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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

EDIÇÃO 91 | ANO 18 JORNAL APP DO VOZ DAS


AGOSTO DE 2023 COMUNIDADES
RIO DE JANEIRO APONTE SEU CELULAR
E BAIXE AQUI

DAS COMUNIDADES
EDUCAÇÃO DA FAVELA À ESPERA DE GERAÇÃO NUTELLA
PARA A FAVELA UMA AUTORIDADE X GERAÇÃO RAIZ
Trabalho de explicadoras no Vidigal Moradores da Alvorada, no Alemão, Moradores do Vidigal contam
desperta a vontade de saber e convivem há mais de 10 anos com como a tecnologia alterou a maneira
melhora o rendimento escolar de riscos de postes cairem em casas, como as crianças brincam na
estudantes | PÁGINA 4 ratos e crateras no chão | PÁGINA 10 comunidade | PÁGINA 6

EDIÇÃO ESPECIAL | VOZ 18 ANOS


FOTOS ACERVO VOZ DAS COMUNIDADES
15
20

SABE
QUEM TÁ DE
ANIVERSÁRIO
TAMBÉM? GOVERNO DO ESTADO ADIA ENTREGA
PARA DEZEMBRO DE 2023 E DEVE
AUMENTAR VALOR EM R$ 7,6 MILHÕES
PÁGINAS 8 E 9
23

TELEFÉRICO DO
20

ALEMÃO VAI
FAZER 7 ANOS
FECHADO

CRIAS QUE CRIAM VOZES QUE SE SOMAM FAVELA, FÁBRICA


A PRÓPRIA MODA E MULTIPLICAM DE GRANDES ATLETAS
Empreendedores do Alemão Iniciativas sociais espalhadas Esportistas de duas comunidades
tiveram suas vidas e negócios pelo Brasil têm a ONG Voz das contaram suas histórias no Portal
transformados e fazem parte da Comunidades como inspiração para e Jornal do Voz e conseguiram
trajetória do Voz das Comunidades trabalhos em suas próprias favelas conquistar seus objetivos
PÁGINA 7 PÁGINA 3 PÁGINA 13
2 JORNAL DAS COMUNIDADES AGOSTO

INSTITUCIONAL & ENTRETENIMENTO

DÁ O PAPO, MORADOR!
Amplificando

JOSIANE SANTANA / VOZ DAS COMUNIDADES


as vozes para uma
Anderson
Vieira Ribeiro
Sociedade Inclusiva
43 anos

O
Rene Silva
a
Há 15 anos atu
como jornal eiro lhando para o futuro, o Voz diretamente com conteúdo relevante e in-
e
na comunidad das Comunidades se destaca formativo. Isso não apenas enriquece o Voz,
da Nova Bra sília
como um farol de esperança mas também fortalece o senso de pertenci-
e empoderamento para as mento e identidade local.
favelas ao redor do mundo. A medida que as comunidades se tor-
Com toda nossa trajetória de sucesso, nam mais conscientes de seu poder co-
estamos evoluindo para nos tornarmos letivo, o Voz das Comunidades também
Há 15 anos atuando como jornaleiro na localidade da Nova Brasília,
no Complexo do Alemão, Anderson Vieira, de 43 anos, tem uma liga-
uma ferramenta ainda mais poderosa para desempenha um papel fundamental na
ção de longa data com o jornal impresso do Voz das Comunidades. amplificar a voz dos que antes eram mar- mobilização social e na defesa de causas
Nas primeiras edições impressas do veículo, o jornaleiro fazia ginalizados e ignorados pela sociedade, importantes. Questões ambientais, direitos
questão de exibir em sua antiga banca, que ficava localizada na mídia tradicional e poder público. humanos, acesso à educação e igualdade de
antiga Poesi. As publicações eram feitas pela equipe do então
À medida que a tecnologia avança, o gênero são alguns dos temas que ganham
jovem comunicador Rene Silva.
Voz das Comunidades se expande para destaque no nosso trabalho
abranger diferentes formas de expressão Contudo, o Voz das Comunidades en-
Jornal impresso ainda tem o Cara, acho que a parte digi-
e participação. Mas sem esquecer da nossa frenta desafios no futuro. A disseminação
carinho dos moradores? tal vai acabar sobressaindo.
A venda de jornais diminuiu Espero que tenha mais cultura essência com o jornal impresso. A gente de informações falsas e o uso mal-inten-
bastante. Caiu pela metade. local sendo retratada e divul- tenta garantir que nenhuma voz seja silen- cionado da tecnologia podem representar
O pessoal mais antigo que gação dos eventos que vão ser ciada, promovendo uma sociedade mais obstáculos, mas a plataforma se mantém
gosta de jornal e mantém esse realizados na comunidade. inclusiva e conectada. firme em seu compromisso com a veracida-
costume.
E como você espera ver o
Além disso, o Voz se torna um espaço de e a ética jornalística. Parcerias estraté-
O que geralmente faz o fluxo Complexo do Alemao daqui a para o compartilhamento de histórias gicas com organizações confiáveis e espe-
de jornais aumentar? 18 anos? impactantes e inspiradoras. Seja por meio cialistas em combate à desinformação são
Hoje em dia o pessoal busca Espero ver o Complexo sendo de reportagens, seja por vídeos e ensaios. A estabelecidas para garantir a credibilidade
muito nos jornais notícias de retratado pelos cursos ofe-
gente mostra que aqui é um lugar de muita das informações compartilhadas.
emprego e de benefícios do recidos na comunidade, pela
Governo, como o bolsa famí- cultura, mais obras, mais potência, empatia e solidariedade entre O futuro do Voz das Comunidades é pro-
lia. Saiu alguma coisa disso, a emprego. Mas, depende muito pessoas de diferentes origens; abrindo missor e repleto de potencial transforma-
procura é bem grande. do Governo que possa entrar, caminho para um entendimento mais pro- dor. Ao empoderar as vozes das comunida-
porque as coisas aqui no morro
fundo e respeitoso entre todos e todas. des e promover a conscientização mútua, a
Qual o impacto de uma favela são muito dinâmicas.
ter o seu próprio jornal ?
No futuro, a participação dos moradores gente se consolida como um instrumento
É importante. Pra poder informar Como é a busca do jornal de favela é ainda mais incentivada e valo- essencial para a construção de uma so-
as notícias locais, deixando os impresso do Voz na sua rizada. A organização Voz das Comunida- ciedade mais justa, inclusiva e equânime.
moradores informados. E tam- banca? des tem se tornado uma verdadeira rede Juntos, como parte ativa dessa jornada,
bém ajuda o comércio local. Se tiver a mostra, vai embora,
se o pessoal ver, pega. Quando
colaborativa, permitindo que os próprios abrimos caminho para um mundo onde
Como ele vê o Voz daqui está ali a vista sempre tem moradores das comunidades contribuam cada voz é ouvida, valorizada e respeitada.
mais 18 anos ? procura.

Para descobrir a frase que está escrita Ações do Impacto Social


abaixo troque os símbolos pelas letras

Ajude o Multiplicador a levar


o jornal até os moradores

EXPEDIENTE EDITOR CHEFE: Rene Silva Fale conosco: (21) 99694-4234


COORDENAÇÃO E EDIÇÃO FINAL: Melissa Cannabrava email: jornalismo@vozdascomunidades.com.br
EDIÇÃO E REVISÃO: Jonas Di Andrade
AUXILIAR DE PRODUÇÃO: Renato Moura
REPORTAGEM: Amanda Botelho, Bárbara Nascimento, Davi Cidade, Gracilene Firmino, Redes sociais:
Jacqueline Cardiano, Marco Kiko Venâncio e Thaís Cavalcante Twitter: @vozdacomunidade
FOTOGRAFIA: Igor Albuquerque, Josiane Santana, Marlon Soares, Selma Souza Instagram: @vozdascomunidades
PROJETO GRÁFICO W DIAGRAMAÇÃO: Viviana Assunção | DESIGNER: Tamires Aragão
Facebook: fb.com/vozdascomunidades
COMPLEXO DO ALEMÃO E VIDIGAL TikTok: @vozdascomunidades

Impressão: A Tribuna | Tiragem: 15.000 exemplares | Distribuição gratuita www.vozdascomunidades.com.br


AGOSTO JORNAL DAS COMUNIDADES 3

COMUNIDADES

As O
Amanda Botelho

trabalho social e o jornalismo comunitário praticado pelo Voz das Co-


munidades ultrapassa fronteiras. A atuação da ONG no Rio de Janeiro se
tornou inspiração para comunicadores de diversas favelas do Brasil. As

vozes
conexões com iniciativas de outros estados estão ganhando força e se
consolidando cada vez mais. E, mesmo longe, o Voz acompanha de perto
o impacto dos projetos parceiros nas periferias do nordeste e sudeste do país.
“A gente aprende juntos e compartilhar saberes. Não estamos aqui para criar um

das
modelo de fazer comunicação comunitária. Estamos aqui para aprender na prática e
ter essa troca, que eu acho muito mais rica que qualquer outra coisa”, diz Rene Silva,
fundador do Voz das Comunidades.

EDUARDO BERNARDO / VOZES DAS PERIFERIAS

favelas
do
Brasil
INICIATIVAS DE
COMUNICAÇÃO
Vozes das
COMUNITÁRIA
Periferias UNEM FORÇAS EM
Em São Paulo, nas pe- PROL DAS FAVE-
Equipe de jornalismo do Voz das Comunidades, na favela do Haiti, em São Paulo, junto com
riferias conhecidas como LAS DO BRASIL comunicadores do Vozes nas Periferias e Jefferson Borges, do Nordesteusou
Vila Prudente e Jd. Sinhá, o Ins-
tituto Vozes das Periferias traba-
lha para democratizar oportunida-
VOZ NAS COMUNIDADES

des através da comunicação, esporte,


cultura, qualificação profissional e NORDESTeuSOU pela iniciativa na Bahia. “Pra gente é
geração de renda. Criado em 2013 muito importante levantar a bandeira
por Cesar Gouveia, a iniciativa come- Na grande mídia, o Complexo do Nor- do Voz aqui na Bahia, porque nos abre
çou como um portal de comunicação, deste de Amaralina é evidenciado pela várias portas e dá mais credibilidade
com objetivo de reforçar a história da violência. A comunidade localizada em ao nosso projeto”, afirma Jefferson.
Vila Prudente para que moradores Salvador, na Bahia, conta com o traba- A tendência é crescer. O NORDES-
não fossem removidos por conta de lho do NORDESTeuSOU para romper TEeuSOU está expandindo sua rede e
uma obra do Metrô. esse estereótipo. Há 12 anos, o maior levando a comunicação comunitária
Atualmente, o Vozes das Perife- portal comunitário do Norte Nordeste para outras periferias do Nordeste.
rias soma forças com a Rede Gerando ressalta a potência das favelas. “O Voz Um exemplo é o LuisAnselmoEuSou,
Falcões para promover uma grande me inspirou pelo mesmo propósito de novo afiliado responsável pela cober-
transformação na Favela do Haiti, mostrar o outro lado da comunidade”, tura em Luís Anselmo, Baixa do Tubo
através do projeto Favela 3D. No fu- diz o CEO e fundador Jefferson Borges. e Cosme de Farias.
turo, Cesar deseja implementar de Em 2016, o NORDESTeuSOU fir-
maneira mais capacitada e potente mou a parceria com o Voz, levando o
o jornalismo comunitário nas fa- nome da ONG em Salvador. Desde en-
velas em que estão desenvolvendo tão, elaboram diversas atividades jun-
trabalhos. tos, como o Prato das Comunidades,
Parceiro do Voz das Comunida- na pandemia e o Pazcoa do Nordeste, Equipe de Impacto Social do Voz das Comunidades, em
des, a instituição já recebeu diversas ação inspirada na campanha do Rio; “O Voz me Fortaleza, somando ao Voz nas Comunidades
visitas de comunicadores cariocas. Além da produção de conteúdos, como inspirou pelo
a participação de Jefferson Borges no Voz nas Comunidades
O intuito é discutir experiências,
Rock in Rio e a presença de colabora-
mesmo propósito
aprender e potencializar a rede de “O nome foi inspirado em vocês”, disse Davidson Carvalho,
comunicação periférica. “Por meio dores do Voz em eventos produzidos de mostrar o fundador do Instituto Voz nas Comunidades. A iniciati-
de trocas permanentes, as equipes outro lado da va nasceu na pandemia com ações de assistencialismo
conhecem o que cada uma das insti- comunidade” promovidas por um grupo de jovens da Favela do Padre
NORDESTEUSOU

tuições tem feito de transformador Andrade, em Fortaleza, no Ceará.


