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TRABALHADORES DO BATUQUE: A CARREIRA EM UMA RELIGIÃO AFRO-


GAÚCHA

Conference Paper · October 2020

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7 authors, including:

Alexandre Wissmann Jair Jeremias Junior


Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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XLIV ENCONTRO
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16 de outubro - EnANPAD
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TRABALHADORES DO BATUQUE: A CARREIRA EM UMA RELIGIÃO


AFRO-GAÚCHA

Autoria
Alexandre Dal Molin Wissmann - alewissmann@hotmail.com
Prog de Pós-Grad em Admin/Esc de Admin - PPGA/EA/UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Jhony Pereira Moraes - jhonymoraes@hotmail.com.br


Prog de Pós-Grad em Admin/Esc de Admin - PPGA/EA/UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Escola de Negócios e Hospitalidade/FADERGS

Arthur Gehrke Martins Andrade - arthur_gma@hotmail.com


Prog de Pós-Grad em Admin/Esc de Admin - PPGA/EA/UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Jair Jeremias Junior - jair.jeremias.j@gmail.com


Prog de Pós-Grad em Admin/Esc de Admin - PPGA/EA/UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Agradecimentos
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

Resumo
Analisando a relação tempo-espaço e suas transformações longitudinais, as dinâmicas
objetivas e subjetivas existentes entre sujeito e contexto, este trabalho teve como objetivo
investigar a carreira no batuque de duas pessoas de diferentes gerações que vivem esta
trajetória. Para isso, resgatamos a construção histórica da ocupação e utilizamos o conceito
de carreira para fundamentar a pesquisa. Como método de investigação utilizamos a história
de vida. Os resultados apontam as mudanças transcorridas na carreira, vistas a nível
individual pelas reinterpretações dos entrevistados e a nível estrutural e contextual pelas
reconfigurações dos atores presentes no campo. Também foi possível, diante da perspectiva
de tempo, identificar elementos antecedentes, distintos, presentes e comuns aos sujeitos
envolvidos, além de visualizar indícios de mudanças no campo desta carreira. Além da
investigação sobre a ocupação do batuque, o trabalho contribui apresentando as diferenças
oriundas do tempo e espaço, no contexto, instituições, grupos e indivíduos, a partir da
visualização da carreira de duas pessoas de diferentes gerações que trilharam caminhos neste
campo.
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TRABALHADORES DO BATUQUE: A CARREIRA EM UMA RELIGIÃO AFRO-


GAÚCHA

Resumo: Analisando a relação tempo-espaço e suas transformações longitudinais, as dinâmicas


objetivas e subjetivas existentes entre sujeito e contexto, este trabalho teve como objetivo
investigar a carreira no batuque de duas pessoas de diferentes gerações que vivem esta
trajetória. Para isso, resgatamos a construção histórica da ocupação e utilizamos o conceito de
carreira para fundamentar a pesquisa. Como método de investigação utilizamos a história de
vida. Os resultados apontam as mudanças transcorridas na carreira, vistas a nível individual
pelas reinterpretações dos entrevistados e a nível estrutural e contextual pelas reconfigurações
dos atores presentes no campo. Também foi possível, diante da perspectiva de tempo, identificar
elementos antecedentes, distintos, presentes e comuns aos sujeitos envolvidos, além de
visualizar indícios de mudanças no campo desta carreira. Além da investigação sobre a
ocupação do batuque, o trabalho contribui apresentando as diferenças oriundas do tempo e
espaço, no contexto, instituições, grupos e indivíduos, a partir da visualização da carreira de
duas pessoas de diferentes gerações que trilharam caminhos neste campo.
Palavras-chave: Carreira, Trabalho, Batuque, Religião Afro-Gaúcha, História de Vida.

1 INTRODUÇÃO

Diante de seu caráter processual, histórico e contextual, o conceito de carreira permite


observar, a partir da trajetória de pessoas, um quadro amplo, integrando sujeitos, coletividades,
organizações e sociedade, retratando as interações recíprocas existentes sob uma perspectiva
longitudinal e territorial (HUGHES, 1958; MAYRHOFER; MEYER; STEYRER, 2012). Além
disso, a concepção de carreira oferece a possibilidade de pesquisa de ocupações não tradicionais
e pouco exploradas (HUGHES, 1937; BECKER, 2008).
Ao passo que nos afastamos de carreiras convencionais, é importante lembrar que
quando nos deparamos com ambientes, culturas ou crenças distantes de nossos espaços
tradicionais, nos colocamos diante de novas palavras, costumes e significados, estes, por sua
vez, nos fazem reinterpretar e criar novos entendimentos sobre aquilo já construído. É sob esta
perspectiva que seguimos o texto, tratando de uma carreira periférica e entreposta dentro de
uma religião distante das correntes populares. Trata-se do Batuque, uma religião pouco
conhecida nacionalmente e disposta, para um grupo de pessoas, também como uma ocupação.
Esta vertente é considerada uma religião afro-gaúcha em função de suas raízes africanas
e seu processo histórico de formação e sincretismo no Rio Grande do Sul (CORRÊA, 2006).
Hoje, com mais de duzentos anos de história em solo gaúcho e espalhada também pelos Países
do Prata – Uruguai, Argentina e Paraguai – ela parece ter criado um complexo campo de
relações, onde estão inseridos Pais e Mães-de-Santo, fiéis, associações representativas,
entidades públicas, fabricantes e comerciantes de produtos religiosos, além de clientes e
entidades de outras vertentes religiosas (ORO, 1998; GIORGIO, 2015; LEISTNER, 2016).
Para além dos números, que apontam o Rio Grande do Sul como o estado brasileiro
onde há o maior número de pessoas declaradas pertencentes à religiões afro-brasileiras e
mostram um Brasil menos católico, mais evangélico e menos afro-brasileiro nos últimos anos
(IBGE, 2019), as práticas e movimentos dentro do campo religioso vem assumindo novas
formas e buscando modernizar-se diante das transformações contextuais (ORO, 2012). Seja
pela ótica da religião, como na perspectiva de trabalho, é este o quadro, de movimentações e
transformações, que configura o campo do Batuque.
Analisando a relação tempo-espaço e suas transformações longitudinais, as dinâmicas
objetivas e subjetivas existentes entre sujeito e contexto, este trabalho se propõe a investigar a
carreira no batuque a partir da narrativa de duas pessoas de diferentes gerações que vivem esta
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trajetória. Para isso, a partir do quadro conceitual de carreira, buscamos resgatar a história desta
ocupação e dos sujeitos da pesquisa, contextualizando e interpretando ações, e identificando o
papel de pessoas, grupos, organizações e sociedade neste meio.
Diante de tal proposta, o trabalho se divide em seis partes: a primeira corresponde a
introdução, na qual se apresenta o tema central e explicita o objetivo; a segunda apresenta o
quadro teórico utilizado para a análise dos dados; os aspectos metodológicos são apontados na
terceira secção; as narrativas dos entrevistados, retratando suas carreiras, compreendem a quarta
parte deste artigo; na parte subsequente empreende-se a discussão dos dados a luz da base
teórica; e por fim, a sexta parte trata das considerações finais do estudo.

