Você está na página 1de 12

3 DE NOVEMBRO DE 2016

ANO XXV Nº278 GRATUITO PERIÓDICO


DIRETORA INÊS DUARTE
EDITORA EXECUTIVA CAROLINA FARINHA

Universidade de Coimbra reflete


sobre Regime Fundacional
Conselho Geral e Senado levam proposta a discussão. Membros da comunidade
estudantil, docentes e não docentes mostram preocupação com a possível
passagem para fundação PÁG. 3
INÊS NEPOMUCENO

- PÁG. 2 - - PÁG. 5 - - PÁG. 6 - - PÁG. 7 -

ENSINO CULTURA DESPORTO CIÊNCIA


José Dias faz balanço do mandato O modo como os estudantes Ingestão de álcool dificulta apren-
Revisão do Estatuto Estudante-
na presidência da DG/AAC. consomem e participam na arte dizagem, recordações e memoriza-
-Atleta, da UC, ambiciona
Congelamento de propinas, do teatro é visto por entidades e ção de acontecimentos. “Caminho
compatibilizar o desporto e os
gabinete de desporto da AAC e companhias como negativo apesar para as memórias” fica comprome-
estudos. Alterações passam por
Académica Start UC em destaque da oferta cultural de Coimbra tido após intoxicação
“três pilares fundamentais”
3 DE NOVEMBRO DE 2016
ENSINO SUPERIOR
-2-

NA RETA FINAL, JOSÉ DIAS CONSIDERA O SEU MANDATO “POSITIVO”


Congelamento das propinas, criação do Senado Académico e dos Fóruns de Cultura e Desporto
são alguns dos objetivos atingidos e ainda por almejar durante os próximos três meses
- POR INÊS DUARTE -
INÊS DUARTE
Económico vai realizar acerca do Ensino Superior (ES), lheiros para a produção de conhecimentos ou de políticas
durante o ano de 2017. Uma avaliação que vai incidir em ao longo do ano”. Também no espectro das criações, pre-
todos os campos, “rede de ES, financiamento, ação social, tende-se realizar Fóruns de Desporto e Fóruns de Cultura,
RJIES [Regime Jurídico de Instituições de ES]”, explica o à semelhança dos Fóruns da AAC. A nível do desporto, o
presidente. Como tal, a AAC deve ter preparado um con- objetivo é “uniformizar as políticas das secções desporti-
junto de propostas acerca desses assuntos, à semelhan- vas”. Quanto à cultura, passa por “ter um plano de ativida-
ça do livro redigido por José Dias em 2015, “Educação: des definidas e mais estável ao longo dos tempos”, explica.
Uma Visão de Futuro”, esclarece. “Tem de haver já posi-
ções públicas marcadas para o próprio ministério saber ARE com mandato estendido
da nossa parte com o que vai contar”, avança o presidente. Foi durante o ano de 2015 que se procedeu à eleição
Existem quatro pontos por realizar até ao final do mandato. da Assembleia de Revisão de Estatutos (ARE), da AAC.
O Orçamento do Estado é uma das questões a focar, pois, No entanto, muitos foram os contratempos e, até hoje,
para José Dias, “não basta apresentarem boas linhas” no que não existe uma proposta definida. Em maio de 2016
toca a ensino superior, é necessário que essas sejam aprova- foi decidido, em Assembleia Magna, uma extensão do
das pelos partidos com assento parlamentar na Assembleia mandato da ARE. O presidente da DG/AAC, e mem-
da República. Uma revisão do Regulamento de Atribuição bro da ARE, vê esta situação “de uma forma muito críti-
de Bolsas de Estudo a Estudantes de Ensino Superior é ca”. “Espero que até ao final de dezembro consigamos
também premente, com foco para o limiar da elegibilida- ter uma proposta já realizada”, mas, para isso, é necessá-

É já em janeiro de 2017 que o mandato da Direção-


Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/
AAC) em vigor termina. Durante os últimos nove me-
de. Neste momento, este está estagnado nos 60 por cento
de aproveitamento escolar. Para o presidente da DG/AAC,
“não se pode considerar uma bolsa de estudo como uma
rio “ter reuniões mais significativas, ao nível temporal,
e mais intensas ao nível de trabalho realizado”, explica.

ses houve reivindicações realizadas, problemas, desafios bolsa de mérito” e este limiar deve ser alterado para a taxa Dívida interna e externa “geríveis”
alcançados e outros por atingir. O presidente da DG/ dos 50 por cento. O terceiro ponto tem que ver com o Re- Durante a sua candidatura, José Dias afirmava que uma
AAC, José Dias, faz o balanço do seu período enquanto gime Fundacional, agora em discussão na Universidade de das prioridades era terminar tanto com a dívida interna
dirigente associativo do órgão de gestão da Academia. Coimbra, do qual a DG/AAC tem “uma posição contra”. As- como a externa. Durante o mandato, a dívida externa des-
sim, o presidente afirma estar disponível para realizar deba- ceu de, segundo o Relatório e Contas de 2015, 111 223,71
Balanço de um futuro para a AAC tes acerca do tema e criar uma proposta por parte da AAC. euros, até cem mil euros, afirma. “Está perfeitamente gerí-
“Julgo que [o balanço] é positivo, mas não posso ser pre- Um novo modelo de acesso ao ES é o quarto ponto em vel”, refere. No entanto, o presidente quer ainda chegar ao
sunçoso ao ponto de dizer que correu tudo bem”, afirma questão. José Dias quer abrir a discussão na AAC “para per- zero em termos de dívida, mas depende do fecho de contas
José Dias. O presidente, a meses de se despedir do cargo, ceber que tipo de modelo deve ser”, ao mesmo tempo que da Festa das Latas e Imposição das Insígnias de 2016 e dos
não se vai recandidatar. Refere como pontos fundamentais afirma que o Governo já tem algumas medidas previstas “que meses seguintes. A prioridade passa agora pelo abatimento
do seu mandato o congelamento das propinas, o gabinete não vão ser aprovadas já porque tem de haver sintonia entre da dívida interna, que se encontra nos 350 mil euros. Em
de desporto da AAC e o programa de empreendedorismo estudantes, governo e dirigentes, para que vá para a frente”. 2015, a dívida ao Conselho Desportivo era de 304 572,52
Académica Start UC. Para 2017, o trabalho da próxima Ainda quanto a propostas para os três meses seguintes, José euros. A este nível, “foi injetado um financiamento pela pri-
DG/AAC tem de ter em conta a análise que, segundo José Dias ambiciona criar um Senado Académico, “com os ex- meira vez em cinco anos”, e as verbas da Queima das Fitas
Dias, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento presidentes da DG/AAC, que possam servir como conse- 2016 vão ser desbloqueadas para as secções culturais.

QUANTO CUSTA ESTUDAR EM COIMBRA?