em suas quebradas. É através dessa CEO e fundador Jefferson Borges
Davidson conta que acompanhava o trabalho de Rene e,
exposição de potências e de desafios em prol dos moradores da sua comunidade, buscava repli-
que muitas favelas e periferias po- car as campanhas em Padre Andrade. “A gente foi cada vez
dem ser transformadas, serem vistas mais se inspirando no Voz, moldando ideias e trabalhando
e ouvidas”, diz Cesar Gouveia, CEO do para combater a fome e a pandemia”, relata.
Vozes das Periferias. Com a consolidação do projeto, o Voz nas Comunidades se
expandiu com atividades educacionais e culturais para crian-
ças e jovens da comunidade. Incluindo também como propósi-
to a democratização de oportunidades e acesso à informação.
Assim como os demais projetos, houve um intercâmbio
entre Rio e Fortaleza para fortalecer a parceria e promover
troca de saberes. “A gente se identificou muito com o traba-
Intercâmbio lho do Voz das Comunidades. O contato
“É através dessa do Voz das
que a gente teve de poder ter essa troca e
Comunidades
exposição de no Nordeste compartilhar esse momento foi incrível”,
potências e de de Amaralina, diz Davidson.
em Salva- Referência em co-
desafios que dor, com o “A gente foi municação comunitá-
Nordesteusou
muitas favelas cada vez mais se ria, Rene acredita que
o jornalismo periféri-
e periferias inspirando no Voz, co está trilhando um
podem ser “A gente aprende juntos e compartilhar saberes. moldando ideias e bom caminho e exalta
transformadas, trabalhando para o trabalho dos demais
Não estamos aqui para criar um modelo de fazer líderes que atuam em
serem vistas e comunicação comunitária. Estamos aqui para combater a fome prol das favelas. “Eu
ouvidas” aprender na prática e ter essa troca, que eu acho e a pandemia” os vejo como grande
Cesar Gouveia, CEO do inspiração. Estamos
Vozes das Periferias
muito mais rica que qualquer outra coisa” Davidson Carvalho, fundador do
no caminho certo”,
Voz nas Comunidades
Rene Silva, fundador do Voz das Comunidades afirma.
4 JORNAL DAS COMUNIDADES AGOSTO

EDUCAÇÃO

FOTOS: IGOR ALBUQUERQUE / VOZ DAS COMUNIDADES


Bárbara Nascimento como estagiária em uma escola

M
Marcella e privada e atua até hoje na área.
uitos responsá- suas alunas de Há sete anos passou a dar aulas de
veis recorrem aula de reforço reforço escolar para aumentar a
ao reforço es- renda familiar. O objetivo, inicial-
colar, a famosa mente financeiro, virou paixão.
explicadora ou “Eu comecei por uma pai-
explicador, quando a criança xão que tenho por matemática
não vai bem nos estudos. Algu- e por essa ser uma matéria que
mas escolas, inclusive, oferecem a maioria das crianças tem difi-
esse reforço no ensino, durante culdade. Uni o útil ao agradável
o contraturno das aulas. O que e vi nesse meio uma forma de
é uma solução para os pais e complemento de renda. Dou au-
cuidadores, pode ser um terror las de reforço escolar até hoje
para os estudantes. Afinal, ter por questão financeira e por ser
que dedicar o tempo que seria apaixonada em ajudar os alu-
ocioso à aprendizagem, para nos; vê-los entendendo o que
algumas crianças e adolescen- achavam que não iam conseguir
tes é quase uma tortura; prin- aprender”. (Marcella)
cipalmente, se as aulas forem A visão de Marcella Inacio
da disciplina que se tem menos sobre aprendizagem asseme-
interesse ou facilidade de lha-se da concepção de
assimilação. Paulo Freire, patro-
Porém, quem pensa no da educação, que
assim não conhece as au- defende que “Ensinar
las de reforço oferecidas não é transferir co-
por Lorena Cruz. A vidiga- nhecimento, mas criar
lense, de 38 anos, é aluna as possibilidades para
de pedagogia. Sua intenção a sua própria produ-
inicial era atuar na área da ção ou a sua constru-
pedagogia empresarial, ção” (Paulo Freire).
com adultos, fazendo pales- “É uma rotina que às
tras e desenvolvendo con- vezes cansa, mas é bem
ceitos. Durante a pandemia, prazeroso também. Co-
seu filho, que na época tinha laborar com o processo
7 anos, ao final do período de aprendizagem das
letivo, ainda não sabia ler. As Lorena e seus alunos na sala de aula improvisada na casa Cartaz de divulgação de reforço escolar na crianças e ver a evolução
aulas on-line não eram capa- da professora. O sonho de Lorena é ter um espaço maior porta de uma casa na favela do Vidigal deles é fascinante. É um
zes de motivar o menino e a trabalho de “formiguinha”
apreensão dos conteúdos era dia após dia, mas os resul-

REFORÇO NO
ineficiente. tados fazem valer a pena, prin-
“Era uma frustração, pois cipalmente quando o próprio
como futura pedagoga, sei que aluno percebe a importância de
a alfabetização é uma fase im- estudar para alcançar seus obje-
portantíssima para o desenvol- tivos”, ressaltou Marcella Inacio.
vimento intelectual da criança”, O reforço escolar não deve

ENSINO E NA
diz Lorena. ser visto apenas como recurso
A fim de ajudar seu filho nes- para alunos com baixo rendi-
se processo, elaborou a estraté- mento. É um recurso impor-
gia de convidar quatro vizinhos tantíssimo, pois além de auxiliar
da mesma faixa etária de seus nas dificuldades de aprendiza-
dois filhos e ministrar aulas para gem, contribui para a motivação
eles. Acreditou que, junto com pelos estudos e promove a au-

AUTOESTIMA
outras crianças, o menino seria toconfiança dos alunos. Afinal,
mais estimulado e a alfabetiza- toda criança e adolescente, por
ção se desenvolveria. Ela esta- mais dedicado que seja, pode
va certa. Tanto seu filho quanto ter dificuldade em uma (ou
as demais crianças tiveram um mais) matéria.
rendimento satisfatório e adqui- Muitas vezes, devido à super-
riram a habilidade de leitura e lotação das salas de aula, falta
compreensão de conteúdos re-
levantes para a fase de aprendi-
EXPLICADORAS AUXILIAM NO PROCESSO de estrutura do espaço escolar,
obrigatoriedade de cumprimen-
zagem de cada um. DE APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS E to de exigências burocráticas,
O sucesso foi tanto que os pais entre outros empecilhos, o pro-
dos amigos de seus filhos pedi- ADOLESCENTES NO VIDIGAL fessor não consegue dar a aten-
ram para que ela continuasse ção necessária a todos os alunos.
com o reforço escolar. Lorena, que criou a marca Iluminar, logoti- nos do reforço escolar para que Foi sensacional! Crianças de São várias as técnicas utili-
estava desempregada, aceitou a po, uniforme para os alunos e elaborassem textos que seriam favela que têm o próprio livro. zadas pelo recurso do reforço
proposta e passou a ter essas au- estratégia de divulgação. Ela di- publicados em um livro. Os pais Foram mais de 20 crianças par- escolar, como: mapas mentais,
las também como fonte de renda. vulga seu trabalho tanto através abraçaram o projeto e os alu- ticipantes. Eu tinha um aluno de esquemas de estudos, resumos,
Com o propósito de se aprimorar, dos tradicionais cartazes e pan- nos escreveram suas próprias 15 anos que não era alfabetiza- exercícios de fixação e outros.
fez cursos na área de alfabetiza- fletos pelo morro, como através histórias, com direito à noite de do. Depois do trabalho desen- Seja qual for a estratégia, o
ção e transformou o quarto de sua das redes sociais. autógrafos e tudo. volvido, ele não apenas sabia apoio individualizado ao ensi-
filha mais velha em sala de aula. O As aulas de reforço escolar “Eles se sentiram super im- ler, como escreveu um livro!” no escolar favorece o interesse
seu trabalho fez fama no Vidigal ministradas por Lorena foram portantes, com o nome na capa (Lorena) dos alunos pelo aprendizado e
e o alunado aumentou. Os qua- além da diluição de dúvidas no do livro, introdução contando A mesma empolgação com a faz com que as crianças e ado-
tro alunos que possuía em 2020 aprendizado. O projeto Leitores sobre cada um... Eles fizeram educação é vivenciada por Mar- lescentes reconheçam o poten-
quadruplicou em 2021. do Futuro, da ONG MMAH (Mo- tudo, tanto o texto quanto a cella Inacio, de 37 anos. Formada cial que possuem e se sintam
A partir daí, Lorena investiu vimento de Mulheres de Apoio ilustração. Eram autores e ilus- em jornalismo, atua desde os 16 confiantes para avançarem nos
no trabalho de reforço escolar, Humanitário), convidou os alu- tradores da própria história. anos na área de ensino. Iniciou estudos.

“Ninguém
ignora tudo.
Ninguém sa
be
tudo. Todos
nós sabemo
s
alguma cois
a.
Todos nós
ignoramos
alguma cois
a.
Por isso
aprendemos
sempre”
(Paulo Freire)
AGOSTO JORNAL DAS COMUNIDADES 5

PERFIL

Entrando na
JOSIANE SANTANA / VOZ DAS COMUNIDADES
Desde o começo desse ano,
Taissa e Raissa são voluntárias

vida adulta: VOLUNTÁRIAS E


A VOZ DO FUTURO

18 anos de vida
Até o momento, as irmãs parti-
ciparam apenas da fase de apre-
sentação de voluntários, mas já
estão muito animadas para mais

e de Voz das
atividades e um evento na quadra
da Imperatriz.
Raissa Góes acha que vai gos-
tar mais de sair para entregar jor-

Comunidades
nais e cestas básicas nas ações. Ela
é uma jovem com muita vontade
de ajudar as pessoas e, por isso
mesmo, quer cursar medicina na
faculdade. Quer ser pediatra. “Eu
Voluntárias completam 18 anos ficava vendo uns vídeos assim na
televisão de crianças e, desde aí,
de idade e contam como foi eu decidi que queria ser pediatra.
crescer inspiradas pela ONG Coloquei na minha cabeça e não
tirei mais”, conta decidida a jovem.
Além disso, ela quer estudar
Davi Cidade grande. Liberdade, responsabi- ceram vendo a atuação do Voz das Essa ação gerou reconhecimento

