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Adalzilio Machado

Neto

GEOGRAFIA Adler Guilherme


Viadana

AGRÁRIA Antônio de Oliveira


Lima

Enéas Rente
Assentamento de Ferreira
trabalhadores rurais dos Fadel David

Cocais - Município de Casa Antonio Filho

João Cleps Junior


Branca-estado de São Paulo
Mari Urbani

Samira Peduti Kahil


(in memoriam)

Sandra de Castro
Autores: Pereira

Fadel David Antonio Filho Sílvio Carlos Bray

Adler Guilherme Viadana


Enéas Rente Ferreira

2013
AUTORES/ ORGANIZADORES:

Fadel David Antonio Filho

Adler Guilherme Viadana

Enéas Rente Ferreira

COLABORADORES:

Adalzilio Machado Neto


Adler Guilherme Viadana
Antonio de Oliveira Lima
Fadel David Antonio Filho
João Cleps Junior
Mari Urbani
Samira Peduti Kahil (in memoriam)
Sandra de Castro Pereira
Sílvio Carlos Bray

2013
SUMÁRIO

Apresentação.............................................................................................. 1

A Experiência do 1º Ano no Assentamento Rural dos Cocais –


Município de Casa Branca, SP .................................................................. 4
João Cleps Junior ; Samira Peduti Kahil (in memoriam) ; Sílvio Carlos Bray.

Os projetos de assentamentos de trabalhadores rurais no


Estado de São Paulo .................................................................................. 10
Enéas Rente Ferreira ; João Cleps Junior ;Sílvio Carlos Bray.

Qualidade (d) e Vida no Assentamento do “Cocais” –


Casa Branca (SP). ...................................................................................... 18
Mari Urbani ; Enéas Rente Ferreira.

Os 10 anos de atividades do Assentamento Rural dos “Cocais”


no município de Casa Branca – SP .......................................................... 39
Enéas Rente Ferreira e Silvio Carlos Bray

13 anos de Assentamento dos Cocais: Município de


Casa Branca (SP) ....................................................................................... 52
Enéas Rente Ferreira ; Adalzilio Machado Neto ; Antônio de Oliveira Lima ;
Sandra de Castro Pereira.

O desempenho do geógrafo na elaboração de laudos periciais


ambientais: o exemplo da instalação de um presídio em
Casa Branca, SP. ........................................................................................ 56
Fadel David Antonio Filho ; Adler Guilherme Viadana.

Assentamento dos Cocais: 28 anos ......................................................... 70


Adler Guilherme Viadana ; Fadel David Antonio Filho ;
Enéas Rente Ferreira.

Anexos ........................................................................................................ 86
1

APRESENTAÇÃO

Trabalhava no Câmpus da UNESP em Presidente Prudente durante o ano de


1986, quando fui envolvido na proposta de estudos pela universidade no intuito de
avaliar cientificamente os assentamentos rurais do estado de São Paulo. Foi um
projeto amplo, a reunir aproximadamente 100 pesquisadores, com o empenho de
professores, alunos da graduação e da pós-graduação. Os Câmpus da UNESP
envolvidos nesta tarefa foram os de Araraquara, Botucatu, Jaboticabal, Ilha Solteira,
Marília, Rio Claro e Presidente Prudente.

O estudo denominado “Análise e Avaliação dos Projetos de Reforma Agrária


e Assentamento no Estado de São Paulo”, foi coordenado pelas
professoras doutoras Vera Lucia Silveira Botta Ferrante e Sonia Maria P.
Bergamasso a envolver pesquisadores na qualidade de professores e alunos
bolsistas numa experiência multidisciplinar fundamental para esta trajetória. Como
fruto deste projeto, cita-se o 1º Censo de Assentamentos Rurais do Estado de São
Paulo, o início da Coleção Retratos de Assentamentos e um riquíssimo processo de
formação de jovens pesquisadores.

Após a distribuição dos assentamentos rurais para os citados Câmpus da


UNESP, cada uma destas unidades acadêmicas, ficaria responsável pelos
assentamentos geograficamente mais próximos de si, visto que a Universidade
Estadual Paulista está presente em todos os quadrantes do território bandeirante. O
Câmpus de Rio Claro, por exemplo, assumiu os assentamentos Araras I e II, Sumaré
I e II e o Cocais em Casa Branca.

No decorrer do processo fui transferido da UNESP de Presidente Prudente


para a de Rio Claro. Como conhecia todo o processo da investigação em questão,
acabei fazendo parte da equipe de Rio Claro. Tive como desempenho na pesquisa
que estava sendo levada à efeito, singular participação na aplicação de um extenso
questionário nos assentamentos de Casa Branca e Sumaré.
2

Em 1986 surgiu a primeira publicação sobre o Assentamento de Casa Branca,


produzida por João Cleps Junior, Samira Peduti Kahil e Silvio Carlos Bray, este
último atuando como coordenador do grupo de Rio Claro.

Daí tivemos a ideia de ir acompanhando o assentamento da mesma maneira


que um médico acompanha o seu enfermo durante o transcorrer de sua vida.

Dois anos após foi produzido o segundo artigo com publicação e


apresentação no IIº EGAL- Montevideo/Uruguai - no qual houve uma sessão de
debates entre os professores de Rio Claro e os de Presidente Prudente, discutindo
sobre o projeto de assentamentos rurais da UNESP no estado de São Paulo.
Participei como um dos colaboradores na autoria deste artigo científico e por
questões particulares a pesquisadora Samira Peduti Kahil se retirou do grupo de
pesquisa.

No ano seguinte, com bolsa do CNPq a aluna Mari Urbani elaborou o trabalho
“Qualidade (d) e Vida no Assentamento dos Cocais - Casa Branca - SP”. Para o
mesmo, ela utilizou os dados levantados dos questionários aplicados nos
assentados, com a finalidade de se obter informações sobre: localidade de origem,
detalhamento dos membros das famílias, modos de produção, etc.

Ao completar a primeira década, juntamente com o professor Silvio Bray,


escrevemos o artigo "Os 10 anos de atividades do assentamento rural dos "Cocais"
no município de Casa Branca-SP". Trabalho apresentado no XII Encontro Nacional
de Geografia Agrária [Rio Claro/Águas de São Pedro] publicado pelo Boletim de
Geografia Teorética.

Pouco tempo depois dos 13 anos da implantação do referido assentamento


rural, juntamente com 3 bolsistas PAE da UNESP visitamos o local. Os dados
observados foram apresentados num encontro de estudos agrários, promovido pela
UNESP de Presidente Prudente (1.998) pelo professor doutor Bernardo Mançano.
Detalhe relevante nesta jornada acadêmica foi que a bolsista Sandra de Castro
Pereira, cursando o segundo ano noturno de Geografia defendeu brilhantemente o
artigo em meio aos doutores da Geografia Agrária Brasileira.
3

No ano de 1999 os professores doutores Adler Guilherme Viadana e Fadel


David Antonio Filho foram convocados pela então Polícia Florestal e de Mananciais
da PMSP para a elaboração de um Laudo Pericial Ambiental sobre a edificação de
um presídio a montante do Assentamento dos Cocais em Casa Branca. Entre as
principais opiniões técnicas dos peritos foi sugerida a construção de lagoas de
decantação que receberiam os dejetos de 2500 pessoas pertencentes aos detentos
e funcionários. Após os estudos realizados, concluíram que o presídio não deveria
ser construído no local. Fato que infelizmente aconteceu.

Em 2013, quando o assentamento completou 28 anos, realizei com os


professores doutores Adler Guilherme Viadana e Fadel David Antonio Filho uma
nova visita ao local e constatamos que o principal problema dos assentados
está na dificuldade da obtenção de água potável para consumo e suspeita de
possível contaminação dos poços artesianos e “olhos de água” existentes no lugar.
Organizamos então uma documentação fotográfica para ilustrar os fatos
constatados e apresentada no último capítulo deste livro.

Agradeço a estagiária do Departamento de Geografia Jessica Corgosinho


Marcucci pela contribuição na edição do presente livro.

Procurei manter neste livro, os artigos em sua forma mais próxima possível do
original. Creio que o mesmo, apresenta-se diferenciado em sua elaboração,
contribuindo para os estudos da Geografia Agrária. Faz-se desejo que tenham uma
boa leitura.

Enéas Rente Ferreira.


4

Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Geociências

7º Encontro Nacional de Geografia Agrária

Conferencias e Comunicações – Volume II

Belo Horizonte - 1986 (p.33-37).

A Experiência do 1º ano no Assentamento Rural dos


Cocais – Município de Casa Branca, SP.
João Cleps Junior 1

2
Samira Peduti Kahil (in memoriam)

Sílvio Carlos Bray 3

INTRODUÇÃO

Há que se reconhecer por certo, o recuo pelo Mirad-Incra 4 no objetivo central


da então apresentada proposta para a realização do Plano Nacional de Reforma
Agrária. Evidentemente que se reconheça também, que a questão da Reforma
Agrária hoje, no Brasil, está sendo um problema de interesses antagônicos. Todavia,
torna-se fundamental no presente momento concentrar esforços para poder corrigir
as distorções quem venham apresentar qualquer projeto de assentamento de
trabalhadores rurais, e garantir esse movimento de luta por condições mais dignas
desta população de camponeses ou de trabalhadores assalariados que possuem
uma ideologia camponesa.

Mal ainda iniciado o processo pelos órgãos federais, cabe ainda mostrar
como a questão fundiária vem sendo proposta pelos governos estaduais. O estudo

1
Pós-graduando, IGCE – UNESP – Rio Claro.
2
Departamento de Planejamento Regional, IGCE – UNESP – Rio Claro.
3
Departamento de Planejamento Regional, IGCE – UNESP – Rio Claro.
4
(Ministério Extraordinário para o Desenvolvimento e a Reforma Agrária - Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária)
5

do Projeto de Assentamento ‘’Cocais’’ no município de Casa Branca vem


caracterizar essa política ao nível de Estado de São Paulo.

As ações do Governo do Estado de São Paulo têm sido diferenciadas


segundo três grandes situações dominiais, em relação às quais tem intervindo: as
terras públicas estaduais; as terras de domínio indefinido e as terras de particulares.

O caso do projeto ‘’Cocais’’ insere-se no exemplo de assentamento de


trabalhadores rurais em terras públicas estaduais que procura envolver a
participação dos beneficiários em todas as fases do programa. De acordo com os
objetivos básicos do Plano de Aproveitamento de Terras Públicas, o processo de
transferência de terras públicas próprias do Governo do Estado ou das que são
entregues à sua responsabilidade pode ser feita em duas etapas: na primeira, com
duração máxima de 5 anos, as terras são cedidas, mediante pagamento de uma
anuidade, preferencialmente a grupos de trabalhadores rurais que se organizem,
voluntariamente, em algum tipo de associação (sociedade civil ou cooperativa) a fim
de lhes darem aproveitamento adequado com seu próprio trabalho; na segunda, as
terras serão transferidas aos beneficiários em caráter permanente, de acordo com a
modalidade que estes, livremente determinarem – sendo necessária a aprovação
legislativa no caso de alienação. Nesse tipo de projeto os assentados (através das
sociedades civis e cooperativas) celebrarão contratos de cessão de terras com
órgão de poder público encarregado de executar o processo de aproveitamento.
Nesse contrato, estipular-se-ão, de comum acordo, e após discussão com os
beneficiários, as condições básicas de exploração econômica do imóvel e a forma
de organização do trabalho no interior de cada grupo (parcelas individuais,
exploração conjunta, etc.); bem como a operação financeira da sociedade (compras,
vendas, contabilidade, remuneração do trabalho, etc.).

Estes são os mecanismos que ora regulam o Projeto de Assentamento


‘’COCAIS’’ no município de Casa Branca e outros P.A. como: da Fazenda Pirituba
(município de Itaberá), Araras, Sumaré e Jacilândia sob a responsabilidade da
Secretaria de Assunto Fundiários do Governo do Estado de São Paulo.
6

O ASSENTAMENTO RURAL DOS COCAIS

O Assentamento Rural dos Cocais localiza-se no município de Casa Branca –


SP, próximo à sede municipal, numa antiga área do Hospital de Hansenianos da
Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Com a desativação do referido
Hospital da fazenda Cocais, passou as terras agrícolas para a Secretaria da
Agricultura e Abastecimento do Estado, com o devido interesse da Prefeitura
Municipal de Casa Branca. A transferência da gleba para a Secretaria de Agricultura
e Abastecimento (SAA) teve a finalidade de servir ao Programa Fundiário do atual
Governo Paulista.

O total das terras dos Cocais é de 721 ha, sendo que 145 ha correspondem
ao Centro de Reabilitação (antigo Hospital de Hanseníase), 120 ha são área de
Reserva Florestal (cerrados), e os 455 ha restantes foram destinados para o
Assentamento, que teve início em setembro de 1985.

As famílias inscritas para o assentamento foram sorteadas, num total de 26,


onde o responsável tinha experiência anterior na agropecuária.

Das 26 famílias da gleba dos Cocais, entrevistamos 15, sendo que a maioria
dos assentados não são camponeses, mas possuem uma ideologia camponesa. A
maioria dos trabalhadores compõe-se de assalariados mensalistas – residentes e
não residentes nas propriedades da região – e o restante encontramos boias-frias,
tratoristas e também meeiro e antigo pequeno proprietário rural.

O critério de escolha dos trabalhadores baseou-se em: experiência na


lavoura, maior número de filhos e disponibilidade.

Dos 455 ha, 14 ha foram destinados à Agrovila, correspondendo a cada


parceleiro, 1 lote de 50m por 100m para a construção das residências e está sendo
dotado de energia elétrica e água. Além desse lote com características urbanas na
Agrovila, o parceleiro passou a ter a partir de setembro de 1986, o direito de uma
área em torno de 13 ha destinados ao cultivo.

Os atuais assentados querem a terra como patrimônio, isto é, como local de


morada e subsistência. Para a construção das casas na Agrovila, apenas a terça
7

parte dos assentados dispuseram de recursos próprios, na construção de suas


moradias, e os demais 2/3 encontravam-se totalmente descapitalizados.

Sendo a área dos Cocais anteriormente coberta por vegetação de cerrado e


reflorestada com eucaliptais, a madeira dos eucaliptais cortada redundou no
aproveitamento para o madeiramento de cobertura para todas as moradias
previstas.

O referido assentamento foi desenvolvido em bases empresariais modernas


com o apoio da Companhia Agrícola, Imobiliária e Colonizadora (CAIC) e o Instituto
de Assuntos Fundiários (IAF). Ambos os órgãos foram desligados no início de 1986
da Secretaria da Agricultura e Abastecimento e passaram a constituir a Secretaria
Extraordinária de Assuntos Fundiários do Governo do Estado de São Paulo.

A CAIC é responsável pelo serviço de infraestrutura do assentamento como:


limpeza (destocar com trator de esteira), demarcação e construção de curvas de
nível e demais técnicas de conservação do solo. Ao IAF, através de um Engenheiro
Agrônomo, acompanha o trabalho com orientação e assistência técnica aos
assentados.