2 QUADRO TEÓRICO

Esta seção dedica-se primeiro a uma discussão sobre o conceito de carreira, abordando
as contribuições da concepção teórica e os elementos que embasaram o trabalho; e em seguida,
empreende uma retomada histórica do campo onde está inserida a trajetória da ocupação,
apontando suas transformações contextuais ao longo de quase dois séculos e retratando a atual
conjuntura que envolve esta carreira.

2.1 Carreira e Desvio

A carreira pode ser entendida como uma jornada de vida, uma sequência em evolução
de experiências de trabalho ao longo do tempo (ARTHUR; HALL; LAWRENCE, 1989), e
observada na "interseção da história social e da biografia individual" (GRANDJEAN, 1981, p.
1057). Diante de tal concepção, o conceito de carreira permite às pesquisas reunir pessoas,
grupos, organizações e sociedade dentro de uma investigação. Sua constituição teórica
interdisciplinar oferece uma campo de análise onde estão presentes elementos como o tempo e
a construção histórica do espaço social, os elementos objetivos e subjetivos e as interações
existentes entre os envolvidos (MOORE; GUNZ; HALL, 2007). Em conjunto, a concepção de
carreira proporciona a exploração de grupos sociais periféricos e novos contextos (HUGHES,
1937).
A perspectiva de tempo oferecida pela base teórica de carreira, permite observar
diferentes retratos relacionadas ao objeto de estudo, bem como suas transformações ao longo
do tempo (HUGHES, 1937). Isto quer dizer que é possível examinar cenários do passado, as
transfigurações ocorridas, retratar o presente contexto e até projetar quadros futuros referentes
a carreira. Além disso, a investigação da história de um campo onde a carreira está disposta
reflete a construção do espaço social onde pessoas, organizações e sociedade estão inseridas.
Neste sentido, a carreira apresenta-se como algo que abarca todas as esferas da vida do
indivíduo (HUGHES, 1958). Logo, isto permite identificar duas esferas correlacionadas, a
primeira são as construções e transformações objetivas que se entrelaçam com a carreira, seja
a nível individual ou a partir de grupos, organizações ou sociedade. A segunda, são as
construções subjetivas da pessoa, a forma como ela observa e avalia seu mundo, criadas a partir
de suas relações contextuais e objeto de constante ressignificação. Este quadro conceitual gera
um cenário interacional, relacional e contextual de análise (DELUCA; ROCHA-DE-
OLIVEIRA, 2016).
A perspectiva relacional do conceito de carreira proporciona que todos os níveis de
análise, bem como os elementos presentes na discussão sejam envolvidos (ARTHUR; HALL;
LAWRENCE, 1989). Isto possibilita uma análise da dinâmica existente entre indivíduos,
organizações, instituições e sociedade. Por outro lado, abrem-se caminhos para a associação
entre elementos objetivos e subjetivos de carreira que, por sua vez, também podem ser vistos
de forma longitudinal, observando a natureza destas relações ao longo do tempo.
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Em meio a tal quadro de análise das carreiras, na busca pela compreensão das interações
sociais, o indivíduo possui papel central ao refletir estas dinâmicas através de suas percepções
(CARTER; FULLER, 2016), no entanto, é importante observar estas dinâmicas como uma via
de mão dupla, onde indivíduos influenciam e são influenciados pelas instituições de seu espaço
(HUGHES, 1958). Nesse caso, reforçamos a importância de contextualizar o espaço da carreira,
uma vez que os movimentos da trajetória são influenciados pela localização territorial do campo
e seus aspectos sociais e culturais (HUGHES, 1937; ABBOTT, 1997; BRISCOE et al., 2018)
Vinculadas ao contexto e suas representações, as carreiras desviantes refletem trajetórias
de pessoas que estão em carreiras dentro de áreas não tradicionais e pertencem a subgrupos
sociais. Embora o termo seja relativo, sua importância reside na compreensão da construção
deste rótulo no contexto da pessoa, ou seja, um “comportamento desviante é aquele que as
pessoas rotulam como tal” (BECKER, 2008, p. 22).
As carreiras desviantes podem ser reconhecidas no momento em que a pessoa quebra o
padrão socialmente estabelecido e desvincula-se de padrões e normas historicamente vistas
como tradicionais (COLLING; ARRUDA; MORAES, 2017). Seguindo este caminho e inserida
em grupos periféricos, a pessoa é vista como desviante, assim como sua carreira. Em paralelo
e adentrando no mundo do Batuque, Frigerio (2008) sugere que adeptos de religiões
consideradas não tradicionais podem receber o mesmo status: desviante.

