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Sociedade Excursionista e Espeleológica Nº III Maio de 2022
ISSN: 2675-7117
Sociedade Excursionista e Espeleológica
DIRETORIAS EDITORAÇÃO
Editores responsáveis: Rafael Oliveira Silva e
Diretoria - 2021/2022 Alice Mendes dos Santos
Presidente: Guilherme Augusto Rodrigues de Sousa Comissão Editorial: Gabriel Amora Basílio, Lara
Secretário: Vitor Oliveira Martins Chaves Carvalho Guerra, Alice Mendes dos Santos e
Tesoureiro: Amanda Freitas Carvalho Caporali Oliveira Rafael Oliveira Silva
Diretor científico: Rafael Oliveira Silva Revisão: Membros da Sociedade
Diretor de materiais: Lucas Soraggi Teixeira Excursionista e Espeleológica
Diretor de documentação: Luiza Clemente Rodrigues Diagramação: Gabriel Lourenço C. de Oliveira
Diretor de imprensa e divulgação: Maria Isidora R. Lopes Foto capa: Gabriel Lourenço C. de Oliveira
Diretoria - 2020/2021
Presidente: Gabriel Amora Basílio COMISSÃO AVALIADORA
Secretário: Vitor Oliveira Martins
Tesoureiro: Guilherme Augusto Rodrigues de Sousa Dr. William Sallum Filho
Diretor científico: Dyana Caroline Ferreira Cardoso Dr. Isaac Daniel Rudnitzki
Diretor de materiais: Ícaro Assis Cruz Dr. Allan Silas Calux
Diretor de documentação: Saulo de Paula Alves Silva Msc. Paulo Rodrigo Simões
Diretor de imprensa e divulgação: Alice Mendes dos Santos Dr. Heros Augusto Santos Lobo
Dra. Cristiane Ramos Donato
Dr. Claudio Maurício Teixeira
Diretoria - 2019/2020 Daivisson Batista Santos
Presidente: José Mota Neto Dr. André Gomide Vasconcelos
Secretário: Gabriel Amora Basílio Dr. Luiz Eduardo Panisset Travassos
Tesoureiro: Gabriel Lourenço Carvalho de Oliveira Dr. Paulo Henrique Ferreira Galvão
Diretor científico: Isaac Daniel Rudnitzki
Diretor de materiais: Guilherme Augusto Rodrigues de Sousa
Diretor de documentação: Yanê Arruda Castor de Altamirano
Diretor de imprensa e divulgação: Wilker Soares Silva
Cx. Postal 68, Beco da Ferraria, s/ n°, Escola de Minas - Praça Tiradentes, Ouro Preto - MG
Homepage: www.see.ufop.br
E-mail: see@ufop.edu.br
(31) 99931 - 2856 (Guilherme Augusto Rodrigues de Sousa - Atual Presidente da S.E.E)
EDITORIAL
A atual edição Nº III apresenta uma estrutura dividida em oito matérias e onze artigos
científicos que abrangem as temáticas: Cartografia e Espeleometria; Geoespeleologia; Ge-
omorfologia e Hidrologia Cárstica; Arqueologia e Paleontologia; Espeleoturismo e Educa-
ção Ambiental. Esta edição contou com a participação de grupos nacionais e internacionais
em diversos assuntos que demonstram claramente o avanço quantitativo e qualitativo nos
estudos das cavernas, afirmando o compromisso de conhecer para preservar.
Boa leitura!
Sumário
Excursionismo SEE ao Parque Estadual de Terra Ronca – Goiás 5
MATÉRIAS
MATÉRIAS
Museu Victor Dequech 9
Lançamento de nova versão do TOPGRU 12
Projeto Parque Nacional das Sempre-Vivas 15
Plano de Manejo Espeleológico do Parque Estadual do Ibitipoca – MG 19
Cavernas Vulcânicas Brasileiras 22
Gupe realiza projeto de inventário e educação patrimonial em sítios arqueológicos da área de proteção ambiental
da escarpa devoniana no município de Ponta Grossa (PR) 26
Guano speleo group performs action in the international year of caves with students of the Guimarães Rosa popular
course, from Medicine School of Minas Gerais Federal University 30
Caracterização
e regionalização dos terrenos cársticos, em rochas carbonáticas, no estado da Bahia 34
TRABALHOS
TRABALHOS
PALEONTOLOGIA
Paleotocas da megafauna cenozóica no município de Urubici (Santa Catarina) 39
Gruta do Engrunado: estudos preliminares de um depósito fossilífero do Quaternário, Chapada Diamantina, Bahia 46
ARQUEOLOGIA
Seridó no início do Holoceno
O 53
Potencial arqueológico da região de Natalândia - Mg 62
GEOESPELEOLOGIA
Avaliação e caracterização geológica da Lapa D´Água e suas pérolas gigantes como um geossítio, Montes Claros 72
Procesos espeleogenéticos y sistematica de la Caverna de la Patana, municipio Maisí, Guantánamo, Cuba. 89
ESPELEOTURISMO
E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A educação ambiental como elo entre conhecimento científico e comunidade: atuação do GMSE, em Paripiranga 96
Análise da ação antrópica e seus impactos nas cavernas de Paripiranga-BA 102
‘Enfurnadas’, mas não isoladas 110
solidária no Vale do Ojô: uma proposta colaborativa baseada na percepção ambiental e no perfil da comunidade local
See 117
GEOMORFOLOGIA
patrimônio espeleológico do carste em quartzito no norte do PE da Serra do Intendente, Espinhaço Meridional
O 129
Excursionismo SEE ao Parque
Estadual de Terra Ronca – Goiás
Por Icaro Assis, Priscila Gambi e Amanda Caporali.
Participantes: Amanda Caporali, Bruno Fernandes, Gabriel Lourenço, Guilherme Augusto, Ícaro Assis,
Leandra Peixoto, Lorena Pires, Luiz Amore, Marcelo Taylor, Maria Isidora, Priscila Gambi, Paula de
Freitas, Pedro Assunção, Rafael Cardoso, Rafael Silva, Tiago Vilaça, Vitor Martins e Wendy Tanikawa.
7
Foto: Gabriel Lourenço
MATÉRIAS
Gruta Morena, Cordisburgo - MG - Foto: Gabriel Lourenço
matérias
Fundada em 1937 pelos alunos da Escola de a SEE possui um vasto acervo decorrente de sua
Minas de Ouro Preto, a Sociedade Excursionista e trajetória, além de uma grande preocupação com
Espeleológica (SEE) foi o primeiro grupo de pesqui- a difusão do conhecimento espeleológico e cons-
sas espeleológicas institucionalizado das Américas. ciência ambiental, em 2010 foi proposto ao MCT,a
Ao longo de seus 83 anos, foram realizadas inúme- criação do Museu Itinerante da SEE. Este projeto
ras expedições às principais províncias cársticas do registrou visitantes brasileiros de vários estados,
país, o que gerou uma série de documentos histó- além de estrangeiros de diversos países da Amé-
ricos importantes que registram o início e evolução rica e Europa. Tendo em vista ao grande público
da exploração e mapeamento de cavernas em di- alcançado deu-se continuidade ao programa, nos
versas regiões do Brasil. As expedições ao norte de anos de 2012, 2017 e 2019, passando por con-
Minas Gerais, sul da Bahia e Ceará, demonstram a gressos de espeleologia, mostras de trabalhos
variedade de regiões pesquisadas pela entidade. científicos e universidades; exposição de fotos his-
Em decorrência destas expedições, a fim tóricas, objetos antigos e amostras relevantes do
de registro e estudo científico, foram coletadas acervo paleontológico e arqueológico (Figura 1).
amostras e peças de diferentes localidades, com-
pondo um rico acervo com mais de 100 peças en-
tre materiais líticos, ossadas de animais da me-
gafauna brasileira, espeleotemas raros e outros
componentes que registram as peculiaridades do
mundo subterrâneo. Além de um grande acervo
de amostras técnicas, a SEE dispõe de uma gama
de equipamentos que já foram utilizados pela en-
tidade (Figura 2), e que testemunham a evolução
das técnicas espeleológicas e das metodologias
para coletas. Grande parte desse acervo foi re-
passado para a tutela do Museu de Ciência e Téc-
nica da Escola de Minas de Ouro Preto – MCT.
A partir da segunda metade do século XX,
os museus passaram a ser reconhecidos também
pelo seu papel educacional, sendo uma fonte de
saber voluntária e informal, tão importante quanto
os métodos tradicionais de educação. Visto que Figura
1: Exposição de alguns itens do acervo durante o
evento SEE solidária.
Com base no êxito obtido nessas exposições tos a respeito de atividades que são desenvolvidas
itinerantes, a entidade optou por efetuar um projeto no ambiente cavernícola: em parques, as grutas
para implementação pioneira de um acervo perma- são motivo de atividades turísticas; em algumas
nente voltado a espeleologia, instalado no MCT. O regiões, as cavidades possuem importância reli-
projeto foi bem recebido e aprovado pela direção giosa; e no passado também foram fonte de ma-
da Escola de Minas da UFOP. Após a instalação, o téria-prima como adubo e salitre; entre outros fins.
museu será batizado como Museu Victor Dequech Essas cavidades representam um ambiente
em homenagem ao fundador da SEE e da empre- delicado e frágil, que está sujeito a degradação e
sa Geosol falecido em 2011, devido ao seu impor- pichação, principalmente as que estão localizadas
tante papel para SEE e a espeleologia nacional. próximas a centros urbanos e com fácil acesso. Em
Para ajudar na implementação do museu caso da presença de material arqueológico e pa-
Victor Dequech, hoje a entidade compõe a rede de leontológico, os riscos se somam a eventualidade
museus da UFOP, que engloba vários acervos da de coleta inadequada dos mesmos. Assim, o museu
universidade, visando maior conhecimento em edu- também desempenha a função de desvelar a impor-
cação museal, conservação de seu acervo e auxílio tância e utilidade da espeleologia e como essa ci-
nos trâmites necessários para concretizar o quanto ência está relacionada a outras, numa riqueza mul-
antes o projeto de sua instalação permanente. tidisciplinar de interfaces como turismo, biologia,
O museu Victor Dequech, além de ter um caráter história, arqueologia, paleontologia, entre outras,
histórico e de divulgação, será uma fonte de saber e atuando diretamente na difusão do “saber espe-
científico e ambiental. O objetivo do projeto será leológico”. O espaço destinado a Exposição Victor
o desafio de mostrar as cavernas como um espa- Dequech, incorporado a um museu de relevância
ço valioso, e que guarda uma estrita relação com nacional como o de Ciência e Técnica, é essencial
o desenvolvimento da humanidade, com a função para estabelecer essa comunicação direta com o
de moradia e ligação a diversos outros usos e pos- público e enraizar concepções e atitudes ligadas
sibilidades. O projeto também tem como objetivo a preservação das cavernas, tanto para a comuni-
fazer com que o público leigo adquira conhecimen- dade local e universitária, quanto para os turistas.
Lançamento de nova
versão do TOPGRU
Nova versão traz o aprimoramento de suas funcionalidades.
Grupo Topgru
sadas alternadas ou inversas e todas as informa- nipulação que contempla os elementos ne-
ções dos arquivos de saída são georreferenciadas. cessários para a elaboração dos mapas espe-
É importante destacar que o programa acei- leológicos, além de ser um grande facilitador
ta a digitação aleatória de suas linhas, independen- Apesar de básico, é um aplicativo de fá-
temente da ordem seguida em campo. Por exemplo, cil manipulação que contempla os elementos ne-
uma equipe pode dar início ao mapeamento pela cessários para a elaboração dos mapas espele-
entrada da caverna enquanto outra equipe pelo final ológicos, além de ser um grande facilitador para
da mesma, sendo ponto de encontro determinada a obtenção dos cálculos espeleométricos, não
estação ao longo do desenvolvimento da cavidade. sendo útil aos usuários da Disto X ou similares.
Caso as estações não tenham conexão umas com Visto o potencial de utilização e possibili-
as outras, o programa emite um alerta e processa dades de aprimoramentos, espeleólogos se mo-
apenas o restante dos pontos que tenham conexão. bilizaram e criaram um grupo de trabalho para o
No tempo presente, o TOPGRU possui desenvolvimento do TOPGRU, visando dar uma
quatro modelos de planilhas de entrada de dados interface mais amigável e atribuir novas funciona-
em excel, SEE, PLG, SPE, EEF, e a principal di- lidades. O grupo homónimo do programa, forma-
ferença entre elas é a nomenclatura utilizada. Ain- do atualmente por membros da SEE/UFOP, Es-
da que até o momento não seja capaz de corrigir peleometria em Foco e GEEP Açungui, se reúne
o fechamento de poligonais e avaliar a precisão semanalmente para discutir tópicos diversos relacio-
da topografia, o TOPGRU mostra-se particular- nados às melhorias do programa, juntamente com
mente versátil ao permitir visadas em estações ao questões espeleométricas, novos métodos de levan-
chão ou à altura dos espeleólogos, fixas ou flutu- tamento topográfico, erros e precisão dos levanta-
antes. É o único programa que faz as correções mentos, soluções para topografia em cavidades com
topográficas em relação às alturas das visadas. magnetismo, linguagens de programação e o perfil
Apesar de básico, é um aplicativo de fácil ma- da espeleotopografia brasileira, entre outros temas.
O Parque Nacional das Sempre Vivas O parque também se destaca por sua grande bio-
(PNSV) é uma Unidade de Conservação (UC) Fede- diversidade que, devido as altas cotas topográficas,
ral de Proteção Integral, criada em 2002, que possui propicia a presença de espécies endêmicas, como
área de 124.555 hectares e perímetro de cerca de as sempre-vivas (Figura 1B). Essas espécies ocor-
168 quilômetros, abrangendo parte dos municípios rem numa vegetação predominantemente de cerra-
de Olhos d’Água, Bocaiúva, Buenópolis e Diam do e campos rupestres, com influência da Caatinga
antina, em Minas Gerais. O parque está localizado e da Mata Atlântica, refletindo particularidades eco-
na Serra do Espinhaço Meridional, região de pai- lógicas (Figura 1C). O parque não só se destaca por
sagens exuberantes com grandes afloramentos de sua biodiversidade, mas também por possuir diver-
quartzito e locais propícios para a formação de ca- sos sítios arqueológicos e cachoeiras (Figura 1D).
vernas. Além disso, a serra constitui um divisor das Desta forma, a UC também está inserida
bacias hidrográficas do rio São Francisco e do rio na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, re-
Jequitinhonha, possuindo cotas médias de 1200m conhecida pelo Sistema Nacional de Unidades de
que chegam a 1525m na Serra do Galho (Figura 1A). Conservação (SNUC) como um modelo de gestão
integrada, participativa e sustentável dos recursos
naturais, com os objetivos básicos de preserva-
ção da diversidade biológica, desenvolvimento de
atividades de pesquisa, monitoramento ambiental,
educação ambiental, desenvolvimento sustentável
e melhoria da qualidade de vida das populações.
Dada sua relevância, o parque possui um
Plano de Manejo realizado em 2016 que teve como
objetivo estabelecer diretrizes para a gestão so-
cioambiental. Entretanto, não houve contemplação
para o estudo, identificação e cadastramento das
feições espeleológicas no parque. Nesse contexto,
se insere o projeto de “Caracterização do Patrimô-
Figura 1: Feições típicas do Parque Nacional das Sem-
nio Espeleológico do Parque Nacional das Sempre
pre-Vivas. A: Serra do Galho, uma das formas de relevo Vivas” realizado pela Sociedade Excursionista e
mais
proeminentes da região. B: Sempre-Vivas típicas da Espeleológica (SEE). Este projeto foi iniciado pela
Serra do Espinhaço. C: Vegetação de Cerrado em cam-
pos de altitude. D: Sítio arqueológico de pinturas rupes- entidade em agosto de 2019 e faz parte do TCCE
tres no PNSV. (Termo de Compromisso de Compensação Espe-
leológica) 02/2018, firmado entre o Instituto Chico Para melhor compreensão da gênese das
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM- feições do parque, viu-se a oportunidade de in-
Bio) e a Anglo American Minério de Ferro Brasil S.A. serir um projeto de mestrado vinculado ao Pro-
A execução da compensação é referente aos impac- grama de Pós-Graduação em Evolução Crustal e
tos negativos irreversíveis a cavidades naturais sub- Recursos Naturais (UFOP) intitulado “Investiga-
terrâneas com grau de relevância alto, ocasionados ção dos processos espeleogenéticos do Parque
pelo empreendimento “Extensão da Mina do Sapo” Nacional das Sempre Vivas” também incluso no
(Processo SEI ICMBio nº 02667.000045/2018-11). projeto de caracterização do parque. O estudo
O projeto envolve a prospecção de caver- envolve a análise integrada das feições estrutu-
nas nos limites do parque bem como o cadastro rais, faciológicas, petrográficas, da geoquímica
das feições espeleológicas encontradas no CNC da água e da geomorfologia. Para isso, nos dias
(Cadastro Nacional de Cavernas) e no Canie (Ca- 12 a 25 de fevereiro de 2021, cinco espeleólogos
dastro Nacional de Informações Espeleológicas), (Figura 2B) participaram da primeira campanha
vinculados à Sociedade Brasileira de Espeleologia de campo do mestrado da aluna Wendy Tanikawa
(SBE). Além disso, será realizado um levantamento oriendada pelo professor Dsc. Issac Rudnitzki.
da distribuição dessas feições na área do PNSV e Durante o campo, cinco feições foram topo-
serão selecionadas as cavidades mais relevantes grafadas, sendo três delas conhecidas previamente
à fim de serem topografadas. Nos dias 10 e 24 de pela comunidade local: Lapa da Saduruta, Lapa da
fevereiro de 2020, doze espeleólogos participa- Santa de Pedra e Lapa do Dorico; e outras duas
ram da primeira etapa de campo do projeto com o feições que foram encontradas durante a primeira
objetivo de identificar os principais elementos do etapa de prospecção realizada no parque. Até o
relevo na porção centro-sul da UC (Figura 2A). O momento, a Lapa do Nonô, maior feição até agora
grupo identificou um total de 98 feições espeleo- topografada, apresenta aproximadamente 168,46m
lógicas durante a primeira campanha de prospec- de desenvolvimento horizontal, com planta baixa
ção, na qual 67 correspondem a cavernas, 24 a ramificada em que a morfologia varia desde salões
abrigos e 6 a abismos. As cavidades apresentam amplos à condutos estreitos em teto baixo. Tam-
pequena ocorrência de espeleotemas, representa- bém foram coletados dados estruturais e faciológi-
dos principalmente por coralóides, escorrimentos e cos do endocarste e exocarste que serão integra-
raras estalactites. Além disso, um fator de grande dos à caracterização geoespeleológica (Figuras
importância foi a catalogação de vestígios arque- 3A, B e C). Além disso, os parâmetros físico-quí-
ológicos encontrados, sendo que, dentre os 24 micos da água foram aferidos por meio do multi-
abrigos cadastrados, 5 apresentaram pinturas ru- parâmetro e as amostras de água foram coletadas
pestres e 3 continham possíveis materiais líticos. para análise geoquímica laboratorial, por meio do
Figura 2: Espeleólogos participantes das etapas de campo do projeto. A: Equipe da primeira campanha. B: Compo-
nentes da equipe da segunda campanha ao PNSV.
ICP-MS e ICP-OES, à fim de complementar da- à baixa reatividade da sílica e, por isso, eram mais
dos para as hipóteses de espeleogênese (Figura escassos os estudos voltados para a compreensão
3D). Dessa forma, o projeto visa contribuir com a desse relevo. No entanto, descobertas recentes de
catalogação das feições espeleológicas e arque- cavernas quilométricas instigam novos estudos no
ológicas do PNSV além de abranger análises da Brasil, como a Gruta Martimiano no qual a SEE es-
evolução dos carstes quartzíticos e a formação de teve presente em seu mapeamento; a região dos
cavernas. A etapa de catalogação é importante a Tepuis Venezuelanos que, hoje, é foco de estudos
nível de conhecimento do patrimônio espeleológico internacionais que envolvem espeleogênese em
do parque e a nível nacional, pois contribui com a carstes quartzíticos, dentre outros. Assim, o pro-
quantificação de cavidades no território brasileiro. jeto desenvolvido atualmente pelos membros da
O desenvolvimento do relevo cárstico na litologia SEE possui conteúdo atualizado em relação às
quartzítica era considerado pouco propício devido demandas acadêmicas e busca evidenciar a im-
Figura 3: Feições do relevo cárstico quartzítico do PNSV. A: Endocarste da Lapa do Nono. B: Local de empoçamento
no endocarste da Lapa das Cruzadas. C: Exocarste da Lapa do Dorico. D: Coleta de água na Lapa do Nono.