Os financiamentos para a compra do primeiro trator (usado), plantadeira,


grade, carreta, animais de tração e demais instrumentos de trabalho e insumos
(adubo e fungicidas) foram conseguidos junto à Caixa Econômica Estadual, através
de empréstimos, onde cada assentado torna-se fiador do outro, fato que torna mais
difícil o Banco executar qualquer ação em caso de atraso no pagamento como
também se perde menos tempo na cidade. As sementes foram fornecidas pela SAA,
através da Casa da Agricultura do Município.

Durante o ano agrícola 85/86, foi adotado o sistema coletivo de produção de


terras, que redundou na produção de arroz e milho em maior escala e feijão para o
consumo. O despreparo dos assentados quanto ao trabalho coletivo, aliado ao
projeto inicial de cada um ter a sua terra para cultivar, levou a maioria, a não aceitar
o trabalho em forma de produção coletiva, e tivemos as seguintes opiniões: ‘’cada
pessoa quer desenvolver atividades diferentes do trabalho coletivo’’; ‘’não funciona
porque não existe responsabilidade de todos – uns trabalham e outros não; seria
bom se todos passassem da mesma forma’’; ‘’existem os chupins’’; ‘’uns trabalham
8

com a família e outros não participam como deviam’’; ‘’ a organização coletiva só


funciona para a compra de máquinas e insumos, pois, 26 famílias juntas compram o
que uma não pode comprar’’; ‘’na busca de financiamentos é melhor em grupo do
que só’’; ‘’vale o trabalho coletivo pela amizade e união’’; ‘’acho melhor a gleba
particular, onde cada família vai tocar do jeito que quiser e arrumar uma forma de se
ter dinheiro’’; ‘’vai ser melhor cada um ter sua terra’’.

Durante setembro de 1985 a setembro de 1986, não ocorreu uma política de


apoio à construção da casa própria no assentamento. Por outro lado, o referido
empréstimo para a lavoura não teve o mínimo de período de carência, que
permitisse que com a renda a venda dos produtos ocorresse melhoria das condições
de vida em relação ao início do assentamento. Nesse primeiro ano dos assentados o
dinheiro arrecadado da venda da colheita do arroz e milho (adquirida pelo Banco do
Brasil) serviu apenas para saldar os compromissos com o empréstimo levantado.
Como saldo receberam apenas cada família Cz$4.700,00 do Fundo Assistencial,
onde compraram animal para o trabalho e alguns restos de materiais para
construção para as suas casas na Agrovila.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Os assentados no primeiro ano de experiência no Projeto Cocais, veem a


terra como patrimônio e local de morada subsistência. Deseja o título de garantia de
posse da terra, como segurança de sobrevivência.

A política creditícia para o Associativismo também da Caixa Econômica


Estadual para pequenos agricultores, serviu de base para os Assentamentos no
Estado de São Paulo.

Por outro lado, como os trabalhadores sem terra e os trabalhadores


assalariados são na sua maioria totalmente descapitalizados, necessitam em
qualquer assentamento do país, de um período de carência para o pagamento das
dívidas contraídas – na esperança da melhoria das suas reais condições de vida –
de no mínimo 3 anos. Dentro desse enfoque colocamos o seguinte: Se o Estado
9

Nacional tem sido paternalista durante a implantação dos assentados desprovidos


de formas organizativas e dos instrumentos de produção?

O Proálcool instituiu um período de 6 anos para as agroindústrias; e na


década de 70, alguns laranjeiros paulista contraíram empréstimos com 10 anos de
carência.
10

II EGAL (Encontro de Geógrafos da América Latina)

Montevidéu – Uruguai, 1988, p. 67-78

Os projetos de assentamentos de trabalhadores rurais no


estado de São Paulo

Enéas Rente Ferreira 5

João Cleps Junior 6

Sílvio Carlos Bray 7

RESUMO

O presente trabalho procura analisar o processo recente de implantação dos


projetos de assentamentos de trabalhadores rurais no Estado São Paulo, dando
especial atenção ao exemplo do projeto Cocais, munícipio de Casa Branca (SP).

Considerando o aspecto de a organização da produção agrícola observa-se a


coexistência do trabalho comunitário e familiar, onde tem se verificado que, o
primeiro tem permitido um avanço socioeconômico e político dos assentadores
envolvidos no projeto.

A experiência em assentamentos e reforma agrária em São Paulo, teve início


no Governo Carvalho Pinto (1959/1962) através da Lei de Revisão Agrária.

Esse tímido início de acesso a terra pelos trabalhadores rurais de então, foi
extinto ao decorrer dos governos que os sucederam com a ditadura militar.

Somente a partir do processo de abertura democrática, conquistado com as


eleições diretas para governador do estado, aliado a mobilização do movimento

5
Departamento de Geografia – UNESP/ Rio Claro / Brasil
6
Pós-Graduando – IGCE – UNESP / Rio Claro / Brasil
7
Departamento de Planejamento – UNESP/ Rio Claro / Brasil
11

estadual passou a acatar ainda que gradualmente, as reinvindicações pela


população de áreas rurais ociosas.

O ano de 1983 veio marcar o reinício de uma série de focos e tensões sociais
no Estado de São Paulo, principalmente nas regiões do Vale do Ribeira e Pontal do
Paranapanema, áreas com graves distorções fundiárias e onde a questão da posse
da terra não estava judicialmente definida.

Em fase das mobilizações populares na luta pela pose da terra, levou o


governo de São Paulo em 1983, a criar a Coordenadoria Sócio-Econômica Da
Secretaria da Agricultura e Abastecimento, subdividida no Instituto de Assuntos
Fundiários (IAF) e Instituto de Cooperativismo e Associativismo, realizando o
inventário dos bens imóveis rurais do Estado.

A partir deste ano foram implantados sob a responsabilidade dos órgãos


competentes os Projetos da Reforma Agrária e Assentamentos em São Paulo.
(Conforme Figura 01).

Em 1985, o governo implantou as leis 4925 e 4957 sobre os assentamentos,


tratando sobre os planos públicos de revalorização e aproveitamento de recursos
fundiários do Estado e sobre a alienação de terras públicas aos trabalhadores rurais
que as ocupem e as explorem.

As ações do Governo do Estado de São Paulo têm sido diferente segundo


três grandes situações dominiais em relação as quais tem intervido: as terras
públicas estaduais, as terras de domínio ainda indefinido e as terras particulares.

O caso do Projeto Cocais insere-se no exemplo de assentamentos de


trabalhadores rurais em terras públicas estaduais que procure envolver a
participação dos beneficiários em todas as fases do programa. De acordo com os
objetivos básicos do Plano de Aproveitamento de Terras Públicas, o processo de
transferência de terras públicas próprias do Governo do Estado ou das que são
entregues a sua responsabilidade pode ser feita em duas etapas: na primeira, com
duração máxima de 5 anos, as terras são cedidas, mediante o pagamento de uma
anuidade, preferencialmente a grupos de trabalhadores rurais que se organizam,
voluntariamente, em alguns tipos de associação (sociedade civil ou cooperativa) a
fim de lhe darem aproveitamento adequado com seu próprio trabalho; na segunda,
12

as terras serão transferidas aos beneficiários em caráter permanente, do acordo


com a modalidade que antes, livremente determinarem - sendo necessária a
aprovação legislativa no caso de alienação. Neste tipo de projeto, os assentados
(através da sociedades civis e cooperativas) celebrarão contrato de cessão de terras
com o órgão de poder público encarregado de executar o processo de
aproveitamento. Nesse contrato, estipular-se-ão, de comum acordo, e após
discussão com os beneficiários, as condições básicas de exploração econômica do
imóvel e a forma de organização do trabalho no interior de cada grupo (parcelas
individuais, exploração conjunta, etc.), bem como a operação financeira da
sociedade (compras, vendas, contabilidade, remuneração do trabalho, etc.).

Estes são os mecanismos que ora regulam o Projeto de Assentamento


Cocais no município de Casa Branca e nos demais.

Os projetos que se apresentam com ação do Governo de São Paulo (Figura


1), apenas os assentamentos de Araras e Casa Branca, contam com um plano
prévio.

É neste contexto que o Projeto Cocais de Casa Branca se insere, como um


bom exemplo da Política de Assentamentos de São Paulo.

CARACTERIZAÇÃO GERAL

O assentamento de trabalhadores rurais do Cocais, localiza-se no município


de Casa branca, próximo á sede municipal, numa antiga área do Hospital de
Hansenianos da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Com a desativação
do referido hospital, essa área da Fazenda Cocais foi incorporada pela Secretaria de
Agricultura e Abastecimento em 1985, com o objetivo de servir ao Programa de
Assentamentos e reforma Agrária do governo paulista em convênio com a Prefeitura
Municipal de Casa Branca.
13

Figura 01.
14

A área total da fazenda Cocais era de 720 ha, sendo que 145 ha corresponde
às instalações do antigo hospital – hoje Centro de Reabilitação Mental -, 120 ha
foram destinados para a reserva florestal de cerrados do município, e o restante num
total de 455 ha, foram destinados ao Projeto de Assentamento dos Trabalhadores
Rurais.

A origem desse projeto difere da maioria dos projetos de assentamentos


implementados no Estado de São Paulo, pois envolveu a participação da Prefeitura
Municipal e Secretaria de Agricultura (figura 01), através do IAF (Instituto de
Assuntos Fundiários).

Esses órgãos tiveram a iniciativa e o controle de todas as fases de


organização e planejamento do assentamento, como: a infraestrutura, a seleção e
instalação das famílias na gleba.

O processo de seleção das famílias inseridas teve como responsáveis:

I- Um representante do Instituto de Assuntos fundiários, que era o Presidente;

II- Um representante da Prefeitura Municipal;

III- Um representante da Câmara Municipal;

IV- Um Engenheiro Agrônomo, designado pela Divisão Regional Agrícola da


Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento;

V- Um representante da categoria dos trabalhadores rurais indicado pela


FETAESP (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de
São Paulo) ou Sindicato dos Trabalhadores Rurais;

VI- Dois representantes da sociedade civil, escolhidos pelos anteriores.

A seleção baseou-se principalmente na experiência dos envolvidos no


trabalho agrícola, na maior quantidade de filhos e residência e vivencia na região.
Inicialmente o assentamento passou a contar com a participação de 26 famílias e
hoje com 23.
15

A maioria dos assentados é composta de antigos trabalhadores assalariados,


tanto permanentes como temporários (de tratoristas a boias-frias); além de antigos
parceiros e pequenos proprietários rurais.

INFRAESTRUTURA DO PROJETO

A infraestrutura foi implantada com apoio da Companhia Agrícola Imobiliária e


Colonizadora (CAIC) do Estado através da limpeza e destoca do terreno,
demarcação e construção de curvas de nível e demais técnicas de conservação dos
solos. Por outro, o trabalho de orientação técnica aos assentados coube ao Instituto
de Assuntos Fundiários (IAF) que destinou um agrônomo responsável pela
coordenação do projeto.

Da área total do projeto 14 ha foram destinados a agrovila, correspondendo a


casa parceleiro 1(um) lote de 50x100 m para a construção da residência, onde
posteriormente foi dotado de água e energia elétrica.

Sendo a água da fazenda Cocais coberta por vegetação desta última foi
aproveitada para madeiramento de cobertura das moradias e demais construções
previstas na agrovila.

ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO.

Os trabalhadores trouxeram experiências diversificadas para o assentamento.

No primeiro no agrícola (safra 85/86), adotou-se o sistema coletivo de


exploração das terras. Entretanto, o despreparo dos assentados quanto à produção
coletiva, aliado a ideia de exploração familiar da terra, acabou prevalecendo à
segunda.

Então, adotou já no segundo ano agrícola a forma de exploração familiar da


terra. O assentamento passou a partir da safra 86/87, a ter além de um lote na
agrovila, o direito de uma área em torno de 12 ha. Cabe ressaltar que o lote da
16

agrovila de 5000 m² possui um caráter complementar de subsidência das famílias,


como criação de animais e aves, hortas e pomares.

A partir da safra 86/87 a exploração dos lotes foi realizada com tarefas
coletivas e familiares. As tarefas coletivas passaram a ser o preparo do solo, plantio,
colheita, armazenamento e comercialização. As tarefas familiares consistiram na
escolha dos tipos de culturas, nos tratos culturais e financeiros.

Na primeira safra 85/86, de produção coletiva, a cultura predominante foi a do


arroz, com uma área plantada de 312 ha.

Na segunda safra 86/87, de produção familiar tivemos 192 ha de arroz, 92 ha


de milho e 48 ha de feijão.

Na terceira safra 87/88, as principais culturas foram de 96 ha de feijão, 96 ha


de soja, 72 ha de arroz e 72 ha de milho.

No primeiro ano agrícola do assentamento (85/86)- em virtude da organização


coletiva, foi possível que os assentados obtivessem junto á Caixa Econômica do
Estado de São Paulo, os financiamentos necessários para a aquisição de 1(um)
trator e implementos/insumos agrícolas.

A partir de 1986 com o parcelamento da gleba e a urgência de novos


financiamentos houve a necessidade da criação de uma associação entre os
assentados, da elaboração de um Estatuto e Regimento Interno.

OS AVANÇOS OBTIDOS PELOS ASSENTADOS DE CASA BRANCA

Considerando a forma de organização da produção, coexiste a exploração do


trabalho comunitário e do trabalho familiar.

Quanto à forma de exploração comunitária, o avanço é explicado pela


organização dos envolvidos através da criação da Assembleia dos Assentados.
Essa associação teve papel importante para a aquisição de maquinários agrícolas,
insumos, construção de escolas – até o 4º ano do primeiro grau-, construção de
depósito para armazenagem da produção, construção do barracão para máquinas e
17

implementos, eletrificação e água para as residências da agrovila e até um telefone


para o uso das famílias dos assentados.

Na safra de 87/88, após quatro anos no assentamento, todas as 23 famílias


construíram suas residências de alvenaria. Também por meio de um balanço da
evolução da tecnologia utilizada, apresenta um resultado econômico bastante
satisfatório dos trabalhadores assentados. Atualmente possuem 3 tratores, uma
carreta para transporte, 32 carroças, além de um conjunto de equipamentos para
arado, grades, etc. Encontramos duas família que já implementaram o sistema de
irrigação abrangendo uma área de 24 ha.

Através do planejamento prévio do projeto, a sua forma de organização


associativa, o número famílias envolvidas, a assistência intensiva de 1 (um)
agrônomo e um técnico do IAF (desde a implementação do assentamento), vem
garantindo uma receita para os investimentos e capitalização, gerando melhores
condições de vida para as famílias do Projeto Cocais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Análise e Avaliação dos Projetos de Reforma Agrária e Assentamento no Estado de
São Paulo. São Paulo - UNESP – 1987. (Projeto Inicial)

CLEPS Jr; KAHIL, S; BRAY, S. C. A experiência do primeiro ano no assentamento


rural dos Cocais – Município de Casa Branca (SP). 7º Encontro Nacional de
Geografia Agrária. II Anais – Belo Horizonte – UFMG – 1986 – 33-37.

