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~1~

Heather C. Leigh
#2 Jagger

Série Broken Doll

Tradução Mecânica: Bia Z.

Revisão Inicial: Ester, Eryka, Taty, Karla,

Revisão Final: Syd Hart

Leitura Final: Bia B.

Data: 12/2017

Jagger Copyright © 2016 Heather C. Leigh

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Eu vendo drogas. Heroína para ser específico. E eu sou bom pra
caralho no meu trabalho. O suficiente para traçar o meu caminho para
o topo, controlando toda a oferta de Austin.

Mesmo que eu tivesse que matar o chefe anterior para fazer isso.
Eu faço o que tem que ser feito. Nunca me importei com as
consequências porque eu nunca tive nada a perder.

Até que eu conheci Miri. Minha boneca. Ela é minha fraqueza e de


alguma forma, meus inimigos descobriram sobre ela.

Se eles a machucarem, vão se arrepender do dia em que ouviram


o meu nome. Boss. Eles me chamam de Boss por uma razão. O que eu
digo é lei, incluindo o preço que coloco sobre as cabeças de quem se
atreve a foder com o que me pertence.

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Série Broken Doll

Heather C. Leigh

~4~
Miri

Frio, mofo e umidade foram às primeiras coisas que eu senti.

Em seguida veio à dor. Excruciante, rachando meu crânio e


roubando minha respiração. Sentar não era uma opção. Mesmo rolar de
costas para ficar de lado enviou uma onda de náuseas em mim,
correndo pela minha garganta, juntamente com a bílis e os restos
escassos da minha última refeição. O vômito continuou saindo da
minha boca quando deitei de lado no chão duro, as dores lancinantes
afiadas me forçando a respirar rápido, raso. Meu corpo continuou
vomitando até que eu me senti vazia e, mesmo assim, contrações secas
mantiveram meu estômago contraindo uma e outra vez. Cada espasmo
enviava uma facada de dor para minha cabeça.

Quando achei que não aguentaria mais, os vômitos violentos se


estabeleceram em apenas um mal-estar aborrecido, não era agradável,
mas era tolerável. Minha cabeça era outra história. A pressão no
interior era tanta que parecia que meu crânio estava apertando o meu
cérebro. Eu não tinha ideia de quanto tempo já estava deitada ali no
chão, em cima de alguns panos. Minutos, horas, dias... eu entrava e
saía da consciência. Todas as vezes que acordei, a náusea sufocante
enviava meu corpo para outra longa rodada de espasmos dolorosos,
secos e inúteis. Eu acho que desmaiei uma ou duas vezes por causa da
agonia torturante que acompanhava o vômito. Toda a minha existência
reduzida a acordar para; o martelar insuportável na minha cabeça, que
me fazia vomitar, e a dor explodindo em mim em tais níveis que
nenhum ser humano poderia suportar. O que felizmente me fazia
apagar.

Era um ciclo vicioso e implacável.

Em algum ponto eu despertei e fiquei acordada tempo suficiente


para me sentar contra a parede, sem o meu cérebro tentando sair do
meu crânio. Com os olhos fechados, eu ofegava como um cachorro,
engolindo saliva até que a vontade de vomitar, finalmente, e graças a
Deus, foi embora. Quando eu consegui manter os olhos abertos mais
tempo do que um piscar de olhos, minha cabeça se inclinou como um

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mastro em um turbilhão, o mundo girando fora de seu eixo, enquanto
eu estava presa assistindo. Eu forcei a bile borbulhando para baixo e
esperei que a náusea passasse. Pela primeira vez desde que recuperei a
consciência, fui capaz de olhar ao redor.

E imediatamente desejei que eu não tivesse olhado.

O resto dos meus sentidos apagaram quando cai desamparada


novamente no chão, tudo abafado pelo ciclo sem escalas de dor e
náusea. Eu não tinha prestado atenção ao ambiente antes, e uma vez
que fiz, o horror da minha realidade me bateu como um tapa para a
igreja dado pelo próprio diabo. De repente, eu estava tremendo,
congelando de terror até os ossos. Como não era possível me esquentar,
eu passei meus braços esqueléticos em volta das minhas pernas,
puxando-as para o meu peito. A sala estava iluminada por uma única
lâmpada fraca rebaixada no teto, sem dúvida, lançando uma sombra
assustadora da minha silhueta através das paredes. Terror líquido,
puro e preto, bombeou dentro e fora do meu coração. Cada parede,
incluindo o piso e teto, era de concreto cinzento e triste. Sem janelas,
sem móveis, sem cobertores, nenhum outro item no espaço talvez de
dois metros.

Pânico deslizou pela minha espinha, enrolando seus tentáculos


pegajosos no meu pescoço, e deslizou em minha boca, na minha
garganta. Meu pulmão protestou contra a intrusão, uma vez que
restringiu o fluxo de ar, meu pobre coração martelando sobrecarregado
nos confins do aperto da minha caixa torácica. Lágrimas quentes
inundaram meus olhos, fluindo inutilmente pelo meu rosto e
escorregando em meu queixo. Funguei um soluço e fui atingida na
cabeça com o cheiro insuportável de urina. Meu Deus. A virilha da
minha bermuda do pijama estava molhada. Em algum ponto, eu devo
ter mijado em mim mesma.

Jogada em uma jaula como um animal imundo. Uma estéril jaula


congelada.

Eu tinha que sair daqui.

Com a cabeça latejando, náuseas e tremores musculares, eu


cambaleei para os meus pés e arrastei minha bunda para o que tinha
que ser a saída. A única interrupção na sala sem vida era uma porta
estreita quebrando a uniformidade de uma parede cinza fosca. A
vertigem ameaçou me derrubar no segundo em que fiquei de pé, minha
visão girando descontroladamente. Eu tropecei contra a porta, unhas
arranhando para manter o equilíbrio. Fraca, meu crânio explodindo de

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dor, eu bati minha mão contra a porta. Ignorando a náusea, eu tentei a
maçaneta. Nada. Trancada. Firmemente fechada.

— Socorro!

Eu estava tão rouca que a minha voz não chegou á qualquer lugar
perto do nível necessário para ser alto o suficiente para alguém ouvir. O
esforço, combinado com a boca seca, me sufocou e eu comecei a tossir,
minha garganta e cordas vocais irritadas do vômito. Tossir me fez entrar
em um ataque novo de vertigem, o que resultou em outro ataque
agonizante de espasmos secos. Fria, mas escorregadia de suor, minha
mão deslizou pelo trinco e eu caí no chão. O barulho da minha cabeça
batendo no cimento enviou uma onda de dor para o meu crânio
perfurando atrás dos meus olhos, até que, felizmente, eu
abençoadamente desmaiei.

— Finalmente, você está acordada.

Minha visão difusa tornou-se mais clara a cada piscar de olhos.


Uma vez focada, uma dor aguda me cegou, como se um elástico
estivesse amarrado ao redor da minha cabeça e deixado no local para
cortar a circulação. A náusea trouxe de volta as memórias horríveis e
com ela... A realidade.

Presa. Ferida. Cativa.

Desesperada por respostas, eu bati minhas mãos no concreto frio,


apoiando os braços, e empurrei a parte superior do meu corpo do chão.
Imediatamente, eu engasguei com o mal-estar que surgiu. Meu cérebro
quadruplicou de tamanho dentro do meu crânio, um balão inflado
pronto para estourar. Desesperada para saber onde eu estava, ignorei a
dor. Rolei de lado e olhei em volta, meu olhar embaçado travou em dois
homens, um magro e de estatura mediana, o outro um enorme
monstro, ambos de ascendência mexicana, seus profundos olhos
castanhos brilhando letais na escuridão. Eu não estava mais sozinha.
Em pânico, meu coração acelerou e eu deslizei minha bunda para o
canto mais distante.

— Raoul.

O homem menor disse. O comando em sua voz deixando claro


que ele era alguém acostumado a ser obedecido.

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Uma palavra e o gigante diminuiu a distância entre nós com duas
longas passadas. Sem aviso, ele levantou-me pelos braços, nós dois
giramos e fui empurrada de joelhos na frente do seu chefe. Meus joelhos
ralaram no cimento e eu gritei. Meu estômago enrolou e me obriguei a
engolir as lágrimas e náuseas. Se nada mais, eu prefiro morrer a
mostrar fraqueza na frente desses dois idiotas do caralho.

Meses atrás, eu desafiei Jag, e ele foi muito, muito mais


intimidante do que o chefe assustador e a besta usando suas mãos
enormes para manter-me em meus joelhos. Claro, eu estava no alto da
heroína quando eu enfrentei Jag, mas ainda assim. Esses dois não se
comparavam em nada com Jag no seu pior.

— O que...

Minha garganta travou. A laringe inflamada, provavelmente por


causa do vômito ininterrupto.

O bastardo no comando sorriu e eu não conseguia parar de


vacilar no brilho predatório dos seus olhos. Ele latiu uma ordem rápida
em espanhol.

— Fernando! Traer agua y una cilla.

A porta para a liberdade se abriu e um jovem, também de


ascendência mexicana, colocou uma cadeira atrás de seu chefe e
entregou-lhe um copo de plástico. O chefe sentou na cadeira e me
ofereceu o copo.

— Beba.

Desidratada, eu instintivamente me debati no pensamento de


beber algo deles. Agulhadas rasgavam a pele delicada da minha
garganta, não importa o quanto eu queria a água, eu não poderia pegar
o copo. E se estivesse envenenado? Ou com drogas?

Presa entre o desejo irresistível de saciar minha sede e a


necessidade de me proteger, o animal segurando-me no chão ficou
impaciente e com uma mão aberta bateu na parte de trás da minha
cabeça. Estrelas explodiram atrás dos meus olhos e o quarto girou
como um pião. Quando eu gritei por causa do golpe, o bandido agarrou
meu queixo. Dedos enormes cavaram em meu rosto, segurando minha
cabeça no lugar.

Mais uma vez, o chefe estendeu a mão.

— Você vai beber.

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Uma sobrancelha escura subiu em desafio e ele esperou eu pegar
o copo.

Tremendo, eu levantei a mão. Porra. Eu não quero que eles vejam


que estou abalada. Não importa o que, eu estava determinada a manter
o mínimo de dignidade, mesmo que eu estivesse ajoelhada no cimento
úmido, vestindo roupas embebidas no meu próprio vômito e urina,
enquanto esses dois bastardos me olhavam como se eu fosse nada além
de lixo. Eu não iria, eu não poderia deixá-los me quebrar. Não desse
jeito. Os últimos anos foram difíceis, mas se eu aprendi uma coisa
durante meus seis meses com Mason, era como aguentar merda e
seguir em frente, não importa o quê.

Eu peguei o copo e trouxe-o aos meus lábios. Era incolor e


inodoro. Água. Sim, o pensamento de que podia estar drogada ainda
formigando na parte de trás da minha mente, mas eu estava
desesperadamente sedenta, e se a criatura com as grandes mãos tinha
algo a dizer sobre isso, a água estaria sendo enfiada na minha boca eu
gostando ou não. Era melhor fazê-lo em meus termos.

Eu virei o copo e no segundo que a primeira gota bateu minha


língua eu não conseguia parar. Um bálsamo na minha garganta áspera,
eu avidamente esvaziei todo o líquido fresco. Eu poderia facilmente ter
bebido mais quatro, mas nenhum foi oferecido. Não, o chefe idiota
pegou o copo vazio das minhas mãos e o jogou de lado.

— Você sabe por que você está aqui, cabron?

Eu sabia espanhol o suficiente para entender o insulto e franzi a


testa.

— Eu fui chamada de coisa pior do que idiota.

O homem riu.

— Claro que sim, já que você também é uma prostituta, não?

Apesar do ar frio e úmido no quarto, minha pele picou com calor.


Um rubor de raiva ondulou pelo meu corpo e eu olhei bem nos olhos do
filho da puta quando eu falei.

— Não, eu não sou uma prostituta.

Quem é esse cara para me julgar? Ele é um sequestrador e está


tentando me envergonhar me chamando de prostituta?

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O homem inclinou-se da sua cadeira e estendeu a mão para tocar
meu rosto. Eu empurrei para trás em repulsa. O pensamento de suas
mãos em minha pele me fazendo encolher. O bruto atrás de mim,
Raoul, apertou a parte de trás do meu pescoço com suas enormes patas
até que eu gritei. Calado, ele me segurou firmemente no lugar aos pés
do homem. Eu assisti com horror quando um dedo delgado deslizou na
minha bochecha e se arrastou para meu pescoço.

Eu queria vomitar. A água que eu bebi ameaçava voltar. O cara


literalmente fazia mal ao meu estômago.

— Quem é você?

Perguntei para acabar logo com este jogo bizarro de ameaças, e


estava extremamente pronta para algumas respostas.

— Me falaram que você era mal-humorada.

O homem disse com uma risada. Esse dedo da porra continuou


na minha pele, traçando ao longo de uma das minhas clavículas para
meu ombro. Eu juro, se ele chegasse perto da minha boca, eu ia mordê-
lo.

Minha garganta apertou com o meu reflexo de vômito pronto para


entrar em ação.

— Eu não sei do que você está falando.

— Claro que você não sabe de nada, puta. Você é una cusca
estupida. Uma vagabunda inútil. Você não sabe nada que seja
importante para mim.

Internamente eu me irritei com o insulto, mas não dei ao bastardo


a satisfação de uma reação.

— Então por que estou aqui se sou tão inútil?

Como o bote de uma víbora, o braço do homem disparou para fora


e sua mão agarrou meu pescoço, apertando até que comecei a engasgar.
Ele se inclinou até que eu podia sentir seu hálito quente e rançoso, e
obtive um olhar mais atento do brilho sádico em seus olhos quase
negros.

— Você está aqui porque você é importante para alguém que eu


desejo destruir.

Ele empurrou-me para longe e eu caí para trás, vomitando e


engasgando. Raoul me pegou pelos ombros e substituiu a mão de seu

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chefe com a sua própria, colocando-a frouxamente em torno de minha
garganta para manter-me de joelhos, enquanto eu continuava
asfixiando por falta de ar.

O chefe se levantou e puxou as abotoaduras de sua camisa,


passando a mão pelo seu terno perfeitamente alinhado. O movimento
me lembrou tanto de Jag, que lágrimas picaram meus olhos. O pequeno
imbecil ergueu o queixo e zombou enojado como se eu fosse um monte
de merda sujando seu caro tapete persa.

— Eu sou El Cuchillo, e vou matar seu namorado, o chefe de


Austin.

Ele se inclinou até que nossos olhos estavam no mesmo nível.

— E você, puta, é a chave para fazer isso acontecer.

Jag

— Filho da puta! Eu quero que você encontre esse filho da puta


do Cuchillo agora. Porra. Agora. Aquele pedaço de merda se atreveu a
levar Miri dos meus próprios braços. Eu quero esse pedaço de merda
vivo, para que eu tenha o prazer de fatiar lentamente cada uma das
partes de seu corpo até que ele implore para morrer porra.

El Cuchillo vai desejar nunca ter fodido com o que é meu.


Especialmente quando eu começar a esquartejar seus pedaços, um de
cada vez. Seus gritos serão música para os meus ouvidos.

— Chefe, eu sei que é a conclusão mais óbvia, mas não sabemos


com certeza se era os homens de El Cuchillo.

Milo recebeu um olhar fulminante por seu comentário, e


prontamente fechou a boca.

Todos os meus homens de alto escalão estavam sentados em uma


longa mesa num dos meus armazéns. Eu, por outro lado, estava louco,
então andava pelo local, possesso, alternando de raiva para terror total
e absoluto. Medo do que poderia estar sendo feito para Miri neste exato
minuto.

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Com a exceção de Milo, meus homens me encararam com os
olhos arregalados, tensão palpável criando uma espessa nuvem de
estresse pairando sobre a mesa. Eu faço um grande esforço para
manter o controle na frente dos meus homens, com exceção de Milo.
Sendo o segundo no comando, ele geralmente suporta o peso dos meus
acessos de raiva, simplesmente porque ele passou mais tempo comigo
do que qualquer outra pessoa na organização.

Agora, todo mundo vai testemunhar eu perder minha merda e eu


não dou uma porra para isso.

— Foi Cuchillo. Eu o conheço e sei que foi ele, ninguém mais teria
um motivo para sequestrá-la, muito menos atacar-me diretamente e
roubá-la de meus braços.

Eu parei de andar e bati os punhos na mesa. O estrondo ecoou


pelas vigas metálicas que se estendiam até o teto de seis metros.

Uma voz interrompeu Milo antes de ele retrucar a minha


explosão.

— Se fosse Cuchillo, por que ele iria deixá-lo vivo chefe? Poderia
ser Brick, um fornecedor chateado, qualquer um dos nossos
atacadistas, ou uma tonelada de merda de outras pessoas que fazemos
negócios. Há um monte de gente lá fora que gostariam de vê-lo cair.

Mudei minha atenção para George, outro dos meus melhores


homens, seu tom era calmo, mas o rosto era uma máscara profunda de
vermelho e sua boca repuxada em uma carranca. George emanava
raiva, como se ele estivesse esperando ansiosamente por uma chance de
arrancar seu próprio peso em carne. Depois que El Cuchillo assassinou
seu melhor amigo, Jimmy, George estava ansioso por vingança. Mas de
alguma forma, o homem foi capaz de manter a cabeça fria e peneirar
através de todos os possíveis suspeitos apesar do fato de que ele
adoraria nada mais do que disparar uma bala entre os olhos de
Cuchillo.

— Você está certo.

Eu exalei e deixei pender minha cabeça entre os ombros, eu


estava inclinado sobre a mesa, apoiado em minhas mãos.

— Porra. Porra. Porra!

Gritei, empurrando a mesa para trás.

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O quadro mudou com a agressão e meus homens saltaram de
seus assentos quando seus cafés e outras bebidas derramaram. Eu virei
e tomei um momento para me recompor enquanto eles limpavam a
bagunça. Se eu não me acalmasse eu seria inútil para Miri. Se Cuchillo
a pegou, era exatamente o que o bastardo gostaria. Cuchillo me quer
enfurecido, fora de controle, emocionalmente instável. Ele sabia que eu
precisaria ter minha cabeça clara, um coração negro e uma consciência
inexistente para ganhar uma guerra dessa magnitude.

Emoções bagunçavam tudo, e foi precisamente com isso que ele


contou quando raptou Miri.

Uma vez que meus homens voltaram aos seus lugares, eu


neutralizei a dor e o sofrimento de Jag, o homem, e guardei-o em um
canto escuro da minha mente, deixando Boss, o insensível, não-foda-
comigo senhor da droga, assumir e comandar o show.

— OK. Quem levou Miri deixou-me vivo. Isso significa duas


coisas. Quem quer que seja o filho da puta covarde que fez isso, ele
quer usar Miri como alavanca para conseguir alguma coisa, dinheiro,
território, drogas, qualquer coisa. Tenho certeza que eles estavam bem
conscientes de que: se me matassem no local, um de vocês
simplesmente tomaria o meu lugar, deixando-os segurando seus paus
com uma guerra ainda a ser combatida. Pessoalmente, acho que o filho
da puta covarde que a levou é Cuchillo, mas George está certo. Não
vamos ignorar outras possibilidades.

— Faz sentido alguém usá-la como alavanca.

Alfredo, um dos meus sócios da área, entrou na conversa. O resto


do grupo concordou com a cabeça.

— Você disse que havia duas razões possíveis, se não for a essa,
então qual?

Perguntou Milo. Olhei para o meu segundo no comando e vi em


seus olhos escuros o soldado astuto que ele provou ser. Meu tenente já
descobriu a resposta. Milo é brutalmente violento e um bastardo sádico,
mas ele também é inteligente, conivente, e capaz de pensar como o
inimigo, que é o que o fez indispensável na formação dos contra-
ataques.

Voltei para a mesa, todos os olhos em mim.

— Quem quer que seja quer me machucar, e isso é pessoal.

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Engoli em seco e equilibrei minha respiração para que meus
homens não sentissem minha vulnerabilidade quando se tratava de
Miri.

— Eles obviamente souberam o que aconteceu com o meu


antecessor. Eles sabem por que o matei e assumi esta operação e estão
tentando recriar o passado me cortando na altura dos joelhos.

Os homens concordaram e começaram a murmurar entre si. Não


era segredo que eu derrubei o chefe anterior, um idiota viscoso
chamado Ricardo “The Wolf” Ochoa e assumi seu lugar, porque o
bastardo usava minha irmã como sua escrava sexual pessoal.

No momento em que ela desapareceu, o rumor era que Rose se


aproximou de um dos traficantes de Ochoa para comprar heroína. O
cara era experiente, ele sabia que Ochoa negociava drogas com as
mulheres em troca de sexo e percebeu que seu chefe adoraria possuir o
belo rosto e corpo da minha irmã, então ele trouxe Rose direto para a
cova do lobo com a promessa de mais drogas. Ochoa gostou do que viu
e manteve-a para si, usando seu vício como vantagem, alimentando-a
com suas drogas para mantê-la complacente.

Honestamente, até hoje eu não descobri a história exata de como


minha irmã terminou no composto de Ochoa. Talvez o rumor fosse
verdade. Ou talvez Ochoa a viu andando pela rua e a levou, ou Rose foi
para sua casa voluntariamente, e depois não teve permissão para sair.
Não importava. Eu nunca iria saber a verdade.

De qualquer forma, o resultado foi o mesmo. Minha irmã morreu


na casa de Ochoa, e pelo pouco tempo que fiquei com ela, não havia
mais nada da bela mulher que um dia foi. Apenas a mera sombra de
uma Rose.

Agora o meu passado estava se repetindo, como um déjà vu,


alguém que eu protegia foi levada, coisas indizíveis sendo feitas a ela,
enquanto eu estava ao redor com meu polegar na minha bunda.

Foi exatamente por isso que eu nunca me permiti ter sentimentos


por alguém. O erro foi meu, meu fracasso, me apaixonar por Miri, mas
eu seria condenado se a deixasse ser a única a pagar por isso.

— Então o que vamos fazer chefe?

Um dos meus revendedores perguntou.

Eu passei a mão para baixo em minha roupa suja e rasgada que


estava usando quando fui nocauteado, não tive tempo para mudar

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depois que recuperei a consciência no terreno baldio atrás da garagem.
Minha cabeça sentia como se tivesse sido dividida aberta com um
machado. Quem me bateu não se conteve, e se eu tivesse que
adivinhar, eles usaram a coronha de uma pistola para me nocautear. O
caroço desagradável na minha testa foi uma prova da força por trás do
golpe.

Eu ignorei a dor na minha cabeça e o buraco no meu coração.

— Nós vamos recuperá-la. Então nós vamos matar cada pessoa


envolvida. Sem piedade para os malditos bastardos que tomaram o que
é meu.

Meus homens falavam uns com os outros, tanto em acordo e em


desacordo. Não que eu culpei os que não eram tão animados para lutar.
A guerra era sempre o último recurso. Eu fui deixado sem escolha.
Cuchillo forçou a minha mão.

— Eu quero cada homem sob o meu comando aqui às sete da


noite. Eles que tragam as suas armas e estejam preparados para
investigarem isto a fundo. Agora vão cuidar das coisas. Vou planejar
algo até lá então.

Girei e saí da sala antes que alguém pudesse falar alguma coisa.
Sem olhar para trás, eu empurrei para o pequeno escritório usado para
monitorar a distribuição e organizar as compras de produtos com
nossos contatos no México.

Porra, eu queria muito uma bebida. Eu enrolei minhas mãos em


punhos. Sem bebidas. Era imperativo manter a cabeça limpa. Eu não
seria bom para Miri, ou qualquer um, se eu estivesse a menos de cem
por cento. Minha cabeça latejando já estava tornando difícil pensar.
Álcool só iria agravá-la. Eu estava prestes a colocar um pouco de gelo
na minha lesão, quando a porta do escritório se abriu e Sarge, chefe de
segurança da minha casa, deslizou para dentro e fechou a porta atrás
de si.

— O quê?

Eu lati, todo o meu corpo tenso e ansioso para esmurrar algo. A


perda incapacitante de Miri combinado com a dor de cabeça
insuportável deixou-me a um fio de cabelo de explodir a coisa toda.

Sarge se encostou à parede, braços cruzados sobre o peito.

— Boss, eu tenho problema com essa situação.

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Suspirei e esfreguei os olhos. A última coisa que eu precisava
agora era um empregado problemático. Fiquei chocado que não era
Milo, mas Sarge. O homem seguia minhas ordens à risca.

— Eu não dou à mínima se você tem um problema, Sarge.


Estamos fazendo isso. Esta noite.

— Eu não tenho um problema com o plano, Boss.

Sarge acenou com a mão com desdém.

— Que diabo é isso então? Apenas cuspa tudo o que você tem a
dizer para fora, porque eu estou dizendo, Sarge, não estou com
disposição para brincadeiras.

Sarge se afastou da parede e veio até onde eu estava sentado. Ele


agachou-se até que seus olhos escuros estavam nivelados com os meus.
A gravidade em sua expressão empurrou a minha raiva para trás e
substituiu-a com interesse.

— O que eu quero saber é o seguinte, como é que eles sabiam


sobre Miri, Boss? Quer dizer, não é como se vocês dois saíram em
jantares e essas merdas. O cartel achava que ela era uma prostituta,
por isso é provável que não saiba de nada, graças à porra, mas, tirando
esse outro dia que ela saiu, pelo que eu observei Miri nunca sequer
deixou a propriedade. Apenas os dois passeios com você, e porra Boss,
você não é cego, ou estúpido. Você saberia se alguém estivesse te
seguindo.

Sentei-me e processei as palavras de Sarge. Levou um minuto,


mas quando assimilei, eu quase atingi o telhado.

— Você percebe o que está dizendo.

Eu rosnei. Meu furor crescendo com cada respiração irregular.

Sarge levantou-se, deu um passo para trás, e colocou algum


espaço entre nós. Homem inteligente.

— Eu sei exatamente o que estou dizendo, Boss.

Ele inclinou a cabeça e me deu um olhar compreensivo. Foi


quando eu soube que Sarge estava mortalmente falando sério para
caralho.

Eu me levantei tão rápido que a cadeira embaixo de mim caiu no


chão.

~ 16 ~
— Você acha que temos um traidor? Você acha que alguém da
minha confiança, na minha organização, disse a um dos meus inimigos
sobre Miri?

Meu corpo lutava entre a vontade de vomitar e o desejo de usar as


minhas próprias mãos para rasgar o coração de alguém fora de seu
peito.

Sarge assentiu.

— Sim Boss. Isso é exatamente o que eu penso.

Filho da puta.

O escritório estava irreconhecível depois que eu surtei.

~ 17 ~
Miri

Eu não fazia ideia de quanto tempo eu estava aqui nesse quarto


escuro e úmido. Poderiam ter sido horas, poderiam ter sido dias.
Comida ocasionalmente aparecia, mas não com qualquer tipo de
programação, tanto quanto eu poderia dizer. A comida vinha cedo ou
tarde; às vezes eu comia como se estivesse morrendo de fome, outras
vezes, apenas o cheiro dela me fazia mal ao estômago e eu começava a
vomitar. O vômito constante realmente deixava meus captores putos e
eles só faltavam esfrega-lo em cima de mim, brandindo uma arma para
me manter na linha.

Várias vezes ao dia, eu era tirada da cela, levada para um


banheiro escasso e autorizada a utilizar as instalações de limpeza. Eu
estava além do medo, a tal ponto que minhas veias estavam bombeando
puro terror por todo meu corpo. Apesar do meu medo, eu me recusei a
deixá-los vê-lo. Eu seria forte. De jeito nenhum eu desistiria ou daria a
esses desgraçados a satisfação de me ver quebrar. Não depois de lutar e
arranhar meu caminho através da minha vida de merda. Eu trabalhei
muito duro para morrer em algum cubículo de cimento aleatório no
porão da casa de alguém.

Dias e noites tornaram-se sem sentido. Sem janelas, eu não


poderia dizer qual era qual. Eu dormia quando eu estava cansada e
mesmo que fazia minha cabeça girar, eu andava pelo quarto quando
ficava ansiosa. A maior parte do meu tempo, no entanto, foi gasto
trabalhando em uma maneira de sair de lá. Eu observei os guardas
cuidadosamente, quando vinham até a cela, quais armas carregavam e
onde eles carregavam.

O cara baixo e gordo usava uma pistola enfiada na parte de trás


de sua cintura. O alto e musculoso usava sua arma em um coldre
debaixo do braço. Raoul, o idiota do primeiro dia, sempre usava um
terno com um casaco esportivo, então eu não tinha ideia do que ele
carregava ou onde. O garoto que trouxe a cadeira e a água para El
Cuchillo naquele primeiro dia tinha uma faca em uma bainha em seu
cinto.

~ 18 ~
Imaginei que a minha melhor chance seria pegar a arma do gordo
baixinho ou a faca do rapaz. Nenhum deles me considerava uma
ameaça. Eu certamente não parecia alguém que poderia lutar, e
honestamente, eu estava tão fraca que eu provavelmente não poderia.
Minhas chances de realmente colocar as mãos em uma arma e fugir
eram ínfimas, mas eu tinha que tentar. Eu não tinha ideia se Jag sabia
quem tinha me pego ou onde eu estava sendo mantida. Ele tinha que
estar vivo, ou eu não teria nenhuma utilidade para eles, mas eu me
recusei a abandonar minhas esperanças de ser resgatada. Era eu que
iria me tirar deste inferno.

Eu estava pensando em maneiras diferentes de arrebatar a arma


da cintura do gordo quando o bloqueio clicou e a porta abriu. Raoul
enorme e ameaçador como de costume entrou. Apenas, sua expressão
normalmente em branco se foi substituída por uma careta divertida.
Desta vez, ele não estava sozinho. Quando eu vi quem seguia o grande
mexicano para dentro, meu queixo caiu. Engoli em seco e quase dobrei
ao longo da dor da traição.

— Você.

O homem riu. Seus olhos escuros brilhando com um familiar


prazer perverso. Uma vez que o meu choque passou, eu dei ao amigo de
Raoul um olhar sombrio.

— Boss vai matá-lo por isso. — Resmunguei. — — Ele confiou em


você!

O homem riu.

— Ele vai morreu junto com você, e você nunca, nunca deve
confiar em alguém neste negócio.

O recém-chegado deslizou em torno de Raoul e rondou pela


úmida, sala de cimento.

— Pensando bem...

Eu vacilei quando ele estendeu a mão e acariciou minha


mandíbula.

— Talvez eu vá mantê-la viva. Você sabe, como minha própria


cadela pessoal.

— Prefiro morrer.

~ 19 ~
Eu sibilei quando minhas costas pressionaram contra a parede
fria.

Ele encolheu os ombros.

— Eu posso arranjar isso.

O homem puxou o braço para trás e me atingiu tão forte, que eu


caí para trás e bati com a cabeça contra o chão de concreto. Já sofrendo
com um ferimento na cabeça, virei de lado e vomitei nada além da bile.
Minha visão turvou, oscilando dentro e fora com imagens escurecidas
em torno das bordas.

Raoul limpou a garganta e interrompeu nossa pequena reunião.

— Está na hora. Você vem comigo.

Raoul virou-se para seu convidado.

— E você precisa sair daqui.

— Até a próxima cadela.

Eu ouvi o outro homem dizer algo através da névoa. Havia uma


vaga sensação de alguém saindo do quarto, apenas... tinha alguém
aqui? O que aconteceu? Meus pensamentos eram como lodo, turvando
meu cérebro, pedaços deixados para trás aqui e ali deixando as
memórias incompletas.

Meu estômago soltou quando Raoul pegou meu braço e apesar da


cabeça cheia de areia movediça, meus instintos afloraram. Eu chutei,
gritei e bati com meus punhos, ou pelo menos, eu pensei que eu fiz.
Mesmo fraca como eu estava, eu faria qualquer coisa para manter as
mãos do grande mexicano longe de mim. De alguma forma, apenas
batendo, eu consegui um golpe de sorte certeiro entre suas pernas.
Raoul gemeu de dor e dobrou de joelho, agarrando suas joias de família.
Vendo uma chance, tentei correr para a porta. Mas minha cabeça se
rebelou e o quarto inclinou. Eu caí de lado, direto nos braços do guarda
alto, musculoso, sem nome.

O homem facilmente me dominou, sentidos embotados ou não, eu


senti meus pulsos presos em uma grande mão enquanto ele agarrava
minha garganta com a outra. Ele aumentou a pressão no meu pescoço,
cavando seu polegar em um lado da minha garganta e seu dedo
indicador na outra. Não havia nenhuma folga em seu aperto. Comecei a
sentir-me ainda mais fraca e então as luzes se apagaram mais em torno
das bordas turvas da minha visão periférica. O guarda estava

~ 20 ~
beliscando minhas artérias carótidas para impedir o sangue de atingir
meu cérebro já traumatizado. Antes que eu pudesse entrar em pânico,
eu apaguei.

Eu acordei com alguém batendo no meu rosto. Quando tentei me


afastar da dor aguda percebi que não podia me mover. Minhas mãos
estavam atadas atrás das costas, meu tronco ligado a uma cadeira, e
meus tornozelos nas pernas de madeira resistentes.

Outro duro golpe abalou minha cabeça danificada. Era como se


meu cérebro estivesse saltando dentro do meu crânio. Os ferimentos na
cabeça e os vários que já tinha antes latejavam, minhas memórias
clarearam. Essa maldita náusea persistente voltou e eu estava prestes a
vomitar, mas havia um pano amarrado na minha boca. Se eu
vomitasse, ia acabar me sufocando. Com o estômago embrulhando,
concentrei em respirar pelo nariz em uma tentativa de esmagar a
vontade de vomitar.

Depois que me acalmei o suficiente para ter certeza que eu não


iria perder o conteúdo do meu estômago, dei uma olhada ao meu redor.
Isso só podia ser a casa de El Cuchillo. A sala de estar era
dispendiosamente decorada, grande e aberta, os móveis eram de couro
confortáveis, e na parede arte de bom gosto. E havia janelas. O sol
brilhava além das cortinas de gaze, fazendo meus olhos doerem. Era
dia. Por alguma razão, saber se era dia ou noite me fez sentir melhor.
Até que outro golpe fez minha cabeça girar, meu cérebro chacoalhou ao
redor em minha cabeça mais uma vez. Se eu saísse daqui, eu seria
sortuda se escapasse sem danos cerebrais permanentes.

Amaldiçoei sob a mordaça e fui recompensada com uma risada


baixa.

— Sente-se, puta. Você está prestes a se apresentar para as


câmeras. Você quer parecer bem, não é?

Meu estômago me traiu e soltou mais uma vez. Fechei os olhos e


me concentrei na luta contra a náusea até que passasse, ignorando o
modo como o quarto girava. Uma vez que a sensação foi embora, eu
torci o pescoço para fazer contato visual com o meu captor. El Cuchillo
estava sorrindo de orelha a orelha, seus redondos olhos castanhos
acesos com antecipação como uma criança na manhã de Natal.

Homem doente de merda.

~ 21 ~
Tentei dizer-lhe o que pensava dele, mas um grito abafado
acompanhado por uma série de baba que escorria em torno da mordaça
e pelo meu queixo foi tudo o que saiu.

— Tsc, tsc, tsc.

Ele se inclinou e gentilmente limpou a saliva com um lenço


dobrado.

— Nós não podemos tê-la coberta de saliva.

Ele riu.

— A não ser, é claro, que seja a minha saliva. Então você olharia
como a prostituta que você é. Devo cuspir em você, puta barata?

Eu não me movi, com medo do que ele faria se eu lutasse. Eu


definitivamente não quero nada de sua boca em qualquer parte do meu
corpo. Se ele cuspisse em mim, não havia dúvida de que eu vomitaria.
Então eu ia acabar sufocando até a morte sobre ele e não era assim que
eu queria morrer. El Cuchillo esperou um momento, esperando uma
resposta.

— Eu acho melhor não.

Ele bateu as mãos e esfregou-as alegremente.

— Está na hora do nosso pequeno show. Raoul.

Raoul entrou na minha linha de visão, deixou um laptop sobre a


mesa, e apontou a pequena câmera na minha direção. Eu poderia me
ver na tela, olhos machucados e pele pálida. Minhas bochechas ambas
irritadas pelas agressões, minha boca arreganhada pela mordaça de
pano vermelha brilhante presa entre os dentes, e meu cabelo estava
uma bagunça amarrado e emaranhado, com um lado sujo de sangue.
Será que eu bati minha cabeça de novo? Eu não conseguia lembrar. Era
como se minha memória estivesse atrás de uma cortina, e eu não tinha
força para abrir e expor a verdade. Uma coisa era certa, eu estava
imunda e parecia que já estava a meio caminho do cemitério.

Raoul apertou um botão e uma luz vermelha acendeu. Eu olhei


para a tela, inquieta sobre o que iria acontecer. Sem aviso, Cuchillo
estava atrás de mim, sua mão serpenteou em torno da minha garganta.
Ele colocou pressão sobre minha traqueia e comecei a tossir. Ouvi a voz
dele, mas não tinha ideia do que ele estava dizendo para a câmera,
porque tudo que eu podia fazer era me concentrar em puxar minha

~ 22 ~
próxima lufada de ar quando ele gradualmente cortou a minha
respiração.

Oh Deus. Ele ia filmar minha morte e enviá-la para Jag. Uma


única lágrima escapou do meu olho e fez o seu caminho pela minha
bochecha. Isso ia destruir ele.

A mão começou a apertar.

Eu sinto muito, Jag.

Jag

Passei os dias com Sarge enfurnado no meu escritório. Pensei que


enlouqueceria de olhar as mesmas quatro paredes malditas. Foda-se.
Eu estava determinado a elaborar um plano não só para encontrar Miri,
mas para matar o bastardo que delatou sua existência aos meus
inimigos. Na noite do terceiro dia, pensei que eu ia ficar anestesiado,
mas não. Eu estava cansado, com fome, e a porra da minha cabeça doía
como se alguém estivesse esmurrando-a, mesmo tomando um punhado
de Advil e segurando um saco de gelo na testa durante toda à tarde.

Dividir meus homens para investigar quem era o traidor em


potencial na minha organização era fácil. Descobrir quem escolher para
descobrir os traidores com a garantia que eles próprios não eram os que
me traíram era a parte mais difícil. Posso confiar em quem, em quem
não posso confiar, a quem escutar ou espancar, tudo era um grande
desafio e, francamente, me deixava puto. Eu confiei em meus homens
com a minha vida, com o meu negócio, e meu dinheiro, e agora um
deles tenta me derrubar, prejudicando minha inocente Miri, isso me
enfurecia além de todos os limites humanos normais. Eu queria matar o
filho da puta com minhas próprias mãos, e pela primeira vez, o
pensamento de sangue não me incomoda, na verdade, quanto mais
sangue, melhor.

Mas quando eu pensei sobre isso, não foi exatamente o que eu fiz
quando matei o meu predecessor? Trabalhei meu caminho de traficante
a cabeça da área, de subchefe a tenente apenas para que eu pudesse
me aproximar o suficiente para afundar a lâmina no pescoço do
bastardo. Alguém estava tentando me derrubar como eu fiz com Ochoa.

~ 23 ~
Porra. O fato que um dos meus próprios estava tentando me
matar era demais.

— Desta forma, faz mais sentido, Boss.

Sarge esfaqueou um pedaço de papel com o dedo, nomes e


lugares rabiscados em duas fileiras. Ele apontou para uma lista.

— Esses caras vão abordar nossos contatos lá fora e descobrir


qualquer coisa sobre Miri.

Ele moveu o dedo para a segunda lista.

— Esses caras vão seguir os homens na primeira lista e ver se


alguma coisa parece fora do normal. Então, vamos mudar.

Eu olhei para a lista de potenciais traidores, homens que


trabalhavam para mim, e uma raiva cega e incontrolável queimou
profundamente em mim, carbonizando minhas entranhas pelo que
parecia ser a milionésima vez nos três dias desde que Miri foi levada.
Cerrei minhas mãos machucadas, pronto para saltar da minha cadeira
e destruir tudo ao meu alcance. Não que houvesse algo intacto neste
escritório abandonado por Deus neste momento. A maioria da sala já
havia sofrido a minha ira, pedaços espalhados por toda a porra do
tapete caro. Um tapete que não significava porra nenhuma, juntamente
com tudo mais nesta casa maldita. Sentado neste escritório que parecia
uma cela de prisão, olhando para as paredes, impotente, enquanto a
minha menina estava sendo ferida, assustada, ou merda, possivelmente
até mesmo morta. Minha mandíbula doeu quando enterrei meus
molares juntos.

Sem Miri, toda essa besteira material era apenas isso: uma
besteira. Eu queria a minha menina de volta em meus braços. Sua pele
macia, seu cheiro doce... apenas o pensamento de nunca mais vê-la
novamente alimentou a minha raiva. Foda-se!

Sarge mexeu-se na cadeira. O homem não era estúpido. Ele sabia


que eu estava prestes a perder a minha merda. Mais uma vez. Eu
estava a dois segundos de explodir quando meu celular tocou. Eu olhei
para a tela. Número desconhecido com um código de área de San
Antonio. Meu instinto inicial era deixar a porra ir para ao correio de voz
para que eu pudesse começar a destruir as coisas, mas algo me obrigou
a responder.

— O quê?

~ 24 ~
Eu rosnei. Furioso com quem interrompeu meu selvagem de
acesso de liberar o estresse.

— Agora, isso lá é a maneira correta de cumprimentar alguém?

Filho da porra de uma cadela. Eu imediatamente reconheci a voz


com o sotaque mexicano cuidadosamente modulado.

Meus dedos apertaram ao redor do telefone e eu sibilei com os


dentes cerrados. — Eu sabia que era você filho da puta. Onde diabos
ela está?

Através da mesa, os olhos de Sarge se alargaram e ele começou a


se levantar. Eu ergui um dedo para ele continuar sentado. Sarge
obedeceu, mas eu vi os dedos enrolando em suas palmas. Não,
definitivamente não era Sarge que me traiu. O homem queria o mesmo
que eu, alcançar através do telefone e cortar a garganta de Cuchillo. O
idiota pegou o melhor amigo de George, e George e Sarge eram muito
próximos. Sarge queria vingança.

— Seu temperamento desagradável não vai levá-lo a nenhum


lugar, guero.

— Cale a boca, culero. Você acha que eu não sei espanhol? Que
porra você quer?

Eu estava segurando o telefone com tanta força que a caixa de


plástico rachou. Francamente, fiquei chocado que o vidro não quebrou
na minha mão. Eu odiava estar à mercê deste filho da puta.
Desprezava. Isso ia contra a minha própria natureza de sentir medo.
Mas eu estava com medo, pela minha Miri. Meu coração estava
martelando, o caroço na minha testa latejando junto com a minha
pulsação.

— Você deve pensar duas vezes antes de me insultar, Jefe. Seria


um erro muito grande de sua parte.

Cuchillo estava tão calmo, sua atitude tão presunçosa, eu


literalmente fechei os olhos e imaginei a minha KA-BAR cortando a
carne de sua garganta, expondo as camadas cor de rosa, sangue
atirando para fora em um gêiser, isso me impediu de dizer algo que eu
me arrependeria. Esse bastardo certamente descontaria em Miri.

— O que você quer?

Eu falei lentamente, pronunciando cada palavra para esconder o


meu desejo de mutilar e matar.

~ 25 ~
— Seu endereço de e-mail.

Sarge se contraiu em seu assento quando minhas sobrancelhas


voaram até a linha do meu cabelo. — O que?

— Você me ouviu, guero. O seu e-mail, agora.

Eu apertei a mão livre em um punho, minhas narinas dilatando


com o insulto. Porra. Eu me concentrei em respirar dentro e fora do
meu nariz para que eu pudesse falar sem ameaçar desmembrar-lhe um
pedaço de cada vez. Os pensamentos violentos me acalmaram e quando
eu estava composto como eu podia recitei meu e-mail.

— Bueno. Eu entrarei em contato.

A chamada foi desconectada. Fiquei ali como um idiota com o


telefone no meu ouvido por mais um minuto, incapaz de me mover ou
de processar o que diabo aconteceu.

— Boss... Boss!

A voz de Sarge me tirou do transe e meu telefone escorregou da


mão batendo sobre a mesa.

— O que ele disse? Era Cuchillo? Ele tem Miri?

Engoli repetidamente para empurrar de volta o terror e reunir


meus pensamentos.

— Foi Cuchillo, mas ele não disse com certeza se tem ela. Ele
queria o meu... O meu e-mail.

Sarge franziu a testa e inclinou a cabeça.

— Ele não disse se estava com ela? O que mais o desgraçado


nojento disse? Por que ele quer que seu e-mail?

A dor oca na boca do meu estômago cresceu, em constante


expansão até que a pressão me fez mal fisicamente. Algo estava errado.

— Miri foi sequestrada por meu maior inimigo.

Eu desabei na minha cadeira e comecei a digitar no meu laptop.


Um minuto depois, eu tinha o meu e-mail aberto e estava à beira de
hiperventilar. Sarge se moveu para ficar atrás de mim, inclinando-se
sobre meu ombro.

— Não há novos e-mails.

~ 26 ~
Minha caixa de entrada apresentava as mensagens habituais.
Nada fora do comum. A mais longa porra hora da minha vida passou
enquanto Sarge e eu olhávamos para a tela, atualizando-a a cada trinta
segundos. Nada ainda. Era quase dez horas

— De maneira nenhuma eu vou sair daqui. Chame os homens e


diga que adiei a reunião. Traga George, Shade, e Milo aqui.

Eu tinha um sentimento muito ruim sobre isso. Meu coração


afundou, e meu intestino afrouxou fazendo minhas mãos trêmulas.

— Sim, Boss.

Sarge saiu para realizar minhas ordens deixando porta fechada.

Devo ter atualizado a caixa de entrada mais uma dúzia de vezes.


Nada nessa porra. Frustrado, eu empurrei minha cadeira para trás e
caminhei até as janelas com vista para o jardim. Imagens de Miri com
os pés descalços passaram pela minha cabeça, vestido leve, cabelo
vermelho selvagem brilhando como um halo em volta do rosto em forma
de coração. Aquele pequeno sorriso crescendo em um largo sorriso
quando uma borboleta pousou no ombro dela. A forma como seus olhos
verdes brilharam e sua boca abriu em encanto. Mesmo que o vidro era
muito grosso para ouvir qualquer coisa do lado de fora, fechei os olhos e
imaginei o som musical de sua risada.

Abri meus olhos, peguei meu telefone e disquei novamente o


número de Cuchillo. Direto para um número inexistente maldito. O filho
da mãe usou um celular descartável e tirou a bateria.

Filho da puta!

Eu não sabia que estava puxando o meu cabelo até que o couro
cabeludo começou a queimar. Jesus Cristo meu corpo inteiro estava
vibrando com raiva. Meus dedos esticaram e enrolaram, querendo
destruir tudo à vista. Meu cérebro estava gritando para ir direto até o
armazém de Cuchillo com os meus homens e enfiar algo em sua bunda.
Cegamente metralhar todo o lugar maldito até que a última pessoa
estivesse cheia de buracos. O problema era que um dos meus próprios
homens poderia muito bem se virar contra mim. Ligar com
antecedência e deixar Los Guerreros saber que estávamos no nosso
caminho. Poderia me dar um tiro por trás enquanto eu invadia as
portas do armazém.

Maldito filho da puta, idiota, peça de buceta traidor de merda!

~ 27 ~
Furioso com a impotência absoluta, eu saí do escritório e
finalmente permiti que a raiva reprimida ultrapassasse a lógica.
Quando soltei, horas e horas de raiva reprimida e sede de vingança
trovejaram para a superfície. O alívio quando deixei ir foi instantâneo e
um inferno de muito melhor do que a inútil agonia na minha mente nos
últimos três dias. Subindo três degraus de cada vez, eu fui diretamente
para a suíte principal. O fogo rugindo sob minha pele crepitava e
estalou quando a raiva alimentou as chamas famintas. Eu queria
destruir. Eu queria o espancamento brutal de meus punhos batendo
contra carne. Eu queria queimar tudo à vista e rir como um maníaco,
enquanto o fogo reduzia tudo a cinzas. Peguei o objeto mais próximo e
segurei-o na minha mão, pronto para lançá-lo na parede.

Mas eu não podia. Não se eu queria salvar Miri. Fúria


desenfreada não iria trazê-la de volta.

Usando a força do além para me acalmar, consegui reprimir a


raiva o suficiente para deslizar dentro da fachada de Boss. O chefe cruel
que analisava todos os ângulos de um problema antes de traçar o seu
ataque. Que era o mestre no planejamento tático. Eu coloquei a
lâmpada de metal pesada de volta na mesa de cabeceira e dobrei meu
pescoço, forçando o meu foco sobre o que precisava acontecer a seguir.
Até o momento que me despi e fiquei sob o jato quente, eu tinha
bloqueado qualquer emoção inútil, exceto uma.

Ira.

