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MEU EU DO SUL:
AS MINORIAS NO MOVIMENTO TRADICIONALISTA
GAÚCHO
Orientadora:
Prof. Drª. Milena Carvalho Bezerra Freire de Oliveira-Cruz
Coorientador:
Prof. Dr. Luciano Mattana
2021
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda
MEU EU DO SUL:
AS MINORIAS NO MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO
elaborado por
Tainá Severo Valenzuela
COMISSÃO EXAMINADORA:
This article is about the active minorities in the Movimento Tradicionalista Gaúcho of
Rio Grande do Sul (MTG-RS).In particular, it observes, analyzes and problematizes
how these minorities remain active in the MTG, being influential in the Movement as
agents for the preservation of local culture, even though the MTG identifies, as
genesis, the “traditionalist gaucho” in a stereotyped way and far from the true identity
of these minorities.The starting point of this paper was the author's empirical
experiences in the traditionalist milieu, whose considerations were investigated
through a Public Opinion Survey, which had the participation of 333 traditionalist
respondents.To strengthen the analyzes and the final product, historiographical notes
were made regarding the social plurality existing in the formation of Rio Grande do
Sul; on the formation of the Traditionalist Movement; and as to the connection of
these matters with world history.With the POP, the historiographical review and the
author's empirical considerations available, an audiovisual product entitled “Meu Eu
do Sul” was created, where, in documentary format, 10 people from the traditionalist
representing different identities, were interviewed, revealing their experiences and
feelings involved in the practice of traditionalism, were encouraged to reflect on the
practice of MTG, as an institution, on the collusion and reproduction of situations of
discrimination and prejudice.
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 13
6. CONCLUSÃO ................................................................................................... 76
7. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 78
8. ANEXOS............................................................................................................ 84
1. INTRODUÇÃO
1 Prendas são meninas escolhidas em suas entidades tradicionalistas que ocupam um posto
equivalente às Rainhas de clubes sociais. Importante destacar que as Prendas são
escolhidas através de um concurso cujas provas testam diversos conhecimentos, não se
tratando de um concurso de beleza.
2 Vivandeiras ou Chinas (ou ainda, Chinas de Soldados) era como eram chamadas as
mulheres que acompanhavam as tropas de soldados, compostas por homens. Nas situações
de guerra, elas se integravam à estas tropas atuando como enfermeiras e auxiliares nos
acampamentos, muitas vezes se prostituindo ou sendo combatentes (GONÇALVES, 2009).
3 Anita Garibaldi é uma mulher que ganhou destaque na historiografia gaúcha e catarinense
Farroupilha para atuarem neste enquanto soldados, com a promessa de liberdade após o
confronto. Com a derrota do Movimento, estes Lanceiros foram traídos no evento conhecido
por “Massacre de Porongos”, sendo assassinados em uma emboscada pelos próprios líderes
Farroupilhas, ao invés de receberem a prometida liberdade (FLORES, 2004).
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que eles teriam sido traídos justamente pelos generais que me diziam para
aplaudir e representar.
Essas novas – e ainda singelas – referências me traziam dúvidas:
deveria eu detestar tudo isso que falavam sobre o Movimento que eu
defendia? E como fazer isso se o palco me emocionava, a pilcha me
fascinava, as coisas que fazíamos me arrepiavam o corpo todo? Como
detestar algo que trazia uma oportunidade ótima para as crianças que
moravam no espaço periférico onde ficava minha entidade5?
Foi quando comecei a amadurecer as reflexões acerca do problema:
não era o amor que eu destinava ao que fazia, mas sim a forma como este
movimento estava concebido e sendo divulgado. O tradicionalismo que me
causava arrepios era aquele que falava daquelas mulheres, daqueles
lanceiros, das crianças, e senti que esses temas eram os que deveriam ser
base para as noções de cultura divulgadas no Estado do Rio Grande do Sul.
Ainda era ousadia demais, ali pelos anos 2000, falarmos sobre
homossexuais. Eu mesma concordava que “aí já era demais”. Felizmente, o
tempo, o amadurecimento, as vivências e a convivência com tantas pessoas,
especialmente no mundo acadêmico que conheci quando mudei para Santa
Maria em 2005, me auxiliaram a descontruir esses conceitos e entender que
não “era demais”, não: era normal, era verdade e era necessário falarmos
sobre isso.
Em Santa Maria, passei no vestibular para cursar, justamente, História,
na Universidade Federal de Santa Maria. Antes mesmo do início das aulas,
procurei por uma entidade tradicionalista na cidade. Optei pelo Departamento
de Tradições Gaúchas (DTG) Noel Guarany, da própria UFSM, que conheci
através de um jornal informativo que recebi na fila onde eu aguardava para
acessar ao prédio onde faria minha prova do vestibular. Em fevereiro de 2006
passei a fazer parte dessa entidade que havia sido recentemente fundada, em
22 de novembro de 2005. Nela, encontrei pessoas que concordavam comigo
sobre as coisas que tinham que ser revistas, sobre precisarmos acender
novas referências. A partir desses conceitos similares, nos fortalecemos e
7 É comum escutarmos, no ambiente tradicionalista, frases como “aqui é bom pra educar os
filhos pois não tem modernidade”, por pessoas que entendem, por “modernidade”, a
homossexualidade, por exemplo.
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tal qual é, sem ser necessário criar esforços para mudar a si em busca de
aceitação.
O objetivo principal deste trabalho foi a produção de material
audiovisual, em formato de documentário, contando sobre o envolvimento de
tradicionalistas em suas atividades no meio, mas ao mesmo tempo revelando
situações de preconceito já vividas, apresentando assim, a ótica das minorias.
Quanto aos objetivos específicos deste trabalho, pontuamos os seguintes:
1. Realização de uma Pesquisa de Opinião Pública com os
tradicionalistas atuantes no meio, sobre as problemáticas apontadas
quanto ao ambiente ser, de forma recorrente, discriminatório e/ou
excludente;
2. Relatar sobre a dinâmica empregada pelo MTG na intenção de
preservar a cultura gaúcha;
3. Possibilitar a reflexão entre integrantes e admiradores do Movimento
Tradicionalista sobre a existência de práticas excludentes e o quanto
isso fere, justamente, os princípios do ser tradicionalista;
4. Permitir aos representantes das minorias um espaço de
representatividade dentro do Movimento Tradicionalista Gaúcho.
10 A hegemonia do PRR sofreu breves interrupções, sendo elas ainda em 1891, quando Joca
Tavares depõem Júlio de Castilhos da Presidência do Estado. Castilhos reassume o poder
em 1892, auxiliado por uma aliança entre o PRR e o Exército. Castilhos abdica de seu posto
também em 1892, mas retorna em 1893 eleito para o cargo. A fase em que Castilhos não é
Presidente de Estado é conhecida por “Governicho”, quando diversos Presidentes se
sucedem, sem sucesso, no governo do RS. Borges de Medeiros tem seu governo
interrompido apenas entre 1908 e 1913, quando Carlos Barbosa fora eleito (FÉLIX, 1996).
11 Presidentes do RS nos anos de 1891/1893-1889 e 1898-1908/1914-1928, respectivamente.
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Foi ainda neste início de século que Porto Alegre transformou seu
espaço urbano com a industrialização nascente, com os bondes elétricos, os
automóveis, o futebol, o cinema, os fraques e cartolas, ainda influenciados
pela Europa. A cidade acelerou seu desenvolvimento e passou a receber
pessoas de diversas regiões do próprio Estado, que migram para a capital em
busca de empregos e/ou de estudo (FÉLIX, 1996).
Já o interior do Rio Grande do Sul, principalmente em direção ao oeste,
muito pouco havia recebido destas influências europeias ou norte-americanas
do século XX. A sociedade do interior vivia uma realidade baseada na cultura
rural e fortemente influenciada pela colonização espanhola empreendida no
oeste da América do Sul nos séculos XVII e XVIII. Outras regiões, por sua
vez, se organizavam coletivamente através das heranças do processo de
imigração no século XIX, especialmente a alemã e italiana (KUHN, 2002).
Com o correr do século XX, foram os hábitos culturais dos Estados
Unidos passaram a ditar regras pelo Ocidente, especialmente durante a
Guerra Fria e a consequente afirmação do American Way of Life: o que
comer, o que vestir, que música escutar, onde comprar. Tudo que fosse
oriundo na nova potência se tornara sinônimo da modernidade e de
progresso. Na década de 1940, a cultura dos EUA já se sobrepõe, com o
jeans, o rock e refrigerantes industrializados. O Rio Grande do Sul seguiu
vivendo transformações, muitas que visavam inserir o estado no mesmo
panorama sob o qual estava se organizando, não apenas o restante do país
mas, o restante do mundo ocidental. As influências desse mundo norte-
americanizado se deram, ainda mais especificamente na região leste – onde
fica a capital Porto Alegre (WASSERMAN, 2004).