2.2 Do Batuque à Linha-Cruzada: transformações e o cenário atual do campo

Embora não existam informações concretas sobre o surgimento das religiões de origem
africana no Rio Grande do Sul, acredita-se que suas primeiras expressões ocorreram entre o
final do século XVIII e o início do século XIX. Neste momento, Corrêa (2006) rememora que
as cidades de Rio Grande e Pelotas recebiam grande número de escravos para trabalharem nas
charqueadasi e conforme se estabeleciam, também semeavam seus traços identitários na região.
Após o florescimento da religião afrodescendente ao sul do solo gaúcho, junto da migração dos
escravos para outras regiões do estado, logo ela foi ganhando novos espaços e ao longo das
décadas irradiou-se para outras regiões do Rio Grande do Sul (LÍRIO DE MELLO, 1995).
É importante notar como o contexto e o avanço temporal foram determinantes para a
estruturação destas religiões e de suas práticas. Em diversas pesquisas, é possível notar como
as religiões de matriz africana foram se adaptando às condições socioculturais e econômicas no
Rio Grande do Sul (ORO, 2002; TADVALD, 2016).
A primeira religião de origem africana que manifestou-se no estado foi o Batuque. Sua
adaptação foi rápida, de modo que os costumes tradicionais do território se assemelhavam às
práticas da religião, e além disso, as características da época facilitavam a execução das ações.
A estrutura patriarcal dos orixás cultuados se identificava com a estrutura das famílias. Os
animais que perambulavam tranquilamente pelas ruas da cidade facilitavam a execução dos
rituais de sacrifício. Por fim, as relações de trabalho quase inexistentes e o distanciamento
espacial entre as residências possibilitavam os cultos prolongados e o som dos tambores durante
as madrugadas (CORRÊA, 2006).
Só na década de 1930, diante de um cenário um tanto diferente, que a segunda vertente
afro-brasileira começou a ser observada em solo gaúcho, surgia a Umbanda. De acordo com
Oro (2002) suas práticas vinham na contramão do Batuque, buscando acomodar-se a um cenário
de crescimento das cidades, aglomeração das moradias e início do processo de industrialização.
Diante deste quadro, onde ao trabalho se conferia maior importância e o ritmo das cidades
tornava-se acelerado, a Umbanda exigia menores compromissos de seus fiéis, possuía reuniões
mais curtas e sem o barulho de tambores, visando não atrapalhar os vizinhos ou não chamar sua
atenção. Além disto, não praticava-se o sacrifício de animais, uma vez que estes se tornavam
mercadorias valiosas (ORO, 2002).
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A última corrente afro-brasileira a surgir no Rio Grande do Sul foi a Linha-Cruzada.


Corrêa (2006) indica que seu surgimento ocorreu no final da década de 1960 em paralelo à
consolidação do capitalismo e de problemas como o desemprego, insegurança, doenças e
frustrações. Ajustando-se ao contexto, a Linha-Cruzada se desenvolveu a partir de uma mescla
de práticas do Batuque, da Umbanda e de outras religiões, sendo definida como uma “religião
prática, pragmática, de serviço, que se especializa nas soluções sobrenaturais” dos problemas
enfrentados pelo homem moderno (ORO, 2002, p. 359). É esta vertente, de natureza híbrida e
adaptativa, que mais se espraiou neste espaço. Os últimos registros mostram que em Porto
Alegre cerca de 95% dos terreiros – em um universo de 2 mil – cultivam as práticas da Linha-
Cruzada (CORRÊA, 1994).
Hoje, sob a esteira do regime capitalista, as religiões de origem africana, além de
estarem transformando-se em consumo, figuram como peças centrais de um cenário complexo
(PRANDI, 1996). Em solo gaúcho, em especial na região de Porto Alegre, é visível a
estruturação de um mercado próprio das religiões. Em um dos tópicos de sua pesquisa, Oro
(1998) disserta sobre o impacto da economia nas religiões afro-gaúchas e retrata o
envolvimento entre agentes, instituições e empresas neste espaço. Diferente de outrora, hoje,
além do cenário ser composto por um número maior de atores, estes possuem papéis distintos
e complexos. Tendo em vista a análise do campo onde está inserida a carreira do Batuque é
importante apontar a presença destes atores – pessoas, grupo, organizações e sociedade – e
oferecer características de sua atuação no território analisado.
Levando em consideração os objetivos deste estudo, estão no cerne da análise uma Mãe-
de-santo e um Pai-de-Santo, figuras complexas neste campo de investigação. Sob a ótica
religiosa, representam a peça central e autoridade máxima do Terreiro ou da Casa de Religião.
Na esfera do trabalho, são prestadores informais de serviço, sendo considerados, muitas vezes,
pequenos empreendedores, que além do papel de sacerdotes, precisam “constituir um fundo
econômico capaz de garantir a infraestrutura e o funcionamento do terreiro, além do seu próprio
sustento e o de sua família” (ORO, 1998).
Estas duas faces da ocupação nos levam a outros dois componentes do campo, os fiéis
e os clientes, distintos em função do seu vínculo com a religião. Os primeiros carregam em sua
identidade todo o conteúdo que circunda e esfera religiosa, enquanto aos clientes a religião é
vista como um serviço capaz de atender suas necessidades de ordem emocional ou econômica
(PRANDI, 1996).
Também fazem parte desta conjectura as indústrias e os estabelecimentos que
comercializam os bens de consumo – como velas, estátuas, ervas e floras – utilizados em
práticas e rituais deste grupo social (GIORGIO, 2015). A presença destes agentes também
demarca a transformação da lógica de trabalho destas pessoas, uma vez que antes os materiais
utilizados eram cultivados pelos próprios sujeitos e agora configuram-se como custos
embutidos no valor dos serviços prestados.
As entidades representativas, com destaque, no Rio Grande do Sul, para a Federação
das Religiões Afro-Brasileiras (AFROBRAS) e a Federação Afro-Umbandista Espiritualista do
Rio Grande do Sul (FAUERS) também representam instituições ativas no campo da carreira
desta ocupação. Embora as ações destas entidades girem em torno de várias demandas deste
conjunto social, suas atuações destacam-se pela defesa deste grupo diante de atos
discriminatórios (AFROBRAS, 2019; FAUERS, 2019; MARIANO, 2007).
O que nos leva a destacar a presença das instituições e fiéis de diferentes crenças, que
de formas distintas se relacionam com as religiões afrodescendentes. Nesta esfera, é preciso
enfatizar o papel das igrejas pentecostais, que assumiram a proa das ações discriminatórias
contra as expressões religiosas de matriz africana no Brasil, sob o argumento de que estas
cultuam demônios em suas práticas (SOUZA, 2019).

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Há também que se considerar na análise o papel do Estado e da sociedade local.