Eu seria exatamente quem eu tinha sido ao longo dos últimos


cinco anos, uma máquina de matar implacável, desprendido, insensível
e um assassino que não sentia nada, não se preocupava com nada. O
único objetivo, vingança. Esfreguei cada polegada do meu corpo cru,
desesperado para purificar a culpa e dor. Um forte e poderoso Boss saiu
do chuveiro, pronto para a guerra, e deixou o fraco, sentimental buceta
do Jag escorrendo pelo ralo.

Determinado, eu caminhei para o meu guarda-roupa e contemplei


minhas opções. Meus dedos percorreram o material fino de um Armani
preto. Uma carranca puxou minha boca. Foda-se o terno maldito. Eu
estava malditamente cansado de arruiná-los, e não havia dúvida de que
eu usaria minhas lâminas, para sangrar. Um monte de sangue. Eu me
sequei e vesti uma calça jeans gasta e uma camiseta de mangas
compridas, facas amarradas no lugar, arma no coldre, minha mente
singularmente focada.

Boss estava pronto para a guerra.

~ 28 ~
— Boss! Boss!

Sarge correu para o hall de entrada e derrapou até parar


enquanto eu descia as escadas.

Ele se encolheu com o rosto duro e atitude gelada que eu tinha


fixado firmemente no lugar. Eu estava certo de que ele também poderia
detectar a fúria fervente descansando logo abaixo da superfície, a
fachada mantendo-a na baía pronta para quebrar à menor provocação.

— O que é?

— Você uh, recebeu um e-mail.

Eu passei ao redor dele, mas a mão de Sarge disparou e apertou


meu bíceps. Corajoso, mas estúpido.

— Que porra é essa?

Eu rosnei, nivelando meu olhar furioso com o meu chefe de


segurança.

— Boss...

O cara engoliu em seco e notei o medo brilhando em seus olhos


normalmente astutos. Apesar do meu desagrado e o perigo que
representava para ele tomar outra respiração, Sarge não me soltou. Em
vez disso, ele apertou mais difícil.

— Não.

O medo nos olhos de Sarge se transformou em pena.

Não.

Pavor gelado lançou lava em minhas veias. Temperando o líquido


alaranjado e incandescente em lama grossa, preta, bombeando
diretamente ao meu coração oco. O conteúdo no e-mail era perturbador
o suficiente para fazer que um dos meus homens mais leais me
desafiasse, ainda que eu estivesse no meu modo mais letal, ele estava a
fim de me impedir de vê-lo. Eu rasguei fora de seu controle e corri para
o escritório. Cinco anos atrás, eu assisti a minha irmã dia após dia
emagrecendo, enfraquecendo, esperando até que eu tivesse homens
suficientes do meu lado para matar o chefe e levá-la de volta, só para
chegar tarde demais. Ochoa colocou uma bala em sua cabeça na minha
frente, eu em pé e assistindo. Se eu pude viver com isso, eu poderia
enfrentar o pesadelo que estava no e-mail.

~ 29 ~
— Boss!

Sarge implorou.

De maneira nenhuma eu ficar sem ler a mensagem de Cuchillo.


Abri a sala e virei para enfrentar Sarge.

— Não me siga.

Seu rosto caiu e o cara parecia que estava com dor, mas o
bastardo leal me deu um aceno de cabeça afiado, respeitando os meus
desejos.

A sala era um naufrágio. Eu andei através dos resquícios de


minhas várias explosões e sentei-me atrás da mesa. O laptop estava
aberto, assim como o e-mail de El Cuchillo. Havia um anexo de vídeo
debaixo de uma única palavra.

Aprecie.

Oh merda. A imagem inicial do vídeo era em miniatura, mas eu


podia ver claramente que era Miri com uma mordaça na boca. Meu
coração falhou e minhas pernas ficaram fracas. Ansiedade caiu como
chumbo em meu colo e estendi minha mão trêmula até o mouse para
dar um clique sobre o link.

Imediatamente perdi a porra da minha mente.

~ 30 ~
Miri

Meu corpo inteiro doía dos pés ao topo da minha cabeça. Acho
que até meu cabelo estava ferido. Quando tentei levantar, notei duas
coisas. Uma, eu não estava no chão duro e frio da cela de cimento, mas
em um colchão macio. Duas, eu não estava sozinha.

— Meu Deus. Obrigada, obrigada, obrigada. Você está acordada.

A voz da mulher era familiar, mas eu não poderia me puxar fora


da neblina o suficiente para me lembrar de onde antes de voltar para a
inconsciência.

A segunda vez que acordei, eu fiquei imóvel. Cada pequena


contração ou ligeiro movimento enviava um relâmpago de dor rasgando
meu corpo maltratado. Minha respiração engatou quando recordei os
eventos de ontem. Ou era hoje? Ou eu tinha perdido mais? Eu tentei
manter as memórias na minha cabeça e falhei. Cada horror que
aconteceu, desde o minuto em que eu acordei amarrada a uma cadeira
até o minuto que desmaiei de dor inconcebível, brilhou atrás de meus
olhos.

Uma mão apertou minha garganta e pânico inundou meus


sentidos, meu corpo começou a se debater louco. Era isso. Eu ia morrer.
Eu queria ser corajosa, enfrentar o meu destino com coragem e não dar a
estes idiotas o prazer de ver-me implorar, chorar ou sofrer. Mas o instinto
de viver era forte demais para ser ignorado. Eu empurrei inutilmente
contra as amarras e gritei até ficar rouca em torno da mordaça. A mão
pressionou ainda mais para baixo na minha traqueia frágil e meus
pulmões se esforçaram para puxar o oxigênio. As luzes nas bordas da
minha visão esmaeceram.

Então, a mão tinha desaparecido. Minha cabeça caiu para frente e


eu tossi na mordaça quando respirei pelo nariz. Quando meu cérebro
recebeu o oxigênio necessário e eu sacudi da confusão de quase asfixia,
ouvi um homem atrás de mim rindo. Incapaz de torcer meu pescoço o

~ 31 ~
suficiente para vê-lo, eu permaneci de frente e percebi que estava
olhando para mim mesma em uma tela. A pele macia em torno da minha
garganta já estava em um tom escuro de roxo. O formato de uma mão
marcando minha pele pálida. El Cuchillo, A Faca, como ele chamava a si
mesmo, estava rindo como se estivesse assistindo seu seriado favorito
em vez de torturar uma mulher indefesa.

Eu queria matá-lo.

— Isso foi perfeito, cusca. Bonita. Seu amante vai gostar de ver
isso. Provavelmente não tanto quanto eu gostei de fazer isso, mas o que
você pode fazer?

Ele se inclinou sobre meu ombro e pôs a boca no meu ouvido. Eu


torci a cabeça longe de seu toque e amaldiçoei na mordaça. Cuchillo
puxou para trás onde eu não podia vê-lo e falou calmamente.

— Raoul.

O grande homem veio para minha visão periférica e antes que eu


visse isso acontecer, conseguiu um golpe de mão aberta em toda a minha
bochecha e nariz. Ele bateu-me com tanta força que senti imediatamente
o fio quente de sangue gotejando de uma narina. Minha cabeça latejava e
meu rosto parecia em chamas. Náusea subiu novamente. Eu tinha
certeza de que eu tinha uma concussão, talvez mais do que uma.

— Agora.

Cuchillo disse, colocando a boca no meu ouvido novamente.

— Você não vai se afastar de mim novamente, ou Raoul vai ensiná-


la a permanecer imóvel. Você vai ser boazinha?

Eu balancei a cabeça, o gosto metálico do sangue na minha língua,


escorreu dos meus lábios, sobre a mordaça, e infiltrou-se no material. Se
eles acabassem quebrando meu nariz, eu sufocaria até a morte com a
mordaça na boca.

— Bueno.

Ele acariciou meu cabelo e eu queria gritar. Com medo de ganhar


outro golpe, eu fechei os olhos e me concentrei em respirar, em vez de
pensar em quão próximo ele estava ou em seus dedos deslizando como
cobras em minha cabeça. Os lábios de Cuchillo roçaram a concha da
minha orelha e seu hálito quente soprou minha pele. Eu tremi em repulsa.

~ 32 ~
— Olhe para a câmera, puta barata. Isto é para seu Jefe. Você
pode chamá-lo de um presente... especial.

Minha família se mudou para o Texas quando eu tinha nove anos,


e eu nunca me preocupei em aprender espanhol. Até agora eu nunca me
arrependi da decisão. Eu sabia que as palavras de Cuchillo eram um
insulto, eu só não sabia qual.

A enorme mão de Raoul disparou e agarrou meu queixo. Eu gritei


por trás da mordaça. Ele apertou mais forte e as lágrimas escorreram de
meus olhos.

— Eu disse para olhar a câmera. Você é burra?

Cuchillo rosnou.

Medo rasgou minhas entranhas, e eu balancei a cabeça. Com muito


ódio, eu obedeci, mesmo com as lágrimas borrando minha visão olhei
para o laptop enquanto assistia a menina na tela fazer o mesmo. Raoul
puxou sua mão para trás e foi para o lado. Jesus, ele quase quebrou meu
maxilar. Cuchillo enrolou seus dedos no meu cabelo e puxou com força.
Eu gritei e arqueei o pescoço latejando para diminuir a dor queimando
meu couro cabeludo. Eu jurei que ele estava prestes a puxar meu cabelo
pela raiz. A outra mão de Cuchillo escorregou na minha garganta
machucada, enquanto ele continuava sussurrando em meu ouvido.

— Essa bela carne pálida, você não acha? Minha marca já está
aparecendo aqui.

Ele empurrou um dedo na carne inchada, dolorida onde ele me


estrangulou e outro grito rasgou do meu peito.

— Você vai ficar mais bonita depois que eu cobrir seu corpo com
minhas marcas.

El Cuchillo recuou e Raoul veio para frente. Eu gritei na mordaça e


agitei freneticamente dentro dos limites das cordas. Raoul segurou minha
cabeça e me olhou. A maldade em seus olhos me congelou.

— Vejo que está aprendendo,

Cuchillo riu.

— Talvez você não seja tão estúpida depois de tudo.

Raoul desamarrou a mordaça e removeu. Engoli em seco a saliva


sangrenta que se reuniu na minha boca. Meu peito arfava enquanto eu
ofegava e me deleitava com o ar fresco que enchia meus pulmões. Era

~ 33 ~
difícil respirar com uma narina entupida e a mordaça na boca, então eu
aproveitei a oportunidade para inalar enquanto eu podia.

— Eu gosto de você assim, cusca. Seus belos gritos vão adicionar


mais drama ao meu pequeno filme.

Ele deu um passo para mim, seus olhos escuros brilhando, e


começou.

Uma mão roçou meu braço e eu gritei só que nenhum som saiu.
Abri os olhos, mas eles estavam tão inchados que eu mal podia ver
através das pequenas fendas.

— Miri, pare. Não lute. Sou eu.

Desta vez, eu reconheci a voz da mulher. Uma voz que eu não


ouvia há quase um ano. Apenas... Era impossível. Não podia ser ela,
não é?

— Cat?

Eu perguntei em um sussurro rouco.

— Sim. É Cat, Miri. Como você veio parar aqui?

— Eu?

Eu disse asperamente.

— E você?

Eu tentei sentar-me e gemi.

— Deixe-me ajudá-la.

Cat ajudou até que eu estava encostada nos travesseiros apoiados


contra uma cabeceira de ferro retorcido.

— Onde estamos?

— Estamos em um quarto, em uma casa, em algum lugar. Eu não


sei onde. Eu não sei mesmo em que cidade nós estamos.

O tom de Cat era plano, não afetado, como se ela tivesse aceitado
seu destino ou particularmente não ligasse para o que ia acontecer em
seguida.

~ 34 ~
Esta não era a Cat que eu conhecia. Minha Cat era uma lutadora.
Exceto pela depressão profunda que ela sofria devido aos abusos de seu
padrasto, eu nunca tinha visto ela nesse estado, pessimista. Ela que
conseguiu nosso apartamento. Ela era a pessoa que disse que
poderíamos conseguir emprego e viver nossas vidas por conta própria.
Poderia ter sido minha a ideia de sair de casa, mas Cat foi a única que
me fez acreditar que um dia poderíamos ter a vida que sonhávamos.

— Jag...

Eu soluçava.

— Eles o machucaram.

— Quem?

— Jag. Ele é meu...

Meu o quê? Meu namorado? Meu traficante? Meu salvador? Eu


não sabia.

— Ele é meu amigo. Eles o machucaram quando me levaram.

Uma coisa boa saiu dos vídeos. Se Cuchillo ia enviá-los para Jag,
isso significava que ele ainda estava vivo. Eles não o mataram no
estacionamento da garagem.

Eu me concentrei em Cat através do inchaço ao redor dos meus


olhos e engasguei. Ela não parecia em nada com a garota que eu me
lembrava de um ano atrás. Cat estava terrivelmente magra, olhos
escuros e sem brilho, cabelos quebradiços e crespos, e sua pele tão
linda anteriormente era uma sombra doentia de amarelo.

Parecia muito comigo quando o vício me jogou ao fundo do poço.


Eu queria verificar seus braços para marcas de picadas de agulha, mas
não consegui. Eu estava muito fraca, muito abatida. Eu não precisava
de um espelho para saber que eu estava coberta de hematomas dos pés
à cabeça. El Cuchillo espancou-me até perto da morte, sempre forte o
suficiente para me fazer gritar, mas nunca o suficiente para realmente
quebrar algum osso, mas eu tinha certeza que ele não se importaria se
quebrasse.

— Cat.

Eu resmunguei.

— Precisamos sair daqui.

~ 35 ~
Jag

Ignorei os sons dos empreiteiros trabalhando em meu escritório.


Eu não tinha certeza do por que corrigir essa merda. Se eu não
conseguir Miri de volta em breve, eu acabaria por destruí-lo novamente
em outro acesso de raiva.

Meus dedos machucados pulsaram na batida do meu coração e


eu esfreguei minhas mãos. Quando eu assisti ao vídeo enviado por El
Cuchillo... Merda. Doeu só de pensar sobre isso.

Meu corpo inteiro começou a tremer quando a fúria revivia mais


uma vez. Minha raiva era tão crua que eu tive que fechar meus olhos
para conter a violência ameaçando enfiar a lógica para o chão e pisotear
em seus restos. Ondas de tensão irradiavam acima e abaixo da minha
espinha, espalhando-se, gritando para eu desencadear minha loucura
sobre o objeto mais próximo.

Ontem, Cuchillo enviou um vídeo dele com um cara chamado


Raoul, um homem que logo estaria morto, eu assumi que ele era o
segundo em comando. Raoul Quintero, o filho desagradável de uma
cadela com um sádico que rivalizava com Milo, estava batendo e
torturando Miri ao lado de Cuchillo. Quando o vídeo acabou, eu não
conseguia ver direito. Gritando, eu arremessei meu laptop contra as
janelas à prova de balas. O vidro resistiu, mas a máquina frágil
explodiu em uma dúzia de peças com o impacto. Eu não parei por aí.
De maneira nenhuma. Não foi o suficiente para extinguir a raiva, mágoa
e culpa em expansão dentro do meu corpo até que eu senti como se eu
pudesse explodir por causa da pressão.

Quando minha visão clareou e minha mente estalou fora da névoa


assassina, o pouco que restava no meu escritório foi despedaçado. Cada
último item estava quebrado ou danificado. Com o peito arfando e olhos
ardendo com lágrimas não derramadas, eu mal tive forças para chegar
à cozinha antes de desabar.

Muitos sentimentos me assaltaram ao mesmo tempo: raiva, medo,


culpa e perda, a porra dos meus fracassos. Miri estava incorporada
muito funda no meu coração para eu ter alguma chance de manter as
emoções fora da equação. Jag e chefe já não existiam como entidades

~ 36 ~
separadas. Os dois homens tinham sido fundidos em um amante e um
criminoso, fogo e gelo, paixão e violência. Eles se enraizaram em torno
de si, confundidos até que não havia nenhuma maneira de dizer onde
um começava e outro terminava.

— Boss.

Eu girei descontroladamente com a voz, com os punhos prontos


para atacar qualquer coisa para conter a fúria arranhando meu interior.

— Ei!

Milo levantou as mãos em sinal de rendição.

— Sou eu, Boss.

Eu estralei meu pescoço e inalei várias vezes profundamente até


que me acalmei o suficiente para manter alguma aparência e conversar
sem rasgar a garganta de Milo e pisar em seus restos mortais.

— Conte-me se meus homens encontraram alguma coisa, Milo.

Milo não precisou falar. O olhar inquieto em seu rosto e o fato de


que ele deu um passo para trás disse tudo. Eu tinha cada homem na
minha folha de pagamento desde os traficantes aos gerentes de
restaurante, e as pessoas que transportavam minha heroína nas ruas à
procura dos membros do Los Guerreros. Nem um desses pequenos
fodidos poderia ser encontrado em qualquer lugar. Todos eles
simplesmente desapareceram, cada porra de um deles. As empresas e
armazéns Los Guerreros estavam abandonados. Seus revendedores
desapareceram das esquinas.

Era como se El Cuchillo e Los Guerreros nunca tivessem existido


em San Antonio.

— Pooooorra!

Eu rasguei o meu cabelo e soltei um rugido. Eu estava prestes a


pegar uma cadeira da cozinha e atirá-la pela sala quando Sarge veio
através das portas francesas do quintal.

— Boss.

Virei-me para o meu chefe de segurança e deixei cair os braços,


sabendo o que estava por vir apenas a partir do olhar em seu rosto.

— Temos outro e-mail.

~ 37 ~
Sarge e Milo me seguiram até o quintal para a casa da piscina que
servia de sede para a segurança. Cada passo que dei em direção à
pequena estrutura era como me aproximar cada vez mais perto dos
portões do inferno. Meus pés pesavam como tijolos de chumbo, meu
coração batendo contra o meu peito. O suor escorria da minha testa e
na parte de trás do meu pescoço, encharcando minha camisa, mas
agora eu dou a mínima para as minhas roupas. Quando entramos na
sala principal, Sarge indicou que eu deveria tomar o assento na frente
dos monitores.

Oh merda. Eu não tinha certeza se poderia fazer isso novamente.


Meus músculos travaram.

— Não. Eu ficarei de pé.

De jeito nenhum eu poderia sentar para qualquer merda doente


que estava prestes a ver. Eu ficaria feliz se conseguisse chegar ao final
do vídeo. Preparando-me, eu agarrei a parte de trás da cadeira de apoio,
enquanto Sarge batia no teclado. O centro da tela se iluminou com um
anexo de e-mail. As setas se moveram sobre o símbolo de clipe.

Clique, clique.

A imagem abriu e encheu a tela. Uma ampulheta trabalhou um


tempo terrivelmente, e o vídeo começou a rodar. Oh merda. Bile
borbulhava no meu estômago.

Miri. Minha doce, minúscula, boneca preciosa. Presa à mesma


cadeira de ontem.

Minha garganta se contraiu e minhas mãos apertaram o encosto


da cadeira de couro. Meus dedos pressionando profundamente na
almofada, nessa hora eu gostaria de ter garras para que pudesse rasgar
a porra toda. Os lindos olhos verdes de Miri estavam reduzidos a fendas
avermelhadas, a pele inchada ao redor deles era uma máscara hedionda
de preto e azul. Seus lábios rosados estavam secos e rachados,
divididos por crostas. Sua garganta cremosa em um irritado vermelho-
púrpura, onde Cuchillo a sufocou na câmera.

— Eu vou matar aquele filho da puta!

— Quer que eu pare Boss?

Os dedos de Sarge pairaram sobre o botão de pausa, esperando o


meu comando.

~ 38 ~
— Não. Se Miri teve que sofrer com a tortura e espancamento, eu
devo meu sofrimento de assistir isso a ela.

O vídeo era o mesmo que o anterior. Os dois homens golpeando,


sufocando, e abusando de minha pobre Miri. Lágrimas escorriam pelo
seu rosto e seu choro abafado escapou pelo pano em sua boca.
Concentrei-me no rosto e prendi a respiração. Lá. Em seus olhos. Eu
peguei um vislumbre da minha pequena lutadora. Os bastardos não a
quebraram, ainda não. Depois dos golpes, minha boneca levantou o
queixo para o alto, e pelo que eu podia ver nos olhos inchados, eles
ainda tinham aquela centelha de fogo que eu tanto amava.

Eles não quebraram minha Miri.

Não iriam me quebrar.

Eu os quebraria.

Mais gritos e tapas ecoaram pelos alto-falantes. Eu quase me


perdi quando a mão de Cuchillo serpenteou para baixo e apertou o peito
de Miri.

Sim, eu gostaria de quebrá-los. Até o último filho da puta deles. E


eu gostaria de desfrutar de cada porra de minuto. Quanto mais tempo
eles levassem para morrer, melhor.

~ 39 ~
Miri

Exceto a hora que eu passei amarrada a uma cadeira na frente de


uma câmera a cada dia, eu fiquei trancada com Cat no quarto. Não era
nada sofisticado, mas pelo menos não estava frio como o porão úmido.
Além disso, este quarto era ainda melhor do que noventa por cento dos
lugares que eu dormi na minha vida nos últimos três anos.

O fato de que meus captores me deixaram com Cat era bom e


ruim. Ruim, porque isso significava que Cat estava presa aqui por
quase um ano. Esses bastardos doentes, obviamente, não tinham
problema nos prendendo aqui indefinidamente. Bom, porque eu
finalmente encontrei minha melhor amiga. Embora permanecesse
pouco de Cat na casca oca dessa mulher. Ela era como um cadáver
ambulante.

— Cat, você tem que parar de tomar as drogas.

Eu olhei em seus olhos vazios e sabia por experiência própria que


estava perdendo meu tempo.

Eu poderia estar livre do vício desagradável da heroína, mas eu


claramente me lembrava de como era horrível quando eu não recebia a
minha dose. A náusea, a pele ardendo que se sentia muito apertada, a
coceira, pernas inquietas, e as pontadas horríveis no estômago. Sem
Jag, eu jamais me livraria do vício que comandou parte da minha vida,
desde onde eu morava até com quem eu transava.

— Eu senti tanta saudade de você, Miri.

Disse Cat. Lágrimas escorreram de seus olhos e sua boca


comprimiu nos cantos. Ela fungou e limpou o nariz com as costas da
mão.

— Eu não posso sair. Eu preciso da minha dose, Miri. Eu preciso


disso!

Cat estava a um passo de se tornar histérica, sua voz


aumentando drasticamente.

~ 40 ~
— Shhhhh.

Eu a puxei para mais perto e passei os dedos pelo seu cabelo


maçante, mas limpo.

— Eu sei que você precisa Cat. Posso obter-lhe uma abundância


de drogas. Nós apenas temos que sair daqui. Eu conheço alguém que
tem mais do que heroína suficiente e você não terá que fazer sexo com
ele para obtê-la.

Mesmo que isso era exatamente o que você costumava fazer, e o


que você fez com Jag, Miri, sua hipócrita.

Embora, quando eu pensei sobre isso, Jag não chegou a tocar-me


até que eu estava completamente fora da heroína. Exceto por aquele
jantar horrível. Eu reprimi um arrepio. Eu não gostei do que ele fez,
mas eu entendi suas razões para o que aconteceu naquela noite e
perdoei-lhe há muito tempo atrás.

Cat puxou para trás e seus olhos brilharam.

— Você pode conseguir H para mim?

— Sim.

Eu balancei a cabeça enfaticamente.

— Ele me deu isso. Eu sei que ele tem e eu sei que ele daria a
você.

Minha melhor amiga esvaziou na frente dos meus olhos.

— Não há nenhuma maneira de sair daqui, Miri. Eu tentei...


quando eu não estava...

Suas bochechas coraram, colocando uma cor muito necessária


em sua pele pastosa.

— Quando eu cheguei aqui. Antes de ficar dependente das


drogas. Tentei fugir. Há homens em todos os lugares e...

— E o que? Cat?

Ela tremeu e fechou os olhos.

— Se você tentar fugir, quem... quem pega você começa a... Chega
a...

Ela chorou e as lágrimas derramaram de seus olhos.

~ 41 ~
— Eles te derrubam no chão e te fodem ali com os outros
olhando. E isso é permitido, Miri. Eu fico aqui para que ninguém possa
me encontrar. Exceto por... Você sabe... O principal deles.

— El Cuchillo?

— Sim, ele e seu guarda-costas gigante. Eles vêm quando querem.

Cat endireitou e seus olhos se abriram, olhando-me de cima a


baixo.

— Será que eles... fizeram com você?

Eu balancei minha cabeça.

— Não.

Eu me perguntava por que ainda não tinha sido violada, não que
eu não estava feliz que ninguém tinha me tocado. Era só que eu sabia
exatamente o que idiotas misóginos como Cuchillo faziam para as
mulheres como nós.

Cat inclinou-se para sussurrar.

— Eu acho que pode haver outras mulheres na casa, Miri.

— Outras mulheres?

— Shhhhh.

Cat fez sinal para eu ficar quieta.

— Sim. Às vezes, geralmente à noite, eu ouço portas de carro


fechando lá fora. Uma vez, vi um dos homens levando mulheres
inconscientes, meninas realmente, para dentro de casa. Já ouvi choros.

Ela apontou para a ventilação de ar acima da cama.

— Os ruídos vêm de lá.

Cat sacudiu a cabeça.

— Mas no dia seguinte, é tranquilo. Eles sempre vão após uma


noite.

Cat começa a soluçar de novo e cobre o rosto com as mãos.

— Eu quero sair daqui Miri. Eu não posso... eu não posso... Antes


de você aparecer eu estava cerca de dois dias tentando quebrar o
espelho do banheiro e acabar com a dor.

~ 42 ~
— Oh, Cat.

Eu segurei seu rosto em minhas mãos e chorei com ela. Por ela,
por mim, por nossas infâncias perdidas e sonhos desfeitos. Por tudo o
que nos foi roubado pela crueldade e circunstâncias de homens doentes
e gananciosos.

Devemos ter caído no sono e por um tempo, porque eu acordei e


já estava escuro. Ao meu lado na cama, Cat estava gemendo e se
torcendo inquieta em seu sono. Ela estava perto de precisar de outra
dose. Eu reconheci os sintomas com facilidade. Enquanto ela continuou
dormindo profundamente, eu vaguei ao redor da sala, à procura de
alguma coisa, qualquer coisa, para usar como arma ou uma saída. Cat
mencionou o espelho do banheiro. Poderíamos facilmente quebrá-lo e
usar os cacos como facas, mas a realidade era que nenhuma de nós era
forte o suficiente para atacar qualquer um tão perto.

Eu verifiquei cada janela. Cat disse que elas foram reforçadas. Ela
tinha tentado quebrar uma em seu primeiro dia presa aqui e me disse
que o vidro não rachou. Nem mesmo quando ela jogou uma lâmpada
em uma. Em vez disso, o guarda simplesmente disse ao seu chefe sobre
a lâmpada destruída e sua tentativa de fuga. Ela foi punida de uma
forma que Cat se recusou a discutir.

Desesperança pesava sobre mim. Como pode duas pequenas


mulheres escapar de uma casa cheia de homens violentos, armados? E
nem sequer vamos incluir o fato de que Cat estava dopada em H a
maior parte do tempo e seria de pouca ajuda na nossa fuga.

Eu não pararia de lutar, mas no fundo eu sabia que estávamos


ferradas. Jag era nossa única esperança de sair dessa casa vivas.

Mas quando ele viria? Será que ele viria mesmo?

Na manhã seguinte, a porta se abriu e Raoul entrou


pesadamente. Cat não estava aqui, ela foi tomar sua dosagem, eu
supunha. Ele estava aqui por mim. Fiquei na cama, encolhida, quando
o enorme homem atravessou a sala, seus olhos escuros nunca deixando
os meus. A maneira como ele estava olhando para mim, parecia...
diferente pessoal, assustadora, suja.

Raoul sorriu e puxou um pedaço de corda do bolso. Eu estava


encurralada, sem para onde correr. Ele agarrou um dos meus

~ 43 ~
tornozelos e me puxou para baixo da cama. Eu gritei e estendi uma mão
para a cabeceira da cama, chutando-o com o meu outro pé.

— Lute comigo, puta. Gosto mais dessa forma.

Raoul riu quando circulou a cama e agarrou meu pulso. Antes


que eu percebesse, ele estava preso ao pé da cama. Ele agarrou meu
outro pulso e a realidade me atingiu, quando descobri o que estava
acontecendo eu gritei até que minha garganta parecia que tinha sido
cauterizada com um maçarico. Raoul continuou sorrindo enquanto
amarrava meu outro braço no poste oposto, em seguida, ambos os pés,
pernas abertas, firmemente atadas ao estribo.

— Não! Por favor!

Eu torci e me virei na cama. Esta não era a minha vida. Isso não
estava acontecendo comigo. De todas as doentes, coisas horríveis,
nauseantes que eu tinha feito para sobreviver, esta foi de longe a pior.
Tomada brutalmente contra a minha vontade.

— Você é uma pequena lutadora, não é prostituta?

Raoul enfiou a mão no bolso do casaco e tirou uma faca. A lâmina


tocou minha garganta e eu congelei. Seu braço se moveu rapidamente,
cortando minha camisa da gola até embaixo. Outro movimento da faca
entre meus seios e meu sutiã se desfez. Mais dois e fui despojada de
meus shorts e roupas íntimas. Nua e exposta, com nada me cobrindo,
eu transformei o medo em raiva.

— Foda-se!

Ele jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada. Raoul tirou o
paletó e colocou-o suavemente sobre as costas de uma cadeira. Ele
desabotoou lentamente a camisa e despiu o resto de suas roupas,
dobrando cuidadosamente cada item e adicionando-os para a pilha.
Examinei seu corpo nu e estremeci em desgosto. Ele era enorme e
musculoso, mas claramente amava comer. Uma camada de gordura
cobria sua grande barriga. Meu estuprador era mais recebedor do que
atacante. Cabelo denso, espesso e pesado brotava de seu peito largo e
se arrastava para baixo em sua barriga. Engoli em seco quando eu
coloquei os olhos em seu pênis rígido, rodeado por um ninho de
espessos pelos púbicos. Seu pênis era tão monstruoso em tamanho
quanto o próprio homem. Vômito começou a subir e eu tive dificuldade
em segurá-lo de volta.

~ 44 ~
Raoul deixou cair uma mão carnuda e começou a acariciar seu
pau sem cortes.

— Vou dividir você ao meio, cadela.

Minhas entranhas se abalaram e minha mente começou a


fraturar. Raoul rolou um preservativo e eu devo ter olhado para ele
estranhamente, porque ele cuspiu no chão e zombou.

— Você é uma puta nojenta. Eu não sei onde sua boceta


desagradável andou.

Então o preservativo era para ele, não para mim. Eu não poderia
me importar menos o motivo por que ele estava usando. Eu estava grata
por esta pequena misericórdia no meio desse pesadelo. Raoul subiu na
cama, situando-se entre as minhas pernas. Quando ele grunhiu e
começou a empurrar seu enorme pênis em mim, minha mente se
retirou, deixando meu corpo para absorver a dor. Doeu muito menos
dessa forma.

Fechei os olhos e me permiti flutuar muito, muito distante.

Talvez esse seja o sentimento de enlouquecer.

Jag

O zumbido de milhares de insetos enchia o ar da noite. Suas


canções cercaram o balanço no jardim onde eu estava sentado. O
mesmo balanço, onde Miri tentou me seduzir uma vida atrás. Fechei os
olhos e revivi o momento, imaginando o cheiro dela, a suavidade de
seus lábios nos meus, o calor de seu corpo pressionando em minha
virilha, seios rosados e pequenos roçando meu peito.

Porra. Eu estava perdendo minha maldita mente imaginando as


atrocidades que ela estava sofrendo. Eu não conseguia comer, não
conseguia dormir, não podia pensar em nada, somente nessas imagens
horríveis, dançando por trás das minhas pálpebras mais e mais,
queimando em meu cérebro para sempre.

Seis dias e nada. Nenhum sinal dos Los Guerreros. Por que El
Cuchillo sequestrou Miri, pegou sua organização e sumiu de San

~ 45 ~
Antonio? Qualquer pessoa, inclusive eu, poderia invadir a cidade e
tomar o seu território.

Ele não iria abandonar tudo pelo que trabalhou tão duro para
manter. O bastardo era muito ambicioso de poder e um filho da puta
ganancioso.

O que significava que alguém estava observando seu território


para ele e executando as operações silenciosamente com o mínimo de
homens nas ruas. Era a única estratégia que eu poderia pensar que
fazia sentido. Cuchillo jamais deixaria sua área vulnerável a uma
invasão.

Sua arrogância era com o que eu estava contando. Seria a sua


queda, eu sabia disso. Apesar da baixa visibilidade de seus homens em
San Antonio, eles estavam lá e meus rapazes acabariam por encontrar
alguém. Um era tudo que eu precisava. Apenas um homem. Um homem
para quebrar e eu saberia onde Miri estava sendo mantida. Fechei os
olhos e rezei para que Miri tivesse força física para sobreviver até que eu
pudesse resgatá-la. Ela tem o psicológico forte, eu vi, o seu espírito
incansável muitas, muitas vezes.

Mas será que a minha garota de fogo resistiria por muito tempo?
Ou seria ela uma vítima da desesperança. Será que Cuchillo iria
quebrá-la com o seu abuso físico? Será que eu sequer a encontraria? E
se eu a encontrasse, ela seria a mesma menina?

— Boss!

A voz profunda de Sarge perfurou o ar da noite e a natureza ficou


em silêncio.

— Boss!

— Eu estou no jardim.

Eu respondi, distraído, minha mente ainda fixa em minha doce


Miri.

— Boss... Temos um deles.

— Você está fodendo comigo?

Sarge sacudiu a cabeça.

— Puta merda.

~ 46 ~
Eu não consegui ficar em pé rápido o suficiente. Meu pulso
acelerou quando a esperança correu em minhas veias.

— Onde é que eles o levaram?

— Casa três, Boss.

Eu não tenho que ver o sorriso no rosto de Sarge para ouvir a


emoção em sua voz.

— Você está vindo comigo, certo?

Ele riu. Um som sinistramente escuro.

— Eu estava esperando você me convidar.

Quando Frank dirigiu até a minha casa noturna adquirida


recentemente, desejei brevemente que eu tivesse tido tempo para trocar
de roupa e ter vestido um dos meus ternos. Meus ternos me fazem
sentir mais poderoso, fazem minha presença maior e mais intimidante
para os que me rodeiam. Especialmente os meus inimigos.

Censurei-me por me preocupar com roupas de merda em um


momento como este, mas velhos hábitos custam a morrer. Por mais que
a minha pele coçava, de jeito nenhum eu estava desperdiçando minutos
preciosos me trocando. Eu queria minhas mãos sobre o pedaço de
merda que meus homens pegaram tão mal que meus dedos se
contraíram. Eu queria colocar os olhos sobre a pessoa que detinha o
conhecimento de onde minha garota estava. Além disso, as minhas
botas com a porra de bico de aço de motociclista, desgastado jeans
escuro e Henley de manga comprida iriam servir-me bem esta noite.
Solta o suficiente para permitir a flexibilidade, as roupas também
cobriam minhas lâminas na coxa e duas em meus braços.

Flexionei meus pulsos para testar o peso das facas. Um tremor de


excitação acelerou meus batimentos quando senti as bainhas apertadas
sob as mangas da camisa. A camisa ainda cobria a arma no coldre que
eu carregava na minha cintura. Tudo o que eu estava vestindo era
elegante e limpo, livre de manchas... por agora. Tinha sido um tempo
desde que eu torturei, quero dizer, interroguei alguém para obter
informações. O processo geralmente terminava com... derramamento.

Dentro de mim, o monstro se alegrou com a chance de liberar seis


dias de raiva e frustração reprimida. A aberração boa em mim recuou

~ 47 ~
pela bagunça que estava certo por vir. Eu costumava fazer trabalhos
como este antes, mas era coisa de Milo agora. Para mim, pessoalmente,
seria desagradável para dizer o mínimo.

— Nós estamos aqui, Boss.

Sarge me arrancou dos meus pensamentos alegremente macabros


e Frank segurou a porta do carro aberta. Minhas botas pesadas
trituraram no estacionamento de cascalho atrás do clube. De todos os
meus negócios, minha mais nova aquisição era a única com um porão.
Antes, a boate era um sofisticado restaurante italiano, e os proprietários
originais tinham projetado uma espaçosa e cara adega. Era o lugar
perfeito para o que eu tinha planejado. Na verdade, eu tinha imaginado
usá-lo muitas vezes ao longo dos últimos seis dias. Eu sorri.

Era hora de quebrar.

Frank ficou no carro enquanto Sarge e eu entramos pelos fundos


e encontramos Shade. Eu balancei a cabeça quando ele ficou ao lado de
Sarge e se arrastou atrás de mim.

— Quem está aqui?

Perguntei enquanto eu continuava caminhando através da parte


traseira do clube.

— Eu, Joe, Six e Feyo, Boss.

Shade respondeu.

Parei na porta aberta no topo da escada que levava à adega e


franzi a testa.

— Onde está Milo?

Meu primeiro tenente nunca perdia a oportunidade de infligir dor.


Além disso, eu esperava que ele de todas as pessoas estivesse presente
nesse interrogatório.

— Ele disse que está a caminho, mas não vai chegar a tempo. Ele
está no sudoeste de San Antonio, na cola dos Guerreros. Disse que
devemos começar sem ele.

Eu olhei boquiaberto para Shade.

— O que? Milo é suposto estar no comando dos nossos homens,


não rastreando os Los Guerreros. Quem diabos está monitorando as

~ 48 ~
comunicações entre todos e fazendo a triagem através dos mapas de
merda? Cruzando as áreas de fora e compilando informações?

O entusiasmo que senti no carro diminuiu quando eu percebi que


meu tenente, mais uma vez falhou em seguir as minhas malditas
ordens.

— Eu estou fazendo isso, Boss.

Disse Shade, sua pele ficando vermelha.

— Eu não sabia o que você ordenou senão eu teria...

Eu levantei a mão.

— Não precisa se desculpar.

Shade não fez nada de errado, mas eu ia esfolar a pele de Milo


quando ele retornasse à cidade. Quanto ao assunto em questão;

— Vamos ver o que este pedaço de merda tem a dizer.

Com um sorriso desumano, liderei meus homens para baixo das


escadas.

— Por favor, eu não sei de mais nada.

Debrucei-me contra a parede de cimento frio, os braços cruzados


sobre o peito, e vi o homem. Seu nome era Jesus e fui informado que ele
era um traficante de nível superior para Los Guerreros, um dos homens
infelizes deixados para trás para executar o negócio em San Antonio,
enquanto El Cuchillo se escondia como uma vadia. Jesus não era um
homem pequeno, mas ele não era grande também, não importa. Eu
dava a mínima ao que diabos ele se parecia. Ele poderia ser a porra do
Hercules e iria encontrar-se na mesma posição. Seu tamanho não era o
problema. Era a tatuagem preta e vermelha em seu antebraço esquerdo
interior que o levou à sua atual e extrema situação.

A marca dos Los Guerreros.

El Cuchillo tatuava todos os seus homens com o design quando


“eles passavam no seu teste”, ou qualquer merda doente que era. Ouvi
histórias conflitantes ao longo dos anos sobre os ritos de iniciação do
líder sádico de San Antonio. Eles incluíam de tudo, de matar um civil
inocente ao sequestro e estupro de uma mulher. Foi o segundo que

~ 49 ~
trouxe a minha raiva trovejando para a superfície, o monstro em mim
rosnando e estalando de raiva, desejo de sangue pelos captores de Miri.
Minha boneca não estava aqui e aqueles bastardos sem alma a tinham.
Adicione ao fato que Cuchillo queria começar a traficar mulheres como
escravas sexuais e Jesus, nu e algemado em minha ex-adega de vinho,
estava em uma profunda merda.

Eu fiquei contra a parede e permaneci em silêncio, apenas


observando. Dando tempo para o homem imaginar tudo o que eu ia
fazer com ele. Encostado confortavelmente eu concentrei meu olhar sem
emoção sobre ele, que virou a cabeça na minha direção e tentou falar
seu caminho para fora.

— Por favor. Não sei nada. Eu sou apenas um revendedor. El


Cuchillo não me diz nada.

Jesus lutava para quebrar as correntes que o prendiam aos pés


de uma mesa de aço inoxidável aparafusada ao chão no centro da
adega. Esta foi a minha primeira vez usando a nova peça do mobiliário.
Ou era equipamento? Não importa. Eu estava plenamente confiante de
que o homem não tinha maneira de se libertar.

Com o meu rosto ainda fixo em uma máscara ilegível, eu me


aproximei da mesa. Quando parei no final dela, atrás de sua cabeça, eu
inclinei-me e sussurrei em seu ouvido.

— Eu acho que você sabe mais do que falou, Jesus, e eu não vou
sair daqui até que você me diga o que eu quero saber.

— Eu não...

Minha mão disparou e eu agarrei-o pelos cabelos. Ele gritou


quando puxei sua cabeça para cima da mesa e bati com ela tão duro
quanto eu poderia. O ruído metálico ecoou no ar e Jesus gritou de dor.

— Cale a boca, — Eu assobiei. — Eu nem sequer rompi a pele,


seu buceta do caralho.

Eu apertei em seus cabelos escuros e continuei com as minhas


perguntas.

— Aonde Cuchillo foi, hum? Por que ele iria sair deixando sua
cidade desprotegida? Por que ele iria confiar em estúpidos da porra
como você para executar o seu negócio? Ele não deve ter ido muito
longe, então me diga. Onde. Ele. Está?

~ 50 ~
O corpo do homem tremia de medo. Eu pairei sobre ele e peguei o
enrijecimento sutil de sua mandíbula e o brilho determinado em seus
olhos. Interessante. Ele ia lutar contra o seu instinto de ceder e
implorar por sua vida.

Bem. Seu erro.

Ergui a cabeça e bati com ela uma e outra vez, quatro... cinco seis
vezes. O suficiente para que o sangue manchasse a superfície de aço
brilhante. Uma vez mais, eu parei e inclinei-me para repetir a pergunta.

— Aonde Cuchillo foi?

Apesar das lágrimas escorrendo de seus olhos e o rubor carmesim


de sua pele escura, Jesus mostrou os dentes e rosnou

— Foda-se você, y tu madre!

Ele virou a cabeça e cuspiu no chão. Por toda a sua corajosa, mas
inútil postura, eu sabia que iria quebrá-lo. Na maior parte, a tortura e
interrogatório era o trabalho de Milo ao longo dos últimos anos, mas
antes de me tornar o Chefe, eu questionei homens o suficiente para me
tornar extremamente hábil em extrair respostas.

— Foda-se minha mãe, né? Muito ruim para você que minha mãe
era uma inútil, prostituta drogada que nem se lembrava de que tinha
filhos, seu pequeno pedaço de merda. Ela ficaria feliz em te foder... se
ela ainda estivesse viva. — Eu circulei a mesa para ficar ao lado direito
do homem tremendo. Os olhos de Jesus alargaram quando uma
brilhante lâmina de prata escorregou da bainha e apareceu
magicamente na minha mão direita. Segurei-a sobre seu rosto. — Você
vai me dizer o que eu quero saber agora. Sua única decisão aqui é o
quanto você deseja sofrer antes de morrer.

Não esperei ele responder, eu levantei meu braço e cravei a


lâmina diretamente na sua articulação do ombro. Jesus gritava e se
debatia virando a cabeça de um lado para o outro. Vinculado à mesa,
ele não foi capaz de se contorcer e lutar para escapar da dor. Todo o seu
corpo tremia enquanto ele gritava. Debrucei-me sobre seu torso e
pressionei o meu peso para baixo sobre a faca, até que meu rosto
pairou sobre o seu. Jesus gritou novamente quando a lâmina foi mais
fundo, tão alto, na verdade, que doeram meus ouvidos. Mas maldição,
sua dor era boa pra caralho.

— Diga-me onde ele está.

~ 51 ~
Eu rosnei e torci a faca ao mesmo tempo. Um executor anterior
me ensinou este movimento, e isso quase nunca falhou em obter
resultados. Jesus lamentou e assim como eu previ, a suplica começou.

— Pare! Pare! Por favor! Eu não sei!

Eu torci a lâmina novamente e Jesus gritou até ficar rouco. Que


porra de fracote. Eu ainda nem tinha começado a diversão. Este foi
apenas um aquecimento para o evento principal. Um efetivo, mas ainda
um aquecimento. El Cuchillo estava contratando fracos se esse cara era
qualquer tipo de exemplo.

Eu calmamente retirei a faca e estendi minha mão. Six se


aproximou com uma toalha que eu usei para limpar a lâmina. Quando
eu estava satisfeito, eu empurrei minha manga e guardei a faca na
bainha.

— O que fazer a seguir.

Eu ponderei em voz alta enquanto andava lentamente ao redor da


sala.

Jesus me acompanhou com os olhos inchados e vermelhos. Ele


não era diferente de qualquer outro cara que eu tinha “interrogado” ao
longo dos anos. Todo arrogante e cheio de mentiras. Se calando em
nome da lealdade. Como se Cuchillo não fosse colocar uma bala na
cabeça deste idiota sem pensar duas vezes. O homem sobre a mesa
choramingou, mas a merda estúpida não ofereceu nenhuma informação
para se poupar de mais dor.

Suspirei alto antes de me virar para Jesus. Ele observou com


olhos enormes, quando eu caminhei em direção a ele. O cara era bom,
eu daria isso a ele. Ele conseguiu voltar aquele olhar resoluto,
insensível aos seus olhos... até que eu abaixei e puxei a minha faca
serrilhada KA-BAR. Dezoito centímetros de aço carbono finamente
afiada, preta, a faca era aterrorizante o suficiente para fazer até mesmo
o homem mais valente cagar em suas calças. Jesus não foi exceção.

— Não! Não!

Ele lutou para libertar-se de novo, mesmo sabendo que não havia
escapatória.

Ignorei seus suplícios contínuos e bati a faca sobre a palma da


minha mão para que ele tivesse uma boa visão agradável do seu futuro
muito próximo. O homem ainda estava implorando quando encostei
levemente a ponta afiada da faca em seu braço esquerdo. Ele congelou

~ 52 ~
quando o metal frio tocou sua pele. Jesus sabia que o menor
movimento de sua parte permitiria a lâmina cortar através dele como
manteiga.

— Esta é a razão que você permanece fiel a El Cuchillo? Sua


tatuagem?

Meu lábio enrolou em repulsa.

— Como é que você a ganhou, Jesus? Você estuprou uma mulher


indefesa? Matou um inocente? É isso que vocês doentes de merda fazem
para se divertir?

— Não! Nós só fazemos isso por...

Ele parou no meio da frase, mas eu ouvi o suficiente.

— Não, eu não!

Bela tentativa. Mas não foi o suficiente para ajudar Jesus. Eu


pressionei e sua pele dividiu tão facilmente como um pêssego. O homem
gritou tão alto que eu tinha certeza de que os nossos ouvidos estariam
tinindo por horas. Ele implorou e chorou enquanto eu trabalhava. Sorte
para ele, que eu mantive minha lâmina afiada. Foi limpo e rápido.
Quando terminei, eu olhei para Jesus. Seu rosto estava coberto de
lágrimas e ranho, qualquer traço de sua atitude presunçosa
desaparecido. Apesar de sua bravata anterior, ele era mais fácil de
quebrar do que alguns.

Joguei o sangrento quadrado de pele em seu peito.

— Irônico, não é?

Perguntei.

— A tatuagem de uma faca?

Eu deixei minhas palavras afundarem enquanto Jesus se


recompôs. Bem, tanto quanto ele poderia compor-se depois de ter um
grande pedaço de pele arrancado de seu corpo.

— Agora você não carrega a marca de Los Guerreros e não precisa


se preocupar com lealdade. Então me diga Jesus... onde. Está. El
Cuchillo?

O lábio do homem tremeu e sua garganta trabalhou quando ele


engoliu várias vezes.

— Eu estou perdendo minha paciência, Jesus.

~ 53 ~
Eu brandi a faca sangrenta, espetei a carne esculpida, e segurei-a
na frente de seu rosto. Gotas escuras de sangue deslizaram pela
lâmina, pousando no queixo e pescoço.

— Diga-me agora, ou você perde uma parte do corpo. Você tem


muitas para eu trabalhar, e acredite em mim quando eu digo que eu
posso fazer isso pelo dia inteiro.

— Eu não sei de nada.

Ele choramingou e espumou pela boca, sua cabeça pendendo


para o lado. Eu agarrei seus cabelos, puxei sua cabeça para me
encarar, e abaixou-me para que ele pudesse ver meus olhos.

— Conte-me sobre o acordo de Cuchillo com Brick. O tráfico


humano. Quero saber de tudo.

As sobrancelhas de Jesus arquearam e ele lambeu os lábios.

— Eu não sei sobre acordo nenhum.

Eu vi seus olhos desviarem para o lado e o salto do pomo de Adão


quando ele engoliu em seco e soube então que ele estava cheio de
merda.

— Você está mentindo.

Eu andei em torno da mesa e agarrei sua mão. Quando as


primeiras palavras de protesto deixaram sua boca, eu desci a KA-BAR
com força através de sua mão cortando o dedo indicador fora.

