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PORTUGUESA
V Série • N.º 3 • OUTUBRO - DEZEMBRO 2020
SUMÁRIO
PORTUGUESA
ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, FORMAÇÃO E CULTURA DA PSP
V Série • N.º 3 • OUTUBRO - DEZEMBRO 2020 Editorial 02
Diretor: Notícias
Superintendente-Chefe Constantino Ramos CD AVEIRO
Coordenadora: Aveiro Tech Week 12-18 OUT 03
Dra. Michele Soares PSP em Rede de Trabalho em Prol do Cidadão 05
Consultor Técnico (Honorário): Um Natal Diferente 07
Dr. Alfredo Theodoro
Corpo Editorial: CD BRAGA
Chefe-Principal José Ferreira Balcão de Atendimento Integrado ao Cidadão 09
Comissário Joaquim Malheiro
Doutor Adolfo Cueto-Rodríguez (HTC|NOVA-FCSH e CEF-UC) CD CASTELO BRANCO
Paginação: PSP Salva das Chamas Família em Aflição 10
Dr. Francisco Rodrigues
Fotografia: CM LISBOA
Agente Principal Paulo Fernandes Agentes da PSP Salvam Idosos 11
Agente Principal Pedro Valongo Campanha de Natal “Sorrisos de Esperança” 12
Secretariado e Publicidade:
Assistente-Técnica Ana Vieira CR MADEIRA
Agente Lina Carvalho Entrega de Viaturas no Comando Regional
da Madeira 13
Participaram neste número:
Agente Principal Ana Catarina Lascasas (COMETPOR) CM PORTO
Agente Principal Maria Helena Vieira Stork (CDAVEIRO) Agente Principal António Almeida: Polícia e
Agente Principal Lucília Correia (CDCASTELO BRANCO) Único Árbitro de Elite Português de Futebol
Agente Ana Pontes (CRMADEIRA) de Praia da FIFA 14
Comissário Artur Serafim (COMETLIS) Polícia por um dia no Comando Metropolitano
Técnica Superior Patrícia Vale (CDBRAGA) do Porto 15
Superintendente Rui Moura O Comando Metropolitano do Porto no
Doutor Eduardo Correia
terreno em tempos de pandemia 16
Doutor Pedro Marques Gomes
O Comando Metropolitano do Porto no
Dra. Cláudia Filipe
Dra. Raquel Ascensão apoio aos idosos 17
Dra. Rita Guerra
MUP | Museu da Polícia
Propriedade da Direção Nacional da PSP Congresso Internacional debateu os desafios
Largo da Penha de França, n.º 1 da Polícia na História Contemporânea 18
1170-298 Lisboa – PORTUGAL Lançamento do primeiro livro da coleção do
Telefone: +351 218 111 071 Museu da PSP 19
Email: revista@psp.pt
Depósito Legal: 18331/88
Uma Polícia com História
Entrevista com Maria Fernanda Rollo 20
Encontro marcado com a História: A PSP e o
Execução Gráfica e Impressão: INcognit Calculation, Unipessoal 4 de fevereiro de 1961 em Luanda 28
Lda
Isenta de Registo na ERC, ao abrigo do artigo 12.º, n.º 1, Documentos com História 32
alínea b), do Decreto Regulamentar n.º 8/99, de 9 de junho. Objetos com História: Relógio de Ronda 34
Artigos
Os conteúdos dos artigos publicados são da exclusiva A Missão 38
responsabilidade dos seus autores. O perfil de competências de base emocional dos
investigadores criminais da PSP 42
1
Nota do Diretor
om o número 3 da V Série fechamos o primeiro ano de re-
2
NOTÍCIAS
CD AVEIRO
A
Polícia de Segurança Pú- O Comando Distrital de Avei-
blica procura interagir ro, tendo aceitado o convite
com a sociedade, em endereçado pela Câmara Mu-
todos os domínios da imagéti- nicipal, teve em exposição, jun-
ca, de forma a espelhar a sua to ao centro comercial “Fórum
essência de Polícia próxima, in- Aveiro” (um local privilegiado,
tegral, forte, coesa e ao serviço em pleno centro da cidade e
do cidadão, com uma elevada zona de confluência de comér-
capacidade de resolução de cio, turismo, serviços, jovens
problemas de segurança que e população em geral) alguns
afetam os cidadãos. meios e equipamentos policiais
demonstrativos da importância
De 12 a 18 de outubro, em Avei-
da tecnologia na sua atividade
ro, decorreu o evento “AVEIRO
operacional, sobretudo em fun-
TECH WEEK 2020”, que integrou
ções de fiscalização e supervi-
outros três grandes eventos:
são:
“TECHDAYS Aveiro”, “CRIATE-
CH” e “PRISMA / Art Light Tech”, O “Provida 2000”, sendo um
os quais aliaram a tecnologia à sistema de radar que serve para
arte e à cultura, através de ex- controlar, em movimento ou es-
posições, instalações artísticas, tacionado, qualquer viatura que
performances, conferências, se encontre na frente, na trasei-
laboratórios e outras experiên- ra ou que se cruze com o veícu-
cias. Uma semana inteiramente lo de controlo, possibilitando a
voltada para o projeto “Aveiro gravação de todos os dados e
2027 - Cidade Candidata a imagens, que, posteriormente,
Capital Europeia da Cultura e podem funcionar como meio de
da iniciativa Aveiro Tech City”. prova em tribunal, constituindo,
3
NOTÍCIAS
CD AVEIRO
ESPINHO
Seminário “A Violência Doméstica – Meios de Intervenção”
5
NOTÍCIAS
CD AVEIRO
No âmbito da prevenção e
combate à violência doméstica,
e no cumprimento da diretiva
da Direção Nacional da PSP,
intitulada “VIOLÊNCIA FICA À
PORTA”, o Comando Distrital de
Aveiro, reuniu-se com seus prin-
cipais parceiros sociais, em São
João da Madeira, no dia 25 de
novembro de 2020.
Enquadrado também no "Pro-
tocolo para a territorialização
gias para melhorar a interven- Porta Aberta, Segurança So-
da rede nacional de apoio às
ção da PSP junto da população. cial, Cruz Vermelha Portuguesa,
vítimas de violência doméstica"
CPCJ e Divisão Social da Câ-
(Municípios de Terras de Santa O debate realizou-se entre polí-
mara Municipal de São João da
Maria - Santa Maria da Feira, cias do Modelo Integrado de Po-
Madeira – ESPAÇO AURORA.
São João da Madeira, Oliveira liciamento de Proximidade, da
de Azeméis, Vale de Cambra, Esquadra de São João da Ma- O evento foi bastante noticiado
Arouca e Espinho), o Comando deira, e membros das seguintes na Comunicação Social local.
pretendeu estreitar os laços de coletividades: Associação Ecos
cooperação e debater estraté- Urbanos, Centro Comunitário
O
Natal sempre foi uma de Aveiro, foi muito bem tra-
época do ano muito balhada pelo Gabinete de Im-
peculiar, considerada, prensa e Relações Públicas, da
por muitos, a época de reunião Direção Nacional, tendo resul-
familiar. tado numa excelente coleção
de fotografias, ao jeito de pos-
No entanto, devido às restrições
tais de Natal, já anteriormente
impostas pelo Governo, no sen-
pensados por aquele Gabine-
tido de minimizar o impacto
te, que se iam apresentando,
causado pela crise pandémica,
diariamente, aos cidadãos, na
que teve origem na COVID-19,
página de Facebook desta Po-
este último Natal foi passado e
lícia;
sentido de forma diferente.
Um concerto, levado a cabo
Na esperança de atenuar as
pelo Quinteto de Metais, da
amarguras e de contribuir para
Banda Sinfónica da Polícia de
a felicidade das pessoas, o Co-
Segurança Pública, que, a con-
mando Distrital de Aveiro pre-
vite deste Comando, esteve no
parou pequenas surpresas:
centro comercial “Fórum Avei-
Um Calendário do Advento, ro”, das 13H30 às 16H00, no
repleto de bonitas fotos nata- dia 21 de dezembro, a pro-
lícias tiradas nas cidades onde porcionar verdadeiros momen-
a Polícia de Segurança Pública tos enternecedores, místicos,
tem jurisdição, que fazia a con- de animação e de inspiração
tagem decrescente para a Noi- para o espírito natalício a todos
te de Natal. A ideia, que partiu quantos por ali passavam e se
do Núcleo de Imprensa e Re- detinham a deliciar-se com o
lações Públicas, do Comando tão bem escolhido repertório;
7
NOTÍCIAS
CD AVEIRO
8
NOTÍCIAS
CD BRAGA
C
om o objetivo de facilitar organização do espaço policial • Certidões várias (acidentes,
a relação dos cidadãos em termos de segurança. extravio de documentos, fur-
com a Administração Pú- to, etc);
blica e com a PSP em particular, O Balcão de Atendimento Inte- • Achados;
proporcionando um atendimen- grado ao Cidadão funciona em • Requisições de Serviços Poli-
to mais cómodo, este Comando horário permanente 24/7 (vinte ciais;
Distrital da PSP de Braga dis- e quatro horas por dia, 7 dias • Salas de Inquirição (proces-
põe, desde o passado mês de por semana – incluindo fins de sos crime, Contraordenacio-
outubro, de um novo espaço de semana e feriados) para efeitos nal, Deontologia e Discipli-
atendimento, o Balcão de Aten- de atendimento policial (quei- na);
dimento Integrado ao Cidadão, xas/participações/denúncias); e • Tesouraria.
