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L Europa
Liga 25 de Abril
O cinema português questiona
M
Marselha vinga o que é que o Portugal
democrático fez por nós
““mão de Vata” Ípsilon
Índia
Modi aponta
à reeleição na
maior de todas
as eleições Habitação
Terceiro
mandato visa
Arte Dispara número
a
liderança
ar
consolidar Uma colossal de empréstimos
nacionalista
hindu
ista lição de história em risco de
Destaque,
2a4
e, na Bienal de Veneza
Cultura, 34/35
incumprimento
Economia, 29
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QUEBRAMAR.COM QUEBRAMAR.COM
ISNN-0872-1548
2 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Modi aponta
o Bangladesh ou o Afeganistão (todos
António Saraiva Lima
de maioria muçulmana), mas que
O
s números impressionam: exclui os milhões de muçulmanos que
quase mil milhões de eleito- vivem na Índia em situação ilegal,
res registados; cerca de um muitos deles pertencentes a minorias
milhão de mesas de voto; perseguidas.
sete fases de votação distri- Antes disso, no início do ano, o pri-
para continuar a
boios, camelos, elefantes e mulas; seis so no início dos anos 1990, que culmi-
partidos nacionais e mais de 70 par- nou com a destruição de uma mes-
tidos estaduais em competição. Mas quita com grande valor simbólico
o resultado mais expectável é só um: para a comunidade muçulmana.
a vitória do Partido Bharatiya Janata A proposta do BJP para criação de
(BJP), do primeiro-ministro indiano, um Código Civil “uniforme”, que ver-
desafiar o estatuto
Narendra Modi. se sobre matérias como o casamento,
Uma das maiores operações logís- o divórcio ou as heranças, também é
ticas mundiais arranca hoje oficial- visto como uma ferramenta do Gover-
mente, para a escolha dos 543 depu- no para limitar a liberdade religiosa,
tados do Lok Sabha, a câmara baixa uma vez que aquelas questões são
do Parlamento da Índia, que só ter- tratadas de forma distinta pelas dife-
laico da Índia
mina no primeiro dia de Junho. rentes religiões da Índia.
Depois, no dia 4 desse mês, começa Na campanha para as eleições de
finalmente a contagem dos votos no 2022 para o parlamento do estado de
mais populoso do globo (mais de 1,4 Uttarakhand, houve mesmo líderes
mil milhões de habitantes). hindus, ligados ao BJP, a defenderem
Os analistas não acreditam em publicamente o “genocídio” dos
nenhum outro desfecho eleitoral que muçulmanos do país.
não seja a terceira vitória consecutiva
do partido nacionalista hindu de “Fim grandioso”
Partido nacionalista hindu do primeiro-ministro é favorito nas Modi, que chegou ao Governo há pre-
cisamente dez anos para acabar deÆ#
Neste contexto, uma terceira vitória
consecutiva do BJP — que, a conÆr-
eleições que começam hoje e terminam em Junho. Opositores nitivamente com a hegemonia da mar-se, igualaria o recorde de Jawa-
dinastia Nehru-Gandhi e do Congres- harlal Nehru, o primeiro primeiro-
acusam-no de autoritarismo e de discriminação de minorias so Nacional Indiano, que governaram ministro do país — é, por isso, antevis-
NotíciasFlix
ta pelos defensores do secularismo ção, a coligação decidirá quem será o dessa limitação do trabalho dos media votos e deputados em algumas elei-
da Índia como mais um passo em líder e primeiro-ministro”, disse na Índia. ções estaduais — promete elevar a
frente no caminho de transição Gandhi no início do mês. A questão económica desempenha economia da Índia ao estatuto de eco-
imposta para um Estado hindu. um papel muito importante nesta nomia desenvolvida até 2047, ano em
“O BJP não é como a maioria dos Economia e diplomacia eleição. O Governo de Narendra Modi que se cumprem 100 anos da desco-
partidos. O seu objectivo não é ape- A par das denúncias de discriminação pôs a economia indiana a crescer a lonização britânica do país. Não obs-
nas ganhar eleições e aprovar políti-
cas pontuais: o partido olha para o
de minorias, a oposição fez campa-
nha acusando o BJP e Modi de promo-
um ritmo muito superior ao das prin-
cipais potências do globo (cresceu
O BJP é uma tante, o BJP tem mostrado grandes
diÆculdades em fazer com que o cres-
poder político como um meio para verem desmesuradamente um culto 8,4% entre Outubro e Dezembro do organização cimento económico seja traduzido
um Æm muito mais grandioso”, escre-
ve o jornalista indiano Hartosh Singh
da personalidade do líder, de autori-
tarismo, de falta de soluções para os
ano passado, segundo o diário econó-
mico japonês Nikkei) e é expectável nacionalista hindu em novos postos de trabalho, nomea-
damente para os mais jovens. A CNN
Bal num artigo publicado na revista
Foreign Aèairs. “O BJP é uma organi-
elevados níveis de desemprego entre
os jovens e de limitação da liberdade
que passe de quinta (atrás de EUA,
China, Alemanha e Japão) a terceira que tem como diz que o desemprego entre os india-
nos com idades compreendidas entre
zação nacionalista hindu que tem
como objectivo reestruturar comple-
de imprensa — as buscas nas delega-
ções da BBC em Nova Deli e Bombaim
maior economia do mundo até ao
Ænal desta década.
objectivo os 20 e os 24 anos andava perto dos
45% no Ænal do ano passado.
tamente o Estado indiano como uma depois da exibição de um documen- Para além disso, o primeiro-minis- reestruturar o A revista Diplomat cita ainda uma
nação hindu. Pretende colocar o hin-
duísmo no centro da vida pública.
tário crítico de Modi e a queda da
Índia, de 140.º (2014) para 161.º
tro indiano — que conseguiu ultrapas-
sar com sucesso um dos momentos Estado indiano como sondagem recente, da Lokniti-CSDS,
na qual metade dos inquiridos de 19
Quer tornar a cidadania indiana plena
dependente do facto de se ser hindu.
(2023), no Índice de Liberdade de
Imprensa dos Repórteres Sem-
mais difíceis da sua liderança, quando
o seu Governo perdeu o controlo da uma nação hindu dos 28 estados da Índia coloca o
desemprego e o aumento dos preços
Chegou mesmo a pôr em marcha leis Fronteiras (180 países) são apresen- pandemia de covid-19, na primeira Hartosh Singh como principais preocupações na
que ameaçam muitos dos muçulma- tadas pela oposição como provas metade de 2021, fazendo o BJP perder Jornalista contagem decrescente para as elei-
nos do país com detenção e expul- ções para o Lok Sabha.
são”, denuncia, acrescentando que a Outro dos grandes desaÆos que o
“discriminação” do BJP afecta mais
de “200 milhões” de pessoas e que,
As maiores eleições do mundo Governo indiano teve de enfrentar
durante a legislatura que agora termi-
por isso, “o partido pode estar a levar Quase mil milhões de eleitores começam hoje a ser chamados para votar nas eleições legislativas na Índia, na, e com que continuará seguramen-
a cabo a maior marginalização da His- numa votação em sete fases que só terminará a 1 de Junho. O partido do actual primeiro-ministro, Narendra te a ter de lidar nos próximos cinco
tória da Humanidade”. Modi, parte como grande favorito a arrecadar a terceira vitória consecutiva anos, está relacionado com o protes-
“Para levar a cabo estas grandes to maciço dos agricultores contra a
mudanças”, continua o jornalista, “o reforma agrária de 2021 e a favor da
BJP tem de fazer mais do que ganhar” Æxação de um preço mínimo para as
as eleições: “Tem de ganhar por mui- colheitas e de um perdão das dívidas.
tos [votos], com maiorias suÆciente- Num país onde 55% da população
mente amplas para arrasar totalmen- tem na agricultura a sua principal
te a oposição no país.” fonte de rendimento e que em 2023
Para contrariarem o favoritismo do teve, em média, mais de 14 agriculto-
BJP — que elegeu 282 deputados em Narendra Modi Rahul Gandhi res a suicidarem-se por dia por não
2014 e 303 em 2019 — e tentarem Partido Bharatiya Coligação liderada terem forma de pagar as suas dívidas,
impedi-lo de alcançar novamente Janata (PBJ) pelo Congresso Nacional as relações entre as autoridades e os
uma maioria parlamentar (272), os Indiano representantes sindicais do sector
principais partidos do centro-esquer- podem ser fundamentais para qual-
da e da esquerda do país juntaram-se CHINA quer objectivo ou meta socioeconó-
numa coligação, a que chamaram PAQUISTÃO Nova Deli mica, seja em 2047 ou antes disso.
Aliança Nacional para o Desenvolvi- NEPAL BUTÃO “A política é imprevisível, mas é
mento Inclusivo da Índia (INDIA, na muito importante que os sindicatos e
sigla em inglês). o Governo cheguem a uma solução”,
Para além do histórico Congresso, dizia à CNN o economista Devinder
liderado por Rahul Gandhi, a coliga- Sharma, em Fevereiro. “É muito trá-
ção opositora também inclui o Parti- gico que as pessoas que alimentam o
do do Homem Comum (AAP), uma 200 km país tenham de ir dormir com os seus
força anticorrupção que tem sido próprios estômagos vazios.”
bem-sucedida em Nova Deli, e cujo No que toca à política externa, a
líder, o ministro-chefe da capital, Índia de Modi tem percorrido um
Arvind Kejriwal, se encontra detido, caminho de pragmatismo. A compe-
devido a um alegado envolvimento tição económica e geopolítica com a
num caso de lavagem de dinheiro — ÍNDIA vizinha República Popular da China,
que o AAP, que aponta o dedo ao BJP, Milhões de pessoas N.º por um lado, tem levado a uma dete-
diz ter “motivações políticas”. Pessoas na comissão eleitoral 15 rioração signiÆcativa das relações
Uma sondagem divulgada no início Eleitores bilaterais — principalmente à boleia
OCEANO 969
deste mês pela TV-CNX mostrava o ÍNDICO 10% da população mundial das questões relacionadas com a fron-
BJP a eleger 342 deputados e o Con- Baía de teira disputada nos Himalaias e com
Bengala Votam pela 1.ª vez 18
gresso a Æcar-se pelos 38. a disputa pela inÇuência económica,
Partindo claramente atrás do par- política e militar nas estratégicas Mal-
tido de Modi e dos seus aliados na Resultados em 2019 divas — e a dinâmica diplomática com
Aliança Democrática Nacional (NDA), Calendário eleitoral Câmara baixa do o vizinho e rival Paquistão continua
Partidos Parlamento indiano
os partidos da INDIA ainda têm como Fase 1: 19 Abril tão tensa como sempre.
2600
desaÆo acrescido o facto de não terem Fase 2: 26 Abril Congresso Por outro lado, o reforço das rela-
decidido sobre quem é o seu candi- Nacional ções com os EUA e a manutenção dos
Fase 3: 7 Maio
dato a primeiro-ministro — uma inde- Bharatiya laços comerciais, energéticos e mili-
cisão que se acredita ser uma conÆs- Fase 4: 13 Maio Janata 52 tares com a Rússia mostram que Índia
303 Outros
são de que a coligação não tem um Fase 5: 20 Maio Urnas de voto continua determinada em prosseguir
dirigente suÆcientemente carismático 1.000.000 188 a chamada política de “autonomia
para competir com a “aura sagrada”
Fase 6: 25 Maio
Fase 7: 1 Junho
543 estratégica” e que não está disposta a
de Modi, de 73 anos. deputados ceder a nenhuma das outras potên-
“O bloco INDIA tomou a decisão de Resultados: 4 de Junho Participação eleitoral: 67% cias, mesmo que isso signiÆque nave-
lutar [contra o BJP] numa eleição gar num mar de contradições diplo-
Fonte: GraphicNews; The Guardian PÚBLICO
ideológica. Depois de vencer a elei- máticas.
4 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
A
s eleições nacionais por grandes empresas e pela princípios estabelecidos. Num
indianas realizar-se-ão enorme rede da RSS, a outro golpe contra eleições livres e
em sete fases, entre Abril popularidade de Modi assenta no justas, o Governo de Modi excluiu,
e Junho de 2024, com seu apelo ao eleitorado hindu em 2023, o presidente do
cerca de 968 milhões de conservador, que deseja ver a Supremo Tribunal da Índia do
eleitores elegíveis, pelo Índia como um Estado religioso painel que nomeia os comissários
que serão as maiores a que o hindu. Os partidos da oposição eleitorais. O novo painel será
mundo já assistiu. A câmara baixa não têm uma agenda religiosa tão dirigido pelo primeiro-ministro,
da Índia tem 543 lugares eleitos e emocional e pedem às pessoas com o líder da oposição na câmara
qualquer partido precisa de um que votem para salvar a baixa e um ministro do gabinete
mínimo de 272 lugares para democracia indiana. As eleições da União como membros. Esta
formar governo. Nas eleições de nacionais de 2024 têm de ser situação é susceptível de favorecer
2019, o Partido Bhartiya Janta vistas através deste conÇito entre a escolha de Modi para as
(BJP), liderado pelo nacionalista um Estado religioso hindu em nomeações, uma vez que
hindu Narendra Modi, conquistou ascensão e uma Índia democrática prevalecerá o voto maioritário. Os
303 dos 543 lugares. O BJP é um secular em declínio. Apesar das partidos da oposição acusaram a
ramo da organização nacionalista restrições impostas pela Comissão Eleitoral da Índia de
hindu de extrema-direita, o Constituição indiana à utilização estar a violar a sua independência
Rastriya Swayamsevak Sangh da religião na política, o recurso constitucional. A oposição acusa a
(RSS). Com as suas raízes fascistas, estratégico à religião hindu sob a Comissão Eleitoral da Índia de
o RSS é antidemocrático e, por égide do primeiro-ministro, estar a trabalhar a favor do BJP e o
inerência, anticristão e Narendra Modi, atingiu um novo Governo de “dizimar
antimuçulmano. patamar, aumentando sistematicamente as instituições
Modi, como membro vitalício da consequentemente a hostilidade independentes” depois de o
RSS, tem sido bem-sucedido na da maioria hindu em relação às segundo alto-comissário eleitoral,
polarização religiosa das massas minorias religiosas muçulmanas e Arun Goel, se ter demitido.
hindus contra a democracia cristãs e o apoio da maioria hindu Notícias publicadas em vários
secular, demonizando as minorias ao BJP. A polarização religiosa do meios de comunicação social
religiosas e os partidos da eleitorado hindu sempre sublinharam os alegados esforços
oposição. A polarização na Índia é beneÆciou o BJP. dos representantes do BJP para
hoje mais tóxica do que nunca. Para além do Partido do coagir os líderes dos partidos da
Modi está a tentar obter o seu Congresso, o Partido Aam Aadami oposição, nomeadamente do
terceiro mandato como (AAP), o Dravida Munnetra Congresso, a desertarem e a
primeiro-ministro. Kazhagam (DMK) e o Congresso utilização de fundos públicos para juntarem-se às suas Æleiras antes
Modi entrou na política através Trinamool da Índia (TMC), promover a imagem de Modi é das próximas eleições. Com dois
do sistema democrático enquanto aliança da oposição, quase uma parte da política ministros-chefes que não
parlamentar. No entanto, parece estão a desaÆar o BJP nas eleições governamental e da propaganda pertencem ao BJP na prisão e que
estar a desmantelar a democracia, nacionais. Uma oposição unida é do BJP. criticam Modi, a oposição está a
o que se reflecte nas eleições susceptível de prejudicar o BJP de Para além disso, os títulos ser eliminada. Esta táctica já pôs
nacionais de 2024, que parecem
estar a seu favor. Este ano, Modi
Modi. Todavia, os partidos da
oposição não têm condições de
eleitorais, a que o Partido do
Congresso chama “o maior
Modi tem sido os partidos da oposição em
desvantagem, diminuindo as suas
afirma que o seu partido irá igualdade. Embora o Governo de esquema de extorsão”, bem-sucedido na hipóteses de derrotar Modi nas
ganhar 400 lugares, o que poderá
acontecer, tendo em conta a forma
Modi, como propaganda estatal,
promova “a Índia como mãe da
beneÆciaram enormemente o BJP
para dominar a sua oposição. Os polarização religiosa eleições.
