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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – PUBLICIDADE E
PROPAGANDA

MEU EU DO SUL:
AS MINORIAS NO MOVIMENTO TRADICIONALISTA
GAÚCHO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE GRADUAÇÃO

Tainá Severo Valenzuela

Santa Maria, RS, Brasil


2021
MEU EU DO SUL:
AS MINORIAS NO MOVIMENTO TRADICIONALISTA
GAÚCHO

Tainá Severo Valenzuela

Trabalho de Conclusão de Graduação apresentado ao Curso de


Comunicação Social – Hab. Publicidade e Propaganda da Universidade
Federal de Santa Maria, como requisito parcial para a obtenção do grau
de Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda

Orientadora:
Prof. Drª. Milena Carvalho Bezerra Freire de Oliveira-Cruz

Coorientador:
Prof. Dr. Luciano Mattana

Santa Maria, RS, Brasil

2021
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda

A Comissão Examinadora, abaixo assinada,


aprova o Trabalho de Conclusão de Graduação

MEU EU DO SUL:
AS MINORIAS NO MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO

elaborado por
Tainá Severo Valenzuela

como requisito parcial para obtenção do grau de


Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda

COMISSÃO EXAMINADORA:

Milena Carvalho Bezerra Freire de Oliveira-Cruz, Drª. (UFSM)


(Orientadora/Presidente)

Flavi Ferreira Lisboa Filho, Dr. (UFSM)

Liana Bazanela, Especialista (externo)

Santa Maria, 18 de agosto de 2021


Dedico este trabalho à cada pessoa que, como eu,
já foi forçada a silenciar diante do simples fato de ser quem é
- mas não silenciou.
Agradecimentos
Vanessa Simas, pela honra de compartilhar sua existência comigo e por me
fazer acreditar que vale a pena viver a vida a cada respiração.
UFSM, por abrigar meus sonhos e a pluralidade dos meus desafios.
Minha Mãe, Greici, que nunca me deixou duvidar que eu poderia ser tudo
aquilo que eu quisesse ser; Bruna e Tita, minhas primas-irmãs, pela referência, pelo
encorajamento, pela inspiração, por me dizerem que posso - não importa o quê;
Guilherme, meu irmão, por dar suporte a este propósito de vida quando ele ainda
era um projeto de passar no vestibular. Por me achar f*d@. E por trazer a Thyrsah
pra ser parte de nós; tias e tio, demais primos e pai, que vez ou outra
compartilharam comigo os momentos que fizeram parte desta trajetória - e da vida
Anna, lndiara e Luciane, por serem minhas parceiras de vida, em seus
desafios, conquistas, dores, medos e sonhos. Por segurarem minha mão em
qualquer circunstância, por construírem a base segura por onde eu posso seguir
meu caminho sem jamais ter medo de me sentir sozinha. Por me permitem amá-las.
Bibi e Paola, por serem parte e fazerem parte. Família Rosário, os amigos e amigas
que atravessam todos os tempos e distâncias. Meu maior e mais bonito pedaço de
história, origem e descendência.
Noel, meu mais amado “case de sucesso”, e cada pessoa que não duvidou de
mim, do meu caráter, da minha competência e muito menos da verdade dos meus
ideais, propósitos e intenções.
Professoras/es do curso de Publicidade e Propaganda, em especial, Milena
Freire, minha orientadora, por me inspirar, por aceitar este desafio, por compreender
meus obstáculos e por me motivar a ser uma pessoa melhor; Luciano Mattana e
Janderle Rabaiolli, em nome dos quais agradeço todos, pelo incentivo, pela
paciência com minhas limitações, pela preocupação com minha formação.
Carla Flores, Diretora da Escola Humberto de Campos, pelo cuidado comigo,
pela paciência com meus sonhos e por ser facilitadora na realização deles.
Equipe de filmagem do documentário, entrevistados, time do apoio: vocês
acreditam mais em mim do que eu mesma, como agradecer por tanto?
Toda pessoa que já teve a gentileza de me destinar palavras de admiração,
encorajamento e afeto. Todos que me amam com a verdade de não desejar que eu
seja outro alguém. Espero sempre merecer e saber retribuir.
“Minha dança tem cheiro de terra
E rasga o presente com a raiz do meu passado
Pois quando o tablado me abraça
Seus braços também enlaçam a história de mil mulheres.

Renasce a índia que me batiza


E a Guarany ganha outra vida mesmo distante de uma Lorena.
A Espanhola traduz o meu jeito
E tantas europeias me trazem trejeitos
Enquanto a negra também me lembra os defeitos da sociedade que partiu.

Renascem as donas das casas


As que empunharam armas
E as que foram dilaceradas frente a covardia dos homens.

Elas dançam comigo.”

Trecho de “Bailarina”, poesia de autoria desta que escreve este TCC.


RESUMO

Trabalho de Conclusão de Graduação


Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda
Universidade Federal de Santa Maria

MEU EU DO SUL: AS MINORIAS NO MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO

AUTORA: Tainá Severo Valenzuela


ORIENTADORA: Drª. Milena Carvalho Bezerra Freire de Oliveira-Cruz
COORIENTADOR: Dr. Luciano Mattana
Santa Maria, 18 de agosto de 2021.

Este trabalho versa sobre as minorias atuantes no Movimento Tradicionalista


Gaúcho do Rio Grande do Sul (MTG-RS). Especialmente, observa, analisa e
problematiza a forma como estas minorias se mantém ativas no MTG, sendo elas
influentes no Movimento enquanto agentes de preservação da cultural local, mesmo
que o MTG identifique, enquanto gênese, o “gaúcho tradicionalista” de forma
estereotipada e distante da própria identidade destas minorias. O ponto de partida
deste trabalho foi as vivências empíricas da autora no meio tradicionalista, cujas
considerações foram investigadas através de uma Pesquisa de Opinião Pública, que
contou com a participação 333 tradicionalistas respondentes. Para dar consistência
às análises e ao produto final, foram realizados apontamentos de caráter
historiográfico quanto à pluralidade social existente na formação do Rio Grande do
Sul; quanto ao surgimento do Movimento Tradicionalista; e quanto ao enlace destes
recortes específicos com a história mundial. Tendo a POP, a revisão historiográfica e
as considerações empíricas da autora à disposição, foi elaborado um produto
audiovisual intitulado “Meu Eu do Sul”, onde, em formato de documentário, 10
pessoas do meio tradicionalista, de múltiplas identidades, foram entrevistadas e,
além de revelarem sobre suas vivências e sentimentos envolvidos na prática do
tradicionalismo, foram provocadas a refletirem sobre a prática do MTG, enquanto
instituição, no que toca à conivência e reprodução de situações de discriminação e
preconceito.

Palavras-Chaves: Rio Grande do Sul, tradicionalismo, MTG, minorias, audiovisual


ABSTRACT

Graduation Final Paper


Social Communication Course - Publicity and Advertising
Universidade Federal de Santa Maria

MY SOUTH SELF: THE MINORITIES AT THE MOVIMENTO TRADICIONALISTA


GAÚCHO

AUTHOR: Tainá Severo Valenzuela


ADVISOR: Drª. Milena Carvalho Bezerra Freire de Oliveira-Cruz
CO-ADVISOR: Dr. Luciano Mattana
Santa Maria, August 18, 2021.

This article is about the active minorities in the Movimento Tradicionalista Gaúcho of
Rio Grande do Sul (MTG-RS).In particular, it observes, analyzes and problematizes
how these minorities remain active in the MTG, being influential in the Movement as
agents for the preservation of local culture, even though the MTG identifies, as
genesis, the “traditionalist gaucho” in a stereotyped way and far from the true identity
of these minorities.The starting point of this paper was the author's empirical
experiences in the traditionalist milieu, whose considerations were investigated
through a Public Opinion Survey, which had the participation of 333 traditionalist
respondents.To strengthen the analyzes and the final product, historiographical notes
were made regarding the social plurality existing in the formation of Rio Grande do
Sul; on the formation of the Traditionalist Movement; and as to the connection of
these matters with world history.With the POP, the historiographical review and the
author's empirical considerations available, an audiovisual product entitled “Meu Eu
do Sul” was created, where, in documentary format, 10 people from the traditionalist
representing different identities, were interviewed, revealing their experiences and
feelings involved in the practice of traditionalism, were encouraged to reflect on the
practice of MTG, as an institution, on the collusion and reproduction of situations of
discrimination and prejudice.

Word-Keys: Rio Grande do Sul, tradition, MTG, minorities, audio-visual


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Imagem da tela de abertura do Google Forms para os


respondentes da POP...................................................................... 48
Ilustração 2 – Gráfico com as respostas da POP sobre o comprometimento das
entidades tradicionalistas com o Item I da Carta de Princípios........ 51
Ilustração 3 – Gráfico com as respostas da POP sobre o comprometimento da
Diretoria do MTG com o Item I da Carta de Princípios..................... 51
Ilustração 4 – Gráfico de respostas da pergunta sobre os esforços do MTG para
ser includente................................................................................... 52
Ilustração 5 – Gráfico de respostas da pergunta sobre situações de preconceitos
ou discriminação dentro do MTG...................................................... 53
Ilustração 6 – Gráfico de respostas da pergunta sobre as dificuldades das
pessoas de baixa renda se manterem no MTG................................ 54
Ilustração 7 – Gráfico de respostas da pergunta sobre os preconceitos já vividos
ou vivenciados nas ações e eventos do MTG.................................. 54
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Perguntas e opções de respostas utilizadas na aplicação da POP. 43


Tabela 2 – Respostas classificadas por tema a partir dos relatos de
preconceitos vividos na atuação no meio tradicionalista.................. 56
Tabela 3 – Sugestões para o MTG na sua conduta frente às minorias sociais 57
Tabela 4 – Roteiro para entrevistas.................................................................. 62
Tabela 5 – Primeira parte do roteiro do audiovisual (abertura).......................... 67
Tabela 6 – Sequência do roteiro do audiovisual (estruturação das entrevistas) 67
Tabela 7 – Parte final do roteiro do audiovisual (encerramento)........................ 68
LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Gráfico com as respostas da POP sobre a região tradicionalista


dos respondentes. ........................................................................... 84
Anexo 2 – Gráfico com as respostas da POP sobre a faixa etária dos
respondentes.................................................................................... 85
Anexo 3 – Gráfico com as respostas da POP sobre a declaração de etnia
dos respondentes conforme a classificação do IBGE...................... 86
Anexo 4 – Gráfico com as respostas da POP sobre a identidade de gênero
dos respondentes............................................................................. 87
Anexo 5 – Gráfico com as respostas da POP sobre a orientação sexual dos
respondentes.................................................................................... 88
Anexo 6 – Gráfico com as respostas da POP sobre as dificuldades das
minorias em se inserirem e se manterem no MTG........................... 89
Anexo 7 – Íntegra das respostas da questão 13 da POP, dissertativa, sobre
as situações de preconceito e discriminação vivenciadas. As
respostas estão apresentadas de forma idêntica com o qual foram
escritas. Nos casos daqueles que assinaram sua resposta (opção
oferecida como facultativa na pergunta), será indicada também a
identidade do respondente............................................................... 90
Anexo 8 – Gráfico com as respostas da POP sobre as pessoas concordarem
ou não com a forma como o MTG atua com relação às minorias.... 94
Anexo 9 – Íntegra das respostas da questão 15 da POP, dissertativa, sobre
as sugestões de como o MTG pode atuar de forma mais incisiva
em favor das minorias. As respostas estão apresentadas de forma
idêntica com o qual foram escritas. Nos casos daqueles que
assinaram sua resposta (opção oferecida como facultativa na
pergunta), será indicada também a identidade do respondente...... 96
Anexo 10 – Autorizações de direito de uso de voz e imagem dos entrevistados
no documentário............................................................................... 103
Anexo 11 – Identidade visual elaborada para o documentário “Meu Eu do Sul”. 115
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 13

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DO BRASIL, O MUNDO


CONTEMPORÂNEO E AS MINORIAS................................................................. 19
2.1. Contexto Histórico........................................................................................ 19
2.2. Minorias.......................................................................................................... 22
2.3. As minorias no contexto histórico e na produção historiográfica do
RS........................................................................................................................... 23

3. O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO: HISTÓRIA, ATUAÇÃO E


REPRESENTAÇÃO............................................................................................... 28
3.1. Contexto histórico do MTG.......................................................................... 28
3.2 O MTG hoje..................................................................................................... 29
3.3. Representação e imaginário na construção da identidade gaúcha: a
ausência das minorias – Considerações teóricas............................................ 32

4. “MEU EU DO SUL” - AS MINORIAS NO TRADICIONALISMO:


CONSIDERAÇÕES EMPÍRICAS E A PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA......... 37
4.1. Considerações empíricas sobre hábitos e práticas do tradicionalismo
organizado............................................................................................................ 37
4.2. A Pesquisa de Opinião Pública (POP), seus resultados e análise dos
dados..................................................................................................................... 42
4.2.1. Aplicação do piloto/validação....................................................................... 46
4.2.2. Instrumento de coleta de dados................................................................... 47
4.2.3. O universo da pesquisa................................................................................ 49
4.2.4. Tabulação e avaliação dos resultados......................................................... 49

5. PRODUTO EXPERIMENTAL: O AUDIOVISUAL.............................................. 60


5.1. Considerações teóricas sobre as entrevistas............................................ 70
5.2. Execução da produção, gravação e edição................................................ 71

6. CONCLUSÃO ................................................................................................... 76

7. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 78

8. ANEXOS............................................................................................................ 84
1. INTRODUÇÃO

Esta proposta nasceu a partir das minhas vivências, enquanto


integrante do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) deste 1997, quando
eu tinha 12 anos. O motivo que me levou ingressar neste Movimento foi a
dança, paixão que me acompanha desde que comecei a dançar ballet, com 4
anos. Os sonhos de bailarina se uniram com sonhos de Prenda1, função que
passei a exercer, oficialmente, desde meus 14 anos.
Por anos, compreendi o MTG da forma que me ensinaram: que eu,
enquanto menina/mulher, tinha determinados lugares a ocupar, formas de me
comportar, e que minhas ações tinham, por objetivo, preservar um passado
liderado por “homens-heróis”. Com o passar dos anos, estes princípios
começaram a me incomodar, mas eu não me sentia no direito de questioná-
los. De uma forma talvez mais instintiva do que consciente, passei a realizar
pesquisas nos livros da biblioteca da minha cidade, Rosário do Sul, buscando
outras referências para entender este universo (caso elas existissem), mas
elas reforçavam o mesmo estereótipo que já haviam me ensinado.
Inquieta e desconfortável, passei a conhecer lentamente sobre
vivandeiras2, e assim compreendi que as mulheres do RS não se resumiam à
Anita Garibaldi3. Entendi que essas “chinas” sobre as quais falavam tinham
algo significativo para me ensinar, mesmo que, quando citadas, aparecessem
imersas dentro daquela história que me ensinaram sobre os homens. Depois,
adentrei no universo dos Lanceiros Negros4, e me choquei ao compreender

1 Prendas são meninas escolhidas em suas entidades tradicionalistas que ocupam um posto
equivalente às Rainhas de clubes sociais. Importante destacar que as Prendas são
escolhidas através de um concurso cujas provas testam diversos conhecimentos, não se
tratando de um concurso de beleza.
2 Vivandeiras ou Chinas (ou ainda, Chinas de Soldados) era como eram chamadas as

mulheres que acompanhavam as tropas de soldados, compostas por homens. Nas situações
de guerra, elas se integravam à estas tropas atuando como enfermeiras e auxiliares nos
acampamentos, muitas vezes se prostituindo ou sendo combatentes (GONÇALVES, 2009).
3 Anita Garibaldi é uma mulher que ganhou destaque na historiografia gaúcha e catarinense

por ter se vinculado ao Movimento Farroupilha e se unido à Giuseppe Garibaldi, um dos


generais deste Movimento (JUNIOR, 2000).
4 Lanceiros Negros são os escravos que foram recrutados pelos líderes do Movimento

Farroupilha para atuarem neste enquanto soldados, com a promessa de liberdade após o
confronto. Com a derrota do Movimento, estes Lanceiros foram traídos no evento conhecido
por “Massacre de Porongos”, sendo assassinados em uma emboscada pelos próprios líderes
Farroupilhas, ao invés de receberem a prometida liberdade (FLORES, 2004).
14

que eles teriam sido traídos justamente pelos generais que me diziam para
aplaudir e representar.
Essas novas – e ainda singelas – referências me traziam dúvidas:
deveria eu detestar tudo isso que falavam sobre o Movimento que eu
defendia? E como fazer isso se o palco me emocionava, a pilcha me
fascinava, as coisas que fazíamos me arrepiavam o corpo todo? Como
detestar algo que trazia uma oportunidade ótima para as crianças que
moravam no espaço periférico onde ficava minha entidade5?
Foi quando comecei a amadurecer as reflexões acerca do problema:
não era o amor que eu destinava ao que fazia, mas sim a forma como este
movimento estava concebido e sendo divulgado. O tradicionalismo que me
causava arrepios era aquele que falava daquelas mulheres, daqueles
lanceiros, das crianças, e senti que esses temas eram os que deveriam ser
base para as noções de cultura divulgadas no Estado do Rio Grande do Sul.
Ainda era ousadia demais, ali pelos anos 2000, falarmos sobre
homossexuais. Eu mesma concordava que “aí já era demais”. Felizmente, o
tempo, o amadurecimento, as vivências e a convivência com tantas pessoas,
especialmente no mundo acadêmico que conheci quando mudei para Santa
Maria em 2005, me auxiliaram a descontruir esses conceitos e entender que
não “era demais”, não: era normal, era verdade e era necessário falarmos
sobre isso.
Em Santa Maria, passei no vestibular para cursar, justamente, História,
na Universidade Federal de Santa Maria. Antes mesmo do início das aulas,
procurei por uma entidade tradicionalista na cidade. Optei pelo Departamento
de Tradições Gaúchas (DTG) Noel Guarany, da própria UFSM, que conheci
através de um jornal informativo que recebi na fila onde eu aguardava para
acessar ao prédio onde faria minha prova do vestibular. Em fevereiro de 2006
passei a fazer parte dessa entidade que havia sido recentemente fundada, em
22 de novembro de 2005. Nela, encontrei pessoas que concordavam comigo
sobre as coisas que tinham que ser revistas, sobre precisarmos acender
novas referências. A partir desses conceitos similares, nos fortalecemos e

5 Entidades Tradicionalistas são os espaços, comumente conhecidos por CTG (Centro de


Tradições Gaúchas) onde se organizam e se reúnem os tradicionalistas, de forma a lembrar
um clube social, porém com a intenção de valorização e atuação no meio cultural regional.
15

fizemos com que a entidade crescesse. Já se passaram quase 16 anos desde


então, e o DTG se tornou reconhecido e valorizado no RS em todos os seus
departamentos, justamente por aceitar a pluralidade e apresentar, de forma
embasada e coerente, uma visão de cultura, história e tradicionalismo que
vinha silenciada, abafada e, diga-se, nada bem quista pelos líderes mais
salientes do MTG.
O amadurecimento desses conceitos, estas vivências e experiências,
me fizeram chegar a este Trabalho de Conclusão da minha segunda
graduação. De tudo que vi e vejo, são muitas as manifestações edificantes,
mas ainda gritam o machismo declarado ou velado entre tantos preconceitos
que sofri/sofro por ser mulher; a homofobia e tantas formas como amigos e
amigas já foram discriminados e ridicularizados por sua orientação sexual; o
racismo deflagrado contra tantas pessoas pretas que conheço; a ausência do
povo autóctone neste meio que dizem respeitar por ser uma cultura originária;
os jogos de interesse, cujos ganhos, chego me mostrar ingênua para poder
saber denotar integralmente.
São tantos problemas que matam a pluralidade da cultura e, além
disso, ferem o 1º Item da Carta de Princípios do Tradicionalismo6: Auxiliar o
Estado na solução dos seus problemas fundamentais e na conquista do bem
coletivo. Ferem as pessoas e a construção de uma sociedade melhor e com
equidade. Já estamos atrasados no que toca trazer à luz do senso comum, o
que muitos grupos de danças, músicos, poetas e escritores tentam contar: o
fato de que nosso passado não é um espaço mítico, não é puramente virtuoso
como insistem em contar e, muito menos, branco, rico, masculino e hétero –
essas são apenas características das classes dominantes, não do “povo
gaúcho”. Na verdade, o passado é igual ao presente: plural e feito de gente,
não de heróis.
As mulheres, os negros, os nativos, os homossexuais não são pessoas
que “colaboraram” com a história: eles a fizeram. Não são apêndices, são
agentes históricos da mesma forma que o homem branco. São fios

6A Carta de Princípios é um documento, aprovado no ano de 1961 e escrita por Glaucus


Saraiva, que apresenta os princípios que devem nortear todos os tradicionalistas. Disponível
em http://www.mtg.org.br/carta-de-principios/. Acesso em 27 mai.2021.
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condutores, são construtores e viviam articulados com aqueles que, dados


seus privilégios, salvaram seus nomes em documentos considerados oficiais.
A partir dessas considerações, esclareço que o objetivo deste trabalho
é explicitar, a partir da produção de um produto audiovisual, a existência
de preconceitos arraigados no Movimento Tradicionalista Gaúcho, e
denotar que estes preconceitos ilegítimos buscam se manter sólidos,
disfarçados de “valor”7. Isso ocorre ao mesmo tempo em que a Instituição
se divulga, tanto em seus canais oficiais quanto no discurso de seus
representantes, como despida de toda forma de preconceito, limitações, e
como um lugar aberto a receber todas as pessoas. Porém, as vivências de
anos neste meio me permitem afirmar que isso não é verdade.
Para buscar comprovar essa situação que tenho percebido,
empiricamente, ao longo dos anos, caminhamos por algumas etapas que
culminam com este TCC. Realizamos uma pesquisa com tradicionalistas de
todas as regiões do Estado buscando analisar se essas percepções eram
apenas minhas e de pessoas próximas, ou compartilhadas por mais gente.
Buscamos localizar as minorias dentro do meio e escutá-las.
Para divulgar o que foi coletado de informações, optamos por
desenvolver um material audiovisual, dando espaço de fala justamente a
estas pessoas. Muitas delas viveram o mesmo que eu já vivi: constrangimento
e censura diante da condição de “ser quem se é” (no meu caso, ser mulher).
Sendo assim, o alicerce do desenvolvimento deste trabalho foi,
justamente, a fala das minorias dentro do Movimento Tradicionalista Gaúcho,
demonstrando as vezes em que suas vozes foram abafadas e seu grito ecoou
de forma dispersa, ou “muda” no meio tradicionalista, mesmo que essas
pessoas sejam agentes que produzem efetivamente arte e cultura no
tradicionalismo gaúcho. Essa intenção de estender os lugares de fala destas
minorias vai ao encontro das transformações sociais em caráter global que
prezam pelo melhor convívio coletivo e aceitação das diferenças. Ser a si
mesmo, no Sul, deveria ser compreendido como algo naturalmente legítimo,