FERRANTE, V. L. B. e SILVIA, M. A. M. – A política de assentamento; O jogo das


forças sociais no campo. V Conferência Científica de Ciências Sociais. Havana,
Cuba, fevereiro de 1987.

LEITE, S. P. A política de assentamento no Estado de São Paulo: 1983 – 1987.


PIPSA. Campinas. 1987.

PEREIRA, L. B. Os projetos de assentamento em São Paulo (um diagnóstico


preliminar). Reforma Agrária. Campinas – ABRA, 16 (2): 43/51 – 1986.
18

Bolsa de Iniciação Científica – CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico).

Qualidade (d) e Vida no Assentamento do “Cocais” – Casa


Branca (SP).

Mari Urbani 8

Enéas Rente Ferreira 9

INTRODUÇÃO

AS POLÍTICAS FUNDIÁRIAS DE REFORMA AGRÁRIA

Os fatores que intervém no sentido da colonização do Brasil, entre os


quais a grande escassez de mão -de-obra e grandes extensões de
terras disponíveis, definiram a sua estrutura fundiária altamente
concentrada onde grandes contingentes de população se acha
desprovida de terras, o que tem ocasionado muitos conflitos sociais
no campo. (Ferrari, Silveira e Libório, 1988).

Tentando minimizar estes conflitos, o governo federal tem, ao longo da


história, proposto vários planos de Reforma Agrária.

Foi no Governo de João Goulart no início da década de 60, que esses planos
de Reforma Agrária assumiram proporções maiores com a criação da
Superintendência de Reforma Agraria (SUPRA) em 1962.

Com o início da ditadura militar, há uma mudança na política referente à


Reforma Agrária. O estatuto da Terra foi aprovado, como forma encontrada de
arregimentar setores antes empenhados na efetivação de distribuir terras e dissolver
conflitos e tensões latentes em torno do assunto.

8
Discente / Estagiária de Graduação em Geografia – UNESP – Rio Claro (SP) / 1989.
9
Professor / Orientador - Departamento de Geografia – UNESP/ Rio Claro / Brasil.
19

No período pós-64, executou-se, durante o Governo Médici, e politica de


Colonização da Amazônia, que reconhecidamente foi um instrumento de repressão
aos movimentos sociais rurais e não obteve os resultados previstos em decorrência
da forma de operacionalização do Plano de Integração Nacional (PIN) e do Pro
Terra.

Em 1970, com a orientação do Instituto Nacional de Colonização e reforma


Agrária (INCRA), tentou-se desenvolver a “Metodologia para Programação
Operacional dos Projetos de Assentamento de Agricultores”. Ainda no decorrer da
década de 70 e início da década de 80, foram implantados outros projetos de
assentamentos/colonização pelo INCRA, mantendo o caráter conservador que
assumia este tipo de intervenção.

Somente a partir do processo de abertura democrática, aliado à mobilização


do movimento dos trabalhadores rurais sem terra, o governo estadual passou a
acatar ainda que gradualmente, as reinvindicações pela ocupação de áreas rurais
ociosas.

Atrelado a esta política agrária federal, sem o poder de desapropriação e


limitando-se ao aproveitamento de terras públicas, o Governo do Estado de São
Paulo deu início, em 1983, à implantação da sua política fundiária, baseada em duas
diretrizes básicas;

a) O programa de Assentamento de Trabalhadores Rurais;

b) O processo de regularização fundiária.

A experiência em assentamentos e reforma agrária em São Paulo, teve seu


início no Governo Pinto (1959/1962) através da Lei de Revisão Agrária.

Esses tímido início de acesso a terra pelos trabalhadores rurais de então, foi
extinto ao decorrer dos governos que sucederam com a ditadura militar.

O Estado de São Paulo dispõe de extensas áreas de terras –devolutas- de


boa qualidade e de clima favorável que são hoje utilizadas com pastagens ultra-
extensivas, incompatíveis com os benefícios trazidos por grandes investimentos
públicos que dera á agricultura do Estado uma das melhores infraestruturas
produtivas e um dos melhores sistemas de pesquisa e assistência técnica integral.
20

Ao mesmo tempo a irrigação de áreas férteis ás margens dos rios e barragens,


desde que acompanhada da redistribuição das terras por ela valorizadas, poderá
contribuir para um ponderável e rápido aumento da produção, do emprego, e de
todos os benefícios sociais dela decorrente.

“Sanados os problemas fundiários que atrofiam o desenvolvimento de


diversas regiões, o Estado de São Paulo poderá acelerar ainda mais o dinamismo e
a modernização de sua agricultura”. (PNRA/ 1986).

É importante salientar que existem ainda no Estado de São Paulo mais de


milhão de hectares de terras particulares agriculturáveis que não estão sendo
utilizadas com agricultura, pastagens, florestas. Por sua vez, o único levantamento
mais objetivo – a cobertura aerofotogramétrica do Estado – revela a existência de
4.8 milhões de ha de terra “sem ocupação agropecuária ou florestal definida”. A
parte desse total deve corresponder a terras potencialmente agriculturáveis supera,
1 milhão de ha e está mais concentrada na região Sudeste.

Não somente é no Sudeste que a cobertura


aerofotogramétrica indica a maior proporção de áreas sem ocupação
definida, como é fato largamente comprovado pela observação
empírica que ali existem as maiores extensões de áreas aptas à
agricultura, mas totalmente inaproveitadas. (PNRA/1986)

Verifica-se, portanto, que boa parte das terras aptas à agricultura do Estado
de São Paulo não está cumprindo a sua função social. Ao invés de buscar os
resultados do uso nacional da terra, muitos proprietários visam apenas, ou
principalmente a valorização fundiária que decorreu de grandes obras públicas ou do
influxo indireto de outras atividades da iniciativa privada. Mantendo terras inativas ou
mal aproveitadas, esses proprietários vedam o acesso dos trabalhadores rurais ao
meio de que necessitam para viver e produzir, dificultando o progresso do Estado da
nação.

O processo de Reforma Agrária será orientado de acordo com um conjunto de


Programas que assume função e graus hierárquicos diferentes, mas que
apresentam complementariedades, interdependência e que a priori, utilizará as
terras ociosas públicas do Estado.
21

O Programa Básico, que define e configura o processo de transformação das


relações de propriedades e melhoria de condições de acesso a terra, é o Programa
e Assentamento de Trabalhadores Rurais, a concepção do projeto técnico contará
em dois níveis e fases, com uma participação direta dos beneficiários, em particular
no que se refere às decisões sobre as formas processórias de uso da terra.

A partir de 1983 foram implantados sob a responsabilidade dos órgãos


competentes aos Projetos de Reforma e Assentamento em São Paulo.

Em 1985, o governo estabeleceu as leis 4925 e 4957 sobre os


assentamentos, tratados sobre os planos públicos de valorização e aproveitamento
de recursos fundiários do Estado e sobre a alienação de terras públicas aos
trabalhadores rurais que as ocupem e as explorem.

O presente estudo pretende avaliar o processo de assentamento, no que diz


respeito à melhoria das condições de vida das famílias beneficiadas, uma vez que, a
estratégia e as diretrizes do Programa de Assentamento de trabalhadores Rurais
propõem medidas que seguramente têm esse objetivo.

LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O assentamento Rural dos “Cocais” está localizada próximo à sede municipal,


numa antiga área do Hospital de Hansenianos da Secretaria da Saúde do Estado de
São Paulo. (FIGURA 1). Com a desativação do referido Hospital da Fazenda Cocais,
as terras agrícolas passaram para a secretaria da agricultura e abastecimento do
Estado com o devido interesse da prefeitura municipal de Casa Branca em
transforma-las em áreas de assentamento de trabalhadores rurais. A transferência
da gleba para a secretaria de agricultura e abastecimento (SAA) teve a finalidade de
servir ao Programa fundiário do atual governo paulista.

O projeto “Cocais” insere-se no exemplo de assentamento de trabalhadores


rurais em terras públicas estaduais, procurando envolver os beneficiários em todas
as fases do Programa. O processo de transferência de terras públicas próprias do
governo do Estado pode ser feita em duas etapas:
22

Figura 1. Org. URBANI E FERREIRA – 89.


23

- a primeira com duração máxima de cinco anos, as terras são cedidas


mediante pagamento de uma anuidade, preferencialmente a grupos de
trabalhadores rurais que se organizam, voluntariamente em algum tipo de
associação (sociedade civil ou cooperativa) a fim de lhes darem o aproveitamento
adequado com seu próprio trabalho;

- na segunda, as terras serão transferidas aos beneficiários em caráter


permanente de acordo com a modalidade que estes, livremente determinarem –
sendo necessária a aprovação legislativa no caso de alienação.

No contrato, estipular-se-ão, de comum acordo, e após discussão com os


beneficiários, as condições básicas de exploração econômica do imóvel e a forma
de organização do trabalho no interior de cada grupo; bem como a operação
financeira da sociedade (compras, vendas, contabilidade, remuneração do trabalho,
etc.)” (CLEPS, BRAY, KAHIL, 1987).

O total de terras dos “Cocais” é de 721 ha, sendo 455 ha destinados para o
assentamento, que teve início em setembro/85.

O critério de escolha dos trabalhadores baseou-se em experiência lavoura,


maior número de filhos e disponibilidade.

Dos 455 ha, 14 ha foram destinados à Agrovila, o assentamento passou a ter,


a cada parceiro, 1 lote de 50 m por 100 metros para a construção das residências e
foi dotado de energia elétrica e água. Além desse lote com características urbanas
na Agrovila, o Assentamento passou a ter, a partir de setembro de 1986, o direito de
uma área em torno de 13 ha destinado ao cultivo.

Os financiamentos para compra do primeiro trator (usado), plantadeira, grade,


carreta, animais de tração e demais instrumentos de trabalho e insumos (adubos e
fungicidas) foram conseguidos juntos a Caixa Econômica Estadual através de
empréstimos, onde casa assentado torna-se fiador do outro, fato que torna mais
difícil ao Banco executar qualquer ação em caso de atraso no pagamento, como
também se perde menos tempo na cidade.

No primeiro ano dos assentados o dinheiro arrecadado da colheita serviu


apenas para saldar os compromissos com empréstimo levantado.
24

O referido assentamento foi desenvolvido em bases empresariais modernas


com o apoio da Campanha Agrícola Imobiliária e Colonizadora (CAIC) e o Instituto
dos Assuntos Fundiários (IAF). Ambos os órgãos foram desligados no inicio de 1986
da Secretaria da Agricultura e Abastecimento e passaram a constituir a Secretaria
Extraordinária de Assuntos Fundiários do Governo do Estado de São Paulo (SAEF),
Universidades Estaduais, Casas de Agricultura e Bancos Estaduais.

METODOLOGIA E OBJETIVOS

Este trabalho faz parte de um projeto mais amplo, contando com 7 campus e
8 institutos da UNESP 10, em 27 núcleos com 30 assentamentos, distribuídos pelo
Estado de São Paulo. Sendo que este refere-se ao Assentamento dos “Cocais” –
Casa Branca (SP).

O instrumento usado para levantamento dos dados foi um formulário de


informações, contendo 203 questões de caráter variado, agrupados em 11 itens.

Para preencher os objetivos deste trabalho foram tomados os seguintes itens:

- A família no Assentamento;

- Condições de vida e habitação;

- Condições de saúde;

- Condições de educação;

- Projetos de vida.

Através das questões contidas nestes itens obteve-se os seguintes dados:

- de caráter individual: idade, sexo, grau de instrução e perfil migratório da


família;

- condições de vida no assentamento e

10
Araraquara, Jaboticabal, Marília, Presidente Prudente, Rio Claro, Ilha Solteira, Botucatu ( Institutos
de Medicina e Ciências Agrárias).
25

- perspectivas futuras da comunidade.

O trabalho de campo, que procedeu a aplicação das questões foi feito no


período de março-junho de 1989 e seus resultados serão analisados e discutidos a
seguir.

Este trabalho tem por objetivo fundamental contribuir para uma avaliação das
condições de vida no assentamento rural dos “Cocais” (SP), e através desta
avaliação constatar ou não validade do Programa de Assentamentos de
trabalhadores Rurais.

APRESENTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO ASSENTAMENTO

POPULAÇÃO
a) Idade e Sexo: A população deste estudo é constituída de 155 pessoas
residentes no assentamento “Cocais”, em Casa Branca (SP),
distribuídas em 22 famílias, com idades variando entre 77 anos e 1
mês (TABELA 1) e de ambos os sexos, sendo que do total, 68 são do
sexo feminino e 87 do sexo masculino.

TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO POR IDADE (N = 155)

0- 5- 10- 15- 20- 25- 30- 35- 40- 45- 50- 55- 60- 65- 70- 75- Total
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80

15 15 27 24 21 9 9 5 6 10 8 5 - - - 1 155

b) Perfil Migratório: Com o objetivo de caracterizar a população do


assentamento, o formulário levantou dados quanto ao perfil migratório
da população, segundo:

- local de origem: município onde residam;

- zona de moradia (rural ou urbana);

- setor de ocupação.

(TABELA 2)
26

Estes dados permitiram avaliar o fluxo migratório dos vários tipos humanos
assentados em Casa Branca (SP).

Os deslocamentos dessas pessoas ocorreram durante o período de 1931 a


1985, ano em que teve início o processo de assentamento.

Podemos observar que a grande maioria dos assentados são provenientes da


região de Casa Branca; salvo uma exceção, em que o assentado migrou de Bom
Conselho (PE). (FIGURA 2).

TABELA 2 – PERFIL MIGRATÓRIO

Rel. de Dir. Herd.


Nº Município Rural/Urbana Período Ocupação Culturas
Trab. Trab. Terras

1966-
01 C. Branca Rural Trab. Rural Assalariado Laranja Sim Sim
1989

Café,
1941- Laranja,
Mococa SP Rural Lavrador Não Não
1976 Milho e
Assalariado
Arroz.
02

1976-
C. Branca Rural Lavrador Assalariado Laranja Sim -
1989

Esp. Santo
Rural -1960 Retilheiro Assalariado - Não Não
do Pinhal

Arroz,
Vargem Gr. 1966-
Rural Agricultor Meeiro Feijão e Sim Não
03 Do Sul 1985
Milho

Arroz,
1985-
C. Branca Rural Agricultor Proprietário Feijão, - -
1989
Milho
27

Sta. Rita
Arroz,
Passa Rural - Lavrador Assalariado Sim Não
Feijão, Café
Quatro
04

Arroz,
C. Branca Rural - Lavrador Assalariado Sim Não
feijão, Café

1970-
05 C. Branca Rural Lavrador Assalariado Arroz, Cana Não Não
1989

1934-
S. José do 1946
Rural Lavrador Assalariado Café Não Não
R. Preto

06 1946-
Tambaú Rural Lavrador Meeiro Cereais Não Não
1962

1962-
C. Branca Rural Lavrador Assalariado Laranja Sim Não
1989

1930-
Tapiratiba Rural Lavrador Assalariado Café Não Não
1944

Aceburgo 1944-
07 Rural Lavrador Assalariado Café Não Não
MG 1950

1950-
C. Branca Rural Lavrador Assalariado Cereais Não Não
1989

Bom 1935-
Rural Lavrador Assalariado Cereais Não Não
Conselho-PE 1958

Pres. 1958-
Rural Lavrador Autônomo Cereais Não Não
Wenceslau 1966

08 Bandeirantes 1966-
Rural Lavrador Parceiro Cereais Não Não
– PR 1976

1976- Vendedor
Limeira Rural/Urbana Assalariado - Sim Não
1980 Metalurg.