Sob o Governo de Modi, as
tendenciosa como as eleições
estão a ser conduzidas. É
democracia”, a oposição
chama-lhe “assassínio da
títulos eleitorais, que o Supremo
Tribunal da Índia declarou
das massas hindus eleições tornaram-se uma
propaganda estatal para mostrar
importante notar que a situação
sombria da democracia indiana,
democracia”.
Desde que chegou ao poder em
inconstitucionais, têm sido um
método fundamental de
contra a democracia ao mundo exterior que a Índia é
uma mãe da democracia, ao
que é classificada como
“autocracia eleitoral” e
2014, o Governo de Modi capturou
quase todos os espaços públicos,
Ænanciamento político,
permitindo os donativos
secular mesmo tempo que esvazia a
democracia por dentro. Mesmo
“democracia parcialmente livre”, instituições (incluindo as anónimos. Em muitos casos, o antes de as eleições se realizarem,
pode comprometer a integridade académicas) e recursos públicos, Governo de Modi utilizou a que antecedeu as eleições. Os já foi declarada uma enorme
do processo eleitoral. não deixando qualquer base sobre autoridade tributária para coagir principais meios de comunicação vitória do Governo de Modi. É
O Partido do Congresso, que a qual a oposição possa construir a as empresas a doar ao BJP. Por social são completamente irónico ver como um partido de
governou a Índia durante mais de sua resistência contra o Governo. outro lado, as contas bancárias do dominados pela propaganda extrema-direita usa a democracia
70 anos, debateu-se com a “O rosto de Modi está em todo o Partido do Congresso foram governamental. “O que vai para a para a destruir, em que as eleições
chegada de Modi ao poder em lado, no aeroporto, na estação de congeladas por uma exigência imprensa escrita é decidido pelo não têm qualquer signiÆcado,
2014. Rahul Gandhi, o principal autocarros, na estação ferroviária, Æscal de 25 milhões de dólares por Ministério do Interior”, informou porque o resultado já está
rosto da aliança de oposição de 26 no metro, mas a oposição não tem parte das agências Manoj Bharti, um dirigente do decidido. Uma oposição reprimida
membros liderada pelo qualquer espaço”, observou governamentais, o que parece ser Congresso em Varanasi. e difamada está condenada a
Congresso, está a tentar explorar o Sanjeev Singh, porta-voz do um acto de vingança política. Os A credibilidade das eleições perder.
descontentamento em relação às partido do Congresso no distrito críticos acusaram o BJP de através das máquinas de voto
dificuldades da Índia rural, ao de Varanasi. O partido no poder, o Narendra Modi de utilizar a electrónico já está a ser posta em Investigador pós-doutorado
desemprego e à desigualdade de BJP, tem acesso livre a todas as máquina do Estado para atingir os causa. Os líderes da oposição no Centro de Estudos Sociais
rendimentos, enquanto Modi instituições para Æns políticos. A líderes da oposição no período acusaram o BJP de roubar os da Universidade de Coimbra
Os livros
são
inimigos da
ignorância
Opinião, liberdade de expressão e
pensamento crítico alimentam-se de leituras.
Leituras, a estante que lhe dá liberdade para ler.
O Leituras
Conheça todas as recomendações em publico.pt/leituras tem o apoio
de:
Ler cultiva a diferença.
6 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Espaço público
H
á um mundo em que uma investigação, como se viu no caso do comoção por parte dos agentes
Editorial adjunta de um ministro ex-primeiro-ministro. judiciais.
teve de abandonar as Este é o mundo da responsabilidade, Uma classe política amedrontada
funções para as quais a que está hoje sujeita a classe política, pela acção judicial e um aparelho
tinha sido recentemente mesmo que sejam actos alegadamente judicial cada vez mais arrogante estão a
nomeada por ter sido recordado o praticados fora do exercício de produzir um desequilíbrio de poderes,
facto de ser arguida num processo em funções políticas. Depois há o mundo que está a provocar danos gravíssimos
David Pontes julgamento, sobre factos que paralelo da Justiça, onde, mesmo à democracia, como o resultado das
remontam a um período entre 2008 e perante a sucessão de juízos que últimas eleições tornou bem claro.
2013. criticam uma investigação eivada de Que haja uma procuradora-geral que
Patrícia Dantas não é de forma erros, de fragilidades e de péssimos perante este descalabro seja incapaz
alguma a peça central deste processo julgamentos, nada sucede. de se demitir ou, no mínimo, de achar
de fraude, mas responsável por uma No mundo paralelo onde vive a que há necessidade de prestar contas,
das 43 entidades investigadas e, Procuradoria-Geral da República, é o resultado natural desta cultura de
enquanto deputada do PSD, já tinha nem o desastre para que se irresponsabilidade que está a ferir a
sido levantada a sua imunidade encaminha a Operação Influencer comunidade que é suposto servir.
No mundo paralelo da parlamentar para não obstar à parece dar lugar a dúvidas e a Ninguém defende a impunidade
investigação. Mas nada disso serviu de discussão. Que tenha caído um para os políticos, nem uma Justiça
Justiça, mesmo perante atenuante perante a exigência de Governo por causa de uma inoperante. Mas os pratos da balança
a sucessão de juízos que responder com responsabilidade investigação mal feita, isso é “a Justiça estão neste momento tão
criticam uma investiga- máxima ao código de conduta, que a funcionar”, já que há tribunais para desequilibrados que é chegado o
ção eivada de erros, membros dos executivos contrariar as asneiras dos momento de reclamar o Æm da
governamentais e até os seus adjuntos procuradores. Nem a interrogação, impunidade para a Justiça e
de fragilidades e de se auto-impuseram. Não é preciso ser natural, de que se é assim com gente responsabilidade de acção aos
péssimos julgamentos, condenado, basta ser arguido ou tão importante como será com o políticos, para podermos voltar a
nada sucede simplesmente referenciado numa cidadão comum provoca qualquer conÆar no sistema.
CARTAS AO DIRECTOR
Inocentes da guerra que, por deÆnição, é negativo. A Não me apetece falar quando jovens. Não me apetece famoso parágrafo. Costa tem agora
guerra destrói pessoas e bens, é do 25 de Abril falar em nada disso, neste momen- uma razão acrescida para reclamar
A crescente onda de certo, mas não deixa de enriquecer to em que sei que tive o privilégio celeridade no processo e,
desentendimento entre os povos muitos. Há quem lucre Cinquenta anos depois de Abril, de viver um dos dias mais belos da sobretudo, para ser ouvido. Não se
faz-nos pensar que nunca o mundo desmesuradamente com a não me apetece falar das alegrias história deste povo, e em que sinto compreende que se faça subsistir
esteve tão perto do alastramento construção e venda dos desses dias, nem das desilusões uma revolta pelos seres que uma suspeita de tão graves
de um conÇito global, onde armamentos, que, dado o nível de que se foram acumulando ao longo passaram a existir e engordar à consequências para o próprio e
aqueles que se julgam donos da soÆsticação tecnológica que de todo este tempo. Não me sombra desse hoje quase mítico e para o país por tempo indeÆnido.
verdade entendem também que atingiram, são produzidos com o apetece falar daqueles que tudo tão agredido 25 de Abril e que não Por outro lado, é chocante o facto
podem ser os donos do mundo, recurso a vultuosos capitais, longe sacriÆcaram para que durante os têm vergonha de o traírem em cada revelado com este processo de
achando-se no direito de fazer a das capacidades Ænanceiras das longos anos da ditadura não palavra e em cada gesto com que lá haver escutas telefónicas realizadas
guerra quando e onde quiserem. “fabriquetas” de outrora. morresse em nós o sentimento da vão cantando e rindo. ao longo de quatro anos sem que
A guerra entre os povos alimenta Mas há outros “ganhadores” da dignidade ofendida e oprimida e José da Cruz Santos, Porto os visados tenham sido confronta-
a indústria armamentista. Os guerra. Netanyahu, por exemplo, só que morreram no mais vil dos dos alguma vez com qualquer
interesses estratégicos, a visão dos sobrevive politicamente à custa esquecimentos. Não me apetece Operação Influencer suspeita. Tais factos atentam
ditadores e a falta de respeito de uns dela. Abrindo uma nova frente com falar da angústia dos problemas contra princípios básicos da
para com os outros não fazem de o Irão, desde logo abençoada pelo graves da saúde, do ensino, do Não há dúvida de que o recente Constituição e do Processo Penal.
nenhum dos intervenientes o Ocidente em geral, capitaliza em emprego, da velhice, que permane- acórdão da Relação de Lisboa António Costa, Porto
vencedor de um qualquer conflito, seu favor a hostilidade suscitada cem por resolver e que nalguns sobre o processo designado por
seja na Ucrânia ou em Israel, onde a pelos ayatollahs extremistas, casos se têm agravado. Não me Influencer vem trazer uma nova luz
voz dos inocentes possa ser ouvida deixando cair no apagamento da apetece falar na demissão actual retrospectiva sobre a demissão de
e a diplomacia possa dar prioridade memória tudo quanto de cruel dos intelectuais e artistas que se António Costa e a dissolução da PÚBLICO ERROU
à paz. praticou e pratica em Gaza. Não esqueceram de que a sua voz e a Assembleia da República. Quer
Américo Lourenço, Sines será tão cedo que a abertura dos sua intervenção também tornaram uma, quer outra mostram-se agora Na entrevista a Mário Laginha e
telejornais vai incidir possível aquele dia libertador. Não claramente precipitadas e já na Pedro Burmester, que hoje é
“Bendita” guerra sistematicamente no horror da me apetece falar de uma juventude altura poderiam ser tidas como tais publicada no suplemento Ípsilon,
Palestina, que, à semelhança da que esgota as causas por que lutar e evitadas nas suas drásticas é referida a descoberta da
Perante o repúdio geral, ninguém Ucrânia, tenderá a diluir-se nos nos protestos contra as propinas, consequências políticas. AÆnal, o penicilina por Pasteur, quando
se atreveria, alguma vez, alinhamentos. Não que se deixe de ignorando as tragédias internas e que estaria em causa seria uma o autor desse feito foi o médico
explicitamente, a apontar algo de falar do assunto, mas… externas que não teriam deixado suspeita sem consistência, que e biólogo escocês Alexander
positivo no “fenómeno” da guerra, José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia indiferentes os seus pais e avós nem deveria ter dado origem ao Fleming (1881-1955).
As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt
Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 7
I
eu dava, se tivesse acordado fresquinho! Sónia Sapage, Tiago Luz Pedro
estadista Miguel Esteves Cardoso
Dava-vos todos um baile que depois levavam Directora de arte
sto de se aproximar o ano da morte é uma hora a tirar os nós dos vossos saiotes”. Sónia Matos
Directora de design de produto digital
como uma droga poderosa que nos Como não Æzemos o trabalho como deve Inês Oliveira
solta os maxilares: sai-nos tudo da ser, e não queremos que pensem que somos Editoras executivas
boca para fora. De repente, revelam-se simplesmente incompetentes, culpamos o Helena Pereira, Patrícia Jesus
Editor de fecho
O NÚMERO inúteis os 70 anos de repressão e nosso cansaço: “Sabe, é que toda a gente me
José J. Mateus
1 em 3
comedimento. quer. São solicitações de manhã à noite,
No outro dia, tive a satisfação de dizer, a qual delas a mais aliciante. Eu bem tento Editor de Opinião Álvaro Vieira Editor P2 Sérgio B. Gomes Online Ana Maria
Henriques, Mariana Adam, Pedro Esteves, Pedro Guerreiro, Pedro Sales Dias
um sujeito que chegou atrasado, a agradar a todos, mas, pronto, já se sabe, a (editores), Amílcar Correia (redactor principal), Carolina Amado, João Pedro
queixar-se de ter muito para fazer e de estar certa altura, o organismo vai-se abaixo...” Pincha, José Volta e Pinto, Miguel Dantas, Sofia Neves (última hora); Rui Barros
(jornalista de dados); Ruben Martins, Inês Rocha (áudio); Joana Bougard (editora
muito cansado: “Ó meu caro senhor, Dizer que se está cansado é uma vaidade multimédia), Carlos Alberto Lopes, Joana Gonçalves, Teresa Miranda
cansados estamos todos!” Ficou que quer fazer pena: trata-se de uma (multimédia); Amanda Ribeiro (editora de redes sociais), Ana Zayara, Patrícia
imobilizado e, mal começou outra vez a combinação particularmente repugnante. É Campos (redes sociais) Política Leonete Botelho (editora), David Santiago
(subeditor), Ana Sá Lopes, São José Almeida (redactoras principais), Ana Bacelar
mexer as feições, optou por uma carinha de como andar com uma T-shirt que diz “Não é Begonha, Liliana Borges, Margarida Gomes, Maria Lopes, Nuno Ribeiro Mundo
ofendido. fácil ser-se o máximo” e, quando alguém se Ivo Neto, Paulo Narigão Reis (editores), Bárbara Reis, Jorge Almeida Fernandes,
Teresa de Sousa (redactores principais), Rita Siza (correspondente em Bruxelas),
Um em cada três empréstimos Porque é que confessamos a estranhos, aproxima de nós, repara que temos uma Alexandre Martins, António Rodrigues, António Saraiva Lima, João Ruela Ribeiro,
à habitação tem risco de sobretudo em situações profissionais, que lágrima tatuada no canto do olho. Maria João Guimarães, Sofia Lorena Sociedade Natália Faria (editora), Clara
incumprimento, o que estamos cansados? Não é, com certeza, Para que Æque claro, de uma vez por Viana (grande repórter), Alexandra Campos, Ana Cristina Pereira, Ana Dias
Cordeiro, Ana Henriques, Ana Maia, Cristiana Faria Moreira, Daniela Carmo,
corresponde a 512.951 dos cerca porque achamos que o resto do mundo vive todas: estamos todos cansados, somos Joana Gorjão Henriques, Mariana Oliveira, Patrícia Carvalho, Samuel Silva, Sónia
de 1,5 milhões de contratos descansadamente, sem nada para fazer, todos perfeccionistas, foi pena não termos Trigueirão Local Ana Fernandes (editora), Luciano Alvarez (grande repórter),
André Borges Vieira, Camilo Soldado, Mariana Correia Pinto, Samuel Alemão,
existentes, de acordo com os graças às oito horinhas seguidas que dorme tido mais tempo e isto não ter sido feito com Teresa Serafim Economia Pedro Ferreira Esteves, Isabel Aveiro (editores), Manuel
dados do Banco de Portugal todas as noites, entre pousar o Proust na mais calma. Carvalho (redactor principal), Cristina Ferreira, Sérgio Aníbal (grandes
repórteres), Ana Brito, Luís Villalobos, Pedro Crisóstomo, Rafaela Burd Relvas,
Raquel Martins, Rosa Soares, Victor Ferreira Ciência Teresa Firmino (editora),
Filipa Almeida Mendes, Tiago Ramalho Azul Andrea Cunha Freitas (editora),
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ZOOM SÉRVIA Barata, Nicolau Ferreira, Tiago Bernardo Lopes (multimédia), Gabriela Gómez
(infografia), Rodrigo Julião (webdesign) Tecnologia Karla Pequenino Cultura/
Ípsilon Paula Barreiros, Inês Nadais (editoras), Pedro Rios (editor Ípsilon), Isabel
Coutinho (subeditora), Nuno Pacheco, Vasco Câmara (redactores principais),
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Amaral Cardoso, Lucinda Canelas, Luís Miguel Queirós, Mariana Duarte, Mário
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8 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Espaço público
O
Francisco Mendes da Silva
Governo da AD andou a dizer
uma coisa objectivamente
verdadeira: com as alterações
que quer introduzir já nas
taxas de IRS, em 2024 o Estado
cobrará menos cerca de 1500
milhões de euros relativamente a 2023.