SASUC prestam apoio aos alunos da UC. Comunidade estudantil explica como é a qualidade de vida na cidade
- POR SÍLVIA ANDRADE E CAROLINA FARINHA -

É no início do ano letivo que os gastos relacionados


com o estudo são calculados. As despesas levadas
a cabo por um estudante prendem-se com a propina
te, aluno da Faculdade de Direito da Universidade de
Coimbra (UC), não costuma utilizá-los para se deslo-
car na cidade, pois estes aumentariam a despesa men-
guem potenciar grandes condições de estudo”. Isto porque
possuem uma boa localização, “todas as despesas estão
incluídas, há ‘Internet’ e salas de estudo em quase todos
anual, com a alimentação, alojamento e deslocações, sal em 22 euros. “Assim fica por volta de dez euros”. Ao os alojamentos”. Usufruem de “mudança de roupa de
em Coimbra, bem como para a localidade de origem contrário das estudantes da ESEnfC e da ESEC, Tiago cama e atoalhados todas as semanas”. A administradora
dos alunos. Norte vai a casa, por norma, “todos os fins-de-semana”. dos SASUC declara que “o máximo que um não bolseiro
Vários são os fatores que pesam no aumento ou Inês Quintal divide uma casa com colegas, tal nacional paga numa residência são 117 euros por mês.”
decréscimo dos gastos mensais dos estudantes da como Cristina Furtado. A estudante da ESEC ex- As refeições de Cristina Furtado são, na sua
cidade. Inês Quintal, estudante da Escola Superior plica que “viver com outras pessoas acaba por in- maioria, feitas em casa. “Não faz diferença em ter-
de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), afirma que, fluenciar as despesas”, de forma a permitir uma mos de custos, porque inclui-se a alimentação nas
“por mês, os gastos rondam os 400 ou 500 euros”. diminuição nos custos mensais de luz e água. despesas de alojamento”. Inês Quintal afirma que
Cristina Furtado, estudante da Escola Superior de A administradora dos Serviços de Ação Social da vai à cantina “uma ou duas vezes por semana”.
Educação de Coimbra (ESEC), garante que as despe- UC (SASUC), Regina Dias Bento, esclarece que exis- Regina Dias Bento explica que “um aluno, se for a uma
sas mensais “não excedem os 350 euros”. No entanto, tem “14 residências universitárias disponíveis nos di- cantina ao almoço, jantar e pequeno-almoço, gasta em
devem ser incluídos, ainda, os custos associados à versos polos da UC”. Para estas, é dada “prioridade aos média 150 euros por mês”. Os SASUC conferem “cerca
deslocação até casa. “Apenas nas férias”, como am- estudantes bolseiros, que representam cerca de 30 por de 400 apoios ao nível do Fundo de Apoio Social, que se
bas asseguram, uma vez que residem fora do terri- cento dos alojados”. Por ano, os SASUC recebem cerca destinam a ajudar estudantes no pagamento de propinas”.
tório continental e “as passagens não são baratas”. de 3000 candidaturas, mas existem apenas 1300 vagas. O Programa de Apoio Social a Estudantes em atividades
No que toca a transportes públicos, Tiago Nor- Regina Dias Bento afirma que “as residências conse- de tempo parcial é extensível a todos os alunos da UC.
3 DE NOVEMBRO DE 2016
ENSINO SUPERIOR
-3-

UC DISCUTE POSSIBILIDADE DE PASSAR A FUNDAÇÃO


Comunidade estudantil cética em relação à mudança de regime. Privatização do ES e inter-
venção de entidades externas nos assuntos da UC são receios destacados
- POR CAROLINA FARINHA -
CRISTINA PINILLA CARRASCO

O Conselho Geral (CG) e o Senado da Universida-


de de Coimbra (UC) abriram a discussão sobre a
passagem da UC a regime fundacional. Com o intuito
çamento e contas, bem como a eleição e destituição do
reitor. Autorizam a aquisição, venda de imóveis e em-
préstimos, nomeiam e destituem o Conselho de Gestão.
rifica que “o regime de financiamento é igual, quer para
uma fundação, como para as instituições públicas”.

de elucidar a comunidade académica quanto ao tema, Gonçalo Bento, membro do CG, aponta também o Maior dicotomia entre instituições de Ensino Superior
foi promovida uma sessão de esclarecimento na passa- Conselho de Curadores como o maior receio do órgão O presidente da DG/AAC explana que o regime
da segunda-feira, 31. O reitor da UC, João Gabriel Silva, de governo, já que “são membros externos a discutir o fundacional “pode colocar em risco um sistema igua-
expôs as características do sistema em debate e assina- futuro da UC”. Explica que “os estudantes já consideram litário e público para toda a região nacional”, o que
lou as vantagens e desvantagens. A reunião contou com que o CG tem um número elevado de entidades externas amplia a necessidade de se falar sobre o assunto, já que
a participação do reitor da Universidade do Porto (UP), em comparação com o número de discentes”. Para João se está “perante uma litoralização do ES”. O membro
Sebastião Feyo, cuja instituição de ensino é fundação pú- Gabriel Silva, “as funções que cabiam ao Governo”, com do CG partilha a mesma posição do dirigente asso-
blica desde 2009. a fundação, “passam para o Conselho de Curadores” e ciativo, pois considera que a mudança para fundação
Um “tema muito relevante” é como Sebastião Feyo ini- acrescenta que, “quem escolhe os seus membros são os pode “criar uma grande heterogeneidade a nível de
cia a sua intervenção para explicar que, no caso da UP, elementos internos”. Uma “transferência de poderes que instituições de ES”.
“houve um salto qualitativo com os atuais modelos das não garante os atuais interesses da UC ou da comunidade Impõe-se então a necessidade de continuar a
universidades”. Como pontos positivos, são destacados académica” é o que destaca Pedro Pinheiro, membro do debater sobre o tema colocado em cima da mesa.
o ganho reputacional, a contratação de pessoal técnico e movimento “Não vai ter Fundação na UC”. Gonçalo Bento refere que, para o atual CG, “já não
docente em regime privado, a compra e venda de imóveis O aumento da autonomia por parte da UC pode levar vai ser grande discussão”, uma vez que se vão reunir
sem intervenção do Governo, a desobrigação no uso da a erros de contratos e prestações de serviços desadequa- apenas mais uma vez até às eleições marcadas para dia
central de compras do Estado, menos cativações e a pos- das que podem resultar em contratações obrigatórias. 6 de dezembro. “É a grande bandeira dos próximos
sibilidade de angariação de doações e patrocínios. Para o Para além disto, pode existir uma definição descuidada membros, porque eles é que vão discutir se a UC deve
reitor da UP as fundações permitem dar, acima de tudo, de carreiras próprias e imprudente negociação salarial, passar para regime fundacional ou não”. José Dias,
“uma maior autonomia” às Instituições de Ensino Supe- Estatutos mais complexos pela presença do Conselho de por sua vez, acredita que o debate “deve ser a nível
rior (ES). Curadores e empréstimos para investidores sem ir ao Mi- nacional”, pois defende que “a AAC tem uma visão
nistério das Finanças são os pontos negativos indicados mais abrangente e não protege apenas aquilo que
Papel determinante do Conselho de Curadores pelo reitor da UC. José Dias aclara que “a AAC defende deve acontecer com a UC, mas sim aquilo que deve
As opiniões sobre a mudança para regime fundacio- que se deve manter um certo nível de autonomia”. Contu- acontecer como o sistema no seu todo”. “Se o sistema
nal dividem-se no seio do meio académico. O presidente do, acrescenta que “há um ponto negativo na autonomia estiver em causa por um regime”, acresce, “então é um
da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra patrimonial, que é a venda ao desbarato daquilo que é regime negativo”.
(DG/AAC), José Dias, realça que a maior desvantagem propriedade da instituição”. Previsto o direito de arrependimento, o reitor da UC
“é a constituição de um Conselho de Curadores acima Algumas dúvidas em relação ao regime fundacional fo- reitera que “não é uma decisão irreversível”, mas sim
do Conselho Geral, que define a governação da institui- ram expostas durante a sessão, no sentido de desmitificar “um regime experimental de cinco anos”, para o qual
ção”. O Conselho de Curadores é constituído por cinco questões que se prendem com a privatização, os contratos “não há calendário de decisão”. Sebastião Feyo conclui
pessoas exteriores à UC, escolhidas pelo CG e nomeadas de trabalho, a diminuição do financiamento do Estado e a sua intervenção ao salientar “a importância de um
pelo Governo. Tem como funções a homologação de or- o aumento do regime de propinas. João Gabriel Silva cla- modelo que se adeque à dinâmica da atualidade”.
3 DE NOVEMBRO DE 2016
CULTURA
-4-

JOÃO RUIVO

CURSO ABRE PORTAS AOS


AMANTES DA SÉTIMA ARTE
Com o objetivo de dar uma formação mais
especializada, “Cinemalogia” aposta num
maior enriquecimento dos seus módulos
- POR ANA FRANCISCA NUNES -