O homem gritou e empurrou em suas amarras, soluçando. Voltei


para ele e coloquei o dedo em seu peito em cima da tatuagem cortada.
Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar. Ele estava
respirando com tanta irregularidade, que seu peito convulsionou e o
dedo balançou. Ele caiu sobre a mesa de metal e saltou para o chão.
Alguns dos meus homens riram e eu não pude segurar o meu sorriso.
Era engraçado como o inferno, mas também não era; no mínimo. Se a
vida de Miri não estivesse em jogo eu acharia divertido pra caralho.
Inferno, Milo estaria morrendo de rir. Se o filho da puta do meu tenente
estivesse aqui, claro.

Agora, eu dei zero merdas sobre como era engraçado ha-ha. Tudo
o que eu queria eram algumas malditas respostas.

— Agora, me fale sobre Brick e as meninas.

~ 54 ~
Eu repeti. O cara estava fora, seus olhos rolando para trás em
sua cabeça até que mostraram mais branco do que marrom.

Jesus berrou quando ele deixou escapar tudo o que sabia o que
era pouco, apenas alguma coisa ou outra que eu poderia usar para
encontrar Miri. Esse estúpido da porra realmente não sabia onde
Cuchillo estava. Quando continuou chorando, eu fiz uma careta para a
confusão sangrenta e recuei.

Fazendo sinal com a cabeça para Sarge, que se moveu no lugar


para Six me entregar uma nova toalha. Todos os meus funcionários
sabiam o quanto eu odiava tocar em qualquer coisa com sangue ou
sujeira. Limpei minha amada KA-BAR e deslizei de volta na bainha.
Então eu fiz uma careta para as listras vermelhas em minhas mãos. Eu
estava tão decidido a chegar aqui e extrair informações, que além de
não trocar de roupa, ainda esqueci minhas malditas luvas. No
momento, o sangue era a menor das minhas preocupações. Agora? Ugh.
Eu precisaria esfregar minhas mãos, bem como cuidar dos acessórios
em meus braços e coxas.

É quando a realidade afundou. Que depois de esfolar Jesus, eu


não estava mais perto de encontrar Miri do que eu era esta manhã.

— Foda-se!

Eu girei e bati minhas mãos manchadas de sangue contra a


parede sólida mais e mais.

— Porra, porra, porra!

— Boss, vamos encontrá-la. Agora sabemos que Cuchillo tem


homens na cidade, podemos obter outro de seus homens.

Shade disse. Eu descansei minha testa na parede fria de cimento


e tentei me acalmar.

— Aquele filho da puta doente está com ela há dias, Shade. Eu


só...

Minha garganta trabalhou para engolir, mas o tecido irritado


estava demasiado seco para gerir. Em vez disso, eu balancei a cabeça e
organizei minha bagunça. De jeito nenhum eu iria quebrar na frente
dos meus homens. Eu precisava demonstrar força para garantir a ajuda
deles para encontrar Miri. Os criminosos não apoiavam chorões, fracos
do caralho. Eles seguiriam um líder. Um chefe. Eu respirei fundo e olhei
para as minhas roupas. Uma gota de sangue manchava a parte da
frente da camisa. Essa merda me enviou sobre a borda novamente.

~ 55 ~
— Filho da puta do caralho!

— Eu te disse, nós vamos encontrá-la, Boss.

Shade deu um passo para trás. Homem inteligente. Eu era


literalmente uma bomba nuclear armada, pronto para detonar a
qualquer segundo.

— Não é isso.

Eu rebati.

— Então... O que é Boss?

Shade perguntou e sua testa franziu em confusão.

— Aquele pedaço de merda sujou minha camisa de sangue. Filho


da puta!

Virei para esvaziar a minha raiva em Jesus, aquele sujo, porco


inútil, mas Sarge já tinha feito. Uma cascata de sangue jorrava do
enorme corte na garganta do homem. Eu enruguei meu nariz e voltei
para trás, embora eu já estivesse longe o suficiente da torrente escarlate
repugnante. Filho da puta sortudo provavelmente morreu em segundos.

— Ele deve estar malditamente feliz que ele está morto pra
caralho e que eu tenho uma muda de roupa no andar de cima.

Sarge e eu abandonamos nossas roupas e sapatos no porão para


os rapazes cuidarem. Com o piso liso, concreto selado e o ralo oh tão
útil no centro da sala, a limpeza seria fácil. No andar de cima, Frank me
entregou uma mochila e estávamos vestidos e na estrada menos de dez
minutos depois, o resto dos meus homens indo para nos encontrar em
um dos meus armazéns para formular um novo plano. Com a prova de
que os homens de Cuchillo estavam em San Antonio, precisamos
reorganizar para cavar ao redor e descobrir seus esconderijos. Fiz uma
última chamada e tudo estava pronto.

Aquele desgraçado roubou o que era meu e colocou suas mãos em


seu corpo machucando-a. Minhas mãos se fecharam em punhos sobre
minhas coxas.

Quando encontrá-lo ele vai desejar nunca ter nascido.

~ 56 ~
Miri

Dias e noites se passaram, um atrás do outro. Eu fui levada


diariamente para frente da câmera, onde fui agredida e abusada,
sempre ao ponto de me fazer chorar e gritar, mas nunca o suficiente
para cortar ou ferir-me além dos hematomas e dor superficial. Por que
não faziam pior, eu não sabia. Eu certamente não quero saber. O fato
de que Cat disse que meninas eram enviadas para dentro e fora daqui
me fez pensar que possivelmente Cuchillo me queria viva e
relativamente ilesa para que ele pudesse me vender pelo maior lance
quando ele estivesse satisfeito com a sua vingança sobre mim.

Eles levaram Cat para fora do quarto com mais frequência. Cada
vez, ela lutava menos, seu espírito quebrado há muito tempo atrás.
Algumas das vezes, ela era devolvida rapidamente. O olhar vidrado em
seus olhos, me dizendo que ela teve sua dose de heroína ou qualquer
outra droga que eles estavam usando para mantê-la dócil, em seguida,
vinha para o quarto e cochilava durante sua viagem. Outras vezes, Cat
ficava fora durante horas. Após essas ausências mais longas ela ficava
mais reservada. Cat se trancava no banheiro ou se enfiava debaixo das
cobertas, mas nesses momentos, ela nunca, jamais deixou cair uma
única lágrima ou falou alguma palavra.

Apesar da falta de emoções na superfície, a aparência


desgrenhada de Cat disse-me o suficiente do que foi feito para ela,
enquanto eu fui deixada para trás. Roupas rasgadas ou desabotoadas,
cabelo bagunçado, algumas novas contusões ou arranhões aqui e ali.
Era óbvio que Cat estava sendo violada por um ou mais dos homens na
casa. Enquanto era repugnante em si, o pior era que parecia que Cat
estava acostumada com esses abusos, ela sempre voltava com a mesma
expressão vazia, sem emoção. Era como se o espírito da minha amiga
tivesse sido expulso do seu corpo, e apenas uma concha vazia que
parecia e soava como Cat ficou para trás.

— Miri? Você está bem?

Havia uma preocupação genuína na voz de Cat, do lado de fora do


banheiro, onde eu estava ocupada vomitando. Se eu não estivesse
enterrada na metade do vaso sanitário, eu riria na cara dela.

Em que mundo seria possível eu estar bem numa situação


dessas?

Engoli em seco e engasguei com o ar entre as ânsias.

~ 57 ~
— Eu estou bem.

Eu resmunguei. Minha garganta crua pelo ácido do estômago e


pelas horas gritando durante as minhas sessões de tortura na cadeira.
Eu estava aqui a sete... Oito dias? Talvez mais. E já estava
incrivelmente fraca. Meu corpo dolorido, minha ansiedade tão afiada
que eu estive vomitando várias vezes por dia, o que significava que eu
mal absorvi qualquer coisa das refeições escassas servidas duas vezes
por dia. Eu vomitei novamente e lágrimas escorreram dos meus olhos.
As minhas costelas explodiam de dor cada vez que meu estômago
contraía e eu me inclinei sobre a bacia. A respiração tornou-se uma
tarefa árdua, simplesmente por causa do calor ardendo em minhas
costelas a cada inspiração.

— Você tem certeza?

Limpei a boca com as costas da mão e me apoiei no assento do


vaso para empurrar meu corpo em pé. Tonta pelas náuseas, dor e falta
de comida, eu tropecei até a porta e a abri.

— Não, eu não estou Cat! Porra, nada está bem!

A sombra da minha amiga deu um passo para trás, choque


permeando seus olhos escuros. Bom. Pelo menos eu consegui alguma
emoção dela. Andei até ela recuar com suas coxas pressionando contra
a cama.

— Estou saindo deste inferno do caralho e você vem comigo,


vamos apagar qualquer realidade alternativa que você está vivendo e
sair dessa maldita vida.

El Cuchillo pode ter enfraquecido o meu corpo, mas ele nunca,


nunca iria apagar o meu fogo, a minha alma. Recuso-me a tornar-me
dócil e perdida como Cat.

— Eles vão matá-la.

Ela sussurrou e seu lábio inferior tremeu.

— Eu não me importo. Eu prefiro morrer a desistir.

Os olhos de Cat brilharam com umidade e lágrimas


transbordaram por suas desnutridas maçãs do rosto. Finalmente, ela
compreendeu. Ela estava voltando para mim.

— Eu não quero morrer, mas eu não posso continuar assim, Miri.

~ 58 ~
Sua mão disparou para fora e agarrou meu braço. O aperto de
Cat era mais forte do que eu esperava.

— Não me deixe aqui. Vou fazer o que posso para ajudar.

Minha respiração engatou e minha garganta apertou. Puxei-a


para mim e envolvi minha melhor amiga em um abraço esmagador.

— Estou tão feliz que você está de volta, Cat.

Ela fungou no meu ombro. Eu coloquei minha boca em seu


ouvido e sussurrei tão baixo quanto pude.

— Eu senti tanto sua falta. Vamos sair daqui. Eu prometo.

Eu a soltei e desabando sobre a cama, drenada emocionalmente


da aparentemente pequena explosão em que a empurrei com tanta
violência, que caiu pulando de sua confusão mental de volta à
realidade.

— Como... Como você pode prometer isso? Estive aqui há meses,


Miri. Tanto tempo que eu nem sei que dia ou o mês estamos.

A voz de Cat rachou com o desespero. Mas eu a conhecia bem o


suficiente para detectar o pouco de esperança sob a angústia. Eu vi um
flash dela em seus olhos. Eles eram maçantes, marrons desbotados há
dias. Agora, seus olhos brilhavam com a simples sugestão de vida.

Era hora de contar a ela sobre Jag. Eu tinha omitido até agora,
sem saber se alguém estava ouvindo. Talvez eu pudesse disfarçar
nossas palavras de alguma forma, sussurrá-las. Meu coração pulou no
meu peito quando uma ideia passou pela minha cabeça.

— Escute, eu vou ligar o chuveiro e, então, podemos...

O bloqueio da porta do quarto clicou e se abriu antes que eu


pudesse dizer a Cat sobre o meu plano. Eu me agarrei a minha melhor
amiga. Nós nunca sabíamos qual das duas eles estavam vindo buscar.
Meu pulso acelerou quando Raoul apareceu e seu corpo enorme encheu
toda a ombreira da porta.

Vieram por mim, então.

— Não!

Cat gritou. Ela enterrou os dedos em minha camiseta desfiada.

— Não.

~ 59 ~
Eu disse. Nossos olhos se encontraram e eu balancei a cabeça.
Raoul iria machucá-la se ela tentasse impedi-lo. Cat chorou e afrouxou
seu aperto. Suas mãos deslizaram frouxamente em seu colo.

— Eu vou ficar bem.

Cat sabia que eu estava mentindo, mas o que mais eu poderia


dizer? Ela precisava ficar forte. Eu precisava dela com o ânimo alto para
que pudéssemos sair daqui. Quando Raoul me pendurou no ombro
como um saco de lixo, olhei para ela. Ela endureceu a mandíbula e
balançou a cabeça e eu vi em seus olhos. Cat estava de volta.

Mesmo que eu estava sendo carregada pelas escadas para ser


torturada, eu sorri. Eu seria forte. Cat seria forte. Nós ficaríamos bem.

— Foda-se!

Eu grunhi quando El Cuchillo agarrou meu cabelo e puxou minha


cabeça para trás em um ângulo estranho.

— Ainda mal-humorada.

Ele riu.

— Eu vou quebrar você e seu namorado vai assistir. Ele vai ver o
momento em que você se entregar para mim.

O olhar doente do filho da puta se iluminou quando ele abaixou


seu rosto até que nossos narizes se tocaram.

— Vai ser perfeito.

— Tanto faz.

Eu respondi como uma adolescente petulante.

Seu sorriso sádico escorregou e seus dedos desembaraçaram do


meu cabelo. Eu gostei da minha pequena vitória, mas, então ele me
esbofeteou no rosto. O anel pesado de ouro que ele usava deve ter
cortado minha bochecha, mais uma vez, porque um líquido quente
escorreu pelo meu pescoço e na gola da minha camisa.

— Eu vou quebrar você, puta. Então, quando você morrer na


frente dele, sua companheira no andar de cima será vendida pelo maior
lance.

~ 60 ~
Então, minhas suspeitas estavam corretas. O medo inundou o
meu corpo e a náusea que eu estive lutando por um tempo veio rugindo
para a superfície. Cerrei os lábios para impedir de vomitar no bastardo,
o que certamente me faria ganhar um castigo pior do que o habitual.

— Ahhhh.

Ele sussurrou quando deslizou um dedo pelo meu rosto.

— Isso assusta você, não é? Eu posso ver isso nos seus olhos.
Você achou que iria ficar aqui para sempre? Por que você acha que é a
única que Raoul tem fodido? Hmmmm?

El Cuchillo continuou acariciando meu rosto suavemente, com o


toque de um amante. Mais uma vez, eu engoli contra a vontade de
vomitar.

— Você acha que é porque você é boa demais?

Sua mão desceu até que tateou meu peito.

— Não, é porque nenhum dos meus homens quer enfiar o pinto


em você, uma prostituta que teve o pau sujo do Boss dentro de você. Só
o meu Raoul quer transar com você, e isso é porque ele gosta de suas
mulheres sujas.

Ele apertou meu peito mais duro. Tão duro que eu cerrei os
dentes para não gritar.

— Você está contaminada, puta.

Sua mão apertou com tanta força no meu peito que meus olhos
lacrimejaram, e eu não consegui sufocar o grito irregular que saiu de
minha garganta e ecoou por toda a sala.

Quando eu recuperei a respiração e parei de choramingar, seu


sorriso voltou.

— F-foda-se você.

— Não, isso nunca vai acontecer, cusca. Eu tenho muito mais


planejado para você, e nenhum dos meus planos incluem os prazeres
da carne. — O louco virou as costas para mim. Enquanto fazia o que
diabos ele precisava fazer, e eu virei meu olhar para Raoul. O homem
estava estoicamente parado ao lado, com as mãos cruzadas atrás das
costas.

— Você.

~ 61 ~
Rosnei.

— Você é apenas um boneco com a mão de Cuchillo enfiado em


sua bunda, fazendo tudo o que ele manda.

Os olhos de Raoul deslizaram para mim, brilhando com fúria.


Bom. — Você é um cusca tanto quanto eu. Ele está fodendo com você e
você nem sabe. — Eu sabia que essa palavra era prostituta em
espanhol e eu esperava obter uma reação do homem. Eu ri de Raoul e
ele estalou. Dois passos, e suas mãos enormes estavam ao redor do
meu pescoço.

— Você me escute, puta. Vou esmagar sua garganta com minhas


próprias mãos e foder o seu cadáver.

Ele rosnou.

— Pare!

O grito de El Cuchillo fez tanto Raoul como eu congelar no lugar.

— Estoy hasta la madre!

Ele estava atirando punhais em Raoul. O grande homem deixou


cair suas mãos e deu um passo de volta à sua posição original.

Eu ri tanto que quase fiquei histérica.

— Vê? Eu te disse. Você é apenas uma puta como eu. Uma


maldita puta com um pau em vez de uma buceta.

Raoul rosnou e fez um movimento em direção a mim novamente.


El Cuchillo intensificou e Raoul parou. Seu olhar furioso saltou para
trás e entre seu chefe e eu. Eventualmente, Raoul baixou o olhar
primeiro e voltou para o seu lugar mais uma vez. Eu ri.

— Tão engraçado, não é?

Perguntou Cuchillo, sua voz cheia de condescendência.

— Você não vai rir depois de hoje, puta.

Ele ergueu um braço e brandiu uma faca. Um grande, afiada, faca


de merda. Pela primeira vez desde que cheguei aqui, realmente me
arrepiou os cabelos, o medo gelando o sangue que penetrou em meus
ossos.

Meu coração estava batendo tão rápido que eu estava com medo
que poderia estourar através de meu peito golpeado e voar para fora de

~ 62 ~
mim. Eu não tinha lutado contra as minhas amarras desde o primeiro
dia. Era inútil e tudo o que fez foi alimentar a emoção e me humilhar
para o bastardo. Meu orgulho saiu da sala. Eu certamente lutaria pra
caralho agora. Confrontando com essa lâmina maldita, eu lutei tão forte
quanto eu poderia. As algemas cavaram em meus pulsos e rasgaram a
pele fina. Fogo atravessou meus braços e articulações quando sangue
pingou sobre minhas mãos.

Cuchillo chegou mais perto, mas os meus olhos nunca deixaram


essa faca. Eu gritei e grunhi, as algemas aprofundaram mais em meus
pulsos. Neste ponto, as dores dos meus ombros correndo para as mãos
eram apenas uma preocupação secundária. Meu peito arfava quando a
faca pairou sobre a minha clavícula.

Piscando de volta o suor atrapalhando meus olhos, olhei para El


Cuchillo. O filho da puta estava sorrindo. Ele estava literalmente
adorando o meu medo. Alimentando-se do meu terror. Cada grito era
seu prazer, cada solavanco dos meus pulsos uma carícia sensual que
lhe trouxe mais perto de satisfação, cada soluço um sussurro de um
amante em seu ouvido.

Foda-se ele.

Eu parei de lutar e forcei meus músculos a relaxarem. Tomou


cada pingo de força que eu tinha adquirido de anos de abuso nas mãos
de minha mãe, do trabalho ralando meus dedos ao osso para eu manter
o apartamento com Cat, e dos seis meses que eu fui mantida como a
prostituta de Mason para levantar o queixo e bloquear meus olhos sobre
as trevas do meu captor.

— Me mata. Eu não me importo. Você é um merda doente. Vá em


frente e faça, mas eu nunca vou quebrar.

A testa franziu e seus lábios se curvaram em um sorriso de


escárnio.

— Vamos ver isso, puta. Vamos ver.

~ 63 ~
Jag

O vídeo mais recente que Cuchillo me enviou, me levou a uma


fodida destruição. Eu estava tão fora da minha mente, que não me
lembro de metade do que aconteceu, mas tenho certeza que senti pra
caralho quando isso parou. Tudo doía. Meus músculos, minhas
articulações, meu coração, minha alma. Quando eu finalmente esgotei
fisicamente, eu entrei em colapso em uma pilha suada no chão e cai
contra a parede da cozinha para recuperar o fôlego.

— Boss.

Milo deslizou para baixo ao meu lado.

— Você está bem?

Com os cotovelos sobre os joelhos dobrados, coloquei a cabeça


entre as minhas pernas e passei a mão pela parte de trás do meu
pescoço úmido.

— Não, eu não estou bem, porra.

Eu estava malditamente drenado. A falta de sono, as imagens dos


vídeos aparentemente não rastreáveis que parecem que nunca param
de chegar na minha caixa de entrada, a busca constante que resultava
em nada dia após dia... Não. Bem não era uma palavra no meu
vocabulário agora.

Vingança. Morte. Tortura.

Essas eram as palavras na ponta da minha língua a cada minuto


de cada dia. Dez fodidos dias desde que ela foi tirada de meus braços.
Dez dias de vídeos aterrorizantes do homem praticamente morto
batendo, socando, e tateando a minha Miri. Seu ato mais recente era
cortar as roupas dela com a porra de uma faca e bater em seu corpo nu.
Não havia uma só polegada de sua pele que não era uma sombra
nauseante de preto e azul. Mas porra, eu estava tão orgulhoso de minha
boneca. Ela nunca parou de lutar. Fisicamente, ela poderia estar
esgotada, mas eu podia ver isso em seus olhos verdes. Miri ainda estava
lá, como o fogo de sempre.

~ 64 ~
Mantenha-se firme para mim, baby. Eu vou te buscar.

A porta da frente se abriu e passos pesados trovejaram pelo


corredor. Milo ficou em pé, com sua enorme pistola na mão e apontou
para a porta da cozinha.

— Jesus, porra. Seu maldito idiota.

Milo rosnou. Ele enfiou a pistola no coldre e encostou-se à


bancada de granito.

— Anuncie-se da próxima vez ou você vai acabar com os seus


miolos por toda a parede.

Forcei meu corpo cansado para os meus pés enquanto três dos
meus homens, Shade, um dos caras de Shade do armazém, e One, meu
melhor comerciante da área, entrou na cozinha. O grande espaço de
repente parecia pequeno, comigo e Milo, e agora os três de pé ao redor
da mesa da cozinha. Nenhum de nós era exatamente pequeno. Cinco de
nós em um cômodo era um pouco esmagador.

— O que está acontecendo?

Perguntei. Meus olhos se encontraram cada um deles e o que eu


vi fez o meu coração pular na minha garganta e vibração agredir meu
estômago. Shade sorriu.

— Acho que encontramos Cuchillo, Boss.

— O quê?

Eu passei por Milo e agarrei Shade pelos ombros.

— Onde? Como? Por que não estamos no nosso caminho? Foda-


se, diga-me tudo.

Fiz um gesto para ele me seguir e lati as ordens quando me virei


para sair.

— Milo, chame as tropas.

— Sim, chefe.

Ele respondeu. Sai da cozinha e subi a escada correndo, Shade


me seguindo de perto. Enquanto eu troquei de roupa e amarrava
minhas armas, incluindo a minha arma e três facas, Shade me contou
tudo, desde quem encontrou Cuchillo, como eles o localizaram, o
endereço da casa segura de El Cuchillo em Victoria, a duas horas de

~ 65 ~
carro tanto de Austin quanto de San Antonio, quantos caras estavam
guardando a propriedade, e quais as armas que eles tinham.

— Filho da puta.

Eu disse em fascínio.

— Eu não posso acreditar que o plano funcionou.

— Sim. Você fez a chamada certa, Boss. Contatar fez isso


acontecer e eu realmente acho que nós vamos conseguir pegá-la.

Os elogios de Shade, um homem que eu conhecia há anos,


incluindo o último cinco anos que ele trabalha para mim, não eram
ditas sem razão, então eu acreditava que ele quis dizer cada palavra.
Bati nas costas de Shade.

— Nós vamos. Não diga nada a qualquer um dos homens. Nós


ainda não sabemos quem disse a Cuchillo sobre Miri e como ela é
importante para mim ou onde nos encontrar.

Eu ajustei minhas bainhas de pulso.

— Agora temos uma guerra para lutar.

— Chefe, eu realmente deveria ir com você.

Disse Milo pela enésima vez desde que chegou ao ponto de


encontro pré-estabelecido fora da remota cidade de Victoria, Texas.
Girei sobre os calcanhares no estacionamento empoeirado e Milo quase
bateu em mim. Shade e Sarge pararam também, seus olhos saltando
entre o meu tenente e eu.

— Esta é a forma como essa porra vai funcionar, Milo. Se você


não gostar disso, que pena.

Eu dei um passo para perto dele, pronto para apenas cortar a


garganta do idiota e acabar com isso.

— Pare de falar, pare de pensar, pare a porra de fazer qualquer


coisa além do que eu te digo para fazer, entendeu?

Eu segurei seu olhar marrom furioso. As narinas de Milo


alargaram e os músculos do seu rosto pulsava, mas ele recuou.

— Sim Boss.

~ 66 ~
Ale-porra-luia!

Entramos no prédio escuro e fizemos o nosso caminho através de


algumas voltas até que o corredor se abriu para uma grande estrutura,
bem iluminada. Olhei para o espaço e reconheci os meus homens, todos
eles, de pé ao longo de uma parede, atirando olhares hostis em todo o
caminho.

No lado oposto da sala havia uma quantidade quase igual de


homens, intimidante e desconfiados como os meus homens. Eu só
conhecia alguns dos rostos. Um em particular se destacou.

Ele acenou com a cabeça em direção a uma porta na parte de trás


da sala. Eu devolvi o gesto e segui o homem enquanto ele caminhava
com confiança na direção da porta. Usando cautela, eu deslizei minha
mão na minha cintura, pronto para puxar a minha nove milímetros se o
cara tentasse alguma gracinha. Ele abriu a porta e se afastou para que
eu pudesse dar uma olhada.

O quarto estava vazio. Relaxei minha mão de volta para o meu


lado.

— Depois de você.

Eu disse, apontando para o meu convidado para ir primeiro. Ele


sorriu e a pele ao redor dos olhos plissaram de leve.

— Sempre tão cuidadoso.

Disse ele com uma pitada de diversão.

— Homem inteligente.

Ele entrou na sala e eu fechei a porta atrás de nós. Nós ficamos


em lados opostos, em silêncio, avaliando um ao outro. Tinha sido um
longo tempo desde que eu tinha visto pela última vez o homem. Ele não
tinha mudado muito. Ainda era alto, embora alguns centímetros mais
baixo do que eu, seu cabelo castanho escuro estava cortado em estilo
militar. Ele usava um terno limpo e avistei facilmente a protuberância
de sua arma debaixo do braço esquerdo.

— Então, Boss. Muito tempo, né?

— Sim. Tem sido um longo tempo, Brick.

— Não vamos dar rodeios então.

Disse Brick.

~ 67 ~
— Você queria a minha ajuda, eu vim.

— Você veio.

Eu concordei. Ele deu um passo para frente, puxou uma cadeira


de uma pequena mesa, e sentou-se. Com as mãos cruzadas em cima da
superfície desgastada, Brick sorriu.

— Sente-se, meu amigo. Vamos resolver esse negócio.

Eu cai na outra cadeira e assenti.

— Você vai ter tudo o que eu prometi, Brick. Quando eu a tiver de


volta, viva.

— Esses foram os termos.

Ele reconheceu.

— Mas eu quero que o anúncio feito antes de irmos.

Meu queixo caiu.

— Se nós fizermos isso, os meus homens não irão concordar com


isso.

Brick deu de ombros.

— Quem não concordar, vai ter uma bala na cabeça.

Eu apertei meus dentes.

— Eles estão todos armados, Brick. Você os quer atirando uns


nos outros em vez de nos homens de Cuchillo?

Ele soltou as mãos e esfregou os dedos sobre o queixo bem


barbeado.

— Não. Você está certo. Vamos fazer um acordo.

Eu cruzei os braços sobre o peito.

— Como?

— Nós só vamos dizer ao nosso homem superior, o mais próximo


de você. Em seguida, haverá conhecimento do negócio, e se um de nós
não sair disso vivo, isso ainda pode ser concluído.

— Contanto que Miri seja resgatada. E...

Debrucei-me sobre a mesa.

~ 68 ~
— Se alguma coisa me acontecer, deve ser dada a ela uma
quantidade de dinheiro e permissão para deixar o estado, ilesa.

Brick me olhava com seus olhos analíticos. O Chefe de Houston


não era um homem estúpido.

— Concordo.

Disse ele. Levantei-me e estendi minha mão.

— Então, vamos trazer os nossos homens aqui, para que


possamos terminar isso e ir embora.

Brick sorriu e segurou minha mão na sua, apertando com


firmeza.

— Sim, vamos. Eu estou ansioso para isso. Eu queria acabar com


esse pequeno idiota há muito tempo.

— Eu também.

Eu bati no ombro do homem.

— Eu também.

Miri

Havia chegado a hora.

Cat estava bastante lúcida. Eu estava golpeada e ferida da cabeça


aos pés, mas estava com medo de que se eu não tentar escapar agora,
com o ritmo que o bastardo estava me batendo, eu estaria fisicamente
incapaz de fazer qualquer tipo de tentativa em um dia ou dois, no
máximo. Nosso plano era horrível, mas era o melhor que poderíamos
fazer com o que tínhamos à nossa disposição. A janela não era uma
opção. Quando eu cheguei aqui, Cat me disse que tentou e elas eram
reforçadas e inquebráveis. Isso significava que ou tínhamos que passar
através dos homens que ouvimos todo o tempo do lado de fora do nosso
quarto, ou encontrar outra saída. Felizmente, eu encontrei essa
maneira.

O ego enorme de El Cuchillo ia ser a nossa salvação.

~ 69 ~
Eu fui para o banheiro e liguei o chuveiro para cobrir qualquer
ruído que fizermos no caso de eles estarem ouvindo, o que eu realmente
não acho que eles estavam desde que eu não tinha encontrado uma
única coisa no quarto. Como eu disse, fodido ego enorme. Não havia
câmeras também. O idiota estava tão confiante que não iríamos a lugar
nenhum que não se preocupou colocar um guarda permanente na porta
ou quaisquer olhos ou ouvidos no quarto.

— Cat.

Eu sussurrei. Ela olhou para cima de onde ela estava deitada na


cama.

— O que?

Peguei um par de travesseiros e fiz sinal para ela se juntar a mim


no banheiro.

— Está na hora.

Os olhos de Cat se arregalaram e ela começou a tremer.

— Estou com medo, Miri.

— Eu sei. Eu também.

Joguei os travesseiros no chão e agarrei as mãos da minha amiga.

— Você prefere ficar aqui para sempre, ou morrer tentando se


libertar?

— Eu não posso ficar mais aqui, Miri. Eu não aguento mais.

Cat começou a soluçar.

— Shhhhh, eu realmente acho que isso vai funcionar. Ninguém


notou nada.

Cat assentiu e enxugou o rosto com um pedaço de papel


higiênico.

— Comece a cantar.

Eu disse enquanto eu tirei uma fronha do travesseiro e enrolei o


tecido ao redor da minha mão.

Tirei o segundo travesseiro, colocando na pia, e coloquei o


primeiro travesseiro no espelho. Cat começou a cantarolar uma canção,
como se ela estivesse cantando no chuveiro. Respirando fundo, eu puxei

~ 70 ~
minha mão para trás e dei um soco no centro do travesseiro que estava
contra o espelho. Nada aconteceu. Tentei de novo, mais forte dessa vez.
Uma rachadura no vidro serpenteou atrás do travesseiro.

— Está funcionando.

Eu sussurrei. Os olhos de Cat se encheram de lágrimas enquanto


ela continuava a cantar uma música que eu reconheci, mas não
consegui identificar. Mais um golpe e metade do espelho quebrou, os
fragmentos que caíram suavemente sobre o travesseiro na pia. Eu
joguei o travesseiro que segurava no chão e inspecionei os pedaços de
vidro.

— Aqui.

Eu peguei a segunda fronha e atirei-a para Cat. Ela envolveu-o


rapidamente ao redor sua própria mão.

— Pegue um pedaço grande, Cat.

Com uma mão trêmula, coberta pela fronha, Cat escolheu um


bom pedaço em forma de punhal e segurou-a como uma faca.

— Bom.

Eu escolhi um em especial para mim, respirei fundo e acenei para


a minha amiga.

— Abra.

Atrás de Cat estava um pequeno armário de linho. O chuveiro e


banheira compartilhavam uma parede com o corredor, o armário de
linho estava extremidade oposta do banheiro, compartilhando uma
parede com outro quarto da casa. Ela abriu a porta e rapidamente tirou
as pilhas de toalhas. Eu me juntei e ajudei a remover as prateleiras de
madeira. Colocamos tudo no chão em frente da porta. O pequeno
armário era na verdade mais profundo do que parecia. Era mais ou
menos quarenta e cinco centímetros de profundidade, mas não havia
espaço extra do lado esquerdo. Onde as prateleiras estavam, era
praticamente inutilizável, mas sem elas, uma pessoa magra poderia
caber bem encolhida.

— Depressa.

Cat sibilou enquanto eu deslizei para dentro do armário


minúsculo. Eu podia sentir o pânico rolando da minha amiga em ondas
grossas.

~ 71 ~
— Eu estou me apressando.

Demorou algumas manobras, mas eu consegui abaixar no espaço


limitado. Perto do chão, eu puxei um pano dobrado em um buraco. Ele
deslizou para fora do buraco que eu tinha feito na parede apenas
alguns centímetros do chão.

— Eu vou olhar primeiro - eu disse.

Com o meu pescoço dobrado em um ângulo estranho, eu alinhei


meu olho com o buraco do tamanho de um punho. Assim como cada
vez que verifiquei, o quarto de hóspedes estava escuro, sem nenhum
sinal de vida no interior. Nosso quarto fazia divisa com o quarto não
utilizado, e o buraco que eu fiz na drywall usando uma mola do
colchão, estava escondida pela enorme cama e o lençol que fluía dela.
Ambos estavam entre nós e a porta do quarto.

— Estamos bem.

— Vai, vai.

Cat disse, pedindo-me para me mover. Eu puxei a drywall e se


desintegrou em minhas mãos. Empurrar seria mais fácil, mas também
mais alto e mais bagunçado, deixando evidências no quarto. Dentro de
alguns minutos, o buraco era grande o suficiente para eu deslizar
através da abertura de quarenta centímetros entre pregos.

Graças a Deus nós somos pequenas.

Levou mais alguns minutos para Cat colocar às prateleiras e


toalhas o melhor que podia de dentro do pequeno espaço, em seguida,
puxar a porta fechada. Quando ela terminou, eu me virei e ajudei Cat a
passar completamente, ainda segurando sua arma de vidro. Nós
esperamos que quando eles entrassem em nosso quarto, não
soubessem por qual caminho nós fomos. Eu tinha certeza de que eles
nunca pensariam em procurar no quarto de hospedes no lado oposto da
casa.

Não que nós planejado ficar muito tempo.

Arrastei-me para a porta do quarto e coloquei minha bochecha no


chão, olhando sob a lacuna. Sem pés, nenhum ruído, nenhuma luz,
nenhum sinal de ninguém.

— É claro, Cat.

~ 72 ~
Minha melhor amiga se arrastou até que ela estava atrás de mim.
Eu coloquei minha mão na maçaneta da porta e olhei por cima do meu
ombro.

— Você está pronta?

Ela balançou a cabeça.

— Não. Mas eu tenho que fazer isso. Como você disse, eu prefiro
morrer do que ficar aqui.

— Use sua arma se você tiver que. Apenas corte, não dê uma
facada, Cat. Se você apunhalar alguém muito profundo o vidro pode
ficar preso dentro da pessoa e você não terá nada para usar.

Cat empalideceu, o que foi chocante, porque ela já estava da


mesma cor que as fronhas de algodão branco.

— Eu não sei se eu posso matar alguém.

Disse ela, tremendo.

— Cat, você pode. Pense sobre o que eles fizeram com você.

Minha amiga apertou os lábios em uma linha apertada.

— Eles não são nada, além de escória. Se um deles tem que


morrer para que possamos sair daqui, então isso é o que vamos fazer.

Ela assentiu rapidamente em reconhecimento. Eu levantei minha


faca improvisada e, lentamente, virei a maçaneta. Cat levantou a
própria arma e sussurrou no meu ouvido.

— Vamos dar o fora daqui.

Eu abri a porta e sai para o corredor.

— Vamos.

Eu acenei para Cat sair.

— Fique perto de mim.

Eu não tenho que lhe dizer que ela estava presa nas minhas
costas como cola.

Nós rastejamos silenciosamente pelo corredor, pressionadas


contra a parede, enquanto andamos. A casa estava em silêncio. Tão
incomum. Isso me deixou nervosa. Sempre que Raoul apareceu, haviam

~ 73 ~
vários homens no caminho pelo que eu agora chamava de câmara de
tortura.

No fim do corredor havia um conjunto de escadas. Tínhamos que


descer, era a única saída. O que não sabia era onde as escadas levavam
ou que estava lá embaixo.

Puxei uma respiração profunda e desci um degrau de cada vez,


Cat estava praticamente em cima de mim, como descemos. No final, eu
segurei a minha faca para o alto no caso de eu precisar dela, e olho em
torno do canto. Merda.

— É a cozinha.

Eu sussurrei para Cat. Provavelmente o cômodo mais


movimentado na casa. O bom era que a maioria das cozinhas tinha
saídas para o exterior. Eu verifiquei novamente. Ainda vazio.

— Nós temos que ir, Cat.

Eu a vi acenar na minha visão periférica. Nós entramos na


cozinha iluminada. Demorou um segundo ou dois para a minha visão
se ajustar à luz. Uma vez que o fez, vi uma porta com painéis de vidro
em todo o cômodo.

— Não.

Eu apontei com o caco de espelho. Corremos para a porta, meu


coração batendo forte no meu peito e meu pulso rugindo em meus
ouvidos. Torci o botão e nada aconteceu.

— Merda, está trancado.

Vozes masculinas em espanhol viram de um dos quartos


próximos.

— Destranque, Miri!

Olhei para a maçaneta e xinguei.

— Eu não posso, precisa de uma chave.

Meu estômago embrulhou enquanto as vozes ficaram mais altas.

— Vamos!

Corri para a porta oposta ao sentido das vozes. Estávamos em


uma sala de jantar enorme e ricamente decorada.

~ 74 ~
Os homens entraram na cozinha, continuando a conversa.
Armários abriram e fecharam, bem como a geladeira. Um dos homens
riu de algo que o outro disse e eles andaram por lá durante vários
minutos, pontuados aqui e ali pelos sons de mastigação.

Eu queria gritar. Como eles poderiam agir de forma normal


quando eles estavam torturando e estuprando reféns? Como eles
poderiam comer uma refeição e conversar como se fosse uma casa
normal em um bairro normal, enquanto Cat e eu éramos regularmente
espancadas e aterrorizadas? Enquanto as mulheres jovens eram
movidas para dentro e para fora da casa como gado?

Naquele momento, eu queria matá-los. Eu precisava matá-los. Eu


não sabia que eu dei um passo em direção à cozinha até Cat sibilar
baixinho.

— Miri.

Eu bati para fora do meu torpor.

— Desculpa. Estou apenas ... esqueça.

Sacudi a raiva e foquei em sair dali.

Cat adiantou-se e espiou em torno de um pilar.

— A porta da frente é logo ali.

— Quão longe?

— Talvez uns dez metros? Eu não sei. Há um grande hall de


entrada com uma escada e a porta da frente.

— Ninguém está guardando a porta?

Eu estava feliz, mas não surpresa. Mais uma vez, a fraqueza de El


Cuchillo era seu senso de imortalidade. Como se ele fosse intocável
apesar de viver no mundo escuro e mortal que ele escolheu se
submergir.

— Não.

Disse Cat. Ela se virou e me encarou.

— Não importa o que aconteça, eu quero que você saiba que eu te


amo, Miri. Você me salvou de meu padrasto e eu nunca vou esquecer
isso.

— Sinto muito acabamos aqui, Cat.

~ 75 ~
Eu lutei para manter as lágrimas. Cat deu de ombros.

— Nós nunca tivemos uma folga, não é?

Funguei calmamente.

— Não. Nós não tivemos.

Ela voltou para a porta e me fez sinal para ir em frente. No


momento em que atingimos o foyer estávamos quase correndo. Cat
abriu a porta e nós corremos para a noite. Descalça, com cada músculo
do meu corpo gritando de dor, eu corri o mais rápido que pude através
da grama, com Cat apenas na minha frente.

Eu pisei em uma pedra e tropecei, mas me levantei rapidamente.


Não rápido o bastante. Um braço veio ao redor da minha cintura e me
atirou ao chão, com força. Meus músculos abusados protestaram e o ar
saiu dos meus pulmões enquanto eu cai na sujeira.

Eu gritei e fechei os olhos, dando golpes descontroladamente com


o caco de vidro. Deve ter feito contato com o cara porque o vidro
arrastou por algo por um breve segundo antes de continuar seu
caminho através do ar.

O homem acima de mim soltou um borbulhante engasgo e uma


cascata de líquido quente jorrou em meu rosto e pescoço. Ele era tão
espesso que fiquei momentaneamente cega pela enorme quantidade de
sangue escorrendo para fora dele, incapaz de eliminá-lo dos meus olhos
tão rápido enquanto ele caiu. Morto, seu corpo caiu em cima do meu.
Enfiei o peso pesado para o lado, mordendo o interior da minha
bochecha, para não gritar de agonia do fogo que atravessou meu peito
golpeado.

A adrenalina estava correndo em minhas veias a uma taxa


inacreditável. Usando a explosão de energia fornecida no momento, uni
a energia para virar e de alguma forma consegui subir para as minhas
mãos e joelhos, a peça brilhante de espelho ainda estava envolvida na
minha mão. Eu limpei meus olhos com as costas da fronha em volta da
minha mão, até que fui capaz de ver o suficiente da paisagem escura
para continuar. Com um grunhido, eu empurrei para os meus pés e
virei na direção que Cat e eu estávamos originalmente.

Eu só podia esperar que Cat tivesse fugido em segurança.

Não poupando um pensamento para o homem que eu matei, corri


para a estrada que eu poderia de ver ao longe. A agonia em brasa
rasgou minha perna uma fração de segundo antes de ouvir o tiro.

~ 76 ~
Minha perna desmoronou e eu fui para baixo de cara para a paisagem
rochosa implacável. Desta vez, quando minhas costelas bateram no
chão, eu não conseguia parar de gritar em agonia.

Não havia tempo para recuperar ou mesmo olhar para a minha


mais recente lesão, que pela sensação, era apenas um arranhão bala.
Um homem estava em cima de mim. Ele me agarrou pelos cabelos e me
arrastou para os meus pés, ou pé, como eu não poderia colocar muito
peso na minha perna esquerda. Eu golpeei errática com o espelho,
balançando o meu braço na esperança de golpear algo, qualquer coisa.

— Pinche puta!

O homem gritou no meu ouvido. Seu braço enrolou em volta do


meu pescoço e apertou, cortando o meu ar. Eu levantei o vidro para
enfiar em seu braço e gritei quando ele trouxe seu outro braço para
baixo no meu pulso. Quem quer que esse cara fosse, me atingiu com
tanta força, um choque de dor roubou minha respiração todo o caminho
até meu ombro e eu deixei cair a minha arma. O homem começou a me
arrastar pela minha garganta para trás em direção à casa.

De jeito nenhum! Prefiro morrer do que pôr o pé lá de novo, então


eu chutei e lutou para me libertar. Seu braço apertado em volta do meu
pescoço e a falta de oxigênio extinguiu a minha capacidade de lutar. A
minha visão tornou-se irregular e meus membros fracos. Enquanto a
me consciência se desvanecia, ouvi El Cuchillo rosnar em meu ouvido.

— Você vai sofrer pelo o que você fez, coño.

Espero que ele apenas acabe com isso e me mate.

~ 77 ~
Jag

— Você tem certeza disso, chefe?

Eu estava prestes a quebrar o nariz de Milo. Ele repetiu a mesma


porra de pergunta vinte vezes desde o nosso encontro com Brick e seus
homens. Milo não confiava em Brick para nos dar cobertura, o que era
de se esperar de qualquer bom tenente. Cuidado era importante nesta
linha de trabalho e inimigos nunca eram realmente seus amigos. Mas,
em seguida, Milo não estava a par dos detalhes do meu contrato com
Brick. Por causa do comportamento bizarro e antagonista de Milo, eu
decidi trazer Shade para o encontro particular como o meu segundo no
comando.

O olhar no rosto de Milo quando eu escolhi o chefe de distribuição


em vez dele era nada menos que ódio puro. Eu não tinha certeza de
quando, exatamente, o meu tenente mais confiável passou de meu
confidente próximo ao homem que eu precisava manter a distância de
um braço. Eu queria acreditar que coincidiu com a aparição de Miri na
minha vida e sua presença deixou Milo azedo, mas era mais profundo
do que isso. A hostilidade de Milo cresceu exponencialmente desde
minha recusa a oferta de El Cuchillo de me juntar a ele no tráfico de
mulheres e meninas sequestradas. Miri era apenas uma saída
conveniente para sua frustração.

Este comportamento errático era o motivo pelo qual Milo não


estava a par dos detalhes da discussão desta noite com Brick ou do
plano de ir adiante com Los Guerreros.

— Eu sei o que estou fazendo, Milo.

Eu respondi enquanto estudava a distância a mansão


ridiculamente fora de lugar através de um par de binóculos de visão
noturna Bushnell, escondido em arbustos emaranhados e árvores
raquíticas. O tipo que cresce como erva daninha nesta parte do Texas.

Os homens de El Cuchillo estavam espalhados por todos os


lugares ao longo dos limites da propriedade, cada um empunhando
uma lanterna brilhante. Eles estavam à procura de alguma coisa... ou

~ 78 ~
seria alguém? Era esperar demais que Miri, que Brick confirmou estar
dentro da casa, tenha escapado?

Meu telefone tocou silenciosamente no meu bolso. Eu pressionei a


tecla para atender.

— Boss.

Eu sussurrei.

— Eu tenho algumas informações para você.

Brick declarou calmamente. Eu esperei o homem entrar em


detalhes. Quando não aconteceu, eu fiquei impaciente.

— E?

— E eu acho que você deve vir e ver por si mesmo. Estou no local
discutido anteriormente.

A linha ficou muda.

— Foda-se!

Eu sibilei. Bati o fone de ouvido e me virei para Shade e Milo,


apontando.

— Vocês dois ficam aqui. Qualquer pessoa que se aproximar


vocês matam. Silenciosamente.

Eu olhei para Milo então ele sabia que não devia usar o canhão de
mão.

— E deixem alguém vivo para interrogatório.

Eu encarei ambos os olhares sombrios e dei a Shade um segundo


extra para acenar com a cabeça em entendimento. Ele sabia que eu
estava silenciosamente observando Milo cuidadosamente. O
comportamento e atitude de Milo eram imprevisíveis e eu não queria
correr risco de meu tenente fazer algo estúpido e irresponsável e,
consequentemente, arruinar o elemento surpresa.

— Entendi, Boss.

Shade respondeu. Milo simplesmente resmungou por colocá-lo em


posição inferior.

A pé levaria uns bons quarenta minutos para chegar ao outro


lado do terreno áspero que cobre os novecentos acres de El Cuchillo.

~ 79 ~
Não havia tempo suficiente para essa besteira. Eu pulei no carro que
deixei estacionado longe o suficiente para passar despercebido, e com
os faróis apagados, eu dirigi um quilometro e meio de estrada de terra
rochosa em menos de cinco minutos. Parei ao lado de SUV negro
maciço de Brick e arranquei as chaves da ignição antes de pular do
carro e caminhar para o grupo de homens. Quando cheguei mais perto,
notei que eles estavam de pé em um círculo, observando um único
homem que estava agachado sobre um corpo no chão. Minha respiração
ficou presa e eu tropecei com a visão.

Seria Miri? Ela está morta?

O medo inundou minhas veias e meu coração martelava em meus


ouvidos. Forcei um pé na frente do outro até que eu estava às margens
do estreito círculo formado pelos homens de Brick. Espiando por cima
do ombro de um deles, eu olhei para a figura, mas estava escuro demais
para reconhecer quaisquer características específicas. Tudo o que eu
podia dizer era que quem estava no chão era do sexo feminino, pequena
e magérrima, com cabelos longos espalhados no chão rochoso e
desigual. Em pânico, eu abri caminho entre dois dos homens de Brick e
caí de joelhos. Quando eu vi o rosto da menina, todo o ar saiu dos meus
pulmões.

Não era Miri. E estava inconsciente, então ela não responderia a


todas as perguntas no momento.

— Quem é essa?

Eu exigi. Quando ninguém falou, eu levantei e examinei cada


rosto perplexo até o meu olhar cair sobre Brick.

— Brick?

O homem sempre calmo e controlado acenou.

— Ela saiu daqueles arbustos.

Brick apontou uma distância razoável.

— Com base de onde ela desmoronou, nós acreditamos que ela


fugiu pela porta da frente. Meus homens imediatamente trouxeram para
mim. Mas sem cabelo vermelho, meu amigo, então eu soube
imediatamente que ela não era sua Miri.

O lembrete do cativeiro de Miri era um tapa na cara. Eu retrocedi


a dor da angústia, me recuperando rápido o suficiente para esconder
minha dor de Brick.

~ 80 ~
— O que ela disse? Você conseguiu alguma coisa dela antes que
desmaiasse?

Eu segurei minha respiração na esperança de que esta mulher


conhecia minha boneca ou a viu no interior da casa. O cenário mais
provável é que ela era uma das reféns de Cuchillo para seu novo
empreendimento de tráfico sexual.

— Sim. Ela está cansada, desidratada e bastante confusa, mas


ela conhece sua mulher.

Eu juro que meu coração parou de bater por um segundo.

— Espere. Ela... você disse que ela conhece Miri?

De alguma forma eu evitei que minha voz quebrasse.


Honestamente, eu não tinha certeza de por quanto tempo mais eu
conseguiria manter as aparências, eu estava quebrado em mil pedaços,
cada um cortando meu coração. Brick assentiu.

— Muito bem, na verdade. Desde antes de tudo isso.