Fundado em 1973, por meio da lei 6.126 do O PEIb abriga em seu domínio a Gruta Martimiano
Governo de Minas Gerais, o Parque Estadual do Ibi- II, considerada a maior cavidade em rocha quartziti-
tipoca (PEIb) é uma unidade de conservação (UC) ca do Brasil em projeção horizontal, com “4.170 me-
de proteção integral localizada no sul do estado de tros mapeados, 170 m de desnível, grandes salões
Minas Gerais próximo a cidade de Juiz de Fora, re- e espeleotemas singulares com coloração averme-
gião conhecida como “Zona da Mata” e engloba em lhada” (GUERRA, 2019, p. 31). A Gruta Bromélias
seu território parte dos municípios de Lima Duarte, também merece destaque por sua dimensão, apre-
Santa Rita do Ibitipoca e Bias Fortes, totalizando senta 2560 m de projeção horizontal. Além das ca-
1488 hectares de extensão. O parque está entre racterísticas abióticas, algumas cavidades do PEIb
os mais visitados do estado, recebendo um total de são habitat para espécies troglóbias e uma nova es-
84.381 turistas no ano de 2019, segundo levanta- pécie de aranha (Ochyrocera ibitipoca), que foi des-
mento realizado pelo Observatório do Turismo de crita em 2008 por Baptista, González & Tourinho em
Minas Gerais. O PEIb compõe a Serra de Ibitipoca quatro cavidades. No total, são 41 cavidades do-
no limite de dois domínios geomorfológicos denomi- cumentadas no Cadastro Nacional de Informações
nados “Serra da Mantiqueira” e “Planalto de Andre- Espeleológicas – CANIE, das quais 10 são abertas
lândia” os quais exercem um forte controle estrutu- para visitação turística de forma autoguiada. O au-
ral na região. Pertence ao domínio fitogeográfico da mento da visitação tem causado impactos negativos
Mata Atlântica, a vegetação é associada aos aflora- a esse patrimônio, o parque oferece pouca informa-
mentos quartzíticos, apresentando campos rupes- ção e orientação sobre o ambiente subterrâneo e
tres de altitude e grande influência de elementos de formas de se comportar nesta modalidade turística
Mata Atlântica. O parque abriga uma fauna diversi- sendo comum a ocorrência do descarte inapropria-
ficada com a presença de espécies ameaçadas de do de resíduos dentro das cavidades, pichações,
extinção, como a onça parda e o lobo guará, além não utilização de equipamentos de segurança e
de uma espécie de perereca (Hyla ibitipoca) descri- roupas inadequadas, o que gera riscos ao visitante.
ta de forma inédita, dentro dos limites do parque. Com vistas a necessidade de proteger e sal-
As cavidades naturais subterrâneas vaguardar o patrimônio espeleológico e atender a
encontradas no parque compõem um rico patrimô- Resolução nº 347, de 10 de setembro de 2004, do
nio espeleológico, de valor singular e máxima rele- Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA,
vância, em vista da peculiaridade e fragilidade de 2004), foi celebrado um aditivo ao termo de ajus-
seus ecossistemas, a alta concentração de cavernas tamento de conduta - TAC firmado entre o Instituto
quartizíticas e suas dimensões notáveis, em uma li- Estadual de Florestas - IEF e Ministério público de
tologia onde feições cársticas são menos comuns. Minas Gerais que prevê a elaboração e implemen-
tação do Plano de Manejo Espeleológico (PME) suprir a carência de dados em determinadas áreas.
para as cavidades sujeitas a visitação no parque. A análise integrada e o zoneamento das cavidades
Em julho de 2019, os servidores do Insti- estão sendo realizados a partir do levantamen-
tuto Estadual de Florestas – IEF Clarice Lantel- to de aspectos espeleoturísticos realizados pela
me (gerente do PEIb) e Davi Lantelme (espele- SEE, a partir disso, serão realizadas propostas de
ólogo) aprovaram junto a instituição competente gestão e manejo para as cavidades e apresenta-
o projeto de elaboração do PME e deram início a ção à comunidade em oficina pública para consul-
coordenação das atividades que contam com a ta e aprovação. O documento final será entregue
participação voluntária de membros de grupos es- ainda no ano de 2021, para que possam iniciar a
peleológicos de diversos locais que já possuem aplicação de suas propostas e diretrizes em ações
ações nas cavernas da unidade de conservação, de educação ambiental, pesquisa e monitoramen-
sendo eles, a Sociedade Excursionista e espeleo- to visando a conservação do patrimônio local e o
lógica – SEE, a Sociedade Carioca de Pesquisas reflexo em todo distrito espeleológico em nível na-
Espeleógicas – SPEC, o Espeleo Grupo Rio Cla- cional. O Plano de Manejo Espeleológico do PEIb
ro – EGRIC e o Centro de Estudos em Biologia faz parte de um esforço coletivo, que visa conser-
Subterrânea da Universidade Federal de Lavras. var as cavidades e seu entorno, orientar o aces-
No ano de 2020 as atividades foram para- so e possíveis intervenções, de forma a reduzir os
lisadas devido a pandemia da COVID-19, retor- impactos. A SEE realiza expedições nas cavernas
nando no ano seguinte visando a necessidade da do parque desde 2014, participa da elaboração do
elaboração do Plano de Manejo. A partir de então, PME e ressalta a importância desse documento
a equipe iniciou reuniões semanais para a elabo- para a conservação do patrimônio espeleológico.
ração do PME, baseada no documento "Diretrizes
e Orientações Técnicas para a Elaboração de Pla-
nos de Manejo Espeleológico" elaborado pelo CE-
CAV. Para tal, foi feito o levantamento bibliográfico
de meio físico, biótico e socioeconômico, principal-
mente no que tange o tema espeleologia, além dis-
so deu-se início a levantamentos e pesquisas para
Cavernas de origem vulcânica são consi- nico, com as erupções mais jovens do país, apro-
deradas como de gênese muito rara no território ximadamente 0,25 Ma. As unidades geológicas são
brasileiro. Em áreas continentais, poucas são as formadas basicamente por uma série alcalina com
cavidades registradas em rochas desta origem, grandes corpos fonolíticos, e uma série básica de
como é o caso da Casa de Pedra no Paraná: uma derrames basálticos. A série vulcânica de Trindade
cavidade desenvolvida em basalto, que foi desco- é caracterizada pelo baixo teor de SiO2 e é acentua-
berta em 2017 por pesquisadores da Unicentro e damente sódico-alcalina, e são nestas litologias que
UFSC. É importante ser considerado, no entanto, ocorrem as cavidades naturais da Ilha da Trindade.
que o território brasileiro possui, além da plataforma A origem destas cavidades está associa-
continental, arquipélagos inteiramente localizados da ao desmonte erosivo ao qual a Ilha está inten-
em bacias oceânicas e sem qualquer ligação com samente submetida, uma vez que suas rochas
a plataforma continental, formados por processos são compostas por minerais pouco resistentes ao
vulcânicos (Fernando de Noronha - RN, Trindade e desgaste intempérico (Figura 1). Associado a um
Martim Vaz - ES), tectônicos (São Pedro e São Pau- relevo escarpado de altas declividades, estas ca-
lo – RN) ou biológicos (Atol das Rocas – RN). Nes- racterísticas proporcionam uma intensificação dos
tes arquipélagos, existem cavidades naturais pouco processos erosivos gravitacionais (em rochas mais
conhecidas ou divulgadas, cuja importância am- resistentes) e marinhos (em rochas mais friáveis).
biental pode ser considerada de máxima relevância Isto ocorre porque em rochas mais resistentes
– especialmente quando se considera a fragilidade (como é o caso do fonolito), é comum a ocorrên-
natural dos ambientes nos quais estão inseridas. cia de fraturas, denominadas juntas de alívio, que
A Ilha da Trindade possui origem vulcâni- retalham a rocha em frestas de diferentes dimen-
ca, e está situada a cerca de 1200 km a leste da sões. A instabilidade destas fraturas resulta na
sede do município de Vitória, do qual faz parte, no queda de blocos, que são acumulados na base
ponto mais a sul e mais a leste da costa brasileira, dos picos fonolíticos, e neste processo, formam-
pertencendo à cadeia ou lineamento vulcânico “Vi- -se “buracos” na rocha de onde se desprenderam.
tória-Trindade”, formado por um hot-spot (Almeida, Cavernas desta origem são muito comuns
1961; Pires et al., 2016). Outros edifícios vulcânicos na Ilha, especialmente nos chamados picos fonolí-
pertencentes a este lineamento foram nivelados a ticos. Entretanto, o acesso é quase sempre impos-
menos de 100 m de profundidade, em decorrência sibilitado devido à altura em que estas feições se
do desgaste erosivo causado pelo mar. A Ilha da encontram – o que demanda uma prospecção intei-
Trindade é o único local em território brasileiro no ramente realizada por meio de técnicas verticais de
qual ainda se reconhece parte de um cone vulcâ- rapel e ascensão. Uma única exceção é o caso da
Figura 1: I – Gruta do Eme; II – Túnel do Paredão; III – Gruta Nsa. Sra. De Lourdes.
Gruta Nossa Senhora de Lourdes, inserida no alto do Eme, uma gruta de desenvolvimento horizontal
de um pico, onde o acesso só é possível devido ao originada pela erosão da base de um paredão de
acúmulo de blocos que se amontoaram na base do rocha piroclástica de frente ao mar. No interior da
afloramento (Figura 2). Nesta cavidade, além das gruta existe a imagem da uma santa. A relevância
feições de dissolução (escorrimentos e coralóides) de cavernas desta categoria é que são formadas
observadas, verifica-se também a presença de ni- em rochas cuja composição mineral possuem alto
nhos de aves marinhas ameaçadas de extinção, teor de minerais magnéticos, que uma vez erodi-
sendo, portanto, um ambiente essencial para repro- dos, são aportados e depositados na praia. Este
dução de aves marinhas como noivinhas, atobás, processo favorece a ocorrência de um dos ambien-
petréis e fragatas marinhas. Apesar disso, a gruta tes praiais mais raros do mundo, com uma areia
está em altíssimo grau de degradação, com inúme- preta composta quase exclusivamente, por mine-
ras pichações e depósito de objetos humanos de to- rais magnéticos como a magnetita e a ilmenita.
dos os tipos. Isto ocorre devido à tradição religiosa, O patrimônio espeleológico da Ilha da Trin-
onde o fiel crê que seu retorno à ilha só será pos- dade é mais uma das grandes particularidades des-
sível caso ofereça à gruta qualquer objeto pessoal. te local: além de ser a única ilha oceânica brasileira
Em rochas piroclásticas, formadas pelo com ocorrência de nascentes e cursos d’água pere-
acúmulo de cinzas e materiais vulcânicos sólidos nes de água doce, a ilha possui uma floresta de sa-
expelidos por erupções vulcânicas, a erosão ma- mambaias gigantes endêmicas, espécies de aves,
rinha é o principal agente formador de cavidades caranguejos e tartarugas ameaçadas de extinção,
na Ilha da Trindade. Estas estão, portanto, exclusi- solos endêmicos associados à presença de avi-
vamente localizadas no compartimento costeiro da fauna marinha, e o único cone vulcânico com sua
Ilha, onde a abrasão marinha é forte e constante morfologia parcialmente preservada do território
o suficiente para esculpir túneis e grutas na mar- brasileiro. A ocorrência de grutas de origem vulcâni-
gem das praias. Neste contexto, se destacasse cas nesta ilha é mais um atributo que confere a ela
o Túnel do Paredão – cavidade formada na base tamanho valor cientifico e ambiental, e é relevante
da escarpa de uma cratera vulcânica parcialmen- que a ocorrência destas grutas seja reconhecida,
te preservada. Também foi identificada na Praia estudada e divulgada. Estudos de abordagem ex-
Figura 2: Apesar de sua grande relevância ambiental, especialmente para a reprodução de aves marinhas ameaça-
das de extinção, a gruta Nsa. Sra. De Lourdes encontra-se intensamente degradada.
clusivamente espeleológica são inexistentes na Ilha de de conservação foi criada pelo Decreto nº 9.312,
da Trindade, onde existem grutas de alto valor cien- de 19 de março de 2018, e sua gestão tem como um
tífico e paisagístico, beleza cênica, gêneses mui- dos principais objetivos o fomento à pesquisa cien-
to raras e importância biológica. É desejável que tífica e preservação de seus aspectos ambientais.
estas grutas sejam prospectadas, registradas e to-
pografadas, para que sua relevância não seja ape- REFERÊNCIAS
nas reconhecida, mas especialmente preservada.
Um grande avanço nas pesquisas na Ilha da CARDOSO, D. C. F., 2020. O Relevo da Ilha da
Trindade ocorreu a partir da consolidação do Pro- Trindade – AtlânticoSul: ensaios para a compre-
grama de Pesquisas Científicas da Ilha da Trindade ensão de suas paisagens. 2020. (Dissertação de
(PROTRINDADE) em 2007, mediado pelo Governo Mestrado). Programa de Pós-graduação em Ge-
Federal e pela Marinha do Brasil. Apesar da escas- ologia Ambiental e Recursos Naturais (Geomor-
sez de estudos especificamente espeleológicos, há fologia e pedogênese), Ouro Preto, MG, 2020.
um leque de trabalhos publicados que se dedicaram ALMEIDA, F. F. M. A., 1961. Geolo-
a caracterizar o meio físico e abre possibilidades gia e petrologia da Ilha da Trindade. SER-
para novos estudos com diferentes abordagens. GRAF do IBGE, Rio de Janeiro, 197pp.
A ilha está inserida na Área de Proteção Am- PIRES, G. L.C. et al., 2016. New40Ar/39Ar ages
biental do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz, de and revised 40K/40Ar* data from nephelinitic–pho-
esfera Federal, sob gestão do Instituto Chico Men- nolitic volcanic successions of the Trindade Island
des de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, (South Atlantic Ocean). Journal of Volcanology
com a participação da Marinha do Brasil. Esta unida- and Geothermal Research, v. 327, p. 531–538.
pretende contribuir para a gestão e prevenção de era o número de sítios arqueológicos conhecidos
danos a elementos do patrimônio arqueológico da em todo o munícipio). Como exemplo, cita-se o Su-
mencionada região por meio da educação patrimo- midouro do Rio Quebra-Perna (Figuras 2 e 3), que
nial, do fortalecimento de instituições públicas que passou de três para oito sítios e com áreas ainda
atuam na área ambiental, cultural, na produção de em fase de prospecção.
pesquisas e documentação. Um caráter inovador do projeto está na utili-
Assim, o projeto tem a finalidade de valorizar zação de métodos que realçam fotografias de gra-
o patrimônio cultural, fomentar a produção e a difu- fismos rupestres obtidas com máquina fotográfica e
são de conhecimentos, bens e serviços culturais, a aplicação de filtros DStretch, uma extensão utili-
além de preservar e promover o patrimônio cultural zada a partir do programa ImageJ (Figura 4).
material municipal, estando alinhado aos preceitos Com esta técnica de realce é possível ob-
do Plano Municipal de Cultura de Ponta Grossa. servar detalhes e até mesmo novas figuras antes
Também irá gerar dados e informações quantitati- imperceptíveis. Os autores ressaltam que não há
vas e qualitativas que podem subsidiar e orientar contato direto com as pinturas rupestres, apenas
ações de fiscalização e conservação dos sítios ar- registro fotográfico.
queológicos. Além disso, a produção de cartilhas de dis-
tribuição gratuita e oficinas de capacitação são
outras ações de inovação que o projeto proporcio-
nará. Esta proposta tornará as informações e pro-
dutos gerados acessíveis para agentes culturais da
cidade, como servidores públicos e representantes
de conselhos municipais. Neste mesmo sentido, o
projeto visa à realização de oficina de educação
patrimonial com adolescentes do Centro de Socio-
educação Regional de Ponta Grossa (CENSE-PG)
atendendo munícipios com elevada vulnerabilidade
Figura 1: Logo do projeto com destaque para a figura social, educacional e econômica.
aviforme, representação constantemente encontrada em Em vigência até dezembro de 2022, como
sítios arqueológicos da região.
continuidade do projeto estão previstas as seguin-
Até o presente momento já foram realizadas tes ações:
12 etapas de campo. Os integrantes do projeto ini- a) atualização sistemática de banco de dados do
ciaram os campos de caracterização e inventário patrimônio arqueológico da APA da Escarpa Devo-
dos sítios arqueológicos em locais já conhecidos, niana e disponibilização dos dados para órgãos res-
para posteriormente avançar na prospecção de no- ponsáveis pela fiscalização e gestão do patrimônio
vos locais. cultural;
A surpresa da equipe foi que, mesmo nos lo- b) execução de novos cursos de capacitação de
cais já conhecidos, com pesquisas reconhecidas há servidores públicos que atuam na área ambiental
décadas, novas pinturas foram encontradas. Desta e cultural;
forma, devido ao elevado número de sítios arque- c) apresentação dos resultados e produtos do pro-
ológicos levantados em um mesmo local, o projeto jeto para proprietários e comunidade do entorno de
passou a utilizar o termo núcleo arqueológico. sítios arqueológicos e;
As etapas de campo foram realizadas em d) publicações e comunicações científicas dos da-
apenas três sítios naturais do município de Ponta dos, resultados e experiências levantados ao longo
Grossa (Cachoeira da Mariquinha, Sumidouro do do projeto em periódicos e eventos da área ambien-
Rio Quebra-Perna e Buraco do Padre), totalizando tal e cultural.
25 sítios apenas nos três núcleos arqueológicos, Desta forma, os estudos podem subsidiar
o que enfatiza o potencial da região (visto que 25 protocolos para ações de manejo e embasar deci-
Figura 2: Painel já conhecido no Sumidouro do Rio Figura 3: Novo painel em pequeno abrigo com um possível
Quebra-Perna de 24 m² com diversas representações de canídeo representado no estilo crayon.
cervídeos, aviformes e sobreposições de pinturas.
sões do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, Os autores agradecem a ABC Projetos Cul-
como a inclusão dos sítios arqueológicos no inven- turais, responsável pela captação de recursos e as
tário municipal de patrimônio cultural e tombamento empresas AP Winner Indústria e Comércio de Pro-
de sítios relevantes e/ou em risco de degradação. dutos Químicos Ltda. e Águia Sistemas de Armaze-
Ao mesmo tempo, as informações serão organiza- nagem S.A., as quais destinaram o recurso finan-
das e apresentadas à sociedade por meio de dife- ceiro necessário para a execução desse projeto por
rentes recursos de comunicação, em processo de meio do Programa Municipal de Incentivo Fiscal à
educação patrimonial, essencial para o reconhe- Cultura – Promific.
cimento, valorização e consequente conservação
desse patrimônio.
Figura 4: Exemplo de aplicação de filtro do aplicativo DStretch para realce de fotografias de grafismos rupestres. Na
imagem, pintura ruprestre, de representação desconhecida, no sítio natural Cachoeira da Mariquinha.
preparation for ENEM, that a team from Guano Spe- mentel (biologist) and geographers Valdair Vieira,
leo entered, on June 22, 2021, the Geography class Erick Carvalho and Eleciania Tavares, provided stu-
at Guimarães Rosa Course. The class was held in dents with introductory knowledge about speleolo-
a virtual setting, which could refer to the darkness gy, care and equipment needed to explore a cave.
of a cave. Team members showed up wearing clo- However, the emphasis was on the part of biospele-
thes and equipment used in the speleological explo- ology, with scientific information passed on in a very
ration. The class aimed to insert, within the theme didactic way with dialogued exposition, by Narjara
“Brazilian Biomes”, introductory information about Pimentel.
caves, in order to awaken in students a view with With the format of dialogued exhibition con-
a conservationist bias, on the relationship and exis- ducted by Narjara Pimental, for approximately one
tence of caves in global ecosystems. As a comple- hour, students were able to present questions and
mentary research to the class, and with the neces- considerations through direct speeches or mani-
sary authorizations from the producers, two videos festations in the message box of the Google Meet
produced by the Biotrópicos team were reproduced, platform, where classes are normally taught. In-
which address the environmental impacts that the formation on the diversity of cave fauna was pre-
Cerrado and Atlantic Forest biomes have been suf- sented, and supported by academic and scientific
fering. studies, the theme about bats was the main focus.
Addressing the theme of speleology in geo- The biologist explained about the natural history of
graphy classes was already a proposal by the mem- the group in question (Figure 2) and the importance
ber of Guano and also volunteer professor of this of these animals for the balance and maintenance
discipline at Guimarães Course, Eleciania Tavares. of Brazilian and world ecosystems (Figure 3). She
However, the idea actually materialized when, in one also spoke about myths and truths (Figure 3), trying
of the previous classes, the students had many ne- to demystify the negative image that these animals
gative doubts and common sense about bats. Thus, in society, even more in times of coronavirus, when
the demand was presented by the teacher to the various untrue information about bats circulated
pedagogical coordination of the course and to the putting these animals at greater risk of suffering ex-
entire team of speleologists at Guano Speleo, who termination.
immediately embraced the proposed action with the Both the present students and the pedago-
students. This proposal would also integrate the gical coordination of the Guimarães Rosa Popular
IUS’s calling for the International Year of Caves and Course, represented by Átila Paraguassu (Figure
the Karst. 4), who is also an academic from the university's
The members of Guano Speleo, Narjara Pi- Medicine course, recognized the importance of ad-
Figure 2: Biology and natural history of the bat group. Images provided by the speaker (Narjara Pimentel).
