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BERNARDO BLANCO
N.º 1572 . 20/4 A 26/4/2023
O DEPUTADO
QUE BRILHA
AOS 27 ANOS
QUEM GANHA
COM A INFLAÇÃO
Como o aumento das margens de lucro fez disparar
o custo de vida e penalizou os consumidores
• OS SETORES QUE ESTÃO A BENEFICIAR MAIS COM A CRISE
• ONDE OS PREÇOS PODEM BAIXAR
VISÃO
20 ABRIL 2023 --- Nº 1572
IDEIAS COM VISÃO
Eduardo Sá ........................5
ENTREVISTA
Giulia Sissa ......................10
RADAR
A semana
em 7 pontos
Lula, paz e horror.......... 14
VISÃO SETE
w w w.visao.pt
ONLINE Gabriel Leite Mota Luís Delgado Henrique Costa
DA ECONOMIA, LINHAS DIREITAS Santos
Últimos COM FELICIDADE A bênção de Lula CAFÉ CENTRAL
artigos Os negacionistas Aeroporto
no site da da pobreza relativa Internacional
VISÃO D. Sebastião
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ANTEVISÃO
VISÃO SETE
VISÃO PLUS Uma verdadeira
VISÃO VERDE viagem ao mundo
obscuro dos negócios
do lixo
– Inês Moreira, Lisboa
E
para “equilibrar a diferença
sta é uma pergunta altamente polémica: se, por um de oportunidades à nas-
lado, ver a passagem dos anos desta maneira nada cença” [secção Ideias com
ajuda a combater o estigma contra os mais velhos, VISÃO, V1571]. Uma prima e
no ideal de juventude que a nossa sociedade sempre eu temos 66 anos, e temos
idolatrou; por outro, é um facto que o envelhecimento é a as nossas mães vivas. Pro-
principal causa de uma série de doenças, como as cardiovas- vavelmente, os nossos filhos
culares, a diabetes ou a Alzheimer, pelo simples facto de que também só herdarão de nós
as nossas células vão perdendo, ao longo do tempo, as suas perto da idade da reforma.
funções. Portanto, as heranças apenas
A VISÃO Saúde de abril/maio, que o leitor já encontra nas servem para equilibrar as mi-
CINEMA PORTUGUÊS
bancas, dedica um extenso dossier à medicina antiaging. núsculas pensões de reforma
IndieLisboa e novos a que temos direito!
Não se trata aqui, principalmente, de uma questão estética. filmes – L. Cavaleiro Madeira, Évora
Este é um ramo da medicina que ambiciona “reduzir o de-
senvolvimento de doenças relacionadas com a idade, como
CORREÇÃO
o cancro ou a aterosclerose, contribuindo para o prolonga-
mento da vida saudável”. Por lapso, não saiu assinada,
na última edição, a célebre
Queremos envelhecer com saúde, com boa condição
fotografia sobre a agressão
física, cérebro ágil e bem-estar psicológico. Se o fazemos de
a Mário Soares na Marinha
cabelos brancos ou pintados, com rugas acentuadas ou ate- Grande, em 1986, no artigo
nuadas, isso já são outros quinhentos. No tempo da aceita- sobre os 50 anos do PS
ção, percorrer as fases mais avançadas da vida com gracio- (Histórias e Memórias, V1571).
sidade não é incompatível com a procura de atrasar o mais Ao seu autor, Rui Ochôa,
possível o que nos debilita. o nosso pedido de desculpas.
Graças aos avanços das investigações científicas ao nível
da genética, da epigenética e da medicina preventiva, o pro- REDES SOCIAIS
cesso de envelhecimento tornou-se uma condição tratável, Como escapar às
em vez de uma consequência inevitável, possível de protelar. armadilhas
A Ciência não para de tentar reverter o processo, mas, para
lá do que se passa nos laboratórios, há muita coisa que está --------
nas nossas mãos. Uma pista deixada pelo cientista David Contactos
Sinclair, considerado o guru da longevidade: “A abundância visao@visao.pt
acabará por nos matar.” As cartas devem ter um máximo
de 60 palavras e conter nome,
Aqui damos pistas, mas na VISÃO Saúde encontra todas morada e telefone. A revista
as respostas. Assim como outros temas, além do combate ao reserva-se o direito
envelhecimento. Contamos histórias da Leprosaria Nacional de selecionar os trechos que
e de como se tratavam os doentes com lepra em Portugal; considerar mais importantes.
damos conta das ligações entre fibromialgia e depressão; e
publicamos um extenso artigo sobre os efeitos da pandemia Morada
TURQUIA CORREIO: Rua da Fonte da
no nosso cérebro – não só a Covid-19 deixa sequelas a nível O fim de Erdogan? Caspolima – Quinta da Fonte,
cognitivo, como o medo teve efeitos devastadores ao nível Edifício Fernão Magalhães, 8,
da saúde mental. Porque, de facto, estamos bastante “que- 2770-190 Paço de Arcos
brados”. visao@visao.pt
Como
melhorar
LUCÍLIA MONTEIRO
Portugal?
Nos 30 anos, a VISÃO
promove a rubrica
“A escola do futuro
multimédia “Ideias com
VISÃO”. São 30 semanas,
é um lugar onde as
30 visionários, 30 ideias
para fazer agora. Da
crianças poderão viver
Ciência à saúde, das
artes ao humor, das
com a cabeça na lua
empresas ao ambiente,
figuras de referência
e com os pés na terra”
nas mais variadas áreas
dão os seus contributos Vivemos no século XXI e continuamos a funcionar com modelos esco-
lares do século XIX. Acredito vivamente que – com os professores que
para pensar um Portugal temos, com as crianças que a escola tem à sua disposição e com tudo
melhor. Semanalmente aquilo que, todos os dias, o mundo lhes dá de novo – é possível fazer
em papel e também em uma escola mais bonita, mais simples, de maneira que a escola seja um
vídeo no nosso site, ao sítio para onde apeteça fugir todos os dias.
Para isto, basta que as pessoas se apaixonem pela escola e tenham com
qual pode aceder através ela a relação romântica que deixaram de ter. Para que, definitivamente,
do QR Code nós não estejamos a produzir jovens tecnocratas de sucesso. Deste modo,
passaríamos, simplesmente, a produzir pessoas que conhecem cada
vez mais fundo. E que são, todos os dias, cada vez melhores pessoas.
Definitivamente, nós temos de perceber que a escola não pode roubar
a infância às crianças. Quando compatibilizarmos a infância com tudo
aquilo que a escola dá às crianças, nós seguramente vamos fazer uma
escola muito melhor, com tudo aquilo que temos à nossa disposição
(às vezes até com menos recursos…).
Acredito sinceramente que a escola do futuro é uma escola onde as
crianças não serão crianças à pressa, um lugar onde as crianças po-
derão viver com a cabeça na lua e com os pés na terra. E onde possam
QR CODE
perceber que o melhor do mundo é o futuro.
PARA O VÍDEO
Paulatinamente
NÃO AUTORIZADA
Dulce
Maria
Cardoso
N
ão gosto da palavra paulati- moradamente a apetecível montra, os car-
namente. Numa das definições ros pastelavam ao arrancarem no semáforo,
que a internet disponibilizou os turistas retardavam os seus passos a ca-
no meu telemóvel, paulati- minho dos miradouros da Baixa, os velhos
namente aparece como sendo faziam-se à passadeira com a concentração
sinónimo de insensivelmente. Ao ser con- de quem atravessa a ponte baloiçante de um
duzida através da cidade, no banco de trás rio turbulento, crianças corriam à frente
de um Uber, a ligação da palavra à insensi- dos pais, uma mulher passou com um belo
bilidade pareceu-me mais adequada do que ramo de tulipas, um homem enredou-se na
ao vagar. E a que propósito vem isto? trela do cão, a luz da cidade apaziguava-se,
* dormente.
— Escritora
Chegaram todos juntos e sentaram-se à Os sumos e iguarias com que os empre-
mesa da pastelaria das Avenidas Novas que gados enchiam a mesa, em vez de esmore-
inaugurara recentemente. Confessavam-se cerem as conversas, espicaçavam-nas. Um
esfomeados, Vou devorar duas tostas com dos homens, o mais alto, fez uma piada so-
abacate, declarou o mais histriónico, um bre o facto de serem treze à mesa, Vai mor-
arruivado que começava a perder o cabelo, rer o mais novo, e logo o que estava sentado
Alinham no brunch? Cumpriam o alvoroço ao seu lado o advertiu de que não se brinca
de se acomodarem, Pendura ali o casaco, com coisas sérias, uma mulher, a das ma-
Olha-me o aspeto daqueles pães, Cuidado deixas, gabou os scones e logo outra, a das
que o teu telemóvel vai cair, Vem tu para calças cor-de-rosa, falou no jejum inter-
aqui, Tita. Uma catadupa de frases de oca- mitente, as conversas fluíam inconsequen-
sião baralhadas com risos, cheiros de per- tes, retalhadas, e só me apercebi daquela
fumes e aftershaves, tons de vozes de quem que acabou por agregar os treze quando o
nunca viveu mal. Eu já tinha reparado na- homem dos calções levantou mais a voz,
quela mesa, era a maior da pastelaria e esti- Não se pode confiar neles, eu sei o que digo,
vera reservada desde que eu chegara. Num trabalho com brasileiros todos os dias, eles
instante, vários empregados afadigaram-se, não são como nós. Os outros secundaram-
solícitos, em seu redor, distribuindo cartas -no, a mulher das calças cor-de-rosa con-
gigantes como se fossem croupiers numa tou a história de um brasileiro que enganara
mesa de jogo esquisita. o pai da não-sei-quantos, a que tinha o
Os recém-chegados falavam muito alto. toque das Quatro Estações no iPhone lem-
Mesmo que eu não gostasse de escutar brou-se da empregada de limpeza brasileira
conversas alheias, seria impossível não ter que fazia desaparecer coisas no escritório,
ficado a saber que eram amigos há muito Que coisas?, quis saber o arruivado, Olha,
tempo. Metade deles pelo menos. A outra tirou cem euros da carteira da Catucha. E
metade era constituída por cônjuges mais nos portugueses, confias?, perguntou a mu-
ou menos enfastiados e tímidas amizades lher das sardas, As generalizações são sem-
feitas num grupo de caminhada. A mistura pre perigosas. Dizer que as generalizações
Vou devorar entre o núcleo antigo e os demais convivas
criava conversas com ritmos e intimidades
são perigosas é também uma generalização,
riu-se um a que chamavam holandês. Trou-
duas tostas diferentes. Aqueles recordavam nostálgi- xeram ovos mexidos, escalfados, estrela-
com abacate, cos os pequenos-almoços tomados há vinte dos, ovos de todas as maneiras, panquecas,
anos numa pastelaria que existia do outro xaropes, doces, a mulher das calças cor-de-
declarou o mais lado da avenida, estes não faziam ideia do -rosa manteve-se fiel ao chá de menta que
histriónico, um que os primeiros falavam e sorriam por bebericava de vez em quando, o homem
ILUSTRAÇÃO DE SUSA MONTEIRO
Rui
Tavares
N
Guedes unca tantos países estiveram mil pessoas, em dois anos de conflito (mais
tão dependentes uns dos ou- do que na Ucrânia).
tros. Atualmente, como se vai Estamos na era que se segue à do pós-
observando, qualquer inter- -Guerra Fria, aquele período – que ago-
rupção nas cadeias globais de ra percebemos ter sido curto – em que a
distribuição tem consequências imediatas globalização avançou a um ritmo inexorável
em várias latitudes, seja pela falta de maté- e em que o domínio dos EUA foi incon-
rias-primas, seja pela ausência repentina de testado e, mais importante, tolerado por
produtos manufaturados ou pelo congela- quase todos. Hoje, estamos na transição
mento dos fluxos financeiros para os dois para um mundo que será, obrigatoriamen-
lados. A inflação passou a ser também de te, diferente. E em que os acontecimentos
contágio rápido e global, como os piores se precipitam a uma velocidade inesperada,
— Diretor-executivo
vírus, baralhando até as previsões dos eco- com o regresso da China, após os anos de
nomistas e de alguns bancos centrais. isolamento pandémico, ao centro ativo da
Vivemos, assim, num mundo comple- política mundial. E de uma forma para-
tamente interligado, onde, em maior ou doxal: enquanto alguns tentam livrar-se
menor grau, todos dependem de todos. da dependência da “fábrica do mundo”
Uma era em que somos todos afetados pe- comandada por Pequim, outros atiram-se
las mesmas crises. Mas também uma era em para os seus braços, em busca de bons ne-
que não olhamos todos da mesma forma gócios e de crescimento económico.
para o que se está a passar no mundo. E a Esse movimento foi bem descrito por
invasão da Ucrânia pela Rússia é o exemplo Larry Summers, antigo secretário do Te-
perfeito de como um mesmo acontecimen- souro dos EUA, durante uma reunião do
to é visto por prismas diferentes em distin- FMI, ao contar o que lhe disse um dirigen-
tas partes do planeta. te de um país em desenvolvimento sobre
A realidade é mesmo assim: por mais o relacionamento com Pequim ou com
que as votações na Assembleia Geral das Washington: “O que ganhamos com a China
Nações Unidas demonstrem existir uma é um aeroporto. O que recebemos dos EUA
esmagadora maioria de países a condenar o é uma palestra.”