A historiografia tradicional, que se baseou justamente na concepção
positivista da história, marcou também ao Rio Grande do Sul com um formato
de produção de conhecimento estanque, limitado, de poucas articulações. O
positivismo trabalha, na produção de história, utilizando dados específicos,
documentos ditos oficiais, com informações e sujeitos selecionados, e isso faz
com que sua narrativa reproduza apenas a fala da classe dominante
(masculina e branca). Foi este formato de conhecimento que deu base à
noção identitária do gaúcho tradicionalista, apropriada e difundida
midiaticamente sob diversas intenções (GUTFRIEND, 1992).
21
12 Entre os aspectos culturais que se tornaram característicos do Rio Grande do Sul citados
anteriormente, encontram-se as manifestações artísticas, como a música. Quando estas
manifestações artísticas são referentes à terra (região) de onde se é nato chama-se
“nativista”. Este grupo nativista engloba-se ainda na definição de etnia, ou seja, “o termo que
utilizamos para nos referirmos às características culturais – língua, religião, costume,
tradições, sentimento de “lugar” - que são partilhadas por um povo” (HALL, 2006, p. 62).
Assim, os Nativistas formam uma etnia de simpatizantes dos aspectos da cultura e da história
do Rio Grande do Sul (não necessariamente naturais do RS) e a transmitem através de obras
artísticas.
22
2.2. Minorias
Invisíveis na produção historiográfica tradicional, caracterizamos
minorias como
um grupo de pessoas que de algum modo e em algum setor das
relações sociais se encontra numa situação de dependência ou
desvantagem em relação a um outro grupo, 'maioritário', ambos
integrando uma sociedade mais ampla. As minorias recebem quase
sempre um tratamento discriminatório por parte da maioria.
(CHAVES, 1970, p. 149).
perceber que há apenas uma obra específica de história nesta indicação. A lista completa
está disponível em http://www.mtg.org.br/wp-content/uploads/2020/06/Nota-de-
Instru%C3%A7%C3%A3o-14-Tema-Ciranda-e-Entrevero.pdf, acesso em 28 mai.2021.
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15 Nome pelo qual era conhecia a região onde se formou o Brasil, antes da chegada dos
europeus.
16 A partir da descrição de viajantes, foi forjada uma imagem do gaúcho como homens
errantes que não respeitavam regras sociais e nem obedeciam às coroas ibéricas. O termo
25
era, inclusive, utilizado de forma pejorativa. Uma das principais referências sobre o tema é a
obra de Auguste de Saint-Hilaire, “Viagem ao Rio Grande do Sul.”
26
18Disponível em https://www.mtg.org.br/wp-content/uploads/2020/06/ESTATUTO_MTG.pdf.
Acesso em 28 mai.2021.
30
• Normativos:
o Congresso Tradicionalista, evento que ocorre anualmente com o
objetivo de traçar as diretrizes do MTG, e onde as entidades
filiadas tem direito ao voto;
o Convenção Tradicionalista, evento que também ocorre
anualmente, e pode aprovar, alterar e reformar os regulamentos
e códigos do MTG, com voto permitido apenas aos Conselheiros
e Coordenadores Regionais.
• Eletivo:
o Assembleia Geral Eletiva, onde ocorre a votação para o
Conselho Diretor (isto ocorre junto ao Congresso
Tradicionalista);
• Administrativo:
o O Conselho Diretor;
o A Junta Fiscal, responsável pelo monitoramento e controle da
movimentação financeira da Instituição;
• De Assessoramento:
o Conselho de Vaqueanos, constituído pelos ex-presidentes do
MTG, que atuam como “Conselheiros”;
o Conselho de Ética, responsável por avaliar a conduta dos
tradicionalistas e aplicar as sanções adequadas caso as normas
do Movimento sejam infringidas.
• Eventos Institucionais:
o Aniversário do MTG;
o Acendimento da Chama Crioula;
• do Departamento Cultural:
o Ciranda Cultural de Prendas
o Entrevero Cultural de Peões
o Tchêncontro Estadual
o
• do Departamento Artístico:
o ENART: Encontro de Artes e Tradições Gaúchas.
• do Departamento Campeiro:
o FECARS: Festa Campeira do Rio Grande do Sul
• do Departamento de Esportes:
o ENECAMP: Encontro Estadual de Esportes Campeiros e Aberto
de Esportes.
21 Disponível em https://www.mtg.org.br/noticias/mtg-lanca-rede-de-vantagens-para-
portadores-do-cartao-tradicionalista/#:~:text=Pelo%20conv%C3%AAnio%20assinado%20c
om%20o,que%20podem%20chegar%20a%2045%25. Acesso em 23 fev.2021.
22 Disponível em https://www.cbtg.com.br/noticia/imprensa-e-relacoes-publicas/quantidade-
que possamos compreender de que forma foi trilhado este caminho que
culmina com a atual projeção do gaúcho tradicionalista.
Há uma divisão básica para observarmos a historiografia do estado do
RS a partir de duas matrizes: Lusitana, que minimiza a proximidade e
influência platina do RS em função de legitimação e confirmação de uma
possível supremacia portuguesa na região; e Platina, que, inversamente à
primeira, traz o discurso da influência espanhola na região do Prata. A
observação destas matrizes nos permite visualizar as divergências que
ocorrem entre pesquisadores com relação à noção de origem do sul-rio-
grandense, porém ambas trabalham a construção identitária na figura
masculina. Destas, a que ganhou mais evidência, foi a matriz lusitana, de
forma a tornar a identidade do RS articulada com a identidade nacional
(GUTFRIEND, 1992).
Durante o do século XX, novas formas de estudar história ganharam
espaço. São as chamadas “correntes historiográficas” ou “Escolas Históricas”
que surgiram em contraponto ao positivismo. Essas correntes ganharam
proeminência justamente tentando desmitificar a base do positivismo: a
produção baseada em determinados eventos, personagens específicos e
documentos oficiais. O Marxismo e a Escola de Annales são aquelas que
deram os primeiros passos mais significativos ao estudo das massas e da
aceitação de diferentes fontes históricas. Posteriormente, surge a Nova
História Cultural, que tem nessas duas outras Escolas seu ponto de partida ao
mesmo tempo em que irá provocar uma ruptura com elas (PESAVENTO,
2003). Esta ruptura “não representa uma ruptura completa com as matrizes
originais” (PESAVENTO, 2003, p. 10), afinal o impulso para a mudança na
forma de entender, estudar e pesquisar a história irá provir destas Escolas.
Foram deixadas de lado concepções de viés marxista, que
entendiam a cultura como integrante da superestrutura, como mero
reflexo da infraestrutura, ou mesmo da cultura como manifestação
superior do espírito humano e, portanto, como domínio das elites.
[...] Trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto
de significados partilhados e construídos pelos homens para
explicar o mundo (PESAVENTO, 2003, p. 14-15)
- Indígena
- Pardo / Pardo
- Amarelo / Amarela
4 Sobre sua Identidade de Gênero, Questão obrigatória de múltipla escolha
você é: (possibilidade de marcar apenas uma
opção):
- Mulher
- Homem
- Mulher Trans
- Homem Trans
- Outro: (possibilidade de inserção descritiva
de uma linha caso selecionasse esta opção)
5 Sobre sua orientação sexual, você Questão obrigatória de múltipla escolha
se entende como: (possibilidade de marcar apenas uma
opção):
- Heterossexual
- Homossexual
- Bissexual
- Outro: (possibilidade de inserção descritiva
de uma linha caso selecionasse esta opção)
6 O Item I da Carta de Princípios Questão obrigatória em escala de 1 até 5,
Tradicionalista diz que é dever do onde 1 representava “Nada comprometidas”
tradicionalismo "Auxiliar o Estado na e 5 representava “Muito comprometidas”.
solução dos seus problemas
fundamentais e na conquista do bem
coletivo." Em uma escala de 1 a 5,
quanto você acredita que o
Movimento Tradicionalista Gaúcho,
através das ações das ENTIDADES
TRADICIONALISTAS, é
comprometido com esse item? Obs.:
você pode tomar sua entidade como
referência.
