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© Gyatrul Rinpoche & B.

Alan Wallace

Todos os direitos reservados. Nenhuma cópia deste manuscrito é permitida sem a autorização expressa do
tradutor.

A Essência Vajra
Da Matriz de Aparências Puras
e Consciência Primordial,
um Tantra sobre a Natureza
Auto-Originada da Existência

por

Düdjom Lingpa

Traduzido do Original Tibetano


sob a orientação de Gyatrul Rinpoche
por B. Alan Wallace

Editado por
Elissa Mannheimer

Traduzido para o português por


CEBB

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© Gyatrul Rinpoche & B. Alan Wallace

A Questão de Toda a Assembléia


Então, toda a assembléia de discípulos, incluindo Vajra da Consciência Prístina,
perguntou: "Ó Mestre, Bhagavān, nesta era atingida pelas cinco degenerescências1 os
seres estão sob o poder da barbárie. Alguns, devido à pobreza, desperdiçam suas vidas
em busca de alimento e riqueza. Alguns sucumbem a distrações e preguiça espiritual, e
suas vidas são desperdiçadas dessa maneira. Outros, buscando derrotar seus inimigos e
proteger suas famílias, passam a vida inteira em constante busca por lucro e notoriedade.
Algumas pessoas são aprisionadas pelas atividades relacionadas às oito preocupações
mundanas e caem no feitiço das recompensas da existência mundana. Outros são
dominados por māras e obstáculos, e assim sua meditação se desvia para estados mentais
comuns. Devido à escassez de circunstâncias favoráveis e à abundância de circunstâncias
desfavoráveis, poucos alcançam o estado de liberação. Se não são liberados, eles têm que
seguir pelos processos de transição2; então, Mestre, por favor, explique precisamente a
essência da prática nesses estados!"

O Mestre respondeu: "Ó Vajra da Consciência Prístina e demais discípulos reunidos,


ouçam! A natureza essencial dos processos de transição é simplesmente esta consciência
do presente, livre de contaminações, fresca, não estruturada, clara, límpida e comum. E
por quê? Por não realizarem isso, vocês estão fadados a vagar eternamente no samsara;
mas com tal realização, atingem o nirvana. Esta mesma consciência, livre por todos os
três tempos, não se torna iluminada, e uma vez que não é liberada, não vagueia pelo
samsara. Em vez disso, ela permanece em um estado de transição eticamente neutro, e é
esta a característica que define um ser senciente.

O surgimento de seres sencientes a partir da ignorância da base (da consciência) é como o


sol. O surgimento dos processos conceituais da mente é como os raios de sol. O
surgimento das aparências provenientes dos processos mentais é como a luz do sol. A
manifestação da natureza essencial radiante e clara da mente é como os olhos. Quanto à
etimologia da palavra mente, este termo se refere à atividade mental que ocorre devido às
aparências. Assim, a base da mente surge naturalmente como a natureza essencial dos
processos de transição.

Quanto à etimologia de processo de transição, este termo se refere ao surgimento de


aparências semelhantes ao sonho, delusivas e instáveis, nos intervalos após um estado
anterior de existência e antes que ocorra um próximo estado de existência. Estas são as
classificações dos processos de transição:

1. O processo de transição de fixação do viver

2. O processo de transição contemplativo da meditação

3. O processo de transição delusório dos sonhos

4. O processo de transição gradual do morrer

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5. O processo de transição inconcebível da realidade absoluta

6. O processo de transição cármico do vir a ser

7.1. O Processo de Transição do Viver

Primeiro - o processo de transição do viver é como um passarinho na copa de uma árvore,


pois neste processo de transição, você não consegue permanecer por muito tempo e logo
precisa passar para outro mundo. Refletindo sobre a natureza deste processo, você
abandona a atitude de estar preparado para permanecer neste mundo por um longo tempo.
Então, como uma abelha em busca de néctar, primeiramente você supera as noções
equivocadas por meio do ouvir e do refletir sobre o Darma, e quando estiver praticando,
deve se livrar das incertezas e hesitações, como se fosse uma andorinha entrando em seu
ninho. Entre os pássaros, a andorinha é especialmente hábil em inspecionar. Antes de
construir seu ninho ela observa atentamente, por um longo tempo, para verificar se pode
ou não haver perturbações ou danos por parte de outras criaturas. Depois que isso for
determinado, ela então constrói seu ninho. Uma vez que o ninho está construído, a partir
daí, ela segue diretamente para o ninho, como uma flecha, sem qualquer dúvida ou
hesitação. Da mesma forma, primeiramente se dedicando a um professor qualificado,
adquirindo amplos conhecimentos e profunda compreensão, você deve então ser capaz de
avançar para os pontos essenciais do caminho com suas próprias forças, sem erro.

Em primeiro lugar, adquira uma sólida compreensão da visão, da meditação, das


realizações experienciais, e da natureza dos estágios e caminhos, e compreenda-os por
meio de sua própria experiência. Ao final, você nunca se separará da consciência de que
as aparências desta vida são como sonhos e ilusões. Como alguém que faz compras em
um mercado, sem se dar por satisfeito você praticará com entusiamo e grande coragem.
Como um viajante de uma terra distante que alcançou seu grande objetivo, e não o
entregará aos seus inimigos ou aos ladrões ao retomar seu caminho, não sucumba a
atividades que envolvam as oito preocupações mundanas como, por exemplo, os grandes
obstáculos do entretenimento, distrações, e do empenho em derrotar seus inimigos e
proteger seus entes queridos. Aderir a esse ponto crucial é a quintessência sublime para
todos os praticantes do Darma. Tenha consciência disso!

Ao praticar dessa forma, aqueles de faculdades superiores atingem a iluminação como a


grande corporificação da transferência do corpo de arco-íris, sem depender da morte ou
de completar seu ciclo de vida. Aqueles de faculdades medianas são liberados durante o
processo do morrer, sem passar pelo estado intermediário, na natureza da realidade
absoluta. Aqueles de faculdades inferiores unem a clara luz mãe e a clara luz filha no
estado intermediário e alcançam a liberação.

De tempos em tempos, é importante treinar o caminho de Transferência da seguinte


forma:

ĀḤ. Imagine uma sílaba branca A no topo de sua cabeça.

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Uma massa incomensurável de luz branca emana dela.


No grandioso, automanifesto e real campo búdico de Akaniṣṭha,
Vasto como o espaço absoluto dos fenômenos,
Lindamente decorado e adornado, está um grande palácio.
De um A em seu centro, surge Samantabhadra, a base original do dharmakāya,
Na cor índigo, como uma montanha de lápis-lazúli.
Despido e sem adornos, ele se senta com as pernas cruzadas sobre uma flor de lótus e um
disco de lua.
Suas mãos estão no mudrā do equilíbrio meditativo, e ele brilha com a luz dos sinais e
símbolos da iluminação.
As exibições de miríades de campos búdicos estão presentes neste kāya.
Como um sonho que instantaneamente se dissolve no espaço da consciência prístina,
Suas aparências e estados mentais, que têm um só sabor,
São indissociavelmente transferidas para o espaço absoluto da grande bem-aventurança
de Akaniṣṭha.