invasor, uma grande parte do mundo acaba Isto não devia ser novidade. Em setem-
por estar mais preocupada com as conse- bro de 2019, antes da pandemia, no seu dis-
quências das sanções económicas impostas curso de abertura da Assembleia Geral das
a Moscovo, que fizeram disparar global- Nações Unidas, António Guterres já tinha
mente os preços dos alimentos e da energia, alertado para a possibilidade de estarmos
do que com as atrocidades cometidas pelos prestes a enfrentar aquilo que ele deno-
soldados às ordens de Vladimir Putin. minou “Grande Fratura”. Explicada desta
Vivemos num Essa perceção de que é preciso acabar forma: “O mundo a dividir-se em dois, com
com a guerra o mais depressa possível, as duas maiores economias da Terra a criar
mundo em seja qual for o preço para os ucranianos dois mundos separados e concorrentes,
que somos martirizados, ganha cada vez mais cada um com a sua moeda dominante, re-
todos afetados adeptos no chamado Sul Global, tanto
entre os países pobres como nos ricos,
gras comerciais e financeiras, a sua internet,
e capacidades de Inteligência Artificial, e as
pelas mesmas que veem agora uma oportunidade de suas estratégias geopolíticas e militares.”
crises. Mas ganhar protagonismo e relevância no Este não é o mundo mais justo e livre que
xadrez geopolítico. Para as populações queríamos. Mas é, sem dúvida, o mundo que
em que não desses países, os relatos das batalhas em estamos a ver agora a formar-se, de modo
olhamos Kherson ou dos crimes de guerra em Bucha acelerado. E que a Europa, pelo seu passado
todos da acabam por ser um problema longínquo
sem relação direta com as suas vidas – à
e exemplo, precisa de saber enfrentar – sem
certezas de ser dona da verdade absoluta,
mesma forma semelhança, aliás, da sensação que se tem com a humildade de reconhecer que não
para o que se na Europa face às populações martirizadas, fala em nome do mundo todo, mas certa
por exemplo, numa guerra como a dos seus valores assentes na liberdade, na
está a passar da Etiópia, em que, segundo cálculos democracia e no respeito universal pelos
no mundo independentes, terão morrido mais de 600 Direitos Humanos. rguedes@visao.pt
nou a nossa filosofia moral, a nossa livrado dessas correntes de pensa- possuírem as mesmas capacidades
visão da Natureza, as nossas ideias mento que contribuíram, tão for- e as mesmas competências, as mu-
sobre o corpo, o sexo e o género. temente, para excluir as mulheres lheres ainda não conquistaram os
7PONTOS
DA SEMANA
Lula, paz e horror
Começo no ponto em que acabei o editorial da
semana passada: quando, daqui a uns anos, se
fizer a história destes tempos, haverá com certe-
za quem se questione sobre como se cometeram
tantos erros e tão básicos. É que são muitos, são
crassos, são sucessivos e são dolorosos de se ver.
Um destes erros políticos é o confrangedor con-
vite a Lula da Silva para participar nas cerimó-
nias do 25 de Abril. Um erro com pai e mãe – a
Presidência da República e o Governo. Vamos
por partes. Na tomada de posse do Presidente
brasileiro, a 1 de janeiro, disse Marcelo Rebelo de
Sousa: “Foi marcado já o que vai ser o encontro,
em Portugal, de 22 a 25 de abril, com a cimeira
entre o Presidente Lula e o primeiro-ministro
Bolsonaro qualquer um parece um estadista,
Lula tem um histórico complexo e é uma figura
altamente divisiva, tanto no Brasil (como se viu
com o resultado das eleições) como fora dele.
Trazê-lo nesta data é importar para o nosso
país essas divisões – tudo o que menos se quer.
Afinal, alguém convidaria Bolsonaro para estar
presente? O convite esdrúxulo é feito ao homem
e não ao titular do cargo, como é bom de se ver.
Convite feito, lá se conseguiu uma solução di-
plomática para disfarçar o embaraço institucio-
nal, e os líderes parlamentares acordaram que
Lula discursaria numa sessão de boas-vindas
não integrada nas comemorações oficiais. Se
assim já estaríamos mal, então conseguiu-se ir
português e a visita de Estado, a meu convite, de mal a pior. Graças ao próprio, que proferiu
que culmina na participação na cerimónia do nesta semana declarações inaceitáveis, a todos
25 de Abril.” Uma ideia peregrina que surgiu no os níveis, a propósito da guerra na Ucrânia. É a
meio do entusiasmo incontido com o desfecho realpolitik, dirão alguns. Afinal, está a zelar pelos
das eleições brasileiras e a derrota de Jair Bol- seus interesses, a puxar pelo espaço económico
sonaro, que pouco antes tinha feito a desfeita dos BRICS e a procurar fazer negócios com a
de deixar pendurado o Presidente da República China e a Rússia. Mas é muito mais do que isso.
português. Fast-forward a 23 de fevereiro, e o Da forma como apelou à paz na China, masca-
ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes rado de pomba branca, está a 1) desvalorizar as
Cravinho, anuncia, em Brasília, que Lula vai dis- tentativas de pacificação feitas pela Europa e
M A FA L D A A N J O S *
cursar no Parlamento, na sessão comemorativa pelos seus líderes; 2) defender uma neutralidade
do 25 de Abril, numa claríssima ingerência na que equipara agredido e agressor; 3) ingerir-se
esfera institucional da Assembleia. Ato contínuo, num conflito, colaborando com um criminoso
começam a chover críticas, e Augusto Santos de guerra; 4) replicar o argumentário colabo-
Silva recorda que é o Presidente da Assembleia racionista com o Kremlin; 5) pôr-se ao lado de
que define a agenda. ditadores como Putin e Xi Jinping. Cereja no
A vinda de Lula nesta data já era, só por si, uma topo do bolo: recebe depois Sergei Lavrov em
ideia disparatada, por várias ordens de razões. Brasília, para o convidar a visitar oficialmente
Desde sempre que o 25 de Abril é uma data Vladimir Putin em Moscovo.
propícia a entrincheiramentos, tal como o 25 Não sabemos o que dirá Lula da Silva quando
de Novembro. Há quem queira ser seu dono e discursar na Assembleia da República de um país
há quem se lhe oponha; há divisões, querelas e da União Europeia, que ele vê como belicista e
permanentes contestações. O 25 de Abril, como a parte ativa no conflito. O mal está feito. As suas
data que pôs fim a uma ditadura de 41 anos, não opiniões são livres, e não podemos misturar
pode ter donos nem detratores... tem de ser de o país irmão, com uma História comum com
todos. Tal como se tem de valorizar o 25 de No- Portugal, com o seu representante político.
vembro como data essencial para a solidificação O Chega tem a vida facilitada e prepara-se para
da democracia portuguesa. É fundamental não um show de contestação de taberna. Aos outros,
acentuar guerras intestinas e divisões infundadas em nome da decência, caberá engolir uma pom-
entre esquerda e direita em torno destas datas, ba viva com explosivos no bico para manter a
sobretudo em vésperas do cinquentenário da compostura que lhes é devida. Noblesse oblige.
Revolução. E é de puro bom senso perceber que Espero, ao menos, que os discursos marquem
*Diretora um convite a Lula da Silva para participar nesta civilizadamente a posição nacional. E espero,
manjos@visao.pt ocasião é atirar combustível para esta fogueira, sobretudo, que o embaraço deste 25 de Abril
agravando o entrincheiramento. Se ao pé de para esquecer sirva de lição.
GOVERNO ECONOMIA
mas
infelizmente
tem dessas
coisas” ABUSOS SEXUAIS
A frase é de uma
investigadora brasileira,
que trabalhou no Centro
A inação
PSD de Estudos Sociais com da Igreja
Boaventura de Sousa
Depois da desastrosa reação
Finalmente, Santos como orientador
de doutoramento e a – ou da falta dela – ao relatório
habemus linha vermelha quem acusa de assédio explosivo apresentado pela
sexual. A sucessão Comissão Independente
Depois de meses de impasse, Luís Montenegro desfez de denúncias levou à para o Estudo dos Abusos
finalmente o tabu acerca da posição do PSD em saída do professor da Sexuais de Crianças na Igreja,
relação ao Chega. Numa entrevista à CNN Portugal, sem instituição, enquanto a instituição vem anunciar
pronunciar o nome do partido nem do seu líder, assumiu: decorre a investigação, a criação de um novo
“Quero garantir uma coisa aos portugueses: não vamos mas a tirada resume na grupo de acompanhamento
ter no governo nem políticas nem políticos racistas nem perfeição o que se passa das vítimas, que entrará
xenófobos, nem oportunistas nem populistas, ou sequer na Academia portuguesa, em funções nas próximas
apoio político.” Ficou claro que não conta com André tanto na medida do semanas e que terá uma linha
Ventura para formar uma coligação nem para acordos “brilhantismo” como na de apoio. Terá muito trabalho,
do tipo Geringonça, algo que Marcelo Rebelo de Sousa desvalorização deste sobretudo a responder ao
tipo de comportamentos
tem deixado claro que não quer ver acontecer. Sublinhou trauma destas vítimas que
inaceitáveis.
ainda que é, apesar das reticências do Presidente, foram confrontadas, após as
a alternativa de que o País precisa. Se os portugueses revelações, com a conivência
partilham da mesma opinião, tendo em conta as e o silenciamento da
sondagens que não descolam, é outra conversa... Conferência Episcopal.
Jack Teixeira
Incapaz de guardar segredos
Acesso livre Boca
Entre o material Tem apenas 21 anos, no trombone
divulgado, estão Com raízes
informações é profundamente em Portugal
sobre armamento religioso e fascinado (o avô nasceu
norte-americano, em São Miguel,
o que está à por armas nos Açores) e
Megafuga
disposição das e videojogos. Grupo
profundamente
forças dos EUA católico, Jack é
Não se lhe e o que tem sido O militar com raízes no Discord descrito ao The
reconhecem enviado para a em Portugal tinha Os desta unidade New York Times
motivações Ucrânia. Constam garantem que como alguém que
políticas nem documentos acesso a informação a infraestrutura “gostava de ser
parece que que revelam classificada dos subjacente da respeitado” no
estejamos perante pormenores e rede global de seio do grupo,
um caso típico as dúvidas de EUA e não hesitou comunicações segundo um dos
de delação, Washington sobre em partilhá-la da Força Aérea companheiros de
como foram os a prometida está a operar chat. Seria, aliás,
protagonizados contraofensiva com amigos. adequadamente. contra a guerra e
por Julian ucraniana. Surgem Só que o mundo Para aí entrar, procurava mostrar
Assange, Chelsea também dados bastam um aos outros a
Manning ou que denunciam estava à escuta diploma de informação que
Edward Snowden. os esforços de ensino médio, tinha sobre os
— POR MANUEL BARROS MOURA
A verdade, porém, espionagem conhecimento acontecimentos.
é que Jack por parte dos de eletrónica, O problema é
Teixeira, de 21 EUA a diversos experiência na que, a 2 de março,
anos, foi detido na líderes mundiais, instalação de um dos membros
quinta-feira, 13 de inclusive a vários infraestrutura de do grupo pôs –
abril, pela polícia dos aliados e ao rede e menos como se costuma
federal norte- próprio secretário- de dois meses dizer em bom
americana (FBI), geral das Nações de treino militar português, língua
por alegadamente Unidas, António básico. Os que, apesar das
ser o responsável Guterres. Tudo candidatos são origens, Jack já
pela maior fuga informações a sujeitos a uma não dominará – a
de informações que Jack Teixeira investigação dos boca no trombone
militares terá tido acesso, antecedentes e e partilhou toda
classificadas dos enquanto membro são obrigados a a informação em
EUA, na última da Guarda assinar rigorosos grupos públicos
década. Um Nacional Aérea do compromissos de do mesmo
caso, em volume Massachusetts, confidencialidade, Discord. Todo
de informação, em que uma vez que lidam o mundo ficou,
comparável ao desempenhava com informação então, a saber o
escândalo de funções de secreta. que supostamente
espionagem global especialista Informações que era top secret, e
revelado pela em sistemas Jack resolveu Teixeira arrisca-
NSA, em 2013, de transporte partilhar no grupo se a penas de
e que obrigou cibernético na 102 privado Thug dez anos por
a administração Intelligence Wing. Shaker Central, na cada documento
Obama, com plataforma Discord, divulgado. Ou
Biden na vice- na qual ele e uma seja: dada a
presidência, e vintena de amigos quantidade de
o Pentágono a se divertiam com informação, Jack
darem explicações videojogos de pode passar o
a líderes e a guerra e trocavam resto da vida
altos-responsáveis informações sobre atrás das grades.
de vários países armas, além de
aliados. piadas racistas e
antissemitas.
A LINGUAGEM DA PELE
Em farmácias, parafarmácias e em Lierac.com
R ---------- R A I O -X
Bebés, precisa-se!
O número de nascimentos não para de cair desde 1970. Dois terços
do mundo registam taxas de fertilidade inferiores a 2,1 filhos por mulher
— POR MANUEL BARROS MOURA
O declínio da fertilidade
A taxa de fertilidade mede o número médio de nascimentos por mulher, um indicador
que tem diminuído de forma constante, principalmente desde a década de 1970.
1970 O aumento dos níveis de educação e de participação da mulher no mercado
4,9 de trabalho, a crescente urbanização e, sobretudo, o maior acesso a métodos
1960
4,7
contracetivos têm vindo a contribuir para a redução do número de nascimentos
FONTE Banco Mundial, INSA – Programa Nacional de Rastreio Neonatal (PNRN), Visual Capitalist MT/VISÃO
Tecnologia
para liderar
o futuro
De Portugal para o Mundo, continuam a nascer ideias à frente do tempo, tecnológicas.
A Altice Portugal vai continuar na frente da transformação digital no nosso país,
liderando em Investigação & Desenvolvimento nas áreas do 6G, Comunicações
Quânticas, Wi-Fi Sensing, e-Health & Home Care e Home IoT. Juntos, vamos viver
os avanços tecnológicos de amanhã.
Sem limites, lideramos o futuro.
