Abrir portas onde se erguem muros Director:

Dire
re
ecctto
orr: D
Da
David
avid Pontes S
Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • Ano XXXV • n.º 12.380 • Diário • Ed. Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,50€

M
Motociclismo Sónar Lisboa
À terceira, a promessa
Oliveira
O do festival cumpriu-se
(e Sevdaliza ajudou)
ffecha GP Cultura, 26/27

d
de Portugal Peter Eötvös (1944-2024)
no top10 com
n A despedida de um
gigante da música
ssabor a pouco contemporânea
Desporto, 37
D Cultura, 29

Leis “sem aplicação prática” falham

em proteger inquilinos de abusos
Face à escassez de oferta de casas e de Äscalização, crescem queixas nas associações. Ouvimos várias: do
senhorio que colocou câmaras de vigilância a cauções não devolvidas e cortes de energia Economia, 24/25
MATILDE FIESCHI

Inquérito
Maioria dos
portugueses elogia
legado de Abril, mas
jovens são os que fazem
avaliação mais positiva
Saúde e educação
foram as áreas que
mais melhoraram
Dois terços acham
que corrupção piorou
desde 1974
Destaque, 2 a 4 e Editorial

Estudo Crime Chega Por+

Hoje Colecção
Carreira Em quatro anos, Apoiantes são Biblioteca da Censura 9€
académica carteiristas menos radicais Vol. 24 Viagem
tornou-se “jogo” furtaram 7,1 do que líderes (Checoslováquia
de precariedade milhões de euros do partido – U.R.S.S.), de
Ciência, 23 Sociedade, 14/15 Política, 10/11 Graciliano Ramos
ISNN-0872-1548
2 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024

Destaque Estudo sobre as atitudes face ao 25 de Abril de 1974

É entre os O
João Pedro Pincha
s portugueses fazem uma
avaliação maioritariamente
positiva do 25 de Abril de
1974, mas não há uma cama-
da de população que olhe

jovens que tão favoravelmente para as

consequências da revolução como a
dos jovens. DesaÆados a reÇectir
sobre como é que aquele dia deve
Æcar assinalado na história, 73% das
pessoas com idades entre os 16 e os

legado de
34 anos responderam num inquérito
que foi um evento com consequên-
cias “mais positivas do que negati-
vas”. Esta opinião não é tão alargada
noutros grupos etários.
“Há a ideia de que os jovens estão

Abril é mais
muito distantes do 25 de Abril e que
não o valorizam, porque já foram
socializados politicamente em demo-
cracia e podiam ser indiferentes, mas
o facto é que eles têm uma visão não
só amplamente positiva, como bas-

valorizado
tante consensual”, aÆrma Conceição
Pequito, professora e investigadora
em Ciência Política no ISCSP-CAPP.
Sob a coordenação de Pequito, de
Manuel Meirinho Martins e de Pedro
Fonseca, o Centro de Administração
e Políticas Públicas (CAPP) daquele
instituto da Universidade de Lisboa
lançou-se numa grande investigação
sobre a forma como os portugueses
olham para a sua democracia prestes
a cumprir meio século de existência.
À distância de 50 anos, a revolução é vista O projecto 50 anos de Democracia em
Portugal: Mudanças e Continuidades
como positiva pela maioria. Saúde e Geracionais prolongar-se-á até 2028,
mas começa agora a produzir os pri-
educação são consideradas conquistas, meiros resultados. Esta é a primeira
parte do trabalho, que PÚBLICO
a corrupção é um problema sério divulga em primeira mão. Nas próxi- As opiniões favoráveis são mais vincadas entre os jovens (16-24 anos) e os

Atitudes dos portugueses em relação ao 25 de Abril de 1974

Como acha que o 25 de Abril devia ficar assinalado na história:
Como algo que teve mais consequências positivas que negativas, tão positivas como negativas ou mais negativas do que positivas?

MAIS NEGATIVAS que positivas Por grupos etários Por situação económica Por local de residência Variáveis de controlo político
Em percentagem Em percentagem Em percentagem Os portugueses que consideram que
‘consequências mais negativas do que
7% 16-24 anos Muito difícil Zona rural ou aldeia
0. Posição mais
à esquerda 13
1.
Tão positivas 4 20 76 8 13 79 2 16 82
COMO negativas 2.
25-34 anos Difícil Vila pequena ou média
24% 3.

4.
9 24 67 7 27 67 3 13 84
5.
35-64 anos Razoável Subúrbios de grande vila ou cidade
6.

7.
69% 7 25 68 8 25 66 10 28 63
MAIS POSITIVAS 8.
que negativas 65 ou mais anos Confortável Grande vila ou cidade
9.

10. Posição mais 31

7 25 68 2 26 72 7 25 68 à direita 0% 20%

Fonte: Atitudes face ao 25 de Abril – população e jovens

NotíciasFlix
MIGUEL MANSO
mas semanas haverá mais resulta-
dos.
Através de um inquérito presencial
feito em Abril e Maio do ano passado
a mais de 1300 pessoas, tanto no con-
tinente como nas ilhas, e em que foi
dada “uma especial ênfase aos jovens
e jovens adultos”, o estudo quis ava-
liar a qualidade da democracia sob
vários prismas. Um deles diz respeito
à percepção que os portugueses têm
hoje do 25 de Abril.
Uma larga maioria dos inquiridos
de todas as idades (69%) considera
que a revolução trouxe consequên-
cias “mais positivas do que negati-
vas”, enquanto um em cada quatro
(24%) é de opinião que elas foram “tão
positivas como negativas”. Uma visão
sobretudo negativa deste aconteci-
mento é manifestada por 7%.
As opiniões favoráveis são mais
vincadas entre os jovens (16-24 anos)
e os jovens adultos (25-34 anos), com
73% a considerarem o 25 de Abril um
evento globalmente positivo, 21% a
equipararem os efeitos positivos aos
negativos e 6% a penderem para uma
avaliação menos favorável.
E este olhar dos mais jovens é trans-
versal a espectros políticos, aponta
Conceição Pequito. “É uma opinião
[positiva] generalizada, independen-
temente do posicionamento ideoló-
gico”, aÆrma. Os que, numa escala de
zero a dez, dizem estar o mais à
esquerda da esquerda são unânimes
(100%) na avaliação positiva do 25 de
Abril, enquanto os que dizem o mes-
mo na direita mais à direita são 33%,
considerando os restantes 67% que
da revolução saíram tantas coisas
boas quantas más. “Porém, quando
s jovens adultos (25-34) analisados através de testes estatísti-
Como qualificam os mais Comparado com o que se passava antes do 25 de Abril, estas
o 25 de Abril de 1974 teve jovens (16-34 anos) as áreas em Portugal estão melhores ou piores?
positivas’ situam-se mais à direita
consequências do 25 de
Abril?
Toda a população
50 38 MAIS NEGATIVAS que positivas
Piorou Melhorou
6% Saúde
Educação
Tão positivas
COMO negativas Habitação
21%
Economia
Integração regional
Igualdade social
73% Justiça
MAIS POSITIVAS
que negativas Corrupção
41 28
40% 60% 80% 100% 0% 20% 40% 60% 80% 100%
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 3
Como foi feito
o inquérito?
projecto de investigação
O
50 anos de Democracia
em Portugal:
Continuidades e
Mudanças Geracionais
(2024-2028), coordenado por
Manuel Meirinho Martins,
Conceição Pequito Teixeira e
Pedro Fonseca, do Instituto
Superior de Ciências Sociais e
Políticas, tem por base um
inquérito por questionário à
população portuguesa sobre o
estado actual da democracia
em Portugal realizado pela
Intercampus, entre Abril e
Maio de 2023. Foram
considerados os indivíduos de
ambos os géneros com 16 e
mais anos de idade, residentes
em Portugal (Continente e
ilhas), e realizadas 1327
entrevistas presenciais: 1020
entrevistas numa
amostra-base e 307
entrevistas numa amostra
extra ao grupo etário dos 16
aos 34 anos, atribuindo-se,
assim, uma especial ênfase
aos jovens e jovens adultos.
Na selecção dos
entrevistados, foram aplicadas
quotas de género e idade por
região, tanto na amostra-base
como na amostra extra. A
margem de erro da amostra
total é de ± 2,69 p.p. para um
intervalo de confiança de 95%.
Só jovens
Piorou Melhorou
Saúde
Educação
Habitação
Economia
Integração regional
Igualdade social
Justiça
Corrupção
0% 20% 40% 60% 80% 100%
cos, constata-se que, ao contrário do
que acontece com a população por-
tuguesa, não há diferenças estatisti-
camente signiÆcativas entre os grupos
etários mais jovens”, sublinha.
Conceição Pequito explica que ao
projecto interessava “muito perceber
as continuidades e descontinuidades
intergeracionais para cada um dos
temas” em análise e, por isso, decidi-
ram incorporar “uma amostra repre-
sentativa extra da população mais
jovem”.
As diferenças de opinião entre estes
grupos etários e os mais velhos estão
já patentes nas respostas sobre o 25
de Abril, mas os investigadores acre-
ditam que este olhar especíÆco, ou
“zoom-in”, como lhe chama Pequito,
permitirá revelar ainda outras distin-
ções. “Quando nós formos ver as ati-
tudes populistas, o voto no Chega, a
identiÆcação partidária, o interesse
pela política, a mobilização cognitiva
através das redes sociais e a desinfor-
mação política, a clivagem entre pes-
soas de grupos etários mais jovens e
grupos mais velhos irá surgir com
certeza, porque tem sido assim em
quase todos os estudos feitos por essa
Europa fora.”
O pior é a corrupção
Ainda que a generalidade dos inqui-
ridos tenha uma ideia boa dos acon-
tecimentos de há 50 anos, e do que
eles signiÆcaram para Portugal, essa
percepção varia consoante os níveis
de escolaridade e de rendimentos e
do sítio em que as pessoas habitam.
Por exemplo, é quem mora nos
subúrbios das grandes cidades que
manifesta menos entusiasmo com os
efeitos da revolução: 10% 
Do legado do 25 de Abril, o
que acham os jovens que
mais melhorou e mais
piorou?
Em percentagem
Melhorou
Ensino Básico Sec. Superior
Saúde 30 48 22
Educação 29 49 22
Economia 31 51 18
Habitação 28 49 23
Piorou
Corrupção 30 44 25
Justiça 32 43 25
Igualdade
social 48 37 15
Integração
regional 45 43 12
PÚBLICO
4 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Destaque Estudo sobre as atitudes face ao 25 de Abril de 1974
dizem que eles foram, sobretudo,
negativos, o que constitui a maior
percentagem desta resposta conside-
rando todas as variáveis sociodemo-
gráÆcas. Entre os mesmos inquiridos
suburbanos, 63% dizem que os efeitos
foram sobretudo positivos, o que, por
sua vez, é a percentagem mais baixa
desta resposta.
Os investigadores também consta-
taram que as pessoas que aÆrmam ter
uma situação económica “muito difí-
cil” são as que vêem o 25 de Abril a
uma luz mais positiva (79%), enquan-
to as que declaram ter uma vida
“razoável” não são tão convictas: 66%
fazem uma avaliação globalmente
favorável, 25% dizem que as conse-
quências positivas e negativas se equi-
param e 8% vêem a revolução como
algo mau. A que se podem atribuir
estas diferenças de opinião? “Temos
de fazer análises estatísticas bastante
mais soÆsticadas, que mais do que
descrever os resultados procurem
explicá-los”, aÆrma Pequito. Um olhar
mais Æno está reservado para “uma
outra fase do projecto”.
O mesmo acontecerá com a avalia-
ção dos portugueses sobre a actual
conjuntura política, já bastante dife-
rente da que existia em Abril e Maio
de 2023, quando este inquérito foi
realizado. “O impacto deste período
[posterior a 7 de Novembro] iremos
vê-lo com a realização de outro inqué-
rito que estamos a preparar.”
Mas de que consequências especí-
Æcas se fala nesta avaliação? Incitados
a dizer em que áreas a sociedade por-
tuguesa melhorou ou piorou, a saúde
e a educação aparecem como aquelas
em que os progressos são mais valo-
rizados pelos inquiridos. “Uma hipó-
tese parece emergir da leitura destes
dados”, aÆrma Pequito. É a de que,
mesmo com as várias crises que se
sucederam e sobrepuseram nos últi-
mos anos, “os ganhos do Estado social
enquanto uma das principais con-
quistas do 25 de Abril de 1974” pare-
cem não ter sido postos em causa “aos
olhos dos portugueses”.
As opiniões sobre a forma como
evoluiu a habitação, a economia, a
integração regional, a igualdade social
e a justiça também são maioritaria-
mente positivas — ainda que na justi-
ça, um em cada três considere que a
situação piorou.
A área que recebe uma avaliação
rotundamente negativa é a corrup-
ção: 65% dos entrevistados acham
que Portugal está hoje pior nesse
campo do que em 1974. É uma ten-
dência transversal a géneros, grupos
etários, níveis de escolaridade, níveis
de rendimento e local onde se vive.
“Aos olhos dos portugueses, a cor-
rupção continua a ser um problema
endémico na nossa sociedade, inde-
pendentemente da transição de um
regime ditatorial para um regime
democrático”, constata Pequito,
citando, aliás, dados de outros estu-
dos, como o Índice de Percepção da
Corrupção ou o Eurobarómetro, em
que os inquiridos portugueses já
manifestavam o mesmo sentimento
sobre a corrupção.
Uma sociedade polarizada
Se nos jovens e jovens adultos a cliva-
gem esquerda-direita não inÇui signi-
Æcativamente no que pensam sobre
a revolução, o caso muda de Ægura
quando se olha para a população
como um todo. De forma talvez um
tanto surpreendente, entre os inqui-
ridos que se colocam na posição mais
à esquerda de todas, da escala que vai
de zero a 10, apenas 38% consideram
que o 25 de Abril foi mais positivo do
que negativo, com 50% a declarar que
os efeitos bons foram tantos quantos
os maus.
Na ponta oposta do espectro polí-
tico, uma apreciação maioritariamen-
te negativa é expressa por 31% dos
entrevistados, enquanto 28% mani-
festam uma opinião sobretudo posi-
tiva e 41% se Æcam pelo meio-termo.
Estes resultados mostram que a for-
ma como as pessoas se posicionam
politicamente continua a inÇuenciar
“de forma signiÆcativa” a sua leitura
da história, considera Pequito.
A clivagem ideológica também se
revela nas respostas a outra questão,
esta relativa às divisões políticas e
sociais surgidas durante o Processo
Revolucionário em Curso (PREC).
Para uma maioria dos que se situam
mais à esquerda, essas divisões já não
têm importância. Pelo contrário, 63%
A área que recebe
uma avaliação
rotundamente
negativa
é a corrupção: 65%
acham que Portugal
está hoje pior
e 45% dos entrevistados que se colo-
cam nos dois patamares mais à direi-
ta da escala aÆrmam que essas divi-
sões “ainda têm a mesma importância
que tinham na altura”.
Olhando para o resultado global
da questão, já sem variáveis políticas
ou sociodemográÆcas, constata-se
que uma maioria (53%) é de opinião
que as divisões pós-revolucionárias
“têm hoje menos importância do
que na altura”; 33% consideram que
a relevância é a mesma e 15% que “já
não têm qualquer importância”. Em
2014, num estudo feito pelo Instituto
de Ciências Sociais e coordenado por
Marina Costa Lobo, eram 23% os que
não atribuíam qualquer importância
àquelas divisões e 60% os que diziam
serem igual ou menos importantes
— uma percentagem que subiu agora
para os 86%.
“O que parece é que os portugue-
ses têm hoje uma visão bastante mais
polarizada e divisiva da sociedade”,
analisa Conceição Pequito.
O regime democrático em avaliação
“A preferência pela democracia
coexiste com as preferências por
formas autocráticas de governo”
João Pedro Pincha
Conceição Pequito,
professora do ISCSP, explica
os contornos do grande
estudo sobre a democracia
que está em curso
C
om o Portugal democrático a
alcançar meio século de exis-
tência e num momento em
que a polarização parece ser
a nota dominante do panora-
ma político e social, os inves-
tigadores do Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da
Universidade de Lisboa deitaram a
democracia numa marquesa para lhe
fazer uma radiograÆa completa.
O estudo 50 anos de Democracia em
Portugal: Mudanças e Continuidades
Geracionais, que só estará concluído
em 2028, “pretende sobretudo fazer
uma avaliação global do estado da
democracia em Portugal”, explica ao
PÚBLICO uma das coordenadoras, a
cientista política Conceição Pequito.
“Dedicámos espaço aos comporta-
mentos políticos portugueses, desde
o interesse pela política à exposição
aos meios de comunicação tradicio-
nais e à Internet e redes sociais, da
Æliação partidária ao sentido de voto,
da maneira como avaliam a democra-
cia enquanto regime, bem como o
seu funcionamento na prática e as
instituições. Também temos uma
parte dedicada às atitudes populistas
portuguesas, a sua polarização ideo-
lógica e afectiva.”
O ponto de partida para a investi-
gação foi um inquérito feito à escala
nacional, incluindo as regiões autó-
nomas, o que é uma particularidade
que o distingue de outros estudos no
campo da ciência política. A inclusão
de uma amostra extra de população
mais jovem e a realização presencial
do inquérito (e não por telefone) são
outros pontos distintivos que Pequito
sublinha. “Interessa-nos olhar para
juventude de um modo especíÆco e,
mais à frente, fazer um contraste
entre o Portugal continental e insular,
que é uma coisa que os estudos geral-
mente não têm em conta.”
Para lá da mera efeméride que este
ano se assinala, há uma conjuntura
internacional que justiÆca a investi-
gação. “Há muitos estudos neste
momento a fazer balanços mais ou
menos alargados sobre as democra-
cias liberais em contexto europeu.
Estamos num momento em que a
democracia liberal está a ser desaÆa-
da por forças iliberais, nomeadamen-
“A democracia liberal está a ser desafiada por forças iliberais”
te com a ascensão dos populismos de
direita radical e a chegada ao poder
ou à oposição desses partidos”, expli-
ca a professora do ISCSP-CAPP. E faz
a arqueologia do tema. “É um fenó-
meno que começou a ganhar interes-
se aquando da grande depressão de
2008, com a crise das dívidas sobera-
nas, em que houve sobretudo a emer-
gência de partidos populistas de
esquerda radical. Depois, com a crise
dos refugiados, o Brexit, a crise pan-
démica, a crise inÇacionista da guer-
ra da Ucrânia, houve uma ascensão
sobretudo dos populismos de direita
radical. É um desaÆo que se coloca às
democracias europeias há um tempo
e que chegou a Portugal.”
O que motiva a equipa é confrontar
“as preferências dos portugueses
relativamente à democracia, enquan-
to regime que tem tido maioritaria-
mente o apoio dos portugueses, face
a outras alternativas de governo, as
autocráticas, que começam a ganhar
expressão no nosso país”, contextua-
liza Conceição Pequito.
Em 2024 assinalam-se os 50 anos
da Revolução do Cravos. Uma
série especial recorda o caminho
que levou ao fim da ditadura
Veja mais em publico.pt
RUI GAUDENCIO
“Quer a forma autocrática quer a
forma tecnocrática de governo, que
não são formas democráticas, têm
vindo a ganhar terreno em Portugal
desde o resgate Ænanceiro de 2011.
Interessa-nos perceber porquê, por-
que é que a democracia já não é the
only game in town, embora continue
a ter um apoio signiÆcativo face às
demais”, diz. E completa: “Podemos
dizer que hoje coexiste a preferência
pela democracia com as preferên-
cias por formas autocráticas de
governo.”
Não é só em Portugal que o sistema
democrático cumpre 50 anos. Grécia
e Espanha são outros países europeus
que integraram a chamada “terceira
vaga de democratização” ao virarem
as páginas das respectivas ditaduras
(1974 e 1975, respectivamente). “Pen-
so que para o ano teremos a oportu-
nidade de comparar estes dados com
os que forem obtidos em perguntas
semelhantes feitas quer em Espanha
quer na Grécia.”
Numa primeira fase, o projecto
divulgará ao grande público os resul-
tados do primeiro tratamento estatís-
tico dos dados. Mais tarde haverá “um
estudo mais aprofundado para efeitos
de publicação académica”. Por Æm,
há uma componente pedagógica com
projectos especíÆcos para escolas que
arrancam em 2024/2025. “Um tem
que ver com a simulação de eleição
em contexto escolar, para alunos do
secundário, a que nós chamamos
‘Aprender a votar democracia’. E um
outro que tem que ver com aprendi-
zagem sobre como funciona a demo-
cracia em Portugal. São programas
para desenvolver a literacia política
para alunos que estão muito próxi-
mos da idade de votar, baseados em
estudos levados a cabo em países do
Norte da Europa.”
 Fernanda Freitas
Host / Moderadora

10:30
MESA REDONDA
Carolina Van Zeller
Gestora de Projectos da Associação Salvador

Filipa Pinto Coelho

Presidente da Associação VilacomVida, IPSS que gere os cafés Joyeux em Portugal

Madalena Ribeiro
Recruiter na IKEA Portugal

Teresa Martins
Responsável de Recursos Humanos da Nespresso Portugal

12:00
ENCERRAMENTO
ASSISTIR
ONLINE
6 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024

Espaço público

Procura-se um governo à prova de “casos”

S
e atendermos ao estudo
Editorial sobre como os portugueses
avaliam uma democracia à
beira de atingir uns
respeitáveis 50 anos, que o
PÚBLICO começou a divulgar, a
maioria deles está em paz com as
David Pontes mudanças iniciadas em 25 de Abril
de 1974.
O estudo 50 anos de Democracia
em Portugal: Mudanças e
Continuidades Geracionais, do
Centro de Administração e Políticas
Públicas do ISCSP (Instituto
Superior de Ciências Sociais e
Políticas da Universidade de Lisboa),
mostra que uma substancial maioria
dos inquiridos (69%) vê
A corrupção é uma das consequências “mais positivas do
áreas que os portugueses que negativas” na evolução destes
consideram ter evoluído últimos 50 anos, um quarto tem
mais negativamente nas uma opinião neutra e só 7% uma
opinião negativa.
últimas cinco décadas, A coesão em torno de valores
exactamente uma das colectivos é importante para uma
bandeiras do Chega sociedade funcionar, é um
património que o tempo ajuda a
consolidar. Mas a visão que nos traz
um outro inquérito, o do cientista
político Tiago Fernandes, Ænanciado
pela Fundação Friedrich Ebert, é a
de que, se os portugueses avaliam
bem a viagem até aqui, não estão
tão felizes com a estadia de
momento. Só 52% têm opiniões
positivas, enquanto 47% dos
inquiridos não estão “nada
satisfeitos” com a democracia em
Portugal.
Naturalmente, o estudo mostra
que os mais zangados estão entre o
eleitorado do Chega (77% “nada
satisfeito”) e que o partido foi
buscar força aos que se interessam
pouco por política, que muitas
vezes se Æcam pela abstenção. Se
regressarmos ao estudo do ISCSP, é
possível veriÆcar que a corrupção
(65%) é uma das áreas que os
portugueses consideram ter
evoluído mais negativamente nas
últimas cinco décadas, exactamente
uma das bandeiras do Chega.
Mais do que o sistema são os
protagonistas, ou a percepção que
os portugueses têm deles, que
parecem importar. O estudo de
Tiago Fernandes mostra que os
eleitores do Chega não se afastam
muito dos valores gerais da
sociedade, mas têm um sentimento
antipolítica exacerbado, que os
casos de justiça ajudam a alimentar.
Agora que se aproxima o
momento decisivo de Luís
Montenegro encontrar um elenco
governativo, o social-democrata tem
de acrescentar com rigor mais um
nível de exigência na sua selecção,
se quer desmobilizar ou conquistar
um eleitorado que coloca a
“corrupção” no centro das suas
atenções. Vai ser preciso
governantes com experiência
política e governativa, mas muito
especialmente sem “casos” no
armário, para apaziguar a fogueira
que grassa na política portuguesa.

CARTAS AO DIRECTOR
A nossa sorte ou má sorte
A condenável invasão da Ucrânia
pela Rússia não pode estar
dissociada da condenável expansão
da NATO até às portas da Rússia.
Não se pode condenar uma sem
condenar a outra. O argumento de
que a Ucrânia é um país soberano e
independente, e por isso livre e com
toda a legitimidade para convidar e
fazer alianças com quem muito bem
entender, cai redondamente se
imaginarmos amanhã a Rússia ou a
China a conduzirem exercícios
militares no México, à porta dos
EUA.
Seria isso alguma vez tolerado
pelos EUA? Não é necessária uma
imaginação prodigiosa para saber a
resposta. A grande maioria das
pessoas desconhece a crise de 1962,
quando a então União Soviética
colocou armas (mísseis) em Cuba,
um país também soberano e
independente, o que não foi
tolerado, e bem, pelos EUA. O
mundo esteve à beira de uma
catástrofe nuclear. Valeu o bom
senso dos líderes soviéticos e
americanos, que chegaram a um
acordo e os mísseis foram retirados.
Em Setembro de 2021, a NATO
conduziu exercícios militares na
Ucrânia que envolveram 24.000
soldados. Com esta política de
expansão da NATO, os EUA
alienaram a Rússia, empurrando-a
para os braços da China, o
verdadeiro rival dos EUA a nível
global e o país que os EUA
pretendem conter. Esta política,
aparentemente paradoxal, tem
uma explicação: mercantilismo
puro e duro, ou seja, a venda de
armas. É preocupante o calibre dos
políticos que nos caíram em sorte na
liderança da União Europeia, que,
como marionetas bem manejadas,
apregoam os tambores da guerra,
para assim criarem o temor e
fabricarem o consentimento da
população para um forte aumento
no gasto em armamento.
Ronald Silley, Canadá
Luta de claques
Vindo de um painel de debate
futebolístico, habituado à berraria e
à canelada verbal, isentado da
apresentação de argumentos
válidos e verdadeiros, Ventura
irrompeu nos palcos mediáticos da
política portuguesa. À imagem dos
seus ídolos, Trump e Bolsonaro,
trouxe o insulto, a mentira e a meia
palavra, a falta de escrúpulos, a
provocação repulsiva, enÆm, tudo
aquilo que muita gente acredita ser
a essência do ser humano.
E a coisa pega, a coisa faz sentido,
mostrando-nos a verdadeira
imagem da nossa sociedade.
Ventura é o reÇexo no espelho de
um país que não é racista, nem
misógino, nem fascista, um país que
odeia vigaristas. Olhamos para o
mundo todo e vemos muitos líderes
como este, gente que põe a pátria
acima de tudo e deus acima de
todos, como se cada povo fosse uma
claque de futebol embrutecida e
pronta a ser orientada no ódio
absoluto ao outro, ao adversário.
Alguém lucra com isto.
Portugal entrou neste clube de
povos ansiosos por derrotar e
humilhar aqueles que não são
humildes como nós, que não são
crentes como nós, que não
clarinhos de pele nem possuidores
de sentimentos puros, que não são
gente de bem. Se isto não fosse
preocupante, seria apenas motivo
de escárnio. As classes sociais
irmanam-se num único e grandioso
objectivo: manter a pureza histórica
da nação valente, gloriÆcar a pátria
imortal e os seus símbolos, ajoelhar,
rezar e acreditar. Berra-se A
Portuguesa em todo o lado como se
fosse hino de estádio de futebol.
Entramos na era da luta de claques.
Rui Silvares, Cova da Piedade
Um louco que quer ficar
na história
Vladimir Putin não deixa de ser um
pesadelo para toda a Europa livre e
democrática. Só uma ânsia
desmesurada de poder é que
justiÆca a turbulência e mortandade
na Ucrânia. Como ditador
implacável, envia soldados para
matar, por um lado, e para
morrerem pela mãe Rússia
imperialista, por outro.
Na sequência da adesão da
Finlândia e da Suécia à NATO, um
Putin enraivecido pretende enviar
(ou já está enviando) forças
militares e sistemas de destruição
para a fronteira russo-Ænlandesa.
Ou seja, Putin não quer permitir ou
aceita de mau grado que países
soberanos que fazem fronteira com
a Rússia ou estão perto do território
russo tomem a iniciativa de aderir à
NATO. Como se a adesão à NATO
destes países representasse, a
priori, um perigo para a Rússia.
Putin em tudo vê ameaça, em
tudo vê russofobia, em tudo vê
sinais de que o querem destruir. E
esta visão deformada constitui um
sério pesadelo para toda a Europa
livre e democrática que ele
pretende desagregar e dividir.
António Cândido Miguéis, Vila Real
PÚBLICO ERROU
Na edição de ontem, no texto
“Albuquerque é favorito, mas com
fragilidade para gerar
entendimentos”, era referido que o
PSD-Madeira “viu o CDS romper a
coligação” de governo na região
autónoma, porém foi o
PSD-Madeira a pôr Æm à coligação
com o CDS-Madeira. Pedimos
desculpa aos leitores.