Referente ao primeiro, suas ações podem ser vistas em Porto Alegre, principalmente por meio
da Secretaria Adjunta do Povo Negro da Prefeitura Municipal e pelas discussões ii sistemáticas
no interior do sistema legislativo de assuntos conflitantes sobre as práticas religiosas afro-
gaúchas (LEISTNER, 2016; ORO; CARVALHO; SCURO, 2017; PORTO ALEGRE, 2019).
Quanto ao espaço e a sociedade local que cercam as carreiras em questão e onde todas estas
interações desenrolam-se, temos o Rio Grande do Sul, que – embora busque criar uma
autoimagem de ser constituído por pessoas brancas, cristãs, colonizado e habitado por
imigrantes europeus – guarda em sua história e conserva os traços da bagagem de índios e
negros (OLIVEN, 2006).
É dentro deste campo, que Pais e Mães-de-Santo – figuras que por um lado são
sacerdotes e por outro são prestadores de serviços, vistos por uns como a alma de um terreiro e
por outros como demônios que devem ser exorcizados – vivem suas trajetórias. É esta ocupação,
um tanto contraditória, envolta por relacionamentos complexos e intercambiando elementos
com múltiplos atores, que abre espaços e caminhos para investigação.

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa classifica-se como um estudo qualitativo, do tipo exploratório


(YIN, 2016). Diante das características do campo de trabalho dos entrevistados, do objetivo
proposto e da base teórica sobre carreira, utilizamos a estratégia da História de Vida como
método, buscando compreender a trajetória do sujeito a partir de sua própria narrativa. As
histórias de vida constituem-se como uma escolha metodológica em que, geralmente, são
colocados em relevo sujeitos em posições profissionais em desaparecimento ou invisibilidade,
mulheres e grupos sócio e ético-culturais discriminados em territórios periféricos
(FERNANDES, 2010). Para o campo da Administração, sobretudo, para os estudos que
evidenciam discussões sobre carreira (CLOSS; ROCHA-DE-OLIVEIRA, 2015), o método de
História de Vida se mostra oportuno, pois se revela um caminho metodológico em potencial
para os estudos sobre gênero, cultura, poder e mudança (COLLING, OLTRAMARI, 2019).
Para Vogt e Bulgacov (2019), contar uma história de vida é retratar, ao mesmo,
múltiplas histórias. Por meio das histórias é possível vislumbrar significados e experiências,
subjetivamente interpretados por quem ouve, e ao passo que desvelam a individualidade de uma
pessoa, refletem a sociedade, iluminando seus valores socioculturais, seu percurso histórico e
econômico e as instituições que dela fazem parte (FERNANDES, 2010; CLOSS;
ANTONELLO, 2011; COLLING; OLTRAMARI, 2019).
Na perspectiva de Atkinson (2002) os relatos individuais põem a disposição a
perspectiva única de uma pessoa, expondo o processo de criação de sua identidade e de seus
vínculos, as verdades construídas e partilhadas, além do modo como ela negocia e apresenta
seu contexto. Este direcionamento, que entende a vida como uma construção social, permite a
compreensão de aspectos objetivos e subjetivos. A análise, objetivamente pode investigar
questões de ordem econômica, política, histórica e social, e subjetivamente tem o poder de
verificar construções sociais e emoções próprias do sujeito, arquitetadas temporalmente e
dentro de um campo específico (CLOSS; ROCHA-DE-OLIVEIRA, 2015; VOGT;
BULGACOV, 2019).
Esta pesquisa também se apoia na análise das trajetórias de vida para a compreensão das
interações e sequenciamento entre as gerações. Sob esta abordagem, a percepção de indivíduos
de diferentes gerações pode mostrar traços similares e contrastes entre trajetórias (ATKINSON,
2002; BRANDÃO, 2007).
A primeira etapa da pesquisa voltou-se à pesquisa exploratória, onde foram recolhidos
dados de fontes secundárias acerca dos dois principais tópicos tratados na fundamentação
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teórica: carreira e o campo do batuque. A análise bibliográfica contemplou também um


aprofundamento histórico, sobretudo do campo do batuque, visando o entrelaçamento entre o
tempo e o espaço na narrativa dos sujeitos.
Os encontros com os entrevistados e a observação do campo representaram a segunda
etapa da pesquisa. Nesta fase, foram realizados três encontros com Aparecida e Wesley, mãe e
filho, ambos batuqueiros e moradores de Porto Alegre. Cada encontro durou cerca de duas horas
e a pedido de Aparecida, ocorreram em conjunto, participando dos momentos o pesquisador e
os dois entrevistados. As conversas ocorreram na residência da família, espaço onde também
funciona o Centro de Religião do qual são proprietários. O local merece destaque, dividido em
três ambientes, o primeiro, junto à calçada, é destinado as sessões da família religiosa de ambos.
O segundo ambiente é privado e destinado à conversas particulares entre Aparecida ou Wesley
e seus clientes. O terceiro ambiente fica ao fundo do terreno e é onde localiza-se todos os demais
cômodos da casa onde Aparecida e Wesley residem.
Além destes momentos, mais uma visita foi realizada ao Centro de Religião. Nesta
oportunidade, pessoas ligadas à família religiosa de ambos entrevistados estavam presentes. O
objetivo era compreender a dinâmica e os processos de trabalho realizados, além de aproximar-
se do dialeto e do sistema de códigos e símbolos do universo em questão. As percepções durante
todos os encontros foram registrados em diários de campo que permitiram o aprofundamento
analítico do estudo.
Após o processo de transcrição, deu-se início à análise dos diálogos. Para tanto, fez-se
uso da análise de conteúdo, técnica que lança luz aos discursos e conteúdos coletados e permite
ao pesquisador analisar o material de modo objetivo e subjetivo (BARDIN, 2006; LEITE,
2017).

4 UMA CARREIRA, DUAS GERAÇÕES E MÚLTIPLOS CONTRASTES

Esta secção apresenta a trajetória de vida, primeiro de Aparecida e posteriormente de


Wesley. A partir da análise da carreira dos entrevistados, buscamos apontar as características
destas trajetória e traçar paralelos que mostram elementos comuns e ao mesmo tempo indicam
diferenças significativas tanto para as construções individuais destas pessoas, como de maneira
ampla, observando as transformações coletivas e institucionais relacionadas a carreira no
batuque.