Com a sílaba A, o mundo animado e inanimado dos três reinos se dissolve nesse campo
búdico, tornando-se indivisível dele. Pronunciando 'A', reconheça isso e traga à sua
mente. Pronunciando 'A', imagine que você atinge uma grande confiança.
A leste, imagine o vasto e amplo campo búdico de Abhirati, preenchendo todo o céu sem
deixar qualquer espaço, branco e luminoso como a lua cheia, da cor de uma concha. Ao
sul, imagine o vasto e amplo campo búdico de Śrīmat, resplandescendo por todo o céu,
toda a terra e tudo o mais, como a cor do ouro. A oeste, imagine o vasto e amplo campo
búdico de Sukhāvatī, vermelho como a cor do rubi. Ao norte, imagine o campo búdico de
Karmaprapūraṇa, da cor da esmeralda, com dimensões iguais às do espaço absoluto dos
fenômenos.

Imagine-se como um bodisatva, imbuído com o poder e a força da consciência


primordial. A começar pelo leste, imagine que você passa por todos os campos búdicos
como uma flecha atirada por um poderoso arqueiro, e imagine que faz três circum-
ambulações em torno dos tathāgatas, que são os regentes das famílias búdicas. Você faz
prostrações e oferendas incomensuráveis, e recebe iniciações, ouve instruções práticas e
recebe ensinamentos e bênçãos. Imagine que então retorna ao campo búdico de
Ghanavyūha, ao centro, onde o dharmakāya, o buda da base original, está presente no
espaço à sua frente. Esses são os ensinamentos chamados de transferir as próprias
aparências para um campo búdico e ingressar nele. No estado intermediário, quando
reconhecer que morreu, ao simplesmente trazer esses ensinamentos à sua mente as
aparências do estado intermediário serão alteradas para as de um campo búdico e você
atingirá a liberação.

7.2. O Processo de Transição da Meditação

Segundo - o processo de transição da meditação é como a situação de uma pessoa exausta


descansando. E por quê? Durante as suas vidas no samsara sem princípio, os seres
vagueiam sem rumo pelos estados de existência dos três reinos, sem um momento de

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descanso, como cães de rua raivosos. Aqui está uma forma de reconhecer essa situação e
gerar um sentimento de desilusão e repulsa.

Examine as causas e condições delusivas no passado, reconheça como elas estabeleceram


uma base de ignorância, e como você foi então dominado pelo grande demônio da
fixação dualista, que o tem enlouquecido e o deixa sem autodomínio e sem estabilidade.
Então assuma o controle de sua energia-mente e estabeleça a confiança com base na
firme atenção plena e introspecção. Deixe que sua consciência se sustente e empenhe-se
na prática da meditação. Apenas isso proporcionará o alívio da delusão tendo a meditação
como base.

Neste momento, você é como alguém que sofre de fome e de sede, e que ao encontrar
comida e a bebida avança sobre elas insaciavelmente, até não poder mais. Da mesma
forma, as pessoas de faculdades superiores, medianas e inferiores podem ser comparadas
a um bezerro que primeiro se alimenta de leite, quando cresce um pouco vive de grama e
leite e, finalmente abandona o leite e vive apenas de grama. Em uma progressão
semelhante, primeiro você cessa e subjuga os pensamentos discursivos estimulados pela
sua energia-mente e, em seguida, libera os pensamentos e permite que se manifestem. A
fase de concentrar-se e soltar alternadamente é como o período em que o bezerro se
alimenta de leite. Se permanecesse nessa fase e não encontrasse grama, ele certamente
morreria de desnutrição. Da mesma forma, se você não encontrar o caminho manifesto,
não transcenderá os estados inferiores da existência mundana e continuará vagueando por
eles.

Uma vez que a consciência tenha se manifestado e você pratique unifocadamente, se


permanecer nesse estado e, ao final, não encontrar a consciência que tudo permeia
originalmente pura - a própria consciência prístina da base, a Grande Perfeição livre de
extremos - você não transcenderá os três reinos da existência mundana e será lançado de
volta ao oceano das aflições do samsara, como estava antes. Isto é análogo à fase em que
o bezerro precisa tanto de grama quanto de leite e morre de fome se não receber um dos
dois.

Depois de ter determinado samsara e nirvana como grande vacuidade e identificado o


dharmakāya, a consciência prístina, abandone todos os tipos de atividades até atingir o
estado da iluminação perfeita e onisciente. Praticar por meio da conduta naturalmente
estabelecida, livre de atividades, é como o bezerro que se alimenta apenas de grama, sem
mais depender do leite. Se permanecer no ponto em que simplesmente identificou a
consciência prístina, você será como alguém que não se alimenta ou satisfaz sua fome e
sede, mesmo dispondo de comida. Essa pessoa certamente morrerá. Da mesma forma, se
a sua prática não abranger a morte, você ficará envolto em esperanças e medos em
relação a todas as coisas boas e ruins do presente. Se isso acontecer, você permanecerá
indefinidamente deludido no samsara pelas aparências dualistas de si mesmo e dos
outros, e por pensamentos de fixação a esperanças e medos sobre o bem e o mal.
Portanto, reconheça isto!

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Por essa razão, você deve ter em mente a extrema importância de praticar com
entusiasmo e grande coragem até que o estado de liberação e onisciência se manifestem.
Tanto o viver quanto a meditação são chamados de processos de transição, pois ambos
tomam estados de transição da consciência como base.

7.3. O Processo de Transição do Sonho

Terceiro - o processo de transição delusório do sonho surge da seguinte forma: embora


algumas pessoas digam que as aparências da vigília surgem como aparências de sonho,
desde os primórdios, a face da base, o espaço absoluto, livre dos oito extremos da
elaboração conceitual, a exibição dos kāyas e das facetas da consciência primordial, está
velada pela ignorância. Então, dominado pelo demônio inebriante dos três reinos do
samsara, o grande monstro das energias cármicas permitiu que a mente interna de fixação
atuasse como causa primária, e os objetos apreendidos externamente atuassem como
condições auxiliares. Em seguida, devido à reificação das aparências dos cinco sentidos,
as aparências da vigília surgem, e após se dissolverem no espaço da consciência, surgem
as aparências do sonho. As aparências desta vida e tudo o que se segue indicam a falácia
da noção de que as aparências da vigília são verdadeiras e as aparências oníricas são
falsas.

Em termos de causas e condições, tanto das aparências da vigília quanto das aparências
do sonho, o que serve como causa é a consciência subliminar que compreende
erroneamente os eventos destituídos de identidade, dependentemente relacionados, como
se possuíssem identidades próprias. Aquilo que tem a capacidade de produzir objetos
claros e límpidos serve como condição auxiliar. A partir da confluência dessas causas e
condições, uma conexão contínua e não dual gera aparências delusórias que na verdade
não existem.

Com esta compreensão como base, treine em considerar todas as aparências como sonho;
em seguida, identifique as próprias aparências do sonho. Ao fazer isso, se adquirir
confiança familiarizando-se com a consciência prístina sustentada, as aparências do
estado intermediário serão eliminadas e você conquistará o poder sobre a grande
abundância da realidade absoluta.