C. Branca Rural 1980- Hortaliças Meeiro Verduras Não Não


28

1989

S. João da
Rural - Lavrador - Todo tipo - Não
B. Vista
09

C. Branca Rural - Lavrador - Todo tipo - Não

Cortador Cereais,
Até Legumes
10 C. Branca Rural Lenha e Assalariado Sim Não
1989
Lavrador Laranja

1951- Menor de
Aguaí Rural - - - Não
1965 Idade
11
1965-
C. Branca Rural Agricult. Assalariado Cereais Sim Não
1989

Sta. Rita de
Rural - Lavrador Assalariado Viticultura Não Não
Caldas

12 Viticultura,
Lavrador e
A p/ Assalariado
C. Branca Rural Administ. - Não
1962 e Parceiro Citric. e
Fazenda Café

Guaranésia- Menor de
Rural 1942 - - - Não
MG Idade
13

C. Branca Rural - - - - - Não

Até
14 C. Branca Rural Lavrador - Cereais - Sim
1989

Tapiratiba – 1939- Menor de


Rural - - - Não
SP 1951 Idade
15
1951- Assalariado
C. Branca Rural Lavrador Cereais Não Não
1989 Parceiro

S. Sebastião 1989- Trabalhava


Rural Assalariado Café Sim Não
da Gama 1953 em Colônia

16
Trabalhou na
1953-
C. Branca Rural/Urbana cidade e Assalariado Cereais Sim Não
1989
Lavrador
29

1966-
C. Branca Urbana Menor - - - Não
1978

Sta. Rita do 1978-


Rural Leiteiro Assalariado - Sim Não
Viterbo 1985

Ajudava os
17 R. Preto Rural 1985 - Cereais Não Não
pais

Porto
Urbana 1985 Cerâmica Assalariado - Sim Não
Ferreira

1985-
C. Branca Rural Assentado - - - Não
1989

Campestre – 1937-
Rural Menor - - - Não
MG 1944

1944-
Tambaú Rural Menor - - - Não
1953

C. Branca Rural 1953 Lavrador Assalariado Cereais Não Não

18 Sta. Cruz
Servente
das Urbana 1953 Assalariado - Sim Não
Pedreiro
Palmeiras

1953-
Araras Urbana Fábrica Assalariado - Sim Não
1957

1957-
C. Branca Rural Lavrador Assalariado Cereais Não Não
1989

Até
19 C. Branca Rural Lavrador Assalariado Cereais Não Sim
1989

Guaranésia 1939-
Rural Menor - - - Não
– MG 1948

1948-
20 Asseburgo Rural Lavrador Autônomo Cereais Não Não
1954

1954-
Guaranés Rural Lavrador Assalariado Cereais Não Não
1967
30

1967-
Asseburgo Rural Lavrador Assalariado Cereais Não Não
1968

1968-
C. Branca Rural Lavrador Assalariado Cereais Sim Não
1989

1929-
Tapiratiba Rural - - - - Não
1931

Pres. 1931-
Rural Estudante Colono - - Não
Prudente 1946

Hortelã
Pimenta
1946-
Nova Pátria Rural Lavrador Arrendatário Algodão Não Não
1947
Milho e
Arroz
21
1947-
Óleo – SP Rural Lavrador Colono Café Não Não
1954

Sta. Cruz do 1954- Fiscal na


Rural Assalariado - Não Não
Rio Pardo 1970 Fazenda

1970-
São Paulo Urbana Assalariado Assalariado - Sim Não
1980

Administrador
1980-
C. Branca Rural de Fazenda e Assalariado Cereais - Não
1989
Assentado

Poços de 1952-
Rural - - - - Não
Caldas – MG 1958

Águas da 1958- Gado e


Rural Assalariado Cereais Não Não
Prata- SP 1962 lavoura

22 Sta. Cruz 1962- Gado e


Rural Assalariado Cereais Não Não
das Palmeira 1966 lavoura

1966- Gado e
Itobi Rural Assalariado Cereais Não Não
1970 lavoura

Vargem Gr Rural 1970- Lavoura Parceiro Cebola Não Não


31

do Sul 1973

Café,
Águas da 1973-
Rural Lavoura Assalariado algodão e Sim Não
Prata 1974
soja

Vargem Gr 1974- Milho,


Urbana Lavoura Assalariado Sim Não
do Sul 1980 Batata

Soja,
1980-
C. Branca Urbana Lavoura Assalariado Palma, Sim Não
1982
Algodão

1982-
Itobi Rural Lavoura Parceiro Cebola Sim Não
1983

Vargem Gr 1983- Metalúrgica


Urbana Indústria Assalariado Sim Não
do Sul 1985 e Cerâmica

1985-
C. Branca Rural Lavoura Proprietário Cereais Sim Não
1989

Das 22 famílias entrevistadas, seis chegaram a se estabelecer em zona


urbana exercendo atividades ligadas aos setores secundário e terciário. Nota-se na
tabela 2 (Perfil Migratório) que a grande maioria sempre trabalhou no campo e que a
relação de trabalho mais comum era a assalariada e nem sempre o trabalhador tinha
seus direitos garantidos por lei (carteira de trabalho assinada).

As causas da migração foram sempre a busca de melhores condições de


trabalho e vida.

c) Situação Salarial: A situação salarial dos assentados é discutível


quando traduzida em números, pois quando inqueridos sobre este
assunto se mostram pouco à vontade. As respostas demonstram que:
dos que responderam a esta questão (60,0% dos entrevistados) a
maior parte, 54,2%, recebem de 1 a 3 salários mínimos, 5,8% recebem
1,5 salário e 1 salário.
32

Figura 02.
33

CONDIÇÕES DE VIDA NO ASSENTAMENTO

De acordo com o levantamento realizado, detectou-se que a maior parte das


famílias teve suas condições de vida modificadas para melhor após a vinda para o
assentamento. Os pontos mais lembrados pelos entrevistados como referencial
desta melhoria foram:

- alimentação

- moradia/Casa própria

- trabalho

- energia elétrica

- saúde e saneamento

- poder aquisitivo

Entretanto, os assentados ainda enfrentam várias dificuldades, quais sejam:


transporte, irrigação, falta de maquinário, dificuldades de financiamento, falta de
escola e de lazer; ainda foi citada a questão da legalização da posse da terra, cuja
preocupação, embora não muito comentada, foi percebida no decorrer das
conversas.

A) Saúde e Saneamento:

As respostas dadas às questões relativas às condições de saúde indicaram


que a grande maioria goza de boa saúde, isto pode ser constatado inclusive
através da observação dos indivíduos assentados, que demonstram estar
fisicamente bem.

Dentre as famílias entrevistadas 31,0% apresentaram doenças consideradas


simples como, por exemplo, gripe e 13,6% já apresentaram problemas de
intoxicação por agrotóxicos. Presume-se que tal problema ocorre devido à
desinformação quanto aos cuidados que devem ser tomados com a utilização de
agrotóxicos, pois, percorrendo o assentamento foram encontrados galões de
produtos químicos jogados a céus aberto, sem que sejam tomadas as devidas
34

precauções. Foram tomados alguns depoimentos de assentados que fizeram


referência à utilização indiscriminada de agrotóxicos nas imediações que
frequentemente causam problemas à comunidade devido ao forte odor que é trazido
pelos ventos no momento da aplicação dos produtos.

Como já foi citado os assentados enfrentam algumas dificuldades com relação ao


transporte, dificuldade esta que interfere nos cuidados com a saúde da comunidade
principalmente das crianças, já que esses precisam se locomover até a cidade de
Casa Branca para gozarem de benefícios de saúde, pois os assentamento não
possui hospital, nem mesmo posto de saúde. É importante salientar que o
assentamento é desprovido de transporte como ônibus, dificultando a vida dos
assentados no dia – a – dia, pois o assentamento dista 7 km de Casa Branca.

Apesar dos assentados enfrentarem dificuldades com o transporte para cuidarem


da saúde, eles possuem convênios médico-dentário, o que ameniza a situação.

Quanto ao saneamento, constatou-se que todo o assentamento é provido de luz


elétrica e a água é retirada da um único poço artesiano grande. A instalação
sanitária é para uso exclusivo de cada família, sendo 59,1% dentro de casa; 40,9%
fora de casa, dividindo-se em quatro tipos:

• Fossa séptica → 65,4%

• Fossa seca →18,1%

• Fossa negra →10,0%

• Valeta → 4,5%

B) Habitação:

A questão habitacional foi uma conquista para todos os assentados. Isto foi
percebido tanto pelas respostas dadas às questões do formulário, quanto em
conversas, quando todos se mostram satisfeitos com suas moradias.

Todas as casas são de alvenaria como número de cômodos variando entre dois
e seis. O piso das casas, em sua maioria 85,5% é feito de cimento; 10% são feitos
35

de tijolos e 4,5% feito de cerâmica. Todos possuem cobertura de telha de cerâmica;


apenas uma casa é coberta com telha “Eternit”.

Quanto à aquisição do material para construção das casas, todos utilizaram a


madeira resultante do desmatamento da área do assentamento e compraram o
restante dos materiais de acordo com as posses e necessidades de cada família.

C) Educação:

A infraestrutura escolar do assentamento se resume em uma sala de aula que


funciona em prédio provisório, tipo barracão. O sistema de funcionamento é o
multisseriado, ou seja, as 34 crianças que a frequentam, cursam séries diferentes
do primeiro grau. (TABELA 3)

TABELA 3 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS ASSENTADOS (N=155)

PRIMÁRIO GINÁSIO* COLEGIAL** SUPERIOR ANALFABETOS TOTAL***

COMPLETO 26 5 3 1 13 48

INCOMPLETO 40 13 3 - - 56

CURSANDO 29 5 - - - 34

TOTAL 95 23 6 1 13 138

*ATUAL 1º GRAU

**ATUAL 2º GRAU

***17 INDIVÍDUOS NÃO ESTÃO EM IDADE ESCOLAR

Conforme mostra a Tabela 3, a população de assentados possui um nível de


escolaridade que parece de acordo com os padrões da população rural brasileira.
Há vários casos de analfabetismo e muita evasão escolar, demonstrado pelo
número de pessoas que não concluíram o primeiro grau. Deve-se, no entanto, notar
que existe um número considerável de jovens que ainda estão cursando o primeiro e
segundo grau e, salientar ainda, que há um indivíduo com curso técnico e outro com
curso superior, completos.
36

PERSPECTIVAS DE VIDA FUTURA

A par dos levantamentos que forneceram dados à situação de vida real dos
assentados, foi feito um segundo levantamento também através de formulário,
buscando elencar as medidas consideradas pela população dos assentados, como
fundamentais para contribuírem na elevação do nível de vida no assentamento.

As respostas dadas indicaram que a vida de todos mudou para melhor, pela
estabilidade que agora tem no assentamento. Isto ficou claro ao serem perguntados
se eles pretendem ficar no assentamento e todos foram unanimes em responder que
sim, justamente pelas condições de vida que agora alcançaram.

O formulário permitia também que os assentados pudessem opinar sobre a


perspectiva de educação para seus filhos e netos. A maioria defende que seria
interessante que existissem todos os níveis escolares desde alfabetização de
adultos, até segundo grau e cursos profissionalizantes. Entre estes os mais
indicados foram:

• Mecânico

• Técnico agrícola

• Culinária e nutrição

Foi ainda colocado que a melhor época para o ano letivo seria o período da
entre – safra, pois por causa da lavoura muitas crianças e jovens em idade escolar
são obrigados a abandonar a escola, causando decepção aos pais, pois quando
inquiridos sobre: “quanto tempo gostaria que os filhos estudassem?” 22,7%
responderam que gostariam que os filhos completassem o primeiro grau; e 77,3%
gostariam que os filhos chegassem ao nível superior.

O que mais impressionou, foi que para o futuro o principal desejo e


preocupação é com o título de posse da terra. Todos os entrevistados sem exceção
acreditam que o documento, é a maior garantia que tem no presente para facilitar a
produção (crédito e financiamento) e, no futuro a maior segurança para os filhos.
37

CONCLUSÃO:

Para concluir deve ser salientado que quando da realização do trabalho com
formulários, geralmente as respostas não são totalmente verdadeiras; talvez por
medo de represálias, já que os assentados sentem-se inseguros por não possuírem
ainda o título da terra.

O maior problema de inverdades ocorreu quando se inquiriu sobre a situação


salarial. Pouco mais da metade responderam a esta questão, sendo que pelas
respostas os salários variam entre: 1 a 3 salários mínimos a 1 salário mínimo. Mas,
em conversa e observações pode-se perceber que alguns dos assentados possuem
sistemas de irrigação próprios; outros compraram terrenos e construíram casa para
os filhos casados. Note-se que começam a existir casamentos entre as famílias dos
assentados.

De acordo com o objetivo do trabalho podemos concluir ainda, que o


Programa de Assentamento de Trabalhadores Rurais têm alcançado suas metas
como:

- participação direta dos beneficiários em todos os níveis e fases da


implantação do assentamento.

- utilização, em primeira mão, das terras ociosas do Estado, para maior


valorização e aproveitamento, o que tem acontecido no assentamento dos ‘’Cocais’’
(SP).

Apesar de todas as dificuldades, comuns a toda a sociedade brasileira, os


assentados estão felizes com as suas conquistas, em assembleias promovidas pela
associação existente no assentamento e isto demonstra, acima de tudo, capacidade
e organização.
38

BIBLIOGRAFIA
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INCRA (Diretoria Regional de São Paulo).

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39

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Bol. Geogr. Teor. 25 (49-50): 627-638, 1995.

Os 10 anos de atividades do Assentamento Rural dos


“Cocais” no município de Casa Branca – SP.
Enéas Rente Ferreira 11
Silvio Carlos Bray 12

Resumo

A área do Assentamento dos Cocais foi incorporada pela Secretaria da Agricultura


do Governo de São Paulo em 1985, num total de 575 h.. Nesta área foram
assentadas 23 famílias de trabalhadores rurais. Dos 575 ha., 14 ha. foram
destinados à Agrovila, onde os assentados construíram as suas residências em lotes
de 5000 m2 cada um, dotados atualmente de água encanada e energia elétrica.
Também, cada assentado recebeu 13 ha. para o cultivo. Atualmente o principal
cultivo é o de milho e arroz.

Palavras chaves: Assentamento Rural, Reforma Agrária e Trabalhadores Rurais.

