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JORNAL
DISTRIBUIÇÃO
GRATUITA
MARÇO 2024
Ano 02 - Edição 08

crédito: Luiz “Boomer Américo

Itamirim, a pedra pequena


Empoderamento feminino A visibilidade da mulheres indígena. p. 5
Quais os avanços e retrocessos
Onde estavam as mulheres negras no
dos direitos femininos?
contexto histórico do dia 8 de março?
por Maria Elise Rivas. p. 12 Saiba mais no ar tigo da jor nalista Jô Gomes. p. 11

MULHER, MÃE E DIVERSIDADE: A orientadora social Fernanda Nascimento nos conta sobre sua experiência. p. 6
2 EDITORIAL JORNAL EGBÉ

PONTOS DE
Até quando aceitaremos a desigualdade de gênero? DISTRIBUIÇÃO
Olá, queridas e queridos leitores! Mais uma vez abrimos São Paulo não elegeram nenhuma vereadora ou tiveram
este editorial agradecendo a todas e todos que nos enviaram
mensagens de elogios, de incentivo e sugestões, que, com certeza,
apenas uma cadeira ocupada por uma mulher. A cada
dez vereadores, há duas mulheres eleitas. Quando se Virtuosa
JORNAL já estamos realizando. É sempre importante deixar registrado leva em consideração toda a Grande São Paulo, essa Estética
RESENHA que nosso objetivo principal é estimular o debate, o diálogo e a quantidade cai para 1 uma vereadora e 9 homens em
SOCIOCULTURAL reflexão, exercitando o incentivo à leitura e fortalecendo o senso cada um dos parlamentos. Isso sem falar que as meninas Av. Rui Barbosa, 323
crítico tão necessário na construção da cidadania. são maioria no trabalho infantil e possuem taxas de Centro
Entendemos que a Cultura é um grande instrumento de analfabetismo muito maiores em relação aos meninos
transformação social, não só do ponto de vista de lazer e Para isso, convidamos mulheres de diversos setores
EXPEDIENTE
aprendizado, como também fortalece o processo de cidadania, da sociedade para discutir e debater o que precisamos Câmara
ou seja, pessoas com maior senso crítico da realidade, mais melhorar e combater este infeliz disparate. Começamos
Realização humanitárias e mais politizadas tendem a construir uma sociedade com a psicóloga infantil Sumaia Gonçalves, que nos
Municipal
OICD com menores índices de violência, de preconceitos, desigualdades, conta sua experiência com as meninas adolescentes e as R. João Mariano
enfim, mais equânime. descobertas e desafios que permeiam essa fase da vida. Ferreira, 229
Idealização
Com isso, trazemos uma proposta editorial com assuntos de Convidamos também a pedagoga Andréa Aydar para Vila São Paulo
e Curadoria relevância para a sociedade, tanto no Brasil e no mundo, como falar sobre a importância das mulheres no processo de
Maria Elise Rivas também “resenhar” eventos, acontecimentos e todo movimento educação em nosso país. No campo das artes, trouxemos
que envolve nosso município.
Neste mês, como fazemos sempre em março, em alusão ao dia
um relato muito interessante de uma artista circense e
suas reflexões sobre o etarismo, na palavra de Sandra
Aterje
Jornalista 8, trouxemos uma reflexão sobre os avanços e retrocessos da luta Saraiva Milan. Odontologia
Awdrey Sasahara das mulheres por uma sociedade mais igualitária, mais digna, com Valorizando nossa linha editorial inclusiva e que respeita R. João Mariano
MTB: 42944/SP mais respeito e visibilidade. A luta por uma sociedade que não as e valoriza a diversidade, apresentamos Itamirim, uma Ferreira, 188
mate, que não as pague menos quando fazem os mesmos serviços liderança local indígena Tupi-Guarani e educadora da
Vila São Paulo
que um homem, que a elas dê espaços na política, no trabalho, Aldeia Tabaçu Reko Ypy, que produz eventos e atividades
Revisão na saúde, na educação, no lazer, na cultura, que lhes possa dar a culturais em sua comunidade, além da secretária e ativista
Rodrigo Garcia oportunidade de serem livres na sua sexualidade, na sua forma de da ABRAI – Associação Brasileira Intersexo, Mayara CMTECE
pensar, sentir e agir. Que não as desqualifique nem as coloque em Natale, que explanou sobre a importância do respeito e Av. Condessa de
desvantagens em relação aos homens. visibilidade que as mulheres intersexo deveriam ter.
De acordo com dados de uma pesquisa que integra o projeto Finalizando, trouxemos um artigo de Maria Elise
Vimieiros, 1.131
Foto da Capa Centro
“Conectando Mulheres, Defendendo Direitos”, encomendado Rivas sobre a importância e a necessidade de discutir
Luiz “Boomer”
pela ONU Mulheres e financiado pela União Europeia, a e colocar em prática as pautas feministas na sociedade.
Américo
violência ainda é o principal entrave, principalmente contra Os desafios são grandes, mas, quanto maior for o nível
mulheres negras, de baixa renda e de orientação sexual que não das informações, menor será a resistência das pessoas no Rodoviária
seja a heterossexual. No Brasil, ocorreram 1.463 feminicídios em sentido de questionar ou combater as pautas femininas. Av. Harry Forssell,
2023, uma alta de 1,6% em relação a 2022. Trata-se de uma missão a ser concluída por toda a 1505 - Corumbá
No mercado de trabalho, ainda há muita desigualdade. sociedade, não só pelas mulheres, mas também pelos
Sua ocupação em cargos de nível superior nas empresas ainda é homens e todas as classificações de gêneros.
crédito: @perolasdeitanhaem

Diagramação
Pérolas de
Itanhaém
menor, embora a aptidão e capacidade sejam óbvias. Estatísticas
ainda apontam que o salário da mulher é proporcionalmente
Um grande abraço a todas e todos. Participe
enviando sugestões, elogios e críticas. Boa leitura e até o
Casa da
menor do que o dos homens, fator que se acentua ainda mais nos
casos de mulheres negras. No cenário político a comparação entre
próximo mês! Música
mulheres e homens nos cargos executivos, legislativos e judiciários Awdrey Sasahara
Rua Oscar Pereira da
também ainda é muito desigual. Em 2020, 22 cidades da Grande resenhasociocultural@oicdrivas.com.br Silva, 202 - Belas Artes