7.4 O Processo de Transição do Morrer

Quarto - o chamado processo de transição do morrer é como cair nas mãos de um


assassino maldoso, e se refere ao período desde o momento que é atingido por uma
doença terminal até a respiração cessar. Em primeiro lugar, quando você for atingido por
uma doença, verifique cuidadosamente se há ou não vapor em suas fezes. Verifique sua
visão, colocando o punho em sua testa para ver se a forma do seu espaço de vitalidade
desapareceu3, como o sol se pondo atrás do pico de uma montanha; e observe se o

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zumbido nos ouvidos desapareceu. Em seguida, dedique-se a práticas rituais e assim por
diante, para que possa acumular méritos.

Se isso não ajudar, vá com um bom amigo que não tenha quebrado seus samayas para um
lugar deserto, livre de outras pessoas e de influências perturbadoras. Em seu coração
visualize uma grande sílaba A branca, e sobre ela vinte e uma sílabas A brancas, uma
sobre a outra. Recite 'A' vinte e uma vezes, e ao fazê-lo, imagine-as se unindo, de baixo
para cima até que, com o som de 'PHAṬ', o A branco que estava no topo se une com a
grande bem-aventurança de Akaniṣṭha, o espaço do Buda Samantabhadra da base
original. Como resultado do repouso nesse estado que tudo permeia, poderá surgir um
vapor da sua abertura de Brahmā ou a respiração pode parar; ambos são sinais de ter
atingido a liberação no espaço.

Se não conseguir realizar a Transferência desta forma, deite-se na postura do leão,


direcione sua atenção para os olhos e foque-os firmemente no espaço à sua frente. Então,
imagine seu corpo, sua mente e todas as aparências, simultaneamente desaparecendo na
forma de uma massa de luz de cinco cores. Ao tomar essa aparência de luz como
caminho e estabelecer-se em equilíbrio meditativo, sua respiração poderá cessar e você
poderá alcançar a liberação sem passar pelo estado intermediário.

Como alternativa, seu companheiro poderá dizer três vezes em voz alta: "Ó amigo, no
espaço, um cúbito acima do topo de sua cabeça, está sentado o Bhagavān, a base original
do dharmakāya, Samantabhadra - o Buda que não habita nos extremos da existência
mundana e da liberação - cujo corpo é da cor índigo, nu e adornado com os sinais e
símbolos da iluminação. Una sua consciência com a consciência primordial não
conceitual da mente do Buda." A cada vez que isso for dito, seu companheiro deve
pronunciar três vezes o som 'HI KA'. Ao fazer isso, se os seus olhos se virarem para
cima, isto indicará o sucesso.

Se com isso você não morrer, quando expirar e as aparências dos objetos externos
desaparecerem, seu companheiro deverá colocar um bambu oco ou um tubo de papel em
seu ouvido e dizer três vezes: "Ó amigo, quando as fases branca e vermelha da dissolução
surgirem para você, lembre-se de que esta é a reversão do samsara. Funda-se com o
espaço absoluto da base, livre de elaboração conceitual, a base primordial originalmente
pura, e realize a transferência!" Ele também deve pronunciar três vezes o som 'PHAṬ'.

Se a sua respiração também não cessar desta forma, seu companheiro deverá dizer:
”Amigo, dissolva a sua consciência em uma sílaba branca A e, como uma flecha lançada
por um poderoso arqueiro, transfira-a de sua abertura de Brahmā para o reino do espaço
prístino." Este conselho trará maior clareza ao processo do morrer, pois é como uma
mensagem enviada por um rei.

Se não obtiver nenhum benefício por esses caminhos, por meio da Transferência
realizada por seu próprio poder ou com a ajuda de outra pessoa, o sinal de evasão do
vento que tudo permeia é a deterioração da compleição e da radiância do seu corpo. O
sinal de evasão do vento acompanhado pelo fogo é a perda de todo o calor corporal nos

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membros e assim por diante, até que se torne frio como uma pedra. O sinal de evasão do
vento descendente é o escoamento de todas as essências vitais do corpo. Os sinais de
evasão do vento ascendente são a expulsão do ar, e da comida e bebida que tenham sido
ingeridas pela boca, que saem pelo nariz, junto com saliva e muco.
Devido à interferência entre as energias vitais dos canais e elementos e o sangue, surgem
várias aparências delusivas. Ao final, o sangue converge no canal de força vital, as
energias vitais são expulsas, e a consciência se recolhe no centro do coração. Aí então
você chegou ao que é chamado de separação da energia-mente.

Nesse momento, a consciência se dissolve gradualmente na aparência de uma visão


branca como um relâmpago. O sinal de que a visão branca está se dissolvendo no
surgimento vermelho é o aparecimento de uma visão vermelha como o sol nascente.
Depois disso, o sinal de que o surgimento vermelho está se dissolvendo na realização
negra é uma visão de escuridão como o crepúsculo. Quando cair inconsciente nesse
estado, você morreu.

É muito importante reconhecer os estágios de dissolução nesses momentos, como se você


fosse uma linda mulher fitando a si mesma no espelho. Aqueles de faculdades superiores
seguem as instruções sobre como entrar na clara luz. Aqueles de faculdades medianas
revertem as aparências e estados mentais impuros do samsara de volta para a exibição da
clara luz, a realidade absoluta. É também extremamente importante que os de faculdades
inferiores reconheçam as fases de dissolução e, em seguida, estabeleçam a confiança na
clara luz que emerge nesse momento.
Dependendo de suas faculdades, alguns permanecem inconscientes nesse estado por seis
horas, doze horas, um dia inteiro, ou durante dois ou três dias. Seja qual for o tempo de
permanência ali, esta é a fase em que você se dissolve no verdadeiro substrato que
emerge nesse momento.

Na sequência, ocorre a dissolução da realização negra na clara luz. Como analogia,


assim como o espaço no interior de um jarro está unido ao espaço exterior, sem qualquer
traço de aparência de uma essência, uma expansão clara e radiante surge como o espaço
que tudo permeia, livre de contaminação, como o amanhecer rompendo no céu. Nesse
momento, as pessoas que já estão bem familiarizadas com a consciência prístina da base
pela prática do Atravessar, e que adquiriram confiança nesta base, reconhecerão a união
da consciência prístina, como praticaram anteriormente - que é como uma pessoa familiar
- e a clara luz, que surge um pouco adiante. Nesse estado elas devem se sustentar, como
um rei sentado em seu trono.

Para aqueles que tomaram o Atravessar como caminho, sem terem conhecido a Travessia
Direta ou sem obter sucesso nessa prática, esta ocasião é um momento crítico, como fazer
uma cirurgia cardíaca4. Após terem reconhecido a consciência prístina, se puderem
estabelecer a confiança, isto é chamado de liberação na clara luz do dharmakāya durante
o processo do morrer. É como sobreviver por meio da remoção de fluido do coração. Se
não reconhecerem a consciência prístina ou estabelecerem a confiança, vaguearão
indefinidamente pela delusão do samsara, que é como perfurar o coração com um tubo de
ouro, situação em que a morte é certa. O número de dias durante os quais se permanece

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em meditação na clara luz do processo do morrer corresponde à estabilidade e duração de


sua prática atual. Aqueles que sustentam a estabilidade da prática durante um dia e uma
noite inteiros poderão sustentar a estabilidade durante um período de sete dias humanos
no momento da morte. Mas para aqueles que não entraram no caminho, a clara luz não
surgirá por um tempo maior do que o tempo que se leva para comer uma tigela de
comida.