7 Novamente retomando o Item I da Questão obrigatória em escala de 1 até 5,
Carta de Princípios Tradicionalista, onde 1 representava “Nada comprometido” e
"Auxiliar o Estado na solução dos 5 representava “Muito comprometido”.
seus problemas fundamentais e na
conquista do bem coletivo", avalie,
em uma escala de 1 a 5, quanto
você acredita que o Movimento
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Sul, Glorinha, Gravataí, Guaíba, Mariana Pimentel, Porto Alegre, Sertão Santana e Viamão.;
29 A 18ª RT inclui 12 municípios, sendo Aceguá, Bagé, Caçapava do Sul, Candiota, Dom
Pedrito, Hulha Negra, Lavras do Sul, Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, Santana da
Boa Vista, Santana do Livramento e São Gabriel;
30 O MTG classifica seus participantes por categorias, sendo elas válidas para eventos,
rodeios, concursos e afins. Considera-se da seguinte forma: MIRIM até treze (13) anos (não
pode ter feito 14); JUVENIL até dezessete (17) anos (não pode ter feito 18); ADULTA –
mínimo de quinze (15) anos; VETERANO mínimo de trinta (30) anos e XIRÚ mínimo de
quarenta (40) anos. Esta classificação encontra-se em seu Regulamento Artístico, disponível
em https://www.mtg.org.br/wp-content/uploads/2020/06/REGULAMENTO-ARTISTICO-
2019.pdf. Acesso em 21 de fevereiro de 2021.
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Para esta pergunta, 1 representava “Não se esforça” e 5 representava “Se esforça muito”.
Fonte: acervo pessoal da autora. Gráfico gerado automaticamente pelo Google Forms.
Fonte: acervo pessoal da autora. Gráfico gerado automaticamente pelo Google Forms.
A questão seguinte, número 12, pode ser considerada aquela que foi a
mais, dolorosamente, surpreendente. Desejávamos saber se as pessoas já
haviam presenciado situações de discriminação em sua atuação no MTG.
Originalmente, foram oferecidas apenas 5 alternativas, sendo elas Racismo,
Machismo, Homofobia, Nunca ouvi falar sobre e Outros. A questão permitia
mais de uma resposta e, no item “Outros”, era possível indicar outros tipos de
violências e preconceitos vividos. Vejamos o gráfico:
Fonte: acervo pessoal da autora. Gráfico gerado automaticamente pelo Google Forms.
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Discriminação Depoimento
Racismo “Sofri preconceito com relação ao meu cabelo crespo e com meus
penteados protetores (tranças, triste, dreads) por teoricamente não se
encaixarem nos padrões de indumentária das competições relacionadas
ao MTG.” / “Trabalhei nos bretes e meu colega negro foi chamado de
macaco por um senhor patrão de uma entidade e vice prefeito da cidade
do ctg em questão [...] a frase foi ‘tu não sabe com quem está falando o
macaco’.” / “Realizei um evento em minha entidade sobre a negritude no
RS. Ouvi gente da própria patronagem dizer que pessoas negras nunca
poderiam deixar de serem escravas.”;
Gordofobia “Já sofri de ser retirada de uma coreografia por ser gorda. E meu esposo
também, ele por destoar dos outros homens.”;
Classe social “Quando dançava em invernada artística uma prenda não tinha
condições para adquirir a pilcha, o que sabemos que custa caro, então, a
mesma teve que sair da invernada.”
Homofobia “Ja ouvi de um colega que tinha que parar de entrar gays no grupo e
entrar mais “macho” para melhorar a interpretação.” / “Já vi vários amigos
homossexuais deixando de participar das atividades no movimento por
sofrerem preconceito dentro das entidades.” / “Em uma palestra grande,
onde o palestrante (bem conhecido na RT) falou mal de um ex-peão
regional e o quanto afeminado ele era e que ‘manchava o movimento’. O
ex-peão é negro e gay. O palestrante fez piadas durante mais ou menos
30 minutos.”
“Uma forma de se fazer isso, é parar de fazer de conta que não existe preconceito em
relação às minorias e desenvolver dinâmicas de capacitação e desenvolvimento humano
de todos os elos que integram o MTG - da presidência às entidades. Preconceito é falta de
informação ou oportunidade de se olhar para o diferente. Por um MTG com mais Liberdade,
Igualdade e Humanidade!”;
“É necessário transformar a maneira como o MTG acolhe e lida como as minorias, fazendo
com que de fato o Tradicionalismo seja valorizado, independentemente de por quem ele
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seja feito. É preciso reconhecer que são mais de 50 anos de Movimento Tradicionalista
menosprezando a diversidade e "fazendo de conta" que nada estava acontecendo,
diminuindo constantemente as lutas de várias pessoas e grupos sociais.”;
“Somente através do reconhecimento dos erros e de propiciar que todos possam de fato
participar de forma atuante do MTG, é que a imagem do Movimento será transformada a
ponto de mudar os "pré conceitos" já criados sobre a nossa cultura e sobre o mesmo.”;
PRÉ-PRODUÇÃO
Storyline
O documentário contará com depoimentos de 10 pessoas do meio
tradicionalista, sendo algumas delas integrantes de grupos minoritários e
outros não, para possibilitar o contraponto. Os entrevistados serão instigados
a buscar as emoções que os façam sentir positivamente envolvidas com o
meio tradicionalista e, após, relatar as dificuldades e preconceitos vividos,
dadas as suas particularidades.
Argumento
O documentário será editado de forma que atraia diversas pessoas
envolvidas com o meio tradicionalista, especialmente aqueles que ainda
compartilham de preconceitos e compactuam, de forma consciente ou não,
com a discriminação dos grupos minoritários. Estes serão atraídos a partir da
primeira parte do documentário, quando os entrevistados revelarão suas
motivações, potencialidade, ações e emoções no envolvimento com o
tradicionalismo.
Ao tempo em que os entrevistados forem “revelando” suas
particularidades, buscaremos criar um elo com os telespectadores, através
dos sentimentos de empatia, entendimento e reconhecimento de suas
diferenças. Ao mesmo tempo, espera-se que o telespectador, tendo criado
seu vínculo com os entrevistados, consiga perceber as situações de violência,
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Roteiro Literário
Por se tratar de um documentário, baseado em entrevistas, não é
possível precisar as falas que serão utilizadas na produção final. Desta forma,
será apresentado o roteiro de perguntas elaborado que será aplicado,
igualmente, para todos os entrevistados.
O fechamento do vídeo será com a diretora/entrevistadora, que fará
sua primeira e única aparição no material. O texto apresentado será pré-
produzido, de forma a fazer o encerramento com a mensagem principal do
material, baseado em seu objetivo. É importante considerar que esse texto
precisa estar pré-construído, porém podendo sofrer alterações conforme as
informações captadas ao longo das gravações.
Segue abaixo a sequência de perguntas, intercaladas pelas
considerações nas intenções das mesmas na construção final do audiovisual.
6. Família e Movimento Tradicionalista tem forte ligação. Qual tua visão sobre o tema?
7. Fale sobre sua roupa, seu sentimento em vestir ela. Isso te orgulha? Por que usa?
Parte 4: reviravolta.
9. Tu entendes que o Movimento Tradicionalista consegue atuar, enquanto instituição, de
forma agregadora e plural? O que falta para isso OU o que colabora para isso?
10. A figura do gaúcho costuma ser descrita como “centauro dos pampas”, um homem viril
que tem forte vínculo com o campo e na lida com animais. Essa figura te representa? Tu
consideras que isso é fidedigno às pessoas que habitaram e habitam o RS com a intenção
de preservar a cultura do RS?
11. Tu já sofreste algum tipo de preconceito ou constrangimento em alguma situação dentro
da tua atuação no Movimento Tradicionalista? Conte o que aconteceu.
12. Considerações finais: fique à vontade ainda para fazer tuas próprias considerações,
acrescentar algo que não fora contemplado nas outras questões e/ou para deixar algum tipo
de mensagem/alerta/recado para ser dado.
Locação
As gravações serão realizadas no DTG Noel Guarany, Programa de
Extensão da Universidade Federal de Santa Maria, que se localiza junto ao
Centro de Eventos da Universidade. Serão utilizados os espaços internos da
sede da entidade e os espaços externos, por ser circundado por ambiente
campestre, com árvores, cavalos e espaços naturais.
Planejamento operacional
Equipamento:
- 2 câmeras (uma fixa para mostrar o entrevistado e outra flutuante para
captação de cenas de bastidores e detalhes do entrevistado, variando ângulo
e proximidade)
- 2 microfones de lapela (sendo um para o entrevistado, plugado diretamente
na câmera 1, e outro para a entrevistadora, plugado em gravador de áudio)
- 1 gravador de áudio
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Equipe
1. Diretora e entrevistadora: Tainá Severo Valenzuela
2. Cinegrafista 1 / Diretora de Fotografia: Anaí Rigão de Oliveira
3. Cinegrafista 2: Letícia Pagliarini
4. Cobertura Fotográfica: Julia Schonewaldt Coletto
5. Assistente de direção: Anaí Rigão de Oliveira
6. Maquiadora: Julia Schonewaldt Coletto
7. Assistente de Produção e Captação de áudio: Luciane Pagliarini
8. Organização do espaço do DTG Noel Guarany para acesso aos materiais
que estão na secretaria, copa e cozinha da entidade; assistência à equipe e
entrevistados; ambientação do cenário (churrasco e avios): Luciane Pagliarini,
Franciéle Leal, Tiago Zavacki, Bruno Rafael Barcelos e Bruna Freitas.
