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A NEWSMAG
NEWSMAGAZINE
AGAZINE MAIS LIDA DO PAÍS WWW.VISAO.PT
Nº 1542 . 22/9 A 28/9/2022 . CONT. E ILHAS: €4. SEMANAL
SARAMAGO
REVELAÇÕES
DA NOVA
BIOGRAFIA
A ARTE
DE BEM COMER
O que diz a Ciência e como escolher alternativas saudáveis e saborosas
PROTEÍNAS
Í A MAIS OU A MENOS? + OS ALIMENTOS PARA SE VIVER MAIS TEMPO
Giannis Antetokounmpo
22 SETEMBRO 2022 --- Nº 1542
VISÃO
ENTREVISTA
Pedro Morgado ..............14
RADAR
A semana
em 7 pontos
Zero a atividade física.. 18
Holofote
Miguel Alves ................... 20
VISÃO SETE
Raio-X A vida labiríntica
Cada vez mais velho de José Saramago ......... 89
continente ........................ 21
Arcade Fire
Periscópio em Portugal .................... 98
A batalha das pensões. 23
Mimo Festival:
Próximos capítulos do Brasil para o Porto . 99
Crimes de guerra,
a longa espera A primeira encenação
da Justiça ......................... 24 de Pedro Penim
no D. Maria .................. 100
Fotos com História
Roger Federer, Exposição fotográfica
o nascimento de Steve McCarry ....... 102
de uma lenda...................27 Cinema: Tiago Guedes
Transições regressa ao Portugal
Irene Papas ..................... 28
A queda do último tabu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2 profundo ....................... 103
Após longas batalhas e muitos equívocos, o clítoris é reconhecido,
Na primeira pessoa O gosto dos outros:
pela Ciência, como o órgão cuja única função é dar prazer
“Como esquecer Nini Andrade Silva........111
os que ficaram
nos escombros?”...........30
A arte de bem comer ....................................................... 34
De onde vem a comida, como aproveitar a sazonalidade dos produtos, OPINIÃO
Imagens escolher os mais saudáveis e ter o prazer de cozinhá-los Dulce Maria Cardoso
O funeral de Isabel II .. 32 A passagem secreta.......10
w w w.visao.pt
ONLINE Gabriel Mota Leite Miguel Costa Matos Adão Carvalho
DA ECONOMIA, LUGAR AOS NOVOS BOLSA
Últimos COM FELICIDADE 2 em 1: Combater a DE ESPECIALISTAS
artigos A dor da queda inflação e as alterações O reforço do Estado
no site da é maior do que a alegria climáticas de direito
VISÃO do salto
CONSELHO
DE PROFISSIONAL
Almudena López de Rego A sua casa se vê apagada e triste por falta de luz? Parece-lhe
Arquitecta pequena e pouco aconchegada? Agora é o momento de dar um novo
Muitas vezes é difícil que entre luz apenas ar à sua casa de forma rápida e simples.
pela fachada da casa.
A combinação de janelas verticais na fachada
Na VELUX, propomos olhar para cima e abrir o telhado para deixar entrar a luz natural
com janelas de telhado cria um espaço com
e transformar a sua casa! O telhado, seja inclinado ou plano, é a forma mais fácil de
muita luz e aberta para o exterior, oferecendo
multiplicar a luz e permitir a circulação de ar, criando assim espaços únicos e especiais
a percepção de um espaço muito mais amplo.
que proporcionam bem estar e melhoram o estilo de vida de todos que vivem na casa.
Uma janela de telhado providencia o dobro da quantidade de luz que uma janela
O PODER DA LUZ vertical e o triplo que uma mansarda do mesmo tamanho, até em dias nublados. A luz
vinda de cima difunde-se por todo o espaço, sem obstruções nem sombras, provocan-
VINDA DE CIMA
do uma maior amplitude visual.
Soluções únicas
Descubra mais
testemunhos.
---------- L I N H A D I R E TA
– CORREIO D O LEITOR
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ANTEVISÃO
VISÃO SETE
É o fim de um diferentes e terem to-
JOSÉ CARLOS CARVALHO
E
livros, faz-me questio- artigo SNS: À espera da
stamos sempre a ouvir os nar esta vertigem de minha vez (V1540), foi
constantes elogios aos bene- filtrar através de écrans usada por duas vezes a
toda a experiência da
fícios da dieta mediterrânica, palavra “manipulação”,
realidade física. Há que como sendo atribuída à
considerada uma das mais
ponderar efeitos sobre presidente da Entidade
saudáveis do mundo. Mas vamos pôr REGRESSO ÀS AULAS a saúde visual e social.
os pontos nos is: não é por encharcar Truques para escrever Reguladora da Saú-
– António Dias, Lisboa
uma bela fatia de pão alentejano num sem erros de, que em entrevista
bom azeite das Beiras que está a seguir (reproduzida fielmente)
GUSTAVO CORONA
a tradição e a olhar pela sua saúde. apontava apenas para
A excelência da qua- a existência de sérios
Sobretudo quando o faz como entrada lidade, profundidade, constrangimentos nos
para uma refeição onde reina o bife carga emocional, visão dados disponíveis dos
com batata frita. A dieta mediterrâni- do mundo e da pessoa Tempos Máximos de
ca dos nossos avós era feita de muita [Tenho dores 24 horas Resposta Garantida
couve e uma mão-cheia de feijão – por dias, de Gustavo no SNS. Na verdade, a
carne, só muito de vez em quando. Corona, V1540] tocou- interpretação de que
Nem todos temos dinheiro para -me profundamente. Ao aqueles dados possam
abastecer a despensa nas secções “bio” ponto de imaginar que ter sido “manipulados”
dos supermercados, cada vez mais trocaria alguma da mi- é da exclusiva respon-
concorridas, é um facto. Mas a sardi- LIVROS nha saúde pela sua vi- sabilidade da VISÃO.
nha ou a cavala, embora vítimas da in- O “senhor” são e afetos, se isso lhe
flação, como todos os produtos, conti- Gonçalo M. Tavares tirasse algumas dores. E
nuam entre os peixes mais acessíveis e para que continuasse a
escrever crónicas sobre
--------
são também dos mais saudáveis. Triste Contactos
mesmo é ver como um quilo de fruta as suas emoções e visao@visao.pt
ou de verdura consegue ser mais caro experiências de vida e As cartas devem ter um
não vida. máximo de 60 palavras
do que um pacote de batatas fritas
– Bráulio Pinto, Chaves e conter nome, morada
carregadinhas de gordura e sal. e telefone. A revista
Nesta edição da VISÃO não entra- ARTURO PÉREZ- reserva-se o direito
mos em dietas – mergulhamos na arte -REVERTE
de selecionar os
de bem comer, que inclui um pouco de trechos que considerar
Contesto uma das mais importantes.
tudo, pois, como dizia o médico Para- afirmações de Arturo
celso, é a “dose que faz o veneno”. Sé- Pérez-Reverte à VISÃO Morada
culos depois, a receita é a mesma, com ANTIGO EGITO [V1542]. Uma coisa é CORREIO: Rua da Fonte
uma certeza trazida pela Ciência: são Os mistérios, nos 100 manifestar-se contra o da Caspolima – Quinta
vários os tipos de cancro associados anos da descoberta politicamente correto, da Fonte, Edifício
à má alimentação. Quer viver mais? do sarcófago de Fernão Magalhães, 8,
outra é discriminar 2770-190 Paço de
Já sabe, coma os seus legumes. Tutankhamon pessoas só por serem Arcos
visao@visao.pt
A passagem secreta
NÃO AUTORIZADA
Dulce
E
Maria u tinha estado a jogar à maca- não encontrei indícios de que outra pessoa
Cardoso ca com a Cristi, os nossos pulos ali tivesse estado. Se alguém acedera re-
argamassavam alegremente a motamente, talvez me observasse naquele
manhã. O corpo dela esguio, o momento através da câmara. Fixei o orifício
meu rechonchudo, ela graciosa, central no cimo do ecrã do portátil, um
eu enérgica. Uma de nós ganhava uma volta enigmático olho pequenino. Quem teria
e era logo batida pela outra na seguinte. entrado no meu computador? E se tivesse
Quando a dona Flor assomou à janela, sido eu mesma a escrever aqueles três pará-
chamando a Cristi para o almoço, o grupo grafos e me tivesse esquecido? Esta hipóte-
de rapazes chegara há pouco. Ficaram na se era a mais assustadora. Quem era aquele
galhofa junto à empena do prédio que es- Manuel Luís? Quem era a...
tava em construção. Ouvimo-los rir alto e – Não te faças de parva, sabes perfeita-
sabíamos que gostavam de olhar para nós. mente quem são.
— Escritora
Vendo-me sozinha, o Manuel Luís veio Reconheci-lhe imediatamente a voz. Não
ter comigo, a sua bicicleta ficou junto dos me assustei. Nem sequer me surpreendi.
outros. Olha o que arranjei, disse, mostran- Acontece quase sempre assim e muitas ve-
do-me uma chave, É da casa abandonada, zes não há hipocrisia nenhuma: as pergun-
tem uma passagem secreta para a drogaria. tas são mais lentas a serem formuladas do
A minha mãe não tinha o hábito de me cha- que as respostas a se apresentarem. Frações
mar para o almoço, mas eu sabia que tinha de segundo, ainda uma frase não acabou de
de ir para casa. O Manuel Luís desafiou-me, se encaracolar em interrogação, e já outra se
Queres ir ver? perfila, querendo calar, exclamativa, a pri-
Trepámos sorrateiramente o peque- meira. Uma pergunta é quase sempre refém
no muro degradado. Com a chave que me de uma resposta, raramente tem o poder de
mostrara, ele abriu a porta de um cubículo existir por si.
que havia no quintal. Estava escuro lá den- A Violeta, evidentemente que sim, a Vio-
tro. Um reticulado de teias de aranha corti- leta, a narradora do romance que escrevi há
nava a entrada. O Manuel Luís fez um gesto já quase duas décadas.
com a cabeça para que eu entrasse. Tive – Não estava nada à tua espera,
vergonha de dizer que estava com medo. confessei.
Ele pôs o indicador sobre os lábios a impor A voz da Violeta parecia vir de trás dos
silêncio e acendeu o isqueiro. Queimou as livros da estante, onde só existe a parede
teias de aranha e fechou a porta atrás de que me separa da casa do vizinho. Deixei-
si, Se a tua mãe sabe que vieste p’raqui ‘tás -me ficar voltada para a secretária, indecisa
metida num sarilho jeitoso. Eu ainda estava entre procurar a Violeta na câmara do com-
a tentar perceber o que significava o que ele putador ou nas palavras do ecrã.
dissera, quando ouvi os outros rapazes a – Foste então tu que escreveste isto?
Será que não saltarem o muro. – Queres dizer viveste ou escreveste?
* – Não sei, estou confusa. É da emoção.
desliguei a luz Será que não desliguei a luz do escritó- Estou contente de estarmos outra vez jun-
do escritório? rio? Ultimamente, tem-me custado ador- tas. Pensei que tu tivesses...
Ultimamente, mecer. Com o cansaço a moer-me o corpo,
a cabeça divaga entre assuntos insignifican-
– Que eu tivesse o quê?
– Aquela estrada do último capítulo de
tem-me tes. Levantei-me. Apagara a luz, mas não Os meus sentimentos, pensei que tu tives-
custado desligara o computador. O ecrã iluminava ses...
fantasmagoricamente o que o rodeava, as – Morrido? Porque tens medo da pala-
adormecer. tralhas em cima da secretária pareciam a vra?
Com o cansaço maquete de uma cidade abandonada ao luar – Não tenho medo da palavra. Não é de
ILUSTRAÇÃO DE SUSA MONTEIRO
A
viragem do século ditou uma país da igualdade, liberdade e fraternidade. E
Mafalda mudança significativa na política na Alemanha, a AfD chegou ao Bundestag de
Anjos europeia. O primeiro embate, um
marco histórico, aconteceu logo em
rompante em 2017, causando assombro por ver
entrar na assembleia um partido de extrema-
fevereiro de 2000, quando o Partido -direita pela primeira vez desde o nazismo.
da Liberdade austríaco, liderado por um sinis- Aqui ao lado, o Vox é o terceiro partido no par-
tro Jörg Haider, assumidamente nacionalista, lamento espanhol.
xenófobo e defensor de políticas de inspiração Os resultados das eleições na Suécia, no
nazi, entrou formalmente num governo, con- domingo passado, não devem, pois, surpreen-
seguindo o melhor resultado para um partido der. Este é o novo normal numa Europa onde
de extrema-direita desde a Segunda Guerra os movimentos populistas, conservadores,
Mundial. As ondas de choque fizeram-se sentir nacionalistas, antieuropa e/ou anti-imigração
um pouco por toda a Europa: como era possível suportam soluções governativas ou ganham
que um partido com estas características che- força inequívoca. As cercas sanitárias são raras
gasse ao poder, legitimando a extrema-direita e pouco eficazes.
em toda a Europa? Os ironicamente chamados Democratas
— Diretora
Não só foi possível, como fez escola. A ex- Suecos, um partido radical que fez campa-
trema-direita, com o seu discurso antissistema nha contra a imigração, a corrupção e o crime,
e “antimuita coisa”, passou a ser o “bully” a ter legislação ambiental e, cereja no topo do bolo,
em conta nos resultados legislativos. Depois da tem raízes neonazis, alcançaram mais de 20%
Áustria, nestes 22 anos, muitos outros partidos dos votos, chegaram ao segundo lugar e vão
do espetro da direita radical chegaram a coliga- suportar uma coligação de governo à direita.
ções que suportam governos e, nalguns casos, Mesmo que não consigam assento no governo,
até conseguem integrá-los. uma hipótese que os liberais recusam, terão
A lista é extensa. Nos Países Baixos, o nacio- influência na definição das políticas suecas.
nalista anti-islamita Geert Wilders, que compa- Por cá, não sendo umas eleições nacionais
rou o Corão ao Mein Kampf, teve um lugar de (onde, no outro lado do espetro, a esquerda
destaque num governo minoritário com o VVD mais radical garantiu uma solução governativa),
e os democratas cristãos em 2010, e chegou a na Região Autónoma dos Açores, um acordo
ser dado como possível vencedor nas eleições entre PSD, CDS-PP, PPM com o Chega, assina-
de 2017, ficando num confortável segundo do em novembro de 2020, deu suporte ao go-
lugar. Na Dinamarca, o DF, o nacional-conser- verno. Esta semana, novas sondagens mostra-
vador Partido do Povo Dinamarquês, tornou-se ram que, somadas as intenções de voto no PSD
o segundo maior partido em 2015, alcançando e na Iniciativa Liberal, a direita já suplantaria os
21% nas eleições gerais, mas acabou por perder resultados do PS se incorporasse o Chega, que
gás em 2019. se consolida como terceira maior força política.
Os populismos, Na Noruega, o Fremskrittspartiet, ou Partido Sondagens, leva-as o vento e, como bem sabe-
à direita do Progresso, liberal, nacionalista e anti-imi-
gração, coligou-se com os conservadores em
mos, valem o que valem quando temos quatro
anos pela frente de maioria absoluta, mas este é
e à esquerda, 2013 e formou governo (conhecido como “ga- um cenário que está sempre em cima da mesa a
encontram binete Solberg”), sendo reeleito em 2017 com os médio prazo.
liberais e os democratas-cristãos. Na Finlândia, O contexto agora é extremamente propício e
terreno fértil o populista Partido dos Finlandeses, conhecido vai continuar a ser. Os populismos, à direita e à
em tempos como True Finns, conseguiu o terceiro lugar esquerda, encontram terreno fértil em tempos
de incerteza, nas eleições de 2011 e o segundo nas de 2015, e
depois de um fracionamento, voltou a chegar
de incerteza, crise económica e desespero. A
inflação, a subida das taxas e o forte abranda-
crise económica à segunda posição em 2019. Em Itália, entre mento que se adivinham adiante deixarão mos-
e desespero. 2018 e 2019, Matteo Salvini, o rosto da Liga, foi sas. E a tendência é para os eleitores desconten-
vice-primeiro-ministro. E o Fratelli d’Italia, de tes irem buscar respostas alternativas quando
Mais do que Giorgia Meloni, está bem colocado nas son- “os do costume” não oferecem soluções.
combater estes dagens para as eleições de dia 25 de setembro, Perceber as razões profundas deste ressen-
movimentos podendo os italianos elegerem a primeira líder
de extrema-direita desde Mussolini.
timento e desta raiva e atendê-las com respos-
tas e medidas concretas é um imperativo para
políticos, Não chegou ao Eliseu, mas em França, todos os partidos tradicionais. Mais do que
é preciso Marine le Pen, perdeu na segunda volta com combater os movimentos políticos, é preciso
uma mudança cosmética da Frente Nacional, combater as suas causas. Caso contrário, tentar
combater as mas conseguiu 41,5% dos votos, 13 milhões detê-los é como tentar parar o vento com as
suas causas de votantes a gostar das suas propostas no mãos. manjos@visao.pt
issao/aventura-solidaria
ma is informações em: am i.org.pt/m
mi.o
Pedro Morgado Psiquiatra e professor da Escola de Medicina
da Universidade do Minho
7PONTOS
DA SEMANA
Zero em atividade física
O debate político em Portugal está repleto
de comparações com a realidade dos outros
países do bloco europeu. É um exercício
fácil, barato e que, ainda por cima, permite
milhões de argumentos possíveis, dentro
da velha lógica do “copo meio cheio” ou
“meio vazio”. Tem origem, porventura, no
trauma do salazarista “orgulhosamente sós”
desporto e de atividade física, os portu-
gueses são – com todos os números – os
mais inativos da Europa.
O mais recente Eurobarómetro, publica-
do nesta semana e em que se recolhem os
dados de um vasto inquérito realizado nos
27 países da União Europeia, é eloquente,
tanto nas percentagens como nas con-
e da maneira mais eficaz de o combater: clusões: 73% dos portugueses dizem que
demonstrando, através dos números, como nunca praticam qualquer exercício físico
esse isolamento nos afastou, durante dé- ou desporto. E quando se lhes pergunta
cadas, da realidade económica, educativa, com que frequência têm uma atividade
sanitária, cultural e social dos países com física, fora do desporto, como andar de
os quais nos poderíamos comparar, em bicicleta, dançar ou até jardinagem, a res-
dimensão e em população. posta é quase a mesma: 72% confessam
Esse recurso argumentativo tem beneficia- que nunca a fazem.
do também do facto de a União Europeia Contas feitas, os portugueses são os cam-
possuir um fiável e prolífico serviço de peões europeus da inatividade física. Mas o
R U I TAVA R E S
GUEDES*
estatística, que nos vai informando, com mais impressionante é que essa realidade
regularidade, sobre como nos compara- continua longe dos temas que dominam
mos com cada um dos nossos parceiros. o debate político, como se este fosse um
Os números são, assim, continuamente tema menor e sem relevância para as nos-
usados segundo a conveniência de cada sas vidas – apesar da sua importância, já
um e servem para responder a qualquer mais do que cientificamente provada, para
pergunta: Temos ou não a maior carga a saúde, o desenvolvimento psíquico e
fiscal da Europa? O nosso crescimento mental, a aprendizagem e, de uma forma
económico suplanta ou fica abaixo do geral, para a vida em sociedade.
apresentado pelos outros? Estamos, em Pode ser também, cinicamente, uma es-
termos de desenvolvimento, na cauda ou tratégia política de vistas curtas: para quê
a meio do pelotão europeu? Exatamente gastar energias como um assunto que, se
com base nos mesmos indicadores, con- calhar, só interessa aos 22% de portu-
segue-se, no debate político, demonstrar gueses que, no Eurobarómetro, afirmam
a existência de realidades diametralmente praticar desporto, “regularmente” (4%) ou
opostas. Tudo depende da perspetiva e da com “alguma regularidade” (18%).
habilidade com que se desenham os gráfi- A realidade é que estes números são maus
cos – e do ardor argumentativo de quem demais para ficarem reduzidos ao silêncio
os exibe, mesmo fugazmente, em frente ensurdecedor do costume. Até porque
às câmaras de televisão. iremos pagar a fatura desta realidade num
No meio desta cacofonia de indicadores, futuro próximo: o facto de estarmos na
estatísticas e gráficos, há, no entanto, cauda da Europa na prática de desporto e
*Diretor-executivo uma realidade que não permite segundas de exercício físico vai acabar, porventura,
rguedes@visao.pt interpretações nem sequer um olhar com por nos levar ao primeiro lugar na Europa...
uma perspetiva diferente: em matéria de em gastos na Saúde.
UNIÃO EUROPEIA
CPLP
“A era
de hoje
não é
uma era
de guerra, MILIONÁRIOS
Miguel Alves
Um “velho conhecido” de Costa
Currículo Críticas da
Luís Miguel da Miguel Alves oposição
Silva Alves, 46 A distrital do
anos, é um “velho” é o novo secretário PSD de Viana
conhecido de de Estado adjunto do Castelo não
António Costa. tardou a reagir
Natural de Lisboa, do primeiro-ministro, a esta nomeação,
Remodelação
licenciado pela voltando a trabalhar Protagonista
acusando Miguel
Faculdade Alves de “trair”
Menos de seis de Direito da com António Costa, com um ovo a população
meses depois Universidade de como já o tinha feito Miguel Alves do concelho.
da tomada Coimbra, trabalhou protagonizou “A distrital de
de posse do com o primeiro- quando o agora um dos momentos Viana do Castelo
Governo, António ministro em várias chefe do Governo mais divertidos da do PSD felicita
Costa voltou ocasiões, como última campanha Miguel Alves pela
à fórmula antiga, adjunto de António exercia funções como para as legislativas. nomeação para
alterando não só Costa, quando presidente da câmara No comício secretário de
a composição mas este era ministro realizado no Teatro Estado adjunto
a própria orgânica de Estado e da de Lisboa e ministro Sá de Miranda, em de António Costa,
do executivo, Administração Viana do Castelo, salientando, no
— P O R J O Ã O A M A R A L S A N TO S
recuperando a Interna (entre no dia 24 de entanto, que o
figura de secretário janeiro de 2006 janeiro, o então mesmo não deve
de Estado adjunto e maio de 2007), autarca subiu ao acontecer com
do primeiro- e presidente palco e utilizou um a população de
ministro, função da câmara de ovo para ironizar a Caminha, que
que já havia sido Lisboa (entre confiança que se acabou de trair,
desempenhada por agosto de 2007 e fazia sentir entre abandonando
Mariana Vieira da outubro de 2009). as hostes a autarquia
Silva, atual ministra Presidente da do PSD, a reboque e as promessas
da Presidência, Câmara Municipal de sondagens feitas, devido
e Tiago Antunes, de Caminha desde favoráveis. às suas ambições
agora secretário 2013, Miguel Alves “Bastaram dois políticas”, diz a
de Estado dos é ainda presidente dias de bons distrital social-
Assuntos Europeus. do Conselho resultados nas democrata em
O escolhido para Regional do Norte, sondagens para comunicado. “Em
o cargo é Miguel membro efetivo a arrogância vir ao troca de um cargo
Alves que, até ao do Comité das de cima”, afirmou. de boy socialista,
momento, liderava Regiões, membro “Não sei quem Miguel Alves
a distrital do suplente do vai ganhar [as abandonou, nem
PS de Viana do Conselho Geral eleições], mas um ano depois,
Castelo e cumpria da Associação sei quem vai o concelho.
o terceiro e último Nacional de perder. Quem As promessas
mandato como Municípios vai perder é que tinha como
presidente da Portugueses quem acha basilares são
Câmara Municipal e presidente que pode agora de menor
de Caminha. da contar com importância. Não
Comissão este ovo [e se queixe o PS
Distrital de tirou um ovo que a população
Proteção do bolso] caminhense (...)