4.1 De Aparecida à Cidinha da Oiá

Levando nome de rainha e padroeira do Brasil, Aparecida nasceu no final da década de


1960 no interior do Rio Grande do Sul, em uma cidade distante da capital gaúcha, chamada
Jaguari. O município, à época, possuía cerca de 10 mil habitantes e uma população baseada em
imigrantes europeus onde o cristianismo predominava desde sua formação (FERREIRA, 1959).
Sua família, de origem simples, vivia em consonância aos costumes da comunidade. O que a
fez vivenciar experiências desde sua infância no mundo católico.
Aos sete anos recebeu a notícia de sua avó que seus pais foram embora da cidade. Hoje,
ela entende e explica a complexa situação, revelando que na época, a pequena cidade,
fervorosamente católica e adentrando em um período de ditadura militar, repreendeu e
afugentou sua mãe que começara a receber uma entidade espiritual, algo estranho aos olhos da
comunidade.
Após alguns meses morando com sua avó, mudou-se para Santa Maria, novamente junto
de seus pais. Ao chegar, Aparecida relembra que estava diante de um novo mundo. Em uma
cidade relativamente maior e enfrentado resistências tradicionais menores, sua mãe, distanciou-
se do catolicismo e estava imersa na religião do Batuque. Trabalhando e vivendo a religião
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intensamente, ela, além de seguidores, já possuía um Centro de Religião, onde transcorriam as


atividades.
Neste momento, sua mãe começou a formar sua própria família religiosa, composta
pelos seus seguidores, orixás e entidades. Tomada pelas atividades desta outra família, sua mãe
afastou-se dos afazeres domésticos e maternais, indo na contramão das expectativas de seu
marido. Em seguida, seus pais acabaram se separando. A entrevistada, ainda criança, herdou as
responsabilidades domésticas e os cuidados sobre seus quatro irmãos mais novos, marcando
uma ressignificação de seu “papel” social de criança.
Ainda que a cidade apresentasse um maior número de habitantes e a sensação de
liberdade se mostrasse maior, religiões não tradicionais ainda eram crivadas de desconfiança
pelos moradores e, sobretudo, pelas autoridades locais. O período, marcado pela Ditadura,
carregava uma série de restrições. Aparecida recorda que para realizar suas atividades e não ser
vista, sua mãe trabalhava nas madrugadas. Relembra ainda que sua mãe foi presa várias vezes
enquanto trabalhava em esquinas, em matos ou tocando tambor na beirada dos rios, práticas
comuns dentro desta atividade.
Em meio a este contexto, Aparecida adentrava no universo religioso e ainda na primeira
década de sua história, viveu sua primeira experiência espiritual, incorporando uma entidade,
a cabocla Jurema. Após essa experiência, sua mãe limitou sua presença nas sessões, mostrando-
se contrária a sua participação. O desejo dela era que a filha apenas estudasse e não participasse
profundamente das atividades religiosas, entendendo a hostilidade do período. Nesse momento,
Aparecida distanciou-se parcialmente da religião. A congregação do abandono temporário dos
pais, a separação destes, as responsabilidades domésticas e sobre seus irmãos, a violência sobre
sua mãe no período da ditadura militar e o posicionamento contrário de sua mãe, a afastaram
deste universo.
A partir deste ponto a entrevistada considera ter percorrido uma “vida normal”.
Estudou até a quarta série do ensino fundamental e morou em diferentes cidades junto de sua
mãe até fixarem residência em Porto Alegre. Nesta cidade Aparecida casou, teve seu único filho
e trabalhou em vários lugares, com funções diferentes no decorrer dos anos. A não permanência
por longos períodos nas funções permitiu que Cidinha experimentasse diversas ocupações em
suas três primeiras décadas de vida, passando por atividades industriais em linhas de produção,
tarefas administrativas e até como pequena empreendedora, onde vendia roupas e utensílios
domésticos. No entanto, Aparecida afirma que não houve identificação com nenhum ofício
desempenhado.
Até seus 30 anos de idade, embora não recebesse sua entidade, a religião a rodeava de
outras maneiras. Esporadicamente, participava de sessões, tomava passes para descarrego,
observava o trabalho de sua mãe, e, de modo informal, quase como uma brincadeira, como
relata a entrevistada, jogava cartas para suas amigas. Esse cenário, porém, começou a mudar
quando seu marido foi diagnosticado com uma grave doença que impactou – econômica e
emocionalmente – a família, durante alguns anos. Aparecida relata, que neste momento, sua
mãe, ao perceber seu abatimento, a convoca para mergulhar na religião em definitivo, como um
meio de sobrevivência. Neste pont, nota-se que Aparecida vivia um conflito entre o papel de
matriarca da família, onde necessitava ser forte e objetivamente prover os recursos financeiros
para seu marido e filho, e sua resistência – em função dos aspectos subjetivos, em especial as
lembranças negativas – para retornar em definitivo para a religião.
Entendendo suas necessidades e com o aval de sua mãe, Aparecida alterou o rumo de
sua vida, deixou suas atividades como empreendedora para trás e colocou uma placa em frente
à sua casa com os dizeres “joga-se cartas e búzios”. Revelando sua nova identidade, a partir
daquele momento passou a chamar-se “Cidinha da Oiá”. Logo em seguida, nos primeiros meses
de trabalho, Cidinha conta, emocionada, que seus rendimentos possibilitaram pagar as despesas

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mensais da família. E ao passar dos anos, o trabalho proporcionou uma estabilidade


econômica, como há tempos não ocorria.
Todos os anos de convivência com sua mãe e avó, além de suas breves incursões
informais em seu círculo de amigos, permitiram que Cidinha, ao iniciar suas atividades fosse
capaz de desempenhar seu trabalho e atender as expectativas de seus clientes e seguidores. É
interessante notar que ao relatar esse novo período, a entrevistada conta que – embora
existissem dúvidas sobre as “rezas, oferendas, entidades e energias” – sua principal dificuldade
era saber quanto e como cobrar pelos seus serviços.
Hoje, após três décadas atuando como cartomante, a entrevistada acredita que atingiu a
maturidade como cartomante, que pode ser vista através do seu próprio Centro de Religião e
de sua extensa família religiosa, sinônimo de uma posição edificada dentro deste mercado. Ao
projetar seu futuro, não visualiza alterações em sua trajetória profissional. O fato de ter o ofício
como uma responsabilidade adquirida e destino de sua vida, leva Cidinha a cerrar portas e
prospectar sua permanência longeva neste campo.

4.2 Wesley do passado ao presente

Wesley nasceu em 1984 e suas primeiras memórias evocam as brincadeiras na escola.