Personagens/Entrevistados:
1. Gabriela Sarturi Rigão (1ª Prenda do RS 2019/2022, mulher, branca,
heterossexual)
2. Gabriela Meindradt (Prenda reconhecida como a 1ª Prenda trans no MTG,
mulher trans, branca)
3. Helder Machado (dançarino, coreógrafo, homem, branco, homossexual)
4. Marcelo Lopes (dançarino, vice-diretor de Departamento Jovem,
cabelereiro, maquiador, homem, homossexual)
5. Bruno Rafael Barcelos (Posteiro do grupo de Danças do DTG Noel
Guarany, homem, negro, heterossexual)
6. Bruna Freitas (prenda de entidade, mulher, negra, heterossexual)
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Figurino
Considerando que todas as pessoas convidadas são atuantes no
Movimento Tradicionalista, as mesmas serão convidadas para comparecerem
às gravações utilizando a pilcha atual tradicionalista de sua preferência,
preservando as normativas do Movimento Tradicionalista para o uso das
mesmas.
Componentes do cenário
- Chimarrão e demais avios de mate
- Churrasco (fogo de chão, espetos, carne, sal)
- Cavalo
- Banco de madeira
- Bandeiras
- Backgrounds: ambientação em espaço aberto, natural, ou em parede de
tijolos à vista
Cronograma de gravação
As gravações ocorrerão no dia 13 de junho de 2021, domingo,
atendendo à seguinte programação:
- 7h30 – Início da organização dos materiais e montagem do equipamento e
cenários;
- 8h – Início da preparação do fogo do chão e churrasco.
As primeiras captações ocorrerão, em função da luz, no ambiente
externo na lateral esquerda do DTG Noel Guarany, sendo:
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- 9h – Helder Machado
- 9h30 – Lucca Adams Pilla
- 10h – Eduardo Barasuol
Obs.: a medida em que a pessoa for entrevistada, também serão
captadas as cenas referentes às suas habilidades e/ou preferências com
relação ao Tradicionalismo (dançando, fazendo chimarrão, montando a cavalo
etc).
As captações seguintes ocorrerão, em função da luz, no ambiente
interno do DTG Noel Guarany, sendo:
- 11h – Gabriela Meindradt
- 11h30 – Anderson Hartmann
- 12h – Bruno Rafael Barcelos
- 12h30 – Bruna Freitas
Obs.: a medida em que a pessoa for entrevistada, também serão
captadas as cenas referentes às suas habilidades e/ou preferências com
relação ao Tradicionalismo (dançando, fazendo chimarrão, montando a cavalo
etc).
- 13h – Intervalo para almoço da equipe
As captações seguintes ocorrerão, em função da luz, no ambiente
externo na lateral direita do DTG Noel Guarany, sendo:
- 14h – Marcelo Lopes
- 14h30 – Ediana Larruscain
- 15h30 – Gabriela Sarturi Rigão
Obs.: a medida em que a pessoa for entrevistada, também serão
captadas as cenas referentes às suas habilidades e/ou preferências com
relação ao Tradicionalismo (dançando, fazendo chimarrão, montando à cavalo
etc).
- Intervalo
- 16h – gravações adicionais que possam ser necessárias / cenas que
possam ser utilizadas para ilustrar o documentário.
- 17h – gravação do encerramento com fala da Diretora/Entrevistadora.
- 18h – encerramento das atividades.
Roteiro
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SEQUÊNCIA 1 – ABERTURA/INSERT
Montagem de cenas captadas dos entrevistados atuando em ações alusivas ao
tradicionalismo gaúcho (fazendo chimarrão, dançando, montando a cavalo etc)
CENA DESCRIÇÃO LOCAÇÃO ATORES ÁUDIO OBS
1 CAM1 = PG31 DTG Noel Os 10 Captação geral
Guarany e entrevistados – na edição
arredores será mutado
para ser
substituído por
música
2 CAM2 = Mão DTG Noel Os 10 Captação geral não usar
PM32/PG33 – Guarany e entrevistados – na edição o zoom
traveling e parada arredores será mutado da lente
para ser
substituído por
música
3 Drone = GPG34 DTG Noel Os 10 Captação geral
Guarany e entrevistados – na edição
arredores será mutado
para ser
substituído por
música
Fonte: organizado pela autora. Acervo pessoal.
31 Plano Geral. Um pouco mais fechado que o anterior, mas tem as mesmas características.
Serve para contextualizar o personagem na cena.
32 Plano Médio. Cintura para cima e dá ênfase aos gestos /
33 Plano Geral. Um pouco mais fechado que o anterior, mas tem as mesmas características.
SEQUÊNCIA 3 – ENCERRAMENTO
Conclusão e mensagem final do material produzido
CENA DESCRIÇÃO LOCAÇÃO ATORES ÁUDIO OBS
1 CAM1 = PG DTG Noel Tainá (fala) e Lapela plugada
Guarany – demais na CAM1, para
lateral entrevistados a fala final da
direita entrevistadora
2 CAM2 = Mão PM DTG Noel Tainá (fala) e Lapela plugada não usar
/PG – traveling e Guarany – demais na CAM1, para o zoom
parada lateral entrevistados a fala final da da lente
direita entrevistadora
3 Drone = GPG DTG Noel Tainá (fala) e Lapela plugada
Guarany – demais na CAM1, para
lateral entrevistados a fala final da
direita entrevistadora
Fonte: organizado pela autora. Acervo pessoal.
PRODUÇÃO
Todas as pessoas entrevistadas vão responder às mesmas perguntas,
e estas deverão ser respondidas olhando para a entrevistadora, não para a
câmera. A gravação será realizada individualmente, para que haja
naturalidade nas respostas e não haja influência das respostas dos demais.
Toda gravação ocorrerá no mesmo dia, no mesmo ambiente da
locação, mas não no mesmo lugar. Serão selecionados 3 espaços onde os
entrevistados serão alocados e distribuídos, um de cada vez, para a gravação
da entrevista, sendo: 1 – espaço interno do DTG Noel Guarany; 2 – lateral
direita da sede do DTG Noel Guarany, com fundo para o espaço do bosque
69
que pinus; 3 – lateral esquerda da sede do DTG Noel Guarany, com fundo
para o espaço do projeto de hípica da UFSM.
As cenas que serão tomadas para ilustrar as falas e roteiros (danças,
chimarrão, churrasco etc) serão realizadas de forma que fiquem ambientas e
distribuídas nestes 3 espaços e, também, em um 4º espaço é a parte frontal
da entidade, onde há uma cerca em estilo rústico, de madeira.
É válido citarmos que este documentário será produzido durante a
pandemia da COVID-19 e, em função disso, todos os envolvidos seguirão os
protocolos de segurança conforme orientações das autoridades em saúde e
do Comitê de Biossegurança da UFSM, sendo: uso de máscaras protetivas,
retiradas apenas na hora da gravação; aferição da temperatura para adentrar
ao espaço do DTG Noel Guarany; uso de álcool em gel 70% para
higienização das mãos; distanciamento de, no mínimo, 1,5mt entre cada
pessoa envolvida; não compartilhamento de objetos de uso pessoal.
PÓS-PRODUÇÃO
Considerando mais uma vez que este projeto se trata de um
documentário e, desta forma, a captação das imagens, ainda que com
orientação, não são precisas em sua previsibilidade, alguns elementos só
poderão ser definidos após/durante as gravações e no início da edição. Serão
traçadas aqui algumas considerações gerais acerca da pós-produção.
A edição será realizada pela própria Diretora através do software
Wondershare Filmora, que irá:
- realizar a decupagem e organização das cenas gravadas;
- organizar as cenas de forma que as respostas sejam editadas
conforme a sequência das perguntas, e não de acordo com a ordem de
gravação. A ordem das respostas será construída a partir das possibilidades
oferecidas pelo material coletado;
- realizar as correções de luz e cor que sejam necessárias;
- sincronizar imagem e áudio;
- selecionar a trilha sonora para o produto final. Há a intenção de uma
trilha que evoque sentimentos de emoção e pertencimento, porém apenas
após as gravações será possível precisar que as entrevistas terão, de fato,
70
CONCLUSÃO DO PROJETO
A edição deverá gerar um produto final que tenha entre 8 e 10 minutos
de duração. Este projeto pretende ser um passo (entre tantos) no processo
de construção de uma sociedade mais igualitária e despida de preconceitos,
capaz de distinguir o que é valor do que é discurso de ódio impregnado,
amparado em princípios pré-existentes. Pretende promover empatia,
entendimento e aceitação das diferenças, fazendo isso justamente no âmbito
de uma das instituições mais conservadoras do Estado do Rio Grande do Sul,
o Movimento Tradicionalista Gaúcho.