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OPINIÃO JORNAL EGBÉ 3

A vida é de quem?
Pode parecer um “balde de água pela do outro. Se o seu parâmetro de que temos a percorrer. A luz ou inicial, a pergunta do milhão: quanto
fria” o que vou fazer, mas lá vai: vida for o outro, você será fatalmente a escuridão da jornada dependem da sua vida foi só sua? Quem está
este texto não vai tratar da vida frustrado e, assim e por isso mesmo, muito mais de como vamos lidar focado na existência do outro terá a
dos outros; vai tratar da sua! Falar infeliz, submerso nas suas irrealizáveis com os percalços ao longo da sua própria esvaziada.
da vida dos outros pode ser uma urgências concebidas na miopia do estrada do que propriamente com
“delícia” para uns, mas o problema atraso espiritual. a qualidade da estrada que temos a
está justamente no quanto de vida percorrer. “Nada pode ser mais
esse um deixou pelo caminho. Não Na perspectiva estoica, o que está na
estou falando de detração, a popular nossa esfera de controle controlado A questão fundamental é de que miserável do que
fofoca. Estou falando de quanto está; ao contrário, resolvido está. O a nossa vida é um sopro, como alguém que perde a
de inutilidade há no que não é útil que quer dizer isso? Que você não deve tantos já disseram. Mas a nossa
e de quanto de vida se esvai em corromper a beleza da sua existência consciência disso é que faz toda a vida para tentar viver
existência que não é sua. Trocando pelo sofrimento do que imaginou que diferença. Sêneca, em seus famosos
em miúdos, estou dizendo: o que não poderia ter acontecido consigo ou escritos Sobre a brevidade da vida,
aquela do outro que
vale a pena na sua vida e pela sua pela compreensão rasa e monoteísta diz que “a maior parte dos mortais não é nem nunca será
vida? Pensar sobre como estamos de que tudo é castigo. Essa lamenta a maldade da Natureza,
usando o nosso tempo vital é compreensão de que porque já nascem com a a sua.”
determinante a uma existência com vida pressupõe perspectiva de uma
raiz, em que não exista um “vazio”, uma dogmática curta existência Nada é mais triste que passar pela
mas uma completude que só é obediência e porque os vida e não viver. Ao longo da nossa
possível aos que se dedicam ao que àquilo que anos que lhes jornada, os dias vão se sobrepondo
verdadeiramente importa. se concebe são dados e, muitas vezes, não paramos para
superior transcorrem pensar no que queremos viver, no
Em Antígona, obra clássica de tem muito rápida e quanto de nós existe em tudo que já
Sófocles, está posto que “nada de a ver com ve l o z m e n t e ” consumiu e vai consumindo a nossa
grande é dado ao ser humano que a nossa e Hipócrates, vida. Lendo Epicuro e Sêneca só
não venha acompanhado de dor o pai da consigo entender que, para uma vida
correspondente”. E quanto há de incapacidade medicina, sem objetivo claro, sem um propósito
“dor” na vida? Ou será que nós é de lidar com as afirma que “a verdadeiro, uma vida leviana porque
que inoculamos dor naquilo que consequências vida é curta, a arte fundamentada em nada que seja
seria em si e por si uma dádiva a dos fatos da vida do é longa. A ocasião, concreto, é uma vida que não existiu.
ser vivida e celebrada? Viver com a que propriamente com fugidia. A esperança, Triste, mas é verdade. O problema
consciência de que somos finitos e o suposto fatalismo. Imagine a falaz. E o julgamento, difícil”. é que, no fundo, no fundo, a vida
que cada minuto conta nesse pouco dor de alguém que perdeu a pessoa Ou seja, quanto temos a viver? não é curta. Em Sêneca, está claro,
tempo da nossa experiência humana amada? Também em Antígona – que Se a vida é breve temos de viver a vida “se souberes viver, é longa” – e
não é propriamente atribuir sentido obra! – Hémon põe fim à própria vida mais intensamente e melhor o talvez por isso os Titãs acertaram no
a tudo, mas fazer com que tudo pelo desespero da morte infamante pouco tempo que temos – se é entusiasmo ao cantar que “se o bem
seja um sentido para viver. Tudo imposta à mulher amada. Desistiu de que é pouco. Afinal, aqui também e mal existem / você pode escolher”,
tem seu tempo e, às vezes, focados si pelo luto; depositou no outro a vida é bom lembrar dos ensinamentos pois, no fundo, o que precisamos
no que existe de bom no outro, e a felicidade de sua existência. de Epicuro que, em sua Carta mesmo, é saber viver! E saber viver
deixamos de perceber o quanto sobre a felicidade, diz claramente é cuidar da sua vida, e não da vida
de bom reside em nós, nas nossas Compreender a dor e encontrar nessa que a vida não é boa porque é dos outros.
vidas, mesmo em momentos que dor o antídoto à morte da existência longa. Afirma que a vida se mede
imaginamos desafortunados. Aliás, física ou espiritual não é tarefa das pela plenitude dela, pois o sábio, RUTINALDO BASTOS,
também é da mesma Antígona o mais fáceis, mas é necessária àqueles “assim como opta pela comida é vereador do
município de
ensinamento de que “só se devem que desejam uma vida que não se mais saborosa e não pela mais
Itanhaém, advogado
usar os louros quando já estão secos. perca no poço das tristezas e na abundante, do mesmo modo ele militante, membro da
Quando verdes, seu gosto é muito escuridão do luto pelo que imaginou colhe os doces frutos de um tempo Academia Itanhaense
amargo”. Logo, espere o tempo das que não deveria ter acontecido. A bem vivido, ainda que breve”. de Letras.
coisas. Não antecipe o que precisa vida de um não é a vida do outro.
de maturação e não meça a sua vida As perdas fazem parte do caminho Mas, voltando aqui à questão
4 POLÍTICA JORNAL EGBÉ

A censura direcionada àqueles que lutam contra injustiças Mulheres na política!


Bora chegar!
Na mesma semana em que vimos em operações policiais que não Políticas para Mulher, que é uma pasta Voltei! Para ter aquela conversinha com
o presidente Lula ser atacado por resolvem o problema da violência, mas criada para cuidar da saúde, garantir vocês, especialmente vocês, “Minhas ma-
defender o fim do genocídio do povo trazem ainda mais dor e violência aos nas”.
a segurança, capacitar e investir no
As manas da escola, fábrica, banco, balcão,
palestino, que um homem negro territórios periféricos. E é justamente potencial econômico e criativo das doméstica, diarista, carteira, enfermeira,
foi preso após ser esfaqueado por contra esse estado de coisas que estão mulheres, é a clara negação de direitos estudante, somos tantas que tenho medo
um homem branco, uma Escola de lutando as mulheres negras. às mulheres negras, já que são essas de esquecer alguma, então digo a todas as
Samba ser constrangida por criticar E por me somar a elas disse e repito mulheres, em todos os indicadores manas que estão aqui lendo estas linhas...
uma polícia passível de críticas, fui do absurdo que é ter uma secretaria sociais, que enfrentam os maiores O papo de hoje é sobre nós na política!
julgada e penalizada na ALESP por apenas ocupada de forma figurativa, desafios e desigualdades estruturais, Apesar das reformas realizadas nos últi-
ter defendido que, para além de figuras sem possibilidade de atuação efetiva sendo, portanto, a principal destinatária mos anos para aumentar a nossa partici-
alegóricas, São Paulo continua a ser por falta de verba. de políticas públicas. pação feminina na política, ainda perma-
palco de racismo institucional. O processo de quebra de decoro necemos distantes dos lugares em que são
O Conselho de Ética e Decoro contra mim não é só uma violação à tomadas as decisões em prol da democra-
A escolha de uma mulher negra para
cia. Nosso país ocupa infelizmente a lis-
Parlamentar da ALESP votou minha atividade parlamentar, mas ocupar tal pasta não impede que ta dos parlamentos federais com menos
na terça-feira, 20 de fevereiro, a também se insere no bojo da grande desigualdades com base em raça sejam mulheres no mundo, por quê?
absurda acusação por falta de decoro ameaça aos distritos democráticos em perpetuadas. A ilusão de diversidade Você já se perguntou? Tenho algumas
parlamentar contra mim, após eu ter nome de um método de punição e que o governo do Estado promove com opiniões sobre esse fato. Uma delas é falta
questionado o racismo institucional na tortura. Ainda que o golpe planejado a inclusão superficial de membros de de recursos para combater a desigualdade
falta de recursos destinada à Secretaria pela extrema direita brasileira não grupos minoritário se desfaz quando de gênero.
de Políticas Para Mulheres, numa tenha se concretizado, a verdade é se percebe que o simples fato de uma Violência política de gênero que acomete
reunião da Comissão Permanente que, quando se perseguem entidades mulher negra ocupar um espaço de muitas mulheres já inseridas na política.
de Defesa dos Direitos da Mulher, à culturais, políticos em sua liberdade poder não traz automaticamente Que nos assusta e afasta! Aquelas que
própria secretária em exercício, durante parlamentar, processos arbitrários e até persistem na esfera política são confron-
impacto significativos na vida das
tadas pela violência de gênero! Que pode
sua prestação de contas ao legislativo. mesmo exceções de pessoas no campo mulheres que esta deveria representar, até tirar nossas vidas!!
pois o racismo institucional segue
créditos: https://blogs.correiobraziliense.com.br/aricunha/laranjal-e-feminicidio-mostram-um-brasil-que-nao-respeita-suas-mulheres/