E m parceria com a Universidade Aberta (UA), o Festival Caminhos do Cinema


Português realiza, pelo sexto ano consecutivo, o curso “Cinemalogia”, que
visa dar formação na área do cinema. O curso acolhe qualquer pessoa que queira
participar. O projeto “é complementado de forma a atingir um fim, que é conceber
uma curta-metragem”, explica Joana Mata, coordenadora do curso. É esperado
que os formandos adquiram competências na área da realização de um projeto
cinematográfico alargado. “Cinemologia” tem início a 19 de novembro.
Para além dos módulos principais, que cobrem os mais importantes aspetos da
produção, existem ainda módulos transversais e complementares. Estes últimos
“são ‘online’ realizados através de uma plataforma”, ilustra a coordenadora.
Nenhum dos módulos é obrigatório, no entanto, Joana Mata explicita que,
nesta edição, estes “melhoraram”. Vão ser desenvolvidos três aspetos cruciais, o
documentário, o ‘story board’ e a crítica que, devido à UA, “oferece uma formação
mais especializada e um currículo que pode formar, por exemplo, professores”. O
curso tem uma duração média de 22 semanas. GEFAC:
Joana Mata explica que “todos os formadores que foram pensados para
ensinar são pessoas de renome e com alguma importância”. Estes dão um maior 50 ANOS DE PATRIMÓNIO IMATERIAL
enriquecimento aos módulos, pois “são todos bons nas suas áreas”, como refere
a coordenadora. Deste modo, são considerados uma “aposta” por parte dos
organizadores do curso. Circuito de atividades compreendido entre espetáculos,
“Cinemalogia” não tem um público alvo específico, mas pretende despertar o
interesse da comunidade estudantil. A possível falta de entusiasmo e de adesão em colóquios, exposições e manifestações de rua. “Novas
relação ao cinema, por parte dos estudantes, é uma das preocupações de Francisca
Carvalho, também coordenadora do curso. propostas para divulgação da cultura popular”
Francisca Carvalho ilustra que “para os estudantes de Estudos Artísticos, o
cinema tem muito impacto”. Quanto aos restantes, não vê “alunos interessados
são os principais objetivos
neste tipo de curso”. “A não ser que sejam [de licenciaturas] de cinema, como da
- POR JOÃO RUIVO -
Universidade da Beira Interior, porque em Coimbra”, a coordenadora afirma que
vê “poucas pessoas interessadas”. Embora haja pouco entusiasmo por parte da
comunidade universitária, o curso, de acordo com Francisca Carvalho, tem uma
adesão considerável.
“Nunca ninguém viu um filme pelo qual não foi influenciado. Muitas pessoas
O Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) realiza
pela 16ª vez as Jornadas de Cultura Popular. Este acontecimento é especial
este ano devido à comemoração dos 50 anos do grupo. Os eventos vão decorrer en-
descobrem aquilo que esperam ser através do cinema”, conclui Joana Mata, que tre os dias 5 de novembro e 3 de dezembro, com o desígnio de proporcionar a cada
considera a sétima arte importante para a formação de um indivíduo. cidadão uma convergência nas artes, outrora transmitidas apenas por gerações de
distintas regiões do país. A apresentação do “Livro de Comemoração dos 50 anos do
GEFAC” é o ponto de partida das jornadas.
Nos dias 8, 15 e 22 de novembro acontece um ciclo de conversas, em que o tema inicial
JOÃO RUIVO
vai ser uma reflexão sobre o passado, presente e futuro da canção de Coimbra . O ciclo
tem como título “De sonho e tradição”. A música sobe a palco nos dias 10, 12, 19 e 24
com um conjunto de concertos onde “vai também haver uma reunião”, como explica
Amanda Guapo, membro da Comissão das Jornadas. O grupo Brigada Victor Jara, com
a participação dos alunos do curso de Jazz do Conservatório de Música de Coimbra,
finaliza este ciclo de concertos.
Decorria o ano de 1966, quando o GEFAC foi fundado com o pressuposto de recolher,
explorar e refletir sobre as manifestações culturais das populações rurais. Amanda
Guapo explica que as primeiras recolhas etnográficas, consistiram em “sair da academia
e ir às aldeias do país, falar com os habitantes locais e recolher elementos para utilizar em
espetáculos”. Entre estes componentes estão a música instrumental, os cantares, a dança
e o teatro.
Foi após a revolução dos cravos que os projetos de recolha de canção de raiz popular
despoletaram e deram origem a grandes nomes da música portuguesa. Fausto, Vitorino,
Trovante e Brigada Victor Jara são alguns exemplos.
De acordo com Amanda Guapo é importante difundir a cultura popular, “sobre o
risco de esta se perder”. No passado, “antes de a Câmara [Municipal de Coimbra] ter esse
papel, a primeira feira de artesanato foi promovida pelo GEFAC, com uma programação
semelhante à feita hoje em dia”, defende Amanda Guapo. A solução, segundo a comissária
das Jornadas, passa por uma ”maior capacidade de criação, com novas propostas e
abordagens da divulgação da cultura popular”. Acrescenta ainda que “o objetivo não é
imitar usos e costumes tradicionais, mas revelar a mensagem que as pessoas queriam
passar quando cantavam uma canção num grupo de trabalho”.
3 DE NOVEMBRO DE 2016
CULTURA
-5-

COIMBRA NO CONTEXTO CULTURAL: O TEATRO DENTRO E FORA


DA CENA ACADÉMICA
“Para os estudantes quererem participar tem que haver algo que os puxe para o fazer”. No con-
texto de uma cidade estudantil a mobilização dos jovens nem sempre vai ao encontro do expectável
- POR JOANA PEDRO E PEDRO DINIS SILVA -