Pensamos que essa narrativa pode vir a contribuir com aqueles que estejam
planejando se envolver com o audiovisual e possam se sentir receosos diante
das dificuldades e adversidades. Quando vemos os trabalhos escritos,
produzidos e apresentados, temos a sensação que tudo corre em perfeita
ordem e atende todas nossas expectativas, porém é fundamental
registrarmos que existem erros, dificuldades, mas, também, possibilidades de
superação destes para que se chegue ao produto planejado.
Meu objetivo, na conclusão do curso, pensando na parte metodológica,
era o aperfeiçoamento no campo do audiovisual. O tema, para esta análise de
caráter técnico, não seria o ponto principal. Porém, entendi que diante desta
perspectiva de realização deste projeto experimental, seria de valia trazer um
tema relevante, especialmente no meio em que convivo, o tradicionalismo, e
levantando as bandeiras que me movem enquanto ser humano e indivíduo
que integra este nosso grupo social e coletivo: a voz das minorias e sua
inserção em uma sociedade com equidade.
Reitero que a produção deste documentário e a conclusão do curso de
deu junto à pandemia da COVID-19, acentuando nossas dificuldades e
preocupações com a segurança de todos os envolvidos. A data pensada para
gravação foi trocada várias vezes, de forma a nos adequarmos ao andamento
da vacinação (o que tornaria a gravação mais responsável e segura para
todos) e aos protocolos contra o contágio pelo vírus, protocolos estes que nos
vinham por órgãos especializados e responsáveis, como a Organização
Mundial da Saúde (OMS), decretos Estaduais e Municipais, e também
conforme a Comissão de Biossegurança da UFSM – uma vez que as
gravações seriam no campus.
A proposta inicial era que a gravação ocorresse em março de 2021.
Com o agravamento da pandemia, acabamos adiando a data mais duas
vezes, então conseguimos agendar e manter no dia 13 de junho de 2021. No
momento em que tudo estava encaminhado para esta data, com a
confirmação da presença dos entrevistados, algumas pessoas da equipe
técnica da gravação, que haviam se comprometido em participar, alegaram
motivos variados e desistiram de realizar as atividades. Agravando a situação,
essas pessoas detinham parte do equipamento que eu havia tido por certo
que estaria disponível no dia da gravação. Parti para a busca de suprir esse
73
que lhe querem bem e estarão disponíveis para lhe estender a mão no que for
necessário. Pessoas que tenham essa mesma visão: a consciência de que
problemas ocorrerão, mas é preciso ter sobriedade e clareza para contorna-
los e se chegar ao objetivo final.
No processo das entrevistas, ainda que eu tivesse um roteiro a seguir,
percebi que a “entrevista compreensiva” me encaminhava para adaptar os
questionamentos conforme o entrevistado, buscando deixa-lo confortável mas
também evocando seus sentimentos mais sinceros. Por vezes, me vi
profundamente emotiva, e não neguei à eles este sentimento, mas busquei
caminhos para manter o meu controle dentro do possível e trilhar o caminho
necessário para o êxito do projeto.
Sendo assim, registro: os papéis aceitam a perfeição. Porém, a prática
e a realidade, nos obrigam à resiliência, a encontrarmos caminhos e
aceitarmos, sem maiores percalços, nossas limitações e nossa humanidade.
O produto final, o documentário “Meu Eu do Sul”, vejo com um projeto que foi
executado com sucesso e que poderá se tornar uma referencia dentro de uma
das necessidades que mais ouvi ser reivindicada por meus entrevistados: a
liberdade de amar ao tradicionalismo, praticá-lo, utilizá-lo pelo bem comum,
sem jamais abrir mão de ser quem se é.
76
6. CONCLUSÃO
Não é de forma aleatória que as minorias ainda são minorias. Isso tudo
faz parte de um projeto político-ideológico bem estruturado que percorre o
tempo, onde a classe dominante se mantém em condição de favorecimento.
As minorias sofrem com a herança de uma sociedade que se afirmou,
historicamente, em uma pseudo-descendência e gênese de um determinado
tipo de sociedade – representado enfim, na atualidade, por essa classe
dominante. Compreendê-las no presente só é possível ao entendermos de
que forma se fizeram ao longo do tempo.
O MTG, por sua vez, é considerado por muitos um dos movimentos
mais conservadores e excludentes do RS, ainda que mobilize milhares de
pessoas em suas atividades. Sendo o Movimento Tradicionalista o porta-voz
mais popular da cultura do RS e da difusão de sua história, é fundamental e
urgente que este passe a adotar posições que compreendam e atuem em prol
da diversidade, acompanhando o mundo contemporâneo. Ainda é possível se
ver a reprodução de conceitos que, em tempos anteriores, eram tomados por
“virtude”, “valor”, mas hoje já são reconhecidos como preconceituosos,
excludentes e, muitas vezes, como discurso de ódio. Entre estes discursos,
destaco que, de forma recorrente, ouvimos falar sobre a inferioridade da
mulher pelo seu gênero; o preconceito racial, étnico e por orientação sexual; a
segregação por classe; a exclusão dos portadores de necessidades
especiais.
Os instrumentos de pesquisas disponíveis na atualidade, facilitaram a
investigação desta demanda – se o MTG é, na sua prática, excludente,
preconceituoso e elitista, assim como facilitam a averiguação de tantas
outras. As dúvidas que eu tinha com relação à opinião dos tradicionalistas
sobre este tema, foram reveladas através deste processo, que foi, por vezes,
esclarecedor de minhas angústias e, por outras, ampliador delas.
Preciso lembrar e registrar que o aparato tecnológico que nos
acompanha torna ainda mais acessível a possibilidade de desenvolver um
instrumento de coleta de dados. O Google Forms, que utilizei neste trabalho,
torna este processo intuitivo e prático para quem elabora a pesquisa, para
77
quem responde ela e para quem coleta e tabula seus dados posteriormente,
com gráficos gerados de forma automática. Precisamos nos adaptar ao uso
destas ferramentas para termos elas atuantes em nosso favor, enquanto
curiosos e/ou pesquisadores.
O audiovisual, por sua vez, é um dos recursos da comunicação de
grande apelo, especialmente neste cenário contemporâneo da primeira
metade do século XXI. Podemos transmitir nossa mensagem em formato de
imagem, movimento e som, disponibilizar ela em distintas plataformas e,
assim, alcançarmos o maior número possível de pessoas.
Neste trabalho, percorri um caminho complexo, que partiu das minhas
vivências e conhecimentos empíricos, seguindo pela análise histórica, indo
então para a investigação popular e, finalmente, chegando na produção de
um documentário. A missão agora é fazer com que as vozes que constam
neste trabalho alcancem o maior número de pessoas possíveis. Tudo isso
com a intenção de promover, no seio da cultura regional do RS, tão cara para
tantas pessoas e com tanto potencial de transformação social, um momento
de entendimento, empatia e aceitação coletiva, buscando por novos tempos
onde os princípios fundamentais sob os quais foi erguido o Movimento
Tradicionalista, sejam respeitados e praticados de forma efetiva.
A comunicação é a grande aliada deste processo, que entendo ser vital
para nossa vida social e coletiva, seja no RS ou fora dele. Toda pessoa que
tiver seu entendimento de mundo amparado na coletividade e no bem-estar
comum, precisa buscar as possibilidades para que se possa, efetivamente
somar (ou tentar somar) e promover a equidade.
Eu me despeço deste trabalho e do curso de Comunicação Social –
Habilitação em Publicidade e Propaganda, orgulhosa de minha própria
coragem para enfrentar esse desafio em busca de formação, e vivendo,
humildemente, a sensação de contribuir, como professora que sou e
comunicadora que estou me tornando, com um tempo onde se dialogue com
serenidade, afetividade e empatia sobre igualdade e a aceitação – e que isso
auxilie na construção de um mundo melhor. Fica aqui o meu sonho de que o
futuro escreva páginas mas dignas e plurais sobre o meu povo, minha origem
– e a minha própria história.
78
REFERÊNCIAS
ALBECHE, Daysi Lange. Imagens do Gaúcho. História e Mitificação. Porto
Alegre, RS: EDIPUCRS, 1996.
CADERNO PIÁ 21. Ano XVII, Edição 217, Outubro de 2019. Publicação do
Movimento Tradicionalista Gaúcho. Disponível em https://www.mtg.org.br/wp-
content/uploads/2020/06/Caderno-do-Pia-Outubro-2019.pdf. Acesso em 28
mai.2021.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, RJ. Paz e
Terra, 1987.
HOBSBAWN, Eric. A ERA DOS IMPÉRIOS 1875 -1914. Rio de Janeiro, RJ:
Paz e Terra, 1988.