The organization process o ver 10 years of the rural settlement of Cocais, at


Casa Branca municipality - State of São Paulo (Brasil)

Abstract

The Cocais settlement area was incorpored by Agriculture Sacretaryship ofthe São
Paulo government in 1985, with 575 ha. In this área were set 23 country
worker'sfamilies. Among 575 ha., 14 ha. had been used by the Agrovila, where the
seated had built their houses in five Thousand m2 (about) each one, which has water
closed and eletrical energy. Besides, each family got 13 ha. for cultivation. Nowadays
the main cultivation is corn and rice.

Key words: Rural Settlement, Agrárias Reform and Rural Workes.

11
Departamento de Geografia/ UNESP/ Rio Claro/ Brasil.
12
Departamento de Planejamento Regional/ UNESP/ Rio Claro / Brasil.
40

Introdução

A experiência em assentamentos e reforma agrária em São Paulo, teve o seu


início no Governo Carvalho Pinto (1959/1962) através da Lei de Revisão Agrária.

Esse tímido início de acesso a terra pelos trabalhadores rurais de então, teve
continuidade no Governo de Adhemar de Barros se extinguindo no decorrer dos
governos que se sucederam com a ditadura militar após 1964.

Somente a partir do processo da abertura democrática, conquistado com as


eleições diretas para governador do Estado em 1982, aliado à mobilização do
movimento dos trabalhadores rurais sem terra, o governo estadual passou a acatar
ainda que gradualmente, as reinvindicações pela ocupação de áreas rurais ociosas.

O ano de 1983 veio marcar o reinício de uma série de focos e tensões sociais
no Estado de São Paulo, principalmente nas regiões do Vale do Ribeira e Pontal do
Paranapanema, áreas com graves distorções fundiárias e onde a questão da posse
da terra não estava judicialmente definida.

Em face das mobilizações populares na luta pela posse da terra, levou o


governo de São Paulo em 1983, a criar a Coordenadoria Sócio-Econômica da
Secretaria da Agricultura e Abastecimento, subdividida no Instituto de Assuntos
Fundiários e o Instituto de Cooperativismo e Associativismo, realizando o inventário
dos bens imóveis rurais do Estado.

A partir desse ano foram implantados sob a responsabilidade dos órgãos


competentes os Projetos de Reforma Agrária e Assentamentos em São Paulo.

Em 1985, o governo de São Paulo implantou as Leis 4925 e 4957, tratando


sobre os assentamentos e os planos públicos de valorização e aproveitamento de
recursos fundiários do Estado e a respeito da alienação de terras públicas aos
trabalhadores rurais que ocupem e as explorem.

Há que se reconhecer por certo, o recuo pelo Mirad-Incra no objetivo central


da então apresentada proposta para a realização do Plano Nacional de Reforma
Agrária. Todavia, torna-se fundamental no presente momento concentrar esforços
para poder corrigir as distorções que venham apresentar qualquer projeto de
assentamento de trabalhadores rurais, e garantir esse movimento de luta por
41

condições mais dignas desta população de camponeses ou de trabalhadores


assalariados que possuem uma ideologia camponesa.

Mal ainda iniciado o processo pelos órgãos federais, cabe ainda mostrar
como a questão fundiária vem sendo proposta pelos governos estaduais. O estudo
do Projeto de Assentamento "Cocais" no município de Casa Branca vem caracterizar
essa política ao nível do Estado de São Paulo.

As ações do Governo do Estado de São Paulo têm sido diferenciadas


segundo três grandes situações dominais em relação às quais tem intervido: as
terras públicas estaduais; as terras de domínio ainda indefinido e as terras de
particulares.

O caso do Projeto "Cocais" insere-se no exemplo de assentamentos de


trabalhadores rurais em terras públicas estaduais que procura envolver a
participação dos beneficiários em todas as fases do programa. De acordo com os
objetivos básicos do Plano de Aproveitamento de Terras Públicas, o processo de
transferência de terras públicas próprias do Governo do Estado ou das que são
entregues à sua responsabilidade pode ser feita em duas etapas: na primeira, com
duração máxima de 5 anos, as terras são cedidas, mediante o pagamento de uma
anuidade, preferencialmente a grupos de trabalhadores rurais que se organizem,
voluntariamente, em algum tipo de associação (sociedade civil ou cooperativa) a fim
de lhes darem aproveitamento adequado com seu próprio trabalho; na segunda, as
terras serão transferidas aos beneficiários em caráter permanente, de acordo com a
modalidade que estes, livremente determinarem- sendo necessária a aprovação
legislativa no caso de alienação. Nesse tipo de projeto, os assentados (através das
sociedades civís e cooperativas) celebrarão contrato de cessão de terras com o
órgão de poder público encarregado de executar o processo de aproveitamento.
Nesse contrato, estipular-se-ão, de comum acordo, e após discussão com os
beneficiários, as condições básicas de exploração econômica do imóvel e a forma
de organização do trabalho no interior de cada grupo (parcelas individuais,
exploração conjunta, etc.); bem como a operação financeira da sociedade (compras,
vendas, contabilidade, remuneração do trabalho, etc.).

Estes são os mecanismos que ora regulam o Projeto de Assentamento


"Cocais" no município de Casa Branca e nos demais.
42

Os projetos que se apresentam com a ação do Governo de São Paulo,


apenas os assentamentos de Araras I e II e Casa Branca, contaram com um
planejamento prévio.

É neste contexto que o Projeto "Cocais" de Casa Branca se insere, como um


bom exemplo de Política de Assentamento de São Paulo.

Caracterização do assentamento

O assentamento de trabalhadores rurais dos "Cocais", localiza-se no


município de Casa Branca, próximo à sede municipal, numa antiga área do Hospital
de Hansenianos da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Com a
desativação do referido Hospital, essa área da Fazenda "Cocais" foi incorporada
pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento em 1985, com o objetivo de servir ao
Programa de Assentamento e Reforma Agrária do governo paulista em convênio
com a Prefeitura Municipal de Casa Branca.

A área total da Fazenda Cocais era de 720 ha., sendo que 145 ha.
corresponde às instalações do antigo hospital- hoje Centro de Reabilitação Mental-
120 ha. foram destinados para a Reserva Florestal de cerrados do município, e o
restante num total de 455 ha., foram destinados ao Projeto de Assentamento dos
Trabalhadores Rurais (Figura 1 ).

A origem desse projeto difere da maioria dos projetos de assentamentos


implantados no Estado de São Paulo, pois, envolveu a participação da Prefeitura
Municipal e Secretaria da Agricultura, através do IAF (Instituto de Assuntos
Fundiários).

Esses órgãos tiveram a iniciativa e o controle de todas as fases de


organização e planejamento do assentamento, como: a infraestrutura, a seleção e
instalação das famílias na gleba.

O processo de seleção das famílias inseridas teve como responsáveis:

I - um representante do Instituto de Assuntos Fundiários, que era seu Presidente;

II - um representante da Prefeitura Municipal; casa carona visitante elefante;

III - um representante da Câmara Municipal; teste testando divisão de espaçamento;


43

IV - um Engenheiro Agrônomo, designado pela Divisão Regional Agrícola da


Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento;

V - um representante da categoria dos trabalhadores rurais indicado pela FETAESP


(Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo) ou sindicato
dos Trabalhadores rurais;

VI - dois representantes da sociedade civil, escolhidos pelos anteriores.

A seleção baseou-se principalmente na experiência dos envolvidos no


trabalho agrícola, na maior quantidade de filhos, residência e vivência na região.
Inicialmente o assentamento passou a contar com a participação de 26 famílias, mas
logo no começo ficaram apenas 23 famílias.

Dessas 23 famílias, analisando a penúltima e a última atividade do


responsável antes de sua chegada no assentamento, conforme tabela nº 1 e nº 2,
podemos concluir que 13 pessoas das 23 já tiveram acesso aos meios e
instrumentos de produção, principalmente como parceiros, proprietários e
arrendatários, mas que num segundo momento, passaram a desempenhar
atividades assalariadas.

Tabela nº 1
A Penúltima Atividade Desenvolvida pelos Assentados Antes da Vinda para o
Assentamento dos "Cocais"
Parceiros Proprietário Arrendatário Motorista Assalariado Bóia-Fria
Rural Rural
Tratorista Permanente Diarista

10 02 01 01 02 07

Tabela nº 2
A última Atividade Desenvolvida pelos Assentados Antes da vinda para o
Assentamento dos "Cocais".
Parceiros Assalariado Assalariado Motorista Bóia-Fria
Rural/ Urbano
Permanente Tratorista Diarista

03 06 03 02 09
44

Figura 01. Assentamento Rural dos Cocais – Casa Branca (SP).


45

O 1º Ano de Funcionamento do Assentamento-Ano Agrícola 85/86.

O critério de escolha dos trabalhadores baseou-se em: experiência na


lavoura, maior número de filhos e disponibilidade.

Dos 455 ha., 14 ha. foram destinados à Agrovila, correspondendo a cada


parceleiro, 1 lote de 50 m por 100 m para a construção das residências que foi
dotado de energia elétrica e água. Além desse lote com características urbanas na
Agrovila, o parceleiro passou a ter a partir de setembro de 1986, o direito a uma área
em torno de 13 ha. destinados ao cultivo.

Para a construção das casas na Agrovila, apenas a terça parte dos


assentados dispuseram de recursos próprios, na construção de suas moradas, e a
maioria encontravam-se totalmente descapitalizados, conforme Tabela nº 3.

Tabela nº 3
Os Recursos Materiais e Financeiros dos Assentados no Início do Projeto.
Dinheiro Material de Muares e Implementos Veículos,
Construção P/ Equinos Agrícolas Carroças e
moradia na Agrovila Automóveis.

Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não

02 21 09 14 05 18 20 03 06 17

Sendo a área dos Cocais anteriormente coberta por vegetação de cerrado e


reflorestada com eucaliptos, a madeira dos eucaliptos cortada redundou no
aproveitamento para o madeiramento de cobertura para todas as moradias
previstas.

O referido assentamento foi desenvolvido em bases empresariais modernas


com o apoio da Companhia Agrícola, Imobiliária e Colonizadora (CAI C) e o Instituto
de Assuntos de Assuntos Fundiários (IAF). Ambos os Órgãos foram desligados no
início de 1986 da Secretaria da Agricultura e Abastecimento e passaram a constituir
a Secretaria Extraordinária de Assuntos Fundiários do Governo do Estado de São
Paulo.
46

A CAIC foi responsável pelo serviço de infraestrutura do assentamento como:


limpeza (destocar com trator de esteira), demarcação e construção de curvas de
nível e demais técnicas de conservação do solo. Ao IAF, através de um Engenheiro
Agrônomo, acompanhou o trabalho com orientação e assistência técnica aos
assentados.

Os financiamentos para a compra do primeiro trator (usado), plantadeira,


grade, carreta, animais de tração e demais instrumentos de trabalho e insumos
(adubos e fungicidas) foram conseguidos junto à Caixa Econômica Estadual, através
de empréstimos, onde cada assentado tornou-se fiador do outro, fato que tomou
mais difícil o Banco executar qualquer ação em caso de atraso no pagamento como
também se perde menos tempo na cidade. As sementes foram fornecidas pela SAA,
através da Casa da Agricultura do município.

Durante o ano agrícola 85/86, foi adotado o sistema coletivo de produção das
terras, que redundou na produção de arroz e milho em maior escala e feijão para o
consumo. O despreparo dos assentados quanto ao trabalho coletivo, aliado ao
projeto inicial de cada um ter a sua terra para cultivar, levou a maioria, a não aceitar
o trabalho em forma de produção coletiva. Sobre o assunto, tivemos as seguintes
opiniões: "cada pessoa quer desenvolver atividades diferentes do trabalho coletivo";
"não funciona porque não existe responsabilidade de todos - uns trabalham e outros
não; seria bom se todos pensassem da mesma forma"; "existem os chupins"; "uns
trabalham com a família e outros não participam como deviam"; "a organização
coletiva só funciona para a compra da máquina e insumos, pois, 24 famílias juntas
compram o que não pode comprar"; "na busca de financiamentos é melhor em grupo
do que só"; “vale o trabalho coletivo pela amizade''; "acho melhor a gleba particular,
onde cada família vai tocar do jeito que quiser e arrumar uma forma de se ter
dinheiro"; “vai ser melhor cada um ter a sua terra'‘.

Durante setembro de 1985 a setembro de 1986, não ocorreu uma política de


apoio à construção da casa própria no assentamento. Por outro lado, o referido
empréstimo para a lavoura não teve o mínimo de período de carência, que
permitisse que com a renda da venda dos produtos ocorressem melhorias das
condições de vida em relação ao início do assentamento. Nesse primeiro ano dos
assentados o dinheiro arrecadado da venda da colheita do arroz e milho (adquirida
47

pelo Banco do Brasil) serviu apenas para saldar os compromissos com o


empréstimo levantado. Como saldo cada família recebeu apenas Cz$ 4. 700,00 do
Fundo Assistencial, onde compraram animal para o trabalho e alguns materiais de
construção para as suas casas na Agrovila.

O ano agrícola de 86/87 e 87/88

Os trabalhadores trouxeram experiências diversificadas para o assentamento.

No primeiro ano agrícola (safra 85/86), adotou-se o sistema coletivo de


exploração das terras. Entretanto, o despreparo dos assentados quanto a produção
coletiva, aliado a ideia de exploração familiar da terra, acabou prevalecendo a
segunda.

Então, adotou-se já no segundo ano agrícola a forma de exploração familiar


da terra. O assentado passou a partir da safra 86/87 a ter além de um lote na
Agrovila, o direito de uma área em torno de 12 hectares. Cabe ressaltar que o lote
da Agrovila de 5000m2 possui um caráter complementar de subsistência das
famílias, como: criação de animais e aves, hortas e pomares.

A partir da safra 86/87 a exploração dos lotes foi realizada com tarefas
coletivas e familiares. As tarefas coletivas passaram a ser: o preparo do solo,
plantio, colheita, armazenamento e comercialização. As tarefas familiares
consistiram na escolha dos tipos de culturas, nos tratos culturais e financiamento.

Na primeira safra 85/86 de produção coletiva, a cultura predominante foi a do


arroz, com uma área plantada de 312 ha.

Na segunda safra 86/87 de produção familiar, tivemos 192 ha. de arroz, 92


ha. de milho e 48 ha. de feijão.

Na terceira safra 87/88, as principais culturas foram: 96 ha. de feijão, 96 ha.


de soja, 72 ha. de arroz e 72 ha. de milho.

A partir de 1986 com o parcelamento da gleba e a urgência de novos


financiamentos houve a necessidade da criação de uma associação entre os
assentados e da elaboração de um Estatuto e Regimento Interno.
48

Considerando a forma de organização da produção, coexistiu a exploração do


trabalho comunitário e do trabalho familiar.