E
Marques ste Governo foi formado olhando funcionamento das instituições, mas importa
Lopes demasiado para os equilíbrios internos lembrar o que todas têm dito sobre a vontade
do Partido Socialista e para a sucessão popular de novas eleições.
de António Costa. Tem, desde o início, Em terceiro, a legitimidade democrática des-
ministros flagrantemente imprepa- te Governo é imbatível. O próprio Presidente da
rados para o exercício de funções políticas, e República disse que o executivo estava desgasta-
que são até desprezados pelos parceiros sociais, do e cansado após sete anos de governação, mas
e atua de forma negligente e incompetente em o facto é que lhe foi dada uma maioria absoluta
demasiados aspetos da governação. Some-se a há 14 meses, e numas eleições em que os pro-
isto uma completa descoordenação política e pósitos de António Costa foram ditos de uma
comunicacional, bem como a espécie de autoco- forma clara.
roação de António Costa como “rei Sol”, a quem Marcelo Rebelo de Sousa podia olhar para
se deve perdoar todo o desconhecimento dos o País e pensar que há um irregular funciona-
— Analista político
vários dossiers. mento das instituições. Achar que o que agora
Conheço bem a origem dos chamados “casos sabemos da TAP mostra um atentado às tarefas
e casinhos”. A sua esmagadora maioria só ganha constitucionais do Governo, que as manifesta-
dimensão porque é preciso alimentar quatro ções dos professores ou os problemas na Saúde
canais de informação, que transmitem por 24 são um sinal de desagregação da comunida-
horas, e um Ministério Público, que parece ter de, que as greves na Justiça e noutros setores
muito tempo para assuntos de lana-caprina e mostram uma tensão social insuportável, que a
pouco para os importantes. No entanto, estes incompetência do Governo punha em causa o
casos têm contribuído para desgastar ainda mais Estado de Direito. Poder podia, e até com base
o Governo e, sobretudo, para enfatizar, justa ou nisto podia dissolver o Parlamento, mas não só
injustamente, as suas graves insuficiências. Che- cometeria uma falha gravíssima de análise da
gava, porém, tudo o que se tem passado na TAP realidade como faria uma leitura perigosíssima
– e nenhum outro caso se compara a este – para dos seus poderes. Quando um Presidente da Re-
que este ou outro Governo qualquer abanasse. pública achasse que podia dissolver um governo
Acreditando que foram estas as razões, foi as- de maioria absoluta de um partido nas circuns-
sim que se instalou o debate sobre a possibilida- tâncias em que vivemos, o sistema constitucio-
de de o Presidente da República poder dissolver nal português estaria virado do avesso.
o Parlamento. Todas as trapalhadas governa- Sim, a interpretação do Presidente é livre,
mentais mostrariam que estávamos perante um mas um conceito vago e indeterminado como o
caso de não regular funcionamento das insti- “regular funcionamento das instituições” serve
tuições, e isso quase obrigaria Marcelo Rebelo para situações-limite. Utilizá-lo com base em
de Sousa a atuar. Antes de se analisar o que é o perceções (sempre muito subjetivas) abriria
irregular funcionamento das instituições ou o um precedente que faria com que o Governo
Marcelo não que deve o Presidente invocar para dissolver o deixasse de prestar contas, em primeiro lugar, à
dissolverá Parlamento, convém verificar se o que algu- Assembleia da República.
mas pessoas no espaço público têm reclamado Marcelo Rebelo de Sousa não dissolverá o
o Parlamento encaixa na realidade, ou seja: se há uma espécie Parlamento nem hoje nem depois das eleições
nem hoje de sobressalto cívico para que partamos para europeias – mesmo que o PS tenha uma enorme
nem depois eleições antecipadas.
Em primeiro lugar, os atuais representantes
derrota – e nem em circunstância nenhuma que
se baseie em perceções ou climas mediáticos.
das eleições de mais de dois terços da população rejeitam a Claro que pode haver um tumulto qualquer:
europeias dissolução. Pois... nem (obviamente) o PS nem o usurpação de poderes, primeiro-ministro con-
PSD a desejam. Aliás, o PSD percebe o que lhe denado por um crime, golpe de Estado, greves
e nem em pode acontecer quando chegar a sua vez. gerais que parassem o País por tempo indefini-
circunstância Em segundo, não há qualquer movimento do. Aliás, o Presidente já avisou a circunstância
nenhuma popular ou institucional que a reclame. As preo-
cupações populares são a inflação, a habitação,
em que convocaria eleições antecipadas: se Costa
se demitisse.
que se baseie os salários, e o pedido é que quem está no poder O resto é conversa para animar a malta e
em perceções resolva os problemas e não que venha alguém preencher tempo de antena. Infelizmente, cria
diferente resolvê-los. Quando as sondagens uma sensação de falha sistémica da democracia,
ou climas servirem para fazer cair governos ou impor que agrada e ajuda quem nós muito bem sabe-
mediáticos medidas, teremos um problema muito sério no mos. visao@visao.pt
Tango à direita
Montenegro, pela segunda vez, afastou Chega de solução à direita (sem
dizer o partido a que se referia). À terceira vez, dará o nome aos ditos?
Lula no 25 de Abril
Estragaram
a tua festa, pá?
— PO R FI LI PE LU ÍS
“F
oi já marca- testos, ouvidos, sobretudo, à
do o encontro, direita, Augusto Santos Silva,
em Portugal, o presidente socialista da AR,
de 22 a 25 de puxou dos galões e anunciou
abril, com a cimeira entre o que competiria ao Parlamen-
Presidente Lula e o primeiro- to definir em que termos
-ministro português e a visita participaria Lula da Silva na
de Estado, a meu convite, cerimónia. Assim, na solução
que culmina na participação de meio termo, Lula falará a
na cerimónia do 25 de Abril.” 25 de Abril, como o previs-
Com estas palavras, profe- to, mas no período imedia-
ridas em dezembro do ano tamente antes do início da
passado, por altura da toma- cerimónia. No fundo, como
da de posse de Lula da Silva, em certos concertos pop, o
como Presidente do Brasil, Presidente brasileiro fará “a
Marcelo Rebelo de Sousa primeira parte”.
não estava só a transformar Desejoso de capitalizar
uma cimeira executiva numa junto de um contingen-
visita de Estado. Embora não te substancial da influente
o pudesse adivinhar, estava, comunidade brasileira, em
também, a lançar uma enor- Portugal, que inclui milha-
me confusão político-diplo- res de eleitores bolsonaris- presidente da AR, recusando
mática, que pode ter reper- tas, o Chega anunciou uma atuar condicionado pelo que
cussões, não só nas relações manifestação de protesto, considera a chantagem do
luso-brasileiras mas também que deverá decorrer à mesma Chega, terá determinado que
nas próprias dinâmicas da hora, no exterior da Assem- Lula falará no dia em que foi
política interna nacional. Em bleia, para a qual convocou convidado para falar.
fevereiro deste ano, o minis- a comunidade brasileira em Só que, esta semana, na
tro dos Negócios Estrangei- Portugal. E é imprevisível o visita que efetuou à China,
ros, João Gomes Cravinho, que farão os seus deputados Lula da Silva estendeu para
precisou que a “participação” no interior do hemiciclo, além da motivação ideoló-
de Lula na cerimónia do 25 sendo que a hipótese mais gica as razões para um novo
de Abril consistiria num dis- benigna seria a da ausência… embaraço português: é que,
curso, proferido na tribuna E também a Iniciativa Liberal em declarações polémi-
da Assembleia da República. ameaça ter apenas um depu- cas, o Presidente brasileiro
Esse anúncio, não concer- tado na sua bancada, quando colocou, no mesmo plano,
tado – que se saiba ‒ com Lula intervir, a 25. No fundo, a Rússia e a Ucrânia como
a própria Assembleia, nem a figura divisiva de Lula da tendo querido desencadear
com o seu presidente, foi Silva, bem como as tensões a guerra, e responsabilizou a
tomado como uma gaffe, em acumuladas no interior da União Europeia e os EUA por
que o Governo não respei- numerosa comunidade bra- instigarem o conflito, o que
tava a separação de poderes: sileira, devidamente explo- A visita terá efeitos replica as teses de Vladimir
na verdade, só a convite do radas pelos populistas lusos, na política interna. Putin. As declarações de Lula
próprio Parlamento, não do
Governo (nem do Presiden-
desaconselharia, à partida,
que as comemorações do 25
Luís Montenegro voltaram a incendiar a polé-
mica relativa à sua interven-
te da República…), é que um de Abril corressem o risco já aproveitou o ção no Parlamento, a 25 de
líder estrangeiro pode usar de ficar inquinadas por esta pretexto Lula para abril, dando pretextos mais
da palavra no hemiciclo de polémica polarizadora. Mas, sérios a quem o contesta. Um
São Bento. segundo uma fonte parla- isolar o PSD do pouco desorientado, o PS,
Depois de muitos pro- mentar da área socialista, o Chega e da IL... pelas palavras da deputada
Assuntos menores
Bernardo
A
Pires Iniciativa Faixa e Rota é a grande vam-se a países já em stresse de dívida, en-
de Lima marca global da era Xi Jinping. quanto no final essa quota subiu para 60%.
Estamos a falar de um proje- Isto significa que, além da contestação po-
to de afirmação comercial e pular sobre alguns projetos polémicos, no-
política que liga o mar do Sul da meadamente portos, ferrovias e barragens,
China, o Índico, o Mediterrâneo e o Atlânti- o último par de anos agravou a situação de
co Sul, através de investimentos em grandes muitos países na linha da frente das opções
infraestruturas (logísticas e de transportes) chinesas, como o Paquistão, a Zâmbia, o Sri
na Ásia, em África e na América Latina. O Lanka ou a Argentina. A dependência face
congestionamento marítimo, a disputa pela à China disparou, sem os efeitos económi-
soberania nos mares do Pacífico e do Índi- cos e sociais apregoados. Neste par de anos,
co, o equilíbrio do modelo económico e a Pequim concedeu moratórias sobre a dívida
necessidade de manter níveis acelerados de externa a 77 países, alguns asfixiados finan-
— Analista de política
crescimento, sustentados na importação de ceiramente e condicionados politicamente. A
internacional
hidrocarbonetos, levaram a China a pen- banca chinesa vive também sob uma intensa
sar estrategicamente a sua política externa. pressão creditícia. Dez anos depois, este é
NORTE Paulatinamente, a África e a América Latina um dos maiores legados de Xi, mais uma vez
O acordo entre Londres e tornaram-se palcos de investimento chinês avaliado acriticamente entre nós.
Bruxelas para a Irlanda do e parcerias comerciais, que não implicavam O contexto exige uma dupla abordagem.
Norte acomodou a visita de o respeito por critérios de boa governação Primeiro, alguma coragem para enfrentar o
Biden a Belfast, reforçando e transparência capazes de consolidar um problema crescente do endividamento dos
o Acordo de Sexta-Feira. rumo democrático. As palavras de Dilma países mais pobres, desgastados por outras
Londres pode agora começar
Rousseff, ao tomar recentemente posse crises cíclicas, como a pandemia e a inflação.
a pensar num sobre livre-
como presidente do Banco dos BRICS, cor- Talvez as soluções do passado não se apli-
comércio com os EUA.
roboram a desvalorização desses princípios. quem, no sentido em que perdões parciais
SUL
Para organizar estrategicamente este ou totais sem o cumprimento da boa gover-
O diretor do FMI para percurso, Xi Jinping trabalhou conceitos do nação e transparência tendem a empurrar os
África apelou a um novo passado, traduziu boas relações diplomáticas problemas para debaixo do tapete. O Gana,
Gleaneagles, sugerindo em oportunidades económicas e promoveu a Libéria ou a Serra Leoa que o digam. Se-
recriar a cimeira do então G8, parcerias estratégicas com várias capitais gundo, valia a pena aproveitar este contexto
em 2005, marco nas ajudas globais, entre elas Lisboa. E assim, em 2013, de avaliação da Iniciativa Faixa e Rota para
e sobretudo na redução da anunciou ao mundo o maior programa de acelerarmos as propostas concorrentes feitas
dívida que pesa sobre os diplomacia económica mundial desde o Pla- pelo G7 e pela UE, em 2021, ambas a rondar
países mais pobres. Faz todo no Marshall, abrangendo progressivamente os 900 mil milhões de dólares. Em particular
o sentido. cento e cinquenta países, mais de quatro a europeia – Global Gateway –, merecia ou-
biliões de pessoas, isto é, 65% da população tra atenção comunitária, sobretudo por parte
ESTE mundial. Com um corredor terrestre e outro de Estados-membros com forte ligação a
380 mil mortos e 4 milhões marítimo, a Iniciativa Faixa e Rota procura África e América Latina (como Portugal), no
de deslocados fazem da fazer da Eurásia o verdadeiro centro político sentido de criarem as condições de investi-
guerra civil no Iémen o maior e económico global, desviando do Atlântico mento em conectividades, infraestruturas,
conflito esquecido do mundo. o centro de gravidade das últimas décadas. transição para a economia verde e o cum-
Há dias, começou uma troca Dez anos depois, vale a pena falarmos so- primento de critérios de boa governação e
de prisioneiros após abertura bre isto. Desde logo, porque o Atlântico não direitos humanos, que preencham os vazios
de houthis e governo. Teerão
perdeu relevância, pelo contrário. Que o diga do projeto chinês. Alguns países do Magreb e
e Riade estão na base disso.
o comércio e os fluxos energéticos. Depois, da CPLP poderiam ser prioritários, dando a
OESTE
porque após anos do entusiasmo acrítico, Lisboa novos instrumentos bilaterais e força
Brasil, Nicarágua, Cuba e que embeveceu também Portugal, a Covid política no quadro dessas relações com a
Venezuela fazem parte do alterou o ambiente estratégico, acelerando o UE. Seria, ainda, um bom gancho de relan-
périplo do ministro dos crescimento da dívida numa série de países çamento diplomático sobre países desali-
negócios estrangeiros russo, recetores dos grandes investimentos e em- nhados com as posições ocidentais sobre a
Sergei Lavrov, pela América préstimos chineses. Estamos a falar de um invasão da Ucrânia.