7 É comum escutarmos, no ambiente tradicionalista, frases como “aqui é bom pra educar os
filhos pois não tem modernidade”, por pessoas que entendem, por “modernidade”, a
homossexualidade, por exemplo.
17

tal qual é, sem ser necessário criar esforços para mudar a si em busca de
aceitação.
O objetivo principal deste trabalho foi a produção de material
audiovisual, em formato de documentário, contando sobre o envolvimento de
tradicionalistas em suas atividades no meio, mas ao mesmo tempo revelando
situações de preconceito já vividas, apresentando assim, a ótica das minorias.
Quanto aos objetivos específicos deste trabalho, pontuamos os seguintes:
1. Realização de uma Pesquisa de Opinião Pública com os
tradicionalistas atuantes no meio, sobre as problemáticas apontadas
quanto ao ambiente ser, de forma recorrente, discriminatório e/ou
excludente;
2. Relatar sobre a dinâmica empregada pelo MTG na intenção de
preservar a cultura gaúcha;
3. Possibilitar a reflexão entre integrantes e admiradores do Movimento
Tradicionalista sobre a existência de práticas excludentes e o quanto
isso fere, justamente, os princípios do ser tradicionalista;
4. Permitir aos representantes das minorias um espaço de
representatividade dentro do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Pautar uma das Instituições de caráter cultural mais atuantes no


Estado do Rio Grande do Sul, o Movimento Tradicionalista Gaúcho, é
observar que, apesar do discurso ter o tom inclusivo, as minorias ainda estão
distantes tanto da liberdade de expressão, quanto da identidade divulgada do
“gaúcho tradicionalista”. Isso tem sido perceptível ao longo dos anos de
existência do Movimento (cuja fundação data do ano de 1966 8), pois suas
lideranças vieram transcorrendo o tempo reforçando seu caráter elitista,
excludente e patriarcal, preservando uma base ideológica positivista (apenas
em 2019 o Movimento teve a primeira Presidenta mulher, por exemplo. Nunca
houve uma liderança negra nem, assumidamente, da comunidade
LGBTQIA+).
Na contramão disso tudo, existe uma nova geração de tradicionalistas
que compreende o Movimento de uma forma plural, inclusiva e capaz de

8 Disponível em https://www.mtg.org.br/historia-do-mtg/. Acesso em 27 mai.2021.


18

construir para o bem comum através das manifestações culturais. São


pessoas que vivem os princípios de uma sociedade que respeita ao outro
indivíduo independentemente de suas diferenças e praticam o tradicionalismo
de forma a contribuir e somar com o universo ao seu redor.
Não cabe mais ao MTG (e nenhum outro grupo social, diga-se) manter
uma conduta de caráter conservador e, consequentemente, discriminatório e
excludente, justificando isso como um fator basilar de sua formação. É preciso
diferenciar o que é virtude e o que é costume. “Virtude [...] pode ser entendida
como aquilo que o homem faz de melhor e pela qualidade que o homem
busca ser feliz” (MOCELIN, 2018, online). Já costume, na mais simples
definição do Dicionário, se trata de “Prática comum”, “rotina”.9
Preservar determinados costumes, hábitos e práticas que nos remetem
ao passado e que nos ajudam a construir o presente é, dentro de seus
objetivos, fundamental ao MTG. Porém, se ser machista, racista ou
homofóbico, por exemplo, era um costume de determinada época ou
sociedade, não quer dizer que isso seja virtuoso e nem que faça sentido de
ser perpetuado. Se um dia entendemos que as mulheres precisavam manter
um determinado comportamento para serem aceitas, que os homossexuais
não deveriam se expor, que pessoas deficientes deveriam contentar-se com
espaços específicos, que pessoas pretas eram inferiores, que as pessoas de
classe baixa não devem participar de espaços culturais, não significa que isso
é algo valoroso e que mereça ser sustentado. A sociedade está em
transformação. É preciso adaptar-se a ela, em especial, no tocante à
aceitação das diferenças e busca por equidade.
A preservação dos costumes deve estar atrelada às heranças que,
efetivamente, compõem a construção identitária do grupo coletivo, mas não a
perpetuação da intolerância. Enquanto educadora, historiadora e, agora,
comunicadora, é sobre isso que quero contar.

9 Disponível em https://www.dicio.com.br/costume/. Acesso em 27 mai.2021.


19

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DO BRASIL, O


MUNDO CONTEMPORÂNEO E AS MINORIAS

2.1. Contexto histórico


O Brasil que assistiu ao findar do século XIX, vivia transformações
profundas no seio de sua sociedade, cultura e política, com grandes
mudanças na estruturação do seu Estado. A Monarquia, sem meios para
sustentar seu império na ausência da mão de obra escrava e com suas
ideologias fragilizadas, acaba cedendo ao processo de transformação do
Estado. Nasce assim uma República, da qual a classe média vem a se tornar
dominante e dirigente (PÍCCOLO, 1998).
Ao mesmo tempo, no cenário mundial, o século XX chega demarcando
contendas comerciais entre potências europeias, bem como a aberta
rivalidade entre Alemanha e Inglaterra na disputa territorial. Alianças se
formam e a 1ª Guerra Mundial mostra ao mundo a face mais atroz da disputa
pelo poder. Desta guerra, os Estados Unidos da América passam a mostrar a
eficácia antes não revelada de sua organização política e militar, até se
sobressair como a nova grande potência após a 2ª edição da Guerra Mundial,
tirando da Europa sua hegemonia no domínio da sociedade ocidental
(HOBSBAWN, 1998).
Voltando o olhar de forma a compreender este contexto no cenário da
história do RS, precisamos destacar, inicialmente, que a doutrina positivista
de Auguste Comte era a que norteava os valores políticos dos líderes
nacionais e regionais desde início do século XX. No RS, eram representados
principalmente pelo PRR, o Partido Republicano Rio-Grandense, que se
sucedera no poder por cerca de 40 anos entre o final do século XIX e início do
XX10, e tendo como suas figuras icônicas Júlio de Castilhos e seu seguidor,
Borges Medeiros11 (FÉLIX, 1996).

10 A hegemonia do PRR sofreu breves interrupções, sendo elas ainda em 1891, quando Joca
Tavares depõem Júlio de Castilhos da Presidência do Estado. Castilhos reassume o poder
em 1892, auxiliado por uma aliança entre o PRR e o Exército. Castilhos abdica de seu posto
também em 1892, mas retorna em 1893 eleito para o cargo. A fase em que Castilhos não é
Presidente de Estado é conhecida por “Governicho”, quando diversos Presidentes se
sucedem, sem sucesso, no governo do RS. Borges de Medeiros tem seu governo
interrompido apenas entre 1908 e 1913, quando Carlos Barbosa fora eleito (FÉLIX, 1996).
11 Presidentes do RS nos anos de 1891/1893-1889 e 1898-1908/1914-1928, respectivamente.
20

Foi ainda neste início de século que Porto Alegre transformou seu
espaço urbano com a industrialização nascente, com os bondes elétricos, os
automóveis, o futebol, o cinema, os fraques e cartolas, ainda influenciados
pela Europa. A cidade acelerou seu desenvolvimento e passou a receber
pessoas de diversas regiões do próprio Estado, que migram para a capital em
busca de empregos e/ou de estudo (FÉLIX, 1996).
Já o interior do Rio Grande do Sul, principalmente em direção ao oeste,
muito pouco havia recebido destas influências europeias ou norte-americanas
do século XX. A sociedade do interior vivia uma realidade baseada na cultura
rural e fortemente influenciada pela colonização espanhola empreendida no
oeste da América do Sul nos séculos XVII e XVIII. Outras regiões, por sua
vez, se organizavam coletivamente através das heranças do processo de
imigração no século XIX, especialmente a alemã e italiana (KUHN, 2002).
Com o correr do século XX, foram os hábitos culturais dos Estados
Unidos passaram a ditar regras pelo Ocidente, especialmente durante a
Guerra Fria e a consequente afirmação do American Way of Life: o que
comer, o que vestir, que música escutar, onde comprar. Tudo que fosse
oriundo na nova potência se tornara sinônimo da modernidade e de
progresso. Na década de 1940, a cultura dos EUA já se sobrepõe, com o
jeans, o rock e refrigerantes industrializados. O Rio Grande do Sul seguiu
vivendo transformações, muitas que visavam inserir o estado no mesmo
panorama sob o qual estava se organizando, não apenas o restante do país
mas, o restante do mundo ocidental. As influências desse mundo norte-
americanizado se deram, ainda mais especificamente na região leste – onde
fica a capital Porto Alegre (WASSERMAN, 2004).
A historiografia tradicional, que se baseou justamente na concepção
positivista da história, marcou também ao Rio Grande do Sul com um formato
de produção de conhecimento estanque, limitado, de poucas articulações. O
positivismo trabalha, na produção de história, utilizando dados específicos,
documentos ditos oficiais, com informações e sujeitos selecionados, e isso faz
com que sua narrativa reproduza apenas a fala da classe dominante
(masculina e branca). Foi este formato de conhecimento que deu base à
noção identitária do gaúcho tradicionalista, apropriada e difundida
midiaticamente sob diversas intenções (GUTFRIEND, 1992).
21

Assim, o Rio Grande do Sul compartilha, de forma bem saliente, as


referências de sua identidade baseado, principalmente, nos levantes militares
em que o Estado se envolveu (com destaque ao Farroupilha). Neste contexto,
celebração de personagens específicos formou um imaginário que apresenta
os líderes militares como responsáveis por uma gênese “gloriosa” da figura
mítica do gaúcho (PESAVENTO, 1993). Porém, as manifestações culturais
que, após adaptações, se tornaram características do sul do Brasil, têm em
seu suporte as vivências cotidianas tanto da elite rio-grandense quanto das
classes inferiores, o que, de imediato, já nos revela um paradoxo.
Caracterizamos elite da seguinte forma:
Trata-se, com efeito, de um termo empregado em um sentido amplo
e descritivo, que faz referência a categorias ou grupos que parecem
ocupar o “topo” de “estruturas de autoridade ou de distribuição de
recursos”. Entende-se por esta palavra, segundo o caso, ´os
dirigentes’, as ‘pessoas influentes’, os ‘abastados’ ou os
‘privilegiados’, [...]” (HEINZ, 2006, p. 7).

Contemporaneamente, viu-se surgir uma forte tendência no Rio Grande


do Sul em que se pode compreender o transcorrer da história Sul Rio-
Grandense do ponto de vista de quem não esteve no poder, ou quem não
compôs essa elite. Isso redesenha a história regional, fazendo com que a
figura icônica do gaúcho possa deixar de ser um líder militar detentor de
posses para uma figura empobrecida e rústica, que fora muitas vezes
persuadida e ludibriada justamente pelos primeiros. Mesmo que isso venha
ferir a gênese mais popular desta ideia de “gaúcho”, são manifestações que
apresentam com sobriedade a ideia de que há uma gênese diversificada e
que permitem uma ressignificação desta identidade (VALENZUELA, 2010).
O Movimento Nativista12, por exemplo, já ressignifica, com muita
propriedade, desde seu surgimento, essa identidade do gaúcho, e explicita
uma base de valores a partir da ideia de que coube ao povo (ou as minorias,
como vamos falar adiante), acuado e oprimido, lutar pelos seus senhores e/ou

12 Entre os aspectos culturais que se tornaram característicos do Rio Grande do Sul citados
anteriormente, encontram-se as manifestações artísticas, como a música. Quando estas
manifestações artísticas são referentes à terra (região) de onde se é nato chama-se
“nativista”. Este grupo nativista engloba-se ainda na definição de etnia, ou seja, “o termo que
utilizamos para nos referirmos às características culturais – língua, religião, costume,
tradições, sentimento de “lugar” - que são partilhadas por um povo” (HALL, 2006, p. 62).
Assim, os Nativistas formam uma etnia de simpatizantes dos aspectos da cultura e da história
do Rio Grande do Sul (não necessariamente naturais do RS) e a transmitem através de obras
artísticas.
22

coroas na busca de manter princípios como “honra” e “lealdade”. É nesse


momento que, o que entendemos por gênese do rio-grandense, passou a ser
ressignificada através destes “anônimos”, que se tornam então novos
personagens históricos, personificando assim um conjunto de pessoas que
são parte da construção do passado, mas que não são reconhecidos por suas
identidades próprias, e sim pela camada social que compõem.
(VALENZUELA, 2010).

2.2. Minorias
Invisíveis na produção historiográfica tradicional, caracterizamos
minorias como
um grupo de pessoas que de algum modo e em algum setor das
relações sociais se encontra numa situação de dependência ou
desvantagem em relação a um outro grupo, 'maioritário', ambos
integrando uma sociedade mais ampla. As minorias recebem quase
sempre um tratamento discriminatório por parte da maioria.
(CHAVES, 1970, p. 149).

Sendo assim, as minorias não são relativas a números ou quantidade,


e sim sobre grupos que lutam por se manter em condições de igualdade e
equidade de oportunidades frente outro dominante. Reconhecer-se como
integrante de um núcleo minoritário é um dos pontos bastante complexos –
ainda que fundamental – para a busca de uma sociedade com equidade.
Precisamos compreender que “os oprimidos, em lugar de buscar a libertação,
na luta e por ela, tendem a ser opressores também, ou subopressores”
(FREIRE, 1987, p. 21), o que é popularmente reproduzido sobre a educação
que, quando não é libertadora, faz com que o desejo do oprimido seja tornar-
se opressor. A partir disso, entendemos as minorias como o oprimido, e a
classe dominante como o opressor.
Essas pessoas dos grupos minoritários, historicamente oprimidas,
foram que as estiveram invisíveis na historiografia e, por consequência, na
construção das identidades, sejam elas nacionais ou locais. A história é
múltipla e dinâmica tal qual o presente, e não podemos mais percorrê-la
escolhendo apenas algumas personagens para que representem todos os
demais. No caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, quando falamos do
“gaúcho” ou, de forma mais específica, do “gaúcho tradicionalista”, é fácil que
23

se desenhe em nossa mente, um homem, branco, provavelmente montado a


cavalo e, sem dúvidas, heterossexual e “viril”. Vejamos: não há nada de mim,
que vos escrevo, neste homem, nesta identidade, nesta noção de gênese.
Nos parecemos apenas em função da cor da nossa pele. Porém, na ausência
de uma educação libertadora, como citado anteriormente, se torna mais
intuitivo que eu deseje me parecer com este homem do que eu me perceber
enquanto mulher e lutar para que isso seja parte essa identidade também.
De forma específica para este trabalho, trouxemos os seguintes casos
de minoria: as mulheres, as pessoas pretas, as pessoas de baixa renda e as
pessoas da comunidade LGBTQIA+. Não foi possível contemplar13, de forma
ainda mais abrangente, grupos como o das pessoas indígenas e das pessoas
com deficiência física. Porém, a partir dos grupos destacados, buscamos
ressignificar a base social, cultural e identitária do Rio Grande do Sul, uma
vez que nestas minorias temos indivíduos que se reconhecem como
gaúchos/gaúchas e tradicionalistas, sendo atuantes no meio e defensores de
sua proposta cultural, além de engajados no já citado 1º Item da Carta de
Princípios Tradicionalista. Tudo isso sendo vivido, praticado e resguardado,
mesmo que o próprio Movimento insista em sinalizar que sua noção de
gênese se dá em personagens muito distantes daqueles em que estas
pessoas possam se identificar.

2.3. As minorias no contexto histórico e na produção historiográfica do


RS
Na história do Rio Grande do Sul, temos um vasto leque de agentes que,
sendo parte das minorias, não são apresentadas na narrativa historiográfica
tradicional do Estado, como falamos anteriormente. Quem são estas pessoas,
onde estavam e como participaram dos eventos mais salientes da história
regional, não está escrito nos livros que o MTG usa como referência, por
exemplo.14

13 Algumas dificuldades se mostraram presentes nesta busca, em especial, em função deste


trabalho ter sido concluído durante a pandemia de COVID-19, e precisarmos reduzir o
número de pessoas envolvidas em toda sua produção.
14 Ao conferirmos a bibliografia indicada para o estudo dos concursos do MTG, podemos

perceber que há apenas uma obra específica de história nesta indicação. A lista completa
está disponível em http://www.mtg.org.br/wp-content/uploads/2020/06/Nota-de-
Instru%C3%A7%C3%A3o-14-Tema-Ciranda-e-Entrevero.pdf, acesso em 28 mai.2021.
24

Partimos assim para revisitar a história do Rio Grande do Sul a partir de


seus primeiros habitantes, cujas datações mais antigas remontam sociedades
de caçadores-coletores que viveram no território há 12.000 anos atrás. Entre
eles, pode ser destacado o povo Guarani, sob o registro de que seus
resquícios mais antigos datam de 2.000 anos atrás (SCHMITZ, 2006).
A vida organizada pelos habitantes da Pindorama15 sofreu alterações
após o século XV, quando o continente americano assistiu à chegada de
europeus, que dentro de sua política mercantilista, transformaram a América
em um espaço colonial. Assim, um processo de mescla cultural teve início a
partir da dominação dos nativos pelas Coroas Ibéricas, o que ocorreu
principalmente através da catequização ordenada pela religião católica. De
forma muito saliente, temos os processos adotados a partir dos padres
jesuítas, que além de precursores do catolicismo organizado na América do
Sul (deixando herança patrimonial material e imaterial dos Povos das
Missões), protagonizaram a Guerra Guaranítica (violentos conflitos entre
índios guaranis e tropas luso-espanholas após a assinatura do Tratado de
Madri, em 1750) em defesa dos missioneiros (QUEVEDO, 2012).
A grande quantidade de animais livres na região onde se desenvolveu o
atual estado do RS, tanto de gado como cavalos, atraíram os colonizadores
portugueses, que só vieram se instalar na região, em caráter oficial, a partir
de 1726. À época, a base econômica da comunidade local eram as estâncias,
cujos proprietários eram os membros da elite. Sempre com grandes
extensões de terra, tinham na pecuária, especialmente com o gado, sua
principal atividade (QUEVEDO, 2003).
Já aqueles que não foram beneficiados com a divisão das sesmarias, ou
seja, com a doação de terras organizada pela Coroa Portuguesa e onde
posteriormente se formaram essas estâncias, se tornaram pessoas livres que
viviam, em maioria, de trabalhos temporários nessas grandes extensões de
terras (CARREÑO, 1994). Neste cenário nasce a mítica figura de “gaudério”
(“homens sem rei nem lei”16) que se popularizou no Estado após sua

15 Nome pelo qual era conhecia a região onde se formou o Brasil, antes da chegada dos
europeus.
16 A partir da descrição de viajantes, foi forjada uma imagem do gaúcho como homens

errantes que não respeitavam regras sociais e nem obedeciam às coroas ibéricas. O termo
25

formação (com a fundação oficializada em 1737) e, de forma contraditória,


também compôs a referência para a gênese do “gaúcho”. Contraditório
porque ao se buscar uma figura mítica, se usa esse latifundiário imbuído de
valores e disciplina, mas também se toma por referência o indivíduo tomado
por “errante”, desregrado, individualista, em uma tentativa de mesclar ambas
referências e formar uma só.
Sobre o período que engloba a década de 1780 temos o tráfico negreiro
ganhando força, principalmente com o desenvolvimento das charqueadas,
que eram latifúndios voltados à produção do charque (ou carne seca, ou
carne de sol), estruturados especialmente no sudeste de onde se formou o
Estado do RS (de forma mais significativa, onde hoje é a cidade de Pelotas).
Os escravos passam a compor cerca de 29% da população rio-grandense, e
este número se manteve em crescimento nos anos sequentes (MAESTRI,
2009).
Enfatizando então os momentos bélicos (já tendo sido citada a Guerra
Guaranítica), assume relevância a Guerra da Cisplatina, ocorrida entre o
Império do Brasil e a Províncias Unidas do Rio da Prata, no período de 1824 a
1828, pela posse da Província Cisplatina, a região da atual República Oriental
do Uruguai, que conquistou sua independência. Após, um dos episódios mais
conhecidos referente ao Rio Grande do Sul, o Movimento Farroupilha. Entre
1835 a 1845, a elite estancieira organizou um levante contra o Império do
Brasil em função, principalmente, da falta de privilégios para os produtores
gaúchos, e acabou sendo derrotada (QUEVEDO, 2003).
Dentre o século XIX, é necessário pontuarmos o momento da chegada
dos primeiros imigrantes, inseridos em um projeto oficial da Monarquia, sendo
eles alemães, em 1824 (que chegaram a mais de 30 mil nos primeiros 50
anos de colonização), e italianos, o que ocorreu apenas em 1875, como uma
segunda leva oficial (MAESTRI, 2009).
Entre 1893 e 1895, novos momentos de confronto, com a Revolução
Federalista, onde dois grupos políticos distintos (popularmente conhecidos
por pica paus e maragatos), disputaram a hegemonia de poder dentro do
próprio Estado. Estes partidos, Republicano e Federalista, disputaram a

era, inclusive, utilizado de forma pejorativa. Uma das principais referências sobre o tema é a
obra de Auguste de Saint-Hilaire, “Viagem ao Rio Grande do Sul.”
26

liderança política local através de uma revolução atroz e sanguinária, onde


popularizou-se, inclusive, a prática da degola (PADOIN, 2001).
O objetivo deste breve histórico é demonstrar que foi assim que a
história foi construída: em um formato linear que pouco explora a própria
diversidade cultural e social. Falamos de cronologia, mas apenas traçamos
breves considerações sobre povos nativos, imigrantes, escravos e pessoas
pobres. São raros os momentos em que as pautas nos remetem à figura
feminina ou nos faça percebê-la dentro do cenário. É nítido que se conta um
passado escrito por homens. Em nenhuma hipótese se fala dos
homossexuais.
Se nos voltarmos às fontes mais populares (e utilizadas pelo MTG)
sobre a história do Rio Grande do Sul, quando encontramos referências à
esses grupos recém citados, veremos apenas em sua totalidade e com
algumas considerações sobre suas possíveis “contribuições” com a história e
a cultura. Não conheceremos seus nomes, não compreenderemos seus
grandes desafios, seus medos, suas dores, seus vínculos amorosos,
familiares e sociais, nem suas particularidades, suas preferências, suas
opiniões. Enquanto isso nos foi negado, nomes de homens foram ressaltados
e, a eles, foi dado o mérito pela existência de uma história para o Rio Grande
do Sul.
Se nos permitirmos contar a história sul rio-grandense do ponto de
vista de quem não esteve no poder, teríamos uma nova narrativa. Nela, a
figura do homem branco da elite (provavelmente casado com uma mulher)
tomaria uma posição de igualdade com os demais. Assim, temos colonos,
escravos e escravas, pretos e pretas libertos, homens e mulheres pobres,
nativos e nativas, mulheres estancieiras. E onde estão seus nomes? Quem
eram os nativos taxados de assassinos por tentarem se proteger do domínio
estrangeiro? Quem foram os guaranis-missioneiros que, mesmo atrelados aos
jesuítas, não aceitaram os desmandes das Coroas Ibéricas? Quem eram os
soldados que mantiveram um território em constante movimentação de
guerra? Quem eram essas pessoas chamadas de escravos e escravas?
Quem eram essas chinas e porque optaram por este formato de vida?
Pouco saberemos, ou quase nada saberemos. Mas seus descendentes
estão aqui, buscando ser parte da história de um todo que seus antepassados
27

ajudaram a construir – ou tentaram construir de uma forma diferente. É


fundamental que se inicie o processo de anular a ideia das “contribuições” de
determinados grupos humanos à história, como as minorias. Enquanto
reproduzirmos esse tipo de entendimento, estaremos endossando a ideia de
que a história foi feita pelo homem branco da elite.
Façamos a seguinte analogia: este formato de entendimento, pode ser
comparado com uma árvore. É como se a história fosse essa árvore e esse
homem branco fosse sua raiz e seu tronco. Neste tronco, se prendem galhos,
ou seja, os apêndices, os coadjuvantes, as figuras secundárias, que teriam
“contribuído” com este tronco forte e viril que trouxe a dignidade do passado.
Esses galhos são mulheres, pessoas pretas, pessoas pobres, indígenas,
imigrantes. Em posição ainda menos privilegiada, estes galhos seguram as
folhas: aqueles que não aparecem nem como “colaboradores”. São os
deficientes e a comunidade LGBTQIA+, por exemplo. Essas “folhas”,
inclusive, são as primeiras a serem descartadas por parte da classe
dominante: sempre que puderem ser excluídas, derrubadas ou esquecidas,
serão.
Precisamos esquecer desta árvore para podermos ver que ninguém
“contribuiu” com a história: todos a fizeram (e, no presente, fazem a história
do futuro). É justamente esta mescla de humanidades que determina as
condições sociais, culturais, políticas e econômicas, e isso é história. Ou seja,
todos são agentes históricos, são personagens únicos dentro de seus
ambientes e contextos, sem precisarem contribuir com o “tronco” da história
para que mereçam ser parte tanto do passado quanto do presente. A história
não pode ser vista como uma árvore. Ela precisa ser vista como um imenso
lago que mistura cores, ideias, origens, gêneros e, especialmente, vida.
A história não é feita de fatos. A história é feita de pessoas.
28