Brick acenou com a mão na direção da hedionda e deslocada


mansão de Cuchillo em estilo espanhol, construída no meio do nada na
porra do Texas.

— Eu não entendo. Ela conhece Miri, realmente a conhece?

A nova informação me fez cambalear um passo para trás. Eu


passei a mão na minha testa e arrastei pelo meu rosto. Brick deu de
ombros.

— A menina não falou muito antes de desabar. Ela está muito


magra e foi cruelmente abusada. Uma vez que chegou até nós, ela caiu
como uma rocha e não fomos capazes de despertá-la. Antes de
desmaiar, ela disse que dividia o quarto com Miri na casa, mas que
também dividiu um quarto com ela antes.

Ele me deu um olhar simpático.

— O que diabos signifique antes. Tenho a impressão de que era


há alguns anos atrás.

Minha respiração acelerou quando lembrei que Miri uma vez


mencionou uma amiga que desapareceu... uma amiga, cujo nome eu
não conseguia me lembrar. Brick continuou a falar enquanto eu estava
em meio a uma grande luta mental para desenterrar as memórias.

~ 81 ~
— As duas mulheres escaparam, mas se separaram aqui fora.

Ele apontou para a mulher inconsciente,

— Ela acha que Miri foi capturada e levada de volta para dentro.

— Nossos homens precisam vasculhar o perímetro, verifique o


chão. Deus, Miri pode ter desmaiado em algum lugar, ferida... merda.

Minha voz ficou mais alta progressivamente e minhas palavras


dispararam em uma corrida. Brick me agarrou pelos ombros e me deu
uma sacudida áspera.

— Baixe a voz.

Ele rosnou.

— A menos que queira que Los Guerreros saibam que estamos


aqui.

De cara feia, eu empurrei para fora do seu domínio, mas


concordei com a cabeça. É claro que ele estava certo. Era imperativo,
agora mais do que nunca, que eu ficasse calmo. Não funcionaria se eu
não analisasse cada passo antes de agir. Dar vazão as emoções só
causariam mais mortes e colocaria Miri em maior perigo.

— Meus homens estão procurando, eles estão contatando seus


homens para fazerem o mesmo.

Disse Brick.

— Bom. Obrigado por isso.

Eu deixei escapar um suspiro aliviado.

— E agora?

— Agora, meu amigo, temos que esperar para ver se eles


encontram a sua mulher em qualquer lugar no local. Se não, vamos
entrar.

Brick era tão casual, tão calmo, soando como se não fosse grande
coisa invadir a casa de um chefe rival – casa cheia de homens treinados
e dezenas de armas – e resgatar a minha menina, sem nada dar errado.
Foda-se. Minhas mãos tremiam ansioso para fazer alguma coisa, para
matar alguém, para fazer alguém pagar pelo sofrimento de Miri assim
como o sofrimento de sua amiga.

~ 82 ~
— Eu disse a meus homens para matar silenciosamente qualquer
um que se aproximasse do perímetro - disse a Brick.

— Isso vai reduzir o número de homens armados que temos para


tomar a casa.

— Eu concordo.

Brick estalou os dedos.

— Eric?

Um dos homens interrompeu a reunião e se juntou a nós. Alto,


cabelos negros e os músculos enormes, eu reconheci o cara da reunião
anterior em campo neutro. Ele era o segundo no comando de Brick, seu
subchefe.

— Todos com cuidado, e eu quero dizer silenciosamente, retirem


qualquer Los Guerreros que se arrisque perto dos limites da
propriedade. Mas não o faça, se isso alertar alguém sobre nossa
presença. E Eric, mantenha um ou dois vivos para interrogatório.

Eu sorri para última ordem de Brick.

Grandes mentes pensam da mesma forma.

Miri

Acordei com uma tosse seca e rouca que enviou ondas


intermináveis de dor por cada centímetro quadrado do meu corpo.
Minha garganta doía e eu mal conseguia engolir porque esse filho da
puta do El Cuchillo me estrangulou forte... na noite passada? Hoje mais
cedo? Eu não tinha ideia do dia ou hora. A luz no quarto era pouca,
mas o suficiente para meus olhos precisarem de um ou dois minutos
para se ajustarem ao brilho. Uma vez que eles o fizeram, toda a
esperança foi extinta como uma chama morrendo.

Eu estava de volta na sala de tortura. Não amarrada na cadeira,


no entanto. Não, desta vez, eu estava atada a superfície de uma mesa
plana ou balcão, se eu tivesse que adivinhar. Eu sabia que deveria
testar minhas restrições para ver se poderia sair, mas para quê? Eu mal

~ 83 ~
tinha forças para manter os olhos abertos, e muito menos para me
libertar de qualquer tipo de cordas ou correntes. Em vez disso, eu fechei
os olhos e esperei que tudo terminasse. De preferência breve.

À distância, eu ouvi portas sendo abertas e fechadas. De vez em


quando, o silêncio sinistro era interrompido por explosões rápidas de
espanhol gutural antes de silenciar novamente. Alguma coisa estava
acontecendo. Algo não relacionado com minha tentativa de fuga, eu só
não sabia o quê. O canto da minha boca puxou um pequeno sorriso.
Talvez Cat tenha conseguido fugir e eles estavam enlouquecendo sobre
isso. Talvez ela estivesse enviando a polícia.

Eu imediatamente reprimi a ideia. Não havia espaço no meu


coração para esperança. Ela tinha me abandonado, me manteve o
suficiente para suportar as agressões diárias, os estupros e a
quantidade horrível de dor infligida. Ela me ajudou a formular um
plano para escapar, e, espero, para Cat para se libertar. Eu terminei
com a esperança. Eu ia morrer aqui. Era apenas uma questão de como
e quando. Quanto mais cedo eu me resignasse com o fato, mais fácil
seria para deixar ir – Jag, um futuro, Cat, uma vida que nunca teria.

Uma única lágrima escorreu pelo meu rosto. Eu queria limpá-la


para meus captores não terem a satisfação de ver me quebrar, mas com
ambas as mãos amarradas acima da minha cabeça com algo robusto, a
lágrima teria que permanecer onde estava. Devo ter cochilado
novamente, porque eu não sabia que havia mais alguém na sala até um
tapa acertar meu rosto. Estrelas explodiram atrás dos meus olhos e os
meus dentes batiam da força do golpe.

— Acorde, puta. Está na hora.

El Cuchillo.

Ele me deu outro tapa e minha cabeça virou para o lado, meu
cérebro balançando dentro do meu crânio.

Bastardo. Cerrei os dentes e enrolei minhas mãos em punhos.

Não queria que ele visse o meu medo, então mantive meus olhos
bem fechados, em desafio. Pode não haver esperança para eu sair
daqui, mas eu estaria condenada em me render sem lutar. Ele bateu em
mim novamente, desta vez com os punhos em minhas costelas. Eu
gritei com o fogo se alastrando na minha lateral, o que tornava difícil
respirar. Ainda assim, eu mantive meus olhos espremidos apertados.

~ 84 ~
— Eu posso continuar com isso durante toda a noite, vagabunda
idiota.

Ele rosnou.

Quando eu o ignorei de novo, El Cuchillo amaldiçoou em voz


baixa. A falta de choro e suplicas claramente o afetavam. Ele estava
com mulheres mansas e aterrorizadas e encolhidas aos seus pés,
implorando por misericórdia. Eu bufei uma risada seca.

Mansa e covarde? Não essa garota. Não há um longo tempo. Não


desde Jag me trouxe de volta da beira da morte.

— Raoul, traerme mi cuchillo.

Isso chamou a minha atenção. Eu endureci e abri meus olhos


para olhar Cuchillo, o único homem que eu desprezava mais que
qualquer outro. A palavra cuchillo significava faca. Eu sabia a tradução
simplesmente por causa de referências de Jag sobre o nome do
bastardo doente. Eu perguntei e ele explicou o significado por trás do
título do traficante de San Antonio. Além disso, a tatuagem de uma faca
que cada homem na casa usava com orgulho em seu antebraço era um
indicativo.

El Cuchillo ia me cortar. Aparentemente, ele ganhou esse nome


por uma razão.

Calafrios percorreram minha espinha. Minha garganta


machucada apertou e meu pulso vibrou em minha cabeça desorientada.
Mesmo sem querer mostrar fraqueza, eu não tinha certeza de
permanecer forte se El Cuchillo começasse a me cortar. Nervosismo
atacou meu estômago, torcendo-o em nós, náuseas brotando rápido.
Terror me estremecendo da cabeça aos pés. Eu estava congelando, mas
suor se acumulava entre minhas omoplatas, fazendo com que a
superfície plana sob o meu corpo escorregasse.

Meu lábio tremeu quando Raoul entregou uma lâmina longa,


brilhante, sobre minha figura amarrada, a mão estendida de seu chefe.
Não havia dúvida que Cuchillo fez isso de propósito, para instigar o
medo em mim. Para permitir que a vítima veja a arma mortal antes de
ser usado em sua carne. Para colocar visões horríveis na minha cabeça
assim minha mente iria quebrar antes mesmo dele começar.

Ele me queria amedrontada.

Ele me queria implorando.

~ 85 ~
Ele me queria quebrada. Destruída. Arruinada.

Tudo para que ele pudesse filmar os horrores infligidos a mim e


enviar o vídeo para Jag. Para destruir o poderoso Boss e deixá-lo a seus
pés.

El Cuchillo estava tão errado. Boss não iria quebrar. Ele reuniria
toda a raiva e a usaria. Ele disseminaria sua ira sobre cada homem
nesta casa e mais alguns. Jag não iria parar até obter sua vingança
sangrenta.

O homem de pele ressecada e olhos negros se inclinou sobre meu


rosto e sorriu. Ele correu as costas da faca contra sua bochecha, o
metal raspando alto no rosto com barba por fazer. Sem dizer uma
palavra, Cuchillo fez vários talhos rápidos e eu ofeguei. O tecido que
cobria o meu corpo deslizou para longe, deixando-me nua.

— Raoul, puedes irte.

Raoul saiu do quarto, deixando-me sozinha com o meu pior


pesadelo.

— Uma pele tão perfeita e macia.

Ele murmurou. O bastardo assustador arrastou a ponta da


lâmina por minha clavícula, entre meus seios, e pelo meu abdômen. A
pressão não era suficiente para romper a pele, mas o necessário para
me aterrorizar.

Eu engoli um lamento e inalei uma respiração instável,


concentrando-se em não mover um único músculo próximo da ponta da
faca.

— Por onde começar...

Seus olhos gananciosos olhavam de cima a baixo meu corpo


enquanto cantarolava uma canção. A emoção doente refletida nesses
poços sem vida me fizeram engolir a vontade de vomitar.

O olhar de Cuchillo preso no meu. Eu segurei seu olhar apesar da


voz interna gritando para eu virar a cabeça e olhar para longe do
monstro.

— Vamos improvisar, não é?

Com o primeiro toque da lâmina na minha pele toda a intenção


que eu tinha em permanecer forte se desfez, e eu gritei.

~ 86 ~
Jag

— Shade, me diga o que está acontecendo.

Eu andei ao lado do meu carro como um tigre enjaulado, meu


telefone no ouvido, esperando impacientemente meu empregado
responder.

— Nada, Boss. Nenhum de Los Guerreros chegou perto o


suficiente do nosso local para eliminá-los sem alertar o restante.

— Filho da puta!

Acalme-se, porra, Jag.

Depois de tomar uma respiração profunda, eu expliquei a Shade


sobre encontrar a amiga de Miri e o que ela sabia.

— Assim, ou avançamos mais rapidamente, Boss, ou vamos


esperar os Los Guerreros estenderem seu perímetro de busca.

Disse Shade.

— Exatamente. Eu gostaria de derrubar alguns deles antes de


entrar. Nós seremos alvos fáceis atravessando a extensão plana do
gramado com todos esses homens armados do lado de fora.

Eu podia ouvir Shade calmamente discutir opções com Milo. Ele


voltou para o telefone.

— Boss.

Shade começou.

— Nós estamos em um local bastante escondido no quintal. Se


você quiser, podemos retirar os mais próximos e acabar com eles.

— Você teria que fazê-lo em silêncio.

Eu respondi.

— Sem armas.

~ 87 ~
Eu o lembrei.

Apesar da representação glamurosa, e totalmente imprecisa de


Hollywood, silenciadores - ou mais precisamente supressores - não
removem todo o som de um tiro. Eles silenciavam o pop alto, mas ainda
havia um clique bastante perceptível quando o gatilho é puxado, mais
um decente bang quando a bala sai do cano da arma. Então, não é
silencioso. Meus homens sabiam que não há arma equivalente a cortar
gargantas e combate de perto. A vítima morreria quase
instantaneamente e não seria capaz de gritar por ajuda. Bagunçado,
mas eficaz.

— Entendi, Boss.

Shade desligou.

Relatei minhas instruções para Brick.

— Eu concordo. Tirando os homens do perímetro, aqueles que


não estão à vista dos outros, é uma boa ideia.

Mais uma vez, Brick chamou seu segundo em comando.

— Eric, diga a todos para agarrar qualquer homem que esteja fora
da vista dos outros, e fazer isso. Corpo a corpo.

— Sim, senhor.

Eric correu para retransmitir as ordens de seu chefe.

Eu retirei meu KA-BAR, pronto para procurar homens para


matar, mas Brick me parou com uma mão no meu braço.

— Nós precisamos de você vivo para pegar a garota. Você deve


ficar aqui até que possamos invadir a casa.

O pensamento de ficar à margem, sem fazer nada me enfurecia.


Meus dedos flexionados, apertando minha arma. Raiva queimado por
todo meu corpo, estalando e crepitando enquanto as chamas cresciam,
minha raiva buscando libertação.

— O que eu preciso é matar alguns dos filhos da puta que


tocaram minha garota.

Brick não fez mais do que recuar quando eu lhe lancei um olhar
assassino.

— Eu entendo, meu amigo. Mas eu quero que esse negócio


funcione, e para isso, eu preciso de você e sua mulher, vivos. Temos

~ 88 ~
soldados por uma razão. Você precisa confiar neles para fazer o
trabalho.

Rosnei sob a minha respiração, tão frustrado que queria apenas


mergulhar minha faca em alguém, qualquer um. A lâmina de aço em
carbono de dezoito centímetros na minha mão não ajudou a reprimir
minha ira. Em vez disso, ele alimentou o meu desejo por sangue e
morte.

— Vai dar tudo certo.

Disse Brick.

Olhei para o homem de quem eu dependia para conseguir isso.


Sem a sua ajuda, eu não teria Miri de volta. Inferno, eu nem estaria
aqui. Além disso, nós tínhamos um acordo. Brick seria um homem
muito rico e poderoso, se Miri escapasse viva, então ele não tinha
nenhuma razão para falar besteira. Ele a queria quase tanto quanto eu,
por razões muito diferentes.

Inclinei a cabeça para trás e olhei para as estrelas, brilhantes no


céu sem a poluição luminosa da grande cidade nas proximidades.
Inspirar e expirar, o meu único foco era me acalmar e pensar
racionalmente.

— Estou bem.

Eu disse a ele, uma vez que a névoa vermelha desapareceu. Brick


levantou uma sobrancelha e eu bufei.

— Realmente, eu estou bem.

Enfiei a faca na bainha.

— Eu só preciso que nossos homens se apressem e cortem


algumas gargantas de merda.

Brick sorriu e me deu um tapinha no ombro.

— Isso é algo que podemos fazer acontecer.

Trinta minutos depois, tivemos resposta da maioria das equipes


espalhadas ao redor da mansão. Treze Los Guerreros caídos, e de
acordo com nossa própria contagem e de nossos homens, nove ainda
vagavam pela propriedade procurando pela amiga de Miri. Eu não tinha
dúvida que Miri estava dentro da casa de El Cuchillo. Entre Brick e eu,
mais de sessenta homens vasculharam o perímetro e não encontraram
quaisquer vestígios dela em qualquer lugar.

~ 89 ~
— Eu voto em prosseguirmos com os homens restantes.

Eu sussurrei para Brick. Nós revezamos olhando através de seu


binóculo de nível militar.

— Não sobraram muitos homens e não queremos que eles voltem


para a casa. No interior, eles têm a vantagem de conhecer a estrutura.
Aqui fora, eles são alvos fáceis.

Brick concordou e tomou o binóculo de mim, estudando o quintal.

— Concordo. Nós sabemos que há câmeras em cada canto da


casa e pela porta da frente. Nossos homens estão vestindo roupas
escuras. Eles não serão detectados pelas câmeras e enquanto matam
cada alvo, um dos nossos homens vai usar a lanterna e fingir ser um
Los Guerreros vasculhado o terreno. Outro vai arrastar o corpo para
fora da vista.

— Eu vou chamar o meu segundo.

Eu caminhei poucos passos e liguei para Shade. Depois de quatro


toques foi para o correio de voz. Tentei novamente e obtive o mesmo.

— Foda-se!

Eu tentei Milo e ele respondeu no terceiro toque.

— Chefe…

Milo parecia sufocado, o que fez os cabelos na minha nuca


levantarem.

— Milo? O que está acontecendo? Onde está Shade?

— Eles... um deles o pegou, Boss... Ele está morto.

Parecia que Milo tinha acabado de correr uma maratona.

— O que?

Minha cabeça girava com a informação. Shade era o escolhido


para tomar o lugar de Milo como meu segundo em comando após esta
operação.

— Eu tenho o cara que fez isso... mas...

Milo engasgou para o ar.

— Onde você está? — Eu exigi.

~ 90 ~
— Eu estou em algum lugar nos arredores desta porra de buraco.

Ele retrucou.

— Eu não sei. Após Shade, eu matei o filho da puta... e arrastei


Shade para longe, para que não colocassem as mãos em seu corpo.

— Filho da puta.

Eu corri minha mão livre pelo cabelo.

— Você consegue voltar para o ponto de encontro?

— Eu não sei onde diabos estou, Boss.

— Merda. OK. Vamos entrar muito em breve. Você pode ir para o


perímetro do complexo?

— Sim

Disse Milo.

— Eu acho que sim. Eu vejo as luzes.

O chão era muito plano, mas com árvores raquíticas crescendo


em todos os lugares, talvez Milo não encontrasse a mansão hedionda se
estivesse perdido em um dos aglomerados de folhagem densa.

— Bom. Vá para o perímetro. Eu te ligo quando formos.

— Ok, Boss. No caminho.

Eu desliguei e esfreguei minha testa. Shade. Jesus Cristo.

— O que aconteceu?

Brick perguntou, a preocupação escrita em seu rosto.

— Shade está morto.

Brick ficou parado, me dando um minuto para lamentar meu


amigo. Mas eu não era estúpido. Brick ia ganhar muito se nós
conseguíssemos, e ele não era de maneira alguma um homem
simpático. Ele era um traficante de drogas, um chefe do cartel, um
criminoso, assim como eu. Este era um negócio para ele. Uma simples
transação. Ele não ia perder tudo o que lhe importava.

— Foda-se.

Eu rosnei.

~ 91 ~
— Nós já esperamos tempo suficiente.

Olhei para a amiga de Miri, ainda inconsciente no chão. Cansado


dessa merda, eu me curvo e retiro minha KA-BAR.

— Eu vou entrar.

Miri

— Você é durona, não?

El Cuchillo riu e girou a faca ensanguentada na mão.

Eu respirei, meu peito nu para cima e para baixo enquanto eu


lutava para manter a calma. Eu poderia gritar. Eu poderia chorar. Eu
poderia gritar até minha voz desaparecer, mas eu não gostaria de lhe
dar a satisfação de me ver implorar para parar.

— Você já se perguntou por que você não obtinha quaisquer


drogas como a sua amiga? Hmmm?

Eu não sabia se ele esperava uma responder à pergunta, então eu


permaneci em silêncio.

— Você sabe o que adjuste de cuentas significa, puta?

Aparentemente ele queria uma resposta, porque a ponta da faca


pressionou contra a cartilagem sob a pele fina de minha garganta.

— N-não.

Eu sussurrei, prendendo a respiração evitando a lâmina de


deslizar na minha traqueia. Morrer afogada em meu próprio sangue não
soa como uma boa forma de morrer.

Mas a tortura acabaria.

Tanto quanto eu queria o fim da dor, eu tinha esperança. Cat


fugiu, ouvi Raoul dizer a El Cuchillo. Eu não sabia um monte de
espanhol, mas o ataque de raiva do idiota disse mais do que palavras.

— Ahhh, deixe-me dar-lhe una educación.

~ 92 ~
Ele circulou a mesa, movendo-se em torno de minha cabeça, para
o outro lado, a ponta da faca nunca deixou seu lugar na minha
garganta. A pressão era o suficiente para eu não me atrever a engolir.
Senti um gotejamento quente e úmido na lateral do meu pescoço e
soube que ele tinha perfurado a pele. Meu corpo estava coberto de
cortes semelhantes. Não havia uma única parte de mim que não
queimava como se estivesse mergulhado em querosene e incendiado. Eu
não conseguia reconhecer a bala na minha panturrilha dos outros
ferimentos.

— Adjuste de cuentas. Isso significa acerto de contas. Vingança.

Ele parou e retirou a faca. Eu respirei gratidão e ar enquanto eu


podia. O traficante se inclinou sobre a mesa, seus olhos escuros e
vazios avaliando minha pele arruinada. Moveu-se tão rapidamente que
eu não vi o corte da lâmina até que senti a carne do meu quadril abrir.
Eu solucei e mordi a língua, mais uma vez, para abafar os meus gritos.

— Seu Boss, seu amante.

Cuchillo sussurrou.

— Me custou muito dinheiro. Ele foi estúpido em recusar minha


oferta de fazermos negócio juntos. Agora, ele vai pagar.

Ele endireitou-se e apontou com a faca para mim.

— Eu vou tomar o meu pagamento de você. Se eu te der heroína,


você não sentirá a minha faca, puta barata.

Ele fez uma careta e cuspiu no chão.

— É por isso que eu não vou transar com você. Você está suja,
prostituta barata do Boss.

— Foda-se. E eu deveria agradecer por não me foder com seu pau


pequeno e inútil.

Eu disse asperamente.

— Apenas me mate, idiota. Eu não dou a mínima para a sua


vingança.

El Cuchillo congelou e os dois poços escuros sob suas


sobrancelhas me fizeram tremer.

— Sua vagabundazinha. Pau pequeno? Eu deveria te foder com a


minha faca.

~ 93 ~
Seus lábios se curvaram e ele se aproximou, levantando a lâmina
acima de mim. Fechei os olhos e me preparei para o golpe que poderia
acabar com a minha vida.

Sinto muito, Jag.

Um telefone tocou e meus olhos se abriram. Claramente irritado


com a interrupção, meu torturador se afastou da mesa para retirar o
dispositivo do bolso. Ele pouco depois de colocá-lo no ouvido, sua boca
abriu em estado de choque. Antes que ele pudesse falar com quem
estava do outro lado, a porta foi aberta com um estrondo.

— El Cuchillo! Hay una problema!

No limite da minha visão periférica, eu vi Raoul invadir o quarto


com o rosto vermelho e os olhos selvagens. Ele correu até Cuchillo e
eles conversaram em rápido espanhol. Telefone esquecido, suas vozes
se elevaram até que eles estavam gritando um com o outro. Incapaz de
continuar, eu fechei os olhos novamente e tentei ignorar a dor
lancinante que queimava cada centímetro de meu corpo.

De muito longe, havia gritos em espanhol e inglês. Tiroteio


eclodiu, barulho de tiros próximos. Nas proximidades, ouvi as batidas
monótonas de corpos atingindo o chão e de punhos acertando carne.
Um grito abafado veio do corredor e eu não conseguia parar as lágrimas
que rolavam pelo meu rosto. Parecia que o mundo era destruído
enquanto eu permanecia impotente.

Nua, amarrada e ferida da cabeça aos pés, era assim que eu ia


morrer. Baseado nos sons, quem me encontrou certamente era tão mau
quanto Cuchillo.

— Onde ela está? Droga!

Por causa do ecoar dos tiros em meus ouvidos, as palavras


soavam como se estivessem submersas, mas eu reconheceria aquela voz
em qualquer lugar.

— Jag.

O esforço de falar me fez tossir violentamente, minhas cordas


vocais tão inchadas que eu era incapaz de gerir mais do que um
sussurro.

— Jag.

— Miri?

~ 94 ~
Ele estava perto. Meu Deus. Ou eu estava morta e no céu, ou eu
estava prestes a ser salva.

Mais lágrimas escorreram.

— Aquele desgraçado filho da puta!

Olhei para cima com os olhos embaçados, cheios de lágrimas.

— Jag?

Minha voz não passava de um sussurro áspero.

— Baby, está tudo bem.

Mãos quentes tocaram minha testa e afastaram a umidade em


minhas bochechas apenas para ser substituída por mais.

— Estou aqui. Eu sinto muito, Miri.

— E-eu...

Ele se inclinou para murmurar no meu ouvido, mãos carinhosas


nunca deixando meu rosto.

— Shhhhh, não fale, boneca. Eu tenho você.

Jag endireitou-se, mas seu toque quente permaneceu.

— Alguém me traga um maldito cobertor ou lençol ou algo assim!

Tive estados alternados de consciência e inconsciência, porque eu


acordei para me encontrar livre da mesa, enrolada em uma camisa que
cheirava a Jag, como casa. Algo mais pesado foi jogado em cima de mim
e a próxima coisa que eu sabia, era que eu estava nos braços de Jag,
pressionada contra o peito. Eu me aconcheguei, me deleitando com a
rápida batida de seu coração contra a minha bochecha. Apesar de
querer saber o que estava acontecendo, eu estava drenada. As baixas
vibrações de quando Jag falava me guiaram para o sono.

Jag

Exaustão pesava sobre mim. Como Atlas, era como se o mundo


inteiro estivesse equilibrado em meus ombros. Eu lutei para continuar

~ 95 ~
quando a falta de sono e o estresse sugaram minha energia e eu estava
à beira do colapso. Miri era a única coisa que me manteve empurrando
através da fadiga. Fraca, desidratada, e terrivelmente abusada, minha
linda boneca foi quebrada, e eu não iria descansar até que eu a
consertasse.

Uma batida rápida na porta do quarto principal, e um homem


mais velho, com olhos castanhos sábios e confiança que irradiava de
sua figura atarracada, entrou sem esperar por meu consentimento. Meu
corpo ficou tenso, pronto para lutar. Então eu reconheci o médico eu
mantinha para situações de emergência que não podiam chamar a
atenção das autoridades. O médico verificou Miri noite passada, depois
que eu liguei para ele do carro enquanto corria de volta para minha
casa, com medo do caralho de que minha boneca não sobrevivesse.

O médico me deu um aceno duro antes de ir para a cabeceira de


Miri. Eu pulei da cadeira que eu tinha puxado para o lado da cama. Eu
precisava ficar perto da minha menina durante toda a noite, mas estava
com muito medo de machucá-la para deitar no colchão e segura-la
como eu queria.

— Doutor.

Eu reconheci o homem mais velho enquanto desempacotava itens


de sua bolsa mensageiro com a eficiência de alguém que fez isso muitas
vezes.

— Bom Dia, Boss. Como ela passou a noite?

Ele mexeu no gotejamento intravenoso de Miri, seus movimentos


experientes e suaves nunca falhavam enquanto ele me enchia de
perguntas sobre a condição de Miri.

— Eu não sei, Doutor. Bem, eu acho.

Como diabos você responde a uma pergunta como essa? Minha


menina foi sequestrada, roubada dos meus braços, a pele cortada mais
de cinquenta vezes juntamente com um arranhão profundo de uma
bala, e de acordo com o médico, estuprada por aqueles malditos
bastardos.

Miri estava fazendo melhor do que eu agora. Ela estava dormindo


profundamente por conta dos sedativos que o doutor administrou. E
eu? Eu estava funcionando com menos de três horas de sono por noite
desde que ela desapareceu e quase explodindo em um ataque violento
devido minha necessidade de vingança.

~ 96 ~
— Seus sinais vitais são fortes.

O médico passou as mãos pelas feridas nos braços de Miri,


inspecionando cada uma.

— Estão curando muito bem. Não há sinais de infecção. Os cortes


são pequenos; a maioria não deixará cicatriz.

— Bom.

Eu rebati.

— Eu não quero que ela tenha nada que lembre o que aquele filho
da puta doente fez com ela.

O médico olhou para mim com o canto do olho.

— Sua cabeça levou muitas pancadas. Não temos um aparelho de


ressonância magnética, mas estou confiante em dizer que ela tem uma
concussão muito séria. Se você tiver sorte, sua menina não se lembrará
de tudo o que aconteceu com ela.

Com isso, ele guardou seus instrumentos e atirou sua bolsa sobre
seu ombro.

O médico pôs a mão no meu braço e olhou nos meus olhos.

— Eu vou estar de volta amanhã, a menos que você precise de


mim mais cedo. Você tem os medicamentos e meu número.

— Sim. Eu estou bem. Vou chamar se eu precisar. Obrigado,


doutor.

Eu escoltei o homem para fora e fechei a porta do quarto. Dr.


Marcus Abrams trabalhava para a minha organização há anos. Seu
irmão mais novo foi um tenente, morto por um rival antes de eu me
tornar Boss. Quando assumi, eu vinguei a morte de seu irmão e então
mais alguns. O doutor era tão grato que ele me seria leal até seu último
dia de vida.

Eu cai contra a porta, minhas emoções brotando na minha


garganta. Engoli em seco, tentando desalojar o nó apertado sem
sucesso. Meu peito apertou e meus olhos ardiam. Chupei uma
respiração irregular e atravessei o quarto, caindo de joelhos ao lado de
Miri. Com a minha testa pressionada a parte de trás da sua mão, eu
sucumbi ao cansaço, à culpa de ter falhado com ela, e a alegria de tê-la
resgatado.

~ 97 ~
Então eu fiz algo que não me permitia desde que eu perdi Rose.

Eu me permiti sentir. Quero dizer realmente sentir - toda e


qualquer coisa que me angustiou por todos estes anos. Os restos de
meu coração escuro, frio e quebrado, o espaço uma vez vazio
preenchido até a borda com amor, lentamente batendo de volta à vida.
Conforme a dor crua bombeava através de minhas veias, pela primeira
vez em anos, eu quebrei e chorei. Segundos, minutos, horas mais
tarde... Eu ouvi um som suave.

— Jag?

Ergui a cabeça e encontrei os olhos verdes.

— Miri?

Meu coração recém-despertado pulou no meu peito.

— Hey.

Um pequeno sorriso puxou no canto de seus lábios secos


rachados e meu novo coração se partiu mais uma vez. Pisquei mais
lágrimas e pressionei um beijo em sua mão. Estendendo a mão, eu
passo um dedo no lado de seu rosto.

— Deus, Miri. Eu pensei que tinha te perdido.

Minha voz falhou. Eu lutei para manter a compostura, então eu


não perturbaria Miri.

— Estou aqui. Realmente aqui? Isto não é um sonho?

Um soluço escapou enquanto eu sorria.

— Sim, você está aqui.

Incapaz de resistir, eu me inclinei para escovar minha boca na


dela.

— Eu amo você, Miri. Eu deveria ter dito isso mais cedo. Perdoe-
me por deixá-los te tomarem de mim.

— Pare.

Disse ela, concentrando seu olhar determinado em mim.

— Não foi sua culpa. Eu fui à única que fugiu quando você disse
que não era seguro.

— Não-

~ 98 ~
Os olhos de Miri se arregalaram.

— Cat? Onde ela está? Será que ela saiu?

Minha menina redirecionou facilmente a conversa para a amiga,


efetivamente fechando a porta na minha viagem de culpa.

— Ela está bem, boneca. Ela está aqui com a gente, em um


quarto de hóspedes.

Os olhos de Miri brilharam e lágrimas transbordaram, correndo


em riachos por suas bochechas.

— Graças a Deus.

Peguei a mão de Miri e levei-a ao meu peito.

— Eu preciso saber...

Eu engoli a bílis que se agitou no meu estômago.

— O que aquele filho da puta fez com você?

Miri fechou os olhos e balançou a cabeça, em seguida, apertou as


têmporas e fez uma careta.

— Ow. Eu não tenho certeza se lembro de tudo.

Ela engoliu em seco e notei suas mãos tremendo.

— Mas o que eu lembro... e-eu simplesmente não consigo, Jag.

Sua respiração acelerou e o monitor de frequência cardíaca


começou a apitar mais rápido.

— Não me pergunte isso, não ainda.

A respiração de Miri tornou-se superficial e outro alarme disparou


no monitor.

— OK. Está tudo bem, boneca. Você não tem que falar sobre isso.

Eu enfiei meus dedos em seu cabelo e acariciei seu couro


cabeludo em uma tentativa frenética de acalmá-la. Meu olhar passou
por seus braços e parte superior do tórax, digitalizando cada corte
superficial que o bastardo El Cuchillo fez em sua pele bonita, e eu lutei
para conter minha fúria.

Quando invadimos a casa, Cuchillo havia desaparecido junto com


alguns de seus principais homens. Eu nunca aborreceria Miri com essa

~ 99 ~
informação. Ela já sofreu bastante. Eu precisava que ela se sentisse
segura e curada, mentalmente e fisicamente. Saber que El Cuchillo
ainda estava lá fora, e muito provavelmente planejando vingança para
Miri e eu, a estressaria ainda mais, e isso era algo que eu não iria
tolerar.

O telefone tocou no meu bolso. Eu não precisava verificar para


saber quem era.

— Boneca, eu tenho que ir por alguns minutos. Eu vou estar no


andar de baixo.

Levantei-me e a beijei uma última vez.

— Há um botão aqui.

Eu mostrei-lhe o dispositivo remoto.

— Acione e eu estarei ao seu lado.

Ela assentiu sonolenta.

No momento em que cheguei à porta do banheiro, os olhos de Miri


estavam fechados, seu peito subindo uniformemente.

O alerta foi enviado para o meu telefone quando faltava meia hora
para a chegada de meu hóspede, assim como eu instruí. Tomei banho e
vesti com um dos meus melhores ternos. Na frente do espelho, eu
metodicamente atei a gravata azul marinho de seda até que estivesse
perfeita. Em seguida, eu prendi um par de abotoaduras de platina no
lugar e posicionei minhas mãos na minha frente. Satisfeito, eu olhava
para o homem no espelho. Seu rosto estava sombreado por fadiga, suas
bochechas ocas pela perda de peso e stress. Mas o que não
desapareceu, o que permaneceu brilhante e forte, era o fogo queimando
por vingança brilhando por trás de seus olhos azuis escuros.

Transformando minha feição com raiva em uma expressão


neutra, retirei o olhar do espelho direcionando para Miri mais uma vez
antes de deixar o quarto. No final da escada, saí pela porta da frente ao
mesmo tempo em que um grande SUV escuro se aproximava. George e
Milo ficaram de lado à espera dos nossos convidados. O grande carro
parou e o motorista saltou para abrir a porta para seu chefe. Ele abriu e
Brick e Eric saíram, juntamente com outro homem que segurava uma
maleta. Cada um deles usava ternos tão caros quanto o meu. Eles
olharam ao redor com os olhares cautelosos de homens habituados a
estar em guarda. Brick me viu esperando no degrau da frente.

~ 100 ~
Brick sorriu quando ele cruzou o caminho de cascalho.

— Boss, bom vê-lo novamente.

— Você também. Obrigado por terem vindo.

Apertei a mão de ambos os homens e revirei os olhos


internamente.

Brick não dava a mínima para me ver. Ele só se preocupava com


o que ganharia hoje. Eu não poderia estar bravo com o cara, embora.
Ele cumpriu sua parte do acordo. Ele me ajudou a resgatar Miri, e por
isso eu sempre serei grato. O preço a ser pago nada significava para
mim, desde que minha boneca estivesse em meus braços, sob minha
proteção novamente.

Os homens me seguiram para dentro da casa, e eu os levei direto


para meu escritório. O cozinheiro tinha alimentos e bebidas elaborados
para meus convidados e meu advogado já estava esperando lá dentro.
Ele se levantou da cadeira e inclinou a cabeça para os homens.

— Fiquem à vontade.

Eu disse enquanto sentava atrás da minha mesa.

— Há refeições se você estiver com fome e eu também tenho um


bar cheio.

Brick sentou em uma das cadeiras de couro e se inclinou para


trás, apoiando um tornozelo sobre o joelho oposto.

— Eu adoraria um Bourbon.

Concordei com George, que eficientemente preparou um para o


chefe Houston, bem como para seu segundo em comando. Milo olhou
para as bebidas alcoólicas, mas absteve-se. Eu dei a ambos ordens
estritas de não beber álcool durante a reunião. Apenas George sabia o
que estava por vir. Milo não, e ele parecia confuso. Ele estava lívido.
Milo bêbado era mil vezes pior de lidar do que Milo sóbrio, então eu me
certifiquei para ele não cair em tentação. Uma vez que ele ouvisse os
detalhes do acordo que fiz com Brick, todo o inferno iria explodir.

— Então.

Disse Brick entre goles de sua bebida.

— Estamos prontos para fazer isso?

~ 101 ~
O homem esperou pela minha resposta, como se esperasse que eu
renegasse o negócio e atirá-lo fora.

Olhei para o meu advogado que fez um gesto para eu continuar.

— Eu estou.

Eu respondi.

Brick tentou esconder sua surpresa, mas eu peguei a ligeira


elevação de sua sobrancelha antes que ele pudesse puxá-la de volta.

— Bom. Bom.

O advogado de Brick destravou sua própria maleta e tirou uma


pilha de papéis.

Abri um arquivo grande na minha mesa e começou o tedioso


processo de transferência de toda a minha operação para meu
concorrente de Houston para que eu pudesse me aposentar do tráfico,
em seguida, iniciar minha missão de caçar e matar El Cuchillo da
maneira mais dolorosa e sádica possível.

Miri

— Eu não posso acreditar que você está aqui.

Cat sorriu e colocou seu longo cabelo atrás das orelhas. Nós
balançamos suavemente sobre o balanço do gazebo, o ventilador de teto
e uma brisa fresca do lago nos impedindo de transpirar no fim de tarde
de um verão quente.

— Eu também. Sinceramente, pensei que ia morrer ali, Miri.

A voz de Cat era trêmula e notei suas mãos tremendo. Estendi a


mão para a mais próxima e prendi nossos dedos juntos.

— Nós duas estamos vivas. Somos fortes, Cat. Nós vamos passar
por isso. Nós podemos ter vidas reais. Vidas normais.

Eu não tinha certeza se acreditava no que eu estava dizendo, mas


eu tinha que tranquilizar minha amiga danificada. Ela esteve naquela

~ 102 ~
casa horrível por quase um ano, mantida drogada e usada para o sexo
por quem sabe quantos homens. Jag a retiraria do vício da heroína do
mesmo jeito que ele fez comigo. Fazia duas semanas desde que fomos
resgatadas por Jag e um dos outros chefes, um homem chamado Brick,
que comandava o comércio de heroína em Houston. Por causa do longo
tempo mergulhado no vício, Cat ainda tomava altas doses de heroína,
recebendo injeções três vezes por dia. A bênção era que seu exame de
sangue deu negativo para todas as doenças, o que era surpreendente
considerando que os homens nem sempre usam preservativos, segundo
Cat.

— Eu não tenho certeza se serei normal, Miri.

Eu fiquei em silêncio, dando a minha melhor amiga a chance de


dizer o que precisava sair de seu peito. Cat levantou a cabeça e olhou
em volta, os jardins, a casa grande, e para o lago.

— Embora eu admita que esta, com certeza, é uma boa maneira


de voltar à vida.

Eu sorri e apertei a mão dela.

— Jag é um grande cara. Ele vai cuidar de você e se certificar que


você esteja segura.

— Obrigada, Miri. Por me ajudar a sair de lá. Eu estava pronta


para desistir. Você... você me deu esperança. Só lamento por você ter
sido capturada quando tentou escapar.

— Mas eu não.

Eu disse, sem ter que pensar em minha resposta.

Cat soltou minha mão e ficou boquiaberta.

— Como você pode dizer isso, Miri? Eles te torturaram.

Eu balancei a cabeça e olhei para os meus pés antes de levantar a


cabeça para olhar os reluzentes olhos castanhos de Cat.

— Eles fizeram. Mas...

Eu respirei fundo para que eu pudesse explicar como me sentia.

— Se eu tivesse escapado e caído inconsciente, Jag nunca saberia


que você ainda estava lá, Cat. Ele teria me levado embora. El Cuchillo...
ele fugiria te levando junto com eles, ou te mataria por ser muito
problema antes que pudessem salvá-la.

~ 103 ~
Estremeci com o pensamento.

— Pelo menos foi uma noite em que não havia quaisquer outras
meninas na casa.

Cat acenou para isso.

— Ainda assim, eu odeio o que eles fizeram com você, Miri.

Ela fungou e lágrimas corriam pelo seu rosto.

— Eu odeio o que fizeram com você também. Tudo o que podemos


fazer agora é seguir em frente.

Ela colocou a mão na minha e nós silenciosamente apreciamos o


belo dia. Apesar de tudo o que eu tinha passado, era ótimo estar viva.

Cat e eu passamos a maioria das tardes no balanço do gazebo.


Tornou-se um ritual diário. Paz, tranquilidade, e a capacidade de falar
livremente e encontrar apoio uma na outra sem os Homens de Preto de
Jag rondando. Ou mais especificamente, Milo. O grande terror loiro
tinha uma carranca permanente em seu rosto desde o dia em que
cheguei, e sua atitude era mil vezes pior depois que Cat e eu fomos
resgatadas. Eu poderia literalmente sentir a hostilidade e ódio saindo
dele, combinado com olhares estranhos de confusão, sempre que ele
estava por perto, o que parecia ser, muitas vezes, como se tivesse o
propósito singular de me assombrar.

Estava funcionando. Sempre que eu o vi, minha cabeça doía e


facas espetavam meus globos oculares. Memórias de meu tempo com
Cuchillo surgiam, mas sempre tão rápido que eu não podia pegar uma
única.

Ficar fora de casa e longe de ódio tóxico de Milo foi bom para
minha saúde mental, bem como para a de Cat. Além disso, o ar fresco
nos ajudou a relaxar depois da prisão naquele quarto horrível por dias a
fio. Nós conversamos muito, e não apenas sobre o nosso tempo em
cativeiro. Era muito deprimente focar em coisas ruins. Nós recordamos
as boas lembranças e bons momentos que tivemos antes de tudo
desmoronar, rindo e sorrindo pela primeira vez em semanas, ou no caso
de Cat, meses.

Uma noite, depois de Cat ir para a cama, eu permaneci na


biblioteca, à espera de Jag emergir de seu escritório. Ele passou uma
enorme quantidade de tempo lá ao longo das duas últimas semanas, do
nascer ao pôr do sol, desde que voltei. Tirando as vinte e quatro horas
em que ele permaneceu ao meu lado e observando cada movimento

~ 104 ~
meu, enquanto o médico curava minhas feridas. Depois disso, Jag
vinha para a cama muito tempo após eu estar dormindo e levantava
todas as manhãs antes de eu acordar.

Sempre que eu perguntei se estava tudo bem, Jag simplesmente


respondeu:

— Eu tenho tudo sob controle, boneca —, e continuou a


trabalhar. Eu confiei em Jag para fazer o que ele pensava que era
melhor, então eu não atrapalhei. Eu o perdi. Não era como antes. Eu o
queria de volta, em meus braços, na minha cama, no meu coração. Eu
estava pronta para seguir em frente. Mas o tempo de Jag era difícil de
suportar. Ele estava ocupado durante todo o dia todos os dias.

Brick, o chefe Houston, apareceu várias vezes, o que era


estranho. Jag disse que a ajuda de Brick foi essencial para me rastrear
e invadir o complexo de Los Guerreros, então eu percebi que talvez eles
fossem amigos. No entanto, Jag dizia que Chefes não têm amigos, e
muito menos se tornam amigos uns dos outros. Brick e Jag tinham
algo, embora. Às vezes, eles passavam horas no escritório de Jag.
Outras vezes, eles saíam em um carro e voltavam tarde da noite.

— Ei, boneca.

Meus olhos abriram para encontrar Jag agachado ao meu lado,


correndo os dedos pelo lado do meu rosto.

— Hey.

Eu estiquei e sorri, feliz por vê-lo.

— Por que você está dormindo aqui?

Eu mudei para uma posição sentada no sofá e olhei ao redor da


biblioteca.

— Eu acho que não conseguiria dormir. Eu estava esperando por


você.

Jag sorriu, mas não alcançou seus olhos. Algo realmente


importante estava acontecendo, algo que mantinha todos na casa no
limite. Jag estava além de estressado e parecia exausto. Sua barba
cresceu, e havia mais cinza espalhado por todo seu cabelo escuro do
que eu lembrava. Por isso que eu não tinha mencionado o
comportamento de Milo para Jag. Ele estava tão desgastado. Eu não
queria adicionar meus problemas mesquinhos com Milo a montanha de
estresse que ele já estava lidando.

~ 105 ~
— Bem, eu estou aqui agora, boneca.

Jag falou lentamente. Sua voz sensual causou arrepios em meus


braços. Eu não tinha ouvido esse doce sotaque Texano que ele deixava
escapar sempre que estava relaxado ou excitado em um longo tempo.

Jag se levantou e ofereceu uma mão. Eu aceitei e ele me puxou


para meus pés. O cobertor que eu tinha jogado sobre as minhas pernas
ficou enroscado em meus pés e eu tropecei de encontro ao peito largo de
Jag. Seus braços instintivamente em volta de mim, me segurando perto.
Aproveitei o momento e enterrei meu nariz em sua camisa, inalando seu
cheiro familiar.

— Miri.

Eu estava perdida em uma névoa de luxúria. Rodeada por


músculos rígidos, enquanto pressionava contra a frente do terno de
Jag, ainda perfeito mesmo depois da meia-noite. A seda da gravata era
incrível na minha pele.

— Miri.

Jag falou mais alto, recuando e removendo suavemente minhas


mãos de seu corpo. Pisquei para ele, surpresa com a intensidade da dor
que senti quando ele colocou distância entre nós. Só que eu não acho
que ele desejava essa distância mais do que eu. Os olhos azuis de Jag
eram escuros, suas pupilas enormes. Eu assisti os músculos de sua
mandíbula tencionar, esforçando-se como se estivesse segurando a
vontade de me jogar sobre o ombro e me arrastar para o quarto no seu
estilo de homem das cavernas.

Espera... Porque ele não estava fazendo exatamente isso?

Meu estômago se apertou e eu tive que abafar um soluço.

— Você... você não me deseja mais?

Minha respiração encurtou e minha visão ficou turva. E se Jag


não quisesse me tocar? Se ele me considerasse suja porque Raoul pôs
as mãos em mim, me estuprou. Eu inalei uma respiração instável.

— É... é por que...? Eu estou...? Você acha que estou arruinada?

A boca de Jag caiu. Mãos pesadas pousaram em meus ombros e


meu alto amante se curvou para olhar no meu olho.

— Boneca, o que fizeram com você foi indescritível.

~ 106 ~
Seus dentes cerraram e mais uma vez, eu podia vê-lo se controlar.
Só que desta vez não era luxúria. Fúria. Jag fechou os olhos e respirou
fundo algumas vezes antes de procurar os meus olhos. Digitalizando
meu rosto, sua expressão se suavizou.

— Mas nada, e quero dizer nada, jamais poderia me impedir de


querer você.

Mordi o lábio, confusa sobre o porquê Jag me afastar se ele ainda


me queria.

— Eu preciso de você.

Eu disse com voz chorosa. E tudo que eu poderia fazer era piscar
as lágrimas que ardiam tão quente quanto o corar que eu sentia no meu
rosto. Eu não queria parecer patética e necessitada, mas era
exatamente como eu me sentia.

— E-eu te amo, Jag.

— Miri...

Jag puxou as mãos para trás e arrastou ambas por suas


bochechas ásperas.

— Eu também te amo, é por isso que eu não posso... eu não


quero tirar vantagem de você.

Seu rosto era uma mistura de dor e raiva.

— O que eles fizeram... eu não tinha certeza se você queria...

A frase de Jag desapareceu e eu finalmente percebi o que ele


estava dizendo. Ele não tinha certeza se era muito cedo para me tocar
de forma sexual. Que eu estivesse muito traumatizada para fazer amor.

— Eu estou bem, Jag.

Eu invadi seu espaço e passei meus braços ao redor de sua


cintura, descansando minha cabeça em seu peito mais uma vez.

— Eu preciso de você para tirá-lo. Eu não quero que a última


pessoa que me tocou seja...

Funguei e sufoquei um lamento, meus dedos cavando na parte


inferior de suas costas enquanto eu respirava seu cheiro reconfortante.

— Leve a dor embora, por favor?

~ 107 ~
Mesmo que eu não visse seu rosto, quando os braços de Jag me
cercaram e seguraram apertado, eu soube que ele entendia. Depois de
um momento, suas mãos deslizaram dos meus lados para meu rosto.
Jag inclinou minha cabeça para trás e baixou sua boca para pressionar
um beijo suave nos meus lábios.

— Você não está machucada?

Ele perguntou, seu olhar afiado correndo para cima e para baixo
meus braços.