Latina. Dos quatro, só o Brasil bilião de dólares numa década, o que tornou Enfim, tudo assuntos certamente sem
tem a espaços mostrado a China no maior credor bilateral do mundo. qualquer interesse estratégico. Daí o seu
opinião própria. Mesmo que A diferença nesta década é que, no início, 5% total apagão no debate público português.
errada. dos empréstimos externos chineses destina- visao@visao.pt
D.R.
29 DE MARÇO DE 1974
MORTES
Joaquim Pessoa
Foi poeta, artista plástico
e publicitário. É o autor de
poemas como Lisboa, Menina
e Moça e Amélia dos Olhos
Doces, eternizados em
música por Carlos do Carmo
e Carlos Mendes. Foi diretor
da Sociedade Portuguesa de
Autores, entre 1988 e 1994.
Editou o primeiro livro em 1975
e publicou mais de 30 obras.
Morreu na segunda-feira, 17,
com um cancro. Tinha 75 anos.
Ahmad Jamal
Era considerado um dos
mais importantes pianistas
da história do jazz e atuou,
várias vezes, em Portugal, em
festivais como Estoril Jazz,
que encerrou em 1994, e em
concertos em Loulé (2001),
Guimarães (novembro de
2007) e, o seu último entre
nós, alguns dias depois de se
ter apresentado no Centro
Cultural de Belém. Morreu 1930-2023
no domingo, 16, na sua terra
natal, Pittsburgh, nos EUA,
com 92 anos. Mary Quant
Craig Breen Talento no tempo e lugar certos
O piloto irlandês da Hyundai
morreu, na quinta-feira, 13,
num acidente de viação Uma das mais prestigiadas jornalistas, Filha de um casal de professores oriundos
durante um treino, na Polónia, editoras e críticas das décadas de 50, 60 do País de Gales, Mary nasceu em Londres,
quando se preparava para o e 70, Ernestine Marie Carter classifi- em 1930. Desde muito miúda que mos-
Rali da Croácia. Breen, de 33 cou Mary Quant como uma das poucas trou jeito para fazer a sua própria roupa,
anos, estava, nesta época, personalidades do mundo da moda que mas os pais convenceram-na de que, em
a competir no Campeonato tiveram “a sorte de nascer na altura certa, vez de moda, ela devia estudar ilustração.
Portugal de Ralis, tendo-se no lugar certo e com o talento certo”. As Assim fez, mas mal terminou o curso, em
estreado com uma vitória no outras eram, na sua opinião, Coco Chanel 1953, foi trabalhar como aprendiz de Erik
Rali Serras de Fafe, Felgueiras, e Christian Dior… A opinião de quem foi Braagaard, um chapeleiro de alta-costura
Boticas, Vieira do Minho e colunista do The Observer, colaborado- com lojas em Londres, Paris e Nova Ior-
Cabeceiras de Basto, em ra da Harper’s Bazaar e editora do The que. Em 1955, juntamente com aquele que
março. Ocupava atualmente Sunday Times resume a importância e a viria a ser o seu marido, Alexander Plunket
o quarto lugar da prova e relevância que a criadora britânica, fale- Greene (com quem teve um filho, Orlan-
preparava-se, em paralelo, cida na quinta-feira, 13, em Surrey, In- do, e com quem viveu até à sua morte, em
para o Campeonato Mundial
glaterra, com 93 anos, teve no mundo da 1990), Mary abriu uma boutique, a Bazaar,
de Rali (WRC, na sigla em
moda e que vai muito além das invenções na concorrida King’s Road. Nos primei-
inglês) como terceiro piloto
da minissaia e das hotpants (calções cur- ros tempos, vendia roupa desenhada por
da Hyundai.
tos) que muitos lhe atribuem. Quant teve outros. Como o negócio não ia bem, Quant
o talento e a sabedoria de, na altura em avançou com as suas próprias criações.
Mark Sheehan que a capital do Reino Unido despertava Primeiro, sozinha em frente à máquina
O guitarrista da banda de dos longos e sombrios anos da Segunda de costura. Poucos anos depois, já com a
rock irlandesa The Script, que Guerra Mundial, contribuir com criações ajuda de um batalhão de 180 costureiras.
tinha presença marcada para de moda irreverentes, coloridas e versá- Começava, nessa época, uma história de
o MEO Marés Vivas deste ano, teis que fascinaram a nova geração que sucesso que marcou o mundo da moda
morreu na sexta-feira, 14, aos operou os chamados Swinging Sixties, a na segunda metade do século XX e fez de
46 anos. revolução cultural que teve Londres como Mary Quant uma figura absolutamente
epicentro. incontornável e inesquecível. — M.B.M.
N
asci em Viseu, a
minha mãe era edu-
cadora de infância, e
o meu pai advogado.
Tenho uma irmã dois anos
mais velha.
Desde cedo, a minha mãe
percebeu que eu não ouvia.
Contudo, cada vez que me
levava aos médicos pediatras,
e mesmo nos hospitais – quer
privados quer públicos –,
diziam-lhe que eu tinha o ou-
vido perfeito, que eram coisas
LUCÍLIA MONTEIRO
Mundo de contrastes
Nem sempre a beleza das imagens revela
toda a verdade que está por trás delas. Se há
momentos em que as ações da Humanidade são
genuinamente belas, outros há que, resultando
em destruição e catástrofe, nos transportam para
paisagens, também elas, avassaladoras
GETTYIMAGES
YANCHENG CHINA
Assim, à primeira vista,
até podemos ficar com a
impressão de que esta é uma
imagem que só pode ser dos
campos de túlipas dos Países
Baixos. Só que não. A foto
mostra centenas de pessoas
a passear, no sábado, 15, pelo
Dafeng Holland Flower Park,
o maior e mais importante
parque temático na China
dedicado às flores, que está
situado em Yancheng, na
província de Jiangsu, no Leste
do país, e atrai anualmente
milhões de visitantes.
SVIATOHIRSK UCRÂNIA
Até ao início da guerra, este
era o maior mosteiro da
Igreja Ortodoxa, situado nas
Montanhas Sagradas, perto
da vila de Bohorodychne,
na região de Donetsk,
Ucrânia. O Lavra da Sagrada
Dormição, que se acredita
tenha começado a ser
construído no século XV, não
foi poupado pela invasão
das forças russas e um
bombardeamento, ocorrido a
30 de maio do ano passado,
deixou-o neste estado que a
fotografia, tirada no sábado,
15, documenta.
IVA ZERO
Depois de criticar a medida duran-
te semanas – argumentando que
ela não funcionou em Espanha –,
o Governo chegou a acordo com
os produtores e distribuidores para
reduzir para 0% o IVA aplicado a 46
alimentos, que constituem um cabaz
de bens essenciais. Entre a ajuda
à produção e a perda de receita, a
medida deverá custar 600 milhões
de euros. Há muitas dúvidas sobre a
sua eficácia. Foi criada uma Co-
missão de Acompanhamento para
fiscalizar a medida, que entrou em
vigor na terça-feira.
DISTRIBUIDORES
Do lado da distribuição, há o com-
promisso de fazer refletir essa desci-
da no preço final – em vez de deixar
as margens absorvê-la –, torná-la
transparente para os consumidores
e reforçar as campanhas comerciais
desses produtos por seis meses.
PRODUTORES
Os produtores irão receber 140
milhões de euros que, teoricamente,
lhes dará um balão de oxigénio para
aliviar “direta ou indiretamente” o
preço de alguns bens.
APOIOS ÀS FAMÍLIAS
Embora a medida tenha recebido
muita atenção, é uma exceção na
atuação do Governo, que tem prefe-
ticiário mainstream com uma notícia sar uma quebra de procura com um rido dar apoios às famílias em vez de
que, citando uma fonte anónima, dava aumento de margens para manterem introduzir um alívio fiscal. Além do
conta de que o BCE tinha começado as receitas”. O antigo vice-presidente IVA Zero, nos últimos dois meses o
a discutir como o engordar das mar- do BCE considera que o fator mais Governo apresentou um novo apoio
gens de lucro das empresas tinha feito importante para a subida da inflação extraordinário para as famílias mais
acelerar os preços. Num encontro em na Europa foi o “aumento dos preços pobres, um reforço salarial para os
Inari, uma pequena aldeia finlandesa internacionais de energia e produtos funcionários públicos, um aumento
com menos de mil habitantes, os res- alimentares”, mas alerta para outras intercalar das pensões e um ambi-
ponsáveis do BCE discutiram uma rea- dinâmicas. “Em termos dos subse- cioso pacote de habitação, que in-
lidade incómoda: “As empresas estão a quentes fatores internos de susten- clui ajudas ao pagamento de rendas
lucrar com inflação elevada, enquanto tação do processo inflacionista, o au- e do crédito à habitação.
os trabalhadores estão a pagar a conta”, mento das margens de lucro aplicadas
relatou a Reuters.
Estava aberta a caixa de Pandora.
aos custos pelas empresas tem sido o
principal fator, visivelmente acima do O IVA Zero não
Notícias, entrevistas, editoriais e es-
tudos começaram a focar-se no tema.
contributo do incremento dos custos
salariais por unidade produzida”, nota
será a solução para
Hoje, é difícil negar o impacto dessa por email, apontando como possíveis todos os problemas,
dimensão e é fácil constatar que são as
famílias que, de forma desequilibrada,
responsáveis pela pressão de preços
nos alimentos o comércio por grosso mas vai beneficiar
estão a pagar a fatura desta crise.
Vítor Constâncio fala à VISÃO de
e a indústria transformadora.
O próprio BCE começou a assumir
muitas famílias
um ambiente que permite, em seto- essa realidade. Um texto de economis- GONÇALO LOBO XAVIER
res de baixa concorrência, “compen- tas do banco central, publicado no final Diretor-geral da APED
€881
MILHÕES
GALP
A petrolífera quase duplicou o
resultado líquido em 2022, para
€881 milhões. A margem de lucro
teve uma subida ligeira de 2,84%,
em 2021, para 3,28% no ano
passado, mas está em linha com
os valores observados antes da
pandemia.
€679
MILHÕES
EDP
de março, notava que, no contexto
inflacionário em que vivemos, seria
A elétrica aumentou o resultado de esperar uma quebra de lucros. Mas
em 3% no ano passado, mas viu
a sua margem de lucro baixar
isso não se verificou. “Aparentemente, [Internamente]
de 4,4% para 3,3%. Já a EDP
Renováveis obteve um resultado
muitas empresas foram capazes de ex-
pandir as suas margens de lucro sem o aumento das
de €671 milhões, mais 2% do que
enfrentar perdas de quota de mercado
significativas”, pode ler-se na publica-
margens de lucro
em 2021.
ção. Os economistas mostravam que tem sido o principal
os lucros por unidade produzida es-
fator [de sustentação
€590
tavam a superar, em muito, os custos
laborais no último ano (destaque para
agricultura, energia, indústria e cons-
da inflação],
trução). Aliás, o último ano inverteu visivelmente acima
MILHÕES uma tendência histórica, com os lucros
a contribuírem mais para a aceleração dos custos
JERÓNIMO MARTINS da inflação do que os salários.
A ideia de que as decisões das em-
salariais
O lucro da dona do Pingo Doce
aumentou 27%, para €590 milhões. presas estão a ter um papel decisivo
VÍTOR CONSTÂNCIO
A margem do resultado líquido no avanço da inflação tornou-se quase
Ex-vice-presidente do BCE
teve um aumento ligeiro de 2,2% consensual. “Ainda bem que está na
para 2,3%. agenda. É uma discussão importante”,
sublinha Gregory Claeys, investigador
do think tank Bruegel, à VISÃO. “Co-
€393
meçamos a ter dados convergentes
que sugerem que as margens de lucro
tiveram um papel importante, apesar
MILHÕES
de os bancos centrais estarem mais
preocupados com subidas salariais,
receando uma repetição dos anos 70.
NAVIGATOR Agora, quando olhamos para trás, per-
A produtora de papel mais do que cebemos que os trabalhadores não ti-
duplicou o resultado líquido no ano veram um papel assim tão importante.”
passado. A margem de lucro da Os dados são esclarecedores. As
empresa aumentou de 10,7% para cotadas que fazem parte do índice
15,9%. europeu Stoxx 600 aumentaram os
tácitos entre elas (quem não o faça parecer contraintuitivo, mas este era
é penalizado pelos investidores, que o ambiente perfeito para maximizar
querem mais dividendos, logo, mais Sou cético as margens. Quando os telejornais
lucros); obstáculos à oferta podem estão cheios de notícias sobre energia
criar monopólios temporários que em relação e matérias-primas mais caras, guerra
permitem reforçar margens de lucro;
e um ambiente de emergência legitima ao argumento e saída da pandemia, é mais fácil às
empresas subirem preços e é mais
subidas de preços.
Além disso, algumas empresas não
de que as difícil ao consumidor identificar o
motivo da subida.
se importam de sacrificar volume de empresas se O próprio BCE diz que é isso que
vendas se conseguirem engordar as
margens. As questões são: Como é transformaram: está a acontecer. No artigo citado
anteriormente, os economistas do
que conseguem safar-se com isso?
Como é que os consumidores tole-
de instituições banco central explicam que além de
a procura estar a superar a oferta
ram essa tática (ainda mais, estando de caridade em devido à especificidade do momen-
a perder poder de compra)? E como
é que os concorrentes não competem maximizadoras to pós-pandémico, os preços altos
de inputs como a energia “tornaram
nos preços?
