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Notas sobre A Visão Iluminada de Samantabhadra

B. Alan Wallace

DIA 1:

De Traktung Dudjom Lingpa, A Clear Mirror: The Visionary Biography of a Tibetan Master
(Um Espelho Claro: A Biografia Visionária de um Mestre Tibetano) :

“NAQUELE MESMO ANO, na noite do décimo dia do último mês de outono, uma dakini
chamado Déjé Wangmo, a Rainha Criadora da Bem-Aventurança, surgiu adornada com joias. Ela
se aproximou de mim e cantou assim:
‘Em relação a estes e outros dentre seus alunos,
Se eles cultivarem sua experiência nas instruções sagradas da transferência suprema
Em lugares isolados do domínio das oito preocupações mundanas,
E se entregarem de todo o coração a esta prática essencial,
Cem discípulos homens e mulheres
Certamente alcançarão o corpo arco-íris da transferência suprema.
Que incrível, neste tempo degenerado,
Que na sua presença
As pessoas sejam diligentes nos ensinamentos e práticas
Da doutrina suprema da mente de sabedoria de Orgyen.
Com grande admiração,
Eu lhe ofereço esta canção de boas novas.’
E então ela desapareceu.”

“NAQUELE MESMO ANO, na noite do décimo oitavo dia do sétimo mês, disseram-me que eu
estava na Terra Pura do Prazer Celestial da Grande Bem-Aventurança... Em um bosque aprazível
naquela terra jubilosa havia um homem branco, tão belo que seria possível olhar para ele para
sempre sem nunca cansar. Com ele estava uma linda menina adornada com joias... Tanto a
menina quanto o menino cantaram a uma só voz ...: “Olhe para o oeste”. Eu olhei seguindo a
instrução e vi várias cidades repletas de chineses e tibetanos... Na direção oeste, o chamado da
concha ressoou, um sinal de que sua fama se espalhará. Cada raio de sol que surge nessas regiões
representa um de seus discípulos.”

O Dhammapada: “Todos os fenômenos são precedidos pela atividade mental, emanam da


atividade mental e consistem na atividade mental.”
Ratnameghasūtra: “Todos os fenômenos são precedidos pela atividade mental. Quando a
atividade mental é compreendida, todos os fenômenos são compreendidos. Ao colocar a
atividade mental sob controle, todas as coisas ficam sob controle.”

[524] Diz-se que a udumbara é uma flor que abre apenas uma vez a cada 3.000 anos e, por essa
razão, passou a simbolizar eventos de rara ocorrência.

DIA 2

Padmasambhava: “Identificando a Lucidez Prístina (Natural Liberation – Liberação Natural)

Ó, agora observe firmemente esta consciência no momento em que posiciona a mente com
firmeza e sem modificações. Ó, uma vez acalmados os pensamentos compulsivos em sua mente
exatamente onde eles se encontram e a mente não é modificada, não existe uma estabilidade
imóvel? Ó, isto se chama "śamatha", mas não é a natureza da mente. Agora, observe firmemente
a natureza de sua própria mente que permanece imóvel. Não existe uma vacuidade
resplandecente que não é nada, que não está enraizada na natureza de qualquer substância, forma
ou cor? Isso é chamado de "essência vazia". Não existe um brilho nessa vacuidade que é
incessante, claro, imaculado, tranquilizador e luminoso, por assim dizer? Isso é chamado de
"natureza luminosa". Sua natureza essencial é a indivisibilidade da pura vacuidade, não
estabelecida como sendo coisa alguma, e de seu brilho vívido e incessante - tal consciência é
resplandecente e brilhante por assim dizer...

Não está enraizada na natureza de qualquer forma ou cor, portanto, está livre do extremo do
substancialismo. Embora não seja existente, é uma luminosidade natural, clara e constante que
não é criada por ninguém, portanto, é livre do extremo do niilismo. Não se originou de um
determinado tempo, nem surgiu de determinadas causas e condições, portanto, é livre do extremo
do nascimento. A mente não morre e nem cessa em um determinado momento, portanto, é livre
do extremo da cessação. Embora não seja existente, seu poder criativo desimpedido surge de
todas as maneiras, portanto, é livre do extremo da singularidade. Embora surja de várias
maneiras, ela é liberada sem ter qualquer natureza inerente, portanto, está livre do extremo da
multiplicidade. Assim, ela é chamada de "visão que é livre de extremos".