3. O MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO: HISTÓRIA,


ATUAÇÃO E REPRESENTAÇÃO

3.1. Contexto histórico do MTG17


Os primórdios do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) se
encontram em 1868, com a Sociedade Parthenon Litterario, que buscava
promover um intercâmbio entre as produções culturais que haviam dentro da
própria província do RS. Sediado em Porto Alegre, o Parthenon foi uma
iniciativa ímpar ocorrida no RS da 2ª metade do século XIX: estimulava a
produção literária e intelectual; defendia valores abolicionistas e igualitários,
estimulando a participação feminina; exigia, para admissão à instituição,
apenas a apreciação pelas manifestações culturais; arrecadava fundos para a
alforria de escravos, tendo libertado cerca de 50 deles; criou cursos de
alfabetização; fundou uma biblioteca com cerca de 6 mil volumes.
Infelizmente, a iniciativa teve curto prazo de existência. Chegaram a
conquistar um terreno para construção de sua sede mas não conseguiram
viabilizar seu projeto. O terreno fora doado em 1915 e nele ergueu-se um dos
maiores bairros da cidade de Porto Alegre, com o mesmo nome.
Já em 1898, foi organizado um “Grêmio Gaúcho” sob a liderança do
santa-mariense Cezimbra Jacques (considerado Patrono do Tradicionalismo),
que buscava unir a população riograndense, radicalmente dividida de forma
política e ideológica após a Revolução de 1893. A intenção do Grêmio era
retomar, ao povo gaúcho, a noção de ideais semelhantes, que tivessem em
seus pressupostos o resgate de valores locais, e ainda, uma tentativa de
inaugurar um movimento em prol da cultura regional.
Outras ações costumam ser destacadas neste recorte de iniciativas que
pretendiam valorizar a cultura gaúcha. Costuma se rememorar, além dos
empreendimentos já citados, a fundação em 1857 da Sociedade Sul-
Riograndense, ocorrida junto à sede do Império do Brasil, no Rio de Janeiro,
através de Pereira Coruja, considerado o autor da primeira pesquisa de
folclore feita no RS. Além dela, a Sociedad La Criolla, no Uruguai, em 1894,
fora liderada por poetas, artistas e intelectuais de origem platina, que
17A redação do item 3.1 tem como referências: CÔRTES, 1994 e 2001; FERREIRA, 1992;
Edição 217 do Caderno Piá 21 – MTG, 2019.
29

buscavam resguardar as tradicionalidades da região do Prata (especialmente


Uruguai, Argentina e o atual RS).
Estes projetos, porém, não se institucionalizaram e acabaram por não
dar base ao Movimento organizado. Isso se deu no ano de 1947, em uma
iniciativa organizada no colégio Júlio de Castilhos de Porto Alegre, quando
enfim se conseguiu levar adiante um novo projeto com a intenção de salvar a
cultura regional, em especial oriunda do campo e do interior, de forma que
pudesse fazer com que o RS se “reencontrasse” com o que consideravam
legítimo em sua história e seus hábitos.
É importante enfatizarmos que 1947 representa um momento delicado
na história mundial e local, lembrando que a 2ª Guerra Mundial havia se
findado há apenas 2 anos e o globo estava imerso em um novo conflito, a
Guerra Fria, onde Estados Unidos e União Soviética duelavam
ideologicamente pelo domínio de seus formatos políticos e econômicos em
caráter mundial. No Brasil, também em 1945, o fim do Estado Novo fazia com
que novos conceitos e ideias de política passassem a ser questionados e
idealizados (ARIÉS e DUBY, 1993). O MTG, então, fomentou a história do RS
da mesma forma como fomentou sua própria história, com nomes de homens
em episódios marcantes. Estes moldes foram oferecidos pela Escola Histórica
Positivista, e a visão oferecida por ela foi unânime até que o Marxismo e a
Escola dos Annales ganhassem visibilidade, e isso só aconteceu na metade
do século XX (GUTFREIND, 1992). Na sequência deste texto, trago uma
narrativa que esclarece o que define estas escolas históricas.
Diante desse contexto, me questiono: se a história do presente for
escrita, no futuro, da mesma forma que o presente tem escrito a história do
passado, devo considerar que não sou parte dela?

3.2. O MTG hoje


Conforme seu estatuto18, o MTG “é uma associação civil [...] sem fins
lucrativos [...] e tem por objetivo congregar os Centros de Tradições Gaúchas
e entidades afins e preservar o núcleo da formação gaúcha” (COLETÂNEA
TRADICIONALISTA, 2018, p. 17). A partir dos documentos disponíveis em

18Disponível em https://www.mtg.org.br/wp-content/uploads/2020/06/ESTATUTO_MTG.pdf.
Acesso em 28 mai.2021.
30

seu site19, em suas obras publicadas (incluindo regulamentos, estatutos,


códigos, diretrizes, portarias e notas de instrução) e nas minhas vivências
empíricas, vamos tratar de alguns pontos de seu funcionamento na
atualidade.
Iniciamos informando que quem lidera o MTG é um Conselho Diretor,
cujo presidente ou presidenta é entendido como Presidente/a do MTG. Este
Conselho é eleito em uma sessão específica que ocorre no evento chamado
de “Congresso Tradicionalista”, que ocorre anualmente. Além deste/a
presidente/a, mais 5 vice-presidentes/as são nomeados por este Conselho,
sendo eles Administrativo, Cultural, Campeiro, Artístico e de Esportes.
Este conjunto administrativo é gerenciado através de 4 órgãos que, por
sua vez, se subdividem da seguinte forma:

• Normativos:
o Congresso Tradicionalista, evento que ocorre anualmente com o
objetivo de traçar as diretrizes do MTG, e onde as entidades
filiadas tem direito ao voto;
o Convenção Tradicionalista, evento que também ocorre
anualmente, e pode aprovar, alterar e reformar os regulamentos
e códigos do MTG, com voto permitido apenas aos Conselheiros
e Coordenadores Regionais.

• Eletivo:
o Assembleia Geral Eletiva, onde ocorre a votação para o
Conselho Diretor (isto ocorre junto ao Congresso
Tradicionalista);

• Administrativo:
o O Conselho Diretor;
o A Junta Fiscal, responsável pelo monitoramento e controle da
movimentação financeira da Instituição;

19 www.mtg.org.br. Acesso em 28 mai.2021.


31

o As Regiões Tradicionalistas20, consideradas órgãos de


desconcentração territorial, que agrupam municípios e suas
respectivas entidades conforme sua localização, de forma a
facilitar a administração do tradicionalismo organizado como um
todo. Atualmente, o estado é dividido em 30 Regiões
Tradicionalistas.

• De Assessoramento:
o Conselho de Vaqueanos, constituído pelos ex-presidentes do
MTG, que atuam como “Conselheiros”;
o Conselho de Ética, responsável por avaliar a conduta dos
tradicionalistas e aplicar as sanções adequadas caso as normas
do Movimento sejam infringidas.

Quanto aos eventos, além destes já citados que envolvem o órgão


normativo, são distribuídos ao longo do ano de forma a contemplar os
departamentos que envolvem o funcionamento do MTG como um todo. Desta
forma, temos:

• Eventos Institucionais:
o Aniversário do MTG;
o Acendimento da Chama Crioula;

• do Departamento Cultural:
o Ciranda Cultural de Prendas
o Entrevero Cultural de Peões
o Tchêncontro Estadual
o
• do Departamento Artístico:
o ENART: Encontro de Artes e Tradições Gaúchas.

20A classificação das Regiões Tradicionalistas encontra-se disponível no site do Movimento


Tradicionalista Gaúcho, em https://www.mtg.org.br/entidades-por-regiao-tradicionalista/.
Acesso em 21 de fevereiro de 2021.
32

• do Departamento Campeiro:
o FECARS: Festa Campeira do Rio Grande do Sul

• do Departamento de Esportes:
o ENECAMP: Encontro Estadual de Esportes Campeiros e Aberto
de Esportes.

As regiões também realizam seus próprios eventos, assim como


municípios e entidades. Em muitas circunstâncias, estes eventos
regionalizados têm, como objetivo, realizar classificatórias para a etapa
final/estadual em questão. Além disso, as entidades tradicionalistas
costumam ser bastante atuantes nas comunidades em que estão inseridas,
realizadas ações que não tem vínculos com estes eventos ditos “oficiais”, mas
que são pontuais para o espaço onde estão inseridas.
De acordo com dados do MTG de dezembro de 202021, o Estado conta
com 1,7 mil entidades filiadas e, a partir delas, 80 mil sócios. Já conforme o
site da Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha (CBTG)22, os dados
atualizados de 2020 constatam que, além das entidades do RS, no Brasil,
existem mais 2.575 CTG´s. Também com dados do ano de 2020, uma
matéria da Gaúcha ZH23 calcula que existem mais 1,2 mil CTG´s fora do país.

3.3. Representação e imaginário na construção da identidade gaúcha: a


ausência das minorias – Considerações teóricas
Já versamos sobre nossas percepções acerca da identidade do
gaúcho tradicionalista e da ausência das minorias nesta construção. Partimos
agora para revisitar pesquisas e escritos de outros tantos estudiosos que já
sinalizaram a forma como se deu este processo. Além de endossar
teoricamente aquilo que é defendido neste trabalho, é fundamental também

21 Disponível em https://www.mtg.org.br/noticias/mtg-lanca-rede-de-vantagens-para-
portadores-do-cartao-tradicionalista/#:~:text=Pelo%20conv%C3%AAnio%20assinado%20c
om%20o,que%20podem%20chegar%20a%2045%25. Acesso em 23 fev.2021.
22 Disponível em https://www.cbtg.com.br/noticia/imprensa-e-relacoes-publicas/quantidade-

de-ctgspiquetes-no-brasil/18/206/. Acesso em 28 mai.2021


23 Disponível em https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/semana-
farroupilha/noticia/2020/09/gauchos-espalhados-pelo-mundo-encontram-formas-criativas-de-
manter-os-costumes-do-rio-grande-do-sul-apesar-da-distancia-
ckey3vkpg000501617w8jd1kv.html. Acesso em 28 mai.2021
33

que possamos compreender de que forma foi trilhado este caminho que
culmina com a atual projeção do gaúcho tradicionalista.
Há uma divisão básica para observarmos a historiografia do estado do
RS a partir de duas matrizes: Lusitana, que minimiza a proximidade e
influência platina do RS em função de legitimação e confirmação de uma
possível supremacia portuguesa na região; e Platina, que, inversamente à
primeira, traz o discurso da influência espanhola na região do Prata. A
observação destas matrizes nos permite visualizar as divergências que
ocorrem entre pesquisadores com relação à noção de origem do sul-rio-
grandense, porém ambas trabalham a construção identitária na figura
masculina. Destas, a que ganhou mais evidência, foi a matriz lusitana, de
forma a tornar a identidade do RS articulada com a identidade nacional
(GUTFRIEND, 1992).
Durante o do século XX, novas formas de estudar história ganharam
espaço. São as chamadas “correntes historiográficas” ou “Escolas Históricas”
que surgiram em contraponto ao positivismo. Essas correntes ganharam
proeminência justamente tentando desmitificar a base do positivismo: a
produção baseada em determinados eventos, personagens específicos e
documentos oficiais. O Marxismo e a Escola de Annales são aquelas que
deram os primeiros passos mais significativos ao estudo das massas e da
aceitação de diferentes fontes históricas. Posteriormente, surge a Nova
História Cultural, que tem nessas duas outras Escolas seu ponto de partida ao
mesmo tempo em que irá provocar uma ruptura com elas (PESAVENTO,
2003). Esta ruptura “não representa uma ruptura completa com as matrizes
originais” (PESAVENTO, 2003, p. 10), afinal o impulso para a mudança na
forma de entender, estudar e pesquisar a história irá provir destas Escolas.
Foram deixadas de lado concepções de viés marxista, que
entendiam a cultura como integrante da superestrutura, como mero
reflexo da infraestrutura, ou mesmo da cultura como manifestação
superior do espírito humano e, portanto, como domínio das elites.
[...] Trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto
de significados partilhados e construídos pelos homens para
explicar o mundo (PESAVENTO, 2003, p. 14-15)

Foi assim que novas formas de estudar e compreender a história e a


formação social foi surgindo. A Nova História Cultural aceita e busca, na
produção historiográfica, as diversas classes e grupos sociais, e enlaça essas
34

vivências como parte do que se entende por história. As particularidades dos


indivíduos e do meio em que vivem passam a ter relevância para a
compreensão do passado, “Não mais a posse dos documentos ou busca de
verdades definitivas. Não mais uma era de certezas normativas, de leis e
modelos a regerem o social” (PESAVENT0, 2003, p. 15-16).
Ao olharmos para o passado admitindo nele a presença de pessoas
distintas, seus sentimentos, sua forma de ver o mundo, sua arte, cultura,
linguagem e comunicação, veremos as teias que formaram a sociedade atual.
São referências que permitem novos moldes para o entendimento do
presente e a construção do futuro. Quando somos privados desta pluralidade
de referências, ocorre o que citamos quanto à identidade do gaúcho
tradicionalista: são muitos tipos de indivíduos excluídos e um tipo de indivíduo
adaptado e mitificado. Claro que essa identificação não se dá de maneira
aleatória, mas muito envolvida com o imaginário social, como podemos ver:
O imaginário trabalha um horizonte psíquico habitado por
representações e imagens canalizadoras de afetos, desejos,
emoções, esperanças, emulações; o próprio tecido social é urdido
pelo imaginário – suas cores, matizes, desenhos reproduzem a
trama do fio que os engrenou. O imaginário seria condição de
possibilidade da realidade instituída, solo sobre o qual se instaura o
instrumento de sua transformação. (SWAIN, 1994. p.54),

O imaginário do gaúcho tradicionalista acabou se formando dentro da


ideia de uma educação “não libertadora”, como falamos anteriormente. Na
ânsia de buscar no passado uma referência e não encontrar a si mesmo nela,
abraçou-se a referência idealizada pelo patriarcado, pois “a cultura molda
tanto as relações no interior de uma sociedade quanto o modo como os
indivíduos percebem sua própria identidade” (BARMAN, 2005, p. 18).
Ao falar das minorias sociais e sua presença ativa no meio
tradicionalista, busco justamente recuperar essas cores, matizes e desenhos,
para que a representação do que é ser “gaúcho”, ser “tradicionalista”, se
permita aproximar da realidade das pessoas que as são, das suas próprias
histórias e origens. Por isso não podemos esquecer que representação e
imaginário são intimamente ligados, e ambos podem não ser marcas diretas
da realidade, mas é nela que se inspiram e se formam: “a representação não
é uma cópia do real, sua imagem perfeita, espécie de reflexo, mas uma
construção feita a partir dele” (PESAVENTO, 2003, p. 40).
35

O Movimento Tradicionalista, por sua vez, realiza em suas atividades


distintas representações, amparando e legitimando elas atrás do passado, e
“a força da representação se dá pela sua capacidade de mobilização e de
produzir reconhecimento e legitimidade social” (PESAVENTO, 2003, p. 41). A
problemática consiste no fato de que, as referências do “passado” que são
utilizadas pelo MTG são limitadas àquilo que nos vem pela história positivista
e sua narrativa de caráter patriarcal. Ou seja, não se questiona aqui se este
discurso tem legitimidade ou não, mas se questiona a pouca reflexão sobre e
representação de distintos indivíduos que habitaram em seu tempo.
Emudecem-se as minorias para que a representação do passado atenda os
interesses da classe dominante. Elas, por sua vez, gritam em busca de
espaço, representação e legitimidade.
A formação da sociedade gaúcha pode ser entendida junto à questão
das tradições inventadas, que é tratada como um
conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou
abertamente aceitas; tais práticas de natureza ritual ou simbólica,
visam inculcar certos valores e normas de comportamento através
da repetição. o que implica, automaticamente; uma continuidade
com relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se
estabelecer continuidade com um passado histórico apropriado.
(HOBSBAWN, 1997, p. 9)

Sendo assim, sua memória seleciona determinadas fontes e ignora


outras. Assim, o mesmo princípio que cria uma identidade regional, também
exclui seus próprios agentes formadores dela, pois as minorias se perdem na
seleção destes elementos. Para mudar o rumo desta construção identitária, “é
necessário examinar os pormenores mais negligenciáveis” (GINZBURG,
1986, p. 144). São “resíduos”, considerados “marginais”, que podem ser a
chave que completa o entendimento do passado e podem posicionar as
minorias em um espaço de igualdade. Esta corrente contemporânea que
busca ressignificar a identidade gaúcha pode ser entendida dentro da noção
de que “cada sociedade observa a necessidade de distinguir os seus
componentes; mas os modos de enfrentar essa necessidade variam conforme
os tempos e os lugares” (GINZBURG, 1986, p. 171)
No caso do Rio Grande do Sul, a força masculina, dentro de uma
sociedade patriarcal e imbuída nos preceitos católicos, se tornou o eixo da
construção identitária, especialmente pois “a história da construção das
36

identidades sociais encontra-se assim transformada em uma história das


relações simbólicas de força” (CHARTIER, 2002, p. 11). O “mito”, o foco da
história, veio a ser o homem branco por ser ele o personagem dominante das
relações da sociedade, sejam elas políticas ou econômicas, se estendendo
assim em todas as direções. A sociedade dos séculos XVIII e XIX (período
que engloba as principais referências na formação do conceito de cultura
tradicional pelo MTG), foi o alicerce para a fundamentação de uma história
escrita diretamente por homens, onde as minorias são negligenciadas ou
estereotipadas.
Com esta construção, confirmamos o silenciar das minorias, em
especial dentro do Movimento Tradicionalista, que se construí e se afirmou
dentro desta linha de pensamento aqui observada.
37

4. “MEU EU DO SUL” - AS MINORIAS NO TRADICIONALISMO:

CONSIDERAÇÕES EMPÍRICAS E A PESQUISA DE OPINIÃO


PÚBLICA

4.1. Considerações empíricas sobre hábitos e práticas do


tradicionalismo organizado.
Conforme disse na introdução deste trabalho, convivo no meio
tradicionalista desde meus 12 anos, ou seja, desde 1997. Já se passaram
mais de 20 anos neste meio. Evocando novamente o que relatei na
introdução deste trabalho, quando mais jovem, eu não tinha maturidade nem
conhecimento para compreender a complexidade de certas demandas e,
assim, como qualquer pessoa que cresceu na década de 90, eu era imersa
em alguns “pré-conceitos” que pareciam incontestáveis. Quando comecei a
frequentar o CTG, isso era parte do meu lazer, além de ser o momento em
que convivia com amigos e dançava.
Alguns conceitos e demandas começaram a me incomodar um pouco
depois, quando além de ser dançarina e de querer ir pro CTG ver pessoas, eu
passei a estudar sobre o Movimento e sobre o Rio Grande do Sul. Fui
convidada para concorrer para o cargo de Prenda na entidade que
frequentava e, vencendo o concurso, passei a ser 1ª Prenda, a Prenda “de
faixa”, pela 1ª vez com 14 anos (em 1999). Outras gestões de Prenda (ou
“Prendados”) se seguiram com o tempo, sendo o último entre os anos de
2009/2010, quando, já morando em Santa Maria, cursando História na UFSM
e integrando o DTG Noel Guarany, venci o concurso regional e fui 1ª Prenda
da 13ª Região Tradicionalista. Enquanto Prenda, eu já sentia desconforto ao
receber certas orientações: “não fale sobre tal assunto”, “apenas cumprimente
as pessoas”, “evite dar sua opinião”, “eles vão te ferrar no Estadual24 se tu
falar demais”, “não discorde”, “nunca dê carão25”.
Eu sabia que tinham muitas posturas que me incomodavam, mas não
sabia exatamente como expressar e gerenciar os sentimentos do que me

24 As 1ªs Prendas Regionais são as que concorrem no Concurso Estadual de Prendas, ou


“Ciranda Cultural de Prendas”, conforme os eventos oficiais citados anteriormente.
25 “Carão” é uma expressão regional utilizada quando uma moça se recusa a dançar com

alguém que a tenha a convidado.