o qual reúne no mesmo espaço em horário contínuo e alarga-
vários serviços. do, de segunda a sexta-feira A criação deste novo espaço vai
(09:00h às 16:00h) para os res- permitir a realização de mais
Este espaço, é um conceito ino- tantes serviços, salvo exceções um objetivo estratégico da PSP,
vador e um projeto pioneiro na devidamente assinaladas. ao possibilitar a realocação de
Polícia. Além de proporcionar diversos serviços, conferindo
conforto e comodidade, permite Este espaço disponibiliza os se- aos mesmos maior dignidade e
também tratar de vários assun- guintes serviços: melhores condições de trabalho.
tos policiais num mesmo espa- • Atendimento policial (quei-
ço, evitando assim ao cidadão xas/participações/denún-
deslocações a diferentes locais cias);
e consequentemente maiores • Sala de Apoio à Vítima;
perdas de tempo. Além disso, • Armas;
permitirá também uma melhor • Segurança Privada;
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NOTÍCIAS
CD CASTELO BRANCO
N
a madrugada do dia 28 iniciar o socorro às vítimas que, tativa de diminuir os prejuízos,
de dezembro de 2020, em pânico e desespero, já se continuaram a tentar controlar
pelas 05h46 e via 112, encontravam refugiadas numa as chamas até à chegada dos
foi dado o alerta de incêndio de varanda do andar superior da Bombeiros locais.
origem desconhecida em pré- habitação e impedidas de sair
As vítimas não apresentavam
dio urbano. Uma moradia de para a via pública.
ferimentos, mas foram trans-
02 pisos na cidade da Covilhã,
portadas ao hospital para ob-
era pasto das chamas e no seu Não olhando ao risco da pró-
servação, assim como um dos
interior continuava uma mulher pria vida, procederam a todos
agentes devido à inalação de
e as suas duas filhas gémeas os esforços para salvar aquela
fumos. Acabaram por ter alta
menores de idade. família em aflição. Escalaram à
hospitalar no mesmo dia.
varanda, conseguindo apoiar e
De imediato foram accionadas
acalmar as vítimas, e com au- Graças à prontidão, coragem e
duas viaturas policiais para o
xílio de uma mangueira encon- espírito de sacrifício destes pro-
local, sendo as tripulações com-
trada no jardim, encetaram luta fissionais, a Polícia de Seguran-
postas pelos Agentes Principais
com as chamas, abrindo deste ça Pública está de parabéns.
João Duvigneau, António Carri-
modo um pequeno corredor
ço, Vitor Veloso e João Martins.
na entrada da residência, reco-
Constatando a perigosidade lheram as meninas e sua mãe,
dos factos no local, e sem he- colocando-as em segurança no
sitarem, reuniram esforços para exterior da habitação. Na ten-
10
NOTÍCIAS
CM LISBOA
N
o âmbito da ligação
social que a Polícia de
Segurança Pública tem
com os cidadãos, o Comando
Metropolitano de Lisboa desen-
volveu a campanha “Sorrisos de
Esperança”. Através do Policia-
mento de Proximidade das suas
Divisões Policiais, o Comando
realizou no mês de dezembro
esta campanha de Natal.
Infelizmente a pandemia Co-
vid-19 que atravessamos veio
condicionar, de forma severa,
a maneira como as pessoas se
relacionam, provocando o ine-
vitável distanciamento, preocu-
pação e ansiedade. As crianças
são particularmente visadas
com esta pandemia e, apesar
dela, continuam a brincar, par-
tilhar emoções e sorrisos com
os seus amigos e família. Uma
das diversas consequências da
pandemia foi criar problemas
económicos e sociais em muitas
famílias.
A campanha consistiu em reco-
lher brinquedos e roupa para
crianças desfavorecidas, que
estejam em bom estado. Poste-
riormente cada Divisão Policial
ficou responsável de identificar
famílias carenciadas e/ou insti-
tuições que deem esse apoio.
12
NOTÍCIAS
CR MADEIRA
Entrega de Viaturas
Comando Regional Madeira
A
o abrigo do Protocolo de Regional – Dr. Pedro Calado e motociclos, assim como na do-
Colaboração entre o Go- do Exmo. Sr. Comandante Re- tação de equipamento técnico
verno Regional da Ma- gional – Superintendente-Chefe de busca e salvamento, equi-
deira e a Polícia de Segurança Luís Simões. pamento portátil de iluminação
Pública, foram entregues, no de emergência, cinemómetros e
O montante investido pelo
passado 19 de dezembro de sonómetros.
Governo Regional em prol da
2020, 10 viaturas policiais ca-
segurança da população ma-
racterizadas.
deirense, cujo financiamento
A entrega dos 10 Skoda Octavia resulta das receitas provenientes
VIII 2.0 TDI 116 Ambition, um das coimas cobradas por infra-
investimento de €260.432,00, ções rodoviárias, é o culminar
decorreu na parada do Coman- de um investimento de cerca de
do Regional da Madeira e con- €500.000,00, efetuado no ano
tou com a presença do Exmo. transato, distribuído pela reno-
Sr. Vice-Presidente do Governo vação da frota automóvel e de
13
NOTÍCIAS
CM PORTO
E
m 08 de Outubro de 1998 Enquanto polícia e árbitro, con- Arbitrar também pode ser
ingressou na Polícia de Se- sidera-se um privilegiado por sinónimo de sacrifício?
gurança Pública. Pertence concretizar “o sonho de crian-
Sem dúvida. O maior de todos
ao efetivo do Comando Metro- ça”, o de ser polícia, no âmbi-
é o familiar, o tempo despen-
politano do Porto desde 2001, to da arbitragem, diz: “tem-me
dido em competição, treinos
onde exerce funções no MIPP/ dado coisas fantásticas. Tenho
e viagens, são muitas horas e
EPAV da 3ª Divisão Policial. tido a oportunidade de repre-
dias de ausência. Mas também
sentar o nosso país e de conhe-
É árbitro Internacional de Fute- a nível físico exige de mim mui-
cer vários países e culturas. E
bol de Praia e árbitro de 1ª Ca- tos sacrifícios e superação. No
claramente aprender e estar ao
tegoria de Futsal. O seu percur- patamar que me encontro sou
lado dos melhores.”
so na arbitragem iniciou-se há equiparado a atleta de alta
17 anos. Entre diversos marcos Como consegue conciliar as competição, portanto treinos,
importantes, salientam-se: o duas atividades em simultâ- alimentação e descanso, são
Campeonato do Mundo 2015 neo, a de ser polícia e árbitro? essenciais para obter excelentes
de Futebol de Praia em Espinho desempenhos.
-Portugal; a Final dos primeiros Com muita disciplina e uma
O que representa para si ser
Jogos Europeus 2015 em Baku enorme gestão criteriosa de
polícia?
– Azerbaijão, entre as seleções tempo diário e semanal, para
de Itália e Rússia; a Final da poder conciliar horário de tra- Como já disse, é o sonho de
Liga dos Campeões de Fute- balho, treinos, jogos e vida fa- criança. É o que gosto de ser e
bol de Praia em Catânia- Itália miliar. Nem sempre é fácil, mas fazer. Satisfaz-me plenamente
em Junho de 2015; a Final do o êxito resulta da capacidade e eleva os meus padrões como
Campeonato da Europa na Sar- mental de nos ajustarmos e de profissional. Pois sou sensível às
denha- Itália em Setembro de ter flexibilidade, para nos com- exigências da sociedade atual e
2018 entre as seleções de Espa- prometermos em realizar todas às tarefas que me são incumbi-
nha e Itália; o 1.º Campeonato as tarefas. Importa realçar que das devido à vertente mais hu-
do Mundo de Clubes de Fute- sempre tive o apoio de superio- mana e social que o meu servi-
bol de Praia, Alanya-Turquia, res hierárquicos e de colegas. ço representa. Dou tudo de mim
em Outubro de 2019 e a Final Agradeço portanto a todos, o para ser um bom polícia e crescer
da Taça Intercontinental Bea- contributo e ajuda que me de- como profissional. É um orgulho
ch Soccer Cup 2019 no Dubai, ram para que fosse possível pertencer a uma instituição como
UAE em Novembro de 2019. conciliar as duas atividades. a Polícia de Segurança Pública.
14
Polícia por um dia
no Comando Metropolitano do Porto
N
o dia 26 de Outubro de
2020, um cidadão porta-
dor de doença oncológica,
visitou as instalações da Esqua-
dra do Bom Pastor, pertencente à
3ª Divisão Policial do Comando
Metropolitano do Porto, para des-
ta forma concretizar o seu sonho
de ser polícia por um dia.
Devido à sua vulnerável condi-
ção de saúde, ficou desde muito
cedo impossibilitado de realizar
o objetivo de tentar incorporar na
Polícia de Segurança Pública.
Foi um dia de grande impacto
positivo na vida do senhor Daniel
Maia e da sua mãe. Conseguiu,
assim, constatar como é o funcio-
namento da instituição e o quoti-
diano policial de uma esquadra.