A maioria dos cortes tinha sido superficial e estavam quase


completamente curados. Dois ou três dos mais profundos ainda ardiam,
mas nada impossível de lidar.

Eu balancei a cabeça, tanto quanto eu poderia com suas mãos


ainda emoldurando meu rosto.

— Eu estou bem.

Não realmente, mas eu acreditava que eu poderia ser se Jag


substituísse os horrores que meu corpo sofreu por novas memórias e
sensações. Prazer em vez de dor. Lambi meus lábios.

— Eu só preciso de você.

Pode ser cedo demais considerando o que eu passei, mas por


alguma razão, eu precisava disso. Eu precisava dele para lavar o toque
sujo de Raoul.

Jag respirou contra a minha boca, um leve rosnado em sua


garganta. Fechei os olhos e esperei. Quando ele tomou sua decisão, eu
não estava preparada. Jag atacou minha boca, faminto, devorando,
reivindicando. Me afirmando. Sua língua empurrou pelos meus lábios
em um show completo de domínio e posse. Eu derreti em seus braços,
apertando seus bíceps protuberantes para impedir minhas pernas de
falhar. Jag engoliu cada um dos meus suspiros, cada gemido. Era como
se ele tomasse posse de minha alma enquanto eu estive em seu abraço
firme.

Sem quebrar o beijo, Jag passou os braços sob minhas pernas e


eu estava sendo levada até a elegante escadaria de mármore, como uma
princesa resgatada por seu cavaleiro. No final do corredor, Jag
empurrou a porta do quarto, entrou e fechou a porta. Ele caminhou
para sua enorme cama e gentilmente me deitou sobre os lençóis de
algodão fino. Eu choraminguei quando ele se afastou, minha pele fria
com a perda de seu calor.

~ 108 ~
Eu não precisava me preocupar. Jag não foi longe. Ele ficou ao
lado da cama, alto e intimidante, seus olhos famintos nunca deixando
os meus.

— Dispa-se.

Seu tom de comando era um oitavo mais profundo do que o


normal, áspero e cheio de desejo.

Levei um segundo para processar, mas quando o fiz, eu corri e


retirei minha roupa em tempo recorde, jogando-as no chão. Jag
observou cada um dos meus movimentos, hipnotizado. Um arrepio me
percorreu quando notei que suas pupilas tinham quase eclipsado o azul
brilhante. Lentamente, muito lentamente, Jag desfez o nó da gravata e
deslizou para fora do colarinho, o barulho da seda cara contra o tecido
de algodão enviou eletricidade pela minha espinha, fazendo minhas
pernas tremer.

Ele continuou olhando diretamente para mim enquanto


meticulosamente enrolava a gravata e a depositou em um banco
acolchoado no pé da cama. Em seguida, Jag tirou o casaco e pendurou-
o cuidadosamente sobre o encosto de uma cadeira. Com facilidade
praticada, ele retirou as abotoaduras, uma de cada vez, sem nunca
quebrar o contato visual. Em seguida Jag desabotoou a camisa,
deslizando para baixo de seus braços poderosos, e pôs no banco. Meus
dedos estavam segurando os lençóis, torcendo-os em minhas mãos. Eu
estava desesperada para ter seu corpo em cima do meu. Tocar. Sentir.
Amar.

Meu olhar caiu para a grande protuberância pressionando suas


calças de alfaiataria e eu respirei fundo. Jag riu quando eu lambi meus
lábios, famintos por um gosto de seu pênis.

— Você vai ter em breve.

Disse ele, de alguma forma, sabendo exatamente o que eu estava


pensando. Jag deslizou a mão sobre sua virilha, e apertou o pacote
através de suas calças. Era tão erótico, que soltei um gemido torturado.

— Depressa.

Meu peito arfava enquanto eu me contorcia nos lençóis. Eu estava


tão molhada e carente que gritaria com ele por se preocupar com suas
roupas sendo perfeitamente dobradas, se ele não me tocasse em breve.

— Pare.

~ 109 ~
Eu congelei com a ordem afiada da Jag.

— Isso é meu.

Pisquei, confusa com seu grunhido áspero. Jag inclinou a cabeça


em direção à junção das minhas coxas e uma onda de calor floresceu,
espalhando-se da cabeça aos pés. Envergonhada, eu puxei minha mão
de entre minhas pernas. Eu estava tão excitada que não tinha
percebido que eu me tocava até Jag me falar para parar.

Com as mãos na cama, eu assisti Jag retirar a calça,


meticulosamente dobrá-la e colocar no banco com suas outras roupas.
Então ele estava nu, seu corpo glorioso em plena exibição, seu pau
magnífico se destacando de uma mancha escura de pelo cortado que
começava em seu abdômen, eu era uma confusão me contorcendo e
implorando. Finalmente, ele subiu na cama. Jag usou suas coxas
musculosas para empurrar minhas pernas até que ele estava ajoelhado
entre eles.

Quando ele envolveu uma mão grande em torno de sua ereção e


começou a se acariciar languidamente, minhas costas arquearam e
meus quadris empurraram para fora da cama.

— Por favor.

Eu gemi, arqueando as costas em uma tentativa fútil de esfregar


contra aquele pau perfeito e grosso. Eu o queria para me encher, me
esticar, e me foder até destruir as memórias terríveis – a dor e a sujeira
deixadas para trás depois do acontecido. Eu o queria. Para garantir que
a conexão ainda era tão forte quanto antes do pesadelo.

Jag soltou seu pau rosado e se inclinou para me dar um beijo


profundo e abrasador. Com as mãos apoiadas em ambos os lados da
minha cabeça, Jag manteve seu peso acima de mim, nossas bocas eram
a única parte se tocando. Meu corpo literalmente doeu para ele
pressionar seu corpo contra o meu, me esmagar contra o colchão, me
cobrir com os seus músculos quentes e pesados. Estendi a mão para
sua cintura para fazer exatamente isso, mas Jag foi mais rápido. Ele
segurou minhas mãos e colocou-as ao lado da minha cabeça, tudo isso
sem sua boca parar de me reivindicar.

Um grunhido frustrado retumbou no meu peito e meu corpo


tremia conforme eu perdia todo o controle sobre o meu desejo. Jag
deixou escapar uma risada contra a minha boca e eu mordi seu lábio
em resposta, na esperança de atiçá-lo. Eu o senti sorrir contra os meus
lábios e quis gritar. A provocação me enlouquecida. Quando Jag baixou

~ 110 ~
os quadris até seu comprimento macio e quente deslizar por minha
abertura molhada, eu poderia ter chorado de alívio. Ele soltou minhas
mãos e caiu até os cotovelos. Olhando nos meus olhos, Jag lentamente
arrastou seu pênis para trás e para frente entre as minhas pernas, a
cabeça esfregando contra o meu clitóris e roubando meu fôlego a cada
passagem. Ele abaixou a cabeça e chupou um dos meus mamilos em
sua boca. A estimulação dupla fez meus olhos rolarem para trás e deixei
escapar um grito estrangulado. Jag não foi influenciado por minha
mendicância. Ele continuou lentamente rodando sua língua de veludo
ao redor do botão sensível e deu-lhe um beliscão leve antes de liberá-lo.
Meus quadris se ergueram, aumentando o atrito de seu pênis.

Jag gemeu entre dentes.

— Porra, boneca. Nem estou dentro de você e você me tem na


borda.

— Mais.

Eu implorei. Foi tão bom, mas eu ainda estava dolorosamente


vazia.

— Jesus.

Ele murmurou. Os quadris de Jag pararam e eu queria chorar.


Antes que eu pudesse protestar, ele reivindicou minha boca em um
beijo selvagem, me liberando e deixando-me desejosa. Então eu senti
cócegas com o cabelo de Jag roçando minha pele. Meu amante, meu
protetor, meu salvador, beijou carinhosamente cada corte infligido, cada
cicatriz deixada para trás no meu corpo até que as lágrimas encheram
meus olhos e eu estava ofegante, a enormidade do momento me
oprimindo.

— Estes não significam nada, Miri. Deixe-me tirar a dor, suportá-


la para você.

Ele beijou outra.

— Eu amo cada pedaço de você, até mesmo as cicatrizes que você


tem mostram ao mundo o quão forte você é.

Minha visão nublou enquanto eu lutava para respirar. Era


demais. Minha bochecha estava úmida, mas eu não poderia enxugar as
lágrimas. Quando fiquei desesperada para respirar, Jag pressionou um
último beijo, meus lábios, depois se ergueu e empurrou para frente
brutalmente, me empalando com seu pênis enorme, trazendo-me de
volta da beira do precipício emocional em que eu estava oscilando.

~ 111 ~
Meu corpo estremeceu de alívio quando eu senti a queimação de
ser esticada por ele. Jag jogou a cabeça para trás e se ergueu, puxando
sua boca longe me permitindo tomar uma respiração profunda. Ergui a
cabeça e lambi o caminho até sua garganta bronzeada, amando a
sensação de lixa sob a minha língua. Eu estava ofegante, mas Jag não
se moveu desde que entrou mim.

— Miri... Deus, bom pra caralho.

— Jag.

Eu choraminguei. Seu pênis pulsava dentro das paredes


apertadas de minha buceta.

Jag ainda não se mexeu e eu estava ficando desesperada. Não


contente em esperar, eu cavei meus saltos nos músculos firmes de sua
bunda e passei as unhas em suas costas. Jag urrou e sua cabeça caiu
para que ele pudesse me segurar com seu olhar intenso. O olhar feroz
em seus olhos quase me fez gozar imediatamente. Jag rosnou e mordeu
meu pescoço sobre o ponto de pulso abaixo da minha orelha.

— Oh meu Deus.

Eu arqueei quando seus dentes afundaram em minha carne. Ao


mesmo tempo em que ele chupou a pele para sua boca, Jag puxou seus
quadris para trás e bateu de volta. O poder de seu impulso retirou o ar
dos meus pulmões enquanto eu gritava seu nome.

— Jag!

Ele liberou a pele macia e passou a língua sobre o que


provavelmente seria uma marca roxa escuro. Marca de Jag.

— Você quer que eu te foda?

Ele sussurrou contra minha garganta. Jag mordiscava minha


orelha. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço eriçaram quando
sua respiração quente acariciou minha orelha sensível.

Eu balancei a cabeça e torci meu corpo debaixo dele para


conseguir mais, mas Jag era irremovível. Ele enfiou a língua na minha
orelha e eu gritei.

— Eu quero ouvir você dizer isso, boneca.

Caramba. Eu nunca estive tão excitada na minha vida. Sem


fôlego, eu falei as palavras.

~ 112 ~
— Foda-me, Jag.

Com um sorriso feroz, ele me deu um beijo molhado e apoiou de


volta em suas mãos, pairando sobre mim como um deus de cabelos
escuros. Sem aviso, Jag revirou os quadris, deslizando seu magnífico
pau dentro e fora do meu calor úmido. Com cada ondulação sinuosa de
seu corpo que faria qualquer stripper sentir ciúmes, a cabeça bulbosa
de seu pênis não só esfregou o local perfeito por dentro, mas sua pélvis
pressionava meu clitóris. Dentro de minutos eu estava ascendendo.

— Jag... Eu estou perto... oh Deus... oh Deus.

— Vamos, boneca, dê para mim.

Ele resmungou. O suor escorria das têmporas, seu glorioso peito


brilhando no quarto escuro, a única luz proveniente da lua cheia
pairando no céu e brilhando através das janelas.

— Deixe-me ouvir você gritar. Dê-me sua dor, Miri, e eu vou lhe
dar prazer.

Jag continuou seu ritmo constante e eu explodi, tremores


rasgando através de mim enquanto eu apertava e pulsava redor de seu
pênis.

— Jag... Ohhhhh, porra, porra...

Eu não conseguia parar de gemer e xingar quando Jag me levou


para o céu. Luzes brancas estouraram atrás de minhas pálpebras e
todo o meu corpo ficou tenso quando eu gozei. Jag continuou me
fodendo através do incrível orgasmo, fazendo com que os tremores
secundários continuassem até que eu pensar que desmaiaria de prazer.

— É isso aí, boneca.

Ele incentivou.

— Bonita para caralho.

Jag tomou minha boca novamente, molhado e feroz, dentes e


línguas em choque enquanto eu continuava gemendo.

Quando meu clímax terminou, eu esperava que Jag acelerasse


seus impulsos e perseguisse sua própria libertação. Em vez disso, mãos
fortes apertaram meus quadris e, de repente, eu estava fora da cama,
no ar. Terminamos com Jag sentado contra a cabeceira da cama e eu
montando seu colo, ainda empalada em seu espesso comprimento.

~ 113 ~
Jag beijou meu pescoço, lambendo toda sua marca e suavemente
chupando novamente. Meu núcleo pulsava com o prazer de sua boca
quente na minha pele, memórias de como seus lábios suavemente
escovaram meu corpo quebrado. Como ele juntou as peças e me fez
completa novamente.

— Agora, eu quero que você me monte, boneca.

Os olhos de Jag escureceram e seus dedos se apertaram ao redor


da minha cintura.

— Foda meu pau, Miri. Me dê tudo o que você tem.

Eu tremi com o jeito como ele falou, dominador, rouco e


necessitado, com o ligeiro sotaque do Texas que me deixava louca e que
enviava lava derretida por minhas veias. Olhos contraídos de Jag eram
selvagens, sua expressão animalesca. Um lado de sua boca em um
sorriso dominador.

Ele precisa disso e eu vou lhe daria qualquer coisa. Qualquer


coisa.

Eu balancei a cabeça e lentamente comecei a levantar e abaixar,


usando meus músculos da coxa para deslizar para cima e para baixo de
seu comprimento de aço. Eu tentei o meu melhor, saltando mais e mais
rápido, mas por pouco tempo. Um efeito colateral da má nutrição, falta
de exercício, e abuso contínuo nas mãos de meus captores.

Jag não pareceu se importar. Ele rosnou e enfiou os dedos na


minha bunda. Usando sua força impressionante, Jag facilmente me
levantou e me bateu em seu pênis, bíceps protuberantes flexionando
enquanto ele me descia com força só para me puxar para cima
novamente. Mais e mais, levantando e me deixando cair em seu pênis
rígido, estabelecendo um ritmo punitivo. Jag apoiou os pés no colchão
empurrando seus próprios quadris para cima a cada vez que ele me
puxou para baixo, fazendo com que nossa pele batesse em conjunto
com um obsceno estalo.

Meus olhos rolaram para trás e minha cabeça pendurou


frouxamente quando outro orgasmo inesperadamente invadiu meu
corpo. Eu endureci quando aconteceu, joguei a cabeça para trás e gritei,
tão estimulada eu não poderia impedir mesmo se quisesse. Dedos
desesperados arranhavam seus músculos peitorais escorregadios de
suor, minhas unhas arranhando com força suficiente para deixar
marcas. Longe demais para reconhecer meus gritos roucos, Jag me
levantou e me forçou para baixo uma última vez quando ele empurrou

~ 114 ~
seu pênis dentro de mim, eu estava surpresa por não senti-lo na minha
garganta. Os tendões de seu pescoço tencionaram e ele amaldiçoou
quando o prazer ultrapassou seu corpo.

— Maldição, boneca. Sim! Puta merda, sim!

Jag rugiu quando gozou, seu longo e grosso pau inchou antes de
explodir, atirando jato após jato de sêmen quente dentro de mim. Mais
alguns empurrões menores e corpo de Jag ficou mole debaixo de mim.
Caí para frente, descansando minha cabeça em seu peito, e nós dois
prontamente adormecemos.

Jag

Acordei com Miri em cima de mim, meu pau mole ainda dentro de
seu corpo quente. Uma espiada na janela e vi que ainda estava escuro,
o que significava que não dormimos por muito tempo. Com cuidado
para não acordar a minha linda boneca, eu rolei Miri para o lado e sai,
sentindo frio e imediatamente sentindo falta do calor incrível e apertado
de sua boceta.

Esticando as pernas duras, levantei-me e caminhei até o


banheiro. Depois de um longo mijo e uma rápida lavagem de mãos e
rosto, eu descansei minhas mãos na pia. Minha cabeça doía a cada
pensamento sobre o que eu ia dizer a Miri. Ela não sabia que El
Cuchillo escapou na noite que eu a encontrei. Eu proibi qualquer um de
deixá-la saber que ele ainda estava lá fora, com medo de seu estado
após descobrir que o homem que a torturou estava livre, de que ela
regredisse ao estado em que a encontrei – em pânico, nervosa, a ponto
de vomitar todos os dias, com medo da própria sombra.

Minha boneca estava indo tão bem em sua recuperação, ela fez
um pouco de manutenção em uma das motos no outro dia. Não muito,
mas um bom sinal. Eu estava preocupado que o conhecimento da fuga
de Cuchillo iria mandá-la de volta em espiral para depressão.

— Cristo.

Eu murmurei, esfregando minha testa.

~ 115 ~
Era demais para pensar e porra, eu estava malditamente cansado
e irritado para lidar com o assunto de El Cuchillo. Teria de esperar até a
manhã. Agora, eu estava no meio do processo horrivelmente complicado
de transferir toda a minha propriedade para Brick como pagamento
pelo resgate de Miri. Esse era o acordo. Brick assumiria minhas
operações em Austin e eu estava efetivamente aposentado. Apenas
Shade e Milo conheciam os detalhes. Shade estava morto. O resto dos
meus homens não sabiam, mas Brick os manteria como seus
empregados. Isso era algo que eu insisti durante a negociação.

Brick recebe o território e eu tenho a minha casa e meu dinheiro.


Tudo o mais seria do traficante de Houston. Era apenas uma questão
de fazer tudo legal, o que, considerando todas as várias empresas de
fachada que ambos usamos, era uma dor enorme na bunda. Horas e
horas de legalidade entediante e chata quando o que eu realmente
queria fazer era caçar El Cuchillo e matá-lo lenta e dolorosamente pelo
o que ele fez com Miri. Eu teria grande prazer em rasgá-lo parte por
parte por tomar o que era meu. A raiva que eu tinha suprimido, veio a
superfície, e minha visão ficou vermelho. Eu triturei meus dentes
tentando me controlar. Meus dedos doíam e eu percebi que estava
segurando a borda da pia com força suficiente para deixar os nós dos
dedos brancos.

— Porra.

Eu empurrei para trás, balançando minhas mãos, e voltei para o


quarto. Agitação e raiva agarraram minhas entranhas. Não havia
absolutamente nenhuma chance de dormir neste momento, mas eu não
queria deixar Miri. Em vez de ir à minha academia para bater na merda
do saco de pancadas, eu deslizei sob as cobertas e puxei minha boneca
perto, colocando seu pequeno corpo no meu lado com sua bochecha
descansando no meu peito.

Beijei o topo de sua cabeça e enterrei meu nariz em seu cabelo


espesso. Graças a Deus eu a consegui de volta. A profundidade do meu
amor por Miri e minha necessidade de protegê-la tanto me assustava
quanto me emocionava ao mesmo tempo. Eu não queria puxá-la para o
meu mundo, mas já era tarde demais para isso. Porra, o que aconteceu
com Los Guerreros era um exemplo perfeito de por que eu não deveria
ter me envolvido com Miri, em primeiro lugar. Meu egoísmo a colocou
sob a mira de Cuchillo.

Enquanto minha boneca quebrada dormia ao meu lado, pensei


em todas as diferentes formas que eu poderia fazer El Cuchillo pagar

~ 116 ~
pelo que fez. Pensamentos horríveis passaram em meu cérebro, um
após o outro, cada um pior do que o anterior.

Horas mais tarde, quando Miri acordou, adorável e sonolenta, eu


não poderia esconder o largo sorriso que se espalhou pelo meu rosto.
Eu tinha descoberto o meu plano e sim, El Cuchillo iria se arrepender
do dia em que ele fodeu comigo.

— Ele não pode simplesmente ter desaparecido!

Andei pelo comprimento do meu escritório, Milo assistindo


calmamente do canto mais distante.

Nada fazia sentido. El Cuchillo desapareceu de seu complexo


durante a invasão e ninguém encontrava a menor sugestão de seu
paradeiro.

— Checamos todos os aeroportos e Sammy ainda invadiu as


câmeras próximas a fronteira, Boss.

Eu olhei para Milo, desafiando-o a continuar a falar. Ele ficou


vermelho, mas sabiamente segurou a língua. Graças à porra pelos
pequenos milagres.

— Ele fugiu sem nada. De jeito nenhum ele estava preparado para
nossa invasão a sua casa.

Eu fechei e abri as mãos, ansioso por violência.

— Quero Sammy e George aqui na próxima hora.

Meu olhar recaiu em Milo.

— Entendeu?

A boca de Milo estava pressionada em uma linha apertada. A pele


ao redor de seus lábios branqueados.

— Sim Boss.

Ele virou e saiu do escritório. Quando a porta fechou, tirei meu


telefone da minha jaqueta e disquei.

— Ei. Eu preciso que você faça algo para mim e tem que ser
mantido entre nós.

~ 117 ~
Expliquei o que eu precisava e meu funcionário disse que o
obteria. Depois de desligar, eu devolvi o dispositivo ao bolso e olhei para
fora da janela traseira. Cada músculo do meu corpo tensionado
conforme minha mente avaliava os diferentes cenários repetidamente.
Toda vez que cheguei à mesma conclusão.

Alguém na minha organização estava trabalhando para El


Cuchillo. E quando eu descobrir quem era - ou mais precisamente,
quando eu tivesse provas - eu vou destruí-lo com minhas próprias
mãos.

Se um dos meus homens foi conivente com Los Guerreros em


sequestrar e torturar Miri... Caralho. Meu peito arfava e minha pele
estava quente e escorregadia sob o meu terno. Eu ouvi um rosnado
baixo e fiquei surpreso ao perceber que vinha de mim.

Uma vez que eu tivesse minha vingança, eu deixaria este show de


merda e sem olhar para trás. Eu precisava manter Miri segura, mas eu
não podia permitir que os homens que a machucaram vivessem. Logo
eu a levaria embora e daria a vida que ela merece. Por enquanto, tudo o
que eu podia fazer era ter certeza que ela estava saudável e feliz.

Ninguém jamais iria tocá-la novamente. Eu morreria antes que


isso acontecesse.

~ 118 ~
Miri

— Eu preciso descobrir o que eu vou fazer com a minha vida,


Miri.

Cat desenhou dezenas de círculos aleatórios no chão com os


dedos dos pés. Ela soltou um suspiro pesado e protegeu os olhos com a
mão para que ela pudesse apreciar a vista deslumbrante do Lago Travis.
O sol estava brilhante e alto no céu. Os raios brilhavam nas pontas das
pequenas ondas que ondulavam a água clara.

Na mesma pequena faixa de praia que visitei meses atrás com


Jag, eu estava no meu estômago, meu queixo apoiado em meus
cotovelos para que eu pudesse ver a minha amiga. Cat estava
incrivelmente triste ao ponto de depressão, e eu completamente
entendia. Minha pobre amiga havia sido mantida em uma mansão
horrível por quase um ano, usada e abusada pelos homens de El
Cuchillo todos os dias, às vezes várias vezes por dia. Felizmente, Jag já
tinha Cat desvinculada até metade de sua dose diária usual de H. No
curto espaço de tempo desde a nossa fuga, a pele de Cat tinha
recuperado a sua cor e ela colocou algum peso muito necessário em seu
esqueleto.

Falando de peso, eu tinha ganhado um pouco, não que eu me


importasse. Mesmo com o ganho de peso, eu ainda era um pouco magra
demais. Mas eu tinha que admitir, Jag estava desfrutando o retorno das
minhas curvas. A partir da quantidade de atenção que ele derramou
sobre eles, ficou claro Jag amou meus quadris e seios mais cheios.
Além disso, ele me disse muitas vezes quão sexy eu parecia.

— Eu tenho que descobrir a minha vida também, Cat. Quero


dizer, sim, eu posso trabalhar em motocicletas, mas eu praticamente
queimei minha chance na única loja de motos por perto, e depois de ter
sido sequestrada, provavelmente vai ser um longo tempo antes de Jag
deixar-me trabalhar fora de casa. Ou mais especificamente, onde ele
não pode ver-me vinte e quatro horas por dia.

— Você tem sorte de ter as motos, Miri. Eu não tenho todas as


habilidades úteis.

~ 119 ~
Cat esperou até um par de jet skis trovejantes rugindo passassem
antes de continuar.

— Eu era uma garçonete, Miri. Em um restaurante de baixa


qualidade, nem mesmo um restaurante agradável. Eu não posso me
sustentar nas pontas patéticas que eu usei para começar.

— Talvez você devesse ir para a escola.

Sugeri. Cat torceu o pescoço para olhar para mim e fez uma
careta.

— Eu não terminei o ensino médio.

— E? Nem eu. Obtenha seu GED, encontre algo que você ama, e
faça.

Minha melhor amiga bufou.

— Fácil para você dizer, você tem um cara rico apoiá-lo.

O sorriso desapareceu do meu rosto. Suas palavras picaram.


Tanto que senti como se Cat tivesse me dado um tapa.

— Eu não quero ser uma mulher mantida. Eu não sou uma


cavadora de ouro, Cat. Eu vou encontrar um trabalho, logo que Jag
disser que é seguro.

Meu tom deve ter deixado Cat saber o quanto o seu comentário
me magoou, porque ela parecia mortificada.

— Sinto muito, Miri. Eu não quis dizer que você era preguiçosa ou
nada. É tão difícil, você sabe? Não ter ninguém.

Cat virou-se para o lago para continuar olhando para o chão. Em


um movimento ela usou a sola de seu pé para apagar os círculos que
ela havia desenhado e começou do zero.

Estendi a mão e coloquei uma mão em seu braço.

— Você tem a mim, Cat. Você sempre terá a mim.

Os olhos de Cat brilhavam de lágrimas e ela me deu um sorriso


agradecido.

— Obrigada.

Grata, eu devolvi o sorriso. Olhei por cima do ombro e vi os dois


homens de preto de Jag enviados com a gente para a proteção. Eu tive
de implorar ao meu homem teimoso para conseguir que ele nos
deixasse vir para a praia, e Jag só cedeu quando concordei em trazer

~ 120 ~
alguns de seus homens. Eu entendi sua preocupação. Depois de ser
arrancada diretamente de seus braços, literalmente, Jag não queria que
eu saísse de casa. Mas depois de ter sido preso em uma mansão
semelhantemente luxuosa, Cat precisava sair. Os homens estavam de
pé e atentos as proximidades, ambos usando óculos tão escuros que eu
não tinha ideia de onde eles estavam olhando.

Com um encolher de ombros, eu deitei sobre o cobertor para


fechar meus olhos. O sol me fez sentir tão bem na minha pele, mesmo
que eu estivesse usando um protetor fator 1000 ou algo parecido.
Cabelo vermelho e bronzeamento não andam juntos. O som de jet skis
deslizando através do lago ficou mais alto, mais uma vez, começando
como um zumbido maçante e subindo rapidamente para um rugido
estrondoso. Quando o barulho não diminuiu, mas aumentou até o
ponto onde eu me perguntei se eles estavam indo para dirigir até a
pequena praia e correr-nos mais, sentei-me para olhar.

— Abaixe-se!

Eu ouvi o grito masculino antes de um corpo pesado cair em cima


de mim, batendo o ar dos meus pulmões. Cat gritou e o barulho
ensurdecedor dos tiros soaram, ecoando através da água. Eu fui
empurrada para os meus pés e me senti como se meu braço tivesse sido
arrancado do meu corpo. Fogo atravessou meu ombro, a dor tão intensa
que roubou a minha voz. Um dos guarda-costas me empurrou atrás
dele, me segurando com uma mão enquanto disparava uma pistola com
a outra.

Cat gritou novamente. Meu coração disparou e os meus pés


descalços me fizeram tropeçar sobre o solo rochoso. Mais tiros vieram,
os dois homens retornando fogo ao manobrar Cat e eu até o carro. Olhei
para cima e vi os jet skis de antes, balançando ainda na água. Um
estava vazio, um corpo flutuando ao lado dele. O outro tinha seu piloto,
o homem apontando uma arma direto para nós.

Houve um pop e meu guarda-costas resmungou depois rugiu,


disparando vários tiros em uma fileira. Eu assisti com horror como o
peito do jato esquiador explodiu e ele deu uma guinada para o lado,
mergulhando no lago. A porta do meu carro bateu e Cat foi empurrada
ao meu lado, do outro lado. O motor rugiu quando o motorista pisou no
acelerador. Ele acelerou tão forte que as rodas giraram enquanto o SUV
derrapou na estrada de terra, saltando tão violentamente que meus
dentes bateram.

O SUV voou para a estrada principal, os pneus cantando quando


o motorista executava uma volta de noventa graus em velocidade tão

~ 121 ~
alta, que deveríamos ter capotado e acabado em uma vala. Quem estava
ao volante era realmente bom, porque ele reduziu a marcha e facilmente
endireitou o SUV, batendo o acelerador para correr de volta para a casa.
Meu guarda-costas, Thomas, estava no banco do passageiro, gritando
em seu telefone, mantendo uma toalha no ombro. Eu empalideci
quando vi o sangue vermelho brilhante molhar o tecido, então eu
amordaçado.

— V-você levou um ti-tiro.

Gaguejei, com os dentes batendo. A adrenalina tinha batido com


força total e meu corpo estava lutando para lidar com a inundação de
hormônios na minha corrente sanguínea.

— Eu estou bem.

Disse ele, tão calmo quanto poderia ser. Como se ele não estivesse
sangrando por todo o lugar depois de homens armados dispararam
contra nós a partir de jet skis.

— Miri?

No caos, eu esqueci a minha melhor amiga. Virei-me para Cat e


engasguei. Sua pele morena estava pálida e ela parecia um pouco verde.
Os olhos escuros de Cat estavam tão amplos, mais branco era visível do
que marrom. Seu corpo tremia e eu poderia dizer Cat estava à beira de
se perder. Mesmo que eu estava basicamente como perto da borda como
ela, eu engoli meu medo e decidi ser a mais forte. Nós não podíamos
permitir que nós duas desmoronasse.

— Está tudo bem, Cat.

Eu deslizei através do assento e puxei-a em meus braços. Cat se


agarrou a mim, soluçando em minha camisa. Nós ficamos assim por
todo caminho até em casa. Na minha cabeça eu disse uma pequena
oração para o guarda-costas que literalmente levou um tiro por mim.
Dezenas de perguntas lotando minha cabeça vinham rápido, um após o
outro.

Quem atirou em nós?

Por que alguém quer me matar? Ou a Cat?

Jag matou El Cuchillo e os seus homens, certo? Seria este ataque


de alguém completamente diferente?

No momento em que entramos com o carro da mansão, eu estava


um caco. O veículo mal teve tempo de parar antes de a porta traseira se
abrir, o grande corpo de Jag bloqueando a luz.

~ 122 ~
— Miri, Deus. Você está bem?

Ele estendeu a mão e me puxou para fora, esmagando-me contra


seu peito. Eu enterrei meu nariz na sua camisa e inalando, tão grata
por estar de volta onde me sentia mais segura, rodeada por Jag. Uma
mão forte agarrou a parte de trás do meu pescoço e eu afundei ainda
mais em seu calor, ouvindo seu coração disparar. Jag estava tremendo,
se era de medo ou raiva ou ambos, eu não tinha certeza. Tudo que eu
sabia era que ele estava abalado, talvez até mais do que eu. Eu
precisava que ele soubesse que eu estava bem.

— Eu estou bem.

Um pequeno suspiro escapou dos meus lábios e eu aninhei em


sua camisa.

— Oh.

Eu empurrei de volta quando me lembrei de minha amiga e


guarda-costas ferido.

— Cat e Thomas... Eles estão..

— Tudo cuidado, boneca.

Jag disse, apertando a parte de trás do meu pescoço de uma


maneira deliciosamente possessiva. Sem aviso, Jag pegou-me em seus
braços, meu rosto ainda descansando contra seu peito, e me levou para
dentro da casa. Eu vagamente registrei os sons de vozes, agitação dos
homens sobre o guarda-costas com a ferida de bala, mas tudo isso se
virou para o ruído branco enquanto eu escorreguei ainda mais em uma
névoa obscura da adrenalina.

Jag colocou-me na cama e puxou as cobertas até meu peito. Ele


se inclinou e beijou minha testa, gentilmente correndo os dedos pelo
meu cabelo enquanto olhava nos meus olhos. Jag recuou, levando o seu
toque reconfortante com ele e deixando-me no frio e medo.

— Eu estarei de volta logo que eu puder.

Sua voz era firme, mas eu podia ouvir a fúria por trás da fachada.

— Espere!

Eu dei um salto, tremendo. Metade de mim estava com medo de


ficar sozinha, metade estava com medo do que Jag faria uma vez que
ele saísse do quarto.

— Você n-não pode ficar comigo?

~ 123 ~
A expressão de Jag exibiu o mais extremo dos opostos. Seu rosto
estava cheio de amor e compaixão, mas seus olhos... Seus olhos
estavam com pura raiva animal. Eu estava certa, ele estava prestes a
perder sua merda sobre eu ser atacada novamente.

— Eu preciso falar com meus homens. Ver se podemos descobrir


o que aconteceu.

A voz de Jag era apertada e controlada.

— Além disso, Thomas foi baleado. Eu preciso ter certeza de que


ele está bem.

Eu caí sob o edredom grosso e enrolado em uma bola.

— Eu entendo.

E eu entendia, mas de forma egoísta, eu precisava da forte


presença de Jag agora. Eu senti como se estivesse cerca de dois
segundos de ter um colapso nervoso.

— Você pode verificar Cat?

O meu pedido fez o olhar duro de Jag amolecer um pouco.

— Claro, boneca. Eu voltarei. Descanse um pouco.

Com isso, ele se virou e saiu do quarto, fechando e trancando a


porta atrás dele.

Sabendo que eu poderia confiar em Jag para me manter segura,


em seu quarto, na sua cama, apesar de tudo o que aconteceu, meus
olhos ficaram pesados e eu escorreguei em um sono agitado.

Jag

— Diga-me que você tem algo.

Eu comecei com George no segundo que ele entrou no meu


escritório. Depois de deixar Miri, sair da sala cerca de um segundo
antes de perder completamente o controle e começar a perfurar e
destruir qualquer merda em uma raiva furiosa, eu estava na sala e
apertei a minha testa na parede. Demorou uns dez minutos para me
acalmar. Alguém atacou a minha menina novamente. E, assim como da
última vez, eles sabiam exatamente onde ela estaria.

~ 124 ~
— Eu tenho algo, Boss.

George engoliu nervosamente, mas eu poderia dizer que ele


também estava furioso. Eu não ia gostar do que foi que ele encontrou.

— Diga-me, — Eu rosnei, batendo meus punhos tão forte na mesa


que algo na madeira rachou.

George lambeu os lábios e seus olhos se arregalaram quando ele


deu uma boa olhada em mim. Tenho certeza de que parecia insano. Não
era mais o Boss controlado, polido que estava acostumado, eu estava
vestido com calça jeans e uma camiseta, minhas bainhas de pulso e
lâminas aparecendo. Eu usava botas de motociclista pesadas, e se eu
tivesse um espelho, eu tinha certeza que estava ficando vermelho de
raiva da cabeça aos pés.

— Você estava certo, Boss. É Milo.

Meu estômago embrulhou e eu inclinei-me, ofegante como se


tivesse levado um soco bem no plexo solar. Eu não deveria ter sido
surpreendido. Foi o resultado que eu esperava. Mas a traição ainda
doía. Levou apenas alguns segundos para que a dor se transformasse
em fúria assassina.

— Aquele filho da puta!

Eu circulei a mesa e George recuou quando me aproximei. Não


dando a mínima, eu parei diante seu rosto e exigi mais informações.

— O que você sabe?

— Sammy clonou o telefone de Milo e encontrou um monte de


chamadas para um número estranho. Era um telefone descartável e ele
foi desligado, então ele não poderia nos dizer quem era o dono.

Eu rosno e George correu para continuar.

— Mas ele foi capaz de entrar na rede do provedor e descobriu de


onde o sinal vinha para as duas últimas semanas.

George levantou-se, o suor escorrendo pelas têmporas. Fiz uma


careta para o homem e ele pulou.

— E-?

— D-desculpe, Boss. Sammy, ummm, ele disse que o telefone


estava em San Antonio, em seguida, aqui em Austin, em seguida, na
área geral de composto de El Cuchillo em Victoria.

~ 125 ~
Afastei-me George e cavei os saltos das minhas mãos nos meus
olhos.

— Então você está dizendo Milo tem estado em contato com um


telefone pertencente a Los Guerreros.

— Sim. Isso é o que Sammy disse.

Eu arrastei minhas mãos pelo meu cabelo, suprimindo a


necessidade de gritar, a necessidade de causar dor, a necessidade de
vingança.

— Mas há mais, Boss.

— O quê?

Eu girei para enfrentar George novamente.

— Mais?

— Depois que você ligou pedindo para desenterrar merda de Milo,


Sammy colocou um rastreador no carro e telefone de Milo.

Ele fez uma pausa, esperando pela minha reação.

— Maldito cuspa, George, ou eu vou cortar sua língua filho da


puta.

Os olhos de George se arregalaram e ele concordou.

— O telefone ficou mudo. Ele deve ter retirado a bateria, Boss.


Mas o GPS no carro está ativo.

Fui até o cofre e o abri, retirando armas.

— Continue falando.

Eu disse enquanto carregava pentes de balas em minhas armas e


comecei a colocá-la nos coldres de couro.

— Sammy sabe onde ele está.

Eu grunhi de satisfação.

— Ligue para o Four e diga-lhe para pegar um par de caras e nos


seguir para o local. Não é para eles se aproximarem de Milo se
chegarem lá primeiro, entendeu?

George pegou seu telefone enquanto eu terminei de colocar as


armas em meus coldres.

— Entendi, Boss.

~ 126 ~
Coloquei uma jaqueta de couro para esconder minhas armas e
abri a porta. George arrastou atrás de mim enquanto eu andei pelo
corredor como um anjo negro da morte, usando cinco quilos de aço letal
e munição. Frank estacionou quando nós saímos da casa.

Cinco minutos depois, o SUV estava na estrada, quebrando todos


os limites de velocidade enquanto eu pensava no destino aguardando
meu ex-tenente. Quando tomei uma decisão, um sorriso sádico
espalhou pelo meu rosto.

Eu não gostaria de ser Milo agora. Em breve, ele estaria


implorando por sua morte.

Quando Frank parou o SUV no estacionamento vazio de uma


empresa de auto armazenamento, era quase impossível esperar meus
homens chegarem. Dez minutos depois, cheio de tiques e pulsando com
explosiva raiva homicida, eu abri a porta e sai.

— Boss, devemos esperar-

Eu girei e parei na frente do rosto de George.

— Esperar pelo quê? Eu estou malditamente cansado de esperar.


De me sentir impotente enquanto a minha menina sofre. Eu quero esse
filho da puta sentindo dor. Eu quero ver ele gritar e chorar e implorar,
como Miri fez quando Cuchillo cortou-a. Ela não merecia essa merda.

Eu me inclinei até que nossos narizes se tocaram.

— Você vai me impedir?

George balançou a cabeça.

— Não, Boss.

Dei um passo para trás e olhei para Frank.

— Você vai?

— Não, Boss. Eu faria exatamente o que você está fazendo.

Eu sorri para o meu motorista e ele sorriu.

— Eu sabia que eu gostava de você por uma razão. Agora.

Voltei-me para George.

— Ligue para Sammy e obtenha a sua localização exata.

George pegou seu telefone e discou.

~ 127 ~
Dois minutos depois estávamos dirigindo por uma rua deserta em
alguma cidade de merda fora de Corpus Christi.

— Ali.

George apontou para um prédio de tijolos de três andares. Metade


das janelas estava fechada com tábuas e vários outros estavam
quebrados.

— Ele só não pode nos dizer qual andar ou o lado do edifício,


Boss. Só que este é o lugar.

— Tudo bem.

Eu estava um pouco irritado que o GPS não era mais preciso.


Tenso pra caralho, eu tirei a minha jaqueta, verifiquei minhas armas, e
tive certeza que as armas estivessem carregadas e minhas facas eram
fáceis de alcançar.

— Ali está o carro dele, Boss.

Frank apontou o lado do passageiro do SUV. Por uma rua lateral


avistei carro esportivo audacioso de Milo. A coisa estúpida se destacava
como uma estrela pornô em um convento.

— Como é que Sammy sabe Milo está nesse?

Perguntei a George enquanto aponta para as ruínas de tijolos de


três andares.

— Ele não poderia estar em qualquer um desses?

Havia quatro outros edifícios nas proximidades, um pequeno


barraco, que costumava ser o escritório de um advogado, uma loja de
móveis antigos com nada nas janelas, e um posto de gasolina em ruínas
que estava literalmente caindo aos pedaços.

— Bem, não o posto de gasolina, mas os outros.

George repetiu a informação para Sammy.

— Ele disse que você está certo. Milo poderia estar em qualquer
deles. Ele escolheu os três andares porque não tinha mais lugares para
se esconder e é o único com eletricidade.

Eu balancei a cabeça.

— Bom. Diga ao Sammy ele fez bem.

Fechei os olhos e limpei minha mente, empurrando para fora a


raiva cega para que eu pudesse pensar com clareza. Não me faria

~ 128 ~
nenhum bem se eu invadisse e corresse apenas por instinto em vez de
usar o meu cérebro. Uma vez eu estava focado na missão, fim de jogo
em vista, eu abri a porta do carro.

— Vamos.

George e Frank me seguiram pela calçada em ruínas, esquivando-


se das pequenas árvores que brotavam através das rachaduras. Parei ao
lado do carro de Milo, tirei um dos meus punhais, e esfaqueei o pneu
dianteiro. Então eu fiz o mesmo com o traseiro. Satisfeito que meu ex-
tenente não estaria indo a qualquer lugar, eu fui até a porta de metal na
parte de trás do edifício. Estava torta e pendurada em suas dobradiças.

Eu sorri. O imbecil não estava nem mesmo em um edifício


bloqueado. Lentamente, eu abri a porta, fazendo uma careta quando as
articulações enferrujadas rangeram. Não havia ninguém visível no
corredor, então eu acenei para meus homens. Eu apontei para Frank e
levantei um dedo, em seguida, para George e ergui dois. Eles iriam
verificar cada um desses andares e gostaria de tomar o terceiro. O piso
superior era o local mais provável para Milo se esconder e eu realmente
queria ser o único a encontrá-lo.

Eu caminhei para encontrar as escadas, George atrás de mim,


enquanto Frank foi mais fundo dentro do prédio em ruínas. George saiu
no segundo andar e eu segui para o andar superior. Certificando-me de
que minhas pesadas botas não estavam fazendo qualquer barulho, eu
caminhei silenciosamente até o fundo do corredor, o cheiro de mofo,
podridão, e urina picando em minhas narinas. Uma lâmpada
fluorescente exposta no teto zumbia, piscando como uma luz
estroboscópica sombria. Eu pressionei meu ouvido na primeira porta.

Nada.

Mesma coisa na segunda e terceira. Na quarta, eu tinha ele. Não


só eu podia ouvir os passos no interior, quanto eu podia sentir o cheiro
da gordura pesada de fast food sobre o cheiro de lixo.

Eu sorri. Filho da puta estúpido.

Com um punhal na mão, a minha Glock na outra, eu levantei


uma bota pesada e chutei a porta de má qualidade. A porta bateu
contra a parede enquanto eu corria no. Milo estava em pé perto de uma
janela e se embaralhou por sua arma. Antes que ele pudesse retirá-lo,
eu joguei a pequena adaga. Milo uivou quando perfurou o dorso da
mão, saindo como um prego em um crucifixo. Eu estava sobre ele em
um flash, e com um único golpe em sua têmpora com a coronha da
minha arma, ele estava desmaiado.

~ 129 ~
— Bem-vindo de volta.

Milo piscou, claramente confuso quanto ao local onde ele estava.


Ele não foi muito longe desde que nós ainda estávamos no apartamento
de merda que ele estava utilizando como uma casa segura.

— Que porra é essa?

Ele rosnou enquanto puxou suas mãos e pés e viu-se amarrado.


Ele lutou, rolando no chão imundo, em uma tentativa inútil para se
libertar. Sem uma única peça de mobiliário para amarrá-lo, eu tinha
que fazer com o que eu tinha. A pequena cadeira de plástico nunca iria
segurar Milo, então amarrado e empurrado para o chão era a minha
única opção.

— Que porra é essa?

Eu repeti, incrédulo com a coragem que esse idiota teve de ser


surpreendido ao ter acabado em sua posição atual. Eu atravessei a sala
e chutei o grande homem até que ele estava deitado de costas.

— Que porra é essa?

Eu pisei em seu peito e segurei meu pé lá. Milo gemeu, mas não
disse nada. Minha bota ainda estava em seu esterno, quando me
inclinei e agarrei seu cabelo, segurando a cabeça no lugar.

— Seu filho da puta. Você acha que pode me apunhalar pelas


costas? Conspirar com El Cuchillo e ferir a minha mulher?

Eu levantei sua cabeça e empurrei de volta para baixo com tanta


força, que o chão de madeira velha debaixo dele se estilhaçou.

— Foda-se!

Milo rugiu. Ele estava ferrado e ele sabia disso. Sua única escolha
agora, era saber se ele queria agir como um homem ou uma marica
chorando. Inferno, Milo era um bastardo brutal; pelo que eu sabia, ele
não se assustava com nada. O homem era realmente fodido na cabeça.

Eu levantei minha bota pesada e trouxe-o para baixo novamente.


Desta vez, senti algo ceder em seu corpo e ouvi um estalo. Uma costela,
talvez? Como antes, Milo resmungou. Eu tinha que concordar, ele era
tão duro quanto mostra ser.

— Eu vou fazer um acordo com você.

~ 130 ~
Eu disse.

— Você coopera, e eu vou dar-lhe a morte de um homem. Você


luta contra mim, e eu vou fazer você implorar como uma garota.

Milo zombou e eu aumentei a pressão sobre o peito. Seus lábios


se apertaram, mas ainda, sem som e sem sinais de ceder. Eu assenti.

— Você escolheu.

Abaixei-me e rolei a minha perna da calça. Milo sabia o que


estava por vir. Ele tinha visto me fazê-lo muitas e muitas vezes. Eu
retirei o KA-BAR e rolei minhas calças de volta sobre minha bota.
Lentamente, eu dei uma volta em torno de sua forma de bruços,
deixando meus olhos vaguearem para cima e para baixo de seu corpo,
decidindo qual parte eu cortaria em primeiro lugar. Decisão tomada, eu
segurei e comecei.

Desta vez, ele gritou.

~ 131 ~
Miri

— Ninguém me diz nada, Cat. Estou ficando muito preocupada.

Eu mordi meu lábio e sentei-me em meus calcanhares. Meu nariz


coçava, mas minhas mãos estavam cobertas de graxa. Larguei a chave e
os limpei em uma toalha para que eu pudesse coçá-lo.

— Eu não tenho ideia do que dizer, Miri.

Cat estava sentada em uma cadeira dobrável, enquanto eu


trabalhava na Ducati.

Jag tinha saído havia dois dias. Dois dias desde que fomos
alvejadas na praia por homens em jet skis. Dois dias desde Jag me
deixou dormindo em sua cama e disse que estaria de volta o mais
rápido que pudesse, não dando qualquer explicação quanto ao local
onde ele estava indo. Dois dias de ataques preocupantes e pânico sem
parar. As únicas coisas que me mantêm de perder minha mente eram
Cat, e o fato de que os homens de Jag me garantiram que ele estava
vivo e bem, apenas estava cuidando de negócios. Claro que ninguém iria
me dizer que tipo de negócio ou por quanto tempo seu chefe ficaria fora,
mas sabendo que ele não estava ferido ou morto era melhor que nada.

Pelo menos Milo não tinha estado por perto recentemente. Eu


estremeci. Ele tinha me seguido ao redor da casa, olhando para mim,
como se estivesse esperando que algo acontecesse. Minha cabeça
começava a doer. Fosse o que fosse que minha mente estava tentando
me dizer, eu simplesmente não conseguia controlá-la. Continuou
deslizando através de meus dedos, dissolvendo-se como uma gota de
água no oceano turbulento da minha fodida cabeça.

Eu joguei a toalha e me sentei.

— Estou cansada, Cat. Como se eu não tivesse dormido em anos.

— Eu sei, Miri.

Meu rosto aqueceu quando percebi o quão egoísta eu estava


sendo. Claro que Cat sabia como eu me sentia, ela era a única que ficou
presa durante quase um ano, estuprada repetidas vezes. Mantida

~ 132 ~
domada com viciantes, drogas entorpecentes. Pelo menos eu tive Jag, e
eu só tinha sido capturada por algumas semanas. Nada como o que Cat
passou.

— Sinto muito, Cat. Eu não quero ser tão insensível.

Levantei-me e lavei as mãos na pia.

— Está tudo bem, Miri. Você está preocupada com ele. Eu


entendo. Nem sequer sei algo realmente sobre o homem e estou
preocupada.