Quanto a forma de exploração comunitária, o avanço pode ser explicado pela


organização dos envolvidos através da criação e associação dos Assentados. Essa
associação teve um papel importante para a aquisição de maquinários agrícolas,
insumos, construção da escola- até o 4o ano do primeiro grau-, construção do
barracão que serve de depósito para armazenagem da produção, construção do
barracão para máquinas e implementos, eletrificação, água encanada para as
residências da Agrovila e um telefone para o uso das famílias dos assentados.

Na safra 87/88, após quatro anos no assentamento, as 23 famílias que


permaneceram construíram suas residências de alvenaria. Também, por meio de um
balanço da evolução da tecnologia utilizada, apresentou um resultado econômico
bastante satisfatório dos trabalhadores assentados. Nesta safra os assentados
possuíam 3 tratores, uma carreta para transporte, 23 carroças, além de um conjunto
de equipamentos para arados, grades, etc. Encontramos duas famílias que já
implantaram o sistema de irrigação abrangendo uma área de 24 ha.

Através do planejamento prévio do projeto, a sua forma de organização


associativista, o número de famílias envolvidas, a assistência intensiva de 01 (um)
agrônomo e um técnico do IAF (desde a implantação do assentamento), garantiu até
1988, uma receita para os investimentos e capitalização, que naquele momento
gerou melhores condições de vida para as famílias do Projeto "Cocais".

O ano agrícola 88/89

Este ano agrícola foi caracterizado através do levantamento de dados


censitários (informações por família) do Projeto: Análise e Avaliação dos Projetos de
13
Reforma Agrária e Assentamento no Estado de São Paulo.

13
Este levantamento faz parte do Projeto citado, que abrange todos os Projetos de Reforma Agrária e
Assentamento do Estado de São Paulo. Foi realizado por pesquisadores de vários campi da UNESP:
Jaboticabal, Araraquara, Rio Claro, Botucatu, Marília, Ilha Solteira e Presidente Prudente, envolvendo
Geógrafos, Agrônomos, Sociólogos, Economistas, Médicos e Pedagogos, nos anos de 88/89. O
Projeto teve apoio do FINEP e CNPq e teve vários sub-projetos dos Pesquisadores da UNESP, Pós-
Graduandos, Bolsistas de Aperfeiçoamento e Iniciação Científica pelo CNPq e o trabalho de mais de
uma centena de alunos estagiários. A coordenação foi da Profa. Dra. Sonia Maria Pessoa Pereira
49

Em 88/89 o assentamento contava com 23 famílias. O processo produtivo no


assentamento passa a ser totalmente individualizado, onde cada família assumiu
todas as tarefas de produção no lote agrícola e na Agrovila.

O preparo da terra é de responsabilidade do chefe da família, enquanto as


demais atividades como: plantio, adubação, tratos culturais e colheita participam os
demais membros familiares. Neste caso, o nível de participação dos membros da
família nas várias atividades produtivas, muda de propriedade para propriedade.

A Associação dos Assentados, em 1989 controlava os 3 tratores existentes


como os demais implementos agrícolas, uma vez que eram de propriedade coletiva.
Para o uso dos tratores e demais implementos coletivos a Associação dos
Assentados organizou três grupos de trabalho.

Quanto a produção agrícola de 88/89, 23 famílias plantaram e colheram 120,7


ha. de milho e 56,5 ha. de arroz; 18 famílias 33,6 ha.de feijão; 09 famílias 38,6 ha.
de soja e 09 famílias 29 ha. de oleaginosas como: o algodão, girassol e amendoim.

A produção da soja e do milho foi vendida principalmente para o Moinho da


Lapa na cidade de Campinas, e uma parcela menor para Atacadistas regionais e
Cooperativa do município. A produção algodoeira foi vendida para a Cooperativa e o
arroz e o feijão para às máquinas beneficiadoras e Comércio Varejista do município.

Em relação à qualidade de vida no Assentamento, todas as residências


existentes na Agrovila são construídas de tijolos e cobertas com telhas de barro. As
casas são servidas por energia elétrica e por água encanada proveniente de poço
artesiano, mediante bomba e caixa d'água. A maioria dos pisos das residências são
de cimento (vermelhão) e os sanitários são construídos dentro da moradia e usam o
sistema de fossa asséptica. As casas possuem de 4 a 6 cômodos em média,
construídas na sua maioria pelo sistema "mutirão".

No ano de 1989 residiam na Agrovila 49 homens, 34 mulheres e 72 menores


de 18 anos, sendo 33 na faixa etária de 0 a 10 e 39 de 10 a 18 anos, atingindo um
total populacional de 155 pessoas.

Bergamasco da UNESP- Botucatu e a sub-coordenação da Profa. Dra. Vera Lúcia Botta Ferrante da
UNESP – Araraquara, com vários sub-coordenadores nos diferentes Campi.
50

O ano agrícola 93/94

Na atualidade residem no Assentamento quase 200 pessoas. O que se tornou


comum nos últimos anos foi a construção de novas residências na Agrovila
pertencente aos filhos casados e que ali foram criados. Com o crescimento
populacional a Agrovila do Assentamento está se tomando uma pequena
comunidade.

Os assentados não possuem a escritura definitiva dos lotes. Eles possuem


um título de autorização do governo estadual de uso da terra, renovado a cada três
anos.

As pessoas que não cumprem com as normas, ou seja, morar e cultivar, ficam
sujeitas à exclusão. Constatamos que, dois assentados que não cumpriram o
contrato foram excluídos do Assentamento. Também ocorreram duas famílias
desistentes.

Existem várias famílias de agricultores sem terra interessadas em participar


do Assentamento dos "Cocais". Essas pessoas preenchem um questionário, onde o
trato com a terra é fundamental e o número de filhos serve para o desempate.

Por outro lado, a Associação criada entre os assentados em 1986 acabou


fracassando por falta de um bom entrosamento das equipes de trabalho. Os 3
tratores distribuídos entre as equipes, devido à falta de manutenção e na deficiência
de organização foram vendidos. Atualmente algumas famílias estão utilizando o
trator que é cedido pela Prefeitura Municipal de Casa Branca e pagam por hora os
serviços prestados.

Nos dias de hoje, os assentados estão se dedicando principalmente para a


produção em maior escala das culturas anuais de milho e arroz e introduziram a
cultura perene do abacate. Também ampliou-se a prática da horticultura com o uso
de irrigação em alguns lotes. Neste sentido, está ocorrendo um trabalho de
conscientização desenvolvido pelo engenheiro agrícola responsável pelo
assentamento, utilizando as crianças que frequentam a escola na Agrovila. O
objetivo é fazer com que as crianças aprendam as técnicas da horticultura e as
vantagens em desenvolvê-la no Assentamento.
51

As dificuldades atuais são muitas, entretanto temos a considerar que as


condições de moradia, alimentação, saúde e infraestrutura são melhores do que a
grande maioria das periferias urbanas do país.

Bibliografia

Análise e Avaliação dos Projetos de Reforma Agrária e Assentamento no Estado de


São Paulo. São Paulo-UNESP-1987. (Projeto Inicial).
CLEPS Jr.; K.AHIL, S./; BRAY, S.C. - A experiência do primeiro ano no
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52

Encontro de Agrária – 1998 IPEA – UNESP – PRESIDENTE PRUDENTE

13 anos de Assentamento dos Cocais: Município de Casa


Branca (SP)
Enéas Rente Ferreira 14

Adalzilio Machado Neto 15

Antônio de Oliveira Lima 16

Sandra de Castro Pereira 17

A área do Assentamento dos Cocais, localizada no município de Casa Branca


– SP possui em seu total 575 hectares de terra, dos quais 14 foram destinados à
Agrovila (local dotado de água e onde os assentados construíram suas residências
em lotes de 500 m2). Cada assentado também conta com 13 hectares destinados ao
plantio e cultivo de alimentos.

O ano de início do assentamento dos Cocais foi o de 1985, quando lá foram


assentadas 23 famílias. Em relação ao número de famílias houve um aumento de 23
para 33 assentadas no período analisado e atualmente o assentamento conta com
uma população de cerca de 250 pessoas (uma média de 6% ao ano desde o último
levantamento feito em 1994, quando lá havia cerca de 200 pessoas). Esse aumento
se dá devido ao casamento de filhos de assentados que após o matrimônio
continuam morando no assentamento e dividem o lote, cultivando terra junto com a
família.

Outras transformações ocorreram no período citado, como por exemplo, o


fato de quatro famílias que resolveram deixar o assentamento, devido a isto foi
realizado por parte do sindicato rural local, testes e entrevistas dos candidatos
interessados, estabelecendo critérios, como por exemplo: carência socioeconômica,

14
Professor IGCE/ UNESP/ RIO CLARO.
15, 16 e 17
PAE / IGCE/ UNESP/ RIO CLARO.
53

habilidade e experiência com o trabalho agrícola, etc. É importante também lembrar


que a maioria das pessoas assentadas, provém do município de Casa Branca.

A forma de trabalho também sofreu modificação, pois a princípio, mais


precisamente até o ano de 1994, todos os assentamentos trabalhavam juntos, mas
nos últimos quatro anos resolveram dividir-se em três grupos para fazer o cultivo da
terra, utilizando cada qual o seu equipamento. Após algum tempo esses
equipamentos foram vendidos e com o dinheiro desta venda foi possível comprar 16
tratores usados, possibilitando o plantio individual da terra.

O silo existente no assentamento continua funcionando, mas não é


compensador guardar os produtos ali. No caso do milho, que é colhido com umidade
alta, se estocado no depósito, o mesmo acabaria se estragando, e,
consequentemente, perder-se-ia a safra. Como o secador que é utilizado para deixar
o milho na umidade certa tem um preço elevado, os pequenos agricultores do
assentamento pagam o serviço de armazenagem a uma empresa privada, no caso a
empresa ‘’VASTA’’ do município de Mogi-Guaçú.

No Assentamento dos Cocais, os lotes irrigados passaram de 2 para 4 nesses


últimos quatro anos de existência. Os agricultores cultivam o milho e o feijão em
maior escala, além de batata, verduras, criações de suínos e ovinos.

A escola que havia no assentamento foi fechada devido a uma determinação


da prefeitura e do Estado, e agora, as crianças e adultos que estudavam no
assentamento tem de se deslocar até a cidade. Por isso, a prefeitura colocou um
ônibus escolar para fazer a locomoção dos alunos no sentido do assentamento para
a cidade e vice-versa.

As visitas de veterinários e agrônomos que eram feitas para examinar as


criações e o cultivo, no prazo médio de quinze, foram diminuídas e quase
canceladas devido à aposentadoria desses profissionais.

Uma das principais dificuldades que os assentados estão encontrando, é a


construção de um presídio próximo às terras do Assentamento dos Cocais.

Ao elaborarem a planta do presídio, não consideraram a construção a


proximidade das fossas fisiológicas do presídio à montante da mina de água que
54

abastece a agrovila e irriga as plantações. A distância entre as fossas e a mina, é de


aproximadamente 150 metros, o que certamente irá ocasionar a contaminação da
água e das terras da região, pois o presídio foi construído sobre um divisor de
águas, ou seja, parte elevada da região.

Os assentados reivindicaram a canalização e o tratamento dos esgotos, mas


até agora não foram atendidos.

Quanto ao padrão de vida, segundo um dos moradores, houve melhora, mas


os assentados ainda sofrem dependência de financiamentos provenientes do
PRONAF 18 e de instituições financiadoras, que quando não negam o financiamento,
cobram juros elevados.

Outro problema encontrado é na comercialização dos produtos produzidos no


assentamento, pois além de terem de declarar um imposto de 2,2% (ICMS), ainda
sofrem com a ação dos atravessadores, que se aproveitam do endividamento em
que muitos pequenos agricultores são praticamente obrigados a aceitar para
poderem saldar suas dívidas. Em consequência desse e outros fatores, alguma
famílias que não conseguiram se manter e desenvolver, acabaram sofrendo um
processo de favelização no próprio local.

É importante destacar que todos os assentados estão cadastrados na


prefeitura como pequenos agricultores mantendo em dia suas dívidas. Dos
assentamentos realizados no Estado de São Paulo, os realizados no município de
Araras e Casa Branca, apesar de serem os menores do Estado, estão em melhores
condições financeiras que os demais, não em virtude do apoio por parte do governo,
mas sim devido ao esforço dos próprios agricultores.

Assim sendo podemos dizer que o processo de assentamento é muito mais


complexo e difícil do que parece, pois o assentado não vive só com a terra, mas
precisa de constantes auxílios por parte de entidades governamentais, que insiste
em deixar de lado problemas agrários desse tipo.

18
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.
55

Referências Bibliográficas:

CLEPS Jr; KAHIL; BRAY, S. C. – A experiência do primeiro ano no Assentamento


Rural dos Cocais – município de Casa Branca (SP) 7º Encontro Nacional de
Geografia Agrária. II anais. Belo Horizonte. UFMG. 1986. 33-37

FERREIRA, E. R; BRAY, S.C. – Os dez anos de atividades do Assentamento dos


‘’Cocais’’ no município de Casa Branca – Boletim de Geografia Teorética 25(49-50):
627-638, 1995. Anais do XII ENGA – Vol. II

ITESP – Registro da Terra: Perfil sócio econômico dos Assentamentos do Estado de


São Paulo. Nº2, São Paulo – ITESP, 1998 pp 56.
56

Ciência Geográfica – Bauru – V – (12): Janeiro/ Abril – 1999, p. 52-55.

O desempenho do geógrafo na elaboração de laudos


periciais ambientais: o exemplo da instalação de um
presídio em Casa Branca, SP.

Fadel David Antonio Filho 19

Adler Guilherme Viadana 20

INTRODUÇÃO

A Universidade Pública apresenta três formas básicas de trabalho: o ensino, a


pesquisa e os serviços à comunidade. Com relação ao ultimo item, os serviços
prestados à comunidade, este configura-se tanto como um dispositivo regular
fundamental, bem como expressa uma prática democrática que coloca o trabalho do
docente universitário à disposição da comunidade. Especificamente com relação ao
docente geógrafo, suas atribuições profissionais, reguladas por lei, contribuem com
uma ampla ação que beneficia não apenas certos setores da sociedade, mas todo o
conjunto social. Dentro deste enfoque, salientamos como exemplos: a defesa do
meio ambiente objetivando a melhoria da qualidade de vida; a preservação de
patrimônios coletivos e públicos; a preservação da biodiversidade em ecossistemas
ameaçados; o levantamento de eventos naturais ou sociais impactantes e sua
possível prevenção.

Nesse caso, a autoridade competente, atuando em defesa do meio ambiente


ou no sentido de preservar a qualidade de vida dos cidadãos, pode solicitar a
Universidade a colaboração do geógrafo para a feitura de laudos periciais
ambientais.

19
Professor Assistente Doutor – Departamento de Geografia/IGCE/UNESP – Campus de Rio
Claro.
20
Professor Assistente Doutor – Departamento de Geografia/IGCE/UNESP – Campus de Rio
Claro.
57

Nos contatos entre o profissional e a autoridade interessada devem ficar


claras as atribuições e limites impostos por lei, no que diz respeito à atuação do
geógrafo, evitando assim quaisquer futuros problemas.