7.5. O Processo de Transição da Realidade Absoluta

O quinto é o processo de transição da realidade absoluta. Para aqueles que enxergam a


entrada para a grande travessia direta de clara luz e, em seguida, dedicam-se à prática de
forma intermitente, o conhecimento surge simplesmente por uma manifestação própria
chamada de dissolução na clara luz espontaneamente realizada. Para onde quer que olhe,
você vê tudo completamente preenchido e permeado por uma grande radiância de luz,
como um brocado preenchido por arco-íris. Isso é semelhante a um broto de arroz.
Depois disso, tal como o surgimento de um feixe de arroz, surgem numerosos bindus,
variando em tamanho desde os tão pequenos quanto os olhos de um peixe até aqueles tão
imensos quanto o céu, que permeiam e preenchem tudo.

Como o amadurecimento de um feixe de arroz, primeiramente em meio a um grande


bindu, surge a deidade principal Vairocana e sua consorte, cercadas por quatro bodisatvas
masculinos e femininos. Dos corações dessas deidades emana uma luz branca, brilhante
demais para se olhar, penetrando o topo de sua cabeça. Sobre ela, surgem bindus
empilhados como tigelas de concha vazias. Este é chamado de caminho aberto de
Vairocana. Simultaneamente, surge o caminho para o reino animal, que é azul e
levemente luminoso.

Quando chega a este ponto, ocorre a convergência da clara luz filha que você praticou
anteriormente com a luminosidade mãe que surge em seguida. Como resultado, assim
como uma criança que, sem hesitação, engatinha até o colo de sua mãe, quando sua
consciência entrar na clara luz você atingirá a liberação no grande êxtase da união.

Se não conseguir reconhecer a clara luz nesse momento e, portanto, não atingir a
liberação, todas as aparências se transformarão na exibição da luz vermelha. Em meio a
essa luz, a deidade principal Amitābha e sua consorte, cercados por quatro bodisatvas
masculinos e femininos, surgem no interior de um bindu que se estende da terra ao céu.
Dos corações desses kāyas é emanada uma luz vermelha, penetrando a sua garganta, na
qual bindus se empilham como tigelas de rubi vazias. Simultaneamente, surge um
caminho vermelho pálido, desprovido de qualquer brilho, que leva ao reino dos pretas.
Neste momento, para aqueles que reconhecem suas aparências, tudo isso se funde e se
transforma em kāyas e luz brilhante, e se tiverem confiança, sem se distrair com outras
coisas, atingirão a liberação.

Se você não for capaz de reconhecê-los e, portanto, não atingir a liberação, todas as
aparências se tornarão completamente encobertas e permeadas por uma luz azul escuro,

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em meio à qual surge a deidade principal Akṣobhya e sua consorte, cercadas por quatro
bodisatvas masculinos e femininos. Elas estão adornadas com os sinais e símbolos da
iluminação e com as vestes do saṃbhogakāya. De seus corações emana uma luz azul
escuro, brilhante demais para se olhar, penetrando o seu coração, no qual bindus são
empilhados como tigelas de lápis-lazúli vazias. Ao mesmo tempo, abaixo destes surge um
caminho de luz negra, desprovido de qualquer brilho, que leva ao reino dos seres dos
infernos. Da mesma forma, se neste momento a sua consciência se fundir com o espaço
absoluto dos kāyas e se você se sustentar com confiança, atingirá a liberação no campo
búdico de Abhirati.

Se não atingir a liberação nesse momento, todas as aparências se transformarão e


emergirão na exibição da luz amarela, em meio à qual surgirá um bindu amarelo vasto e
amplo, como um escudo de pele de rinoceronte. Dentro dele surge um assento de flor de
lótus com variadas cores, discos de sol e lua, sobre o qual se senta o Bhagavān
Ratnasaṃbhava; seu corpo tem a cor do ouro refinado, adornado com as vestes do
saṃbhogakāya. Abraçando a sua consorte, a glória e a aura deles são brilhantes demais
para serem olhadas. À sua direita está o Bodisatva Samantabhadra, à sua esquerda está o
Bodisatva Ākāśagarbha, à frente está a Bodisatvī Mamālema, e atrás está a Bodisatvī
Dhuśpe, resplandecentes com uma luz semelhante ao ouro refinado brilhando à luz do
sol. Dos corações desses kāyas emana uma luz amarela que penetra o seu umbigo, onde
bindus âmbar se empilham como tigelas de âmbar vazias. Ao mesmo tempo, abaixo delas
surge o caminho branco dos devas, desprovido de brilho. Se reconhecer Ratnasaṃbhava
neste caminho aberto e unir sua consciência com ele, você conquistará o domínio sobre o
campo búdico do sul, de Śrīmat, e alcançará a liberação.

Estes são chamados de caminhos da união com os quatro aspectos da consciência


primordial. Na primeira fase deste caminho veloz, insuperável e muito secreto há o
reconhecimento; na segunda você atinge a confiança; e na terceira você alcança a
liberação.
Você pode não ser capaz de fitar ou de prestar atenção ao caminho luminoso da pureza, e
se isso acontecer, ao focar e se unir com os quatro caminhos impuros você renascerá
nesses estados de existência. Até que atinja a perfeição do poder do Progresso na
Experiência Visionária, o caminho aberto de Amoghasiddhi não surgirá. E a partir do
momento em que o poder do Progresso na Experiência Visionária tiver sido aperfeiçoado
até a fase de Alcançar a Consciência Consumada, a iluminação será atingida sem um
estado intermediário, e aquelas visões não surgirão.

Em seguida, as manifestações das corporificações e bindus se reduzem, e de seu cérebro


todas as maṇḍalas de exibições dos herukas se dispersam e se espalham pelo céu, como
centelhas de uma fogueira. De cada uma delas inúmeras outras são emanadas, permeando
e preenchendo todos os reinos do universo. Raios de luz irradiam de seus olhos, como a
luz de cem mil sóis e luas. Com as bocas escancaradas e os dentes expostos como a lua,
seus bigodes em chamas, e relâmpagos cintilando de suas sobrancelhas, eles estão
cobertos por vestes de cemitério. Em meio às chamas, semelhantes ao fogo no final de
um éon, eles erguem diferentes armas, bradando 'HŪṂ PHAṬ’ e as palavras "Atacar!
Matar!", como o estrondo simultâneo de mil trovões. Criaturas de diversos tipos de

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cabeça brandem armas e dançam em círculos. Ao ver essas aparências de corporificações


aterrorizantes e ouvir seus ferozes rugidos, as assembleias de Yama, o Senhor da Morte,
são intimidadas e amedrontadas.

Se você reconhecer todas elas como aparências diretas das maṇḍalas pacíficas e iradas
emanadas da cidadela vajra de seus agregados5, e tiver o poder de unir-se com elas de
maneira não dual, atingirá a liberação no terreno de cremação vulcânico de Akaniṣṭha.
Para aqueles que tiveram sucesso na prática e se familiarizaram com o caminho da grande
travessia direta de clara luz, todas essas aparências pacíficas e iradas de luzes e bindus
surgirão durante um período de sete semanas de dias de meditação. Tais pessoas terão
tempo para obter o reconhecimento e a liberação pelo poder da sustentação dessa
experiência. Para aqueles que não viram a entrada para o caminho da Grande Perfeição
de clara luz, ou para aqueles que viram, mas não praticaram ou não obtiveram sucesso na
prática devido à falta de confiança no reconhecimento, ou devido a indolência espiritual,
distração e divertimentos, aquelas luzes e bindus não surgirão por um tempo maior do
que a duração de um eclipse. Assim, é desnecessáio dizer que eles não terão tempo para
reconhecê-los ou atingir a liberação.