No final transmitiu o seu agrade-
cimento e entusiasmo pela dinâ-
mica proporcionada e pelo con-
vívio com os elementos policiais.
15
NOTÍCIAS
CM PORTO
O
Comando Metropolita-
no do Porto no contexto
das medidas decorren-
tes do Estado de Emergência,
promoveu regularmente ações
de sensibilização e deteção de
comportamentos de incumpri-
mento das medidas e norma-
tivas de proteção e segurança
dos cidadãos.
Com o intuito de reforçar o pa-
trulhamento e dar resposta às
atuais exigências, diligenciou
assegurar de forma capaz, efi-
ciente e humana, a ordem e a
tranquilidade públicas e de re-
forço do sentimento de segu-
rança da comunidade.
16
O Comando Metropolitano do Porto
no apoio aos idosos
A
Divisão Policial de Vila do
Conde, no dia 21 de De-
zembro de 2020, reali-
zou uma ação de proximidade,
no âmbito do Programa Apoio
65 - Idosos em Segurança.
Imbuídos no projeto A solidarie-
dade não tem idade – A PSP com
os idosos, a ação abrangeu os
idosos devidamente sinalizados
e assiduamente acompanhados
por esta polícia.
E tal como em anos anteriores
e no contexto da Parceria Local
entre a Polícia de Segurança Pú-
blica e a Junta de Freguesia de
Vila do Conde, foram entregues
aos idosos mais carenciados ca-
bazes com bens essenciais, ofe-
recidos pelo senhor Presidente
da Junta da Freguesia de Vila
do Conde, para desta forma
simbolizar a época natalícia.
17
NOTÍCIAS
MUP | Museu da Polícia
Congresso Internacional
debateu os desafios da Polícia na História Contemporânea
D
urante três dias investi- apresentaram 46 comunicações las; membros da Polícia Militar
gadores de vários países onde analisaram as origens das do Pará, da Polícia Federal do
reuniram-se no Congres- funções policiais; os métodos Brasil, bem como da Policia de
so Internacional «Os Desafios policiais em diferentes óticas; Buenos Aires.
da Polícia na História Contem- as questões da criminalidade,
Este foi o segundo congresso
porânea». Tendo em conta as do controlo e ordem social; a
realizado no âmbito do projeto
circunstâncias provocadas pela perseguição e violência policial;
«Polícia de Segurança Pública:
pandemia da COVID 19, o en- a ameaça terrorista e a coope-
História e Património», promo-
contro decorreu integralmente ração policial internacional; a
vido pela PSP e desenvolvido
online, contando com uma am- proteção do meio ambiente; as
pelos investigadores de HTC
pla assistência. polícias em momentos de mu-
- História, Territórios e Comu-
dança política e em contextos
Após a abertura, feita por Ma- nidades – CFE NOVA FCSH.
de guerra; democracia e segu-
ria Fernanda Rollo e Diego Pa- A organização contou com a
rança; as forças policiais civis e
lacios Cerezales, em três ses- parceria da Universidad Com-
militares; a memória, o patri-
sões plenárias, Óscar Jaime plutense de Madrid.
mónio documental e material
Jiménez (Universidad Nacional
das forças da ordem, entre ou- Este ano, a PSP e a NOVA-FCSH,
de Educación a Distancia de
tros assuntos. prosseguindo o objetivo de de-
Espanha), Gonçalo Gonçalves
bater e refletir acerca das ques-
(Universidade Federal do Esta-
Ao encontro compareceram tões policiais, encontra-se já a
do do Rio de Janeiro) e Susana
não só académicos, como ele- preparar um terceiro congres-
Durão (Universidade Estadual
mentos de várias corporações, so, intitulado “Polícia(s) e Socie-
de Campinas) abordaram as
além da PSP. Estiveram presen- dade”, que vai acontecer nos
sociedades em transformação
tes investigadores da GNR, da dias 18 e 19 de novembro na
e os modelos policiais em crise,
Polícia Judiciária, da Polícia NOVA-FCSH. O convite para
o passado policial em Portugal
dos Estabelecimentos da Ma- a apresentação de trabalhos
e ainda a questão das seguran-
rinha de Portugal, da Polícia pode ser consultado em https://
ças pública e privadas no Brasil.
Nacional e da Guarda Civil, os historiaepatrimoniodapolicia.
Ao longo dos três dias, 62 in- Mossos d’Esquadra e ainda de wordpress.com.
vestigadores de diversos países várias polícias locais espanho-
18
Lançado o primeiro livro da coleção do Museu da PSP
“Polícia(s) e Segurança Pública: História e Perspetivas Contemporâneas”
E
studar a história da(s) Na sessão de lançamento, usa- tória, memória e património
Polícia(s), olhando para o ram da palavra o Secretário de da(s) polícia(s); “História da(s)
percurso das diferentes for- Estado Adjunto e da Administra- polícia(s): estudos sobre Portu-
ças policiais no tempo, para o ção Interna, Antero Luís, o Di- gal e Espanha” e “Polícia(s), or-
seu património, bem como para retor Nacional da PSP, Manuel dem e segurança pública”. As-
a definição de modelos policiais Magina da Silva, Maria José sinam textos investigadores do
e suas alterações” é a premissa Roxo, subdiretora da NOVA- ISCPSI, como Lúcia Pais, Eurico
da obra “Polícia(s) e Segurança -FCSH, e Óscar Jaime Jiménez, Dias, Sérgio Felgueiras, Pau-
Pública: História e Património”, catedrático da Universidad Na- lo Machado e Eduardo Pereira
lançada no dia 2 de dezembro de cional de Educación a Distancia Correia, mas também de outras
2020, na Faculdade de Ciências de Espanha. instituições, como Manuel Va-
Sociais e Humanas da Universi- lente, Cristina Montalvão Sar-
dade Nova de Lisboa. Este livro, que é o primeiro da mento, Nuno Andrade, Sérgio
coleção do Museu da PSP, inte- Vaquero e Aritz Bidaurrazaga.
A obra, coordenada por Maria gra-se no projeto “Polícia de Se- Sobre a PSP podemos encontrar,
Fernanda Rollo, Pedro Marques gurança Pública: História e Pa- além da síntese histórica inicial,
Gomes e Adolfo Cueto-Rodrí- trimónio” e resulta também do trabalhos sobre a evolução da
guez, apresenta um conjunto Congresso Internacional “His- carreira feminina, o papel e a
de estudos inéditos, nacionais tória, Identidade e Património atuação da PSP na Revolução
e internacionais, abrindo com da(s) Polícia(s)”, que teve lugar de Abril e sobre a história da
uma síntese histórica da Polícia em 2019, no Instituto Superior revista Polícia Portuguesa.
de Segurança Pública, desde as de Ciências Policiais e Seguran-
suas origens até às primeiras ça Interna.
décadas da democracia portu-
guesa, escrita pelos três coor- Os autores escreveram sobre
denadores do livro e por Pedro diversos temas, agrupados,
Urbano. no livro, em três partes: “His-
19
UMA POLÍCIA COM HISTÓRIA
Entrevista
M
aria Fernanda Rollo é professora catedrática de
História da Faculdade de Ciências Sociais e Hu-
manas da Universidade Nova de Lisboa (NOVA-
-FCSH) e investigadora do HTC – História, Territórios e
Comunidades da CFE NOVA-FCSH, que fundou no ano
passado. Tem liderado inúmeros projetos de investigação,
nacionais e internacionais, sobre diversos temas da His-
tória Contemporânea e coordena, deste 2016, o projeto
“Polícia de Segurança Pública: História e Património”, que
resulta de um protocolo realizado entre a PSP e a NOVA-
-FCSH. Foi precisamente sobre este projeto que falou com
a Revista da Polícia.
gadores e especialistas com grande competência caracterizá-lo, por forma a que realmente possa
e com o empenho e o entusiasmo que os desa- ser compreendido e estudado como fonte. A sua
fios e o interesse que o projeto suscitam. extensão e amplitude são muito significativas, re-
fletindo um período de história longo e abran-
Devo ainda assinalar a colaboração de várias
gendo todo o território nacional.
pessoas da PSP que têm acompanhado o de-
senvolvimento do projeto, que completam e Por outro lado, no que respeita à história da ins-
ampliam de forma determinante a equipa. En- tituição, a investigação realizada e em curso, é
tre todos cumpre referir o Subintendente Eduar- muito mais ampla! Têm-se percorrido muitos ou-
do Alberto, que inicialmente fez a ligação con- tros arquivos e bibliotecas, pesquisando, reunin-
nosco e o MUP, e a Dra. Michele Soares, que do informação, fazendo investigação. A história
nos dois últimos anos nos tem acompanhado a da PSP não se esgota no universo da PSP.
par e passo. Na prática, portanto, uma grande
Ao mesmo tempo estão também a fazer a
equipa!
história do país?
Depois de percorrerem todos os Comandos Não diria exatamente a história do país, mas
da PSP, a nível nacional, é já possível fazer sem dúvida que o seu estudo é fundamental
algumas considerações sobre o valor históri- para aprofundar o conhecimento da história de
co e patrimonial do espólio da PSP? Portugal contemporâneo, da mesma maneira
Sim, sem dúvida. O património material e imate- que não é possível compreender a história da
rial que temos identificado e estudado é de gran- PSP sem a integrar e contextualizar na história do
de importância para a história da polícia e de país, acompanhando o seu percurso e dinâmicas
inquestionável relevância no contexto da história no plano político, económico, social.
de Portugal contemporâneo.