Um arrepio percorreu minha espinha e eu tremi. Se Cat estava


preocupada, então algo de ruim pode realmente acontecer a Jag. Eu
balancei a cabeça com o pensamento. Não. Ele ficaria bem, e os seus
homens não iriam mentir se algo acontecesse. Além disso - eu corto um
olhar do outro lado da garagem para o homem imponente de guarda na
porta - era óbvio Jag tinha aumentado a nossa segurança. Nem Cat
nem eu ficamos sempre sozinhas. Um ou dois guarda-costas nos
acompanhavam em todos os lugares, exceto ao quarto e ao banheiro.
Nós não fomos autorizadas a ir para o gazebo ou fazer qualquer coisa
fora. Inferno, demorou uma hora de suplica apenas para fazer um dos
seguranças nos deixar caminhar os poucos metros da cozinha para a
garagem para que eu pudesse trabalhar nas motos para manter minha
mente ocupada.

— Ele está bem.

Eu disse, mais para mim do que para Cat.

— Ele estará de volta.

— Sim.

Cat concordou, provavelmente, só para me acalmar.

Nós éramos dois fantoches? Ambos mentindo para fazer o outro


se sentir melhor.

A porta da garagem se abriu, e eu gritei em surpresa. Cat caiu da


cadeira com o susto. De repente, eu estava cercada pelo cheiro de Jag,
braços fortes me puxando para um abraço apertado. Um soluço
escapou de minha garganta e eu fui levantada do chão. Eu passei meus
braços em volta do seu pescoço, minhas pernas ao redor de sua
cintura, e enterrei meu rosto em seu pescoço.

— Miri.

~ 133 ~
Ele respirou, aninhando o nariz no meu cabelo. Por agora eu
estava completamente chorando de alívio.

— Eu sinto muito, boneca. Eu não queria te assustar. Eu estou


aqui.

Jag continuou murmurando palavras de conforto enquanto eu


simplesmente deixei ir, permitindo que Jag segurasse meus fardos, a
minha preocupação, a minha dor, enquanto eu me concentrei apenas
em tê-lo. Até o momento que eu parei com as lágrimas e limpei meu
rosto, Cat tinha desaparecido.

— Onde-?

— Em casa.

Disse ele, respondendo a minha pergunta silenciosa. Os olhos de


Jag caíram para minha boca e suas pupilas dilatadas. Eu respirei fundo
e engoli minha boca seca. Olhamos um para o outro por um segundo
antes de nossas bocas caírem juntas.

— Minha.

Ele rosnou quando se afastou, com falta de ar. Ele nos levou para
a superfície mais próxima e me pôs sobre ele. Senti o metal frio abaixo
de mim e percebi que estava no capô da sua Ferrari 1966 de dois
milhões de dólares.

— Jag. O car...

— Foda-se o carro.

Ele rosnou quando enfiou a língua na minha garganta. Uma mão


atrás da minha cabeça, Jag usou a outra para liberar seu pênis. Ele me
soltou o tempo suficiente para abrir e arrancar minha calça. Eu não tive
tempo de dizer uma palavra e suas mãos e boca estavam de volta em
mim. Sem aviso, Jag me penetrou com seu pau, indo profundamente
com um impulso brutal.

Jag segurou meu rosto e mergulhou de volta na minha boca,


lambendo, mordendo e tendo sua reivindicação enquanto ele inclinou
minha cabeça para que pudesse chegar tão longe dentro da minha boca
quanto humanamente possível. Desespero e alívio derramaram dele em
ondas palpáveis enquanto seus quadris bateram rápido e forte. Agarrei
sua cintura, cravando os dedos para que eu não deslizasse para cima
do capô do carro vermelho brilhante. Um dos braços de Jag envolveram
a parte inferior das minhas costas e ele pressionou seu peso em cima de
mim, seu volume tão pesado que eu tive que trabalhar para respirar. Eu

~ 134 ~
não me importava. Eu tinha Jag em meus braços, quente e seguro, e
recuperando sua propriedade em meu corpo como se o mundo fosse
acabar se ele não pudesse me fazer sua.

— Deus, eu senti sua falta.

Jag soltou quando ele saiu de minha boca e lambeu um caminho


até minha garganta. Seus dentes afundaram no ponto de pulso debaixo
da minha orelha e meu corpo inteiro se sacudiu enquanto a eletricidade
deslizou pela minha espinha.

— Jag... não... não me deixe.

— Eu nunca vou deixar você de novo, boneca. Eu prometo.

Ele levantou a cabeça e apertou nossas testas juntas, travando os


olhos com os meus. — Nunca.

Eu concordei e Jag empurrou seus quadris para a frente, me


fazendo gritar com prazer.

— Vamos, boneca. Dê isso para mim. Eu quero tudo.

Agarrei seus ombros e deixei minha cabeça cair para trás sobre o
metal liso. Meus olhos rolaram na minha cabeça quando Jag agarrou
minha bunda e levantou a minha parte inferior do corpo para fora do
carro, pulsando a um ritmo brutal.

— Jag... Eu estou perto... oh!

— Porra, boneca. Oh meu Deus, Ungh, sim! Deus sim, você é tão
perfeita.

Ele moeu no meu clitóris e eu detonei em torno dele. Meu corpo


ficou rígido e cada músculo apertado enquanto o orgasmo foi arrancado
de mim. Fogos de artifício explodiram e minha visão ficou escura. Engoli
em seco em busca de ar e tremi violentamente da cabeça aos pés.

— Sim, sim, dê para mim, Miri.

O ritmo de Jag vacilou e ele bateu em uma última vez, rugindo


quando ele veio.

— Você é minha! Porra, sim!

Eu assisti enquanto seu belo rosto torceu com prazer. Sua testa
brilhava de suor e seu pescoço corou escarlate onde estava exposto
acima da gola da camisa que ele ainda usava. Os braços de Jag
apertaram e seus bíceps flexionaram, dedos cavando em minha bunda,
onde eu tinha certeza de que eu teria hematomas na parte da manhã.

~ 135 ~
Quando o último pulso de sêmen drenou de seu pênis, Jag caiu
em cima de mim, completamente imóvel e respirando pesado. Corri
meus dedos levemente para cima e para baixo da sua coluna, amando a
sensação de sua pele lisa e músculos rígidos. Amando a sensação dele.

Depois de um tempo, nós dois acalmamos a nossa respiração e as


nossas batidas do coração desaceleraram para um ritmo constante. Jag
relutantemente se levantou e de repente me senti fria e exposta. Meu
olhar correu em torno da garagem.

Jag riu.

— Não há ninguém aqui, boneca. Tenho certeza disso.

Meu rosto explodiu em chamas. Claro. Eu estava certa de que Jag


nunca deixaria ninguém nos ver fazer sexo.

— Você é adorável.

Ele estendeu a mão.

— Vamos tomar um banho.

Eu tinha um milhão e uma perguntas a fazer, sobre os homens


sobre os jet skis, onde ele tinha estado nos últimos dois dias, se
estávamos ou não seguros. Mas quando Jag sorriu para mim, uma
visão que tinha sido difícil de ver por aqui desde que ele me trouxe para
casa a partir do completo do Los Guerreros, todas as minhas
preocupações desapareceram.

Peguei sua mão e o deixei se ajeitar sobre mim, puxando o meu


short para cima, antes de colocar seu pênis em suas calças. Jag nos
levou para a casa principal e subimos as escadas para o quarto.
Quando estávamos sob o jato quente, Jag passou as mãos com sabão
sobre o meu corpo, e pela primeira vez em muito tempo, eu tinha
esperança.

Este homem era o meu futuro e eu não tinha dúvida de que faria
o que fosse preciso para me certificar de que eu estava bem cuidada.
Que eu era feliz. Que estávamos felizes.

Fechei os olhos e permiti que Jag liderasse o caminho. Eu iria


segui-lo em qualquer lugar.

Jag

~ 136 ~
— Presumo que já cuidaram de tudo?

Eu mexi com os itens na minha mesa, tudo novo desde que


quebrei tudo o que eu poderia botar em minhas mãos durante minhas
muitas explosões furiosas de raiva quando Miri tinha sumido. O porta-
lápis estava errado e eu simplesmente não conseguia fazê-lo ficar certo
com o canto da mesa. Nenhuma das minhas coisas parecia certas. Isso
estava me irritando.

— Tudo feito, Boss. Ninguém nunca vai encontrá-lo.

George me assegurou.

— Bom.

Eu tentei em vão alinhar o suporte do lápis mais uma vez sem


sucesso. Rosnando, eu peguei e o deixei cair no lixo. Agora, minhas
mãos estavam coçando para fazer outra coisa. Então eu mexi nas
mangas da minha camisa, endireitando o punho e conferindo duas
vezes as abotoaduras para me certificar de que eles estavam presos.

— Como está indo a busca por El Cuchillo?

Na minha visão periférica, eu peguei George vacilando. Meus


olhos foram para o meu novo segundo comandante, em breve estando
sob comando de Brick, e encontrei uma expressão preocupada.

— Não é bom, Boss.

George tentou parecer pretencioso e impassível, mas sua


linguagem corporal gritava nervosismo. Ele estava esperando que eu
perdesse minha paciência.

— Entendo.

George tinha bons instintos. Eu quero perder minha paciência.


Miri nunca estaria cem por cento segura até que aquele filho da puta
estivesse, ou enterrado, ou picado e usado para isca, digerindo na
barriga de um tubarão.

— Feyo disse que talvez devemos expandir a procura para o


México. Ele disse que conhece a cidade natal de El Cuchillo. Ele pode
estar escondido lá.

George trocou de pé para pé. Ele precisava ficar mais duro se


quisesse sobreviver sob a mão pesada de Brick.

~ 137 ~
Ou talvez o seu comportamento fosse meramente um resultado
direto da minha careta irritada. Relaxei minha expressão e George
relaxou visivelmente.

— Faça. Se os homens têm de viajar até lá para encontrá-lo, eles


vão. Use nossos contatos no México para adquirir armas. Nenhuma
despesa será poupada. Quero Cuchillo morto, de preferência pela minha
própria mão, mas eu entendo as complicações de trazê-lo para os
Estados Unidos se ele cruzou a fronteira.

Tamborilando os dedos na minha mesa. Minha pele estava


apertada e minhas mãos doíam para embrulhar ao redor do pescoço de
Cuchillo e espremer a vida fora dele. Inquieto e agitado, eu chutei
minha cadeira de volta quando eu estava de pé e ele bateu na parede
com um estrondo.

— Você pode ir.

Eu disse a George, engolindo o desejo de destruir mais um


escritório remodelado.

George virou-se e saiu de lá o mais rápido que pode. No segundo


que a porta fechou atrás dele belisquei a ponta do meu nariz.

Era tão difícil encontrar a porra de um maldito traficante?

O homem tinha que ter uma trilha de dinheiro. Várias contas,


empresas de fachada, nomes falsos... meus homens estavam
trabalhando em puxar a papelada para todas as explorações de
Cuchillo, especificamente propriedades, para descobrir as diferentes
empresas de fachada e nomes que ele usou para comprá-los. Uma vez
eu tivesse isso, rastreá-lo não deve ser difícil. Eu só não tinha a
paciência de esperar enquanto eles faziam o trabalho de base. Eu
queria a minha vingança. Agora.

Inquieto, eu estava na janela e olhei para o jardim, indo ao longo


dos acontecimentos dos últimos dois dias. Eu sabia que Milo não seria
um homem fácil de quebrar, mas o homem forte se desfez muito mais
rápido do que eu imaginava. Depois de cortar a sua mão no pulso, ele
balbuciou como um bebê. Quando eu cortei o pé, ele começou a falar.
Infelizmente, o pedaço de merda não sabia muito. Ele admitiu ter
contado a El Cuchillo sobre Miri, como ela era a minha fraqueza, onde
nos encontrar na noite em que ela foi raptada. Ele também disse ao
bastardo, onde Miri estaria no dia em que quase foi baleada pelos Jet
skis, que acabou sendo dois dos homens de Cuchillo, enviado
especificamente para matar Miri, a fim de chegar a mim.

~ 138 ~
Depois que eu percebi quão inútil Milo era, eu acabei rápido.
Apesar de querer fazer Milo sofrer por aquilo que ele fez para Miri, de
repente eu estava enojado com a visão de sangue do traidor. Respingos
vermelho-escuro me cobriam do pescoço para baixo, absorvendo minha
roupa e manchando a minha pele. Era tudo que eu poderia lidar tempo
suficiente para limpar com uma toalha molhada e trocar de roupa. A
longa viagem para casa quase levou-me à loucura com a necessidade de
tomar banho e esfregar cada polegada do meu corpo até que minha pele
estivesse rosa.

O fodido arruinou minhas calças favoritas com seu sangue.

Idiota.

Só de pensar na sujeira me fazia estremecer. Corri a mão pelo


meu terno, certificando-se de deixá-lo reto e sem dobras. Brick estava
vindo hoje para o nosso último encontro, desta vez para finalizar todos
os documentos legais, me livrando do meu negócio em Austin e
deixando o comércio de heroína.

Então eu levaria Miri e desapareceria, dando-lhe a vida que ela


merecia. Longe de drogas, crime, e tudo mais que eu representava.

Depois que eu matasse Cuchillo.

Meu telefone tocou e eu peguei-o no meu bolso. Era Frank.

— Sim.

— Boss, Brick acaba de chegar.

Tomei um último momento para endireitar a minha gravata e sai


do escritório. Hora de acabar com essa merda e colocar Boss para
descansar.

Jag estava à espera de sua vez no banco do motorista, e eu


totalmente planejava que ele tivesse a sua oportunidade. Em breve.

Miri

Com Jag em casa, Cat e eu fomos autorizadas a passar um tempo


fora novamente, mas apenas ao redor de casa. Nós nos sentamos no
gazebo, nossas pernas enroscadas embaixo de nós, e sentindo a brisa

~ 139 ~
do lago. Homens de Preto estavam por toda parte, por isso, não falamos
muito. Nada matava uma diversão como homens corpulentos com
armas olhando para você o tempo todo.

Depois de uma hora ou assim, Cat falou.

— Eu acho que sei o que quero fazer da minha vida.

Eu sorri e me virei para minha amiga.

— Sério? Isso é ótimo. O que você estava pensando?

Ela estava quase fora da heroína e transparecia isso. Cat era o


retrato da saúde. Sua pele brilhava, ela não parecia mais tão magra, as
sombras sob seus olhos tinham desaparecido. As únicas lembranças de
seu passado terrível eram as cicatrizes marcando nos seus braços e o
olhar assombrado que às vezes ela tinha. Olhei para as minhas
cicatrizes, desbotadas, mas ainda visível no interior de ambos os
cotovelos, e me perguntei se eu tinha o mesmo olhar assombrado que
Cat.

— Eu acho que eu quero trabalhar no abrigo para mulheres ou no


centro de ajuda para vítimas de estupro

Cat puxou uma respiração instável.

— Quero dizer, eu acho que seria bom. Eu realmente não sei o


que você precisa fazer para ser capaz de trabalhar lá, mas...

Ela sacudiu seus olhos escuros até os meus.

— Eu quero tentar.

Estendi a mão e peguei a mão dela.

— Eu acho que é uma ótima ideia, Cat.

As lágrimas começaram a escurecer minha visão.

— Vamos entrar e olhar procurar pelas qualificações.

Cat sorriu, um sorriso verdadeiro que lembrava a menina que eu


conheci antes da merda cair sobre mim e ela, isso me deu uma
sensação de calor no interior. Minha amiga ficaria bem. Como eu, isso
levaria tempo e ela precisaria de um bom sistema de apoio, mas Cat
faria isso. Nós éramos sortudas.

Atravessamos o gramado, dois dos Homens de Preto nos seguindo


alguns metros atrás de nós, como grandes e irritantes sombras.

Cat parou e colocou uma mão no meu braço.

~ 140 ~
— Você ouviu isso?

Inclinei a cabeça para ouvir, mas tudo que eu ouvi foram chilrear
dos pássaros e insetos zumbindo.

— Não o quê?

Ela balançou a cabeça.

— Eu não sei. Foi como uma pancada ou algo assim.

Eu dei de ombros.

— Eu acho que não era nada.

Disse Cat. Então eu ouvi. E assim fizeram os Homens de Preto.


Um homem me agarrou e outro agarrou Cat, ambos nos empurrando
para trás dos seus corpos ao mesmo tempo. Meus ouvidos zumbiam do
barulho alto de tiros vindo de nossos guarda-costas. Eu gritei e cobri
minha cabeça. Cat caiu no chão e se enrolou em uma bola. Eu estava
prestes a pegar sua mão e puxá-la para a casa, quando o homem a
protegendo cambaleou para trás. Ele caiu, caindo bem em cima de Cat,
prendendo-a no chão.

— Cat!

— Vá!

Meu guarda-costas gritou para mim.

— Eu não posso deixá-la!

Sem se virar, ele me alcançou e me empurrou em direção à casa.

— Vá para dentro!

Sua arma disparou novamente e eu gritei.

As portas traseiras se abriram e homens saíram da casa, como


abelhas furiosas de uma colmeia, todos eles com armas brandindo. Eu
me agachei para arrancar Cat sob o homem pesado, seus olhos olhando
fixamente para o céu enquanto uma mancha vermelha propagou em
seu peito.

Merda, merda, merda. Ele estava morto.

— Oof!

Eu fui derrubada enquanto meu guarda-costas caiu para trás. Ele


se debateu quando caiu, quebrando sua arma na minha cabeça
enquanto caía. Eu gemi e contorci em uma pilha na grama, o homem

~ 141 ~
caiu perto de mim. Minha visão oscilou e náuseas queimaram na minha
garganta.

— Miri!

Cat gritou. Tentei alcançá-la, mas não consegui. O lado da minha


cabeça estava molhado. Eu trouxe meus dedos a minha têmpora e eles
voltaram coberto de sangue. Piscando, eu tentei limpar a minha cabeça.
Era inútil, o pátio estava girando em torno de mim. A última coisa que
eu vi como os olhos fechados era Cat, empurrando o homem morto de
cima dela e correndo para meu lado. Enquanto o mundo ficava escuro,
uma rajada de tiros soou e eu tive um pensamento final antes de
desmaiar.

Jag. Jag iria me ajudar.

Jag

A campainha da minha porta do escritório tocou, enviando um


traço de irritação através de mim. Deixei instruções explícitas que eu
não deveria ser perturbado enquanto estava na minha reunião com o
Brick e os nossos advogados. Obviamente, alguém se sentia como se
meu pedido não se aplicasse a eles. A campainha tocou novamente, e
desta vez quem estava empurrando-o pressionou o dedo por muito
tempo o som retirado foi ralar.

Engolindo uma onda de hostilidade, eu me levantei.

— Desculpe-me.

Eu disse aos meus convidados, abotoando o paletó enquanto eu


atravessava a sala. No painel de vídeo ao lado da porta, vi George fora,
batendo a mão na campainha mais e mais em pânico.

A adrenalina inundou o meu corpo. Algo estava errado. Muito


errado. Atrapalhando-me, eu desativei o bloqueio e a porta sibilou.
George invadiu o local, coberto de suor e pálido como um fantasma.

— Boss! El Cuchillo... eles estão aqui. Lá fora!

— O quê?

Perguntei as palavras de George não afundando completamente.

— Quintal.

Ele ofegava.

~ 142 ~
— El Cuchillo está atacando. Matou um monte de nossos rapazes.

— Foda-se!

Corri para o meu cofre e agarrei a minha Glock. Com meu


escritório completamente insonorizado, eu não ouvi qualquer tiro.

— Onde está Miri?

Eu exigi, saindo tempestuosamente da sala de pânico. Brick e os


advogados foram esquecidos.

— Boss...

Disse George, sua voz vacilante.

— Ela está lá fora com sua amiga.

Meu sangue gelou e meu coração disparou. Miri, fora, tiros. Eu


corri para o quintal. As portas da cozinha já estavam abertas então eu
passei através deles sem dar dois pensamentos com a minha própria
segurança. Homens estavam por toda parte, alguns deles eram dos
meus vestidos em seus ternos escuros, outros estranhos usando roupas
comuns. Todos eles estavam ou disparando ou caídos no chão.

— Filho da puta.

Eu rosnei.

— Onde ela está?

George parou atrás de mim.

— Eu não sei. Eles estavam no gazebo, mas nessa confusão, elas


podem estar em qualquer lugar.

Corri ao longo do lado da casa para o jardim. De lá, eu poderia


seguir o caminho do jardim e usar as plantas e arbustos altos como
cobertura enquanto fazia meu caminho para o gazebo. Um tiro passou
zunindo pela minha cabeça.

— Foda-se.

Eu me joguei no chão, mergulhando em uma moita densa de


flores amarelas altas. — Jesus Cristo.

Essa bala passou perto. Eu fiquei agachado e encontrei o


caminho. Um passo de cada vez, eu rastejei para frente, arma levantada
e pronta. O que eu não estava pronto para a era a visão que eu conheci
apenas fora do caminho de alguns pés de distância.

— Oh Deus.

~ 143 ~
Meu estômago soltou e o fundo caiu fora. Dois dos meus homens
estavam mortos, enquanto Cat, chorando e histérica, estava tentando
puxar uma Miri semiconsciente e muito confusa para os arbustos.
Saltei para frente e agarrei o braço de Cat.

— O que aconteceu?

— Eu não sei.

Ela lamentou.

— Corra para a casa.

Eu ordenei.

— George, leve-a para dentro.

Eu não olhei para trás para me certificar de que eles cumpriram


minha ordem. Meu único foco, tudo que me preocupava, era Miri. Eu
virei-a e meu mundo despedaçou. A cabeça dela estava coberta de
sangue, uma pequena piscina na grama debaixo dela. Os olhos de Miri
estavam vidrados, pupilas enormes. Um tiro foi disparado perto e eu
joguei meu corpo sobre o dela, disposto a morrer para proteger a minha
boneca. Enquanto eu ainda estava respirando, eu nunca permitiria que
ela sofresse alguma dor novamente.

Eu fui para içar Miri por cima do meu ombro para que eu tivesse
uma mão livre para usar a minha arma, quando a dor incandescente
atravessou meu peito, roubando o fôlego. Antes que eu tivesse tempo
para processar o que aconteceu, a agonia explodiu dez vezes. Ofegante,
eu tropecei e cai de costas, deixando cair a arma para agarrar minha
camisa sobre a origem do queimor que estava rasgando pelo meu corpo.
Minha mão estava quente e molhada.

Tiro. Levei um tiro. Eu falhei com ela. Falhei com minha boneca.

Eu sinto muito, Miri. Com um esforço tremendo, eu rolei para cima


dela, determinado a protegê-la até o meu último suspiro. Virei a cabeça
para que eu pudesse ter certeza de seu rosto era a última coisa que eu
veria quando saísse desta terra.

~ 144 ~
Jag

Porra.

Meu corpo inteiro parecia como se tivesse passado por um


picador de madeira antes de ser colado de volta ao acaso por uma
criança três anos de idade. Minhas pálpebras estavam grossas e
pesadas e levou um momento, mas de alguma forma eu consegui abri-
las. A luz brilhante picava em minhas retinas sensíveis. Pisquei para
ajustar o brilho, mas ainda doía, um pulsar monótono atrás dos meus
olhos que parecia irradiar diretamente para o meu tronco cerebral.

O quarto ficou lentamente em foco. Era tão brilhante. Branco no


branco no branco. Teto de azulejos brancos, paredes brancas, luzes
brancas... eu não tinha ideia de onde estava. Concentrando na minha
respiração, eu tentei acalmar, esperando o resto dos meus sentidos
voltarem, e foda-se eu queria que eles não tivessem. Meus nervos
arrepiaram despertos e meu peito começou a queimar, no que
rapidamente se transformou em uma dor aguda. Uma que nunca
parava, não por um único segundo. Com cada respiração rasa eu tomei,
a dor ficava pior do que eu teria pensado ser possível.

Usando extremo cuidado, de modo a não empurrar qualquer


coisa, eu virei minha cabeça para a direita e os olhos enevoados
vagueavam que metade da sala. Hospital, minha mente encaixa o
espaço desconhecido em seu lugar adequado. Havia duas portas, uma
fechada e a outra entre aberta o suficiente para ver um pequeno
banheiro. Rangendo os dentes, eu virei para a minha esquerda e
engasguei, então gemi pela dor irradiando causada pelo movimento
repentino.

— Miri?

Minha voz não era mais que um coaxar irregular. Engoli em seco,
incapaz de acreditar que a visão era real. Oh, obrigado porra. Ela não
está morta. Minha doce e angelical, boneca ruiva, estava enrolada em
uma cadeira ao lado da cama, dormindo.

— Miri?

~ 145 ~
Eu tentei novamente, mas não poderia colocar força suficiente
para ela me ouvir. A frustração cresceu, deixando-me dolorido e com
raiva. Segurando um grito, eu levantei a mão pesada e coloquei-a em
seu braço. Chamas rasgaram através do meu peito, deixando-me
ofegante e suando. Eu gemi com um inalar enquanto lutava para ficar
parado, a fim de acabar com o fogo engolindo todo o meu torso. Era
como se meu interior estivesse sendo queimado em cinzas.

— Jag?

Ouvi Miri falar, mas tudo o que eu podia fazer era fechar os olhos,
cerrar os dentes, e esperar que a tortura recuasse.

— Oh meu Deus, Jag!

Eu ouvi o farfalhar de roupas e abri os olhos. Miri ficou à vista


acima de mim. Seu rosto cansado com uma expressão que era uma
combinação de angústia e alívio.

— Você está acordado.

Ela soluçou.

— Graças a Deus.

Quando a dor havia diminuído o suficiente para eu falar, eu só


podia sair algumas palavras entre respirações cansativas.

— O que aconteceu?

— Oh Jag.

Ela chorou. As mãos de Miri pairavam em cima da minha figura,


hesitante. Incapaz de decidir onde ela podia tocar sem me machucar.
Ela se decidiu pelo meu rosto, acariciando minhas bochechas e
deslizando os dedos sobre a minha boca antes de pressionar um beijo
suave nos meus lábios.

— Você levou um tiro.

Miri chorou, os olhos injetados vidrados de sangue.

— Você quase... você quase morreu. Eu não posso... eu não


posso, Jag.

Lágrimas transbordaram, escorrendo pelo seu rosto pingando em


minha roupa fina de hospital. Miri limpou as bochechas com a manga.

— Eu estou... bem.

~ 146 ~
Eu sussurrei. Miri se sentou na beirada da cadeira, segurou
minha mão e quebrou de verdade.

— Você está bem.

Ela chorou, falando mais para si do que para mim.

— Você está bem. Oh, Deus, você está bem.

Fechei os olhos e ignorei o nó na garganta. Concentrando-me, eu


fui capaz de evocar pedaços daquele dia. Quando uma memória bateu,
meus olhos se abriram.

— Miri. Você estava... ferida. Sangue... tanto sangue.

O esforço para forçar a saída de tantas palavras de uma só vez


enviou um brutal golpe de queimor em todo meu peito e ombro.

— Eu estou bem, Jag. Apenas um galo na cabeça.

Miri deixou escapar uma risada sem humor.

— Aparentemente uma ferida na cabeça sangra muito, de modo


que parecia pior do que era. Os médicos checaram e me fizeram passar
a noite para observação. Eu estava pirando o tempo todo, querendo
saber se você estava vivo. Cat ficou comigo, mas eu... eu estava tão
preocupada.

Olhei para sua testa. O pequeno corte estava mais cicatrizado e o


hematoma se desvaneceu para um verde hediondo. Espera…

— Quanto tempo... eu estive aqui?

Mais uma vez, eu gemi com a pura intensidade da dor. Eu sabia


que estava em alguns analgésicos pesados, mas ainda me sentia como
se alguém empurrasse uma barra de ferro em brasa incandescente
diretamente sobre o ferimento.

Miri me deu um sorriso triste.

— Quatro dias.

Eu perdi quatro dias? Quatro dias que Miri ficou desprotegida.


Quatro dias que alguém poderia ter vindo aqui e a matado ou a levado.

— George-?

— Eles me disseram que George ficou fazendo segurança fora do


meu quarto o tempo todo que eu fui atendida para verificarem minha
cabeça machucada. É apenas um calombo.

Miri apertou minha mão.

~ 147 ~
— Seus seguranças estão lá fora também. Vou chamar George
para que ele possa dizer-lhe o que aconteceu.

— Não. Sem George... Só você.

Miri fez uma pausa, em seguida, balançou a cabeça e se inclinou


para me beijar novamente.

— Nós vamos embora.

Ela inclinou a cabeça e me deu um olhar estranho como se eu


fosse louco. Eu quase ri quando percebi que Miri não tinha ideia sobre
o que eu estava a divagando.

— De Austin, Miri. Estou me aposentando... nós vamos embora.

Ela me deu um pequeno sorriso e empurrou meu cabelo úmido


em volta da minha testa.

— Shhhhh. Falaremos mais tarde, quando você se sentir melhor.


Durma.

Isso soou bom. Fiz o que ela pediu e adormeci, caindo em uma
névoa de morfina.

Miri

Uma vez que ele passou para uma quantidade mínima de morfina
e Jag era capaz de ficar acordado por longos períodos de tempo, a
polícia veio e levou seu depoimento, para a grande irritação de Jag.
Normalmente, todas as lesões do cartel eram tratadas por seu médico
particular para manter as autoridades longe de se envolver ou dando-
lhes qualquer motivo para investigar o seu negócio.

Infelizmente, um tiro no peito não era algo que poderia ser


tomado cuidado, sem cirurgia e um hospital real. Jag estava
incomodado e um pouco hostil, mas ele respondeu às perguntas dos
detetives o melhor que podia, sem apontar o dedo em qualquer um dos
seus homens. George passou mais cedo e assegurou a Jag que a casa
foi limpa de qualquer coisa incriminadora antes da polícia deixar a
cena. Ainda assim, Jag foi vergonhosamente pouco cooperante às vezes,
e no momento em que os detetives descontentes saíram, meu bravo

~ 148 ~
homem estava franzindo a testa, estufando em um humor muito
sombrio.

Uma batida rápida na porta e uma enfermeira muito alegre


irrompeu na sala.

— Boa tarde. Eu preciso verificar seus sinais vitais.

Como todos os outros enfermeiros e médicos que entraram e


saíram do quarto de Jag, essa escondeu seu medo de Jag atrás de sua
felicidade excessivamente falsa. Parecia que todos no hospital sabiam
quem ou o que Jag era, e ninguém estava confortável em lidar com ele.
Quem poderia culpá-los? Se eu não o conhecesse, como ele era bom no
coração, eu não gostaria de estar na presença de alguém com essa
reputação de poderoso traficante de drogas violento de Jag. Aquele que
poderia fazer alguém desaparecer com o estalar de seus dedos.

Jag fez uma careta, mas a mulher bem-humorada estava nervosa


enquanto tomava sua pressão sanguínea e verificava seus monitores.

— Quando eu posso sair?

Ele rosnou seu berro fazendo a mulher nervosa pular.

— Ummmm, E-eu posso chamar o médico para vo-você.

Ela recuou alguns passos.

— Faça isso.

Jag berrou. A pobre enfermeira correu do quarto tão rápido


quanto podia. Eu olhei para Jag.

— O quê?

Ele me deu um olhar inocente falso que não enganaria qualquer


um com metade de um cérebro e um par de olhos em funcionando.

— Você poderia deixar de ser assim, assim... malvado?

Seus olhos se arregalaram quando ele olhou para mim, incrédulo.

— Malvado?

— Sim, malvado.

Eu segurei o contato visual com o homem teimoso, recusando-se


a ser intimidado.

Jag fez um barulho rude, mas não se incomodou em discutir.


Encarei isso como uma vitória e decidi mudar de assunto. Segurando
uma de suas mãos nas minhas, eu o trouxe até o nosso futuro.

~ 149 ~
— Estamos realmente indo embora?

— Claro.

Ele parecia surpreso por eu perguntar. Quando eu não disse


nada, Jag sentou-se na cama. Sua pele empalideceu e sua boca
pressionou em uma linha apertada, enquanto tentava esconder seu
desconforto.

— Vem cá, boneca.

Ele estendeu os braços. Eu me afastei.

— O que? Eu não posso, eu vou te machucar.

Jag revirou os olhos e esperou.

— Miri, eu estive nesta cama por Deus sabe quanto tempo e eu


preciso sentir você. Venha aqui e sente-se comigo.

Não era um pedido. Além disso, eu senti muita falta dele e


precisava de seu toque. Saí da cadeira desconfortável e cuidadosamente
subi na cama.

— Não.

Jag franziu a testa quando eu tentei sentar ao lado dele na beira


do colchão. Ele agarrou-me debaixo dos meus braços e começou a me
puxar para o seu colo. Quando ele fez uma careta, eu subi em cima dele
e coloquei uma das minhas pernas em cada lado de seus quadris.

— Só descansa a cabeça no lado bom.

Ele fechou os braços em volta de mim e eu fiz o que ele disse e


coloquei minha bochecha contra seu peito.

Fechei os olhos e ele respirou. Sob o cheiro do hospital,


antisséptico e remédios, eu ainda podia sentir o cheiro de Jag - um
cheiro quente, masculino que era único dele. Jag suspirou e deitou
contra os travesseiros, levando-me com ele. Eu me encaixei na curva do
seu pescoço, tão grata por ainda tê-lo comigo, vivo mesmo não estando
cem por cento.

— Ele não vai parar, não é?

Minhas palavras foram abafadas contra a garganta de Jag. Eu


sabia que ele me ouviu porque seu corpo ficou tenso e seus braços
apertaram ao redor das minhas costas.

— Não.

~ 150 ~
— George disse El Cuchillo ou não estava em sua casa durante o
ataque, ou fugiu.

— Sim.

Disse Jag, sua resposta curta e sucinta.

— Podemos nos esconder dele?

— Eu não sei. Mas eu juro, Miri, ele nunca vai te pegar.

— Eu sei.

Inclinei a cabeça para trás para olhar para este homem lindo. Tão
valente, tão concentrado, tanta dor estava dentro de sua mente.

— Eu não quero que você se machuque também.

— Nós vamos descobrir como.

Jag me deu um beijo rápido e com uma forte mão para a parte de
trás do meu pescoço, ele me abraçou contra seu peito.

— Nós vamos descobrir como, boneca.

Jag

Estava feito.

Eu não era mais o chefe de Austin. De agora em diante, eu era M.


Jagger Bosman, cidadão comum. Um cidadão comum muito rico, mas
comum da mesma forma. Perdi os armazéns, os caminhões, os
fornecedores e contatos. Meus funcionários foram trabalhar para Brick
com garantias de que iria continuar a pagá-los e nada iria acontecer
com meus homens.

Só Frank, Sarge, Sammy, e alguns dos guardas de segurança


foram os meus funcionários restantes, sem contar com o serviço de
limpeza e meu chefe privado. Novas identidades tinham sido ordenadas
para nós, e tudo o que eu estava esperando era a papelada acabada
para que pudéssemos sair do Texas e nunca olhar para trás.

— Eu não gosto do meu novo nome — Miri reclamou.

— Está tudo bem — disse a amiga, Cat.

Elas estavam sentadas à mesa da cozinha, comendo sanduíches


para jantar e discutir onde se pode ir e o que fariam quando chegassem
lá.

~ 151 ~
— Hmph. - disse Miri.

— Eu ainda queria ter escolhido o meu nome.

Ela me lançou um olhar mal. Virei-me para esconder um sorriso.


Miri estava descontente sobre sua nova identidade. É, literalmente,
nunca me ocorreu pedir por nomes específicos. Você tem tudo o que o
cara tinha na mão. Era assim que funcionava.

— Nós ainda te chamaremos de Miri, você sabe — Cat disse,


tentando aplacar o beicinho da minha boneca.

Andei pelo quarto, olhando para fora das janelas de vez em


quando. Após os dois ataques separados, coordenados, e minha
posterior hospitalização, eu estava em estado de alerta, incapaz de
relaxar na minha própria casa. Parte de mim não podia esperar para
pegar os papéis e dar o fora daqui, se por nenhuma outra razão do que
para obter Miri em algum lugar seguro. Outra parte, mais escuro de
mim estava rosnando e arranhando meu interior, com fome de
vingança, para tomar El Cuchillo e assistir a vida escorrer de seus
malditos olhos torcidos. Eu queria, não, precisava dele morto e que eu
fosse o único a fazê-lo.

Observar as costas para o resto da minha vida não soava como


um bom plano. Sarge tinha um plano muito melhor. Um que Miri não
iria aprovar. Fazia três semanas desde que eu tinha sido baleado e eu
não podia esperar mais. Eu era forte o suficiente e tinha chegado o
momento para amarrar as pontas soltas em Austin e recomeçar.

— Hora de Dormir.

Eu disse no segundo que Miri empurrou o prato vazio de


distância.

— É apenas sete — Miri reclamou.

Implacável, eu fiquei de pé, andei em volta da mesa, agarrei-a


pelo pulso e puxei-a para fora de sua cadeira e em meus braços.

— Nós precisamos conversar.

Rosnei, meu pau já meio duro. Joguei-a por cima do meu ombro,
a cabeça pendendo para baixo em minhas costas.

— Você não deveria estar fazendo isso até você estar curado.

Ela chiou. Dei um tapa na bunda dela e ri.

— Eu me sinto ótimo.

~ 152 ~
Ela bufou enquanto eu caminhava para fora da cozinha, o riso de
Cat desapareceu quanto mais fomos para o corredor.

Subi as escadas e no meu, não, no nosso quarto, fechei a porta e


Miri caiu na cama. Ela suspirou e rolou em uma posição sentada, a
boca curvada para baixo.

— O que você quer falar?

Os olhos de Miri rastreando-me enquanto eu me movia ao lado da


cama.

O calor desenrolava na minha virilha, chamas lambendo minha


espinha enquanto meu pau ficou ainda mais duro. Fazia muito tempo
desde que eu senti sua boceta apertada em volta do meu pau. Eu
cheguei por trás do meu pescoço, tirei minha camisa, e pés fora dos
meus sapatos, nunca olhando para longe do rosto impressionante de
Miri e esses lindos olhos verdes. Sua pele pálida estava corada, seus
lábios vermelhos se separaram, e seu olhar cheio de luxúria sacudiu de
cima para baixo do meu corpo, demorando-se sobre a cicatriz rosa
brilhante no meu peito, logo abaixo do ombro. Ela engoliu em seco e vi
seu peito expandir e contrair mais rápido enquanto sua respiração
pegou.

— Eu pensei que íamos conversar.

Eu puxei meu cinto para fora das alças e abri minha calça jeans,
empurrando minha cueca boxer com eles e chutei tanto de lado. Sua
língua rosa disparou para fora para lamber os lábios e eu senti isso do
meu pau até as minhas bolas.

— Foder em primeiro lugar, conversar depois.

Rosnei. Miri engoliu em seco e observou, seu olhar fixo enquanto


eu caminhei até a cama e agarrei-a pelo tornozelo. Ela gritou quando eu
a arrastei através dos lençóis lisos, sem parar até as pernas penduradas
sobre a borda do colchão, emoldurado por minhas coxas.

— Tire a roupa.

Eu levantei a bainha de sua camisa e puxei-a sobre a cabeça.


Então eu ataquei seus shorts minúsculos rosa, abrindo o botão com
facilidade. Em um movimento rápido, eu os puxei e Miri estava nua,
toda a pele cremosa e sardas de cor castanho-avermelhado.

— Jesus. Você é tão perfeita.

Eu lambi meus lábios e vi os olhos de Miri escurecerem. Eu


levantei uma perna para colocar meu joelho na cama, mas a minha

~ 153 ~
bonequinha foi mais rápida. Ela deu um salto, o rosto agora no nível
com a minha virilha, meu pau balançando bem na frente de sua boca
pecaminosa. A língua de Miri apareceu de novo, só que desta vez ela
lambeu um caminho através da minha fenda vazando, lambendo cada
gota de fluido.

— Puta merda!

Eu xinguei quando onda de prazer foi um tiro direto para minhas


bolas.

Miri olhou para cima com um sorriso inocente e colocou sua


língua enfeitiçada para fora mais uma vez. Ela correu sobre a cabeça do
meu pau grosso, sacudindo sua língua para frente e para trás sobre o
frênulo e dentro da fenda. Eu gemi meus joelhos fracos pelo intenso
prazer. Miri lambeu os lábios e mergulhou para frente, chupando meu
pau no calor úmido de sua boca, e eu quase caí no chão.

— Jesus, boneca. Porra. Sua boca...

Miri subiu e desceu no meu pau e muito cedo, eu estava ofegante


e gemendo, esforçando-me para segurar o meu orgasmo. Ela escavado
suas bochechas, chupando forte. Então ela puxou de volta, rodando
sua língua ao redor da cabeça antes de tomar o meu comprimento
inteiro para o fundo da sua garganta. Quando ela engoliu em volta do
meu pau e seus músculos da garganta o agarraram como um punho
apertado, eu gritei e puxei para fora da boca com um pop obsceno.

— Você não gostou?

Perguntou ela, com a boca brilhante com saliva, lábios vermelhos


e inchados e tão gostosa. Eu ri e passei a mão pelo meu cabelo úmido.

— Gostei? Porra eu adorei. Eu não queria parar, mas eu não


quero gozar em sua boca, boneca.

Eu lutei pra manter meus instintos sob controle e lancei um olhar


aquecido no seu caminho, excitado ao ouvir seu suspiro.

— O que eu quero é te foder até desmaiar. Fazer você ver estrelas,


boneca.

Eu dei um passo para frente e me inclinei sobre ela, colocando as


mãos sobre a cama, um de cada lado dos quadris de Miri. Ela reclinou
enquanto preenchi seu espaço. Eu esfreguei meu nariz até o pescoço
para sua orelha e inalei.

— Eu vou dar-lhe o passeio de uma vida, boneca. Um que você


não vai esquecer nunca.

~ 154 ~
Miri puxou uma respiração instável.

— Você não tem que se preocupar que eu esqueça de você. Eu te


amo.

Segurei seus ombros e encontrei seus olhos.

— Diga isso de novo.

Miri tentou esquivar-se do meu alcance, seu pescoço e rosto


corando em vermelho.

— Pare.

— Miri. Por favor, diga novamente.

Hesitante, Miri encontrou meu olhar, parte inferior do lábio


trêmulo.

— Eu te amo.

— Deus, eu também te amo.

Eu mal terminei de falar antes de pressioná-la na cama, cobrindo


seu corpo com o meu. Tomando sua boca em um beijo profundo, senti
algo dentro de mim mudar, algo intangível, mas muito real. Eu não
poderia colocar um nome nisso, mas estava lá, que deu entrada no meu
coração, fazendo-a doer a cada batida.

Amor. Isto era como o amor se sentia. Tinha se passado tanto


tempo desde que eu amei alguém e, mesmo assim, eu nunca havia
amado alguém como amava Miri. Alguém que eu não estava
relacionado. Uma mulher. Um amante. Uma parceira. Eu estava farto
de tentar negá-lo, tentando não sentir nada. Farto de enganar a mim
mesmo. Eu sei há um tempo eu estava apaixonado por Miri. Esta foi a
primeira vez que eu me permiti sentir tudo isso sem reservas. Para me
abrir completamente ao conceito de amor... e para ela.

De repente, eu não poderia obter o suficiente de Miri de uma só


vez. Minhas mãos passaram de cima à baixo em seus lados, tocando
tudo o que eu poderia alcançar enquanto minha boca mordiscaram a
pele sensível de seu pescoço e garganta.

— Deus, você tem um gosto tão bom.

Miri gemeu e os quadris torceram debaixo de mim em um apelo


silencioso. Gostaria de transar com ela, mas eu precisava de mais em
primeiro lugar. Eu precisava reivindicar cada polegada do corpo desta
incrível mulher antes de tomar o meu próprio prazer.

~ 155 ~
— Jag...

Sua voz era áspera e desesperada.

— Logo, boneca. Em breve.

Minha boca estava em sua clavícula, parando para sugar uma


marca no cume.

— Por favor!

Ela trancou seus tornozelos em torno de minhas costas e


levantou os quadris para fora da cama.

— Shhhhh.

Eu gentilmente desenrolei as pernas dela e beijei meu caminho


até seus seios, pequenos, com mamilos cor de rosa, a cremosa carne e
livre das sardas que salpicavam a maior parte de sua pele.

— Foda-se.

Eu sussurrei, arrastando a ponta da minha língua através de um


dos botões. Ele apertou sob a minha boca, perfeito para morder. Meus
lábios fecharam em torno do pico e eu chupei com força, afundando
meus dentes com cuidado.

— Oh meu Deus.

Miri jogou a cabeça para trás e seu corpo arqueou apertado.

— Jag, preciso de mais.

Ela era uma bagunça, batendo e pedindo-me para foder.

Ignorando seus apelos, eu me mudei para o outro seio, dando-lhe


igualdade de tratamento. Desesperada, Miri enfiou a mão entre nós e
começou a dedilhar sua boceta.

— Não.

Eu agarrei seus pulsos e prendi-os para os lados.

— Isso é meu, boneca. Estou no comando de todo o seu prazer


agora.

Segurando seus braços apertados, eu abaixei a cabeça e toquei


levemente a ponta da minha língua na sua fenda.

— Jag!

Miri goleou debaixo de mim, boca aberta e olhos verdes vidrados


com luxúria.

~ 156 ~
— Mais, por favor.

Ainda segurando suas mãos, eu usei meus joelhos para forçar


suas coxas a abrirem, espalhando-a.

— Deus, você é tão gostosa.

Meus olhos estavam focados em sua buceta rosa lisa, brilhante e


molhada e pronta para o meu pau. Em vez de ceder ao meu desejo e
empurrar meu pau naquele buraco quente, eu passei minha língua e
percorri do fundo da sua boceta todo o caminho até seu clitóris. Miri
gemeu alto e bom som, e as coxas apertaram em torno de minhas
costelas.

— Você tem gosto de pecado, boneca.

— Mmph.

Miri grunhiu e se contraiu quando repeti o lamber, lento,


saboreando a doçura de seus sucos. Com seus pulsos apertados em
minhas mãos presas ao lado de seus quadris, as pernas sensuais
espalhadas aos pedaços, eu mergulhei na carne rosada e sedosa e
comecei a deleitar em sua vagina.

— Deus, Jag... oh meu Deus, oh, oh...

Eu enterrei meu rosto na fenda macia, passando minha língua


sobre cada parte dela. Toda vez que sacudi o pequeno botão, Miri
arqueou as costas e tentou pular fora da cama.

— Você gosta disso, boneca?

Eu lambi seu clitóris mais e mais, torturando, provocando,


beliscando e sugando em seu ponto mais sensível até que ela estava
gritando e implorando.

— Foda-me, Jag! Foda-me, por favor, me fode ... OhMeuDeus.

Eu podia sentir seu corpo tenso, seu clímax se aproximando


rapidamente, mas eu não tinha terminado com ela ainda. Eu me afastei
e Miri gritou em frustração.

— Não! Mais, eu preciso-

— Eu sei o que você precisa boneca.

Eu deixei cair entre as pernas dela e empurrei minha língua em


seu buraco, apertando e cutucando quando eu a peguei com a minha
boca.

~ 157 ~
Os ruídos de Miri eram como a trilha sonora do meu próprio
pornô pessoal. Meu pau era como aço, pré-sêmem escorrendo pelo
comprimento quando eu ajoelhei na cama. Eu queria transar com ela,
mas o sabor dela era tão bom. Quando o meu próprio desejo desligou
meu cérebro, minha testa coberta de suor da tensão causada pela
minha necessidade de liberação, eu soltei uma de suas mãos. Ela
imediatamente colocou-a sobre a minha cabeça, agarrando o meu
cabelo em seu punho. Enfiei dois dedos na vagina apertada de Miri,
sacudindo minha língua sobre seu clitóris inchado. Levou apenas um
golpe para ela quebrar. Ela inclinou-se para fora da cama, gritando
enquanto seu orgasmo arruinava seu corpo. A boceta de Miri contraiu
em torno de meus dedos, assim tão apertada e quente que eu não podia
esperar mais.

— Foda-se.

Eu gritei quando eu soltei o outro pulso de Miri e não perdi tempo


dirigindo meu pau para o céu, não parando até minhas bolas baterem
contra seu traseiro. Sua vagina ainda estava sacudindo com tremores,
apertando e soltando em volta do meu pau sensível.

— Oh Deus! Jag!

Miri agarrou meus ombros, suas unhas cavando minha pele


quando eu comecei a foder ela duro e rápido através de seu orgasmo,
puxando-o para fora quando ela jogou a cabeça para trás e gritou em
êxtase.

— Jesus, boneca.

Sua vagina era como um punho, ondulando e apertando meu pau


enquanto ela cavalgava em seu clímax interminável. Rangi os dentes e
desesperadamente segurei minha própria libertação que estava
construindo rapidamente.

— Porra, porra, porra.

Não adiantava. Minhas bolas repuxaram e prazer explodiu em


minha virilha, chamas rasgando pela minha espinha e deixando todo o
meu corpo em chamas. Miri caiu mole debaixo de mim, consumida. Eu
me espalhei em cima dela, cobrindo-a como um cobertor, enquanto
batia meus quadris rápido e duro.