Quando todas essas aparências pacíficas e iradas desaparecerem no espaço absoluto, você
se lembrará de todos os tipos de Darma que ouviu no passado, mas irá esquecê-los tão
logo se lembre deles. Além disso, durante esta fase surgem inúmeros tipos de Darma que
você nunca ouviu ou entendeu, e tão logo surgem são esquecidos. A maior parte das
pessoas experimenta a visão da clara luz por um curto período, e permanece nesse estado
por pouco tempo. Para aqueles que têm fé, reverência e grande adoração por seus gurus,
tão logo tais discípulos se lembrem deles, seus mestres automanifestos podem surgir com
a aparência de seus gurus e mostrar-lhes o caminho para a liberação; e eles podem de fato
alcançar a liberação.

Aqueles que quebraram seus samayas em relação ao seu guru vajra ou os que cometeram
ações de retribuição imediata caem em um abismo inconcebível. Após a cessação da
respiração externa e antes de a respiração interna cessar, sem demarcação entre a vida e a
morte, eles caem no Inferno Vajra sem estado intermediário. Aqueles que não quebraram
seus samayas em relação ao seu guru ou família vajra e que tiveram sucesso na prática do
Atravessar e da Travessia Direta elevam-se a uma inconcebível expansão. Após a
cessação da respiração exterior e antes da respiração interna cessar, sem demarcação
entre a vida e a morte, eles são naturalmente liberados sem estado intermediário. Assim
como o espaço dissolvendo-se no espaço, eles se tornam iluminados na base original do
dharmakāya.

Para todas as outras pessoas as aparências que se seguem no estado intermediário


certamente surgirão. Hoje em dia, em todos os tantras, transmissões orais e instruções
práticas, é especialmente importante analisar, investigar e compreender corretamente os
ensinamentos sobre como os processos de transição surgem, e em seguida, aplicá-los à
sua própria experiência. Portanto, compreenda isto!

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7.6. O Processo de Transição do Vir a Ser

Após a conclusão do processo de transição inconcebível da realidade última, é desta


maneira que você se perde no sexto processo de transição do carma e do vir a ser. Movida
pelas energias cármicas, sua consciência não é capaz de ir até o espaço absoluto dos
fenômenos, o trono vajra6, ou até o ventre de sua futura mãe. Com exceção desses dois
destinos, no entanto, ela se move livre e desimpedida através de todas as coisas concretas
e materiais, tais como terra, pedras, montanhas, rochas e árvores. Ela é completa, uma
forma vazia automanifesta com a aparência exata de sua forma física anterior, e todos os
seus sentidos estão presentes. Assim, os objetos surgem exatamente como eram e você
possui diversos tipos de habilidades paranormais. Você é dotado de clarividência, por
meio da qual pode ver vários seres semelhantes a você, e está ciente dos pensamentos de
apego e de raiva nas mentes dos outros.

Às vezes, quando você está na presença de seres humanos, ouve suas conversas, mas as
pessoas não podem ouvir e nem responder às suas perguntas. Você pode ficar perturbado,
pensando que todos estão com raiva de você. Mesmo quando está com o seu cônjuge, ele
ou ela não lhe oferece nenhum alimento. Notando que você não produz sombra à luz do
sol, sua imagem não se reflete em nenhum espelho e que não deixa pegadas na areia, na
terra macia, ou lamacenta e assim por diante, você se sente desorientado e fica evidente
que morreu. Isso lhe traz imenso medo e angústia.
Quando você vê aqueles que buscaram refúgio no guru fazendo orações, pode notar que
estão realizando os rituais de maneira imprópria, que não têm prática no Estágio da
Geração ou no Estágio da Completitude, e que têm muitas outras falhas como a quebra de
seus samayas e de seus votos. Pensando que você foi enganado por essas pessoas e que
será lançado em um estado infeliz de existência, podem surgir visões falsas. Desejando
com ardor adquirir um corpo rapidamente, você vagueia em todas as direções, à procura
de uma entrada para um útero. Mas até que o estado intermediário tenha completado seu
curso, você não verá ou encontrará nenhuma entrada para um ventre.

A cada período de sete dias surgirão novamente as aparências das condições anteriores
para a sua morte, produzindo enorme sofrimento. Você ouve quatro sons aterrorizantes: o
som de mil montanhas desmoronando em pedaços, o som de um mar furioso, o som de
uma fogueira flamejante e o som estrondoso do vento. Surgem abismos negros,
vermelhos e brancos, que são as formas naturais dos três venenos, e você experimenta o
horror insuportável de despencar neles. Surgem aparências delusivas e horrendas como
ser perseguido por soldados e assassinos, ou uma grande montanha desmoronando e uma
violenta tempestade caindo sobre você. Às vezes você assume a forma de seu corpo
anterior, às vezes assume a forma de seu próximo corpo.

Um sinal de que renascerá como um deva ou um ser humano é sua cabeça virar para
cima. Um sinal de que renascerá como um asura ou um animal é você olhar para a frente,
e um sinal de que renascerá como um ser dos infernos ou preta é olhar para baixo. Um
sinal de que renascerá nos infernos é o aparecimento de um pequeno pilar de luz negra;
do renascimento como um preta é uma aparência semelhante a uma lã preta suspensa; do
renascimento como animal é uma aparência semelhante a um oceano de sangue; do

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renascimento como humano é uma aparência de luz branca; do renascimento como asura
é uma aparência de luz verde; e do renascimento como um deva é uma luz branca de uma
braça de comprimento.

Em termos de seu fluxo de consciência, para renascer no reino da não forma você tem
grande deleite com a vacuidade; para renascer no reino da forma você anseia pela
luminosidade; para o renascimento como um deva do reino do desejo você anseia pela
alegria; para o renascimento humano você anseia por objetos; para o renascimento como
um asura você deseja neve e chuva; para renascer como um animal você anseia por luz
negra; para renascer como um preta você é atraído por luz vermelha pálida; e para o
renascimento nos infernos você é atraído por línguas de fogo. Todos esses objetos
aparecem para você como sendo bonitos e atraentes, e você sente uma atração irresistível
por eles.

Se você se familiarizar com esses pontos, começando desde já, e tomá-los com toda a
profundidade, poderá reconhecer estes sinais no presente, experienciar o dharmakāya - a
consciência prístina que está presente como a base - e estabelecer confiança nisso. E
então, a clara luz da base, o dharmakāya originalmente puro, surgirá novamente. Isso é
semelhante a reparar um canal de irrigação danificado, e assim você alcançará a
libertação.
Se preferir, você pode trazer à mente o campo búdico, o palácio, e a deidade pessoal nos
quais meditou no passado; e se puder sustentar-se desta forma, suas aparências serão
transferidas para lá e você será liberado. Além disso, se você tiver manifestado um campo
búdico prístino, o que traz um enorme alívio, e tiver estabelecido tendências habituais
para isso em sua mente, ao relembrá-los e trazê-los à mente com precisão, suas
aparências serão transferidas para lá e você alcançará a estabilidade.
Aqueles que não desenvolveram tais propensões habituais por meio da prática poderão
ver uma bela massa de fogo, e assim que entrarem nele, visões do inferno surgirão
trazendo sofrimento. Se entrarem em uma linda caverna, surgirão as aparências dos
pretas; se entrarem em um rio ou um pântano, emergirão as aparências dos animais; se
entrarem em uma fina chuva ou em uma violenta tempestade, surgirão as aparências dos
asuras; e se as aparências forem de coisas como um jardim e um palácio, renascerão
como um deva.