O conjunto da documentação e das coleções
é impressionante, refletindo a história e a pre-
“Seria muito difícil fazer a histó-
sença à escala do território de uma instituição ria da PSP sem dispor desse patri-
de relevo nacional. Evidentemente que muita mónio. Note-se, porém, que para
coisa se foi perdendo ao longo dos anos, mas
resulta claro o valor histórico e patrimonial do
tanto é preciso identificá-lo como
que persiste e que, em breve, uma vez tratado, tal, organizá-lo, tratá-lo, classifi-
organizado e colocado à disposição da socie- cá-lo, caracterizá-lo, por forma a
dade vai seguramente impressionar e constituir
um recurso muito importante para a história da
que realmente possa ser compre-
PSP e do país. endido e estudado como fonte.”
Organizar e tratar todo o espólio documen-
tal e o património móvel da PSP, é, na verda- Por isso é tão importante a preservação dos
de, uma tarefa bastante ambiciosa. Acredita arquivos pelas instituições, não é verdade?
que só assim será possível fazer uma histó-
A preservação do património e em particular
ria da instituição?
do arquivo documental de uma instituição, so-
Tem sido muito exigente, o que é muito bom, na bretudo da natureza, singularidade e significado
medida em que significa a existência de um pa- nacional como a PSP, é essencial para o conhe-
trimónio assinalável. Seria muito difícil fazer a cimento e valorização da sua história, da sua
história da PSP sem dispor desse património. No- identidade. Cuidar desse património é de ele-
te-se, porém, que para tanto é preciso identificá- mentar responsabilidade para com a instituição
-lo como tal, organizá-lo, tratá-lo, classificá-lo, e o país.
24
Agentes da PSP de Macau (década de 1940) - Arquivo da Polícia de Segurança Pública
Um património que, no fundo, depois será investigação. Além disso, como sabido, o Museu
disponibilizado à sociedade e a todos os in- da PSP constituirá um espaço dedicado precisa-
vestigadores que o queiram consultar e es- mente a apresentar, partilhar, divulgar a história
tudar? e o património da PSP.
Com certeza. Tudo o que temos feito e a me- Como está a decorrer esse processo de mu-
todologia prosseguida perspetiva precisamente sealização do património e da história da
que os resultados do estudo, da investigação, PSP?
da classificação do património, sejam disponi-
bilizados à sociedade. Estamos já a fazê-lo par- Está a correr muito bem. Na verdade, só recen-
cialmente através dos encontros, congressos e temente assumimos uma contribuição mais dire-
publicações realizados. Em breve, divulgaremos ta e consequente para a concretização do MUP.
muito mais, nomeadamente inventários e guias Nesta fase, o essencial do projeto está definido,
do acervo documental e das coleções. Uma vez quer em termos de conteúdo quer no que respei-
organizado torna-se possível abrir o arquivo à ta à componente física. Acredito que em breve
consulta. Por outro lado, o portal que estamos a as obras terão início e que dentro do calendário
preparar disponibilizará os resultados da própria previsto se poderá abrir ao público.
25
UMA POLÍCIA COM HISTÓRIA
Entrevista
Neste âmbito, têm também levado a cabo conhecer e contar a história da PSP. Existem mui-
continuamente uma recolha de testemunhos tas dimensões dessa história que, afinal e como
de elementos da PSP aposentados. A recolha ficou referido em cima, é também a história do
de memórias é essencial para esta história nosso país que de outra forma não conseguirí-
da PSP? amos conhecer. A história da PSP é também a
história das pessoas que a compõem e/ou que
É muito importante. A realização de entrevistas
de alguma forma lhe estão ligadas. Todas as
orais é uma componente muito importante para
histórias contam! Todos esses testemunhos são
fazermos a história da PSP. Independentemente
também partilhados e estão disponíveis através
da documentação de que possamos dispor e da
do portal Memória para Todos.
investigação que possamos realizar a partir de
outras fontes, os testemunhos orais têm um pa-
pel muito importante, que nos permite conhecer
diversas dimensões. Importa recolher esses teste- “A história da PSP é também
munhos, não apenas de elementos da PSP apo- a história das pessoas que a
sentados, também de muitos outros que estejam
ainda no ativo e de outras pessoas que não per- compõem e/ou que de algu-
tencem à PSP e cujo testemunho é relevante para ma forma lhe estão ligadas.”
conhecermos esta história, desde responsáveis
políticos a familiares de elementos da PSP.
O objetivo é também a publicação de uma
Qualquer pessoa que pertence à corporação história da PSP. Neste campo, qual é a im-
pode partilhar o seu testemunho? portância de ter à disposição a documenta-
ção inédita do arquivo?
Claro que sim. Temos feito vários apelos nesse
sentido. Sob a consigna Faça História Partilhan- Sim, está prevista entre outras publicações as-
do a Sua - temos convidado e procurado estimu- sociadas ao projeto, uma história da PSP. Uma
lar a partilha de testemunhos que nos ajudem a contribuição para um tema de grande amplitude
26
e complexidade que se irá conhecendo cada vez
melhor e mais aprofundadamente à medida que “...trabalharemos empenhada-
outros investigadores se interessem pelo tema
e lhe dediquem as suas investigações e publi-
mente no sentido da abertura do
cações. Para tanto é fundamental ter acesso à MUP que constituirá um momen-
documentação de arquivo da própria PSP, boa to evidentemente muito impor-
parte dela inédita e que, esperemos, em breve
estará disponível para consulta por parte da co- tante no âmbito deste projeto.”
munidade académica e a sociedade em geral.
No ano passado, publicaram um primeiro das comunicações e o interesse da comunidade
livro: Polícia(s) e Segurança Pública: Histó- são a expressão mais evidente do interesse des-
ria e Perspetivas Contemporâneas. Ali apre- tes encontros. Vamos continuar, claro, dedicando
sentam já contributos para essa história da o próximo congresso ao tema “Polícia(s) e Socie-
polícia, mas também outro tipo de reflexões, dade”, acreditado que vai convocar várias parti-
reunindo uma série de autores. Insere-se cipações a propósito de um eixo de investigação
nesse debate mais alargado que procuram e reflexão tão significativo como este.
realizar sobre Polícias?
E que atividades têm planeadas para os pró-
Exatamente. Importa que a história da PSP se ximos tempos?
faça também conhecendo as outras polícias e Continuaremos o nosso programa de ação, no
ainda numa perspetiva comparada. É o que te- plano da investigação e da organização e estudo
mos procurado realizar quer através dos contac- do património; queremos ampliar a recolha de
tos e investigações junto de outras polícias quer testemunhos e dar expressão à divulgação de re-
promovendo o debate e a reflexão com colegas sultados. Vamos continuar a promover o debate
nacionais e estrangeiros. e procuraremos dinamizar iniciativas destinadas
Têm também realizado congressos sobre a estimular o interesse e o envolvimento de mais
história das polícias. Um primeiro, em 2019, investigadores para o estudo da história e do pa-
no Instituto Superior de Ciências Policiais trimónio da PSP. A par de tudo isso, trabalhare-
e Segurança Interna, um segundo, no ano mos empenhadamente no sentido da abertura
passado, em conjunto com a Universidad do MUP que constituirá um momento evidente-
Complutense de Madrid, e, este ano, estão mente muito importante no âmbito deste projeto.
já a organizar outro sobre “Polícia(s) e So- Deseja deixar algumas palavras à corpora-
ciedade”, que terá lugar em novembro, na ção, para concluir esta entrevista?
NOVA-FCSH. Como têm decorrido estes con-
gressos? Sim. Agradecer a confiança, o apoio, a colabo-
ração que nos têm concedido. Pedir que conti-
Os congressos têm corrido muito bem! Uma vez nuem a cuidar e preservar o património de uma
mais resultando do trabalho da equipa, em par- instituição tão importante como a PSP e ... que
ticular do Pedro Marques Gomes e do Adolfo façam parte deste projeto partilhando as vossas
Cueto-Rodríguez, e da adoção de uma dinâmica memórias e os vossos testemunhos.
de colaboração nacional e internacional. O inte-
resse que têm suscitado, o acolhimento que têm
recebido, as comunicações e participações que
têm agregado, refletem bem a importância que
esses congressos têm tido para o aprofundamen-
to do conhecimento, a sua partilha e o debate
que têm proporcionado. A qualidade e inovação
27
UMA POLÍCIA COM HISTÓRIA
Autor:
Adolfo Cueto-Rodríguez
Investigador do projeto “Polícia de Segurança Pública: História
e Património”
História, Territórios e Comunidades – CFE NOVA-FCSH
N
o passado dia 4 de fevereiro assinalaram- naram-se protagonistas involuntários daquele
-se sessenta anos de um acontecimento acontecimento.
marcante para a história de Portugal e de
Ainda antes de se chegar à década de sessenta,
Angola, mas também dos outros países, que, en-
a onda descolonizadora, que, desde o final da
tre 1974 e 1975, se tornaram independentes da
Segunda Guerra Mundial se estendera pelo su-
soberania portuguesa. Os acontecimentos que
deste asiático e o subcontinente índio, próximo-
ocorreram na madrugada daquele dia de 1961,
-oriente e o norte de África, atravessou a fron-
em Luanda, são considerados a primeira mani-
teira do Saara. Já em 1957, os únicos estados
festação de revolta pela emancipação política
independentes ao sul das dunas eram a Libéria
daquela colónia, e um aviso da guerra que viria
e a Etiópia, juntamente com a África do Sul do
a desencadear-se em 15 de março, prolongan-
Apartheid. Mas tudo isso estava prestes a mudar.
do-se até depois de 25 de Abril de 1974.