Figure 3: Myths and legends about bats and the importance of conserving these animals. Images provided by the
speaker (Narjara Pimentel).
dressing the theme of speleology in the popular cou- Norte lead the ranking of Brazilian states with the
rse in order to propose complementary knowledge largest number of natural underground cavities.
for the preparation of students for the ENEM test. Since March 2020 – when the COVID-19
Student Dalleska Juliana Moreira Oliveira reports pandemic was declared by the World Health orga-
that “the class was very interesting! I think that un- nization – the Guimarães Rosa Course team of vo-
derstanding how caves works and their entire sys- lunteers and students have been striving to adapt
tem contributes a lot to knowledge. It's a subject that to the new reality of remote education. Many chal-
we only hear about, and bringing these curiosities lenges were found along the way, such as structural
shows the importance they have in all of our lives'' and social difficulties, considering the realities of the
The proposal is that during 2021, other in- students. A point that the team noticed is also the
terdisciplinary classes may take place with appro- impacts on mental health, given the uncertainties of
aches involving speleology, as this science can be the pandemic scenario and the challenge for ENEM.
explored from the perspective of other existing dis- However, the team of volunteers has been
ciplines in the prep course. Students, teacher and brilliantly identifying ways to avoid dropouts and
pedagogical coordination recognize that these the- ensure the permanence of students in the course.
mes and approaches can serve as complementary Analogous to the exploration of caves, this pande-
knowledge for students in their preparation process mic can be configured as a dark and still unknown
for ENEM. The pedagogical coordination also ex- “con”duit, but which can and will be explored and
pressed interest in carrying out, at the right time overcome with the help of science and collective ac-
and after the pandemic, a field activity in the city of tion
Cordisburgo/MG. This is the birthplace of the author “Exploring to know and, knowing to protect”,
from Minas Gerais, which gives its name to the po- as well as the dark ‘‘con”duits of the explored caves,
pular course, and which has cultural and speleolo- which will be illuminated by collective action and
gical relevance for the national and world scene, as with multidisciplinary knowledge. The COVID-19
it is where the Maquiné’s cave is located, where the pandemic will soon be overcome by scientific know-
naturalist Petter Lund (known as the Father of Pale- ledge, enabling the whole society to celebrate at the
ontology Brazilian) made very important discoveries highest level, especially in the space of speleology,
that revolutionized the history of Natural Sciences. which knows so well what it is like to celebrate when
According to the Chico Mendes ICMBio Ins- a new discovery is made. Let 2025 come.
titute, Brazil has a total of 21,893 caves (CECAV,
2021). One third are within Conservation Units and Translation by Ana Lupe Cavalcante.
the States of Minas, Pará, Bahia and Rio Grande do
Na Serra do Icó as rochas carbonáticas da Posteriormente, a equipe seguiu para Serra do Je-
formação Acauã se apresentam muito deformadas, rônimo, onde visitou a Gruta do Jerônimo, uma ca-
conforme registrado na Gruta do Icó (Figura 2A). vidade marcada pela presença de amplos salões
Cabe ressaltar a presença de uma mina de extra- e feições que evidenciam uma etapa relevante de
ção de rocha ornamental em área próxima da cavi- espeleogênese hipogênica na formação da cavida-
dade, com atividade interrompida há cerca de três de (Figura 2D). Logo ao lado dessa serra, foram
anos. também visitadas as Grutas do Salitre do Caipan
Na sequência, a equipe seguiu para a Serra de cima (Figura 2E) e de baixo, no município de
da Borracha, onde, dentre outros locais, foi visitada Canudos.
a Gruta do Patamuté, um amplo salão onde está Em seguida, sabendo da ocorrência de ro-
instalado um templo religioso, com altar e ex-votos chas carbonáticas aflorantes no município de Eu-
(Figura 2B). Nessa serra a equipe realizou ainda clides da Cunha, além da presença de mineradoras
prospecção na tentativa de encontrar o registro de de calcário para fabricação de cal e da ausência
uma cavidade próxima, porém a ocorrência não foi de registro de cavidades naquele local, optou-se
confirmada, sendo encontrada apenas uma peque- por buscar informações com os moradores da zona
na dolina, com diâmetro inferior a 10 metros e pro- rural e por meio desses diálogos foi constatada a
fundidade de até 1,5 metros. ocorrência de, ao menos, três cavidades, com des-
Nos arredores da Serra da Borracha foi tam- taque para a Gruta do Sino (Figura F), primeiro re-
bém visitada a Serra do Juá, onde foi encontrada a gistro de caverna no município. A cavidade possui
caverna Toca Grande, além de tufas carbonáticas e cerca de 25 metros de desenvolvimento e represen-
cavidades de pequeno porte com até 10 metros de ta a maior cavidade visitada pela equipe. Cabe re-
desenvolvimento (Figura 2C). gistrar que foi observada a ocorrência de um carste
Figura 1: Distribuição das áreas de ocorrência do Supergurpo Canudos, visitadas na primeira etapa de campo, reali-
zada durante o mês de Julho de 2021.
encoberto em Euclides da Cunha, com a presença 2022 a equipe percorrerá ainda as áreas de ocor-
de dolinas de subsidência, conforme visto em cam- rência das rochas carbonáticas dos Grupos Una e
po e também de acordo com relatos dos moradores Bambuí, para além das formações Caboclos e Ca-
locais. atinga, completando assim todas as regiões carbo-
Na etapa final do campo, a equipe visitou náticas do estado baiano. Como resultado deverão
grutas no município de Paripiranga, onde merece ser publicados artigos com uma proposta de mé-
destaque a Gruta do Bom Pastor (Figura 2G) que, todo para definição dos enfoques local e regional,
com mais de 70 metros de desnível, representa previstos no Decreto 6.640, de 2008, para além de
uma das maiores grutas do município. Foi também um livro versando sobre as cavernas e o carste na
visitada a Gruta da Salamanta (Figura 2H), instala- Bahia.
da em tufas calcárias, com mais de 50 metros de A equipe também disponibilizou uma pes-
desenvolvimento e que consiste em um sítio de re- quisa online para identificação e levantamento dos
levância paleoambiental, já que nessas tufas são trabalhos de topografia realizados em cavidades
encontrados muitos fósseis vegetais, importantes instaladas em rochas carbonáticas no Estado da
para entender os climas pretéritos e a evolução do Bahia, disponível em: https://forms.gle/fnYSLfHAo-
carste naquela região. 7CPvXBt7. Qualquer pessoa que tenha mapeado
cavernas em rochas carbonáticas na Bahia pode
A próxima campanha de campo do projeto responder o formulário. Essas informações serão
está prevista para o mês de outubro de 2021 e de- de grande ajuda e são importantes para o sucesso
verá acontecer na Bacia do Rio Pardo. Até o final de do projeto.
A B
C D
Figura 2: 2A – Dobras nas paredes da Gruta do Icó. 2B – Altar religioso no interior da Gruta do Patramuté. 2C – Gruta
em Tufas Calcárias na Serra do Juá. 2D – Pedans indicativos de processos hipogênicos na espeleogênese da gruta
do Jerônimo.
E F
G H
Figura 2E – Estruturas na parede da Gruta do Salitre do Caipan de Cima, em Canudos. 2F – Interior da Gruta do Sino
2G – Aspecto da rocha carbonática no interior da Gruta do Bom Pastor. 2H – Fósseis vegetais na Gruta da Salaman-
ta.
TRABALHOS
trabalhos paleontologia
RESUMO ABSTRACT
A prospecção de paleotocas da Megafauna The prospection of paleoburrows of the
Cenozóica no município de Urubici (Santa Catarina) Cenozoic Megafauna in the municipality of Urubi-
foi levada a cabo através de detalhada pesquisa bi- ci (Santa Catarina, Brazil) was carried out through
bliográfica e entrevistas, obtendo-se uma listagem detailed bibliographical research and interviews, re-
com duas dúzias de ocorrências. Trabalho de cam- sulting in a list with two dozen occurrences. Sub-
po posterior aumentou este número para 35 ocor- sequent fieldwork increased this number to 35
rências. Em sua maioria são túneis de grande porte, occurrences. Most of them are large tunnels, with
com mais de um metro de diâmetro. O tamanho dos more than one meter in diameter. The size of the
túneis sugere que foram escavados por preguiças tunnels suggests that they were excavated by ter-
terrestres, portanto, atribuídas à Megaichnus major. restrial sloths, therefore, attributed to Megaichnus
Muitas estão parcialmente ou totalmente preenchi- major. Many are filled partially or completely with
das por sedimentos, dificultando ou impossibilitando sediment, making access difficult or impossible. Se-
o acesso. Várias, entretanto, estão desobstruídas, veral, however, are unobstructed, making it possib-
permitindo reconhecer túneis com várias dezenas le to recognize tunnels several tens of meters long,
de metros de comprimento, que podem formar sis- which can form complex underground systems. The
temas subterrâneos complexos. As ocorrências fo- occurrences were grouped into five informal types,
ram agrupadas em 5 tipos informais, dependendo depending on the number of tunnels and if open or
do número de túneis e se estavam abertos ou pre- filled with sediments. The high number of tunnels
enchidos com sedimentos. O elevado número de probably finds its explanation in the region's climate
túneis provavelmente encontra sua explicação no and geology. The climate is very cold, with tempe-
clima e na geologia da região. O clima é muito frio, ratures close to zero in winter. The rocks of the re-
com temperaturas próximas a zero no inverno. As gion allow the excavation of underground shelters.
rochas da região permitem a escavação de abrigos As these conditions repeat itself in the neighboring
subterrâneos. Como estas condições se repetem municipalities, it is very likely that there are several
em municípios vizinhos, é muito provável que haja dozen paleoburrows in these municipalities too.
várias dezenas de paleotocas também nestes mu-
nicípios. Keywords: Ichnofossil; Megaichnus; Megafauna;
Palavras-Chave: Icnofóssil, Megaichnus, Megafau- Paleoburrows; Crotovines.
na; Paleotocas; Crotovinas.
1. INTRODUÇÃO
As informações de campo pioneiras levanta-
das pelo Prof. Jorge Alberto Villwock (in memorian),
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
geraram o primeiro artigo sobre paleotocas no Sul
do Brasil (Bergqvist & Maciel, 1994). Esses túneis,
escavados por mamíferos da Megafauna Cenozói-
ca como tatus gigantes (Dasypodidae) e preguiças
terrestres (Mylodontidae), foram depois investiga-
dos sistematicamente pelos integrantes do Projeto
Paleotocas (UFRGS e UNESP), construindo um
número elevado de informações (e.g., Frank et al.,
2012; Buchmann et al, 2016, Lopes et al, 2016), lis-
tados em www.ufrgs.br/paleotocas/Producao.htm.
Mais tarde, estes icnofósseis também foram pros-
pectados por grupos de pesquisadores da Universi- Figura 1: Mapa de localização de Urubici.
dade Federal de Pelotas (UFPel), da Universidade e associa-las ao nome do município, assim sendo
do Contestado (UnC) e da Universidade Estadual possível identificar as ocorrências já conhecidas e
do Paraná (UFPR), por exemplo. publicadas.
Paleotocas de grande porte aparentemente Uma outra etapa foi a pesquisa bibliográfica
são uma exclusividade Sul-Americana, sem registro na literatura histórica e na literatura arqueológica.
em outros continentes. E mesmo na América do Sul Especialmente a investigação da literatura arque-
sua densidade é altamente variável. Nos Países An- ológica foi muito importante, pois os arqueólogos
dinos, por exemplo, os registros de paleotocas são pioneiros da Região Sul, sem outra explicação plau-
escassos. Na Argentina ocorre este tipo de icnofós- sível para os grandes e longos túneis que encon-
sil próximo a Mar del Plata, exposto nas falésias à travam em suas pesquisas, lhes atribuíam origem
beira-mar e geralmente (>95%) estão preenchidas antropogênica, denominando-os “galerias indíge-
por sedimentos. Em outros países (Uruguai, Para- nas subterrâneas” (e.g., Prous, 1991). Consultando
guai) há apenas registros esporádicos. No Brasil, as listas telefônicas de Urubici, foram encontrados
entretanto, há centenas de paleotocas nos estados os descendentes dos proprietários das localidades
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com re- nas quais foram descritas “galerias indígenas” nas
gistros mais escassos nos estados mais ao norte décadas de 1960 a 1970, pois as famílias continu-
(Frank et al., 2012; Buchmann et al., 2016). avam a morar nas mesmas propriedades. Um con-
Nesta contribuição apresentamos as pale- tato telefônico prévio com estes moradores permitiu
otocas encontradas no município de Urubici (San- a apresentação dos pesquisadores e a obtenção da
ta Catarina; Latitude 28º 00´ 55´´ S, Longitude 49º autorização de visita às paleotocas.
35´ 30´´ W; Fig. 1), onde foi registrada uma elevada Também foram contatados por telefone al-
densidade de paleotocas (uma a cada 30 km2), que guns guias locais de turismo de aventura, tanto para
provavelmente se repete nos municípios vizinhos a identificação de paleotocas como para contrata-
adjacentes. Assim, o caso de Urubici é representa- ção de serviços de guia durante a etapa de campo.
tivo para a densidade de paleotocas nesta região. Uma vez concluída a etapa de gabinete, foi
realizado trabalho de campo, visitando várias ocor-
2. MATERIAIS E MÉTODOS rências, além de prospectar novas ocorrências ao
A identificação de paleotocas no município longo das rodovias da região e por conversas com
de Urubici foi desenvolvida inicialmente por pros- moradores locais.
pecção digital, pesquisando imagens e outras in- Nas paleotocas visitadas (Tabela 1) foi rea-
formações na internet. Esta técnica consiste em lizado o reposicionamento com GPS, um levanta-
usar palavras-chave relativas a paleotocas (“gruta”, mento fotográfico e obtidas medidas de comprimen-
“toca”, “caverna”, “paleotoca”, “túnel”, “furna”, etc.) to, largura e altura.
Para cada ocorrência de paleotocas foi ge- rochas magmáticas ou metamórficas inalteradas.
rado um código informal (URU-no) e atribuída uma Em Urubici geralmente situam-se em arenitos.
denominação, que pode ser o nome pelo qual a Os tipos assim estabelecidos são (A) siste-
ocorrência é conhecida, se referindo ao proprietário mas de paleotocas interligadas, (B) duas ou mais
atual ou passado ou ainda à localização da ocor- paleotocas próximas umas das outros, em um raio
rência. As coordenadas geográficas referem-se às de algumas dezenas de metros, mas não interliga-
ocorrências que foram confirmadas, o que para al- das, (C) uma única paleotoca isolada, (D) várias
gumas delas não foi possível, quando a informação crotovinas próximas umas das outras, em um raio
não constava na literatura arqueológica e não hou- de algumas dezenas de metros e (E) uma única
ve tempo para procurar a ocorrência. crotovina, ocorrendo isolada.
Uma coluna traz o número da ocorrência
no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (Ca-
dastro, 2021), quando for o caso. A última coluna
à direita estabelece 5 tipos informais para as ocor-
rências, dividindo-as em “Sistemas de Túneis” e em
“Túneis Simples” bem como em relação ao grau de
seu preenchimento, “Abertos” ou “Preenchidos”.
Estes tipos, usados aqui pela primeira vez, permi-
tem apresentar adequadamente as ocorrências da
região.
A designação “Sistema de Túneis” refere-se
a ocorrências com vários túneis interligados entre
si. “Túneis Simples” refere-se a um único túnel, sem
ramificações.
“Aberto” neste contexto indica que o túnel
não foi completamente preenchido por sedimentos,
sendo considerado uma paleotoca. A porção de-
sobstruída ainda existente pode ser acessada ou
não, dependendo do tamanho do túnel e do grau de
entulhamento com sedimentos. “Preenchido” são
túneis integralmente entulhados com sedimentos,
designados na literatura como “crotovinas”.
Nas paredes e no teto dos túneis abertos ge-
ralmente podem ser encontradas: (i) marcas de gar-
ra dos animais escavadores nas paredes, (ii) mar-
cas de alisamento das paredes pela passagem dos
Tabela 1: Ocorrência e classificação das paleotocas e
animais, (iii) marcas de reocupação (tatus, gambás, crotovinas no município de Urubici (SC), com indicação
etc.), (iv) feições erosivas, (v) feições antropogêni- da nomenclatura dada pelo Cadastro Nacional de Sítios
cas recentes (vandalismo, marcas de picareta, etc.) Arqueológicos (CNSA)
e (iv) inscrições rupestres, estas últimas bastante
raras (Frank et al., 2012, p.148). A interpretação 3. RESULTADOS
das feições das paredes e do teto dos túneis po- Algumas ocorrências bem representativas
derá ser realizada futuramente já que depende de de cada tipo informal definido nesta contribuição
método específico que exige muito mais tempo. serão apresentadas a seguir.
As litologias nas quais as paleotocas foram
escavadas não foram indicadas em função da com- 3.1 Ocorrências do Tipo A – Sistema de paleoto-
plexa geologia de Urubici, que exige um mapeamen- cas interligadas.
to de detalhe. Paleotocas, de maneira geral, podem A ocorrência URU-01 (Fig. 2) é a “Caverna
ser encontradas em qualquer litotipo que não sejam do Rio dos Bugres”, a paleotoca mais famosa da ci-
dade, interpretada pelos descobridores como mina de giro com 3x3x3 m, do qual partem 5 túneis dis-
de prata dos jesuítas (Padberg-Drenkpol, 1933). É postos radialmente. Três encontram-se entulhados
um sistema de túneis abertos com 1,5 m a 2,0 m por sedimentos. O maior e mais acessível possui 25
de altura e 1,0 m de largura. Possui 5 entradas, si- metros de comprimento, 3 metros de altura e quase
nais de ocupação indígena (grafismos rupestres) e 1,5 metro de largura. Marcas de garra com 3 cm de
de vandalismo recente em função dos caçadores largura e até 40 cm de comprimento cobrem algu-
de tesouros e da constante visitação por turistas. mas paredes. O acesso se dá por uma dolina no
Atualmente é um ponto turístico com cobrança de terreno, formada pelo desabamento do teto de um
ingresso e limitado controle quanto ao número e dos dois túneis abertos. Próximo à entrada há vá-
comportamento de visitantes. rias outras dolinas na encosta do morro, indicativas
de outros túneis ali existentes, mas com as entra-
das obstruídas pelo material desabado para dentro
das dolinas.
ocorrência de rochas vulcânicas alteradas e rochas Frank, H.T.; Buchmann, F.S.C.; Lima, L.G.; Fornari,
sedimentares, ambas de fácil escavação. Como M.; Caron, F.; Lopes, R.P. 2012. Cenozoic Vertebra-
estas condições são similares nos municípios vizi- te Tunnels in Southern Brazil. In: Netto, R.G., Car-
nhos, é muito provável que haja um elevado núme- mona, N.B. & Tognoli, F.M.W. (eds.). 2012. Ichnolo-
ro de paleotocas também ali. gy of Latin America - selected papers. Porto Alegre:
Sociedade Brasileira de Paleontologia, Monografias
6. AGRADECIMENTOS da Sociedade Brasileira de Palentologia, 2, 196 p.,
Os autores desejam expressar seus agrade- p. 141 - 157.
cimentos aos proprietários das áreas pela autoriza-
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Geociências, UFRGS. Porto Alegre, RS. 322 pg. il.
RESUMO ABSTRACT
Neste trabalho é realizado o primeiro re- In this paper, the first speleological record of
gistro espeleológico da Gruta do Engrunado, uma the Engrunado cave is made, a subterranean ca-
cavidade subterrânea localizada no município de vity located in Nova Redenção municipality, Bahia,
Nova Redenção, Bahia, onde ocorre uma assem- where a Late Pleistocene mammal fossil assembla-
bleia fossilífera de mamíferos quaternários. Identi- ge was found. Eight mammal families were identi-
ficou-se oito famílias de mamíferos, incluindo for- fied, including small-, mid- and giant-sized forms,
mas de pequeno, médio e grande porte, apontando showing the high fossiliferous potential of the cars-
o alto potencial fossilífero das cavernas cársticas tics caves of Chapada Diamatina. The cave topo-
da Chapada Diamantina. A topografia da caverna graphy exerts great influence on the mode that the
exerce grande influência na forma como os fósseis fossils were deposited in the cave, revealing that
são depositados, portanto, estudos espeleológicos geospeleological studies associated to a paleonto-
associados a uma abordagem paleontológica são logical approach are useful tools to paleoenviron-
ferramentas úteis para reconstruções paleoambien- ment reconstructions in karstic environments.
tais em ambientes cársticos.
Keywords: Nova Redenção; Mammals; Quaternary.
Palavras-Chave: Nova Redenção; Mamíferos; Qua-
ternário.
Figura 2: Planta baixa da Gruta do Engrunado e perfil do “abismo do medo” por onde se acessa os níveis inferiores.
O material foi coletado na porção NW da caverna.
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org/10.1590/0001-3765201420140314.
O Seridó no início do
Holoceno
Caio de Freitas Tavares 1,2
Dyana Caroline Ferreira Cardoso3,4
Marcos Antônio Leite do Nascimento5,6
Ian Victor Silva Cordeiro 7,8
RESUMO ABSTRACT
O território conhecido como Seridó fica loca- The territory known as Seridó is located in
lizado no Nordeste Setentrional Brasileiro e corres- the setentrional Northeast of Brazil and corresponds
ponde a uma das regiões de clima semi-árido com to one of the regions with the most severe semi-a-
condições mais severas do país. Reconstruções rid climate conditions in the country. Paleoclimatic
paleoclimáticas apontam para um clima mais ame- reconstructions point to milder climate conditions at
no no início do Holoceno com a mudança do regime the beginning of the Holocene with the change in
climático e a instalação da Caatinga (ecossistema the climate regime and the installation of the Caatin-
adaptado a condições climáticas secas e quentes) ga (ecosystem adapted to dry and hot climatic con-
a partir de 4000 anos AP, como resultado de varia- ditions) from 4000 years BP, as result of variations
ções nos Ciclos de Milankovitch. Evidências arque- on Milankovitch Cycles. Archaeological evidence,
ológicas, como a presença de sítios próximos a cor- such as the presence of sites close to bodies of wa-
pos d’água e pinturas retratando antigas povoações ter and paintings depicting ancient settlements and
e embarcações fluviais apontam para condições river vessels, point to milder weather conditions du-
climáticas mais amenas durante a ocupação desse ring the occupation of this territory in the past. In
território no passado. Nesse sentido, o presente tra- this sense, the present work, from the quantitative
balho faz estimativas a partir da análise quantitativa and qualitative analysis of the spatial distribution of
e qualitativa da distribuição espacial de cavidades natural cavities and sites with evidence of human
naturais e sítios com evidências de ocupação hu- occupation, integrated with hydrological modelling,
mana integrada a modelamentos hidrológicos quan- estimates the paleoenvironmental conditions in the
to às condições paleoambientais na região do Seri- Seridó region and its influence on the archaeologi-
dó e sua influência no registro arqueológico. cal record.