A primeira pergunta é a mais fácil.
de lucros mais fácil às empresas aumentarem
as margens de lucro, porque fica mais
Certos bens, como os alimentos, são MIGUEL FARIA E CASTRO difícil perceber se preços mais altos
difíceis de substituir. Por mais que Economista da Reserva são provocados por custos mais altos
os preços do leite, dos ovos e do pão Federal de St. Louis ou margens mais elevadas”.
subam, dificilmente deixa de os com- Uma expressão vai sendo cada vez
prar. Por outro lado, a conjuntura foi mais repetida para resumir o que se
favorável ao consumo. Em Portugal, está a passar: “ganânciaflação”. “Numa
por exemplo, a pandemia atirou a taxa altura em que a coesão social já está
de poupança para um máximo históri- fragilizada, acho que a imagem das
co (14,1%). Ela tem-se delapidado nos empresas a gerarem margens de lu-
últimos trimestres – está hoje em 6,1% cro supernormais numa crise só pode
–, ao mesmo tempo que o Governo foi inflamar tensões”, escrevia Albert
aplacando algumas das perdas de po- Edwards, do Société Générale.
der de compra com medidas extraordi-
nárias de apoio. Os preços subiam sem O MARTELO E A MOSCA
que o consumo se ressentisse. Os governos e os bancos centrais têm
Em entrevista à VISÃO (nestas pá- procurado utilizar as ferramentas que
ginas), Samuel Rines explica que pode a teoria económica diz serem as mais
A
e deputado socialista por três legis-
os 22 anos, Boaventura Matos (que lembra como “mestres”)
laturas, quando tentou encaminhar
Sousa Santos ainda ainda o seguravam na cidade. Mas
uma subalterna para a sua casa, sem
não conhecia o mundo seria numa Alemanha partida em
sucesso.
para lá dos livros. blocos que viria a despertar para
Nascido e criado em Coimbra, filho a política, posicionando-se no
O #METOO DO MINHO
de uma família humilde, o então campo do marxismo ocidental, ou
recém-licenciado em Direito, pela socialismo democrático, opondo- Em 1997, quando Regina Leite co-
Universidade de Coimbra (UC), se, simultaneamente, ao capitalismo meçou a estudar o assédio sexual na
com média de 17 valores – a melhor norte-americano e à ditadura Academia, a ideia da atual docente
em 1963 –, aproveitou uma bolsa soviética. Leitor ávido de Marx, na Escola de Economia e Gestão da
académica para rumar a Berlim Trotsky, Ivan Illich e Ernst Bloch – Universidade do Minho (UM) e inves-
Ocidental (cidade dividida pelo autor de O Princípio Esperança, tigadora do Centro Interdisciplinar
Muro), resolvido a prosseguir os que descreve como “uma bíblia” –, o de Ciências Sociais (CICS.NOVA) da
estudos em Filosofia. “Lembro que eu académico desenvolveu e consolidou instituição gerou desconfiança e per-
nunca tinha saído de Portugal, tinha o seu conceito de “justiça social”, plexidade. “Não é um tema sério”, ou-
apenas feito uma visita de estudo, após doutorar-se em Sociologia do viu. Quando muito, seria “assunto da
no final do Ensino Secundário, ao Direito, na conceituada Universidade periferia, arredado do mainstream da
Algarve (...). Foi o primeiro grande de Yale, nos Estados Unidos da investigação”. Talvez até “veleidade ou
trauma da minha mãe, o seu filho América, em 1973, ano em que ajudou bizantinice” da então jovem colega e
único, muito mimado (...)”, recorda, a fundar a Faculdade de Economia investigadora, “uma americanice” sem
numa entrevista à Revista Crítica de da UC, onde criaria o curso de aplicação à nossa realidade. Temeu-se,
Ciências Sociais, em 2018, por altura Sociologia. Com trabalho de campo porém, que procurasse “esqueletos no
dos 40 anos do Centro de Estudos em vários países do mundo (com
armário” ou que desencadeasse uma
Sociais (CES), conduzida pelo presença ilustre no Brasil), tornar-
“caça às bruxas”. Geraram-se boatos,
“aprendiz” Bruno Sena Martins. Para se-ia autor reconhecido e premiado,
trás deixava o convite para lecionar com textos traduzidos numa dezena
conversas de corredor, discussões em
na faculdade, onde observara, com de línguas. Antes das acusações de surdina. “Artigos internacionais eram
notório desagrado, como os agora assédio de que é alvo, Boaventura deixados, em segredo, no meu cacifo”,
colegas “ganhavam muito (...) nos Sousa Santos só havia levantado o lembrou, numa conferência recente
célebres pareceres”, elaborados para véu da intimidade através da poesia, sobre o tema.
“pessoas importantes, que podiam paixão que sempre alimentou. Do Quase três décadas depois, o que
pagar bons advogados”. “Às vezes, último verso de Nature Boy [“The mudou? “A universidade, enquanto
até ficava escandalizado como era greatest thing you’ll ever learn/ Is espaço público, continua a ser um
possível ganhar tanto dinheiro em tão just to love and be loved in return”], lugar de violência e de opressão para
pouco tempo”, confessa na mesma imortalizado pela voz de Nat King a voz e o corpo feminino”, assume.
conversa. Ligado ao Movimento Cole, diria ser “o poema de amor mais Ignorado durante anos, “porque se
Católico de Estudantes – desgostoso bem-feito” que alguma vez ouvira, e supunha que não existisse nas uni-
com o salazarismo –, apenas os inspirador. Hoje, porém, aos olhos do versidades”, o problema não desapa-
diálogos com professores como público, parece mais longe de lograr receu por milagre. “A caixa de Pandora
Miguel Baptista Pereira ou Vítor esse propósito. tardou em ser aberta, mas ainda é um
tema à margem das preocupações da
‘torre de marfim’, profundamente
machista”, refere.
Em 2021, Celeste Amorim, então
estudante do Instituto de Ciências
Sociais da UM, verteu para a disser-
tação de mestrado o resultado de um
inquérito a 35 estudantes finalistas
de cursos de 1º e 2º ciclos, a maioria
do sexo feminino, com média de 23
anos. Foram relatadas situações sis-
temáticas de assédio, dentro e fora do
campus. Porém, o lado mais sombrio
da Academia estava por destapar:
GONÇALO ROSA DA SILVA
LUSA
dos currículos dos candidatos, a orde-
nação final manteve-se. Pormenor ou
a palavra de dezenas de profissionais ra, discorda. Logo no dia 7, Ferreira talvez não: os certificados adicionais
do Ensino Superior e as narrativas cir- fez chegar um email ao Conselho dos vencedores terão sido emitidos e
cunstanciadas de centenas de alunos, de Coordenação universitário [cujo assinados por dois elementos do júri,
investigadores e assistentes universi- teor reproduzimos em caixa nestas um deles o tal orientador de douto-
tários – as vítimas”, assinala. páginas], pondo em causa a validade ramento dos candidatos.
A advogada e professora Inês Lei- científica e a legalidade da iniciati- São outros, porém, os casos a ter
te Ferreira, voz ativa na denúncia de va. A mensagem travou o ritmo das alcance mediático.
práticas de assédio moral e sexual na respostas, mas fonte próxima dos “As situações de assédio, que têm
Academia, e com uma experiência promotores da iniciativa garante: o vindo a ser denunciadas, são parti-
de 20 anos na FDUL, destaca que “o relatório será divulgado em breve e cularmente graves porque implicam
assédio moral é o prevalecente” na incluirá perto de 200 questionários e reproduzem a já assimétrica relação
instituição. “Permite que, por vezes, validados e níveis de assédio laboral de poder entre homens e mulheres.
também surjam situações de assédio e moral da ordem dos 55%. Mas desengane-se quem pensar que
sexual.” O presente, aliás, não será Enquanto isso, a Universidade este é apenas um assunto de género.
muito diferente do passado. “Não do Porto validou, no seu portal de Algumas das mais bárbaras situações
houve mudança de perceção em re- de assédio laboral a que assisti, ou
lação a estas coisas, nos últimos 50 vivi na pele, nas várias instituições
anos. Se questionar ex-alunos ou an- por que passei, foram perpetradas
tigos docentes da FDUL sobre profes- por mulheres”, escreveu Elsa Peralta
sores com poder e influência na insti- A antropóloga no Facebook.
tuição, vão dizer-lhe que a faculdade
vive em meados do século XX, não
Elsa Peralta sofreu A antropóloga e investigadora do
Centro de Estudos Comparatistas da
evoluiu, não conheceu mudança de assédios e reclama Faculdade de Letras da UL reclama
mentalidades”, refere. “Os professores “uma reflexão e uma ação mais vasta
fascistas, que tinham colaborado com uma comissão sobre os modos de governo das ins-
o Estado Novo e a PIDE, regressaram
todos, pouco depois do 25 de Abril,
independente, tituições da Ciência e do Ensino Su-
perior”, sobre as endogamias que gera
até mesmo aqueles que não tinham
mérito. Ainda hoje, pensam e educam
como a da pedofilia e as formas de precarização laboral
que as sustentam. De outro modo,
da mesma forma, para que os alunos e na Igreja, para crê, “tudo isto não passará da novela
assistentes pensem como eles”, relata.
No início do mês passado, um limpar a Academia: mediática do momento, ou, pior, do
pretexto, para que algozes cavalguem
grupo de professores decidiu levar a
cabo um estudo sobre assédio laboral
“Caso contrário, é sobre a miséria alheia”. À VISÃO, Elsa
Peralta sugere a criação de uma co-
e moral a docentes e investigadores da a mesma coisa do missão independente para iluminar
Universidade de Lisboa, solicitando
respostas por correio eletrónico, até que pôr os padres as trevas da Academia, idêntica à que
tratou dos casos de pedofilia na Igreja
20 de março. Os autores garantem
a validade científica do questioná-
a investigar o que Católica. “Caso contrário, é a mesma
coisa do que pôr os padres a investigar
rio, mas o reitor da UL, Luís Ferrei- lá se passa” o que lá se passa.” visao@visao.pt
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JOGO
DUPLO
Novos documentos mostram que, após ter
comprado a TAP, o consórcio Atlantic Gateway,
de David Neeleman, apresentou plano de
capitalização ao governo de Passos Coelho sem
referir os “fundos Airbus”, quando já estava
a negociar com o fabricante. Diogo Lacerda
Machado denunciou pressão chinesa para
fechar negócio em 2015
— P O R C A R LO S R O D R I G U E S L I M A
N
Omissão Atlantic Gateway não
mencionou “fundos Airbus” em
carta, de 24 de junho de 2015,
sobre a capitalização da TAP
De acordo com o antigo A proposta da Atlantic Num só dia, a Vieira A companhia chinesa HNA
ministro da Economia Gateway para capitalizar de Almeida validou compra 23,7% da Azul,
António Pires de Lima, a TAP com o dinheiro da juridicamente a solução Linhas Aéreas Brasileiras
foi neste dia que a Airbus é formalizada nes- dos fundos Airbus, o por 450 milhões de
Parpública informou o te dia, através da apre- Conselho de Ministros dólares (424 milhões de
governo da intenção do sentação do documento aprovou a “conclusão” do euros, à época). Dois anos
agrupamento Atlantic “Capitalization Plan and negócio da privatização mais tarde, a HNA entraria
Gateway de utilizar os Structure of Funds”. A da TAP e o Estado no capital da TAP, uma
“fundos Airbus” como Parpública remete o assinou o acordo final posição que venderia, em
forma de capitalização caso para a sociedade com os representantes 2019, por 49 milhões de
da TAP. de advogados Vieira de da Atlantic Gateway. euros.
Almeida.
sidade urgente, e os intervenientes Qual foi a razão para, de acordo urgência da capitalização devia-se
sentaram-se à mesa e assinaram os com testemunhos prestados no às imensas dificuldades financeiras
respetivos documentos. Parlamento, a Atlantic Gateway da TAP e ao estado dramático da
Ouvido como testemunha num ter apresentado uma alteração sua tesouraria (agravado pelas
inquérito aberto, em 2015, pelo Mi- ao plano de capitalização da múltiplas greves do período pré-
nistério Público à privatização da TAP, TAP divulgado durante a fase de privatização), que obrigaram a
na sequência de uma queixa da Asso- privatização, colocando em cima que os fundos da capitalização
ciação Peço a Palavra, liderada pelo da mesa a utilização dos chamados fossem disponibilizados até
cineasta António-Pedro Vasconcelos, “fundos Airbus”? antes do prazo máximo previsto.
o jurista Diogo Lacerda Machado, a Para a Atlantic Gateway, foi Estas dificuldades levaram a
quem o primeiro-ministro tem recor- sempre clara a origem dos fundos que o fundo norte-americano
rido para resolver problemas políticos, utilizados na capitalização da TAP, de investimento Cerberus, que
como as negociações com os lesados parte dos quais resultava de um tinha planeado capitalizar a TAP
do BES, assumiu-me como o “princi- apoio que a Airbus tinha acordado através de um financiamento de
pal mentor” do processo de “reconfi- disponibilizar para a realização 120 milhões, depois de analisar a
guração do modelo de privatização da do plano de reestruturação situação financeira da companhia
TAP”, tendo, para isso, assessorado o operacional e modernização da aérea, tivesse desistido de investir.
então ministro Pedro Marques. frota proposto pela Gateway. Entre Tivemos de convencer a Azul a
Quanto ao facto de o governo da junho e novembro de 2015, houve assumir esse financiamento, no
coligação PSD/CDS ter fechado o pedidos da Parpública para que montante de 90 milhões, e que até
negócio já depois do chumbo do seu ficasse documentada a estrutura, hoje não foi reembolsado.
programa, Lacerda Machado, além e apresentámos tudo o que nos Esteve sob pressão do grupo
do interesse político em encerrar a foi solicitado pelos interlocutores chinês HNA para concluir
operação, acrescentou que, da parte do setor público e seus advisors, o negócio da TAP antes de o
de David Neeleman, terá existido porque não havia nada a esconder. governo socialista chegar ao
algum receio de que António Costa Antes pelo contrário, pois o plano poder, e isso era condição para o
viesse a cancelar o negócio, dadas as de capitalização conseguido foi investimento da HNA na Azul?
declarações que o então líder da opo- excelente para a TAP. No projeto Essa pergunta não faz qualquer
sição tinha feito contra a privatização. apresentado desde a primeira hora, sentido, pois o investimento da
Mais: ao mesmo tempo que negociava estava previsto que os montantes HNA na Azul já estava fechado
a TAP, o empresário brasileiro estava entrassem na TAP como capitais e nada tinha que ver com o
em conversações para a entrada da próprios, e foi assim que aconteceu. investimento da Gateway na
companhia chinesa HNA no capital Foi ainda prevista uma salvaguarda TAP. Como referido, mediante
da Azul (Brasil), sendo que, segundo adicional de que não poderia haver a desistência do fundo de
Lacerda Machado, “a HNA tinha ace- reembolso desses fundos antes de investimento norte-americano
dido a investir” na companhia bra- 30 anos. É de notar que a TAP não de financiar a TAP, foi possível
sileira “com a condição do controlo reembolsou os fundos injetados convencer a Azul a realizar
indireto na TAP”. pela Atlantic Gateway, e são hoje o financiamento no Grupo
A 24 de novembro de 2015, a “Azul, créditos detidos pelo Estado. TAP, através de uma emissão
Linhas Aéreas Brasileiras” anunciava a Houve dificuldades, por parte de obrigacionista que, depois, a
entrada da companhia chinesa no seu algum dos acionistas do consórcio Parpública entendeu subscrever em
capital, com 23,7%. Dois anos depois, Atlantic Gateway, em mobilizar 30 milhões de euros. A urgência na
entraria no capital da TAP, compran- fundos para a capitalização? conclusão da privatização resultou,
do uma parte da posição de David Não houve qualquer dificuldade em a meu ver, das necessidades
Neeleman na Atlantic Gateway. Em providenciar os fundos a aportar financeiras urgentes da TAP, nada
2019, a HNA vendeu esta participação pela Atlantic Gateway conforme relacionado com interesses da HNA
por 49 milhões de euros. clima@visao.pt estava previsto. Na verdade, a ou da Azul.