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

ESCRITO NA PEDRA Mais futebol para todos
Querer-se
livre Ainda ontem
é também
querer livres
os outros
Simone
E
de Beauvoir, Miguel Esteves Cardoso
escritora stive a somar o tempo que passei a
preocupar-me com coisas que
depois não aconteceram.
Escrever tem essa vantagem: os
medos Æcam registados, não
apenas no conteúdo, mas na
extensão. A desvantagem é que cinco minutos
de preocupação levam uma hora e meia a
O NÚMERO escrever. E assim se ganham mais 85 minutos
563
de preocupação.
Estive a somar o tempo que passei a
preocupar-me com coisas que depois não
aconteceram e calculo, acrescentando as
horas de sono (como se não nos
preocupássemos enquanto dormimos, mas
adiante), que sejam oito anos.
Oito anos! Esqueçam o jeito que me dariam
agora oito aninhos. Isso não é nada,
mil é o número de trabalhadores comparado com o jeito que esses mesmos
associados a sindicatos da CGTP, oito aninhos me teriam dado quando eu era
revelou o novo secretário-geral novo e a preocupação era uma barreira entre
ZOOM JERUSALÉM
Clérigos participam na procissão de Domingo de Ramos na igreja de Santo Sepulcro, na cidade velha de Jerusalém,
uma celebração anual que evoca a eternidade de Cristo
mim e a vida que esperava por mim lá fora.
Ao menos essa preocupação toda ajudou as
coisas que eu tanto temia a não acontecer? O
preocupar-me tanto preparou-me para
afastar esses temores?
Não ajudou nada. Agarramo-nos à
consolação de que talvez tenha ajudado. Mas
a preocupação não ajuda nada. Se calhar, até
desajuda. Se calhar, enfraquece-nos. Se
calhar, até nos torna mais medrosos.
E o tempo que passámos a preocupar-nos
com as coisas más que depois, de facto,
aconteceram Ajudaram a enfrentá-las?
Suavizaram o impacto?
Perguntem às equipas de futebol que têm
medo de perder e depois perdem. Alguém se
atreve a dizer “já se sabia...” nos balneários?
A conversa do treinador antes do jogo — o
“vamos conseguir!” e “vamos ganhar!” — não
(jornalista de dados); Ruben Martins, Inês Rocha (áudio); Joana Bougard (editora
se destina a convencer os jogadores de que
vão ganhar. Destina-se apenas a tentar rebater
a convicção de que nem vale a pena jogar,
(subeditor), Ana Sá Lopes, São José Almeida (redactoras principais), Ana Bacelar
porque é mais do que sabido que vão perder.
Mas, então, se a preocupação é uma perda
de tempo e só serve para nos desanimar,
como é que fazemos para não nos
preocuparmos? Preocupamo-nos com outras
Alexandra Campos, Ana Cristina Pereira, Ana Dias Cordeiro, Ana Henriques, Ana
coisas, menos íntimas e mais distantes.
Distraímo-nos. Pre-ocupamos a parte do
nosso cérebro que se preocupa com coisas
das quais não temos culpa. Como o futebol.
ATEF SAFADI/EPA
Luís J. Santos (editores), Alexandra Prado Coelho (grande repórter), Luís Octávio
Área Financeira e Circulação Nuno Garcia RH Maria José Palmeirim Direcção
Soczka Análise de Dados Bruno Valinhas Marketing de Produto Alexandrina
Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA | Sede: Lugar do Espido, Via
O PÚBLICO e o seu jornalismo estão sujeitos a um regime de auto-regulação
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 7
A opinião publicada no jornal respeita
a norma ortográfica escolhida pelos autores
publico.pt
Lisboa Porto
Edifício Diogo Cão,
Doca de Alcântara Norte
Rua Júlio Dinis,
n.º 270 Bloco A 3.º
1350-352 Lisboa
Tel. 210 111 000
4050-318 Porto
Tel. 226 151 000
publico@publico.pt
DIRECTOR
David Pontes
Directores adjuntos
Andreia Sanches, Marta Moitinho Oliveira,
Sónia Sapage, Tiago Luz Pedro
Directora de arte
Sónia Matos
Directora de design de produto digital
Inês Oliveira
Editoras executivas
Helena Pereira, Patrícia Jesus
Editor de fecho
José J. Mateus
Editor de Opinião Álvaro Vieira Editor P2 Sérgio B. Gomes Online Ana Maria
Henriques, Mariana Adam, Pedro Esteves, Pedro Guerreiro, Pedro Sales Dias
(editores), Amílcar Correia (redactor principal), Carolina Amado, João Pedro
Pincha, José Volta e Pinto, Miguel Dantas, Sofia Neves (última hora); Rui Barros
multimédia), Carlos Alberto Lopes, Joana Gonçalves, Teresa Miranda
(multimédia); Amanda Ribeiro (editora de redes sociais), Ana Zayara, Patrícia
Campos (redes sociais) Política Leonete Botelho (editora), David Santiago
Begonha, Henrique Pinto de Mesquita, Liliana Borges, Margarida Gomes, Maria
Lopes, Nuno Ribeiro, Sofia Rodrigues Mundo Ivo Neto, Paulo Narigão Reis
(editores), Bárbara Reis, Jorge Almeida Fernandes, Teresa de Sousa (redactores
principais), Rita Siza (correspondente em Bruxelas), Alexandre Martins, António
Rodrigues, António Saraiva Lima, João Ruela Ribeiro, Maria João Guimarães,
Sofia Lorena Sociedade Natália Faria (editora), Clara Viana (grande repórter),
Maia, Cristiana Faria Moreira, Daniela Carmo, Joana Gorjão Henriques, Mariana
Oliveira, Patrícia Carvalho, Samuel Silva, Sónia Trigueirão Local Ana Fernandes
(editora), Luciano Alvarez (grande repórter), André Borges Vieira, Camilo
Soldado, Mariana Correia Pinto, Samuel Alemão, Teresa Serafim Economia
Pedro Ferreira Esteves, Isabel Aveiro (editores), Manuel Carvalho (redactor
principal), Cristina Ferreira, Sérgio Aníbal (grandes repórteres), Ana Brito, Luís
Villalobos, Pedro Crisóstomo, Rafaela Burd Relvas, Raquel Martins, Rosa Soares,
Victor Ferreira Ciência Teresa Firmino (editora), Filipa Almeida Mendes, Tiago
Ramalho Azul Andrea Cunha Freitas (editora), Claudia Carvalho Silva
(subeditora), Aline Flor, Andréia Azevedo Soares, Clara Barata, Nicolau Ferreira,
Tiago Bernardo Lopes (multimédia), Gabriela Gómez (infografia), Rodrigo Julião
(webdesign) Tecnologia Karla Pequenino Cultura/Ípsilon Paula Barreiros, Inês
Nadais (editoras), Pedro Rios (editor Ípsilon), Isabel Coutinho (subeditora), Nuno
Pacheco, Vasco Câmara (redactores principais), Isabel Salema, Sérgio C.
Andrade (grandes repórteres), Daniel Dias, Joana Amaral Cardoso, Lucinda
Canelas, Luís Miguel Queirós, Mariana Duarte, Mário Lopes Desporto Jorge
Miguel Matias, Nuno Sousa (editores), Augusto Bernardino, David Andrade,
Diogo Cardoso Oliveira, Marco Vaza, Paulo Curado Fugas Sandra Silva Costa,
Costa, Mara Gonçalves Guia do Lazer Sílvia Pereira (coordenadora), Cláudia
Alpendre, Sílvia Gap de Sousa Ímpar Bárbara Wong (editora), Carla B. Ribeiro,
Inês Duarte de Freitas P3 Inês Chaíça, Renata Monteiro (subeditoras), Mariana
Durães Terroir Ana Isabel Pereira Newsletters e Projectos digitais João Pedro
Pereira Projectos editoriais João Mestre Fotografia Miguel Manso, Manuel
Roberto (editores), Adriano Miranda, Daniel Rocha, Nelson Garrido, Nuno
Ferreira Santos, Paulo Pimenta, Rui Gaudêncio, Alexandra Domingos
(digitalização), Isabel Amorim Ferreira (documentalista) Paginação José Souto
(editor de fecho), Marco Ferreira (subeditor), Ana Carvalho, Cláudio Silva, Joana
Lima, José Soares, Nuno Costa, Sandra Silva; Paulo Lopes, Valter Oliveira
(produção) Copy-desks Aurélio Moreira, Florbela Barreto, Joana Quaresma
Gonçalves, João Miranda, Manuela Barreto, Rita Pimenta Design Digital Alex
Santos, Ana Xavier, Nuno Moura Infografia Célia Rodrigues (coordenadora),
Cátia Mendonça, Francisco Lopes, Gabriela Pedro, José Alves Comunicação
Editorial Inês Bernardo (coordenadora), João Mota, Ruben Matos Secretariado
Isabel Anselmo, Lucinda Vasconcelos Documentação Leonor Sousa
Publicado por PÚBLICO, Comunicação Social, SA.
Presidente Ângelo Paupério
Vogais Cláudia Azevedo, Ana Cristina Soares e João Günther Amaral
Comercial João Pereira Direcção de Assinaturas e Apoio ao Cliente Leonor
Carvalho Área de Novos Negócios Mário Jorge Maia
NIF 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410
Norte, Maia | Capital Social €8.550.000,00 | Detentor de 100% de capital:
Sonaecom, SGPS, S.A. | Publicidade comunique.publico.pt/publicidade |
comunique@publico.pt | Tel. 210 111 353 / 210 111 338 / 226 151 067 |
Impressão Unipress, Tv. de Anselmo Braancamp, 220, 4410-350 Arcozelo,
Valadares; Empresa Gráfica Funchalense, SA, Rua da Capela de Nossa
Senhora da Conceição, 50, 2715-029 Pêro Pinheiro | Distribuição VASP –
Distrib. de Publicações, Quinta do Grajal – Venda Seca,
2739-511, Agualva-Cacém | geral@vasp.pt
Membro da APCT Tiragem média total de Fevereiro 18.883 exemplares
expresso no seu Estatuto Editorial publico.pt/nos/estatuto-editorial
Reclamações, correcções e sugestões editoriais podem ser enviadas para
leitores@publico.pt
ASSINATURAS Linha azul 808 200 095 (dias úteis das 9h às 18h)
publico.pt/assinaturas • assinaturas@publico.pt
8 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Espaço público
Os cidadãos estão mais protegidos
em todos os hospitais do país
S
Óscar Gaspar
abia que até ao momento estava
estabelecido que apenas os
hospitais privados eram submetidos
a um processo de licenciamento?
Talvez “submeter” não seja o verbo
mais adequado, mas os hospitais
privados eram realmente sujeitos a regras que
mais nenhum hospital tinha de aplicar. Com
três pesadas consequências:
i) A falta de proteção aos cidadãos. A ine-
xistência de regras de licenciamento (ou de
conformidade) para todos implicava que os
cidadãos não tinham garantidas as regras de
segurança e de qualidade mínimas. Dois
exemplos básicos: recorda-se das notícias
sobre as faltas de ar condicionado em vários
hospitais, com consequências no funciona-
mento dos serviços e na saúde dos utentes?
Quantas vezes se interrogou se as condições
das instalações sanitárias de todos os quar-
A energia nuclear não nos faz falta… e só nos pode fazer mal
H
Manuel Collares-Pereira
á quem teime em trazer de
volta o tema da energia
nuclear, como se estivéssemos
50 anos atrás, não tivesse
havido qualquer evolução do
setor da energia e fosse
necessária uma forma de energia com uma
aura quase milagrosa que a propaganda de
então soube conferir-lhe, para resolver os
nossos problemas atuais da energia e do
ambiente.
Entretanto, o mundo deu muitas voltas ao
sol, as questões da energia são hoje
percepcionadas de forma muito diferente,
num contexto de sustentabilidade, a ciência
do clima trouxe-nos um sentido de urgência e
a evolução tecnológica deu-nos alternativas
fantásticas que genericamente designamos
por energias renováveis (ER).
Contudo, o nuclear aparece ainda, sem
que seja capaz de responder às novas
exigências de uma solução adequada num
tos dos hospitais cumpriam as exigências?;
ii) O excesso injustiÆcado de requisitos. A
deÆnição de exigências para aplicar
exclusivamente aos privados facilitou que se
maximizassem as obrigações sem uma análise
da sua real necessidade e aplicabilidade e,
muito menos, do seu custo. O bom princípio
de governação do “simplex” parecia ter Æcado
à porta da saúde, tal o grau de especiÆcações
a cumprir escrupulosamente e a
complexidade do processo;
iii) A discriminação de operadores. Com a
imposição de regras e investimentos só para
alguns, nos últimos dez anos houve uma
objetiva penalização dos hospitais privados.
Eram castigados por estarem a investir na
saúde, o mesmo é dizer que se inibia a
iniciativa de investimento na prestação
privada de cuidados de saúde.
Estas três distorções resolvem-se com um
princípio simples: se as regras são para
proteger os cidadãos e garantir a qualidade
dos prestadores de saúde, então apliquem-se
a todos. É de elementar justiça… e os cidadãos
agradecem.
Com a publicação das 12 novas portarias de
licenciamento, corrige-se um erro com dez
anos. Esta é uma dupla boa notícia para os
cidadãos. Por um lado, passam a saber que
todos os prestadores de cuidados de saúde
grande número de valências. Vejamos quais:
É demasiado caro, mesmo sem contabilizar
os custos escondidos (os de armazenar os
resíduos, os dos seguros contra acidentes e
seus efeitos, os do desmantelamento das
centrais em Æm de vida, etc.); é mesmo muito
mais cara (10 a 20 vezes mais, por unidade de
potência instalada) que as renováveis, solar,
eólica, hídrica e outras que estão em
desenvolvimento.
É de implementação muito demorada
(10-15 anos para uma nova central), não
sendo, assim, solução “para hoje”.
O combustível nuclear convencional
(U235) é escasso; para ser considerado
abundante (U238, Th232), implicaria uma
mudança de tecnologia (mais risco, mais
tempo…); neste contexto fala-se hoje da
tecnologia dos pequenos reatores,
pré-fabricados, algo que não existe ainda… e
que, muito provavelmente, serão ainda mais
caros.
É uma solução de país muito rico, para
países muito ricos.
O investimento no nuclear distrai e “seca”
recursos Ænanceiros para a transição
energética.
O nuclear corre o risco de Æcar irrelevante
com o tempo, porque as ER estão disponíveis
já e continuam a evoluir em conjunto com
outras tecnologias (como é o caso das
baterias, hidrogénio, etc.).
Se as regras são para
proteger os cidadãos
e garantir a qualidade
dos serviços, então
apliquem-se a todos,
públicos e privados
Em Portugal: já “não cabe” no nosso mix
de produção, pois vamos ter algo entre 80 e
90% de contribuição de renováveis para a
produção de eletricidade, em 2026. Mas
também não “cabe” pela sua natureza, já que
a presença de uma central nuclear impacta a
rede e o seu funcionamento de forma muito
diferente das ER, condicionando-as e
prejudicando a sua disponibilidade.
O nuclear cria dependência energética (de
quem fornece o combustível: sabia que
actualmente a Europa depende a 60% da
Rússia e dos seus satélites?) e gera
insegurança em caso de guerra: as centrais
são vulneráveis e não deixaram de ser
perigosas!
Por último, não desapareceram os riscos
de acidentes nucleares, embora as novas
centrais sejam cada vez mais seguras. Aliás, é
por isso que são cada vez mais caras.
Na contabilidade da sustentabilidade, os
reactores nucleares também falham
estrondosamente (embora a União Europeia
tenha cedido ao lobby da taxonomia e tenha
aceitado classiÆcar o nuclear como
sustentável) tendo em vista a diminuta
emissão de CO2 associada ao seu
funcionamento, mas ignorando o enorme
impacte dos resíduos radioactivos sobre as
gerações futuras.
Neste momento há cerca de 400 reactores
nucleares operacionais em todo o mundo,
têm de ter parâmetros adequados de
qualidade e de segurança. Por outro, abre-se a
perspetiva de novos investimentos.
A questão do licenciamento é um exemplo
de como, de forma premeditada ou pragmáti-
ca, o inadequado enquadramento jurídico-
legal provoca problemas e não permite en-
contrar melhores soluções. Esta parece estar
resolvida, mas há umas tantas outras que con-
tinuam a complicar e desnivelar, como seja a
caduca legislação dos equipamentos médicos
pesados de 1995. Uma outra situação para a
qual até já o Tribunal de Contas alertou é a
falta de regulamentação das Unidades de
Saúde Familiar modelo C, quando há tanto
déÆce de cuidados de saúde primários.
Há vontade e disponibilidade para fazer
mais e melhor, em benefício da saúde, mas
também, e se assim se entender, em
articulação com o SNS. Dizia a Fundação
Calouste Gulbenkian que “todos temos um
papel”… e a presidente do Conselho de
Finanças Públicas conclui que “o que tem de
ser tem muita força”. Vamos lá então todos a
fazer essa força para termos mais oferta de
cuidados de saúde e uma saúde mais
acessível, eÆciente e sustentável.
Presidente da Associação Portuguesa
de Hospitalização Privada
que contribuem com menos de 10% da
produção de electricidade a nível mundial.
Muitos já estão a caminhar para velhos e
alguns serão provavelmente substituídos,
sobretudo na Europa, onde o nuclear
representa cerca de 20% da electricidade
total.
Portugal, felizmente sem nuclear, não tem
de lidar com esta questão. E não necessita de
se colocar numa situação diferente. Embora
haja quem continue a teimar que
deveríamos. Espero que o bom senso impere
e que, por uma vez, nos ajude a crónica falta
de recursos Ænanceiros que nos caracteriza.
É que, para uma central de 1600MW, estamos
a falar de um investimento de mais de 1000
milhões de euros, se registarmos o exemplo
Ænlandês (central de Olikuoto, acabada de
construir), e podemos mesmo contar com
mais de 19.000 milhões, se tomarmos como
referência o idêntico EPR [European
Pressurized Reactor] francês da Flamanville
(em construção).
Estes valores são largamente superiores
aos do novo aeroporto de Lisboa ou aos das
primeiras fases de investimento no TGV,
investimentos muito mais importantes,
prioritários, estruturantes, com impactos
grandes sobre toda a economia nacional.
Professor catedrático, investigador
coordenador aposentado

Deve a esquerda viabilizar
o governo da AD?
N necessidade de alargar a protecção social de
Ricardo Paes Mamede
O programa da AD pressupõe
uma menor redistribuição de
rendimentos, ao privilegiar a
redução do peso dos impostos
directos face aos indirectos
I
maginem um programa eleitoral que
apresenta a educação, a ciência e a
cultura como motores do
desenvolvimento humano e da
inovação. Que defende uma sociedade
mais justa, mais solidária, mais
humana, mais aberta, mais diversa e mais
inclusiva. Que aposta numa gestão mais
sustentável dos recursos hídricos, dos
resíduos, do litoral ou da biodiversidade.
Entre as medidas que constam desse
programa, inclui-se a universalização da
educação pré-escolar a partir dos três anos
de idade, alargando a oferta pública. Na área
da ciência e da inovação, defende-se o
reforço do investimento até 3% do PIB. Na
área da cultura, o crescimento de 50% das
verbas previstas no Orçamento do Estado
para o sector, bem como o alargamento do
ensino de dança, teatro, música, cinema e
artes plásticas nos primeiros anos do ensino.
Para promover a inclusão social, a
protecção das minorias e o combate às
desigualdades, propõem-se medidas como a
especiÆcação na lei dos crimes de assédio
sexual, “ciberperseguição”, “ciberassédio” e
incitamento à violência e ao ódio online,
prometendo combater a discriminação, a
violência e os crimes de ódio contra todas as
minorias. São também garantidos os meios
ao dispor das escolas visando o ensino de
português para estrangeiros e o ensino
especial para jovens com deÆciência.
Na área da sustentabilidade, aposta-se no
investimento em infraestruturas de
aproveitamento dos resíduos e na
diminuição do uso das embalagens de
plástico. Na agricultura e na aquacultura
valorizam-se as práticas sustentáveis e os
circuitos curtos de comercialização — não
apenas para reduzir a pegada ecológica, mas
também para reforçar a soberania, a
segurança e a qualidade alimentar.
Os direitos dos trabalhadores não são
esquecidos. Consideram-se como “formas
atípicas de emprego” os contratos a termo
ou a tempo parcial, o recurso a agências de
trabalho temporário, os trabalhadores
independentes, os cuidadores informais, os
trabalhadores das plataformas digitais e o
trabalho remoto para empresas externas.
Para todas estas situações se defende a
quem trabalha. Quanto aos reformados,
propõe-se aumentar o valor de referência do
Complemento Solidário para Idosos.
Uma atenção especial é dada aos
trabalhadores do Estado, em particular a
proÆssões consideradas essenciais, como os
professores, os proÆssionais de saúde, as
forças de segurança, os militares, os
funcionários da justiça e os guardas
prisionais. Para todos eles se preconiza o
reforço dos incentivos laborais, o
desenvolvimento das carreiras e a
Çexibilidade de horários de trabalho.
Realça-se também a necessidade de investir
mais em equipamentos e instalações nas
diversas áreas de intervenção do Estado.
O programa eleitoral que acabei de
descrever não é imaginário: foi apresentado
pela AD às eleições de 10 de Março. No
essencial, tudo o que escrevi acima é
cópia-cola do documento apresentado pela
coligação que venceu as eleições e cujo líder
foi indigitado como primeiro-ministro.
Vistas as coisas assim, não haveria muitas
razões para que os partidos de esquerda
inviabilizassem a governação minoritária da
AD. A grande maioria dos seus eleitores
apoiaria a generalidade daquelas propostas.
Na verdade, é bem possível que muitas delas
venham a ser aprovadas com os votos dos
partidos de esquerda. Mas isto não é o
mesmo que viabilizar uma governação. E há
três motivos que tornam menos provável — e
menos recomendável — a viabilização geral
do novo governo por esta via.
Primeiro, não é claro de que modo a AD
pretende aplicar algumas das orientações
que diz defender. Um caso exemplar diz
respeito às “formas atípicas de emprego”. A
coligação assinala estas situações como
preocupantes, mas a proposta que tem para
as enfrentar passa apenas por apoios sociais,
em nada se comprometendo com o combate
à precariedade. A AD refere vagamente a
necessidade de “modernizar” a regulação do
mercado de trabalho “para confrontar a sua
Cabe ao governo
e aos partidos que
o apoiam tentarem
aprovar o que
entenderem, claro.
Não devem é esperar
que a oposição vote
no sentido contrário
ao que defendem
segmentação”. Isto tanto poderia signiÆcar a
melhoria das condições dos mais precários
quanto a erosão dos direitos de quem ainda
os tem. A julgar pela experiência de
governação de PSD e CDS, sabemos o que
podemos esperar.
Segundo, há casos em que o programa da
AD é mesmo claro — e muito pouco
compatível com as propostas dos diferentes
partidos de esquerda.
No caso da saúde, o projecto da AD é
explícito: recorrer mais a privados e ao
sector social, introduzindo uma lógica de
“competição regulada” no sector. Por
contraste, os partidos de esquerda apostam
no reforço dos meios do SNS e na
reorganização dos serviços públicos de
saúde, reduzindo a externalização de
valências e recusando a adopção de uma
lógica de mercado na prestação de cuidados.
Na área da habitação, as visões são ainda
mais contrastantes: a AD quer pôr Æm às
restrições ao alojamento local, recusa impor
limites ao aumento das rendas e propõe
reduzir os impostos para os sectores do
imobiliário e da construção; a esquerda, por
sua vez, defende a necessidade de regular
tanto a procura quanto a oferta de imóveis
para a habitação, visando limitar a
especulação.
Também na Æscalidade as opções são
muito pouco compatíveis: o programa da AD
pressupõe uma menor redistribuição de
rendimentos, ao privilegiar a redução do
peso dos impostos directos face aos
indirectos; já os partidos de esquerda
apostam num sistema Æscal mais
progressivo, penalizando menos os que
menos têm.
Cabe ao governo e aos partidos que o
apoiam tentarem aprovar o que entenderem,
claro. Não devem é esperar que a oposição
vote no sentido contrário ao que defendem.
O terceiro motivo que diÆculta a
viabilização do governo minoritário da AD
pelos partidos à sua esquerda é ainda mais
difícil de resolver. Como se percebe pelos
exemplos que referi, a coligação vencedora
propõe-se fazer crescer a despesa pública
por diversas vias (aumento dos salários e
revisões das carreiras da função pública,
aumento do Complemento Solidário para
Idosos, criação de um Suplemento
Remunerativo Solidário, universalização do
acesso a creches, aumento das dotações
orçamentais em diferentes áreas de
governação), ao mesmo tempo que pretende
diminuir a receita Æscal (baixa geral do IRS,
redução progressiva do IRC, isenção de
impostos e contribuições para prémios de
produtividade), prometendo mesmo assim
continuar a reduzir a bom ritmo a dívida
pública sobre o PIB. A AD diz que tudo isto
será possível porque as suas políticas vão pôr
a economia portuguesa a crescer muito
acima do que é esperado. Talvez seja pedir
demasiado aos partidos da oposição que
validem fantasias milagrosas.
Economista e professor do Iscte
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 9
O implicante
destino
Fábrica
de criadas
D
Afonso Cruz
epois de uma discussão mais
acesa, a Ana e o Eduardo
reencontraram-se num abraço.
Ela tinha ido buscar os seus
pertences que ainda estavam na
casa dele, com a intenção de
terminar formalmente a relação, mas acabou
por deixá-los onde estavam. O Flávio, quando
soube, não quis acreditar, como assim,
voltaste para ele?!, ainda quis gritar, mas o
temperamento Çeumático e tímido não
concordava com gritos, por isso acabou por
balbuciar uns “porquê?”, sem obter uma
resposta satisfatória. Temos uma relação já
com meses, disse a Ana, o que aconteceu
connosco foi apenas um momento de
hedonismo sem relevância ou profundidade,
mas porquê?, perguntou ele, porque é assim,
disse ela, mas porquê?, perguntou ele,
bebemos demais nesse dia e a coisa deu-se,
rematou ela. A Ana aproximou-se e deu-lhe
um abraço porque ele tinha começado a
chorar, Æcando os dois assim durante uns
segundos, envolvendo-se mutuamente na
tristeza dele. O Flávio, no seu desespero
tímido, ainda tentou aproximar os seus lábios
dos lábios dela, gesto que a fez afastá-lo. O
destino tem a mania de estar em constante
conÇito com os nossos sonhos. Implica com
qualquer devaneio que uma pessoa possa ter
em relação ao futuro, e quando vê a felicidade
aproximar-se gosta de lhe dar uns pontapés
na barriga. Às vezes consegue, outras não,
mas tenta sempre. O Flávio viu a Ana
afastar-se, dobrar a esquina, pensando no que
poderia fazer para a conquistar, vindo-lhe à
cabeça as banalidades do costume, perfume,
Çores e bombons, mas uma mulher como a
Ana não se deixaria seduzir por esses
artefactos românticos, gostava, isso sim, de
gestos inteligentes, justos, corajosos, talvez
também impetuosos, e palavras a condizer:
nada disso é coisa que caiba num embrulho.
Quando subiu as escadas do prédio da casa
do Eduardo, sentia-se levemente triste, uma
melancolia parda, mas nada mais intenso do
que isso. Não fazia ideia, mas deveria, pois era
costume, que esse frágil desânimo com que
subia as escadas se havia de transformar
numa discussão com o Eduardo, por isto e
mais aquilo, acompanhada de uns quantos
gritos.
Fábrica
Não perca o podcast com
os textos lidos pelo autor.
de criadas
AFONSO
CRUZ
Ao fim-de-semana,
um exclusivo para
assinantes
Em publico.pt/podcasts
10 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024

Política Como os portugueses vêem a democracia, migrações e o Estado social

Quando se fala de política, as expressões esquerda e direita Em política, fala-se de “conservadores” e “progressistas”.
são frequentemente utilizadas. Numa escala de 0 a 10, Como situaria as suas opiniões numa escala de 0 a 10,
em que 0 significa “mais à esquerda” e 10 significa em que 0 é “conservador” e 10 é “progressista”?
“mais à direita”, onde se situaria?
Média Média
5,07 4,17 6,53 6,84 6,45 3,38 3,78 3,09 5 6,58 6,2 6,62 5,87 5,65 6,53 7,04 6,38 7,62 6,67 4,58
Por partido, em % Por partido, em %
Esquerda Centro Direita Ns/Nr Progressista Neutro Conservador Ns/Nr

31 53 7 11 14 72 60 83 12 15 50 61 48 43 55 67 64 74 63 31
27
17 17 63 15

27 61 62 62 23
58
16
24 27
20 22 39
31 24 23 27
12 25
19
20 19 13 13 16 20 9
11
8 9 8 9
9
11 11 13 13 14 12 6
6 8 8 9 8 9 8 8 9 5 4 9 6 8
Total PS PSD CH IL BL L CDU PAN CDS Total PS PSD CH IL BL L CDU PAN CDS

Pensando nos imigrantes, quando é que acha que eles devem Por vezes, as pessoas pertencem a determinados grupos
ter acesso aos serviços sociais como cidadãos de Portugal? ou associações. Para cada um dos seguintes grupos
Em % ou associações, indique se…:
Em %
Imediatamente após a chegada Só depois de ter trabalhado Pertence e participa activamente Pertence, mas não
Depois de ter recebido uma e pago impostos participa activamente
Costuma pertencer, mas agora
autorização formal de permanência Nunca devem ter acesso não pertence Nunca pertenceu
Não sei Não sei a um grupo deste género
3 2 2
12 19 12 23 9 17 16 16 13 15 7 6 8 2
15 5 7
28 9
33 34 75 23 12 87
34 41 48 48 80
70 75 72
62 62
49 51
43
41
32 32

1 2 4 6
4 4 6 3 2 2 2
5 2 4 3 1
Total PS PSD CH IL BL L CDU PAN CDS Partido político Sindicato Associação/ Associação
organização religiosa
Nota: os valores são arredondados
Fonte: Fundação Friedrich Ebert/GfK Metris PÚBLICO

Apoiantes
servadoras e muitas estão no centro co de Esquerda (BE). “Mais de 50%
Bárbara Reis
político”, diz Fernandes, professor no dos eleitores do Chega não se interes-
Os simpatizantes do Chega têm um Iscte — Instituto Universitário de Lis- sam por política, o que é uma percen-
perÆl próximo do eleitorado do cen- boa. “Globalmente, os simpatizantes tagem muito alta e a mais alta de

do Chega são tro e são menos radicais do que os

seus líderes, propõe o cientista polí-
tico Tiago Fernandes com base na
análise das respostas a um inquérito
do Chega são mais conservadores e
têm uma taxa maior de pessoas que
se identiÆcam como sendo de extre-
ma-direita, mas em muitos aspectos
todos os partidos”, diz Fernandes. “É
um eleitorado antipolítica e ressenti-
do com os políticos e por isso foi bus-
car muitos votantes à abstenção.”

menos radicais Ænanciado pela Fundação Friedrich

Ebert, cujos resultados vão ser apre-
sentados hoje na Fundação Mário
não são extremistas nem violenta-
mente xenófobos e estão próximos
dos outros partidos.”
Satisfeito com a democracia?
À pergunta sobre o grau de satisfação

do que líderes
Soares, em Lisboa. “Concluímos que
a grande maioria dos portugueses
partilha valores progressistas e que o
eleitorado do Chega tem uma percen-
O inquérito inclui 37 perguntas, com “o funcionamento da democra-
600 entrevistas online e 417 telefóni- cia em Portugal”, a diferença entre as
cas feitas pela GfK Metris entre 2 e 18 respostas dos simpatizantes do Chega
de Outubro, e aponta para o que veio e as dos outros partidos é ainda

do partido
tagem alta de pessoas que se conside-
ram progressistas, o que é muito
interessante”, diz Fabian Schmiedel,
director da Friedrich Ebert, que tem
sede em Lisboa desde 1976 e está liga-
da aos sociais-democratas alemães.
O estudo dirigido por Fernandes,
Inquérito mostra que muitos eleitores do Populismo em Portugal? Democracia,
Migrações e Estado Social aos Olhos
Chega não se interessam por política. Têm dos Portugueses, ajuda a construir o
perÆl dos simpatizantes dos vários
ideias conservadoras, mas também ideias partidos e mostra que os apoiantes
próximas às de eleitores de outros partidos do Chega “são pessoas comuns, con-
a acontecer nas legislativas de 10 de
Março, com o Chega a ir buscar mui-
tos votos à abstenção.
À pergunta “a política interessa-
lhe?”, 21% dos simpatizantes do Che-
ga dizem “nada” e 31% dizem “pou-
co”. Só 26% dos simpatizantes do
partido dizem ter “bastante” interes-
se por política e 20% “muito”.
Nenhum partido tem tantas pessoas
desinteressadas por política como o
Chega. São 11% no PS; 5% no PSD; 2%
na Iniciativa Liberal (IL); e 5% no Blo-
maior: 77% do Chega diz estar “nada
satisfeito” e 21% diz estar “ligeiramen-
te satisfeito”. 77% é a maior percenta-
gem de todos os partidos e está bas-
tante acima da média — 47% dos
inquiridos não estão “nada satisfei-
tos” com a democracia em Portugal,
38% estão “ligeiramente satisfeitos”,
11% estão “bastante” e só 3% estão
“muito satisfeitos”. Fernandes subli-
nha que nenhum simpatizante do
Chega diz estar “bastante” ou “muito
satisfeito”, e que, à direita, 5% dos

simpatizantes do PSD estão “bastan-
te satisfeitos” com a democracia e
42% “ligeiramente”, e 15% dos apoian-
tes da IL estão “bastante satisfeitos”
e 29% estão “ligeiramente”.
À esquerda é diferente:no PS, 6%
dos simpatizantes estão “muito satis-
feitos”; 23% “bastante”; 51% “ligeira-
mente” e 19% “nada”. No BE, 10%
estão “bastante satisfeitos”; 57%
“ligeiramente”, e 31% “nada”.
O estudo mostra que os portugue-
ses são progressistas: a favor dos imi-
grantes, de um Estado social forte e
de uma política que intervém no mer-
cado quando necessário. No total,
50% dizem que são “progressistas” e
13% que são “conservadores”.
Isso exprime-se nas ideias que
defendem: 82% dos inquiridos são a
favor do combate às alterações climá-
ticas — mesmo que outros países não
estejam a fazer o mesmo; 74% acham
que os Ælhos de imigrantes nascidos
em Portugal devem ter nacionalidade
portuguesa; 72% sentem-se muito
ligados à Europa; 61% acham que os
casais homossexuais devem ter os
mesmos direitos de adopção que os
casais hetero.
Ao mesmo tempo, uma minoria
defende que os imigrantes não devem
ter os mesmos direitos — 26% — e que
“a vida cultural portuguesa e empo-
brecida pelas pessoas de outros países
que vêm viver para Portugal” — 23%.
Num sentido oposto, Fernandes
nota que “57% dos portugueses que-
rem ter prioridade sobre os imigran-
tes no acesso a habitação e 44% no
acesso ao emprego”. À pergunta
“quando há falta de habitação a pre-
ços acessíveis, os portugueses devem
ter prioridade sobre os estrangei-
ros?”, 20% concordam plenamente,
38% concordam, 18% discordam e 5%
discordam totalmente.
Nas respostas ao inquérito, Fernan-
des encontra vários indicadores que
o levam a defender que “os simpati-
zantes do Chega são menos radicais
do que os seus líderes”. “O eleitorado
do Chega está próximo da média
nacional”, diz. “Isto mostra um desa-
linhamento entre o eleitorado e as
elites do partido e é uma oportunida-
de para os partidos do centro atraí-
rem este eleitorado.” Fernandes, que
há anos estuda o populismo na Euro-
pa, defende que, “em vez de se dia-
bolizar o Chega como bloco, é preciso
separar o partido de quem vota nele
e apelar directamente às preocupa-
ções deste eleitorado — é preciso
dizer: ‘Vocês são como nós’.”
O que mostra que são menos radi-
cais do que os líderes? Só 13% dos
portugueses se consideram conser-
vadores e os eleitores do Chega estão
alinhados — 43% identiÆcam-se como
“progressistas”, 16% são neutros, 27%
como “conservadores” e 14% não
sabem/não respondem. Os 27% de
“conservadores” são uma percenta-
gem maior quando comparados com
os outros partidos de direita. Há mais
conservadores no Chega do que no
PSD (16%) e na IL (11%). “Mas os con-
servadores, mesmo no Chega, são
uma minoria”, diz Fernandes. “Só um
quarto é que é conservador — 23%.”
Do mesmo modo, à pergunta “onde
se situa?” politicamente numa escala
em que 0 é “mais à esquerda” e 10 é
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 11
NUNO VEIGA/LUSA
“mais à direita”, todos os partidos
têm uma percentagem de pessoas
que se identiÆcam no ponto máximo
da extrema-direita: 17% no Chega; 8%
no PSD, 3% na IL e 1% no PS e no BE.
No Chega, vários simpatizantes
escolhem a posição 10 (17%) e alguns
a posição 9 (6%), as mais à direita, o
que não surpreende, diz Fernandes.
“Mas há muito eleitorado do Chega
que está no centro político e no cen-
tro-direita: 17%+8%+14%, ou seja, 39%
está no centro político”, diz Fernan-
des. Não é muito diferente do PSD,
em que 56% dos simpatizantes estão
no centro (27%+11%+18%).
Ideias pouco radicais
O investigador identiÆca mais seis
ideias nas quais vê que os eleitores do
Chega são menos radicais do que os
líderes. Quase 60% dos simpatizantes
são pró-União Europeia e só 18% são
activamente contra. À pergunta “os
imigrantes não devem ser autoriza-
dos a utilizar imediatamente os nos-
sos serviços de saúde”, os simpatizan-
tes do Chega estão muito próximos
do “discordo totalmente” — numa
escala de 1 a 4, na qual o máximo de
discordância é 4, estão no 3; à per-
gunta “os salários médios e os venci-
mentos geralmente Æcam mais baixos
por causa dos estrangeiros que vêm
viver e trabalhar em Portugal”, estão
no 2,6, ou seja, há mais pessoas do
Chega a discordarem desta ideia do
que a concordarem; à pergunta “os
benefícios sociais para os imigrantes
devem ser reduzidos se eles não tive-
rem a nossa religião”, muitos discor-
dam e em níveis parecidos aos dos
outros partidos; à pergunta “as alte-
rações climáticas têm um efeito direc-
to na minha vida e na minha saúde”,
a resposta do Chega é 2,2, ou seja,
“não estão negar as alterações climá-
ticas”; e à pergunta “o avanço dos
direitos das mulheres foi demasiado
longe”, os simpatizantes do Chega
Arruada do Chega durante “discordam em níveis parecidos com
a campanha eleitoral para os outros partidos, embora quase
as legislativas do passado todos os partidos estejam no valor
dia 10 de Março ‘discordo totalmente’ e o Chega ape-
nas no ‘discordo’”.
O estudo também mostra o previ-
sível: os governos de Salazar e Marcel-
lo Caetano “foram períodos positivos
da História de Portugal ” (numa esca-
la de 1 a 4, a média nacional é 3,3 e o
Chega está acima do meio, com 2,4
— 15% dos portugueses concordam
com a frase e 22% são indiferentes);
“o país precisa de um líder forte que
possa decidir rapidamente” (a média
é 2,4 e o Chega tem 1,8, ou seja, muito
O eleitorado perto do valor 1, que é “concorda ple-
do Chega tem uma namente”); “o sistema é contra o cida-
dão comum” (Chega tem a maior
percentagem alta percentagem de concordância) e
de pessoas que “muitas das pessoas que dirigem o
governo são desonestas” (a média é
se consideram 2,2 e o Chega tem 1,7, muito perto da
progressistas concordância máxima).
Os dados sobre o CDS, Livre, CDU
Fabian Schmiedel e PAN foram aqui excluídos porque
Director da Fundação as amostras são muito pequenas e por
Friedrich Ebert isso menos Æáveis.

