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JORNAL
DISTRIBUIÇÃO
GRATUITA
FEVEREIRO 2024
Ano 02 - Edição 08

crédito: Awdrey Sasahara crédito: Matheus Santana

A introdução do samba no Mestre-Sala e Porta Bandeira

A professora Vivian Pereira explica como eles surgiram. p. 4 e 5
cenário musical brasileiro Como funciona uma Escola de Samba
Saiba mais no artigo de Maria Elise Rivas. p. 12 A presidente da UA I, Camila Mesquita,
nos conta da idealização ao desf ile. p. 6

SAÚDE MENTAL: A psicóloga Sumaia Gonçalves explana como ter uma mente saudável. p.10
2 EDITORIAL JORNAL EGBÉ

PONTOS DE
Até quando aceitaremos a desigualdade de gênero? DISTRIBUIÇÃO

Olá, queridas e queridos leitores! Mais uma vez abrimos
este editorial agradecendo a todas e todos que nos enviaram
mensagens de elogios, de incentivo e sugestões, que, com certeza,
JORNAL já estamos realizando. É sempre importante deixar registrado
RESENHA
que nosso objetivo principal é estimular o debate, o diálogo e a
SOCIOCULTURAL
reflexão, exercitando o incentivo à leitura e fortalecendo o senso
crítico tão necessário na construção da cidadania.
Entendemos que a Cultura é um grande instrumento de
EXPEDIENTE transformação social, não só do ponto de vista de lazer e
aprendizado, como também fortalece o processo de cidadania,
Realização
ou seja, pessoas com maior senso crítico da realidade, mais
humanitárias e mais politizadas tendem a construir uma sociedade
OICD
com menores índices de violência, de preconceitos, desigualdades,
enfim, mais equânime.
Idealização Com isso, trazemos uma proposta editorial com assuntos de
e Curadoria relevância para a sociedade, tanto no Brasil e no mundo, como
Maria Elise Rivas também “resenhar” eventos, acontecimentos e todo movimento
que envolve nosso município.
Jornalista
Neste mês, como fazemos sempre em março, em alusão ao dia
8, trouxemos uma reflexão sobre os avanços e retrocessos da luta
Awdrey Sasahara das mulheres por uma sociedade mais igualitária, mais digna, com
MTB: 42944/SP
mais respeito e visibilidade. A luta por uma sociedade que não as
mate, que não as pague menos quando fazem os mesmos serviços
Revisão que um homem, que a elas dê espaços na política, no trabalho,
Rodrigo Garcia na saúde, na educação, no lazer, na cultura, que lhes possa dar a
oportunidade de serem livres na sua sexualidade, na sua forma de
pensar, sentir e agir. Que não as desqualifique nem as coloque em
desvantagens em relação aos homens.
Foto da Capa De acordo com dados de uma pesquisa que integra o projeto
“Conectando Mulheres, Defendendo Direitos”, encomendado
... pela ONU Mulheres e financiado pela União Europeia, a
violência ainda é o principal entrave, principalmente contra
mulheres negras, de baixa renda e de orientação sexual que não
seja a heterossexual. No Brasil, ocorreram 1.463 feminicídios em
2023, uma alta de 1,6% em relação a 2022.
No mercado de trabalho, ainda há muita desigualdade.
crédito: @perolasdeitanhaem
vereadores, há duas mulheres eleitas. Quando se leva em
consideração toda a Grande São Paulo, essa quantidade Virtuosa
cai para 1 uma vereadora e 9 homens em cada um dos
parlamentos. Isso sem falar que as meninas são maioria Estética
no trabalho infantil e possuem taxas de analfabetismo Av. Rui Barbosa, 323
muito maiores em relação aos meninos
Centro
Para isso, convidamos mulheres de diversos setores
da sociedade para discutir e debater o que precisamos
melhorar e combater este infeliz disparate. Começamos
com a psicóloga infantil Sumaia Gonçalves, que nos
Câmara
conta sua experiência com as meninas adolescentes e as Municipal
descobertas e desafios que permeiam essa fase da vida. R. João Mariano
Convidamos também a pedagoga Andréa Aydar para Ferreira, 229
falar sobre a importância das mulheres no processo de
educação em nosso país. No campo das artes, trouxemos Vila São Paulo
um relato muito interessante de uma artista circense e
suas reflexões sobre o etarismo, na palavra de Sandra
Saraiva Milan. Aterje
Valorizando nossa linha editorial inclusiva e que respeita Odontologia
e valoriza a diversidade, apresentamos Itamirim, uma
R. João Mariano
liderança local indígena Tupi-Guarani e educadora da
Aldeia Tabaçu Reko Ypy, que produz eventos e atividades Ferreira, 188
culturais em sua comunidade, além da secretária e ativista Vila São Paulo
da ABRAI – Associação Brasileira Intersexo, Mayara
Natale, que explanou sobre a importância do respeito e
visibilidade que as mulheres intersexo deveriam ter.
CMTECE
Finalizando, trouxemos um artigo de Maria Elise Av. Condessa de
Rivas sobre a importância e a necessidade de discutir Vimieiros, 1.131
e colocar em prática as pautas feministas na sociedade. Centro
Os desafios são grandes, mas, quanto maior for o nível
das informações, menor será a resistência das pessoas no
sentido de questionar ou combater as pautas femininas.
Trata-se de uma missão a ser concluída por toda a
Rodoviária
sociedade, não só pelas mulheres, mas também pelos
Av. Harry Forssell,
homens e todas as classificações de gêneros. 1505 - Corumbá
Um grande abraço a todas e todos. Participe

Diagramação
Sua ocupação em cargos de nível superior nas empresas ainda é enviando sugestões, elogios e críticas. Boa leitura e até o
Pérolas de
Itanhaém
menor, embora a aptidão e capacidade sejam óbvias. Estatísticas próximo mês! Casa da
ainda apontam que o salário da mulher é proporcionalmente
menor do que o dos homens, fator que se acentua ainda mais Awdrey Sasahara Música
nos casos de mulheres negras. No cenário político a comparação resenhasociocultural@oicdrivas.com.br Rua Oscar Pereira da
entre mulheres e homens nos cargos executivos, legislativos e Silva, 202 - Belas Artes
judiciários também ainda é muito desigual. Em 2020, 22 cidades
da Grande São Paulo não elegeram nenhuma vereadora ou
(13) 99640 - 6877 tiveram apenas uma cadeira ocupada por uma mulher. A cada dez Droga Total
Av. Placides Ferreira, 1218
Gaivota

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O Jornal Resenha
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 OPINIÃO JORNAL EGBÉ 3

O que a vaidade tem a ver com o vento?

Para sabermos o que é um corpo endeusamento que, mesmo após a cara. A esse respeito, novamente a vaidoso, menos capacitado e mais
sem alma, basta que vejamos um. vida, quer que seu elevado mausoléu Bíblia deixa claro como deveriam megalômano.