Era sabido que os velhos impérios europeus tam-
Trazemos esta efeméride à memória neste nú- bém não conseguiriam resistir naquele continen-
mero da Revista da Polícia, não apenas pela te à descolonização e o surto de independências
sua importância histórica, mas também porque chegou em 1960, ano em que nasceram dezassete
os agentes da Polícia de Segurança Pública tor- novos países em África1.
28
As consequências políticas e práticas das indepen- panhia Móvel (CM) da PSP, antecessora do atu-
dências para os territórios colonizados por Portu- al Corpo de Intervenção. Esta unidade devia ser
gal eram óbvias, e o governo de Lisboa não as uma força com treino, equipamentos e doutrina
ignorava. Os EUA e a URSS, as duas superpotên- operativa especiais, capaz de intervir em qual-
cias na época, eram favoráveis à descolonização, quer ponto do país para prevenir ou eliminar
e nos foros mundiais o anticolonialismo era irresis- desordens3. Longe de possuir aquelas valências,
tível. Por outro lado, o governo de Salazar também o pessoal que se ofereceu de forma voluntária
sabia que nas colónias portuguesas havia organi- para reforçar urgentemente os efetivos da Polícia
zações independentistas, que não tinham a mes- de Segurança Pública de Angola (PSPA) não dis-
ma visibilidade que nos territórios vizinhos, pois pôs de muito tempo para se preparar.
não havia canais de participação política e porque
O primeiro contingente formado por 70 homens
eram perseguidas pela polícia política (PIDE).
partiu de Lisboa com destino a Luanda, por via
Os avisos dos administradores civis e militares aérea, no dia 27 de junho. Na sua partida esti-
do Império chegavam a Lisboa com regulari- veram presentes o ministro do Interior e o Co-
dade. Informavam sobre os abusos a que eram mandante-Geral da PSP, o que revelava a impor-
submetidas as populações locais e havia receio tância dada à operação. Na capital angolana,
de que o exemplo dos países vizinhos atraves- onde aterraram no dia seguinte, aguardava-os o
sasse as fronteiras e animasse a revolta. Não se chefe das forças militares da colónia, o general
enganavam. O executivo português tomou algu- Monteiro Libório, e os mais altos responsáveis da
mas medidas, que, ainda assim, seriam mani- PSPA. Os restantes voluntários que integravam a
festamente insuficientes para o que se avizinhava em Companhia chegaram a Luanda nos dois dias
território angolano. seguintes, também em aviões da TAP, perfazendo
um total de 210 homens4. Chegaram no limiar
da proclamação da independência do Congo.
“O que preocupava, no mais imediato,
alguns responsáveis em Lisboa e os ad- À frente da unidade encontrava-se o capitão
Nuno Caldas Franco Duarte, secundado pelo
ministradores de Angola eram os efeitos
comissário José de Almeida, três chefes de es-
da independência do Congo belga...” quadra e 29 subchefes. Iriam reforçar as forças
locais, embora sem enquadramento orgânico le-
O que preocupava, no mais imediato, alguns gal, pois a 2ª Companhia Móvel, como tal, só se-
responsáveis em Lisboa e os administradores ria aprovada em meados de julho, quando uma
de Angola eram os efeitos da independência do parte do contingente já estava instalado na 4º
Congo belga (atual República Democrática do Esquadra de Luanda e o resto estava destacado
Congo), prevista para o último dia do mês de na fronteira norte5. Estava previsto que esta CM
junho de 1960. Era um território vizinho e, desde e os seus integrantes permanecessem em Angola
que o governo belga anunciara a sua intenção dois anos em comissão ordinária de serviço.
de descolonizar, a instabilidade política instala-
A situação no Congo, que rapidamente derivou
ra-se na colónia, ao ponto de as autoridades
em guerra civil, provocou a chegada a Angola
de Bruxelas acederem a reduzir o prazo para a
de muitos refugiados. As autoridades portugue-
transferência de poderes para seis meses.2
sas receavam que entrassem também agitado-
É precisamente perante esta precipitação de res entre eles. A situação era complexa e, em
acontecimentos no Congo que o governo por- dezembro, complicou-se ainda mais, quando a
tuguês decide enviar a Angola uma unidade da Organização das Nações Unidas instou Portugal
Polícia de Segurança Pública, composta, apres- a proceder à autodeterminação das colónias. E,
sadamente, por voluntários de vários comandos se 1960 acabara mal, 1961 não começaria me-
da então metrópole. O modelo foi o da 1ª Com- lhor. Em janeiro rebentou a revolta dos cultivado-
29
UMA POLÍCIA COM HISTÓRIA
res de algodão na Baixa de Cassange, ao Leste grupo, tentou fugir para dar a voz de alarme.
de Luanda, alastrando-se durante semanas. Re- Os assaltantes pularam o muro e no interior de-
belaram-se contra os abusos laborais e a cum- frontaram-se com mais dois sentinelas à porta
plicidade da administração colonial6. A repres- da sala de armas, um africano e outro branco,
são causou centenas, talvez milhares de mortos. que, de imediato, dispararam. Foram alvejados
As diferentes fontes divergem nos números. Era, o segundo sentinela e um dos atacantes. O baru-
demostrativo da tensão que se vivia no território. lho acordou a guarnição que rapidamente saiu
ao encontro dos invasores, com rajadas de me-
tralhadora. O grupo dispersou-se, ficado um in-
“...um grupo de cerca de 150 naciona-
tegrante morto e dois feridos. Os fugitivos foram
listas angolanos, aparentemente ani- identificados pelas ruas da cidade e atacados
mados pelo cónego Manuel das Neves, por civis, dando origem a mais feridos7.
preparou e perpetrou, na madrugada
O segundo grupo, de cerca de 30 indivíduos,
do dia 4 de fevereiro, o assalto quase tentou atacar a cadeia da PIDE, mas encontrou-
simultâneo a vários pontos estratégi- -a fechada e, não conseguindo derrubar o por-
cos na cidade de Luanda.” tão, dirigiu-se à Cadeia da Administração de
São Paulo. O acesso estava aberto e ali mataram
com armas brancas um guarda e deixaram gra-
Foi neste contexto que um grupo de cerca de 150
vemente ferido um «sipaio». Acabaram por fugir
nacionalistas angolanos, aparentemente anima-
perante os disparos. O líder do grupo, José An-
dos pelo cónego Manuel das Neves, preparou e
tónio dos Santos, foi detido pela PSP.8
perpetrou, na madrugada do dia 4 de fevereiro,
o assalto quase simultâneo a vários pontos estra- Um terceiro grupo, que se deslocava aos Correios,
tégicos na cidade de Luanda. Os líderes do grupo foi intercetado por uma patrulha da PSP. Ignoran-
iam munidos de armas de fogo, mas a maioria do as ordens de detenção, a polícia abriu fogo,
levava machados. A intenção era demonstrar ao atingindo Virgílio Francisco, que estava a liderar
governo português e ao mundo o desejo do povo os atacantes. Neste embate também perderam a
angolano de independência e a libertação dos vida dois guardas da Companhia Móvel.9
presos políticos. Apesar de alguns dos integrantes
Eram 27 os elementos da equipa que tinha por
dos vários grupos pertencerem ou relacionarem-
missão o assalto à 7ª Esquadra da PSP, situada na
-se com algumas organizações partidárias, não
estrada de Catete. Existia ali um depósito de armas
se pode, em rigor, atribuir diretamente o ato à
e havia presos à ordem da PIDE. Foram recebidos
União das Populações de Angola (UPA) e é difícil
a tiro, fazendo catorze vítimas mortais entre os na-
aceitar a autoria intelectual do Movimento Popu-
cionalistas. O chefe da Esquadra e um primeiro
lar de Libertação de Angola (MPLA).
subchefe foram feridos, mas sobreviveram.10
Segundo o relato reconstruído minuciosamen-
Por outro lado, o grupo do Aeroporto não chegou a
te por Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus,
atacar o edifício (pretendiam queimar aviões), pois,
na obra Angola 61: Guerra Colonial: Causas e
perante os tiros que ouviram, acabaram por fugir.11
Consequências. O 4 de Fevereiro e o 15 de Mar-
ço, um primeiro grupo de revoltosos dirigiu-se, Outras fontes incluem a 4ª Esquadra de Polícia
às duas da manhã, à Casa de Reclusão militar. entre os alvos de ataque, que, como se sabe, era
Quando se encontrava próximo foi intercetado onde se encontrava parte da Companhia Móvel da
por uma patrulha da PSPA, composta por três PSP, a Emissora oficial e ainda outras instalações12.
guardas brancos e um civil africano.