As desigualdades podem ser verificadas


enraizado nas práticas governamentais. em diversas estatísticas, contudo, são ain-
da mais gritantes quando se trata da mu-
A minha fala reflete não somente a lher preta.
minha luta, mas de todas as mulheres Esses fatores citados anteriormente para
para que a sociedade reconheça como nós são fundamentais, porém existem ou-
o racismo se manifesta e meu desejo é tras particularidades somente nossas, pois,
continuar trabalhando para reformar sendo mulher, o maior desafio é ter que
provar o tempo todo a nossa capacidade e
e transformar as instituições para que
poder diante dos preconceitos, ser ouvida
sejam mais equitativas e inclusivas para sendo mulher, sem precisar falar alto, usar
todas as pessoas. calças ou engrossar a voz.
Falei sério, né? Mas é pura verdade, a nos-
Contudo, a falta de letramento racial sa insegurança deixa que outros façam po-
suficiente para interpretar questões lítica e fiquem no nosso lugar, decidindo
raciais de maneira crítica e compreender as nossas vidas!
como o racismo opera nas estruturas Por esse motivo, estou aqui para fortale-
Vocês conhecem essa história. Ela da segurança pública, significa que um da sociedade continuará permitindo a cer vocês, manas, e me fortalecer também,
estampou os jornais no último ano. ESTADO democrático já não é tão criminalização de esforços antirracistas pois não podemos estar sozinhas, temos
Embora celebrada como grande democrático assim. que agregar uma boa formação política e
e retaliações como esta que sofri hoje.
qualificar essa nossa participação, criando
inovação, a secretaria de políticas para Pessoas que lutam contra o racismo Esse ataque, porém, só fortalece minha condições para que nós possamos atuar
mulheres não existia no caminho de muitas vezes enfrentam criminalização determinação e necessidade de seguir plenamente e dar grandes contribuições à
dinheiro e a secretaria não existiu e retaliação, especialmente em lutando contra o racismo e outras sociedade.
para além do nome num momento em sociedades onde as estruturas de poder formas de opressão contra as mulheres. Esse nosso espaço de poder foi negado a
que vemos casos de violência contra estão enraizadas em sistemas racistas. E a ampla mobilização das mais de nós mulheres. Bora retomar!
mulheres bater recorde no Estado, Minha punição foi justamente uma 10 mil pessoas que pressionaram e Você acredita em seu potencial?
que a situação de acesso à saúde básica forma de reforçar as estruturas de poder repudiaram a tentativa de nos tirar o Pois acredite!! É seu, bota para fora, mu-
como ginecologia, obstetrícia e até pré- existentes e manter o status quo já que mandato nos manterá aqui firme na lher, e vem comigo fazer política de trans-
natal falta em muitos pontos do Estado. fui punida por denunciar o racismo luta. formação da sociedade!!
Quando falamos de mulheres negras, institucional que atravessa governos e
cresce a fome, a violência urbana e a se perpetua na gestão atual. Profa. Poliana Nascimento é codeputa-
Monica Seixas é Deputada da estadual do Movimento Pretas
morte de seus filhos e companheiros A falta de recursos para a Secretaria de Estadual pelo Movimento Pretas
IDENTIDADE JORNAL EGBÉ 5

marginalização histórica dos povos

créditos: divukgação https://www.instagram.com/itamirim_20


indígenas continua a ser uma realidade
dolorosa, e Itamirim é uma voz
MOTOCICLISMO
incansável na luta contra essa injustiça.
Ela trabalha incansavelmente para
É COISA DE MULHER
preservar a identidade cultural e
Meu nome é Sthefany Fontegno, mais em dia é um pouco mais tranquilo,
os direitos territoriais de seu povo,
conhecida no meio esportivo por Fany porém sempre tem algumas ocasiões
enfrentando adversidades com
Wheeling, Rainha do grau. Tenho 25 que ainda têm um pouco de
coragem e resiliência. No cerne da
anos. Iniciei no esporte em 2012, preconceito
luta de Itamirim está o profundo amor
pela Mãe Natureza e todos os seres por influência dos meus pais, que já
que nela habitam. Ela compreende organizavam eventos e campeonatos A Norisk lançou um capacete meu,
que a saúde e a sobrevivência de seu de Wheeling. Aos 13 anos de idade, réplica Fany Wheeling, e a Califórnia
povo estão intrinsecamente ligadas à após o falecimento do meu irmão Racing fez uma jaqueta personalizada
preservação do meio ambiente. Assim, de criação, que era piloto do esporte, para mim também. Hoje, além do
Itamirim lidera esforços para proteger interessei-me a aprender a pilotar. A esporte, o motociclismo também é o
as terras ancestrais dos Tupi Guarani moto dele ficou comigo e comecei a meu hobby.
Itamirim, a pedra pequena da exploração predatória, defendendo treinar.
a harmonia entre os seres humanos No final do ano de 2023 participei
Com determinação e coragem, tornei- e a natureza em meio aos desafios e Eu me tornei pentacampeã brasileira da corrida de moto velocidade
me uma voz ativa na defesa dos direitos adversidades. Itamirim permanece de wheeling e a primeira mulher no SUPERBIKE BRASIL na categoria
indígenas e na preservação da nossa como um símbolo de esperança e mundo a competir sem a suspensão SuperSport escola 400 e, em 2024,
cultura. Mas em minha caminhada respeito pela cultura indígena. Sua dianteira da moto (bengalas e roda). além de fazer os shows, também
muitos tentaram me diminuir, por dedicação incansável à causa dos No começo, obviamente, houve muitas estou participando das corridas.
muitas vezes quase acreditei que ser direitos humanos e ambientais inspira dificuldades pelo fato de ser mulher.
pequena assim, como meu nome diz, não apenas sua própria comunidade, Tive que aprender a mexer na minha Um recado às mulheres: se eu
era meu destino: despejavam em mim o mas também pessoas de todo o mundo. própria moto, pois, muitas vezes, consigo, você também, não desista,
desejo de me convencer que pequeno é Ela faz lembrar da importância vital mecânicos tentaram me passar para uma hora você vai chegar!
menos. de honrar e preservar as tradições trás, querendo ganhar em cima de
Me chamo, me chamam, os ancestrais me ancestrais, inspira o trabalhar juntos mim.
chamaram Itamirim (pedra pequena). Para para proteger e cuidar do planeta Terra. Fany Fontegno é pentacampeã
saber o quanto meu chamado me representa, Minha história reflete a força e a Então fui aprendendo a me virar e brasileira de wheeling
pedi a Nhanderu Tupã para meu espírito resiliência das mulheres indígenas, ganhar o meu espaço no esporte. Hoje
voar e olhar de cima, para entender quem é que enfrentam desafios com amor
esse ser que em mim habita. e determinação. Acredito que, ao
demonstrarmos amor ao próximo e à
Mulher Indígena originária, lidera luta Mãe Terra, podemos criar um mundo
pelos direitos dos guardiões da Mãe mais justo e sustentável para todos nós,
Terra, um exemplo de resistência e amor seres viventes, filhos de “Nhandetsy
pela natureza. Destaca-se como um farol Ywy” (nossa Mãe Terra). Eu sou
de resistência e amor pela sua cultura Itamirim, Pedra Pequena.
e pela Mãe Natureza. Itamirim, uma
líder por herança ancestral, enfrenta Me chamo, me chamam, os ancestrais
desafios monumentais enquanto luta me chamaram Itamirim (pedra
pelos direitos de pertencimento do seu pequena). Para saber o quanto meu
povo, imersa numa batalha contra a chamado me representa, Nhanderu
discriminação de gênero e racial. Em Tupã me fez voar, meu espirito voou,
um mundo onde as vozes indígenas são olhou de cima, descobriu quem é esse
frequentemente silenciadas, Itamirim ser que em mim habita: Itamirim.
ergue sua voz com determinação, ela
confronta a discriminação de gênero, que ITAMIRIM, Mirian Dina dos
muitas vezes marginaliza as mulheres Santos Oliveira
indígenas, negando-lhes o direito à É mulher, indígena Tupi-Guarani e
participação plena na sociedade. educadora da Aldeia Tabaçu Reko Ypy.
Por meio de sua liderança inspiradora, Formada como pedagoga pela USP,
Itamirim desafia esses preconceitos atua como pesquisadora e professora da
arraigados, promovendo a igualdade de rede pública estadual. Também atriz
gênero dentro e fora de seu território. e cantora, utiliza o teatro e a música
Além da luta contra a discriminação como ferramentas de educação. Produz
de gênero, Itamirim enfrenta também eventos e atividades culturais em sua
o flagelo da discriminação racial. A
comunidade.
6 DIVERSIDADE JORNAL EGBÉ