Figura 1: mapa geológico simplificado da área de estudo com a localização das principais cavidades naturais e ocorrên-
cias de sítios arqueológicos. Base de dados geológicos CPRM (2016). Base de dados espeleológicos; CANIE/CECAV
(2020). Base de dados arqueológicos CNSA – IPHAN (2021).
As cavernas e os abrigos desenvolvem-se por Maia e Bezerra (2020), e como pode ser obser-
em rocha sã, nas porções mais superiores no en- vado na Pedra da Arara e nos tafones da Serra das
torno de grandes maciços rochosos de cordierita- Cruzes (figura 4).
-granada-biotita-xisto e muscovita-quartzito, nota-
damente quando apresentam foliação metamórfica
sub-horizontal.
As cavernas apresentam forma tipicamente
ovalada, com largura como dimensão mais desen-
volvida (largura > desenvolvimento linear > altura),
podendo chegar a 60 metros, como na Furna do
Jalmir (figura 2). As cavernas não apresentam zona
afótica, ou quando apresenta, essa é muito pouco
desenvolvida.
Os abrigos podem apresentar valores em
torno de 100 metros de largura (largura > altura >
desenvolvimento linear), como no caso dos abrigos
Figura 4: Tafone no plúton granítico Acari na Serra das
da Serra do Gavião mostrado na figura 3. Cruzes no município de Acari/RN.
As cavidades formadas em depósitos de
tálus e diáclases inventariadas dizem respeito a ca-
vidades com desenvolvimento linear maior que 1,80
m, penetráveis pelo ser humano. Nessas feições,
formadas por agentes físicos e tectônicos do intem-
perismo respectivamente, foram encontradas fezes
de pequenos roedores (mocós e preás) e de veado
catingueiro, além de morcegos. Um importante sítio
arqueológico fica em um depósito de tálus, a Pedra
de Retumba (Oliveira et al., 2020), mostrada na fi-
gura 5.
duas técnicas pictográficas de registros rupestres: encontrado na região de Carnaúba dos Dantas (No-
gravuras e pinturas (Martin, 1997). gueira, 2016), tem como um dos seus traços grá-
As gravuras são classificadas como perten- ficos (emblemáticos) a representação de pirogas
centes à subtradição Ingá da tradição Itaquatiara do (Martin, 2008), mostradas na figura 7. As pirogas
Leste (Martin, 1997). Os grafismos dessa subtradi- são embarcações indígenas a remo, feitas com
ção têm como característica principal a preparação tronco de árvore.
(raspagem e o alisamento) do suporte rochoso e
aplicação de tinta sobre as gravuras entalhadas na
rocha. O conteúdo dos grafismos traz formas com
tendência curva e complexa e pontos e pequenas
formas circulares gravadas ordenadamente e que
dão a impressão de linhas de contagem (Martin,
1997). Figura 6: Itacoatiara junto a parede da Cachoeira do Pe-
Gravuras deste tipo são encontradas comu- dro no município de Picuí/PB.
mente junto a afloramentos rochosos próximos a ASPECTOS HIDROLÓGICOS
corpos d’água, como a Pedra de Retumba (figura 5) Foram realizados modelamentos hidrológi-
e a Cachoeira do Pedro (figura 6). cos a partir de modelos digitais de elevação com
As pinturas são classificadas como perten- o intuito de relacionar geograficamente evidências
centes à subtradição Seridó da tradição Nordeste. arqueológicas e cursos d’água. Essa abordagem
A tradição Nordeste pode ser identificada pela va- foi feita devido ao fato que no clima semi-árido do
riedade de temas e riqueza de detalhes. As cenas Seridó, os rios apresentam cursos intermitentes ao
trazem símbolos antropomórficos, zoomórficos, fito- longo do ano, passando a maioria da temporada de
mórficos, além de formas geométricas que adornam estiagem, secos, como mostrado em mais detalhe
as figuras e expressam significados nesse contexto nas imagens de satélite da figura 8.
arqueológico (Nogueira, 2016; Costa, 2018; Martin Foram calculados os principais canais que
e Asón, 2018). recebem os fluxos e acumulações de águas superfi-
O estilo Carnaúba, da subtradição Seridó, ciais a partir das imagens de satélite. Essa metodo-
Figura 7: Painel pictográfico da Furna dos Caboclos. A cena é composta por figuras antropomórficas com diferentes
tons e ornamentos de cabeça (laranja e vermelho – indicado pelas setas inclinadas), além de figuras zoomórficas (seta
horizontal). No centro a esquerda (indicado pela seta vertical) é possível notar a representação de uma piroga.
logia permitiu investigar com mais detalhe a relação inundação do vale do rio Carnaúba dos Dantas e
entre as informações arqueológicas e as condições de vestígios arqueológicos na Área Arqueológica do
de paleonavegabilidade dos rios da área de estudo. Seridó (Rios e Santos Júnior, 2014; Costa, 2018;
Na análise do mapa 1 se confirma a correlação Brandão e Tavares, 2020) confirmam as evidências
espacial entre os principais cursos d’água e as geoarqueológicas quanto à paleonavegabilidade
ocorrências, tanto de sítios arqueológicos, quan- dos cursos d’água no Seridó em épocas passadas.
to de cavidades. Esse fato, por razões diferentes,
confirma o papel da água como agente modelador CONSIDERAÇÕES FINAIS
do relevo e determinante na fixação de populações Na Área Arqueológica do Seridó a presença
humanas, principalmente de grupos nômades que de pirogas nas pinturas rupestres são evidências
provavelmente viviam da caça e da coleta de ali- claras da paleonavegabilidade dos principais cur-
mentos (Martin, 1997). sos d’água no passado. Estudos paleoclimáticos,
Estudos sedimentológicos na planície de arqueológicos e de variação eustática oferecem
Figura 8: Imagens hiperespectrais do sensor Sentinel 2 obtidas no dia 19 de julho de 2021 sobre a cidade de Carnaúba
dos Dantas/RN. São apresentadas três composições de bandas espectrais com diferentes combinações aplicadas ao
destaque de determinadas feições da superfície. Nas três imagens destaca-se a cor azul intensa dos reservatórios de
água (açudes) e os canais secos dos cursos fluviais neste período do ano.
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Potencial arqueológico da
região de Natalândia - Mg
Samuel Santos de ALMEIDA1,2
Tulio Gabriel Ramos RIBEIRO1,2
Suzany de Almeida LIMA1,2
rências arqueológicas. Quando identificadas, estas Para melhor visualização e análise, as foto-
ocorrências tiveram suas coordenadas geográficas grafias das pinturas passaram por um processo de
registradas por aparelho receptor de GPS da Gar- recuperação e realce de tonalidades, por meio do
min, modelo Etrex 30, além de serem fotografadas uso do software PhotoScape 3.7, como exemplifica-
e sistematicamente descritas com base no guia de do na Figura 2. O material obtido foi utilizado para
cadastro proposto por Carvalho & Seda (1982). Os caracterizar os grafismos de acordo a literatura.
pontos de ocorrência estão representados no Qua-
dro 1 e espacialmente representadas no mapa da RESULTADOS
Figura 1. Abrigo do Descamamento (NR01)
O abrigo está localizado ao longo do pare-
dão rochoso, com abertura orientada para nordeste.
Trata-se de um abrigo pequeno, com aproximada-
mente 11 m de altura, 10 m de largura e aproxima-
damente 3,5 m de desenvolvimento horizontal.
Foram identificadas no abrigo, oito painéis
com média de 3 pinturas por painel. As sinalizações
rupestres são exclusivamente representadas por
geometrismos compostos por pequenos bastonetes
lineares e simples, que variam, em média, de 6 a 15
cm de comprimento e aproximadamente 3,0 a 2,0
cm de espessura (Figura 3). As composições são
monocromáticas, pintadas majoritariamente na cor
vermelho, tendo ocorrências também na cor preta.
Uma vez coletados, os dados foram organi- Conjuntos de 11 bastonetes compõem figu-
zados e devidamente cadastrados em bancos de ras que variam entre 5 a 25 cm de comprimento, e
informações, como CANIE, CNE e CNSA. A etapa são dispostos de forma padronizada ao longo de
final consistiu em todo o processamento, análise e níveis nas paredes do abrigo, não ultrapassando
interpretação realizados a partir dos dados levanta- 1,8 m de altura. Há uma maior concentração de pin-
dos antes e depois da incursão de campo. turas em níveis mais baixos, de até um metro de
altura em relação ao piso do abrigo (Figura 4). Há nesta ocorrência, presença de pátina e
Observou-se também que no conjunto estilístico liquens próximos ao painel, o que torna difícil a vi-
presente no Abrigo do Descamamento, a maio- sualização dos elementos estilísticos e forma ori-
ria dos traços apresentam cores concentradas e ginal das pinturas. Ainda assim, é possível identifi-
acabamento arredondado, motivo que leva Baeta car a presença de traços lineares com acabamento
(2011) a sugerir que esse tipo de bastonete deve redondo e dispostos paralelamente em conjuntos
ter sido produzido com tinta não diluída e aplicada com alternância bicrômica (vermelho-amarelo). Há
diretamente com os dedos. presença de pontos com tinta relictual ao longo da
parede escavada. Este fato pode sugerir que existia
no passado um conjunto pictural maior no local, atu-
almente quase que completamente apagado pelas
intempéries (Figura 6).
Figura 14: Tronco entalhado posicionado estrategicamen- Figura 15: Exemplo de fragmento de cerâmica encontrado
te em trecho acidentado, na entrada da Gruta dos Mean- no interior da gruta dos Meandros. Escala canivete = 10
dros. Como escala: Guilherme Villanova. cm.
Figura 16: Quelônio no Abrigo da Reentrância (Realçada). Figura 17: Zoomorfos presentes na parede do Abrigo da
Reentrância (Realçada).
Figura 18: Painel com pintura no Abrigo das Pinturas. Figura 19: Pintura no Abrigo das Pinturas (Original).
Como escala: Guilherme Villanova.
tintas concentradas aplicadas na rocha diretamente am-se em alturas entre 0,7 a 2,2 metros em média,
por dedos. As figuras descobertas foram elabora- sendo vistos somente dentro da cavidade. No en-
das predominantemente na cor vermelha, ocorren- tanto, verificou-se a presença de figurações que fo-
do, em menor quantidade, grafismos em preto e ram confeccionadas na parede externa e de manei-
amarelo. Além disso, há um predomínio de formas ra a ser avistadas a longa distância, como em um
geométricas como linhas, bastonetes, círculos e painel vertical situado próximo na entrada da Lapa
anéis na composição dos painéis. Antropomorfos da Pantera (Figura 21) e a figura no Abrigo das Pin-
são, no geral filiformes, assim com os zoomorfos, turas (Figura 18).
sendo ambos de ocorrência menos comum. Além
disso, foi observado que maioria das formas filifor-
mes ou geometrizantes coincidem com a espessura
e formato de dedos, podendo ser esta a principal
técnica de pintura utilizada. Não foram vistos casos
em que a tinta escorreu após sua aplicação ou de
gotas acidentais de tinta.
Na maioria dos locais de ocorrências as pin-
turas se encontram dispostas sem nenhum tipo de
superposição o único exemplo em que há inserção
de elementos sobrepondo figuras já pintadas acon-
tece na Lapa da Pantera. Nestes casos as pinturas
acrescentadas parecem não ter uma forma interati-
Figura 20: Geometrismo na Lapa da Pantera (Realçada).
va com as anteriores, mas sim, tendem a acrescen- Pintura parcialmente apagada por ação de escorrimento
tar itens novos a cena. da água pluvial. Escala régua = 15 cm.
Observou-se que em painéis próximos a su-
perfície era comum formação de liquens, camadas Ao analisar as sinalações encontradas no
de pátina, escorrimento de água, descamamentos Morro da Pedra Azul percebe-se uma relação com
da rocha e crescimento de cristais de calcita. Estes alguns padrões típicos da Tradição São Francisco,
foram os principais agentes que ocasionam a remo- que pode ser encontrada em estados do centro-oes-
ção ou perda definitiva das pinturas na região. te e nordeste brasileiro (JUSTAMAND, et al. 2017).
Por fim, foi constatado que as figurações normal- Esta tradição é definida por Prous (1992) como
mente se situam na porção basal de paredes inter- sendo composta por grafismos geométricos que so-
nas ou em suas proximidades, cujos painéis situ- brepujam em quantidade os zoomorfos (quase que
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao secretário de
meio ambiente de Natalândia, Leandro Marques,
pela confiança e por toda a ajuda antes e durante o
trabalho de campo. Aos proprietários das fazendas
prospectadas, Sr. Régis e Sr. Emanuel, pela auto-
rização e acolhimento, e aos demais moradores de
Natalândia pela receptividade.
Agradecemos por ceder fotografias para uso
neste trabalho: Beatriz Timótio (Figura 4), Guilher-
me Villanova (Figura 19) e Leda Zogbi (Figura 13).
Também a Fábio Osorio pela confecção do mapa de
Figura 21: Painel com pintura a aproximadamente 5 m
de altura, situado próximo à entrada da Lapa da Pantera. localização (Figura 1).
Como escala: Beatriz Timótio. Por fim agradecemos a parceria da Socieda-
de Brasileira de Espeleologia por apoiar financeira-
Os grafismos em painéis apresentam va- mente o “Projeto Unalândia: Conhecer para Prote-
riações no que se refere aos aspectos estilísticos ger” através do Edital SBE 01/2020.
e quantitativos em cada sítio. Percebe-se que os
abrigos normalmente comportam menos de meia REFERÊNCIAS
dúzia figuras. A quantidade parece aumentar con- BAETA, Alenice Motta. Os grafismos Rupestres e
forme crescem as dimensões da cavidade. A Lapa suas Unidades Estilísticas no Carste de Lagoa San-
da Pantera possui maior dimensão e é o local que ta e Serra do Cipó – MG. 2011. Tese (Doutorado em
apresenta maior quantidade e variedade de grafis- Arqueologia Brasileira) – Museu de Arqueologia e
mos bem como é o único local com presença de Etnologia. Universidade de São Paulo, São Paulo,
gravuras em rocha. A partir desse panorama, parti- 2011.
lha-se da hipótese levantada por Baeta (2011), de
que os abrigos com mais pinturas, como a Lapa da BARBOSA, E,P. Pinturas rupestres em abrigos de
Pantera, serviam como referências para os autores rocha na Serra Branca, Morro do Chapéu, Bahia. In:
enquanto aqueles com menos pinturas eram locais RASTEIRO, M.A.; SALLUN FILHO, W. (orgs.) CON-
de interesse secundário. GRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, nº
33, 2015. Eldorado. Anais... Campinas: SBE, 2015.
pattern, with 20 meters of depth. The floor of the hall sidera “Bens da União” (SENADO FEDERAL, 2016).
near the entrance, in the first 70 meters of the cave, O grau de relevância de uma caverna pode ser uti-
is largely occupied by large pisoid structures known lizado como um dos critérios para se preservar uma
as cave pearls. They are embedded and concreted caverna. Esse foi estabelecido pela Instrução Nor-
into old travertine dams, and are exposed in natural mativa MMA (Ministério do Meio Ambiente) no 2 de
erosion ridges and more recent excavations. The 30/08/2017, que regulamenta o artigo 5º do decreto
genesis of the giant pearls of Lapa D' Água of Mon- no 6.640/2008 e revoga a Instrução Normativa no
tes Claros is not fully unraveled; a genetic model is 2/2009 (MMA 2017). De acordo com essa instru-
proposed from morphological and paleohydrological ção, uma caverna com grau de relevância máximo
aspects specific to the cave, where the pearls was é aquela que possui pelo menos um dos seguintes
formed by the precipitation of CaCO3 around seeds atributos: 1 - gênese única ou rara; 2 - morfologia
available within the travertine basins, from the satu- única; 3 - dimensões notáveis em extensão, área
rated carbonate solutions under flowing conditions, ou volume; 4 - espeleotemas únicos; 5 - isolamento
that promotes rotation of the forming structures. geográfico; 6 - abrigo essencial para a preservação
Due to the abundance, atypical dimensions and po- de populações geneticamente viáveis de espécies
tential for geochronological and paleoenvironmental animais em risco de extinção, constantes de lis-
studies, it is proposed that Lapa D' Água be consi- tas oficiais; 7 - habitat essencial para preservação
dered a geosite of international scientific importan- de populações geneticamente viáveis de espécies
ce, according to the application of the quantitative de troglóbios endêmicos ou relictos; 8 - habitat de
evaluation method established in the GEOSSIT troglóbio raro; 9 - interações ecológicas únicas; 10
platform, of the Geological Survey of Brazil. Accor- - cavidade testemunho; 11 - destacada relevância
ding to the same application, the geosite also has histórico-cultural ou religiosa.
potential educational and tourist use, with national Ao abordar as cavernas como patrimônio
relevance, and low risk of degradation, since it is lo- geológico, analisamos seu contexto geológico,
cated in a nature conservation unit of full protection, suas características genéticas e geomorfológicas,
under controlled use. seus depósitos químicos (espeleotemas) e clásti-
cos, seu conteúdo fossilífero, e outros. Algumas ca-
Keywords: karst, cave pearls, geoheritage, Bambuí vernas podem se destacar por possuir característi-
Basin. cas singulares, tais como: (1) morfologia (padrão de
desenvolvimento e dimensão); (2) ambiente de for-
1. INTRODUÇÃO mação (por ex. carste fluvial, hipogênico, etc); con-
O Patrimônio geológico integra todos os ele- teúdo de espeleotemas (um tipo específico e raro,
mentos notáveis que constituem a geodiversidade ou dimensão); (3) características micromorfológicas
do nosso planeta (Brilha 2005). São locais chave internas; (4) seus depósitos sedimentares; (5) tipo
para a compreensão da história geológica da Terra de rocha em que se formou; (6) conteúdo fossilífe-
(Brilha 2016). Envolve diversas áreas temáticas que ro; dentre outros elementos (Woo & Kim 2018).
estão relacionadas direta ou indiretamente com a Em Minas Gerais, algumas cavernas foram
geologia (estratigrafia, sedimentologia, petrografia, tombadas pelo IEF (Instituto Estadual de Florestas)
mineralogia, geologia estrutural, metalogenia, pale- e pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conser-
ontologia, geomorfologia, hidrogeologia, espeleolo- vação da Biodiversidade) como monumentos natu-
gia, e outras). Para designar um sítio do patrimônio rais ou compõem parques estaduais e nacionais:
geológico usamos o termo “Geossítio” que descre- Gruta Rei do Mato (Sete Lagoas), Gruta de Maqui-
ve elementos raros ou representativos de situações né (Monumento Natural Peter Lund, Cordisburgo),
ou aspectos geológicos que retratam detalhes da Gruta da Lapinha (Parque Estadual do Sumidouro,
história geológica do nosso planeta (minerais, ro- Lagoa Santa), Gruta Cerca Grande (Parque Es-
chas, fósseis, paisagens etc.), o que nos remete a tadual Cerca Grande, Matozinhos), Lapa Verme-
outro tema, a geoconservação. lha (Pedro Leopoldo), Lapa Nova (Vazante), Lapa
No Brasil, as cavernas são protegidas pela Grande (Parque Estadual da Lapa Grande, Montes
Constituição Federal do Brasil de 1988 que as con- Claros) e Gruta Janelão (Parque Nacional Caver-
nas do Peruaçú, Januária). Essas cavernas podem As visitas são guiadas por monitores locais que são
ser consideradas geossítios espeleológicos com treinados nas áreas de segurança, meio ambiente
base em seu uso científico, educacional, turístico e e espeleologia. Os roteiros envolvem caminhadas
econômico, já consagrado há décadas. em trilhas para observação da vida selvagem, um
Na avaliação da Lapa D´Água como um mirante e visita às entradas das cavernas, algumas
geossítio espeleológico, o aspecto mais relevante delas são surgências perenes. Ao longo do riacho
são as pérolas que se destacam pelas suas dimen- principal que permeia a área administrativa do par-
sões, consideradas raríssimas e classificadas como que, há uma série de travertinos (tufas calcárias) de
“pérolas gigantes”. A Lapa D'Água (código CANIE rara beleza. As grutas mais visitadas no parque são
MG00429, SBE-MG-118) faz parte de um conjun- a Lapa Grande, que dá nome ao parque; a Lapa
to de dezenas de cavernas atualmente conhecidas do Boqueirão da Nascente, como o próprio nome
no carste de Montes Claros, norte de Minas Gerais indica, trata-se de uma surgência perene de água
(Fig. 1) A região é uma importante área de manan- cristalina; a Lapa Pintada, que possui um grande
ciais que abastece a cidade e também de proteção acervo de pinturas rupestres; e a trilha da Ponte de
de mata nativa, conhecida localmente como “Mata Pedra.