Mas quem de nós precisaria saber guarde a vaidade que, disfarçada de proceder: “que a tua mão esquerda “O problema todo é que o
de alma se o assunto é vaidade? Boa “últimas honras”, deveria identificar- não saiba o que fez a tua mão ser humano é essencialmente
pergunta! Ao estilo socrático, vou se como “vaidades últimas”. Não direita” (Mateus 6:3). Logo, se vaidoso. Retirar bens de alguém
lançar outra: quanto da nossa alma por acaso, a Bíblia diz que “Tudo é verdadeira for a bondade do não é tão indelevelmente grave
o espelho reflete? Na década vaidade” (Eclesiastes 1:2), coração daquele que ajuda, “o teu quanto o ataque à vaidade desse
de 1960, Andy Warhol nos convidando a ficar Pai, que vê em secreto, ele mesmo mesmo alguém.” O ódio é parente
teria dito que “no vigilantes em relação te recompensará publicamente” consanguíneo da vaidade, muito
futuro, todos terão a nós mesmos (Mateus 6:4); e os que fazem algo solidários entre si face à igualdade
quinze minutos de e para o nosso para que sejam “glorificados pelos de suas resultantes. A Bruxa Má
fama”, mas não próprio bem. homens” não receberão nada, mas desenvolveu ódio mortal contra a
profetizou quanto Aliás, como certa suportarão o “galardão” da desonra enteada simplesmente por inveja
isso iria nos vez disse o papa espiritual. da beleza superior que o sincero
custar. As redes Francisco, esse É importante dizer que a vaidade Espelho revelou pertencer à
sociais chegaram. mal “deixa a alma não tem uma única faceta. Ela Branca de Neve. Mas por que,
Estamos num doente, porque se não se resume aos desejos de mesmo sabendo que não somos
tempo em alguém falsifica notoriedade e riqueza. A depender materialmente eternos, passamos a
que pessoas a própria vida do patamar em que o vaidoso se vida nos limitando, nos escondendo,
voluntariamente para aparecer, ache e de quão perverso seja para sofrendo em silêncio, tentando ser
se encarceram para fazer de levar a cabo o que for para obter o aos olhos dos outros o que sabemos
para fazer de seu sofrimento um conta, e todas as coisas que faz são que deseja, a necessidade do poder que não somos, fotografando uma
espetáculo para execrável deleite para fingir, por vaidade, mas no final será irresistível. Mas não o poder alegria que não sentimos, pintando
público – e tudo na vã esperança o que ganha? A vaidade é como uma de realizar algo que venha a tornar um modelo de arranjo familiar
de que sobrevivam na memória osteoporose da alma: os ossos do lado esse alguém notório por um legado que não temos, desejando a fama
coletiva pelo menos até a próxima de fora parecem bons, mas por dentro bom. É o poder no propósito vil de gratuita e o poder pelo poder? Para
edição de um reality suprassumo estão todos estragados. A vaidade nos poder se comportar como melhor falar a verdade, eu não sei. Mas eu
da desimportância para a verdade leva à fraude”. que os outros, de ter bajuladores por sei que os verdadeiros imortais se
da alma. Olhando esses “artistas da Mas vaidade não se contenta claque permanente, de imaginar- fizeram assim pela virtude de suas
fome de realidade” – e aqui já numa nunca e não tem limite. Como se imortal pelo volume de placas almas e não por meio de um plano
referência de Dostoiévsky – só também é ladina, recorrentemente com o seu nome em paredes que de ação. Os que se pautam pela
consigo imaginar que o medo de ser se traveste de solidariedade não são suas, de imaginar vaidade costumam não alcançar
nada enterra a possibilidade de ser e de empatia, no objetivo que será lembrado como o que ilusoriamente acham que
tudo que a alma humana é capaz de sorrateiro de lustrar- os grandes vultos que os imortalizará. Mas no fechar
fazer nascer e de imortalizar. se no reconhecimento se imortalizaram pela das cortinas, fria e duramente,
“Ao contrário do que público. Na pandemia da
Covid-19 exemplos não
riqueza do espírito e não
pelo desejo mesquinho
descobrem que foi tudo encenação
e que não há mais nada: era tudo
podemos imaginar, faltaram de pessoas que, a de uma alma involuída. vaidade. E assim como quem luta
até na virtude reside pretexto de “ajudar” o próximo,
utilizavam-se de cestas-básicas a
A propósito, Rui Barbosa,
com a sabedoria conhecida, disse
para aprisionar o vento, deixam
o tempo passar e se enterram no
vaidade.” Matias Aires, em oxigênio para obter imagens que certa vez: “Os chefes de Estado delírio tão visivelmente concreto do
sua clássica obra Reflexões sobre a servissem à pornográfica construção não se perdem pelo trabalho de vento que, no fundo, era a vaidade
vaidade dos homens, entre tantos da imagem de “bom samaritano”. O seus inimigos. Perdem-se pelos em estado gasoso.
ensinamentos, diz que “a vaidade negócio foi tão grave que, pelo Brasil, planos da sua própria ambição,
de serem [os homens] leais os inúmeros foram políticos, artistas e insuflados pela subserviência dos Rutinaldo Bastos,
faz obedientes; a vaidade de ditos influencers que perderam a noção seus cortejadores”. Arrematando o é vereador do
serem amados os faz benignos; e do criminosamente ridículo, expondo seu pensamento, a Águia de Haia município de
finalmente a vaidade, ou o amor as necessidades e mazelas alheias de afirma: “A vaidade e a ambição Itanhaém, advogado
à reputação, os faz virtuosos”. forma direta, mostrando tudo, para põem sempre a meta dos nossos militante, membro
Ao longo da sua existência o ser regozijo dos próprios egos, passando desejos muito além da nossa da Academia
humano é tão escravo do seu próprio atestado de ausência de vergonha na capacidade”. Ou seja, quanto mais Itanhaense de Letras.
 4 POLÍTICA
A censura direcionada àqueles que lutam contra injustiças
Na mesma semana em que vimos
o presidente Lula ser atacado por
defender o fim do genocídio do povo
palestino, que um homem negro
foi preso após ser esfaqueado por
um homem branco, uma Escola de
Samba ser constrangida por criticar
uma polícia passível de críticas, fui
julgada e penalizada na ALESP por
ter defendido que, para além de figuras
alegóricas, São Paulo continua a ser
palco de racismo institucional.
O Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar da ALESP votou
na terça-feira, 20 de fevereiro, a
absurda acusação por falta de decoro
parlamentar contra mim, após eu ter
questionado o racismo institucional na
falta de recursos destinada à Secretaria
de Políticas Para Mulheres, numa
reunião da Comissão Permanente
de Defesa dos Direitos da Mulher, à
própria secretária em exercício, durante
sua prestação de contas ao legislativo.
Vocês conhecem essa história. Ela
estampou os jornais no último ano.
Embora celebrada como grande
inovação, a secretaria de políticas para
mulheres não existia no caminho de
dinheiro e a secretaria não existiu
para além do nome num momento em
que vemos casos de violência contra
mulheres bater recorde no Estado,
que a situação de acesso à saúde básica
como ginecologia, obstetrícia e até pré-
natal falta em muitos pontos do Estado.
Quando falamos de mulheres negras,
cresce a fome, a violência urbana e a
morte de seus filhos e companheiros
em operações policiais que não
resolvem o problema da violência, mas
trazem ainda mais dor e violência aos
territórios periféricos. E é justamente
contra esse estado de coisas que estão
lutando as mulheres negras.
E por me somar a elas disse e repito
do absurdo que é ter uma secretaria
apenas ocupada de forma figurativa,
sem possibilidade de atuação efetiva
por falta de verba.
O processo de quebra de decoro
contra mim não é só uma violação à
minha atividade parlamentar, mas
também se insere no bojo da grande
ameaça aos distritos democráticos em
nome de um método de punição e
tortura. Ainda que o golpe planejado
pela extrema direita brasileira não
tenha se concretizado, a verdade é
que, quando se perseguem entidades
culturais, políticos em sua liberdade
parlamentar, processos arbitrários e até
mesmo exceções de pessoas no campo
créditos: Felipe Coelho
da segurança pública, significa que um
ESTADO democrático já não é tão
democrático assim.
Pessoas que lutam contra o racismo
muitas vezes enfrentam criminalização
e retaliação, especialmente em
sociedades onde as estruturas de poder
estão enraizadas em sistemas racistas.
Minha punição foi justamente uma
forma de reforçar as estruturas de poder
existentes e manter o status quo já que
fui punida por denunciar o racismo
institucional que atravessa governos e
se perpetua na gestão atual.
A falta de recursos para a Secretaria de
Políticas para Mulher, que é uma pasta
criada para cuidar da saúde, garantir
a segurança, capacitar e investir no
potencial econômico e criativo das
mulheres, é a clara negação de direitos
às mulheres negras, já que são essas
mulheres, em todos os indicadores
sociais, que enfrentam os maiores
desafios e desigualdades estruturais,
sendo, portanto, a principal destinatária
de políticas públicas.
A escolha de uma mulher negra para
ocupar tal pasta não impede que
desigualdades com base em raça sejam
perpetuadas. A ilusão de diversidade
que o governo do Estado promove com
a inclusão superficial de membros de
grupos minoritário se desfaz quando
se percebe que o simples fato de uma
mulher negra ocupar um espaço de
poder não traz automaticamente
impacto significativos na vida das
mulheres que esta deveria representar,
pois o racismo institucional segue
enraizado nas práticas governamentais.
A minha fala reflete não somente a
minha luta, mas de todas as mulheres
para que a sociedade reconheça como
o racismo se manifesta e meu desejo é
continuar trabalhando para reformar
e transformar as instituições para que
sejam mais equitativas e inclusivas para
todas as pessoas.
Contudo, a falta de letramento racial
suficiente para interpretar questões
raciais de maneira crítica e compreender
como o racismo opera nas estruturas
da sociedade continuará permitindo a
criminalização de esforços antirracistas
e retaliações como esta que sofri hoje.
Esse ataque, porém, só fortalece minha
determinação e necessidade de seguir
lutando contra o racismo e outras
formas de opressão contra as mulheres.
E a ampla mobilização das mais de
10 mil pessoas que pressionaram e
repudiaram a tentativa de nos tirar o
mandato nos manterá aqui firme na
luta.
Monica Seixas é Deputada
Estadual pelo Movimento Pretas
JORNAL EGBÉ
Mulheres na política!
Bora chegar!
Voltei! Para ter aquela conversinha com
vocês, especialmente vocês, “Minhas ma-
nas”.
As manas da escola, fábrica, banco, balcão,
doméstica, diarista, carteira, enfermeira,
estudante, somos tantas que tenho medo
de esquecer alguma, então digo a todas as
manas que estão aqui lendo estas linhas...
O papo de hoje é sobre nós na política!
Apesar das reformas realizadas nos últi-
mos anos para aumentar a nossa partici-
pação feminina na política, ainda perma-
necemos distantes dos lugares em que são
tomadas as decisões em prol da democra-
cia. Nosso país ocupa infelizmente a lista
dos parlamentos federais com menos mu-
lheres no mundo, por quê?
Você já se perguntou? Tenho algumas
opiniões sobre esse fato. Uma delas é falta
de recursos para combater a desigualdade
de gênero.
Violência política de gênero que acomete
muitas mulheres já inseridas na política.
Que nos assusta e afasta! Aquelas que
persistem na esfera política são confron-
tadas pela violência de gênero! Que pode
até tirar nossas vidas!!