Naturalidade
Torres Vedras.
Idade
27 anos.
Formação
Licenciatura em Gestão pela
Universidade Católica de Lisboa;
MARCOS BORGA
frequência do mestrado em
Ciência Política, da mesma
instituição.
Que figuras o inspiram? Parlamento Jovem deputado da IL conseguiu eleger-se em 2022, pelo círculo
de Lisboa, mas já fora candidato nas legislativas de 2019, em Leiria
O meu avô materno, a pessoa que
me ensinou mais lições de vida, e,
politicamente, William Gladstone. Economia, em Lisboa (para onde se paixões –, capitão de equipa. Fez na-
mudou, aos 5 anos, com a família, vin- tação, experimentou judo, aikido, polo
O que faz nos tempos livres? dos de Torres Vedras para o Lumiar), aquático e jogou futebol federado, em
Jogo futebol, oiço música e gosto que Blanco começou a desenvolver Odivelas. É um sportinguista ferrenho
de ir beber copos com os amigos. maior interesse pelo discurso políti- e continua a dar toques na bola com
co. Procura no YouTube vídeos sobre os amigos, pelo menos, uma vez por
Artistas preferidos? a revolução liberal norte-americana semana. Só a CPI à TAP lhe retira esse
Richie Campbell, Slow J, Plutónio. na década de 1980 e escolhe ler livros tempo, por agora. O tempo de praticar
de enquadramento. Descobre e iden- desporto e o tempo para estar com o
Clube de futebol? tifica-se com o político britânico do seu grupo de amigos mais próximos,
Sporting. século XIX William Gladstone. que conheceu na Academia de Música
Aluno do quadro de honra, obteve de Santa Cecília, onde teve formação
Quem foi o melhor 19 valores no exame nacional de Eco- musical, estudou flauta e participou
primeiro-ministro português? nomia e 18,5 no de Português. Mas no coro, durante uma década. Depois,
Vai ser o primeiro da IL. não tem muita paciência só para a tornou-se um “rebelde liberal até na
teoria. Na licenciatura, não ia às aulas. música”: “Estudei clássica e, hoje, o
Com quem nunca se coligaria? Considerava-as “pouco práticas”. Em que oiço é hip-hop e rap.”
Com um partido extremista. vez disso, escrevia para blogues como É unânime entre quem o conhece:
O Insurgente (ponto de encontro de “Chega sempre atrasado” e, às vezes,
Se não fosse deputado, o que liberais, entre eles o deputado Carlos é difícil obter resposta a uma men-
estaria a fazer? Guimarães Pinto e o atual presidente sagem. “Tenho tantas para ler”, des-
Provavelmente, teria uma startup, da IL, Rui Rocha); foi coordenador culpa-se Bernardo Blanco, abrindo
tendo em conta o que os meus local da rede norte-americana Stu- o WhatsApp para provar as centenas
amigos estão a fazer. Poderia dents for Liberty e foi vice-presidente, de solicitações diárias. Um dia, quer
ser algo relacionado com a entre 2018 e 2019, do Instituto Mises acalmar; faz planos para ter filhos
Inteligência Artificial, com o Portugal, a primeira organização não com a namorada, com quem vive na
desporto ou com comunicação. governamental portuguesa, criada Ameixoeira (Lisboa), e para sair da
para defender as ideias liberais. política e “fazer outras coisas”. Tal-
Que tipo de liberal é? “A imagem que tenho do Bernardo vez até viver no estrangeiro, durante
Liberal na economia, na política e é a de um aluno ultradinâmico, que, um tempo.
nos costumes. em termos ideológicos, sempre foi Gostava de ter uma empresa e,
fácil identificar que seria um liberal”, sempre que tem uma ideia de ne-
Se tivesse o poder de aprovar nota João Sequeira, que se cruzou gócio, acrescenta-a a uma lista, com
uma medida sozinho, qual seria? com o deputado nos corredores da pelo menos outras 30, que guarda no
A reforma da Administração Católica, já quando Blanco ingressou seu computador pessoal. Essas ideias
Pública. no mestrado em Ciência Política, que andam à volta dos seus interesses:
ainda não terminou. Falta a tese. comunicação, desporto, Inteligência
Onde se vê daqui a dez anos? Nesta altura, já não passava des- Artificial. Mas, para já, terão de ficar
Não sei. Mas quero fazer coisas percebido. Tem perfil de líder. Foi na gaveta. Quem sabe durante quanto
fora da política e gostava de quase sempre delegado de turma e, tempo... se continuar a surpreender no
passar uns anos lá fora. no desporto – uma das suas grandes Parlamento. rrnunes@visao.pt
Evoluções democráticas
e derivas autocráticas
Globalmente, seremos mais e com vidas maiores. Mais
de meio milhão de centenários hoje, e podem vir a ser
25 milhões em 2100. Na UE27, o número de pessoas com
100 e mais anos será cinco vezes superior ao atual em 2050
Países rumo à democracia (ou em crescente democratização)
Países rumo ao autoritarismo (ou em crescente autocratização)
NÚMERO DE PAÍSES 71
70
60
50
42
WOJTEK RADWANSKI/GETTY IMAGES
40
28
30
20
10 17
14
ÍNDIA O SUPREMACISTA
INCONVENIENTE 0
1972 1982 1997 2002 2012 2022
FONTE V-Dem Institute MT/VISÃO
70
70 VISÃO 20 ABRIL 2023
Violência Os tiroteios
nos EUA já fizeram
mais de 12 mil mortos
desde janeiro
0,32
Ao decretar o estado 1
2
Afeganistão
Myanmar 0,74
1,08
de emergência, 3 Coreia do Norte
4 Rep. Centro-Africana 1,35
a primeira-ministra 5 Síria
6 Rep. Dem. do Congo
1,43
1,48
italiana tem agora plenos 7
8
Turquemenistão
Chade
1,66
1,67
poderes para fazer 9 Laos 1,77
1,77
o que bem entender 10 Guiné Equatorial
FONTE Economist Intelligence Unit MT/VISÃO
Em países livres
43%
Quem
vive em
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MULHERES E MIGRANTES
“Oitenta por cento dos problemas de
saúde que levam as pessoas aos cui-
dados primários têm origem social”,
afirma Sónia Dias, diretora da Escola
Nacional de Saúde Pública (ENSP), da
Universidade Nova de Lisboa. Estes
números ecoaram na sua cabeça na
hora de apadrinhar a introdução da
prescrição social no nosso sistema
de saúde, em 2018, a seguir a ser-lhe
apresentada pelo médico Cristiano
Figueiredo (ver entrevista). “Trata-se
de uma forma inovadora de centrar
os cuidados na pessoa, sejam eles de
que natureza forem. É uma visão de
quem vê uma solução para a tristeza saúde mais holística, de proximida-
a aproximar-se, assim que descer na de e atenta às necessidades reais dos
paragem certa e entrar na instituição. utentes”, conclui.
Os dias cinzentos, passados entre Com origem no Reino Unido, por
as quatro paredes do seu quarto, a volta dos anos 2000, a intervenção
alimentar-se mal e a desoras, estão encontra-se agora disseminada pelos
prestes a acabar. Pelo menos, foi esta a centros de saúde. Austrália e Canadá
solução que a assistente social Andreia são outros dois países que seguiram o
Coelho encontrou, na sequência das exemplo britânico. A Portugal ela che-
queixas consistentes com o princípio gou há cinco anos – nos primeiros 15 convivialidade, bem-estar, maior
de uma depressão. meses houve 147 utentes a beneficiar pertença à comunidade, menores
Maria viveu no bairro de Santa da prescrição social. consumos, participação mais ativa e
Catarina, desde os 9 anos, até o seu À ENSP cabe formar profissionais controlo sobre a saúde.
senhorio morrer, em 2021, e os vários da área para esta consciencialização Da última vez que fez um levan-
herdeiros decidirem vender o imóvel. e também as associações que dão as tamento de dados, ainda em 2022,
Foi despejada e depois realojada a lé- respostas no terreno. A todos se põe a Louise apontou mais de 900 prescri-
guas do bairro. “Dantes, bastava-me tónica na mudança de estilos de vida, ções, de entre as Unidades de Saúde
ir à janela para ver caras familiares. na tentativa de tornar o sistema de saú- Familiar (USF) da Baixa e Almirante.
Agora não conheço ninguém. Foi um de mais sustentável. Ao mesmo tempo, Só depois se juntaram mais três em
desgosto muito grande. Esta cabeci- a escola tem coordenado os projetos Lisboa (Ribeira Nova, Mónicas e Sé-
nha pensa nisto e naquilo e dá cabo de implementação da prescrição so- tima Colina).
de mim”, lamenta. De nada lhe serve cial junto das autarquias – este ano já “A maioria dos utentes é do sexo
morar com uma filha, pois a compa- aderiram Vila Pouca de Aguiar, Braga e feminino (62%), um quinto tem pelo
nhia é igual a zero. Cascais. E a tendência é para continuar menos duas doenças associadas e
Além destas dores de solidão, Ma- a expandir-se pelo País. um perfil de saúde complexo”, conta
ria também sofre de diabetes e hi- Louise Hoffmeister, 34 anos, é en- a enfermeira. As prescrições dão-se
pertensão e foi operada ao coração. É fermeira e está a fazer doutoramento essencialmente por isolamento social,
seguida no centro de saúde da Baixa, sobre o tema na ENSP, avaliando o causado pelo envelhecimento ou pela
por sorte o pioneiro em recorrer à impacto da medida nos utentes, no migração (42% dos utentes são de 17
prescrição social. Quando Andreia sistema e na interação saúde/social. nacionalidades diferentes). Alguns
recebeu o formulário da médica de “Desenvolvi um estudo longitudi- também são referenciados para te-
família, pedindo acompanhamento nal para determinar de que forma a rem acesso a benefícios sociais, como
social para a sua doente, tratou de prescrição afeta a qualidade de vida, apoio económico para a compra de
integrá-la de imediato no centro de o bem-estar, os hábitos e os com- medicamentos, próteses ou óculos,
dia de qualidade, parceiro do projeto portamentos. Analiso, também, o ou ajuda na procura de emprego e
e que ela conhece bem. impacto nos indicadores de saúde e formação. Há muitos casos de doença
Uns dias depois da estreia na ins- na utilização dos serviços”, explica a mental, desde depressão a ansiedade.
tituição, a voz de Maria, ao telefone, investigadora. As respostas – mais de 40 na área
já era outra: “É muito jeitoso, estou a No acompanhamento qualitativo, de Lisboa – podem variar de entre
gostar imenso, as pessoas são sim- tem registado benefícios ao nível da centros de dia, idas ao teatro, museus,
páticas e vai-me fazer muito bem saúde física, como perda de peso ou jardins, aulas de informática, ensino
sair todos os dias de casa.” Com esta diminuição da dor, mas também na de Português a migrantes, sessões de
O
médico que importou a pres-
crição social do Reino Unido
Exercício Há cinco meses explica porque o fez.
que Punya não falta a uma Como foi o seu primeiro contacto
aula de hidroginástica na
Junta de Freguesia da
com este projeto?
Penha de França. Resultado? Em 2015, quando estive num programa
Diminuiu a medicação para de intercâmbio, a trabalhar no Sul
de Londres, conheci um médico
LUÍS BARRA
as dores articulares
muito orientado para a comunidade,
sobretudo para os imigrantes
portugueses. Depois, aprofundei
o assunto com Patrick Hutt, o
tai chi, trabalhos manuais, jardinagem “Antes, sem dinheiro, não fazia uma responsável por um dos primeiros
ou voluntariado (ver caixa Quem dá alimentação correta nem qualquer grandes projetos de prescrição social
a mão?). exercício físico – as consequências no Reino Unido. Achei aquilo tudo
muito interessante e já começava
manifestavam-se através de dores. Além
MENOS DOR, MENOS MEDICAÇÃO a falar-se disso em congressos
disso, tem colesterol elevado e diabetes”,
internacionais.