Civil de no sítio castigue quem
Viana do onde as se vangloria de
Castelo. galinhas o palavra dada e
guardam!”, não a cumpre”,
acrescentou, acrescenta a nota.
arrancando
gargalhadas
à plateia.
Os dados do Eurostat apontam para que, até o final do século, mais de 30% da população da União
Europeia tenha 65 anos ou mais. Este envelhecimento galopante representa uma pressão crescente nas
redes de segurança social dos países-membros, dadas as crescentes necessidades de financiamento das
pensões e daqueles que deixam o ativo. Apesar de muito acentuado, o fenómeno do envelhecimento da
população não é exclusivo da UE. Segundo a Organização Mundial
da Saúde, uma em cada seis pessoas no mundo terá 60 anos ou mais, até 2030
HOMENS MULHERES
90 90
80 80
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
<1 <1
3 2 1 POPULAÇÃO 1 2 3
(em milhões)
O
s problemas por que passamos e os cessos dinâmicos e nós estaremos cá ou noutro
Pedro planos para os debelar, a inflação lado qualquer enquanto o mundo for mundo ou,
Marques que nos come o valor do dinheiro,
a guerra na Ucrânia que é tão nossa
pelo menos, enquanto a nossa cultura perdurar.
Já não sei quem o disse, mas tinha toda a
Lopes como de quem a combate, foram razão: a maior dádiva de Portugal ao mundo foi
deixando passar uma data que merecia um des- o Brasil – e quem conhece não esquece que Bra-
taque que não teve por cá, sendo que o pouco sil é com s. E, passe a imodéstia, demos muitos
que teve foi pelas piores razões: os 200 anos da mundos ao mundo, mas nenhum como a terra
independência do Brasil. de Vera Cruz.
Tenho mil e uma cartas de amor para escre- Aquele gigante, aquele imenso continente
ver ao Brasil e cada uma delas tem mil e uma ficar unido sob uma mesma bandeira, ser dos
razões para o provar. maiores países do mundo foi obra sobretudo de
A banda sonora da minha vida está cheia do portugueses. E dentre eles o rei que, tomando
mais lindo sotaque que o português tem. Não há banho ou não, colou os pedaços de cem Brasis,
país no mundo que tenha mais riqueza musi- fê-lo crescer em todos os sentidos e em todas as
cal, instrumentistas mais virtuosos, cantores tão áreas, amou-o como ninguém e ainda lhe deu o
— Analista político
deslumbrantes, letristas tão brilhantes. Neste filho: el-rei Dom João VI que não teve pejo em
espaço não cabiam os nomes dos homens e fazer uma cidade num outro continente capital
mulheres que cantaram e cantam para mim, que de Portugal.
me embalaram os amores, com quem faço coro, Pois é, meus queridos irmãos brasileiros,
com quem danço, imaginando-me a desfilar nunca um pai deixou uma herança tão valiosa a
vestido do azul e branco da Portela. Diz que não um filho. Do Rio Grande do Sul a Roraima, da
há coisa mais bela. Paraíba ao Acre, com recursos naturais como
Na lista dos meus escritores favoritos estão nenhum outro, com o pulmão do mundo, com
muitos brasileiros, opinando eu na minha con- a maior diversidade que há, com as mais lindas
dição de especialista em tocar campainhas que cidades do universo (ai Rio de Janeiro, princesa
o Machado de Assis é o mais brilhante escritor das cidades).
de língua portuguesa e o Rubem Braga o me- O que se faz com as heranças é com os her-
lhor cronista de todos os tempos e de todas as deiros, mas ninguém sofre mais com os filhos
línguas. Já agora, a vida e a história do marido do que os pais. Eu falo por mim, ver o Brasil
da tripeira Carolina Augusta – mulato, neto de há tanto tempo adiado, ver a pobreza asfixian-
escravos e filho de uma lavadeira portuguesa e te, a chocante desigualdade, a criminalidade, o
de um negro, primeiro presidente da Academia aberrante racismo, a corrupção como modo de
Brasileira de Letras – é uma metáfora benigna, vida, a ignorância no poder magoa-me mais do
para lá da literatura, do que podia ter corrido que qualquer sítio do mundo, com as exceções
bem na sociedade brasileira. Não correu. facilmente imagináveis, Angola, Moçambique,
Vou – mesmo sendo também pedaços de Cabo Verde, Guiné-Bissau e sim os nossos pró-
mim – esquecer os atores, o teatro, o futebol, os prios problemas. Mais, porque o Brasil não pode
arquitetos, os pensadores e os não sei quantos es ser assim, é demasiado rico, tem demasiada boa
ou ous que fazem do Brasil um imenso mar de gente, nenhum deus quis que tivesse esses dra-
talento em tantas, tantas áreas. mas. Mais, o povo brasileiro não merece.
Toda esta gente escreve e canta em por- Eu sei. Conheço aquela conversa “a culpa é
tuguês. Um português que vai crescendo, que dos portugueses, se tivéssemos sido coloniza-
se vai modificando e, as coisas são como são, dos por outros...”. Lembro-me de me irritar e
vai sendo moldado por quem mais o fala e por responder que os meus avós tinham ficado em
quem mais o escreve. Já há muito me passou Portugal, portanto a culpa era dos avozinhos
a raiva de chegar ao Brasil e as pessoas terem de V. Exa. Mas foi tão parvo, eu como os que
Por muito dificuldade em perceber-me e eu compreender diziam aquilo. O desespero faz dizer coisas sem
rigorosamente tudo o que elas dizem. É a vida, o sentido e nem dois séculos mataram o olhar
que nos custe, processo natural, tentar prender a língua é como adolescente do filho Brasil para o pai Portugal. E,
o futuro tentar prender o vento. Por muito que nos custe, sim, o amor não se troca, como escrevia o Carlos
do português o futuro do português está no Brasil e serão os
brasileiros a moldá-lo.
Drummond de Andrade.
Queria muito mais espaço e só um boca-
está no Brasil Antes que se levante o orgulho luso e me dinho de talento para poder exprimir o meu
e serão os espadeire ou me lance da varanda da câmara profundo amor pelo Brasil, mas, pronto, mando
de Lisboa, devo dizer que isso em nada impede novamente um cheirinho de alecrim.
brasileiros de falarmos como falamos ou de escrevermos *Título roubado à canção Carinhoso, escrita por Pixinguinha e Bragui-
a moldá-lo como escrevemos. Lá está, as línguas são pro- nha. visao@visao.pt
“Nenhum
enhum “Os cálculos para
“O
nista será
pensionista o co
corte da evolução
icado, nos
prejudicado, da
das pensões são
ndimentos,
seus rendimentos, m um truque,
mais
ximo ano”
no próximo mais uma aldrabice!”
ANTÓNIOIO COSTA CATARINA MARTINS
CA
ro-ministro
Primeiro-ministro Coo
Coordenadora do Bloco
de Esquerda
Crimes de guerra
Longa espera
pela justiça
— POR MANUEL BARROS MOURA
A
poucos dias de se do pescoço e as extremida-
completarem sete des danificadas”. Jornalistas
meses do início da Agência France-Presse
da invasão russa confirmaram ter visto, pelo
à Ucrânia, a guerra não só menos, dois cadáveres com as
não dá sinais de poder vir a mãos atadas e uma fonte da
ter um fim próximo, como procuradoria afirma que um
se sucedem as revelações deles “tinha as mãos amarra-
macabras e se perpetua o das, a mandíbula quebrada e
horror. Tal como acontecera duas facadas nas costas”.
em abril, em Bucha, depois O procurador estima que
de as tropas russas terem será necessário, pelo me-
debandado da região a norte nos, mais uma semana para
de Kiev, também agora, na exumar os outros corpos, se
recente fuga à contraofensiva as condições meteorológicas
ucraniana nas zonas próxi- permitirem. Até à última se-
mas de Kharkiv, os exérci- gunda-feira, 19, os investiga-
tos às ordens do Kremlin dores tinham exumado uma
deixaram para trás um rasto centena e meia de cadáveres,
de destruição, morte e for- entre os quais os de, pelo me-
tes indícios de crimes de nos, 17 soldados ucranianos.
guerra. Na semana passa- Uma cruz sobre o túmulo
da, o Presidente ucraniano, apresentava a seguinte inscri-
Volodimir Zelensky, começou ção: “Exército ucraniano, 17
por anunciar a descoberta pessoas. Morgue de Izyum.” turadores” que “provocam
de alegadas salas de tortura As autoridades calculam que apenas morte e sofrimento”.
e a existência de uma vala o número total de sepultu-
comum, após a libertação de ras supere as 440, porque o UE EXIGE TRIBUNAL
Izyum. Numa floresta nas número mais alto inscrito nas INTERNACIONAL
imediações daquela cidade cruzes é 445. Algumas delas Em reação às novas evidên-
foram encontradas mais de também têm nomes e datas. cias de crimes de guerra
440 sepulturas que remon- Do lado da Rússia, a cometidos por forças russas,
tam ao espaço temporal entre resposta oficial foi, como a República Checa, que atual-
março e setembro de 2022. sempre, lacónica: “É uma mente ocupa a presidência
Segundo o procurador de mentira. Vamos defender a rotativa da União Euro-
Kharkiv, Yevgen Sokolov, que verdade”, declarou o por- “Somos pela peia, pediu a criação de um
lidera as investigações no lo-
cal, entre os primeiros cadá-
ta-voz do Kremlin, Dmi-
tri Peskov, limitando-se a
punição de todos tribunal internacional para
crimes de guerra. “No século
veres exumados até domingo, acrescentar que “é o mesmo os criminosos de XXI, esses ataques à popu-
18, “a maioria apresenta feri- roteiro de Bucha”, a outra guerra”, diz Jan lação civil são impensáveis e
mentos por bombardeamen- cidade ucraniana onde as hediondos. Não devemos ig-
tos e explosões”, enquanto forças russas foram acusa- Lipavsky, ministro norá-lo. Somos pela punição
outros apresentam “ferimen- das de cometer crimes e que das Relações de todos os criminosos de
tos por objetos cortantes e
mostravam sinais de morte
Moscovo continua a negar.
O que não demove Zelensky,
Exteriores da guerra”, disse o ministro das
Relações Exteriores checo,
violenta”. Sokolov acrescen- que prometeu, na sua conta República Checa, Jan Lipavsky, na sua conta do
tou que um combatente tinha de Telegram, uma “punição que ocupa a Twitter.
“as mãos amarradas atrás das terrivelmente justa” contra Juntando-se ao coro de
costas” e outro foi encontra- a Rússia, cujos soldados diz presidência da indignação internacional
do com “uma corda à volta serem “assassinos” e “tor- União Europeia após mais esta denúncia,
N
Pires ão têm sido dias fáceis para Vla- quemenistão envolveram-se em confrontos
de Lima dimir Putin. A par da reconquis- militares na fronteira. Não se pode por isso
ta territorial ucraniana, a cimeira dizer que as fronteiras da Rússia que não
da Organização para a Coope- pertencem à NATO estejam propriamente
ração de Xangai não lhe correu calmas ou que projetem uma sensação de
bem. Xi Jinping e Narendra Modi, apesar segurança em Moscovo, num contexto de
de não ousarem tirar-lhe o apoio quando volatilidade que pode ainda ter acrescen-
as importações de gás russo são acompa- to pelo facto de o Cazaquistão nunca ter
nhadas de um bom desconto, mostraram o validado a anexação da Crimeia, nem nos
seu desconforto com a duração da guerra e últimos meses ter mostrado muita sim-
os seus efeitos colaterais. Não é a dimensão patia pela agressividade russa na Ucrânia.
humanitária que lhes tira o sono – nenhum Significa isto que, feitas as contas, parece
deles perde um segundo a carpir sobre as que a geografia composta pelos membros
— Analista de política
vidas dos ucranianos, dos uigures em Xin- da NATO é mesmo a que mais segurança dá
internacional
jiang ou dos muçulmanos na Índia –, mas a Moscovo, o que deve ser difícil de aceitar
o ciclo inflacionista provocado pelas dis- para Putin e também para aqueles idiotas
NORTE rupções energéticas, com impacto nas suas úteis que repetem a sua ladainha nalgumas
As legislativas suecas viram recuperações económicas e na estabilidade capitais europeias, incluindo Lisboa.
os sociais-democratas crescer social. Podemos dizer que nem Pequim nem Mas não é para estas figuras menores
e permanecer como primeiro Nova Deli pensaram que uma guerra entre que gostava de chamar a atenção. É mesmo
partido, e a extrema-direita uma potência nuclear autoritária e um país para um figurão, o Presidente da Turquia,
crescer e garantir uma maioria com divisões internas e sem apetrechamen- Erdogan. Não se pode dizer que também ele
de direita no Parlamento.
to militar pudesse durar tanto tempo. Putin esteja confortável com Putin. A relação com
É este um dos efeitos da
não só falhou os seus objetivos estratégicos, Kiev foi tendo uma aproximação estratégica
bipolarização excessiva.
como parece ter defraudado as expectati- nos últimos anos e Ancara nunca reconhe-
SUL
vas dos seus colegas do clube dos homens- ceu a anexação da Crimeia. Disrupções co-
Depois de alterar a -fortes. Janan Ganesh, no Financial Times, merciais, alimentares e energéticas também
Constituição a seu favor, o chamou a isto “incompetência autoritária”. não são do interesse da economia turca,
Presidente da Tunísia reduziu É a coesão entre os três que também está à a braços com uma inflação crescente nos
o número de mandatos no prova e, sobre isso, europeus e americanos últimos anos (ainda antes da Covid-19) que
Parlamento a três meses das devem dedicar a máxima atenção e evitar ultrapassou recentemente os 80% e com a
legislativas. O agravamento desentendimentos entre si. desvalorização da lira. A importância do ga-
da crise económica pode A semana também não correu especial- soduto que vem do Azerbaijão e atravessa a
tornar a situação insuportável. mente bem a Putin no espaço pós-soviético, Turquia rumo à UE implica segurança nesta
esse complemento mitológico imperial ao geografia alargada, caso contrário pode
ESTE binómio Ucrânia-Bielorrússia. Aproveitando perder-se uma oportunidade para a Tur-
Os exercícios recentes no a eternidade do conflito congelado em Na- quia ser mais relevante às também tensas
Extremo Oriente (Vostok gorno-Karabakh, o Azerbaijão e a Arménia economias europeias. Além disso, Erdogan
2022), reuniram 50 mil tropas voltaram aos confrontos armados, os tercei- terá eleições presidenciais (e legislativas) em
e 60 navios de guerra da ros com alguma envergadura em seis anos. junho do próximo ano e as sondagens numa
Rússia, da China, da Índia, da Das últimas duas vezes (2016 e 2020), Baku hipotética segunda volta contra o candi-
Bielorrússia, da Mongólia, do conseguiu conquistar algum território num dato que unirá seis partidos da oposição
Tajiquistão, do Laos, da Síria enclave de maioria arménia, tendo a Turquia não lhe são favoráveis. Até lá, o Presidente
e da Argélia. Putin está longe
sempre como grande apoiante e a Rússia, turco manterá a sua diplomacia de geome-
do isolamento.
tradicional aliado de Irevan, a exercer um tria variável: sentar-se-á à mesa do Conse-
OESTE
papel de mediação. Desta vez, os azeris olha- lho do Atlântico Norte, o órgão político da
Os comícios de Trump ram para a fraqueza russa na Ucrânia e para NATO; dará o braço a Putin nas reuniões
continuam a insistir o recente acordo energético assinado com a da Organização de Xangai; ameaçará mi-
na fraude eleitoral, na União Europeia e viram uma oportunidade litarmente um parceiro da NATO como a
amnistia aos invasores do de mostrar as garras. Ou seja, o Kremlin pa- Grécia; e exercerá uma mediação sonhada
Capitólio, na colagem aos rece ter sido desconsiderado num momento entre a Ucrânia e a Rússia. O valor estra-
conspiracionistas da QAnon, tão sensível para a sua cadeia de comando. tégico da Turquia subiu com a guerra, mas
no ódio a adversários, no culto Uns dias depois, coincidindo, aliás, com o seu cinismo autoritário cresceu em igual
autoritário do chefe. Enterrado o início da cimeira da Organização de Xan- proporção. Os aliados da NATO deviam dar
o GOP, nasceu uma seita. gai, no Uzbequistão, o Quirguistão e o Tur- mais atenção a isto. visao@visao.pt
BONGARTS/GETTY IMAGES
4 DE JULHO DE 2003
MORTES
Carla Nunes
Foi diretora da ENSP-NOVA
entre 2019 e 2021 e integrou
o grupo de especialistas
que aconselhou o Governo
durante os primeiros anos
da pandemia, integrando o
painel de peritos em várias
reuniões do Infarmed sobre
a evolução da Covid-19. Em
março de 2022, foi uma das
especialistas que receberam a
Medalha de Serviços Distintos
do Ministério da Saúde, grau
“ouro”, “em reconhecimento
de todo o aconselhamento
técnico, em especial nas
áreas da epidemiologia, saúde
pública e ciências sociais,
prestado ao Ministério da
Saúde no contexto da resposta
à pandemia”. Era professora
GETTYIMAGES
catedrática de Estatística e
coordenadora dos programas
de doutoramento em Saúde
Pública e em Global Public
Health. Membro do Centro
de Investigação em Saúde
1926 – 2022
Pública e do Comprehensive
Health Research Centre,
centrou a sua investigação Irene Papas
Eterna e trágica
nas áreas da estatística e
epidemiologia em variados
campos da saúde pública. Era
licenciada em Matemática/
Ciências Estatísticas pela
Faculdade de Ciências e Manoel de Oliveira, que a dirigiu em anos, de causa não divulgada, na sua
Tecnologia da NOVA e mestre três películas, Party (1996), Inquietude aldeia natal, Chiliomodi – não se deu
com doutoramento pelo (1998) e Um Filme Falado (2003), dizia bem ali com as pressões que visavam a
Instituto Superior Técnico dela, Irene Papas, que era “a essência exploração da sua beleza. Ainda assim,
da Universidade de Lisboa. mais profunda da alma feminina” e “a além dos êxitos atrás mencionados,
Morreu na quinta-feira, 15, mãe da civilização ocidental”. Parecem protagonizou Dois Irmãos Sicilianos
vítima de um cancro. elogios exagerados, mas a atriz grega, (1968), de Martin Ritt, ou Ana dos Mil
que transitava sem dificuldades entre Dias (1969), de Charles Jarrott. Depois,
o cinema e o teatro, recebeu-os em ca- levou o seu talento para a representação
Nicolas tadupa durante a sua carreira de quase teatral das grandes tragédias gregas (in-
Schindelholz cinco décadas. Popularizada pelos seus terpretou Antígona, Clitemnestra, Fedra,
O ex-futebolista suíço, morreu papéis em Os Canhões de Navarone Medeia...) e para filmes como Crónica de
aos 34 anos, vítima de cancro, (1961), de J. Lee Thompson, e Zorba, o Uma Morte Anunciada (1987), de Fran-
informou na segunda-feira, Grego (1964), de Michael Cacoyannis, cesco Rosi, inspirado por Gabriel García
19, o Basileia, clube onde se é, no entanto, impressionante a lista de Márquez. Antes, rodou em França, sob a
formou. Representou também ilustres colegas com os quais contrace- direção do seu compatriota Costa-Ga-
o Thun, o Luzern e o Aarau. nou, em mais de 60 filmes: Katharine vras, Z – A Orgia do Poder (1968), ba-
Hepburn (ficaram amigas próximas), seado num assassínio político na Grécia.
Valeri Polyakov Sophia Loren, Anthony Quinn, Richard Este seria um filme marcante para Irene
O astronauta russo Burton, Yves Montand ou Kirk Douglas Papas, que se manifestou publicamente
que detém o recorde são só alguns exemplos. contra a ditadura militar de direita que,
da viagem mais longa Uma das quatro filhas de um profes- em 1967, tomou o poder no seu país. A
ao Espaço (437 dias entre sor de drama, Irene Papas começou os atriz (que passou por dois casamentos
1994 e 1995 na estação estudos e a representação teatral aos curtos e não teve filhos) autoexilou-se
espacial Mir) morreu na 15 anos. Na década de 1950, Elia Kazan e só regressou à Grécia após a queda da
terça-feira, 20. Tinha 80 anos. levou-a para Hollywood, mas a atriz – ditadura, em 1974. E, sabe-se lá porquê,
que morreu no passado dia 14, aos 96 nunca ganhou um Oscar. — J.P.J.