A aproximação do ano letivo coincide com a


época de início de temporada dos vários te-
atros existentes por todo o país. Em Coimbra, não
frates, e de Pedro Rodrigues são marcadas por
uma visível tristeza perante o panorama cultural
na cidade. O produtor da Escola da Noite consi-
ridade na vida da maior parte da população”.
Pedro Rodrigues considera que “aumentou
o peso e a oferta de experiências mais comer-
faltam organismos que fomentem esta arte, mas dera que, “por um lado, é necessário diversificar ciais, como os concertos, os festivais de mú-
a adesão aos mesmos, segundo várias entidades, ao máximo os meios de divulgação de cultura”. sica”. Segundo o produtor da Escola da Noite,
nem sempre é tida como positiva. A Associação Por outro lado, afirma que “é preciso apostar o crescimento dos festejos académicos passou
Académica de Coimbra tem uma vasta oferta de no contacto direto com os próprios cursos de a ocupar os tempos de lazer dos estudantes.
núcleos teatrais, como o Círculo da Iniciação Te- vertente artística e respetivos responsáveis”. “Não acredito que um estudante universitário
atral da Academia de Coimbra (CITAC) e o Te- Segundo Guilherme Pompeu, responsável téc- não vá ao teatro ou ao cinema porque ficou em
atro dos Estudantes da Universidade de Coimbra nico do CITAC, “continuar a ter uma progra- casa a estudar”, afirma Cristina Janicas. É o de-
(TEUC). A própria cidade não escassa de institu- mação contínua e ativa” está entre os principais sinteresse que, na sua opinião, está na base da
ições: o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), objetivos do grupo. Cristina Janicas explica que falta de adesão. “De segunda a quinta-feira as
o Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB), a existem preços especiais nos bilhetes para jo- ruas estão cheias de gente, não é por falta de di-
sua companhia residente (Escola da Noite), e a vens que apresentem o cartão de estudante, mas nheiro, é mesmo por falta de interesse”, esclarece.
Cooperativa Bonifrates são alguns exemplos. “a maior parte dos estudantes que usa esses bi- Há uma opinião unânime: o teatro é essencial no
Mesmo com perspetivas distintas, a opinião lhetes pertencem ainda ao ensino secundário”. A contexto de uma formação académica completa.
generaliza-se no que toca ao consumo de teatro membro da direção da Cooperativa Bonifrates A utilidade do teatro é tida em conta por Miguel
pela comunidade estudantil: a oferta é grande e acrescenta ainda que há uma crescente falta de Pombas, que afirma que, segundo a sua própria
diversa, mas a procura dos alunos pelo teatro nem interesse por parte dos estudantes universitários. experiência, o teatro “faz crescer as pessoas en-
sempre se manifesta. “O peso dos estudantes uni- Não obstante, as instituições de teatro em quanto homens e mulheres”. Segundo o tesourei-
versitários no conjunto do público de teatro tem Coimbra não são, de todo, desconhecidas. Os ro do CITAC, é possível interligar aspetos do tea-
diminuído”, reflete Pedro Rodrigues, produtor da gestores do TCSB e TAGV notam uma maior tro com os do dia-a-dia, e a experiência no teatro
Escola da Noite, companhia que também é gestora afluência de estudantes de outros países. O pro- faculta ferramentas que permitem despertar in-
do TCSB. Esta é uma realidade que também o dire- dutor da Escola da Noite salienta que “os estu- teresses e curiosidades. Também Fernando Matos
tor do TAGV, Fernando Matos Oliveira, expressa. dantes universitários estrangeiros vêm numa Oliveira considera o teatro essencial na formação
“Gostávamos que houvesse muito mais adesão”. percentagem significativa”. Fernando Matos de um jovem, “no sentido em que ele expande as
Apesar da pouca participação demonstrada Oliveira nota também que existem “várias de- experiências que os estudantes podem ter”. O di-
pelos gestores do TCSB e TAGV, esta mostra-se zenas de alunos na área de Estudos Artísticos retor do TAGV acrescenta ainda que “não se pode
satisfatória para os membros de grupos acadé- que vieram para Coimbra também por cau- ter uma academia pautada pela cultura do mesmo”.
micos. O tesoureiro do CITAC, Miguel Pom- sa do TAGV, inclusive alunos estrangeiros”. “É uma grande tristeza um estudante uni-
bas, declara que os jovens “têm vindo procurar A informação cultural circula de forma posi- versitário fechar-se em determinados meios
cada vez mais aquilo que é o CITAC e o grupo tiva, tal como afirma Inês de Miranda, sócia do e nem sequer se dar à hipótese de vir ao tea-
tem vindo a crescer com a procura”. O tesou- TEUC. “Quando vim para Coimbra perguntei tro”, afirma Cristina Janicas. Em jeito de con-
reiro acrescenta ainda que não pensa “que não às pessoas com quem já tinha trabalhado qual clusão, a opinião geral é de que os jovens vão
haja público, muito pelo contrário”, acredita “que era o sítio a procurar para fazer teatro e as pes- menos ao teatro. Guilherme Pompeu afirma
cada vez mais os estudantes estão interessados”. soas apontaram para o TEUC e para o CITAC”. que “para os estudantes quererem participar
Também no TEUC se sente o apoio estudantil. Que razões podem, então, justificar a reali- tem que haver algo que os puxe para o fazer”.
“Fizemos o nosso exercício final em abril e tínha- dade do panorama da arte dramática por par-
mos o teatro cheio quase todos os dias”, explica. te dos jovens de Coimbra? As opiniões variam.
Em contrapartida, as opiniões de Cristina Ja- Emanuel Santos, também sócio do TEUC, con- com Carlos Almeida
nicas, membro da direção da Cooperativa Boni- sidera que “em Portugal o teatro não é a prio-

CARLOS ALMEIDA
3 DE NOVEMBRO DE 2016
DESPORTO
- 6-

O FUTEBOL DESPEDE-SE DE MÁRIO WILSON


O jogador fica para a história como o “Velho Capitão”. Viveu momentos de glória na Académi-
ca e introduziu modernidade no futebol português
- POR RITA GRÁCIO -

M
ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO
ário Wilson foi jogador, treinador e selecionador homem de visão”, ao ser dos primeiros a fazer ‘scouting’,
nacional. Passou por vários clubes, mas os seus “estudar a equipa adversária” e a levar a sua equipa
“dois amores” eram o Sport Lisboa e Benfica, onde foi em “estágios intensivos”, para a Curia. Destaca, ainda,
treinador, e a Académica, onde passou mais temporadas. a criação da figura dos médios-alas e a introdução da
O “Velho Capitão” nasceu na colonial Lourenço Marques, inovadora tática 4-4-2. O ex-treinador adjunto de Mário
atual Maputo, a 17 de outubro de 1929. Aos 19 anos dei- Wilson na época de 1981-1982, Vítor Manuel, confirma
xou o clube da sua cidade para vir para Portugal, jogar que era esse o seu cunho pessoal: “futebol de posse, de
pelo Sporting, pelo qual foi campeão nacional em 1951. circulação, com rapidez e qualidade”. Foi em Coimbra
Em 1952 vem jogar para a Académica, onde faz 207 jogos que surgiu a alcunha com que ficaria conhecido no
como capitão de equipa. É em Coimbra que se licencia mundo do futebol: o “Velho Capitão”.
em Ciências Biológicas, constitui família, e submerge no
ambiente contestatário anti-fascista. Privou com Almei- O futebol como palco político
da Santos e Agostinho Neto, entre outros democratas e Um “líder”, um “bom comunicador” e sempre
independentistas. Em 1964 estreia-se como treinador da “capaz de motivar a equipa”. Assim o descrevem Mário
equipa dos estudantes e assim permanece até 1968. De- Campos e Vítor Manuel. Demonstrou-o quando o
pois de uma passagem pelas “Águias”, regressa à Briosa futebol da Académica atravessou a crise estudantil de
de 1980 a 1983. Faleceu a 3 de outubro, aos 86 anos. O 1962. Os jogadores não treinavam e boicotavam jogos.
presidente da Secção de Futebol da Associação Académi- No documentário “Futebol de Causas”, do autor Ricardo
ca de Coimbra, Rui Pita, considera que se trata da “perda Martins, Mário Wilson conta como foi pressionado
insubstituível” de “um homem muito respeitado”. pela Junta Militar para a Académica voltar aos relvados
e como convenceu a sua equipa a jogar e, assim, evitar
As temporadas em Coimbra a prisão. Todos jogaram, inclusive Chipenda, França
Na época de 1951-1952 Wilson estreia-se como e José Júlio que, meses depois, com o consentimento
defesa central na equipa dos estudantes. Em 1963, do capitão, regressariam aos seus países de origem,
depois de 281 jogos e 17 golos, termina a sua carreira em África, para lutar pela libertação do jugo colonial.
como jogador e passa a treinador dos estudantes no ano Vítor Manuel refere a forte personalidade de Mário
seguinte. Logo na época de 1964-1965 eleva a equipa dos Wilson ao considerá-lo “um general”. Ao lamentar
estudantes ao quarto lugar, mas vive momentos de glória Mário Wilson fez o curso de treinadores e um estágio “uma grande perda para o futebol nacional”, o ex-
na época de 1966-1967, quando o clube se sagra vice- na Holanda, onde se jogava o “futebol total”, no qual treinador-adjunto dos estudantes lembra que “ainda
campeão nacional e chega à final da Taça de Portugal. se inspirou, conta Mário Campos, antigo jogador dos não foi feita a homenagem merecida a Mário Wilson”.
O seu sucesso como treinador deve-se à sua formação. “capas negras”. Acrescenta que Mário Wilson foi “um Com João Pimentel

NOVO ESTATUTO ESTUDANTE-ATLETA EM PROL DO DESPORTO


Alterações preveem quadro de mérito desportivo, reestruturação do ODUC e mais benesses. Estudantes
elogiam medidas mas consideram que “podia ser feito ainda mais”
- POR JOÃO PIMENTEL -