Ela não foi criada por ninguém, mas é autossurgida, primordial e espontânea, por isso é chamada
de "consciência primordial". Uma consciência como esta não se origina das instruções profundas
de um mentor espiritual, nem se origina de sua inteligência aguçada. Primordialmente e
originalmente, o caráter natural da mente em si é exatamente assim; mas anteriormente ela foi
obscurecida pela ignorância inata, de modo que você não a reconhece e nem determina, não se
satisfaz, e nem acredita. E assim, até este momento você permaneceu na confusão. Mas agora
conceda-a ao mestre da riqueza. Conheça sua própria natureza. Conheça suas próprias falhas.
Isso é chamado de "identificar a mente".

Vajirā Sutta

● Mara (dirigindo-se à Bhikkhuni Vajirā): "Por quem isto foi criado? Onde está o
criador do ser? Onde surgiu o ser? Onde o ser cessa?"

● Bhikkhuni Vajirā: Reconhecendo: "Este é Mara, o Maligno", ela respondeu: "Por


que agora você assume 'um ser'? Mara, você se fixou a uma visão? Este é um
amontoado de meras construções: aqui, nenhum ser é encontrado. Assim como,
para um conjunto de peças, é usada a palavra 'carruagem', da mesma forma,
quando os agregados estão presentes, há a convenção de 'um ser'".
● O Buda destacou que uma carruagem, assim como o eu, não existe como uma
coisa substancial separada, ou adicionada às suas várias peças. (Saṃyutta Nikāya
I 135; Milindapañhā, 25.) A carruagem tampouco pode ser encontrada entre
qualquer um de seus componentes individuais, e todo o amontoado dessas peças
por si mesmas não constitui uma carruagem. O termo "carruagem" é algo que
designamos com base em uma coleção de peças, nenhuma das quais, individual
ou coletivamente, é uma carruagem. A carruagem só aparece quando chamamos
essas partes de carruagem. (Saṃyutta Nikāya I 14; Itivuttaka 53)

DIAS 3 e 4

● S. S. o Dalai Lama: “Quando você repousa a mente, tirando-a de funcionamento,


as energias vitais tornam-se naturalmente refinadas, e somente pela meditação não
conceitual, você acessa a clara luz com a mente e as energias vitais. Isto requer
uma completa inatividade, o que não é fácil!”

Sua Santidade o Dalai Lama (Kindness, Clarity, and Insight)

● Nos Yoga Tantras Superiores, como o Tantra Guhyasamāja praticado nas Escolas
da Nova Tradução, há um modo de cultivar a visão da Escola do Caminho do
Meio com uma mente especial, a sabedoria inata da grande bem-aventurança.
Quando seu modo de cultivo e o modo da Grande Completude da Escola da
Tradução Antiga - Nyingma - são vistos como paralelos, a comparação está sendo
feita no nível correto.
● É o conhecimento básico (rig pa), a clara luz ('od gsal), a mente inata fundamental
da clara luz (gnyug ma lhan cigar skyes pa'i 'od gsal gyi sems) que é o estado final
(gnas lugs) das coisas.
● Assim, no sistema do Yoga Tantra Mais Elevado das Escolas da Nova Tradução, a
mente fundamental que serve como base de todos os fenômenos da existência
cíclica e do nirvana é considerada como a verdade ou natureza última dos
fenômenos (dharmatā, chos nyid); também é, às vezes, chamada de "clara luz"
(ābhāsvara, 'od gsal) e "não composta". Na escola Nyingma é chamada de
"mente-vajra"; esta não é a mente que contrasta com o conhecimento básico na
divisão entre conhecimento básico (rig pa) e mente (sems), mas o fator de mera
luminosidade e conhecimento, o conhecimento básico em si. Esta é a raiz final de
todas as mentes, para sempre indestrutível, imutável, um contínuum inquebrável
como um vajra [ou diamante].
● Na Grande Completude, no entanto, medita-se na mente básica da clara luz,
observando de unifocadamente o fator da mera luminosidade e conhecimento;
assim, esta mente meditativa não tem o aspecto de realizar uma mera negação
não-afirmativa. Ainda assim, antes deste estágio ao ser introduzido à mente básica
na prática chamada "atravessar", o praticante da Grande Completude analisa de
onde a mente surge, onde ela permanece e para onde vai. No decorrer desta
prática, como nos textos da Escola do Caminho do Meio, verifica-se que a mente
é desprovida dos extremos da elaboração conceitual; isto é a realização da
ausência de existência inerente. Mais tarde, ao meditar sobre a mente básica, ou
clara luz, que é livre de surgimento, permanência e partida, o praticante está
meditando sobre uma negação afirmativa, na qual a mente básica surge, mas é
entendida como vazia de existência inerente.
● Uma característica distintiva da Grande Completude é que um iogue pode induzir
o aparecimento da mente fundamental da clara luz, não através do envolvimento
em raciocínios e assim por diante, mas apenas através da sustentação de um
estado de ausência de conceitos em combinação com várias condições externas e
internas. Há também uma prática semelhante no sistema Kagyu do Grande Selo.
● Sua Santidade o Dalai Lama: estes três critérios de existência podem ser
entendidos da seguinte forma: (1) Algo é conhecido por convenção geral (isto é,
comumente acordado como existente). (2) O fenômeno conhecido não deve ser
invalidado por nenhuma outra cognição válida, que pode incluir as próprias
cognições subsequentes. Por exemplo, você pode perceber algo e pensar que é
existente, mas sua percepção subsequente do fenômeno pode, em última instância,
invalidá-la como uma percepção falsa. Da mesma forma, ela pode ser invalidada
por cognições válidas de uma terceira pessoa. (3) O fenômeno conhecido não
deve ser invalidado pela análise última.