DIVERSIDADE:
O SEGREDO PARA O SUCESSO
A ambição da BAT passa por construir Um Amanhã Melhor. Dentro deste
propósito claro é fundamental contar com uma equipa diversificada
e inclusiva para se complementarem em muitos aspetos
A
diversidade incentiva a inovação, a criatividade e A CULTURA DO BEM-ESTAR
diferentes formas de pensar, e é imprescindível em Mas este Amanhã Melhor começa dentro de portas, fomentan-
qualquer empresa. É uma equação simples: uma do uma cultura que protege o bem-estar dos colaboradores
empresa deve ter uma força laboral tão ou mais e cria um ambiente que atrai, envolve e fixa as pessoas mais
diversa quanto a sua rede de clientes e fornecedores. As que talentosas e diversas. Esse esforço começa na representati-
não compreendem isto, são ultrapassadas. A British American vidade: o grupo conta com 140 nacionalidades diversas em
Tobacco (BAT) não só compreende como está na vanguarda cargos de gestão. A BAT quer também aumentar a proporção
desse movimento, oferecendo um local de trabalho diverso, de mulheres em equipas de liderança para 40% e em car-
empoderado, responsável e inspirador para os seus mais de gos de gestão para 45% até 2025. No ano passado, 47% das
52 mil colaboradores no mundo. O compromisso com o bem- pessoas recrutadas para cargos de gestão eram mulheres, tal
-estar dos seus funcionários tem sido reconhecido pelo Top como 51% dos recém-licenciados que entraram para a BAT.
Employer Institute que, pelo quinto ano consecutivo, premiou Já a representação feminina em equipas de liderança foi de
a BAT com este título – um grupo exclusivo que inclui apenas 27%. Globalmente, 39% das posições de gestão são ocupadas
11 empresas em todo o mundo. por mulheres.
Em 2021, e pelo segundo ano consecutivo, a BAT foi tam- A BAT promove diversas iniciativas para preservar esta
bém considerada Líder de Diversidade pelo Financial Times. força de trabalho por parte de todas as pessoas que integram
O relatório FT Diversity Leaders reconhece as 850 principais a empresa. Uma delas é a B United, uma comunidade gerida
empresas em 16 países europeus que alcançaram um local e composta por colaboradores LGBTQ+ e seus aliados, que
de trabalho diversificado e inclusivo, avaliando áreas-chave, visa desenvolver e nutrir uma cultura ainda mais inclusiva
como: paridade de género, orientação sexual e uma força de e acolhedora para todas estas pessoas, fomentando um am-
trabalho composta por uma mistura étnica e social que reflita biente em que se sintam confortáveis e motivadas. Um outro
uma sociedade mais ampla. exemplo é o programa Women in Leadership, que visa apoiar
Este desejo de diversidade e inclusão faz parte de um projeto a progressão das mulheres para cargos seniores, oferecendo
mais amplo que a BAT está a pôr em prática e que tem como formação e mentoria.
objetivo construir Um Amanhã Melhor através da redução Para uma empresa como a BAT, que tem um compromisso
do impacto no seu negócio na saúde. É por isso que a BAT de longa data com os direitos humanos, esta preocupação com
se tem dedicado ao desenvolvimento e à comercialização de os direitos dos seus colaboradores não é mais
alternativas sem combustão para consumidores adultos e a do que a continuação de um percurso rumo
fazer evoluir a sua estratégia com o foco em Novas Categorias. a Um Amanhã Melhor.
Membro da Equipa
de Resposta às
Emergências da
UNICEF, Mariana
Palavra, 44 anos,
passou por muitos
locais de conflito
em missões
humanitárias.
Um trabalho difícil
com a maior das
recompensas:
dar a mão
a quem precisa
E
ra noite. Dez da noite,
meia-noite? Pou-
co importa. Estava
escuro, éramos largas
dezenas, em silêncio, senta-
dos há horas numa rampa
e, em frente, os holofotes
iluminavam as ruínas, o pó
no ar, e a única coisa que es-
tava de pé era a bandeira das
Nações Unidas. Um edifício
de cinco andares transfigura-
do, prensado, mas a bandeira
das Nações Unidas de pé,
ironicamente. E um monte
de almas inertes e congela-
das, funcionários da ONU,
sentadas no chão de uma
rampa com vista (tristemente)
privilegiada para as opera-
ções de busca desesperada
Mariana Palavra
de sobreviventes – colegas e
amigos – do terramoto que
atingiu Porto Príncipe no
Haiti, no final da tarde desse
O longo adeus...
Onze dias depois do anúncio da sua morte,
chegaram ao fim, na segunda-feira, 19, as cerimónias
de homenagem à rainha Isabel II, com um funeral
magistrático, durante o qual se pode dizer
que meio mundo se juntou no adeus à monarca
360
acaso tem um curso de nutrição. Esse aspeto crianças adoram”, garante a mãe. Guilherme
medicinal ainda ganhou mais fôlego desde confirma-o, confessando que até o toma de
que o marido, por culpa da psoríase [uma manhã, depois de aquecido.
doença autoimune], decidiu cortar no glúten, GRAMAS
nos laticínios e agora nos açúcares, com bons DIVERSIDADE À MESA de carne vermelha a
resultados. E a família foi a reboque. Saber comer é uma expressão que leva um menos, por semana,
O paladar dos mais novos está treinado mundo lá dentro – e muita subjetividade baixam a mortalidade
para uma alimentação sem processados, ao também. Mas há consensualidade no que toca por cancro em 7%
contrário da maioria dos meninos destas a apontar o dedo à qualidade dos produtos, a
idades, pois até na escola, escolhida quando conhecer a sua origem e a sua proximidade.
50%
trocaram o Brasil por Portugal, há três anos, “Quanto menos tempo passar, desde que são
há um menu que vai ao encontro do que produzidos até que aterram no nosso prato,
praticam em casa. melhor”, defende Duarte Calvão, 59 anos, crí-
Quando Giovanni abre o frigorífico para tico gastronómico. “Dantes havia uma ligação DOS CANCROS
tirar um pedaço de melancia que lhe sacia a à terra, mas, quando a população se mudou ao nível mundial
vontade de comer doces, percebe-se a di- para a cidade, perdeu-se essa memória e podiam ser prevenidos
ferença desta casa: há imensos legumes nas ganhou-se um fascínio por ter tudo à mão, com uma alimentação
prateleiras, muita variedade de fruta e um pronto e embalado.” equilibrada
10%
percentagem adequa-se a quem se alimenta
em casa. “São alterações radicais em apenas
100 anos”, constata. Nesse mesmo período de
DA ENERGIA tempo, o empírico foi cedendo lugar à Ciência
diária ingerida que, desenvolvendo estudos, trouxe muita
vem do açúcar informação à população em geral.
50
Um exemplo emblemático dessa mudança
de paradigma foi a implementação, nos anos
1960, das margarinas e dos óleos na nossa
ANOS gastronomia enquanto gorduras alternativas
era a esperança de mais baratas – só mais tarde se descobriu
vida média há um que eram muito menos saudáveis do que as
século. Atualmente manteigas e o azeite. Hoje, felizmente, está a
situa-se nos 80 verificar-se o retorno ao original.
“No Interior, sempre se comeu de tudo, durabilidade dos produtos. Além do mais, se
e o que sobrava no final ainda era dado aos depois se tiver atenção ao desperdício, como
animais. Agora, deita-se muita coisa fora. sempre se fez na nossa culinária – através
É preciso voltar a educar as pessoas para a dos empadões, açordas e suflés –, o dinheiro
sustentabilidade”, nota o especialista, que investido terá bom retorno.
tem esse princípio incutido na sua veia de Vítor Sobral defende, com unhas e dentes,
transmontano. que se respeite a sazonalidade dos produtos
Vítor Sobral, 54 anos, cozinheiro, não tem (ver caixa) e se procure a proximidade, dan-
essas origens mas, ainda assim, pensa exa- do um exemplo prático: “Para quê importar
tamente da mesma maneira: “Com um osso, carne de qualidade duvidosa de países com
faz-se uma sopa maravilhosa. Agora, toda a Pedimos ao comportamentos pouco éticos em relação
gente quer comer diariamente meio quilo de aos animais e às pessoas?”
carne, mas devemos diminuir a quantidade corpo para
de proteína animal que ingerimos.” absorver ATENÇÃO AOS FRITOS
Nem de propósito, um estudo recente, Luís Gaspar, 31 anos, é um apaixonado pelo
publicado na revista científica PNAS, analisou energia e, património gastronómico nacional e, por isso,
57 mil produtos vendidos em supermercados como não a decidiu abrir o restaurante Pica-Pau, no cora-
no Reino Unido e na Irlanda e concluiu que ção de Lisboa, para regressar às origens, com
alimentos vegetarianos têm um baixo impac- gastamos, técnicas rigorosas e os produtos portugueses
to ambiental, ao contrário do peixe, queijos ela vai certos. “Fui buscar as receitas originais, que
ou carnes. Substituir carne, laticínios e ovos fazem parte da nossa identidade, para recriar
por alternativas à base de plantas pode trazer depositar-se o conceito de restaurante familiar que tem
grandes benefícios ambientais, apontam os em órgãos, sempre um prato do dia, como cozido ou ca-
investigadores. Para a avaliação do impacto, brito”, explica. Sabe que a cultura portuguesa
consideraram-se quatro fatores: emissões de como o não está propriamente conectada com um
gases com efeito de estufa, uso de recursos fígado, o receituário saudável, pois tem demasiados
hídricos limitados, uso da terra e poluição fritos, por exemplo. “Não podemos olhar
da água. coração e o apenas do ponto de vista nutricional”, nota.
O chefe, que também tem a Padaria da pâncreas Mas Pedro Carvalho, 35 anos, nutricionis-
Esquina, garante ainda que, se uma pessoa ta, pode fazê-lo e nem por isso descarta os
comprar boa matéria-prima, como um pão JOSÉ BOAVIDA pratos típicos, se estes integrarem uma dieta
feito com cereais de qualidade, apesar de Médico sensata. Em sua opinião, o equilíbrio deve
mais caro, vai sair beneficiado na saúde e na endocrinologista estar presente em 80% da nossa vida – no
80%
deve ser profunda. Daí a importância de se com base em gorduras pouco recomendáveis.
incutir as medidas preventivas desde muito Além disso, o açúcar representa, atualmente,
cedo, para se fugir de um padrão alimentar 10% da energia diária.
pobre em protetores”, avisa. “A zona favorável para uma boa saúde car-
DOS CASOS A especialista fala, então, da aposta em ali- diovascular é a dieta mediterrânica”, garante
DE DIABETES mentos ricos em fibra, como vegetais e fruta, o especialista. Isso significa garantir uma
de tipo 2 estão
de uma dieta de tendência vegetariana, “todos mesa convivial, em que a gordura principal
relacionados com o
excesso de peso
os dias e para sempre”. seja o azeite, a base proteica venha do peixe
Este comportamento é válido antes de a ou das carnes brancas (sem pele), em que
doença aparecer. Quando ela já existe e há haja alto consumo de fibras, fruta, vegetais
que tratá-la, a conversa muda ligeiramente, e oleaginosas.
60%
à luz da mais recente evidência científica. No caso de a doença cardiovascular já
“Precisamos de uma maior riqueza proteica existir, o controlo da dieta continua a ser
para manter os músculos em bom funciona- indispensável, mas deve estar associado ao
DOS mento, para se tolerar melhor o tratamento exercício físico e à medicação.
PORTUGUESES e a cirurgia e, no final, beneficiar de um bom
têm excesso de desfecho”, explicita. AULAS DE CULINÁRIA, PRECISAM-SE
peso ou sofrem de As doenças cardiovasculares, a primeira Em 80% dos casos, a diabetes de tipo 2 está
obesidade causa de morte no mundo, também têm a sua relacionada com o excesso de peso. Logo, a
Frutos
Leguminosas oleaginosos Hortícolas Fruta
MORTALIDADE
AVC AVC AVC AVC
CARDIOVASCULAR
AR/VISÃO
O consumo de peixe A ingestão de frutos
está associado a uma vermelhos, ricos em
descida de 9,7 mg/dl antocianinas, diminui
nos triglicéridos e a um 18% o risco de se
aumento de 2,3 mg/dl vir a sofrer de diabetes
de HDL (colesterol bom) de tipo 2
sua redução torna-se tarefa fundamental na 2019 que pode dizer que deixou os remédios
prevenção do seu aparecimento, na remissão e mantém os níveis de açúcares controlados
e na melhoria das consequências. A situação (segue-os numa aplicação do telemóvel).
apresenta-se complicada quando se sabe que “Como pouco, mais vezes, optando por le-
60% dos portugueses registam excesso de gumes, cortando nos hidratos de carbono
peso ou obesidade. na dose certa. Sinto-me muito melhor. Mas
José Boavida, endocrinologista, presiden- sei que se regressar ao que fazia antes, e eu
te da Associação Protetora dos Diabéticos gosto muito de comer e de beber, voltarei
de Portugal, está consciente do problema também à doença.” A sua bebida diária é o chá
de raízes profundas. “Todos lutámos por de gengibre, limão e canela, e a batata-doce
um acesso maior aos alimentos e ao ócio, assada o seu snack preferido.
mas o nosso corpo prefere responder à fome José Boavida pode estar contente com este
correndo atrás dos alimentos. Andamos a Quanto seu “aluno”, porém gostaria de ter muitos
contrariar as apetências do nosso organis- mais no quadro de honra. Para isso, anda há
mo, pois ele não se adapta aos novos hábi- menos que tempos a tentar seduzir o Ministério da
tos assim tão rapidamente”, contextualiza o tempo Educação para que se criem aulas de culi-
médico. E mais: “Estamos constantemente a nária nas escolas, especialmente nos anos
pedir para que ele absorva energia e, como passar, da adolescência. “Os alunos passam a vida a
não a gastamos, ela vai depositar-se em ór- desde que os ouvir falar da roda dos alimentos, mas nunca
gãos como o fígado, o coração e o pâncreas, têm qualquer aplicação prática da mesma.
causando doença.” produtos são Só assim se esclareceriam mitos para que os
Jorge Nobre revê-se nesta descrição. Não produzidos jovens dissessem, com propriedade, ‘gosto
é por acaso que, aos 40, já tomava medicação de comer bem’.”
para a diabetes e para a hipertensão, sem que até que Será que, se tivesse tido aulas deste gé-
tivesse mudado uma vírgula no seu estilo aterram no nero no Secundário, hoje Catarina Candeias
de vida sedentário – as refeições faziam-se alimentar-se-ia melhor? Quem sabe se, de-
à boleia de comida processada, muito pão, nosso prato, pois de ler este texto, não ganha o prazer de
claro, jejuns prolongados e alternados com melhor se sentar a uma mesa repleta de ingredientes
refeições de grande abundância alimentar. frescos, locais e sazonais, confecionados de
Agora, aos 58 anos, praticando exercício DUARTE CALVÃO forma simples, com pouco sal e menos gor-
físico regularmente (corre quase todos os dias) Crítico dura, e de conjugar com propriedade o ato
e à custa de uma alimentação cuidada, desde gastronómico de bem comer. loliveira@visao.pt
Marcelo
ficou com
uma
dúvida
O Presidente da
República deu luz
verde, no final da
semana passada, ao
diploma do Governo
que regulamenta a
direção do SNS, mas
ficou com uma dúvida
sobre como tenciona
o Executivo conciliar
a descentralização
das competências em
de uma especialidade num hospital através da Saúde e, ao mesmo
mobilização dos recursos humanos das insti- tempo, concentrar
tuições de toda a área). Projeto que também tarefas que até
se tentou implementar em Lisboa e Vale do agora pertenciam
Tejo, mas onde não se conseguiu ir além das às Administrações
especialidades de Otorrinolaringologia e Of- Regionais de Saúde tio”, propôs, por exemplo, Manuel Pizarro,
talmologia. Este verão, a ideia ressurgiu como no novo organismo em maio, numa entrevista ao Irrevogável, o
proposta para resolver a crise do encerra- nacional. programa online de entrevistas da VISÃO.
mento das urgências de Obstetrícia, sem que O que não foi suficiente “São pessoas que pensam pela própria ca-
tenha, de facto, sido aplicada. É desta falta de para Marcelo Rebelo de beça” e que sabem que “quando o mundo está
execução e de organização que tanto Manuel Sousa reter o decreto mal não devemos ser cúmplices”, descreve o
Pizarro como Fernando Araújo foram críticos mais tempo. De uma antigo ministro da Saúde socialista António
no passado, partilhando visões idênticas de forma geral, o Chefe Correia de Campos (de 2001 a 2002 e de 2005
como deveriam resolver-se os problemas da de Estado até tem um a 2008), que não poupa nos elogios aos dois
Saúde em Portugal. bom pressentimento colegas – “a melhor dupla possível”. Reco-
Herdam um SNS sobrelotado, refém de em relação à criação nhece-lhes “jogo de cintura” e “capacidade
mesadas das Finanças, desgastado pela pan- da direção do SNS, para resolver uma boa parte dos problemas
demia, com grandes desigualdades territoriais chefiada por Fernando da Saúde”; palavras extensíveis aos dois no-
Araújo (que seria a
no acesso aos cuidados de saúde, listas de vos secretários de Estado, Ricardo Mestre e
escolha mais indicada
espera intermináveis, urgências sob pressão Margarida Tavares.
para ocupar o lugar de
e profissionais desmotivados. “O problema ministro – foi deixando
O presidente da Associação Portuguesa de
dos decisores políticos é por vezes cometerem escapar o Presidente Administradores Hospitalares, Xavier Barreto,
a imprudência de, em sistemas complexos, nas entrelinhas do identifica na dupla os mesmos “experiência”
optarem por soluções populistas. Colocar seu discurso): “Esta e “conhecimento do setor”, mas alerta: “Só
mais dinheiro, sem uma estratégia clara e um solução de quem tem que isso não chega. É preciso que seja criada
planeamento adequado, não resolve os cons- de gerir, gerir de uma a autonomia necessária, sem interferências
trangimentos, como ainda pode criar novos forma estável, que não políticas de qualquer ordem. Não faz sentido
problemas”, escreveu Fernando Araújo, a 26 tenha de depender do que porventura a direção executiva do SNS
de junho, na página que usou semanalmente ministro A, do ministro tenha de submeter a sua estratégia à aprova-
no Jornal de Notícias para sugerir alterações B… acho isso bom. ção do Ministério das Finanças. E é necessário
na orgânica do sistema, dando voz aoss proble
proble- Vamos experimentar.” que a Saúde seja dotada do financiamento
mas dos doentes e dos familiares com om quem adequado. No OE 2022, assume-se logo à
adequ
se ia cruzando no seu hospital. partida que o SNS terá um défice de mil mi-
partid
Ambos, ministro e CEO, defenderam, eram, em lhões de euros. Esta escassez é ditada com
entrevistas ou em textos, ao longo doss últimos base nna ideia errada de que se as instituições
anos, uma reestruturação séria do sistema
stema de estiverem em risco financeiro tenderão a ser
estiver
saúde, assente em cuidados de proximidade,
imidade, mais poupadas”,
p continua o também médico
com mais autonomia das instituições, s, menos do Ho
Hospital de São João.
burocracia, sem preconceitos ideológicos
ológicos
para com os privados e que tivesse em conta A “TRO
“TROIKA” DA SAÚDE
as carreiras dos profissionais de saúde.
aúde. “As Na teoria,
teo a autonomia de que Xavier Bar-
pessoas vão às urgências, porque não têm reto fa
fala estaria inscrita no novo Estatuto
onde ir. Os centros de saúde deviam m ter um do SN
SNS (ver caixa ao lado). No entanto,
horário adequado às populações de cada sí- esta ccontinua limitada por uma assinatura
O que é?
Trata-se de uma atualização da definição de
SNS, dos direitos e dos deveres dos utentes,
com três grandes objetivos: criar uma dire-
ção executiva do SNS, dar mais autonomia às
unidades de saúde e melhorar as condições de
trabalho dos profissionais. O diploma do Gover-
no (promulgado pelo Presidente a 1 de agosto)
substitui o que estava em vigor desde 1993
e cria condições para executar as alterações
previstas na Lei de Bases da Saúde de 2019.
das Finanças sempre que o valor da despe- Política de
sa seja mais avultado. Correia de Campos continuidade? Para que serve a direção executiva do SNS?
prioriza a inversão deste ponto e aconselha Costa não quer Para gerir toda a resposta assistencial das
alterações de
os dois nomeados a “estabelecer o quanto unidades de saúde do SNS, desde a garantia
fundo na política
antes relações honradas com o Ministério de Saúde. A do funcionamento em rede à monitorização do
das Finanças, que tem uma desconfiança reforma deve desempenho das instituições e à integração
sistémica da Saúde. A solução é mostrar, na passar apenas dos cidadãos no processo. Este organismo
prática, que se é bom gestor”. pela gestão dos escolhe e nomeia os diretores dos centros
O outro vértice desta “troika” da Saúde recursos de saúde e os presidentes dos Conselhos de
acaba por ser, assim… Fernando Medina. Administração Hospitalar.
O ministro das Finanças anunciou que o Ou seja, as políticas de saúde continuam a
aumento previsto no próximo Orçamento cargo do ministério; mas a administração do
do Estado para a Saúde é de 700 milhões, SNS (a parte operacional) fica na dependência
garantindo que “esta tem sido uma área desta nova direção, chefiada por Fernando
prioritária na ação do Governo”. Mas aqui Araújo e que contará com outros cinco
importa lembrar ainda as palavras do antigo elementos. O diretor-executivo começa a
ministro da Saúde do PS Adalberto Campos trabalhar já em outubro, mas a restante direção
Fernandes (2015 a 2018) na VISÃO da semana só iniciará funções em janeiro de 2023.
anterior, quando realçava que “quatro milhões
de euros depois, a eficácia piorou e o acesso Autonomia… até onde?
piorou. Portanto, a escalada orçamental não Os hospitais e as unidades de cuidados
é só por si uma solução para os problemas primários deverão ser mais autónomos,
que existem. Tem de haver reforços e também deixando as segundas de estar na dependência
racionalização dos meios”. das Administrações Regionais de Saúde.