Com respeito à fixação a um ambiente humano, o setor do mundo do leste de Videha


surge sob a forma de um peixe; Godānīya surge sob a forma de um cisne; Uttarakuru
surge sob a forma de uma garça; e Jambudvīpa surge sob a forma de um homem e uma
mulher em união sexual. Nesse momento, se bloquear a entrada do útero e trouxer os
pontos anteriores à mente, você ainda poderá alcançar a liberação.

Ou, se você de fato entrar em um útero, na presença de um homem e uma mulher em


união sexual que sejam de uma boa tradição e que morem nas proximidades de um
excelente amigo espiritual, onde o Darma esteja florescendo em Jambudvīpa, que é o
mais importante de todos os setores do mundo, se sentir atração por sua mãe e aversão
por seu pai, entre sem hesitação no útero dela por meio do ânus. Nesse momento, se
puder se imaginar na forma de seu guru ou de sua deidade pessoal e rezar para ser de

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grande serviço para o mundo, você certamente obterá um renascimento humano precioso,
dotado dos dezoito tipos de liberdades e oportunidades. É importante saber que se você
entrar no útero sentindo atração por seu pai e aversão por sua mãe, renascerá como uma
menina.

Para praticar as instruções agora a fim de purificar o estado intermediário, considere com
sinceridade: "Pobre de mim! Eu morri. Esta é a aparência do estado intermediário".
Depois, repouse por um instante em um estado de reconhecimento do samsara e do
nirvana como grande vacuidade. E então pense: ”Eu realmente morri. Este é o processo
de transição do vir a ser. Agora eu devo me empenhar em uma prática para escapar desta
masmorra miserável do samsara.” Então traga à mente o campo búdico de Abhirati a
leste, e imagine uma luz branca, como uma formação de nuvens, iluminando o céu mais
além na direção leste .

Esse campo búdico é vasto e amplo, e inimaginavelmente imenso. A superfície é plana,


uniforme, radiante e clara como a superfície de um espelho. Ela está preenchida e
recoberta por flores de lótus de variadas cores. Quando você a pressiona para baixo, ela
cede, e quando você levanta, ela retoma sua forma original. As quatro direções cardeais e
as oito direções intermediárias estão adornadas com árvores que realizam desejos. Fontes
emanam ambrosia purificadora. Pedras preciosas, prados de turquesa e areia de ouro
circundam lagos e poças de ambrosia, que possuem as oito excelentes qualidades. Em
meio a treliças de arco-íris, muitas deusas produzem nuvens de oferendas de prazeres
sensuais. Revoadas de diversos pássaros extraordinários emanados entoam melodias do
Darma com suas vozes adoráveis. No céu surgem imagens como dosséis, para-sóis e
flâmulas de seda feitos de arco-íris.

Imagine que no centro desse campo búdico há um palácio criado a partir da luz brilhante
da consciência primordial. Vasto e amplo, ele resplandece em tons de branco, amarelo,
vermelho, verde e azul. Ele é bem projetado e está repleto de todos os tipos de decorações
e atributos encantadores. Em seu centro está um trono de joias apoiado sobre oito
elefantes, sobre o qual há um assento de lótus e discos de sol e lua. Sobre ele está sentado
o Bhagavān Vajrasattva; seu corpo é branco, adornado com os sinais e símbolos da
iluminação e com todas as vestes do saṃbhogakāya. Essa suprema corporificação ilusória
da consciência primordial está cercada por uma assembleia inconcebível de bodisatvas.

Então, imagine que você ascende a esse campo búdico, como uma flecha lançada por um
poderoso arqueiro, e que circum-ambula o palácio por três vezes. Você confessa suas
faltas e ações não virtuosas. A seu pedido o guardião abre a porta, você entra no palácio,
presta homenagem, faz oferendas, confessa suas faltas e faz orações ao Tathāgata. O
Tathāgata o fita com grande compaixão e o abençoa, faz uma profecia a seu respeito,
concede iniciações, e você se senta entre os alunos a quem ele está ensinando o Darma.

Se obtiver sucesso na prática de transformar as aparências, durante o processo de


transição do vir a ser, assim que reconhecer que morreu, pelo poder das tendências
habituais que cultivou anteriormente com a aspiração de ser liberado do samsara, você
poderá se lembrar desse campo búdico e trazê-lo à mente com precisão. Então, desejando

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ir para esse lugar com firme concentração, terá a boa fortuna de chegar lá, como uma
flecha atirada por um forte arqueiro; e alcançará a estabilidade nesse campo búdico.

Algumas vezes, traga à mente o campo búdico de Śrīmat ao sul, no qual todo o céu e toda
a terra resplandescem com a cor do ouro. No centro está o Bhagavān Ratnasaṃbhava,
com o corpo da cor do ouro puro. Ele está cercado por uma assembleia de vīras e yoginīs,
da família joia; imagine-se chegando até lá e sentando-se à frente do Bhagavān, como fez
anteriormente.

De tempos em tempos, traga à mente o campo búdico semelhante ao rubi de Sukhāvatī a


oeste, no centro do qual está Amitābha, de corpo vermelho, cercado por uma assembleia
de vīras e yoginīs da família lótus. Imagine que está em sua presença.

Às vezes traga à mente o campo búdico de Karmaprapūraṇa ao norte, que tem a cor da
esmeralda. Em seu centro está o Bhagavān Amoghasiddhi, adornado com as vestes
saṃbhogakāya e rodeado por uma assembleia de vīras e yoginīs da família karma.
Imagine que observa a exibição do campo búdico como se estivesse vendo diretamente
com seus olhos, e então imagine-se indo até lá como uma flecha lançada por um poderoso
arqueiro. Imagine-se lá como se fosse um criminoso que escapou da prisão e chegou a
sua casa; faça prostrações, oferendas e preces ao Tathāgata, como anteriormente.

Às vezes imagine todas as aparências como se fossem o campo búdico de sua deidade
pessoal. Por exemplo, imagine como se estivesse vendo com os seus olhos as regiões a
leste, sul, oeste e norte do centro de uma vasta região. Ao leste imagine o campo búdico
de Abhirati, adornado com flores brancas e emanando uma luz branca que atinge os céus.
Ao sul imagine o campo búdico de Śrīmat, adornado com flores amarelas e emanando
uma luz amarela que atinge os céus. A oeste imagine o campo búdico de Sukhāvatī,
adornado com flores vermelhas e emanando uma luz vermelha que chega até os céus; e
ao norte imagine o campo búdico de Karmaprapūraṇa, adornado com flores verdes,
emanando uma luz verde que chega aos céus. Traga-os à mente como se estivesse os
vendo com seus próprios olhos, desenvolva confiança nesse estado e se estabeleça nele.

