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UMA ANÁLISE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA A PARTIR DAS TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DE CARREIRA: O Caso dos Técnico-Administrativos em Educação
das Universidades e Institutos Federais View project
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Autoria
Alexandre Dal Molin Wissmann - alewissmann@hotmail.com
Prog de Pós-Grad em Admin/Esc de Admin - PPGA/EA/UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Agradecimentos
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
Resumo
Analisando a relação tempo-espaço e suas transformações longitudinais, as dinâmicas
objetivas e subjetivas existentes entre sujeito e contexto, este trabalho teve como objetivo
investigar a carreira no batuque de duas pessoas de diferentes gerações que vivem esta
trajetória. Para isso, resgatamos a construção histórica da ocupação e utilizamos o conceito
de carreira para fundamentar a pesquisa. Como método de investigação utilizamos a história
de vida. Os resultados apontam as mudanças transcorridas na carreira, vistas a nível
individual pelas reinterpretações dos entrevistados e a nível estrutural e contextual pelas
reconfigurações dos atores presentes no campo. Também foi possível, diante da perspectiva
de tempo, identificar elementos antecedentes, distintos, presentes e comuns aos sujeitos
envolvidos, além de visualizar indícios de mudanças no campo desta carreira. Além da
investigação sobre a ocupação do batuque, o trabalho contribui apresentando as diferenças
oriundas do tempo e espaço, no contexto, instituições, grupos e indivíduos, a partir da
visualização da carreira de duas pessoas de diferentes gerações que trilharam caminhos neste
campo.
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1 INTRODUÇÃO
trajetória. Para isso, a partir do quadro conceitual de carreira, buscamos resgatar a história desta
ocupação e dos sujeitos da pesquisa, contextualizando e interpretando ações, e identificando o
papel de pessoas, grupos, organizações e sociedade neste meio.
Diante de tal proposta, o trabalho se divide em seis partes: a primeira corresponde a
introdução, na qual se apresenta o tema central e explicita o objetivo; a segunda apresenta o
quadro teórico utilizado para a análise dos dados; os aspectos metodológicos são apontados na
terceira secção; as narrativas dos entrevistados, retratando suas carreiras, compreendem a quarta
parte deste artigo; na parte subsequente empreende-se a discussão dos dados a luz da base
teórica; e por fim, a sexta parte trata das considerações finais do estudo.
2 QUADRO TEÓRICO
Esta seção dedica-se primeiro a uma discussão sobre o conceito de carreira, abordando
as contribuições da concepção teórica e os elementos que embasaram o trabalho; e em seguida,
empreende uma retomada histórica do campo onde está inserida a trajetória da ocupação,
apontando suas transformações contextuais ao longo de quase dois séculos e retratando a atual
conjuntura que envolve esta carreira.
A carreira pode ser entendida como uma jornada de vida, uma sequência em evolução
de experiências de trabalho ao longo do tempo (ARTHUR; HALL; LAWRENCE, 1989), e
observada na "interseção da história social e da biografia individual" (GRANDJEAN, 1981, p.
1057). Diante de tal concepção, o conceito de carreira permite às pesquisas reunir pessoas,
grupos, organizações e sociedade dentro de uma investigação. Sua constituição teórica
interdisciplinar oferece uma campo de análise onde estão presentes elementos como o tempo e
a construção histórica do espaço social, os elementos objetivos e subjetivos e as interações
existentes entre os envolvidos (MOORE; GUNZ; HALL, 2007). Em conjunto, a concepção de
carreira proporciona a exploração de grupos sociais periféricos e novos contextos (HUGHES,
1937).
A perspectiva de tempo oferecida pela base teórica de carreira, permite observar
diferentes retratos relacionadas ao objeto de estudo, bem como suas transformações ao longo
do tempo (HUGHES, 1937). Isto quer dizer que é possível examinar cenários do passado, as
transfigurações ocorridas, retratar o presente contexto e até projetar quadros futuros referentes
a carreira. Além disso, a investigação da história de um campo onde a carreira está disposta
reflete a construção do espaço social onde pessoas, organizações e sociedade estão inseridas.