FEMINIZAÇÃO DA PROFISSÃO:
MULHERES E O SERVIÇO SOCIAL
O estudo das relações de gênero é de em suas protoformas, é uma profissão
fundamental importância para o Serviço eminentemente feminina, assim como
Social, sendo uma profissão de acordo com ficam luzentes quais os deveres e as
a história feminina. Desde os anos 1970, responsabilidades da mulher dentro da
tem sido uma das cinco profissões mais sociedade.
femininas do Brasil, e a mais feminina Analisando a proporção nas áreas e
desde os anos 1980. contextos em que a profissional de Serviço
Mulher, mãe e diversidade Em 2007, uma pesquisa do PNADs
mostrou que 93,7% dos assistentes sociais
Social está inserida, para acompanhar,
orientar, atender etc., observamos que,
eram mulheres, contra 6,3% de homens. segundo o Censo nacional de 2008, 82%
Em um mundo onde a maternidade é aquelas mães que ainda não conseguiram Segundo Iamamoto e Carvalho (Título da população em situação de rua se declara
frequentemente associada a estereótipos libertar-se do medo e da angústia ao do livro, publicado pela EDITORA homem, e 18% se identifica como mulher.
e padrões tradicionais, é essencial testemunhar seus filhos sendo diariamente X, em 2007), no Brasil o Serviço Apesar de representarem uma minoria
reconhecer e celebrar a força e a resiliência julgados e apontados. Social se institucionaliza e se legitima nas ruas, as mulheres registram mais
das mulheres que são mães e fazem Mulheres unidas em prol de uma luta profissionalmente como um dos casos de violência do que os homens. Das
parte da comunidade LGBTQIAPN+. humanitária, unindo forças e se apoiando recursos mobilizados pelo Estado e pelo ocorrências notificadas ao Sistema Único
Ser mulher, mãe e lutar por um mundo mutuamente para garantir que suas empresariado, como suporte da Igreja de Saúde (SUS), 92% são classificadas
mais igualitário para seus filhos é uma famílias não se tornem estatísticas de católica na perspectiva do enfrentamento como físicas.
jornada marcada por desafios únicos e sofrimento e exclusão. Lutamos juntas, e regulação da questão social, a partir dos Além disso, o cotidiano dessas mulheres é
uma carga emocional intensa. Neste mês mães de pessoas LGBTQIAPN+, para anos de 1930. revelador de desafios como as relações de
das mulheres, é fundamental destacar exigir do mundo o respeito que nossos Sendo que, desde a emergência da gênero, a maternidade, o cuidar dos fi lhos
profissão do Serviço Social no Brasil, e a ausência de um lar, o que se configura
as vozes dessas mulheres que enfrentam filhos merecem, permitindo-lhes nascer,
notamos a predominância do sexo de maneira particularizada em relação à
diariamente a luta pela aceitação, pelo crescer e envelhecer com dignidade, assim
feminino entre tais profissionais. Assim, maioria da população de rua, composta
respeito e pela construção de um futuro como qualquer outra pessoa cisgênero.
a predominância feminina na profissão por homens.
mais inclusivo para suas famílias. No mês da mulher, recusamos o simbolismo
do Serviço Social em seus primórdios A literatura acima aponta uma importante
É inegável a sobrecarga enfrentada por superficial de flores e bombons. O que está diretamente conexa às características contribuição na temática das mulheres
mães que fazem parte da comunidade almejamos verdadeiramente é que nossas enraizadas e culturalmente legitimadas ao vivendo na rua, em um panorama
LGBTQIAPN+, submetidas a uma vozes reverberem pelo mundo, sendo não âmbito feminino, como podemos observar científico no qual há predominância
pressão absurda ao serem frequentemente apenas ouvidas, mas respeitadas por amar em citação do memso livro, na página de publicações relacionadas a cuidados
julgadas e culpadas por algo tão injusto e apoiar incondicionalmente nossos filhos, 172: “ Aceitando a idealização de sua médicos, assistenciais quanto ao controle
como o preconceito. Carregam consigo nossas filhas e filhes. Desejamos persistir classe sobre a vocação natural da mulher de epidemias, doenças ginecológicas ou
o peso da culpa imposta por não se como faróis, iluminando o caminho para para as tarefas educativas e caridosas, essa sexualmente transmissíveis e uso de drogas
adequarem aos moldes tradicionalmente que todos reconheçam as lutas enfrentadas intervenção assumia, aos olhos dessas nesse segmento populacional.
aceitos de maternidade, enquanto pelas pessoas que amamos e a necessidade ativistas, a consciência do posto que cabe Finalmente, cabe ressaltar que se este
batalham incansavelmente para garantir premente de garantir-lhes espaços e à mulher na preservação da ordem moral e enfoque serve para raciocinarmos a
que seus filhos tenham voz, espaço e respeito em todas as esferas: educação, social e o dever de tornarem-se aptas para questão da mulher em situação de rua,
respeito em uma sociedade que muitas saúde, trabalho, afeto, socialização e em agir de acordo com suas convicções e suas não é reduzi-las a uma situação de pura
vezes os rejeita. todos os ambientes onde seus corpos não responsabilidades. Incapazes de romper exclusão em função das condições objetivas
Ser mulher em nossa sociedade já é sejam alvo de escárnio, mas sim celebrados com essas representações, apostolado de existência, mas, além disso, é preciso
desafiador por si só, e ser mãe de pessoa como parte essencial da diversidade social permite àquelas mulheres, a partir considerá-las, a partir de uma perspectiva
LGBTQIAPN+ nos impulsiona a lutar humana, onde o respeito sobrepuje o ódio da reificação daquelas qualidades, uma que as contemple, desprovidas de
ainda mais para que nossas famílias e o amor triunfe sobre tudo aquilo que os participação ativa no empreendimento condições mínimas de existência material
sejam acolhidas e respeitadas. Como impeça de buscar a felicidade genuína. político e ideológico de sua classe, e e com hipóteses precárias para o resgate do
lidar, então, com a realidade de gerar, ver Em meio aos medos que nos assolam, é o da defesa faculta um sentimento de sentido de suas existências.
crescer, educar com amor e carinho apenas amor que nos impulsiona. Unidos por esse superioridade e tutela em relação ao
para testemunhar nossas filhas, nossos sentimento poderoso, seguimos adiante, proletariado, que legitima a intervenção.” Dione de Souza Lima Nogueira
Diante do exposto, fica evidente a
filhos e filhes sendo confrontados por determinadas a moldar um mundo onde Assistente Social - Tutora do Curso
tendência de que o Serviço Social,
uma sociedade que os discrimina e tenta a aceitação e a igualdade prevaleçam. Serviço Social
restringi-los a um armário frio, solitário e Que este mês da mulher seja um lembrete
créditos: https://qgfeminista.org/ser-mulher-em-situacao-de-rua-em-meio-a-pandemia/

desprovido de amor? poderoso de que nossa luta é contínua


Recusamo-nos veementemente a e inabalável. Com coragem e amor,
apresentar nossas filhas, nossos filhos seguiremos defendendo os direitos e a
e filhes a esse tipo de sociedade hostil dignidade de nossos filhos LGBTQIAPN+
e lutamos incansavelmente para com fervor e determinação.
erradicar essa realidade de nossas vidas. O medo nos une, mas é o amor que nos
Encontramos apoio umas nas outras, move. (Mães Pela Diversidade)
mulheres e mães que abraçam o amor
como bandeira e se lançam à batalha Fernanda Nascimento é Mãe
armadas com conhecimento, respeito Pela Diversidade, Orientadora Social e
e solidariedade mútua para fortalecer
estudante de Serviço Social
PLURALIDADE JORNAL EGBÉ 7