A prática de ocasionalmente imaginar as aparências de ir até esses campos búdicos, como


se você fosse uma flecha atirada por um poderoso arqueiro, estabelece potencialidades
em seu fluxo mental que proporcionam imenso alívio no estado intermediário. Portanto,
reconheça a suprema importância de obter sucesso na prática destas instruções e de
cultivar estabilidade em seu fluxo mental com respeito a este treinamento.

No momento do processo de transição da realidade absoluta, seu guru ou um amigo


espiritual que não tenha quebrado seus samayas pode falar com você, dizendo: "Ó
amigo!" chamando seu nome três vezes, "dissolvendo as entradas impuras do samsara na
pura realidade absoluta, semelhante ao céu de outono livre das três condições
contaminantes7, surgirá uma radiância límpida, livre de contaminações e que tudo
permeia, desprovida de direção ou limites. Essa é a sua base primordial, original, sua
natureza essencial e originalmente pura. Portanto, reconheça-a! Gere confiança em sua
própria consciência! Sustente esse estado com essa confiança! Assim atingirá a

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iluminação no inequívoco espaço absoluto do dharmakāya, a mente de Samantabhadra."


Isso deve ser dito três vezes, especificamente, três vezes por dia durante três dias.

Do terceiro ao sétimo dia essa pessoa deveria dizer: "Ó amigo, ouça bem e tenha isto em
mente! É dito que as aparições de luz, raios de luz, bindus e kāyas pacíficos e irados se
dissolvem na pureza original espontaneamente realizada. Os sedimentos dos elementos
emergem como quintessências, fazendo com que as quintessências das cinco luzes
amadureçam como essências vitais. As essências vitais de seus bindus chegam à fruição
como os kāyas. Sem deixar que sua consciência se distraia, una-se com a luz, como uma
criança engatinhando para o colo de sua mãe. Una a sua mente com os kāyas e com os
bindus!

Suas próprias aparências estão se manifestando na natureza da grande bem-aventurança


da clara luz; portanto, reconheça isto! Una-se, transfira-se para lá, com confiança!
Sustente-se com base nessa confiança e sem se distrair com qualquer outra coisa; se
puder se sustentar sem se deludir, você se iluminará como um saṃbhogakāya no estado
intermediário. Não tenha medo de suas próprias aparências sob a forma da maṇḍala
irada. Não fique aterrorizado com seus próprios sons que surgem para você. Não tenha
medo dos raios que surgem de formas variadas, mas mantenha-se firme no
reconhecimento da consciência prístina da base como a exibição da consumação do
samsara e nirvana; e expanda-se sem limites."

Então, durante seis semanas, o amigo espiritual deve colocar uma imagem da pessoa
morta à sua frente. Ele deve se imaginar capturando a consciência da pessoa morta
naquela imagem nove vezes, e imaginar-se colocando-a dentro de um casulo de luz.
Então deve dizer: "Ó amigo, ouça sem distração! Você certamente já morreu, portanto
reconheça isso!

“No processo de transição do vir a ser você é capaz de se deslocar instantaneamente para
qualquer lugar que imaginar. Surgirão aparências delusórias aterrorizantes e
inconcebíveis, e isso é chamado de processo de transição cármico do vir a ser. Você
chegou à fronteira entre samsara e nirvana, portanto abandone as ilusões e gere uma
repulsa pelo samsara, que tem a natureza do sofrimento sem sequer um momento de
verdadeira felicidade. Esses mundos dos seis tipos de existência de devas, humanos e
assim por diante são aparências delusórias, como ilusões e cenários de sonhos, portanto,
corte o desejo e o apego com vigor. Um mundo situado a leste daqui, chamado de
Abhirati é um campo búdico adornado com alegrias incomensuráveis e excelentes
qualidades. Lá, o Bhagavān Vajrasattva revela o Darma e leva bênçãos a uma assembleia
incontável de bodisatvas. Traga isso à mente!

“Você não possui mais nenhum agregado de carne e sangue, por isso deixe o seu corpo
mental de forma vazia e siga para esse campo búdico, como se fosse uma flecha atirada
por um poderoso arqueiro."
Pronunciando 'PHAṬ' essa pessoa deveria imaginar que o morto segue para lá como uma
estrela cadente. Pronunciando novamente 'PHAṬ' deveria imaginar a pessoa morta
chegando ao campo búdico. Pronunciando 'PHAṬ' pela terceira vez deveria imaginar que

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a pessoa reconhece as aparências do campo búdico, alcança a confiança, atinge a


perfeição desse poder e a estabilidade.
Em seguida, guiando a pessoa morta como anteriormente, deveria dizer: ”Na direção sul
está o campo búdico de Śrīmat, que é dotado de sublimes alegrias e excelentes
qualidades. Lá, o Bhagavān Ratnasambhava revela o Darma e leva bênçãos a uma
assembleia incontável de bodisatvas ... " e assim por diante. E então deve dizer:
"Incontáveis milhas a oeste daqui está o campo búdico de incomensurável bem-
aventurança de Sukhāvatī, no qual o Bhagavān Amitābha da luz infinita revela o Darma
..." e assim por diante. Em seguida deve dizer: "Em um mundo a incontáveis milhas na
direção norte está o campo búdico de Karmaprapūraṇa, repleto de exibições de kāyas e
dos aspectos da consciência primordial. Lá, o Bhagavān Amoghasiddhi revela o
Darma...”, e assim por diante.

Se a pessoa morta não tiver um pouco de familiaridade com os Estágios da Geração e da


Completitude, será muito difícil ajudá-la com essas introduções. Se estas palavras de
introdução forem ouvidas por alguém que tenha um pouco de familiaridade com os
Estágios da Geração e da Completitude, essa pessoa sentirá o grande alívio do destemor.

Se o guia tiver realizado a visão, quando a pessoa morta experienciar a dissolução na


realização negra8, o guia deveria imaginar a consciência da pessoa morta como uma
sílaba A branca, radiante, clara e imaculada e deveria chamar por três vezes o nome da
pessoa morta e dizer três vezes: "Ó amigo, imagine sua consciência como uma imaculada
sílaba branca A. Ó amigo, a abertura de Brahmā no topo de sua cabeça, que é como uma
passagem, é o caminho para ascender em direção à expansão. Atravesse por ali como
uma estrela cadente!”

O guia deveria unir sua consciência de forma não dual com a consciência da outra pessoa
e permanecer em equilíbrio meditativo por alguns momentos. Então, deveria imaginar a
consciência da pessoa morta emergindo da abertura de Brahmā como uma estrela
cadente, e em seguida, dissolvendo-se no reino de Akaniṣṭha. Depois de recitar cinco
vezes a sílaba 'A', o guia deveria imaginar consciência da pessoa morta ascendendo,
enquanto pronuncia três vezes 'PHAṬ'. Se o guia estiver imbuído com as glórias da
consciência primordial e das qualidades iluminadas, o sinal de sucesso será um vapor se
elevando da abertura de Brahmā da outra pessoa.