H
espanhol e também voltar a fa-
lidade e o desejo de conquistar a Comunidades transformar o CPX. dentro e fora da favela, repercutin-
zer um curso de administração
á 18 anos, em 2005, um vida são alguns dos sentimentos “A gente desde pequena sempre do até mesmo internacionalmente.
enquanto se prepara para o ves-
menino de apenas 11 que as atravessam nessa passa- via no jornal as ação que eles iam fa- E claro, isso também influenciou as
tibular. Já Taissa está um pouco
anos tomou uma deci- gem para a vida adulta. zer. De páscoa, de natal. Meu sobri- jovens Raissa e Taissa.
incerta sobre o futuro. “Ao mes-
são que influenciaria “Todo mundo me fala que isso nho tem até uma foto com o Rene. “Quando eu vejo algumas pesso-
mo tempo que eu acho que tô
para sempre a história não é lá essas coisas, mas eu tô mui- Ele é fã! Ele tinha 5 anos e correu lá as do Voz assim novo, eu sinto que
preparada, eu acho que não tô”,
do Complexo do Alemão. Ele deci- to nervosa. Meus 18 anos, eu tô bem no teleférico pra tirar uma foto com eu posso ser eles um dia. Eu posso
mas tem certeza que quer estu-
diu criar um jornal para falar sobre mais emocionada pra fazer”, conta ele”, conta uma das irmãs. me tornar o que eles são também.
dar para ser ou professora ou
a realidade de sua favela (do Morro Taissa. “Pra mim também! Parece Em 18 anos da instituição, através Nós nos sentimos inspiradas para
médica também.
do Adeus) e agora, em 2023, essa que eu vou ter mais liberdade, vou de histórias verdadeiras e necessá- fazer isso”, conta Taissa sobre a sen-
Ela conta que nas ações de
jornada completa 18 anos. conseguir viver mais minha vida. rias de serem contadas, o Voz ajudou sação de ver a juventude atuando e
Páscoa do Voz das Comunidades
É claro que estou falando do Sei lá, vou conquistar minhas coi- a transformar a visão que a sociedade gerando mudanças.
sempre corria para pegar bom-
Rene Silva e do nascimento do sas”, continua a irmã. e a mídia têm sobre a favela. E essa inspiração foi tão grande
bom, apesar da vergonha. Hoje,
Voz das Comunidades! Mas o que As gêmeas são moradoras da Em 2010, enquanto o CPX era que, no começo desse ano, as gê-
o que mais quer fazer é distribuir
ninguém sabe é que nesse mesmo Central, Alemão, lá no alto, perto do ocupado, o Voz atuava em tempo meas aproveitaram a oportunidade
chocolate para deixar as crianças
ano duas irmãs nasceram e, anos teleférico. Elas moram com a mãe, real dizendo para o mundo o que e decidiram se juntar à equipe de
do CPX felizes.
depois, se tornaram voluntárias na pai e um irmão mais velho. Elas cres- de fato acontecia em seu território. jovens inspiradores da ONG.
Diferente da irmã, ela já traba-
mesma ONG que transforma a rea- Foi a mãe que as incentivou a
lha desde os 16 olhando crianças
lidade de sua favela desde da data participar. ”Ah, vocês sempre falam,
menores e gostaria de aprender
que chegaram ao mundo. “Todo mundo me fala que isso né? Vocês sempre quiseram. Olha
inglês, se tiver oportunidade.
Raissa e Taissa Góes são irmãs não é lá essas coisas, mas eu tô muito a oportunidade aí. O não vocês já
Para quem diz que a favela não
gêmeas e completam no dia 3 de tem”. O “não” foi, na verdade, um óti-
agosto 18 anos. Para elas, fazer 18 nervosa. Meus 18 anos, eu tô bem mo “sim”, que as fizeram se juntar à
tem futuro, está aí a prova. Favela
é potência!
é um marco de mudança muito mais emocionada pra fazer” equipe de voluntários da ONG.
6 JORNAL DAS COMUNIDADES AGOSTO

CULTURA
FOTOS: IGOR ALBUQUERQUE / VOZ DAS COMUNIDADES

Q
Bárbara Nascimento

uer ver a junção de nos-


talgia e zombaria? Junte
pessoas de gerações dife-
rentes e peça para que re-
latem sobre a infância de
cada um. Certamente, os mais velhos
irão dizer que antigamente é que se vi-
via verdadeiramente essa fase da vida. Aline e seus
A partir daí, começarão a surgir narra- dois filhos:
tivas saudosas da época de criança. A Ana Flor e
memória reviverá as brincadeiras, jogos Noah
e brinquedos. A todo momento aqueles
que são crias há mais tempo, raízes da
favela, irão debochar dos mais novos,
considerando que a infância desses é
mais comedida e limitada, ou seja, como
dizem por aí, são pertencentes da “gera-
ção Nutella”, são “crias placebo”.
Aline Albuquerque, 39 anos, ma-
quiadora, moradora do Vidigal e mãe de
Ana Flor, 16 anos e Noah, 8 anos, acredi-
ta que a infância que viveu nos anos 80
e 90 era mais livre e divertida.
“Eu passei minha infância na Rua
Nova e Rua 3. Aquilo que era infância.
Meus filhos não sabem o que é isso. A

?
brincadeira agora é virtual. A minha in-
fância era na rua. Brincava com os pri-
mos e com as crianças da vizinhança.
Montávamos campeonatos de queima-
da entre áreas do morro, com o pessoal
da GSE (galera social da esquina), do
314, Pedrinha... Minha mãe dizia que, se
quando chegasse do trabalho, nos vis-
se na rua, o bicho ia pegar. Todo dia ela

O QUE É, O QUE É:
car na rua por conta das motos que so-
chegava e nós estávamos na rua, sujos e
bem e descem varadas pelo morro. Eu
suados de tanto brincar.”
era muito ‘rueira’. Pulava o muro da es-
Marcos Alves, 56 anos, conhecido
cola Djalma Maranhão para brincar de

inicia no começo
como Kito, percebe uma grande dife-
patins. Já os meus filhos não circulam
rença entre a infância que viveu, a da sua
pelo morro”, relata Aline.
filha, de 23 anos, e sua neta, de 8 anos.
Apesar das mudanças, existem
“Eu comecei errado. Quando minha

da vida e a saudade
brincadeiras que conseguem perma-
filha tinha nove anos, dei um celular. Ela
necer, atravessam gerações. É o caso,
se encantou. Quebrava um e ela queria
por exemplo, da pipa. Integrante da
outro. Comprei uma bicicleta para an-
paisagem da favela, a pipa atrai não só

dura para sempre?


darmos juntos, incentivar brincadeira
as crianças, mas também os adultos. É
ao ar livre. Ela no começo me acompa-
uma brincadeira que une pais e filhos,
nhava, mas, depois de um ano, abando-
vizinhos e amigos. Colabora para a inte-
nou a bicicleta de lado e disse que andar
ração social, construção de elos afetivos
com o pai era mico. É mole? A infância
e de pertencimento.
da minha neta é ainda pior. Ela acorda
“A minha infância foi brincando de
e já pega o celular. Baixou um monte de
jogos no meu celular e fica o tempo todo
GERAÇÕES DISTINTAS RELATAM A INFÂNCIA NO pique-esconde, pique-pega, bola de
gude, e claro, soltando pipa. Hoje não
acompanhando youtuber e imitando VIDIGAL E MUDANÇAS NO MODO DE BRINCAR solto, mas tenho uma coleção. Tenho
dancinhas do Tik Tok”.
amigos que ainda soltam. Essa é uma
Essa comparação de experiências
brincadeira que se mantém na favela.
e modos de brincar entre gerações é Kito, ao lado da neta, exibe orgulhoso Antigamente, era possível saber de
comum. Afinal, cada geração vivencia seu brinquedo preferido.
quem era pipa, tanto pela localização
um determinado momento da socie-
no morro, como pelo estilo.
dade, em um determinado contexto
Saudosismo e disputa geracional à
histórico e social. A sociedade muda;
parte, brincar é um direito de toda crian-
o modo como a criança percebe e in-
ça. Desde 1959, a Declaração dos Direi-
terage também.
tos da Criança considera a brincadeira
Até a década de 1990 no Vidigal, as
como fator essencial para o desenvol-
brincadeiras eram quase sempre co-
vimento infantil. O artigo 31 da Consti-
letivas e na rua. O morro não era tão
tuição (1988) também garante esse di-
populoso como atualmente. Havia es-
reito, que é ratificado, em 1990, no ECA
paços para brincadeiras como: pique-
(Estatuto da Criança e do Adolescente).
-pega, pique-esconde, bambolê, pião,
Isso porque o brincar possibilita
amarelinha, cinco cortes, pular corda,
que a criança: expresse sentimentos,
pular elástico, queimada. Era comum
aprenda a respeitar regras, a lidar com
as crianças e adolescentes se juntarem
frustrações, exercitar a imaginação,
para brincar de bola de gude, pé de lata,
aprimorar habilidades físicas e cog-
mola maluca, bate-bate, subir em árvo-
nitivas, reproduzir o cotidiano, expe-
res para pegar frutas.
rimentar outras realidades, desen-
No início dos anos 2000, a
volver a criatividade e elos afetivos,
febre entre a criançada era
além de contribuir para o aprendizado
Aquaplay, cartas do Yo-Gi-
escolar, entre outros benefícios.
-Oh e Pokémon, Tamagoshi,
É preciso lembrar que o mundo vir-
Game Boy (ou a versão
tual tende a dominar cada vez mais as
mais econômica, Brick Game). Hoje, o interesse da
nossas vidas. Não há como fugir dessa
molecada é pelos jogos virtu-
realidade, mas é possível dosá-la. Afinal,
ais, páginas de influencers,
o acesso a esse contexto tecnológico é
vídeos do YouTube e Tik
facilitado pelos próprios responsáveis.
Tok. Segundo Larissa, neta
Criança não costuma ter poder aquisi-
de Kito, “esses vídeos en-
tivo para consumir esses brinquedos e
cantam as crianças”.
entretenimento.
Aline relata sua
p re o c u p a ç ã o
com esse ex- O celular se tornou fonte
de entretenimento
cesso. “Noah
curte ver vídeos sobre a vida de joga-
dores e alguns de youtubers. Às vezes,
chamo ele para alguma atividade e ele As brincadeiras ainda acontecem
prefere ficar no virtual. Fica lá hipno- pelos becos da favela

Noah, filho tizado. As crianças estão perdendo a


caçula de Aline, essência, não socializam”. é o Bar do Toni. Às vezes, a aventura era
brincando do Os mais velhos consideram que a maior: descíamos varados como doidos,
que mais gosta: infância de antigamente era mais in- do Largo do Santinho até a Dona Rosa.
futebol ventiva e que as crianças tinham mais Criávamos lanternas com vagalumes
liberdade e segurança para circular presos e latas. Quando não tinha va-
pelo Vidigal. galume, colocávamos velas. Essas latas
“Antigamente, íamos na oficina do também serviam de tamanco. Amar-
Hernandes (hoje, farmácia na princi- rávamos uma cordas e andávamos
pal), arrumar rolimã para fazer nosso sobre elas.” (Kito)
carrinho. Descíamos de onde é o “Meu filho adora futebol. É o
Bar do Seu Antônio até onde hoje mundo dele! Mas não deixo brin-
AGOSTO JORNAL DAS COMUNIDADES 7

EMPREENDEDOR

Jacqueline Cardiano do Concurso Garoto e Garota da Fa- sair no Voz das Comunidades. Eu

O
vela, produzido pelo Voz, e a Freedom achava o máximo quando via o jornal.

TRAJADO
s contratados da loja oferece roupas para o dia do ensaio. Então, dizia pra mim mesmo: quando
Freedom, localizada na “Quantas pessoas já não viram a Fre- eu sair em alguma matéria, isso vai
Estrada do Itararé, são edom pelo Voz? Então as matérias mudar a minha vida”, afirma.
vindos das comunida- ajudam. É isso que eu falo, de uma ga- Não deu outra. A matéria do Ben-

DE CPX DO
des do CPX e arredores. lera puxar a outra. Se a gente se unir, né abriu outras portas. “Uns dois
Esse é um dos valores dos donos do a gente consegue”. Para ela, o “céu” é meses depois, eu saí no jornal Extra,
negócio, Valéria Monteiro, a Lela, ver onde está chegando. Famosos do por conta de uma matéria que saiu no
e do esposo, Rafael Brum. “Busco pagode, por exemplo, já elogiaram e Voz e me deu muito seguidor e muito