É neste ponto também que insiste o antigo Ganham poderes para contratar recursos
ministro da Saúde do PSD Fernando Leal da humanos e contratualizar prestação de
Costa, defendendo que os “desafios [dos no- cuidados. Isto está, todavia, sujeito a limites
vos intervenientes] estão todos na adequação temporais (contratos de seis meses não
da oferta de serviços à procura existente. Por- renováveis) e a remuneração carece da
tanto, em tornar o acesso realmente universal, autorização do ministério…
em tempo útil e com efetividade, eficiência e
gerando satisfação. O mais importante é eli- O que está previsto para os profissionais?
minar os obstáculos para chegar aos cuidados Um novo regime de dedicação plena (renovado
por via normal, ao invés da procura de atalhos de três em três anos) em que se pretende re-
como as urgências hospitalares, e remover os compensar os profissionais de saúde que adi-
estrangulamentos na cadeia de cuidados, por ram voluntariamente – a começar pelos médi-
exemplo, com a demora para conseguir meios cos. Diretores de serviço ficam obrigados a este
complementares de diagnóstico”. Consegui- regime, que ainda tem de ser regulamentado.
rão? rrnunes@visao.pt Por agora, não são conhecidas as condições.
RÚSSIA
OS HOMENS DE
PUTIN
Uma impressionante investigação jornalística conduziu a
britânica Catherine Belton a revelar, ao pormenor, as redes
através das quais o Presidente russo e uma cúpula de oligarcas
tomaram o poder. A partir da Rússia, a influência político-
-económica estendeu-se, depois, às empresas e às instituições
do Ocidente – como bem ilustra o capítulo dedicado a Londres,
que a VISÃO aqui apresenta em pré-publicação
— P O R C AT H E R I N E B E LTO N
Poder A jornalista Catherine
Belton, antiga correspondente
do Financial Times em
Moscovo, revela o modo como
Putin e o seu círculo restrito
substituíram os magnatas do
tempo da União Soviética
mais responsabilidade social, após os agora a ser investigada por mais de
excessos da década de 90. 1000 milhões de dólares em alegados
Houve quem afirmasse que não lhe pagamentos insuficientes para o ano
C
tinha sido dada muita escolha. Segundo de 2001.
um magnata próximo dele, foi enviado
para Chukotka por ordem de Putin, omo resultado da investi-
porque o presidente queria que a for- gação, nada aconteceu, e
tuna que Abramovich fizera através das a Sibneft sempre insistiu
suas participações na petrolífera Sibneft que os seus esquemas
e na Rusal, a gigante do alumínio que fiscais estavam em con-
controlava mais de 90% da produção formidade com a lei. Mas
da nação, estivesse às suas ordens. Não a omnipresente ameaça de acusações de
bastava que a fundação caritativa de fraude fiscal fazia parte de um processo
Abramovich, a Pole of Hope (Polo da que pressionava os oligarcas da era Iel-
Quando Roman Abramovich partiu Esperança), estivesse pronta para mais tsin a tornarem-se mais subservientes
para desempenhar o cargo de gover- tarde doar 203 milhões de dólares à ao regime de Putin. Parecia a alguns que
nador da região de Chukotka, uma área Petromed, a empresa de fornecimento Abramovich, muito antes dos outros,
remota e gelada no extremo oriental do de equipamento médico ligada ao Bank tinha sido o primeiro a ceder. Como
país, na margem do estreito de Bering Rossiya. Putin também queria ter aces- que para o sublinhar, quando, após
oposta à do Alasca, ainda decorria o so ao resto do dinheiro de Abramovich, oito anos de serviço árduo, o mandato
primeiro ano da presidência de Vladi- e as leis da época tornavam mais fácil como governador de Chukotka chegava
mir Putin. O seu destino era um lugar prender funcionários do que empre- ao seu termo, Putin ter-lhe-á dito que o
nos confins do mundo, esquecido por sários. O investimento de Abramovich seu próximo destino seria outra região
Deus, a 6000 quilómetros de Moscovo, de grandes quantidades da sua própria empobrecida e desolada no extremo
onde as árvores raramente cresciam e fortuna em Chukotka parecia reduzir leste da Rússia. “Ele é um tipo jovem.
os ventos uivavam tão violentamente esse risco. Mas a ameaça de encar- Deixem-no trabalhar”, dissera Putin.
que arremessavam os cães pelo ar para gos fiscais semelhantes aos cobrados “Era suposto ele ir para Kamchatka
o outro lado da rua. Chukotka fora contra a Yukos pairava sempre sobre e gastar ainda mais dos seus recur-
sempre escassamente povoada, mas os a Sibneft – especialmente porque o sos”, explicou uma pessoa próxima de
seus habitantes tinham praticamente investimento pessoal de Abramovich Abramovich. Somente após uma longa
desertado da região após o colapso em Chukotka parecia, a alguns, fazer negociação, Abramovich acabou por se
soviético. A população tinha caído de parte de um processo de dois sentidos ver livre dessa incumbência.
153 000 para 56 000 habitantes quando que o deixou ainda mais firmemente Após o julgamento de Khodorko-
Abramovich chegou, e os que ficaram enganchado ao Kremlin. Pouco depois vsky, os empresários russos estavam
lutavam para sobreviver, esmagados de Abramovich se tornar governador, todos demasiado conscientes de que,
pela pobreza e pelo alcoolismo. Tinha a Sibneft transferiu uma grande parte a qualquer altura, poderia ser aberto
ido para lá, disse ele numa rara entre- das vendas de petróleo através de em- um processo criminal contra eles no
vista, porque estava “farto” de ganhar presas comerciais registadas na região qual, culpados ou não, as probabilida-
dinheiro a toda a hora. Apresentou extremo oriental do país, às quais fo- des estariam contra eles desde o início.
sempre a mudança como uma decisão ram prontamente concedidas centenas Estava a ser ressuscitado um sistema
própria, afirmando que queria conduzir de milhões de dólares em benefícios feudal, onde os proprietários das maio-
“uma revolução rumo a uma vida civi- fiscais. Um porta-voz de Abramovich res empresas do país, especialmente
lizada”. Com a promessa de mudar as contesta esta teoria e observa que Abra- as do setor dos recursos estratégicos,
coisas para melhor, ganhou as eleições movich foi eleito para a Duma como começavam a operar como gestores
de dezembro de 2000 para governador representante de Chukotka, antes de contratados, trabalhando em nome do
com 92% dos votos. Putin se tornar presidente. Estado. Não eram mais do que tutores e
A população local de Chukotka ve- Estes esquemas fiscais eram nota- mantinham os seus negócios pela graça
nerava o chão que Abramovich pisava. velmente semelhantes aos que tinham do Kremlin.
O magnata de rosto de barba curta e levado Khodorkovsky à prisão – e pro- Esta mentalidade tinha as suas raí-
sorriso tímido tinha crescido órfão, porcionaram à Sibneft a oportunidade zes no sistema czarista, nas crenças
criado pelos avós numa cidade petrolí- de pagar ainda menos impostos do que de homens como Jean Goutchkov e
fera, desoladora e inóspita, no norte da a Yukos. Como se fosse um aviso, ape- Serge de Pahlen. Os homens do KGB
Rússia. Mas agora agia como o benfeitor nas alguns meses depois, Abramovich de Putin eram os novos governantes
dos residentes da região, enviando uma foi conduzido ao Ministério Público de imperialistas do país, os legítimos do-
equipa de executivos para trabalhar na Moscovo para ser interrogado. A ale- nos dos seus recursos, e os seus ativos
melhoria dos padrões de vida. Cons- gada fraude fiscal em questão parecia deveriam ser distribuídos aos favoritos
truíram-se novos canais de televisão comparativamente minúscula: 350 000 do Kremlin que trabalhariam para o
e rádio, uma pista de bowling, uma dólares em pagamentos inferiores aos Estado e, claro, pagariam tributos aos
pista de gelo coberta e aquecida, e uma da Yukos. Mas três anos mais tarde, em seus senhores. “Em 2003, a primeira
sala de cinema. Neste processo gastou março de 2004, logo após o ministério fase da transição da Rússia – a fase do
muitos milhares de milhões dos seus fiscal russo ter cobrado a primeira de capitalismo oligárquico – terminara,
próprios rublos. Era como se estivesse uma série de dívidas fiscais que aca- e a segunda fase – a do capitalismo
imediatamente a curvar-se num ato bariam por levar a Yukos à falência e amigo do Estado – começara”, afirmou
de lealdade aos apelos de Putin para a ser apropriada pelo Estado, a soma Yevgeny Yasin, um influente economis-
que as grandes empresas assumissem cresceu subitamente. A Sibneft estava ta que tinha sido uma figura de proa
O
Desde que Putin fora ungido como jas de comida e os armazéns ao estilo petição política.
sucessor de Ieltsin, os preços do pe- soviético de um passado não muito
tróleo tinham subido, alimentando distante. Restaurantes pretensiosos nas s homens de negócios
uma recuperação económica. Em 2005 cidades das profundezas da Sibéria ser- ligados ao KGB com
triplicaram, e o desastroso incumpri- viam borrego da Nova Zelândia, vitela quem falei referiram-
mento da dívida da Rússia de 40 mil da Austrália e vinho francês. A despesa -se frequentemente a
milhões de dólares e a desvalorização dos consumidores aumentava. De re- esta mentalidade para
do rublo de 1998 pareciam uma memó- pente, a Rússia começava a ver crescer justificar as suas ações
ria distante. Nessa altura, o país já tinha uma classe média. As pessoas tinham e o seu domínio. A tragédia da Rússia,
150 mil milhões de dólares em reservas finalmente dinheiro para gastar, após disseram eles, era o povo não querer
de divisas, a quinta maior do mundo. uma década em que as suas poupan- participar na política – na verdade, nem
Sob a orientação do liberal ministro ças tinham desaparecido duas vezes sabiam como fazê-lo. Isto estava pro-
das Finanças Alexei Kudrin, o gover- da noite para o dia. Com a subida do fundamente enraizado na mentalidade
no criara um fundo de estabilização preço do petróleo, o crescimento eco- nacional desde que a Rússia existia,
a partir das receitas inesperadas dos nómico atingiu em média 6,6 por cento argumentaram, abanando tristemente
impostos sobre o petróleo que coletara nos anos após Putin ter sido elevado à a cabeça. Mas, na realidade, eles limi-
desde que fizera as alterações ao código presidência, enquanto o salário médio taram-se a aproveitar uma desculpa
fiscal tão combatidas pelos barões do mensal quadruplicou. conveniente para se convencerem de
que tinham razão em não permitir que
o povo participasse na democracia. O
Banqueiros ocidentais afluíram a Moscovo KGB aprendera bem as lições do passa-
do soviético. Em vez de um Estado pre-
potente, o capitalismo tinha-se tornado
em busca de comissões – alguns na firme o instrumento que lhes permitia agir
como queriam. De facto, eles acredita-
convicção de que estavam a fazer “a obra vam que, tal como o sócio genebrês de
Jean Goutchkov afirmara cinicamente,
de Deus”, trazendo os mercados às pessoas as pessoas estavam satisfeitas se tives-
sem “um frigorífico, uma televisão, uma
e libertando-as da mão pesada do Estado. casa, filhos, um carro. Quanto ao resto,
mais ou menos, ninguém se importa,
Delegações voavam regularmente para desde que a sua situação material não
seja afetada”.
Moscovo, vindas da City, para negócios Alguns decisores políticos ociden-
A
Verheugen, nos dias agitados de 2004. da transição operada na década de 90, listagem em bolsa serem muito menos
disse ele, “eles mudariam o seu com- rigorosas do que as de Nova Iorque.
s empresas russas portamento porque tinham de o fazer”. Nos Estados Unidos, os regulamentos
apressaram-se a lis- Uma cotação em Londres foi também exigiam que os diretores-executivos
tar as suas ações nas encarada como oferecendo uma ca- e diretores financeiros das empresas
bolsas de valores oci- mada suplementar de proteção contra que procuravam uma entrada em bol-
dentais, em particular o ataque dos siloviki de Putin, e um sa aprovassem a precisão das contas
em Londres. Só em símbolo prezado de respeitabilidade. financeiras. Se algo se revelasse não
2005 angariaram mais de 4 mil mi- Os banqueiros e decisores políti- verdadeiro ou fraudulento, era tratado
lhões de dólares em vendas de ações cos ocidentais depositaram as suas como um delito criminal. “Nenhu-
nessa praça, em comparação com 1,3 esperanças no florescente exército de ma empresa russa estava preparada
mil milhões de dólares em todos os empresas russas em Londres, contri- para isso. Precisávamos de mais cinco
mercados nos treze anos seguintes buindo ainda mais para o crescimento anos, talvez mais, para ter tudo em
ao colapso soviético. No Ocidente da classe média da Rússia. A geração ordem”, disse Dmitry Gololobov, um
acreditava-se firmemente que estas de empresários em desenvolvimento, advogado russo que trabalhou numa
empresas, e a maioria dos magnatas pensava-se, iria um dia pressionar o cotação americana de certificados de
da era Ieltsin por detrás delas, repre- governo de Putin para uma liberali- depósito globais para a Yukos, que
sentavam o futuro da Rússia. Apesar zação do ambiente político e econó- abandonou tais planos devido aos ris-
dos receios suscitados pela aquisição mico. “As hipóteses de que as coisas cos. Em Londres, porém, as empresas
da Yukos pelo Estado, havia a con- continuem a avançar na direção certa que cotaram certificados de depósito
vicção de que o número crescente de são grandes, devido às mudanças na globais foram bem recebidas por um
ofertas era um sinal de que a Rússia sociedade”, disse Stephen Jennings, o sistema que permitiu um nível muito
estava a amadurecer como economia diretor neozelandês de um dos maiores inferior de diligência prévia, e deixou
de mercado. bancos de investimento de Moscovo, aos investidores a responsabilidade de
O
um vírus. Belton, “a história da ascensão vez de se fundir com a Yukos e vender
ao poder do grupo do KGB de a empresa à Exxon ou à Chevron dos
caminho tinha sido Putin, e de como eles sofreram EUA, como ele e Khodorkovsky tinham
suavizado em parte, uma mutação para enriquecerem planeado, houve quem ficasse com a
aparentemente, quan- no novo capitalismo”. De ideia de que Abramovich se tinha cur-
do Roman Abramovi- Moscovo à administração de vado à nova ordem do Kremlin. Mais
ch comprou o Chel- Trump, passando por Londres, uma vez, ele não tinha muito por onde
sea Football Club de a jornalista britânica desvenda escolher. A venda da Sibneft à Gazprom
Londres, no verão de 2003. A compra os misteriosos caminhos do no final de 2005 foi outra etapa no
de 150 milhões de libras (240 milhões dinheiro, da corrupção e do processo através do qual a tomada do
de dólares) foi um autêntico golpe de poder do Kremlin. setor de energia do Kremlin ganhou
relações públicas. Os jornais londrinos legitimidade internacional, alimentando
maravilharam-se com o Boeing 767 ainda mais a expansão do mercado de
privado de Abramovich quando ele ações russo.
aterrou em Londres para inspecionar o Chelsea Football Club, a fim de au- O acordo foi feito num processo de
o seu novo clube. Dedicaram copiosos mentar a sua influência e elevar o perfil várias etapas, que começou apenas duas
espaços de colunas aos seus luxuosos da Rússia, não só junto da elite mas semanas após um tribunal de Moscovo
iates, incluindo o maior do mundo, o também do povo britânico comum”, ter finalmente pronunciado o veredito
Eclipse, um palácio flutuante de 168 disse ele, referindo-se a um encon- de culpa contra Khodorkovsky, em
metros equipado com duas helipistas tro que afirmava ter tido com Putin, maio de 2005. Foi então que o gover-
e o seu próprio submarino. O oligarca um ano antes de Abramovich fazer a no russo procurou aumentar o ânimo
reservado, de barba rala e que usava compra. Para um outro magnata rus- dos investidores estrangeiros com um
um simples par de jeans, foi elogiado so e antigo associado de Abramovich, aliciamento maior, anunciando que iria
ao gastar fundos generosos na compra também parecia que Putin terá pedido pedir um empréstimo de 7 mil milhões
de jogadores mundialmente famosos a Abramovich para comprar o clube. A de dólares a bancos internacionais
para o Chelsea, e na modernização do compra fez de Abramovich uma cele- para aumentar a sua participação na
estádio em Stamford Bridge. Poucos bridade instantânea na Grã-Bretanha. Gazprom, para um controlo de 51%.
quiseram saber de onde vinha o seu Um convite para assistir a um jogo no Esta era a jogada que os investidores
dinheiro. “É uma exposição muito boa”, seu camarote privado era um dos bi- estrangeiros esperavam há muito tem-
disse um antigo associado de Abramo- lhetes mais cobiçados na cidade. Para po. Pode ter parecido falta de intuição
vich. “Com o Chelsea, ele receberá três Abramovich, “foi um bilhete de entrada achar que mais controlo governamental
páginas no verso dos jornais, e não há na alta sociedade britânica”, disse o sobre a Gazprom seria bom para eles,
nada de mau. Ninguém o questiona.” magnata russo. mas durante anos tinham sido impe-
Segundo Sergei Pugachev, o Kremlin O antigo associado de Abramovich didos de negociar livremente ações no
de Putin avaliara com precisão que a também sugeriu que a jogada de Abra- maior produtor mundial de gás, porque
forma de ganhar aceitação na socie- movich para a Primeira Liga de Futebol o governo russo não detinha oficial-
dade britânica era através da maior parecia ter como objetivo aumentar a mente uma participação maioritária
paixão do país, o seu desporto nacional. influência da Rússia junto da FIFA, a na Gazprom. É claro que, efetivamente,
Na opinião de Pugachev, desde o iní- Federação Internacional de Futebol, o Estado controlava o gigante do gás,
cio, a aquisição tinha sido destinada a que, mais tarde, escolheu o país para mas no papel só detinha 38%, e o go-
construir uma ponte para a influência acolher o Campeonato do Mundo de verno temia que, sem restrições sobre
russa no Reino Unido. “Putin falou-me 2018. “Putin pediu a Roman que entras- a quantidade que poderiam possuir,
pessoalmente do seu plano de adquirir se no futebol”, afirmou esse ex-associa- os investidores estrangeiros pudessem
M
de fusão. mais expropriações. condicionado e baixa luminosidade do
Agora que a poeira assentara, o go- seu escritório no último andar de uma
verno anunciou um acordo muito mais as, na realidade, era casa em Moscovo fortemente vigiada,
simples. Ia pedir emprestados 7 mil apenas mais uma com as mãos queimadas protegidas por
milhões de dólares a bancos interna- manobra de um luvas finas sem dedos. Uma vez recu-
cionais para comprar as ações de que capitalismo emer- perado, tornou-se novamente notícia
necessitava para aumentar a sua par- gente do KGB. Bo- pelas suas festas luxuosas, onde pessoas
ticipação na Gazprom, e ia comprá-las ris Berezovsky foi como Beyoncé cantavam para os ban-
à própria empresa. O anúncio levantou a fonte pública de rumores de que queiros de topo da Morgan Stanley e da
ondas de ânimo no mercado de ações, Abramovich teria de dividir com os Goldman Sachs na sua mansão em Cap
após o difícil caso de Khodorkovsky. homens de Putin a maior parte dos 13 d’Antibes. No início de 2007, a revista
Agora que o julgamento dele terminara, mil milhões de dólares que recebera. Forbes estimou a sua fortuna em 14,4
os investidores acreditavam que uma “Há muito tempo que digo que Putin mil milhões de dólares, fazendo dele o
crise fora ultrapassada. O levantamento é um parceiro de negócios de Abra- segundo homem mais rico da Rússia,
das chamadas restrições circunscritas movich”, disse na altura o seu antigo depois de Abramovich.
à propriedade estrangeira tinha sido parceiro de negócios Boris Berezovsky. As fortunas feitas sob o regime de
sempre visto como uma forma de o “Não tenho dúvidas de que os lucros Putin eram muitas vezes maiores do
Kremlin comprar o favor de inves- da venda da Sibneft serão partilhados que as da era de Ieltsin, e a forma como
tidores estrangeiros após a forçada entre Abramovich e Putin, assim como os magnatas construíam a sua riqueza
venda tóxica da Yugansk. Agora os entre vários outros indivíduos.”
divíduos. era muito diferente. Tudo era ditado
investidores estrangeiros esperavam Estava a tornar-se um sistema em pelo Kremlin. As oportunidades nos
que o veredito de Khodorkovsky fos- que todos os negócios ios de qualquer negócios dependiam de Putin, a quem
se o fim da ofensiva estatal, que o seu escala dependiam da boa vontade do os magnatas e os seus subalternos se
julgamento fosse um caso isolado, e Kremlin, onde os magnatas
agnatas tinham referiam em sussurros como “o papá”
que o Kremlin não confiscasse mais de servir o Estado a fim m de preservar a
bens. A bolsa de valores floresceu e o sua posição e riqueza. Mas era também
índice RTS duplicou em seis meses. O um sistema que, sub-repticiamente,
b-repticiamente,
crescimento económico, que atrofiara ganhava uma aceitação ão e legitimidade
durante o caso Khodorkovsky, recu- internacionais cada vezz maiores. Embo-
perara totalmente, impulsionado pelas ra o Ocidente tivesse aceitado
ceitado imediata-
ações da Gazprom, que subiram mais mente o que acreditavaa serem magnatas
de 100%. Fazia parte de uma cegueira de espírito liberal como
mo Abramovich,
voluntária para o alcance crescente do também começara a reconciliar-se
econciliar-se com
Estado: isso não importava, desde que a nova ordem energéticatica do Kremlin.
os preços das ações estivessem em alta. No ano seguinte, no o verão de 2006,
A Gazprom, por sua vez, anunciou deixou de lado as preocupações
cupações sobre o
que iria utilizar o dinheiro que re- que na prática fora o confisco da prin-
cebeu do governo em troco das suas cipal unidade de produção
dução da Yukos,
ações para uma aquisição própria: em a Yugansk, e permitiu u que a Rosneft
vez de levar a Sibneft de Abramovich realizasse uma ofertaa pública inicial
à falência e depois tomar o controlo, na Bolsa de Londres. s. Foi então que
iria comprá-la. Isto era um compro- ocorreu o primeiro verdadeiro
erdadeiro golpe à
misso, no meio das lutas internas com integridade dos mercadosados ocidentais.