As desigualdades podem ser verificadas
em diversas estatísticas, contudo, são ain-
da mais gritantes quando se trata da mu-
lher preta.
Esses fatores citados anteriormente para
nós são fundamentais, porém existem ou-
tras particularidades somente nossas, pois,
sendo mulher, o maior desafio é ter que
provar o tempo todo a nossa capacidade e
poder diante dos preconceitos, ser ouvida
sendo mulher, sem precisar falar alto, usar
calças ou engrossar a voz.
Falei sério, né? Mas é pura verdade, a nos-
sa insegurança deixa que outros façam po-
lítica e fiquem no nosso lugar, decidindo
as nossas vidas!
Por esse motivo, estou aqui para fortale-
cer vocês, manas, e me fortalecer também,
pois não podemos estar sozinhas, temos
que agregar uma boa formação política e
qualificar essa nossa participação, criando
condições para que nós possamos atuar
plenamente e dar grandes contribuições à
sociedade.
Esse nosso espaço de poder foi negado a
nós mulheres. Bora retomar!
Você acredita em seu potencial?
Pois acredite!! É seu, bota para fora, mu-
lher, e vem comigo fazer política de trans-
formação da sociedade!!
Profa. Poliana Nascimento é codeputa-
da estadual do Movimento Pretas
 IDENTIDADE
Itamirim enfrenta também o flagelo da
discriminação racial. A marginalização
ITAMIRIM, a pedra pequena histórica dos povos indígenas continua
a ser uma realidade dolorosa, e Itamirim
é uma voz incansável na luta contra essa
Com determinação e coragem, tornei-
injustiça.
me uma voz ativa na defesa dos direitos
Ela trabalha incansavelmente para
indígenas e na preservação da nossa
preservar a identidade cultural e
cultura. Mas em minha caminhada
os direitos territoriais de seu povo,
muitos tentaram me diminuir, por muitas
enfrentando adversidades com
vezes quase acreditei que ser pequena
coragem e resiliência. No cerne da
assim, como meu nome diz, era meu
luta de Itamirim está o profundo amor
destino: despejavam em mim o desejo de
pela Mãe Natureza e todos os seres
que nela habitam. Ela compreende
créditos: Awdrey Sasahara
que a saúde e a sobrevivência de seu
povo estão intrinsecamente ligadas à
preservação do meio ambiente. Assim,
Itamirim lidera esforços para proteger
as terras ancestrais dos Tupi Guarani
da exploração predatória, defendendo
a harmonia entre os seres humanos
e a natureza em meio aos desafios e
adversidades. Itamirim permanece como
um símbolo de esperança e respeito
pela cultura indígena. Sua dedicação
incansável à causa dos direitos humanos
e ambientais inspira não apenas sua
própria comunidade, mas também
pessoas de todo o mundo. Ela faz
lembrar da importância vital de honrar
me convencer que pequeno é menos.
e preservar as tradições ancestrais,
Me chamo, me chamam, os ancestrais me
inspira o trabalhar juntos para proteger
chamaram Itamirim (pedra pequena). e cuidar do planeta Terra.
Para saber o quanto meu chamado me
representa, pedi a Nhanderu Tupã para Minha história reflete a força e a
meu espírito voar e olhar de cima, para
resiliência das mulheres indígenas,
entender quem é esse ser que em mim
que enfrentam desafios com amor
habita. e determinação. Acredito que, ao
demonstrarmos amor ao próximo e à
Mulher Indígena originária, lidera luta Mãe Terra, podemos criar um mundo
pelos direitos dos guardiões da Mãe mais justo e sustentável para todos nós,
Terra, um exemplo de resistência e seres viventes, filhos de “Nhandetsy
amor pela natureza. Destaca-se como Ywy” (nossa Mãe Terra). Eu sou
um farol de resistência e amor pela sua Itamirim, Pedra Pequena.
cultura e pela Mãe Natureza. Itamirim,
Me chamo, me chamam, os ancestrais
uma líder por herança ancestral, enfrenta me chamaram Itamirim (pedra
desafios monumentais enquanto luta pequena). Para saber o quanto meu
pelos direitos de pertencimento do seu chamado me representa, Nhanderu
povo, imersa numa batalha contra a Tupã me fez voar, meu espirito voou,
discriminação de gênero e racial. Em olhou de cima, descobriu quem é esse
um mundo onde as vozes indígenas são ser que em mim habita: Itamirim.
frequentemente silenciadas, Itamirim
ergue sua voz com determinação, ela
ITAMIRIM, Mirian Dina dos
confronta a discriminação de gênero, que
Santos Oliveira, é mulher, indígena
muitas vezes marginaliza as mulheres Tupi-Guarani e educadora da
indígenas, negando-lhes o direito à Aldeia Tabaçu Reko Ypy. Formada
participação plena na sociedade. como pedagoga pela USP, atua como
pesquisadora e professora da rede pública
Por meio de sua liderança inspiradora,
estadual. Também atriz e cantora, utiliza
Itamirim desafia esses preconceitos
o teatro e a música como ferramentas de
arraigados, promovendo a igualdade de
gênero dentro e fora de seu território. Além educação. Produz eventos e atividades
da luta contra a discriminação de gênero, culturais em sua comunidade.
JORNAL EGBÉ 5
Uma mulher circense
Quando criança, tinha medo de ser menina, tinha medo
do que podia acontecer por ser menina, parecia que sempre
estava em desvantagem na corrida da vida. MOTOCICLISMO
Na adolescência, compreendi que, sendo menina pobre É COISA DE MULHER
de periferia, não teria o direito a muitas escolhas, talvez as
oportunidades fossem raras e não poderia me dar o direito
à displicência. Nesse mesmo período, comecei a entender a
força das mulheres que me cercavam: mãe, avós, tias, vizinhas Meu nome é Sthefany Fontegno,
e professoras. Mulheres que não desistiam de ser felizes, belas,
mais conhecida no meio esporti-
guerreiras e carinhosas, mesmo com a carga extra de funções
e maiores dificuldades financeiras nos ombros, só por serem
vo por Fany Wheeling, Rainha do
mulheres.
O tempo passou e hoje, quatro décadas depois daquele grau. Tenho 25 anos. Iniciei no
distante momento da infância, onde ser menina era
esporte em 2012, por influência
apavorante, vejo que, mesmo com todos os riscos físicos que
nós mulheres corremos diariamente, injustiças e julgamentos
preconceituosos que sofremos, ainda assim agradeço por ser dos meus pais, que já organiza-
MULHER. vam eventos e campeonatos de
Mulher que semeia carinho, empatia, cuidado, piedade,
generosidade, amor; mulher-fortaleza, coragem, consciência, Wheeling. Aos 13 anos de idade,
vigilância, determinação e resistência.
No mês em que comemoramos o Dia das Mulheres, após o falecimento do meu irmão
comemoração merecida e necessária, lamento ainda sermos
definidas como novas ou velhas.
de criação, que era piloto do es-
Eu, como mulher, filha, mãe, esposa, atriz-trapezista, artista, porte, interessei-me a aprender a
dona de casa, responsável pelas minhas escolhas e atitudes,
pilotar. A moto dele ficou comigo
lamento muito ver o etarismo forte e pulsante na sociedade.
Lamento ter que ouvir coisas do tipo: “Até que você está e comecei a treinar.
bem para a sua idade.”, “Nossa, achei que você fosse uma
menina, até ver de perto.”, “Já está na hora de vestir roupas Eu me tornei pentacampeã brasi-
que valorizem sua maturidade.” ou, a melhor de todas, “Seu
tempo acabou, tem que fazer coisas mais apropriadas para sua leira de wheeling e a primeira mu-
idade atual.”.
Acho curioso, em uma noite de insônia, ler no Google que
lher no mundo a competir sem
temos quatro tipo de idade: a idade cronológica, a idade a suspensão dianteira da moto
biológica, a idade psicológica e a idade social.
Se podemos ter quatro tipos de idade distintas, por que (bengalas e roda). No começo,
o etarismo é tão forte em nossa sociedade? E por que esse obviamente, houve muitas difi-
etarismo é tão cruel com as mulheres?
Se me fosse concedido um pedido nesta data, eu pediria que culdades pelo fato de ser mulher.
a juventude e a velhice de cada uma de nós sejam respeitadas,
entendidas e vividas plenamente. Que todas as mulheres Tive que aprender a mexer na
vivam as suas potencialidades ao máximo, e que esqueçam minha própria moto, pois, muitas
esse conceito de novo e velho, trocando esses antigos valores
vezes, mecânicos tentaram me
de tempo pela sensibilidade de sentir a potência e a vitalidade
de cada uma de nós, dentro do seu próprio tempo.
passar para trás, querendo ganhar
Ser artista é viver intensamente, mas ser mulher artista
circense é muito mais intenso. Quando me perguntam como em cima de mim.