CELEBRANDO A DIVERSIDADE FEMININA


E AS VÁRIAS POSSIBILIDADES DE SER MULHER Uma mulher circense
No infinito universo da feminilidade, gênero em todos os âmbitos sociais. Quando criança, tinha medo de ser Acho curioso, em uma noite de insônia,
há formas plurais de ser mulher. Cada Junto a estas mulheres há mães de filhos menina, tinha medo do que podia ler no Google que temos quatro tipo
uma dessas mulheres traz consigo e filhas LGBTQIAPN+, que lutam acontecer por ser menina, parecia que de idade: a idade cronológica, a idade
uma história individual e única, pelos direitos daqueles que amam. sempre estava em desvantagem na biológica, a idade psicológica e a idade
mas também coletiva e geracional. Essas mulheres acolhem seus filhos e corrida da vida. social.
No Dia Internacional da Mulher, filhas em seus braços e corações, não os Na adolescência, compreendi que, Se podemos ter quatro tipos de idade
é fundamental celebrar tantas diferenciando, pois não são diferentes, sendo menina pobre de periferia, não distintas, por que o etarismo é tão forte
possibilidades e perspectivas que mas únicos e seus. teria o direito a muitas escolhas, talvez em nossa sociedade? E por que esse
compõem esta pluralidade feminina. Há mulheres que enfrentam as as oportunidades fossem raras e não etarismo é tão cruel com as mulheres?
Diversas mulheres encontram sua adversidades com uma força interna poderia me dar o direito à displicência. Se me fosse concedido um pedido
força como executivas, líderes, inigualável e incansável, que lutam Nesse mesmo período, comecei a nesta data, eu pediria que a juventude
empreendedoras, cientistas, artistas, contra a violência de gênero, contra o entender a força das mulheres que me e a velhice de cada uma de nós
políticas, evidenciando que não há preconceito, a discriminação e todas cercavam: mãe, avós, tias, vizinhas e sejam respeitadas, entendidas e
limites que possam ser impostos para as formas de desigualdades. Estas professoras. Mulheres que não desistiam vividas plenamente. Que todas as
sua realização e que estes espaços mulheres buscam um mundo mais de ser felizes, belas, mulheres vivam as
podem ser ocupados por elas, justo, inclusivo e igualitário. guerreiras e carinhosas, suas potencialidades
pois não há gênero para se Outras mulheres encontram mesmo com a carga ao máximo, e que
realizar profissionalmente. sua força apoiando umas extra de funções e esqueçam esse conceito
Mas, diferente disto, há um as outras, em forma de maiores dificuldades de novo e velho,
Chamado, um Sentido de Vida solidariedade. Compartilham financeiras nos ombros, trocando esses antigos
que guia cada um e conduz a uma suas experiências, suas vidas. E, só por serem mulheres. valores de tempo
realização pessoal e coletiva, tanto na assim, fortalecem umas as outras para O tempo passou e pela sensibilidade de
individualidade, como na pluralidade que continuem seguindo em frente. hoje, quatro décadas sentir a potência e a
de Ser Humano. depois daquele distante vitalidade de cada uma
Outras mulheres encontram sua força Em um mundo onde as mulheres tentam momento da infância, de nós, dentro do seu
na maternidade e na dedicação à ser invisibilizadas e subestimadas, em onde ser menina era próprio tempo.
família. Essas mulheres são alicerces que a desigualdade de gênero tenta apavorante, vejo que, Ser artista é viver
de seus lares e cuidam de seus filhos, prevalecer acima de qualquer outra mesmo com todos os intensamente, mas ser
transmitindo-lhes amor, sabedoria e possibilidade, é fundamental celebrar riscos físicos que nós mulheres corremos mulher artista circense é muito mais
maternagem. as várias possibilidades de Ser Mulher. diariamente, injustiças e julgamentos intenso. Quando me perguntam como
Há ainda aquelas que congregam todas É crucial honrar as lutas e conquistas preconceituosos que sofremos, ainda é ser mulher de circo, logo me vêm à
essas possibilidades juntas e são mães, alcançadas por todas elas. Que esta assim agradeço por ser MULHER. lembrança as muitas mulheres firmes,
esposas, companheiras, executivas, data seja sempre um lembrete da força Mulher que semeia carinho, empatia, determinadas e corajosas dentro e
líderes, cientistas. São o que desejam interna, pessoal, coletiva e geracional cuidado, piedade, generosidade, fora dos picadeiros. E digo que somos
ser e o que as realiza. Não encontram destas mulheres. Força esta que lhes amor; mulher-fortaleza, coragem, mulheres que estamos prontas para
limites para serem felizes e para permite serem e se realizarem no mundo consciência, vigilância, determinação e recomeçar, que tiramos força das
fazerem brilhar ao seu redor a luz que de várias maneiras, sendo sempre resistência. entranhas para superar tantas situações
trazem consigo. mulher, não de forma convencional, No mês em que comemoramos o Dia de adversidades na estrada da vida, que
Existem mulheres que desafiam as mas de forma única e intrínseca a cada das Mulheres, comemoração merecida a força física colocada no dia a dia nos
normas de gênero, redefinindo, muitas uma, respeitando sua individualidade e e necessária, lamento ainda sermos faz sentir cada gota de suor que escorre
vezes, um padrão do que representa ser subjetividade. definidas como novas ou velhas. pelo corpo com orgulho, que a emoção
feminina, do que significa socialmente Eu, como mulher, filha, mãe, esposa, ao executar o truque perigoso em cada
e convencionalmente ser mulher. Andreia Araujo - Psicóloga e atriz-trapezista, artista, dona de casa, espetáculo nos faz renascer, a emoção
Estas mulheres se destacam por sua Supervisora Clínica de Atendimentos responsável pelas minhas escolhas e do público e a alegria das crianças nos
força interna, pela luta pelos direitos Psicológicos. Doutoranda e Mestre atitudes, lamento muito ver o etarismo faz sentir a energia da admiração. E,
LGBTQIAPN+, desconstroem papéis no Programa de Pós-Graduação em forte e pulsante na sociedade. quando as luzes se apagam e o picadeiro
tradicionais e buscam a igualdade de Psicologia da Saúde da Universidade Lamento ter que ouvir coisas do tipo: se silencia, é hora de saborear as palmas
Metodista de São Paulo, “Até que você está bem para a sua tão merecidas a todas as mulheres.
UMESP. idade.”, “Nossa, achei que você fosse
uma menina, até ver de perto.”, “Já está Sandra Saraiva Milan é artista
na hora de vestir roupas que valorizem circense, arte-educadora, mãe e esposa.
sua maturidade.” ou, a melhor de todas, Atua desde 1994 nas artes cênicas e desde
“Seu tempo acabou, tem que fazer 2000 integra o Circo Nosotros, companhia
coisas mais apropriadas para sua idade de circo-teatro que tem sede na cidade de
atual.”. Itanhaém.
8 CIDADE JORNAL EGBÉ

AEL: um projeto, uma paixão


(artigo adaptado do livro Mulheres na Educação, p. 144-157, 2024, Editora Leader)

Comecei a trabalhar cedo, na condição As atividades de teatro, também - Professora, menino pode participar? com mulheres; da mesma forma, meninas
de “menor” de idade. Fui registrada desenvolvidas no projeto, procuram Meu pai falou que esse negócio de se identificavam com homens. Diziam,
como “notista”, em um comércio de trazer outras formas de expressão poesia é coisa de menina! Uma menina, sem qualquer pudor ou constrangimento:
engarrafadora de bebidas. Precisavam para os gêneros literários trabalhados, realmente, foi a primeira a se apresentar
de uma menina que já houvesse obtido permitindo que os estudantes expressem para participar do projeto e ficou sozinha - Sou Vinícius de Moraes! – e era uma
o diploma de datilografia, morasse no a literatura de forma adaptada pelas comigo durante alguns meses, nas adolescente, de 13 anos, falando.
bairro, estudasse à noite, tivesse boa - Sou Cora Coralina! – e era agora um
caligrafia e escrevesse bem. menino falando, antes de realçar que a
“sua” autora tinha começado a carreira de
Já na faculdade, fui admitida como escritora já “velhinha”, com mais de 70
encarregada do Cadastro de uma anos, e que o no poema “Cora Coralina,
Entidade Sindical e tinha a função quem é Você”, contava um pouco da vida
de ler e revisar os processos jurídicos, dela.
com relação às questões ortográficas e
linguísticas. Curiosamente, até aqui, havia O processo de escolha do patrono ou
chegado às empresas por classificados patrona de uma academia estudantil de
que chamavam por “moças”, apesar da letras favorece que a comunidade tenha
predominância de homens nos postos de voz para se fazer representar no projeto.
supervisão e de chefia, conforme não foi Dessa forma, pouco a pouco, nomes de
difícil constatar. escritoras (mulheres) foram se juntando
Entretanto, meu sonho era ser professora! aos nomes de escritores (homens), para
Coisa que consegui alcançar quando nomear as novas academias.
completei 44 anos de idade. Na sala dos
professores havia muito mais mulheres Na fundação da primeira academia
do que homens. Umas bem jovens, estudantil de letras, em 2005, apenas
recém-formadas; outras aparentavam Adélia Prado, Clarice Lispector e
estar na mesma faixa etária que eu; Cecília Meireles foram escolhidas pelos
outras pareciam ainda mais “maduras”. acadêmicos como suas amigas literárias;
Com o passar dos anos, tinha outro vinte e dois estudantes optaram por
sonho: utilizar a literatura, notadamente autores homens, naquela ocasião.
a poesia, como fator de humanização e Atualmente, no rol de 165 academias
de resgate de valores para a formação estudantis de letras fundadas em São
de uma academia estudantil de letras na Paulo, em todas as regiões, 60 mulheres
escola. Coisa que aconteceu oficialmente escritoras foram escolhidas como
no ano de 2005 quando nasceu a patronas. A importância da abordagem
Academia Estudantil de Letras (AEL). das questões de gênero por meio da
literatura é eficiente, eficaz e relevante.
A Academia Estudantil de Letras Em 2015, o Secretário Municipal de
(AEL) é uma autêntica academia de Educação e também Presidente da
letras, com as devidas adaptações para o artes visuais, dança, música e artes reuniões que aconteciam no pós-aula, Academia Paulista de Letras (APL),
público estudantil. Dentro da dinâmica cênicas. Os encontros literários e de semanalmente. professor Gabriel Chalita, convidou-
do projeto, são os próprios acadêmicos teatro acontecem fora do horário regular me a integrar a equipe da Secretaria
que escolhem um autor da literatura para das aulas, pois é optativo participar do Senti a necessidade de priorizar a Municipal de Educação (SME),
representar na Academia. Na AEL, os projeto. Os educandos que participam da desconstrução do conceito enraizado há para iniciar a expansão da Academia
estudantes fazem pesquisas e realizam AEL, em sua maioria, permanecem no séculos de que homens e mulheres gostam Estudantil de Letras para toda a cidade.
seminários sobre os seus amigos literários, projeto até a conclusão dos seus cursos. de objetos distintos, de que meninas e
compartilham o conhecimento, passam Ao idealizar o projeto Academia meninos não brincam com os mesmos Maria Sueli Fonseca
a perceber o ponto de vista do outro e Estudantil de Letras (AEL), ao brinquedos, de que escolhem como Gonçalves
desenvolvem a autonomia. A forma de vislumbrar a possibilidade de existir cores preferidas e usam na vestimenta
é escritora, com dois livros de literatura
participação foi organizada em três ciclos: no ambiente escolar uma academia de as estabelecidas pela sociedade como
infantil publicados e um terceiro em fase
Alfabetização, Interdisciplinar e Autoral. letras para os estudantes, não sabia o próprias “de menino” ou “de menina”
de finalização. Trabalhou na Prefeitura
Com o tempo, os mais experientes vão quanto estava por ser desvendado ou o e que, portanto, “se poesia é coisa de
Municipal de São Paulo, como professora
assumindo a titularidade das cadeiras quanto havia ainda para eu descobrir e menina, como poderia eu esperar que
pretendidas. aprender. Soube disso à medida em que os meninos viessem integrar o projeto
do ensino fundamental e médio e na
Os encontros literários buscam privilegiar comentários e perguntas começaram a AEL, em implantação na escola? Secretaria Municipal de Educação de São
os aspectos lúdicos presentes na leitura. ser formulados em sala de aula: Não raramente, meninos se identificavam Paulo.
EDUCAÇÃO JORNAL EGBÉ 9