Disse-o, contudo, sem dar relevância a um
pormenor politicamente essencial: dentro
daquele valor, estão os cerca de 1300
milhões poupados aos portugueses por obra
do Orçamento do Estado para 2024,
aprovado pela anterior maioria do PS.
É certo que o PSD defende uma redução
imediata daquela magnitude desde o Verão
de 2023, antes mesmo do PS, propósito que
reiterou durante a discussão do Orçamento.
Podemos por isso dizer que a redução
originária, apesar de decidida pelo Governo
de António Costa, também é em espírito do
partido de Luís Montenegro. Mas só mesmo
em espírito. Ela não é realmente da AD,
porque não ocorreu por causa da mudança
do Governo. A redução de IRS que em 2024 é
da responsabilidade da AD é só a parte — não autorizam outra interpretação que não a Miranda Sarmento. Esse título diz o seguinte: em causa é a guerra bizantina entre as duas
negligenciável, mas não substancial — que interpretação literal. A comparação com “AD pisca o olho à classe média com redução propostas de impacto semelhante do PS e
aparentemente elevará os 1300 milhões para 2023 signiÆca que o Governo conta com o de três mil milhões de euros em IRS.” Quem do PSD.
os 1500 milhões. que já está em vigor em 2024, fruto do se deu ao trabalho de ir procurar e ler a E perceberia, além disso, que ambos os
A ser possível extrair uma qualquer notícia Orçamento do PS para este ano. notícia deparou-se com a informação de que partidos tiveram interesse em manter a
acerca desta polémica, a notícia é esta e só Podemos certamente encontrar exemplos o que a AD prometia, segundo citação do ilusão de que a proposta do novo Governo
esta: o Governo da AD tentou apropriar-se de de membros do Governo a esquivarem-se ao próprio Miranda Sarmento, era “a redução era mesmo de 3000 milhões logo para 2024,
uma redução de IRS pela qual o principal esclarecimento. Mas não podemos retirar de três mil milhões de euros ao longo da e não de apenas 1500 milhões. É que essa
responsável foi o último Governo do PS. das entrelinhas nebulosas do debate político legislatura”. A notícia expõe, para além da ilusão encaixava tanto na narrativa de Luís
O que não é notícia alguma, pelo que o Governo disse alguma vez que iria desonestidade de quem propagou este logro, Montenegro, o protector da classe média
contrário, é a acusação que gerou o drama reduzir em 3000 milhões o IRS de 2024, que a promessa de redução do IRS em 3000 contra o “sufoco Æscal”, quanto na de Pedro
na imprensa e na oposição. O Governo nunca quando não só ninguém o disse milhões é para o horizonte da legislatura, Nuno Santos, o defensor da “estabilidade”
disse que em 2024, face a 2023, iria diminuir expressamente como o que está nas linhas não para 2024. contra a irresponsabilidade orçamental do
a receita do IRS em cerca de 3000 milhões programáticas é o contrário. Mas o mais extraordinário é que os termos “choque Æscal”.
de euros. Nunca disse que acrescentaria os Aliás, o debate político até tem muitos do debate entre a AD e o PS sobre o IRS para Também não admira que tenha sido a IL a
“seus” 1500 milhões aos 1300 milhões do PS. outros elementos de contexto, que mostram 2024 são hoje basicamente iguais aos que única a proclamar desde cedo que o alívio
Disse, isso sim, que reduziria o IRS em 3000 o que verdadeiramente sucedeu. Por conhecemos desde pelo menos Agosto de Æscal imediato do Governo era de apenas
milhões ao longo da legislatura. Portanto, exemplo, a propaganda do PS colocou a 2023. Nessa altura o PSD já apresentou uma cerca de 200 milhões de euros. A sua
quando se concluiu que os tais 1500 milhões circular, através das redes dos seus proposta de redução imediata de taxas em narrativa é a única a que, neste caso, a
seriam o valor global do alívio concedido aos deputados e dirigentes (Tiago Barbosa linha com o que está no Programa do verdade serve. A AD quer dizer que o alívio é
portugueses em 2024, o Governo não foi Ribeiro, entre muitos outros), o screenshot do Governo. Logo a seguir, o Governo do PS grande. O PS quer dizer que é demasiado
apanhado a mentir. título de uma notícia do JN, de Fevereiro, veio anunciar que apresentaria algo de grande. Só a IL, dispensando a ambiguidade,
Qualquer observador atento tinha ao seu sobre uma apresentação feita por Joaquim muito parecido na proposta de Orçamento quer dizer que o alívio é pequeno.
dispor elementos literais, e também do Estado para este ano, em cuja discussão A tudo isto acresce por Æm, convém notar,
elementos de contexto, que o teriam depois o PSD contrapôs aquilo que já tinha a distracção da comunicação social, forçada
impedido de apostar temerariamente na avançado em Agosto. pela fragmentação partidária a dar aos
interpretação de que o Governo falara numa No dia 25 desse mês, sobre o assunto, temas da governabilidade, da táctica e das
redução de 3000 milhões em 2024. escrevi nesta coluna que, “como a cultura coligações a centralidade que outrora dava à
O Programa do Governo explicita que política em que vivemos é a da trincheira análise dos conteúdos programáticos dos
aquela redução do IRS (de 1500 milhões) é irredutível, o que temos é uma situação em partidos.
“face a 2023”. E, no debate parlamentar que os dois partidos tentam a todo o custo Pensou-se em tempos que essa
sobre esse programa, o primeiro-ministro
Ambos os partidos mostrar o que os divide, mesmo num tema fragmentação, com a diversidade ideológica
referiu “uma descida das taxas de IRS sobre tiveram interesse em que estão tão Çagrantemente de acordo. que anunciava, tornaria o debate
os rendimentos até ao oitavo escalão, que vai Não espanta que só consigam encontrar democrático mais rico e soÆsticado.
perfazer uma diminuição global de cerca de
em manter a ilusão de diferenças ridículas (“Não gostam do Enganámo-nos: o debate Æcou mais pobre,
1500 milhões de euros nos impostos dos que a proposta do novo ‘centrão’? Experimentem o ‘extremão’ — II”). mais artiÆcial, mais superÆcial, mais
portugueses face ao ano passado”. Portanto, quem tivesse acompanhado displicente.
Ora, “face a 2023” e “face ao ano passado”
Governo era de 3000 este debate desde o ano passado perceberia
não são expressões polissémicas. Não milhões logo para 2024 agora, instintivamente, que o que continua Advogado. Escreve à sexta-feira
Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 9
Q
Afonso Cruz
direito das mulheres no começaram a aumentar nos anos 60. e oradoras que, no 25 de Abril, estavam na
Portanto, a fração de tempo de vida que as clandestinidade, no Largo do Carmo, ou uem já entrou no Hospital de
mercado de trabalho é a mulheres passavam casadas diminuiu, o que noutros sítios incríveis, e lá reconheci que Bonecas, na Praça da Figueira,
conquista de um lugar na permitiu, também, aumentar o seu nível de não tinha estado no 25 de Abril, dado que em Lisboa, viu com certeza a
educação. Citando Goldin, as raízes da nasci em janeiro de 1975. quantidade de santos cujas mãos
sociedade
P
revolução estavam lançadas. Mas o 25 de Abril está dentro de mim, e na foram partidas e que estão lá à
A transição da evolução para a revolução, Sociedade Portuguesa de Psicanálise este espera de conserto. As pessoas
ara Claudia Goldin, a economista que começou no Ænal dos anos 70, envolve Abril interno era tema de interesse. Falei, crêem que assim, ao partir uma das mãos às
norte-americana que recebeu há alterações importantes. Por um lado, as então, da minha infância numa aldeia do imagens dos santos, os pressionam a
seis meses o Prémio Nobel, o decisões de educação passam a incorporar concelho de Alcobaça, onde cresci com os concretizar os pedidos que lhes fazem. Como
crescente envolvimento das um horizonte de longo prazo, em que a meus avós, e das Æguras femininas da minha se, com este gesto, os ferissem ou
mulheres na economia foi a mulher se vê como participando ativamente vida. magoassem, acrescentando a isso a ameaça
mudança mais signiÆcativa do no mercado de trabalho de forma contínua As minhas avós eram analfabetas. As de os santos Æcarem manetas caso não se
mercado de trabalho do século XX. Goldin ao longo da sua vida adulta. Por outro, a quatro Ælhas da minha avó materna, que mostrem indulgentes. Se correr bem, e só
apresenta as quatro fases desta história no proÆssão e o emprego da mulher passam a nunca foi à escola, nascidas nas décadas de nesse caso, serão enviados para o hospital
magistral The Quiet Revolution that fazer parte dos ingredientes a partir dos 50 e 60, têm cursos superiores. O contraste para serem curados, para que lhes reponham
Transformed Women’s Employment, quais deÆne a sua identidade e aÆrma o seu com as mulheres da família do meu pai, a mão em falta e regressem à sua integridade
Education, and Family, que veio ao mundo papel na sociedade. A mulher deixa de ter nascidas duas décadas antes, é Çagrante. As física original.
numa distinguished lecture na conferência um “trabalho” (quando tem) para ter uma minhas cinco tias (duas irmãs do meu pai, Supõe-se que a escolha da mão tenha que
anual da American Economic Association e “carreira”. três casadas com os meus tios) nasceram nas ver com a facilidade de partir uma parte do
foi depois publicado na American Economic Na fase evolucionária, a mulher casa-se décadas de 30 e 40. Só duas são objecto onde este é mais frágil — e não pelo
Review, em 2006. cedo e forma a sua identidade adulta depois escolarizadas — uma terminou a primária, simbolismo, uma vez que a mão é símbolo
As quatro fases distinguem-se, em do casamento; na fase revolucionária, o outra nem isso. Troquei umas mensagens do gesto (também literal), de acção e de
primeiro lugar, pelo horizonte temporal casamento surge depois de tal processo com o meu pai para escrever este texto e ele ajuda: é o que signiÆca “dar uma mão”.
subjacente às decisões da mulher relativas à identitário, no qual a carreira adquire um descreveu assim o percurso da única irmã A São também optou por esta prática de
sua escolaridade — baseado em papel primordial. No fundo, as melhores escolarizada: “Foi à escola já fora de horas, extorsão religiosa, partindo a mão duma
participações intermitentes no mercado de passam de “agentes passivas, que se porque o avô foi obrigado. Chegou à terceira estátua de Santo António, e ao fazê-lo feriu a
trabalho ou na construção de uma carreira adaptam às decisões de rendimento e de classe. Ainda hoje lê juntando as letras.” sua própria, chupou o sangue, pôs um
de longo prazo. Em segundo lugar, pela ocupação do tempo dos outros [homens] a As minhas duas avós e todas as tias do meu penso, disse o responso, fumou um cigarro
importância do emprego e da profissão na lado paterno são ou foram o que se pode para descontrair, bebeu um copo de
construção da identidade da mulher. chamar “donas de casa”. Embora tenham medronho para descontrair, e depois
Finalmente, pela natureza das decisões no participado, de modos diferentes, na colocou o santo ao relento, à chuva, ao frio,
seio do agregado familiar, que poderão ser economia familiar de base rural, nenhuma para maior pressão e celeridade: que a sua
tomadas em conjunto, tendo em conta as teve um emprego assalariado. A única Ælha voltasse, aparecesse sã e salva. Repetia
perspetivas de carreira da mulher e do exceção é a mais nova, que teve o nome da Ana, baixinho para não
homem, ou dando primazia ao homem, com participações esporádicas no mercado de despertar a maldade, num murmúrio, para
a mulher relegada a trabalhadora secundária trabalho, em instituições locais, ligadas ao não incomodar o cosmo. Queria fazer-se
no seio do casal. cuidado de menores e idosos. ouvir somente pelas potências boas e não
Goldin utiliza um conjunto alargado de O enorme contraste entre a minha vida e a pelas más, um exercício difícil, fazê-lo
dados — relacionados com a fertilidade, o das mulheres da geração que me precede na sussurrando mas com essência de grito.
casamento e o divórcio, o nível de educação, família é revolucionário, no sentido À noite começou a trovejar. Chovia e
os salários, o emprego das mulheres, Goldiano e no sentido de Abril. Neste lugar ventava com tal violência que um poste de
passando por dados de inquérito que acerca de fala que granjeei, penso muitas na voz electricidade caiu, deixando a casa sem luz,
da satisfação com a vida — para datar as três que elas não tiveram: apesar da inteligência fazendo com que aquela tempestade, tão
primeiras fases, a que chama evolucionárias, e Æno espírito analítico de algumas delas, o hostil para a São, ganhasse uma dimensão
e a quarta, revolucionária, da sua teoria. país decidiu encerrá-las numa vida de donas ainda mais assustadora, agravando a sua
Para a autora, a primeira fase de casa na qual, na verdade, não foram ansiedade e hidrofobia, já de si difíceis de
evolucionária vai do final do século XIX à donas de nada. conter noutras situações menos complexas.
década de 1920, a segunda compreende as A revolução silenciosa de Claudia Goldin A São acendeu uma vela. Pingava dentro de
décadas de 30 e 40 e a terceira vai do final demonstra que a participação de pleno casa, na sala e no quarto, escorria água pela
dos anos 50 até ao final dos anos 70 do direito das mulheres no mercado de parede da cozinha.
século passado. Na primeira fase, as trabalho é a conquista de um lugar na A São acendeu outra vela. Estremeceu de
mulheres no mercado de trabalho eram sociedade, o domínio da fertilidade e a susto quando bateram à porta.
sobretudo jovens e solteiras, mal pagas, sem
O enorme contraste libertação da tarefa de cuidar, que não é
grande investimento prévio em educação entre a minha vida paga, nem valorizada. Uma história de
necessária à ocupação que exerciam. É na poder. As mulheres poderosas metem medo Não perca o podcast com
segunda fase que a participação no mercado
e a das mulheres aos machos fracos que as querem mandar
Fábrica
de criadas os textos lidos pelo autor.