Da Essência Vajra

“Ó Faculdade de Luminosidade, a fixação a si mesmo atua como causa primária e a conceituação


atua como a condição auxiliar devido à qual elas surgem como meras aparências. Quando a
consciência inicial se move em direção a um objeto, as aparências surgem repentinamente. Com
o pensamento de que algo está sendo eliminado e com o surgimento do pensamento de que algo
está sendo destruído, ela se desloca ou desaparece completamente. Todos os fenômenos são
meras aparências decorrentes de eventos relacionados de forma dependente, e nada mais.
Certamente não há nada que realmente exista por si só.
Devido à interação da causa da consciência substrato clara e luminosa e da condição auxiliar da
fixação a si mesmo, surgem aparências de sonho que não existem; e as pessoas são deludidas
pela fixação a elas como reais e por se agarrarem à sua verdadeira existência como se fossem
aparências do estado de vigília.

Dia 5

Conjuntos de Cinco

Cinco Famílias de Jinas: Cinco Venenos: Cinco Agregados


Vairocana Delusão Forma
Akṣobhya Ódio Consciência
Ratnasambhava Orgulho Sensações
Amitābha Apego Reconhecimento
Amoghasiddhi Inveja Fatores Composicionais

Cinco Espaços Absolutos (Cinco Naturezas Essenciais)


Consciência primordial do espaço absoluto dos fenômenos
Consciência primordial semelhante ao espelho
Consciência primordial da igualdade
Consciência primordial discriminativa
Consciência primordial da realização
Cinco Ḍākinīs: Cinco Famílias: Cinco Castas:
Māmānyaśrīdhātvaiśvarya Família Buda Kṣatriya
Vajradākinī Família Vajra Vaiśya
Ratnadākinī Família Joia Vṛṣala
Padmadākinī Família Lótus Brahmin
Karmadākinī Família Karma Śūdra

Cinco Consortes: Cinco Grandes Elementos: Cinco Alegrias:


Ākaśadhātvīśvarī Luz azul Alegria
Buddhalocanā Luz branca Suprema
Māmaki Luz amarela Extraordinária
Paṇdāravāsinī Luz vermelha Inata
Samayatārā Luz verde Inconcebível

Cinco Direções Cinco Elementos Derivados


Centro Espaço
Leste Água
Sul Terra
Oeste Fogo
Norte Ar

Cinco Campos Búdicos Cinco Sílabas-Semente dos Budas

Ghanavyūha Oṃ
Abhirati Hūṃ
Śrīmat Trāṃ
Sukhāvatī Hrīḥ
Karmaprapūraṇa Āḥ

Cinco Locais: Cinco Chakras: Cinco Iniciações:

Coroa Chakra da grande bem-aventurança Vaso


Garganta Chakra do prazer Secreta
Coração Dharmachakra Sabedoria–gnose
Umbigo Chakra da emanação Palavra
Genitais Chakra da bem-aventurança Todas
sustentada

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