SWAIN, Tânia. Você disse imaginário? In: SWAIN, Tânia N. (Org.). História
no Plural. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1994.
ANEXOS
2. “Gordofobia, já sofri, de ser retirada de uma coreografia por ser gorda. E meu esposo
também, ele por destoar dos outros homens.”
5. “Olá Tayná, parabéns por abordar esse tema tão importante para a visibilidade daquele
que integram o movimentos e se sentem ainda acuados com o preconceito. Eu dancei
desde os 12 anos e eu lembro muito bem do meu instrutor me corrigir para eu “virar
mais homem” pois a dança exigia que eu me portasse de forma mais bruta.”
6. “Sofri preconceito com relação ao meu cabelo crespo e com meus penteados
protetores (tranças, triste, dreads) por teoricamente não se encaixarem nos padrões de
indumentária das competições relacionadas ao MTG.”
7. “Gostaria de fazer um comentário, por ser prenda de rodeio, acredito que algo muito
positivo que já vem acontecendo é a maior participação da mulher no meio
tradicionalista, atualmente já somos de grande representatividade.”
8. “Há muito tempo, namorava um rapaz q usava brinco. Não deixaram q ele entrasse na
entidade, a não ser q tirasse o brinco. Mesmo ele tendo comprado o cartão para jantar.”
10. “No ano de 2018 eu sofri um ataque racista por membros da CTM da minha cidade.
Aonde fui chamado de negro e minha filha de 10 anos na época sofreu muito com isso.
Mas expliquei a situação a ela e hoje ela consegui entender perfeitamente tudo isso.”
12. “Já me disseram por exemplo que sou mais do que mãe, sou um pai na minha
entidade.”
13. .
14. “Na minha regiãoa há 40 Anos atrás tinha o salão de baile dos negros e outro dos
brancos aí un dia não foi o son da musica para eles ai colocarão um laço repartindo o
salão aí um passou para outro lado aí terminou. O racismo na minha região”
91
15. “Trabalhei nos bretes e meu colega negro foi chamado de macaco por um senhor
patrão de uma entidade e vice prefeito da cidade do ctg em questão, motivo queria
passar para olhar o grupo que não era o que ele representava no momento, uma cena
deplorável, a frase foi " tu não sabe com quem está falando o macaco". Ele se
apresentou como patrão ( que da acesso no brete junto com o grupo que ele
representa, não passagem livre pra ver os outros grupos), não como vice prefeito, eu
que sabia, mas meu colega não, mas enfim é isso.”
16. “Em uma abertura da semana farroupilha um homem, no microfone teceu comentários
homofóbicos e machistas e ninguém na época impediu ou desligou o microfone. Eu era
uma criança e me senti ofendida, atualmente eu entendo porque eu senti aquilo”
17. “Quando dançava em invernada artística uma prenda não tinha condições para adquirir
a pilcha, o que sabemos que custa caro, então, a mesma teve que sair da invernada.
Outra ocasião, foi quando o coordenador da região na época em que fui prenda
regional não quis cumprimentar minha colega de gestão por ela ser negra. Ainda, o
antigo coordenador da região não dava voz as prendas regionais, eis o motivo? serem
mulheres!”
18. “Na questão de baixa renda vejo as patronagens se desdobrarem para manter estas
pessoas dentro da entidade tradicionalista com campanhas de arrecadação de fundos
ou até mesmo padrinhos. Não consigo ver no meu CTG um ato discriminatório e sim de
inclusão, tem certas atividades que são praticadas mais por prendas e outras por
peões, mas nada impede de ser praticada pelo outro exemplo cozinheiro, cozinheira,
secretário, secretária, tesoureira, tesoureiro, gaiteiro, gaiteira. Tem algumas atividades
que foram adequadas para que ambos pudessem participar. Vejo que como na
sociedade antes tinha algumas coisas que eram coisa de homem hoje também se
tornou coisa de mulher ou visse versa. A sociedade está em transformação e o
movimento está em construção e se adapta a cada ciclo de mudança. Se olharmos o
normal de hoje, talvez 50 anos atrás era inadmissível.”
19. “Nunca sofri preconceito dentro do movimento. Sempre fui muito respeitado em todas
as entidades que participei. Porém, já ouvi relatos de amigos que passaram,
principalmente dentro de concursos culturais. (Homofobia)”
20. “No concurso de prendas que minha irmã (negra) participou, foi "descontado"
caracteres pessoais, para que pudesses justificar o primeiro lugar para a outra
candidata (branca), já que nos demais quesitos, as notas da minha irmã eram
superiores”
21. “Não”
22. “Ja ouvi de um colega que tinha que parar de entrar gays no grupo e entrar mais
“macho” para melhorar a interpretação. O mais chato é ter sido de um colega quase
que da mesma idade minha (20 anos), adulto e “amigo”. E o pior de tudo, é sabe que
se nao fosse esses gays, ele nao teria grupo pra dançar hahahaha”
23. “Algumas pessoas julgam as raízes tradicionalistas da minha família pelo fato de
termos origem indígena e negra, e por sermos umbandistas, oque muitas vezes fez
pessoas do movimento se afastarem”
24. “Como mulher, prenda de faixa durante 2 anos consecutivos, todos eles com empate
em provas e método de desempate considerando idade, fui muito questionada pelos
meus colegas de gestão e até por figuras grandes dentro da entidade sobre minha
capacidade. "Porque não conseguistes 1° lugar? o que fizestes de errado? como você
pode deixar isso acontecer? estudou mesmo? será mesmo que se dedicou? são dois
anos que você se manteve no mesmo lugar, só mudou a categoria" Fora o desconforto
e tentativas MUITO falhas de rivalidade que causaram não só comigo mas sim com a
minha colega na qual concorremos juntas. Criticaram nossa amizade e aparentavam
estarem muito chateados pelo resultado.”
92
25. “Grupos se desenvolvem à mercê de uma sociedade exclusiva, ainda assim há uma
grande participação da fadada minoria a que este questionário se refere. Há uma
grande hipocrisia por parte das entidades que buscam a perfeição em seus grupos de
danças, definido o biotipo do dançarino que terá privilégios ao longo do projeto
montado para participação em grandes eventos.”
26. “No.meu CTG não e permitido dança prenda com prenda, a uns dois anos foi
convidada a se retirar da sala. Temos também o caso de uma crianças q dança na
invernada e a.mae vive com outra mulher. Essa mãe foi comunicada que não deve vir
no CTG com sua companheira. Outra situação de q me deixa mal e o caso da família
ser sócia o titular e o marido e só ele tem voto e nós mulheres trabalhamos as vezes
mais que os homens pela instituição mas temos que convencer o marido a votar no
nosso candidato se for o caso.”
27. “Penso que :dentro do tradicionalismo existe lugar para todos , desde se esteja no
momento sendo tradicionalista .”
28. “Já vi vários amigos homossexuais deixando de participar das atividades no movimento
por sofrerem preconceito dentro das entidades.”
29. “Quando um branco foi escolhido para fazer o papel do Negrinho do pastoreio, porque
acharam que ele era mais qualificado que outro menino preto da invernada. E sempre
os descontos de interpretação por os avaliadores acharem que não é masculino o
suficiente .”
30. “Fui "convidada" a me retirar da entidade pois levei minha ex namorada(na época atual)
em um evento e na hora dela ir embora dei um selinho nela. (Detalhe, estávamos na
rua)”
31. “Ouvi de um homem branco que era um absurdo um Negro puxar a fila do Anu. Ouvi de
um homem branco e hétero que os peões de um determinado grupo deveriam ter
descontos nas danças pois eram muito "afeminados". Ouvi também opiniões
preconceituosas sobre temas de coreografias de religião afro. E vi um amigo meu
homossexual ser chamado de bixinha e ser chamado pra briga se se incomodasse.”
32. “Uma vez em um Entrevero Estadual, meu amigo gay foi pedir informação em uma
rodinha de senhores 3 ou 4 pra ser exata, a respeito de onde comprava os ingressos
para o baile. O Homem que respondeu, não sabia a informação, mas direcionou o lugar
onde poderíamos descobrir, porém no final do diálogo com meu amigo, falou pra ele
falar grosso da próxima vez que fosse pedir alguma informação. Detalhe, meu amigo
tem tom de voz grave, mas tem o estereótipo de homem gay.”
33. 1. Salientar que dentro do meu CTG nunca vi, nem no elenco nem participando de
eventos, uma pessoa negra. 2. Já vi pessoa de brinco e tatuada sendo expulsa de
almoço da semana farroupilha.”