O regulamento que define as competências,


os direitos e deveres dos estudantes-atletas
da Universidade de Coimbra (UC) sofreu novas
estrutura da UC e os atletas”. Em segundo lugar,
“é um regulamento que permite a atribuição de
benesses aos atletas antes destes terem resultados
outras universidades”. Quanto ao ODUC, confessa
que “não conhecia a sua existência”, ainda assim, a
reestruturação “parece uma boa medida”, pois “tem
mudanças. Mário Santos, coordenador do Gabinete desportivos, o que antes não acontecia”. Por último, de haver alguma regulamentação”.
de Desporto da UC, refere que o Estatuto Estudante- este novo Estatuto introduz um quadro de mérito “Muitas vezes, o processo de atribuição demora
Atleta (EEA) é um “instrumento criado pela UC para desportivo. O objetivo passa por “distinguir os muito tempo”, aponta Cláudia Gaspar, estudante
permitir a compatibilização da atividade desportiva estudantes-atletas que conseguem medalhas a nível de Economia da FEUC e atleta da Secção de Ténis
dos atletas universitários, que representam a internacional”. Esses atletas recebem um prémio da AAC. A desportista está no seu terceiro ano e
universidade nos campeonatos universitários, com a monetário e têm direito a “usufruir das residências confessa que “só no ano passado é que atribuíram o
sua vida académica”. As alterações feitas pretendem universitárias pelos mesmos mecanismos dos estatuto”. Ao saber da reforma feita no ODUC, pensa
“uma maior agilização na atribuição do estatuto”, estudantes bolseiros”. Estes métodos, de acordo ser “uma boa medida”, visto que, o ano passado, se
declara Mário Santos. com Rui Magalhães, pretendem “facilitar a prática “reuniam uma vez por mês e, no final, não havia
“O novo EEA contrasta com o antigo em três desportiva e atrair novos estudantes-atletas para a direito ao Estatuto”. Para finalizar, Cláudia Gaspar
pilares fundamentais”, assegura o coordenador do Universidade”. vê o EEA como “algo que os estudantes-atletas
Gabinete de Desporto da Associação Académica Francisco Xavier Gonçalves, estudante de merecem e não como uma prenda”.
de Coimbra (AAC), Rui Magalhães. O primeiro Economia da Faculdade de Economia da UC Para Mário Santos, “o mais importante é que estas
passa por uma “reconstituição” do Observatório do (FEUC) e atleta de natação do Clube Náutico modificações sejam eficientes”. Garante, ainda, que
Desporto da Universidade de Coimbra [ODUC]”, Académico de Coimbra, candidato à atribuição do se está a dar “mais um passo sobre o que é agora
que já tinha sido criado para regulamentar a Estatuto Estudante-Atleta, crê que “as alterações o papel fundamental do desporto para a UC” e o
atribuição do EEA, que “tinha uma composição são boas, mas podia ser feito ainda mais.” Nesse novo Estatuto Estudante-Atleta, que teve início a
pouco funcional”. Com esta reformulação, “vai sentido, pensa que “devia haver uma maior dia 6 de outubro, surge como “primeiro legado da
integrar o ODUC um membro da Direção-Geral flexibilização de horários para conjugar as aulas organização dos Jogos Europeus Universitários
da AAC (DG/AAC), que faz a articulação entre a e os treinos e que ainda há muito a aprender com 2018”, que se vão realizar em Coimbra.
3 DE NOVEMBRO DE 2016
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
-7-

ADORMECER EM MOMENTOS DE TÉDIO É APENAS


“ECONOMIZAÇÃO DE ENERGIA”
Nas primeiras aulas da manhã “não é o aborrecimento que provoca sono, mas sim a ausência de
estímulos exteriores”. Sonhar acordado é o que, por vezes, mantém o cérebro ativo
- POR BERNARDO GUERRA MACHADO E PEDRO SILVA -

S
JOÃO RUIVO
e existe cansaço em excesso e é difícil manter a atenção explica. Na prática, quando “não se consegue
no mundo em volta, o mais certo é que se embale descansar de forma conveniente, tem-se dificuldade
numa embaraçosa soneca em público. Isto porque quan- na concentração, na atenção e na aprendizagem”,
do “não se sente nenhum estímulo que se apresente como acrescenta o colaborador da FMUC.
um benefício ou uma ameaça, o cérebro tende a optar Segundo David Mota, o principal mecanismo de
por economizar energia”, como explica David Mota, co- regulação do estado de vigília é “o sistema reticular
laborador na Faculdade de Medicina da Universidade de ascendente, no tronco cerebral “. É lá que atua “um
Coimbra (FMUC). Além disto, de acordo com Cláudia dos principais neurotransmissores responsáveis pelo
Cavadas, investigadora no Centro de Neurociências e Bi- aproveitamento académico, o autómato”. Em casos
ologia Celular de Coimbra (CNC), “a motivação e o in- de sonolência “esse sistema é desativado e a fase de
teresse despertam as pessoas”. descanso é iniciada”, acrescenta. Desta forma, “não é
“Estar motivado” está relacionado com “a capacidade o aborrecimento em si que provoca sono, mas sim a
de cada indivíduo se manter acordado”, porque “as áreas ausência de estímulos exteriores capazes de manter o
cerebrais envolvidas na motivação estão diretamente cérebro ativo”, clarifica o colaborador.
relacionadas com as áreas do sono”, explica Cláudia É de notar que há “outros fatores que podem
Cavadas. Logo, “em momentos aborrecidos, as pessoas contribuir para uma menor tolerância ao
ficam sonolentas” e vice-versa. No entanto, “é importante aborrecimento”, de acordo com David Mota. O
manter constantes os horários”, o que “está relacionado investigador destaca, “além da medicação e drogas,
com o ritmo circadiano”, isto é, “a necessidade das células as doenças psíquicas”. Um indivíduo “quando está
respeitarem um ritmo biológico”, acrescenta. deprimido adormece mais facilmente, o que leva
Durante o período de vigília “a atividade em certas áreas neste período que “há um processo de reciclagem a que a depressão se torne numa causa e numa
cerebrais sofre uma redução significativa”, que se traduz das células, a autofagia, em que estas conseguem consequência”, exemplifica. Esta regulação é também
em efeitos como “a diminuição do batimento cardíaco, retirar lixo ou proteínas degradadas “, elucida. Este feita enquanto se está acordado, quando “se dirige
da temperatura corporal e uma adaptação a nível da procedimento “aumenta quando se dorme, pelo a atenção para interesses mais aprazíveis”, como no
respiração”, esclarece a investigadora. “É possível mudar e que a sua desregulação tem consequências nefastas, ‘daydreaming’, fenómeno conhecido como “hsonhar
conseguir ficar acordado, mas isso não é bom”, garante. É como alterações gastrointestinais e de memória”, acordado”.

COPOS CHEIOS, MEMÓRIAS VAZIAS


ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO

Acontecimentos, recordações e das no cérebro”.