A escola como agente fundamental


O papel da mulher na promoção da igualdade de gênero
na educação É Coisa de Menino ou de Menina? na infância
A Importância da Educação nas Questões Os primeiros anos de vida A escola como agente fundamental na
Falar sobre a importância da mulher na de Gênero. são importantes e de intenso promoção da igualdade de gênero na
educação transcende uma abordagem desenvolvimento emocional e infância
sobre igualdades. Sua relevância e atuação Os desafios de ser mulher têm raízes cognitivo. Alguns pesquisadores A escola é um ambiente crucial para o
se fazem presentes desde os primórdios, culturais das mais variadas gêneses. É tão afirmam que a educação infantil é mais desenvolvimento da criança, e seu papel
exercendo um papel incontestável e vital na sútil que não se atribui a devida atenção. importante que a faculdade, pois é neste na promoção da igualdade de gênero
construção da sociedade. na infância é inegável. Através de ações
Atuando na educação é possível perceber período que se desenvolve habilidades
A ela, o poder de trazer à vida um novo ser, direcionadas e conscientes, a escola pode
essas nuances que perpetuam o machismo emocionais fundamentais para lidar
a ser também por ela nutrido, protegido e contribuir para a construção de uma
orientado nas bases dos princípios éticos e
e objetifica a mulher, ainda nos primeiros com as diferenças e impermanências
anos da vida escolar. da vida com resiliência, ressignificando sociedade mais justa e igualitária para
morais. todos. Algumas ações que a escola pode
No Brasil, as primeiras escolas para Sandália com salto, batom, linha de e reorganizando afetos e desafetos,
tomar para promover a igualdade de gênero
meninas surgiram no século XIX, em 1827, esmalte especialmente para a menina buscando relações e vivências
na infância são:
logo após a Independência do Brasil, com princesa e a preocupação exacerbada harmoniosas. É nesse período também - Combater estereótipos de gênero: É
a finalidade de prepará-las para cuidar de com a aparência num momento em que introjetamos valores, princípios e fundamental que a escola questione e
casa e da família. que o brincar é essencial. Meninas da conceitos (e preconceitos). desconstrua estereótipos de gênero que
No início do século XX, a Educação educação infantil insatisfeitas com seu limitam as oportunidades de meninas e
Primária feminina ainda atendia às cabelo, ou envergonhadas por se verem A educação tem papel importante na meninos. Isso pode ser feito através de
demandas domésticas. A Educação acima do peso sem que a preocupação formação do indivíduo e quando se atividades que incentivam a participação
Secundária ficava restrita ao magistério seja a própria saúde. Meninos envolvidos fala de inclusão e respeito às diferenças de ambos os sexos em diferentes áreas do
– formação de professoras para os cursos em disputas, competição, necessidade precisa trazer para a sala de aula desde a conhecimento, como esportes, matemática
primários. de atenção negligenciada - já que isso mais tenra idade as questões de gênero, e artes.
Ao protagonizar sua atuação profissional, - Promover a igualdade de oportunidades:
é coisa de menina -, medos e angústias para que meninos e meninas não
acessando novos conhecimentos, tomando A escola deve garantir que todos os alunos,
que se transformam em agressividade precisem mais fazer suas escolas com
decisões, sua importância se evidencia e independentemente do seu sexo, tenham
se amplia tanto na esfera social quanto descontrolada ou “birras” intermináveis. base em tabus e preconceitos sexistas.
acesso às mesmas oportunidades de
institucional. Afinal, menino não chora, carrinho é coisa O lúdico e a literatura são caminhos
aprendizado e desenvolvimento. Isso inclui
Para além de sua capacidade intelectual e de de menino e boneca é coisa de menina. riquíssimos e poderosos nessa jornada.
oferecer materiais didáticos inclusivos,
liderança, a visão feminina potencializada Esse peso é também oneroso para os incentivar a participação de meninas em
por sua sensibilidade e facilidade em meninos, já que sensibilidade e emoção é atividades extracurriculares e combater
realizar múltiplas competências, coloca-a coisa de menina. Fernanda Zechinatto - Mineira qualquer tipo de discriminação.
em um patamar de reconhecimento tanto A escola como mediadora do conhecimento que ama o mar e encontrou em - Educar para a igualdade: A escola é um
na formação e transformação de si própria, têm importante papel nas reflexões e ações espaço privilegiado para educar sobre
como na do outro. Itanhaém a oportunidade de realizar
para as transformações necessárias nas a importância da igualdade de gênero.
Sua representatividade no mundo questões de gênero. Não é mais possível
sonhos. Escritora, psicóloga, atua no Isso pode ser feito através de palestras,
acadêmico tem se tornado exponencial. O privilegiar o desenvolvimento intelectual suporte psicopedagógico no Colégio debates, workshops e outras atividades que
meio corporativo também se beneficia pela em detrimento das outras habilidades que Belas Artes de Itanhaém. Apoiadora conscientizem os alunos sobre a temática.
excelência em sua atuação e liderança. do Contos de Garagem para o - Incentivar o diálogo e a reflexão: É
compõe o ser humano. As habilidades
Seja como mãe, como profissional, a mulher importante que a escola crie um ambiente
expressa sua imprescindibilidade em todas
múltiplas enriquecem a diversidade e, ao desenvolvimento de comunidades
mesmo tempo, a riqueza da singularidade seguro e acolhedor para que os alunos
as áreas da vida da humanidade. leitoras a partir da leitura afetiva. possam dialogar e refletir sobre questões
Na educação, berço de todas as outras do indivíduo.
de gênero. Isso pode ser feito através de
profissões, é um vetor de transformação: a rodas de conversa, grupos de apoio e outras
grande mestra que orienta o ser humano atividades que promovam o respeito à
para a vida! diversidade.
créditos: https://www.psicoedu.com.br/2019/01/menino-azul-menina-rosa-pesquisas-em-psicologia-desenvolvimento-de-genero.html