Diferente de seus colegas, sua diversão sempre continha traços religiosos, ao passo que seus
amigos desenhavam casas e animais durante as aulas e brincavam de esconde-esconde no
recreio, Wesley pintava caboclos e tambores e tentava recriar sessões de descarrego nos
intervalos da aula. Esse comportamento fazia com que a escola chamasse regularmente os Pais
de Wesley para conversarem com o psicólogo ou pais de outros alunos, que temiam suas
brincadeiras. Alegava-se que Wesley não apresentava boas condições mentais, sendo
considerado, em determinadas situações um “encapetado”, como ele destaca.
Suas ações na infância são explicadas, principalmente, pela convivência com sua avó,
que há anos trabalhava como batuqueira. Nesse período, sua mãe ainda trabalhava como
empreendedora e Wesley frequentava a escola apenas pela manhã. À tarde, ficava com sua avó,
observando todo o trabalho desempenhado por uma Mãe de Santa dentro de um Centro de
Religião.
Na adolescência, o contato entre ele e o batuque cresceu. Wesley e sua mãe, que neste
momento já havia mergulhado profissionalmente na religião, mudaram-se e foram morar junto
de sua avó. Ele relata que “tudo que via na sessão de noite, fazia durante a semana com meus
colegas e amigos da rua”. A convivência, a observação e a prática das atividades era tão intensa,
que logo aos 18 anos, Wesley detinha o domínio de grande parte dos processos de trabalho de
um batuqueiro, além de já ter passado pela sua primeira experiência espiritual, incorporando
a entidade “Pango Beira-mar”.
Após sua formatura no ensino médio, Wesley, incentivado por sua mãe, buscou um
emprego e também um curso de graduação. Logo foi selecionado para trabalhar como assistente
administrativo em uma empresa, cargo que ocupou durante cinco anos. Conta também que
iniciou o bacharelado em Educação Física, porém cursou apenas três disciplinas.
Embora tenha permanecido tempo considerável em seu primeiro e único emprego, a
ocupação e o curso noturno sempre entravam em conflito com as atividades religiosas. De
acordo com os entrevistados, a medida que você se apropria dos conhecimentos relativos a
religião, existem responsabilidades que você assume e atividades que precisa desempenhar
perante sua família religiosa, o que demanda tempo e energia da pessoa. Diante destas
exigências, o emprego e o curso de graduação sempre foram conflitantes com as atividades
religiosas, que ocorriam, especialmente durante a noite e as madrugadas, prejudicando a
execução dos outros compromissos.

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Este embate entre atividades durou até o momento que sua Mãe de Santo, nesse caso,
sua avó, o comunicou que ele estava preparado para exercer todas as atividades no mundo do
batuque. Sua avó, que é a única pessoa que poderia lhe designar este papel, o tornou
oficialmente um Pai de Santo. Neste ponto, Wesley, que já não estava mais vinculado ao seu
curso de graduação, também desligou-se de seu emprego e começou a dedicar-se integralmente
aos atendimentos e atividades religiosas.
Após quase uma década atuando como batuqueiro, o entrevistado relata que o trabalho
ocupa integralmente o tempo de seu dia. Hoje, Wesley mora com sua mãe, é separado há quase
11 anos e possui uma filha de 13 anos de idade que mora com sua antiga companheira. Ele
conta que a criança, embora ainda não tenha, em suas palavras, “despertado dentro da religião”,
vem criando suas raízes neste mundo.
Assim como seu passado e sua identidade, que mantiveram uma constância de
integração junto ao Batuque, todo seu futuro é projetado nesta área. O desejo do entrevistado
é, primeiro, o crescimento de sua família religiosa, aumentando o número de vínculos, e
também, o desenvolvimento do Centro de Religião do qual ele e sua mãe são proprietários. O
qual, através do investimento de recursos no local, traria melhorias estruturais e atrairia um
número maior de clientes ao espaço.

5 DISCUSSÃO

Em primeiro lugar é importante dizer que ao utilizar a estratégia investigativa da história


de vida, as dinâmicas ocorridas entre indivíduo e contexto se mostram elementares, sobretudo
em seu impacto na construção das carreiras. Os elementos tempo-espaço social figuram peças
importantes nesta análise (ABBOTT, 1997), bem como o confronto entre aspectos objetivos e
subjetivos de diferentes gerações (HUGES, 1937, ATKINSON, 2002).
A construção da carreira de mãe e filho contém aspectos semelhantes e outros
marcadamente distintos, sobretudo em função dos diferentes períodos vividos e espaços
inseridos. Inicialmente podemos destacar que os primeiros contatos com o campo religioso
ocorreram de modo semelhante para ambos, porém, as experiências foram significativamente
contrárias. Em comum, mãe e filho, nasceram em ambientes familiares religiosos, observando
e adquirindo suas práticas. No entanto, enquanto Wesley enfrentou experiências negativas
pontuais associadas à suas práticas religiosas, a exemplo de seu período na escola, Cidinha
perpassou situações intensas, variadas e por longos períodos de tempo, como as duas décadas
percorridas durante o regime militar.
Logo percebe-se a produção de diferenças entre as trajetórias diante dos marcadores
tempo-espaço social. O intervalo de quase três décadas entre suas infâncias e os espaços sociais
em que foram criados – pequenas cidades no interior do Rio Grande do Sul no caso de Cidinha
e uma metrópole como Porto Alegre no caso de Wesley – agiram em tais caminhos.
O fato é que os contrastes contextuais iniciais projetaram a sequência percorrida pelos
entrevistados (MAYRHOFER; MEYER; STEYRER, 2012). É possível dizer que as
experiências iniciais de Wesley em um espaço de menor conservadorismo e restrições, ao
contrário do de sua mãe, não apresentaram tantas barreiras, permitindo-lhe maior poder de
ação e ingresso no campo profissional da religião logo cedo, ao passo que sua mãe buscou
outras experiências até adentrar nesta área.
Visto que o ambiente influencia as ações objetivas dos sujeitos dentro do campo, é
possível perceber também as noções construídas a partir de eventos passados e que agora são
compartilhadas no presente pelos sujeitos entrevistados (BARLEY, 1989). Uma das
subjetividades mais interessantes da análise é sobre o sentimento de ingresso na ocupação da
mãe em relação ao filho.