Ao ingerir-se bebidas alcoólicas, de forma des-
foria e hiperatividade” sentidas pelo indivíduo.
No entanto, estes “efeitos são transitórios” e, em
pensamentos ficam comprometidos medida, o cérebro fica com sequelas que podem
perdurar. Quando entra em contacto com as cé-
concentrações elevadas de álcool, “o glutamato
pode ter um efeito inibitório”, que se traduz numa
aquando da ingestão severa de lulas, o álcool “destabiliza a estrutura das mem- fase “mais frustrada”.
branas celulares”, que envolvem os neurónios, es- De modo a tornar o assunto mais claro, o inves-
álcool clarece o investigador da FMUC. É através dos tigador da FMUC esclarece que o neurotransmis-
- POR LUÍS ALMEIDA, RITA FONSECA
neurónios que se realiza a “comunicação entre cé- sor glutamato é também “muito importante nos
E ANTÓNIO LADEIRA - lulas do cérebro”, as sinapses. O álcool, ao alterar circuitos da memória no hipocampo”. A perturba-
as sinapses, vai “perturbar o normal funcionamen- ção desta rede, que ajuda a “processar, armazenar
to das organizações dos circuitos da memória”, o e recordar memórias”, vai dificultar a “aprendi-

C om o sino da torre da Universidade de Coim-


bra (UC) a dar as 12 badaladas, começa mais
uma noite académica. Um indivíduo ingere gran-
que tanto pode “causar dificuldades em aprender
e memorizar novos acontecimentos”, como “inibir
a recordação de memórias armazenadas”, aclara.
zagem e memorização” de novos acontecimentos.
Isto significa que “a memória a curto prazo é afe-
tada de forma direta”. A influência na memória a
des quantidades de álcool e, no dia a seguir, quan- Também os estados de euforia e frustração, que longo prazo está implicada na presença de “níveis
do acorda, não se recorda da noite anterior. Ao ocorrerem durante um estado de embriaguez, fo- tóxicos de glutamato”, ou seja, “quando a intoxi-
deparar-se com esta falta de recordações, questio- ram alvo de inquietude por parte do indivíduo. cação é severa”. Nestas circunstâncias “os neuró-
na-se acerca do que se passou e tenta arranjar uma João Malva também tem explicação para estes fac- nios acabam por morrer e as memórias consoli-
justificação. A explicação, nas palavras de João tos. Ao afetar as sinapses, o álcool vai “modificar dadas podem desaparecer”, acrescenta.
Malva, investigador no domínio das Neurociên- a quantidade de neurotransmissores, mensageiros João Malva conclui que, “não são as recorda-
cias da Faculdade de Medicina da UC (FMUC), é do cérebro” enviados de um neurónio para outro. ções antigas que somem”, após uma intoxicação
que “o álcool é um agente tóxico”, o que faz com Destaca ainda o glutamato como “principal neu- de glutamato, mas sim o “caminho para as mes-
que “a típica bebedeira tenha ações muito marca- rotransmissor excitatório”, responsável pela “eu- mas”.
3 DE NOVEMBRO DE 2016
SOLTAS
-8-

O NÃO-LUGAR
- SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

FOTOGRAFIA POR PATRÍCIA MENDES - SECÇÃO DE FOTOGRAFIA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

N a primeira vez que o destino me


confrontou com um jogo de moedas,
miseravelmente nem cara nem coroa se
Superei essa desavença no tumulto de uns
copos, bebendo feito pirata ocioso. Em
poucos dias, cansei-me de tudo aquilo.
mais ninguém. No entanto, ficou-me
indicado um lugar para novos convívios
e, não por escolha convicta, arrumei
revelaram: a moeda ficou em pé. Mais Cansado, procurei alternativas um quarto numa República. Em três
tarde percebi ser isso uma sina, e quando integrativas. Ou apenas pensei em dias já tinha lido mais livros do que o
tive meu primeiro tesão por arte, optei procurá-las, sem muito direcionamento. Raskólnikov do Dostoiévski, mas nunca
por pintar muros, não-lugares, para o Havia um labirinto esfíngico ao pé duma soube dizer se eram bons. Adquiri hábitos
desgosto dos meus avós. Digo essas coisas praça, camuflado por secções a todo noturnos e diurnos, numa incoerência
porque agora, ou num tempo qualquer, gosto. Não tenho basicamente gosto que confundia o funcionamento da casa.
entrei na Universidade e ainda não algum e ali constatei esse inócuo hábito. Passados cem anos, a minha indecisão
consigo perceber por qual porta entrei. Para a secção de Escrita e Leitura, os três honradamente despediu-se de lá.
Lembro-me do primeiro convite recebido, livros de auto-ajuda da minha biblioteca Por fim, morei num quarto de torre,
ainda coberto pelo líquido amniótico do tornavam-me insosso, assim como o arrendado. Não tinha a rigor nada que
novo despertar. Era um doutor, cuja tese meu divertido repertório de músicas do pudesse dizer ser meu, apenas uma moeda
ainda me indago, oferecendo-me convívio. Portugal em Festa para a Rádio. Na de e umas cicatrizes crescentes no rosto,
Aceitei sem maiores questionamentos. Xadrez, depois de duas tentativas percebi irmanadas de folhas de papel, sem lógica
Do bolso da capa, o tal doutor sacou- não perceber nada de “xeques com cavalo”, alguma. Nunca mais atirei a moeda ao alto,
me uma cartilha amarelecida, de e ainda tentei os Desportos, mas não tinha com receio de confirmar a minha indecisão
linguagem dark soft, pautada por regras, os vinte e cinco réis da mensalidade do sobre as coisas. Contudo, nessa torre
obviamente. Vi até graça naquele aparato arco-e-flecha. Nunca pude acertar o alvo. julguei achar meu espaço e quem sabe um
cartesiano, e num gesto singelo, um dia Foi um desastre, contudo não desisti. dia não a divido com alguém, caso, é claro,
precipitadamente me ri. Ri-me e fodi-me, Ao acaso, passei a frequentar umas festas, não me seja obrigatória a opção de ser o
por sinal. Ajoelhei-me num resto de rua, conhecendo de relance uma malta, e outro em referência a mim mesmo, mesmo
em desagradável comunhão com a sombra. em outro relance já não conhecendo sendo esse o meu anátema preferido.
3 DE NOVEMBRO DE 2016
SOLTAS
-9-

FACEJAQUIM DA AAC - POR JGS -

Joseph Days

Foi de olhos no Futuro que encarei esta aventura. Depois de vários anos a trabalhar em prol da
Académica, assumi a responsabilidade máxima de me candidatar à Direção-Geral da AAC neste último
mandato. Os estudantes responderam positivamente e entregaram-me as chaves do nº1 da Padre
António Vieira.
Quase um ano depois olho para as várias lutas travadas com orgulho. A AAC deve ser um farol de
esperança, uma casa que lute pela constante melhoria das condições no ensino superior e pelo
desenvolvimento de todas as atividades culturais e desportivas que de si emanam.
Agora é tempo de me despedir da mais antiga e prestigiada Associação do país. Não mais me vão
encontrar nas reclusas salas da DG. Rumo agora para uma luta honrada. É tempo de fazer frente a um
dos maiores problemas desta casa. É tempo de acabar com o Tacho!

Joseph Days Que dor de cabeça... Tão cedo não meto os pés na Latada. Alguém sabe onde deixei o Facebook ligado?
Gosto Responder 3/11 às 17:30

Acabou o Tacho Da próxima tem mais cuidado! Este já caiu, quem se segue?

Gosto Responder 3/11 às 17:42

OBITUÁRIO
- POR CABRA COVEIRA -

CONSELHO FISCAL: RIP OR TO BE OR NOT TO BE


NOT?
U m falecimento ainda por decidir. Os
paramédicos não conseguem deter-
minar a Causa, nem sequer o horário de
A utonomia. Palavra-chave do Regime
Fundacional. Imagine-se um passari-
nho bebé a sair do ninho. Passinho a passi-
declaração de óbito. Na verdade, não se nho, um piu aqui, um piu ali. Mas sabes mes-
sabe muito bem sequer se se ligou para o mo se queres ser autónomo? Não preferes
112, na altura da paragem cardíaca. Acre- que te deem as minhocas no bico? Cuidado
dita-se, diz-se por aí em corredores da As- ao voar, passarinho. Há que pensar bem no
sociação Académica de Coimbra, que na esticar de asas, se preferes terraplanagem ou
verdade nunca houve chamada, porque um voo a pique. Talvez devas discutir com
primeiro era necessário que chegasse uma os teus irmãos passarinhos, antes destes saí-
carta à morada da Padre António Vieira. rem dos ovos. Mas voa. Daqui a cinco anos
Ou à secretaria. Tanto faz. há direito de arrependimento.
3 DE NOVEMBRO DE 2016
ARTES FEITAS
- 10-