O Diário Popular do dia 4 de fevereiro noticiou
No confronto, os ocupantes da viatura foram os incidentes. Relacionava-os com um outro epi-
mortos à catanada. Já na Casa de Reclusão o sódio que tinha acontecido dias antes, a milhares
grupo deparou-se com a porta fechada e dois de quilómetros de Angola: o assalto e sequestro
sentinelas africanos, que, perante o tamanho do do paquete português Santa Maria, nas Caraí-
30
bas, por integrantes do Directório Revolucionário gueira, refere 17 vítimas mortais16. As fontes afri-
Ibérico de Libertação (DRIL), uma organização canas elevam muito os números nesse dia, referin-
de opositores portugueses e espanhóis às ditadu- do-se a 534 mortos, 672 feridos e 950 presos.17
ras de Salazar e Franco, liderada por Henrique
Estos fatos afetaram gravemente o convívio inte-
Galvão [Operação Dulcineia – 22 de janeiro a 2
rétnico na capital angolana e colocaram de pre-
de fevereiro de 1961]. Esta relação devia-se às
venção as polícias em Angola, que logo foram
notícias que corriam de que o navio sequestrado
militarizadas18. No dia 6, em pleno funeral dos
se dirigia a Angola para iniciar um levantamento
guardas mortos, registaram-se incidentes interé-
contra as ditaduras ibéricas, o que não passou de
tnicos com tiros e mortos19.
um simples boato, pois ancorou em Recife (Brasil)
no dia 2. Era, no entanto, ainda plausível pensar Os dados estavam lançados e os preparativos para
que o ocorrido pudesse ser obra de cúmplices de o eclodir da guerra na colónia estavam em anda-
Galvão, que o esperariam em Luanda13. mento no quartel geral da UPA. O 15 de março
mudaria a história do Império português em África
Segundo o mesmo jornal, os incidentes tinham pou- e a PSP voltaria a ser chamada a servir nesse novo
ca relevância e boa parte da população nem deles contexto. Uma história que está ainda por contar.
se tinha apercebido. Contudo, e à falta de confir-
mação, noticiava a morte de 7 agentes das forças
da Ordem, e adiantava que havia mortos e feridos
entre os atacantes em número ainda por apurar.
O Diário de Lisboa do dia seguinte (5) retomava o
assunto, atribuindo a autoria dos incidentes a «es- Referências:
trangeiros», para afastar convenientemente a hipó- 1. GRIMAL, Henri: Historia de las descolonizaciones del Siglo XX. Madrid:
IEPALA Editorial, 1989.
tese de os atos terem sido executados por alguma
2. KI-ZERBO, Joseph: Historia da África Negra, vol II. [s.l.], Publicações
organização política favorável à independência de Europa-América, [1979-82], pp. 231-240.
Angola. Oficialmente o governo português negava 3. Decreto nº 42.908 – Diário do Governo, 08/04/1960.
que existisse esse desejo nas suas «províncias ultra- 4. «Companhia Móvel da PSP em Angola: breve memoria descritiva».
marinas». Era essa a versão veiculada na impren- Polícia Portuguesa. Revista Ilustrada nº 141 (Setembro-Outubro de 1960),
pp. 22-23.
sa, sujeita, claro, a um regime de censura. 5. Decreto nº 43.080 – Diário do Governo, 19/07/1960.
6. «Terror e saberes coloniais: Os incidentes na Baixa de Cassange».
Este jornal contabilizava pelo menos nove mortos CURTO, Diogo Ramada (dir.); CRUZ, Bernardo Pinto da e FURTADO, Te-
entre os assaltantes e salientava a hospitalização resa: Políticas coloniais em tempo de revoltas: Angola circa 1961. Porto,
Afrontamento, 2016, pp. 151-188.
do chefe Manuel das Neves, do subchefe Ma-
7. MATEUS, Dalila Cabrita e MATEUS, Álvaro: Angola 61: Guerra Colo-
nuel Vieira Pinto e do guarda Cândido Barbosa nial: Causas e Consequências. O 4 de fevereiro e o 15 de Março. Alfragi-
de, Texto, 2011, pp, 92-94.
dos Reis. Entre os agentes mortos contavam-se o
8. Ibidem, pp. 93.
guarda Mário Pires Salgueiro, o 1º cabo Joaquim
9. Idem.
Oliveira e Silva e os agentes da Companhia Mó-
10. Ibidem, pp. 94.
vel da PSP: Fernando Jaime de Oliveira Madei-
11. Idem.
ra, Manuel Brás Ferreira, José Marques, Joaquim 12. SILVEIRA, Maria Anabela: Dos nacionalismos à guerra: os movimentos
Baptista e Nuno Augusto Ferreira Mendes14. Esta de libertação angolanos - 1945/1965. Tese de Doutoramento da Univer-
sidade do Porto, 2011, p. 200.
lista foi, aliás, confirmada pela PSP em 1982.15
13. Diário Popular de 4 de fevereiro de 1961.
Assim, entre as forças de segurança contaram-se 14. Diário de Lisboa de 5 de fevereiro de 1961.
sete mortos nos conflitos de dia 4 de fevereiro, 15. «Relação dos Agentes Falecidos no Ultramar» - Comando-Geral da
Polícia de Segurança Pública, Lisboa, 3 de Agosto de 1982. Arquivo da
dos quais cinco pertenciam à Companhia Móvel PSP.
e dois à PSPA, assim como múltiplos feridos. 16. Cf. SILVEIRA, Maria Anabela: Ob. Cit., 2011, p. 202.
17. Idem.
O número de mortos e feridos entre os assaltantes 18. GOMES, César: Angola: o 4 de Fevereiro em Luanda e outras memó-
é ainda hoje difícil de precisar. O então ministro rias. Lisboa, Colibri, 2017.
dos Negócios Estrangeiros, Alberto Franco No- 19. Idem.
31
UMA POLÍCIA COM HISTÓRIA
I
ntegradas nos “Processos individuais do efetivo
do arquivo da Polícia de Segurança Pública”, che-
garam até nós as provas escritas do exame de ad-
missão dos guardas da PSP de Lisboa realizados ao
longo das décadas de 30 a 60 do século XX. Numa
época em que o analfabetismo era dominante em
Portugal, a admissão à Polícia de Segurança Públi-
ca exigia um nível mínimo de literacia. Em 1930,
período mais recuado a que estes exames se repor-
tam, apenas 49% dos homens e 26% das mulheres
em Portugal sabiam ler (Ramos, 1994).
Desde a criação da Polícia Civil em Lisboa e no Por-
to que os sucessivos regulamentos de 1867, 1876,
1898 e 1911, previam que, para a admissão à po-
lícia, além das condições de saúde e provas físicas,
os candidatos soubessem ler, escrever e contar. Para
o comprovar deviam prestar prova escrita, a incluir
no processo de admissão, do qual constavam ain-
da o boletim de recrutamento, requerimento de ad-
missão, declaração de candidatura, certificados do Prova escrita de admissão à PSP, 1931. Arquivo da Polícia de
registo criminal e policial, atestados de comporta- Segurança Pública.
mento moral e civil e de acatamento às instituições
republicanas e, mais tarde, já no Estado Novo, fo-
ligrafia e da leitura, em concordância com al-
tografia e registo de informação política da PVDE –
gumas medidas de escolarização impulsionadas
Polícia de Vigilância e Defesa do Estado.
pela I República e pelo Estado Novo. É sabido,
As provas de admissão dos anos 30 consistiam porém, como as taxas de analfabetismo se man-
em exercícios de aritmética e ditados, versando as tiveram elevadas durante a maior parte do sécu-
posturas policiais, os regulamentos e o código civil lo XX. Na verdade, em 1970, poucos anos an-
em vigor, nomeadamente, os textos: Toque de si- tes da Revolução que derrubou o Estado Novo e
nos, Ordem e sossego público, Fogos de artifício, instaurou a Democracia em Portugal, 53,3% da
Queixas e denúncias, Abuso de autoridade, Regu- população com mais de 60 anos não sabia ler
lamento dos teatros e do contrato de prestação de (Ferreira, 1994).
serviços. Pelas matérias, que incidem no desempe-
Aos candidatos a integrar as fileiras da PSP era
nho quotidiano dos polícias, depreende-se a rele-
exigida uma escolaridade formal, em conformi-
vância atribuída às questões técnicas policiais.
dade com o estipulado no regulamento de 1954,
A partir dos anos 40 regista-se uma maior exi- que determinava como habilitação mínima para
gência na correção das provas, avaliando, além o alistamento dos agentes de polícia a 4ª classe
das contas e da ortografia, a correção da ca- ou o 4º grupo.