- Envolver a comunidade: A escola deve


Andréa Aydar buscar envolver a comunidade na luta pela
Pedagoga com especialização em Didática igualdade de gênero. Isso pode ser feito
Geral, Educação Especial e Educação, através de palestras para pais e responsáveis,
Arte e História da Cultura. Professora campanhas de conscientização e outras
atividades que promovam a participação da
de Educação Infantil e Fundamental I
comunidade escolar.
da Rede Municipal de Ensino. Pedagoga Ao implementar essas ações, a escola pode
Sistêmica pelo Instituto Hellen Vieira da contribuir para a formação de cidadãos
Fonseca. Pós-graduada em Pedagogia conscientes e comprometidos com a
Sistêmica pela Innovare em parceria construção de uma sociedade mais justa e
com a Universidade Multicultural igualitária para todos.
CUDEC-México. Advogada e Diretora
da APROFEM. Coordenadora do livro Adriana Souza Patrício é professora
Mulheres na Educação. da rede municipal de Itanhaém.
10 SAÚDE JORNAL EGBÉ

As fases de uma mulher Em busca da identidade:


complexidades da adolescência feminina
Neste Mês das Mulheres, é crucial
A reviravolta hormonal que ocorre com É nítida a diferença de comportamento destacar as experiências únicas das
a puberdade transforma fisicamente da mulher antes, durante e depois da meninas adolescentes, uma fase de
uma menina em mulher. gravidez. transição marcada por mudanças
A capacidade reprodutiva que se O temor pela hora do parto é o temor fisiológicas e psicológicas profundas.
instala com a ovulação e toda a pelo desconhecido. Enquanto os meninos enfrentam um
cascata hormonal decorrente traz Não há como fugir dele, porém o mesmo crescimento visível, com braços e pernas
transformações no corpo e na mente. pode ser amenizado com as orientações se alongando e a voz engrossando,
Inicialmente a cabeça é de menina e o recebidas no acompanhamento pré- para as meninas, contudo, o marco da
corpo já é de mulher. natal e com o apoio de amigos e primeira menstruação é um evento
Isso gera novos sentimentos, novas familiares. sísmico, sinalizando não apenas uma
sensações e contestações típicas Enfim, chega o dia do parto e a transformação física, mas também o
da adolescência. vida da mulher jamais será a início de uma jornada complexa em
Com o tempo, os mesma. direção à maturidade.
pensamentos e A magia do
objetivos têm outro nascimento de um A adaptação a um novo esquema crescimento e autodescoberta.
foco. filho novamente corporal pode ser desconcertante para
Chegamos abala a estrutura os recém-chegados à adolescência. O No entanto, é essencial reconhecer
às cólicas da mulher. corpo muda rapidamente, enquanto o poder e a resiliência das jovens
menstruais, à A cumplicidade a mente tenta acompanhar o ritmo, mulheres. Apesar dos desafios, elas
tensão pré- criada entre muitas vezes resultando em um continuam a desafiar normas sociais,
menstrual, à mãe e filho descompasso entre a percepção interna a buscar sua voz e a lutar por um
se x ua l idade durante a e a realidade externa. É comum futuro mais igualitário e inclusivo.
af lorada amamentação encontrar adolescentes com corpos
e muitos se torna algo desenvolvidos, mas com mentes que É fundamental oferecer apoio e
medos. indestrutível. ainda flutuam entre a infância e a recursos adequados às adolescentes,
Medo de Dá mesma maturidade adulta, uma dicotomia garantindo que tenham acesso à
uma gravidez forma, as que faz parte do processo natural de educação, saúde mental e sexual, além
indesejada, noites mal crescimento e autoconhecimento. de oportunidades para desenvolver
medo de dormidas, as suas habilidades e perseguir seus
infecções cólicas e a febre No entanto, para as jovens essa sonhos.
sex ua lmente parecem ser transição é ainda mais complexa.
transmissíveis eternas. Além das transformações físicas e Neste mês das mulheres, celebremos
e medo das Os filhos crescem, mentais, elas enfrentam desafios não apenas as conquistas das
mudanças corporais. a vida passa e chega únicos relacionados à sua identidade de mulheres adultas, mas também
O tempo passa e a uma nova fase. gênero. A sociedade impõe expectativas o potencial e a determinação das
cabeça vai mudando. A menopausa, conceituada e padrões específicos para as mulheres, meninas adolescentes, que estão
Chegam os relacionamentos, como a última menstruação desde uma tenra idade, e durante a moldando o futuro com coragem e
as alegrias e as decepções. na vida da mulher, mostra o fim de adolescência essas pressões podem se determinação.
As preocupações com o corpo se sua fase reprodutiva. intensificar.
misturam com o medo de não poder Traz consigo as ondas de calor, a
engravidar ou com a possibilidade de insônia, a irritabilidade, a apatia.
Sumaia Gonçalves
A pressão para se encaixar em (CRP:06/60052) é psicóloga,
engravidar. A pele e a vagina se tornam ressecadas padrões de beleza inatingíveis, a
Os relacionamentos vêm e vão. pedagoga, bacharel em Matemática
e parece que a vida fica mais pálida. luta contra estereótipos de gênero
As atrações e rejeições também. e mestranda em Tecnologias da
Também aparecem novas preocupações: e a conscientização sobre questões
De repente surge uma gravidez e a Educação, com ampla experiência com
o câncer, a osteoporose, as doenças relacionadas à sexualidade e saúde
sensação de ter gerado um novo ser o público infantojuvenil.
metabólicas, etc.. reprodutiva são apenas algumas
dentro de si, o que abala a estrutura Enfim, são fases a serem vividas. De das realidades que as adolescentes
física, emocional e social da mulher. Contato: https://bit.ly/
preferência com tranquilidade, pois enfrentam diariamente. Em muitas
A alegria se mistura com o medo do SumaiaPsicologaInfantil
todas valem a pena. culturas, as meninas são ensinadas
desconhecido. Tel/Whatsapp: (13) 99677-7989
Cada uma com suas particularidades. desde cedo a assumir responsabilidades
Então surgem mais desconfortos : as (13) 3411 -2184
domésticas e a priorizar o bem-estar Endereço: Rua Joaquim Meira, 299
náuseas e vômitos, as dores abdominais,
Bruno Francisco Tonini dos outros em detrimento de seu - Centro
os sangramentos inesperados, a próprio desenvolvimento pessoal, o
dificuldade de locomoção e o eterno Barbosa é médico ginecologista,
obstetra e educador sexual que pode limitar suas oportunidades de
cansaço.
SOCIEDADE JORNAL EGBÉ 11