Neste sentido, a carreira apresenta-se como algo que abarca todas as esferas da vida do
indivíduo (HUGHES, 1958). Logo, isto permite identificar duas esferas correlacionadas, a
primeira são as construções e transformações objetivas que se entrelaçam com a carreira, seja
a nível individual ou a partir de grupos, organizações ou sociedade. A segunda, são as
construções subjetivas da pessoa, a forma como ela observa e avalia seu mundo, criadas a partir
de suas relações contextuais e objeto de constante ressignificação. Este quadro conceitual gera
um cenário interacional, relacional e contextual de análise (DELUCA; ROCHA-DE-
OLIVEIRA, 2016).
A perspectiva relacional do conceito de carreira proporciona que todos os níveis de
análise, bem como os elementos presentes na discussão sejam envolvidos (ARTHUR; HALL;
LAWRENCE, 1989). Isto possibilita uma análise da dinâmica existente entre indivíduos,
organizações, instituições e sociedade. Por outro lado, abrem-se caminhos para a associação
entre elementos objetivos e subjetivos de carreira que, por sua vez, também podem ser vistos
de forma longitudinal, observando a natureza destas relações ao longo do tempo.
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Em meio a tal quadro de análise das carreiras, na busca pela compreensão das interações
sociais, o indivíduo possui papel central ao refletir estas dinâmicas através de suas percepções
(CARTER; FULLER, 2016), no entanto, é importante observar estas dinâmicas como uma via
de mão dupla, onde indivíduos influenciam e são influenciados pelas instituições de seu espaço
(HUGHES, 1958). Nesse caso, reforçamos a importância de contextualizar o espaço da carreira,
uma vez que os movimentos da trajetória são influenciados pela localização territorial do campo
e seus aspectos sociais e culturais (HUGHES, 1937; ABBOTT, 1997; BRISCOE et al., 2018)
Vinculadas ao contexto e suas representações, as carreiras desviantes refletem trajetórias
de pessoas que estão em carreiras dentro de áreas não tradicionais e pertencem a subgrupos
sociais. Embora o termo seja relativo, sua importância reside na compreensão da construção
deste rótulo no contexto da pessoa, ou seja, um “comportamento desviante é aquele que as
pessoas rotulam como tal” (BECKER, 2008, p. 22).
As carreiras desviantes podem ser reconhecidas no momento em que a pessoa quebra o
padrão socialmente estabelecido e desvincula-se de padrões e normas historicamente vistas
como tradicionais (COLLING; ARRUDA; MORAES, 2017). Seguindo este caminho e inserida
em grupos periféricos, a pessoa é vista como desviante, assim como sua carreira. Em paralelo
e adentrando no mundo do Batuque, Frigerio (2008) sugere que adeptos de religiões
consideradas não tradicionais podem receber o mesmo status: desviante.
Embora não existam informações concretas sobre o surgimento das religiões de origem
africana no Rio Grande do Sul, acredita-se que suas primeiras expressões ocorreram entre o
final do século XVIII e o início do século XIX. Neste momento, Corrêa (2006) rememora que
as cidades de Rio Grande e Pelotas recebiam grande número de escravos para trabalharem nas
charqueadasi e conforme se estabeleciam, também semeavam seus traços identitários na região.
Após o florescimento da religião afrodescendente ao sul do solo gaúcho, junto da migração dos
escravos para outras regiões do estado, logo ela foi ganhando novos espaços e ao longo das
décadas irradiou-se para outras regiões do Rio Grande do Sul (LÍRIO DE MELLO, 1995).