32
Quanto aos conteúdos das provas, estes altera- Encontramos nestas redações dos aspirantes a
ram-se com o Estado Novo, refletindo a matriz polícias, as evidências do contexto socioeconó-
nacionalista preconizada pelo regime. Durante mico português de boa parte do século XX, ca-
as décadas de 40 a 60 encontramos temas refe- racterizado pela prevalência de uma realidade
rentes à história, cultura e geografia de Portugal, rural, com uma economia atrasada, assente
exaltação nacional e valores cristãos. A partir dos numa agricultura com baixos índices de produ-
anos 50, são introduzidos ditados sobre as coló- tividade.
nias e contos tradicionais e as provas de admis-
são passam a incluir uma redação sobre temas Se, até à década de 60, o alistamento na polícia
diversos, entre eles, uma carta dirigida à família era apresentado como uma fuga às dificuldades
com os motivos da candidatura à PSP. da vida rural, a partir de então, encontram-se
outros argumentos, inclusive o interesse em inte-
Da leitura das redações dos candidatos, perce- grar a guerra colonial.
be-se que o principal motivo para ingressar na
polícia é a expectativa de melhoria das condições As provas de admissão dos candidatos a guar-
de vida, por oposição ao trabalho rural: “para das, tal como outros documentos administrati-
ter um emprego serto, e para me desviar de an- vos que foram conservados no arquivo da PSP
dar na terra a trabalhar no campo, que uns dias ao longo dos anos, constituem uma fonte de in-
á trabalho e outros não á e não se ganha o su- formação de inestimável interesse, até pela ca-
ficiente para sustentar a família” (1957); “é que racterização social que proporciona. Através das
a vida aí na terra é como tu sabes; vive-se um competências literárias exigidas aos candidatos
pouco arrastado porque assim a terra o permite pelos sucessivos regulamentos da instituição e
e eu queria ver se melhorava um pouco a minha dos conteúdos das provas de admissão nas dé-
vida, afim de não viver tão pobre como tenho cadas de 30 a 60, podemos obter excertos de
vivido até aqui” (1957); “sempre é um emprego um retrato social, político e económico do país,
bom e mais tarde terei uma reforma e sempre marcado pela pobreza, baixos índices de alfabe-
poderei viver mais descansado” (1959). tização e forte presença ideológica do regime.
Referências:
Arquivo da Polícia de Segurança Pública. Processos individuais dos fun-
cionários
Regulamento da polícia civil, de 14 de dezembro de 1867
Regulamento dos corpos de polícia civil, de 30 de dezembro de 1876
Regulamento geral e disciplinar do corpo de polícia civil de Lisboa, de 8
de agosto de 1898
Regulamento dos serviços policiais, de 29 de maio de 1911
Regulamento da Polícia de Segurança Pública, de 26 de fevereiro de 1954
História da I República, Coord. Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo,
Tinta da China, 2009.
Rollo, Maria Fernanda; Marques Gomes, Pedro e Cueto-Rodríguez, Adolfo
(coords.): Polícia(s) e Segurança Pública. História e Perspetivas Contem-
porâneas.
Ramos, Rui. A segunda fundação (1890-1926), in História de Portugal,
dir., José Mattoso, vol. 6. Lisboa: Círculo de leitores, 1994: p. 615
Rosas, Fernando. O Estado Novo (1926-1974), in História de Portugal,
dir., José Mattoso, vol. 7. Lisboa: Círculo de leitores, 1994: p. 23.
Prova escrita de admissão à PSP, 1959. Arquivo da Polícia de Ferreira, José M. Portugal em Transe, in História de Portugal, dir., José
Segurança Pública. Mattoso, vol. 8. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994: p. 168.
33
UMA POLÍCIA COM HISTÓRIA
N
a Divisão de Trânsito do Comando Me- va da segurança pública. Em vez de reagir ao
tropolitano de Lisboa da PSP (COMETLIS), acontecimento, tentava-se prevenir esse mesmo
guardado junto a outros objetos que ou- acontecimento através da proximidade constan-
trora serviram a polícia, encontra-se um relógio te com a vida social” (Idem, p.57). Simultanea-
muito peculiar, o relógio de ronda ou relógio de mente, surge a necessidade de controlar quem
vigia noturno (figura 1). Trata-se de um relógio executava o giro, de garantir que o trabalho era
mecânico e portátil, com estojo de pele e uma fita feito rigorosamente, nascendo assim a ronda.
para o colocar a tiracolo. Tem ainda um conjunto
No caso da polícia portuguesa, o serviço de ron-
de chaves preso com um arame (figuras 2 a 5).
da é definido durante o Estado Novo. “O servi-
O relógio de ronda está, antes de mais, asso- ço de ronda é feito por comissários e graduados
ciado à ideia de giro. O giro era uma forma e destina-se a verificar se o pessoal em serviço
prioritária de atuação da polícia até meados do cumpre as determinações aplicáveis.” (Dec. nº.
século XX. Isto mesmo é referido pelo historiador 39550, 1954, Art.86º). Assim, o chefe de ronda
Gonçalo Gonçalves, relativamente à polícia por- percorria os mesmos giros dos seus agentes, mas
tuguesa: “O principal serviço policial era o giro, em sentido contrário e, quando se cruzavam, re-
ou patrulha, em que os agentes circulam apea- gistava o número de matrícula do subalterno na
dos por itinerários mais ou menos estabelecidos “caderneta de giro” (figura 6). Esta rotina foi re-
pela organização” (Gonçalves, 2007, p.120). O alizada pela polícia até aos anos 90, quando a
historiador explica o motivo, afirmando que “[…] patrulha adquiriu um perfil mais aleatório (Du-
estava-se a criar uma lógica de promoção acti- rão, 2006, p. 98).
34
O relógio de ronda foi inventado precisamente diversas. A história relatada por José Luís No-
para este fim. Era uma forma engenhosa de su- gueira (2021) testemunha o uso de relógios de
pervisionar o trabalho dos guardas ou vigias, sem ronda no país e, simultaneamente, descreve o
necessidade da presença do supervisor, pois for- seu funcionamento:
necia um registo exaustivo do momento em que o
guarda ou vigia se encontrava em pontos específi- No final do século XIX, princípios do século XX,
cos do percurso. Este registo simultâneo do “onde” […] a Casa da Ínsua possuía o seu próprio
e do “quando” permitia um controlo rigoroso do guarda-nocturno, a quem cabia essa função de
seu trabalho (Detex Corporation, 2018). vigilância e segurança. […] Nas suas rondas, o
guarda-nocturno levava consigo um cinto, muni-
Embora se conheçam antecessores deste meca- do de um relógio com um dispositivo especial. No
nismo desde o século XVII, considera-se que o seu interior, um mecanismo fazia rodar um rolo
primeiro relógio de ronda portátil foi inventa- de papel numerado, que avançava cada centíme-
do em 1855 por Johannes Bürk, na Alemanha tro em predeterminado período de tempo e que
(Idem). É no início do século XX, porém, que sur- tinha de ser marcado em cada ponto de passa-
gem os principais fabricantes de relógios de ron- gem do seu circuito prédefinido. […] constituído
da na Europa e nos Estados Unidos da América, por pontos de controlo com chaves de formas
devido ao crescimento da indústria, dos centros diferentes, colocadas em pontos nevrálgicos da
urbanos e de uma maior necessidade de vigilân- quinta. Ao passar por cada um desses pontos, o
cia. É o caso de A.A. Newman, um fabricante guarda-nocturno tinha que introduzir essa chave
que teve uma linha específica de relógios de ron- específica no relógio que deixava uma impressão
da que perdurou quase 110 anos (Idem). distinta no papel e, assim, comprovava que tinha
Em Portugal, o relógio de ronda terá sido usado passado por ali na hora que o relógio do cinto
por agentes policiais ou guardas noturnos (estes marcava na cinta de papel que ia rodando ine-
últimos sob tutela da PSP ou GNR) em situações xoravelmente.
35
UMA POLÍCIA COM HISTÓRIA
36
Figura 6. Giro VIII
Tem início na Rua de Fantiscos, junto à Fábri-
ca da Cortel, segue por aquela mencionada
aréria, volta à esquerda para a Rua do Con-
vento, até à Zona Industrial, retrocede, vol-
ta à direita na Rua da Bela, até ao largo do
Grilo, volta à direita pela rua de Santo André
que percorre até à última habitação sita do
lado direito, retrocede e volta à direita junto à
discoteca Pedra de Couto, seguindo pela Rua
de Joaquim Oliveira Costa até à Avenida Luis
Areal, volta à direita percorrendo esta até à
Rua do Major de Dinis, volta à esquerda para
a Urbanização do Juncal, Rua do Juncal, Rua
Pedro Alvares Cabral e Rua do professor Tor-
cato Portela até ao ponto de partida.
PONTOS SENSÍVEIS: ESCOLA PRIMÁRIA
DA ERMIDA
Referências bibliográficas:
Decreto nº 39550 de 26 de fevereiro de 1954. Diário do Governo: I Série,
Número 42 (1954).
DURÃO, S.S.B. (2006). Patrulha e proximidade: uma etnografia da polícia
de Lisboa. Tese de doutoramento em Antropologia. Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa. Lisboa. 431 pp. [Em linha]. [Consult.