é ser mulher de circo, logo me vêm à lembrança as muitas
mulheres firmes, determinadas e corajosas dentro e fora dos Então fui aprendendo a me virar
picadeiros. E digo que somos mulheres que estamos prontas
para recomeçar, que tiramos força das entranhas para superar e ganhar o meu espaço no espor-
tantas situações de adversidades na estrada da vida, que a
força física colocada no dia a dia nos faz sentir cada gota
te. Hoje em dia é um pouco mais
de suor que escorre pelo corpo com orgulho, que a emoção tranquilo, porém sempre tem al-
ao executar o truque perigoso em cada espetáculo nos faz
renascer, a emoção do público e a alegria das crianças nos faz gumas ocasiões que ainda têm
sentir a energia da admiração. E, quando as luzes se apagam um pouco de preconceito
e o picadeiro se silencia, é hora de saborear as palmas tão
merecidas a todas as mulheres. A Norisk lançou um capacete
Sandra Saraiva Milan é artista circense, arte-educadora, mãe
e esposa. Atua desde 1994 nas artes cênicas e desde 2000 meu, réplica Fany Wheeling, e a
integra o Circo Nosotros, companhia de circo-teatro que tem Califórnia Racing fez uma ja-
sede na cidade de Itanhaém.
queta personalizada para mim
créditos: Daniela Rivas
também. Hoje, além do esporte,
o motociclismo também é o meu
hobby. No final do ano de 2023
participei da corrida de moto ve-
locidade SUPERBIKE BRASIL
na categoria SuperSport escola
400 e, em 2024, além de fazer os
shows, também estou participan-
do das corridas.
Um recado às mulheres: se eu
consigo, você também, não desis-
ta, uma hora você vai chegar!
 6 DIVERSIDADE
Mulher, mãe e diversidade
Em um mundo onde a maternidade é
frequentemente associada a estereótipos
e padrões tradicionais, é essencial
reconhecer e celebrar a força e a resiliência
das mulheres que são mães e fazem
parte da comunidade LGBTQIAPN+.
Ser mulher, mãe e lutar por um mundo
mais igualitário para seus filhos é uma
jornada marcada por desafios únicos e
uma carga emocional intensa. Neste mês
das mulheres, é fundamental destacar
as vozes dessas mulheres que enfrentam
diariamente a luta pela aceitação, pelo
respeito e pela construção de um futuro
mais inclusivo para suas famílias.
É inegável a sobrecarga enfrentada por
mães que fazem parte da comunidade
LGBTQIAPN+, submetidas a uma
pressão absurda ao serem frequentemente
julgadas e culpadas por algo tão injusto
como o preconceito. Carregam consigo
o peso da culpa imposta por não se
adequarem aos moldes tradicionalmente
aceitos de maternidade, enquanto
batalham incansavelmente para garantir
que seus filhos tenham voz, espaço e
respeito em uma sociedade que muitas
vezes os rejeita.
Ser mulher em nossa sociedade já é
desafiador por si só, e ser mãe de pessoa
LGBTQIAPN+ nos impulsiona a lutar
ainda mais para que nossas famílias
sejam acolhidas e respeitadas. Como
lidar, então, com a realidade de gerar,
ver crescer, educar com amor e carinho
apenas para testemunhar nossas filhas,
nossos filhos e filhes sendo confrontados
por uma sociedade que os discrimina
e tenta restringi-los a um armário frio,
solitário e desprovido de amor?
Recusamo-nos veementemente
apresentar nossas filhas, nossos filhos
e filhes a esse tipo de sociedade hostil
e lutamos incansavelmente para
erradicar essa realidade de nossas vidas.
Encontramos apoio umas nas outras,
mulheres e mães que abraçam o amor
como bandeira e se lançam à batalha
armadas com conhecimento, respeito
e solidariedade mútua para fortalecer
aquelas mães que ainda não conseguiram
libertar-se do medo e da angústia
ao testemunhar seus filhos sendo
diariamente julgados e apontados.
Mulheres unidas em prol de uma luta
humanitária, unindo forças e se apoiando
mutuamente para garantir que suas
famílias não se tornem estatísticas de
sofrimento e exclusão. Lutamos juntas,
mães de pessoas LGBTQIAPN+, para
exigir do mundo o respeito que nossos
filhos merecem, permitindo-lhes nascer,
crescer e envelhecer com dignidade, assim
como qualquer outra pessoa cisgênero.
No mês da mulher, recusamos o simbolismo
superficial de flores e bombons. O que
almejamos verdadeiramente é que nossas
vozes reverberem pelo mundo, sendo não
apenas ouvidas, mas respeitadas por amar
e apoiar incondicionalmente nossos filhos,
nossas filhas e filhes. Desejamos persistir
como faróis, iluminando o caminho
para que todos reconheçam as lutas
enfrentadas pelas pessoas que amamos
e a necessidade premente de garantir-
lhes espaços e respeito em todas as
esferas: educação, saúde, trabalho, afeto,
socialização e em todos os ambientes onde
seus corpos não sejam alvo de escárnio,
mas sim celebrados como parte essencial
da diversidade humana, onde o respeito
sobrepuje o ódio e o amor triunfe sobre
tudo aquilo que os impeça de buscar a
a felicidade genuína.
Em meio aos medos que nos assolam, é
o amor que nos impulsiona. Unidos por
esse sentimento poderoso, seguimos
adiante, determinadas a moldar um
mundo onde a aceitação e a igualdade
prevaleçam. Que este mês da mulher
seja um lembrete poderoso de que
nossa luta é contínua e inabalável. Com
coragem e amor, seguiremos defendendo
os direitos e a dignidade de nossos
filhos LGBTQIAPN+ com fervor e
determinação.
O medo nos une, mas é o amor que nos
Crédito: @perolasdeitanhaem
move. (Mães Pela Diversidade)
Fernanda Nascimento é Mãe Pela
Diversidade, Orientadora Social e estudante
de Serviço Social
FEMINIZAÇÃO DA PROFISSÃO:
MULHERES E O SERVIÇO SOCIAL
O estudo das relações de gênero é
de fundamental importância para o
Serviço Social, sendo uma profissão de
acordo com a história feminina. Desde
os anos 1970, tem sido uma das cinco
profissões mais femininas do Brasil, e a
mais feminina desde os anos 1980.
Em 2007, uma pesquisa do PNADs
mostrou que 93,7% dos assistentes
sociais eram mulheres, contra 6,3% de
homens.
Segundo Iamamoto e Carvalho (Título
do livro, publicado pela EDITORA
X, em 2007), no Brasil o Serviço
Social se institucionaliza e se legitima
profissionalmente como um dos
recursos mobilizados pelo Estado e
pelo empresariado, como suporte da
Igreja católica na perspectiva do
enfrentamento e regulação da
questão social, a partir dos
anos de 1930.
Sendo que, desde a de gênero, a maternidade, o
emergência da profissão
do Serviço Social no Brasil,
notamos a predominância do
sexo feminino entre tais profissionais.
Assim, a predominância feminina
na profissão do Serviço Social em
seus primórdios está diretamente
conexa às características enraizadas e
culturalmente legitimadas ao âmbito
feminino, como podemos observar em
citação do memso livro, na página 172:
“ Aceitando a idealização de sua classe
sobre a vocação natural da mulher para
as tarefas educativas e caridosas, essa
intervenção assumia, aos olhos dessas
ativistas, a consciência do posto que cabe
à mulher na preservação da ordem moral
e social e o dever de tornarem-se aptas
para agir de acordo com suas convicções
e suas responsabilidades. Incapazes
de romper com essas representações,
apostolado social permite àquelas
mulheres, a partir da reificação daquelas
qualidades, uma participação ativa no
empreendimento político e ideológico
de sua classe, e da defesa faculta um
sentimento de superioridade e tutela em
relação ao proletariado, que legitima a
intervenção.”
Diante do exposto, fica evidente a
tendência de que o Serviço Social, em
JORNAL EGBÉ
suas protoformas, é uma profissão
eminentemente feminina, assim como
ficam luzentes quais os deveres e as
responsabilidades da mulher dentro da
sociedade.
Analisando a proporção nas áreas e
contextos em que a profissional de
Serviço Social está inserida, para
acompanhar, orientar, atender etc.,
observamos que, segundo o Censo
nacional de 2008, 82% da população
em situação de rua se declara homem,
e 18% se identifica como mulher.
Apesar de representarem uma minoria
nas ruas, as mulheres registram mais
casos de violência do que os homens.
Das ocorrências notificadas ao Sistema
Único de Saúde (SUS), 92% são
classificadas como físicas.
Além disso, o cotidiano
dessas mulheres é revelador
de desafios como as relações
cuidar dos filhos e a ausência
de um lar, o que se configura
de maneira particularizada em
relação à maioria da população de rua,
composta por homens.
A literatura acima aponta uma
importante contribuição na temática
das mulheres vivendo na rua, em
um panorama científico no qual
há predominância de publicações
relacionadas a cuidados médicos,
assistenciais quanto ao controle de
epidemias, doenças ginecológicas ou
sexualmente transmissíveis e uso de
drogas nesse segmento populacional.
Finalmente, cabe ressaltar que se este
enfoque serve para raciocinarmos a
questão da mulher em situação de rua,
não é reduzi-las a uma situação de
pura exclusão em função das condições
objetivas de existência, mas, além
disso, é preciso considerá-las, a partir
de uma perspectiva que as contemple,
desprovidas de condições mínimas de
existência material e com hipóteses
precárias para o resgate do sentido de
suas existências.