É importante notar como o contexto e o avanço temporal foram determinantes para a
estruturação destas religiões e de suas práticas. Em diversas pesquisas, é possível notar como
as religiões de matriz africana foram se adaptando às condições socioculturais e econômicas no
Rio Grande do Sul (ORO, 2002; TADVALD, 2016).
A primeira religião de origem africana que manifestou-se no estado foi o Batuque. Sua
adaptação foi rápida, de modo que os costumes tradicionais do território se assemelhavam às
práticas da religião, e além disso, as características da época facilitavam a execução das ações.
A estrutura patriarcal dos orixás cultuados se identificava com a estrutura das famílias. Os
animais que perambulavam tranquilamente pelas ruas da cidade facilitavam a execução dos
rituais de sacrifício. Por fim, as relações de trabalho quase inexistentes e o distanciamento
espacial entre as residências possibilitavam os cultos prolongados e o som dos tambores durante
as madrugadas (CORRÊA, 2006).
Só na década de 1930, diante de um cenário um tanto diferente, que a segunda vertente
afro-brasileira começou a ser observada em solo gaúcho, surgia a Umbanda. De acordo com
Oro (2002) suas práticas vinham na contramão do Batuque, buscando acomodar-se a um cenário
de crescimento das cidades, aglomeração das moradias e início do processo de industrialização.
Diante deste quadro, onde ao trabalho se conferia maior importância e o ritmo das cidades
tornava-se acelerado, a Umbanda exigia menores compromissos de seus fiéis, possuía reuniões
mais curtas e sem o barulho de tambores, visando não atrapalhar os vizinhos ou não chamar sua
atenção. Além disto, não praticava-se o sacrifício de animais, uma vez que estes se tornavam
mercadorias valiosas (ORO, 2002).
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3 METODOLOGIA
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Este embate entre atividades durou até o momento que sua Mãe de Santo, nesse caso,
sua avó, o comunicou que ele estava preparado para exercer todas as atividades no mundo do
batuque. Sua avó, que é a única pessoa que poderia lhe designar este papel, o tornou
oficialmente um Pai de Santo. Neste ponto, Wesley, que já não estava mais vinculado ao seu
curso de graduação, também desligou-se de seu emprego e começou a dedicar-se integralmente
aos atendimentos e atividades religiosas.
Após quase uma década atuando como batuqueiro, o entrevistado relata que o trabalho
ocupa integralmente o tempo de seu dia. Hoje, Wesley mora com sua mãe, é separado há quase
11 anos e possui uma filha de 13 anos de idade que mora com sua antiga companheira. Ele
conta que a criança, embora ainda não tenha, em suas palavras, “despertado dentro da religião”,
vem criando suas raízes neste mundo.
Assim como seu passado e sua identidade, que mantiveram uma constância de
integração junto ao Batuque, todo seu futuro é projetado nesta área. O desejo do entrevistado
é, primeiro, o crescimento de sua família religiosa, aumentando o número de vínculos, e
também, o desenvolvimento do Centro de Religião do qual ele e sua mãe são proprietários. O
qual, através do investimento de recursos no local, traria melhorias estruturais e atrairia um
número maior de clientes ao espaço.
5 DISCUSSÃO
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Nos relatos, Cidinha expôs que sua mãe, inicialmente, se mostrava convicta em seu
desejo de ter a filha distante da religião, da mesma forma que ela apresentou certa insatisfação
ao ver o filho seguindo seus passos posteriormente. Entretanto, nota-se um decréscimo na
contrariedade de ingresso profissional na religião na relação mãe e filha e posteriormente mãe
e filho. As construções sociais relativas a carreira em análise e as emoções próprias dos sujeitos
apresentam uma transformação na medida em que estes mostram resistências menores ao
ingresso profissional. Tal afirmação é reforçada quando Wesley, ao citar o futuro de sua filha,
não apresenta nenhuma restrição às suas escolhas profissionais.