Seca”. Nessa área foi criado o Parque Estadual da Na área onde se encontra a Lapa D´Água, a
Lapa Grande (PELG) com objetivo de proteger essa rocha predominante é o calcário cristalino calcítico,
importante área de vegetação natural, cavernas e de coloração cinza médio escuro, com laminação
mananciais. plano-paralela ondulada, níveis decimétricos de
O PELG possui uma ampla infraestrutura intraclastos e superfícies estilolíticas. Localmente,
(centro de visitantes, área de convivência, sede ad- o calcário apresenta estratificações cruzadas deci-
ministrativa e portaria) e recebe turistas, excursões métricas, laminações do tipo “linsens”, falhas, do-
de escolas e pesquisadores ao longo de todo o ano. bras de arrasto e fraturas.
Figura 1 – Mapa da região onde se localiza a Lapa D´Água, nas proximidades de Montes Claros.
mação Serra de Santa Helena que representa uma profundidade, periodicamente sujeita a tempesta-
sedimentação essencialmente pelítica, indicando des; ii) e arcósios depositados em uma plataforma
uma subsidência repentina da bacia; ii) seguido rasa dominada por correntes de tempestades com
pela deposição da formação Lagoa do Jacaré, que fáceis de maré e supramaré da formação Três Ma-
é composta por calcários cinza-escuro depositados rias.
em uma plataforma dominada por tempestades e Na área do PELG, além dos calcários da
correntes de maré. O terceiro megaciclo é forma- formação Lagoa do Jacaré, afloram siltitos, argilitos
do por: sedimentos pelíticos-arenosos da formação e arenitos finos pertencentes à formação Serra da
Serra da Saudade, que representam camadas pelí- Saudade e depósitos elúvio-colúvionares cenozoi-
ticas depositadas em plataforma inclinada de média cos (Fig. 3).
Figura 3 – Mapa geológico e do relevo cárstico simplificado da área onde se localiza a Lapa D´Água, próximo à cidade
de Montes Claros.
detrítica ou autógena às pérolas das cavernas. A quando o CO2 é removido da solução, sendo um fe-
presença de laminas de argila microbiana e autóge- nômeno comum de cristalização. A supersaturação
na em pérolas de caverna é sugerida pelas cama- é necessária para dar início ao processo de cris-
das escura e/ou rica em matéria orgânica e devem talização (precipitação). As taxas de cristalização
ser cuidadosamente avaliadas para avaliar possí- são controladas por fatores como a concentração
veis origens autógenas e/ou microbianas. de cálcio e a supersaturação, a temperatura e o pH
No processo de formação das pérolas é ne- (Aghajanian et al. 2019). O aumento da temperatu-
cessário levar em consideração fatores, tais como, ra ou do pH da solução leva a aceleração do pro-
temperatura, pH, concentração de CaCO3 e outros. cesso de formação de cristais de CaCO3 (Korchef
Esses fatores vão controlar a dissolução e a preci- & Touaibi 2019).
pitação do CaCO3. A precipitação do CaCO3 ocorre
Figura 4 – a) Contorno da caverna Lapa D´Água com o traço das direções dos condutos em planta; b) Roseta das
direções de condutos extraídas a partir do mapa espeleológico.
midouro do Córrego São Marcos, que segue subter- As pérolas estão associadas às represas de
râneo por trecho ainda não mapeado devido ao fato travertinos recobertas por coraloides relacionadas
de se manter inundado na maior parte do ano. No com um fluxo aquoso de norte para sul (Fig. 5). As
interior da caverna observam-se trechos de curso pérolas aumentam de tamanho a partir das late-
d’água perene com sifonamento ao final do segun- rais das bacias conforme demonstram as medidas
do nível, compondo um complexo sistema hídrico, feitas em dois perfis realizados no salão. Em uma
ainda não compreendido plenamente (Barbosa et seção de 13 metros de comprimento no sentido les-
al. 2015). te-oeste, o diâmetro das pérolas diminuem de 15
cm para até 3cm no centro da bacia, e voltam a
5.2. Pérolas Gigantes da Lapa D´Água aumentar de dimensão atingindo 4,7cm na borda
As pérolas gigantes da Lapa D'Água encon- oeste (Fig. 7a). Em outra seção, com 7 metros de
tram-se no salão de entrada, o qual se desenvolve comprimento no sentido leste-oeste, as pérolas co-
na direção NW-SE e possui cerca de 70m de de- meçam com um diâmetro de 17,8cm e diminuem
senvolvimento horizontal por 20m de largura e altu- continuamente, atingindo 4,3cm em média, até os
ra máxima de 5m (Fig. 5). As pérolas recobrem boa primeiros 5 metros da seção, e depois chegam a
parte do piso e muitas foram expostas por escava- 7,5cm de diâmetro médio na borda oeste da bacia
ções de exploração de salitre. Possuem diâmetros (Fig. 7b). O diâmetro das pérolas também aumenta
centimétricos, foram medidas pérolas com diâmetro da base para o topo ao longo dos perfis. A parede
de até 27cm (Fig. 6) e já foram observadas pérolas oeste do salão também se encontra recoberta por
com até 32cm (José A.B. Scaleante, comunicação grandes represas de travertinos com cerca de 10
verbal). Devido a essas dimensões extraordinárias, metros de comprimento por 2,6 metros de altura,
foram consideradas “gigantes” por Lino (2001). denotando um fluxo aquoso de oeste para leste.
Figura 5 – Detalhe do
salão onde foram iden-
tificadas as pérolas
gigantes. Recorte do
mapa espeleológico da
Lapa D´Água (Espe-
leogrupo Peter Lund,
2015).
Figura 7 - Gráficos com os diâmetros médios das pérolas versus distância em relação as bordas e a porção central
das bacias de travertinos.
6. AVALIAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA Figura 8 – a) Seção de uma pérola da Lapa d´Água, mos-
DO GEOSSÍTIO trando as várias fases de crescimento; b) e c) detalhes
da estrutura concêntrica da pérola mostrando a diferença
As cavernas possuem um conjunto de ele- entre as camadas mais puras e aquelas ricas em material
mentos bióticos, paleoclimáticos, paleontológicos e argiloso (Foto cedida por Nikolás Strikis).
geológicos muitas vezes atípicos, o que justifica en-
quadrá-las com patrimônio natural (Lobo & Boggia- ou áreas de excepcional beleza natural e importân-
ne 2013). A lista de patrimônios naturais mundiais cia estética; ii) ser exemplo notável, representando
da UNESCO inclui cavernas e áreas cársticas es- as principais etapas de história da Terra, incluindo o
palhadas pelo mundo. A entidade estabeleceu uma registro de vida, significativo processos geológicos
série de critérios para a elaboração dessa lista. No no desenvolvimento de feições geomorfológicas
Brasil, o Cânion do Rio Peruaçu, por exemplo, é um significativas; iii) ser exemplo notável representan-
forte candidato a integrar essa lista do patrimônio do processos ecológicos e biológicos significativos
natural mundial. É considerado o mais longo cânion em andamento da evolução e desenvolvimento da
fluvial cárstico de colapso do mundo, com enormes água doce terrestre, ecossistemas costeiros e mari-
dolinas de abatimento, pontes naturais, espeleote- nhos e comunidades de plantas e animais; iv) con-
mas excepcionais, nascentes e pinturas rupestres ter plantas e animais naturais mais importantes e
da ocupação humana em torno de 12.000 anos significativos habitats para a conservação in-situ da
(Willians 2008). O Cânion do Rio Peruaçú é consi- biodiversidade diversidade, incluindo as que con-
derado um carste desenvolvido em ambiente conti- têm ameaças espécies de valor universal excep-
nental tropical árido, em uma floresta xerófita decí- cional a partir do ponto de visão da ciência ou da
dua (Willians 2008). Os critérios que deram suporte conservação (UNESCO 2008).
à inclusão do vale do Peruaçu na “Lista Tentativa” Existem poucos estudos sobre o enquadra-
(ou propositiva) do patrimônio mundial: i) conter fe- mento de cavernas como geossítios espeleológicos.
nômenos naturais superlativos Dois estudos sobre cavernas na Corea do Sul e na
Malásia são apresentados a seguir. Esses estudos mento cultural; d) caverna sem proteção. Dentro
fizeram uma adaptação e aplicação dos conceitos dessa classificação foram utilizados os seguintes
de geossítios para a área específica da espeleolo- critérios: dimensão da caverna, tipologia dos espe-
gia. leotemas, características morfológicas, presença
Woo & Kim (2018) realizaram a avaliação de depósitos sedimentares clásticos, minerais for-
qualitativa das cavernas da Corea do Sul, utilizan- mados na caverna, presença de água e organismos
do a seguinte classificação: a) monumento natural vivos, exposição de fósseis e a presença de passa-
nacional; b) monumento natural estadual; c) monu- gens submersas (Tabela 1).
Tabela 1 – Critérios geológicos adotados por Woo & Kim (2018) na avaliação de geossítios espeleológicos. O item para
cada um dos critérios geológicos é avaliado e pontuado de A (o mais alto) a E (o mais baixo).
Suleiman et al. 2020 estudaram três caver- nais. Também fizeram uma classificação com base
nas da Malaysia e com base nos conceitos de Brocx em Brocx & Semeniuk (2007) em níveis de signifi-
& Semeniuk (2007) e Predrag & Mirela (2010), clas- cância internacional, nacional, regional e local. Na
sificaram as cavernas em relação a sua geodiversi- avaliação quantitativa utilizaram uma classificação
dade, escala e área de interesse. Também fizeram numérica discreta, em uma escala de seis valores:
uma avaliação qualitativa e quantitativa baseado 0 = nenhum; 1 = muito ruim; 2 = ruim; 3 = justo; 4
nos conceitos de Gray (2005), Gray (2013) e Kir- = bom; e 5 = muito bom. Esses valores foram usa-
chner & Kubalikova (2011). Na avaliação qualitativa dos para quantificar a importância em relação aos
utilizaram, prioritariamente, os valores científicos valores científico e educacional, estético, recreati-
e educacionais, e secundariamente, valores esté- vo, cultural e histórico, econômico, e funcional. Os
ticos, recreativos, culturais, econômicos e funcio- autores destacaram que essa avaliação pode servir
como ferramenta para a geoconservação e gestão Pérolas gigantes são casos raros na literatu-
dos geossítios. ra espeleológica. Foi encontrada apenas uma única
A avaliação qualitativa e quantitativa da citação de pérolas de 20cm de diâmetro na caverna
Lapa D´Água foi realizada na plataforma GEOS- de Tham Nam Thieng em Khammouan, na Tailândia
SIT, do Serviço Geológico do Brasil. A plataforma (Gunn 2004), mas nenhum estudo específico sobre
destina-se ao inventário, qualificação e avaliação os processos envolvidos na sua formação. As ra-
quantitativa de geossítios e sítios da geodiversida- ras pérolas gigantes da Lapa D´Água são inegavel-
de. Foi estruturado de acordo com as metodologias mente especiais, havendo pouquíssimos relatos de
propostas por Brilha (2005) e Garcia-Cortés & Urquí ocorrências de pérolas com dimensões similares,
(2009). Atualmente, a aplicação começou a adotar no mundo. Além da sua raridade, como resultado
a metodologia e conceitos de Brilha (2016, 2018), de processo genético único, e da sua beleza natu-
com adaptações que modificaram alguns critérios ral, há também uma relevância científica relaciona-
de avaliação quantitativa que são apresentados em da ao potencial para reconstrução de parte da his-
tabelas que atestam o valor científico, o uso po- tória climática dos últimos 100.000 anos do nosso
tencial educacional e turístico e também o risco de planeta. E lacunas de conhecimento em torno do
degradação (Schobbenhaus & Berbert-Born, em: mecanismo de desenvolvimento de estruturas de
http://cprm.gov.br/geossit). grande porte, e de fenômenos hidroclimáticos atu-
A representatividade científica do sítio foi antes na região ao longo do tempo.
avaliada considerando-se como contexto de análise A caverna foi classificada como um geossí-
(“framework”) o domínio geológico regional em que tio, por ser a única caverna na região que possui
está localizado. Neste caso, consideramos o domí- pérolas gigantes, podendo se tratar de um caso
nio da Bacia Sedimentar do Bambuí, a maior pro- raríssimo no Brasil. Essas pérolas podem conter
víncia espeleológica do Brasil (Rubbioli et al. 2019). importantes informações sobre o paleoclima que
Nessa condição, a relevância científica foi classifi- atuou nessa região do Brasil.
cada como internacional, atribuindo-se o valor de
345 na quantificação dos critérios. Em relação ao REFERÊNCIAS
potencial uso educacional, foi classificada como de AGHAJANIAN, S.; NIEMINEN, H.; KOIRANEN, T.
relevância nacional, com os critérios atribuindo um Precipitation of calcium carbonate in highly alkali-
valor de 295. Em relação ao potencial uso turístico, ne solution through carbonated water. European
foi classificada como de relevância nacional, com Union’s Horizon 2020 research and innovation pro-
valor de 280. Já em relação aos riscos de degrada- gramme. 2019.
ção, foi considerada de baixo risco, tendo em vista
o valor de 195 da quantificação dos critérios espe- ALKMIM, F.F.; BRITO NEVES, B.B.; CASTRO AL-
cíficos de risco (Tabela 2). VES, J.A. Arcabouço Tectônico do Cráton do São
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7. CONCLUSÃO Misi A., (Eds.), O Cráton do São Fransisco. Soc.
A seleção de critérios que determinam que Bras. Geol., Núcleo Bahia/Sergipe, Salvador, 45-
uma caverna se destaca em relação às muitas ou- 62. 1993.
tras não é difícil, A raridade de aspectos geocientí-
ficos, ou a sua representativadade para o conheci- BABINSKI, M.; PEDREIRA, A.J.; BRITO NEVES,
mento da história geológica do planeta retratada no B.B.; VAN SCHMUS, W.R. Contribuição à geocro-
país, são critérios categóricos para a geoconserva- nologia da Chapada Diamantina. In: Pedreira, A.J.
ção; o potencial uso como instrumento de educação (Ed.), VII Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos.
e turismo também são importantes. Mas há locais Sociedade Brasileira de Geologia, 118-120. 1999.
que são tão especiais que não comportam o uso
contínuo, ou requerem manejo extremamente rigo- BAKER. G.; FROSTICK, A.C. Pisoliths, ooliths and
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Procesos espeleogenéticos y
sistematica de la Caverna de
la Patana, municipio Maisí,
Guantánamo, Cuba.
Efrén José Jaimez Salgado 1
Divaldo Antonio Gutiérrez Calvache2
RESUMEN ABSTRACT
Se presentan los resultados del estudio ge- The results of genetic study and Systematic
nético y sistemática de la caverna de la Patana, of Patana cavern, formed by two indirect and hori-
formada por dos niveles de cavernamiento horizon- zontal caverns levels, and the named ‘Superior Gal-
tales, indirectos, y una “Galería Superior” de trayec- lery’ with strongly sloping trajectory as occasional
toria fuertemente inclinada, la cual funciona como recharge and inverse origin form, are presented. Pa-
forma ocasional de recarga de origen inverso. La tana cavern is not a spelunk purely phreatic genetic
caverna de la Patana no es ni una espelunca de type, and either, an old “cavern of exit” at internal
tipo genético puramente freática, ni una antigua “ca- boundary on the emerged third level of marine ter-
verna de salida” al borde interno del tercer nivel de race in Maisí karstic tablet, as other authors pointed.
terraza marina emergida de la meseta kárstica de In fact, Patana cavern is a karstic cavity technically
Maisí, como apuntan otros autores. La caverna de classified as “piezogena” type. It was formed under
la Patana es una cavidad kárstica que puede ser confined or semiconfined circulation regimen of the
técnicamente clasificada como del tipo “piezogena” underground waters and could be included inside
formada bajo régimen de circulación confinado o the “parapiezogenas” cave subtypes (meaning so-
semiconfinado de las aguas subterráneas, pudien- mething similar but different at the same time, res-
do enmarcarse a su vez, dentro del subtipo de cue- pect to other cavities from this genetic type).
vas parapiezogenas (de lo que es semejante, pero
a la vez diferente respecto a otras cavidades de Kay words: indirect cave, inverse, phreatic, piezo-
este tipo genético). gena
abrasivas de diferente edad y altura absoluta, solo hidrográfica casi inexistente, solo representada por
superada por la homóloga Meseta de Cabo Cruz, algunos talwegs colgados y truncados, al ser los
en la provincia de Granma. Numerosos autores que eventuales cauces interceptados por formas kárs-
han estudiado el carso aterrazado de meseta de ticas absorbentes. En las terrazas más bajas (pri-
las regiones de Maisí y de Cabo Cruz, coinciden mer y segundo nivel), se hallan ocasionales dolinas
en que su origen es una consecuencia combinada inundadas (lagunas kársticas), como en el caso de
del modelaje abrasivo (marino) y el prolongado le- la cueva de Pozo Azul, de notable atractivo turístico
vantamiento neotectónico de estas estructuras del local, para el buceo en cavernas (Fig. 2).
neoautóctono del oriente cubano (Acevedo, 1982;
Liliemberg, 1983; Hernández, 1987; Iturralde-Vi- ESPELEOLOGÍA (ESPELEOGRAFÍA, ESPELE-
OMORFOLOGÍA, Y GÉNESIS DE LA CAVERNA
nent, 1988).
DE LA PATANA).
Según Núñez (1967) la caverna de la Patana
está formada por tres niveles de cavernamiento: i)
el inferior, llamado cueva de los Bichos, ubicado al
mismo nivel hipsométrico que la terraza de Patana
Abajo (85 m, según los autores de este artículo), ii)
el nivel intermedio denominado cueva del Jagüey,
cuyo piso de cavernamiento se encuentra aproxi-
madamente a unos 10 m, por encima del anterior y
finalmente, iii) un tercero denominado “galería su-
perior” la que con morfología en plano inclinado en
una parte, y verticalmente en la otra, se abre sobre
las anteriores. Sin embargo, esta “Galería Supe-
rior” de unos 90 m de largo en forma de plano muy
Figura 2. Pozo Azul, gran dolina de disolución – desplome
inundada, cerca de la caverna de la Patana. inclinado, siguiendo el buzamiento de los estratos
(Foto: Daniel Torres Etayo) de 11° de buzamiento al Sur–Sureste, con una chi-
La caverna de la Patana, ha sido abierta en menea vertical de gran altura que sale al exterior,
una geología de rocas calizas miocénicas arrecifa- en opinión de los autores de este artículo, no debe
les, presumiblemente de la Formación Río Maya, considerarse como un tercer nivel de cavernamien-
con suelos rendziniformes del tipo y subtipo Ren- to de la caverna de la Patana, por cuanto su desar-
dzina Roja, pedregosos, poco profundos, muy car- rollo no es horizontal superpuesto, por lo que en
bonatadas (Instituto de Suelos, 1999), cuya siste- todo caso, éste sector de la propia caverna no es
mática edafológica dentro del sistema taxonómico sino, una forma inversa de disolución y un conducto
utilizado por la FAO (World Reference Base, 2003), absorbente que aporta caudal autóctono a este sis-
se correlaciona con el grupo y subgrupo Leptosol tema kárstico. En este sentido, Núñez (1967: p.190)
rendsico, con pocas aptitudes desde el punto de dice textualmente: “En cuanto a la Galería Superior
vista agroproductivo. Sin embargo, puede decirse parece de origen vadoso, pues como ya señalamos
que estos suelos constituyen en cambio, el siste- no presenta un nivel horizontal, sino muy inclinado,
ma soporte de importantes ecosistemas terrestres indicándonos que las aguas de infiltración, pasan-
existentes en esta zona kárstica, como parte del do a través de los estratos calizos, pudieron haber
matorral xeromorfo costero y el matorral semide- disuelto dicha galería siguiendo la inclinación estra-
sértico, con abundancia de suculentas, algunas de tigráfica, lo que no sucede en las galerías horizon-
ellas endémicas regionales. El clima local puede tales donde su desarrollo estaba controlado no por
clasificarse como tropical semidesértico (Barranco la estratigrafía sino por el nivel freático”, afirmación
y Díaz, 1989), con precipitaciones medias inferiores esta, que apoya el punto de vista aquí defendido
a los 800 mm anuales y altas temperaturas durante por los autores.
todo el año (con coeficiente hidrotérmico superior a Desde el punto de vista espeleomorfológico,
1,5). El drenaje superficial es muy escaso y la red las cueva de los Bichos y la cueva Borrás (o de
Mylodon) de la caverna de la Patana, muestran una no necesariamente freático desde el punto de vista
amplia galería poco sinuosa, seguida de amplios y estricto y gena, del latín engendro o génesis (pro-
no muy altos salones, con secciones marcadamen- puesto por Jaimez y Gutiérrez, 1993; 2000; 2010).
te lobuladas a ambos lados del arco de la bóve- Esta propuesta resuelve el caso Patana, sin tener
da (Fig. 3 y 4), predominando en ella los procesos en cuenta si el régimen y paleorégimen hídrico sub-
destructivos (tanto por gliptogénesis como por pro- terráneo de la zona saturada es o no, de circulación
cesos clásticos), sobre los procesos acumulativos libre o confinado. Por otra parte, la total ausencia
– reconstructivos, lo cual parece estar íntimamen- de flutes o scallops (ondas de erosión fluvial) en la
te relacionado con las abundantes deyecciones de morfología parietal de las cuevas de los Bichos y
guano de murciélago y otros desechos de su meta- del Jagüey, así como de cantos o cascajos en los
bolismo, altamente favorables a los procesos bio- sedimentos fósiles, estudiados debajo de los pa-
genéticos de disolución y redisolución de espeleo- quetes de sinter carbonatado de ambas cuevas del
temas y formaciones estructurales. sistema de Patana, descartan de manera absoluta,
el carácter de “antiguas cuevas de salida” sugerido
por Panos (1988), al tiempo que predominan aquí,
amplios salones de planta casi circular y secciones
transversales lobuladas (Ver Fig. 2), morfología
propia de los procesos a nivel piezométrico (cuevas
tipo piezogenas).