ALEMÃO
encontrar o talento na comunidade, usaram a sua marca. Lela diz também cliente”, explica o empreendedor. De-
onde eu vivi a minha vida inteira”, que não quer parar por aí e almeja pois, o Extra mandou a história para
diz Lela, que abriu a Freedom há abrir outras unidades. o jornal O Globo.
cerca de cinco anos. E Benné não parou. Participou da
Lela relembra o passado ao Benné também é referência no Expo Favela e, ali, viu o Luciano Huck
olhar para as meninas. Há 20 anos, CPX com a marca King Olliver e deu um jeito de chegar no apresen-
as oportunidades de emprego eram Empreendedores do “A Antonella é o combustível do tador. “Foi tipo Jesus no meio da mul-
menores para jovens vindos da fa- mundo da moda que saíram no meu negócio”, diz Antonny Olivei- tidão, eu só toquei na veste dele. Meu
vela. Ficou sete anos trabalhando ra, o Benné, sobre a filha que teve pai falou assim, ‘olha lá o Luciano
em uma grande empresa, sem que
Jornal do Voz das Comunidades quando tinha 19 anos. Hoje com 22, Huck!’. Criativo, elaborou uma estra-
eles soubessem na real em qual lu- criam suas próprias peças e o rapaz teve que encarar, na época, o tégia para chamar sua atenção.
gar ela vivia de verdade. buscam voar mais alto desafio de não deixar a família pas- “De longe, eu gravei, comecei a gri-
A empreendedora sentiu na pele sar por dificuldades financeiras. As- tar, falando que ele ia ser meu amigo.
o que é ter que ‘se virar nos FOTOS: SELMA
SOUZA / VOZ DA sim, decidiu abrir a loja King Olliver, Aí ele me olhou e foi a deixa. Postei
S COMUNIDAD
30’. “A gente criou a nossa ES
localizada no Loteamento. o vídeo, viralizou e todo mundo foi
própria oportunidade, por- A loja de roupas nasceu marcando ele”, conta rindo.
que a gente não teve. Eu não um mês após a chegada de Dois dias depois, recebeu uma li-
tive ajuda com ninguém in- Antonella. Criou a própria gação da Globo. Foi convidado para
vestindo. Desde o início, a marca já de cara. E, mes- ir ao Domingão com Huck. Lá, foi
gente ia se desfazendo de mo com a abertura da King surpreendido ao ter que ir ao palco
coisas para ter o que a gente Olliver, Benné não deixou de contar toda a sua história e a da King
tá construindo”, revela Lela. vender, ‘o Salgado do Benné’. Olliver.
“Eu me dividia entre vender Apesar de todo o sucesso, Benné
Inovação e pular obstá- salgados e outras coisas, mas passou por diversas situações difí-
culos é o segredo para meu sonho sempre foi ter ceis, como discriminação, racismo,
não desistir uma marca de roupa. Sempre doença e depressão. Além disso, por
Nem tudo é um mar de rosas, gostei de ser criativo, e aí eu conta das chuvas que aconteceram
principalmente para quem tem falei, quando eu tiver oportu- em janeiro, perdeu parte do material
o próprio negócio. Dois anos de- nidade, eu vou criar uma mar- da King Olliver.
pois da inauguração da Freedom ca não só pra mim, mas para A loja ficou quatro meses parada.
na Itararé, veio a pandemia. Logo, minha comunidade”, conta o Teve que voltar a vender os salgados,
o casal teve que se reinventar e empresário. porém ele diz que só foi uma pausa
vender as roupas online. Lela para pegar impulso e aprender.
fazia lives mostrando as peças e, Do Voz das Comunidades Apesar de tudo, Benné não dei-
assim, conseguiu manter o traba- até chegada ao Domingão xou de ser quem ele é. Tropeçou, se
lho ativo. Começou então a vender com Huck machucou, mas não caiu. E como
para todo o Brasil. Segurando as lágrimas, Benné diz diz em uma de suas estampas mais
Ela também diz que o Voz das que é muito grato ao Voz das Co- vendidas: “A favela segue vencendo”,
Comunidade, Rene, ajudaram mui- Lela sempre se identificou com Toda a roupa usada munidades e ao repórter Matheus mesmo nos momentos em que não há
to e que abraçaram a ideia desde o moda e hoje tem não só a loja, por Benné na foto Andrade, que entrou em contato holofotes. Mas, Bené já venceu como
início. Atualmente a loja é parceira mas a sua própria marca é da King Olliver com ele em 2021. “O meu sonho era ser humano.
8 JORNAL DAS COMUNIDADES AGOSTO

CAPA
ACERVO VOZ DAS COMUNIDADES / MARLON SOARES

Governo do Estado
2015
atrasa entrega de
obras prevista para
agosto e reforma
deve aumentar em
R$ 7,6 milhões

Acompanhamos a Estação
Adeus do Teleférico do Alemão,
no Morro do Adeus, em dife-
rentes períodos da história

2023

QUASE 7 ANOS
SEM O TELEFÉRICO
MAIS QUE TRANSPORTE,
Thaís Cavalcante GERAÇÃO DE RENDA

O
s moradores do Complexo do Ale- A mobilidade faz falta e a cul- dade. “A arte é um remédio pra
tura também. A ocupação ar- alma, uma forma da gente não
mão vivem há quase 7 anos sem
tística nas estações marcou se oprimir diante da realidade.
o teleférico. Um serviço que já foi a vida de crianças e uma das Já que não tinha mercado para
transporte, espaço cultural, oportu- responsáveis foi Mariluce Ma- todo mundo, eu tentei buscar
nidade turística e fonte de renda local. riá, artista plástica e fundado- na mente das crianças formas
A espera pela volta é longa e as promessas também. O ra do Favela Art. Ela lembra de enxergarem o futuro”, conta.
Governo do Estado pretende aumentar o prazo da entrega que, em 2012, a mobilização Em 2015, a violência no entor-
pela terceira vez. A reforma das seis estações do teleférico, nos projetos de turismo e a no das estações aumentou ao
prevista para o mês de agosto, deve ser entregue em dezembro visitação guiada movimenta- ponto das atividades precisa-
de 2023. O que muda não é só a data de entrega, mas também o va- va a renda dela e outros mo- rem ser canceladas.
radores. Além do turismo, se Ela recorda os benefícios
lor da obra. A reforma das estações custou até agora 17 milhões, mas
interessou por pintura e, pas- que os moradores tinham. “O
a empresa contratada pediu aumento de 7,6 milhões. Até o fechamento sou a dar oficinas de arte para serviço de transporte ajudava
da reportagem os acordos estavam em andamento. os pequenos, fazendo disso o a diminuir a despesa familiar,
Quem viveu, sabe: as estações podiam ser visitadas em apenas 15 mi- seu propósito. Em média, 100 facilitava a circulação pela
nutos, passando de Bonsucesso até Palmeiras, Adeus, Baiana, Alemão e crianças pintavam quadros e cidade, promovia a cultura e
Itararé. Elas ofereciam serviços essenciais para os moradores do Com- telas, que eram vendidos aos gerava renda. Era utilidade pú-
plexo. Podemos citar alguns: Clínica da Família, Agência dos Correios, visitantes. blica.” Atualmente, o Projeto
Agência da Previdência Social, CRAS (Centro de Referência da As- As atividades artísticas de Mariá oferece atividades de
eram feitas na Biblioteca Par- arteterapia para crianças vul-
sistência Social) e Biblioteca Parque. Hoje, moradores do morro
que da estação Palmeiras e em neráveis de diferentes regiões
sofrem com o abandono. outros pontos turísticos da ci- do Alemão, sem espaço fixo.
Iauria de Santana tem a estação do Morro do Adeus no
seu quintal de casa. Ela lembra que, quando o teleférico
funcionava, era seu meio de transporte. Mas, com o fe-
chamento, ficou mais difícil circular pela favela e pela “Não é só um equipamento turístico ou
cidade. Recentemente, fez uma cirurgia no joelho
transporte de massa. É um transporte de
e gasta quase uma hora para descer o morro a
pé. “Quando dá para economizar, a gente oportunidades. Geram-se recursos para
guarda vinte reais para voltar do mercado melhorar a busca pela educação, cultura e
de carro, porque as bolsas são pesadas.” outros direitos”, Mariluce Mariá, artista plástica
e fundadora do Projeto Favela Art
AGOSTO JORNAL DAS COMUNIDADES 9

CAPA
MARLON SOARES / VOZ DAS COMUNIDADES

Memórias do “Tenho a sensação de que foi um


ponto que já foi projeto pensado para acabar”,
turístico Jéssica Souto, diretora executiva
da organização Movimentos
Os 5 anos de teleférico também
fizeram a diferença para Jéssica forma, PETROPUMP Serviços,
Souto, diretora executiva da or- não retornou nossas mensa-
ganização Movimentos. Ela foi gens. Já a empresa francesa
uma das guias comunitárias que Poma, que foi responsável pela
estimulou a prática de ativida- instalação no início, também
des culturais entre 2010 e 2012 faz parte da reativação. Em seu
nas estações. Fez um curso de site, ela apresenta seus telefé-
turismo local e passou a contar a ricos de ‘sucesso’ ao redor do
história do Complexo nas visitas mundo e o Teleférico do Ale-
guiadas com parceiros. O prínci- mão não está nessa lista.
pe Harry foi um dos visitantes. Assim que as obras forem
Uma mobilização extra também entregues, os moradores te-
acontecia entre a população, o rão que aguardar a Secretaria
que facilitou visitas fora das ca- de Transportes decidir quem
bines e pelas ruas da favela.
Sem poder
usar o tele-
O que dizem vai operar o Teleférico. Para
O teleférico não era só o tra- Teleférico, uma promessa eleitoreira férico, Iauria os responsáveis? o futuro, Mariá tem o mesmo
balho de Jéssica, mas também de Santana, sentimento de muitos: “A
seu meio de transporte. Sem o A ideia da obra milionária foi da Juventude, grandes eventos que fez cirur-
gia no joe- Segundo a Secretaria de Esta- minha expectativa é que
transporte, ela levava 50 minu- inspirada no transporte da realizados no Rio de Janeiro. do de Infraestrutura e Cidades aconteça logo.”
lho, demora
tos de kombi ou a pé. Com ele, Colômbia. O Complexo do Ale- O fechamento que era tem- (SEIC), a obra está 89% pron-
quase uma
só 10 minutos. “Fez muita falta mão foi o primeiro lugar do porário se tornou permanente. hora para ta. Foram feitas a recuperação
quando acabou porque eu mo- Brasil a receber o equipamen- Em setembro, completará 7 descer o das instalações hidráulicas,
rava no topo. Com o teleférico, a to, em 2011. A mudança entre anos sem o teleférico. Morado- Morro do
sanitárias, sistemas elétricos,
gente tinha a possibilidade de os governos, e os escândalos res da região acreditam que a Adeus a pé
de iluminação e controle, ins-
gastar com uma condução ape- de corrupção, fizeram com que falta de repasse de verbas, a vio- talações mecânicas, ar-condi-
nas. Começou de graça e depois os moradores criassem e rom- lência e o aumento de operações cionado, coberturas, esqua-
custava só um real, tarifa social pessem expectativas desde sua policiais nas favelas do Comple- drias e ferragens, pintura, re-
para os moradores.” inauguração até seu fechamen- xo podem ser alguns dos moti- vestimentos e acabamentos. A
Ela conta que a população to. O Jornal Voz das Comunida- vos. Falta compromisso com a equipe do Voz das Comunida-
foi se acostumando e passou des acompanha a história do população de toda a cidade e de des não teve permissão para
a construir sua relação de tra- teleférico desde a sua inaugu- todo o país. Em 2019, o ex-gover- visitar o interior das estações.
balho a partir dessa realidade. ração. Realizando coberturas nador Wilson Witzel prometeu A empresa que realiza a re-
“Quando isso acaba, você colo- no portal de notícias, jornal a retomada das obras do telefé- MARLON SOARES / VOZ DAS COMUNIDADES
ca uma pedra no caminho de impresso e em eventos, assim rico nos seus primeiros dias de
milhares de pessoas porque a como cobrando as autoridades governo, mas não cumpriu.
renda que as pessoas gastam por suas responsabilidades e Na corrida pela reeleição em
com transporte é um absur- promessas até hoje. 2022, o governador Cláudio Cas-
do.” Por outro lado, ela admite Ainda em 2010, o ex-gover- tro assumiu o compromisso de
que o projeto precisa ser mais nador Pezão garantiu que seria o retomar as obras em seu Plano
democrático. “A gente tem que ano do lançamento, mas o servi- de Governo, dentro do Pacto RJ.
ter a consciência de que o tele- ço só foi inaugurado em 2011, na A promessa aumentou a espe-
férico ajudou na mobilidade, gestão do ex-governador Sérgio rança dos moradores de que
mas não para todos da mesma Cabral. A população aproveitou finalmente o serviço voltaria a
forma. Quem morava na parte apenas 5 anos de funcionamen- funcionar. Não à toa, Castro ven-
baixa, por exemplo, não tinha to, vendo o fim das atividades ceu em todas as zonas eleitorais
vantagem no transporte ou em 2016. Por coincidência, ape- do Complexo do Alemão, onde
nas atividades culturais, pois nas dois meses após os Jogos estão os bairros da Penha, Bon-
estavam concentradas apenas Olímpicos e a Jornada Mundial sucesso e Inhaúma.
naquele espaço.”