Sobre isso, podemos somar também a própria criação de uma nova identidade de
Cidinha, que diante de um tempo-espaço diferente, permitiu-se adentrar em uma carreira que
poderia ter iniciado décadas antes. Hoje, no momento da entrevista, embora seja possível ver
que as lembranças foram desgastantes, nota-se uma reinterpretação do passado por Cidinha,
amenizando tais fatos, na tentativa de deixar para trás significações da época. Nestes casos,
conclui-se que as resistências e as significações, vistas sob o formato de noções construídas,
nessa ordem, diminuíram e transformaram-se em reflexo de um ambiente menos violento em
relação ao exercício desta ocupação.
É interessante observar também os “status” formados dentro deste conjunto social e que
fazem parte da carreira religiosa. É comum encontrarmos uma série de denominações que
rotulam as pessoas que trabalham em religiões afro-gaúchas, inclusive algumas criadas pelos
próprios sujeitos com fins comerciais ou buscando se afastar de sua própria bagagem histórica
de intolerância. Nomes como “cartomante”, “tarólogo(a)”, “astrólogo(a)”, além de outros
discriminatórios como “saravá” e “macumbeiro” facilmente são vistos (GIORGIO, 2015).
Entretanto, ao contrário destas terminologias, os entrevistados afirmam que dentro do grupo
são reconhecidos como “batuqueiros”.
É possível dizer ainda que o “status” de batuqueiro se divide de acordo com a posição
exercida pelo indivíduo no grupo. Podendo, ele ser um “Filho(a)-de-Santo” ou “Mãe/Pai-de-
Santo”. O primeiro enquadra os sujeitos que ingressaram nesta área e que podem tornar-se, após
um processo de treinamento, Mães ou Pais-de-Santo. Já o segundo “status” se refere a uma
posição que permite ao indivíduo, de acordo com os preceitos internos do grupo, criar sua
própria família religiosa, capitanear as sessões em grupo e realizar atendimentos aos seguidores
e clientes.
O processo para adquirir este “status” é interessante. Primeiro, os sujeitos precisam
imergir dentro da religião, aprendendo os elementos mitológicos, axiológicos, linguísticos e
ritualísticos da vertente (RAMOS, 2017). Após isto, quem vai lhe avaliar e conferir o título é
seu Pai ou Mãe-de-Santo. Podendo ainda, formalizar o título através das federações do grupo.
No Rio Grande do Sul, com o aval do Pai ou Mãe-de-Santo do requerente, as federações podem
emitir uma carteira de filiado, certificando o indivíduo como Mãe/Pai-de-Santo e respaldando
suas práticas de acordo com os direitos legaisiii.
Embora os entrevistados há tempos não renovem sua carteira de filiado por meio do
pagamento da anuidade, é através do movimento das federações que reside o principal vínculo
entre eles e o seus pares. Ambos revelaram que participam há quase dez anos, embora
eventualmente, de movimentos em defesa das práticas afro-religiosas organizados pelas
federações. Cidinha recorda que “quando quiseram colocar a lei para não deixar matar os
bichos, algo que é necessário pra nós, fomos na frente da prefeitura, todos os batuqueiros foram
lá, cantaram, tocaram tambor”.
Através deste movimento, verifica-se que os indivíduos, principalmente por meio do
somatório de forças, possuem papel importante no sentido de agir sobre a estrutura do campo
onde suas carreiras estão inseridas (BARLEY, 1989; HUGHES, 1958). Neste caso, a
interferência direta pode ser vista em dois momentos significativos. Primeiro, pelas decisões
legislativas estaduais e posteriormente nacionais em favor do grupo, resultando em uma
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legitimação social de suas práticas (BRASIL, 2018). Segundo, olhando para o passado e não
com a participação direta dos entrevistados, mas pelo somatório de forças deste conjunto social,
na criação destas federações que lutam pelos direitos do grupo até hoje.