En términos generales, la caverna de la
Patana por haber sido abierta en un carso costero
de meseta con una fuerte componente positiva de
reactivación neotectónica, desde el período Plioce-
no (N2), hasta el Actual, claramente reflejada ésta,
en el escalonado de hasta 17 niveles de terrazas
Figura. 3. Salón del Gran Cemí de la caverna de la Pa-
tana, mostrando secciones lobuladas, típicas de cuevas emergidas, con fuertes pendientes en sus acanti-
piezogenas. (Foto: Divaldo Gutiérrez Calvache) lados fósiles y marcadas flexuras y combaduras de
Desde el punto de vista genético, Núñez los estratos calcáreos (con reporte de buzamiento
(1967) plantea que, “la coincidencia de nivel entre de hasta 20° al SE, en la galería de las Cucara-
el piso de la cueva de los Bichos y el plano de la chas de la cueva de los Bichos; Jaimez et al., 1990),
terraza marina de La Patana, parece indicar que la puede decirse que la misma se ubica dentro de las
cueva se originó cuando el nivel freático estaba casi cavidades kársticas del grupo subtectónicas (del
al mismo nivel que el nivel del mar pues éste servía latín sub: por debajo de las más tectónicas, debi-
de nivel de base a la disolución kárstica subterrá- do al papel condicionante de la fuerte reactivación
nea, tal como ocurre al pie de las terrazas costeras neotectónica y el papel mayor de los estratos sobre
actuales”. las diaclasas y fallas geológicas como soluciones
Sin embargo, en opinión de los autores de de continuidad), del subgrupo eusubtectónicas (que
este artículo, este es un hecho que no se puede significa buenas subtectónicas), tipo piezogenas
generalizar para todo el carso costero de Cuba y (ya antes explícito), subtipo parapiezogenas, del
por otro lado, la clasificación del subtipo genético griego para, que significa lo que es semejante, pero
La Patana, como cueva de tipo freática (Núñez et al mismo tiempo diferente del resto de las cuevas
al., 1984) es cuestionable, desde el punto de vis- de su tipo (Jaimez y Gutiérrez, 1993, 2000, 2010),
ta del régimen de circulación forzado de las aguas encontrándose actualmente en el comienzo de una
de la zona saturada en esta clase de rocas calizas fase o etapa senil de su evolución genética (paleo-
relativamente compactas, razón por la que los au- parapiezogena).
tores han propuesto redefinir este tipo genético de El subtipo genético “parapiezogena”, es apli-
cuevas, como “piezogenas” (del griego piezo, que cable al caso de estudio de la caverna de la Pata-
significa comprimir; propio del nivel piezométrico, na, Maisí, Guantánamo, así como a otras cavidades
Figura 4. Plano del nivel inferior de la caverna de la Patana, según Gutiérrez Calvache y Álvarez, 2014.
morfogenéticamente similares del carso litoral y de Gran Caverna de Santa Catalina, Quinto, Flo-
terrazas marinas emergidas de toda Cuba (Ejem- rencio, y otras, en la provincia de Matanzas
plos: cuevas del Vaho, de los Murciélagos, de Don • Se diferencia del subtipo “piezoreogena” porque
Martín y otras de la zona cársica costera de Boca en el caso de Patana, no existe evidencia mor-
de Jaruco, municipio de Santa Cruz del Norte, pro- fológica o sedimentológica alguna de alguna
vincia de Mayabeque, al este de la capital cubana. A etapa de reinundación fluvial, después de for-
este mismo tipo y subtipo genético pertenece a jui- mada la caverna piezogena, como son los ca-
cio de los autores, la legendaria Cueva de Bellamar, sos por ejemplo, de cueva Clarita y de la cueva
en la costa norte de la provincia de Matanzas, etc). de la Pluma, ambas en la provincia de Matanzas
Se diferencia claramente de otros subtipos dentro • Se diferencia del subtipo “piezoabrasivas” (o
del tipo de cuevas piezogenas, en los siguientes as- “piezoabrasivogenas”) como en las cuevas No.
pectos: 1 y No. 2 de Punta del Este, al sur de la Isla de
la Juventud, en que aquellas son grutas marinas
• Se diferencia del subtipo “eupiezogena” en que con secciones lobuladas en salones interiores,
aquellas están formadas por pequeños cenotes evidentemente formadas primero en el nivel pie-
inundados o parcialmente inundados, de planta zométrico y abiertas al mar posteriormente, por
circular o semicircular efectos del oleaje.
• Se diferencia del subtipo “ortopiezogena” en que • Se diferencia del subtipo “hiperpiezogena” (del
no existe una red ortogonal de diaclasas que griego hiper: mucho, muy piezogena) en la pre-
confieran una morfología enrejada y laberíntica sencia de amplias formas inversas de disolución
del plano (vista en planta), como los casos de la (campanas, domos, chimeneas, husos) comple-
logo-Geomorfológica con elementos de Regionali- World Reference Base. 2003. Mapa Mundial de
zación). Boletín Casimba. Año 4, Ser.1, No. 5. La Suelos, a escala 1: 30 000000. World Soil Resour-
Habana: p.13–30. ces, FAO, EC, ISRIC, 1998.
RESUMO ABSTRACT
O trabalho empírico realizado pelo Grupo The empirical work carried out by the Mundo
Mundo Subterrâneo em Espeleologia (GMSE) refe- Underground Group in Speleology (GMSE) regar-
rente à Educação Ambiental possui como enfoque ding environmental education focuses on the ca-
as cavernas da região em torno da cidade de Paripi- ves in the region around the city of Paripiranga-Ba,
ranga-Ba, procurando aproximar a população local seeking to bring the local population closer to the-
dessas cavidades naturais rochosas encontradas se natural rocky cavities found in the municipality,
no município, por intermédio da Educação Ambien- combating the distancing of the which involves the
tal propagando o conhecimento cientifico acerca lack of scientific knowledge of these environments.
desses ambientes. Mesmo havendo 82 cavidades Even though there are 82 cavities registered in the
cadastradas no banco de dados do CECAV (Centro CECAV (National Center for Research and Conser-
Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas vation of Caves (CECAV) database, it is possible
(CECAV), é possível encontrar paripiranguenses to find people from Paripiranguenses who are not
que não possuem conhecimento da existência das aware of the existence of the cavities. Therefore, an
cavidades. Diante disso, foi realizado um trabalho intervention work was carried out, with the objec-
de intervenção, tendo como objetivo desmistificar tive of demystifying the legends that hover around
as lendas que pairam em torno das cavidades, por the cavities, through scientific education, by means
meio da educação cientifica, destacando algumas of curiosities and discoveries made in the city, brin-
curiosidades e descobertas realizadas no municí- ging in their essence explanations and ecological
pio, trazendo em sua essência as explicações e os aspects, as well as the importance of cavities for
aspectos ecológicos, bem como a importância das the environment and its balance. the scientific dis-
cavidades para o meio ambiente e o seu equilíbrio. semination was carried out in municipal and private
A divulgação científica foi realizada nas escolas da schools, and in informal conversations with local re-
rede municipal e privada, e em conversas informais sidents during visits and prospecting, thus bringing
com os moradores locais durante visitas e prospec- contributions to the conservation of the caves, with
ções, trazendo assim contribuições para conserva- visible results.
ção das cavernas, com resultados visíveis.
Palavras-chave: Espeleologia; Educação Ambien- Keywords: Speleology; Environmental Education;
tal; Educação Científica Science Education.
do município e de outras regiões. Das dez institui- que tem gerado um outro ponto negativo, o avanço
ções alcançadas pelo projeto foram realizadas pa- do desmatamento que gera a erosão e o assorea-
lestras em seis, atingindo em média mil alunos. As mento desses ambientes, resultando apenas alguns
demais foram realizadas atividade de campo. pequenos fragmentos de vegetação em algumas
Foi formado um grupo específico responsá- cavidades, devido ao difícil acesso do maquiná-
vel pela sua execução de palestras em escolas e rio por conta das rochas (SANTANA; MEDEIROS,
centros universitários, sendo de duas a três pesso- 2013). Como pode ser observado na figura 1.
as. Quando necessária uma maior mobilização para
visitações nas cavidades, sejam elas de alunos ou
moradores locais ou até mesmo turistas, utiliza-se
uma maior dinâmica metodológica sendo necessá-
ria a participação de no mínimo cinco membros da
ONG, a fim de proporcionar um maior entendimen-
to, como também segurança dos indivíduos.
É valido ressaltar que as visitas realizadas
pelos alunos as cavidades foram praticadas na
Gruta Bom Pastor, por já haver toda uma estrutura
como escadas e corrimão. Os visitantes foram le-
vados até o primeiro salão, onde encontram pales-
Figura 1. Comunidade Corredor vermelho do município
trantes do grupo, que explica o processo de forma- de Paripiranga apresenta um número significativo de ca-
ção da cavidade, bem como a importância histórica vidades e pouca cobertura vegetal. Fonte: Google Earth,
e cultural da Gruta do Bom Pastor, como também 2021.
as descobertas e pesquisas realizadas no local. No A extração da vegetação no município ocor-
total, a caverna contém três salões, sendo que o re de forma exacerbada, para dar lugar a monocul-
segundo e terceiro são levados apenas pesquisa- tura e a pecuária. O desmatamento gera danos nos
dores ou estudantes universitários. ambientes cársticos, pois a retirada da cobertura
Independentemente das idades dos visitan- vegetal nos arredores das cavernas corrobora com
tes, estes são convidados a assinar um termo de a ideia acima, Pereira (2017) e Monteiro (2014), di-
ciência e responsabilidade sobre a experiência que zem que o desmatamento contribui para surgimen-
vivenciara e os possíveis riscos, em caso de me- to de erosão e assoreamento desses ambientes,
nores de idade os pais assinam o termo, todos os podendo gerar consequências irreversíveis.
estudantes que realizaram a visita as cavidades as- Ratificando, Brandão et al. (2013) diz que os
sinam um termo. fatores externos que implicam no equilíbrio interno
do ambiente das cavidades ocasionam perturba-
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ções para o ecossistema cavernícola e os organis-
A partir das informações levantadas com mos que lá vivem. Por meio da Educação Ambiental,
relação ao conhecimento empírico da população pretende-se sensibilizar os proprietários sobre as
sobre os ambientes cársticos, é possível notar consequências do desmatamento para as cavernas
aspectos que contribuem para o afastamento e o e para suas propriedades. Para que eles possam
desinteresse da população quanto às cavidades, preservar a área verde em torno das cavidades, in-
o que tende a interferir de forma direta e indireta terrompendo a perpetuação do desmatamento in-
no equilíbrio cavernícola como resultado da desin- sustentável, mas sim procurando equilibrá-lo. Ten-
formação sobre a relevância desses ambientes, do em vista que parte da população desconhece os
como também pelas crenças sobre as cavernas se efeitos negativos do desmatamento.
tratarem algo maligno, um buraco sem fim, ou até Um outro fator que vem acometendo as cavi-
mesmo um portal para outra dimensão e ocupação dades de Paripiranga é a depredação, como é pos-
(relatos ouvidos durante prospecções). sível observar na figura 2, sendo exemplos comuns
As cavernas muitas das vezes são suprimi- a escrita nas paredes das cavidades, descarte de
das para dar espaço a agricultura e a pecuária, o lixo e quebra de espeleotemas.
mento de pessoas qualificadas e que conhecem o científico, bem como fortalecedora da relação entre
local, tendo em vista que as cavidades se tratam de humanidade e natureza.
um ambiente atípico, diferentemente do que pode Foi possível, por meio deste trabalho, apro-
ser encontrado no ambiente externo. ximar a população um pouco mais dos ambientes
cavernícolas. Trazendo aos seus olhos a beleza
das cavernas e a exuberância dos organismos que
vivem no seu interior, cativando as crianças e en-
cantando os adultos que ainda não conheciam e
nem compreendiam esses ambientes, o projeto de
Educação Ambiental como propagador do conhe-
cimento científico possui como missão sensibilizar
e incentivar a população sobre a necessidade da
conservação dos ambientes cársticos da cidade de
Paripiranga Bahia.
5.REFERÊNCIAS
BRANDÃO, I. L.; EUGÊNIO, J. F.; SILVA, V. J.; RI-
BEIRO, M. S. (2013). Bioindicadores de impactos a
Figura 5. Intervenção estande para os moradores locais: ecossistemas cavernícolas: uma revisão. In: Con-
intervenção nas ruas, GMSE, 2018 (Fotografia, Osmar
Conceição). gresso Brasileiro de Espeleologia. p. 87-94.
RESUMO ABSTRACT
Apesar das leis vigentes que garantem a Despite the current laws that guarantee the
conservação e preservação de cavidades, o que conservation and preservation of cavities, what is
é possível observar é que existe toda uma vulga- possible to observe is that there is a whole popu-
rização com esses ambientes, ao ponto de sofre- larization with these environments, to the point of
rem fortes danos ambientais antrópicas e serem suffering strong environmental damage anthropic
depositório de lixo (doméstico, hospitalar e orgâni- and being a waste dump (domestic, hospital and
co). Assim, o presente trabalho busca analisar os organic). Thus, this work seeks to analyze the envi-
problemas ambientais registrados nas cavernas ronmental problems that have been faced by caves
do município de Paripiranga/BA. Para tanto, o tra- present in the municipality of Paripiranga/BA. The-
balho versa como uma pesquisa aplicada e quali- refore, the work is an applied and quali-quantititive
-quantititiva em que foi observado os dados obtidos research in which was observed the data obtained
por meio das prospecções realizadas pelo Grupo through prospecting carried out by the Underground
Mundo Subterrâneo de Espeleologia (GMSE) em World Group of Speleology (GMSE) in Paripiranga/
Paripiranga/BA. Foram identificadas 82 cavernas BA. It was observed that the expectation is that the-
cadastradas no CECAV, das quais 72% estão em re are more than 120 caves, but only 82 are regis-
área vermelha (maior risco de impacto antrópico) e tered in the CECAV, and that it was observed that
por isso é possível observar a presença de lixo em 72% are in the red area (greater risk of anthropic
algumas e depredações pela visitação ilegal e prá- impact) and therefore it is possible to observe the
ticas culturais locais, como as romarias. Destarte, presence of garbage in some and depredations by
conclui-se que ações de educação ambiental se faz illegal tourism and local cultural practices such as
importante, tanto para a comunidade local, como pilgrimages. Thus, it is concluded that environmen-
também para as autoridades ambientais presentes tal education actions are important, both for the local
para a divulgação da importância das cavernas bem community, as well as for the environmental authori-
como o perigo de depredar e descartar lixo nesses ties present for the dissemination of the importance
locais. of the caves as well as the danger of depredating
and disposing of garbage in these places.
Palavras-Chave: Danos ambientais; Cavernas; Es-
peleologia; Educação Ambiental. Keywords: Environmental damage ; Caves; Speleo-
logy; Environmental education.
cavernas estão localizadas e seu nível de impacto. do alterar a temperatura e umidade. Uma das alter-
A divisão em áreas serviu para coordenar as ativi- nativas para a iluminação é o uso da LED (Light
dades de prospecção para aferir, o nível de vulne- – EmittingDiod) como fonte de luz. Apesar desta
rabilidade. também causar problemas é a mais recomendável,
tendo em vista que deve ser evitada a utilização
RESULTADOS E DISCUSSÕES da luz por muito tempo. Vale ressaltar que dentre
Visitação desordenada os parâmetros referentes ao manejo das cavernas
Os ambientes cársticos diante de sua singu- se destaca as variáveis atmosféricas, em relação à
laridade vem tendo grandes perdas com o resultado facilidade de mensuração, análise e correlação da
da explosão exacerbada, dentre elas se encontra presença humana (LOBO, 2011).
o uso público, que ocorrendo de forma desenfrea- Muitas cavernas ainda não foram catalo-
da traz grandes consequências para os ambientes gadas e estudadas. Mesmo que não possuam um
cársticos perturbando toda a sua biodiversidade in- plano de manejo algumas delas veem sendo utili-
terna. Para a realização do espeleoturismo (turismo zada como cavernas turísticas ou direcionadas a
em cavernas) é necessário que se considerem as fins religiosos (RUSCHMANN, 2004). É essencial
características intrínsecas dos ambientes subterrâ- um constante domínio, para que não aconteçam
neos, assim como também as limitações para uso aspectos que venha a prejudicar a biodiversidade
antrópico. Deste modo, para que ocorram visita- ou até mesmo o espaço desses ambientes, sendo
ções em cavernas, não deve ser levado em conta fundamental a importância em conhecer como as
apenas o âmbito de ecoturismo ou do geoturismo, espécies distribuem-se no ambiente e quais são de
pois estes não possuem em essência as especifici- fato as suas interações (DONATO; RIBEIRO, 2011).
dades dos ambientes cavernícolas (LOBO, 2011). A Gruta do Bom Pastor localizada na comu-
A fragilidade das cavernas em relação a as- nidade Roça Nova no Município de Paripiranga- BA
pectos morfológicos, geológicos, paleontológicos, é o resultado nítido da utilização para a visitação
espeleoclimáticos, biológicos e arqueológicos, tor- desenfreada. Entretanto, deve ser levado em con-
na essencial a realização de um estudo adequado sideração o importante papel cultural e histórico
sobre os impactos que o turismo pode gerar. Den- das romarias que ocorriam na cavidade (figura 1).
tre tais impactos destacam-se as consequências Vale ressaltar, que no período dessas romarias não
de iluminação, calor humano, excesso de dióxido havia instituições responsáveis pelo monitoramen-
de carbono, a poeira levada para a caverna, piso- to das cavidades locais, como também não havia
teamento, quebra de espeleotemas, alterações no a disseminação do conhecimento cientifico que
ambiente, remoção de rochas matrizes e outros abrangesse a todos, imperando o censo comum e
(LOBO, 2011). crenças religiosas.
Segundo Donato (2019), os ambientes ca- Nesta gruta foram encontrados registro da
vernícolas são propícios para a aplicação do turis- megafauna da preguiça gigante Catonyx cuvie-
mo, visto que possuem inúmeras belezas que fas- ri (Lund,1839) coletados a aproximadamente 14
cinam a humanidade, tal prática quando realizada anos atrás, nas seguintes coordenadas 10º39´09"S
de forma correta possibilita uma educação pautada e 37º55´48"W, Vale ressaltar que apenas uma das
na sustentabilidade e na relação da natureza com peças do fóssil encontrado faz parte do acervo do
o homem. No entanto, o que pode ser observa- Laboratório de Paleontologia da Universidade Fe-
do é que o turismo para ser realizado em cavernas deral de Sergipe (LPUFS), sendo esta peça uma
necessita de todo um planejamento para que possa garra (DE OLIVEIRA, et al., 2020). No último salão
ocorrer sem causar grandes danos a estes ambien- da cavidade foram realizadas coletas de ossos de
tes. Chiroptera da ordem quirópteros os quais há indí-
Segundo Nascimento et al. (2013), o exces- cios de interferência no processo de fossilização
so de iluminação em uma cavidade e instalação de dos mesmos, sendo resultado da interferência an-
luzes artificiais existentes em algumas cavidades, trópica na cavidade como já supracitado. Os estu-
utilizadas para cunho religioso ou turístico, acarreta dos realizados com base na coloração dos ossos
alterações no micro-clima destes ambientes poden- e sua flexibilidade mostram que o material sofreu
diferentes estágios de fossilização (DONATO, et. al, No que diz respeito ao plano de manejo, o
2008). mesmo deve ser realizado através de análises de
dados como, temporalidade, perceptibilidade, ex-
tensão, duração, origem, sentido e grau de impacto
para que desta forma possa chegar à conclusão dos
impactos antrópicos que possam vir a cometer está
cavidade afim de possibilitaar a criação de pro-
jetos que visem à reversão de possíveis impactos,
tendo em vista que o turismo espeleológico acaba
gerando danos aos ambientes cársticos e o plano
de manejo viabiliza a minimização destes impactos
(ARAÚJO, et al., 2018).
te em locais inapropriados, e em alguns casos até é enorme e a preocupação é maior quando esse
proibido (SOUZA et. al., 2020). Assim, o lixo inten- lixo tem alto risco de contaminação (figura 4), como
cionalmente descartado em áreas proibidas é uma relata Parise e Pascali (2003) que ao estudarem
prática comum, inclusive por órgãos públicos que uma caverna na Itália perceberam a presença de
para evitar o gasto alto do descarte correto, optam diversos resíduos, inclusive hospitalares. Ferreira
por essa conduta. et al. (2010) relataram o mesmo problema no Bra-
Um dos ambientes destinado para o des- sil, mais especificamente em cavernas no Rio gran-
carte desses resíduos, são as cavernas (figura 3). de do Norte, onde foi encontrado resíduos como
Essa pratica advém da falta de conhecimento sobre ampolas de medicamentos, gaze, luvas, seringas,
o ambiente cavernícola e sua importância, e por ser panos, caixas, dentre outros. Problema esse que é
considerado um excelente repositório de resíduos, mais que um visual ruim, pode ocasionar uma pos-
já que o mesmo acaba desaparecendo do cotidia- sível contaminação por material tóxico. O problema
no, dando a falsa sensação de problema resolvido torna- se mais preocupante em cavernas que pos-
(FORD e WILLAMS, 2007, Apud. CRUZ e PILÓ, suem curso de água ativo, pois substancias tóxicas
2019). Diante da falta de conhecimento e das fal- podem se espalhar e contaminar outros corpos de
sas concepções, muitos dos ambientes caverníco- água.
la, principalmente os localizados próximos a habi-
tações, vem sendo impactados. Esse tipo de ação
predatória serve para demonstrar um problema que
o meio ambiente em geral tem sofrido.