As casas no entorno da estação Itararé, na Alvorada, não tiveram


reformas. Já a estação, recebeu pintura do lado de fora

A estação Baiana
está com pintura
nova, mas com
lixo em volta e
sem grama o
suficiente
10 JORNAL DAS COMUNIDADES AGOSTO

PROBLEMA SOCIAL

“Avião sem asa, fogueira Resposta da


liderança local e

sem brasa” e moradores


das autoridades
A equipe do Voz das Comu-
nidades entrou em contato
com Marquinho Balão, pre-
sidente da Grota. Ele diz que

do Alemão sem nada


já cansou de reclamar, pois
o problema é antigo. “Eu já
mandei mais de dez vezes pra
prefeitura, a Geo-Rio, já pedi
(a reparação) das encostas,
já pedi pra Conservação…a
FOTOS: JOSIANE SANTANA / VOZ DAS COMUNIDADES
gente pede, pede, pede e eles
População da não ligam pra gente.” Depois,
região da Alvorada Marquinho diz que as portas
da associação estão abertas
sobrevive há mais pra conversar mais sobre.
de 10 anos com Em contato com a Light, foi
informado que seria trocado
riscos e violações o poste até o dia 26 de julho.
de direitos básicos A informação ainda não foi
confirmada até o momento
da publicação da matéria.
Jacqueline Cardiano Já a Secretaria Municipal

A
de Infraestrutura informou,
o chegar na Alvorada, nós da em nota, que a Geo-Rio vai
equipe, que faríamos a ma- acionar a subprefeitura da
téria sobre a Praça do Cru- localidade para fazer uma
zeiro e arredores, ficamos vistoria e saber se é compe-
procurando a tal praça. Des- tência do órgão o problema
cobrimos que ali não é uma praça. É um da rua Jerosino.
pequeno espaço, de frente a um bar, com
mesas e bancos de concreto, no estilo de
quem joga dominó. “Isso é uma praça?”,
disse a minha companheira de pauta. Ela
“Esse poste aqui que
confirmou. O conceito de praça é diferen- ele é antigo. Tem
te fora da favela e já vi nisso um primeiro mais de vinte anos.
problema. A palavra praça, em uma breve
pesquisa no Google, tem como objetivo A data certa que ele
dar às pessoas não apenas um local para caiu, eu não tenho
o lazer, mas também para qualidade de Poste antigo está quase caído Maria da Penha sempre passa
vida, descanso e uma forma de sociali- em cima da casa de morador pelo beco e acha o local perigoso
certeza. Mas já tem
zarem. Mas tínhamos problemas mais mais de dez anos
urgentes para ver na região e seguimos o que ele está caído”
caminho que deveríamos.
Chegando no beco Santa Luzia, ao
lado do depósito do Ziel, já de cara vi-
mos postes antigos, daqueles de madei-
ra de Peroba, quase caídos, segurados
por fios que vinham de todas as partes.
O zelador Carlos de Paula Souza, de 44
anos, passava pelo local e parou quando
viu que a fotógrafa registrava dois pos-
tes com problema. “Vocês estão falando
sobre o que? Sobre o poste?”, perguntou.
Dissemos que sim.
Ao apontar para um deles, disse “esse
poste aqui, ele é antigo, tem mais de vinte
anos. A data certa que ele caiu, eu não te-
Imagem do local por Selma Souza,
nho certeza. Mas já tem mais de dez anos fotógrafa do Voz, em Maio A rua de Carlos e Cristiano nunca
que ele está caído, porque meu filho era teve calçamento adequado
pequeno quando aconteceu. Hoje ele tem
13 anos”, afirma Carlos.
Ainda no beco, vimos postes novos São tantos problemas que não cabem em um cartaz!
colocados, esses com luzes de Led. “Esse
aqui, a luz funciona. Eles vieram pra botar A senhora Maria da Penha, de 67 é na Travessa Santa Luzia, casa 7. ma ao local, segundo ele. Também que não vai cair agora, mas com
o poste novo, como você tá vendo aqui. anos, também passou pela região Continuamos descendo pelo afirma que a Defesa Civil alegou o tempo, a intenção é só piorar. O
Mas esses antigos eles nem mexeram, e parou para poder falar. Ela sobe beco e Carlos Paulo afirmou que que a casa não corre risco de que- solo tá firme? Com água embaixo?
deram nem confiança, porque o objeti- o beco com frequência para poder mora ali desde que nasceu. Logo, da. Foi na associação da Grota que Nunca vi isso. A não ser que seja
vo deles foi só botar a fiação nova que tu comprar algo ou jogar o lixo fora. conhece a área como ninguém. levou lá “pessoas que cuidam da bem aterrado.”
está vendo. Então para fiação não deram E diz que tem que comprar carnes Continuou mostrando outros bu- água e esgoto, de minas e que fa- Isso tudo sem falar no cami-
nem confiança” explica o zelador. Ou seja, e cozinhar logo, porque o freezer racos. Um de tamanho que uma laram a mesma coisa”. Também nho da rua, misturado com outras
é uma verdadeira mistura de fios dos pos- não funciona. “A geladeira não criança poderia cair facilmen- esteve na Associação da Fazen- pedras soltas e terra, que em dias
tes velhos com o novo, tudo desordenado. funciona por causa da luz que cai te. Vimos outro poste antigo de dinha para resolver o problema. de chuvas vira lama. Na matéria
Ele alega que botaram a fiação nova toda hora. Ainda bem que eu nem madeira com cupins, caminhos Nada feito. feita pelo Voz anteriormente, a fi-
para os moradores pagarem a energia ligo a máquina, porque a luz é tão quebrados, pedras soltas. Até que “Tá tudo alagado aqui por de- lha de Carlos disse que o próprio
elétrica. Mesmo pagando tarifas sociais, fraca que não funciona”, revela. chegamos na rua Jerosino, Casa 7, baixo, dá pra ver”. Depois, aponta pai e os vizinhos fazem o caminho
eles reclamam que o “bololô” de fios traz Ela também conta que ainda que fica entre a Alvorada e a Sa- pra uma pedra que caiu da fachada com as próprias mãos desde que
perigo para quem passa pela localidade, não sabe o que está acontecendo, bino, local que já havíamos feito da casa. “Ela tava em cima da colu- ela se entende por gente. Mas com
além de um dos postes estarem quase ca- se é a falta de relógios de luz ou se uma matéria há alguns meses. na aqui, ó. Ela pegava em cima da as chuvas ele sempre cede. Não
ídos na casa de um morador. são os postes. E, para solucionar o O local não tem uma passagem coluna. Então isso aqui era uma se- sabíamos que eram pai e filha.
O problema é tão antigo que quem problema, ela chama um eletricista segura. É quase um barranco. gurança também, essa pedra aqui Carlos Paulo e Cristiano con-
passa por lá não percebe somente o pro- para tentar resolver uma questão Chegamos na casa do Auxiliar de pra essa casa. Aí eles falam que cluem dizendo que acham que o
blema dos postes, mas também todo o que nunca é resolvida. “Eu prefiro Serviços Gerais, Cristiano Paula, não têm risco. A casa toda está se Voz das Comunidades pode ajudar,
calçamento que é péssimo e pode gerar mil vezes pagar luz do que ficar com vizinho Carlos Paulo. Eles moram deteriorando por baixo e não tem mesmo que só expondo a situação.
acidentes; até para os mais jovens. Isso essa luz fraca, que queima apare- bem no meio do trajeto. A fachada risco? Claro que tem. É só tirar foto “Vocês já vieram aqui três vezes em
tudo em um pequeno espaço. Em dias de lho, queima tudo”, afirma. Infeliz- da casa de Cristiano está rachada. e ver”, afirma Cristiano. pouco tempo. Isso diz que não estão
chuva, a água desce como um riacho e dei- mente, ela tinha um compromisso Ao olhar embaixo do imóvel, dá Carlos Paulo complementa a desistindo da gente”. E não desistir
xa o chão escorregadio. e não pôde levar a gente à casa onde pra ver que tudo está úmido, por fala do amigo. “Provavelmente ele para eles já é uma demonstração de
“Quando chove fraco, ainda dá pra pas- morava na hora. Mas informou que causa de uma mina que fica próxi- fala que não vai ter risco agora, que não serão esquecidos.
sar batido, mas quando chove forte mes-
mo, aí começa a “vim” água do chão que tá
cheio de buracos e pode escorregar”. Ao Buraco por onde Carlos Paulo mostra
saem os ratos que um dos buracos que
apontar para uma pequena vala, ele ainda podem contaminar existe na localidade
afirma que ratos saem do buraco. os moradores
Em tom de brincadeira, diz que até
os gatos têm medo do tamanho das ra-
tazanas que saem de dentro de um dos
buracos “ É cada ratazana… grande… Elas
podem até morder, né? Os gatos correm
porque as ratazanas são agressivas. Pe-
rante Deus, eu tô falando sério. Nem mes-
mo os ratos tão respeitando mais os gatos.
Cristiano mostra
Antes os gatos pegavam eles pelo rabo, a parte da pedra
hoje eles fogem.” Diz rindo, mas como fala que caiu da casa
o ditado, “pra não chorar”.
AGOSTO JORNAL DAS COMUNIDADES 11

PROBLEMA SOCIAL

TRANSPORTE QUE NÃO Vocêsabia?

TRANSPORTA NINGUÉM FOTOS IGOR ALBUQUERQUE / VOZ DAS COMUNIDADES


O QUE É, O
QUE MUDA E
QUAIS SÃO
O tempo passa,
as pessoas OS PRÓXIMOS
mudam, mas PASSOS
o problema do
Marco Kiko Venâncio
transporte con-
tinua atormen-
A
Câmara dos Deputados aprovou, em
dois turnos, o projeto de reforma tri-
tando os mora- butária — um dos mais importantes
dores do Vidigal para a economia no governo Luiz Inácio Lula
da Silva. Essa reforma planeja simplificar a
forma como são cobrados os impostos. E, tam-
Marco Kiko Venâncio bém, aumentar o recolhimento de dinheiro