XERAZADE
E AS OUTRAS
12 HORAS A LER MULHERES DO SÉCULO XX
No Dia Mundial do Teatro, o PÚBLICO e a UMCOLETIVO
associam-se para uma maratona de leitura feminina
27 de Março, a partir das 10H00
no auditório do PÚBLICO
Garanta o seu lugar em
publico.pt/xerazade-e-as-outras
12 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Política
Conselho nacional dos liberais reuniu-se ontem, em Coimbra
Líder da IL disponível
para integrar governo,
conselheiros opõem-se
Margarida Gomes
Maioria dos conselheiros
nacionais liberais afasta
acordo com a AD de Luís
Montenegro para uma
solução governativa
Ainda sem certezas sobre a eventual
entrada da Iniciativa Liberal no futu-
ro governo em coligação com a Alian-
ça Democrática, Rui Rocha ouviu
ontem muitos conselheiros nacionais
dizerem que discordam da ideia de
uma solução governativa com a AD.
De acordo com relatos feitos ao
PÚBLICO, foram muitos os que se
insurgiram contra esse cenário. “A AD
vai-nos dar o abraço de urso”, “esta-
mos perante um governo a prazo”,
“se houver escândalos (corrupção,
por exemplo) vamos de arrasto”,
foram algumas das aÆrmações que se
ouviram no conselho nacional, órgão
máximo da IL entre convenções.
Á entrada para o encontro, o líder
da IL, Rui Rocha, voltou a evitar tomar
posição, argumentando que, “tendo
sido a coligação a vencer as eleições,
a responsabilidade última de deÆnir
se quer mudar a sério o país, ou se
não tem essa prioridade, cabe, obvia-
mente, a quem ganhou as eleições”.
“Com sentido de responsabilidade,
há partes destas matérias que têm de
ser geridas com prudência, com reca-
to. Não é o momento de estarmos a
partilhar esse tipo de questões publi-
camente, faremos uma posição logo
que seja claro o sentido Ænal da com-
posição política dos próximos tem-
pos. Partilharemos a nossa visão
sobre isso, mas, neste momento, é o
momento do sentido de responsabi-
lidade e recato”, disse Rocha.
Já perante os conselheiros, Rocha
reiterou que a IL só irá para o governo
PAULO NOVAIS/LUSA
se os seus interesses estiverem salva-
guardados numa proposta da AD.
Outro tema a aquecer a reunião foi
a análise dos resultados eleitorais. A
IL elegeu oito deputados, os mesmos
que tinha, sendo que o objectivo deÆ#
nido pela direcção para estas legisla-
tivas foi Æxado nos 12 deputados.
Rafael Corte Real, que integrou a
comissão executiva do ex-líder João
Cotrim Figueiredo, fez uma interven-
ção que agitou as águas. O liberal pôs
de parte a ideia de uma “derrota
estrondosa” da IL nas legislativas,
mas disse que o partido “não cum-
priu os objectivos eleitorais e, pior do
que isso, Æcou à vista de todos a estag-
nação total do partido que, neste
momento, não serve para nada, dei-
xou de ser ‘cool’ e está a perder gás em
alguns centros urbanos”.
Reproduzindo ao PÚBLICO a inter-
venção que fez na reunião, este con-
selheiro nacional considerou que “a
responsabilidade deste mau resulta-
do é colectiva, da comissão executiva
e, particularmente, de quem fez com
que não disputássemos estas eleições
com João Cotrim Figueiredo por
razões de táctica política interna”.
Corte Real criticou ainda a gestão
do processo de Carla Castro, que
recusou integrar as listas por Lisboa
por ter sido atirada para um lugar não
elegível, após ter disputado a lideran-
ça com Rui Rocha e ter conquistado
perto de 45% dos votos e que entre-
tanto anunciou estar de saída do par-
tido. “Valeu a pena colocar interesses
de um núcleo duro à frente dos inte-
resses do partido? Valeu a pena des-
prezar metade do partido que apoiou
outra solução na última convenção
electiva? Valeu a pena preterir o nome
de Carla Castro na lista de Lisboa?
Valeu a pena reduzir este partido a
uma seita, composta por indefectí-
veis?”, questionou.
Lembrar
a resistência
para manter
a democracia
António Costa defendeu, em
Peniche, que para garantir
a vitalidade da democracia
é preciso lembrar o
combate à ditadura
O primeiro-ministro cessante disse
ontem, em visita às obras do Museu
da Resistência e da Liberdade em
Peniche, que é preciso preservar a
memória do combate à ditadura para
fazer perdurar a democracia.
O Museu Nacional de Resistência
e da Liberdade, no distrito de Leiria,
“é um legado muito importante de
todos aqueles que resistiram, todos
aqueles que lutaram, e eu diria que
é a última etapa da luta pela resistên-
cia e pela liberdade que é deixarem
este seu testemunho de vida, este
seu testemunho de dor e este seu
testemunho sobre o que foi a ditadu-
ra às gerações que nos hão-de suce-
der e que nunca poderão esquecer
para nunca poderem voltar a viver”,
declarou António Costa.
No ano das comemorações dos 50
anos da liberdade e da democracia
em Portugal, e num dos últimos actos
enquanto primeiro-ministro, Costa
sublinhou, ladeado pelos antigos pre-
sos políticos Fernando Rosas e
Domingos Abrantes, que “convém
não esquecer os 48 anos de ditadura
que antecederam estes 50 anos de
democracia e recordar aqueles que
foram decisivos”. E lembrou os “capi-
tães de Abril” e os resistentes antifas-
cistas entre 1926 e 1974, que “manti-
veram viva a ideia da liberdade e a
aspiração democrática”. A estes
“devemos que os valores da liberdade
e da democracia não se tenham per-
dido na história e tenham sido trans-
portados para o futuro”, frisou.
A um mês da inauguração do
museu, António Costa recordou o
movimento que levou o seu Governo,
em 2017, a abandonar a ideia de con-
cessionar a Fortaleza de Peniche a
privados para Æns turísticos e a avan-
çar com obras de valorização do espa-
ço para vir a albergar o Museu da
Resistência e da Liberdade, “espaço
de recordação e de memória sobre o
combate à resistência”.
Em Fevereiro de 2022, a Fortaleza
de Peniche encerrou para obras des-
tinadas à instalação do museu, um
investimento de 4,3 milhões de euros,
comparticipados por fundos comu-
nitários. A fortaleza foi uma das pri-
sões do Estado Novo, de onde se con-
seguiu evadir, entre outros, o históri-
co secretário-geral do PCP Álvaro
Cunhal. Lusa
Vamos atacar o queijo Serra da Estrela

6 DE ABRIL - THE EDITORY RIVERSIDE SANTA APOLÓNIA HOTEL - LISBOA

Com Maria da Luz Ramiro, João Madanelo e Edgardo Pacheco.

Aprenda a provar com quem conhece.

CONHEÇA JÁ AS AULAS DISPONÍVEIS EM PUBLICO.PT/AULAS/ESCOLA-DO-GOSTO

CONDIÇÕES ESPECIAIS PARA ASSINANTES. DESCONTOS APLICÁVEIS.

COM O APOIO DE:

14 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Sociedade Redes itinerantes de todo o mundo
Em quatro anos,
carteiristas
furtaram mais
de 7,1 milhões
de euros
Entre 2020 e 2023, a PSP registou mais
de 15 mil furtos por carteiristas,
identiÄcou 916 suspeitos e efectuou
mais de 200 detenções
Sónia Trigueirão
Durante quase quatro anos, três car-
teiristas polacos com idades entre os
49 e os 54 anos vinham de forma
sazonal de Espanha a Portugal pra-
ticar furtos nos comboios aos Æns-
-de-semana. Acumularam 55 crimes,
25 por furto qualiÆcado e 30 por
abuso de cartão de crédito. Furta-
ram mais de 40 mil euros. A forma
errática de actuar, sem um padrão
especíÆco, diÆcultou a investigação,
mas o trio acabou detido em Maio de
2022.
Muitos carteiristas que actuam em
Portugal pertencem a Grupos Móveis
de Crime Organizado (GMCO), como
lhes chama a Europol, ou de forma
mais simples, redes itinerantes que
vêm de todas as partes do mundo,
sobretudo da Europa de Leste, e se
multiplicam ao ritmo do turismo
com métodos aperfeiçoados.
Segundo os últimos dados da PSP,
entre 2020 e 2023, os carteiristas
furtaram mais de 7,1 milhões de
euros em Portugal. Nestes quatro
anos a PSP registou mais de 15 mil
furtos, identiÆcou 916 suspeitos e
efectuou 210 detenções.
Os números fornecidos pela PSP
mostram que o fenómeno está a
aumentar. Entre 2020 e 2021 as ocor-
rências registadas pela PSP não che-
gavam às três mil, mas estes anos
também correspondem ao período
em que houve conÆnamento por
causa da pandemia.
Já em 2022, a PSP registou 4850
furtos por carteiristas e os dados
provisórios de 2023 apontam para
que ultrapassem os cinco mil. O mes-
mo acontece com os detidos. Em
2022 a PSP efectuou 58 detenções e
em 2023 esse número quase que
duplica, com 102 detidos. O número
de suspeitos identiÆcados em 2023
também subiu quando comparado
com 2022, tendo passado de 238
para 295.
Ao PÚBLICO o subintendente Sér-
gio Soares, porta-voz da Direcção
Nacional da PSP, explica que, de fac-
to, os números desta força de segu-
rança revelam que “os furtos por
carteiristas estão a subir quando
comparados com 2022 e que isso se
deve também ao crescimento do
turismo no nosso país”.
Porém, Sérgio Soares sublinha que
“os números ainda estão longe dos
registados antes da pandemia,
nomeadamente em 2018 e 2019”,
embora ainda não sejam conhecidos
os dados das restantes forças de
segurança, nomeadamente da GNR,
para 2023.
O porta-voz da PSP relembra que,
segundo dados dos Relatórios de
Segurança Interna (RASI), que reú-
nem os dados de todas as forças de
segurança, “em 2018 e 2019 as ocor-
rências por furto de carteiristas esta-
vam nos 12.377 e 9770, respectiva-
mente, e que, desde 2015 e até 2020,
as ocorrências estavam a descer”.
Para se ter uma ideia, “em 2015 ocor-
reram 1443 furtos de carteiristas”.
Sérgio Soares explicou também
que, quando se diz que estas redes
se multiplicam ao ritmo do turismo,
é porque “existe uma correspondên-
cia entre os locais com maiores aglo-
merados populacionais e os locais
com maior número de ocorrências,
destacando-se os centros turísticos
das Áreas Metropolitanas de Lisboa
e do Porto, também os transportes
públicos”.
Dinheiro vivo e cartões
Os carteiristas mantêm como alvo
preferencial e natural as carteiras,
sendo que visam essencialmente o
dinheiro vivo, mas assiste-se cada
vez mais ao interesse pelos cartões
de débito/crédito, revelou o porta-
Já há carteiristas -voz da PSP, sublinhando que “desde
a apanhar dez anos 2013 que a PSP pertence a uma rede
de prisão informal de especialistas em cartei-
ristas a nível europeu que visa, acima
de tudo, partilhar informação e
conhecimento sobre redes organiza-
das de suspeitos itinerantes que
fazem do furto por carteirista modo
de vida”.
No âmbito da cooperação policial,
a PSP faz parte integrante do grupo
EMPACT — European Multidiscipli-
Recomendações da PSP para evitar
ser o alvo de carteiristas:
• Guarde os seus pertences • Não transporte quantias
e objectos pessoais em avultadas de dinheiro consigo;
bolsos interiores; • Esteja atento ao que se passa
• Não tenha o telemóvel à sua volta e desconfie de
à vista ( em cima de uma mesa estranhos que circulem
numa esplanada, café ou demasiado perto de si, quer na
restaurante), nem o guarde rua, quer nos estabelecimentos
no bolso traseiro das calças; comercias e até nos hotéis.
• Ao circular em transportes • Quando fecha o carro esteja
públicos ou ruas muito atento. Há carros que fecham
movimentadas, transporte a de forma automática com
mochila na parte da frente do cartões. Os carteiristas têm
corpo; inibidores de sinal do cartão e
• Utilize pequenos o carro fica aberto. Não se
cadeados nos fechos das afaste do carro sem se
mochilas, ou um clipe, como certificar de que ficou fechado.
medida de segurança Nem deixe nada no carro que
adicional; identifique a sua morada.
nary Platform Against Criminal
Threats, uma plataforma multidisci-
plinar europeia contra as ameaças
criminais, na qual é representada
pelo Departamento de Investigação
Criminal da Direcção Nacional.
De acordo com Sérgio Soares, esta
plataforma assegura a troca de infor-
mação e partilha de experiências e
ainda a coordenação da participação
em acções operacionais dedicadas
ao fenómeno dos carteiristas. Neste
caso, a liderança é assegurada pela
Alemanha.
Por exemplo, e no âmbito desta
cooperação, em 2023, a PSP partici-
pou em dois projectos internacio-
nais, nomeadamente na Jornada
Mundial da Juventude ( JMJ), que teve
lugar em Lisboa, e no Oktoberfest,
em Munique, na Alemanha. Durante
o decorrer da JMJ, a PSP teve o apoio
de nove polícias oriundos da Alema-
nha, Bélgica e Chéquia.
No evento do Oktoberfest, a PSP
teve uma equipa de dois elementos.
Ainda no âmbito desta cooperação
policial internacional, terá uma equi-
pa no Euro 2024, na Alemanha, e no
Festival de Gent, na Bélgica.
Sérgio Soares sublinhou que, des-
de 2018, a PSP tem uma equipa espe-
cial de combate a carteiristas cheÆa-
da pelo comissário Nelson Silva da
Divisão de Investigação Criminal da
PSP de Lisboa, que tem participado
nesta cooperação internacional e
levado a cabo um trabalho de exce-

DAVID CLIFFORD/EUROPA
lência em território nacional.
Exemplo disso, disse o subinten-
dente, foi a redução do número de
furtos de carteiristas de 2018, altura
em que a equipa foi criada, para 2019
e depois em 2020. Segundo dados
do RASI, passou-se de 12.377 furtos
em 2018 para 3645 em 2020.
De acordo com o comissário Nel-
son Silva, a cooperação internacio-
nal é essencial para acompanhar os
movimentos destas redes que estão
cada vez mais soÆsticadas. “Estas
redes sabem, por exemplo, a legisla-
ção de cada país, se tem mais ou
menos videovigilância na rua, se têm
reconhecimento facial, e é com esta
informação toda que sabem onde
podem atacar, em que momento e
onde podem ter mais rentabilidade”,
aÆrmou, acrescentando que estes
grupos chegam a ter 30 ou 40 ope-
racionais que podem espalhar pela
Europa e estão concentrados em
eventos como concertos, festivais,
jogos de futebol, que podem reunir
pessoas de vários países.
“Em Portugal vêm, sobretudo, por
causa do turismo no Verão e na Pas-
coa, mas começa a não ser muito
bom para eles porque temos conse-
guido fazer investigações mais robus-
tas que, por sua vez, têm levado a
detenções, e ajudado o Ministério
Público a conseguir condenações
que os deixam sem elementos do
grupo durante bastante tempo”, sus-
tentou.
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 15
Sociedade
Ocorrências de furtos
por carteiristas Mortes nos Comandos: coronel
4850 >5000
condenado por querer enganar MP
2956 2873
Celsius. Dylan da Silva e Hugo Abreu, Porém, o que concluiu o tribunal
Ana Henriques
ambos de 20 anos, não resistiram à na sexta-feira é que o documento foi
Dores Moreira foi falência de órgãos causada por golpe mandado forjar por Dores Moreira,
sentenciado a pena de calor e desidratação extrema. para que pudesse enjeitar responsa-
2020 2021 2022 2023 No início deste mês o Tribunal da bilidades no sucedido, e que o guião
suspensa por mandar Relação de Lisboa agravou as penas efectivamente usado neste curso e
forjar documento para de vários arguidos implicados nas distribuído aos oÆciais instrutores
Número de suspeitos alijar responsabilidades suas mortes, tendo condenado o não previa mais do que três cantis,
identificados médico responsável pela equipa como de resto sucedeu nas provas
295 Foi condenado a um ano e sete meses sanitária a sete anos e meio de pri- anteriores. “Pretendia fazer crer à
238 de pena suspensa de prisão o ex-co- são. Outros quatro militares que autoridade judiciária que da sua par-
206 mandante do Regimento de Coman- tinham sido ilibados em primeira te nenhuma responsabilidade do que
177 dos Luís Dores Moreira, por ter ten- instância foram sentenciados, sucedeu aos instruendos do 127.º
tado enganar o Ministério Público embora na sua maioria a penas sus- Curso lhe poderia ser assacada e,
(MP) no caso das mortes de dois pensas. assim, empurrar a responsabilidade
recrutas do curso de 2016. No caso do coronel Dores Moreira das mortes para os instrutores da
Apesar do calor intenso que se está em causa o facto de ter sido da Prova Zero”.
2020 2021 2022 2023 fazia sentir naquele dia de Setembro sua autoria o documento que esta- Uma das juízas que Æzeram parte
no campo de tiro de Alcochete, onde belecia as regras e condições em que do colectivo que no início deste mês
se realizou a prova, houve instruen- se desenrolava a chamada Prova agravou as condenações relaciona-
Número de detidos dos que, entre o início da instrução Zero. Quando o MP lhe pediu o guião das com as mortes, Cristina Almeida
e as 16h, apenas beberam dois litros da prova em que morreram os dois e Sousa, deixou expresso um voto de
de água. A prova começou no dia 3 recrutas, o comandante entregou vencida a defender penas mais pesa-
2021
de Setembro à noite. No dia 4, as um documento que Æxava em cerca das, tendo escrito que os instrutores
18
temperaturas atingiam já os 35 graus de cinco litros de água — cinco cantis “praticaram durante horas consecu-
2020
a meio da manhã, tendo mais tarde — o mínimo diário a distribuir a cada tivas verdadeiros actos de tortura”
32
acabado por ultrapassar os 40 graus instruendo. com “grande crueldade”.
2022
58
2023 PUBLICIDADE
102
Prejuízo causado
Em milhões de euros
2.451.027
2.153.429
1.276.640
1.228.936
1.000.000
2020 2021 2022 2023
Nota: Os dados referem-se apenas
à PSP e não incluem os de outras
forças de segurança, como a GNR.
Quanto às ocorrências de 2023,
o número ainda é provisório.
Fonte: PSP PÚBLICO
Nelson Silva diz que já houve mui-
tos casos investigados pela unidade
especial em que o Ministério Público
conseguiu condenações que vão des-
de os cinco, aos nove e dez anos de
prisão. O caso que teve com uma
condenação maior foi recente e
envolveu três indivíduos romenos
que praticavam furtos de carteiras e
telefones em centros comerciais e
lojas em várias zonas de Portugal, e
usavam depois os cartões de crédito.
O líder do grupo apanhou dez anos,
os restantes tiveram penas entre os
nove e os oito anos.
16 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Sociedade
Há mais de 500
cardiologistas no
SNS, mas alguns
hospitais no
interior só têm
um especialista
Lacuna mais grave — um centro para
intervenção no enfarte agudo de
miocárdio na Cova da Beira — foi
colmatada em Fevereiro
Alexandra Campos
Em 2022, havia 525 cardiologistas nos
hospitais do Serviço Nacional de Saú-
de (SNS), mas vários hospitais no
interior do país tinham apenas um ou
dois especialistas no quadro. Tem
sido amplamente noticiado o caso do
Hospital de Beja, onde desde há duas
décadas dois cardiologistas, que são
marido e mulher e por vezes fazem
férias juntos, asseguram os cuidados
e onde as vagas para novos especia-
listas Æcam sistematicamente deser-
tas. Mas havia então hospitais ainda
em pior situação, como era o caso do
de Bragança, o de Castelo Branco e o
de Portalegre — todos com apenas um
cardiologista no quadro. Em alguns,
a situação foi-se agravando-se rapida-
mente nos últimos anos — por exem-
plo, o Hospital da Guarda passou de
seis cardiologistas, em 2019, para ape-
nas dois, em 2022. Por regiões, em
todo o Alentejo, há dois anos, havia
15 cardiologistas, enquanto o Algarve
dispunha de 13.
É o retrato de um interior desfalca-
do de médicos desta especialidade
que sobressai no documento Ænal de
actualização da rede de referenciação
hospitalar de cardiologia 2023 recen-
temente publicada pela Direcção
Executiva do SNS.
Apesar de “globalmente” não haver
em Portugal carência de cardiologis-
tas, “há várias excepções que reque-
rem uma atenção particularizada”,
nomeadamente as Unidades Locais
de Saúde da Guarda, de Castelo Bran-
co, do Nordeste (Bragança) e as
regiões do Alentejo e do Algarve,
assumem os especialistas que inte-
gram o grupo de trabalho responsável
pelo documento.
No resto do país, o balanço é posi-
tivo, sem grandes carências, ao con-
trário do que acontece noutras espe-
cialidades clínicas. “VeriÆcou-se de
uma forma global a substituição dos
elementos que saíram (aposentações
e outras causas) por elementos mais
novos” e o número de internos em
formação “garante a continuidade
dessa renovação para os próximos
anos”, concluem.
O mesmo não se poderá dizer
quanto a outros proÆssionais de saú-
de, mas este balanço Æcou por fazer.
Em regiões como Lisboa e Vale do
Tejo, há “grandes carências em recur-
sos humanos” nas carreiras de enfer-
magem e de técnicos de saúde, espe-
ciÆca o grupo, que assume não ter
“elementos para [os] quantiÆcar de
forma sistematizada”.
Do ponto de vista do acesso, a lacu-
na mais grave e que tinha sido identi-
Æcada já na rede de referenciação de
2015 — a necessidade de um centro
com capacidade para intervenção no
enfarte agudo de miocárdio na Cova
da Beira (Covilhã) — foi colmatada em
Fevereiro passado, destaca Rui Cruz
Ferreira, que coordenou a actualiza-
ção da rede hospitalar de cardiologia
(datada de 2015).
“Há 20 anos que o distrito da Guar-
da aguardava a abertura de uma sala
de hemodinâmica”, e, desta forma,
“a população passou a dispor de um
acesso atempado” ao tratamento do
enfarte agudo de miocárdio, corro-
bora, por escrito, o director do Pro-
grama Nacional para as Doenças
Cérebro-Cardiovasculares da
Direcção-Geral da Saúde, Filipe Mace-
do, que realça igualmente “os exce-
lentes resultados” decorrentes da
abertura, em 2023, de mais duas
novas unidades de hemodinâmica,
em Guimarães e em Aveiro.
Sendo, assim, “elevada” a percen-
tagem de cobertura populacional a
A área cardiovascular com
mais lacunas a nível nacional
é a da reabilitação cardíaca.
A resposta actual “abrange
apenas 10% a 20% dos
potenciais candidatos”
Grupo de trabalho
recomenda que
os médicos de
família passem
a poder prescrever
vários meios
de diagnóstico
este nível, o grupo de trabalho reco-
menda “a consolidação das equipas
de intervenção dos centros, em detri-
mento da abertura de novos pontos
de rede, desde que assegurado um
transporte inter-hospitalar eÆciente”.
Mas assumem que é necessária “uma
melhor agilização e coordenação dos
meios disponíveis, tendo provavel-
mente o INEM um papel decisivo
nesta optimização”.
Registo nacional do enfarte
Defendem ainda que a importância
epidemiológica do enfarte do mio-
cárdio justiÆca a criação de um regis-
to nacional com carácter obrigatório
e que integre a vertente pré-hospita-
lar. “Tem de estar estabelecida uma
rotina de colheita sistemática de
informação. Existe informação, mas
está dispersa. Temos de conhecer os
dados para a tomada de decisão
estratégica”, explica Cruz Ferreira.
Funcionando como uma “radiogra-
Æa” de tudo o que é actividade hospi-
talar nesta área, a rede de referencia-
ção permite, por outro lado, perceber
a magnitude do impacto da pandemia
de covid-19. “Muitos doentes não
foram referenciados nem tratados
atempadamente. Houve uma acumu-
lação de doentes, mas, entretanto, a
situação está a normalizar-se”, diz
Cruz Ferreira. “Nas listas de espera,
a situação não é homogénea a nível
nacional, mas diria que não é dramá-
tica. Não há doentes não tratados por
não terem acesso. O único local
potencialmente problemático era a
Cova da Beira.”
Outra questão relevante é a integra-
ção dos cuidados de saúde primários,
preconizando o grupo de trabalho
que os médicos de família passem a
poder prescrever vários meios de
diagnóstico. Desde logo, os exames
que permitem a monitorização da
pressão arterial durante 24 horas e a
inclusão do “doseamento dos pépti-
dos natriuréticos” para “uma mais
correcta e precoce identiÆcação dos
casos de insuÆciência cardíaca”. Tam-
bém poderá ser equacionado em
alguns casos o recurso a sistemas de
apoio para interpretação remota,
como já foi testado em projecto-pilo-
to, e será “indispensável” a “existên-

cia de electrocardiograÆa” nos cen-
tros de saúde.
Este documento teve “como preo-
cupação dar destaque à insuÆciência
cardíaca, uma doença crónica muito
prevalente em que os vários estádios
da doença exigem diferentes níveis
de cuidados, tendo de ser garantida
a integração entre estes”, explica Fili-
pe Macedo.
Nesta área, recomenda-se que
sejam “deÆnidas redes de tratamento
de doentes com três níveis de cuida-
dos”. O nível 1 inclui os cuidados de
saúde primários, o nível 2, a genera-
lidade dos serviços de cardiologia,
onde se preconiza uma evolução no
sentido de dar resposta a populações
cada vez mais idosas, ultrapassando
o âmbito da cardiologia, com implan-
tação, por exemplo, em departamen-
tos de medicina interna, enquanto no
nível 3 é assegurado pelos actuais
quatro centros de referência.
Para optimizar recursos e melhorar
o desempenho em termos de trans-
plantação cardíaca em Portugal — em
comparação com Espanha, fazemos
cerca de metade de transplantes —,
PAULO PIMENTA
os autores do documento sustentam
que é “imprescindível” a criação de
centros de referência de insuÆciência
cardíaca avançada, “provavelmente
com estatuto idêntico aos centros de
referência de cardiologia de interven-
ção estrutural”. Para regulamentar a
criação destes centros de referência,
deve ser “deÆnido um grupo de tra-
balho de especialistas na área”.
Sugerem igualmente a criação de
um grupo especíÆco para a deÆnição
de “uma rede de referenciação para
doentes em choque cardiogénico
para estruturas hospitalares que dis-
ponham de equipas e know-how para
garantir cuidados intensivos cardía-
cos e suporte circulatório de curta
duração a estes doentes”.
Mas a área cardiovascular com mais
lacunas é a da reabilitação cardíaca.
A resposta actual “abrange apenas
10% a 20% dos potenciais candida-
tos”, tendo sido uma das mais afecta-
das com a pandemia. Recomendam,
por isso, que seja revisitado o docu-
mento do grupo de trabalho criado
em 2017 que propunha já uma série
de medidas a este nível.
Na pediatria, a proposta é de concentração
Grupo recomenda criação de mais
dois serviços de cirurgia cardíaca
Ana Maia
Para dar resposta à demanda, o Ser-
viço Nacional de Saúde (SNS) deve
criar mais dois serviços de cirurgia
cardíaca. Preferencialmente fora das
áreas metropolitanas do Porto e de
Lisboa, recomenda o grupo de traba-
lho que elaborou a actualização da
Rede de Referenciação Hospitalar de
Cirurgia Cardíaca.
No caso da cirurgia pediátrica, pelo
contrário, a recomendação é que haja
uma concentração dos serviços exis-
tentes, tendo em conta o reduzido
número de casos e a necessidade de
juntar elevada experiência médica.
No prazo de dois anos, de quatro cen-
tros especializados, dever-se-á passar
para dois, recomenda a Rede de Refe-
renciação Hospitalar de Cardiologia
Pediátrica, no documento publicado
pela Direcção Executiva do SNS (DE-
SNS), após ter estado em consulta
pública.
A criação dos dois novos Centros
de Cirurgia Cardíaca, “para respon-
der ao aumento da procura” e “limi-
tar o tempo de espera aos tempos
máximos garantidos por lei”, deve ter
em conta critérios de densidade
populacional e de distanciamento
geográÆco. Sugerem-se como “loca-
lizações ideais para uma maior racio-
nalidade na expansão da oferta de
Cirurgia Cardíaca” o Minho (Braga) e
o Algarve (Faro).
Em resposta escrita, Filipe Macedo,
coordenador do Programa Nacional
das Doenças Cérebro-Cardiovascula-
res da Direcção-Geral da Saúde, e que
está a colaborar com a DE-SNS na ela-
boração das redes de referenciação
na área cardíaca, explica que o docu-
mento “sugere a abertura de even-
tualmente um centro ou no Algarve/
Faro ou em Évora, dependendo da
abertura dos novos hospitais nessas
duas zonas”. A escolha dependerá
também da existência de médicos,
pois formar um cirurgião cardíaco
sénior “não é tarefa rápida”.
No documento relativo à cirurgia
cardíaca, tecem-se críticas ao facto de
as recomendações presentes na últi-
ma rede de referenciação, de 2017,
não terem sido cumpridas. Nomea-
damente a criação de um plano de
acção para cada um dos sete serviços
já existentes — São João, Vila Nova de
Gaia, Coimbra, Lisboa Central, Lisboa
Norte, Lisboa Ocidental, Funchal — e
respectiva monitorização.
Em 2017, os seis serviços cirúrgicos
do continente tinham inscritos para
cirurgia 1429 doentes. No Ænal de
Maio de 2023, tinham 2052. “É fun-
damental dar condições a cada um
dos centros médico-cirúrgicos exis-
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 17
tentes de modo a aumentar a sua
produção e melhor cumprir os TMRG
[Tempos Máximos de Resposta
Garantidos]”, considera o grupo, que
recomenda que directores de serviço
e administradores sejam ouvidos
“para identiÆcação e correcção dos
constrangimentos que impedem o
melhor cumprimento dos TMRG”.
O documento contabiliza 73 cirur-
giões cardíacos ou cardiotorácicos a
trabalhar nos sete centros públicos.
São menos dez do que o número de
cirurgiões cardíacos que a Ordem dos
Médicos tem recenseado. Mas a ques-
tão principal é a sua distribuição por
faixa etária: 15 têm entre 50 e 60 anos
e 18 têm mais de 60 anos. O que
“poderá colocar alguma pressão nos
serviços nos próximos anos, não
estando a renovação dos quadros
totalmente assegurada”.
As necessidades futuras “depende-
rão do modelo organizativo” que os
serviços adoptarem. Os especialistas
sugerem a colaboração com outras
especialidades no acompanhamento
de doentes cirúrgicos internados.
250 cirurgias por ano
Quanto à Rede de Referenciação de
Cardiologia Pediátrica, existem
actualmente quatro serviços médico-
cirúrgicos nas Unidades Locais de
Saúde (ULS) de São João, Coimbra,
São José e Lisboa Ocidental. Estes
centros correspondem aos actuais
Centros de Referência de Cardiopa-
tias Congénitas (CRCC), que têm capa-
cidade de diagnóstico e tratamento
das cardiopatias em qualquer idade
e equipas multidisciplinares para
assistirem doentes adultos com o
mesmo problema. Há ainda quatro
unidades de cardiologia pediátrica,
mas sem capacidade cirúrgica, e que
se devem manter sem alterações.
Para a constituição dos CRCC,
Duas localizações possíveis para novos centros são Braga e Faro
Sociedade
adoptou-se como volume mínimo a
realização de 150 cirurgias em cardio-
patias congénitas por ano. O grupo
defende que se deve optar pelos parâ-
metros mínimos internacionais (mais
de 250 cirurgias de cardiopatias con-
génitas/ano), “para evitar colocar em
risco a manutenção das aptidões dos
cirurgiões dedicados a esta área, e
acima de tudo os resultados e a sus-
tentabilidade desta actividade”.
É por causa da complexidade des-
tes casos que se considera que deve
haver uma concentração dos doentes
em apenas dois CRCC, por forma a
garantir que se mantém “a perfor-
mance”. “Sugere-se um período de
transição de dois anos, em que reco-
mendamos a manutenção dos quatro
CRCC actualmente existentes, perío-
do durante o qual se deve proceder à
elaboração de um plano de concen-
tração e integração destes”, dizem os
especialistas.
Do ponto de vista funcional e dada
a capacidade instalada, “parece
actualmente ser mais favorável a loca-
lização dos dois centros referidos no
Porto e em Lisboa”, lê-se. E, conside-
rando que os dois centros instalados
nos hospitais de Santa Marta e Santa
Cruz “realizam a grande maioria das
cirurgias complexas e procedimentos
de intervenção, electroÆsiologia e
tratamento avançado da insuÆciência
cardíaca”, e que não existem novas
instalações com capacidade para
receber um único centro, sugerem
que se possa criar “um protocolo de
‘consórcio’ entre ambos”. A mesma
metodologia “poderá ser adoptada”
para os CRCC nos hospitais de São
João e Coimbra.
No Ænal de 2021, existiam 49 car-
diologistas pediátricos no continente
e 17 internos. A “sustentabilidade dos
CRCC e da especialidade no futuro”
parece assegurada.
MARIA JOAO GALA
18 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Local Achados arqueológicos nas obras do metro
Escavações da Linha
Circular trazem à luz do
dia velhos pedaços da
história naval de Lisboa
As escavações revelaram, entre outras coisas, uma rampa de
acesso a estaleiro de barcos de grandes dimensões. Elas ajudam
a dar uma “amplitude maior” sobre parte da história da capital
Reportagem
Samuel Alemão Texto
Rui Gaudêncio Fotografia
Nos últimos dias de Dezembro e
nos primeiros de Janeiro passado,
por entre a quase incessante
laboração no estaleiro da
construção da Linha Circular do
metro de Lisboa, na zona de
Santos, uma imagem começava a
ganhar nitidez. Num canal com
aproximadamente 80 metros de
comprimento, escavado a pouco
mais de dez metros de
profundidade e identiÆcado como
“troço 1D” pelos responsáveis pelo
acompanhamento arqueológico
das obras, descobriam-se diversos
elementos patrimoniais a
comprovar a intensa actividade
náutica na zona, noutros tempos.
No caso, seriam das últimas
décadas do século XVIII e iniciais
do seguinte. Entre eles contava-se
uma rampa de tabuado de acesso
a um estaleiro de construção e
reparação de barcos de grandes
dimensões, instalado na praia
outrora ali existente, antes de ter
sido tapada pelo Aterro da
Boavista, construído entre 1860 e
1867 e onde agora se localiza a
Avenida 24 de Julho.
“IdentiÆcámos muitas estruturas
em madeira, ao longo do troço
inteiro. Estamos a falar de um
contexto extensivo com várias
estruturas interdependentes.
Todas estas estruturas tinham
restos de embarcações e peças de
cavername, algumas com grandes
dimensões, a atingir os sete ou oito
metros”, explica André
Albuquerque, técnico que
supervisiona as prospecções feitas
no local pela Império, uma das
quatro empresas de arqueologia
que formam o consórcio
encarregado de monitorizar as
escavações do Lote 2 das obras do
metro – que envolve a execução
dos toscos entre a futura estação
Santos e o término da estação Cais
do Sodré. Entre o conjunto de
peças bem conservadas agora
reveladas contam-se cavernas de
madeira – usadas para deÆnir o
esqueleto de um navio –, a base de
estruturas para o soalho de barcos,
barrotes para a quilha ou a
sobrequilha das embarcações,
curvaturas da frente dos cascos,
suporte para o leme e uma grande
âncora de ferro, com três metros.
Quase em simultâneo, nas
primeiras semanas deste ano,
numa zona um pouco mais acima,
junto à Calçada do Marquês de
Abrantes, que se cruza com a
Avenida Dom Carlos I, onde esta
artéria começa o seu último terço,
uma outra descoberta contribuía
para se ter um retrato bem mais
preciso do subsolo desta área da
capital. “Encontrámos ali
estruturas murárias suportadas
por cofragem de madeira, as quais
nos permitem deÆnir com maior
grau de precisão a linha de
fronteira natural entre a terra e o
estuário. Era ali a zona ribeirinha
de Lisboa noutros tempos, antes de
se fazer o Aterro da Boavista”,
explica ao PÚBLICO Raquel
Henriques, responsável pelos
trabalhos desenvolvidos pela
Arqueologia & Património, uma
das quatro empresas do consórcio,
juntamente com a Império, a
Empatia e a Neoépica. Essa zona é
identiÆcada pelos arqueólogos
como a “1A”. Uma peça do puzzle
que se está a construir sobre o que
foi aquela área.
Os achados agora realizados
assumem-se como relevantes dos
pontos de vista histórico, de
arquitectura náutica e cientíÆco
pelo Centro de Arqueologia
Náutica e Subaquática, entidade
tutelada pelo Ministério da Cultura.
E acabam por contribuir também
para melhor se conhecer a
evolução do urbanismo naquela
parte da cidade. De entre eles, a
rampa de acesso ao estaleiro,
encontrada no canal escavado nos
terrenos húmidos do aterro e feita
com recurso a tábuas de carvalho
provenientes de antigas
embarcações, é vista com especial
entusiasmo pelos arqueólogos.
“Uma interpretação destes
elementos patrimoniais consiste
em tratar-se dos vestígios de um
acesso em rampa a uma doca seca,
referente um estaleiro naval na
margem do rio”, refere a nota
explicativa sobre os achados,
emitida pelo Metropolitano de
Lisboa. “Na construção das
estruturas mencionadas, foram
utilizados inúmeros materiais de
cariz náutico, tendo sido nas
estruturas reaproveitados”,
explica-se.
Para além dessa rampa de
tabuado, resultante do
reaproveitamento de madeiras
resistentes e espessas de antigos
navios, que permitem reforçar os
conhecimentos sobre a
arquitectura náutica, foram
também encontradas três âncoras
e seis dezenas de balas de canhão,
de diversos calibres. Mas também
garrafas, pesos de redes ou
cachimbos. “Tivemos todos os
níveis de ocupação desta zona, ao
longo dos séculos, desde a época
romana até ao início do século XIX.
Os barcos vinham aqui fundear e,
com tanta gente a fazer a sua vida,
é natural que existissem despejos.
Esses despejos acabaram por
Æcar”, explica André Albuquerque,
visivelmente satisfeito com as
evidências de outras épocas com
que se tem deparado. “Temos aqui
muito material e conhecimento
relativo à ocupação desta zona,
tanto a nível do contexto, como
dos materiais incríveis usados Os achados são relevantes obtém-se uma mais ampla e
pelas cerâmicas romanas”, diz. também para melhor profunda percepção de como era
se conhecer a evolução do esta zona de Lisboa, durante
Encontrar mistérios urbanismo nesta zona da cidade séculos”, diz Raquel Henriques,
Mas de que é que tudo isto nos explicando que, se é verdade que,
serve, aÆnal? “Com todo o até ao momento, as prospecções
trabalho arqueológico que tem não revelaram grandes surpresas,
sido aqui feito, conseguimos ter vieram trazer muita informação de
um pouco mais de conhecimento qualidade. A qual, no Ænal,
histórico sobre a zona. No fundo, acabará por ajudar a termos uma