Desmatamento em torno de ambientes cársticos mesmo estando localizada na área vermelha, po-
A extração vegetal é realizada no entorno rém apresenta outros impactos antrópicos como o
das cavidades para os mais variados fins, sejam uso para descarte de lixo e depredação nas cavida-
pra comercialização da madeira, para agricultura des como fogueiras acesas no seu interior, quebra
ou pastagens. Segundo Cavalcanti et al. (2012), de espeleotemas e paredes escritas com objetos
varios dos problemas enfretados pelos ambientes pontiagudos para que cause ranhuras nas rochas.
cársticos presentes no Brasil estão relacionados
principalmente a fatores socioeconômicos, oriun-
dos de empreendimento ou uso do solo e subso-
lo. Algumas das atividades que mais afetam estes
ambientes estão associadas à agricultura que con-
sequentemente levam ao desmatamento dos am-
bientes que as cavidades estão inseridas. Aliado
a agricultura está o uso de agrotóxicos que podem
causar a perda da fertilidade do solo, erosão, con-
taminação do solo e mananciais e danos a biodiver-
sidade (SERRA, et al., 2016).
O município de Paripiranga-BA apresenta
uma quantidade significante de cavernas que vem
Gráfico 1: Incidência de cavernas que sofreram ações an-
sofrendo com a degradação ao longo dos anos, tor- trópicas (GMSE, 2020).
nando seu cossistema altamente vulnerável, tendo
As divisões em áreas (figura 5) serviu para
como principais fatores a ocupação desordenada
mensurar o grau de vulnerabilidade presente nas
do solo, expansão urbana e as atividades agrope-
areas carveniculas. Na área amarela, por exemplo,
cuárias. Estas ações contribuíram drasticamente
que possui pouca implicância antrópica, o avanço
para a danificação de uma parte considerável do
da agricultura tem colaborado para construção de
patrimônio cavernícola, que contribui na manuten-
um cenário preucupante dentro dessa zona.
ção do equilíbrio de todo ecossistema (SANTANA
et. al., 2013).
As alterações realizadas nos componentes
biológicos, minerais, bióticos e abióticos respon-
sáveis pela constituição dos ambientes cársticos,
podem suceder em alterações gerando modifica-
ções nos ecossistemas das cavidades, pois estas
características estão intrínsecas com a fragilidade
presente nestes ambientes (DONATO; RIBEIRO,
2011).
De acordo com levantamento de dados, a
maioria das cavernas encontradas na área verme-
lha (grafico 1) estão próximas ou em propriedades
de agricultores. Durante as atividades de prospec- Figura 5: Imagem de uma das regiões de estudo sub-
ções e conversa com os moradores locais, consta- dividida de acordo com seu de grau de vulnerabilidade
(GMSE, 2021).
tou-se cavernas que foram totalmente suprimidas
para dar espaço à lavoura. Está área apresenta um No que diz repeito a preservação, a área
nível alto de desmatamento, chegando a encon- verde é a que apresenta um melhor estado, sendo
trar cavidades com vegetação nula, onde oberva-se poucas ou nenhuma intervenção humana. Algumas
uso do desmatamento para a utilização das áreas das cavidades nesta área apresentam desvanta-
como pasto para os animais e a agricultura. gens devido ao difícil acesso, e apresentar solos
Vale salientar que é possível encontrar ca- extremamente rochosos sendo inviáveis para a
vernas que apresentem vegetação no seu entorno agricultura, o que explica uma maior quantidade
de cobertura vegetal. Vale ressaltar que mesmo as na tentativa de aproximar a população dos ambien-
áreas tidas como conservadas, a área vegetativa tes cársticos, aos pouco vem surtindo efeito, no en-
não ultrapassa a 2 km de extensão havendo ape- tanto é nítido que ainda resta muito a ser feito, para
nas alguns vestígios (figura 6). que desta forma os ambientes cársticos possam ser
conservados.
REFERÊNCIAS
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tico. Em Extensão, v. 19, n. 2, 2020.
‘Enfurnadas’, mas
Brenda Almeida Lima1,2
não isoladas
Eleciania Tavares da Cruz1,3,4
Maryanne Normitta Miranda e Silva1,3
Elizandra Goldoni Gomig1,4
Bruna Castro1,5
Rosângela Rodrigues de Oliveira1,6
Aira Ferreira Pinto Silva1,7,8
1. Caverneiras Brasil
2. Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE;
3. Grupo de Pesquisa e Extensão em Espeleologia (Guano Speleo)- MG;
4. Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG - Fac. Medicina Núcleo Promoção da Saúde e
Prevenção das Violências;
5. Espelo Grupo Rio Claro (EGRIC) – SP e Meandros Espeleo Clube - SP
6. Grupo Espeleológico da Geologia (GREGEO)- Universidade de Brasília
7. Grupo de Estudos Ambientais da Serra do Mar (GESMAR); Universidade Federal de ABC - SP
8. Espeleometria em Foco
RESUMO INTRODUÇÃO
Com o início da pandemia, encaramos uma Conduto 1. “De repente enfurnadas”
realidade a qual não estávamos habituados, e den- O dia 11 de março de 2020 mudou a vida
tre tantas maneiras de lidar com as situações e de toda população do planeta Terra. Isso porque,
questões emocionais dessa ordem do imprevisto, a partir da Declaração da Organização Mundial de
apresentamos o relato da experiência do grupo Ca- Saúde (OMS), com a elevação do estado de con-
verneiras Brasil, advinda de eventos ocorridos entre taminação à pandemia da Covid-19 causada pelo
os meses de Março e Outubro de 2020, por meio de novo coronavírus (Sars-Cov-2), nos deparamos
vídeos interativos, rodas de conversa e o CaveCi- com um “conduto escuro desconhecido” que gerou
ne. incertezas e medos.
Palavras-chave: Pandemia; Gênero; Experiência. No Brasil, apenas uma semana após a de-
claração da OMS que as autoridades governamen-
ABSTRACT tais começaram a tomar as primeiras medidas sa-
With the beginning of the pandemic, we fa- nitárias. Contudo, a população encontrou, dentre
ced a reality that we were not used to. Among so outros, o desafio da falta de uma coordenação por
many ways to deal with the situations and emotio- parte do Governo Federal, que associada ao nega-
nal issues never seen before, we present the report cionismo da doença e da ciência, agravaria a situ-
of the Caverneiras Brasil group experience, arising ação levando à marca de 548 mil mortes por CO-
from events that took place between March and Oc- VID-19 no Brasil, um ano e meio depois (BRASIL,
tober of 2020 in the form of interactive videos, cir- 2021).
cles of conversation and CaveCine. Famílias foram dizimadas, doentes recu-
perados com sequelas, mortos enterrados sem a
Keywords: Pandemic; Gender; Experience. possibilidade da última despedida, e uma geração
ras também mães, na edição de agosto simultane- do como sobrecarga para o gênero e das atividades
amente à roda das mulheres, foi realizada uma “ro- exercidas por elas dentro e fora da espeleologia,
dinha”, também pelo Google Meet, com as crianças sendo estas respeitadas e reconhecidas.
filhas das participantes. A rodinha teve o intuito de Lembrou-se ainda da importância de reali-
promover a interação das crianças que estavam lo- zar o 36º CBE, a pontuação das questões e desa-
calizadas em regiões diferentes do país, no caso fios encontrados pelas mulheres, tais como, ter o
Minas Gerais e São Paulo, bem como para que as reconhecimento no evento de mulheres na espele-
mães conseguissem participar da roda de conver- ologia, paridade de gênero nas palestras e mesas
sa. redondas, além de garantir espaços de formação e
Em relato, uma Caverneira mãe expôs que, cuidados para as crianças cujas mães estarão parti-
“A pandemia tem sido um momento difícil para todos cipando do 36º CBE. A temática sobre gênero deve
nós, tivemos que ajustar nossas rotinas e vida so- estar incluída em todo processo não apenas na te-
cial, porém com ela também vieram grandes opor- oria, mas na prática da realização do evento.
tunidades que em alguns momentos conseguimos
enxergar, em outros não. Uma linda e feliz oportu- DISCUSSÃO
nidade ocorreu nas Caverneiras, o grupo se fortale- Conduto 4. Aprendizados no apagão
ceu perante as dificuldades, novas Caverneiras sur- O espaço do CaveCine assim como tantos
giram. Em rodas de conversas virtuais, CaveCine, outros, fizeram com que as mulheres, trocassem
e debates incríveis a pandemia nos proporcionou conhecimentos, principalmente por conta da aber-
uma incrível oportunidade de nos aproximarmos, tura de espaços para a escuta das necessidades e
mulheres que não se conheciam agora comparti- problemáticas de cada uma, com oportunidade de
lham de uma experiência única, uma amizade que troca de experiências e de informações, permitindo
teve início durante um momento conturbado, mas que todos pudessem falar sobre seus problemas e
que será lembrada sempre. Nosso grupo cresceu e juntos buscar soluções. Tais ações tornam-se tam-
continuará crescendo virtualmente e em breve nos bém um instrumento para acolhida e união de to-
conheceremos também presencialmente”. das. Somado a isso, os participantes solicitaram a
Além das rodas de conversas e CaveCine, realização de outros momentos similares para dar-
guiados por uma temática sugerida pelo grupo, mos continuidade às discussões.
após esses momentos, também contamos com O fato é que o isolamento físico se fez ne-
encontros mais descontraídos nos chamados af- cessário no contexto da pandemia, mas não o so-
ter, que poderiam constituir dois formatos, aberto cial. Ou seja, deve-se estimular o convívio social
ao público, ou somente com as mulheres. As rodas dos indivíduos por meio de dispositivos eletrônicos
de conversa e CaveCine foram registradas nas Edi- que promovam a comunicação, interação e até
ções do Boletim da Sociedade Brasileira de Espele- mesmo a promoção à saúde.
ologia, nº 406, 408, 409, 410, 411 e 413. Disponível As rodas de conversa e as discussões no
em:(http://www.cavernas.org.br/sbenoticias). WhatsApp levaram ao aprofundamento dos deba-
As rodas e o CaveCine da Caverneiras Bra- tes sobre o papel da mulher na espeleologia nacio-
sil levaram à realização de um evento organizado nal, pois entendemos que existem duas formas de
pelo Grupo Espeleológico da Geologia (GREGEO) sub-representação das mulheres no sistema cientí-
da Universidade de Brasília (UnB). Nesse espaço fico e técnico: uma consiste na exclusão horizontal,
as participantes das Caverneiras Brasil falaram em que indica o pequeno número de mulheres em de-
uma mesa redonda sobre e espeleologia e gênero, terminadas áreas ou subáreas do conhecimento, a
e suscitou um debate sobre a atuação feminina na outra está na exclusão vertical, que aponta para o
espeleologia, suas colaborações e os problemas pequeno número de mulheres nos postos de pres-
enfrentados. tígio que se reproduz no ambiente espeleológico
Os debates trouxeram como fruto a amplia- (MONTENEGRO; GONÇALVES; SILVA, 2017).
ção de questionamentos sobre a inclusão de mais A construção e realização das atividades
mulheres, para garantir sua permanência nos traba- remotas, rodas de conversas e CaveCine partiram
lhos voluntários na espeleologia, não se configuran- das premissas propostas da “pedagogia da autono-
Figura 4: Quarta edição da roda de conversa do CaveCine sobre o tema masculinidades - com a participação de
homens e representantes da Faculdade de Medicina da UFMG.
mia” (FREIRE, 1996) e do “agir comunicativo” (HA- va imposta por essa sociedade capitalista. Foi pos-
BERMAS, 2012), em que todas as mulheres são sível preencher lacunas e mostrar a possibilidade
convidadas a contribuir para a troca de saberes e a de incluir afetividade na efetiva contribuição femini-
construção coletiva de conhecimentos. na para a produção de conhecimento.
Configuram ainda como resultados iniciados Os desafios que devem ser superados são
no ano de 2019, conforme apontamentos do artigo muitos, não pela sociedade espeleológica sozinha,
“Pode-se falar em invisibilidade feminina na espele- mas por toda sociedade marcada pelo patriarcado
ologia?” (CRUZ, 2019), cujo tema mulher nos bole- e um machismo estrutural. Entendemos que não
tins da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE, basta apenas ocupar os espaços, mas devemos ser
2021), começou aparecer com uma nova configura- respeitadas em toda nossa essência, competências
ção. e habilidades. Os caverneiros são uma peça funda-
Entendemos que existem uma gama diver- mental para a mudança desse contexto (Figura 4).
sa de obstáculos para ingresso, permanência e Aos poucos, o vírus, inimigo invisível, será
ascensão das mulheres na espeleologia, sendo a derrotado, a chegada das vacinas já é uma arma po-
histórica e cultural a principal delas, pois não é fácil derosa. Dessa forma, durante este período em que
fazer ciência e se destacar em um ambiente que ficamos “enfurnadas”, pudemos refletir sobre essas
foi construído sob vieses masculinos da moderna questões e traçar algumas ações conjuntas, e que
sociedade ocidental, no entanto nós ainda assim, o não necessariamente precisávamos estar isoladas.
fazemos. Somos múltiplas e diversas, e acreditamos que por
As relações entre gênero e ciência é um meio do “agir comunicativo” e pela “pedagogia da
tema que tem gerado muitas discussões na atuali- autonomia” poderemos caminhar para promover
dade. É possível observar um crescente movimen- mudanças.
to de visibilidade feminina na atuação científica em
diversos campos e não poderia ser diferente na AGRADECIMENTOS
espeleologia. Ações como as apresentadas neste Agradecemos a todos e todas, que mes-
trabalho, buscam propor uma nova forma de agir mo a distância, se fizeram presentes e juntos nos
social, contrapondo à uma determinação competiti- reinventamos. Passamos a dar valor às pequenas
coisas, pois um abraço e um aperto de mão nunca e Desafios. Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 13 a 15
fizeram tanta falta. Assim seguimos e seguiremos de setembro de 2017.
acreditando na ciência e na igualdade de gênero OMS. Organização Mundial de Saúde. Orientações
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das mulheres na ciência e tecnologia. Territórios,
Redes e Desenvolvimento Regional: Perspectivas
of an environmental education project called SEE de cada lugar, cada comunidade, cada realidade.
SOLIDÁRIA, the Excursionist and Speleological So- Esta proposta envolve reconhecer o perfil do públi-
ciety presents, in this work, a proposal for a form co-alvo, especialmente relacionados à faixa etária,
that aims to recognize the profile of the residents escolaridade, profissão, se há algum nível de enga-
of the Padre Faria neighborhood, in the vicinity of jamento político ou socioambiental, as vivências ad-
Vale do Ojô, with the purpose of know the target au- quiridas no ambiente a ser estudado e qual o nível
dience of educational projects that will later be de- de conhecimento acerca do tema a ser abordado.
signed more efficiently and directed to meet the real A Educação Ambiental é uma das diversas ferra-
expectations of the community, seeking to install a mentas de democratização do conhecimento, espe-
more realistic environmental education plan that is cialmente quando se trata de assuntos locais, os
in fact capable of meeting the demands of the local quais a sociedade possui contato próximo e direto
community. (Calvalcanti, 2020). Diante disso, a construção de
uma consciência crítica em relação ao meio em que
Keywords: environmental education; speleological se vive é o início de um processo que irá permitir
education; SEE Solidária; Vale do Ojô. ao indivíduo uma posição participativa a respeito
das questões relacionadas com a conservação e a
INTRODUÇÃO adequada utilização do patrimônio e dos recursos
O atual modelo de desenvolvimento econô- naturais (Medina, 1998).
mico brasileiro está diretamente associado à de- Vale salientar que a Educação Ambiental
gradação do meio ambiente, exercendo influência não se define somente como uma questão ecológi-
direta na qualidade de vida da espécie humana, es- ca, mas também como um processo de aprendiza-
pecialmente em nível local. Marcatto (2002) expõe gem que atinge os âmbitos sociais, econômicos e
que esse modelo de desenvolvimento tem gerado culturais. Dessa forma, esta deve ser capaz de per-
uma série de impactos como a poluição do solo, ar mitir, tanto ao educando quanto ao educador, uma
e água, bem como a destruição da biodiversidade e postura reflexiva frente aos problemas da socieda-
esgotamento de recursos naturais em todo o plane- de, como a pobreza e o consumismo excessivo,
ta. estimulando a formação de um sistema mais justo,
Dessa forma, observa-se um crescente inte- onde o desenvolvimento sustentável seja posto em
resse pelas questões ambientais nas últimas déca- prática e os cidadãos sejam dotados de senso crí-
das, devido às várias problemáticas que ameaçam tico, capazes de pensar e agir por conta própria,
a integridade ecológica do planeta. Temas como o conforme seus princípios e valores (Medina,1998;
aquecimento global, o desmatamento desenfreado Reigotta, 1997; Trigueiro, 2003; Cardozo, 2016).
de florestas e enchentes nas grandes cidades são Em relação a espeleologia, a Educação Am-
cada vez mais expostos por ambientalistas. Entre- biental carece de um cuidado mais específico. Na
tanto, a gama de fatores que envolvem os estudos realidade do Brasil, muitas são as comunidades que
e a conservação ambiental é mais complexa do que possuem um contato próximo com as cavidades,
a mídia se compromete a expor e, muitos desses, seja pelo vínculo histórico, turístico, uso da água
inclusive a espeleologia, não chegam a ser efeti- ou pela ocupação desses locais para rituais religio-
vamente divulgados à comunidade local. A fim de sos (Mendes, 2013; Aguiar, 2015). De toda forma,
preencher tais lacunas, é papel fundamental da co- apesar do ambiente cárstico estar presente na rea-
munidade espeleológica promover diálogo com a lidade de muitas pessoas, esse vínculo apresenta-
sociedade sobre os conhecimentos, saberes e vi- -se muitas vezes como um grande distanciamento
vências acerca do meio ambiente e, especialmente, ou descaso da comunidade local e das prefeituras
sobre as cavernas brasileiras. para com as cavidades. A espeleologia sendo o
A realização de projetos de educação am- conhecimento que envolve a complexidade desse
biental, no entanto, demanda uma verdadeira sistema, é ainda um tema pouco difundido e assimi-
aproximação dos educadores com a comunidade, lado pela sociedade em geral. Diante disso, a falta
para que os planos sejam adequados à realidade de informação sobre a fragilidade e importância do
ecossistema cavernícola, leva a pouca valorização mulário será futuramente subsídio para a execução
desses ambientes, se tornando um dos principais de um projeto que engloba o estudo de caso das
agravantes relacionados à degradação ambiental cavidades subterrâneas do Vale do Ojô, território
(Costa et al., 2007; Pereira, 2017). local fortemente impactado por ações antrópicas,
A educação espeleológica, portanto, não se visando levantar dados acerca do sentido individual
torna apenas uma aliada à democratização do co- atribuído às cavernas e assim, identificar as opini-
nhecimento e à valorização do patrimônio espeleo- ões e pensamentos compartilhados.
lógico, como também possui papel fundamental na
formação de indivíduos que se situem como parte
do meio ambiente, com atitudes que respeitem a
fragilidade do ambiente cavernícola e posturas críti-
cas frente a possíveis políticas públicas que amea-
cem a integridade desse sistema.
Em Minas Gerais, essa prática tem papel
primordial não só pela notável abundância de cavi-
dades presentes em diferentes litologias, mas tam-
bém pela pressão ambiental que essas formações
vêm sofrendo devido à proximidade dos centros
urbanos e exploração mineral (CECAV). Ao longo
do tempo, vários grupos de espeleologia vêm reali- Figura 1: Ação da SEE Solidária para Crianças da Escola
Estadual Marília de Dirceu - Ouro Preto – MG, em 2019.
zando ações educativas sobre a riqueza do mundo (Foto: Acervo SEE)
subterrâneo, entre eles a Sociedade Excursionista e
Espeleológica (SEE). Criada em 1937, por estudan- Ao trabalhar na identificação das relações
tes da então Escola de Minas e Metalurgia de Ouro entre a comunidade e o território, o trabalho alme-
Preto, a SEE foi a primeira entidade do continente ja um aprofundamento em questões subjetivas dos
americano a se dedicar aos estudos da espeleolo- moradores, levando em consideração suas his-
gia (Lino, 2001, p. 38). Dentro os diversos projetos tórias e vivências. A partir desse levantamento de
realizados pela entidade, a SEE Solidária - ideali- dados, espera-se elucidar o processo de constru-
zada em 2011 - é uma iniciativa que tem o intuito ção de afetividade, proximidade e identificação das
de difundir os conhecimentos acerca das cavernas pessoas com as cavernas do local. Conhecendo
com a comunidade de Ouro Preto, proporcionando melhor sobre o senso de pertencimento dos mo-
reflexões acerca da importância da educação am- radores, pretende-se ampliar e divulgar noções de
biental nas escolas (Figura 1). Isso é feito através conservacionismo e de educação ambiental, des-
da troca de conhecimentos entre os membros da pertando a sensibilização dos moradores do bairro
entidade e a sociedade, principalmente nas escolas para ações e políticas de proteção ambiental, com
da rede pública, por meio de conversas, oficinas e foco no protagonismo da comunidade perante estas
trabalhos de campo (Aguiar, 2015). atividades.
