em que uma fala mais e os outros ouvem, outras vezes falam todos juntos.
Eu tanto gosto de tocar sozinho como em trio, são apenas diferentes formas de tocar. Eu não penso que seja fácil tocar sozinho, todo o som é controlado por ti. No meu pas-
sado toquei vários tipos de música, comecei muito cedo com música clássica e depois quando cresci comecei a tocar jazz. Mas também experi-
mentei rock, funk, R&B e música country. Ainda assim, não me imagino a voltar a esses tempos. Fui desenvolvendo ao longo dos anos um som em que me sinto confortável.
Tenho dois diplomas, uma licenciatura em música clássica para piano e um mestrado em jazz. Desde pequeno que quis tocar piano, comecei com cinco anos. Os meus
irmãos também tiveram aulas de piano, tínhamos um piano em casa. De certa forma, não fui eu que escolhi o piano, foi ele que me escolheu a mim.
Fiz o meu primeiro recital com seis anos, e o meu primeiro concerto profissional com 16 anos. Quando somos novos apenas imitamos, aprendemos os estilos. É assim na mú-
sica, na pintura, na escultura, na escrita. Demoramos anos a encontrar o nosso estilo. Quando tinha 10 anos fui a um restaurante e ouvi a música
Twinkle Twinkle Little Star. Conhecia a música porque Mozart fez várias variações desta música e eu quando era pequeno toquei. No final da actuação fui falar com
o músico e ele disse-me que estava a improvisar. Então fui para casa e comecei a improvisar, fi-lo todos os dias e sem saber nada. Três anos depois tive um professor de jazz e
ele introduziu-me à linguagem do jazz. Durante anos procurei músicas. Quando era mais novo tive de fazer um grande esforço para encontrar mú-
sicas. Logo que encontrava um novo tipo de música ficava nele durante algum tempo e aprendia-o. Agora podemos simplesmente passar de música em música de qualquer
parte do mundo. A internet é tão acessível que nem sei se não será acessível de mais. Apesar de ser fantástico… Pensando bem acho que estou a ficar velho. No jazz existem tan-
tas pequenas sub-categorias que podemos estudá-las durante anos. Estive em Coimbra o ano passado no Jazz ao Centro. Este ano voltei. Adoro tocar aqui. As pessoas respon-
dem mesmo à música, têm a mente muito aberta e querem ouvir novos estilos. E não há nada como ouvir jazz ao vivo.

Entrevista por Rui Miguel Pereira


22 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

OPINIÃO
CLÁUDIA TEIXEIRA

OS PROBLEMAS ACTUAIS DA UC
QUAL O PAPEL DOS ESTUDANTES?