ideia “mais precisa” daquele
trecho da zona ribeirinha da
cidade. “A cartograÆa existente
sobre o que aqui tínhamos é
essencial, claro, mas a arqueologia
é que conÆrma. Muitas vezes, o
que encontramos são mistérios. E
precisamos de os enquadrar”,
aÆrma a especialista. SoÆa Silvério,
responsável pela Æscalização das
escavações, sintetiza: “No fundo,
este trabalho dá-nos uma
contextualização do espaço.”
E isso tanto pode ter que ver
com a tal maior clareza na
deÆnição de onde se situava ao
certo a linha de fronteira entre a
terra e a água – “estamos a falar de
uma zona de entre marés e é
natural que as plantas da época
não fossem tão precisas”, assinala,
a propósito, André Albuquerque –,
como com o estilo de vivência que
por ali se poderia observar. Por
exemplo, o facto de a rampa de
acesso ao estaleiro ser construída
com recurso a madeiras
reaproveitadas de embarcações dá
pistas sobre a eventual
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 19
caracterização social e
demográÆca daquela área.
“Sabemos que esta era uma zona
nos limites da cidade. Se eram
pessoas pobres, era perfeitamente
natural que Æzessem o
aproveitamento dos materiais
disponíveis”, nota Raquel,
lembrando que ali ao lado, no que
é hoje a Madragoa, era o bairro do
Mocambo, onde a partir do século
XVI se Æxou uma população de
origem maioritariamente africana.
O reaproveitamento de
materiais como as madeiras
assumia-se, pois, como uma
realidade relativamente frequente.
Até porque elas estavam
disponíveis, já que aquela era uma
zona de atracagem de
embarcações, assinala Fernando
Real, arqueólogo contratado pelo
Metropolitano de Lisboa para
realizar o acompanhamento
cientíÆco das escavações, durante
as obras da Linha Circular. “Esta
intervenção permite-nos
identiÆcar muito bem o espírito do
lugar, que tem que ver com a
50 ANOS DEPOIS DO
25 DE ABRIL, O QUE É
Um grande dossier que junta à entrevista
que fizemos à directora convidada para
o aniversário do PÚBLICO, Maria Teresa Horta,
uma série de grandes trabalhos sobre
as barreiras à igualdade de género, ensaios,
ligação da terra ao mar. Esse reportagens e as intervenções que marcaram
espírito está cá, sem dúvida”,
a conferência de aniversário do jornal,
explica o especialista, lembrando a
importância da campanha,
a 5 de Março, na Culturgest, em Lisboa.
lembrando que a última vez que o
metro realizou um levantamento Quase 400 páginas com contributos
arqueológico semelhante foi nos de dezenas de mulheres e de homens
anos 90, aquando da construção das mais diversas áreas e de
da estação do Cais do Sodré. diferentes gerações.
Nessa altura, foi encontrada uma
embarcação de navegação em alto
mar, do século XVI, enterrada nos
lodos. E a expectativa de se realizar
uma descoberta de idêntica ou
superior valia é elevada, como
Leia tudo na estante P deste mês.
conÆdenciava André Albuquerque
Um exclusivo para assinantes.
ao PÚBLICO, em Junho passado.
Até porque os trabalhos de publico.pt/estante-publico
escavação no Aterro da Boavista
encaminham-se agora ainda mais
da zona lodosa, perto da margem
do rio, na direcção do Cais do
Sodré. “Há colegas arqueólogos
que têm de se limitar a trabalhar
numa zona mais restrita. Nós
tivemos sorte, porque, ao trabalhar
numa área tão vasta, conseguimos
ter uma visão mais ampla”,
confessa André.
20 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Mundo Ataque terrorista na capital russa
Atentado de
Moscovo expôs
as prioridades
de segurança
da Rússia
Muitas pessoas da Federação Russa
sentem que vivem num Estado policial
com grande vigilância. Mas esta foca-se
na oposição, não no terrorismo jihadista
Maria João Guimarães
A Rússia marcou ontem um dia de
luto pelos 137 mortos do ataque, rei-
vindicado pelo Daesh, numa sala de
concertos em Moscovo — um ataque
que mostrou as fragilidades do regi-
me, escreveu o diário The Washington
Post, e que quebrou a promessa de
segurança feita pelo Presidente Vla-
dimir Putin à população russa, escre-
veu pelo seu lado o New York Times.
O ataque aconteceu logo a seguir a
Putin ver o seu poder cimentado por
uma vitória numa eleição em que não
foi permitida qualquer oposição, e
num ponto em que a Rússia estava
mais conÆante com a situação no ter-
reno da guerra na Ucrânia, apresen-
tada pelo regime como essencial para
a segurança da Rússia.
E, pior, aconteceu após um aviso
dos Estados Unidos sobre um poten-
cial atentado — um aviso a que o pró-
prio Putin se referiu directamente em
declarações públicas, há poucos dias,
dizendo que se tratava de “uma chan-
tagem” e “uma tentativa de desesta-
bilizar a nossa sociedade”.
“A eleição mostrou uma vitória apa-
rentemente conÆante”, disse ao New
York Times Aleksandr Kynev, cientista
político a viver em Moscovo. “E de
repente, acontece esta humilhação.”
Kynev acha que o ataque deixou
muitos russos “em choque”, já que
“repor a ordem foi sempre a imagem
de marca de Putin”. O actual Presiden-
te ganhou relevância nacional enquan-
to primeiro-ministro depois de pro-
meter perseguir terroristas (“se os
encontrarmos na casa de banho, é lá
que morrerão”) após quatro ataques
em blocos de apartamentos em 1999
que causaram cerca de 300 mortos.
Em declarações a media ocidentais,
algumas pessoas que sobreviveram
ao ataque de sexta-feira ou que no dia
seguinte puseram Çores no local
questionavam-se sobre a segurança
no grande complexo de concertos,
fazendo por exemplo comparações
entre a falta de polícia e a enorme
presença policial no funeral do opo-
sitor Alexei Navalny.
“Em todo o lado há uma sensação
de que estamos a viver num Estado
policial que vigia atentamente todos
os cidadãos”, disse Andrei Kolesnikov,
analista do Carnegie Russia Eurasia
Center, ao Washington Post. “As pes-
soas são muitas vezes paradas e revis-
tadas à entrada do metro, nos aero-
portos, a segurança é muito mais
MAXIM SHIPENKOV/EPA
Memorial improvisado
junto ao local do atentado
de sexta-feira
dura”, declarou. “Há realmente uma
questão sobre como isto pode acon-
tecer.” A oposição é vigiada com tec-
nologia de reconhecimento facial, por
exemplo, usada para vigiar, e depois
questionar, quem participou num
protesto recente contra as eleições ou
foi homenagear Navalny, diz o Post.
O diário cita analistas dizendo que
há um contraste entre estes recursos
e aqueles destinados a ter medidas de
segurança contra ataques de grupos
terroristas, mesmo que o país seja
alvo de ataques com alguma frequên-
cia e constância, incluindo dois do
Daesh em 2019.
Há quem seja de opinião que as
falhas de segurança são a norma e
não a excepção na Rússia. “A não ser
que seja um acontecimento impor-
tante como as Olimpíadas ou que
Putin esteja envolvido, a guarda da
Rússia em questões de segurança está
sempre baixa”, disse um responsável
dos serviços secretos dos Estados Uni-
dos, sob anonimato, ao Washington
Post. Para este tipo de ameaças, “é
preciso ter um sistema elaborado”, e

Daesh divulga vídeos do ataque
a madrugada de ontem, o
N autoproclamado Estado
Islâmico divulgou um vídeo
que mostra, alegadamente,
os homens armados do
Daesh-Khorasan na sala de
espectáculos de Moscovo, onde
foram mortas mais de 130
pessoas.
A publicação do Daesh vem
sustentar a reivindicação do
ataque pelos islamistas, depois
de o Presidente russo, Vladimir
Putin, ter apontado
responsabilidades à Ucrânia nas
suas primeiras declarações
sobre o atentado — uma teoria
que parece, na opinião de
diversos analistas internacionais,
altamente improvável.
No vídeo de um minuto e
meio, que terá sido gravado por
um dos jihadistas já no Crocus
City Hall, é possível ver vários
homens armados com
metralhadoras e facas. Os seus
rostos aparecem desfocados e
as vozes estão distorcidas. Os
atacantes filmam-se a disparar
armas de fogo, há corpos no
chão e percebe-se que um
incêndio deflagrou no edifício,
encurralando quem estava na
sala de espectáculos.
A dada altura, um dos
jihadistas ordena: “Matem-nos,
sem misericórdia”, cita o
britânico The Guardian. Pouco
depois, o homem que segura a
câmara vira-a para o próprio
os recursos russos “têm estado foca-
dos noutras coisas”.
O New York Times aponta a ironia
de, horas antes do ataque, as autori-
dades terem juntado “o movimento
LGBT” à lista oÆcial de “terroristas e
extremistas”. “Num país em que as
forças especiais antiterrorismo per-
seguem comentadores online, os ter-
roristas vão sempre sentir-se livres”,
escreveu Ruslan Leviev, um analista
militar russo no exílio, citado pelo
diário norte-americano.
O analista Kamil Galeev escreveu,
na rede social X, que uma admissão
de terrorismo islâmico e a necessida-
de de levar a cabo uma grande opera-
ção antiterrorista seria dividir a aten-
ção numa altura de guerra. “O melhor
para Putin é acabar uma guerra antes
de começar outra, levar a cabo duas
é uma loucura — daí ser a Ucrânia” a
pista privilegiada.
Putin aludiu a ela quando falou
Ænalmente após o ataque (20 horas
depois) e aÆrmou que os quatro ata-
cantes planeariam fugir para a Ucrâ-
nia, onde teriam uma “janela” para
entrar, algo que é considerado muito
pouco provável dada a enorme vigi-
lância na fronteira.
Também há sinais de baterias apon-
rosto e diz: “Alá é grande, os
infiéis serão derrotados”,
segundo as legendas do vídeo.
“O ataque surge no contexto
da violenta guerra entre o Daesh
e os países que lutam contra o
Islão”, justificou, numa
publicação anterior, a Amaq,
agência de notícias do
autoproclamado Estado
Islâmico.
A Rússia cumpriu ontem um
dia de luto nacional, em
homenagem às centenas de
vítimas do ataque. Vladimir Putin
afirma que foram detidas 11
pessoas, incluindo os quatro
atiradores, já no Sul da região
russa de Bryansk.
O Kremlin, por sua vez,
também partilhou vídeos que
mostram militares a levar os
alegados responsáveis pelo
massacre, algemados e
vendados, para a sede do
Comité de Investigação da
Rússia, em Moscovo. Mais tarde,
foram divulgadas imagens dos
interrogatórios aos principais
suspeitos. Um desses vídeos,
que circulam entre bloggers
russos, mostra aparentes sinais
de tortura.
Até agora, as autoridades
russas ignoraram, pelo menos
publicamente, a reivindicação
do ataque pelo Daesh,
preferindo falar das supostas
ligações dos terroristas a Kiev.
Carolina Amado
tadas “ao Ocidente”. Margarita
Simonyan, responsável do canal de
propaganda RT, declarou logo no
sábado que o aviso dos EUA indicava
a sua participação na preparação do
ataque. Ian Bremmer, presidente do
grupo Eurasia, enumerou na rede
social X os vários falhanços recentes
de Putin em questões de segurança
nacional. “Em apenas dois anos, exa-
gerou enormemente a capacidade de
as suas forças invadirem a Ucrânia e
tomarem Kiev, permitiu ao antigo
chefe do grupo Wagner Prigozhin
liderar uma revolta até Moscovo, e
ignorou informação dada pelos Esta-
dos Unidos de um ataque iminente
do Daesh.”
Dado o controlo dos media pelo
Kremlin e a sua eÆcácia em silenciar
críticas, não é esperado que Putin
seja questionado sobre não ter leva-
do a sério o aviso feito pelos Estados
Unidos.
O analista político Aleksandr Kynev
disse ao New York Times que — desde
que não haja outro ataque — as con-
sequências políticas do atentado
serão limitadas. “Para ser sincero, a
nossa sociedade tem-se habituado a
manter o silêncio sobre tópicos incon-
venientes.”
Israel cerca
mais dois hospitais
na Faixa de Gaza
Maria João Guimarães
Vice-presidente dos EUA,
Kamala Harris, diz que não
exclui “consequências”
para Israel em caso de
operação militar em Rafah
As forças israelitas cercaram ontem
mais dois hospitais na Faixa de Gaza,
desta vez no Sul, enquanto o Exército
fala em ataques a infra-estruturas ter-
roristas e diz que, na Cidade de Gaza,
480 dos detidos no Hospital Al-Shifa
(entre cerca de 800, segundo a Al-Ja-
zeera) eram membros do Hamas ou
da Jihad Islâmica.
O Crescente Vermelho Palestiniano
diz que no Hospital Al-Amal, em Khan
Younis, havia equipas médicas para-
lisadas e exigências das forças israeli-
tas para que quem estava dentro das
unidades de saúde saísse, sem roupa,
do local.
O hospital estava cercado por for-
ças israelitas, disse o Crescente Ver-
melho, descrevendo ainda o trabalho
de bulldozers militares em seu redor.
“Todas as nossas equipas estão em
perigo extremo e totalmente imobili-
zadas”, dizia organização em comu-
nicado, citado pela agência Reuters.
Foram disparadas bombas de fumo
para que todas as pessoas se retiras-
sem do local, disse ainda a organiza-
ção, acrescentando que, ao Æm do
dia, todas as pessoas capazes de se
movimentar tinham saído, manten-
do-se no hospital pessoal médico e de
enfermagem, nove doentes e dez
familiares, assim como uma família
com crianças que têm deÆciências.
“Todas estas pessoas têm de ser reti-
radas com segurança”, disse a orga-
nização, citada pela Al-Jazeera.
Perto de outra unidade de saúde
também em Khan Younis, o hospital
Nasser — onde já não havia doentes,
mas onde centenas de palestinianos
deslocados procuraram refúgio —
havia relatos de disparos e explosões,
segundo a Al-Jazeera.
O Exército israelita conÆrmou que
estava a levar a cabo uma nova ope-
ração em Khan Younis, atingindo
alvos com bombardeamentos aéreos
e combates no terreno. As Forças
Armadas disseram ter “informações
precisas” sobre a utilização de infra-
estrutura civil pelo Hamas na zona de
Al-Amal, cita o Times of Israel.
E em relação ao Norte, o chefe da
UNRWA (a agência da ONU que apoia
refugiados palestinianos), Philippe
Lazzarini, disse ter recebido indica-
ções de Israel de que não permitiria
mais passagem de ajuda para o Norte
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 21
de Gaza, onde os níveis de fome são
já críticos.
“Isto é um escândalo e torna inten-
cional a obstrução de ajuda que salva
vidas durante uma fome provocada
por acção humana”, escreveu na rede
social X. “É preciso que estas restri-
ções sejam levantadas.”
Na véspera, o secretário-geral da
ONU, António Guterres, esteve do
lado egípcio de Rafah, mostrando a
Æla de camiões que não passam a
fronteira para a Faixa de Gaza e fazen-
do declarações duras para com o
Governo de Israel. Este respondeu
acusando-o de “anti-semitismo” e de
“encorajar” o terrorismo.
Entretanto, Israel continua a man-
ter que irá levar a cabo uma operação
em Rafah, na fronteira com o Egipto,
e os Estados Unidos continuam a avi-
sar para consequências, desta vez
pela voz da vice-presidente Kamala
Harris numa entrevista com a estação
de televisão ABC.
“Temos sido muito claros, em várias
conversas e de todos os modos possí-
veis que qualquer grande operação
militar em Rafah seria um grande
erro”, disse Harris. “Deixem-me dizer
uma coisa: eu estudei os mapas. Não
há sítio para estas pessoas irem”, disse
a vice-presidente, referindo-se à popu-
lação deslocada que está em Rafah.
“Vamos ver uma coisa de cada vez,
mas temos sido muito claros em ter-
mos do que, na nossa perspectiva,
devia ou não acontecer”, disse Harris.
Questionada sobre se excluiria con-
sequências caso Israel avançasse,
Harris respondeu: “Não excluo
nada.”
Netanyahu tem defendido uma
operação em Rafah dizendo que sem
esta não há hipótese de cumprir o
objectivo de derrotar o Hamas.
Palestinianos saíram de Khan
Younis em direcção a Rafah
Mundo
Míssil russo
viola espaço
aéreo da
Polónia
Rússia lançou ontem um
ataque contra
infra-estruturas de energia
na região de Lviv e
bombardeou Kiev
A Rússia lançou ontem um ataque
aéreo de grande envergadura contra
infra-estruturas energéticas na região
de Lviv, no Oeste da Ucrânia, que
levou um míssil de cruzeiro russo a
sobrevoar brevemente o espaço aéreo
da Polónia.
Moscovo utilizou 57 mísseis e dro-
nes numa série de ataques que tam-
bém tiveram como alvo a capital Kiev,
dois dias depois do maior bombar-
deamento aéreo ao sistema energéti-
co ucraniano em mais de dois anos
de guerra.
“Há explosões na capital, a defesa
antiaérea funciona. Não abandonem
os refúgios”, escreveu o autarca de
Kiev, Vitali Klichko, no Telegram.
Segundo a administração militar, os
sistemas de defesa antiaérea conse-
guiram repelir os ataques.
No ataque à região de Lviv, a Rússia
terá utilizado mísseis hipersónicos
Kinzhal, que são mais difíceis de aba-
ter, aÆrmou o governador regional,
Maksym Kozytskyi, que não identiÆ#
cou as instalações que foram atingi-
das. O Ministério da Energia reportou
um incêndio numa central eléctrica
que causou um corte de energia.
Em Kiev, foram ouvidas várias
explosões durante a madrugada. O
chefe da administração militar da
capital ucraniana, Serhiy Popko, aÆr-
mou que as defesas antiaéreas des-
truíram cerca de uma dúzia de mís-
seis, num ataque que causou apenas
danos menores. Os destroços de um
míssil de cruzeiro Kh-55 abatido
foram encontrados num parque de
Kiev, segundo as autoridades.
Durante o ataque na região de Lviv,
um míssil de cruzeiro violou breve-
mente o espaço aéreo da Polónia,
segundo as forças armadas polacas.
“O objecto entrou no espaço aéreo
polaco perto da cidade de Oserdow e
aí permaneceu durante 39 segun-
dos”, informou o comando operacio-
nal das forças armadas polacas atra-
vés da rede social X. “Durante todo o
voo, foi observado por sistemas de
radar militares”, acrescentou.
O porta-voz do Exército polaco,
Jacek Goryszewski, disse aos jornalis-
tas que o míssil percorreu cerca de
2km no espaço aéreo polaco antes de
voltar a entrar na Ucrânia. Varsóvia já
fez saber que iria exigir explicações a
Moscovo.
22 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Mundo
Sombra das comparações com Hitler
persegue Trump há mais de 30 anos
Alexandre Martins
Ex-Presidente chamou
“vermes” a opositores e
disse que os imigrantes
ilegais “envenenam o
sangue” do país
“Donald Trump parece levar muito a
sério alguns aspectos das suas origens
alemãs”, disse a jornalista norte-ame-
ricana Marie Brenner, em 1990, num
longo artigo sobre Trump publicado
na Vanity Fair. “John Walter, que tra-
balha na Trump Organization, bate
os calcanhares e diz ‘Heil Hitler’ antes
de entrar no gabinete do Donald.”
Esta interacção entre Trump e o
seu primo direito John Walter — “pos-
sivelmente uma piada de família”,
sublinhou a autora — tinha sido reve-
lada pela primeira mulher do ex-Pre-
sidente dos Estados Unidos, Ivana
Trump, numa altura em que o casal
estava em processo de divórcio.
Não é, no entanto, a única referên-
cia, no mesmo artigo, a um suposto
interesse de Trump pela Ægura do
ditador nazi, um tema que já lhe
pesava na bagagem há 34 anos e que
regressou em força na campanha
deste ano para a eleição presiden-
cial, em Novembro. Numa série de
comícios pontuados com linguagem
cada vez mais agressiva, o ex-presi-
dente dos EUA chamou “vermes” a
opositores políticos e disse que os
imigrantes em situação ilegal estão
“a envenenar o sangue da nação” —
termos e expressões usados por
Hitler no seu manifesto, A Minha
Luta.
Marie Brenner, uma conceituada
jornalista de investigação e professo-
ra de Jornalismo na Universidade de
Columbia, deu algum destaque ao
assunto no artigo que escreveu sobre
Trump em 1990. Numa outra passa-
gem do texto, Brenner questiona-se
se Ivana estaria a tentar convencer os
amigos de que Trump é um “cripto-
nazi” — alguém que esconde em
público as suas verdadeiras convic-
ções políticas e ideológicas.
Segundo Ivana, um dos livros de
cabeceira de Trump, naquela época,
era uma colectânea de discursos de
Hitler publicada em 1941 pelo jorna-
lista francês Raoul de Roussy de Sales
— o que poderia indicar, segundo
Brenner, “um mero interesse [de
Trump] no génio de Hitler para a
propaganda”. Confrontado com essa
informação numa outra entrevista,
conduzida na mesma altura pela jor-
nalista Barbara Walters, Trump disse
que o livro em causa tinha sido ofe-
recido por um amigo e negou que
alguma vez o tivesse lido: “É a coisa tivo de unir os alemães ‘étnicos’ con- meses da próxima eleição — e num
mais ridícula que já ouvi, e provavel- tra os judeus, os estrangeiros, os contexto diferente, em que o eleito-
mente vou levar a Vanity Fair a tribu- homossexuais, os opositores políticos rado republicano não só não abando-
nal por causa disso.” e outros grupos minoritários. Em ter- nou Trump, como voltou a nomeá-lo
Em Dezembro, 34 anos depois da mos contemporâneos, o equivalente candidato à Casa Branca —, Schutte
publicação do artigo da Vanity Fair, seria Trump lançar a América Cristã revelou inquietação.
Trump voltou a sentir a necessidade branca contra as minorias.” “A democracia americana travou
de afastar de si a sombra das compa- Em seguida, o investigador enume- Trump no passado, por exemplo
rações com Hitler, desta vez após rou quatro elementos deÆnido- quando o Supremo Tribunal, domi-
uma série de discursos de res da ascensão dos nazis nado por juízes republicanos, descar-
campanha em que usou ao poder que teriam de tou as queixas dele contra a eleição
uma linguagem desu- se manifestar durante de 2020”, disse o investigador. “No
manizante para se a Ad m i n i s t r a ç ã o entanto, há uma preocupação credí-
referir a militantes Trump para que a vel de que Trump possa tentar decre-
da esquerda políti- comparação pudesse tar leis de emergência no primeiro dia
ca radical e a imi- ter alguma validade: de uma possível nova presidência. Se
grantes em situa- a criação de bodes isso acontecer, os freios e contrapesos
ção ilegal nos EUA. expiatórios, “através que existem actualmente podem vir
Aos primeiros, cha- de uma conspiração a ser contornados, o que irá ser con-
mou-lhes “vermes”; dos segundos, i nve n t ad a qu e testado pela oposição nos tribunais,
disse que estão “a envenenar o san- envolva os críticos mas com resultados incertos.”
gue da nação” americana. de Trump, as “Em resumo”, disse Schutte ao
“Eu nunca li A Minha Luta”, disse minorias e os seus PÚBLICO, “a democracia americana
Trump, num comício no estado do adversários inter- resistiu a Trump no passado, mas será
Iowa, a 20 de Dezembro de 2023, nacionais”; a submetida a um novo teste de pressão
numa resposta a acusações de que cooptação dos se ele for reeleito, o que fará aumen-
as suas declarações estavam cada media, “um tipo tar os riscos para a democracia”.
vez mais a aproximar-se dos dis- de controlo vir- Para Mike Godwin, o advogado e
cursos de Hitler. tualmente impos- escritor que deu ao mundo a célebre
Se Trump leu os discursos de sível hoje em dia “lei de Godwin” — quanto mais se
Hitler que lhe foram oferecidos nos EUA”, segun- prolonga um debate, mais provável é
por um amigo há três décadas do Schutte, mas que alguém use Hitler ou os nazis
ou se conhece em pormenor o que poderia mani- como termo de comparação —,
manifesto do ditador nazi, é festar-se através Trump “sabe muito bem o que está a
algo que provavelmente nun- de ameaças de fazer”. “De forma isolada, referências
ca se saberá. Certo é que o processos judi- a ‘vermes’ e a ‘sangue envenenado’
ex-presidente dos EUA nunca ciais contra jorna- podiam ser apenas coincidência; em
se livrou de ser um alvo de compa- listas e da distribui- conjunto, torna-se óbvio que há aqui
rações com a Ægura mais unanime- ção de propaganda mais qualquer coisa, e eu não acredi-
mente detestada da história moder- nas redes sociais; a to que seja acidental”, disse Godwin
na — nem como empresário, devido constituição de ao site Politico, em Dezembro.
ao seu autodeclarado estatuto de milícias armadas; No fundo, “Trump põe-se a jeito
mestre da manipulação no selvático e a aprovação de para ser comparado a Hitler”, aÆr-
ramo imobiliário de Nova Iorque; leis de emergên- mou o criador da “lei de Godwin” —
nem como político, ainda antes de cia para justiÆ# cuja formulação teve como objectivo
ter sido empossado como Presiden- c ar polític as criticar a facilidade com que o ditador
te. autocráticas. nazi é usado como termo de compa-
Em Novembro de 2016, um inves- ração.
tigador do Instituto de Oslo de Inves- Riscos para a democracia As comparações entre Trump e
tigação para a Paz, o alemão Sebastian Quatro anos depois, em 2021, o inves- Hitler ressurgiram mais uma vez na
Schutte, defendeu, num artigo no tigador voltou ao tema no blogue do última semana, depois de o ex-presi-
Washington Post, que era cedo para seu instituto, para dizer se Trump dente dos EUA ter voltado a referir-se
se fazer comparações entre Trump e tinha posto em prática, durante o seu a imigrantes em situação ilegal de for-
Hitler — mais precisamente, entre o mandato, “acções semelhantes às que ma desumanizante, chamando-lhes
então Presidente eleito dos EUA e o os nazis usaram para consolidar o “animais”. “Não sei se podemos cha-
líder do Partido Nazi na década ante- poder”. mar-lhes ‘pessoas’”, disse Trump num
rior à Segunda Guerra Mundial e aos “Algumas previsões tornaram-se comício no Ohio. Poucos dias antes,
campos de extermínio de judeus, realidade”, disse Schutte. “As tensões numa entrevista à CNN, o general John
numa altura em que o seu principal raciais e alguns desenvolvimentos Kelly — o seu primeiro chefe de gabi-
objectivo era eliminar a oposição polí- análogos nas quatro áreas em causa nete — recordou um episódio em que
tica e consolidar o poder. dão peso à comparação” entre Trump o ex-presidente dos EUA terá dito que
“Para que a comparação faça sen- e Hitler, aÆrmou o investigador. No Hitler “fez coisas positivas”.
tido, a Administração Trump terá de entanto, a velha democracia ameri- “Eu perguntei-lhe o quê, e ele disse
JUSTIN SULLIVAN/GETTY IMAGES
consolidar o seu poder tal como os cana resistiu à ameaça de uma auto- que Hitler reconstruiu a economia”,
nazis o Æzeram em 1933”, disse Schut- cracia, ao contrário do que aconteceu disse Kelly. “Eu respondi-lhe: senhor
te, dois meses antes da tomada de durante a breve experiência demo- Presidente, o senhor não pode dizer
posse de Trump. “As políticas nazis crática da República de Weimar. nada de bom sobre esse tipo, nada.
centraram-se na construção de uma Questionado pelo PÚBLICO sobre Em comparação com Hitler, até Mus-
maioria nacional coesa, com o objec- se mantém a sua avaliação a poucos solini era uma boa pessoa.

Tiago
iago Ramalho
Oss contratos a prazo, o aumento da
carga
arga de trabalho e a obrigação
dee publicar mais artigos cientí-
Æcos
cos todos os anos são marcas
doo discurso sobre a precarie-
dade
ade e a ciência em Portu-
al há décadas. No entan-
gal
o, a precariedade tor-
to,
ou-se a norma para os
nou-se
académicos
cadémicos e esse não é
umm problema exclusi-
amente português,
vamente
efende um trabalho
defende
ortuguês sobre o
português
esenvolvimento das
desenvolvimento
carreiras
arreiras académicas.
A tendência das últi-
mas décadas tornou o
ercurso de professo-
percurso
es e cientistas mais
res
ulnerável, imprevisí-
vulnerável,
el e também mais indi-
vel
vidualizado
idualizado — e estes são
aspectos
spectos transversais a
duas
uas dezenas de países.
“Só sobrevivo na carreira
académica
cadémica se atrair recur-
os, conseguir Ænanciamento
sos,
e publicar em determinadas
revistas”,
evistas”, exempliÆca Taísa Oli-
eira, aluna de doutoramento na
veira,
Faculdade
aculdade de Psicologia e de Ciências
daa Educação da Universidade do Por-
to
o que liderou um trabalho de análise
dee 54 artigos publicados sobre este
ema e referentes a 21 países. “Esta
tema
mercantilização e precariedade
reÇectem-se
eÇectem-se demasiado na investiga-
ção
ão em detrimento de outros facto-
es, como a docência”, acrescenta,
res,
eferindo-se à predominância das
referindo-se
métricas de publicação cientíÆ í ca na
cientíÆca
valiação ou nos concursos para as
avaliação
arreiras docentes.
carreiras docentes
A investigação agora publicada na
revista Review of Educational Research
centra-se sobretudo em países euro-
peus ou anglo-saxónicos, onde foram
encontrados mais artigos sobre as
carreiras académicas. No entanto,
permitiu fazer um mapeamento do
que signiÆca actualmente este per-
curso em todos os continentes —
inclui também Austrália e Nova Zelân-
dia (Oceânia), África do Sul (África)
ou Índia (Ásia).
“A mercantilização das carreiras
académicas traduz-se em maior ins-
tabilidade, com mais contratos a part-
time, precários e sem possibilidade
de prever o futuro”, conclui Taísa
Oliveira, cujo trabalho é orientado
por António Magalhães e Cosmin
Nada, investigadores e docentes na
faculdade portuense. “Além disso, há
uma modiÆcação mais alargada das
condições de trabalho, muitas vezes
discutida como a ‘uberização’ do tra-
balho. Ou seja, esta ideia de que a
Çexibilidade, de não ter vínculo a um
emprego, garante possibilidades de
diversiÆcar o Ænanciamento.”
Um dos motivos identiÆcados por
Taísa Oliveira é a incorporação do
neoliberalismo nas políticas públicas,
alterando o papel do Estado nas pró-
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 23
Problema é transversal a vários países Ciência e Ambiente
GL
O
BA
LP
/IS
A investigadora Taísa
TO
CK
Oliveira refere que os
académicos
são actualmente como
“ratos na roda da
precariedade”
Carreira prias instituições. “Nas universidades,
se o Estado não é a principal garantia
de Ænanciamento, essas instituições
académica
vão começar a ter outras formas de
Ænanciamento, que vai ser diversiÆ#
cado através de agências, de uma
aproximação à indústria e de uma
tornou-se um
lógica de mercado privado que não
era tão comum”, sublinha.
Impacto “neoliberal” e RJIES
“jogo” de
O exemplo mais concreto em Portu-
gal é o Regime Jurídico das Institui-
ções do Ensino Superior (RJIES), cuja
revisão estava em curso antes da
precariedade
demissão do Governo de António
Costa, em Novembro do ano passado.
O RJIES entrou em vigor há quase
duas décadas e permitiu, por exem-
plo, a criação do modelo de universi-
dades-fundação, que dá maior res-
ponsabilidade às instituições para
garantir receitas, oferecendo também
maior Çexibilidade na gestão de patri-
mónio (podem comprar ou alienar
Investigação portuguesa identiÄca que sem autorização do Governo) e na
a insegurança laboral e a “cultura de contratação de pessoal.
Em Portugal, este modelo chegou
performance” se tornaram a regra para já neste século, bem depois da sua
integração nos países anglo-saxóni-
professores e cientistas em vários países cos, como o Reino Unido ou os Esta-
dos Unidos — com Margaret Tha-
tcher e Ronald Reagan, respec-
tivamente. Esta experiência
mais prolongada também
dita, em certa medida, a
maior presença de traba-
lhos destes países.
Esta “viragem políti-
ca” alterou também os
próprios mecanismos
de avaliação, criando
o tal “jogo”, como é
referido pelos cien-
tistas em vários dos
artigos analisados
pela investigadora
brasileira. A carreira
académica é um
jogo com regras
muito especíÆcas,
no qual quanto mais
cedo se conhecer as
regras, melhores serão
as probabilidades de
avançar no jogo — e
subir na carreira. “O que
se aprende, desde o dou-
toramento ou mesmo da
licenciatura, é que garantir
uma vaga na academia depen-
derá da publicação em revistas
A, B e C”, diz Taísa Oliveira.
Os argumentos da investigadora
são fundamentados nas conclusões
de outros 54 trabalhos publicados
sobre este tema e nos quais as revistas
com elevado factor de impacto — ou
seja, que têm muitas citações em
média — são frequentemente mencio-
nadas. A este ponto, Taísa Oliveira
acrescenta as novas formas de avalia-
ção dos trabalhadores, como os
“Ænanciamentos que conseguem
obter” ou “o número de artigos publi-
cados”, numa valorização das métri-
cas quantitativas.
“O que é que se valoriza nos con-
cursos para docentes? São exacta-
mente estas métricas de Ænanciamen-
to atribuído ao longo da carreira, e
principalmente nos últimos cinco
anos, ou de publicações com elevado
impacto. Sobre a docência, por vezes,
nem uma palavra”, nota Cosmin
Nada. A sobrecarga lectiva torna este
“jogo com regras especíÆcas” muito
delicado, diz, “sob pena de não con-
seguir dar continuidade à carreira”.
É, portanto, necessário manter os
níveis de publicação e a aquisição de
Ænanciamento para os projectos, sem
descurar todas as outras funções
enquanto cientistas ou professores.
Por exemplo, as publicações de livros
são consideradas “suicídio de carrei-
ra” porque é preferível publicar vários
artigos cientíÆcos separados, diz Cos-
min Nada. A única vantagem é dada
às grandes editoras cientíÆcas, como
a Springer ou a SAGE, cujas taxas de
publicação acabam por ditar lucros
de dezenas de milhões de euros.
“Se antes os académicos eram as
pessoas na torre de marÆm, hoje
vemo-los como ratos na roda da pre-
cariedade, presos neste jogo injusto
e com regras peculiares”, sentencia
Taísa Oliveira.
24 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Economia “O meu senhorio instalou câmaras por toda a casa”
Leis “sem aplicação
prática” falham em
proteger inquilinos
Com escassez de casas e sem Äscalização eÄcaz, práticas
abusivas pelos senhorios abundam. Não devolução de cauções
ou aumentos de renda contrários à lei são das mais comuns
Rafaela Burd Relvas
Quarto em moradia de 450 metros
quadrados do século XIX, acabada de
restaurar, no centro do Porto. Nove
quartos, cinco casas de banho, duas
cozinhas completas, sala de estar com
televisão, lavandaria, logradouro com
zona verde. Mobilada de novo. 480
euros por mês. Visite já!
O anúncio, publicado num dos
mais populares portais de pesquisa
de casas para comprar e arrendar,
está no ar há várias semanas e conti-
nua disponível. Faltam-lhe alguns
detalhes, que o anunciante deixou de
fora da descrição do quarto e da casa:
há um sistema de videovigilância ins-
talado pelas áreas comuns do imóvel,
incluindo em zonas como a cozinha
e a sala de estar; as cauções exigidas
para arrendamento dos quartos são
entregues em dinheiro vivo e, muitas
vezes, não são devolvidas aos inquili-
nos no Æm dos contratos, sem justiÆ#
cação válida para tal; a casa é tranca-
da através de um sistema de fechadu-
ra electrónica cujo código pode ser
alterado pelos senhorios sem aviso
prévio aos inquilinos; e os contratos
contêm cláusulas que contrariam as
leis em vigor.
A lista de práticas abusivas (e algu-
mas ilegais) por parte dos senhorios
desta casa é vasta e foi relatada ao
PÚBLICO por dois dos inquilinos que
passaram pelo prédio de quatro anda-
res, um edifício que é arrendado ao
quarto. Mário Rodrigues, 32 anos e
engenheiro de software, foi um deles.
Em Dezembro passado, reservou um
dos quartos, privado, que tinha uma
renda anunciada de 500 euros. Como
estava fora do país, pediu a um amigo
que entregasse a caução aos senho-
rios, que a exigiam em dinheiro vivo.
Foi o primeiro alerta.
“Entrei em Janeiro. Quando che-
guei, percebi que o senhorio tinha
instalado câmaras de videovigilância
por toda a casa, nas áreas comuns.
Havia um mínimo de 12 câmaras, em
zonas como a cozinha, corredor, sala
de estar, quintal e no exterior”, relata.
No segundo dia daquela que acabou
por ser uma estadia curta, os senho-
rios exigiram-lhe mais 1000 euros a
título de caução (o equivalente a duas
rendas) e uma renda adiantada. Não
era isso que tinha Æcado acordado e,
por isso, Mário recusou-se a entregar
o dinheiro. “Ficou acordado que sai-
ria no Ænal de Janeiro, para ter tempo
para arranjar um quarto novo, mas
chamaram a polícia antes desse pra-
zo, para forçar a minha saída. No dia
seguinte, bloquearam a fechadura
com um código”, recorda sobre a
estadia na casa, que, conta, chegou a
ter “fezes de rato” na cozinha.
Como ele, outra inquilina desta
casa, que preferiu manter o anonima-
to, acabou por sair antes do prazo
acordado no contrato que havia cele-
brado. A experiência foi semelhante
à de Mário: “Logo que cheguei, o
senhorio pediu duas cauções em
dinheiro vivo. Entreguei e ele não me
deu qualquer comprovativo de que
tinha pago esse valor.” A isto, somou-
se outra prática que, à partida, estra-
nhou: o contrato que assinou estipu-
lava, numa das cláusulas, que “em
caso de não-cumprimento do tempo
total de duração acordado, a título de
indemnização, será retida a caução,
não havendo lugar a restituição”.
Também esta inquilina não demo-
rou a sair antes do previsto. “Queria
sair porque sentia a minha privacida-
de violada com as câmaras de vigilân-
cia. E os senhorios levavam pessoas
lá para casa, para ir jogar bilhar no
rés-do-chão, e subiam para a cozinha
para guardar cerveja no frigoríÆco. O
senhorio estava sempre na casa, dia
e noite no sofá”, detalha esta inquili-
na, que chegou a ser ameaçada por
ser imigrante. “Eu estou legal no país,
mas tentaram intimidar-me.”
Acabou por desistir de recuperar a
caução, bem como os valores de des-
pesas que eram cobrados sem apre-
sentação de recibos (45 euros para
toda a gente, independentemente do
número de pessoas a viver na casa e
sem se detalhar os consumos feitos a
cada mês). Acaba por ser essa, aliás,
a decisão de muitos dos inquilinos
que passam por estes episódios, por
sentirem que não têm poder para
enfrentar os proprietários.
Polícia não podia fazer nada
O mesmo aconteceu com uma outra
inquilina, esta a viver em Lisboa e na
altura estudante de mestrado, que
arrendou um quarto através da
empresa Quarto e Quartos e que tam-
bém quis manter-se anónima. “Era
um apartamento com sete quartos,
todos ocupados. O proprietário tem
vários apartamentos, todos com cin-
co a sete quartos, sempre remodela-
dos e com bom aspecto”, explica,
hoje com 24 anos.
Assinou um contrato “com algu-
mas cláusulas que percebia que eram
prejudiciais”, mas que aceitou por
não ter alternativas. Pouco depois, a
casa era assaltada e não havia sinais
de arrombamento. “Alguém entrou
naquele apartamento com uma cha-
ve da casa. Começámos a receber
emails do senhorio a dizer que tínha-
mos de pagar 400 euros de compen-
sação, sem qualquer outra explica-
ção e com ameaças de que nos tirava
de casa”, lembra. Pouco depois, o
senhorio muda a fechadura sem avi-
so e sem entregar nova chave aos
inquilinos. Depois, corta a água e a
electricidade.
“Fiz queixa à polícia, que disse que
não podia fazer nada. Dissemos ao
senhorio que iríamos fazer queixa à
polícia, ele riu-se na nossa cara. Deci-
di sair da casa e escrevi uma carta a
exigir o dinheiro. A empresa é fantas-
ma, ninguém está, sequer, a receber
os contactos. Nunca recebi a caução”,
diz sobre a Quarto e Quartos, uma
empresa que, de resto, é alvo de deze-
nas de reclamações publicadas no
Portal da Queixa e noutros portais.
Os três inquilinos que partilharam
o seu testemunho são parte de um
fenómeno que se estima afectar cada
vez mais pessoas — diagnóstico feito
apenas com base na actuação das
associações que estão no terreno, já
que os dados oÆciais que permitiriam
fazer esse retrato são escassos ou, na
maioria dos casos, inexistentes.
Mas a percepção de quem actua na
área do direito à habitação ou da pro-
tecção dos direitos dos consumidores
aponta para isso mesmo. “Temos
recebido bastantes [queixas de inqui-
linos], sendo que houve um aumento
deste tipo de práticas nos últimos
anos. Os esquemas de abuso que nos
são transmitidos pelos arrendatários
vêm por parte de senhorios que