Esse procedimento é fundamental para o desenvolvimento dos trabalhos,


assim como a inspeção de campo da área em questão e a posterior produção do
laudo técnico, com o parecer sobre os problemas constatados. Este documento será
anexado como parte na instrução do inquérito ou qualquer ação judicial pertinente,
como, por exemplo, os processos movidos pelas curadorias do meio ambiente.
Desta forma, o laudo técnico torna-se um instrumento legal do qual o poder público
passa a dispor para fazer cumprir a lei contra os crimes ambientais, os quais, no final
das contas, redundam em prejuízos pra toda a comunidade, em particular o
seguimento que está diretamente envolvido com a área em questão. Não raro,
nestes casos, os efeitos se traduzem em elevados custos sociais, recaindo
especialmente sobre os membros menos favorecidos da sociedade. E é exatamente
contra esta injustiça que devemos nos preocupar.

UM EXEMPLO DE LAUDO TÉCNICO PERICIAL

No contato com a Universidade, a autoridade interessada deve fornecer o


maior número de informações possíveis relacionadas com a ação judicial em
questão, inclusive no que diz respeito ao apoio logístico (transporte,
acompanhamento, alimentação e alojamento dos peritos).

No caso aqui exemplificado, a Universidade (UNESP/IGCE/Campus de Rio


Claro) teve de arcar com o ônus do apoio logístico (o que não deveria ser a prática
comum), em decorrência da alegada falta de verbas do Poder Judiciário para tais
fins.

Este laudo, especificamente, ter a ver com a política carcerária do atual


governo estadual paulista de promover a interiorização, com a construção de
presídios de médio porte, em regiões estratégicas do Estado, concomitante com a
desativação dos grandes complexos presidiais, situados na Capital, como o de
Carandiru. Esta ‘’pulverização’’ da população carcerária pelo interior do Estado
acredita-se, teria como consequência a diminuição dos inúmeros problemas
enfrentados pelo sistema prisional (como fugas, rebeliões, superlotação, etc.),
58

sistema esse sabidamente falido e ultrapassado. Entretanto, a escolha de certas


áreas para a construção dessas unidades prisionais envolve numerosos problemas,
como, por exemplo, a resistência da população local, a dificuldade de superação de
estigmas sociais que a presença de um presídio acarreta (as rebeliões e fugas
divulgadas pela mídia alimentam esse estigma), a escolha do local adequado
(devendo ser considerado o tipo de solo, a localização do presídio com relação às
áreas de preservação, mananciais, fontes, vias de circulação, áreas urbanizadas,
etc.)

Por outro lado, devem-se considerar os possíveis benefícios que a


implantação de um presídio poderá trazer ao município, através de novos postos de
trabalho no próprio presídio, o possível aquecimento na demanda de imóveis
(aluguel e venda), a dinâmica motivada pela presença de novos residentes (pois que
muitos funcionários do presídio são ‘’de fora’’, o que leva a crer na possível
transferência da família para nova localidade), etc.

O laudo aqui apresentado foi enriquecido com material fotográfico e


mapeamento da área em questão, além de outros documentos pertinentes (ofícios,
recortes de jornais locais com reportagens sobre o assunto, edital do D.O.E sobre o
número de vagas para diversos tipos de profissionais, etc.), material que não foi
anexado neste artigo por questão de espaço.

LAUDO PERICIAL
O presente laudo objetiva atender solicitação do Ministério Público do Estado
de São Paulo, Comarca de Casa Branca, relativo à Ação Civil Pública referente ao
Processo 283/97 e restrito aos termos do Ofício nº703/97-fep, de 07 de julho de
1997, assinado pelo M.M. Juiz de Direito Dr. Marcello do Amaral Perino,
consignando que: ‘’a perícia deverá restringir-se ao eventual impacto no meio
ambiente e na qualidade de vida da população com a construção de um presídio de
médio porte na cidade de Casa Branca, Estado de São Paulo’’, em decorrência da
desativação do Complexo Penitenciário do Carandiru, na Capital.

Quanto à indicação para a peritagem, está baseada no ofício IGCE/GD/nº300/97,


de 06 de outubro de 1997, assinado pelo Prof. Dr. Silvio Carlos Bray, diretor do
59

Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP – Campus Universitário de


Rio Claro – SP.

I. Procedimento da Perícia

Os procedimentos iniciais foram feitos tendo como referência os quesitos


formulados pelo M. M. Juiz:

1. Qual o impacto da instalação da Penitenciária no meio ambiente local?

2. Qual o impacto da instalação na qualidade de vida da população local


(tranquilidade, segurança, bem-estar, etc.)?

3. É provável o fenômeno da favelização? Em caso positivo, qual o impacto na


sociedade local?

Após diligência realizada no local da construção da penitenciária, no dia 24 de


novembro de 1997, no contato com a população da cidade de Casa Branca e com
algumas autoridades locais (Promotoria Pública, Polícia florestal, etc.), procedemos
aos estudos e análises dos materiais colhidos e levantados mapeamentos, editais,
anotações de campo, etc.)

a. Características Gerais da Região e da cidade de Casa Branca

Situada na região nordeste do Estado de São Paulo, a cidade de Casa Banca


está a 233 Km da capital paulista e é servida pelas rodovias SP-215 (Casa Branca –
São João da Boa Vista – Porto Ferreira), SP-340 (Campinas – Casa Branca –
Mococa) e a SP-350 (Casa Branca – São José do Rio Pardo). Possui um ramal da
FEPASA, atualmente desativado (ver – figura 1).
60

Figura 1 – Localização de Casa Branca


(Fonte: Carta Aeronáutica de Pilotagem Esc. 1: 250.000)

Com 24.812 hab. (IBGE/96), é tipificada como de médio porte (interior) e


corresponde ao nº 189 no “ranking” (1996) das cidades paulistas (considerando os
aspectos econômicos, ofertas de empregos, infraestrutura, presença de indústrias,
etc.). O crescimento anual para 1996 foi negativo (-0,40%), o que significa perda
populacional e estagnação.

Este quadro, entretanto, era diferente até a década de 60. A cultura do café e
a chegada dos trilhos da ferrovia (Companhia Mogyana de Estradas de Ferro, hoje
FEPASA), desde os últimos decênios do século passado, trouxeram à cidades
empregos e um quadro econômico favorável, refletindo na melhoria da urbanização,
no comércio e na cultura da população.

Na atualidade, há planos em execução pela municipalidade local, no sentido


de reverter esse quadro (melhoria no saneamento básico, no setor de habitação e
no incentivo para a atração de indústrias).

A região de Casa Branca é tipicamente agrícola, (culturas de algodão, arroz,


citros, milho, soja, café, e cana), mas já apresenta algumas indústrias no setor de
laticínio e de cerâmica. Destaca-se também a pecuária leiteira em menor escala.
61

b. Características da Área da Instalação da Penitenciária.

Á área denominada “Reserva do COCAIS” está localizada a


aproximadamente 4 km da sede municipal, numa antiga área do Hospital de
Hansenianos, hoje desativado, mas transformado em Centro de Reabilitação (para
alienados). Essa área foi posteriormente transferida para a Secretaria da Agricultura
do Estado que destinaria, dos seus 71 ha, cerca de 445 ha para fins de
assentamento de trabalhadores rurais, num projeto de programa fundiário do
governo estadual (Governo Orestes Quércia), de acordo com URBANI (1989).

Na área próxima do Centro de Reabilitação (antigo Leprosário), há ainda uma


agrovila (assentamento rural) e um antigo cemitério (abandonado) (ver figura 2).

Figura 2 – Localização da área assentamento Cocais


(Fonte: Urbani & Ferreira)

A área da “Reserva do Cocais” propriamente dita corresponde a 120 ha, isto é


16,6% da área total, conforme URBANI (op. cit.) e CLEPS JÚNIOR, BRAY & KAHIL
(1986).

As informações obtidas através de entrevistas com moradores e funcionários


do Centro de Reabilitação são de que o lugar carece de transporte coletivo
(precário), apesar da estrada de acesso ser pavimentada e relativamente bem
conservada.
62

A água utilizada é retirada de poços artesianos e não há rede de esgoto. As


instalações sanitárias são do tipo fossa séptica e fossa seca (tanto no Centro de
Reabilitação como no assentamento rural), o que implica preocupação com relação
a possível contaminação do lençol freático (ver URBANI, op.cit. e CLEP JÚNIOR,
BRAY & KAHIL, op.cit). Na área propriamente dita onde se está construindo o
Presídio (ver figura 3).

Figura 3 – Entrada da penitenciária de Casa Branca (em construção)


(foto: F.D.A.F./equip. Canon AE-1 24mm, filma 100 ASA)

Ao lado contíguo do Centro de Reabilitação (como assinalado na figura 2), era


um eucaliptal que foi derrubado para dar lugar à construção de 14.000 m². A
Penitenciária, considerada de “Segurança máxima” , terá uma capacidade para 839
presos. (ver figura 4).
63

Figura 4 – Área da construção do presídio


(foto: F.D.A.F./equip. Canon AE-1 24 mm, filma 100 ASA)

II. Sobre os impactos Ambientais

O local da instalação da penitenciária de Casa Branca, próximo ao ponto de


774m (ver figura 5), corresponde a um divisor de águas de pequenas, mas
importantes bacias locais.

Devido à inversão da cobertura vegetal original, através da ação antrópica e


agora pela construção de uma estrutura de tal porte (Penitenciária), que abrigará
atividade permanente de considerável contingente humano (mais de 1000 pessoas,
entre funcionários e detentos), certamente afetará os mananciais próximos.

Somando-se às atividades já existentes (presença do centro de Reabilitação e


do assentamento rural), cujos portes e características de atividades não parecem ter
comprometido significativamente os mananciais próximos, a possibilidade de a
Penitenciária vir causar danos irreversíveis sobre esses recursos hídricos é bastante
plausível. (ver figura 5).
64

Figura 5 – Local de instalação da penitenciária de Casa Branca (s/Esc.)

Casa Branca.
Folha SF – 23 –V –C –V -4.
Escala 1: 50.000 (1971)
65

Trata-se das nascentes do córrego da Mogiana (cerca de 1 km da


penitenciária) e das nascentes de um dos alimentadores do córrego do Aterradinho (
cerca de 250 a 500 m da Penitenciária). Este último mais próximo serve as lavouras
do assentamento rural e deságua no córrego Aterradinho que, por sua vez alimenta
o rio Verdinho.

É particularmente interessante observar que o rio Verdinho tem seu ponto


mais próximo do local da Penitenciária em cerca de 2 km e ao longo de sua várzea
há cultivos de arroz. Este mesmo caudal alimenta o rio Verde, logo abaixo do seu
curso e este, por sua vez, serve à cidade de Itobi, a cerca de 10 km de Casa Branca.
Observamos que se não houver preocupação com o correto tratamento dos esgotos
e dejetos produzidos pelo Complexo Penitenciário e, no caso desse material vir
atingir, in natura, os mananciais próximos, certamente acarretará sérios prejuízos
ambientais e sanitários.

Vale lembrar que o Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15 de setembro de


1965), em vigor, no seu Art. 2º, letra C, afirma ser área de preservação permanente
“as nascentes mesmo nos chamados ‘olhos d´água’, seja qual for a sua situação
topográfica”. Este mesmo dispositivo encontra apoio e corroboração na Resolução
nº 4 de 18 de setembro de 1985 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (D.O.U, de
15/10/85, Art. 3º III. Há ainda apoio na Constituição do Estado de São Paulo,
Capitulo IV.

Do Meio Ambiente, dos Recursos Naturais e do Saneamento, Seção I, Art.


192 e Art. 208, dispositivos que regem o uso e a preservação dos recursos hídricos
e do meio ambiente no Estado.

Desta forma, o estabelecimento de um Complexo Penitenciário, no qual


estará, em atividade permanente, uma população de mais de 1000 pessoas, deverá
levar em conta a necessidade e qualidade da água potável retirada de mananciais
subterrâneos, de modo a não trazer prejuízos irreversíveis ao meio ambiente e aos
recursos hídricos disponíveis.

III. Sobre os Impactos Sociais

A instalação de qualquer unidade prisional gera imediata depreciação do


espaço vizinho, seja ele urbano ou rural. Esse fenômeno de mercado tem sua razão
66

de ser, pelo menos no que se refere à percepção humana na busca da segurança e


tranquilidade para viver e proteger a família. O espaço dado pela mídia televisiva e
escrita, para as inúmeras rebeliões e violências deflagradas nos presídios
brasileiros, cria uma poderosa “forma-imagem” gerando no cidadão comum reações
as mais diversas, como medo, a angústia, a insegurança, etc.

Desde modo, não foi nenhuma surpresa entender a reação das pessoas
comuns com quem conversamos nas ruas de Casa Branca. Houve plena rejeição
do público geral, com relação à instalação de uma penitenciária, de médio porte de
“segurança máxima” em Casa Branca, onde supõe-se que serão encarcerados
condenados de alta periculosidade. Apesar de um número pequeno de entrevistas
informais e aleatórias que fizemos considerando o universo populacional de Casa
Branca, não houve um só caso de concordância a favor do presídio. As justificativas
correspondem às mesmas comentadas acima.

A cidade de Casa Branca, no presente momento, apresenta um índice de


criminalidade baixo, quando comparado com outras cidades do Estado. Apesar da
lotação dobrada de sua cadeia local (que possui 28 vagas e aloja 58 detentos –
todos da cidade), pode-se dizer comparativamente, que ainda assim apresenta um
quadro carcerário razoavelmente tranquilo. O mesmo podemos dizer a respeito da
segurança pública em geral, quando copáramos as estatísticas de outras cidades.

Há, logicamente, na cidade, facções que apoiam a instalação da penitenciária


as quais alegam, por exemplo, que haverá geração de empregos para Casa Branca
e demanda de serviços (como fornecimento de alimentos, de roupas, de remédios,
assistência médica e jurídica, etc.).

É preciso esclarecer que os empregos oferecidos através do edital estão


vínculos a um concurso público, podendo qualquer cidadão se inscrever e ser
aprovado caso demostre ter as aptidões exigidas. Necessariamente não há (nem
pode haver) a exigências dos inscritos serem de Casa Branca.

O mesmo pode-se dizer quando à demanda de serviços, como o fornecimento


de alimentos, de roupas, de remédios, da assistência médica e jurídica. As licitações
são públicas e abertas, o que também significa que as empresas aptas para tais
serviços não são necessariamente de Casa Branca. Há inclusive empresas sediadas
67

em outras cidades que se especializaram em prestar serviços para o Sistema Penal


do Estado, apresentando um “know how” de longo tempo.

Outro fator que deve ser chamado à atenção é relativo à futura demanda de
moradias para os funcionários oriundos de outras cidades. Há disponibilidades?

Casa Branca apresenta uma oferta hoteleira modesta, bem como de


restaurantes disponíveis.