de trabalho das mulheres casadas — alvo de da geração que me para casa. AFONSO
CRUZ
Ao fim-de-semana,
um forte estigma até há um século — se um exclusivo para
expande, de uma em cada dez para uma em
precede na família Professora de Economia na Nova SBE. assinantes
cada quatro. Os eletrodomésticos é revolucionário Escreve à sexta-feira Em publico.pt/podcasts
10 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
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12 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Política
PROGRAMA
Jantar volante com o Chef Alexandre Jantar volante com o Chef Alexandre Jantar volante com o Chef Alexandre
Silva, do Loco, 1 Estrela Michelin Silva, do Loco, 1 Estrela Michelin Silva, do Loco, 1 Estrela Michelin
Venda de vinho com a Garrafeira Imperial, Venda de vinho com a Garrafeira Imperial, Venda de vinho com a Garrafeira Imperial,
com entrega de vinho em casa e descontos com entrega de vinho em casa e descontos com entrega de vinho em casa e descontos
Política
TIAGO PETINGA/LUSA
Há vítimas
de violência
doméstica
que Ɗcam à
espera de vaga
Desencontro entre rendimentos
e preço das rendas entope sistema
de acolhimento. Número de estruturas
de apoio diminuiu nos últimos anos
pode arrendar um quarto de casa,
Ana Cristina Pereira
como têm feito alguns homens que
A coordenadora do Pra ti — Centro passaram pela casa-abrigo da Cáritas
de Atendimento para Vítimas de Vio- de Aveiro. Mas muitas mulheres tra-
lência Doméstica, Ilda Afonso, resu- zem crianças. “Neste momento, um
me o cenário actual num simples par T2 custa 600, 700, 800, 900, 1000,
de frases. “Sempre foi difícil [arran- 1200, 1500 euros”, frisa Joana Sam-
jar vaga nas estruturas de acolhimen- paio. “Como é que as utentes vão
to], mas agora está pior. As casas-a- pagar? Em vez de três meses, Æcam
brigo servem muitas vezes de respos- um ano, dois anos.”
ta para problemas sociais…” O sistema entope. “O problema de
Há muito que o arrendamento no não haver vagas nas casas-abrigo é
mercado livre atinge valores diÆcil- que as estruturas de emergências
mente suportados por pessoas que têm de Æcar com as vítimas mais
têm Ælhos a cargo e ganham o salário tempo”, esclarece Susana Ramos
mínimo ou pouco mais. “Agora, nin- Pereira, presidente da Mulher XXI,
guém encontra facilmente uma casa que gere uma unidade destas em
para viver, muito menos por um Leiria. “Em vez de estarem 15 dias,
valor que se possa pagar”, prosse- estão três meses ou mais. E as estru-
gue a responsável por aquela estru- turas de emergência como a nossa
tura da União de Mulheres Alterna- Æcam sem vagas para situações
tiva e Resposta (UMAR) no Porto. urgentes.”
Há vítimas que não quebram o Manuel Albano, vice-presidente uma e diz que a vaga estará disponí- vagas aumentou ligeiramente, em APAV admite que já teve
ciclo de violência por causa desse da Comissão para a Cidadania e vel em tal dia. “Até agora tem-se virtude de as casas que encerraram vítimas durante 48 horas numa
desencontro entre rendimento e Igualdade de Género, não nega esta resolvido. É uma questão de esperar terem menor capacidade do que as unidade hoteleira à espera
custo de vida. E há vítimas que, ape- realidade. “O aumento exponencial um bocadinho.” novas que entretanto entraram em de vaga numa casa-abrigo
sar disso, saem de casa. Recorrendo do preço da habitação tem conse- Daniel Cotrim, supervisor técnico funcionamento”, clariÆca Manuel
à Rede Nacional de Apoio às Vítimas quências evidentes, mais ainda da rede nacional de casas-abrigo da Albano. “Em 2019, tínhamos 199
de Violência Doméstica, podem não quando há especial vulnerabilidade Associação Portuguesa de Apoio à vagas em emergência e 617 em casa-
encontrar logo vaga. associada.” Vítima (APAV), admite que já teve abrigo e temos à data de hoje 230
A rede conta com 200 centros de Perante tamanha diÆculdade de vítimas mais de 48 horas em unida- em emergência e 649 em casa-abri-
atendimento espalhados pelo terri- autonomização, admite que se pro- de hoteleira à espera de vaga. go.”
tório nacional. E com 18 estruturas longa a permanência em casa-abri- “Vamos mantendo o contacto, Há um desajuste logo à partida.
de emergência (que devem respon- go. “Não se vai pôr as pessoas na rua vamos acompanhando, mas isso Quer as estruturas de emergência,
der aos pedidos urgentes, estabilizar e isso pode levar a que existam também faz com que as vítimas dei- quer as casas-abrigo são espaços
as vítimas e avaliar a situação de momentos em que não há resposta. xem de acreditar no sistema de residenciais de acolhimento tempo- Um T2 custa 600,
cada uma) e 36 casas-abrigo (que, O que não signiÆca que o sistema de apoio.” rário, seguro e conÆdencial, desti- 700, 800, 900,
além de providenciar ambiente emergência social não providencie nado a vítimas que se encontrem
seguro, devem promover aptidões um alojamento [numa pensão ou Pressão à entrada numa situação de risco grave/perigo 1200, 1500 euros.
pessoais, proÆssionais e sociais). num hotel, por exemplo]. É adequa- O número de respostas estava a de vida. Todavia, há quem não pre- Como é que os
“DiÆcilmente conseguimos auto- do? Podemos dizer que não, mas é subir de forma acentuada desde cise de se esconder e esteja acolhido
nomizar as vítimas e abrir vagas”, o possível.” 2017, mas depois da pandemia come- numa delas. utentes vão pagar?
diz Joana Sampaio, directora do Por- “Quem Æca à espera de vaga está çou a diminuir. Houve descontinui- Daniel Cotrim fala em “saturação Em vez de três
to d’Abrigo, das Soroptimist Interna- numa situação emocional difícil”, dade no Ænanciamento. Comparan- de encaminhamentos para acolhi-
tional — Clube do Porto Invicta. “Não observa Ilda Afonso. Não lhe diz que do 2019 com 2023, há menos oito mento”. “Por um lado, as situações meses, Äcam
há resposta suÆciente de habitação consultou a plataforma de gestão de estruturas de emergência e menos de violência doméstica são muito um ano
social e ninguém consegue pagar as vagas da rede nacional e nada três casas-abrigo. mais ‘perigosas’ — o risco de escala-
rendas.” encontrou. Contacta várias entida- “Não obstante o número de casas da é muito maior. Por outro, com a Joana Sampaio
Quem não tem Ælhos a cargo ainda des a ver quando e onde vai abrir ter diminuído, o número total de integração na rede nacional das Directora do Porto d’Abrigo
Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 17
FERNANDO VELUDO/NFACTOS
a vítimas de violência doméstica até Possível solução
Rede Nacional 2021. Esse número foi ultrapassado,
alcançando-se os 280 fogos. Mas,
Retirar
200
nos últimos anos, as entidades que
integram a rede queixam-se de
ausência de resposta.
“O programa não está parado, não
agressores
estruturas de atendimento
há habitação disponível”, justiÆca
Manuel Albano. “Podem-se candida- de casa
integram a Rede Nacional de tar a programas como o Porta 65”,
Apoio a Vítimas de Violência exempliÆca. Destina-se a jovens com
Doméstica, uma resposta idade compreendida entre os 18 e os Há uma forma de eliminar a falta de
que reúne instituições 35 anos e contrato de arrendamento vagas nas estruturas de acolhimento
públicas e associações. de fracção completa. de vítimas de violência doméstica.
“Antes respondiam, mas nos últi- As organizações estão sempre a
mos anos têm despachando para apontá-lo: os agressores saírem de
29
outros programas”, conÆrma Joana casa em vez das vítimas.
Sampaio, dando como exemplo o No entender de Daniel Cotrim,
Programa de Arrendamento Apoia- esta lógica de continuar a criar
do, direccionado para famílias com apoios para as vítimas pode ser per-
rendimentos intermédios. “A correr versa. “É como se as empurrássemos
são as respostas para apoio tudo bem, as vítimas ganham 700 para fora de casa. Facilita-se acesso
psicológico destinadas ou 800 euros. Ou é habitação social, ao subsídio de desemprego, cria-se
a crianças e jovens que ou não é.” apoio à reestruturação familiar,
integram a rede nacional. Com tempo, algumas autarquias abrem-se casas-abrigo. Está na altura
vão respondendo. Ainda há pouco de se olhar para o outro lado. A vio-
a Domus Social, a empresa munici- lência doméstica é um crime. É fun-
18
pal do Porto, atribuiu habitação a damental que a justiça actue, que as
uma família ali acolhida. Coisa rara, pessoas agressoras sejam responsa-
uma vítima voltou para casa dos bilizadas, paradas.”
pais, uma vez que o agressor foi con- Ilda Afonso diz-se admirada com o
denado a uma pena de prisão. que continua a ver sair dos tribunais.
casas de acolhimento de Explicou já o IHRU que o que faz “Não podem tirar o agressor de casa,
emergência que dão uma é atribuir os fogos disponíveis, por porque vai Æcar sem abrigo? Ele é que
primeira resposta às vítimas. sorteio, em regime de arrendamen- cometeu o crime. Ele é que não se
Há 230 vagas nestas to apoiado ou de arrendamento sabe comportar e o resto da família é
estruturas. acessível a famílias em situação de que tem de sair? Já ouvi um juiz,
carência habitacional inscritas. E daqueles empenhados contra a vio-
que “a resposta urgente para casos lência doméstica, contar que teve um
de vítimas de violência doméstica dilema: por um lado, a segurança da
36
foi, entretanto, considerada no vítima; por outro, o que ia fazer àque-
âmbito da Bolsa Nacional de Aloja- le homem, onde é que ele ia dormir,
mento Urgente e Temporário, que onde é que ele ia viver. E eu passei-
prevê Ænanciamento ao abrigo do me. Onde é que vai viver? Está preo-
casas-abrigo garantem Plano de Recuperação e Resiliên- cupado com isso? Então decrete
649 vagas nas respostas cia”. prisão preventiva. Já tem tecto.”
de acolhimento residencial, Ilda Afonso conhece esse progra- “O que faz sentido e é justo é
um número que aumentou ma. “Não era adequado para as enti- serem os agressores a sair de casa”,
ligeiramente face a 2019. dades que fazem parte da rede corrobora Margarida Medina Mar-
nacional”, diz. Gere apartamentos tins. “O impacto que isto tem nas
de autonomização cedidos pela
autarquias, há mais pressão para aco- Ocorre-lhe o exemplo de uma Sem excluir a possibilidade de se vir Câmara de Gaia e quis aumentar as “Um sistema que
lher.” mulher que é toxicodependente e a abrir mais vagas, Manuel Albano vagas. “Só entidades com muito defende que as
Explica aquele perito que, peran- vítima de violência doméstica. “Esta admite que se tem de trabalhar dinheiro conseguem ter acesso.” vítimas é que
te uma vítima que precisa de sítio mulher é encaminhada para uma outras respostas. “As autarquias têm Emerge a sugestão da criação de devem sair de
casa é cúmplice
para Æcar, “as organizações da rede estrutura de emergência e continua tido um papel importante. Muitas uma bolsa de casas de autonomiza- de crime”, dizem
exploram um conjunto de soluções”. com consumos regulares. Precisa de têm medidas de discriminação posi- ção, mas também de um programa associações
“O acolhimento deve ser a última ser sensibilizada para fazer um tra- tiva para vítimas de violência domés- de apoio ao arrendamento especíÆ#
resposta, porque implica a retirada tamento, cumprir um programa de tica, quer no acesso à habitação co para vítimas de violência domés-
do meio natural de vida, o cortar reabilitação, entrar numa comuni- social, quer nos programas de apoio tica. “Um programa nacional destes vítimas é assustador. Uma coisa é a
com a família, o ir viver escondido, dade terapêutica. Ao mesmo tempo, ao arrendamento.” era o mais justo e o mais inclusivo”, pessoa decidir que vai viver para
a mudança de escola, muitas vezes pode haver uma parceria para se Margarida Medina Martins, da defende Catarina Neves, coordena- outra zona, outra coisa é ter de fugir.
a perda de emprego.” Com a trans- acompanhar as questões relaciona- Associação de Mulheres contra a dora da casa-abrigo para homens Não há razão para se continuar a
ferência de competências de acção das com a violência doméstica.” Violência, dá conta da sua experiên- vítimas de violência doméstica, da perpetuar esta violência. Um siste-
social da Segurança Social para as Também há casos em que a vio- cia positiva. “As câmaras são a enti- Cáritas de Aveiro. Acaba por haver ma que defende que as vítimas de
autarquias, Daniel Cotrim nota que lência doméstica está apenas asso- dade que tem um papel importante uma grande diferença de concelho violência é que devem sair de casa é
por vezes agora “a primeira hipóte- ciada a insuÆciência de rendimen- nesta oportunidade de fazer uma para concelho. cúmplice de crime. Há mecanismos
se é o acolhimento”. “As organiza- tos, como diz Ilda Afonso. “As víti- vida livre de violência. Há anos que Não é só a diÆculdade de acesso à simples. Aquilo que fazem às víti-
ções acabam por sentir esta pressão mas tiveram coragem de sair de casa contamos com a Câmara de Lisboa, habitação. Para desentupir a rede de mas, mandar para uma pensão, é
por parte das autarquias.” e de pedir ajuda. Não têm para onde mas não é suÆciente. O [Instituto de] apoio, outros serviços também têm fazer aos agressores.”
“O que temos muitas vezes são ir e não podem voltar para onde Habitação e Reabilitação [Urbana, de funcionar. Margarida Medina A Estratégia Nacional para os Direi-
situações de carácter social indepen- estavam. Se não tivermos uma res- IHRU] também colaborava, mas não Martins chama a atenção para como tos das Vítimas de Crime 2024-2028
dentemente de serem vítimas de posta, voltam para o agressor, com tem colaborado.” a inoperância do antigo Serviço de prevê a criação de uma “resposta que
violência doméstica”, aÆrma. “Como a escalada de violência que isso pode A Comissão para a Cidadania e Estrangeiros e Fronteiras e da nova permita retirar o infractor da casa de
não há um diagnóstico de interven- implicar. Não é por sermos estúpi- Igualdade de Género (CIG) assinou Agência para a Integração Migrações morada de família e encaminhá-lo
ção individual e um plano de inter- das [que encaminhamos para aco- um protocolo com o IHRU em 2013 e Asilo “tantas vezes arrasta as víti- para os recursos sociais existentes na
venção bem feitos, não foram explo- lhimento.] É porque não há outra e reforçou-o em 2018, prevendo-se mas estrangeiras para situações em comunidade”. Não se sabe ainda em
radas outras respostas.” solução.” a atribuição de, no mínimo, 20 fogos que Æcam indocumentadas”. que se traduzirá.
18 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Sociedade
NOVAMENTE DISPONÍVEL
p
om
C
Do Fundo da Revolução
REEDIÇÃO
FAC-SÍMILE
Entrevistas a
Melo Antuness
José Miguel Júdice
e
Vítor Cunha Rego
o
a
João Bénard da Costa
José Pacheco Pereira
a
+12,90€
Alpoim Calvão
o
Manuel de Lucena
a
Vasco Vieira de Almeida
José Manuel de Mello
o
a
EM BANCA
o
Isabel do Carmo
Carlos Fabião
o
André Gonçalves Pereira
a
o
Maria de Lurdes Pintasilgo
Adriano Moreira
a
Manuel Monge
e
Mário Soaress
Foto autora © João Porfírio
“Maria João Avillez sabe ouvir e sabe, sobretudo, estimular os seus convidados. (…)
Do Fundo da Revolução é um bom exemplo deste talento e ficará a fazer parte de COMPRAR
uma coisa que é, infelizmente, rara em Portugal e que é a história oral contemporânea,
contada a partir dos próprios intervenientes.”