JOSE FERNANDES
actuam a título particular, mas, tam-
bém, enquanto empresas ou fundos
imobiliários”, diz Mariana Almeida,
jurista da Associação Portuguesa para
a Defesa do Consumidor (Deco).
Entre os temas mais vezes referidos
pelos inquilinos que apresentam estas
queixas, detalha, estão alguns dos
que foram relatados pelos inquilinos
que falaram com o PÚBLICO: inter-
rupção de serviços essenciais como
água e luz “para incentivar o inquilino
a sair, quando estes contratos de abas-
tecimento de água e de energia se
mantêm em nome do senhorio”; diÆ#
culdades na devolução de cauções
aquando da cessação do contrato de
arrendamento, quando o arrendatá-
rio demonstra que não há motivo
para o senhorio reter o valor das cau-
ções; falta de actuação dos senhorios
quando há necessidades urgentes de
obras nas casas; e pressão para a cele-
bração de novos contratos com o
objectivo de aumentar a renda acima
daquilo que é permitido por lei, uma
“situação particularmente grave
quando os arrendatários eram bene-
Æciários do apoio extraordinário à
renda e, em face da celebração de um
novo contrato, deixam de o ser” (uma
vez que este apoio só é concedido a
quem tenha contratos celebrados até
15 de Março de 2023).
Leis existem...
E não é por falta de legislação que
estas práticas têm aumentado. Os
exemplos de leis criadas nos últimos
anos para dar maior protecção aos
inquilinos são vários. Só a título de
exemplo, em 2019, no âmbito de um
pacote de alterações ao Novo Regime
do Arrendamento Urbano (NRAU), foi
aprovada uma lei que veio proibir e
punir o assédio no arrendamento,
aqui deÆnido como “qualquer com-
portamento ilegítimo do senhorio
(...), que, com o objectivo de provocar
a desocupação [da casa], perturbe,
constranja ou afecte a dignidade do
arrendatário (...) o sujeite a um
ambiente intimidativo, hostil, degra-
dante, perigoso, humilhante, deses-
tabilizador ou ofensivo, ou impeça ou
prejudique gravemente o acesso e a
fruição [da casa]”.
Só dois anos depois da entrada em
vigor desta lei, contudo, é que a mes-
ma foi operacionalizada. Em causa, o
facto de esta lei prever a criação do
chamado Serviço de Injunção em
Matéria de Arrendamento (SIMA),
uma ferramenta que visava funcionar
como um balcão ao qual os inquilinos
poderiam dirigir-se para resolver as
situações de assédio ou outras previs-
tas na lei, mas que só foi regulamen-
tada, através de portaria, já em
2021.
Também em 2019, o mesmo paco-
te legislativo veio introduzir uma
novidade ao NRAU, que determinou
que, nos casos de arrendamento sem
a celebração de um contrato por
escrito, os inquilinos podem, após
seis meses nessa situação, comprovar
a existência de um contrato através
de “qualquer forma admitida em
direito, demonstrando a utilização
[da casa]”, e sem a possibilidade de o
senhorio se opor.
Noutros exemplos de leis criadas
para proteger os inquilinos, mais
recentes, desde o ano passado que os
senhorios só podem exigir até dois
meses de rendas adiantadas, assim
como uma caução equivalente a duas
rendas. Já o Mais Habitação, pacote
legislativo lançado pelo terceiro
Governo de António Costa para dar
resposta à crise habitacional, veio
criar limites aos aumentos de rendas,
estabelecendo que as rendas deÆni-
das em novos contratos de arrenda-
mento poderão ser, no máximo, 2%
superiores às que estivessem estabe-
lecidas em contratos anteriores rela-
tivos às mesmas casas.
... mas falham em proteger
Contudo, muitas destas leis acabam
por não ter aplicação prática. O
PÚBLICO questionou os ministérios
da Justiça e da Habitação sobre quan-
tos processos deram entrada no ser-
viço de injunção em matéria de arren-
damento desde que o mesmo come-
çou a funcionar, mas não obteve
qualquer resposta.
No ano passado, porém, a ainda
ministra da Habitação, Marina Gon-
çalves, adiantou, em reunião com a
Chão das Lutas, que, até Fevereiro
de 2023 (ou seja, quase dois anos
depois de esta ferramenta ter entra-
do em vigor), tinham dado entrada
no SIMA menos de duas dezenas de
processos, segundo relata Vasco
Barata, membro desta associação
pelo direito à habitação.
Noutros casos, as leis são violadas,
num cenário em que a escassez de
casas para arrendar a preços compa-
tíveis com os salários portugueses e
em que a falta de uma entidade admi-
nistrativa que Æscalize o mercado de
arrendamento fazem com que muitos
inquilinos aceitem as condições
impostas pelos senhorios.
Isso mesmo é explicado pelas orga-
nizações que lutam pelo direito à
habitação, a quem chegam vários
relatos de quem passa por situações
desta natureza. “Com as novas leis,
não se nota qualquer protecção adi-
cional aos inquilinos. São leis tímidas
que foram sendo aprovadas, mas que
não têm qualquer aplicação prática.
Por exemplo, é muito raro vermos
pedidos ilegais nos anúncios de casas
para arrendar, mas sabemos que a
exigência de mais cauções ou rendas
adiantadas do que aquelas que são
permitidas por lei é uma prática
comum. Seria muito importante ter
uma ASAE do arrendamento”, resu-
me Vasco Barata.
“O assédio no arrendamento é mui-
to difícil de provar. E, por isso, é mui-
to difícil que algumas pessoas apre-
sentem queixa, porque é sempre
preciso ter provas. Há sempre esse
obstáculo”, aponta, por sua vez, Maria
João Costa, da associação Habita!.
Noutros exemplos, são os próprios
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 25
senhorios a demonstrar desconheci-
mento da lei. O PÚBLICO contactou
um dos senhorios da casa no centro
do Porto onde está montado um sis-
tema de videovigilância, que se apre-
senta como Antas Barros. Confronta-
do com a instalação de câmaras em
espaços comuns de um local arren-
dado para Æns habitacionais, este
senhorio aÆrma que “as câmaras têm
de lá estar para as pessoas não se
meterem umas com as outras” e
garante que “está tudo legal” e que
tem as licenças necessárias para a
instalação da videovigilância. Explica,
ainda, que a instalação das câmaras
não está descrita no anúncio publica-
do online porque “o sistema do Idea-
lista não deixa indicar isso”.
A instalação de sistemas de video-
vigilância está prevista na lei, mas a
sua utilização em espaços habitacio-
nais deixa dúvidas. “A videovigilância
é permitida para protecção de pes-
soas e bens, sendo simpliÆcada a sua
instalação em espaços para Æns habi-
tacionais. Porém, quando nesses
espaços são arrendados quartos a
terceiros, o recurso à videovigilância
é discutível, sobretudo porque os
inquilinos utilizam as áreas comuns
da casa como parte do seu domicílio.
A utilização de sistemas de videovigi-
lância em zonas comuns do locado
pode ser considerada excessiva e con-
trária ao direito à reserva quanto à
intimidade da vida privada e à protec-
ção dos dados pessoais, por restringir,
Sabemos que a
exigência de mais
cauções ou rendas
adiantadas do que
aquelas que são
permitidas por lei
é uma prática
comum. Seria
muito importante
ter uma ASAE do
arrendamento
Vasco Barata
Membro da associação
Chão das Lutas
de modo não proporcional, a liberda-
de do inquilino de fruir espaços de
utilização comum”, explica Luís Neto
Galvão, sócio da SRS Legal.
Na prática, e de acordo com as con-
siderações da Comissão Nacional de
Protecção de Dados (CNPD), a insta-
lação destes sistemas em condomí-
nios carece de “consentimento
expresso de todos os moradores”.
Num caso de arrendamento de quar-
tos, seria possível uma solução idên-
tica. “Cada inquilino teria, assim, de
permitir a utilização do sistema. Em
tal hipótese, deverá haver cuidado na
colocação de câmaras, não incidindo
sobre acessos a instalações sanitárias,
zonas de espera, salas de refeições”,
acrescenta o advogado. No exemplo
aqui referido, não foi pedida aos
inquilinos a autorização para a insta-
lação de câmaras.
Sobre a retenção da caução no caso
de os inquilinos denunciarem os con-
tratos de arrendamento antes do pra-
zo acordado, Antas Barros defende
que precisa de receber “uma com-
pensação” se os prazos estabelecidos
no contrato não forem cumpridos até
ao Æm. “Estamos dentro da lei. É por
isso que temos um advogado a redigir
os contratos, não acha?”, questiona.
Exigências ilegais
Esta exigência viola a lei em vigor. O
NRAU determina que um arrendatá-
rio pode denunciar um contrato “a
todo o tempo”, decorrido um terço
do prazo de duração inicial do mes-
mo ou da sua renovação, desde que
comunique essa intenção ao senho-
rio com determinado prazo de ante-
cedência (60 dias antes do termo
pretendido do contrato, no caso de
contratos com prazos inferiores a
um ano).
Assim, quando um contrato (como
o que o PÚBLICO consultou) estipula
que o não-cumprimento da duração
total do prazo acordado leva a que a
caução seja retida e não restituída,
essa pode considerar-se uma cláusu-
la nula, diz Regina Santos Pereira,
sócia da SRS Legal e especialista em
questões de arrendamento: “A cláu-
sula sobre a qual a questão é colocada
pode ser considerada nula, tendo em
conta que a consequência que resulta
da mesma constitui uma limitação ao
direito que o inquilino tem de denun-
ciar o contrato a todo o tempo (livre-
mente) após o decurso de um terço
do prazo de duração inicial do con-
trato ou da sua renovação, mediante
a antecedência prevista na lei.”
“O direito de o inquilino denunciar
o contrato de arrendamento nos ter-
mos referidos encontra-se previsto na
lei de forma imperativa, isto é, senho-
rio e inquilino não podem acordar de
forma diversa”, acrescenta.
O PÚBLICO contactou, ainda, a
Quarto e Quartos, marca de gestão
imobiliária operada pela empresa
Modoramo, constituída em 2014 por
Paulo Castro da Fonseca. Não obte-
ve respostas até à publicação deste
artigo.
26 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Cultura Festival terminou esta madrugada
Ao terceiro
ano, e com
Björk entre
a multidão,
o Sónar Lisboa
cumpriu-se
Tecno e house voltaram a ser as línguas
francas de um festival ancorado no
público estrangeiro. Sevdaliza,
Oneohtrix Point Never e Tommy Cash
ajudaram a tornar esta edição especial
Reportagem
Luís Filipe Rodrigues Texto
Matilde Fieschi Fotografia
A música que se ouve pode ser
electrónica, porém o Sónar nunca
foi só mais um festival de música
electrónica. Quando a primeira
edição se realizou em Barcelona,
em 1994, apresentava-se como um
“festival de música avançada”.
Hoje, o seu lema e os pilares sobre
os quais se ergue são “música,
inovação e criatividade”. E na tarde
de sábado, no Pavilhão Carlos
Lopes do Parque Eduardo VII, em
Lisboa, tudo o que faz do Sónar
especial pôde ser testemunhado
nos concertos de dois homens:
Oneohtrix Point Never e Tommy
Cash. No arranque, na noite
anterior, a carta fora do baralho
fora sem dúvida Sevdaliza.
A actuação de Daniel Lopatin,
também conhecido por Oneohtrix
Point Never, era uma das mais
aguardadas desta edição. E
ninguém se terá sentido
defraudado. Acompanhado pelo
artista visual Freeka Tet, que criou
e manipulou ao vivo as imagens
projectadas durante o espectáculo,
o compositor norte-americano
passou uma hora a juntar
diferentes pontos da sua
cartograÆa discográÆca numa
narrativa musical coesa e distópica.
Atravessada por uma sensação
de mal-estar e nostalgia — não pelo
passado, mas por um futuro que
nunca se materializou —, perante
esta música electrónica paralisante
e hipnótica, construída sobre
camadas de sintetizadores
planantes, não havia maneira nem
vontade de dançar. O ritmo,
quando surgia, era ameaçador,
nunca propulsor. O movimento
promovido era interior, mas não
externalizado. Quando o concerto
terminou, não restavam dúvidas:
pela primeira vez desde que se
instalou em Lisboa, em 2022,
tinha-se cumprido a promessa do
Sónar.
Da mesma maneira que a música
de Oneohtrix Point Never é a
tradução sónica do realismo
capitalista do século XXI, a do
rapper estónio Tommy Cash é uma
consequência inesperada da
terapia de choque aplicada aos
países do Leste europeu depois da
dissolução da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas; uma versão
distorcida e extremada do
materialismo promovido por tanto
hip-hop norte-americano. Tem
pontos de contacto com as
primeiras e demasiado online
canções de Yung Lean, apesar de o
corpo de trabalho de Cash ser mais
desavergonhado, agressivo e,
arriscamos, autoconsciente.
Durante uma hora, no Pavilhão
Carlos Lopes, o seu trap
aproximou-se frequentemente da
hyperpop — e até se ouviu a sua
versão de xXXi_wud_nvrstøp_ÜXXx,
dos 100 Gecs, uma das mais
populares bandas do género —,
mas também do tecno mais
hardcore. Pelo meio de canções e
obscenidades como Sdubid, Siri e
Pussy money weed, ainda houve
espaço para o DJ que o
acompanhou fazer uma remistura
frenética de Not gonna get us das
russas t.A.T.u., enquanto o público
colidia no mosh e dançava com
abandono.
Concertos como estes e outros
são o que distingue o Sónar de
Barcelona dos restantes festivais de
música electrónica e, em anos
anteriores, sentimos a sua falta na
capital portuguesa. Ao PÚBLICO,
Paulo Amaral, um dos
organizadores nacionais,
reconheceu que os programadores
Gustavo Pereira e Enric Palau
“tiveram em atenção a necessidade
de trazer artistas um pouco
diferentes” a Portugal. Sublinhou,
no entanto, que “esta não é uma
altura do ano fácil”, porque nem
todos os projectos estão na estrada.
“Há quem esteja a preparar
espectáculos e ainda não sabe o
que é que vai fazer. Às vezes,
estamos um pouco limitados.”
Apesar das limitações, esta
vontade de “dar um cunho algo
diferente” ao Sónar Lisboa parece
ter compensado. Os passes gerais
esgotaram alguns dias antes do
arranque desta terceira edição e,
de acordo com a organização, na
sexta-feira venderam-se 95% dos
bilhetes diários disponibilizados.
Os dados do segundo dia ainda
não tinham sido apurados quando
falámos, mas Paulo Amaral estava
conÆante de que o número de
pessoas ia aumentar. Nem que
fosse porque, na véspera, apenas
três quartos dos passes gerais
foram trocados por pulseiras. De
facto, anteontem o recinto parecia
muito mais composto,
maioritariamente por estrangeiros
— “mais de 70% do público”,
garantiram-nos.
Björk na festa de Sevdaliza
Se no sábado foram Oneohtrix
Point Never e Tommy Cash que se
destacaram, Sevdaliza foi a carta
fora do baralho na primeira noite
deste Sónar Lisboa 2024. Por ser a
única cantora do alinhamento e o
seu o único concerto da jornada,
mas também pelo tipo de música
que compõe. Numa noite de
triangulação entre o house, o tecno
e o electro, a sua pop futurista com
apontamentos de r&b e melancolia
trip-hop destoava do resto. O que
podia ser bom ou mau. Mas foi
óptimo — e acabou por não destoar
do espírito da noite, mesmo que as
linguagens musicais fossem outras.
Com Björk no Pavilhão Carlos
Lopes para a ver (também estava lá
de novo no dia seguinte para
Oneohtrix Point Never),
cirandando entre o bar e a zona
VIP, Sevdaliza começou por
replicar ao vivo a languidez
electropop dos dois álbuns
editados até ao momento, ISON
(2017) e Shabrang (2020), com
canções como Human e Oh my god
a mexerem com o público. Sem
surpresas, até que avisou que ia
cantar um tema novo, composto há
poucas semanas, ainda
incompleto. E a energia da sala
começou a mudar, o ar a aquecer.
A seguir, outra canção que ainda
não se encontra online, esta
cantada e composta com Pabllo
Vittar e um convite ao roço,
infectada pelo funk brasileiro, a
seduzir e a aproximar os corpos cá
em baixo, na plateia. Ouviam-se
palavras em português, a voz
samplada da brasileira. Os
batimentos cardíacos aceleraram.
Depois, uma remistura do single
Ride or die (2023), ainda mais
sexualmente carregada do que o
original com Villano Antillano,
reggaeton e dembow em diálogo
efusivo, com Tokischa a convidar
ao perreo. Aguenta coração.
Mais uma canção do ano
passado, Nothing lasts forever, com

Sevdaliza na primeira noite
do Sónar Lisboa: que
concerto, que festa!
Ao lado, o norte-americano
Oneohtrix Point Never e o
estónio Tommi Cash. Ambos
actuaram num Pavilhão
Carlos Lopes que esteve
composto
Sevdaliza era a
carta fora do
baralho, mas a sua
pop futurista não
só não destoou
como veio 100%
a calhar
Segundo dados da
organização, mais
de 70% do público
deste Sónar Lisboa
compôs-se
de estrangeiros
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 27
a voz de Grimes a sair das colunas e
o tapete instrumental a entrar por
terrenos hyperpop. E o desÆle de
novos temas lá seguiu, imparável,
cruzando continentes, um
pot-pourri de ritmos e idiomas —
inglês e persa, além do português e
do espanhol das músicas urbanas
da América Latina; a electropop e a
hyperpop a mostrarem-nos o
futuro, o eurodance e o pop-metal
europeu a puxarem-nos de volta
para os anos 90. Que concerto, que
festa.
Bem diferente do início da noite,
com a DJ portuguesa Chima Isaaro
a tocar para ninguém a dadas
alturas. Não por culpa dela — o seu
set de house e electrónica
carregada de groove merecia
corpos ondulantes, muitos —, mas
da hora. Mais sorte tiveram as DJ
Helena Hauè e Imogen, que
começaram e acabaram a sua
actuação back to back num
Pavilhão Carlos Lopes com 60 a
70% da lotação preenchida, muito
cheio nalguns pontos, ainda assim
com espaço para respirar e andar,
sem grandes Ælas nos bares.
Foi um prazer circular pela sua
distopia electro tecnóide, antes da
inauguração do circuito
electro-house de Tiga & Hudson
Mohawke, logo a seguir. O set da
dupla não andou longe do que se
ouve em L’Ecstasy, álbum
auto-intitulado “romance
hardcore” do ano passado, a
remeter para diferentes fases das
carreiras de cada um e daqueles
que os inÇuenciaram, do
electroclash ao house maximal, do
tecno à synthpop — houve até uma
remistura de Tainted love dos Soft
Cell, a transportar-nos para os 80s
via anos 2000.
Brava dança
Entre as 6h e as 13h30 de sábado, o
Pavilhão Carlos Lopes calou-se.
Supa e Ghetthoven, DJ do Porto
versados em hip-hop, funk e
electrónicas lentas e sensuais,
romperam com o silêncio, a uma
hora em que muitos dos resistentes
da noite anterior ainda não se
tinham levantado da cama e o
público que ia chegando ao festival
preferia Æcar num dos dois palcos
montados em torno do recinto.
Diante de um deles, havia tufos de
relva e uma ligeira inclinação, para
quem quisesse fazer uma sesta
embalada pelo tecno e pelo house
que os DJ iam misturando.
Enquanto isso, lá dentro, a DJ
espanhola Ikram Bouloum e a
artista multidisciplinar Odete
encadeavam electrónica de
diferentes tempos e lugares, baixos
roliços e sintetizadores
borbulhantes, em mais um set back
to back. Foi pena termos de sair a
meio para ver Conferência Inferno,
trio português de pós-punk
proletário e engajado, alternando o
negrume urbano e convite à dança
das faixas do disco Pós-Esmeralda
com críticas ao Spotify e outras
plataformas de streaming
extractivistas e gritos pela
libertação da Palestina. Nunca se
calem.
Ao longo da tarde, dançou-se
ainda ao som do drum’n’bass de
Magupi’n’liquid bass, da selecção
electrónica do residente do Lux,
Rui Vargas, do tech-house de Mona
Yim ou do psicadelismo
electrónico do duo Dresden, dos
veteranos Manfredas e Ivan
Smagghe. O momento mais
aguardado pela maioria, no
entanto, chegou quando subiu ao
palco principal Paul Kalkbrenner,
um veterano do tecno alemão —
aqui elevado a trabalho de
relojoaria, sempre com as emoções
à Çor da pele e alguns laivos de
house. Apesar do calor que se
sentia, o público não arredou pé
do Carlos Lopes e, durante as duas
horas que durou a sua actuação,
mexeu-se tanto quando pôde num
pavilhão a rebentar pelas costuras.
A sua actuação encerrou o Sónar
by Day, no sábado, mas ainda havia
mais sete horas de música pela
frente. Depois de uma hora de
paragem e transição, os
portugueses Yen Sung e Photonz
inauguraram o Sónar by Night com
mais uma dose de house e tecno. E
passavam dez minutos da
meia-noite quando subiu ao palco
Nia Archives, talentosa DJ,
produtora e cantora de jungle do
Norte de Inglaterra. Intercalou
temas compostos por ela, como o
single Bad gyalz, com remisturas e
versões jungle de canções alheias,
do hino indie Heads will roll dos
Yeah Yeah Yeahs à Hollaback girl da
cantora pop Gwen Stefani.
Chegámos ao Ænal da actuação
de Nia Archives esgotados, mas
pelo menos a electropop tépida da
DJ e cantora canadiana Marie
Davidson serviu para recuperar o
fôlego enquanto se esperava pelos
2manydjs. Os irmãos Dewaele
subiram ao palco por volta das
2h30, acompanhados por Erol
Alkan, outro nome igualmente
conhecido na encruzilhada entre o
rock e a electrónica; e pela
escocesa Éclair FiÆ, artista visual e
DJ com um gosto apurado e
ecléctico. Num longo e
serpenteante DJ set, passaram um
pouco de tudo, com um único
objectivo: fazer os corpos dançar. E
não falharam.
O Sónar Lisboa prosseguiu
ontem e terminou esta madrugada,
com actuações de iolanda,
vencedora do Festival da Canção, e
a apresentação de Soma, o novo
álbum de Branko, acabado de
lançar. A recomendável instalação
audiovisual LIMBIC LANDMARKS,
concebida pelo colectivo ZABRA
para a Estufa Fria, no âmbito do
programa paralelo Sónar +D,
despediu-se às 22h.
28 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Cultura
Dêem à comunidade surda um palco
(ao ar livre), ela fará tremer o Tremor
Daniel Dias
Arruada do Som Sim Zero
foi um dos picos de um 11.º
Tremor que não serviu
ao público um banquete
de concertos memoráveis
O Jardim António Borges, em Ponta
Delgada, acaba de ser convertido em
palco. Membros de um grupo local de
sopros misturam-se com os Bora Lá
Tocar, colectivo intergeracional, tam-
bém da região, que explora o mundo
das percussões tradicionais portugue-
sas, e ainda com elementos da Asso-
ciação de Surdos da Ilha de São
Miguel, que tocam instrumentos
construídos pelos Bora Lá Tocar. Jun-
tos, fazem a festa. E é festa rija, um
elogio à diferença, uma celebração da
diversidade e do encontro.
A multidão que assiste encontrara-
se com eles noutro jardim, baptizado
Antero de Quental. Iniciou-se aí esta
arruada que em pontos estratégicos
do percurso teve pequenos momen-
tos coreográÆcos, antes de ganhar
contornos de manifestação pacíÆca.
De forma triunfal, erguendo ban-
deiras amarradas a magros galhos de
árvores, o grupo avançou pelo Jardim
António Borges. As mensagens escri-
tas nas bandeiras reclamavam tempo
para “abraçar”, “dançar”, “sorrir”,
“comer crepes”, “não fazer nada”,
“lutar”. De certa forma, ainda ecoa-
vam as palavras repetidas ad nauseam
no gesto teatral anterior: “Calma. Tira
a armadura. Respira. Vamos falar?”
Chegamos a uma árvore emblemá-
tica e eis a banda, pronta para resu-
mir o espírito daquilo que até aqui foi
sendo levantado num hino. Terá
como âncora um refrão orelhudo,
propenso a entoações colectivas, não
se opondo a explorar opções mais
inusitadas como um breve e brinca-
lhão delírio free jazz. No Ænal, uma
declamação. “O silêncio é revolucio-
nário”, dir-se-á. O “som” também. “O
gesto. Sorrir. Fazer uma roda. Tocar.
Tocarmo-nos. É revolucionário.”
Passou por aqui a mais recente cria-
ção do Som Sim Zero, que desde 2018
junta o projecto de intervenção artís-
tica e social ondamarela à Associação
de Surdos da Ilha de São Miguel (e a
outros grupos, que vão rodando) com
vista à criação de um trabalho a ser
apresentado anualmente no Tremor.
Na edição de 2019, foi com o Som Sim
Zero que o festival arrancou. Desta
vez, a iniciativa, que envolve uma
comunidade muitas vezes ignorada
no contexto de um festival de música,
Æcou para o dia de encerramento.
“Sentimos que já há na ilha um gru-
po de músicos e de pessoas da asso-
ciação que consideramos ser um
colectivo artístico, emancipado, que
quer dizer coisas e tem vocabulário
para o fazer”, disse ao PÚBLICO, Æn-
da a arruada, Ricardo Batista, que
compõe com Ana Bragança a onda-
marela. “O que tentamos fazer, de
edição para edição, é esticar um pou-
co a corda.” Este ano, o puxão levou
a que pela primeira vez houvesse
cenograÆa e Ægurinos, estes últimos
co-criados pela associação, que come-
çou a dedicar-se à costura.
Numa performance com uma men-
sagem clara por uma sociedade real-
mente inclusiva, as vestimentas têm
um papel importante. “Quem anali-
sar consegue ver que são totalmente
diferenciadas umas das outras”, con-
ta Ricardo Batista. Realçadas orgulho-
samente, as diferenças fundem-se,
tornam-se um corpo comum.
Fórmulas de pouca dura
O Som Sim Zero foi possivelmente o
ponto alto do Ænal de um Tremor que
se despediu no sábado sem ter pro-
priamente proporcionado ao seu
público um banquete de concertos
memoráveis. Nos últimos dois dias,
por norma aqueles em que a progra-
mação aquece, não aconteceu esse
elevar da fasquia. A redundância foi
um factor comum a muitos concertos,
o que impediu a entrega total e o
ansiado deslumbramento.
Os Holy Tongue inserem-se nesta
categoria de música que em pouco
tempo se torna previsível. O trio par-
te de um pós-punk experimental e
despido para fazer um tipo fantasma-
górico de música dub. A baterista
Valentina Magaletti é uma presença
magnética — o seu arsenal técnico é
temível e ela usa-o para tocar de for-
ma absolutamente encantatória —,
mas não chega para nos libertar da
sensação de que ouvimos uma série
de variações do mesmo tema, sempre
com Susumu Mukai a tocar uma linha
de baixo minimalista até à exaustão e
Al Woolton a acrescentar fantasmas
na mesa de sampling.
O mesmo se aplica ao forró dos
Rastafogo, uma sonoridade unidi-
mensional que cedo esgota o que tem
para dizer. No campeonato da música
mais ruidosa — que teve um peso rele-
vante no cartaz —, os Poison Ruïn, que
protagonizaram numa pedreira o
segundo e concerto-surpresa de
INÊS SUBTIL
2024, e os PoiL Ueda, que juntam o
prog pesado e exploratório dos fran-
ceses PoiL aos cânticos budistas tra-
dicionais da japonesa Junko Ueda,
revelaram mais atributos, mas tam-
bém não escaparam às fórmulas. As
guitarras estiveram em melhores
mãos quando manuseadas por ban-
das nacionais como os Glockenwise,
oleada máquina de rock melancólico,
ou os Maquina., incansáveis homens
de palco.
Acordes antipatriarcado
Quer os Glockenwise quer os Maqui-
na. tocaram nas Portas do Mar, mul-
tiusos onde terminaram as noites
deste Tremor. Foi lá que Marie David-
son apresentou uma electrónica cheia
de erotismo e batidas corpulentas
As britânicas Lambrini Girls (convicto convite a uma dança furio-
querem derrubar o patriarcado sa) ou que Dan Orlowski, de Deli Girls,
com dois acordes; em baixo, deu um concerto claustrofóbico — a
a galvanizante arruada junção cavernosa de synth-punk,
do projecto Som Sim Zero industrial e hardcore digital soou a
um encontro pouco feliz entre Para-
more e Nine Inch Nails.
Foi lá, também, que tocaram outras
Girls, as Lambrini Girls, de Brighton,
no Reino Unido. Assumidamente
inÇuenciadas pelas Bikini Kill, vão
directas ao assunto. Big dick energy,
Boys in the band, Lads lads lads, Mr.
A redundância foi Lovebomb: é com estes e outros temas
um factor comum que Phoebe Lunny (voz e guitarra) e
Lilly Macieira (baixo) procuram ir à
a muitos concertos jugular do patriarcado, da masculini-
desta edição, o que dade tóxica, da postura virulenta que
torna concertos e festivais um espaço
impediu o ansiado tantas vezes inseguro para as mulhe-
deslumbramento res. Ao vivo, há um acontecimento
quase a cada música: Phoebe mete-se
VERA MARMELO
no meio da plateia; Phoebe manda o
público separar-se; Phoebe ordena às
pessoas que se ponham de cócoras e
que, depois de ela dar o sinal, se
levantem para o frenesim colectivo.
Tudo isto diÆculta a tentativa de mer-
gulho atento na música.
A meio de um tema, Phoebe é
capaz de pedir às pessoas da comuni-
dade LGBTQI+ para levantarem a
mão. No Ænal de outro, pode denun-
ciar a actuação do Governo britânico
ou gritar em solidariedade com a
Palestina. Apologista da ideia de que
para fazer uma canção bastam dois
acordes e tocá-los com a entrega cer-
ta, o punk enraivecido das inglesas
não é transcendente: sentimos que já
ouvimos isto e que já ouvimos versões
mais inspiradas disto. Mas o coração
está no sítio certo, o que conta para
alguma coisa — sobretudo num Tre-
mor menos inspirado como o deste
ano.
O PÚBLICO viajou a convite
do Tremor