Luís Bento Rodrigues *

O meu objectivo ao escrever este muito mais tempo do que deveriam,


artigo de opinião é consciencializar e por último, o desconhecimento
a comunidade estudantil dos reais dos estudantes da possibilidade
problemas da UC e qual o papel que para optar entre avaliação contínua
os estudantes devem ter. ou descontínua numa dada unidade
O principal problema, e mais ac- curricular, mesmo que o docente
tual, é o da falta de recursos finan- não o permita. Uma consequência
ceiros. Este problema não é, de óbvia é o alheamento dos estudan-
todo, distante dos estudantes, uma tes para as actividades extra-curri-
vez que está em curso, por exemplo, culares, importantes para a
uma diminuição do pessoal docente formação do indivíduo do ponto de
a qual não vai ao encontro das ne- vista cultural, político e humano.
cessidades dos estudantes, bem pelo Que tipo de pessoas estamos a for-
contrário, e é contra a Reforma de mar? Quais a consequências a
Bolonha que pressupõe a existência médio prazo? A Universidade não
de uma Avaliação Contínua com deve ser um espaço privilegiado de
menos alunos por professor. O Go- aprendizagem cívica e humana?
verno quer Bolonha mas não quer O Regime de Prescrições é um re-
assumir os custos necessários que gime essencial no sentido de o di-
esta acarreta. A Despesa continua nheiro dos contribuintes ser bem
superior à Receita desde 2005 (ano usado nas Universidades. Todavia,
de significativo corte de verbas) e os pode acontecer pagar o justo pelo
Saldos de Gerência da Universidade pecador e nesse sentido deve haver
têm limites. Estamos no limite e a mecanismos que salvaguardem o
O Investimento no falência técnica da UC é eminente. justo e haver sensibilidade por parte
A culpa não pertence à Reitoria mas da instituição que até agora tem ha-
Ensino Superior por vido.
sim ao Governo, na medida em que
estudante em média estamos num Ensino Público que A DG/AAC tomou como bandeira
tem obrigatoriamente de ser assis- eleitoral o aumento da qualidade de
é o mesmo de há 20 tido financeiramente pelo Estado. ensino. É, no meu entender, boa
Os fundos do Estado não dão para mas desfasada da realidade actual,
anos atrás… Tempos pagar sequer ao pessoal. As propi- na medida em que a Universidade
de mudança são nas que representam cerca de 11 por está numa espécie de “estado de
cento da Receita têm necessaria- coma” devido à falta de verbas, luta-
tempos para actuar mente que ser desviadas para o fun- se para sobreviver. Não bastam as
cionamento, à margem da Lei. cartas nem tomadas de posição. As
Adiamento de projectos estruturais acções simbólicas esgotaram e em
e necessários à qualidade do En- pouco resultaram. É preciso mais e
sino, escassez de recursos para ali- melhor. Os estudantes devem unir-
mentar o actual aparelho e o não se neste marco histórico aos seus
pagamento de bolsas são exemplos Reitores e sensibilizar de facto a
de outros problemas. opinião pública. Estamos em ano
Não há margem para manter o eleitoral, tem de ser aproveitado
actual valor das propinas, sob pena uma vez que haverá necessaria-
da Universidade fechar portas. Por mente maior abertura política. Os
outras palavras, vai aumentar o es- Dirigentes Estudantis não podem só
forço financeiro das famílias. O In- por si mudar muito. É essencial
vestimento no Ensino Superior por uma camada estudantil mais crítica,
estudante, em média, é o mesmo de mais activa e mais irreverente,
há 20 anos atrás… Tempos de mu- pronta a actuar sempre que a situa-
dança são tempos para actuar. ção o exigir. Apenas somos fortes se
Um outro problema actual que estivermos unidos, tal como as ge-
vem no seguimento da aplicação do rações anteriores à nossa nos ensi-
processo de Bolonha está na utiliza- naram. A Mudança está ao nosso
ção incorrecta do sistema de crédi- alcance!
tos, uma vez que as cadeiras não A AAC deve reunir-se em
estão adaptadas a este e está a abu- MAGNA de milhares e decretar o
sar-se do esforço exigido aos estu- que achar por bem e necessário. Os
dantes, por várias razões: os estudantes devem assumir o seu
docentes não reúnem no início do papel insubstituível para defender o
Cartas ao director semestre, como deveriam fazer, Ensino Público e de Qualidade bem
podem ser para planear o esforço dos estudan- como a Acção Social.
enviadas para tes de modo a haver um equilíbrio,
acabra@gmail.com os estudantes não têm um bom mé- * Estudante e membro do
todo de fazer trabalhos e perdem Conselho Geral da UC

PUBLICIDADE
28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a cabra | 23

OPINIÃO
RISOS SARCÁSTICOS POR EDITORIAL
DESCRÉDITO E FALTA DE CONSCIÊNCIA
SE A INCONSTÂNCIA
Olga Roriz * NÃO MANDASSE NAS PALAVRAS
D.R.

F
oi preciso acreditar rança queira marcar o passo, mais
quando em Janeiro ou- preocupada em estar próxima do
vimos prometido esbar- núcleo de intervenção – que são os
rar o conformismo estudantes – do que em se fazer pu-
contra a parede. Que o blicitar com frases feitas e inócuas
conformismo estava descolado da vontades que só à falsidade devem
pele da Academia só acreditava proveito? Mas ainda mais grave é
quem quisesse, mas era preciso que a consciência dos dirigentes as-
acreditar – dizia o apelo, aguerrido. sociativos não pesa no momento em
De Janeiro para cá, os meses não que se assumem um discurso ba-
foram de outra coisa senão de con- lofo, reduzido a palavras decoradas,
formismo. contraditórias em si mesmas em re-
Não duvidamos que estamos lação àquilo que dizem defender
Escrever sobre o estado da Dança atenção e de mais respeito. Público numa fase de crise económica e de para assegurar os direitos e a boa
em Portugal não é o mesmo que es- não nos falta, inspiração também crise política e que, portanto, tudo graça dos estudantes.
crever sobre a Dança em Portugal, não. O que nos falta então? (Risos vai em contra ciclo em relação ao Coimbra está sempre a despedir-
muito menos sobre a Dança, do es- sarcásticos por descrédito e falta de movimento associativo e à partici- se e a receber novos estudantes; a
tado em Portugal. paciência). pação cívica dos estudantes. No en- renovação geracional que aqui se
Sobre qual delas escrever, sobre Bom, por princípio não gosto de tanto, os desafios são os de sempre, gera – com aqueles que adoptam a
qual delas posso, devo ou consigo me repetir mas neste momento acho e agora, mais do que nunca, devem cidade como sua, agora, e para o fu-
discernir? pertinente fazê-lo. ser lembrados a bom som. Sob o turo, cada vez por menos anos –
Será que a 29 de Abril, dia Mun- Por isso aqui vai o texto que o ano que temos assistido nos últimos não pode ser alheada das exigências
dial da Dança, não nos devíamos es- passado pela mesma data li para anos, corremos o risco de deixar de um ensino mais preocupado com
quecer das desgraças, do uma sala cheia no Teatro Camões e que as novas lutas estudantis sejam a acção social, a pedagogia, a repre-
desgoverno, da ausência de política, que infelizmente se coaduna 1 ano imperceptíveis para aqueles que sentatividade. Mas assumir, por
da escassez de apoios, da instalada depois
e impune incompetência e rejubilar “Nada ou pouco temos a come- Grave é a imperceptibilidade em que