Leonardo Ferraz de Carvalho
20 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Sociedade
Movimento
e-mails pode abalar inorgânico
convoca
desfecho do caso EDP polícias
ga voluntária dos e-mails, pois foi
Ana Henriques Natália Faria e Sónia Trigueirão
precisamente uma apreensão o que
MP apreendeu correio ocorreu”, escreve o juiz de instrução O apelo que corre nos grupos parti-
Nuno Costa numa decisão datada lhados por elementos da PSP e da
electrónico de gestores desta quarta-feira, tirando ilações de GNR é claro: se até ao dia 10 de Maio
da eléctrica sem prévia um acórdão do Supremo Tribunal de o Governo não encontrar uma solu-
autorização de juiz Justiça, de Outubro passado. ção que garanta o pagamento de um
de instrução “Na fase de inquérito, compete ao subsídio de risco semelhante ao atri-
juiz de instrução ordenar ou autorizar Decisões são remetidas para futuro conselho de ética buído à Polícia Judiciária, os polícias
Pode ser um forte revés à investigação a apreensão de mensagens de correio voltam a recusar fazer serviços gra-
Sociedade
uso de bicicletas?
de carros nas estradas e a velocidade pais respostas estão relacionadas com
a que circulam, o que levanta ques- problemas infra-estruturais: “não me
tões ambientais e de segurança. Sem sinto confortável no trânsito” (38,4%),
surpresa, estes são alguns dos facto- “não há ciclovias seguras” (29,6%),
50 25
em duas rodas e com as experiências
de outros países. Havendo uma sen-
sação de insegurança para pedalar,
há ainda uma grande diferença de
género (64,7% homens e 35,2%
mulheres).
O grau de escolaridade (39,3% com
licenciatura, 23,1% com mestrado e
5,9% com doutoramento) acaba tam-
bém por “desconstruir alguns mitos”
38,4% das pessoas não se segundo os quais quem utiliza a bici-
sentem confortáveis a andar cleta é mais pobre, remetendo para
de bicicleta por causa do uma ideia de estatuto social, refere o
trânsito porta-voz, que é também vice-presi-
dente da FPCUB e membro da asso- PROGRAMA DESTAQUES
ções condizem com os problemas
levantados: “ter ciclovias seguras de
ciação Braga Ciclável. Dos 3545 inqué-
ritos online obtidos, a maioria foi RODRIGO LEÃO
casa até ao meu destino” (51,1%), recolhida nos distritos de Lisboa, Bra-
“garantir que os carros andem a uma ga, Porto, Aveiro e Setúbal. SALVADOR SOBRAL
velocidade reduzida” (26,5%), “ter
estacionamento seguro para bicicle- Coragem política E ORQUESTRA JAZZ DE MATOSINHOS
tas no destino” (21,6%) e “conseguir As várias associações e movimentos
articular o uso da bicicleta com outro juntaram-se porque há falta de dados ESPETÁCULO MULTIMÉDIA
modo de transporte” (15,6%). sobre mobilidade activa em Portugal,
“O desenho das ruas e das avenidas
leva a que usemos ou não determina-
explica Mário Meireles. “Os dados
mais interessantes são os dos Censos,
EXPOSIÇÃO DE ALFREDO CUNHA
CERIMÓNIA DE ATRIBUIÇÃO
do tipo de transporte”, contextualiza que são apenas recolhidos de dez em
Mário Meireles. E, neste momento, dez anos”, e há ainda os inquéritos à
muitas das vias das principais cidades
portuguesas convidam as pessoas a
mobilidade, diz. Mas o último dispo-
nível é de 2017, e estes apenas se DE MEDALHAS MUNICIPAIS
usar o carro, o que continua a ser um debruçam sobre as áreas metropoli-
obstáculo para 85,2% das pessoas, tanas. “É pouco”, diz. E mesmo estes MOONTOSINHOS
que responderam que gostariam de dois momentos apenas mostram o
usar mais vezes a bicicleta nas suas
deslocações diárias.
que acontece na mobilidade, sem
responderem ao “porquê”.
LEV – LITERATURA EM VIAGEM
Não é só uma questão de não haver Os dados não mostram apenas um
ciclovia, explica. Há troços mal raio-X da mobilidade activa: mostram
50 ANOS 25 DE ABRIL
dimensionados ou que acabam uma receita aos responsáveis políti-
abruptamente sem que haja um efei- cos, caso haja vontade de promover
to de rede, passeios pintados de ver- outros modos de transporte que não
melho a fazer percurso ciclável... A o carro privado. Ou seja, se houver
lista continuaria. “Acaba por não mais infra-estruturas seguras, como
IN3+, A INOVAÇÃO DA IMPRENSA
NACIONAL-CASA DA MOEDA
AO SERVIÇO DOS CIDADÃOS
N
Investigadores um futuro muito próximo, vai de projetos que acrescentam valor à eco- apresentou a ideia vencedora desta 4ª edi-
dar por si a sair de casa com a nomia e à sociedade. ção e que envolverá uma equipa com mais
distinguidos com o intenção de comprar um com- As propostas distinguidas em 2024 têm de 50 pessoas, nas áreas de engenharia de
putador de marca, devidamente “soluções e respostas para temas que im- software, segurança, privacidade, block-
Prémio IN3+ estão protegida da contrafação por uma etique- portam aos cidadãos, à sociedade e ao ŧť? Uŧť ťʠŧť > w( Eĭ
ta inteligente com propriedades quânti- mercado, como a Sustentabilidade, no tecnológicas evoluem rapidamente. Se es-
já a desenvolver cas e, por isso, impossível de copiar. Ao caso da ideia vencedora, a AYR.ID, que visa perarmos muito tempo acabamos por não
decidir que meio usar para se deslocar, a criação de uma identidade climática di- ter uma solução inovadora”, acrescenta
projetos nas áreas vai olhar para um dispositivo móvel onde gital do cidadão, como a Transparência e a Paulo André, do Instituto Superior Técnico,
está registada a sua identidade climáti- )ťŧť? ŧť ťť)?ŧ ťʠ- que está a desenvolver o QuantSecure com
da sustentabilidade, ca digital e acabará por se aperceber que, cada em 2.º lugar, que propõe uma solução outros três investigadores das áreas de
nos últimos dias, contribuiu negativa- para tratamento de dados em serviços de engenharia física, tecnologias quânticas,
transparência mente para as emissões globais de CO2. base digital, ou como a Segurança, que a īŧť?ŧ ťʠť>
e segurança Decidirá, então, apanhar o Metro e, apro-
ť ť ť ? ʠŧťŸ?
ideia QuantSecure pretende aumentar,
tornando mais segura a autenticação de
No INESC TEC, da Universidade do Minho,
está concentrada a equipa de quatro in-
que respondem junto de uma entidade independente, se
o processo de licenciamento da sua nova
dispositivos ou objetos”, descreve o admi-
nistrador da INCM, Duarte Azinheira.
vestigadores de engenharia informática,
ciências de computação que está a desen-
a desafios da loja se encontra dentro dos tempos de tra-
tamento normais.
E o cenário acima descrito poderá ser real
em cerca de dois anos, preveem os auto-
volver o PeT, que pretende dar soluções de
maior transparência para o tratamento
atualidade e que, Estas são aplicações possíveis (entre mui- res das ideias. Logo a seguir à entrega dos de dados (na administração pública, por
tas outras) das três ideias premiadas pelo M ? ʠť ? ŧťť exemplo, pode ser aplicado na avaliação
em dois anos, IN3+, um apoio de um milhão de euros à um trabalho de estreita colaboração com da prestação de serviços). “Já existem arti-
inovação promovido pela Imprensa Nacio- a INCM para o desenvolvimento dos seus ŧĩʠŧ E ťť
poderão estar no nal-Casa da Moeda, SA. e que liga a aca- projetos. “Não podemos demorar muito tipo. Não existe nada que saia do contex-
demia, as empresas e a administração tempo”, refere Pedro Gaspar, diretor de to académico”, diz a investigadora sénior,
mercado. pública, contribuindo para a concretização Novas Tecnologias de Negócio do CeiiA, que (ť!E( >Mť ť ťʠ >
CONTEÚDO
COMERCIAL
AYR.ID
(equipa vencedora)
Duarte Azinheira
Administrador da INCM
O
terrestre e onde estarão quatro bata- s Estados Unidos O Departamento do Tesouro Do lado do Reino Unido, foi tal como no caso do Hamas a 7 de
lhões do Hamas. anunciaram ontem novas declarou que as medidas dos EUA anunciada uma série de Outubro, a avaliação israelita teve
O movimento islamista de Gaza sanções contra o Irão, com visavam 16 indivíduos e duas sanções, incluindo apenas em conta comportamentos
aÆrmou entretanto ao jornal saudita o Presidente Joe Biden a entidades que permitem a congelamento de bens e passados para prever o que poderiam
Al Sarq que as conversações sobre acrescentar que os líderes do G7 produção de drones iranianos, proibição de viajar que visam o ser as acções futuras, falhando assim
libertação de reféns e um cessar-fogo estavam empenhados numa incluindo tipos de motores que ministro da Defesa do Irão e redondamente as previsões. “Não há
“não chegaram a um beco sem saí- acção em conjunto para alimentam os Shahed, que foram outras figuras e organizações como fugir do facto de que os serviços
da”, depois de na véspera o primeiro- aumentar a pressão económica usados no ataque de 13 de Abril. militares, como o Estado-Maior secretos israelitas simplesmente não
ministro do Qatar, Mohammed bin sobre Teerão. O Reino Unido Na lista estão ainda cinco das Forças Armadas e a Marinha previram a resposta iraniana”, escre-
Abdulrahman Al Thani, ter dito que anunciou também sanções a empresas que forneciam dos Guardas da Revolução. veu no Haaretz o jornalista especialis-
estava a reavaliar o seu papel de organizações e responsáveis componentes para a produção de “O comportamento do Irão é ta em questões militares e de defesa
mediador por estar a ser usado “para militares iranianos em aço à Khuzestan Steel Company inaceitável”, disse o ministro Amos Harel.
interesses políticos”. No mesmo dia, coordenação com os EUA. (KSC), do Irão, um dos maiores dos Negócios Estrangeiros do O ataque iraniano de sábado foi
o país dizia que as negociações esta- “As sanções visam líderes e produtores de aço do país, ou que Reino Unido, David Cameron (na apresentando como um falhanço por
vam “numa fase delicada”. entidades ligadas aos Guardas adquiriam produtos de aço à KSC. foto), à margem de um encontro não ter praticamente causado danos
O jornal do Qatar Al-Araby Al-Jadeed da Revolução, ao Ministério da do G7 em Itália. As sanções são nem vítimas (uma criança beduína
citava entretanto uma fonte egípcia, Defesa do Irão e ao programa de “uma mensagem para Israel de ainda está em estado grave), mas exi-
dizendo que os EUA tinham concor- mísseis e drones do Governo que queremos ter o nosso papel giu uma coordenação sem preceden-
dado com uma operação militar israe- iraniano que permitiu este numa estratégia coordenada tes de Israel e aliados (a Jordânia, por
lita em Rafah em troca de uma respos- ataque descarado”, disse Biden, para lidar com a agressão do exemplo, abateu projécteis que pas-
ta limitada contra o Irão. em comunicado. “E os nossos Irão”. saram sobre o seu território).
O site Axios e a agência Reuters aliados e parceiros têm emitido As sanções britânicas, num Se, por um lado, o ataque mostrou
davam conta de uma reunião de alto ou irão emitir sanções e mais total de 13, visam também limites à capacidade iraniana, por
nível entre EUA e Israel para discutir medidas para restringir os indivíduos descritos como outro, mostrou a enorme exigência
uma potencial operação em Rafah (o programas militares actores-chave nas indústrias de de defesa que apresenta para Israel
segundo encontro deste género, o desestabilizadores do Irão.” drones e mísseis do Irão. Reuters e, sobretudo, um empenho de países
anterior ocorreu a 1 de Abril). Os EUA árabes que seria difícil de repetir.
Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 27
Mundo
Mundo
Economia
investigação permitiu provar que “a destes serviços, relevantes para os de condomínios Eurostat, perto de metade (46,7%) A Binance, maior
APEGAC Æxou, de forma regular e consumidores no contexto dos cus- da população em Portugal vive em plataforma de
generalizada, os preços mínimos a tos com a habitação”. habitações em regime de proprieda- negociação de
cobrar a título de honorários pela Esta investigação foi iniciada em de horizontal. criptomoedas do
mundo, fez um
pedido de registo
em 2022
Banco Central Europeu corta juros em Junho As regras em vigor determinam que
o BdP teria nove meses para dar res-
se dados continuarem positivos posta ao pedido, mas o regulador
acabou por pedir informações adicio-
nais à Binance, prolongando este
prazo. Foi este pedido que acabou
O vice-presidente do Banco Central que existem alguns riscos que Na quarta-feira, em entrevista à por levar a plataforma a desistir do
Europeu (BCE), Luis de Guindos, podem inÇuenciar a evolução dos CNBC, o governador do Banco de registo em Portugal.
disse ontem, no Parlamento Euro- preços, incluindo a evolução dos Portugal, Mário Centeno, conside- “A elevada exigência do regulador
peu, que o banco central fará em salários, da produtividade, dos cus- rou que, perante as actuais circuns- português levou a que a Binance não
Junho um corte das taxas de juro se tos unitários do trabalho, das mar- tâncias, o BCE tem condições para cumprisse os requisitos básicos para
a evolução dos dados continuar a gens de lucro e os riscos geopolíti- avançar com vários cortes nas taxas obter o registo”, explica o Jornal de
mostrar uma melhoria da inÇação. cos. de juro este ano, incluindo já em Negócios, citando uma fonte ligada a
“Temos sido muito claros no que O antigo ministro da Economia de Junho. este processo, não identiÆcada, que
respeita à política monetária. Se as Espanha, Luis de Guindos, disse que Neste contexto, ontem, as taxas detalha ainda que o BdP não conse-
coisas continuarem a evoluir como os actuais níveis de taxas de juro Euribor subiram a três, a seis e a 12 guiu perceber a composição da estru-
ultimamente, em Junho estaremos representam um importante contri- meses face a quarta-feira. A taxa tura accionista da Binance. Contacta-
preparados para reduzir as restri- buto para o processo de desinÇação Euribor a seis meses subiu para dos pelo mesmo jornal, nem a plata-
ções da política monetária”, disse e que a política monetária continua- 3,843%, mais 0,001 pontos. No pra- forma de criptoactivos nem o
Guindos, em audição da Comissão rá restritiva pelo tempo que seja zo de 12 meses, a taxa Euribor subiu regulador Æzeram comentários sobre
de Assuntos Económicos do Parla- necessário. para 3,731%, mais 0,011 pontos do este tema.
mento Europeu. Na semana passada, a presidente que na sessão anterior, contra o A Binance repete, assim, aquilo que
Guindos sublinhou que a inÇação do BCE, Christine Lagarde, já abriu máximo desde Novembro de 2008, já tinha feito noutros mercados. No
tem descido e que as projecções do a porta a um corte das taxas na pró- de 4,228%, registado em 29 de ano passado, a empresa retirou o
BCE perspectivam que mantenha xima reunião do BCE, que irá decor- Setembro. No mesmo sentido, a pedido de registo junto do BaFin,
essa trajectória, ainda que a um rer, precisamente, em Junho. Euribor a três meses avançou, ao depois de saber que o regulador ale-
ritmo mais moderado, atingindo em Em Março, a inÇação da zona ser fixada em 3,897%, mais 0,002 mão não iria aprovar o registo e após
2025 a meta de 2%. No entanto, o O espanhol Luis de Guindos euro foi de 2,4%, abaixo dos 2,6% de pontos, depois de ter subido em 19 ter também anunciado a saída dos
vice-presidente do BCE reconheceu é vice-presidente do BCE Fevereiro. de Outubro para 4,002%. Lusa Países Baixos e do Chipre. PÚBLICO
Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 31
Economia
Vol.25
A PROXIMA REVOLUCÃO
LEÃO TOLSTOI 1908
acusados de serem imorais, pornográficos,
p g f comunistas, irreligio-
g
sos, subversivos, maus, antissociais, dissolventes, anarquistas
q ou
revolucionários, os livros examinados ppela censura abrangem g
todas as áreas. os censores proibiram especialmente as obras
-
As obras apresentadas são passíveis de sofrer alteração.