Uma monumental obra musical
esculpida em Ɗligrana
Obituário
Pedro Amaral
Peter Eötvös (1944-2024)
Compositor, maestro e
intérprete foi um dos
grandes da Europa musical
das últimas décadas
Na língua húngara, o nome Eötvös
evoca a proÆssão de ourives: o que
trabalha os metais preciosos e os
torna peças de arte. Péter Eötvös,
que morreu ontem, aos 80 anos, foi,
à sua maneira, um joalheiro da arte
musical, partindo do som,
cuidadosamente depurado, e
dando vida a extraordinárias peças
de música, como compositor e
intérprete.
Nascido na Transilvânia em plena
Segunda Guerra Mundial, em
Janeiro de 1944, o início da sua vida
será marcado pela devastação,
numa Europa em escombros.
Fugindo ao Çagelo da Frente Leste,
a família irá rumar a Dresden, sem
imaginar que a sua chegada iria
coincidir com os bombardeamentos
dos Aliados que se traduzirão em
mortes incontáveis, e dos quais a
criança de berço escapou como por
milagre numa cave incógnita.
Crescerá numa Hungria
capturada pelo regime soviético
onde, segundo o seu próprio
testemunho, professores e alunos se
atinham a um veemente silêncio nas
obrigatórias aulas de língua russa,
como forma de resistência e
protesto. Ainda em criança estudará
na Academia de Música de
Budapeste por indicação de Zoltan
Kodály, derradeiro expoente da
grande modernidade que, com
Bartók, transformara a tradição
húngara e criara uma escola estética
internacionalmente reconhecida.
Concluídos os estudos em
Composição, irá procurar um novo
curso que lhe permita adiar o
serviço militar obrigatório. Por
mero pragmatismo envereda pela
Direcção de Orquestra, sem
imaginar que essa dupla formação
viria a talhar de forma decisiva a sua
personalidade musical,
conferindo-lhe um perÆl raro e de
excelência que o imporia como uma
das grandes Æguras da Europa
musical das últimas décadas.
Autorizado a prosseguir os seus
estudos na Europa Ocidental,
Eötvös escolherá Colónia, epicentro
de uma vanguarda musical liderada
por Bernd Alois Zimmermann e
Karlheinz Stockhausen. Aluno do
primeiro na Musikhochschule,
rapidamente entrará no círculo do
segundo, integrando como pianista
o Grupo Stockhausen, com o qual
virá a partir para o Japão,
participando em centenas de
concertos com as obras do mestre
na Exposição Universal de Osaka.
A carreira como maestro ganha
um fortíssimo impulso quando
substitui Michael Gielen na direcção
de Hymnen mit Orchester, de
Stockhausen, em Paris, em 1977 —
Foi um joalheiro
da arte musical,
partindo do som,
cuidadosamente
depurado, e dando
vida a peças
extraordinárias
Após anos em que
se viu submerso
pela actividade de
intérprete,
recentrou-se como
compositor em
torno da ópera
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 29
Cultura
SPENCER WEINER/GETTYIMAGES
óperas de maturidade em que Orquestra Metropolitana de Lisboa
reencontra a sua língua materna, o na Temporada 2020/21. Agendada
húngaro que, na juventude, anos antes, uma parte da
marcara as suas primeiras programação foi comprometida
colaborações com o teatro. pela pandemia de covid-19.
As primeiras visitas de Eötvös a Salvou-se, entre outros, o concerto
Portugal remontam aos anos em com o seu Dialog mit Mozart,
que serviu como director musical apresentado no Centro Cultural de
do Ensemble Intercontemporain. Já Belém, lado a lado com a Quarta
no século XXI, dirigirá a London Sinfonia de Gustav Mahler.
Sinfonietta na Temporada Na noite de sábado, dirigi em
Gulbenkian, em Fevereiro de 2006, Budapeste a estreia húngara do seu
interpretando obras suas e de Concerto para Saxofone e
compositores por si propostos Orquestra, Focus, página brilhante,
(entre as quais a minha Paraphrase, jazzística, sedutora, que evoca
que tinha dirigido em estreia dias memórias antigas de Paul Desmond
antes, em Londres). Dirigiria ainda a e Gerry Mulligan, entre outros.
Orquestra Gulbenkian em dois “Desde a infância sempre me senti
inolvidáveis concertos com a sua muito próximo do saxofone, porque
música (zeroPoints e Jet Stream) e o soa como se fosse eu próprio a
magníÆco poema sinfónico Die cantar”, escreveu.
Seejungfrau, de Alexander von Deixámos tudo em palco, como
Zemlinski. sói dizer-se — a orquestra, a solista,
Em 2010 regressará a Lisboa para Erzsébet Seleljo, e eu próprio —,
uma rara produção de Momente, num misto de completo
que considerava a obra-prima de envolvimento, de emoção e daquele
Stockhausen, com o Coro puro prazer musical que Péter tão
Gulbenkian. Nos anos seguintes iria bem cultivava na sua escrita e nas
desenvolver uma forte relação com suas interpretações. Assim que
a Casa da Música, iniciada em terminou o concerto dei-lhe conta
Novembro de 2014, com a estreia do enorme sucesso da sua obra,
um momento histórico na portuguesa da sua obra Atlantis. aplaudida em apoteose.
sequência do qual Pierre Boulez Acolhendo-o como artista Quis o destino que fosse o seu
viria a convidá-lo a dirigir o residente, a instituição será derradeiro aplauso público em vida.
concerto inaugural do IRCAM, co-comanditária de três das suas Tinha prometido visitá-lo na tarde
frente ao Ensemble obras — Da capo, Secret Kiss e o de ontem. Horas antes de ir ao seu
Intercontemporain, de que se recente Concerto para Harpa, encontro, fui surpreendido pela
tornará depois director musical. estreado em Paris em Janeiro. notícia devastadora da sua partida.
Foi ainda Artista Associado da Repousa em paz, querido Péter.
O resgate da ópera
Submerso pela actividade de PUBLICIDADE
intérprete, a sua obra como
compositor revelar-se-á numa fase
tardia, em meados da década de
1990, com a composição da ópera
Três Irmãs, a partir de Tchékhov. Se
a sua adolescência e juventude, em
Budapeste, tinham sido marcadas
pela colaboração com o teatro e o
cinema, para os quais escreveu
abundante música, não é
surpreendente que o recentrar da
sua vida na composição, já depois
dos 50 anos de idade, tenha
passado por um reencontro entre
teatro e música.
Três Irmãs conhecerá um
extraordinário sucesso numa
Europa que há muito aguardava por
uma reconciliação da ópera com a
modernidade. Nas quase três
décadas que, entretanto, se
seguiram, Eötvös apresentará 12
novas óperas, de cada vez
explorando novas temáticas, novos
textos, novas línguas, novas visões
possíveis da dramaturgia musical. A
derradeira, Valuska, é
simultaneamente a única das suas
30 • Público ClassiÄcados • Segunda-feira, 25 de Março de 2024

Dá-se conhecimento público de que se encontra aberto

o processo de recrutamento de pessoal em regime REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA
de contrato de trabalho por tempo indeterminado Secretaria Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública

para a Unidade de Prestação de Contas da Divisão

Direção Regional da Organização, Planeamento e Emprego Público CONVOCATÓRIA
Nos termos do ponto 1 do Artigo 35.º dos Estatutos do
Financeira da Direção Financeira e de Contratação Parede Foot-ball Clube, convoco os sócios para reunirem
Pública da Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa: Oferta de mobilidade em Assembleia Geral Ordinária, no dia 05/04/2024, pelas
20H30, no Auditório da Escola Secundária Fernando Lopes
• 1 vaga de técnico superior (m/f), referência Graça, com a seguinte ordem de trabalhos.
CT-13/2024 - UPC-DF-DFCP, ao qual podem (na categoria ou intercarreiras)
1. Informações;
candidatar-se os indivíduos que reúnam as 2. Apresentação, Discussão e Votação do Relatório e Contas
Técnico superior (direito) do Parede Foot-ball Clube, relativo ao exercício no ano
condições fixadas no aviso disponível no endereço:
económico de 2023;
http://www.unl.pt/nova/nao-docentes 3. Outros temas relevantes para a vida do Parede Foot-ball
O prazo para submissão das candidaturas é de 10 O aviso da oferta n.º 234/2024 está disponível Clube
dias úteis a contar da data da publicação do presente em https://bep.azores.gov.pt Nota: Nos termos do ponto 2 do Artigo 34.º dos Estatutos do
Parede Foot-Ball Clube, se à hora marcada para a Assembleia
anúncio. não estiver constituído o seu quórum, poderá a mesma ter
lugar trinta minutos mais tarde, com a presença de qualquer
número de associados, podendo ser discutidos, votados e
Contratação de Doutorado (M/F) aprovados quaisquer assuntos, sem prejuízo das maiorias
qualificadas.
Foi publicado no Diário da República nº 59, 2.ª Série, de 22 de março de Parede, 14 de março de 2024
2024, o Aviso n.º 6266/2024/2 relativo ao concurso Ref.ª CDL-CTTRI-312-
O PRESIDENTE DA MESA DA ASSEMBLEIA GERAL
Dá-se conhecimento público de que se SGRH/2023 de âmbito internacional, para recrutamento na modalidade de
contrato de trabalho a termo resolutivo incerto celebrado ao abrigo do Código loja.publico.pt Luís Pires de Lima
encontra aberto o procedimento concursal de Trabalho, de 1 (um) lugar de Investigador Doutorado de Nível Inicial para
de recrutamento para seleção de chefe o exercício de atividades de investigação científica na área científica de
Engenharia Física, com vista à implementação/otimização de um sistema de Universidade de Aveiro
de divisão (dirigente intermédio de 2.º
microfabricação por laser femtosegundo para o fabrico de sensores em fibra Processo de Seleção e Recrutamento (M/F)
grau) da Divisão de Gestão de Pessoas e ótica, suportado pelos orçamentos do Laboratório Associado i3N - Instituto
Competências da ANQEP, I.P., referência de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação (Aveiro), na sua Publicita-se a abertura do seguinte processo de seleção e recrutamento no sítio dos Serviços de Gestão
componente FEDER, e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, na sua de Recursos Humanos da Universidade de Aveiro: https://www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-tag-novos-
BEP OE202403/0861. concursos-e-ofertas:
componente de Orçamento de Estado.
Podem candidatar-se todos os que reúnam Nos termos da alínea c) do n.º 3 do artigo 23.º dos Estatutos da Universidade de Aveiro, na versão
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do
homologada pelo Despacho Normativo n.º 1-C/2017, publicados na 2ª Série do Diário da República, de
as condições fixadas no respetivo aviso. edital antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://
24 de abril de 2017, e do Regulamento de Carreiras, Retribuições e Contratação do Pessoal Técnico,
www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-investigador-novos-concursos-e-ofertas.
Administrativo e de Gestão em regime de contrato de trabalho da Universidade de Aveiro, publicado
O prazo limite para a submissão das 3 - O prazo de candidaturas é de 10 dias úteis, contados a partir da data da na 2ª Série do Diário da República n.º 173, de 4 de setembro de 2020, alterado pelo Despacho n.º
candidaturas é de 10 dias úteis a contar da publicação do aviso no Diário da República. 8321/2023, publicado na 2.ª Série do Diário da República n.º 158, de 16 de agosto de 2023, pretende-se
data da publicação do presente anúncio. Aveiro, em 27 de novembro de 2023 se contratar em regime de contrato de trabalho a termo resolutivo incerto, com fundamento no disposto
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira da alínea a) do n.º 2 do artigo 140.º do Código do Trabalho, aprovado e publicado em anexo, pela Lei
n.º 7/2009, de 12 de fevereiro:
Ref.ª CND-CTTRI-51-SGRH/2024 – 1 Técnico Superior na 2ª posição remuneratória (1439,31€),
Universidade de Aveiro acrescido do direito a subsídios de refeição, de férias e de Natal, em decorrência da necessidade de
Constituição de bolsa de interessados para substituição de trabalhadora ausente por licença, com as seguintes funções:
exercício de funções docentes (M/F) • Apoio técnico e administrativo nos procedimentos de concursos de empreitadas e de aquisição de
bens e serviços;
BID-04-DMAT/2024 - Docência nas áreas de Matemática • Tratamento administrativo associado à gestão corrente dos contratos de empreitadas e de aquisição
de bens e serviços;
O Departamento de Matemática da Universidade de Aveiro faz saber que se aceitam manifestações de
• Aquisição de bens e serviços (Reitoria, Administração e Serviços Centrais);
interesse de pessoas cujo currículo científico, pedagógico ou profissional seja suscetível de interessar • Gestão da base de dados de acompanhamento dos procedimentos concursais da instituição;
àquele Departamento. • Gestão da base de dados de gestão de contratos e protocolos.
Para o efeito, os interessados que desejem exercer funções docentes em regime de tempo parcial no • Tramitação de procedimentos administrativos;
CONHEÇA referido Departamento, poderão formalizar o seu interesse, juntando elementos pessoais, académicos e • Realização de estudos e de documentos de apoio à decisão;
• Interpretação e análise da legislação;
profissionais, desde que reúnam cumulativamente as seguintes condições:
AS NOSSAS • Doutoramento em Matemática ou áreas afins; • Utilização das plataformas eletrónicas de contratação pública;
• Aplicação de métodos estatísticos e de tratamento de dados;
COLECÇÕES • Curriculum vitae de relevo na área científica Matemática. • Utilização dos sistemas de bases de dados e de folhas de cálculo.
Dar-se-á preferência aos candidatos com experiência profissional. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE:
DE Os interessados devem entregar: HABILITAÇÕES MÍNIMAS:
LITERATURA

- Licenciatura.
- Carta dirigida ao Reitor da Universidade de Aveiro, indicando explicitamente a(s) subárea(s) de
Caso a habilitação académica tenha sido obtida no estrangeiro, exige-se reconhecimento, equivalência
docência a que se candidatam (Álgebra e Combinatória, Análise, Computação e Lógica, Estatística e ou registo do grau nos termos da legislação aplicável.
Probabilidades, Geometria e Topologia, Matemática-Física, Otimização e Investigação Operacional e III — OUTROS REQUISITOS:
Teoria de Sistemas e Controlo) - Minuta disponível em: https://www.ua.pt/file/76532; • Experiência no desempenho de funções análogas às atribuições indicadas no ponto I;
- Curriculum Vitae detalhado; • Conhecimentos da orgânica e funcionamento da instituição;
- Documentação comprovativa da posse do grau académico e de habilitações profissionais. • Conhecimento do ciclo de gestão da Administração Pública e do Ensino Superior;
• Conhecimentos da legislação relacionada com a contratação pública;
As manifestações de interesse deverão ser remetidas, até ao dia 09 de abril de 2024, ao Sr. Diretor do • Conhecimentos de direito administrativo;
Departamento de Matemática da Universidade de Aveiro, por correio eletrónico para dmat-direcao@ua.pt • Conhecimentos dos procedimentos administrativos adotados na administração pública;
O presente anúncio visa constituir uma bolsa de interessados cujas manifestações de interesse serão • Conhecimentos de sistemas de bases de dados e folhas de cálculo;
apreciadas pelos competentes órgãos da Universidade de Aveiro quando e se as necessidades de serviço • Conhecimentos no âmbito do funcionamento das plataformas eletrónicas de contratação pública;
e o mérito dos currículos apresentados o justifiquem, em todo o caso se cumprindo a tramitação fixada • Capacidade de comunicação e de relacionamento interpessoal;
• Orientação para o trabalho em equipa;
no ECDU para o recrutamento de docentes convidados. A presente publicitação não consubstancia,
• Orientação para o trabalho autónomo;
por isso, a abertura de um qualquer concurso, inexistindo em decorrência um qualquer direito à • Capacidade de análise e sentido crítico;
contratação resultante da comparação relativa dos curricula apresentados. • Capacidade de adaptação e criatividade;
A Universidade de Aveiro garante, nos termos legais, a confidencialidade da documentação pessoal • Espírito de rigor e exigência técnica.
recebida, a cuja devolução se obriga desde que expressamente solicitado. O prazo de candidatura é de 10 dias úteis, contados a partir da data da publicitação do anúncio no jornal.
Conforme exarado no despacho conjunto n.º 373/2000, de 1 de março, do Ministro-Adjunto, do Ministro Universidade de Aveiro, em 06 de março de 2024
da Reforma do Estado e da Administração Pública e da Ministra da Igualdade, faz-se constar a seguinte O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira
menção:
“Em cumprimento da alínea h) do art.º 9.º da Constituição, a Administração Pública, enquanto entidade
empregadora, promove ativamente uma política de igualdade de oportunidades entre homens e mulheres
no acesso ao emprego e na progressão profissional, providenciando escrupulosamente no sentido de
CONHEÇA AS NOSSAS COLECÇÕES
loja.publico.pt evitar toda e qualquer forma de discriminação”.
Aveiro, em 03 de março de 2024 DE BANDA DESENHADA EM LOJA.PUBLICO.PT
INFO: 210 111 010 O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira MAIS INFO: 210 111 010
 Público ClassiÄcados • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 31

ANÚNCIO REFª 07/TSDT/2024 ANÚNCIO Ref.ª 24/TSDT/2024

TÉCNICO/A SUPERIOR DE DIAGNÓSTICO
E TERAPÊUTICA
ÁREA DE FARMÁCIA
SERVIÇO DE FARMÁCIA
Torna-se público que se encontra aberto, por
um período de 5 dias úteis a contar da data
da publicação do presente aviso, o processo
de recrutamento para Técnico/a Superior de
Diagnóstico e Terapêutica, área de Farmácia, para
os Serviços Farmacêuticos, para constituição de
Técnico/a Superior de Diagnóstico e JERÓNIMO MARTINS, SGPS, S.A.
Terapêutica, Área de Radiologia Rua Actor António Silva, n.º 7, Lisboa
Capital Social de Euro 629.293.220,00
Serviço Imagiologia Matrícula na Conservatória do Registo Comercial
Torna-se público que se encontra aberto, por de Lisboa e NIPC: 500 100 144
um período de 5 dias úteis a contar da data
da publicação do presente aviso, o processo
CONVOCATÓRIA
de recrutamento para Técnico Superior de
A solicitação do Conselho de Administração e nos termos legais e estatutários, convocam-se os acionistas de JERÓNIMO MARTINS, SGPS, S.A.,
para a reunião da Assembleia Geral Anual, que terá lugar no próximo dia 18 de abril de 2024, pelas 11:00 horas, com a seguinte Ordem de Trabalhos:
CONHEÇA
CONHEÇA
Diagnóstico e Terapêutica, área de Radiologia,
para o Serviço de Imagiologia, para preenchimento
1. Deliberar sobre os documentos de prestação de contas do exercício de 2023, incluindo o relatório de gestão, as contas individuais e consolidadas,
o relatório de governo societário e outros documentos de informação societária e de fiscalização e auditoria;
2. Deliberar sobre a proposta de aplicação de resultados;
AA NOSSA
NOSSA
de vagas em regime de contrato a termo e criação
3. Proceder à apreciação geral da administração e fiscalização da Sociedade;
4. Deliberar sobre a proposta de alteração de estatutos da Sociedade apresentada pelo Conselho de Administração. SELECÇÃO

E SÉRIES
bolsa de recrutamento. de bolsa de recrutamento. Os acionistas poderão participar na Assembleia Geral presencialmente, no 15º andar da sua sede social, sita na Rua Actor António Silva,

Os requisitos, gerais e específicos, respetiva Os requisitos, gerais e específicos, respetiva

grelha com critérios e ponderações de avaliação,
composição da Comissão de Avaliação e outras
informações de interesse para apresentação de
candidatura, encontram-se disponíveis em versão
grelha com critérios e ponderações de avaliação,
composição da Comissão de Avaliação e outras
informações de interesse para apresentação de
candidatura, encontram-se disponíveis em versão
nº 7, em Lisboa, ou por meios telemáticos ao abrigo do disposto na alínea b) do nº 6 do artigo 377º do Código das Sociedades Comerciais.
A participação na Assembleia Geral por meios telemáticos estará sujeita à disponibilidade por parte dos acionistas dos meios técnicos e operacionais
adequados, a que se alude no Ponto VII “Requisitos Técnicos da Assembleia Geral por Meios Telemáticos”.
DE
Os acionistas que, cautelarmente, quiserem antecipar o exercício do seu voto por correspondência, poderão fazê-lo por intermédio de
correspondência postal, ou por recurso ao voto por correspondência eletrónica que, nos termos e para os efeitos do estabelecido no artigo
22.º do Código dos Valores Mobiliários, irá ser disponibilizado pela sociedade, nos termos descritos no Ponto VI (“Voto por Correspondência”) da
presente convocatória.
I. Participação na Assembleia Geral
De acordo com o disposto na legislação em vigor, poderão participar e votar na reunião da Assembleia Geral os acionistas relativamente aos quais

integral no anúncio de recrutamento disponível na
página eletrónica do ULS Amadora/Sintra,EPE, em
https://hff.min-saude.pt/hospital/recrutamento.
Amadora, 25 de março de 2024
integral no anúncio de recrutamento disponível na
página eletrónica da ULS Amadora/Sintra, EPE, em
https://hff.min-saude.pt/hospital/recrutamento.
Amadora, 25 de março de 2024
GOURMET
se verifique o seguinte:
a) Até às 23:59 horas (GMT) do dia 10 de abril de 2024, tenham declarado, por escrito, ao intermediário financeiro onde a conta de registo
individualizado estiver aberta, a sua intenção em participar na reunião.
b) Às 00:00 horas (GMT) do dia 11 de abril de 2024 (a “Data de Registo”), correspondente ao quinto dia de negociação anterior ao da realização da
reunião da Assembleia, sejam titulares de ações que lhe confiram pelo menos um voto;
c) O respetivo intermediário financeiro, informado, nos termos da alínea a) supra, da intenção do acionista em participar na reunião da Assembleia,
tenha transmitido ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, até às 23:59 horas (GMT) da Data de Registo essa intenção, e enviado a este
a informação sobre o número de ações registadas em nome do acionista em causa, com referência às 00:00 horas (GMT) da Data de Registo,
podendo para o efeito utilizar o endereço de correio eletrónico assembleiageral@jeronimo-martins.com.
Caso os acionistas pretendam participar na reunião da Assembleia Geral por meios telemáticos, deverão também declarar essa intenção, por
escrito, até às 23:59 horas (GMT) do dia 10 de abril de 2024, ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, através do endereço de correio eletrónico
assembleiageral@jeronimo-martins.com. Nesta declaração deverá ser indicado pelos acionistas um endereço electrónico, para o qual serão

Universidade de Aveiro
Processo de Seleção e Recrutamento (M/F)
Publicita-se a abertura do seguinte processo de seleção e recrutamento no sítio da Área de Recursos
Humanos da Universidade de Aveiro (https://www.ua.pt/pt/sgrh/pessoal-tag-novos-concursos-e-ofertas):
Nos termos da alínea c) do n.º 3 do artigo 23.º dos Estatutos da Universidade de Aveiro, na versão
enviados pela Sociedade a ligação (“link”) para a sessão telemática, e um código individual de participação do acionista na Assembleia Geral
a ser realizada por meios telemáticos, nos termos descritos no Ponto VII infra (“Requisitos Técnicos da Assembleia Geral por Meios Telemáticos”).
O código individual de participação servirá para complementar a identificação do acionista no início da reunião.
O exercício do direito de voto não será prejudicado pela transmissão das ações em momento posterior às 00:00 horas (GMT) da Data de
Registo, nem depende do bloqueio das mesmas entre aquela data e a da Assembleia Geral. No entanto, os acionistas que, tendo declarado
a intenção de participar na reunião da Assembleia, vierem a transmitir a titularidade das ações entre as 00:00 horas da Data de Registo e o
encerramento da Assembleia Geral, deverão comunicar de imediato esse facto ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral e à Comissão do
Mercado de Valores Mobiliários, podendo, no caso da comunicação remetida ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, utilizar o endereço
de correio eletrónico assembleiageral@jeronimo-martins.com.

homologada pelo Despacho Normativo n.º 1-C/2017, publicados na 2ª Série do Diário da República,
de 24 de abril de 2017, e do Regulamento de Carreiras, Retribuições e Contratação do Pessoal Técnico,
Administrativo e de Gestão em regime de contrato de trabalho da Universidade de Aveiro, publicado na 2ª
Série do Diário da República n.º 173, de 4 de setembro de 2020, alterado pelo Despacho n.º 8321/2023,
publicado na 2.ª Série do Diário da República n.º 158, de 16 de agosto de 2023 pretende-se contratar em
regime de contrato de trabalho sem termo, ao abrigo do Código do Trabalho, aprovado e publicado em
DE FILMES
Os acionistas que, a título profissional, detenham ações em nome próprio mas por conta de clientes e que pretendam votar em sentido diverso com
as suas ações devem, para além dos documentos referidos nas alíneas a) e c) supra, apresentar ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, até
às 23:59 horas (GMT) da Data de Registo, e com recurso a meios de prova suficientes e proporcionais, a identificação de cada cliente e o número
de ações a votar por sua conta, bem como as instruções de voto dadas por cada cliente e as votações por si expressas em caso de votação por
correspondência eletrónica.
A cada ação corresponde um voto.
Os sentidos de voto, para cada ponto da ordem de trabalhos serão os seguintes: a favor, contra e abstenção.
Nos termos do artigo 386.º, n.º 1, do Código das Sociedades Comerciais, as abstenções não serão contadas.
II. Direito à Informação em Assembleia Geral
No decorrer da Assembleia Geral, qualquer acionista poderá requerer a prestação de informações verdadeiras, completas e elucidativas que lhe

anexo pela Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro.
Ref.ª CND-CTST-65-SGRH/2024 – 8 (oito) Técnicos Superiores na 2ª posição remuneratória (1.439,31€)
acrescido do direito a subsídios de refeição, de férias e de Natal, com as seguintes funções:
• Apoio técnico e administrativo nos procedimentos de recrutamento;
• Tratamento de processos de contratação de pessoal, estagiários e bolseiros;
• Tratamento administrativo associado à gestão corrente das questões profissionais durante a vigência
dos contratos;
• Instrução de processos relacionados com benefícios sociais;
• Processamento de abonos e descontos;
• Tratamento das guias de desconto e reposição;
• Envio dos descontos a entregar às entidades beneficiárias;
• Apoio técnico à gestão da formação profissional;
• Apoio técnico na definição de instrumentos e iniciativas que promovam o desenvolvimento da gestão de
carreiras;
• Elaboração de estudos e relatórios que sejam solicitados no domínio das competências atribuídas;
• Exercer as demais competências atribuídas pelos dirigentes do serviço.
VINHOS E PRODUTOS
permitam formar uma opinião fundamentada sobre o assunto constante da Ordem de Trabalhos.
As informações solicitadas serão prestadas pelo Conselho de Administração, só podendo ser recusadas se a sua prestação puder ocasionar grave
prejuízo à Sociedade ou a outra sociedade com ela coligada ou violação de segredo imposto por lei.
III. Direito de Inclusão de Assuntos na Ordem de Trabalhos
Os acionistas que possuírem ações correspondentes a, pelo menos, 2% (dois por cento) do capital social da Sociedade podem requerer a inclusão
de novos assuntos na Ordem de Trabalhos, mediante requerimento escrito dirigido ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, nos cinco dias
seguintes à última divulgação da presente convocatória, que deverá ser acompanhado de uma proposta de deliberação para cada assunto cuja
inclusão seja requerida.
IV. Direito de Apresentação de Propostas de Deliberação
Os acionistas que possuírem ações correspondentes a, pelo menos, 2% (dois por cento) do capital social da Sociedade podem requerer a inclusão
de propostas de deliberação relativas ao(s) assunto(s) constante(s) da Ordem de Trabalhos, mediante requerimento escrito dirigido ao Presidente da
Mesa da Assembleia Geral, nos cinco dias seguintes à divulgação da presente convocatória, que deverá incluir a informação que deva acompanhar
a proposta de deliberação.
Sempre que, na Ordem de Trabalhos da Assembleia Geral, seja contemplado um ponto que incida sobre o mandato de qualquer dos órgãos
sociais, exorta-se os acionistas que pretendam apresentar propostas no âmbito desse ponto que, na construção das propostas que vierem a
apresentar, contribuam para a melhoria de desempenho dos órgãos e equilíbrio na respetiva composição observando, nomeadamente, critérios
de competência, independência, integridade, disponibilidade, experiência, e que considerem, ainda, requisitos de diversidade, dando particular
atenção à diversidade de género, nos termos da lei. As propostas apresentadas deverão ser fundamentadas quanto à adequação dos perfis,
conhecimentos e curricula à(s) função(ões) a desempenhar por cada candidato.
V. Representação em Assembleia Geral
Os acionistas poderão fazer-se representar, nos termos da lei, mediante documento de representação escrito, com assinatura, dirigido ao
Presidente da Mesa da Assembleia Geral e entregue até ao início dos trabalhos, indicando o nome e domicílio do representante e a data da
reunião. Para o efeito, poderão utilizar o formulário de documento de representação disponibilizado na página do Grupo Jerónimo Martins na
internet (www.jeronimomartins.com) e na sede social, a partir da data de divulgação da presente convocatória.
Sem prejuízo da unidade de voto consagrada no artigo 385.º do Código das Sociedades Comerciais, qualquer acionista pode nomear diferentes
representantes relativamente às ações que detiver em diferentes contas de valores mobiliários.

REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE:
HABILITAÇÕES:
- Licenciatura.
Caso a habilitação académica tenha sido obtida no estrangeiro, exige-se reconhecimento, equivalência ou
registo do grau nos termos da legislação aplicável.
OUTROS REQUISITOS:
• Experiência no desempenho de funções análogas às funções indicadas no ponto I, devidamente
comprovada através de declarações, certificados ou outros documentos;
• Conhecimentos de legislação e regulamentação laboral relacionada a área de atividade do Serviço de
Gestão de Recursos Humanos, nomeadamente a relacionada com processamento de remunerações,
procedimentos contratuais, procedimentos concursais e com a formação profissional;
• Domínio da língua inglesa;
• Conhecimentos sólidos de informática, nomeadamente na utilização do programa MS Office – Excel,
bem como no tratamento de dados estatísticos.
VALIDADE DO PROCEDIMENTO:
O procedimento concursal é válido para ocupação de idênticos postos de trabalho, a ocorrer no prazo
máximo de 12 meses contados da data de homologação da lista de ordenação final do presente
procedimento.
O prazo de candidatura é de 10 dias úteis, contados a partir da data da publicitação do anúncio no jornal.
Universidade de Aveiro, em 20 de março de 2024
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira
SELECÇÃO
Recomenda-se aos acionistas profissionais que os instrumentos de representação a obter dos respetivos clientes não restrinjam os poderes
conferidos, impedindo-os de exercer o voto por correspondência eletrónica nos termos descritos na al. a) do Ponto VI infra (“voto por
correspondência eletrónica”).
VI. Voto por Correspondência
Nos termos do artigo 22.º do Código dos Valores Mobiliários, os acionistas poderão exercer o direito de voto por correspondência, postal ou
eletrónica nos seguintes termos:
a) No caso de voto por correspondência postal, cada uma das declarações de voto deverá ser encerrada em sobrescrito no qual deverá ser
anotado: “Contém declaração de voto sobre o número (indicar o respetivo número) da ordem de trabalho”. Os sobrescritos deverão, por
sua vez, ser acompanhados de carta assinada pelo titular das ações, com assinatura reconhecida (ou, no caso de pessoas singulares com
assinatura simples acompanhada de cópia do respetivo Bilhete de Identidade ou Cartão de Cidadão). Apenas serão considerados os votos
por correspondência postal recebidos até às 23:59 horas (GMT) do dia 16 de abril de 2024, na Rua Actor António Silva, n.º 7, em Lisboa, por
meio de carta registada com aviso de receção, dirigida ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, sem prejuízo da declaração de intenção de
participação e da informação a remeter pelo intermediário financeiro, referidas na alínea c) da Parte I supra.
b) No caso de voto por correspondência eletrónica, os acionistas deverão manifestar a intenção de exercer o seu direito por esta via, até às
23:59 horas do dia 10 de abril de 2024, mediante declaração escrita dirigida ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, através do endereço
eletrónico assembleiageral@jeronimo-martins.com. Na referida declaração deverá ser indicado o endereço de correio eletrónico para o qual,
subsequentemente, será enviado o código identificador a referir na mensagem de correio eletrónico com que o acionista poderá exercer o seu
direito de voto. Apenas serão considerados os votos por correspondência eletrónica recebidos até às 23:59 horas (GMT) do dia 11 de abril de
2024, no endereço eletrónico assembleiageral@jeronimo-martins.com, acompanhados do código identificador, sem prejuízo da declaração
de intenção de participação e da informação a remeter pelo intermediário financeiro, referidas na alínea c) da Parte I supra.
c) Só serão consideradas válidas as declarações de voto postal ou eletrónico onde conste:
i) A indicação do ponto ou pontos da ordem de trabalhos a que respeita;
ii) A indicação precisa e incondicional do sentido de voto para cada proposta.
d) Compete ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, ou ao seu substituto, verificar da conformidade das declarações de voto por
correspondência postal e eletrónica, considerando-se não emitidos os votos correspondentes às declarações não aceites. Esses votos exercidos
por correspondência valem como votos negativos relativamente a propostas de deliberação apresentadas posteriormente à data em que esses
mesmos votos tenham sido emitidos.
e) Para exercer o direito de voto por correspondência postal ou eletrónica, os Senhores Acionistas deverão utilizar boletins de voto que, de forma
clara e inequívoca, expressem o seu sentido de voto. Para este efeito, poderão utilizar o modelo disponível na página do Grupo Jerónimo Martins
na internet (www.jeronimomartins.com), ou solicitá-lo, por escrito, ao Presidente da Mesa até às 23:59 horas (GMT) do dia 4 de abril de 2024.
f) Nos termos dos estatutos da Sociedade, considera-se revogado o voto por correspondência emitido no caso de presença (incluindo por via
telemática) do acionista ou do seu representante na Assembleia Geral.
VII. Requisitos Técnicos da Assembleia Geral por Meios Telemáticos
Os acionistas que pretendam participar na Assembleia Geral por meios telemáticos deverão assegurar que possuem os recursos técnicos e
operacionais mínimos para poderem aceder ao software Microsoft Teams. Para o efeito, poderá ser consultado o manual de instalação e utilização
técnica na página do Grupo Jerónimo Martins na internet, no folder “Participação em Assembleia Geral”, o qual se encontra na área referente à
Assembleia Geral Anual 2024 (https://www.jeronimomartins.com/pt/assembleia-geral-anual-2024/).
Os acionistas devem comparecer na reunião de Microsoft Teams até às 10:15hrs, para cumprimento de todas as formalidades prévias de verificação
da identidade.
A partir da data de divulgação da presente convocatória encontrar-se-ão à disposição dos acionistas, para consulta, na página do Grupo Jerónimo

CONHEÇA AS NOSSAS SELECÇÕES

Martins na internet (www.jeronimomartins.com), bem como na sede da Sociedade, durante as horas de expediente, os elementos e informações
preparatórias da Assembleia Geral, designadamente os previstos no artigo 289.º, n.º 1 do Código das Sociedades Comerciais e no artigo 21.º-J,
n.º 1 do Código dos Valores Mobiliários.
loja.publico.pt
DE VINHOS EM LOJA.PUBLICO.PT Lisboa, 22 de março de 2024
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral
Luis Miguel Reis Sobral INFO: 210 111 010
MAIS INFO: 210 111 010
32 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Guia
ecrãs
publico.pt/streaming
Inês Aires Pereira tem hoje
mais uma vida na série Erro 404
E se uma aplicação permitisse viver outras vidas (reais)? Patrícia Sequeira está
ao leme deste mix de humor e drama num embrulho sci-fi perigosamente próximo
Joana Amaral Cardoso
Na noite das eleições legislativas,
muita gente partilhou um meme
com Bruno Aleixo (quando o que
saiu das urnas desagradava a emis-
sores e destinatários) que dizia, bre-
jeiramente, “calhou cocó”. Cada
uma das experiências que Rita vive
em Erro 404 tem esse potencial. Os
espectadores da RTP e da RTP Play
já a viram na pele de uma mulher
em trabalho de parto ou numa festa
desbragada, de uma operadora de
caixa de supermercado ou, cliffhan-
ger da semana passada, no corpo de
um homem. Tudo graças a uma apli-
cação que lhe permite encarnar,
literal e temporariamente, vidas
alheias.
Erro 404 é a mais recente estreia
da continuada linha de Æcção em
série do canal público. Inês Aires
Pereira é a protagonista, dando um
lado lunar à sua habitual presença
mais ligada à comédia — não só nos
seus espectáculos ao vivo, em que já
colaborou com os brasileiros Porta
dos Fundos, mas também pelas par-
ticipações em programas como
Taskmaster ou, neste caso como jura-
da, Got Talent Portugal. Ei-la a que-
brar as regras e a usar leggings sem
ser ao domingo em casa, deprimida
pela perda que sofreu e que desen-
cadeia uma história sobre luto, soli-
dão e tecnologia.
“É uma série realizada e protago-
nizada por uma mulher portugue-
sa”, dizia a actriz, ainda em 2023,
na apresentação da nova grelha da
RTP. “Não é uma comédia, mas ao
mesmo tempo… sim. É uma história
dramática, pesada, não é Æcção
cientíÆca”, explicava aos jornalistas.
O motor da história é a Appy, “uma
aplicação que tem algo de Black Mir-
ror”, mas cujas consequências “têm
um lado muito cómico”, pondo os
espectadores a “rir de coisas trági-
cas”, completava, evocando a série
sobre os efeitos da tecnologia que
se tornou uma categoria Æccional
em si mesma.
A app de Erro 404 permite viver
outras vidas por períodos à escolha,
mas sempre sem saber que experiên-
cias dali poderão advir. Como a
Inês Aires Pereira é Rita, uma mulher seduzida por uma app que lhe permite viver outras vidas
Worldcoin, que anda pelo mundo,
Portugal incluído, a coligir as ima-
gens das íris de quem quiser entregar
os seus dados mais biometricamente
pessoais a troco de “dinheiro” (são
dezenas de euros, mas em cripto-
moeda), a Appy é algo misteriosa e
está em fase experimental. Portanto,
as consequências das fugas de Rita à
realidade começam a surgir. Como
um mundo virtual que começa a san-
grar para a realidade. Sexo mais ou
menos sem consentimento, empre-
go, quem sabe o que vem aí?
Tal como Black Mirror, as séries
Years and Years, Carbono Alterado,
Westworld, The One e até várias pro-
duções portuguesas já jogaram com
a tecnologia e o mundo das aplica-
ções e da inteligência artiÆcial. Nes-
ta temos o magnetismo de Inês Aires
Pereira, a amizade de Rui Maria
Pêgo, os convidados especiais —
Marisa Liz e Dino D’Santiago — e um
elenco central e alargado interes-
sante.
O terceiro episódio de Erro 404
chega hoje à RTP1, pelas 21h01
(assim, certinho). A série estreou-se
a 11 de Março, entrando no top dos
dez mais vistos do canal e ultrapas-
sando os 400 mil espectadores.
A eles juntam-se os milhares que
terão visto a série na RTP Play, em
diferido ou até em adiantado, mos-
trando que Erro 404 está a fazer um
caminho que granjeia simpatia e
interesse.
Um dedo recorrente
A esse efeito não será alheio o dedo
de Patrícia Sequeira, que de uma
perninha como realizadora em Rabo
de Peixe às séries O Clube ou Prisão
Domiciliária, passando pelos Ælmes
Bem Bom ou Snu, se vem Ærmando
como autora de ideias originais para
histórias, realizadora e produtora
com a sua Santa Rita Filmes.
Quando alguém no sector do
entretenimento parece de repente
estar em todo o lado, fala-se de “har-
NASHDOESWORK
dest working”. E não há de facto canal
que Patrícia Sequeira não tenha toca-
do, nem plataforma que lhe escape.
Realizadora e autora da ideia original
de Erro 404, assina os guiões com
Tota Alves e Guilherme Vital.
Mas o fenómeno Erro 404 também
não é dissociável de Inês Aires Perei-
ra. A actriz tem 34 anos e a sua Rita
tem 33. A sua tracção como inÇuen-
ciadora digital (tem mais de meio
milhão de seguidores só no Insta-
gram) é um factor de alavancagem
da série, assim como a marca de tele-
móveis e a rede de supermercados
que aparecem cosidas nas bainhas
do enredo. Juntam-se-lhes os apoios
do Instituto do Cinema e do Audio-
visual, os incentivos à rodagem do
PicPortugal e a parceria com a Câma-
ra de Lisboa.
Erro 404 ainda vai no adro, e tem
a difícil tarefa de se seguir a Matilha,
também da RTP e já uma das melho-
res séries do ano. Ainda a fazer
upload, está longe de ser um erro.
Estreias da semana
NETFLIX
Testamento: A História
de Moisés
Quarta-feira
Já cá faltava a programação pascal:
eis uma minissérie de três
episódios sobre Moisés, história
pouco conhecida no mundo
judaico-cristão. Ironias à parte,
este “docudrama cativante” inclui
entrevistas com especialistas.
FILMIN
Pontas Soltas
Quinta-feira
Um Ælme de Ricardo Oliveira
sobre a amizade e o trabalho que
unem a banda portuguesa Capitão
Fausto. Os membros do grupo
falam do seu processo criativo,
mas também do de outros artistas.
It’s Such a Beautiful Day
Quinta-feira
Filme de animação de Don
Hertzfeldt sobre Bill, um homem
com um problema neurológico
desconhecido que lhe provoca
lapsos de memória e visões
surreais. Trata-se da compilação
das três curtas-metragens que
compõem a chamada “trilogia de
Bill”: Everything Will be OK, I Am
So Proud of You e It’s Such a
Beautiful Day.
HBOMAX
Jerrod Carmichael
Reality Show
Sábado
Jerrod Carmichael é especial. É
alguém de quem se gosta, que
gera empatia, que não faz comédia
de gargalhada estridente nem com
esquemas elaborados (como os
Blocks de Neal Brennan ou as
matrioscas de Bo Burnham). A sua
investida numa espécie de
documentário da vida real é só
mais uma exploração de uma
busca pela identidade (sua e dos
outros), em torno do amor, do
sexo e da empatia.
RTP2
Daniel Faria — O Silêncio
e a Palavra
Domingo, às 19h55
Daniel Faria (1971-1999) foi um
inÇuente poeta de vida curta mas
larga sombra que paira ainda
sobre a vida cultural nacional. A
jornalista e realizadora Marlene
Maia vai em busca do que Æcou
por contar.

Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100. T. 214221030
A Zona de Interesse M12. 13h30; Anatomia
de Uma Queda 16h45; Folhas Caídas M12.
13h35; Os Excluídos M12. 18h35; A Sala de
Professores M12. 19h45; A Irmandade da
Sauna M12. 19h45; Dune - Duna: Parte
Dois M12. 15h15, 21h10; Priscilla M14.
14h30; A Flor do Buriti M12. 19h; Shoshana
- A Terra Prometida M12. 14h25; O Panda
do Kung Fu 4 M6. 15h35, 17h40 (VP);
A Terra Prometida 21h45; Paloma 21h50;
Mataram o Pianista M12. 21h45;
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 214221030
Oppenheimer M14. 21h10; O Rapaz e a
Garça M12. 13h30, 21h35; Inseparáveis
M6. 17h45 (VP) ; Patos! M6. 13h40, 15h45
(VP); Pobres Criaturas 21h50; Anatomia
de Uma Queda M12. 18h30; Os Excluídos
M12. 15h55; Bob Marley: One Love M12.
19h40; Dune - Duna: Parte Dois M12. 15h25,
17h50, 19h30, 21h30; O Meu Amigo Ninja
2 M6. 13h20, 15h20 (VP); Amigo
Imaginário M14. 13h35; Culpado - Inocente
- Monstro M12. 18h50; Shoshana - A Terra
Prometida M12. 17h20; O Panda do Kung
Fu 4 M6. 13h35, 15h15, 15h50, 17h20, 19h25,
21h25; Arthur Amigo para Sempre M12.
15h40, 19h45, 21h55; Caça-Fantasmas: O
Império do Gelo 15h15, 17h30, 19h45, 22h
Cinema Fernando Lopes
Cp. Grande. T. 217515500
A Sala de Professores 21h45; A Irmandade
da Sauna 18h; Yannick 16h30; A Terra
Prometida M14. 14h; Mataram o
Pianista M12. 19h45
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
A Zona de Interesse M12. 16h45;
A Flor do Buriti M12. 19h, 21h15
Cinemas Nos Alvaláxia
R. Francisco Stromp. T. 16996
Oppenheimer M14. 20h50; A Zona de
Interesse M12. 19h10, 22h; Pobres Criaturas
14h30, 17h35, 20h45; Anatomia de Uma
Queda M12. 14h, 17h10, 20h20; Vidas
Passadas M12. 19h, 21h40; Os
Excluídos M12. 21h45; Bob Marley: One
Love M12. 13h50, 18h40, 21h35; Dune - Duna
13h30, 17h40, 21h20; A Flor do Buriti M12.
13h35, 16h15; O Panda do Kung Fu 4 M6.
13h25, 15h55, 18h25 (VP/2D), 16h25
(VP/3D); A Melodia do Mal M16. 14h15,
16h40, 18h55, 21h10; Caça-Fantasmas:
O Império do Gelo Atmos - 13h15, 15h50,
18h25, 21h; The Bricklayer 13h55, 16h30,
19h05, 21h50; Obrigado, Rapazes M14.
13h40, 16h20; Amor em Sangue M16.
13h20, 15h45, 18h10, 21h05; Mataram
o Pianista M12. 13h45, 16h10, 18h50
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Engº Duarte Pacheco. T. 16996
Oppenheimer M14. 20h20; A Zona de
Interesse 17h50; Pobres Criaturas M16.
14h30, 20h50; Anatomia de Uma
Queda M12. 15h50; Vidas Passadas M12.
21h30; Bob Marley: One Love M12.
21h10; Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h10,
17h, 20h40; Priscilla M14. 13h20, 19h; A Flor
do Buriti M12. 14h, 17h20; O Panda do Kung
Fu 4 M6. 10h40, 13h20, 15h40, 18h
(VP/2D); Arthur Amigo para Sempre M12.
13h30, 16h10, 18h40; Caça-Fantasmas:
O Império do Gelo M12. 13h40, 16h40,
21h; Amor em Sangue M16. 20h30
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusiada. T. 16996
Oppenheimer M14. 22h10; Bob Marley:
One Love M12. 13h, 15h30, 18h10, 21h,
23h55; Madame Web M12. 18h40, 21h40,
00h20; Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h30,
17h, 20h30, 24h; Amigo Imaginário M14.
22h, 00h30; O Panda do Kung Fu 4 M6.
13h40, 16h10 (VP/2D), 12h40, 15h10, 17h30,
19h45 (VP/3D); A Melodia do Mal M16.
20h50, 23h20; Arthur Amigo para
Estreias
A Flor do Buriti
De João Salaviza, Renée Nader
Messora. POR/BRA. 2023.
123m. Drama. M12.
Um drama que percorre três
épocas da história do povo
krahô, uma comunidade
indígena que vive isolada no
interior de uma Çoresta, através
do olhar de uma menina.
Obrigado, Rapazes
De Riccardo Milani. Com
Antonio Albanese, Alessia
Amendola, Michele Astori. ITA.
2023. 117m. Comédia Dra. M14.
Sem grandes alternativas de
trabalho, Antonio sobrevive a
fazer dobragens de Ælmes
pornográÆcos. Um dia, aceita
uma proposta para dar aulas de
teatro num estabelecimento
prisional sem imaginar o quanto
isso será transformador.
Mataram o Pianista
De Fernando Trueba, Javier
Mariscal. Com Jeff Goldblum
(Voz), Tony Ramos (Voz). FRA/
Peru/HOL/ESP/POR/GB. 2023.
103m. Drama, Animação. M12.
Um Ælme de animação que
segue um jornalista musical
nova-iorquino que decide
investigar o desaparecimento,
em 1976, do pianista brasileiro
Tenório Cerqueira Júnior.
Caça-Fantasmas:
O Império do Gelo
De Gil Kenan. Com Mckenna
Grace, Carrie Coon, Paul Rudd,
Bill Murray. EUA. 2024. 115m.
Comédia, Aventura. M12.
Trevor e Phoebe, sucessores
meritórios dos Caça-Fantasmas,
têm de enfrentar a coisa mais
sinistra que viram nas suas vidas:
o “calafrio fantasma”, uma
espécie de tempestade de gelo
que, em pleno mês de Julho,
congelou centenas de pessoas na
cidade de Nova Iorque.
Sempre M12. 13h15, 15h40,
18h; Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 13h10, 15h50, 18h30, 21h10,
23h50; The Bricklayer: Missão
Mortal 13h20, 16h, 18h50, 21h30,
00h10; Amor em Sangue M16. 14h, 16h40,
19h20; Dune - Duna: Parte Dois M12. Sala
Imax - 12h50, 16h30, 20h10, 23h40
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Pobres Criaturas M16. 20h10, 23h20;
Bob Marley: One Love M12. 20h50, 23h30;
Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h40, 17h30,
21h20; Amigo Imaginário M14. 21h;
O Panda do Kung Fu 4 M6. Sala Atmos -
10h50, 13h20, 15h50 (VP/2D), 18h20 16h10
(VP/3D); Arthur Amigo para Sempre M12.
14h, 16h50; Caça-Fantasmas: O Império do
Mataram
o Pianista
O Faraó Negro,
o Selvagem e a Princesa
De Michel Ocelot. FRA/BEL.
2022. 83m. Animação.
Este Ælme de animação,
realizado por Michel Ocelot,
conta-nos três histórias que
envolvem faraós, princesas,
selvagens, tiranos implacáveis
e cortes otomanas.
A Melodia do Mal
De Erlingur Thoroddsen. Com
Charlotte Hope, Julian Sands,
Kate Nichols, Oliver Savell. EUA.
2023. 95m. Terror. M16.
Depois da trágica morte do seu
mentor, uma jovem Çautista
concorda em terminar uma
composição a que ele dedicou os
seus últimos meses de vida. Mas
não tarda a compreender que há
algo de maligno naquela
partitura.
Arthur Amigo para Sempre
De Simon Cellan Jones. Com
Mark Wahlberg, Nathalie
Emmanuel. EUA. 2024. 90m.
Aventura. M12.
Um Ælme que conta um episódio
acontecido ao sueco Mikael
Lindnord quando participava
numa difícil prova de atletismo
na República Dominicana e se
cruzou com um cão vadio de
quem viria a tornar-se
inseparável.
The Bricklayer: Missão Mortal
De Renny Harlin. Com Aaron
Eckhart, Nina Dobrev. EUA/
GRE/BUL. 2023. 110m.
Thriller, Acção. M12.
Jornalistas de vários países são
brutalmente assassinados, Nos
locais do crime são deixados
indícios que apontam para a
responsabilidade da CIA. Steve
Vail, um ex-agente reformado,
tem de regressar ao activo para
encontrar os verdadeiros
culpados.
Gelo M12. Sala Atmos - 13h10, 18h50,
21h40, 23h40; The Bricklayer: Missão
Mortal 13h30, 16h20, 19h, 21h50;
Amor em Sangue M16. 13h50, 16h30
Cinemateca Portuguesa
R. Barata Salgueiro, 39. T. 213596200
Aparelho Voador a Baixa Altitude M12.
19h; Ladrão de Alcova 21h30; Magia ao
Luar M12. 19h30; Safe in Hell 15h30
Medeia Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213142223
Forty Guns 22h; Os Carabineiros 13h;
O Anjo Exterminador M12. 14h30; Made
in USA 20h; O Faraó Negro, o Selvagem
e a Princesa 16h15; Levante M14. 18h
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Oppenheimer M14. 15h50, 21h35; Dias
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 33
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Perfeitos M12. 13h25, 18h55; A Zona de
Interesse M12. 16h45, 21h30; Pobres
Criaturas M16. 13h35, 16h, 19h,
21h25; Anatomia de Uma Queda M12.
15h45, 18h50; Vidas Passadas M12. 16h35,
21h55; Os Excluídos M12. 15h55, 18h45,
21h35; A Sala de Professores M12. 14h15,
19h20; Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h30,
14h50, 16h50, 18h15, 21h10, 21h50; Eu
Capitão M12. 14h05, 21h05; A Última
Evasão M12. 13h45, 19h25; Priscilla M14.
13h25, 18h55; A Flor do Buriti M12. 16h10,
21h35; Shoshana - A Terra Prometida M12.
13h50, 19h05; O Panda do Kung Fu 4 M6.
14h, 16h20, 18h35 (VP); Levante M14.
13h35; Arthur Amigo para Sempre M12.
16h55, 19h10, 21h25; Caça-Fantasmas:
O Império do Gelo M12. 13h30, 16h15, 19h,
21h45; A Terra Prometida M14. 13h40,
18h40; Obrigado, Rapazes M14. 16h25,
21h40; Amor em Sangue M16. 13h20,
22h; Mataram o Pianista M12. 16h20, 18h40
Amadora
Cinema City Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
Oppenheimer M14. 21h10; Patos! M6.
15h40, 17h45 (VP) ; Todos Menos Tu M12.
19h50; A Zona de Interesse 19h40; Pobres
Criaturas M16. 21h35; Anatomia de Uma
Queda M12. 18h30; Vidas Passadas M12.
19h50; Os Excluídos M12. 21h50; Bob
Marley 13h, 17h35, 19h45; Madame
Web M12. 15h20; Dune - Duna 15h45, 17h40,
19h30, 21h30; O Meu Amigo Ninja 2 M6.
15h25 (VP); Amigo Imaginário M14.
21h55; Shoshana - A Terra Prometida M12.
15h55; O Panda do Kung Fu 4 M6. 15h15,
15h50, 17h20, 18h40, 19h25, 21h35; Arthur
Amigo para Sempre M12. 15h40, 17h45,
21h55; Caça-Fantasmas M12. 15h15, 17h30,
19h45, 22h; The Bricklayer: Missão
Mortal 15h20, 17h30, 21h45
UCI Cinemas - Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Bob Marley: One Love M12. 13h45, 16h10,
18h45, 21h20; Madame Web M12. 13h40,
16h40; Dune - Duna: Parte Dois M12. 13h50,
16h30, 18h, 21h30; Amigo Imaginário M14.
14h05, 16h35, 19h10, 21h50; O Panda do
Kung Fu 4 M6. 14h, 14h25, 16h20, 16h45,
18h40 (VP); Vermin - A Praga 21h40; Arthur
Amigo para Sempre M12. 14h10, 16h25,
18h55, 21h10; Caça-Fantasmas: O Império
do Gelo M12. 13h30, 13h55, 16h15, 19h,
21h15, 21h45; The Bricklayer: Missão
Guia
Mortal 19h05, 21h35; No Way Up
- Sem Saída M16. 19h25, 21h55
Barreiro
Castello Lopes - Fórum Barreiro
Campo das Cordoarias. T. 212069440
Bob Marley 21h45; Dune - Duna: Parte
Dois M12. 14h15, 17h30, 20h45; Amigo
Imaginário M14. 19h35; O Panda do Kung
Fu 4 M6. 13h05, 15h15, 17h25 (VP); Arthur
Amigo para Sempre M12. 15h30, 17h30,
19h30, 21h30; Caça-Fantasmas: O Império
do Gelo M12. 14h20, 16h45, 19h10,
21h35; Mataram o Pianista M12. 13h20
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
Estrada Nacional nº. 7 - Alcabideche.
Oppenheimer M14. 21h30; Todos Menos
Tu M12. 13h45, 16h15; Pobres Criaturas M16.
16h30; Bob Marley 14h, 19h30, 22h15; Dune
- Duna: Parte Dois M12. 10h45, 14h15, 18h,
22h; Amigo Imaginário M14. 19h, 21h15;
O Panda do Kung Fu 4 M6. 11h, 13h, 15h15,
18h15 (VP/2D), 11h30, 14h30, 16h45
(VP/3D); A Melodia do Mal M16. 18h30,
20h45, 23h; Caça-Fantasmas: O Império do
Gelo M12. 12h45, 15h45, 18h45, 21h45; The
Bricklayer: Missão Mortal 17h30, 20h15,
22h45; Amor em Sangue M16. 12h30,
15h; Dune - Duna: Parte Dois M12. Sala Imax
- 13h15, 17h15, 21h
Carcavelos
Atlântida-Cine
CC. Carcavelos. T. 214565653
A Zona de Interesse M12. 15h, 21h;
A Terra Prometida M14. 15h, 21h
Sintra
Castello Lopes - Alegro Sintra
Alegro Sintra, Alto do Forte. T. 219184352
Todos Menos Tu M12. 13h10, 15h15, 17h20,
19h25, 21h30; Bob Marley: One Love M12.
14h45, 17h, 19h15, 21h30; Dune - Duna 14h15,
17h30, 20h45; Amigo Imaginário M14.
17h05, 19h20, 21h35; O Panda do Kung
Fu 4 M6. 13h10, 15h20, 17h30, 19h40
(VP); Vermin - A Praga 21h50; Arthur Amigo
para Sempre M12. 13h15, 15h15, 17h15,
19h15, 21h15; Caça-Fantasmas: O Império
do Gelo M12. 14h20, 16h45, 19h10,
21h35; Mataram o Pianista M12. 14h50
34 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Guia
Lazer
LEITURAS
Uma Boca Cheia de Pássaros
LISBOA Teatro da Politécnica.
Dia 25/3, das 19h às 21h. Grátis,
mediante inscrição prévia
Marcado para a última
segunda-feira de cada mês, o
Clube de Leitura de Peças de
Teatro promovido pelo Teatro da
Cidade em parceria com os
Artistas Unidos centra-se hoje na
obra Uma Boca Cheia de Pássaros,
escrita por Caryl Churchill.
Inspirado na tragédia As Bacantes
de Eurípides, o texto da
dramaturga britânica questiona
“experiências da loucura, da
possessão e da violência”, explica
a sinopse. A sessão conta com a
direcção de Nídia Roque.
MÚSICA
Festival Internacional
de Trompete do Algarve
LOULÉ Vários locais. De 24/3
a 26/3. Grátis a 5€
Concertos, masterclasses,
workshops, conferências, debates
e exposições compõem o cartaz
da sexta edição do festival,
organizado pela Casa da Cultura
de Loulé com o apoio do
Conservatório de Música e do
Cineteatro Louletano.
GASTRONOMIA
Mês da Enguia
SALVATERRA DE MAGOS
De 1/3 a 31/3.
Frita ou em caldeirada, grelhada ou
em ensopado, escalada ou em
migas, em espetada ou cataplana, a
enguia tem honras de ingrediente
principal em Salvaterra de Magos. A
mesa está posta em 17 restaurantes
que se prontiÆcam a mostrar “os
saberes e sabores do concelho,
desde as receitas mais tradicionais
às mais inovadoras”, assegura a
autarquia. A festa é gastronómica,
mas não se esgota nas ementas. A
ela juntam-se 12 unidades de
alojamento, quatro chancelas de
vinhos e licores e dois operadores
de passeios de barco no Tejo, sem
esquecer os cerca de 100 artesãos e
produtores reunidos na Feira
Nacional de Artesanato e Produtos
Tradicionais. Quem lá passar pode
também contar com música,
exposições, teatro, passeios,
demonstrações desportivas,
torneios, workshops e caminhadas,
entre outras animações. Mais em
www.mesdaenguia.pt.
Jogos Jogue também online.
Palavras cruzadas,
bridge e sudoku em
publico.pt/jogos
Cruzadas 12.380 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
Horizontais: 1. Mantém rating de Portugal em A- com perspectiva estável. “Quem
quiser andar pouco e mal, meta-se no (...)”. 2. Monumental. Soluço com que ficam
as crianças depois de chorar (regional). 3. Sorteio por meio de bilhetes
numerados. Temporão (diz-se principalmente dos figos). 4. Usa demasiado.
Unidade de pressão. 5. Sorte (pop.). Aqui está. 6. Cresce entre quem se sente
esquecido. 7. Passado. Liga. 8.- Ouvir-se. Colheita parcial do mel nos cortiços. 9.-
Luta pela igualdade. Preposição que indica lugar. 10. Riccardo (...), realizador do
filme “Obrigado, Rapazes”. 11. Restabelece. Matizar.
Verticais: 1. Portento (fig.). Pensar muito em. 2. Impede (um movimento natural).
Entrego. 3. Queijo de soja. Leve poeira em suspensão no ar. 4. Grosseiro. Símbolo
de Rhesus. 5. Símbolo de hectómetro. Legume recomendado em dietas.
Personagem de Leonor Silveira no filme “Vale Abraão”, de Manoel de Oliveira. 6.
Artigo antigo. Desguarnecido. Acreditei. 7. Partir. Rio chinês muito visitado por
turistas. 8. Montão. Repetir. 9. Adoptam regime híbrido de trabalho com incentivos
à presença no escritório. Letra grega correspondente ao n. 10. Haste horizontal da
charrua. Um dos dígrafos da língua portuguesa. Urdidura. 11. Variante do pronome
“o”. Põem só.
Solução do problema anterior
Horizontais: 1. Alemanha. AL. 2. Laser. Madre. 3. Oitava. Sari. 4. Álamo. Ver. 5. Hl. BCE. 6. Alba. Eia. 7.
Bordar. Lota. 8. Atuarro. Mil. 9. RAM. Coimbra. 10. Craca. Tirar. 11. Lerdo. Ora.
Verticais: 1. Alor. Abarca. 2. Lai. Alotar. 3. Está. Brumal. 4. Mealhada. CE. 5. Arval. Arcar. 6. AM. Erro. 7.
Hm. Obi. Oito.8. Aas. Cal. Mi. 9. Dave. Ombro. 10. Arre. Atirar. 11. Leira. Alara.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Sul com o Ás e vá ao morto duas Problema 12.526 (Fácil)
Vul: NS vezes através das espadas para
jogar paus em direcção às figu-
ras de Sul. Quando Este apre-
NORTE
Ƅ AQ6 sentar a Dama de paus, faça
Ɔ7543 uma vénia e deixe-a fazer a vaza!
Ƈ A8 Considere o seguinte leilão:
ƅ 9542
Oeste Norte Este Sul
OESTE ESTE
Ƅ108 Ƅ J9432 1Ƅ X
ƆKJ962 Ɔ Q8 2Ƅ X passo ? Solução 12.524
Ƈ 1094 Ƈ QJ32
ƅ J108 ƅ Q7 O que abre em Sul com a
SUL seguinte mão?
Ƅ K75 Ƅ3 ƆQ1084 ƇA973 ƅAQ93
Ɔ A10
Ƈ K765
ƅ AK63 Resposta: Marque 3ƅ . Este
dobre, após uma abertura e
apoio por parte dos adversários
Oeste Norte Este Sul e uma qualquer acção do nosso
1ST
lado, é conhecido por ser res-
passo 2ƅ passo 2Ƈ ponsivo: promete os dois naipes
passo 3ST Todos passam
da espécie contrária (ou os dois
que faltam caso a nossa acção
Leilão: Qualquer formato de Problema 12.527 (Médio)
tenha sido em naipe). Vamos
Bridge. escolher o nosso melhor pobre,
pois o parceiro tem pelo menos
Carteio: Saída: 6Ɔ. O adversário 4-4 nos dois naipes pobres e
da direita fornece a Dama. Qual a não deverá ter quatro cartas a
melhor linha de jogo? copas.
Solução: Os paus divididos 3-2 é
a nossa hipótese de necessidade
(sem ela não é possível cumprir). Solução 12.525
As copas não estão 4-3: é o que
queremos antecipar e procurar
uma medida de segurança para
essa possibilidade. E agora? Dei-
xamos passar para desarmar a
defesa? E para evitar Oeste?
Esperar que ele tenha apenas
duas cartas a paus?
Há melhor a fazer. Recue a pri-
meira copa, prenda a seguinte

CINEMA
O Fundador
Cinemundo, 13h10
Filme biográÆco sobre a origem da
McDonald’s, com argumento de
Robert Siegel, realização de John
Lee Hancock e interpretações de
Patrick Wilson, Laura Dern, Linda
Cardellini e Michael Keaton. Nos
EUA dos anos 1950, Raymond
Alexander Kroc é um
caixeiro-viajante que vende
batedeiras. Um dia, recebe uma
grande encomenda dos irmãos
Richard e Maurice McDonald, que
abriram uma hamburgueria
inovadora. Kroc acaba por
comprar o negócio e transformar
um pequeno comércio familiar
num império de fast food.
Chile, 1976
RTP2, 22h55
O ano é 1976. O Chile vive sob a
ditadura do general Augusto
Pinochet, que se prolongará até
1990. Enquanto o marido, Ælhos e
netos vão chegando e partindo,
Carmen (Aline Küppenheim) passa
o Inverno na casa de praia da
família, para supervisionar umas
obras de remodelação. A sua vida,
até aí tranquila, é virada do avesso
quando acede ao pedido do padre
da vila (Hugo Medina) para
acolher um jovem rebelde (Nicolás
Sepúlveda) que está ferido e é
procurado pelas autoridades.
Estreia em realização da argentina
Manuela Martelli, que escreve o
argumento com Alejandra Moèat,
este Ælme de 2022 teve a sua
estreia na secção Directors’
Fortnight de Cannes.
SÉRIE
A.D.: Reino e Império
RTP1, 23h43
Estreia. Todos os dias, até à
véspera da Páscoa, há episódio
duplo desta produção americana
de teor religioso. Funciona como
sequela de outra série, A Bíblia (e
do respectivo Ælme, O Filho de
Deus), que tinha Diogo Morgado
como protagonista. Ao longo de 12
episódios, A.D.: Reino e Império
descreve os desaÆos que, depois
da cruciÆcação e ressurreição de
Cristo, os apóstolos enfrentam
para espalhar a palavra do profeta
e lançar os alicerces de uma nova
igreja.
DOCUMENTÁRIOS
Duplas à Portuguesa
RTP2, 15h36
Reposição da série documental
descrita pela RTP como um
conjunto de “histórias de grandes
Æguras que marcaram Portugal e
da alma gémea que as inspirou
Televisão
RTP1
6.00 Bom Dia Portugal 10.00 Praça
da Alegria 12.59 Jornal da Tarde
14.15 Hora da Sorte - Lotaria Clássica
14.22 Escrava Mãe 15.07 A Nossa
Tarde 17.30 Portugal em Directo
19.02 O Preço Certo 19.53 Direito de
Antena
19.59 Telejornal
21.01 Erro 404
21.46 Joker
22.45 Nunca É Tarde
23.43 A.D.: Reino e Império 1.12 A
Caminho do Euro 2024 1.38 A Essência
1.52 Grandiosa Enciclopédia do
Ludopédio 2.40 Escrava Mãe
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.10 Alô
Portugal 9.45 Casa Feliz 13.00
Primeiro Jornal 14.45 Linha Aberta
16.25 Júlia 18.25 Morde & Assopra
19.30 Era Uma Vez na Qui
Quinta
Q nta
19.57 Jornal da Noite
22.10 Senhora do Mar
22.55 Papel Principal - A Vingança
23.35 Flor sem Tempo
0.45 Papel Principal 1.05 Travessia
1.55 Passadeira Vermelha 3.40 Terra
Brava
Os mais vistos da TV
Sábado, 23
Cacau
% Aud. Share
TVI 8,1
Jornal da Noite SIC 8,0
Primeiro Jornal SIC 7,3
O Preço Certo RTP1 7,1
Jornal Nacional TVI 6,8
FONTE: CAEM
RTP2
6.30 Temos Programa 7.00 Espaço
Zig Zag 10.41 Folha de Sala 10.45
Madeira Profunda 11.10 Portugal de...
11.58 Dar-te-ei Tudo Isto 12.43 Terra
Europa 13.05 E2 - Escola Superior de
Comunicação Social 13.31 Joga Quem
Quizzer 13.52 Folha de Sala 14.00
Sociedade Civil
15.03 A Fé dos Homens 15.36 Duplas à
Portuguesa 16.06 Enfermeiros dos
Corais
17.01 Espaço Zig Zag 20.36 Uma
Cidade em 2 ou 3 Dias 21.30 Jornal 2
22.01 Cobra: Gabinete de Crise -
Rebelião 22.46 Folha de Sala
22.55 Chile, 1976 0.31 Esec TV 0.58
Sociedade Civil 2.04 Folha de Sala
2.08 Bardot
3.04 Impressões do Oriente: As
Viagens de Fernão Mendes Pinto de
Goa a Malaca 3.31 Músicas d’África
4.30 Nha Terra Nha Cretcheu 5.32
Escapadelas em Angola
TVI
6.15 Diário da Manhã 9.55 Dois às 10
12.58 TVI Jornal 14.10 TVI - Em Cima
da Hora 15.40 A Herdeira 16.30
Goucha 17.45 Big Brother
19.57 Jornal Nacional
cional
21.30 Big Brother
herr
22.00 Cacau
23.00 Festa É Festa
0.00 Big Brother 2.15 Doida por Ti
2.50 Deixa Que Te Leve
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 35
RTP1 10%
17,4
RTP2 0,6
17,1 SIC 12,8
TVI
21,9
16,7 12,2
Cabo
14,5
43,4
TVCINE TOP
18.10 O Filho dos Outros 19.50 Um Dia
para Morrer 21.30 O Príncipe Volta a
Nova Iorque 23.20 Big Sky River 0.45
The Vigil - O Despertar do Mal
STAR MOVIES
18.07 Baptismo de Fogo 19.36
O Massacre 21.15 O Regresso do Ninja
Americano 22.43 Desaparecido em
Combate 0.21 Desafio Total
HOLLYWOOD
17.20 O Fugitivo 19.40 Conta Todas as
Regras 21.30 O Especialista 23.25
Wolves at the Door 0.40 Blade Trinity:
Perseguição Final
AXN
17.42 The Rookie 19.22 Mentes
Criminosas 21.06 Hudson & Rex 22.00
S.W.A.T.: Força de Intervenção 22.54
Hudson & Rex 23.48 Chicago Fire 0.40
Meg: Tubarão Gigante
STAR CHANNEL
17.15 Investigação Criminal: Los Angeles
18.49 FBI International 20.25 Hawai
Força Especial 22.15 Tracker 23.02
Magnum P.I. 23.57 Mundo Jurássico
DISNEY CHANNEL
17.15 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug 18.05 A Maldição de Molly
McGee 18.55 Vamos Lá, Hailey! 19.40
Os Green na Cidade Grande 20.50 Gru -
O Maldisposto
DISCOVERY
D amarelos e doidos por bananas,
117.20 Mestres do Restauro 18.15 Múmias
RReveladas 19.10 Aventura à Flor da Pele
222.50 Aventura à Flor da Pele XL
HISTÓRIA
H Balda, este Ælme narra a sua longa
17.34
1 Jerusalém: Cidade de Fúria e
Esperança
E 18.16 Histórias Misteriosas da
BBíblia 20.04 A Comida Que Mudou o
MMundo 22.15 O Código de Deus 23.42
JJerusalém: Cidade de Fúria e Esperança
ODISSEIA
O vozes à versão portuguesa. O
17.14 Resgate de Animais Bebés
17.42 Curiosidades do Mundo Animal
18.31 Clima Letal 20.11 Pesca Extrema
Abaixo de Zero 20.55 Uma Quinta, 9
Filhos e 1.000 Ovelhas 22.31 Caçadores
de Lagostas 0.07 Pesca Extrema Abaixo
de Zero
Guia
(....), de forma rigorosa, mas
descontraída, livre e sempre que
possível bem-humorada”. A
relação de Sá Carneiro e Snu
Abecassis ocupa o primeiro dos 13
episódios. São emitidos
diariamente, à excepção do
Æm-de-semana.
Xuxa — O Documentário
Globo, 22h30
A propósito do 61.º aniversário de
Xuxa, celebrado a 27 de Março, a
Globo emite, entre hoje e
quinta-feira, esta docussérie em
quatro partes sobre a
apresentadora brasileira que
marcou gerações de “baixinhos”.
Promete não fugir a “abordar
assuntos mais sensíveis”, nas
entrevistas conduzidas por Pedro
Bial, e contemplar “revelações
inéditas e reencontros exclusivos”.
A própria, citada pela Globo, diz
que “o documentário é como um
raio X, uma grande homenagem
em vida”.
CULINÁRIA
Os Segredos da Tia Cátia
24Kitchen, 21h
O tomate é o ingrediente escolhido
para dar início à 16.ª temporada
do programa servido por Cátia
Goarmon. Recheada de novas
receitas de pratos e sobremesas,
esta fornada de episódios será
temperada pela presença de
convidados como os chefs Miguel
Mesquita e Carlos Afonso, o cantor
Jorge Guerreiro, a vencedora do
Masterchef Portugal Sahima Hajat
ou o apresentador Júlio Isidro.
Para saborear de segunda à sexta.
INFANTIL
Mínimos (VP)
Disney Channel, 10h55
Os mínimos são uma comunidade
de incontáveis seres pequenos,
cujas vidas só fazem sentido se
servirem um vilão. Com Gru
encontraram a simbiose perfeita.
Mas nem sempre foi assim.
Assinado por Pierre Coên e Kyle
busca por um amo, fosse um
tiranossauro, Napoleão ou o
Drácula, até se deixarem seduzir,
nos anos 1960, pela maquiavélica
Scarlett Overkill. Soraia Chaves,
César Mourão, Herman José e
Vasco Palmeirim emprestam as
Disney Channel aproveita as férias
escolares para emitir outros Ælmes
deste universo. Hoje, às 20h50,
passa Gru — O Maldisposto;
amanhã, é a vez da sequela, às
10h55, e do terceiro capítulo, às
20h50, com repetições nos
próximos dias.
 36 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024