36. “Tenho um amigo gay, porém ele não é assumido para a sociedade por medo, ele já
sofreu diversos preconceitos devido ao seu jeito de ser "afeminado"”
93
37. “Fiquei sabendo que uns colegas de gestão ouviram da filha de um ex-patrão que CTG
não era lugar de pretinho. Outra situação foi em uma palestra grande, onde o
palestrante (bem conhecido na RT) falou mal de um ex-peão regional e o quanto
afeminado ele era e que "manchava o movimento". O ex-peão é negro e gay. O
palestrante fez piadas durante mais ou menos 30 minutos.”
38. “Presenciei discriminação por um peao ter o cabelo descolirido, afirmaram que não era
coisa de "homem"”
39. “Desrespeito”
40. “Em várias reuniões de patronagem dar a mesma ideia que os homens e não ser
ouvida e nem reconhecida.”
41. “Já fui julgado pelos avaliadores das danças tradicionais pois nas danças do ciclo do
fandango eu estava sendo muito “delicado”.”
42. “Realizei um evento em minha entidade sobre a negritude no RS. Ouvi gente da própria
patronagem dizer que pessoas negras nunca poderiam deixar de serem escravas.
Entre outros exemplos...
43. Entre tantas, uma que marcou fo presenciar um peão (homossexual) que sofreu
fortemente por representar a região na épica e ir a um baile com uma pilcha na cor
vinho rosado.
44. Um ex Presidente zcriticou fortemente o então vice de Eventos pq este havia feito uma
tatuagem nas costas. Imagem que não ficava visivel. E outros fatos que presencie em
que jovens eram citados como "aquele meio.bichinha", esse tipo de roupa de "veado",
entre outras. Neimar Iop”
45. “Percebo que quando uma instrutora mulher ergue a voz dizem que ela é louca, mas se
é um instrutor homem ele "é foda"”
46. “Chega a ser cansativo de tão óbvio e o quanto sou questionado por isso, mas as
piadas homofóbicas estiveram presentes no meu convívio tradicionalista da invernada
mirim até a adulta.”
47. “Acho que tem muita entidade q faz muito pela sociedade, muito mais q o órgão MTG,
porem quase sempre esse trabalho não é divulgado. Acredito q o MTG como instituição
deveria se posicionar de forma mais efetiva sobre essas questões. Iara Vanice Rott”
94
Através do item “Outro”, também foi dito que (as frases estão reproduzidas
de forma fidedigna com o qual foram escritas):
2. “Concordo em partes, pois o MTG é formado por cidadãos, que trazem para dentro da
instituição os costumes e valores (muitas vezes preconceituosos) que encontramos
na sociedade fora do MTG. Os casos discriminatórios que ocorram dentro do MTG
devem ser punidos.”;
4. “Concordo, porém percebo que, algumas entidades tem buscado fazer um trabalho
inclusivo, não por influência do MTG, mas por vivência de sua comunidade.”;
5. “Concordo em partes, pois mesno que tenham falhas as entidades trabalham muito e
fazem açoes para serem mais acolhedoras tem ainda muito para fazer e melhorar”;
8. “O termo "incisivo" me faz discordar da frase no ponto, porque gera uma obrigação de
aceitação por parte do todo que fere a liberdade de escolha... As pessoas não são
obrigadas a aceitarem, basta que aprendam a respeitar e conviver em harmonia, pois
a liberdade de um vai até onde começa a do outro. Então não acho que seja uma
obrigação do mtg atuar de forma "incisiva" bastando a efetividade de suas ações na
95
busca de uma conscientização pelo respeito mutuo de quem quer ser aceito e de
quem deva aceitar as diferenças”;
9. “O movimento precisa ser acolhedor a todos, o MTG precisa voltar a ler e seguir seus
documentos basilares, infelizmente pelo custo e cargos oais importante se perde,
cultura , ética e o companheirismo”;
10. “Penso que o movimento não pode mudar , quem quiser ser tradicionalista , deve
seguir o que o movimento diz , quanto a suas opções fora do tradicionalismo são de
sua responsabilidade”;
11. “Não acredito que o movimento possa perceber suas falhas, pois essas são
constituintes para sua fundação, portanto, intrínsecas para a existência do
tradicionalismo”;
96
1. “Tem tanta coisa errada que é difícil pensar em por onde começar uma melhoria... :/”;
2. “De forma geral tornar o meio tradicionalista mais acessível as minorias e buscar
AÇÕES que combata a discriminações como machismo,homofobia etc...”;
4. “Palestras sobre inclusão e exclusão, visitas as APAES, por exemplo. Oficinas com
pessoas portadoras de deficiências. Elisângela Florence da Silva. Guaíba 1°RT CTG
Darci Fagundes”;
6. “Acredito que mesmo que o MTG seja "tradicional", não devemos nos prender a ideias
que podem (e devem) ser consideradas "velhas/retrógradas". Os tempos, a cultura e as
pessoas mudam, portanto o Movimento deve mudar junto.”;
7. “Há, sim, ideais que devem ser mantidos e aprendizados que devem ser lembrados,
mas o que mais deve ser considerado é a ideia de que tudo avança, e a solução de
problemas (que na verdade são muito antigos, mas muitos fingem que não) deve seguir
o mesmo caminho.”;
10. “Prestar conta das verbas arrecadadas durante o ano e direcionar parte do valor para a
resolução desta problemática”;
13. “Para que a instituição seja mais inclusiva pode-se pensar em incluir pessoas de
minoria social em sua chefia. Possibilitar o acesso de pessoas pobres, pretas, lgbt, com
deficiência em cargos de importância na instituição e derrubar estigmas que ainda são
reforçados na sociedade gaúcha.”;
14. “Acredito que poderia se tornar um pouco mais acessível, em ambos os aspectos.”;
15. “Precisam ações que busquem incluir pessoas de baixa renda para participação em
oficinas de música, danças, atividades campeiras.”;
17. “Um conselho de ética eficiente para com as entidades filiadas e não somente para a
instituição MTG”;
21. “Penso inicialmente quanto a acessibilidade das pessoas com deficiência, onde o
ambiente deve ser planejado para acolhe-las. Também ressalto que "foi-se o tempo"
em que se davam desculpas quanto às singularidades de cada indivíduo. Tempo que
nunca deveria ter existido, porém não podemos apagar, mas aprender com o que
passou. Creio que o MTG deveria buscar por PESSOAS, acolher PESSOAS, ouvir as
PESSOAS e não um público específico, assim não seria um "movimento". Para finalizar
levanto um questionamento: quantas prendas estaduais negras tivemos? Um abraço,
Raquel.”;
22. “O Movimento Tradicionalista precisa rever seus conceitos e ter na Carta de Princípios
sua "bíblia".”;
24. “Dentro das entidades muitas vezes presenciei o machismo que é meu lugar e fala.
Quando prenda por muitas vezes a minha inteligência foi questionada e o que era
valorizado era o meu servir, para os homens da instituição. Falas machistas e racista
vivenciei sempre, com aquele tom e brincadeira que hoje entendo o quão
preconceituoso era.”;
25. “Concordo plenamente com sua afirmação, mas nosso movimento mudou muito já.