+9€
QUINTA, 25 ABRIL A censura do Estado Novo produziu mais de 10.000 relatórios aos
livros que circulavam em território nacional. Das obras que a
Um dos livros menos conhecidos do eminente ficcionista russo
Leão [Lev] Tolstoi (1828-1910), A Próxima Revolução é um
Censura autorizava com cortes ou proibia, mostramos uma selecção ensaio de não-resistência cujo prefácio foi capa do The New York
de 25 desses raros artefactos culturais que contam histórias sobre Times em 1909, tendo sido traduzido para português no ano
o controlo da vida cultural desse período, que são reproduções dos anterior e publicado pela Livraria Central de Gomes de Carvalho.
Contudo, só seria proibido em Portugal quase meio século
originais censurados guardados na BNP e que incluem os relatórios
depois. O censor estava ciente do problema, mas desfigurou o
de censura, carimbos, selos e rasuras. Acusados de serem imorais,
25 LIVROS pornográficos, comunistas, irreligiosos, subversivos, anarquistas ou
tema: “Embora este livro tenha decerto a sua divulgação feita
pois a sua publicação data de 1908, julgo que actualmente não
revolucionários, a Censura teve um impacto brutal na vida
25 MESES intelectual do país, no desenvolvimento das mentalidades e no
deve ser permitido por ser um livro de franca propaganda à
revolução Russa que instituiu o Comunismo”.
legado que deixou às gerações vindouras. Restituímos agora ao Uma colecção comissariada por Álvaro Seiça.
público, num acto de “descensura”, os livros que a ditadura
suprimiu da vida intelectual e cultural durante quase meio século.
Público ClassiÄcados • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 33
A exposição principal
de Veneza é uma
colossal lição de história
A 60.ª edição da bienal teve anteontem o seu pré-arranque,
cumprindo-se o statement do curador brasileiro Adriano
Pedrosa: “Estrangeiros em Todos os Lugares”
ainda que uma fatia signiÆcativa dos libertação como pela relação umbili-
Mariana Duarte, em Veneza
trabalhos aqui expostos foi comissa- cal com a natureza, religiões não oci-
Transformada num mural monumen- riada de propósito para a bienal. Ao dentais, práticas ancestrais e mate-
tal e fulgurantemente latino-america- longo do percurso por Estrangeiros riais vindos da terra para fazer arte.
no pelos MAHKU, colectivo de artistas em Todos os Lugares — que se desdo- Desde a organização comunitária
indígenas da Amazónia brasileira, a bra entre os Giardini e o Arsenale, e como contra-ataque ao neoliberalis-
fachada do Pavilhão Central dos Giar- entre um Núcleo Contemporâneo e mo predatório ao questionamento do
dini, o coração da Bienal de Arte de um Núcleo Histórico — salta à vista o conceito de cidadania e pertença a
Veneza, deixa, logo ao primeiro olhar, facto de serem muitos os artistas, um país. Desde a desobediência de
totalmente evidente parte do state- vivos ou já falecidos, que participam género ligada à luta de classes e às
ment do curador desta 60.ª edição, o pela primeira vez numa exposição experiências de exílio forçado até à
brasileiro Adriano Pedrosa: dar pro- internacional. experimentação de género, do dese-
tagonismo ao Sul Global, trazer para jo e da(s) sexualidade(s) em países
a linha da frente artistas e comunida- Dilemas do mundo da arte onde a não-heteronormatividade e
des indígenas de diferentes latitudes “Dar visibilidade” é, de resto, uma transgeneridade é criminalizada ou
e etnias, convocar nomes à margem das missões centrais de Adriano fortemente oprimida.
do circuito validado da arte contem- Pedrosa em Veneza, postura já prati- Apesar destes pontos de contacto,
porânea, entre eles artistas autodi- cada no MASP que o colocou num é dado espaço aos artistas para mos-
dactas e criadores de arte popular, lugar de referência na curadoria inter- trarem os seus microuniversos. Res-
para assim cartografar uma outra his- nacional. Com um orçamento milio- peitando as individualidades, a forma
tória da arte. nário à disposição num evento ultra- meticulosa como Pedrosa organiza a MARCO ZORZANEL
Os 331 nomes de 80 países que capitalista que funciona como um exposição permite criar uma série de
compõem o elenco de Estrangeiros deÆnidor de tendências e “um ponto narrativas e conexões, inclusive com
em Todos os Lugares, a exposição prin- de viragem para os artistas”, Pedrosa projectos que ocupam alguns dos
cipal de Veneza 2024 — um dos mais teve o trabalho facilitado. E soube pavilhões nacionais desta edição. São
importantes acontecimentos interna- tirar proveito. esses encandeamentos que possibili-
cionais do mundo da arte que teve É certo que, por um lado, não faz tam que uma exposição com tantas
anteontem o seu pré-arranque —, são, nada de novo. As produções artísticas polifonias, contextos históricos e de
na sua maioria, artistas migrantes, de pessoas indígenas, trans, imigran- uma escala tão avassaladora não se
diaspóricos, refugiados ou expatria- tes e diaspóricas têm vindo a ocupar torne impossível de apreender.
dos, artistas queer, outsiders e artistas cada vez mais lugares nos circuitos da A pintura do afro-mexicano e artis-
indígenas, estes últimos tantas vezes arte, apesar das muitas falhas e tácti- ta autodidacta Aydeé Rodríguez
vistos como estrangeiros nos seus cas oportunistas de quem programa López (n. 1955), encaixada numa mol-
próprios países, quando, na verdade, e gere as instituições. Mas há em dura de madeira de choupo esculpida
fazem parte de povos originários. Estrangeiros em Todos os Lugares um à mão que retrata uma plantação de
Foi em torno da ideia de “estrangei- olhar perscrutador pouco comum. produção de algodão como símbolo
ro”, associada aos possíveis sentidos Pedrosa desenvolveu uma investiga- do sistema colonial-escravocrata no
de “estranheza” — seja na identidade ção aprofundadíssima, de uma gran- México — e os consequentes movi-
de género, na sexualidade (o primei- de sensibilidade e transversalidade, mentos de resistência da população
ro signiÆcado de queer era “estra- resgatando, reunindo e projectando negra do país, no passado e num pre-
nho”, lembra Pedrosa), na(s) ascen- múltiplas experiências fora do câno- sente marcados pelo muro de Trump
dência(s) e trânsitos migratórios, na ne, sem, ainda assim, se descolar de na fronteira com os EUA —, dialoga
classe social, nas matérias e status dinâmicas, nomes ou Ægurinos repe- com o retrato hipnotizante, um rosto
artísticos —, que o curador brasileiro tidos em feiras e bienais de arte. entre a pertença e a alienação, da
estruturou o núcleo contemporâneo Esta empreitada do curador brasi- autoria de Cícero Dias (1907-2003),
da exposição central, onde se batem leiro não se trata, portanto, de um nascido numa plantação de açúcar no
vários recordes, assinalou em confe- mero exercício de preencher quotas. Nordeste agrário do Brasil, que mais
rência de imprensa. “É a edição da Apesar de os contextos identitários tarde transitou entre Recife e Paris. o regime colonial português, mas
bienal com mais continentes, regiões marcarem, inevitavelmente, as obras Cícero Dias encontra-se no Núcleo
As produções também para as suas tentativas de
e etnias representadas. Temos o destes artistas, a exposição escapa a Histórico dos Retratos, uma das decli- artísticas de emancipação.
maior número de sempre de artistas dinâmicas de homogeneização e este- nações do Núcleo Histórico de Estran- Os olhares confrontacionais e per-
queer, indígenas, latinos, sul-ameri- reotipização. geiros em Todos os Lugares, instalado
pessoas indígenas, turbadores destas personagens sin-
canos, árabes, africanos e do Médio Cruzam-se aqui reÇexões e inquie- no Giardini. Numa colheita de mais trans, imigrantes cronizam-se com outros retratos
Oriente.” tações comuns, desde dissecar pro- de 100 artistas está o moçambicano deste núcleo. Como o do iraquiano
O director artístico do Museu de cessos de colonização, extractivismo Malangatana (1936-2011), com Ode à
e diaspóricas têm Dia al-Azzawi, pintado na ressaca da
Arte de São Paulo (MASP) e o primei- e imperialismo, de várias geograÆas Maternidade Clandestina (1961), pin- vindo a ocupar Guerra dos Seis Dias (1967), travada
ro latino-americano a encabeçar a e comunidades, a formas de resistên- tura que remete para a opressão e a por Israel contra o Egipto com o apoio
Bienal de Arte de Veneza sublinhou cia que passam tanto por lutas de exploração laboral das mulheres sob
os circuitos da arte do Iraque, da Síria e da Jordânia; ou
Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 35
MARCO ZORZANELLO/CORTESIA BIENAL DE ARTE DE VENEZA MARCO ZORZANELLO/CORTESIA BIENAL DE ARTE DE VENEZA
Entre eles e elas, encontramos o ango-
lano Kiluanji Kia Henda, autor do
projectado memorial de homenagem
às vítimas da escravatura em Lisboa,
com três obras em destaque, entre a
fotograÆa e a escultura.
No Arsenal é possível descobrir e
digerir com mais calma a proposta
curatorial de Pedrosa. Predomina
uma das bases da sua investigação, o
têxtil, explorado através de várias
estéticas e técnicas consoante as tra-
dições e o artesanato de cada país ou
região. Logo no início da exposição,
atenções redobradas para o imponen-
te mural-instalação da mexicana Frie-
da Toranzo Jaeger (n. 1988), que cru-
za a pintura, o desenho, o graêto e o
bordado, com gritos de luta feminista,
MARCO ZORZANELLO/CORTESIA BIENAL DE ARTE DE VENEZA
queer e pró-Palestina; e para o colec-
tivo autodidacta de mulheres chilenas
Bordadoras de Isla Negra (1967-1980),
com uma belíssima obra de bordados
feita com múltiplos tecidos. Esta foi
roubada em 1973, depois de o regime
ditatorial de Pinochet ter ocupado o
edifício onde estava guardada. Rea-
pareceu em 2019 e está hoje no seu
lugar de origem.
Vale a pena ainda debruçar o olhar
sobre as peças da camponesa e cera-
mista indígena paraguaia Juana Mar-
ta Rodas; sobre a instalação de tecidos
inÇuenciada por tradições de comu-
nidades indígenas da Índia e do mun-
do árabe da autoria da palestiniana
Dana Awartani; ou sobre a obra à base
pigmentos chineses sobre papel xuan
de Xiyadie, agricultor, trabalhador
migrante e artista que documenta,
LLO/CORTESIA BIENAL DE ARTE DE VENEZA
num trabalho cheio de simbolismos
Entrada da sobre as fronteiras e deÆnições hege- EUA na região caribenha são também dezenas de carteiras Prada, Louis e geograÆas de cor, a evolução da vida
exposição mónicas do modernismo. Pedrosa o tema central de The Museum of The Vuitton e outros manifestos high-fa- queer na China.
principal. mostra como a história dos moder- Old Colony, do porto-riquenho Pablo shion dos visitantes — alguns com O vídeo é outro medium em desta-
À dir., nismos não se limita ao eixo EuroA- Delano. Este projecto instalativo em apontamentos pró-Palestina, também que no Núcleo Contemporâneo.
colectivo mérica, tendo tido uma profusão de curso, que nos Giardini ocupa uma fashion —, todo o cenário é, no míni- Imperdível Talitin (The Third), em que
autodidacta abordagens no Sul Global, com as sala inteira, é uma das etapas mais mo, anticlimático. Dilemas momen- o sudanês a viver na Noruega Ahmed
de mulheres especiÆcidades de cada local, de cada interessantes da exposição. taneamente interrompidos pelo epi- Umar se reapropria de uma dança
chilenas contexto social e dos trânsitos migra- Através da fotograÆa, do texto e de sódio de alívio cómico protagonizado matrimonial do Sudão, injectando
Bordadoras de tórios e diaspóricos pelos quais pas- artefactos populares, este antimuseu pelo artista brasileiro Fábio di Ojuara, queerness numa tradição do seu país
Isla Negra; saram vários destes autores. desconstrói, com humor e acutilância militante do suposto antinepotismo de origem, onde a palavra árabe “tali-
o angolano histórica, as raízes e as heranças da nas artes, que andava pelo Pavilhão tin” é usada como insulto para
Kiluanji Kia Do Haiti a Porto Rico colonização de Porto Rico, primeiro Central com uma tampa de sanita na homens fora das normas de género.
Hendatem Um dos trunfos desta secção é eviden- por Espanha, depois pelos EUA (e cabeça estampada com a frase “ago- A coreograÆa inebriante de Umar
três obras em ciar uma série de ligações familiares também aqui há referências às plan- ra, qualquer merda é arte”. Perfor- comunica não só com o videoperfor-
destaque, entre artistas, sobretudo indígenas. tações, ao trabalho escravizado, às mance e contradição que não faltam mance de Joshua SeraÆn, das Filipi-
entre a Vemos como a arte popular desem- lutas de classe…), bem como a visão em Veneza. nas; com as fotograÆas de Sabelo
fotografia e a penha um papel fulcral na transmis- romantizada de Porto Rico divulgada Outro dos tentáculos do Núcleo Mlangeni, que retrata comunidades
escultura (foto são de conhecimentos e práticas. na comunicação social. Paralelamen- Histórico de Estrangeiros em todos os LGBTQI+ de Lagos, Nigéria, inclusive
abaixo). Nesse sentido, além dos nomes bra- te, Pablo Delano lança uma crítica ao lugares encontra-se no Arsenale, a ligadas à cultura e à dança ballroom;
À esq.: mural sileiros, destaque para os irmãos hai- museu enquanto instituição nascida, meio da mostra do Núcleo Contem- mas também com uma outra secção
da mexicana tianos Sénèque e Philomé Obin, artis- ou que beneÆciou largamente, das porâneo. Esta secção, dedicada à especial do Núcleo Contemporâneo,
Frieda tas autodidactas e fundadores de uma empreitadas coloniais, e enquanto diáspora artística italiana do século Disobedience Archive, de Marco Scoti-
Toranzo escola de pintura no Haiti. Nas suas gatekeeper de um certo tipo de conhe- XX, mais concretamente a criadores ni, subdividida em Activismo da Diás-
Jaeger obras, fazem referência à Revolução cimento. que desenvolveram as suas carreiras pora e Desobediência de Género.