O
formas de ganhar dinheiro na Rússia. dos magnatas russos. o jogo”, disse um antigo importante
Tratava-se de um sistema mafioso em banqueiro londrino com laços no topo
que os negócios eram feitos com base s dados sobre o total do poder do Kremlin. “Eles manipulam
em “entendimentos” informais, como de fluxos de entradas muita gente com dinheiro. Eu poderia
os que regulavam as máfias. Quando de dinheiro russo em nomear umas cinquenta pessoas. O que
todo o sistema foi construído sobre Londres são escassos. pensa que todos esses lordes estão a
corrupção, subornos e acessos, todos A maior parte chega à fazer nos conselhos de administração
os participantes podiam ser contro- City através de empre- das empresas russas? Estão a ser pagos
lados. Putin e os seus homens teriam sas de fachada offshore de Chipre, das a 500 000 libras por ano.”
kompromat sobre todos – desde ho- Ilhas Virgens Britânicas e do Panamá, Quando Londres ficou conhecida
mens de negócios até funcionários por exemplo, ou através das depen- como “Londongrad”, ou “Moskva-na-
estatais que recebiam subornos. Era dências da Coroa Britânica de Jersey, -Thames” (Moscovo no Tamisa), dois
uma forma de manter toda a gente em Guernsey e da Ilha de Man, conhecidas dos bilionários mais ricos da Rússia,
alerta, plenamente consciente de que, por ocultarem o beneficiário efetivo em Roman Abramovich e Alisher Usma-
a qualquer momento, se saíssem da camadas impenetráveis. Este sistema nov, sendo este último um magnata
linha, poderiam ir para a prisão. A au- explorou uma lacuna entre os sistemas dos metais nascido no Uzbequistão,
toridade estatal transformara-se num fiscais continental e anglo-saxónico, o cujo negócio sempre andou de mãos
grande negócio, e esperava-se que cada que quase eliminou a tributação no seu dadas com o Estado russo, fixaram
funcionário do governo usasse a sua conjunto. A maior parte do dinheiro residência na cidade e tomaram posi-
posição para ganhar dinheiro, disseram que inundou Londres, nos últimos ções de destaque na lista dos dez mais
dois ex-funcionários do Kremlin. dez anos ou mais, tem sido de ori- ricos do jornal The Sunday Times. Foi
Para os banqueiros ocidentais que gem desconhecida. Acreditava-se que fortemente negado, em nome dos dois
tinham trabalhado tão intensamente muito desse dinheiro era proveniente magnatas, que alguma vez tivessem
para integrar os bilionários russos na do estrangeiro, cuja origem inicial era procurado corromper ou infiltrar-
economia global, a dependência do impossível de identificar. Mas os cor- -se de alguma forma na elite política
Kremlin parecia sempre uma ques- retores imobiliários londrinos estavam britânica. Para um magnata russo, o
tão secundária. Tinham ficado cegos bem cientes de que os seus maiores processo lembrou-lhe uma historieta
com a torrente de dinheiro que fluía clientes, que esbanjavam milhões nas soviética muito antiga. Naquela altura, a
para a City de Londres, proveniente melhores propriedades da capital, eram União Soviética encaminhava-se para a
da antiga U União Soviética, e tinham da antiga União Soviética, enquanto bancarrota e o KGB preparava-se para
passado a depender
de cada vez mais dele, os advogados e banqueiros da City enviar um agente para os Estados Uni-
especialmente quando o sistema ban-
especialmen faziam fila para atender aos milhares dos. O agente inventara uma cobertura
cário ociden
ocidental entrou em derrocada de milhões de dólares à disposição bastante apelativa: chegaria à América
na crise fina
financeira de 2008. Naqueles dos magnatas russos. Em geral, des- como um homem rico, com uma frota
de iates e uma mansão de luxo. Toda
a alta sociedade americana viria até
ele. O agente garantiu ao seu chefe do
Em geral, desconhecia-se que os lordes KGB que o plano seria eficaz, e aquele
apoiou-o sem reservas. No entanto,
britânicos a quem pagavam generosos quando foi necessária a aprovação do
departamento financeiro, a ideia teve
de ser alterada. O agente foi informado
salários para se sentarem nos conselhos de que não havia verba para um tal es-
quema; em vez disso, teria de emigrar
de administração das empresas russas para os EUA como um sem-abrigo
e sem dinheiro. “Era esta a situação”,
tinham pouca capacidade de supervisão concluiu o magnata. “E agora o sonho
tornou-se realidade. Eles têm grandes
das atividades empresariais. iates e aviões particulares. E têm gran-
des casas aqui... Um grupo inteiro que
“Em Londres, o dinheiro regula tudo”, desceu para o Ocidente. A infiltração
no Reino Unido foi bem-sucedida.”
disse um magnata russo visao@visao.pt
Abbott
ABBOTT PARK EUA
Universidade de Quisqueya
PORT-AU-PRINCE HAITI
IRESSEF
DAKAR SENEGAL
Universidade de Iaundé
IAUNDÉ CAMARÕES
PRIMEIRO AS SENHORAS
A observação da sexualidade dos mamíferos
de outras espécies levou os cientistas a colo-
carem a hipótese de o clítoris ter uma função
que vai além da reprodutiva. Estudos recen-
tes liderados pela bióloga americana Patricia
Brennan revelam que os golfinhos esfregam o
seu “enorme clítoris”, semelhante ao humano,
contra o nariz de outros golfinhos ou objetos
no fundo do mar e o sexo é uma forma de
socializar e ter prazer.
Entre os macacos bonobos, o clítoris é do
tamanho de um melão e, segundo a jornalista
científica Rachel Gross, as fêmeas envolvem-se
em fricções genitais com outras e o sexo tem
com essa estrutura piramidal que se agiganta uma função de regulador social e de fortale-
quando excitada? cimento de alianças. Os orangotangos e saguis
No mercado dos brinquedos para adultos, têm sexo fora dos períodos férteis e impres-
e à boleia da pandemia, os objetos tecnoló- “A procura siona a extensão do clítoris das hienas (20 cm).
gicos especificamente desenhados para elas
deixaram de estar confinados às reuniões tu-
de Nos humanos, a aceitação desta evidência
não tem sido pacífica, mas no final do século
ppersex e lojas da especialidade – chegaram brinquedos passado as mulheres começaram a assumir o
às prateleiras dos supermercados e ganha- seu direito ao prazer e a falar dele, e fenóme-
ram uma categoria própria, online, nas lojas sexuais nos como O Sexo e a Cidade e 50 Sombras de
de perfumaria. Os estimuladores do clítoris
são o melhor amigo da mulher, sugere-se em
representa Gray contribuíram para isso. Há mais de 30
anos, Madonna chocou o mundo com o seu
podcasts e lives no Instagram, onde se fala uma livro Sex e foi surpreendida pelas autoridades
abertamente das explosões de prazer que policiais, durante a Blond Ambition Tour, pela
estes objetos conferem, sem pruridos nem mudança versão encenada e explícita de Like a Virgin,
gavetas da vergonha.
Metade da população tem um clítoris, mas social” em que simulava um orgasmo numa cama
em palco, em nome da liberdade artística e
só 2 000 anos depois se percebeu a essência Sónia Duarte Lopes de expressão. Outra cantora, Miley Cyrus,
do orgasmo feminino. Como se explica, ain- Psicóloga chegou a dizer aos fãs que “uma masturbação
CLITÓRIS
VULVA É composto pela glande, corpo, ramos e bulbos
vestibulares.Tecido erétil com 12 a 15 centímetros
de extensão, rico em terminações nervosas e vasos
sanguíneos, e cuja parte visível está na zona
Capuz superior da vulva
Glande Glande
Freio
(parte externa
Grandes Coberta pelo capuz - que
do clitóris)
lábios está ligado aos pequenos
lábios e com glândulas
Pequenos Bulbos que produzem
lábios vestibulares secreções oleosas
Uretra (esmegma) - não tem
tecido erétil mas é
muito sensível
Vagina ao toque
Anus
levou a melhor ao “rival”, Gabriele Falloppio Só no início dos anos 1970 é que “as téc-
(que também ficou na História pelo estudo nicas de masturbação foram incluídas no
das tubas uterinas, entre outros). protocolo terapêutico para mulheres com
Ironicamente, o fact check da investiga- problemas sexuais”, lembra a psicoterapeu-
dora brasileira Iaci da Costa Jara desmentiu ta e sexóloga Ana Alexandra Carvalheira. No
a narrativa no ano passado, provando que, já estudo que realizou com uma amostra de 3
no século II, o cirurgião grego Rufus de Éfeso 687 mulheres (média de idades de 29 anos), e
havia identificado e batizado o órgão do pra- “A procura publicado no Journal of Sex & Marital The-
zer feminino, mas ele viria a ser apagado dos
manuais médicos no século XIX, assim que se
da cirurgia rapy, mais de 90% das inquiridas disseram
ter-se masturbado em algum momento da
descobriu que era uma estrutura autónoma de redução vida e 29,3% no último mês, para obter prazer
e independente da reprodução. (65%), lidar com o stresse (32%) ou facilitar o
Pior, três anos depois da II Guerra Mun- do volume sono (20%). O tempo necessário para atingir
dial, quando eram esperados alguns sinais
de maturidade na comunidade científica, o
dos lábios o orgasmo variou entre 15 minutos (em boa
parte da amostra) e uma hora.
clítoris foi, de novo, removido de uma ilus- tem vindo “A grande maioria não conhece o clítoris,
tração da edição dos 25 anos da Anatomia julgando que se trata apenas da glande”, afir-
de Gray (não a série, mas a “bíblia” dos es- a aumentar ma a investigadora do William James Center
tudantes de medicina que inspirou o título),
como reação ao pânico, real, de que o órgão
na última for Research, do ISPA – Instituto Universi-
tário, que apurou ainda que várias mulheres
sublime viesse a secundarizar ou a excluir a década, diziam não se tocar diretamente, recorrendo
função masculina. ao jato de água do chuveiro ou ao movimento
Até aos estudos do casal Masters e John- sobretudo de cruzar as pernas e apertar as coxas. “Isto
son, nos anos 1960, vingou a ideia de que as
mulheres que atingiam o orgasmo apenas pela
na faixa levou-me a fazer um modelo de plasticina, em
tamanho real, para explicar a complexidade
via clitoridiana eram sexualmente imaturas, etária entre da genitália feminina e mostrar as partes ex-
uma herança (e não a mais feliz) das teses de terna e interna do clítoris”, conclui.
Sigmund Freud. Entretanto, a masturbação os 25 e os 35
A VULVA E O BISTURI
feminina continuou a ser uma conduta pros-
crita (“masturbar-se pode causar cegueira”, anos” A Organização Mundial da Saúde entende
ainda se ouve dizer) e, até, rotulada de doença, Zeferino Biscaia Fraga como mutilação genital feminina (MGF) as
pela religião e pela medicina. Cirurgião plástico intervenções feitas sem razões médicas que
H
vestibulares á 11 anos, após Os estimuladores divisão da casa, agora
massas de uma TEDx, do clítoris estão no são as notificações
tecido erétil no Porto, a centro das conversas. dos telemóveis,
que se psicóloga pioneira a O que pensa disso? grandes sugadores de
conetam com dar a cara pelos temas A vibração dos tempo e que afetam o
os grandes
lábios, de sexualidade em brinquedos sexuais ato sexual.
a uretra programas televisivos eletrónicos rivaliza Ter uma vida sexual
e o canal teve a ideia de lançar com uma língua, satisfatória é algo
vaginal uma plataforma virtual uma mão, um pénis, que se mantém ao
(Sex & Museum) e um roça-roça. longo da vida?
revolucionar a forma Acompanhei mulheres O prazer e a
envolvem a uretra, o famoso como vemos o sexo. que se habituaram disponibilidade,
‘squirting’), outras apertam as mãos O projeto não che- ao ritmo rápido e sim, caso consiga
e sentem o corpo tenso ou com gou a descolar, mas a à descarga dos ultrapassar
movimentos espontâneos.
persistência de Marta vibradores e deixaram experiências passadas
O tecido erétil não desincha logo,
razão pela qual se pode ter mais e o apoio da autarquia de ter orgasmos sem menos boas. Quem
do que um orgasmo oeirense tornaram o eles: sempre que o viveu a sexualidade
sonho real. A expo- parceiro tentava, elas pela negativa, sofreu
MT/VISÃO
sição Amor Veneris – não conseguiam obter de abuso ou nunca se
Viagem ao Prazer Se- prazer. descobriu realmente,
xual Feminino, patente Como se resolvem é provável que se
alteram ou causam lesões nos órgãos geni-
no recém-inaugurado esses casos? refugie na menopausa
tais femininos. Estima-se que existam no
Musex, em Algés, con- Por vezes, é preciso para dizer “acabou-se”.
acabou-se .
mundo 200 milhões de mulheres e raparigas templa entretenimento, fazer o desmame do Isso ainda existe?
que possam ser vítimas. Em Portugal, onde oficinas artísticas e brinquedo sexual Menos, porque já se
esta prática que assenta em razões culturais consultas de sexologia. para voltar a usufruir fala sobre o fim da
é considerada crime desde 2015, uma cidadã O que mudou nas do sexo com o outro. ovulação, mas não
luso-guineense foi condenada a três anos de mentalidades? Se a experiência da libido. O prazer
prisão efetiva e a uma indemnização de dez Há mais abertura para até ao orgasmo não sexual acompanha a
mil euros, no início do ano passado, pelo Tri- falar e as mulheres têm for gratificante, é mulher, desde que ela
bunal de Sintra, por ter permitido o corte da outra disponibilidade fácil ficar viciada no queira, assim tenha
filha, então com 1 ano e meio, durante uma para pensar o desejo e sugador, que é ótimo um relacionamento em
viagem ao estrangeiro. lutar pelo prazer, mas para atingir o orgasmo que se sente seduzida
Devolver o prazer à mulher através da não se avançou tanto de dez segundos. e bem tratada.
reconstrução da função do clítoris é possível como seria expectável. Mas mais do que os
(a cirurgiã americana Marci Bowers é um dos No consultório, vejo segundos que dura
nomes associados à clitoroplastia) mas ainda mulheres com padrões um orgasmo, tem de
não se faz em Portugal. próximos dos que valer a experiência,
Num outro registo, assiste-se à procura tinham as suas avós. que envolve excitação
crescente da cirurgia genital com fins es- A educação sexual sexual e partilha
téticos e não só. A cirurgiã plástica Fátima não é brilhante nas íntima. Isso é que é
escolas; na família o grande gozo da
Baptista Fernandes relata “mais pedidos de
não se fala de prazer sexualidade.
jovens com hipertrofia dos pequenos lábios,
e, muitas vezes, as O desfrute sexual
que sentem desconforto com o atrito da pele
conversas ficam-se está a perder-se?
na roupa interior” e assegura que “a cirurgia pelo “não engravides”. Sim. Prioriza-se
íntima feminina não afeta negativamente As mulheres mais tudo e mais alguma
o prazer sexual”, do qual se fala mais hoje, jovens sentem uma coisa e encaixa-
“mesmo que com certos limites e com al- insegurança maior, se a intimidade
gum pudor”. tentam corresponder sexual no fim da
E, ainda, com preconceito, como se viu, há a uma ideia do linha. Antes, o
oito anos, quando dois juízes e uma juíza do que é fazer sexo, grande inimigo
Supremo Tribunal Administrativo reduziram influenciadas pela era a televisão
a indemnização a uma mulher de 50 anos, pornografia. em cada
Cliteracia: um caminho IMPÉRIO ROMANO
2009
20 2005
Os cirurgiões
cirurgiõe franceses O’Connell confirma, com recurso
Pierre Foldes e Odile Buisson, a ressonâncias magnéticas em
especializado em cirurgia
especializados mulheres vivas, o estudo original,
reprodutiva femfeminina, fazem a exibindo o órgão sublime no seu
primeira ultrassonografia
ultras do esplendor, insistindo na importância
clítoris interno excitado em de estes conhecimentos fazerem
image 3D.
imagens parte da formação médica.
COSTA SILVA
MINISTRO EM
CONTRAMÃO
O ministro António Costa Silva entrou em contramão com
o discurso oficial sobre política fiscal do Governo e do PS.
Contradições em relação à redução do IRC deixaram
a oposição e os patrões (ainda mais) “confusos”
— P O R J O Ã O A M A R A L S A N TO S *
A
Orçamento do Estado para
2023 será apresentado até
10 de outubro
600
aumentar o endividamento
“não é a solução”, afirma.
O líder associativo consi-
M
dera que essencial é “reduzir
a fiscalidade sobre a energia,
o trabalho e o rendimento das
empresas”, porque o que está LINHA DE CRÉDITO
a pesar são “os custos de pro- Linha de apoio
dução”, sobretudo por causa à tesouraria será
da subida do preço da energia. operacionalizada pelo
“Os empresários não estão a Banco de Fomento
conseguir repercutir no preço (e não só). Disponível
final dos produtos o aumento a partir da segunda
dos preços de produção. Não quinzena de outubro.
é preciso ser economista para
235
se perceber que isto não é pos-
sível durante muito tempo”,
justifica. Assim, “as empresas
M
não têm condições de atualizar
salários face à inflação, o que
afeta o rendimento disponível
das famílias”, o que poderia ser ELETROINTENSIVAS
minimizado com “uma descida O apoio para empresas
da carga fiscal sobre o trabalho que usam gás de forma
[o IRS]”. “Protegia-se a mão de intensiva aumenta para
obra, para que esta não tenha 235 milhões de euros
MARCOS BORGA
290
mizava-se um bocadinho o
impacto no poder de compra e
presidente da Associação Em- relação à comunicação do Go- no consumo interno”, garante.
M
presarial de Portugal (AEP). “O verno, António Saraiva consi- “Também não faz sentido tri-
que gostaríamos de ver era um dera que “pior do que os des- butar mais o rendimento das
plano muito claro sobre o que lizes, são as contradições”. “Era empresas porque é retirar-lhes
vai ser a política fiscal para as importante que o Governo competitividade”, acrescenta. PACOTE “VERDE”
empresas nos próximos anos. desse um sinal de confiança, e Já o presidente do CIP, An- Incentivos para melhorar
As empresas não podem viver isso ainda não aconteceu”, diz. tónio Saraiva, realça que “todas a eficiência e transição
num contexto de ‘em princípio as ajudas são bem-vindas”, mas energética chegam
vai ser’, ‘estamos a pensar em PATRÕES DESCONTENTES considera que este pacote “é, aos 290 milhões.
fazer’”, acrescenta. Enquanto a política fiscal do evidentemente, tardio e in- Estão disponíveis
Opinião partilhada por An- Governo se mantém em “se- suficiente”. “O desenho deste a 1 de outubro.
tónio Saraiva, presidente da gredo”, o Executivo tem apre- pacote de apoio não interessa
20%
Confederação Empresarial de sentado medidas para “res- às empresas, pois grande parte
Portugal (CIP), que considera ponder a esta crise”. Ao pacote deste mecanismo vai resultar
“que o mundo empresarial de medidas destinadas às fa- no endividamento das pró-
precisa, essencialmente, de mílias de 2,4 mil milhões de prias empresas. O importante, MAJORAÇÃO
estabilidade e previsibilidade”. euros, juntam-se apoios no neste momento, é fazer face Custos das empresas
“Existe um elevado grau de valor de 1,4 mil milhões de eu- ao aumento das despesas de com eletricidade e
incerteza, devido a aconteci- ros dirigidos às empresas (ver tesouraria, devido ao aumen- gás natural vão ser
mentos externos, por isso, do caixa), mas o facto de parte to do preço da energia, por majorados em 20%
que menos precisamos é que deste valor (40%) ser destinado isso, obviamente, esta não é em sede de IRC, o
internamente exista também a uma nova linha de crédito no uma boa solução”, conclui. que, na prática, resulta
essa mesma instabilidade e valor de 600 milhões de euros jsantos@visao.pt em menos impostos a
imprevisibilidade”, afirma. Em tem gerado muitas críticas. * Com Cesaltina Pinto pagar sobre os lucros.
D.R.
O “colunista” mistério situações.” O rosto de Lucas
na foto de grupo foi então
“rasurado” a tinta preta, con-
forme ainda se podia ver na
Fotografado com extremistas e neonazis, Lucas Claro, internet nos últimos dias.
militante e ex-candidato do Chega, nega vínculos.