Dione de Souza Lima Nogueira
Assistente Social - Tutora do Curso
Serviço Social
 PLURALIDADE
CELEBRANDO A DIVERSIDADE FEMININA
E AS VÁRIAS POSSIBILIDADES DE SER MULHER
No infinito universo da feminilidade,
há formas plurais de ser mulher. Cada
uma dessas mulheres traz consigo
uma história individual e única,
mas também coletiva e geracional.
No Dia Internacional da Mulher,
é fundamental celebrar tantas
possibilidades e perspectivas que
compõem esta pluralidade feminina.
Diversas mulheres encontram sua
força como executivas, líderes,
empreendedoras, cientistas, artistas,
políticas, evidenciando que não há
limites que possam ser impostos para
sua realização e que estes espaços
podem ser ocupados por elas,
pois não há gênero para se
realizar profissionalmente.
Mas, diferente disto, há um
Chamado, um Sentido de Vida
que guia cada um e conduz a uma
realização pessoal e coletiva, tanto na
individualidade, como na pluralidade
de Ser Humano.
Outras mulheres encontram sua força
na maternidade e na dedicação à
família. Essas mulheres são alicerces
de seus lares e cuidam de seus filhos,
transmitindo-lhes amor, sabedoria e
maternagem.
Há ainda aquelas que congregam todas
essas possibilidades juntas e são mães,
esposas, companheiras, executivas,
líderes, cientistas. São o que desejam
ser e o que as realiza. Não encontram
limites para serem felizes e para
fazerem brilhar ao seu redor a luz que
trazem consigo.
Existem mulheres que desafiam as
normas de gênero, redefinindo, muitas
vezes, um padrão do que representa ser
feminina, do que significa socialmente
e convencionalmente ser mulher.
Estas mulheres se destacam por sua
força interna, pela luta pelos direitos
LGBTQIAPN+, desconstroem papéis
tradicionais e buscam a igualdade de
gênero em todos os âmbitos sociais.
Junto a estas mulheres há mães de filhos
e filhas LGBTQIAPN+, que lutam
pelos direitos daqueles que amam.
Essas mulheres acolhem seus filhos e
filhas em seus braços e corações, não os
diferenciando, pois não são diferentes,
mas únicos e seus.
Há mulheres que enfrentam as
adversidades com uma força interna
inigualável e incansável, que lutam
contra a violência de gênero, contra o
preconceito, a discriminação e todas
as formas de desigualdades. Estas
mulheres buscam um mundo mais
justo, inclusivo e igualitário.
Outras mulheres encontram sua força
apoiando umas as outras, em forma
de solidariedade. Compartilham suas
experiências, suas vidas. E, assim,
fortalecem umas as outras para que
continuem seguindo em frente.
Em um mundo onde as mulheres
tentam ser invisibilizadas
e subestimadas, em que
a desigualdade de gênero
tenta prevalecer acima de
qualquer outra possibilidade,
é fundamental celebrar as várias
possibilidades de Ser Mulher. É crucial
honrar as lutas e conquistas alcançadas
por todas elas. Que esta data seja
sempre um lembrete da força interna,
pessoal, coletiva e geracional destas
mulheres. Força esta que lhes permite
serem e se realizarem no mundo de
várias maneiras, sendo sempre mulher,
não de forma convencional, mas de
forma única e intrínseca a cada uma,
respeitando sua individualidade e
subjetividade.
Andreia Araujo - Psicóloga e
Supervisora Clínica de Atendimentos
Psicológicos. Doutoranda e Mestre
no Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Saúde da Universidade
Metodista de São Paulo, UMESP.
JORNAL EGBÉ 7
MULHERES
INTERSEXO EXISTEM!
É muito importante dar visibilidade
a todas as mulheres, especialmente
durante o mês da mulher. Neste
período, é essencial lembrar das
mulheres intersexo, que muitas vezes
são invisibilizadas. É fundamental
reconhecer que não somos anomalias.
Algumas de nós podem ser mães
biológicas, enquanto outras têm filhos
afetivos. Sou Mãe e, apesar de todos
os desafios enfrentados pela sociedade,
felizmente minha filha é meu orgulho
e sei que ela tem muito orgulho de sua
Mãe.
Existem diferentes variações em nossa
condição biológica, incluindo genital
ambígua e órgãos internos diversos.
Infelizmente, enfrentamos desafios
como fetichização devido ao
machismo e à pornografia que
expõe nossos corpos de maneira
desrespeitosa. Além disso, somos
vítimas de alienação parental devido
à nossa condição e até mesmo de
violência doméstica. Muitas mães
que não são Intersexo e têm bebês
Intersexo também enfrentam
violência obstétrica. Desde o início
de nossas vidas, nossos direitos
são violados, inclusive por meio de
cirurgias estéticas realizadas sem
nosso consentimento para atender a
padrões de genitais.
É fundamental ressaltar que a falta
de informação afeta diariamente
a vida de uma pessoa Intersexo.
Por isso, é importante unir forças
com outras mulheres para ampliar
a conscientização e garantir que a
realidade das mulheres Intersexo
seja reconhecida e respeitada. Juntas,
podemos promover uma maior
compreensão e empatia em relação
às experiências únicas e desafios
enfrentados pelas mulheres Intersexo.
É essencial promover a conscientização
sobre a realidade das mulheres
Intersexo e lutar por seus direitos e
respeito.
Mayara Natale, Mulher Intersexo
Secretaria e Ativista da ABRAI –
Associação Brasileira Intersexo
 8 CIDADE
(artigo adaptado do livro Mulheres na Educação, p. 144-157, 2024, Editora Leader)
Comecei a trabalhar cedo, na condição
de “menor” de idade. Fui registrada
como “notista”, em um comércio de
engarrafadora de bebidas. Precisavam
de uma menina que já houvesse obtido
o diploma de datilografia, morasse no
bairro, estudasse à noite, tivesse boa
caligrafia e escrevesse bem.
Já na faculdade, fui admitida como
encarregada do Cadastro de uma
Entidade Sindical e tinha a função
de ler e revisar os processos jurídicos,
com relação às questões ortográficas e
linguísticas. Curiosamente, até aqui, havia
chegado às empresas por classificados
que chamavam por “moças”, apesar da
predominância de homens nos postos de
supervisão e de chefia, conforme não foi
difícil constatar.
Entretanto, meu sonho era ser professora!
Coisa que consegui alcançar quando
completei 44 anos de idade. Na sala dos
professores havia muito mais mulheres
do que homens. Umas bem jovens,
recém-formadas; outras aparentavam
estar na mesma faixa etária que eu;
outras pareciam ainda mais “maduras”.
Com o passar dos anos, tinha outro
sonho: utilizar a literatura, notadamente
a poesia, como fator de humanização e
de resgate de valores para a formação
de uma academia estudantil de letras na
escola. Coisa que aconteceu oficialmente
no ano de 2005 quando nasceu a
Academia Estudantil de Letras (AEL).
A Academia Estudantil de Letras
(AEL) é uma autêntica academia de
letras, com as devidas adaptações para o
público estudantil. Dentro da dinâmica
do projeto, são os próprios acadêmicos
que escolhem um autor da literatura para
representar na Academia. Na AEL, os
estudantes fazem pesquisas e realizam
seminários sobre os seus amigos literários,
compartilham o conhecimento, passam
a perceber o ponto de vista do outro e
desenvolvem a autonomia. A forma de
participação foi organizada em três ciclos:
Alfabetização, Interdisciplinar e Autoral.
Com o tempo, os mais experientes vão
assumindo a titularidade das cadeiras
pretendidas.
Os encontros literários buscam privilegiar
os aspectos lúdicos presentes na leitura.
AEL: um projeto, uma paixão
As atividades de teatro, também
desenvolvidas no projeto, procuram
trazer outras formas de expressão
para os gêneros literários trabalhados,
permitindo que os estudantes expressem
a literatura de forma adaptada pelas
artes visuais, dança, música e artes
cênicas. Os encontros literários e de
teatro acontecem fora do horário regular
das aulas, pois é optativo participar do
projeto. Os educandos que participam da
AEL, em sua maioria, permanecem no
projeto até a conclusão dos seus cursos.
Ao idealizar o projeto Academia
Estudantil de Letras (AEL), ao
vislumbrar a possibilidade de existir
no ambiente escolar uma academia de
letras para os estudantes, não sabia o
quanto estava por ser desvendado ou o
quanto havia ainda para eu descobrir e
aprender. Soube disso à medida em que
comentários e perguntas começaram a
ser formulados em sala de aula:
- Professora, menino pode participar?
Meu pai falou que esse negócio de
poesia é coisa de menina! Uma menina,
realmente, foi a primeira a se apresentar
para participar do projeto e ficou sozinha
comigo durante alguns meses, nas
reuniões que aconteciam no pós-aula,
semanalmente.
Senti a necessidade de priorizar a
desconstrução do conceito enraizado há
séculos de que homens e mulheres gostam
de objetos distintos, de que meninas e
meninos não brincam com os mesmos
brinquedos, de que escolhem como
cores preferidas e usam na vestimenta
as estabelecidas pela sociedade como
próprias “de menino” ou “de menina”
e que, portanto, “se poesia é coisa de
menina, como poderia eu esperar que
os meninos viessem integrar o projeto
AEL, em implantação na escola?