CINEMA Estranho feitiço em tempo


de repetições
- POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

Doctor Strange
De
Scott Derrickson

Com
Benedict Cum-
berbatch, Tilda
Swinton, Rachel
McAdams, Mads
Mikkelsen

2016

B enedict Cumberbatch é Stephen Vicent Strange,


em mais um filme saído do universo cinemático
da Marvel, no meio de nomes como Luke Cage, An-
com ele (McAdams) e acaba por aterrar na capital do
Nepal em busca de algo que, para a sua mente física,
é intangível. Aí, em Kamar-Taj, é recebido por Tilda
Nova Iorque, fornecem um toque cubista e abstra-
to aos cenários, distorcendo a realidade a um nível
próximo do subconsciente. A fórmula, essa, enquan-
t-Man, Jessica Jones, Captain America ou Daredevil, Swinton, a feiticeira mais poderosa da Terra. to mais um filme saído da linha de montagem da
apenas para citar os mais recentes invasores do gran- A história avança pelo crescimento espiritual de Marvel, é que se torna batida. É já uma sucessão de
de ecrã ou das televisões, através do serviço Netflix. Strange, numa espécie de ideia de que qualquer per- filmes, demasiado próximos entre si no tempo, para
Uso Strange e não Estranho para designar a perso- sonalidade é recuperável com o tempo. O enredo que o espectador não note uma certa monotonia nas
nagem principal porque esse é a primeira estranhe- não foge à linearidade de uma batalha de grandes piadas e no fluir dos minutos. E quando os super-he-
za que o espectador apanha, o de alguém se chamar dimensões, como manda um filme de super-heróis, róis já não conseguem reservar surpresas além dos
Stephen Estranho. com Kaecilius, um feiticeiro que passou para a di- seus poderes, as obras, que podem ser muito boas,
A personagem de um neurocirurgião egocêntrico mensão negra, e Dormammu, o demónio desse lu- perdem por repetição.
e narcisista, apesar de brilhante, assenta que nem um gar onde tudo é eterno.
manto a Cumberbatch, na linha, aliás, do papel que Doctor Strange, enquanto película, é exímio no
lhe deu fama – Sherlock Holmes. Strange sofre um uso de imagens geradas por computador, em se-
acidente automóvel que lhe provoca danos irrepará- quências a fazer lembrar um não muito distante “In-
veis nas mãos, afasta a única pessoa que se importa ception”. A cena inicial, em Londres, bem como a de A Cabra aconselha

EM PALCO
Segunda feira atenção à direita

4 de novembro de 2016
21h30 Afinal, que raio é performance?
- POR FÁBIO LUCINDO -
Em
teatro académico de gil vicente Complicado? Pois é... E nem sempre dá certo. Afinal, No próximo dia 4 de novembro, no TAGV, às 21h30,
trata-se de experimentação. Claudia Dias vai apresentar seu teatro/dança perfor-
A performance mora naquilo que não tem nome, mático chamado “Segunda-feira. Atenção à Direita!”
que não tem ordem, que não tem regra mas tem um onde, ao que me parece, seremos levados à nocaute dis-
fim. Ela defende um conceito através de uma ação in- cutindo o mundo contemporâneo e nossas violências

C abuuuuummmm lilililil, dll rrrrr beeee bo fumms


Fumms bo wo taa zaa Uu
Ut, ré mi fa sol la si este fosse o início de um poema
terventiva.
É dinâmica, instável, contingente, indômita.
A performance é o grande catalisador da história da
diárias. Neste caso, levar um soco, mesmo que metafó-
rico, pode nos fazer finalmente sentir algo verdadeiro.
Nem que seja para torcer o nariz, vale a pena acom-
ginástico ou de um concerto de vogais TALVEZ DE- arte no séc. XX e ainda agora, no início do séc. XXI, panhar tais manifestações. Vá desconfiado, mas vá.
VESSE ESTAR ESCRITO EM CAIXA ALTA PARA causa controversa, espanto, escândalo. O espetador da performance deve ser um fanático da
PARECER QUE ESTOU A GRITAR pois era assim Às vezes até soa absurdo saber que há exatos cem suspeita. A performance permite ao público uma inte-
que se fazia no cabaré Voltaire, em Zurique, Suiça, há anos, alguns poucos abastados já estavam fazendo ração que o teatro poucas vezes oferece. Não é teatro,
exatos cem anos. Mas como não se trata de nada disso, aquilo que ainda hoje causaria transtornos por aqui. mas é. Não é dança, mas é. Não tem dramaturgia, mas
escrevo agora dentro da norma culta das línguas luso- Aliás, hoje, cem anos depois, no Teatro Académico tem. É nesse pêndulo reflexionante que a performance
fofíssimas vigente desde a assinatura do maravilhoso de Gil Vicente (TAGV), você pode acompanhar o pro- opera e transforma espaços e pessoas.
acordo ortográfico de 2012 #sóquenão. jeto Performance, AGORA! e tentar entender melhor “A arte existe para que a vida não nos destrua”, di-
Um ato performativo pode nos surpreender em do que eu estou falando, se é que há algo para entender zem que Nietzsche disse isso.
qualquer lugar (dentro de um jornal?). Aliás, talvez visto que a performance está para além do cognitivo;
este seja seu principal objetivo: surpreender. E é a par- ela se dá num grito libertário de singularidade absoluta.
tir deste estado de surpresa que os presentes diante de Cinco experiências performativas já foram apresen-
tal ato, tipo você, seu lindo, repensam tudo aquilo que tadas dentro do projeto Performance, AGORA! todas
haviam pensado até então sobre arte, convenções artís- tão únicas quanto questionáveis. Se você perdeu ou A Cabra aconselha
ticas, sobre os artistas e suas manifestações. nem estava sabendo, ainda dá tempo de conferir.
3 DE NOVEMBRO DE 2016
ARTES FEITAS
- 11 -

MÚSICA
GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Futuro em Glasper Podia ser melhor

- POR FILIPE FURTADO - A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

F azer da arte ciência ou da ciência arte seriam, tal-


vez, as primeiras considerações sobre o título deste
disco. Qual é a mais predominante, onde embatem,
ta, no meio de agendas musicais muito ocupadas.
Em “Day to Day” recuperam a sonoridade disco
em trajes de século XXI, para dançar em loop, mes-
onde se misturam? Não saberemos, nem interessa sa- mo antes de afundarmos em nove minutos de “No
ber. Depois de “Black Radio” e “Black Radio 2” chega- One Like You” com um arrepiante solo do saxofone
-nos o novo trabalho discográfico de Robert Glasper soprano de Casey Benjamin. Além dos temas de com-
Experiment – ArtScience. posição original, há espaço para a re-interpretação de
Glasper e companhia continuam nessa senda longa “Tell me A Bedtime Story” de Herbie Hancock (Fat
de mesclar jazz, hip-hop, R&B e de tudo mais um pou- Albert Rotunda; 1969); ou “Human” de Terry Lewis,
co. ArtScience eleva a fasquia dessa experimentação. que fecha o disco. Quando ouvimos “Find You” atra-
“Se a minha gente criou tantos estilos diferentes, por vessamos rasgos de rock progressivo bastante acen-
que me deveria confinar a apenas um”. É nesta primei- tuado pela presença de Michael Severson na guitarra
ArtScience ra voz que o pianista lança a premissa do disco logo com prego a fundo. Se na bateria Chris Dave dá lugar
em “This is Not Fear”. A faixa ilustra essa demanda e a Mark Colenburg, no baixo continua Derrick Hodge,
atravessa a linguagem pós-bop até aterrar no groove peças essenciais da sonoridade destes experimentares
De do hip-hop. de Glasper.
Robert Glasper Ex-
periment Por oposição aos dois números de Black Radio, Seja Robert Glasper Experiment arte ou ciência,
ArtScience dispensa vocalistas convidados. Glasper certo é que a sua música sobe a fasquia e soa ao futuro.
Editora toma as rédeas do microfone em “Thinkin About You”
Blue Note para discorrer sobre as suas histórias amorosas e o res-
to conta com os dotes de Casey Benjamin, vocalista e
2016v saxofonista do grupo. Gravado em Nova Orleães, nos
Estados-Unidos da América, o disco é o resultado, A Cabra d’Ouro
pela primeira vez, de composição e produção conjun-