H
com a cobrança de impostos de itens que an-
á muitos anos a tes não tinham essa obrigação. Ou seja, vai
comunidade do Trabalhadores enfrentam fila diminuir impostos de produtos essenciais
Vidigal sofre com a enorme diariamente para e aumentar a cobrança sobre coisas vistas
precariedade dos conseguir chegar ao trabalho como prejudiciais.
transportes. Esse Especialistas costumam falar que o sistema
problema se agravou com a re- de arrecadação de impostos no Brasil é um
tirada de algumas linhas e com São Conrado sentido Botafogo dos mais complicados do mundo. Para uma
a mudança no trajeto de outras. (via túnel Dois Irmãos) e colo- empresa, o simples ato de pagar impostos no
As linhas 521, 522 (Vidigal / Bo- cá-los para passar na Avenida A rotina da professora é frequentemente Brasil requer um gasto muito alto, com a con-
abalada devido a ausência de transportes
tafogo - Via Copacabana e Jar- Niemeyer”, resumiu a pedagoga. com trajetos que facilitariam sua vida
tratação de profissionais que conhecem pro-
dim Botânico) foram extintas; a Outro morador que teve sua fundamente o assunto. E isso consome muito
linha 177 (São Conrado / Praça rotina alterada foi Leonel Araújo dinheiro que deveria ser gasto empregando
Mauá - Via Copacabana) foi re- (motorista de van/transporte al- mais pessoas, além da melhoria nas condições
alocada e se tornou TRO 4 (São ternativo), de 45 anos. Ele que é çou em relação aos problemas de trabalho delas (salários mais altos e melho-
Conrado / Rodoviária - Via Lar- casado, pai de três (3) filhos, cui- sobre o transporte no Vidigal. res benefícios).
go do Machado) as Linhas 382, da dos seus pais idosos e ainda Desde 2009 estamos pleiteando Essa reforma estava parada há décadas no
387 e S20 (vinham do Recreio, ajuda seu irmão num projeto so- junto a secretaria de transportes Congresso, porque sempre foi considerada
Marambaia, Piabas e iam até o cial. Precisa acordar de madru- e nada foi feito. Nós fizemos um muito complicada; por mexer com interesses
Centro), e que também aten- gada para dirigir a van e ajudar abaixo-assinado (mais de 1000 de pessoas muito poderosas, e favorecer os
diam o Vidigal, tiveram seus os moradores do Vidigal a chegar assinaturas), realizamos uma mais pobres. Por conta disso, em outros anos
trajetos reduzidos e agora vão nos seus respectivos destinos. reunião com a antiga Secretária e outros governos, a prioridade foi dada para
apenas até o Rio Sul. “Acordo todo dias às 3:20 da de Transportes, Maína Celidô- reformas consideradas “fundamentais”, como
Todas essas mudanças atin- manhã, pego às 4:20, rodo até às nio, na qual também estiveram a da Previdência e a Trabalhista.
giram diretamente os cerca de 14:30, depois vou para o Centro presentes diretores da Associa- Governadores, prefeitos e determinados
45 mil moradores da comuni- esportivo da Rocinha auxiliar ção de Moradores, na sede da setores da economia, por exemplo, não que-
dade e mudou as suas rotinas. meu irmão, que é professor de Secretaria de Transportes, em rem abrir mão do dinheiro que recebem de
Muitos perderam seus empre- artes marciais, nas aulas de defe- Botafogo. Nessa reunião a Sra. impostos e isenções. A reforma atual propõe
gos; muitos sofrem para chegar sa pessoal que ele dá para crian- Maína se comprometeu em fazer a criação de algumas formas de compensar
Chiquinho falou da injustiça que
no horário correto no trabalho; ças e adultos (que sofrem de os moradores sofrem e de como a uma manutenção no itinerário os Estados e Municípios que perdem dinheiro
alguns acordam muito cedo depressão e ansiedade). Passo o utilização de seu serviço varia de de algumas linhas de ônibus, que com as mudanças.
(na madrugada) para atender restante da tarde por lá e depois acordo com as condições financei- circulam pelos bairros vizinhos Economistas dizem que o objetivo da re-
a demanda gerada pela falta de retorno ao lar para cuidar da mi- ras de cada um à comunidade, para que essas li- forma não é mudar o que se paga em impos-
ônibus e outros lutam para me- nha família”, enumerou. nhas pudessem contribuir tam- tos — ou seja, após a reforma, os brasileiros
lhorar essa triste realidade. Em seguida, ele relata o mo- bém com o Vidigal”, explicou. acabariam pagando quase o mesmo valor em
Associação em prol Márcio detalhou também
Uma moradora que sempre tivo do surgimento de uma nova impostos que pagam hoje. O Governo seguiria
sofreu e ainda sofre com a falta linha para atender a população de melhores condi- quais as carências desse setor, recebendo quase os mesmos valores.
de ônibus é a professora, peda- vidigalense. “Desde 2007 cria- ções de locomoção quem sofre mais com isso, e qual O que o nosso país ganharia seria um sis-
goga que leciona em turmas de mos uma linha alternativa para seria a solução para o problema. tema de cobrança de tributos mais fácil, o que
aos moradores “Desde aquele momento
alfabetização, Michelle Lopes atender às pessoas do Vidigal, tornaria mais barato abrir empresas e vender
Márcio “Mazola” Farias, de 52 (2019) a nossa principal escas- seus produtos e serviços no Brasil. Assim, com
anos, é um dos que luta por essa sez de transporte é no trajeto o passar do tempo, o valor recebido pelo país
causa tão importante. entre Botafogo e Vidigal. O ôni- aumentaria. Pois seria mais barato produzir no
“Nesse momento, para o bus para quem trabalha até Co- Brasil e consequentemente as coisas poderiam
transporte, é importante ter- pacabana tem, mas para quem ser mais baratas.
mos esse êxito de melhorar para trabalha no Jardim Botânico, Hu- Agora que o assunto foi colocado como
o morador do Vidigal, tanto para maitá e Botafogo, e é morador prioritário pelo Governo Lula, a reforma está
quem vai trabalhar, vai para o do Vidigal, vira realmente um andando.
colégio e para quem vem visitar problema grave. Para o Centro o IPI, PIS e COFINS são impostos federais;
também. Antigamente nós tínha- transporte também é precário, ICMS e ISS são estaduais. Alguns desses impos-
mos duas linhas, 521 e 522, uma mas ainda tem alguma coisa. Va- tos, como o IPI, não são cobrados diretamente
ia para Copacabana e outra para mos dizer que no geral é escasso, na compra pelo consumidor, mas sim durante
Botafogo, que nunca falharam. mas as queixas dos moradores se o processo de importação ou na sua fabricação.
Essa é a van utilizada por Leonel
que atende os moradores que trabalham Mas, depois de alguns anos, aqui concentra no trajeto para Bota- A proposta da Reforma Tributária (PEC
em São Conrado e Barra na cidade, começaram umas fogo e adjacências. Na época que 45/2019) propõe trocar todos esses impostos
brigas de empresários (donos o abaixo-assinado foi entregue, por um novo imposto só: o IVA, Imposto sobre
de empresas de ônibus), a coisa foi pleiteado para que fosse aber- Valor Adicionado.
Domingos, de 41 anos, que tra- que ficavam “ilhadas” devido desandou e no final a gente que ta uma exceção, através de um Outro imposto criado é o Imposto Seletivo,
balha há mais de duas décadas a mão única. Nesse sistema de mora ‘no meio do caminho’, na decreto, para o pessoal das vans que vai incidir sobre bens e serviços que pro-
em Botafogo. trânsito, que funciona das 6:30 Niemeyer, acaba sofrendo com - que têm seu itinerário legaliza- vocam mal à saúde ou ao meio ambiente (como
“Trabalho em Botafogo há às 10:30h, o fluxo de automóveis isso”, disse Márcio. do pela Prefeitura - realocassem cigarros e bebida alcoólica).
23 anos, leciono diariamente e só é permitido de São Conrado Ele explicou também como pelo menos dez (10) vans para Os impostos serão cobrados no local de
em tempo integral. Sofro com para o Leblon. Por isso, criamos está negociando junto a Se- fazer o trajeto para Botafogo. A compra ou consumo e não mais onde são
a falta de ônibus desde quando um trajeto curto e rápido, sain- cretaria Municipal de Trans- Secretária informou que naquele fabricados.
comecei a trabalhar em Botafo- do da Rocinha, passando pelo portes, Órgão da Prefeitura momento isso não seria possível, O que foi feito nessa reforma, basicamente,
go. Sempre foi um problema ter Vidigal, Leblon, Gávea e retor- responsável pela área, para mas que veria uma forma melhor foi cobrar IPVA de quem tem jatinho, helicópte-
condução para lá e adjacências, nando para a Rocinha pelo túnel resolver essa demanda essen- de fazer isso acontecer. Deu um ro e iate - que antes não pagavam - para investir
como Humaitá e Jardim Botâni- “Dois Irmãos”, relatou. cial para a população local. prazo de 90 dias, mas nada an- em saúde e educação. O que também vai ser
co”, contou Michelle. O mototaxista Francisco “Até o momento nada avan- dou”, finalizou. garantido com essa mudança é o barateamen-
Michelle também deu uma Emerson Pereira, 39 anos, to dos produtos da cesta básica. Os produtos
sugestão para melhorar as con- mais conhecido como “Chi- que fazem mal para a saúde das pessoas e ao
dições para quem precisa do quinho”, apesar de ter outras meio ambiente também pagarão mais impos-
serviço e citou algo que poderia profissões, enxergou nessa tos e, assim, pode garantir o retorno para po-
amenizar essa questão. “Pen- falta de condução uma forma pulação do dinheiro que pagou de imposto.
so que a prefeitura juntamen- de ganhar seu sustento.
te com as empresas de ônibus “Em relação ao serviço pre-
poderia mudar o trajeto de al- cário de ônibus, muitos mora-
O que fica para depois
guns carros. Aqui na Niemeyer, dores realmente recorrem a A reforma prevê que 180 dias depois de pro-
os ônibus que passam fazem nós, o que é bom pra nós. Mas, mulgadas as atuais mudanças na lei, o Con-
o trajeto sentido Copacabana. infelizmente, não é bom pro mo- gresso deverá acertar também outros itens
Poderia pegar uma linha dessa rador porque acabam pagando do sistema de cobrança de impostos. Como, o
e colocar para Jardim Botânico, mais caro. Não acho justo o mo- imposto de renda (para pessoas físicas e para
Humaitá e Botafogo. Poderia, rador pagar mais caro por cau- pessoas jurídicas) e a cobrança de impostos so-
Mazola está há 14 anos trabalhando na Associação
também, trocar o percurso de sa do péssimo atendimento dos bre o lucro dividido entre sócios de empresas
de Moradores do Vidigal e 2 anos como Presidente
algumas linhas que saem de ônibus”, ressalta. (dividendos), que no momento ficam iguais.
SERVIR
É DAR A SERVIÇO DE
TODO CARIOCA.
OPORTUNIDADE
DE EMPREGO
PARA O
THAYLSON.

OBRAS DO TERMINAL GENTILEZA


AGOSTO JORNAL DAS COMUNIDADES 13

ESPORTE
ACERVO PESSOAL ACERVO PESSOAL

Junto com seu


treinador Weverton Tayana foi convocada
Santos, um dos seus para o mundial de
maiores motivadores Halterofilismo em Dubai

Gracilene Firmino “O esporte mudou minha

T
reinar, se desenvolver, receber apoio e vida em vários aspectos.
estímulo para ser um atleta nascido e Eu me conheci melhor, me

TAYANA
criado na favela pode ser um grande
desafio. Com operações policiais,
descobri como pessoa”
falta de estrutura, dificuldades Tayana Medeiros
financeiras, se dedicar ao esporte exige
grande comprometimento e apoio. Mas

MEDEIROS
Tayana Medeiros e Gabriel Ribeiro não
desistiram e atualmente estão vivendo
seus sonhos. E, felizmente, o Voz das
GABRIEL CHEGOU
Comunidades pôde fazer parte dessa EM ORLANDO

E GABRIEL
trajetória. Os esportistas tiveram suas Gabriel Ribeiro de Alcântara Lima, de 11
histórias contadas no jornal e atual- anos, é como se chama o atleta que saiu
mente avançaram em suas carreiras do Parque União, uma das 16 favelas
e conseguiram alcançar seus pódios. da Maré, para representar o Brasil no

RIBEIRO
Saiba como eles estão. jiu-jitsu, em Orlando, cidade da Flórida,
Tayana Medeiros, de 30 anos, é nasci- nos Estados Unidos. Mussunzinho, como
da e criada no Morro da Fé, uma das fave- é apelidado pela família e amigos, ganhou
las do Complexo da Penha. Ela nasceu com notoriedade quando o Voz das Comunida-
artrogripose, uma deficiência congênita des contou sua história. Em 2022, o atleta
que limita os movimentos das articulações. vendia rifas no Conjunto de Favelas da Maré
Mas isso não a impediu de ir atrás de seus ob- para arrecadar dinheiro e conseguir disputar
jetivos. Tayana é atleta de halterofilismo para- o torneio mundial de jiu-jitsu, em Abu Dhabi. Já
límpico, uma modalidade esportiva que tem como em junho deste ano, Gabriel passou por uma nova
objetivo testar a força de membros superiores de etapa na sua carreira, que foi ter a missão de arreca-
seus atletas. Diferente da prática olímpica, trabalha dar 12 mil reais para disputar o campeonato norte-
com a força máxima, ao invés de força explosiva. -americano, ação que também foi contada pelo Voz.
“O esporte mudou minha vida em vários aspectos. Quem sempre está ao lado de Gabriel e é quem
Eu me conheci melhor, me descobri como pessoa. Sou conta sobre como está o atleta atualmente é sua mãe,
nascida e criada no Morro da Fé. Sempre vivenciei Cintia Ribeiro da Costa, de 37 anos. “Eu venho de uma
muitas coisas ali, e o esporte me fez abrir a mente para família pobre e comecei a trabalhar aos 7 anos. Co-
um mundo diferente daquela realidade. Já vi muitos Saiba como está a vida de dois mecei a criar os irmãos muito cedo. Então ver o meu
amigos perdendo a vida por pouca coisa, e não queria
aquilo pra mim. Mesmo sendo deficente, sempre so-
atletas de favelas do Rio que tiveram filho chegar em Dubai é uma realização. Só o fato de
eu conseguir apresentar um outro lado da vida pra
nhei um pouco mais, além da favela”, disse a atleta em suas histórias contadas pelo Voz ele, é um canal de bênçãos”, falou Cintia para o Voz
2021 para o Voz das Comunidades. ainda em 2022, quando o jornal apresentou a pri-
Tayana coleciona títulos. Foi medalha de prata no ACERVO PESSOAL
meira matéria sobre Gabriel. Esta semana, o menino
Parapanamericano de Lima em 2019, é hexacampeã e acaba de pisar nos Estados Unidos, a segunda viagem
recordista brasileira, bicampeã e recordista das Amé- internacional do pequeno gigante.
ricas; nos jogos de Tóquio, conseguiu a quinta coloca- “Através da Vakinha compramos a passagem dele
ção. “E se Deus permitir, vem medalha em mundial”, nas duas viagens. O Voz foi essencial na vida do meu
planeja a atleta. filho. Dando voz a esses atletas e abrindo portas para
A jovem continua se superando e fazendo novos eles. Foi o primeiro jornal a reconhecer o trabalho
planos. Fala ainda do papel do Voz em sua caminhada. do Gabriel, foi assim que outras pessoas puderam
“Com a visibilidade que o Voz me proporcionou, con- conhecer a história dele e o ajudarem. Só tenho a
segui não apenas ser vista como também alguns pa- agradecer por terem dado voz a uma mãe de favela,
trocínios como clubes. Hoje, estou representando um uma mãe que luta para o filho não virar mais um na
dos melhores clubes da América Latina, o Praia Clube, estatística, e mostrar que ele pode sim todas as coisas
equipe de Uberlândia, em Minas Gerais. Atualmente, e chegar em qualquer lugar”, diz Cintia.
estou me preparando para o mundial da modalidade, Gabriel estava em Orlando ( Flórida) e focado em
que é agora em agosto, e buscando a vaga para os jogos seus objetivos. Foi vice-campeão, medalha de prata
paralímpicos de Paris e mantendo também a prepara- no Pan Kids. Agora, o objetivo novamente é o mundial
ção para os jogos Parapan-Americanos do Chile que é de Abu Dhabi, em primeiro de novembro. “Ele não
em novembro”, diz a halterofilista. só estuda e treina, também trabalha e corre atrás,
batalha muito. Ele é o meu orgulho. E o Voz ajudou
SELMA SOUZA / VOZ DAS COMUNIDADES em tudo isso. O jornal contou a história dele e isso
fez com que outros veículos de comunicação, como a
Rede Globo, ficassem sabendo da gente e dessa forma
conseguimos viajar. O Voz deu voz para o meu filho.
Sem vocês, a gente não teria conseguido”.
Acompanhe os avanços e a vida dos jovens
atletas em suas redes sociais @taayanamedeiros
e @gabrielmussum.