A presença de familiares de detentos (visitas ou transferências de domicilio


para Casa Branca) que teoricamente poderia representar um aumento no consumo,
beneficiando o comércio e os serviços, como o uso da rede hoteleira e de
restaurantes, estaticamente não corresponde a essa expectativa. Sabemos que a
maioria das famílias de detentos possui baixo poder aquisitivo. O que comumente se
observa neste caso (como exemplo em outros estabelecimentos penais do Estado),
é a ocupação de logradouros públicos (praças e ruas) dessas famílias na espera da
hora da visita, acarretando, muitas vezes, problemas para a população local.

Seria ilusão imaginar que a Penitenciaria de Casa Branca, sendo um


estabelecimento “regional”, abrigará tão somente detentos de Casa Branca e
cidades próximas. Certamente (é o que se verifica em outros estabelecimentos
similares), abrigará condenados da Justiça de regiões as mais diversas do Estado,
implicando, entre outras coisas, um maior distanciamento da família. Esta, por sua
vez, se verá obrigada a outro sofrimento imposto pelas longas viagens, com uma ou
mais baldeações de transportes. Uma das causas da favelização de áreas próximas
a estabelecimentos penais encontra ai sua explicação possível. Um exemplo desses
fenômenos pode ser observado na área do Presídio de Itirapina, região de Rio Claro.
Famílias de detentos, sem recursos para viagens periódicas de visita, se alojaram
em precárias habitações nas proximidades do estabelecimento, formando uma
verdadeira favela, que mais cedo ou mais tarde exigirá dos poderes municipais a
necessária atenção quanto aos serviços mínimos de luz, água, esgoto, recolhimento
de lixo, vagas em escolas, creches, etc.

Mesmo sendo considerado de “segurança máxima”, a possibilidade e


rebeliões e fugas deve ser levada em consideração. Na suposição disso o ocorrer,
as rotas de fuga, no caso dessa Penitenciária, seriam muitas, dificultando a ação da
68

polícia. A Penitenciária de Casa Branca está a 2000m, em linha reta da SP-215 e a


2550m da SP-350, além de distar pouco mais de 4000m do aeroporto local
(Aeroclube de Casa Branca).

Ocorre ainda que, na observação do mapa de solos do Estado de São Paulo


verificamos que a estrutura rochosa, in sitio, possibilita a formação de manto
pedológico que favorece escavações de túneis e galerias, facilitando as fugas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se a instalação de um complexo penitenciário em Casa Branca vai trazer


algum benefício para a cidade, levantamos nossas dúvidas, com base nos
antecedentes de cidades que também abrigaram estabelecimentos penais (como
Hortolândia e Itirapina, por exemplo).

Entendemos que há uma premência do Estado em desmontar o Complexo do


Carandiru e transferir (“pulverizando”) seus mais de 6000 detentos para vários
presídios no interior. É fato que a instalação da penitenciária tinha de ser feita em
algum lugar, porem não sabendo se a população local foi amplamente informada e
consultada a respeito.

Não foi verificado também nenhum plano de conservação, recuperação e


manejo do meio ambiente (que deve acompanhar a obra desde o início), relativo aos
aspectos florísticos, aos recursos hídricos e sólidos.

Mesmo que haja compensações prometidas pelo Governo do Estado, como


mais verbas ao município e outras facilidades, no nosso entender os prejuízos serão
maiores, notadamente com relação à quantidade de vida da população casa-
branquense. O custo social, que as compensações econômicas não pagam, refere-
se ao fato da população ter que conviver com o estigma de um potencial foco de
violência.
69

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA.F.FM. Fundamentos Geológicos do Relevo Paulista. São Paulo. Ins.


Geografia (USP). 1974.

ANTONIO FILHO.F.D. & VIADANA.A.G – “A prestação de Serviços à


comunidade pela Universidade nas questões ambientais: a confecção de laudos
periciais pelo geógrafo” 3º Encontro Nacional de Estudos Sobre Meio Ambiente –
ANAIS – Londrina. UEL. NEMA, 1991, pp. 219-226,(v.1).

CLEPS JÚNIOR.J; BRAY, S.C & KAHIL. S.P. “A experiência do 1º ano no


assentamento rural dos Cocais – Município de Casa Branca. SP” ANAIS – 7º
Encontro Nacional de Geografia Agrária – Conferências e Comunicações – vol. 11,
Belo Horizonte. Departamento de Geografia, IGC UFMG. 1986.

CONSTITUIÇÃO do Estado de São Paulo – Cap. IV – do meio ambiente, dos


Recursos Naturais e do Saneamento – Imprensa Oficial – IMESP. 1989.

D.O da União – nº4. De 05/01/1967 – Código Florestal – lei 4771 de 15 de


setembro de 1965 – Presidência da Republica.

D.O.E – Sec. I São Paulo. 97 (047), quinta-feira. 12 de março de 1987.

URBANI. Mari – qualidade (d)e vida no assentamento do “Cocais” – Casa Branca


(SP). Rio Claro. IGCE. UNESP. 1989 (T.G).
70

Assentamento dos Cocais: 28 anos.


Adler Guilherme Viadana 21

Fadel David Antonio Filho 22

Enéas Rente Ferreira 23

Com intuito de atualizar informações sobre o Assentamento dos Cocais -


Casa Branca (SP) dirigimo-nos ao local em meados de 2013. Lá verificamos que o
assentamento esta atraindo moradores de outras localidades. Atualmente 36
famílias são residentes locais, demonstrando que dos 24 lotes iniciais, mais da
metade, comporta a construção de uma segunda moradia, devido ao casamento de
um dos filhos [as] e a fixação no assentamento rural, fator este que contribui para o
aumento populacional da comunidade.

Outra modalidade que contribui para o crescimento da população são os


membros de famílias que atraíram dependentes residentes na cidade e passaram a
habitar o assentamento por motivos diversos, principalmente os de ordem financeira.
Vale lembrar que quase a totalidade das moradias é de alvenaria em estado de
conservação relativamente modesta. Merece destaque que eles não recolhem o
IPTU e também estão liberados da contribuição do aluguel e algumas casas
possuem mais de 120 m2 de área construída. A qualidade de vida é melhor do que
em qualquer periferia da maioria das grandes cidades brasileiras.

A dificuldade maior que eles encontram no momento diz respeito a


quantidade e a qualidade d’água. Como já observado e previsto por Antonio Filho &
Viadana 1999, prevalece a forte suspeita que as águas do poço artesiano do
assentamento, decorrente da qualidade do lençol freático, estão contaminadas. Isso
pode ser constatado, pelas doenças parasitárias frequentes nos assentados.

Outro tipo de contaminação, também não comprovada cientificamente é do


córrego Aterradinho, afluente do córrego Verdinho que corta o assentamento e
21 22 23
, e : Docentes - Departamento de Geografia/IGCE/UNESP – Campus de Rio Claro.
71

recebe os efluentes sem tratamento eficiente do Centro de Ressocialização de Casa


Branca e do Hospital de Deficientes Mentais, ambos a montante do local. Onze
famílias de assentados utilizam os córregos Aterradinho-Verdinho para irrigar suas
verduras e hortaliças que são comercializadas em Casa Branca e São Paulo. Uma
das observações feita pelos assentados é a possibilidade da água desses
mananciais estarem contaminadas e mesmo assim usadas para a irrigação das
hortaliças.

Como constatado localmente, com o passar dos anos o único poço artesiano
do assentamento, vem sofrendo uma constante diminuição em seu volume de água,
a levar os moradores a estocarem água nas próprias residências, pois dispõem do
raro líquido, apenas em meio período do dia. Em épocas de maior seca chegaram a
ficar sem água, dependendo de carros pipa da prefeitura de Casa Branca para o
abastecimento domiciliar. Algumas famílias estão adquirindo água em galões para
consumo familiar.

Nos últimos anos, a população do assentamento foi obrigada a fazer um


cadastramento junto a ANA (Agência Nacional de Águas) e pagar uma elevada taxa
para liberação e uso da água, tanto do poço artesiano como dos mananciais
existentes no local. Entretanto, pela condição de assentados, não está havendo
cobrança de taxas mensais de consumo de água.

Sobre a produção agrícola, verifica-se a existência de culturas perenes,


representadas pelos talhões de eucaliptos e pomares de laranjas. Entre as culturas
anuais, a produção do feijão irrigado predomina. As hortaliças e verduras são
destinadas ao CEASA de São Paulo. Semanalmente partem 3 caminhões de
transporte das hortaliças destinados a capital paulista. Os assentados rateiam as
despesas da viagem equitativamente.

Em 2011, o governo paulista estabeleceu o PPAIS (Programa Paulista de


Agricultura de Interesse Social), aos moldes de ação similar criado pelo governo
federal (PAA –Programa de Aquisição de Alimentos). Em 2013 a Secretaria de
Administração Penitenciária e a Secretaria do Estado da Saúde implementaram na
forma efetiva o programa. Na área do assentamento a Coordenadoria das Unidades
Prisionais da Região Central, Penitenciária Joaquim de Sylos Cintra, através do
edital 002/2013 e o Centro de Reabilitação de Casa Branca, através da chamada
72

pública número 001/2013, convocaram agricultores familiares para se cadastrarem e


fornecer alimentos para o abastecimento daquelas duas unidades supra referidas.

Os pequenos agricultores da região de Casa Branca e especificamente os


assentados dos Cocais já devidamente cadastrados nos referidos programas tem a
possibilidade de obterem um substancial aumento de seus lucros. No caso dos
Cocais é interessante frisar que devido à proximidade entre o produtor e o
consumidor os custos de transporte são minimizados.

Em menor escala existe o plantio de vassoura que é manipulada pelo trabalho


feminino, contratado no próprio assentamento. Nos meses de safra saem caminhões
carregados de vassouras para os grandes centros consumidores.

A assistência técnica é feita pelo ITESP [Instituto de Terras do Estado de São


Paulo] através do escritório regional instalado na cidade de Araras (SP) que
disponibiliza um técnico agrícola que mensalmente visita o assentamento.

As crianças e jovens em idade escolar do local dispõem de veículo


mantido pela Prefeitura Municipal de Casa Branca num total de 3 viagens diárias,
servindo basicamente aos estudantes dos vários níveis de ensino (inclusive
atendendo os alunos do período noturno). Dispõe de telefones públicos e
particulares e energia elétrica (isentos do pagamento de ICMS) nas residências.
Nota-se a presença de antenas parabólicas e de diversas empresas de televisão via
satélite e internet móvel.

A população do assentamento é composta de membros das igrejas católica e


evangélica, existindo no local um templo para cada confissão. Além disso, um
barracão da antiga escola rural do assentamento é destinado para as reuniões da
associação dos moradores.Dessa forma, seguem-se as imagens que caracterizam o
Assentamento dos Cocais.

Referências
VIADANA, Adler Guilherme; FILHO, Fadel David Filho. O desempenho do geógrafo
na elaboração de laudos periciais ambientais: o exemplo da instalação de um
presídio em Casa Branca- SP IN Ciência Geográfica – Bauru – V – (12):
Janeiro/Abril – 1999.
73

Casa de Assentado de pequeno porte. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Centro de Reabilitação – Antigo Hospital de Hanseníase. 2013. Foto: Fadel David


Antonio Filho.
74

Área no Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Casa de Assentado. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.


75

Mulheres do Assentamento no processo de confecção das vassouras. 2013. Foto:


Fadel David Antonio Filho.

Arruamento em terra no Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.


76

Propriedade da Agrovila – detalhe para as caixas d’água muito utilizadas em todo


Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Plantação de Maracujá. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.


77

Arruamento – com orelhão à esquerda. 2013.


Foto: Fadel David Antonio Filho.

Plantação de feijão irrigado. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.


78

Corte de Eucalipto e plantação ao fundo. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Corte de Eucalipto. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.


79

Produção de Laranja na Agrovila. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Templo Evangélico. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.


80

Moradia em alvenaria com mais de 120 m2. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Moradia em alvenaria com mais de 120 m2- Vista Frontal. 2013. Foto: Fadel David
Antonio Filho.
81

Antiga Escola do Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Campo preparado à espera de plantio. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.
82

Terra preparada para plantio. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Assentado no uso de tração animal. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.
83

Lagoa de decantação dos dejetos do atual Centro de Reabilitação. 2013. Foto:


Fadel David Antonio Filho.

Lagoa de decantação dos dejetos – vista da saída para o Córrego Verdinho. 2013.
Foto: Fadel David Antonio Filho.
84

Placa Informativa na entrada do Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio


Filho.

Penitenciária Joaquim de Sylos Cintra – Casa Branca (SP). Foto: Ary Molinari. 2010.
Fonte: <<http://noticias.terra.com.br/brasil/policia/vc-reporter-policia-encontra-
pomba-com-celular-preso-ao-corpo-em-
sp,1fa81054a250b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>> Acesso em:
06/08/2013.
85

Penitenciária “Joaquim de Sylos Cintra" – Casa Branca (SP): visão geral do presídio,
mostrando três áreas de lançamento de esgoto de mais de 2 mil pessoas no lado
direito da foto.
Fonte: <<http://wikimapia.org/#lang=pt&lat=-21.783552&lon=-
47.012504&z=17&m=b>>. Acesso em: 06/08/2013.
86

ANEXOS
87

ANEXO 1. CHAMADA PÚBLICA N.º 001/2013.

Para informações mais detalhadas acesse:

<<http://www.itesp.sp.gov.br/itesp/acoes-detalhes.aspx?c=299>
88

ANEXO 2. CHAMADA PÚBLICA N.º 002/2013.

Para informações mais detalhadas acesse:


<<http://www.sap.sp.gov.br/download_files/pdf_files/editais/edital-p-casa-branca.pdf>>.
89

Adalzilio Machado
Neto

GEOGRAFIA AGRÁRIA
Adler Guilherme
Assentamento de trabalhadores rurais Viadana
dos Cocais - Município de Casa Branca-
estado de São Paulo
Antônio de Oliveira
Lima
“ Os assentamentos rurais estão vinculados a questões
da organização e produção agrícola por trabalhadores
rurais, o trabalho comunitário e familiar, o uso da terra e a Enéas Rente Ferreira
ações concernentes a reforma agrária, no que diz respeito às
políticas públicas envolvidas.
Fadel David Antonio
Na presente obra, é possível constatar a contribuição
Filho
dos docentes e discentes de geografia com o exemplo do
Assentamento Rural do Município de Casa Branca – “O
Assentamento Rural dos Cocais”, sendo um assentamento de
João Cleps Junior
trabalhadores rurais em terras públicas estaduais.

Aqui se constatam as características do assentamento,


problemas enfrentados (ambientais e sociais), e demais Mari Urbani
transformações que ocorreram ao longo do tempo desde sua
criação.
Samira Peduti Kahil
Dessa forma, o conteúdo reunido tem caráter didático (in memoriam)
a estudantes de graduação, como também atende a
pesquisadores e demais interessados que queiram se
aprofundar no tema, dentro do contexto exposto bem como Sandra de Castro
sua relação com demais áreas do conhecimento. ”. Pereira
Jessica Corgosinho Marcucci
Discente de Geografia- UNESP – Rio Claro (SP). Sílvio Carlos Bray

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