38

parecia errado. Eu não tinha referências suficientes para entender a formação


do patriarcado, para ver sua existência no meio que eu vivia e nem para
entender ou saber o que era feminismo. No processo de autoconhecimento,
estudos e crescimento, eu também tinha dúvidas se era eu quem estava
“forçando” esses questionamentos (um clássico: mulheres são questionadas
e, infelizmente, se autoquestionam o tempo todo), ou se as coisas não
deveriam mesmo ser assim.
Fui conhecendo mais pessoas e hoje conheço Prendas que
questionam situações assim como eu. Também conheço Prendas que apenas
dizem o são orientadas a dizer (algumas preferem esta posição e, mesmo que
me incomode, não me cabe o julgamento). Outras ainda estão no mesmo
processo de crescimento e compreensão que passei. Porém, existem outras
que são obrigadas, mesmo a contragosto, a apenas repetirem aquilo que as
pessoas querem escutar – e ainda não estão prontas para rasgar com esse
personagem secundário, confrontar a estrutura e assumir aquilo que são.
Sobre as Prendas, posso afirmar que, em geral, são muito bem
recebidas nos lugares que frequentam, enquanto moças bem apresentadas
que estão representando suas entidades, regiões ou o Estado (pouco espaço
de fala lhes será dado de qualquer forma: “Convide para seu evento”, “fale
sobre o CTG”). Mas essa cordialidade é limitada no ato de “bem-receber”:
cumprimentos, gentilezas, talvez até presentes – raramente é permitido que
ela, livremente, se exponha ou se manifeste.
Já para as Patroas26, ou seja, mulheres que ocupam cargos
tradicionalmente ocupados por homens, essa cordialidade já é mais limitada.
Essa experiência também vivi, pois fui Patroa do DTG Noel Guarany entre os
anos de 2011/2014. Não ser bem recebida não significa que fosse destratada
em meio às conveniências (sejam cumprimentos ou aparentes gentilezas),
mas, o posto que eu ocupava, minha figura de liderança e eu, enquanto
indivíduo, incomodava. Mesmo silente, minha presença era, inúmeras vezes,
nitidamente aborrecedora para outros inúmeros “patrões”. Quando eu atuava
nos debates que eram, originalmente, destinados à estes “patrões”, a

26 Patrão/Patroa em um CTG equivale ao cargo de Presidente/Presidenta de um clube.


39

demonstração de desgosto era nítida, assim como as tentativas de limitar


meu espaço de fala.
As nomenclaturas dos eventos endossam esse entendimento. Quando
existem assembleias regionais para assuntos em geral, eles são chamados
de “Encontro de Patrões”. Para estes eventos, são convocados os Patrões (e
as Patroas por consequência), os diretores de todos os departamentos da
entidade, bem como as Prendas e Peões. Mesmo que a convocação seja
plural, a mensagem que o próprio título do evento nos traz, é clara: aquele é o
espaço dos “machos”, dos bombachudos”, pra falarem de “papo de homem”.
Para manter a regra ativa, durante estes eventos, geralmente as Prendas e
Diretoras de Departamentos Culturais (que, em maioria, são mulheres) são
convidadas a se reunirem em um outro ambiente para debaterem os assuntos
específicos de seus Departamento (uma forma de apartar aquilo que for
“assunto de mulher”). O mesmo acontece nos Congressos Estaduais, por
exemplo. Prendas e Peões (“jovens”) são retirados da Plenária onde ocorrem
as votações e são tratadas as pautas específicas do evento para atividades
paralelas, quando deveriam estar aprendendo nos espaços de debate e
(espera-se) construção coletiva.
Quando Patroa, inúmeras vezes que me manifestei nos “Encontros de
Patrões” e, sempre ouvia frases baixas (porém não baixas o suficiente para
deixarem de ser audíveis para mim) do tipo “quem é essa guria?”, ou “lá vem
essa daí enchendo o saco”. Me incomodava, mas não me intimidava, pois em
minha vida, sempre que me posicionei, recebi taxativos como “ela é
polêmica”. Por certo que isso me doía, mas hoje entendo como um sinal que
não fui acomodada nem conivente com a reprodução desse modelo de
sociedade de podia ter ficado morto no século passado.
Questionei inúmeras vezes: quando que as pautas dos demais
departamentos serão tratadas na plenária principal junto aos Patrões? Iremos
sempre entender que o Departamento Campeiro (o qual fico feliz por hoje ver
várias mulheres se engajando e buscando espaço, ainda que estejam
distantes das resoluções) e suas pautas são as “principais” e todas as demais
são secundárias? Será que o fato deste departamento envolver a maioria
masculina não interfere MESMO nesta forma de lidarmos com as questões do
Movimento?
40

Dentro de minha entidade, os líderes do Departamento Campeiro de


quando eu era Patroa, não se conformavam com minha figura. Nas
assembleias, determinados indivíduos faziam questão de tentar me diminuir.
Quando eu discordava de um deles, ouvia em alto e bom tom: “também né,
mulher aí, não dá pra esperar muita coisa”, ou “não dá pra gente tratar disso,
só com o Fulano?” Pois bem, não, não dava.
O respeito, por sua vez, precisei conquistar. As mulheres passam por
isso sempre: ocupamos um posto por competência, mas precisamos provar
que ela existe o tempo todo. Diferente do caminho escolhido por outras
tradicionalistas que conheço, nunca me masculinizei para que isso
acontecesse. Muitas mulheres buscam esse formato para serem aceitas e
ouvidas. Eu nunca falei com uma voz que parecesse mais masculina, ou
“grossa”, não tirei a flor do meu cabelo e não agi como seu eu fosse um “guri”.
Eu fiz a minha parte, com naturalidade e disposição. Precisei de humildade e
paciência para aprender o que eu não sabia. Naturalmente que, neste
processo, me deparei com sentenças como “homem já nasce sabendo isso,
pra essa aí tem que ensinar…”. Me cabe lamentar, inclusive pelos meninos
que acreditam que precisam nascer sabendo algo. Penso que seria bom se
todos tivéssemos disposição para aprender aquilo que ainda não faz parte
dos nossos conhecimentos.
Desde pequenos, o Movimento diferencia bruscamente os meninos e
as meninas. São reproduzidos valores antiquados e, com eles, são afrontadas
até mesmo nossas crianças. Os meninos devem agir como “homens”, e nisso
vemos as mais distintas e depreciativas concepções desta hombridade: não
chore, não reclame, mostre quem manda. Para as meninas, a submissão é
ensinada desde crianças também. A parte de “não poder dar carão” é cobrada
até mesmo de Prendinhas Mirins (que tem no máximo 12 anos). Desde cedo,
as Prendas também são ensinadas que nunca podem convidar alguém para
dançar, por exemplo. Eis o reflexo e a ação de uma sociedade machista e
patriarcal que deseja nos ver esperando, literalmente, sentadas e
comportadas, por algum homem se interesse por nós e que estejamos
prontas para recebe-lo, se formos acometidas dessa “sorte”.
Se retomarmos os escritos daquele que considero o mais brilhante
teórico do tradicionalismo, Barbosa Lessa, temos que
41

A cultura de qualquer sociedade se compõe de duas partes. Há um


núcleo sólido, de certa forma estável, constituído pelo PATRIMÔNIO
TRADICIONAL. [...] Mas, cercando o núcleo, existe uma zona fluída
e instável, constituída por elementos culturais chamados, em
sociologia, Alternativas, e que são traços partilhados apenas por
ALGUNS indivíduos [...]. É esta zona de Alternativas que permite à
cultura crescer e acomodar-se aos avanços de uma civilização.
Evidentemente, quanto maior for o entrechoque com culturas
diversas, maior será a possibilidade de adoção de novas
Alternativas, por parte dos membros de uma sociedade. Quando a
cultura de determinado povo é invadida por novos hábitos e novas
ideias, duas coisas podem ocorrer: se o patrimônio tradicional dessa
cultura é coerente e forte, a sociedade só tem a lucrar com o
referido contato, pois sabe analisar, escolher e integrar em seio
aqueles traços culturais novos que, dentre muitos, realmente sejam
benéficos à coletividade (LESSA, 1954, online).

Dentro dessas considerações, vamos refletir: o tradicionalismo é um


núcleo cultural que busca manter o patrimônio tradicional de uma sociedade
anterior, porém ele deve articular-se com a sociedade em que está inserido
no presente. Assim, retomamos o que já foi falado sobre o quão fundamental
é saber diferenciar o que é hábito do que é herança cultural. Hábitos devem
ser revistos caso eles venham ferir algum indivíduo e sua construção humana
e social.
Nestes hábitos, está inclusive a forma de escrever história. Os próprios
livros aos quais eu tinha acesso, indicados pelo Movimento como as melhores
referências para aprender sobre História do RS e do próprio MTG, hoje são a
materialização perfeita das obras que reforçam a ideia da “árvore” que
apresentei anteriormente, ou seja, trazem o homem branco de classe
média/alta como o “tronco” construtor da história. Os demais, são apêndices.
São muitos livros e artigos que falam sobre “a contribuição” da mulher, do
negro, do imigrante, do índio. Nunca houve uma obra para falar sobre a
contribuição do homem branco. Isso denota o entendimento histórico e social
de que o homem branco é tratado como agente histórico, e, os demais, como
seus esporádicos auxiliares.
História é toda a ação humana ao longo do tempo e do espaço, sendo
assim, eu faço a história do presente. E tu, que lês este trabalho, também faz.
Basta ser humano. Não importa se tu és branco/a, preto/a, índio/a, gay, bi,
trans, rico ou pobre (e encaixes quantas definições forem necessárias aqui!).
Não há coadjuvantes na história.
42

É hora, primordial, de abrirmos mão da nossa hipocrisia que afirma que


a sociedade é igualitária, pois ela não é. E o Movimento Tradicionalista não
está à frente disso: ele também não é. Ele é, inclusive, mais agressivo ao
tratar com as minorias do que outros ambientes que frequento. Ele está atrás
dos caminhos que a sociedade percorre pois se protege com o discurso de
tradicionalidade e perpetua preconceitos. As minorias não o integram
plenamente e, quando o fazem, seu espaço de fala é limitado e intimidado,
pois se espera que apenas reproduzam os comportamentos convenientes aos
“hábitos”. Na prática, o que assistimos quando as minorias se manifestam,
são retornos hipócritas ao estilo “é importante que você disse isso, parabéns!
MAS não é bem assim...”. Ainda somos, em maioria, um movimento elitista e
de lideranças masculinas e brancas e que não estão interessadas na
construção de uma sociedade com equidade.
Ainda que eu já tenha me manifestado, de forma pública, inúmeras
vezes sobre preconceitos dentro do MTG, ora velados e ora escancarados,
ainda assim sempre foi “apenas a minha palavra”, inúmeras vezes
questionada e desvalorizada. Por isso que, para defender os meus relatos,
realizei um levantamento de dados em caráter oficial através de uma
Pesquisa de Opinião Pública, cujos resultados estão na sequência deste
trabalho. Estes resultados reforçam e problematizam pautas dessas vivências
e do conhecimento empírico.

4.2 A Pesquisa de Opinião Pública (POP), seus resultados e análise dos


dados.
A Pesquisa de Opinião Pública (POP) é uma ferramenta eficaz para
detectar posições e tendências dos distintos segmentos sociais. Ela nos traz
dados científicos e pode ser utilizada para diversas finalidades. Para
validarmos a relevância da POP, lembramos que hoje o espaço público já não
é mais o espaço onde as opiniões se formam, mas o lugar onde elas
simplesmente se tornam públicas (FERREIRA, 2015). “A opinião pública é
quase uma força abstracta que nenhuma constituição prevê de forma
institucionalizada, mas cuja expressão constitui o fundamento implícito de
todas as democracias” (SENA, 2007, p. 1).
43

Sendo assim, entendemos que a melhor forma de averiguar se nossas


vivências empíricas eram condizentes com a realidade de outras pessoas do
mesmo universo, era através de uma Pesquisa de Opinião Pública. O objetivo
deste questionário era investigar e conhecer a opinião dos demais
tradicionalistas quanto às pautas que apresentei até aqui e observar,
especialmente, se são questões minhas (e das pessoas que me cercam) ou
se são questões que realmente devem ter mais atenção do Movimento.
Foram então formuladas 15 perguntas, com o intuito de conhecer a
opinião das pessoas do meio tradicionalista com relação às minorias e sua
presença no Movimento. As perguntas, organizadas no Formulário Google,
buscaram conhecer o perfil dos respondentes e suas considerações sobre o
tema que estamos tratando. As questões tiveram formas diferentes de
resposta, sendo elas: múltipla escolha, caixas de seleção (onde mais de uma
alternativa pode ser selecionada), escala linear (todas estas obrigatórias) e
questões dissertativas optativas. As perguntas e possibilidades de respostas
foram as seguintes:

Tabela 1 – Perguntas e opções de respostas utilizadas na aplicação da POP


Ordem Questão Possibilidades de resposta
1 Para participar dessa pesquisa, você Questão obrigatória de múltipla escolha
deve ter Cartão Tradicionalista. (possibilidade de marcar apenas uma
Sendo assim, em qual RT seu opção):
cartão está registrado? - de 1ª RT até 30ª RT, sequencialmente.
2 Qual sua faixa etária? Questão obrigatória de múltipla escolha
(possibilidade de marcar apenas uma
opção):
- Até 17 anos
- Entre 18 e 28 anos
- Entre 29 e 35 anos
- Entre 36 e 45 anos
- Entre 46 e 55 anos
- A partir de 56 anos
3 De acordo com a classificação do Questão obrigatória de múltipla escolha
IBGE, você se declara como (possibilidade de marcar apenas uma
opção):
- Preto / Preta
- Branco / Branca
44

- Indígena
- Pardo / Pardo
- Amarelo / Amarela
4 Sobre sua Identidade de Gênero, Questão obrigatória de múltipla escolha
você é: (possibilidade de marcar apenas uma
opção):
- Mulher
- Homem
- Mulher Trans
- Homem Trans
- Outro: (possibilidade de inserção descritiva
de uma linha caso selecionasse esta opção)
5 Sobre sua orientação sexual, você Questão obrigatória de múltipla escolha
se entende como: (possibilidade de marcar apenas uma
opção):
- Heterossexual
- Homossexual
- Bissexual
- Outro: (possibilidade de inserção descritiva
de uma linha caso selecionasse esta opção)
6 O Item I da Carta de Princípios Questão obrigatória em escala de 1 até 5,
Tradicionalista diz que é dever do onde 1 representava “Nada comprometidas”
tradicionalismo "Auxiliar o Estado na e 5 representava “Muito comprometidas”.
solução dos seus problemas
fundamentais e na conquista do bem
coletivo." Em uma escala de 1 a 5,
quanto você acredita que o
Movimento Tradicionalista Gaúcho,
através das ações das ENTIDADES
TRADICIONALISTAS, é
comprometido com esse item? Obs.:
você pode tomar sua entidade como
referência.
7 Novamente retomando o Item I da Questão obrigatória em escala de 1 até 5,
Carta de Princípios Tradicionalista, onde 1 representava “Nada comprometido” e
"Auxiliar o Estado na solução dos 5 representava “Muito comprometido”.
seus problemas fundamentais e na
conquista do bem coletivo", avalie,
em uma escala de 1 a 5, quanto
você acredita que o Movimento
45

Tradicionalista Gaúcho, enquanto


INSTITUIÇÃO e através da sua
DIRETORIA, é comprometido com
esse item.
8 Na sua opinião, em uma escala de 1 Questão obrigatória em escala de 1 até 5,
a 5, quanto você acredita que o onde 1 representava “Não se esforça” e 5
Movimento Tradicionalista Gaúcho, representava “Se esforça muito”.
enquanto Instituição, se esforça para
ser includente e auxiliar a sociedade
na luta contra preconceitos?
9 Você já sofreu, ou conhece alguém Questão obrigatória de múltipla escolha
que tenha sofrido, algum tipo de (possibilidade de marcar apenas uma
preconceito ou discriminação no opção):
meio tradicionalista? - Sim
- Não
10 Na sua opinião, em uma escala de 1 Questão obrigatória em escala de 1 até 5,
a 5, quanto você acredita que os onde 1 representava “Nenhuma dificuldade”
grupos considerados como minorias e 5 representava “Muitas dificuldades”.
sociais, tem dificuldades de se
inserirem e se manterem no
Movimento Tradicionalista?
11 Na sua opinião, em uma escala de 1 Questão obrigatória em escala de 1 até 5,
a 5, quanto você acredita que o onde 1 representava “Pouco acessível” e 5
Movimento Tradicionalista Gaúcho, representava “Muito acessível”.
enquanto instituição, é acessível
para pessoas de baixa renda?
12 Em suas participações nos eventos Questão obrigatória em caixas de seleção
e ações do Movimento (possibilidade de marcar mais de uma
Tradicionalista Gaúcho, qual das opção):
situações abaixo você já presenciou - Machismo
ou teve conhecimento? - Racismo
- Homofobia
- Nunca presenciei nem ouvi falar sobre.
- Outro: (possibilidade de inserção descritiva
de uma linha caso selecionasse esta opção)
13 Se desejar compartilhar conosco Questão não-obrigatória em texto de
alguma vivência ou situação que parágrafo, ou seja, descritiva.
remeta às perguntas anteriores,
fique a vontade. Se desejar, você
pode assinar sua manifestação, mas
46

não é obrigatório, uma vez que este


questionário preserva a identidade
dos entrevistados.
14 "O Movimento Tradicionalista Questão obrigatória de múltipla escolha
Gaúcho, enquanto Instituição, (possibilidade de marcar apenas uma
precisa perceber suas falhas no opção):
processo de inclusão e aceitação - Concordo totalmente
das minorias, e atuar de forma mais - Discordo totalmente
incisiva e efetiva nestas causas." - Concordo em partes, pois acredito que,
Você concorda com essa frase? mesmo que tenham falhas, o Movimento já
faz tudo que deve fazer neste assunto.
- Discordo em partes, pois o Movimento é
tradicional e o mais importante é manter as
coisas como são.
- Outro: (possibilidade de inserção descritiva
de uma linha caso selecionasse esta opção)
15 Caso tenha concordado com a Questão não-obrigatória em texto de
afirmação acima, você pode deixar parágrafo, ou seja, descritiva.
sua sugestão de como o Movimento
pode progredir nessa questão. Se
desejar, você pode assinar sua
manifestação, mas não é
obrigatório, uma vez que este
questionário preserva a identidade
dos entrevistados.
Fonte: formulário do Google Forms organizado pela autora. Acervo pessoal.

4.2.1. Aplicação do piloto/validação


Antes de ser organizada e publicizada sua versão final, o questionário
passou por validação entre dos dias 11 e 21 de janeiro de 2021. Aplicamos o
piloto com o objetivo de “corrigir possíveis distorções e vieses no
questionário” (DUARTE e BARROS, 2006, p. 176) Dez pessoas de meu
convívio e atuantes do meio tradicionalista, de cidades distintas, foram
convidadas a responder o questionário na condição de avalia-lo, apontar
dúvidas, observar o que não parecia claro e relatar suas impressões. Após
essas considerações, o questionário foi editado conforme aquilo que se
considerou pertinente e, a partir de então, foi aberto para receber respostas.
47

As 10 respostas das pessoas convidadas para validação foram anuladas e os


mesmos responderam a versão final do questionário tal qual os demais.
Na versão inicial do questionário, eu havia inserido vários dados
elucidativos com relação à gênero e sexualidade. Haviam textos explicativos e
ilustrações, com o intuito de ser educativo, esclarecedor e, também,
acolhedor. Nas opções de resposta, havia um leque amplo de opções
justamente nas questões de gênero e sexualidade, buscando ser bastante
coerente e condizente com a realidade e a pluralidade, e para que as pessoas
se sentissem representadas. Porém, foi necessário atentar para o risco de
que as pessoas de caráter mais conservador evitassem responder o
questionário ao se depararem com essas informações, e a participação delas
também era desejada nesta investigação. Sendo o tema relacionado às
minorias, foi necessário buscar estratégias para que se pudesse dialogar até
mesmo com as pessoas que não se sentem confortáveis com a temática, não
afugentando sua participação neste levantamento de dados.

4.2.2. Instrumento de coleta de dados


O método elaborado para obter a coleta dos dados pesquisados foi o
questionário, cujas vantagens são a economia de tempo, a abrangência de
um grande número de pessoas simultaneamente, a liberdade e segurança
trazida pelo anonimato, a diminuição da influência do pesquisador e obtenção
de respostas mais rápidas e precisas (MARCONI e LAKATOS, 2005).
Sobre o caminho percorrido pelos respondentes, através das questões
que já foram apresentadas, destacamos que ele conduzia o indivíduo em 3
momentos diferentes, sendo:
1 – Confirmação de estar apto à responder o questionário (questão 1);
2 – Identificação (questões de 2 à 5);
3 – Experiências no meio tradicionalista (questões de 6 à 15).
O questionário esteve disponível entre os dias 22 de janeiro de 2021 e
19 de fevereiro de 2021, de maneira online, através da plataforma Google
Forms, conforme já citado. No total, 333 (trezentos e trinta e três) respostas
foram obtidas durante o período, sendo que a divulgação convidando as
pessoas para participarem ocorreu através de aplicativos e redes sociais,
como WhatsApp, Instagram e Facebook.
48

A apresentação do questionário, em sua versão final, buscava trazer as


informações pertinentes sobre este trabalho, seus dados básicos e a
concentração das informações teóricas consideradas necessárias, sendo que
se chegou no seguinte formato:

Ilustração 1 – Imagem da tela de abertura do Google Forms para os


respondentes da POP.

Fonte: acervo pessoal da autora. Imagem gerada pelo Google Forms.


49

4.2.3. O universo da pesquisa


Como requisito para participar da pesquisa, fora solicitado que o
respondente tivesse Cartão Tradicionalista. Este cartão é emitido pelo próprio
MTG, e chamado de “Documento de Identidade” do Tradicionalista. Todas as
pessoas que desejam participar dos eventos oficiais do MTG precisam,
obrigatoriamente, ter este cartão. Por sua vez, para ter este cartão, é
necessário ser sócio de uma entidade tradicionalista (sendo que todas as
entidades são vinculadas a uma Região Tradicionalista, “RT”) que seja
oficialmente filiada ao MTG e esteja com suas anuidades em dia (com o MTG
e com sua RT). Este requisito foi solicitado pois a intenção da pesquisa era
buscar por considerações de pessoas que sejam atuantes no Movimento
organizado, o que é diferente de pessoas que frequentam bailes, rodeios e
CTG´s como expectadores e/ou por lazer. Não há como precisar, dentro do
número de 80 mil associados às entidades, conforme dados apresentados
anteriormente, quantos possuem cartão tradicionalista, uma vez que essa
informação não se encontra disponível pela Instituição.

4.2.4. Tabulação e avaliação dos resultados


Passamos então à apresentação dos resultados obtidos. Todas as 30
regiões tradicionalistas estiveram representadas, sendo que as regiões mais
expressivas em sua participação foram a 13ª RT27 (23,7%), a 1ª RT28 (9,9%) e
a 18ª RT29 (6,9%). Com relação à faixa etária, a participação mais efetiva foi
de pessoas, conforme classificação do MTG30, da categoria Adulta (47,7%) e,
após, da categoria Juvenil (17,1%).