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Nos relatos, Cidinha expôs que sua mãe, inicialmente, se mostrava convicta em seu
desejo de ter a filha distante da religião, da mesma forma que ela apresentou certa insatisfação
ao ver o filho seguindo seus passos posteriormente. Entretanto, nota-se um decréscimo na
contrariedade de ingresso profissional na religião na relação mãe e filha e posteriormente mãe
e filho. As construções sociais relativas a carreira em análise e as emoções próprias dos sujeitos
apresentam uma transformação na medida em que estes mostram resistências menores ao
ingresso profissional. Tal afirmação é reforçada quando Wesley, ao citar o futuro de sua filha,
não apresenta nenhuma restrição às suas escolhas profissionais.
Sobre isso, podemos somar também a própria criação de uma nova identidade de
Cidinha, que diante de um tempo-espaço diferente, permitiu-se adentrar em uma carreira que
poderia ter iniciado décadas antes. Hoje, no momento da entrevista, embora seja possível ver
que as lembranças foram desgastantes, nota-se uma reinterpretação do passado por Cidinha,
amenizando tais fatos, na tentativa de deixar para trás significações da época. Nestes casos,
conclui-se que as resistências e as significações, vistas sob o formato de noções construídas,
nessa ordem, diminuíram e transformaram-se em reflexo de um ambiente menos violento em
relação ao exercício desta ocupação.
É interessante observar também os “status” formados dentro deste conjunto social e que
fazem parte da carreira religiosa. É comum encontrarmos uma série de denominações que
rotulam as pessoas que trabalham em religiões afro-gaúchas, inclusive algumas criadas pelos
próprios sujeitos com fins comerciais ou buscando se afastar de sua própria bagagem histórica
de intolerância. Nomes como “cartomante”, “tarólogo(a)”, “astrólogo(a)”, além de outros
discriminatórios como “saravá” e “macumbeiro” facilmente são vistos (GIORGIO, 2015).
Entretanto, ao contrário destas terminologias, os entrevistados afirmam que dentro do grupo
são reconhecidos como “batuqueiros”.
É possível dizer ainda que o “status” de batuqueiro se divide de acordo com a posição
exercida pelo indivíduo no grupo. Podendo, ele ser um “Filho(a)-de-Santo” ou “Mãe/Pai-de-
Santo”. O primeiro enquadra os sujeitos que ingressaram nesta área e que podem tornar-se, após
um processo de treinamento, Mães ou Pais-de-Santo. Já o segundo “status” se refere a uma
posição que permite ao indivíduo, de acordo com os preceitos internos do grupo, criar sua
própria família religiosa, capitanear as sessões em grupo e realizar atendimentos aos seguidores
e clientes.
O processo para adquirir este “status” é interessante. Primeiro, os sujeitos precisam
imergir dentro da religião, aprendendo os elementos mitológicos, axiológicos, linguísticos e
ritualísticos da vertente (RAMOS, 2017). Após isto, quem vai lhe avaliar e conferir o título é
seu Pai ou Mãe-de-Santo. Podendo ainda, formalizar o título através das federações do grupo.
No Rio Grande do Sul, com o aval do Pai ou Mãe-de-Santo do requerente, as federações podem
emitir uma carteira de filiado, certificando o indivíduo como Mãe/Pai-de-Santo e respaldando
suas práticas de acordo com os direitos legaisiii.
Embora os entrevistados há tempos não renovem sua carteira de filiado por meio do
pagamento da anuidade, é através do movimento das federações que reside o principal vínculo
entre eles e o seus pares. Ambos revelaram que participam há quase dez anos, embora
eventualmente, de movimentos em defesa das práticas afro-religiosas organizados pelas
federações. Cidinha recorda que “quando quiseram colocar a lei para não deixar matar os
bichos, algo que é necessário pra nós, fomos na frente da prefeitura, todos os batuqueiros foram
lá, cantaram, tocaram tambor”.
Através deste movimento, verifica-se que os indivíduos, principalmente por meio do
somatório de forças, possuem papel importante no sentido de agir sobre a estrutura do campo
onde suas carreiras estão inseridas (BARLEY, 1989; HUGHES, 1958). Neste caso, a
interferência direta pode ser vista em dois momentos significativos. Primeiro, pelas decisões
legislativas estaduais e posteriormente nacionais em favor do grupo, resultando em uma
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legitimação social de suas práticas (BRASIL, 2018). Segundo, olhando para o passado e não
com a participação direta dos entrevistados, mas pelo somatório de forças deste conjunto social,
na criação destas federações que lutam pelos direitos do grupo até hoje.
É possível perceber esta dinâmica ocorrida entre praticantes e demais instituições do
campo desde o início da trajetória da carreira no Batuque no Rio Grande do Sul. É este processo
histórico que explica o enquadramento desta trajetória como uma carreira desviante. Ao olhar
para trás nota-se que a falta de legitimidade somada a uma posição frágil de seus praticantes na
sociedade, fez com que a violência e o preconceito sempre estivessem presentes envolvendo o
espaço desta religião. Em seu levantamento historiográfico, Lírio de Mello (1995) apresenta
reportagens em jornais gaúchos no final do século XIX que ilustram a afirmação. Os periódicos,
regularmente apresentavam em suas páginas policiais notas sobre cultos de matriz africana.

Foram presas à ordem da delegacia, duas pretas feiticeiras que atraíam grande
ajuntamento de seus adeptos. Na ocasião de serem presas, encontrou-se-lhes um santo
e uma vela, instrumento de seus trabalhos (Jornal do Comércio, Pelotas, 1878, p. 2
apud Lírio de Mello, 1995, p. 26).

Os principais registros sobre a história desta religião no Rio Grande do Sul até hoje são
as páginas policiais (ORO, 2002). Atualmente, embora as práticas religiosas afro-gaúchas – sob
a ótica da religião e não do trabalho – estejam amparadas juridicamente e apoiadas por
instituições associativas, seus praticantes ainda sofrem preconceito, sobretudo dos discursos
intolerantes de religiões pentecostais (GUERREIRO, 2018; SOUZA, 2019;).
É a construção histórica deste cenário que contribui para afirmarmos que tanto pela ótica
do trabalho e da carreira, como pela sua orientação religiosa, os entrevistados estão inseridos
em subculturas ou subgrupos, o que os levam a serem considerados desviantes (FRIGERIO,
2008; BECKER, 2008). Conceito internalizado e de alguma forma compreendido pelos
respondentes a partir do momento que consideram suas trajetórias na religião-trabalho,
anormais.
Por fim, é inegável, de um modo geral, a transformação do campo de carreiras religiosas
afro-brasileiras diante do atual regime econômico e seu impacto na projeção futura dos
profissionais. Primeiro, sob diversas formas é possível ver como a noção de comércio vem
adentrando nas práticas e processos deste campo. Já é possível encontrar pessoas que vendem,
como um curso formatório, a preparação para tornar-se Pai-de-Santo e de pessoas que buscam
a formação unicamente para atender clientes, visando apenas a esfera econômica do trabalho
(ORO, 1998).
Por outro lado, verifica-se que até mesmo os entrevistados, criados sob crenças e
práticas genuínas que envolvem a religião do batuque, embora atualmente estejam longe de
processos de racionalização definidos em suas atividades, já projetam como próximos passos
dentro desta carreira ações que visam o desenvolvimento econômico de sua casa de religião, ou
por outra perspectiva – já visualizando o alvorecer mercantil deste campo – seu
estabelecimento.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observando a relação tempo-espaço, suas transformações longitudinais, as dinâmicas


