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Jerônimo Lucena
KARMA É UMA LEI QUE GOVERNA O MUNDO DO SER. - OS OCULTISTAS TÊM IGUAL
RESPEITO À VIDA ANIMAL EXTERNA DO HOMEM E A SUA NATUREZA ESPIRITUAL
INTERNA.
A EVOLUÇÃO espiritual do Homem interno e imortal constitui a doutrina fundamental das
Ciências Ocultas. Para ter uma compreensão, ainda que imperfeita, de semelhante processo,
deve o estudante crer:
(a) Na Vida Universal Una, independente da Matéria (ou do que a Ciência entende por
Matéria); e...
(b) Nas Inteligências individuais que animam as - diferentes manifestações desse
princípio.
O Senhor Huxley não acredita na Força Vital; outros homens de ciência acreditam. O livro do
Dr. J. H. Hutchinson Stirling As Regards Protoplasm ocasionou algum dano a essa dogmática
negativa. Também o Professor Beale se decidiu em favor de um Principio Vital, e as
conferências do Dr. B. W. Richardson sobre o Éter Nervoso têm sido citadas freqüentemente.
As opiniões se acham, portanto, divididas.
A Vida Una está intimamente relacionada com a Lei Una que, governa o Mundo do Ser:
O KARMA.
Em seu sentido exotérico e literal, esta palavra quer dizer simplesmente "ação", ou melhor,
"uma causa que produz seu efeito".
Esotéricamente, o Karma é uma coisa inteiramente diversa em seus efeitos morais de grande
alcance. É a infalível LEI DE RETRIBUIÇÃO. Falar aos ignorantes sobre a verdadeira
significação, as características e a suma importância desta Lei eterna e imutável; dizer que
nenhuma definição teológica de uma Divindade Pessoal pode dar uma idéia deste Princípio
impessoal, mas sempre ativo e presente, é falar em vão. Não se pode tampouco lhe dar o nome
de Providência. Porque a Providência, para os teístas - ao menos para os cristãos protestantes -
recai em um criador pessoal masculino, enquanto que para os católicos romanos é uma
potência feminina. "A Divina Providência tempera suas graças para melhor assegurar os seus
efeitos", diz Wogan, "Ela" as tempera, o que o Karma - princípio sem sexo - não faz.
Nas duas primeiras partes desta obra mostramos que, ao primeiro palpitar da vida
renascente, Svabhâvat, "a Radiação Cambiante das Trevas Imutáveis e inconscientes na
Eternidade", passa, em cada novo renascimento do Cosmos, de um estado inativo a outro de
atividade intensa; que ele se diferencia, e então começa a sua obra através desta diferenciação.
Essa obra é o KARMA.
Os Ciclos são também dependentes dos efeitos produzidos pela mesma atividade.
O Átomo Cósmico Uno se converte em sete Átomos no plano da Matéria, e cada um se
transforma em um centro de energia; aquele mesmo Átomo se converte em Sete Raios no
plano do Espírito; e as sete Forças criadoras da Natureza, irradiando-se da Essência-Raiz...
Seguem, umas a via da direita, outras a via da esquerda, separadas até o fim do Kalpa, e, sem
embargo, estreitamente enlaçadas. Que é que as une? O Karma.
Os Átomos emanados do Ponto Central irradiam, por sua vez, novos centros de energia, que,
sob a influência do sopro potencial de Fohat, iniciam a sua obra de dentro para fora, e
multiplicam outros centros menores. Estes, no curso da evolução e involução, formam por sua
vez as raízes ou causas geradoras de novos efeitos, desde os mundos e globos "habitados pelo
homem" até os gêneros, espécies e classes de todos os sete reinos, dos quais só conhecemos
quatro Pois, como diz o Livro dos Aforismos de Tsong-kha-pa, "Os benditos artífices receberam
o Tyan-kam na eternidade".
Tyan-kam é o poder ou conhecimento que permite dirigir o impulso da Energia Cósmica no
sentido conveniente.