Como as juntas de freguesia abrangidas resume Andreia Coelho, que lhe deu a Quando conseguiu trazê-la para
pelas USF em causa também se aliaram mão, inscrevendo-a no Rendimento Portugal?
ao projeto, é possível arranjar respostas Social de Inserção (RSI) e contactando a Em 2017, depois de constatar
personalizadas. Veja-se o caso de Punya Junta de Freguesia da Penha de França. objetivamente as desigualdades ao
Kumari, 51 anos, natural do Paquistão, a Desde 3 de outubro que a médica nível da saúde, dentro da mesma
viver em Lisboa há mais de uma década de família de Punya a direcionou para cidade. Há um estudo desenvolvido
e atualmente sem trabalho. Além de a a prescrição social. As aulas de hidrogi- ao longo da linha azul do metro de
terem inscrito no Rendimento Social nástica, depois de agilizados os trâmites Lisboa que apurou que, em Sete Rios,
de Inserção (RSI), foi o contacto para a todos, começaram em novembro. Os a esperança de vida se situa nos 82
Junta de Freguesia da Penha de França, resultados estão aí. “Estou melhor e já anos, mas na zona da Baixa ela desce
explicando a sua situação, que permitiu tomo menos medicação para as dores. para 77. Isso mostrou-me que um
a frequência de aulas de hidroginástica, Agora, ando sempre a pé, perdi bastante contexto mais adverso significa mais
três vezes por semana, a custo zero. peso e ainda preciso de perder mais”, doença e até morte prematura. Como
diz, de mochila ao ombro, depois de clínico a trabalhar com populações
mais uma sessão – a que nunca falta – vulneráveis, constatei que as respostas
na piscina municipal. médicas podem não chegar, que o
LUÍS BARRA
PEDALAR SEM IDADE
Uma associação que leva os mais
velhos em passeios de trishaw, com
lugar confortável para duas pessoas, Plano Depois de a médica passar a
conduzidos por voluntários. ao assunto. Em Portugal, a ligação fez prescrição social, uma assistente social
sentido através do assistente social, encontrou a solução para tratar dos
NIALP figura que já existe no Serviço Nacio- males de solidão de Maria Alexandre
A Intercultural Association Lisboa nal de Saúde desde os anos 1980, mas
é constituída essencialmente por noutros países nem sempre é assim.”
líderes sociais da comunidade
nepalesa a viver em Portugal, que IR AO TEATRO FAZ BEM À SAÚDE estão isoladas. Além do mais, o acesso à
ajudam na integração social, legal As parcerias com as associações da cultura é sempre uma vantagem.”
e de saúde. comunidade são muito informais e, no Na prática clínica, Maria da Paz ten-
fundo, trata-se de aproveitar melhor o ta perceber o perfil dos seus doentes.
RENOVAR A MOURARIA
que já existia. Tentam reunir-se todos Quando assim se justifica, escreve al-
Esta associação nasceu da vontade os meses, de forma itinerante, para se gumas dicas para o assistente social e
de um grupo de moradores em conhecerem e explorarem bem todas ele avalia onde pode encaixar o caso em
contribuir para a revitalização da as possibilidades. questão. Paralelamente, o utente conti-
Mouraria, através de iniciativas
Maria da Paz Calheiros, 40 anos, nua a ser seguido pela médica para tra-
comunitárias, educativas e culturais.
médica coordenadora da USF Ribeira tar outras patologias, mas normalmente
UNIVERSIDADE SÉNIOR Nova, que aderiu à prescrição social no com necessidade menor de medicação.
Esta universidade existe para final do ano passado, já esteve nessas A última USF a render-se à prescri-
combater a exclusão social da reuniões de porta aberta aos parceiros ção social foi a das Mónicas, mesmo ao
população mais envelhecida, e associações. Tem sentido que, com lado do Largo da Graça. E aqui é Joana
proporcionando o aumento da este projeto, se promove a integração e Onofre, enfermeira, quem coordena
qualidade de vida, criando convívios, que o efeito de grupo capitaliza novos a operação, pois vive no bairro desde
estimulando a aprendizagem hábitos de vida, gerando um contágio que nasceu, além de fazer domicílios
e a criatividade. positivo. “A somatização vem do iso- e conhecer bem as características dos
lamento. Ao tratarmos esse problema utentes.
CHAPITÔ também atingimos a sobreutilização “Tenho sentido alguma dificuldade
A coletividade cultural e recreativa é dos serviços, um traço muito comum na adesão, por desconhecimento. A
uma casa de cultura e do espetáculo, da população envelhecida.” nossa população é mais velha e resis-
com destaque para as artes circenses, Como pode uma ida ao teatro bene- tente à mudança, embora aceite bem o
mas no fundo trata-se de um projeto ficiar um utente, hão de perguntar-se apoio social. Na verdade, a prescrição
social sustentado na inclusão, na algumas pessoas. A médica tem a res- já funcionava, mas de forma anárquica.
solidariedade e na justiça social. posta a essa dúvida na ponta da língua: Precisávamos de uniformizar proce-
TEATRO NACIONAL D. MARIA II “Saem de casa, veem outras pessoas, não dimentos e diversificar as respostas”,
confessa a enfermeira. No panfleto que
Através do programa Primeira Vez
distribuem nesta unidade, promete-se:
desperta-se a curiosidade pelo
“Juntos, seremos capazes de conseguir
teatro, convidando todas as pessoas
que nunca viram uma peça ou
apoio e motivação para melhorar a sua
saúde e bem-estar.”
entraram no D. Maria II a descobrirem
o espaço, a programação e os
As prescrições Na Graça há muito alojamento local
bastidores. dão-se que resultou também em isolamento
dos idosos, que foram perdendo a vi-
RIZOMA essencialmente por zinhança de toda a vida, tal como Maria
Alexandre. É na sala de tratamentos
Começou por ser uma mercearia
comunitária, apoiada em pequenos isolamento social, desta USF, que usam mais do que de-
produtores, mas esta cooperativa
quer ser muito mais do que isso, causado pelo viam, que se encontram e aproveitam
para pôr a conversa em dia. Pode ser
ajudando a resolver problemas
sociais e económicos.
envelhecimento que, em breve, troquem estas cadeiras
pelas do trishaw, num passeio animador
ou pela migração pelo bairro e arredores. loliveira@visao.pt
ASSÉDIO
na Procuradoria-Geral Re-
gional de Évora de denún-
cia, a qual deu origem a um
inquérito”, em que, segundo
informações recolhidas pela
NA CASA
VISÃO, já foi ouvida uma
juíza do Tribunal de Beja, que
terá entregado à investigação
várias mensagens que o pro-
curador lhe terá enviado, nas
DA JUSTIÇA
quais se revelam alguns por-
menores sobre questões in-
ternas no Ministério Público.
“Tal denúncia”, continuou
a PGR, “foi reportada supe-
riormente, tendo o Conse-
Uma procuradora tem sido obrigada lho Superior do Ministério
a trabalhar no mesmo tribunal do que Público decidido instaurar
um inquérito para apurar
um colega, contra quem apresentou se há ou não factos que de-
uma detalhada queixa, em que descreve terminem a instauração de
um processo disciplinar”.
desde tentativas forçadas de beijos a Por responder ficaram duas
mensagens descontroladas e ameaças questões: por que motivo, em
sede de processo-crime, não
— P O R C A R LO S R O D R I G U E S L I M A foi promovida, junto de um
juiz, uma medida provisória
de afastamento do procura-
dor em relação à colega? E
Os medos e os números
tomam a forma
Catarina de corpo de mulher
Furtado
E
m 68 países, 44% das mulheres As sociedades podem prosperar, qual-
numa relação de casal não têm quer que seja a taxa de fertilidade. Há
autonomia sobre o seu corpo... mulheres que gostariam de ter mais filhos,
Sou embaixadora de Boa Von- mas falta o investimento em condições de
tade do Fundo das Nações Uni- proteção social: creches, segurança econó-
das para a População (UNFPA) há 23 anos mica, políticas públicas realizadas e eficazes
e continuo a aprender com os relatórios de igualdade de género, de conciliação da
desta agência da ONU e com as realidades parentalidade com a vida profissional e pes-
que encontro no terreno: as estatísticas são soal, de educação, de cuidados de saúde,
mulheres, são pessoas, são vidas com um e optar por energias limpas e acessíveis.
imenso potencial. Como também há mulheres que gostariam
O título do último relatório do UNFPA, de ter menos filhos, a quem falha um in-
— Embaixadora
8 Mil Milhões de Vidas: Possibilidades In- vestimento comprometido e continuado no
de Boa Vontade
finitas – Assegurando Direitos e Escolhas, acesso a serviços de saúde sexual e repro-
do UNFPA
confirma estarmos perante uma gigantesca dutiva, com partos assistidos, prevenção
(United Nations
Population Fund)
contradição: da gravidez não intencional e das infeções
e presidente A nossa família humana é maior do que sexualmente transmissíveis.
da Associação nunca e há razões para acreditarmos num É urgente mudar a narrativa que atribui
Corações com Coroa futuro melhor. Temos vidas mais longas ao corpo da mulher, à reprodução e às suas
e mais saudáveis, produzimos avanços na escolhas, a causa do problema e a solução
medicina, na ciência, na nutrição, na agri- para a “superpopulação”. Em vez disso,
cultura, na saúde e na educação, investimos devemos interiorizar que as nossas op-
na promoção dos Direitos Humanos e no ções individuais (com impacto coletivo) são
desenvolvimento sustentável. Mas há tam- fundamentais e apostar numa abordagem
bém motivos para perspetivar um futuro de justiça sexual e reprodutiva que apoie e
pior: lidamos com o impacto da Covid-19, se apoie no progresso humano e entenda as
de guerras, de conflitos, de convulsões eco- dinâmicas populacionais.
nómicas e de alterações climáticas. Não existe um tamanho populacional
É a esperança num braço de ferro com a perfeito.
incerteza. Passados quase 30 anos da Conferência
É uma encruzilhada que traz perigos e Internacional sobre População e Desenvol-
alvos escolhidos a dedo! Perigos de inter- vimento, temos de ouvir as vozes repre-
pretações manipuladas, que promovem o sentadas neste relatório! Os medos e os
controlo, semeiam o medo e a culpa, com números começam a tomar a forma de um
abordagens populistas que fazem recuar corpo de mulher. As políticas que preten-
direitos, e em primeiro lugar, os direitos dem influenciar a fertilidade são sustenta-
das mulheres, os direitos sexuais e repro- das por esforços que diminuem a liberdade,
dutivos, mas também de adolescentes, de sobretudo das meninas e mulheres.
pessoas com deficiência, de pessoas mais Os nossos corpos são tratados como ins-
velhas, de migrantes e refugiadas, de dife- trumentos para decretar o ideal populacio-
É urgente mudar rentes etnias e de pessoas LGBTI+.
Somos oito mil milhões. Somos muitos,
nal, uma noção só possível pelo seu, ainda,
estatuto social, político e económico.
a narrativa que demasiados, para que o planeta possa sus- Não podemos assobiar para o lado. A
atribui ao corpo tentar-nos? Somos tantos quantos pode- solução tem de vir da ação política sus-
ríamos ser para que o Mundo nos acolha? tentável, mas também de jovens, pessoas
da mulher, Ou somos poucos, muito poucos, para as idosas, ativistas, academia, setor privado
à reprodução imensas oportunidades que estão à nossa e sociedade civil. As antigas receitas para
e às suas escolhas, frente?
A questão não é o número de pessoas,
gerir as dinâmicas populacionais não estão
a funcionar. O desafio é urgente: aprender,
a causa do e, sim, se todas as pessoas são capazes de pensar, ser e construir um futuro para esta
problema e exercer os seus direitos, incluindo os di- humanidade partilhada, com “a paz, o pão,
reitos sexuais e a autonomia reprodutiva. a habitação, a saúde, a educação” que todas
a solução para a Mas apenas uma parte da humanidade tem as pessoas merecem. Porque todas contam.
“superpopulação” acesso a estes direitos! visao@visao.pt
E tudo Cuba
levou...