Não raramente, meninos se identificavam
JORNAL EGBÉ
com mulheres; da mesma forma, meninas
se identificavam com homens. Diziam,
sem qualquer pudor ou constrangimento:
- Sou Vinícius de Moraes! – e era uma
adolescente, de 13 anos, falando.
- Sou Cora Coralina! – e era agora um
menino falando, antes de realçar que a
“sua” autora tinha começado a carreira de
escritora já “velhinha”, com mais de 70
anos, e que o no poema “Cora Coralina,
quem é Você”, contava um pouco da vida
dela.
O processo de escolha do patrono ou
patrona de uma academia estudantil de
letras favorece que a comunidade tenha
voz para se fazer representar no projeto.
Dessa forma, pouco a pouco, nomes de
escritoras (mulheres) foram se juntando
aos nomes de escritores (homens), para
nomear as novas academias.
Na fundação da primeira academia
estudantil de letras, em 2005, apenas
Adélia Prado, Clarice Lispector e
Cecília Meireles foram escolhidas pelos
acadêmicos como suas amigas literárias;
vinte e dois estudantes optaram por
autores homens, naquela ocasião.
Atualmente, no rol de 165 academias
estudantis de letras fundadas em São
Paulo, em todas as regiões, 60 mulheres
escritoras foram escolhidas como
patronas. A importância da abordagem
das questões de gênero por meio da
literatura é eficiente, eficaz e relevante.
Em 2015, o Secretário Municipal de
Educação e também Presidente da
Academia Paulista de Letras (APL),
professor Gabriel Chalita, convidou-
me a integrar a equipe da Secretaria
Municipal de Educação (SME),
para iniciar a expansão da Academia
Estudantil de Letras para toda a cidade.
Maria Sueli Fonseca
Gonçalves
é escritora, com dois livros de literatura
infantil publicados e um terceiro em fase
de finalização. Trabalhou na Prefeitura
Municipal de São Paulo, como professora
do ensino fundamental e médio e na
Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo.
 EDUCAÇÃO
EDUCA I
«Sed ut perspiciatis unde omnis iste
natus error sit voluptatem accusan-
tium doloremque laudantium, totam
rem aperiam eaque ipsa, quae ab illo
inventore veritatis et quasi architec-
to beatae vitae dicta sunt, explicabo.
Nemo enim ipsam voluptatem, quia
voluptas sit, aspernatur aut odit aut
fugit, sed quia consequuntur magni
dolores eos, qui ratione voluptatem
sequi nesciunt, neque porro quis-
quam est, qui dolorem ipsum, quia
dolor sit, amet, consectetur, adipisci
velit, sed quia non numquam eius
modi tempora incidunt, ut labore
et dolore magnam aliquam quaerat
voluptatem. Ut enim ad minima ve-
niam, quis nostrum exercitationem
ullam corporis suscipit laboriosam,
nisi ut aliquid ex ea commodi con-
sequatur? Quis autem vel eum iure
reprehenderit, qui in ea voluptate
velit esse, quam nihil molestiae con-
sequatur, vel illum, qui dolorem eum
fugiat, quo voluptas nulla pariatur?
[33] At vero eos et accusamus et
iusto odio dignissimos ducimus, qui
blanditiis praesentium voluptatum
deleniti atque corrupti, quos dolo-
res et quas molestias excepturi sint,
obcaecati cupiditate non provident,
similique sunt in culpa, qui officia
deserunt mollitia animi, id est la-
borum et dolorum fuga. Et harum
quidem rerum facilis est et expedi-
ta distinctio. Nam libero tempore,
cum soluta nobis est eligendi optio,
cumque nihil impedit, quo minus id,
quod maxime placeat, facere possi-
mus, omnis voluptas assumenda
est, omnis dolor repellendus. Tem-
poribus autem quibusdam et aut
officiis debitis aut rerum necessita-
tibus saepe eveniet, ut et voluptates
repudiandae sint et molestiae non
recusandae. Itaque earum rerum hic
tenetur a sapiente delectus, ut aut
reiciendis voluptatibus maiores alias
consequatur aut perferendis dolori-
bus asperiores repellat.»
educa II
«Sed ut perspiciatis unde omnis iste
natus error sit voluptatem accusan-
tium doloremque laudantium, totam
rem aperiam eaque ipsa, quae ab illo
inventore veritatis et quasi architecto
beatae vitae dicta sunt, explicabo.
Nemo enim ipsam voluptatem, quia
voluptas sit, aspernatur aut odit aut
fugit, sed quia consequuntur magni
dolores eos, qui ratione voluptatem
sequi nesciunt, neque porro quis-
quam est, qui dolorem ipsum, quia
dolor sit, amet, consectetur, adipisci
velit, sed quia non numquam eius
modi tempora incidunt, ut labore et
dolore magnam aliquam quaerat vo-
luptatem. Ut enim ad minima ve-
niam, quis nostrum exercitationem
ullam corporis suscipit laboriosam,
nisi ut aliquid ex ea commodi conse-
quatur? Quis autem vel eum iure re-
prehenderit, qui in ea voluptate velit
esse, quam nihil molestiae consequa-
tur, vel illum, qui dolorem eum fugiat,
quo voluptas nulla pariatur? [33] At
vero eos et accusamus et iusto odio
dignissimos ducimus, qui blanditiis
praesentium voluptatum deleniti at-
que corrupti, quos dolores et quas
molestias excepturi sint, obcaecati
cupiditate non provident, similique
sunt in culpa, qui officia deserunt
mollitia animi, id est laborum et do-
lorum fuga. Et harum quidem rerum
facilis est et expedita distinctio. Nam
libero tempore, cum soluta nobis est
eligendi optio, cumque nihil impedit,
quo minus id, quod maxime placeat,
facere possimus, omnis voluptas as-
sumenda est, omnis dolor repellen-
dus. Temporibus autem quibusdam
et aut officiis debitis aut rerum neces-
sitatibus saepe eveniet, ut et volupta-
tes repudiandae sint et molestiae non
recusandae. Itaque earum rerum hic
tenetur a sapiente delectus, ut aut rei-
ciendis voluptatibus maiores alias
consequatur aut perferendis dolori-
bus asperiores repellat.»
«Sed ut perspiciatis unde omnis
iste natus error sit voluptatem
accusantium doloremque laudan-
tium, totam rem aperiam eaque
ipsa, quae ab illo inventore verita-
tis et quasi architecto beatae vitae
dicta sunt, explicabo. Nemo enim
ipsam voluptatem, quia voluptas
sit, aspernatur aut odit aut fugit,
sed quia consequuntur magni do-
lores eos, qui ratione voluptatem
sequi nesciunt, neque porro quis-
quam est, qui dolorem ipsum, quia
dolor sit, amet, consectetur, adi-
pisci velit, sed quia non numquam
eius modi tempora incidunt, ut
labore et dolore magnam aliquam
quaerat voluptatem. Ut enim ad
minima veniam, quis nostrum
exercitationem ullam corporis sus-
cipit laboriosam, nisi ut aliquid ex
ea commodi consequatur? Quis
autem vel eum iure reprehende-
rit, qui in ea voluptate velit esse,
quam nihil molestiae consequatur,
vel illum, qui dolorem eum fugiat,
quo voluptas nulla pariatur? [33]
At vero eos et accusamus et ius-
to odio dignissimos ducimus, qui
blanditiis praesentium voluptatum
deleniti atque corrupti, quos do-
lores et quas molestias excepturi
sint, obcaecati cupiditate non pro-
vident, similique sunt in culpa, qui
officia deserunt mollitia animi, id
est laborum et dolorum fuga. Et
harum quidem rerum facilis est
et expedita distinctio. Nam libero
tempore, cum soluta nobis est eli-
gendi optio, cumque nihil impedit,
quo minus id, quod maxime place-
at, facere possimus, omnis voluptas
assumenda est, omnis dolor repel-
lendus. Temporibus autem qui-
busdam et aut officiis debitis aut
rerum necessitatibus saepe eve-
niet, ut et voluptates repudiandae
sint et molestiae non recusandae.
Itaque earum rerum hic tenetur a
sapiente delectus, ut aut reiciendis
JORNAL EGBÉ 9
O papel da mulher
na educação
Falar sobre a importância da mulher na
educação transcende uma abordagem
sobre igualdades. Sua relevância e atuação
se fazem presentes desde os primórdios,
exercendo um papel incontestável e vital na
construção da sociedade.
A ela, o poder de trazer à vida um novo ser,
a ser também por ela nutrido, protegido e
orientado nas bases dos princípios éticos e
morais.
No Brasil, as primeiras escolas para
meninas surgiram no século XIX, em 1827,
logo após a Independência do Brasil, com
a finalidade de prepará-las para cuidar de
casa e da família.
No início do século XX, a Educação
Primária feminina ainda atendia às
demandas domésticas. A Educação
Secundária ficava restrita ao magistério
– formação de professoras para os cursos
primários.
Ao protagonizar sua atuação profissional,
acessando novos conhecimentos, tomando
decisões, sua importância se evidencia e
se amplia tanto na esfera social quanto
institucional.