O verdadeiro budista, que não reconhece nenhum "Deus pessoal", nenhum "Pai" ou
"Criador do Céu e da Terra", crê, no entanto, em uma Consciência Absoluta, Adi-
Buddhi; e o filósofo budista sabe que há Espíritos Planetários, os Dhyân Chohans. Mas,
apesar de admitir "Vidas Espirituais", mesmo estas, sendo transitórias na eternidade, não
deixam de ser, conforme a sua filosofia, "Mâyâ do Dia", a Ilusão de um "Dia de Brahma", um
curto Manvantara de 4.320.000.000 de anos. O Yin-Sin não é para servir às especulações do
homem, pois o Senhor Buddha proibiu todas as indagações desse gênero. Se os Dhyân
Chohans e todos os Seres Invisíveis - os Sete Centros e suas Emanações diretas, os centros
menores de Energia - são o reflexo direto da Luz Una, os homens estão ainda muito
distanciados deles, por isso que todo o Cosmos visível se compõe de "seres produzidos por si
mesmos, as criaturas do Karma".
Considerando, assim, que um Deus pessoal "não passa de uma sombra gigantesca projetada
no vazio do espaço pela imaginação do homem ignorante" (*), ensinam os budistas que "só
duas coisas são eternas (objetivamente), a saber: o Akasa e o Nirvana", e que ambas se
identificam em uma só, não passando de Mâyâ quando estão separadas. (*Catecismo Budista, Questão
122, por H. S. Olcott, Presidente da Sociedade Teosófica).
"Todas as coisas saíram de Akasa [ou Svabhâvat, em nossa Terra], em obediência a uma lei de
movimento que lhe é inerente, e desaparecem após uma certa existência. Do nada jamais saiu
alguma coisa. Não cremos em milagres; e por isso negamos a criação e não podemos conceber
um criador".
Se perguntasse a um brâmane da Seita Advaita se ele crê na existência de Deus, a resposta
seria provavelmente igual à que recebeu Jacolliot: "Eu próprio sou Deus"; ao passo que um
budista (sobretudo um cingalês) se limitaria a sorrir, dizendo: "Não há Deus, não há Criação".
Contudo, a filosofia fundamental dos eruditos advaitas é idêntica à dos budistas; e uns e outros
têm igual respeito à vida animal, acreditando que toda criatura da Terra, por pequena e
humilde que seja, "é uma parcela imortal da Matéria imortal" - a Matéria tendo para eles um
significado muito diferente do que tem para os cristãos e os materialistas - e que todas as
criaturas estão sujeitas ao Karma.
A resposta do brâmane teria ocorrido a todo filósofo antigo, cabalista ou gnóstico dos
primeiros tempos. Ela encerra o espírito mesmo dos mandamentos délficos e cabalísticos; pois
a Filosofia Esotérica resolveu, desde há séculos, o problema do que o homem foi, é e será;
sua origem, seu ciclo de vida - interminável na duração das encarnações e renascimentos
sucessivos e sua absorção final na Fonte de onde proveio.
Nenhum ocultista negaria que o homem - da mesma forma que o elefante e o micróbio, o
crocodilo e o lagarto, a folha de erva e o cristal - seja, em sua constituição física, o simples
produto das forças evolutivas da Natureza, através de uma série inumeráveis de
transformações; mas ele apresenta um aspecto diferente.
A INFLUÊNCIA ESOTÉRICA DOS CICLOS KÁRMICOS SOBRE A ÉTICA UNIVERSAL.
- NINGUÉM PODE ESCAPAR AO SEU DESTINO DOMINANTE.
- KARMA, A LEI DE COMPENSAÇÃO.
Para que a obra do Karma - nas renovações periódicas do Universo - se torne mais evidente
e inteligível ao estudante, quando este chegar à origem e evolução do homem, é mister que ele
nos acompanhe agora no exame da influência oculta dos Ciclos Kármicos sobre a Ética
Universal. A questão é a seguinte: exercem alguma influência sobre a vida humana, ou têm
relação direta com ela, essas misteriosas divisões do tempo, chamadas: Yugas e Kalpas pelos
hindus, e às quais os gregos deram o nome, tão expressivo de (KÚKÂOI), Ciclos, anéis ou
círculos? A própria Filosofia Esotérica esclarece que esses ciclos perpétuos do tempo
recomeçam constantemente, de modo periódico e inteligente, no Espaço e na Eternidade. Há
"Ciclos de Matéria" e há "Ciclos de Evolução Espiritual", e há também ciclos de raças, de nações
e de indivíduos.- Permitirá a Doutrina Esotérica que cheguemos a um conhecimento mais
profundo da ação dos Ciclos?