27 A 13ª RT inclui 17 municípios, sendo Agudo, Dilermando de Aguiar, Dona Francisca,


Faxinal do Soturno, Formigueiro, Itaara, Ivorá, Nova Palma, Paraíso do Sul, Restinga Seca,
Santa Maria, São João do Polesini, São Martinho da Serra, São Pedro do Sul, São Sepé,
Silveira Martins, e Vila Nova do Sul
28 A 1ª RT inclui 8 municípios, sendo Alvorada, Barra do Ribeiro, Cachoeirinha, Eldorado do

Sul, Glorinha, Gravataí, Guaíba, Mariana Pimentel, Porto Alegre, Sertão Santana e Viamão.;
29 A 18ª RT inclui 12 municípios, sendo Aceguá, Bagé, Caçapava do Sul, Candiota, Dom

Pedrito, Hulha Negra, Lavras do Sul, Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, Santana da
Boa Vista, Santana do Livramento e São Gabriel;
30 O MTG classifica seus participantes por categorias, sendo elas válidas para eventos,

rodeios, concursos e afins. Considera-se da seguinte forma: MIRIM até treze (13) anos (não
pode ter feito 14); JUVENIL até dezessete (17) anos (não pode ter feito 18); ADULTA –
mínimo de quinze (15) anos; VETERANO mínimo de trinta (30) anos e XIRÚ mínimo de
quarenta (40) anos. Esta classificação encontra-se em seu Regulamento Artístico, disponível
em https://www.mtg.org.br/wp-content/uploads/2020/06/REGULAMENTO-ARTISTICO-
2019.pdf. Acesso em 21 de fevereiro de 2021.
50

É interessante pontuar, na análise da amostra, que 86,8% das pessoas


que responderam este questionário declaram-se como brancas, enquanto
8,4% se declararam pardas e 4,2% se declararam pretas. Apenas 1 pessoa
de declarou amarela e nenhuma se declarou indígena. Esta questão nos
evidenciou que a ampla maioria de pessoas que atuam no meio tradicionalista
são brancas.
Com relação ao gênero, observamos a adesão significativa de
mulheres para responderem este questionário, sendo que elas representam
69,4% dos respondentes, enquanto 29,7% são homens.
Sobre a orientação sexual, a maioria dos respondentes nos informou
que são heterossexuais (79,3%). O 2º dado mais expressivo é de pessoas
que se declaram bissexuais (11,1%), seguido por pessoas homossexuais
(9%). Ainda tivemos 2 pessoas que se declararam pansexuais.
Traçado o perfil dos respondentes, observamos as vivências no meio
tradicionalista e as considerações destas pessoas acerca da relação do MTG
com as minorias. Logo no início deste terceiro momento da pesquisa,
evocamos o Item I da Carta de Princípios do MTG.
Conscientes de que as opiniões sobre ações do Movimento
Tradicionalista podem divergir conforme a referência. Ou seja, se for tomado
como referência a Diretoria, o “topo” do MTG, poderíamos ter determinadas
respostas; se for tomado como referência as entidades, a “base”, outras.
Assim, dividimos o mesmo questionamento sobre o Item I em duas perguntas:
uma sobre o engajamento da Diretoria do MTG sobre ele e outra sobre o
engajamento das entidades. Havia a expectativa de distintos resultados, mas,
notamos que as pessoas entendem de forma equivalente os esforços por
parte das entidades e da Diretoria do Movimento em respeitarem e atenderem
ao 1º princípio do ser tradicionalista.
Os dados de ambas análises (Diretoria e entidades) se apresentam de
forma bastante similar, com cerca de 38% dos respondentes considerando
que o esforço existente é mediano. Os demais respondentes se dividem em
menores porcentagens entre os que acreditam, de um lado, em grandes
esforços para se que se cumpra o 1º item da Carta de princípios, e de outro,
aqueles que acreditam que não há nenhum esforço. Vejamos as ilustrações
dos gráficos:
51

Ilustração 2 – Gráfico com as respostas da POP sobre o comprometimento


das entidades tradicionalistas com o Item I da Carta de Princípios.

Para esta pergunta, 1 representava “Nada comprometidas” e 5 representava “Muito


comprometidas”.
Fonte: acervo pessoal da autora. Gráfico gerado automaticamente pelo Google Forms.

Ilustração 3 – Gráfico com as respostas da POP sobre o comprometimento da


Diretoria do MTG com o Item I da Carta de Princípios.

Para esta pergunta, 1 representava “Nada comprometido” e 5 representava “Muito


comprometido”.
Fonte: acervo pessoal da autora. Gráfico gerado automaticamente pelo Google Forms.

É necessário salientar que, entre os que acreditam em grandes


esforços, localizamos, em ampla maioria, os indivíduos que não se
enquadram em um cenário de minoria, sendo que, destes respondentes, 94%
se declararam heterossexuais e 88% se declararam brancos.
O contraponto desta informação se encontra, justamente, a partir das
respostas da questão seguinte quando, de forma mais específica, pedimos
que as pessoas analisassem os esforços do MTG para ser, efetivamente,
includente. Em um primeiro momento, consideramos a possiblidade de que
muitas pessoas, ao estarem acostumadas com frases da Carta de Princípios
(que geralmente estão estampadas nas entidades), não se apercebam dos
efeitos e ações que elas sugerem na prática. Assim, avaliamos que que
porcentagens mudaram de proporção a medida em que as pessoas se
52

depararam de forma direta com situações que visam contemplar efetivamente


aquilo que, em teoria, está descrito no Item I da Carta.

Ilustração 4 – Gráfico de respostas da pergunta sobre os esforços do MTG


para ser includente.

Para esta pergunta, 1 representava “Não se esforça” e 5 representava “Se esforça muito”.
Fonte: acervo pessoal da autora. Gráfico gerado automaticamente pelo Google Forms.

Notei que, ao serem questionados de forma mais específica sobre as


ações do Movimento Tradicionalista, enquanto instituição, em seus esforços
para promover a inclusão e a luta contra preconceitos, a ampla maioria se
posicionou próximo às escalas mais baixas (não se esforça). Apenas 4,8%
dos respondentes considera que o MTG se esforça muito para a ser
includente e promover uma luta contra preconceitos.
A resposta nos demonstra um paradoxo com relação a questão
anterior. Se compreendermos que a luta pela inclusão e contra preconceitos
é, entre outros desafios, o mesmo que “Auxiliar o Estado na solução dos seus
problemas fundamentais e na busca pelo bem coletivo”, há uma disparidade
nas respostas. É possível que, ao ter sido pontuado de forma mais específica
e direta os conceitos que norteiam esse entendimento de “problemas
fundamentais” e “bem coletivo”, a pergunta tenha sido respondida com mais
clareza.
É válido pontuarmos que 53,4% dos respondentes (considerando dos
números 1 e 2 da escala) não sentem que existem ações efetivas por parte da
instituição em defesa das minorias. Já 29,7% colocaram-se no meio da escala
(3) e apenas 16,8% dos respondentes se aproximaram das escalas mais altas
(4 e 5), entendendo a existência de ações efetivas em prol da defesa das
minorias. Neste universo dos respondentes que assinalaram as escalas mais
altas, 100% se declararam heterossexuais e 82% se declararam brancos.
53

Ainda de forma mais específica, a pergunta seguinte nos revelou uma


triste realidade: a significativa parcela de pessoas que já sofreu ou conhece
casos de preconceito ou discriminação dentro do Movimento.

Ilustração 5 – Gráfico de respostas da pergunta sobre situações de


preconceitos ou discriminação dentro do MTG.

Fonte: acervo pessoal da autora. Gráfico gerado automaticamente pelo Google Forms.

Esta pergunta nos evidenciou, de forma clara e direta, a vivência da


maioria dos respondentes: quase 80% deles apontaram que já sofreram ou
conhecem alguém que já sofreu preconceitos ou discriminações no meio
tradicionalista. Sobre os 20,7% dos respondentes que disseram “Não”, 94%
se declararam heterossexuais e 88% se declararam brancos.
Ao serem questionados se existem dificuldades para as pessoas das
minorias sociais se inserirem e se manterem no MTG, temos 66,3% dos
respondentes apontando que essa inserção é difícil ou muito difícil. Desta
forma, podemos novamente observar que, à medida em que as questões vão
ficando mais específicas, os resultados também ficam mais explícitos,
denotando as dificuldades vividas pelas minorias, desde a falta de aceitação
até a dificuldade em sua representatividade.
O passo seguinte foi adentrarmos em uma questão que, de certa
forma, é vista com mais objetividade por várias pessoas: a questão financeira.
Consciente dos valores recorrentes que precisam ser investidos para que se
possam manter atividades junto às próprias entidades e, especialmente, para
acompanhar os eventos oficiais, pudemos reconhecer veracidade deste
resultado: é realmente muito difícil manter-se no Movimento Tradicionalista
caso o indivíduo integre uma classe social mais baixa. Assim, 71,7% dos
respondentes compreende ser difícil ou muito difícil, enquanto 3% entendem
que não há nenhuma dificuldade.
54

Ilustração 6 – Gráfico de respostas da pergunta sobre as dificuldades das


pessoas de baixa renda se manterem no MTG.

Para esta pergunta, 1 representava “Pouco acessível” e 5 representava “Muito acessível”.


Fonte: acervo pessoal da autora. Gráfico gerado automaticamente pelo Google Forms.

A questão seguinte, número 12, pode ser considerada aquela que foi a
mais, dolorosamente, surpreendente. Desejávamos saber se as pessoas já
haviam presenciado situações de discriminação em sua atuação no MTG.
Originalmente, foram oferecidas apenas 5 alternativas, sendo elas Racismo,
Machismo, Homofobia, Nunca ouvi falar sobre e Outros. A questão permitia
mais de uma resposta e, no item “Outros”, era possível indicar outros tipos de
violências e preconceitos vividos. Vejamos o gráfico:

Ilustração 7 – Gráfico de respostas da pergunta sobre os preconceitos já


vividos ou vivenciados nas ações e eventos do MTG

Fonte: acervo pessoal da autora. Gráfico gerado automaticamente pelo Google Forms.
55

Lamentavelmente, além dos itens iniciais pontuados, foram


destacadas, pelo menos mais 8 situações, ainda que escritas de formas
distintas, sendo: Transfobia, Misoginia, Gordofobia, Capacitismo, Xenofobia,
Sexismo, Intolerância Religiosa e Discriminação Social. O item Machismo foi
reconhecido por 82,6% dos respondentes, e Homofobia foi reconhecida por
71,5%. Apenas 7,8% dos respondentes disseram “Nunca ouvi falar sobre”.
Dados estes relatos, explicitados de forma direta, como pode o
Movimento Tradicionalista afirmar ser despido de preconceitos? Não
podemos tratar como casos isolados. Eles são recorrentes e atingem as
pessoas nas suas mais distintas particularidades. Nas rodas de conversas
informais, posso afirmar que essa pauta seria corroborada por mais diversos
exemplos. O constrangimento de “ser quem é” persegue aos integrantes do
Movimento que não se encaixam no padrão idealizado de gênese do gaúcho,
como pontuamos anteriormente.
Percebo ser muito possível que, alguma pessoa que venha tentar
minimizar os resultados desta POP, usar como argumento que “o MTG não
pode ser culpado pelas pessoas serem assim”. Porém, de antemão, já
respondo para estes: pode, é, e deve ser culpado. Se o MTG tem, por
exemplo, um canal que se diz responsável pela ética no Movimento, onde
está o canal que preserva a integridade moral e psicológica dos seus
integrantes? Como podemos dizer que se trata de uma sociedade civil que
trabalha com a coletividade, se ele não sabe como dialogar e amenizar tudo
aquilo que não constrói para o coletivo? Como pode ter, em seu primeiro
princípio, justamente, a busca por esse bem coletivo, se permite que seus
espaços sejam permeados, de forma impune e velada, pelos mais distintos e
desprezíveis preconceitos? Ainda que consciente de todas essas situações, é
dolorido encontrar com esses relatos e ter certeza da sua veracidade e
recorrência.
A questão seguinte, não obrigatória, abria espaço para que as pessoas
compartilhassem alguma vivência relacionada às situações de preconceito e
discriminação destacadas na pergunta anterior. Tivemos então 47 relatos, e
entendemos que era possível destacar alguns destes, classificamos conforme
o tema. Todos nos fazem observar, sob diferentes perspectivas, os
56

preconceitos arraigados na sociedade em geral e que são vividos


impunemente no MTG.

Tabela 2 – Respostas classificadas por tema a partir dos relatos de


preconceitos vividos na atuação no meio tradicionalista.

Discriminação Depoimento
Racismo “Sofri preconceito com relação ao meu cabelo crespo e com meus
penteados protetores (tranças, triste, dreads) por teoricamente não se
encaixarem nos padrões de indumentária das competições relacionadas
ao MTG.” / “Trabalhei nos bretes e meu colega negro foi chamado de
macaco por um senhor patrão de uma entidade e vice prefeito da cidade
do ctg em questão [...] a frase foi ‘tu não sabe com quem está falando o
macaco’.” / “Realizei um evento em minha entidade sobre a negritude no
RS. Ouvi gente da própria patronagem dizer que pessoas negras nunca
poderiam deixar de serem escravas.”;

Gordofobia “Já sofri de ser retirada de uma coreografia por ser gorda. E meu esposo
também, ele por destoar dos outros homens.”;

Machismo “posteira artística do CTG vivia chamando as prendas em um canto e


dizendo que não eram pra elas publicarem fotos na praia, fotos de calção
curto, fotos que fossem "expositivas" porque [...] estaríamos manchando a
imagem do CTG.”;

Classe social “Quando dançava em invernada artística uma prenda não tinha
condições para adquirir a pilcha, o que sabemos que custa caro, então, a
mesma teve que sair da invernada.”

Homofobia “Ja ouvi de um colega que tinha que parar de entrar gays no grupo e
entrar mais “macho” para melhorar a interpretação.” / “Já vi vários amigos
homossexuais deixando de participar das atividades no movimento por
sofrerem preconceito dentro das entidades.” / “Em uma palestra grande,
onde o palestrante (bem conhecido na RT) falou mal de um ex-peão
regional e o quanto afeminado ele era e que ‘manchava o movimento’. O
ex-peão é negro e gay. O palestrante fez piadas durante mais ou menos
30 minutos.”

Intolerância “Algumas pessoas julgam as raízes tradicionalistas da minha família pelo


religiosa fato de termos origem indígena e negra, e por sermos umbandistas, oque
muitas vezes fez pessoas do movimento se afastarem”

Fonte: formulário do Google Forms organizado pela autora. Acervo pessoal.

O que queremos problematizar é que, sendo o Movimento


Tradicionalista uma instituição que defende, como objetivo, a preservação
cultural e a busca do bem comum, ela deveria ser uma das precursoras na
luta contra todo tipo de discriminação e preconceito. Porém, estes relatos
confirmam situações em uma corrente totalmente oposta.
A questão seguinte (número 14) apresentava a frase “O Movimento
Tradicionalista Gaúcho, enquanto Instituição, precisa perceber suas falhas
57

no processo de inclusão e aceitação das minorias, e atuar de forma mais


incisiva e efetiva nestas causas.” Era possível concordar com ela, discordar
total ou parcialmente, ou corrigi-la. De forma coerente com os relatos
expostos anteriormente, a significativa maioria dos respondentes, 85,6%,
assinalaram que concordam plenamente com a frase. Tivemos 1,8% dos
respondentes que disseram que “discordam totalmente”, e destes, apenas 1
não era homem, todos são heterossexuais e com faixa etária entre 46 e 55
anos.
A última questão, por fim, abria nova possibilidade de resposta livre,
sem ser obrigatória, buscando sugestões de como o Movimento poderia
progredir em questões inclusivas e na sua relação com as minorias.
Destacamos algumas das respostas que trouxeram sugestões práticas ou
pontos de vista abrangentes com a sociedade em geral, observando ainda
que foi recorrente a percepção que as lideranças do Movimento (seja em
caráter estadual, regional ou local) costumam negar a existência de
situações de discriminação e preconceitos. Vejamos:

Tabela 3 – Sugestões para o MTG na sua conduta frente às minorias sociais.

Como o movimento tradicionalista pode progredir em questões inclusivas e na sua


relação com as minorias?
“A primeira atitude é o reconhecimento desse tipo de situação. Em grande parte dos casos
a situação é camuflada e não sai das paredes da entidade. Um canal de denúncia direta ao
MTG seria de grande relevância.”;

“Ações de conscientização são necessárias, mas não só isso é preciso atualização de


regulamentos e preparação daqueles que irão lidar com as pessoas para que sejam
empáticas e responsáveis, jamais minimizando ou passando pano para situações e/ou
pessoas.”;

“O MTG precisa acompanhar a evolução da humanidade enquanto preserva seus valores


essenciais. Manter a tradicionalidade não significa parar no tempo. É preciso manter-se em
Movimento e reforçar os valores benéficos à coletividade.”;

“Uma forma de se fazer isso, é parar de fazer de conta que não existe preconceito em
relação às minorias e desenvolver dinâmicas de capacitação e desenvolvimento humano
de todos os elos que integram o MTG - da presidência às entidades. Preconceito é falta de
informação ou oportunidade de se olhar para o diferente. Por um MTG com mais Liberdade,
Igualdade e Humanidade!”;

“Primeiramente o movimento precisa reconhecer que falhou e segue falhando em romper


com algumas amarras sociais. Depois, incluir esse debate dentro das entidades para que
se encontrem novas formas de propagar a cultura gaúcha sem o viés machista, racista e
homofóbico que perdura por bastante tempo dentro dessa instituição.”;

“É necessário transformar a maneira como o MTG acolhe e lida como as minorias, fazendo
com que de fato o Tradicionalismo seja valorizado, independentemente de por quem ele
58

seja feito. É preciso reconhecer que são mais de 50 anos de Movimento Tradicionalista
menosprezando a diversidade e "fazendo de conta" que nada estava acontecendo,
diminuindo constantemente as lutas de várias pessoas e grupos sociais.”;

“Somente através do reconhecimento dos erros e de propiciar que todos possam de fato
participar de forma atuante do MTG, é que a imagem do Movimento será transformada a
ponto de mudar os "pré conceitos" já criados sobre a nossa cultura e sobre o mesmo.”;

Fonte: formulário do Google Forms organizado pela autora. Acervo pessoal.

Dada a apresentação destes resultados, percebermos com clareza a


existência dos preconceitos – muitos deles estruturais – e da discriminação
contra as minorias no meio tradicionalista, seja de forma explícita ou velada.
Assim, podemos afirmar aquilo que nossa vivência empírica já revelava: o
Movimento Tradicionalista Gaúcho, enquanto instituição, se porta de forma
excludente e preconceituosa e não atua de forma efetiva na busca do bem
coletivo. A ponta de cima de sua pirâmide protege um formato social
patriarcal, hegemonicamente branco, homofóbico e com constantes traços de
misoginia, gordofobia, transfobia e exclusão dos grupos sociais mais
empobrecidos.
Em contrapartida, há um grupo expressivo de tradicionalistas que são
atuantes (especialmente na base - entidades) e compreendem as
potencialidades e riquezas das práticas e heranças culturais. São pessoas
que transpõem constantemente as limitações que lhes são apresentadas, seja
por seu gênero, etnia, condição social ou orientação sexual. Integrantes que
atuam para que o Movimento se permita às transformações para entender
sua importância social e sua capacidade de transformar realidades
(positivamente) através da cultura e da arte gaúchas. Mas, para isso, há uma
urgente necessidade de diálogo com as novas gerações, de compreensão
das diferenças e de um trabalho mais consistente em prol das minorias e
respeitando, efetivamente, o Item I da sua Carta de Princípios.
Concluo este capítulo com minha própria resposta sobre como o
movimento tradicionalista pode progredir em questões inclusivas e na sua
relação com as minorias: inicialmente, criando uma ouvidoria que pudesse
encaminhar os casos denunciados para a Justiça e, de forma legal, punir
aqueles que cometessem qualquer tipo de crime (racismo, homofobia etc) e
comprovada sua transgressão, de imediato, privar estes indivíduos de sua
59

participação no Movimento; reconhecer as estruturas existentes e abrir


espaços para o diálogo com os grupo minoritários, dando-lhes o legítimo lugar
de fala e compreendendo suas demandas; atuar, a partir destas demandas,
em um processo de transformação no entendimento do ser tradicionalista e
na conduta dos seus associados.
60

5. PRODUTO EXPERIMENTAL: O AUDIOVISUAL

O audiovisual foi escolhido como o melhor caminho para comunicar


aquilo que o empirismo já nos dizia e que a Pesquisa de Opinião Pública nos
confirmou: a dificuldade do Movimento Tradicionalista Gaúcho em lidar com
as minorias e despir-se de preconceitos. Desta forma, junto à disciplina de
Produção Audiovisual em Publicidade e Propaganda, ministrada pelo
professor Luciano Mattana, fora elaborado o projeto audiovisual para
contemplar, forma abrangente e satisfatória, a produção alusiva deste TCC.
O tema do audiovisual é exatamente o mesmo deste Trabalho, ou seja,
“As Minorias no Movimento Tradicionalista Gaúcho”. Com o intuito de atrair a
atenção de diferente públicos, entre eles, as pessoas mais conservadoras
envolvidas no meio tradicionalista, o título do audiovisual fora adaptado para
“Meu Eu do Sul” (o título original era “Grito Mudo”. Seu objetivo, reforçando, é
explicitar a existência de preconceitos arraigados no Movimento
Tradicionalista Gaúcho (MTG), já tratado nos capítulos anteriores, e denotar
que estas convenções ilegítimas buscam se manter sólidas na sociedade
atual, porém travestidas de “valor”. Retomamos que isso ocorre ao mesmo
tempo em que a Instituição se divulga como isenta de toda forma de
preconceito, limitações e como um lugar aberto a receber todas as pessoas.
Entretanto, podemos afirmar, tanto com as vivências e conhecimentos
empíricos, assim como em nossa pesquisa, que isso não é verdade.
O material-base que norteou o roteiro do vídeo são depoimentos
recolhidos através de entrevistas de pessoas envolvidas no meio
tradicionalista. Sua narrativa busca demonstrar o desafio de compor as
minorias e atuar no MTG, mesclando paixões, talentos e potencialidades com
as dificuldades de atuação e representatividade.
Com o intuito de demonstrar os caminhos percorridos para a
consolidação do trabalho em audiovisual, este capítulo irá apresentar o
projeto elaborado. Entende-se que divulgar este projeto poderá auxiliar outros
estudantes e interessados no tema a conhecer e compreender os caminhos
entre projeto, produção e produto final.
61

A divulgação do produto encontra-se disponível nas seguintes


plataformas online:
• Instagram: https://www.instagram.com/tv/CSuKnOTjMX3/
• Facebook: https://www.facebook.com/tainavalenzuela/posts/
4249147021818717
• YouTube: https://youtu.be/1mzLpZQMjvg

O material produzido, em teor de documentário, teve por base o projeto


descrito abaixo. Registro que a escrita, neste trecho, se dará em tempo futuro,
uma vez que o projeto fora concebido antes da execução do documentário e
deste TCC.

PRÉ-PRODUÇÃO
Storyline
O documentário contará com depoimentos de 10 pessoas do meio
tradicionalista, sendo algumas delas integrantes de grupos minoritários e
outros não, para possibilitar o contraponto. Os entrevistados serão instigados
a buscar as emoções que os façam sentir positivamente envolvidas com o
meio tradicionalista e, após, relatar as dificuldades e preconceitos vividos,
dadas as suas particularidades.

Argumento
O documentário será editado de forma que atraia diversas pessoas
envolvidas com o meio tradicionalista, especialmente aqueles que ainda
compartilham de preconceitos e compactuam, de forma consciente ou não,
com a discriminação dos grupos minoritários. Estes serão atraídos a partir da
primeira parte do documentário, quando os entrevistados revelarão suas
motivações, potencialidade, ações e emoções no envolvimento com o
tradicionalismo.
Ao tempo em que os entrevistados forem “revelando” suas
particularidades, buscaremos criar um elo com os telespectadores, através
dos sentimentos de empatia, entendimento e reconhecimento de suas
diferenças. Ao mesmo tempo, espera-se que o telespectador, tendo criado
seu vínculo com os entrevistados, consiga perceber as situações de violência,
62

principalmente emocional, pelo qual eles passam em função de suas


características. Espera-se que, a partir de então, se possa rumar para o
entendimento e o lento despir de preconceitos arraigados em sua vivência
social e no meio tradicionalista.
Junto aos depoimentos, o documentário será ilustrado com cenas
comuns às pessoas envolvidas com o meio tradicionalista. Elas serão
protagonizadas pelos entrevistados, como tomar chimarrão, sapatear,
sarandear, montar a cavalo e realizar manifestações artísticas.