Para além de sua capacidade intelectual e de
liderança, a visão feminina potencializada
por sua sensibilidade e facilidade em
realizar múltiplas competências, coloca-a
em um patamar de reconhecimento tanto
na formação e transformação de si própria,
como na do outro.
Sua representatividade no mundo
acadêmico tem se tornado exponencial. O
meio corporativo também se beneficia pela
excelência em sua atuação e liderança.
Seja como mãe, como profissional, a mulher
expressa sua imprescindibilidade em todas
as áreas da vida da humanidade.
Na educação, berço de todas as outras
profissões, é um vetor de transformação: a
grande mestra que orienta o ser humano
para a vida!
Andréa Aydar
Pedagoga com especialização em Didática
Geral, Educação Especial e Educação,
Arte e História da Cultura. Professora
de Educação Infantil e Fundamental I
da Rede Municipal de Ensino. Pedagoga
Sistêmica pelo Instituto Hellen Vieira da
Fonseca. Pós-graduada em Pedagogia
Sistêmica pela Innovare em parceria
com a Universidade Multicultural
CUDEC-México. Advogada e Diretora
da APROFEM. Coordenadora do livro
Mulheres na Educação.
10 SAÚDE
As fases de uma mulher
A reviravolta hormonal que ocorre com
a puberdade transforma fisicamente
uma menina em mulher.
A capacidade reprodutiva que se
instala com a ovulação e toda a
cascata hormonal decorrente traz
transformações no corpo e na mente.
Inicialmente a cabeça é de menina e o
corpo já é de mulher.
Isso gera novos sentimentos, novas
sensações e contestações típicas da
adolescência.
Com o tempo, os pensamentos e
objetivos têm outro foco.
Chegamos às cólicas menstruais, à
tensão pré-menstrual, à sexualidade
aflorada e muitos medos.
Medo de uma gravidez indesejada,
medo de infecções sexualmente
transmissíveis e medo das mudanças
corporais.
O tempo passa e a cabeça vai mudando.
Chegam os relacionamentos, as
alegrias e as decepções.
As preocupações com o corpo se
misturam com o medo de não poder
engravidar ou com a possibilidade de
engravidar.
Os relacionamentos
vêm e vão.
A s
atrações e rejeições também.
De repente surge uma gravidez e a
sensação de ter gerado um novo ser
dentro de si, o que abala a estrutura
física, emocional e social da mulher.
A alegria se mistura com o medo do
desconhecido.
Então surgem mais desconfortos : as
náuseas e vômitos, as dores abdominais,
os sangramentos inesperados, a
dificuldade de locomoção e o eterno
cansaço.
É nítida a diferença de comportamento
da mulher antes, durante e depois da
gravidez.
O temor pela hora do parto é o temor
pelo desconhecido.
Não há como fugir dele, porém o mesmo
pode ser amenizado com as orientações
recebidas no acompanhamento pré-
natal e com o apoio de amigos e
familiares.
Enfim, chega o dia do parto e a vida da
mulher jamais será a mesma.
A magia do nascimento de um filho
novamente abala a estrutura da mulher.
A cumplicidade criada entre mãe e
filho durante a amamentação se torna
algo indestrutível.
Dá mesma forma, as noites mal
dormidas, as cólicas e a febre parecem
ser eternas.
Os filhos crescem, a vida passa e chega
uma nova fase.
A menopausa, conceituada como a
última menstruação na vida da mulher,
mostra o fim de sua fase reprodutiva.
Traz consigo as ondas de calor, a
insônia, a irritabilidade, a apatia.
A pele e a vagina se tornam ressecadas
e parece que a vida fica mais pálida.
Também aparecem novas
preocupações: o câncer, a
osteoporose, as doenças
metabólicas, etc..
Enfim, são fases a serem vividas.
De preferência com tranquilidade,
pois todas valem a pena.
Cada uma com suas
particularidades.
Bruno Francisco Tonini
Barbosa é médico ginecologista,
obstetra e educador sexual
DOFONA
A estimativa da Organização
Mundial da Saúde (OMS)
indica que aproximadamente 720
milhões de indivíduos ao redor
do mundo enfrentam transtornos
mentais, o que corresponde
a cerca de 10% da população
global. O Brasil se destaca na
América Latina como o país com
a maior incidência de ansiedade
e depressão, afetando quase 19
milhões de pessoas. Além disso,
em um ranking com 64 países,
o Brasil ocupa o terceiro pior
índice de saúde mental, ficando
atrás apenas do Reino Unido e
da África do Sul, com 11 pontos
abaixo da média global.
Atualmente, observa-se
uma diminuição nos tabus
relacionados à busca por ajuda
profissional em questões de saúde
mental, provavelmente devido
ao grande número de pessoas
afetadas. Anteriormente, havia
uma forte resistência, pois muitos
consideravam procurar psicólogos
ou psiquiatras como um sinal de
fraqueza, algo que era visto com
desdém pela sociedade, levando
as pessoas a tentarem superar
os sintomas sem assistência
profissional.
Os transtornos mentais,
tanto psiquiátricos quanto
psicológicos, envolvem alterações
no pensamento, nas emoções
e/ou no comportamento.
Embora variações leves nesses
aspectos sejam comuns, quando
causam angústia significativa
ou interferem na vida cotidiana,
são reconhecidos como doenças
mentais ou transtornos de
saúde mental. Os efeitos dessas
condições podem ser temporários
ou duradouros. É crucial
compreender que a saúde mental
é essencial para o bem-estar geral
JORNAL EGBÉ
e que buscar ajuda profissional
pode ser fundamental para
lidar com esses desafios.
Mas como saber se precisamos
de ajuda profissional? O
primeiro passo é identificar se
os sintomas, como tristeza ou
ansiedade, são persistentes e se
estão afetando a vida pessoal
e profissional. Se sim, buscar
ajuda profissional é necessário.
Analisar a gravidade dos
sintomas, sua duração e o
impacto na vida diária são
aspectos importantes a serem
considerados.
Todos nós enfrentamos
altos e baixos na vida, mas
é importante observar
como reagimos diante das
frustrações e tristezas.
Muitas vezes, esses
sentimentos, associados
ao estresse da vida,
podem contribuir para o
desenvolvimento de doenças
mentais. Somos seres
complexos, influenciados
por aspectos biológicos,
psicológicos e sociais, e
a saúde mental não deve
ser dissociada de hábitos
saudáveis, como a prática de
esportes, horas adequadas
de sono, tempo para lazer,
alimentação saudável, redução
da exposição às redes sociais e
até mesmo como e com quem
se relaciona são alguns fatores
que impactam nosso bem-
estar mental.
Sumaia Gonçalves
(CRP:06/60052)
é Psicóloga, pedagoga, bacharel
em Matemática e mestranda em
Tecnologias da Educação, com
ampla experiência com o público
infantojuvenil.
 SOCIEDADE
Onde estavam as mulheres negras no contexto
histórico do Dia 8 de março?
Muito se fala do episódio que deu
origem à data: um protesto em 1857
em que operárias brancas foram
feridas e mortas numa fábrica. Mas
sabe o que também acontecia em
1857? ESCRAVIDÃO. Sim, até
nos Estados Unidos. Lá, a abolição
só aconteceu em 1865, e, no Brasil,
apenas em 1888.
Essa introdução foi pra explicar que
as pautas e demandas de mulheres
brancas e negras, desde sua origem,
não são as mesmas. E que a própria
imagem de luta e emancipação é
diferente.
Enquanto mulheres brancas lutavam
para ter o direito de trabalhar fora de característica está presente em outras
casa, mulheres negras trabalhavam
dentro das casas das mulheres brancas,
escravizadas, há várias gerações, Jô Gomes, jornalista, pós-graduada
inclusive.
Ainda assim, as mulheres negras, e mestra em Dança pela Universidade
africanas, do continente ou da Federal da Bahia.
Diáspora, sempre lutaram pela
emancipação de seu povo. Povo.
Homens e mulheres. Esse é um
princípio matriarcal: o equilíbrio
como fonte e razão da luta. Equilíbrio
do masculino e feminino, na natureza,
no corpo, na vida pública.
São valorizadas e respeitadas pela sua
capacidade de gerar e nutrir vidas,
literal e metaforicamente.
O Matriarcado é um sistema
desenvolvido em África e que nada
tem a ver com desprezar homens
ou superioridade feminina. É um
sistema de complementaridade entre
masculino e feminino, compreendendo
o protagonismo feminino na geração
de uma vida e no quanto essa
esferas da vida em sociedade.
em Gestão de Políticas Públicas de Gênero
e Raça pela Universidade de Brasília
Música, comunicação e cura!
Olá, sou José Roberto. Na minha
comunidade religiosa de matriz afro-
brasileira, liderada por Mãe Maria
Elise Rivas, sou conhecido como
Tata. Sou bacharel e especialista
em Religiões Afro-Brasileiras,
pesquisador de tradições e música
africana e afro-brasileira, além de ser
músico percussionista e mestrando em
musicoterapia. Há alguns anos, atuo
como arte-educador, desenvolvendo um
projeto de inserção da música africana,
indígena e afro-brasileira junto a grupos
infantojuvenis na cidade de Itanhaém.