É possível perceber esta dinâmica ocorrida entre praticantes e demais instituições do
campo desde o início da trajetória da carreira no Batuque no Rio Grande do Sul. É este processo
histórico que explica o enquadramento desta trajetória como uma carreira desviante. Ao olhar
para trás nota-se que a falta de legitimidade somada a uma posição frágil de seus praticantes na
sociedade, fez com que a violência e o preconceito sempre estivessem presentes envolvendo o
espaço desta religião. Em seu levantamento historiográfico, Lírio de Mello (1995) apresenta
reportagens em jornais gaúchos no final do século XIX que ilustram a afirmação. Os periódicos,
regularmente apresentavam em suas páginas policiais notas sobre cultos de matriz africana.
Foram presas à ordem da delegacia, duas pretas feiticeiras que atraíam grande
ajuntamento de seus adeptos. Na ocasião de serem presas, encontrou-se-lhes um santo
e uma vela, instrumento de seus trabalhos (Jornal do Comércio, Pelotas, 1878, p. 2
apud Lírio de Mello, 1995, p. 26).
Os principais registros sobre a história desta religião no Rio Grande do Sul até hoje são
as páginas policiais (ORO, 2002). Atualmente, embora as práticas religiosas afro-gaúchas – sob
a ótica da religião e não do trabalho – estejam amparadas juridicamente e apoiadas por
instituições associativas, seus praticantes ainda sofrem preconceito, sobretudo dos discursos
intolerantes de religiões pentecostais (GUERREIRO, 2018; SOUZA, 2019;).
É a construção histórica deste cenário que contribui para afirmarmos que tanto pela ótica
do trabalho e da carreira, como pela sua orientação religiosa, os entrevistados estão inseridos
em subculturas ou subgrupos, o que os levam a serem considerados desviantes (FRIGERIO,
2008; BECKER, 2008). Conceito internalizado e de alguma forma compreendido pelos
respondentes a partir do momento que consideram suas trajetórias na religião-trabalho,
anormais.
Por fim, é inegável, de um modo geral, a transformação do campo de carreiras religiosas
afro-brasileiras diante do atual regime econômico e seu impacto na projeção futura dos
profissionais. Primeiro, sob diversas formas é possível ver como a noção de comércio vem
adentrando nas práticas e processos deste campo. Já é possível encontrar pessoas que vendem,
como um curso formatório, a preparação para tornar-se Pai-de-Santo e de pessoas que buscam
a formação unicamente para atender clientes, visando apenas a esfera econômica do trabalho
(ORO, 1998).
Por outro lado, verifica-se que até mesmo os entrevistados, criados sob crenças e
práticas genuínas que envolvem a religião do batuque, embora atualmente estejam longe de
processos de racionalização definidos em suas atividades, já projetam como próximos passos
dentro desta carreira ações que visam o desenvolvimento econômico de sua casa de religião, ou
por outra perspectiva – já visualizando o alvorecer mercantil deste campo – seu
estabelecimento.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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i
As charqueadas eram grandes propriedades rurais que funcionavam, em grande parte, sob o regime escravocrata
no sul do Rio Grande do Sul. Elas produziam o charque, uma carne salgada e desidratada que servia de alimento
para os escravos e abastecia o mercado interno brasileiro e também era exportada para outros países (SILVEIRA,
2014).
ii
É possível citar a discussão referente ao sacrifício de animais nas práticas religiosas africanistas e a emenda que
proíbe o abandono de animais mortos em vias públicas no Rio Grande do Sul (LEISTNER, 2016; ORO;
CARVALHO; SCURO, 2017).
iii
As federações se amparam, sobretudo na Constituição Federal de 1988, Art. V, Parágrafo VI, que declara ser
“inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Entretanto, os serviços religiosos
oferecidos pelos batuqueiros, bem como de agentes de outras correntes religiosas, ainda não se enquadram em
nenhuma jurisdição específica na esfera do trabalho (BRASIL, 2016).
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