Haitiana, revolta de pessoas escravi- Face a uma exposição que tem a em países africanos, asiáticos e latino- Com 39 vídeos de artistas e colecti-
zadas contra o domínio colonial fran- descolonização e a desierarquização americanos (nomeadamente o Bra- vos produzidos entre 1975 e 2023,
o de Inji AÇatoun, activista feminista, cês que deu origem, em 1804, à pri- da arte como premissas, o projecto sil), é a parte menos estimulante e entre eles e elas Jota Mombaça, Black
marxista e anticolonialista, também meira República negra do mundo; a de Delano numa bienal que é o zénite talvez a mais conservadora de toda a Audio Film Collective, Barbara
pioneira do modernismo egípcio, que tradições populares como o Carnaval do capitalismo e da burguesia das exposição. Pedrosa decidiu aqui emu- Hammer ou Khaled Jarrar, este
durante o período de quatro anos em e o sincretismo religioso; à luta contra artes deixa-nos a pensar o quão pos- lar o MASP, com as obras expostas “arquivo-parlamento-escola” é outra
que esteve encarcerada retratou a ocupação dos EUA a partir de 1915, sível será, efectivamente, descoloni- nos famosos cavaletes da arquitecta das paragens obrigatórias. Disobe-
várias colegas prisioneiras. que permanece até hoje — e, também zar e democratizar o ecossistema modernista italo-brasileira Lina Bo dience Archive acaba por funcionar
Tanto neste capítulo como nos res- por isso, o Haiti está agora à beira de artístico nas suas várias frentes. Bardi. como um pequeno mas riquíssimo
tantes do Núcleo Histórico, que con- uma guerra civil. Com protestos pela libertação da Enquanto nos Giardini o Núcleo resumo da proposta curatorial de
grega obras da América Latina, Áfri- Os derrames da colonização no Palestina e pelo boicote ao (por Contemporâneo e o Núcleo Histórico Adriano Pedrosa. Estrangeiros em
ca, Médio Oriente e Ásia do século presente e este modelo de “colónia enquanto fechado) Pavilhão de Israel estão misturados, no Arsenale o foco Todos os Lugares é uma colossal lição
XX, há um exercício de ampliação moderna” muito acariciado pelos à porta dos Giardini e lá dentro com são os artistas contemporâneos. de história.
36 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Cultura
Cultura
Iniciativas
Os 50 anos do 25 de Abril
foram pretexto para a
reunião na Casa da Música
que juntou músicos, agentes,
produtores e professores
“Passa o Micro” foi um dia dedicado
a debater e a pensar os caminhos que
a música tem trilhado ao longo dos
últimos anos. Desde a Revolução de
Abril, o percurso comum tem sido
marcado por conquistas — na forma
como se faz e se mostra a música, na
PRIMEIRO
sua aprendizagem e na liberdade com
que diferentes rumos se foram deÆ#
nindo. Para a conversa, o PÚBLICO e
a Casa da Música chamaram, na quar-
ta-feira, músicos, professores, agentes Debateram-se os caminhos que a música tem trilhado
e produtores.
QUE TUDO:
O desaÆo feito a Quim Albergaria lidades, como contextualizou o direc- realidade de autopromoção e de um
(Paus, Bateu Matou) para “dar o tom” tor artístico da Casa da Música, Antó- certo multitasking. Antes houve um
e fazer uma espécie de leitura do esta- nio Jorge Pacheco. As imensas revo- painel dedicado à educação musical,
do da arte foi, ele próprio, um exercí- luções às quais tem sido sujeito este em que os intervenientes concorda-
cio de liberdade sobre “o lugar de sector, como a transformação e a ace- ram com o papel crucial da educação
fala” que a música é e deve ser. A lin- leração contínua que o digital trouxe, e com os sucessos conseguidos nos
guagem da música e o diálogo que foram outro dos pontos comuns aos últimos anos, muito graças à emer-
P24
proporciona “ampliÆcam o que é indi- diferentes painéis. gência das escolas proÆssionais. Con-
vidual e acessibilizam-no ao univer- Ao início da tarde, o debate sobre senso entre Gabriela Canavilhas, pro-
sal”, defendeu o músico. Para ele, isto a internacionalização da música por- fessora e ex-ministra da Cultura,
As histórias mais importantes “é fundamental para o exercício diá- tuguesa tocou a provocação lançada André Neves (Maze), músico, o maes-
do dia chegam em podcast, rio e sempre em construção da iden- na abertura da conferência por David tro Pedro Neves e Nuno Alves, da
numa equipa reforçada: tidade de um povo”. A música que Pontes, director do jornal, sobre a Escola de Rock de Paredes de Coura.
Amílcar Correia une, “clariÆca ideias e as ampliÆca”. falta de uma cultura pop mais exul- O dia foi longo e rico na partilha de
e Manuel Carvalho E se o propósito da própria conferên- tante em Portugal, em contraponto experiências e na vontade de encon-
cia era procurar respostas, Albergaria ao que se passa na vizinha Espanha e trar um denominador comum às dife-
juntam-se a Ruben Martins
não hesita no que toca ao papel da ao estatuto que alcança a música feita rentes áreas musicais que se cruza-
e Inês Rocha. música na democracia: “Quando é por espanhóis. Fernando Ribeiro, dos ram na Casa da Música, mas que nem
ouvida, a música obriga a ver.” Moonspell, Júlio Resende, pianista, sempre dialogam. Raquel Castro,
De segunda a sexta, Antes de passar o micro, Quim Alber- João Barradas, acordeonista, Márcio “facilitadora cultural”, que tomou o
às 7h, podcast P24. garia olhou para o passado para Laranjeira, da produtora Lovers & micro para a conclusão, reforçou a
O dia começa aqui. melhor perceber o presente. Há 50 Lollypops, e Marta Pereira da Costa, importância de encontrar esse ponto
anos, a natural conversa entre conti- guitarrista, partilharam as suas expe- de convergência entre todos.
nentes era censurada e “a música só riências, percepções e angústias pela A manipulação e propaganda que
ia numa direcção”. Mas a nossa iden- falta de apoio sustentado à interna- “procura silenciar o outro” são aqui-
tidade cultural é “resultado da con- cionalização. Se os músicos até lo que devemos combater. Os valores
vergência e convivência de identida- “fazem bem a sua parte”, Fernando que prezamos, e que aÆnal não estão
des” e o que acontece hoje é reÇexo Ribeiro aponta aos decisores e ao pró- garantidos, são aquilo por que deve-
dessa identidade comum. “Orgulho- prio público uma certa responsabili- mos combater. E para Raquel Castro
samente misturados”, mote do pri- dade, para que “melhor entendam a é precisamente a cultura e a educação
meiro painel do dia, não foi senão proÆssão” e para que seja possível, “que nos salvam desse lugar de silen-
uma aÆrmação da nova realidade que genericamente, que os músicos se ciamento e de opressão”. Para isso, é
é, aÆnal, a original, a de sempre. Os sintam apoiados no seu talento. essencial que se estimule o esforço
músicos Dino D’Santiago, Pedro nas escolas, dos decisores políticos e
Coquenão (Batida), Marco Castro Encontrar um denominador que se fale mais de forma transversal
(Throes & The Shine) e Ana Lua Caia- O último painel do dia procurou dis- de todas as áreas. Foi com esperança
no são de gerações diferentes, mas é cutir o que é ser “um músico 360º” que terminou, segura de que a músi-
comum a forma como a música que no tempo das redes sociais e do strea- ca tem cumprido o seu papel na
criam acaba por ser “mais progressis- ming. A discussão acabou por ser algo democracia. A música é “um fenóme-
ta do que o próprio país”, como aÆr- acesa entre o erudito e o alternativo, no humano que implica um entendi-
mou a moderadora Inês Nadais, edi- entre as redes sociais e o contacto real mento”, uma troca permanente -
tora de Cultura do PÚBLICO. E toca- com os artistas. Vanessa Pires, res- “uma conversa”, como Quim Alber-
ram-se também os tons da democracia ponsável de uma empresa de gestão garia referia no início do dia. “Escutar
actual. Será, como Pedro Coquenão de artistas, Ianina Khmelik, violonce- é um acto político”, disse Raquel Cas-
lança, uma “dança inÆnita”? lista, PZ, músico, e João Bruno Soeiro, tro, e é nesse acto de escutar que se
Disponível em publico.pt/podcasts A escolha dos convidados e dos da Musiversal, foram os intervenien- cria diálogo. PÚBLICO
e em todas as plataformas de podcasts temas foi um pretexto para celebrar tes de um painel em que se falou da
Abril e também para perceber o “evolução” no sentido da aceleração É possível rever a conferência
impacto que a democracia teve na que o digital trouxe e na necessidade “Passa o Micro” no Ao Vivo
música e no contacto com outras rea- de os músicos se adaptarem à nova do PÚBLICO
Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 39
Posfácio
Foi esta ideia semelhante à pérola, ombros dos cidadãos que se afastavam Era muito manhã, por isso não
crescendo, como a pérola, no escuro dos joelhos, da lama original, se distinguiram bem,
e apurando a sua perfeição sem se dar conta de maneira que os olhos se encontravam o sol e a fonte
de que o fazia, motivada apenas à mesma altura. de onde emanava aquele deslumbramento.
pela vontade de cercar o mal, E uma alegria irreÇetida,
e impedir que a doença respirasse o arrebatamento Tudo ali começava, o ano,
e tudo envenenasse em seu redor, de conferir a era,
destruindo qualquer todo o poder à fala e não os tambores e o abraço
expressão de vida? ao ferro ou à riqueza ou ao que quer e o alimento,
Sim, teve essa ideia que abrira fossos A dança sob os pés energizados,
a beleza e o brilho de uma pérola? a separar os cidadãos, e a palavra, a volúpia da palavra,
uma alegria, essa palavra que era o leite e o mel
Ou terá vida, a ideia? Será ela mãe da arrogância, mãe do novo perigo e corria nas ruas, ocupava
alguma coisa latejante e física, devido aos erros de avaliação, todo o espaço das ruas,
a benigna bactéria que se adentra uma alegria, levantada
pelo cérebro animal e ilumina pérola gigante como folhagem pelo sopro
zonas até então desconhecidas, rolando pelo chão da ideia.
zonas do nobre pensamento, da assembleia,
enÆm liberto uma alegria, Se olharmos para trás, avistaremos
das coreograÆas da matilha, viva como um pássaro a poalha doirada, avistaremos
tornando humano o cérebro, que cruza o céu dos povos e os saúda, ainda os dias da libertação
ensinando dentro dele as palavras uma alegria onde, por instantes, reduzidos a horas, a minutos,
com as quais a bondade habitou a pequenos detritos da memória
o que existia foi organizado deixou nos rostos que, de inúteis, se empurram
e o poema nasceu, de uma cintilação extraordinária. para a valeta.
a lei nasceu.
A história não relata o pormenor, Recolhidos em casa,
Quando alguém disse, não há dele registo, não há prova, desertada a Praça da Canção,
pela vez primeira, pedra nem documento. fechada a porta
“democracia”, Mas o certo dos acontecimentos exemplares,
houve a revolução, é que um grande relâmpago cobriu dentro de nós escurecido o espaço
isto é, os recantos da terra. que a ideia, tão bela, iluminou,
tudo rolou sobre si mesmo. Era um relâmpago estamos nós prestes a dobrar o corpo,
E, ao levantar-se e recompor-se, de certo modo sobrenatural, a entrar, de joelhos, na caverna,
esse real, não resultando de uma carga elétrica mudos, de novo, à espera de um clarão?
reconhecendo embora os sítios mas da fulguração desse momento,
e as pessoas, do esplendor da ideia nas cabeças.
constatou que não eram os mesmos.
Viu os ombros direitos, Também em nós caiu essa alegria,
para sempre, julgava ele, mãe da arrogância,
de modo decisivo, e a grande luz pousou
sobre a manhã que as Çores avermelhavam.
Hélia Correia estreou-se na poesia com O Separar das Águas, em 1981, ano em que publica o romance O Separar das Águas. A sua obra Lillias Fraser é galardoada
com o PEN 2001. Recebeu o Prémio Camões, em 2015. Certas Raízes, Contos, é o seu livro mais recente.
Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda, com o apoio media do PÚBLICO. Ao longo de 50
dias publicaremos 50 poemas inéditos de 50 autores sobre revolução. Veja mais em publico.pt
40 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Guia
Meta testa chatbot com IA
O chatbot deve facilitar a descoberta de conteúdo
nas plataformas Meta (Facebook, Instagram e
WhatsApp). Baseia-se no mais recente modelo de IA
em código aberto da tecnológica, o Llama 3.O. Por
ora, o sistema apenas está disponível em 13 países,
tecnologia publico.pt/tecnologia
incluindo nos EUA. Portugal e a UE ficam de fora.
Guia
Guia
Guia
SÉRIE
21.40 Joker 22.49 Folha de Sala
ala 23.05 Nascer para Morrer 0.55 The
Grandolense.
Conjuring 3 - A Obra do Diabo
Inferno Branco
RTP2, 22h01
22.43 José Afonso
e as Geraçõess de Abril
22.58 O Jardim
do Outro Homem m AXN DOCUMENTÁRIOS
Crime numa estância de esqui 17.42 The Rookie 19.22 Mentes Pequim Daxing, o Maior
alpina. Eis o mote da minissérie Criminosas 21.06 Hudson & Rex 22.00 Aeroporto do Mundo
francesa que se estreia hoje nos 1.37 S.W.A.T.: 0.22 Sociedade Civil Duplo Team 23.45 S.W.A.T. - Força de RTP2, 20h36
serões do segundo canal, com Força de 1.24 A Lição 2.05 Conversando com Intervenção 1.47 Jiu Jitsu Inaugurado em Setembro de 2019
Constance Labbé e Thibault de Intervenção Padura 2.58 Músicas d’África com a pompa do título de maior
Montalembert nos papéis 3.54 Rios Urbanos 4.23 Volta terminal aeroportuário do mundo
principais. É investigação para ao Mundo 4.36 Nha Terra Nha STAR CHANNEL num edifício único, tem uma área
acompanhar em meia dúzia de 2.19 Ondas Sob a Água: Os Segredos Cretcheu 5.37 Solares e Palácios 17.22 Investigação Criminal: Los total de 700 mil metros
episódios, de segunda a sexta. da Vida em Água Doce Revelados dos Açores 5.59 A Fé dos Angeles 18.55 Magnum P.I. 20.39 quadrados, reparte-se por cinco
3.14 Escrava Mãe Homens Hawai Força Especial 22.15 Missão: andares e teve um orçamento
MÚSICA
Impossível 3 0.42 Missão Impossível: astronómico. Chama a atenção
Operação Fantasma também pela forma: visto de cima,
SIC TVI com o seu telhado de cobre, evoca
Novos Cantos Novos uma fénix, uma estrela-do-mar ou
RTP2, 15h39 6.00 Edição da Manhã 8.15 Alô 6.15 Diário da Manhã DISNEY CHANNEL uma mão futurista. O projecto foi
Estreia. Dedicada “à nova música Portugal 9.45 Casa Feliz 9.55 Dois às 10 12.58 TVI Jornal 17.15 Miraculous - As Aventuras de concebido pela arquitecta Zaha
portuguesa e a à criação em 13.00 Primeiro Jornal 14.45 Linha 14.00 TVI - Em Cima da Hora Ladybug 17.40 A Maldição de Molly Hadid (Pritzker 2004), que
liberdade”, esta série musical Aberta 16.25 Júlia 18.20 Era Uma McGee 18.30 Vamos Lá, Hailey! 18.55 morreu antes da conclusão. A
nasce para celebrar Vez na Quinta Monstros: Ao Trabalho! 19.15 Hamster & construção, que demorou cinco
simultaneamente os 30 anos da 14.50 A Sentença
tença Gretel 19.40 Os Green na Cidade anos, é aqui documentada por
Antena 3 e os 50 do 25 de Abril. Grande 20.25 Miraculous - As Aventuras Olivier Lacaze.