Esse projeto visa
cumprir as Leis
10.639 e 11.645,
que tornam
obrigatório
o ensino da
história e cultura
a f ro -br a si lei r a
e indígena na
educação básica
brasileira. Essa
iniciativa é ensinar as bases
crucial para
compreendermos
nossa identidade,
origens e musicais, como as da
ancestra lidade,
servindo como
uma ferramenta
fundamental
contra o racismo e qualquer forma de
discriminação. Segundo o censo de
2022, Itanhaém possui uma população
de pretos e pardos de 47,29%, o que
representa quase metade dos habitantes
da cidade.
A relevância da música negra na nossa
sociedade é incontestável e vital.
Ignorar a herança negra ao pensar em
música é simplesmente impensável. Ela
se faz presente em uma ampla gama de
gêneros musicais no Brasil, tais como
samba, maracatu, coco, baião, xaxado,
música gospel, música ancestral de
terreiro, brega, funk, jongo, além das
belíssimas canções de Roberto Carlos
etc. Destacar esses traços culturais,
sociais e familiares é essencial para
a comunicação, conforto, saúde e
aprendizado. Esse é precisamente o meu
propósito. Atuo como musicoterapeuta
voluntário (atualmente mestrando) na
JORNAL EGBÉ 11
APAE de Itanhaém, empregando a
música como ferramenta de memória
cultural familiar para fomentar
comunicação e conforto, geralmente de
forma coletiva, envolvente e unificada.
Embora as abordagens individuais
sejam valiosas e surpreendentes
(especialmente pela capacidade e
genialidade de alguns alunos), o
enfoque no coletivo é fundamental,
e os resultados terapêuticos são
incrivelmente significativos.
Além da APAE, desenvolvo o que
denomino Projeto
Nzila, uma palavra
em Quicongo (língua
originária do Congo,
Império e atual país do
continente africano)
que significa “origem”.
O objetivo do projeto é
introduzir os alunos ao
universo da percussão
africana, com ênfase
no tambor djembe,
rítmicas tradicionais
do djembe, oriundas
de renomadas escolas
Guiné, Mali, Costa
do Marfim e Burkina
Faso e explorar e
valorizar a rica cultura
musical africana, incluindo as chamadas
músicas de acalanto (canções infantis e
de ninar).
Além disso, busca-se fomentar a
criatividade e expressão dos alunos por
meio da música.
Atualmente, realizo esse trabalho de
forma pro bono (sem cobrar) no Teatro
Galpão das Artes, com um grupo de
jovens dedicados e surpreendentes
aprendizes. Estou, na medida do
possível, expandindo os locais e o
número de participantes que se engajam
nessa ideia de estudo e conhecimento
de nossas origens. Muito obrigado!
José Roberto (Tata)
Musico educador
12 MULHER
SE EU TE CONTASSE QUE O SAMBA VEIO DA MACUMBA!?
(artigo adaptado do livro Os invisibilizados,
2018, Arché Editora, p. 68-70)
Você só conhecia a macumba de
terreiro, mas havia também a macumba
musical. Um estilo musical oriundo
dos terreiros que se lançou a salões,
carnavais de rua e música em rádios. A
macumba musical, que esteve presente
na sociedade carioca durante 50
décadas, fica em evidência entre 1880
a 1920. Nestas décadas, ela aparece
com mais frequência em bailes de
casa de família, em bailes de clubes,
carnavais de ruas e na Festa da Penha.
A macumba musical que começou no
entorno da Praça Onze, na Cidade
Nova, na casa das Tias baianas,
mulheres negras de terreiro, se espraiou
pela cidade carioca. Era lá na Praça
Onze onde se instalaram os iorubás
oriundos da Bahia, bantos do norte e
nordeste, bem como do próprio Rio
de Janeiro, os muçulmis, entre outras
etnias, que engrossavam o caldo da
mestiçagem carioca.
Foi neste meio que surgiram as
macumbas musicais e depois se
alastraram para os carnavais, clubes e
Festa da Penha. Uma música mestiça,
que compôs o protossamba.
Foi um gênero musical muito apreciado
como tal, que tem bem delimitada,
pela modernidade, a linha divisória
entre macumba religiosa e musical.
Ser macumba religiosa ou musical
não era uma preocupação a princípio
de seus praticantes e simpatizantes,
no entanto a força da modernização
não passou despercebida e impôs
suas regras e limites do que era o
que às macumbas.”A macumba
musical nasce como um
produto das comunidades
tradicionalistas, entre elas as
casas das Tias baianas; assim,
tinham a marca do povo
de origem, africanos(as),
em um contexto religioso,
com músicas de composição
coletiva.” Isto muda com
as influências da modernidade,
ocasionando, inclusive, alteração de
comportamento de alguns membros
do povo de origem. Esta transformação
foi o que levou à apropriação da música
Pelo Telefone, o primeiro samba, por
Donga, um negro, e o consequente
registro da mesma como sendo de sua
autoria. O reflexo dos novos tempos
penetrou as sociedades tradicionalistas.
A novidade da gravação do primeiro
samba e a consequente introdução
do mesmo como música ao mesmo
tempo afirma o samba e nega a
macumba musical. Isto ocorria dentro
de um grande contexto sociopolítico
e econômico, que envolvia o final da
escravidão, a era do trabalho assalariado,
processo de industrialização e a
construção da identidade nacional.
A ideia de uma vida proletária com
base na profissionalização somada
ao ideal nacionalista foi a base para
os novos padrões de vida, inclusive
da música, aos quais os músicos das
comunidades-terreiros não ficaram
alheios. A macumba musical
também passou por estes momentos
de transição, ora sendo aceita, ora
sendo negada por seu vínculo com
as comunidades tradicionalistas/
primitivas dirigidas pelas mulheres
negras. A macumba não era algo
qualquer no universo musical
carioca. Ela chegou a ser observada
por músicos eruditos como Villa-
Lobos, que a colocou entre as
músicas folclóricas brasileiras como
gênero de Donga, segundo ele. Se
Villa-Lobos afirmou ser um gênero
a macumba, o gênero de Donga, um
negro, fica difícil alguém afirmar ao
contrário.
Mas o samba ganha espaço e deixa
a macumba harmonizada e não
mais menciona o gênero macumba.
Esta mudança estava associada ao
ideal nacionalista que elencara o
samba como música nacional e com
certeza isto teve impacto sobre o
gênero musical macumba e também
sobre o universo musical carioca de
modo mais amplo, principalmente
após a gravação de Pelo Telefone
no ano de 1916. A década de 1920
já começa com outro ritmo nas
mãos, na boca e nas gravadoras - o
samba. A macumba sofre um golpe
da modernidade e dos intelectuais
que desejavam criar uma cara para
a nação.
A introdução do samba no cenário
musical se deu de modo lento e
gradual e não erradicou as macumbas
musicais de forma abrupta nem ao
menos deu lugar de destaque para as
mulheres negras. No longo processo
de dissolução do gênero macumba
musical que ocorreu devido a
vários fatores, como citado acima,
que são alicerçados no processo
de modernização, os homens
negros é que ganham destaque.
Eles conseguiram a introdução de
JORNAL EGBÉ
seu trabalho musical nas gravadoras, a
implementação do mesmo nas rádios e
a implantação do samba como música
nacional com apoio dos intelectuais,
que gerou um novo nicho profissional e
excluiu tantos outros. O samba se torna
um produto a ser consumido no mercado
da música e necessita de cantores e
compositores que, por sua vez, deveriam
fazer jus ao mais novo ideal nacionalista.
As mulheres negras raramente aparecem
como cantoras e compositoras e, quando
aparecem, são eufemizadas pela figura
da mulata ou morena. Assim, o samba é
elencado como música nacional e ele e seus
músicos/compositores negros e mulatos
vão se transformando com o passar do
tempo até atingir o ponto máximo do
imaginário da elite, pois pouco ou quase
nada importava nesse momento o que
pensava o povo de origem, de onde as
macumbas saíram, locais onde as mulheres
negras eram grandes figuras do terreiro e
do samba/macumba. A macumba carioca,
conforme as matérias jornalísticas, não
ficou imune ao ideal de modernidade e foi
engolida por ele, domesticada, “mastigada”
até virar samba apenas.
CONCLUSÃO
A nossa sociedade foi constituída com forte
presença da cultura oriunda dos diversos
povos africanos e seus descendentes,
que marcaram presença em várias áreas,
incluindo a arte brasileira. As heranças
culturais africanas, entre elas a oralidade,
possibilitaram um modo próprio de fazer
literatura e música. O cordel ainda guarda
em seu seio a presença de quem conta
histórias e faz a ligação entre a oralidade
e escrita sem uma visão hierárquica entre
elas. O samba por sua vez nasce dentro
de espaços de religiosidade africana, os
terreiros, como macumba musical, e vai
ganhando as ruas do Rio de Janeiro no
início do século XX e se torna o maior
símbolo de musicalidade nacional.
Maria Elise Rivas é mestra e doutora
em ciências da religião pela PUC-SP, teóloga
pela FTU, diretora da Revista Estudos afro-
brasileiros, curadora do Festival da Corte,
membro da Academia Itanhaense de Letras
e cidadã honorária de Itanhaém.