— Maldição! Foda-se, Miri. Isso tão bom.

Meu ritmo vacilou e prazer como nada que eu já tinha sentido


antes atravessou o meu pau, cada jato que vinha me deixava mais e
mais alto até a euforia me fazer voar. Cada músculo do meu corpo

~ 158 ~
estava esticado e eu rugi, batendo em uma última vez. Caí enquanto a
tensão dissolvia, deixando-me desossado e saciado.

Suado e exausto, com minha ferida doendo mais do que eu


pensava que estaria, não que eu fosse dizer a Miri. Eu rolei minha
boneca, trazendo-a comigo até que ela estivesse debaixo de um braço, a
cabeça apoiada sobre o lado ileso do meu peito.

Nenhum de nós falou, a nossa respiração pesada combinada com


o cheiro de sexo pairava no ar dizendo mais do que qualquer palavra
poderia transmitir. O que aconteceu nessa cama agora não foi apenas
sexo. Foi uma experiência transcendental. Ela mudou algo dentro de
mim. Mudou quem eu era como um homem.

Eu beijei o topo de sua cabeça e respirei o odor cítrico de seu


shampoo.

Meus olhos ficaram pesados e a última coisa que eu lembrava


antes de sucumbir a um sono profundo e sem sonhos era que Miri era
minha, e eu faria qualquer coisa para me certificar de que continuasse
assim.

~ 159 ~
Miri

Era uma manhã tranquila, o sol tinha acabado de aparecer ao


longo do horizonte. Eu observei Jag enquanto ele se ajoelhou na grama
ordenadamente cortada e passou a mão sobre uma lápide de granito
polido. Ele murmurou algo baixinho que eu não conseguia pegar. Eu
queria ser respeitosa e fiquei alguns passos para trás, enquanto ele
visitava o túmulo de sua irmã. Não querendo escutar, eu deixei o meu
olhar vagar sobre o cemitério, as pedras brilhando de laranja enquanto
o sol subiu acima do horizonte. Era um lugar bonito, com árvores
floridas, e rodeado de uma floresta para dar aos enlutados um pouco de
privacidade.

— Miri.

A voz de Jag me puxou dos meus pensamentos. Ele tinha o braço


estendido, os dedos para fora, esperando por mim para chegar a ele.
Coloquei minha mão na sua e me ajoelhei ao lado dele quando ele me
deu um puxão suave. Jag inalou fundo, como se preparando antes de
falar.

— Esta...

Ele limpou a garganta.

— Esta é a minha irmã, Rose.

Dedos longos escovado com reverência sobre as letras esculpidas


na pedra. Notei que ela tinha morrido a cinco anos atrás, e só tinha
vinte e um anos quando ela morreu. Jag tinha vinte e três.

— O que aconteceu?

A mão de Jag apertou a minha.

— O meu antecessor.

Quando ele não entrou em detalhes eu me virei e olhei para ele.


Jag estava olhando para o céu, como se à procura de respostas em
algum lugar no grande além. Ele estremeceu e eu percebi, não, Jag não
estava procurando por respostas, ele estava controlando sua raiva. Com
os dentes cerrados, Jag me contou a história trágica de sua irmã.

~ 160 ~
— Ele a tinha. Caso parecido com o da Cat. Drogada, cativa, sua
puta pessoal.

Um rosnado baixo vibrou em seu peito.

— Ou talvez ele passasse ela ao redor, eu não sabia, porra. Nossa


mãe, ela era uma viciada. Muito viciada. Era só eu e Rose quando ela
teve uma overdose.

Ele soltou um suspiro e correu um dedo sobre a pedra.

— Eu tinha dezoito anos, mas Rose não. Fiquei com ela para que
ela não acabasse no sistema.

Ele deu um sorriso triste.

— Não foi como se eu fosse material de faculdade, então eu não


estava realmente perdendo nada por cuidar de minha irmãzinha.
Precisava de dinheiro, então eu virei garoto de recados para um
revendedor local e subi rápido.

A voz de Jag tornou-se tensa. Eu beijei seu ombro para que ele
soubesse que eu estava lá com ele, apoiando-o.

— Você não tem que me dizer — eu sussurrei.

— Eu tenho.

Sua resposta foi cortante e imediata. Ele precisava tirar isso do


seu peito e eu ficaria aqui para ouvir.

— Eu era menor de idade quando comecei a trabalhar para


Ochoa, usando uma identidade falsa para convencê-lo a me contratar.
Aos vinte e dois eu era um traficante insignificante quando Rose...

Jag engoliu e parecia doente, ou furioso. Eu não tinha certeza do


que.

— Quando Rose foi tomada.

Ele rosnou. Eu não poderia segurar o meu suspiro de surpresa.


Jag se virou para mim, seus olhos azuis brilhando com a dor, com
pesar, com a agonia do destino de sua irmã.

— Eu não podia chegar até ela.

Ele tossiu uma risada sem humor.

— Ninguém podia. Ricardo 'The Wolf' Ochoa governava o tráfico


de drogas em Austin, rodeou-se de homens armados em todos os
momentos. Minha graça salvadora, se você poderia até chamar assim,

~ 161 ~
foi que por causa do nome da minha identidade falsa, eles não sabiam
que ela era minha irmã. A única maneira de chegar até ela era me
aproximar do chefe no topo, então foi isso que eu fiz.

O olhar de safira de Jag endureceu e meus braços picaram com


arrepios. Prendi a respiração, à espera de ouvir o resultado inevitável a
este conto horrível.

— Trabalhei por um ano inteiro para aquele bastardo, sabendo


que ele tinha Rose, sabendo que ela provavelmente estava ficando mais
fraca a cada dia. Seu corpo, sua mente...

Os músculos da mandíbula de Jag pulsava.

— Foda-se.

Ele baixou a cabeça e passou a mão pelo cabelo escuro.

— Eu agarrei e matei o meu caminho para o topo em tempo


recorde.

Disse ele, olhando para o nada, não encontrando meus olhos.

— Não parei até me tornar seu braço direito.

Desta vez, Jag virou-se para olhar diretamente para mim.

— Então, eu o matei.

Engoli em seco, não exatamente surpresa com a admissão de Jag.


Ele era um traficante de drogas, um implacável. Eu ouvi as histórias, eu
sabia quem ele era. Inferno, eu sabia que ele provavelmente matou
Mason, se não por suas próprias mãos, então foi pedindo alguém para
fazê-lo. Deveria me incomodar que meu amante era um assassino, mas
isso não aconteceu. Meu passado estava cheio de horrores e lamento
que eu não podia mudar. Como eu poderia julgá-lo por ter o mesmo?

— Eu não poderia pará-lo.

Disse ele, a voz embargada.

— Quando ele percebeu que ia morrer, ele atirou na minha


irmãzinha bem na minha frente.

Jag bloqueou os olhos com o meu.

— Eu estava tão fodido na cabeça, Miri. Assistindo o cérebro de


Rose espalhar... por cada porra de lugar, com a queda do seu corpo sem
vida no chão.

~ 162 ~
Eu respirei fundo e vi o estremecimento de Jag. Eu pensei que ele
iria parar, mas ele continuou.

— Eu preciso que você saiba quem eu sou, Miri. Esta vida... isso
não foi a minha escolha, mas eu fiz isso, e eu fiz isso de bom grado. Eu
matei pessoas. Eu matei o meu antecessor. Eu o matei lenta e
dolorosamente, cortando-o em pedaços apenas para ouvi-lo gritar, e eu
não me arrependo disso.

Seu corpo ficou tenso, como se estivesse esperando que eu me


afastasse ou gritasse de medo.

Em vez disso, eu levei a mão ao seu rosto e gentilmente tracei um


caminho pelo rosto mal barbeado. Os olhos de Jag arregalaram e sua
respiração engatou.

— Eu não me importo quem você era. O que você era.

Eu pisquei para conter as lágrimas, um nó bloqueando a minha


garganta.

— Eu te amo. Você é uma boa pessoa por dentro.

Jag abriu a boca para me contradizer, mas eu pressionei.

— Você é uma boa pessoa que fez coisas más, Jag. Eu também fiz
coisas vergonhosas.

Baixei meu olhar quando uma onda de humilhação varreu em


cima de mim quando eu pensei nos atos sexuais que eu tinha feito em
troca de drogas.

— Boneca...

Jag parecia aflito. Eu encontrei seus olhos novamente.

— Eu só posso ser quem eu sou agora e espero que você me ame,


apesar do meu passado. Assim como eu te amo, Jag. Quem você era,
não importa. Eu sei até onde você iria apenas para me manter segura.
O que você sacrificou para tentar manter sua irmã segura. Esse é o
homem que eu amo.

Eu vi quando o meu grande, forte, destemido ex-senhor da droga


engoliu, balançando seu pomo de Adão e seus olhos brilhando com
umidade. Ele segurou meu rosto e passou o polegar pelos meus lábios.

— Eu amo você, Miri. E você está certa, eu vou fazer de tudo para
mantê-la segura. Qualquer coisa. Vamos para casa e eu vou dizer-lhe o
meu plano.

~ 163 ~
Jag se levantou e estendeu a mão, ajudando-me a levantar. A
volta para casa foi tranquila e meu estômago doía, cheia de nervos o
tempo todo. Algo terrível estava vindo, eu podia sentir. Seja qual for
“plano” que Jag resolveu ia me cortar em pedaços antes que eu pudesse
ser consertada.

Jag não disse nada. Ele apenas olhou para fora da janela, em
profundo pensamento, até que nós paramos na garagem.

Jag

— Não! Por favor, não faça isso.

Miri chorou e implorou, com os olhos inchados e rosto corado de


horas de mendicância e soluçando.

— Você não pode.

Minha doce Miri estava perto de hiperventilar. Preocupado, eu


agarrei e esmaguei-a ao meu peito, murmurando baixinho enquanto eu
acariciava seus cabelos.

— Vai ficar tudo bem, boneca. Eu tenho que fazer isso, você sabe
disso.

— Não.

Ela lamentou, suas pequenas mãos segurando minha camisa e


esmagando em seus punhos. Eu esfreguei suas costas e enterrei meu
nariz em seus cabelos de fogo.

— Eu não posso correr o perigo dele nos encontrar. Encontrar-te.


Preciso acabar com isso para que possamos viver sem olhar sobre
nossos ombros.

Miri tremia em meus braços, seus soluços abafados pelo meu


peito. Era como se meu coração estivesse sendo rasgado diretamente
fora do meu peito e pisou sob a bota de alguém até que tudo o que
restava era uma mancha sangrenta no chão.

— Sinto muito, boneca.

Eu gentilmente desenrolei os seus dedos de minha camisa e fiquei


de pé. Miri gritou e tentou se jogar de volta para mim. Eu me senti mal
quando eu pedi George para segurá-la. Assistir seus braços enrolarem

~ 164 ~
em volta de sua cintura enquanto ela chorava quase me quebrou. Virei
meu olhar para George.

— Eu estou confiando em você para seguir as minhas instruções


ao pé da letra.

Ele concordou e eu sabia que podia confiar nele com o meu bem
mais precioso. Minha Miri. Minha boneca. Minha vida.

Cat observava de trás Miri, com lágrimas escorrendo pelo rosto


por sua amiga. Antes que eu fizesse algo estúpido, como pegar Miri em
meus braços e nos trancar no quarto para sempre, eu peguei a minha
mochila, joguei-a por cima do ombro, e sai pela porta. Frank estava
esperando com o carro, enquanto Sammy colocava seu equipamento no
porta-malas e entrava no banco de trás. Eu pulei no banco do
passageiro e rosnei.

— Saia daqui, agora.

Eu precisava colocar distância entre Miri e eu, senão eu iria


quebrar e correr de volta para dentro da casa, varrê-la em meus braços,
e nunca deixá-la.

— Entendido, Boss.

Frank colocou o carro em marcha e dirigiu até a estrada


principal. Quanto mais distante ficávamos de Austin, mais vazio eu me
sentia. Então eu me lembrei porque eu estava fazendo isso e meu
coração oco endureceu.

Eu não iria falhar com Miri como eu falhei com Rose.

O espaço vazio no meu peito encheu-se com o fogo, crepitante e


sibilando enquanto eu permiti que as chamas devorassem Jag,
deixando Boss que estava entre as cinzas ressurgir como uma Fênix
quando o inferno se extinguiu.

Meus dedos se enrolaram e meus músculos tencionaram. Eu


estava indo terminar isto ou morrer tentando. Quando eu estava com
Miri, eu poderia ser Jag, mas apenas Boss pode ter certeza que ela
estava segura. E eu estava indo ter a porra da certeza de que Miri
estaria segura.

Eu fui acordado quando Frank desligou o carro.

— Nós chegamos, Boss.

~ 165 ~
— Porra.

Eu estiquei meu pescoço, que doeu de adormecer em um ângulo


estranho contra a janela. Do lado de fora estava escuro e eu mal
conseguia distinguir a forma da pequena casa em frente a nós.

— Vamos.

Frank abriu a porta e eu fiz o mesmo, descendo e esticando


minhas pernas, os músculos contraindo depois de algumas horas na
estrada. A rota era menos quatro horas, então Frank dirigiu direto para
Laredo, uma pequena cidade na fronteira mexicana, enquanto eu
dormia. Ele abriu o porta-malas e Sammy pegou as caixas e sacos de
equipamento de que precisava para obter a casa pronta para El
Cuchillo.

— Certeza que isso vai funcionar, Sammy?

Frank perguntou enquanto ele abria uma caixa e removia vários


rolos de cabo.

— Eu tenho informação de que Cuchillo tem direito de família


sobre o rio a partir daqui e que ele está determinado em matar Boss,
então sim, isso vai funcionar.

Eu desejei sentir a confiança que minha genialidade tecnológica


parecia ter, mas eu não tinha ideia do caralho se Cuchillo iria aparecer.
Pelo que eu sabia, o idiota estava a meio caminho para a América do
Sul.

— Nós cortamos todas as suas contas bancárias usando as


informações encontradas na casa e transferimos todo o seu dinheiro.
Ele quebrou, ele perdeu seu território quando ele a abandonou e nos
tirou todos os seus homens, mais ele perdeu todo o seu poder.

Sammy olhou para Frank quando eu abri outra caixa cheia de


pequenos dispositivos negros.

— O que você faria?

Frank olhou para Sammy, contemplando a pergunta do homem.

— Eu ficaria além de furioso. Assassino. E esse idiota? Depois de


tentar matar o Boss e Miri mais de uma vez.

Frank virou-se para mim.

— Na sua própria casa? Aquele idiota não pensa com a cabeça.


Você está certo. Ele virá.

~ 166 ~
Frank concordou.

— Bom.

Eu disse, cansado de falar.

— Vamos botar toda essa merda no lugar e deixar pronto, então


pode dizer a George para começar os rumores de meu paradeiro. Então,
vamos esperar.

Levou metade da noite e parte do dia seguinte, antes que tivemos


todo o sistema criado ao redor da pequena casa. Frank e eu nos
revezamos para dormir enquanto Sammy fez a maior parte do trabalho.
Nós dois agimos como seus assistentes, anexando os fios e colocando
sensores no quintal enquanto ele organizou o painel de controle à mesa
na cozinha um pouco pobre.

Eu acordei de um cochilo na hora do jantar e corri as duas mãos


pelo meu cabelo. A quantidade de estresse de estar separado de Miri
estava me matando. Saber o quão magoada ela estava quando eu saí, o
olhar de desespero em seus olhos. Maldição, isso praticamente me
levava a dizer “foda-se”, dirigir de volta para Austin, lançando-a por
cima do ombro, e desaparecendo, apenas nós em uma ilha particular
em algum lugar que nunca seríamos encontrados. Mas esse era o
problema - Cuchillo acabaria por encontrar-nos. Homens como ele
nunca mais paravam. Seu ego enorme foi esmagado debaixo da minha
bota, a humilhação pública demais para ele tomar sem extrair sua
vingança. Eu tinha que fazer isso direito.

Por mim.

Por Rose.

Por minha boneca quebrada.

Eu desliguei meu telefone da mesa de cabeceira e vi uma dúzia de


chamadas perdidas e outras dúzias mensagens de texto, tudo a partir
de Miri. Meu peito se apertou com o pensamento dela chorando ao
dormir, desesperada para falar algum sentido para mim. Eu sabia. Eu
estava exatamente na mesma posição enquanto ela estava com aquele
bastardo El Cuchillo. A memória do que ele fez com a minha boneca
preciosa queimava em meu intestino. Ele a violou nas suas piores
formas possíveis, e eu não pararia até que ele estivesse morto. Eu
desliguei meu telefone e joguei de volta na mesa de cabeceira. Nada me
distrairia de terminar isto, nem Miri, não nada.

Frank estava na cozinha bebendo uma xícara de café. Eu servi


um para mim e sentei-me à mesa ao lado dele.

~ 167 ~
— Sammy está dormindo?

Perguntei.

— Sim. Ele concluiu a configuração cerca de uma hora atrás,


então eu disse a ele para obter algum fechar de olhos.

Os olhos escuros de Frank encontraram os meus.

— Achei que você ia fazer a bola correr o mais rápido possível


então ele devia dormir enquanto podia.

— Você está certo.

Eu disse, sorvendo a bebida quente lentamente.

— Envie uma mensagem para George e diga-lhe para começar.

Frank pegou o telefone do bolso e mandou uma mensagem


rápida. Um segundo depois, o telefone apitou.

— Ele está avisado, Boss.

— Bom.

George iria enviar um par de meus homens nas ruas para soltar
dicas que eu deixei a cidade agora que Brick tomou conta do meu
território. Eles mencionariam a minha localização possível sem dar uma
morada exata. Muitos detalhes iriam gritar “armadilha” e enquanto El
Cuchillo era um homem que corria por impulso, mas não era estúpido.
Se eu deixasse isso muito fácil, ele saberia que eu estava esperando por
ele. Levaria mais tempo assim, com Cuchillo desentocando da minha
casa segura, mas era mais uma coisa de certeza do que fazer o homem
suspeito. Ele iria enviar batedores para a cidade e gostaria de ter
certeza de aparecer em algumas vezes em público, para os moradores
darem uma boa olhada em mim. Em seguida, ele iria até Cuchillo e
seus homens me encontrariam.

Agora... tudo o que podíamos fazer era esperar.

~ 168 ~
Miri

— Eu não posso fazer isso, Cat. Eu não posso.

Eu andei na frente da parede de janelas da extravagante suíte da


cobertura do prédio ultramoderno W Austin Residence. Meus nervos
estavam agitados e o meu estômago torcido, causando uma náusea que
parecia nunca passar. Se eu fosse parar para pensar sobre isso, era
provavelmente devido a outra razão. Um caminho que me recuso a
permitir a minha mente ir.

— Você tem que manter a calma, Miri. Não é bom para o-

Eu atiro a minha melhor amiga um olhar escuro, em seguida,


sacudo meus olhos até um dos muitos homens enviados para nos vigiar
junto com George, que estava hospedado em um dos muitos quartos da
suíte.

— Desculpe.

Disse Cat. Ela sabia que eu não queria falar sobre... isso, na
frente de qualquer outra pessoa.

— Eu deveria ter dito ao Jag antes dele sair — Eu tremi e cruzei


os braços sobre o estômago — Talvez ele não teria ido.

Cat se levantou e se juntou a mim na frente das janelas.

— Você não estava pronta, Miri. Quando ele chegou em casa do


hospital, ele ficou na casa durante três semanas e você nunca
encontrou a coragem de trazer o assunto à tona. Tem que ser quando
você sentir que é certo.

Segurei um soluço e olhei para as colinas de Austin.

— Você está certa. Eu poderia ter dito a ele. Eu estava com muito
medo. Agora, ele pode não...

Eu funguei e pisquei para conter as lágrimas ardentes.

— Ele não pode imaginar.

~ 169 ~
Cat agarrou meu pulso e me arrastou para o quarto, fechando a
porta e trancando-a.

— Miri, você tem que parar com isso. Não é bom para o bebê e é
terrível para a sua própria saúde. Você está horrível.

Cat me empurrou gentilmente sobre a cama e sentou ao meu


lado, atirando um braço em volta dos meus ombros.

— Quanto tempo se passou desde que você comeu?

Eu me curvei, desejando que eu pudesse desaparecer.

— Sim, isso é o que eu pensava.

Ela pegou o telefone no criado-mudo.

— Oi, eu gostaria de três saladas de frutas, duas tigelas de aveia


em grãos, dez tacos do café da manhã, seis omeletes completos, quatro
panquecas e quatro waffles com cobertura, por favor.

Houve uma pausa.

— Sim, três garrafas de café e duas de suco de laranja. Obrigada.

Cat desligou e me deu um sorriso de satisfação.

— Isso é muita comida, Cat.

Eu enruguei meu nariz quando o meu estômago saltou. Ela


revirou os olhos.

— Há cinco homens adultos andando por aqui, além de nós. Você


acha que eles não estão com fome?

— Bem, eu-

— Além disso, desta forma você pode escolher o que você acha
que pode manter, e os rapazes e eu vamos comer o que você não quiser.
Mas você vai comer.

Disse ela antes que eu pudesse protestar. Corri a mão ao longo da


minha barriga plana.

— Eu estou tendo um tempo difícil em acreditar que estou


grávida, que eu terei um bebê mesmo depois de tudo o que passei. A
enfermeira disse que é parte dos testes sanguíneos para todas as
mulheres jovens. Quando eu estava no hospital tendo minha cabeça
checada, o médico me disse, mas eu simplesmente não podia aceitar...
quer dizer, de certa forma, eu estava feliz, especialmente porque se

~ 170 ~
passou tempo suficiente e eu sei que é de Jag, provavelmente de uma
das primeiras vezes que nós...

Eu parei, decidindo que não tinha necessidade de entrar em


detalhes.

— Mas quando Jag foi baleado e tudo estava uma bagunça, eu


não queria estragar a sua recuperação, dizendo-lhe que ele estava
prestes a ser confrontado com uma criança que ele não pediu.

Minha visão ficou turva.

— Miri, você é estúpida? Esse homem te ama tanto que é doentio.


Ele não vai dispensá-la porque você está grávida.

Cat bufou.

— Inferno, ele provavelmente vai colocá-la em uma cama em um


quarto forrado com travesseiros e trancar a porta para que você não se
machuque.

Eu queria sorrir, mas não conseguia superar o meu medo


intenso. Medo que Jag me odiaria. Medo da rejeição. Medo de que ele
nunca saberia que seria pai, porque ele estaria morto antes que eu
pudesse contar. Minhas mãos tremeram mais forte.

— Eu deveria ter dito a ele.

Minha voz engatou e comecei a hiperventilar. Cat esfregou minhas


costas e empurrou minha cabeça entre os joelhos.

— Respire, Miri. Tudo vai ficar bem.

Ela tinha boas intenções, mas eu sabia que suas palavras eram
vazias. Cat não podia fazer nenhuma promessa, mas era bom tê-la
comigo, enquanto eu me desfazia. Se eu não tivesse a Cat, eu estaria
completamente sozinha. De jeito nenhum eu iria ir para George ou para
um dos Homens de Preto buscando qualquer tipo de conforto.

No momento em que a comida chegou, eu tinha parado o meu


pânico apenas o suficiente para me juntar a todos na mesa da sala de
jantar e não angariar quaisquer olhares estranhos. Eu comi as minhas
frutas e aveia em silêncio, deixando que os outros preenchessem o
espaço vazio com a conversa. Os homens nunca falaram dos negócios
na minha frente ou de Cat, por isso, a discussão era ridiculamente
trivial – esportes, previsão do tempo e mais esportes. Eu queria pegar
um deles por seus amplos ombros e sacudi-lo até que ele me contasse o
que estava acontecendo. Mesmo que fosse apenas para saber se Jag
estava ou não seguro, onde ele estava, como ele estava, o que ele estava

~ 171 ~
fazendo... eu não podia me sentar aqui nesta torre dourada e não fazer
nada enquanto o pai do meu filho estava lá fora arriscando sua vida.
Com esse pensamento, a náusea voltou e eu empurrei para trás da
mesa e corri para o banheiro apenas em tempo de perder todo o meu
café da manhã enquanto o soltava no vaso sanitário.

Felizmente, Cat me deixou sozinha na minha miséria. A última


coisa que eu queria era alguém pairando. Lavei minha boca e deslizei
para o chão, descansando minha bochecha nos azulejos frios. Quatro
dias e eu já estava com o meu emocional como um desastre total de
trem. Não havia nenhuma maneira que eu poderia ficar aqui e manter
minha sanidade. Eu tinha que sair e encontrar Jag, fazer algo. Dizer a
ele sobre o bebê. Talvez se ele soubesse que ele ia ser pai, ele iria parar
de tomar este risco desnecessário tentando atrair El Cuchillo. Talvez ele
fosse voltar.

Eu não tinha certeza quanto tempo eu estava deitada no chão,


mas no momento em que fiquei de pé, minha mente estava feita.

— O que você está-?

— Shhhhh.

Eu peguei Cat pelo braço, manobrado pelo corredor para o nosso


quarto e fechei a porta.

— Eles vão ouvi-la.

— Exatamente.

Minha melhor amiga disse, cruzando os braços sobre o peito, as


sobrancelhas se uniram e sua boca voltou-se para baixo.

— Você estava... espionando nossos guardas?

— Sim. Fique quieta.

Eu sibilei.

— Espere aqui.

Voltei para o corredor, ignorando uma Cat silenciosa, acenando


com a mão freneticamente para me deixar saber que ela estava longe de
estar feliz com minhas ações.

Andando de pés descalços, parei na esquina onde o corredor se


abriu para a ampla sala de estar e ouvi as vozes dos homens.

~ 172 ~
— Ele disse que não há sinal de ninguém até agora.

Isso foi Drake, ou o Homem de Preto número um, como eu o tinha


apelidado antes de saber o seu nome.

— Vai ser logo.

Disse a voz de comando de George com confiança.

— Feyo ouviu de um de seus contatos que tem havido muita


conversa sobre El Cuchillo e onde ele poderia estar escondido.

— Escondido não significa que ele está indo para a casa em


Laredo.

Disse o outro Homem de Preto, um cara com o nome ridículo de


Scratch. Meu coração saltou para essa nova informação. Laredo. Eu
reconheci o nome da cidade, mas não tinha certeza de onde ficava. Em
algum lugar ao sul, eu sabia disso.

— Ele está cavando por mais.

George disse calmamente.

— Não tenho dúvidas de que El Cuchillo vai para Boss. Ele nunca
irá permitir que este tipo de humilhação fique impune.

Um frio me fez estremecer e eu instintivamente cobri minha


barriga. Impune. Eu sabia qual era a ideia do doente bastardo de
punição. Apenas o pensamento fez a bile subir pela minha garganta.

— Laredo é uma cidade muito grande, George. - Disse Scratch.

Alguém empurrou para trás da mesa e eu congelei. Quando ouvi o


barulho de um copo na cozinha e o derramamento de um líquido, eu
relaxei. Ninguém estava vindo em minha direção.

— Eles estão fora de Laredo, não em Laredo, idiota.

George retrucou.

— Em um pequeno pedaço de merda, a leste de algum pedaço da


Texas A&M University.

Bingo!

Esperei para ver se eu poderia ficar para mais informações.


Quando a conversa rapidamente se transformou em mulheres e as
últimas conquistas dos homens, eu rastejei de volta para o quarto.

— Jesus, Miri! O que você estava pensando?

~ 173 ~
Cat perguntou, obviamente preocupada se a vermelhidão ao redor
dos seus olhos era alguma indicação.

— Acalme-se.

Eu disse, fazendo uma careta.

— Esses caras estão aqui para nos proteger. Qual seria a pior
coisa que poderia acontecer se eles me pegassem? Hã? Jag iria matá-los
se eles me tocassem.

Cat bufou e caiu em sua cama.

— Você está certa. Eu só não sei o que você está tentando fazer.
Está me deixando nervosa.

Eu mordi o lábio. Cat tinha bons instintos. Ela sabia que eu


estava tramando algo. Por razões óbvias, eu não poderia dizer a ela. Ela
ia tentar me parar, e ela não podia vir comigo. Eu odiava mentir para
minha amiga, mas era para seu próprio bem.

— Eu estava apenas esperando para ouvir uma atualização sobre


Jag, sabe? Achei que, se ele estivesse ferido eles poderiam não me dizer.

Cat suspirou.

— Você provavelmente está certa.

Ela puxou as cobertas sobre si mesma e se encolheu em baixo.

— Eu vou dormir.

— Eu vou ficar acordada por mais alguns minutos.

Eu apaguei a luz e entrei no banheiro para descobrir como eu iria


para sair daqui sem ser pega. Levei alguns minutos para folhear as
imagens no telefone que Jag deu para mim um tempo atrás, mas eu
finalmente encontrei uma perfeita. Eu tinha batido uma foto ocasional
de Jag em uma camiseta e jeans, parecendo sexy como o inferno logo
depois de voltarmos de um passeio. Seu cabelo escuro estava
despenteado e seu rosto corado debaixo de sua pele bronzeada. Ele
estava impressionante.

Uma vez que eu organizei tudo, eu relaxei o suficiente para cair


no sono. Satisfeita com o conhecimento de que amanhã à noite, Jag e
eu estaríamos juntos, meus sonhos estavam cheios de fantasias do
homem que eu amava segurando o meu bebê, com um grande sorriso
em seu rosto bonito.

~ 174 ~
Jag

Me empurrei para longe da mesa e estiquei as costas. Cada


músculo na minha espinha estava em nós, depois de passar a maior
parte do dia debruçado sobre o meu – graças ao Sammy – laptop
criptografado. Não demorou muito para movimentar o dinheiro em
todas as minhas várias contas para bancos no exterior, cada conta foi
aberta usando o meu novo pseudônimo.

Sem a tarefa sem sentido de manter minha mente ocupada, a


ansiedade permaneceu na borda da minha consciência, uma presença
constante e irritante eu não poderia parecer agitado. Se eu pudesse
ouvir a voz da minha boneca eu tenho certeza que poderia conter o
pressentimento sinistro, mas falar com Miri era algo que eu não poderia
me arriscar. Eu tinha medo de que ouvir a voz dela me faria abandonar
minha missão e voltar para o lado dela, deixando El Cuchillo vivo e nós
olhando por cima dos ombros pelo resto de nossas vidas.

A segurança de Miri era a única coisa que eu não estava disposto


a arriscar. Por nada.

— George disse que houve mais fofocas nas ruas sobre o seu
paradeiro.

Disse Frank, deslizando seu telefone no bolso quando ele entrou


pela porta dos fundos da pequena casa.

— Bom.

Eu respondi.

— Eu não suporto ficar aqui. Parece que as paredes estão se


fechando.

A sugestão de um sorriso apareceu no canto da boca de Frank.

— Não está acostumado a ter sua liberdade restringida, Boss?

Eu atirei a Frank um olhar irritado. Ele sabe muito bem que eu


fico ansioso se sou mantido preso por longos períodos de tempo, daí as
motos. Eu era um homem que necessitava de ar livre, velocidades
rápidas e muita adrenalina. Eu não era talhado para vigilância. Além
disso, a casa que alugamos era uma merda, tudo cheirando a mofo e
bagunçado. Fazia a minha pele coçar.

~ 175 ~
— Algo assim.

Rosnei, andando pela cozinha minúscula, cruzando-a em três


passos antes de ter que me virar.

— É isso.

Eu disse, levantando as mãos.

— Isso não é bom. Eu tenho que sair daqui. Frank.

— Sim, Boss?

— Nós vamos para um passeio.

Frank arqueou uma única sobrancelha.

— Um passeio?

Seu tom era cauteloso.

— Sim, um passeio.

Eu puxei as chaves para fora da mesa ao lado da porta e joguei-as


para o meu motorista, jogando-lhe um olhar "não se meta comigo" que
eu tinha aperfeiçoado anos atrás.

— Eu não dou a mínima para onde vamos, mas eu preciso sair.


Nós vamos ficar em áreas povoadas e manter os olhos abertos.

Eu flexionei os pulsos, confortado pelas bainhas que seguravam


minhas lâminas, bem como o aço frio da minha Glock no coldre dentro
da minha cintura.

— O que você disser, Boss.

Frank espalma as chaves e relutantemente me segue até o carro.


Um minuto depois, estávamos indo em direção ao pequeno pedaço do
inferno na Terra considerado uma “cidade”.

O mini mercado era pequeno e patético, mas ocupado. Sua


proximidade com o campus de oito mil alunos de Texas A&M
Internacional significava um fluxo constante de jovens rindo e
comprando um monte de comida sem qualidade e álcool, a parte mais
importante para um estudante universitário.

Eu vagava pelos corredores, mantendo um olhar atento sobre a


porta enquanto Frank esperava do lado de fora, fazendo o mesmo. Indo
pelos pedaços de fofoca que se espalhou nas ruas de Austin, o nosso

~ 176 ~
plano estava funcionando. A rede de espiões ouviu rumores de nossa
localização, bem como os de El Cuchillo, que possivelmente ainda
estava em algum lugar no sul do Texas.

O homem era tão previsível. Eu tive que parar e rir em voz alta.

— Desculpe-me.

Eu fiquei tenso e estava prestes a pegar uma lâmina quando eu


peguei os grandes olhos de corça de uma menina pequena. Ela piscou e
seus lábios se espalharam em um sorriso, revelando dentes perfeitos,
muito brancos.

— Eu não queria assustá-lo.

Ela se desculpou, mordendo o lábio inferior, enquanto olhava


para mim por debaixo de seus cílios grossos.

— Não tem problema.

Tanto para vigiar minhas costas. Se uma menina de vinte anos de


idade poderia deslocar-se sobre mim, eu estaria morto antes mesmo de
eu ver Cuchillo vindo.

— Você vive por aqui? - Perguntou ela.

Hã? Parei olhando ao redor da loja e foquei na menina. Cristo. Ela


estava vestida com uma camisa reveladora que deve ser três tamanhos
menores que o seu e um par de shorts tão minúsculos que era
provavelmente ilegal em vários estados.

— Não.

Eu respondi quando eu dei um passo para trás, meu olhar


constantemente passando rapidamente de volta para a porta.

— Apenas passando.

Eu virei meus olhos para a mulher, usando o meu olhar frio e


pouco convidativo. Merda. A última coisa que eu precisava era de
alguma menina de faculdade se lembrando onde eu estava e como eu
parecia. Sua boca puxou em um beicinho.

— Oh. Okay.

— Eu tenho que ir.

Eu disse bruscamente. Com isso, eu girei sobre os calcanhares e


me dirigi para o balcão da frente. Demorou tempo demais para o rapaz
na minha frente pagar a sua merda e mover seu traseiro antes de eu
colocar uma bala nele. Eu estava perdendo a paciência. Rápido.

~ 177 ~
Finalmente, ele saiu, e como o cliente mais próximo estava a
vários quilômetros de distância. Joguei um pacote de chicletes no
balcão e encontrei os olhos assustados do caixa nervoso.

— Alguém já passou por aqui?

Eu perguntei. Ele balançou a cabeça violentamente.

— N-não s-senhor. Ninguém.

Eu suprimi o desejo de sorrir. O medo rolando para fora daquele


garoto era tão espesso, que eu poderia sentir o gosto.

Quando chegamos pela primeira vez na cidade, nós não


abordamos tão bem os funcionários em vários postos de gasolina e lojas
de conveniência para “pedir” a sua cooperação. Algumas centenas de
lubrificantes de rodas juntamente com uma ameaça velada ou duas e
tivemos um bando de espiões que trabalhariam para nós. Eles foram
instruídos a enviar alguém à nossa procura na casa de merda que nós
alugamos, em seguida, ligariam imediatamente para um dos nossos
telefones para nos informar que tinham companhia no caminho.

Deixei cem dólares sobre o balcão e peguei o chiclete.

— Chame-me quando eles aparecerem.

— S-sim senhor.

Disse o caixa, os olhos ainda abaulados para fora das órbitas.


Isso não o impediu de deslizar o dinheiro sobre a bancada de madeira e
colocar no bolso.

Satisfeito, saí para o calor pegajoso e tirei meus óculos de sol a


partir da gola da minha camisa, deslizando-os.

— Nada.

Disse a Frank. Sem dizer nada, ele se dirigiu para o carro.

Para a próxima parada. Se Cuchillo estava em Austin,


perguntando sobre mim, e a palavra na rua era que eu estava fora em
Laredo se espalhou como fogo, era apenas uma questão de tempo.
Quando chegasse esse tempo, eu estaria pronto e esperando para dar a
aquele filho da puta exatamente o que ele merecia.

Miri

~ 178 ~
— Cat?

Eu gritei do banheiro.

— Cat?

— Miri?

A batida suave acompanhou a voz do outro lado da porta.

— Entre.

Eu gemi. A porta foi empurrada aberta e em um instante, Cat


caiu de joelhos ao meu lado onde eu estava caída no banheiro.

— Oh meu Deus, Miri. O que aconteceu?

— Eu não me sinto muito bem.

Eu disse logo antes de eu gorfar dentro do vaso sanitário. Cat


estendeu a mão e sentiu a minha testa.

— Você está queimando. Está...?

Os olhos dela foram para o meu estômago ainda plano.

— Eu não sei.

Eu agarrei a minha barriga e me enrolei no chão, gritando de dor.

— Miri, isso não é bom.

Cat saltou para seus pés.

— Eu vou pedir ajuda. Só... só fique ai.

Minha melhor amiga saiu correndo do banheiro. Eu podia ouvi-la


gritando por ajuda. Enquanto ela estava fora, eu agarrei a almofada de
aquecimento que eu tinha ligado mais cedo a partir de debaixo da pia, e
apertei-a contra meu rosto e pescoço, obtendo minha pele agradável e
quente. Quando passos e vozes ficaram mais alto, eu lancei a almofada
de volta sob a pia e fechei a porta do armário.

— Viu? Faça alguma coisa!

Cat gritou por trás da grande figura de George quando ele


apareceu na porta. Eu gemia de forma tão convincente quanto podia e
me debrucei ainda mais em mim, as mãos protegendo minha barriga.

— Miri.

~ 179 ~
Disse George, dando um passo em minha direção com as mãos
para cima, como se eu fosse um animal ferido.

— O que está acontecendo?

— Eu, eu...

Eu puxei uma respiração longa e soltei um gemido comovente.

— Oh Deus. Estou grávida.

Eu sussurrei.

— O bebê.

George empalideceu e não demorou em me pegar em seus braços.


Ele me levou para fora do banheiro e para o corredor, enquanto latia
comandos.

— Scratch, vá buscar o carro. Drake pegue sua arma e chame o


elevador! Movam-se!

Um caos controlado eclodiu na cobertura, cada um realizando


suas ordens rapidamente e eficientemente. Cat estava em algum lugar
fora da minha linha de visão, soluçando. Eu engoli a culpa que sentia
por enganar minha amiga. Eu odiava magoá-la, mas eu tinha que
chegar a Jag. Se Cat soubesse o que eu estava planejando fazer, ela
nunca permitiria isso. Ela falaria para George num piscar de olhos se
isso significava manter-me segura, não importaria o quanto eu
implorasse e insistisse com ela.

Minutos depois, estávamos todos empilhados no grande SUV


preto, dirigindo para o hospital mais próximo. Eu fiz a minha parte,
gemendo e apertando meu estômago por todo o caminho. Neste ponto,
eu estava tão nervosa, minha pele estava legitimamente úmida e
minhas mãos tremiam. Cat estava fora de si e George tinha um olhar
comprimido no rosto.

— Não, idiota, leve-a para Seaton.

— Cale a boca, Scratch. Estou dirigindo.

Os dois homens da frente estavam discutindo sobre qual direção


ir.

George encravou seu corpo enorme entre os assentos dianteiros.

— Calem a boca! A besteira acaba aqui. Vá para Seaton.

George rosnou, sua voz assustadora o suficiente para levantar os


cabelos da parte de trás do meu pescoço.

~ 180 ~
— Jag iria querer o melhor. Seaton é o melhor. Agora cale a boca
maldita e dirija porra.

Drake virou para a direita e subiu na rampa de acesso para o


Loop um norte. O grande veículo acelerou rapidamente, seu poderoso
motor roncou quando o SUV facilmente ultrapassou o limite de
velocidade de 135 km por hora.

— Devagar, porra!

George gritou, assustando tanto Cat quanto eu.

— Se você causar uma porra de acidente e ferir qualquer uma


destas mulheres, é melhor estar morto em meio aos destroços ou eu vou
matá-lo eu mesmo.

Puta merda. Eu não tinha ideia de quão assustador George


poderia ser. Era tanto horrivelmente assustador e de alguma forma
reconfortante ao mesmo tempo.

— Estamos quase lá, Miri.

A mão de Cat passou suavemente ao lado do meu rosto e outra


pontada de culpa perfurou meu coração. Eu era a amiga mais fodida de
todas.

— Apenas se segure. O bebê vai ficar bem.

A saída para 35th Street voou e o SUV quase parou no fundo da


rampa antes de executar uma curva acentuada à direita, os pneus
cantando. Um minuto depois, sacudiu a uma parada na frente da sala
de emergência e em um piscar de olhos, eu estava sendo retirada do
banco traseiro por braços fortes. George me levou diretamente para a
recepção e exigiu que eu fosse examinada imediatamente.

O recepcionista perturbado pegou o telefone e ligou para um


enfermeiro. Menos de cinco minutos depois de chegar, eu estava em
uma maca, sendo levada pelo corredor. A equipe médica manteve minha
equipe de segurança na sala de espera, recusando-se a permitir que
qualquer um deles nos acompanhasse e passasse pelo par de portas
ameaçadoras. Eu fiz uma rápida oração de agradecimento por esse
pouco de sorte.

Tudo o que eu precisava era de dois minutos a sós e eu poderia


escorregar para fora do hospital e fazer o meu caminho para o segundo
nível da garagem onde o meu carro alugado estava à espera, as chaves
em uma caixa magnética debaixo do pneu dianteiro. Eu aprendi com
Jag, ofereça alguns dólares extras e você pode conseguir tudo o que

~ 181 ~
quer. Isso, ou ameace as pessoas com danos corporais, embora a
violência era uma coisa mais do Jag do que minha. Dinheiro fez o
truque neste caso.

O enfermeiro me colocou em um quarto.

— Eu vou encontrar um médico para vê-la.

Disse ele, ao sair.

No segundo depois eu estava saltando para fora da cama. O salão


estava agitado com pessoas, nenhuma delas prestando atenção em
mim. O enfermeiro que me trouxe não estava em qualquer lugar que
poderia ser visto. Andando rápido, mas não o suficiente para chamar a
atenção para mim, eu percorri os corredores de trás da sala de
emergência para o hospital principal e não parei até que eu estava no
carro.

Com as mãos trêmulas e os nervos desgastados com a chance de


ser pega e impedida de chegar ao Jag, eu coloquei o carro em marcha e
segui o GPS do meu telefone. Apenas o pensamento de ver Jag
novamente fez o meu estômago se acalmar, pela primeira vez desde que
ele me deixou.

Não, eu não sabia exatamente onde Jag estava, mas eu


procuraria em cada casa até que eu o encontrasse. Fazer algo além de
sentar minha bunda e esperar por notícias, tinha me feito sentir melhor
do que eu tinha me sentido em dias.

Pode não ser a coisa mais inteligente a fazer, mas pelo menos
desta forma, Jag saberia sobre o nosso bebê. Sem pontas soltas
deixadas desatadas.

~ 182 ~
Jag

— Isso é ridículo. — Joguei o controle remoto sobre a instável


mesa de café em desgosto. — Eu odeio TV e odeio esperar.

Eu não era um reclamão, então eu sabia que os limites apertados


estavam realmente começando a me irritar para eu estar reclamando
sobre a não aparição de El Cuchillo depois de uma semana preso neste
buraco de merda nesse deserto quente como o inferno de Satanás. A
paisagem aqui era extremamente deprimente. Eu sentia falta das
árvores e colinas de Austin. Ah, e o direito de ir e vir quando eu
quisesse.

Sammy olhou para cima a partir do banco e por cima das


porcarias de computador espalhados por toda a mesa da cozinha e me
deu um olhar seco.

— Então vá se exercitar.

— Certo. Nessa garagem mofada, com cheiro de sovaco e quente


como inferno? Não, obrigado.

Havia um banco e pesos livres suficientes para obter um treino


decente se você gostasse de exercício em uma sauna, mas isso não era o
que eu precisava. O que eu precisava era dar o fora daqui. Se eu
pudesse ir por um longo prazo, eu me sentiria mil vezes melhor.

Inferno, se eu pudesse falar com Miri por um minuto, eu me


sentiria um milhão de vezes melhor. Metade de mim não podia ignorar o
instinto esmagador de protegê-la, mantendo-me preso nesta casa de
merda. Metade de mim, metade governada por meu coração, em vez do
meu cérebro, estava gritando para me certificar de que ela estava bem,
para falar com ela, abraçá-la, acalmar seus medos. A necessidade foi
arranhando meu interior, incitando-me a encontrar a minha mulher e
cuidar dela. Não a deixaria fora da minha vista pelo o resto da minha
vida. Esfreguei os olhos e suspirei.

O resto da minha vida.

Quando, exatamente, a fixação da boneca quebrada que apareceu


na minha porta se tornou algo mais? Quando Miri se tornou alguém

~ 183 ~
que eu não poderia viver sem? Alguém que eu quis reivindicar como
minha. Para marcar, deixando todos saberem que ela estava comigo,
todos os outros sabendo que deveriam se afastar?

Mal-humorado e frustrado com quanto tempo essa emboscada


estava tomando, eu levantei e caminhei pelo quarto. Um ano atrás, se
alguém tivesse me dito que eu estaria indo para fora da minha mente
por estar separado de uma mulher por alguns dias, eu ia rir ou matá-
los entre os olhos. Mas lá estava eu, irrefutavelmente, apaixonado pela
pequena ruiva que tinha transgredido na minha vida e estabelecido
residência permanente no meu coração anteriormente vazio.

— Boss!

Frank irrompeu pela porta da frente, de volta da sua corrida ao


supermercado muito cedo. Seu rosto estava pálido e sua voz soou com
uma urgência que eu não poderia ignorar.

Levantei-me e encontrei-o na entrada.

— Conte-me.

Frank levantou o telefone.

— Eu recebi um telefonema. Alguém perguntou sobre você no


posto de gasolina.

Sammy olhou para cima de seus computadores, dando toda a sua


atenção à nossa conversa.

Eu estava na frente de Frank e mantendo a minha fachada


impassível, mas por dentro, o monstro já tinha criado a sua cabeça
sanguinária e estava rangendo os dentes famintos. Finalmente. Cuchillo
estava aqui. Boss estava regozijando-se, mais do que pronto para
terminar essa merda e ter a sua vingança tão esperada.

Meus olhos se estreitaram.

— Perguntando sobre mim? De que maneira?

Frank tremia, seus lábios pressionados em uma linha apertada.


Algo estava errado. Meu estômago virou com a visão de hesitação de
meu motorista, porque Frank não era um homem que era facilmente
abalado. Eu sabia que se Frank estava ansioso, então tudo o que ele
tinha a dizer era algo que eu não queria ouvir.

— Ela mostrou uma foto sua para o funcionário.

— Ela?

~ 184 ~
Reagindo sem pensar, a minha fachada escorregou e eu tropecei
um passo para trás, agarrando minha camisa onde estava sobre o meu
coração.

— O que quer dizer, ela?

Sacudindo o choque, me recompus e peguei o telefone da mão de


Frank.

— O informante me enviou uma imagem da visitante.

Disse Frank, sutilmente se movendo para fora do meu alcance.

Eu toquei a tela para ativar o telefone e meu coração agora


martelando caiu aos meus pés. Segurando minha respiração, eu olhava
para a imagem por vários longos segundos, sem dizer nada quando uma
miríade de emoções guerrearam abaixo da superfície da minha pele
muito apertada.

Sammy finalmente quebrou o silêncio.

— O que está acontecendo?

Com o canto do meu olho, eu peguei Frank fazendo gestos com as


mãos dizendo para Sammy calar a boca.

Quando o sangue finalmente parou de bater atrás de meus


ouvidos e eu abri a minha boca o suficiente para falar, os últimos fios
da minha civilidade estalou. Uma névoa vermelha caiu atrás dos meus
olhos, nublando a minha visão.

— Que merda é essa?

Eu rugi.

— Como diabos ela chegou aqui, porra?

— Eu chamei George no meu caminho de volta

Disse Frank, deslizando de volta para colocar mais distância entre


nós. Foi chocante assistir. Esta foi a primeira vez que eu vi Frank
mostrar qualquer tipo de medo.

— George disse que Miri estava doente...

Frank fez uma pausa quando um grunhido baixo retumbou no


meu peito.

— Eles a levaram para o hospital.

— E?

~ 185 ~
Eu dei um passo para o espaço pessoal de Frank, incapaz de
conter a minha raiva.

— Eles a perderam ela, porra? Ninguém me ligou?

Meu peito arfava enquanto tentava manter a calma suficiente


para terminar a conversa antes de perder completamente a minha
merda.

— Não, Boss. Ela...

Frank lambeu os lábios nervosamente.