Guia

Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA
Viana do Castelo Terça-feira, 26 Quarta-feira, 27 Quinta-feira, 28
Bragança
6º
14º
13º
11º 13º 13º 16º 10º 15º
Braga -1º
13 º Índice UV Médio Índice UV Médio Índice UV Médio
3º Vila Real
14º Porto Vento Moderado Vento Moderado Vento Moderado
11º Humidade 78% Humidade 89% Humidade 87%
2,8m 13 º 0º
6º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 14 º
14º 3º 14º Mauna Loa, Havai Portugal
6º 0º
Partes por milhão Excelente
(ppm) na atmosfera Razoável Porto
Coimbra Valores por semana Mau
13º Não é Coimbra
4º Castelo Branco Semana de 17 Mar. 425,37 saudável
Há um ano 420,75 Nada
15º Há dez anos 400,87 saudável Lisboa
Leiria 4º
14º Semana de 10 Mar. 425,74 Perigoso Évora
6º
Nível de segurança 350
Santarém Nível pré-industrial 280
Portalegre Faro
17 º
5º 14º
2º SOL LUA
Lisboa 02 Abr. 3h15
16 º 08 Abr. 18h21
8º Évora
Setúbal 16º 15 Abr. 21h14
16º 5º Nascente Poente Nascente Poente
8º
06h31 18h54 23 Abr. 23h49 19h21 6h59*
*de amanhã

Sines Beja EUROPA

16º 17º Helsínquia
9º 6º Oslo
Estocolmo
15º Talín

Esteve no
2m Riga
Copenhaga

Vílnius

Largo do Carmo
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 20º
8º Bruxelas
17º Faro Praga

a 25 de Abril de 1974? 11º

16º
1,5m
Paris

Genebra
Viena Budapeste

Conhece alguém Açores Milão

Corvo Roma

que tenha estado?

Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 17º
17º Atenas
14º 2,2m
São Jorge 16º
17º 12º
Identifique as fotografias 2,2m Terceira TEMPERATURAS ºC
e partilhe as histórias! Faial
Pico
16º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
Conheça os relatos de 17º
16º 13º Amesterdão 4 12 Roma 10 19
quem lá esteve, a viver este 2m
Ponta Delgada
Atenas 10 21 Viena 2 13
Berlim 1 9 Bissau 25 36
“dia inicial inteiro e limpo” Bruxelas 6 13 Buenos Aires 17 24
Sta Maria
Madeira Bucareste 3 12 Cairo 15 23
Porto Santo Budapeste 2 13 Caracas 20 33
Copenhaga 0 7 Cid. do Cabo 16 23
Madeira
19º 20º 19º 19º Dublin 6 10 Cid. do México 11 29
12º 14º
1m 3m Estocolmo -2 3 Díli 25 32
Frankfurt 3 12 Hong Kong 22 30
Funchal Genebra 4 11 Jerusalém 6 15
Istambul 6 15 Los Angeles 10 20
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 4 9 Luanda 26 33
Londres 8 12 Nova Deli 22 34
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 5 14 Nova Iorque 4 12
09h08 0,6 08h41 0,8 08h35 0,7 Milão 9 17 Pequim 6 17
15h16 3,3 14h50 3,3 14h54 3,2 Moscovo -1 6 Praia 20 27
Veja mais em Oslo -1 4 Rio de Janeiro 24 28
publico.pt/50-anos-25-abril 21h15 0,7 20h48 0,8 20h42 0,7 Paris 8 13 Riga 0 6
03h27* 3,4 03h02* 3,4 03h09* 3,3 Praga 0 9 Singapura 26 36
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
 Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 37

Grande Prémio de Portugal em motociclismo Desporto

Miguel Oliveira salva nono lugar

em triunfo seguro de Jorge Martín
Piloto português cumpre objectivo de terminar no top-10, mas deixa Portimão com poucos motivos para
sorrir. Quedas de Viñales, Bagnaia e Marc Márquez revolucionam classiÄcação. Pedro Acosta no pódio
RODRIGO ANTUNES/REUTERS

Augusto Bernardino
O vice-campeão mundial de MotoGP,
Jorge Martín (Ducati), conquistou
ontem, em Portimão, a primeira
vitória de 2024 ao receber a bandei-
rada de xadrez de José Mourinho
para o grande vencedor do Grande
Prémio de Portugal, segunda prova
do calendário da classe-rainha. O
espanhol ascendeu ainda à liderança
destacada do campeonato, com 60
pontos, ao beneÆciar do abandono
de Francesco Bagnaia, envolvido em
acidente com Marc Márquez a três
voltas do Æm.
Miguel Oliveira (Aprilia) terminou
a corrida no nono lugar (depois de
ter partido de 15.º), mas deixou
transparecer um certo desalento
pelo desfecho de uma corrida em
que, virtualmente, até poderia ter
conseguido um sexto lugar, não fos-
se o erro provocado pela ultrapassa-
gem da Ducati de Marco Bezzecchi,
na descida da primeira curva, que o
fez perder outras duas posições
quando rodava precisamente na
nona posição.
Miguel Oliveira não escondeu a
frustração de não ter podido retri-
buir o apoio do público no Grande
Prémio de Portugal, nem o facto de Jorge Martín instantes
a Aprilia não ter conseguido dar-lhe depois de ter cortado a meta
uma mota mais competitiva, apesar no Autódromo do Algarve
da evolução veriÆcada na corrida,
depois de a Trackhouse ter adoptado
as deÆnições da mota do piloto oÆ#
cial Maverick Viñales, vencedor da peão mundial Fabio Quartararo. Mas Viñales à entrada da última volta. entrada da última volta.
corrida sprint, no sábado.
Agora, Miguel Oliveira segue para
a ultrapassagem de Bezzecchi e o
erro provocado pelo efeito de sucção
Pedro Acosta, “rookie” de 19 anos da
GasGas (KTM), conquistou o primei-
Classificações Viñales referiu, no Ænal, que a sex-
ta velocidade deu problemas prati-
a segunda casa, em Austin, nos Esta- causado pela Ducati do italiano ati- ro pódio da carreira em MotoGP, MOTOGP camente desde o início, acabando
dos Unidos, com a certeza de em 14 raram-o para o 12.º lugar. passando a ser o terceiro mais jovem 1. J. Martin (Ducati) 41m18,138s por falhar de forma dramática, dei-
anos de carreira só ter visto um pilo- Sem ritmo para recuperar, Miguel da história a consegui-lo. 2. E. Bastianini (Ducati) a 0,882s tando literalmente por terra as ambi-
to provocar um fenómeno como o Oliveira acabou por terminar em Acosta fez uma corrida corajosa, 3. P. Acosta (Tech3) a 5,362s ções do espanhol. Viñales caiu mes-
que presenciou este Æm-de-semana nono, basicamente graças às quedas superando sucessivamente as KTM 4. B. Binder (KTM) a 11,129s mo na sequência do problema, com
no Algarve, referindo-se ao enea- de Francesco Bagnaia, Marc Márquez de Brad Binder e Jack Miller e as 5. J. Miller (KTM) a 16,437s a mota a Æcar em ponto morto antes
campeão Valentino Rossi, um dos e Maverick Viñales. Sobre o caso do Ducati dos campeões Marc Márquez (...) de engrenar uma segunda e projec-
gigantes do motociclismo, que mobi- dia, Bagnaia considera ter sido um e Francesco Bagnaia. O pódio surgiu 9. M. Oliveira (Aprilia) a 23,929s tar o piloto para o asfalto.
lizava legiões de adeptos. incidente de corrida, enquanto Már- na sequência da queda de Maverick Indiferente às lutas alheias, Jorge
Miguel Oliveira teve, aliás, um bom quez considerou que o italiano foi Viñales, mas o mérito do espanhol é MUNDIAL DE PILOTOS Martín dominou desde o início, man-
arranque no Autódromo Internacio- demasiado optimista. inquestionável, conÆrmando as 1. J. Martin (Ducati) 60 pts tendo Maverick Viñales e Enea Bas-
nal do Algarve — onde conquistou expectativas geradas em torno de 2. B. Binder (KTM) 42 pts tianini a uma distância segura, na
em 2020 a segunda de cinco vitórias “Rookie” Acosta no pódio um futuro campeão. 3. E. Bastianini (Ducati) 39 pts casa de um segundo, sempre que os
em MotoGP —, tendo recuperado de Mas o drama vivido pelo bicampeão Menos afortunado, quando pare- 4. F. Bagnaia (Ducati) 37 pts rivais tentavam atacar a liderança.
imediato quatro posições, o que o Bagnaia e pelo piloto com mais títu- cia ter o segundo lugar à vista, Viña- 5. P. Acosta (KTM) 28 pts O vice-campeão do mundo não
deixou à porta do top-10, primeiro los (seis em MotoGP) ainda em acti- les foi traído pela caixa de velocida- (...) vencia desde o GP da Tailândia, em
objectivo do piloto português para vidade teve outros reÇexos, promo- des da RSGP, que cedeu numa fase 14. M. Oliveira (Aprilia) 8 pts 2023, e aproveitou o abandono de
esta corrida. Oliveira entrou nos 10 vendo uma pequena revolução na crítica, quando o detentor da pole Bagnaia para assumir o comando do
primeiros e chegou ao nono posto tabela classiÆcativa, que Æcou com- position, Enea Bastianini (Ducati), Próximo GP: Américas (14 de Abril) Mundial, com 18 pontos de vantagem
por troca com o francês e ex-cam- pleta com o abandono de Maverick se colocou ao lado do espanhol à sobre Brad Binder (42).
38 • Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024
Desporto
Os maiores perdedores do mundo
não sabem mesmo ganhar
Diogo Cardoso Oliveira
Uma vitória de São Marino
legitimaria um texto sobre
fazer história, mas eles
voltaram a não ganhar.
Como nos últimos 20 anos
Há uns dias escreveu-se que “a pior
selecção do mundo voltou a perder”.
Mas e que tal “aÆnal, os maiores per-
dedores do mundo sabem ganhar”?
Seria mais bonito... ou não? O proble-
ma é que eles não sabem. Ontem, São
Marino voltou a não ganhar e vai
“celebrar”, daqui a 34 dias, 20 anos
sem vencer um jogo. Por que motivo
fazemos disto notícia? É que no fute-
bol europeu de selecções não há tão
maus como eles.
O comentador Luís Freitas Lobo
gosta de dizer “acima disto não há
mais nada”, quando vê grandes
golos, mas, com São Marino, pode-
mos dizer que “abaixo disto não há
mais nada” — e talvez pouco haja
abaixo de um São Marino-St. Kitts &
Nevis como o que terminou ontem
com um 0-0.
Não vamos mentir: estávamos
sedentos de uma vitória de São Mari-
no que permitisse que este fosse um
texto sobre fazer história. Na quarta-
-feira, na primeira partida entre estas
duas nações, São Marino marcou pelo
Henrique Rocha entra no top-200
com o maior triunfo da carreira
Pedro Keul
Cinco meses depois de ter garantido
a entrada no top-300, Henrique
Rocha deu mais um importante passo
para a sua ascensão no ténis mundial,
ao triunfar na quinta edição do
Challenger Costa Cálida Región de
Murcia e assegurar a subida ao top-
200. O tenista nascido no Porto há 19
anos, e radicado em Lisboa, onde se
treina no Centro de Alto Rendimento,
é apenas o segundo teenager portu-
guês a conquistar um título no ATP
Challenger Tour.
Na sua estreia em finais da catego-
ria challenger, Rocha venceu o expe-
riente georgiano Nikoloz Basilashvili
(1086.º) — 16.º em 2019 —, por 3-6, 7-6
quarto jogo consecutivo — um recor-
de. Mas isto não chegava. Queríamos
mais. A pior selecção do mundo per-
deu essa partida, como as três ante-
riores. E as 136 antes dessa. Em 34
anos, só ganhou um jogo — foi ao Lie-
chtenstein, em 2004.
Iam em 137 jogos sem vencer. O
mundo salivava por um triunfo de São
Marino e vai ter de salivar mais um
pouco — talvez até terem Gibraltar
pela frente numa Liga das Nações.
Na quarta-feira, como ontem,
milhares de adeptos viram um dos
O embate entre São Marino e St. Kitts & Nevis terminou sem golos
(7/0) e 7-5, ao fim de duas horas e 52
minutos. No derradeiro encontro,
onde um terço dos jogos foram deci-
didos nas vantagens, registaram-se
cinco breaks para cada lado e Rocha,
autor de nove ases e 63% de eficácia
no primeiro serviço, esteve por diver-
sas vezes em desvantagem.
Na segunda partida, Basilashvili
teve, por duas vezes, um break de
vantagem e serviu para fechar o
encontro, a 5-4. No set decisivo, Rocha
recuperou de 0-3, tendo o ponto de
viragem surgido a 3-3, quando Basi-
lashvili liderou por 40-15, antes de
ceder o break, já com 2h30 de jogo.
Apesar dos sinais de maior cansa-
ço, Basilashvili não deixou de lutar e
não permitiu que Rocha aproveitasse
piores jogos que o futebol de selec-
ções tem para oferecer. Torcia-se por
São Marino, com sorteios de camiso-
las caso a equipa do enclave italiano
vencesse. Torcia-se por São Marino,
porque tem uma claque chamada
Brigata mai 1 gioia [brigada sem
nenhuma alegria].
Torcia-se por São Marino, porque
a Brigata mai 1 gioia nunca tinha visto
a sua selecção ganhar um jogo — jun-
taram-se muitos anos depois da tal
vitória de 2004. Torcia-se por São
Marino porque, quando empataram
DR
a primeira oportunidade para encer-
rar o encontro, quando serviu a 5-4.
Mas o jogador luso redimiu-se obten-
do mais um break e concluiu com um
jogo em branco.
Henrique Rocha é o 11.º jogador
português a vencer um torneio no
ATP Challenger Tour e o segundo
mais novo a conquistar um título no
circuito secundário (só Nuno Mar-
ques, em 1989, foi mais precoce).
Aos 19 anos,
Henrique Rocha
é o segundo
português mais
novo a conquistar
um título no
Challenger Tour
com a Estónia, Æzeram uma tarja a
dizer “brigata mezza gioia” [brigada
de meia alegria].
Torcia-se por São Marino, porque
todos os bebés nascidos no enclave
italiano recebem uma camisola da
selecção, como incentivo para uma
futura geração de futebolistas ou, no
mínimo, “futeboleiros”.
Torcia-se por São Marino, porque
os preceitos do ranking FIFA não são
justos com uma selecção que não é
pior do que equipas fracas de África,
Ásia, América ou Oceânia, mas que,
defrontando rivais europeus mais
dotados, raramente faz pontos.
Torcia-se por São Marino porque a
equipa tem conseguido marcar mais
golos do que é habitual, e uma vitória
não seria só fruto do acaso, mas pas-
sível de ser (ingenuamente) enqua-
drada numa melhoria da equipa.
Torcia-se por São Marino porque
há anos que a vida futebolística destes
homens se limita a tirarem fotos e
trocarem camisolas com estrelas
mundiais, depois de 90 minutos a
tentarem não ser destruídos.
Quando St. Kitts marcou o 2-1 na
última quarta-feira, o autor da página
de apoio a São Marino utilizou um
famoso meme que diz “merda... aqui
vamos nós outra vez...”. Foram na
quarta e foram ontem, novamente.
Os maiores perdedores do mundo
não sabem mesmo ganhar.
O portuense, que chegou ao Real
Murcia Club de Tenis como 248.º
mundial, somou mais 75 pontos, que
o vão levar ao 196.º posto, sendo o
15.º tenista português a integrar o top
200 do ranking ATP. E será já na con-
dição de número dois nacional que
Rocha vai esta semana competir no
challenger de Girona, onde irá ter
como primeiro adversário o chileno
Cristian Garin (104.º).
Em prova, no qualifying, estão
Gastão Elias e João Sousa. Na primei-
ra eliminatória, Elias (313.º) derrotou
o búlgaro Leonid Sheyngezikht
(1072.º), por 6-2, 7-6 (7/5). Já Sousa
(278.º) avançou para a última ronda
do qualifying sem jogar, pois não teve
adversário.
Matheus Nunes
Matheus Nunes
e Diogo Costa nos
23 de Martínez
para a Eslovénia
Augusto Bernardino
Com uma vitória folgada sobre a Sué-
cia, em Guimarães, e o grupo redu-
zido depois de “libertado” o primei-
ro de três batalhões formados por
Roberto Martínez, a selecção nacio-
nal ultimou ontem o próximo com-
promisso de preparação para o
Euro2024, com a Eslovénia.
Antes da viagem para Ljubliana,
com embarque previsto para as
14h30 de hoje, a selecção cumpriu a
penúltima sessão de treino, que não
contou com o médio Matheus Nunes
(lesionado num pé) e em que o guar-
da-redes Diogo Costa foi reintegrado,
já recuperado de traumatismo.
Feitas as contas, da convocatória
para o compromisso de amanhã
(19h45, RTP1) permanecem na con-
centração 23 jogadores, com Diogo
Costa, José Sá e Rui Patrício para a
baliza; Cancelo, Dalot, João Mário,
Nuno Mendes, Pepe, Diogo Leite,
António Silva e Gonçalo Inácio na
defesa. Os médios são Danilo, Rúben
Neves, João Neves, Matheus Nunes,
Otávio e Vitinha, apoiando um ata-
que que contará com Francisco Con-
ceição, Jota Silva, Bruma, Dany Mota,
João Félix e Cristiano Ronaldo.
Os defesas João Mário e Danilo
abordaram o jogo com a Eslovénia,
alertando para o risco de subestimar
o adversário por não se tratar de uma
selecção de renome.
“Como não é uma selecção sonan-
te a nível europeu, as pessoas têm a
tendência de julgar de certa forma,
mas a Eslovénia tem uma boa equi-
pa, dois pontas-de-lança que jogam
bem na profundidade e com bola no
pé. São muito compactos e não será
um jogo fácil. Vamos jogar no terre-
no deles. Mas estes jogos são mesmo
para isso, para treinar cenários que
podemos enfrentar no Europeu”,
resumiu Danilo.

Breves
Ciclismo
Pogacar conquista
Volta à Catalunha
após domínio total
O ciclista esloveno Tadej
Pogacar (UAE Emirates)
conquistou ontem a Volta à
Catalunha, fechando com
mais um triunfo na sétima e
última etapa, com o colega de
equipa João Almeida a
terminar em nono na geral.
Pogacar venceu a última
etapa, um circuito de 145,3km
realizado em Barcelona, com o
tempo de 3h15m23s, e
dominou por completo a
corrida, terminando com
quatro vitórias em etapas, com
3m41s de vantagem em
relação ao espanhol Mikel
Landa (Soudal Quick-Step) e
5m03s face ao colombiano
Egan Bernal (INEOS), segundo
e terceiro respectivamente. O
português João Almeida (UAE)
assegurou o nono lugar da
geral, a 6m33s do vencedor.
Ciclismo
Eduard Prades
vence 41.ª edição da
Volta ao Alentejo
Eduard Prades (Caja Rural)
conquistou ontem a 41.ª
edição da Volta ao Alentejo em
bicicleta, após ter sido sexto
na quinta e última etapa, entre
Nisa e Évora (187,9km),
vencida pelo companheiro de
equipa Iuri Leitão. O espanhol
assegurou o terceiro triunfo
seguido na corrida para a Caja
Rural, que dominou a edição
de 2024 com vitórias em
quatro das cinco etapas, com
o sexto lugar na derradeira
tirada, com o mesmo tempo
de Iuri Leitão, que cumpriu o
percurso em 4h15m27s.
Peñuela fechou a “Alentejana”
em segundo lugar, a quatro
segundos, e o porto-riquenho
Abner González (Efapel) foi
terceiro, a seis do vencedor.
Sainz regressou às pistas depois de uma cirurgia ao apêndice e venceu a corrida
Sem Verstappen sobra alguma coisa
para os outros — e a Ferrari levou tudo
Diogo Cardoso Oliveira
Mesmo com o abandono do
campeão do mundo, esteve
longe de ser entusiasmante
o GP da Austrália, que
coroou Carlos Sainz
A sabedoria popular diz-nos que, por
vezes, vira o disco e toca o mesmo.
Ontem, na Fórmula 1, o disco virou, e
virou bem, mas não tocou o mesmo.
No Grande Prémio da Austrália, o
disco do travão de Max Verstappen
ardeu logo na volta 4 e encostou o
campeão do mundo às boxes.
O circuito de Albert Park ofereceu,
assim, algo para os demais — e foi a
Ferrari quem Æcou com tudo. Carlos
Sainz venceu a corrida, Charles
Leclerc Æcou com a “prata” e ainda
levou a volta mais rápida. Desde 2022
que a Ferrari não fazia uma “dobradi-
nha” e também desde 2022 que Vers-
tappen não abandonava — na altura,
também em Albert Park.
Este desfecho signiÆca que Max
não vai igualar o recorde de dez vitó-
rias consecutivas e também que Sainz
parece apostado em deixar a Ferrari
a fazer contas. A equipa já anunciou
que não vai renovar o contrato ao
espanhol no Ænal da época, para dar
o carro a Lewis Hamilton. E se Sainz
tiver começado, na Austrália, uma
série de vitórias que vai ameaçar Vers-
tappen? Nem o próprio acredita nis-
so, mas Æca para reÇexão.
Quando os semáforos se apagaram,
Verstappen saiu bem e parecia que
íamos ter mais uma corrida igual às
outras. Porém, ao contrário do habi-
tual, o neerlandês não conseguiu um
segundo de vantagem para Sainz na
primeira volta, diferença que impe-
diria o espanhol de usar o DRS.
Sainz pôde, assim, usar a potência
extra do seu Ferrari na segunda volta
e fez uma ultrapassagem tremenda,
por fora, numa curva de grande apoio
aerodinâmico. Parecia, nesse momen-
to, que poderíamos ter uma corrida
animada e a sensação adensou-se
quando, pouco depois, o carro de
Verstappen começou a fumegar.
O público fez uma tremenda “baru-
lheira”, celebrando a possibilidade de
ver uma corrida de Fórmula 1 sem o
“papão” Verstappen — no fundo,
poderiam ver uma verdadeira corri-
da, que valesse o bilhete que paga-
ram. Nada mais errado.
A única diferença desta para outras
corridas é que o vencedor pôde ser
outro. Na pista, porém, houve uma
prova sensaborona, quase sem duelos
185
Número de partidas feitas
por Carlos Sainz na Fórmula 1
Público • Segunda-feira, 25 de Março de 2024 • 39
JOEL CARRETT/EPA
entre os pilotos. Quem cedeu a uma
insónia ou acordou às 4h de Portugal
continental para assistir à corrida terá
saído defraudado.
Sainz liderou do início ao Æm e pas-
sou pela Austrália com o domínio,
controlo e conforto de quem não
parece ter estado de cama com apen-
dicite durante duas semanas. “Fisica-
mente não foi fácil, mas (...) é a prova
de que o trabalho árduo compensa
(...) recomendo aos pilotos que tirem
o apêndice”, brincou no Ænal.
O Ferrari de Charles Leclerc chegou
à meta 2,366 segundos depois do de
Sainz, e o McLaren de Lando Norris
chegou a já quase seis segundos.
Além de Verstappen, a Austrália
não fez bem a outro campeão do
mundo. Lewis Hamilton, com uma
má qualiÆcação, foi o único piloto a
arrancar com pneus macios, mas não
só não teve um ritmo assim tão bom,
como partiu o motor à volta 17 e foi
ter com Verstappen.
Já perto do Ænal, George Russell,
alegando ter sido prejudicado por um
teste de travões que lhe foi feito por
Fernando Alonso (o espanhol foi cha-
mado a conversar com os comissá-
rios), acabou por se despistar e des-
truir o outro Mercedes que ainda
estava em pista — e a corrida acabou
sob safety car virtual.
Na classiÆcação Æcam, agora, qua-
tro pontos entre Verstappen e Leclerc,
e um ponto entre o monegasco e
Pérez, que terminou a corrida em
quinto.
Desporto
Sporting volta
a ficar com a
Taça de Portugal
no voleibol
Marco Vaza
O Sporting voltou ontem a conquis-
tar a Taça de Portugal em voleibol,
ao bater na Ænal, em Viana do Caste-
lo, a Fonte do Bastardo, por 3-2 (25-
16, 20-25, 25-22, 20-25 e 22-20). Os
“leões” repetiram a conquista de
2021 (ano em que venceram o BenÆ#
ca), elevando para cinco o número
de vezes que ganharam a competi-
ção, enquanto a formação açoriana,
que estava na sua terceira Ænal con-
secutiva, mantém uma única Taça no
currículo, a de 2013.
Embalado pelo triunfo sobre o
BenÆca no dia anterior, o Sporting
entrou com a disposição de resolver
cedo esta Ænal, dominando total-
mente o primeiro parcial. Antes do
primeiro desconto de tempo, a equi-
pa de João Coelho já vencia por 6-1 e
manteve esse ritmo até ao Ænal, gra-
ças, sobretudo a um grande trabalho
junto à rede do bloco, a ler muito
bem as acções de ataque da Fonte. A
dupla checa Galabov e Licek, mais
Wagner, faziam as despesas do ata-
que sportinguista.
O set inicial foi o único verdadeira-
mente desequilibrado. Os açorianos,
que vinham de uma maratona frente
ao Leixões na meia-Ænal (2h30m de
jogo), responderam de forma exem-
plar no segundo set, abrindo uma
vantagem de 4-0 logo a abrir. Com
maior eÆcácia no serviço, mais a boa
distribuição de Pombeiro e a eÆcácia
de Marcão e Romero na rede, a Fon-
te resistiu a várias aproximações
“leoninas” e empatar a Ænal: 25-20.
Ainda mais equilibrado foi o ter-
ceiro parcial, com os “leões” a recu-
perarem a vantagem com um triunfo
por 25-22, mas os homens de João
Abrantes responderam com um 25-
20 no quarto set — nesta época, a
Fonte do Bastardo ainda não tinha
conseguido vencer dois sets nos
jogos com o Sporting.
O equilíbrio do jogo manteve-se no
quinto e decisivo parcial e só mais
perto da decisão é que o Sporting
conseguiu uma vantagem de dois
pontos (12-10), com os açorianos
sempre a manterem-se na corrida.
Com um empate a 13, João Coelho
voltou a pedir um desconto de tem-
po, o Sporting regressou à quadra e
teve dois match-points que o adver-
sário conseguiu anular.
Depois, foi a Fonte a ter duas bolas
de jogo, mas o Sporting também as
conseguiu anular. Os “leões” pontua-
ram no seu serviço, recuperaram o
controlo e, à sexta bola de jogo,
fecharam a Ænal a seu favor.
Segunda-feira, 25 de Março de 2024
BARTOON LUÍS AFONSO
O caso Fernando Medina
Sementes
de alfarroba
C
Carmo Afonso
omecemos pelo
princípio: Fernando
Medina perdeu as
eleições contra Carlos
Moedas num domingo
que foi inesquecível.
As sondagens indicavam uma
vitória segura de Medina e
ninguém estava preparado para
aquele resultado, a começar pelo
próprio Carlos Moedas. Os
eleitores de esquerda não estavam
muito conscientes de que nas
autárquicas não existem coligações
pós-eleitorais possíveis para
ganhar o executivo. O caso de
última hora de Margarida Martins
em Arroios também ajudou.
Medina perdeu por pouco, mas
perdeu. Sabe Deus que se as
eleições se tivessem repetido no
dia seguinte Medina ganharia.
Foi um dos melhores presidentes
de câmara que já passaram por
Lisboa e não me esqueço que
António Costa consta da lista.
Falhas e erros existiram, mas foi
PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Todos os conteúdos do jornal estão protegidos por Direitos de Autor ao abrigo da
legislação portuguesa, da União Europeia e dos Tratados Internacionais, não podendo ser utilizados fora das condições de
uso livre permitidas por lei sem o consentimento expresso e escrito da PÚBLICO, Comunicação Social, S.A.
CONTACTE-NOS:
E-NOS: assinaturas.online@publico.pt • 808
8 200 095 (dias úteis das 9h às 18h)
tão bom que permitiu que a
história de Carlos Moedas
enquanto presidente de câmara se
possa resumir a fazer marketing e
comunicação.
Na serra algarvia diz-se: “Pais
fuções, Ælhos barões.” “Fução” é
uma palavra que não existe na
língua portuguesa, mas muito
importante na serra. SigniÆca
trabalhador obstinado. Carlos
Moedas é o Ælho barão do pai fução
Fernando Medina. Vive
descontraidamente dos
rendimentos do património
construído pelo seu antecessor.
Não precisa de fazer muito.
Inaugura obras e projetos que
Fernando Medina deixou
começados, projetados, com os
concursos públicos lançados e
alguns com Ænanciamento já
assegurado (como o plano de
drenagem da cidade). Pelo
caminho, ainda deixou na gaveta
projetos fundamentais para a
estrutura ecológica da cidade,
como o Vale de Alcântara ou o Vale
do Forno, que concretizavam a
visão de Ribeiro Telles para Lisboa,
que Sá Fernandes quase concluiu.
Para a gaveta foram também vários
projetos de habitação acessível.
Não construiu ciclovias e ainda
acabou com a da Avenida de
Berna. Privilegia os carros e revela
uma visão retrógrada de cidade.
Campanha especial
34º aniversário
Celebre connosco e torne-se assinante
a preços especiais de aniversário
Mas tudo passa de Æninho. Moedas
sabe investir e inovar na sua
própria propaganda enquanto
explora um legado que lhe permite
disfarçar um vácuo total nas
políticas da cidade.
E eis que agora pode repetir-se a
proeza.
Não fui a maior adepta da lógica
de contas certas seguida por
Fernando Medina enquanto
ministro das Finanças. Mas é certo
que o seu trabalho foi notável e que
existe um excedente orçamental
histórico. E qual é o resultado
disto? É que novamente será a
direita a fazer um brilharete às
custas da sua herança.
Medina deixa a Luís Montenegro
os meios para, por exemplo,
satisfazer as reivindicações das
classes proÆssionais a que o
Governo de António Costa não
cedeu. Porque não cedeu? Em
nome de uma lógica governativa de
gestão rigorosa, precisamente a
que possibilitou gerar este
excedente. Montenegro poderá
colher os frutos dessa gestão e fazer
a parte simpática: dar os aumentos
que todos exigem legitimamente. E
inverte-se assim aquilo de que as
governações socialistas têm sido
acusadas: de deixar o país em maus
lençóis ou, como a direita gosta de
dizer, em bancarrota.
Fica aberta uma brecha para
Montenegro arrancar com uma
governação em que a direita faz as
pazes com funcionários públicos e
sectores proÆssionais ressentidos.
Esse arranque poderá garantir a
Montenegro a sua reeleição caso
não leve o seu mandato até ao Æm,
como é altamente previsível.
Viver em democracia e num
sistema em que os governantes têm
mandatos curtos de quatro ou
cinco anos é uma conquista. Nunca
publico.pt/assinaturas
se pensou em nada melhor, pelo
menos melhor para as pessoas.
Mas nada é perfeito. Este sistema
democrático desmotiva os políticos
a tomarem decisões e a fazerem
políticas cujos impactos apenas se
façam sentir Ændos os seus
mandatos. É preciso ganhar
eleições. Os cálculos são feitos de
forma a deixar a parte da
distribuição de riqueza e aumento
da despesa para o Ænal dos
mandatos. Não costuma falhar.
Claro que, desta vez, trocaram as
voltas a Fernando Medina. Num
governo de maioria absoluta fazia
sentido que contasse levar o
mandato até ao Æm. Haveria
tempo, e mais importante:
dinheiro, para distribuir numa
segunda fase que não chegou a
acontecer.
Não pretendo avaliar se acabei
de escrever um elogio ou uma
crítica a Fernando Medina. Como
elogio, digo que é um dos políticos
mais preparados e competentes
que temos. Por onde passa os
celeiros transbordam. Como
crítica, digo que Medina melhorou
o país, mas não melhorou a vida
das pessoas. Uso as palavras que
Montenegro usou para elogiar
Passos Coelho. É justo. Montenegro
é o Ælho barão que se segue.
Advogada
ASSINE JÁ