Roteiro Literário
Por se tratar de um documentário, baseado em entrevistas, não é
possível precisar as falas que serão utilizadas na produção final. Desta forma,
será apresentado o roteiro de perguntas elaborado que será aplicado,
igualmente, para todos os entrevistados.
O fechamento do vídeo será com a diretora/entrevistadora, que fará
sua primeira e única aparição no material. O texto apresentado será pré-
produzido, de forma a fazer o encerramento com a mensagem principal do
material, baseado em seu objetivo. É importante considerar que esse texto
precisa estar pré-construído, porém podendo sofrer alterações conforme as
informações captadas ao longo das gravações.
Segue abaixo a sequência de perguntas, intercaladas pelas
considerações nas intenções das mesmas na construção final do audiovisual.

Tabela 4 – Roteiro para entrevistas.


Roteiro da entrevista com personagens do documentário
Parte 1: identificação dos entrevistados.
1. Apresente-se (nome completo, idade, cidade, cargo se tiver/como atua no Movimento
Tradicionalista).

Parte 2: evocação de memórias afetivas, que envolvam os entrevistados com o tema e,


posteriormente, na edição final, envolvam os telespectadores de forma a se sentirem
comovidos e identificados com a temática.
2. Por qual motivo tu entendes que a cultura e a tradição do Rio Grande do Sul devem ser
preservadas?
3. Me conte o que mais te emociona na tua trajetória no meio tradicionalista. Se desejar, me
conte uma história que você viveu que ilustre esse sentimento.
4. Quais os hábitos comuns ao meio tradicionalista que fazem parte do teu cotidiano?
Nossos símbolos integram teu cotidiano, como chimarrão, churrasco ou algum outro? Dentro
disso, o que tu mais aprecias e admira em nosso meio?
As músicas gaúchas/nativistas fazem parte da tua playlist? Por quê?
5. Tu já competiste em algum evento tradicionalista? Venceu algo?
63

6. Família e Movimento Tradicionalista tem forte ligação. Qual tua visão sobre o tema?
7. Fale sobre sua roupa, seu sentimento em vestir ela. Isso te orgulha? Por que usa?

Parte 3: início da reflexão sobre as problemáticas que envolvem a atuação no meio


tradicionalista.
8. “Auxiliar o Estado na solução dos seus problemas fundamentais e na busca do bem
coletivo.” Esse é o Item I da Carta de Princípios, como sabemos, e eu pergunto: estamos
trabalhando na busca do nosso primeiro princípio?

Parte 4: reviravolta.
9. Tu entendes que o Movimento Tradicionalista consegue atuar, enquanto instituição, de
forma agregadora e plural? O que falta para isso OU o que colabora para isso?
10. A figura do gaúcho costuma ser descrita como “centauro dos pampas”, um homem viril
que tem forte vínculo com o campo e na lida com animais. Essa figura te representa? Tu
consideras que isso é fidedigno às pessoas que habitaram e habitam o RS com a intenção
de preservar a cultura do RS?
11. Tu já sofreste algum tipo de preconceito ou constrangimento em alguma situação dentro
da tua atuação no Movimento Tradicionalista? Conte o que aconteceu.
12. Considerações finais: fique à vontade ainda para fazer tuas próprias considerações,
acrescentar algo que não fora contemplado nas outras questões e/ou para deixar algum tipo
de mensagem/alerta/recado para ser dado.

Parte 5: desfecho/clímax. Os entrevistados irão falar se suas particularidades, com a


intenção de provocar os telespectadores a perceberem que, independente de quaisquer
características, o sentimento e a intenção de atuar na preservação da cultura do RS é
compartilhado da mesma forma por todos os envolvidos no meio, e buscando a diminuição
dos preconceitos e diferenças.
13. Descreva a si mesmo com suas características enquanto gênero, sexualidade, etnia,
classe social, profissão.

Fonte: organizado pela autora. Acervo pessoal.

Locação
As gravações serão realizadas no DTG Noel Guarany, Programa de
Extensão da Universidade Federal de Santa Maria, que se localiza junto ao
Centro de Eventos da Universidade. Serão utilizados os espaços internos da
sede da entidade e os espaços externos, por ser circundado por ambiente
campestre, com árvores, cavalos e espaços naturais.

Planejamento operacional
Equipamento:
- 2 câmeras (uma fixa para mostrar o entrevistado e outra flutuante para
captação de cenas de bastidores e detalhes do entrevistado, variando ângulo
e proximidade)
- 2 microfones de lapela (sendo um para o entrevistado, plugado diretamente
na câmera 1, e outro para a entrevistadora, plugado em gravador de áudio)
- 1 gravador de áudio
64

- 3 cartões de memória (classe 10)


- 1 notebook para descarregar os cartões e para visualização dos arquivos
que estão sendo captados, se for necessário
- carregadores e baterias
- tripé das câmeras
- drone
- ring light
- rebatedor
- extensões, adaptador (T)

Equipe
1. Diretora e entrevistadora: Tainá Severo Valenzuela
2. Cinegrafista 1 / Diretora de Fotografia: Anaí Rigão de Oliveira
3. Cinegrafista 2: Letícia Pagliarini
4. Cobertura Fotográfica: Julia Schonewaldt Coletto
5. Assistente de direção: Anaí Rigão de Oliveira
6. Maquiadora: Julia Schonewaldt Coletto
7. Assistente de Produção e Captação de áudio: Luciane Pagliarini
8. Organização do espaço do DTG Noel Guarany para acesso aos materiais
que estão na secretaria, copa e cozinha da entidade; assistência à equipe e
entrevistados; ambientação do cenário (churrasco e avios): Luciane Pagliarini,
Franciéle Leal, Tiago Zavacki, Bruno Rafael Barcelos e Bruna Freitas.

Personagens/Entrevistados:
1. Gabriela Sarturi Rigão (1ª Prenda do RS 2019/2022, mulher, branca,
heterossexual)
2. Gabriela Meindradt (Prenda reconhecida como a 1ª Prenda trans no MTG,
mulher trans, branca)
3. Helder Machado (dançarino, coreógrafo, homem, branco, homossexual)
4. Marcelo Lopes (dançarino, vice-diretor de Departamento Jovem,
cabelereiro, maquiador, homem, homossexual)
5. Bruno Rafael Barcelos (Posteiro do grupo de Danças do DTG Noel
Guarany, homem, negro, heterossexual)
6. Bruna Freitas (prenda de entidade, mulher, negra, heterossexual)
65

7. Ediana Larruscain (musicista, integrante de conjunto vocal tradicionalista,


mulher, negra, heterossexual)
8. Lucca Adams Pilla (bailarino, coreógrafo, idealizador do JuvENART, ex-
Guri Regional, bissexual)
9. Anderson Hartmann (integrante de patronagens e diretorias, homem,
branco, homossexual)
10. Eduardo Barasuol (Patrão do DTG Noel Guarany, dançarino, ex-Peão
Regional, homem, branco, heterossexual, com quem se buscará dialogar
sobre o sobre o convívio com as diferenças)

Figurino
Considerando que todas as pessoas convidadas são atuantes no
Movimento Tradicionalista, as mesmas serão convidadas para comparecerem
às gravações utilizando a pilcha atual tradicionalista de sua preferência,
preservando as normativas do Movimento Tradicionalista para o uso das
mesmas.

Componentes do cenário
- Chimarrão e demais avios de mate
- Churrasco (fogo de chão, espetos, carne, sal)
- Cavalo
- Banco de madeira
- Bandeiras
- Backgrounds: ambientação em espaço aberto, natural, ou em parede de
tijolos à vista

Cronograma de gravação
As gravações ocorrerão no dia 13 de junho de 2021, domingo,
atendendo à seguinte programação:
- 7h30 – Início da organização dos materiais e montagem do equipamento e
cenários;
- 8h – Início da preparação do fogo do chão e churrasco.
As primeiras captações ocorrerão, em função da luz, no ambiente
externo na lateral esquerda do DTG Noel Guarany, sendo:
66

- 9h – Helder Machado
- 9h30 – Lucca Adams Pilla
- 10h – Eduardo Barasuol
Obs.: a medida em que a pessoa for entrevistada, também serão
captadas as cenas referentes às suas habilidades e/ou preferências com
relação ao Tradicionalismo (dançando, fazendo chimarrão, montando a cavalo
etc).
As captações seguintes ocorrerão, em função da luz, no ambiente
interno do DTG Noel Guarany, sendo:
- 11h – Gabriela Meindradt
- 11h30 – Anderson Hartmann
- 12h – Bruno Rafael Barcelos
- 12h30 – Bruna Freitas
Obs.: a medida em que a pessoa for entrevistada, também serão
captadas as cenas referentes às suas habilidades e/ou preferências com
relação ao Tradicionalismo (dançando, fazendo chimarrão, montando a cavalo
etc).
- 13h – Intervalo para almoço da equipe
As captações seguintes ocorrerão, em função da luz, no ambiente
externo na lateral direita do DTG Noel Guarany, sendo:
- 14h – Marcelo Lopes
- 14h30 – Ediana Larruscain
- 15h30 – Gabriela Sarturi Rigão
Obs.: a medida em que a pessoa for entrevistada, também serão
captadas as cenas referentes às suas habilidades e/ou preferências com
relação ao Tradicionalismo (dançando, fazendo chimarrão, montando à cavalo
etc).
- Intervalo
- 16h – gravações adicionais que possam ser necessárias / cenas que
possam ser utilizadas para ilustrar o documentário.
- 17h – gravação do encerramento com fala da Diretora/Entrevistadora.
- 18h – encerramento das atividades.

Roteiro
67

Tabela 5 – Primeira parte do roteiro do audiovisual (abertura)

SEQUÊNCIA 1 – ABERTURA/INSERT
Montagem de cenas captadas dos entrevistados atuando em ações alusivas ao
tradicionalismo gaúcho (fazendo chimarrão, dançando, montando a cavalo etc)
CENA DESCRIÇÃO LOCAÇÃO ATORES ÁUDIO OBS
1 CAM1 = PG31 DTG Noel Os 10 Captação geral
Guarany e entrevistados – na edição
arredores será mutado
para ser
substituído por
música
2 CAM2 = Mão DTG Noel Os 10 Captação geral não usar
PM32/PG33 – Guarany e entrevistados – na edição o zoom
traveling e parada arredores será mutado da lente
para ser
substituído por
música
3 Drone = GPG34 DTG Noel Os 10 Captação geral
Guarany e entrevistados – na edição
arredores será mutado
para ser
substituído por
música
Fonte: organizado pela autora. Acervo pessoal.

Tabela 6 – Sequência do roteiro do audiovisual (estruturação das entrevistas)


SEQUÊNCIA 2 – ENTREVISTAS
A voz da entrevistadora aparece ao fundo, a ser sincronizada depois. Por se tratar
de documentário, roteiro só poderá ser ordenado de forma precisa após a
captação das entrevistas.
CENA DESCRIÇÃO LOCAÇÃO ATORES ÁUDIO OBS
1 CAM1 = PP35 - DTG Noel Os 10 Entrevistado:
Leve perfil Guarany e entrevistad captado pela
arredores os lapela
diretamente
plugada na
câmera 1;
Entrevistadora:
Captada pela
lapela plugada
no gravador
(celular)
2 CAM2 = Mão DTG Noel Os 10 Entrevistado: não usar o
PM/PG – Guarany e entrevistad captado pela zoom da

31 Plano Geral. Um pouco mais fechado que o anterior, mas tem as mesmas características.
Serve para contextualizar o personagem na cena.
32 Plano Médio. Cintura para cima e dá ênfase aos gestos /
33 Plano Geral. Um pouco mais fechado que o anterior, mas tem as mesmas características.

Serve para contextualizar o personagem na cena.


34 Grande Plano Geral. As expressões dos personagens não aparecem, mas todo o cenário é

mostrado. Serve para contextualizar a cena.


35 Primeiro Plano. Busto para cima e dá ênfase às expressões.
68

traveling e arredores os lapela lente / em


parada diretamente algumas
plugada na ocasiões,
câmera 1; será
Entrevistadora: possível
Captada pela captar
lapela plugada algumas
no gravador imagens da
(celular) entrevistad
ora
para
contextuali
zação e
ilustração
dos
bastidores
Fonte: organizado pela autora. Acervo pessoal.

Tabela 7 – Parte final do roteiro do audiovisual (encerramento)

SEQUÊNCIA 3 – ENCERRAMENTO
Conclusão e mensagem final do material produzido
CENA DESCRIÇÃO LOCAÇÃO ATORES ÁUDIO OBS
1 CAM1 = PG DTG Noel Tainá (fala) e Lapela plugada
Guarany – demais na CAM1, para
lateral entrevistados a fala final da
direita entrevistadora
2 CAM2 = Mão PM DTG Noel Tainá (fala) e Lapela plugada não usar
/PG – traveling e Guarany – demais na CAM1, para o zoom
parada lateral entrevistados a fala final da da lente
direita entrevistadora
3 Drone = GPG DTG Noel Tainá (fala) e Lapela plugada
Guarany – demais na CAM1, para
lateral entrevistados a fala final da
direita entrevistadora
Fonte: organizado pela autora. Acervo pessoal.

PRODUÇÃO
Todas as pessoas entrevistadas vão responder às mesmas perguntas,
e estas deverão ser respondidas olhando para a entrevistadora, não para a
câmera. A gravação será realizada individualmente, para que haja
naturalidade nas respostas e não haja influência das respostas dos demais.
Toda gravação ocorrerá no mesmo dia, no mesmo ambiente da
locação, mas não no mesmo lugar. Serão selecionados 3 espaços onde os
entrevistados serão alocados e distribuídos, um de cada vez, para a gravação
da entrevista, sendo: 1 – espaço interno do DTG Noel Guarany; 2 – lateral
direita da sede do DTG Noel Guarany, com fundo para o espaço do bosque
69

que pinus; 3 – lateral esquerda da sede do DTG Noel Guarany, com fundo
para o espaço do projeto de hípica da UFSM.
As cenas que serão tomadas para ilustrar as falas e roteiros (danças,
chimarrão, churrasco etc) serão realizadas de forma que fiquem ambientas e
distribuídas nestes 3 espaços e, também, em um 4º espaço é a parte frontal
da entidade, onde há uma cerca em estilo rústico, de madeira.
É válido citarmos que este documentário será produzido durante a
pandemia da COVID-19 e, em função disso, todos os envolvidos seguirão os
protocolos de segurança conforme orientações das autoridades em saúde e
do Comitê de Biossegurança da UFSM, sendo: uso de máscaras protetivas,
retiradas apenas na hora da gravação; aferição da temperatura para adentrar
ao espaço do DTG Noel Guarany; uso de álcool em gel 70% para
higienização das mãos; distanciamento de, no mínimo, 1,5mt entre cada
pessoa envolvida; não compartilhamento de objetos de uso pessoal.

PÓS-PRODUÇÃO
Considerando mais uma vez que este projeto se trata de um
documentário e, desta forma, a captação das imagens, ainda que com
orientação, não são precisas em sua previsibilidade, alguns elementos só
poderão ser definidos após/durante as gravações e no início da edição. Serão
traçadas aqui algumas considerações gerais acerca da pós-produção.
A edição será realizada pela própria Diretora através do software
Wondershare Filmora, que irá:
- realizar a decupagem e organização das cenas gravadas;
- organizar as cenas de forma que as respostas sejam editadas
conforme a sequência das perguntas, e não de acordo com a ordem de
gravação. A ordem das respostas será construída a partir das possibilidades
oferecidas pelo material coletado;
- realizar as correções de luz e cor que sejam necessárias;
- sincronizar imagem e áudio;
- selecionar a trilha sonora para o produto final. Há a intenção de uma
trilha que evoque sentimentos de emoção e pertencimento, porém apenas
após as gravações será possível precisar que as entrevistas terão, de fato,
70

assumido esse viés. A intenção é que a trilha seja apenas instrumental, no


estilo musical gaúcho;
- inserir os créditos e assinatura final do trabalho.

CONCLUSÃO DO PROJETO
A edição deverá gerar um produto final que tenha entre 8 e 10 minutos
de duração. Este projeto pretende ser um passo (entre tantos) no processo
de construção de uma sociedade mais igualitária e despida de preconceitos,
capaz de distinguir o que é valor do que é discurso de ódio impregnado,
amparado em princípios pré-existentes. Pretende promover empatia,
entendimento e aceitação das diferenças, fazendo isso justamente no âmbito
de uma das instituições mais conservadoras do Estado do Rio Grande do Sul,
o Movimento Tradicionalista Gaúcho.

5.1. Considerações teóricas sobre as entrevistas


A formulação das questões para a entrevista teve um caráter bastante
objetivo, pensando na construção da narrativa, clímax e reviravolta do
material que seria produzido. Porém, para o ato de entrevistar, era necessário
aplicar aquilo que não se aprende com a teoria: sensibilidade, empatia,
compreensão. Apenas nossas vivências e nossa compreensão de mundo
podem nos oferecer estes predicados, porém a necessidade de utilizar eles já
foram, sim, explicitados nas obras teóricas.
A metodologia não pode falar mais alto do que nossa humanidade
quando formos trabalhar com outros seres humanos. Por isso, é fundamental
empreender um processo de troca no ato de entrevistar, é preciso
entendimento e cumplicidade entre entrevistador e entrevistado.
Atuar de forma humana e compreensiva não irá ferir a veracidade e
qualidade dos dados, ao contrário: intensifica ambos. Claro que é necessário
que o entrevistador consiga encontrar um caminho lógico da decupagem dos
dados concebidos, mas sentimentos que forem evocados neste processo
também são edificantes para a pesquisa. É preciso estar pronto para as mais
diversas manifestações e emoções que venham ser expressas, e ter o
cuidado para não influenciar, de forma negativa, o entrevistado (KAUFMANN,
2013).
71

Ao mesmo tempo, quando empregamos os sentidos humanos na


construção científica, abrem-se brechas para as críticas e desconfianças.
Para quem não apreende o conjunto do processo, a entrevista
compreensiva pode parecer suspeita de falta de rigor.
Regularmente, a crítica gira, portanto, em torno da mesma questão:
o que lhe permite dizer isso, qual é a validade científica de seus
resultados? Crítica legítima, pois se trata do ponto fraco do método,
mas é uma crítica muitas vezes mal coloca e excessivamente
exagerada, pela incompreensão do modo particular de construção
do objetivo. (KAUFMANN, 2013, p. 48)

Mesmo diante das possibilidades do método ser questionado, optamos


por este caminho. Entendemos que nestes tempos, nada pode justificar a
ausência de humanidade, nem mesmo a ciência. São caminhos novos, porém
deixarão de ser desconhecidos a medida em que o aplicarmos com
sobriedade, clareza e demonstrando os ganhos para as Ciências Humanas.
É evidente que não podemos nos despir da razão e da objetividade ao
aplicarmos a entrevista compreensiva. Como já dito, o entrevistador precisa
amparar-se em distintos conhecimentos para que possa realizar os filtros
necessários nas informações recebidas e na construção do conhecimento. O
grande desafio é unir a produção da teoria e a pesquisa empírica sem perder
a credibilidade e confiabilidade. A metodologia assume os ares de ser
qualitativa nas Ciências Sociais (KAUFMANN, 2013).
No caso deste trabalho, unimos a estratégia da POP com a entrevista
compreensiva. A própria POP, ainda que quantitativa em diversas questões,
nos permitiu a construção de elementos qualitativos ao abrir espaços para as
manifestações dos respondentes. Ao entrevistarmos as pessoas selecionadas
para a produção do documentário, já tínhamos dados específicos gerados
pela pesquisa quantitativa, e nos valemos destas informações para construir
algo que, junto estes entrevistados, humanizasse as informações dadas e
números e gráficos e não perdêssemos a qualidade e o respaldo enquanto
produção científica.

5.2. Execução da produção, gravação e edição


Optamos por inserir este tópico dentro deste capítulo, para narrarmos,
de forma clara, franca e objetiva, como ocorreu a execução de todo este
processo descrito no projeto e das ideias concebidas dentro das teorias.
72