— Parece que ela escapou do hospital. Nenhum deles sabiam que


ela tinha ido embora até que eu liguei para eles. Eles... eles pensaram
que ela estava na parte de trás sendo tratada. Quando falei com George,
todos eles ainda estavam sentados na sala de espera em Seaton. O
pessoal não deixou que nenhum deles entrassem com ela. Você sabe
como são hospitais, Boss, tudo é tão extremamente demorado, nunca
ocorreu a George que ela não estava sendo examinada. Que ela iria sair.
E é tão maldito lotado, a equipe provavelmente não notou sua ausência.

Fechei os olhos e apertei o telefone com tanta força que quase o


quebrou. Quando eu... não exatamente me acalmei, mas tive a minha
merda sob controle o suficiente para soltar meu aperto, eu joguei o
telefone de volta para Frank. O homem pegou e mudou-se ainda mais
para longe, reconhecendo a bomba-relógio dentro de mim.

— Se Miri está em Laredo, por que diabos você está aqui de pé,
em vez de ir encontrá-la e ter certeza que ela não vai ser agarrada pelo
Cuchillo?

Eu sibilei.

Frank encolheu quando eu expressei seu grave erro de


julgamento.

— Eu estava no sentido oposto, Boss. E o funcionário disse que


ela já havia saído. O posto não é mais do que cinco minutos daqui,
então ela deve estar aqui a qualquer segundo.

Se olhares pudessem matar, meu motorista seria uma pilha de


cinzas sobre o horrível, mofado, tapete verde oliva.

— Boss. Um carro está parando na garagem.

Sammy quebrou a tensão crescente entre o meu punho e o rosto


de Frank.

— E o motorista?

~ 186 ~
Sammy olhou para a tela.

— Mulher, cabelo vermelho.

Ele olhou para mim por cima do monitor.

— Parece que é ela, Boss.

Eu empurrei meu caminho em torno de Frank, não dando a


mínima quando ele tropeçou com a força do meu braço batendo contra
ele. Eu passei pela porta da frente em uma corrida rápida. Lá fora, um
pequeno carro vermelho estava estacionado na entrada de veículos, o
motor desligado. A pessoa atrás do volante não fez nenhum movimento
para sair do carro. Corri em sua direção, circulei o carro chegando ao
lado do motorista, e puxei a maçaneta. Não abriu.

— Miri, baby. Destranque a porta!

Eu batia na janela, com medo de que algo estivesse errado com


ela. Seus olhos assombrados se viraram para mim. O olhar vago e
distante que vi me assustou. Era como se Miri realmente não me visse,
ou de alguma forma visse através de mim. Arrepios picaram o meu
couro cabeludo.

Eu bati na janela de novo, o pânico crescente, fazendo com que os


cabelos na parte de trás do meu pescoço ficassem de pé.

— Miri! Miri! Vamos, boneca.

Nada. Agora eu estava realmente assustado.

— Abra a maldita porta!

Miri se encolheu, piscando rapidamente quando ela voltou à


realidade, finalmente, respondendo aos meus apelos. Desta vez, quando
ela encontrou meu olhar, o reconhecimento brilhou naqueles grandes
olhos verdes.

— J-Jag?

A miséria em sua voz quase quebrou meu coração.

— Boneca, por favor... abra a porta.

Eu estava implorando desesperadamente com a minha menina,


pedindo-lhe para me ouvir. Não era seguro estar em plena vista na rua.
Tendo Miri na linha potencial de fogo me deixou completamente em
pânico, foda-se. O instinto protetor enraizado em mim exigiu que eu a
tirasse do caminho do dano. Agora.

~ 187 ~
Miri assentiu e clicou no bloqueio-automático. Obrigado porra. Eu
tinha a porta aberta e o cinto de segurança fora antes que ela pudesse
se mover um centímetro. Meio segundo depois, eu a peguei e a abracei.
Minha doce boneca estava de volta em meus braços onde ela pertencia.
Corri para a casa e não parei até que nós estávamos lá em cima no meu
quarto, com ela protegida atrás das portas trancadas.

Com Miri enrolada em meu colo, me sentei na cama. Ela fez um


som lamentável e enterrou seu rosto ainda mais em meu peito. Eu
estava dividido. Parte de mim estava além do êxtase por ter Miri em
meus braços, segura, acolhida e cheirando assim tão bem que eu queria
jogá-la na cama e enterrar meu pênis profundamente dentro dela, não
parando até amanhã de manhã. Mas a outra parte de mim estava
apavorada. Desde que o medo era algo que eu raramente tratava, o
sentimento de estar fora do controle me deixou irracional e com raiva.

— Que porra você estava pensando?

Eu não segurei nada, meu tom foi áspero e cortante.

Miri encolheu em si mesma, entrelaçando seus pequenos dedos


no tecido de algodão da minha camisa, segurando como se fosse sua
preciosa vida. Gemidos suaves e pequenos tremores saiam de seu corpo
minúsculo. Mesmo que eu ainda estivesse irritado e cada um dos meus
instintos estava gritando no topo de seus pulmões que não era seguro
para Miri estar aqui. Eu me senti como um idiota por ter gritado, e
ouvir a minha boneca chorando por causa de mim? Foda-se, o choro
dela me matou.

— Sinto muito por ter gritado, boneca.

Eu apertei meu abraço ao seu redor e corri uma mão para cima e
para baixo em suas costas. Pressionando um beijo em sua cabeça, eu
respirei fundo e todos os pedaços rasgados dentro de mim foram
realinhados. De repente, eu podia ver claramente e tudo estava certo no
mundo. Miri estava exatamente onde ela pertencia. Comigo. Eu iria
protegê-la com a minha vida.

— Eu não... eu não queria preocupar a todos.

Ela sussurrou entre soluços silenciosos.

— Como você…? Jesus.

Corri a mão pelo meu rosto, coçando a barba curta.

— Por que você está aqui, boneca?

~ 188 ~
Miri tentou esconder o rosto em algum lugar sob meu braço, mas
eu estava tendo nada disso. Eu deslizei minhas mãos pelos seus
ombros e a empurrei até que eu pudesse ver esses cintilantes olhos de
esmeralda.

— Cristo, Miri. — Corri meus dedos sobre os círculos escuros


estragando sua pele pálida. — Você não tem dormido.

Seus olhos estavam vermelhos e vidrados, avermelhados de tanto


chorar. Minha boneca não estava cuidando de si mesma. E claramente
a minha equipe não estava cuidando dela, isso era o que parecia. Antes
que eu pudesse sucumbir à raiva monumental, Miri falou.

— Não, eu não tenho.

Ela balançou a cabeça e baixou o olhar.

— Você está doente?

Frank disse que Miri fugiu de uma sala de emergência, o que


significava que ela não poderia estar muito mal quando saiu, mas
porra, ela parecia o inferno. Minhas mãos derivavam até que meus
dedos deslizaram em suas clavículas salientes.

— Você perdeu peso.

— Eu não tenho sido capaz de comer muito.

Ela murmurou, ainda não me olhando nos olhos.

— Porque você está preocupada com a minha segurança?

Deus, eu esperava que ela não parasse de tomar conta de si


mesma por minha causa.

— Sim.

Disse ela.

— Não. Quero dizer... mais ou menos. Ambos, eu acho.

Miri mordeu o lábio inferior. Ela estava tremendo da cabeça aos


pés. Outra coisa estava acontecendo aqui. Algo que eu não conseguia
adivinhar. Minha testa franziu e outra pontada de medo cortou o meu
peito. O que estava errado?

— Diga-me, boneca. Eu sei que você tem algo a dizer. Você


parece... eu não sei, quase perdida.

~ 189 ~
Se a inquietação e aparência doentia geral não fossem sinal
suficiente de que algo estava pesando fortemente sobre ela, então o fato
de que ela não poderia olhar nos meus olhos fechou o negócio.

Miri fechou os olhos e respirou fundo, soltando para fora na


expiração.

— Eu estou grávida.

Você sabe quando as pessoas dizem que o tempo congela quando


experimentam uma mudança significativa em sua vida? A experiência
de quase-morte, a adrenalina de saltar de um avião, marcar o
touchdown da vitória no Super Bowl? Foi o que aconteceu naquele
momento. O tempo literalmente congelou. Partículas de poeira
interrompiam no ar, meu peito não movia para cima e para baixo, meu
coração parou de bater. Eu acho que até me esqueci de piscar.

— Jag?

A voz de Miri me trouxe de volta para o presente e o mundo


começou a se mover novamente, só que agora era rápido, em pânico,
caindo em queda livre sem paraquedas.

— Grávida?

— Sim.

Miri fungou e limpou as lágrimas, esperando que eu dissesse


alguma coisa.

— Eu-

— Sinto muito.

Ela chorou, se empurrando do meu colo e se enrolando na cama.

— Eu não pensei sobre... eu não sabia.

Eu não tinha ideia de como me senti. Eu estava exultante com o


conhecimento de que aleguei Miri de uma forma tão primitiva fez o meu
homem das cavernas interior rugir de satisfação. Sabendo que ela iria
inchar com o meu filho me deu uma alegria que eu não esperava. No
entanto, eu estava confuso – o que isso significa para nós? Como isso
iria acontecer? Poderia isso funciona? Eu estava apavorado. E se El
Cuchillo a encontrasse e matasse nosso filho? Ou me matasse,
deixando Miri sem uma maneira de sustentar o nosso bebê?

Eu não tinha ideia de quanto tempo eu sentei lá imóvel como uma


estátua. Até o momento que eu tive a minha cabeça no lugar e me virei
para minha menina, ela tinha os olhos fechados, respirando de forma

~ 190 ~
constante enquanto ela dormia. Isso me aqueceu ao pensar que, mesmo
que eu não reagi da maneira que ela esperava, Miri sentia-se segura o
suficiente, agora que ela estava comigo para pegar no sono
desesperadamente necessário.

Mandei uma mensagem para Frank para me deixar saber se


houve quaisquer desenvolvimentos e coloquei o telefone na mesa de
cabeceira. Um minuto depois, eu estava sem meus jeans e camisa e
enrolei-me atrás de Miri, atirando um braço sobre sua cintura.
Instintivamente, minha mão derivou para cobrir sua barriga e calor
tomou conta de mim. Eu abri minha mão, minha mão grande o
suficiente para abranger toda a largura da cintura fina de Miri.

Meu bebê. Nosso bebê.

Se eu achava que eu estava determinado a matar El Cuchillo


antes, eu sabia que tudo tinha mudado. Agora, eu iria rasgá-lo, e
qualquer um que ficasse entre nós, em pedaços. Eu faria qualquer coisa
para proteger o meu filho, meu amor, minha vida.

Eu literalmente segurei meu futuro na palma da minha mão.

Miri

Eu lentamente recuperei a consciência, estendendo-me sobre a


cama macia. Meu corpo parecia líquido e relaxado. Eu provavelmente
dormi mais em uma noite do que eu fiz em semanas. Rolei e procurei
por Jag, sorrio quando me lembro de como ele me segurou, sua mão
protetora cobrindo minha barriga quando eu adormeci. A dor de
carregar o peso de um enorme segredo havia desaparecido. Apesar do
meu medo persistente, eu me senti mais leve do que eu fiz em muito
tempo.

Quando minha mão encontrou nada além de lençóis vazios, abri


os olhos e sentei-me. O quarto era nada de mais, pequeno, com uma
única mesinha de cabeceira lascada que sustentava a lâmpada mais
triste que eu já tinha visto. Eu deslizei para fora do colchão até que
meus pés tocaram o tapete áspero. Havia apenas uma porta no quarto,
de modo que é para onde eu fui. A sala estava vazia, mas eu achei o
banheiro e rapidamente utilizei as instalações e lavei o rosto. Enquanto
eu descia para o primeiro andar, ouvi as vozes murmuradas de homens

~ 191 ~
que tendo uma discussão tranquila, mas aquecida. Por um breve
segundo, eu considerei voltar lá para cima. Então senti o cheiro de café
e meu estômago fez a decisão para mim por roncar alto.

Virei a esquina para a área de estar na cozinha talhada, o que


parecia ser a única sala no piso inferior, e parei. Jag estava no telefone,
sibilando seu extremo desagrado para quem estava do outro lado
enquanto estava na frente do fogão e mexendo alguma coisa que
cheirava muito bem. Frank e outro homem que eu não conhecia
estavam debruçados sobre um monte de equipamentos de computador
que estava tomando metade da mesa da cozinha.

Ninguém reparou em mim.

Com o coração batendo forte, eu atravessei o cômodo, ignorando


os olhares chocados dos empregados de Jag, até que eu estava ao lado
de Jag. Senti seus músculos tensos e sua conversa chegou a um fim
abrupto. Jag rosnou quando ele terminou a chamada.

— Eu vou falar com você sobre essa fodida situação mais tarde.
Isto não está acabado.

Ele deslizou o telefone no bolso e puxou-me em seus braços, me


abraçando com tanta ternura, que era difícil acreditar que ele ameaçou
alguém um segundo antes.

— Bom dia, boneca. Você está com fome?

Meu estômago roncou de novo e meu rosto inflamou. Jag riu e


beijou minha testa.

— Vou tomar isso como um sim. Por que você não se senta e eu
vou te trazer um pouco de suco, enquanto os ovos terminam de
cozinhar.

Eu não queria sair do seu lado. Tendo sido separados por quase
duas semanas, naqueles dias terríveis passados como uma prisioneira
com Cat, a última coisa que eu queria era espaço entre nós. Jag
descaracterizou minha hesitação como nervosismo por estar em torno
dos outros homens.

— Saiam.

Ele latiu agudamente. Eu pulei e quase cai.

Frank e o outro cara ficaram em seus pés e desapareceram.


Colocando um sorriso de volta no rosto, Jag gentilmente me guiou até a
mesa e me empurrou para uma cadeira. Antes que eu pudesse dizer
uma palavra, eu tinha um copo de suco de laranja na minha frente e

~ 192 ~
Jag estava recolhendo ovos mexidos em um prato e uma fatia de pão
com manteiga.

— Tem algum café?

Perguntei, olhando para as bancadas até meu olhar pousar em


um recipiente meio-cheio.

Jag colocou seu próprio prato sobre a mesa e sentou ao meu lado.

— O café é ruim para o bebê.

Disse ele antes de cavar o seu café da manhã, evitando o meu


olhar.

Okaaaay.

Jag estava agindo de forma estranha. Seu corpo estava rígido e


seus movimentos rígidos, faltava completamente a graça fluida que
normalmente ele possuía, além de Jag não olhar para mim. Nós ainda
não tínhamos discutido nada, o bebê, minha fuga de sua minuciosa
proteção, sobre aparecer aqui, o que aconteceria em seguida. A tensão
era tão palpável, os poucos centímetros entre nós poderiam muito bem
ter sido um abismo sem fundo.

Ele estava chateado. Não, não chateado. Jag estava furioso.

— Jag, eu-

— Que porra você estava pensando, Miri?

Eu vacilei com seu tom áspero, recuando como se ele tivesse me


dado um tapa no rosto. Pisquei, eu lutava para manter as lágrimas.

— Você não deveria estar aqui, especialmente com...

Jag apontou para o meu estômago com o garfo.

— Aqui não é lugar para você.

Eu sabia que Jag não queria magoar os meus sentimentos. Eu


sabia que ele estava sobrecarregado. Eu sabia que ele estava atacando
porque tinha medo por mim, pela a segurança do bebê. Mas saber isso
não fez doer menos. Meu lábio tremeu e eu abaixei minha cabeça para
que Jag não visse o quanto suas palavras machucaram.

— Porra. Sinto muito, Miri.

Uma mão quente, áspera pousou na minha coxa nua, dando-lhe


um aperto firme. Como sempre, eu derreti sob seu toque. A outra mão

~ 193 ~
de Jag escovou a parte de baixo do meu queixo, inclinando o meu rosto
para o seu.

— Sinto muito, boneca. Eu estou apenas…

Ele bufou em frustração.

— Eu quero você comigo mais do que eu alguma vez quis algo na


minha vida. Eu só não quero você aqui, na linha de fogo. Se algo vier a
acontecer a você ou…

Os olhos de Jag foram para o meu abdômen e voltaram.

— Eu sinto muito. Eu precisava que você soubesse sobre o bebê.

A umidade escorria pelo meu rosto.

— Eu estava com medo. Medo que você me odiaria por ficar


grávida, por forçá-lo a ser um pai. Mas se algo acontecesse com você e
eu não tivesse te dito…

Eu engasguei com um soluço.

— Eu estava esperando, que se você soubesse, que talvez... -

Minha garganta apertou e um braço grosso fechou-se em torno de


minha caixa torácica.

— Você esperava que se eu soubesse sobre o bebê, eu iria


esquecer sobre matar El Cuchillo e partir?

Os olhos azuis de Jag brilhava com amor. Ele colocou as duas


mãos no meu rosto e os emoldurando, seus dedos longos, abrangendo
todo o caminho até a minha nuca. Seus polegares roçaram os pontos de
pulso em minha garganta, em um movimento tão sexy e possessivo, que
se eu tivesse de pé meus joelhos teriam curvado. Agarrei-me a seus
antebraços, os músculos tensos sob minhas mãos. Jag inclinou a
cabeça para o lado e baixou sua boca na minha, o beijo foi suave em
primeiro lugar. Eu não tinha certeza de quem gemeu, mas o som
irregular, carente definiu o meu corpo em chamas. Mudei-me para a
borda da minha cadeira e tentei aprofundar o beijo, mas Jag
desembaraçou minhas mãos e me empurrou de volta para o meu lugar.

— Termine sua comida. Você precisa comer mais.

Eu não estava com fome, mas não queria perturbar Jag mais do
que ele já estava, então eu lentamente comi tudo no meu prato.

— Bom. Agora, eu preciso de você suba e espere. Liguei para


George para enviar alguém para você.

~ 194 ~
Eu pulei para os meus pés.

— O que? Não!

Jag levantou-se e empurrou a cadeira para trás, os pés raspando


no chão de madeira velha. Ele se elevou sobre mim, o queixo angular se
projetando, a mandíbula contraindo-se.

— Isto não é negociável, Miri. Eu não vou tê-la aqui, enquanto eu


estou atraindo o homem que sequestrou, torturou, e violentou o que é
meu!

Ele colocou a mão na parte de trás do meu pescoço e apertou,


forte o suficiente para eu sentir isto quando ele me guiou em direção à
escada.

— Não por favor. Não me faça sair.

Eu firmei no meu calcanhar e tentei me virar, mas a pressão dos


dedos de Jag empurrando em minha carne me segurou no lugar.
Quando me recusei a subir as escadas, Jag varreu as minhas pernas
debaixo de mim e me pendurou no ombro.

— Pare! Não faça isso.

Lutei, inutilmente batendo em suas costas com os punhos.

Jag me depositou sobre a cama e meio que subiu em cima de


mim, nossos narizes quase se tocando. O olhar em seu rosto era quase
selvagem. Seus olhos azuis eram selvagens, seu lábio enrolado em um
sorriso que mostrava uma sugestão de dentes.

— Você vai embora. Isto não é um pedido e não é uma questão


para você responder porque eu não estou perguntando. É uma ordem.
Insisto que você não estará aqui, Miri.

Ele recuou para fora da cama antes das primeiras lágrimas


caírem, quente e com raiva pelo meu rosto. A porta se fechou e eu
estava sozinha. Sempre sozinha. No meu interior, eu sabia que era o
medo pela minha segurança que levou Jag ao limite de seu controle. Ele
nunca iria me machucar fisicamente. Tanto quanto o meu lado racional
sabia que ele me amava, isso ainda parecia como se fosse uma rejeição
quando ele exigiu que eu saísse do seu lado.

Eu estava deitada na cama por uma hora ou algo assim, minhas


mãos descansando sobre a minha barriga enquanto eu pensava sobre o
que nosso bebê seria. Será que ele pareceria com Jag? Alto, sombrio
intimidante? Ou ela seria pequena e sardenta com o cabelo vermelho?
Apesar de todos os horrores que aconteceram nos últimos meses, eu

~ 195 ~
não podia esperar para conhecer a criança que foi concebida em meio
ao caos.

Se Jag se importasse com o bebê pelo menos a metade do tanto


que ele gostava de mim, o bebê teria mais amor do que alguém
precisava na vida. Jag seria um pai maravilhoso. Eu não tinha dúvidas
disso nem por um minuto. Apesar de seu passado áspero e violento,
apesar de seus temores de ser inerentemente mal e indigno, apesar das
ruas de onde ele veio, da quadrilha na qual ele cresceu, e como ele
tinha que viver sua vida para sobreviver - eu confiava no meu amante
com a minha vida e com a do nosso filho, sem dúvida. Nós dois tivemos
os nossos pecados, e, tanto quanto eu estava preocupada, nós dois
tínhamos pago penitência suficiente para dez vidas.

Tomei uma respiração profunda e deslizei para fora da cama.


Depois de uma rápida visita ao banheiro por causa de um ataque de
náusea, mas felizmente sem vomitar, eu sentei no colchão e me mexi,
sem saber como deixar Jag saber que eu faria o que ele queria. Eu não
iria lutar com ele sobre isso e gostaria de voltar para o hotel para ficar
segura. Jag só estava me mandando embora porque ele me amava, e
porque eu o amava, eu faria isso... por ele.

~ 196 ~
Jag

— Eu não posso acreditar que ela veio aqui, porra.

Eu murmurei enquanto eu caminhava o pequeno comprimento da


sala principal, virei-me e dobrei para trás.

— Filho da puta!

— Tem certeza de que quer esperar por George, Boss?

Perguntou Frank, observando meu ritmo, seus olhos traindo sua


inquietação.

— Posso sair agora e levá-la de volta. Ou Sammy poderia se você


me quiser aqui como uma segurança para quando El Cuchillo aparecer.

— Foda-se... Não.

Eu corri minhas mãos pelo meu cabelo, apertando-os atrás do


meu pescoço.

— Não. Quero dizer, eu quero que ela saia da cidade o mais


rápido possível, mas eu preciso de você aqui para enfrentar esse
pequeno bastardo. De jeito nenhum eu estou dando-lhe a chance de
fugir novamente.

Minhas emoções estavam me traindo, algo que eu ainda não


estava acostumado. Normalmente, eu era frio, calmo e sem
preocupação. Miri mudou tudo. Eu não conseguia parar de me
preocupar com ela mais do que eu poderia fazer o meu coração parar de
bater.

Meu telefone tocou com a chegada de uma mensagem de texto.


Eu o puxei para fora do meu bolso o mais rapidamente possível.

— George está à uma hora daqui.

Frank assentiu.

— Boss, temos um problema.

~ 197 ~
Sammy estava sentado na mesa em frente a sala na cozinha,
olhando para uma de suas telas. Sua forma clínica típica de falar tinha
desaparecido. Foda-se, se Sammy estava preocupado...

Crack!

A porta da frente voou fora de suas dobradiças quando madeira


lascada voou por toda parte. Não tive tempo de reagir antes de ouvir o
tiro alto. Frank caiu no chão atrás de mim, manchando de sangue o
ombro de sua camisa.

Não é um ferimento fatal. Eu fiquei tenso e voltei para a porta da


frente aberta, encontrando o olhar selvagem de um louco.

— Hijo de tu puta madre! Você me arruinou! Eu vou te matar.

O instinto ultrapassou a minha mente racional, a parte primitiva


do meu cérebro explodindo para a superfície, pronta para proteger a
minha família - Miri e meu filho. Eu enfrentei El Cuchillo de frente, com
os pés apoiados na largura dos ombros, mãos em punhos, os músculos
tensos e prontos. Flexionei meus pulsos, um pouco aliviado pelas
bainhas estreitas com suas lâminas dobradas para dentro.

— Foda-se, seu idiota!

Gritei, doente e cansado pra caralho desse jogo de merda. Ele veio
aqui para me enfrentar, então ele podia muito bem lutar como um
homem.

Cuchillo apontou a arma para minha cabeça.

— Mova-se para fora do caminho e diga-me onde você está


escondendo a puta.

O monstro dentro de mim rosnou para o som do nome de Miri


saindo dos lábios de Cuchillo. Isso, junto com o insulto que ele destinou
a minha boneca, teve o monstro implorando para rasgar sua carne,
derramar seu sangue, e cuspir em seu corpo sem vida.

— Sobre a porra do meu cadáver.

Um sorriso horrível torceu o seu rosto. O homem já não parecia


humano. Ele estava desgrenhado, sangue espirrava em sua camisa
anteriormente branca. Seu cabelo estava espetado em todas as direções.
A vida de fugitivo não tinha sido gentil com esse filho da puta. Bom.

— Eu vou fazer com que isso aconteça em breve, cabrón. Depois


que eu lentamente matar a puta na sua frente.

~ 198 ~
Ele deu um passo adiante e eu preparava minhas mãos para
pegar minhas lâminas. Ele teria tempo para atirar em mim, mas eu
ainda poderia matá-lo antes que ele pudesse chegar a Miri. Eu quis
dizer o que eu disse sobre ele ter que me matar para chegar até ela.
Naquele momento eu me importava em nada com a minha própria vida,
só a dela.

— Agora, onde está ela?

Só porque eu estava disposto a morrer, não significava que eu iria


fazer isso fácil para ele. Um rosnado baixo retumbou em meu peito.

— Ela não está aqui. Você nunca vai tocá-la de novo, Cuchillo. Eu
vou rasgar você.

Eu dei um passo em direção ao homem, tentando jogá-lo para


fora de seu jogo e chegando perto o suficiente para garantir que o meu
objetivo fosse preciso.

Cuchillo sorriu de novo, um sorriso ainda mais hediondo do que o


anterior. Ele zombou, acenando com a mão no ar.

— Você acha que eu sou estúpido, pendejo? Aquele pequeno


homem fraco no posto de gasolina me disse que uma ruiva veio ontem.
Logo antes de eu colocar uma bala entre os seus olhos.

Sobre o ombro do homem excêntrico, eu vi um flash de cabelo


vermelho e um único olho verde.

Não! Droga, Miri, fique na porra no andar de cima!

Cuchillo estreitou os olhos escuros, pegando o raio de medo que


rasgou através de mim. Eu botei minha expressão em branco, relutante
em dar o conhecimento da presença de Miri, embora cada célula do
meu corpo estivesse pedindo-me para gritar e dizer-lhe para correr.

Oh merda.

De pé na porta aberta, atrás de Cuchillo, tinha um filho da puta


grande. Um enorme cara mexicano rosnando tinha uma arma pronta
apontada a partir de seu próprio ponto. E minha Miri estava na escada
entre o capanga de Cuchillo e o próprio Cuchillo. Eu tinha que fazer
alguma coisa, ou Miri acabaria morta.

Dei mais um passo a frente, pronto para acabar com esta merda.
Minhas lâminas estavam prontas. Tudo o que eu tinha a fazer era puxá-
las para fora e jogar, certificando-me de deixar uma marca de verdade.
Eu só podia esperar que a mira de Cuchillo fosse desligado uma vez que
ele fosse atingido com as facas. Fixei os olhos em El Cuchillo, o homem

~ 199 ~
que quebrou minha boneca, quando ela estava começando a se curar
dos horrores da sua juventude. Ele a tocou. Torturou-a. Fez ela gritar. E
de acordo com o relatório do médico de Miri, ele fez tudo isso enquanto
ela estava malditamente grávida do meu filho!

Cuchillo ia morrer por seus crimes.

Eu enrolei meus pulsos, estava prestes a lançar as facas, quando


minha doce boneca entrou na sala. A arma agarrada em suas pequenas
mãos, parecia enorme em comparação. O monstro na porta levantou
sua própria arma, mirando a minha boneca. Miri estava tremendo
quando ela levantou a arma. Não havia nenhuma maneira de eu
esconder a angústia no meu rosto. Cuchillo sentiu a mudança na
atmosfera. A carga elétrica que disparou com o medo que ondulou pela
minha espinha. Ele tirou os olhos de cima de mim por um segundo.

Um segundo foi tudo que eu precisei.

Eu me joguei no chão e joguei as lâminas quando uma arma


disparou.

Cuchillo lançou-se para frente, os olhos arregalados de surpresa.


Minhas lâminas aterraram de verdade, ambas salientes a partir do meio
do pescoço do capanga. O sangue escorreu pelo canto da boca dele e ele
caiu de joelhos antes de aterrar de cara no chão. Atordoado, eu rolei
para o meu lado e olhei para El Cuchillo. Sua arma disparou, não foi?
Eu deveria ter sido baleado. Corri minhas mãos pelo meu torso, não
encontrando nada. Olhando para cima, notei um círculo de sangue na
palma de sua mão em torno de um pequeno buraco no centro das
costas de Cuchillo. Empurrando minha parte superior do corpo do
chão, achei Miri congelada no lugar, tremendo. Seus dedos estavam
brancos, onde ela agarrava a arma com as duas mãos, a arma ainda
erguida na frente dela.

Miri. Miri foi quem puxou o gatilho. Não Cuchillo e não o seu
cúmplice.

— Miri? Abaixe a arma, boneca.

Sammy passou por mim, dirigindo-se para o homem no chão na


porta com minhas lâminas saindo de sua garganta. Eu o deixei lidar
com isso, incapaz de desviar meu olhar para longe de Miri.

Lentamente, eu pulei para os meus pés, com medo, de que se Miri


estivesse em choque eu pudesse assustá-la e fazê-la disparar
novamente. Eu não precisava me preocupar. Seus braços caíram para
os lados e a arma escorregou de seus dedos e bateu no chão. Miri

~ 200 ~
começou a tremer, e ela soltou o gemido mais comovente que eu já ouvi.
Corri para o lado dela e puxei-a contra o meu peito, sussurrando
palavras de conforto enquanto ela soluçava.

— Está tudo bem, boneca. Você está bem agora.

— Boss.

Eu me virei para ver Sammy de volta ao lado de Frank,


pressionando uma toalha no ombro dele.

— Nós precisamos ir.

Certo. Mudei Miri para o meu lado esquerdo, mantendo-a debaixo


do meu braço. Com o meu direito, eu cavei o meu telefone e liguei para
um “serviço de limpeza” que eu tinha usado antes. Eles iriam limpar a
casa de qualquer documento comprovativo e se livrariam do corpo e do
carro de Cuchillo. Eu desliguei e envolvi Miri de volta no meu abraço
apertando-a. Eu nunca iria soltá-la novamente. Nunca.

Fiquei olhando para o homem que causou tanta dor e horror.


Porra, eu queria tanto cuspir no pedaço de merda, que fisicamente doía
me segurar. Mas evidência era uma evidência, e não haveria chances de
que eu iria deixar o meu DNA naquele pedaço de merda. Não valia a
pena eu ser apanhado por causa dele. Passei por ele para o homem
morto na porta. Usando meu pé, eu segurei o corpo e tirei minhas
facas, fazendo uma careta para o sangue.

Filho da puta desagradável.

De repente, Miri estava ao meu lado, batendo os punhos no peito


imóvel do homem grande.

— Seu idiota de merda! Eu te odeio!

Ela estava gritando, batendo-lhe mais e mais.

— Boneca.

Agarrei-a pela cintura e puxei-a de volta.

— Pare. Ele está morto.

Sua voz prendeu com os soluços, Miri virou em meus braços e


sussurrou em minha camisa.

— Esse foi aquele. Aquele que…

Meu corpo ficou imóvel, ficando tão frio como uma geleira.

— Ele a estuprou.

~ 201 ~
Senti seu aceno contra o meu peito.

Filho da puta. Meu sangue ferveu e eu gostaria de poder matar o


pedaço de merda de novo, começando por cortar seu pênis e empurrá-lo
no rabo dele. Miri estava chorando agora, as lágrimas molhando minha
camisa. Merda. Eu tinha que ser forte por ela, não importa o quanto eu
quisesse infligir mais danos no cadáver do bastardo.

— Shhhhh, ele já está morto, boneca. Ele não pode te machucar


mais.

Fiquei ali, segurando Miri, acalmando-a, até que os soluços


viraram fungar e ela enxugou os olhos vermelhos. Eu segurei seu rosto
em minhas mãos.

— Você está bem para ir para casa?

— Eu quero sair daqui.

Isso era bom o suficiente para mim.

Sammy empacotou suas coisas enquanto eu envolvi minhas facas


em uma toalha, pegamos os pertences de todos, e jogamos as sacolas
no porta-malas do SUV. No momento em que estava carregado, George
chegou.

— Leve Frank ao Dr. Silvio. É mais perto do que ir de volta para


Austin.

George assentiu e saiu com o carro com o Frank e Sammy no


banco de trás, Sammy ainda colocando pressão sobre a ferida de Frank.
O serviço de limpeza levaria o carro de aluguel de Miri, por isso, não
precisei me preocupar com isso.

Miri e eu subimos no SUV e dirigi para a rua deserta. Mesmo no


meio do dia, não havia um único outro carro à vista. Nenhuma palavra
foi falada durante toda a viagem de volta para Austin. Não era
necessária nenhuma. Miri alternava entre se encostar no meu ombro,
agarrando-se ao meu braço, e olhando fixamente para fora da janela
enquanto eu mantinha a minha mão na coxa dela, para que ela
soubesse que eu estava lá para ela. Além disso, eu não acho que eu
poderia parar de tocá-la

Minha menina era forte, mas isso não significava que eu não
estava preocupado com como ela reagiria a matar alguém. Mesmo um
bastardo merecedor como Cuchillo. Nós paramos na garagem da
mansão e Miri falou pela primeira vez desde que atirou e matou o
homem.

~ 202 ~
— Eu pensei que nós estávamos indo para o hotel.

Eu deslizei minhas mãos atrás de sua cabeça e suavemente a


beijei.

— Não, boneca. É seguro agora. Ele se foi.

Ela exalou uma respiração instável.

— Cat-

— Todo mundo já está lá dentro.

Eu descansei minha testa contra a dela e seus olhos se fecharam.

— Você está bem para ir?

Miri engoliu em seco. Ela encontrou meu olhar e assentiu.

— Sim. Eu acho que é hora de começar do zero.

Eu me inclinei para trás, minhas sobrancelhas puxadas para


baixo.

— O que você quer dizer?

Será que ela quer começar de novo sem mim? De jeito nenhum
ela iria sair. Eu não permitiria isso.

— Quero dizer, vamos começar de novo. Esquecer o passado e


seguir em frente a partir daqui.

Miri baixou o olhar e mordeu o lábio.

— Eu não quero ser uma viciada mais. Eu quero ser Miri Murphy
de novo.

Eu saltei e sai do SUV. Miri observou meus movimentos quando


eu circulei a frente do veículo e abri a porta. Sem dizer uma palavra,
agarrei sua cintura fina e levantei-a de seu assento, colocando-a no
chão na minha frente. Deus, ela era tão forte pra caralho. Eu estava tão
extremamente orgulhoso dela.

— Eu não quero que você seja Miri Murphy.

Ela franziu a testa e seus grandes olhos verdes brilhavam de


lágrimas.

— Merda, eu estou fodendo com isso.

Peguei suas mãos e cai sobre um joelho, ignorando o cascalho


cavando minha pele.

~ 203 ~
— Eu não tenho um anel. Eu não estava pensando... eu não
esperava tão cedo…

Eu bufei e balancei a cabeça.

— Como você se sente sobre se tornar Miri Bosman?

Um sorriso surgiu no canto de sua boca, mas ela balançou a


cabeça.

— Não.

— Não?

Foda-se, eu tinha interpretado mal essa relação inteira?

— Eu não vou ser Miri Bosman, mas eu vou ser Miri Sinclair.

Devo ter parecido tão confuso quanto eu me sentia, porque Miri


riu.

— Sua nova identidade, lembra?

Porra, não, eu não tinha lembrado.

— Jack Sinclair.

— Sim. Então, a oferta ainda está de pé?

Perguntou ela, o canto dos lábios rosa tremendo.

— Isto é porque você quer se casar comigo ou porque você odeia o


seu novo nome?

Perguntei, estreitando os olhos. Ela riu, e foi o mais doce som do


caralho que eu já ouvi.

— Ambos.

Levantei-me e esmaguei-a em um abraço, sussurrando em seu


ouvido.

— Eu vou aceitar isso. Eu odiaria que você ficasse presa a


Madeline Grossman.

Eu tentei esconder minha diversão e falhei, meus ombros


vibraram quando eu ri.

Miri empurrou meu peito.

— Seu idiota. Eu sabia que você odiava.

Ela fez uma careta.

~ 204 ~
— Grossman, homem nojento. Quero dizer, sério.

Tomei-lhe o queixo entre o polegar e o indicador, segurando seu


olhar.

— Então, você está falando sério? Você realmente vai se casar


comigo?

Eu observei seus olhos com cuidado, estudando sua reação. Eles


suavizaram e ela me deu um sorriso tímido.

— Eu adoraria me casar com você, Jag.

Baixei minha boca, capturando a dela em um beijo perfeito. Miri


passou os braços em volta do meu pescoço e me puxou para baixo,
implorando por mais. Eu espalmei sua bunda e levantei-a. Miri
envolveu automaticamente as pernas em volta da minha cintura e eu
me virei e segurei-a contra o SUV, empurrando minha língua
profundamente em sua boca, deixando-a saber que ela era minha e eu
nunca iria deixá-la ir. Ela retornou meu beijo com tanto entusiasmo,
abrindo-se para mim, permitindo-me assumir o comando enquanto eu a
devorava até que nós dois estávamos tentando recuperar o fôlego.

— Vamos entrar.

Eu murmurei contra seus lábios, minha voz rouca de luxúria.

— Leve-me ao seu quarto, Jag.

Ela ronronou, empurrando seus quadris contra meu pau duro.

Ela não precisava me pedir duas vezes.

~ 205 ~
Três anos depois

Jag

Olhei para fora da janela do meu escritório, entretido pelos


minúsculos maçarico-das-rochas que corriam para frente e para trás,
em uma tentativa desesperada de escapar de cada onda antes que ela
batesse na costa. Eu gostaria de vê-los durante todo o dia se eu não
tivesse trabalho a fazer. Miri me mataria se eu não terminasse a
contabilização para que ela pudesse fechar os livros do Centro até o dia
15 do mês.

— Jag? Você está no andar de cima, querido?

Os vários baques abafados de sapatos seguidos pelo bater dos pés


nas escadas, deixou-me saber que eu estava cerca de vinte segundos de
ser atingido. Girei a cadeira do escritório para enfrentar a porta e abri
os braços, pronto e esperando. Um borrão colorido entrou na sala e
pulou para o meu colo.

— Oof!

Agarrei o meu estômago e fingi que o vento tinha sido batido para
fora de mim.

— Você está ficando grande. Muito em breve vou aparecer como


um balão quando você fizer isso.

Um par de enormes olhos verdes emoldurados pelos mais escuros


e mais grossos cílios, que eu já tinha visto piscaram para mim.
Lentamente, a expressão confusa se transformou em um sorriso largo.

— Papai, você está fazendo aquela coisa. A mãe diz para não
mentir.

Minha boca abriu e eu bufei em choque fingido.

— Eu não estou inventando. Você está enorme!

Eu peguei meu filho pela cintura e atirei-o no ar, suspendendo-o


acima da minha cabeça. Ele gritou e riu incontrolavelmente, os sons

~ 206 ~
encantadores da infância aquecendo meu coração quando o meu filho
pediu por mais.

— Vamos lá! Voar, papai. Voar!

— Por que não vamos voar lá em baixo e encontrar a mamãe. O


que você acha?

Ace assentiu furiosamente.

— Mamãe, mamãe!

Com dois anos e meio, meu filho estava cheio de energia,


imprevisível, às vezes um reclamão, e era o centro brilhante do meu
universo. Ele fez ruídos molhados de avião, enquanto eu o voei para o
primeiro andar.

Eu achei Miri na cozinha, retirando um pequeno saco de


mantimentos. Querendo cumprimentar a minha esposa, eu coloquei o
nosso filho no chão e ele saiu correndo, provavelmente para ir correr
pela casa. Eu não poderia ter me importado menos. Minha atenção
estava sobre a linda ruiva segurando uma caixa de Cheerios em uma
mão e um jarro de leite na outra. Eu peguei os itens, coloquei o cereal
no balcão e o leite na geladeira, e deslizei os braços ao redor da cintura
da minha esposa.

— Ei, boneca. Longo dia?

Por um breve momento, fechei os olhos e eu respirei fundo,


deixando o cheiro dela me envolver.

Antes que ela pudesse responder, eu inclinei a cabeça para trás e


dei-lhe um longo e profundo beijo. Miri só tinha estado distante por seis
horas, mas poderia muito bem ter sido seis dias. Minha atração por ela
era tão forte como no dia em que tropeçou na minha vida. Eu ainda a
queria o tempo todo, mesmo que fosse simplesmente para passar o
tempo tranquilamente aconchegados no sofá.

— Mmmmm, bom.

Ela disse quando eu relutantemente soltei sua boca. Miri deitou a


cabeça no meu peito enquanto eu gentilmente esfreguei as suas costas.

— Não muito, apenas frustrante.

— Problemas no Centro?

Depois de receber nossas novas identidades, nos mudamos para


Rhode Island e compramos uma casa de três andares na praia. Miri e

~ 207 ~
eu não perdemos tempo em nos casarmos, a cerimônia foi rapidamente
realizada na faixa de areia entre nossa casa e a Baía de Narraganset.

Cat viveu conosco nos primeiros sete meses, quando nós


compramos um prédio e nós três trabalhamos na reforma com nosso
gerente de projeto. Ace nasceu duas semanas antes do Centro para
Mulheres Vítimas e Abuso e Viciadas ser aberto. Cat intensificou e
assumiu o comando, entrando como a diretora do centro, tendo aulas à
noite para se tornar uma conselheira certificada e namorando um
bombeiro que ela conheceu ao fazer um discurso antidrogas em uma
escola secundária. Miri trabalhou com as mulheres para ajudá-las a
encontrar apartamentos e empregos e falou com elas sobre sua própria
experiência com drogas.

Eu tinha dinheiro suficiente para que nenhuma das duas


mulheres tivessem que trabalhar nunca mais, mas eu tinha que dar
isso a elas, elas realmente queriam fazer a diferença. E elas faziam.
Todos os dias. Enquanto estávamos em Austin, pesquisando para onde
queríamos mudar, Cat foi quem sugeriu o menor dos estados norte-
americanos. Ela fundiu minha mente para descobrir que Rhode Island
teve um dos piores problemas de drogas no país. A heroína misturada
com o poderoso analgésico, fentanil, estava causando mais e mais
overdoses e mortes a cada dia. A máfia, embora não tão prevalente
como na Nova Inglaterra costumava ser, ainda era uma força poderosa.
Eles controlavam a maior parte do comércio de drogas no estado,
similar ao meu reinado sobre Austin. Enquanto eu me recusava a
permitir que Miri ou Cat acabassem em qualquer lugar que as
colocariam no radar da máfia através de seu trabalho de fazer com que
os viciados ficassem limpos. O Centro viu mais do que algumas
mulheres que tinham sido abusadas pela família do crime através de
suas portas.

— Não, eu só estou cansada. Eu acho que só preciso ceder e


contratar outra assistente.

Miri tentou sair dos meus braços para terminar de guardar as


compras, mas eu girei em torno dela e apertei a minha frente em suas
costas. Deslizando meus braços ao redor da cintura dela, eu abri
minhas mãos sobre sua cintura.

— Qualquer chance de você estar cansada, porque você tem outro


pequeno Sinclair crescendo ai dentro?

Eu acariciei seu ouvido e ri quando ela estremeceu e


divertidamente empurrou sua bunda na minha virilha.

~ 208 ~
— Talvez.

Ela brincou.

— Eu não fiz um teste ainda.

Nós tínhamos recentemente decidido dar a Ace um irmão e Miri


tinha abandonado seu controle de natalidade. Com a nossa
incapacidade de acabar com o fogo entre nós e o fato de que ambos
estávamos um sobre o outro o tempo todo, achei que não iria demorar
muito para o bebê número dois estar no seu caminho.

Rosnando, enfiei meu pau endurecido na fenda da bunda redonda


de Miri e apalpei seus seios. Ela gemeu quando eu lambi o caminho de
seu pescoço até seu ouvido.

— O que você está esperando, boneca?

Miri cegamente estendeu a mão para o saco de supermercado e


enfiou a mão dentro. Ela tirou uma caixa rosa e branca, segurando-a
até onde eu poderia vê-lo.

— Quem disse que eu estou esperando?

— Mamãe, papai, eu quero ir para praia!

Ace correu pela a cozinha com as pernas curtas e grossas, e na


forma típica de uma criança, tropeçou e caiu diretamente em minha
perna. O pequeno quicou e caiu em sua bunda. Miri e eu olhamos para
baixo para ver que o seu gordo lábio inferior tremia e aqueles enormes
olhos se encheram de lágrimas.

Miri pegou nosso filho e fez o controle de danos, enquanto eu


tentava esconder uma risada. Ace aparentemente tinha tomado para si
o dever de vestir suas roupas e tinha colocado sua roupa de banho.
Infelizmente, ele tinha colocado errado, pisando em um único buraco da
perna, de modo que ambos os pés se projetavam em uma única
abertura. Parecia que ele estava usando uma saia muito apertada com
uma abertura extra de perna pendurada de lado. Eu tive que virar
minha cabeça para esconder meu sorriso.

— Querido.

Miri sussurrou.

— Não chore.

Ela salpicado beijos em seu rosto vermelho.

~ 209 ~
— Papai vai arrumar a sua roupa e colocar o seu protetor solar
enquanto a mamãe usa o banheiro e troca de roupa também, ok?

Miri me deu um olhar compreensivo, segurando o teste de


gravidez em uma de suas mãos.

— Certo.

Eu peguei Ace de seus braços e despenteei o seu cabelo escuro.

— Nós vamos ficar prontos e esperar a mamãe do lado de fora. O


que acha disso?

Ace se mexeu até que eu o coloquei para baixo. Eu mal arrumei


seu traje de banho e ele já tinha corrido. Como um pequeno tornado,
Ace correu para a sala, pegou uma toalha que estava em pilha no chão,
onde posteriormente ele tinha tombado e pegou o frasco de protetor
solar antes de circular de volta para mim.

— Agora, papai.

Ele exigiu, empurrando o protetor solar na minha mão.

Abaixei-me e gentilmente bati no nariz com um dedo.

— Ok, amigo. Então eu tenho que trocar a minha roupa para uma
de banho também.

— Depressa.

Ace estava praticamente dançando, ele estava tão animado.

Miri

Grávida.

Eu olhei para a tela em miniatura, que eu tinha deixado na pia.


Uma vez que isso aconteceu, eu não poderia parar o enorme sorriso que
se espalhou por todo o meu rosto. Outro bebê. Jag e eu adoraríamos ser
pais de dois filhos.

Minha realidade era tão incrível, tão distante da minha infância


horrível e da minha batalha contra o vício, parecia como se eu estivesse
vivendo a vida de outra pessoa. Eu não tinha apanhado da minha mãe e
ficado trancada em um armário por horas a fio. Eu não fugi com a
minha melhor amiga e tentei viver por conta própria com a idade de
dezessete anos. Certamente não fui eu quem tinha se atirado na

~ 210 ~
heroína e se prostituindo por drogas. Apesar dos pesadelos que me
atormentavam, às vezes, isso definitivamente não me fez sentir como se
eu fosse a pessoa sequestrada e torturada por um louco, e muito menos
a pessoa que atirou e matou-o.

Não, essas coisas tinham acontecido com outra pessoa em outra


vida.

A vida acabou por ser bastante incrível. Eu me casei com um


homem incrível, meu protetor, meu salvador, meu amor. Tivemos uma
criança linda, perfeita e íamos ter outro em oito meses mais ou menos.
Eu vivia na praia e passava os dias ajudando as mulheres tão
desesperadas e quebradas como eu fui uma vez, dando-lhes esperança
e caminho como Jag me deu o meu.

Agarrei a vara de plástico na minha mão enquanto lágrimas de


alegria derramavam dos meus olhos. Eu nunca teria acreditado que
algo tão bonito poderia ter vindo de algo tão feio. Minhas cicatrizes eram
minhas e sim, elas representavam o quão longe eu tinha afundado
antes de encontrar a força para emergir para a luz.

Jag foi a minha luz. Ele seria sempre a minha luz.

Com a roupa de banho e um chapéu enorme para cobrir meu


rosto, eu apliquei uma quantidade generosa de filtro solar e caminhei
pelo calçadão que ia da nossa porta para a praia. Jag e Ace estavam
jogando uma espécie de futebol aonde eles corriam um atrás do outro
em um jogo de captura. Bem, ambos estavam jogando-o, mas apenas
Jag foi pegar a bola que tinha ido parar na espuma imprevisível do mar.
Ace estava rindo, porém, e por isso o meu marido também sorria. Meu
coração inchou em meu peito enquanto eu observava minhas duas
pessoas favoritas correrem para cima e para baixo na areia.

Inclinei a cabeça para trás e olhei para o céu azul infinito, grata
por tudo com o que eu tinha sido abençoada. Com o teste de gravidez
na mão, me juntei a minha família na praia, pronta para começar o
próximo capítulo na minha vida.

Onde quer que nos leve.

Fim!
~ 211 ~

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