“O Voz foi essencial na


vida do meu filho. Dando
Cintia Ribeiro da Costa, mãe do
voz a esses atletas e
Gabriel, em Julho do ano passado Gabriel foi medalha de prata no Pan Kids, maior abrindo portas para eles”
na entrevista para o Voz campeonato de Jiu-Jitsu para crianças do mundo
Cintia
14 JORNAL DAS COMUNIDADES AGOSTO

SAÚDE

Promoção e prevenção de saúde:


gente pode curar a alma. E eu digo
que curar a alma é porque quem
vive em favela, num primeiro mo-
mento, o que é afetada é a saúde

missão que Lúcia Cabral abraça


mental”, explica.
Então, a mobilizadora que co-
meçou falando de HIV/Aids e sane-
amento básico, atualmente entende

há mais de 30 anos no CPX que o ser humano é um todo. Em


suas palavras, diz que “A gente não
é dividido só em saneamento bá-
sico, não é só isso. A gente precisa
de atenção na saúde mental, entre
Desde pequena, a fundadora do Educap é engajada em causas sociais e outras coisas. Porque o prefeito
quer que a população entenda que saúde é muito mais que disposição física acha que vir só resolver o esgoto
já tá bom. O indivíduo é um todo.
JOSIANE SANTANA / VOZ DAS COMUNIDADES
Jacqueline Cardiano Quando se chega em uma unidade
“Eu já trabalhava com educação

L
de saúde, tem médico que não olha
de jovens e adultos no SESI e co-
ucia Cabral ou Tia Lúcia. na sua cara”. Ou seja, não está pro-
mecei a desenvolver a vontade de
É dela que vamos falar. E movendo nem um pouco a saúde.
atuar com promoção e prevenção
aqui, antes de expor a res- “Meu papel aqui no Educap é fa-
de saúde discutindo saneamento
peito da importância do zer com que a população entenda
básico. É um ponto principal de saú-
seu trabalho sobre saúde que ela é uma população de direitos,
de dentro dos territórios favelados,
no Alemão, é melhor explicar quem que você não é um coitado e que não
né? diz Lúcia.
é ela. A mulher de 56 anos, “arre- tem que abaixar a cabeça. A gente é
tada” e cheia de iniciativa, nasceu potência e pode muito mais do que
em Taperoá, na Paraíba. Veio para Você sabe o que imagina. Talvez esse seja o papel das
o Rio com meses de idade. Cresceu é saneamento instituições hoje dentro do território
no Complexo do Alemão e fundou do Alemão. Isso foi construído com
o Espaço de União, Convivência,
básico? várias lideranças “ afirma.
Aprendizagem e Prevenção. A ONG, Para melhorar a situação, ela
conhecida como Educap, fica na Ca- luta para que a população veja que
nitar e surgiu no dia 8 de março de O saneamento básico é não está pedindo um favor quan-
2008, data especial na luta pelos um conjunto de serviços do está reclamando por direitos. O
direitos das mulheres. que inclui o abasteci- SUS não é de graça, porque se paga
Com 12 anos, Lúcia já usava o es- mento de água, o esgota- impostos e também não pode ser
paço em que morava para dar aula mento sanitário, a limpeza visto como uma mercadoria, como
de alfabetização. Escrevia também urbana e a condução cor- Lúcia batalhou durante anos para ter o espaço ela mesmo diz.
cartas para os familiares nordesti- reta de resíduos sólidos. na Canitar, onde hoje funciona a ONG
nos, aproximando-se daqueles que Ou seja, o que é descar-
estavam longe. Fazia um trabalho tado, como o papel, pape- Já nos anos 2000, a mobilizadora movimento chamado ‘Sexo é Vida’. “Meu papel aqui no
parecido com o da personagem in- lão e etc. Inclui também comunitária e outras ongs desen- Foi quando a Fundação Ford finan- Educap é fazer com
a drenagem de águas da volveram um planos sobre saúde ciou o projeto. Por causa da ação,
terpretada por Fernanda Montene-
chuva, o que pode evi- sexual e reprodutiva, voltado para recebeu muita gente de fora. “Eles que a população
gro, no filme Central do Brasil. Mas
Lúcia era diferente da personagem tar enchentes e doenças adolescentes, junto com a Unicef e queriam ver como a gente atuava, entenda que ela é
e não cobrava. E seu trabalho iria como a Leptospirose o Cedaps. “Dentro do Cedaps, a gen- porque a gente trabalhava em um uma população de
se destacar para além do ensino da te aprendia educação e saúde, mas lugar dentro do Alemão onde a saú-
sob uma perspectiva de educação de não chegava”, explica. direitos, que você
escrita e leitura. Lúcia e o trabalho de
“A maior troca na época era es- de saúde popular. Era trabalhar a Segundo ela, naquela época já não é um coitado
promoção e preven- promoção da saúde dentro do terri- existia o Conselho de Saúde do Ale-
cutar as histórias. Eu amo a Paraíba,
tório da favela”, explica Lúcia. mão, o Consa, onde pastores, pa-
e que não tem que
então são histórias inspiradoras de ção de saúde no Com-
lutas para deixar família e terra natal Com o aprendizado, em 2007, ela dres e movimentos das favelas dis- abaixar a cabeça”
plexo do Alemão organizou rodas de conversa com cutiam sobre o assunto. E, no meio
para vir sofrer em outras cidades,
longe de familiares e amigos”, conta. Na década de 80, surgiram os ca- adolescentes e fez distribuição de dessa discussão, em 2007, houve E o Educap faz sua parte. Entre ou-
Ela ainda diz que seu maior sonho é sos de HIV e AIDS e Lúcia começou preservativos dentro de bailes funk. uma chacina no Alemão, onde for- tros projetos, Lúcia organiza rodas
voltar à terra que nasceu, apesar do um trabalho de conscientização “Era um camelô educativo. Eu dis- ças policiais assumiram a matança. de conversa com mulheres para falar
local ter uma história trágica. A avó com adolescentes sobre o vírus e tribuí muito na quadra da Canitar, Diante disso, ajudou a elaborar o sobre o corpo. O Projeto ‘Ana Autoes-
de Lúcia foi vítima de feminicídio na a doença em sua casa. Era o Drau- até o último baile. E aí, eu também relatório de Direitos Humanos da tima’ entrou no Educap para dialogar
década de 70. Porém, a situação não zio Varella da região, que informou trabalhava com as associações de Anistia Internacional sobre o acon- sobre sexo e dizer que sentir prazer
a intimida, mas não conseguiu ir a e alertou sobre os perigos do sexo moradores”, complementa Lúcia. tecido no Cpx. faz bem. Uma sexóloga fala sobre sexo
Taperoá por questões financeiras. sem proteção. Ainda em 2007, organizou o saudável, do cuidado com o corpo e a
Destino ou não, Lúcia sempre Tudo é saúde e genitália. Promover saúde é ensinar,
carregou o espírito de justiça so- prevenir é melhor mostrar os caminhos para que não se
cial. Seja pelo que aconteceu com a O que é HIV e o que é Aids? que remediar chegue à doença. O prevenir, já parte
sua avó ou por crescer em um local da pessoa que recebeu a informação,
onde faltava o básico. Ressignificou Não ter alimentos certos para comer porque também cada um deve fazer
uma outra situação difícil, quando O HIV é um vírus que ataca o sistema imunológico e é causa- ou nem ter com o que se alimentar, a sua parte.
o pai morreu em 98, por causa da dor da Aids. No entanto, ser portador do vírus HIV, não quer viver a falta de direitos humanos, Infelizmente, para cobrar direi-
leptospirose, transmitida principal- dizer que a pessoa vai desenvolver rapidamente a Aids. Pode não conseguir lazer, são buracos tos, segundo as falas da líder comu-
mente por ratos. O pai da fundadora demorar anos para que os sintomas surjam. Quando eles que o estado deixa e fazem com o nitária, a participação da população
do Educap foi contaminado numa aparecem, a Aids já se instalou e enfraqueceu o organismo que as pessoas já cheguem doentes ainda é mínima. “Mas nós estamos
enxurrada no Alemão. E, lidar com com infecções. Não existe cura para o vírus HIV, mas existem nas unidades de saúde. Ela afirma fazendo o trabalho direitinho, aos
a morte do pai, é claro, não foi fácil. tratamentos que melhoram a qualidade de vida dos porta- que não há como promover saúde poucos. Saúde e educação são a
Mas, a partir daí, ela começou a se dores. Mas, mesmo sem desenvolver doença ou com trata- e prevenir uma doença, quando o base pro mundo girar. E aí você ten-
interessar pelas questões que en- mento inovadores, o portador do vírus pode transmitir para Poder Público não oferece o básico do saúde e educação, o resto você
volvem saúde e saneamento básico, outras pessoas através de relações sexuais sem proteção em para a população de favela. vai conquistando “. conclui a grande
além da educação. Para “tia” Lucia, grande parte dos casos. Por isso, use camisinha! Para ela, a saúde não deve ter so- profissional Lúcia, que está sempre
essas andam juntas. mente o olhar do adoecimento. “A de portas abertas no Educap.