Diante desse cenário, o presente trabalho Um dos propósitos atuais do projeto é uma
possui o objetivo de propor a aplicação de um for- parceria com a Casa de Cultura Padre Faria, que
mulário que servirá como base fundamental para a tem como objetivo abordar a educação espeleoló-
elaboração das etapas seguintes do plano de edu- gica na comunidade, com foco no Vale do Ojô - um
cação ambiental da SEE Solidária no Vale do Ojô. importante componente geomorfológico e espeleo-
Esta proposta surgiu da necessidade de identificar lógico da região. Considerando as vivências, opini-
as percepções dos moradores do bairro Padre Fa- ões e a cultura local, pretende-se realizar práticas
ria, em Ouro Preto/MG, sobre o meio natural em de diálogo, trabalhos de campo e demais atividades
que estão inseridos, para uma efetiva aplicação de de forma horizontal e alinhada às expectativas da
metodologias às áreas da educação ambiental e população, sendo inicialmente destinada ao público
espeleológica. O resultado da aplicação deste for- infantil. Para tanto, foi considerado essencial reco-
nhecer um perfil da comunidade para entender a preocupantes de contaminação da água (Figura 5),
relação dos moradores com o Vale, a fim de realizar evidenciando a necessidade emergencial de planos
atividades coerentes com as reais necessidades e de proteção e recuperação (Timo, 2005).
interesses da comunidade.
A pandemia da COVID-19 foi um fator limi-
tante para a execução do projeto, por conseguinte,
as atividades da Casa de Cultura foram paralisa-
das, assim como as atividades presenciais da SEE.
Com isso, as atividades do projeto foram restringi-
das na elaboração de estratégias para aprimorar
o plano de ações que serão executadas posterior-
mente, quando as condições forem favoráveis. Foi
elaborada, portanto, uma estratégia para conhecer
melhor o público-alvo, a partir da confecção de um
formulário que servirá de base para a elaboração
das atividades educativas na comunidade.
CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA
O Vale do Ojô está localizado há cerca de
100 km da cidade de Belo Horizonte, entre Ouro
não tem conhecimento sobre o Vale, é redobrada a mecanismo de escuta, também se tornou evidente
atenção que deve ser dada no plano de educação a importância de uma comunicação informal com a
ambiental no que se refere à realização de excur- população, utilizando de uma abordagem adequa-
sões. da de forma que os cidadãos se sintam confortáveis
ao falarem de suas percepções e subjetividades a
Quinto bloco respeito das vivências no meio em que estão inseri-
São perguntas destinadas a reconhecer o dos.
perfil do entrevistado, com perguntas referentes ao O questionário busca levantar informações
gênero, faixa etária, grau de escolaridade, municí- qualitativas e quantitativas sobre o perfil da comu-
pio de origem e tempo de residência no bairro, além nidade do Padre Faria, relacionando parâmetros
de um espaço destinado às observações. São bem- como idade e tempo de vivência no bairro, noções
-vindas sugestões e comentários do entrevistado, sobre medidas de educação e conservação am-
referentes não só à aplicação do questionário, mas, biental com a atual situação do Vale do Ojô, noções
inclusive, a expectativa quanto às atividades de sobre espeleologia, a relação da coleta de lixo e
educação ambiental que serão propostas. Dessa limpeza urbana com a poluição do meio ambiente
forma, existe uma aproximação mais realista com a e as áreas do Vale, suas encostas e seu entorno,
comunidade e o plano de atividades pode ser mais ainda, da relação destes com a reutilização e reci-
eficiente, inclusivo e satisfatório para os participan- clagem do lixo e com a coleta seletiva.
tes.
CONCLUSÕES
Propósito e importância de aplicação O “Vale do Ojô” apresenta significativo patri-
A partir da aproximação de lideranças co- mônio arqueológico, espeleológico, hídrico e paisa-
munitárias e dos responsáveis pelo Centro Cultural gístico, ainda, destaca-se como um local de enor-
Comunitário do Padre Faria, bem como da realiza- me potencial ao ecoturismo, potencial este que tem
ção de visitas e atividades de campo pelo Vale do sido demandado por moradores e lideranças do
Ojô, foi diagnosticada a situação de degradação e bairro que vislumbram o desenvolvimento de um tu-
poluição das cavernas, dos recursos hídricos e do rismo de base comunitária. Diante deste cenário, as
meio fisiográfico do território. A partir deste diagnós- ações que pretendem ser desenvolvidas almejam
tico, foram levantados questionamentos e formas proporcionar a comunidade um território mais limpo
de abordagem com a comunidade, a fim de elabo- e conservado, através de metodologias colaborati-
rar um questionário para reconhecer o perfil da co- vas que reforcem iniciativas de base comunitária,
munidade, cujas perguntas enfocam em noções de ainda, dando visibilidade ao Vale e ao patrimônio
pertencimento, educação ambiental e patrimonial. natural da área.
Em andamento, essas ações visam a sensibiliza- Iniciativas de educação ambiental devem
ção dos diferentes públicos alvos da comunidade estar alinhadas à realidade singular de cada local,
para as demandas de conservação do patrimônio às expectativas da comunidade, às necessidades
natural e espeleológico, almejando-se assim o for- de suprir defasagens ou aproveitar de experiências,
talecimento dos processos sustentáveis de gestão vivências e sabedorias da população local. Para co-
comunitária. nhecer melhor o perfil do público alvo e desenvolver
Diante do levantamento bibliográfico, do um eficiente plano de educação ambiental, a apli-
contato com representantes da Casa de Cultura cação do formulário proposto traz respostas chave
do Padre Faria e da elaboração do formulário, foi para esse alinhamento, sendo uma útil ferramenta
possível a construção de uma base sólida para o para a construção de propostas adequadas para a
projeto. Reconhecendo a importância do exercício comunidade local.
de escuta e atenção às necessidades da comunida- As respostas divididas em blocos catego-
de como guias para a proposição de atividades, o rizados por temas podem auxiliar na detecção de
desenvolvimento do trabalho se dará de forma hori- possíveis defasagens ou níveis satisfatórios de
zontal e alinhada aos interesses dos moradores. conhecimento sobre cada assunto, orientando os
Além da adoção do formulário como principal executores do plano de educação ambiental sobre
quais temas devem ser aprofundados com mais Ambiental_Conceitos_Principios.pdf>. Acesso em:
atenção, se há necessidade de revisão de concei- dez. 2020.
tos básicos ou não, a quantidade de aulas expositi-
vas que serão necessárias, as atividades que serão MEDINA. N. M. A formação dos professores em
aplicadas, e etc. educação ambiental. In: Panorama de Educação
Ambiental no ensino fundamental. Brasília, 2001,
AGRADECIMENTOS p. 150. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
Agradecemos a “Ica” e aos demais funcioná- secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/panorama.
rios e responsáveis pela Casa de Cultura do Padre pdf>. Acesso em: dez. 2020.
Faria pelo apoio e por receberem a equipe da SEE.
Aos moradores e lideranças comunitárias do bairro MENDES, Joseane Biazini. Propostas didáticas
pelo carinho e pela cordialidade. À SEE por desper- para ensino do carste na educação básica. Orienta-
tar o interesse na espeleologia e ser possibilitadora dora: Profa. Dra. Vilma Lúcia Macagnan Carvalho.
da execução deste projeto. 2013. Dissertação de Mestrado (Mestranda Geo-
grafia) - Programa de Pós-Graduação em Geografia
REFERÊNCIAS (Análise ambiental), Belo Horizonte, MG, 2013.
AGUIAR, B.F.; BRAGANTE-FILHO, M.A.. Espeleo-
logia solidária em Ouro Preto (MG). In: RASTEIRO, TIMO, Mariana. A proximidade de centros urbanos
M.A.; SALLUN FILHO, W. (orgs.) CONGRESSO como fator de degradação do patrimônio espeleo-
BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 33, 2015. El- lógico uma visão da área do Vale do Ojô em Ouro
dorado. Anais... Campinas: SBE, 2015. p.201-206. Preto - MG. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
Disponível em: . Acesso em: data do acesso. ESPELEOLOGIA, XXVII, 2005, Campinas. Anais.
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Ambiente. Brasília, 1996. default/files/see/files/a_proximidade_de_centros_
urbanos_como_fator_de_degradacao_espeleologi-
CARDOZO. N. F. Educação Ambiental: uma abor- ca.pdf?m=1507060084>. Acesso em: dez. 2020.
dagem transdisciplinar. Introciência. Guarujá, 11,
junho 2016. Disponivel em: <http://uniesp.edu.br/
sites/_biblioteca/revistas/20170531133833.pdf>.
Acesso em: dez. 2020.
RESUMO ABSTRACT
O norte da Serra do Intendente faz parte da The north of the Serra do Intendente is part
Serra do Espinhaço Meridional e ostenta grande im- of the Serra do Espinhaço Meridional, considered of
portância ambiental, devido à sua biodiversidade e great environmental importance due to its biodiversi-
recursos hídricos. Na região, as rochas predominan- ty and water resources. The predominant rocks are
tes são quartzitos, pertencentes à Formação Galho quartzites from the Galho do Miguel Formation, which
do Miguel, que passaram por intensas deformações underwent intense deformations and metamorphism.
e metamorfismo. A interação entre os processos en- The interaction between endogenous and exoge-
dógenos e exógenos, durante o tempo geológico, nous processes during the geological time enabled
possibilitou a evolução espeleogenética de um relevo the speleogenetic evolution of a quartzite karst relief,
cárstico em quartzito, caracterizado por feições como characterized by features such as sinkholes, karst
dolinas, sumidouros, surgências e cavernas. Essas springs and caves. These characteristics make up
características compõem o patrimônio espeleológi- the speleological heritage of the Serra do Intenden-
co do Parque Estadual da Serra do Intendente, que te State Park, which plays a fundamental role in the
desempenha um papel fundamental na proteção e protection and conservation of these natural caves.
conservação dessas cavidades naturais. Tendo em Given the importance of this area, this work sought
vista a importância desta área, este trabalho realizou to survey the characteristics and speleological poten-
um levantamento das características e do potencial tial of this heritage, which speleological prospecting,
espeleológico deste patrimônio, por meio da pros- cave mapping, speleometry, characterization of the
pecção espeleológica, mapeamento de cavernas, es- local karst and analysis of the relevance of the physi-
peleometria, caracterização do carste local e análise cal environment of the main caves were carried out.
preliminar da relevância do meio físico das cavidades According to geological attributes, the results show
principais. Os resultados mostram que existe alto po- high potential and high occurrence of caves, highligh-
tencial e alta ocorrência de cavernas, destacando-se ting the Bento I Cave and the Frida Grotto, classified
a Caverna do Bento I e a Gruta da Frida, classifica- in the highest degree of relevance. It was found that
das no grau máximo de relevância, de acordo com the region's karst has great environmental importance
os atributos geológicos. Constatou-se que o carste and, therefore, there is a need for its protection and
da região tem uma grande importância ambiental e, conservation.
portanto, há a necessidade de sua proteção e conser- Keywords: Speleological Heritage; Serra do Inten-
vação. dente; Quartzitic Karst; Speleology.
Palavras-Chave: Patrimônio Espeleológico; Serra do
Intendente; Carste em quartzito; Espeleologia.
Revista Espeleologia Digital NºIII - 2022
129
Sociedade Excursionista e Espeleológica - SEE
trabalhos geomorfologia
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Potencial Espeleológico Local
A delimitação do potencial espeleológico
de uma determinada região corresponde à defini-
ção de áreas com condições favoráveis à formação
de cavidades. Tais condições estão relacionadas a
aspectos do meio físico, como litologia, estruturas Figura 2: Potencial espeleológico e lineamentos estrutu-
geológicas, hidrogeologia, hidrografia, pedologia e rais evidenciando as cavernas encontradas na prospec-
ção espeleológica.
feições geomorfológicas. Além disso, os gradientes
altimétrico e hidráulico atuam de maneira funda-
mental no controle da ação das águas, da remo-
ção mecânica de grãos e da dissolução das rochas
(JANSEN et al., 2012; ICMBIO, 2019).
Na avaliação do mapa de potencial espele-
ológico, verificou-se que nas regiões de média ver-
tente e com declividades acentuadas, foram regis-
trados os maiores potenciais (Figura 2). Uma vez
que a área de estudo está inserida em uma única
unidade geológica, o parâmetro de litologia não foi
relevante na análise de multicritério.
transversais variam desde triangulares, lenticular quando a água subterrânea atinge o interior das
horizontal e inclinado, elipsoidal horizontal, fungi- cavidades, onde notam-se lagos de pequeno porte,
forme e irregular (PALMER, 1991). fluxo e queda d’águas, e as entradas das cavernas
Destacam-se as cavernas Bento I e a Gruta da Fri- possuem sumidouros à montante, e à jusante cons-
da, devido suas dimensões notáveis para esse tipo tituem surgências. Em relação à infiltração e recar-
de litologia e as quais foram consideradas para fa- ga desta região, os solos mais comuns são os ne-
zer a avaliação preliminar do grau de relevância, ossolos quartzarênicos pouco desenvolvidos, mas
segundo atributos do meio físico destas cavidades. existem organosolos (turfeiras) associados.
As turfeiras constituem importantes reserva-
tórios de água em subsuperfície, ao absorverem a
água meteórica durante os períodos chuvosos. Elas
são responsáveis, ao longo do ano, pela recarga e
infiltração dos aquíferos fissurais quartzíticos e das
drenagens subterrâneas existentes em cavernas,
mantendo a perenidade de nascentes e surgências
e, consequentemente, dos cursos hídricos super-
ficiais. Isso ocorre, pois as turfeiras armazenam a
água de recarga em seus poros, mas com uma li-
beração lenta, devido à complexa relação de equilí-
Tabela 2: Cavernas topografadas e espeleometria. Obser-
vações: PH = Projeção Horizontal (método da continuida- brio de forças mátricas e de capilaridade favoráveis
de) e D = Desnível para manutenção da água em seus poros (CAM-
POS, 2014).
A formação de espeleotemas em cavernas
Modelo conceitual do carste local
de quartzito é outro ponto que chama atenção na
A geologia é constituída basicamente por ro-
região. A caverna da Frida possui, em seu salão
chas quartzíticas, da Formação Galho do Miguel.
principal, uma grande variedade de tipos de espe-
Essas rochas possuem diversas descontinuidades
leotemas, como escorrimentos, colunas, estalagmi-
devido a estratificações primárias sedimentares,
tes, estalactites e coraloides. Além disso, notam-se
fraturamentos/falhamentos e dobramentos tectôni-
variações na coloração relacionados muito pro-
cos. O arcabouço estrutural local está condiciona-
vavelmente à composição química destes. Essas
do a sistemas de dobras e falhas de empurrão da
formações podem ser atribuídas aos processos de
Faixa Araçuaí com vergência tectônica compressi-
dissolução e precipitação durante a espeleogêne-
va de leste para oeste, relacionada com o do Ciclo
se.
Brasiliano (KNAUER E FOGAÇA, 1996; ALKMIM
De acordo com o modelo de Silva (2004),
et al., 2017). Localmente, os quartzitos apresen-
no início da espeleogênese há a predominância do
tam uma foliação com mergulho para SE e famílias
processo químico de dissolução da sílica e outros
de fraturas subverticais de direção N80W-85SW e
minerais (arenização) desagregando a matriz da
N10E-70NW. A geomorfologia e a hidrografia es-
rocha e, posteriormente, predomínio da erosão me-
tão intimamente ligadas à geologia da região e aos
cânica e transporte formando proto-condutos (pi-
processos exógenos (sobretudo à espeleogênese),
ping). Por fim, há o alargamento pelo processo de
constatadas pelas feições típicas do carste, como
desabamento de blocos das paredes e do teto das
dolinamentos e cavernamentos.
cavidades em decorrência dos planos de fraqueza
Do ponto de vista hidrogeológico, a água
da rocha. A espeleogênese das cavernas locais é
subterrânea é transmitida e armazenada pelas fra-
favorecida devido à direção preferencial do fluxo
turas (aquíferos fraturados), uma vez que a matriz
subterrâneo para sudeste, concordante com a di-
rochosa é bastante recristalizada devido ao meta-
reção de mergulho das camadas rochosas e com a
morfismo, diminuindo a porosidade intergranular
inclinação do terreno (Figura 3).
(FEITOSA et al., 2008; AULER et al., 2015). Pode-
-se considerar a presença de um aquífero cárstico
Figura 3: Modelo conceitual do carste em quartzito com Figura 4: Planta baixa da Caverna do Bento I, georrefe-
maior ocorrência de cavernas, considerando aspectos renciada, com destaque para suas entradas, seu entorno
geológicos-estruturais, hidrogeológicos, espeleológicos, e seu interior. A) Entrada 1 vista do interior. B) Entrada 3
hidrológicos e geomorfológicos. vista do interior. C) Salão principal D) Entrada 4 e surgên-
cia principal vista do interior.
Relevância do meio físico do patrimônio espe- mônio espeleológico da área estudada, que podem
leológico qualificá-las com importância acentuada sobre en-
A área estudada apresenta alta ocorrência foque local e regional (BRASIL, 2008).
de cavidades naturais subterrâneas dentro de seus A Caverna do Bento I está contida no Plano
limites. Dentre as vinte cavidades caracterizadas, de Manejo do PESI e apresenta-se como a caverna
destacam-se a Caverna do Bento I e a Gruta da mais volumosa da região de estudo. Esta cavidade
Frida pelo tamanho em área e volume e pela pre- possui quatro entradas, sendo três sumidouros e
sença excepcional de espeleotemas, que são con- uma surgência (Figura 4). As entradas à montante
siderados raros para a litologia em questão. Essas estão localizadas em depressões fechadas (doli-
cavidades exibem os aspectos mais relevantes em nas) (Figuras 4A e 4B), irregulares, que capturam
relação aos atributos do meio físico dentre o patri- drenagens superficiais e as direcionam para o fluxo
subterrâneo. Em seu interior, as três drenagens se ção escura e alta dureza, indicando uma composi-
encontram no salão principal (Figura 4C) para for- ção por silicatos e óxidos/hidróxidos de ferro (Figu-
mar um único curso d’água, que sai pela surgência ra 5B). Observou-se a distribuição generalizada de
da entrada à jusante (Figura 4D). estalagmites (Figura 5C), estalactites, microtraver-
A litologia da caverna é constituída por quart- tinos, colunas, escorrimentos (Figuras 5D) e crosta
zitos finos, de coloração variando em tons de verme- ferruginosa.
lho, amarelo e branco, dispostos em camadas com
mergulho de aproximadamente 22° para sudeste.
A presença de intrusões de quartzo, concordantes
às camadas de quartzito parecem condicionar a
formação de alguns condutos, como observado na
entrada 2, além da presença de alguns indicadores
cinemáticos estruturais como sigmoides de quartzo
com vorticidade destral. Fraturas e falhas de dife-
rentes escalas são observadas por toda a cavidade,
que se desenvolve, na direção sudeste, controlada
pela principal família de fraturas observada em toda
a região, de direção N75W-80SW.
Os depósitos clásticos são abundantes em
toda a caverna, sendo constituídos majoritariamen-
te por seixos, blocos e matacões, dispostos de for-
ma caótica pelos condutos e salões da cavidade
(Figura 4C). Os espeleotemas são representados
especialmente por estalactites e estalagmites que
se distribuem em toda a cavidade, a partir do in-
tenso gotejamento de água, que infiltra pelos tetos
e paredes. Além disso, a presença de coraloides é
abundante, evidenciando a exsudação e percola-
ção de água pelas fraturas da rocha.
A Gruta da Frida possui três entradas (Fi-
gura 5): a primeira caracterizada por um sumidou-
ro (Figura 5A), a segunda pela presença de duas
claraboias e a terceira por uma surgência. Em seu
interior, destaca-se uma drenagem perene que pro-
porciona a formação de poços do tipo “marmitas”,
além de feições paragenéticas como “bell holes”
e “piping” (CHRISTOFOLETTI, 1980; BIRGMIN-
GHAM et al., 2010; FABRI E AUGUSTIN, 2013).
A litologia da caverna trata-se de um quartzito fri-
Figura 5: Planta baixa da Gruta da Frida com destaque
ável de cor alaranjada e granulometria fina, apre- para suas entradas, seu entorno e seu interior. A) Entrada
sentando foliação, fraturas subverticais e veios de 1 vista do exterior. B) Estalagmite com crosta de óxidos.
quartzo. Os depósitos clásticos ocorrem desde blo- C) Estalagmite de tamanho excepcional D) Escorrimento
e percolação de água no salão dos espeleotemas.
cos irregulares de tamanhos métricos, até depósi-
tos de areia fina a média. De acordo com a IN 2009 do MMA e con-
O principal destaque da cavidade são os siderando as dimensões notáveis para esta litolo-
espeleotemas em seu salão principal, que se dis- gia, espeleotemas raros e gênese/morfologia única,
tribuem com alta frequência, grande variedade e ta- além da importância destas para o sistema cárstico
manhos expressivos que variam de centimétricos a local, pode-se classificar a Caverna Bento I e Gruta
métricos. Alguns destes espeleotemas têm colora- da Frida em máximo grau de relevância.