Luís Gomes, vice da bancada do PSD, validou
viagens e estadas de artista cubano, com quem
cantava, quando era presidente da Câmara
de Vila Real de Santo António. Relações com
Havana, e não só, varreram quase um milhão
de euros das contas do município
— POR NUNO MIGUEL ROPIO
H
á uma semana, quando estaria no início do
quando o deputado terceiro mandato e desponta-
do PSD, Luís Go- va como intérprete de reggae-
mes, lançou a sua ton – e de quem se manteve
mais recente canção, Leva- próximo durante anos. Com município pediu a auditoria euros, em que viajou sozinho
-me contigo, as críticas que Gomes a formar a dupla mu- não está habilitado para a rea- ou acompanhado.
surgiram prenderam-se, na sical Baby Lores & Luís, a câ- lização de tal trabalho. Após um primeiro con-
sua maioria, com a presença mara suportou despesas com tacto da VISÃO, de que se
da bastonária da Ordem dos o artista, que agora viverá em AUDITORIA QUENTE? queixou no programa matinal
Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, Miami, segundo a sua página De acordo com a auditoria, à da TVI, na última terça-feira,
no videoclipe, num momento no Instagram. qual a VISÃO acedeu e que dá, Gomes explicou o porquê de
em que a dirigente está acusa- Em suma; gastos em via- em parte, resposta a uma re- algumas das suas deslocações
da pelo Ministério Público de gens que se mantiveram mes- comendação recente do TdC, mais caras, como a Toronto
declarar despesas de viagens mo quando a câmara já es- foram já identificadas fatu- [ “viagem de trabalho para
que não terá feito. As pia- tava a braços com um grave ras de viagens e estadas que efetuar uma reunião com a
das fáceis pulverizaram-se, desequilíbrio financeiro, que atingem cerca de um milhão Air Transat, que tinha acabado
a reboque da conjugação da fez com que o município seja de euros. Com ainda parte de inaugurar os voos Toron-
existência desse caso com o hoje um dos mais endividados do ano de 2017 por desbra- to-Faro”] ou a Luanda [“um
título da música. Ora, o so- do País, como aponta um re- var e o de 2012 incompleto, convite da Fundação José
cial-democrata, que na vida latório da Inspeção-Geral de como explicou fonte oficial Eduardo dos Santos, para um
artística usa o z em vez de s no Finanças. Um cenário que o do município, é possível atri- conjunto de conferências”];
apelido (Gomez) e é amigo da social-democrata relativiza, buir uma grande fatia daquele sendo que três representantes
bastonária (ao ponto de a sua alegando que a Justiça arqui- montante ao plano delineado de um clube local também ru-
filha viver em casa de Ana Rita vou, em 2017, um caso relativo por Gomes, para levar quem maram ao Canadá, sem estar
Cavaco, em Lisboa), também a estas viagens. Sabe a VISÃO estava em lista de espera para fundamentada a deslocação.
vê vir a público uma auditoria que, em causa estiveram quei- uma cirurgia oftalmológica. Outra tanta despesa re-
que lhe aponta a validação de xas de que as viagens teriam “Grande parte dos valores sulta da geminação da cida-
um milhão de euros em via- servido, a partir de determi- das viagens que questiona diz de algarvia com o município
gens, pagas pelo município nada altura, para alavancar a respeito a algo que fiz e que cubano Ciudad de La Playa,
de Vila Real de Santo Antó- carreira artística do deputado. me orgulho, e voltaria a fazer. que alegadamente daria apoio
nio, quando era presidente Gomes justifica os montantes Resolvi um problema de saú- – não está claro qual – aos
da autarquia [2005-2017], não só com o programa de de que o Estado não conseguia doentes oftalmológicos. Até
sem que haja documentação saúde local, que levava até resolver: levámos mais de 500 porque, a determinada altura,
que justifique uma boa fatia Cuba vila-realenses para se- pessoas para realizarem tra- como atesta documentação
dessa despesa. rem operados aos olhos – que tamentos médicos. Estavam oficial e notícias de então,
Além de grande parte da- mereceu um cartão vermelho a perder a vista e em Portugal era a câmara de Gomes que
quele valor corresponder a do Tribunal de Contas (TdC) não havia resposta”, defende mandava apoios financeiros
viagens de e para Cuba, nesse –, mas também com proto- o deputado. “Na maioria das para o outro lado do Atlântico,
levantamento dos gastos, le- colos culturais e desporti- viagens que fiz, nunca recebi destinados a projetos sociais
vado a cabo pelo atual execu- vos entre Vila Real de Santo ajudas de custo nem subsídios em relação aos quais não se
tivo municipal liderado pelo António e as terras de Fidel de deslocação”, acrescenta, percebe se viram a luz do dia.
PS, estão deslocações e es- Castro, que garante virem do confrontado com dezenas de
tadas do artista cubano Baby seu antecessor António Murta deslocações em seu nome, TDC SUGERE PENTE-FINO
Lores, com quem Luís Gomes (PS). Além disso, Luís Gomes correspondentes a valores A auditoria em questão a aca-
criou uma ligação musical – alega que o técnico a quem o que vão dos €300 aos 25 mil ba por responder ao recen-
O baile de máscaras
de Marcelo
Filipe
“M
Luís antenho o princípio no cravo e outra na ferradura, procurando
de tudo fazer para distanciar-se da progressiva impopularidade
cumprir a legislatura. de Costa e da sua maioria, mas sem beliscar
Mas habituei-me a o Executivo em mais nada senão declara-
nunca dizer nunca. E ções avulsas na rua a jornalistas ávidos por
a realidade, por vezes, é mais imaginativa do uma pérola. “Com uma guerra em curso na
que a nossa imaginação.” Com estas pala- Europa, uma grande inflação, não faz sen-
vras, proferidas a 9 de março, na entrevista tido juntar uma crise política a estas crises.”
à RTP, o Presidente da República – a quem Ouvindo-o, parece que o PR não faz cair o
não falta imaginação… – mantinha, como Governo apenas porque há uma guerra – se
quem não quer a coisa, a espada de Dâmo- não, fá-lo-ia. No limite, António Costa ficaria
cles sobre a cabeça do Governo. E conservava a dever uma a Putin.
vivo, na discussão político-mediática, o tema Se na substância da governação – o País a
— Editor-executivo
da dissolução da Assembleia da Repúbli- crescer onde se esperava depressão, o défice a
ca. Exatamente um mês depois, acusando a permitir bodos aos pobres, como o anuncia-
pressão política na sequência das revelações do, esta semana, por Costa, e a dívida a ser re-
na Comissão de Inquérito Parlamentar ao duzida –, Marcelo pode não encontrar muito
caso TAP, adicionava: “O Governo não pode em que pegar, é verdade que o Presidente não
dar por garantido que, porque tem maioria tolerará o atraso ou a ineficiência na aplicação
absoluta, isso é um seguro de vida para não dos fundos da bazuca europeia. Mas o prazo
haver dissolução.” de um ano para nova avaliação presidencial
Em ambos os casos, as palavras, que pa- dá tempo de recuperação a Costa. O anúncio
reciam ameaçadoras, eram esvaziadas pelo da reposição de rendimentos aos pensionis-
respetivo anticlímax presidencial: em março, tas, aliás, é já um sinal de que o líder do PS
o PR ressalvava que, apesar de não abdicar do pretende chegar ao ano eleitoral (eleições para
poder de usar a “bomba atómica”, não tinha o Parlamento Europeu) de 2024 com o seu
qualquer intenção de o fazer, por não haver eleitorado tradicional assegurado. É possível
uma “alternativa aritmética”, na oposição, que que, pela mesma razão, também os professo-
GOLPE DE VISTA permitisse a substituição do Governo. E, em res recebam, em breve, boas notícias.
abril, avisava essa mesma oposição de que Nenhum Presidente deita a mão à “bom-
A ORQUESTRA não valia a pena tentar empurrar o Presi- ba atómica” se não tiver a certeza de que,
DO TITANIC dente, na esperança de que ele, algum dia, a seguir, o eleitorado lhe dará razão. Teve
O otimismo fará a dissolução: “É melhor não dar isso por razão Mário Soares, quando viu derrubado,
em relação à garantido”, disse Marcelo. por uma moção de censura, o 1º governo
sustentabilidade do Na verdade, o Presidente anda há quase (minoritário) de Cavaco Silva. E Soares, em
regime de pensões, dois meses a conduzir um baile de másca- vez de aceitar a solução governativa que o PS
esta semana reiterado ras em que todos dançam sem mostrar o e o PRD lhe ofereciam, com o beneplácito do
por António Costa, é verdadeiro rosto – ou as reais intenções. PCP, dissolveu e foi para eleições: Cavaco teve
um jogo perigoso. Na Toda a gente fala na hipótese da dissolução, maioria absoluta. Teve razão Jorge Sampaio,
verdade, se incluirmos mas ninguém acredita que ela seja possível e quando dissolveu e acabou com o governo
a Caixa Geral de muito poucos a desejam. O fantasma nem se- de Santana Lopes: a seguir, o eleitorado deu
Aposentações, o quer assombra o Governo – mais mossa faria uma maioria absoluta ao PS. E teve razão…
sistema contributivo o PR se desatasse a enviar mensagens para a Marcelo Rebelo de Sousa: em 2021, peran-
é deficitário e as
Assembleia da República, se fizesse discursos te o chumbo do Orçamento do Estado (OE)
transferências do OE
demolidores no 25 de Abril ou se começas- para 2022, optou por dissolver, sem que a
são essenciais para
colmatar o défice
se a vetar diplomas considerados essenciais isso fosse obrigado. E o eleitorado concedeu
anual de 6,5 mil – como o da Habitação. E a ficção também maioria absoluta a António Costa. Três dis-
milhões de euros. serve o PSD, que prefere esperar, porque soluções, três maiorias. E agora? Agora, se o
Um dia isto estoira. precisa de ganhar tempo e torcer para que PSD, por acaso, ganhasse – o que não é certo
E os partidos que, Costa ainda se desgaste mais. Ignorando, por –, talvez levasse o Chega para o Governo.
devido aos custos completo, a máxima de Giulio Andreotti, que E Marcelo, um filho do Estado Novo, jamais
políticos, recusam se aplica como uma luva aos líderes do PSD: quererá ficar na História como o Presidente
enfrentar a realidade, “O poder só desgasta quem não o tem.” que abriu as portas do poder à direita radical
serão a orquestra O Presidente prossegue, assim, uma po- e populista. Uma tal possibilidade só é ad-
do Titanic. lítica deliberadamente ambígua, dando uma missível... num baile de máscaras. fluis@visao.pt
AIRFREE
Diretora: Mafalda Anjos TEMPO DE ALERGIAS
Diretor-Executivo: Rui Tavares Guedes
Subdiretora: Sara Belo Luís A Primavera está aí, a Natureza fica em festa, mas para muitos é a pior época do ano… Fatores
Editores-Executivos: Alexandra Correia e Filipe Luís ambientais (e não só, porque também genéticos), contribuem para o aumento, no nosso país, de
Conselheiro Editorial: José Carlos de Vasconcelos pessoas alérgicas, crianças inclusive.
EXAME/Economia: Tiago Freire (diretor)
Editores: Clara Cardoso (visao.pt) Filipe Fialho (Mundo), Inês Belo (VISÃO Se7e),
E quem sofre de rinite ou asma sentirá na primavera e verão um maior desconforto .
João Carlos Mendes (Grafismo), Manuel Barros Moura (Radar)
e Pedro Dias de Almeida (Cultura) Tecnologia sem filtros, não necessita de manutenção. Através do sistema patenteado (TSS), os
Redatores Principais e Grandes Repórteres: Carlos Rodrigues Lima, aparelhos aquecem o ar a altas temperaturas no seu interior, até que 99,99% dos microrganismos
Cláudia Lobo, José Plácido Júnior, Miguel Carvalho e Rosa Ruela
Redação: Carmo Lico (online), Cesaltina Pinto, Clara Soares, Clara Teixeira, sejam destruídos. O ar retorna limpo ao ambiente, num processo seguro, silencioso e económico,
Florbela Alves (Coordenadora VISÃO Se7e/Porto), Joana Loureiro, João Amaral Santos, e os aparelhos não necessitam de manutenção, já que dispensam filtros.
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Dias úteis – 9h às 19h
POR
Joana
Marques Boaventura
— Humorista
Sousa Sacrossanto
ELEFANTE NA SALA
E
finalmente, alguma vamente nas áreas de sociologia da Universidade de Coimbra. Já
elevação cultural (...), além de fazer trabalho de Moira Millán conta que foi de-
em Portugal. O País campo em Portugal, no Brasil, saconselhada a denunciar Boa-
já não perde tempo na Colômbia, em Moçambique, ventura porque isso seria “fazer
a discutir o que se em Angola, em Cabo Verde, o jogo da direita”. Esta semana,
passou nos reality shows da TVI, na Bolívia e no Equador”. De alunos de sociologia da Faculda-
debruça-se antes sobre uma facto uma deputada estadual de de Letras do Porto, fervoro-
publicação da prestigiada edito- brasileira, Bella Gonçalves, e sos apoiantes da extrema-di-
ra académica Routledge. Claro uma activista argentina, Moira reita, como é habitual nestes
que também contém cenas se- Millán, já vieram entretanto cursos (muitas vezes até usam
xuais, para suscitar o nosso in- acusar Boaventura de assédio, rastas e t-shirts do Che Guevara
teresse. No livro sobre conduta provando que este professor para disfarçar), cancelaram uma
sexual inapropriada na acade- universitário, ao contrário de palestra de Boaventura Sousa
mia, três investigadoras dizem outros, não aldraba no cur- Santos. Todos estes indícios po-
que o “Professor Estrela” tinha rículo. Digamos que se outro dem fazer-nos crer que estamos
por hábito assediar as alunas. catedrático português cunhou a perante o movimento #MeToo
Boaventura Sousa Santos enfiou elegante expressão “todo lá den- português, mas em princípio
a carapuça e acusa as autoras de tro”, com Boaventura é “tudo lá será apenas a estagnação “eu
difamação, mas creio que elas fora”, se vier a confirmar-se esta também conheço alguém a
até foram lisonjeiras. Afinal de quantidade de internacionaliza- quem aconteceu isso”... Relem-
contas, chamaram-lhe estrela. E ções. Bella Gonçalves lidou com brando, precisamente, o caso de
é capaz de ter sido esse estatu- Boaventura como orientador Tomás Taveira, percebemos que
to que o levou a, alegadamente, da sua tese, mas este aparen- não há grandes consequências
assediar várias estudantes, ao temente ficou desorientado. nestes casos, mesmo quando
longo dos anos. Uma pessoa Talvez pelo diferente sotaque, são provados por A+B, ou por
convence-se de que é uma es- não tenha percebido que o in- VHS. Boaventura Sousa Santos
trela, tão distante dos comuns teresse da doutoranda brasileira ainda há-de fazer o seu Está-
mortais que é por isso intocável, era pelo corpo docente do CES, dio de Alvalade (de preferência,
como os corpos celestes, o que e não pelo corpo dos docentes mais bonito). visao@visao.pt
lhe dá o à vontade para tocar em
corpos de Celestes, Marias ou
Ritas, mesmo que contra a von-
tade destas. Mas depois, chega
uma publicação como esta, que
faz as vezes de um telescópio,
e deixa à vista de todos estes
comportamentos que só se têm
à porta fechada. No seu site, em
nome próprio, Boaventura Sou-
sa Santos apresenta-se como
“autor reconhecido e premiado
em diversas partes do mundo,
tem escrito e publicado extensi-
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Leprosaria
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