Segundo os ensinamentos, Mâyâ - a aparência ilusória da ordenação de acontecimentos e
ações nesta Terra - muda e varia com as nações e os lugares.
Mas os traços dominantes da vida de cada homem estão sempre em harmonia com a
"Constelação" sob a qual nasceu, ou - poderíamos dizer - com as características do principio
que o anima, ou da Divindade que lhe preside a existência, chame-se Dhyân Chohan, como
na Ásia, ou Arcanjo, como nas Igrejas grega e latina. No simbolismo antigo, era sempre o Sol
- mas o Sol espiritual, e não o físico - que se acreditava enviar os principais Salvadores e
Avatares. Dai o laço de união entre os Buddhas, os Avatares e tantas outras encarnações dos
Sete Supremo.
Quanto mais se aproxime do seu Protótipo no "Céu", tanto melhor para o mortal cuja
personalidade foi eleita - por sua própria Divindade pessoal (o Sétimo Principio) - para sua
mansão terrestre. Porque, a cada esforço de vontade no sentido da purificação e da união com
esse "Deus Próprio", um dos Raios inferiores se interrompe, e a entidade espiritual do
homem é atraída cada vez mais para o alto, para o Raio que sucede ao primeiro, até que, de
Raio em Raio, o Homem Interno é absorvido no Raio Uno, o mais elevado do Sol-Pai.
Assim, pois, "os sucessos da humanidade estão em coordenação com as formas numéricas",
uma vez que as unidades simples dessa humanidade promanam todas da mesma fonte - o Sol
Central e sua sombra, o Sol visível. Porque os equinócios e os solstícios, os períodos e as
diversas fases do curso solar, astronômicos e numericamente expressos, são somente os
símbolos concretos da verdade eternamente viva, ainda que pareçam idéias abstratas aos olhos
dos mortais não iniciados. E isto explica as extraordinárias coincidências numéricas com as
relações geométricas, como assinalado por diversos autores.
Sim, "o nosso destino está escrito nas estrelas!" De ver, porém ' que, quanto mais estreita a
união entre o reflexo mortal, que é o Homem, e seu Protótipo Celeste, tanto menos
perigosas as condições externas e as reencarnações subseqüentes - às quais nem os Buddhas
nem os Cristos podem escapar. Não é superstição, e muito menos fatalismo. Este último
parece implicar ação cega de uma força ainda mais cega; o homem, porém, é um agente livre
durante a sua estada na Terra. Não pode fugir ao seu Destino dominante, mas pode escolher
entre dois caminhos que conduzem àquela direção, e chegar à meta da desgraça - se é a que
lhe está reservada - ou com as níveas vestes do mártir ou com a roupa tisnada de um
voluntário da senda do mal: porque há condições externas e internas que podem exercer
influência sobre o uso de nossa vontade no conduzirmos as nossas ações, e está em nosso
alvedrio eleger um ou outro dos dois caminhos.
Os que crêem no Karma não podem deixar de crer no Destino que cada homem, do berço
ao túmulo, tece ao redor de si mesmo, fio por fio, como a aranha a sua teia; e esse Destino é
dirigido, ou pela voz celeste do invisível Protótipo exterior a nós, ou pelo nosso mais intimo
astral, ou homem interno, que mui freqüentemente é o gênio do mal da entidade encarnada.
Ambos influenciam o homem externo, mas um deles tem que prevalecer; e, desde o principio
desse conflito invisível, a austera e implacável Lei de Compensação intervêm, e segue o seu
curso, acompanhando lance por lance as flutuações da luta.
Quando o último fio se acha tecido, e o homem se deixou enredar na malha de seus próprios
atos, vê-se ele sob o império absoluto desse Destino, que ele mesmo elaborou. Este então o
imobiliza, qual concha inerte presa ao firme rochedo, ou o arrasta, como uma pena, no
torvelinho levantado por suas próprias ações; isto é o KARMA.
Um materialista, tratando das criações periódicas do nosso globo, assim as expressou em
uma só frase: "Todo o passado da Terra não desenvolvido".
O autor era Büchner, que nem de longe suspeitava estar repetindo um axioma dos
ocultistas. É também verdade, como observa Burmeister, que "As pesquisas históricas sobre o
desenvolvimento da terra demonstraram que o hoje e o ontem assentam na mesma base; que
o passado se desenvolveu do mesmo modo por que se desenvolve o presente; e que as forças
em ação permanecem sempre as mesmas".