28-01-2021]
GONÇALVES, C.G.R. (2007). “A Construção de uma Polícia Urbana (Lis-
boa, 1890 – 1940). Institucionalização, Organização e Práticas”. Tese de
Mestrado e Sociologia. Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da
Empresa. Lisboa. 160 pp. [Em linha]. [Consult. 27-01-2021]
NOGUEIRA, J.L. (2021). “Casa da Ínsua. A Ronda do Vigilante” [Edição
em linha]. Anuário Relógios & canetas, janeiro 2021:22. [Consult. 27-
01-2021]
The Detex Watchman’s Clock Album. Detex Corporation. (2018). [Em li-
nha]. [Consult. 28-01-2021]
37
ARTIGOS
A Missão
Autor:
Eduardo Pereira Correia
Professor no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança
Interna e Politólogo
U
ma das obrigações éticas de um Profes- constância da prerrogativa de atuar na raridade,
sor que entenda a missão de mestre e siga no esporádico e na emergência. A ação policial
deontologicamente uma escola que honre deve orientar-se para a normalidade no caos, a
a academia é a de estar atento aos pequenos tranquilidade na desordem, a segurança no con-
desígnios da vida quotidiana e daí conseguir re- flito, sempre ao serviço das pessoas.
tirar os mais importantes saberes para ajudar a
cumprir a sua lição. Já a consequência de um
cientista da política é a de, à visão anterior de A ação policial deve orientar-se
um exame atento dos acontecimentos quotidia-
nos, acrescer a necessidade de interpretação dos para a normalidade no caos, a
factos da vida da polis, do Estado e da causa pú- tranquilidade na desordem, a
blica, para a correta avaliação de uma doutrina
do poder. segurança no conflito, sempre
ao serviço das pessoas.
Neste sentido, não será surpreendente que, ain-
da no decorrer de uma transmissão pandémica
que nos transforma a todos enquanto universo, No século XXI, o cidadão ocupa, finalmente e por
tenhamos o espírito critico de observar a missão direito, o centro no sistema de segurança inter-
que melhor nos representa enquanto indivíduos na, seja através de uma política de proximidade,
de uma sociedade comum. Se, em situações de seja na assunção da importância da prevenção.
normalidade, à polícia cabe o desenvolvimento A missão policial de ordem pública e de assegu-
de atividades de acordo com a política de se- rar a legalidade democrática, garantindo a segu-
gurança interna, nos casos de exceção as suas rança interna e os direitos dos cidadãos, leva a
atribuições decorrem da legislação sobre defesa que a Polícia de Segurança Pública adquira uma
nacional, estado de sítio e estado de emergên- autêntica natureza de serviço público. Esta é a
cia. Contudo, não podemos considerar esta uma exigência maior do cidadão amante da liberdade
exceção. A atividade policial desenvolve-se na e da democracia. A confiança depositada numa
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instituição para a garantia da proteção, do socor- em estados de exceção. Durante este período,
ro e auxílio dos seus cidadãos, da ajuda e da sua a Polícia de Segurança Pública assegurou, com
defesa e preservação em situações de perigo. As- firmeza e eficácia, as suas funções caraterizadas
sim se define a lealdade da missão policial, uma em espírito de missão. Acresce que teve ainda
missão fidedigna com um vasto património. de gerir as faltas, as deficiências, as condições,
os défices e as deformações, sem que alguma
Em largos anos que atravessam a própria histó- mácula ou declamação se sobrepusesse, naque-
ria da polícia em Portugal, são os seus valores le momento certo, ao serviço pela pátria. Nos
que lhe subsistem e que irão caraterizar o seu momentos mais difíceis, todos soubemos ser
corpo de polícia. Valores que se destacam en- Portugal, defendendo a legalidade democrática
quanto princípios que guiam a vida de uma insti- e garantindo os direitos dos cidadãos. Na pre-
tuição, devendo perpetuarem-se no tempo para venção da criminalidade, no ordenamento e na
atenderem às necessidades de todos aqueles que segurança, na investigação e nas restantes com-
constituem a organização. Mas o caminho tam- petências de proteção, a polícia esteve presente
bém se deve fazer com uma visão moderna, ar- a velar pela garantia da tranquilidade pública. A
rojada e dualista. Na criação e desenvolvimento natureza do serviço público impera na labuta di-
de uma organização, a visão deve constituir a ária de quem cumpre a hierarquia de comando,
imagem projetada no futuro, com respeito pelos a hierarquia da função pública, mas sobretudo a
valores mas no caminho em que se desenvolve hierarquia de servir o povo português. Sem lay-
um físico que deve ser entendido por todos. Será -offs, nem quarentenas ou confinamentos: pre-
neste sentido que a Polícia de Segurança Pública sentes todos os dias.
se obriga a cumprir com mérito a sua missão.
Dizia-nos a ativista social norte-americana He-
Em mais de 150 anos de história e perante acon- len Keller que a segurança é geralmente uma
tecimentos de emergência inesperados, a sua superstição, ela não existe na natureza. Contu-
imagem passa incólume na manutenção da paz do, ainda hoje confiamos a uma força policial
39
ARTIGOS
A
competência é um conceito central na ges- centrando-se numa profissão emocionalmente
tão de pessoas, pois oferece a possibilida- exigente: a do investigador criminal, articulando
de de ser a referência estratégica em torno com o recrutamento e seleção, bem como com a
da qual todas as práticas de recursos humanos formação inicial.
podem ser articuladas. Os modelos e perfis de
Depois de caracterizar o contexto institucional
competência existentes têm sido desenvolvidos
em que trabalham os investigadores criminais da
através da integração da literatura, mas ainda
PSP, exploraram-se o recrutamento e seleção de
não integram bem o papel que as emoções de-
polícias bem como as práticas de formação ini-
sempenham nas organizações.
cial nas forças de segurança europeias, focando
Com a colaboração do efetivo do Sistema de In- quer oficiais quer agentes. Os resultados mos-
vestigação Criminal da PSP efetuou-se uma in- traram divergências entre forças de segurança e
vestigação que pretendeu explorar os modelos entre as duas carreiras, não tendo sido possível
de competências com base em emoções, con- identificar qualquer padrão emergente.
42
Adicionalmente, não foram identificadas práticas
Efetuou-se uma investiga- de base emocional.
ção que pretendeu explorar A investigação evoluiu para a exploração do
mapeamento das emoções numa perspetiva do
os modelos de competências desempenho, condicionando todo o modelo de
com base em emoções, con- construção de competências proposto em 2005
por Bartram e Roe (Figura 1, adaptado).
centrando-se numa profissão
Com uma amostra de 703 questionários, pre-
emocionalmente exigente: a enchidos por investigadores criminais da PSP,
do investigador criminal, arti- recolhemos dados sobre comandos emocionais,
personalidade, aptidões, conhecimentos, ha-
culando com o recrutamento bilidades (skills), atitudes e valores para testar
e seleção, bem como com a um conjunto sequencial de relações entre estes
conceitos. Os resultados de análises de equa-
formação inicial. ções estruturais mostram fluxos de associações
que ligam os sistemas de comando emocional
a competências específicas, moderados num de-
terminado interface pelos valores.
O modelo resultante (Figura 2) incorporou quer
competências quer emoções (na camada basi-
lar), seguindo uma metodologia de modelação
em interfaces, o que lhe conferiu uma composi-
ção e relação diferentes entre os interfaces. Os
resultados sugerem a possibilidade de estruturar
um modelo de competências para investigadores
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ARTIGOS
criminais assente em emoções, expressas como o plano de formação que contempla não só a
os fundamentos emocionais da personalidade formação inicial e específica, como a formação
humana (Davis & Panksepp, 2011) designados de valorização pessoal para ajustamento entre
por sistemas de comando emocional. a competência esperada e a competência veri-
ficada.
Os resultados permitiram identificar quatro com-
petências: relacionamento interpessoal, trabalho
em equipa, capacidade analítica e persuasão.
Os testes de equações estruturais mostraram
linhas de continuidade desde os sistemas de
comando emocional até ao conjunto de co-
nhecimentos, habilidades (skills) e atitudes que
permitiram compreender a estrutura subjacente
às competências. Esta estrutura pode dar pistas
sobre futuros trabalhos em Gestão de Recursos
Humanos na PSP, que se foquem na otimiza-
ção dos processos de seleção e desenvolvimento
profissional – como por exemplo uma estratégia
organizacional de gestão de recursos humanos
com a consequente identificação e operacionali-
zação de um plano estratégico, com o principal
objetivo de elaboração do modelo de competên-
cias da PSP assente nas seguintes vertentes:
Missão, visão, valores e cultura organizacional
da PSP;
Principais áreas de atuação da PSP – operações
policiais, informações e inteligência policiais, in-
vestigação criminal, fiscalização e licenciamento
das atividades relacionadas com armas e explo-
sivos, fiscalização e licenciamento das ativida-
des de segurança privada;
Funções definidas nos termos da Lei;
Postos de trabalho com especificidades próprias.
O plano estratégico proposto poderá utilizar
aquele modelo (onde estão incluídos o conhe-
cimento e os skills), ancorando a definição de
perfis de competências funcionais no layer dos Bibliografia:
comandos emocionais e considerando os cons-
trutos associados aos vários layers já referidos. Bartram, D., & Roe, R. a. (2005). Definition and Assessment of Compe-
tences in the Context of the European Diploma in Psychology. European
Psychologist, 10(2), 93–102.
A cada perfil funcional poder-se-á associar o
Davis, K. L., & Panksepp, J. (2011). The brain’s emotional foundations
grau de exigência de cada competência e o gap of human personality and the Affective Neuroscience Personality Scales.
potencialmente existente entre aquele grau e o Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 35(9), 1946–1958.
verificado na realidade em relação a cada pes- Fonte: adaptado do resumo da tese “An emotion-based model of criminal
investigators’ competences in Polícia de Segurança Pública”, doutoramen-
soa que desempenhe as funções a que o perfil to em Gestão, especialização em Recursos Humanos e Comportamento
está associado. Associado ao gap verificado está Organizacional, ISCTE-IUL, 2018.
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