Se isso não acontecer, o guia deveria imaginar luzes e raios de luz incomensuráveis
emanando de seu coração, e todas as maṇḍalas das três corporificações dos budas
derretendo completamente e convergindo em massas de luz de cinco cores. No espaço,
um cúbito acima da coroa da cabeça da pessoa que morreu, deveria visualizar o Buda
Amitābha, juntamente com uma assembleia de bodisatvas. No coração do Tathāgata
deveria imaginar um assento de lótus e disco de lua sobre o qual está sentado o
dharmakāya Samantabhadra, com um palmo de altura, nu e desprovido de roupas ou
ornamentos. No coração dele o guia deveria visualizar uma sílaba A branca, radiante
como a lua.

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De seus corpos, massas de luz de cinco cores são emanadas como nuvens ondulantes e
entram no corpo, na fala e na mente da pessoa morta. Todos os seus estados mentais e
aparências se dissolvem em luz, e seu corpo se torna um receptáculo vazio luminoso. Em
seu centro as massas de luz convergem e abençoam o princípio de vida, cognição e mente
da pessoa morta, semelhante à colocação de um pilar em uma morada vazia de luz. Este
tubo de luz se estende para cima e alcança a sílaba A no coração de Samantabhadra, e se
estende para baixo até alcançar o coração da pessoa morta, onde para. Dentro dele, vinte
e uma sílabas A brancas estão empilhadas, do coração até o topo da cabeça. Imagine-as
como tendo a natureza essencial do princípio da vida, cognição e mente da pessoa morta.

Pronunciando 'A PHAṬ' vinte e uma vezes, você deve imaginar cada uma das sílabas A
gradualmente se fundindo com a sílaba acima, então imagine a última sílaba se
dissolvendo na sílaba A no coração de Samantabhadra, como uma estrela cadente.
Pronunciando ‘PHAṬ’ uma vez, imagine o surgimento do campo búdico de Sukhāvatī,
exatamente como ele é. Pronunciando uma segunda vez, imagine a pessoa morta
reconhecendo esse campo búdico. E pronunciando pela terceira vez, imagine que ela
atinge a perfeição do poder da consciência prístina e alcança a estabilidade. Esta prática
de trazer o campo búdico à mente e sustentá-lo pelo tempo que for possível é profunda e
potente quando aplicada a todos os tipos de pessoas, de faculdades superiores ou
inferiores.

Se o guia não conhecer a essência do Estágio da Geração e não tiver familiaridade com
ele, tudo o que fizer não terá mais poder para beneficiar ou proteger do que simplesmente
oferecer orações comuns de súplica. Portanto, o guia da pessoa morta deveria ter
confiança na visão e meditação, e deveria treinar na essência do Estágio da Geração e da
Transferência para trazer benefícios aos outros. Se não alcançar sucesso nessa prática, ele
não será um guia melhor para os mortos que caçadores e bandidos. Por enganar os outros
ele cairá numa armadilha, como aranhas que ficam presas em suas próprias teias. Ele
pagará o preço de experienciar o sofrimento dos estados miseráveis da existência;
portanto, isto deveria ser reconhecido.

7.7. Razões pelas quais este Tantra foi revelado

Este tantra essencial e fundamental, que é uma fonte de tesouros do espaço do


sugatagarbha, com a revelação de inúmeras entradas para a consciência primordial
originalmente pura do kāya vaso jovem, proporciona acesso aos métodos de liberação
natural no estado da realidade absoluta. As razões pelas quais este tantra foi revelado por
mim mesmo - a base original, o Mestre Vajra Nascido no Lago - à assembleia emanada
de discípulos, que não são separados de mim, são as seguintes.

Nos tempos antigos, os ensinamentos da Grande Perfeição brilhavam como o sol. Quando
os mestres supremos e sublimes os explicavam para pessoas com bom carma e boa
fortuna, elas primeiramente alcançavam a certeza por meio da visão. Em seguida,
identificavam a consciência prístina e dissipavam suas falhas por meio da meditação. E,
finalmente, pela prática, mantendo-se sem atividades, todas se tornavam siddhas e

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experimentavam o estado da iluminação onisciente. Esta é a qualidade insuperável do


profundo caminho de A Essência Vajra.

Hoje em dia, no entanto, as pessoas podem meditar sem ter qualquer experiência ou
familiaridade com a visão; mas apenas identificando a luminosidade natural da
consciência elas não irão além do comum, e nunca alcançarão a fruição da iluminação
onisciente. Alguns professores são especialistas em explicações orais, mas não são
capazes de revelar o caminho da liberação; por isso, é impossível para eles trazer muitos
benefícios para as mentes dos outros.
Deste modo, os professores capazes de explicar estes ensinamentos estão gradualmente se
tornando cada vez mais raros e não há ninguém que esteja praticando. Como resultado, os
ensinamentos da Grande Perfeição estão sendo perdidos ao ponto de se tornarem
semelhantes ao desenho de uma lamparina de manteiga. Este tantra foi revelado devido
às circunstâncias dependentemente originadas, do mundo animado e inanimado, em
tempos como este.

Como o sol que aparece brevemente por uma fresta entre as nuvens, este ensinamento
não permanecerá por muito tempo. E por quê? Porque não existem mestres que saibam
como explicá-lo e há poucas pessoas que têm o carma, a boa fortuna e que fizeram preces
para recebê-lo. Assim, da mesma forma que emergiu do espaço absoluto, ele se recolherá
de volta nele."
Ao ouvir estas palavras, toda a assembleia de discípulos, incluindo Vajra da Consciência
Prístina, se alegrou e louvou o ensinamento. Imediatamente, o Mestre Vajra Nascido no
Lago se dissolveu em uma massa de luz e os discípulos também desapareceram nessa luz.
Em seguida a luz se ampliou, permeando todos os fenômenos, que a seguir se
dissolveram em luz; então, a luz se fundiu com o espaço que se expandiu tudo permeando
de forma ilimitada. Em seguida, do espaço vazio e não objetivo da consciência, surgiram
estas palavras: "Todos vocês que meditam sobre a Essência Vajra da clara luz, ouçam!
Este é o caminho para atingir a iluminação como a exibição da pureza e igualdade da não
dualidade de libertar-se por meio da realização, e de liberar os outros por meio da
compaixão".

1
As cinco degenerescências incluem as degenerescências da expectativa de vida, das
aflições mentais, dos seres sencientes, dos tempos e das visões.

3
Nesta prática você coloca o punho em sua testa, e se puder ver através dele, sem
intervalo entre os lados esquerdo e direito de seu campo de visão, então "a forma de
seu espaço de vitalidade" desapareceu.

4
Tib. snying la gser thur ‘dren pa. Isto se refere à antiga prática médica tibetana de
inserir um tubo de ouro no coração para remover o excesso de fluido.

5
Isto se refere ao seu próprio corpo, que é onde se localizam os três vajras de corpo,
fala e mente.

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6
Neste contexto, o trono vajra se refere ao estado búdico ou a qualquer um dos campos
búdicos, aos quais os seres neste processo de transição do vir a ser não têm acesso.
Além disso, até que o processo de transição se encerre, esse ser não poderá seguir para
o ventre de sua futura mãe.

7
As três contaminações do céu são névoa, fumaça e poeira.

8
Esta fase ocorre após as visões de um brilho branco e então de um brilho vermelho,
quando alguém perde temporariamente a consciência.

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