Opinião Cria do Capão Redondo, extremo sul de São Paulo, professor formado
pela Faculdade de Letras da UFRJ, comunicador, escritor, revisor,
ativista e auxiliar de jornalismo no Voz das Comunidades

Por Jonas di Andrade

QUAL É O E
ssa pergunta, que dá corpo ao título, me faz
lembrar da infância. Todos tivemos em algum
momento algum parente, seja tio, avó ou amigo
da família, perguntando isso. Ao passar do tempo,
estigmatizados, a falta de saneamento básico e de acesso
à moradia é uma realidade há décadas, relatada por esse
jornalismo e impacta diretamente a vida das pessoas.
Diferentemente das mídias tradicionais, os veículos de

FUTURO DO
mais amadurecidos, é possível compreender a razão comunicação comunitária mostram o que a favela tem
e, inclusive, até questionar. Isso não é diferente em se de melhor, e não somente a violência que é gerada pelo
tratando de jornalismo comunitário. estado através da polícia, desde a ditadura civil militar. A
Quando o jornalismo comunitário se propõe a con- favela não produz guerra. Ela é vítima da guerra. E é esse

JORNALISMO
tar a história de um morador, de uma iniciativa, expõe o contraponto. O morador é o ouvido, não o esculacha-
problemas sociais ou afirma que a periferia tem cultura, do. É a versão de quem vive no território, não de quem
está apontado para o presente, que é o futuro do ontem. vai decidir quem deve viver ou morrer. É assim que o
Assim como nós, esse jornalismo, ignorado pelas uni- jornalismo comunitário trabalha desde sempre e isso

COMUNITÁRIO?
versidades durante bom tempo, está em constante mu- dificilmente vai mudar.
dança. O jornalismo comunitário nasceu da gestação da Parafraseando o título do livro do Ailton Krenak, o
imprensa negra que, em meados do século XX, pautava as futuro é ancestral. Ou seja, o jornalismo comunitário
ausências de direitos da população que não foi inserida seguirá criando e recriando tudo que já está no seu
efetivamente na sociedade, no mercado de trabalho e em “DNA”. Ainda mude os agentes, as ferramentas, a de-
outras áreas, como cultura e educação. Essa influência foi fesa dos direitos humanos, a amplificação das vozes
fundamental para seu desenvolvimento efetivo. dos mais vulneráveis, a luta por cidadania e dignidade,
Nas favelas e periferias, onde se concentra diversos contra as discriminações, todas essas ideias permane-
grupos raciais, considerados marginalizados, que são cerão. O jornalismo comunitário não será. Ele é.
AGOSTO JORNAL DAS COMUNIDADES 15

PUBLI EDITORIAL

‘EmpreendAE’ seleciona
pequenos negócios para o
quadro de fornecedores
da concessionária e
capacita empresas

Águas do Rio lança na Expo


Há cinco anos, Meire montou seu próprio
negócio e hoje corre atrás para que seu sonho
se desenvolva. “Todos os dias coloco minha
força e determinação para fazer meu projeto

Favela programa para


crescer. E essa parceria com a Águas do Rio
me proporciona uma oportunidade impor-
tante de mostrar o meu trabalho. Sinto que
sou privilegiada por essa chance de me de-
senvolver ainda mais”, afirma.

microempreendedores Prosperidade
compartilhada
De acordo com o presidente da concessioná-

de comunidades
ria, Alexandre Bianchini, o EmpreendAE re-
flete o compromisso da companhia em levar
muito mais que melhorias nos serviços de
água e esgoto nas comunidades onde atua,
mas, também, oportunidades. Desde que en-

“E
trou em operação, em novembro de 2021, a
mpreender foi a virada de chave que mu- empresa priorizou empregabilidade onde
dou a minha vida. Hoje sou independen- mais precisa. Hoje, dos 8 mil funcionários, 4,5
te, trabalho em casa e tenho mais tempo mil são de favelas.
para a família. O sonho agora? Crescer”. O “O EmpreendAE faz parte desse nosso
relato é de Andressa Campos, de 31 anos, esforço constante em promover o cresci-
moradora de Honório Gurgel e cria do Complexo do Cha- mento econômico e social dentro das comu-
padão, ambos na Zona Norte carioca. Há 10 anos, ela se nidades fluminenses. Buscamos contratar
sustenta com seu negócio de venda de doces e agora é uma mão de obra local, o que também acaba nos
das participantes do EmpreendAE, projeto da Águas do aproximando de moradores e de suas rea-
Rio que leva ao quadro de fornecedores da concessionária lidades. E, como estamos nesses territórios
pequenos negócios estabelecidos em comunidades que diariamente, vemos de perto o potencial de
ficam dentro da sua área de atuação. crescimento dos negócios locais.
O programa, lançado na Expo Favela, estabelece uma Com o programa, podemos
plataforma para que os interessados possam oferecer seus apoiá-los, trazendo esses
serviços, como bufê para eventos, gráfica, confecção de serviços para o nosso qua-
uniformes e transporte, entre outros. Além disso, os parti- dro de fornecedores, que
cipantes terão acesso a cursos de capacitação focados é amplo e diversificado, e
na profissionalização de equipes e no desenvolvi- dando a eles a oportunidade
mento sustentável dos negócios. de expandir cada vez mais,
Enquanto o EmpreendAE ainda era um gerando um ciclo virtuoso de
projeto-piloto, Andressa foi procurada prosperidade compartilhada ”,
por equipes de Responsabilidade So- destaca Alexandre Bianchini,
cial da concessionária, que bus- presidente da Águas do Rio.
cavam pequenos fornecedores
na Associação de Moradores
do Complexo do Chapadão,
na Pavuna. Hoje, seus do-
ces fazem parte de coffee
breaks e outros eventos
dentro da empresa.
Com a parceria, a mi-
croempresária preten-
de crescer ainda mais,
abrir uma cozinha sepa-
rada da sua casa e dar aulas.
“Para muitas pessoas parece
impossível viver exclusivamente de seu próprio empreendi-
mento. Sei porque já pensei assim. Mas hoje estou aqui para
dizer que é possível, sim, e que tenho o conhecimento necessá-
rio para ensinar como tocar bem um negócio de doces”, falou.
Assim como Andressa, Rosimeire da Silva Machado tam-
bém é fornecedora da Águas do Rio. Os ecocopos personaliza-
dos distribuídos no estande da concessionária na Expo Favela
foram feitos por ela, que é dona de loja de brindes na Barreira
do Vasco, Zona Norte da capital fluminense.
16 JORNAL DAS COMUNIDADES AGOSTO

POLÍTICA

Plano de ação do CPX


já traz mudanças para a favela
APÓS LANÇAMENTO EM DEZEMBRO, PLANO GARANTE COMPROMISSO DE CONSTRUÇÃO
DE IFRJ NO COMPLEXO DO ALEMÃO E URBANIZAÇÃO NA TRAVESSA LAURINDA
SELMA SOUZA/VOZ DAS COMUNIDADES
Davi Cidade

P
SELMA SOUZA/VOZ DAS COMUNIDADES

ara quem não sabe,


o Plano de Ação Po-
pular do Complexo
do Alemão é um do-
cumento que reune
diversas reivindicações do CPX
num único lugar. Essa iniciativa
é resultado do trabalho coletivo
entre moradores e organizações
locais que, por meio de debates
e muita escuta, conseguiram
identificar os problemas do
território e pensar em soluções
para eles.
O plano é dividido em 11
eixos temáticos. Saneamento
básico, Saúde, Mobilidade e
Segurança Pública são apenas
alguns dos temas abordados no
documento. Para cada um des-
ses tópicos, o plano traz bem
organizado: seus problemas,
possíveis soluções e também o O Raízes em movimento é o realizador do
histórico de lutas já realizadas IAN PEREIRA plano, mas as articulações para a iniciativa
pela própria favela. começaram em projetos anteriores
Se você quiser ler o Plano de
Ação do CPX completo, escaneia
esse qr-code aqui embaixo ó:
e o plano pra ser o lugar de en-
contro coletivo. O encontro das
favelas no Rio de Janeiro foi fei-
uma está num nível diferente. Alan Brum to aqui. O plano tá se tornando,
As articulações não são só com e lideranças
de inicia- nesta Secretaria Nacional, uma
a Secretaria de Ambiente Clima, referência de processos de par-
tivas do
Elas se dão em vários aspectos. Alemão ticipação. É isso é o que eles têm
Por exemplo, tem com a secreta- em Abril de falado pra gente! Por exemplo,
ria pra dar um suporte de estru- 2023 com houve o encontro nacional de
tura, equipamento; e tem uma MST em
visita téc-
políticas urbanas em Belém e
parceria com o MST pra dar um eu fui convidado da secretaria,
nica à rede
suporte técnico, né? E a gente de hortas chamado nessa dimensão do
tem mais outra articulação tam- comunitárias plano. O olhar sobre o plano tá
Escaneie a imagem e baixe
o Plano de Ação do CPX bém pra horta, que é com a de- contribuindo pra pautar políti-
putada estadual Marina do MST. ACERVO PESSOAL: RAÍZES EM MOVIMENTO cas públicas nacionais para as
A iniciativa do plano foi rea- E aqui a gente tá trabalhando a favelas.
lizada pelo instituto Raízes em questão da regulamentação, a
Movimento com suas principais questão do que precisa ser fei- Voz das Comunidades:
lideranças: Alan Brum, David to pra que legalmente possam E sobre o IFRJ?
Amen e Samantha Sales. Com fornecer alimentação para as
diversos apoiadores e parcei- escolas próximas. Alan Brum: Agora semana
ros, o Plano de Ação do CPX já é passada a gente foi à Brasília de
um marco histórico e Alan Brun Voz das Comunidades: novo e foi quando saiu o com-
contou para o Voz as primeiras E o outro projeto? promisso de criar a unidade do
vitórias que o plano já trouxe IFRJ. Ontem já teve uma reunião,
para a favela. Alan Brum: O terceiro, que já tem o interlocutor da prefei-
também é com a Secretaria de tura, teve ontem três pessoas do
Voz das Comunidades: Ambiente, mas tem vários ato- gabinete do prefeito.
A primeira coisa que eu res envolvidos, é a intervenção
queria saber é quais foram urbanística da Travessa Lau- Voz das Comunidades:
os eixos que mais avança- rinda. O Voz já fez quatro, seis No caso, esse projeto do
ram em realizações? O que matérias. IFRJ já é uma coisa que
vocês sentiram que de fato vai acontecer? Não é algo
já fizeram? Voz das Comunidades: da boca deles não, né?
Sim. A gente sabe bem!
Alan Brum: Assim, são várias Visita técnica Alan Brum: Não. Porque teve
Alan Brum: Sim. Tem seis maté- feita pela A gente (a rede do Plano) tá Voz das Comunidades: o compromisso público. É uma
articulações e tentativas de di- secretaria de
rias do Voz lá. Tem três escritas e começando agora um diagnósti- É interessante, pois dívida de bem antes do plano.
álogo com o executivo, com o ambiente e
três vídeos. Então, tem essa in- co socioambiental pra entender os projetos acabam Existe uma dívida lá atrás pro
Legislativo e com instituições clima no CPX
tervenção urbanística. A ideia é para o projeto quais são as vulnerabilidades, pegando todos os eixos IFRJ ser construído, de 2015. Na
parceiras também, né? A gente
fazer uma nova forma de inter- de intervenção quais são as fragilidades, quais temáticos do plano, né? hora da nossa visita a Brasília,
tem dois projetos em processo
de implementação com a Secre- venção diferente do que aconte- na travessa são as necessidades para o de- Alan Brum: Sim, é muito difícil teve o compromisso público
ce nas favelas. Não é só obra! A Laurinda senvolvimento pessoal, familiar
taria de Ambiente e Clima, que falar de um específico. Essa in- da primeira-dama e do minis-
é do plano, né? Uma é sobre as obra a secretaria vai fazer, mas e comunitário. O diagnóstico tervenção (na travessa Laurin- tro da educação. Inclusive, nós
hortas comunitárias. No plano, tem todas as outras atuações que vai dizer quais são as ações da) pega o todo. conseguimos tirar deles uma
a gente tá propondo uma rede com os moradores. para com as pessoas. demanda que também era da Ci-
de hortas comunitárias. A ideia Voz das Comunidades: dade de Deus. Porque das cinco
ACERVO PESSOAL: RAÍZES EM MOVIMENTO

é que as cinco hortas sejam O plano parece dizer pro unidades que eram pra ter sido
uma articulação e que seja de asfalto e pro governo: construídas lá trás, só não foram
apoio mútuo entre elas dentro “O CPX está organi- construídas as duas de favela,
do Complexo do Alemão. Sendo zado!”. Como você acha do Alemão e da Cidade de Deus.
que uma é na Penha, só que as que o poder público pas-
outras quatro é aqui. sou a enxergar o Com- Voz das Comunidades: Pô,
plexo do Alemão? isso é muito brabo, porque
Voz das Comunidades: a galera daqui vai conse-
Alan Brum: Eu só posso falar
Já tem uma articulação guir ir estudar a pé. E estu-
como percepção, né? A percep-
com o próprio Complexo dar numa instituição fede-
ção é que há um olhar já diferen-
com relação às produ- ral técnica de qualidade.
te pro Complexo do Alemão por
ções dessas hortas? Isso é muito incrível.
conta do plano, pelo menos nos
Alan Brum: Então, dessas lugares que a gente tá interagin- Alan Brum: Sim. Muito impor-
cinco, três existem e querem do. Quando a nova secretaria tante. E é isso, né. Fechamos?
ser potencializadas. Duas, não nacional das periferias vem pro
existem. Vão começar. Elas se- Rio de Janeiro conversar com Voz das Comunidades:
rão criadas ainda. Então, cada Reunião na Nave do conhecimento (Alemão) sobre a construção do IFRJ as favelas, ela escolhe o Alemão Sim! Muito obrigado!

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