objetivas e subjetivas existentes entre sujeito e contexto, este trabalho procurou investigar a
carreira no batuque a partir da narrativa de duas pessoas de diferentes gerações que vivem esta
trajetória. Ao resgatar a história da ocupação e dos sujeitos pesquisados, contextualizamos e
interpretamos suas ações, como também identificamos o papel de pessoas, grupos, organizações
e sociedade neste território.

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Diante da discussão apresentada, é possível apontar as mudanças transcorridas nesta


carreira, bem como obter elementos antecedentes, distintos, presentes e comuns aos sujeitos
envolvidos e visualizar indícios de possíveis mudanças no campo do batuque. Sobre o primeiro
apontamento, ao observar o caráter relacional proporcionado pelo conceito de carreira, ficam
evidentes as dinâmicas ocorridas entre indivíduo, carreira e contexto. A pesquisa pode
identificar que, tanto na esfera do trabalho, como nas práticas e costumes ligadas à religião,
existem transformações oriundas, principalmente, do regime mercantilista. Da mesma forma e
seguindo nesta direção, as projeções futuras de carreira dos entrevistados cada vez mais
atrelam-se ao cenário econômico.
Sobre o segundo apontamento, podemos projetar que embora o ambiente familiar
indique ser um dos gatilhos para seguir esta trajetória ocupacional, o cenário econômico
provoca, a nível estrutural no campo de carreiras, a inserção de novos atores. Dentre eles, os
grupos que mais se destacam são as pessoas que vendem e comercializam os treinamentos e
formações de Pai/Mãe de Santo e o contingente que os busca. Dinâmicas que poderão
influenciar as práticas daqueles já inseridos pela via da religião neste mercado, talvez isto
signifique maiores níveis concorrenciais entre Casas/Centros de Religião e processos – hoje
embrionários – profundos de racionalização nas práticas deste grupo.
Considerando a carreira desviante, o olhar longitudinal para as representações (e suas
transformações) dos entrevistados e o contexto experienciado permitiu também observar a
diminuição no número de barreiras encontradas na carreira do batuque ao longo dos anos.
Carreira que nasceu em um ambiente escravocrata, cruzou a ditadura militar e hoje enfrenta
barreiras, sobretudo, através de atos discriminatórios e preconceituosos, embora, muitas vezes
violentos e espraiados por múltiplos espaços. Além disso, o papel violento antes praticado pelo
Estado, na figura das autoridades policiais, hoje pertence aos grupos religiosos pentecostais
intolerantes em suas crenças.
A conjuntura indica que embora esta carreira tenha ganhado representatividade – por
meio da criação das instituições representativas – e maior legitimidade nos últimos anos –
através de decisões legislativas favoráveis ao grupo e ações públicas de incentivo à religião –
os sujeitos que seguem esta trajetória ainda carregarem rótulos que prejudicam suas atividades.
Seus “status” são reconhecidos e valorizados apenas internamente no grupo. Por outro lado,
externamente, o preconceito e a violência, levam, muitas vezes, estes trabalhadores a
acobertarem sua verdadeira identidade e assumirem papéis diferentes em suas vidas buscando
maior flutuação dentre ambientes. O que nos permite dizer que esta carreira, além de desviante,
se disfarça.
Por fim, investigando a ocupação de pessoas no batuque e explorando o ponto de vista
daqueles que vivem este mundo, o trabalho apresenta o campo desta carreira, amplia a discussão
em áreas não tradicionais e ratifica o entendimento da carreira como uma sequência não linear
e com (re)interpretações constantes de significados, como também retrata as diferenças
oriundas do tempo e espaço, no contexto, instituições, grupos e indivíduos, a partir da
visualização da carreira de duas pessoas de diferentes gerações que trilharam o mesmo caminho.

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extremo sul do Brasil. In: DILLMANN, M. (Org.). Religiões e religiosidades no Rio
Grande do Sul: matriz afro-brasileira. São Paulo: ANPUH, 2016. p. 141-168.

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XLIV ENCONTRO DA ANPAD - EnANPAD 2020
Evento on-line - 14 a 16 de outubro de 2020 - 2177-2576 versão online

VOGT, S.; BULGACOV, Y. L. M. História de Vida de Empreendedores: Estratégia e Método


de Pesquisa Para Estudar a Aprendizagem Empreendedora. Revista de Empreendedorismo e
Gestão de Pequenas Empresas, v. 8, n. 3, p. 99-133, 2019.

YIN, R. K. Pesquisa qualitativa do início ao fim. Penso Editora, 2016.

i
As charqueadas eram grandes propriedades rurais que funcionavam, em grande parte, sob o regime escravocrata
no sul do Rio Grande do Sul. Elas produziam o charque, uma carne salgada e desidratada que servia de alimento
para os escravos e abastecia o mercado interno brasileiro e também era exportada para outros países (SILVEIRA,
2014).
ii
É possível citar a discussão referente ao sacrifício de animais nas práticas religiosas africanistas e a emenda que
proíbe o abandono de animais mortos em vias públicas no Rio Grande do Sul (LEISTNER, 2016; ORO;
CARVALHO; SCURO, 2017).
iii
As federações se amparam, sobretudo na Constituição Federal de 1988, Art. V, Parágrafo VI, que declara ser
“inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Entretanto, os serviços religiosos
oferecidos pelos batuqueiros, bem como de agentes de outras correntes religiosas, ainda não se enquadram em
nenhuma jurisdição específica na esfera do trabalho (BRASIL, 2016).

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