Mas um artigo no Observador adensa suspeitas COLUNISTA NÃO,
“ESPONTÂNEO”
— P O R M I G U E L C A R VA L H O Lucas Claro viu-se arras-
tado para a fervura mediá-
N
tica quando, a 25 de junho,
a tarde de 10 de ju- Ordem Social indicia afini- editora nacionalista Contra- 15 dias após o encontro no
nho, Lucas Duarte dades de Lucas Claro com -Corrente, onde João é edi- Bairro Alto, publicou o pri-
Claro, 22 anos, es- estes setores. “Foi um acaso”, tor, de cujo catálogo fazem meiro artigo de opinião no
tudante de Relações desmente. “Costumo celebrar parte obras laudatórias sobre Observador. Tema: “A Grande
Internacionais e militante do a data e, este ano, conheci Hitler, Goebbels, Mussolini Substituição.” Trata-se, na
Chega, juntou-se a um con- algumas pessoas nesse con- e Salazar, além de autores sua versão, de um “fenóme-
vívio comemorativo do Dia texto, mas não gostei. Não como Julius Evola e Alexan- no sociológico (…) Não é uma
de Portugal, no Bairro Alto há qualquer ligação, nem der Dugin, inspiradores da conspiração ou um mito, é
(Lisboa). Candidato nas listas haverá”, garante. extrema-direita do século um facto”. Para Lucas Claro,
autárquicas do partido em O ideólogo neofascista XXI. “Conheci o João nesse estará em curso uma “mu-
Cascais, em lugar não ele- e identitário João Martins, dia e, como pensava publi- dança demográfica”, masca-
gível, o autor de artigos pu- condenado a 17 anos de pri- car alguns textos, quis saber rada intencionalmente pelo
blicados no Observador foi são pelo homicídio do cabo- como funciona a área edito- Governo PS no caso nacional,
fotografado junto de elemen- -verdiano Alcindo Monteiro rial”, esclarece. Conservador que visa substituir os nati-
tos extremistas de direita e por um grupo de skinheads de costela vanguardista, lute- vos por imigrantes. “Zonas
neonazis da Força Nova e do em 1995, terá sido um dos ranista, admirador de Trump inteiras de Lisboa são, hoje
movimento Blood & Honour, promotores da iniciativa. Se- e Bolsonaro, Lucas ficou de- em dia, praticamente irre-
identificados e referenciados gundo testemunhos, Lucas sagradado com a partilha da conhecíveis como parte de
pelas autoridades. A imagem Claro e João Martins conver- imagem do convívio na in- Portugal. O Martim Moniz
divulgada nas redes sociais saram durante um período ternet. “Não gostei e pedi ao é o exemplo perfeito disso”,
a partir da página pessoal considerável, alegadamente João para me apagarem. Não escreveu. “O mesmo pode ser
de um ex-membro da Nova a pretexto das atividades da quero estar associado a estas dito de Odemira, Amadora
M
ais uma vez, a
World Press Pho-
to, a maior expo-
Fotojornalismo, com
bolsa de pessoas entendidas me (veja lista e calendário ao
Patrícia Melo Moreira,
que formaram um júri. Em lado). Mário Cruz, fotógrafo
fotojornalista da Agência
cada região, foram atribuídos duas vezes premiado neste France-Presse
quatro prémios – foto única, concurso e um dos mais re-
reportagem, projeto de longo conhecidos fotojornalistas
prazo documental e formato nacionais, esteve no sábado
Garrett, até ao dia 16 de ou- passado a falar de alguns dos
tubro. Para Isaltino de Mo- seus trabalhos mais memorá-
rais, presidente da Câmara veis, como Recent Blindness,
Municipal de Oeiras, o facto a vida numa instituição de 08 DE OUTUBRO
de a VISÃO ter escolhido ou- WORLD PRESS PHOTO 2022 apoio a cegos recentes, ou Fotografia de retrato,
tra vez o Parque dos Poetas Local: Parque dos Poetas, Roof, uma reportagem pelos com Arlindo Camacho,
para mostrar esta exposição em Oeiras. Entrada Templo edifícios abandonados da fotógrafo, colaborador
é muito estimulante, porque da Poesia Grande Lisboa habitados por da VISÃO e da PRIMA
“permite novamente que o Datas: 15 setembro pessoas desfavorecidas.
jardim seja apropriado pela a 15 de outubro Este sábado será a vez de
população, como aconteceu Horário: Segunda a domingo, José Carlos Carvalho, repór-
no ano passado”. Mais de 20 das 9h às 23h ter da VISÃO, tomar o palco
mil pessoas visitaram, em (de 15 a 30 de setembro e partilhar histórias e dicas.
2021, a exposição – um su- – horário de verão) Seguem-se Patrícia de Melo
15 DE OUTUBRO
cesso assinalável. e das 10h às 20h Moreira (fotojornalismo), Ar-
Fotografia de viagem,
O interesse são as ima- (de 1 a 15 de outubro lindo Camacho (retratos) e
com Bernardo Conde,
gens, mas também as gran- – horário de inverno) Bernardo Conde (viagens). fotógrafo de viagem
des narrativas visuais que ali Entrada gratuita visao@visao.pt
Um lugar de ruidoso
silêncio
Pedro
C
Norton omeço com uma confissão. Tal- uma radical igualdade de direitos à nascença
vez não devesse, mas a verdade é que a ideia monárquica indiscutivelmente
que frequento o espaço infre- representa e, ainda assim, aceitar a hipótese
quentável que é o Twitter. Nor- de que o posicionamento suprapolítico de
malmente calado, nem por isso um monarca possa servir, conjunturalmen-
menos atento. E estou, portanto, habituado te, como válvula de escape e como fator de
a doses razoáveis de bílis, de impropérios, constância estabilizadora de uma qualquer
de violência verbal tantas vezes vomita- sociedade? Ou podíamos ainda ter-nos per-
da por intermédio de bots ou a coberto de guntado se as nossas modernas repúblicas
cobardérrimos (não estou seguro de que a têm alguma coisa a aprender com a dimen-
palavra exista) pseudónimos e avatares. Mas são ritualista e institucionalista das monar-
devo confessar que fiquei, ainda assim, es- quias que ainda sobrevivem.
pantado com algumas reações epidérmicas Convenhamos que na cabeça de um qual-
— Analista político
e virulentas à morte de Isabel II. É certo que quer livre-pensador, de um qualquer cidadão
a ideia pacóvia de decretar três dias de luto minimamente curioso e com espírito crítico,
nacional em Portugal é isso mesmo: uma de alguém que não receie desinquietar-se
ideia pacóvia que merece ser ridiculariza- com perguntas ou ideias incómodas, todas
NOTAS EM FORMA da. Mas com os diabos. Vale a pena que nos estas são questões tão provocadoras como
tomemos de calores para ressuscitar, como estimulantes. Desafiam-nos, obrigam-nos
DE ASSIM se não houvesse amanhã, a morta e enter- a argumentar, ajudam-nos a pensar. Tanto
rada questão monárquica? Vale a pena que podem fazer abalar certezas como, através
rasguemos as vestes em defesa das nossas da razão crítica, nos ajudam a cimentar com
credenciais republicanas? Vale a pena tanto mais solidez as verdades que já intuíamos.
PORTUGAL
insulto? Paira por aí alguma ameaça real so- Ora, se assim é, por que raio, em vez de
METAVERSO
bre a República de que não me tenha dado um debate enriquecedor, nos lançámos,
Depois do algoritmo
dos incêndios, as
conta? Com toda a franqueza, tudo isto pelo menos nessa vanguarda microscópica
previsões da Pordata me pareceria simplesmente ridículo se não que é o Twitter, numa ridícula cruzada dog-
sobre alunos sem achasse que o episódio é absolutamente re- mática que nenhuma ameaça credível pode
professores. A velador da forma como se vai deteriorando justificar? Pois, por uma razão simples. Por-
ideia é genial. Na a qualidade do debate no espaço público. que há muito que, no espaço público, dei-
impossibilidade de nos Vale a pena dar dois passos atrás e parar xámos de conversar. Ninguém está verda-
compararmos com os para pensar dois minutos sobre o fenóme- deiramente disponível para ouvir ou sequer
melhores, recorramos no. Em tese, a morte de Isabel II, monarca muito interessado em ser ouvido. E isso
à comparação com de uma longevidade ímpar num mundo é verdade para este debate serôdio sobre
distopias imaginárias. esmagadoramente republicano, poderia ter a ideia monárquica como é verdade para
Não há, de facto, alimentado um debate intelectual muitíssi- outros debates bem mais relevantes para as
pessimismo que mo estimulante. Podíamos ter-nos pergun- nossas sociedades contemporâneas. Muito
resista. tado, por exemplo, que razões explicam, que mais do que homens e mulheres pensan-
tantos republicanos, insuspeitos de serem tes, autónomos e livres, somos hoje, cada
monárquicos no armário ou de terem um vez mais, membros de tribos primitivas.
qualquer Paiva Couceiro a palpitar dentro Muito mais do que interessados no debate
VERSO E REVERSO deles, se tenham sentido tão genuinamen- racional de ideias que desde sempre nos fez
Num dos países te tocados pelo acontecimento? Podíamos evoluir como sociedade, estamos focados
mais envelhecidos
ter-nos perguntado se é possível reconciliar no aplauso fácil dos grupos e subgrupos
do mundo, é
a convicção profunda de que a monarquia, a que pertencemos. Não falamos para um
imprescindível discutir,
com coragem e
mesmo que reduzida a uma função mera- interlocutor, não esperamos verdadeira-
sensibilidade, uma mente representativa ou até decorativa, não mente qualquer resposta, não queremos
reforma da Segurança deixa de ser um sistema político baseado questionar ou ser questionados. Procura-
Social. Empreendê- numa atribuição de privilégios iníquos, com mos aplausos rituais. A loucura identitária,
la é um indiscutível a ideia de que aquela possa ser um fator o terrível ennui das classes médias urbanas,
sinal de lucidez. de coesão nacional relevante em contextos as frustrações indizíveis da vida contempo-
Tentar fazê-la à plurinacionais como são os do Reino Unido rânea e o pântano cobarde das redes trou-
socapa é uma forma ou de Espanha? Podíamos ter-nos pergunta- xe-nos a um lugar de ruidoso silêncio.
preocupante de fazer do se será possível rejeitar, com inteira con- E isso, para uma democracia liberal, é
política. vicção, a denegação do mérito e da ideia de profundamente perigoso. visao@visao.pt
A VIDA LABIRÍNTICA
DE JOSÉ SARAMAGO
De serralheiro mecânico a figura ética com projeção
mundial, foram décadas de resistência de um rapaz pobre
que se tornaria um adulto que teimou em ser escritor contra
tudo e contra todos. Rejeitado, ridicularizado e criticado
pelo meio literário, José Saramago teve sete vidas,
defende a nova biografia do Nobel português, escrita
por Filomena Oliveira e Miguel Real
— P O R S A R A B E LO L U Í S
O
Amado era um dos que mais insistiam no tema. Saramago e
o escritor baiano tinham um pacto: o que ganhasse o Nobel
convidaria o outro para a cerimónia oficial, na Suécia. A 21
de setembro de 1994, Amado escreveu a Saramago dizendo-
-lhe que tem “informação fidedigna” de que António Lobo
Antunes – eterno rival do autor de Levantado do Chão, no
infantil Benfica-Sporting a que por vezes se reduzem as le-
tras nacionais – receberia o Prémio Nobel da Literatura daí a
dias. Saramago desvalorizou e chutou para canto. Comentou
que, “em Estocolmo, tudo pode acontecer” e confessou-se
O polémico Evangelho Se- aliviado de, se assim fosse, “não ter de pensar mais no Nobel
gundo Jesus Cristo – que tanta tinta fez correr e que ori- até ao fim da vida”. Porém, nos Cadernos de Lanzarote, que
ginara a mudança de José Saramago para Lanzarote – ti- alguns consideravam ser um exercício de umbinguismo e de
nha-lhe dado o maior galardão literário do País, o Grande pura vaidade, Saramago não perdeu a oportunidade de dar
Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de mais uma ferroada no autor de Manuais dos Inquisidores:
Escritores, que uns anos antes lhe havia escapado ao publi- “Quanto a mim, de Lobo Antunes só posso dizer isto: é ver-
car a sua obra-prima, Memorial do Convento. Após longas dade que não o aprecio como escritor, mas o pior de tudo
décadas excluído do “sistema” (por razões literárias, mas é não poder respeitá-lo como pessoa.”
também por razões políticas), Saramago conseguia, então, Amor com amor se paga. As trocas de galhardetes entre
o reconhecimento dos pares e ampla projeção internacional. Lobo Antunes e Saramago eram habituais, desde que hou-
Ao grande público, para lá das anedotas sobre o seu estilo vesse Imprensa disposta a alimentar a novela e, naturalmente,
de escrita, em particular sobre o uso que fazia da pontua- público interessado. Num mundo pré-internet massificada
ção, os livros também chegavam aos leitores com um êxito e redes sociais, elas também constituíam, para os leitores-a-
comercial assinalável. deptos de cada um dos lados da barricada, um bom motivo
Apesar da aceitação no (pequeno) meio literário português, de gargalhada. Regressando a 1994, a boataria continuou,
as discórdias e os desaguisados ainda não tinham desapare- Saramago foi informado de que Lobo Antunes até já se en-
cido – Vergílio Ferreira e Agustina Bessa-Luís, por exemplo, contraria na Suécia, mas não perdeu a compostura e a boa-
eram dos que não se coibiam de dizer mal de Saramago, -disposição: “Tenho de começar a pedir desculpa aos meus
alto e bom som, para quem os quisesse ouvir. No círculo de amigos por não ganhar o Nobel...” Do resto, reza a história:
amigos do escritor, porém, a candidatura ao Prémio Nobel afinal, o Prémio Nobel da Literatura desse ano haveria de
da Literatura já era falada. Na edição portuguesa da Cambio ser atribuído ao escritor japonês Kenzaburo Oe; Saramago
16, o jornalista Mário Ventura Henriques dava como certa – venceria daí a quatro anos, em 1998, e Lobo Antunes, como
e para breve – a atribuição do Nobel a um autor de língua se sabe, até hoje, não foi um dos eleitos da Academia Sueca.
portuguesa, sendo que a única fotografia que acompanhava De então para cá, os escândalos que envolveram os próprios
o artigo da conhecida revista espanhola era a de Saramago. membros da Academia também deram que falar, originando
Junto deste, família e amigos mais chegados faziam muitas até, duas décadas após a vitória de Saramago, alterações no
piadas com o assunto e, do lado de lá do Atlântico, Jorge processo de escolha dos eleitos.
EM NOME DE SARAMAGO
Em vários palcos, salas de exposições ou até em casa, à frente da televisão, há muitas maneiras de celebrar
o centenário do nascimento de José Saramago, que se assinala a 16 de novembro
GETTY IMAGES
aproxima dos métodos e CONCERTO 1984) chegou às salas de
processos de escrita do CENTENÁRIO cinema em 2020. Agora,
único Nobel da Literatura DE JOSÉ SARAMAGO vai passar (brevemente, em
em português, com vários data a anunciar) na RTP
documentos do acervo da Conferências Vários músicos portugueses numa versão diferente:
Fundação José Saramago OLGA TOKARCZUK e espanhóis vão cruzar-se uma minissérie de quatro
nunca mostrados. A oficina E LEILA SLIMANI no palco do Teatro Municipal episódios. O heterónimo de
de Saramago pode visitar-se São Luiz, em Lisboa, no dia Fernando Pessoa, Ricardo
até 8 de outubro. O programa Conferências 3 de novembro, para um Reis, é interpretado pelo ator
do Nobel, com curadoria de concerto em que partem brasileiro (e mexicano) Chico
Alberto Manguel, começou da obra e do imaginário Díaz.
em abril no âmbito das de Saramago. São, afinal,
comemorações oficiais do muitas as pontes que ligam
nascimento de Saramago. a literatura à música. Entre
Há ainda duas sessões a outros, vão poder ouvir-se
caminho (no Salão Nobre da Aline Frazão, Camané, Luís
Câmara Municipal de Lisboa): Pastor, Marco Oliveira, Mário
com a escritora polaca, Laginha, Paula Oliveira e
JOÃO TUNA
Nobel da Literatura em 2018, Teresa Salgueiro.
D.R.
PÁGINAS TANTAS
Além de reedições especiais das suas obras, nos últimos
meses têm saído vários volumes, de diversos géneros,
sobre José Saramago
D.R.
Durante 18 anos Pilar viveu com Schnetzer
o seu marido, José Saramago, Os lugares, as pessoas e os
na ilha de Lanzarote. Aqui, em principais acontecimentos da vida
capítulos breves que se leem do escritor num “álbum biográfico”
de um fôlego, partilha muitas com muitas fotografias.
histórias, quotidianos e memórias — Porto Editora, 352 págs., €40
desses dias do escritor.
— Porto Editora, 376 págs., €19,90
e o Mal
De Memórias nos Fazemos Carlos Nogueira
Violante Saramago Matos
Vencedor do Prémio Vergílio
Um livro muito especial,
Ferreira 2022, este ensaio põe
escrito pela filha única de José
em perspetiva uma certa visão
Saramago. Violante evoca as de pretensos escândalos e bisbilhotices, fruto de pequeninas
saramaguiana do mundo. A crença
suas memórias e os afetos mas intrigas políticas e de imensa coscuvilhice.”
num mundo melhor e na nossa
também distâncias, dúvidas e
capacidade para nele intervirmos.
Às origens rurais, Saramago retratou-as em As Pequenas
desencontros.
Qual é, aí, o lugar do “mal”?
Memórias, livro que de resto é muito citado por Miguel Real
— Edições Esgotadas, 132 págs., e Filomena Oliveira. “Nada há a disfarçar, nenhum aspeto
€15 — Tcharan, 40 págs., €14,90
a engrandecer – menino pobre filho de famílias pobres,
Saramago escreve sobre a sua origem com o à-vontade de
quem nada tem a esconder, mas também sem glorificações
heroicas, apenas a verdade dos factos segundo a sua inter-
pretação”, escrevem. Saramago tanto era tratado como um
outsider que, nos mentideros da elite intelectual lisboe-
ta, muito antes dos prémios e das polémicas políticas, já
proliferavam as maledicências, sempre com o intuito de o
menorizar e ridicularizar. Quando começou a dar-se com
algumas das figuras do meio e sobretudo a estar nos sítios
Jerónimo e Josefa Viagem a Portugal certos, o crítico literário João Gaspar Simões, de quem
José Saramago/ José Saramago Isabel da Nóbrega também foi companheira, pôs-lhe a al-
Ilustrações de João Fazenda Reedição do livro lançado em cunha de “Saragago”, por causa de uma ligeira gaguez que
Na cerimónia de entrega do 1981 (no Círculo de Leitores), o escritor então revelava. O mito de que terá sido Isabel da
Nobel, José Saramago falou com o relato das viagens do Nóbrega “a educá-lo, a ensiná-lo a comer à mesa”, também
dos seus avós maternos, escritor em todo o País. Esta é reproduzido até hoje. “Não é verdade”, nota Miguel Real,
Jerónimo e Josefa. Parte desse edição especial inclui fotografias lembrando que, quando trabalhava na Estúdios Cor, Sa-
discurso está neste livro, com de Duarte Belo e as que José ramago tinha almoços de trabalho com outros escritores.
ilustrações de João Fazenda. Saramago fez nesses percursos Cabe a Filomena Oliveira, dramaturga e diretora artística da
Para todas as idades. (quase todas inéditas). companhia de teatro Éter, que também já fez uma adaptação
— Tcharan, 40 págs., €14,90 — Porto Editora, 768 págs., €40 de Memorial do Convento, pôr um ponto final no assunto:
Fora
FADO EM ALFAMA e de um programa
O Santa Casa Alfama pensado por artistas,
vai ocupar as ruas cientistas, hortelãos
deste bairro com 11 e outros criadores,
palcos, sexta-feira transmitem-se
e sábado, 23 e 24. ensinamentos sobre
Dedicado ao fado, sustentabilidade e
este ano o festival tradições que não
presta homenagem se querem perder. A
a Max, intérprete da entrada é grátis.
célebre A Mula da
Cooperativa, com um
concerto por António —— Mercado
Zambujo e convidados
(23 set, sex). De palco ARTE
em palco, vão ouvir- E GASTRONOMIA
se, entre outros, Dulce LATINAS
D.R.
de novo RETROSPETIVA
DE AGNÈS VARDA
instalações site-
specific, performances,
Jorge Fernando, Maria
Ana Bobone, Ana Sofia
23 a 25, numa nova
localização: o recinto
em casa
Oliveira, no Porto, está the Kid com Orelha partir de €35. da América Latina
a exibir alguns dos Negra, acompanhados em parceria com a
filmes mais marcantes por uma orquestra de Câmara Municipal
Fado, cultura de Agnès Varda. No 24 elementos dirigida —— Festa de Cascais, dá a
urbana e a próximo domingo, pelo maestro Pedro
BEM-VINDO,
conhecer a cultura
às 17h, é exibido Moreira, são alguns dos e a gastronomia
retrospetiva Le Bonheur (1965), destaques musicais. OUTONO! de países como
de Agnès Varda seguindo-se La Pointe O programa dedicado A chegada da nova Colômbia, México,
na chegada Courte (2 out), Ô às artes visuais tem estação é assinalada Cuba, Venezuela ou
do outono Saisons, Ô Chateaux este ano como tema neste fim de semana, Brasil, através de
e Cléo de 5 à 7 (9 Playground, e conta 24 e 25, com o espetáculos de música
out). A retrospetiva com obras de Vanessa regresso da Festa de e dança, workshops,
da cineasta francesa Barragão, Batida e Outono ao Parque de aulas e degustações.
encerra com Les Vhils, entre outros. Os Serralves, no Porto. Nesta edição marcam
Plages de Agnès (11 bilhetes custam €25 Através de música, presença cerca
dez), o documentário e €75. teatro, oficinas e jogos, de 80 stands com
autobiográfico em gastronomia, artes
que Varda regressa às plásticas e artesanato
praias da sua infância. (sapatos mexicanos
Bilhetes: €3 feitos à mão ou
bordados paraguaios).
—— Música
—— Dança
FESTIVAL IMINENTE
Em Lisboa, na Matinha, ENTRE ÁFRICA
E ÁSIA
NASH DOES WORK
D.R.
de uma trilogia que episódio da série
questiona a condição de ficção histórica,
da comunidade negra realizada por Henrique autoconhecimento. 2023 com 144 páginas Spike Lee, Morgan
em diferentes épocas Oliveira, foi exibido Já na dança oriental, (€16,60) onde será Freeman, George
e locais. No auditório 3, nesta quarta, 21, a aprendizagem possível tomar notas, Nelson, Robert Redford
é exibida gratuitamente na RTP1, mas está de uma série de fazer planos e pôr tudo e Halle Berry foram
(15h-17h) a curta- disponível na RTP movimentos rítmicos em dia. Com o nome entrevistados para
metragem sobre o Play. Ao longo de seis das ancas e dos Agora é que são elas!, Sidney, apresentando
processo de criação episódios (um novo a músculos, ao som de está dividida por temas, as suas visões sobre
deste projeto. cada quarta, às 21h) música, traz benefícios um por cada mês, o legado desta figura
percorre-se mais de físicos e emocionais. que vão do feminismo histórica do cinema.
30 anos da nossa Disponíveis nos níveis ao amor-próprio.