Pensamos que essa narrativa pode vir a contribuir com aqueles que estejam
planejando se envolver com o audiovisual e possam se sentir receosos diante
das dificuldades e adversidades. Quando vemos os trabalhos escritos,
produzidos e apresentados, temos a sensação que tudo corre em perfeita
ordem e atende todas nossas expectativas, porém é fundamental
registrarmos que existem erros, dificuldades, mas, também, possibilidades de
superação destes para que se chegue ao produto planejado.
Meu objetivo, na conclusão do curso, pensando na parte metodológica,
era o aperfeiçoamento no campo do audiovisual. O tema, para esta análise de
caráter técnico, não seria o ponto principal. Porém, entendi que diante desta
perspectiva de realização deste projeto experimental, seria de valia trazer um
tema relevante, especialmente no meio em que convivo, o tradicionalismo, e
levantando as bandeiras que me movem enquanto ser humano e indivíduo
que integra este nosso grupo social e coletivo: a voz das minorias e sua
inserção em uma sociedade com equidade.
Reitero que a produção deste documentário e a conclusão do curso de
deu junto à pandemia da COVID-19, acentuando nossas dificuldades e
preocupações com a segurança de todos os envolvidos. A data pensada para
gravação foi trocada várias vezes, de forma a nos adequarmos ao andamento
da vacinação (o que tornaria a gravação mais responsável e segura para
todos) e aos protocolos contra o contágio pelo vírus, protocolos estes que nos
vinham por órgãos especializados e responsáveis, como a Organização
Mundial da Saúde (OMS), decretos Estaduais e Municipais, e também
conforme a Comissão de Biossegurança da UFSM – uma vez que as
gravações seriam no campus.
A proposta inicial era que a gravação ocorresse em março de 2021.
Com o agravamento da pandemia, acabamos adiando a data mais duas
vezes, então conseguimos agendar e manter no dia 13 de junho de 2021. No
momento em que tudo estava encaminhado para esta data, com a
confirmação da presença dos entrevistados, algumas pessoas da equipe
técnica da gravação, que haviam se comprometido em participar, alegaram
motivos variados e desistiram de realizar as atividades. Agravando a situação,
essas pessoas detinham parte do equipamento que eu havia tido por certo
que estaria disponível no dia da gravação. Parti para a busca de suprir esse
73

material, mas infelizmente o equipamento que consegui não era da mesma


qualidade do que estava previsto. O que mais foi atingido foi a captação do
áudio, pois a câmera fixa que estava sendo usada não tinha entrada para
microfone de lapela. Adaptamos a captação de áudio para que fosse “aberta”
pela câmera, o que acaba pegando muitos ruídos e “vazamento” de som, e
fomos realizando um backup no gravador de áudio do celular, mais próximo à
fala dos entrevistados.
Todos os entrevistados foram movidos para o mesmo ambiente,
diferente do previsto no projeto. Porém, com a limitação de equipamento,
pensei nesta estratégia: manter os materiais fixos e explorar câmeras
diversas (até mesmo dos celulares) na captação de cenas dos entrevistados
que ilustraram os detalhes do documentário.
As pessoas que estavam lá, disponíveis para me auxiliar, acabaram
sendo alocadas em novas funções as quais, inclusive, precisarem ensinadas
na hora para poderem executar. Nos encontramos em uma manhã fria na
sede do DTG Noel Guarany a partir das 7h da manhã (meia hora antes da
previsão inicial) e enquanto eu era maquiada, terminei de organizar o
ambiente, distribuir e orientar as pessoas em suas (novas) funções.
Foi importante ter tido, durante o dia, alimentos disponíveis para a
equipe, tanto para os entrevistados quanto para os que estavam auxiliando. O
custo acabou sendo alto, mas entendi que esse cuidado era necessário.
Investi cerca de R$ 500,00 (quinhentos reais) para poder comprar coisas
como café, sanduíches, sucos, refrigerantes, bolos, água mineral e montar
uma mesa a disposição de todos. Precisei investir também em copos e outros
materiais descartáveis, principalmente em função da pandemia, para que não
houvesse o compartilhamento de objetos. Busquei também por produtos
veganos, uma vez que sabia que alguns entrevistados investiam nesta
proposta admirável para suas vidas.
Além disso, para poder providenciar almoço para a equipe de trabalho
e para termos cenas características que iam ser usadas no contexto do
documentário, foi feito um churrasco próximo ao meio dia, o que fez com o
que valor acabasse sendo tão alto em função da aquisição de carne e carvão.
Se tu, que lês este TCC, pensa em produzir audiovisual, pense que é possível
a execução de um projeto com investimento menor, mas se lembre o quão
74

fundamental é que as pessoas envolvidas em um dia inteiro de trabalho


estejam bem amparadas quanto alimentação e outras assessorias pessoais
necessárias.
Dentro deste alto custo, também se contabiliza a aquisição de
máscaras descartáveis (ainda que todos estivessem orientados para estarem
no ambiente sempre usando máscara), álcool em gel e pilhas para uso no
termômetro para aferição da temperatura de todas as pessoas. Foi preciso
comprar também alguns produtos de necessidades básicas, como papel
higiênico, sabão líquido e detergente. No DTG Noel Guarany, estavam
disponíveis panos de limpeza, vassoura, produtos de higienização de
ambientes, talheres, cafeteira, mesas, cadeiras, tripé, uma câmera e os
materiais usados no cenário (banco, bandeiras, parede de tijolos a vista).
Durante o dia, o transcorrer da captação das entrevistas ocorreu com
as adversidades que, de certa forma, poderiam ser previstas (mas nada de
maior gravidade): pausas para recarregarmos as baterias das câmeras (entre
os equipamentos que não tivemos mais acesso, baterias extras eram parte
deles), pedidos de intervalo pelos entrevistados, adequação da luz e das
câmeras, entrevistados que não chegaram no horário previsto ou não
puderam ir. Duas entrevistadas não puderam se fazer presentes, e assim
reagendamos a gravação com elas para o dia 16 de junho de 2021, pela
manhã. Desta forma, por se tratar de horário comercial, precisei negociar
minha presença na Escola onde trabalho, e consegui apenas mais uma
pessoa para me auxiliar no suporte técnico. Mantivemos o cenário
exatamente como estava e realizamos a gravação com as entrevistadas no
meio da semana.
É fundamental pensar em todas as possíveis adversidades antes, para
que se esteja pronto para enfrenta-las, pois elas vão surgir, sem dúvida.
Ainda assim, nem tudo pode ser previsto. O importante é ter a consciência de
que problemas hão de ocorrer, e o fundamental é se sentir seguro para
conseguir pensar em estratégias para superar a dificuldade que se
apresentar.
Uma sugestão que considero valiosa: tenha uma equipe. Não
necessariamente uma equipe amparada em técnicas (a minha equipe muito
técnica, por exemplo, me deixou na mão!), mas esteja cercado de pessoas
75

que lhe querem bem e estarão disponíveis para lhe estender a mão no que for
necessário. Pessoas que tenham essa mesma visão: a consciência de que
problemas ocorrerão, mas é preciso ter sobriedade e clareza para contorna-
los e se chegar ao objetivo final.
No processo das entrevistas, ainda que eu tivesse um roteiro a seguir,
percebi que a “entrevista compreensiva” me encaminhava para adaptar os
questionamentos conforme o entrevistado, buscando deixa-lo confortável mas
também evocando seus sentimentos mais sinceros. Por vezes, me vi
profundamente emotiva, e não neguei à eles este sentimento, mas busquei
caminhos para manter o meu controle dentro do possível e trilhar o caminho
necessário para o êxito do projeto.
Sendo assim, registro: os papéis aceitam a perfeição. Porém, a prática
e a realidade, nos obrigam à resiliência, a encontrarmos caminhos e
aceitarmos, sem maiores percalços, nossas limitações e nossa humanidade.
O produto final, o documentário “Meu Eu do Sul”, vejo com um projeto que foi
executado com sucesso e que poderá se tornar uma referencia dentro de uma
das necessidades que mais ouvi ser reivindicada por meus entrevistados: a
liberdade de amar ao tradicionalismo, praticá-lo, utilizá-lo pelo bem comum,
sem jamais abrir mão de ser quem se é.
76

6. CONCLUSÃO

Não é de forma aleatória que as minorias ainda são minorias. Isso tudo
faz parte de um projeto político-ideológico bem estruturado que percorre o
tempo, onde a classe dominante se mantém em condição de favorecimento.
As minorias sofrem com a herança de uma sociedade que se afirmou,
historicamente, em uma pseudo-descendência e gênese de um determinado
tipo de sociedade – representado enfim, na atualidade, por essa classe
dominante. Compreendê-las no presente só é possível ao entendermos de
que forma se fizeram ao longo do tempo.
O MTG, por sua vez, é considerado por muitos um dos movimentos
mais conservadores e excludentes do RS, ainda que mobilize milhares de
pessoas em suas atividades. Sendo o Movimento Tradicionalista o porta-voz
mais popular da cultura do RS e da difusão de sua história, é fundamental e
urgente que este passe a adotar posições que compreendam e atuem em prol
da diversidade, acompanhando o mundo contemporâneo. Ainda é possível se
ver a reprodução de conceitos que, em tempos anteriores, eram tomados por
“virtude”, “valor”, mas hoje já são reconhecidos como preconceituosos,
excludentes e, muitas vezes, como discurso de ódio. Entre estes discursos,
destaco que, de forma recorrente, ouvimos falar sobre a inferioridade da
mulher pelo seu gênero; o preconceito racial, étnico e por orientação sexual; a
segregação por classe; a exclusão dos portadores de necessidades
especiais.
Os instrumentos de pesquisas disponíveis na atualidade, facilitaram a
investigação desta demanda – se o MTG é, na sua prática, excludente,
preconceituoso e elitista, assim como facilitam a averiguação de tantas
outras. As dúvidas que eu tinha com relação à opinião dos tradicionalistas
sobre este tema, foram reveladas através deste processo, que foi, por vezes,
esclarecedor de minhas angústias e, por outras, ampliador delas.
Preciso lembrar e registrar que o aparato tecnológico que nos
acompanha torna ainda mais acessível a possibilidade de desenvolver um
instrumento de coleta de dados. O Google Forms, que utilizei neste trabalho,
torna este processo intuitivo e prático para quem elabora a pesquisa, para
77

quem responde ela e para quem coleta e tabula seus dados posteriormente,
com gráficos gerados de forma automática. Precisamos nos adaptar ao uso
destas ferramentas para termos elas atuantes em nosso favor, enquanto
curiosos e/ou pesquisadores.
O audiovisual, por sua vez, é um dos recursos da comunicação de
grande apelo, especialmente neste cenário contemporâneo da primeira
metade do século XXI. Podemos transmitir nossa mensagem em formato de
imagem, movimento e som, disponibilizar ela em distintas plataformas e,
assim, alcançarmos o maior número possível de pessoas.
Neste trabalho, percorri um caminho complexo, que partiu das minhas
vivências e conhecimentos empíricos, seguindo pela análise histórica, indo
então para a investigação popular e, finalmente, chegando na produção de
um documentário. A missão agora é fazer com que as vozes que constam
neste trabalho alcancem o maior número de pessoas possíveis. Tudo isso
com a intenção de promover, no seio da cultura regional do RS, tão cara para
tantas pessoas e com tanto potencial de transformação social, um momento
de entendimento, empatia e aceitação coletiva, buscando por novos tempos
onde os princípios fundamentais sob os quais foi erguido o Movimento
Tradicionalista, sejam respeitados e praticados de forma efetiva.
A comunicação é a grande aliada deste processo, que entendo ser vital
para nossa vida social e coletiva, seja no RS ou fora dele. Toda pessoa que
tiver seu entendimento de mundo amparado na coletividade e no bem-estar
comum, precisa buscar as possibilidades para que se possa, efetivamente
somar (ou tentar somar) e promover a equidade.
Eu me despeço deste trabalho e do curso de Comunicação Social –
Habilitação em Publicidade e Propaganda, orgulhosa de minha própria
coragem para enfrentar esse desafio em busca de formação, e vivendo,
humildemente, a sensação de contribuir, como professora que sou e
comunicadora que estou me tornando, com um tempo onde se dialogue com
serenidade, afetividade e empatia sobre igualdade e a aceitação – e que isso
auxilie na construção de um mundo melhor. Fica aqui o meu sonho de que o
futuro escreva páginas mas dignas e plurais sobre o meu povo, minha origem
– e a minha própria história.
78

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84

ANEXOS

Anexo 1 – Gráfico com as respostas da POP sobre a região tradicionalista


dos respondentes.
85

Anexo 2 – Gráfico com as respostas da POP sobre a faixa etária dos


respondentes.
86

Anexo 3 – Gráfico com as respostas da POP sobre a declaração de etnia dos


respondentes conforme a classificação do IBGE.
87

Anexo 4 – Gráfico com as respostas da POP sobre a identidade de gênero


dos respondentes.
88

Anexo 5 – Gráfico com as respostas da POP sobre a orientação sexual dos


respondentes.
89

Anexo 6 – Gráfico com as respostas da POP sobre as dificuldades das


minorias em se inserirem e se manterem no MTG.
90

Anexo 7 – Íntegra das respostas da questão 13 da POP, dissertativa, sobre as


situações de preconceito e discriminação vivenciadas. As respostas estão
apresentadas de forma idêntica com o qual foram escritas. Nos casos
daqueles que assinaram sua resposta (opção oferecida como facultativa na
pergunta), será indicada também a identidade do respondente.
1. “Já presenciei CTGs que proibiam (não mais) a entrada de negros em fandangos.
Obrigavam as prendas de faixa a dançar, com qualquer peão, mesmo contra a
vontade. Consideravam características físicas para selecionar integrantes de
invernadas e concursos de prendas, exemplo peso, uso de óculos, etc. O que também
é uma forma de segregação.”

2. “Gordofobia, já sofri, de ser retirada de uma coreografia por ser gorda. E meu esposo
também, ele por destoar dos outros homens.”

3. O meu CTG sofreu preconceito e racismo no ENART de 2018, e nunca o MTG se


manifestou isso nos deixou decepcionados.”

4. “Ser instrutora mulher no Movimento é sempre significado de estar no segundo plano e


"só saber sarandear e ensinar mulheres"

5. “Olá Tayná, parabéns por abordar esse tema tão importante para a visibilidade daquele
que integram o movimentos e se sentem ainda acuados com o preconceito. Eu dancei
desde os 12 anos e eu lembro muito bem do meu instrutor me corrigir para eu “virar
mais homem” pois a dança exigia que eu me portasse de forma mais bruta.”

6. “Sofri preconceito com relação ao meu cabelo crespo e com meus penteados
protetores (tranças, triste, dreads) por teoricamente não se encaixarem nos padrões de
indumentária das competições relacionadas ao MTG.”

7. “Gostaria de fazer um comentário, por ser prenda de rodeio, acredito que algo muito
positivo que já vem acontecendo é a maior participação da mulher no meio
tradicionalista, atualmente já somos de grande representatividade.”

8. “Há muito tempo, namorava um rapaz q usava brinco. Não deixaram q ele entrasse na
entidade, a não ser q tirasse o brinco. Mesmo ele tendo comprado o cartão para jantar.”

9. “Muitos participantes dos Ctgs e do MTG ainda demonstram conotação machista.”

10. “No ano de 2018 eu sofri um ataque racista por membros da CTM da minha cidade.
Aonde fui chamado de negro e minha filha de 10 anos na época sofreu muito com isso.
Mas expliquei a situação a ela e hoje ela consegui entender perfeitamente tudo isso.”

11. “A cozinheira da minha entidade uma senhora negra é também a secretária da


entidade e após o patrao e vice patrao pedirem afastamento ela assumiu como Patroa
da Entidade em época de pandemia tendo que se desdobrar nos 30 para conseguir
manter a casa "em pé" com risotos e rifas e um ex patrao da casa a ofendeu, humilhou
e desrespeitou falando que uma mulher negra qur nao passa de cozinheira da entidade
nao poderia ser patroa da entidade!!! Isso não pode e não foi aceito o caso foi para o
comite de ética da 13° Regiao Tradicionalista”

12. “Já me disseram por exemplo que sou mais do que mãe, sou um pai na minha
entidade.”

13. .
14. “Na minha regiãoa há 40 Anos atrás tinha o salão de baile dos negros e outro dos
brancos aí un dia não foi o son da musica para eles ai colocarão um laço repartindo o
salão aí um passou para outro lado aí terminou. O racismo na minha região”
91

15. “Trabalhei nos bretes e meu colega negro foi chamado de macaco por um senhor
patrão de uma entidade e vice prefeito da cidade do ctg em questão, motivo queria
passar para olhar o grupo que não era o que ele representava no momento, uma cena
deplorável, a frase foi " tu não sabe com quem está falando o macaco". Ele se
apresentou como patrão ( que da acesso no brete junto com o grupo que ele
representa, não passagem livre pra ver os outros grupos), não como vice prefeito, eu
que sabia, mas meu colega não, mas enfim é isso.”

16. “Em uma abertura da semana farroupilha um homem, no microfone teceu comentários
homofóbicos e machistas e ninguém na época impediu ou desligou o microfone. Eu era
uma criança e me senti ofendida, atualmente eu entendo porque eu senti aquilo”

17. “Quando dançava em invernada artística uma prenda não tinha condições para adquirir
a pilcha, o que sabemos que custa caro, então, a mesma teve que sair da invernada.
Outra ocasião, foi quando o coordenador da região na época em que fui prenda
regional não quis cumprimentar minha colega de gestão por ela ser negra. Ainda, o
antigo coordenador da região não dava voz as prendas regionais, eis o motivo? serem
mulheres!”

18. “Na questão de baixa renda vejo as patronagens se desdobrarem para manter estas
pessoas dentro da entidade tradicionalista com campanhas de arrecadação de fundos
ou até mesmo padrinhos. Não consigo ver no meu CTG um ato discriminatório e sim de
inclusão, tem certas atividades que são praticadas mais por prendas e outras por
peões, mas nada impede de ser praticada pelo outro exemplo cozinheiro, cozinheira,
secretário, secretária, tesoureira, tesoureiro, gaiteiro, gaiteira. Tem algumas atividades
que foram adequadas para que ambos pudessem participar. Vejo que como na
sociedade antes tinha algumas coisas que eram coisa de homem hoje também se
tornou coisa de mulher ou visse versa. A sociedade está em transformação e o
movimento está em construção e se adapta a cada ciclo de mudança. Se olharmos o
normal de hoje, talvez 50 anos atrás era inadmissível.”

19. “Nunca sofri preconceito dentro do movimento. Sempre fui muito respeitado em todas
as entidades que participei. Porém, já ouvi relatos de amigos que passaram,
principalmente dentro de concursos culturais. (Homofobia)”

20. “No concurso de prendas que minha irmã (negra) participou, foi "descontado"
caracteres pessoais, para que pudesses justificar o primeiro lugar para a outra
candidata (branca), já que nos demais quesitos, as notas da minha irmã eram
superiores”

21. “Não”

22. “Ja ouvi de um colega que tinha que parar de entrar gays no grupo e entrar mais
“macho” para melhorar a interpretação. O mais chato é ter sido de um colega quase
que da mesma idade minha (20 anos), adulto e “amigo”. E o pior de tudo, é sabe que
se nao fosse esses gays, ele nao teria grupo pra dançar hahahaha”

23. “Algumas pessoas julgam as raízes tradicionalistas da minha família pelo fato de
termos origem indígena e negra, e por sermos umbandistas, oque muitas vezes fez
pessoas do movimento se afastarem”

24. “Como mulher, prenda de faixa durante 2 anos consecutivos, todos eles com empate
em provas e método de desempate considerando idade, fui muito questionada pelos
meus colegas de gestão e até por figuras grandes dentro da entidade sobre minha
capacidade. "Porque não conseguistes 1° lugar? o que fizestes de errado? como você
pode deixar isso acontecer? estudou mesmo? será mesmo que se dedicou? são dois
anos que você se manteve no mesmo lugar, só mudou a categoria" Fora o desconforto
e tentativas MUITO falhas de rivalidade que causaram não só comigo mas sim com a
minha colega na qual concorremos juntas. Criticaram nossa amizade e aparentavam
estarem muito chateados pelo resultado.”
92

25. “Grupos se desenvolvem à mercê de uma sociedade exclusiva, ainda assim há uma
grande participação da fadada minoria a que este questionário se refere. Há uma
grande hipocrisia por parte das entidades que buscam a perfeição em seus grupos de
danças, definido o biotipo do dançarino que terá privilégios ao longo do projeto
montado para participação em grandes eventos.”

26. “No.meu CTG não e permitido dança prenda com prenda, a uns dois anos foi
convidada a se retirar da sala. Temos também o caso de uma crianças q dança na
invernada e a.mae vive com outra mulher. Essa mãe foi comunicada que não deve vir
no CTG com sua companheira. Outra situação de q me deixa mal e o caso da família
ser sócia o titular e o marido e só ele tem voto e nós mulheres trabalhamos as vezes
mais que os homens pela instituição mas temos que convencer o marido a votar no
nosso candidato se for o caso.”

27. “Penso que :dentro do tradicionalismo existe lugar para todos , desde se esteja no
momento sendo tradicionalista .”

28. “Já vi vários amigos homossexuais deixando de participar das atividades no movimento
por sofrerem preconceito dentro das entidades.”

29. “Quando um branco foi escolhido para fazer o papel do Negrinho do pastoreio, porque
acharam que ele era mais qualificado que outro menino preto da invernada. E sempre
os descontos de interpretação por os avaliadores acharem que não é masculino o
suficiente .”

30. “Fui "convidada" a me retirar da entidade pois levei minha ex namorada(na época atual)
em um evento e na hora dela ir embora dei um selinho nela. (Detalhe, estávamos na
rua)”

31. “Ouvi de um homem branco que era um absurdo um Negro puxar a fila do Anu. Ouvi de
um homem branco e hétero que os peões de um determinado grupo deveriam ter
descontos nas danças pois eram muito "afeminados". Ouvi também opiniões
preconceituosas sobre temas de coreografias de religião afro. E vi um amigo meu
homossexual ser chamado de bixinha e ser chamado pra briga se se incomodasse.”

32. “Uma vez em um Entrevero Estadual, meu amigo gay foi pedir informação em uma
rodinha de senhores 3 ou 4 pra ser exata, a respeito de onde comprava os ingressos
para o baile. O Homem que respondeu, não sabia a informação, mas direcionou o lugar
onde poderíamos descobrir, porém no final do diálogo com meu amigo, falou pra ele
falar grosso da próxima vez que fosse pedir alguma informação. Detalhe, meu amigo
tem tom de voz grave, mas tem o estereótipo de homem gay.”

33. 1. Salientar que dentro do meu CTG nunca vi, nem no elenco nem participando de
eventos, uma pessoa negra. 2. Já vi pessoa de brinco e tatuada sendo expulsa de
almoço da semana farroupilha.”

34. “Mulheres trabalhando em eventos enquanto machos se divertem”

35. “Machismo: posteira artística do CTG vivia chamando as prendas em um canto e


dizendo que não eram pra elas publicarem fotos na praia, fotos de calção curto, fotos
que fossem "expositivas" porque prenda não faz essas coisas, prenda não se veste
assim e estaríamos manchando a imagem do CTG. Homofobia: não foi bem dentro do
CTG, mas o instrutor que temos é homofóbico e se manifesta dessa forma em suas
redes sociais. O que influencia muitas outras pessoas que o seguem, inclusive o
pessoal do CTG.”

36. “Tenho um amigo gay, porém ele não é assumido para a sociedade por medo, ele já
sofreu diversos preconceitos devido ao seu jeito de ser "afeminado"”
93

37. “Fiquei sabendo que uns colegas de gestão ouviram da filha de um ex-patrão que CTG
não era lugar de pretinho. Outra situação foi em uma palestra grande, onde o
palestrante (bem conhecido na RT) falou mal de um ex-peão regional e o quanto
afeminado ele era e que "manchava o movimento". O ex-peão é negro e gay. O
palestrante fez piadas durante mais ou menos 30 minutos.”

38. “Presenciei discriminação por um peao ter o cabelo descolirido, afirmaram que não era
coisa de "homem"”

39. “Desrespeito”

40. “Em várias reuniões de patronagem dar a mesma ideia que os homens e não ser
ouvida e nem reconhecida.”

41. “Já fui julgado pelos avaliadores das danças tradicionais pois nas danças do ciclo do
fandango eu estava sendo muito “delicado”.”

42. “Realizei um evento em minha entidade sobre a negritude no RS. Ouvi gente da própria
patronagem dizer que pessoas negras nunca poderiam deixar de serem escravas.
Entre outros exemplos...

43. Entre tantas, uma que marcou fo presenciar um peão (homossexual) que sofreu
fortemente por representar a região na épica e ir a um baile com uma pilcha na cor
vinho rosado.

44. Um ex Presidente zcriticou fortemente o então vice de Eventos pq este havia feito uma
tatuagem nas costas. Imagem que não ficava visivel. E outros fatos que presencie em
que jovens eram citados como "aquele meio.bichinha", esse tipo de roupa de "veado",
entre outras. Neimar Iop”

45. “Percebo que quando uma instrutora mulher ergue a voz dizem que ela é louca, mas se
é um instrutor homem ele "é foda"”

46. “Chega a ser cansativo de tão óbvio e o quanto sou questionado por isso, mas as
piadas homofóbicas estiveram presentes no meu convívio tradicionalista da invernada
mirim até a adulta.”

47. “Acho que tem muita entidade q faz muito pela sociedade, muito mais q o órgão MTG,
porem quase sempre esse trabalho não é divulgado. Acredito q o MTG como instituição
deveria se posicionar de forma mais efetiva sobre essas questões. Iara Vanice Rott”
94

Anexo 8 – Gráfico com as respostas da POP sobre as pessoas concordarem


ou não com a forma como o MTG atua com relação às minorias.