esta maravilhosa e incomparável morar neste dia mundial da dança.
arte? Não porque a dança neste país esteja vivem os estudantes da UC perante as
As dúvidas, questões e instaladas mal de saúde, bem pelo contrário,
inseguranças são já por si um indí- mas porque os senhores doutores suas próprias lutas
cio de que por terras lusitanas a insistem em nos diagnosticar falsas
coisa não dança bem. doenças, impondo-nos uma série de não fazem parte do núcleo estudan- princípio, que existe uma dificul-
«Um povo culto é um povo ingo- exaustivas análises clínicas. til. Para não ir muito longe, basta dade de mobilização que é inultra-
vernável» afirmou António de Oli- Deixem de nos tentar organizar. reparar na superficialidade com que passável quando os problemas
veira Salazar. Dêem-nos condições de trabalho foi encarado um dirigente associa- estão à flor da pele e são sentidos
Será que foram mesmo 40 anos que nós nos governamos. tivo na grande entrevista que Jorge por todos – e todos os dias – é sinal
de azar e outros tantos a penar? Não tentem destruir o que cons- Serrote deu à TSF e ao Diário de de que o inconformismo apregoado,
Enfim, coisas deste pequeno Por- truímos a pulso apenas para enco- Notícias, este domingo, onde à mar- afinal, tem tanto de incongruência
tugal. brir a vossa incompetência, a vossa gem ficaram as questões prementes quanto de ‘show off’.
Será que querem acabar com a falta de clareza e visão do futuro. que preocupam a agenda das uni- E se, em boa verdade, a associa-
Dança? Se sim, é melhor que nos in- Há anos atrás pensávamos ter ba- versidades portuguesas. De fora fi- ção académica passou a estar mais
formem por carta, por e-mail ou tido no fundo e restava-nos a espe- caram pontos essenciais sobre o imbricada nos assuntos da cidade,
mesmo por sms. rança de algo mudar. Grande estado do ensino superior, quando a mobilização para as causas estu-
Claro que estou a brincar. Claro engano o nosso! Para bater no fundo o absurdo das palavras chega ao dantis perdeu em proporção in-
que sei que ninguém no seu juízo ainda muito nos falta e o pior é que ponto de o ministro Mariano Gago versa e sem retorno absoluto. Por
perfeito quer acabar com a Dança. nem nós, profissionais da queda, sa- estar em consciência convicto de isso, e enquanto a actividade da as-
Claro que sei que é difícil governar, beremos como cair. que não existe “nenhuma situação sociação académica se esgotar den-
tomar resoluções, assumir respon- Quanto a mim, estou tão farta e crítica com os níveis de financia- tro de portas na mera conjugação
sabilidades, arriscar em novos ca- descrente dos nossos governantes mento actuais” nas instituições. de vontades administrativas e na
minhos, clarificar políticas culturais, que estou prestes a perder-lhes o Mas tão grave quanto isto é a pró- promoção cultural e desportiva, não
traçar estratégias sólidas, enfim, respeito. pria imperceptibilidade em que são os sinais do tempo. São os sinais
construir um presente que o futuro E isto é triste!!! vivem os estudantes da Universi- de que as lideranças querem espe-
não tenha de esquecer. Resta-me desejar que a força da dade de Coimbra perante as suas rar que o tempo passe e com ele o
A Dança é uma das riquezas do dança extrapole o corpo e se faça voz próprias lutas. São os estudantes conformismo. Para isso dizem que
nosso país. Tão pobre mas tão rica. para que alguém nos ouça. passivos, à espera que alguém lhes é preciso acreditar. Desacredite-
A Dança não pode acabar. A boa Viva a dança!” leve a mensagem? Ou podem, desde mos.
Dança não pode acabar mas para o início, participar nas concepções Pedro Crisóstomo
isso precisamos de ajuda, de mais * Coreógrafa das lideranças, desde que essa lide- Editor-executivo