LIVRO
Um inconvencional Harry Potter de sempre
- POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

H arry Potter and the Cursed Child (em português,


Harry Potter e a Criança Amaldiçoada) é o oita-
vo livro da saga do feiticeiro mais famoso do mundo.
se configura como problemático ou mesmo redutor.
Literalmente nada. É que para trás, e para os mais
desatentos ou simplistas, há milhares de páginas
E é, também, o “livro” mais polémico do conjunto. As que causaram uma habituação positiva, uma depen-
aspas são fáceis de explicar, dada a celeuma que en- dência saudável nos seus verdadeiros fãs. Portanto,
volveu a conversão para papel da peça homónima que o virar das folhas induz de forma natural uma re-
estreou no Palace Theatre, em Londres, a 31 de julho presentação mental muito mais próxima ao cenário
deste ano. de qualquer um dos oito filmes do que a um palco
Torna-se óbvio, ao folhear as primeiras páginas, de teatro.
que não é um livro no sentido convencional e tra- A história, essa, não deixando de ser nova em
dicional do termo. Foi essa a razão do desconten- inúmeros aspectos, tem em si uma repetição per-
tamento e desinteresse de muitos leitores fiéis do doável. Uma familiaridade que se poderia dispensar
universo mágico de Harry Potter. Sem que, contu- mas que não deixa de ser recebida de braços aber- Harry Potter and the Cursed
Child
do, lhes pudesse ser imputada qualquer razão, dado tos. Afinal, é Harry Potter e o imperdoável seria di-
que, desde o início, era ponto assente que seria dife- zer-se que dali não sai mais nada. Como Ginny Pot-
rente. E o diferente, aqui, é o guião da peça de teatro. ter diz, na página 296, “People think they know all De
É comum as peças de teatro terem uma repre- there is to know about you, but the best bits of you J.K. Rowling, Jack Thor-
sentação física. As páginas dividem-se em atos ao are –have always been– heroic in really quiet ways”. ne e John Tiffany
invés de capítulos, os diálogos prevalecem maiori-
tariamente e as descrições reduzem-se a um míni- Editora
mo indispensável, uma ponte para os cenários que Little, Brown UK
vão a palco, uma janela que se abre às emoções das
personagens e à forma como se relacionam com os 2016
restantes protagonistas. A Cabra d’Ouro
E neste livro específico, de capa dura, nada disso
Mais informação em

.pt
JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

EDITORIAL
- POR INÊS DUARTE -

Há ou não fundação na UC?

N
“ Se o Senado e o Conse-
o dia 31 de outubro o reitor da Universi- público-alvo a Academia de Coimbra e é sob
dade de Coimbra (UC), João Gabriel Sil- este princípio que se devem guiar as decisões
va, em conjunto com o reitor da Universidade
do Porto, conduziram uma sessão de esclareci-
lho Geral já pouca repre- editoriais.
3. ACABRA e ACABRA.PT orientam o seu
mento acerca do Regime Fundacional. Regime
esse que tem levantado, ao longo dos últimos
sentação estudantil têm, conteúdo por critérios de rigor, criatividade e
independência política, económica, ideológica
anos, imensa controvérsia. O maior problema, admite-se ainda mais ou de qualquer outra espécie.
tanto para a maioria dos estudantes presentes 4. ACABRA e ACABRA.PT praticam um
na sessão, como para a Associação Académi- um órgão, que, apesar de jornalismo que se quer universitário no sentido
ca de Coimbra, centra-se no facto de passar a amplo do termo – desprovido de preconceitos,
existir um Conselho de Curadores. Este órgão não ser deliberativo, ho- criativo, atento, incisivo, crítico e irreverente.
de gestão é constituído por membros externos, 5. ACABRA e ACABRA.PT praticam um
que são escolhidos pelo Conselho Geral, e no- mologa decisões a todo jornalismo de qualidade, que foge ao sensacio-
meados pelo Estado. Se o Conselho Geral e o nalismo e reconhece como limite a fronteira da
Senado já pouca representação estudantil têm, o nível da gestão da UC, vida privada.
admite-se ainda mais um órgão, que, apesar de
não ser deliberativo, homologa decisões a todo
que nenhuma represen- 6. ACABRA e ACABRA.PT são na sua essên-
cia constituídos por um conteúdo informativo,
o nível da gestão da UC, que nenhuma repre-
sentação estudantil acrescenta.
tação estudantil acres- mas possuem espaço e abertura para conteúdos
não informativos, que se pautem por critérios
Denote-se ainda outro aspeto que é trazido
como uma vantagem: fornecer mais prestígio e
centa” de qualidade e criatividade.
7. ACABRA e ACABRA.PT integram-se na
ganho reputacional à instituição. Não existirão, Secção de Jornalismo da Associação Acadé-
porém, outras maneiras de valorizar a Univer- mica de Coimbra, perante cuja Direção são
sidade de Coimbra sem ser através deste regi- responsáveis; contudo, as decisões editoriais
me? É uma exclusividade? Ainda a questão da ESTATUTO EDITORIAL d’ACABRA e d’ACABRA.PT não estão subor-
liberdade de adquirir crédito e arranjar patro- dinadas aos interesses ou a qualquer posição da
cínios torna-se preocupante. Um deslize basta De acordo com o Artigo 17º, alínea 3, da Lei Secção de Jornalismo, nem aquele facto inter-
para se contrair dívida e criar dependência das de Imprensa, qualquer publicação deve divul- fere com a relação sempre honesta e transpa-
empresas financiadoras. A questão que se im- gar, anualmente, o seu estatuto editorial. rente que ACABRA e ACABRA.PT se obrigam
põe é: o ensino deve ou não ser público? E se 1.ACABRA e ACABRA.PT são dois órgãos a ter perante os seus leitores.
um regime de direito privado é melhor, deve ou de comunicação social académicos cujo objeti- 8. ACABRA é um jornal quinzenal, cuja pe-
não o Estado lutar para que seja o público me- vo é constituírem-se – numa simbiose capaz de riodicidade acompanha os períodos de ativida-
lhor e mais autónomo? A resposta parece ser aproveitar o formato e estilo diferente que cada de letiva.
sim, mas ficamos à espera das próximas sessões um possui – enquanto Jornal Universitário de 9. ACABRA.PT é um site informativo, de
de debate, que esperamos que incluam toda a Coimbra. atualização diária, cuja atividade acompanha
comunidade académica. 2. ACABRA e ACABRA.PT têm como os períodos de atividade letiva.

Ficha Técnica Diretora Inês Duarte Paginação João Ruivo

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Editora Executiva Carolina Farinha Ilustração João Ruivo
Depósito Legal nº183245702
Registo ICS nº116759 Equipa Editorial Carolina Farinha (Ensino Superior), Carlos Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A.
Propriedade Associação Académica de Coimbra Almeida (Cultura), João Pimentel (Desporto), Mariana Bessa e Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt
Rita Fonseca (Ciência & Tecnologia), João Ruivo (Fotografia)
Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de
Fotografia Carlos Almeida, Cristina Pinilla Carrasco, Inês Coimbra
Duarte, Inês Nepumoceno, João Ruivo
Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra
Colaborou nesta edição Luís Almeida, Sílvia Andrade, Rita
Grácio, António Ladeira, Bernardo Guerra Machado, Ana Tiragem 2000 exemplares
Francisca Nunes, Joana Pedro, Pedro Dinis Silva, Pedro Silva

Colaboradores Permanentes Filipe Furtado, Paulo Sérgio


Santos, Vasco Sampaio
JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Você também pode gostar