O feminismo que ninguém vê


Onde estavam as mulheres
negras no contexto histórico
do Dia 8 de março?
Muito se fala do episódio que deu O feminismo pode ser encarado feminismo que ninguém vê? É o das feminidade-padrão ou se é cor de
origem à data: um protesto em 1857 como uma ação para acabar com mães solteiras, que cuidam dos seus mulher ou homem, essa que encara a
em que operárias brancas foram opressão sexista, possui diversas filhos sozinhos, da mulher negra morte dos filhos e maridos, em parte
feridas e mortas numa fábrica. Mas vertentes, de modo que cada uma empregada doméstica, da mulher às vezes causada pelo estado, essa que
sabe o que também acontecia em faz uma reflexão do que é ser mulher trabalhadora que sai de manhã para acorda todos os dias de manhã, da
1857? ESCRAVIDÃO. Sim, até na sociedade. A sociedade de forma encarar trabalhos precarizados. dupla ou tripla jornada de trabalho.
nos Estados Unidos. Lá, a abolição desigual designou às mulheres e Muitas vezes, o exemplo de mulheres
só aconteceu em 1865, e, no Brasil, aos homens os papéis de gênero: que subverteram a ordem são das O feminismo que ninguém vê precisa
apenas em 1888. às mulheres, cuidar da família, do grandes CEOs de grandes empresas, deixar de ser invisível e ser encarado
marido, da casa, das crianças; aos mas no Brasil existe um feminismo que como centro do movimento feminista,
Essa introdução foi pra explicar que homens, o papel de prover o núcleo é apagado e que muitas mulheres nem pois, ainda que tenhamos conquistado
as pautas e demandas de mulheres familiar. sequer se encaram como feministas, muito, há um mundo todo e sociedade
brancas e negras, desde sua origem, ou pensam em outras formas de toda para avançar ainda mais.
não são as mesmas. E que a própria Essa forma de pensar e organizar a mulheridade, pois a mulher-padrão, Precisamos e vamos avançar, pois a
imagem de luta e emancipação é sociedade está ultrapassada, já que essa do lar, nunca as representou. luta das mulheres muda o mundo.
diferente. desde da década de 1960 as mulheres
ocupam o mercado de trabalho. Esses são os feminismos da mãe solo,
Enquanto mulheres brancas lutavam Ainda que os trabalhos formais preta, periférica, que não tem tempo Micaela Rodrigues é professora
para ter o direito de trabalhar fora de designados para elas reforcem de pensar se a cor rosa reforça sua de geografia e coordenadora nacional do
casa, mulheres negras trabalhavam os papéis de gênero, essa Coletivo Juntas.
oportunidade abriu portas
dentro das casas das mulheres
para mulheres em forma
brancas, escravizadas, há várias
geral terem a sua autonomia
gerações, inclusive.
diante da sociedade que
as oprime. E, digo, de
Ainda assim, as mulheres negras, mulheres em forma geral,
africanas, do continente ou da pois mulheres negras
Diáspora, sempre lutaram pela sempre tiveram no mercado
emancipação de seu povo. Povo. de trabalho informal, pós-
Homens e mulheres. Esse é um processo de escravidão.
princípio matriarcal: o equilíbrio
como fonte e razão da luta. Equilíbrio No entanto, pouco ainda,
do masculino e feminino, na natureza, se vê os trabalhos no
no corpo, na vida pública. qual as mulheres não
São valorizadas e respeitadas pela sua reforcem os papéis de
capacidade de gerar e nutrir vidas, gênero mostrando que
literal e metaforicamente. as desigualdades ainda
O Matriarcado é um sistema são latentes. Segundo,
desenvolvido em África e que nada o IBGE (2023), entra
tem a ver com desprezar homens a mulher branca e o
ou superioridade feminina. É um homem branco existe
sistema de complementaridade uma desigualdade salarial
entre masculino e feminino, de 30%, entre a mulher
compreendendo o protagonismo negra e homem branco
feminino na geração de uma vida existe uma desigualdade
e no quanto essa característica está salarial que varia de 40 a
presente em outras esferas da vida em 50%. No que diz respeito
sociedade. ao trabalho de cuidados,
esse ainda é realizado
essencialmente por elas
Jô Gomes, jornalista, pós-graduada sem muita ajuda, em casa,
em Gestão de Políticas Públicas de Gênero mesmo que os homens hoje
e Raça pela Universidade de Brasília em dia lavem as louças.
e mestra em Dança pela Universidade
Federal da Bahia. Afinal, o que é esse
12 MULHER JORNAL EGBÉ

*Empoderamento feminino: uma reflexão no mês da mulher*


À medida que celebramos o Mês da que precisam ser rompidos, como o da profissionais com as domésticas e mulheres como agentes de mudança e
Mulher, é crucial reconhecer não apenas incapacidade da mulher, geralmente familiares. transformação. Aliás, historicamente, essas
as conquistas significativas alcançadas vista como menos capaz que o homem, mulheres muitas vezes iniciaram processos
ao longo dos anos, mas também as da fragilidade emocional da mulher, a No âmbito jurídico, presenciamos de mudança social antes de movimentos
áreas em que ainda há muito a ser feito. ideia de que mulheres negras sentem de modo significativo no Mês iniciados por outras denominações, sendo
menos dor e por isto não precisam de da Mulher o caso de jogador de o matriarcado característica intrínseca
Em primeiro lugar, é importante tanta ou nenhuma anestesia no parto, o futebol Daniel Alves, condenado ao estabelecimento das religiões afro-
relembrar os ganhos históricos das que causa violência obstétrica para este por agressão sexual, mas solto após brasileiras no Brasil. Nas práticas religiosas
mulheres, que foram conquistados grupo em maior e acentuada relevância. pagamento de fiança. A violência afro-brasileiras, elas desempenham
com luta e resistência. Mulheres de sexual tem cor, classe e raça. papéis centrais como líderes espirituais,
diversas partes do mundo têm lutado Ainda, cumpre falar da solidão No âmbito das religiões afro- curandeiras, conselheiras e guardiãs das
exaustivamente por direitos básicos, de mulheres negras, que durante brasileiras, é fundamental diferentes tradições. Elas são essenciais
como o direito ao voto, à educação, à séculos foram marcadas pelo estigma reconhecer e valorizar o papel das para a preservação e transmissão dos
inserção no mercado de trabalho, ao sexualizado e que marcaram a vida conhecimentos ancestrais, além de serem
anticoncepcional. de gerações e gerações até os dias catalisadoras de movimentos sociais
atuais. A maior parte dos lares do e políticos que buscam a justiça e a
A propósito, é importante registrar Brasil é comandada por mulheres, igualdade para todos.
que o anticoncepcional proporcionou em sua maioria mulheres negras, que Portanto, neste Mês da Mulher, é
às mulheres controle do processo sofrem um isolamento de convívio fundamental não apenas celebrar as
de natalidade e só assim puderam de companheiros. Isto se reflete conquistas das mulheres, mas também
se organizar para se inserirem no em mulheres que ocupam sistemas refletir sobre os desafios que ainda
mercado de trabalho, no processo carcerários e são esquecidas pelos enfrentamos. Devemos continuar lutando
de formação educacional e mesmo companheiros e, quando não, pelos por um mundo mais justo e igualitário,
em novos comportamentos da vida familiares em geral. onde todas as mulheres tenham a
sexual. Foi tamanha a importância, No Brasil, ao longo do tempo, vimos as oportunidade de realizar seu potencial
que podemos afirmar que foi a mulheres avançarem em diversas esferas, pleno, seja na esfera religiosa, social,
revolução social causada pelo evento do conquistando representatividade nos política ou econômica. Juntas, podemos
anticoncepcional. Isto também aponta três poderes, ocupando posições de superar as barreiras e construir um futuro
uma mudança significativa do olhar da destaque na política, na ciência, nas mais inclusivo e equitativo para todas as
ciência sobre a saúde da mulher, que artes e em muitas outras áreas. mulheres, hoje e para as gerações futuras.
ainda é uma luta que estamos travando Contudo, mesmo com essas conquistas,
para que também sejamos prioridades ainda há desafios significativos a
do avanço científico na área da saúde. serem enfrentados. A desigualdade Maria Elise Rivas é mestra e doutora
salarial, por exemplo, persiste, com em ciências da religião pela PUC-SP, teóloga
Lembrando que, ao falar de saúde mulheres recebendo salários inferiores pela FTU, diretora da Revista Estudos afro-
das mulheres, ainda temos muito a aos homens em muitos setores. Além brasileiros, curadora do Festival da Corte,
percorrer, pois a maior parte dos estudos disso, a realidade da dupla ou tripla membro da Academia Itanhaense de Letras
volta-se à população branca, de modo jornada de trabalho é uma carga pesada e cidadã honorária de Itanhaém.
que ainda existe negligência da saúde carregada por muitas mulheres, que
de mulheres negras. Além de mitos precisam conciliar as responsabilidades

Maria Elise Rivas lança seu primeiro livro de poesias: “Paradoxos”


A Pinacoteca Municipal de Itanhaém, Alfredo Volpi, recebeu O livro já havia sido lançado em São Paulo, na Livraria Cultura, no
na noite do dia 21 deste mês o lançamento do livro Paradoxos, dia 6 de março, num evento que contou com mais de 150 pessoas.
da escritora Maria Elise Rivas. A obra é o primeiro livro da O lançamento de Paradoxos marca um momento importante na
autora no campo da poesia e traz um pouco de sua intimidade carreira de Maria Elise Rivas e contribui para o enriquecimento da
de pensamentos e sentimentos. cena literária de Itanhaém. A obra é um convite à leitura e à reflexão,
O evento contou com a presença de amigos, familiares e e certamente conquistará o público pela sua beleza e originalidade.
admiradores da autora, que puderam prestigiar e adquirir a
obra. Em seguida, Maria Elise Rivas autografou exemplares da Informações:
obra e conversou com o público sobre sua trajetória literária. Livro: Paradoxos
De acordo com Rutinaldo Bastos, que prefaciou a obra, “Os Autora: Maria Elise Rivas
poemas que encontramos aqui dão clara a dimensão de uma Editora: OICD
vida que, consagrada a cuidar de tantos, resolveu também cuidar
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de si, mostrando-se de carne e osso, na dor e na delícia de ser Locais de venda: Amazon, Ponto Frio, Americanas e demais market places
mulher.”.

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