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759
Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fo-
tografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira
(País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fer-
Secção de Jornalismo, nandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Hugo Anes, João
Associação Académica de Coimbra, Picanço, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vasco Batista, Vanessa Quitério, Vanessa Soares Fotografia Ana Rel-
Rua Padre António Vieira, vas França, João Miranda, João Ribeiro, Leandro Rolim, Sara Oliveira, Sónia Fernandes Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colab-
3000 - Coimbra oraram nesta edição Alice Alves, Ana Relvas França, Ana Rita Santos, Catarina Fonseca, Eliana Neves, Filipa Magalhães, Luís Simões, Maria
Tel. 239821554 Fax. 239821554 João Fernandes, Matheus Fierro Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro,
e-mail: acabra@gmail.com Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, José Santiago, Milene Santos,
Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fo-
tocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção
Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da
Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra
Mais informação disponível em
Redacção: Fax: 239 82 15 54

acabra.net
Secção de Jornalismo e-mail: acabra@gmail.com
Associação Académica de Coimbra
Rua Padre António Vieira Concepção e Produção:
3000 Coimbra Secção de Jornalismo da Associ-
Telf: 239 82 15 54 ação Académica de Coimbra

Notas
Futsal AAC
Ministério
da Cultura
Câmara
Municipal sobre
arte...

Depois de um quinto lugar na tem- O ministro José António Pinto A Revolução de 25 de Abril cele-
porada transacta, a equipa universi- Ribeiro anunciou que o Acordo Or- brou 35 anos e a Câmara Municipal
tária da AAC, orientada por João tográfico entrará em vigor ainda não organizou qualquer iniciativa de
Oliveira, arrecadou o título nacional. este ano, sem contudo precisar al- comemoração deste marco. O presi-
A Académica venceu a Associação guma data. O Brasil já iniciou este dente, Carlos Encarnação, baseou-se
Académica da Universidade do processo e Portugal só tem a perder na falta de participação da população
Minho por 0-4 e alcançou o ouro uni- enquanto não o fizer. Pinto Ribeiro para justificar a ausência de festejos.
versitário, o único da participação da assegurou, igualmente, que tudo Impõe-se questionar se o melhor a
AAC nos Campeonatos Nacionais será feito “sem rupturas e com fazer é investir na mobilização da so-
Universitários 2009. Agora a turma grande tranquilidade”, resta saber ciedade civil para a festa da Liber-
de Coimbra vai representar Portugal se a medida será cumprida dentro dade, ou simplesmente ignorá-la,
nos campeonatos europeus em Julho. do tempo anunciado. como fez a edilidade.
C.D. J.R. J.R.

PUBLICIDADE

Untitled (playing with Gould playing Bach)


Miguel Soares • Vídeo PAL, p\b, som • 2007

Quem entra no espaço ouve nismo, desordem. É por isso que


imediatamente aqueles sons vemos muito mais do que Glen
sem nome nem rosto. Parece Gould a tocar piano. A repetição
uma simples música de fundo dos gestos e dos sons alteram os
numa exposição contemporâ- nossos sentidos perante tama-
nea. Ao percorrermos os corre- nha violação do conceito de clás-
dores, vamos encontrando a sico. O piano está
origem dos sons, e estes ganham descompassado; pára, reco-
uma nova perspectiva. E signifi- meça. Os dedos tocam a mesma
cado. tecla vezes sem conta. Nas pala-
É um vídeo relativamente vras de Filipa Ramos, o video
simples, com apenas duas ima- “amplifica a neurose compulsiva
gens diferentes, onde o conhe- e repetitiva” do gesto de Gould.
cido pianista Glen Gould toca Miguel Soares, o autor, nasceu
Bach com o seu frenético movi- em Braga em 1970, tendo de-
mento de mãos, acompanhado senvolvido o seu percurso artís-
de uma flauta e violino. Mas, tico durante a década de 90. O
para além da aparente simplici- seu trabalho, que vai desde a fo-
dade, é uma obra singular, que tografia, a representações 3D e
revela ter mais conteúdo para vídeo, centra-se essencialmente
além do óbvio. em temas como a tecnologia, a
Parecemos não compreender arquitectura, geografia e design,
qual a ligação entre o que vemos apresentando sempre novas for-
e o que ouvimos, pois Miguel mas de percepcionarmos a reali-
Soares resolveu transpôr a mú- dade que nos rodeia.
sica clássica para o século XXI. Esta e outras obras do autor
Tirou-lhe a beleza e harmonia estão expostas no Centro de
que se requerem essenciais, e Artes Visuais (CAV) até 7 Junho.
deu-lhe futurismo, moder- Por Andreia Silva

PUBLICIDADE

Você também pode gostar