São seis episódios protagonizados 18.45 Morde & Assopra de Ladybug
por artistas que já nasceram em Quatro Filhas
democracia e que aqui “levam as TVCine Edition, 22h
suas canções, as suas lutas e os 19.57 Jornal da Noite 15.40 A Herdeira DISCOVERY Em 2016, a tunisina Olfa
seus processos criativos a espaços 17.12 Mestres do Restauro 18.09 Hamrouni fez de tudo para
que foram marcantes para a Descobrir a História com Rob Riggle chamar a atenção da comunicação
queda do regime e que se tornam, 22.10 Senhora do Mar 16.30 Goucha 19.06 Aventura à Flor da Pele 21.00 social para o caso de Ghofran e
agora, verdadeiros palcos de O Jogo dos Golpistas 22.54 A Rainha do Rahma, as suas duas Ælhas
Abril”, descreve a RTP. A Narco 1.33 O Jogo dos Golpistas adolescentes que fugiram de casa
inauguração é feita pel’A Garota 23.30 Papel Principal – A Vingança 17.45 Big Brother para se juntarem ao
Não a tocar nas oÆcinas da CP do autoproclamado califado do
Barreiro, onde os ferroviários HISTÓRIA Daesh, na Líbia, onde acabaram
Æzeram greve em 1971. Na próxima 0.05 Papel Principal 19.57 Jornal Nacional 17.17 Os Maiores Mistérios da História detidas por uma milícia anti-ISIS.
segunda-feira, Samuel Úria dá 18.42 Mistérios no Gelo 20.50 O Preço Divulgou a radicalização das Ælhas
música ao Museu Nacional da História para sensibilizar a opinião pública
Resistência e Liberdade - Fortaleza 0.25 Travessia 21.35 Cacau e obter ajuda das autoridades.
de Peniche. Nos dias seguintes, Sete anos depois, a realizadora
Eu.Clides actua à beira-Tejo na ODISSEIA Kaouther Ben Hania alia-se a Olfa
Gare Marítima Rocha Conde de 1.00 Era Uma Vez Na Quinta 22.40 Festa É Festa 17.44 Costa Rica 18.37 A Minha Família e e às suas duas Ælhas mais novas,
Óbidos, Capicua no Museu Militar as Galápagos 19.27 Retalhos da Vida na Eya e Tayssir, para fazer este Ælme
do Porto, The Legendary Quinta 20.13 A Odisseia dos Animais — nomeado para o Óscar de
Tigerman na Universidade de 1.40 Passadeira Vermelha 23.35 Big Brother2.15 O Beijo do 21.08 O Universo 22.37 Planeta Terra melhor documentário em 2024 —
Coimbra e, Ænalmente, Xullaji no Escorpião 3.20 Deixa que te Leve 0.26 Retalhos da Vida na Quinta onde elas se misturam com
Quartel do Carmo, em Lisboa. actrizes para contar a história.
Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 45
GUILLAUME HORCAJUELO/EPA
Marselha 1 (4)
Moumbagna 79’
Benfica 0 (2)
Positivo/Negativo
O desalento dos jogadores do Benfica após a eliminação da Liga Europa, em Marselha
Benfica e a insustentável
Moumbagna
Entrou na segunda parte e
deu outra dimensão física
ao ataque do Marselha.
Marcou o golo que
empatou a eliminatória e
tentação de defender
deu muito trabalho aos
defesas benfiquistas.
João Neves
Aconteça o que acontecer,
onde quer que seja, o
jovem médio benfiquista é
sempre uma garantia. No
multiverso táctico e Marselha segue para as meias-Änais da Liga Europa após vencer no desempate por
estratégico de Schmidt,
Neves é uma constante. penáltis. Di María e António Silva falharam, todos os jogadores da casa acertaram
Rafa, Di María se apresentassem no Vélodrome de área “encarnada”, mas foi valendo a ram que marcaram aos 79’. Auba-
e Tengstedt Crónica de jogo cabeça e pernas frescas e consolidar solidez defensiva para manter o resul- meyang avançou pela esquerda, fez
O destaque negativo a vantagem na eliminatória. Na práti- tado a zeros — também a melhor pala- o cruzamento e, na pequena área,
podia ser “ataque do ca, nada disso aconteceu. Parecia que vra para descrever os avançados surgiu Moumbagna a cabecear entre
Marco Vaza
Benfica”, mas isso seria os “encarnados” queriam era segurar benÆquistas na primeira parte, Di Otamendi e Aursnes.
injusto para Neres, que foi A insustentável tentação de defender. a vantagem, não consolidá-la. E o María, Rafa e Tengstedt. Estava empatada a eliminatória e
o mais perigoso enquanto Esta frase adequa-se ao que o BenÆca Marselha entrou disposto a tirar par- A segunda parte foi mais do mes- esvaziada a estratégia de Schmidt.
esteve em campo. O foi fazer em Marselha para a segunda tido dessa timidez benÆquista. mo. O Marselha a dar tudo — não era Agora, o BenÆca teria mesmo de fazer
português falhou a melhor mão dos quartos-de-Ænal. Tentou Os franceses estiveram bem perto assim tanto como isso, mas era tudo alguma coisa, mas também não podia
oportunidade do jogo, o defender uma vantagem magra que do golo logo aos 7’. Da direita para o — e o BenÆca em missão de resistên- deixar o Marselha fazer mais. Cum-
argentino falhou a trazia da primeira mão, mas deu-se meio, Ndiaye passou por Otamendi e cia. Roger Schmidt reforçou essa priu o segundo objectivo.
segunda melhor (e falhou mal. O Marselha deu tudo o que tinha atirou para a baliza — Trubin deteve intenção aos 61’, ao tirar dois avança- Quando o jogo entrou no prolon-
um dos penáltis) e o (e que não era muito), foi feliz e segue o remate do senegalês. Era um sério dos (Neres e Tengstedt) para meter gamento, Schmidt continuou sem
dinamarquês foi inútil em para as meias-Ænais, onde irá defron- aviso para o BenÆca, que não conse- dois médios ( João Mário e Kokçu). Era meter um ponta-de-lança em campo.
tudo o que fez. tar a Atalanta. Empatou a eliminatória guia fazer a contra-pressão e perdia a o alemão a passar a seguinte mensa- Ainda assim, a primeira oportunida-
(vencendo por 1-0) e foi mais compe- bola com facilidade. A excepção foi gem para o campo: se conseguirem de do tempo-extra pertenceu ao Ben-
Roger Schmidt tente nos penáltis (4-2). Quanto ao uma saída rápida aos 19’, que Rafa marcar, tanto melhor, mas vamos Æca, um cabeceamento de Di María
Quem pensa que BenÆca, pode dizer-se que a época não aproveitou — o remate do extre- fazer tudo para empatar. aos 98’ mas o remate foi fraco.
Tengstedt é o melhor praticamente chegou ao Æm com esta mo saiu muito por cima da baliza de O Marselha percebeu a mensagem Para os últimos 20 minutos, o téc-
ponta-de-lança do plantel, eliminação europeia. Pau López. e foi ainda mais atrevido. Esteve bem nico alemão lá deixou Arthur Cabral
merece este destaque Como se esperava, Schmidt voltou A primeira parte estava a ser exac- perto do golo em dois momentos, aos entrar em campo e o BenÆca melho-
negativo. E por muitos ao seu plano A, depois de ter visto tamente o contrário do que tinha 67’ e aos 69’. Os “encarnados” tam- rou um pouco. Mas não o suÆciente
outros equívocos, neste coisas boas no plano B frente ao acontecido na Luz. O BenÆca pratica- bém tiveram o seu duplo momento para evitar os penáltis. Dos 11 metros,
jogo e ao longo da época. Moreirense. Mudou oito em relação mente não saiu do seu meio-campo, aos 74’, com Rafa e Di María a perde- Di María entrou a falhar e António
ao jogo do Æm-de-semana, esperando o Marselha teve domínio territorial e rem o duelo com Pau López. Silva seguiu-lhe o exemplo. Do lado
que todos os que Æcaram a descansar foram várias as vezes que chegou à Mas os marselheses tanto insisti- do Marselha, todos marcaram.
46 • Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
Desporto
Jorge Costa:
“Não podia
dizer que não à
PEDRO NUNES/REUTERS
A SAD do FC Porto celebrou um con- do FC Porto. Após o decurso do pra- da-redes, Zubizarreta foi o “homem
trato de investimento e parassocial zo de 25 anos, o clube recupera forte” do futebol do Barcelona entre
com a Ithaka Infra III para elevar a 100% dos direitos económicos do 2011 e 2015, antes de, entre 2016 e
utilização e rentabilidade económi- estádio”, explicou. 2020, se ter mudado para o Marselha,
ca do Estádio do Dragão, no Porto. O FC Porto vai manter o controlo clube em que se cruzou com André
Em comunicado enviado ontem à e a gestão sobre as operações do Villas-Boas.
Comissão do Mercado de Valores Estádio do Dragão, bem como a pro- Quando chegou a vez de se dirigir
Mobiliários (CMVM), os “dragões” priedade do recinto ao longo da a Jorge Costa, Villas-Boas foi sucinto.
detalharam o acordo de 25 anos parceria, que conta com o “apoio “À falta de palavras para te descrever,
com a empresa localizada em operacional” da companhia norte- digo: ‘bicho, o nosso bicho’”, exultou,
Madrid, que injectará 65 milhões de americana Legends, junto da qual referindo-se ao antigo central, que fez
euros a troco de 30% dos direitos os “azuis e brancos” tinham cele- um total de 13 épocas no clube, levan-
económicos de uma nova sociedade brado um acordo para a exploração tando a Taça UEFA e Liga dos Cam-
do Grupo FC Porto. do espaço em Novembro de 2023. peões, em 2003 e 2004.
“A Ithaka terá direito ao longo dos O acordo, que deverá entrar em “André, tenho uma missão. Servir
próximos 25 anos a 30% dos direitos vigor no início da próxima época, o FC Porto. Não é servir-me dele”,
económicos de uma nova sociedade foi anunciado a nove dias das elei- começou por dizer Jorge Costa. O
(a incorporar no Grupo FC Porto), ções do FC Porto rumo ao quadrié- actual treinador do AVS conÆrma que
que se dedicará a incrementar o Estádio do Dragão será explorado pela Ithaka Infra III nio 2024-2028, e mereceu pronta Æcará apenas até ao Ænal da época,
potencial comercial do Estádio do reacção da parte de André Villas- agradecendo a compreensão do clu-
Dragão”, sublinhou o FC Porto, des- Visando embolsar “outras recei- de euros (ME) no FC Porto, dos Boas, adversário de Pinto da Costa be. “Não podia dizer que não à opor-
tacando a sponsorização, a bilhéti- tas presentes ou futuras” ligadas ao quais cerca de 30 ME vão ser inte- na corrida à presidência: “Porquê a tunidade de voltar a casa pela porta
ca, os direitos de designação as Estádio do Dragão, a administração gralmente reinvestidos no Estádio pressa? A venda de 30% dos direitos grande”, acrescentou.
visitas ao recinto e ao museu do clu- liderada por Pinto da Costa vinca o do Dragão durante os primeiros comerciais custa-nos muito. Apesar Às eleições de 27 de Abril concor-
be ou a organização de eventos não “potencial transformador” da par- anos, sendo o remanescente desti- de o parceiro ser bom, é um sinal de rem Villas-Boas, Pinto da Costa e
desportivos e concertos. ceria. “A Ithaka investirá 65 milhões nado a aumentar a competitividade falência operacional”, assinalou. Nuno Lobo.
Público • Sexta-feira, 19 de Abril de 2024 • 47
Desporto
U
aviãozinho. apoiado por uma escassa maioria serem dadas razões para
Carmo Afonso
Minto. Na verdade, existe uma parlamentar e que, por isso, deixarmos de acreditar no
m Governo de única pessoa que está a ser parece estar ali a curto prazo. funcionamento do sistema
maioria absoluta responsabilizada pelo que fez. Mergulhámos numa situação democrático. Se erraram, tem de
caiu por causa de Trata-se da procuradora-geral política frágil e perigosa. Faria haver consequências. Deixar isto
um parágrafo de adjunta, Maria José Fernandes. A sentido que Montenegro dissesse andar sem levantar ondas é tão
Lucília Gago que única pessoa do MP que veio a ao país algo mais do que: não grave como o que fez a
não deveria ter sido público denunciar a atuação da tenho nada a declarar porque não procuradora-geral da República,
escrito, por causa de uma magistratura, a qualidade das tenho isso na agenda. os magistrados do Ministério
investigação fantasiosa do investigações e até a existência, no Fomos para eleições Público e o próprio Presidente da
Ministério Público e por causa da MP, de quem “olhe para a antecipadas e Æcámos numa República.
intervenção de Marcelo Rebelo de investigação criminal como uma situação de instabilidade política. Li neste jornal que 47% dos
Sousa. Não deveria ter acontecido extensão de poder sobre outros Claro que o caso inÇuenciou o portugueses apoiariam um líder
e houve consequências graves poderes, sobretudo os de resultado das eleições: temos 50 forte sem eleições. Isto demonstra
para o país. natureza política”. Lucília Gago deputados de um partido de falta de apreço, e até de
Parece que ninguém teve culpa. determinou a instauração de um extrema-direita na Assembleia da compreensão, pela democracia. É
Até hoje, Lucília Gago não assumiu processo de averiguações a Maria República. O que quero dizer é um dado muito grave e não
as suas responsabilidades neste José Fernandes, o qual pode que houve consequências merece ser tratado em jeito de
processo. O mesmo para o avançar para processo disciplinar. parágrafo, a Relação de Lisboa dramáticas para os portugueses, Ænal de crónica. Mas quis fazê-lo.
Ministério Público (MP), que, A decisão da Relação de Lisboa considerou-as “meras deduções e mas que ainda não houve Porquê? Porque estão a ser
através do presidente do Sindicato não é apenas uma derrota do MP. especulações”. consequências para os cometidos demasiados erros e os
dos Magistrados do Ministério Ela arrasa o trabalho que os Perante uma situação desta responsáveis por isto. portugueses já estão demasiado
Público, desvalorizou a magistrados desenvolveram e as gravidade, Luís Montenegro Não podemos simplesmente desorientados. ConÆrmamos isso
importância da decisão da Relação conclusões a que chegaram, declarou que não é o momento fazer de conta que isto não está a mesmo para onde quer que
de Lisboa e declarou que o chegando a acusar o MP de para se pronunciar sobre o acontecer, como todas estas olhemos. Desta vez tem de haver
trabalho do MP não pode ser inaptidão. No que diz respeito às assunto e que só depois das pessoas estão implicitamente a consequências. Ou haverá
avaliado a propósito deste suspeitas que recaem sobre eleições europeias o poderá ter na pedir-nos que façamos. Fomos consequências.
processo. Já Marcelo Rebelo de António Costa, a partir das quais agenda. Luís Montenegro chegou lesados e a democracia foi lesada.
Sousa fez aos portugueses aquilo Lucília Gago escreveu aquele ao cargo de primeiro-ministro por Talvez António Costa venha a ser Advogada
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