Ainda temos poucas cabeças pequenas no meio, mas já mudou muito sim.”;
26. “Se o tradicionalismo gaúcho se esforçasse por exemplo, dar mais chance para as
mulheres se integrarem nas atividades que antigamente se acreditava que era de
homens. Acho que vem um pouco da antiga geração, mas vemos muitos casos de
homofobia e machismo, eu acho que poderiamos nos esforçar para tentar apagar esse
preconceito do nosso movimento.”;
29. “O movimento tem que ser inclusivo e não vai deixar de ser tradicionalista, ainda há
muito que evoluir.”;
30. “Precisamos discutir essas questões. Atualmente a grande maioria são de forma
velada. Não podemos continuar fingindo que não ocorre.”;
31. “Renovando "as cabeças" temos que ter mais jovens , sempre que é levado um
assunto em pauta " os beneméritos " tem a razão ! Basta !”;
33. “Primeiramente é derrubar todo esse preconceito que o Movimento tem o hábito de
ainda manter sob a desculpa de está preservando a tradição, entre eles o Machismo.”;
36. “Ações de conscientização são necessárias, mas não só isso é preciso atualização de
regulamentos e preparação daqueles que irão lidar com as pessoas para que sejam
empáticas e responsáveis, jamais minimizando ou passando pano para situações e/ou
pessoas.”;
37. “Se olharem o Movimento Tradicionalista como uma instituição familiar onde todos
participam sem discriminação, a meritocracia não é plena a própria sociedade. Edison
da Silva Fagundes”;
38. “Uma boa ideia é abrir as portas de forma mais explícita pra todas as minorias,
principalmente as que não se percebem como heterossexuais.”;
39. “Existem muitos bons trabalhos acontecendo nós CTGs e precisam da devida atenção”;
40. “Trabalhar com crianças de baixa renda, observam, admiram mas não conseguem
manter os.as despesas que o tradicionalismo exige. Ia lástima.”;
41. “Infelizmente essa questão ultrapassa as barreiras do MTG, claro que a instituição deve
trabalhar essa questão para, de fato, cumprir o que diz a Carta de Princípios”;
43. “Mais igualmente , mais direitos iguais , mais portas abertas para todos e não para
grupos seletos .”;
44. “O movimento tem como melhorar muito essa questão, nós devemos respeito aos
nossas mais velhos, mas não podemos ser coniventes com o preconceito que eles
carregam, um movimento que começou com jovens, tem que ouvir os jovens que são
parte do movimento agora, debater novas ideias e trazer mudanças, o nosso
movimento deve ser um múltiplo de pessoas e não um múltiplo de preconceitos, o
movimento é falho nisso, fecha os olhos pra muita coisa, e acabamos perdendo ótimos
tradicionalistas”;
45. “Creio que esse assunto deva ser trabalhado nos espaços que já são disponibilizados,
como a plenária do Congresso e as próprias redes sociais, com responsabilidade e
respeito. Falta um pouco mais de união e coragem de nós todos, enquanto juventude.”;
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46. “Vivemos em uma realidade hoje em dia muito diferente da de anos atrás, gostaria que
dessem mais lugar de fala as mulheres, aos negros e que levassem mais "a sério" -
digamos- opiniões e falas de homossexuais.”;
47. “1_Se a família e sócia tanto a mulher como o homem são iguais 2 votos, e em caso de
separação quem fica sócio? A mulher e colocada como dependente sempre nos
documentos..... 2_ se uma prenda de faixa fica grávida perde a faixa... ( Se faz aborto
clandestino não) talvez mudar para ela terminar a Gestão 3 menos machismo e
achismo e mais tradicionalismo cultura e respeito com o humano e a vida no nosso
Movimento Tradicionalista”;
49. “Acho que muitas pessoas não tem muito claro sobre a questão do movimento
LGBTQUIA+ no meio Tradicionalista, acho que deveria ser um tema mais abordado.”;
52. “Uma forma de se fazer isso, é parar de fazer de conta que não existe preconceito em
relação às minorias e desenvolver dinâmicas de capacitação e desenvolvimento
humano de todos os elos que integram o MTG - da presidência às entidades.
Preconceito é falta de informação ou oportunidade de se olhar para o diferente. Por um
MTG com mais Liberdade, Igualdade e Humanidade!”;
53. “Já passou da hora do Movimento, enquanto instituição, reconhecer que o meio
tradicionalista é formado por cidadãos que fazem parte da sociedade civil; e que
justamente por isso, temos refletidos dentro do meio tradicionalista os mesmos
comportamentos includentes e excludentes que vivenciamos na sociedade civil.”;
56. “Promovendo mais debates sobre essas questões desafiando todas as entidades, pois
a maioria não aborda esses assuntos.”;
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57. “Acredito que já esteja um pouco melhor, mas sempre podemos melhorar nas questões
de inclusão , se o MTG se posicionasse um pouco mais nas coisas minoritárias já
ajudaria a melhor aceitação de todos .”;
58. “Acredito que o Movimento precisa rever qual é o caminho que deseja seguir, ou vai
continuar excluindo o diferente, justificando isso com a "tradicionalidade", ou vai abrir
espaço para o diálogo, compreendendo que a sociedade está em constante
transformação e que, por óbvio, nossa instituição precisa acompanhar e se refazer.
Ainda, por vezes, percebo que o mito do gaúcho herói perdura entre os integrantes da
minha entidade e que isso limita as nossas ações para além dos concursos de danças
tradicionais. O CTG pode ser um meio para a formação cultural do sujeito, desde que
ressignifique o que tínhamos como intocável.”;
59. “Precisa começar aceitando que a sociedade evoluiu. Somente a partir dessa aceitação
e do desprendimento dos preconceitos alimentados por décadas, poderão ser
pensadas políticas eficazes na progressão dessa questão.”;
66. “(Como acho que isso é relevante, queria dizer que meu CTG é da 17 região de SC,
mas queria responder seu formulário e dizer que o movimento tradicionalista alastra
suas raízes preconceituosas e sua exclusão por todos os cantos onde ele passa, não
fica somente no Rio Grande)”;
68. “Acredito que o movimento poderia estar incluído em mais causas sociais, para as
pessoas de baixa renda pro exemplo, eu mesma tive dificuldades em me manter em
ativa dentro do movimento pois sou de família pobre, graças a um projeto social da
prefeitura eu e muitas outras pessoas da minha cidade tiveram a oportunidade de
entrar neste meio, antes do projeto o CTG era algo de elite onde só os de classe
média/alta frequentavam.”;
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69. “Atuar nas escolas, na comunidade que geralmente é de baixa renda. Conversar dentro
das entidades principalmente voltadas para as crianças e jovens. O futuro do nosso
tradicionalismo e da nossa cultura está nas mãos das próximas gerações, e nós
devemos levar a eles informação.”;
71. “Acredito que são problemas enraizados na sociedade brasileira em geral, desta forma
o Movimento Gaúcho não deve agir de forma isolada.”;
72. “Acredito que aceitando mais as pessoas, deixando alguns pensamentos antiquados de
lado, afinal, sabe-se que a humanidade evolui a cada instante, porque o nosso
movimento não deve progredir?”;
73. “Discutir e ouvir esses grupos de minorias já seria uma ação fundamental para o
reconhecimento e aperfeiçoamento dos processos de aceitação e percepção de quem
faz parte do tradicionalismo.”;
74. “Só irá progredir no dia em que os dirigentes tiverem mente aberta e não se sentirem
donos da verdade.”;
75. “Acredito que o diálogo e a melhor forma, sem impor nada. E claro diminuir as regras”;
76. “Conscientização”;
78. “Os CTGs lidam com estas situações independentemente. O MTG não protagoniza
essas ações.”;
79. “O MTG, como está posto hoje, não atende em nenhum aspecto as minorias, ele só
atende aos interesses que lhe convém, ou seja, pobre, negro e mulheres não tem
espaço nesse meio. O Alto custo para se manter em invernadas artísticas, o alto custo
para se participar de rodeios campeiros, o alto custo para ir a um jantar, enfim todas as
atividades tradicionalista só são acessíveis as pessoas que tem um padrão financeiro
muito alto, ou seja, só participa que é rico, ou quem deixar de comer para estar neste
meio. Entendo que as entidades necessitam arrecadar para se manter, mas quem
consegue olhar de fora consegue perceber o custo abusivo das maioria das atividades.
E esse custo abusivo por si só excluí as minorias. Faz-se necessário resgatar a cultura
gaúcha, por meio de ações que possam ser acessíveis a todos.”;
80. “Acredito que precisamos, enquanto Movimento, começar reconhecendo que somos
um meio marcado historicamente pelo machismo, homofobia, etc, reconhecer é o
primeiro passo para a mudança. Bem como reconhecer o custo alto para participar
ativamente do movimento e procurar, a cima de tudo a não exclusão daqueles que não
tem condições de arcar com todos os gastos mas estão presentes dentro do possível.”;
81. “Sendo efetivos dentro dos galpões, com palestras, rodas de conversa com
convidados... educando os seus frequentadores.”;
83. “Acredito que tem que haver mais mulheres no MTG e mais pessoas trans nos grupos,
mas para isso tem que haver aconselhamento do MTG junto aos avaliadores e
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comissões para que nenhum grupo seja prejudicado devido o preconceito ou falta de
informação dos avaliadores.”;
84. “Trazendo essas temáticas para seus eventos, tema anual e/ou semana farroupilha
buscando um maior debate destas nos núcleos tradicionalistas.”;
85. “O Movimento pode simplesmente lançar uma cartilha de acordo com os problemas do
atual contexto em sociedade e das mudanças que já são identificadas e que
necessitam de atenção. Já passou da hora!”;
86. “Eu acredito que o respeito seja o lastro de tudo e o respeito as diferenças acredito que
seja o caminho a ser seguido. Igor Silveira”;
87. “Trabalhar essas questões em temas anuais, quinquenais, orientam DF o seus filiados,
deixando bem claro seu posicionamento.”;
88. “É necessário transformar a maneira como o MTG acolhe e lida como as minorias,
fazendo com que de fato o Tradicionalismo seja valorizado, independentemente de por
quem ele seja feito. É preciso reconhecer que são mais de 50 anos de Movimento
Tradicionalista menosprezando a diversidade e "fazendo de conta" que nada estava
acontecendo, diminuindo constantemente as lutas de várias pessoas e grupos sociais.”;
89. “Somente através do reconhecimento dos erros e de propiciar que todos possam de
fato participar de forma atuante do MTG, é que a imagem do Movimento será
transformada a ponto de mudar os "pré conceitos" já criados sobre a nossa cultura e
sobre o mesmo. Thiago Avila”;
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