—— Bares história mundial, mas inicial e intermédio, a Em cada semana, há
principalmente entre partir de €20/mês ou ainda um lema e uma —— YouTube
DOSE DUPLA Portugal e Cuba, €10/aula avulso. escala para classificar
As noites estão de através de imagens de os últimos sete dias. CLÁSSICOS DA ILHA
volta ao Cais do arquivos internacionais As ilustrações e Com tradição ligada à
Sodré, em Lisboa. e cenários reais que mensagens inscritas, competição automóvel,
O conhecido ajudam a contar a luta irreverentes e irónicas a Madeira tem um
Copenhagen Bar desta mulher pela sua à imagem de Clara impressionante
Lisboa reabriu liberdade e pela sua Não, foram feitas à traçado de estradas de
(finalmente!), dois identidade. mão a tinta da China e montanha por onde se
anos e meio depois pincel. passeiam automóveis
do encerramento, clássicos raros de
com nova decoração —— Cursos LEMBRAR SIDNEY vários colecionadores
e cocktails, mantendo POITIER privados. É sobre
o hip hop como DANÇA E IOGA Oito meses depois estes carros e motos
base musical. Ali EM CASA da morte do ator, (Cadillacs, Mercedes
perto, também o O mês de setembro realizador e ativista ou Vespas) que se
bar-discoteca Rive- marca o regresso das dos direitos humanos, fala nos seis episódios
Rouge voltou a atividades regulares no —— Agenda estreia-se nesta da série Coleções
receber os notívagos Museu do Oriente, em sexta, 23, na Apple de Sonho: Ilha da
com diferentes Lisboa, entre as quais 2023 TV+, o documentário Madeira, lançada nesta
ritmos dependendo os cursos online de POR CLARA NÃO produzido por Oprah quinta, 22, no canal
do dia. Da música dança oriental e ioga: A poucos meses de Winfrey e dirigido de YouTube do Jornal
brasileira à comercial básico e Nidra (técnica acabar o ano, a Ideias por Reginald Hudlin, dos Clássicos. A cada
e à eletrónica, não de relaxamento de Ler em parceria em colaboração com quinta-feira é lançado
esquecendo os êxitos profundo). Nas aulas com a ilustradora Clara a família de Sidney um episódio com uma
dos anos 80, há muito de ioga, promove- Não lança nesta quinta, Poitier (1927-2022). nova coleção e muitas
para ouvir e dançar. se o equilíbrio e o 22, uma agenda para Denzel Washington, curiosidades.
LISBOA
Arcade Fire
Popularidade à prova de bala?
A banda canadiana volta a Portugal para
apresentar o novo álbum, WE, pouco tempo
depois de Win Butler ter sido acusado PORTO E LISBOA
de “conduta sexual imprópria”
Michael
Kiwanuka
S
e dúvidas houvesse a respeito do álbum (em maio último) o multi-
da popularidade dos Arcade -instrumentista Will Butler, irmão de Depois da celebrada atuação,
Fire depois da acusação de Win e membro do grupo quase desde em 2019, no Festival Super
“conduta sexual imprópria” o início, anunciou a sua saída. Apesar Bock em Stock, era com altas
ao vocalista, Win Butler, as mesmas de todos estes abalos, o estatuto do expectativas que se aguardavam
parecem ter ficado dissipadas com os coletivo liderado pelo casal Win Butler os concertos deste músico
dois concertos esgotados que a banda e Régine Chassagne parece continuar britânico de origem ugandesa.
se prepara para dar em Lisboa, onde praticamente intocável, como se com- Mas os espetáculos inicialmente
vai iniciar a muito aguardada digres- provou pelas reações ao novo álbum, marcados para maio de 2020
são europeia do mais recente álbum, no qual voltaram a reinventar-se só vão chegar agora. Nunca é
WE. Mesmo assim, a polémica não enquanto banda. Longe vão os tempos tarde para se ouvir ao vivo esta
acabou com o pedido de desculpas do em que se estrearam em Portugal, na voz, cheia de soul, já comparada
músico às quatro mulheres que reve- edição de 2005 do Festival Paredes de com as de Van Morrison ou
laram os casos ao site Pitchfork, ale- Coura, quando eram pouco mais do Curtis Mayfield. O álbum
gadamente ocorridos em 2015, quan- que uma promessa, embora já muito Kiwanuka foi considerado um
do o músico estaria a braços com uma bem encaminhada na sequência do dos melhores de 2019 e venceu
depressão e problemas de dependên- magistral disco de estreia, Funeral. o Mercury Prize.
cia de álcool. O melhor exemplo disso Seis álbuns depois, conseguiram o fei-
foi a tomada de posição da também to de romper fronteiras entre o uni- Super Bock Arena > Jardins do
canadiana Feist, a anunciada convi- verso indie e o mainstream, tornan- Palácio de Cristal, Porto > 23 set,
sex 21h30 > €25 a €30 > Campo
dada especial desta digressão, que há do-se um fenómeno de popularidade Pequeno, Lisboa > 24 set, sáb
apenas algumas semanas anunciou o global, conquistado, em boa parte, nos 21h30 > €27 a €32
cancelamento das suas atuações nas seus enérgicos e épicos concertos.
primeiras partes dos concertos dos — Miguel Judas
Arcade Fire. Este não foi o primeiro
LISBOA
caso a abalar a vida da banda este ano. Campo Pequeno, Lisboa > T. 21 798 1420
Pouco tempo depois do lançamento > 22 e 23 set, qui e sex 20h > €40 a €66
Emicida
Win Butler e “Heroico” e “obrigatório” foram
Régine Chassagne alguns dos adjetivos com que
O casal é a grande o documentário AmarElo – É
força motriz Tudo Pra Ontem, de Emicida, foi
dos canadianos
recebido no Brasil, após a estreia
Arcade Fire
na Netflix no fim de 2020. O
filme, realizado por Fred Ouro
Preto, parte de um espetáculo
do rapper em São Paulo,
baseado no aclamado álbum
AmarElo, editado em 2019 e
vencedor de um Grammy Latino.
Aí, Emicida é ao mesmo tempo
protagonista e narrador de uma
história coletiva, a da cultura
afro-brasileira. Chegou a vez de
a contar e cantar em Portugal.
GETTY IMAGES
MIMO Festival
Casa nova
O festival que veio do Brasil (e estacionou em
Amarante entre 2016 e 2019) vai ocupar o
centro histórico do Porto durante três dias, de
23 a 25. Eis o que não pode perder – tudo grátis
— P O R F LO R B E L A A LV E S
1. 3.
Novos palcos Workshops
Trazido do Brasil para Amarante Ao longo dos três dias, o
por Lu Araújo, em 2016, o festival conta com workshops
festival Mimo passa agora para de música clássica, guitarra
o centro histórico do Porto, clássica, artes visuais, canto
classificado como Património lírico brasileiro e cítara.
Mundial da UNESCO. Os seus
palcos estão no Largo Amor Reitoria da Universidade do
de Perdição, no Jardim da Porto > Pç. Gomes Teixeira >
23-25 set, sex-dom
Cordoaria, na Reitoria da Univ.
do Porto, no Museu de História
Natural e da Ciência, no Jardim
4.
das Virtudes, no Palácio de Chuva de Poesia
D.R.
Cristal e nas Igrejas do Carmo,
Carmelitas Descalços, São José Das janelas da Livraria Lello,
das Taipas, Nossa Senhora da serão lançados milhares de 6. 7.
Vitória e São Bento da Vitória. versos de poemas impressos
em pedaços de papéis Música do Brasil Da Nigéria
coloridos numa homenagem
a grandes nomes da poesia Do lado de lá do Atlântico
à Ucrânia
portuguesa. A curadoria é da (onde o festival nasceu, Fora da língua portuguesa,
responsabilidade do artista em Olinda), conte-se com destaques para a música da
gráfico mineiro Guilherme as atuações do poeta e cantora franco-nigeriana Asa
Mansur, mentor desta cantautor Chico César, (23 set, 23h55); do multi-
iniciativa criada em 1993. que lançou agora o seu -instrumentista congolês Ray
décimo álbum, Vestido Lema (24 set, 22h30); da dupla
Livraria Lello > R. das Carmelitas de Amor (23 set, 22h30); DuOud, da Argélia e da Tunísia
> 24 set, sáb 16h do hip hop de Emicida (24 set, 21h); de Mário Lúcio &
D.R.
LISBOA PORTO
O
cofundador da Ossos
teto da casa está esventrado, sobre uma unidade familiar”, diz Pedro – Plataforma Transdisciplinar
como se aquele buraco tives- Penim, evocando a base do seu espetá- de Artes Performativas
se sido feito por uma bomba. culo anterior, Pais & Filhos. “Ao mesmo (juntamente com Susana
Os elementos do cenário tempo, quis juntar-lhe esta dimen- Chiocca), “pretende devolver
revelam a iconografia da casa portu- são da História contemporânea, das um retrato das nossas
guesa: a porta de entrada de alumínio, guerras em África que ainda são como sociedades e problematizar o
o móvel-bar em mogno no canto da feridas abertas.” Sobre tudo isso, paira a lugar do corpo nas interações
sala, a mesa e as cadeiras de cozinha figura do pai e da masculinidade. que tecem a teia das várias
feitas de fórmica. Só que esta é também O espetáculo começa com as Fado relações: o poder, as forças
uma casa que foi tomada pelo tempo. Bicha (Tiago Lila e João Caçador) a en- instituintes, o coletivo, o
Há um graffiti a dizer “Tudo Acaba, saiarem o tema Uma Casa Portugue- privado, a elaboração das
Tudo” numa das paredes, já escavaca- sa, canção do Estado Novo enraizada subjetividades”. O espetáculo
das, e todas elas estão a ser devoradas ainda hoje no imaginário português. parte da obra da escritora
pela Natureza, por plantas trepadei- “Que casa é essa que temos hoje? Isabela Figueiredo e oscila
ras a dotarem aquela arquitetura de Como é que se foi alterando?”, per- “entre o espetro, o delírio, a
uma roupagem nova. É disso que trata gunta Penim. “Não só a sua arquitetu- alucinação, o hiper-realismo
Casa Portuguesa, a nova criação de ra, mas também o seu lado psíquico. e o absurdo”. Ana Madureira,
Pedro Penim para o Teatro Nacional D. Há um filósofo italiano, Emanuele Ana Rita Xavier, Maurícia
Maria II. Fala-nos sobre as vicissitu- Coccia, que diz que as casas não são Barreira Neves, Susana
des inerentes à história de um homem, só um invólucro, são sobretudo um Chiocca e Vinicius Massucato
reformado, que combateu na guerra artefacto psíquico.” Questões para ex- são os intérpretes desta
do então chamado Ultramar. Aqui cru- plorar em palco. — Cláudia Marques Santos colagem de fragmentos feita
zam-se temas como família, colonia- em registo cabaret pós-
lismo, racismo, patriarcado, misoginia, Teatro Nacional D. Maria II > Pç. de D. Pedro -moderno. — J.L.
homofobia, ditadura. IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > 22 set-16 out,
“A ideia parte da vontade de falar qua-sáb 19h, dom 16h > €16 Teatro Municipal Campo Alegre
> R. das Estrelas > T. 22 606
3000 > 23-24 set, sex-sáb
Que “casa 19h30 > €9
portuguesa” é
esta? João Lagarto,
Carla Maciel e
Sandro Feliciano
vão respondendo
em palco a essa
pergunta
FILIPE FERREIRA
João Grosso
e João Mota
A criada La
Poncia e a
austera Bernarda
Alba na última
peça escrita
pelo espanhol
Federico García
Lorca (em 1936, o
ano da sua morte)
PEDRO SOARES
T
odo o dispositivo montado em palco dá funestas. As seis filhas de Bernarda Alba são adul-
uma força especial a esta peça: homens a tas e estão todas por casar; os corpos a arderem
interpretarem o papel de mulheres, ves- de desejos que não são satisfeitos. Mas não há
tidos de branco (em vez do preto que o homens na aldeia à altura do seu estatuto.
tema da peça justificaria), e uma arquitetura céni- “É uma personagem com uma força interior
ca circular, com as cadeiras do público a perfa- muito grande”, diz João Mota sobre Bernarda
zerem uma grande roda à volta do espaço central Alba, ele que cumprirá 80 anos no penúltimo
onde está a decorrer esta história. Até os passa- dia em que este espetáculo está em cena. “Tem
diços para a logística técnica do auditório servem de suportar o amor e o ódio todo daquela casa.”
de primeiro andar d’A Casa de Bernarda Alba, o Para João Mota, o desafio de interpretar um
clássico de Federico García Lorca agora encenado papel feminino reside, sobretudo, na capacidade
por Hugo Franco, no Teatro da Comuna, e que de fazer sobressair a força da fragilidade. Quan-
marca o regresso de João Mota aos palcos, mais to ao regresso à representação, diz: “Faz-me
de 20 anos depois, no papel de Bernarda Alba. A lembrar o primeiro dia em que dei aulas, um
experiência sonora é, por si, arrepiante – temos, misto de ansiedade e pânico.”
por exemplo, a criada La Poncia, interpretada por No centro do palco, há apenas um pequeno
João Grosso, a sussurrar-nos uma qualquer ma- banco de madeira. “Tenho sempre esta coisa de
ledicência nas nossas costas. aproveitar ao máximo os espaços das encena-
O dia é de luto. Na casa de Bernarda Alba aca- ções – ou ao mínimo, como acontece na cena
baram de enterrar o seu patriarca. Fala-se nesta com o banco”, diz Hugo Franco, referindo-se
peça da austeridade que inevitavelmente marca ao momento em que duas das filhas sobem ao
uma família de classe mais elevada, num meio assento e se entrelaçam, simulando estarem no
rural, em nome dos bons costumes. Como se quarto e a dormir juntas. — Cláudia Marques Santos
ouve na voz de João Mota a dada altura: “Tenho
esta casa erguida pelo meu pai, para que nem as Teatro da Comuna > Pç. de Espanha, Lisboa > T. 21 722
ervas se apercebam da minha desgraça.” A infle- 1770 > 22 set-23 out, qua 19h, qui-sáb 21h, dom 16h >
xibilidade é tanta que só podia ter consequências €7,5-€12,5.
LISBOA
Desabrigo
As formas negras, em
ferro, de Rui Chafes são
imediatamente reconhecíveis,
familiares, mas nunca
deixam de ser enigmas.
Nesta exposição, entram em
diálogo com outras obras
Imagens
bem carismáticas: as de
icónicas
O elemento humano Vieira da Silva e as de Arpad
é, quase sempre, Szenes.
protagonista nas Ao todo, são quatro
fotografias de esculturas de Chafes que se
Steve McCurry relacionam com o espaço
D.R.
Q
Desabrigo foi organizada em
uando o rosto da menina a conquista de inúmeros prémios – parceria com a Fundação
afegã, com hipnóticos olhos muitos deles enquanto estava ao serviço Carmona Costa e em
verdes, apareceu na capa da da prestigiada agência Magnum –, a colaboração com a Galeria
National Geographic (NG), em testemunhar acontecimentos históricos, Filomena Soares. Recorde-
1985, pouco se sabia sobre ela. Ainda as- afastou-se do fotojornalismo. Hoje, com se que até 26 de fevereiro
sim, a imagem de Sharbat Gula, captada 72 anos, prefere referir-se a si próprio se pode visitar uma grande
por Steve McCurry num campo de re- como “um contador de histórias visuais”. exposição de Rui Chafes, no
fugiados no Paquistão – o fotógrafo foi Nesta retrospetiva, com mais de 100 museu e parque de Serralves,
pioneiro na cobertura da invasão sovié- imagens de grande formato, estão não no Porto. — P.D.A.
tica no Afeganistão e das consequências só incluídos cenários de guerra e tragé-
desta guerra, conquistando a medalha dias mas também registos de tradições Fundação Arpad Szenes – Vieira
de ouro Robert Capa –, tornou-se a que se perderam no tempo e na cultura da Silva > Pç. das Amoreiras 56,
Lisboa > T. 21 388 0044 > 22
mais reconhecível da história da revista contemporânea, sempre com o elemen- set-15 jan, ter-dom, 11h-18 > €7,5
norte-americana. Durante anos, o fotó- to humano presente. Esta grande viagem
grafo norte-americano tentou localizá- visual vai da China à Índia (um dos seus
-la. Conseguiu-o em 2002, no seu país destinos de eleição), do Sudeste Asiático
de origem, Afeganistão, e Gula voltou a a África, de Cuba aos EUA, do Brasil a
ser capa da NG, desta vez com 30 anos, Itália... Aliás, a família deu-lhe a alcunha
carregando no rosto o peso das dificul- de “perpetual motion” (movimento per-
dades por que passou. Recordava-se pétuo). A exposição contempla vídeos
perfeitamente do primeiro encontro em que o autor fala um pouco sobre o
com McCurry, já que foi a única vez que seu percurso e o contexto das fotogra-
alguém a fotografou, mas não fazia ideia fias – uma informação enriquecedora, já
de que se tinha tornado símbolo dos que as imagens estão apenas identifica-
refugiados afegãos. das com data e local onde foram tiradas,
Muitos foram os retratos de anóni- dando liberdade às interpretações de
mos, vítimas dos conflitos armados pelo quem as observa. — Joana Loureiro
mundo, feitos pelo fotógrafo. “Procuro
o momento desprotegido, com a alma Cordoaria Nacional > Av. da Índia, Lisboa >
à espreita e a experiência gravada no T. 21 363 7635 > a partir de 23 set > ter-dom
rosto”, explicou um dia. Entretanto, após 10h-20h > €12
Restos do Vento
E tudo a tradição levou
Uma história de crime sem castigo, ao abrigo
de um ritual pagão no Interior de Portugal
O louco da
aldeia Albano
Jerónimo é um
dos protagonistas
do novo filme de
Tiago Guedes,
Restos do Vento,
tal como já tinha
acontecido em
A Herdade,
de 2019
D.R.
C
omo já havia feito em Coisa Ruim e, de De forma hábil, com um guião muito bem
certa forma, em A Herdade, Tiago Gue- escrito (com a ajuda de Tiago Rodrigues), o filme
des mergulha novamente num Portugal faz do segredo da aldeia – o hediondo crime
profundo para nos contar uma história escondido no passado – um presságio para a
trágica e perturbadora de uma aldeia no Interior repetição da história: cortou-se o tronco mas
do país. O realizador começa, ainda antes do ge- não se arrancou a raiz. E essa espécie daninha
nérico, por desvendar a tradição: um ritual bár- vai-se desenvolvendo de forma subterrânea,
baro de perseguição das raparigas, para que estas numa cumplicidade social secretista, que faz de
expiem os pecados, na festa da aldeia, quando o toda a aldeia uma seita.
vento se levanta. Um ritual másculo, misógino e A força do filme, que se estreou no Festival
covarde. Além de atuarem em grupo, os homens de Cannes, está na sua capacidade de nos en-
escondem-se por detrás de uma máscara. O volver no ambiente e nas personagens. Acre-
realizador revela de forma assertiva e empolgan- ditamos, e se acreditamos é porque a história
te, com minúcia sociológica e até etnográfica, os está bem contada e o filme bem dirigido – mas
meandros da tradição pagã, ao mesmo tempo também porque tem um grupo de atores de
que conta a terrível história, que se tornou segre- exceção. O destaque, tal como acontecera em A
do da aldeia – mas também o seu destino. Herdade, vai para Albano Jerónimo. O ator tem
Um dos pontos interessantes de Restos do aqui um papel porventura ainda mais difícil, o
Vento é o confronto com a construção citadina do louco da aldeia (vítima da crueldade de um
do rural. Há o mito urbano do elogio cego de mundo contumaz) que é retratado num grau
uma ruralidade antiga e suas tradições, esque- de contenção preciso. Mas também vemos João
cendo-se de que algumas destas não só deve- Pedro Vaz, Isabel Abreu, Nuno Lopes, Gonçalo
riam ser olvidadas como até proibidas, pois o Waddington e a jovem Leonor Vasconcelos. Um
seu desaparecimento não mais significa do que elenco de luxo — Manuel Halpern
uma evolução rumo a uma humanidade mais
decente (facilmente se partiria daqui para a De Tiago Guedes, com Albano Jerónimo, Nuno Lopes,
questão das touradas). Isabel Abreu, João Pedro Vaz > 127 min
1.
Ressaca Tropical
Abriu em maio, na Rua das
Gaivotas, em Lisboa, e distingue-
se por ser um bar de vinhos
HORA DE BACO
naturais e de baixa intervenção.
Tem uma oferta de referências
(metade portuguesa e metade
internacional) para descobrir
a copo ou à garrafa, que se
Nestes nove recentes bares de vinho, fazem acompanhar de queijos,
em Lisboa e no Porto, há sempre novas enchidos, de uma só cerveja
colheitas de pequenos produtores artesanal, a Common People, e da
portugueses (e não só), para saborear poncha madeirense BisBis. Tudo
temperado com uma seleção
a copo ou à garrafa. A acompanhar, musical cuidada – descubram-se
juntam-se bons petiscos e música as playlists na conta de Spotify do
Ressaca Tropical – num espaço
— P O R F LO R B E L A A LV E S , S A N D R A P I N TO,
que se quer aberto a momentos
S U S A N A LO P E S FA U S T I N O E S U S A N A S I LVA O L I V E I R A
de conversa e de descontração.
Faz parte de um projeto maior,
de distribuição de vinhos naturais
da Austrália, cujo arranque foram
umas festas em Nova Iorque. Boas
vibrações não lhe faltam. M.C.B.