Através do item “Outro”, também foi dito que (as frases estão reproduzidas
de forma fidedigna com o qual foram escritas):

1. “Deve se manter o respeito, as origens e o legado que nos foi deixado”.;

2. “Concordo em partes, pois o MTG é formado por cidadãos, que trazem para dentro da
instituição os costumes e valores (muitas vezes preconceituosos) que encontramos
na sociedade fora do MTG. Os casos discriminatórios que ocorram dentro do MTG
devem ser punidos.”;

3. “Concordo em partes, pois é necessário que trabalhe de acordo com as leis e


convenções sociais. Contudo, precisamos lembrar que a sociedade é preconceituosa
e o movimento é formado por pessoas que estao nessa sociedade e reproduzem
esses preconceitos dentro do movimento. As pessoas, nao necesssriamente o
movimento. Ou seja, nao somos uma bolha! A instituição não reproduz preconceitos,
as pessoas sim.”;

4. “Concordo, porém percebo que, algumas entidades tem buscado fazer um trabalho
inclusivo, não por influência do MTG, mas por vivência de sua comunidade.”;

5. “Concordo em partes, pois mesno que tenham falhas as entidades trabalham muito e
fazem açoes para serem mais acolhedoras tem ainda muito para fazer e melhorar”;

6. “É preciso considerar os inúmeros trabalhos realizados individual mente pela bases


rio grande a fora”;

7. “Concordo, porém tambem nao pode aderir a modernismos!”;

8. “O termo "incisivo" me faz discordar da frase no ponto, porque gera uma obrigação de
aceitação por parte do todo que fere a liberdade de escolha... As pessoas não são
obrigadas a aceitarem, basta que aprendam a respeitar e conviver em harmonia, pois
a liberdade de um vai até onde começa a do outro. Então não acho que seja uma
obrigação do mtg atuar de forma "incisiva" bastando a efetividade de suas ações na
95

busca de uma conscientização pelo respeito mutuo de quem quer ser aceito e de
quem deva aceitar as diferenças”;

9. “O movimento precisa ser acolhedor a todos, o MTG precisa voltar a ler e seguir seus
documentos basilares, infelizmente pelo custo e cargos oais importante se perde,
cultura , ética e o companheirismo”;

10. “Penso que o movimento não pode mudar , quem quiser ser tradicionalista , deve
seguir o que o movimento diz , quanto a suas opções fora do tradicionalismo são de
sua responsabilidade”;

11. “Não acredito que o movimento possa perceber suas falhas, pois essas são
constituintes para sua fundação, portanto, intrínsecas para a existência do
tradicionalismo”;
96

Anexo 9 – Íntegra das respostas da questão 15 da POP, dissertativa, sobre as


sugestões de como o MTG pode atuar de forma mais incisiva em favor das
minorias. As respostas estão apresentadas de forma idêntica com o qual
foram escritas. Nos casos daqueles que assinaram sua resposta (opção
oferecida como facultativa na pergunta), será indicada também a identidade
do respondente.

1. “Tem tanta coisa errada que é difícil pensar em por onde começar uma melhoria... :/”;

2. “De forma geral tornar o meio tradicionalista mais acessível as minorias e buscar
AÇÕES que combata a discriminações como machismo,homofobia etc...”;

3. “A primeira atitude é o reconhecimento desse tipo de situação. Em grande parte dos


casos a situação é camuflada e não sai das paredes da entidade. Um canal de
denúncia direta ao MTG seria de grande relevância. ”;

4. “Palestras sobre inclusão e exclusão, visitas as APAES, por exemplo. Oficinas com
pessoas portadoras de deficiências. Elisângela Florence da Silva. Guaíba 1°RT CTG
Darci Fagundes”;

5. “Criando um departamento de inclusão”;

6. “Acredito que mesmo que o MTG seja "tradicional", não devemos nos prender a ideias
que podem (e devem) ser consideradas "velhas/retrógradas". Os tempos, a cultura e as
pessoas mudam, portanto o Movimento deve mudar junto.”;

7. “Há, sim, ideais que devem ser mantidos e aprendizados que devem ser lembrados,
mas o que mais deve ser considerado é a ideia de que tudo avança, e a solução de
problemas (que na verdade são muito antigos, mas muitos fingem que não) deve seguir
o mesmo caminho.”;

8. “O MTG deveria assumir seu papel de liderança e buscar acolher as pessoas


marginalizadas de todas as formas e não se omitir perante essa mudança na
sociedade. Que se busque mais Humanidade nos seus eventos. ”;

9. “Sendo imparcial e transparente , cumprindo a Carta de Princípios.”;

10. “Prestar conta das verbas arrecadadas durante o ano e direcionar parte do valor para a
resolução desta problemática”;

11. “O Movimento Tradicionalista Gaúcho deveria incluir os diversos extratos da sociedade,


bem como pessoas de baixa renda, homossexuais, pretos...! Fazendo uma inserção e
diversos convites para que essas parcelas marginalizadas da população passem a ser
incluída e bem vinda no meio tradicionalista! As coisas mudaram, não estamos mais
em 1800 onde machismo, racismo e demais preconceitos eram vistos como normal, o
MTG necessita se enquadrar la realidade boa do mundo, colocar de lado seus pré-
conceitos, admitindo todos dentro do meio! Agora é século XXI, não cabe mais aqui os
conceitos do século XIX”;

12. “O Movimento Tradicionalista Gaúcho foi construído histórico, culturalmente e


socialmente através dos anos. Os modos de ser e fazer acontecem de acordo, em
geral, do que a sociedade em si vivencia. Para que se mude totalmente as práticas, é
preciso mudar totalmente as pessoas que as fazem pois, as gerações carregam
valores, tradições, pensamentos, diferentes das anteriores e percebo que a cada nova
geração as lutas, principalmente relacionadas aos diretos das minorias, entram com
muita força. E desta forma que pode-se progredir, conforme o rol de pessoas que
integram o Movimento muda, muda-se as práticas, as formas de ver, falar, escutar e
sobretudo, ajudar seja quem precisar.”;
97

13. “Para que a instituição seja mais inclusiva pode-se pensar em incluir pessoas de
minoria social em sua chefia. Possibilitar o acesso de pessoas pobres, pretas, lgbt, com
deficiência em cargos de importância na instituição e derrubar estigmas que ainda são
reforçados na sociedade gaúcha.”;

14. “Acredito que poderia se tornar um pouco mais acessível, em ambos os aspectos.”;

15. “Precisam ações que busquem incluir pessoas de baixa renda para participação em
oficinas de música, danças, atividades campeiras.”;

16. “Valorizar transgêneros e homossexuais como integrantes e participantes dos CTGs.”;

17. “Um conselho de ética eficiente para com as entidades filiadas e não somente para a
instituição MTG”;

18. “Sendo agregador e trazendo os cegos, o gordo, o magro o deficiente.”;

19. “Relacionamento e dialogo construtivo mais proximo de outros segmentos culturais”;

20. “O papel do Movimento é proporcionar debates, ações e reflexões.”;

21. “Penso inicialmente quanto a acessibilidade das pessoas com deficiência, onde o
ambiente deve ser planejado para acolhe-las. Também ressalto que "foi-se o tempo"
em que se davam desculpas quanto às singularidades de cada indivíduo. Tempo que
nunca deveria ter existido, porém não podemos apagar, mas aprender com o que
passou. Creio que o MTG deveria buscar por PESSOAS, acolher PESSOAS, ouvir as
PESSOAS e não um público específico, assim não seria um "movimento". Para finalizar
levanto um questionamento: quantas prendas estaduais negras tivemos? Um abraço,
Raquel.”;

22. “O Movimento Tradicionalista precisa rever seus conceitos e ter na Carta de Princípios
sua "bíblia".”;

23. “O movimento ainda tem pouco comprometimento, principalmente na inclusão de


pessoas de baixa renda; principalmente com crianças e jovens que querem integrar
grupos de danças e mesmo o dpto cultural, participando de cirandas e entrevero, os
quais não conseguem se manter financeiramente nas atividades (as entidades não
conseguem manter e não existe, ou eu não tenho conhecimento, de algum projeto que
incentive financeiramente a manutenção e a captação deste público para o
tradicionalismo).”;

24. “Dentro das entidades muitas vezes presenciei o machismo que é meu lugar e fala.
Quando prenda por muitas vezes a minha inteligência foi questionada e o que era
valorizado era o meu servir, para os homens da instituição. Falas machistas e racista
vivenciei sempre, com aquele tom e brincadeira que hoje entendo o quão
preconceituoso era.”;

25. “Concordo plenamente com sua afirmação, mas nosso movimento mudou muito já.
Ainda temos poucas cabeças pequenas no meio, mas já mudou muito sim.”;

26. “Se o tradicionalismo gaúcho se esforçasse por exemplo, dar mais chance para as
mulheres se integrarem nas atividades que antigamente se acreditava que era de
homens. Acho que vem um pouco da antiga geração, mas vemos muitos casos de
homofobia e machismo, eu acho que poderiamos nos esforçar para tentar apagar esse
preconceito do nosso movimento.”;

27. “Dar mais visibilidade em seus cargos titulares”;

28. “Dando o exemplo em casos de racismo, homofobia”;


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29. “O movimento tem que ser inclusivo e não vai deixar de ser tradicionalista, ainda há
muito que evoluir.”;

30. “Precisamos discutir essas questões. Atualmente a grande maioria são de forma
velada. Não podemos continuar fingindo que não ocorre.”;

31. “Renovando "as cabeças" temos que ter mais jovens , sempre que é levado um
assunto em pauta " os beneméritos " tem a razão ! Basta !”;

32. “E terminar as vaidades dentro do Tradicionalista”;

33. “Primeiramente é derrubar todo esse preconceito que o Movimento tem o hábito de
ainda manter sob a desculpa de está preservando a tradição, entre eles o Machismo.”;

34. “Desconstruir pensamentos e atitudes que outrora eram "normais".”;

35. “Acho que o o movimento. Tem que inverter a pirâmide”;

36. “Ações de conscientização são necessárias, mas não só isso é preciso atualização de
regulamentos e preparação daqueles que irão lidar com as pessoas para que sejam
empáticas e responsáveis, jamais minimizando ou passando pano para situações e/ou
pessoas.”;

37. “Se olharem o Movimento Tradicionalista como uma instituição familiar onde todos
participam sem discriminação, a meritocracia não é plena a própria sociedade. Edison
da Silva Fagundes”;

38. “Uma boa ideia é abrir as portas de forma mais explícita pra todas as minorias,
principalmente as que não se percebem como heterossexuais.”;

39. “Existem muitos bons trabalhos acontecendo nós CTGs e precisam da devida atenção”;

40. “Trabalhar com crianças de baixa renda, observam, admiram mas não conseguem
manter os.as despesas que o tradicionalismo exige. Ia lástima.”;

41. “Infelizmente essa questão ultrapassa as barreiras do MTG, claro que a instituição deve
trabalhar essa questão para, de fato, cumprir o que diz a Carta de Princípios”;

42. “Ações inclusivas direcionadas especificamente as minorias, com temas relacionados à


estes, como a história e evolução do machismo na sociedade gaúcha... o que é, como
saber e como agir diante de situações de preconceito... Talvez criar um segmento/setor
onde possam ser efetuadas denúncias sobre esse tipo de prática e quem fosse
responsável por atitudes preconceituosas, recebessem a devida punição dentro do
Movimento também... como uma espécie de ouvidoria.”;

43. “Mais igualmente , mais direitos iguais , mais portas abertas para todos e não para
grupos seletos .”;

44. “O movimento tem como melhorar muito essa questão, nós devemos respeito aos
nossas mais velhos, mas não podemos ser coniventes com o preconceito que eles
carregam, um movimento que começou com jovens, tem que ouvir os jovens que são
parte do movimento agora, debater novas ideias e trazer mudanças, o nosso
movimento deve ser um múltiplo de pessoas e não um múltiplo de preconceitos, o
movimento é falho nisso, fecha os olhos pra muita coisa, e acabamos perdendo ótimos
tradicionalistas”;

45. “Creio que esse assunto deva ser trabalhado nos espaços que já são disponibilizados,
como a plenária do Congresso e as próprias redes sociais, com responsabilidade e
respeito. Falta um pouco mais de união e coragem de nós todos, enquanto juventude.”;
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46. “Vivemos em uma realidade hoje em dia muito diferente da de anos atrás, gostaria que
dessem mais lugar de fala as mulheres, aos negros e que levassem mais "a sério" -
digamos- opiniões e falas de homossexuais.”;

47. “1_Se a família e sócia tanto a mulher como o homem são iguais 2 votos, e em caso de
separação quem fica sócio? A mulher e colocada como dependente sempre nos
documentos..... 2_ se uma prenda de faixa fica grávida perde a faixa... ( Se faz aborto
clandestino não) talvez mudar para ela terminar a Gestão 3 menos machismo e
achismo e mais tradicionalismo cultura e respeito com o humano e a vida no nosso
Movimento Tradicionalista”;

48. “O Movimento Tradicionalista Gaúcho deveria introduzir palestras, atividades e muitos


outros tipos de meios para a explicação e descontrução sobre as minorias sociais e
mostrar que todos tem seu lugar no nosso movimento. Sendo assim, é de suma
importância que comecemos a caminhar para um ambiente mais evoluído,
descontruido e igual para todos, independente de sua cor, raça, opção sexual,
indetidades de gênero e posição sócio econômica.”;

49. “Acho que muitas pessoas não tem muito claro sobre a questão do movimento
LGBTQUIA+ no meio Tradicionalista, acho que deveria ser um tema mais abordado.”;

50. “O MTG precisa acompanhar a evolução da humanidade enquanto preserva seus


valores essenciais. Manter a tradicionalidade não significa parar no tempo. É preciso
manter-se em Movimento e reforçar os valores benéficos à coletividade.”;

51. “Como garantiremos a continuidade do Movimento sem que façamos mudanças? É


preciso aprimorar essa “campanha cultural” a fim de constituir um grupo local que sirva
de núcleo psicológico para todos - brancos, pretos, mulheres, homens, sem rótulos
mas que cultivem e pratiquem os mesmos valores, hábitos e costumes. Como seremos
atrativos o suficiente para jovens, para estas novas gerações que chegam
empoderadas e em defesa das minorias? São eles que vão dar continuidade ao
Movimento Tradicionalista Organizado. Sem eles teremos um bando de velhos parados
no tempo vivendo uma utopia! Tudo menos um Movimento!”;

52. “Uma forma de se fazer isso, é parar de fazer de conta que não existe preconceito em
relação às minorias e desenvolver dinâmicas de capacitação e desenvolvimento
humano de todos os elos que integram o MTG - da presidência às entidades.
Preconceito é falta de informação ou oportunidade de se olhar para o diferente. Por um
MTG com mais Liberdade, Igualdade e Humanidade!”;

53. “Já passou da hora do Movimento, enquanto instituição, reconhecer que o meio
tradicionalista é formado por cidadãos que fazem parte da sociedade civil; e que
justamente por isso, temos refletidos dentro do meio tradicionalista os mesmos
comportamentos includentes e excludentes que vivenciamos na sociedade civil.”;

54. “Sigamos em Movimento, mantendo nosso objetivo basilar de combater o processo de


desintegração da cultura e da sociedade. Como bem disse Barbosa Lessa, “o cerne
cultural dá aos indivíduos a unidade psicológica essencial ao funcionamento da
sociedade”. Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra! Anderson Hartmann”;

55. “Primeiramente o movimento precisa reconhecer que falhou e segue falhando em


romper com algumas amarras sociais. Depois, incluir esse debate dentro das entidades
para que se encontrem novas formas de propagar a cultura gaúcha sem o viés
machista, racista e homofóbico que perdura por bastante tempo dentro dessa
instituição.”;

56. “Promovendo mais debates sobre essas questões desafiando todas as entidades, pois
a maioria não aborda esses assuntos.”;
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57. “Acredito que já esteja um pouco melhor, mas sempre podemos melhorar nas questões
de inclusão , se o MTG se posicionasse um pouco mais nas coisas minoritárias já
ajudaria a melhor aceitação de todos .”;

58. “Acredito que o Movimento precisa rever qual é o caminho que deseja seguir, ou vai
continuar excluindo o diferente, justificando isso com a "tradicionalidade", ou vai abrir
espaço para o diálogo, compreendendo que a sociedade está em constante
transformação e que, por óbvio, nossa instituição precisa acompanhar e se refazer.
Ainda, por vezes, percebo que o mito do gaúcho herói perdura entre os integrantes da
minha entidade e que isso limita as nossas ações para além dos concursos de danças
tradicionais. O CTG pode ser um meio para a formação cultural do sujeito, desde que
ressignifique o que tínhamos como intocável.”;

59. “Precisa começar aceitando que a sociedade evoluiu. Somente a partir dessa aceitação
e do desprendimento dos preconceitos alimentados por décadas, poderão ser
pensadas políticas eficazes na progressão dessa questão.”;

60. “Repensando os processos dos concursos que elegem seus representantes,


escolhendo temáticas anuais que estejam alinhadas com esses propósitos e causas.”;

61. “Abandonar os preconceitos do século passado e se atualizar mas sem perder a


essência da tradição”;

62. “Acredito que dando mais voz a juventude tradicionalista.”;

63. “Colocando em cargos importantes pessoas quebfazem.parte de grupos de minoria e


iniciando campanhas pra TENTAR amenizar a visão sobre o movimento (de que é
difícil acesso/preconceituoso) que infelizmente é.”;

64. “Com ações afirmativas de releitura histórica e social e praticando a inserção da


diversidade q sempre existiu.”;

65. “Com as pessoas progredindo seus pensamentos machistas, homofóbicos e racistas.


Se mais pessoas envolvidas nesse meio se posicionassem (não sei escrever essa
palavra) a favor da inclusão e mudassem esses esteriótipos contra as minorias, o
movimento tradicionalista já seria muito mais inclusivo e menos preconceituoso do que
ele é.”;

66. “(Como acho que isso é relevante, queria dizer que meu CTG é da 17 região de SC,
mas queria responder seu formulário e dizer que o movimento tradicionalista alastra
suas raízes preconceituosas e sua exclusão por todos os cantos onde ele passa, não
fica somente no Rio Grande)”;

67. “Promovendo palestras, momentos de integração e conhecimento. Pois muitos


integrantes não tem conhecimento sobre o assunto e acabam cometendo atos de
preconceitos sem a devida intenção. O CTG sempre foi uma área pra compartilhar
conhecimentos, experiências e aprendizado. E com esse assunto, na minha opinião
não deveria ser diferente. Tudo faz parte de uma construção. Assim como uma
coreografia, o assunto precisa ser estudado, pensado com afinco, para somente depois
iniciar o processos de montagem, e depois de muito trabalho, correções e acertos,
fazer uma apresentação bonita. É tudo uma questão de aprendizado. Mas realmente
muitas intuições não priorizam por isso.”;

68. “Acredito que o movimento poderia estar incluído em mais causas sociais, para as
pessoas de baixa renda pro exemplo, eu mesma tive dificuldades em me manter em
ativa dentro do movimento pois sou de família pobre, graças a um projeto social da
prefeitura eu e muitas outras pessoas da minha cidade tiveram a oportunidade de
entrar neste meio, antes do projeto o CTG era algo de elite onde só os de classe
média/alta frequentavam.”;
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69. “Atuar nas escolas, na comunidade que geralmente é de baixa renda. Conversar dentro
das entidades principalmente voltadas para as crianças e jovens. O futuro do nosso
tradicionalismo e da nossa cultura está nas mãos das próximas gerações, e nós
devemos levar a eles informação.”;

70. “É preciso um posicionamento efetivo em favor da inclusão e aceitação. Esse


posicionamento vai além de meras declarações dursante eleições para cargos no
Moviment, mas deve ser efetivado por meio de ações concretas, como eventos e
campanhas de conscientização, mudança de regulamentos excludentes, punições em
casos de preconceito.”;

71. “Acredito que são problemas enraizados na sociedade brasileira em geral, desta forma
o Movimento Gaúcho não deve agir de forma isolada.”;

72. “Acredito que aceitando mais as pessoas, deixando alguns pensamentos antiquados de
lado, afinal, sabe-se que a humanidade evolui a cada instante, porque o nosso
movimento não deve progredir?”;

73. “Discutir e ouvir esses grupos de minorias já seria uma ação fundamental para o
reconhecimento e aperfeiçoamento dos processos de aceitação e percepção de quem
faz parte do tradicionalismo.”;

74. “Só irá progredir no dia em que os dirigentes tiverem mente aberta e não se sentirem
donos da verdade.”;

75. “Acredito que o diálogo e a melhor forma, sem impor nada. E claro diminuir as regras”;

76. “Conscientização”;

77. “Revendo a história viril que conta.”;

78. “Os CTGs lidam com estas situações independentemente. O MTG não protagoniza
essas ações.”;

79. “O MTG, como está posto hoje, não atende em nenhum aspecto as minorias, ele só
atende aos interesses que lhe convém, ou seja, pobre, negro e mulheres não tem
espaço nesse meio. O Alto custo para se manter em invernadas artísticas, o alto custo
para se participar de rodeios campeiros, o alto custo para ir a um jantar, enfim todas as
atividades tradicionalista só são acessíveis as pessoas que tem um padrão financeiro
muito alto, ou seja, só participa que é rico, ou quem deixar de comer para estar neste
meio. Entendo que as entidades necessitam arrecadar para se manter, mas quem
consegue olhar de fora consegue perceber o custo abusivo das maioria das atividades.
E esse custo abusivo por si só excluí as minorias. Faz-se necessário resgatar a cultura
gaúcha, por meio de ações que possam ser acessíveis a todos.”;

80. “Acredito que precisamos, enquanto Movimento, começar reconhecendo que somos
um meio marcado historicamente pelo machismo, homofobia, etc, reconhecer é o
primeiro passo para a mudança. Bem como reconhecer o custo alto para participar
ativamente do movimento e procurar, a cima de tudo a não exclusão daqueles que não
tem condições de arcar com todos os gastos mas estão presentes dentro do possível.”;

81. “Sendo efetivos dentro dos galpões, com palestras, rodas de conversa com
convidados... educando os seus frequentadores.”;

82. “Parando de enaltecer,afirmar e eleger "autoridades" retrógradas e preconceituosas.”;

83. “Acredito que tem que haver mais mulheres no MTG e mais pessoas trans nos grupos,
mas para isso tem que haver aconselhamento do MTG junto aos avaliadores e
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comissões para que nenhum grupo seja prejudicado devido o preconceito ou falta de
informação dos avaliadores.”;

84. “Trazendo essas temáticas para seus eventos, tema anual e/ou semana farroupilha
buscando um maior debate destas nos núcleos tradicionalistas.”;

85. “O Movimento pode simplesmente lançar uma cartilha de acordo com os problemas do
atual contexto em sociedade e das mudanças que já são identificadas e que
necessitam de atenção. Já passou da hora!”;

86. “Eu acredito que o respeito seja o lastro de tudo e o respeito as diferenças acredito que
seja o caminho a ser seguido. Igor Silveira”;

87. “Trabalhar essas questões em temas anuais, quinquenais, orientam DF o seus filiados,
deixando bem claro seu posicionamento.”;

88. “É necessário transformar a maneira como o MTG acolhe e lida como as minorias,
fazendo com que de fato o Tradicionalismo seja valorizado, independentemente de por
quem ele seja feito. É preciso reconhecer que são mais de 50 anos de Movimento
Tradicionalista menosprezando a diversidade e "fazendo de conta" que nada estava
acontecendo, diminuindo constantemente as lutas de várias pessoas e grupos sociais.”;

89. “Somente através do reconhecimento dos erros e de propiciar que todos possam de
fato participar de forma atuante do MTG, é que a imagem do Movimento será
transformada a ponto de mudar os "pré conceitos" já criados sobre a nossa cultura e
sobre o mesmo. Thiago Avila”;
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Anexo 10 – Autorizações de direito de uso de voz e imagem dos entrevistados


no documentário.
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Anexo 11 – Identidade visual elaborada para o documentário “Meu Eu do Sul”.

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