Garage Wines
Wine Bar
Situado no edifício da Real
Vinícola, junto à Casa da
LUCÍLIA MONTEIRO
LUCÍLIA MONTEIRO
Arquitectura, em Matosinhos,
é uma espécie de sala
de visitas da garrafeira
Garage Wines, a uns metros
adiante. Com um serviço
2. 3. 4.
informal e sofisticado,
KUG Flores Botella O Primo aposta no consumo a copo
de vinhos de pequenos
Logo que se entra no Kitchen – Food & Wine do Queijo produtores nacionais e
& Urban Garden (KUG), na estrangeiros: “Não há marcas
Baixa do Porto, é o wine bar Aberto em julho, o novo wine Ao Primo Afastado, produzido de supermercado. São
que surpreende com armários bar da Foz do Porto quer na região dos vinhos verdes, vinhos diferentes e pouco
de alto a baixo, preenchidos ser “um after work, onde servido a copo (€3) ou à conhecidos”, nota Ivone
com dezenas de garrafas. as pessoas possam relaxar garrafa (€9), acaba de se Ribeiro, a proprietária. Nos
Neste segundo KUG na ao fim da tarde, beber um juntar o espumante Primo dois andares, onde o betão
cidade, a vertente de vinhos copo de vinho e comer umas Abastado (€4 ou €12), a se conjuga com a madeira e
foi alargada e conta com tapas”, diz Diogo Magalhães recente aposta do bar aberto o vidro, com capacidade para
185 referências disponíveis Ferreira, enólogo e um dos há mais de um ano pelos 57 pessoas, há mais de 300
a copo (a partir €5), sócios. A carta do Botella sócios Francisco Bernardo e rótulos, para provar a copo
maioritariamente nacionais e tem 80 referências à escolha Bruno Ribeiro, nos Anjos, em (a partir de €3,50) ou em
de pequenos produtores, que (a partir €2,50, copo) de Lisboa. A estas duas marcas garrafa, que mudam a cada
se podem beber no salão 26 produtores – todos próprias, O Primo do Queijo dois meses. Além de queijos
nobre ou, até, no jardim- portugueses, de pequena acrescenta-lhes referências e enchidos, acompanhemo-
esplanada. A seleção, a cargo produção, e cujo vinho desde o Douro ao Alentejo los com tapas frias, de
do sommelier Tiago Oliveira, também se vende em garrafa e ainda uma cerveja da burrata de búfala ou de
pode ser harmonizada –, que pode vir acompanhada Sovina, 500 Saison Grape salmão fumado (a partir de
com os petiscos do chefe de bons petiscos: além de Ale, preparada com mosto €6) do chefe de cozinha Luís
de cozinha Rui Paula, queijos e presunto ibérico, de vinho verde, ideal para Américo.
nomeadamente taquitos há carpaccios, tacos, acompanhar os petiscos da
de atum (para os brancos), bacalhau fumado, secretos ementa, como a sanduíche de Casa da Arquitectura,
hambúrguer de lavagante de porco-preto ou ciabattas. presunto e queijo da serra da Av. Menéres, 456, Matosinhos >
(para os rosés) ou bao de Às quartas, quinzenalmente, Estrela (€4,50) ou a de paio T. 91 311 8699 > ter-sáb 16h-23h
costela teriyaki (para os organizam-se wine sessions do cachaço (€3,50). Para
tintos). Casamentos perfeitos, gratuitas com a apresentação, levar para casa, há conservas,
portanto! pelo próprio produtor, das chás, azeite, sal, queijos,
novas colheitas (próxima dia enchidos e compotas e, claro,
R. das Flores, 135, Porto 5 out). muitas garrafas de vinho.
> seg-dom 12h-24h
R. do Padrão, 8, Porto > T. 91
053 9999 > seg, qua, qui, dom R. do Forno do Tijolo, 42A,
12h-23h, sex-sáb 12h-02h Lisboa > T. 21 016 1888 >
seg-dom 16h-24h
D.R.
LUCÍLIA MONTEIRO
LUCÍLIA MONTEIRO
6. 7. 8.
POR
Manuel
Gonçalves
da Silva
comer&beber@visao.pt
Atenção ao mercado
Um espumante bairradino sedutor,
um branco Loureiro convincente
e um Alvarinho que não lhe fica atrás
D
iariamente enriquecido com novos vi-
nhos portugueses, o mercado convida
a experimentar e a escolher à medida
do gosto pessoal. Desta vez sugerimos,
entre tantas novidades, o espumante bairradino
Kompassus Blanc de Noirs 2017, que é um sedutor
perspicaz e convincente; o Ameal Loureiro 2021,
que testemunha o potencial desta casta para dar
grandes vinhos brancos; e o AdegaMãe Alvarinho
2018, que evidencia os efeitos benéficos, quer da
influência atlântica quer da evolução em garrafa.
Kompassus é o nome da empresa e a marca KOMPASSUS AMEAL ADEGAMÃE
dos vinhos de João Póvoa, vitivinicultor bairra- ESPUMANTE LOUREIRO ALVARINHO
dino por paixão, na linha da tradição familiar. BLANC DE DOP VINHO IG LISBOA
Pratica uma viticultura de intervenção mínima, NOIRS BRUT VERDE BRANCO
tem vinhas que são maioritariamente velhas e NATURE DOC BRANCO 2018
segue um conceito de vinho que reflete tudo isto: BAIRRADA 2021
produzir em função do que a vinha dá e não do 2017 Cem por cento
mercado. As quantidades são limitadas, mas não Exclusivamente Alvarinho, com
a qualidade, que tem de ser sempre alta. Prova-o Só de uvas da da casta Loureiro, fermentação em
o espumante Kompassus Blanc de Noirs 2017, casta Baga, com fermentação cubas de inox, nas
um Brut Nature, só da casta Baga, que honra a provenientes de e estágio em cuba quais estagiou
tradição dos Póvoa. vinhas velhas. de inox, durante por seis meses,
A Quinta do Ameal é uma propriedade histó- Bela e levíssima sete meses, em com batônnage.
rica do vale do Lima, com 30 hectares de vinha, tonalidade contacto com Apresenta cor
14 dos quais plantados com a casta Loureiro, que ambarina; as borras finas. amarelo-palha,
reina nesta sub-região dos vinhos verdes. Trata-se aroma fino e Cor citrina, clara brilhante, aroma
de uma vinha em modo de produção integrada, complexo, em e brilhante; intenso com boas
ou seja dentro na lógica de agricultura sustentável, que sobressaem aroma intenso notas frutadas –
que visa obter alta qualidade sem que haja fatores as notas de a frutos cítricos citrinos e fruta de
de produção prejudiciais ao ambiente. frutos secos e com boas notas caroço madura
A AdegaMãe, de Torres Vedras, na Região de as sugestões florais; paladar – e florais. Paladar
Lisboa, apresentou um novo vinho de parcela: de especiarias; com elegância, cheio, macio, algo
AdegaMãe Parcela Amarela 2018; e renovou a paladar elegante, leveza, frescura cremoso e muito
gama de monocastas brancos com novas colhei- equilibrado, com e persistência equilibrado, com
tas. Nestes, a qualidade supera o preço, em todos, volume, bolha cativantes. Belo final vibrante,
e se destacamos o Alvarinho é por ser de uma finíssima, textura vinho e muito em marcado pela fruta
casta nobre que tem o seu território de eleição cremosa, seco e conta. e pela frescura.
em Monção e Melgaço mas que ganha, aqui, no- com um final tão
vas características, denotando influências, quer persistente quanto €9 €8,45
atlânticas, na frescura e no toque salino, quer do agradável.
estágio, em volume, textura e complexidade. Isto
acontece, aliás, com todos os monocastas. €17
LISBOA
Trindade
Melhor do que nunca
Considerada a mais antiga do País, e também
uma das mais bonitas, a mítica cervejaria lisboeta
aposta agora numa ementa do chefe Alexandre Silva
e numa decoração digna de se ver
Ementa
O menu, agora
da autoria do
chefe Alexandre
Silva, mantém os
pratos originais,
o bife à Trindade,
o Brás de
bacalhau e
os mariscos,
mas junta-lhes
novidades
para partilhar,
como a paleta
de borrego, a
cataplana de
peixe e marisco
e o polvo assado
no carvão
D.R.
C
aro leitor, se há algum tempo não entra por exemplo, bacalhau lascado com tiborna
na cervejaria Trindade, inaugurada em (€16,90), mexilhão à Trindade (€15), pica-pau do
1836, no antigo Convento da Santíssima lombo (€25,40), entre outros pitéus e mariscos,
Trindade, está na altura de fazer uma acompanhados por uma das cervejas artesanais
visita para conhecer as novidades reveladas no produzidas na casa, como a encorpada Profana.
início deste mês, depois de 13 meses de obras de Já na Sala Maria Keil, onde se destacam os céle-
renovação. Da decoração à ementa, pensada (e bres painéis desta artista, o ambiente mais requin-
melhorada) pelo chefe Alexandre Silva, distin- tado sugere pratos mais elaborados, como o clás-
guido com uma Estrela Michelin no restaurante sico bife à Trindade (€17,90), o ex-líbris da casa,
Loco, a histórica cervejeira lisboeta (pertencente agora com um novo molho e servido no ponto
ao Grupo Portugália Restauração desde 2007) certo, ou o guloso Brás de bacalhau (€17,90). Além
aprimorou a aparência e a oferta gastronómica, dos melhoramentos, Alexandre Silva criou novos
sem alterar a sua essência. pratos, como a paleta de borrego (€59), a cata-
“Voltámos a repor a verdade de um espaço plana de peixe e marisco (€59) e o polvo assado
conventual nobre, lindíssimo, incluindo o claustro, no carvão (€64), que deve ter em conta numa das
que estava escondido. Também fizemos a recupe- visitas. “Trata-se de uma ementa confortável, que
ração integral de todos os azulejos e dos painéis da não é preciso pensar muito sobre aquilo que se
autoria de Maria Keil”, explica Ana Costa, respon- está a comer”, resume o chefe do Loco e do Fogo,
sável pelo projeto de arquitetura. “Na verdade, não ambos em Lisboa. As novidades estendem-se ain-
foi preciso ser muito criativo, mas ser fiel, para da ao exterior, nos claustros, com a esplanada que
irmos buscar o que era original, limpando e res- surge como um pequeno oásis, ideal para os dias
taurando com materiais nobres”, frisa. mais soalheiros. Uma (re)descoberta maravilhosa,
Com esta renovação, foram criadas novas esta nova Trindade — Sandra Pinto
áreas de refeição, com identidades distintas, pen-
sadas para diferentes apetites. Assim, à entrada, R. Nova da Trindade, 15C, Lisboa > seg-qui,
a Petiscaria é o sítio ideal para quem quer picar, dom 12h-24h, sex-sáb12h-1h
Elenco A Ana
de Armas
juntam-se Bobby
Cannavale, como
Joe DiMaggio,
marido por nove
meses; Adrien
Brody, o terceiro
marido, Arthur
Miller; Julianne
Nicholson, a mãe
errática; e Caspar
Phillipson, numa
aparição como
John F. Kennedy
NETFLIX
NETFLIX
Blonde
Marilyn, a personagem mais difícil
de Norma Jeane
Desconfortável o suficiente para ser um filme envolvente
e suscitar discussões na opinião pública, já valeu a Ana
de Armas uma ovação de pé no Festival de Veneza
A
recente polémica sobre uma das es- Para Ana de Armas, Blonde é a versão mais
treias mais aguardadas do ano cen- ousada e feminista da história de Marilyn, um
tra-se na classificação etária atribuída biopic que, durante quase três horas, põe em
a este filme nos Estados Unidos da contraste a mulher vítima de abusos e assédios
América, interdito a menores de 18 anos. Em com a mulher objeto de desejo, não se descar-
causa estão cenas explícitas de conteúdo sexual, tando ainda o conflito pessoal entre ser Norma
nomeadamente de uma violação sofrida por Jeane (1926-1962) e Marilyn Monroe, a perso-
Marilyn Monroe, numa audição, por um execu- nagem criada para sustentar a sua vida artística,
tivo de um estúdio cinematográfico. finada aos 36 anos. Tudo numa estética a “preto
Tanto Andrew Dominik, realizador neoze- e branco”, a puxar para o estilo sombrio.
landês e autor do argumento (a partir do livro A voz sussurrante e o sotaque, as semelhan-
homónimo de Joyce Carol Oates, publicado em ças físicas e a linguagem corporal, que Ana de
2000 pela escritora agora com 84 anos), como Armas conseguiu incorporar – nove meses
Ana de Armas, atriz cubana no papel principal, de preparação que classificou de “uma grande
não entendem os critérios utilizados, mas certo tortura, tão cansativa” –, são, seguramente, uma
é que, mesmo antes de se estrear na Netflix, a vantagem, mas a atriz também conferiu uma
longa-metragem foi visionada no Festival de Ci- alma à personagem, cuja dor permanente
nema de Veneza e algumas críticas internacionais passa para o espectador. O glamour de Marilyn
fizeram-se ouvir quanto à forma como foram talvez não tenha sido assim tão brilhante.
explorados o machismo, o sexismo e a misoginia — Sónia Calheiros
sofridos pela atriz ao longo da vida, por ser con-
siderada, redutoramente, apenas um sex symbol. Estreia 23 set, sex > 2h46
TABUAÇO
AQUI À VOLTA
Miradouro
de Adorigo
Fica em Tabuaço,
perto da foz do rio
Tedo, este lugar
que mais parece
uma autêntica
varanda para
o Douro, com
uma panorâmica
alargada sobre
o vale e capaz
de deixar
qualquer pessoa
surpreendida
D.R.
P
Praia Fluvial da
erde-se a conta às curvas e contra- ambiente acolhedor, nas cores suaves, ma- Granja do Tedo
curvas neste percurso que atravessa deiras texturadas e pormenores sofistica- Para irresistíveis
o vale vinhateiro, entre a cidade do dos. “Procuramos manter a traça original, a mergulhos nas
Peso da Régua e o Pinhão. São cerca paixão pelo vinho, e trazer o Douro cá para águas límpidas
de 30 quilómetros, ladeados pelo serpen- dentro”, resume. Ou seja: nas fotografias a da ribeira ou na
tear, tranquilo, do rio Douro e as encostas preto-e-branco, no azulejo cor de vinho ou piscina pública,
recortadas de vinha e olival. Estamos no nas diversas experiências. Mas são, espe- rodeados por
troço mais cénico da Estrada Nacional 222, cialmente, as varandas e o terraço rasgados espaços relvados
pincelado por incontáveis tons de verde. sobre a paisagem vinhateira e as curvas do e bem tratados, na
É preciso seguir o empedrado estreito, e rio que deslumbram. aldeia da Granja
escarpado, demarcado pelos muros bran- O vinho é, de facto, presença constan- do Tedo, em
cos para alcançar o cimo da Quinta São te nesta quinta, onde são criados rótulos Tabuaço
Luiz, em Tabuaço, com 125 hectares (90 de distintos, como o Porto Kopke e os DOC
vinha). Douro São Luiz. Além de acompanhar a
Erguida num socalco, surge The Vine produção, durante a estada visite-se a Casa
House, a antiga casa da família, revestida do Alambique, a vinha Rumilã, os antigos
a xisto e reconvertida em alojamento. Tem lagares, as “Ginas” (cubas de armazena-
apenas 11 quartos, batizados com nomes mento) ou a capela de Santa Quitéria. É um
das parcelas de origem da propriedade, e “Douro sublinhado” por gerações ligadas à
vistas largas para as margens do rio. “É o marca Kopke, a mais antiga casa de vinho
paraíso na terra”, fala Maria Manuel Ra- do Porto, fundada em 1863, que levamos
mos, diretora de enoturismo da Sogevinus, connosco. — Susana Silva Oliveira
grupo que, além da Kopke, é detentor das
marcas Cálem, Barros, Burmester e Quinta EN 222, Adorigo, Tabuaço > T. 254 407 965
da Boavista. A diferença está também no > a partir de €120
—— Restaurante
—— Desporto
NODEE BARCODE OSLO
Da última visita à capital EM FORMA
norueguesa, onde esteve em Recorda o ballet e a
patinagem, em criança, e
as medalhas nas provas de
natação, na adolescência.
Para manter a forma, quando
está na ilha, levanta-se cedo
“A cidade de e vai “fazer piscinas”. Já em
Banguecoque viagem, opta, quase sempre,
tem um lado por passear a pé. “Gosto de
caminhar na praia, de andar
espiritual muito de lá para cá, ao som das
importante, que ondas.”
não se vê mas
que se sente” — Susana Silva Oliveira
PALAVRAS CRUZADAS
> > HORI ZON TAIS >> 1. Pá para levantar a terra cavada. Guarnição
de aço na borda dos escudos. // 2. Nome da letra “N”. Que tem
cautela ou prudência. //3. Grande quantidade de coisas ou pessoas.
Aguçaras. // 4. Dançar o samba. Época fixa que serve de ponto de
partida para a contagem dos anos. // 5. Luz da Lua. Tratamento
que se dá na China a certas pessoas. // 6. Diz-se da posição de
dois planetas que guardam entre si a distância da oitava parte do
Zodíaco. Mover-se e manter-se no ar por meio de asas ou de meios
mecânicos. // 7. Parte do ofício divino que precede as vésperas.
Prescrição do poder legislativo, cujo cumprimento visa a organização
da sociedade. // 8. Indicativa de relação de lugar. Acorrentava. // 9.
Relativo aos cílios. Cheiro agradável. // 10. Protelar. Contr. da prep.
“a” com o art. def. “os”. // 11. Cerco. >> VERTICAIS >> 1. Ente. Figura
de qualquer substância que imita senhora ou menina, usada como
brinquedo ou adorno. // 2. Aniversário natalício. O que se come ou
serve para comer. // 3. Pessoa afetada, no trajar e nos modos. Lírio. //
4. Com grande intensidade, em geral empregue antes de adjetivos e
advérbios. Encarregada particular da educação doméstica de crianças
nobres (pl.). // 5. Completo. Movimento periódico do nível das águas
do mar. // 6. Inalar e expelir uma porção de fumo que se tira de cada
vez de um cigarro, charuto ou cachimbo. Solo da chaminé da cozinha.
// 7. Cair com ímpeto e rapidamente. Perceber ou conhecer por meio
dos olhos. Símbolo químico do silício. // 8. Base aérea portuguesa.
O mesmo que louro. // 9. Bailado, dança. Fila. // 10. Aragem, vento.
Espaço percorrido, voando. // 11. Molestar. Peça burlesca de teatro.
SUDOKU QUIZ
— MÉDIO — PO R PED RO D IAS D E ALM EI DA
// 6. Bafar, Lar. // 7. Ruir, Ver, Si. // 8. Ota, Loiro. // 9. Coreia, Ala. // 10. Ar, Voo. // 11. Lesar, Farsa.
SOLUÇÕES >> VERTICAIS >> 1. Ser, Boneca. // 2. Anos, Comida. // 3. Peralta, Lis. // 4. Mui, Aias. // 5. Cabal, Maré.
// 6. Octil, Voar. // 7. Noa, Lei. // 8. Em, Amarrava. // 9. Ciliar, Olor. // 10. Adiar, Aos. // 11. Assédio.
>> HORIZON TAIS >> 1. Sapa, Brocal. // 2. Ene, Cauto. // 3. Ror, Afiaras. // 4. Sambar, Era. // 5. Luar, Li.
PANDORA
SIGNATURE 2022
Diretora: Mafalda Anjos
De linhas simples e estética arquitetural, a
Diretor-Executivo: Rui Tavares Guedes coleção Pandora Signature recebe nesta
Subdiretora: Sara Belo Luís estação versáteis novidades, que irão
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EXAME/Economia: Tiago Freire (diretor) cada mulher.
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e Pedro Dias de Almeida (Cultura)
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novas Bangles e Anéis Signature
Cláudia Lobo, José Plácido Júnior, Miguel Carvalho e Rosa Ruela I-D Pavé , que surgem como uma
Redação: Carmo Lico (online), Cesaltina Pinto, Clara Soares, Clara Teixeira, evolução ainda mais sofisticada do
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C
hoque, horror, estu- Começo a dar razão ao caran- creio que estaríamos a desvir-
pefacção. Foi assim guejo Sebastião, amigo da se- tuar a história. Houve até quem
que muitos reagi- reia, quando diz que “o mundo comparasse a substituição da
ram ao trailer do humano é uma bagunça, a vida troca da sereia branca por uma
novo filme da Dis- submarina é bem melhor do negra, com o hipotético caso
ney, e eu não sou excepção. Não que tudo o que eles têm lá”. Se de um actor branco fazer de
quero acreditar no que fizeram o que temos cá é gente crescida Martin Luther King. Se calhar é
à Pequena Sereia. E o pior é a reclamar porque uma actriz gente que acha que Luther King
que já não é a primeira vez. Já negra faz de Pequena Sereia, também é uma figura mitológi-
tinham tentado esta brincadeira talvez se esteja melhor debai- ca, mas ele existiu mesmo, pelo
com o Rei Leão: transformar xo de água. Pelo menos estas que seria absurdo (e confuso)
desenhos animados em “live discussões resumir-se-iam a: se fosse um ruivo a fazer de
action”. Para quê? Se quisésse- “Glub, glub, glup.” Quem se líder da luta contra a segrega-
mos ver um leãozinho de ver- exalta com a escolha de Halle ção racial nos Estados Unidos
dade, na savana, já tínhamos o Bailey para o papel principal da América. O mesmo diria se
BBC Vida Selvagem. A magia da alega estar a zelar pelo cum- Halle Bailey fizesse de Prince-
Disney residia precisamente no primento da história original, o sa Diana. Estaríamos perante
facto de transformar animais que se compreenderia se Bailey uma manobra de marketing
ou pessoas em bonecos. A Dis- fosse um bacalhau. Talvez fosse patética, por parte da Disney
ney era uma espécie de Gepeto: estranho que o príncipe se apai- (que é, de resto, especialista nas
dava alma a bonecos. Tornando xonasse pelo fiel amigo (embora duas coisas: em vendas e em
os bonecos gente, voltamos à não seja caso virgem na monar- Pateta), assim sendo, acho que é
estaca zero e perde-se a graça, quia), mas se a Pequena Sereia apenas marketing, sem a parte
que era ver gente transforma- continua a ser metade humana, palerma. E bem-sucedida, já
da em boneco. Passamos do metade peixe, acho que a nar- que conseguiram pôr uma série
animismo ao “desanimismo”, rativa não sai comprometida. de adultos a discutir um filme
o que me deixa um pouco Não é minimamente relevante no qual só pensariam quando
desanimada. Se esta tendência na história a cor do cabelo, da os filhos os obrigassem a ir ao
se mantiver, em breve será um pele ou das escamas. Se fosse Colombo, às 11 da manhã de um
hamster a fazer de Rato Mickey, uma sereia enorme, aí sim, domingo. visao@visao.pt
e os patos do lago do jardim
do Campo Grande a concorrer
ao casting para Tio Patinhas.
Transformar a Pequena Sereia
em imagem real parece-me
tão interessante como lançar O
Silêncio dos Inocentes em dese-
nhos animados. Fora isso, não
notei nada de estranho nesta
nova produção da Disney, mas
vi gente a insurgir-se por causa
do tom de pele da protagonista.
sic.pt/vamosviverjuntos
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